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EDIÇÃO 33 - Setembro/14 - RBCIAMB

A Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB - publica artigos completos de trabalhos científicos originais ou trabalhos de revisão com relevância para a área de Ciências Ambientais. A RBCIAMB prioriza artigos com perspectiva interdisciplinar. O foco central da revista é a discussão de problemáticas que se inscrevam na relação sociedade e natureza em sentido amplo, envolvendo aspectos ambientais em processos de desenvolvimento, tecnologias e conservação. A submissão dos trabalhos é de fluxo contínuo.

A Revista Brasileira de Ciências Ambientais – RBCIAMB - publica artigos completos de trabalhos científicos originais ou trabalhos de revisão com relevância para a área de Ciências Ambientais. A RBCIAMB prioriza artigos com perspectiva interdisciplinar. O foco central da revista é a discussão de problemáticas que se inscrevam na relação sociedade e natureza em sentido amplo, envolvendo aspectos ambientais em processos de desenvolvimento, tecnologias e conservação. A submissão dos trabalhos é de fluxo contínuo.

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<strong>RBCIAMB</strong><br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

Expediente<br />

Editora Geral<br />

Maria do Carmo Martins Sobral<br />

Editor Executivo<br />

Valdir Fernandes<br />

Editores Internacionais<br />

Günter Gunkel - Alemanha<br />

Manuela Morais - Portugal<br />

Oscar Parra - Chile<br />

Jose Alfaro Joins - EUA<br />

Editores Nacionais<br />

Armando Borges de Castilhos Jr<br />

Francisco Suetônio Bastos Mota<br />

Mário Augusto Gonçalves Jardim<br />

Tadeu Fabrício Malheiros<br />

Maurício Dziedzic<br />

Márcia Maria Rios Ribeiro<br />

Conselho Editorial<br />

Arlindo Philippi Jr, Adriana Rosseto, Asher<br />

Kiperstock, Carlos Alberto Cioce Sampaio,<br />

Cleverson Vitorio Andreolli , Eliza Maria Xavier<br />

Freire, Fabiano Toni, Jorge Tenório, Leandro<br />

Gonçalves Oliveira, Marco Antonio Almeida de<br />

Souza, Marco Aurélio da Silva Carvalho Filho,<br />

Maria de Lourdes Florencio, Miguel Mansur Aisse,<br />

Luiz Carlos Beduschi Filho, Wanderley da Silva<br />

Paganini<br />

Coordenação<br />

Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e<br />

Ambiental - ABES<br />

Presidente Nacional da ABES<br />

Dante Ragazzi Pauli<br />

Responsável<br />

Allan Rodrigues<br />

Submissão de artigos, dúvidas e sugestões: rbciamb@abes-dn.org.br<br />

Instruções para autores clique aqui<br />

Esta é uma publicação em parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e<br />

Desenvolvimento Sustentável - ICTR www.ictr.org.br


Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

Editorial<br />

A<br />

Associação Brasileira de Engenharia Ambiental (ABES) vem ampliando nos últimos anos suas atividades<br />

apresentando um perfil amplo e multidisciplinar incorporando não apenas a visão da Engenharia Sanitária, mas<br />

expandindo a área de conhecimento, passando a abranger a Engenharia Ambiental. Essa nova inserção se reflete<br />

no aumento de artigos relacionados à temática ambiental que vem sendo submetidos e publicados nos Congressos<br />

nacionais e regionais, bem como na Revista de Engenharia Sanitária e Ambiental (ESA).<br />

No cenário atual, de grandes pressões antrópicas sobre os ecossistemas brasileiros, é importante conduzir estudos que<br />

incentivem e trabalhem com a ideia de uso sustentável dos recursos naturais, bem como pesquisas que abrangem<br />

diferentes áreas do conhecimento voltadas a um mesmo objetivo de desenvolvimento sustentável do país.<br />

Os avanços tecnológicos e sociais vivenciados no Brasil e no exterior dos últimos anos tem refletido em mudanças de<br />

paradigmas e direcionamentos da ciência voltados para incorporação de novos temas relevantes e atuais como a gestão<br />

de recursos naturais, mudanças climáticas, governança ambiental, prestação de serviços ecossistêmicos, gestão de<br />

conflitos, entre outros.<br />

Diante desta demanda significativa de artigos na área de meio ambiente pela comunidade científica acadêmica, bem<br />

como pelos atores governamentais e empresariais, a ABES decidiu contribuir para a produção e divulgação do<br />

conhecimento científico relacionado às ciências ambientais, com a preocupação crescente, advindas da utilização<br />

racional dos recursos naturais e suas relações com o desenvolvimento tecnológico de forma sustentável.<br />

Neste contexto, a ABES passa a partir desta edição a incorporar a Revista Brasileira de Ciências Ambientais - RBCiamb,<br />

editada em parceria com o Instituto de Ciência e Tecnologia em Resíduos e Desenvolvimento Sustentável - ITCR, que<br />

vinha assumindo essa revista desde sua criação em 2005.<br />

Durante esses dez anos de existência, a RBCiamb recebeu cerca de 800 artigos submetidos, dos quais 218 foram<br />

publicados em 32 edições. Além disso, o grande volume de submissões, de mais de 2090 (dois mil e noventa) artigos<br />

submetidos à revista Engenharia Sanitária e Ambiental, sendo mais de 300 na área de meio ambiente, desde que a<br />

Revista ESA foi incorporada ao Sistema de submissão online do Scielo, estimularam também esta iniciativa de<br />

incorporação desta nova revista com visão interdisciplinar da temática ambiental, que contou com a discussão e adesão<br />

de todo Conselho Editorial e Diretoria.<br />

A revista RBCiamb seguirá com grandes temas voltados à Área Ambiental: Políticas e Gestão Ambiental; Recursos<br />

Naturais e Ambientais; Controle da Poluição; Gestão de Recursos Hídricos; Tecnologias Ambientais; Mudanças<br />

Climáticas e Poluição do Ar; Gestão de Resíduos Sólidos e Governança; Percepção e Educação Ambiental. A revista ESA<br />

seguirá com temas mais focados na Engenharia Sanitária, como: Água, Sistema de Abastecimento e Tratamento, Águas<br />

Residuárias, Coleta e Transporte, Tratamento de Esgoto Sanitário, Tratamento de Efluentes Industriais, Reúso de Águas,<br />

Lodo de Estação de Tratamento, Resíduos Sólidos Urbanos e Industriais.<br />

Esta nova Revista da ABES é direcionada para profissionais de diversas áreas de conhecimento com atuação<br />

interdisciplinar e visões distintas que convergem para a temática ambiental. Esta medida se enquadra na estratégia de<br />

atendimento às demandas do público alvo da ABES que vem se expandindo da academia e profissionais relacionados à<br />

engenharia sanitária e ambiental, para incluir também os envolvidos nos programas de Pós-Graduação de Ciências<br />

Ambientais, além de profissionais dos Órgãos Públicos, Consultorias e Organizações não governamentais que atuam na<br />

temática ambiental.<br />

Acreditamos que esta nova iniciativa propiciará a ampliação dos espaços de atuação e divulgação da ABES, contribuindo<br />

para o desenvolvimento sustentável do país, Contamos com a participação ativa de todos os senhores que fazem da<br />

ABES uma das maiores e mais consolidadas associações profissionais brasileiras.<br />

Dante Ragazzi Pauli<br />

Presidente Nacional da ABES<br />

Maria do Carmo Martins Sobral<br />

Editora Geral da Revista RBCiAmb


Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

ÍNDICE<br />

01-COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE<br />

COMPOSTAGEM CONVENCIONAL E MECANIZADA NO<br />

TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE RÚMEN BOVINO<br />

Comparison between conventional and mechanized<br />

composting process in bovine rumen and waste<br />

treatment<br />

Priscila Ribeiro dos Santos<br />

Marcela de Felicio Moreira<br />

Maria Cristina Rizk<br />

45-GESTÃO INTEGRADA EM UNIDADES DE<br />

CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO PARQUE<br />

ESTADUAL DE PORTO FERREIRA<br />

Integrated management in protected areas: case study<br />

of Porto Ferreira State Park<br />

Mayra Cristina Prado de Moraes<br />

Kaline de Mello<br />

Rogério Hartung Toppa<br />

13-ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS<br />

URBANOS COMO SUBSÍDIO PARA AÇÕES VOLTADAS À<br />

SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL<br />

Generation Estimate of Municipal Solid Waste as<br />

Subsidy Actions Aimed to Environmental Sustainability<br />

David Montero Dias<br />

Carlos Barreira Martinez<br />

Raphael Tobias de Vasconcelos Barros<br />

23- CARACTERIZAÇÃO DE INDICADORES DE<br />

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA RELAÇÃO<br />

SAÚDE E AMBIENTE POR MEIO DAS DOENÇAS<br />

RELACIONADAS AO SANEAMENTO AMBIENTAL<br />

INADEQUADO (DRSAI)<br />

Characterization of indicators of sustainable<br />

development in health and environmental value<br />

through environmental sanitation related diseases<br />

inappropriate (DRSAI)<br />

Gerciene de Jesus Miranda Lobato<br />

Mário Augusto Gonçalves Jardim<br />

32- NOVOS INDICADORES PARA A AVALIAÇÃO DE<br />

IMPACTOS SÓCIO AMBIENTAIS DA INOVAÇÃO<br />

TECNOLÓGICA EM AGROINDÚSTRIAS DE<br />

REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS. APLICAÇÃO NA<br />

AGROINDÚSTRIA DE COCO<br />

New indicators for the socio-environmental impact<br />

assessment of technological innovation in waste reuse<br />

agro industries. Coconut agro industries applications.<br />

Melba Garcia Velasco<br />

Francisco H. Martinez Luzardo<br />

Fermin G. Velasco<br />

60- ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO DE MANGUEZAIS<br />

SOB CONDIÇÕES DE VARIAÇÃO SAZONAL<br />

Attributes chemical manguezais soil with variations on<br />

seasonal conditions<br />

Marina Lopes de Souza<br />

Maria Aurora da Mota<br />

Maria de Lourdes Pinheiro Ruivo<br />

Rosecélia Moreira Castro<br />

José Francisco Berredo<br />

Paulo Jorge Oliveira de Souza<br />

Adriano Marlisom Leão de Souza<br />

73-ANÁLISE DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA<br />

AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA NO BRASIL<br />

Analysis of participatory process in the strategic<br />

environmental assessment in Brazil<br />

Maria José Ferreira Berti<br />

Nemésio Neves Batista Salvador<br />

85-ALTERAÇÕES QUÍMICAS EM SOLO OCUPADO POR<br />

CEMITÉRIO HORIZONTAL NO NORTE DO RIO GRANDE<br />

DO SUL<br />

Chemical changes in soil occupied for cemetery<br />

horizontal in rio grande do sul – north<br />

Pedro Daniel da Cunha Kemerich<br />

Willian Fernando de Borba<br />

Natana Schmachtenberg<br />

Cristiane Graepin<br />

Carlos Eduardo Balestrin Flores<br />

Guilherme Barros<br />

Ademir Eloi Gerhardt


Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

100-PERCEPÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO<br />

PATRIMONIAL: ESTUDO DE CASO SOBRE A<br />

CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO<br />

Environmental perception and heritage education: a<br />

case study on paleontological heritage and your<br />

conservation<br />

Marcelo de Oliveira Soares<br />

Wedja Suhelen Paes da Silva<br />

Luana Kelly Ferreira da Silva<br />

Thais Chaves da Silva<br />

GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM<br />

CAPITAIS BRASILEIRAS ALTERNATIVAS PARA UM<br />

MODELO DE GESTÃO<br />

Urban solid waste management in Brazilian capital cities<br />

- alternatives for a model of management<br />

Christian Luiz da Silva<br />

Gabriel Massao Fugii<br />

Alain Hernández Santoyo<br />

Nadia Solange Bassi<br />

Marta Chaves Vasconcelos


Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

COMPARAÇÃO ENTRE OS PROCESSOS DE COMPOSTAGEM CONVENCIONAL E MECANIZADA<br />

NO TRATAMENTO DE RESÍDUOS DE RÚMEN BOVINO<br />

Comparison between conventional and mechanized composting process<br />

in bovine rumen and waste treatment<br />

Priscila Ribeiro dos Santos<br />

Engenheira Ambiental, Universidade<br />

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita<br />

Filho” – Faculdade de Ciências e<br />

Tecnologia, campus de Presidente<br />

Prudente, Departamento de<br />

Planejamento, Urbanismo e Ambiente.<br />

E-mail: pri-rs@hotmail.com<br />

Marcela de Felicio Moreira<br />

Engenheira Ambiental, Universidade<br />

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita<br />

Filho” – Faculdade de Ciências e<br />

Tecnologia, campus de Presidente<br />

Prudente, Departamento de<br />

Planejamento, Urbanismo e Ambiente.<br />

E-mail: mah.fmoreira@gmail.com<br />

Maria Cristina Rizk<br />

Professor Assistente Doutor,<br />

Universidade Estadual Paulista “Júlio<br />

de Mesquita Filho” – Faculdade de<br />

Ciências e Tecnologia, campus de<br />

Presidente Prudente, Departamento de<br />

Planejamento, Urbanismo e Ambiente.<br />

E-mail: crisrizk@fct.unesp.br<br />

RESUMO<br />

A agroindústria brasileira apresenta grande potencialidade na produção de<br />

alimentos, especialmente no ramo da carne bovina, levando ao aumento da geração<br />

de resíduos sólidos, como o resíduo ruminal. Tal resíduo é gerado em grandes<br />

proporções durante os processos de abate de bovinos, podendo ocasionar<br />

contaminação, degradação ambiental ou ainda danos à saúde pública, quando não<br />

tratado. Fato que justifica o estudo de práticas de reciclagem, como a compostagem.<br />

