Cuidados com a cultura do feijoeiro em plantio direto - IAC
Cuidados com a cultura do feijoeiro em plantio direto - IAC
Cuidados com a cultura do feijoeiro em plantio direto - IAC
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS<br />
<strong>Cuida<strong>do</strong>s</strong> <strong>com</strong> a<br />
<strong>cultura</strong> <strong>do</strong> <strong>feijoeiro</strong> <strong>em</strong><br />
<strong>plantio</strong> <strong>direto</strong><br />
O<strong>plantio</strong> <strong>direto</strong> é uma reconhecida e<br />
eficiente prática conservacionista,<br />
ten<strong>do</strong> <strong>com</strong>o importantes objetivos o<br />
controle da erosão, o aumento da disponibilidade<br />
de água e nutrientes e, sobretu<strong>do</strong>, a otimização<br />
<strong>do</strong>s rendimentos das <strong>cultura</strong>s. Sabese<br />
que a viabilidade desse sist<strong>em</strong>a é fundamentalmente<br />
dependente da quantidade de<br />
resíduos, cobertura morta ou palhada advin<strong>do</strong>s<br />
das <strong>cultura</strong>s desenvolvidas e que, na <strong>cultura</strong><br />
<strong>do</strong> <strong>feijoeiro</strong>, a produção desse ma-terial<br />
residual de cobertura é, <strong>em</strong> geral, reduzida,<br />
sen<strong>do</strong>, <strong>em</strong> média, da ord<strong>em</strong> de 2 t/ha.<br />
No Esta<strong>do</strong> de São Paulo t<strong>em</strong> havi<strong>do</strong><br />
aumento da área de <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong> <strong>com</strong><br />
<strong>feijoeiro</strong>, haven<strong>do</strong>, entretanto, escassez de<br />
informações sobre o cultivo da leguminosa<br />
nessa situação agrícola. Antes da implantação<br />
de qualquer <strong>cultura</strong> nesse sist<strong>em</strong>a de<br />
produção, alguns cuida<strong>do</strong>s dev<strong>em</strong> ser considera<strong>do</strong>s<br />
e corrigi<strong>do</strong> qualquer probl<strong>em</strong>a<br />
existente, <strong>com</strong> ênfase para a avaliação, localização<br />
e eliminação de camadas<br />
<strong>com</strong>pactadas e correção da acidez e <strong>do</strong>s níveis<br />
de fertilidade <strong>do</strong> solo, principalmente<br />
<strong>do</strong> fósforo. Isso porque a mobilização <strong>do</strong><br />
solo no sist<strong>em</strong>a de <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong> é mínima,<br />
sen<strong>do</strong> observa<strong>do</strong>, <strong>com</strong> bastante freqüência,<br />
acúmulo superficial de nutrientes <strong>em</strong> relação<br />
ao sist<strong>em</strong>a convencional de preparo de solo.<br />
O desenvolvimento radicular de uma<br />
planta pode ser prejudica<strong>do</strong>, principalmente,<br />
por <strong>do</strong>is fatores:<br />
• Presença de camadas de maior resistência<br />
no solo, originadas sobretu<strong>do</strong> pelo<br />
trânsito excessivo, e muitas vezes desnecessário,<br />
de máquinas e impl<strong>em</strong>entos, que<br />
formam uma barreira física impeditiva ao crescimento<br />
e desenvolvimento das raízes da<br />
maioria da <strong>cultura</strong>s anuais;<br />
• Teores muito baixos de nutrientes ou<br />
elevada acidez e presença de alumínio tóxico<br />
nas camadas subsuperficiais <strong>do</strong> solo.<br />
Para a identificação da causa desse<br />
probl<strong>em</strong>a, abriram-se cinco trincheiras para<br />
a observação <strong>do</strong> crescimento radicular <strong>do</strong><br />
<strong>feijoeiro</strong> e avaliação da presença de possíveis<br />
camadas <strong>com</strong>pactadas, <strong>em</strong> área de produção<br />
de s<strong>em</strong>entes no Pólo Regional de Desenvolvimento<br />
Tecnológico <strong>do</strong>s Agronegócios<br />
<strong>do</strong> Centro Norte. Coletaram-se amostras<br />
para avaliação da fertilidade <strong>do</strong> solo <strong>em</strong><br />
camadas de 10 <strong>em</strong> 10 cm, até 60 cm de profundidade<br />
e avaliou-se a resistência à penetração<br />
<strong>do</strong> solo <strong>com</strong> penetrômetro de impacto<br />
modelo IAA/Planalsucar.<br />
Na análise das trincheiras verificouse<br />
concentração de raízes na camada superficial<br />
mas, visualmente, não foi possível a<br />
