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PERTENÇAS FECHADAS EM ESPAÇOS ABERTOS - Acidi

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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />

Na sequência do que já foi dito, um certo distanciamento é visível entre os<br />

dois grupos de muçulmanos mais representativos em Portugal. Os<br />

muçulmanos de origem guineense queixam-se de serem alvo de alguma<br />

marginalização, sobretudo na CIL (Comunidade Islâmica de Lisboa), cuja<br />

direcção é dominada por muçulmanos de origem indiana, e formaram,<br />

assim, uma associação própria, a Associação dos Muçulmanos Naturais<br />

da Guiné-Bissau Residentes em Portugal, em 1990 (Harouna, 1992).<br />

Na própria Mesquita Central da Praça de Espanha, em Lisboa, evidencia-<br />

-se a separação entre os elementos das duas origens que, quer na sala<br />

de oração, quer à saída, no momento de convívio que se dá após a oração<br />

de sexta-feira, se distinguem através de uma divisão clara do espaço. De<br />

resto, são os guineenses que mais tempo permanecem na rua da<br />

mesquita, em que, sobretudo as mulheres, aproveitam para vender os<br />

seus produtos (que vão desde peças de vestuário a tapetes, incenso,<br />

cassetes de vídeo de cantores guineenses e senegaleses ou produtos<br />

alimentares). Algumas entrevistadas indianas salientam, elas próprias,<br />

esta divisão do espaço, notando-se um tom de crítica face às práticas das<br />

guineenses:<br />

“Se reparares, as guineenses não se tapam tanto. Olha, no outro<br />

dia, por acaso, houve a roupa de uma guineense que me chamou<br />

um bocado a atenção... é que ela estava com esta parte aqui [de<br />

lado, por baixo dos braços] totalmente à mostra, percebes E,<br />

pronto, isso não pode ser. Para rezar, então, não deverá mesmo<br />

ser”. (Yasmin, 19 anos, origem indiana)<br />

“Sempre ouvi dizer que, na mesquita, tu vês pessoas assim mais<br />

para o indiano que normalmente estão sempre em conjunto. Mas,<br />

depois, esses guineenses, não penses que se misturam. Não se<br />

misturam. Tu notas mesmo que há ali uma divisão entre eles”.<br />

(Hana, 23 anos, origem indiana)<br />

No entanto, não são negligenciáveis outros testemunhos que apontam no<br />

sentido de uma maior solidariedade e convívio entre diferentes nacionalidades<br />

de religião muçulmana. Maimuna, guineense de 37 anos,<br />

considera manter uma boa relação com muçulmanos de outras origens,<br />

salientando a ajuda prestada por um indiano à comunidade muçulmana,<br />

ao ter alugado um espaço no Rossio para que quem se encontre naquela<br />

zona da cidade à hora das orações tenha possibilidade de aí se deslocar<br />

para rezar. Esse espaço é, portanto, frequentado por indivíduos de várias<br />

origens, mantendo-se um convívio entre todos. Do mesmo modo,<br />

Kulumba, guineense de 40 anos, afirma ter amigos muçulmanos de<br />

origem indiana que conheceu na mesquita. Este facto poderá ficar a<br />

dever-se à especificidade que caracteriza a sua situação, na medida em<br />

Maria Abranches<br />

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