EDIÇÃO 33 - Setembro/14 - RBCIAMB
A Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB - publica artigos completos de trabalhos científicos originais ou trabalhos de revisão com relevância para a área de Ciências Ambientais. A RBCIAMB prioriza artigos com perspectiva interdisciplinar. O foco central da revista é a discussão de problemáticas que se inscrevam na relação sociedade e natureza em sentido amplo, envolvendo aspectos ambientais em processos de desenvolvimento, tecnologias e conservação. A submissão dos trabalhos é de fluxo contínuo.
A Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB - publica artigos completos de trabalhos científicos originais ou trabalhos de revisão com relevância para a área de Ciências Ambientais. A RBCIAMB prioriza artigos com perspectiva interdisciplinar. O foco central da revista é a discussão de problemáticas que se inscrevam na relação sociedade e natureza em sentido amplo, envolvendo aspectos ambientais em processos de desenvolvimento, tecnologias e conservação. A submissão dos trabalhos é de fluxo contínuo.
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<strong>RBCIAMB</strong><br />
ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />
Expediente<br />
Editora Geral<br />
Maria do Carmo Martins Sobral<br />
Editor Executivo<br />
Valdir Fernandes<br />
Editores Internacionais<br />
Günter Gunkel - Alemanha<br />
Manuela Morais - Portugal<br />
Oscar Parra - Chile<br />
Jose Alfaro Joins - EUA<br />
Editores Nacionais<br />
Armando Borges de Castilhos Jr<br />
Francisco Suetônio Bastos Mota<br />
Mário Augusto Gonçalves Jardim<br />
Tadeu Fabrício Malheiros<br />
Maurício Dziedzic<br />
Márcia Maria Rios Ribeiro<br />
Conselho Editorial<br />
Arlindo Philippi Jr, Adriana Rosseto, Asher<br />
Kiperstock, Carlos Alberto Cioce Sampaio,<br />
Cleverson Vitorio Andreolli , Eliza Maria Xavier<br />
Freire, Fabiano Toni, Jorge Tenório, Leandro<br />
Gonçalves Oliveira, Marco Antonio Almeida de<br />
Souza, Marco Aurélio da Silva Carvalho Filho,<br />
Maria de Lourdes Florencio, Miguel Mansur Aisse,<br />
Luiz Carlos Beduschi Filho, Wanderley da Silva<br />
Paganini<br />
Coordenação<br />
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e<br />
Ambiental - ABES<br />
Presidente Nacional da ABES<br />
Dante Ragazzi Pauli<br />
Responsável<br />
Allan Rodrigues<br />
Submissão de artigos, dúvidas e sugestões: rbciamb@abes-dn.org.br<br />
Instruções para autores clique aqui<br />
Esta é uma publicação em parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e<br />
Desenvolvimento Sustentável - ICTR www.ictr.org.br
Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />
ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />
Editorial<br />
A<br />
Associação Brasileira de Engenharia Ambiental (ABES) vem ampliando nos últimos anos suas atividades<br />
apresentando um perfil amplo e multidisciplinar incorporando não apenas a visão da Engenharia Sanitária, mas<br />
expandindo a área de conhecimento, passando a abranger a Engenharia Ambiental. Essa nova inserção se reflete<br />
no aumento de artigos relacionados à temática ambiental que vem sendo submetidos e publicados nos Congressos<br />
nacionais e regionais, bem como na Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA).<br />
No cenário atual, de grandes pressões antrópicas sobre os ecossistemas brasileiros, é importante conduzir estudos que<br />
incentivem e trabalhem com a ideia de uso sustentável dos recursos naturais, bem como pesquisas que abrangem<br />
diferentes áreas do conhecimento voltadas a um mesmo objetivo de desenvolvimento sustentável do país.<br />
Os avanços tecnológicos e sociais vivenciados no Brasil e no exterior dos últimos anos tem refletido em mudanças de<br />
paradigmas e direcionamentos da ciência voltados para incorporação de novos temas relevantes e atuais como a gestão<br />
de recursos naturais, mudanças climáticas, governança ambiental, prestação de serviços ecossistêmicos, gestão de<br />
conflitos, entre outros.<br />
Diante desta demanda significativa de artigos na área de meio ambiente pela comunidade científica acadêmica, bem<br />
como pelos atores governamentais e empresariais, a ABES decidiu contribuir para a produção e divulgação do<br />
conhecimento científico relacionado às ciências ambientais, com a preocupação crescente, advindas da utilização<br />
racional dos recursos naturais e suas relações com o desenvolvimento tecnológico de forma sustentável.<br />
Neste contexto, a ABES passa a partir desta edição a incorporar a Revista Brasileira de Ciências Ambientais - RBCiamb,<br />
editada em parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável - ITCR, que<br />
vinha assumindo essa revista desde sua criação em 2005.<br />
Durante esses dez anos de existência, a RBCiamb recebeu cerca de 800 artigos submetidos, dos quais 218 foram<br />
publicados em 32 edições. Além disso, o grande volume de submissões, de mais de 2090 (dois mil e noventa) artigos<br />
submetidos à revista Engenharia Sanitária e Ambiental, sendo mais de 300 na área de meio ambiente, desde que a<br />
Revista ESA foi incorporada ao Sistema de submissão online do Scielo, estimularam também esta iniciativa de<br />
incorporação desta nova revista com visão interdisciplinar da temática ambiental, que contou com a discussão e adesão<br />
de todo Conselho Editorial e Diretoria.<br />
A revista RBCiamb seguirá com grandes temas voltados à Área Ambiental: Políticas e Gestão Ambiental; Recursos<br />
Naturais e Ambientais; Controle da Poluição; Gestão de Recursos Hídricos; Tecnologias Ambientais; Mudanças<br />
Climáticas e Poluição do Ar; Gestão de Resíduos Sólidos e Governança; Percepção e Educação Ambiental. A revista ESA<br />
seguirá com temas mais focados na Engenharia Sanitária, como: Água, Sistema de Abastecimento e Tratamento, Águas<br />
Residuárias, Coleta e Transporte, Tratamento de Esgoto Sanitário, Tratamento de Efluentes Industriais, Reúso de Águas,<br />
Lodo de Estação de Tratamento, Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais.<br />
Esta nova Revista da ABES é direcionada para profissionais de diversas áreas de conhecimento com atuação<br />
interdisciplinar e visões distintas que convergem para a temática ambiental. Esta medida se enquadra na estratégia de<br />
atendimento às demandas do público alvo da ABES que vem se expandindo da academia e profissionais relacionados à<br />
engenharia sanitária e ambiental, para incluir também os envolvidos nos programas de Pós-Graduação de Ciências<br />
Ambientais, além de profissionais dos Órgãos Públicos, Consultorias e Organizações não governamentais que atuam na<br />
temática ambiental.<br />
Acreditamos que esta nova iniciativa propiciará a ampliação dos espaços de atuação e divulgação da ABES, contribuindo<br />
para o desenvolvimento sustentável do país, Contamos com a participação ativa de todos os senhores que fazem da<br />
ABES uma das maiores e mais consolidadas associações profissionais brasileiras.<br />
Dante Ragazzi Pauli<br />
Presidente Nacional da ABES<br />
Maria do Carmo Martins Sobral<br />
Editora Geral da Revista RBCiAmb
Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />
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ÍNDICE<br />
01-COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE<br />
COMPOSTAGEM CONVENCIONAL E MECANIZADA NO<br />
TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE RÚMEN BOVINO<br />
Comparison between conventional and mechanized<br />
composting process in bovine rumen and waste<br />
treatment<br />
Priscila Ribeiro dos Santos<br />
Marcela de Felicio Moreira<br />
Maria Cristina Rizk<br />
45-GESTÃO INTEGRADA EM UNIDADES DE<br />
CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO PARQUE<br />
ESTADUAL DE PORTO FERREIRA<br />
Integrated management in protected areas: case study<br />
of Porto Ferreira State Park<br />
Mayra Cristina Prado de Moraes<br />
Kaline de Mello<br />
Rogério Hartung Toppa<br />
13-ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS<br />
URBANOS COMO SUBSÍDIO PARA AÇÕES VOLTADAS À<br />
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL<br />
Generation Estimate of Municipal Solid Waste as<br />
Subsidy Actions Aimed to Environmental Sustainability<br />
David Montero Dias<br />
Carlos Barreira Martinez<br />
Raphael Tobias de Vasconcelos Barros<br />
23- CARACTERIZAÇÃO DE INDICADORES DE<br />
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA RELAÇÃO<br />
SAÚDE E AMBIENTE POR MEIO DAS DOENÇAS<br />
RELACIONADAS AO SANEAMENTO AMBIENTAL<br />
INADEQUADO (DRSAI)<br />
Characterization of indicators of sustainable<br />
development in health and environmental value<br />
through environmental sanitation related diseases<br />
inappropriate (DRSAI)<br />
Gerciene de Jesus Miranda Lobato<br />
Mário Augusto Gonçalves Jardim<br />
32- NOVOS INDICADORES PARA A AVALIAÇÃO DE<br />
IMPACTOS SÓCIO AMBIENTAIS DA INOVAÇÃO<br />
TECNOLÓGICA EM AGROINDÚSTRIAS DE<br />
REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS. APLICAÇÃO NA<br />
AGROINDÚSTRIA DE COCO<br />
New indicators for the socio-environmental impact<br />
assessment of technological innovation in waste reuse<br />
agro industries. Coconut agro industries applications.<br />
Melba Garcia Velasco<br />
Francisco H. Martinez Luzardo<br />
Fermin G. Velasco<br />
60- ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO DE MANGUEZAIS<br />
SOB CONDIÇÕES DE VARIAÇÃO SAZONAL<br />
Attributes chemical manguezais soil with variations on<br />
seasonal conditions<br />
Marina Lopes de Souza<br />
Maria Aurora da Mota<br />
Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo<br />
Rosecélia Moreira Castro<br />
José Francisco Berredo<br />
Paulo Jorge Oliveira de Souza<br />
Adriano Marlisom Leão de Souza<br />
73-ANÁLISE DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA<br />
AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA NO BRASIL<br />
Analysis of participatory process in the strategic<br />
environmental assessment in Brazil<br />
Maria José Ferreira Berti<br />
Nemésio Neves Batista Salvador<br />
85-ALTERAÇÕES QUÍMICAS EM SOLO OCUPADO POR<br />
CEMITÉRIO HORIZONTAL NO NORTE DO RIO GRANDE<br />
DO SUL<br />
Chemical changes in soil occupied for cemetery<br />
horizontal in rio grande do sul – north<br />
Pedro Daniel da Cunha Kemerich<br />
Willian Fernando de Borba<br />
Natana Schmachtenberg<br />
Cristiane Graepin<br />
Carlos Eduardo Balestrin Flores<br />
Guilherme Barros<br />
Ademir Eloi Gerhardt
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100-PERCEPÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO<br />
PATRIMONIAL: ESTUDO DE CASO SOBRE A<br />
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO<br />
Environmental perception and heritage education: a<br />
case study on paleontological heritage and your<br />
conservation<br />
Marcelo de Oliveira Soares<br />
Wedja Suhelen Paes da Silva<br />
Luana Kelly Ferreira da Silva<br />
Thais Chaves da Silva<br />
GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM<br />
CAPITAIS BRASILEIRAS ALTERNATIVAS PARA UM<br />
MODELO DE GESTÃO<br />
Urban solid waste management in Brazilian capital cities<br />
- alternatives for a model of management<br />
Christian Luiz da Silva<br />
Gabriel Massao Fugii<br />
Alain Hernández Santoyo<br />
Nadia Solange Bassi<br />
Marta Chaves Vasconcelos
Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />
ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />
COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE COMPOSTAGEM CONVENCIONAL E MECANIZADA<br />
NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE RÚMEN BOVINO<br />
Comparison between conventional and mechanized composting process<br />
in bovine rumen and waste treatment<br />
Priscila Ribeiro dos Santos<br />
Engenheira Ambiental, Universidade<br />
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita<br />
Filho” – Faculdade de Ciências e<br />
Tecnologia, campus de Presidente<br />
Prudente, Departamento de<br />
Planejamento, Urbanismo e Ambiente.<br />
E-mail: pri-rs@hotmail.com<br />
Marcela de Felicio Moreira<br />
Engenheira Ambiental, Universidade<br />
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita<br />
Filho” – Faculdade de Ciências e<br />
Tecnologia, campus de Presidente<br />
Prudente, Departamento de<br />
Planejamento, Urbanismo e Ambiente.<br />
E-mail: mah.fmoreira@gmail.com<br />
Maria Cristina Rizk<br />
Professor Assistente Doutor,<br />
Universidade Estadual Paulista “Júlio<br />
de Mesquita Filho” – Faculdade de<br />
Ciências e Tecnologia, campus de<br />
Presidente Prudente, Departamento de<br />
Planejamento, Urbanismo e Ambiente.<br />
E-mail: crisrizk@fct.unesp.br<br />
RESUMO<br />
A agroindústria brasileira apresenta grande potencialidade na produção de<br />
alimentos, especialmente no ramo da carne bovina, levando ao aumento da geração<br />
de resíduos sólidos, como o resíduo ruminal. Tal resíduo é gerado em grandes<br />
proporções durante os processos de abate de bovinos, podendo ocasionar<br />
contaminação, degradação ambiental ou ainda danos à saúde pública, quando não<br />
tratado. Fato que justifica o estudo de práticas de reciclagem, como a compostagem.<br />
No desenvolvimento deste trabalho foi realizado o processo de compostagem para<br />
tratamento do resíduo ruminal bovino gerado num frigorífico, utilizando-se o sistema<br />
convencional de leira aerada por revolvimento manual e o sistema mecanizado de<br />
reator acoplado a um compressor, permitindo a aeração do sistema. Para o ajuste<br />
inicial dos parâmetros da compostagem, foi incorporado o resíduo de casca de café.<br />
Os parâmetros determinados no monitoramento do processo de compostagem<br />
foram: pH, umidade, carbono orgânico, nitrogênio e relação C/N. Pelas análises<br />
realizadas durante o monitoramento de ambos os sistemas, notou-se que o pH se<br />
manteve alcalino e apresentou apenas pequenas variações; a umidade apresentouse<br />
elevada no início dos estudos; ocorreram variações significativas nas<br />
concentrações de nitrogênio; as reduções de carbono orgânico não se apresentaram<br />
elevadas; e, ainda, os compostos finais produzidos mostraram-se adequados para<br />
serem utilizados como adubo orgânico. Quanto as principais diferenças dos sistemas<br />
mecânico e convencional, verificou-se que a leira teve maior redução de carbono<br />
orgânico ao longo do tratamento e menor relação C/N final quando comparada ao<br />
reator.<br />
Palavras-chave: resíduo ruminal; compostagem; leira aerada; reator; adubo<br />
orgânico.<br />
ABSTRACT<br />
The Brazilian agroindustry has a high potentiality in food production, especially in the<br />
segment of bovine meat, which leads to the increase of solid residues generation,<br />
like the ruminal residue. This residue is generated in large proportions during the<br />
bovine slaughter process, and it can lead to environmental degradation and<br />
contamination, or even damage to the public health, when not treated. Fact that<br />
justify studying practices of recycling, like composting. In the development of this<br />
work it was done the process of composting to the treatment of the ruminal residue<br />
produced in a slaughterhouse, using the conventional system of aerated pile through<br />
manual mixing and the mechanized system of reactor coupled to a compressor,<br />
enabling the aeration of the system. For the initial adjustment of the composting<br />
parameters, it was incorporated the residue of coffee husks. The parameters<br />
determined during the monitoring of the composting process were: pH, moisture,<br />
organic carbon, and nitrogen C/N ratio. With the analyses obtained during the<br />
monitoring of both systems, it was noticed that the pH kept on alkaline levels with<br />
small variations; the moisture was high at the beginning of the study; there were<br />
significant variations in nitrogen concentrations; the decrease of organic carbon was<br />
not high; besides that, both composts produced were appropriate to be used as<br />
organic compost. The main differences in conventional and mechanized systems<br />
were that the pile had a better reduction of organic carbon during the process and a<br />
lower final C/N ratio when compared to the reactor.<br />
Keywords: ruminal residue; composting; aerated pile; reactor; organic compost.<br />
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O segmento industrial da cadeia produtiva de carne<br />
bovina contribui sistematicamente para a geração de<br />
grandes quantidades de resíduos líquidos e sólidos,<br />
produzidos desde a extração da matéria-prima até as<br />
etapas do processo industrial, como o resíduo ruminal<br />
bovino.<br />
Este resíduo é um dos resíduos gerados em matadouros<br />
frigoríficos de bovinos que requer especial atenção no<br />
que se refere ao seu gerenciamento, devido à elevada<br />
umidade do material e a dificuldade de destino do<br />
mesmo (ROSA, 2009).<br />
De acordo com Ferreira (1997) apud Morales (2006), o<br />
resíduo ruminal, retirado dos animais logo após o abate,<br />
consiste em alimentos parcialmente digeridos, sendo<br />
que um animal de 400 kg produz em média 25 kg deste<br />
resíduo.<br />
Segundo Zimmermann e Eggersglüβ (1986) apud Tritt e<br />
Schuchardt (1992), o conteúdo ruminal não tratado<br />
deve ser considerado como um risco epidemiológico, já<br />
que pode conter raros tipos de salmonela, assim como<br />
bactérias, vírus e parasitas em números alarmantes, do<br />
ponto de vista epidemiológico. E ainda a destinação<br />
inadequada de tal resíduo, sem que se conheçam suas<br />
características agronômicas, pode levar a alterações das<br />
características dos solos e a outras degradações<br />
ambientais (TRAUTMANN-MACHADO et al., 2009).<br />
Sua composição é basicamente de forrageiras (capim)<br />
parcialmente digeridas, utilizadas na alimentação<br />
animal, e ainda sal mineral, fornecido como<br />
complemento alimentar aos animais. Assim, por ser<br />
material basicamente orgânico, é passível de ser<br />
tratado por meio de processos como a compostagem.<br />
Já a casca de café é basicamente um resíduo vegetal<br />
ligninocelulósico da agroindústria (FERNANDES e SILVA,<br />
1997), além de ser rica em matéria orgânica e ser fonte<br />
natural de potássio e nitrogênio (TONACO et al., 2010).<br />
Fernandes e Silva (1999) relatam os resíduos vegetais<br />
como os mais importantes resíduos estruturantes<br />
utilizados na compostagem, e dentre eles está a casca<br />
de café, com as funções de conferir integridade<br />
estrutural à mistura a ser compostada, absorver o<br />
excesso de umidade e ainda equilibrar a relação C/N da<br />
mistura.<br />
INTRODUÇÃO<br />
A compostagem consiste num processo biológico de<br />
decomposição controlada da fração orgânica<br />
biodegradável contida nos resíduos, caracterizando-se<br />
pela produção de CO 2 , vapor de água, liberação de<br />
substâncias minerais e formação de um composto<br />
orgânico estável denominado húmus (SOUZA, 2005;<br />
BERNAL et al., 1998). Assim, ela permite a agregação de<br />
valor devido à transformação de resíduos<br />
potencialmente poluidores em composto orgânico e<br />
ainda contribui para um saneamento eficaz.<br />
Este processo é desenvolvido por uma colônia de<br />
microrganismos, o qual é afetado por qualquer fator<br />
que atinja a atividade microbiológica, dentre estes<br />
fatores, os mais importantes são: aeração, temperatura,<br />
teor de umidade, concentração de nutrientes e pH<br />
(VERAS e POVINELLI, 2004; COSTA, 2005).<br />
O processo de compostagem pode ocorrer por dois<br />
métodos: método natural – a fração orgânica é disposta<br />
em pilhas (leiras) de formato variável. A aeração é<br />
conseguida por revolvimentos periódicos, com o auxílio<br />
de equipamentos apropriados. O tempo para que o<br />
processo de complete varia de três a quatro meses, e,<br />
método acelerado – a aeração é forçada por tubulações<br />
perfuradas, sobre as quais se colocam as pilhas de<br />
resíduos em reatores, dentro dos quais são colocados<br />
os resíduos, avançando no sentido contrário ao da<br />
corrente de ar. O tempo total de compostagem varia de<br />
dois a três meses (D’ALMEIDA e VILHENA, 2000).<br />
Dos métodos de compostagem apresentados, o de<br />
leiras revolvidas é o mais simples e se dá geralmente ao<br />
ar livre. Elas se caracterizam principalmente pelo baixo<br />
investimento inicial, simplicidade de operação, uso de<br />
equipamentos simples, e possibilidade de rápida<br />
diminuição do teor de umidade das misturas devido ao<br />
revolvimento; porém o efeito do revolvimento é<br />
limitado (FERNANDES e SILVA, 1999).<br />
Já a compostagem realizada em reatores, oferece a<br />
possibilidade de maior controle sobre todos os fatores<br />
importantes para o processo e menor influência dos<br />
fatores climáticos. Além disso, devido à homogeneidade<br />
do meio, inclusive com relação à temperatura, a<br />
compostagem em reatores também é tida como mais<br />
eficiente no controle dos patógenos. Outra<br />
característica desta alternativa é a maior facilidade para<br />
controlar odores, pois o sistema é fechado e a aeração<br />
controlada (FERNANDES e SILVA, 1999).<br />
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OBJETIVOS<br />
O presente estudo teve como objetivo estudar o processo de compostagem para o tratamento de rúmen bovino,<br />
utilizando-se os métodos manual e mecanizado, a fim de se conhecer a qualidade do composto produzido em cada um<br />
dos tratamentos.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
O resíduo ruminal bovino foi coletado no setor da “linha verde” de um frigorífico. Em função de sua elevada umidade<br />
para o início do tratamento por compostagem, houve a necessidade de incorporação de outro resíduo para adequação<br />
de tal parâmetro, optando-se pelas cascas de café, que foram coletadas numa cooperativa agrária de cafeicultores.<br />
O rúmen foi coletado em tambores metálicos de 200 litros, as cascas de café em sacos de aproximadamente 25 kg e<br />
encaminhados para o local de tratamento.<br />
Compostagem convencional<br />
O sistema de compostagem convencional foi realizado<br />
numa leira com 175 quilos de resíduos, que foram<br />
dispostos em camadas. A proporção da mistura de<br />
resíduos foi de 85% de rúmen e 15% de casca de café.<br />
Essa proporção foi determinada após ensaios<br />
experimentais preliminares que variaram a<br />
porcentagem de rúmen e de casca de café, visando a<br />
adequação da mistura em termos de umidade para o<br />
início do tratamento por compostagem.<br />
A Figura 1 apresenta uma foto do processo estudado<br />
em leira de compostagem.<br />
A leira de compostagem foi construída sobre uma lona<br />
plástica com 1,20 metros de comprimento x 0,90<br />
metros de largura x 0,50 metros de altura<br />
(aproximadamente), caracterizando um processo em<br />
pequena escala.<br />
A aeração foi realizada por meio de revolvimento<br />
manual com auxílio de pás. No início do processo a<br />
aeração era feita todos os dias; após 15 dias de<br />
compostagem, o revolvimento passou a ser feito a cada<br />
quatro dias, e posteriormente, com 50 dias de<br />
compostagem, semanalmente.<br />
Nos dias de precipitações pluviométricas, a leira era<br />
coberta com lona plástica a fim de evitar a penetração<br />
descontrolada de água e a perda de material.<br />
Compostagem mecanizada<br />
O sistema de compostagem mecanizada foi constituído<br />
por um reator aerado construído em bombona plástica<br />
de 200 litros com tampa. A aeração ocorria cinco vezes<br />
por semana, três vezes ao dia durante 15 minutos, para<br />
isso o reator possuía uma série de furos laterais por<br />
onde passavam mangueiras ligadas a um compressor de<br />
ar. Assim era possível a aeração do composto em<br />
diversos pontos, o que permitiria uma aceleração do<br />
processo de decomposição aeróbia da matéria<br />
orgânica. Além disso, o reator possuía em sua base uma<br />
torneira plástica para a retirada do possível chorume<br />
formado durante o processo.<br />
A Figura 2 apresenta uma foto do processo estudado<br />
em reator mecanizado.<br />
A proporção da mistura de resíduos no reator também<br />
foi de 85% de rúmen e 15% de casca de café,<br />
totalizando 50 Kg de resíduos que foram dispostos em<br />
camadas no interior do reator.<br />
Monitoramento dos processos<br />
A leira e o reator foram monitorados a cada 15 dias por<br />
meio da análise de pH, umidade, carbono orgânico,<br />
nitrogênio e relação C/N. As amostras foram coletadas<br />
por meio de amostragem composta.<br />
O tempo total de tratamento do rúmen bovino<br />
incorporado à casca de café foi de 105 dias, quando se<br />
verificou a estabilização do processo.<br />
O pH foi determinado em solução de cloreto de cálcio<br />
(CaCl 2 ), conforme procedimento estabelecido por Kiehl<br />
(1985) e as medidas de pH foram realizadas num<br />
pHmetro de bancada, marca HANNA – modelo HI-221.<br />
A determinação da umidade e carbono orgânico foi<br />
realizada pelo método de calcinação proposto por Kiehl<br />
(1985).<br />
O nitrogênio Kjeldahl (nitrogênio orgânico e amoniacal)<br />
foi determinado pela metodologia descrita pelo<br />
Instituto Adolfo Lutz (IAL, 1985).<br />
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Na Tabela 1 estão apresentados os resultados da<br />
caracterização da mistura dos resíduos de rúmen e<br />
casca de café.<br />
O valor do pH da mistura de resíduos mostrou-se<br />
neutro, e, portanto, dentro da faixa considerada ótima<br />
para o desenvolvimento da maioria das bactérias,<br />
contribuindo para uma degradação acelerada do<br />
material orgânico e favorecendo a compostagem<br />
(PEREIRA NETO, 2004).<br />
Quanto à umidade, pode-se observar que a mistura<br />
apresentou valor elevado de 76,1%. Elevados teores de<br />
umidade, superiores a 65%, fazem com que a água<br />
ocupe os espaços vazios do meio, impedindo a livre<br />
passagem do oxigênio, o que poderá provocar<br />
aparecimento de zonas de anaerobiose (FERNANDES e<br />
SILVA, 1999). Assim, pode-se dizer que a mistura dos<br />
materiais não proporcionou um ajuste adequado para<br />
início do tratamento, porém esperava-se que a<br />
realização de uma aeração mais intensa no início da<br />
compostagem provocasse um ressecamento da massa<br />
de compostagem (TSUTIYA et al., 2002) e esse<br />
parâmetro se ajustasse rapidamente.<br />
Kiehl (1985) considera os teores de matéria orgânica<br />
superiores a 61% como “alto nível”. Assim, as altas<br />
concentrações de matéria orgânica e carbono orgânico<br />
presentes na mistura favorecem seu tratamento por<br />
meio da compostagem, por ser basicamente um<br />
processo biológico de decomposição de materiais<br />
orgânicos por microrganismos.<br />
É desejável que o teor de nitrogênio inicial esteja entre<br />
1,2 e 1,5% e o valor encontrado (1,5%) estava dentro<br />
dessa faixa.<br />
Como os microrganismos absorvem o carbono e o<br />
nitrogênio numa proporção de 30/1, essa é a proporção<br />
ideal para os resíduos (OLIVEIRA et al., 2008), e também<br />
a proporção encontrada na mistura dos resíduos<br />
estudados neste trabalho.<br />
A Figura 3 apresenta o monitoramento do pH ao longo<br />
do processo de compostagem na leira e no reator.<br />
Verifica-se que houve uma rápida elevação de pH nos<br />
15 primeiros dias. O pH saiu da condição de<br />
neutralidade e atingiu um valor alcalino<br />
(aproximadamente 9,5) durante o período em que<br />
predominou a fase termófila na leira e no reator.<br />
De acordo com Fernandes e Silva (1999) a passagem<br />
para a fase termófila, fase inicial em que o material em<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
compostagem atinge sua temperatura máxima (> 40 ºC)<br />
e é degradado mais rapidamente, é acompanhada de<br />
rápida elevação do pH que se explica pela hidrólise das<br />
proteínas e liberação de amônia. Assim, normalmente o<br />
pH se mantém alcalino (7,5-9,0) durante essa fase.<br />
Mesmo com o passar da fase termófila o pH da leira<br />
continuou apresentando elevações até os 45 dias,<br />
porém de maneira mais suave, atingindo valores<br />
próximos a 10,0. Até os 105 dias de compostagem, este<br />
parâmetro se manteve sem variações significativas<br />
finalizando o tratamento na leira com valor de pH 9,7.<br />
Por sua vez, o reator apresentou certa estabilidade nos<br />
seus valores de pH desde os 15 dias de compostagem,<br />
permanecendo todos os resultados numa faixa entre<br />
8,9 e 9,6.<br />
Estudando a compostagem com vários tipos de<br />
resíduos, incluindo a casca de café, Paiva (2008) relata<br />
que durante a maior parte do tempo de compostagem<br />
o pH se manteve alcalino com máximo de 9,0, e, ainda<br />
afirma que esse resultado pode indicar formação de gás<br />
amônia o qual pode ser perdido por volatilização.<br />
Porém, ao longo do processo de compostagem deste<br />
estudo não foram observadas quantidades baixas de<br />
nitrogênio, indicando que não houve perdas<br />
significativas desse elemento.<br />
Com a estabilização do composto a ser produzido<br />
espera-se que o valor de pH esteja entre 8,0 e 9,0<br />
(KIEHL, 1998). Apesar disso, o pH final de ambos os<br />
sistemas de tratamento se mostraram um pouco acima<br />
de 9,0.<br />
A Figura 4 apresenta o monitoramento da umidade ao<br />
longo do processo de compostagem na leira e no<br />
reator.<br />
Durante o monitoramento houve formação de<br />
chorume, com presença de larvas na leira e no reator,<br />
devido à elevada umidade dos resíduos no início do<br />
experimento. Porém, com a redução acentuada da<br />
umidade o chorume cessou durante os 10 primeiros<br />
dias. Morales (2006), também observou a formação de<br />
chorume na primeira semana de compostagem,<br />
decorrente da alta umidade do resíduo ruminal visto<br />
que as leiras foram manejadas em pátio coberto, e,<br />
portanto, ficavam protegidas da chuva.<br />
Como observado na Figura 4 esse parâmetro sofreu<br />
reduções acentuadas, assim a leira e o reator<br />
apresentaram umidade de 48,2% e 61,4 %,<br />
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respectivamente, aos 30 dias. Ou seja, ambos já se<br />
encontravam próximos da faixa considerada ideal para<br />
desenvolvimento da compostagem, entre 40 e 60%<br />
(MARAGNO et al., 2007).<br />
Foi necessária a adição de água a leira aos 45 dias de<br />
tratamento, pois esta alcançou valor próximo de 40%.<br />
Após a adição, pôde-se observar um pico no valor de<br />
umidade e posteriormente, nova queda, requerendo<br />
assim outra intervenção na umidade. Aos 105 dias foi<br />
obtido o valor 58,0% de umidade na leira.<br />
Por ser um sistema fechado, mais preservado das<br />
condições ambientais e climáticas, os resíduos<br />
perderam umidade mais vagarosamente no reator do<br />
que na leira, assim foi necessário o ajuste desse<br />
parâmetro (adição de água) após 60 dias de<br />
tratamento. E ao fim do tratamento o reator alcançou<br />
valor de 49% de umidade.<br />
A Figura 5 apresenta o monitoramento do carbono<br />
orgânico na leira e reator ao longo do estudo.<br />
No período inicial da compostagem (fase de degradação<br />
rápida) a atividade microbiana é mais intensa, assim os<br />
microrganismos termofílicos predominam e atacam as<br />
substâncias mais facilmente degradáveis, como<br />
carboidratos simples e nitrogenados solúveis.<br />
Posteriormente, a intensidade das reações químicas e a<br />
atividade microbiana diminuem, pois as substâncias de<br />
rápida degradação vão se esgotando (BRITO, 2008;<br />
FERNANDES e SILVA, 1999).<br />
Dessa maneira, durante o início do processo de<br />
compostagem (fase termofílica) na leira, houve a<br />
redução mais acentuada de carbono partindo de<br />
valores próximos a 49 e atingindo 45,5%. Em seguida,<br />
notaram-se reduções mais suaves de carbono ao longo<br />
da compostagem, e ao fim do processo, o valor de<br />
carbono orgânico da leira foi de 39,1%.<br />
Da mesma forma que na leira, o reator apresentou<br />
reduções muito suaves de carbono orgânico ao longo<br />
do processo de compostagem, e praticamente nula nos<br />
primeiros 15 dias. Em sistemas mecanizados, a umidade<br />
superior a 65% pode causar aglomeração do material<br />
em compostagem e, assim, restringir a injeção do fluxo<br />
de ar pela massa (SWEETEN e AUVERMANN, 2008).<br />
Portanto, essa estabilidade inicial do carbono orgânico<br />
do reator pode ser explicada pela falta de oxigênio no<br />
sistema, já que nos primeiros 15 dias a umidade<br />
manteve-se superior a 65%.<br />
Ao fim do processo, o reator apresentava valor superior<br />
de carbono orgânico do que aquele apresentado pela<br />
leira, sendo de 43,5 %.<br />
Resíduos com grande teor de celulose e lignina podem<br />
influenciar na velocidade de compostagem e nas<br />
características físicas e químicas do produto obtido<br />
(BRITO, 2008). Portanto, a redução lenta e baixa de<br />
carbono tanto no método manual, quanto no método<br />
mecanizado, pode ser devido aos elevados teores de<br />
celulose e lignina do rúmen e da casca de café.<br />
No estudo de compostagem de rúmen de Morales<br />
(2006), é possível observar que a redução de carbono<br />
orgânico do resíduo ao fim do processo (105 dias) foi de<br />
7%, já o presente estudo teve uma redução de<br />
aproximadamente 10% na leira e 6% no reator.<br />
O monitoramento do nitrogênio na leira e no reator<br />
pode ser visto na Figura 6.<br />
A leira apresentou diminuição no teor de nitrogênio aos<br />
15 dias, variando de 1,5 para 1,2%. Após isto, a<br />
quantidade de nitrogênio sofreu pequenos acréscimos<br />
durante o tratamento, exceto entre 60 e 75 dias que<br />
permaneceu estável em 1,6%. Próximo ao fim do<br />
tratamento, entre 90 e 105 dias, notou-se os maiores<br />
valores de nitrogênio na leira, atingindo 2,4%.<br />
Já o reator apresentou certa estabilidade em suas<br />
concentrações de nitrogênio nos primeiros 45 dias. Até<br />
os 75 dias, houve quedas na quantidade de nitrogênio,<br />
chegando a valores abaixo de 1%. Porém, próximo ao<br />
final do processo de compostagem, os teores de<br />
nitrogênio começaram a aumentar chegando ao valor<br />
de 2%, comportamento semelhante ao ocorrido na<br />
leira.<br />
De acordo com Veras e Povinelli (2004), o nitrogênio<br />
pode apresentar maior variabilidade em seu conteúdo<br />
quando comparado a outros nutrientes como fósforo e<br />
potássio. É o elemento que mais facilmente se perde<br />
por volatilização, e aumentos também podem ocorrer<br />
pela conversão por organismos especializados, do N 2<br />
gasoso em compostos utilizáveis. Apesar da<br />
variabilidade nas concentrações de nitrogênio, não<br />
foram percebidas perdas significativas a ponto de se<br />
gerar prejuízos à compostagem.<br />
Ainda segundo Veras e Povinelli (2004), a presença de<br />
água ajuda na retenção da amônia (NH 3 ), pois esse gás<br />
combinando-se com a água, produz o elemento químico<br />
hidróxido de amônio ou amoníaco. E como observado à<br />
umidade manteve-se alta na maior parte do processo.<br />
5
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O monitoramento da relação C/N da leira e do reator<br />
pode ser visto na Figura 7.<br />
Os microrganismos necessitam de nutrientes para seu<br />
crescimento, prioritariamente de carbono, que serve<br />
como fonte de energia para a oxidação metabólica; e<br />
nitrogênio, essencial na síntese de proteínas, ácidos<br />
nucléicos, aminoácidos e enzimas (SILVA et al., 2003).<br />
A leira teve um pequeno aumento na sua relação C/N<br />
aos 15 dias de tratamento, atingindo seu valor mais alto<br />
de 36,8/1. Após esse dia, a relação começou a reduzir<br />
lentamente, e aos 60 dias uma maior redução pôde ser<br />
notada. A relação C/N da leira aos 105 dias de<br />
tratamento foi de 16,7/1. Na fase de bioestabilização ou<br />
sem cura, a relação C/N do composto deve ser de 18/1<br />
ou mais estreita (SILVA, 2008). Logo, o valor obtido se<br />
encontra nesta fase.<br />
O reator apresentou leves acréscimos e reduções da<br />
relação C/N até os 45 dias de compostagem. Em<br />
seguida, aumentos consecutivos fizeram com que a<br />
relação C/N fosse de 53,7/1 aos 75 dias. Aos 90 dias, o<br />
valor reduziu drasticamente para 22,3/1. Aos 105 dias<br />
de tratamento, a relação permaneceu praticamente<br />
constante de 21,5/1.<br />
Apesar da relação C/N no início da compostagem estar<br />
entre 30 e 40/1, considerada uma faixa ideal para<br />
Pereira Neto e Mesquita (1992), a relação C/N da leira e<br />
do reator variou muito ao longo dos 105 dias do<br />
processo. Ainda assim, os valores da relação C/N<br />
atingidos por ambos os sistemas estão bem próximos<br />
(reator) e dentro da faixa considerada ideal (leira) para<br />
o fim da compostagem.<br />
Após a realização deste estudo, pode-se dizer que<br />
devido à presença de compostos de difícil degradação<br />
no rúmen bovino, como lignina e celulose, assim como<br />
nas cascas de café, a degradação do carbono orgânico<br />
não foi tão eficiente como esperado, mesmo com a<br />
microbiota natural favorável ao processo.<br />
CONCLUSÕES<br />
A Tabela 2 apresenta os valores dos compostos<br />
produzidos na leira e no reator, bem como os<br />
parâmetros estabelecidos no Anexo III da Instrução<br />
Normativa n° 25 de 23/07/2009 do Ministério da<br />
Agricultura, Pecuária e Abastecimento que estabelece<br />
as especificações dos fertilizantes orgânicos mistos e<br />
compostos (BRASIL, 2009).<br />
O pH estabelecido pela Instrução Normativa deve ser no<br />
mínimo 6,0. Tanto na leira como no reator, os valores<br />
obtidos foram em torno de 9, estando assim dentro do<br />
estabelecido.<br />
O valor final de umidade da leira se apresentou acima<br />
dos valores estabelecidos pela Instrução Normativa n°<br />
25 de 23/07/2009, que determina valor máximo de<br />
50%. Porém, como percebido no estudo, o resíduo pode<br />
perder sua umidade facilmente atingindo valores<br />
menores que o padrão. No reator a umidade de 49,0%<br />
estava adequada.<br />
A Instrução Normativa n° 25/2009, estabelece que o<br />
parâmetro carbono orgânico seja no mínimo 15%, com<br />
isso, verifica-se que a leira e reator estão em acordo<br />
com a normativa.<br />
Quanto aos valores de nitrogênio, estes também se<br />
encontram em acordo (mínimo de 0,5%).<br />
Com relação ao parâmetro C/N, a leira atingiu valor<br />
inferior (16,7/1) ao máximo estabelecido (20/1),<br />
entrando em conformidade com a norma. O valor de<br />
C/N obtido no reator está próximo a esse limite,<br />
podendo atingir o limite desejável em pouco tempo.<br />
porém a leira apresentou uma degradação um pouco<br />
maior do que a do reator; o nitrogênio e a relação C/N<br />
mostraram grandes variações, mas com resultados<br />
satisfatórios ao fim do tratamento. Além disso, os<br />
sistemas mecânico e convencional produzir um produto<br />
final passível de ser usado como adubo orgânico.<br />
Em relação à adoção do sistema manual e mecanizado,<br />
verificou-se que não houve diferenças significativas nos<br />
resultados ao longo do monitoramento do processo.<br />
Como pode ser notado em ambos os sistemas o pH se<br />
manteve alcalino durante praticamente toda a<br />
compostagem; a umidade apresentou quedas<br />
significativas ao longo do processo, e assim, houve a<br />
necessidade de ajustes neste parâmetro; o carbono<br />
orgânico foi degradado de maneira suave e lenta,<br />
Conclui-se, também, que os resultados obtidos com<br />
este estudo revelaram que os compostos produzidos<br />
pela leira e pelo reator se encontram dentro ou bem<br />
próximos dos valores estabelecidos pela Instrução<br />
Normativa n° 25 de 23/07/2009. Sendo que apenas os<br />
parâmetros umidade da leira e relação C/N do reator<br />
estão pouco acima do regulamentado pela norma.<br />
6
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Assim, o processo estudado pode ser considerado uma<br />
das alternativas para tratamento do rúmen bovino,<br />
promovendo um saneamento eficaz e viabilizando o<br />
aproveitamento desse tipo de resíduo gerado em<br />
frigoríficos.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro.<br />
Tabela 1 – Caracterização da mistura dos resíduos<br />
Mistura de Resíduos:<br />
Parâmetros<br />
85% Rúmen;<br />
15% Casca de Café.<br />
pH 7,0<br />
Umidade (%) 76,1<br />
Matéria Orgânica (%) 88,2<br />
Resíduo Mineral (%) 11,8<br />
Carbono Orgânico (%) 49,0<br />
Nitrogênio (%) 1,5<br />
Relação C/N 32,0<br />
TABELAS<br />
Tabela 2 – Valores finais dos compostos produzidos na leira e<br />
reator e os valores de referência da Instrução Normativa n° 25 de<br />
23/07/2009<br />
Parâmetros Leira Reator<br />
I. N. n<br />
25/2009<br />
pH 9,7 9,6 Mín. 6<br />
Umidade (%) 58,0 49,0 Máx. 50%<br />
Matéria Orgânica (%) 70,3 78,3 ---<br />
Resíduo Mineral (%) 29,7 21,7 ---<br />
Carbono Orgânico (%) 39,1 43,5 Mín. 15%<br />
Nitrogênio (%) 2,4 2,0 Mín. 0,5%<br />
Relação C/N 16,7 21,5 Máx. 20/1<br />
FIGURAS<br />
Figura 1 – Compostagem convencional em leira<br />
7
Umidade (%)<br />
pH<br />
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Figura 2 – Compostagem mecanizada em reator<br />
Figura 3 – Monitoramento do pH na leira e reator<br />
<strong>14</strong><br />
12<br />
10<br />
8<br />
6<br />
4<br />
Leira - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
Reator - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
2<br />
0<br />
100<br />
0 15 30 45 60 75 90 105<br />
Tempo de compostagem (dias)<br />
Figura 4 – Monitoramento da umidade na leira e reator<br />
90<br />
80<br />
70<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 15 30 45 60 75 90 105<br />
Tempo de compostagem (dias)<br />
Leira - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
Reator - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
8
Nitrogênio (%)<br />
Carbono Orgânico (%)<br />
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100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
Figura 5 – Monitoramento do carbono orgânico na leira e reator<br />
Leira - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
Reator - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 15 30 45 60 75 90 105<br />
Tempo de compostagem (dias)<br />
5,0<br />
4,5<br />
4,0<br />
3,5<br />
Figura 6 – Monitoramento do nitrogênio na leira e reator<br />
Leira - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
Reator - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
3,0<br />
2,5<br />
2,0<br />
1,5<br />
1,0<br />
0,5<br />
0,0<br />
0 15 30 45 60 75 90 105<br />
Tempo de compostagem (dias)<br />
9
Relação C/N<br />
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100<br />
90<br />
80<br />
70<br />
Figura 7 – Monitoramento da relação C/N na leira e reator<br />
Leira - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
Reator - 85% Rúmen;<br />
15% Casca de café<br />
60<br />
50<br />
40<br />
30<br />
20<br />
10<br />
0<br />
0 15 30 45 60 75 90 105<br />
Tempo de compostagem (dias)<br />
10
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epidemiológicos. Ed. LNEC, 1992. 34 p.<br />
BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa<br />
n° 25, de 23 de julho de 2009. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília.<br />
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ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS COMO SUBSÍDIO<br />
PARA AÇÕES VOLTADAS À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL<br />
Generation estimate of municipal solid waste as subsidy actions aimed<br />
to environmental sustainability<br />
David Montero Dias<br />
Engenheiro civil pela UFRJ,<br />
especialista em análise de<br />
sistemas pela UCAM-RJ, mestre e<br />
doutor em saneamento, meio<br />
ambiente e recursos hídricos pela<br />
UFMG, analista de planejamento e<br />
gerente de relações institucionais<br />
do IBGE.<br />
E-mail: david.dias@ibge.gov.br<br />
Carlos Barreira Martinez<br />
Professor associado da UFMG e<br />
Coordenador do Centro de<br />
Pesquisas Hidráulicas e Recursos<br />
Hídricos. Engenheiro civil pela<br />
Faculdade de Engenharia Civil de<br />
Itajubá, mestre em engenharia<br />
mecânica pela Universidade<br />
Federal de Itajubá e doutor em<br />
planejamento de sistemas<br />
energéticos pela UNICAMP.<br />
E-mail: martinez@cce.ufmg.br<br />
Raphael Tobias de Vasconcelos<br />
Barros<br />
Professor adjunto da UFMG,<br />
sendo pesquisador e autor de<br />
livros na área de resíduos sólidos.<br />
Engenheiro civil pela UFMG,<br />
mestre em hidráulica e<br />
saneamento pela Universidade de<br />
São Paulo - USP São Carlos, doutor<br />
pelo Institut National des Sciences<br />
Apliquées de Lyon – INSA,<br />
E-mail: raphael@desa.ufmg.br<br />
RESUMO<br />
A gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) é uma das variáveis que<br />
influenciam a sustentabilidade ambiental dentro dos objetivos do milênio<br />
previstos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a<br />
serem alcançados até 2015. Os RSU, se inadequadamente manejados,<br />
oferecem grandes riscos à saúde, além da contaminação ambiental. Visando<br />
contribuir com a mitigação desses malefícios, este artigo propõe um modelo<br />
para estimar a geração futura dos RSU, o qual considera o tamanho, e a<br />
renda das classes socioeconômicas em uma determinada região, segundo<br />
cenários socioeconômicos projetados. Assim, os gestores passam a contar<br />
com uma ferramenta de projeção que subsidiará o dimensionamento da<br />
infraestrutura operacional a ser implantada nas várias etapas da gestão dos<br />
RSU. O estudo oferece ainda um cenário hipotético de inclusão das<br />
populações nas classes de consumo, mostrando o eventual impacto a ser<br />
registrado na geração de RSU em 2015 no município do Rio de Janeiro.<br />
Palavras-chave: Sustentabilidade ambiental, geração de resíduos sólidos<br />
urbanos, cenários socioeconômicos.<br />
ABSTRACT<br />
Municipal solid waste management (MSW) is one of the variables that<br />
influence environmental sustainability within the Millennium Development<br />
Goals provided by the United Nations Development Program, to be achieved<br />
by 2015. The MSW, if improperly managed, offer great risks health, and<br />
environmental contamination. To contribute to the mitigation of these evils,<br />
this article proposes a model to estimate the generation of MSW. The model<br />
considers the size and the income of socioeconomic classes in a given region,<br />
according a projected socioeconomic scenario. Thus, managers now have a<br />
projection tool that will subsidize the sizing of the operational infrastructure<br />
to be implemented at various stages of MSW management. The study also<br />
offers a hypothetical scenario which considers the increase of populations in<br />
the consumer’s categories, demonstrating the possible impact to be recorded<br />
in MSW generation in 2015 in the city of Rio de Janeiro.<br />
Keywords: Environmental sustainability, solid waste management,<br />
socioeconomics scenarios<br />
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Os municípios brasileiros ainda têm longo caminho a<br />
percorrer para que a Política Nacional de Resíduos<br />
Sólidos, estabelecida pela Lei 12.305/10, torne-se uma<br />
realidade sustentada. Como se sabe, essa Lei prevê a<br />
elaboração de planos municipais (e também para<br />
grandes produtores) de resíduos sólidos, os quais<br />
devem observar, dentre outros princípios, a prevenção<br />
e a precaução, o poluidor-pagador e a visão sistêmica<br />
na gestão, tudo isso considerando variáveis ambientais,<br />
sociais, culturais, econômicas, tecnológicas e de saúde<br />
pública, além do desenvolvimento sustentável (BRASIL,<br />
2010).<br />
Um dos objetivos a ser explicitado como conteúdo<br />
mínimo era que não existissem mais lixões a céu aberto<br />
até o ano de 20<strong>14</strong> 1 . Porém, segundo a Pesquisa<br />
