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Parte 02 - Conservação Internacional

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Mata Atlântica<br />

Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas


Mata Atlântica<br />

Biodiversidade, Ameaças e Perspectivas<br />

Editado por<br />

Carlos Galindo-Leal e<br />

Ibsen de Gusmão Câmara<br />

Fundação SOS Mata Atlântica<br />

Conservação <strong>Internacional</strong><br />

Centro de Ciências Aplicadas à Biodiversidade<br />

Belo Horizonte<br />

2005


Título original: The Atlantic Forest of South America: biodiversity status,<br />

threats, and outlook. Washington: Island Press, Center for Applied Biodiversity<br />

Science at Conservation International. 2003.<br />

Copyright © 2003 por Conservation International<br />

Copyright da tradução © 2005 por Fundação SOS Mata Atlântica e Conservação<br />

<strong>Internacional</strong><br />

Aliança para Conservação da Mata Atlântica<br />

Conservação <strong>Internacional</strong><br />

Presidente: Angelo B. M. Machado<br />

Vice-presidentes: José Maria C. da Silva<br />

Carlos A. Bouchardet<br />

Programa Mata Atlântica:<br />

Luiz Paulo S. Pinto (Diretor)<br />

Adriana Paese, Adriano P. Paglia,<br />

Ivana R. Lamas, Lúcio C. Bedê,<br />

Mônica T. Fonseca<br />

Fundação SOS Mata Atlântica<br />

Presidente: Roberto Luiz Leme Klabin<br />

Vice-presidente: Paulo Nogueira-Neto<br />

Diretoria de Gestão do<br />

Conhecimento: Márcia M. Hirota<br />

Diretoria de Captação de<br />

Recursos: Adauto T. Basílio<br />

Diretoria de Mobilização: Mario Mantovani<br />

Coordenação da tradução: Ivana R. Lamas<br />

Tradução: Edma Reis Lamas<br />

Revisão técnica: Lívia Vanucci Lins<br />

Revisão de texto: Ana Martins Marques e Marcílio França Castro<br />

Editoração e arte-final: IDM Composição e Arte<br />

Capa: Ricardo Crepaldi<br />

Fotos: Andrew Young (capa), João Makray (p. 1, 25), Haroldo Palo Jr. (p. 137),<br />

Russel Mittermeier (p. 265, 353) e Haroldo Castro (p. 457)<br />

Ficha catalográfica: Andrea Godoy Herrera CRB 8/2385<br />

M41<br />

Mata Atlântica : biodiversidade, ameaças e perspectivas / editado por<br />

Carlos Galindo-Leal, Ibsen de Gusmão Câmara ; traduzido por Edma<br />

Reis Lamas. – São Paulo : Fundação SOS Mata Atlântica — Belo<br />

Horizonte : Conservação <strong>Internacional</strong>, 2005.<br />

472 p. : il., mapas, grafs, tabelas ; 25,2 x 17,8 cm.<br />

(State of the hotspots, 1)<br />

Título original: The Atlantic forest of South America: biodiversity<br />

status, threats, and outlook<br />

ISBN: 85-98946-<strong>02</strong>-8 (Fundação SOS Mata Atlântica)<br />

85-98830-05-4 (Conservação <strong>Internacional</strong>)<br />

1. Mata Atlântica 2. Diversidade biológica I. Galindo-Leal, Carlos<br />

II. Câmara, Ibsen de Gusmão III. Título


Sumário<br />

Apresentação da edição brasileira ...............................................................ix<br />

Angelo B. M. Machado e Roberto Klabin<br />

Apresentação da edição original .................................................................xi<br />

Gordon E. Moore<br />

Prefácio .................................................................................................xiii<br />

Gustavo A. B. da Fonseca, Russell A. Mittermeier e Peter Seligmann<br />

Agradecimentos .................................................................................... xvii<br />

I. INTRODUÇÃO<br />

1. Status do hotspot Mata Atlântica: uma síntese .............................. 3<br />

Carlos Galindo-Leal e Ibsen de Gusmão Câmara<br />

2. Estado dos hotspots: a dinâmica da perda de biodiversidade ...... 12<br />

Carlos Galindo-Leal, Thomas R. Jacobsen,<br />

Penny F. Langhammer e Silvio Olivieri<br />

II. BRASIL<br />

3. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica<br />

brasileira: uma introdução ...................................................... 27<br />

