Parte 02 - Conservação Internacional
Parte 02 - Conservação Internacional
Parte 02 - Conservação Internacional
Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!
Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.
Mata Atlântica<br />
Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas
Mata Atlântica<br />
Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas<br />
Editado por<br />
Carlos Galindo-Leal e<br />
Ibsen de Gusmão Câmara<br />
Fundação SOS Mata Atlântica<br />
Conservação <strong>Internacional</strong><br />
Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade<br />
Belo Horizonte<br />
2005
Título original: The Atlantic Forest of South America: biodiversity status,<br />
threats, and outlook. Washington: Island Press, Center for Applied Biodiversity<br />
Science at Conservation International. 2003.<br />
Copyright © 2003 por Conservation International<br />
Copyright da tradução © 2005 por Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação<br />
<strong>Internacional</strong><br />
Aliança para Conservação da Mata Atlântica<br />
Conservação <strong>Internacional</strong><br />
Presidente: Angelo B. M. Machado<br />
Vice-presidentes: José Maria C. da Silva<br />
Carlos A. Bouchardet<br />
Programa Mata Atlântica:<br />
Luiz Paulo S. Pinto (Diretor)<br />
Adriana Paese, Adriano P. Paglia,<br />
Ivana R. Lamas, Lúcio C. Bedê,<br />
Mônica T. Fonseca<br />
Fundação SOS Mata Atlântica<br />
Presidente: Roberto Luiz Leme Klabin<br />
Vice-presidente: Paulo Nogueira-Neto<br />
Diretoria de Gestão do<br />
Conhecimento: Márcia M. Hirota<br />
Diretoria de Captação de<br />
Recursos: Adauto T. Basílio<br />
Diretoria de Mobilização: Mario Mantovani<br />
Coordenação da tradução: Ivana R. Lamas<br />
Tradução: Edma Reis Lamas<br />
Revisão técnica: Lívia Vanucci Lins<br />
Revisão de texto: Ana Martins Marques e Marcílio França Castro<br />
Editoração e arte-final: IDM Composição e Arte<br />
Capa: Ricardo Crepaldi<br />
Fotos: Andrew Young (capa), João Makray (p. 1, 25), Haroldo Palo Jr. (p. 137),<br />
Russel Mittermeier (p. 265, 353) e Haroldo Castro (p. 457)<br />
Ficha catalográfica: Andrea Godoy Herrera CRB 8/2385<br />
M41<br />
Mata Atlântica : biodiversidade, ameaças e perspectivas / editado por<br />
Carlos Galindo-Leal, Ibsen de Gusmão Câmara ; traduzido por Edma<br />
Reis Lamas. – São Paulo : Fundação SOS Mata Atlântica — Belo<br />
Horizonte : Conservação <strong>Internacional</strong>, 2005.<br />
472 p. : il., mapas, grafs, tabelas ; 25,2 x 17,8 cm.<br />
(State of the hotspots, 1)<br />
Título original: The Atlantic forest of South America: biodiversity<br />
status, threats, and outlook<br />
ISBN: 85-98946-<strong>02</strong>-8 (Fundação SOS Mata Atlântica)<br />
85-98830-05-4 (Conservação <strong>Internacional</strong>)<br />
1. Mata Atlântica 2. Diversidade biológica I. Galindo-Leal, Carlos<br />
II. Câmara, Ibsen de Gusmão III. Título
Sumário<br />
Apresentação da edição brasileira ...............................................................ix<br />
Angelo B. M. Machado e Roberto Klabin<br />
Apresentação da edição original .................................................................xi<br />
Gordon E. Moore<br />
Prefácio .................................................................................................xiii<br />
Gustavo A. B. da Fonseca, Russell A. Mittermeier e Peter Seligmann<br />
Agradecimentos .................................................................................... xvii<br />
I. INTRODUÇÃO<br />
1. Status do hotspot Mata Atlântica: uma síntese .............................. 3<br />
Carlos Galindo-Leal e Ibsen de Gusmão Câmara<br />
2. Estado dos hotspots: a dinâmica da perda de biodiversidade ...... 12<br />
Carlos Galindo-Leal, Thomas R. Jacobsen,<br />
Penny F. Langhammer e Silvio Olivieri<br />
II. BRASIL<br />
3. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica<br />
brasileira: uma introdução ...................................................... 27<br />
Luiz Paulo Pinto e Maria Cecília Wey de Brito<br />
4. Breve história da conservação da Mata Atlântica ...................... 31<br />
