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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

fenómeno selectivo e os movimentos migratórios oriundos da Guiné-<br />

Bissau são, na sua maioria, de meios urbanos mais escolarizados, onde o<br />

crioulo é mais utilizado e se verifica um maior domínio do português, a<br />

situação inverte-se entre a maioria guineense em Portugal. Com<br />

excepção, portanto, dos muçulmanos, as línguas étnicas são menos<br />

faladas do que no país de origem. Do mesmo modo, as mulheres, em<br />

geral, falam português mais do que os homens, dado que têm origens<br />

sociais mais privilegiadas e provêm em maior número de famílias mistas<br />

(Machado, 2002). Não é, todavia, esse o caso, como vimos, das mulheres<br />

muçulmanas, menos escolarizadas do que os homens, com um tempo de<br />

residência mais reduzido, e caracterizadas por um maior fechamento<br />

intra-étnico. São elas, portanto, a apresentar maiores dificuldades do que<br />

os homens e do que outras etnias com a língua do país receptor:<br />

“Não sabia falar a língua, ficava com a senhora da pensão mais os<br />

filhos que viviam mesmo lá na pensão. Ficava lá com eles, eles<br />

são muito simpáticos comigo, mas eu não percebia nada. Vinham<br />

falar comigo, fazer aquele esforço mesmo para falarem comigo, e<br />

eu não percebia nada. Foi assim, pouco a pouco, até que comecei<br />

a perceber o português”. (Mariatu, 44 anos, origem guineense,<br />

mãe de Diminga. Em Portugal desde 1977)<br />

Tal como é possível observar através do testemunho de Mariatu, e porque<br />

é frequente o recurso a quartos alugados no período inicial da estadia em<br />

Portugal, o contacto com senhorios portugueses, assim como a partilha<br />

de espaços habitacionais com pessoas de origem não guineense, contribuem<br />

para a aprendizagem da língua portuguesa. A actividade na área<br />

comercial que actualmente exerce a mesma entrevistada, sendo proprietária<br />

de duas lojas de produtos africanos, muito frequentadas por<br />

clientes guineenses, leva-a a falar habitualmente o crioulo durante o dia<br />

de trabalho, na medida em que este representa a língua comum entre as<br />

várias etnias. Utilizando o crioulo também com o cônjuge, sempre falou<br />

português com os filhos, situação confirmada pela sua filha Diminga, já<br />

nascida em Portugal:<br />

“Não sei falar crioulo. Pronto, é assim, os meus pais nunca<br />

falaram crioulo connosco em casa. O meu pai é fula, a minha mãe<br />

é mandinga, e eu nem sei falar a língua deles. Eles sempre<br />

falaram português connosco”. (Diminga, 25 anos, origem<br />

guineense, filha de Mariatu. Nascida em Portugal)<br />

“A língua que eu falo mais é crioulo, aqui no trabalho, porque vêm<br />

pessoas aí africanas, mais guineenses, a falarem comigo. Se vêm<br />

de outros sítios falamos o português. Em casa falo crioulo<br />

também, com o meu marido. Ele é fula, nós tanto falamos crioulo<br />

como falamos fula, porque ele mandinga não sabe falar, e eu falo<br />

Maria Abranches<br />

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