Luiz Paulo Pinto e Maria Cecília Wey de Brito<br />

4. Breve história da conservação da Mata Atlântica ...................... 31<br />

Ibsen de Gusmão Câmara<br />

5. Estado da biodiversidade da Mata Atlântica brasileira ............... 43<br />

José Maria Cardoso da Silva e Carlos Henrique M. Casteleti<br />

6. Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />

Márcia Makiko Hirota ............................................................... 60<br />

7. Prioridades de conservação e principais causas da perda de<br />

biodiversidade nos ecossistemas marinhos ................................. 66<br />

Silvio Jablonski<br />

8. Espécies ameaçadas e planejamento da conservação................... 86<br />

Marcelo Tabarelli, Luiz Paulo Pinto, José Maria Cardoso da Silva<br />

e Cláudia Maria Rocha Costa


vi<br />

Sumário<br />

9. Passado, presente e futuro do mico-leão-dourado e de<br />

seu hábitat ................................................................................. 95<br />

Maria Cecília M. Kierulff, Denise M. Rambaldi<br />

e Devra G. Kleiman<br />

10. Causas socioeconômicas do desmatamento na<br />

Mata Atlântica brasileira .......................................................... 103<br />

Carlos Eduardo Frickmann Young<br />

11. Os Corredores Central e da Serra do Mar na<br />

Mata Atlântica brasileira .......................................................... 119<br />

Alexandre Pires Aguiar, Adriano Garcia Chiarello,<br />

Sérgio Lucena Mendes e Eloina Neri de Matos<br />

12. Iniciativas políticas para a conservação da<br />

Mata Atlântica brasileira .......................................................... 133<br />

José Carlos Carvalho<br />

III. ARGENTINA<br />

13. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica<br />

argentina: uma introdução ...................................................... 139<br />

Alejandro R. Giraudo<br />

14. Breve história da conservação da Floresta do Paraná ............... 141<br />

Juan Carlos Chebez e Norma Hilgert<br />

15. Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior da<br />

Argentina ................................................................................. 160<br />

Alejandro R. Giraudo, Hernán Povedano, Manuel J. Belgrano,<br />

Ernesto R. Krauczuk, Ulyses Pardiñas, Amalia Miquelarena,<br />

Daniel Ligier, Diego Baldo e Miguel Castelino<br />

16. Ameaças de extinção das espécies-bandeira da<br />

Mata Atlântica de Interior ....................................................... 181<br />

Alejandro R. Giraudo e Hernán Povedano<br />

17. Perspectivas para a conservação de primatas em Misiones ....... 194<br />

Mario S. Di Bitetti<br />

18. A perda da sabedoria Mbyá: desaparecimento de um<br />

legado de manejo sustentável ................................................... 200<br />

Angela Sánchez e Alejandro R. Giraudo<br />

19. Raízes socioeconômicas da perda da biodiversidade em<br />

Misiones .................................................................................. 207<br />

Silvia Holz e Guillermo Placci


Sumário<br />

vii<br />

20. Capacidade de conservação na Floresta do Paraná ................... 227<br />

Juan Pablo Cinto e María Paula Bertolini<br />

21. Análise crítica das áreas protegidas na Mata Atlântica da<br />

Argentina ................................................................................. 245<br />

Alejandro R. Giraudo, Ernesto R. Krauczuk,<br />

Vanesa Arzamendia e Hernán Povedano<br />

22. Última oportunidade para a Mata Atlântica ............................ 262<br />

Luis Alberto Rey<br />

IV. PARAGUAI<br />

23. Dinâmica da perda da biodiversidade na Mata Atlântica<br />

paraguaia: uma introdução ...................................................... 267<br />

José Luis Cartes e Alberto Yanosky<br />

24. Breve história da conservação da Mata Atlântica de Interior ... 269<br />

José Luis Cartes<br />

25. Status da biodiversidade da Mata Atlântica de Interior do<br />

Paraguai ................................................................................... 288<br />

