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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

porque normalmente faz-se primeiro o pedido aos mais velhos,<br />

não é” (Tchambu, 24 anos, origem guineense)<br />

Outra situação é a intervenção de intermediários, geralmente amigos<br />

próximos, na negociação pré-nupcial. Muitas vezes, com a tendência para<br />

diminuírem os casamentos arranjados em contexto migratório, existem<br />

redes estabelecidas entre amigos, com vista a facilitar os contactos entre<br />

rapazes e raparigas em idade de casar (Weibel, 2000). O testemunho de<br />

Samirah é particularmente ilustrativo desta situação:<br />

“O meu marido era separado, foi um casamento, tipo… Eu acho<br />

que foi mais conveniência dos dois lados, está a perceber Ele<br />

precisava de uma mulher para cuidar da filha e da família, estava<br />

separado há quatro anos, e ele achou que eu podia apoiar nessas<br />

condições. E os amigos das duas famílias é que juntaram-se. (...)<br />

Foi um jantar que foi combinado, ele estava lá e eu estava lá<br />

também… Ele já tinha ouvido falar, porque os amigos dele: «Ó pá,<br />

tem uma menina que devias conhecer», foi assim”. (Samirah, 38<br />

anos, origem indiana, madrasta de Nisa)<br />

Todavia, se a independência das jovens na escolha do cônjuge se acentua<br />

cada vez mais, o papel das famílias continua a ser importante. A flexibilização<br />

que se verifica não anula, assim, o controlo familiar inerente à<br />

escolha do parceiro, a qual será portadora de honra ou condenação para<br />

o nome da família da jovem. Este controlo mantém-se fortemente<br />

presente, limitando, como já vimos, essa escolha ao grupo étnico de<br />

origem, quer entre as indianas, quer entre as guineenses:<br />

“Se eu quisesse casar ia ser uma coisa que ia ser muito estudada,<br />

ia ser muito analisada pelos meus pais, pela minha família. Eu<br />

acho que a partir do momento em que seja muçulmano é muito<br />

mais fácil, se for muçulmano eles aceitam muito facilmente”.<br />

(Rafiah, 21 anos, origem indiana)<br />

A própria pressão social para o casamento, quando já é público, no seio<br />

do grupo, um período de namoro entre duas pessoas, também transparece<br />

em vários destes testemunhos. Inas, por exemplo, revela ter<br />

sentido essa pressão e, tendo já estado separada do marido por um curto<br />

período, considera actualmente a hipótese de se divorciar, situação sobre<br />

a qual pesa igualmente a pressão familiar. Entre as jovens muçulmanas<br />

entrevistadas, apenas Inas refere, de facto, a possibilidade de se divorciar,<br />

por não se sentir satisfeita com a relação, devido sobretudo ao maior<br />

conservadorismo do cônjuge.<br />

“Eu já ia assim com um bocadinho de pé atrás no casamento. Mas<br />

só que, como achava que já tinha namorado muito tempo com ele,<br />

Maria Abranches<br />

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