Conhecer Sebrae agronegócio
Conhecer Sebrae agronegócio
Conhecer Sebrae agronegócio
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<strong>Conhecer</strong><br />
Nº 13 | Agosto 2010 | www.sebrae.com.br<br />
<strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
Gestão que<br />
gera resultado<br />
Ferramentas simples e modernas melhoram<br />
o desempenho das propriedades rurais<br />
Roberto Rodrigues<br />
Brasil tem vantagens<br />
competitivas sobre os<br />
demais países<br />
A união faz força<br />
Produtores unidos superam<br />
desafios e chegam mais<br />
longe<br />
Mais rentabilidade<br />
Gestão eficiente garante<br />
rentabilidade no Triângulo<br />
Mineiro<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
1
Se a sua empresa tem<br />
de 2 anos<br />
de 9 funcionários<br />
Estas soluções são para você:<br />
Estratégias Empresariais<br />
Você será capaz de fazer uma análise completa do seu<br />
ambiente empresarial, identificando pontos fortes e fracos,<br />
redefinindo missões e metas corporativas. Também irá<br />
elaborar e implementar um plano de ação estratégica.<br />
Gestão da Inovação<br />
Descubra que inovação não é só tecnologia.<br />
E, sim, uma nova forma de pensar e gerir<br />
o negócio: fazendo diferente.<br />
Empretec<br />
Um seminário desenvolvido pela ONU que lhe motiva a promover<br />
mudanças no seu comportamento, aperfeiçoando suas habilidades<br />
de negociação e gestão, proporcionando maior segurança nas<br />
decisões e aumentando a chance de sucesso da sua empresa.<br />
Gestão Financeira<br />
Compreenda todas as informações financeiras da sua<br />
empresa e transforme-as em ferramentas para decisões<br />
seguras e eficientes. Método prático: você aprende<br />
enquanto aplica o conteúdo na empresa.
Internacionalização<br />
Prepare sua empresa para conquistar o mercado<br />
global, tornando seu produto ou serviço mais<br />
competitivo dentro e fora do País.<br />
Encontros Empresariais<br />
Aprenda com a experiência de empresários do seu ou<br />
de outros setores. Compartilhe soluções já testadas e<br />
amplie sua rede de parceiros e de contatos.<br />
www.sebrae.com.br
Sumário<br />
Foto capa: Arquivo <strong>Sebrae</strong><br />
<strong>Conhecer</strong><br />
Nº 13 | Agosto 2010 | www.sebrae.com.br<br />
<strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
Roberto Rodrigues<br />
Grandes produtores e<br />
agricultura familiar não<br />
são rivais.<br />
Gestão que<br />
gera resultado<br />
Melhore a administração da sua<br />
propriedade e amplie os lucros<br />
A união faz força<br />
Produtores unidos superam<br />
desafios e chegam mais<br />
longe.<br />
Mais rentabilidade<br />
Produtores unidos superam<br />
desafios e chegam mais<br />
longe .<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
1<br />
Entrevista 6<br />
Roberto Rodrigues, ex ministro da Agricultura<br />
e coordenador da FGV<br />
Cooperação rural 10<br />
A união no campo é tão importante quanto<br />
nas empresas. Juntos, produtores podem<br />
aumentar o poder de negociação e conseguir<br />
resultados expressivos<br />
Novos mercados 14<br />
Agroindústrias do Paraná investem em gestão<br />
para ganhar novos clientes<br />
Balde Cheio 34<br />
Produtores de leite na Paraíba utilizam técnica<br />
de inovação na gestão de suas propriedades e<br />
aumentam a produção<br />
Sucesso empresarial 36<br />
Presidente de uma das maiores companhias<br />
brasileiras, Jorge Gerdau dá dicas para quem<br />
busca a solidez nos negócios<br />
Artigo 38<br />
Gestão e inovação no agronegócio<br />
Presidente do Conselho Deliberativo Nacional<br />
Roberto Simões (em exercício)<br />
Diretor-Presidente<br />
Paulo Okamotto<br />
Diretor-Técnico<br />
Carlos Alberto dos Santos<br />
Diretor de Administração e Finanças<br />
José Claudio dos Santos<br />
Gerente da Unidade de<br />
Agronegócios<br />
Paulo César de Carvalho Alvim<br />
Gerente da Unidade de Marketing<br />
e Comunicação<br />
Cândida Bittencourt<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Produção Editorial<br />
i-Comunicação<br />
Responsável técnico<br />
Pedro Pessoa<br />
Supervisão editorial<br />
Andrea Sekeff<br />
Coordenação editorial<br />
Tecris de Souza<br />
Edição<br />
Fabrício Zago<br />
Reportagem<br />
Beatriz Borges, Mariana Flores,<br />
Tatiana Alarcon e Vanessa Brito<br />
Edição de fotos<br />
Rubens José<br />
Tiragem<br />
10 mil exemplares<br />
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro<br />
e Pequenas Empresas – <strong>Sebrae</strong><br />
SEPN Quadra 515 – Bloco C<br />
Loja 32 – CEP 70770-900 – Brasilia-DF<br />
Tel.: (61) 3348-7100<br />
Central de Relacionamento <strong>Sebrae</strong><br />
0800 570 0800 www.sebrae.com.br<br />
Mais lucro 16<br />
Produtores do Ceará melhoram de vida<br />
promovendo o desenvolvimento profissional<br />
na gestão de empreendimentos rurais<br />
MPE Brasil 18<br />
Empresas que participam da premiação do<br />
<strong>Sebrae</strong> ganham competitividade e melhoram<br />
a gestão<br />
Controle gerencial 20<br />
Programa de computador auxilia produtores<br />
na gestão financeira<br />
Crédito 22<br />
Plano Safra vai destinar R$ 16 bi para<br />
agricultores familiares<br />
Mandiocultura 24<br />
Produtores de farinha transformam unidades<br />
em agroindústrias<br />
Café 26<br />
Gestão eficiente garante rentabilidade no<br />
Triângulo Mineiro<br />
Apicultura 29<br />
Software ajuda a calcular custo e definir preço<br />
Qualificação 31<br />
Programa capacita mulheres para gestão da<br />
propriedade
Editorial<br />
Com inovação, mais resultados<br />
A<br />
revista que você acaba de receber<br />
é um recorte do bom<br />
momento pelo qual passa a<br />
agricultura familiar. Formado por 4,3<br />
milhões de propriedades agrícolas, de<br />
acordo com o Censo do IBGE/2006,<br />
esse segmento do agronegócio produz<br />
70% dos alimentos consumidos diariamente<br />
pelos brasileiros. A pesquisa<br />
revela ainda que a agricultura familiar<br />
é responsável por sete em cada dez<br />
ocupações no meio rural, contando<br />
com apenas 24,3% da área total dos<br />
estabelecimentos rurais. Os agricultores<br />
familiares produzem 87% da mandioca<br />
consumida no Brasil, 70% do<br />
feijão, 58% do leite e 46% do milho.<br />
Números tão expressivos não são<br />
resultado apenas do esforço e do<br />
suor de quem acorda cedo para cuidar<br />
da plantação e garantir o sustento<br />
da família. Deve-se, sobretudo,<br />
à introdução de ferramentas de<br />
gestão rural modernas, tema central<br />
desta edição da Revista <strong>Conhecer</strong><br />
<strong>Sebrae</strong> Agronegócios.<br />
Conforme relatos de produtores<br />
publicados ao longo desta edição,<br />
a gestão profissional da propriedade<br />
resulta em redução de custos,<br />
aumento da produtividade,<br />
melhoria nas vendas e facilita a<br />
identificação de novas oportunidades<br />
de negócio. É o caso do pecuarista<br />
e proprietário da Granja Berendonk,<br />
Roberto Berendonk, no<br />
município cearense de Tianguá, a<br />
310 km de Fortaleza.<br />
Cafeicultura no Triângulo Mineiro: gestão empreendedora<br />
Aluno do programa Desenvolvimento<br />
Integrado da Propriedade Rural, uma pliam a capacidade operacional das<br />
As soluções de cooperação am-<br />
das ferramentas criadas pelo <strong>Sebrae</strong> e propriedades rurais nas suas relações<br />
com mercados cada vez mais<br />
parceiros à disposição dos agricultores,<br />
Berendonk aperfeiçoou o controle financeiro<br />
e investiu em melhorias, comprou conquista de resultados inviáveis<br />
concorridos. A cooperação leva à<br />
novos equipamentos e modernizou o se realizados de forma isolada. Especialmente<br />
no meio rural, torna-se<br />
pequeno comércio que mantém perto<br />
da granja. “Os atravessadores compravam<br />
o produto a um valor muito inferior cia ou de crescimento dos negó-<br />
um importante fator de sobrevivên-<br />
e o resultado era um alto prejuízo. Hoje, cios, principalmente para as micro<br />
vejo o lucro gerado pela minha fazenda e pequenas empresas.<br />
e consigo vender os produtos a preços<br />
bem mais acessíveis ao consumidor. A Revista <strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong> Agronegócios<br />
faz uma viagem por esse<br />
Todos estão adorando”, comemora.<br />
Brasil rural que dá certo, mostrando<br />
O sucesso no campo também pode iniciativas de gestão que ajudaram<br />
ser conquistado com iniciativas de associativismo<br />
e de cooperativismo. Em nas propriedades. Você também vai<br />
a ampliar a lucratividade nas peque-<br />
um mundo cada vez mais competitivo encontrar uma entrevista com o exministro<br />
da Agricultura do governo<br />
e globalizado, administrar o sítio ou a<br />
fazenda sozinho e, ao mesmo tempo, Lula, Roberto Rodrigues, hoje coordenador<br />
do Centro de Agronegócio da<br />
conduzir o trabalho pesado é meio caminho<br />
para o fracasso. No rumo inverso, a Fundação Getúlio Vargas (FGV) e presidente<br />
do Conselho do Agronegócio<br />
cooperação entre empresas é capaz de<br />
torná-las mais competitivas, reduzindo da Federação das Indústrias do Estado<br />
de São Paulo (Fiesp). Boa leitura e<br />
custos, fortalecendo o poder de compra<br />
e aumentando a lucratividade.<br />
bons negócios!<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/MG<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
5
Entrevista<br />
Diferenciais projetam a<br />
agropecuária brasileira no exterior<br />
Foto: Carlos Silva/Mapa<br />
O<br />
Brasil é uma potência<br />
agrícola, reconhecido<br />
como tal pelo mundo<br />
inteiro. Segundo a Organização das<br />
Nações Unidas para Agricultura e<br />
Alimentação (FAO), a demanda por<br />
alimentos vai crescer em torno de<br />
70% até 2050. Esse cenário é muito<br />
favorável ao País. Nos últimos anos,<br />
as políticas públicas para o setor rural<br />
tiveram avanço significativo, porém,<br />
é preciso prosseguir elaborando<br />
e implantando mais normas,<br />
certificações e regulamentações.<br />
Essa é a opinião de Roberto<br />
Rodrigues, titular do Ministério da<br />
Agricultura, Pecuária e Abastecimento<br />
(Mapa) do primeiro mandato do<br />
presidente Luiz Inácio Lula da<br />
Silva. Produtor rural de longa data,<br />
Rodrigues coordena atualmente o<br />
Centro de Agronegócio da Fundação<br />
Getúlio Vargas (FGV) e é presidente<br />
do Conselho do Agronegócio da<br />
Federação das Indústrias do Estado<br />
de São Paulo (Fiesp).<br />
Roberto Rodrigues, ex-ministro e coordenador da FGV<br />
Para o ex-ministro, não há<br />
incompatibilidade entre a monocultura<br />
de exportação, praticada pelos<br />
6<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
grandes produtores rurais, e a<br />
agricultura familiar, por pequenos<br />
proprietários de terras. “Elas não são<br />
rivais, mas complementares. A falta<br />
de conhecimento e informação sobre<br />
o agronegócio brasileiro, desperta<br />
preconceitos incabíveis”.<br />
Nesta entrevista, ele analisa o<br />
atual momento do agronegócio<br />
brasileiro, fala sobre políticas<br />
públicas para o setor e ressalta a<br />
importância da agricultura familiar<br />
e da agricultura orgânica. Ele diz<br />
também que os biocombustíveis<br />
oferecem ótimas oportunidades<br />
para o agronegócio nacional.<br />
Como o senhor avalia o atual<br />
momento do agronegócio brasileiro?<br />
O agronegócio brasileiro vive um momento<br />
de profunda transição. A FAO<br />
estabeleceu, no final do ano passado,<br />
um cenário global apontando que a<br />
procura por alimento deverá crescer<br />
cerca de 70% até 2050. Esse crescimento<br />
está diretamente relacionado<br />
com o aumento da população e da renda<br />
nos países emergentes. Por outro<br />
lado, está caracterizado o fato, em relação<br />
às questões ambientais, de que o<br />
petróleo não será o produto que atenderá<br />
todas as demandas universais de<br />
energia e combustível em geral. Há dados<br />