No desenvolvimento deste trabalho foi realizado o processo de compostagem para<br />

tratamento do resíduo ruminal bovino gerado num frigorífico, utilizando-se o sistema<br />

convencional de leira aerada por revolvimento manual e o sistema mecanizado de<br />

reator acoplado a um compressor, permitindo a aeração do sistema. Para o ajuste<br />

inicial dos parâmetros da compostagem, foi incorporado o resíduo de casca de café.<br />

Os parâmetros determinados no monitoramento do processo de compostagem<br />

foram: pH, umidade, carbono orgânico, nitrogênio e relação C/N. Pelas análises<br />

realizadas durante o monitoramento de ambos os sistemas, notou-se que o pH se<br />

manteve alcalino e apresentou apenas pequenas variações; a umidade apresentouse<br />

elevada no início dos estudos; ocorreram variações significativas nas<br />

concentrações de nitrogênio; as reduções de carbono orgânico não se apresentaram<br />

elevadas; e, ainda, os compostos finais produzidos mostraram-se adequados para<br />

serem utilizados como adubo orgânico. Quanto as principais diferenças dos sistemas<br />

mecânico e convencional, verificou-se que a leira teve maior redução de carbono<br />

orgânico ao longo do tratamento e menor relação C/N final quando comparada ao<br />

reator.<br />

Palavras-chave: resíduo ruminal; compostagem; leira aerada; reator; adubo<br />

orgânico.<br />

ABSTRACT<br />

The Brazilian agroindustry has a high potentiality in food production, especially in the<br />

segment of bovine meat, which leads to the increase of solid residues generation,<br />

like the ruminal residue. This residue is generated in large proportions during the<br />

bovine slaughter process, and it can lead to environmental degradation and<br />

contamination, or even damage to the public health, when not treated. Fact that<br />

justify studying practices of recycling, like composting. In the development of this<br />

work it was done the process of composting to the treatment of the ruminal residue<br />

produced in a slaughterhouse, using the conventional system of aerated pile through<br />

manual mixing and the mechanized system of reactor coupled to a compressor,<br />

enabling the aeration of the system. For the initial adjustment of the composting<br />

parameters, it was incorporated the residue of coffee husks. The parameters<br />

determined during the monitoring of the composting process were: pH, moisture,<br />

organic carbon, and nitrogen C/N ratio. With the analyses obtained during the<br />

monitoring of both systems, it was noticed that the pH kept on alkaline levels with<br />

small variations; the moisture was high at the beginning of the study; there were<br />

significant variations in nitrogen concentrations; the decrease of organic carbon was<br />

not high; besides that, both composts produced were appropriate to be used as<br />

organic compost. The main differences in conventional and mechanized systems<br />

were that the pile had a better reduction of organic carbon during the process and a<br />

lower final C/N ratio when compared to the reactor.<br />

Keywords: ruminal residue; composting; aerated pile; reactor; organic compost.<br />

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

O segmento industrial da cadeia produtiva de carne<br />

bovina contribui sistematicamente para a geração de<br />

grandes quantidades de resíduos líquidos e sólidos,<br />

produzidos desde a extração da matéria-prima até as<br />

etapas do processo industrial, como o resíduo ruminal<br />

bovino.<br />

Este resíduo é um dos resíduos gerados em matadouros<br />

frigoríficos de bovinos que requer especial atenção no<br />

que se refere ao seu gerenciamento, devido à elevada<br />

umidade do material e a dificuldade de destino do<br />

mesmo (ROSA, 2009).<br />

De acordo com Ferreira (1997) apud Morales (2006), o<br />

resíduo ruminal, retirado dos animais logo após o abate,<br />

consiste em alimentos parcialmente digeridos, sendo<br />

que um animal de 400 kg produz em média 25 kg deste<br />

resíduo.<br />

Segundo Zimmermann e Eggersglüβ (1986) apud Tritt e<br />

Schuchardt (1992), o conteúdo ruminal não tratado<br />

deve ser considerado como um risco epidemiológico, já<br />

que pode conter raros tipos de salmonela, assim como<br />

bactérias, vírus e parasitas em números alarmantes, do<br />

ponto de vista epidemiológico. E ainda a destinação<br />

inadequada de tal resíduo, sem que se conheçam suas<br />

características agronômicas, pode levar a alterações das<br />

características dos solos e a outras degradações<br />

ambientais (TRAUTMANN-MACHADO et al., 2009).<br />

Sua composição é basicamente de forrageiras (capim)<br />

parcialmente digeridas, utilizadas na alimentação<br />

animal, e ainda sal mineral, fornecido como<br />

complemento alimentar aos animais. Assim, por ser<br />

material basicamente orgânico, é passível de ser<br />

tratado por meio de processos como a compostagem.<br />

Já a casca de café é basicamente um resíduo vegetal<br />

ligninocelulósico da agroindústria (FERNANDES e SILVA,<br />

1997), além de ser rica em matéria orgânica e ser fonte<br />

natural de potássio e nitrogênio (TONACO et al., 2010).<br />

Fernandes e Silva (1999) relatam os resíduos vegetais<br />

como os mais importantes resíduos estruturantes<br />

utilizados na compostagem, e dentre eles está a casca<br />

de café, com as funções de conferir integridade<br />

estrutural à mistura a ser compostada, absorver o<br />

excesso de umidade e ainda equilibrar a relação C/N da<br />

mistura.<br />

INTRODUÇÃO<br />

A compostagem consiste num processo biológico de<br />

decomposição controlada da fração orgânica<br />

biodegradável contida nos resíduos, caracterizando-se<br />

pela produção de CO 2 , vapor de água, liberação de<br />

substâncias minerais e formação de um composto<br />

orgânico estável denominado húmus (SOUZA, 2005;<br />

BERNAL et al., 1998). Assim, ela permite a agregação de<br />

valor devido à transformação de resíduos<br />

potencialmente poluidores em composto orgânico e<br />

ainda contribui para um saneamento eficaz.<br />

Este processo é desenvolvido por uma colônia de<br />

microrganismos, o qual é afetado por qualquer fator<br />

que atinja a atividade microbiológica, dentre estes<br />

fatores, os mais importantes são: aeração, temperatura,<br />

teor de umidade, concentração de nutrientes e pH<br />

(VERAS e POVINELLI, 2004; COSTA, 2005).<br />

O processo de compostagem pode ocorrer por dois<br />

métodos: método natural – a fração orgânica é disposta<br />

em pilhas (leiras) de formato variável. A aeração é<br />

conseguida por revolvimentos periódicos, com o auxílio<br />

de equipamentos apropriados. O tempo para que o<br />

processo de complete varia de três a quatro meses, e,<br />

método acelerado – a aeração é forçada por tubulações<br />

perfuradas, sobre as quais se colocam as pilhas de<br />

resíduos em reatores, dentro dos quais são colocados<br />

os resíduos, avançando no sentido contrário ao da<br />

corrente de ar. O tempo total de compostagem varia de<br />

dois a três meses (D’ALMEIDA e VILHENA, 2000).<br />

Dos métodos de compostagem apresentados, o de<br />

leiras revolvidas é o mais simples e se dá geralmente ao<br />

ar livre. Elas se caracterizam principalmente pelo baixo<br />

investimento inicial, simplicidade de operação, uso de<br />

equipamentos simples, e possibilidade de rápida<br />

diminuição do teor de umidade das misturas devido ao<br />

revolvimento; porém o efeito do revolvimento é<br />

limitado (FERNANDES e SILVA, 1999).<br />

Já a compostagem realizada em reatores, oferece a<br />

possibilidade de maior controle sobre todos os fatores<br />

importantes para o processo e menor influência dos<br />

fatores climáticos. Além disso, devido à homogeneidade<br />

do meio, inclusive com relação à temperatura, a<br />

compostagem em reatores também é tida como mais<br />

eficiente no controle dos patógenos. Outra<br />

característica desta alternativa é a maior facilidade para<br />

controlar odores, pois o sistema é fechado e a aeração<br />

controlada (FERNANDES e SILVA, 1999).<br />

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OBJETIVOS<br />

O presente estudo teve como objetivo estudar o processo de compostagem para o tratamento de rúmen bovino,<br />

utilizando-se os métodos manual e mecanizado, a fim de se conhecer a qualidade do composto produzido em cada um<br />

dos tratamentos.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

O resíduo ruminal bovino foi coletado no setor da “linha verde” de um frigorífico. Em função de sua elevada umidade<br />

para o início do tratamento por compostagem, houve a necessidade de incorporação de outro resíduo para adequação<br />

de tal parâmetro, optando-se pelas cascas de café, que foram coletadas numa cooperativa agrária de cafeicultores.<br />

O rúmen foi coletado em tambores metálicos de 200 litros, as cascas de café em sacos de aproximadamente 25 kg e<br />

encaminhados para o local de tratamento.<br />

Compostagem convencional<br />

O sistema de compostagem convencional foi realizado<br />

numa leira com 175 quilos de resíduos, que foram<br />

dispostos em camadas. A proporção da mistura de<br />

resíduos foi de 85% de rúmen e 15% de casca de café.<br />

Essa proporção foi determinada após ensaios<br />

experimentais preliminares que variaram a<br />

porcentagem de rúmen e de casca de café, visando a<br />

adequação da mistura em termos de umidade para o<br />

início do tratamento por compostagem.<br />

A Figura 1 apresenta uma foto do processo estudado<br />

em leira de compostagem.<br />

A leira de compostagem foi construída sobre uma lona<br />

plástica com 1,20 metros de comprimento x 0,90<br />

metros de largura x 0,50 metros de altura<br />

(aproximadamente), caracterizando um processo em<br />

pequena escala.<br />

A aeração foi realizada por meio de revolvimento<br />

manual com auxílio de pás. No início do processo a<br />

aeração era feita todos os dias; após 15 dias de<br />

compostagem, o revolvimento passou a ser feito a cada<br />

quatro dias, e posteriormente, com 50 dias de<br />

compostagem, semanalmente.<br />

Nos dias de precipitações pluviométricas, a leira era<br />

coberta com lona plástica a fim de evitar a penetração<br />

descontrolada de água e a perda de material.<br />

Compostagem mecanizada<br />

O sistema de compostagem mecanizada foi constituído<br />

por um reator aerado construído em bombona plástica<br />

de 200 litros com tampa. A aeração ocorria cinco vezes<br />

por semana, três vezes ao dia durante 15 minutos, para<br />

isso o reator possuía uma série de furos laterais por<br />

onde passavam mangueiras ligadas a um compressor de<br />

ar. Assim era possível a aeração do composto em<br />

diversos pontos, o que permitiria uma aceleração do<br />

processo de decomposição aeróbia da matéria<br />

orgânica. Além disso, o reator possuía em sua base uma<br />

torneira plástica para a retirada do possível chorume<br />

formado durante o processo.<br />

A Figura 2 apresenta uma foto do processo estudado<br />

em reator mecanizado.<br />

A proporção da mistura de resíduos no reator também<br />

foi de 85% de rúmen e 15% de casca de café,<br />

totalizando 50 Kg de resíduos que foram dispostos em<br />

camadas no interior do reator.<br />

Monitoramento dos processos<br />

A leira e o reator foram monitorados a cada 15 dias por<br />

meio da análise de pH, umidade, carbono orgânico,<br />

nitrogênio e relação C/N. As amostras foram coletadas<br />

por meio de amostragem composta.<br />

O tempo total de tratamento do rúmen bovino<br />

incorporado à casca de café foi de 105 dias, quando se<br />

verificou a estabilização do processo.<br />

O pH foi determinado em solução de cloreto de cálcio<br />

(CaCl 2 ), conforme procedimento estabelecido por Kiehl<br />

(1985) e as medidas de pH foram realizadas num<br />

pHmetro de bancada, marca HANNA – modelo HI-221.<br />

A determinação da umidade e carbono orgânico foi<br />

realizada pelo método de calcinação proposto por Kiehl<br />

(1985).<br />

O nitrogênio Kjeldahl (nitrogênio orgânico e amoniacal)<br />

foi determinado pela metodologia descrita pelo<br />

Instituto Adolfo Lutz (IAL, 1985).<br />

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Revista Brasileira de Ciências Ambientais<br />

ISSN Impresso 1808-4524 ISSN Eletrônico 2176-9478 <strong>Setembro</strong> de 20<strong>14</strong> Nº <strong>33</strong><br />

