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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

afirma ser com a própria filha, a qual frequenta actualmente a 2 a classe,<br />

que vai aprendendo a língua portuguesa. Aisatu, por exemplo, tendo vivido<br />

na Guiné até aos 18 anos, salienta as dificuldades que ainda tem com o<br />

português, falando sobretudo crioulo com os familiares. Refere, contudo,<br />

a maior facilidade em falar crioulo do que fula, a sua língua materna, e o<br />

facto de falar português com os sobrinhos pequenos, por ser esta a língua<br />

a que eles estão mais habituados:<br />

“Eu sou fula, mas também tenho muitas amigas balanta,<br />

manjaca... e falamos mais crioulo, porque elas não sabem falar a<br />

minha língua. Com o meu noivo falo crioulo, falo fula também com<br />

ele, às vezes. Com os meus irmãos falo mais crioulo. Com os<br />

meus sobrinhos falo crioulo, mas às vezes falamos português,<br />

apesar de eu falar mal falado, mas eles percebem o que eu estou<br />

a dizer. E falo português no trabalho, por acaso tenho muitas<br />

amigas e falamos. Falo português mal falado mas elas acabam<br />

por perceber. Mas em casa falo mais crioulo”.<br />

[E na Guiné, que língua falavas mais]<br />

“Com o meu pai falava sempre fula, mas com as minhas amigas<br />

falava crioulo, com os meus irmãos falava crioulo, porque uma<br />

pessoa é mais despachada a falar crioulo rápido e despachar<br />

rápido, dizer as coisas que quer, brincar mais, do que se falar fula.<br />

Falo bem fula, por acaso falo, mas achava que era mais rápido<br />

falar crioulo”. (Aisatu, 23 anos, origem guineense, chegou a<br />

Portugal em 1998, com 18 anos)<br />

Também Kumbá, que viveu até aos 10 anos na Guiné, fala crioulo com<br />

frequência, ao contrário do irmão mais novo, já nascido em Portugal,<br />

que fala apenas português e fula. Neste caso, verifica-se uma<br />

preocupação dos pais em transmitir a língua étnica de origem.<br />

Tchambu, por outro lado, tendo vivido na Guiné com a mãe, de etnia<br />

papel, falava apenas crioulo, tendo começado a falar português em<br />

Portugal, língua que fala actualmente com maior frequência. A ausência<br />

do convívio com o pai está, no caso de Tchambu, na base da não<br />

aprendizagem da língua fula:<br />

“Na Guiné falava crioulo, com a minha mãe. Tive muitas dificuldades<br />

com o português, e até hoje acho que ainda tenho, porque<br />

quando eu vim, fui para casa dessa minha tia, e a minha tia, até<br />

hoje, sempre falou crioulo comigo, sempre, sempre. Agora, em<br />

casa, com os meus irmãos, falo sempre português. Eu ainda sei<br />

falar crioulo perfeitamente, mas agora é raro falar. (...) O fula eu<br />

percebo perfeitamente, só não sei é falar. Aprendi algumas coisas<br />

cá, com a minha tia, mas não o suficiente para poder falar, porque<br />

não vivi com o meu pai, porque se vivesse... Porque a família<br />

Maria Abranches<br />

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