que ilustram essa tendência: EUA,<br />
União Europeia e Japão, somados,<br />
possuem hoje 50 veículos para cada<br />
cem habitantes, ao passo que a China<br />
e Índia, responsáveis por mais de um<br />
Temos três<br />
grandes vantagens<br />
perante os demais<br />
países: extensão<br />
territorial; o melhor<br />
clima do mundo;<br />
e agricultores<br />
modernos<br />
terço da população mundial, contam<br />
com cinco carros por cem habitantes.<br />
No ano passado, a China foi o país<br />
que mais comprou carro no mundo.<br />
A consequência desse cenário abre<br />
possibilidades para o biocombustível<br />
brasileiro. Não é por outra razão que,<br />
pelo menos, 20 fundos internacionais<br />
estão investindo em nosso País<br />
em tecnologias de biocombustíveis e<br />
energias limpas e renováveis.<br />
O agronegócio continua sendo<br />
responsável por grande parte da<br />
balança comercial brasileira?<br />
Sem dúvida. No ano passado, o saldo<br />
comercial do agronegócio foi praticamente<br />
uma vez e meia o saldo comercial<br />
do Brasil inteiro. Se não fosse<br />
o agronegócio, teríamos um déficit<br />
comercial insuperável.<br />
Que balanço o senhor faz das<br />
políticas agrícolas nos últimos<br />
anos?<br />
Algumas foram formidáveis. O Brasil<br />
avançou com a lei de inovação tecnológica,<br />
que permitiu saltos qualitativos<br />
na questão da pesquisa e ciência<br />
rural. Avançou na legislação da biossegurança<br />
e reformulamos a lei da<br />
armazenagem. Tivemos um salto com<br />
a lei dos produtos orgânicos, que deu<br />
ao País uma posição invejável. Nas<br />
questões ambientais, estabelecemos<br />
procedimentos específicos para<br />
o recolhimento de embalagens de<br />
agrotóxicos. Na área operacional, o<br />
Ministério da Agricultura criou um sistema<br />
estratégico, que sinaliza o que<br />
vai acontecer no mundo nos próximos<br />
30 anos. Esse sistema aponta, especialmente<br />
para o governo, quais ações<br />
devem ser colocadas em prática para<br />
que as potencialidades desenhadas se<br />
transformem em realidade. Fizemos a<br />
reforma da Conab, da Embrapa e do<br />
Inmet. Tudo isso tem gerado resultados<br />
extraordinários para o agronegócio.<br />
Criamos os novos mecanismos<br />
de comércio, que permitem a redução<br />
da presença do Estado na comercialização<br />
agrícola e na crescente participação<br />
das bolsas de mercadorias<br />
e futuros. Resumindo, houve um conjunto<br />
de avanços significativos, no entanto,<br />
insuficientes. Há ainda alguns<br />
temas pendentes, como o endividamento<br />
da agricultura.<br />
Em relação à agricultura orgânica,<br />
o Brasil tem potencial para<br />
produzir em grande escala?<br />
A agricultura orgânica vem crescendo<br />
no mundo inteiro e no Brasil. Nós<br />
fizemos a lei dos orgânicos e seu regulamento.<br />
No início, havia muito de-<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
7
Foto: <strong>Sebrae</strong>/MG<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/AC<br />
Café e alface orgânica: produção brasileira tem potencial para crescer ainda mais nos próximos anos<br />
sentendimento dentro do setor, mas finalmente<br />
tudo está operando. Quando<br />
comparado com outros países, o Brasil<br />
está avançando na área institucional.<br />
O problema do orgânico é o mercado.<br />
Ele não tem a elasticidade que se imaginava<br />
inicialmente. A organização do<br />
orgânico é essencial a partir da certificação<br />
do produto. Estamos caminhando<br />
muito bem nesse sentido. Esse é<br />
um nicho poderoso e o Brasil, como<br />
País de clima tropical, tem grandes<br />
chances de levantar mercados internos<br />
e externos. Estamos avançando,<br />
mas precisamos nos organizar melhor<br />
e criar mecanismos de certificação fortes<br />
para que alcancemos esse mercado,<br />
que é, sobretudo, favorável para o<br />
pequeno produtor. Produtos orgânicos<br />
têm espaço notável com renda agregada.<br />
É um produto que se pode dizer<br />
A produção<br />
orgânica é um<br />
nicho de mercado<br />
poderoso e o<br />
Brasil, de clima<br />
tropical, tem<br />
grandes chances de<br />
prospectar clientes<br />
dentro e fora do<br />
País<br />
de elite em termos globais. É um nicho<br />
que tem que ser muito bem estimulado<br />
para que o pequeno produtor rural<br />
seja inserido.<br />
Como professor, produtor e exministro<br />
do Mapa, qual é a sua<br />
opinião sobre a sustentabilidade?<br />
Sustentabilidade é um tema que deixou<br />
de ser modismo e é, hoje, um<br />
tema central na produção de qualquer<br />
produto e em qualquer lugar do mundo.<br />
Quanto mais avançada no tempo,<br />
mais e mais a sustentabilidade será<br />
demandada pelos consumidores, e<br />
quem quiser competir no mercado internacional<br />
tem que oferecer produtos<br />
sustentáveis. A sustentabilidade<br />
é um conceito que tem um lastro em<br />
três vertentes idênticas: uma ligada<br />
à área social; uma na área ambiental;<br />
e a última, na área econômica. Só o<br />
equilíbrio estável entre esses três<br />
vértices do triângulo da sustentabilidade<br />
é que permitirá o avanço e<br />
prática da sustentabilidade. Infeliz-<br />
8<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
mente o que vem acontecendo no<br />
mundo inteiro é que os atores de<br />
cada segmento abraçam sua sardinha<br />
sem considerar o indispensável<br />
equilíbrio entre os três vértices. O<br />
empresário está preocupado com<br />
a vertente econômica. O ambientalista,<br />
com a vertente ambiental, e o<br />
acadêmico, com a social.<br />
Como o senhor avalia a possível<br />
dicotomia entre a monocultura<br />
de exportação e a<br />
agricultura familiar, a grande<br />
responsável por abastecer as<br />
mesas dos brasileiros?<br />
Esse é um dilema mal elaborado.<br />
Hoje, a responsabilidade do pequeno<br />
produtor na produção de frangos<br />
e de leite é notável. O pequeno<br />
produtor é o grande construtor da<br />
avicultura e da produção leiteira no<br />
Brasil. No entanto, não existiriam<br />
frangos e vacas leiteiras sem milho<br />
ou soja, que são produzidos pelos<br />
grandes produtores. Na verdade,<br />
Quanto mais<br />
avançada no tempo,<br />
mais e mais a<br />
sustentabilidade<br />
será demandada<br />
pelos consumidores,<br />
e quem quiser<br />
competir no mercado<br />
internacional terá que<br />
oferecer produtos<br />
sustentáveis<br />
há uma complementaridade e uma<br />
sintonia fina entre ambos. Tentar<br />
dividi-los é um erro estratégico,<br />
um erro de conceitos, que não ajuda<br />
ninguém. Todos fazem parte da<br />
mesma atividade, que é o agronegócio,<br />
e se complementam de maneira<br />
extraordinária. Todos se ajudam<br />
reciprocamente, ainda que sem ter<br />
consciência disso. O setor precisa<br />
promover campanhas de comunicação<br />
para explicar à sociedade como<br />
os alimentos são produzidos.<br />
O senhor acha injusto esse dilema<br />
entre a monocultura de<br />
exportação e da agricultura<br />
familiar?<br />
Não acho injusto, acho equivocado.<br />
É uma visão preconceituosa. Qual<br />
é o problema de se exportar ou se<br />
produzir para o mercado interno?<br />
Foto: Carlos Silva<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
9
Cooperação Capa<br />
Foto: Ministério do Desenvolvimento Agrário<br />
Agicultura familiar: disseminação da cultura cooperativista amplia o horizonte dos produtores rurais<br />
Produtores unidos<br />
chegam mais longe<br />
Soluções desenvolvidas pelo <strong>Sebrae</strong> ampliam competitividade de empreendedores rurais<br />
É<br />
cada vez mais forte a ideia<br />
de que empresas isoladas,<br />
que agem sozinhas, encontram<br />
mais dificuldades para enfrentar<br />
desafios. No caminho inverso,<br />
surgem estratégias de cooperação<br />
entre empresas capazes de torná-las<br />
mais competitivas, reduzindo custos<br />
e fortalecendo o poder de compra e<br />
a lucratividade. Apostando nessa filosofia,<br />
o <strong>Sebrae</strong> vem desenvolvendo<br />
produtos voltados para a disseminação<br />
da cultura cooperativista entre os<br />
produtores rurais.<br />
De acordo com Michelle Carsten,<br />
assistente da Unidade de Capacitação<br />
Empresarial (UCE) da instituição,<br />
as soluções de cooperação ampliam<br />
a capacidade operacional das empresas<br />
rurais nas suas relações com<br />
mercados cada vez mais competiti-<br />
10<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
vos. “A cooperação proporciona a<br />
conquista de resultados jamais imaginados<br />
de serem atingidos de forma<br />
isolada, tornando-se um importante<br />
meio dos sobrevivência ou de crescimento<br />
dos negócios, principalmente<br />
para as micro e pequenas empresas”,<br />
diz Carsten.<br />
Muitas vezes, o desafio da cooperação<br />
entre empreendedores tem<br />
origem cultural. Segundo a assistente<br />
do <strong>Sebrae</strong>, a sociedade ainda<br />
é individualista e não incentiva a<br />
atuação conjunta. “É preciso destacar<br />
que a união de esforços é um<br />
diferencial competitivo, um meio<br />
para viabilizar negócios e acessar<br />
mercados”, diz.<br />
Com a proposta de mudar essa<br />
realidade, o <strong>Sebrae</strong> lançou a ferramenta<br />
Estratégia de Abordagem da<br />
Cultura da Cooperação (CultCoop).<br />
Criada em 2004, em Minas Gerais,<br />
a iniciativa tem por objetivo sensibilizar<br />
os empresários do segmento<br />
de micro e pequeno porte a trabalhar<br />
em conjunto, estabelecendo relações<br />
de confiança e garantindo a<br />
execução de ações coletivas.<br />
A cooperação<br />
proporciona a<br />
conquista de<br />
resultados jamais<br />
imaginados de serem<br />
atingidos de forma<br />
isolada, tornando-se<br />
um importante meio<br />
de sobrevivência ou<br />
de crescimento dos<br />
negócios<br />
Cooperação em rede<br />
O <strong>Sebrae</strong> também oferece ao agricultor<br />
o projeto Redes Associativas.<br />
Voltado para produtores rurais que<br />
querem participar ou que já participam<br />
de grupos ou empreendimentos<br />
coletivos, o projeto esclarece informações<br />
sobre cooperação, associativismo<br />
e gestão compartilhada e<br />
ensina o passo a passo para o planejamento<br />
e para a legalização de um<br />
empreendimento coletivo.<br />
A instituição oferece ainda cursos<br />
em telessalas no projeto Juntos Somos<br />
Fortes – Agronegócios. A proposta<br />
do curso, de 12 horas, é incrementar<br />
Foto: Ministério do Desenvolvimento Agrário<br />
Pela solução educacional, que está<br />
sendo implantada em diversos estados<br />
desde 2007 pelo <strong>Sebrae</strong>, empresários<br />
são estimulados a agir coletivamente e<br />
a viabilizar objetivos comuns. “Ao final,<br />
o resultado obtido por todos é melhor<br />
do que os obtidos individualmente”,<br />
compara Michelle.<br />
Lavoura de feijão: produção cooperada envolve trabalho feminino<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
11
a atividade econômica local, por meio<br />
de estímulo às ações empreendedoras<br />
coletivas, contribuindo para a geração<br />
de emprego e renda na comunidade.<br />
Foto: Moraes Neto<br />
A ideia é que<br />
esses fascículos<br />
sejam uma<br />
ferramenta básica<br />
de consulta para<br />
os interessados em<br />
obter as temáticas<br />
relacionadas com a<br />
cooperação<br />
Outra solução desenvolvida pela<br />
UCE é a série Empreendimentos Coletivos,<br />
formada por pequenos fascículos<br />
sobre as diferentes possibilidades<br />
de cooperação, tanto no meio urbano<br />
quanto no rural. Dividida em 11 temas,<br />
a série oferece respostas simples para<br />
as dúvidas mais comuns sobre empreendimentos<br />
coletivos. “A ideia é<br />
que esses fascículos sejam uma ferramenta<br />
básica de consulta para os<br />
interessados em obter as temáticas<br />
relacionadas à cooperação”, explica<br />
Michelle Carsten. Os fascículos estão<br />
disponíveis em PDF. Podem ser baixados<br />
