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Arquivo Nacional: 1838-2012

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A r q u i v o<br />

AN<br />

N a c i o n a l


<strong>2012</strong> by <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong><br />

Praça da República, 173<br />

20211-350 – Rio de Janeiro – RJ<br />

Presidenta da República<br />

Dilma Rousseff<br />

Ministro da Justiça<br />

José Eduardo Cardozo<br />

Diretor-Geral do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong><br />

Jaime Antunes da Silva<br />

Coordenadora-Geral de Acesso e Difusão Documental<br />

Maria Aparecida Silveira Torres<br />

Coordenadora de Pesquisa e Difusão do Acervo<br />

Maria Elizabeth Brêa Monteiro<br />

Texto<br />

Cláudia Beatriz Heynemann<br />

Pesquisa de Imagens<br />

Cláudia Beatriz Heynemann | José Luiz M. F. Santos | Vivien Ishaq<br />

Assistentes de Pesquisa<br />

Fabiano Vilaça dos Santos | Nívia Pombo C. dos Santos<br />

Projeto Gráfico<br />

Sueli Araújo<br />

Revisão<br />

Alba Gisele Gouget | José Cláudio da Silveira Mattar | Renata dos Santos Ferreira<br />

Fotografia<br />

Paulo Arthur Studio Fotográfico<br />

Flávio Lopes - Coordenação de Preservação do Acervo<br />

Estagiárias<br />

Renata Tavares Santos | Tatiane Lopes dos Santos | Viviane de Oliveira Lima<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>: <strong>1838</strong>-<strong>2012</strong>. - 2. ed.atual. -<br />

Rio de Janeiro : <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, <strong>2012</strong>.<br />

64p. : il. ; 26cm.<br />

Inclui bibliografia.<br />

ISBN: 978-85-60207-42-8<br />

1. <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> (Brasil) – História.<br />

CDD 027.581


Apresentação<br />

A que época remonta o desejo de guardar a memória das práticas políticas e das relações econômicas e sociais? Como o Estado<br />

moderno centralizou os arquivos governamentais? Em que contexto foi criado, no Brasil, um arquivo para guardar e conservar<br />

os documentos que pudessem interessar à “história do país e à administração em seus diferentes ramos?”<br />

Essas são algumas das questões contempladas neste livro, que aborda a trajetória do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> desde a década de<br />

1830 até os dias atuais.<br />

Em suas páginas, o leitor encontrará a história da mais relevante instituição arquivística do país. De guardião de documentos<br />

das secretarias de Estado, no Império, a órgão central do Sistema de Gestão de Documentos de <strong>Arquivo</strong> (SIGA) da Administração<br />

Pública Federal, são 174 anos nos quais o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> ocupou diversas sedes, da rua da Guarda Velha, hoje Treze de Maio, à<br />

Praça da República, onde está instalado, desde 2004, no conjunto arquitetônico criado para abrigar a Casa da Moeda.<br />

Nessa longa trajetória alguns momentos merecem destaque, como a sua reorganização no século XIX, pelo decreto de 3 de<br />

março de 1860, quando ficou dividido em três seções e passou a contar com uma Biblioteca, e particularmente a gestão de Joaquim<br />

Pires Machado Portela, de 1873 a 1898. Marco na história institucional, foi a partir da sua administração que o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong><br />

adotou um plano de classificação de documentos e sistematizou rotinas e métodos de trabalho. Portela também foi responsável por<br />

estruturar a Seção Histórica, à qual cabia custodiar documentos em variados suportes, e até mesmo uma coleção de medalhas e<br />

moedas. Deve-se sublinhar ainda a introdução do cargo de cronista, que deveria escrever a “história oficial do Brasil a começar da<br />

época da sua Independência”.<br />

No século XX distingue-se o historiador José Honório Rodrigues, que instaurou um elemento crítico na história do <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>, ao diagnosticar, logo no início da sua administração (1958-1963), a necessidade de atualizar as práticas em vigor, em<br />

consonância com arquivos da Europa e dos Estados Unidos. Criou, ainda, o Serviço de Documentação Escrita.<br />

Também deve-se ressaltar a gestão de Raul Lima (1969-1980), que filiou a instituição ao Conselho Internacional de <strong>Arquivo</strong>s<br />

e à Associação Latino-Americana de <strong>Arquivo</strong>s, ciente da relevância da articulação com organismos internacionais. Lima criou ainda o<br />

Mensário do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, que, por dez anos, foi um importante instrumento de difusão de atividades técnicas e administrativas.<br />

A ideia de modernizar a instituição, tão cara a José Honório e a Raul Lima, seria retomada nos anos 1980, quando Celina<br />

Vargas do Amaral Peixoto assumiu a direção da Casa. Já alçado a órgão autônomo da estrutura direta do Ministério da Justiça, o<br />

<strong>Arquivo</strong> é transferido da Praça da República, nº 26, para o edifício anexo ao conjunto arquitetônico que, por tantos anos, abrigara a<br />

Casa da Moeda. Esse fato, ocorrido em 1985, resolveu, parcialmente, as dificuldades relacionadas à segurança do acervo e ao conforto<br />

dos servidores e usuários. Ao mesmo tempo, iluminou a necessidade premente de recursos visando a transferência definitiva do <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong> para os prédios construídos em meados do oitocentos, e com espaço suficiente para abrigar não apenas documentos,<br />

mas atividades de difusão do acervo, como as exposições que, àquela altura, começavam a ser realizadas.


Ainda na gestão de Celina ocorreram a fundação da Associação Cultural do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> (ACAN) e a criação da<br />

revista Acervo, em 1986. Vale salientar que, na sua administração, foram lançadas as sementes para o papel que a instituição<br />

assumiria na década seguinte.<br />

Nos últimos vinte anos fica evidenciado o processo de modernização do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> e a sua capacidade de se articular<br />

junto à administração pública, aos órgãos de fomento e a organismos como a Unesco. Graças a isso, foi possível restaurar e<br />

equipar o conjunto arquitetônico tombado, promover eventos de difusão – além das exposições, o REcine, Festival Internacional<br />

de Cinema de <strong>Arquivo</strong> –, a edição de livros, revistas e sítios eletrônicos, realizar o concurso de monografias Prêmio <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong><br />

de Pesquisa, capacitar os servidores e prestar assistência técnica no país e no exterior, entre tantas outras iniciativas. Cabe<br />

também registrar a reestruturação da unidade regional no Distrito Federal, a criação do Conselho <strong>Nacional</strong> de <strong>Arquivo</strong>s (Conarq)<br />

e a integração da instituição às entidades internacionais na área de arquivos.<br />

A partir de 2003, por meio do Sistema de Gestão de Documentos de <strong>Arquivo</strong> (SIGA) da Administração Pública Federal,<br />

no qual atua como órgão central, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> pôde exercer um papel estratégico junto às instituições e entidades dessa<br />

esfera de governo.<br />

Merece registro especial o empenho da instituição no recolhimento, guarda e acesso aos documentos produzidos pelos órgãos<br />

da administração federal no período do regime militar, notadamente aqueles provenientes das extintas unidades de segurança e informações<br />

integrantes do Sistema <strong>Nacional</strong> de Informações e Contrainformação (SISNI) – como o Serviço <strong>Nacional</strong> de Informações<br />

(SNI), o Conselho de Segurança <strong>Nacional</strong> (CSN), a Comissão Geral de Investigações (CGI), as divisões de Segurança e Informação<br />

dos ministérios das Relações Exteriores e da Justiça – e os documentos da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da<br />

República, da Assessoria de Segurança e Informações da Telebras e do extinto Estado-Maior das Forças Armadas (EMFA), todos<br />

recentemente abertos à consulta na Coordenação Regional do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> no Distrito Federal. Outra iniciativa importante<br />

refere-se à instauração do projeto Memórias Reveladas – Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985). Capitaneado<br />

pelo <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, o Memórias Reveladas tem por objetivo geral tornar-se um polo difusor de informações contidas nos<br />

registros documentais sobre as lutas políticas no Brasil nas décadas de 1960 a 1980, aglutinando instituições públicas e privadas de<br />

todo o país que contenham acervos de interesse para o tema.<br />

A despeito de todas essas realizações, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> possui inúmeros desafios a enfrentar, como o tratamento arquivístico<br />

de documentos em formato digital, a expansão de bases de dados e sítios eletrônicos, o amplo acesso à informação por meio de<br />

novos instrumentos de pesquisa, a digitalização em larga escala de seus conjuntos documentais para fins de preservação e consulta<br />

e o constante aprimoramento do atendimento ao público, além da oferta renovada de exposições interativas – presenciais e virtuais<br />

– e de serviços educativos, entre outros objetivos.<br />

Atento às demandas dos cidadãos e da administração pública, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> tem como horizonte de sentido a necessidade<br />

cotidiana de se aperfeiçoar, estendendo seu raio de ação e se reafirmando como uma das mais profícuas instituições públicas do país.<br />

Diretor-Geral do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>


A r q u i v o N a c i o n a l<br />

<strong>1838</strong> - <strong>2012</strong>


<strong>Arquivo</strong>s Nacionais<br />

Os arquivos surgiram da mesma fonte que deu origem à escrita na baixa Mesopotâmia,<br />

pouco antes do fim do IV milênio a. C. Guardar a memória da movimentação de bens,<br />

das operações contábeis, de setores da vida econômica e de outros interesses individuais<br />

ou de grupo levou à reunião e ordenamento das tabuletas. Das listas, catálogos<br />

e bibliotecas, até o enciclopedismo, os arquivos estruturam-se como um produto da<br />

escrita, 1 gênese também da história, da filosofia, do direito e de todos os domínios do<br />

conhecimento que se constituíram pela escrita, sem a qual “não há datas nem arquivos,<br />

não há listas de observações, tabelas de números, não há códigos legislativos, nem<br />

sistemas filosóficos e muito menos crítica destes sistemas”. 2<br />

Outros sentidos estariam na própria origem do termo arquivo, do grego<br />

arkheîon, remetendo à Arkhê, simultaneamente o começo, princípio histórico ou da<br />

natureza, e o comando, a lei. Arkheîon era também o lugar no qual, por volta do século<br />

V a. C., os magistrados superiores, os arcontes (do grego árchon), viviam e onde<br />

guardavam os documentos oficiais. Além de responsáveis pela segurança daqueles documentos,<br />

os arcontes tinham o poder de interpretá-los. De residência dos magistrados<br />

à domicílio da lei, os arquivos descrevem, assim, a trajetória do privado ao público. 3<br />

Página 6<br />

Detalhe do pátio interno do conjunto arquitetônico<br />

da nova sede do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>.<br />

Instrumentos e projetos de sistematização do conhecimento, eles mesmos<br />

fundadores de formas de saber, de classificação e organização, os arquivos, bibliotecas<br />

e gabinetes partilham de uma matriz comum, que abrange, ainda, catálogos, listas,<br />

dicionários, gramáticas e enciclopédias, representados na Biblioteca de Alexandria,<br />

nos gabinetes de curiosidades ou na Encyclopédie de Diderot e d’Alembert. Nesse<br />

universo, os arquivos se particularizam por seu caráter cotidiano, pontual, efêmero;<br />

pertencem aos negócios, à vida material, e, ainda, às leis, decisões políticas, à administração,<br />

despertando, inicialmente, o interesse apenas dos indivíduos ou grupos a eles<br />

relacionados. Os hinos religiosos, os atos comemorativos, os mitos e rituais, a poesia<br />

e os demais gêneros, produzem os livros, reunidos em bibliotecas (literalmente, em<br />

grego, depósito de livros).<br />

7


Há uma distinção fundamental entre documentos e livros, entre arquivos e<br />

bibliotecas, em seus aspectos formais, na sua produção e destino. Mas na esfera da<br />

escrita e das suas transformações tecnológicas, arquivos e bibliotecas percorrem um<br />

longo processo comum. Desse modo, é possível que o que hoje denominamos de documentos<br />

arquivísticos tenham tido uma grande importância na difusão da escrita, que<br />

proliferou no século V a. C., precedida, no século anterior, pelo aparecimento das leis<br />

escritas. A escrita “criou novos padrões de citação. Contratos e evidências escritos começaram<br />

a ser mais valorizados que os relatos orais e, no século IV a. C., uma notável<br />

lei ateniense passou a exigir o uso da evidência escrita. Os textos tornaram-se fixos e<br />

solenes por estarem escritos e havia uma fé crescente na autoridade da palavra escrita”. 4<br />

Tipografia. Dennis Diderot e Jean le Rond<br />

d’Alembert. Encyclopédie ou dictionnaire des<br />

sciences, des arts et des métiers, par une societé de<br />

gens de lettres. A Paris: Chez Briasson, 1751-1780.<br />

Imagem integrante da exposição Memória, razão e<br />

imaginação: 250 anos da Encyclopédie, 2001.<br />

A época moderna traz a imprensa, a revolução de Gutenberg, marcando o fim<br />

do livro manuscrito, o códex, ou códice, que já se distinguia do volumen, ou livro em<br />

rolo. Esse último implicava o uso das duas mãos, enrolando e desenrolando o texto,<br />

levando a uma leitura contínua e ao movimento linear, além de distribuir-se em colunas. 5<br />

O livro manuscrito, ao contrário, estruturava-se similarmente ao impresso, havendo,<br />

sob esse aspecto, um prolongamento das duas culturas. 6 Durante um longo tempo<br />

ainda teremos livros manuscritos convivendo com os impressos, assim como diversos<br />

documentos, sobretudo a legislação, conhecem sua versão em edições impressas. Os manuscritos<br />

de obras literárias ou filosóficas integram hoje as bibliotecas que, igualmente,<br />

guardam coleções de documentos manuscritos públicos ou privados, habitualmente<br />

tratados segundo as normas da arquivologia. No entanto, apesar de não se tratar de<br />

uma característica exclusiva, os códices – livros de registro, 7 bem como os manuscritos<br />

em geral, passaram a estar, por muito tempo e ainda contemporaneamente, associados<br />

às instituições arquivísticas.<br />

Mais do que a separação entre manuscritos e impressos, outras diferenças distanciaram,<br />

historicamente, arquivos e bibliotecas, entre elas o pressuposto de difusão,<br />

inerente aos livros, mesmo quando houvesse censura e clandestinidade. O acesso aos<br />

arquivos, públicos ou privados, tanto quanto aos registros cartorários, restringia-se aos<br />

membros da administração e a alguns poucos agentes envolvidos. Eram, sobretudo,<br />

os papéis do príncipe e da Igreja, marcados pelo segredo e mantidos em cofres, sendo<br />

incerta a sua manutenção, ao mesmo tempo em que se multiplicam e acumulam os<br />

papéis, peça fundamental do exercício do poder. Em 1572, sob Filipe II, a morte do<br />

cardeal Espinosa, carregado de títulos, de honras e de múltiplas funções, deixa a sua<br />

8


casa “cheia de arquivos e de documentos empilhados que não teve tempo de analisar<br />

e que aí dormem por vezes há anos aguardando a sua hora”. 8<br />

O Estado moderno levará à centralização dos arquivos governamentais – Portugal,<br />