Nacional do Saneamento Básico, em 2012 mais da<br />
metade das cidades ainda destinava seus resíduos aos<br />
chamados “lixões” (IBGE, 2012).<br />
Resíduos sólidos são subprodutos inevitáveis das<br />
atividades humanas. No entanto, o desenvolvimento<br />
econômico e social brasileiro tem favorecido a elevação<br />
dos padrões de consumo por parte das populações das<br />
regiões metropolitanas, resultando em um crescimento<br />
na quantidade e complexidade dos resíduos sólidos<br />
urbanos (RSU) gerados, sobretudo em áreas urbanas.<br />
Esse aumento da geração de resíduos pode ocasionar<br />
graves problemas sanitários e ambientais,<br />
principalmente nos países em desenvolvimento, nos<br />
quais ainda se observa pouca capacidade por parte do<br />
poder público – notadamente de prefeituras municipais<br />
- e participação incipiente da população em se lidar<br />
adequadamente com esse tipo de problema (RATHI,<br />
2007).<br />
Aliada a uma crescente urbanização, que ultrapassou<br />
84% da população do país em 2010 (IBGE, 2012), a<br />
geração de RSU nos principais centros urbanos<br />
brasileiros manifesta-se em médias que superam 1,2<br />
kg/hab.dia. Essa quantidade é equivalente à verificada<br />
em alguns países desenvolvidos e revela hábitos de<br />
consumo e descarte que ainda não refletem políticas ou<br />
campanhas voltadas ao consumo racional ou redução<br />
do volume de resíduos gerados (ABRELPE, 2010).<br />
1 O estado de Minas Gerais criou em 2003 o programa “Minas sem<br />
lixões”, objetivando erradicar os lixões de seus 853 municípios até<br />
2010. Ainda que haja avanços significativos (em 2013 mais de 67%<br />
da população estadual já estava servida por aterros sanitários e<br />
controlados) - principalmente ao se considerar os números nacionais<br />
-, por inúmeras razões os prazos ainda têm sido dilatados (FIP, 2013).<br />
INTRODUÇÃO<br />
Assim, o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos<br />
(GRSU) apresenta-se como um dos desafios a serem<br />
enfrentados pelos responsáveis na gestão do território.<br />
Consequentemente, torna-se necessário desenvolver<br />
metodologias que tenham como objetivo o auxílio à<br />
tomada de decisão nos processos inerentes ao GRSU, os<br />
quais envolvem o processamento e análise de dados<br />
distribuídos espacialmente (ORNELAS, 2011).<br />
A questão da produção de RSU vem ganhando espaço<br />
nas discussões políticas e econômicas, articulando-se<br />
com temas como a saúde, o planejamento urbano e a<br />
ocupação do solo urbano (BARROS, 2012) 2 . No âmbito<br />
da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a Companhia<br />
Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB), pertencente<br />
à prefeitura do município, já tem adotado<br />
procedimento sistemático para acompanhamento da<br />
produção de seus resíduos sólidos na cidade. Segundo<br />
informações divulgadas pela COMLURB, percebe-se um<br />
aumento da produção de resíduos sólidos pelas<br />
comunidades, aliado a uma expansão na cobertura da<br />
população atendida pelo serviço público de coleta<br />
convencional (COMLURB, 2010).<br />
A visão do GRSU no Brasil ainda está calcada em<br />
preocupações higienistas, que continuam decerto<br />
válidas, mas que são limitadas diante das imposições<br />
que a problemática ambiental traz. Como já<br />
mencionado, a Lei nacional 12.305/10 traz princípios e<br />
diretrizes modernas e sintonizadas com entendimentos<br />
aceitos em países avançados, que esbarram em<br />
dificuldades práticas de tempo, de recursos financeiros<br />
e humanos, além de maus hábitos da população<br />
(BRASIL, 2010).<br />
Imaginar que o simples fato de construir aterros, ainda<br />
que sanitários, vá resolver a questão dos RSU é<br />
privilegiar o lado corretivo da gestão, quando o ideal é<br />
atuar na prevenção. A destinação adequada é apenas<br />
uma parte do processo do equacionamento da questão,<br />
devendo ser cada vez mais reduzida, sendo que a não<br />
geração ou minimização da geração deveria ser<br />
prioridade, seguidas do imperativo da reciclagem.<br />
Assim, muito mais que corresponder e responder às<br />
constatações da realidade, a boa gestão dos resíduos<br />
sólidos é aquela que pondera e equilibra, de modo<br />
2 Dentre os fatores que influenciam a produção de RSU estão o<br />
aumento da renda per capita em paralelo à diminuição relativa de<br />
custos de produção, às modificações comportamentais da população,<br />
aos apelos consumistas e às facilidades do descarte.<br />
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ajustado às condições econômicas, políticas e sociais da<br />
população, em certo período, suas etapas 3 de modo a<br />
obter os resultados mais convenientes (BARROS, 2012).<br />
Concentrar esforços e investimentos na construção de<br />
aterros sanitários, menosprezando as etapas a<br />
montante da disposição, pode até ser uma boa solução<br />
sanitária, por sua vez, do ponto de vista ambiental,<br />
torna-se equivocado e acanhado.<br />
Outra vertente investigativa pode ser desdobrada<br />
quando se pensa na produção de RSU. Trata-se do<br />
potencial de geração de emprego e renda proveniente<br />
das atividades de coleta, seleção e reciclagem,<br />
principalmente em uma realidade como a do Brasil, na<br />
qual ainda se constatam grandes disparidades<br />
socioeconômicas nas populações urbanas. Nesse<br />
sentido, pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica<br />
Aplicada (IPEA), que aborda o retorno sobre serviços<br />
ambientais, aponta benefícios potenciais anuais<br />
estimados na ordem de R$ 8 bilhões, caso<br />
hipoteticamente todos os resíduos sólidos fossem<br />
reciclados. No entanto, tal valor é descartado nos<br />
aterros e lixões, em função da baixa taxa de reciclagem<br />
registrada no País (IPEA, 2011).<br />
Este estudo vai ao encontro do entendimento dos<br />
mecanismos que regem a produção RSU, o qual se<br />
torna primordial para o planejamento e gestão sanitária<br />
e ambiental das regiões metropolitanas a fim de que os<br />
objetivos do milênio 4 possam ser alcançados em sua<br />
plenitude. Por fim, explicita-se que este trabalho<br />
objetiva discutir algumas condições no processo de<br />
geração de resíduos sólidos urbanos, propondo um<br />
modelo para estimativa da produção de RSU como<br />
subsídio aos tomadores de decisão e às ações voltadas<br />
à sustentabilidade ambiental.<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
Adotou-se o caso do município do Rio de Janeiro como<br />
exemplo para análise. Baseados nos dados locais de<br />
população, renda e produção de resíduos sólidos, foram<br />
feitas simulações a partir de um equacionamento que<br />
sugere ser razoável, tento em vista a alta correlação<br />
verificada entre as variáveis dependente e explicativa. A<br />
partir da sistematização dos dados obtidos em fontes<br />
oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e<br />
Estatística (IBGE), Associação Brasileira de Empresas de<br />
Pesquisa (ABEP), IPEA e a COMLURB, discutiu-se e<br />
avaliou-se o modelo de previsão de demanda baseado<br />
em características socioeconômicas da população.<br />
A estrutura das classes sociais no Brasil ainda é um<br />
conceito em fase de desenvolvimento e consolidação.<br />
Algumas instituições e entidades estabelecem critérios<br />
que buscam caracterizar as classes socioeconômicas,<br />
relacionando-as à renda familiar, nível de educação e<br />
propriedade de bens duráveis. Basicamente, as classes<br />
são comumente identificadas como: Classe Alta –<br />
aqueles de grande riqueza, influência e prestígio; Classe<br />
Média Alta – aqueles de alta qualificação, liberdade e<br />
autonomia; Classe Média – aqueles profissionais de<br />
qualificação intermediária, nem sempre superior, com<br />
rendas moderadas; Classe Trabalhadora – aqueles<br />
operários com salários modestos e Classe Baixa –<br />
pobres, membros sem instrução ou socialmente<br />
marginalizados (BRESSER-PEREIRA, 1981).<br />
A flexibilidade existente nos critérios de classificação<br />
social permite que diversas instituições definam suas<br />
próprias classes sociais. Um dos critérios mais bem<br />
aceitos por estudiosos e pela comunidade econômica<br />
brasileira como um todo é o Critério de Classificação<br />
Econômica Brasil (CCEB) publicado periodicamente<br />
pela, o qual define as classes chamadas de A, B, C, D e E,<br />
fundamentado em uma escala de pontuação que utiliza,<br />
além da renda, características familiares como nível de<br />
instrução do chefe do domicílio e posse de bens<br />
duráveis. No município do Rio de Janeiro, a população<br />
apresenta-se distribuída conforme mostra a Tabela 1<br />
(ABEP, 2012).<br />
3 Ressalta-se aqui a hierarquia da gestão: não produzir, reduzir,<br />
reciclar, tratar e dispor.<br />
4 Os objetivos do milênio constituem em acabar com a fome e a<br />
miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdade entre<br />
sexos e valorização da mulher; redução na mortalidade infantil;<br />
melhoria da saúde de gestantes; combate a AIDS, malária e outras<br />
doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; trabalho<br />
pelo desenvolvimento (PNUD, 2013).<br />
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Tabela 1 – Rendas familiares mensais médias e distribuição da população entre<br />
cada faixa de corte do CCEB no Rio de Janeiro – vigência 2012<br />
Classe<br />
socioeconômica<br />
Renda familiar<br />
mensal média (R$)<br />
Distribuição (%)<br />
A1 12.926 0,3<br />
A2 8.418 3,5<br />
B1 4.418 7,7<br />
B2 2.565 17,5<br />
C1 1541 26,8<br />
C2 1024 26,3<br />
D 7<strong>14</strong> 17,0<br />
E 477 0,9<br />
O serviço de coleta convencional de RSU é realizado<br />
pela COMLURB no Rio de Janeiro, que utiliza caminhões<br />
compactadores com capacidades de carga, em peso e<br />
em volume, definido e regulado pela Agência Nacional<br />
de Transportes Terrestres (ANTT). Além dos caminhões,<br />
caçambas estacionárias são empregadas nos casos de<br />
vilas e comunidades de difícil acesso O instrumento de<br />
controle da quantidade de RSU produzidos e coletados<br />
é a balança rodoviária. Ao entrarem nos aterros ou<br />
áreas de deposição, os caminhões são pesados antes da<br />
descarga e após a descarga. Por diferença, apura-se o<br />
quantitativo de resíduos sólidos descarregado em<br />
massa. É considerada ainda a coleta seletiva de papel,<br />
metal, plástico, vidro e de resíduos orgânicos realizadas<br />
em feiras e sacolões, além de outros resíduos<br />
específicos (COMLURB, 2010).<br />
Algumas variáveis usadas na determinação da taxa de<br />
coleta ou limpeza pública, em vários países, são o<br />
tamanho e o padrão do acabamento construtivo de<br />
cada unidade residencial, sua região de localização, o<br />
consumo de água, o número de moradores por<br />
domicílio e a disponibilidade de equipamentos urbanos<br />
que auxiliam os serviços públicos, como lixeiras, etc.<br />
(BARROS, 2012).<br />
No tocante ao custo do serviço de coleta de resíduos<br />
sólidos para o contribuinte brasileiro, cabe ressaltar<br />
que, nos principais municípios brasileiros, cada imóvel<br />
cadastrado na prefeitura paga uma taxa de coleta de<br />
RSU, a qual é atrelada ao imposto de propriedade<br />
territorial urbano (IPTU) e baseada na frequência<br />
semanal de realização deste serviço. Ressalta-se que o<br />
IPTU usualmente incorpora componentes como<br />
tamanho, padrão de acabamento, localização da<br />
edificação para atribuição de seu valor. Considerando<br />
essa modalidade de custeio, uma análise no sentido da<br />
aplicação da tarifa por volume ou por massa de RSU<br />
coletada e sua possível evolução tarifária fica em<br />
segundo plano, uma vez que a taxa de coleta é cobrada<br />
de forma única, independentemente do quantitativo de<br />
RSU produzidos em cada domicílio individualmente.<br />
Os dados da COMLURB foram obtidos em relatórios<br />
anuais de atividades que especificam quantitativos<br />
mensais coletados em todas as regionais<br />
administrativas do município e posteriormente foram<br />
confrontados com a renda média das populações<br />
apurada segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME)<br />
divulgada mensalmente pelo IBGE (IBGE, 2010). Desta<br />
forma, a partir de regressões estatísticas, realizadas<br />
sobre uma dispersão de pares de dados renda per<br />
capita (R$/hab.mês) versus massa de resíduo sólido per<br />
capita coletada (kg/hab.dia), obteve-se o modelo<br />
matemático, conforme mostrado pela Figura 1, que<br />
relaciona os quantitativos coletados de RSU com a<br />
população e seus respectivos níveis de renda auferidos<br />
por habitante (DIAS, 2012).<br />
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Figura 1 – Modelo de geração de RSU obtido por regressão a partir da dispersão de renda per capita<br />
versus geração per capita de resíduos sólidos<br />
1,30<br />
1,20<br />
1,10<br />
1,00<br />
0,90<br />
0,80<br />
0,70<br />
0,60<br />
0,50<br />
0,40<br />
0,30<br />
kg/hab.dia<br />
y = -5E-08x2 + 0,0006x + 0,2848<br />
R² = 0,8525<br />
R$/hab.mês<br />
100 400 700 1.000 1.300 1.600 1.900 2.200<br />
Portanto, para que se estime um quantitativo de geração de resíduos sólidos em um ambiente urbano, deve-se<br />
alimentar o modelo com os dados da população estabelecidos segundo um cenário socioeconômico futuro, de acordo<br />
com as variáveis descritas na equação (1).<br />
n<br />
i<br />
C = Σ P * ( - 0,00000005 x 2 + 0,0006 x + 0,2848 ) (1)<br />
na qual,<br />
C = quantitativo total produzido de resíduo sólido domiciliar por dia (kg/dia).<br />
x = renda per capita mensal média de cada extrato socioeconômico arbitrado (R$/mês).<br />
P = população existente em cada extrato socioeconômico arbitrado na região considerada.<br />
i = quantidade de faixas socioeconômicas arbitradas, variando de 1 a n.<br />
Inicialmente, destaca-se o coeficiente de correlação<br />
(R2) da equação (1) que se mostra satisfatoriamente<br />
elevado, denotando boa aderência entre a dispersão<br />
dos pares de variáveis e a curva ajustada por regressão<br />
matemática. Para um horizonte temporal de curto<br />
prazo, devem-se considerar aspectos da dinâmica<br />
demográfica em decurso na capital carioca nos<br />
próximos anos desta década. Dados do Censo de 2010<br />
dão conta de significativa redução nas taxas de<br />
fecundidade (IBGE, 2012): desta feita, a partir da<br />
observação da Figura 2, pode-se projetar o tamanho da<br />
população carioca. Esse exercício mostra que para o<br />
ano de 2015 a população do Município do Rio de<br />
Janeiro alcançará um montante em torno 6.495.000<br />
habitantes, estando distribuída entre as classes<br />
socioeconômicas, conforme proporções mostradas na<br />
Figura 3.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
7.000.000<br />
6.000.000<br />
5.000.000<br />
4.000.000<br />
3.000.000<br />
Figura 2- Evolução da população do Rio de Janeiro<br />
Evolução populacional - Município do Rio de Janeiro<br />
y = -711,97x 2 + 3E+06x - 3E+09<br />
R 2 = 0,9941<br />
2.000.000<br />
1945 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015<br />
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Figura 3 – Proporção percentual das classes socioeconômicas no Rio de Janeiro, em cada ano.<br />
No tocante à economia, programas e políticas<br />
governamentais vêm sendo aplicados no sentido de se<br />
alcançar uma melhor distribuição de renda e redução<br />
da pobreza das populações, a exemplo, dentre outros,<br />
do Programa Bolsa Família, que transfere diretamente<br />
renda, beneficiando famílias em situação de pobreza e<br />
extrema pobreza em todo o país (MDS, 20<strong>14</strong>).<br />
Acrescenta-se a isso a estabilidade monetária derivada<br />
do Plano Real, lançado a partir de 1994, aportando<br />
ganhos de renda a estratos menos favorecidos da<br />
população que se manifestam, entre outros aspectos,<br />
num incremento da produção de resíduos sólidos<br />
superior ao crescimento vegetativo da população (SLU,<br />
2013).<br />
Portanto, se mantido o atual nível de mobilidade<br />
socioeconômica entre classes sociais no Brasil, torna-se<br />
natural esperar evoluções nos padrões de<br />
comportamento e de consumo das pessoas, copiando<br />
fenômenos semelhantes à realidade de outros países.<br />
Aliado a isso, era meta governamental manter o PIB<br />
brasileiro em ritmo de crescimento de pelo menos 4%,<br />
no período 2011-20<strong>14</strong>, resultando em um aumento real<br />
acumulado de renda da ordem de 21,6%, se<br />
considerada a data base do ano de 2010. No entanto, os<br />
resultados econômicos ao longo de 2013 baixaram essa<br />
expectativa, mas mesmo assim constatou-se ganho de<br />
renda acumulada no período de 2010 a 2013 de 10,15%<br />
(BACEN, 20<strong>14</strong>).<br />
Assim, diante do crescimento da população e do<br />
esperado aumento da renda, dentro dos parâmetros<br />
mencionados anteriormente, pode-se projetar um<br />
cenário socioeconômico conforme apresentado na<br />
Tabela 2. Ressalta-se que o cálculo do número médio de<br />
moradores dos domicílios de cada estrato<br />
socioeconômico foi obtido seguindo a respectiva<br />
estratificação das faixas de renda domiciliar, apuradas<br />
pelos dados do IBGE (2010).<br />
Tabela 2 – Rendas familiares mensais médias e distribuição da população entre cada faixa de corte<br />
do CCEB no Rio de Janeiro, projetadas para o ano de 2015.<br />
Classe<br />
socioeconômica<br />
Renda familiar mensal<br />
média projetada (R$)<br />
Distribuição da população<br />
entre classes socioeconômicas (%)<br />
Média de moradores<br />
por domicílio<br />
A1 17.477,68 0,9 3,09<br />
A2 9.853,24 5,1 2,93<br />
B1 5.545,26 13,7 2,99<br />
B2 2.831,03 19,3 3,15<br />
C1 1.692,29 31,8 3,08<br />
C2 1.135,09 21,0 2,86<br />
D 751,86 8,0 2,69<br />
E 490,29 0,2 2,47<br />
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Cabe ressaltar ainda que, nesse caso, considera-se que<br />
a mobilidade entre as classes sociais ficará dentro das<br />
mesmas taxas de crescimento e tendência observadas<br />
no interstício 2000-2010, conforme mostra a Figura 3.<br />
Nota-se um aumento das classes C1 e C2, em particular<br />
no período considerado, e uma diminuição das classes<br />
D e E. Isso causa impacto evidente no consumo de<br />
determinados produtos, com os bens duráveis, que<br />
atualmente tem vida útil cada vez mais curta, tornandose<br />
rapidamente “rejeito” a ser gerenciado de modo<br />
adequado. Além disso, permite-se inferir que bens de<br />
consumo supérfluos, como produtos ligados à moda e à<br />
beleza, tenham suas presenças incrementadas, gerando<br />
o descarte de embalagens e recipientes.<br />
A partir da aplicação da equação (1), diante da<br />
realidade projetada, pode-se calcular o impacto na<br />
produção dos RSU domiciliares no Rio de Janeiro,<br />
conforme mostra a Tabela 3. Em 2009, segundo a<br />
Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (RIO, 2012), a<br />
COMLURB contabilizou uma média mensal de<br />
132.445,<strong>33</strong> toneladas de resíduos sólidos domiciliares<br />
urbanos coletados.<br />
Tabela 3 – Apuração do quantitativo futuro de geração de resíduos sólidos domiciliares no município do Rio de Janeiro para o ano de 2015<br />
Classe socioeconômica População projetada Renda média mensal per<br />
capita projetada (R$)<br />
Massa produzida (kg/dia)<br />
A1 58.456 5.656,21 121.522,58<br />
A2 <strong>33</strong>1.248 3.362,88 575.404,<strong>14</strong><br />
B1 889.823 1.854,60 1.090.552,57<br />
B2 1.253.546 898,74 982.349,78<br />
C1 2.065.428 549,45 1.237.960,65<br />
C2 1.363.962 396,88 702.5<strong>14</strong>,60<br />
D 519.604 279,5 2<strong>33</strong>.091,87<br />
E 12.990 198,5 5.221,10<br />
Total 6.495.056 1.806.245 t/ano<br />
A projeção da produção de RSU utilizando a equação (1)<br />
para o ano de 2015 ficou em 1.806.245 toneladas.<br />
Portanto, o impacto a ser absorvido representa 13,6%<br />
de acréscimo no quantitativo de RSU coletado na<br />
Capital em 2009. Esse percentual deve ser previsto no<br />
dimensionamento de toda a infraestrutura operacional<br />
de coleta, manejo e disposição dos resíduos sólidos.<br />
Estaria a cidade preparada para este impacto de<br />
tamanha grandeza?<br />
Apresentam-se três linhas de raciocínio para equacionar<br />
a questão, relativamente óbvias, porém não<br />
excludentes. Primeira, aperfeiçoar as capacidades<br />
existentes das instalações, equipamentos e mão-deobra,<br />
melhorando sua administração. Segunda, investir<br />
em uma ampliação gradual dos sistemas, aumentando<br />
os equipamentos e instalações. Terceira, uma<br />
combinação das anteriores. Em qualquer dessas<br />
hipóteses, a participação ativa da população no sentido<br />
da diminuição da produção sob a forma de consumo<br />
consciente, perpassando pelo adequado<br />
condicionamento ou colaboração individual ao se fazer<br />
triagem na fonte, torna-se imprescindível.<br />
Ainda que esta simulação se concentre no atendimento<br />
consequente do incremento da demanda, ressalta-se<br />
que se torna necessária uma gestão com caráter além<br />
do operacional, colocando-se em pauta discussões<br />
sobre a adoção de estratégias que privilegiem a<br />
redução da produção de resíduos sólidos. A<br />
problemática ambiental vai além, impondo a aplicação<br />
de princípios como o da precaução, da proximidade e<br />
do poluidor-pagador. Do contrário, imaginar que<br />
aterros gigantescos resolvem a questão pode<br />
configurar-se em uma ação insuficiente.<br />
Conforme mencionado na introdução deste texto, este<br />
estudo limitou-se a analisar variáveis socioeconômicas,<br />
que não são as únicas influenciam a produção e gestão<br />
de resíduos sólidos, mas que se constituem como<br />
maiores intervenientes na gestão do RSU. Portanto, em<br />
caso de sofisticação deste estudo, devem-se incorporar<br />
mais variáveis no equacionamento proposto pelo<br />
modelo.<br />
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Assim, caso o montante dos investimentos na<br />
infraestrutura de todas as etapas de gerenciamento do<br />
RSU não seja adequado, o crescimento econômico pode<br />
impactar a sociedade negativamente por deficiências<br />
no serviço de coleta dos resíduos sólidos. Por se tratar<br />
de serviço essencial, o gerenciamento da produção de<br />
resíduos sólidos deve ser incorporado à gestão pública<br />
continuamente, independente da esfera e dos períodos<br />
de mandatos políticos.<br />
As projeções derivadas deste estudo mostram<br />
necessidades de ampliação e de melhor eficiência de<br />
todos os serviços de limpeza, notadamente as coletas<br />
convencional e seletiva, que naturalmente não podem<br />
acontecer sem um aumento da reciclagem e das<br />
capacidades dos aterros sanitários.<br />
CONCLUSÕES<br />
Espera-se que a Política Nacional de Resíduos Sólidos<br />
consiga fazer valer seus conceitos, salientando a<br />
racionalização da produção e a valorização da produção<br />
dos RSU. Se de fato houver uma gestão eficiente,<br />
mesmo que a produção de RSU cresça a fração<br />
destinada a aterramento tenderá a diminuir.<br />
A metodologia desenvolvida neste trabalho pode ser<br />
usada por gestores públicos nos níveis municipal,<br />
estadual e federal para planejar ações de investimento.<br />
Com a ferramenta é possível realizar acompanhamento<br />
sistemático e conjuntural, para garantir o atendimento<br />
estrutural prazo relativamente longo.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pelo apoio dispensado à realização desta<br />
pesquisa.<br />
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CARACTERIZAÇÃO DE INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA RELAÇÃO<br />
SAÚDE E AMBIENTE POR MEIO DAS DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO<br />
AMBIENTAL INADEQUADO (DRSAI)<br />
Characterization of indicators of sustainable development in health and environmental value<br />
through environmental sanitation related diseases inappropriate (DRSAI)<br />
Gerciene de Jesus Miranda<br />
Lobato<br />
Discente do Programa de Pós-<br />
Graduação em Ciências<br />
Ambientais – Mestrado.<br />
Universidade do Estado do Pará.<br />
Belém/Pará.<br />
E-mail: gercienelobato@hotmail.com<br />
Mário Augusto Gonçalves<br />
Jardim<br />
Doutor em Ciências Biológicas.<br />
Museu Paraense Emílio Goeldi.<br />
Belém/ Pará.<br />
E-mail: jardim@museu-goeldi.br<br />
RESUMO<br />
Esse estudo objetiva avaliar as relações existentes entre saúde e meio<br />
ambiente por meio das DRSAI, com base nos Indicadores de<br />
Desenvolvimento Sustentável (IDS). Trata-se de pesquisa com<br />
fundamentação bibliográfica, onde as discussões foram validadas pelos<br />
indicadores do IBGE nos anos de 2002, 2004, 2008, 2010 e 2012. Excluiu-se<br />
2006, porque não houve publicação referente. Na Região Norte houve<br />
evolução dos percentuais relacionados ao saneamento de 2002 a 2012,<br />
contudo o Pará apresenta percentuais mais baixos de população abastecida<br />
por rede geral de água nas áreas urbanas (59,9%), de atendimento por rede<br />
coletora de esgoto nos domicílios (2,7%) e maior número de internações por<br />
DRSAI, em que as doenças de transmissão feco-oral foram as principais<br />
causas de internações. Portanto, ainda persistem na Região Norte problemas<br />
relacionados à falta ou deficiência do abastecimento de água, ocasionando<br />
ônus aos serviços de saúde, já que tal região detém altas taxas de<br />
internações hospitalares.<br />
Palavras-chave: Doenças; Internações hospitalares; Região Norte.<br />
ABSTRACT<br />
This study aims to evaluate the relationship between health and the<br />
environment through DRSAI based on Sustainable Development Indicators<br />
(IDS). This is research with bibliographic reasoning, where discussions were<br />
validated by IBGE indicators in the years 2002, 2004, 2008, 2010 and 2012.<br />
2006 was excluded because there was no publication concerning. In the<br />
northern region there was an increase in the percentages related to<br />
sanitation from 2002 to 2012, yet the Pará has the lowest percentage of<br />
population served by general water supply in urban areas (59.9 %), care for<br />
the sewage disposal system in households (2.7 %) and a higher number of<br />
hospitalizations for DRSAI, in which diseases of fecal-oral transmission were<br />
the main causes of hospitalizations. Therefore persist in the Northern Region<br />
problems related to lack or deficiency of water supply, causing burden to<br />
health services, as this region has high rates of hospitalizations.<br />
Keywords: Diseases; Hospitalizations; Northern Region.<br />
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Tem-se observado que a finalidade dos projetos de<br />
saneamento tem saído de sua concepção sanitária<br />
clássica, recaindo em uma abordagem ambiental que<br />
visa promover a saúde do homem relacionada à<br />
conservação do meio físico e biótico. Assim, o conceito<br />
de saneamento compreende os sistemas de<br />
abastecimento de água e esgotamento sanitário, a<br />
coleta e disposição de resíduos sólidos, a drenagem<br />
urbana e o controle de vetores (SOARES; BERNARDES &<br />
NETTO, 2002).<br />
A saúde humana é um processo que pode ser medido<br />
pela avaliação do maior ou menor sucesso do homem<br />
em suas diferentes interações com o meio ambiente<br />
(DIBOS, 1989). A maioria dos problemas sanitários que<br />
afetam a população mundial está intrinsecamente<br />
relacionada com o meio ambiente, por exemplo, a água<br />
servida à população pode ser um veículo de<br />
disseminação rápida de agentes infecciosos, causando<br />
surtos, principalmente quando o sistema de<br />
abastecimento distribui água fora dos padrões<br />
bacteriológicos de potabilidade (BARCELLOS &<br />
QUITÉRIO, 2006).<br />
As condições de vida e ambiente peculiares à região<br />
amazônica influenciam cotidianamente o desempenho<br />
das populações residentes, que coexistem com a falta<br />
de saneamento básico e suas consequências, com as<br />
endemias locais incluindo, as hepatites e a malária.<br />
Convivem ainda com as doenças que são decorrentes<br />
das circunstâncias penosas do trabalho na roça, no<br />
garimpo, no rio ou na floresta (CÂMARA & COREY,<br />
1992).<br />
INTRODUÇÃO<br />
Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável aqui<br />
analisado são publicações produzidas pelo Instituto<br />
Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Esses<br />
indicadores permitem acompanhar a sustentabilidade<br />
do padrão de desenvolvimento brasileiro nas<br />
dimensões ambiental, social, econômica e institucional,<br />
fornecendo um panorama abrangente de informações,<br />
para subsidiar decisões em políticas para o<br />
desenvolvimento sustentável.<br />
Tais indicadores trazem em seu arcabouço teórico o<br />
saneamento na dimensão ambiental, abordando o<br />
acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico; a<br />
destinação final do lixo; o acesso a sistema de<br />
abastecimento de água; o acesso a esgotamento<br />
sanitário e o tratamento de esgoto (IDS, 2002). Essa<br />
dimensão pode ser relacionada à dimensão saúde,<br />
especialmente com as DRSAI que foi inserida somente<br />
no IDS a partir do ano de 2004.<br />
As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />
Inadequado (DRSAI) são relevantes para o<br />
desenvolvimento sustentável. Abrangem diversas<br />
patologias, como as diarreias, a febre amarela, a<br />
leptospirose, as micoses e outras, que têm diferentes<br />
modos de transmissão. A presença de tais doenças<br />
como indicadores de desenvolvimento sustentável,<br />
permite visualizar a precariedade nos sistemas de<br />
abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta e<br />
destino final dos resíduos sólidos, drenagem urbana e<br />
higiene inadequada, o que se constituem risco para a<br />
saúde da população, sobretudo para as pessoas mais<br />
pobres vivendo em condições insalubres (IBGE, 2012).<br />
Uma das formas de se avaliar como as questões de<br />
saneamento influenciam na saúde humana, é por meio<br />
de indicadores, que são ferramentas constituídas por<br />
uma ou mais variáveis, que associadas através de<br />
diversas formas, revelam significados mais amplos<br />
sobre os fenômenos a que se referem.<br />
O objetivo deste trabalho foi avaliar as relações<br />
existentes entre a saúde e o meio ambiente por meio<br />
das Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />
Inadequado (DRSAI) com base nos Indicadores de<br />
Desenvolvimento Sustentável.<br />
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Trata-se de pesquisa bibliográfica e documental, na qual<br />
se buscou analisar os Indicadores de Desenvolvimento<br />
Sustentável (IDS) produzido pelo Instituto Brasileiro de<br />
Geografia e Estatística (IBGE) dos anos de 2002, 2004,<br />
2008, 2010 e 2012.<br />
Com exceção da edição do ano de 2006 - que não foi<br />
avaliada porque não houve publicação dos indicadores -<br />
foi realizados levantamento e coleta de informações de<br />
todos os outros indicadores publicados em que diz<br />
respeito à dimensão ambiental – saneamento e<br />
dimensão social - saúde.<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
A edição relativa ao ano de 2002 constituiu um ponto<br />
de partida, lançando para amplo debate um trabalho<br />
pioneiro de elaboração dos Indicadores de<br />
Desenvolvimento Sustentável para o Brasil, e, provocou<br />
o intercâmbio de ideias, buscando alcançar especial<br />
comunicação com o público não especializado. As<br />
edições dos anos de 2004, 2008 e 2010 ampliaram e<br />
aprimoraram o rol de indicadores. E a edição de 2012<br />
atualiza os indicadores já publicados e introduzem<br />
novos, reafirmando assim, os objetivos inicialmente<br />
estabelecidos (IDS, 2012).<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Na Região Norte no que diz respeito ao saneamento na dimensão ambiental, nota-se que houve evolução nos anos de<br />
2002 a 2012 (Figura 1). Resíduos sólidos, abastecimento de água e esgotamento sanitário fazem parte da infraestrutura<br />
urbana, sendo necessários ao ordenamento e planejamento das cidades por condicionar um ambiente de pior, ou<br />
melhor, qualidade (LIMA, 2013). Estes indicadores relacionam-se e contribuem para a promoção da saúde.<br />
Figura 1 - Saneamento na Região Norte para área urbana segundo os IDS (2002, 2004, 2008, 2010, 2012).<br />
Nos anos de 2010 e 2012, não houve referência a dados<br />
para destino final do lixo coletado na Região Norte. Em<br />
2012 há dados apenas para as Unidades da Federação,<br />
onde o Pará apresenta um dos menores percentuais<br />
(2,7%) de atendimento por rede coletora de esgoto nos<br />
domicílios. E em 2010, a Região Norte não é<br />
mencionada quanto ao esgoto coletado tratado.<br />
A coleta dos esgotos domésticos por si só, não é capaz<br />
de eliminar os efeitos ambientais nocivos decorrentes<br />
do lançamento de esgotos em corpos d’água. Resíduos<br />
não coletados ou dispostos em locais inadequados,<br />
favorecem a proliferação de vetores de doenças, e,<br />
podem contaminar o solo e os corpos d’água. Além<br />
disso, a decomposição da matéria orgânica presente no<br />
lixo, por sua vez, origina gases associados ao efeito<br />
estufa. Segundo Santos et al. (20<strong>14</strong>), o lançamento<br />
indiscriminado dos resíduos no meio ambiente<br />
mantém-se como prática comum, podendo levar a um<br />
desequilíbrio do ecossistema.<br />
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O tratamento do esgoto coletado é condição essencial<br />
para a preservação da qualidade dos corpos d’água<br />
receptores, para a proteção da população e das<br />
atividades que envolvem outros usos dessas águas,<br />
como, por exemplo, abastecimento humano,<br />
dessedentação de animais, irrigação, aquicultura e<br />
recreação.<br />
De modo geral na Região Norte, o Pará é um dos<br />
estados que apresenta percentuais mais baixos de<br />
população abastecida por rede geral de água nas áreas<br />
urbanas (59,9%). Em relação ao tratamento de esgoto<br />
em 2005, o percentual no Brasil foi de 61,6% e a Região<br />
Norte apresentou percentual inferior (50,7%). De 2002<br />
a 2005, se observa que a proporção de esgoto tratado<br />
em relação ao total coletado nessa região apresenta<br />
menores percentuais em comparação as outras<br />
unidades da Federação. Por outro lado de 2006 a 2008,<br />
a Região Norte possui percentuais mais elevados de<br />
esgoto tratado do que a Região Sudeste.<br />
A disponibilidade de água facilita ou contribui para o<br />
desenvolvimento urbano, que leva em conta os<br />
recursos hídricos para a edificação das cidades<br />
(MUCELIN & BELINI, 2008). Toda água fornecida à<br />
população por rede de abastecimento geral tem de ser<br />
tratada e apresentar boa qualidade, porém em áreas<br />
urbanas nem sempre é satisfatória, pois o risco de<br />
contaminação de nascentes, poços, rios e lençóis<br />
freáticos é muito grande.<br />
Em relação ao lixo, as observações verificadas a partir<br />
dos dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico -<br />
PNSB mostram que há um crescimento substancial da<br />
quantidade de lixo que recebe destinação final<br />
adequada, tendo alcançado em 2008, 66,4% do lixo<br />
coletado. Este resultado é ainda mais significativo<br />
quando se verifica que a quantidade total de lixo<br />
coletado cresceu mais de 50% neste período (PNSB,<br />
2010).<br />
O percentual de lixo coletado e adequadamente<br />
disposto é maior nas Regiões Sul e Sudeste do País, com<br />
respectivamente, 81,8% e 82,9%, e menor nas Regiões<br />
Norte (36,1%), Nordeste (44,3%) e Centro-Oeste<br />
(29,5%).<br />
As cidades, independente do tamanho e número de<br />
habitantes, produzem uma quantidade muito grande de<br />
lixo, que é consequência do padrão de vida urbano<br />
(LIMA, 2013). Por isso, o tratamento e a destinação<br />
adequados do lixo coletado, são condições essenciais<br />
para a preservação da qualidade ambiental e da saúde<br />
da população, facilitando o controle e a redução de<br />
vetores, e, por conseguinte, das doenças causadas por<br />
eles.<br />
A disposição inadequada de resíduos sólidos às margens<br />
de ruas ou cursos d’água, são práticas habituais que<br />
podem provocar, entre outras coisas, contaminação de<br />
corpos d’água, assoreamento, enchentes, poluição<br />
visual, mau cheiro e proliferação de vetores<br />
transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos,<br />
baratas, moscas, vermes (MUCELIN & BELLINI,2008).<br />
Analisando esses percentuais para Região Norte<br />
depreende-se que já houve avanços, mas, ainda a<br />
dimensão ambiental no que diz respeito ao<br />
saneamento, precisa de melhorias. Os serviços de<br />
saneamento precisam ser implementados de forma que<br />
sejam acessíveis a todos, pois as lacunas existentes<br />
geram consequências para os serviços de saúde a<br />
exemplo das internações por doenças relacionadas ao<br />
saneamento ambiental inadequado.<br />
As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />
Inadequado (DRSAI) só foram incorporadas nos IDS a<br />
partir de 2004 e em 2012 a análise da distribuição<br />
espacial das doenças mostra as desigualdades regionais<br />
e intrarregionais. Em 2010, enquanto na Região Norte,<br />
691 pessoas foram internadas para cada 100 000<br />
habitantes, na Região Sudeste, esse número chegou a<br />
121. Em relação às Unidades da Federação, algumas<br />
atingiram valores superiores a 900 (Pará e Piauí), uma<br />
diferença em relação à média Brasil de<br />
aproximadamente 600 pessoas por 100 000 habitantes,<br />
enquanto São Paulo não alcançou 90 (IDS,2012).<br />
As figuras 2, 3, 4 e 5, revelam os números de internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />
Inadequado.<br />
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Figura 2 - Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado – 2002. IDS (2004)<br />
Figura 3 - DRSAI, total e por categorias de doenças – 2005. IDS (2008)<br />
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Figura 4 - DRSAI, total e por categorias de doenças – 2008. IDS (2010)<br />
Figura 5 - Internações hospitalares por DRSAI por 100 000 habitantes – 2010. IDS (2012)<br />
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As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />
Inadequado (DRSAI) fazem parte da dimensão social dos<br />
Indicadores de Desenvolvimento Sustentáve (IDS),<br />
especificamente da área da saúde. E se constitui como<br />
um balizador da dimensão ambiental, pois onde há os<br />
maiores números de internações o acesso aos serviços<br />
de saneamento é menor, e isso se ratifica quando se<br />
analisa a Região Norte, Região Nordeste e Centro –<br />
Oeste por exemplo.<br />
Alguns estados dessas regiões apresentam proporções<br />
menores de moradores residentes em domicílios com<br />
rede geral de água (Rondônia, Pará e Acre), acesso a<br />
esgotamento sanitário adequado (rede geral ou fossa<br />
séptica - Goiás, Tocantins e Alagoas) e coleta de lixo<br />
(Piauí, Maranhão e Ceará) e com valores elevados de<br />
Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />
Inadequado (DRSAI) - mais de 400 internações/100 mil<br />
habitantes, acima da média brasileira.<br />
Na Região Norte, o estado do Pará apresenta o maior<br />
número de internações por Doenças Relacionadas ao<br />
Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), com<br />
destaque para os anos de 2005 e 2008, onde as doenças<br />
de transmissão feco-oral foram as principais causas de<br />
internações (Figura 3 e 4). Estas doenças podem estar<br />
associadas ao abastecimento de água deficiente,<br />
esgotamento sanitário inadequado, contaminação por<br />
resíduos sólidos ou condições precárias de moradia.<br />
A precariedade nos sistemas de abastecimento de água,<br />
esgotamento sanitário, coleta e destino final dos<br />
resíduos sólidos, drenagem urbana, bem como a<br />
higiene inadequada, se constituem em risco para a<br />
saúde da população, sobretudo para as pessoas mais<br />
carentes dos países em desenvolvimento, que ainda<br />
ficam com sua dignidade afetada (IDS,2012). O estudo<br />
de Calijuri et al. (2009), no município de Tucuruí (PA),<br />
indicou problemas sanitário-ambientais inadequados a<br />
promoção da saúde, a exemplo, de esgoto e águas dos<br />
domicílios escoando em valas abertas pelos próprios<br />
moradores, e asseio diário realizado em igarapés que<br />
cortam o município e ou no rio Tocantins devido a<br />
interrupção frequente no abastecimento de água.<br />
Dengue, esquistossomose, hepatites virais são doenças<br />
veiculadas pela água, esgoto e resíduos sólidos<br />
presentes no cotidiano dos indivíduos,e, em especial,<br />
nos municipios em que o saneamento ainda é<br />
parcialmente ineficiente (LOPES et al., 20<strong>14</strong>).<br />
As doenças mediadas pela presença de vetores; pela<br />
deficiência ou falta de saneamento; pela ocupação do<br />
solo sem a infraestrutura adequada; pela exposição a<br />
radiações ionizantes; pela exposição humana a<br />
substâncias químicas utilizadas nos alimentos, na<br />
agricultura, no controle de vetores pela saúde pública;<br />
decorrentes da poluição industrial; dos desastres<br />
naturais e das tecnologias são testemunhas<br />
(indicadores) de uma crise civilizatória em que está<br />
inserida também a crise ambiental (AUGUSTO &<br />
MOISES, 2009). Assim, a conservação e a proteção do<br />
meio ambiente assumem papel decisório nas medidas<br />
relativas à promoção da saúde nas populações<br />
(CALIJURI et al., 2009).<br />
Os serviços de saneamento possuem relação direta com<br />
a saúde e geram impactos para o meio ambiente, além<br />
de fornecer indicativos importantes sobre a qualidade<br />
de vida da população. Os indicadores analisados<br />
sinalizam que a Região Norte apresenta os menores<br />
percentuais, o que consequentemente contribui para<br />
elevação do número de doenças, interferindo assim nas<br />
taxas de internações hospitalares.<br />
CONCLUSÃO<br />
drenagem, construção de aterros sanitários de forma<br />
clandestina e em local inapropriado. Atrelado a isso há<br />
insuficiência de recursos físicos e humanos, hospitais<br />
com contingente populacional superior a demanda<br />
estabelecida, unidades de saúde que priorizam o<br />
atendimento ambulatorial em detrimento das medidas<br />
de prevenção e controle de doenças e recursos<br />
financeiros mal direcionados.<br />
Em termos de atenção à saúde, persistem nesta Região<br />
questões não solucionadas, como o desrespeito por<br />
parte da população com a educação ambiental e a falta<br />
de conhecimento sobre o saneamento básico<br />
culminando, entre outras coisas, no lançamento de<br />
resíduos sólidos nos rios, portos de embarque e<br />
desembarque de pessoas e produtos, ruas e canais de<br />
A saúde é entendida como política de governo e não de<br />
estado, pois a cada nova eleição agenda, e, planos são<br />
modificados baseados em interesses e negociações<br />
partidárias, o que resulta em falta de compromisso com<br />
as políticas públicas implementadas.<br />
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Persiste a falta de atuação dos cidadãos como agentes<br />
ativos a buscar respostas coerentes quanto ao não<br />
cumprimento das ações, a começar pela participação<br />
das reuniões do conselho e conferências de saúde e<br />
meio ambiente.<br />
Projetos de integração entre universidades, escolas e<br />
secretarias municipais que envolvam a população na<br />
produção do conhecimento e na execução de medidas<br />
precisam ser efetivados. Tais projetos podem versar<br />
sobre o reaproveitamento da água da chuva e do lixo,<br />
ou sobre a criação de sistemas produtivos em locais<br />
propícios ao acúmulo de resíduos e entulhos.<br />
Os processos de gestão, educação e sistemas de<br />
informação precisam ser aprimorados e atualizados, e<br />
as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e<br />
ambiental necessitam ser fortalecidas, considerando as<br />
especificidades regionais, de modo a possibilitar a<br />
qualidade de vida e a conservação ambiental.<br />
Nesse sentido, os indicadores de desenvolvimento<br />
sustentável devem servir como instrumentos essenciais<br />
para guiar a ação, e, subsidiar o acompanhamento e a<br />
avaliação do progresso alcançado rumo ao<br />
desenvolvimento sustentável, devendo ser vistos como<br />
ferramentas de análise e implementação de políticas<br />
públicas mais coerentes com a realidade local.<br />
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NOVOS INDICADORES PARA A AVALIAÇÃO DE IMPACTOS SÓCIO AMBIENTAIS DA INOVAÇÃO<br />
TECNOLÓGICA EM AGROINDÚSTRIAS DE REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS.<br />
APLICAÇÃO NA AGROINDÚSTRIA DE COCO<br />
New indicators for the socio-environmental impact assessment of technological innovation in waste<br />
reuse agro industries. Coconut agro industries applications.<br />
Melba Garcia Velasco<br />
Mestre PRODEMA/UESC.<br />
Universidade Estadual de Santa<br />
Cruz. Ilhéus. Bahia. Programa de<br />
Pós-graduação em<br />
Desenvolvimento Regional e Meio<br />
Ambiente.<br />
Francisco H. Martinez<br />
Luzardo<br />
PhD, Professor Adjunto<br />
DCET/UESC. Universidade Estadual<br />
de Santa Cruz. Ilhéus. Bahia.<br />
Programa de Pós-graduação em<br />
Desenvolvimento Regional e Meio<br />
Ambiente. Autor correspondente.<br />
RESUMO<br />
A predição de impactos das inovações tecnológicas se constitui em elemento<br />
de essencial importância para a tomada de decisões para sua implantação<br />
nos marcos do desenvolvimento sustentável. O presente trabalho objetivou<br />
desenvolver novos indicadores que permitam avaliar os impactos<br />
socioambientais da implantação de novas tecnologias em agroindústrias de<br />
nova geração, cuja matéria-prima fundamental são resíduos agroflorestais. O<br />
trabalho coloca em foco inovações tecnológicas ligadas ao aproveitamento<br />
de resíduos de coco: na produção de adsorventes naturais de metais, tóxica<br />
em água e na produção de materiais de construção, e objetiva fazer a<br />
avaliação (“ex-antes”) dos impactos socioambientais da implantação destas<br />
novas tecnologias. É proposta e utilizada uma ampliação da metodologia<br />
AMBITEC, da EMBRAPA, com a introdução de novos indicadores. Os<br />
resultados obtidos dos coeficientes de impacto e o Índice Geral de Impacto,<br />
no âmbito ambiental e social nos cenários estudados, indicam a viabilidade<br />
da implementação das novas tecnologias estudadas.<br />
Palavras-chave: Impactos ambientais e sociais, Inovação tecnológica, Resíduos<br />
de coco.<br />
E-mail: fmartinezluzardo@gmail.com<br />
Fermin G. Velasco<br />
PhD, Professor Pleno DCET/UESC.<br />
Universidade Estadual de Santa<br />
Cruz. Ilhéus. Bahia. Programa de<br />
Pós-graduação em<br />
Desenvolvimento Regional e Meio<br />
Ambiente.<br />
ABSTRACT<br />
The impact prediction of technological innovations constitutes key element<br />
for making decisions for its implementation as part of the sustainable<br />
development. This study aimed to develop new indicators to measure the<br />
social and environmental impacts of new technologies implemented in new<br />
generation of agro industries, whose main raw material is agroforestry waste.<br />
The work focuses on technological innovations related to coconut waste use:<br />
in the production of natural adsorbents of toxic metals in water and in the<br />
production of building materials, and it aims to make the evaluation ("exante")<br />
of the possible socio-environmental impacts that can be caused from<br />