Frank Fragano e Robert Clay<br />

26. Aspectos socioeconômicos da Mata Atlântica de Interior ........ 308<br />

Ana Maria Macedo e José Luis Cartes<br />

27. O aqüífero Guarani: um serviço ambiental regional ............... 323<br />

Juan Francisco Facetti<br />

28. Capacidade de conservação na Mata Atlântica de Interior<br />

do Paraguai .............................................................................. 326<br />

Alberto Yanosky e Elizabeth Cabrera<br />

V. QUESTÕES TRINACIONAIS<br />

29. Dinâmica da perda da biodiversidade: uma introdução<br />

às questões trinacionais ............................................................ 355<br />

Thomas R. Jacobsen<br />

30. Espécies no limiar da extinção: vertebrados terrestres<br />

criticamente em perigo ............................................................ 358<br />

Thomas Brooks e Anthony B. Rylands<br />

31. Reunindo as peças: a fragmentação e a conservação<br />

da paisagem ............................................................................. 370<br />

Carlos Galindo-Leal


viii<br />

Sumário<br />

32. Florestas em perigo, povos em desaparecimento:<br />

diversidade biocultural e sabedoria indígena............................ 379<br />

Thomas R. Jacobsen<br />

33. Visitas indesejadas: a invasão de espécies exóticas .................... 390<br />

Jamie K. Reaser, Carlos Galindo-Leal e Silvia R. Ziller<br />

34. Extração e conservação do palmito .......................................... 404<br />

Sandra E. Chediack e Miguel Franco Baqueiro<br />

35. Impacto das represas na biodiversidade da Mata Atlântica ...... 411<br />

Colleen Fahey e Penny F. Langhammer<br />

36. Povoando o meio ambiente: crescimento humano,<br />

densidade e migrações na Mata Atlântica ................................ 424<br />

Thomas R. Jacobsen<br />

37. O Mercosul e a Mata Atlântica: um marco regulatório<br />

ambiental ................................................................................. 434<br />

María Leichner<br />

38. Um desafio para conservação: as áreas protegidas da<br />

Mata Atlântica ......................................................................... 442<br />

Alexandra-Valeria Lairana<br />

VI. CONCLUSÃO<br />

39. Perspectivas para a Mata Atlântica ........................................... 459<br />

Carlos Galindo-Leal, Ibsen de Gusmão Câmara e<br />

Philippa J. Benson<br />

Sobre os colaboradores ............................................................................ 467


PARTE II<br />

Brasil


Capítulo 6<br />

Monitoramento da cobertura<br />

da Mata Atlântica brasileira<br />

Márcia Makiko Hirota<br />

Estudos, pesquisas e levantamentos feitos na Mata Atlântica invariavelmente<br />

confirmam sua notável riqueza e diversidade de espécies de plantas e animais, já<br />

amplamente reconhecidas no meio científico, nacional e internacionalmente (ver<br />

Capítulos 5 e 11). Infelizmente, essas investigações também revelam uma<br />

situação grave, de constantes agressões à Mata Atlântica e destruição dos seus<br />

hábitats.<br />

Ao longo dos últimos anos, a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto<br />

Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) têm utilizado imagens de satélite,<br />

tecnologias na área da informação e sensoriamento remoto para preparar o Atlas<br />

dos Remanescentes Florestais e Ecossistemas Associados da Mata Atlântica<br />

(Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1990, 1998; Fundação SOS Mata Atlântica/INPE,<br />

1992, 2001; http://www.sosmatatlantica.org.br).<br />

O primeiro mapeamento da Mata Atlântica, realizado com a participação do<br />

Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis<br />

(IBAMA), foi concluído em 1990 e permitiu identificar e mapear, na escala de<br />

1:1.000.000, os remanescentes florestais em todo o país. O projeto contribuiu<br />

também para a definição dos limites originais da Mata Atlântica (Fundação SOS<br />

Mata Atlântica et al., 1990), indicando que o bioma se estendia por mais de<br />

