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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

amigos com quem estamos juntos ao fim-de-semana e se<br />

passeia, e isso, não, não. Muito raro. Nós vivemos mais dentro da<br />

nossa comunidade”. (Raja, 49 anos, origem indiana)<br />

“Tenho amigos cristãos dentro dos guineenses, como<br />

portugueses. Mas o que eu tenho mais é amigos muçulmanos,<br />

que eu convivo mais com eles. Eu saio mais é com amigas. A<br />

gente, quando tem essas festas assim, a gente encontra-se”.<br />

(Mariatu, 44 anos, origem guineense)<br />

A importância da prática da religião é, para Fatimah, motivo de maior<br />

convívio com outros muçulmanos, sendo mesmo salientada a dificuldade<br />

sentida devido à dispersão residencial da população de origem indiana<br />

em Portugal, que constitui, para ela, um obstáculo à socialização intragrupo:<br />

“A religião pratica-se em qualquer lado, em qualquer país, não é<br />

Mas em Moçambique o convívio é diferente, porque a maior parte,<br />

nas zonas onde moramos, é tudo muçulmano e, portanto, a<br />

pessoa nota a diferença. A gente junta-se e até dá gosto. Aqui,<br />

para a gente ver outro muçulmano temos que deslocar... Mas<br />

como eu também tento ser teimosa a tentar cumprir naquilo que<br />

posso, tento juntar as pessoas, é verdade. Às vezes convoco uma<br />

reunião só para isso, normalmente na mesquita, porque ali é central,<br />

não é Há os que vêm do outro lado do rio...” (Fatimah,<br />

58 anos, origem indiana)<br />

Entre as guineenses, distinguem-se as de chegada recente a Portugal,<br />

cujo sentido das redes de sociabilidade é ainda difícil de antever, sendo<br />

até ao momento caracterizado por maior fechamento. Kulumba, por<br />

exemplo, que, por não exercer ainda qualquer actividade profissional,<br />

encontra-se diariamente na mesquita, onde trabalha o cônjuge, não<br />

estabeleceu, por enquanto, contacto com pessoas de origem não<br />

muçulmana, embora se relacione igualmente com a população indiana<br />

que frequenta a mesquita, e não apenas com os guineenses. A mesma<br />

entrevistada salienta o desejo de que uma futura inserção profissional lhe<br />

permita contornar o controlo actualmente exercido pelo cônjuge no que<br />

diz respeito às redes de relações sociais que estabelece:<br />

“Para eu sair Ele não deixa eu sair sozinha, só quando eu estou<br />

a sair mesmo acompanhada com ele. Talvez quando eu consigo<br />

um trabalho. É o que eu penso, não é Porque no momento que<br />

eu não estou junto com ele, eu estou no meu trabalho, naquele<br />

momento eu estou livre, não é Oxalá. Alá é que sabe, não é”<br />

(Kulumba, 40 anos, origem guineense)<br />

Maria Abranches<br />

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