1378; Espanha, 1545; Inglaterra, 1578. Na França, a partir de 1670, o Estado<br />

apreende os arquivos acumulados pelos funcionários, em nome do bem público. 9 Se<br />

os arquivos nacionais são um fenômeno do século XIX, em compasso com o tradicionalismo<br />

romântico que marca o oitocentos e a crescente importância dos documentos<br />

arquivísticos na escrita das histórias nacionais, nos séculos anteriores, a centralização<br />

e organização dos arquivos adquire relevância, sobretudo no XVIII, investido do caráter<br />

científico das Luzes e também da demanda das administrações, mormente das<br />

colônias ultramarinas.<br />

Assim, desde 1786 o <strong>Arquivo</strong> Geral das Índias, na Espanha, desenvolveu suas<br />

atividades, podendo ser identificado como uma das instituições criadas pela política do<br />

despotismo ilustrado espanhol. Investia-se de um dos pressupostos básicos das Luzes,<br />

a utilidade de uma ciência orientada para fins. Além do serviço do Estado, a reforma<br />

estava imbuída de um certo nacionalismo, da ideia de uma história “verdadeira”,<br />

apoiada em documentos e não em outras narrativas históricas, como parecia ser o caso<br />

de obras como a do abade Raynal. 10 Formado com a documentação proveniente das<br />

colônias, como o Conselho das Índias, Casa de Contratação e outras, este <strong>Arquivo</strong> não<br />

foi apenas o grande depósito da administração colonial espanhola, distinguindo-se,<br />

na história da arquivística, como o primeiro formado com registros dessa natureza e,<br />

ainda, pela classificação adotada, na qual obedecia-se o critério dos fundos, algo que<br />

viria se desenvolver nas décadas seguintes. 11<br />

É também no mundo colonial espanhol que se localizam algumas experiências<br />

na organização dos arquivos. Em 27 de março de 1790, encaminhava-se ao governo<br />

metropolitano o projeto de criação do <strong>Arquivo</strong> Geral da Nova Espanha, no México,<br />

concomitante à reformulação da Secretaria da Câmara do Vice-Reinado. A proposta era<br />

parte das diretrizes de racionalidade burocrática, de reforma e fomento de atividades<br />

pedagógicas e científicas, entre elas, as viagens filosóficas, a criação de instituições como<br />

a Real Academia de São Carlos e o Jardim Botânico. O subsídio a essas atividades era<br />

uma das faces do <strong>Arquivo</strong> Geral, que contabiliza a utilidade que documentos como o<br />

censo de 1790, registros de viagens e diversos papéis oficiais tiveram na expedição do<br />

barão von Humboldt, no início do século XIX. 12<br />

9


A formação de arquivos de tradição colonial tem, no <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> de<br />

Cuba, um processo clássico, no qual foi recorrente a dispersão ou perda dos fundos.<br />

Em 1840 os três arquivos oficiais foram unificados, sob o nome de <strong>Arquivo</strong> Geral da<br />

Real Fazenda da Ilha de Cuba. Até o fim da dominação espanhola, em 1898, diversas<br />

remessas de documentos valiosos para a história colonial do continente foram<br />

efetuadas para Espanha.<br />

Ainda na esfera do mundo colonial, documentos da administração francesa<br />

no Canadá também migraram para a França, e outros, sobretudo aqueles do Antigo<br />

Regime, perderam-se em um incêndio. No entanto, a política desenvolvida após a<br />

segunda metade do século XVII, de cópia e inventário de documentos, favoreceu a<br />

sua preservação. Papéis do Antigo Regime que, convivendo com a história da França<br />

revolucionária, iriam marcar a genealogia dos arquivos nacionais. Em 1789, a<br />

Assembleia <strong>Nacional</strong> cria um arquivo para conservar e exibir os seus atos. No decorrer<br />

da Revolução, entre a eliminação dos documentos feudais e do Antigo Regime e sua<br />

manutenção, como patrimônio do povo, venceu a vertente conservadora. Em 1794,<br />

estabeleceu-se uma administração dos arquivos públicos, o que incluía os documentos<br />

de diversos órgãos do governo central francês. O mesmo decreto facultou o livre acesso<br />

aos documentos públicos. 13 Os Archives Nationales foram uma das instituições criadas<br />

ou transformadas no período revolucionário, no âmbito de um programa que incluiu<br />

o Instituto <strong>Nacional</strong>, “encarregado de reunir as descobertas, aperfeiçoar as artes e<br />

as ciências em toda a República”, o museu do Louvre e, em lugar do Jardin du roi,<br />

o Museu de História Natural.<br />

Página 10<br />

Felix Nadar. Retrato de Júlio Verne. Carte de<br />

visite. Paris, 2 ª metade do século XIX. Coleção<br />

Fotografias Avulsas.<br />

Além dos imperativos do Estado, a criação de grandes bibliotecas, de museus<br />

e de arquivos atendeu à pressão de escritores, cientistas, eruditos, “colecionadores<br />

virtuais” que não tinham acesso aos acervos mantidos por privilegiados proprietários.<br />

Colecionadores privados e detentores do poder respondem à demanda por livros, manuscritos,<br />

fontes históricas e objetos inaugurando essas instituições a partir do século<br />

XVII. A primeira das grandes bibliotecas públicas foi criada em Oxford, no ano de<br />

1602, enquanto em 1734 o papado abriu o Museu Capitolino, em Roma. Como terceira<br />

vertente dessa tendência, os arquivos serão os últimos a surgirem, como o <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong> francês, em 1794, através de um decreto da Convenção, por algum tempo a<br />

única instituição do gênero. 14<br />

11


O arquivo oficial inglês, Departamento de Registros Públicos (Public Record<br />

Offices), voltado, inicialmente, para os registros do Tesouro, da Chancelaria e de outras<br />

cortes da Justiça, foi estabelecido em <strong>1838</strong>, apenas uma década antes de se encerrar<br />

o período consagrado na historiografia como o da dupla revolução – Revolução Francesa<br />

e a revolução industrial inglesa. Entre os anos de 1789 e 1848, operam-se revoluções<br />

também no campo científico. Nas ciências sociais, informadas pela aplicação<br />

de recursos matemáticos, surgiria algo novo, que por sua vez influenciaria as ciências<br />

físicas e biológicas: a ideia da história como “um processo de evolução lógica, e não<br />

simplesmente uma sucessão cronológica de acontecimentos”. Mas apesar disso, no<br />

início do século XIX, os<br />

resultados mais duradouros desse despertar histórico se deram no campo da documentação<br />

e da técnica histórica. Colecionar relíquias do passado, escritas ou não,<br />

se transformou em uma paixão universal [...]; em nações até então adormecidas,<br />

os historiadores, os lexicógrafos e os colecionadores de canções folclóricas foram<br />

muitas vezes os verdadeiros fundadores da consciência nacional. E foi assim que<br />

os franceses criaram sua École des Chartres em 1821, os ingleses, o Departamento<br />

de Registros Públicos em <strong>1838</strong>, e os alemães começaram a publicar a Monumental<br />

História Alemã em 1826. 15<br />

Tradicionalmente denominado o ‘século da história’, o século XIX celebra,<br />

igualmente, a íntima vinculação entre a historiografia e os arquivos. É o tempo de Jules<br />

Michelet, autor de História da França, que chefiará, de 1830 até 1852, a seção histórica<br />

dos <strong>Arquivo</strong>s Nacionais. Central também é a obra do historiador alemão Leopold<br />

von Ranke: propondo um estatuto “científico” para a história, que determinaria uma<br />

neutralidade para a disciplina e a rigorosa crítica das fontes, Ranke ficaria associado<br />

à história política em sentido estrito, contrariando as vertentes socioculturais que haviam<br />

se manifestado no século XVIII. Ainda que não limitado à história política, para<br />

muitos autores o novo paradigma e a “sua ênfase nas fontes dos arquivos fez com que os<br />

historiadores que trabalhavam a história sociocultural parecessem meros dilettanti”. 16<br />

A crítica aos enunciados da história rankeana iria incidir sobre a função dos<br />

arquivos na perspectiva de uma história científica e positiva. Tratava-se, para o profissional,<br />

da verificação e da inserção do documento em uma cronologia, a partir do<br />

fato por ele instituído. 17 Dessa forma, se os problemas relativos à escrita da história<br />

certamente não se esgotavam nesse plano, os arquivos foram um ponto de inflexão nas<br />

12


Códice contendo a correspondência original dos<br />

governadores do Pará com a Corte. Secretaria de<br />

Governo da Capitania do Pará, 1804-1807.<br />

discussões sobre o estatuto do discurso histórico. 18 Uma grande crise de identidade,<br />

como definiu o historiador Marc Ferro, atravessa a disciplina que se constitui no XIX<br />

com “a função de demonstrar o sentido da história, utilizando como prova os anais<br />

da nação [...]. Na França, por exemplo, essa síntese foi concluída durante a Terceira<br />

República, onde o ideal de Estado-nação, que encarnava o progresso, integrou-se à<br />

história erudita apoiada pelo documento”.<br />

Na passagem da década de 1920, foi fundamental o surgimento, na França,<br />

da École des Annales, por iniciativa de Marc Bloch e Lucien Febvre. Propunham uma<br />

ruptura nos estudos históricos, enfatizando a abordagem econômica e social e, ainda,<br />

um perfil interdisciplinar, que incluísse a geografia, a antropologia e outras áreas afins.<br />

Aqui, os documentos ou testemunhos passavam a ocupar um lugar distinto, tanto no<br />

que se refere a uma história social, quanto na perspectiva de sua interpretação. Muitas<br />

pessoas, diz Bloch,<br />

fazem uma imagem surpreendentemente cândida da marcha de nosso trabalho. No<br />

princípio, diriam de bom grado, eram os documentos. O historiador os reúne, lê,<br />

empenha-se em avaliar sua autenticidade e veracidade. Depois do que, e somente<br />

depois, os põe para funcionar [...]. Uma infelicidade apenas: nenhum historiador,<br />

jamais, procedeu assim. Mesmo quando, eventualmente, imagina fazê-lo. 19<br />

13


Ao longo do século XX, paralelamente à duradoura influência dos Annales,<br />

os historiadores viram questionados seus paradigmas. Uma vez abaladas algumas<br />

noções como realidade, memória e passado, tornou-se mais complexo investir em<br />

uma relação tradicional com os arquivos, ao mesmo tempo em que há, mais do<br />

que nunca, por parte de diversos atores sociais e dos próprios historiadores, uma<br />

exigência de verdade. 20 Por outro lado, liderados pelos arquivos nacionais, esses<br />

órgãos atravessaram o século XX empreendendo mudanças importantes nos arranjos<br />

adotados, nas técnicas de preservação e em seu papel social. As novas configurações<br />

haveriam de incidir sobre a própria pesquisa histórica, traçando também um perfil<br />

institucional que aproximou os arquivos da administração, por meio das funções de<br />

planejamento e gestão. O volume documental aumenta com a progressiva intervenção<br />

do Estado na esfera privada, ampliando-se também o acesso e mesmo a demanda<br />

por informação, em um movimento atrelado aos ritmos da política e dos regimes.<br />

Entre as grandes transformações operadas nos arquivos, devemos destacar<br />

a formulação da Teoria das três idades, na década de 1950, por Théodore Schellenberg.<br />

Ela vinha desestabilizar o “arquivo histórico” por muito tempo predominante,<br />

com métodos de arranjo apoiados nas ‘grandes épocas da história’ e nas estruturas<br />

governamentais e administrativas do passado, sem que houvesse um investimento<br />

regular no recolhimento e a preocupação com as alterações administrativas. No<br />

pós-guerra apresentam-se outras perspectivas, como a da continuidade entre documentos<br />

administrativos e históricos, 21 abrindo caminho para a obra de Schellenberg,<br />

que ocupou o cargo de vice-diretor dos <strong>Arquivo</strong>s Nacionais dos Estados Unidos.<br />

Reafirmando o princípio de proveniência, 22 estabeleceria, ainda, a sistematização<br />

dos arquivos, do momento de sua criação, correspondendo à fase corrente, até sua<br />

destinação final – eliminação ou guarda permanente. Aqui, manifestava-se um<br />

desacordo entre esses pressupostos e aqueles que eram, então, os da lógica historiadora:<br />

“o referido princípio [da proveniência] contraria as aspirações do historiador<br />

a lidar com materiais organizados de acordo com os períodos cronológicos,<br />

as áreas geográficas e os assuntos. Afigura-se, pois, à primeira vista, negar-lhe o<br />

que deseja”. 23 Nas décadas seguintes, a documentação seriada, a manutenção da<br />

organicidade dos fundos e outros pressupostos da teoria arquivística tornar-se-iam<br />

alguns dos instrumentos dos historiadores envolvidos com a história econômica ou<br />

com as mentalidades.<br />

14


Gravação em 78 rpm das músicas Brasil e<br />

Portugal e Dois amigos. Banda da Casa Edison,<br />

gravadora Odeon Record. S.d.<br />

A história dos arquivos é também uma história da técnica, quer da escrita, da<br />

imagem ou dos sistemas computadorizados. História dos suportes, dos formatos, das<br />

linguagens, das convenções, que, em si mesmos, instauram ou desequilibram a realidade<br />

tal como configurada. Nesse sentido, representar o mundo através da cartografia,<br />

utilizando cartas náuticas, mapas topográficos, imagens de satélite, significa renovar a<br />

compreensão do espaço geográfico e a visão de mundo das sociedades. 24 Preservam-se<br />

não somente os dados ali inscritos, mas o modo de registro dessa informação, desde o<br />

seu valor artístico até a escala e disposição adotadas. Os arquivos guardam também<br />

desenhos e plantas arquitetônicas, alguns projetos jamais realizados, propostas urbanísticas,<br />

das fachadas ao traçado das estradas de ferro. Um percurso da técnica, dos<br />

processos e dos suportes, perceptíveis em manuscritos, mapas ou livros: papel, tinta,<br />

encadernações, escrita, são alguns dos elementos que fazem da materialidade dos documentos,<br />

um objeto de investigação.<br />

Com o anúncio, em 1839, da invenção da daguerreotipia, abria-se espaço para<br />

a produção de imagens que, passando por diversos processos, levariam à fotografia e à<br />

sua rápida popularização. Se a daguerreotipia, a ambrotipia e a ferrotipia produziam<br />

imagens únicas, 25 o advento do colódio úmido, capaz de gerar um negativo reprodutível,<br />

viria verdadeiramente popularizar a fotografia, com cópias em papel. O cartão<br />

de visita fotográfico (carte-de-visite-photographique), a partir da década de 1850, é<br />

um dos marcos dessa revolução da imagem, originada ainda na Antiguidade, com a<br />

15


câmara obscura. Na década de 1880, a fotografia converte-se, definitivamente, em um<br />

fenômeno de massa. Essa difusão se acelera com a multiplicação das imagens por meio<br />

impresso. Iniciava-se “um novo método de aprendizado do real [...]. O mundo, a partir<br />

da alvorada do século XX, se viu, aos poucos, substituído por sua imagem fotográfica.<br />

O mundo tornou-se, assim, portátil e ilustrado”. 26<br />

Detalhe do disco da Banda da Casa Edison,<br />

gravadora Odeon Record.<br />

Recolhidas aos arquivos, as fotografias foram consideradas essencialmente<br />

como documentos, retratos de diferentes épocas, sociedades, costumes, paisagens, acontecimentos.<br />

Vistas como artefato, contam uma história do seu processo e dos elementos<br />

que a constituem. A elas vem se somar, compondo um universo audiovisual, as imagens<br />

em movimento do cinema e da televisão, bem como o registro sonoro do rádio. Sua<br />

entrada nos arquivos se dá, sobretudo, por meio da produção oficial, de documentários,<br />

introduzindo também, de maneira explícita, a ficção, a arte e o entretenimento. Outro<br />

fator de ruptura está no contraste que fotografias, filmes e gravações estabelecem, em<br />

sua inerente reprodutibilidade, com o caráter único dos documentos arquivísticos.<br />

Um dos traços distintivos de fotografias e documentos (ambos tendo como<br />

suporte o papel) é a sua fixidez, um contraponto ao fluxo das imagens em movimento,<br />

algo que tenderá a se dissolver com a introdução das tecnologias da informação. Através<br />

do documento interativo, mesclando som, imagem e texto, não haverá mais distância<br />

entre as mídias estáticas e as dinâmicas. Igualmente, rompe-se a “unicidade midiática”<br />

dos documentos, agora independentes de seu suporte, transformados em puros conteúdos,<br />

fazendo com que “sua materialização no tempo e no espaço se torne secundária”. 27<br />

A alteração dos referentes clássicos da forma como percebemos a realidade, repercute<br />

na produção e recepção do conhecimento, terreno em que manifestam-se, também,<br />

algumas grandes ambições do passado, quando as enciclopédias buscaram sistematizar<br />

o conhecimento, sendo recorrente a lembrança do sonho da biblioteca universal, da<br />

reunião de todos os livros e textos, abolindo as distâncias entre eles e seus leitores. 28<br />

Para os arquivos, a digitalização de documentos, as bases de dados, as redes<br />

eletrônicas, impuseram a necessidade de conciliar conquistas, como o rápido e sofisticado<br />

acesso à informação e a preservação de suportes frágeis, com questões como a<br />

obsolescência tecnológica e a autenticidade dos documentos eletrônicos. 29 O prosseguimento<br />

da pesquisa e a aplicação dos pressupostos teóricos da arquivologia no ambiente<br />

da revolução eletrônica será parte substantiva da história dos arquivos neste século.<br />