localização de camadas <strong>com</strong>pactadas. Entretanto,<br />
ficou claro que a área foi, no passa<strong>do</strong>,<br />
submetida a intenso processo erosivo,<br />
pela espessura reduzida <strong>do</strong> horizonte superficial<br />
e pela presença, nessa camada, de<br />
material <strong>do</strong> horizonte subsuperficial. O aumento<br />
da resistência <strong>do</strong> solo na superfície é<br />
constatação <strong>com</strong>um <strong>em</strong> áreas de <strong>plantio</strong> di-<br />
reto mas, no presente caso, os valores de<br />
resistência determina<strong>do</strong>s estavam baixos<br />
(gráfico). Verificou-se, entretanto, aumento<br />
<strong>do</strong>s valores<br />
de resistência<br />
<strong>do</strong> solo<br />
a partir <strong>do</strong>s<br />
10 cm superficiais,<br />
sen<strong>do</strong> que a<br />
resistência<br />
a 15 centímetros<br />
estava<br />
cerca de<br />
3 vezes maior<br />
<strong>do</strong> que<br />
Elaine<br />
na superfície. Esse gradiente de resistência<br />
caracteriza uma situação de restrição ao desenvolvimento<br />
radicular. Esse perfil de resistência<br />
<strong>do</strong> solo é característico <strong>do</strong> sist<strong>em</strong>a<br />
convencional, pela formação de camadas<br />
mais resistentes na profundidade de trabalho<br />
<strong>do</strong>s impl<strong>em</strong>entos de preparo <strong>do</strong> solo,<br />
caracterizan<strong>do</strong> a não-correção inicial <strong>do</strong><br />
solo. Poderia ser esta, então, a causa <strong>do</strong>s<br />
sintomas observa<strong>do</strong>s nas raízes.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, os resulta<strong>do</strong>s da análise<br />
química das amostras de solo na área<br />
experimental, corresponden<strong>do</strong> à média das<br />
cinco trincheiras, são indicativos da concentração<br />
de nutrientes na superfície, nor-<br />
Raízes de <strong>feijoeiro</strong> ‘<strong>IAC</strong>-Carioca’ <strong>com</strong> desenvolvimento atípico <strong>em</strong> área sob <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong><br />
O Agronômico, Campinas, 54(1), 2002 23
CARACTERISTICAS DE SOLO DE PINDORAMA EM PLANTIO DIRETO*<br />
Caracterísca<br />
Profundidade (cm)<br />
0-10<br />
10-20<br />
20-30<br />
30-40<br />
40-50<br />
50-60<br />
M .O. ( g/dm³ )<br />
18<br />
14<br />
12<br />
9 8 8<br />
p H ( Índice )<br />
4,<br />
3 4,<br />
4 4,<br />
3 4,<br />
2 4,<br />
1 4, 1<br />
P ( mg/dm³ )<br />
24<br />
9 5 3 2 3<br />
K ( mmolc/dm³ )<br />
1,<br />
4 1,<br />
2 1,<br />
2 1,<br />
0 0,<br />
8 0, 6<br />
C a ( mmolc/dm³ )<br />
11<br />
9 7 5 4 4<br />
Observação <strong>em</strong> trincheira: raizes concentradas<br />
na camada superfical <strong>do</strong> solo e reduzi<strong>do</strong><br />
número de raízes abaixo <strong>do</strong>s 20 cm.<br />
M g ( mmolc/dm³ )<br />
4 5 4 3 2 2<br />
H +Al ( mmolc/dm³ ) 35,<br />
2 35,<br />
0 37,<br />
4 38,<br />
8 39,<br />
0 39, 6<br />
S ( mmolc/dm³ )<br />
16<br />
15<br />
12<br />
9 7 6<br />
malmente observada <strong>em</strong> áreas de <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong>.<br />
Entretanto, observou-se que as condições<br />
químicas apresentaram-se restritivas<br />
a um adequa<strong>do</strong> cultivo <strong>do</strong> <strong>feijoeiro</strong> (quadro).<br />
O teor de matéria orgânica pode ser considera<strong>do</strong><br />
normal a 0-10 cm, conforme preconiza<strong>do</strong><br />
para solos de textura média (entre 16 e 30 g/<br />
dm 3 ), porém baixo nas d<strong>em</strong>ais profundidades.<br />
Os valores de pH indicam acidez muito elevada<br />
<strong>em</strong> todas as profundidades, sen<strong>do</strong> que a<br />
faixa considerada ideal para essa leguminosa<br />
situa-se entre 5,5 e 6,5, <strong>com</strong> uma saturação<br />
por bases <strong>em</strong> torno de 70%. Na área <strong>em</strong> estu<strong>do</strong><br />
os valores para V% são baixos na profundidade<br />
de 0-20 cm e muito baixos na de 20-60<br />
Valores médios de resistência à penetração <strong>do</strong> solo<br />
(MPa), na linha e na entrelinha da <strong>cultura</strong> <strong>do</strong><br />
<strong>feijoeiro</strong>, cultivar Carioca.<br />
C .T.C . (mmolc/dm³ ) 52<br />
50<br />
50<br />
47<br />
