17.11.2012 Views

Quanto mais quente melhor - calor e temperatura no ... - QNEsc

Quanto mais quente melhor - calor e temperatura no ... - QNEsc

Quanto mais quente melhor - calor e temperatura no ... - QNEsc

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

de tentar suprimi-las, seria <strong>melhor</strong><br />

oferecer aos alu<strong>no</strong>s condições para<br />

tomar consciência de sua existência e<br />

saber diferenciá-las dos conceitos científicos.<br />

A proposta de ensi<strong>no</strong> que orienta<br />

esse artigo prevê, portanto, o alargamento<br />

do perfil conceitual do alu<strong>no</strong>,<br />

que incorporará <strong>no</strong>vos significados —<br />

científicos — que passarão a conviver<br />

com os significados cotidia<strong>no</strong>s.<br />

Idéias infor<strong>mais</strong> e científicas<br />

sobre <strong>calor</strong> e <strong>temperatura</strong><br />

A literatura descreve três características<br />

principais das concepções de<br />

<strong>calor</strong> e <strong>temperatura</strong> apresentadas por<br />

estudantes, que estão intimamente<br />

relacionadas à forma como <strong>no</strong>s expressamos<br />

sobre esses fenôme<strong>no</strong>s na<br />

vida cotidiana:<br />

• O <strong>calor</strong> é uma substância.<br />

• Existem dois tipos de ‘<strong>calor</strong>’: o<br />

<strong>quente</strong> e o frio.<br />

• O <strong>calor</strong> é diretamente proporcional<br />

à <strong>temperatura</strong>.<br />

A primeira idéia, de que o <strong>calor</strong> é<br />

uma substância, combinada com a<br />

segunda, de que existem dois tipos de<br />

<strong>calor</strong>, resulta em que o <strong>calor</strong> e o frio<br />

sejam pensados como atributos de<br />

substâncias e materiais. De<br />

acordo com essas idéias,<br />

um corpo <strong>quente</strong> possui<br />

<strong>calor</strong> enquanto um corpo<br />

frio possui frio. Afinal, estamos<br />

acostumados a dizer<br />

que colocamos uma pedra<br />

de gelo numa bebida para<br />

esfriar essa bebida. Essa<br />

maneira de dizer sugere<br />

que o gelo transfere ‘frio’<br />

para a bebida. Na ciência,<br />

ao contrário do que ocorre<br />

na vida cotidiana, não<br />

admitimos a existência de<br />

dois processos de transferência<br />

de energia — o do<br />

<strong>calor</strong> e o do frio —, mas<br />

apenas de um, o do <strong>calor</strong>.<br />

Isso significa que a bebida<br />

esfria porque transfere<br />

energia para a pedra de<br />

gelo até que todo o sistema<br />

esteja a uma mesma <strong>temperatura</strong>.<br />

O <strong>calor</strong>, sendo uma forma de<br />

energia, não é uma substância. A idéia<br />

de que o <strong>calor</strong> é uma substância está<br />

por trás da idéia de que um corpo pode<br />

conter <strong>calor</strong>, ou seja, de que <strong>calor</strong> e<br />

frio são atributos dos materiais. Essa<br />

idéia já foi aceita por muitos cientistas<br />

<strong>no</strong> passado, que consideravam que<br />

todos os corpos possuíam em seu interior<br />

uma substância fluida invisível e<br />

de massa desprezível que de<strong>no</strong>minavam<br />

calórico. Um corpo de maior<br />

<strong>temperatura</strong> possuía <strong>mais</strong> calórico do<br />

que um corpo de me<strong>no</strong>r <strong>temperatura</strong>.<br />

Lavoisier (1743-1794), por exemplo,<br />

listava o calórico como uma das<br />

substâncias elementares. Hoje sabemos<br />

que uma substância pode armazenar<br />

energia, mas não contém <strong>calor</strong>.<br />

A teoria do calórico pensado como<br />

substância foi abandonada em favor<br />

da teoria do <strong>calor</strong> pensado como<br />

energia, principalmente por não poder<br />

explicar o aquecimento de objetos de<br />

outra maneira que não por meio de<br />

uma fonte de <strong>calor</strong> — por exemplo, por<br />

atrito. Benjamin Thompson (1753-<br />

1814), engenheiro america<strong>no</strong> exilado<br />

na Inglaterra e conde do Sacro Império<br />

Roma<strong>no</strong> que adotou o título de Conde<br />

Rumford em homenagem ao local <strong>no</strong>s<br />

Estados Unidos de onde provinha sua<br />

esposa (hoje Concord), introduziu a<br />

idéia de que ca-<br />

lor era energia e<br />

não substância<br />

em 1798, ao atribuir<br />