the implementation of these new technologies. It’s proposed and used an<br />
extension of the AMBITEC methodology, from EMBRAPA. The results<br />
obtained from the impact factors and General Index of Impact, in the<br />
environmental and social context for the studied scenarios; indicate the<br />
feasibility of implementing the cited new technologies.<br />
Keywords: Environmental and social impacts, Technological innovation,<br />
Coconut residues.<br />
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INTRODUÇÃO<br />
Encontrar estratégias de superação da crise ambiental,<br />
sem abandonar a trajetória da modernização, constitui<br />
atualmente um desafio para a sociedade. Vários autores<br />
colocam em destaque a Teoria da Modernização<br />
Ecológica, que justamente preconiza que a inovação<br />
tecnológica constitui a ferramenta fundamental para<br />
solucionar os problemas da crise ambiental atual (MOL<br />
A. e SPAARGAREN 2002; HUBER J., 2000; JACOBS<br />
KLAUS, 2008).<br />
Por outro lado, na história existem inúmeros exemplos<br />
da introdução de tecnologias de grande relevância para<br />
a sociedade moderna, mas que vêm acompanhados de<br />
significativos impactos socioambientais negativos.<br />
Nesta lista podem ser elencadas: as tecnologias ligadas<br />
à geração de energia a partir de combustíveis fósseis<br />
que são responsáveis pelas emissões de gases de efeito<br />
estufa; a invenção do plástico, ligada ao aumento do<br />
tempo de degradação de resíduos; a questão da<br />
indústria eletrônica no que se refere ao “e-waste” (lixo<br />
eletrônico) e o aumento da poluição de metais tóxicos;<br />
e também a tecnologia nuclear, presente em armas<br />
devastadoras e também na geração de energia, com<br />
seus conhecidos riscos de acidentes e problemas com o<br />
lixo nuclear, ainda sem uma solução técnica definitiva.<br />
Mais recentemente, a indústria biotecnológica tem<br />
trabalhado para definir seus limites a fim de não afetar<br />
os ecossistemas naturais, e assim surge a<br />
nanotecnologia emergente, com grande potencial em<br />
soluções, mas sem conhecimento preciso das<br />
consequências sociais e ambientais da presença das<br />
novas nanopartículas no ambiente (PLAGLIARO, 2011;<br />
HUNT et al., 2006).<br />
Estes elementos acima apontam para a importância de<br />
realizar estudos de impactos prévios à introdução de<br />
projetos de inovações tecnológicas. Por isto a criação,<br />
aperfeiçoamento e aplicação de ferramentas para<br />
avaliar estes impactos, constituem-se em um elemento<br />
básico para a tomada de decisão referente à<br />
implementação das inovações tecnológicas com base na<br />
análise de seus possíveis danos e/ou benefícios<br />
ambientais e sociais.<br />
Alguns dos mais importantes métodos de avaliação de<br />
impactos de inovações tecnológicas no setor agrícola<br />
(AMBITEC) foram desenvolvidos no Brasil por grupos de<br />
pesquisadores da EMBRAPA (Empresa Brasileira de<br />
Pesquisa Agropecuária - RODRIGUES, 1998). A base<br />
conceitual e metodológica do Sistema AMBITEC,<br />
encontra-se reportada numa ampla literatura e<br />
publicada nos trabalhos de Rodrigues e colaboradores<br />
(RODRIGUES, 1998; RODRIGUES et al., 2000, 2002,<br />
2003a e 2003b; IRIAS et al., 2004). Um elemento<br />
fundamental que confirma o sistema citado é a sua<br />
identificação com a avaliação dos impactos em todos os<br />
estágios dos processos sob avaliação, desde o<br />
planejamento e seleção do projeto até sua<br />
implementação (RODRIGUES et al., 2003b). É<br />
importante destacar que, diferentemente dos métodos<br />
de Avaliação de Impactos Ambientais EIA/RIMA, este<br />
tipo de ferramenta, como o Sistema AMBITEC, foca sua<br />
atenção nos efeitos que uma inovação tecnológica pode<br />
provocar em diversos níveis de abrangência (não<br />
necessariamente apenas em um objeto econômico a ser<br />
implantado). Esta metodologia constitui uma valiosa<br />
ferramenta que subsidia estudos de projetos ou<br />
programas de pesquisas relativas à implantação de<br />
novas tecnologias.<br />
O Sistema AMBITEC/EMBRAPA original tem seu sistema<br />
de indicadores direcionado para unidades produtivas<br />
agropecuárias, produção animal e para a agroindústria,<br />
geralmente no setor alimentar. Este tipo de unidade<br />
produtiva contemplada no Sistema AMBITEC, da<br />
EMBRAPA, tem como entrada (insumos): matéria-prima<br />
padrão, produtos químicos (agrotóxicos), água e fontes<br />
de energia. A agroindústria, objeto do presente estudo,<br />
apresenta um fluxo diferenciado de insumos devido à<br />
matéria-prima utilizada ser constituída por resíduos<br />
agrícolas. Assim, como será exposto em detalhes no<br />
item 2.2 a seguir, é possível verificar que o sistema<br />
AMBITEC/EMBRAPA original não inclui indicadores<br />
capazes de avaliar adequadamente o tipo de<br />
agroindústria “verde” cuja matéria-prima fundamental<br />
são resíduos agroflorestais. Justamente esta questão é<br />
um dos focos principais do presente trabalho.<br />
Por outro lado, um dos problemas ambientais mais<br />
marcantes da sociedade moderna está ligado à<br />
produção e gerenciamento de resíduos em decorrência<br />
dos padrões atuais de consumo. Com uma população<br />
de cerca de 192 milhões de habitantes (estimativa do<br />
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE<br />
2010]), o Brasil produz, em média, 90 milhões de<br />
toneladas de lixo por ano, de acordo com os dados do<br />
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Ministério do Meio Ambiente. No que se refere à<br />
disposição final, segundo dados de IBGE, 63,6% dos<br />
municípios brasileiros depositam seus resíduos sólidos<br />
em lixões. É evidente que o panorama da atual<br />
realidade do país, quanto à disposição final dos resíduos<br />
sólidos, exige a transformação das práticas ambientais<br />
tradicionais. Nesse particular, as pesquisas científicas e<br />
tecnológicas são fundamentais para o desenvolvimento<br />
e aprimoramento de tecnologias limpas.<br />
Um exemplo da viabilidade do aproveitamento de<br />
resíduos sólidos por meio de tecnologias inovadoras é a<br />
reciclagem do grande volume de resíduos orgânicos<br />
gerados nos processos agrícolas. O Brasil é o quarto<br />
maior produtor mundial de coco, com uma produção<br />
aproximada de 2,8 milhões de toneladas, em uma área<br />
colhida de 287 mil hectares de coqueiros. Por sua vez,<br />
constata-se que a liderança da produção é do Estado da<br />
Bahia (MARTINS et al., 2011). Em cidades como Ilhéus e<br />
Itabuna, a produção de coco alcançou, no ano de 2011,<br />
uma cifra de 8 milhões e 20.000 frutos (SEI, 2011), o<br />
que equivale a uma grande geração de resíduos de<br />
casca de coco, cujo destino final é o lixão.<br />
No caso específico dos resíduos de coco, inúmeros<br />
trabalhos têm sido publicados em periódicos nacionais<br />
e internacionais, onde se têm demonstrado resultados<br />
de suas potencialidades. Visando a resolução do<br />
problema da contaminação dos recursos hídricos,<br />
diversos autores concluíram que a casca de coco verde<br />
pode ser uma alternativa viável de bioadsorção de baixo<br />
custo, para tratamento de efluentes industriais<br />
contaminados por metais pesados (SOUZA et al., 2007;<br />
ALMEIDA, 2009). Por outro lado, a utilização dos<br />
resíduos vegetais na elaboração de materiais de<br />
construção é outra opção que reduz o volume de<br />
resíduos descartados e aumenta suas potencialidades<br />
de aproveitamento. Pesquisas feitas demonstram que<br />
tratamentos com as fibras de coco são recomendáveis<br />
para a construção de painéis não estruturais de<br />
cimento/fibra de coco (MENDEZ, J. F., 2011; FILHO,<br />
2004). A utilização de resíduos de coco para os fins<br />
citados acima pode ser enquadrada dentro daquelas<br />
soluções desejáveis, com tecnologias que podem<br />
contribuir ao mesmo tempo para resolver distintos<br />
desafios enfrentados na sociedade atual: diminuir o<br />
volume de resíduos gerados; reduzir a níveis toleráveis<br />
a contaminação dos recursos hídricos; e satisfazer a<br />
demanda habitacional da sociedade.<br />
OBJETIVOS<br />
O primeiro objetivo deste trabalho é aprimorar as ferramentas atuais de avaliação dos impactos da inovação tecnológica<br />
no setor agroindustrial, incluindo novos indicadores que permitam avaliar de forma integral e coerente estes impactos<br />
para o caso de agroindústrias “verdes”, cuja matéria-prima principal é constituída por resíduos de outra atividade<br />
econômica. O segundo objetivo mais específico é aplicar as ferramentas desenvolvidas para estimar os impactos<br />
ambientais e sociais da introdução das tecnologias para a produção de adsorventes naturais e materiais de construção a<br />
partir do aproveitamento de resíduos da industrialização de coco.<br />
O sistema de avaliação de impactos ambientais e<br />
sociais, será utilizado no presente trabalho para<br />
mensurar os impactos “ex-antes” da possível aplicação<br />
das duas tecnologias alternativas de reaproveitamento<br />
de resíduos de coco, tem como base o sistema de<br />
avaliação da inovação tecnológica AMBITEC -<br />
Agroindústria da EMBRAPA (IRIAS, L. J. M., RODRIGUEZ,<br />
G. S. et al., 2004) e AMBITEC - Social (RODRIGUES, G. S.,<br />
CAMPANHOLA, C., KITAMURA, P. C., et al., 2005) com<br />
adequações necessárias propostas e aplicadas no<br />
presente trabalho em uma agroindústria de<br />
beneficiamentos de resíduos de coco. Este sistema de<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
avaliação será descrito resumidamente nos itens 2.1 e<br />
2.2.<br />
Mediante uma análise detalhada, identificou-se cada<br />
elemento que integra o sistema de avaliação de<br />
impacto da inovação tecnológica AMBITEC, da<br />
EMBRAPA, nas dimensões ambientais e sociais, e<br />
realizou-se uma análise crítica dos indicadores e<br />
componentes que deveriam ser modificados, omitidos<br />
ou incorporados ao sistema de avaliação de impacto<br />
citado. Para isto, foram considerados fatores associados<br />
às especificidades das tecnologias, às condições reais da<br />
localidade onde se aplicarão as tecnologias e à<br />
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disponibilidade das informações correspondentes ao<br />
objeto de estudo.<br />
Elementos Básicos da Metodologia<br />
AMBITEC/EMBRAPA<br />
O sistema AMBITEC tem uma estrutura matricial<br />
hierárquica que se subdivide em “aspectos” como, por<br />
exemplo, Eficiência Tecnológica, Conservação<br />
Ambiental e Qualidade do Produto. Cada “aspecto”<br />
agrupa um conjunto de “indicadores”, que por sua vez<br />
estão formados por “componentes”. Cada componente<br />
é avaliado, em campo, de acordo com três itens:<br />
primeiro, o coeficiente de alteração do componente,<br />
que atribui um valor entre -3 e +3 à influência da<br />
inovação tecnológica sobre este componente de certo<br />
indicador; segundo, este valor então é ponderado de<br />
acordo com a escala de ocorrência do impacto (pontual,<br />
local e no entorno) e ao peso relativo que é outorgado<br />
ao componente específico dentro do indicador. O valor<br />
resumo dos impactos de uma determinada tecnologia,<br />
inserido em um cenário específico, é denominado de<br />
Índice Geral de Impacto, que se obtém de uma soma<br />
ponderada dos impactos por cada indicador<br />
(RODRIGUES et al., 2003a e 2003b; IRIAS et al., 2004).<br />
O sistema de avaliação de impacto ambiental AMBITEC,<br />
no caso da agroindústria, é composto por sete<br />
indicadores (uso de insumos químicos e materiais; uso<br />
de energia; uso de recursos naturais; atmosfera;<br />
geração de resíduos sólidos; água e variável de<br />
qualidade do produto) que avalia 32 componentes<br />
(IRIAS et al., 2004).<br />
Por sua vez, para a avaliação do impacto social da<br />
introdução da inovação tecnológica, são abarcados<br />
quatro aspectos gerais de avaliação: emprego; renda;<br />
saúde; e gestão e administração. Estes, por sua vez, se<br />
dividem em quatorzes indicadores, organizados em um<br />
sistema de matrizes escalares, onde é inserido, para<br />
cada indicador, um conjunto de componentes (que<br />
chegam a somar setenta e nove desses) (RODRIGUES et<br />
al., 2005).<br />
O método aplica-se tanto para o caso da avaliação de<br />
impactos "ex-ante", no estágio de formulação do<br />
projeto, quanto para a avaliação dos impactos ex-pós,<br />
observados, em campo, com a adoção da tecnologia.<br />
Um elemento importante no procedimento de<br />
avaliação do Sistema AMBITEC é a indicação da direção<br />
(aumento, diminuição ou sem alterações) dos<br />
coeficientes de alteração dos componentes. Os valores<br />
do coeficiente de alteração tomam os valores de +1 e<br />
+3 quando é previsto um aumento moderado ou<br />
grande, respectivamente, no componente de dado<br />
indicador como efeito da tecnologia. Quando o efeito é<br />
de diminuição, o coeficiente utiliza estes valores com<br />
sinal negativo, e no caso de não alteração utiliza o valor<br />
zero. Isto é aplicado para cada indicador, em razão<br />
específica da aplicação da tecnologia à atividade e nas<br />
condições de manejo particulares a sua situação<br />
(EMBRAPA, 2004).<br />
A ponderação por escala de ocorrência expressa o<br />
espaço geográfico no qual se processa a alteração no<br />
componente do indicador, conforme a situação<br />
específica de aplicação da tecnologia, e pode ser:<br />
<br />
<br />
<br />
Pontual: quando os efeitos da tecnologia no<br />
componente se restringem apenas ao local de<br />
sua ocorrência ou à unidade produtiva na qual<br />
esteja ocorrendo à alteração. Neste caso, é<br />
adotado o valor de ponderação igual a 1;<br />
Local: quando os efeitos se fazem sentir<br />
externamente a essa unidade produtiva, porém<br />
confinados aos limites do estabelecimento em<br />
avaliação. Neste caso, é adotado o valor de<br />
ponderação igual a 3;<br />
No entorno: quando os efeitos se fazem sentir<br />
além dos limites do estabelecimento. Neste caso,<br />
é adotado o valor de ponderação igual a 5.<br />
A aplicação do Sistema AMBITEC inclui, além disso,<br />
outro fator de ponderação que se refere à importância<br />
do componente na conformação do indicador. Os<br />
valores dos fatores de importância variam com o peso e<br />
o número de componentes que formam um<br />
determinado indicador, sendo que a soma dos pesos de<br />
todos os componentes estará normalizada no valor de<br />
(1) ou (-1), podendo assumir valores positivos ou<br />
negativos, definindo a direção (favorável ou<br />
desfavorável) do impacto para o indicador dado.<br />
O cálculo do coeficiente de impacto ambiental/social,<br />
para cada indicador, é obtido pela equação (1), segundo<br />
a metodologia AMBITEC (EMBRAPA).<br />
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Onde:<br />
m<br />
C i imp = ∑ A ij . E ij<br />
j=1<br />
C i imp. : coeficiente de impacto do indicador i;<br />
(1)<br />
A ij : coeficiente de alteração do componente j do<br />
indicador i;<br />
E ij : fator de ponderação para escala de ocorrência<br />
espacial do componente<br />
j do indicador i;<br />
P ij : fator de ponderação (K) para importância do<br />
componente j na composição<br />
do indicador i.<br />
Finalmente, o Índice Geral de Impacto da Inovação<br />
Tecnológica no âmbito ambiental ou social é obtido<br />
pela equação (1), segundo a metodologia AMBITEC<br />
(EMBRAPA).<br />
Onde:<br />
m<br />
I imp imp<br />
tecn = ∑ C i<br />
j=1<br />
. P i (2)<br />
I imp tecn. : índice de impacto ambiental ou social da<br />
tecnologia;<br />
C i imp. : coeficiente de impacto do indicador i;<br />
Pi: fator de ponderação segundo a importância do<br />
indicador i para composição do<br />
índice de impacto da tecnologia;<br />
m: número de indicadores.<br />
Modificações ao Sistema AMBITEC<br />
O Sistema de Avaliação de Impactos da<br />
AMBITEC/EMBRAPA tem seu sistema de indicadores<br />
direcionado para unidades de produção agropecuária,<br />
animal e para a agroindústria, geralmente alimentar.<br />
Este tipo de unidade produtiva, contemplada no<br />
Sistema EMBRAPA, tem como entrada (consumo):<br />
matéria-prima padrão, produtos químicos (agrotóxicos),<br />
água e fontes de energia. A agroindústria, objeto do<br />
presente trabalho, apresenta um fluxo diferenciado de<br />
insumos devido à matéria-prima utilizada ser<br />
constituída por resíduos agrícolas. Esta questão não é<br />
adequadamente retratada nos indicadores do Sistema<br />
EMBRAPA atual, pelo que foi necessário, na presente<br />
pesquisa, propor e realizar um conjunto de<br />
modificações (inclusões de novas variáveis) no Sistema,<br />
detalhados a seguir.<br />
Primeiro: dentro do aspecto geral Conservação<br />
Ambiental, é proposta a introdução de um novo<br />
indicador denominado RRR (Redução, Reutilização e<br />
Reciclagem) que avalia a origem dos insumos do<br />
processo produtivo. Neste, são considerados os<br />
diferentes processos de redução de uso, reutilização e<br />
reciclagem que operam à montante (insumos) da<br />
produção, tanto da água, como da energia e de resíduos<br />
sólidos gerados na agroindústria em geral (Tabela 1).<br />
Segundo: no aspecto Qualidade do Produto, é proposta<br />
a inclusão de novos componentes (Tabela 2). Os<br />
componentes adicionados no quadro abaixo justificamse<br />
pelo fato de que as produções resultantes das<br />
alternativas tecnológicas, em estudo, partem do<br />
reaproveitamento de uma biomassa orgânica natural<br />
biodegradável e que, conjuntamente com esta<br />
característica, esses produtos usados e despejados<br />
podem ser novamente processados para seu<br />
reaproveitamento.<br />
Vale ressaltar a diferença conceitual das questões<br />
avaliadas pelo indicador: Geração de Resíduos Sólidos<br />
(incluídas no Sistema AMBITEC original) e o novo<br />
indicador RRR proposto no presente trabalho. Na<br />
Geração de Resíduos Sólidos, geralmente de natureza<br />
negativa, verificam-se os resíduos da própria produção,<br />
onde é aplicada a nova tecnologia. Por exemplo, no<br />
caso estudado, seriam os resíduos gerados no processo<br />
de produção de adsorventes ou de materiais de<br />
construção. Já o indicador RRR foca sua atenção na<br />
origem dos insumos, valorizando o aproveitamento e<br />
reuso de resíduos de outras atividades econômicas<br />
(neste caso, resíduos de coco) no processo produtivo da<br />
agroindústria estudada nos três cenários apresentados.<br />
Como se representa na Figura 1, o potencial de<br />
reaproveitamento de resíduos é avaliado por cada um<br />
dos três indicadores envolvidos (Geração de Resíduos,<br />
RRR, Qualidade do Produto) em diferentes etapas do<br />
processo. Na variável Geração de Resíduos, focaliza-se a<br />
capacidade de reciclagem dos resíduos gerados no<br />
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processo produtivo (saída); no RRR, refere-se à origem<br />
dos insumos (entrada) do processo produtivo; e na<br />
Qualidade do Produto, trata-se da capacidade de ser<br />
reaproveitado o próprio produto após o uso.<br />
Além das modificações acima, referentes à inclusão de<br />
novos indicadores, o Sistema de avaliação de impactos<br />
tecnológicos (que foi efetivamente utilizado no<br />
presente trabalho) manteve toda a sua estrutura de<br />
cálculo similar à do Sistema EMBRAPA atual, ou seja,<br />
foram utilizadas, para os cálculos dos coeficientes de<br />
impacto do índice geral de impacto, as fórmulas (1) e (2)<br />
como aparecem reportadas na metodologia do Sistema<br />
de Avaliação de Impactos da Inovação Tecnológica<br />
AMBITEC (EMBRAPA). Este sistema, em essência, obtém<br />
um índice integrado de impactos composto por uma<br />
soma ponderada de indicadores onde, por sua vez, cada<br />
um é uma soma ponderada de componentes. No<br />
cálculo de cada indicador são considerados o fator de<br />
ponderação da importância do componente (P ij ), o<br />
coeficiente de alteração do componente (A ij ) e o fator<br />
de escala de ocorrência espacial (E ij ).<br />
Assim, a nova tecnologia é avaliada de forma integral<br />
pela composição do Índice de Impacto Ambiental e<br />
Social respectivamente, considerando o peso que lhe é<br />
conferido ao indicador de acordo com sua importância<br />
relativa na composição do impacto final da tecnologia.<br />
Agroindústria de beneficiamento de coco<br />
A região de interesse do estudo foi o Sul do Estado da<br />
Bahia, justificada pela produção expressiva de coco e<br />
seus resíduos. A partir de dados levantados (SEI, 2011),<br />
verificou-se que o município de Una é um dos mais<br />
representativos quanto à área plantada de coco. O<br />
município de Una, distante de Salvador 503 km, tem<br />
aproximadamente 1200 km 2 de território, e uma<br />
população estimada em 25 mil habitantes (IBGE, 2010).<br />
Sua economia baseia-se principalmente na agricultura<br />
(Coco da Baía, Cacau, Seringa, Dendê, e outros) e<br />
turismo.<br />
Em geral, a produção de resíduos de coco pode ser<br />
muito dispersa, como acontece nos pontos de venda de<br />
água de coco nas cidades, ou, de forma mais<br />
concentrada, como na agroindústria de coco. No<br />
presente trabalho foi escolhido o segundo cenário de<br />
maior concentração de resíduos, o qual não precisa de<br />
estudos de logística de transporte para concentração e<br />
armazenamento dos resíduos. O estudo foi aplicado na<br />
fazenda Santa Tereza, localizada no município Una, no<br />
Sul da Bahia. Esta fazenda possui uma área total de 990<br />
hectares, com 130 ha de área plantada de coco. Nela<br />
encontra-se instalada a Plancomar Companhia Agrícola<br />
Ltda., fábrica na qual são processados os derivados do<br />
coco verde: água e polpa para fins alimentares e a casca<br />
triturada para produção da fibra e substrato agrícola. A<br />
estimativa da produção de resíduos de coco<br />
concentrada é de 5 a 6 ton./diárias. A subutilização de<br />
grande parte dos resíduos produzidos nessa<br />
agroindústria e a necessidade de viabilizar uma solução<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
ambiental foram motivos da decisão de escolher essa<br />
agroindústria para desenvolver o presente estudo.<br />
O sistema de avaliação de impactos, já modificado, foi<br />
aplicado a duas alternativas tecnológicas que estão<br />
sendo objeto de investigação na Universidade Estadual<br />
de Santa Cruz (UESC): a produção de adsorventes<br />
naturais de metais tóxicos em água; e a produção de<br />
materiais de construção, a partir de resíduos da<br />
comercialização da água de coco, na área da<br />
Agroindústria estudada no município de Una.<br />
Os cálculos dos impactos correspondentes dos<br />
Coeficientes de Impacto e do Índice Geral de Impacto,<br />
no âmbito social e ambiental, foram realizados nos<br />
seguintes três cenários: Cenário 1: agroindústria com<br />
unidade produtiva de adsorventes naturais; Cenário 2:<br />
agroindústria com unidade produtiva de materiais de<br />
construção; e Cenário 3: a agroindústria sem aplicações<br />
das alternativas tecnológicas.<br />
Ilustram-se, nas tabelas 3 e 4, sinteticamente, os<br />
resultados finais da avaliação ambiental e social dos<br />
impactos da inovação tecnológica analisados para os<br />
diferentes cenários estudados.<br />
Impactos ambientais<br />
Como é apresentado na tabela 3, o estudo realizado na<br />
agroindústria, sob as condições atuais, sem aplicação de<br />
tecnologias para o aproveitamento dos resíduos<br />
gerados (cenário 3), mostra um resultado desfavorável<br />
no âmbito ambiental. O fato explica-se pela ocorrência<br />
de eventos adversos que estão comprometendo a<br />
qualidade do meio ambiente. A situação atual da<br />
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agroindústria caracteriza-se por um aumento da<br />
produção e exportação do produto principal (água de<br />
coco). Em decorrência desse fato, se desencadeia maior<br />
consumo de energia, maior consumo de aditivos,<br />
causados pelo uso de conservantes na água de coco<br />
engarrafada, além do elevado consumo da água<br />
utilizada na lavagem dos cocos. Assim, é gerada uma<br />
maior quantidade de água residual. Este líquido se<br />
deposita em uma lagoa, perto da área de trabalho, o<br />
que constitui um agravo ao ambiente, gerando poluição<br />
hídrica.<br />
Esses resíduos líquidos contêm elevadas quantidades de<br />
açúcares, fenóis, sais e outras impurezas contidas nas<br />
cascas de coco, o que acarreta o surgimento de<br />
condições favoráveis para a proliferação de focos de<br />
vetores, fato que contribui para a transmissão de<br />
doenças que afetam a saúde humana. Nas estimativas<br />
da avaliação de impacto ambiental da introdução das<br />
tecnologias alternativas, o índice total de impacto geral<br />
direciona-se em sentido positivo, contendo alguns<br />
indicadores com variações de efeitos negativos e a<br />
maioria com efeitos de maiores benefícios nos<br />
parâmetros avaliados. No aspecto integral de Eficiência<br />
Tecnológica, os indicadores que causam efeito negativo<br />
ao impacto ambiental, nas duas tecnologias citadas,<br />
foram: uso de energia, uso de água, qualidade da água<br />
e, para o indicador atmosfera, só apresentou efeito<br />
negativo para a tecnologia da produção de adsorventes<br />
naturais.<br />
Para o indicador Uso de Energia, percebeu-se um índice<br />
de impacto negativo de valor igual a -0,125 no caso da<br />
aplicação das duas alternativas tecnológicas. Isso se<br />
justifica pelo aumento gradativo de operações<br />
mecanizadas, nas futuras instalações, para o<br />
funcionamento nas unidades produtivas previstas com<br />
as novas tecnologias. Aspecto esse que introduz o<br />
consumo de energia, devido à utilização de maquinários<br />
e equipamentos elétricos e que são imprescindíveis<br />
para o andamento das linhas de produções. Pode-se<br />
citar, por exemplo, no caso da produção de adsorventes<br />
naturais, as esteiras móveis responsáveis pelo<br />
transporte das cascas de cocos; o moinho de lâminas<br />
fixas, onde é triturada a biomassa de resíduos; e a<br />
máquina dosadora, na qual se efetuará a dosagem do<br />
pó de coco para a embalagem. Quando se considera o<br />
caso da produção dos materiais construtivos, encontrase<br />
a betoneira, um equipamento utilizado para misturar<br />
os materiais na proporção e textura adequadas,<br />
incluindo a fibra de coco. Ainda influi também, neste<br />
indicador, o consumo de combustível diesel em função<br />
do gerador de calor, no caso das duas alternativas<br />
tecnológicas. O mesmo é necessário para alcançar a<br />
temperatura indicada no processo de lavagem dos<br />
resíduos, requerimento associado ao processo<br />
tecnológico.<br />
No que se refere ao indicador Uso de Água, obteve-se<br />
um índice de impacto negativo de valor igual a -0,06 no<br />
caso da produção dos adsorventes naturais, e valor -<br />
0,125 para a produção dos materiais de construção.<br />
Esse fato deve-se à necessidade do consumo da água na<br />
etapa de lavagem da fibra de coco, no início dos<br />
processos produtivos. Neste segmento, pode-se<br />
perceber que, especificamente para a produção de<br />
materiais construtivos, o efeito negativo aumenta<br />
devido não só à utilização da água para a lavagem da<br />
fibra, mas também porque será preciso consumir certa<br />
quantidade adicional de água ao ser incorporada no<br />
próprio processo de elaboração do produto.<br />
Foi obtido, para o indicador Atmosfera, um índice de<br />
impacto negativo de valor igual a -0,0125 no caso da<br />
alternativa tecnológica para a produção dos<br />
adsorventes naturais, e nula no caso da tecnologia para<br />
a produção dos materiais de construção. Essa alteração<br />
no sentido negativo será motivada pela introdução de<br />
um moinho para a trituração da casca de coco até<br />
transformá-la em pó, para a produção dos adsorventes,<br />
o qual gerará uma mudança no que se refere ao nível<br />
de ruído existente.<br />
O item relativo ao consumo da água, exposto<br />
anteriormente, relaciona-se com a sua qualidade, visto<br />
que quando se realizar a lavagem da fibra, a água usada<br />
ficará poluída, independentemente que ainda agreguese<br />
à mesma o líquido extraído do resíduo de coco, o<br />
qual contém um alto teor de fenóis, açúcares, entre<br />
outras impurezas. Essas atividades, provenientes do<br />
processo tecnológico, atribuem, a este recurso natural,<br />
certo grau de turbidez e um nível moderado de sólidos<br />
dissolvidos. Isso explicita o resultado negativo nos casos<br />
das duas inovações analisadas, resultando em valor<br />
igual a -0,06 para ambas as tecnologias alternativas.<br />
Dentre os impactos positivos, o que ganha destaque é o<br />
indicador Qualidade do Produto. Este indicador aponta<br />
os impactos que a aplicação da nova tecnologia terá na<br />
qualidade ambiental medida pelos atributos que o<br />
produto apresenta favoráveis à conservação ambiental.<br />
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Verificou-se um impacto positivo, nas duas tecnologias,<br />
com valor de 0,05. De fato, o novo adsorvente e os<br />
blocos que serão obtidos com a introdução das<br />
tecnologias alternativas terão maior biodegradabilidade<br />
e, além disso, no caso do adsorvente, este adquire a<br />
capacidade de reaproveitamento em outros setores<br />
produtivos, como o de materiais de construção.<br />
Impactos Sociais<br />
Na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos<br />
para os impactos estudados no âmbito social. Os efeitos<br />
negativos que influem no índice de impacto geral no<br />
âmbito social encontram-se no aspecto geral Saúde,<br />
apontando aos indicadores Saúde Ambiental e Pessoal e<br />
Segurança e Saúde Ocupacional.<br />
No caso do indicador Saúde ambiental e Pessoal,<br />
consideraram-se, nas estimativas, algumas alterações<br />
advindas da adoção das novas tecnologias, na existência<br />
de emissão de poluentes hídricos. Isso é devido à<br />
lavagem dos resíduos de coco para a sua utilização no<br />
processo produtivo, os quais geram contaminantes que<br />
ficam na água. Esse indicador alcançou um índice de<br />
impacto negativo de valor -0,016 para as duas<br />
tecnologias.<br />
Entretanto, no indicador Segurança e Saúde<br />
Ocupacional, foi abordada a exposição dos<br />
trabalhadores quanto à alteração do nível de ruído; no<br />
caso somente da produção de adsorventes naturais,<br />
produziu-se uma alteração negativa com um índice de<br />
impacto com valor de -0,0083. Essa situação explicita-se<br />
devido à utilização de um moinho de lâminas fixas para<br />
o processo de trituração das cascas de coco.<br />
Os indicadores que mais influenciaram positivamente<br />
no Índice Geral de Impacto foram: Geração de Rendas e<br />
Valor da Propriedade. Nesses casos, considerou-se o<br />
valor agregado do resíduo do coco ao ser transformado<br />
em produtos para a purificação da água e materiais de<br />
construção. Condicionado pelos benefícios dessa<br />
produção poderá haver um aumento de renda, o qual<br />
estimulará a sua distribuição, de acordo com o<br />
montante, em salários pagos. Verifica-se uma<br />
contribuição nos índices de impactos de 0,2075, nas<br />
duas tecnologias alternativas, e nos dois indicadores.<br />
Soma-se a esse fato o investimento das novas linhas de<br />
produção, devido à introdução das tecnologias, que<br />
contribuirá de forma positiva, aumentando o valor da<br />
propriedade localizada na área da agroindústria de<br />
aproveitamento dos resíduos de coco.<br />
A introdução das tecnologias em avaliação proporciona<br />
um impacto geral positivo no âmbito ambiental e social.<br />
Este resultado indica que, tanto a tecnologia para a<br />
produção de adsorventes naturais quanto à de<br />
produção de materiais de construção são benéficas ao<br />
meio ambiente e contribuirão para o melhoramento<br />
das condições de vida dos moradores dessa<br />
comunidade. Diante disso, pode-se deduzir que as<br />
referidas tecnologias podem ser amplamente utilizadas<br />
em setores agroindustriais de produção de água de<br />
coco para alavancar o desenvolvimento local de forma<br />
sustentável.<br />
Aproveitando praticamente todos os elementos<br />
presentes da metodologia AMBITEC – EMBRAPA, o<br />
presente trabalho desenvolveu uma proposta para sua<br />
ampliação e a aplicou na avaliação de uma<br />
agroindústria de reaproveitamento de resíduos do coco.<br />
O resultado da estimativa do Índice Geral de Impacto<br />
Ambiental e Social obtido mediante a aplicação do<br />
Sistema de Avaliação de Impacto EMBRAPA-UESC, nos<br />
três cenários escolhidos (implantação da unidade<br />
produtiva de adsorventes naturais; implantação da<br />
unidade produtiva de materiais de construção; e<br />
cenário atual com descarte de resíduos in natura) foi de<br />
especial importância para considerar a possibilidade da<br />
possível implantação das alternativas tecnológicas.<br />
CONCLUSÕES<br />
Como a metodologia da AMBITEC – EMBRAPA não<br />
conta com todos os elementos necessários para a sua<br />
aplicação em agroindústria de beneficiamento de<br />
resíduos, em particular no que se refere ao<br />
aproveitamento dos resíduos de coco, o principal<br />
entrave observado encontra-se no nível da definição do<br />
indicador de reaproveitamento de resíduos, seja por<br />
reutilização ou por reciclagem dos mesmos.<br />
No caso dos impactos ambientais nas duas tecnologias,<br />
o novo indicador RRR (Redução, Reutilização e<br />
Reciclagem) influiu significativamente pelo fato de<br />
potencializar o gerenciamento de resíduos na entrada<br />
de insumos; e o indicador Qualidade do Produto foi<br />
redimensionado para considerar especificamente os<br />
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atributos ambientais de degradabilidade e capacidade<br />
de reaproveitamento.<br />
No caso dos impactos sociais, ganham destaque, no<br />
resultado positivo do Índice Geral de Impacto, as novas<br />
oportunidades de emprego, a geração de renda e a<br />
possibilidade de novas produções que atenderiam<br />
novas perspectivas de mercado com um possível<br />
aumento da comercialização.<br />
O resultado do Índice Geral de Impacto Social e<br />
Ambiental, obtido mediante a aplicação do Sistema de<br />
Avaliação de Impacto EMBRAPA-UESC, nos dois<br />
cenários da aplicação das alternativas tecnológicas, teve<br />
efeito positivo, indicando que a implantação das novas<br />
tecnologias poderá conduzir a um possível<br />
melhoramento das condições ambientais e na<br />
qualidade de vida social na agroindústria estudada.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem à Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), por todo o apoio integral à pesquisa; à empresa<br />
Plancomar Companhia Agrícola Ltda “Coco Comandatuba”, pela sua participação, receptividade ao projeto e pela<br />
disponibilização de dados e amostras de resíduos de coco; e também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e<br />
Tecnológico (CNPq), pelo apoio recebido através da bolsa de estudos de mestrado.<br />
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TABELAS<br />
Tabelas 1 - Componentes do novo indicador “Redução, Reutilização e Reciclagem” (RRR) incorporados ao sistema de avaliação de impacto<br />
ambiental adaptado ao caso estudado.<br />
Aspecto Geral Indicador Componentes incorporados<br />
Conservação Ambiental<br />
RRR<br />
Reciclagem da água<br />
Reciclagem de resíduos sólidos<br />
Reciclagem de resíduos perigosos<br />
Eficiência Energética<br />
Tabela 2 - Componentes incorporados no aspecto Qualidade do Produto<br />
Aspecto Geral Indicador Componente incorporado<br />
Qualidade do Produto<br />
Qualidade do produto<br />
Degradabilidade<br />
Capacidade de reaproveitamento<br />
Tabela 3 - Coeficientes de Impacto Ambiental e Índice Geral de Impacto Ambiental, nos casos estudados,<br />
com a aplicação da metodologia adaptada<br />
Tecnologia para a produção de<br />
Adsorventes Naturais<br />
Tecnologia para a produção de<br />
Materiais de Construção<br />
Sem aplicação das Tecnologias<br />
alternativas<br />
Peso do<br />
Indicador<br />
Coeficiente<br />
de Impacto<br />
Ci x Pi<br />
Peso do<br />
Indicador<br />
Coeficiente<br />
de Impacto<br />
Ci x Pi<br />
Peso do<br />
Indicador<br />
Coeficiente<br />
de Impacto<br />
Ci x Pi<br />
Uso de insumos químicos e materiais 0,125 0 0 0,125 0 0 0,125 0,75 0,09375<br />
Uso de Energia 0,125 -1 -0,125 0,125 -1 -0,125 0,125 -1,45 -0,18125<br />
Uso de água 0,125 -0,5 -0,0625 0,125 -1 -0,125 0,125 -1,5 -0,1875<br />
Atmosfera 0,125 -0,1 -0,0125 0,125 0 0 0,125 -0,1 -0,0125<br />
Geração de resíduos sólidos 0,125 0,75 0,09375 0,125 0,75 0,09375 0,125 -0,5 -0,0625<br />
Qualidade de água 0,125 -0,5 -0,0625 0,125 -0,5 -0,0625 0,125 -0,5 -0,0625<br />
RRR 0,125 0,75 0,09375 0,125 5 0,625 0,125 -0,5 -0,0625<br />
Qualidade do produto 0,125 4 0,5 0,125 4 0,5 0,125 0 0<br />
Valor total 1 0,425 1 0,90625 1 -0,475<br />
Índice Geral de Impacto Ambiental<br />
Adsorventes naturais<br />
0,425<br />
Materiais de construção<br />
0,90<br />
Sem Tecnologias alternativas<br />
0,475<br />
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Tabela 4 - Coeficientes de Impacto Social e Índice Geral de Impacto Social, nos casos estudados, com a aplicação da metodologia adaptada<br />
Indicadores de Impacto Social<br />
Tecnologia para a produção de<br />
Adsorventes Naturais<br />
Peso do<br />
Indicador<br />
Coeficiente de<br />
Impacto<br />
Ci x Pi<br />
Tecnologia para a produção de Materiais<br />
de Construção<br />
Peso do<br />
Indicador<br />
Coeficiente de<br />
Impacto<br />
Ci x Pi<br />
Sem aplicação das alternativas tecnológicas<br />
Peso do<br />
Indicador<br />
Coeficiente de<br />
Impacto<br />
Capacitação 0, 083 0,6 0, 0498 0, 083 0,35 0, 0291 0, 083 0 0<br />
Oportunidade de emprego local<br />
qualificado<br />
0, 083 0,75 0, 06225 0, 083 0,75 0, 0623 0, 083 0 0<br />
Oferta de emprego e condição do<br />
trabalhador<br />
0, 083 0,7 0, 0581 0, 083 0,7 0, 0581 0, 083 0 0<br />
Qualidade de emprego 0, 083 0,45 0, 03735 0, 083 0,45 0, 0374 0, 083 0 0<br />
Geração de Renda 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 0 0<br />
Valor da propriedade 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 0 0<br />
Saúde ambiental e pessoal 0, 083 -0,2 -0, 0166 0, 083 -0,2 -0, 0166 0, 083 - 4 -0, <strong>33</strong>2<br />
Segurança e saúde ocupacional 0, 083 -0,1 -0, 0083 0, 083 0 0 0, 083 -0, 15 -0, 01245<br />
Dedicação e perfil do responsável 0, 083 1,7 0, <strong>14</strong>11 0, 083 1,3 0, 1079 0, 083 1,7 0,<strong>14</strong>11<br />
Condição de comercialização 0, 083 2,25 0, 18675 0, 083 2,25 0, 1868 0, 083 2,25 0, 18675<br />
Reciclagem de resíduos 0, 083 1,2 0, 0996 0, 083 1,2 0, 0996 0, 083 0,4 0, 0<strong>33</strong>2<br />
Relacionamento Institucional 0, 083 1,8 0, <strong>14</strong>94 0, 083 1,25 0, 1038 0, 083 1,8 0, <strong>14</strong>94<br />
Materiais de Construção<br />
Sem aplicação das inovações<br />
Índice Geral de Impacto Social Adsorventes Naturais 1, 17<br />
1, 08<br />
0, 16<br />
tecnológicas.<br />
Ci x Pi<br />
FIGURAS<br />
Figura 1 - Esquema da área de avaliação das variáveis de reaproveitamento<br />
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GESTÃO INTEGRADA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO PARQUE<br />
ESTADUAL DE PORTO FERREIRA<br />
Integrated management in protected areas: case study of Porto Ferreira State Park<br />
Mayra Cristina Prado de<br />
Moraes<br />
Mestre em Sustentabilidade na<br />
Gestão Ambiental (Programa de Pós-<br />
Graduação em Sustentabilidade na<br />
Gestão Ambiental PPG-SGA - UFSCar<br />
Sorocaba); Bióloga; Doutoranda em<br />
Ciências Ambientais, Departamento<br />
de Ciências Ambientais, Universidade<br />
Federal de São Carlos, Campus São<br />
Carlos (UFSCar – São Carlos).<br />
E-mail: mayracpmoraes@gmail.com<br />
Kaline de Mello<br />
Mestre em Diversidade Biológica e<br />
Conservação; Bióloga; Doutoranda em<br />
Engenharia de Sistemas Agrícolas,<br />
Departamento de Engenharia de<br />
Biossistemas, Escola Superior de<br />
Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-<br />
USP).<br />
e-mail: kaline.mello@gmail.com.<br />
Rogério Hartung Toppa<br />
Doutores em Ecologia e Recursos<br />
Naturais; Biólogo; Professor Adjunto<br />
do Departamento de Ciências<br />
Ambientais e do Programa de Pós-<br />
Graduação em Sustentabilidade na<br />
Gestão Ambiental, PPG-SGA da<br />
Universidade Federal de São Carlos,<br />
Campus Sorocaba<br />
(UFSCar – Sorocaba).<br />
Autor para correspondência.<br />
RESUMO<br />
Este estudo analisou a configuração da paisagem na Zona de Amortecimento (ZA) do<br />
Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF) destacando as implicações para a<br />
conservação. O PEPF possui uma área de 611,55 ha, com entorno<br />
predominantemente agrícola, sendo 63% da paisagem composta por cana-de-açúcar<br />
e citricultura. A cobertura florestal corresponde a 12% da ZA com 60 fragmentos de<br />
pequeno tamanho (83% ≤ 10 ha). O isolamento do parque, a proximidade com o<br />
centro urbano, as monoculturas, a extração de argila e a circulação de veículos<br />
representam ameaças à conservação da biodiversidade. O aumento da conectividade<br />
do entorno por meio da recomposição de APP e reservas legais, bem como práticas<br />
agrícolas sustentáveis, devem ser metas para dirimir os impactos das monoculturas<br />
existentes na ZA. A participação da população no processo de atualização do plano<br />
de manejo, bem como na implantação de seus programas, é fundamental para a<br />
efetividade da gestão integrada.<br />
Palavras-chave: fragmentação florestal; área protegida; plano de manejo; zona de<br />
amortecimento; uso e cobertura da terra; conservação da biodiversidade.<br />
ABSTRACT<br />
This study analyzed the landscape configuration of the State Park of Porto Ferreira’s<br />
(SPPF) Buffer Zone (BZ) and highlighting the implications for its conservation. The<br />
SPPF has 611.55 ha its surrounding is predominantly agricultural, with 63% of the<br />
landscape cover by sugarcane and citrus monoculture. The forest covers 12% of the<br />
BZ, distributed in 60 small fragments (83% ≤ 10 ha). The protected area isolation in<br />
the landscape, the proximity to the urban center, the presence of monocultures, the<br />
clay extraction and intense car movement generate threats to the biodiversity<br />
conservation. The increased BZ connectivity through restoration of Riparian Forest<br />
and the establishment of legal reserves as well as sustainable agricultural practices<br />
should be goals to minimize the monocultures’ impacts. The population participation<br />
in the process of management plan updating and the implementation of its programs<br />
is critical to the effectiveness of the integrated management.<br />
Keywords: forest fragmentation; protected area; management plan; buffer zone;<br />
land cover and use; biodiversity conservation.<br />
e-mail: toppa@ufscar.br<br />
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A efetividade da gestão em Unidades de Conservação<br />
(UC) é um tema de grande interesse no Brasil e no<br />
mundo, visto que as suas estratégias e ações visam à<br />
integração das áreas protegidas com o seu entorno<br />
(BRASIL, 2000). Essa temática se fundamenta em<br />
abordagens aplicadas a gestão integrada de territórios,<br />
incorporando em seu processo de planejamento<br />
diretrizes de diferentes instrumentos voltados ao<br />
ordenamento do uso e ocupação da terra, como Planos<br />
de Manejo, Planos Diretores, Planos de Bacias,<br />
Zoneamento Ecológico-Econômico e o Código Florestal<br />
(SANTOS 2003).<br />
Um importante instrumento de planejamento da<br />
conservação da biodiversidade no Brasil, procurando<br />
atender os acordos internacionais, foi a criação do<br />
Sistema Nacional de Unidades de Conservação da<br />
Natureza (SNUC). O SNUC foi instituído pela Lei n°<br />
9.985/2000 que foi regulamentada posteriormente pelo<br />
Decreto n° 4.340/2002 (BRASIL, 2002). O SNUC foi<br />
criado após um longo processo de discussão, com a<br />
finalidade de proteger a fauna, flora, micro-organismos,<br />
corpos d’água, solo, clima, paisagens, e amostras<br />
significativas dos ecossistemas existentes e de seus<br />
processos ecológicos por meio das UC (SIMÕES et al.,<br />
2008).<br />
A principal ferramenta de gestão e planejamento de<br />
uma UC previsto no SNUC é o Plano de Manejo. Esse<br />
documento técnico é fundamentado nos objetivos<br />
gerais da UC, e estabelece o seu zoneamento, bem<br />
como as normas que devem presidir o uso da área e o<br />
manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação<br />
das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade<br />
(BRASIL, 2000). Dentre as suas orientações, os Planos de<br />
Manejo estabelecem a área do entorno das UC,<br />
denominadas Zonas de Amortecimento (ZA)<br />
(MORSELLO, 2001). Essa área tem por finalidade,<br />
diminuir os efeitos dos impactos negativos exercidos<br />
pelas atividades antrópicas externas às unidades,<br />
funcionando como uma espécie de filtro ou até mesmo<br />
impedindo o efeito de borda ocasionado pela<br />
fragmentação das áreas naturais (ISHIHATA, 1999;<br />
BENSUAN, 2001).<br />
Na concepção mundial, o estabelecimento das ZA pode<br />
ter o objetivo tanto de conservação quanto de<br />
INTRODUÇÃO<br />
desenvolvimento, onde regiões conservadas convivem<br />
com populações humanas (LYNAGH; URICH, 2002). A<br />
política que estabelece as ZA ao redor das áreas<br />
protegidas ao longo dos países é similar, com diferenças<br />
nas características geográficas, legais e de gestão<br />
(STRAEDE; TREUE, 2006). Entretanto, apenas a criação<br />
da ZA não atende necessariamente às necessidades das<br />
UC, pois não há abrangência das particularidades de<br />
cada unidade ou a implantação das ações que garantam<br />
a eficácia da ZA (MARETTI, 2001). O Parque Estadual de<br />
Porto Ferreira (PEPF) é uma unidade na categoria de<br />
proteção integral do interior do estado de São Paulo<br />
que ilustra esse problema.<br />
A ZA do PEPF apresenta uma situação bastante<br />
conflitante entre uso da terra e a conservação da<br />
biodiversidade. O parque faz divisa com a Rodovia SP<br />
215 e apresenta diversas atividades no seu entorno<br />
conflitantes com a proteção da UC, destacando-se a<br />
extração de argila, monoculturas, pastagens, caça e<br />
tráfego intenso de veículos. Além disso, o centro<br />
urbano do município de Porto Ferreira encontra-se<br />
muito próximo ao parque, e observa-se o crescimento<br />
da zona urbana em sua direção. No entorno há vários<br />
cursos d’água importantes, inclusive para o<br />
abastecimento da cidade, dentre eles, o rio Mogi-<br />
Guaçu, que possui uma das poucas matas ciliares<br />
remanescentes dentro do PEPF (SÃO PAULO, s/d). Essas<br />
atividades antrópicas provocam a fragmentação da<br />
paisagem, isolando cada vez mais as manchas florestais<br />
do PEPF.<br />
Segundo Geist; Lambim (2001), a expansão agrícola e a<br />
exploração dos recursos naturais aliados ao aumento da<br />
infraestrutura em áreas urbanas, representam as<br />
principais causas do desmatamento das florestas.<br />
Sendo assim, os conflitos presentes na ZA que ameaçam<br />
a integridade ecológica e a biodiversidade da UC,<br />
necessitam ser analisados de forma a proporcionar um<br />
entendimento dos padrões de uso e ocupação da terra,<br />
bem como da dinâmica socioeconômica que rege esses<br />
padrões, para a proposição de estratégias de<br />
planejamento e gestão integrada da ZA. As estratégias<br />
para a conservação necessitam ser balizadas por dados<br />
