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O impacto da certificação iso 9000 na burocratização ... - IEM - Unifei

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XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003<br />

O Impacto <strong>da</strong> Certificação ISO <strong>9000</strong> <strong>na</strong> Burocratização <strong>da</strong>s Empresas<br />

Arlete Rosemary Simões (UNIFEI) fatura@fupai.com.br<br />

César Augusto Villela <strong>da</strong> Silva (UNIFEI) cesar.silva@netfacil.biz<br />

Carlos Eduardo Sanches <strong>da</strong> Silva (UNIFEI) sanches@iem.efei.br<br />

João Batista Turrioni (UNIFEI) turrioni@unifei.edu.br<br />

Resumo<br />

Muitas empresas implantaram o Sistema de Controle <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de baseados <strong>na</strong> norma ISO<br />

<strong>9000</strong>, buscando ape<strong>na</strong>s o atendimento de requisitos para <strong>certificação</strong>, preocupando-se em<br />

documentar processos existentes e gerar procedimentos, incentivando a <strong>burocratização</strong>, sem<br />

resultados práticos que agregassem valor aos produtos.<br />

Palavras-chave: Burocracia, ISO <strong>9000</strong>, Certificação.<br />

1. Introdução<br />

As normas ISO <strong>9000</strong> foram lança<strong>da</strong>s em 1987, com o objetivo de definir mundialmente um<br />

padrão para garantia <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos produtos <strong>da</strong>s empresas. A organização responsável<br />

pelas normas, a ISO (Inter<strong>na</strong>tio<strong>na</strong>l Organization for Stan<strong>da</strong>rdization), tem como política uma<br />

revisão a ca<strong>da</strong> cinco anos para que se mantenham atuais e consistentes com as exigências do<br />

mercado. Como parte dessa política, em 1994, as normas sofreram uma atualização<br />

superficial, se compara<strong>da</strong> com as mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> última revisão em 2000, a chama<strong>da</strong> ISO<br />

<strong>9000</strong>:2000. Adota<strong>da</strong> por mais de 250 mil empresas em todo mundo, a ISO <strong>9000</strong> é considera<strong>da</strong><br />

um <strong>da</strong>s mais influentes iniciativas do movimento <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos anos noventa (Pearch e<br />

Kitka, 2000).<br />

A nova revisão apresenta várias modificações e to<strong>da</strong>s as empresas certifica<strong>da</strong>s pelas normas<br />

<strong>da</strong> série ISO <strong>9000</strong>:1994 terão que fazer grandes mu<strong>da</strong>nças em seus sistemas <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de para<br />

manter a <strong>certificação</strong> (Kanholm, 2000).<br />

A ISO <strong>9000</strong>:2000 foi publica<strong>da</strong> em dezembro de 2000, atualizando a antiga norma ISO<br />

<strong>9000</strong>:1994. A revisão foi feita a partir de <strong>da</strong>dos coletados mundialmente para entender as<br />

necessi<strong>da</strong>des e a experiência dos usuários com ISO <strong>9000</strong>:1994 e com sistemas de gestão <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de genéricos, refletindo assim <strong>na</strong> nova norma diretrizes para que as empresas realizam<br />

as ativi<strong>da</strong>des de seus negócios.<br />

Segundo Seaver (1998), as sete maiores melhorias necessárias, segundo as respostas dessa<br />

pesquisa, foram: linguagem e terminologia mais simples, facili<strong>da</strong>de de integração com outros<br />

sistemas de gestão, melhoria contínua, uso <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem de modelo de processo para a gestão<br />