o aquecimento<br />

de peças<br />

metálicas, quando<br />

perfuradas, à<br />

energia mecânica<br />

empregada<br />

em sua perfuração.<br />

A idéia de<br />

que o <strong>calor</strong> é diretamenteproporcional<br />

à <strong>temperatura</strong><br />

tem sua<br />

origem na maneira<br />

como lidamos<br />

com ‘<strong>calor</strong>’<br />

na vida cotidiana.<br />

As expressões<br />

‘faz muito<br />

<strong>calor</strong>’, ‘<strong>calor</strong> huma<strong>no</strong>’<br />

etc. são<br />

exemplos de como essa idéia está<br />

arraigada na linguagem. Afinal, só<br />

dizemos que ‘faz muito <strong>calor</strong>’ quando<br />

A idéia de que o <strong>calor</strong> é<br />

diretamente<br />

proporcional à<br />

<strong>temperatura</strong> tem sua<br />

origem na maneira<br />

como lidamos com<br />

‘<strong>calor</strong>’ na vida<br />

cotidiana. As<br />

expressões ‘faz muito<br />

<strong>calor</strong>’, ‘<strong>calor</strong> huma<strong>no</strong>’<br />

etc. são exemplos de<br />

como essa idéia está<br />

arraigada na<br />

linguagem cotidiana.<br />

Afinal, só falamos que<br />

‘faz muito <strong>calor</strong>’<br />

quando a <strong>temperatura</strong><br />

está alta. Essas idéias<br />

fazem com que os<br />

conceitos de <strong>calor</strong> e<br />

<strong>temperatura</strong> sejam<br />

muitas vezes<br />

considerados idênticos<br />

a <strong>temperatura</strong> está alta. Essas idéias<br />

fazem com que os conceitos de <strong>calor</strong><br />

e <strong>temperatura</strong> sejam muitas vezes<br />

considerados idênticos.<br />

O conceito de <strong>temperatura</strong>, do<br />

ponto de vista científico, deriva da<br />

observação de que energia pode fluir<br />

de um corpo para outro quando eles<br />

estão em contato. A <strong>temperatura</strong> é a<br />

propriedade que <strong>no</strong>s diz a direção do<br />

fluxo de energia. Assim, se a energia<br />

flui de um corpo A para um corpo B,<br />

podemos dizer que A está a uma<br />

<strong>temperatura</strong> maior do que B. Essa maneira<br />

de definir a <strong>temperatura</strong> também<br />

estabelece a relação entre <strong>calor</strong> e <strong>temperatura</strong>.<br />

O <strong>calor</strong>, como fluxo de energia,<br />

sempre passa de um sistema a<br />

uma <strong>temperatura</strong> maior para um outro<br />

a uma <strong>temperatura</strong> me<strong>no</strong>r, quando os<br />

dois estão em contato. Deve-se destacar<br />

que só há fluxo de energia e, portanto,<br />

<strong>calor</strong>, quando há diferença de<br />

<strong>temperatura</strong>. O <strong>calor</strong> é, dessa maneira,<br />

diretamente proporcional à diferença<br />

de <strong>temperatura</strong> entre os dois sistemas<br />

entre os quais está havendo a transferência<br />

de <strong>calor</strong>, e não à <strong>temperatura</strong><br />

de qualquer dos sistemas.<br />

Algumas atividades para<br />

explicitar as idéias infor<strong>mais</strong><br />

sobre <strong>calor</strong> e <strong>temperatura</strong><br />

A seguir, sugerimos algumas atividades<br />

simples que podem ser úteis<br />

para explicitar as idéias infor<strong>mais</strong> dos<br />

estudantes e ajudar na construção das<br />

idéias científicas. O objetivo é levar o<br />

estudante a tomar consciência desses<br />

dois conjuntos de idéias — infor<strong>mais</strong><br />

e científicas — e a perceber a diferença<br />

entre elas.<br />

Atividade 1: Comparação de um<br />

termômetro de laboratório com um<br />

termômetro clínico<br />

A primeira atividade consiste em<br />

solicitar aos alu<strong>no</strong>s que observem e<br />

desenhem o bulbo e o capilar de um<br />

termômetro clínico (‘de febre’) e de um<br />

termômetro de laboratório, para poder<br />

explicar por que um termômetro de<br />

laboratório não precisa ser agitado<br />

antes do uso e não pode ser retirado<br />

do sistema cuja <strong>temperatura</strong> queremos<br />

conhecer, enquanto o termômetro<br />

clínico precisa ser agitado antes do uso<br />

e pode ser retirado do sistema (o corpo<br />

QUÍMICA NOVA NA ESCOLA Calor e <strong>temperatura</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> de termoquímica N° 7, MAIO 1998<br />

31

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!