Na Tabela 1 estão apresentados os resultados da<br />

caracterização da mistura dos resíduos de rúmen e<br />

casca de café.<br />

O valor do pH da mistura de resíduos mostrou-se<br />

neutro, e, portanto, dentro da faixa considerada ótima<br />

para o desenvolvimento da maioria das bactérias,<br />

contribuindo para uma degradação acelerada do<br />

material orgânico e favorecendo a compostagem<br />

(PEREIRA NETO, 2004).<br />

Quanto à umidade, pode-se observar que a mistura<br />

apresentou valor elevado de 76,1%. Elevados teores de<br />

umidade, superiores a 65%, fazem com que a água<br />

ocupe os espaços vazios do meio, impedindo a livre<br />

passagem do oxigênio, o que poderá provocar<br />

aparecimento de zonas de anaerobiose (FERNANDES e<br />

SILVA, 1999). Assim, pode-se dizer que a mistura dos<br />

materiais não proporcionou um ajuste adequado para<br />

início do tratamento, porém esperava-se que a<br />

realização de uma aeração mais intensa no início da<br />

compostagem provocasse um ressecamento da massa<br />

de compostagem (TSUTIYA et al., 2002) e esse<br />

parâmetro se ajustasse rapidamente.<br />

Kiehl (1985) considera os teores de matéria orgânica<br />

superiores a 61% como “alto nível”. Assim, as altas<br />

concentrações de matéria orgânica e carbono orgânico<br />

presentes na mistura favorecem seu tratamento por<br />

meio da compostagem, por ser basicamente um<br />

processo biológico de decomposição de materiais<br />

orgânicos por microrganismos.<br />

É desejável que o teor de nitrogênio inicial esteja entre<br />

1,2 e 1,5% e o valor encontrado (1,5%) estava dentro<br />

dessa faixa.<br />

Como os microrganismos absorvem o carbono e o<br />

nitrogênio numa proporção de 30/1, essa é a proporção<br />

ideal para os resíduos (OLIVEIRA et al., 2008), e também<br />

a proporção encontrada na mistura dos resíduos<br />

estudados neste trabalho.<br />

A Figura 3 apresenta o monitoramento do pH ao longo<br />

do processo de compostagem na leira e no reator.<br />

Verifica-se que houve uma rápida elevação de pH nos<br />

15 primeiros dias. O pH saiu da condição de<br />

neutralidade e atingiu um valor alcalino<br />

(aproximadamente 9,5) durante o período em que<br />

predominou a fase termófila na leira e no reator.<br />

De acordo com Fernandes e Silva (1999) a passagem<br />

para a fase termófila, fase inicial em que o material em<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

compostagem atinge sua temperatura máxima (> 40 ºC)<br />

e é degradado mais rapidamente, é acompanhada de<br />

rápida elevação do pH que se explica pela hidrólise das<br />

proteínas e liberação de amônia. Assim, normalmente o<br />

pH se mantém alcalino (7,5-9,0) durante essa fase.<br />

Mesmo com o passar da fase termófila o pH da leira<br />

continuou apresentando elevações até os 45 dias,<br />

porém de maneira mais suave, atingindo valores<br />

próximos a 10,0. Até os 105 dias de compostagem, este<br />

parâmetro se manteve sem variações significativas<br />

finalizando o tratamento na leira com valor de pH 9,7.<br />

Por sua vez, o reator apresentou certa estabilidade nos<br />

seus valores de pH desde os 15 dias de compostagem,<br />

permanecendo todos os resultados numa faixa entre<br />

8,9 e 9,6.<br />

Estudando a compostagem com vários tipos de<br />

resíduos, incluindo a casca de café, Paiva (2008) relata<br />

que durante a maior parte do tempo de compostagem<br />

o pH se manteve alcalino com máximo de 9,0, e, ainda<br />

afirma que esse resultado pode indicar formação de gás<br />

amônia o qual pode ser perdido por volatilização.<br />

Porém, ao longo do processo de compostagem deste<br />

estudo não foram observadas quantidades baixas de<br />

nitrogênio, indicando que não houve perdas<br />

significativas desse elemento.<br />

Com a estabilização do composto a ser produzido<br />

espera-se que o valor de pH esteja entre 8,0 e 9,0<br />

(KIEHL, 1998). Apesar disso, o pH final de ambos os<br />

sistemas de tratamento se mostraram um pouco acima<br />

de 9,0.<br />

A Figura 4 apresenta o monitoramento da umidade ao<br />

longo do processo de compostagem na leira e no<br />

reator.<br />

Durante o monitoramento houve formação de<br />

chorume, com presença de larvas na leira e no reator,<br />

devido à elevada umidade dos resíduos no início do<br />

experimento. Porém, com a redução acentuada da<br />

umidade o chorume cessou durante os 10 primeiros<br />

dias. Morales (2006), também observou a formação de<br />

chorume na primeira semana de compostagem,<br />

decorrente da alta umidade do resíduo ruminal visto<br />

que as leiras foram manejadas em pátio coberto, e,<br />

portanto, ficavam protegidas da chuva.<br />

Como observado na Figura 4 esse parâmetro sofreu<br />

reduções acentuadas, assim a leira e o reator<br />

apresentaram umidade de 48,2% e 61,4 %,<br />

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respectivamente, aos 30 dias. Ou seja, ambos já se<br />

encontravam próximos da faixa considerada ideal para<br />

desenvolvimento da compostagem, entre 40 e 60%<br />

(MARAGNO et al., 2007).<br />

Foi necessária a adição de água a leira aos 45 dias de<br />

tratamento, pois esta alcançou valor próximo de 40%.<br />

Após a adição, pôde-se observar um pico no valor de<br />

umidade e posteriormente, nova queda, requerendo<br />

assim outra intervenção na umidade. Aos 105 dias foi<br />

obtido o valor 58,0% de umidade na leira.<br />

Por ser um sistema fechado, mais preservado das<br />

condições ambientais e climáticas, os resíduos<br />

perderam umidade mais vagarosamente no reator do<br />

que na leira, assim foi necessário o ajuste desse<br />

parâmetro (adição de água) após 60 dias de<br />

tratamento. E ao fim do tratamento o reator alcançou<br />

valor de 49% de umidade.<br />

A Figura 5 apresenta o monitoramento do carbono<br />

orgânico na leira e reator ao longo do estudo.<br />

No período inicial da compostagem (fase de degradação<br />

rápida) a atividade microbiana é mais intensa, assim os<br />

microrganismos termofílicos predominam e atacam as<br />

substâncias mais facilmente degradáveis, como<br />

carboidratos simples e nitrogenados solúveis.<br />

Posteriormente, a intensidade das reações químicas e a<br />

atividade microbiana diminuem, pois as substâncias de<br />

rápida degradação vão se esgotando (BRITO, 2008;<br />

FERNANDES e SILVA, 1999).<br />

Dessa maneira, durante o início do processo de<br />

compostagem (fase termofílica) na leira, houve a<br />

redução mais acentuada de carbono partindo de<br />

valores próximos a 49 e atingindo 45,5%. Em seguida,<br />

notaram-se reduções mais suaves de carbono ao longo<br />

da compostagem, e ao fim do processo, o valor de<br />

carbono orgânico da leira foi de 39,1%.<br />

Da mesma forma que na leira, o reator apresentou<br />

reduções muito suaves de carbono orgânico ao longo<br />

do processo de compostagem, e praticamente nula nos<br />

primeiros 15 dias. Em sistemas mecanizados, a umidade<br />

superior a 65% pode causar aglomeração do material<br />

em compostagem e, assim, restringir a injeção do fluxo<br />

de ar pela massa (SWEETEN e AUVERMANN, 2008).<br />

Portanto, essa estabilidade inicial do carbono orgânico<br />

do reator pode ser explicada pela falta de oxigênio no<br />

sistema, já que nos primeiros 15 dias a umidade<br />

manteve-se superior a 65%.<br />

Ao fim do processo, o reator apresentava valor superior<br />

de carbono orgânico do que aquele apresentado pela<br />

leira, sendo de 43,5 %.<br />

Resíduos com grande teor de celulose e lignina podem<br />

influenciar na velocidade de compostagem e nas<br />

características físicas e químicas do produto obtido<br />

(BRITO, 2008). Portanto, a redução lenta e baixa de<br />

carbono tanto no método manual, quanto no método<br />

mecanizado, pode ser devido aos elevados teores de<br />

celulose e lignina do rúmen e da casca de café.<br />

No estudo de compostagem de rúmen de Morales<br />

(2006), é possível observar que a redução de carbono<br />

orgânico do resíduo ao fim do processo (105 dias) foi de<br />

7%, já o presente estudo teve uma redução de<br />

aproximadamente 10% na leira e 6% no reator.<br />

O monitoramento do nitrogênio na leira e no reator<br />

pode ser visto na Figura 6.<br />

A leira apresentou diminuição no teor de nitrogênio aos<br />

15 dias, variando de 1,5 para 1,2%. Após isto, a<br />

quantidade de nitrogênio sofreu pequenos acréscimos<br />

durante o tratamento, exceto entre 60 e 75 dias que<br />

permaneceu estável em 1,6%. Próximo ao fim do<br />

tratamento, entre 90 e 105 dias, notou-se os maiores<br />

valores de nitrogênio na leira, atingindo 2,4%.<br />

Já o reator apresentou certa estabilidade em suas<br />

concentrações de nitrogênio nos primeiros 45 dias. Até<br />

os 75 dias, houve quedas na quantidade de nitrogênio,<br />

chegando a valores abaixo de 1%. Porém, próximo ao<br />

final do processo de compostagem, os teores de<br />

nitrogênio começaram a aumentar chegando ao valor<br />

de 2%, comportamento semelhante ao ocorrido na<br />

leira.<br />

De acordo com Veras e Povinelli (2004), o nitrogênio<br />

pode apresentar maior variabilidade em seu conteúdo<br />

quando comparado a outros nutrientes como fósforo e<br />

potássio. É o elemento que mais facilmente se perde<br />

por volatilização, e aumentos também podem ocorrer<br />

pela conversão por organismos especializados, do N 2<br />

gasoso em compostos utilizáveis. Apesar da<br />

variabilidade nas concentrações de nitrogênio, não<br />

foram percebidas perdas significativas a ponto de se<br />

gerar prejuízos à compostagem.<br />

Ainda segundo Veras e Povinelli (2004), a presença de<br />

água ajuda na retenção da amônia (NH 3 ), pois esse gás<br />

combinando-se com a água, produz o elemento químico<br />

hidróxido de amônio ou amoníaco. E como observado à<br />

umidade manteve-se alta na maior parte do processo.<br />

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O monitoramento da relação C/N da leira e do reator<br />

pode ser visto na Figura 7.<br />

Os microrganismos necessitam de nutrientes para seu<br />

crescimento, prioritariamente de carbono, que serve<br />

como fonte de energia para a oxidação metabólica; e<br />

nitrogênio, essencial na síntese de proteínas, ácidos<br />

nucléicos, aminoácidos e enzimas (SILVA et al., 2003).<br />

A leira teve um pequeno aumento na sua relação C/N<br />

aos 15 dias de tratamento, atingindo seu valor mais alto<br />

de 36,8/1. Após esse dia, a relação começou a reduzir<br />

lentamente, e aos 60 dias uma maior redução pôde ser<br />

notada. A relação C/N da leira aos 105 dias de<br />

tratamento foi de 16,7/1. Na fase de bioestabilização ou<br />

sem cura, a relação C/N do composto deve ser de 18/1<br />

ou mais estreita (SILVA, 2008). Logo, o valor obtido se<br />

encontra nesta fase.<br />

O reator apresentou leves acréscimos e reduções da<br />

relação C/N até os 45 dias de compostagem. Em<br />

seguida, aumentos consecutivos fizeram com que a<br />

relação C/N fosse de 53,7/1 aos 75 dias. Aos 90 dias, o<br />

valor reduziu drasticamente para 22,3/1. Aos 105 dias<br />

de tratamento, a relação permaneceu praticamente<br />

constante de 21,5/1.<br />

Apesar da relação C/N no início da compostagem estar<br />

entre 30 e 40/1, considerada uma faixa ideal para<br />

Pereira Neto e Mesquita (1992), a relação C/N da leira e<br />

do reator variou muito ao longo dos 105 dias do<br />

processo. Ainda assim, os valores da relação C/N<br />

atingidos por ambos os sistemas estão bem próximos<br />

(reator) e dentro da faixa considerada ideal (leira) para<br />

o fim da compostagem.<br />

Após a realização deste estudo, pode-se dizer que<br />

devido à presença de compostos de difícil degradação<br />

no rúmen bovino, como lignina e celulose, assim como<br />

nas cascas de café, a degradação do carbono orgânico<br />

não foi tão eficiente como esperado, mesmo com a<br />

microbiota natural favorável ao processo.<br />

CONCLUSÕES<br />

A Tabela 2 apresenta os valores dos compostos<br />

produzidos na leira e no reator, bem como os<br />

parâmetros estabelecidos no Anexo III da Instrução<br />

Normativa n° 25 de 23/07/2009 do Ministério da<br />

Agricultura, Pecuária e Abastecimento que estabelece<br />

as especificações dos fertilizantes orgânicos mistos e<br />

compostos (BRASIL, 2009).<br />

O pH estabelecido pela Instrução Normativa deve ser no<br />

mínimo 6,0. Tanto na leira como no reator, os valores<br />

obtidos foram em torno de 9, estando assim dentro do<br />

estabelecido.<br />

O valor final de umidade da leira se apresentou acima<br />

dos valores estabelecidos pela Instrução Normativa n°<br />

25 de 23/07/2009, que determina valor máximo de<br />

50%. Porém, como percebido no estudo, o resíduo pode<br />

perder sua umidade facilmente atingindo valores<br />

menores que o padrão. No reator a umidade de 49,0%<br />

estava adequada.<br />

A Instrução Normativa n° 25/2009, estabelece que o<br />

parâmetro carbono orgânico seja no mínimo 15%, com<br />

isso, verifica-se que a leira e reator estão em acordo<br />

com a normativa.<br />

Quanto aos valores de nitrogênio, estes também se<br />

encontram em acordo (mínimo de 0,5%).<br />

Com relação ao parâmetro C/N, a leira atingiu valor<br />

inferior (16,7/1) ao máximo estabelecido (20/1),<br />

entrando em conformidade com a norma. O valor de<br />

C/N obtido no reator está próximo a esse limite,<br />

podendo atingir o limite desejável em pouco tempo.<br />

porém a leira apresentou uma degradação um pouco<br />

maior do que a do reator; o nitrogênio e a relação C/N<br />

mostraram grandes variações, mas com resultados<br />

satisfatórios ao fim do tratamento. Além disso, os<br />

sistemas mecânico e convencional produzir um produto<br />

final passível de ser usado como adubo orgânico.<br />

Em relação à adoção do sistema manual e mecanizado,<br />

verificou-se que não houve diferenças significativas nos<br />

resultados ao longo do monitoramento do processo.<br />

Como pode ser notado em ambos os sistemas o pH se<br />

manteve alcalino durante praticamente toda a<br />

compostagem; a umidade apresentou quedas<br />

significativas ao longo do processo, e assim, houve a<br />

necessidade de ajustes neste parâmetro; o carbono<br />

orgânico foi degradado de maneira suave e lenta,<br />

Conclui-se, também, que os resultados obtidos com<br />

este estudo revelaram que os compostos produzidos<br />

pela leira e pelo reator se encontram dentro ou bem<br />

próximos dos valores estabelecidos pela Instrução<br />

Normativa n° 25 de 23/07/2009. Sendo que apenas os<br />

parâmetros umidade da leira e relação C/N do reator<br />

estão pouco acima do regulamentado pela norma.<br />

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Assim, o processo estudado pode ser considerado uma<br />

das alternativas para tratamento do rúmen bovino,<br />

promovendo um saneamento eficaz e viabilizando o<br />

aproveitamento desse tipo de resíduo gerado em<br />

frigoríficos.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo pelo apoio financeiro.<br />