<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de, melhor compatibili<strong>da</strong>de com a ISO 14000, ênfase <strong>na</strong> satisfação do cliente e<br />

maior orientação para os negócios.<br />

Dessa forma, a ISO <strong>9000</strong>:2000 é basea<strong>da</strong> num modelo de processo que pode ser usado por<br />

qualquer empresa seja ela de manufatura seria<strong>da</strong>, de processos químicos, ou prestadora de<br />

serviços. Todos os requisitos <strong>da</strong> nova norma são escritos em termos genéricos e menos<br />

prescritivos. Essa falta de especifici<strong>da</strong>de tor<strong>na</strong> a norma mais fácil de ser a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> às<br />

operações <strong>da</strong>s empresas. A norma revisa<strong>da</strong> representa uma evolução e um alinhamento com o<br />

pensamento progressivo do campo <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de (Pearch e Kitka, 2000).<br />

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A mais visível mu<strong>da</strong>nça <strong>na</strong> norma ISO 9001:2000 é a nova organização <strong>da</strong>s Seções, sendo a<br />

reorganização basea<strong>da</strong> numa lógica diferente. Enquanto as 20 Seções <strong>da</strong> ISO 9001:1994<br />

representavam uma lista linear de elementos, funções e ativi<strong>da</strong>des constituindo o sistema <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de. A ISO 9001:2000 é organiza<strong>da</strong> em 5 Seções basea<strong>da</strong>s no Planejar, Fazer, Verificar<br />

e Melhorar, o ciclo PDCA (Kanholm, 2000). As cinco Seções são (ISO 9001:2000).<br />

− Seção 4, Sistema de Gestão <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de: requisitos gerais para o desenvolvimento e<br />

documentação do sistema de quali<strong>da</strong>de;<br />

− Seção 5, Responsabili<strong>da</strong>de Gerencial: contém a política <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de, objetivos <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de, planejamento e administração do sistema <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e revisões gerenciais;<br />

− Seção 6, Gestão de Recursos: sobre recursos humanos, trei<strong>na</strong>mento, instalações e<br />

ambiente de trabalho;<br />

− Seção 7, Realização do Produto: abrange todos os requisitos referentes ao controle do<br />

desenvolvimento do produto, compras, produção (realização), verificação, entrega,<br />

processo relacio<strong>na</strong>dos ou cliente (identificação e revisão <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des dos clientes e<br />

comunicação com os clientes); e<br />

− Seção 8, Medição, Análise e Melhoria: dedica<strong>da</strong> à medição <strong>da</strong>s características do produto<br />

e do processo, ao monitoramento do desempenho do sistema <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de e à busca <strong>da</strong><br />

melhoria contínua.<br />

A Figura 1 ilustra o modelo de processo <strong>da</strong> ISO <strong>9000</strong>:2000 e o relacio<strong>na</strong>mento existente<br />

entre as seções acima.<br />

Figura 1: Modelo de Processo <strong>da</strong> ISO <strong>9000</strong>:2000 - Fonte: Pearch e Kitka, 2000.<br />

Os novos requisitos <strong>da</strong> norma ISO 9001:2000 trazem três melhorias (Pearch e Kitka, 2000):<br />

− Inclusão <strong>da</strong> voz do cliente: as necessi<strong>da</strong>des dos clientes são as entra<strong>da</strong>s e a satisfação dele<br />

é a saí<strong>da</strong>. Dessa forma, as organizações certifica<strong>da</strong>s vão precisar de métodos para<br />

descrever e monitorar o que o cliente deseja para medir e a<strong>na</strong>lisar a satisfação dele;<br />

− Melhoria contínua: não é mais suficiente medir a satisfação do cliente, mas melhora-la.<br />

Além de medir e melhorar os processos internos; e<br />

− Maior responsabili<strong>da</strong>de e envolvimento <strong>da</strong> gerência: cabe à gerência se responsabilizar<br />

pelo início e revisão do ciclo de PDCA para assegurar a melhoria contínua e a satisfação<br />

dos clientes.<br />

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A gerência tem um importante papel também <strong>na</strong> Seção 8, que requer tomar decisões sobre as<br />

medi<strong>da</strong>s-chave de desempenho e a<strong>na</strong>lisar os resultados <strong>da</strong>s informações de fontes como<br />

auditorias, feedback do cliente e a<strong>na</strong>lisar outras medi<strong>da</strong>s de desempenho referentes aos<br />

produtos, fornecedores e tendências.<br />

A abor<strong>da</strong>gem trazi<strong>da</strong> pela Certificação pela Norma ISO <strong>9000</strong> <strong>na</strong> versão 1994, pelo seu foco<br />