gratuitamente no Portal do <strong>Sebrae</strong><br />
(www.sebrae.com.br).<br />
Programas do <strong>Sebrae</strong> para a cooperação rural<br />
CultCoop<br />
Cem horas de consultoria com empresas que integram projetos coletivos do <strong>Sebrae</strong>.<br />
O trabalho é realizado em três momentos:<br />
Desenho da rede, quando ocorre um levantamento sobre os atores e as relações<br />
entre eles;<br />
Identificação e análise de gargalos, com enfoque nos obstáculos que possam<br />
impedir o desenvolvimento das ações e nos potenciais existentes para viabilizálas;<br />
e<br />
Organização do empreendimento coletivo, com a mediação dos conflitos e interesses<br />
das empresas.<br />
Fascículos Empreendimentos Coletivos<br />
Associação<br />
Cooperativa<br />
Central de Negócios<br />
Consórcio de Empresas<br />
Cultura da Cooperação<br />
Oscip – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público<br />
Cooperativa de Crédito<br />
EPC – Empresa de Participação Comunitária<br />
SPE – Sociedade de Propósito Específico<br />
Sociedade Garantidora de Crédito<br />
APL – Arranjos Produtivos Locais<br />
Redes Associativas<br />
Módulo 1 – Despertando para o Associativismo<br />
Módulo 2 – Planejando nosso Empreendimento Coletivo<br />
Módulo 3 – Praticando o Associativismo<br />
Módulo 4 – Legalizando o Empreendimento Coletivo<br />
Redes Associativas<br />
Conteúdo:<br />
O importante é cooperar;<br />
Tá na rede é peixe;<br />
Remover as pedras do caminho;<br />
Parceiros pra valer; e<br />
Vamos administrar juntos.<br />
12<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
Cooperação<br />
Cooperação amplia<br />
horizontes no campo<br />
Agricultores da Bahia e do Espírito Santo buscam ampliar o canal de comercialização e<br />
aumentar a qualificação do processo produtivo<br />
Em Itaberaba, na Bahia, a Cooperativa<br />
de Produtores de Abacaxi<br />
(Coopaita) ganhou impulso com<br />
a Estratégia de Abordagem da Cultura<br />
da Cooperação (Cultcoop), em 2007. O<br />
grupo estava cansado e desestimulado<br />
com as formas de atuação dos últimos<br />
anos. “A maior dificuldade dos associados<br />
era a comunicação. Havia muitos<br />
ruídos, as decisões eram centralizadas,<br />
e os associados não conseguiam interagir”,<br />
conta Lúcia Leite, gestora do projeto<br />
pelo <strong>Sebrae</strong> no estado.<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/BA<br />
De acordo com Valdomiro Victor,<br />
presidente da cooperativa, a CultCoop<br />
mudou radicalmente o comportamento<br />
dos cooperados. Atualmente,<br />
os 200 participantes já traçaram um<br />
planejamento estratégico com metas<br />
para os próximos cinco anos.<br />
“Entre nossos objetivos, estão ampliar<br />
o canal de comercialização,<br />
aumentar a qualificação dos processos<br />
e produtos, buscando a sustentabilidade<br />
e a preservação do meio ambiente<br />
e conquistar maior acesso ao<br />
crédito”, afirma.<br />
Abacaxi colhido na Bahia tem produção planejada<br />
No Espírito Santo, terrenos férteis no pos e mudou os rumos da associação.<br />
“Em pouco tempo, nós con-<br />
município de Aracruz serviam de campo<br />
de batalha para a guerra entre produtores<br />
de mel, índios e assentados. Os gru-<br />
municípios. Hoje, todos tomam deseguimos<br />
integrar grupos em 24<br />
pos de apicultores não se entendiam e cisões em conjunto e participam de<br />
as produções eram feitas de forma desorganizada<br />
e sem o mínimo de gestão. vos e organizam até churrascos”,<br />
feiras, vendas, processos produti-<br />
brinca Karina Carvalho, gestora do<br />
Há um ano, o <strong>Sebrae</strong> no estado projeto de Apicultura no <strong>Sebrae</strong> no<br />
investiu na CultCoop com os gru-<br />
Espírito Santo.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
13
Oportunidade<br />
Agroindústrias investem<br />
em gestão para ganhar mercados<br />
Projeto do <strong>Sebrae</strong> no Paraná promove organização e fortalecimento de empresas,<br />
facilitando a expansão dos negócios<br />
Foto: Carlos Silva/Mapa<br />
ou vendida em feiras ou em mais de 40<br />
pontos no município e região.<br />
Em 2005, o empresário procurou o<br />
<strong>Sebrae</strong> para aumentar a eficiência na<br />
produção e conquistar novos mercados.<br />
No mesmo ano, participou do projeto<br />
Cultura da Cooperação. Foi quando descobriu,<br />
no associativismo, uma oportunidade<br />
de expandir os negócios. Logo<br />
depois, ajudou a fundar a Associação<br />
Regional da Agroindústria (Area), que<br />
atualmente conta com 60 participantes.<br />
“Conseguimos nos fortalecer e com a<br />
união atingimos objetivos comuns e superamos<br />
dificuldades”, conta.<br />
Na receita dos doces de leite, o associativismo garante aumento do lucro<br />
Compotas de doces de leite na fabricação de doces e frutas e está<br />
com frutas. Esse é o carrochefe<br />
da pequena agroindús-<br />
ganhando espaço no mercado local.<br />
tria do produtor paranaense Marcelo Depois da fábrica, em 1996, Braga<br />
Braga, que há 14 anos vem provando abriu uma pequena lanchonete nas proximidades<br />
da propriedade. Para ajudar<br />
que a arte da produção de doces de<br />
leite não é exclusividade da culinária mineira.<br />
Na pequena propriedade de cinco de doces por dia, o proprietário conta<br />
na produção, que chega a 200 potes<br />
hectares, no município de Mandaguaçu,<br />
a 443 km de Curitiba, ele investiu é comercializada na pequena<br />
com três funcionários. Toda a produção<br />
empresa<br />
A pequena indústria de Mandaguaçu<br />
participa do projeto Desenvolvimento<br />
das Agroindústrias do Noroeste do Paraná,<br />
iniciativa que tem como objetivos<br />
promover negócios, fortalecer a organização<br />
das agroindústrias em redes<br />
de cooperação na região e ainda possibilitar<br />
a agregação de valor aos produtos<br />
primários dos empreendedores.<br />
De acordo com o gestor do projeto,<br />
Joversi Rezende, a estratégia é pro-<br />
14<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
mover a competitividade das empresas<br />
com base no fortalecimento dos<br />
pilares gestão, mercados e tecnologia.<br />
“A ideia é preparar o empreendedor e<br />
garantir sua sustentabilidade a partir<br />
dessas três soluções, que permitirão<br />
maior comercialização e acesso a novas<br />
tecnologias”, explica.<br />
Foto: Divulgação<br />
Entre as ações estão a realização de<br />
diagnóstico e planos de trabalho para<br />
as empresas, capacitações, cursos e<br />
palestras, promoção de encontro de<br />
negócios, participação em feiras, análise<br />
de propostas e sugestões para<br />
melhoria nos processos produtivos,<br />
produtos, rótulos e embalagens.<br />
Projeto foca implantação<br />
de boas práticas<br />
Este ano, o projeto terá como foco a<br />
implantação da metodologia BPF (Boas<br />
Práticas de Fabricação), regulamentada<br />
pelos ministérios da Agricultura e da<br />
Saúde. Segundo Joversi Rezende, do <strong>Sebrae</strong>,<br />
a qualificação dos produtos desde<br />
o início do processo produtivo é o ponto<br />
de partida para o sucesso dos negócios<br />
do setor. Para isso, o <strong>Sebrae</strong> já está se<br />
estruturando de modo a ampliar os trabalhos<br />
de orientação e suporte nas agroindústrias<br />
paranaenses.<br />
O produtor Marcelo Braga (foto) afirma<br />
estar otimista com a aplicação das<br />
regras de segurança alimentar e boas<br />
práticas de manejo e produção. De acordo<br />
com o empresário, a iniciativa qualifica<br />
e garante credibilidade às agroindústrias.<br />
“Temos que buscar sempre<br />
o aperfeiçoamento, principalmente à<br />
medida que vamos crescendo enquanto<br />
empreendedores”, diz.<br />
Desenvolvido em 2005, o projeto apoia mais de cem municípios em todo o noroeste<br />
do estado e envolve 276 agroindústrias. Entre os grupos apoiados estão a<br />
Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), a Associação dos<br />
Municípios da Região de Entre Rios (Amerios), a Associação dos Municípios do Noroeste<br />
do Paraná (Amunpar) e a Comunidade dos Municípios da Região de Campo<br />
Mourão (Comcam).<br />
São parceiros do <strong>Sebrae</strong> no projeto o Instituto Paranaense de Assistência Técnica<br />
e Extensão Rural (Emater-PR), a Universidade Estadual de Maringá (UEM), o Centro<br />
Universitário de Maringá (Cesumar), o Instituto de Desenvolvimento Regional (IDR)<br />
e as associações municipais.<br />
Soluções na<br />
Agroindústria<br />
Na área de gestão, visam<br />
ampliar a capacidade empreendedora<br />
das empresas no setor<br />
agroindustrial, com diagnósticos<br />
e planos de desenvolvimento,<br />
capacitações, cursos,<br />
seminários e elaboração de<br />
projetos para ampliação dos<br />
empreendimentos.<br />
O acesso a mercado tem como<br />
objetivo criar alternativas de<br />
comercialização para os produtos<br />
das agroindústrias, com<br />
maior participação em:<br />
Redes de<br />
comercialização<br />
Rodadas de<br />
negócios<br />
Feiras de<br />
agroindústrias<br />
Centros de<br />
comercialização<br />
Na área de tecnologia, as soluções<br />
visam:<br />
Análise e propostas<br />
de melhoria de<br />
processos produtivos<br />
Desenvolvimento<br />
de novos produtos,<br />
agregando valor à<br />
empresa<br />
Desenvolvimento<br />
de rótulos e embalagens<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
15
Profissionalização<br />
Foto: Luiz Ximenes<br />
Jiló produzido por agricultores do projeto Desenvolvimento Integrado da Propriedade Rural<br />
Produtores do Ceará<br />
colhem os frutos da boa gestão<br />
Iniciativa tem por objetivo promover o desenvolvimento profissional na gestão de<br />
empreendimentos rurais<br />
Redução de custos, aumento<br />
da produtividade, melhoria<br />
nas vendas e identificação<br />
de novas oportunidades de negócio.<br />
Esses são alguns dos resultados alcançados<br />
por produtores do Ceará<br />
que participam do projeto Desenvolvimento<br />
Integrado da Propriedade<br />
Rural. Criado pelo <strong>Sebrae</strong> no estado,<br />
o projeto é realizado em parceria com<br />
prefeituras municipais, Federação da<br />
Agricultura do Ceará (Faec) e Serviço<br />
Nacional de Aprendizagem Rural do<br />
Alimentos<br />
produzidos por<br />
agricultores<br />
do projeto<br />
Desenvolvimento<br />
Integrado da<br />
Propriedade Rural<br />
garantem mais<br />
renda no campo<br />
Estado do Ceará (Senar). Atualmente,<br />
cerca de 350 propriedades são atendidas<br />
pelo projeto em todo estado.<br />
O projeto foi idealizado em 2007 e<br />
surgiu a partir de uma demanda dos<br />
próprios agricultores, que buscavam<br />
um modelo de gestão diferenciado,<br />
simples, mas eficaz. “A ideia era provocar<br />
o pequeno produtor a melhorar<br />
a gestão, possibilitando o aumento da<br />
competitividade e da sustentabilidade”,<br />
explica Carlos Viana, gestor de<br />
16<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
projetos da Unidade de Agronegócios<br />
do <strong>Sebrae</strong> no Ceará.<br />
O principal desafio foi sensibilizar o produtor<br />
sobre a importância da profissionalização<br />
da gestão. “Foi preciso criar uma<br />
mudança de comportamento desses<br />
empreendedores, uma nova cultura que<br />
mostrasse outra forma de trabalhar, de<br />
produzir e de gerar resultados”, afirma.<br />
O trabalho é baseado em consultorias<br />
que variam de 20 horas a 65 horas<br />
por empresa. O primeiro passo é do<br />
próprio produtor, que deve demonstrar<br />
interesse e pedir apoio ao <strong>Sebrae</strong>.<br />
Depois disso, o consultor faz uma visita<br />
à propriedade e prepara um diagnóstico<br />
sobre os gargalos e potenciais<br />
do negócio.<br />
A partir daí, é desenvolvido um plano<br />
de ação para execução das atividades.<br />
Por fim, todo o trabalho recebe<br />
um monitoramento sistemático para<br />
alcance dos resultados.<br />
Metodologia da gestão<br />
rural: objetivos<br />
Identificar o nível de gestão<br />