Tabela 1 – Caracterização da mistura dos resíduos<br />

Mistura de Resíduos:<br />

Parâmetros<br />

85% Rúmen;<br />

15% Casca de Café.<br />

pH 7,0<br />

Umidade (%) 76,1<br />

Matéria Orgânica (%) 88,2<br />

Resíduo Mineral (%) 11,8<br />

Carbono Orgânico (%) 49,0<br />

Nitrogênio (%) 1,5<br />

Relação C/N 32,0<br />

TABELAS<br />

Tabela 2 – Valores finais dos compostos produzidos na leira e<br />

reator e os valores de referência da Instrução Normativa n° 25 de<br />

23/07/2009<br />

Parâmetros Leira Reator<br />

I. N. n<br />

25/2009<br />

pH 9,7 9,6 Mín. 6<br />

Umidade (%) 58,0 49,0 Máx. 50%<br />

Matéria Orgânica (%) 70,3 78,3 ---<br />

Resíduo Mineral (%) 29,7 21,7 ---<br />

Carbono Orgânico (%) 39,1 43,5 Mín. 15%<br />

Nitrogênio (%) 2,4 2,0 Mín. 0,5%<br />

Relação C/N 16,7 21,5 Máx. 20/1<br />

FIGURAS<br />

Figura 1 – Compostagem convencional em leira<br />

7


Umidade (%)<br />

pH<br />

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Figura 2 – Compostagem mecanizada em reator<br />

Figura 3 – Monitoramento do pH na leira e reator<br />

<strong>14</strong><br />

12<br />

10<br />

8<br />

6<br />

4<br />

Leira - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

Reator - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

2<br />

0<br />

100<br />

0 15 30 45 60 75 90 105<br />

Tempo de compostagem (dias)<br />

Figura 4 – Monitoramento da umidade na leira e reator<br />

90<br />

80<br />

70<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0 15 30 45 60 75 90 105<br />

Tempo de compostagem (dias)<br />

Leira - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

Reator - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

8


Nitrogênio (%)<br />

Carbono Orgânico (%)<br />

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100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

Figura 5 – Monitoramento do carbono orgânico na leira e reator<br />

Leira - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

Reator - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0 15 30 45 60 75 90 105<br />

Tempo de compostagem (dias)<br />

5,0<br />

4,5<br />

4,0<br />

3,5<br />

Figura 6 – Monitoramento do nitrogênio na leira e reator<br />

Leira - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

Reator - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

3,0<br />

2,5<br />

2,0<br />

1,5<br />

1,0<br />

0,5<br />

0,0<br />

0 15 30 45 60 75 90 105<br />

Tempo de compostagem (dias)<br />

9


Relação C/N<br />

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100<br />

90<br />

80<br />

70<br />

Figura 7 – Monitoramento da relação C/N na leira e reator<br />

Leira - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

Reator - 85% Rúmen;<br />

15% Casca de café<br />

60<br />

50<br />

40<br />

30<br />

20<br />

10<br />

0<br />

0 15 30 45 60 75 90 105<br />

Tempo de compostagem (dias)<br />

10


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PEREIRA NETO, J. T.; MESQUITA, M. M. F. Compostagem de resíduos sólidos urbanos: aspectos teóricos, operacionais e<br />

epidemiológicos. Ed. LNEC, 1992. 34 p.<br />

BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretaria de Defesa Agropecuária. Instrução Normativa<br />

n° 25, de 23 de julho de 2009. Diário Oficial da República Federativa do Brasil. Poder Executivo, Brasília.<br />

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ESTIMATIVA DA GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS COMO SUBSÍDIO<br />

PARA AÇÕES VOLTADAS À SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL<br />

Generation estimate of municipal solid waste as subsidy actions aimed<br />

to environmental sustainability<br />

David Montero Dias<br />

Engenheiro civil pela UFRJ,<br />

especialista em análise de<br />

sistemas pela UCAM-RJ, mestre e<br />

doutor em saneamento, meio<br />

ambiente e recursos hídricos pela<br />

UFMG, analista de planejamento e<br />

gerente de relações institucionais<br />

do IBGE.<br />

E-mail: david.dias@ibge.gov.br<br />

Carlos Barreira Martinez<br />

Professor associado da UFMG e<br />

Coordenador do Centro de<br />

Pesquisas Hidráulicas e Recursos<br />

Hídricos. Engenheiro civil pela<br />

Faculdade de Engenharia Civil de<br />

Itajubá, mestre em engenharia<br />

mecânica pela Universidade<br />

Federal de Itajubá e doutor em<br />

planejamento de sistemas<br />

energéticos pela UNICAMP.<br />

E-mail: martinez@cce.ufmg.br<br />

Raphael Tobias de Vasconcelos<br />

Barros<br />

Professor adjunto da UFMG,<br />

sendo pesquisador e autor de<br />

livros na área de resíduos sólidos.<br />

Engenheiro civil pela UFMG,<br />

mestre em hidráulica e<br />

saneamento pela Universidade de<br />

São Paulo - USP São Carlos, doutor<br />

pelo Institut National des Sciences<br />

Apliquées de Lyon – INSA,<br />

E-mail: raphael@desa.ufmg.br<br />

RESUMO<br />

A gestão de resíduos sólidos urbanos (RSU) é uma das variáveis que<br />

influenciam a sustentabilidade ambiental dentro dos objetivos do milênio<br />

previstos pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, a<br />

serem alcançados até 2015. Os RSU, se inadequadamente manejados,<br />

oferecem grandes riscos à saúde, além da contaminação ambiental. Visando<br />

contribuir com a mitigação desses malefícios, este artigo propõe um modelo<br />

para estimar a geração futura dos RSU, o qual considera o tamanho, e a<br />

renda das classes socioeconômicas em uma determinada região, segundo<br />

cenários socioeconômicos projetados. Assim, os gestores passam a contar<br />

com uma ferramenta de projeção que subsidiará o dimensionamento da<br />

infraestrutura operacional a ser implantada nas várias etapas da gestão dos<br />

RSU. O estudo oferece ainda um cenário hipotético de inclusão das<br />

populações nas classes de consumo, mostrando o eventual impacto a ser<br />

registrado na geração de RSU em 2015 no município do Rio de Janeiro.<br />

Palavras-chave: Sustentabilidade ambiental, geração de resíduos sólidos<br />

urbanos, cenários socioeconômicos.<br />

ABSTRACT<br />

Municipal solid waste management (MSW) is one of the variables that<br />

influence environmental sustainability within the Millennium Development<br />

Goals provided by the United Nations Development Program, to be achieved<br />

by 2015. The MSW, if improperly managed, offer great risks health, and<br />

environmental contamination. To contribute to the mitigation of these evils,<br />

this article proposes a model to estimate the generation of MSW. The model<br />

considers the size and the income of socioeconomic classes in a given region,<br />

according a projected socioeconomic scenario. Thus, managers now have a<br />

projection tool that will subsidize the sizing of the operational infrastructure<br />

to be implemented at various stages of MSW management. The study also<br />

offers a hypothetical scenario which considers the increase of populations in<br />

the consumer’s categories, demonstrating the possible impact to be recorded<br />

in MSW generation in 2015 in the city of Rio de Janeiro.<br />

Keywords: Environmental sustainability, solid waste management,<br />

socioeconomics scenarios<br />

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Os municípios brasileiros ainda têm longo caminho a<br />

percorrer para que a Política Nacional de Resíduos<br />

Sólidos, estabelecida pela Lei 12.305/10, torne-se uma<br />

realidade sustentada. Como se sabe, essa Lei prevê a<br />

elaboração de planos municipais (e também para<br />

grandes produtores) de resíduos sólidos, os quais<br />

devem observar, dentre outros princípios, a prevenção<br />

e a precaução, o poluidor-pagador e a visão sistêmica<br />

na gestão, tudo isso considerando variáveis ambientais,<br />

sociais, culturais, econômicas, tecnológicas e de saúde<br />

pública, além do desenvolvimento sustentável (BRASIL,<br />

2010).<br />

Um dos objetivos a ser explicitado como conteúdo<br />

mínimo era que não existissem mais lixões a céu aberto<br />

até o ano de 20<strong>14</strong> 1 . Porém, segundo a Pesquisa<br />

Nacional do Saneamento Básico, em 2012 mais da<br />

metade das cidades ainda destinava seus resíduos aos<br />

chamados “lixões” (IBGE, 2012).<br />

Resíduos sólidos são subprodutos inevitáveis das<br />

atividades humanas. No entanto, o desenvolvimento<br />

econômico e social brasileiro tem favorecido a elevação<br />

dos padrões de consumo por parte das populações das<br />

regiões metropolitanas, resultando em um crescimento<br />

na quantidade e complexidade dos resíduos sólidos<br />

urbanos (RSU) gerados, sobretudo em áreas urbanas.<br />

Esse aumento da geração de resíduos pode ocasionar<br />

graves problemas sanitários e ambientais,<br />

principalmente nos países em desenvolvimento, nos<br />

quais ainda se observa pouca capacidade por parte do<br />

poder público – notadamente de prefeituras municipais<br />

- e participação incipiente da população em se lidar<br />

adequadamente com esse tipo de problema (RATHI,<br />

2007).<br />

Aliada a uma crescente urbanização, que ultrapassou<br />

84% da população do país em 2010 (IBGE, 2012), a<br />

geração de RSU nos principais centros urbanos<br />

brasileiros manifesta-se em médias que superam 1,2<br />

kg/hab.dia. Essa quantidade é equivalente à verificada<br />

em alguns países desenvolvidos e revela hábitos de<br />

consumo e descarte que ainda não refletem políticas ou<br />

campanhas voltadas ao consumo racional ou redução<br />

do volume de resíduos gerados (ABRELPE, 2010).<br />

1 O estado de Minas Gerais criou em 2003 o programa “Minas sem<br />

lixões”, objetivando erradicar os lixões de seus 853 municípios até<br />

2010. Ainda que haja avanços significativos (em 2013 mais de 67%<br />

da população estadual já estava servida por aterros sanitários e<br />

controlados) - principalmente ao se considerar os números nacionais<br />

-, por inúmeras razões os prazos ainda têm sido dilatados (FIP, 2013).<br />

INTRODUÇÃO<br />

Assim, o gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos<br />

(GRSU) apresenta-se como um dos desafios a serem<br />

enfrentados pelos responsáveis na gestão do território.<br />

Consequentemente, torna-se necessário desenvolver<br />

metodologias que tenham como objetivo o auxílio à<br />

tomada de decisão nos processos inerentes ao GRSU, os<br />

quais envolvem o processamento e análise de dados<br />

distribuídos espacialmente (ORNELAS, 2011).<br />

A questão da produção de RSU vem ganhando espaço<br />

nas discussões políticas e econômicas, articulando-se<br />

com temas como a saúde, o planejamento urbano e a<br />

ocupação do solo urbano (BARROS, 2012) 2 . No âmbito<br />

da cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a Companhia<br />

Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB), pertencente<br />

à prefeitura do município, já tem adotado<br />

procedimento sistemático para acompanhamento da<br />

produção de seus resíduos sólidos na cidade. Segundo<br />

informações divulgadas pela COMLURB, percebe-se um<br />

aumento da produção de resíduos sólidos pelas<br />

comunidades, aliado a uma expansão na cobertura da<br />

população atendida pelo serviço público de coleta<br />

convencional (COMLURB, 2010).<br />

A visão do GRSU no Brasil ainda está calcada em<br />

preocupações higienistas, que continuam decerto<br />

válidas, mas que são limitadas diante das imposições<br />

que a problemática ambiental traz. Como já<br />

mencionado, a Lei nacional 12.305/10 traz princípios e<br />

diretrizes modernas e sintonizadas com entendimentos<br />

aceitos em países avançados, que esbarram em<br />

dificuldades práticas de tempo, de recursos financeiros<br />

e humanos, além de maus hábitos da população<br />

(BRASIL, 2010).<br />

Imaginar que o simples fato de construir aterros, ainda<br />

que sanitários, vá resolver a questão dos RSU é<br />

privilegiar o lado corretivo da gestão, quando o ideal é<br />

atuar na prevenção. A destinação adequada é apenas<br />

uma parte do processo do equacionamento da questão,<br />

devendo ser cada vez mais reduzida, sendo que a não<br />

geração ou minimização da geração deveria ser<br />

prioridade, seguidas do imperativo da reciclagem.<br />

Assim, muito mais que corresponder e responder às<br />

constatações da realidade, a boa gestão dos resíduos<br />

sólidos é aquela que pondera e equilibra, de modo<br />

2 Dentre os fatores que influenciam a produção de RSU estão o<br />

aumento da renda per capita em paralelo à diminuição relativa de<br />

custos de produção, às modificações comportamentais da população,<br />

aos apelos consumistas e às facilidades do descarte.<br />

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ajustado às condições econômicas, políticas e sociais da<br />

população, em certo período, suas etapas 3 de modo a<br />

obter os resultados mais convenientes (BARROS, 2012).<br />

Concentrar esforços e investimentos na construção de<br />

aterros sanitários, menosprezando as etapas a<br />

montante da disposição, pode até ser uma boa solução<br />

sanitária, por sua vez, do ponto de vista ambiental,<br />

torna-se equivocado e acanhado.<br />

Outra vertente investigativa pode ser desdobrada<br />

quando se pensa na produção de RSU. Trata-se do<br />

potencial de geração de emprego e renda proveniente<br />

das atividades de coleta, seleção e reciclagem,<br />

principalmente em uma realidade como a do Brasil, na<br />

qual ainda se constatam grandes disparidades<br />

socioeconômicas nas populações urbanas. Nesse<br />

sentido, pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica<br />

Aplicada (IPEA), que aborda o retorno sobre serviços<br />

ambientais, aponta benefícios potenciais anuais<br />

estimados na ordem de R$ 8 bilhões, caso<br />

hipoteticamente todos os resíduos sólidos fossem<br />

reciclados. No entanto, tal valor é descartado nos<br />

aterros e lixões, em função da baixa taxa de reciclagem<br />

registrada no País (IPEA, 2011).<br />

Este estudo vai ao encontro do entendimento dos<br />

mecanismos que regem a produção RSU, o qual se<br />

torna primordial para o planejamento e gestão sanitária<br />

e ambiental das regiões metropolitanas a fim de que os<br />

objetivos do milênio 4 possam ser alcançados em sua<br />

plenitude. Por fim, explicita-se que este trabalho<br />

objetiva discutir algumas condições no processo de<br />

geração de resíduos sólidos urbanos, propondo um<br />

modelo para estimativa da produção de RSU como<br />

subsídio aos tomadores de decisão e às ações voltadas<br />

à sustentabilidade ambiental.<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