Ibsen de Gusmão Câmara<br />
5. Estado da biodiversidade da Mata Atlântica brasileira ............... 43<br />
José Maria Cardoso da Silva e Carlos Henrique M. Casteleti<br />
6. Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />
Márcia Makiko Hirota ............................................................... 60<br />
7. Prioridades de conservação e principais causas da perda de<br />
biodiversidade nos ecossistemas marinhos ................................. 66<br />
Silvio Jablonski<br />
8. Espécies ameaçadas e planejamento da conservação................... 86<br />
Marcelo Tabarelli, Luiz Paulo Pinto, José Maria Cardoso da Silva<br />
e Cláudia Maria Rocha Costa
vi<br />
Sumário<br />
9. Passado, presente e futuro do mico-leão-dourado e de<br />
seu hábitat ................................................................................. 95<br />
Maria Cecília M. Kierulff, Denise M. Rambaldi<br />
e Devra G. Kleiman<br />
10. Causas socioeconômicas do desmatamento na<br />
Mata Atlântica brasileira .......................................................... 103<br />
Carlos Eduardo Frickmann Young<br />
11. Os Corredores Central e da Serra do Mar na<br />
Mata Atlântica brasileira .......................................................... 119<br />
Alexandre Pires Aguiar, Adriano Garcia Chiarello,<br />
Sérgio Lucena Mendes e Eloina Neri de Matos<br />
12. Iniciativas políticas para a conservação da<br />
Mata Atlântica brasileira .......................................................... 133<br />
José Carlos Carvalho<br />
III. ARGENTINA<br />
13. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica<br />
argentina: uma introdução ...................................................... 139<br />
Alejandro R. Giraudo<br />
14. Breve história da conservação da Floresta do Paraná ............... 141<br />
Juan Carlos Chebez e Norma Hilgert<br />
15. Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior da<br />
Argentina ................................................................................. 160<br />
Alejandro R. Giraudo, Hernán Povedano, Manuel J. Belgrano,<br />
Ernesto R. Krauczuk, Ulyses Pardiñas, Amalia Miquelarena,<br />
Daniel Ligier, Diego Baldo e Miguel Castelino<br />
16. Ameaças de extinção das espécies-bandeira da<br />
Mata Atlântica de Interior ....................................................... 181<br />
Alejandro R. Giraudo e Hernán Povedano<br />
17. Perspectivas para a conservação de primatas em Misiones ....... 194<br />
Mario S. Di Bitetti<br />
18. A perda da sabedoria Mbyá: desaparecimento de um<br />
legado de manejo sustentável ................................................... 200<br />
Angela Sánchez e Alejandro R. Giraudo<br />
19. Raízes socioeconômicas da perda da biodiversidade em<br />
Misiones .................................................................................. 207<br />
Silvia Holz e Guillermo Placci
Sumário<br />
vii<br />
20. Capacidade de conservação na Floresta do Paraná ................... 227<br />
Juan Pablo Cinto e María Paula Bertolini<br />
21. Análise crítica das áreas protegidas na Mata Atlântica da<br />
Argentina ................................................................................. 245<br />
Alejandro R. Giraudo, Ernesto R. Krauczuk,<br />
Vanesa Arzamendia e Hernán Povedano<br />
22. Última oportunidade para a Mata Atlântica ............................ 262<br />
Luis Alberto Rey<br />
IV. PARAGUAI<br />
23. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica<br />
paraguaia: uma introdução ...................................................... 267<br />
José Luis Cartes e Alberto Yanosky<br />
24. Breve história da conservação da Mata Atlântica de Interior ... 269<br />
José Luis Cartes<br />
25. Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior do<br />
Paraguai ................................................................................... 288<br />
Frank Fragano e Robert Clay<br />
26. Aspectos socioeconômicos da Mata Atlântica de Interior ........ 308<br />
Ana Maria Macedo e José Luis Cartes<br />