que permitam a interação entre perspectivas de fatores<br />
biológico-ecológicos e socioeconômicos (ALEXANDRE et<br />
al., 2010).<br />
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Considerando que a revisão do Plano de Manejo do PEPF se encontra em tempo hábil para ser iniciada, os padrões de<br />
uso e ocupação da terra do seu entorno podem subsidiar políticas ambientais que conciliem as necessidades sociais com<br />
a integridade ecológica da paisagem, garantindo assim, a sustentabilidade da paisagem, que é, sem dúvida, o maior<br />
desafio do planejamento ambiental. Frente a esses aspectos, o presente trabalho teve como principal objetivo analisar o<br />
uso e ocupação da terra da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira, com a finalidade de subsidiar<br />
uma discussão sobre a gestão integrada da ZA para se atingir o cumprimento dos objetivos da área protegida.<br />
Área de Estudo<br />
O PEPF possui 611,55 ha e localiza-se ao Nordeste do<br />
Estado de São Paulo, no município de Porto Ferreira,<br />
Rodovia SP - 215, Km 89, que liga Porto Ferreira a Santa<br />
Cruz das Palmeiras. A UC fica no fuso 23S, entre as<br />
coordenadas geográficas a UTM 7.579.500 à 7.583.500<br />
e 245.000 a 251.000 (Figura 1).<br />
A temperatura máxima é de 37°C, com mínima de 16°C<br />
e temperatura média de 21°C (ROSSI et al. 2005a). A<br />
litologia é composta basicamente por arenitos finos,<br />
arcóseos, argilitos, siltitos, calcários e folhelhos, e os<br />
Em 06 de novembro de 1962 a UC foi criada pelo<br />
Decreto Estadual n° 40.991, e classificada como Reserva<br />
Estadual (SÃO PAULO, 1962). Posteriormente, em 02 de<br />
março 1987, por meio do Decreto Estadual n° 26.891,<br />
foi transformada em Parque Estadual (SÃO PAULO,<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
solos do tipo Latossolos nos topos, Argissolos nas<br />
vertentes e Neossolos Flúvicos e Gleissolos nas planícies<br />
(SÃO PAULO, 2003). O PEPF localiza-se na unidade<br />
morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná,<br />
unidade morfoescultural da Depressão Periférica<br />
Paulista, e unidade morfológica da Depressão do Mogi-<br />
Guaçú (AB’SABER, 1969).<br />
Em relação à cobertura florestal, o PEPF tem sua<br />
formação composta por dois hotspots globais: a Mata<br />
Atlântica (378 ha) e o Cerrado (169 ha), com<br />
predomínio de Floresta Estacional Semidecidual (ROSSI<br />
et al., 2005a, b).<br />
1987). O Plano de Manejo do PEPF foi elaborado em<br />
2003 e aprovado pelo CONSEMA em 2007,<br />
completando em 2012 cinco anos de sua elaboração,<br />
período em que se pode iniciar a sua revisão (BRASIL,<br />
2000).<br />
Figura 1. Localização da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF),<br />
município de Porto Ferreira, estado de São Paulo, Brasil.<br />
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Mapeamento do Uso da Terra<br />
Foi utilizada uma imagem do satélite ALOS do ano de<br />
2008, com resolução espacial de 10 metros. Além disso,<br />
foram utilizados dados vetoriais em formato shapefile<br />
(hidrografia, curvas de nível, malha viária, limites da UC<br />
e da ZA) referentes ao Plano de Manejo da UC.<br />
Os planos de informação foram vetorizados em tela, em<br />
escala 1:15.000 com o auxílio do programa ArcGIS.<br />
Segundo Henke-Oliveira (2001), a incorporação do<br />
conhecimento e a certificação do pesquisador na<br />
classificação digital significa incorporar princípios de<br />
fotointerpretação simultaneamente, considerando<br />
assim o uso da vetorização em tela. Para o<br />
mapeamento foram definidas <strong>14</strong> classes de uso da terra<br />
(Tabela 1), tomando como base as tipologias definidas<br />
pelo manual técnico de usos da terra (IBGE, 2013).<br />
Antes de iniciar o processo de mapeamento foi<br />
realizado um trabalho de campo auxiliado por um<br />
receptor GPS (Global Positioning System), a fim de obter<br />
e relatar pontos de controle. Com base nesses pontos<br />
conhecidos da área e características de tonalidade,<br />
textura e forma das fotografias e imagem (ANDERSON,<br />
1982; TOPPA et al., 2006), foi elaborada uma chave de<br />
classificação das principais classes de uso para facilitar a<br />
interpretação da imagem (MARCHETTI; GARCIA, 1989;<br />
TOPPA et al., 2006).<br />
A interpretação das fotos e imagens foi baseada no<br />
método de Lueder (1959) e Spurr (1960), que utiliza<br />
elementos identificáveis na imagem e fotografias aéreas<br />
como cor, tonalidade, textura, forma, dimensão e<br />
associação de evidências para classificar a vegetação.<br />
Após essa etapa todas as informações duvidosas foram<br />
confrontadas com base em dados do Levantamento<br />
Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do<br />
Estado de São Paulo (LUPA), e de documentos de<br />
registro das propriedades. Posteriormente ao<br />
mapeamento foram realizadas visitas técnicas de<br />
campo com auxílio de receptor GPS e câmera<br />
fotográfica, a fim de realizar o reconhecimento e<br />
localização de pontos de interesse das variáveis na<br />
imagem, selecionando os aspectos de maior relevância<br />
para a verdade terrestre.<br />
O mapa referente ao uso da terra foi analisado com a<br />
verdade terrestre para obtenção da concordância entre<br />
ambos. Para isso, foi estimada a exatidão do mapa por<br />
meio de matriz de erros e coeficiente kappa<br />
(CONGALTON; GREEN, 1998). A matriz de erros,<br />
também chamada de matriz de confusão, identifica o<br />
erro global da classificação e, para cada categoria, os<br />
erros de omissão e comissão. Os erros de omissão<br />
podem ser definidos como a omissão no mapa de uma<br />
feição constatada em campo, já os erros de comissão<br />
são descritos como a atribuição no mapa de<br />
determinada feição a uma classe a qual a mesma não<br />
pertence, segundo verificação de campo (CAMPBELL,<br />
2002). Os pontos para aferição em campo foram<br />
obtidos com a sobreposição de um mapa da malha<br />
viária na ZA, com outro de distâncias plotado com linhas<br />
concêntricas a cada 500 m a partir de um ponto central<br />
na área (MELLO, 2012; FUSHITA, 2006). O cruzamento<br />
das estradas com as linhas concêntricas foram os locais<br />
selecionados no campo para a parada do automóvel e<br />
posterior checagem, sendo que em cada parada foram<br />
checados dois pontos, um em cada lado da estrada,<br />
totalizando assim, 224 pontos ao longo da ZA.<br />
Sabe-se que no processo de mapeamento há erros, por<br />
mais confiável que o método de classificação seja<br />
(NUSSER; KLAAS, 2003). Como os mapeamentos<br />
influenciam diretamente no processo decisório, esses<br />
erros não podem ser desconsiderados ou omitidos. Para<br />
o presente estudo o índice Kappa foi de 0,86, o que<br />
indica um resultado considerado muito bom (KORMAN,<br />
2003), já que o valor para esse índice varia de 0 a 1,<br />
sendo que quanto mais se aproxima de 1, mais a<br />
classificação se aproxima da realidade (MOREIRA,<br />
2001). Pode-se assim, considerar a aplicação desse<br />
mapeamento nas análises abordadas pelo estudo.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
A configuração do uso da terra do entorno do PEPF é predominantemente agrícola, com as culturas de cana-de-açúcar e<br />
citricultura ocupando 3.805,64 ha, o que corresponde a 63,38% da área total da ZA. As áreas de floresta correspondem<br />
a terceira maior classe de uso e ocupação (Tabela 1), com um total de 760,27 ha (12,66%). A Figura 2 apresenta o<br />
mapeamento do uso e ocupação da terra na Zona de Amortecimento da UC.<br />
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Tabela 1. Uso e ocupação da terra da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira.<br />
Classe de uso e ocupação Área (ha) Área (%)<br />
Área Alagável 213,13 3,55<br />
Batata 578,69 9,63<br />
Cana-de-açúcar 2776,30 46,24<br />
Citricultura 1029,34 17,<strong>14</strong><br />
Corpo d’água 85,43 1,42<br />
Eucalipto 95,27 1,60<br />
Instalações rurais e industriais 166,76 2,78<br />
Pastagem 153,07 2,55<br />
Floresta 760,27 12,66<br />
Outras Culturas 54,72 0,91<br />
Outras Atividades 91,34 1,52<br />
Figura 2 - Uso e ocupação da terra na Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF), município de Porto Ferreira,<br />
estado de São Paulo, Brasil. Mapeamento elaborado com base em imagem ALOS do ano de 2008.<br />
Frente aos objetivos de gestão da área protegida, que<br />
se enquadra como uma UC de proteção integral, os<br />
remanescentes de floresta tem papel fundamental na<br />
manutenção da biodiversidade local. Nesse sentido,<br />
vale destacar que na ZA foram mapeados 60<br />
fragmentos de floresta, sendo que 21 são menores que<br />
01 ha, 19 tem área entre 01 a 05 ha, 10 entre 05 a 10<br />
ha, 07 entre 10 e 50 ha e apenas 03 fragmentos são<br />
maiores que 50 ha, sendo que a maior mancha de<br />
floresta na ZA possui 96,97 ha. Esse resultado revelou<br />
que 83,3 % dos fragmentos da ZA do PEPF são menores<br />
do que 10 ha, indicando uma fragilidade para a gestão<br />
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integrada entre a área do parque e a ZA, quando<br />
correlacionada a estratégias de manejo e conservação<br />
da fauna e da flora locais. Ribeiro et al. (2009)<br />
consideraram em estudo na Mata Atlântica, que<br />
fragmentos menores que 50 ha são pequenos, sendo<br />
assim, com base nesse referencial, 95% dos fragmentos<br />
de floresta da ZA apresentam esse enquadramento. Os<br />
fragmentos maiores do que 50 ha se encontram<br />
associados aos corpos d’água, enquanto que os<br />
menores estão dispersos na matriz agrícola, o que de<br />
certa forma, essa configuração espacial pode ser<br />
considerada positiva, pois na estrutura da paisagem<br />
pode-se planejar e efetivar uma estratégia de gestão<br />
para a formação e/ou análise de corredores que<br />
poderão integrar a UC e a sua ZA.<br />
A configuração florestal da ZA em pequenos fragmentos<br />
pode afetar a permanência e deslocamento de algumas<br />
espécies animais que não conseguem se adaptar a<br />
pequenas manchas de habitat. O PEPF possui um total<br />
de nove espécies ameaçadas e quatro provavelmente<br />
ameaçadas de mamíferos não voadores. Dentre as<br />
espécies ameaçadas estão o Chrysocyon brachyurus<br />
(lobo-guará) e a Puma concolor (onça-parda) (SÃO<br />
PAULO, 2003), que necessitam de grandes áreas<br />
florestadas para sobreviverem. Chiarello (2000)<br />
concluiu que apenas fragmentos maiores ou iguais a<br />
20.000 ha são capazes de manter populações viáveis de<br />
mamíferos de médio e grande porte, uma condição que<br />
não ocorre no município de Porto Ferreira. A área mais<br />
próxima que apresenta esse tipo condição abrange a<br />
Estação Ecológica de Jataí, no município de Luiz<br />
Antônio, com uma distância de aproximadamente 30<br />
km em linha reta para o PEPF.<br />
O predomínio de monoculturas de cana-de-açúcar e<br />
citricultura na configuração da paisagem da ZA (63% de<br />
toda a área) representa uma ameaça à conservação da<br />
biodiversidade, em especial a cana-de-açúcar. Os<br />
problemas ambientais se referem à poluição e<br />
contaminação das águas a partir do<br />
lançamento/vazamento do vinhoto nos corpos d’água<br />
no entorno das usinas, aos problemas de exaustão do<br />
solo pela utilização de adubação química em grandes<br />
áreas de monocultura, e principalmente a queima dos<br />
canaviais (MORAES; MELLO; TOPPA, 2013). A queima<br />
libera gás carbônico, ozônio, gases de nitrogênio e de<br />
enxofre, além da fuligem da palha formada pela<br />
queimada (RICCI, 1994; SZMRECSANYI, 1979).<br />
Grande parte da degradação ambiental das florestas<br />
tropicais está associada à expansão das fronteiras<br />
agrícolas, juntamente com a intensificação de métodos<br />
de cultivo (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2008; FAO, 2010;<br />
MULITZA et al., 2010). Em estudo realizado por Ellis;<br />
Ramankutty (2008) foi indicado que <strong>14</strong> dos 21 tipos de<br />
biomas mundiais são afetados pela agricultura, e há<br />
estudos prevendo a expansão desse uso sobre as<br />
florestas no futuro (HOCKLEY et al., 2008; PEREIRA et<br />
al., 2010; WWF, 2010). Esse é o caso do bioma Mata<br />
Atlântica, que cada vez mais perde área para pastagens<br />
e cultivos agrícolas. No estado de São Paulo, nos anos<br />
2010/2011, foi registrada uma média anual de<br />
desmatamento de <strong>14</strong>.090 ha de Mata Atlântica (SOS<br />
MATA ATLÂNTICA; INPE, 2012).<br />
Vale salientar que a gestão da UC possui ainda dois<br />
grandes desafios para integração da ZA com área do<br />
parque, quando considerados aspectos para a<br />
conservação da biodiversidade: i) nos limites da área<br />
protegida encontram-se a rodovia SP 215 ao norte; e ii)<br />
o rio Mogi-Guaçu ao sul, criando uma barreira de<br />
travessia para diversos grupos da fauna. Souza et al.<br />
(2010) registraram 70 atropelamentos no entorno do<br />
PEPF, sendo que 60 % eram mamíferos, 23 % aves, 12 %<br />
répteis, 1 % anfíbios e 4 % não foram determinados.<br />
Dentre as espécies atropelas destacam-se as<br />
ameaçadas, como o veado catingueiro (Mazama<br />
gouazoubira), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),<br />
jaguatirica (Leopardus pardalis) e o gato mourisco<br />
(Puma yagouaroundi) (SOUZA et al., 2010).<br />
As UC em si não asseguram que os objetivos de<br />
conservação sejam atendidos, devido, principalmente,<br />
às pressões externas exercidas sobre elas. Essas áreas<br />
necessitam ser geridas não somente dentro de seus<br />
limites, mas também além deles. As ZA servem para<br />
preencher essa lacuna e assegurar que o entorno das<br />
UC não prejudiquem o bom funcionamento da área<br />
protegida (RIBEIRO et al., 2010).<br />
A organização não governamental The Nature<br />
Conservancy (TNC) assumiu como estratégia um<br />
programa para 27 países, incluindo o Brasil,<br />
denominado “Planejando uma Geografia da Esperança”,<br />
no qual previa um planejamento não só da UC, mas das<br />
áreas externas a ela (TRESSINARI, 2002). No Brasil, a<br />
legislação mais adequada ao planejamento da ZA de<br />
uma UC é o SNUC (artigo 25) (BRASIL, 2000). Iniciativas<br />
anteriores ao SNUC, na década de 60, já buscavam<br />
normatizar o uso e ocupação dessas áreas de entorno<br />
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(RIBEIRO et al., 2010). Em 1967, no artigo 10 da Lei n°<br />
5.197, foi estabelecido que em terrenos adjacentes as<br />
UC fossem proibidas as atividades de destruição e caça<br />
de espécimes de fauna silvestre (VIO, 2001).<br />
Com o Decreto n° 99.274/1990, foi a primeira vez que o<br />
termo “áreas circundantes” apareceu para como uma<br />
proposta de ZA. Era previsto nesse decreto que toda<br />
atividade que pudesse afetar a biota, dentro de um raio<br />
de dez quilômetros, ficaria subordinada às normas<br />
editadas pelo CONAMA (VIO, 2001). Foram tomadas<br />
algumas iniciativas para regulamentar as atividades que<br />
estivessem nas ZA, e que fossem geradoras de<br />
significativo impacto ambiental para as UC. A Resolução<br />
CONAMA n° 13/90 (BRASIL, 1990) apresentou os<br />
primeiros dispositivos legais que regulamentam os<br />
procedimentos para o licenciamento ambiental nessas<br />
condições. As interfaces dessa norma foram supridas<br />
com a aprovação da Resolução CONAMA nº 428/10,<br />
que revoga, dentre outras, a Resolução nº 13/90. A<br />
Resolução nº 428/10 prevê que atividades impactantes<br />
às UC que não possuem Plano de Manejo estabelecido,<br />
em um raio de três mil metros a partir de seus limites,<br />
devem sofrer o processo de licenciamento ambiental, e<br />
não mais em um raio de dez mil metros (VITALLI, 2009)<br />
como previa a CONAMA 13/90 (BRASIL, 2010). Vale<br />
salientar que as fragilidades das ZA, na maioria das<br />
vezes, não são totalmente levadas em consideração, e<br />
os possíveis impactos que atingem diretamente ou<br />
indiretamente as UC não são previstos (MARETTI,<br />
2001).<br />
Há certa controvérsia com relação ao tamanho préestabelecido<br />
para as ZA. Cada área protegida tem uma<br />
necessidade diferente quando se planeja estabelecer<br />
sua ZA. São necessárias pesquisas com metodologias<br />
definidas para cada caso em específico, de maneira que<br />
a escolha do tamanho da ZA minimize os impactos do<br />
entorno sobre a UC (LI et al., 1999). Esse mesmo autor<br />
sugere a largura de uma ZA na China a partir de um<br />
modelo de Processo Hierárquico Analítico (AHP). O<br />
modelo AHP hierarquiza cada fator e sua potencialidade<br />
em influenciar negativamente a UC.<br />
Em outros países como a França, não há critérios para<br />
delimitar as ZA, e nos Estados Unidos os limites<br />
estabelecidos para essas zonas não coincidem com os<br />
limites dos ecossistemas (OLIVA, 2003). A Suíça foi o<br />
primeiro país a adotar a faixa dos dez quilômetros para<br />
o entorno das áreas protegidas para proteger a<br />
biodiversidade de seus parques nacionais (VITALLI,<br />
2009). Outros países passaram a adotar essa largura<br />
para suas ZA, como é o caso Brasil. Como aspectos<br />
regionais (físicos, socioculturais, econômicos e<br />
ambientais) não foram levados em consideração<br />
quando o Brasil internalizou um modelo de outro país,<br />
com contexto totalmente diferente, roteiros<br />
metodológicos estão sendo testados para discutir e<br />
desenvolver os melhores critérios para o<br />
estabelecimento do tamanho dessas zonas (GALANTE et<br />
al., 2002; FERNANDES et al., 2011).<br />
Os critérios para o estabelecimento de uma ZA, bem<br />
como usos e normas que as regulam, devem estar<br />
contidos no Plano de Manejo da UC. Esse plano deve<br />
possuir caráter preventivo e necessita levar em<br />
consideração as peculiaridades de cada UC, e analisa-las<br />
individualmente (VASQUES, 2008). As atividades<br />
humanas realizadas no entorno das UC devem estar<br />
sujeitas a normas e restrições específicas. Embora seja<br />
essencial que existam pesquisas para identificar e<br />
diagnosticar as áreas de entorno das UC, poucos são os<br />
Planos de Manejo que efetivamente definem a ZA e a<br />
consideram no processo de planejamento e gestão de<br />
seus recursos naturais (COSTA et al., 2009). De acordo<br />
com Vio (2001), as ZA devem auxiliar na: a) Formação<br />
de uma área de amortecimento no entorno da UC, que<br />
diminua os efeitos de borda gerados pelas atividades<br />
antrópicas; b) Proteção de mananciais, mantendo o<br />
padrão e a qualidade da água; c) Manutenção da<br />
paisagem do entorno da UC; d) Contenção da<br />
urbanização contínua e não planejada; e) Consolidação<br />
de usos adequados e de atividades complementares à<br />
proposta do plano de manejo da UC.<br />
A implementação de uma ZA que cumpra seu papel de<br />
fiscalizar e estabelecer diretrizes para o entorno de uma<br />
UC, é um instrumento de extrema importância para a<br />
redução das pressões sobre a conservação ambiental.<br />
Porém, para a implementação efetiva dessa<br />
ferramenta, as ações conservacionistas necessitam de<br />
um aparato de informações econômicas, ambientais<br />
(METZGER et al., 2008) e socioculturais, sendo<br />
necessário um diagnóstico preciso do contexto em que<br />
a UC está inserida, principalmente no que se refere aos<br />
usos e ocupação de terras estabelecidas em sua ZA.<br />
As medidas adotadas para o planejamento do uso da<br />
terra, principalmente nas ZA, foram, até recentemente,<br />
tomadas com base em informações fragmentadas de<br />
efeitos desses usos no ambiente, em razão de não<br />
haver registros seguros sobre as práticas adequadas de<br />
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uso da terra, não se podendo avaliar, portanto, as<br />
alterações antrópicas nessas áreas (COSTA et al., 2009).<br />
O monitoramento do uso da terra nas ZA pode<br />
favorecer a compreensão dos padrões de organização<br />
do espaço, pois o solo sempre está em processo de<br />
mudança devido às ações humanas. O uso da terra nas<br />
ZA, na maioria das situações, é realizado sem a<br />
preocupação com o meio ambiente. A queimada,<br />
desmatamento, o uso de agrotóxicos e a caça ilegal são<br />
alguns exemplos desses usos maléficos (RAMOS, 2008).<br />
Esse uso inadequado das ZA coloca em risco as UC, e<br />
nesse contexto devem-se buscar soluções educativas,<br />
legais ou científicas para esses problemas relacionados<br />
com o entorno das áreas protegidas, a fim de viabilizar<br />
alternativas efetivas para identificação e mitigação dos<br />
conflitos existentes nesses espaços limítrofes<br />
(DRUMMOND et al., 2009).<br />
A gestão dos diferentes tipos de áreas protegidas com<br />
suas ZA deve incorporar um planejamento conjunto dos<br />
diversos setores do desenvolvimento socioeconômico<br />
do país, incluindo estrategicamente a conservação da<br />
biodiversidade e de seus recursos naturais, com base<br />
em diretrizes que permitam que todas as UC e suas ZA<br />
se integrem no que diz respeito às tomadas de decisão,<br />
e concomitantemente, que estejam incorporadas aos<br />
principais planos de gestão territorial previstos na<br />
Agenda 21: Plano Nacional de Recursos Hídricos,<br />
Zoneamento Ecológico-Econômico, Planos de Bacias<br />
Hidrográficas e os Planos Diretores (FREITAS, 2009).<br />
O Plano Nacional de Áreas Protegidas tem como um dos<br />
seus princípios a cooperação entre municípios, Estados<br />
e Federação para o estabelecimento e gestão das UC e<br />
de suas ZA, bem como a articulação das ações de gestão<br />
das áreas protegidas com as políticas públicas dessas<br />
três esferas de governo e com os grupos de interesse da<br />
sociedade. Para atrelar o planejamento das ZA aos<br />
demais planos de abrangência local e regional, as áreas<br />
protegidas devem ser apoiadas por um sistema de<br />
práticas de manejo sustentável dos recursos naturais,<br />
integrado com a gestão de bacias hidrográficas. Essa<br />
concepção traz uma nova dimensão ao planejamento<br />
do território, conectando os planos setoriais e<br />
estimulando o diálogo entre políticas locais, construídas<br />
pelos municípios e organizações de apoio, que são os<br />
grandes responsáveis por definir o uso e ocupação da<br />
terra nas mais diversas paisagens (FREITAS, 2009). Essa<br />
visão de planejamento pode ser aliada a Ecologia de<br />
Paisagens e suas aplicações para traçar as ações<br />
prioritárias.<br />
Segundo Bursztyn; Bursztyn (2006), para o sucesso das<br />
UC, é preciso uma gestão correta dessas áreas. Essa<br />
gestão deve ser integrada, ou seja, envolvendo ações<br />
atreladas a políticas públicas, setor produtivo e a<br />
comunidade, visando o uso sustentável e racional dos<br />
recursos ambientais. Uma gestão integrada não é tarefa<br />
simples, pois deve estar articulada com os diferentes<br />
atores e níveis de atuação, com conhecimentos em<br />
áreas diversificadas. Os gestores das UC possuem a<br />
difícil tarefa de lidar com as questões políticas e<br />
institucionais que podem ameaçar ou beneficiar essas<br />
áreas. Para o sucesso dessa tarefa, é preciso conhecer e<br />
compreender as políticas públicas que regem a ação do<br />
Estado nas áreas protegidas, e principalmente em seu<br />
entorno. Devem-se conhecer as dinâmicas e tendências<br />
de ocupação e as políticas de desenvolvimento que<br />
interferem no uso da terra, na proteção e na gestão<br />
dessas UC e suas ZA. Desta maneira a gestão da área<br />
protegida poderá ser articulada com as demais ações e<br />
estratégias desenvolvidas em um dado território (WWF;<br />
IPÊ, 2012).<br />
Apesar da importância do entendimento dessas<br />
políticas norteadoras, há divergências entre a forma de<br />
implementação de tais políticas no território e as bases<br />
conceituais e formais sobre as quais estão formuladas.<br />
A “posição” do Estado não é necessariamente a que<br />
está nos documentos oficiais. Torna-se fundamental<br />
compreender que as políticas públicas vão além da ação<br />
governamental de coordenar os meios à disposição do<br />
Estado e as atividades privadas, para a realização de<br />
objetivos socialmente relevantes e politicamente<br />
determinados (BUCCI, 2002).<br />
Uma das formas de construir estratégias integradas de<br />
desenvolvimento e conservação é a implementação de<br />
planos interministeriais, que agreguem diferentes<br />
setores em uma mesma abordagem ou território.<br />
Exemplos disso foram a tentativa do Plano de Ação para<br />
Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia<br />
(PPCDAM) e o Plano BR-163 Sustentável. A criação<br />
desses instrumentos possibilitou um avanço ao<br />
tratamento do tema no governo federal, evidenciando a<br />
importância da participação social nos problemas<br />
(WWF; IPÊ, 2012).<br />
O estabelecimento de processos participativos na<br />
gestão das UC surge como consequência da<br />
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necessidade de incluir os mais variados aspectos<br />
socioculturais e econômicos no processo decisório para<br />
a conservação ambiental. Entende-se que quando a<br />
sociedade é envolvida, principalmente as populações<br />
localizadas nas ZA, espera-se uma maior garantia de<br />
apoio para a unidade. O desenvolvimento de processos<br />
participativos contribui com a minimização de conflitos<br />
em conjunto com todos os atores sociais envolvidos<br />
nessas zonas, de forma que, por meio do diálogo aberto<br />
e da compreensão dos diferentes pontos de vista, se<br />
consiga o apoio das populações e instituições regionais<br />
para o planejamento e manejo das UC. O processo<br />
participativo do planejamento deve envolver todos os<br />
grupos relevantes para o manejo da unidade, como os<br />
residentes locais, moradores, usuários dos recursos,<br />
organizações não governamentais ambientalistas,<br />
outros tipos de organizações não governamentais e<br />
associações de base, prefeituras, setor privado,<br />
comunidade acadêmica, administrações regionais e<br />
instituições federais (WWF; IPÊ, 2012).<br />
A gestão integrada adequada à implementação de áreas<br />
protegidas, além de envolverem o processo<br />
participativo, deve ser embasada por um diagnóstico da<br />
área em questão. Os diagnósticos de UC têm como<br />
principal objetivo a geração de informação para<br />
identificar objetos e agentes de manejo, e áreas<br />
prioritárias para o desenvolvimento de ações de<br />
conservação. Esse processo deveria ocorrer durante a<br />
fase que antecipa a criação de uma UC, mas a realização<br />
de diagnósticos posteriores está cada vez mais comum.<br />
Esses diagnósticos tardios são voltados à geração de<br />
informação básica para complementar conhecimento<br />
insatisfatório para elaboração ou a revisão de planos de<br />
gestão (BERNARD, 2008).<br />
Após a implementação de uma UC, é necessário um<br />
monitoramento para assegurar uma gestão efetiva<br />
dessas áreas. Esses monitoramentos necessitam trazer<br />
propostas inovadoras, gerando conhecimento<br />
socioambiental, e ainda permitir o entendimento de<br />
processos e causas de vulnerabilidades e ameaças a sua<br />
sustentabilidade, de forma que intervenções sejam<br />
prevenidas antes de tornarem-se fatores de pressão.<br />
Ressalva as raras iniciativas participativas ligadas ao uso<br />
de recursos naturais, como é o caso do Programa de<br />
Monitoramento da Biodiversidade e do Uso de<br />
Recursos Naturais em Unidades de Conservação<br />
Estaduais do Amazonas - ProBUC - (MARINELLI et al.,<br />
2007), os saberes tradicionais, a opinião pública sobre<br />
as demandas locais, ou qualquer outro tipo de<br />
participação de populações residentes, continuam<br />
sendo colocados em segundo plano no monitoramento<br />
das UC.<br />
Os sistemas de gestão estratégica estão ligados à teoria<br />
das organizações, sistemas de informação e à gestão da<br />
tecnologia e inovação (VAN KROGH, 1998). Além de<br />
medidas inovadoras para a geração de conhecimento<br />
aplicado e na apropriação tecnológica para a<br />
implementação de áreas protegidas, o sucesso em sua<br />
gestão dependerá de qualificação e fixação de capital<br />
humano e integração institucional; gestão (inclusão<br />
social, promoção da preservação e manejo sustentável,<br />
efetividade das ações e adequação às realidades<br />
regionais); e governança (articulação federal<br />
juntamente com o Poder Judiciário e o Ministério<br />
Público) (WWF; IPÊ, 2012).<br />
Os resultados obtidos nesse trabalho evidenciaram a<br />
necessidade de proposições para alcançar a<br />
sustentabilidade da paisagem do entorno do Parque<br />
Estadual de Porto Ferreira, e a situação atual dos<br />
remanescentes de floresta provavelmente não<br />
sustentarão espécies de fauna e flora em um futuro não<br />
muito distante. A gestão integrada entre o PEPF e sua<br />
ZA, deve envolver a participação dos diversos atores<br />
sociais, mas em especial, a participação dos produtores<br />
rurais do entorno. Uma proposição justa seria o<br />
Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos<br />
agricultores que possuem as suas propriedades no<br />
interior da ZA. O PSA consiste em um incentivo<br />
econômico para quem gerir de forma adequada<br />
determinado recurso natural, ou seja, é a recompensa<br />
àquele que deixa de se apropriar de um recurso natural<br />
para assegurar sua preservação (WUNDER, 2009).<br />
A articulação da UC junto aos órgãos competentes é<br />
essencial, inclusive com o município de Porto Ferreira.<br />
O próprio Plano Diretor Municipal traz que: “o<br />
planejamento ambiental do município” deverá ser<br />
elaborado de forma integrada com todas as áreas da<br />
administração pública local, em especial a Divisão de<br />
Planejamento, devendo considerar também, as<br />
diretrizes estabelecidas pelo “Plano Diretor do Comitê<br />
da Bacia Hidrográfica do rio Mogi-Guaçu” e do “Plano<br />
de Manejo do Parque Estadual de Porto Ferreira”<br />
(PORTO FERREIRA, 2007). Estabelecida essa diretriz, é<br />
essencial que o gestor, grupos de interesse e a<br />
população em geral cobrem isso perante a gestão<br />
municipal. Visto que o planejamento ambiental<br />
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municipal se baseará também no Plano de Manejo do<br />
PEPF, esse documento necessita ser o mais detalhado<br />
possível para atender a todas as necessidades da UC e<br />
de seu entorno. No processo de revisão do Plano de<br />
Manejo, demanda do PEPF, deve-se discutir a<br />
proposição de uma nova delimitação de zonas,<br />
incluindo e/ou excluindo certas áreas.<br />
Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei<br />
n°94<strong>33</strong>), em seu artigo 3°, fica estabelecido que deve<br />
haver a “articulação do planejamento de recursos<br />
hídricos com o dos setores usuários e com os<br />
planejamentos regional, estadual e nacional” e ainda a<br />
compatibilização da “articulação da gestão de recursos<br />
hídricos com a do uso do solo” (BRASIL, 1997). Essa<br />
diretriz deve ser tomada, levando em consideração a<br />
importância de que o rio Mogi-Guaçu é um recurso<br />
hídrico que percorre e abastece várias cidades, não só<br />
do estado de São Paulo, mas também de Minas Gerais.<br />
Em 2002, houve um grande impacto para a ictiofauna<br />
devido à eutrofização em um trecho do rio próximo ao<br />
Parque, onde foi detectada a morte de cerca de 30<br />
toneladas de peixes (SÃO PAULO, 2003).<br />
No Plano de Manejo do PEPF foi diagnosticado que os<br />
afluentes do rio Mogi-Guaçu sofrem com o<br />
assoreamento devido ao uso intensivo e a falta de<br />
conservação do solo por técnicas aplicadas nas<br />
propriedades, em alguns pontos do percurso natural<br />
das águas. Esse sedimento é carreado dos córregos<br />
presentes na ZA (Água Parada e ribeirão dos Patos) e<br />
chega ao rio Mogi-Guaçu, decaindo sua qualidade (SÃO<br />
PAULO, 2003). Assim, é importante que a política<br />
municipal fundamentada na coletividade e no<br />
desenvolvimento sustentável de Porto Ferreira, como<br />
previsto em seu plano diretor, seja cumprida e<br />
associada à Política Nacional de Recursos Hídricos, para<br />
uma gestão efetiva desses recursos, incorporando uma<br />
maior atenção para as diretrizes estabelecidas no Plano<br />
de Manejo do PEPF.<br />
Outro aspecto fundamental para a gestão integrada de<br />
UC é o estudo dos ciclos econômicos da região, que<br />
ajuda a compreender e a vislumbrar cenários futuros da<br />
paisagem. Essa pode ser considerada como uma<br />
ferramenta chave para a melhor gestão da paisagem e<br />
para melhorar a porcentagem de áreas florestadas na<br />
ZA do PEPF. Além disso, devem-se estabelecer áreas<br />
prioritárias para a conservação, visto que elas permitem<br />
o direcionamento dos esforços e recursos para<br />
conservação, e subsidia a elaboração de políticas<br />
públicas de ordenamento territorial (TABARELLI; SILVA,<br />
2002). As estratégias de conservação para a ZA do PEPF,<br />
depois de implementadas, necessitarão de programas<br />
específicos de gestão integrada ao manejo do Parque e<br />
a aplicação de técnicas de monitoramento baseadas em<br />
indicadores de desempenho ambiental de acordo com<br />
os objetivos e metas da UC. Essa fase é muito<br />
importante para a efetividade da gestão, pois, é por<br />
meio dela que se pode ter o envolvimento da<br />
população local e de grupos de apoio no processo da<br />
manutenção da sustentabilidade no entorno da UC.<br />
Dentre os programas de gestão integrados ao manejo<br />
da UC, deve-se considerar a possibilidade de se<br />
trabalhar com os agricultores para o desenvolvimento<br />
de práticas agrícolas sustentáveis, incorporando<br />
técnicas fundamentadas na Agroecologia, assim como<br />
deve-se implementar um programa de Educação<br />
Ambiental direcionado especificamente para as pessoas<br />
residentes ou de interação direta com a ZA da UC. Além<br />
disso, deve-se considerar a presença da Rodovia<br />
Anhanguera (SP 215), que isola o Parque da maior<br />
porção da ZA, sendo fundamental o desenvolvimento<br />
de pesquisas específicas para avaliar as consequências<br />
desse cenário na conservação da biodiversidade do<br />
PEPF. O manejo da fauna e da flora de ocorrência na UC<br />
deve estar integrado a essas questões, sendo que a<br />
revisão do Plano de Manejo deverá considerar<br />
propostas que ultrapassam os limites do Parque, com a<br />
finalidade de conectar as áreas naturais próximas para<br />
manutenção da variabilidade genética da UC,<br />
considerando as características do meio físico e<br />
socioeconômico da ZA.<br />
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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />
O Parque Estadual de Porto Ferreira apresenta-se na paisagem como uma mancha de habitat imersa em uma matriz<br />
antrópica, com diversas atividades que ameaçam a sua conservação, como a proximidade com o centro urbano,<br />
monoculturas de cana-de-açúcar, eucalipto e citricultura, extração de argila e circulação intensa de veículos. Os<br />
fragmentos florestais em sua ZA apresentam-se esparsos e em pequenos tamanhos, representando apenas 12% da<br />
paisagem. Por outro lado, o PEPF exerce grande importância para a conservação de remanescentes de transição entre<br />
Mata Atlântica e Cerrado, abrigando espécies ameaçadas de ambos os biomas e que possuem funções ecológicas<br />
essenciais para a conservação da biodiversidade.<br />
Programas e ações devem ser incorporados ao Plano de Manejo para que a ZA exerça sua função de dirimir os impactos<br />
negativos sobre o PEPF. O aumento da conectividade da paisagem do entorno por meio da recomposição de APP e<br />
estabelecimento de reservas legais, bem como práticas agrícolas sustentáveis, devem ser metas para minimizar os<br />
impactos das monoculturas existentes atualmente na ZA e aumentar a cobertura florestal do entorno. A presença da<br />
rodovia limítrofe ao PEPF deve ser melhor estudada para analisar os seus impactos sobre a biodiversidade.<br />
O estabelecimento de propostas de manejo na ZA deve ser tão importante quanto os programas de gestão para a UC.<br />
Para tanto, é imprescindível que a população e os representantes governamentais participem da reformulação do Plano<br />
de Manejo com a compreensão das problemáticas que envolvem o uso da terra no entorno da UC sobre a conservação<br />
da biodiversidade, e para o estabelecimento de metas para a gestão integrada da ZA, objetivando a melhoria da<br />
qualidade ambiental da unidade de conservação.<br />
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ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO DE MANGUEZAIS SOB CONDIÇÕES DE VARIAÇÃO SAZONAL<br />
Attributes chemical manguezais soil with variations on seasonal conditions<br />
Marina Lopes de Souza<br />
Universidade Federal do Pará – Belém<br />
– PA. Departamento de Geociências.<br />
E-mail: marina.lopes@hotmail.com<br />
Maria Aurora da Mota<br />
Universidade Federal do Pará – Belém<br />
– PA. Departamento de Geociências.<br />
E-mail: aurora@ufpa.br<br />
Maria de Lourdes Pinheiro<br />
Ruivo<br />
Museu Paraense Emílio Goeldi –<br />
Belém – PA. Coordenação de Ciências<br />
da Terra e Ecologia.<br />
E-mail: ruivo@museu-goeldi.br<br />
Rosecélia Moreira Castro<br />
Museu Paraense Emílio Goeldi –<br />
Belém – PA. Coordenação de Ciências<br />
da Terra e Ecologia.<br />
E-mail: rmsilva@museu-goeldi.br<br />
José Francisco Berredo<br />
Museu Paraense Emílio Goeldi –<br />
Belém – PA. Coordenação de Ciências<br />
da Terra e Ecologia.<br />
E-mail: berredo@museu-goeldi.br<br />
Paulo Jorge Oliveira de Souza<br />
Universidade Federal Rural da<br />
Amazônia – Belém – PA. Instituto de<br />
Ciências Agrárias/ICA.<br />
E-mail: paulo.jorge@ufra.edu.br<br />
Adriano Marlisom Leão de<br />
Souza<br />
Universidade Federal Rural da<br />
Amazônia – Belém – PA. Instituto de<br />
Ciências Agrárias/ICA.<br />
E-mail: adriano.souza@ufra.edu.br<br />
RESUMO<br />
Nesta pesquisa foram estudadas variações dos atributos químicos do solo,<br />
teor de nutrientes e suas relações de dependência com as precipitações em<br />
manguezal amazônico no período chuvoso e menos chuvoso. Os sítios<br />
experimentais foram estabelecidos como área 1 e 2. Os teores de Na e K<br />
foram variáveis que mais representaram período de estiagem. Na Área 1,<br />
correlacionada com maiores concentrações de nutrientes neste período,<br />
atingiram média 520,23 cmo c /dm 3 e 163,48 cmo c /dm 3 , respectivamente. Na<br />
estação chuvosa, essas concentrações foram menores com média 11,27<br />
cmoc/dm3 de Na e 4,07 cmo c /dm 3 de K provavelmente pela diluição desses<br />
nutrientes pelas águas da precipitação pluviométrica durante o período<br />
chuvoso. Houve alta variação de Na e K, durante estiagem, concentração de<br />
nutrientes foram maiores, principalmente no manguezal de intermaré, e na<br />
época chuvosa, a diluição provocada pela água das chuvas, assim como a<br />
lixiviação dos nutrientes do solo provocou uma redução significativa nos<br />
teores desses nutrientes.<br />
Palavras-chave: Precipitação, nutrientes, ecossistema, floresta de manguezal.<br />
ABSTRACT<br />
In this research we studied changes in soil chemical properties, the nutrient<br />
content and their dependency relationships with the rainfall in the Amazon<br />
mangrove in the rainy and dry season of 2011 and 2012. The levels of Na and<br />
K are variables that represent more droughts. Area 1, correlated with higher<br />
concentrations of nutrients in this period, reaching average 520,23<br />
cmoc/dm3 and 163,48 cmoc/dm3, respectively. In the rainy season, these<br />
concentrations were lower with average 11,27 cmoc/dm3 Na and 4,07<br />
cmoc/dm3 K probably due to the dilution of these nutrients by the waters of<br />
rainfall during the rainy season. There was great variation of Na and K, during<br />
the dry season, the concentration of nutrients was higher, especially in<br />
mangrove intertidal, and in the rainy season, the dilution caused by rain, as<br />
well as leaching of soil nutrients caused a reduction significant in the levels of<br />
these nutrients.<br />
Keywords: Precipitation, nutrients, ecosystem, mangrove forest.<br />
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Os manguezais são sistemas abertos, no que se refere<br />
ao fluxo de matéria e energia, recebendo um grande<br />
aporte de água doce, sedimentos e nutrientes do<br />
ambiente terrestre e exportando água e matéria<br />
orgânica para o mar, águas estuarinas e ambientes<br />
costeiros adjacentes (LEMOS, 20111).<br />
Frequentemente, as florestas de mangue exportam<br />
carbono e nutrientes sob a forma de serapilheira e<br />
carbono orgânico particulado para a zona costeira,<br />
sendo a precipitação um fator importante que<br />
influencia na exportação de carbono através da<br />
serapilheira. Por sua vez, esta exportação é maior em<br />
regiões de baixa precipitação anual e temperaturas<br />
médias anuais elevadas do que em locais com elevada<br />
precipitação e baixas temperaturas. Entretanto,<br />
algumas vezes esses materiais são exportados e outras<br />
vezes importados de ecossistemas adjacentes (ADAME<br />
et. al, 2011).<br />
As condições climáticas (pluviosidade, temperatura,<br />
ventos e outras) e morfológicas em manguezais<br />
justificam progressivo e contínuo desenvolvimento dos<br />
sedimentos e solos desse ecossistema e suas<br />
diferenciações, que por sua vez, estão relacionadas ao<br />
regime hídrico, composição da água superficial e<br />
periodicidade de inundação. Portanto, as<br />
transformações e interações que ocorrem nesse<br />
ecossistema, físicas (perda de água, aeração, oxidação,<br />
estruturação), químicas (perda da salinidade,<br />
dessaturação, lixiviação) e geoquímicas, são processos<br />
que acontecem simultaneamente (TURENNE, 1997).<br />
Pesquisas realizadas na costa nordeste do estado do<br />
Pará sugerem que as modificações ocorridas nos<br />
sedimentos/solos e águas intersticiais, como a oxidação<br />
total ou parcial da superfície dos sedimentos,<br />
modificações na mineralogia e nas características<br />
químicas e físico-químicas das águas intersticiais, são<br />
resultado da curta, porém marcante sazonalidade da<br />
região, da distribuição anual das chuvas, da<br />
evapotranspiração, do regime de marés e das<br />
características morfológicas e sedimentológicas dos<br />
manguezais (BERRÊDO et. al,2008).<br />
As constantes inundações nos manguezais, em função<br />
da ação das marés, criam condições favoráveis ao<br />
INTRODUÇÃO<br />
processo de decomposição anaeróbia dos altos<br />
conteúdos de matéria orgânica presentes nos solos e<br />
sedimentos. Essas inundações também provocam<br />
alterações físico-químicas nos solos de manguezais,<br />
causando a diminuição do potencial redox, a elevação<br />
dos valores de pH, mudanças drásticas no equilíbrio de<br />
minerais e na dinâmica de elementos como o ferro e o<br />
enxofre (PONNAMPERUMA, 1972).<br />
O substrato do manguezal é rico em material orgânico<br />
semi decomposto incompletamente e constituído de<br />
matéria orgânica morta de origem animal e vegetal.<br />
Este material é decomposto por bactérias anaeróbias,<br />
resultando na produção de ácido sulfídrico responsável<br />
pelo odor característico de manguezais lodosos<br />
(SANT’ANNA, et. al, 1981).<br />
A evolução de manguezais está vinculada aos fluxos de<br />
matéria e energia, associados aos processos<br />
hidrodinâmicos proporcionados pelas variações das<br />
marés, estabelecendo trocas por meio da interação e<br />
interdependência entre os componentes do manguezal<br />
e ecossistemas próximos ou adjacentes, como o<br />
apicum. Este ambiente é encontrado próximo a<br />
manguezais, em locais de topografia mais elevada, nas<br />
regiões intertropicais, com presença de solos com alta<br />
salinidade ou acidez (HADLICH, 2010). Entretanto, nem<br />
sempre apresentam salinidade elevada ou solos muito<br />
ácidos, devido às características próprias de cada<br />
ambiente.<br />
Os apicuns ocorrem em locais onde a maré atinge com<br />
uma frequência bem menor (marés de sizígia) ou onde<br />
há pouca influência de água doce vinda de rios e/ou<br />
chuvas, contribuindo para a hipersalinidade do solo,<br />
uma vez que longos períodos de exposição ao processo<br />
de evaporação concentram os sais em superfície,<br />
impossibilitando o desenvolvimento da vegetação de<br />
mangue (LEMOS, 2011).<br />
Diante das diversas interações que se estabelecem em<br />
manguezal e entre esse ecossistema e outros<br />
adjacentes, este estudo pretende analisar os atributos<br />
químicos do solo sob condições de variação sazonal,<br />
verificando as diferenças no teor de nutrientes do solo<br />
entre os manguezais estudados, na região do Salgado,<br />
nordeste paraense.<br />
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Descrições do sítio experimental<br />
Este estudo foi conduzido no município de Salinópolis,<br />
na zona costeira do nordeste do Estado do Pará. O sitio<br />
experimental do projeto Mudanças Climáticas está<br />
localizado na Ilha de Itarana (0°39'23.76" S e<br />
47°<strong>14</strong>'35.58" W), e em São João de Pirabas, na<br />
comunidade Caranã, (0°41'9.60" S e 47°15'59.82" W) a<br />
sudoeste da Ilha de Itarana. Os dois sítios experimentais<br />
escolhidos para este estudo também representam, em<br />
pequena escala, estas variações de unidades<br />
paisagísticas.<br />
Sítio experimental da Ilha de Itarana<br />
A Ilha de Itarana está a leste da península de Cuiarana e<br />
a sudeste da península de Salinópolis, entre as baías de<br />
Inajá (a leste) e Arapepó (a oeste), se interligando<br />
através do Furo Grande. É um ambiente costeiro sob<br />
forte influência do regime de marés, intercalado por<br />
canais de maré, furos e córregos, com presença de<br />
manguezais com relativo grau de preservação.<br />
A ilha (parte central: 0º39’11" S e 47º13’32’’ W)<br />
abrange uma área com cerca de 91km 2 e faz parte do<br />
município de São João de Pirabas e está separada de<br />
Cuiarana por um sistema de grandes canais estuarinos,<br />
sendo o maior deles, o Furo Grande. A área<br />
experimental é um segmento da Ilha de Itarana,<br />
caracterizada como manguezal de intermaré, devido<br />
sofrer constantes inundações, que ocorrem em função<br />
da variação das marés, como também por apresentar<br />
uma área topograficamente mais baixa, possuir um<br />
porte arbóreo maior e ser colonizada por mangues<br />
jovens que margeiam a planície costeira, adaptados às<br />
inundações e à elevada salinidade.<br />
A condição natural da floresta, com estrutura bastante<br />
diferenciada, formada por árvores de mais ou menos 30<br />
m de altura. Apresenta uma colonização de bosque de<br />
mangue composto em sua maioria por Rhizophora<br />
mangle, indivíduos jovens, e espécies do gênero<br />
Laguncularia, em alguns pontos existem a presença de<br />
árvores mais altas e bosque mais fechado.<br />
Sítio Experimental da comunidade de Caranã<br />
Localizado em São João de Pirabas, na comunidade<br />
Caranã, (0°41'9.60" S e 47°15'59.82" W) a sudoeste da<br />
Ilha de Itarana, caracterizada como manguezal de<br />
supramaré, existe uma zona de apicum no início deste<br />
MATERIAL E MÉTODOS<br />
perfil, que recebe influência de água doce proveniente<br />
de igarapés que atingem o local, resultante da água da<br />
chuva, principalmente durante o período chuvoso,<br />
favorecendo o aparecimento de uma vegetação de<br />
pequeno porte, composta principalmente de<br />
Rhizophora mangle, que não consegue se desenvolver<br />
devido a pouca umidade e salinidade elevada.<br />
Este sítio apresenta características de manguezais<br />