adotado na empresa rural;<br />
Identificar os principais<br />
problemas e carências<br />
gerenciais da empresa rural;<br />
Visualizar os passos<br />
fundamentais para<br />
implantação e manutenção de<br />
um sistema de gestão eficaz;<br />
Realizar a análise dos<br />
resultados da empresa.<br />
Produtores comemoram melhoria da gestão<br />
Foto: Divulgação<br />
Há dois anos, o pecuarista e proprietário da Granja Berendonk, Roberto Beredonk,<br />
propôs mudanças radicais na gestão de sua empresa. Depois de entrar no programa,<br />
ele decidiu aperfeiçoar o controle financeiro e investir em melhorias, comprou<br />
novos equipamentos e modernizou o pequeno comércio que a família mantém perto<br />
da granja, em Tianguá, município cearense a 310 km de Fortaleza.<br />
A mudança mais significativa surgiu quando ele acabou com a venda para atravessadores.<br />
Segundo o produtor, o novo modelo de gestão abriu oportunidade para<br />
uma transação comercial diferenciada e aumentou o lucro mensal da fazenda em<br />
cerca de 40%. “Os atravessadores compravam o produto a um valor muito inferior<br />
e o resultado era um alto prejuízo. Hoje, vejo o lucro gerado pela minha fazenda e<br />
consigo vender os produtos a preços bem mais acessíveis ao consumidor. Todos<br />
estão adorando!”, comemora.<br />
Ricardo Menezes Cordeiro, proprietário de uma pequena fazenda em Viçosa do<br />
Ceará, entrou no projeto em 2008, depois de participar do Programa Empreendedor<br />
Rural. Até então, ele tinha uma renda instável e estava longe de conquistar seu<br />
maior sonho: cultivar folhas hidropônicas – técnica de plantio sem solo. Com a participação<br />
no curso, Ricardo teve as primeiras noções de gestão e aprendeu a elaborar<br />
o projeto de viabilidade econômica que o levaria a colocar seu sonho em prática.<br />
“Estou realizado. Planto o que quero, sem agrotóxicos e o fluxo financeiro da minha<br />
propriedade agora é linear”, conta.<br />
Roberto Berendonk, agricultor de Tianguá<br />
Para o produtor de frutas e hortaliças, Luiz Ximenes Ramos, o grande desafio era<br />
transformar toda sua produção convencional em orgânica. Com o acompanhamento<br />
técnico e as consultorias do <strong>Sebrae</strong> no estado, o produtor investiu na mudança e<br />
já conseguiu aumentar sua produtividade com qualidade. “O risco era alto porque a<br />
produtividade de orgânicos é menor em relação à tradicional. Mesmo assim, resolvi<br />
apostar e o esforço valeu a pena”, diz.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
17
MPE Brasil<br />
Prêmio nacional<br />
valoriza gestão diferenciada<br />
Empresas que participam da premiação do <strong>Sebrae</strong> ganham competitividade e melhoram a<br />
gestão dos negócios<br />
Divulgação<br />
Reconhecer micro e pequenas<br />
empresas que buscam o aumento<br />
da qualidade, produtividade<br />
e competitividade pela aplicação<br />
de métodos de gestão diferenciados.<br />
Esse é o objetivo do MPE Brasil – Prêmio<br />
de Competitividade para Micro e<br />
Pequenas Empresas, que homenageia,<br />
entre outras categorias, o agronegócio.<br />
Neste setor, o prêmio vem ganhando<br />
destaque entre os produtores rurais<br />
que procuram melhoria contínua e excelência<br />
na gestão de seus negócios.<br />
Epaminondas Andrade, empresário<br />
e agropecuarista, foi vencedor nacional<br />
em 2009 pelas boas práticas de<br />
gestão implementadas na Fazenda<br />
Vale do Boi, na Região Norte do Tocantins.<br />
Lá todo o trabalho é feito com<br />
muito cuidado e organização. O fluxo<br />
de caixa é rigorosamente controlado,<br />
todos os funcionários são registrados<br />
conforme as leis trabalhistas, as instalações<br />
são adequadas e a preocupação<br />
ambiental é prioridade.<br />
Para o empresário, o prêmio traz<br />
grande contribuição ao agronegócio<br />
no Tocantins e é exemplo para toda<br />
a classe agropecuária do estado. “A<br />
premiação incentiva o aprendizado e<br />
a busca por aperfeiçoamento continuado.<br />
É uma oportunidade para que<br />
outros agricultores revejam seu tipo<br />
de gestão”, diz. Hoje, ele se dedica<br />
a disseminar os objetivos do prêmio<br />
entre os companheiros do campo,<br />
orientando e trocando experiências<br />
sobre qualidade em gestão.<br />
Epaminondas Andrade, pecuarista de Tocantins<br />
O prêmio é realizado pelo Movimento<br />
Brasil Competitivo (MBC), em parceria<br />
com o <strong>Sebrae</strong>, a Fundação Nacional<br />
da Qualidade (FNQ) e o Grupo<br />
Gerdau. Além do agronegócio, a iniciativa<br />
premia as categorias indústria,<br />
serviços, comércio, serviços especí-<br />
18<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
Divulgação<br />
ficos de educação, saúde, tecnologia<br />
da informação e turismo, e a categoria<br />
especial ‘boas práticas de responsabilidade<br />
socioambiental’, que destaca<br />
ações de empresas voltadas à preservação<br />
do meio ambiente e ao desenvolvimento<br />
da comunidade em que<br />
estão inseridas. Desde a sua criação,<br />
em 2004, o prêmio já recebeu mais de<br />
57 mil inscrições.<br />
Independentemente de ser premiado<br />
ou não, os participantes, ao<br />
se inscreverem, preenchem um<br />
questionário, onde é avaliada a gestão<br />
de seu negócio. As informações<br />
resultam em um diagnóstico, feito<br />
pelo <strong>Sebrae</strong>, que detecta e aponta<br />
Armando Pertuzati, fazendeiro de<br />
Francisco Alves (PR)<br />
sugestões de melhorias para cada<br />
empresa. Esse, segundo a coordenadora<br />
nacional do prêmio pelo <strong>Sebrae</strong>,<br />
Maria Del Carmen Stepanenko, é o<br />
grande destaque da iniciativa. “O importante<br />
é a reflexão da empresa sobre<br />
sua gestão, para que o empresário<br />
fique mais preparado e parta em<br />
busca de melhorias”, afirma.<br />
Profissionalização<br />
No Vale do São Francisco, em Petrolina<br />
(PE), a empresa produtora de uvas<br />
Frutti Hall leva muito a sério o conceito<br />
de qualidade. Pelo trabalho realizado<br />
com responsabilidade social e respeito<br />
ao meio ambiente, a empresa<br />
foi vencedora da edição 2008 do MPE<br />
Brasil. Segundo a proprietária, Iolanda<br />
Weis Naressi, a conquista foi incorporada<br />
por todos os funcionários. “Depois<br />
da premiação, todos passaram a<br />
entender e a valorizar a importância da<br />
profissionalização. Hoje, o interesse<br />
pelo desenvolvimento da empresa é<br />
geral”, conta Iolanda.<br />
Vencedor do segundo lugar na<br />
mesma edição de 2008, Armando<br />
Pertuzati, dono da Fazenda Cruzeiro,<br />
em Francisco Alves, no oeste<br />
do Paraná, colocou os setores de<br />
soja, milho e ovinocaprinocultura<br />
em evidência, no estado e no Brasil.<br />
Para ele, controle e organização<br />
foram os principais fatores da boa<br />
gestão na empresa. Propriedades<br />
rurais precisam ser organizadas,<br />
ter metas e investir em gestão.<br />
“Assim como em qualquer empresa,<br />
resultados só são alcançados<br />
com um bom gerenciamento”, diz.<br />
Iolanda, da Frutti Hall,<br />
agricultora de Petrolina (PE)<br />
MPE Brasil<br />
O prêmio valoriza esforços e<br />
ações de empreendedores que<br />
demonstram excelência na prática<br />
de gestão. Veja os critérios<br />
analisados:<br />
Liderança;<br />
Estratégias e planos;<br />
Clientes;<br />
Sociedade;<br />
Pessoas;<br />
Informações e conhecimento;<br />
Processos; e<br />
Resultados.<br />
Foto: Arquivo ASN<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
19
Controle gerencial<br />
Foto :Divulgação<br />
Vista aérea da Cooperativa de Carne e Derivados Majestade, do Rio Grande do Sul<br />
Software auxilia<br />
produtores na gestão financeira<br />
Programa desenvolvido pelo <strong>Sebrae</strong> no Rio Grande do Sul vira ferramenta de apoio ao<br />
empreendedorismo no campo<br />
No Rio Grande do Sul, um programa<br />
de computador vem<br />
auxiliando empresários no<br />
controle econômico e financeiro de<br />
suas propriedades. O programa Gerenciamento<br />
Rural foi desenvolvido em<br />
2006 – e atualizado dois anos depois<br />
– pelo <strong>Sebrae</strong> no estado, em parceria<br />
com a empresa de tecnologia Foco Rural,<br />
para ser uma ferramenta de gestão<br />
da empresa no campo. E tem dado certo.<br />
Muitos produtores já reconhecem<br />
a necessidade de se estabelecer um<br />
processo organizado de gestão.<br />
Graziela Battistello, da Vinícola Battistello<br />
Ltda., de Garibaldi (RS), utiliza<br />
o software há três anos e diz que o<br />
sistema deu uma contribuição fundamental<br />
ao negócio. “Antes, fazíamos<br />
o controle em uma tabela no Excel,<br />
mas era muito mais complicado. Hoje,<br />
20<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
controlamos todas as informações da<br />
empresa no programa, como cadastro<br />
de clientes, vendas, produtos, pagamentos<br />
e lucros”, conta.<br />
Foto :Divulgação<br />
Um dos atrativos do software é a<br />
possibilidade de criação de um banco<br />
de dados que armazena todas as informações<br />
necessárias para análise do<br />
produtor. “O conhecimento de sua realidade<br />
financeira garante ao empresário<br />
segurança no processo de tomada de<br />
decisões”, explica Miriam Menezes da<br />
Silva, assistente da Unidade de Agronegócio<br />
do <strong>Sebrae</strong> no Rio Grande do Sul.<br />
Fabiano Dias, da Cooperativa de<br />
Carne e Derivados Majestade, concorda.<br />
Para ele, a ferramenta é essencial<br />
no processo de decisões empresariais<br />
futuras. “O sistema é uma<br />
ferramenta de competitividade. Ele<br />
oferece as seguranças necessárias<br />
para o produtor avaliar custos e receitas<br />
e planejar melhor as alternativas<br />
de sua empresa”, afirma.<br />
Acompanhamento<br />
De acordo com a assistente Miriam<br />
Menezes da Silva, o software<br />
faz parte de um programa composto<br />
por curso de 28 horas e consultoria<br />
individualizada. Pelo programa, já no<br />
primeiro dia de capacitação, o cliente<br />
recebe o software para instalação,<br />
material explicativo e informações de<br />
consultores do <strong>Sebrae</strong>. Depois disso,<br />
equipes técnicas do programa fazem<br />
o acompanhamento regular diretamente<br />
com os empresários.<br />
Funcionário da Cooperativa Majestade (RS) usa programa Gerenciamento Rural<br />
O sistema é uma<br />
ferramenta de<br />
competitividade.<br />
Ele oferece as<br />
seguranças<br />
necessárias para<br />
o produtor avaliar<br />
custos e receitas e<br />
planejar melhor as<br />
alternativas de sua<br />
empresa<br />
Para melhor aproveitamento do programa,<br />
a assistente sugere que os<br />
empresários rurais tenham noções básicas<br />
de gestão ou um mínimo de conhecimento<br />
na área financeira. “O que<br />
percebemos é que produtores que já<br />
têm o hábito de fazer controles gerenciais<br />
ou que já participaram de capacitações<br />
conseguem tirar melhor proveito<br />
do programa”, destaca Miriam.<br />
Foto :PhotoXPress
Controle Crédito gerencial<br />
Plano Safra 2010/2011<br />
Agricultores familiares terão R$ 16 bilhões do Pronaf<br />
Foto: Clóvis Campos<br />
O<br />
Plano Safra 2010/2011 destina R$ 16 bilhões<br />
para linhas de custeio, investimento<br />
e comercialização de projetos da agricultura<br />
familiar. Os recursos serão disponibilizados<br />
por meio do Programa Nacional de Fortalecimento<br />
da Agricultura Familiar (Pronaf). Desse total, R$ 8,5<br />
bilhões são para operações de investimento e R$<br />
7,5 bilhões para operações de custeio.<br />
Agricultura familiar: produção de hortaliças cresce e já atinge 70% dos<br />
alimentos comercializados no Brasil<br />
O novo pacote de financiamento foi lançado em<br />
junho pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e<br />
pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme<br />
Cassel, na 7ª Feira da Agricultura Familiar,<br />
em Brasília. O volume de recursos representa um<br />
aumento de 572% em relação aos R$ 2,4 bilhões<br />