Adotou-se o caso do município do Rio de Janeiro como<br />

exemplo para análise. Baseados nos dados locais de<br />

população, renda e produção de resíduos sólidos, foram<br />

feitas simulações a partir de um equacionamento que<br />

sugere ser razoável, tento em vista a alta correlação<br />

verificada entre as variáveis dependente e explicativa. A<br />

partir da sistematização dos dados obtidos em fontes<br />

oficiais como o Instituto Brasileiro de Geografia e<br />

Estatística (IBGE), Associação Brasileira de Empresas de<br />

Pesquisa (ABEP), IPEA e a COMLURB, discutiu-se e<br />

avaliou-se o modelo de previsão de demanda baseado<br />

em características socioeconômicas da população.<br />

A estrutura das classes sociais no Brasil ainda é um<br />

conceito em fase de desenvolvimento e consolidação.<br />

Algumas instituições e entidades estabelecem critérios<br />

que buscam caracterizar as classes socioeconômicas,<br />

relacionando-as à renda familiar, nível de educação e<br />

propriedade de bens duráveis. Basicamente, as classes<br />

são comumente identificadas como: Classe Alta –<br />

aqueles de grande riqueza, influência e prestígio; Classe<br />

Média Alta – aqueles de alta qualificação, liberdade e<br />

autonomia; Classe Média – aqueles profissionais de<br />

qualificação intermediária, nem sempre superior, com<br />

rendas moderadas; Classe Trabalhadora – aqueles<br />

operários com salários modestos e Classe Baixa –<br />

pobres, membros sem instrução ou socialmente<br />

marginalizados (BRESSER-PEREIRA, 1981).<br />

A flexibilidade existente nos critérios de classificação<br />

social permite que diversas instituições definam suas<br />

próprias classes sociais. Um dos critérios mais bem<br />

aceitos por estudiosos e pela comunidade econômica<br />

brasileira como um todo é o Critério de Classificação<br />

Econômica Brasil (CCEB) publicado periodicamente<br />

pela, o qual define as classes chamadas de A, B, C, D e E,<br />

fundamentado em uma escala de pontuação que utiliza,<br />

além da renda, características familiares como nível de<br />

instrução do chefe do domicílio e posse de bens<br />

duráveis. No município do Rio de Janeiro, a população<br />

apresenta-se distribuída conforme mostra a Tabela 1<br />

(ABEP, 2012).<br />

3 Ressalta-se aqui a hierarquia da gestão: não produzir, reduzir,<br />

reciclar, tratar e dispor.<br />

4 Os objetivos do milênio constituem em acabar com a fome e a<br />

miséria; educação básica de qualidade para todos; igualdade entre<br />

sexos e valorização da mulher; redução na mortalidade infantil;<br />

melhoria da saúde de gestantes; combate a AIDS, malária e outras<br />

doenças; qualidade de vida e respeito ao meio ambiente; trabalho<br />

pelo desenvolvimento (PNUD, 2013).<br />

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Tabela 1 – Rendas familiares mensais médias e distribuição da população entre<br />

cada faixa de corte do CCEB no Rio de Janeiro – vigência 2012<br />

Classe<br />

socioeconômica<br />

Renda familiar<br />

mensal média (R$)<br />

Distribuição (%)<br />

A1 12.926 0,3<br />

A2 8.418 3,5<br />

B1 4.418 7,7<br />

B2 2.565 17,5<br />

C1 1541 26,8<br />

C2 1024 26,3<br />

D 7<strong>14</strong> 17,0<br />

E 477 0,9<br />

O serviço de coleta convencional de RSU é realizado<br />

pela COMLURB no Rio de Janeiro, que utiliza caminhões<br />

compactadores com capacidades de carga, em peso e<br />

em volume, definido e regulado pela Agência Nacional<br />

de Transportes Terrestres (ANTT). Além dos caminhões,<br />

caçambas estacionárias são empregadas nos casos de<br />

vilas e comunidades de difícil acesso O instrumento de<br />

controle da quantidade de RSU produzidos e coletados<br />

é a balança rodoviária. Ao entrarem nos aterros ou<br />

áreas de deposição, os caminhões são pesados antes da<br />

descarga e após a descarga. Por diferença, apura-se o<br />

quantitativo de resíduos sólidos descarregado em<br />

massa. É considerada ainda a coleta seletiva de papel,<br />

metal, plástico, vidro e de resíduos orgânicos realizadas<br />

em feiras e sacolões, além de outros resíduos<br />

específicos (COMLURB, 2010).<br />

Algumas variáveis usadas na determinação da taxa de<br />

coleta ou limpeza pública, em vários países, são o<br />

tamanho e o padrão do acabamento construtivo de<br />

cada unidade residencial, sua região de localização, o<br />

consumo de água, o número de moradores por<br />

domicílio e a disponibilidade de equipamentos urbanos<br />

que auxiliam os serviços públicos, como lixeiras, etc.<br />

(BARROS, 2012).<br />

No tocante ao custo do serviço de coleta de resíduos<br />

sólidos para o contribuinte brasileiro, cabe ressaltar<br />

que, nos principais municípios brasileiros, cada imóvel<br />

cadastrado na prefeitura paga uma taxa de coleta de<br />

RSU, a qual é atrelada ao imposto de propriedade<br />

territorial urbano (IPTU) e baseada na frequência<br />

semanal de realização deste serviço. Ressalta-se que o<br />

IPTU usualmente incorpora componentes como<br />

tamanho, padrão de acabamento, localização da<br />

edificação para atribuição de seu valor. Considerando<br />

essa modalidade de custeio, uma análise no sentido da<br />

aplicação da tarifa por volume ou por massa de RSU<br />

coletada e sua possível evolução tarifária fica em<br />

segundo plano, uma vez que a taxa de coleta é cobrada<br />

de forma única, independentemente do quantitativo de<br />

RSU produzidos em cada domicílio individualmente.<br />

Os dados da COMLURB foram obtidos em relatórios<br />

anuais de atividades que especificam quantitativos<br />

mensais coletados em todas as regionais<br />

administrativas do município e posteriormente foram<br />

confrontados com a renda média das populações<br />

apurada segundo a Pesquisa Mensal de Emprego (PME)<br />

divulgada mensalmente pelo IBGE (IBGE, 2010). Desta<br />

forma, a partir de regressões estatísticas, realizadas<br />

sobre uma dispersão de pares de dados renda per<br />

capita (R$/hab.mês) versus massa de resíduo sólido per<br />

capita coletada (kg/hab.dia), obteve-se o modelo<br />

matemático, conforme mostrado pela Figura 1, que<br />

relaciona os quantitativos coletados de RSU com a<br />

população e seus respectivos níveis de renda auferidos<br />

por habitante (DIAS, 2012).<br />

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Figura 1 – Modelo de geração de RSU obtido por regressão a partir da dispersão de renda per capita<br />

versus geração per capita de resíduos sólidos<br />

1,30<br />

1,20<br />

1,10<br />

1,00<br />

0,90<br />

0,80<br />

0,70<br />

0,60<br />

0,50<br />

0,40<br />

0,30<br />

kg/hab.dia<br />

y = -5E-08x2 + 0,0006x + 0,2848<br />

R² = 0,8525<br />

R$/hab.mês<br />

100 400 700 1.000 1.300 1.600 1.900 2.200<br />

Portanto, para que se estime um quantitativo de geração de resíduos sólidos em um ambiente urbano, deve-se<br />

alimentar o modelo com os dados da população estabelecidos segundo um cenário socioeconômico futuro, de acordo<br />

com as variáveis descritas na equação (1).<br />

n<br />

i<br />

C = Σ P * ( - 0,00000005 x 2 + 0,0006 x + 0,2848 ) (1)<br />

na qual,<br />

C = quantitativo total produzido de resíduo sólido domiciliar por dia (kg/dia).<br />

x = renda per capita mensal média de cada extrato socioeconômico arbitrado (R$/mês).<br />

P = população existente em cada extrato socioeconômico arbitrado na região considerada.<br />

i = quantidade de faixas socioeconômicas arbitradas, variando de 1 a n.<br />

Inicialmente, destaca-se o coeficiente de correlação<br />

(R2) da equação (1) que se mostra satisfatoriamente<br />

elevado, denotando boa aderência entre a dispersão<br />

dos pares de variáveis e a curva ajustada por regressão<br />

matemática. Para um horizonte temporal de curto<br />

prazo, devem-se considerar aspectos da dinâmica<br />

demográfica em decurso na capital carioca nos<br />

próximos anos desta década. Dados do Censo de 2010<br />

dão conta de significativa redução nas taxas de<br />

fecundidade (IBGE, 2012): desta feita, a partir da<br />

observação da Figura 2, pode-se projetar o tamanho da<br />

população carioca. Esse exercício mostra que para o<br />

ano de 2015 a população do Município do Rio de<br />

Janeiro alcançará um montante em torno 6.495.000<br />

habitantes, estando distribuída entre as classes<br />

socioeconômicas, conforme proporções mostradas na<br />

Figura 3.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

7.000.000<br />

6.000.000<br />

5.000.000<br />

4.000.000<br />

3.000.000<br />

Figura 2- Evolução da população do Rio de Janeiro<br />

Evolução populacional - Município do Rio de Janeiro<br />

y = -711,97x 2 + 3E+06x - 3E+09<br />

R 2 = 0,9941<br />

2.000.000<br />

1945 1955 1965 1975 1985 1995 2005 2015<br />

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Figura 3 – Proporção percentual das classes socioeconômicas no Rio de Janeiro, em cada ano.<br />

No tocante à economia, programas e políticas<br />

governamentais vêm sendo aplicados no sentido de se<br />

alcançar uma melhor distribuição de renda e redução<br />

da pobreza das populações, a exemplo, dentre outros,<br />

do Programa Bolsa Família, que transfere diretamente<br />

renda, beneficiando famílias em situação de pobreza e<br />

extrema pobreza em todo o país (MDS, 20<strong>14</strong>).<br />

Acrescenta-se a isso a estabilidade monetária derivada<br />

do Plano Real, lançado a partir de 1994, aportando<br />

ganhos de renda a estratos menos favorecidos da<br />

população que se manifestam, entre outros aspectos,<br />

num incremento da produção de resíduos sólidos<br />

superior ao crescimento vegetativo da população (SLU,<br />

2013).<br />

Portanto, se mantido o atual nível de mobilidade<br />

socioeconômica entre classes sociais no Brasil, torna-se<br />

natural esperar evoluções nos padrões de<br />

comportamento e de consumo das pessoas, copiando<br />

fenômenos semelhantes à realidade de outros países.<br />

Aliado a isso, era meta governamental manter o PIB<br />

brasileiro em ritmo de crescimento de pelo menos 4%,<br />

no período 2011-20<strong>14</strong>, resultando em um aumento real<br />

acumulado de renda da ordem de 21,6%, se<br />

considerada a data base do ano de 2010. No entanto, os<br />

resultados econômicos ao longo de 2013 baixaram essa<br />

expectativa, mas mesmo assim constatou-se ganho de<br />

renda acumulada no período de 2010 a 2013 de 10,15%<br />

(BACEN, 20<strong>14</strong>).<br />

Assim, diante do crescimento da população e do<br />

esperado aumento da renda, dentro dos parâmetros<br />

mencionados anteriormente, pode-se projetar um<br />

cenário socioeconômico conforme apresentado na<br />

Tabela 2. Ressalta-se que o cálculo do número médio de<br />

moradores dos domicílios de cada estrato<br />

socioeconômico foi obtido seguindo a respectiva<br />

estratificação das faixas de renda domiciliar, apuradas<br />

pelos dados do IBGE (2010).<br />

Tabela 2 – Rendas familiares mensais médias e distribuição da população entre cada faixa de corte<br />

do CCEB no Rio de Janeiro, projetadas para o ano de 2015.<br />

Classe<br />

socioeconômica<br />

Renda familiar mensal<br />

média projetada (R$)<br />

Distribuição da população<br />

entre classes socioeconômicas (%)<br />

Média de moradores<br />

por domicílio<br />

A1 17.477,68 0,9 3,09<br />

A2 9.853,24 5,1 2,93<br />

B1 5.545,26 13,7 2,99<br />

B2 2.831,03 19,3 3,15<br />

C1 1.692,29 31,8 3,08<br />

C2 1.135,09 21,0 2,86<br />

D 751,86 8,0 2,69<br />

E 490,29 0,2 2,47<br />

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Cabe ressaltar ainda que, nesse caso, considera-se que<br />

a mobilidade entre as classes sociais ficará dentro das<br />

mesmas taxas de crescimento e tendência observadas<br />

no interstício 2000-2010, conforme mostra a Figura 3.<br />

Nota-se um aumento das classes C1 e C2, em particular<br />

no período considerado, e uma diminuição das classes<br />

D e E. Isso causa impacto evidente no consumo de<br />

determinados produtos, com os bens duráveis, que<br />

atualmente tem vida útil cada vez mais curta, tornandose<br />

rapidamente “rejeito” a ser gerenciado de modo<br />

adequado. Além disso, permite-se inferir que bens de<br />

consumo supérfluos, como produtos ligados à moda e à<br />

beleza, tenham suas presenças incrementadas, gerando<br />

o descarte de embalagens e recipientes.<br />

A partir da aplicação da equação (1), diante da<br />

realidade projetada, pode-se calcular o impacto na<br />

produção dos RSU domiciliares no Rio de Janeiro,<br />

conforme mostra a Tabela 3. Em 2009, segundo a<br />

Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro (RIO, 2012), a<br />

COMLURB contabilizou uma média mensal de<br />

132.445,<strong>33</strong> toneladas de resíduos sólidos domiciliares<br />

urbanos coletados.<br />

Tabela 3 – Apuração do quantitativo futuro de geração de resíduos sólidos domiciliares no município do Rio de Janeiro para o ano de 2015<br />