típicos de intermaré, com solo mais lodoso e úmido,<br />
com grande quantidade de pneumatóforos (raízes que<br />
crescem verticalmente em direção à superfície e que na<br />
maré baixa ficam expostas ao ar), sendo que a espécie<br />
R. mangle se manifesta de forma mais abundante do<br />
que outras espécies, com ocorrência de algumas<br />
Avicennia germinans com aproximadamente 30 m de<br />
altura, e Laguncularia racemosa com altura de<br />
aproximadamente 12 metros.<br />
Frequência e período sazonal amostrado<br />
A coleta de solo e folhas de serapilheira ocorreu no<br />
período menos chuvoso (setembro/2011) e no período<br />
chuvoso (abril/2012), nos três perfis de manguezal<br />
selecionados, para verificar a dinâmica dos atributos<br />
químicos do solo e de nutrientes em folhas de<br />
serapilheira, sob condições de precipitação elevada e<br />
baixa.<br />
Coletas dos dados de precipitação<br />
pluviométrica<br />
Em fevereiro de 2012, foi instalado próximo a área de<br />
estudo (0°42'41.44" S e 47°18'2.54" W) um pluviômetro<br />
confeccionado de garrafa pet (pluviômetro PET), de<br />
acordo com a figura 1, para fornecer informações da<br />
quantidade de precipitação no período chuvoso e<br />
menos chuvoso. Este pluviômetro foi instalado em São<br />
João de Pirabas, na comunidade Pindorama, no quintal<br />
de uma casa situada próxima a rodovia PA-124, em local<br />
livre de qualquer interferência externa. A distância<br />
aproximada do pluviômetro para área 1 e 2 é de,<br />
respectivamente, 8,8 km; 4,73 km.<br />
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Figura 1: Pluviômetro adaptado com garrafa pet<br />
Figura 2: Pluviômetro automático basculante da torre<br />
micrometeorológica<br />
As medições da quantidade de chuva acumulada em 24<br />
horas foram realizadas diariamente às 9 h da manhã<br />
com o auxílio de uma proveta de 250 ml. Após abrir a<br />
torneira e posicionar a proveta, anota-se a quantidade<br />
de precipitação que caiu dentro do pluviômetro. O<br />
pluviômetro PET possui uma área de captação de 177<br />
cm 2 e <strong>14</strong>,5 cm de diâmetro, e foi confeccionado<br />
adaptando a técnica de Assunção e Assis (1997).<br />
Além das coletas de precipitação realizadas pelo<br />
puviometro PET, também foram realizadas medidas<br />
com pluviômetro de báscula, resolução de 0.1mm<br />
(Figura 2), situado na torre micrometeorológica do LBA<br />
(Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in<br />
Amazonia) em Cuiarana, próxima a área de estudo<br />
(0°39’50.48” S e 47°17'4.05" W). As medições de<br />
precipitação são registradas de 10 em 10 minutos,<br />
fornecendo dados de precipitação diários e mensais, os<br />
quais são armazenados em um data-logger. Esses dados<br />
foram fornecidos pela equipe do LBA, responsável pelo<br />
monitoramento da torre situada em Cuiarana. A<br />
distância desse pluviômetro para o perfil 1, 2 e 3 é de<br />
aproximadamente 4,66 km; 3,<strong>14</strong> km e 2,97 km,<br />
respectivamente. A distância entre o pluviômetro PET e<br />
o de báscula é de aproximadamente 5,55 km.<br />
Ao analisar os dados fornecidos pelos dois<br />
pluviômetros, observou-se variação entre as medidas<br />
pluviométricas, em alguns meses, isso ocorre devido à<br />
distância entre os pluviômetros nos sítios amostrais<br />
fato que levou a acreditar que a distância dos<br />
pluviômetros aos sítios amostrais, bem como a maior<br />
proximidade da torre do micrometeorológica do mar,<br />
foram fatores que possivelmente influenciaram nessa<br />
diferença. A partir dessa consideração, optou-se por<br />
utilizar os registros pluviométricos da torre<br />
micrometeorológica do LBA.<br />
Os registros, dos anos de 2010, 2011 e 2012,<br />
mostraram os meses de setembro, outubro, novembro<br />
e dezembro (Figura 3), com baixos índices<br />
pluviométricos em relação aos outros meses o que<br />
caracteriza o período Menos chuvoso, a exceção foi o<br />
mês de outubro/2011, que registrou 105 mm de chuva.<br />
Destaque para o mês de setembro, que teve valor<br />
próximo à zero mm (0,254 mm) em 2010 e nos anos de<br />
2011 e 2012 não registrou nenhuma ocorrência de<br />
chuva, fato que influenciou nas características do solo,<br />
que ficou mais Menos chuvoso, salino e compacto,<br />
principalmente nas áreas de apicum, no início do perfil<br />
2.<br />
Os meses com maiores precipitações foram fevereiro,<br />
março e abril nos anos de 2011 e 2012 (Figura 3),<br />
caracterizando o período mais chuvoso registrado<br />
através do pluviômetro de báscula, com o maior pico de<br />
672 mm em abril/2011. No mês de coleta (abril/2012)<br />
período chuvoso, a precipitação chegou a 280 mm, o<br />
que deixou o solo mais úmido e menos salino.<br />
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Figura 3: Valores mensais de precipitação pluviométrica de setembro de 2010 a novembro de 2012, coletada pelo pluviômetro automático<br />
basculante, da torre micrometeorológica do LBA, em Cuiarana<br />
Procedimentos de Campo<br />
Seleção dos pontos amostrais<br />
Em cada perfil de manguezal foi realizado um transecto,<br />
seguindo a mesma orientação do gradiente de transição<br />
ecológico típico de áreas ecótonas, ao longo do qual<br />
determinaram-se os pontos de coleta de solo. Na Área<br />
1, estabeleceram-se 5 pontos de coleta de solo em um<br />
transecto de 150 m de comprimento. Na Área 2,<br />
selecionaram-se 6 pontos de coleta de solo ao longo do<br />
transecto de 136 m de comprimento.<br />
Todos os pontos de coleta, bem como outros pontos<br />
importantes foram marcados com GPS marca Garmin,<br />
modelo GPSmap 76C5x.<br />
Coleta e acondicionamento das amostras de solo<br />
As amostras de solo foram coletadas com trado tipo<br />
calador, indicados para solos argilosos e saturados, e<br />
com trado holandês, indicados para solos mais duros,<br />
fibrosos e com grande quantidade de raízes.<br />
Na área 1, nos pontos (P1,P2,P3,P4,P5), as amostras<br />
foram coletadas com trado calador, nas profundidades<br />
0-5 cm, 5-10 cm, 10-20 cm, 20-40 cm e 40-60 cm. Na<br />
área 2, nos pontos (P1 e P2), as amostras foram<br />
coletadas com trado holandês e nos pontos<br />
(P3,P4,P5,P6) foram coletados com trado calador, nas<br />
profundidades 0-50 cm.<br />
Nas coletas com trado calador, o material foi colocado<br />
sobre uma calha e revestido com papel filme e,<br />
posteriormente papel alumínio, com objetivo de<br />
manter as características originais das amostras e inserilas<br />
em sacos plásticos, com as devidas identificações.<br />
Logo após a coleta de solo com trado holandês e em<br />
trincheiras, todas as amostras foram inseridas em sacos<br />
plásticos, devidamente identificados, e acondicionadas<br />
em caixas de isopor com gelo. Em seguida as amostras<br />
foram transportadas até o Campus de Pesquisa do<br />
Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA), onde<br />
foram protocoladas e enviadas aos laboratórios de<br />
análises químicas, ficando armazenadas em freezer a<br />
uma temperatura abaixo de 0°C, até a realização dos<br />
procedimentos analíticos.<br />
Importante destacar que as coletas de solo ocorreram<br />
na maré vazante e de quadratura, que acontece quando<br />
as forças de atração do sol e da lua se opõem duas<br />
vezes em cada lunação, devido ao quarto crescente e ao<br />
quarto minguante da lua, produzindo as marés de<br />
quadratura, ou marés de águas mortas, com preamares<br />
mais baixas e baixa-mares mais altas (MIGUENS, 1996).<br />
Medidas de Salinidade da água intersticial (Sal),<br />
pH do solo em campo e Potencial Redox (Eh) do<br />
solo<br />
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No campo, as medidas de salinidade da água intersticial<br />
realizaram-se com um refratômetro de campo (ATAGO),<br />
mediante a extração sobre pressão, de um pequeno<br />
volume (gotas) de água intersticial. O Eh (mV) e o pH<br />
foram medidos através da inserção direta (em cada<br />
amostra de solo) do eletrodo de platina (Eh) e do<br />
eletrodo de vidro (pH) de alta precisão.<br />
Procedimentos de laboratório<br />
Preparo e análise química de solo<br />
Nas análises químicas, os perfis de solo foram dispostos<br />
separadamente em recipientes de plástico,<br />
devidamente limpos e identificados, para a secagem<br />
das amostras em uma sala climatizada, livre de<br />
contaminações externas. Posteriormente, as amostras<br />
foram maceradas, destorroadas com rolo e peneiradas<br />
em peneira de malha 1 mm, retirando com pinça, o<br />
excesso de raízes finas que passaram através da malha.<br />
Este procedimento inicial de preparo de amostras foi<br />
adotado para todas as análises químicas.<br />
Carbono orgânico total, nitrogênio total e enxofre<br />
As análises de carbono, nitrogênio e enxofre ocorreram<br />
por combustão a Menos chuvoso, em Analisador<br />
Elementar- TruSpec CHN/ CHNS.<br />
Fósforo disponível<br />
A determinação de fósforo adotou o método<br />
espectrofotométrico, cuja análise utiliza a solução<br />
obtida através da extração com extrator de Mehlich,<br />
reagindo com o molibidato de amônio e utilizando<br />
ácido ascórbico como redutor. A reação resulta na<br />
coloração azulada da solução, proporcional ao teor de<br />
fósforo presente na solução. As leituras de P foram<br />
determinadas no espectrofotômetro UV/vis DB 1880 S<br />
(Spectro Vision).<br />
Sódio, Potássio, Cálcio, Magnésio e Ferro<br />
Nas determinações dos macronutrientes sódio e<br />
potássio e do micronutriente ferro, utilizou-se o<br />
método Mehlich. As leituras de Na e K processaram-se<br />
no aparelho Fotômetro de Chama, marca Corning,<br />
modelo 400, e as determinações de Fe ocorreram no<br />
equipamento Espectrômetro de Absorção Atômica com<br />
Chama da marca Instrumentos Científicos C. G. e<br />
modelo AA 904, equipado com corretor de fundo com<br />
lâmpada de deutério.<br />
Para as análises de cálcio e magnésio, utilizou-se o<br />
método com solução extratora de KCl, a 1N, pH 7 e as<br />
leituras foram feitas no mesmo Espectrômetro de<br />
Absorção Atômica com Chama.<br />
Alumínio<br />
A metodologia empregada para determinação do<br />
alumínio foi através da volumetria de neutralização,<br />
titulando o NaOH 0,025N até o aparecimento da<br />
coloração levemente rósea.<br />
Potencial hidrogeniônico<br />
Foi determinado em água destilada (pH H2O ) e com<br />
solução de KCl (pH KCl ) na proporção de 1: 2,5. A<br />
metodologia utilizada para as análises químicas de solo<br />
seguiu as recomendações dos manuais de análise de<br />
solos (SILVA, 2003; EMBRAPA, 1997)2.6 Análises de<br />
dados.<br />
Para a análise estatística dos dados realizou-se a média<br />
ponderada nas profundidades de 0-5 cm, 5-10 cm e 10-<br />
20 cm, padronizando-as como a amostra na<br />
profundidade de 0-20 cm, permitindo o estudo<br />
comparativo entre as áreas estudadas, considerando as<br />
profundidades de 0-20cm, 20-40 cm, 40-60 cm.<br />
Primeiramente, aplicou-se o teste de normalidade<br />
Shapiro-Wilk nos dados de concentração de nutrientes<br />
do solo, através do qual se observou que os dados não<br />
apresentam distribuição normal. Em seguida, foram<br />
submetidos à análise estatística ACP (Análise de<br />
Componentes Principais) ou PCA (Principal Component<br />
Analysis), que não apresenta restrições quanto à<br />
normalidade dos dados. A ACP é uma técnica<br />
matemática da análise multivariada que possui como<br />
ideia central a redução do conjunto de dados a ser<br />
analisado, principalmente quando os dados são<br />
constituídos de um grande número de variáveis interrelacionadas<br />
(VICINI, 2005).<br />
Neste estudo, foram utilizadas apenas as duas primeiras<br />
componentes principais, tanto pela facilidade de<br />
interpretar gráficos em duas dimensões, quanto<br />
principalmente, por juntas (componente principal 1 e 2)<br />
totalizarem mais de 70% dos dados, porcentagem acima<br />
da qual é considerada suficiente para explicar a<br />
distribuição dos dados.<br />
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Não foi possível realizar a ACP do potencial redox (Eh),<br />
do pH de campo e da salinidade da água intersticial<br />
(Sal), pois esses parâmetros não foram medidos em<br />
todas as amostras da Área 1, no período de estiagem,<br />
bem como nos pontos P1 e P2 situados na zona de<br />
apicum da Área 2, devido o solo encontrar-se muito<br />
Menos chuvoso. Sendo assim, para esses parâmetros,<br />
utilizou-se a análise estatística descritiva. As análises<br />
estatísticas deste trabalho foram realizadas através do<br />
software R, versão 2.15.2.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Os resultados de pH em água destilada (pH H2O ) e dos nutrientes do solo (Na, K, Ca, Mg, C, N, S, P e Fe) na Área 1 e 2,<br />
com as respectivas profundidades (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm), na estação chuvosa e menos chuvosa, estão<br />
representados no gráfico de ACP (Figura 4), através do qual foram geradas informações relevantes acerca das variáveis<br />
em estudo. Na área 1, o Na e K apresentaram maior correlação com o pH na época menos chuvosa e os nutrientes Ca,<br />
Fe e Mg maior correlação na época chuvosa.<br />
Figura 4: Gráfico de ACP (com as componentes principais 1 e 2) dos parâmetros químicos do solo, com as profundidades coletadas,<br />
nas áreas 1 e 2, durante a época chuvosa e menos chuvosa<br />
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Figura 5: Gráfico de ACP (com as componentes principais 1 e 2) dos parâmetros químicos do solo,<br />
com as profundidades coletadas, nas áreas 1 e 2<br />
A componente principal 1 explica 56,21% dos dados e a<br />
componente principal 2 (comp. 2) 21,59 %, totalizando<br />
77,8% dos dados. As variáveis que estão associadas à<br />
componente 1 são os elementos C, N, S, Ca, Mg, Al, Fe,<br />
P e a componente 2 são Na, K e pH.<br />
As variáveis do período sazonal (chuvoso e menos<br />
chuvoso), das áreas 1 e 2, profundidades (0-20 cm, 20-<br />
40 cm, 40-60 cm) e nutrientes do solo (Na, K, Ca, Mg, P,<br />
C, N, S e Fe) e o pH medido pelo método em água<br />
destilada (pH H2O), foram resumidas em um gráfico<br />
que expressa a importância das variáveis para os<br />
resultados obtidos, explorando também a correlação<br />
entre essas variáveis.<br />
A formação dos agrupamentos em função de dois<br />
fatores principais (área e período sazonal) está<br />
apresentada na figura 4. Do lado direito do plano das<br />
componentes principais, situam-se as amostras da Área<br />
1, e do lado esquerdo as amostras da Área 2. O período<br />
de estiagem está representado pelo agrupamento das<br />
amostras no plano superior do gráfico e o período<br />
chuvoso no plano inferior. A formação desses<br />
agrupamentos indica que a profundidade não tem<br />
muita influência nos resultados e que a área e o período<br />
sazonal são os fatores que mais explicam a distribuição<br />
dos dados.<br />
Os nutrientes Na e o K são variáveis que mais<br />
representam a formação do agrupamento no período<br />
de estiagem na Área 1, que estão correlacionadas. Esse<br />
resultado coincide com as elevadas concentrações<br />
desses nutrientes neste período, que atingiram uma<br />
média de 520,23 cmoc/dm3 e 163,48 cmoc/dm3,<br />
respectivamente. Durante a estação chuvosa, essas<br />
concentrações foram bem mais baixas, com média de<br />
11,27 cmoc/dm3 de Na e 4,07 cmoc/dm3 de K na Área<br />
1, em função da diluição desses nutrientes pelas águas<br />
da precipitação pluviométrica durante o período<br />
chuvoso.<br />
Os aportes de Na, K, Ca e Mg sugerem contribuições das<br />
marés, os maiores valores desses cátions encontram-se<br />
no perfil 1 (Tabela 1), que está sob constante influência<br />
dos canais de maré que entrecortam a Ilha de Itarana.<br />
O período sazonal foi importante para a grande<br />
variação de Na e K nas áreas de estudo 1 e 2. Durante a<br />
estiagem, as concentrações foram maiores,<br />
principalmente no manguezal de intermaré, enquanto<br />
que no período chuvoso, a diluição provocada pela água<br />
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das chuvas, assim como a lixiviação dos nutrientes do<br />
solo provocou uma redução significativa nos teores<br />
desses nutrientes. Resultados semelhantes foram<br />
encontrados por (BERRÊDO, 2008), no qual o aumento<br />
dos teores de Na, K, Ca, Mg e SO4-2 reflete o período da<br />
estiagem e a presença das águas oceânicas no estuário<br />
do rio Marapanim.<br />
Tabela 1: Valores médios dos parâmetros químicos sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), aluminio (Al) e ferro (Fe) na Área 1 e na<br />
Área 2, durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm).<br />
Na (cmolc/kg)<br />
K (cmolc/kg)<br />
Ca (cmolc/kg)<br />
Mg (cmolc/kg)<br />
Al (cmolc/kg)<br />
Fe<br />
(g/Kg)<br />
Profundidade<br />
ÁREA 1 ÁREA 2<br />
(cm)<br />
Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso<br />
0-20 551,46 Aa 9,46 Ba 130,57 Aa 4,53 Ba<br />
20-40 508,21 Ab 11,28 Ba <strong>14</strong>5,7 Aa 5,50 Ba<br />
40-60 501,01 Ab 13,05 Ba 157,36 Aa 5,52 Ba<br />
0-20 169,45 Aa 4,03 Ba 35,91 Aa 1,25 Ba<br />
20-40 165,28 Aab 4,15 Ba 31,86 Aa 1,40 Ba<br />
40-60 155,69 Ab 4,04 Ba 39,66 Aa 1,<strong>33</strong> Ba<br />
0-20 4,43 Ba 8,55 Ab 1,69 Ba 3,08 Aa<br />
20-40 5,35 Ba 9,47 Aab 1,61 Ba 3,70 Aa<br />
40-60 4,86 Ba 9,93 Aa 1,73 Ba 4,00 Aa<br />
0-20 15 Aa 16,48 Ab 4,07 Aa 5,53 Aa<br />
20-40 16,29 Ba 21,35 Aa 3,77 Ba 7,22 Aa<br />
40-60 <strong>14</strong>,60 Ba 22,32 Aa 4,00 Ba 8,09 Aa<br />
0-20 2,89 Ab 2,50 Aa 2,22 Aa 1,85 Ab<br />
20-40 5,85 Aa 3,61 Ba 3,51 Aa 2,52 Aab<br />
40-60 5,81 Aa 3,11 Ba 3,52 Aa 3,45 Aa<br />
0-20 2,08 Bb 3,43 Aa 0,79 Aa 1,05 Aa<br />
20-40 2,55 Ba 2,94 Ab 0,89 Aa 1,13 Aa<br />
40-60 2,38 Bab 3,02 Aab 1,17 Aa 1,55 Aa<br />
Com base na figura 4, as variáveis C, N, S, P, Ca, Mg, Al e<br />
Fe explicam a separação dos grupos em Área 1 e 2,<br />
situados do lado direito e esquerdo, respectivamente,<br />
do plano das componentes principais, assim como o Na<br />
e o K, citados anteriormente, que exercem maior<br />
influência sobre os resultados. Essa distribuição das<br />
variáveis do lado direito do eixo da componente 2 pode<br />
ser muito bem explicada pela elevada concentração<br />
desses nutrientes na Área 1, em comparação com a<br />
Área 2, que representam manguezais de intermaré e<br />
supramaré, respectivamente. Sendo assim, a Área 1<br />
apresenta mangues desenvolvidos, maior contribuição<br />
de matéria orgânica transportada pela maré e maior<br />
quantidade de serapilheira, enquanto que a Área 2<br />
possui uma vegetação de porte menor e menos denso,<br />
menor influência da maré e, portanto, menor aporte de<br />
matéria orgânica.<br />
A diferença no teor de matéria orgânica entre as áreas<br />
pode é observada pelos teores de carbono, com média<br />
de 40,95g/kg e 21,23 g/kg na Área 1 e 2,<br />
respectivamente, na época de estiagem, e 38,47 g/kg e<br />
21,04 g/kg na Área 1 e 2, respectivamente, na época<br />
chuvosa.<br />
O acréscimo de material orgânico ao substrato de<br />
manguezal é o principal processo de adição que se<br />
observa nesse ecossistema, resultante do material de<br />
origem vegetal, como folhas, galhos e raízes em<br />
decomposição. Esse processo é evidenciado pela<br />
distribuição dos valores de carbono orgânico nos<br />
substratos, que são mais elevados em superfície e, na<br />
medida em que a profundidade aumenta, esses valores<br />
vão diminuindo, enfatizando a importante contribuição<br />
da vegetação no aporte de matéria orgânica para o solo<br />
(VIDAL-TORRADO et. al, 2005).<br />
Além das diferenças nas características ambientais<br />
entre as áreas 1 e 2, ainda existem diferenças dentro de<br />
cada área. A área 2 se inicia em uma zona de apicum,<br />
com presença de Rhizophora mangle com altura de até<br />
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3 m e solo mais Menos chuvoso e arenoso. Ao final<br />
desta área, ocorre a presença de mangues de maior<br />
porte, em sua maioria de R. mangle (altura média de<br />
9,81m), solo mais argiloso e úmido, indicando<br />
contribuição da água e nutrientes nesse<br />
desenvolvimento. Essas diferenças observadas explicam<br />
o aumento na concentração de carbono ao final da área<br />
2.<br />
Os teores de nitrogênio, de forma geral, foram maiores<br />
na área 1 em comparação com a área 2, nos dois<br />
períodos sazonais (Tabela 2). Nesta área, o teor de<br />
nitrogênio diminui na medida em que se aproxima da<br />
zona de apicum, na parte mais interna do manguezal.<br />
Os teores de enxofre também foram mais elevados no<br />
manguezal de intermaré, com média de 11,50 g/kg na<br />
área 1 e 3,18 g/kg na área 2, durante a época menos<br />
chuvosa e, na época chuvosa, a área 1e 2 apresentaram<br />
valores médios de 10,41 g/kg e 3,76, respectivamente.<br />
Observou-se um aumento da concentração de enxofre<br />
com a profundidade, com valores médios<br />
significativamente mais elevados na área 1 em relação a<br />
área 2 (Tabela 2).<br />
A zona de oxidação gradativamente se torna zona de<br />
redução com a profundidade, mudando a coloração de<br />
marrom amarelada na matriz e aspecto marrom escuro,<br />
para coloração cinza clara a cinza escura dos<br />
sedimentos, representando o aumento da matéria<br />
orgânica, a ocorrência da pirita (FeS2) e a presença de<br />
H2S dissolvidos, explicando o aumento do enxofre com<br />
a profundidade.<br />
A variação da condição reduzida-oxidada na zona de<br />
apicum, que é exposta por longos períodos nas marés<br />
baixas e submersa sob condições de marés muito<br />
elevadas (marés de sizígia), favorece a concentração de<br />
ferro através da mobilização e precipitação deste metal<br />
(HADLICH et. al, 2010). Este processo é evidenciado<br />
pelo aspecto mosqueado encontrado em algumas<br />
amostras coletadas no início da área 2, que constitui<br />
zona de apicum, apesar disso, os valores de ferro nesta<br />
área foram muito inferiores no apicum, em relação ao<br />
manguezal, com médias de 0,10 g/kg (ponto P1) e 1,88<br />
g/kg (ponto P5), no período de estiagem, e médias de<br />
0,57 g/kg (ponto P1) e 2 g/kg (ponto P5), no período<br />
chuvoso.<br />
A concentração mais elevada de fósforo na área 1 pode<br />
ser devido o transporte pelas águas dos canais de maré<br />
até os sedimentos na forma de fosfato (PO43-), pelas<br />
espécies vegetais e maior densidade arbórea nessa<br />
área, produzindo mais serapilheira. Na área 1 o teor<br />
médio de fósforo foi de 29,97 mg/kg no período menos<br />
chuvoso e 26,5 mg/kg no chuvoso, e na área 2 teor de 8<br />
mg/kg e 9,37 mg/kg, evidenciando uma grande<br />
diferença entre as áreas.<br />
Segundo (MENDOZA et. al, 2012), a interação de<br />
diferentes características físico-químicas entre água<br />
intersticial e o regime de inundação pode controlar a<br />
concentração de fósforo na fase líquida disponível para<br />
os manguezais. A maior variação redox (ΔEh) e maior<br />
oxidação foram encontradas na zona de raízes de A.<br />
germinans, em comparação com a de R. mangle, em<br />
região de baixa variação de marés, o que pode estar<br />
controlando a disponibilidade de fósforo. A maior<br />
oxidação na zona de raízes de sedimentos sob A.<br />
germinans limita a disponibilidade de P e sua<br />
distribuição, e o gradiente vertical redox mais baixo sob<br />
as árvores de R. Mangle resultam em condições<br />
redutoras, favorece a formação de fósforo extraível,<br />
podendo ser considerada uma resposta adaptativa à<br />
absorção de nutrientes sob condições de alagamento.<br />
Os teores de alumínio (Al) não apresentaram grandes<br />
variações entre os períodos sazonais, e apresentaram<br />
maiores concentrações na estiagem, provavelmente por<br />
influência do processo de lixiviação (Tabela 2).<br />
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Tabela 2: Valores médios dos parâmetros químicos sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe) na Área 1 e na Área 2,<br />
durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm).<br />
Na (cmolc/kg)<br />
K (cmolc/kg)<br />
Ca (cmolc/kg)<br />
Mg (cmolc/kg)<br />
Al (cmolc/kg)<br />
Fe<br />
(g/Kg)<br />
Profundidade<br />
ÁREA 1 ÁREA 2<br />
(cm)<br />
Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso<br />
0-20 551,46 Aa 9,46 Ba 130,57 Aa 4,53 Ba<br />
20-40 508,21 Ab 11,28 Ba <strong>14</strong>5,7 Aa 5,50 Ba<br />
40-60 501,01 Ab 13,05 Ba 157,36 Aa 5,52 Ba<br />
0-20 169,45 Aa 4,03 Ba 35,91 Aa 1,25 Ba<br />
20-40 165,28 Aab 4,15 Ba 31,86 Aa 1,40 Ba<br />
40-60 155,69 Ab 4,04 Ba 39,66 Aa 1,<strong>33</strong> Ba<br />
0-20 4,43 Ba 8,55 Ab 1,69 Ba 3,08 Aa<br />
20-40 5,35 Ba 9,47 Aab 1,61 Ba 3,70 Aa<br />
40-60 4,86 Ba 9,93 Aa 1,73 Ba 4,00 Aa<br />
0-20 15 Aa 16,48 Ab 4,07 Aa 5,53 Aa<br />
20-40 16,29 Ba 21,35 Aa 3,77 Ba 7,22 Aa<br />
40-60 <strong>14</strong>,60 Ba 22,32 Aa 4,00 Ba 8,09 Aa<br />
0-20 2,89 Ab 2,50 Aa 2,22 Aa 1,85 Ab<br />
20-40 5,85 Aa 3,61 Ba 3,51 Aa 2,52 Aab<br />
40-60 5,81 Aa 3,11 Ba 3,52 Aa 3,45 Aa<br />
0-20 2,08 Bb 3,43 Aa 0,79 Aa 1,05 Aa<br />
20-40 2,55 Ba 2,94 Ab 0,89 Aa 1,13 Aa<br />
40-60 2,38 Bab 3,02 Aab 1,17 Aa 1,55 Aa<br />
O pH (H2O) e o Ca são duas variáveis independentes e<br />
inversamente proporcionais, o pH (H2O), a variável que<br />
mais influencia o agrupamento da área 2 na época<br />
menos chuvosa, com diminuição do pH (H2O) em<br />
comparação com a época chuvosa, com médias de 4 e<br />
3, respectivamente. Os valores de pH (H2O) assumem<br />
uma escala decrescente na medida que aumenta a<br />
profundidade (Tabela 3), diferente dos resultados<br />
encontrados por (HADLICH et. al, 2010), em solos sob<br />
condições anaeróbicas, como no caso de manguezais<br />
sob forte influência das marés, em que o pH fica em<br />
torno de 6,7 a 7,2. O pH de campo indica valores mais<br />
altos, tendendo a neutralidade assemelhando-se ao<br />
trabalho de (HADLICH et. al, 2010).<br />
A análise descritiva permitiu inferir que, de forma geral,<br />
o Eh foi redutor na área 1, com média de – 300 mv na<br />
estiagem e -305 mv na estação chuvosa, verificando<br />
que o período sazonal não alterou os valores para este<br />
parâmetro. Na área 2, o Eh apresentou características<br />
oxidantes no início do perfil, onde se encontra a zona<br />
de apicum, ficando cada vez mais redutor quanto mais<br />
próximo do manguezal, no final deste perfil. Nas duas<br />
áreas amostradas, o Eh apresentou características<br />
fortemente redutoras com a profundidade (Tabela 3),<br />
com exceção da zona de apicum no perfil 2. A<br />
característica redutora dos sedimentos de manguezais<br />
está associada à baixa declividade, que favorece a<br />
influência das águas por um período de tempo maior.<br />
Em consequência, os sedimentos são<br />
predominantemente redutores, fracamente ácidos a<br />
neutros, com salinidade elevada, principalmente<br />
durante o período menos chuvoso (BERRÊDO et. al,<br />
2008).<br />
A salinidade intersticial (Sal) está associada à intrusão<br />
salina pelas águas dos estuários, precipitação<br />
pluviométrica e processo de evaporação (CRUZ, 2009)<br />
uma vez que no período Menos chuvoso a evaporação<br />
favorece a concentração de sais na superfície do<br />
terreno e, no período chuvoso, as águas pluviais<br />
propiciam a diluição desses sais (Tabela 3).<br />
Para BERRÊDO (2006) a influência da curta, porém<br />
marcante sazonalidade climática do nordeste paraense<br />
(especialmente a precipitação pluviométrica e a<br />
temperatura), sobre os sedimentos lamosos do estuário<br />
do rio Marapanim, onde os efeitos do clima sobre a<br />
cunha salina resultou na concentração ou na diluição da<br />
salinidade intersticial na superfície do sedimento. No<br />
presente estudo, a sazonalidade climática foi fator<br />
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determinante para as oscilações de salinidade. Em<br />
geral, a salinidade varia em diferentes ecossistemas de<br />
acordo com a topografia, marés (baixas ou altas) e<br />
aporte de água doce (Palanisamy et. al, 2009).<br />
Tabela 3: Valores médios de carbono total, pH com água destilada (pH-água), pH em campo (pH-campo), potencial de redox (Eh) e Salinidade<br />
intersticial (Sal) na Área 1 e na Área 2, durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas<br />
(0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm)<br />
pH (água)<br />
pH (campo)<br />
Eh<br />
(mV)<br />
Sal<br />
Profundidade (cm)<br />
ÁREA 1 ÁREA 2<br />
Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso<br />
0-20 4,52 3,69 4,53 3,44<br />
20-40 3,66 3,00 4,02 2,99<br />
40-60 3,57 2,79 3,72 2,74<br />
0-20 6,15 6,71 6,45 6,51<br />
20-40 6,68 6,73 6,57 6,23<br />
40-60 6,76 6,78 6,63 6,08<br />
0-20 -232,75 -263,10 -<strong>33</strong>9,58 -67,07<br />
20-40 -<strong>33</strong>5,60 -317,60 -374,<strong>33</strong> -107,80<br />
40-60 -<strong>33</strong>0,60 -<strong>33</strong>5,73 -193,<strong>33</strong> -35,<strong>33</strong><br />
0-20 41,60 19,75 19,75 15,57<br />
20-40 35,2 29 21 22,27<br />
40-60 <strong>33</strong>,6 32,27 28,<strong>33</strong> 23,47<br />
CONCLUSÃO<br />
A sazonalidade no clima exerceu maior influência sobre<br />
os resultados de Na, K e salinidade intersticial, por meio<br />
dos processos de evaporação, na estação seca e de<br />
diluição, na estação chuvosa, comportamento<br />
observado nas duas áreas amostradas.<br />
Existe diferença entre as áreas 1 e 2 com relação ao<br />
teor de nutrientes, os quais apresentaram valores mais<br />
elevados no manguezal de intermaré (área 1),<br />
considerando a totalidade dos nutrientes. A formação<br />
de alguns agrupamentos não foi bem explicada nos<br />
gráficos de análises de componentes principais (APC),<br />
possivelmente devido a não inclusão de outros<br />
parâmetros que podem está influenciando nesses<br />
resultados, como o Eh e a salinidade, que são medidas<br />
importantes para a caracterização de manguezais.<br />
Em manguezais, vários fatores inter-relacionados<br />
devem ser levados em consideração, como o regime de<br />
marés, a topografia e a sazonalidade climática, visando<br />
um melhor entendimento dos processos de troca que<br />
ocorrem dentro do manguezal e entre este e<br />
ecossistemas adjacentes.<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem ao projeto Rede de Mudanças Climáticas/Edital 0<strong>14</strong>/2009/CNPq/FAPESPA, ao Conselho Nacional<br />
de Desenvolvimento e Pesquisa/ CNPq pela bolsa concedida à aluna do curso de Ciências Ambientais/UFPA, e ao Museu<br />
Paraense Emílio Goeldi/MPEG pelo auxílio no desenvolvimento da pesquisa e infraestrutura de campo e laboratório.<br />
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ANÁLISE DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA<br />
NO BRASIL<br />
Analysis of participatory process in the strategic environmental assessment in Brazil<br />
Maria José Ferreira Berti<br />
Engenheira da Secretaria de<br />
Estado do Meio Ambiente do<br />
Mato Grosso e Doutoranda do<br />
Programa de Pós-Graduação em<br />
Engenharia Urbana da<br />
Universidade Federal de São<br />
Carlos.<br />
E-mail: ad.mari@hotmail.com<br />
Nemésio Neves Batista<br />
Salvador<br />
Engenheiro Civil, Doutor em<br />
Saneamento e Meio Ambiente e<br />
Professor do Programa de Pós-<br />
Graduação em Engenharia Urbana<br />
da Universidade Federal de São<br />
Carlos.<br />
E-mail: nemesio@ufscar.br<br />
RESUMO<br />
A United Nations Economic Commission for Europe (UNECE), a International<br />
Association for Impact Assessment (IAIA) e a Comissão Europeia recomendam<br />
ou requerem a adoção de alguma forma de participação pública nos<br />
processos de avaliação ambiental, incluindo a Avaliação Ambiental<br />
Estratégica (AAE). No Brasil a AAE vem sendo praticada voluntariamente,<br />
tornando-se indispensável compreender os procedimentos de envolvimento<br />
das partes interessadas e, particularmente o público, nos processos de<br />
tomada de decisão. Portanto, o objetivo deste trabalho foi averiguar o<br />
processo de participação pública nas AAEs no Brasil, através de uma análise<br />
qualitativa, comparativa e crítica do conteúdo de dez relatórios de AAE. A<br />
análise contemplou as metodologias de práticas de participação pública<br />
constantes na literatura e as diretrizes internacionais da IAIA. Verificou-se<br />
que o principal meio empregado no processo de participação no Brasil ainda<br />
é a audiência pública e que, apesar de sua prática, não são atendidos de<br />
forma efetiva aos critérios recomendados.<br />
Palavras-chave: Avaliação Ambiental Estratégica, AAE, participação pública.<br />
ABSTRACT<br />
The United Nations Economic Commission for Europe (UNECE), the<br />
International Association for Impact Assessment (IAIA) and the European<br />
Commission recommend or require the adoption of some kind of public<br />
participation in the environmental assessment processes, including the<br />
Strategic Environmental Assessment (SEA). In Brazil SEA has been voluntarily<br />
practiced, being imperative to understand the procedures for involvement of<br />
stakeholders and particularly the public in the decision-making processes.<br />
Therefore, the focus of this paper was to study the public participation<br />
process in the Brazilian SEAs through a qualitative, comparative and critical<br />
analysis of the content of ten reports of SEA. The analysis involved methods<br />
of practices for public participation presented in the literature and<br />
international IAIA guidelines. It was verified that the main method utilized in<br />
the process of public participation in Brazil is the public hearing, and despite<br />
that practice the recommended criteria are not effectively met yet.<br />
Keywords: Strategic Environmental Assessment, SEA, public participation.<br />
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A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) surge como<br />
uma nova perspectiva de avaliação ambiental por ser<br />
uma ferramenta proativa, incorporando a variável<br />
ambiental nos níveis estratégicos de decisão, contudo,<br />
de forma flexível e adaptada ao planejamento corrente<br />
para trazer a decisão sobre o contexto de<br />
sustentabilidade, permitindo o envolvimento da<br />
sociedade na tomada de decisão (PARTIDÁRIO, 2004;<br />
FISCHER, 2007; BINA, 2008).<br />
Segundo Therivel (2004), o objetivo principal da AAE é<br />
alcançar a integração das componentes de<br />
desenvolvimento sustentável no processo de<br />
planejamento de Política, Planos e Programas (PPPs).<br />
A ocorrência da participação pública no nível mais alto<br />
de tomada de decisão, ou seja, nas PPPs que precede a<br />
fase de projetos específicos, estabelece mecanismos de<br />
participação pública em discussões relevantes para a<br />
sustentabilidade, permitindo ao público manifestar seus<br />
pontos de vista ainda no processo de planejamento<br />
(DALAL-CLAYTON; SADLER, 2005).<br />
Dentro da pressão existente para a gestão ambiental<br />
participativa, a AAE proporciona uma sistemática<br />
considerável quanto aos aspectos socioambientais, e<br />
também um vasto espaço para a participação social se<br />
comparada à avaliação de impacto ambiental (COSTA;<br />
BURSZTYN; NASCIMENTO, 2008).<br />
A participação pública pode ser definida como o<br />
envolvimento de indivíduos e grupos que são positiva<br />
ou negativamente afetados por uma intervenção<br />
proposta (por exemplo, uma política, um plano, um<br />
programa e um projeto), sujeita a um processo de<br />
decisão, ou que estão interessados na mesma (ANDRÉ<br />
et al., 2006). Conforme estes autores, os objetivos da<br />
participação pública são essenciais para a boa<br />
governança, pois fortalecem as comunidades locais,<br />
obtêm reações do público e contribuem para melhorar<br />
a análise de propostas e para a aprendizagem mútua<br />
entre as partes interessadas. A Associação Internacional<br />
para Participação Pública - International Association for<br />
Public Participation (IAP2) cita que “participação pública<br />
significa envolver aqueles que são afetados por uma<br />
deliberação no processo de tomada de decisão” (IAP2,<br />
2005).<br />
Além de ser baseada nos princípios de democracia, a<br />
participação pública é abordada em vários acordos<br />
INTRODUÇÃO<br />
intergovernamentais como, por exemplo, o Princípio 10<br />
da Declaração do Rio e da Convenção de Aarhus sobre o<br />
acesso à informação, participação pública na tomada de<br />
decisão e acesso à justiça em matéria de meio<br />
ambiente, e na Diretiva Européia de Avaliação<br />
Ambiental Estratégica - Diretiva 42/2001/CE (CRNČEVIĆ,<br />
2007).<br />
A maioria dos documentos internacionais de orientação<br />
e enquadramentos legais sobre AAE recomenda ou<br />
exige a adoção de alguma forma de participação pública<br />
em seu processo de avaliação. Organismos como a<br />
United Nations Economic Commission for Europe<br />
(UNECE, 2003), a International Association for Impact<br />
Assessment (IAIA, 2002) e a Comissão Europeia (CEC,<br />
2001), estabelecem princípios e critérios para a<br />
realização da participação pública em processos de<br />
tomada de decisão.<br />
Conforme Partidário (2008), o conceito de AAE<br />
preconiza que a sua direção deve ser feita com a<br />
participação dos diversos atores envolvidos, direta ou<br />
indiretamente com o objeto a ser avaliado. A prática da<br />
participação pública oferece legitimidade e<br />
transparência ao processo de tomada de decisão e<br />
melhora a capacidade de resposta das instituições<br />
públicas (THERIVEL, 2004).<br />
Segundo a IAIA (2002) uma Avaliação Ambiental<br />
Estratégica de boa qualidade passa por um processo<br />
que deve atender a vários critérios de desempenho.<br />
Entre esses critérios, a AAE deve ser participativa. A<br />
participação pública, pelo menos em teoria, é uma<br />
questão importante, pois está presente na maior parte<br />
dos sistemas de AAE propostos pela literatura ou<br />
estabelecidas em legislação.<br />
A escolha dos métodos utilizados para abranger o<br />
público é um importante fator na determinação da<br />
qualidade da participação, pois às vezes ele apenas<br />
informa e não permite que a comunidade interaja e<br />
exponha suas opiniões. A participação do público<br />
engloba uma série de procedimentos e métodos<br />
concebidos para informar, consultar, envolver e<br />
colaborar, a fim de permitir que aqueles que seriam<br />
potencialmente afetados por uma decisão ou política,<br />
possam ser ouvidos no processo (IFC, 2007).<br />
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A Figura 1 apresentada a seguir ilustra os níveis de participação pública desenvolvidos pela Associação Internacional de<br />
Participação Pública (IAP2, 2000)<br />
Figura 1. Níveis de participação pública. Fonte: IAP2 (2000)<br />
Conforme mostrado na Figura 1, cada nível de<br />
participação pública tem um aumento correspondente<br />
na medida da intensidade de envolvimento público e de<br />
sua participação no processo de avaliação ambiental.<br />
De acordo com CEAA (2008), a informação e a consulta<br />
podem ser entendidas como a participação no sentido<br />
mais restrito. A informação é um processo em que o<br />
público recebe informações, mas não pode fazer<br />
quaisquer declarações sobre as mesmas. Neste nível, a<br />
oportunidade para a participação do público foi<br />
classificado como nenhuma. A consulta é uma<br />
abordagem bilateral, uma forma de diálogo, onde as<br />
autoridades oferecem informações sobre o projeto ou<br />
outra ação para o público e em seguida, o público<br />
realiza comentários sobre as informações fornecidas.<br />
Este nível é classificado como baixo. No terceiro nível é<br />
fornecida a oportunidade de diálogo e interação. A<br />
oportunidade para a participação do público foi<br />
classificada como média. No quarto nível é fornecido ao<br />
público a oportunidade de parceria ou trabalhar em<br />
conjunto com os tomadores de decisão. Neste caso, a<br />
oportunidade para a participação pública foi classificada<br />
como alta. No quinto nível é fornecida a capacitação do<br />
público, colocando em suas mãos a tomada de decisão<br />
final (IAP, 2000). A oportunidade para a participação do<br />
público é classificada como alta.<br />
Existem várias técnicas de participação pública<br />
disponíveis, como audiências públicas, reuniões,<br />
workshops, oficinas, comitês consultivos,<br />
levantamentos (construir um perfil dos atores<br />
envolvidos), mala direta, artigos na mídia local e site<br />
eletrônico (web) (ANDRÉ et al., 2006). Cada método<br />
apresenta uma finalidade específica e, quando aplicado<br />
de forma adequada, pode trazer benefícios<br />
significativos para a organização patrocinadora do<br />
programa ou implementação de políticas (HILLIKER;<br />
KLUZ, 2001). Conforme Bisset (2000) a consulta pública<br />
é provavelmente a forma mais comum de envolver o<br />
público na avaliação ambiental.<br />
A Constituição Brasileira de 1988 instituiu, no âmbito<br />
das políticas públicas, a participação social como eixo<br />
fundamental na gestão e no controle das ações do<br />
governo (Beghin; Jaccoud; Silva, 2002). Com isto, foram<br />
implementados novos mecanismos nos processos de<br />
tomada de decisões, o que fez emergir um regime de<br />
ação pública descentralizada, no qual são criadas<br />
formas inovadoras de interação entre governo e<br />
sociedade.<br />
A partir de 1990 a participação da sociedade civil na<br />
gestão pública ganhou novos contornos e dimensões,<br />
sendo uma delas a ambiental, com a inclusão de vários<br />
atores sociais no processo de deliberação pública,<br />
tornando-a um mecanismo para a democracia na<br />
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promoção da coesão social entre o governo e os<br />
cidadãos (ROCHA, 2009).<br />
No Brasil a AAE não é obrigatória, mas tem sido<br />
realizada de forma voluntária, contando com a ausência<br />
total de exigências legais na sua aplicação (SÁNCHEZ,<br />
2008). Portanto, não existem orientações oficiais<br />
específicas para a sua realização.<br />
As AAEs são realizadas algumas vezes para facilitar o<br />
processo de licenciamento ambiental, outras vezes para<br />
atender às exigências do Banco Interamericano de<br />
Desenvolvimento (BID), para que conceda o<br />
financiamento de programas e projetos. Nos últimos 15<br />
anos foram elaborados no Brasil, cerca de trinta AAEs<br />
(OPPERMANN, 2012).<br />
A metodologia do estudo envolveu a revisão<br />
bibliográfica do tema em questão, com a finalidade de<br />
constituir um referencial conceitual acerca das<br />
possibilidades de participação pública na AAE nos<br />
diversos níveis de tomada de decisão, verificando, para<br />
tanto, os métodos e as práticas nacionais e estrangeiras<br />
existentes.<br />
METODOLOGIA<br />
Para o Ministério do Meio Ambiente (2010), o processo<br />
de AAE deve prever os momentos, as formas e os canais<br />
de comunicação, além do envolvimento e inclusão da<br />
opinião dos atores, em função da dinâmica de cada<br />
setor e do respectivo processo de decisão, de modo a<br />
criar uma cultura de participação.<br />
Nesse sentido, este artigo tem por objetivo apresentar<br />
uma avaliação da participação pública em processos de<br />
Avaliação Ambiental Estratégica no Brasil, com a<br />
averiguação do conteúdo de relatórios de AAE e da<br />
consideração, no decorrer desses processos, das<br />
diretrizes estabelecidas pelo critério participativo de<br />
boas práticas preconizado pela IAIA (2002), a fim de<br />
verificar se as referências brasileiras atenderam de<br />
forma apropriada ao mesmo.<br />
Através dos relatórios ambientais das AAEs foram<br />
levantados os atores, métodos aplicados para o<br />
envolvimento destes, a fase em que ocorreu a<br />
participação pública e, ainda, se as sugestões foram<br />
consideradas no relatório final da AAE. Em seguida, foi<br />
realizada uma análise crítica do processo de<br />
participação pública nessas AAEs.<br />
Para atender ao objetivo da pesquisa foi realizada uma<br />
análise crítica qualitativa dos métodos e práticas de<br />
participação pública em AAEs brasileiras, a qual foi<br />
aplicada ao conteúdo de diferentes relatórios<br />
ambientais. Para este propósito foi utilizada um<br />
conjunto de dez estudos de caso, em diferentes setores<br />
de atividades. Como contextualizado por Lee e Colin,<br />
(2006), a análise do conteúdo dos relatórios ambientais<br />
se baseia na leitura de textos de forma sistemática,<br />
como forma de interpretá-los e fazer suposições sobre<br />
os processos que descrevem, sendo estes fontes<br />
facilmente acessíveis de conhecimentos relevantes,<br />
embora esses relatórios não contemplem de forma<br />
exaustiva a complexidade dos processos de<br />
planejamento e a dinâmica de governança.<br />
Os critérios para a escolha dos relatórios ambientais<br />
foram os seguintes:<br />
Disponibilidade na Internet dos relatórios<br />
ambientais;<br />
Processos que se encontravam concluídos, uma<br />
vez que se pretendia analisar os relatórios finais<br />
de cada AAE.<br />
Para a avaliação das práticas do processo de<br />
participação pública, foi realizada uma análise<br />
comparativa com o critério participativo, estabelecido<br />
pela IAIA (2002), que faz parte de um conjunto dos seis<br />
critérios de desempenho, considerados essenciais para<br />
um processo de AAE.<br />
No critério participativo de boas práticas de AAE devese<br />
considerar se a mesma obedece aos os seguintes<br />
procedimentos:<br />
<br />
<br />
<br />
Informa e envolve o público interessado e<br />
afetado, assim como os órgãos governamentais<br />
ao longo de todo o processo de decisão;<br />
Considera as sugestões e preocupações da<br />
sociedade na documentação da AAE e na<br />
tomada de decisão;<br />
Apresenta requisitos de informação claros e<br />
facilmente compreensíveis, assegurando acesso<br />
suficiente a toda a informação relevante.<br />
Com base em uma escala pré-definida foi realizada uma<br />
análise comparativa a fim de averiguar o cumprimento<br />
dos três itens para o critério participativo, conforme<br />
estipulado pela IAIA (2002), para cada AAE analisada.<br />
De acordo com a escala, o símbolo S representa que a<br />
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AAE analisada atende Satisfatoriamente os três itens do<br />
critério. O símbolo RS representa que atende<br />
Razoavelmente Satisfatório, com dois itens; NS<br />
representa que atende de forma Não Satisfatória,<br />
constando somente um item e NE Não Encontrado.<br />
que o emprego da AAE deve seguir os princípios de bom<br />
desempenho reconhecidos por organizações<br />
internacionais de desenvolvimento profissional,<br />
cooperação técnica e de apoio ao desenvolvimento<br />
econômico.<br />
A utilização desse critério estipulado pela IAIA é<br />
reforçada e apoiada pelo MMA (2010), o qual menciona<br />
No Quadro 1 estão relacionadas e analisadas de forma<br />
sintética as dez AAEs consideradas neste estudo, bem<br />
como o setor de atividade e nível de governo, a<br />
localização (site) dos seus relatórios, e os atores<br />
envolvidos, além de apresentar a síntese dos métodos<br />
e práticas de participação pública e as fases em que<br />
ocorreram.<br />
Por meio da análise apresentada no Quadro 1 pode-se<br />
verificar que a participação pública é mencionada em<br />
todos os relatórios ambientais, sendo que foram<br />
utilizados diversos métodos de envolvimento das partes<br />
interessadas, conforme se segue:<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Reuniões técnicas e seminários;<br />
Sessões públicas de apresentação e discussão;<br />
Consulta pública (reuniões com a comunidade<br />
