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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

Para além das diferenças a nível das condições de trabalho, às mulheres<br />

migrantes é frequentemente atribuída a função estratégica de contribuir<br />

para a integração, sendo incumbidas de transmitir e dar continuidade aos<br />

valores e costumes. Este facto, associado à divisão tradicional dos papéis<br />

femininos e masculinos, dificulta o acesso das mulheres ao trabalho<br />

assalariado. Também as estruturas familiares destas mulheres constituem<br />

um obstáculo à sua liberdade de escolha, na medida em que a<br />

maioria não dispõe de familiares, na sociedade de acolhimento, para<br />

prestação de apoio informal, indispensável à conciliação entre a vida<br />

familiar e profissional (Louise Ackers in Tavares e outros, 1998).<br />

Os novos cenários étnicos que se têm vindo a construir no perfil do<br />

fenómeno imigratório em Portugal, assim como algum crescimento da<br />

componente feminina do total de estrangeiros residentes, confirmam a<br />

importância do desenvolvimento de estudos empíricos desta temática,<br />

sem neglicenciar as transformações inerentes ao processo que ocorrem<br />

já na sociedade receptora. A necessidade de aprofundar a análise da<br />

questão do género nos modelos migratórios é, pois, cada vez mais<br />

urgente, sendo fundamental uma abordagem interrelacional entre as<br />

duas grandes temáticas – género e etnicidade – para melhor conhecer a<br />

especificidade feminina na (re)construção identitária em contexto de imigração.<br />

De facto, as limitações ainda hoje atribuídas às representações do<br />

feminino e, até mesmo ao nível prático, ao papel da mulher, tanto nas<br />

relações familiares como nas relações de trabalho, produzem efeitos de<br />

constrangimento nos processos femininos de construção da identidade,<br />

que devem aqui ser somados aos obstáculos muitas vezes encontrados<br />

após a migração. Por outro lado, no caso particular das mulheres<br />

muçulmanas em Portugal, os seus projectos individuais ou, pelo menos,<br />

parte deles, são muitas vezes negociados com sucesso com as suas<br />

famílias e com o grupo de pertença. Mesmo quando estes projectos não<br />

se coadunam totalmente com as estratégias identitárias do grupo,<br />

fortemente coeso, a que pertencem, como é o caso da inserção profissional<br />

da mulher, outros condicionalismos exteriores podem contribuir,<br />

como vimos, para a sua concretização, tal como a necessidade de reforço<br />

dos rendimentos familiares. Não sendo geralmente este o objectivo<br />

primeiro da vinda para Portugal destas mulheres – embora seja importante<br />

não esquecer as várias modalidades existentes de migração<br />

feminina, frequentemente ignoradas – representa uma intenção que, tal<br />

como outras que foram analisadas ao longo desta pesquisa e que serão<br />

aqui apresentadas, é influenciada por vários elementos que contribuem<br />

fortemente para a (re)construção identitária.<br />

Maria Abranches<br />

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