27. O aqüífero Guarani: um serviço ambiental regional ............... 323<br />
Juan Francisco Facetti<br />
28. Capacidade de conservação na Mata Atlântica de Interior<br />
do Paraguai .............................................................................. 326<br />
Alberto Yanosky e Elizabeth Cabrera<br />
V. QUESTÕES TRINACIONAIS<br />
29. Dinâmica da perda da biodiversidade: uma introdução<br />
às questões trinacionais ............................................................ 355<br />
Thomas R. Jacobsen<br />
30. Espécies no limiar da extinção: vertebrados terrestres<br />
criticamente em perigo ............................................................ 358<br />
Thomas Brooks e Anthony B. Rylands<br />
31. Reunindo as peças: a fragmentação e a conservação<br />
da paisagem ............................................................................. 370<br />
Carlos Galindo-Leal
viii<br />
Sumário<br />
32. Florestas em perigo, povos em desaparecimento:<br />
diversidade biocultural e sabedoria indígena............................ 379<br />
Thomas R. Jacobsen<br />
33. Visitas indesejadas: a invasão de espécies exóticas .................... 390<br />
Jamie K. Reaser, Carlos Galindo-Leal e Silvia R. Ziller<br />
34. Extração e conservação do palmito .......................................... 404<br />
Sandra E. Chediack e Miguel Franco Baqueiro<br />
35. Impacto das represas na biodiversidade da Mata Atlântica ...... 411<br />
Colleen Fahey e Penny F. Langhammer<br />
36. Povoando o meio ambiente: crescimento humano,<br />
densidade e migrações na Mata Atlântica ................................ 424<br />
Thomas R. Jacobsen<br />
37. O Mercosul e a Mata Atlântica: um marco regulatório<br />
ambiental ................................................................................. 434<br />
María Leichner<br />
38. Um desafio para conservação: as áreas protegidas da<br />
Mata Atlântica ......................................................................... 442<br />
Alexandra-Valeria Lairana<br />
VI. CONCLUSÃO<br />
39. Perspectivas para a Mata Atlântica ........................................... 459<br />
Carlos Galindo-Leal, Ibsen de Gusmão Câmara e<br />
Philippa J. Benson<br />
Sobre os colaboradores ............................................................................ 467
PARTE II<br />
Brasil
Capítulo 6<br />
Monitoramento da cobertura<br />
da Mata Atlântica brasileira<br />
Márcia Makiko Hirota<br />
Estudos, pesquisas e levantamentos feitos na Mata Atlântica invariavelmente<br />
confirmam sua notável riqueza e diversidade de espécies de plantas e animais, já<br />
amplamente reconhecidas no meio científico, nacional e internacionalmente (ver<br />
Capítulos 5 e 11). Infelizmente, essas investigações também revelam uma<br />
situação grave, de constantes agressões à Mata Atlântica e destruição dos seus<br />
hábitats.<br />
Ao longo dos últimos anos, a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto<br />
Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) têm utilizado imagens de satélite,<br />
tecnologias na área da informação e sensoriamento remoto para preparar o Atlas<br />
dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados da Mata Atlântica<br />
(Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1990, 1998; Fundação SOS Mata Atlântica/INPE,<br />
1992, 2001; http://www.sosmatatlantica.org.br).<br />
O primeiro mapeamento da Mata Atlântica, realizado com a participação do<br />
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis<br />
(IBAMA), foi concluído em 1990 e permitiu identificar e mapear, na escala de<br />
1:1.000.000, os remanescentes florestais em todo o país. O projeto contribuiu<br />
também para a definição dos limites originais da Mata Atlântica (Fundação SOS<br />
Mata Atlântica et al., 1990), indicando que o bioma se estendia por mais de<br />
1.363.000km 2 , ou aproximadamente 15% do território brasileiro (ver Capítulo 4).<br />
Hoje essa extensa área abriga uma população de 108 milhões de habitantes,<br />
ou mais de 60% da população total do país. De acordo com o Censo Populacional<br />