<strong>na</strong> quali<strong>da</strong>de dos processos relacio<strong>na</strong>dos e do produto fi<strong>na</strong>l, levou as empresas a uma<br />

preocupação excessiva com procedimentos e documentação, incentivando a <strong>burocratização</strong><br />

(excessivo controle e “papela<strong>da</strong>” <strong>na</strong> organização).<br />

Este artigo tem como objetivo discorrer a respeito <strong>da</strong> <strong>burocratização</strong> <strong>da</strong>s empresas oriun<strong>da</strong> do<br />

processo de <strong>certificação</strong> pelos critérios <strong>da</strong> Norma ISO <strong>9000</strong> a partir de um enfoque<br />

preocupado ape<strong>na</strong>s com o cumprimento dos requisitos <strong>da</strong> norma e não como um sistema de<br />

gestão capaz de contribuir para a competitivi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> organização como um todo.<br />

O desenvolvimento <strong>da</strong> pesquisa realiza uma revisão bibliográfica que identifica os<br />

pressupostos teóricos <strong>da</strong> <strong>burocratização</strong>, que são posteriormente avaliados através de um<br />

estudo de caso, que leva as principais conclusões e propostas de estudos complementares.<br />

2. Fun<strong>da</strong>mentos sobre a burocracia<br />

Defini-se burocracia como a administração sujeita a hierarquia e regulamentos redigidos e<br />

uma roti<strong>na</strong> inflexível, trâmites <strong>da</strong> burocracia; complicação ou morosi<strong>da</strong>de no desempenho do<br />

serviço.<br />

O modelo burocrático foi proposto por Max Weber que segundo Foguel e Souza (1988) teve<br />

sua origem devi<strong>da</strong>:<br />

− A fragili<strong>da</strong>de e a parciali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s teorias Clássica e <strong>da</strong>s Relações Huma<strong>na</strong>s, que detinham<br />

uma visão extremista e incompleta sobre as organizações;<br />

− A necessi<strong>da</strong>de de um modelo racio<strong>na</strong>l que envolvesse to<strong>da</strong>s as variáveis <strong>da</strong> organização;<br />

− O crescimento e <strong>da</strong> complexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s organizações, passou a exigir modelos mais bem<br />

definidos.<br />

Complementam Foguel e Souza (1988) que a burocracia se baseia <strong>na</strong> racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de, isto é, <strong>na</strong><br />

adequação dos meios aos objetivos (fins), para que se obtenha o máximo de eficiência.<br />

Para Wood (2000) o modelo burocrático ain<strong>da</strong> é bastante utilizado <strong>na</strong>s áreas de organização<br />

& métodos e recursos humanos e atualmente , voltou a ser amplamente implementado através<br />

<strong>da</strong>s normas ISO série <strong>9000</strong> e com os sistemas integrados de gestão, espalhando controles e<br />

procedimentos por to<strong>da</strong> a empresa.<br />

Apesar de iniciativas no passado de elimi<strong>na</strong>r a burocracia, como o Ministério <strong>da</strong><br />

Des<strong>burocratização</strong>, ain<strong>da</strong> nos governos militares brasileiros, este conceito que ain<strong>da</strong> está<br />

bastante presente, principalmente como decorrência, ou suposto apoio à implantação dos<br />

sistemas de garantia <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de baseados <strong>na</strong> norma ISO <strong>9000</strong>.<br />

Um dos problemas dessa abor<strong>da</strong>gem espetaculosa é abor<strong>da</strong>r à burocracia como um mal o que<br />

pode gerar <strong>da</strong>nosos efeitos colaterais. Exemplo: uma ação comum a que temos assistido nos<br />