16


A Administração Colonial e Joanina<br />

No quartel do século XVIII, o prestigiado Vocabulário português latino do padre<br />

Rafael Bluteau definia os arquivos como “o lugar em que se guardam papéis ou<br />

títulos de uma família, ou de uma comunidade”. Os arquivistas, responsáveis pelos<br />

arquivos, figuravam no exemplo extraído da obra Notícias curiosas do Brasil, do<br />

padre Simão de Vasconcelos, em que “aquele índio, que cantava, era o arquivista da<br />

aldeia”. 30 A imagem aqui emprestada a Bluteau sugere aquele que detém a crônica e<br />

mesmo os segredos da comunidade, se não por meio de papéis, através da memória,<br />

de signos, objetos. O trecho dá, também, “notícias do Brasil”, agregando a Colônia<br />

ao universo cultural português.<br />

Compreendido no quadro daqueles três séculos de domínio, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong><br />

foi herdeiro da tradição lusa, por genealogia administrativa e por parte significativa<br />

do patrimônio que conserva. Aos fundos e coleções gerados pela burocracia<br />

colonial, à vasta correspondência e legislação, por meio da qual se expressa a política<br />

metropolitana, agregam-se aqueles que vieram com a corte para o Rio de Janeiro, em<br />

1808. Contrariamente à experiência de alguns países de colonização espanhola, não foi<br />

criada no Brasil nenhuma instituição arquivística centralizada, quer sob a orientação<br />

ilustrada da segunda metade do século XVIII, quer nos anos de permanência da corte,<br />

considerada, em face de outras iniciativas, a nossa “época das Luzes”.<br />

O programa reformista do marquês de Pombal incidiu, na Colônia, sobre a<br />

educação, as ciências naturais, a burocracia, o comércio e em todas as áreas que, de<br />

algum modo, integraram seu ambicioso plano de restabelecimento de um “controle<br />

nacional sobre todas as riquezas que fluíam para Lisboa, vindas dos domínios ultramarinos<br />

de Portugal”. 31 Até o fim do setecentos, temos a criação de academias, como<br />

a Academia Científica criada no Rio de Janeiro em 1772, por iniciativa do vice-rei<br />

marquês do Lavradio, além de outras, caracterizando um movimento por vezes de<br />

caráter sedicioso, como a Sociedade Literária do Rio de Janeiro, fechada pelo conde de<br />

Rezende. Esse movimento, inspirado nas academias científicas e nas sociedades histó-<br />

Estatutos para o regimento da Confraria do<br />

Rosário da Puríssima Mãe de Deus, ereta na<br />

capela dos religiosos da ilha do Faial em 1573 e<br />

novamente estabelecida por frei José do Salvador<br />

no ano de 1740. Ilha do Faial, 1740.<br />

17


icas portuguesas ou de outras nações europeias, deixaria uma memória institucional<br />

para o século seguinte, prolongando o modelo e os pressupostos científicos das Luzes.<br />

Sob esse aspecto, os efeitos da chegada da corte portuguesa ao Brasil materializaram-se<br />

tanto na transposição de órgãos da estrutura administrativa metropolitana<br />

quanto na fundação do Real Horto, da Biblioteca Real e do Museu Real. Os sonhos dos<br />

intelectuais da segunda metade do XVIII viriam acontecer finalmente, em um quadro<br />

no qual “imprensa, periódicos, escolas superiores, debate intelectual, grandes obras<br />

públicas, contato livre com o mundo (numa palavra: a promoção das luzes) assinalam<br />

o reinado americano de d. João VI, obrigado a criar na Colônia pontos de apoio para<br />

o funcionamento das instituições”. 32<br />

Correspondência política e diplomática da<br />

Secretaria de Estado do Ministério do Reino, que<br />

integra o Fundo Negócios de Portugal. Carta do<br />

diplomata inglês Robert Walpole para o ministro<br />

português d. Rodrigo Souza Coutinho, sobre a<br />

movimentação da frota francesa. Lisboa, 11 de<br />

janeiro de 1797.<br />

Em meio à agitação que envolve a metrópole e suas instituições, o Real<br />

<strong>Arquivo</strong> da Torre do Tombo, designação do arquivo régio, datado do reinado de d.<br />

Fernando (provavelmente entre 1352 e 1378), escapa à fragmentação anunciada pela<br />

presença do general Junot, entre 1807 e 1808, não tendo sido transferido para o Brasil,<br />

como ocorreu com parte dos arquivos das secretarias de Estado. Ante a ameaça de<br />

agravamento dos levantes populares e de uma nova invasão dos franceses preparou-se<br />

o esvaziamento da Torre e o envio dos documentos para o Rio de Janeiro, o que não<br />

chegou a ocorrer. 33 Na passagem para o Império, ficavam aqui os arquivos transladados<br />

e a ideia de uma falta dos papéis guardados na Torre do Tombo e que deveriam<br />

certificar a história do novo Estado.<br />

Página 18<br />

Perspectiva da aldeia de São José de Mossâmedes<br />

da província de Goiás tirada no ano de 1801, por<br />

ordem do capitão-general d. João Manuel<br />

de Menezes.<br />

Página 19<br />

Kaspar van Baerle. Rerum per octennium in<br />

Brasilia et alibi nuper gestarum sub praefectura<br />

illustrissimi Commitis i Mauritii, Nassovial, &<br />

C. Comitis, Nunc Vasaliae Gubernatoris e equitatus<br />

foederatorum belgii ordd – sub auriaco Ductoris<br />

historia/ Casparis. Amstelodami, 1647.<br />

20


O <strong>Arquivo</strong> Público do Império<br />

A criação do <strong>Arquivo</strong> Público do Império, prevista na Constituição de 1824, 34 se deu<br />

em 2 de janeiro de <strong>1838</strong>, (no mesmo ano em que surgia o Instituto Histórico e Geográfico<br />

Brasileiro, nos moldes do Instituto Histórico parisiense, de 1834), na regência de<br />

Pedro de Araújo Lima, tendo como ministro da Justiça e do Império Bernardo Pereira<br />

de Vasconcelos. Mencionado desde 1823 em decretos que determinavam a guarda de<br />

originais na Chancelaria, até que fosse criado, 35 cabia ao <strong>Arquivo</strong> Público guardar e<br />

conservar “todos os documentos que podem interessar não só à história de nosso país,<br />

como também à administração nos seus diferentes ramos”. 36 Sua organização em três<br />

seções, administrativa, legislativa e histórica,<br />

correspondia, em primeiro lugar, à necessidade de sistematizar as informações do<br />

Estado, suplantando a lógica completamente anacrônica da prática arquivística do<br />

Antigo Regime. No entanto, como indica a terceira seção, resultava igualmente das<br />

preocupações típicas do século XIX com a nação. Da mesma forma que o restante<br />

da América Latina entre 1830 e 1850, o Império do Brasil não podia prescindir<br />

de um instrumento capaz de preservar a memória nacional ‘adormecida’ como<br />

observaria mais tarde Joaquim Manuel de Macedo. 37<br />

No ano de 1839, a instituição ainda não se encontrava em funcionamento, não<br />

havendo obtido, até então, as suas primeiras instalações, que viriam a se localizar na rua da<br />

Guarda Velha, atual Treze de Maio. Um pouco mais tarde, em 1844, funcionando na praça<br />

do Comércio, na rua Direita, (hoje rua Primeiro de Março), contabilizava a remessa de 1.325<br />

documentos, número considerado insuficiente e que deveria aumentar com o trabalho de<br />

empregados que percorreriam as secretarias de Estado examinando os documentos a serem<br />

recolhidos. A insuficiência do recolhimento não se devia apenas às secretarias; também os<br />

presidentes de província tardavam em remeter ao ministro do Império “todos os documentos<br />

pertinentes à história, que existem disseminados pelos arquivos das repartições provinciais,<br />

e mesmo aqueles que pertencerem a particulares”. Para o ministro, salvavam-se, assim, dos<br />

“estragos do tempo e da incúria, papéis de suma importância para o Império”.<br />

21


J. B. Spix e K. F. Ph. von Martius. Flora Brasiliensis.<br />

Vindobonae: Apud Frid. Beck; Lipniae:<br />

Apud Frid. Fleischer in comm., 1840-1873.<br />

Imagem integrante da exposição Nação brasílica:<br />

180 anos da Independência, 2002.<br />

No século XIX, instituições públicas, como a Biblioteca Pública, o Museu<br />

<strong>Nacional</strong> e o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, investiram no enriquecimento<br />

de seus acervos, obtendo obras, coleções e documentos na Europa e em outras regiões<br />

do país. Esse foi também o objetivo do <strong>Arquivo</strong> Público, que insistiu, junto ao ministro<br />

do Império, na necessidade de uma missão para o exame e cópia (quando não se<br />

pudesse trazer os originais) de documentos do <strong>Arquivo</strong> da Torre do Tombo, em Lisboa,<br />

que interessassem ao Império, especialmente os tratados com potências estrangeiras,<br />

para servir à história diplomática e ao direito internacional, e as bulas, breves, decretos<br />

dos concílios, letras apostólicas e outros documentos eclesiásticos. A “deficiência<br />

de esclarecimentos, a respeito dos nossos limites com Estados confinantes e que sobre<br />

nosso direito canônico pesa uma obscuridade inconcebível...” 38 justificava a proposta.<br />

Os limites que o Império deveria traçar em suas primeiras décadas eram os do<br />

território e do Estado, confrontados com nações vizinhas e com a Igreja. A direção do<br />

<strong>Arquivo</strong> relacionava, entre suas atribuições, o dever de subsidiar esse conhecimento,<br />

além do objetivo de preencher as lacunas da “história do Brasil”, vista na perspectiva<br />

do Império recém-fundado. Criada nos últimos anos da Regência, a instituição começava<br />

suas atividades nas décadas do “Regresso” conservador, dos “saquaremas”, que se<br />

estenderia até a ascensão liberal dos anos de 1860. Entre outros aspectos, esses decênios<br />

se constituem pela afirmação, por parte dos dirigentes imperiais, dos princípios da<br />

22


ordem e da civilização, apoiados no movimento simultâneo de ruptura com o passado<br />

colonial e de elo com a metrópole. A unificação desses momentos torna-se exemplar<br />

na valorização da transferência da corte para o Brasil, do Velho para o Novo Mundo,<br />

expressa no uso do termo ‘transmigração’. 39 Conferia um sentido para o Império, que<br />

incorporava essa passagem e distanciava-se da desordem e da fragmentação. Conhecer<br />

os limites com as repúblicas vizinhas, de origem hispânica, tinha, assim, um duplo<br />

significado, pois traçava efetivamente uma diferença, não apenas territorial, mas histórica,<br />

passível de conhecimento e comprovação nos arquivos portugueses.<br />

É ainda na década de 1840 que chegam ao <strong>Arquivo</strong> os documentos do extinto<br />

Desembargo do Paço, que funcionara no Brasil a partir da chegada da corte<br />

portuguesa, até 1828. Achavam-se em “completo abandono” no Supremo Tribunal<br />

de Justiça, muitos já em estado precário. Nesse período, foi também recebido outro<br />

órgão da administração joanina, a extinta Mesa da Consciência e Ordens. No entanto,<br />

a precariedade das instalações do <strong>Arquivo</strong>, então funcionando novamente na rua da<br />

Guarda Velha, era um problema grave, ameaçando a integridade dos fundos ali depositados.<br />

Em 1852, um incêndio no edifício contíguo fez com que o <strong>Arquivo</strong> corresse o<br />

“eminente risco de ser também devorado pelas chamas, que mesmo assim fizeram nele<br />

Limites da freguesia de Santo Antônio da Lagoinha,<br />

1826. Ministério dos Negócios do Brasil.<br />

23


algum estrago, apesar dos esforços empregados para salvá-lo”. Estragos consideráveis<br />

foram provocados na organização dos documentos, retirados às pressas, “deslocados<br />

com a precipitação e desordem inevitável”, o que obrigou à sua reorganização. 40 Em<br />

1854, o <strong>Arquivo</strong> passou a ocupar parte das instalações cedidas pelos capuchinhos no<br />

Convento de Santo Antônio, que reafirmavam sua vocação para abrigar academias e<br />

atividades científicas. No entanto, essa solução pareceria, na década de 1860, antes<br />

um risco, devido à umidade das salas, ao aparecimento de cupins e à possibilidade de<br />

um incêndio, vindo da sacristia, sobre a qual ficava o <strong>Arquivo</strong>, “onde como é sabido,<br />

constantemente ardem luzes!”. De fato, em 1º de novembro de 1856 ocorreu um incêndio<br />

no convento, sem, no entanto, ameaçar as dependências do <strong>Arquivo</strong>.<br />

Na década de 1860, os esforços se concentraram na preparação de índices da<br />

documentação, sobretudo dos livros (códices) da Chancelaria-mor, das cartas régias,<br />

provisões, alvarás e avisos entre 1662 e 1771, do Tribunal da Mesa da Consciência e Ordens<br />

e da correspondência da corte de Portugal com os vice-reis do Estado do Brasil. 41<br />

Permaneceram as dificuldades causadas pela “relutância” das secretarias de Estado, à<br />

exceção do Ministério do Império, em remeter “documentos talvez do maior interesse<br />

para os nossos fastos” e que “jaziam esterilmente” nas repartições. Além de percorrer<br />

os ministérios, renova-se a proposta de pesquisar documentos em Portugal:<br />

tendo estado o Brasil submetido por espaço de trezentos anos à Metrópole, e tendo<br />

tido lugar, em tão longo estádio, acontecimentos políticos do maior momento, será<br />

ainda conveniente que se incumba, ou a algum empregado desta Repartição ou à<br />

indivíduo de notória capacidade, a comissão de pesquisar na Torre do Tombo, em<br />

Portugal, todos aqueles documentos que não podem deixar de existir nesse lugar<br />

concernentes à história do país.<br />

Alguns anos antes, em 1852, Antônio Gonçalves Dias teve a missão de coligir<br />

documentos em bibliotecas e arquivos de mosteiros e repartições públicas, em<br />

diversas províncias do Norte, reunindo, especialmente, aqueles que pelo decreto de<br />

<strong>1838</strong> deveriam ser recolhidos ao <strong>Arquivo</strong> Público, “sendo devido ao seu zelo, no desempenho<br />

daquela comissão, não só a efetiva entrada para o <strong>Arquivo</strong> de documentos<br />

importantes, mas também a notícia da existência de outros, cuja aquisição se trata<br />

de realizar”. Um dos principais nomes da primeira fase do romantismo brasileiro, o<br />

poeta dedicava-se, então, aos registros da ‘história do país’, evidenciando o caráter<br />

24


histórico da literatura romântica e o vínculo dos intelectuais oitocentistas com esse<br />

gênero de empreendimento e de instituições públicas. É também Gonçalves Dias que<br />

irá à Europa em 1856, mandado pelo governo “com o fim de colher dos arquivos dos<br />

países estrangeiros, e principalmente de Portugal e Espanha”, para o Instituto Histórico<br />

e Geográfico Brasileiro.<br />

As dificuldades que, ao longo do século, seriam sentidas pela instituição, foram<br />

sintetizadas pelo próprio Couto Ferraz em 1856, ao ponderar que sem uma reforma<br />

urgente, “o nosso arquivo público não poderá ser mais do que é: um depósito incompleto<br />

dos documentos oficiais que as diversas repartições costumam remeter-lhe”, não<br />

podendo desenvolver os “trabalhos destinados a fixar os fatos e princípios da história<br />

social, política e administrativa do país”. 42 Uma das possíveis causas dos impedimentos<br />

que o <strong>Arquivo</strong> encontraria no século XIX estaria, para alguns autores, vinculada ao<br />

lugar ocupado pelo Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, dedicado a “coligir,<br />

metodizar, arquivar e publicar os documentos necessários para a escrita da história do<br />

Brasil”. Assim, o Instituto tornou-se “o grande propagador do conhecimento histórico<br />

no Segundo Reinado”. 43<br />

Após uma “existência efêmera e quase abandonada”, segundo seu diretor<br />

Antônio Pereira Pinto, iniciava-se a reorganização do <strong>Arquivo</strong>, a partir do decreto<br />

de 3 de março de 1860. Por ele, o <strong>Arquivo</strong> era a repartição “destinada a receber e a<br />

conservar debaixo de classificação sistemática todos os documentos concernentes ao<br />

direito público; à legislação, à administração e à história e geografia do Brasil”. Estruturado<br />

em três seções, cabia à seção legislativa a guarda dos originais da Constituição,<br />

dos atos da Assembléia Geral Constituinte, do ato adicional de 1834, entre outros; à<br />

seção administrativa, documentos como os originais dos atos do Poder Moderador, dos<br />

presidentes de província, das bulas, breves e Constituições eclesiásticas e dos tratados.<br />