de 2000 (IBGE, 2001), esses habitantes moram em mais de 3.406 municípios,<br />
ou 62% dos municípios brasileiros (ver Capítulo 36). Dados do IBGE<br />
(1997), a descrição dos limites da Mata Atlântica contida no Decreto Federal n°<br />
750/93 e o Mapa da Vegetação do Brasil (IBGE, 1993) indicam que 2.528<br />
desses municípios estão localizados inteiramente dentro do bioma.<br />
O projeto de mapeamento atualmente em desenvolvimento foi concebido<br />
pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE para identificar os remanes-<br />
60
Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />
61<br />
centes florestais da Mata Atlântica e dos ecossistemas associados, tais como<br />
mangues e restingas, e para monitorá-los em intervalos de cinco anos (1985,<br />
1990, 1995 e 2000). O trabalho inicial foi feito na escala de 1:250.000, mas<br />
avanços metodológicos e tecnológicos vêm permitindo aperfeiçoar sistematicamente<br />
esse levantamento. Por exemplo, na fase mais recente (de 1995 a 2000),<br />
a escala foi ampliada para 1:50.000. Desde o início, o projeto conta com a participação<br />
efetiva e a contribuição de muitos cientistas, pesquisadores, ambientalistas,<br />
órgãos públicos e empresas privadas (Fundação SOS Mata Atlântica/<br />
INPE, 1992-93, 2001; Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998).<br />
Até o momento, o Atlas da Mata Atlântica cobriu dez estados, da Bahia ao<br />
Rio Grande do Sul, representando uma área de 1.285.000km 2 , ou 94% do<br />
bioma, e continua a mapear, com precisão cada vez maior, os remanescentes<br />
florestais na quase totalidade da região.<br />
Quanto ao monitoramento, os resultados revelam a intensa intervenção<br />
antrópica e a forte pressão sobre a cobertura vegetal, o processo contínuo de<br />
desmatamento descontrolado e de fragmentação da floresta, ao passo que<br />
somente uma pequena porção de áreas florestais está em processo de regeneração.<br />
Esses resultados confirmam a fragilidade do bioma e a extensão do comprometimento<br />
de sua biodiversidade, que continua a ser ameaçada.<br />
De acordo com dados reunidos pelo projeto do Atlas e levantamentos<br />
realizados em diferentes regiões, a Mata Atlântica perdeu mais de 92% de sua<br />
área original. Hoje, restam apenas cerca de 100.000km 2 da floresta original, a<br />
maioria em fragmentos distribuídos ao longo de toda a sua extensão e em grande<br />
parte concentrados nas áreas de relevo acidentado das regiões Sul e Sudeste do<br />
país (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998; Conservação <strong>Internacional</strong> do<br />
Brasil et al., 1994) (Figura 6.1).<br />
As causas do desmatamento e os tipos de exploração predatória da Mata<br />
Atlântica variam de uma região para outra (ver Capítulo 11). Com base no Atlas<br />
da Mata Atlântica e em informações de outras fontes, pode-se concluir que os<br />
principais problemas existentes no entorno das grandes cidades brasileiras estão<br />
relacionados com a ocupação irregular e desordenada da terra para moradia, com<br />
a especulação imobiliária e com a extração seletiva de recursos florestais. A<br />
especulação imobiliária é também o fator principal de degradação de áreas<br />
costeiras, restingas e manguezais. O efeito cumulativo do desmatamento em<br />
pequena escala agrava os problemas do bioma como um todo. Outras formas de<br />
agressão que afetam direta ou indiretamente os remanescentes da Mata Atlântica<br />
são a poluição do ar, da água e do solo, de origem industrial ou agrícola, ou<br />
resultantes do derramamento de óleo, da mineração, da construção de novas<br />
estradas e rodovias e de projetos energéticos como hidrelétricas e gasodutos.<br />
O desmatamento e as agressões à Mata Atlântica comprometem regiões nas<br />
quais se localizam centros de endemismo importantes (ver Capítulo 11), tais<br />
como o estado do Rio de Janeiro, que perdeu 305,79km 2 entre 1985 e 1990,<br />
1.403,72km 2 entre 1990 e 1995 e 37,73km 2 entre 1995 e 2000, totalizando<br />
1.747,24km 2 nos últimos 15 anos (Figura 6.2) (Fundação SOS Mata Atlântica/<br />
INPE, 2001).