últimos anos é a redução dos níveis hierárquicos. Advoga-se que a existência de muitos níveis<br />

dificulta a comunicação e tor<strong>na</strong> os processos decisórios lentos, além de representar custos<br />

intoleráveis. Resposta óbvia: cortar elos e enxugar a estrutura, reduzindo os níveis médios e<br />

os cargos de staff. Problema diagnosticado, solução defini<strong>da</strong>. Porém, depois de promover<br />

enxugamentos descui<strong>da</strong>dos, o que muitas empresas estão descobrindo é que os demitidos<br />

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levaram consigo competências importantes para os negócios. E essas empresas vão pagar caro<br />

por isso.<br />

Outra ação é acabar com a “papela<strong>da</strong>” (<strong>na</strong> linguagem popular, costumamos identificar<br />

burocracia com papela<strong>da</strong>). Excesso de normas e procedimentos realmente tolhem a<br />

criativi<strong>da</strong>de e aju<strong>da</strong>m a promover uma cultura volta<strong>da</strong> para a passivi<strong>da</strong>de e para o status.<br />

Para complicar ain<strong>da</strong> mais as coisas, é comum ouvir executivos ou empreendedores<br />

reclamando <strong>da</strong> falta de controle e informação sobre as operações.<br />

Segundo Foguel e Souza (1988) o modelo burocrático é identificado quando a organização:<br />

estabelece normas e regulamentos; as comunicações são registra<strong>da</strong>s; a divisão do trabalho é<br />

racio<strong>na</strong>l, sendo definidos os cargos e suas funções; ca<strong>da</strong> cargo inferior deve estar sob<br />

supervisão do cargo automaticamente superior; os trabalhos devem ser executados conforme<br />

os documentos estabelecem. Enfim busca-se a previsibili<strong>da</strong>de dos resultados através <strong>da</strong><br />

descrição detalha<strong>da</strong> dos processos através de normas. Por outro lado Her<strong>na</strong>ndez e Cal<strong>da</strong>s<br />

(2001) descrevem que a burocracia não leva em conta a organização informal, nem a<br />

variabili<strong>da</strong>de huma<strong>na</strong>, cria a necessi<strong>da</strong>de de registros to<strong>da</strong>s as comunicações, faz que os<br />

colaboradores fiquem voltados para o interior <strong>da</strong> organização, cria razões para que<br />

colaboradores resistam as mu<strong>da</strong>nças.<br />

A questão central é a confusão que se faz entre o modelo burocrático e suas perversões. As<br />

conseqüências negativas <strong>da</strong> burocracia — rigidez, alie<strong>na</strong>ção, baixo comprometimento e<br />

lentidão — podem ser comuns às organizações burocráticas, mas não lhes são inerentes ou<br />

exclusivas.<br />

Na sua concepção origi<strong>na</strong>l, a burocracia deveria servir para introduzir racio<strong>na</strong>li<strong>da</strong>de à<br />

organização do trabalho, um objetivo louvável e ain<strong>da</strong> válido (Wood, 2000). De fato,<br />

nenhuma empresa, principalmente se for uma organização de grande porte, pode sobreviver<br />

sem padrões mínimos de confiabili<strong>da</strong>de e reprodutibili<strong>da</strong>de. E esses dois requisitos traduzemse<br />

em normas, procedimentos, hierarquia e controle.<br />

Wood (2000) cita que: “Construir burocracias melhores, como propõe o professor Paul Adler,<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Sul <strong>da</strong> Califórnia, significa desenvolver sistemas, procedimentos e a<br />

própria estrutura organizacio<strong>na</strong>l. Ca<strong>da</strong> empresa, com suas peculiari<strong>da</strong>des, vai exigir diferentes<br />

modelos e formas de controle. Ain<strong>da</strong> segundo Paul Adler, o que faz diferença não é o modelo<br />

organizacio<strong>na</strong>l ser burocrático ou orgânico, mas se a empresa adota práticas coercitivas ou<br />