Classe socioeconômica População projetada Renda média mensal per<br />

capita projetada (R$)<br />

Massa produzida (kg/dia)<br />

A1 58.456 5.656,21 121.522,58<br />

A2 <strong>33</strong>1.248 3.362,88 575.404,<strong>14</strong><br />

B1 889.823 1.854,60 1.090.552,57<br />

B2 1.253.546 898,74 982.349,78<br />

C1 2.065.428 549,45 1.237.960,65<br />

C2 1.363.962 396,88 702.5<strong>14</strong>,60<br />

D 519.604 279,5 2<strong>33</strong>.091,87<br />

E 12.990 198,5 5.221,10<br />

Total 6.495.056 1.806.245 t/ano<br />

A projeção da produção de RSU utilizando a equação (1)<br />

para o ano de 2015 ficou em 1.806.245 toneladas.<br />

Portanto, o impacto a ser absorvido representa 13,6%<br />

de acréscimo no quantitativo de RSU coletado na<br />

Capital em 2009. Esse percentual deve ser previsto no<br />

dimensionamento de toda a infraestrutura operacional<br />

de coleta, manejo e disposição dos resíduos sólidos.<br />

Estaria a cidade preparada para este impacto de<br />

tamanha grandeza?<br />

Apresentam-se três linhas de raciocínio para equacionar<br />

a questão, relativamente óbvias, porém não<br />

excludentes. Primeira, aperfeiçoar as capacidades<br />

existentes das instalações, equipamentos e mão-deobra,<br />

melhorando sua administração. Segunda, investir<br />

em uma ampliação gradual dos sistemas, aumentando<br />

os equipamentos e instalações. Terceira, uma<br />

combinação das anteriores. Em qualquer dessas<br />

hipóteses, a participação ativa da população no sentido<br />

da diminuição da produção sob a forma de consumo<br />

consciente, perpassando pelo adequado<br />

condicionamento ou colaboração individual ao se fazer<br />

triagem na fonte, torna-se imprescindível.<br />

Ainda que esta simulação se concentre no atendimento<br />

consequente do incremento da demanda, ressalta-se<br />

que se torna necessária uma gestão com caráter além<br />

do operacional, colocando-se em pauta discussões<br />

sobre a adoção de estratégias que privilegiem a<br />

redução da produção de resíduos sólidos. A<br />

problemática ambiental vai além, impondo a aplicação<br />

de princípios como o da precaução, da proximidade e<br />

do poluidor-pagador. Do contrário, imaginar que<br />

aterros gigantescos resolvem a questão pode<br />

configurar-se em uma ação insuficiente.<br />

Conforme mencionado na introdução deste texto, este<br />

estudo limitou-se a analisar variáveis socioeconômicas,<br />

que não são as únicas influenciam a produção e gestão<br />

de resíduos sólidos, mas que se constituem como<br />

maiores intervenientes na gestão do RSU. Portanto, em<br />

caso de sofisticação deste estudo, devem-se incorporar<br />

mais variáveis no equacionamento proposto pelo<br />

modelo.<br />

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Assim, caso o montante dos investimentos na<br />

infraestrutura de todas as etapas de gerenciamento do<br />

RSU não seja adequado, o crescimento econômico pode<br />

impactar a sociedade negativamente por deficiências<br />

no serviço de coleta dos resíduos sólidos. Por se tratar<br />

de serviço essencial, o gerenciamento da produção de<br />

resíduos sólidos deve ser incorporado à gestão pública<br />

continuamente, independente da esfera e dos períodos<br />

de mandatos políticos.<br />

As projeções derivadas deste estudo mostram<br />

necessidades de ampliação e de melhor eficiência de<br />

todos os serviços de limpeza, notadamente as coletas<br />

convencional e seletiva, que naturalmente não podem<br />

acontecer sem um aumento da reciclagem e das<br />

capacidades dos aterros sanitários.<br />

CONCLUSÕES<br />

Espera-se que a Política Nacional de Resíduos Sólidos<br />

consiga fazer valer seus conceitos, salientando a<br />

racionalização da produção e a valorização da produção<br />

dos RSU. Se de fato houver uma gestão eficiente,<br />

mesmo que a produção de RSU cresça a fração<br />

destinada a aterramento tenderá a diminuir.<br />

A metodologia desenvolvida neste trabalho pode ser<br />

usada por gestores públicos nos níveis municipal,<br />

estadual e federal para planejar ações de investimento.<br />

Com a ferramenta é possível realizar acompanhamento<br />

sistemático e conjuntural, para garantir o atendimento<br />

estrutural prazo relativamente longo.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem ao Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) pelo apoio dispensado à realização desta<br />

pesquisa.<br />

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CARACTERIZAÇÃO DE INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA RELAÇÃO<br />

SAÚDE E AMBIENTE POR MEIO DAS DOENÇAS RELACIONADAS AO SANEAMENTO<br />

AMBIENTAL INADEQUADO (DRSAI)<br />

Characterization of indicators of sustainable development in health and environmental value<br />

through environmental sanitation related diseases inappropriate (DRSAI)<br />

Gerciene de Jesus Miranda<br />

Lobato<br />

Discente do Programa de Pós-<br />

Graduação em Ciências<br />

Ambientais – Mestrado.<br />

Universidade do Estado do Pará.<br />

Belém/Pará.<br />

E-mail: gercienelobato@hotmail.com<br />

Mário Augusto Gonçalves<br />

Jardim<br />

Doutor em Ciências Biológicas.<br />

Museu Paraense Emílio Goeldi.<br />

Belém/ Pará.<br />

E-mail: jardim@museu-goeldi.br<br />

RESUMO<br />

Esse estudo objetiva avaliar as relações existentes entre saúde e meio<br />

ambiente por meio das DRSAI, com base nos Indicadores de<br />

Desenvolvimento Sustentável (IDS). Trata-se de pesquisa com<br />

fundamentação bibliográfica, onde as discussões foram validadas pelos<br />

indicadores do IBGE nos anos de 2002, 2004, 2008, 2010 e 2012. Excluiu-se<br />

2006, porque não houve publicação referente. Na Região Norte houve<br />

evolução dos percentuais relacionados ao saneamento de 2002 a 2012,<br />

contudo o Pará apresenta percentuais mais baixos de população abastecida<br />

por rede geral de água nas áreas urbanas (59,9%), de atendimento por rede<br />

coletora de esgoto nos domicílios (2,7%) e maior número de internações por<br />

DRSAI, em que as doenças de transmissão feco-oral foram as principais<br />

causas de internações. Portanto, ainda persistem na Região Norte problemas<br />

relacionados à falta ou deficiência do abastecimento de água, ocasionando<br />

ônus aos serviços de saúde, já que tal região detém altas taxas de<br />

internações hospitalares.<br />

Palavras-chave: Doenças; Internações hospitalares; Região Norte.<br />

ABSTRACT<br />

This study aims to evaluate the relationship between health and the<br />

environment through DRSAI based on Sustainable Development Indicators<br />

(IDS). This is research with bibliographic reasoning, where discussions were<br />

validated by IBGE indicators in the years 2002, 2004, 2008, 2010 and 2012.<br />

2006 was excluded because there was no publication concerning. In the<br />

northern region there was an increase in the percentages related to<br />

sanitation from 2002 to 2012, yet the Pará has the lowest percentage of<br />

population served by general water supply in urban areas (59.9 %), care for<br />

the sewage disposal system in households (2.7 %) and a higher number of<br />

hospitalizations for DRSAI, in which diseases of fecal-oral transmission were<br />

the main causes of hospitalizations. Therefore persist in the Northern Region<br />

problems related to lack or deficiency of water supply, causing burden to<br />

health services, as this region has high rates of hospitalizations.<br />

Keywords: Diseases; Hospitalizations; Northern Region.<br />

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Tem-se observado que a finalidade dos projetos de<br />

saneamento tem saído de sua concepção sanitária<br />

clássica, recaindo em uma abordagem ambiental que<br />

visa promover a saúde do homem relacionada à<br />

conservação do meio físico e biótico. Assim, o conceito<br />

de saneamento compreende os sistemas de<br />

abastecimento de água e esgotamento sanitário, a<br />

coleta e disposição de resíduos sólidos, a drenagem<br />

urbana e o controle de vetores (SOARES; BERNARDES &<br />

NETTO, 2002).<br />

A saúde humana é um processo que pode ser medido<br />

pela avaliação do maior ou menor sucesso do homem<br />

em suas diferentes interações com o meio ambiente<br />

(DIBOS, 1989). A maioria dos problemas sanitários que<br />

afetam a população mundial está intrinsecamente<br />

relacionada com o meio ambiente, por exemplo, a água<br />

servida à população pode ser um veículo de<br />

disseminação rápida de agentes infecciosos, causando<br />

surtos, principalmente quando o sistema de<br />

abastecimento distribui água fora dos padrões<br />

bacteriológicos de potabilidade (BARCELLOS &<br />

QUITÉRIO, 2006).<br />

As condições de vida e ambiente peculiares à região<br />

amazônica influenciam cotidianamente o desempenho<br />

das populações residentes, que coexistem com a falta<br />

de saneamento básico e suas consequências, com as<br />

endemias locais incluindo, as hepatites e a malária.<br />

Convivem ainda com as doenças que são decorrentes<br />

das circunstâncias penosas do trabalho na roça, no<br />

garimpo, no rio ou na floresta (CÂMARA & COREY,<br />

1992).<br />

INTRODUÇÃO<br />

Os Indicadores de Desenvolvimento Sustentável aqui<br />

analisado são publicações produzidas pelo Instituto<br />

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE. Esses<br />

indicadores permitem acompanhar a sustentabilidade<br />

do padrão de desenvolvimento brasileiro nas<br />

dimensões ambiental, social, econômica e institucional,<br />

fornecendo um panorama abrangente de informações,<br />

para subsidiar decisões em políticas para o<br />

desenvolvimento sustentável.<br />

Tais indicadores trazem em seu arcabouço teórico o<br />

saneamento na dimensão ambiental, abordando o<br />

acesso ao serviço de coleta de lixo doméstico; a<br />

destinação final do lixo; o acesso a sistema de<br />

abastecimento de água; o acesso a esgotamento<br />

sanitário e o tratamento de esgoto (IDS, 2002). Essa<br />

dimensão pode ser relacionada à dimensão saúde,<br />

especialmente com as DRSAI que foi inserida somente<br />

no IDS a partir do ano de 2004.<br />

As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />

Inadequado (DRSAI) são relevantes para o<br />

desenvolvimento sustentável. Abrangem diversas<br />

patologias, como as diarreias, a febre amarela, a<br />

leptospirose, as micoses e outras, que têm diferentes<br />

modos de transmissão. A presença de tais doenças<br />

como indicadores de desenvolvimento sustentável,<br />

permite visualizar a precariedade nos sistemas de<br />

abastecimento de água, esgotamento sanitário, coleta e<br />

destino final dos resíduos sólidos, drenagem urbana e<br />

higiene inadequada, o que se constituem risco para a<br />

saúde da população, sobretudo para as pessoas mais<br />

pobres vivendo em condições insalubres (IBGE, 2012).<br />

Uma das formas de se avaliar como as questões de<br />

saneamento influenciam na saúde humana, é por meio<br />

de indicadores, que são ferramentas constituídas por<br />

uma ou mais variáveis, que associadas através de<br />

diversas formas, revelam significados mais amplos<br />

sobre os fenômenos a que se referem.<br />

O objetivo deste trabalho foi avaliar as relações<br />

existentes entre a saúde e o meio ambiente por meio<br />

das Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />

Inadequado (DRSAI) com base nos Indicadores de<br />

Desenvolvimento Sustentável.<br />

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Trata-se de pesquisa bibliográfica e documental, na qual<br />

se buscou analisar os Indicadores de Desenvolvimento<br />

Sustentável (IDS) produzido pelo Instituto Brasileiro de<br />

Geografia e Estatística (IBGE) dos anos de 2002, 2004,<br />

2008, 2010 e 2012.<br />

Com exceção da edição do ano de 2006 - que não foi<br />

avaliada porque não houve publicação dos indicadores -<br />

foi realizados levantamento e coleta de informações de<br />

todos os outros indicadores publicados em que diz<br />

respeito à dimensão ambiental – saneamento e<br />

dimensão social - saúde.<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

A edição relativa ao ano de 2002 constituiu um ponto<br />

de partida, lançando para amplo debate um trabalho<br />

pioneiro de elaboração dos Indicadores de<br />

Desenvolvimento Sustentável para o Brasil, e, provocou<br />

o intercâmbio de ideias, buscando alcançar especial<br />

comunicação com o público não especializado. As<br />

edições dos anos de 2004, 2008 e 2010 ampliaram e<br />

aprimoraram o rol de indicadores. E a edição de 2012<br />

atualiza os indicadores já publicados e introduzem<br />

novos, reafirmando assim, os objetivos inicialmente<br />

estabelecidos (IDS, 2012).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Na Região Norte no que diz respeito ao saneamento na dimensão ambiental, nota-se que houve evolução nos anos de<br />

2002 a 2012 (Figura 1). Resíduos sólidos, abastecimento de água e esgotamento sanitário fazem parte da infraestrutura<br />

urbana, sendo necessários ao ordenamento e planejamento das cidades por condicionar um ambiente de pior, ou<br />

melhor, qualidade (LIMA, 2013). Estes indicadores relacionam-se e contribuem para a promoção da saúde.<br />