62 BRASIL<br />
Figura 6.1. Tendências histórica (a) e atual (b) de perda florestal da Mata Atlântica brasileira,<br />
em vários estados, de 1910 a 2000 (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998).<br />
O estado de Santa Catarina, na região Sul do país, perdeu 2.050km 2 de<br />
remanescentes florestais entre 1985 e 2000. Até agora as maiores taxas de<br />
desmatamento ocorreram no estado do Paraná, que nos últimos 15 anos sofreu<br />
uma perda total de 2.889,95km 2 : 1.442,40km 2 entre 1985 e 1990, 846,09km 2<br />
entre 1990 e 1995 e mais de 601,46km 2 entre 1995 e 2000. Além disso, esse<br />
estado tem o maior índice de perda de área de floresta contínua. O maior<br />
desmatamento verificado na Mata Atlântica, desde de que a Fundação SOS Mata<br />
Atlântica e o INPE iniciaram o exercício de monitoramento, atingiu 160,86km 2 ,<br />
desapropriados para fins de reforma agrária, entre 1995 e 2000, no município de<br />
Rio Bonito do Iguaçu, que também perdeu outros fragmentos de floresta, num<br />
total de 171,17km 2 (ver Figura 36.3). Essa área, localizada às margens do rio<br />
Iguaçu, no interior do estado, foi foco de atenção devido aos danos<br />
diagnosticados nos primeiros levantamentos realizados para o projeto do Atlas,
Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />
63<br />
Figura 6.2. Diminuição dos remanescentes florestais de 1985 a 2000 em dois estados<br />
brasileiros. O uso recente de método mais acurado (símbolos claros) mostra que os<br />
remanescentes florestais foram consideravelmente superestimados (símbolos escuros).<br />
entre 1985 e 1990. A região foi indicada como área potencial para a conservação<br />
da biodiversidade por ser insuficientemente conhecida, mas de provável<br />
importância biológica.<br />
Nos estados da região Sul, as áreas afetadas, e que continuam seriamente<br />
ameaçadas, são as de Florestas de Araucária, uma formação de floresta ombrófila<br />
mista que já cobriu nessa região uma área equivalente a 164.042,75km 2 .<br />
Especialistas estimam que os remanescentes florestais nesses estados foram<br />
reduzidos a apenas 9% desse total, e a maioria das áreas foi bastante modificada.<br />
Quase todas as informações correspondentes à fase final (1995-2000) do<br />
projeto do Atlas já foram atualizadas. Dados preliminares indicam que a taxa de<br />
desmatamento diminuiu ligeiramente, mas ainda assim a situação é muito séria e<br />
a pressão antrópica na Mata Atlântica continua intensa. Até o momento, os<br />
resultados apontam para uma drástica redução nos remanescentes da Mata<br />
Atlântica, de mais de 11.650km 2 na área avaliada, apenas nos últimos 15 anos.<br />
Tais exemplos, estimativas e breves observações gerais sobre a situação da<br />
Mata Atlântica mostram que, apesar da adoção de medidas de proteção, da<br />
definição de prioridades e estratégias de conservação e da divulgação da situação,<br />
tanto nacional como internacionalmente, uma política global de conservação e<br />
ações conservacionistas específicas são ainda necessárias. A designação da Mata<br />
Atlântica como Patrimônio Nacional na Constituição Federal, a criação de<br />
centenas de unidades de conservação, a indicação de áreas importantes como<br />
Patrimônio Mundial pela ONU e o reconhecimento da Mata Atlântica como<br />
Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a<br />
Ciência e a Cultura (UNESCO) não foram suficientes para garantir sua proteção<br />
(ver Capítulo 38).