1.363.000km 2 , ou aproximadamente 15% do território brasileiro (ver Capítulo 4).<br />

Hoje essa extensa área abriga uma população de 108 milhões de habitantes,<br />

ou mais de 60% da população total do país. De acordo com o Censo Populacional<br />

de 2000 (IBGE, 2001), esses habitantes moram em mais de 3.406 municípios,<br />

ou 62% dos municípios brasileiros (ver Capítulo 36). Dados do IBGE<br />

(1997), a descrição dos limites da Mata Atlântica contida no Decreto Federal n°<br />

750/93 e o Mapa da Vegetação do Brasil (IBGE, 1993) indicam que 2.528<br />

desses municípios estão localizados inteiramente dentro do bioma.<br />

O projeto de mapeamento atualmente em desenvolvimento foi concebido<br />

pela Fundação SOS Mata Atlântica e pelo INPE para identificar os remanes-<br />

60


Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />

61<br />

centes florestais da Mata Atlântica e dos ecossistemas associados, tais como<br />

mangues e restingas, e para monitorá-los em intervalos de cinco anos (1985,<br />

1990, 1995 e 2000). O trabalho inicial foi feito na escala de 1:250.000, mas<br />

avanços metodológicos e tecnológicos vêm permitindo aperfeiçoar sistematicamente<br />

esse levantamento. Por exemplo, na fase mais recente (de 1995 a 2000),<br />

a escala foi ampliada para 1:50.000. Desde o início, o projeto conta com a participação<br />

efetiva e a contribuição de muitos cientistas, pesquisadores, ambientalistas,<br />

órgãos públicos e empresas privadas (Fundação SOS Mata Atlântica/<br />

INPE, 1992-93, 2001; Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998).<br />

Até o momento, o Atlas da Mata Atlântica cobriu dez estados, da Bahia ao<br />

Rio Grande do Sul, representando uma área de 1.285.000km 2 , ou 94% do<br />

bioma, e continua a mapear, com precisão cada vez maior, os remanescentes<br />

florestais na quase totalidade da região.<br />

Quanto ao monitoramento, os resultados revelam a intensa intervenção<br />

antrópica e a forte pressão sobre a cobertura vegetal, o processo contínuo de<br />

desmatamento descontrolado e de fragmentação da floresta, ao passo que<br />

somente uma pequena porção de áreas florestais está em processo de regeneração.<br />

Esses resultados confirmam a fragilidade do bioma e a extensão do comprometimento<br />

de sua biodiversidade, que continua a ser ameaçada.<br />

De acordo com dados reunidos pelo projeto do Atlas e levantamentos<br />

realizados em diferentes regiões, a Mata Atlântica perdeu mais de 92% de sua<br />

área original. Hoje, restam apenas cerca de 100.000km 2 da floresta original, a<br />

maioria em fragmentos distribuídos ao longo de toda a sua extensão e em grande<br />

parte concentrados nas áreas de relevo acidentado das regiões Sul e Sudeste do<br />

país (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998; Conservação <strong>Internacional</strong> do<br />

Brasil et al., 1994) (Figura 6.1).<br />

As causas do desmatamento e os tipos de exploração predatória da Mata<br />

Atlântica variam de uma região para outra (ver Capítulo 11). Com base no Atlas<br />

da Mata Atlântica e em informações de outras fontes, pode-se concluir que os<br />

principais problemas existentes no entorno das grandes cidades brasileiras estão<br />

relacionados com a ocupação irregular e desordenada da terra para moradia, com<br />

a especulação imobiliária e com a extração seletiva de recursos florestais. A<br />

especulação imobiliária é também o fator principal de degradação de áreas<br />

costeiras, restingas e manguezais. O efeito cumulativo do desmatamento em<br />

pequena escala agrava os problemas do bioma como um todo. Outras formas de<br />

agressão que afetam direta ou indiretamente os remanescentes da Mata Atlântica<br />

são a poluição do ar, da água e do solo, de origem industrial ou agrícola, ou<br />

resultantes do derramamento de óleo, da mineração, da construção de novas<br />

estradas e rodovias e de projetos energéticos como hidrelétricas e gasodutos.<br />

O desmatamento e as agressões à Mata Atlântica comprometem regiões nas<br />

quais se localizam centros de endemismo importantes (ver Capítulo 11), tais<br />

como o estado do Rio de Janeiro, que perdeu 305,79km 2 entre 1985 e 1990,<br />

1.403,72km 2 entre 1990 e 1995 e 37,73km 2 entre 1995 e 2000, totalizando<br />

1.747,24km 2 nos últimos 15 anos (Figura 6.2) (Fundação SOS Mata Atlântica/<br />

INPE, 2001).