facilitadoras, o que pode ocorrer em qualquer modelo organizacio<strong>na</strong>l”. As práticas coercitivas<br />

inibem a criativi<strong>da</strong>de e a participação e levam à apatia e à falta de comprometimento. As<br />

práticas facilitadoras, por sua vez, estimulam o vínculo entre funcionários e empresa e<br />

contribuem para atitudes empreendedoras.<br />

Para enfrentar concorrentes aguerridos e tempos difíceis, é prec<strong>iso</strong> flexibili<strong>da</strong>de e capaci<strong>da</strong>de<br />

de improvisação. Mas isso só é possível se houver uma sóli<strong>da</strong> base, que também atende pelo<br />

nome de burocracia. Apesar de questio<strong>na</strong><strong>da</strong> e de ter seus fun<strong>da</strong>mentos mal entendidos, a<br />

burocracia vem se consoli<strong>da</strong>ndo <strong>na</strong>s últimas déca<strong>da</strong>s, talvez ela ain<strong>da</strong> seja uma alter<strong>na</strong>tiva<br />

para li<strong>da</strong>r com a complexi<strong>da</strong>de e a incerteza deste fim de século e do início do próximo.<br />

Concluí-se que a burocracia em si não é um mal, desde que seja facilitadora do processo<br />

organizacio<strong>na</strong>l.<br />

O quadro 1 estabelece um comparativo entre os “tipos” de burocracia que convivem <strong>na</strong>s<br />

empresas.<br />

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No mundo <strong>da</strong>s<br />

Burocracias coercitivas...<br />

− Formulação estratégica é restrita aos<br />

executivos e foca<strong>da</strong> no nível dos<br />

negócios;<br />

− Estrutura foca autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> função e<br />

controle top-down;<br />

− Cultura privilegia comando e controle<br />

− Sistemas organizacio<strong>na</strong>is são<br />

projetados por experts para evitar<br />

ingerências políticas;<br />

− Um sistema bem projetado não exige<br />

revisões após a implantação;<br />

− Sistemas devem focalizar padrões de<br />

desempenho para ressaltar<br />

desempenhos ruins;<br />

− Sistemas são instruções a ser<br />

segui<strong>da</strong>s, não questio<strong>na</strong><strong>da</strong>s.<br />

Fonte: Wood (2000)<br />

No mundo <strong>da</strong>s<br />

Burocracias facilitadoras...<br />

− Formulação estratégica é participativa<br />

e também focaliza o nível <strong>da</strong>s funções;<br />

− Estrutura foca hierarquia de<br />

competências e controle partilhado;<br />

− Cultura privilegia controle e<br />

aprendizado;<br />

− Sistemas organizacio<strong>na</strong>is são<br />

projetados com o desenvolvimento dos<br />

funcionários para encorajar o<br />

comprometimento;<br />

− O projeto do sistema deve encorajar<br />

sugestões de melhorias de membros de<br />

todos os níveis;<br />

− Deve-se focalizar as melhores<br />

práticas: informação sobre padrões de<br />

desempenho não tem muito uso sem as<br />

informações sobre as melhores práticas<br />

para atingi-los;<br />

− Sistemas são configurações de<br />

melhores práticas a ser<br />

continua<strong>da</strong>mente melhora<strong>da</strong>s.<br />

Quadro 1 – Burocracias coercivas e facilitadoras<br />

3. Norma ISO <strong>9000</strong> e a Burocracia<br />

Existem inúmeros <strong>da</strong>dos estatísticos relacio<strong>na</strong>dos à implantação <strong>da</strong> Norma ISO <strong>9000</strong> <strong>na</strong>s<br />

empresas mostrando os benefícios gerados pela implantação de um sistema de garantia <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de documentado. No entanto, não temos estudos que nos mostrem a tendência que<br />

muitas organizações têm de confundir a padronização que a versão 1994 <strong>da</strong> Norma propõe<br />

com o engessamento dos processos pelo excesso de procedimentos e documentações.<br />