aplicados na safra 2002/2003, na primeira gestão<br />
do atual governo.<br />
Foto: Clóvis Campos<br />
Durante a cerimônia, o presidente Lula fez um balanço<br />
das ações realizadas nos últimos anos. “Foi<br />
feito muito, mas ainda falta muito para ser feito. As<br />
pessoas estão voltando para o campo. Isso devido<br />
às várias políticas criadas, com a contribuição dos<br />
próprios produtores rurais a partir de suas reivindicações.<br />
A população do campo passou a ter o mesmo<br />
tratamento de quem mora na Avenida Paulista e<br />
Ipanema”, disse.<br />
De acordo com dados do Censo Agropecuário<br />
do IBGE realizado em 2006, 70% dos alimentos<br />
comercializados no Brasil são produzidos por<br />
esse segmento. São gêneros como leite e fruti-<br />
22<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
cultura, provenientes da agricultura<br />
familiar, que têm cada vez mais entrada<br />
no mercado.<br />
O plano anunciado em Brasília reforça<br />
a implantação da Lei da Alimentação<br />
Escolar, que determina a destinação de<br />
no mínimo 30% dos recursos repassados<br />
pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento<br />
da Educação (FNDE) à compra de<br />
produtos da agricultura familiar, do empreendedor<br />
familiar e do empreendedor<br />
rural ou de suas organizações. Esse percentual<br />
representa, somente em 2010,<br />
aproximadamente R$ 1 bilhão em compras<br />
da agricultura familiar.<br />
Números<br />
Juros baixos e disponibilidade de<br />
crédito no mercado são alguns dos<br />
atrativos para o produtor rural que<br />
quer tomar um empréstimo e incrementar<br />
seu negócio. Em quase<br />
oito anos, o número de contratos<br />
firmados entre produtores e o Pronaf<br />
saltou de 958, em 2003, para<br />
2,2 milhões, em 2010. Os dados são<br />
do Ministério do Desenvolvimento<br />
Agrário (MDA).<br />
Segundo o secretário de Agricultura<br />
Familiar do MDA, Adoniran Sanches<br />
Peraci, o aumento dos contratos de financiamento<br />
ocorreu em função não<br />
apenas da disponibilidade de recursos<br />
no mercado, mas também da facilidade<br />
do acesso ao crédito. “Estamos falando<br />
de pouco mais de um milhão de famílias<br />
de agricultores beneficiadas pelo Pronaf<br />
nos últimos anos”, informou.<br />
Pronaf empresta até R$ 130 mil para investimento<br />
O secretário de Agricultura Familiar do MDA, Adoniran Peraci, explica que, com juros a 2%<br />
ao ano, o Pronaf tem fechado contratos com valor médio em torno de R$ 8 mil por produtor,<br />
utilizados prioritariamente para custeio, ou seja, aquisição de insumos. O programa conta<br />
com carteiras de crédito para investimentos de até R$ 130 mil e para custeio com valores<br />
contratados de até R$ 50 mil, com prazos de pagamento em até 12 meses.<br />
Já para as pessoas jurídicas, como cooperativas e associações que agrupam agricultores<br />
familiares, as contratações têm valores entre R$ 500 mil e R$ 25 milhões, com juros entre<br />
1% e 3% ao ano. No entanto, segundo o secretário, mais de 2 milhões de agricultores no<br />
Brasil ainda não obtêm o crédito por falta de informação e acesso à rede bancária.<br />
O superintendente de Agricultura Familiar e Microfinanças Rural do Banco do Nordeste,<br />
Luis Sérgio Farias Machado, afirma que R$ 1,6 bilhão são emprestados anualmente para produtores<br />
rurais nos nove estados do nordeste e no norte de Minas Gerais e do Espírito Santo.<br />
Segundo ele, foram implantadas alternativas para facilitar o acesso dos produtores rurais ao<br />
banco, como uma agência itinerante que vai ao meio rural expor os produtos e serviços do<br />
banco, oferecendo crédito, a adoção de carnês de pagamento dos financiamentos tomados e<br />
a implantação há cinco anos do projeto Agroamigo, voltado para agricultores cuja renda anual<br />
bruta é de até R$ 6 mil.<br />
“O Banco colocou à disposição do produtor 600 assessores agrícolas para discutir as linhas<br />
de crédito mais adequadas a cada caso. Essa foi uma forma de nos aproximar mais desse<br />
público”, informa.<br />
Já no Banco do Brasil, que também trabalha<br />
com linha de crédito específica do Pronaf, o gerente<br />
executivo de Agronegócios, Márcio Augusto<br />
Montela, informa que o programa atende<br />
agricultores familiares que possuem renda<br />
bruta familiar anual de até R$ 110 mil e que<br />
apresentam a Declaração de Aptidão<br />
ao Pronaf (DAP) – documento que<br />
indica que aquele produtor é apto a<br />
buscar crédito para atividades agropecuárias,<br />
sejam elas de custeio<br />
ou investimento e ainda para<br />
produção de artesanato<br />
e turismo rural. Na<br />
safra 2008/2009, o BB<br />
contratou 17 mil operações<br />
pelo Pronaf,<br />
com R$ 870 milhões.<br />
Adoniram Sanches Peracio,<br />
secretário de Agricultura Familiar<br />
Foto: Eduardo Aigner<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
23
Mandiocultura<br />
Produtores de farinha transformam<br />
unidades em agroindústrias<br />
Agricultores aprimoram o sistema de produção e ampliam as condições<br />
de sustentabilidade da atividade<br />
Uma pitada de inovação, misturada a uma boa dose<br />
de ousadia, junto com muita determinação e esforço<br />
cooperativo, além da vontade de garantir<br />
renda e prosperidade à família. Temperados por esses ingredientes,<br />
produtores de mandioca e derivados ancoraram<br />
no Brasil Rural Contemporâneo – VII Feira da Agricultura Familiar<br />
e Reforma Agrária, em Brasília, vindos do Rio Grande<br />
do Norte, Piauí, Pará e Sergipe. Eles mostraram as novidades<br />
a partir da mandioca aos visitantes da feira organizada<br />
pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) com<br />
apoio do <strong>Sebrae</strong>.<br />
Jânio dos Anjos, proprietário da Farinha dos Anjos, administrava<br />
com o pai a pequena fábrica que herdaram do<br />
avô, no município de Vera Cruz, na região do Seridó (RN).<br />
Quando o pai adoeceu, em 2006, Jânio assumiu o negócio,<br />
mas decidiu transformar radicalmente o modo de produção<br />
da propriedade. Procurou o <strong>Sebrae</strong> no mesmo momento<br />
em que a instituição dava início à implantação do projeto<br />
Arranjo Produtivo Local (APL) da Mandiocultura nas regiões<br />
do Agreste e Seridó no estado. “Cheguei perguntando se<br />
era possível transformar farinha em farofa de qualidade”,<br />
conta o produtor.<br />
Não só foi possível como hoje ele produz farofas com<br />
cinco sabores diferentes. Assim que o <strong>Sebrae</strong> realizou diagnóstico<br />
na propriedade e identificou a necessidade de melhorias<br />
nas práticas de produção, teve início na empresa um<br />
longo processo de adequação às exigências de higiene e<br />
boas práticas de manejo pela Anvisa. “Depois disso, buscamos<br />
a revitalização do empreendimento a partir de investimentos<br />
em inovação tecnológica”, explica Fernando José<br />
Medeiros de Melo, gestor estadual do projeto.<br />
Com novos equipamentos e diferença nos processos produtivos,<br />
Jânio se tornou referência no mercado. Hoje, com<br />
uma produção que varia de 80 a cem toneladas de farinha<br />
por mês e 25 funcionários, a empresa ocupa as gôndolas das<br />
Fotos: Bernardo Rebello<br />
Jânio dos Anjos, de Vera Cruz (RN)<br />
24<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
principais redes de supermercados do estado. Mas a ambição<br />
é grande. “Quero manter a qualidade dos meus produtos,<br />
aumentar a produção e partir para a exportação”, revela.<br />
Ganhos<br />
Em São José do Piauí, os produtores de mandioca da região<br />
se uniram e formaram a Central de Negócios Ouro da<br />
Terra. Atualmente, a Central reúne 13 associações de oito<br />
municípios do estado. Lá, a mudança mais significativa foi a<br />
aquisição de equipamento destinado ao empacotamento da<br />
farinha produzida. De acordo com Felipe de Sousa, gestor<br />
do projeto no Piauí, foi realizado trabalho de qualificação e<br />
capacitação dos produtores para que, agora, eles possam<br />
garantir mercados aos produtores. “Nosso maior sonho é<br />
acabar com a venda para atravessadores e conseguir comercializar<br />
diretamente com redes de supermercados e comerciantes<br />
locais”, diz o produtor José Manoel de Barros,<br />
mais conhecido como Zequinha.<br />
Fotos: Bernardo Rebello<br />
Produtores da comunidade de Santo Antônio das<br />
Trombetas, em Santarém (PA), também se uniram para<br />
liderar um grande projeto de revitalização da unidade<br />
de beneficiamento da mandioca. Com apoio do <strong>Sebrae</strong><br />
no Pará e parceiros, buscaram meios para abandonar a<br />
plantação rudimentar e o manejo precário visando estruturar<br />
uma verdadeira agroindústria.<br />
Com acesso a tecnologias inovadoras, os agricultores<br />
aprenderam sobre aproveitamento e correta destinação da<br />
planta da mandioca e a manipueira, seu principal resíduo<br />
poluente. Hoje, os produtores aproveitam a manipueira na<br />
produção de fertilizantes, sabão e tijolos, contribuindo, inclusive,<br />
para a preservação ambiental.<br />
Além disso, todos foram capacitados para a informatização<br />
dos processos de gestão e financeiro. “Esse projeto<br />
trouxe um impacto imenso nas nossas vidas. Agora, queremos<br />
avançar ainda mais, aumentar a nossa produção e<br />
fazer da nossa sede um local mais eficiente e sofisticado”,<br />
conta o produtor José Amilton.<br />
Produtor José Amilton, de Santarém (PR)<br />
Segundo Raimundo Edson, gestor do projeto no estado,<br />
o próximo passo é a comercialização dos produtos. “Todos<br />
estão muito bem preparados, e a expectativa é de que até o<br />
fim do ano seus produtos estejam dominando as gôndolas<br />
das grandes redes comerciais da região”, afirma.<br />
No interior de Sergipe, cerca de 800 casas de farinha de<br />
três municípios geram renda para mais de 10 mil pessoas.<br />
Lá, o <strong>Sebrae</strong> trabalhou, além da organização, gestão e processos<br />
produtivos, a redução de custos e a sustentabilidade<br />
dos negócios, segundo Marianita Mendonça, gestora do<br />
<strong>Sebrae</strong> no estado. O <strong>Sebrae</strong> também ajudou os produtores<br />
a criar embalagens e marca própria. “Já temos um grupo organizado.<br />
A ideia agora é trabalhar o mercado para garantir<br />
aos produtores renda e uma vida melhor”, diz.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
25
Educampo Mandiocultura Café<br />
Gestão eficiente garante<br />
rentabilidade no Triângulo Mineiro<br />
Cafeicultores investem em gestão financeira e gerencial na região onde se planta e se<br />
colhe o melhor café do Cerrado<br />
Fotos: Clóvis Campos<br />
26<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
A<br />
maioria consegue atingir a<br />
meta de alcançar a taxa mínima<br />
de 20% no retorno de<br />
capital investido em um prazo de até<br />
cinco anos. Essa revolução começou<br />
há dez anos, com o programa Educampo<br />
Café do <strong>Sebrae</strong>, cujo objetivo<br />
é capacitar continuamente os produtores<br />
rurais em gestão econômica e na<br />
parte técnica, buscando eficiência em<br />
termos de lucro, produtividade e taxa<br />
de retorno do campo.<br />
As propriedades da região possuem<br />
entre 35 e 900 hectares. O programa<br />
coloca à disposição dos agricultores<br />
consultores especializados, e a única<br />
exigência para participar é possuir perfil<br />
gerencial. “Na maioria das vezes,<br />
as fazendas de café têm carência de<br />
gestão. É comum, por exemplo, o próprio<br />
proprietário acumular os papéis de<br />
tratorista, gerente e diretor do agronegócio.<br />
É um trabalho contínuo, que<br />
não acaba nunca”, afirma o agrônomo<br />
e consultor do programa, Caio Lazarini.<br />
Nos primeiros três anos, a taxa de<br />
retorno da capacitação de equipes pelo<br />
Educampo Café era de 3%. Subiu para<br />
12%, em média, nas 15 fazendas atendidas<br />
pelo consultor nos últimos dez<br />
anos. “O agronegócio deve ter bom<br />
