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1 Ano V • nº 97 • 10 a 24 de maio de 2006 • R$ 3,50 - Roteiro Brasília

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LUZ CÂMERA AÇÃO<br />

Irma Vap,<br />

o mistério<br />

Em seu 4º longa, Carla Camurati<br />

reatualiza o terrir, homenageia o<br />

teatro brasileiro mas não consegue<br />

evitar que o filme <strong>de</strong>san<strong>de</strong><br />

SÉRGIO MORICONI<br />

Nem oráculos nem esfinges são<br />

capazes <strong>de</strong> <strong>de</strong>svendar o enigma das<br />

carreiras comerciais dos filmes.<br />

Quando Carla Camurati resolveu<br />

adaptar para o cinema O Mistério <strong>de</strong><br />

Irmã Vap, não havia uma só alma no<br />

mundo que não achasse que todos<br />

os santos iriam conspirar a favor. A<br />

peça, escrita pelo americano Charles<br />

Ludlam, havia sido um dos <strong>maio</strong>res<br />

sucessos <strong>de</strong> público <strong>de</strong> toda a história<br />

dos palcos brasileiros. Durante 11<br />

anos (!) os atores Marco Nanini e<br />

Ney Latorraca e a diretora Marília<br />

Pêra percorreram o Brasil <strong>de</strong> norte a<br />

sul, sempre com casa lotada. O feito<br />

valeu uma citação do Guinnes Book of<br />

Records como o espetáculo que ficou<br />

mais tempo em cartaz com o mesmo<br />

elenco em todo o mundo, batendo – o<br />

que parecia impossível – alguns dos<br />

mais célebres musicais da Broadway.<br />

Com tantas cre<strong>de</strong>nciais, não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong><br />

ser surpreen<strong>de</strong>nte a apenas razoável<br />

performance <strong>de</strong> bilheteria <strong>de</strong> Irma Vap<br />

– O Retorno.<br />

TAL FENÔMENO merece, no mínimo,<br />

ser observado mais <strong>de</strong> perto. Estaria<br />

o filme muito aquém da peça? Tal<br />

argumento <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ter valida<strong>de</strong> no<br />

momento em que Carla opta por<br />

<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lado o texto original para<br />

criar, ao lado das roteiristas Adriana<br />

Falcão e Melanie Dimantas, uma<br />

história inteiramente nova.<br />

Po<strong>de</strong>-se dizer que Irma Vap –<br />

O Retorno apenas gira em torno <strong>de</strong><br />

O Mistério <strong>de</strong> Irma Vap. Na versão<br />

cinematográfica, as personagens<br />

voltam a se encontrar muitos anos<br />

<strong>de</strong>pois graças à casualida<strong>de</strong> da morte<br />

<strong>de</strong> um dos produtores da peça teatral.<br />

Tudo isso, obviamente, é ficção. O<br />

artifício, por sinal, é ótimo. O filme<br />

não é a peça levada para as telas e sim<br />

a dramatização ficcional da tentativa<br />

<strong>de</strong> voltar a montar a peça para salvar o<br />

filho do produtor das dívidas contraídas<br />

pelo pai, <strong>de</strong>pois que o teatro entrou em<br />

crise e as salas ficaram às moscas.<br />

Há no filme a simbologia <strong>de</strong> uma,<br />

por assim dizer, morte <strong>de</strong> um tempo<br />

dourado do teatro brasileiro. O Irma<br />

Vap <strong>de</strong> Camurati po<strong>de</strong>ria ser <strong>de</strong>finido<br />

como um “canto fúnebre alto astral”,<br />

uma vez que o humor <strong>de</strong>slavado vem<br />

acompanhado da percepção <strong>de</strong> que<br />

os bons tempos vividos no teatro já<br />

passaram, mas po<strong>de</strong>m ser revividos no<br />

cinema. Irma Vap – O Retorno seria<br />

uma tentativa romântica <strong>de</strong> fazer com<br />

que eles, os bons tempos, voltem <strong>de</strong><br />

fato. A idéia, super engenhosa, recebe<br />

um tratamento digno da peça que<br />

encantou platéias as mais heterogêneas<br />

possíveis pelo Brasil afora. No elenco<br />

estão os mesmos Latorraca e Nanini<br />

fazendo, como na peça, dois papéis <strong>de</strong><br />

uma só vez. Só que agora é diferente.<br />

Eles não vivem mais as personagens <strong>de</strong><br />

Charles Ludlam.<br />

ELES VIVEM AS PERSONAGENS criadas<br />

por Camurati e Cia. Nanini e Latorraca<br />

são atores que fizeram O Mistério <strong>de</strong><br />

Irma Vap duas décadas antes. É como<br />

se o filme se perguntasse “o que teria<br />

acontecido aos dois duas décadas<br />

<strong>de</strong>pois”? A referência aqui a O Que<br />

Terá Acontecido a Baby Jane não é<br />

fortuita. As personagens <strong>de</strong> Bette Davis<br />

e Joan Crawford, no clássico filme <strong>de</strong><br />

Robert Aldrich, serviram <strong>de</strong> inspiração<br />

para toda a trama que envolve as<br />

também irmãs Clei<strong>de</strong> Albuquerque<br />

(Nanini), uma ex-menina prodígio<br />

(conhecida como “Pequena Gran<strong>de</strong><br />

Cantora”) que fica enfurecida <strong>de</strong><br />

ciúmes com o posterior sucesso <strong>de</strong><br />

seu irmão Tony Albuquerque (também<br />

Nanini), ator e <strong>de</strong>tentor dos direitos<br />

da peça O Mistério <strong>de</strong> Irma Vap.<br />

Temporariamente paralítico <strong>de</strong>pois<br />

<strong>de</strong> um nebuloso inci<strong>de</strong>nte, Tony se<br />

vê trancafiado num quarto pela irmã.<br />

Maligna, Clei<strong>de</strong> consegue com uma<br />

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