afetada e audiências públicas);<br />
Comitês de acompanhamento;<br />
Disponibilização na web ─ que ocorreu através<br />
de site próprio da agência ambiental onde o<br />
estudo está inserido ou no site dos<br />
elaboradores da AAE;<br />
Workshop com oficinas;<br />
Realização de cursos sobre AAE;<br />
Divulgação da informação escrita (folders).<br />
Mediante os dados disponíveis e analisados, identificouse<br />
que a consulta através de audiências públicas foi<br />
utilizada em 90 % (noventa por cento) das AAEs, fato<br />
este já constatado em outros estudos (BISSET, 2000).<br />
Além das audiências públicas, observaram-se também<br />
outros métodos, como as reuniões técnicas, que foram<br />
verificadas em sete AAEs; o comitê de<br />
acompanhamento, em quatro; seminários e oficinas,<br />
em três; site eletrônico, em duas e curso, em apenas<br />
uma AAE. Somente a AAE da Mata Branca dispõe de um<br />
site próprio para a participação do público<br />
(http://aaebiomacaatinga.webnode.com.br/).<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
Observa-se que em todas as AAEs o processo de<br />
participação pública adotou formas distintas de atender<br />
as partes interessadas, como as agências<br />
governamentais e especialistas, através de reuniões<br />
técnicas, e o público em geral, por meio de consultas e<br />
audiências públicas.<br />
Somente a AAE da Mata Branca aplicou o quinto nível<br />
de participação pública configurada pela IAP (2000),<br />
que é a capacitação do público. Foi realizado um curso<br />
sobre AAE com o objetivo de proporcionar um<br />
nivelamento para as partes interessadas e comunidade<br />
e foi promovido um ciclo de palestras que abordavam<br />
temas relevantes sobre a importância da preservação<br />
da Caatinga. Este procedimento é importante, pois<br />
conforme Arbter (2005), no planejamento estratégico é<br />
mais difícil envolver os vários grupos que compõem a<br />
parte afetada. Excluindo os especialistas, o público<br />
geralmente não se interessa por planejamento por<br />
conter propostas abstratas que requerem<br />
conhecimentos específicos.<br />
A síntese dos resultados obtidos, conforme análise<br />
crítica realizada segundo o critério de desempenho<br />
participativo da IAIA (2002) é apresentada no quadro<br />
seguinte.<br />
Conforme pode ser visualizado a partir do Quadro 2, a<br />
participação pública ocorreu nos estudos de caso (AAEs)<br />
selecionados pelo presente trabalho. Observa-se que<br />
para o Item a do Critério Participativo da IAIA (2002),<br />
três casos foram considerados satisfatórios, sete casos<br />
foram razoavelmente satisfatórios e nenhum foi<br />
considerado não satisfatório. Para o Item b, não houve<br />
nenhum caso satisfatório, houve seis casos<br />
razoavelmente satisfatórios e quatro não satisfatórios.<br />
Por fim, com relação ao Item c, três casos foram<br />
satisfatórios, cinco se apresentaram razoavelmente<br />
satisfatórios e dois não satisfatórios.<br />
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Com os dados obtidos no Quadro 2 nota-se que, das trinta possibilidades encontradas, cinco foram consideradas<br />
satisfatórias (16,67%), 18 razoavelmente satisfatórias (60%), três não satisfatórias (10%) e quatro não encontradas<br />
(13,<strong>33</strong>%) (vide Figura 2 a seguir).<br />
70,00%<br />
60,00%<br />
50,00%<br />
40,00%<br />
30,00%<br />
20,00%<br />
10,00%<br />
0,00%<br />
Figura 2 ─ Classificação da participação pública nas AAEs<br />
60%<br />
16,67%<br />
13,<strong>33</strong>%<br />
10%<br />
S (5) RS (18) NS (3) NE (4)<br />
S (5)<br />
RS (18)<br />
NS (3)<br />
NE (4)<br />
Desta forma, pode-se interpretar que a deficiência<br />
maior é verificada no Item b, que não foi encontrado<br />
em quatro AAEs, evidenciando a não incorporação das<br />
ações ou decisões tomadas em resposta à participação<br />
pública, com relação às questões que foram levantadas<br />
e sugeridas ao relatório ambiental final.<br />
Analisando o Critério Participativo de Boas Práticas da<br />
IAIA (2002), verifica-se que apenas quatro dos relatórios<br />
ambientais citam que as sugestões ocorridas durante o<br />
processo de participação pública foram incorporadas<br />
nas AAEs. É reconhecido que, no contexto das boas<br />
praticas de participação pública, que os participantes<br />
saibam como sua contribuição foi considerada na<br />
decisão final.<br />
Outro fato observado é que a participação pública,<br />
embora ocorrendo em algumas das etapas das AAEs,<br />
não foi viabilizada logo no início desses processos, na<br />
fase de prospecção (screening), conforme preconizado<br />
pelo Critério Participativo de Boas Práticas (IAIA, 2002).<br />
Somente em um caso a participação pública foi<br />
realizada na fase da elaboração do Termo de Referência<br />
(AAE do Extremo Sul da Bahia), onde ainda é possível a<br />
comunidade influenciar no escopo de uma AAE.<br />
Em relação à realimentação (feedback) que deveria<br />
ocorrer entre os responsáveis pela elaboração das AAEs<br />
e os atores chave durante o processo de participação<br />
pública, constatou-se a existência de poucas<br />
informações nos relatórios, que somente citam que as<br />
sugestões foram incorporadas.<br />
Outra questão relevante constatada é a falta de<br />
conclusões sobre a participação pública nos relatórios<br />
ambientais, por exemplo, explicitando o modo como as<br />
opiniões recebidas foram avaliadas.<br />
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Esta pesquisa identificou lacunas centrais relacionadas<br />
aos critérios necessários à realização das boas práticas<br />
de participação pública em AAE no Brasil. Foi<br />
constatada a necessidade de aprofundamento das<br />
questões teóricas relacionadas aos procedimentos e<br />
teorias substanciais à realização de AAE, para o<br />
processo de participação.<br />
Com a análise dos relatórios foi possível verificar que a<br />
participação pública na AAE no contexto brasileiro vem<br />
sendo praticada, de um modo em geral, apenas com o<br />
cumprimento mínimo recomendado. Tal fato se<br />
constata quando o método mais utilizado para envolver<br />
os atores chave é a consulta através da audiência<br />
pública, percebendo-se, portanto, que ainda se pratica<br />
esta participação nos moldes do Estudo de Impacto de<br />
Ambiental (EIA), que esta prática ocorre principalmente<br />
no final do processo, não oportunizando aos atores uma<br />
real contribuição para o mesmo, tornando-o mais<br />
transparente, legítimo e eficaz. Em relação ao método<br />
através da disponibilização dos relatórios de AAE na<br />
web, através do site eletrônico, restringe-se o<br />
envolvimento e a participação e das pessoas sem<br />
acesso à Internet.<br />
Percebe-se que a prática da participação pública no<br />
Brasil precisa ainda avançar no que diz respeito aos<br />
métodos e práticas nos processos decisórios, visto que<br />
as AAEs consideradas neste estudo atenderam apenas a<br />
alguns critérios estabelecidos pela IAIA e pela literatura<br />
pertinente. Contudo, apesar dessa constatação,<br />
observa-se que em algumas AAEs foram adotadas<br />
alguns métodos de participação, numa tentativa de<br />
abranger os atores chave envolvidos, o que pode ser<br />
considerado um ponto positivo nesse processo.<br />
Assim, conclui-se que a participação pública, da forma<br />
como vem sendo praticada, atende apenas<br />
parcialmente aos requisitos mínimos exigidos pelos<br />
organismos internacionalmente conceituados sobre a<br />
matéria em questão.<br />
Desta forma, algumas recomendações podem ser feitas<br />
para que a participação pública na AAE se torne mais<br />
eficaz no Brasil, tais como:<br />
CONCLUSOES E RECOMENDAÇÕES<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
Proporcionar diversas formas e oportunidades<br />
de participação pública e implementar<br />
abordagens para o alcance de opiniões<br />
diferentes, empregando variados meios de<br />
divulgação e comunicação, em função das<br />
diversidades culturais;<br />
A abordagem de envolver o público através da<br />
disponibilização das informações na Internet<br />
restringe a participação pública apenas a<br />
pessoas com acesso a ela. Mesmo em casos em<br />
que a consulta realizada via internet alcance um<br />
grande número de pessoas, este processo<br />
deverá ser complementado com a utilização de<br />
formas presenciais de participação, para que as<br />
questões e dúvidas que surjam possam ser<br />
discutidas de forma mais dinâmica e interativa;<br />
As informações devem ser disponibilizadas por<br />
um tempo adequado, ou seja, a tempo das<br />
pessoas poderem analisa-las adequadamente e<br />
dar sugestões. Prazos demasiadamente curtos<br />
podem reduzir o número de pessoas a serem<br />
informadas e de terem a possibilidade de se<br />
manifestar;<br />
As informações disponibilizadas devem ser<br />
textos não longos e de fácil compreensão,<br />
sendo interessante a elaboração de um sumário<br />
não técnico para ser amplamente divulgado a<br />
população interessada e afetada;<br />
Fornecer sempre retorno (feedback) em relação<br />
às sugestões recebidas durante o processo de<br />
participação pública. Informar se as sugestões<br />
foram ou não aceitas na versão final da AAE, o<br />
que reforça a responsabilidade e credibilidade<br />
do processo.<br />
A AAE deve ser regulamentada no Brasil, com<br />
dispositivo prevendo a obrigatoriedade da<br />
consulta pública e de outros mecanismos<br />
pertinentes que fomentem a participação de<br />
todos os interessados ou envolvidos no<br />
processo, por exemplo, com a elaboração de<br />
guias ou diretrizes correlatas e com a realização<br />
de audiências publicas nas regiões ou locais<br />
objeto das PPPs avaliadas.<br />
<br />
Considerar os aspectos sociais e culturais da<br />
comunidade envolvida, compreendendo e<br />
respeitando o perfil cultural dos participantes;<br />
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Ressalva-se que a análise crítica realizada teve por base<br />
somente os relatórios ambientais das AAEs, não se<br />
fazendo uso de outros documentos e instrumentos.<br />
Recomenda-se que, para futuros estudos, as análises<br />
envolvam documentos que embasaram as AAEs e<br />
outros instrumentos, como entrevistas com os<br />
responsáveis pela sua elaboração, comunidade<br />
científica e os atores chave envolvidos, principalmente<br />
os representantes das comunidades a serem afetadas.<br />
AAE<br />
1) Setor de<br />
petróleo e gás<br />
natural na Bacia de<br />
Camamu-Almada<br />
(2003).<br />
Setor/ Nível<br />
Energia - petróleo e<br />
gás natural /<br />
Estadual (BA).<br />
Quadro 1. Informações e análise das AAEs estudadas<br />
Relatório de AAE<br />
(acesso)<br />
http://lima.coppe.u<br />
frj.br/aaesulbahia/<br />
Atores<br />
- Sociedade local e<br />
a grupos de<br />
interesse<br />
Métodos de<br />
Participação<br />
Pública/ Fases<br />
- Reuniões técnicas<br />
(elaboração da<br />
metodologia e<br />
desenvolvimento<br />
do estudo, que se<br />
considera escopo e<br />
cenários);<br />
- Consultas públicas<br />
(audiências<br />
públicas)<br />
- Comitê de<br />
acompanhamento<br />
- Internet<br />
(relatórios e<br />
documentos)<br />
Observações<br />
- Considerou as<br />
sugestões e<br />
preocupações da<br />
sociedade na AAE.<br />
2) Programa<br />
Rodoviário de<br />
Minas Gerais<br />
(PRMG) (2006).<br />
Transportes/<br />
Estadual (MG).<br />
http://www.transp<br />
ortes.mg.gov.br/in<br />
dex.php?view=artic<br />
le&catid=47:geral&<br />
id=747:avaliacaoambientalestrategicaaae&tmpl=compon<br />
ent&print=1&page<br />
=<br />
- Usuários e<br />
operadores dos<br />
serviços de<br />
transportes<br />
rodoviários de<br />
cargas e<br />
passageiros;<br />
- Sociedade local<br />
- Consultas Públicas<br />
através de<br />
audiências públicas<br />
(dez) nos trechos<br />
atingidos pela<br />
rodovia, realizadas<br />
pela COPAM.<br />
- Reuniões, a partir<br />
de solicitação, com<br />
associações,<br />
entidades<br />
ambientalistas e<br />
organizações da<br />
sociedade civil das<br />
áreas de influência.<br />
- Não informa se as<br />
considerações da<br />
participação<br />
pública foram<br />
inseridas na AAE.<br />
3) Programa da<br />
Qualidade<br />
Ambiental Urbana<br />
do Amapá - GEA-<br />
BID (2006).<br />
Meio ambiente/<br />
Estadual (AP).<br />
http://idbdocs.iadb<br />
.org/wsdocs/getdo<br />
cument.aspx?docn<br />
um=724751<br />
- Representantes<br />
de ONG, da<br />
comunidade<br />
envolvida com o<br />
programa, demais<br />
representantes da<br />
sociedade civil e<br />
lideranças<br />
- Na elaboração do<br />
RAAE foram<br />
realizados contatos<br />
e promovidas<br />
reuniões com os<br />
órgãos executores<br />
e de controle<br />
ambiental. As<br />
consultas públicas<br />
- Não informa se as<br />
sugestões foram<br />
inseridas na AAE.<br />
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AAE<br />
Setor/ Nível<br />
Relatório de AAE<br />
(acesso)<br />
Atores<br />
empresariais.<br />
Métodos de<br />
Participação<br />
Pública/ Fases<br />
ocorreram em<br />
diferentes<br />
momentos da fase<br />
de preparação.<br />
Observações<br />
- Reuniões de<br />
consulta pública<br />
(Laranjal do Jari,<br />
Santana e Macapá).<br />
4) Plano de<br />
Turismo<br />
Sustentável na<br />
Costa Norte (2007).<br />
Turismo/Federal.<br />
http://lima.coppe.u<br />
frj.br/aaeturismoco<br />
stanorte/<br />
- Mapeamento de<br />
instituições<br />
governamentais,<br />
privadas e<br />
organizações não<br />
governamentais e<br />
universidade.<br />
- Empresários do<br />
turismo e<br />
pescadores.<br />
- Consulta<br />
institucional e<br />
pública, nas etapas<br />
do escopo e nas<br />
fases de<br />
caracterização,<br />
identificação dos<br />
planos e programas<br />
e para o<br />
diagnóstico.<br />
- Relatórios<br />
disponibilizados<br />
eletronicamente e<br />
posterior discussão<br />
na Consulta<br />
Pública.<br />
- As informações e<br />
dados levantados<br />
por intermédio de<br />
pesquisa e de<br />
consulta aos atores<br />
sociais relevantes<br />
foram<br />
considerados na<br />
AAE.<br />
- Reuniões técnicas;<br />
5) Programa de<br />
Transporte Urbano<br />
do Distrito Federal<br />
e Entorno - Brasília<br />
Integrada. (2007).<br />
Transportes/<br />
Distrito Federal.<br />
http://www.st.df.g<br />
ov.br/sites/100/16<br />
7/00000390.PDF<br />
- Atores das esferas<br />
federal e distrital<br />
de governo, da<br />
sociedade civil, do<br />
setor produtivo e<br />
do terceiro setor,<br />
populações de<br />
ambulantes,<br />
motoristas e<br />
cobradores de<br />
ônibus.<br />
- Consulta pública<br />
(audiência pública)<br />
foi realizada,<br />
sustentada por<br />
documentação<br />
apropriada, com a<br />
participação de<br />
representantes da<br />
sociedade civil, das<br />
comunidades, de<br />
lideranças locais e<br />
ONGs. Não se<br />
verifica a<br />
participação dos<br />
outros municípios<br />
envolvidos pelo<br />
programa.<br />
- Sugestões e<br />
recomendações<br />
por parte do<br />
público, foram<br />
avaliadas e<br />
incorporadas aos<br />
relatórios para<br />
elaboração da<br />
versão definitiva do<br />
RAAE.<br />
6) Sub-bacia do Rio<br />
Verde (2007).<br />
Energia elétrica /<br />
Estadual (MS).<br />
Disponibilizado<br />
pelo Instituto de<br />
Meio Ambiental de<br />
Mato Grosso do<br />
Sul.<br />
- Prefeituras,<br />
populações locais,<br />
produtores da<br />
região<br />
(pecuaristas),<br />
- Reuniões Técnicas<br />
e seminários com a<br />
comunidade<br />
técnico-científica<br />
(durante a<br />
- Não esclarece se<br />
os<br />
questionamentos<br />
foram<br />
considerados na<br />
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AAE<br />
Setor/ Nível<br />
Relatório de AAE<br />
(acesso)<br />
Atores<br />
pescadores,<br />
instituições de<br />
pesquisa, entidades<br />
ambientalistas,<br />
órgãos públicos de<br />
saúde,<br />
empreendedor.<br />
Métodos de<br />
Participação<br />
Pública/ Fases<br />
finalização de cada<br />
etapa), só<br />
informou.<br />
- Seminários de<br />
Consulta Pública<br />
com distribuição de<br />
um folder com<br />
informações<br />
básicas<br />
(apresentou<br />
resultados<br />
preliminares da<br />
AAE).<br />
Observações<br />
AAE final.<br />
7) Polo Industrial e<br />
de Serviços de<br />
Anchieta (2009).<br />
Minero-industrial /<br />
Estadual (ES).<br />
Disponibilizado<br />
pelo Instituto<br />
Estadual de Meio<br />
Ambiente do<br />
Espírito Santo.<br />
- Representantes<br />
dos órgãos<br />
públicos;<br />
população da<br />
região do entorno<br />
de Anchieta.<br />
- Conselho de<br />
Acompanhamento -<br />
Fórum da<br />
Companhia<br />
Siderúrgica Ubu e<br />
Comitê de Bacia do<br />
Rio Benevente.<br />
(composto por<br />
representantes da<br />
comunidade civil<br />
organizada).<br />
- Audiências<br />
públicas e<br />
seminários (três)<br />
realizados pelo<br />
Conselho de<br />
Planejamento,<br />
Avaliação e<br />
Monitoramento de<br />
Políticas Públicas<br />
para a Região do<br />
Polo – COPLAM,<br />
com intuito de<br />
informar à<br />
população acerca<br />
dos investimentos<br />
e projetos para a<br />
região.<br />
- Não cita se as<br />
sugestões foram<br />
inseridas na AAE.<br />
8) Programa -<br />
Complexo Porto<br />
Sul (2010).<br />
Desenvolvimento<br />
minero-industrial /<br />
Estadual (BA).<br />
http://www.inema.<br />
ba.gov.br/estudosambientais/avaliac<br />
aoambiental/portosul<br />
http://www.lima.c<br />
oppe.ufrj.br/files/a<br />
aeportosul/aae_su<br />
mario_executivo.p<br />
df<br />
- Atores sociais da<br />
região de estudo.<br />
- Comitê de<br />
Acompanhamento;<br />
- Grupo de<br />
Trabalho<br />
Governamental;<br />
- Disponibilização<br />
do relatório<br />
preliminar da AAE<br />
no momento da<br />
consulta pública.<br />
- As sugestões e<br />
observações do<br />
Comitê e da<br />
Consulta foram<br />
avaliadas e<br />
incorporadas no<br />
relatório final da<br />
AAE.<br />
9) Projeto Mata<br />
Branca (2010).<br />
Meio ambiente /<br />
Estadual (CE).<br />
Disponibilizado<br />
pela equipe<br />
elaboradora da<br />
- Representantes<br />
de instituições<br />
governamentais, da<br />
academia e<br />
- Curso de<br />
nivelamento<br />
(definição dos<br />
objetivos e<br />
- As sugestões<br />
foram<br />
incorporadas na<br />
etapa dos Fatores<br />
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AAE<br />
Setor/ Nível<br />
Relatório de AAE<br />
(acesso)<br />
Atores<br />
Métodos de<br />
Participação<br />
Pública/ Fases<br />
AAE. sociedade civil. resultados);<br />
- Ciclo de palestras,<br />
oficinas; seminários<br />
(descrição da<br />
situação atual de<br />
cada fator crítico<br />
de decisão);<br />
Observações<br />
Críticos de Decisão<br />
(FCD).<br />
- Disponibilidade de<br />
um site eletrônico<br />
para expressar<br />
opiniões.<br />
10) Extremo Sul da<br />
Bahia (2011).<br />
Indústria, energia e<br />
agricultura /<br />
Estadual (BA).<br />
http://www.seia.ba<br />
.gov.br/sites/defaul<br />
t/files/other/Produ<br />
to%203%20-<br />
%20AAE-<br />
Extremo%20Sul.pdf<br />
http://www.lima.c<br />
oppe.ufrj.br/files/a<br />
aeextremosul/aae_<br />
sumario_executivo.<br />
pdf<br />
- Técnicos da<br />
INEMA, SEMA e<br />
representantes da<br />
comunidade local.<br />
- Reuniões técnicas<br />
(elaboração do<br />
Termo de<br />
Referencia e na<br />
fase resultados do<br />
diagnóstico)<br />
- Comitê de<br />
acompanhamento<br />
com a participação<br />
dos setores da<br />
sociedade (fase dos<br />
cenários e<br />
discussão dos<br />
resultados).<br />
- Consulta pública<br />
(apresentou os<br />
resultados da fase<br />
de diagnóstico).<br />
- Os resultados das<br />
fases finais<br />
(cenários e<br />
avaliação<br />
ambiental) não<br />
foram<br />
apresentados e<br />
validados em<br />
consulta pública<br />
aos atores sociais<br />
da região.<br />
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AAE<br />
Critério Participativo<br />
(IAIA, 2002)<br />
1) Setor de petróleo e gás<br />
natural na Bacia de Camamu-<br />
Almada (2003)<br />
2) Programa Rodoviário em<br />
Minas Gerais (PRMG) (2006)<br />
3) Programa da Qualidade<br />
Ambiental Urbana do Amapá -<br />
GEA-BID (2006)<br />
4) Plano de Turismo<br />
Sustentável na Costa Norte<br />
(2007)<br />
5) Programa de Transporte<br />
Urbano do Distrito Federal e<br />
Entorno - Brasília Integrada<br />
(2007)<br />
6) Sub-bacia do Rio Verde<br />
(2007)<br />
7) Polo Industrial e de Serviços<br />
de Anchieta (2009)<br />
8) Programa-Complexo Porto<br />
Sul (2010)<br />
Quadro 2 – Resultados da análise da participação pública no processo de AAE<br />
a) Informa e envolve o público<br />
interessado e afetado, assim<br />
como os órgãos<br />
governamentais, ao longo de<br />
todo o processo de decisão?<br />
b) Considera as sugestões e<br />
preocupações da sociedade na<br />
documentação da AAE e na<br />
tomada de decisão?<br />
c) Apresenta requisitos de<br />
informação claros e<br />
facilmente compreensíveis e<br />
assegura suficiente acesso a<br />
toda a informação relevante?<br />
RS RS RS<br />
RS NE NS<br />
RS NE NS<br />
S RS S<br />
RS RS RS<br />
RS NE RS<br />
RS NE RS<br />
S RS RS<br />
9) Projeto Mata Branca (2010) S RS S<br />
10) Extremo Sul da Bahia<br />
(2011)<br />
RS RS NS<br />
Legenda:<br />
S – satisfatório<br />
RS – razoavelmente satisfatório<br />
NS – não satisfatório<br />
NE – não encontrado.<br />
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ALTERAÇÕES QUÍMICAS EM SOLO OCUPADO POR CEMITÉRIO HORIZONTAL<br />
NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL<br />
Chemical changes in soil occupied for cemetery horizontal in Rio Grande do Sul - North<br />
Pedro Daniel da Cunha<br />
Kemerich<br />
Universidade Federal do Pampa,<br />
Caçapava do Sul-RS.<br />
E-mail: eng.kemerich@yahoo.com.br<br />
Willian Fernando de Borba<br />
Universidade Federal de Santa Maria -<br />
UFSM, Santa Maria-RS.<br />
E-mail: borbawf@gmail.com<br />
Natana Schmachtenberg<br />
Universidade Federal de Santa Maria -<br />
UFSM, Frederico Westphalen – RS.<br />
E-mail: Natana_2005@yahoo.com.br<br />
Cristiane Graepin<br />
crisgraepin@hotmail.com,<br />
Universidade Federal de Santa Maria,<br />
Santa Maria – RS<br />
Carlos Eduardo Balestrin Flores<br />
carlos.ebf@hotmail.com,<br />
Universidade Federal do Pampa -<br />
Unipampa, Caçapava do Sul-RS<br />
Guilherme Barros<br />
guilherme_barrosp@hotmail.com,<br />
Universidade Federal de Santa Maria -<br />
UFSM, Frederico Westphalen-RS<br />
Ademir Eloi Gerhardt<br />
adegerhardt@bol.com.br,<br />
Universidade Federal de Santa Maria -<br />
UFSM, Santa Maria-RS<br />
RESUMO<br />
Atualmente, têm-se poucos estudos que relacionam os cemitérios como<br />
atividades causadoras de impactos ambientais. Com isso, o presente estudo<br />
tem por objetivo determinar alterações nas propriedades químicas em um<br />
solo ocupado por cemitério. Foram realizadas tradagens no solo nas<br />
profundidades de 0 a 300 cm, para consequente determinação dos<br />
parâmetros Amônia, Nitrato, pH e Nitrito. Foram verificadas as<br />
variações de Amônia (17,63 a 580,08 mg kg -1 ), Nitrato ((valores menores<br />
que o Limite de Detecção (L.D). a 361,93 mg kg -1 )), Nitrito (valores menores<br />
que o L.D. até 7,19 mg kg -1 ) e pH (de 4,8 a 7,9). O parâmetro Altitude<br />
apresentou correlação negativa moderada (-0,45) e Fraca (-0,<strong>33</strong>) com os<br />
parâmetros Amônia e Nitrato respectivamente, já a Amônia e Nitrato<br />
apresentaram correlação positiva moderada (0,55). Foi possível concluir que<br />
a área apresenta maiores concentrações dos parâmetros analisados nas<br />
maiores profundidades, evidenciando que o sepultamento dos corpos alterou<br />
as propriedades químicas do solo.<br />
Palavras-chave: Amônia; Cemitério; Nitrito, Poluição.<br />
ABSTRACT<br />
Currently, there are few studies that relate the cemeteries as activities<br />
causing environmental impacts. Thus, this study aims to determine changes<br />
in the chemical properties in a soil occupied by the cemetery. Boreholes were<br />
carried out in soil at depths between 0 -300 cm for subsequent<br />
determination of the parameters of: Ammonia, Nitrate, pH and Nitrite. Were<br />
verified Ammonia variations (17,63 to 580,08 mg kg -1 ), nitrate variations<br />
(values less than the L.D. to 361,93 mg kg -1 ) Nitrite variations ((values less<br />
than the Limits of Detection (L.D.) to 7,19 mg kg -1 )) and pH variations (4,8 to<br />
7,9). The altitude parameter presented a moderate negative correlation (-<br />
0,45) and weak (-0,<strong>33</strong>) with ammonia and nitrate, respectively, although the<br />
Ammonia and nitrate parameters showed a moderate positive correlation<br />
(0,55). It was concluded that the area presents higher concentrations of the<br />
parameters analyzed in greater depths, indicating that the burial of bodies<br />
changed the chemical properties of the soil.<br />
Keywords: Ammonia; Cemetery; Nitrite, Pollution.<br />
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Os cemitérios, como qualquer outra instalação que<br />
afete as condições naturais do solo e das águas<br />
subterrâneas, são classificados como atividade com<br />
risco de contaminação ambiental. A razão disso é que o<br />
solo em que estão instalados funciona como um filtro<br />
das impurezas depositadas sobre ele (KEMERICH;<br />
UCKER; DE BORBA, 2012).<br />
A falta de medidas de proteção ambiental no<br />
sepultamento de corpos humanos em covas abertas no<br />
solo, ao longo de muitas décadas, fez com que a área de<br />
muitos cemitérios fosse contaminada por diversas<br />
substâncias, orgânicas e inorgânicas, e por microorganismos<br />
patogênicos. Por economia, é comum os<br />
municípios elegerem áreas de baixo ou quase nenhum<br />
valor de mercado para os sepultamentos. Geralmente<br />
terrenos grandes e íngremes em regiões mais afastadas<br />
do centro, ignorando critérios como formação geológica<br />
e hidrogeológica (FELICIONI et al., 2007).<br />
Segundo Kemerich et al. (2012c), a partir de 2003, com<br />
a implementação da Resolução do Conselho Nacional<br />
de Meio Ambiente (CONAMA) número <strong>33</strong>5 (CONANA<br />
<strong>33</strong>5/2003), observou-se a péssima situação dos<br />
cemitérios no Brasil.<br />
A escolha do local para instalação dos cemitérios deve<br />
ser feita com critério, observando as características do<br />
meio. Embora o solo seja uma barreira natural de<br />
proteção aos aquíferos subterrâneos, a contaminação<br />
das águas subterrâneas pode ocorrer da mesma<br />
maneira.<br />
Kemerich et al. (2012b) dizem que a implantação de<br />
cemitérios sem levar em consideração os critérios<br />
geológicos (características litológicas e estrutura do<br />
terreno) e hidrogeológicos (nível do lençol freático)<br />
constitui uma das causas de deterioração da qualidade<br />
das águas subterrâneas.<br />
INTRODUÇÃO<br />
Segundo Campos (2008), o produto da decomposição<br />
dos corpos humanos, conhecido como necrochorume, é<br />
liberado pelo corpo durante seis a oito meses, sendo<br />
que cada cadáver pode gerar de 30 a 40 litros.<br />
Composto de 60% de água, 30% de sais minerais e 10%<br />
de substâncias orgânicas tóxicas (putrescina e<br />
cadaverina), o necrochorume apresenta, ainda, carga<br />
patogênica. Essa substância é mais viscosa que a água,<br />
de cor acinzentada ou acastanhada, odor forte e<br />
desagradável. Se o solo dos cemitérios for poroso e<br />
permeável, o necrochorume pode vir a se mover e<br />
misturar com a água subterrânea, podendo tornar-se,<br />
assim, veículo de doenças, caso haja micro-organismos<br />
patogênicos.<br />
Os metais pesados presentes no necrochorume podem<br />
ter sua origem do próprio corpo humano, como<br />
resíduos de tratamentos hospitalares, como a<br />
quimioterapia, produtos utilizados no preparo do corpo,<br />
como cosméticos, dentre outros. Segundo Barros<br />
(2008), as partes metálicas dos caixões são<br />
consideradas as principais fontes de contaminação dos<br />
solos de cemitério pelos metais pesados.<br />
Nos terrenos destinados à implantação de cemitérios, a<br />
espessura da zona não saturada e o tipo de material<br />
geológico são fatores determinantes para a filtragem do<br />
necrochorume. A porcentagem ideal de argila no solo<br />
para que isso ocorra situa-se na faixa de 20% a 40%, a<br />
fim de que os processos de decomposição aeróbica e as<br />
condições de drenagem do necrochorume sejam<br />
favorecidos (SILVA, 1995).<br />
A toxicidade química do necrochorume diluído na água<br />
freática relaciona-se aos teores anômalos de compostos<br />
das cadeias do fósforo e do nitrogênio e aminas. O<br />
necrochorume no meio natural decompõe-se e é<br />
reduzido a substâncias mais simples e inofensivas, ao<br />
longo do tempo (ROMANÓ, 2005).<br />
OBJETIVO<br />
Esse trabalho tem como objetivo determinar as alterações nas propriedades químicas de um solo ocupado por<br />
cemitério, por meio de análises dos parâmetros Amônia, Nitrato, Nitrito e Potencial Hidrogeniônico, em diferentes<br />
profundidades e pontos de amostragem.<br />
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Caracterização da área de estudo<br />
“O local de estudo está situado no noroeste do estado<br />
do Rio Grande do Sul, Brasil, na latitude 27º 28’ 4” S e<br />
longitude 53º 24' 09" O, com altitude de 546 metros do<br />
nível do mar, abrangendo uma área de 301 km 2 e com<br />
população de 11098 habitantes (IBGE, 2009). Esta<br />
unidade territorial pertence à bacia hidrográfica do Rio<br />
Uruguai com clima subtropical úmido.<br />
A classificação do solo do município é determinada<br />
como Latossolo, Vermelho distroférico típico, gerado<br />
pelo processo de latolização; são solos profundos,<br />
minerais, não-hidromórficos, com cores que variam de<br />
vermelhas escuras a amareladas (SOUSA; LOBATO,<br />
2007).<br />
O cemitério municipal São João Batista está situado a<br />
520 m de altitude e foi fundado no ano de 1930,<br />
contendo atualmente cerca de 3 mil sepulturas,<br />
recebendo em média 7 corpos por mês em uma área de<br />
1,2 hectares (KEMERICH et al., 2012b).<br />
Localização dos pontos de amostragem e<br />
coleta de amostras<br />
A tradagem para coleta das amostras foi realizada em<br />
função da topografia existente no terreno e do fluxo<br />
preferencial de água superficial, do mesmo modo<br />
utilizado por Kemerich et al. (2012b), com o auxílio do<br />
software Surfer 8 da Golden Software, utilizando-se o<br />
método de interpolação matemática Krigagem<br />
(LANDIN; STURARO, 2002), conforme Figura 1. Foram<br />
considerados 10 pontos de coleta, denominados de P1<br />
a P10, conforme mostra a figura 1, que ilustra também<br />
a área total do cemitério e as linhas de fluxo superficial<br />
da água. P1 encontra-se no ponto de maior elevação,<br />
sendo considerado o ponto controle.<br />
Para a coleta das amostras, foi utilizado um trado<br />
manual Sonda Terra de 4 m de comprimento. Cada<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
amostra coletada foi armazenada em sacos plásticos e<br />
recebeu identificação correspondendo à localização do<br />
ponto de amostragem e à profundidade da coleta. Nos<br />
pontos analisados, foram coletadas amostras a cada 50<br />
cm de profundidade, iniciando-se com a amostra<br />
superficial em 0 cm até a profundidade de 300 cm,<br />
totalizado 7 amostras por ponto. Antes da coleta de<br />
cada amostra, o trado foi lavado com água destilada e<br />
deionizada (KEMERICH et al., 2012b).<br />
Preparo das amostras, espacialização dos<br />
dados e análise estatística<br />
O preparo das amostras seguiu procedimento descrito<br />
por Kemerich et al. (2012a). As determinações de<br />
Amônia (NH 3 ), Nitrato (NO 3 - ), Nitrito (NO 2 - ) e pH foram<br />
realizadas por metodologias e equipamentos ilustrados<br />
na Tabela 1.<br />
O Destilador de Nitrogênio utilizado neste estudo para a<br />
-<br />
determinação de NH 3 e NO 3 tem como Limite de<br />
Detecção (L.D.) de 0,35 mg kg -1 , já para o NO - 2 o L. D. é<br />
de 0,002 mg kg -1 .<br />
Para a confecção dos cartogramas, foi utilizado o<br />
programa SURFER 8 (GOLDEN SOFTWARE, 2004) e<br />
como método de interpolação matemática, foi utilizado<br />
krigagem (LANDIM; STURARO, 2002). Logo após foram<br />
espacializadas as informações de interesse com o uso<br />
da opção Post Map.<br />
Com relação à análise estatística, foi utilizado o<br />
Software Statistica 7, através da matriz de correlação de<br />
Pearson, com p significativo
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RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
A tabela 2 ilustra a variação das concentrações dos parâmetros Amônia, Nitrato, e Nitrito e os valores de pH do solo na<br />
área ocupada pelo cemitério municipal São João Batista, nos 10 pontos de amostragem com suas respectivas<br />
profundidades. Já a tabela 3, destaca os valores mínimos, máximos, médios e seus respectivos desvios padrões para a<br />
área de estudo.<br />
Amônia (NH3)<br />
Com exceção dos pontos P9 e P10, as maiores<br />
concentrações de Amônia encontram-se nas<br />
profundidades superficiais até 100 cm. A figura 2 ilustra<br />
a variação da concentração de Amônia no solo da área<br />
de estudo, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e<br />
150 cm (d).<br />
Kemerich et al. (2012a), estudando um solo de aterro<br />
sanitário no município de Seberi-RS, encontraram<br />
concentrações variando de 84 até 752,5 mg kg -1 , nas<br />
profundidades entre 0 e 150 cm, valores estes inferiores<br />
aos encontrados no presente estudo.<br />
A figura 3 ilustra a variação da concentração de NH 3 no<br />
solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),<br />
250 (b) e 300 cm (c).<br />
Giracca (2012) afirma que a decomposição microbiana<br />
de resíduos de plantas e animais no solo libera<br />
nitrogênio mineral, nitrato e amônia, formas desse<br />
elemento, que as plantas podem absorver da solução<br />
do solo, sendo assim a ocorrência de NH 3 pode ser um<br />
indicativo de poluição recente, possivelmente oriunda<br />
da redução de nitrato por bactérias ou íons ferrosos,<br />
presentes no solo (SILVA; ARAÚJO, 2003).<br />
As transformações do nitrogênio no solo envolvem a<br />
passagem das formas orgânicas (aquelas incorporadas<br />
pelos microrganismos e plantas) para as formas<br />
minerais. Este processo é controlado única e<br />
exclusivamente pelos microrganismos e gera o<br />
aparecimento de NH 3 , que pode ser perdida por<br />
volatilização ou reagir com o elemento Hidrogênio da<br />
solução do solo e, assim, produzir o íon Amônio (NH 4 + )<br />
(GIRACCA, 2012).<br />
Na área de estudo, os maiores valores ocorreram na<br />
camada até 100 cm, profundidade esta a que<br />
geralmente são enterrados os corpos humanos, o pode<br />
acarretar em sérios problemas relacionados à qualidade<br />
da água subterrânea.<br />
Segundo Zychowski (2012) a amônia foi considerada o<br />
produto principal de decomposição, sendo mais móveis<br />
que cloretos e íons de sulfato de sódio. A mesma migra<br />
através da zona insaturada em um tempo de até 20<br />
anos.<br />
Com isso, em áreas ocupadas por cemitérios, é de suma<br />
importância analisar as concentrações de tais<br />
compostos Nitrogenados.<br />
Nitrato (NO3 - )<br />
O NO 3 - é uma das formas inorgânicas do nitrogênio no<br />
solo e, juntamente, com o NH 4 , constitui produto final<br />
da mineralização do nitrogênio orgânico, contido em<br />
qualquer resíduo orgânico após adição ao solo. Por ser<br />
repelido pelas partículas do solo, que geralmente<br />
apresentam carga elétrica líquida negativa, esse ânion<br />
permanece livre na solução (DINYA et al., 2006). Em<br />
consequência disso, a quantidade presente na camada<br />
arável do solo fica sujeita à lixiviação. Ao longo do<br />
tempo, pode atingir o lençol freático e os corpos de<br />
água por ele alimentados, tornando-se este um grande<br />
problema de contaminação ambiental, uma vez que os<br />
maiores valores ocorreram nas amostras superficiais.<br />
Assim, os compostos podem ser facilmente lixiviados e<br />
carregados aos recursos hídricos superficiais.<br />
Devido a essa contaminação, as características da água<br />
podem ser alteradas, e se consumida pelo ser humano,<br />
pode vir a causar danos à saúde, pois o NO 3 - possui ação<br />
na síntese de nitrosaminas e nitrosamidas no estômago<br />
humano (FEITOSA; FILHO, 1997).<br />
Pode-se verificar que as concentrações mínimas na área<br />
de estudo, apresentam-se acima de 150 cm de<br />
profundidade (com exceção do ponto P2, em que<br />
apresentou valores
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cidade de Seberi-RS, encontraram concentrações<br />
variando entre 15,5 e 294,5 mg kg -1 , em profundidade<br />
de 0 a 150 cm, com isso é possível verificar os altos<br />
valores, comparando aos identificados na presente<br />
área, evidenciando a possível alteração dessa<br />
propriedade causada pelo uso de cemitério.<br />
A figura 5 ilustra a variação da concentração de Nitrato<br />
no solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),<br />
250 (b) e 300 cm (c).<br />
Vários trabalhos têm mostrado que o NO 3 - , por ser um<br />
ânion, é facilmente lixiviado no perfil do solo, sendo<br />
levado para fora do alcance das raízes das plantas e<br />
podendo atingir as águas subsuperficiais. Oliveira et al.<br />
(2001) verificaram um aumento com a profundidade,<br />
enquanto que Cardoso Neto (2006) obteve diminuição<br />
do nitrato com a profundidade, tendo a maior<br />
concentração na camada superficial, sabendo-se que as<br />
perdas de nitrato por lixiviação dependem da<br />
ocorrência de excedente hídrico. O mesmo<br />
comportamento foi identificado no presente trabalho,<br />
onde as maiores concentrações ocorreram nas<br />
amostras superficiais.<br />
Estudos realizados, em diferentes contextos geográficos<br />
e climáticos em diferentes cemitérios (Ziychowski,<br />
2012), demonstram que as alterações das águas<br />
subterrâneas nestas áreas resultam da presença de<br />
níveis elevados de vários contaminantes. No Brasil,<br />
estudos como o realizado por Zychowski (2012)<br />
mostram a presença de contaminação por nitrato perto<br />
das sepulturas, além de outros contaminantes não<br />
levados em consideração para a área do Cemitério<br />
Municipal São João Batista (RS) no presente estudo.<br />
Nitrito (NO2 - )<br />
O Nitrito presente no ambiente, em determinadas<br />
condições, podem combinar-se com aminas<br />
secundárias, formando nitrosaminas, sendo estas<br />
altamente cancerígenas e mutagênicas (REYES et al.,<br />
1987). Esse mesmo autor afirma que o Nitrito apresenta<br />
relação com o aparecimento de metemoglobinemia em<br />
crianças, o que evidencia a importância do estudo de tal<br />
elemento no meio.<br />
Com relação as concentrações de Nitrito no solo da<br />
área de estudo, valores de ordens diferentes foram<br />
encontrados por Kemerich et al. (2012a) em um solo na<br />
cidade de Seberi-RS, entre as profundidades de 0 a 150<br />
cm, cujos valores de NO 2 - variaram de 0,183 a 21,7 mg<br />
kg -1 . Já Cardoso Neto (2006), no município de Tibau- RN,<br />
encontrou as maiores concentrações na camada de 30 a<br />
45 cm de solo.<br />
A figura 6 ilustra a variação da concentração de Nitrito<br />
no solo da área de estudo nas profundidades de 0 (a),<br />
50 (b), 100 (c) e 150 cm (d).<br />
Barros et al. (2008) encontraram baixos teores de NO 2<br />
-<br />
acumulados no solo, sendo que a presença de amônia,<br />
proveniente das fontes amoniacais, associada a valor<br />
inicial do pH do solo, 7,3, pudesse ter inibido a oxidação<br />
do nitrito a nitrato pelas nitro bactérias. Em contato<br />
com os recursos hídricos (superficiais e subterrâneas),<br />
esses compostos se tornam fontes de problemas<br />
relacionados à saúde pública, sendo que o mesmo pode<br />
reagir com o Ferro II e ser fonte de uma doença<br />
conhecida como methemoglobina, conhecida também<br />
como “síndrome do bebê azul”.<br />
Chan et al. (1992) apud Zychowski (2012) encontraram<br />
concentrações baixas de Nitrito em águas subterrâneas<br />
de cemitérios. Já Dent e Knight (1998) apud Zychowski<br />
(2012) encontraram concentrações de Nitrito elevadas<br />
na água subterrânea do cemitério em Melbourne.<br />
A figura 7 ilustra a variação da concentração de Nitrito<br />
no solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),<br />
250 (b) e 300 cm (c).<br />
Potencial hidrogeniônico (pH)<br />
O pH varia na amplitude de 0 a <strong>14</strong> e é definido como a<br />
acidez ou alcalinidade relativa de uma solução, sendo o<br />
valor 7 é definido como neutro, valores abaixo são<br />
classificados como ácidos e os acima de 7 são<br />
classificados como alcalinos. Nos solos este varia de 3 a<br />
9.<br />
Conforme Silva (2011), o pH constitui-se um importante<br />
regulador da fertilidade do solo, por manter uma<br />
relação com a disponibilidade de cátions e influência<br />
nos diferentes processos e atividades no solo, tais<br />
como, adsorção, precipitação, solubilidade, formação<br />
de agregados, infiltração de água, atividade microbiana,<br />
entre outros (PAVAN; MIYAZAWA, 1996).<br />
A figura 8 ilustra a variação da concentração de pH no<br />
solo da área de estudo nas profundidades de 0 (a), 50<br />
(b), 100 (c) e 150 cm (d).<br />
Como pode ser observado na figura 8, os menores<br />
valores de pH estão presentes nos pontos de menor<br />
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cota, já as maiores concentrações foram evidenciadas<br />
nas menores cotas topográficas. Foi possível observar<br />
que o pH variou em função da profundidade, onde os<br />
valores maiores foram encontrados na amostra<br />
superficial.<br />
O pH do solo também influencia na velocidade de<br />
decomposição da matéria orgânica. Kemerich et al.<br />
(2012a), na cidade de Seberi-RS, em solo ocupado por<br />
aterro sanitário, encontraram valores semelhantes,<br />
variando de 4,12 a 7,9.<br />
Tem-se admitido que a acidez do solo e as condições<br />
fisiológicas que o acompanham resultam da ausência de<br />
cátions metálicos permutáveis. A quantidade destes<br />
cátions absorvidos exerce controle sobre a<br />
porcentagem de saturação de base e, assim,<br />
indiretamente determina a concentração dos íons de<br />
hidrogênio da solução do solo (OLIVEIRA, 2001).<br />
Oliveira et al. (2008) afirmam que os caixões de metal<br />
podem causar contaminação do solo por diversos<br />
elementos, tais como: Ferro, Cobre, Chumbo e Zinco,<br />
durante vários anos, especialmente em solos com baixo<br />
pH, o que se aplica à realidade do presente estudo, em<br />
que foram registrados valores baixos de pH. Segundo<br />
Cardoso Neto (2006) o pH pode ser influenciado pelas<br />
alterações da temperatura e atividades biológicas.<br />
A maior ou menor mobilidade dos metais pesados será<br />
determinada pelos atributos do solo, como teores e<br />
tipos de argila, pH, capacidade de troca de cátions, teor<br />
de matéria orgânica entre outros, que influenciarão as<br />
reações de adsorção/dessorção,<br />
precipitação/dissolução, complexação e oxirredução<br />
(BARROS et al., 2008).<br />
A figura 9 ilustra a variação do pH nas profundidades de<br />
200 (a), 250 (b) e 300 cm (c).<br />
Como pode ser observado, os maiores valores de pH<br />
estão presentes nos pontos de menores cotas<br />
topográficas, evidenciando a relação do parâmetro com<br />
o fluxo superficial e subsuperficial da água.<br />
Segundo Dent et al. (2004), as condições adequadas<br />
para a formação de nitrito e nitrato por bactérias<br />
nitrificantes, incluem valores favoráveis de pH no meio,<br />
devido as mesmas serem muito sensíveis a este<br />
parâmetro. As Nitrobacter spp. preferem um pH entre 5<br />
e 8, enquanto as Nitrossomonas spp. preferem pH entre<br />
7 e 9. Portanto, o pH é um elemento importante<br />
também na decomposição pelas bactérias nitrificantes.<br />
Correlação estatística entre os parâmetros<br />
analisados<br />
O coeficiente de correlação Pearson (r) varia de -1 a 1,<br />
sendo que o sinal indica direção positiva ou negativa do<br />
relacionamento e o valor sugere a força da relação<br />
entre as variáveis (FIGUEIREDO FILHO; SILVA JÚNIOR,<br />
2009).<br />
A tabela 3 ilustra a correlação estatística entre os<br />
parâmetros Altitude, Amônia, Nitrato, Nitrito e pH. Os<br />
valores destacados na cor vermelha apresentaram<br />
correlação significativa com p
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Figura 01: Fluxo preferencial de água superficial da área de estudo<br />
Tabela 01: Equipamentos e metodologias utilizadas para determinação de Amônia, Nitrato, Nitrito e pH.<br />
Parâmetro Equipamento Metodologia<br />
NH3 Destilador de Nitrogênio MA-036/MARCONI TEDESCO (1995)<br />
NO3- Destilador de Nitrogênio MA-036/MARCONI TEDESCO (1995)<br />
NO2- NOVA 2100 uv SPECTROPHOTOMER ABNT (1992)<br />
pH<br />
pHmetro pH-2100/INSTRUTHERM série<br />
3923/612<br />
TEDESCO (1995)<br />
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PONTOS DE AMOSTRAGEM<br />
PONTOS DE AMOSTRAGEM<br />
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1<br />
2<br />
3<br />
4<br />
5<br />
Tabela 02: Concentrações de Amônia, Nitrato, Nitrito e valores de pH no solo do Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS.<br />
Concentrações (mg kg-1)<br />
Concentrações (mg kg-1)<br />
Profundidade<br />
Profundidade<br />
(cm) NH3 Nitrato Nitrito pH (cm)<br />
NH3 Nitrato Nitrito pH<br />
0 273,44 361,93 2,28 5,97<br />
0 303,41 <strong>14</strong>8,61 1,25 7,9<br />
0-50 326,84 19,51 2,98 5,45 0-50 324,65 17,78 4,64 7,7<br />
50-100 <strong>33</strong>7,52 3,49 2,98 5,55 50-100 308,72 32,86 0,18 7,4<br />
100-150 <strong>33</strong>7,52 13,47 3,68 5,56 6 100-150 292,79 <strong>14</strong>,97 2,<strong>14</strong> 6,7<br />
150-200 284,12 12,42 4,74 5,52 150-200 3<strong>14</strong>,03 17,96 4,46 6<br />
200-250 311,89 9,96 7,19 5,46 200-250 38,99 30,49 2,68 6,2<br />
250-300 289,46 4,62 7,19 5,51 250-300 49,67 17,15
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Figura 02: Variação da concentração de Amônia do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />
Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm<br />
Figura 03: Variação da concentração de Amônia do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />
Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />
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Figura 04: Variação da concentração de Nitrato do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />
Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm.<br />
Figura 05: Variação da concentração de Nitrato do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />
Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />
94
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Figura 06: Variação da concentração de Nitrito do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />
Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm.<br />
Figura 07: Variação da concentração de Nitrito do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />
Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />
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Figura 08: Variação do pH do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS, nas<br />
profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm<br />
Figura 09: Variação do pH do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS, nas<br />
profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />
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Tabela 03: Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros: altitude, Amônia, Nitrato, Nitrito e pH do solo no Cemitério Municipal São<br />