Eram de responsabilidade da seção histórica a classificação dos originais dos contratos e<br />

dos atos de nascimento, casamento e óbito do imperador e demais membros da família<br />

imperial, de documentos concernentes à fundação de cidades, criação de bispados e<br />

prelasias, à fundação territorial eclesiástica, administrativa e política, dos processos<br />

de matéria política, dos mapas geográficos e de “todos os documentos, memórias,<br />

relatórios, roteiros ou notícias relativas à geografia do Brasil”. 44 Apesar dessas determinações,<br />

e do ingresso de bulas, dos autógrafos do Código do Processo Criminal, dos<br />

processos políticos dos anos de 1817 e 1849 em Pernambuco, e de 1835 no Rio Grande<br />

Pedido de licença para conduzir escravos livres.<br />

Rio de Janeiro, 1841. Série Justiça.<br />

25


do Sul, o diretor, em 1863, reclamava que o <strong>Arquivo</strong> não tinha “o bulário completo,<br />

os processos por crimes políticos, os autógrafos de certas leis principais do Império,<br />

as proclamações e manifestos da Independência [...], os mapas geográficos do Brasil”<br />

e outros documentos que pelo decreto de 1860 deveriam ser coletados nas secretarias<br />

de Estado, por autorização do ministro Araújo Lima.<br />

É também nesse momento que nasce a biblioteca, pois “aqueles que se dedicam<br />

a escrever a história da pátria devem encontrar os recursos e notícias precisas para<br />

o complemento de tão meritória empresa”. 45 Dedicada a um público especializado,<br />

complementando a consulta aos manuscritos e documentos impressos, vinha somar-se<br />

ao universo de bibliotecas públicas instaladas no Rio de Janeiro, cidade que possuía o<br />

maior número desses estabelecimentos no país. 46 A escassez de recursos para aquisição<br />

de livros foi compensada nos anos seguintes, quando começou a ser formada uma<br />

coleção, fomentada por doadores da elite dirigente e instituições, como o visconde de<br />

Uruguai, o conselheiro Pimenta Bueno, Cândido Mendes de Almeida, Pereira da Silva,<br />

o fotógrafo Victor Frond, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o Instituto<br />

dos Advogados, entre muitos outros. Em 1863, a biblioteca já contava com cerca de<br />

quatrocentos volumes.<br />

Página 26<br />

Lei Áurea. Rio de Janeiro, 13 de maio de 1888.<br />

Em 1883, o jornalista alemão Carl von Koseritz, residente no sul do Brasil,<br />

esteve no <strong>Arquivo</strong> Público, desde 1870 situado na rua dos Ourives e dirigido por Machado<br />

Portela. Em seu diário, ele anota que após trinta anos de abandono a instituição<br />

havia sido finalmente organizada, mesmo com reduzidos recursos, espaço limitado e<br />

um pequeno quadro de pessoal. Disposto em cinco grandes salas, o <strong>Arquivo</strong> estava<br />

“em perfeita ordem e classificado da melhor forma, de maneira que se pode encontrar<br />

qualquer papel com a maior facilidade”. Koseritz destaca em sua visita o livro de posse<br />

dos vice-reis, o original da capitulação do Rio de Janeiro a Duguay Trouin, a Constituição<br />

de 1824, correspondências diplomáticas e outros, afirmando que “o <strong>Arquivo</strong><br />

possui tudo o que se refere à história do Brasil desde o tempo do descobrimento”. 47<br />

A administração de Joaquim Pires Machado Portela, iniciada em 1873,<br />

estendeu-se por 25 anos, sendo percebida à época como uma mudança significativa na<br />

história institucional. Entre as principais transformações implementadas, destacam-se<br />

o “plano de classificação de documentos”, a sistematização do recolhimento, obedecendo<br />

a um ritmo regular e a princípios gerais, e finalmente a ativação da seção histórica,<br />

27


prevista desde <strong>1838</strong>. O regulamento aprovado em 1876 mantinha, basicamente, as<br />

mesmas atribuições, acrescentando à estrutura, a biblioteca, a mapoteca e a seção judiciária,<br />

cuja criação, observava Machado Portela em 1874, havia sido reclamada por<br />

seus antecessores. Perguntando-se sobre a vantagem de tantas seções, “em um <strong>Arquivo</strong><br />

que ainda não conta avultada cópia de documentos”, o diretor lembrava o modelo<br />

do <strong>Arquivo</strong> Público da França, que as reduzira de seis para três seções, denominadas<br />

histórica, administrativa e judiciária. 48<br />

A partir de 1876, a seção histórica comportou uma maior diversidade de documentos,<br />

como os ‘anais meteorológicos e efemérides astronômicas do Observatório<br />

Astronômico da Corte’, ‘documentos concernentes a descobrimentos de riquezas naturais<br />

e ao desenvolvimento das ciências, letras e artes, agricultura, comércio, indústria<br />

e navegação’, além de coleções de medalhas e moedas. Incluía-se, pela primeira vez,<br />

28


entre as atribuições do <strong>Arquivo</strong>, a guarda, na seção histórica, dos documentos, planos<br />

e desenhos que serviam de base à concessão de privilégios ou prêmios em matéria industrial.<br />

49 A classificação, prevista no regulamento, adotava as subdivisões das “três<br />

épocas históricas do país: Brasil Colônia, Brasil Reino Unido e Brasil Império”.<br />

Ainda por esse regulamento foram incluídos os cargos de paleógrafo e de cronista.<br />

No relatório referente a 1873, Machado Portela se referira ao trabalho do monge<br />

beneditino frei Camilo de Montserrate, que com o título de paleógrafo honorário do<br />

<strong>Arquivo</strong>, por decreto de 1854, vinha transladando e decifrando algumas bulas escritas<br />

em letra “semigótica”. Com o falecimento do frei, o trabalho ficara inacabado e o<br />

diretor sugeria a criação de aulas de diplomática e paleografia. Em 1876, é previsto o<br />

emprego de um paleógrafo, coincidente com o professor de diplomática, considerado<br />

“um complemento necessário de um <strong>Arquivo</strong> de certa importância”. 50<br />

Outra inovação foi o cargo de cronista, incumbido de escrever “com exatidão<br />

e circunstanciado desenvolvimento as efemérides sociais e políticas do Brasil, transcrevendo<br />

ou ao menos citando os documentos que as comprovarem”, devendo, ainda,<br />

“escrever a história oficial do Brasil a começar da época da sua Independência”. Essa<br />

medida atendia igualmente às sugestões da direção, que no mesmo relatório de 1873<br />

aventava a “ideia de por meio de prêmios ou de qualquer outro meio de animação,<br />

fazer com que, compulsando documentos que aqui existem, se disponham a escrever<br />

crônicas e memórias sobre assuntos históricos tantos moços de talento que felizmente<br />

possuímos”. Delimitada cronologicamente e em seus objetivos, inspirada na tradição<br />

das academias e sociedades, essa produção pode ser vista como uma interseção entre o<br />

gênero das crônicas históricas, de 1500 a <strong>1838</strong>, e as obras movidas por uma consciência<br />

nacional, sob influência francesa e alemã, “instante significativo no desenvolvimento<br />

de um conceito de história”. Informada pela pesquisa de todo tipo de documentos, é<br />

paradigmática a História geral do Brasil, de Francisco Varnhagen, de 1854-1857, representante<br />

de uma geração que inclui Joaquim Caetano da Silva, diretor do <strong>Arquivo</strong><br />

Público entre 1869 e 1873. Bacharel em belas-artes em Paris, doutor em medicina em<br />

Montpellier e diplomata, investigou extensamente sobre o Brasil em arquivos holandeses<br />

e franceses, por indicação do governo imperial, 51 cumprindo a missão de que se<br />

incumbiam alguns letrados, à imagem das comissões científicas, de coligir documentos<br />

e obras para as diversas instituições públicas.<br />

Página 28<br />

Cigarros Tupys, Salles & Cia. Bahia, 1889.<br />

Série Indústria e Comércio.<br />

29


Henrique Kopke. Estrada de Ferro Príncipe do<br />

Grão-Pará, que ligava a Raiz da Serra de Petrópolis<br />

ao centro da cidade. 1883. Coleção Fotografias<br />

Avulsas.<br />

De vários pontos da capital do Império, em suas sucessivas sedes, o <strong>Arquivo</strong><br />

descreveu sua trajetória no século XIX procurando alcançar, nos corredores das repartições<br />

das secretarias, nas províncias e na antiga metrópole, pelo recolhimento ou<br />

cópia de documentos, o cumprimento de seus preceitos. Uma ambição será, sem dúvida,<br />

suprir as partes ainda omissas no acervo, e que compunham a história do Brasil.<br />

Acompanhava-se, então, os cânones fixados no oitocentos e na obra de historiadores<br />

como Capistrano de Abreu, para quem “as fontes são quase tudo, daí resultando, em<br />

contrapartida, uma permanente preocupação com as ‘lacunas’ historiográficas, as<br />

inexatidões documentais, a crítica deficiente das fontes”. 52 Tendo em perspectiva o<br />

crescimento e a qualificação de seu acervo, no século XIX o <strong>Arquivo</strong> Público passou<br />

por algumas reformas, como a de 1893, já na República. O continuado critério de<br />

divisão dos documentos, principalmente entre as seções administrativa e histórica,<br />

indica a transformação conceitual que, mais amplamente, a instituição teria que<br />

empreender no século XX.<br />

30


Uma Repartição <strong>Nacional</strong>: o <strong>Arquivo</strong> na Casa do Barão de Ubá<br />

Em 1959, o historiador José Honório Rodrigues, diretor do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> entre<br />

1958 e 1963, publicava um diagnóstico da instituição, localizando, no modo como se<br />

estruturara o órgão, a matriz de seus problemas. Partindo das mudanças empreendidas<br />

no ano anterior, Rodrigues assinala o descompasso com outras instituições modernizadas,<br />

como a Biblioteca <strong>Nacional</strong> e o Museu Imperial, que deveria ser corrigido a partir<br />

daquele momento. O novo regulamento define o <strong>Arquivo</strong><br />

como uma repartição nacional, fixa a política de arquivos, estabelece suas atribuições<br />

e objetivos, defende e amplia a coleta selecionada em todo território nacional<br />

e em todas as fontes de documentação federal; estende essa defesa pela preservação<br />

do documentário em filmes, discos, fotografias; cria serviços de pesquisa e informação<br />

históricas... 53<br />

Um dos pontos significativos da reforma foi a criação do Serviço de Documentação<br />

Escrita, abrangendo as seções do Poder Legislativo, do Poder Judiciário,<br />

da Presidência da República, dos Ministérios, da Administração Descentralizada e da<br />

Documentação Histórica. 54 Ainda que tenha sido conservada a ideia de documentação<br />

histórica e que funcionasse um Serviço de Pesquisa Histórica, José Honório dedicou<br />

parte de sua avaliação ao que chama “problema administrativo e histórico”, discorrendo<br />

sobre a identidade dos arquivos. Sua reflexão inicia-se no século XIX com a<br />

concepção, influenciada pelo romantismo histórico, de que “o arquivo era histórico<br />

e o arquivista deveria ser historiador”. Por esse motivo, tais órgãos foram relegados,<br />

até que fosse reconhecida a importância dos arquivos públicos, que deviam servir<br />

“duradouramente ao governo, à administração e ao povo nas suas buscas de provas e<br />

documentos de interesse legal e administrativo, e subsidiariamente aos historiadores<br />

em suas investigações históricas”. Girando em torno dos exemplos das duas grandes<br />

potências, Estados Unidos e URSS, e de uma das principais referências na área, a<br />

França, José Honório entendeu que o recolhimento, exigindo o controle sobre os arquivos<br />

ativos e inativos, deu aos arquivos seu caráter eminentemente administrativo.<br />

Bilhetes de loteria estadual, apreendidos pelo<br />

Serviço Especial de Fiscalização e Repressão do<br />

Jogo. Processo criminal, 5.ª Pretoria Criminal do<br />

Rio de Janeiro, 1934.<br />

31


No entanto, “como arsenais da administração eles não destroem a missão histórica,<br />

nem se deve pensar que haja uma competição entre a História e a Administração”.<br />

Dirigindo o <strong>Arquivo</strong> no fluxo desenvolvimentista do governo JK até o último<br />

ano do período democrático, José Honório procurou superar o que considerava a longa<br />

estagnação da instituição, que passara incólume pelas grandes reformas administrativas<br />

do Estado Novo, sediado inadequadamente, com um corpo de funcionários a ser<br />

aperfeiçoado, além de uma série de deficiências no tratamento técnico da documentação.<br />

Sua gestão instaurou um elemento crítico e organizador da história do <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>, como se apresenta nas palavras de Francisco Iglésias, ao final da década de<br />

1980, para quem esse teria sido “o momento mais importante da instituição”. 55 Uma


das imagens da qual José Honório Rodrigues procurava se distanciar assemelhava-se,<br />

provavelmente, àquela apresentada no relatório de 1921:<br />

velho corpo de alma grande, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> tem por missão inculcar, a<br />

patrícios e estrangeiros, as excelências ou as lutas pelo progresso da terra que a<br />

uns concerne berço, a outros abrigo de expatriações, podendo a todos dar honrosa<br />

sepultura. Entesoura silenciosamente o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, documentos e<br />

objetos preciosos. Com a proteção do governo [...], por vários meios, deve por<br />

o seu – fui presente – a todas as manifestações do Estado, relativas à história e<br />

às tradições pátrias. 56<br />

No decorrer da República Velha, integrado à estrutura do Ministério da Justiça<br />

e Negócios Interiores, o <strong>Arquivo</strong> Público <strong>Nacional</strong>, 57 posteriormente <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>,<br />

passou pelos regulamentos de 1893, 1911 e 1923, incorporando à sua estrutura um museu<br />

histórico e um gabinete fotográfico. O museu histórico que surge no regulamento<br />

de 1893 é herdeiro da coleção que se formava, mencionada em 1876. Medalhas, moedas,<br />

padrões de pesos e medidas, exemplares de patentes, cartas, diplomas impressos<br />

ou litografados expedidos por órgãos públicos, figurinos, “quer representativos do<br />

trajar e usos da população civilizada ou selvagem, quer das vestimentas e fardas de<br />

funcionários civis e militares, antigos e modernos”, retratos ou bustos de brasileiros<br />

notáveis, estampas de edifícios e de monumentos comemorativos de acontecimentos<br />

pátrios e “quaisquer objetos que tenham ou possam vir a ter valor histórico” formavam<br />

o acervo museológico, compreendido na competência do <strong>Arquivo</strong>, de “adquirir<br />

e conservar cuidadosamente, sob classificação sistemática, todos os documentos concernentes<br />

à legislação, à administração, à história e à geografia do Brasil”, conforme<br />

o mesmo regulamento.<br />

Página 32<br />

Aperfeiçoamento na fabricação dos chapéus de<br />

palha, de Henrique Ribeiro Bernardes e Cícero<br />

Figueiredo. Rio de Janeiro, 1907. Aperfeiçoamento<br />

em calçados, de Pedro Rodrigues Peres.<br />

Rio de Janeiro, 1900. Privilégios Industriais.<br />

A preocupação em documentar o novo período manifestou-se na atualização<br />

das épocas históricas que classificavam o acervo em Brasil Colônia, Brasil Império,<br />

eliminando a fase “Brasil Reino Unido” e, obviamente, acrescentando a República.<br />

A mudança do regime se tornou, rapidamente, uma preocupação. Em 1890, o diretor<br />

do <strong>Arquivo</strong> solicitou ao governador do Pará e dos demais estados que remetessem<br />

uma cópia da ata de instalação do governo provisório do estado, do ato de posse do<br />

governador, acrescentando que, “bem compreendeis quanto interessa à história da<br />

pátria, que sejam reunidos e guardados nesta repartição todos os dados referentes<br />

ao estabelecimento do novo regime do país, e assim espero do vosso patriotismo será<br />

satisfeita essa requisição”. Ainda no bojo da Proclamação, a Inconfidência de 1789<br />