nível técnico e gerencial para pleitear<br />
certificações relevantes, que agregam<br />
valor ao produto”, esclarece.<br />
Em setembro passado, um grupo de<br />
cafeicultores entrou com processo de<br />
certificação junto à Rain Forest, uma<br />
Plantio de café: retorno garantido<br />
Resultado exemplar<br />
“Entrei no Educampo Café há apenas<br />
um ano e o resultado até agora<br />
é espetacular. Nunca imaginei que ia<br />
me aperfeiçoar em gestão financeira e<br />
empresarial na minha fazendinha. Atuo<br />
como administrador, mas não fazia<br />
gestão, visando retorno de capital no<br />
campo”, confessa Romeu Firmino, administrador,<br />
pedagogo e cafeicultor de<br />
Uberlândia, dono da Fazenda Furnas,<br />
com área de 34 hectares, dos quais 27<br />
são plantados com pés de café.<br />
Foto: Divulgação<br />
das mais importantes certificadoras do<br />
mundo na área. Eles tiveram que melhorar<br />
as condições de segurança de<br />
trabalho e a gestão econômica, além<br />
de responder a questionário com perguntas<br />
sobre o total de horas extras Firmino é diretor do Colégio Marista<br />
em Uberlândia e Patos de Minas.<br />
feitas pelos funcionários, que não podem<br />
ultrapassar duas por dia.<br />
A fazenda era uma espécie de hobby,<br />
até que descobriu o valor do empreendimento<br />
e sua capacidade de gerar<br />
resultados financeiros, por intermédio<br />
do Educampo. Ele conta que não acreditava<br />
que era possível fazer da fazenda<br />
um negócio lucrativo. Agora, quer<br />
ampliar a área de plantio. “Existem<br />
dois tipos de fazendeiros: aqueles que<br />
herdam dos pais e continuam o empreendimento,<br />
e aqueles da cidade, que<br />
tocam café como negócio e acabam<br />
adotando as práticas tradicionais. E ficam<br />
à sorte do mercado: quando dão<br />
sorte, vendem bem, porque o preço<br />
do grão está em alta”.<br />
Mudança de paradigma<br />
O Educampo Café gera mudança de<br />
paradigma, resume o produtor Firmino.<br />
Fazendeiros vizinhos achavam que<br />
ele podia custear a fazenda com os<br />
resultados dos colégios. Ao participar<br />
do Educampo Café, apesar de ser há<br />
pouco tempo, ele diz que já está tendo<br />
resultados concretos. “Minha média<br />
de produção de café é maior do que a<br />
da região”, revela, satisfeito.<br />
Firmino conta que, agora, trabalha<br />
com venda futura. O café, ainda no pé,<br />
já está todo vendido. Para o pequeno<br />
produtor, profissionalizar os processos<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
27
é o único caminho para continuar na cafeicultura.<br />
Os funcionários devem reciclar<br />
conhecimentos, participando de cursos,<br />
por exemplo, de operação de máquinas.<br />
Ocupar espaços ecologicamente corretos<br />
é outra atitude necessária.<br />
Nos próximos dois anos, a Fazenda<br />
Furnas pretende alcançar o objetivo<br />
de produzir acima da média da região<br />
ou mais do que 35 sacas por hectare.<br />
Mas o mais importante, é a taxa de<br />
retorno de capital de 20%. “Em cinco<br />
anos, pagaremos o capital investido. É<br />
um negócio raro”, avalia.<br />
O entusiasmo de Firmino pelo Educampo<br />
é tamanho que decidiu aplicar sua<br />
metodologia no colégio Marista, no ensino<br />
médio. Empreendedorismo será a nova<br />
disciplina da grade curricular. E a Fazenda<br />
Furnas vai agregar valor ao conteúdo do<br />
ensino médio, funcionando como um laboratório<br />
de gestão empresarial.<br />
Planejamento evita estrutura inchada<br />
Há cafeicultores que incham a fazenda, contratam muita gente,<br />
compram muitas máquinas e o resultado é o custo altíssimo do café.<br />
“Você pode ter escala, porém, com eficiência”, afirma Paulo Celso<br />
de Almeida, dono da Fazenda Botânica, de 75 hectares, em Patrocínio<br />
(MG), considerada a capital do melhor café do Cerrado brasileiro.<br />
Ele está no Educampo Café há cinco anos e faz parte do primeiro<br />
grupo de cafeicultores da cidade no programa. “Tentava calcular o<br />
custo da produção, mas faltava uma metodologia. Não conseguia<br />
saber se era eficiente ou não”, comenta. Edmaldo Jr. é o consultor<br />
técnico do Educampo Café que acompanha os cafeicultores de<br />
Patrocínio. “Ele foi perfeito. Tudo melhorou, desde a produtividade<br />
ao relacionamento com funcionários”, complementa. Até a nossa<br />
linguagem mudou, diz Paulo. “O jargão é outro, ficou mais técnico”,<br />
explica.<br />
A Fazenda Botânica sempre andou um pouquinho à frente das<br />
demais. Em cinco anos de programa, Paulo conta que passou a produzir<br />
mais grãos, entre 25% a 30%. “A gente aprendeu a cuidar<br />
mais da lavoura, que produtividade, preço e custo são os três pilares<br />
para calcular o lucro”, resume.<br />
Para usar cada vez menos defensivos, Paulo diz que está plantando<br />
espécies de café mais resistentes a doenças, de linhagem<br />
mais nova. “Não quero aumentar a área plantada. Quero mais eficiência<br />
e rentabilidade na mesma área. Terra está muito cara nesta<br />
região”, conclui.<br />
O programa Educampo Café também atua na Zona da Mata<br />
e no Sul de Minas, importantes regiões com muitas fazendas de<br />
café. A Central de Informações do Educampo Café fica em Viçosa<br />
(MG): (31) 3899.5250.<br />
28<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
Apicultura<br />
Gestapi ajuda a calcular<br />
custo e definir preço<br />
Ferramenta transforma vida de apicultores de associação em Tocantins<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/Arquivo<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/Arquivo<br />
Apiário em Tocantins: atividade se expande pelo País com programa de gestão<br />
Em Tocantins, a apicultura deixou<br />
de ser uma atividade do campo<br />
baseada no empirismo e no conhecimento<br />
repassado entre gerações.<br />
No período de 2004 a 2007, o programa<br />
Gestor da Atividade Apícola (Gestapi), desenvolvido<br />
pela unidade do <strong>Sebrae</strong> local,<br />
se transformou em novo aliado dos apicultores<br />
de lá e de outras regiões do País.<br />
Criado a partir da experiência acumulada<br />
pelo projeto pioneiro denominado<br />
Desenvolvimento da Apicultura da Região<br />
Sul do Tocantins, o Gestapi era inicialmente<br />
uma metodologia voltada ao<br />
fortalecimento da cadeia produtiva do estado.<br />
A ferramenta foi testada e aprovada<br />
em um apiário modelo, situado no município<br />
de Aliança, a 180 km de Palmas. Os<br />
resultados são tão bons que o programa<br />
está sendo disseminado pelo País afora.<br />
“O Gestapi acabou se transformando<br />
em uma ferramenta de gestão que identifica<br />
o custo de produção, ajuda a formar<br />
preço de acordo com a margem de lucro<br />
desejada pelo produtor, por meio de simulações,<br />
e permite a tomada de decisão<br />
mais acertada”, explica Damião Jardelson<br />
Damasceno, coordenador do programa na<br />
unidade do <strong>Sebrae</strong> em Gurupi (TO).<br />
A paulista Maria de Lourdes Lovo,<br />
apicultora há dez anos no município de<br />
Aliança, é importante personagem da<br />
história da apicultura na região e do desenvolvimento<br />
do Gestapi. O sítio da família<br />
tornou-se o principal laboratório do<br />
programa do <strong>Sebrae</strong>.<br />
A família migrou para Tocantins em<br />
2000, depois de vender a pequena propriedade<br />
rural que possuíam na rica<br />
região paulista de Mogi Mirim, famosa<br />
pelas extensas plantações de laranja e<br />
cana. “Não havia mais lugar para pequenos<br />
produtores. Vendemos lá e investimos<br />
aqui”, justifica a apicultora pioneira<br />
de Aliança e atual presidente da Associação<br />
dos Pequenos Produtores Rurais de<br />
Aliança (Aprat).<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
29
Em 2001, ela começou a colocar caixas<br />
de abelhas no sítio. “Vi que na natureza<br />
de Tocantins havia enxames e muitas<br />
flores. Portanto, era bom para criar<br />
abelhas”, justifica. Nessa época, era a<br />
única apicultora no município. “Fiz o primeiro<br />
curso de apicultura em 2002, em<br />
Crixás, a 30 km daqui”, conta.<br />
A partir daí, Maria de Lourdes se transformou<br />
em uma espécie de militante da<br />
apicultura em Aliança. Em 2005, como<br />
presidente eleita da Aprat, inseriu a produção<br />
de mel no rol de atividades da<br />
entidade. “A associação foi criada em<br />
1996 e era voltada apenas à agricultura<br />
familiar”, esclarece.<br />
Em 2006, a associação passou a ser<br />
apoiada pela Secretaria de Estado de<br />
Promoção e Ação Social de Tocantins<br />
(Sepas/TO), que doou 250 caixas de<br />
abelhas, centrífuga, mesa e decantadora<br />
para a montagem de uma casa de mel.<br />
Na época, a doação equivalia a R$ 38 mil.<br />
O <strong>Sebrae</strong> é parceiro dos apicultores da<br />
Aprat desde 2005 e ofereceu muitos cursos<br />
e capacitações básicas e avançadas<br />
para os apicultores, além de viagens e<br />
missões a outros estados.“Toda a vida, a<br />
gente tem que ir atrás do conhecimento<br />
tecnológico. Quem falar que sabe tudo<br />
está mentindo. Estou com 30 colmeias,<br />
no momento. Já tive mais, mas hoje<br />
meu espaço é para essa quantidade.<br />
Quero aumentar a produtividade e cuidar<br />
melhor das minhas abelhas”, diz.<br />
Este ano, a Aprat se tornou integrante<br />
da incubadora da Fundação Universidade<br />
de Tocantins (Unitins). “Como registrei o<br />
mel de Aliança como fruto da natureza,<br />
estão desenvolvendo rótulos com abelhinha<br />
e apiário”, conta. Desse modo, o produto<br />
terá, em breve, marca e rótulo e a<br />
entidade começará a trilhar os caminhos<br />
da exportação.<br />
Aliança conta com 40 famílias de apicultores<br />
Foto: Divulgação<br />
Hoje, 40 famílias produzem mel de excelente qualidade em Aliança. A renda gerada é<br />
importante complemento para os associados.Cada família tem, em média, entre cinco e dez<br />
caixas. Elas também produzem hortaliças, peixes e suínos.<br />
Atualmente, a Aprat possui sede própria. O apoio do programa Desenvolvimento<br />
Rural Sustentável (RRS) do Banco do Brasil é a conquista mais recente da associação.<br />
A entidade elaborou projeto e se candidatou para receber uma das 16 casas de mel a serem<br />
construídas pelo programa no estado.<br />
No momento, a casa de mel, patrocinada pelo DRS/BB, está entrando na etapa final da<br />
construção. “Deve ficar pronta até dezembro. Aí vamos conseguir o SIF e poder exportar<br />
nosso mel”, prevê Maria de Lourdes.<br />
No ano passado, 3 mil toneladas de mel foram produzidas pelos associados. Boa parte da<br />
produção é comprada pelo governo federal, por meio da Conab, e pelo governo estadual para<br />
a merenda escolar. “Para exportar será preciso unir apicultores de outros municípios,” prevê<br />
a presidente da associação.<br />
Saiba mais<br />
Maria de Lourdes Lovo<br />
Para mais informações sobre o Gestapi, acesse o site www.gestagro.to.sebrae.com.br.<br />
O apicultor pode se cadastrar gratuitamente e fazer simulações de seu apiário.<br />
30<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
Qualificação<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/SC<br />
Caprinocultura de corte: programa Negócio Certo Rural qualifica a atividade<br />
Propriedades rurais<br />
no rumo certo<br />
Lucro de produtores rurais de Santa Catarina aumenta após participação em programa de<br />
gestão rural do <strong>Sebrae</strong> em parceria com o Senar<br />
Adilso Cunico, de 25 anos,<br />
sempre trabalhou ao lado do<br />
tio, Sadir Boito, no pequeno<br />
sítio em São Lourenço do Oeste, Santa<br />
Catarina. Atraído pela ideia de gerar<br />
novas oportunidades na propriedade<br />
da família, o jovem convidou o tio a<br />
participar, em 2009, de um curso de<br />
empreendedorismo rural. Depois disso,<br />
a ideia ganhou forma e em pouco<br />
tempo a fazenda já era especializada<br />
em caprinocultura de corte. Hoje, o<br />
empreendimento tem novos clientes,<br />
maior lucratividade e um novo posicionamento<br />