João Batista, Seberi-RS.<br />
Altitude Amônia Nitrato Nitrito pH<br />
Altitude 1,00<br />
Amônia -0,45* 1,00<br />
Nitrato -0,<strong>33</strong>* 0,55* 1,00<br />
Nitrito 0,07 0,15 -0,<strong>14</strong> 1,00<br />
pH -0,06 0,<strong>14</strong> 0,<strong>14</strong> -0,09 1,00<br />
*Correlação significativa para p < 0,05000, N=70<br />
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PERCEPÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: ESTUDO DE CASO SOBRE A<br />
CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO<br />
Environmental perception and heritage education: a case study on paleontological heritage and<br />
your conservation<br />
Marcelo de Oliveira Soares<br />
Doutor em Geociências. Docente<br />
do Instituto de Ciências do Mar<br />
(LABOMAR-UFC).<br />
Vice-coordenador do Curso de<br />
Graduação em Ciências<br />
Ambientais (UFC).<br />
E-mail: marcelosoares@ufc.br<br />
Wedja Suhelen Paes da Silva<br />
Graduanda em Ciências<br />
Ambientais (UFC)<br />
Luana Kelly Ferreira da<br />
Silva<br />
Graduanda em Ciências<br />
Ambientais (UFC)<br />
Thais Chaves da Silva<br />
Graduanda em Ciências<br />
Ambientais (UFC)<br />
RESUMO<br />
Os fósseis no Brasil têm adquirido valor econômico junto à população local, o<br />
que leva a um tráfico ilegal, sobretudo internacional. Nesse contexto, a<br />
educação patrimonial possibilita o acesso ao conhecimento necessário para<br />
que a sociedade adquira o hábito de preservar este importante patrimônio.<br />
Assim, foram desenvolvidas atividades em um sítio fossilífero de importância<br />
mundial (Chapada do Araripe, NE Brasil) para capacitar a população a gerar<br />
renda através de réplicas de fósseis, analisar a percepção ambiental quanto<br />
ao patrimônio paleontológico e conscientizar a comunidade quanto à<br />
importância dos fósseis. Foram realizadas etapas distintas de atividades, que<br />
incluíram oficina de réplicas, produção de “mapas mentais” e aplicação de<br />
questionários. Ressalta-se entre os resultados, o reconhecimento da<br />
importância da fabricação de réplicas como uma alternativa sustentável ao<br />
tráfico, o reconhecimento do paleoambiente pela população e a necessidade<br />
de propagar o conhecimento adquirido, voltado à conservação ambiental dos<br />
fósseis. O estudo de caso analisado pode servir de exemplo para a discussão<br />
mundial do desenvolvimento sustentável em áreas de significativo<br />
patrimônio geológico.<br />
Palavras-chave: Conservação; Geração de renda; Gestão Ambiental do<br />
Patrimônio.<br />
ABSTRACT<br />
The Brazilian fossils have acquired economic value among the local<br />
population, leading to an illegal traffic, especially internationally. In this<br />
context, heritage education provides access to the necessary knowledge for<br />
society to get into the habit of preserving this important heritage. Thus,<br />
activities were carried out in a important fossiliferous basin (Araripe Basin,<br />
NE Brazil) to enable people to generate income through fossils replicas,<br />
analyze the environmental perception about the paleontological heritage and<br />
educate the community about the importance of fossils. Distinct steps were<br />
carried out activities, which included workshop on replicas, production of<br />
"mental maps" and questionnaires. It should be noted between the results,<br />
the recognition of the importance of fossils replicas as a sustainable<br />
alternative, the recognition of the paleo environment that existed and the<br />
need to publicize the knowledge to the community, focused on<br />
environmental conservation of fossils. The analysis of this study case can<br />
serve as an example for the world discussion of sustainable development in<br />
areas of significant geological heritage.<br />
Keywords: Conservation; Income generation; Heritage Environmental<br />
Management<br />
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Patrimônio fossilífero e conservação<br />
ambiental<br />
Fossil Lagerstätten são sítios fossilíferos extraordinários<br />
que geram grande quantidade de informações sobre a<br />
história ambiental do Planeta, sendo imprescindível a<br />
sua conservação para o entendimento das alterações<br />
ambiental e modificações da vida ao longo do tempo<br />
geológico. A Bacia do Araripe é a mais extensa das<br />
bacias interiores do Nordeste do Brasil (Peulvast et al.,<br />
2008), se estendendo pelo Vale do Cariri com<br />
aproximadamente 11.000 km2. Possui a maior área de<br />
exposição de rochas cretáceas (aproximadamente 110<br />
milhões de anos) dentre as bacias intracratônicas do<br />
Nordeste. Sua grande diversidade fossilífera varia desde<br />
pequenos ostracodes até grandes dinossauros e<br />
pterossauros. Esta bacia sedimentar representa um dos<br />
mais importantes sítios fossilíferos da Gondwana<br />
devido à excepcional qualidade e diversidade dos<br />
fósseis (Martill, 2007; CUPELLO et al. 2012).<br />
A Bacia do Araripe é um verdadeiro museu, devido a<br />
sua alta complexidade geológica e paleontológica.<br />
Desde a época do Brasil colônia até a atualidade,<br />
estudos realizados tanto por pesquisadores nacionais<br />
quanto por estrangeiros, admitiram seu alto potencial<br />
paleontológico. Esta bacia sedimentar é bem conhecida<br />
no Brasil e no restante do mundo pelos excepcionais<br />
fósseis que nela são encontrados, chamando a atenção<br />
de colecionadores e de cientistas. Assim, ela tem sido<br />
alvo de pesquisas e investigações científicas desde<br />
antes da Independência brasileira. Os primeiros<br />
cientistas a terem contato com os fósseis de peixes tão<br />
característicos da bacia foram J. B. von Spix e C. F. P.<br />
von Martius. Desde então, muitos paleontólogos e<br />
geólogos brasileiros e estrangeiros têm se dedicado ao<br />
estudo dos fósseis dessa bacia (CARVALHO & SANTOS,<br />
2005).<br />
Com o passar dos anos o patrimônio paleontológico, tão<br />
valorizado por leigos e pela comunidade científica,<br />
adquiriram um valor econômico junto à população<br />
local, principalmente nos municípios de Santana do<br />
Cariri, Porteiras e Jardim no Estado do Ceará. Eles<br />
passaram a ser extraídos e comercializados como forma<br />
de complementar a renda de populações de baixa<br />
renda, principalmente no período de entressafras ou de<br />
secas duradouras, quando as atividades agropecuárias<br />
ficavam prejudicadas (MARTILL, 2007). O comércio de<br />
INTRODUÇÃO<br />
fósseis parece ter se intensificado a partir da década de<br />
70 e curiosamente era relativo aos peixes fósseis ou<br />
ictiólitos. Segundo o senso geral dos comerciantes na<br />
época, somente estes fósseis tinham valor. Quando se<br />
descobriu que tetrápodes (dinossauros, anfíbios,<br />
pterossauros, etc..) também eram bastante visados por<br />
instituições e outros compradores do Japão, Estados<br />
Unidos e Europa, fósseis desse grupo ganharam preços<br />
ainda mais altos do que os dos nódulos contendo<br />
peixes. No entanto, esta é uma prática ilegal segundo a<br />
Constituição Brasileira (CARVALHO & SANTOS, 2005),<br />
com aspectos negativos claros, como a concentração de<br />
holótipos em instituições de pesquisa estrangeiras, e<br />
positivos no mínimo questionáveis (MARTILL, 2007).<br />
A educação ambiental surgiu como uma nova forma de<br />
encarar o papel do ser humano no mundo, propondo<br />
novos modelos de relacionamentos mais harmônicos<br />
com a natureza, novos paradigmas e novos valores<br />
éticos (DEL RIO & OLIVEIRA, 1996; BONIFACIO & ABILIO,<br />
2010). Carvalho (2008) afirma que a educação acontece<br />
como parte da ação humana de transformar a natureza<br />
em cultura, atribuindo-lhes sentidos, trazendo-a para o<br />
campo da compreensão e da experiência de estar no<br />
mundo e participar da vida. Neste sentido, é importante<br />
ressaltar que a sensibilização por meio de instrumentos<br />
educacionais que estimulem a valorização dos bens<br />
ambientais da sociedade, materiais e imateriais,<br />
contribui para aprimorar a gestão do patrimônio,<br />
fortalecendo a memória de seu povo e consolidando as<br />
idéias presentes no âmbito das políticas públicas em<br />
desenvolvimento no país. A Educação Patrimonial<br />
fortalece a relação das pessoas com suas heranças<br />
culturais, estabelecendo um melhor relacionamento<br />
destas com estes bens, percebendo sua<br />
responsabilidade pela valorização e preservação do<br />
Patrimônio, fortalecendo a vivência real com a<br />
cidadania (NOELLI, 2004; XAVIER, 2011).<br />
A missão principal da educação patrimonial é<br />
possibilitar o conhecimento, o acesso à informação, à<br />
fruição dos bens culturais, para que a sociedade possa<br />
habituar-se a importância de sua cultura e educação, e<br />
possa escolher, no passado e no presente, que objetos,<br />
signos, tradições e lugares se quer preservar (NOELLI,<br />
2004). Os fósseis constituem importante patrimônio<br />
para a região em questão e devem ser objeto de<br />
constantes estudos para a sua preservação (XAVIER,<br />
2011). Apesar da importância da conservação ambiental<br />
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do patrimônio paleontológico (nesta região de interesse<br />
mundial), poucos estudos realizaram trabalhos voltados<br />
para a educação patrimonial e a percepção ambiental<br />
do patrimônio fossilífero na Bacia do Araripe.<br />
O patrimônio paleontológico da Bacia do<br />
Araripe: Uma problemática sócio-ambiental<br />
eminente<br />
Desde a publicação do Decreto-Lei N. 25 de<br />
30/11/1937, que trata do patrimônio artístico e<br />
histórico (o qual considera que monumentos naturais<br />
de feição notável são sujeitos ao tombamento), existe<br />
amparo legal para a proteção do patrimônio<br />
paleontológico brasileiro. Na atual legislação, a<br />
Constituição de 1988 destaca a necessidade de proteger<br />
os sítios naturais e depósitos que contenham fósseis. Os<br />
artigos 20, 23 e 24 da Constituição do Brasil de 1988 são<br />
bastante claros ao indicar que os fósseis são bens da<br />
União e que há a responsabilidade do Estado na defesa<br />
deste patrimônio natural.<br />
Pelo Decreto-Lei n. 4.<strong>14</strong>6 de 1942, os fósseis já eram<br />
considerados bens da União, situando-se no âmbito do<br />
inciso I. Na conceituação de fóssil como o registro de<br />
vida do passado que se preservou graças a um processo<br />
de mineralização, podemos enquadrá-lo no inciso IX<br />
e/ou X do artigo 20 da atual Constituição da República<br />
Federativa do Brasil”. O artigo 216 da Constituição é<br />
bastante claro nesta temática:<br />
“Constituem patrimônio cultural brasileiro os” bens de<br />
natureza material e imaterial, tomados individualmente<br />
ou em conjunto, portadores de referência à identidade,<br />
à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da<br />
sociedade brasileira, nos quais se incluem: “V - os<br />
conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,<br />
paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,<br />
ecológico e científico.”<br />
A Lei 8.176 de 1991 pode ser considerada em relação à<br />
proteção dos fósseis dentro do território nacional,<br />
como pode ser observado no artigo abaixo:<br />
“Art. 1° Os depósitos fossilíferos existentes em<br />
território nacional e os fósseis nele coletados são bens<br />
da União, constituindo-se patrimônio cultural e natural<br />
brasileiro e sua proteção e utilização obedecerão aos<br />
seguintes princípios: I - geração de conhecimentos<br />
científicos sobre o patrimônio fossilífero do País,<br />
cabendo ao poder público dar prioridade e incentivos<br />
ao fortalecimento da capacidade científica nacional<br />
nessa área; II - responsabilidade solidária do poder<br />
público federal, estadual, municipal e do Distrito<br />
Federal nas ações de fiscalização e proteção do<br />
patrimônio fossilífero; III - consideração dos aspectos<br />
cultural, histórico, científico, ambiental e social em<br />
quaisquer decisões do poder público que digam<br />
respeito, direta ou indiretamente, ao patrimônio<br />
fossilífero; IV - envolvimento da população na proteção<br />
do patrimônio fossilífero, por meio de facilidades no<br />
acesso à informação e criação de oportunidades<br />
socioeconômicas vinculadas àquela proteção; V -<br />
valorização do patrimônio fossilífero brasileiro, por<br />
meio de divulgação e ações educativas destinadas à<br />
conscientização da sociedade”.<br />
O patrimônio paleontológico do Araripe é reconhecido<br />
nacionalmente e internacionalmente (MARTILL &<br />
UNWIN, 1989; KELLNER & CAMPOS, 2002; MARTILL,<br />
2007; CUPELLO et al. 2012), despertando o interesse de<br />
colecionadores, de museus, de pesquisadores e de<br />
comerciantes, sobretudo internacionais, devido à<br />
legislação de outros países permitirem a venda. Na<br />
década de 70 a venda clandestina de fósseis se<br />
intensificava. Com o intuito de proteger esse jazigo foi<br />
desenvolvido o Projeto Chapada do Araripe (OLIVEIRA<br />
et al., 1979), através de uma ação do Departamento<br />
Nacional de Produção Mineral/Companhia de Pesquisa<br />
de Recursos Minerais (DNPM/ CPRM), tendo como<br />
objetivos estudar, cadastrar e selecionar áreas de<br />
interesse paleontológico e de preservação. Com a<br />
implantação desse projeto houve uma coleta<br />
sistemática de fósseis, devidamente assinalados em<br />
perfis e mapas, que foram incorporados à coleção<br />
paleontológica do DNPM. Desse projeto, duas espécies<br />
novas foram descritas destas coletas: Iemanja palma e<br />
Obaichthys laevis (WENZ, 1989; WENZ & BRITO, 1992).<br />
Na década de 80, foram criadas duas instituições com a<br />
finalidade de preservar os exemplares fósseis nos<br />
municípios de origem (em 1988): Centro de Pesquisas<br />
Paleontológicas da Chapada do Araripe (CPCA), na<br />
cidade do Crato, pertencente ao DNPM e o Museu<br />
Paleontológico de Santana do Cariri, em convênio com a<br />
Universidade Regional do Cariri (URCA). Assim, a criação<br />
do museu mitiga os efeitos negativos do tráfico de<br />
fósseis da região e incentiva o estabelecimento do<br />
turismo científico.<br />
Na década de 90, os movimentos de proteção aos sítios<br />
naturais assumem maior expressão em conseqüência<br />
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disso houve a realização do “Primeiro Simpósio sobre a<br />
Bacia do Araripe e Bacias Interiores do Nordeste”, na<br />
cidade do Crato, com a apresentação de trabalhos<br />
sobre a geologia, estratigrafia, sedimentologia, e<br />
paleontologia destas bacias (CAMPOS et al., 1990) e<br />
posteriormente, em 1997, foi realizado novamente na<br />
mesma cidade o “Segundo Simpósio sobre a Bacia do<br />
Araripe e Bacias Interiores do Nordeste” (BARROS et al.,<br />
2001).<br />
Na virada do milênio (2000), as pesquisas se<br />
intensificam, devido às parcerias entre as universidades<br />
locais com outras universidades (estaduais e federais),<br />
museus de outros estados e inclusive com<br />
universidades e instituições museológicas estrangeiras.<br />
O senso de preservação está mais acesso devido à<br />
preocupação do seu alto impacto ambiental que os<br />
jazidos fossilíferos vem sofrendo ao longo dos anos. Em<br />
2002, a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e<br />
Paleobiológicos, reuniu um importante conjunto de<br />
informações dos mais relevantes sítios naturais do país,<br />
entre os quais a Chapada do Araripe, destacando os<br />
membros Romualdo e Crato da Formação Santana<br />
(KELLNER, 2002; VIANA & NEUMANN, 2002).<br />
A União Internacional das Ciências Geológicas<br />
(International Union of Geological Sciences – IUGS) em<br />
parceria com a UNESCO deu apoio a Rede Global de<br />
Geoparques (Geoparks Global Network), criada em<br />
2004. Geoparques envolvem áreas geográficas onde<br />
sítios do patrimônio geológico são parte de um conceito<br />
holístico de proteção, educação e desenvolvimento<br />
sustentável. No ano de 2006 o Brasil ganha seu primeiro<br />
Geoparque, o do Araripe. Composto por uma rede de<br />
nove Geossítios de valor histórico, geológico,<br />
paleontológico que possuem características únicas e<br />
que merecem proteção integral (SABADIA, 2009). O<br />
município de Santana do Cariri, por conter afloramentos<br />
fossiliferos importantes, está contido dentro da área do<br />
Geoparque Araripe.<br />
O Geopark Araripe está localizado no sul do estado do<br />
Ceará, na porção cearense da Bacia Sedimentar do<br />
Araripe e abrange 06 municípios da região do Cariri.<br />
Possui uma área de aproximadamente 3.520,52 Km² e<br />
que corresponde ao contexto territorial das cidades de<br />
Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova<br />
Olinda e Santana do Cariri. Sua função está além da<br />
proteção e preservação dos registros geológicos,<br />
paleontológicos, antropológicos, ambientais,<br />
paisagísticos e culturais. As visitas exploratórias<br />
originadas desta ação e a infraestrutura de apoio ainda<br />
em consolidação proporcionam um processo natural e<br />
desejável de inclusão social, onde a participação da<br />
sociedade deve se constituir em um pilar importante<br />
para o funcionamento pleno do Geopark Araripe<br />
(NASCIMENTO et al., 2007; SABADIA, 2009).<br />
A Técnica de Réplicas de Fósseis: Uma<br />
Alternativa Economicamente e<br />
Ambientalmente Sustentável<br />
As réplicas, que são cópias de fósseis, podem ser<br />
utilizadas por professores de diversas disciplinas<br />
(biologia, geografia, paleontologia), como um rico<br />
material didático. Paleontólogos amadores podem<br />
também ter este material para o incremento de suas<br />
coleções. Todo o trabalho de fabricação visa<br />
reconstituir com fidelidade o original: a moldagem é<br />
feita em silicone e reproduzida em gesso-pedra de alta<br />
qualidade, seguida de pintura que reproduza as cores<br />
originais (CARVALHO, 2000; TORRES et al., 2007).<br />
O ex-coordenador do Museu de Paleontologia, Prof.<br />
Francisco da Cunha abordou o tema da perda do<br />
patrimônio paleontológico na região de Santana do<br />
Cariri:<br />
"O grande problema é que os fósseis ocorrem em uma<br />
região muito pobre. A população ganha um salário<br />
miserável escavando a procura deles para<br />
atravessadores que depois o contrabandeiam para o<br />
exterior" (COSTA, 2004).<br />
No caso da cidade de estudo (Santana do Cariri) na<br />
Chapada do Araripe, as réplicas de fósseis constituem<br />
uma alternativa economicamente e ambientalmente<br />
sustentável, pois a partir do exemplar original (que será<br />
preservado) podem ser feitos milhares de cópias<br />
fidedignas que podem ser comercializadas, gerando<br />
uma renda alternativa para a população de baixa renda<br />
do referido município e preservando o patrimônio<br />
paleontológico através do turismo (NASCIMENTO et al.<br />
2007) (Figura 1). O conhecimento da técnica é comum<br />
aos técnicos e pesquisadores do Museu de<br />
Paleontologia da região. O presente projeto inova ao<br />
treinar jovens de escolas de Santana do Cariri para<br />
multiplicar esta atividade para a população em geral,<br />
visando à produção de peças para a venda e<br />
comercialização, sobretudo com turistas.<br />
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O objetivo deste trabalho é realizar atividades de<br />
educação patrimonial na região da Chapada do Araripe,<br />
visando à conscientização da importância da<br />
preservação do patrimônio paleontológico. Constituem<br />
objetivos específicos: (a) Formar multiplicadores na<br />
técnica de moldes e réplicas de fósseis visando<br />
capacitar a população a gerar renda, a partir da<br />
preservação dos fósseis; (b) Analisar a percepção<br />
ambiental dos jovens quanto ao patrimônio<br />
paleontológico, visando o delineamento de ações para a<br />
preservação ambiental e (c) Conscientizar a<br />
comunidade quanto à importância dos fósseis para a<br />
sociedade. Espera-se que este estudo possa servir de<br />
exemplo para a discussão mundial do desenvolvimento<br />
sustentável em áreas de significativo patrimônio<br />
geológico.<br />
Área de Estudo<br />
A cidade de Santana do Cariri, localizada no estado do<br />
Ceará, distante cerca de 550 km da capital Fortaleza<br />
(Figura 2), faz parte da Bacia Sedimentar do Araripe,<br />
localizada no extremo sul do estado, e nela está um dos<br />
mais importantes sítios paleontológicos do mundo, com<br />
fósseis em destaque pela sua excelente preservação e<br />
importância científica (FARA et al., 2005), inclusive<br />
contando com vários geossítios preservados no<br />
contexto do Geopark Araripe.<br />
Público-Alvo<br />
O estudo foi conduzido no Museu de Paleontologia de<br />
Santana do Cariri no ano de 2010 e foi direcionado a um<br />
grupo de 30 estudantes de escolas da região, com faixa<br />
etária de 9 a 18 anos. Este ocorreu por meio de<br />
minicurso de Introdução à Paleontologia, Técnicas de<br />
Moldes e Réplicas de Fósseis, com intuito de formar<br />
multiplicadores da técnica de réplicas de fósseis e da<br />
conscientização ambiental, Análise da Percepção<br />
Ambiental e aplicação de questionários. Os<br />
multiplicadores possuem a missão de influenciar e<br />
ensinar seus familiares e outros cidadãos a fazer as<br />
réplicas para estudos e venda e a não degradar este<br />
patrimônio cultural. Assim, tornam-se grandes aliados<br />
do museu e da cidade no combate a venda ilegal de<br />
fósseis.<br />
Procedimentos Metodológicos<br />
As atividades de educação ambiental e patrimonial<br />
foram realizadas a partir de diferentes ações. Na etapa<br />
inicial esclareceu-se o que é paleontologia, como se<br />
desenvolvem os trabalhos paleontológicos em campo e<br />
em laboratório, sua importância para o conhecimento e<br />
para preservação do patrimônio. Esta etapa foi<br />
METODOLOGIA<br />
complementada através de uma visita guiada nas<br />
coleções científicas do Museu de Paleontologia. Em<br />
seguida, foi explicado aos participantes qual o propósito<br />
de realizar o minicurso de moldes e réplicas e transmitir<br />
a eles a idéia de que eles seriam multiplicadores. Esta<br />
etapa teve sua parte prática feita em três dias e compôs<br />
a oficina de réplicas de fósseis (Figura 3 e 4). Ao fim<br />
desta etapa, foi sugerido que os alunos levassem os<br />
moldes para as suas escolas, reafirmando os seus<br />
papéis de multiplicadores.<br />
Na etapa II foi realizada uma abordagem diferenciada: A<br />
Percepção Ambiental aplicada ao patrimônio<br />
paleontológico. Foi requerido aos participantes que eles<br />
representassem, através de desenhos, do tipo “mapas<br />
mentais”, a visão deles sobre o passado e o presente da<br />
sua cidade. A percepção ambiental é uma corrente<br />
teórica relativamente nova e que pode ser aplicada em<br />
Educação Patrimonial (DEL RIO, 1996).<br />
Na etapa III foi realizado um questionário estruturado<br />
com perguntas abertas, para verificar a percepção e<br />
uma possível mudança de conscientização (Figura 5 A).<br />
Nesta etapa realizou-se, após o minicurso, a aplicação<br />
de questionários (n=30) para verificar a percepção<br />
quanto ao patrimônio fossilífero, o museu de<br />
Paleontologia e uma possível mudança de<br />
conscientização. As perguntas do questionário foram as<br />
seguintes:<br />
1) Qual a importância dos fósseis para a sua cidade?;<br />
2) Qual o papel do museu na sua cidade?;<br />
3) Se você visse alguém vendendo um fóssil da sua<br />
região, o que você faria? e<br />
4) Qual a importância de fazer réplicas?.<br />
Os resultados foram agrupados em categorias e submetidos ao teste do Qui-Quadrado (X2) ao nível de significância de<br />
5%. Por fim, foi realizada na cidade uma exposição das réplicas dos fósseis feitos pelos participantes do minicurso,<br />
durante a qual eles puderam fazer uma conscientização popular (Figura 5B).<br />
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Moldes e Réplicas de fósseis<br />
Os participantes argumentaram que a curiosidade sobre<br />
a temática os levou a realizar o curso de moldes e<br />
réplicas de fósseis; o que reforça a necessidade de<br />
ampliação dessas capacitações para educação<br />
patrimonial na Bacia do Araripe. A retirada dos moldes<br />
de silicone é uma parte fundamental no processo,<br />
tendo em vista a possibilidade de ocorrer injúrias no<br />
molde; o que prejudicara a réplica. Os alunos retiraram<br />
cuidadosamente os moldes gerando uma grande<br />
quantidade de formas prontas para a geração de<br />
réplicas (Figura 6). Os multiplicadores foram<br />
capacitados para que levassem os moldes para as suas<br />
escolas, tendo em vista a possibilidade de ensinar aos<br />
colegas e realizar atividades conjuntas de exposição,<br />
como em semanas culturais comumente realizadas ao<br />
longo do ano na cidade de Santana do Cariri e nos<br />
municípios de entorno. Junto aos multiplicadores<br />
levantou-se uma importante questão relacionada à<br />
sustentabilidade: De que com um único molde de<br />
silicone pode-se realizar dezenas ou centenas de cópias<br />
de fósseis com uso de gesso (material abundante e<br />
barato na região do Cariri), contribuindo para a<br />
economia solidária sustentável.<br />
Como resultado das atividades averiguou-se que foram<br />
confeccionadas peças de alto padrão com réplicas sem<br />
bolhas e de pintura adequada. Peixes, Libélulas,<br />
Pterossauros, Gimnospermas, Besouros, Anuros, dentre<br />
outros foram alguns dos fósseis do Período Cretáceo<br />
que foram replicadas (Figura 7) constituindo mais de<br />
100 peças. Estas réplicas foram sujeitas a pintura com<br />
tinta guache. Ressaltou-se que se deve buscar colorir o<br />
material de acordo com a coloração do fóssil original,<br />
por isso se optou pela tonalidade amarelada e cinzenta,<br />
respectivamente, características dos Membros Crato e<br />
Romualdo da Formação Santana. Estas peças foram<br />
envolvidas em plástico para poderem ser expostas nas<br />
praças de Santana do Cariri, no fim do mês de<br />
novembro. Tais peças, após a exposição, foram levadas<br />
para as residências dos participantes visando<br />
compartilhar as experiências vividas, com os demais<br />
amigos e membros das famílias.<br />
Uma coleção de réplicas dos fósseis de maior interesse<br />
científico é imprescindível para preservar o material<br />
original depositado em museus (VIEIRA et al. 2007),<br />
bem como réplicas que possam ser usadas na difusão<br />
RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />
da Paleontologia nas Escolas na região da Bacia do<br />
Araripe no Nordeste do Brasil. Torres et al. (2007)<br />
abordou que as réplicas são úteis em termos científicos,<br />
havendo a possibilidade do estudo da réplica,<br />
conservando assim o material original e possibilitando o<br />
intercâmbio entre museus e universidades. Além disso,<br />
também se mostram úteis em termos didáticos e<br />
ilustrativos, possibilitando aos alunos um aprendizado<br />
construtivista de diversos conceitos paleontológicos,<br />
tais como Evolução, Paleoecologia, Paleogeografia,<br />
Sistemática, entre outros. Professores de Ensino<br />
Fundamental e Médio têm ainda a possibilidade de<br />
relacionar os fósseis e a Biosfera, podendo focar em<br />
suas aulas um determinado ramo de estudo da<br />
Paleontologia (Paleobotânica, Paleovertebrados,<br />
Paleoicnologia).<br />
Percepção ambiental<br />
A aplicação dos conceitos para avaliação da percepção<br />
quanto ao patrimônio paleontológico e as mudanças<br />
ambientais no tempo geológico foram extremamente<br />
relevantes junto aos estudantes na cidade de Santana<br />
do Cariri. Um dos estudantes apresentou um panorama<br />
interessante sobre o passado e o presente de Santana<br />
do Cariri (Figura 8). No passado, ressalta-se no Céu a<br />
presença de um pterossauro e um grande corpo d’água<br />
junto ao terreno desenhado. Esta interpretação ressalta<br />
que os pterossauros (mais de 25% das espécies do<br />
mundo foram descritas a partir de espécimes da<br />
Chapada do Araripe; sendo famosos junto ao público<br />
em geral e a comunidade científica) e o grande “Lago<br />
Araripe” que se formou no Cretáceo a partir da<br />
fragmentação da Gondwana são conceitos comuns para<br />
o autor do referido desenho. Atualmente, ressalta-se o<br />
simbolismo e a relevância do Museu de Paleontologia e<br />
o Pontal da Santa Cruz (com a Cruz e a Igreja) situado<br />
no platô da chapada tem para o autor do desenho<br />
(“mapa mental”). Bonifacio & Abílio (2010) abordaram<br />
que dentre os paradigmas formulados nas últimas<br />
décadas, a Teoria das Representações Sociais destacase<br />
como nova maneira de interpretar o comportamento<br />
dos indivíduos e dos grupos sociais. Esta importância<br />
figura-se na leitura dos desenhos que desvendam fatos<br />
e conhecimentos percebidos. Relativo à questão<br />
ambiental, os desenhos traz à tona, significados, valores<br />
existentes no imaginário por aqueles que convivem e o<br />
vínculo que criam com aquilo que os rodeiam, como o<br />
observado para a área de estudo.<br />
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Outro estudante apresentou um panorama<br />
interessante: Na paisagem pretérita apresentou<br />
dinossauros herbívoros, aves, vulcões e outros<br />
elementos no ecossistema aquático como peixes e algas<br />
(Figura 9). Apesar do relato no desenho, fósseis de<br />
dinossauros herbívoros não foram encontrados na<br />
Chapada do Araripe. Existem diversos relatos de<br />
dinossauros carnívoros que não estão representados no<br />
desenho. Na paisagem atual reforça-se o forte<br />
simbolismo que o Pontal da Santa Cruz e o relevo<br />
acidentado da Chapada do Araripe representam. Outro<br />
ponto interessantíssimo é a presença da ictiofauna e de<br />
relações ecológicas como predação; ambos os aspectos<br />
são muito comuns no registro fóssil do Membro<br />
Romualdo e Crato (FARA et al. 2005). Registros de Aves<br />
também foram encontrados, porém restritos a penas<br />
(MARTINS-NETO & KELLNER, 1988).<br />
No desenho exposto na Figura 10 o estudante<br />
representa o relevo da mesma forma (no passado e no<br />
atual) demonstrando desconhecimento do fenômeno<br />
da subsidência, de processos denudacionais e de<br />
preenchimento sedimentar (temas complexos que<br />
normalmente não são vistos ao nível de Ensino<br />
Fundamental) que resultaram no relevo atualmente<br />
observado em Santana do Cariri. Ressaltam-se<br />
tartarugas e peixes na paleofauna aquática, a<br />
representação do Pontal da Santa Cruz e um item<br />
inédito importante para o patrimônio ambiental da<br />
área, possivelmente o Rio Cariús (recurso hídrico<br />
superficial) que passa no núcleo urbano da cidade de<br />
Santana do Cariri (Ceará).<br />
Ainda na década de 70, diversos trabalhos<br />
demonstraram a grande diversidade biológica nos<br />
paleoambientes existentes na região durante o<br />
Cretáceo (120-105 milhões de anos) (o que concorda<br />
com os táxons existentes nos “mapas mentais”<br />
elaborados). Foram descritos fósseis de vegetais<br />
(DUARTE & JAPIASSU, 1971), peixes como Microdon<br />
penalvai, Paraelops cearensis, Enneles audax e Notelops<br />
Brahma (SANTOS, 1970, 1971; TAVERNE, 1974, 1976;<br />
WENZ, 1977), a primeira tartaruga Araripemys barretoi<br />
e os pterossauros Araripesaurus castilhoi e<br />
Araripedactylus dehmi (PRICE, 1971, 1973;<br />
WELLNHOFER, 1977), além de trabalhos sobre<br />
paleoecologia (MABESOONE & TINOCO, 1973).<br />
A presença de organismos (nos mapas mentais)<br />
existentes no acervo do Museu reforça que o<br />
patrimônio paleontológico depositado na Instituição é<br />
importante para a compreensão desta vida pretérita<br />
que existiu e das transformações ambientais ocorridas.<br />
Vieira et al. (2007) abordaram que os museus têm papel<br />
importante na difusão e sensibilização da comunidade,<br />
sobre os fósseis e sua importância científica e social. Os<br />
desenhos das Figuras 8, 9 e 10 tem em comum o<br />
ecossistema aquático do grande “Lago Araripe”; um<br />
ecossistema lagunar de grandes proporções que gerou<br />
o preenchimento da Bacia Sedimentar do Araripe e que<br />
estão de acordo com os modelos científicos (Figura 11).<br />
Mabesoone & Tinoco (1973) abordam que a deposição<br />
do Membro Crato ocorreu em lagos rasos e ambientes<br />
pantanosos em um clima quente e seco. Apesar das<br />
temperaturas quentes, dados dendrológicos indicam<br />
que o clima pode ser caracterizado por ciclos alternados<br />
de períodos secos e chuvosos influenciados pela<br />
precipitação periódica (PIRES & SOMMER, 2009). O<br />
membro Crato pode ter sido depositada sob condições<br />
salinas, representando um corpo d’água com possível<br />
estratificação térmica e salina, com entradas de água<br />
doce a partir da drenagem superficial. Martill et al.<br />
(2007) aborda que as condições hipersalinas<br />
prevaleceram durante as deposições dos carbonatos<br />
laminados. Neumann & Cabrera (2002) abordam que o<br />
sistema lacustre cretáceo experimentou amplas<br />
variações de salinidade. Os autores observam que em<br />
alguns setores do lago ocorria um ambiente aqüífero<br />
dulcícola (próximo às desembocaduras flúvio-deltaicas).<br />
Indícios de salinidade elevada também foram<br />
encontrados por Martill et al. (2007) o que influenciou<br />
nos processos tafonômicos.<br />
A corrente teórica que emprega a percepção ambiental,<br />
em seus esforços de compreender as relações<br />
comportamento-ambiente, vem experimentando<br />
crescentes reconhecimentos. No Brasil, principalmente<br />
a partir de década de 80, o tema vem suscitando maior<br />
atenção, e a percepção, como área cientifica, têm<br />
assumido papel cada vez mias destacado nas atividades<br />
que envolvem análise e projeção ambiental, com alguns<br />
autores investigando mais detidamente sua eventual<br />
aplicabilidade no campo do planejamento e<br />
conservação do patrimônio ambiental e cultural<br />
(FERRARA, 1993; DEL RIO, 1996). Para Bonifácio & Abílio<br />
(2010), a percepção ambiental é definida como a<br />
operação que expõe a lógica da linguagem que organiza<br />
os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar. É<br />
uma explicitação da imagem de um lugar, veiculada nos<br />
signos que uma comunidade constrói em torno de si.<br />
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Nesta acepção, a percepção ambiental é revelada<br />
mediante uma leitura semiótica da produção discursiva,<br />
Questionários e percepção da importância da<br />
preservação patrimonial<br />
As respostas quanto aos questionamentos realizados<br />
estão sumarizadas nas Figuras 12 a 15. Na figura 12,<br />
relativa ao primeiro questionamento, houve diferença<br />
estatisticamente significante (teste do X², P0,05) (Figura 13). Este aspecto denota que a<br />
instalação e operação de museus em regiões carentes<br />
(longe das capitais brasileiras), é algo a ser incentivado<br />
pelo poder público. A geração de renda relativa à<br />
visitação do turismo científico, a divulgação das<br />
informações sobre o patrimônio existente na região e as<br />
atividades de sensibilização da população para a<br />
preservação demonstram a importância da promoção<br />
dos museus, no território nacional. A maioria dos<br />
participantes (teste do X², P
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Atividades de Educação Patrimonial e Percepção<br />
Ambiental foram realizadas em Santana do Cariri. Estas<br />
ações envolveram a formação de multiplicadores nas<br />
técnicas de moldes e réplicas de fósseis, análise da<br />
percepção ambiental quanto ao patrimônio fossilífero e<br />
exposição na cidade de Santana do Cariri (Ceará). Os<br />
desenhos confeccionados pelos estudantes<br />
demonstraram a compreensão dos processos<br />
geomorfológicos e dos ambientes (marinho, lagunar)<br />
que existiram no passado geológico nesta área do<br />
sertão nordestino. Estes desenhos também<br />
demonstraram elementos importantes da paisagem<br />
natural e cultural da região (a morfologia da chapada, o<br />
museu e o pontal da santa cruz na cidade de Santana do<br />
Cariri). Os dados referentes aos questionários<br />
demonstraram que os estudantes reconhecem o papel<br />
do patrimônio fossilífero na promoção do turismo, da<br />
beleza cênica e do seu papel em reconstruir a história<br />
do planeta. Estas informações dos questionários<br />
sugerem que existe uma conscientização destes jovens<br />
CONCLUSÕES<br />
referente a inadequação da venda dos fósseis, e que as<br />
réplicas são uma alternativa interessante para a<br />
geração de renda com a conservação do patrimônio<br />
existente.<br />
As atividades realizadas visarão sensibilizar e formar<br />
pessoas da comunidade com o foco na conservação dos<br />
recursos patrimoniais (patrimônio fossilífero) e sua<br />
valorização sociocultural. O projeto foi bem visto pela<br />
comunidade e pelas escolas que tem interesse em<br />
aumentar o conhecimento sobre esta técnica que é<br />
economicamente e ambientalmente sustentável, pois<br />
preserva o patrimônio fossilífero, ao mesmo tempo em<br />
que gera renda para uma comunidade de baixa renda<br />
localizada na Chapada do Araripe. Espera-se aumentar<br />
este projeto (em parceria com o GEOPARK Araripe)<br />
agora em conjunto com as escolas da cidade e dos<br />
municípios do entorno para poder aumentar a<br />
conscientização e a preservação dos fósseis em uma<br />
região que contém alguns dos sítios paleontológicos<br />
mais importantes do mundo.<br />
Figura 1 - Réplicas de peixes fósseis confeccionadas pelo Museu de Paleontologia para venda aos turistas em visita a Santana do Cariri, CE.<br />
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Figura 2 - Mapa da região da Chapada do Araripe (NE Brasil), destacando a cidade de Santana do Cariri e municípios do entorno com grande<br />
potencial fossilífero (Modificado de FARA et al., 2005)<br />
Figura 3 - Fabricação de caixas de papelão para colocar os fósseis originais e produzir os moldes de silicone (A), (B) e (C); (D) Aplicação de<br />
paralóide em toda a caixa<br />
Figura 4 - Preparação dos moldes. Para fabricação do molde de silicone utiliza-se silicone industrial (A), (B) e (C); Fóssil imerso no silicone<br />
industrial (D)<br />
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Figura 5 - (A) Estudante respondendo a questionário apresentado pela equipe. (B) Exposição das réplicas de fósseis na praça da cidade e<br />
conscientização popular realizada pelos alunos das atividades de educação patrimonial.<br />
Figura 6 - Moldes de silicone de peixes, pterossauros, ossos e insetos preparados pelos multiplicadores participantes das atividades de educação<br />
patrimonial.<br />
Figura 7 - Réplicas de fósseis da Formação Santana feitos pelos multiplicadores.<br />
Figura 8 - Lado esquerdo (paisagem pretérita) e direito (atual) apresentam riqueza de detalhes e forte simbolismo de bens culturais (fósseis,<br />
museu e Pontal da Santa cruz).<br />
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Figura 9 - Lado esquerdo do desenho (paleopaisagem) apresenta dinossauros herbívoros, vulcões, árvores de porte e paleoecossistema aquático<br />
com vegetais e tubarões (ou peixes de grande porte) realizando predação em pequenos peixes. Certos fósseis do Cariri reforçam esta possível<br />
interação. Lado direito ressalta o verde das encostas da Chapada do Araripe, Aves, o Sol e novamente o Pontal da Santa Cruz com a Cruz e a<br />
Igreja.<br />
Figura 10 - Paisagem pretérita (lado esquerdo) e presente (lado direito), referente a percepção ambiental. Observa-se o paleoecossistema<br />
aquático com tartarugas e peixes (lado esquerdo) e atualmente representa o rio de baixa vazão que corta a cidade e o pontal da Santa Cruz.<br />
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Figura 11 – Reconstrução hipotética científica do paleoambiente na região de estudo. Adaptado dos dados de paleoflora de Neumann et al.<br />
(2003).<br />
Figura 12 - Resultados relativos ao questionamento: “Qual a importância dos fósseis para a sua cidade?”.<br />
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Figura 13 - Resultados relativos ao questionamento (Qual o papel do museu na sua cidade?).<br />
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Figura <strong>14</strong> - Resultados relativos ao questionamento (Se você visse alguém vendendo um fóssil da sua região, o que você faria?).<br />
Figura 15 - Resultados relativos ao questionamento (Qual a importância de fazer réplicas?).<br />
AGRADECIMENTOS<br />
Os autores agradecem o apoio do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri pelo apoio concedido.<br />
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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM CAPITAIS BRASILEIRAS ALTERNATIVAS PARA<br />
UM MODELO DE GESTÃO<br />
Urban solid waste management in Brazilian capital cities - alternatives for a model of management<br />
Christian Luiz da Silva<br />
Pós-doutor em administração, bolsista<br />
produtividade CNPq, Professor do<br />
mestrado e doutorado em Tecnologia<br />
(PPGTE) e do mestrado em<br />
planejamento e governança pública<br />
(PGP) pela Universidade Tecnológica<br />
Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba,<br />
PR, Brasil.<br />
E-mail: christiansilva@utfpr.edu.br<br />
Gabriel Massao Fugii<br />
Mestre em Tecnologia pelo Programa<br />
de Pós-Graduação em Tecnologia<br />
(PPGTE) da Universidade Tecnológica<br />
Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba,<br />
PR, Brasil.<br />
E-mail: gabrielfugii@hotmail.com<br />
Alain Hernández Santoyo<br />
Pós-doutor em Tecnologia (PPGTE),<br />
bolsista CAPES, Professor da<br />
Universidad Piñardel Rio - Pinar delRío,<br />
Cuba.<br />
E-mail: santoyocu@upr.edu.cu<br />
Nadia Solange Bassi<br />
Doutoranda em Tecnologia (PPGTE),<br />
Universidade Tecnológica Federal do<br />
Paraná – UTFPR, Curitiba, PR, Brasil.<br />
E-mail: sbnadia@gmail.com<br />
Marta Chaves Vasconcelos<br />
Graduanda do curso de administração<br />
da Universidade Tecnológica Federal<br />
do Paraná, (UTFPR), Curitiba, PR, Brasil.<br />
E-mail: martacvasconcelos@hotmail.com<br />
RESUMO<br />
O presente artigo tem como principal objetivo comparar a gestão dos<br />
resíduos sólidos de dez capitais brasileiras, destacando seus aspectos<br />
negativos e positivos. Muitos municípios brasileiros possuem dificuldades<br />
em fazer uma gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos devido a<br />
vários fatores, como: falta de capacidade financeira e administrativa, pouca<br />
capacidade técnica na gestão dos serviços de limpeza pública, além do<br />
tema não ser uma prioridade em muitos casos para a gestão pública. Tratase<br />
de uma pesquisa qualitativa e de análise de conteúdo, que busca<br />
compreender melhor a forma de gestão dos resíduos sólidos desde o<br />
planejamento até a aplicação. Com os resultados observam-se que a<br />
maioria dessas capitais possui uma gestão que contempla a coleta seletiva,<br />
tratamento, pontos de transbordo, cooperativas de catadores de papel,<br />
além da parceria da prefeitura com programas e projetos específicos<br />
envolvendo os resíduos sólidos. Entretanto, problemas básicos ainda<br />
persistem, como o não atendimento da coleta a 100% da área urbana em<br />
alguns municípios e a demanda por mais aterros pela exaustão dos atuais e<br />
pelo crescente volume de novos resíduos destinados.<br />
Palavras-chave: Meio Ambiente, Resíduos Sólidos, Planejamento e Capitais<br />
brasileiras.<br />
ABSTRACT<br />
This article aims to compare the management of solid waste ten capital<br />
cities, highlighting its positive and negative aspects. Many municipalities<br />
have difficulties in making a proper urban solid waste management due to<br />
various factors, such as lack of financial and administrative capacity, little<br />
expertise in the management of public sanitation services, and the theme<br />
is not a priority in many cases public management. This is a qualitative<br />
research and content analysis, which seeks to better understand the<br />
management of solid waste from planning to implementation. With the<br />
results it is observed that most of these capital has a management that<br />
includes the selective collection, treatment, transfer points, paper recycling<br />
cooperatives, and on cooperation with the city government programs and<br />
specific projects involving solid waste. However, But basic problems still<br />
persist , such as the non-compliance of collecting 100 % of the urban area<br />
in some municipalities and the demand for more landfills by exhaustion of<br />
the current and the growing volume of new waste.<br />
Keywords: Environment, Solid Waste, Planning and Brazilian Capitals.<br />
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A problemática acerca dos resíduos sólidos é uma<br />
preocupação global e ela é trabalhada e discutida<br />
constantemente em simpósios, encontros, congressos e<br />
outros eventos, porque os problemas gerados pela falta<br />
de gerenciamento e gestão de resíduos é um dos<br />
maiores desafios para a sustentabilidade urbana.<br />
Segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e<br />
Desenvolvimento Econômico (2008), a gestão de<br />
resíduos nos países em desenvolvimento ainda<br />
necessita grande atenção devido a dificuldades<br />
fundamentais em âmbito da gestão municipal, tais<br />
como, déficit na capacidade financeira e administrativa,<br />
pouca capacidade técnica na gestão dos serviços de<br />
limpeza pública, coleta seletiva e tratamento dos<br />
resíduos (JACOBI e BESEN,2011).<br />
Além dos problemas de ordem administrativa, os<br />
municípios não possuem áreas livres suficientes para a<br />
construção de novos aterros sanitários ou instalações<br />
físicas para tratamento dos resíduos. Locais adequados<br />
para a implantação de novos sistemas de tratamento de<br />
resíduos estão cada vez mais distantes, devido à<br />
existência de áreas ambientalmente protegidas e aos<br />
impactos negativos sobre a vizinhança próxima,<br />
decorrentes das crescentes urbanizações nas capitais<br />
brasileiras (JACOBI e BESEN, 2011).<br />
A falta de atenção pelo poder público está<br />
comprometendo cada vez mais a saúde da população,<br />
os recursos naturais e, principalmente, o solo e os<br />
recursos hídricos (MONTEIRO et al., 2001). A<br />
insuficiência de gerenciamento causa outros impactos<br />
socioambientais, como o assoreamento de rios, o<br />
entupimento de bueiros e o aumento de enchentes,<br />
mau-cheiro, proliferação de insetos e vetores que<br />
afetam diretamente ou indiretamente a saúde, além de<br />
concorrer com o aquecimento global e as mudanças<br />
climáticas (JACOBI; BESEEN, 2011; GOUVEIA, 2012;<br />
GOUVEIA, 1999).<br />
Problemas que são intensificados pelo crescimento<br />
populacional e sua longevidade, obsolescência<br />
programada e descartabilidade dos produtos, mudanças<br />
nos padrões de consumo caracterizado por ser<br />
supérfluo e excessivo. Nos últimos três levantamentos<br />
realizados pela Associação Brasileira de Empresas de<br />
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) nos<br />
anos de 2010, 2011 e 2012, a quantidade de resíduos<br />
aumentou, superando a taxa de crescimento<br />
INTRODUÇÃO<br />
populacional, caracterizando uma produção diária de<br />
mais de um quilo de resíduos por habitante por dia<br />
(ASSOCIAÇÃO..., 2010, 2011, 2012). Esta situação se<br />
agrava em municípios cujo Produto Interno Bruto (PIB)<br />
é maior e consequentemente geram maior volume de<br />
resíduos (MELO; SAUTTER e JANISSEK, 2009). Portanto,<br />