33


será um tema do interesse republicano, verificado na consulta do Senado ao <strong>Arquivo</strong>,<br />

em 1891, acerca dos bens confiscados dos inconfidentes de Minas Gerais, cujos autos de<br />

sequestro, devassas e outros documentos originais formavam a coleção Inconfidência<br />

de Minas Gerais. Seguindo o apelo do episódio naquele momento, em 1893 o processo<br />

original do inventário e partilha de bens deixados pela mãe de Joaquim José da Silva<br />

Xavier é oferecido ao <strong>Arquivo</strong>, pela quantia de 16.000$000, sendo recusado, porque,<br />

embora verídico e de interesse, o documento não subsidiava a história pública do personagem,<br />

tinha alto custo e deveria ser mantido na cidade de Tiradentes.<br />

A decisão tomada sobre um documento público com informações consideradas<br />

de caráter particular, não significava o desinteresse por documentos privados. Ao<br />

contrário, essa disposição se manifestou, com a inserção, em 1893, na seção histórica,<br />

de ‘armários especiais’ denominados Documentos de família e de serviços ao Estado,<br />

onde seriam arquivados<br />

requerimentos e memoriais antigos que estiverem instruídos com atestados de<br />

Páginas 34 e 35<br />

Fachada da estação central da Estrada de Ferro<br />

Metropolitana da capital federal dos Estados<br />

Unidos do Brasil. S.l. 1891.<br />

serviços, patentes, fés de ofício, títulos de nomeações [...]. Também aí serão arquivados<br />

os documentos não oficiais que qualquer cidadão queira doar ao <strong>Arquivo</strong><br />

ou apenas nele depositar, relativos à genealogia, biografia e serviços ao Estado<br />

prestados por si ou seus antepassados, quer como simples particulares, quer em<br />

cargos públicos, civis, militares ou eclesiásticos. Todos esses documentos poderão<br />

ser consultados pelo público.<br />

Desde 1907 ocupando o edifício situado na Praça da República, antiga sede<br />

do Museu <strong>Nacional</strong>, o <strong>Arquivo</strong> recebeu recursos para sua instalação, destinados à<br />

aquisição de mobiliário, medalhários, caixas para guarda de documentos, ventiladores<br />

elétricos, telefones, elevadores, dois bustos, tapetes, cortinas etc. 58 Mesmo assim, os<br />

relatórios das décadas de 1910 e 1920 indicam as limitações orçamentárias ou de pessoal<br />

impostas ao <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, 59 para elaboração de catálogos e inventários, para o<br />

atendimento ao público, bem como para aquisição de acervo por compra, meio pelo<br />

qual foram incorporados obras raras, mapas e manuscritos como as histórias do Brasil<br />

de Varnhagen e de Rocha Pombo, uma coleção de “plantas antigas, Brasil holandês”<br />

ou documentos privados de Sebastião Bandeira.<br />

Ao término dos anos de 1920 é instalado o gabinete fotográfico, apesar dos<br />

obstáculos ao fornecimento de substancias químicas e equipamentos no pós-guerra.<br />

36


Quituteiras no Ceará, 1906. <strong>Arquivo</strong> Afonso<br />

Pena. Imagem integrante da exposição Imagens<br />

da mulher brasileira, 1996.<br />

Servia à série de publicações e aos particulares, mediante a taxa de certidão. 60 A indústria<br />

química viria transformar também os meios de conservação de documentos,<br />

essencialmente no combate aos ataques de insetos. Se até então, e ao longo do século<br />

XIX, as referências à restauração devem ser compreendidas como cópias fiéis dos<br />

manuscritos atingidos, 61 na primeira metade do século é relatado o uso de produtos<br />

ou a fumigação dos documentos recolhidos. Em 1931, o recolhimento de 40 mil autos<br />

que se encontravam “nos porões do edifício do Pretório à rua dos Inválidos” exigia um<br />

trabalho de desinfecção que, sem o auxílio requisitado à Saúde Pública, foi feita “aos<br />

poucos com flit, não deixando de correr riscos os funcionários que estão lidando com<br />

esses documentos”. Esse assunto ganhou destaque entre as ações institucionais: em<br />

1950, uma reportagem do jornal carioca A Tribuna credita como “uma das vitórias da<br />

atual administração do <strong>Arquivo</strong>” a completa extinção da traça, do cupim e do “bicho<br />

do livro”. O sucesso na preservação dos documentos decorria da combinação do uso<br />

de “inseticidas poderosos” e do acondicionamento em armários de aço. 62 Entre outros<br />

procedimentos de preservação, menciona-se a restauração e encadernação de livros na<br />

oficina da seção histórica.<br />

37


Diretores da Fábrica <strong>Nacional</strong> de Automóveis<br />

apresentam o primeiro automóvel fabricado<br />

no Brasil ao presidente Getúlio Vargas. Rio de<br />

Janeiro, 24 de fevereiro de 1951. Agência <strong>Nacional</strong>.<br />

Imagem integrante da exposição 50 anos de<br />

desenvolvimento nacional, 2002.<br />

Preservar o acervo e também divulgá-lo: a instituição empreendeu essa tarefa<br />

através da série de publicações iniciada no final do XIX. Além das Publicações do <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>, uma outra série, comum à Biblioteca <strong>Nacional</strong> e intitulada Documentos<br />

históricos, iniciou-se em 1927. A importância dessas publicações tinha como balizas<br />

a História das bandeiras paulistas, de Afonso de Taunay, e a tese sobre o povoamento<br />

do Piauí, de Barbosa Lima Sobrinho, assim como uma hipotética obra sobre André<br />

Vidal de Negreiros, que “impressionou tão fortemente Varnhagen, o sisudo e objetivo<br />

historiador, a ponto de lamentar não haver um Plutarco para lhe traçar a biografia”.<br />

A publicação das sinopses das sesmarias evocaria Capistrano de Abreu, que “sabedor<br />

sem par das coisas da história nacional, lamentava não se ter escrito ainda a história<br />

das sesmarias, que considerava elemento básico para o conhecimento da história geral<br />

do Brasil”. A estreita relação estabelecida entre aquela historiografia e os acervos arquivísticos<br />

sedimentava-se na citação à Seignobos: “parece que é uma verdade básica,<br />

adquirida só muito recentemente, que sem documento não é possível a história”. 63<br />

Se a década viria a ser marcada pela clássica tríade de Sérgio Buarque de Holanda,<br />

Gilberto Freire e Caio Prado Júnior, as referências de Bezerra Cavalcanti não eram<br />

estranhas ao seu tempo, quando “não obstante a tendência dominante observada desde<br />

os anos 1930, houve a permanência da matriz varnhageniana quer em seus aspectos<br />

metodológicos, quer ideológicos”. 64 A afinidade que aqui se manifestava cuidava de<br />

evidenciar o valor da documentação e, portanto, da instituição. Sem se desvincular<br />

dos projetos intelectuais e culturais que o constituíram, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> adquire<br />

relevo, sobretudo nas três últimas décadas, por meio de uma série de diretrizes, entre<br />

elas a gestão de documentos e o desenvolvimento de uma política de arquivos.<br />

38


A Modernização do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong><br />

Em 1982, em conferência realizada pela Unesco em Berlim, a expressão “modernização<br />

de arquivos” assumiu um significado distinto do que possuía. Para Charles Kecskeméti,<br />

o termo deixa de indicar apenas a melhoria de instalações, a renovação de equipamentos<br />

ou o aperfeiçoamento dos métodos de trabalho em arquivos, a partir da intervenção<br />

da diretora-geral do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, sugerindo à Unesco um “projeto-piloto de<br />

modernização em uma instituição arquivística do tipo tradicional”. Para assegurar a<br />

transformação radical a ser efetuada, era imprescindível a mudança para uma nova<br />

sede, a identificação de todos os documentos conservados no <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, o recenseamento<br />

dos acervos não recolhidos e o aperfeiçoamento do pessoal. Essas eram<br />

as condições requeridas para a elaboração de uma legislação federal e de uma nova<br />

estrutura para o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. 65<br />

Após o diagnóstico de José Honório Rodrigues, no fim dos anos de 1950,<br />

verificaram-se algumas iniciativas, como os cursos ministrados na instituição e o envio<br />

de funcionários para estágio nos <strong>Arquivo</strong>s da França. Em 1968, com a presença do<br />

presidente da República, marechal Artur da Costa e Silva, foi inaugurada parte do<br />

edifício reformado, que por mais 17 anos seria a sede do <strong>Arquivo</strong>, recebendo, em 1972,<br />

perto de 5.800 usuários na Seção de Consultas. 66<br />

O regimento aprovado em 1975 deu um passo importante, ao incorporar,<br />

decididamente, a ideia de gestão de documentos, por meio da Divisão de Pré-<strong>Arquivo</strong>,<br />

que no ano seguinte se instala também em Brasília, demonstrando a preocupação<br />

do <strong>Arquivo</strong> em atuar junto à administração pública na capital. 67 Entre as alterações<br />

operadas, consolidava-se a distribuição da documentação escrita em seções, de acordo<br />

com os poderes da República, a criação das Divisões de Documentação Escrita,<br />

de Documentação Audiovisual e da Divisão de Pesquisas e Atividades Técnicas, que<br />

reunia tanto a pesquisa histórica quanto as seções de imunologia e de patologia dos<br />

documentos. No âmbito externo, o regimento reservou um papel ainda limitado ao<br />

<strong>Arquivo</strong>, sendo finalidade do órgão “recolher e preservar o patrimônio documental da<br />

39


Praia de Ipanema. Rio de Janeiro, s.d. Correio da<br />

Manhã. Imagem integrante da exposição Estampas<br />

do Rio, 2001.<br />

nação brasileira, com o objetivo de divulgar o respectivo conteúdo de natureza científicocultural<br />

e incentivar a pesquisa relacionada com os fundamentos e as perspectivas do<br />

desenvolvimento nacional”. 68<br />

A preservação de documentos do Poder Público como finalidade do SINAR –<br />

Sistema <strong>Nacional</strong> de <strong>Arquivo</strong> foi uma das conquistas do final dos anos de 1970. Tendo o<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> como órgão central, o Sistema era composto pelos órgãos da administração<br />

federal direta e indireta que exercessem as atividades de arquivo intermediário e<br />

permanente. Os arquivos dos poderes Legislativo e Judiciário da União, os arquivos nos<br />

estados, Distrito Federal, territórios e municípios só integrariam o SINAR mediante<br />

convênio, o que o circunscrevia ao “que já se convencionou denominar como área de<br />

ação dos arquivos nacionais”. 69 Simultaneamente ao Sistema, era criado o CONAR<br />

– Comissão <strong>Nacional</strong> de <strong>Arquivo</strong>, destinado, em linhas gerais, a assessorar o SINAR.<br />

O Projeto de Modernização Institucional Administrativa do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>,<br />

implementado na gestão de Celina Vargas do Amaral Peixoto por meio de convênio<br />

40


firmado entre o Ministério da Justiça e a Fundação Getúlio Vargas em 1981, a passagem<br />

do <strong>Arquivo</strong> para órgão autônomo da administração direta na estrutura do Ministério 70<br />

e a mudança para o edifício anexo à antiga Casa da Moeda em 1985, despertaram o interesse<br />

dos organismos internacionais naquela década. A instituição tornou-se membro<br />

do Comitê Executivo do Conselho Internacional de <strong>Arquivo</strong>s, órgão da Unesco, sendo<br />

escolhida por esse organismo para desenvolver, na América Latina, nos anos 1984-1985,<br />

o projeto de modernização de arquivos históricos do tipo tradicional. 71 Em compasso<br />

com essas transformações, assiste-se à edição do primeiro número da revista Acervo,<br />

em 1986, à fundação da Associação Cultural do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> – ACAN, em 1987,<br />

e à montagem, em 1989, da exposição comemorativa do ano de 1789 na França e no<br />

Brasil, intitulada Natureza, Razão e Liberdade.<br />

Na década de 1990, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> atingiu parte substantiva de seus<br />

objetivos com a promulgação da lei n o 8.159, de 8 de janeiro de 1991, que estabelece<br />

como dever do Poder Público, “a gestão documental e a proteção especial a documentos<br />

de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento<br />

científico e como elementos de prova e informação”. A lei assegura ao <strong>Arquivo</strong><br />

Candelária. Rio de Janeiro, abril de 1968.<br />

Correio da Manhã.<br />

41


Resumo de aula feito por professor da EsNI.<br />

Brasília, 1987. <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Serviço<br />

<strong>Nacional</strong> de Informações. Imagem integrante<br />

da exposição virtual Na teia do regime militar:<br />

o SNI e os órgãos de informação e repressão no<br />

Brasil 1964-1985, organizada para o portal<br />

Memórias Reveladas.<br />

<strong>Nacional</strong> “a gestão e o recolhimento dos documentos produzidos e recebidos pelo Poder<br />

Executivo Federal, bem como preservar e facultar o acesso aos documentos sob sua<br />

guarda, e acompanhar e implementar a política nacional de arquivos”. 72<br />

42


O <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> no século XXI<br />

Em 2000, o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> passou a integrar a estrutura básica da Casa Civil da<br />

Presidência da República, até retornar ao Ministério da Justiça em 2011. A instituição<br />

ocupou sua sede definitiva no Rio de Janeiro em 2004, no conjunto arquitetônico<br />

anteriormente ocupado pela Casa da Moeda, concluindo uma longa trajetória iniciada<br />

no século XIX em busca de instalações próprias e condizentes com sua missão. Tombado<br />

pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico <strong>Nacional</strong> (Iphan), restaurado<br />

e dotado de infraestrutura, o conjunto é expressivo do estilo neoclássico oitocentista,<br />

tendo sido construído de 1858 a 1866.<br />

Ao longo do período, 73 procurou-se responder a algumas das principais questões<br />

da agenda arquivística nacional e internacional, afeitas sobretudo à consolidação das<br />

tecnologias digitais no campo da arquivística e da preservação, do imperativo do acesso<br />

Cena do filme Ritual dos sádicos, de José Mojica<br />

Marins, de 1970. Divisão de Censura e Diversões<br />

Públicas.<br />

43


à informação, da divulgação científica e cultural dos acervos. Nessa perspectiva, entre os<br />

fenômenos que marcam a década, figuram a emergência das categorias da memória e da<br />

História, do conhecimento em rede e crescente valorização dos arquivos na esfera pública.<br />

Memória e preservação<br />

Andreas Huyssen 74 analisa a emergência da memória nas últimas décadas do século<br />

XX como um fenômeno distinto daquele da modernidade, quando se tratava então<br />

de projetar um futuro. Em diversas realidades, em regimes fascistas ou democráticos,<br />

tivemos a ideia dos ‘futuros-presentes’ e da importância do espaço sobre o tempo. A<br />

diferença agora residiria no grande privilégio concedido ao passado, nesses “discursos de<br />

memória” detectados no Ocidente inicialmente nos anos 1960, a partir dos movimentos<br />

anticolonialistas e sociais, visando histórias revisionistas ou alternativas.<br />

Vista da plateia na inauguração do cinema Pathé,<br />

na avenida Central. Rio de Janeiro, [17 de setembro<br />

de] 1907. Família Ferrez. Imagem integrante<br />

da exposição França: uma festa brasileira, 2009.<br />

Para Huyssen, os discursos de memória tornam-se densos na Europa e nos<br />

Estados Unidos no início da década de 1980, primeiramente em torno do Holocausto<br />

e de toda uma série de eventos que envolviam a Segunda Guerra Mundial. Houve uma<br />

onda de interesse pelo passado, pela história e pelos traços desse passado em museus,<br />

monumentos e centros urbanos, abrangendo os países pós-comunistas, sendo de alcance<br />

internacional, mas ainda assim de dimensão local, nacional. Para esse autor, é também<br />

variado o uso político da memória, em um amplo leque que pode incluir perspectivas<br />

chauvinistas ou fundamentalistas, e no caso de países como Chile e Argentina, “para<br />

criar esferas públicas de memória ‘real contra as políticas de esquecimento’”. 75<br />

Uma das mais importantes ações implementadas pelo <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> é o<br />

Centro de Referência das Lutas Políticas no Brasil (1964-1985), institucionalizado pela<br />

