PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
mesmo, normalmente, a tradição deles é falarem mesmo a<br />
língua. Por exemplo, o meu irmão fala. Agora não fala porque não<br />
tem ninguém com quem falar também, mas ele fala perfeitamente.<br />
Aí está, viveu com eles, viveu lá mesmo naquele<br />
meio”. (Tchambu, 24 anos, origem guineense, chegou a Portugal<br />
em 1990, com 11 anos)<br />
“Eu, na Guiné, falava mais crioulo, né Mas falava fula com a<br />
minha avó, porque ela não percebia bem o crioulo. Aqui em Lisboa<br />
falo mais português, porque tenho mais amigos portugueses. Até<br />
com os meus pais falo português, de vez em quando. Mas com os<br />
meus pais falo mais crioulo. Com o meu irmão é português, ele<br />
não sabe falar crioulo, sabe falar muito pouco e muito mal falado,<br />
porque já cresceu cá. Mas sabe fula, porque foi uma coisa que o<br />
meu pai sempre quis que nós soubéssemos, então ele fala<br />
connosco”. (Kumbá, 19 anos, origem guineense, chegou a<br />
Portugal em 1994, com 10 anos)<br />
Apesar de o português ser a língua mais falada com os filhos, quer por<br />
parte das guineenses, quer das indianas, a transmissão das línguas de<br />
origem é uma preocupação por parte de algumas mulheres, embora o<br />
crioulo, falado pela generalidade da população guineense, possa substituir<br />
a utilização das línguas étnicas entre as guineenses. Essa transmissão<br />
depende, contudo, de uma série de factores, nomeadamente a<br />
existência de um período de residência no país de origem, em idade de<br />
socialização linguística, entre as guineenses mais jovens, ou a presença<br />
de familiares mais velhos que não falam o português, quer entre as<br />
guineenses, quer entre as indianas:<br />
“Olha, lá em casa, o meu avô, o pai do meu pai, falava mais<br />
indiano, percebes Ele morava connosco, só que entretanto ele<br />
faleceu, no ano passado. E, então, o meu avô, se calhar, no início<br />
falava mais em indiano connosco, percebes E isso também fazia<br />
com que... Aprendi, mas sabes quando tu aprendes mas custa-te<br />
um bocado a falar porque não estás muito habituada” (Yasmin,<br />
19 anos, origem indiana, nascida em Portugal)<br />
“Falo sempre em português com os meus pais, mas eles às vezes<br />
falam em meman entre eles, também. Mas com a minha avó, e<br />
isso, falo em meman. Foi de ouvir, porque o meu pai, com os meus<br />
tios, tanto fala em português como também fala em meman, percebes<br />
Então tu vais aprendendo”. (Rafiah, 21 anos, origem<br />
indiana, nascida em Portugal)<br />
Entre as indianas, apenas Inas e Ayra, irmãs de diferentes faixas etárias,<br />
referem nunca lhes ter sido transmitida a língua indiana de origem, tendo<br />
Maria Abranches<br />
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