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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

visibilidade, perante a comunidade, da inevitável abertura das redes de<br />

sociabilidade a pessoas de outras origens, não tem o mesmo peso entre<br />

as guineenses. De resto, mesmo durante o período de residência na<br />

Guiné, todas salientam a existência de amigos de várias etnias e,<br />

portanto, não apenas muçulmanos. Entre as jovens indianas, apenas Nisa<br />

destaca o cumprimento de horários como a principal exigência dos pais<br />

nas suas saídas à noite, não sendo impostas regras no que diz respeito às<br />

amizades intra ou extragrupo.<br />

Alguma dominação por parte dos cônjuges das jovens que já se encontram<br />

casadas é uma situação igualmente observada. Para além de<br />

Fatumata, Inas, de origem indiana, considera maior o controlo exercido<br />

pelo marido do que o da própria família de origem, tal como já foi<br />

adiantado no capítulo 3 a propósito das opções escolares e profissionais<br />

da entrevistada, condicionadas pelo cônjuge. Esta situação também se<br />

adivinha em relação à irmã de Zayba, segundo o testemunho desta, descrito<br />

no capítulo anterior.<br />

“Por exemplo, olha, um dos motivos também por eu ter deixado o<br />

volley foi por causa do meu marido. Ele é mais… não gostava<br />

tanto, até porque, na altura, o equipamento de volley era completamente<br />

descoberto, e tínhamos umas posições assim um<br />

pouco mais... tipo, a manchete, o mergulho, e isso tudo. E ele aí<br />

não... (…) E antes, com as minhas amigas, era durante o dia que<br />

eu estava com elas. À noite estava com elas, mas sempre com ele<br />

também. E, por exemplo, ao princípio era impensável, e tive<br />

muitas dificuldades, mesmo, para ele aceitar essas coisas. Agora<br />

não, agora já, pronto, já temos tipo um dia... Ele à sexta-feira, por<br />

exemplo, sai com os amigos dele e eu saio com as minhas<br />

amigas”. (Inas, 27 anos, origem indiana)<br />

Neste sentido, também Ayra, irmã mais velha de Inas, salienta o conservadorismo<br />

e forte religiosidade do cônjuge, que considera poder vir a criar<br />

conflitos entre ambos na educação dos filhos:<br />

“Eu e o meu marido temos uma diferença de 10 anos, ele é mais<br />

velho 10 anos do que eu, de maneira que eu tenho uma mente<br />

mais aberta que ele, e vai haver conflitos de certeza por causa da<br />

minha filha. Vai haver, porque ela vai querer sair, eu vou querer,<br />

se calhar, impedi-la um bocadinho, mas ao mesmo tempo acho<br />

que não devo, e ele vai… o meu marido vai… Pronto, não há-de<br />

gostar disso, percebes Não sei como é que vai ser. Aliás, tenho<br />

pensado imenso nisso, mas acho que vai ser um bocadinho mais<br />

complicado. O meu segundo filho já esteve em Inglaterra três<br />

meses, porque o meu marido, na altura, achou que ele devia<br />

Maria Abranches<br />

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