A manutenção dos requisitos <strong>da</strong> norma passa pela documentação escrita dos processos,<br />

através de procedimentos, que foram bastante incentivados. No entanto, este fato levou muitas<br />

organizações a simplesmente gerar inúmeros procedimentos, documentando formalmente os<br />

processos improdutivos que geravam resultados duvidosos, descrevendo o processo sem se<br />

preocuparem com seu aperfeiçoamento antes de sua re<strong>da</strong>ção e homologação.<br />

Neste sentido, muitas certificações tinham como objetivo a obtenção do “certificado”, seja<br />

para atender requisitos dos clientes ou até mesmo como meio de marketing. O objetivo que<br />

deveria ser aperfeiçoar seu sistema de gestão acabava sendo erroneamente confundido com<br />

uma “enxurra<strong>da</strong>” de papéis e procedimentos, que geravam custos aos processos.<br />

Todo trabalho de <strong>certificação</strong> segundo as normas ISO <strong>9000</strong>, focando o cliente e o negócio <strong>da</strong><br />

organização, pode trazer um benefício imediato que é o melhor conhecimento e a<br />

sistematização do processo produtivo, juntamente com o desenvolvimento <strong>da</strong>s pessoas<br />

envolvi<strong>da</strong>s.<br />

O uso <strong>da</strong> ISO <strong>9000</strong> como meio de gestão do negócio, permite além dos benefícios inerentes<br />

<strong>da</strong> <strong>certificação</strong> que se organize e se estabilize o processo.<br />

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Mello et al (2002) acrescenta que uma grande contribuição <strong>da</strong> versão 2000 <strong>da</strong>s Normas ISO<br />

<strong>9000</strong> foi à preocupação com a quali<strong>da</strong>de por to<strong>da</strong> a empresa, com foco nos resultados e <strong>na</strong><br />

melhoria contínua, onde somente são exigidos procedimentos para 6 requisitos obrigatórios <strong>da</strong><br />

Norma (controle de documentos; controle de registros; auditorias inter<strong>na</strong>s; ações corretivas;<br />

ações preventivas; e controle de produtos não conformes), contra os 20 procedimentos<br />

exigidos para ca<strong>da</strong> requisito <strong>da</strong> versão 1994.<br />

4. Análise de uma indústria de manufatura do Sul de Mi<strong>na</strong>s<br />

Com o objetivo de avaliar se a implementação de um Sistema de Garantia <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de<br />

fun<strong>da</strong>mentado <strong>na</strong>s normas NBR ISO <strong>9000</strong> contribue para a <strong>burocratização</strong> <strong>da</strong> empresa de<br />

maneira coerciva ou facilitadora, elaborou-se, fun<strong>da</strong>mentado <strong>na</strong> revisão bibliográfica, o<br />

protocolo de pesquisa:<br />

Característica<br />

Referencial sobre a burocracia <strong>na</strong> ISO <strong>9000</strong><br />

Coerciva<br />

Facilitadora<br />

Número de procedimentos 20 ou mais 6 obrigatórios<br />

Formulação estratégica <strong>da</strong> Elabora<strong>da</strong> e restrita aos Elabora<strong>da</strong> com a<br />

organização (dentre ela a executivos<br />

participação<br />

dos<br />

Política <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de com<br />

seus objetivos)<br />

colaboradores e comunica<strong>da</strong><br />

em todos os níveis<br />

Foca autori<strong>da</strong>de <strong>da</strong> função e Foca a hierarquia de<br />

