PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
guineense e indiana faz, assim, aumentar as percepções de racismo entre<br />
as primeiras. Para além disso, o facto de as redes de amizade<br />
estabelecidas pelas mais jovens se alargarem à população de origem<br />
portuguesa, e de elas terem um percurso escolar mais longo, contribui<br />
para que considerem, menos do que as mais mulheres velhas, haver<br />
racismo em Portugal:<br />
“Os meus amigos respeitam imenso, graças a Deus. Tenho amigos<br />
portugueses e não entra bebida alcoólica na minha casa. Quando<br />
vamos a casa de algum amigo almoçar, ele tem o cuidado de não<br />
fazer carne nem vinho, por respeito. E na minha casa nunca pedem.<br />
E, se querem vir cozinhar carne para a minha casa, eu compro a<br />
carne e cozinhamos à vossa moda, à moda portuguesa, e comemos.<br />
Há um respeito mútuo”. (Latifah, 27 anos, origem indiana)<br />
“Todos os meus amigos respeitam o facto de eu não comer porco.<br />
Se eu vou a casa de algum amigo meu, eles têm esse cuidado, não<br />
têm nada de porco, estás a perceber Há um respeito mútuo. Eles<br />
cresceram todos comigo, nós já somos amigos há muito tempo,<br />
eles sabem os meus hábitos todos e então compreendem”. (Inas,<br />
27 anos, origem indiana)<br />
6.3. Contextos de Socialização e Entreajuda:<br />
os Movimentos Associativos<br />
As redes de sociabilidade estabelecidas pelos muçulmanos em geral,<br />
são, como já vimos, caracterizadas por um maior fechamento relacional<br />
e, por isso, mais viradas para dentro do que as de outros grupos minoritários,<br />
até mesmo quando comparadas com os modelos de relação<br />
social característicos de grupos étnicos com a mesma origem nacional,<br />
como é o caso de algumas etnias guineenses, que apresentam formas de<br />
sociabilidade mais alargadas. Assim sendo, os guineenses muçulmanos,<br />
de um modo geral, apresentam uma alta taxa de filiação associativa<br />
(embora com pouca participação activa e liderança), facto que se liga<br />
precisamente às redes de sociabilidade intra-étnica mais fortes que os<br />
caracterizam. Isto é verdade, todavia, para os grupos etários mais velhos,<br />
mais do que para os jovens, como foi possível constatar ao longo deste<br />
capítulo. Neste sentido, são também sobretudo as mulheres mais velhas,<br />
nomeadamente as guineenses, a envolverem-se em movimentos<br />
associativos, cuja especificidade será mais à frente aprofundada.<br />
Por outro lado, a menor presença de associativismo formal indiano<br />
(embora se encontrem formas diversas de associativismo informal nesta<br />
população) confirma a ligação deste tipo de movimento associativo<br />
Maria Abranches<br />
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