Casa Civil da Presidência da República. Intitulado Memórias Reveladas, o Centro 76<br />

tem por objetivo geral difundir informações contidas nos registros documentais sobre<br />

as lutas políticas no Brasil, nas décadas de 1960 a 1980. Memórias Reveladas funciona<br />

como catalisador de projetos e iniciativas de inúmeras entidades públicas e privadas<br />

existentes no país, realizando um trabalho apartidário de interlocução com as organizações<br />

que têm objetivos similares, respeitando princípios de jurisdição documental<br />

e partilhando procedimentos e resultados. O Centro, que é gestor de um sistema de<br />

informações e integrado a outros sistemas, deverá trabalhar com informações, reservando<br />

a custódia física dos documentos às diferentes entidades (arquivos, bibliotecas,<br />

centros de memória, museus, universidades e pessoas físicas) que já a detêm. Ainda no<br />

44


âmbito da memória das lutas políticas e da história do período definido pela ditadura<br />

militar, deve-se lembrar que, em dezembro de 2005, em cumprimento ao disposto no<br />

decreto nº 5.584, de 18 de novembro daquele ano, a Coordenação Regional do <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong> em Brasília recebeu para a guarda permanente os acervos dos extintos<br />

Serviço <strong>Nacional</strong> de Informações (SNI), Conselho de Segurança <strong>Nacional</strong> (CSN) e<br />

Comissão Geral de Investigações (CGI). Posteriormente, chegaram à mesma coordenação<br />

processos produzidos pelo Ministério da Justiça, documentação da Divisão de<br />

Segurança e Informações do Ministério das Relações Exteriores e um novo conjunto<br />

de documentos do Conselho de Segurança <strong>Nacional</strong>, o qual estava sob a guarda do<br />

Gabinete de Segurança Institucional, devendo-se assinalar o ineditismo desse ato na<br />

trajetória dos acervos públicos do país.<br />

Pichação no Centro do Rio de Janeiro, 1979. <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>. Serviço <strong>Nacional</strong> de Informações.<br />

A Rede <strong>Nacional</strong> de Cooperação e Informações Arquivísticas, que contou com<br />

a adesão de 42 instituições e entidades, públicas e privadas, de todo o país, permite<br />

a normatização dos sistemas de descrição de documentos e a alimentação on-line de<br />

informações dos acervos que custodiam no banco de dados do Centro. Com o intuito<br />

de buscar a inter-relação de informações dos acervos de interesse para os estudos sobre<br />

o regime militar no Brasil, foi desenvolvido em 2008 o sistema informatizado do Banco<br />

de Dados Memórias Reveladas, tendo como base a Norma Brasileira de Descrição<br />

Arquivística (Nobrade).<br />

45


Em 2010 foi inaugurado o portal Memórias Reveladas, que desde então é um<br />

polo difusor de notícias, documentos, publicações digitais e de um banco de dados à<br />

disposição dos interessados. Oferece exposições virtuais, multimídias, gravações e vídeos<br />

relacionados ao regime militar no país sob diversos ângulos, abordando a cultura,<br />

política parlamentar, movimento estudantil, grupos clandestinos, órgãos de repressão<br />

e outros eventos e atores que configuram o período entre 1964 e 1985. Para estimular a<br />

produção acadêmica sobre o tema, foi instituído em 2009 o Prêmio de Pesquisa Memórias<br />

Reveladas. Em outra frente, Registros de uma guerra surda, exposição organizada<br />

pelo <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> em 2011 com documentação sob a sua guarda e das instituições<br />

parceiras, obteve ampla divulgação junto a um grande público interessado no período<br />

de exceção vivido pelo país. A entrada de acervos privados na instituição, como os de<br />

Luís Carlos Prestes e de Apolônio de Carvalho em <strong>2012</strong>, corrobora a política de incentivo<br />

às doações e a existência de um campo aberto para a história recente do país.<br />

Destacam-se como prioridades da instituição ampliar o controle, tratamento<br />

e digitalização de documentos, em especial aqueles produzidos por unidades de<br />

inteligência durante o regime militar, para dar pronto atendimento às demandas dos<br />

pesquisadores e da Comissão <strong>Nacional</strong> da Verdade (CNV). A CNV foi criada pela presidenta<br />

da República com a sanção da lei nº 12.528, de 18 de novembro de 2011, e tem<br />

por finalidade examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas<br />

durante o regime militar no Brasil. O texto da lei nomina o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> e o Centro<br />

Ato pela anistia. Rio de Janeiro, 1979. <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>. Serviço <strong>Nacional</strong> de Informações.<br />

Imagem integrante da exposição Registros de<br />

uma guerra surda, 2011.<br />

46


de Referência das Lutas Políticas no Brasil – Memórias Reveladas como apoiadores<br />

aos comissionados da referida CNV na consecução de suas atividades durante os dois<br />

anos de intenso trabalho que terão após a sua instalação.<br />

Em 2011 foram nominados como patrimônio da humanidade pelo Comitê<br />

Internacional do Programa Memória do Mundo (MOW/Unesco) os acervos articulados<br />

pelo projeto “Rede de informações e contrainformações do regime militar no Brasil<br />

(1964-1985)”: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, <strong>Arquivo</strong> Público do Estado do Ceará, <strong>Arquivo</strong> Público<br />

do Estado do Espírito Santo, Centro de Documentação e Informação Arquivística da<br />

Universidade Federal de Goiás, <strong>Arquivo</strong> Público do Estado do Maranhão, <strong>Arquivo</strong><br />

Público Mineiro, <strong>Arquivo</strong> Estadual Jordão Emerenciano de Pernambuco, Departamento<br />

Estadual de <strong>Arquivo</strong> Público do Paraná, <strong>Arquivo</strong> Público do Estado do Rio de<br />

Janeiro e <strong>Arquivo</strong> Público do Estado de São Paulo.<br />

O programa Memória do Mundo (MOW), da Unesco, organiza-se em comitês,<br />

como o Comitê Internacional, o <strong>Nacional</strong> do Brasil, no qual o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> tem<br />

assento, e o Regional para a América Latina e o Caribe. A instituição teve acervos<br />

inscritos no Registro <strong>Nacional</strong> desde 2007, ano em que apresentou a coleção Inconfidência<br />

em Minas – Levante de Tiradentes. Seguiram-se a Lei Áurea (2008); as Relações<br />

de Vapores do Serviço de Polícia Marítima, Aérea e de Fronteiras/São Paulo – Santos<br />

(2009); Agência <strong>Nacional</strong> (2010, nominação conjunta <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>/Cinemateca<br />

Brasileira); Fundo Francisco Bhering – A Carta do Brasil ao Milionésimo (2011).<br />

A preservação do patrimônio arquivístico construída a partir de uma herança<br />

ibérica comum é objeto do protocolo de colaboração firmado entre os governos do Brasil<br />

e de Portugal em 1995, renovado em 2001, para estimular a permuta de informações<br />

contidas nos acervos arquivísticos de interesse mútuo, sob a guarda de cada um dos<br />

países intervenientes. A Comissão Luso-Brasileira para Salvaguarda e Divulgação<br />

do Patrimônio Documental (Coluso), composta de duas seções, uma brasileira e uma<br />

portuguesa, tornou-se, assim, uma instância que avaliza inúmeros projetos conduzidos<br />

na instituição, entre bases de dados, exposições, livros e seminários, podendo-se citar<br />

o sítio O <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> e a história luso-brasileira, lançado em 2004. Os duzentos<br />

anos da chegada da corte joanina ao Rio de Janeiro, celebrados em 2008, ocasionaram<br />

diversas iniciativas para que projetos como a base de dados Movimentação de portugueses<br />

no Brasil se concretizassem. Como parte das comemorações, diversas publicações,<br />

entre elas os títulos premiados no Prêmio d. João VI de Pesquisa e a exposição Brasil:<br />

47


império nos trópicos, renovaram os exercícios de interpretação sobre a historiografia e<br />

o patrimônio documental do país. Os apoios recebidos pela instituição têm permitido<br />

o estabelecimento de condições adequadas de segurança ambiental e patrimonial do<br />

acervo, a difusão e divulgação científica por meio de publicações em edições especiais<br />

e outras atividades, exemplo dos livros Retratos modernos, contemplado com o edital<br />

Pavilhão da Sociedade <strong>Nacional</strong> de Agricultura.<br />

S.a. 1908. Imagem integrante da exposição Rio<br />

1908: a cidade de portos abertos, 2007.<br />

Petrobras Cultural (2005); e Marcas do progresso, patrocinado pela Fundação Banco do<br />

Brasil (2009); e a partir do ano de 2002, o REcine – Festival Internacional de Cinema<br />

de <strong>Arquivo</strong>, em parceria com a Rio de Cinema Produções Culturais.<br />

O novo século também é o tempo de importantes continuidades indicadas<br />

pelos vinte anos do Prêmio <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> de Pesquisa e dos 25 da revista Acervo,<br />

48


que passa a ter uma versão eletrônica, em cumprimento aos padrões de excelência<br />

requeridos pelo Programa Qualis da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de<br />

Nível Superior (Capes). A permanência e renovação de projetos dessa natureza são<br />

reveladoras de uma política voltada para as atividades e para a comunidade acadêmica<br />

nas diversas áreas afins à instituição e às suas atribuições. Assim, desde 2007 a<br />

instituição mantém – primeiro em convênio com a Universidade Federal Fluminense,<br />

atualmente com a Universidade Federal do Rio de Janeiro – cursos de pós-graduação<br />

lato sensu voltados para as políticas de informação e organização do conhecimento.<br />

E também publica, desde 2004, a revista REcine, especialmente dedicada à pesquisa<br />

sobre o audiovisual e a cultura brasileira.<br />

Nos últimos anos, a instituição abriu-se à comunidade nacional e internacional<br />

por meio de seu portal na web e dos sítios integrados, entre eles Exposições virtuais do<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, que reúne mostras exibidas presencialmente e outras concebidas<br />

de modo virtual. Um dos instrumentos mais importantes oferecidos aos usuários para<br />

consulta ao acervo está disponível no portal da instituição: criado em 2004, o Sistema<br />

de Informações do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> (SIAN) permite a consulta à base Memória da<br />

Administração Pública Brasileira (MAPA) e consolida as informações do acervo da<br />

instituição em módulos multiníveis que seguem as normas internacionais de descrição<br />

(Descrição Multinível) que integram os documentos em distintos níveis de descrição.<br />

Imagem de abertura da exposição Brasil: O<br />

Império nos trópicos, organizada pelo <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong> para as comemorações do bicentenário<br />

da Corte no Brasil, 2008.<br />

Políticas de arquivo e tecnologias da informação<br />

O impacto das novas tecnologias da informação e da comunicação sobre os fundamentos<br />

e paradigmas da arquivologia tornou-se, mais do que na década de 1990, um acontecimento<br />

irreversível e total, aceitando-se assim a expressão cunhada e largamente<br />

difundida de uma sociedade em rede, que nos primeiros anos do século XXI, diz Manuel<br />

Castells, “não é a sociedade emergente da Era da Informação: ela já configura o<br />

núcleo das nossas sociedades”. 77 Deve-se destacar duas ideias defendidas pelo sociólogo:<br />

a de uma sociedade em rede, forma tradicional de organização social, originalmente<br />

de natureza privada; e das redes tecnológicas que dão uma nova forma a essa estrutura<br />

clássica. É igualmente relevante pensar, diz esse teórico, que a novidade não é<br />

que estamos diante de uma sociedade de conhecimento e informação; essas categorias<br />

sempre foram centrais nas sociedades historicamente conhecidas.<br />

49


Senado Federal. Foto de Marcel Gautherot.<br />

Brasília, 13 de março de 1959. Correio da Manhã.<br />

Imagem integrante da exposição Capitais da<br />

bossa nova: Rio e Brasília nos anos JK, 2010.<br />

A diferença, portanto, é que conhecimento e informação passaram a ter uma<br />

base microeletrônica por meio dessas redes, 78 um novo paradigma tecnológico que põe<br />

em marcha a estrutura da sociedade em rede e, ainda segundo Castells, mesmo que<br />

não inclua todas as sociedades, as afeta como um todo. Para as áreas fundadas essencialmente<br />

sobre a informação organizada e disseminada, trata-se de um importante<br />

deslocamento, de uma estrutura verticalizada para a descentralização promovida<br />

pelas redes tecnológicas. Soma-se a isso a expansão das tecnologias digitais responsáveis<br />

pela realidade de documentos gerados apenas em meio eletrônico e daqueles que<br />

foram reproduzidos digitalmente: a autonomia do conteúdo em relação ao suporte e<br />

sua possível fluidez, se já se fazia presente no campo das ideias filosóficas e de outras<br />

disciplinas, trouxe um importante e profícuo debate para os arquivos.<br />

Encontra-se no Canadá um dos polos de novas tendências de pensamento em<br />

torno da arquivologia contemporânea, um debate centrado essencialmente em torno das<br />

correntes da arquivística funcional – cujo foco reside nos processos e nos contextos de<br />

50


criação dos documentos, e nas relações dos usuários com os criadores dos documentos.<br />

Desenvolvida na parte inglesa do Canadá, encontra um lócus investigativo privilegiado<br />

por um lado nos conceitos “pós-modernos” e, por outro, na “diplomática arquivística”,<br />

tributária das teses de Luciana Duranti e direcionada para a evidência documental,<br />

abordagem utilizada pelos arquivistas “para compreender os conjuntos documentais<br />

gerados nos dias de hoje, inclusive no meio eletrônico”. 79<br />

Entre os mais influentes representantes da chamada “arquivística funcional”,<br />

Terry Cook viria a debater com seus oponentes por meio de artigos publicados na revista<br />

Archivaria, em torno, essencialmente, da ideia de que se vive uma era pós-moderna,<br />

definida por Jean François Lyotard como uma “incredulidade sobre metanarrativas”,<br />

a perda de confiança nos valores, nos grandes mitos, nas grandes narrativas históricas<br />

oficiais do Estado, de um patriotismo bastante abalado no pós-guerra. Mais ainda, a<br />

pluralidade de vozes difundidas pelas redes de computadores, pelos milhões de páginas<br />

na web e pela informação multiplicada cada vez mais desqualifica as chamadas<br />

metanarrativas, associadas aqui aos discursos que tradicionalmente se encontraram<br />

nos livros de história, nos monumentos públicos e nos arquivos.<br />

Imagem de abertura da exposição REcine – Nas<br />

ondas do rádio, 2009.<br />

Na perspectiva da arquivologia, o pós-modernismo define-se, para Terry Cook,<br />

por privilegiar o contexto, mais do que o conteúdo, fixando-se assim nas relações de<br />

poder que formam a herança documental e na estrutura do documento, seus sistemas<br />

de informações e convenções mais do que seu conteúdo informacional. De modo<br />

geral, pode-se dizer que o arquivo seria antes o lugar onde a memória social tem sido<br />

construída, exigindo e destacando a participação dos arquivistas como sujeitos de<br />

uma produção que prevê a passagem do produto para o processo; da estrutura para a<br />

função, dos arquivos para o arquivamento, do registro para o contexto do registrar; de<br />

resíduos passivos da administração para o arquivamento conscientemente construído<br />

e ativamente mediado da memória social. 80<br />

Em outra abordagem, Heather MacNeil 81 escreveu, também no início da<br />

década, artigo sobre arquivos fidedignos em um mundo pós-moderno. A autora parte<br />

das ideias de John Locke, de matriz empírica, considerando que sobre elas funda-se<br />

uma visão ideal e filosófica de verdade, apoiada por sua vez no nexo entre probabilidade<br />

e evidência. Assim se construíram as premissas do que tornaria um documento<br />

arquivístico fiel e autêntico, incorporadas à arquivologia moderna e questionadas<br />

pelos pensadores pós-modernos. O artigo expressa a crença nos valores universais que<br />

51


sustentam essa visão dos documentos arquivísticos: “o valor de verdade de um discurso<br />