Estrutura de poder controle “top-down” competências e o controle<br />

são compartilhados<br />

Cultura Comando e controle Controle e aprendizado<br />

Os procedimentos foram Os procedimentos foram<br />

redigidos por experts sem a elaborados com a<br />

participação<br />

dos participação<br />

dos<br />

Sistema de Garantia <strong>da</strong><br />

Quali<strong>da</strong>de<br />

Auditorias inter<strong>na</strong>s<br />

Ações corretivas<br />

Ações preventivas<br />

Abor<strong>da</strong>gem<br />

procedimentos<br />

dos<br />

colaboradores<br />

Os colaboradores foram<br />

informados sobre os<br />

procedimentos<br />

Não encoraja sugestões de<br />

melhorias dos colaboradores<br />

Foca ressaltar desempenhos<br />

ruins<br />

Identifica como causa os<br />

colaboradores<br />

Existem poucas ações<br />

preventivas, raramente<br />

ocorrem.<br />

Devem ser seguidos e não<br />

questio<strong>na</strong>dos (apresentam<br />

poucas revisões)<br />

colaboradores<br />

Os colaboradores foram<br />

incentivados a participarem<br />

<strong>da</strong> elaboração dos<br />

procedimentos<br />

Encoraja sugestões de<br />

melhorias dos colaboradores<br />

Foca<br />

identificar<br />

oportuni<strong>da</strong>des<br />

de<br />

aperfeiçoamentos e orienta o<br />

aperfeiçoamento<br />

Identifica como causas os<br />

elementos dos processos<br />

Existem muitas ações<br />

preventivas, são práticas<br />

comuns.<br />

São continuamente<br />

melhorados (apresentam<br />

várias revisões)<br />

− Verificou-se o acesso à empresa: entrevista prelimi<strong>na</strong>r com representantes <strong>da</strong> empresa;<br />

apresentação dos objetivos <strong>da</strong> pesquisa e instrumentos de medição;<br />

− Estabeleceu-se um cronograma de visitas para coleta de <strong>da</strong>dos;<br />

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− Preencheu-se o questionário com entrega de instrumentos de medição aos responsáveis <strong>da</strong><br />

quali<strong>da</strong>de para distribuição aos setores indicados. A escolha dos informantes chaves ficou<br />

por conta do responsável <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de. Os elementos descritos no questionário estão<br />

apresentados <strong>na</strong> tabela 2 e foram dispostos em um questionário, visando classificar os<br />

itens respondidos inserindo-os dentro de uma abor<strong>da</strong>gem de burocracia coercitiva ou<br />

facilitadora;<br />

− Tabulação dos <strong>da</strong>dos e efetivação <strong>da</strong>s conclusões.<br />

Efetuamos o referido estudo em uma empresa de manufatura do Sul de Mi<strong>na</strong>s, detentora do<br />

certificado de ISO <strong>9000</strong> a sete anos e a computação dos <strong>da</strong>dos demonstrou:<br />

− A empresa dispõe de 400 procedimentos escritos;<br />

− A formulação estratégica foi defini<strong>da</strong> pela alta administração, com a participação de<br />

alguns níveis gerenciais;<br />

− A responsabili<strong>da</strong>de pela re<strong>da</strong>ção dos procedimentos é de ca<strong>da</strong> responsável pelas<br />

ativi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s áreas;<br />

− O número médio anual de Ações Corretivas documenta<strong>da</strong>s é de 80 e o enfoque destas é a<br />

priorização dos setores ou usuários causadores <strong>da</strong> não conformi<strong>da</strong>de;<br />

− O número médio anual de Ações Preventivas documenta<strong>da</strong>s é de 20;<br />

− O prazo médio de revisão dos procedimentos é superior a 6 meses;<br />

− As auditorias inter<strong>na</strong>s são conduzi<strong>da</strong>s pela área de Engenharia <strong>da</strong> Quali<strong>da</strong>de a ca<strong>da</strong> 6<br />

meses, sendo que seu enfoque é direcio<strong>na</strong>do a verificar a conformi<strong>da</strong>de e sugerir<br />

melhorias (em uma escala bem menor);<br />

− A política de controle determi<strong>na</strong> que o aprendizado e o erro são incentivados, porém o<br />

número de iniciativas para melhoria ain<strong>da</strong> é pequeno e não considera os<br />

processos/ativi<strong>da</strong>des críticas.<br />

Com posse <strong>da</strong> tabulação destes <strong>da</strong>dos, podemos concluir que o estilo de burocracia<br />

implantado pela Certificação ISO <strong>9000</strong>, nesta empresa, é do tipo “coercitiva”.<br />