frente ao mercado.<br />
O sucesso da nova atividade da dupla<br />
deve-se à participação no Negócio<br />
Certo Rural, programa de qualificação<br />
do <strong>Sebrae</strong> no estado que desde<br />
dezembro de 2009 é implementado<br />
em parceria com o Serviço Nacional<br />
de Aprendizagem Rural (Senar). Segundo<br />
Adilso, o investimento trouxe<br />
grandes ideias para melhorar e inovar<br />
o empreendimento e contribuiu para<br />
maior controle gerencial e financeiro<br />
da fazenda. “Em apenas cinco meses,<br />
registramos lucro de cerca de<br />
40%”, conta.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
31
A experiência de Santa Catarina tem<br />
se mostrado bastante exitosa. Em vista<br />
disso, o <strong>Sebrae</strong> decidiu ampliá-la,<br />
de modo a conferir abrangência nacional<br />
ao programa, diz o gerente<br />
de Agronegócios do <strong>Sebrae</strong>, Paulo<br />
Alvim. Desde julho deste ano, o Negócio<br />
Certo Rural está presente em 25 estados,<br />
num processo que começou<br />
em junho. Patrícia Machado Gomes,<br />
do Senar, acrescenta que a meta para<br />
este ano é atender a cerca de 9,3 mil<br />
produtores rurais.<br />
O programa prevê cursos de curta<br />
duração com aulas sobre elaboração<br />
de diagnósticos da propriedade, identificação<br />
de ideias de negócios, consolidação<br />
de plano de trabalho, inserção<br />
eficaz do negócio no mercado e realização<br />
de gestão da propriedade.<br />
O programa deve<br />
ser encarado<br />
como uma ação<br />
preventiva para<br />
minimizar os<br />
problemas sociais<br />
nas regiões<br />
metropolitanas de<br />
todo o País<br />
Uma metodologia foi estruturada<br />
pelo <strong>Sebrae</strong> em Santa Catarina para<br />
reverter o êxodo rural, principalmente<br />
de jovens. O gerente de Agronegócios<br />
esse estado, Spyros Diamantaras, diz<br />
que o sucesso dessa iniciativa depende<br />
do envolvimento de mais de um membro<br />
da família, além do mais jovem; a realidade<br />
desse jovem mudou muito, e sua<br />
capacidade de absorção de conteúdo<br />
é maior. “Mas ainda se deve trabalhar<br />
com metodologias que levem dinamicidade<br />
no repasse do conteúdo”, assinala.<br />
Outra premissa é que no meio rural<br />
há oportunidades de negócios muito<br />
atraentes, mas falta agregar valor. “O<br />
programa deve ser encarado como uma<br />
ação preventiva para minimizar os problemas<br />
sociais nas regiões metropolitanas<br />
de todo o País.”<br />
Spyros relata que mais de 40% dos<br />
participantes do programa iniciaram<br />
nova atividade no campo, e mais de<br />
50% implantaram novas ferramentas<br />
de gestão. “Uma evolução no grau de<br />
Sítio troca leite por ovos e novilhas<br />
No município de São Carlos (SC), o Negócio Certo Rural apontou<br />
duas novas atividades para o casal Airton e Inês Endler: produção<br />
de ovos e criação de novilhas de gado leiteiro para revenda. Nascido<br />
na propriedade de quase dez hectares, Airton conta que a família<br />
sempre produziu leite. “Já estava pensando em trabalhar com granja,<br />
antes de participar do curso”, diz Airton. A preocupação era não<br />
conseguir compatibilizar a mão de obra, dele e da esposa, entre a<br />
produção de leite e os cuidados com as aves, o que seria inviável.<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/SC<br />
Tudo foi calculado no papel. Antes de entrar no novo negócio,<br />
uma pesquisa feita durante o curso mostrou que não havia granja<br />
de ovos na região de Chapecó, em uma área com sete municípios.<br />
“E o consumo de ovos na região é grande, mas vêm do Paraná ou<br />
de São Paulo”, relata. No momento, o casal acaba de desenvolver<br />
o projeto da granja, com apoio de consultor do <strong>Sebrae</strong>, e aguarda<br />
a inspeção sanitária no local. “O próximo desafio será construir as<br />
instalações”, diz ele.<br />
Inês Endler, produtora de São Carlos (SC)<br />
32<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
instrução e domínio de informática”,<br />
enfatiza. Chama atenção também<br />
para o fato de que aspectos relacionados<br />
ao marketing e vendas sejam<br />
as maiores deficiências encontradas<br />
no segmento. Conforme Spyros, o<br />
Negócio Certo Rural também é uma<br />
ferramenta eficaz de fortalecimento<br />
de cadeias produtivas de grandes<br />
agroindústrias e de cooperativas.<br />
Foto: Senar/CE<br />
Programa capacita mulheres para<br />
gestão da propriedade<br />
Ari Walter Hermes e esposa são<br />
proprietários de sítio no mesmo município.<br />
Há 20 anos, produzem bolachas<br />
germânicas. As guloseimas em dez sabores<br />
são o carro-chefe da propriedade.<br />
Além das bolachas, no sítio da família<br />
Hermes são plantados eucaliptus<br />
e pinus, visando à venda da madeira<br />
para a construção civil, e são produzidos<br />
leite e mel. Os dois filhos do casal<br />
ajudam nos trabalhos da propriedade,<br />
quando não estão na escola.<br />
Ao longo da capacitação, o agricultor<br />
conta que resolveu investir na plantação<br />
de limão orgânico, em uma área<br />
ociosa do sítio, onde não é permitido<br />
plantar eucaliptus e pinus, por causa<br />
dos postes e fios elétricos. “Compramos<br />
limão de fora e caro, porque usamos<br />
sua raspa nas bolachas. Vamos<br />
reduzir os custos da produção da bolacha<br />
e ainda vender os limões. Há pouca<br />
gente plantando essa fruta aqui”,<br />
justifica. O casal pretende futuramente<br />
abrir uma agroindústria com nome<br />
da família com o objetivo de aumentar<br />
a produção de bolachas e bolos com<br />
marca própria.<br />
Mulheres do programa “Com Licença, Vou à Luta”<br />
O Senar também possui um programa voltado exclusivamente para<br />
as mulheres, o “Com Licença, Vou à Luta”, cujo objetivo é ampliar a<br />
contribuição feminina no aumento da renda familiar e proporcionar sua<br />
independência financeira. O programa parte da premissa que a participação<br />
da mulher é fundamental para o sucesso da empresa rural, mas<br />
que o trabalho de gestão desempenhado por elas requer qualificação.<br />
“A ideia é provocar nessas empreendedoras, na maioria dos casos<br />
esposa do produtor, o desejo de adquirir competências de gestão para<br />
atuação no seu próprio negócio”, conta Patrícia Machado Gomes, coordenadora<br />
de Desenvolvimento e Avaliação do Departamento de Educação<br />
Profissional do Senar. Inicialmente, o projeto foi desenvolvido pelo<br />
Instituto CNA – formado pelo Senar e Confederação da Agricultura e<br />
Pecuária do Brasil (CNA) – com cerca de 80 mulheres nos estados do<br />
Rio Grande do Sul, Alagoas, Ceará, Pará e Tocantins. A partir deste ano,<br />
será expandido para todo o País.<br />
Outro programa de gestão desenvolvido pelo Senar em parceria com<br />
o <strong>Sebrae</strong> é o Empreendedor Rural. O objetivo é transformar o pequeno<br />
produtor em empreendedor, ampliando sua capacidade de gerenciar a<br />
propriedade com eficiência e de ter uma visão diferenciada de sua atividade<br />
frente ao mercado globalizado. Desde 2007, 24 administrações<br />
regionais do Senar já capacitaram mais de 15 mil produtores e a meta é<br />
capacitar outros 10 mil até o fim do ano.<br />
Com 136 horas, divididas entre 17 encontros semanais, o programa<br />
atua essencialmente em duas vertentes: aplicação de conteúdos técnicos<br />
e desenvolvimento humano. “A união desses eixos é fundamental<br />
para que eles possam conhecer os condicionantes históricos da situação<br />
atual do meio rural e desenvolver habilidades e atitudes para provocar<br />
as necessárias mudanças na sociedade. Queremos despertar o caráter<br />
empreendedor no produtor rural”, explica Patrícia Machado Gomes,<br />
do Departamento de Educação Profissional do Senar.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
33
Pecuária<br />
Balde cheio<br />
e autoestima elevada<br />
Produtores de leite na Paraíba utilizam técnica de inovação na gestão de suas<br />
propriedades e aumentam produção<br />
A<br />
criação de gado leiteiro na região<br />
do Sertão Paraibano tem<br />
uma nova ferramenta de gestão.<br />
O projeto Balde Cheio, implantado<br />
há cinco anos, trabalha com a gestão<br />
diferenciada da propriedade rural como<br />
forma não apenas de organizar a produção,<br />
mas também de conseguir aumentar<br />
os lucros do pequeno produtor.<br />
A metodologia, idealizada pela Embrapa,<br />
é de gerenciamento sustentável<br />
da propriedade e abrange a análise do<br />
solo para plantação de capim que será<br />
consumido pelo gado, a demarcação<br />
da área com cercas elétricas, o cadastro<br />
e controle de zootecnias e até a vacinação<br />
dos animais contra tuberculose<br />
e brucelose, uma doença que pode<br />
ser transmitida ao homem e que causa<br />
abortos e esterilidade.<br />
O projeto conta com cinco profissionais,<br />
entre técnicos agropecuários<br />
e zootecnistas para apoiar os 120 produtores<br />
rurais. Hoje, 120 criadores de<br />
gado da cidade de Sousa e de outros<br />
13 municípios da região estão sendo<br />
beneficiados pelo Balde Cheio.<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/PB<br />
O gestor do <strong>Sebrae</strong> na cidade de<br />
Sousa (PB), Lhano Nishio Osawa, explica<br />
que os técnicos fazem pequenas<br />
delimitações na propriedade rural, que<br />
tem em média meio hectare, para que<br />
o gado possa se alimentar periodicamente<br />
em minipastos, em um sistema<br />
rotacionado. Dessa forma, segundo<br />
Lhano Osawa, não há dispersão do<br />
gado e gastos desnecessários de recursos<br />
e de mão de obra, que já era<br />
escassa e sem preparo na região.<br />
Pecuária de leite: projeto Balde Cheio promove gerenciamento sustentável<br />
A subdivisão do pasto com cercas<br />
elétricas e sua utilização de maneira<br />
rotativa fazem com que a metodologia<br />
34<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
Fazenda implanta programa e produção cresce 1000%<br />
Foto: <strong>Sebrae</strong>/PB<br />
Antes do projeto, as 15 vacas da Fazenda Areia Branca, do produtor Francisco<br />
Fernandes, 69 anos, produziam cerca de 30 litros diários de leite, que eram<br />
vendidos para uma freguesia cativa há mais de 38 anos. Depois de ingressar<br />
no Balde Cheio, as 15 vacas se transformaram em 27 e o que antes mal dava<br />
para abastecer os pedidos dos clientes hoje sobra. São quase 300 litros por<br />
dia, produzidos e vendidos também para indústrias de queijo artesanal.<br />
A adesão ao projeto, porém, não foi tão fácil quanto parece. Tudo começou<br />
quando um dos filhos do senhor Francisco, o veterinário Fernando Fernandes,<br />
conheceu o projeto e levou a ideia para o pai, que recusou completamente<br />
qualquer possibilidade de inovação na Areia Branca. “Meu pai tinha uma visão<br />
deturpada da ferramenta e foi preciso levá-lo para visitar uma propriedade que<br />
já possuía o projeto para que ele voltasse maravilhado e cheio de gás para<br />
tocar a ideia”, conta Fernando.<br />
Antes do projeto, pai e filhos só visitavam a fazenda aos domingos e viviam reclamando que o imóvel dava prejuízos.<br />
“Hoje, vamos pra fazenda passar o fim de semana e curtir tudo aquilo. Fazemos até apostas pra saber qual<br />
a vaca que vai dar mais leite”, comemora. A recordista de produção é uma Girolando de nome Brasileira. Com sete<br />
anos de idade, o animal já produziu 22 litros de leite em um único dia.<br />
seja classificada como mais ecológica.<br />
“Isso porque o gado é direcionado para<br />
o minipasto até que o capim da área seguinte<br />
esteja pronto para ser consumido<br />
e, assim, sucessivamente”, explica Osawa.<br />
Além desse método, a alimentação<br />
do gado é fortalecida com uma ração à<br />
base de milho e soja. Com a alimentação<br />
reforçada, o gado produz mais leite e a<br />
renda dos criadores aumenta.<br />
Ousadia<br />
A produtora rural Maria de Fátima<br />
Linhares está há dois anos no projeto<br />
Balde Cheio. “Tudo começou quando<br />