46<br />
46<br />
V (%)<br />
32<br />
31<br />
25<br />
19<br />
15<br />
14<br />
*Argissolo distrófico,<br />
verno de 2000.<br />
textura arenosa/média, cultiva<strong>do</strong> <strong>com</strong> <strong>feijoeiro</strong> '<strong>IAC</strong>-Carioca'.<br />
cm. Os teores de fósforo são médios de 0-10<br />
cm, baixos de 10-20 cm e muito baixos de 20-<br />
60 cm, enquanto os de potássio são baixos<br />
de 0-40 cm e muito baixos de 40-60 cm. Para o<br />
cálcio t<strong>em</strong>-se um teor considera<strong>do</strong> alto de 0-<br />
20 cm e médio de 20-60 cm. Para o magnésio,<br />
obtiveram-se teores baixos <strong>em</strong> todas as profundidade,<br />
à exceção de valor no limite de<br />
médio teor de 10-20 cm.<br />
Assim, o probl<strong>em</strong>a de<br />
desenvolvimento anormal <strong>do</strong><br />
sist<strong>em</strong>a radicular <strong>do</strong> <strong>feijoeiro</strong><br />
<strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a de <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong><br />
pode estar associa<strong>do</strong> às condições<br />
químicas <strong>do</strong> solo, agrava<strong>do</strong><br />
pelas condições físicas.<br />
Esse tipo de probl<strong>em</strong>a não é<br />
exclusivo de áreas <strong>com</strong> <strong>plantio</strong><br />
<strong>direto</strong> pois também <strong>em</strong> áreas<br />
de preparo convencional<br />
pod<strong>em</strong> ser formadas camadas<br />
<strong>com</strong>pactadas, pelo uso intensivo<br />
de máquinas. E, ainda, o<br />
probl<strong>em</strong>a de baixa fertilidade<br />
<strong>do</strong> solo é <strong>com</strong>um aos <strong>do</strong>is sist<strong>em</strong>as,<br />
sen<strong>do</strong> d<strong>em</strong>andada<br />
correção inicial <strong>do</strong> mesmo<br />
para elevação da saturação<br />
por bases e <strong>do</strong> teor de fósforo<br />
principalmente.<br />
Consideran<strong>do</strong>-se que<br />
a área <strong>em</strong> questão encontrase<br />
sob <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong>, pod<strong>em</strong>se<br />
propor algumas medidas<br />
<strong>com</strong>o tentativa de solucionar<br />
tal probl<strong>em</strong>a, tais <strong>com</strong>o: cuida<strong>do</strong>s<br />
<strong>com</strong> a umidade <strong>do</strong> solo<br />
para o trabalho <strong>com</strong> máquinas<br />
e impl<strong>em</strong>entos; controle<br />
efetivo da irrigação; cuida<strong>do</strong>s<br />
Amostras coletadas no in-<br />
<strong>com</strong> o impl<strong>em</strong>ento <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>r de adubo e também<br />
<strong>com</strong> a quantidade acertada <strong>do</strong>s nutrientes<br />
a ser reposta <strong>em</strong> área de <strong>plantio</strong> <strong>direto</strong>,<br />
cultivada sobretu<strong>do</strong> <strong>com</strong> <strong>cultura</strong>s<br />
graníferas.<br />
É importante ressaltar que o <strong>plantio</strong><br />
<strong>direto</strong> não é uma prática de recuperação <strong>do</strong><br />
solo a curto prazo, sen<strong>do</strong> da maior relevância<br />
a correção da área antes <strong>do</strong> início <strong>do</strong><br />
sist<strong>em</strong>a. A análise da fertilidade <strong>do</strong> solo é<br />
imprescindível para garantia da produtividade,<br />
<strong>com</strong> aplicação de quantidades equilibradas<br />
de corretivos e fertilizantes e obtenção<br />
de custos reduzi<strong>do</strong>s e maior<br />
lucratividade.<br />
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA<br />
DE MARIA, I.C. Plantio <strong>direto</strong> e manejo <strong>do</strong><br />
solo. In: WUTKE, E.B.; BULISANI, E.A.<br />
& MASCARENHAS, H.A.A., coords. I<br />
Curso sobre adubação verde no Instituto<br />
Agronômico. Campinas, Instituto Agronômico,<br />
1993. p. 87-107. (Documentos <strong>IAC</strong>,<br />
35)<br />
Elaine Bahia Wutke¹, Isabella Clerici De<br />
Maria³, Antônio Lúcio Mello Martins² e<br />
Heitor Cantarella³<br />
¹<strong>IAC</strong>-Grãos e Fibras, ²<strong>IAC</strong>-E.E. de<br />
Pin<strong>do</strong>rama; ³<strong>IAC</strong>-Solos<br />
fone: (19) 3241-5188 ramal 315<br />
endereço eletrônico: ebwutke@iac.br<br />
24 O Agronômico, Campinas, 54(1), 2002