PERTENÃAS FECHADAS EM ESPAÃOS ABERTOS - Acidi
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PERTENÇAS <strong>FECHADAS</strong> <strong>EM</strong> ESPAÇOS <strong>ABERTOS</strong> – Estratégias de (re)Construção Identitária de Mulheres Muçulmanas em Portugal<br />
vamos para a casa dos nossos sogros». Normalmente as<br />
raparigas acabam sempre por ir viver para a casa das sogras,<br />
mesmo para aprender os hábitos do marido, e essas situações<br />
todas (…). Aceitei, porque é assim… Eu até tinha um relacionamento<br />
bom com a minha sogra, e como trabalhava e estava a<br />
estudar à noite, então achava que não havia muito problema. Mas<br />
só que não, depois comecei a não ter o meu espaço próprio e<br />
começou a ser complicado (…). Estivemos um período separados,<br />
de quatro meses, e depois eu lá vim outra vez para aqui, porque<br />
era muito cedo para darmos esse passo, o da separação”. (Inas,<br />
27 anos, origem indiana, chegou a Portugal em 1977, com 1 ano)<br />
Latifah, por sua vez, considera com agrado que não lhe teria sido imposta<br />
essa tradição, mesmo que os sogros residissem em Portugal, na medida<br />
em que estes, também seus tios, receberam uma educação menos<br />
tradicional:<br />
“Há um bocadinho aquela tradição: «Vem viver comigo, uns seis<br />
mesitos, para aprender os costumes, a maneira de cozinhar, as<br />
tradições...», porque cada família, cada casa tem as suas. Eu,<br />
graças a Deus, não passei por isso. Sabes, a minha sogra é uma<br />
pessoa muito moderna, muito liberal, muito amiga. Se ela<br />
estivesse aqui, nunca haveria de querer que eu fosse viver com<br />
ela. A família da parte do meu marido, a minha tia, é muito mais<br />
liberal que a família do meu pai. Mais liberal na roupa, na maneira<br />
de estar na vida... Em tudo, muito mais liberal”. (Latifah, 27 anos,<br />
origem indiana, chegou a Portugal em 1981, com 5 anos)<br />
Embora se possa observar, portanto, alguma tendência para a privatização<br />
da vida familiar, com a maior ausência dos sogros no agregado<br />
doméstico, esta individualização não possui a mesma visibilidade que tem<br />
vindo a adquirir na sociedade portuguesa.<br />
Entre as guineenses, por seu lado, as estruturas familiares de origem,<br />
extremamente alargadas e onde predomina, por vezes, a poligamia,<br />
alteram a prática da passagem para casa dos sogros, cuja tradição não<br />
tem o mesmo peso que entre as indianas. A complexidade inerente a<br />
estas estruturas familiares deve-se também à existência de um grande<br />
número de filhos, facto que leva alguns deles a viverem desde cedo com<br />
outros familiares.<br />
Não foram, assim, encontradas situações de passagem por casa dos<br />
sogros entre as guineenses, quer em Portugal (para onde, de resto,<br />
muitas vezes, os familiares mais velhos nunca chegaram a vir) quer no<br />
Maria Abranches<br />
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