fiquei viúva há dez anos e me vi numa<br />
situação complicada porque não sabia<br />
como gerenciar a propriedade”, relembra.<br />
A produtora conta que achava possível<br />
administrar a propriedade apenas<br />
com a ajuda de dois empregados.<br />
“À época, fui convidada por um amigo<br />
para assistir a uma palestra sobre o<br />
Balde Cheio e pensei logo que aquilo<br />
não ia dar certo pra mim. Estava insegura,<br />
tinha dois filhos pequenos e não<br />
podia me aventurar”, revela.<br />
Três anos depois, o projeto abriu novas<br />
vagas para que outras pequenas<br />
propriedades rurais fossem contempladas<br />
e foi aí que a vida de Maria de<br />
Fátima começou a mudar. “Aderi ao<br />
projeto e realmente não só a dinâmica<br />
da fazenda mudou, mas também minha<br />
vida particular”, diz.<br />
Maria de Fátima possuía em torno<br />
de 50 cabeças de gado, que produziam<br />
cerca de 150 litros de leite por dia. Depois<br />
de entrar no projeto, reduziu o número<br />
de animais para 25 e conseguiu<br />
uma produtividade bem maior. “As<br />
vacas leiteiras produzem 28 litros por<br />
dia”, revela.<br />
Tudo isso com melhoria da alimentação<br />
dos animais, vacinação periódica e<br />
tratamento adequado do pasto. Maria<br />
de Fátima construiu até uma sala de<br />
ordenha para que os animais tivessem<br />
um ambiente mais adequado na hora<br />
de extrair o leite. Toda a produção é<br />
vendida para queijarias na cidade de<br />
Paulista, onde mora.<br />
“Tudo melhorou: minha casa está<br />
mais bonita e minha autoestima<br />
está muito mais elevada. Consigo<br />
bancar a faculdade de odontologia<br />
do meu filho mais velho em João<br />
Pessoa e os mais novos estudam<br />
em escola”, comemora.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
35
Entrevista<br />
Receita de sucesso<br />
Os números são grandiosos.<br />
Mais de 40 mil pessoas trabalham<br />
direta e indiretamente em<br />
todas as linhas da empresa. No Brasil,<br />
140 mil investidores têm ações da companhia.<br />
A produção passou de 14 milhões<br />
de toneladas de aço, e o faturamento bateu<br />
em R$ 30,1 bilhões, em 2009. Mesmo<br />
com toda a exuberância da gigante<br />
do aço Gerdau, a humildade está entre<br />
os dois princípios básicos para alcançar o<br />
sucesso em um negócio, segundo Jorge<br />
Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho<br />
de Administração da empresa.<br />
A disciplina é o outro ponto essencial<br />
para alçar voos mais ousados. E com o<br />
conhecimento de quem está à frente<br />
de uma empresa que há 109 anos lidera<br />
o mercado nacional, nesta entrevista,<br />
Jorge Gerdau destaca as ferramentas<br />
de gestão que garantem o sucesso. “A<br />
participação efetiva dos funcionários é<br />
essencial”, ensina.<br />
É importante estar sempre atento para<br />
inovar, o que não significa criar novos<br />
produtos ou serviços, mas, sim, aperfeiçoá-los.<br />
O executivo ressalta ainda a importância<br />
da educação e da capacitação<br />
em todos os níveis da organização.<br />
Todos esses ingredientes são indicados<br />
para se obter resultados pro-<br />
missores nas propriedades rurais, em<br />
especial aquelas de pequeno porte<br />
que já não se limitam à subsistência<br />
e, no conjunto, respondem por grande<br />
parte das riquezas produzidas no<br />
meio rural e da segurança alimentar<br />
dos brasileiros.<br />
Nas próximas linhas, o empresário<br />
dá dicas precisosas para se alcançar o<br />
sucesso nos negócios, seja na cidade<br />
ou no campo.<br />
Metas viáveis<br />
É fundamental ter metas realizáveis e,<br />
ao mesmo tempo, ousadas, acompanhando<br />
continuamente o plano de ação<br />
traçado para atingi-las. Além disso, o<br />
empreendedor deve estar sempre inquieto,<br />
procurando novas oportunidades<br />
e motivando suas equipes. Para<br />
vencer os obstáculos que a vida impõe<br />
é preciso também ter humildade e disciplina.<br />
À primeira vista, parecem conceitos<br />
simplistas, mas, na realidade,<br />
são absolutamente complexos. Ter humildade<br />
significa saber ouvir e continuar<br />
aprendendo sempre, ou seja, estar continuamente<br />
atento ao mundo ao seu redor.<br />
Os campeões de uma causa só são<br />
vencedores porque têm humildade e<br />
disciplina. Ou alguém imagina que uma<br />
medalha olímpica ou uma descoberta<br />
científica foi conquistada sem isso?<br />
Conceitos de gestão<br />
Hoje existe uma forte orientação para<br />
o cliente e um estilo mais participativo<br />
de gestão. Por isso as características<br />
e os instrumentos gerenciais desenvolvidos<br />
procuram substituir a visão da<br />
estrutura funcional e devem ser orientados<br />
para controles e para resultados.<br />
Os principais conceitos reconhecidos<br />
Jorge Gerdau Johannpeter,<br />
presidente do Conselho<br />
do Grupo Gerdau<br />
Foto: Leonid Streliaev<br />
36<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio
internacionalmente e que se traduzem<br />
em práticas ou fatores de desempenho<br />
encontrados em organizações<br />
líderes são: pensamento sistêmico,<br />
aprendizado organizacional, cultura de<br />
inovação, liderança e constância de<br />
propósitos, orientação por processos<br />
e informações, visão de futuro, geração<br />
de valor, valorização das pessoas,<br />
conhecimento sobre o cliente e o mercado,<br />
desenvolvimento de parcerias e<br />
responsabilidade social.<br />
Agricultura familiar<br />
Nos últimos anos, o avanço da agricultura<br />
familiar pode ser atribuído<br />
pelo maior acesso dos pequenos produtores<br />
rurais às novas tecnologias,<br />
o que se traduz na capacidade de<br />
produzir mais e melhor. Isso pode ser<br />
verificado pela evolução da tecnologia<br />
voltada a agricultura pela quantidade<br />
e qualidade dos equipamentos<br />
inscritos no Prêmio Gerdau Melhores<br />
da Terra. Além disso, o aprimoramento<br />
das práticas de gestão também é<br />
um destaque nessa área e pode evoluir<br />
ainda mais.<br />
Colaboradores<br />
É preciso ter um sistema claro de reconhecimento<br />
das competências e<br />
do desempenho das equipes que seja<br />
conhecido por todos os colaboradores.<br />
A empresa deve trabalhar com metas<br />
e indicadores definidos, deve apoiar<br />
a gestão e ajudar os colaboradores a<br />
entender qual a missão de cada um,<br />
os resultados que devem entregar e<br />
as recompensas a serem esperadas.<br />
Logo, a melhor maneira é ter um sistema<br />
transparente de comunicação das<br />
metas para todos os níveis da gestão.<br />
Qualidade<br />
Três características são fundamentais<br />
para pequenos e grandes negócios:<br />
liderança, conhecimento e<br />
método. A primeira é, essencialmente,<br />
a capacidade de, repetidamente,<br />
buscar resultados, melhorar<br />
os processos de gestão e envolver<br />
as pessoas pelo exemplo. A segunda<br />
característica, o conhecimento,<br />
significa que o próprio empresário e<br />
sua equipe têm que ter domínio do<br />
negócio, foco em suas atividades e<br />
do negócio. O método de gestão é<br />
outro fator essencial para a sustentabilidade<br />
dos negócios. Um exemplo<br />
disso é o MPE Brasil – Prêmio<br />
de Competitividade para Micro e<br />
Pequenas Empresas, que incentiva<br />
a melhoria da qualidade, produtividade<br />
e competitividade dessas companhias<br />
junto a clientes, fornecedores<br />
e sociedade. Em 2009, o MPE Brasil<br />
contou com mais de 57 mil empresas<br />
inscritas de todo o País.<br />
Integração entre<br />
pequenos e grandes<br />
As grandes empresas estão começando<br />
a perceber que a busca constante pela<br />
qualidade em toda a cadeia pode gerar<br />
benefícios para seus próprios negócios<br />
e para seus fornecedores, muitas vezes<br />
empresas de pequeno porte. Esse trabalho<br />
é realizado pela adoção de processos<br />
em diversas áreas, que passam a ser<br />
transmitidos para a cadeia produtiva.<br />
Inovação<br />
A melhoria de processos e a inovação<br />
representam elementos-chave<br />
para a sobrevivência e o crescimento<br />
de cada empreendimento. A<br />
inovação é a alavanca para o crescimento<br />
e isso não significa apenas<br />
criar novos produtos ou serviços,<br />
mas também envolve executar um<br />
trabalho da melhor maneira, agregando<br />
valor aos negócios.<br />
Benchmarking<br />
Só se gerencia aquilo que se mede.<br />
E para medir com parâmetros adequados,<br />
é essencial fazer benchmarking.<br />
Fazer benchmarking é,<br />
essencialmente, medir e comparar<br />
o próprio negócio com a concorrência<br />
e o mercado, além de estabelecer<br />
referências internas, dentro da<br />
própria companhia, quando existirem.<br />
Conhecimento é fundamental<br />
em qualquer segmento de atividade.<br />
Não há como pensarmos em<br />
negócios eficientes e sustentáveis,<br />
independentemente do tamanho<br />
da empresa, sem que haja conhecimento<br />
de gestão. Isso significa,<br />
por exemplo, capacitar os mais diversos<br />
níveis da organização, desde<br />
o chão de fábrica.<br />
Fornecedores<br />
A qualidade é decorrente do sistema<br />
de gestão de uma companhia.<br />
Os colaboradores das organizações<br />
que fazem parte do Programa Gaúcho<br />
da Qualidade e Produtividade<br />
(PGQP), por exemplo, são capacitados<br />
para colocarem em prática a<br />
gestão da qualidade nos seus produtos<br />
e serviços. Também é importante<br />
atuar de forma estruturada<br />
nos seguintes temas: liderança, estratégias<br />
e planos, clientes, sociedade,<br />
informações e conhecimento,<br />
pessoas, processos e resultados.<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
37
Artigo<br />
Agronegócios:<br />
foco na gestão e na inovação<br />
O sucesso do agronegócio depende<br />
da rentabilidade que se pode obter da<br />
propriedade e não apenas de seu tamanho.<br />
Está acontecendo uma revolução<br />
no campo, e olhar a pequena propriedade<br />
com foco apenas na subsistência<br />
familiar é página virada.<br />
Há empreendedores em todo o<br />
Brasil ganhando dinheiro produzindo<br />
flores e orgânicos até em<br />
quintais. Há apicultores que exportam<br />
sem um quinhão de terra<br />
pra chamar de seu. No Nordeste,<br />
colmeias viajam de caminhão em<br />
busca de floradas; abelhas desconhecem<br />
cercas.<br />
Recursos não faltam para a sustentação<br />
de lavouras e da agroindústria<br />
familiar. Também não faltam casos de<br />
sucessos que possam iluminar novas<br />
iniciativas de produção e comercialização.<br />
O segmento mostra força ao<br />
ser responsável pelo adequado abastecimento<br />
interno de alimentos, mas<br />
ainda precisa dominar pontos que já<br />
se generalizam entre os empreendedores<br />
urbanos: apostas na boa gestão<br />
e na inovação como fatores de redução<br />
de custos, de conquista de nichos<br />
importantes de mercados.<br />
Essas apostas são fundamentais para<br />
que se possa produzir mais, com qualidade<br />
e diferenciadamente, sempre em<br />
busca de inserção competitiva no mercado.<br />
Viver e trabalhar no campo podem<br />
ser, hoje, uma boa opção. Energia<br />
elétrica, antenas parabólicas, celulares,<br />
Internet, além de maior disponibilidade<br />
de transportes encurtam cada vez mais<br />
a distância entre campo e cidades.<br />
As boas condições estão dadas.<br />
Cabe ao <strong>Sebrae</strong> e parceiros trabalharem<br />
cada vez mais próximo dos empreendedores<br />
rurais com foco na rentabilidade<br />
do negócio e na conquistas<br />
de nichos rentáveis de mercado. Participamos<br />
com orgulho da construção<br />
desse novo Brasil.<br />
38<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
Carlos Alberto dos Santos<br />
é diretor-técnico do <strong>Sebrae</strong>
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
39
Serviço Brasileiro de Apoio às<br />
Micro e Pequenas Empresas<br />
40<br />
<strong>Conhecer</strong> <strong>Sebrae</strong><br />
Agronegócio<br />
www.sebrae.com.br 0800 570 0800