64 BRASIL<br />
Somem-se a isso a falta de controle e fiscalização eficiente pelos órgãos<br />
públicos e a ausência de resultados positivos e imediatos nas ações das entidades e<br />
instituições que atuam na proteção da Mata Atlântica, especialmente as que<br />
visam à conscientização da população brasileira sobre a importância e os<br />
benefícios diretos e indiretos que esse bioma proporciona, como forma de<br />
garantir a qualidade de vida de todos.<br />
Além de uma maior participação da sociedade civil, o fim da destruição da<br />
Mata Atlântica requer a busca de alternativas sustentáveis para o uso econômico<br />
dos recursos florestais e a instituição de incentivos e mecanismos viáveis de estímulo<br />
a sua preservação.<br />
O projeto do Atlas da Mata Atlântica continuará a monitorar o impacto<br />
humano no bioma, a fim de oferecer continuamente informações precisas e<br />
atualizadas sobre as alterações na vegetação nativa da área estudada.<br />
É importante destacar os esforços da Fundação SOS Mata Atlântica e do<br />
INPE no sentido de mapear os remanescentes florestais das áreas anteriormente<br />
não avaliadas, tais como as matas secas, especialmente os encraves e as florestas<br />
estacionais decíduas e semidecíduas dos estados do Piauí, Bahia e Minas Gerais;<br />
o Parque Nacional da Serra da Bodoquena e outras áreas do Mato Grosso do Sul;<br />
e áreas nos extremos oeste e sul do Rio Grande do Sul. Além disso, estão em<br />
andamento a identificação e o mapeamento dos estágios intermediário, inicial e<br />
médio de regeneração. A análise e o estudo desses resultados irão, sem dúvida,<br />
fornecer novos subsídios aos esforços de conservação, visando à proteção desses<br />
hábitats.<br />
O desafio que resta a todos é reverter, sem demora, o processo de devastação<br />
e encontrar formas de acelerar a recuperação de áreas degradadas e expandir a<br />
cobertura florestal, contribuindo, assim, definitivamente, para a proteção dos<br />
remanescentes florestais e dos ecossistemas associados à Mata Atlântica.<br />
Referências<br />
Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas e Sociedade Nordestina de<br />
Ecologia. 1994. Mapa de prioridades para conservação da Mata Atlântica do Nordeste.<br />
Workshop on “Áreas prioritárias para conservação da Mata Atlântica do Nordeste,” 1993,<br />
Pernambuco. Belo Horizonte: Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas e<br />
Sociedade Nordestina de Ecologia.<br />
Fundação SOS Mata Atlântica/INPE. 1992–93. Atlas da evolução dos remanescentes florestais da<br />
Mata Atlântica e ecossistemas associados no período de 1985–1990. São Paulo: Fundação SOS<br />
Mata Atlântica/INPE.<br />
Fundação SOS Mata Atlântica/INPE. 2001. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e<br />
ecossistemas associados no período de 1995–2000. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/<br />
INPE.<br />
Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/IBAMA. 1990. Atlas dos remanescentes florestais do Domínio<br />
da Mata Atlântica. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/IBAMA.<br />
Fundação SOS Mata Atlântica /INPE/Instituto Socio-ambiental. 1998. Atlas da evolução dos<br />
remanescentes florestais da Mata Atlântica e ecossistemas associados no período de 1990–1995.<br />
São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/Instituto Socio-ambiental (ISA).
Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />
65<br />
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 1993. Mapa de vegetação do Brasil. Rio de<br />
Janeiro: IBGE.<br />
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 1997. Malha municipal. Rio de Janeiro:<br />
IBGE.<br />
IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 2001. Censo populacional 2000. Rio de<br />
Janeiro: IBGE.