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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

acho que na Guiné as coisas são diferentes, são mais modernas,<br />

não tem aquele preconceito, porque lá há mistura”. (Aisatu, 23<br />

anos, origem guineense)<br />

A coexistência entre a tradição religiosa oficial e as tradições populares<br />

de origem antiga é, de facto, extremamente marcada nesta população. Os<br />

chamados marabus ou astrólogos muçulmanos, especialistas da<br />

manipulação do sobrenatural, são exemplo de referências que, apoiandose<br />

no Islão, utilizam práticas curandeiras e de adivinhação. Sendo<br />

islâmicos praticantes e estudiosos do Alcorão, assumem-se como detentores<br />

de poderes capazes de prevenir e resolver qualquer tipo de problema<br />

(Machado, 2002). Nos discursos de algumas entrevistadas de<br />

origem guineense é visível a proximidade com estas práticas, quer experienciadas<br />

pelas próprias, quer pelos pais:<br />

“Eu vou, mas é muito difícil, não é a toda a hora. (...) Evita-me<br />

muita coisa, aquele que queria fazer mal, para não conseguir”.<br />

(Musuba, 69 anos, origem guineense)<br />

“Eu não fui, porque eu... Não é questão de não acreditar, mas é<br />

não ligar. Eu respeito e acho que, pronto, cada um faz o seu trabalho.<br />

Mas eu não fui, nunca fui. O meu pai vai, a minha mãe vai, mas<br />

não é para fazer mal a ninguém... Porque há pessoas que vão lá<br />

para fazer mal à outra pessoa, a uma pessoa que têm inveja. Isso<br />

então na Guiné é uma coisa que se pratica muito”. (Kumbá, 19<br />

anos, origem guineense)<br />

“Já fui, por acaso já fui. Por exemplo, quando eu cheguei aqui, as<br />

coisas não foram correndo como eu planeava, como eu queria. Eu<br />

vou trabalhar, não estou fazendo o que eu quero, vou à procura de<br />

trabalho, não encontro... Eu fico chateada e vou ver o que é que eu<br />

preciso fazer para conseguir um emprego estável. Quando fui lá,<br />

fui indicada por uma amiga minha. Eu não queria ir, eu preferia ter<br />

que pedir à minha irmã, que está na Guiné, para ir lá fazer por<br />

mim. Mas ela disse: «Não vale a pena gastar o dinheiro da tua<br />

irmã. Vai lá, que ele não vai pedir muito, e ele vai ser muito<br />

sincero»”. (Aisatu, 23 anos, origem guineense)<br />

Embora não constitua uma prática conhecida e largamente difundida<br />

entre a população muçulmana de origem indiana, uma entrevistada desta<br />

origem revelou já ter consultado um astrólogo, apesar de não ser prática<br />

recorrente:<br />

“Aqueles que fazem adivinhação Costumo, já fiz, num familiar,<br />

ele é que faz essas coisas. Mas eu não acredito muito. Às vezes<br />

vou, mas sem acreditar. É só para curiosidade, mas não acredito<br />

muito nessas coisas. (…) Não vou a muita parte para pedir, eu<br />

Maria Abranches<br />

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