62 BRASIL<br />

Figura 6.1. Tendências histórica (a) e atual (b) de perda florestal da Mata Atlântica brasileira,<br />

em vários estados, de 1910 a 2000 (Fundação SOS Mata Atlântica et al., 1998).<br />

O estado de Santa Catarina, na região Sul do país, perdeu 2.050km 2 de<br />

remanescentes florestais entre 1985 e 2000. Até agora as maiores taxas de<br />

desmatamento ocorreram no estado do Paraná, que nos últimos 15 anos sofreu<br />

uma perda total de 2.889,95km 2 : 1.442,40km 2 entre 1985 e 1990, 846,09km 2<br />

entre 1990 e 1995 e mais de 601,46km 2 entre 1995 e 2000. Além disso, esse<br />

estado tem o maior índice de perda de área de floresta contínua. O maior<br />

desmatamento verificado na Mata Atlântica, desde de que a Fundação SOS Mata<br />

Atlântica e o INPE iniciaram o exercício de monitoramento, atingiu 160,86km 2 ,<br />

desapropriados para fins de reforma agrária, entre 1995 e 2000, no município de<br />

Rio Bonito do Iguaçu, que também perdeu outros fragmentos de floresta, num<br />

total de 171,17km 2 (ver Figura 36.3). Essa área, localizada às margens do rio<br />

Iguaçu, no interior do estado, foi foco de atenção devido aos danos<br />

diagnosticados nos primeiros levantamentos realizados para o projeto do Atlas,


Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />

63<br />

Figura 6.2. Diminuição dos remanescentes florestais de 1985 a 2000 em dois estados<br />

brasileiros. O uso recente de método mais acurado (símbolos claros) mostra que os<br />

remanescentes florestais foram consideravelmente superestimados (símbolos escuros).<br />

entre 1985 e 1990. A região foi indicada como área potencial para a conservação<br />

da biodiversidade por ser insuficientemente conhecida, mas de provável<br />

importância biológica.<br />

Nos estados da região Sul, as áreas afetadas, e que continuam seriamente<br />

ameaçadas, são as de Florestas de Araucária, uma formação de floresta ombrófila<br />

mista que já cobriu nessa região uma área equivalente a 164.042,75km 2 .<br />

Especialistas estimam que os remanescentes florestais nesses estados foram<br />

reduzidos a apenas 9% desse total, e a maioria das áreas foi bastante modificada.<br />

Quase todas as informações correspondentes à fase final (1995-2000) do<br />

projeto do Atlas já foram atualizadas. Dados preliminares indicam que a taxa de<br />

desmatamento diminuiu ligeiramente, mas ainda assim a situação é muito séria e<br />

a pressão antrópica na Mata Atlântica continua intensa. Até o momento, os<br />

resultados apontam para uma drástica redução nos remanescentes da Mata<br />

Atlântica, de mais de 11.650km 2 na área avaliada, apenas nos últimos 15 anos.<br />

Tais exemplos, estimativas e breves observações gerais sobre a situação da<br />

Mata Atlântica mostram que, apesar da adoção de medidas de proteção, da<br />

definição de prioridades e estratégias de conservação e da divulgação da situação,<br />

tanto nacional como internacionalmente, uma política global de conservação e<br />

ações conservacionistas específicas são ainda necessárias. A designação da Mata<br />

Atlântica como Patrimônio Nacional na Constituição Federal, a criação de<br />

centenas de unidades de conservação, a indicação de áreas importantes como<br />

Patrimônio Mundial pela ONU e o reconhecimento da Mata Atlântica como<br />

Reserva da Biosfera pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a<br />

Ciência e a Cultura (UNESCO) não foram suficientes para garantir sua proteção<br />

(ver Capítulo 38).


