Programa - Companhia Nacional de Bailado
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LA VALSE<br />
JOÃO BOTELHO E PAULO RIBEIRO<br />
Quando em 1920 Maurice Ravel, respon<strong>de</strong>ndo a uma<br />
encomenda <strong>de</strong> Diaghilev para os seus ballets russos,<br />
compôs o seu precioso “poema coreográfico”, numa<br />
narrativa <strong>de</strong> apenas 13 minutos, <strong>de</strong>senhou o nascimento,<br />
a <strong>de</strong>cadência e a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> género<br />
musical: a valsa. Radical, incompreendida, maldita e<br />
genial. Esta pequena obra-prima iria provocar o corte<br />
<strong>de</strong> relações <strong>de</strong>finitivo com Diaghilev (chegaram a<br />
<strong>de</strong>safiar-se para um duelo) e só foi dançado em palco<br />
mais <strong>de</strong> duas décadas após a sua criação. Quando a<br />
Luísa Taveira me convidou para realizar um filme sobre<br />
La Valse fiquei inquieto e alvoroçado. Claro que gosto<br />
<strong>de</strong> dançar, claro que gosto <strong>de</strong> cinema, mas filmar bailado<br />
é uma perigosa aventura. Mas os tempos são <strong>de</strong><br />
risco e os aliciantes eram muitos: a música vinda da orquestra<br />
dirigida pelo maestro Pedro Freitas Branco, “o<br />
melhor diretor para as minhas obras” dizia Ravel, a coreografia<br />
<strong>de</strong> Paulo Ribeiro, os magníficos bailarinos da<br />
CNB à minha disposição e liberda<strong>de</strong> total. Viva então<br />
esta encomenda. Atrevi-me a um prólogo didático <strong>de</strong><br />
sete minutos para colar a essa dança que redime os pecados,<br />
cura os males e leva os espíritos para lá da previsível<br />
e trágica condição humana. Então dancemos,<br />
dancemos, no ar, no fogo, na água e na terra, no meio<br />
da <strong>de</strong>struição e do caos que a Europa <strong>de</strong> hoje é quase<br />
tão angustiante como a Europa <strong>de</strong> há cem anos. Ah,<br />
meu Deus, como os meus bailarinos dançam bem! /<br />
Adoro valsas, mesmo em silêncio, adoro o gingar e a<br />
fúria ternária.<br />
É uma obsessão é um vento que acaricia ou <strong>de</strong>vasta.<br />
É uma musicalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as possibilida<strong>de</strong>s.<br />
A Luísa convidou-me, o João orientou-me e num tempo<br />
Express surgiram estas imagens que ficarão para<br />
sempre. Infelizmente, muito para lá da muito bela recordação<br />
que guardarei <strong>de</strong>ste projecto. As emoções são<br />
efémeras, as imagens não.<br />
O Diaghilev estava enganado. La Valse po<strong>de</strong> ser um ballet!!!!<br />
Ou muito mais. /<br />
Paulo Ribeiro<br />
João Botelho