PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
num nível mais baixo. Eles, às vezes, ajudavam-nos, mas noto que<br />
eles estão mais avançados. Pá, eu até hoje noto que os filhos dos<br />
indianos estão mais avançados sempre que os filhos dos guineenses”.<br />
(Diminga, 25 anos, origem guineense)<br />
5.2. Novas Expressões da Identidade Religiosa:<br />
Reinterpretação de Representações e Práticas<br />
A forma como o indivíduo assume e vive a sua religiosidade pode<br />
apresentar fortes diferenças de acordo com a importância atribuída às<br />
práticas religiosas ou à representação da religião. As fronteiras da<br />
autodefinição enquanto muçulmano incorporam, portanto, significados<br />
variáveis, enfatizam diferentes aspectos e desenham novas expressões<br />
(Sunier in Baumann e Sunier, 1995). O sentimento de pertença à religião<br />
muçulmana acontece geralmente, em primeira instância, por herança<br />
familiar e, no caso dos pais serem de religiões diferentes, o sujeito<br />
seguirá o Islão se for esta a religião do pai.<br />
As escolas corânicas, referidas no ponto anterior, representam o<br />
primeiro veículo de socialização e abrem caminho para a constituição de<br />
identidades e práticas religiosas vincadas (Machado, 2002). A frequência<br />
dessas escolas, tanto no país de origem como no país receptor, no caso<br />
das entrevistadas já nascidas em Portugal ou chegadas com pouca idade,<br />
é, aliás, o elemento religioso comum à totalidade destas mulheres e<br />
jovens. Contudo, as manifestações religiosas diferenciam-se e complexificam-se<br />
por meio de diversos factores intervenientes na construção<br />
da identidade religiosa. Hana e Tchambu, de origens indiana e guineense,<br />
exemplificam a importância da herança familiar. Não tendo actualmente<br />
os pais ou outros familiares próximos mais velhos presentes, afastaramse<br />
das práticas religiosas, mas a religião muçulmana continua a representar<br />
um papel importante nas suas vidas:<br />
“Eu acho que, muito sinceramente, nós continuamos crentes e<br />
nós temos a nossa fé, mas o que nos prendia, de facto, à religião<br />
mesmo a sério, acho que era a minha mãe. O meu pai, se calhar,<br />
se estivesse cá também, mas eu falo na minha mãe porque,<br />
pronto, é a minha mãe que estava sempre connosco. A minha<br />
mãe, depois de ter morrido, nós… Eu posso dizer que nos<br />
desligámos praticamente dessas coisas, estás a perceber (...)<br />
Não pratico, mas é, tipo, eu quando vou dormir não rezo, se<br />
calhar, como um muçulmano devia rezar, mas eu faço a minha<br />
reza, peço a Deus aquilo que eu quero, estás a ver E faço isso<br />
todos os dias antes de ir dormir. Não sei se é da maneira correcta<br />
Maria Abranches<br />
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