é aceitável se ele se apoia em termos de uma possível unanimidade entre mentes<br />

racionais”. Essa unanimidade estaria na diplomática assentada sobre as regras de<br />

crítica ao documento, desde Mabillon no século XVII, e fez da evidência a referência<br />

de realidade. Uma realidade cujo acesso se daria pelo exame dos documentos, vistos<br />

como indícios, um padrão histórico e legal mantido no século XIX, quando do surgimento<br />

da arquivologia.<br />

O debate descrito entre esses autores é exemplar do problema teórico enfrentado<br />

por arquivistas, historiadores, filósofos, e cientistas sociais. Trata-se de uma<br />

disputa sobre a definição dos arquivos como representação e a existência ou não de<br />

um referente externo que lhes confira um grau de confiabilidade e autenticidade. Na<br />

era em que se afirmam as redes tecnológicas e a difusão eletrônica de documentos,<br />

com consequências em todas as esferas, os arquivos e suas políticas necessariamente<br />

se transformaram e impuseram mesmo uma nova agenda.<br />

Em 2004 foi aprovada e divulgada a Carta para a Preservação do Patrimônio<br />

Arquivístico Digital Brasileiro, elaborada pelo Conselho <strong>Nacional</strong> de <strong>Arquivo</strong>s (Conarq),<br />

seguindo a convocatória da Unesco em sua Carta para a Preservação do Patrimônio<br />

Digital do Mundo. O Brasil foi o primeiro país a divulgar uma carta específica para<br />

documentos de arquivo, e em 2006 recebeu o Prêmio Rodrigo Melo Franco do Instituto<br />

do Patrimônio Histórico e Artístico <strong>Nacional</strong> (Iphan), na categoria Preservação<br />

de Bens Móveis e Imóveis, pela Carta para a Preservação do Patrimônio Arquivístico<br />

Digital, elaborada pelo Conarq.<br />

No campo da preservação de documentos arquivísticos digitais autênticos,<br />

o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> é, desde 2007, parte do Projeto InterPARES (The International<br />

Research on Permanent Authentic Records in Electronic Systems), considerada a<br />

maior iniciativa internacional sobre o tema, dirigida pela Universidade de British<br />

Columbia, em Vancouver, Canadá. A equipe brasileira, denominada TEAM Brasil,<br />

conta com a coordenação do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> e a parceria do Ministério da Saúde,<br />

Universidade Estadual de Campinas e Câmara dos Deputados na realização de oito<br />

estudos de caso sobre preservação de documentos digitais e um estudo geral sobre<br />

terminologia arquivística.<br />

Em 12 de dezembro de 2003, pelo decreto nº 4.915, foi criado o Sistema de<br />

Gestão de Documentos de <strong>Arquivo</strong> (SIGA), pelo qual se organizam, sob a forma de<br />

52


Página 53<br />

Fotografia no passaporte de Angiolina Grimaldi.<br />

11 de abril de 1922. Série Interior – <strong>Nacional</strong>idades<br />

– Processos de Naturalização. Imagem<br />

integrante da exposição Viagens italianas, <strong>2012</strong>.<br />

sistema, as atividades de gestão de documentos de arquivo no âmbito dos órgãos e<br />

entidades da Administração Pública Federal. Visa garantir ao cidadão e aos órgãos e<br />

entidades, de forma ágil e segura, o acesso aos documentos de arquivo e às informações<br />

neles contidas, entre outras finalidades voltadas à integração das atividades de<br />

gestão de documentos de arquivo dos órgãos integrantes, à disseminação de normas<br />

relativas à gestão documental e à preservação do patrimônio documental arquivístico<br />

da Administração Pública Federal. 82 A criação do SIGA representa um marco para a<br />

implantação do programa de gestão de documentos no âmbito do Poder Executivo<br />

Federal, facilitando a ação do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> nesta área com a identificação dos<br />

responsáveis pelos órgãos setoriais do referido sistema. Integram o SIGA: o <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>, como órgão central; as unidades responsáveis pela coordenação das atividades<br />

de gestão de documentos de arquivo nos ministérios e órgãos equivalentes,<br />

como órgãos setoriais; e as unidades vinculadas aos ministérios e órgãos equivalentes,<br />

como órgãos seccionais.<br />

Nesse sentido, cabe destacar a norma Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados<br />

de Gestão Arquivística de Documentos – e-ARQ Brasil, aprovada em 2006<br />

e que tem por objetivo orientar a implantação da gestão arquivística de documentos<br />

e fornecer especificações técnicas e funcionais, além de metadados, para orientar a<br />

aquisição e/ou especificação e desenvolvimento de sistemas eletrônicos de gestão arquivística<br />

de documentos. A norma é um dos títulos disponíveis na série Publicações<br />

Técnicas do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, está disponível no portal do SIGA e, em conjunto com<br />

outros manuais, subsidia as atividades dos órgãos participantes do Sistema.<br />

Ainda no âmbito da Gestão de Documentos Federais, em 2010 começou-se a<br />

definir os padrões para a Estruturação de Informações de Protocolo para a Sociedade<br />

em parceria com a Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação, do Departamento<br />

de Governo Eletrônico (e-gov) do Ministério do Planejamento, Orçamento e<br />

Gestão, o que permitirá ao cidadão acompanhar as movimentações dos documentos<br />

de seu interesse, nos diferentes órgãos e entidades da Administração Pública Federal.<br />

O programa de gestão de documentos federais, vinculado ao conceito de patrimônio<br />

arquivístico, desdobra-se em projetos como o Censo Brasileiro de <strong>Arquivo</strong>s<br />

Públicos e Privados, integrado ao Censo-Guía de Archivos de España e Iberoamerica, 83<br />

em parceria com o Ministério da Cultura da Espanha e que associa informações dos<br />

acervos brasileiros com os das demais instituições arquivísticas da Espanha, América<br />

54


Latina e Caribe de língua espanhola. No âmbito da cooperação internacional, além de<br />

partilhar a comunidade de língua portuguesa, impõem-se as origens ibero-americana<br />

e latino-americana, sendo exemplar a participação do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> no Comitê<br />

Intergovernamental do Programa ADAI, criado pela Cimeira Ibero-Americana de<br />

Chefes de Estado, que se reúne anualmente para análise e aprovação de projetos de<br />

organização e preservação de arquivos inscritos na convocatória do ano anterior. A<br />

Direção-Geral do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> exerce atualmente a presidência no Comitê Diretivo<br />

da Associação Latino-Americana de <strong>Arquivo</strong>s (ALA), órgão regional do Conselho<br />

Internacional de <strong>Arquivo</strong>s (CIA), com sede em Paris, e no qual o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>,<br />

como membro de categoria A, participa das assembleias-gerais anuais.<br />

Em 2011, a instituição foi responsável, em conjunto com a Associação<br />

Latino-Americana de <strong>Arquivo</strong>s, pela realização, no Rio de Janeiro, do 7º Seminário<br />

Internacional de <strong>Arquivo</strong>s de Tradição Ibérica, que contou com 275 profissionais e<br />

conferencistas de 21 países. Cabe enfim destacar que, pelo Programa de Cooperação<br />

Sul-Sul, coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações<br />

Exteriores (ABC/MRE), o <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> participou de missões técnicas em Moçambique/Maputo<br />

e no Timor-Leste/Dili, visando reunir informações sobre a situação<br />

arquivística desses países, para a elaboração de projetos a serem desenvolvidos tendo<br />

em vista os acordos de cooperação firmados.<br />

Capa da revista Acervo v. 23, n. 2, dossiê Preservação<br />

de acervos documentais, 2010.<br />

Ao final desse ano, foi sancionada a Lei de Acesso à Informação, nº 12.527,<br />

de 18 de novembro de 2011, 84 que regulamentou o direito constitucional de acesso dos<br />

cidadãos às informações públicas. No capítulo II da lei, Do acesso a informações e<br />

da sua divulgação, destaca-se o art. 6º, que atribui “aos órgãos e entidades do poder<br />

público, observadas as normas e procedimentos específicos aplicáveis, assegurar a: I -<br />

gestão transparente da informação, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgação;<br />

II - proteção da informação, garantindo-se sua disponibilidade, autenticidade e integridade;<br />

e III - proteção da informação sigilosa e da informação pessoal, observada a<br />

sua disponibilidade, autenticidade, integridade e eventual restrição de acesso”. O texto<br />

da lei refere-se à temas importantes da própria arquivologia e em seu artigo 4º conceitua<br />

termos tais como informação, documento e tratamento da informação, essenciais<br />

para a disciplina e que tornam-se chave para o acesso também a conteúdos até então<br />

restritos. Assim, a partir do decreto 7.724, de 16 de maio de <strong>2012</strong>, que regulamentou<br />

a lei de 18 de novembro de 2011, com o objetivo de permitir o acesso aos fundos de-<br />

55


limitados principalmente pelo período do regime militar e outros ainda fechados, o<br />

Diretor-Geral do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> lançou o Edital AN nº 1, de 17 de maio de <strong>2012</strong>,<br />

o Edital AN nº 2, de 31 de maio de <strong>2012</strong>, e o Edital AN nº 3, de 29 de junho de <strong>2012</strong>.<br />

Os editais solicitam “ao titular das informações pessoais contidas nesses documentos,<br />

a apresentar, com base no inciso X, do artigo 5º da Constituição Federal e nos incisos<br />

I e II, do parágrafo 1º, do artigo 31 da lei nº 12.527, de 2011, no prazo de 30 (trinta)<br />

dias corridos contados da data de suas publicações, requerimento de manutenção da<br />

restrição de acesso aos documentos sobre sua pessoa”, condição para que seja apreciada<br />

essa possibilidade com base em parecer da Comissão de Análise de Documentos com<br />

Informações Pessoais do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>.<br />

Em síntese, o edital de nº 1 trata do acervo do Sistema <strong>Nacional</strong> de Informações<br />

e Contrainformação – SISNI, o subsequente é voltado para conjuntos documentais<br />

da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e da Assessoria<br />

de Segurança e Informações da Telebras e o terceiro visou os documentos produzidos<br />

ou acumulados pelo extinto Estado Maior das Forças Armadas - EMFA entre 1946 e<br />

1991. 85 O alcance da lei de acesso e a via aberta para um acesso cada vez mais franco<br />

aos arquivos públicos é um traço distintivo para a nova década.<br />

O <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> conserva hoje no Rio de Janeiro e em sua sede em Brasília<br />

mais de 55 km de documentos textuais, cerca de 1,74 milhão de fotografias e<br />

negativos, 200 álbuns fotográficos, 15 mil diapositivos, 4 mil caricaturas e charges,<br />

3 mil cartazes, mil cartões postais, 300 desenhos, 300 gravuras e 20 mil ilustrações,<br />

além de mapas, filmes, registros sonoros e uma coleção de livros raros que supera 8<br />

mil títulos. O atual regimento interno, de 24 de outubro de 2011, o definiu como órgão<br />

central do Sistema de Gestão de Documentos de <strong>Arquivo</strong> (SIGA) da Administração<br />

Pública Federal, órgão específico singular da estrutura organizacional do Ministério<br />

da Justiça, diretamente subordinado ao ministro de Estado, com a finalidade de:<br />

“implementar a política nacional de arquivos, definida pelo Conselho <strong>Nacional</strong> de<br />

<strong>Arquivo</strong>s – órgão central do Sistema <strong>Nacional</strong> de <strong>Arquivo</strong>s, por meio da gestão, do<br />

recolhimento, do tratamento técnico, da preservação e da divulgação do patrimônio<br />

documental do governo federal, garantindo pleno acesso à informação, visando apoiar<br />

as decisões governamentais de caráter político-administrativo, o cidadão na defesa<br />

de seus direitos e de incentivar a produção de conhecimento científico e cultural”. 86<br />

56


1<br />

BOTTÉRO, Jean. L’écriture, le développement et la diffusion du savoir en Mésopotamie ancienne.<br />

In: SCHAER, Roland (dir.). Tous les savoirs du monde: encyclopédies et bibliothèques, de Sumer<br />

au XXI e siècle. Paris: Bibliothèque Nationale de France/Flammarion, 1996, p. 27-28.<br />

2<br />

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. Rio<br />

de Janeiro: Editora 34, 1993, p. 96.<br />

3<br />

DERRIDA, Jacques. Mal de arquivo: uma impressão freudiana. Rio de Janeiro: Relume-Dumará,<br />

2001, p. 11-13.<br />

4<br />

OLSON, David. O mundo no papel: as implicações conceituais e cognitivas da leitura e da escrita.<br />

São Paulo: Ática, 1997, p. 63-64.<br />

5<br />

JACOB, Christian. Ler para escrever: navegações alexandrinas. In: BARATIN, M. e JACOB, C.<br />

(dir.). O poder das bibliotecas: a memória dos livros no Ocidente. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2000,<br />

p. 54-55.<br />

6<br />

Cf. CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Unesp, 1998.<br />

7<br />

Observamos que no acervo do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> encontramos códices autênticos – livros originais<br />

produzidos por órgãos da administração colonial e inautênticos –, encadernações de documentos<br />

avulsos originais ou cópias. Cf. FONSECA, Vítor Manoel M. da e GOUGET, Alba Gisele Guimarães.<br />

Documentos do período colonial: considerações para tratamento técnico. Publicações<br />

Técnicas 39. Rio de Janeiro: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, 1985.<br />

8<br />

BRAUDEL, Fernand. O Mediterrâneo e o mundo mediterrânico. Vol. II. Lisboa: Ed. Dom Quixote,<br />

1984, p. 43.<br />

9<br />

WEILBRENNER, Bernard. The history of archives. Public Archives of Canadá, 1974.<br />

10<br />

Referência a Guillaume – Thomas François Raynal, autor de Histoire philosophique et politique des<br />

établissements et du commerce des européens dans les deux Indes, editada em 1770. Ex-jesuíta, Raynal<br />

é autor de obra numerosa e um dos clássicos do Iluminismo. O <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> possui, em<br />

seu acervo de obras raras, a Histoire des deux Indes, tendo publicado a tradução de dois volumes.<br />

Cf. A Revolução da América. Prefácio de Luciano Raposo Figueiredo e Oswaldo Munteal Filho.<br />

Rio de Janeiro: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, 1993; O estabelecimento dos portugueses no Brasil. Prefácio de<br />

Berenice Cavalcante. Rio de Janeiro: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>; Brasília: Editora Universidade de Brasília,<br />

1998.<br />

11<br />

SOLANO, Francisco de. El Archivo General de Indias y la promoción del americanismo cientifico.<br />

In: SÉLLES, Manuel et alii (comp.). Carlos III y la ciencia de la Ilustración. Madri: Alianza<br />

Editorial, 1989, p. 277.<br />

57


12<br />

Acerca dos casos mexicano e cubano, citamos os artigos: COMISIÓN PARA LA CONMEMO-<br />

RACIÓN DEL BICENTENARIO DEL ARQUIVO GENERAL DE LA NACION. Historia del<br />

Archivo General de la Nación. ALA, n. 11, jan./jun. 1991; e SALABARRÍA, Berarda. El Archivo<br />

<strong>Nacional</strong>: pasado y presente. ALA, n. 9, jan./jun. 1990.<br />

13<br />

SCHELLENBERG, Thomas R. <strong>Arquivo</strong>s modernos: princípios e técnicas. Rio de Janeiro: Fundação<br />

Getúlio Vargas, 1973, p. 4.<br />

14<br />

POMIAN, Krzysztof. Collectionneurs, amateurs et curieux. Paris, Venise: XVe-XVIIIe siècle. Paris:<br />

Gallimard, 1987, p. 56-57.<br />

15<br />

HOBSBAWN, Eric. A era das revoluções: Europa 1789-1848. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />

1981, p. 308.<br />

16<br />

BURKE, Peter. A Escola dos Annales, 1929-1989: a Revolução Francesa da historiografia. São<br />

Paulo: Unesp, 1991, p. 18.<br />

17<br />

FERRO, Marc. A história vigiada. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 89.<br />

18<br />

Nesse sentido é emblemática a afirmação de Foustel de Coulanges, de que cabia ao historiador<br />

“tirar dos documentos tudo o que eles contêm e nada acrescentar ao que neles não esteja contido.<br />

O melhor historiador é o que se mantém mais perto dos textos [...] que só escreve e pensa segundo<br />

eles. Além de privilegiar o documento escrito, o autor representou uma história dos grandes<br />

acontecimentos políticos e institucionais. Também nessa perspectiva, Jacques Le Goff lembra a<br />

máxima de Langlois e Seignobos, positivistas ortodoxos: “sem documentos não há história”. Cf.<br />

LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 1994.<br />

19<br />

BLOCH, Marc. Apologia da história ou O ofício do historiador. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001,<br />

p. 79.<br />

20<br />

Em artigo de 1994, Roger Chartier fala da capacidade da história “estabelecer um conhecimento<br />

verdadeiro”. Ele se refere às falsificações e à tarefa da crítica documental de responder aos desvios<br />

e perversões da história, produtora de um “conhecimento controlável e verificável”, capaz de<br />

resistir à “máquina de guerra cética”, na expressão de Carlo Ginzburg. Chartier afirmará que as<br />

populações de mortos, os personagens, mentalidades e preços são o objeto do historiador: “abandonar<br />

essa intenção de verdade, talvez desmesurada, mas certamente fundadora, seria deixar o<br />

campo livre a todas as falsificações, a todas as falsidades que, por traírem o conhecimento, ferem a<br />

memória”. Cf. CHARTIER, Roger. A história hoje: dúvidas, desafios, propostas. Estudos históricos,<br />

Rio de Janeiro, v. 7, n. 13, 1994.<br />

21<br />

DUCHEIN, Michel. Passado, presente e futuro do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> do Brasil. Rio de Janeiro,<br />

Acervo, v. 3, n. 2, jul./dez. 1988.<br />

58


22<br />

A ruptura com o antigo método de classificação por assuntos iniciou-se com a adoção do ‘respeito<br />

aos fundos’, enunciado pela primeira vez na França em 1839, segundo o qual os papéis seriam<br />

agrupados por tipos de instituições: eclesiásticas, governamentais, educacionais. Não estipulava a<br />

reunião dos documentos de acordo com o órgão que o produzira.<br />

23<br />

SCHELLENBERG, T. R. Documentos públicos e privados: arranjo e descrição. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, 1963, p. 104.<br />

24<br />

Cf. PÓVOA NETO, Helion. Notas para uma leitura desconfiada da representação cartográfica e<br />

seu território. In: MATTOS, Ilmar Rohloff de (org.). Ler e escrever para contar: documentação,<br />

historiografia e formação do historiador. Rio de Janeiro: Access, 1998.<br />

25<br />

VASQUEZ, Pedro Karp. A fotografia no Império. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002, p. 13.<br />

26<br />

KOSSOY, Boris. Fotografia & história. 2. ed. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p. 26-27.<br />

27<br />

NANARD, Jocelyne et Marc. Le document interactif, un nouveau partenaire. In: SCHAER, Roland<br />

(dir.). Tous les savoirs du monde, op. cit., p. 462.<br />

28<br />

Roger Chartier indica que “o texto eletrônico pode conferir realidade aos sonhos, sempre inacabados,<br />

de totalização do saber que o precederam”. Tal como a biblioteca de Alexandria, ele promete<br />

a universal disponibilidade de todos os textos já escritos, de todos os livros já publicados. Os<br />

desafios da escrita. São Paulo: Unesp, 2002, p. 114.<br />

29<br />

Cf. DOLLAR, Charles. Tecnologias da informação digitalizada e pesquisa acadêmica nas ciências<br />

sociais e humanas: o papel crucial da arquivologia. Estudos históricos. Rio de Janeiro, v. 7, n. 13,<br />

1994.<br />

30<br />

BLUTEAU, padre Rafael. Vocabulário português e latino. Coimbra: Colégio das Artes da Companhia<br />

de Jesus, 1712, v. I, p. 476.<br />

31<br />

MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal: paradoxo do iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra,<br />

1996, p. 95.<br />

32<br />

CÂNDIDO, Antônio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 6. ed. Belo Horizonte:<br />

Itatiaia, 1981, p. 227.<br />

33<br />

CUNHA, Ana Cannas da. Salvaguardar direitos, defender uma memória: o Real <strong>Arquivo</strong> e as<br />

invasões francesas. In: FARINHA, Maria do Carmo Dias (coord.). A Torre do Tombo na viragem do<br />

milênio. Lisboa: Instituto dos <strong>Arquivo</strong>s Nacionais/Torre do Tombo, 2000, p. 75.<br />

34<br />

O artigo 70 da Constituição Política do Império do Brasil, de 1824, dispõe que “assinada a lei pelo<br />

Imperador, referendada pelo Secretário de Estado competente, e selada com o selo do Império,<br />

se guardará o original no <strong>Arquivo</strong> Público e se remeterão os exemplares dela impressos a todas as<br />

câmaras do Império, tribunais e mais lugares, aonde convenha fazer-se pública”.<br />

59


35<br />

Apud MOREIRA FRANCO, Celina do Amaral Peixoto. Apresentação. In: ARQUIVO NACIO-<br />

NAL. Do <strong>Arquivo</strong> Público do Império ao <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Rio de Janeiro: Funarte, 1980.<br />

36<br />

Relatório do ministério do Império de <strong>1838</strong>. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1839.<br />

37<br />

NEVES, Lúcia Maria Bastos P. e MACHADO, Humberto Fernandes. O Império do Brasil. Rio de<br />

Janeiro: Nova Fronteira, 1999, p. 260-261.<br />

38<br />

Ver Relatório do ministério do Império de 1844. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1845; e<br />

Relatório do ministério do Império de 1845. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1846.<br />

39<br />

Cf. MATTOS, Ilmar Rohloff de. O tempo saquarema: a formação do Estado imperial. São Paulo:<br />

Hucitec, 1990, p. 285-286.<br />

40<br />

Relatório do ministério do Império de 1846. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1847; e Relatório<br />

do ministério do Império de 1853. Rio de Janeiro: Tipografia do Diário de A. & L. Navarro, 1854.<br />

41<br />

Em 1886 foi editado o primeiro volume das publicações do <strong>Arquivo</strong>, contendo o catálogo das<br />

cartas régias, provisões e alvarás, de 1662 a 1821. O volume seguinte corresponde ao índice da<br />

correspondência dos vice-reis com diversas autoridades.<br />

42<br />

Cf. Relatório do diretor do <strong>Arquivo</strong> Público do Império, anexo ao Relatório do ministério do Império<br />

de 1861. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1862; Relatório do ministério do Império de<br />

1853, op. cit; Relatório do ministério do Império de 1857. Rio de Janeiro: Tipografia Universal de<br />

Laemmert, 1858; Relatório do ministério do Império de 1856. Rio de Janeiro: Tipografia Universal<br />

de Laemmert, 1857.<br />

43<br />

GUIMARÃES, Lúcia Maria Pascoal. <strong>Arquivo</strong> Público do Império. In: VAINFAS, Ronaldo (org.).<br />

Dicionário do Brasil Imperial. Rio de Janeiro: Objetiva, 2002, p. 56. Ver também, COSTA, Célia.<br />

Memória e administração: o <strong>Arquivo</strong> Público do Império e a consolidação do Estado brasileiro.<br />

Tese (doutorado). Rio de Janeiro: Instituto de Filosofia e Ciências Sociais, UFRJ, 1997.<br />

44<br />

Coleção de Leis do Brasil, v. I, tomo XXI, 1860, p. 58.<br />

45<br />

Ver Relatório do diretor do <strong>Arquivo</strong> Público do Império, anexo ao relatório do ministério do<br />

Império de 1861. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1862; Relatório do diretor do <strong>Arquivo</strong> Público<br />

do Império, anexo ao relatório do ministério do Império de 1863. Rio de Janeiro: Tipografia<br />

<strong>Nacional</strong>, 1863.<br />

46<br />

FERREIRA, Tânia Maria Tavares Bessone da Cruz. As bibliotecas cariocas: o Estado e a constituição<br />

do público leitor. In: PRADO, Maria Emília (org.). O Estado como vocação: ideias e práticas<br />

políticas no Brasil oitocentista. Rio de Janeiro: Access, 1999, p. 59.<br />

47<br />

KOSERITZ, Carl. Imagens do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade<br />

de São Paulo, 1980, p. 185-187.<br />

60


48<br />

Respectivamente, consultar decreto n. 6.164, de 24 de março de 1876, que reorganiza o <strong>Arquivo</strong><br />

Público do Império. Coleção de Leis do Brasil, v. I, t. XXXIX, parte II, 1876, p. 423-427; Relatório<br />

do diretor do <strong>Arquivo</strong> Público do Império, anexo ao Relatório do ministério do Império de<br />

1874. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1875.<br />

49<br />

Em 1882, o decreto n. 8.820, de 30 de dezembro, que regulou a concessão das patentes aos autores de<br />

invenção ou descoberta industrial, estabeleceu que os pretendentes de patentes deveriam depositar<br />

no <strong>Arquivo</strong> Público um relatório acompanhado das plantas, desenhos, modelos e amostras. Em 1891,<br />

o decreto n. 547, de 17 de setembro, desvinculou essa competência do <strong>Arquivo</strong>, em face da sobrecarga<br />

que representava ao órgão. Ficavam ali arquivados os processos findos e os que fossem remetidos<br />

do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Públicas, à medida que fossem concluídos.<br />

50<br />

Relatório do diretor do <strong>Arquivo</strong> Público do Império, anexo ao Relatório do ministério do Império<br />

de 1873. Rio de Janeiro: Tipografia <strong>Nacional</strong>, 1874.<br />

51<br />

IGLÉSIAS, Francisco. Historiadores do Brasil: capítulos de historiografia brasileira. Rio de Janeiro:<br />

Nova Fronteira; Belo Horizonte: UFMG, IPEA, 2000.<br />

52<br />

FALCON, Francisco José Calazans. As ideias e noções de ‘moderno e nação’ nos textos de Capistrano<br />

de Abreu: os Ensaios e estudos, 4ª série – comentários. Acervo. Escritas do Brasil. Rio de<br />

Janeiro: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, v. 12, n. 1-2, jan./dez. 1999, p. 11.<br />

53<br />

RODRIGUES, José Honório. A situação do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Rio de Janeiro: Ministério da Justiça<br />

e Negócios Interiores, 1959, p. 10.<br />

54<br />

Decreto n. 44.862, de 21 de novembro de 1958. Aprova o regimento do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, do Ministério<br />

da Justiça e Negócios Interiores. Lex, v. XXII, 1958, p. 453.<br />

55<br />

IGLÉSIAS, Francisco. José Honório Rodrigues e a historiografia brasileira. Acervo. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, v. 2, n. 2, jul./dez. 1987, p. 7.<br />

56<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Relatórios, Série Assuntos Gerais. AN 6, 1921.<br />

57<br />

O decreto n. 10, de 21 de novembro de 1889, alterou a denominação do <strong>Arquivo</strong> Público do Império.<br />

Coleção de Leis do Brasil, v. III, 1889, p. 8. Para a década de 1890, foram pesquisados os<br />

documentos: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, Série Assuntos Gerais, n. 70, 1890; Coleção de Leis do Brasil, v.<br />

II, 1893, p. 734-739; <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, Série Assuntos Gerais, AN 4, n. 140, fl. 58v, 1891.<br />

58<br />

Coleção de Leis do Brasil, v. I, 1906, p. 112.<br />

59<br />

Em 1911, um novo regulamento é publicado, e o <strong>Arquivo</strong> Público <strong>Nacional</strong> passa a chamar-se<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>.<br />

60<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, Série Assuntos Gerais, AN 6, relatórios dos anos 1920 e 1921.<br />

61<br />

A adoção da cópia de documentos deteriorados como medida de restauração pode ser uma<br />

derivação da ideia jurídica de restauração de autos, definida como a “recomposição dos autos de<br />

61


um processo, quando desapareceram por perda, extravio, destruição ou por qualquer causa”. Cf.<br />

BARROS, Hamilton de Moraes e. Comentários ao Código de Processo Civil. Rio de Janeiro: Forense,<br />

1988, 2. ed., v. IX, p. 421. Agradecemos essa observação a Carlos Augusto Ditadi.<br />

62<br />

Sobre os métodos de desinfestação adotados, consultar: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, Série Assuntos Gerais,<br />

AN 11, 1931; <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, Série Assuntos Gerais, AN 24, 1950.<br />

63<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, Série Assuntos Gerais, AN 11, relatórios do diretor João Alcides Bezerra Cavalcanti,<br />

nos anos de 1930 e 1931.<br />

64<br />

WEHLING, Arno. A historiografia brasileira e o acervo da Biblioteca <strong>Nacional</strong>. In: PEREIRA,<br />

Paulo Roberto (org.). Brasiliana da Biblioteca <strong>Nacional</strong>: guia de fontes sobre o Brasil. Rio de<br />

Janeiro: Fundação Biblioteca <strong>Nacional</strong>; Nova Fronteira, 2001, p. 508-509.<br />

65<br />

KECSKEMÉTI, Charles. A modernização do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong> do Brasil. Acervo. Rio de Janeiro:<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, v. 3, n. 2, jul./dez. 1988, p. 5.<br />

66<br />

<strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Relatório do diretor Pedro Moniz de Aragão referente ao ano de 1964. AN 41,<br />

1965; <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Relatório do diretor Raul do Rego Lima referente ao ano de 1972. AN<br />

41, 1973.<br />

Páginas 62 | 63 e 64<br />

Detalhes da nova sede do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>.<br />

67<br />

JARDIM, José Maria. Do pré-arquivo à gestão de documentos. Acervo. Rio de Janeiro: <strong>Arquivo</strong><br />

<strong>Nacional</strong>, v. 3, n. 2, jul./dez. 1988, p. 34.<br />

68<br />

Regimento do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, portaria n. 600 – B, de 15 de outubro de 1975. Diário Oficial da<br />

União, 16 de outubro de 1975.<br />

69<br />

MOREIRA FRANCO, Celina Amaral Peixoto. Os arquivos nacionais: estrutura e legislação.<br />

Acervo. Rio de Janeiro: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, v. 1, n. 1, jan./jun. 1986, p. 9. O SINAR foi criado pelo<br />

decreto n. 82.308, de 25 de setembro de 1978. Lex, XLII, 1978.<br />

70<br />

Decreto n. 88.771, de 27 de setembro de 1983. Lex, v. XLVII, 1983.<br />

71<br />

Perfil institucional do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Acervo. Rio de Janeiro: <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, v. 3, n. 2, jul.<br />

dez. 1988.<br />

72<br />

Lei n. 8.159, de 8 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos e dá outras<br />

providências. Lex, v. I, 1991, p. 12.<br />

73<br />

Ver relatórios de atividades no portal do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Disponíveis em http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=28.<br />

74<br />

HUYSSEN, Andreas. Seduzidos pela memória: arquitetura, monumentos, mídia. Rio de Janeiro:<br />

Aeroplano, 2000.<br />

75<br />

Ibidem, p. 16.<br />

76<br />

Cf. http://www.memoriasreveladas.gov.br.


77<br />

CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo (org.). A sociedade em rede: do conhecimento à acção<br />

política. Debates 4, Lisboa, Imprensa <strong>Nacional</strong>, Casa da Moeda, 2006. p. 19.<br />

78<br />

Ibidem, p. 17.<br />

79<br />

TOGNOLI, Natália. A contribuição epistemológica canadense para a construção da arquivística contemporânea.<br />

Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) – Universidade Estadual Paulista,<br />

Marília, 2010. p. 14.<br />

80<br />

COOK, Terry. Fashionable nonsense or professional rebirth: postmodernism and the practice of<br />

archives. Archivaria, n. 51, Spring, 2001. Disponível em http://journals.sfu.ca/archivar/index.php/<br />

archivaria/issue/view/428/showToc.<br />

81<br />

MACNEIL, Heather. Trusting records in a postmodern world. Archivaria, n. 51, Spring, 2001.<br />

Disponível em http://journals.sfu.ca/archivar/index.php/archivaria/issue/view/428/showToc.<br />

82<br />

Cf. http://www.siga.arquivonacional.gov.br/.<br />

83<br />

Cf. http://censoarchivos.mcu.es/CensoGuia/portada.htm.http://censoarchivos.mcu.es/CensoGuia/<br />

portada.htm<br />

84<br />

Disponível em http://migre.me/a6QkG<br />

85<br />

Conferir http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=149<br />

86<br />

Regimento interno do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>, de 24 de outubro de 2011. Portaria nº 2.433, de 24 de<br />

outubro de 2011. (Publicada no DOU de 25 de outubro de 2011, Seção I, página 41). Aprova o<br />

Regimento Interno do <strong>Arquivo</strong> <strong>Nacional</strong>. Disponível em http://www.arquivonacional.gov.br/cgi/<br />

cgilua.exe/sys/start.htm?sid=26.


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