5. Conclusão<br />

O Sistema de gestão refere-se a tudo o que a organização faz para gerenciar seus processos ou<br />

ativi<strong>da</strong>des.<br />

Quanto maior a organização, e quanto mais pessoas estão envolvi<strong>da</strong>s, maior a possibili<strong>da</strong>de de<br />

existirem alguns procedimentos, instruções, formulários ou registros documentados. Eles<br />

contribuem para assegurar que qualquer pessoa <strong>da</strong> organização não esteja ape<strong>na</strong>s fazendo seu<br />

trabalho de seu jeito e que exista um mínimo de ordem <strong>na</strong> forma como a organização conduz<br />

seus negócios, porém é necessário que a organização tenha a preocupação para que ao gerar<br />

tais documentos não o faça em demasia.<br />

A proliferação de normas era uma preocupação dos usuários e clientes <strong>da</strong> norma ISO<strong>9000</strong>.<br />

Como resposta a tal preocupação, a família <strong>da</strong> norma ISO <strong>9000</strong>:2000 consiste em quatro<br />

normas primárias apoia<strong>da</strong>s pôr um número consideravelmente reduzido de documentos de<br />

suporte (normas, diretrizes, cadernos, relatórios técnicos e especificações técnicas).Quando<br />

possível, os pontos-chaves dos documentos foram integrados <strong>na</strong>s quatro normas primárias e<br />

as necessi<strong>da</strong>des do setor satisfeito, enquanto mantinha-se a <strong>na</strong>tureza genérica <strong>da</strong>s normas.<br />

Considerando o foco <strong>da</strong> Norma ISO <strong>9000</strong>:1994 de adequação de vários requisitos para se<br />

garantir uma padronização dos processos e o foco <strong>na</strong> quali<strong>da</strong>de do produto, podemos concluir<br />

que muitas empresas se certificaram, obtendo até resultados práticos frutos <strong>da</strong> padronização<br />

de seus processos; mas com um custo elevado de <strong>burocratização</strong> dos seus processos<br />

organizacio<strong>na</strong>is.<br />

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XXIII Encontro Nac. de Eng. de Produção - Ouro Preto, MG, Brasil, 21 a 24 de out de 2003<br />

Ao mesmo tempo, o comitê responsável pelas normas ISO <strong>9000</strong>, percebendo esta “armadilha”<br />

gera<strong>da</strong> pelos sistemas de garantia <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de mol<strong>da</strong>dos <strong>na</strong> versão <strong>da</strong> norma de 1994,<br />

empreendeu esforços para a revisão 2000, que tem uma abor<strong>da</strong>gem sistêmica, um foco no<br />

cliente e <strong>na</strong> melhoria contínua, elimi<strong>na</strong>ndo ou simplificando vários procedimentos, tanto a<br />

nível quantitativo, como <strong>na</strong> forma de se documentar.<br />

Este processo é bastante salutar, <strong>na</strong> medi<strong>da</strong> que permitirá as organizações se estruturarem,<br />

identificarem, documentarem e melhorarem seus processos de maneira mais simples, com<br />

menos burocracia e com mais eficiência e produtivi<strong>da</strong>de.<br />

Referências.<br />

KANHOLM, J. (2000) - Ready, set, go! ISO <strong>9000</strong>:2000 races toward completion. Quality Digest, Feb.<br />

Disponível <strong>na</strong> URL: .<br />

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MELLO, Carlos Henrique Pereira; SILVA, Carlos Eduardo Sanches <strong>da</strong>; TURRIONI, João Batista; SOUZA,<br />

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Serviços. São Paulo: Atlas, 2002.<br />

ENEGEP 2003 ABEPRO 8

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