a sustentabilidade urbana passa pela resolução dos<br />
problemas causados pelos resíduos sólidos que é de<br />
responsabilidade municipal.<br />
Neste contexto, a consciência do processo de<br />
aproveitamento, tratamento ou destino dos resíduos<br />
urbanos é de primordial importância, assim como a<br />
elaboração de estudos que objetivem o seu<br />
aproveitamento (SOUSA, GAIA, RANGEL, 2010),<br />
buscando a redução efetiva da quantidade de resíduos<br />
potencialmente recicláveis dispostos em aterros ou<br />
lixões (JACOBI e BESEN, 2011), além de potencializar o<br />
aproveitamento de subprodutos como a compostagem<br />
e o aproveitamento energético.<br />
Logo, trabalhar as questões dos resíduos sólidos, requer<br />
reforçar e fortalecer a importância de questões<br />
ambientais, bem como, de aspectos legais e políticas<br />
públicas, objetivando a construção de espaços urbanos<br />
democráticos, socialmente justos e com condições<br />
físico-ambientais seguras (ROSSETTO, ORTH E<br />
ROSSETTO, 2006). Além disso, deve-se contribuir para a<br />
aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e ao<br />
Plano Nacional de Resíduos Sólidos.<br />
Apesar da rede urbana brasileira ser formada por<br />
cidades com características bastante diferentes, estas<br />
possuem com maior ou menor intensidade, problemas<br />
intraurbanos que afetam sua sustentabilidade e<br />
gerenciamento (ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006).<br />
Contra estes problemas, os municípios acabam<br />
desenvolvendo soluções para as questões que afligem a<br />
sociedade em suas diversas dimensões, como a social,<br />
econômica, físico-espaciais e ambientais, que fazem<br />
parte desse complexo emaranhado de relações e<br />
demandas (ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006).<br />
Assim, o objetivo deste artigo é demonstrar o atual<br />
modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos<br />
brasileiro, a partir da análise de algumas capitais,<br />
destacando seus aspectos negativos e positivos. A<br />
hipótese é que a partir da identificação dos pontos<br />
positivos e negativos sobre a gestão de resíduos sólidos<br />
urbanos em diferentes municípios, seria possível<br />
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promover melhorias em suas atuais gestões, com a<br />
aplicabilidade de alternativas que já são realizadas e<br />
outras capitais. Estas mudanças poderiam representar<br />
melhoria nas esferas econômica, social e ambiental,<br />
estimulando o desenvolvimento da região.<br />
Políticas Públicas<br />
O planejamento é a base para as demais ações,<br />
determinando antecipadamente quais são os objetivos<br />
e o que realizar para alcançá-los. Trata-se, de um<br />
modelo teórico para a escolha da melhor ação futura<br />
para chegar aos objetivos desejados (CHIAVENATO,<br />
2000).<br />
Porém repensar a gestão, a governabilidade e o<br />
planejamento urbano, a partir de um considerável<br />
contingente de limitações, não é fácil, mas é essencial.<br />
Como possível solução para equacionar essas questões<br />
encontra-se a priorização na elaboração de<br />
instrumentos que viabilizem, a realização de ações<br />
públicas para o desenvolvimento sustentável<br />
(ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006). Desta forma as<br />
políticas públicas são fundamentais para que projetos<br />
sejam feitos com o intuito de alcançar futuros<br />
desejáveis.<br />
Segundo Souza (2006), a política pública não possui<br />
uma única, nem a melhor definição. Ela pode ser<br />
entendida como um conjunto de atividades<br />
desenvolvidas pelo Estado, que concebem e<br />
programam ideias relevantes aos problemas da<br />
sociedade. E, apesar do Estado ser o responsável por<br />
estabelecer as regras e mecanismos de punição, em<br />
Este artigo está dividido em seis seções, incluindo esta<br />
introdução. As próximas três seções abordam<br />
respectivamente a fundamentação sobre as políticas<br />
públicas, sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos e<br />
apresenta-se a metodologia de pesquisa. As duas<br />
últimas seções tratam dos resultados e discussões e,<br />
por fim, são feitas as considerações finais.<br />
virtude de sua capacidade de universalização, coerção e<br />
regulamentação; as políticas somente se realizam<br />
quando os atores sociais (do Estado e da sociedade civil)<br />
envolvidos na sua implementação interagem e se<br />
integram entre si (SILVA; BASSI, 2012).<br />
Para Frey (2000), os conceitos: policy, politics, polity,<br />
policy network, policyarena’epolicycycle, são<br />
fundamentais para a compreensão de políticas públicas,<br />
quanto para a estruturação de um processo de<br />
pesquisa. A polity denomina as instituições políticas, a<br />
politics retrata os processos políticos e a policy aborda<br />
os conteúdos da política. A policy network são as redes<br />
de interação de diferentes grupos e instituições e que<br />
vem ganhando importância em processos decisórios nas<br />
democracias modernas, por gerarem e implementarem<br />
uma policy. A policy arena retrata os processos de<br />
conflitos e de consenso dentro das várias áreas da<br />
política. Por fim, a policycycle realiza uma análise da<br />
vida de uma política pública, sendo segundo Frey<br />
(2000), divididas nas seguintes fases: percepção e<br />
definição dos problemas, agenda-setting, elaboração de<br />
programas e decisão, implementação de políticas e,<br />
finalmente, a avaliação de políticas e a eventual<br />
correção da ação. A definição destas fases pode ser<br />
observada na tabela 1 abaixo (SILVA; BASSI, 2012).<br />
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PROCESSO<br />
POLÍTICO<br />
Identificação do<br />
problema<br />
Agenda dos<br />
agentes<br />
Formulação de<br />
política<br />
Legitimação da<br />
política<br />
Implementação<br />
da política<br />
Avaliação da<br />
política<br />
DESCRIÇÃO GENÉRICA DA ETAPA<br />
Identificação dos problemas<br />
políticos por meio da demanda de<br />
indivíduos e grupos de ação<br />
governamental<br />
Atenção na mídia e nos órgãos<br />
públicos oficiais sobre problemas<br />
públicos específico para decidir o<br />
que será decidido<br />
Desenvolvimento da proposta de<br />
política pelo interesse de grupos<br />
Definição da ação e política como<br />
sendo oficial, tornando-a lei<br />
Implementação da política pelas<br />
burocracias, gastos públicos,<br />
regulações e outras atividades afins<br />
Avaliação continuada da política<br />
pública tanto em termos de<br />
processo quanto de resultado<br />
Tabela 1 - Processo da política pública<br />
AGENTES PARTICIPANTES<br />
Instituições formais e informais<br />
(Responsáveis por identificar este problema por pressões<br />
sociais, econômicas, políticas, ambientais ou culturais)<br />
Instituições formais e informais (Responsáveis por discutir o<br />
problema e apresentar demandas ao governo)<br />
Instituições formais, informais e o governo (a<br />
responsabilidade é compartilhada, mas dependendo do<br />
arranjo institucional existente um deles será o responsável<br />
por consolidar a formulação da política)<br />
Governo (Responsabilidade típica do governo que garante a<br />
legitimidade da política)<br />
Governo e Instituições formais, informais (a<br />
responsabilidade é compartilhada, mas normalmente é<br />
coordenada pelo governo. Em alguns casos é exclusivamente<br />
implementado pelo governo)<br />
Governo e Instituições formais, informais (a<br />
responsabilidade é compartilhada, mas o governo<br />
necessariamente deve avaliar a sua política).<br />
(As instituições formais e informais, quando bem<br />
estruturadas e atuantes, sempre como uma espécie de<br />
auditoria dos resultados e grupo de pressão para melhoria<br />
das ações com intuito de não desvirtuar dos objetivos<br />
definidos pela política)<br />
FONTE: SILVA; BASSI (2012)<br />
Assim, pode-se afirmar que a política pública busca “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação, propondo<br />
quando necessárias mudanças no rumo ou curso dessas ações (SOUZA, 2006). Daí a importância do monitoramento e<br />
avaliação, pois as políticas públicas refletem na sociedade (SOUZA, 2006). Assim, as tomadas de decisões devem ser<br />
realizadas, levando em conta a minimização das incertezas e riscos futuros. Logo, compreender alternativas para uma<br />
gestão adequada, serve como base para futuras tomadas de decisões, bem como, para aplicação de modelo melhorado,<br />
representando a redução dos problemas, além de representar ganhos ambientais, sociais e econômicos.<br />
Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos<br />
Segundo a Lei Federal nº 12.305/10, que institui a<br />
Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Resíduo Sólido<br />
Urbano (RSU) se caracteriza por englobar os resíduos<br />
domiciliares, ou seja, aqueles originados nas atividades<br />
domésticas em residências urbanas, e os resíduos<br />
provenientes da limpeza urbana (varrição, limpeza de<br />
logradouros e vias públicas, bem como de outros<br />
serviços de limpeza urbana). Essa mesma lei traz<br />
Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve<br />
ser observada a seguinte ordem de prioridade: não<br />
definições para o gerenciamento de resíduos sólidos,<br />
caracterizado pelo conjunto de ações exercidas, direta<br />
ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte,<br />
transbordo, tratamento e destinação final<br />
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, de<br />
acordo com plano municipal de gestão integrada de<br />
resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de<br />
resíduos sólidos.<br />
geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento<br />
dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente<br />
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adequada dos rejeitos. Poderão ser utilizadas<br />
tecnologias visando à recuperação energética dos<br />
resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido<br />
comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com<br />
a implantação de programa de monitoramento de<br />
emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão<br />
ambiental, assim como a adoção, desenvolvimento e<br />
aprimoramento de outras tecnologias limpas como<br />
forma de minimizar impactos ambientais.<br />
A gestão integrada de resíduos sólidos pode ser<br />
definida como, a seleção e aplicação de técnicas,<br />
tecnologias e programas de gestão adequados, que<br />
busquem específicos objetivos e metas. A Agência de<br />
Proteção Ambiental dos Estados Unidos identificou<br />
quatro estratégias básicas para a gestão integrada de<br />
resíduos. São elas, a redução na fonte, reciclagem e<br />
compostagem, combustão e destinação em aterros<br />
sanitários. A proposta da agência americana é que<br />
todas estas estratégias estejam conectadas<br />
(TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002).<br />
Para Economopoulos (2012, p. 42-43) as alternativas de<br />
gestão podem ser baseadas nas tecnologias de<br />
tratamentos, representadas na figura 1. Entre as<br />
alternativas, pode-se destacar os materiais recicláveis<br />
separados na fonte, sendo reutilizados ou reciclados. Os<br />
resíduos sólidos urbanos (RSU) misturados podem ser<br />
tratados tanto anaerobicamente como aerobicamente<br />
pelo tratamento mecânico-biológico, desta forma<br />
obtendo materiais recicláveis, energia e<br />
bioestabilizados orgânicos resíduos inertes devem estar<br />
aterrados.<br />
Como meio de produção de combustível, os resíduos<br />
podem ser processados por instalações de incineração e<br />
em quantidades limitadas por fornos na indústria do<br />
cimento. O RSU misturados podem ser processados,<br />
juntamente com a geração de combustível, em<br />
instalações de incineração de resíduos, após a<br />
recuperação de alguns materiais recicláveis. A energia<br />
pode ser exportada sob a forma de eletricidade e / ou<br />
calor para o aquecimento do lugar ou utilização<br />
industrial. Os resíduos que contém substâncias tóxicas<br />
devem ser eliminados em instalações apropriadas. O<br />
RSU misturados também podem ser pré-tratados em<br />
instalações de secagem biológica, após a recuperação<br />
do material reciclável. Existem outros tratamentos além<br />
destes citados e demonstrados no diagrama, como por<br />
exemplo, a gaseificação e a pirólise.<br />
Figura 1: Alternativas de gestão de resíduos sólidos<br />
FONTE: ADAPTADO DE ECONOMOPOULOS (2012, P. 42-43)<br />
Esta figura representa ações interligadas, com o<br />
objetivo de reduzir as quantidades de resíduos que<br />
serão depositados em aterros sanitários. Sua aplicação<br />
começa desde a não geração, com a aplicação de uma<br />
gama de possibilidades de tratamento,<br />
(re)aproveitamento, transformação dos resíduos de<br />
forma interconectada com as demais etapas, com o<br />
objetivo de reduzir as quantidades de resíduos<br />
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dispostos em aterros. Proposta que é priorizado pela<br />
Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. Além de<br />
pensar em outras dimensões como a social, a cultural, a<br />
educacional entre outras, que são fundamentais para o<br />
sucesso deste complexo sistema.<br />
Dentre essas etapas, a reciclagem é uma das formas<br />
vista como mais positiva, devido ao retorno das<br />
A compostagem é o processo de conversão aeróbia da<br />
matéria orgânica, tendo por produto final um<br />
condicionador do solo, denominado composto. Outra<br />
forma de tratamento biológica é a digestão anaeróbia<br />
que estabiliza a matéria orgânica e produz biogás,<br />
constituído principalmente por gás metano e dióxido de<br />
carbono (ZANTA e FERREIRA, 2003). O processo de<br />
compostagem aeróbia pode ser dividido em duas fases,<br />
a primeira chamada de "bioestabilização", caracterizase<br />
pela redução da temperatura da massa orgânica. A<br />
segunda fase, chamada de "maturação", na qual ocorre<br />
a humificação e a mineralização da matéria orgânica.<br />
Na compostagem anaeróbia a decomposição é realizada<br />
por microrganismos que podem viver em ambientes<br />
sem a presença de oxigênio, com baixa temperatura,<br />
com período maior de tempo para que a matéria<br />
orgânica se estabilize (MONTEIRO et al., 2001). Porém,<br />
a utilização de seus subprodutos deve ser tratada com<br />
cautela, pois pode ocorrer contaminação da água por<br />
pesticidas e resíduos de fertilizantes (TCHOBANOGLOUS<br />
e KREITH, 2002).<br />
A incineração é um tratamento eficaz para reduzir o<br />
volume do lixo, tornando o resíduo inerte em pouco<br />
tempo, se realizada de forma adequada (MONTEIRO et<br />
al. 2001). Consiste na combustão controlada através de<br />
equipamentos especiais denominados incineradores,<br />
tratando tanto de resíduos sólidos, semissólidos e<br />
líquidos. Com a queima os remanescentes são<br />
matérias-primas que possibilita para o mercado, através<br />
da separação dos produtos reutilizáveis<br />
(TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002), além de promover<br />
a inclusão social em instalações, associações ou<br />
cooperativas que fazem o beneficiamento destes<br />
produtos. É vista também como uma forma de<br />
promover o desenvolvimento local.<br />
geralmente constituídos de gases, como o anidrido<br />
carbônico (CO2), o anidrido sulfuroso (SO2), o<br />
nitrogênio (N2), o oxigênio (O2) proveniente do ar em<br />
excesso que não foi queimado completamente, água<br />
(H2O), cinzas e restos constituídos de metais ferrosos e<br />
inertes, como vidro e pedras (SCHLACH et al, 2002).<br />
Entretanto, suas restrições estão atreladas ao seu custo,<br />
e o alto grau de sofisticação necessária para operá-los<br />
de forma segura (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002).<br />
Aterros sanitários são a opção para os resíduos que não<br />
puderam ser aproveitados nas etapas anteriores à<br />
disposição final (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002). Os<br />
aterros sanitários contam com controle de gás, sistema<br />
de coleta de chorume (líquido proveniente da<br />
decomposição da matéria orgânica, de cor escura e<br />
odor desagradável, com alta capacidade de poluição),<br />
monitoramento de águas subterrâneas e estão<br />
localizados estrategicamente para tirar proveito das<br />
condições naturais de geologia. Além disso, os aterros<br />
podem contribui na recuperação de gás metano e de<br />
dióxido de carbono.<br />
Considerando as diferentes estratégias existentes e<br />
etapas realizadas dentro do gerenciamento dos<br />
resíduos sólidos urbanos, é importante investigar os<br />
atuais sistemas de gestão de resíduos sólidos, tanto<br />
para aprimoramento quanto para servir de exemplo<br />
para tantas outras cidades que não os possuem de<br />
forma adequada.<br />
A pesquisa realizada é qualitativa e descritiva. Busca<br />
compreender melhor a forma de gestão dos resíduos<br />
sólidos tanto no aspecto de gestão, aplicação e<br />
planejamento dos municípios e descreve o<br />
funcionamento da gestão de resíduos sólidos em cada<br />
município.<br />
A pesquisa consolidou-se em 3 etapas, primeiramente a<br />
compreensão teórica dos termos para análise do<br />
gerenciamento dos resíduos, tais como políticas<br />
MATERIAIS E MÉTODOS<br />
públicas, sistemas de gerenciamento, tratamento e<br />
disposição final de resíduos e aspectos legais referentes<br />
a gestão de resíduos sólidos. A segunda etapa foi a<br />
realização de entrevistas a partir de um questionário<br />
semiestruturado. Elas foram realizadas nas cidades de<br />
Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis,<br />
Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e<br />
Vitória com gestores das secretarias municipais<br />
responsáveis pelo gerenciamento e gestão dos resíduos<br />
sólidos durante os meses de fevereiro a novembro de<br />
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2012. O questionário semiestruturado abordava as<br />
seguintes perguntas: quantidade diária coletada de<br />
resíduos, composição gravimétrica, possuem coleta<br />
seletiva, compostagem e reciclagem, utilizam aterro<br />
sanitário, se possuem aproveitamento energético,<br />
estação de transbordo, trabalham com associações ou<br />
cooperativas de reciclagem, ações e/ou projetos. A<br />
última etapa consistiu na análise qualitativa das<br />
informações por meio da comparação dos modelos de<br />
gestão por item relacionado no roteiro de entrevista e<br />
corroborando com dados secundários coletados nos<br />
sites dos próprios municípios ou das empresas que<br />
executam o serviço de limpeza pública.<br />
RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />
As dez capitais trabalhadas neste artigo, ou possuem mais de um milhão de habitantes ou são importantes para a<br />
economia da região e para a composição do Produto Interno Bruto brasileiro conforme demonstrado pelo IBGE em 2012<br />
(Tabela 2).<br />
Município<br />
Tabela 2 - Produto Interno Bruto dos Municípios das Capitais estudadas,<br />
por posição em relação às outras capitais e municípios brasileiros no ano de 2010<br />
Valor<br />
(1000 R$)<br />
Posição em relação a outras<br />
capitais brasileiras<br />
Posição em relação a<br />
outros municípios<br />
brasileiros<br />
São Paulo/ SP 443 600 102 1° 1°<br />
Rio de Janeiro/RJ 190 249 043 2° 2°<br />
Brasília/DF <strong>14</strong>9 906 319 3° 3°<br />
Curitiba/PR 53 106 497 4° 4°<br />
Belo Horizonte/MG 51 661 760 5° 5°<br />
Porto Alegre/RS 43 038 100 7° 7°<br />
Salvador/BA 36 744 670 9° 10°<br />
Vitória/ES 24 969 295 11° 20°<br />
Belém/PA 17 987 323 13° 27°<br />
Florianópolis/SC 9 806 534 20° 55°<br />
FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA (2012)<br />
O Produto Interno Bruto (PIB) é um fator que segundo Melo, Sautter e Janissek (2009) está relacionado diretamente<br />
com a geração de resíduo.<br />
Tabela 3 - Informações sobre a população e quantidade coletada de RSU nas capitais selecionadas - 2010<br />
Unidade da Federação<br />
População<br />
Quantidade RSU<br />
Coletada (t/dia)<br />
Quantidade RSU<br />
Coletada (Kg/hab/dia)<br />
Belém Pará 1.390.780 1.788,6 1,286<br />
Belo Horizonte Minas Gerais 2.385.639 2.990,8 1,254<br />
Brasília Distrito Federal 2.521.692 4.031,0 1,599<br />
Curitiba Paraná 1.764.540 2.175,4 1,2<strong>33</strong><br />
Florianópolis Florianópolis 421.203 450,1 1,095<br />
Porto Alegre Rio Grande do Sul 1.413.094 1.635,5 1,157<br />
Rio de Janeiro Rio de Janeiro 6.323.037 8.263 1,300<br />
Salvador Bahia 2.692.869 3.679,5 1,366<br />
São Paulo São Paulo 11.244.369 <strong>14</strong>.261,3 1,274<br />
Vitória Espírito Santo 325.453 342,0 1,035<br />
FONTE DOS DADOS BRUTOS: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (2011)<br />
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A tabela 3 foi construída a partir de dados da<br />
Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e<br />
Resíduos Especiais (2011) e apresenta dados sobre a<br />
população dos municípios estudados, além da<br />
quantidade de resíduos coletados diariamente e a<br />
quantidade em quilos de resíduos produzidos por<br />
habitante/dia. Calculando-se a média produzida entre<br />
os municípios obtém o seguinte resultado 1,260<br />
Kg/habitante/dia. Sendo que os municípios de São<br />
Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Belém estão<br />
acima desta média. A justificativa dos três primeiros<br />
municípios pode estar ligada ao PIB, influenciando uma<br />
maior geração de resíduo. Já o município de Salvador<br />
sofre com uma grande geração de resíduos<br />
principalmente na época de Carnaval, além de ser uma<br />
cidade turística. A justificativa de Belém pode ser dada<br />
como a falta de programas sociais, culturas, ambientais,<br />
educacionais, entre outros, que contemplem a não<br />
geração, além da ausência significativa de carrinheiros<br />
(coletores informais ou não de matérias possivelmente<br />
recicláveis) ou de associações estruturadas que<br />
recolham o material e que deixam de entrar nas<br />
estatísticas. Justificativas que também podem estar<br />
relacionadas aos municípios citados acima.<br />
De forma geral, todas estas capitais possuem um<br />
sistema de coleta de resíduos sólidos urbanos que<br />
contemplam em partes a Lei Federal nº. 12.305/2010,<br />
que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em<br />
partes, porque algumas cidades possuem mais ações e<br />
outras menos, mas que são voltadas para a busca de<br />
soluções para os resíduos sólidos, levando em conta<br />
dimensões política, econômica, ambiental, cultural e<br />
social, com controle social e com a premissa do<br />
desenvolvimento sustentável. Porém nem todas estas<br />
capitais e diversas outras cidades do país<br />
(ASSOCIAÇÃO..., 2011) possuem todas as etapas do<br />
gerenciamento, que se caracteriza pelo conjunto de<br />
ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de<br />
coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação<br />
final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e<br />
disposição final ambientalmente adequada de forma<br />
que estejam interconectadas. Cabe reforçar, como<br />
explicitado na metodologia, que todas as informações<br />
obtidas a partir da pesquisa de campo foram obtidas de<br />
fevereiro a novembro de 2012.<br />
Tabela 4 - Dados sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos das capitais selecionadas<br />
Cidade Tratamentos Forma de disposição final<br />
Cooperativa de<br />
Reciclagem<br />
Transbordo<br />
Belém Reciclagem, Coleta seletiva Aterro do Aurá Sim Sim Sim<br />
Belo Horizonte<br />
Brasília<br />
Curitiba<br />
Florianópolis<br />
Porto Alegre<br />
Rio de Janeiro<br />
Salvador<br />
São Paulo<br />
Vitória<br />
Reciclagem, compostagem,<br />
coleta seletiva<br />
Coleta seletiva,<br />
compostagem, reciclagem e<br />
usinas de tratamento de lixo<br />
Coleta seletiva, reciclagem<br />
Coleta seletiva, reciclagem e<br />
compostagem<br />
Coleta seletiva, Reciclagem,<br />
compostagem,<br />
Coleta seletiva, reciclagem e<br />
compostagem.<br />
Coleta seletiva, Reciclagem,<br />
compostagem.<br />
Coleta seletiva, Reciclagem,<br />
compostagem.<br />
Coleta seletiva e reciclagem,<br />
compostagem<br />
Aterro - Centro de Tratamento em<br />
Resíduos Macaúbas em Sabará<br />
Biogás<br />
Sim Sim Sim<br />
Aterro do Jóquei Sim Sim Não<br />
Aterro- Centro de Gerenciamento de<br />
Resíduos Iguaçu em Fazenda Rio Grande<br />
Sim Não Não<br />
Aterro na cidade de Biguaçu Sim Sim Não<br />
Aterro - Central de Resíduos Recreio Sim Sim Não<br />
Sanitário Gericinó e Aterro Sanitário<br />
Seropédica<br />
Aterro Metropolitano Centro e Aterro<br />
controlado de Canabrava<br />
Aterros privados Centro de Disposição de<br />
Resíduos - CDR Pedreira (Estre Ambiental)<br />
e a Central de Tratamento de Resíduos -<br />
CTR Caieiras (Essencis),<br />
Sim Sim Não<br />
Sim Sim Sim<br />
Sim Sim Sim<br />
Aterro Sanitário de Cariacica Sim Sim Sim<br />
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Nota-se, a partir da Tabela 4, que todas as capitais<br />
estudadas possuem como destinação final o aterro<br />
sanitário, além de possuírem coleta seletiva e<br />
possuírem associações e ou cooperativas de reciclagem.<br />
Com exceção do município de Curitiba, todas as demais<br />
possuem estação de transbordo sendo importante para<br />
logística de transporte e estratégias, justificado pela<br />
distância das instalações de tratamento dos resíduos,<br />
bem como, a disposição final em aterros. Metade dos<br />
municípios estudados possuem usinas que aproveitam a<br />
energia gerada pelos resíduos.<br />
Belém destaca-se com a coleta noturna em roteiro<br />
extra, isto é, a remoção de lixo programada para<br />
complementar os roteiros diurnos de coleta especial e<br />
de varrição; além da coleta domiciliar nas principais vias<br />
da cidade e o destino final do lixo coletado. O<br />
tratamento do lixo é feito através da coleta seletiva e<br />
de reciclagem. Na cidade há uma associação de<br />
catadores que ajuda na coleta seletiva, entretanto é<br />
necessário maior investimento porque a estrutura para<br />
reciclagem a partir da cooperativa ainda é precária<br />
quanto a instalações e logística do material reciclável.<br />
Para a localização do aterro foram observadas as<br />
condições favoráveis de solo, topografia, cobertura<br />
vegetal, cursos de água, ventos dominantes e ausência<br />
de vizinhança.<br />
Em Belo Horizonte, o lixo é coletado por meio da coleta<br />
seletiva, reciclagem e compostagem. Há um consórcio<br />
entre a prefeitura e uma empresa terceirizada para a<br />
coleta do lixo. Há duas alternativas para os moradores:<br />
além do porta a porta, o ponto a ponto distribui<br />
contêineres específicos disponíveis na cidade para a<br />
coleta do lixo. As associações de catadores também<br />
contribuem no processo de limpeza urbana. A<br />
prefeitura começou a trabalhar ativamente com os<br />
Em Brasília, o tratamento dos resíduos sólidos é<br />
realizado por meio de coleta seletiva, compostagem,<br />
reciclagem e usinas de tratamento de lixo. Assim, todos<br />
os resíduos coletados têm o seu tratamento adequado.<br />
Até o final do ano de 2012 ainda não possuía um<br />
consórcio confirmado para a coleta e transporte dos<br />
resíduos sólidos, porém há um projeto para sua<br />
implementação. Possui associações de catadores que<br />
contribuem na triagem dos resíduos sólidos, porém a<br />
organização ainda é incipiente.<br />
Curitiba possui um sistema de coleta porta a porta de<br />
RSU, realizada manualmente por catadores e que<br />
despejam os resíduos em caminhões com caçambas<br />
catadores. Neste papel, o poder público incentiva o<br />
cooperativismo do grupo, não só cedendo três galpões<br />
na região central, que são utilizados como depósitos,<br />
mas também apoiando um conjunto de iniciativas que<br />
envolvem capacitação profissional, educação e<br />
empenho em garantir os elementos necessários ao<br />
resgate da cidadania. Quanto ao aterro sanitário, possui<br />
tratamento adequado, conta com um sistema de<br />
tratamento de chorume em duas estações já<br />
construídas e a sua interligação a um sistema de células<br />
de tratamento biológico dos resíduos, também há a<br />
utilização de bactérias para acelerar o processo de<br />
decomposição do lixo. Esse sistema gera um composto<br />
que pode ser utilizado na recuperação de solos<br />
degradados pela ação de mineradoras.<br />
Com a estação de transbordo os resíduos coletados por<br />
meio de caminhões compactadores, são transferidos<br />
para carretas com maior capacidade e assim<br />
transportados para o aterro, economizando viagens.<br />
Possuindo também usina de Biogás. Algo a ser<br />
destacado é uma parceria entre das Secretarias de<br />
Educação e do Meio Ambiente, por meio da qual as<br />
escolas são mobilizadas e desenvolvem-se atividades<br />
educativas que despertam a consciência ambiental. As<br />
Secretarias de Saúde e Cultura utilizam-se do Projeto<br />
Ponto Verde, que visa à eliminação de lixões e<br />
recuperação de áreas degradadas pelo despejo irregular<br />
de resíduos sólidos. Com o fim dos vetores de poluição<br />
e da queima de lixo, os espaços estão sendo<br />
apropriados pela população local. Os caminhões<br />
convencionais que antes faziam a coleta foram<br />
substituídos por caminhões compactadores – o que só<br />
foi possível com a colaboração da população, que<br />
passou a dispor o lixo de forma adequada nos pontos<br />
de coleta.<br />
compactadoras. Em áreas de difícil acesso e não<br />
urbanizadas a prefeitura realiza a coleta convencional<br />
indireta, através de caçambas estacionárias.<br />
A coleta seletiva é realizada através do Programa “Lixo<br />
que não é Lixo” e em pontos de trocas, denominado<br />
Programa Cambio Verde. A coleta dos recicláveis é<br />
realizada por caminhões baús e destinados às Unidades<br />
de Valorização de Recicláveis – UVR, que é administrada<br />
pelo Instituto Pró- Cidadania de Curitiba – IPCC e está<br />
localizada no Município de Campo Magro, cidade que<br />
compõem a Região Metropolitana de Curitiba. O IPCC é<br />
responsável pela triagem e comercialização dos<br />
resíduos recicláveis coletados no Programa “Lixo que<br />
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não é Lixo” e Câmbio Verde. Ou, ainda, os recicláveis<br />
são destinados ao Projeto Reciclagem Inclusão Total –<br />
ECOCIDADÃO, que é realizado nos Parques de Recepção<br />
de Recicláveis, caracterizados por possuírem espaços<br />
dotados de infraestrutura física, administrativa e<br />
gerencial para recepção, classificação e venda do<br />
material coletado pelos catadores organizados em<br />
sistema de associações e cooperativas. Apesar da<br />
organização da coleta seletiva e no reaproveitamento<br />
de recicláveis, o modelo de gestão do município não<br />
avança na geração de energia pelo biogás e no reuso<br />
pela compostagem. A lei municipal de 11268 de 16 de<br />
dezembro de 2004 autoriza o Município de Curitiba a<br />
conceder o uso do Aterro Sanitário da Caximba para<br />
exploração do Biogás, porém isso não ocorreu.<br />
Florianópolis possui uma associação com os demais<br />
municípios da região metropolitana, para o tratamento<br />
e disposição final de resíduos da região. Além de<br />
possuir coleta seletiva que alcança todos os bairros da<br />
cidade, o material reciclável é selecionado por seus<br />
associados, que não necessitam coletar os materiais nas<br />
ruas. Com a matéria orgânica é feita a compostagem<br />
que servirá de adubo para hortas comunitárias.<br />
Destaque para o programa De Olho na Sujeira que<br />
beneficiamento de resíduos arbóreos. Outro projeto em<br />
desenvolvimento é o Ecoparque, quem tem o intuito de<br />
promover estudos para prospecção de novas formas de<br />
tratamento e valorização dos resíduos sólidos,<br />
maximizando a reciclagem e o aproveitamento<br />
energético das diversas frações do resíduo sólido<br />
urbano gerado no município de Porto Alegre e para o<br />
ECOPONTOS que são o conjunto de unidades que serão<br />
estrategicamente espalhadas pela cidade e se destinam<br />
a atender pequenos geradores de materiais<br />
reaproveitáveis.<br />
Rio de Janeiro possui coleta seletiva e os recicláveis são<br />
triados por associações de catadores. Possui uma usina<br />
de queima, porém, não há aproveitado de seu potencial<br />
energético. Não possui um consórcio intermunicipal. É<br />
realizado a compostagem que serve de adubo para o<br />
reflorestamento da cidade, oriundo de resíduos sólidos<br />
urbanos– FERTILURB, produzido pela SECONSERVA,<br />
através da Companhia Municipal de Limpeza Urbana –<br />
COMLURB. Destaque também para o Projeto Coco<br />
Verde, que em articulação com a<br />
SECONSERVA/COMLURB e parceiros da iniciativa<br />
privada, no trecho de praias entre o Arpoador e o<br />
Leblon, incentivou a cadeia produtiva da reciclagem das<br />
remove resíduos/entulhos em qualquer parte da<br />
cidade. Destaque também para as ações de educação<br />
ambiental e mobilização comunitária exercida pela<br />
Companhia de Melhoramentos da Capital (COMCAP).<br />
Porto Alegre possui coleta seletiva e usinas de<br />
compostagem e unidades de reciclagem. Foi a pioneira<br />
na atividade de associações de catadores. Uma das<br />
particularidades destas associações foi a oportunidade<br />
de participação de ex-dependentes químicos, pessoas<br />
contaminadas com o vírus da imunodeficiência humana<br />
ou com baixa escolaridade e que não conseguiram<br />
colocação em outra área. Outro projeto é o Programa<br />
de Reaproveitamento de Resíduos Orgânicos via<br />
Suinocultura. Outra iniciativa importante foi a<br />
construção da Estação de Transbordo Lomba do<br />
Pinheiro para otimização dos serviços de coleta e<br />
transporte dos resíduos sólidos do município de Porto<br />
Alegre. Também possui uma unidade de alimentação<br />
dos recicláveis por gravidade das mesas de triagem:<br />
esse sistema inovador cuja ação por gravidade dispensa<br />
a necessidade de esteira transportadora de materiais<br />
para separação dos recicláveis, economizando energia<br />
elétrica. Possui centrais de<br />
cascas de coco, garantindo também que esse tipo de<br />
resíduo tenha destinação ambientalmente adequada.<br />
Em 2012, aproximadamente 1.000 t de cascas de coco<br />
verde deixaram de ser encaminhadas aos aterros<br />
sanitários municipais.<br />
Salvador possui coleta seletiva, reciclagem e<br />
compostagem. A matéria orgânica e rejeitos são<br />
coletados e transportados para o Aterro Sanitário<br />
Metropolitano Centro, diretamente ou através da<br />
estação de transbordo. O aterro possui usina geradora<br />
de biogás. Grande parte da coleta seletiva é realizada<br />
por catadores, porta a porta, na origem, organizados<br />
em associações e cooperativas, reconhecidas em sua<br />
maioria pela Prefeitura, como parte integrante do<br />
sistema de gestão de resíduos sólidos do município.<br />
Conta também com Postos de Entrega Voluntária (PEVs)<br />
que estão distribuídos estrategicamente em pontos na<br />
cidade. Já a coleta alternativa é realizada por Agentes<br />
Voluntários, barco, balsa e pelo sistema de "lixoduto"<br />
quando o sistema de coleta convencional possui difícil<br />
acesso. O aterro possui tratamento adequado e o<br />
chorume é coletado e transportado por veículo do tipo<br />
carro-pipa, para ser tratado da forma adequada.<br />
Quanto aos gases provenientes da decomposição da<br />
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matéria orgânica são captados e queimados. Já os<br />
compostos orgânicos são tratados por compostagem<br />
assim, esses compostos, servem para enriquecimento<br />
do solo das praças e jardins das cidades. Opera em<br />
parceria com a Superintendência de Parques e Jardins<br />
(SPJ) e há a gestão dos novos geradores de resíduos,<br />
por meio de um avanço institucional, similar a uma<br />
licença ambiental. Como quesito de funcionamento, os<br />
novos estabelecimentos, especialmente comerciais,<br />
devem apresentar um plano de gerenciamento e<br />
reaproveitamento dos resíduos para obtenção da<br />
licença.<br />
São Paulo possui coleta seletiva, reciclagem e<br />
compostagem. A coleta seletiva acontece através de um<br />
consórcio com empresas privadas e a prefeitura, e<br />
também tem o auxílio das organizações de catadores,<br />
dessa forma, o que não é reciclado é levado para dois<br />
aterros privados. Um fator que interfere de forma<br />
negativa na coleta seletiva na cidade é a coleta<br />
clandestina realizada por caminhões em mau estado de<br />
manutenção e sem segurança no trabalho. Essa coleta<br />
clandestina reduz o rendimento das cooperativas de<br />
catadores. A cidade possui um sistema de captação e<br />
recuperação de metano nos aterros públicos, Pode-se<br />
concluir que existe um crescente investimento na<br />
construção de aterros sanitários e recuperação de<br />
energia, centrais de triagem e de compostagem,<br />
infraestrutura e capacitação para organizações de<br />
catadores. Um dos avanços na gestão de resíduos<br />
sólidos na cidade de São Paulo foi a implantação de<br />
sistemas de captação e recuperação de metano nos<br />
aterros públicos Bandeirantes e São João para geração<br />
de elétrica.<br />
Vitória possui coleta seletiva e reciclagem. Existe um<br />
consórcio entre a prefeitura e uma empresa<br />
terceirizada para realizar a coleta dos resíduos sólidos, a<br />
qual é realizada porta a porta em todos os bairros da<br />
cidade. Os resíduos que não são reaproveitados são<br />
levados ao aterro sanitário. A coleta convencional é<br />
realizada por coletores nos locais de morros e encostas,<br />
onde os veículos são impossibilitados de chegarem. A<br />
coleta seletiva é realizada somente em Pontos de<br />
Entrega Voluntária (PEVs), localizados em condomínios,<br />
estabelecimentos comerciais, escolas, instituições<br />
públicas e também em vias e praças, duas vezes por<br />
semana, não sendo realizada nos morros e encostas.<br />
Também há o auxílio dos catadores de papel que<br />
ajudam na reciclagem dos resíduos. Para esses a<br />
Prefeitura Municipal de Vitória oferece treinamentos,<br />
capacitações, equipamentos de segurança e uniformes<br />
para os catadores. O aterro sanitário dispõe de um<br />
sistema de aproveitamento de biogás e a<br />
comercialização de créditos de carbono, esse efetua a<br />
incineração de resíduos hospitalares. Em Vitória a<br />
compostagem de resíduos não é realizada em grande<br />
escala, sendo efetuados apenas os provenientes de<br />
podas de árvores e galhos mais finos.<br />
Quanto aos projetos, destacam-se o programa Praia<br />
Limpa que possui campanhas educativas sobre a<br />
qualidade das praias; o Programa Mangueando na<br />
Educação, que possui ações de educação ambiental<br />
referentes aos manguezais; o Programa Comunidades<br />
Conscientes que oferece cursos de preservação<br />
ambiental e manutenção dos ecossistemas e o evento<br />
Feira do Verde, realizado anualmente, com a<br />
participação de instituições públicas e privadas,<br />
institutos de pesquisa e de membros da sociedade em<br />
geral, com o intuito de promover um evento de<br />
relevante impacto na comunidade sobre as temáticas<br />
de educação ambiental e sustentabilidade.<br />
A tabela 5 traz de forma comparativa os pontos<br />
positivos e negativos da gestão de resíduos sólidos<br />
utilizados nas capitais mencionadas anteriormente.<br />
Cabe destacar que os pontos positivos referem-se as<br />
ações existentes e não se são suficientes para lidar com<br />
a questão. Por exemplo, verificou-se se tem a coletiva<br />
seletiva, e não se é feita de maneira otimizada, ou seja,<br />
se atingi todo o potencial de reciclagem. Inclusive<br />
porque a expansão da escala dos programas existentes,<br />
especialmente na questão dos recicláveis, é um ponto a<br />
melhorar em todos os municípios.<br />
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Tabela 5 - Comparação dos pontos positivos e negativos na gestão RSU das capitais selecionadas<br />
Cidade Pontos Positivos Pontos Negativos<br />
Belém<br />
Aproveitamento energético.<br />
Ausência de um consórcio intermunicipal e<br />
ainda a coleta não cobriu 100% da área urbana<br />
Belo Horizonte<br />
Utilização de tecnologia para o tratamento,<br />
ações sociais e de educação ambiental. Possui<br />
aproveitamento energético.<br />
Brasília<br />
Buscando melhorar atual gestão de RSU e Ausência de um consórcio intermunicipal,<br />
realiza coleta de 100% da área urbana<br />
aproveitamento energético.<br />
Curitiba<br />
Ações voltadas para práticas sociais e de Não possui compostagem, aproveitamento<br />
reciclagem. Coleta atinge 100% da população energético e sistema de transbordo.<br />
Florianópolis<br />
Coleta atinge 100% da população e ações de<br />
educação ambiental<br />
Não possui aproveitamento energético<br />
Porto Alegre<br />
Ações sociais, reciclagem, tecnologia, pesquisa e<br />
a coleta atingem 100% da população.<br />
Não possui aproveitamento energético<br />
Rio de Janeiro<br />
Aproveitamento da compostagem para<br />
Ausência de um consórcio intermunicipal e<br />
reflorestamento, reciclagem do coco verde e a<br />
aproveitamento energético<br />
coleta atinge 100% da população.<br />
Salvador<br />
Alternativas para coleta e tratamento. Possui<br />
aproveitamento energético.<br />
A coleta não atinge 100% da população<br />
São Paulo<br />
A coleta atinge 100% da população e ações.<br />
sociais. Possui aproveitamento energético<br />
Demanda de vários aterros<br />
Vitória<br />
Ações sociais, de educação ambiental, pesquisa<br />
e coleta atingem 100% da população. Possui<br />
aproveitamento energético.<br />
Compostagem é incipiente<br />
Este artigo demonstrou que as capitais estudadas em<br />
sua maioria possuem alternativas para o tratamento<br />
dos resíduos antes de ser depositado no aterro<br />
sanitário, o que representando uma redução da<br />
quantidade de resíduos destinados de forma<br />
equivocada aos aterros, prolongando a vida útil dos<br />
mesmos. Além de proporcionar o reaproveitamento de<br />
materiais e possibilitar a geração de emprego, renda e<br />
inclusão social. São as ações e projetos que alavancam a<br />
gestão dos resíduos colocando os municípios em<br />
evidência, sendo modelo de referência para a<br />
apropriação de modelos de gestão e planejamento para<br />
outros municípios. Entretanto, a produção per capita de<br />
resíduos é maior que 1 kg por habitante por dia, o que<br />
torna todo o esforço necessário, mas não suficiente<br />
para diminuir a pressão sobre novos aterros.<br />
Assim, problemas básicos ainda persistem, como o não<br />
atendimento da coleta a 100% da área urbana e a<br />
demanda por mais aterros pela exaustão dos atuais e<br />
CONCLUSÕES<br />
pelo crescente volume de novos resíduos destinados.<br />
Por outro lado, o sistema de reaproveitamento existe,<br />
mas normalmente em uma escala insuficiente para<br />
diminuir a pressão nos aterros e que varia conforme o<br />
perfil e a capacidade de coleta e tratamento dos<br />
reciclados nos municípios, por exemplo.<br />
A despeito do percentual de reaproveitamento ser<br />
baixo, as ações trabalhadas, por exemplo, na coleta e<br />
reaproveitamento de reciclado têm o enfoque da<br />
inclusão social, como ocorre em Porto Alegre, Curitiba e<br />
São Paulo, além de projetos voltados para a educação<br />
social e conscientização ambiental dos moradores,<br />
como os praticados em Vitória e Florianópolis. Outros<br />
municípios possuem uma gama de alternativas para a<br />
coleta como é o caso de Salvador, que utiliza meios de<br />
transportes terrestres e aquáticos para o transporte de<br />
resíduos ampliando assim a área de abrangência do<br />
serviço prestado. Ainda em Salvador há um avanço<br />
institucional de controle dos grandes geradores de<br />
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resíduos, especialmente novos estabelecimento<br />
comerciais, em que se exige, como quesito para o<br />
funcionamento, um plano de gerenciamento e<br />
reaproveitamento dos resíduos, similar a uma licença<br />
ambiental. Outros municípios possuem tecnologias<br />
diferenciadas no tratamento como, por exemplo, a<br />
capital mineira e a gaúcha. Em Porto Alegre as mesas de<br />
triagem de materiais recicláveis são alimentadas por um<br />
sistema inovador cuja ação por gravidade dispensa a<br />
necessidade de esteira transportadora de materiais<br />
para separação dos recicláveis, economizando energia<br />
elétrica e em Belo Horizonte o município conta com a<br />
utilização de bactérias que aceleraram o processo de<br />
decomposição dos resíduos.<br />
Do uso sustentável dos resíduos principalmente o<br />
orgânico destaque para o Rio de Janeiro que utiliza a<br />
compostagem como adubo para o reflorestamento da<br />
cidade.<br />
Ainda há possibilidades de implementação ou<br />
aperfeiçoamento de ações e programas nos municípios<br />
estudados, o que possibilitaria a potencialização da<br />
gestão de resíduos e consequentemente ganhos nas<br />
esferas sociais, econômicas e ambientais. Os pontos<br />
negativos destacados anteriormente servem de norte<br />
para os planejamentos futuros, mas questões básicas,<br />
como o atendimento da coleta em 100% da área<br />
urbana, são prioritárias para serem resolvidas. Cabe<br />
destacar que a pesquisa de campo realizou-se em 2012,<br />
mas a partir desta metodologia podem-se atualizar as<br />
informações para novas comparações. A implantação<br />
de um gerenciamento estratégico dos resíduos sólidos<br />
urbanos pode refletir ganhos econômicos e ambientais<br />
em um primeiro momento, mas poderá representar<br />
também ganhos sociais com o desenvolvimento local,<br />
bem como poderá fomentar pesquisas e<br />
desenvolvimentos tecnológicos na área.<br />
Para tanto é necessário à união e cobrança dos<br />
constituintes da sociedade. A população deve cobrar e<br />
fiscalizar ações realizadas pelo município ou Estado. O<br />
Estado deve fomentar e trabalhar com as instituições de<br />
ensino e pesquisa elaborando soluções, desenvolvendo<br />
tecnologias para os atuais problemas, bem como tratar<br />
a problemática juntamente com as futuras gerações<br />
presentes nas escolas. A difusão dos conhecimentos e<br />
dos produtos alcançados deve ser propagada pela<br />
população e é uma maneira das instituições darem um<br />
retorno positivo para a sociedade e para os órgãos<br />
financiadores.<br />
As proposições futuras para este trabalho são levantar<br />
informações sobre as demais capitais brasileiras, bem<br />
como outros municípios de áreas metropolitanas,<br />
destacando as ações positivas para futuros projetos<br />
para o melhor aproveitamento dos resíduos sólidos<br />
urbanos, especialmente, as áreas de grande<br />
aglomeração populacional. Outra importante questão<br />
refere-se ao estudo sobre o reaproveitamento do<br />
biogás. Pode-se verificar os casos positivos sobre o<br />
aproveitamento energético, como nas capitais<br />
pesquisadas – Belém, Belho Horizonte, Salvador, São<br />
Paulo e Vitória, como intuito de avaliar como ocorreu a<br />
partir das questões institucionais e econômicas.<br />
Há um campo de pesquisa e de ações ainda importante<br />
na gestão de resíduos sólidos urbanos para melhor<br />
compreensão e atuação, necessidade, por isso, forte<br />
interação da academia, governos e dos cidadãos para<br />
transformar um problema urbano importante em<br />
possibilidades de desenvolvimento da região.<br />
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