64 BRASIL<br />

Somem-se a isso a falta de controle e fiscalização eficiente pelos órgãos<br />

públicos e a ausência de resultados positivos e imediatos nas ações das entidades e<br />

instituições que atuam na proteção da Mata Atlântica, especialmente as que<br />

visam à conscientização da população brasileira sobre a importância e os<br />

benefícios diretos e indiretos que esse bioma proporciona, como forma de<br />

garantir a qualidade de vida de todos.<br />

Além de uma maior participação da sociedade civil, o fim da destruição da<br />

Mata Atlântica requer a busca de alternativas sustentáveis para o uso econômico<br />

dos recursos florestais e a instituição de incentivos e mecanismos viáveis de estímulo<br />

a sua preservação.<br />

O projeto do Atlas da Mata Atlântica continuará a monitorar o impacto<br />

humano no bioma, a fim de oferecer continuamente informações precisas e<br />

atualizadas sobre as alterações na vegetação nativa da área estudada.<br />

É importante destacar os esforços da Fundação SOS Mata Atlântica e do<br />

INPE no sentido de mapear os remanescentes florestais das áreas anteriormente<br />

não avaliadas, tais como as matas secas, especialmente os encraves e as florestas<br />

estacionais decíduas e semidecíduas dos estados do Piauí, Bahia e Minas Gerais;<br />

o Parque Nacional da Serra da Bodoquena e outras áreas do Mato Grosso do Sul;<br />

e áreas nos extremos oeste e sul do Rio Grande do Sul. Além disso, estão em<br />

andamento a identificação e o mapeamento dos estágios intermediário, inicial e<br />

médio de regeneração. A análise e o estudo desses resultados irão, sem dúvida,<br />

fornecer novos subsídios aos esforços de conservação, visando à proteção desses<br />

hábitats.<br />

O desafio que resta a todos é reverter, sem demora, o processo de devastação<br />

e encontrar formas de acelerar a recuperação de áreas degradadas e expandir a<br />

cobertura florestal, contribuindo, assim, definitivamente, para a proteção dos<br />

remanescentes florestais e dos ecossistemas associados à Mata Atlântica.<br />

Referências<br />

Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas e Sociedade Nordestina de<br />

Ecologia. 1994. Mapa de prioridades para conservação da Mata Atlântica do Nordeste.<br />

Workshop on “Áreas prioritárias para conservação da Mata Atlântica do Nordeste,” 1993,<br />

Pernambuco. Belo Horizonte: Conservation International do Brasil, Fundação Biodiversitas e<br />

Sociedade Nordestina de Ecologia.<br />

Fundação SOS Mata Atlântica/INPE. 1992–93. Atlas da evolução dos remanescentes florestais da<br />

Mata Atlântica e ecossistemas associados no período de 1985–1990. São Paulo: Fundação SOS<br />

Mata Atlântica/INPE.<br />

Fundação SOS Mata Atlântica/INPE. 2001. Atlas dos remanescentes florestais da Mata Atlântica e<br />

ecossistemas associados no período de 1995–2000. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/<br />

INPE.<br />

Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/IBAMA. 1990. Atlas dos remanescentes florestais do Domínio<br />

da Mata Atlântica. São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/IBAMA.<br />

Fundação SOS Mata Atlântica /INPE/Instituto Socio-ambiental. 1998. Atlas da evolução dos<br />

remanescentes florestais da Mata Atlântica e ecossistemas associados no período de 1990–1995.<br />

São Paulo: Fundação SOS Mata Atlântica/INPE/Instituto Socio-ambiental (ISA).


Monitoramento da cobertura da Mata Atlântica brasileira<br />

65<br />

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 1993. Mapa de vegetação do Brasil. Rio de<br />

Janeiro: IBGE.<br />

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 1997. Malha municipal. Rio de Janeiro:<br />

IBGE.<br />

IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 2001. Censo populacional 2000. Rio de<br />

Janeiro: IBGE.

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