Figura 1 - Saneamento na Região Norte para área urbana segundo os IDS (2002, 2004, 2008, 2010, 2012).<br />

Nos anos de 2010 e 2012, não houve referência a dados<br />

para destino final do lixo coletado na Região Norte. Em<br />

2012 há dados apenas para as Unidades da Federação,<br />

onde o Pará apresenta um dos menores percentuais<br />

(2,7%) de atendimento por rede coletora de esgoto nos<br />

domicílios. E em 2010, a Região Norte não é<br />

mencionada quanto ao esgoto coletado tratado.<br />

A coleta dos esgotos domésticos por si só, não é capaz<br />

de eliminar os efeitos ambientais nocivos decorrentes<br />

do lançamento de esgotos em corpos d’água. Resíduos<br />

não coletados ou dispostos em locais inadequados,<br />

favorecem a proliferação de vetores de doenças, e,<br />

podem contaminar o solo e os corpos d’água. Além<br />

disso, a decomposição da matéria orgânica presente no<br />

lixo, por sua vez, origina gases associados ao efeito<br />

estufa. Segundo Santos et al. (20<strong>14</strong>), o lançamento<br />

indiscriminado dos resíduos no meio ambiente<br />

mantém-se como prática comum, podendo levar a um<br />

desequilíbrio do ecossistema.<br />

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O tratamento do esgoto coletado é condição essencial<br />

para a preservação da qualidade dos corpos d’água<br />

receptores, para a proteção da população e das<br />

atividades que envolvem outros usos dessas águas,<br />

como, por exemplo, abastecimento humano,<br />

dessedentação de animais, irrigação, aquicultura e<br />

recreação.<br />

De modo geral na Região Norte, o Pará é um dos<br />

estados que apresenta percentuais mais baixos de<br />

população abastecida por rede geral de água nas áreas<br />

urbanas (59,9%). Em relação ao tratamento de esgoto<br />

em 2005, o percentual no Brasil foi de 61,6% e a Região<br />

Norte apresentou percentual inferior (50,7%). De 2002<br />

a 2005, se observa que a proporção de esgoto tratado<br />

em relação ao total coletado nessa região apresenta<br />

menores percentuais em comparação as outras<br />

unidades da Federação. Por outro lado de 2006 a 2008,<br />

a Região Norte possui percentuais mais elevados de<br />

esgoto tratado do que a Região Sudeste.<br />

A disponibilidade de água facilita ou contribui para o<br />

desenvolvimento urbano, que leva em conta os<br />

recursos hídricos para a edificação das cidades<br />

(MUCELIN & BELINI, 2008). Toda água fornecida à<br />

população por rede de abastecimento geral tem de ser<br />

tratada e apresentar boa qualidade, porém em áreas<br />

urbanas nem sempre é satisfatória, pois o risco de<br />

contaminação de nascentes, poços, rios e lençóis<br />

freáticos é muito grande.<br />

Em relação ao lixo, as observações verificadas a partir<br />

dos dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico -<br />

PNSB mostram que há um crescimento substancial da<br />

quantidade de lixo que recebe destinação final<br />

adequada, tendo alcançado em 2008, 66,4% do lixo<br />

coletado. Este resultado é ainda mais significativo<br />

quando se verifica que a quantidade total de lixo<br />

coletado cresceu mais de 50% neste período (PNSB,<br />

2010).<br />

O percentual de lixo coletado e adequadamente<br />

disposto é maior nas Regiões Sul e Sudeste do País, com<br />

respectivamente, 81,8% e 82,9%, e menor nas Regiões<br />

Norte (36,1%), Nordeste (44,3%) e Centro-Oeste<br />

(29,5%).<br />

As cidades, independente do tamanho e número de<br />

habitantes, produzem uma quantidade muito grande de<br />

lixo, que é consequência do padrão de vida urbano<br />

(LIMA, 2013). Por isso, o tratamento e a destinação<br />

adequados do lixo coletado, são condições essenciais<br />

para a preservação da qualidade ambiental e da saúde<br />

da população, facilitando o controle e a redução de<br />

vetores, e, por conseguinte, das doenças causadas por<br />

eles.<br />

A disposição inadequada de resíduos sólidos às margens<br />

de ruas ou cursos d’água, são práticas habituais que<br />

podem provocar, entre outras coisas, contaminação de<br />

corpos d’água, assoreamento, enchentes, poluição<br />

visual, mau cheiro e proliferação de vetores<br />

transmissores de doenças, tais como cães, gatos, ratos,<br />

baratas, moscas, vermes (MUCELIN & BELLINI,2008).<br />

Analisando esses percentuais para Região Norte<br />

depreende-se que já houve avanços, mas, ainda a<br />

dimensão ambiental no que diz respeito ao<br />

saneamento, precisa de melhorias. Os serviços de<br />

saneamento precisam ser implementados de forma que<br />

sejam acessíveis a todos, pois as lacunas existentes<br />

geram consequências para os serviços de saúde a<br />

exemplo das internações por doenças relacionadas ao<br />

saneamento ambiental inadequado.<br />

As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />

Inadequado (DRSAI) só foram incorporadas nos IDS a<br />

partir de 2004 e em 2012 a análise da distribuição<br />

espacial das doenças mostra as desigualdades regionais<br />

e intrarregionais. Em 2010, enquanto na Região Norte,<br />

691 pessoas foram internadas para cada 100 000<br />

habitantes, na Região Sudeste, esse número chegou a<br />

121. Em relação às Unidades da Federação, algumas<br />

atingiram valores superiores a 900 (Pará e Piauí), uma<br />

diferença em relação à média Brasil de<br />

aproximadamente 600 pessoas por 100 000 habitantes,<br />

enquanto São Paulo não alcançou 90 (IDS,2012).<br />

As figuras 2, 3, 4 e 5, revelam os números de internações por Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />

Inadequado.<br />

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Figura 2 - Doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado – 2002. IDS (2004)<br />

Figura 3 - DRSAI, total e por categorias de doenças – 2005. IDS (2008)<br />

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Figura 4 - DRSAI, total e por categorias de doenças – 2008. IDS (2010)<br />

Figura 5 - Internações hospitalares por DRSAI por 100 000 habitantes – 2010. IDS (2012)<br />

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As Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />

Inadequado (DRSAI) fazem parte da dimensão social dos<br />

Indicadores de Desenvolvimento Sustentáve (IDS),<br />

especificamente da área da saúde. E se constitui como<br />

um balizador da dimensão ambiental, pois onde há os<br />

maiores números de internações o acesso aos serviços<br />

de saneamento é menor, e isso se ratifica quando se<br />

analisa a Região Norte, Região Nordeste e Centro –<br />

Oeste por exemplo.<br />

Alguns estados dessas regiões apresentam proporções<br />

menores de moradores residentes em domicílios com<br />

rede geral de água (Rondônia, Pará e Acre), acesso a<br />

esgotamento sanitário adequado (rede geral ou fossa<br />

séptica - Goiás, Tocantins e Alagoas) e coleta de lixo<br />

(Piauí, Maranhão e Ceará) e com valores elevados de<br />

Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental<br />

Inadequado (DRSAI) - mais de 400 internações/100 mil<br />

habitantes, acima da média brasileira.<br />

Na Região Norte, o estado do Pará apresenta o maior<br />

número de internações por Doenças Relacionadas ao<br />

Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), com<br />

destaque para os anos de 2005 e 2008, onde as doenças<br />

de transmissão feco-oral foram as principais causas de<br />

internações (Figura 3 e 4). Estas doenças podem estar<br />

associadas ao abastecimento de água deficiente,<br />

esgotamento sanitário inadequado, contaminação por<br />

resíduos sólidos ou condições precárias de moradia.<br />

A precariedade nos sistemas de abastecimento de água,<br />

esgotamento sanitário, coleta e destino final dos<br />

resíduos sólidos, drenagem urbana, bem como a<br />

higiene inadequada, se constituem em risco para a<br />

saúde da população, sobretudo para as pessoas mais<br />

carentes dos países em desenvolvimento, que ainda<br />

ficam com sua dignidade afetada (IDS,2012). O estudo<br />

de Calijuri et al. (2009), no município de Tucuruí (PA),<br />

indicou problemas sanitário-ambientais inadequados a<br />

promoção da saúde, a exemplo, de esgoto e águas dos<br />

domicílios escoando em valas abertas pelos próprios<br />

moradores, e asseio diário realizado em igarapés que<br />

cortam o município e ou no rio Tocantins devido a<br />

interrupção frequente no abastecimento de água.<br />

Dengue, esquistossomose, hepatites virais são doenças<br />

veiculadas pela água, esgoto e resíduos sólidos<br />

presentes no cotidiano dos indivíduos,e, em especial,<br />

nos municipios em que o saneamento ainda é<br />

parcialmente ineficiente (LOPES et al., 20<strong>14</strong>).<br />

As doenças mediadas pela presença de vetores; pela<br />

deficiência ou falta de saneamento; pela ocupação do<br />

solo sem a infraestrutura adequada; pela exposição a<br />

radiações ionizantes; pela exposição humana a<br />

substâncias químicas utilizadas nos alimentos, na<br />

agricultura, no controle de vetores pela saúde pública;<br />

decorrentes da poluição industrial; dos desastres<br />

naturais e das tecnologias são testemunhas<br />

(indicadores) de uma crise civilizatória em que está<br />

inserida também a crise ambiental (AUGUSTO &<br />

MOISES, 2009). Assim, a conservação e a proteção do<br />

meio ambiente assumem papel decisório nas medidas<br />

relativas à promoção da saúde nas populações<br />

(CALIJURI et al., 2009).<br />

Os serviços de saneamento possuem relação direta com<br />

a saúde e geram impactos para o meio ambiente, além<br />

de fornecer indicativos importantes sobre a qualidade<br />

de vida da população. Os indicadores analisados<br />

sinalizam que a Região Norte apresenta os menores<br />

percentuais, o que consequentemente contribui para<br />

elevação do número de doenças, interferindo assim nas<br />

taxas de internações hospitalares.<br />

CONCLUSÃO<br />

drenagem, construção de aterros sanitários de forma<br />

clandestina e em local inapropriado. Atrelado a isso há<br />

insuficiência de recursos físicos e humanos, hospitais<br />

com contingente populacional superior a demanda<br />

estabelecida, unidades de saúde que priorizam o<br />

atendimento ambulatorial em detrimento das medidas<br />

de prevenção e controle de doenças e recursos<br />

financeiros mal direcionados.<br />

Em termos de atenção à saúde, persistem nesta Região<br />

questões não solucionadas, como o desrespeito por<br />

parte da população com a educação ambiental e a falta<br />

de conhecimento sobre o saneamento básico<br />

culminando, entre outras coisas, no lançamento de<br />

resíduos sólidos nos rios, portos de embarque e<br />

desembarque de pessoas e produtos, ruas e canais de<br />

A saúde é entendida como política de governo e não de<br />

estado, pois a cada nova eleição agenda, e, planos são<br />

modificados baseados em interesses e negociações<br />

partidárias, o que resulta em falta de compromisso com<br />

as políticas públicas implementadas.<br />

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Persiste a falta de atuação dos cidadãos como agentes<br />

ativos a buscar respostas coerentes quanto ao não<br />

cumprimento das ações, a começar pela participação<br />

das reuniões do conselho e conferências de saúde e<br />

meio ambiente.<br />

Projetos de integração entre universidades, escolas e<br />

secretarias municipais que envolvam a população na<br />

produção do conhecimento e na execução de medidas<br />

precisam ser efetivados. Tais projetos podem versar<br />

sobre o reaproveitamento da água da chuva e do lixo,<br />

ou sobre a criação de sistemas produtivos em locais<br />

propícios ao acúmulo de resíduos e entulhos.<br />

Os processos de gestão, educação e sistemas de<br />

informação precisam ser aprimorados e atualizados, e<br />

as ações de vigilância sanitária, epidemiológica e<br />

ambiental necessitam ser fortalecidas, considerando as<br />

especificidades regionais, de modo a possibilitar a<br />

qualidade de vida e a conservação ambiental.<br />

Nesse sentido, os indicadores de desenvolvimento<br />

sustentável devem servir como instrumentos essenciais<br />

para guiar a ação, e, subsidiar o acompanhamento e a<br />

avaliação do progresso alcançado rumo ao<br />

desenvolvimento sustentável, devendo ser vistos como<br />

ferramentas de análise e implementação de políticas<br />

públicas mais coerentes com a realidade local.<br />

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NOVOS INDICADORES PARA A AVALIAÇÃO DE IMPACTOS SÓCIO AMBIENTAIS DA INOVAÇÃO<br />

TECNOLÓGICA EM AGROINDÚSTRIAS DE REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUOS.<br />

APLICAÇÃO NA AGROINDÚSTRIA DE COCO<br />

New indicators for the socio-environmental impact assessment of technological innovation in waste<br />

reuse agro industries. Coconut agro industries applications.<br />

Melba Garcia Velasco<br />

Mestre PRODEMA/UESC.<br />

Universidade Estadual de Santa<br />

Cruz. Ilhéus. Bahia. Programa de<br />

Pós-graduação em<br />

Desenvolvimento Regional e Meio<br />

Ambiente.<br />

Francisco H. Martinez<br />

Luzardo<br />

PhD, Professor Adjunto<br />

DCET/UESC. Universidade Estadual<br />

de Santa Cruz. Ilhéus. Bahia.<br />

Programa de Pós-graduação em<br />

Desenvolvimento Regional e Meio<br />

Ambiente. Autor correspondente.<br />

RESUMO<br />

A predição de impactos das inovações tecnológicas se constitui em elemento<br />

de essencial importância para a tomada de decisões para sua implantação<br />

nos marcos do desenvolvimento sustentável. O presente trabalho objetivou<br />

desenvolver novos indicadores que permitam avaliar os impactos<br />

socioambientais da implantação de novas tecnologias em agroindústrias de<br />

nova geração, cuja matéria-prima fundamental são resíduos agroflorestais. O<br />

trabalho coloca em foco inovações tecnológicas ligadas ao aproveitamento<br />

de resíduos de coco: na produção de adsorventes naturais de metais, tóxica<br />

em água e na produção de materiais de construção, e objetiva fazer a<br />

avaliação (“ex-antes”) dos impactos socioambientais da implantação destas<br />

novas tecnologias. É proposta e utilizada uma ampliação da metodologia<br />

AMBITEC, da EMBRAPA, com a introdução de novos indicadores. Os<br />

resultados obtidos dos coeficientes de impacto e o Índice Geral de Impacto,<br />

no âmbito ambiental e social nos cenários estudados, indicam a viabilidade<br />

da implementação das novas tecnologias estudadas.<br />

Palavras-chave: Impactos ambientais e sociais, Inovação tecnológica, Resíduos<br />

de coco.<br />

E-mail: fmartinezluzardo@gmail.com<br />

Fermin G. Velasco<br />

PhD, Professor Pleno DCET/UESC.<br />

Universidade Estadual de Santa<br />

Cruz. Ilhéus. Bahia. Programa de<br />

Pós-graduação em<br />

Desenvolvimento Regional e Meio<br />

Ambiente.<br />

ABSTRACT<br />

The impact prediction of technological innovations constitutes key element<br />

for making decisions for its implementation as part of the sustainable<br />

development. This study aimed to develop new indicators to measure the<br />

social and environmental impacts of new technologies implemented in new<br />

generation of agro industries, whose main raw material is agroforestry waste.<br />

The work focuses on technological innovations related to coconut waste use:<br />

in the production of natural adsorbents of toxic metals in water and in the<br />

production of building materials, and it aims to make the evaluation ("exante")<br />

of the possible socio-environmental impacts that can be caused from<br />

the implementation of these new technologies. It’s proposed and used an<br />

extension of the AMBITEC methodology, from EMBRAPA. The results<br />

obtained from the impact factors and General Index of Impact, in the<br />

environmental and social context for the studied scenarios; indicate the<br />

feasibility of implementing the cited new technologies.<br />

Keywords: Environmental and social impacts, Technological innovation,<br />

Coconut residues.<br />

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INTRODUÇÃO<br />

Encontrar estratégias de superação da crise ambiental,<br />

sem abandonar a trajetória da modernização, constitui<br />

atualmente um desafio para a sociedade. Vários autores<br />

colocam em destaque a Teoria da Modernização<br />

Ecológica, que justamente preconiza que a inovação<br />

tecnológica constitui a ferramenta fundamental para<br />

solucionar os problemas da crise ambiental atual (MOL<br />

A. e SPAARGAREN 2002; HUBER J., 2000; JACOBS<br />

KLAUS, 2008).<br />

Por outro lado, na história existem inúmeros exemplos<br />

da introdução de tecnologias de grande relevância para<br />

a sociedade moderna, mas que vêm acompanhados de<br />

significativos impactos socioambientais negativos.<br />

Nesta lista podem ser elencadas: as tecnologias ligadas<br />

à geração de energia a partir de combustíveis fósseis<br />

que são responsáveis pelas emissões de gases de efeito<br />

estufa; a invenção do plástico, ligada ao aumento do<br />

tempo de degradação de resíduos; a questão da<br />

indústria eletrônica no que se refere ao “e-waste” (lixo<br />

eletrônico) e o aumento da poluição de metais tóxicos;<br />

e também a tecnologia nuclear, presente em armas<br />

devastadoras e também na geração de energia, com<br />

seus conhecidos riscos de acidentes e problemas com o<br />

lixo nuclear, ainda sem uma solução técnica definitiva.<br />

Mais recentemente, a indústria biotecnológica tem<br />

trabalhado para definir seus limites a fim de não afetar<br />

os ecossistemas naturais, e assim surge a<br />

nanotecnologia emergente, com grande potencial em<br />

soluções, mas sem conhecimento preciso das<br />

consequências sociais e ambientais da presença das<br />

novas nanopartículas no ambiente (PLAGLIARO, 2011;<br />

HUNT et al., 2006).<br />

Estes elementos acima apontam para a importância de<br />

realizar estudos de impactos prévios à introdução de<br />

projetos de inovações tecnológicas. Por isto a criação,<br />

aperfeiçoamento e aplicação de ferramentas para<br />

avaliar estes impactos, constituem-se em um elemento<br />

básico para a tomada de decisão referente à<br />

implementação das inovações tecnológicas com base na<br />

análise de seus possíveis danos e/ou benefícios<br />

ambientais e sociais.<br />

Alguns dos mais importantes métodos de avaliação de<br />

impactos de inovações tecnológicas no setor agrícola<br />

(AMBITEC) foram desenvolvidos no Brasil por grupos de<br />

pesquisadores da EMBRAPA (Empresa Brasileira de<br />

Pesquisa Agropecuária - RODRIGUES, 1998). A base<br />

conceitual e metodológica do Sistema AMBITEC,<br />

encontra-se reportada numa ampla literatura e<br />

publicada nos trabalhos de Rodrigues e colaboradores<br />

(RODRIGUES, 1998; RODRIGUES et al., 2000, 2002,<br />

2003a e 2003b; IRIAS et al., 2004). Um elemento<br />

fundamental que confirma o sistema citado é a sua<br />

identificação com a avaliação dos impactos em todos os<br />

estágios dos processos sob avaliação, desde o<br />

planejamento e seleção do projeto até sua<br />

implementação (RODRIGUES et al., 2003b). É<br />

importante destacar que, diferentemente dos métodos<br />

de Avaliação de Impactos Ambientais EIA/RIMA, este<br />

tipo de ferramenta, como o Sistema AMBITEC, foca sua<br />

atenção nos efeitos que uma inovação tecnológica pode<br />

provocar em diversos níveis de abrangência (não<br />

necessariamente apenas em um objeto econômico a ser<br />

implantado). Esta metodologia constitui uma valiosa<br />

ferramenta que subsidia estudos de projetos ou<br />

programas de pesquisas relativas à implantação de<br />

novas tecnologias.<br />

O Sistema AMBITEC/EMBRAPA original tem seu sistema<br />

de indicadores direcionado para unidades produtivas<br />

agropecuárias, produção animal e para a agroindústria,<br />

geralmente no setor alimentar. Este tipo de unidade<br />

produtiva contemplada no Sistema AMBITEC, da<br />

EMBRAPA, tem como entrada (insumos): matéria-prima<br />

padrão, produtos químicos (agrotóxicos), água e fontes<br />

de energia. A agroindústria, objeto do presente estudo,<br />

apresenta um fluxo diferenciado de insumos devido à<br />

matéria-prima utilizada ser constituída por resíduos<br />

agrícolas. Assim, como será exposto em detalhes no<br />

item 2.2 a seguir, é possível verificar que o sistema<br />

AMBITEC/EMBRAPA original não inclui indicadores<br />

capazes de avaliar adequadamente o tipo de<br />

agroindústria “verde” cuja matéria-prima fundamental<br />

são resíduos agroflorestais. Justamente esta questão é<br />

um dos focos principais do presente trabalho.<br />

Por outro lado, um dos problemas ambientais mais<br />

marcantes da sociedade moderna está ligado à<br />

produção e gerenciamento de resíduos em decorrência<br />

dos padrões atuais de consumo. Com uma população<br />

de cerca de 192 milhões de habitantes (estimativa do<br />

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística [IBGE<br />

2010]), o Brasil produz, em média, 90 milhões de<br />

toneladas de lixo por ano, de acordo com os dados do<br />

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Ministério do Meio Ambiente. No que se refere à<br />

disposição final, segundo dados de IBGE, 63,6% dos<br />

municípios brasileiros depositam seus resíduos sólidos<br />

em lixões. É evidente que o panorama da atual<br />

realidade do país, quanto à disposição final dos resíduos<br />

sólidos, exige a transformação das práticas ambientais<br />

tradicionais. Nesse particular, as pesquisas científicas e<br />

tecnológicas são fundamentais para o desenvolvimento<br />

e aprimoramento de tecnologias limpas.<br />

Um exemplo da viabilidade do aproveitamento de<br />

resíduos sólidos por meio de tecnologias inovadoras é a<br />

reciclagem do grande volume de resíduos orgânicos<br />

gerados nos processos agrícolas. O Brasil é o quarto<br />

maior produtor mundial de coco, com uma produção<br />

aproximada de 2,8 milhões de toneladas, em uma área<br />

colhida de 287 mil hectares de coqueiros. Por sua vez,<br />

constata-se que a liderança da produção é do Estado da<br />

Bahia (MARTINS et al., 2011). Em cidades como Ilhéus e<br />

Itabuna, a produção de coco alcançou, no ano de 2011,<br />

uma cifra de 8 milhões e 20.000 frutos (SEI, 2011), o<br />

que equivale a uma grande geração de resíduos de<br />

casca de coco, cujo destino final é o lixão.<br />

No caso específico dos resíduos de coco, inúmeros<br />

trabalhos têm sido publicados em periódicos nacionais<br />

e internacionais, onde se têm demonstrado resultados<br />

de suas potencialidades. Visando a resolução do<br />

problema da contaminação dos recursos hídricos,<br />

diversos autores concluíram que a casca de coco verde<br />

pode ser uma alternativa viável de bioadsorção de baixo<br />

custo, para tratamento de efluentes industriais<br />

contaminados por metais pesados (SOUZA et al., 2007;<br />

ALMEIDA, 2009). Por outro lado, a utilização dos<br />

resíduos vegetais na elaboração de materiais de<br />

construção é outra opção que reduz o volume de<br />

resíduos descartados e aumenta suas potencialidades<br />

de aproveitamento. Pesquisas feitas demonstram que<br />

tratamentos com as fibras de coco são recomendáveis<br />

para a construção de painéis não estruturais de<br />

cimento/fibra de coco (MENDEZ, J. F., 2011; FILHO,<br />

2004). A utilização de resíduos de coco para os fins<br />

citados acima pode ser enquadrada dentro daquelas<br />

soluções desejáveis, com tecnologias que podem<br />

contribuir ao mesmo tempo para resolver distintos<br />

desafios enfrentados na sociedade atual: diminuir o<br />

volume de resíduos gerados; reduzir a níveis toleráveis<br />

a contaminação dos recursos hídricos; e satisfazer a<br />

demanda habitacional da sociedade.<br />

OBJETIVOS<br />

O primeiro objetivo deste trabalho é aprimorar as ferramentas atuais de avaliação dos impactos da inovação tecnológica<br />

no setor agroindustrial, incluindo novos indicadores que permitam avaliar de forma integral e coerente estes impactos<br />

para o caso de agroindústrias “verdes”, cuja matéria-prima principal é constituída por resíduos de outra atividade<br />

econômica. O segundo objetivo mais específico é aplicar as ferramentas desenvolvidas para estimar os impactos<br />

ambientais e sociais da introdução das tecnologias para a produção de adsorventes naturais e materiais de construção a<br />

partir do aproveitamento de resíduos da industrialização de coco.<br />

O sistema de avaliação de impactos ambientais e<br />

sociais, será utilizado no presente trabalho para<br />

mensurar os impactos “ex-antes” da possível aplicação<br />

das duas tecnologias alternativas de reaproveitamento<br />

de resíduos de coco, tem como base o sistema de<br />

avaliação da inovação tecnológica AMBITEC -<br />

Agroindústria da EMBRAPA (IRIAS, L. J. M., RODRIGUEZ,<br />

G. S. et al., 2004) e AMBITEC - Social (RODRIGUES, G. S.,<br />

CAMPANHOLA, C., KITAMURA, P. C., et al., 2005) com<br />

adequações necessárias propostas e aplicadas no<br />

presente trabalho em uma agroindústria de<br />

beneficiamentos de resíduos de coco. Este sistema de<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

avaliação será descrito resumidamente nos itens 2.1 e<br />

2.2.<br />

Mediante uma análise detalhada, identificou-se cada<br />

elemento que integra o sistema de avaliação de<br />

impacto da inovação tecnológica AMBITEC, da<br />

EMBRAPA, nas dimensões ambientais e sociais, e<br />

realizou-se uma análise crítica dos indicadores e<br />

componentes que deveriam ser modificados, omitidos<br />

ou incorporados ao sistema de avaliação de impacto<br />

citado. Para isto, foram considerados fatores associados<br />

às especificidades das tecnologias, às condições reais da<br />

localidade onde se aplicarão as tecnologias e à<br />

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disponibilidade das informações correspondentes ao<br />

objeto de estudo.<br />

Elementos Básicos da Metodologia<br />

AMBITEC/EMBRAPA<br />

O sistema AMBITEC tem uma estrutura matricial<br />

hierárquica que se subdivide em “aspectos” como, por<br />

exemplo, Eficiência Tecnológica, Conservação<br />

Ambiental e Qualidade do Produto. Cada “aspecto”<br />

agrupa um conjunto de “indicadores”, que por sua vez<br />

estão formados por “componentes”. Cada componente<br />

é avaliado, em campo, de acordo com três itens:<br />

primeiro, o coeficiente de alteração do componente,<br />

que atribui um valor entre -3 e +3 à influência da<br />

inovação tecnológica sobre este componente de certo<br />

indicador; segundo, este valor então é ponderado de<br />

acordo com a escala de ocorrência do impacto (pontual,<br />

local e no entorno) e ao peso relativo que é outorgado<br />

ao componente específico dentro do indicador. O valor<br />

resumo dos impactos de uma determinada tecnologia,<br />

inserido em um cenário específico, é denominado de<br />

Índice Geral de Impacto, que se obtém de uma soma<br />

ponderada dos impactos por cada indicador<br />

(RODRIGUES et al., 2003a e 2003b; IRIAS et al., 2004).<br />

O sistema de avaliação de impacto ambiental AMBITEC,<br />

no caso da agroindústria, é composto por sete<br />

indicadores (uso de insumos químicos e materiais; uso<br />

de energia; uso de recursos naturais; atmosfera;<br />

geração de resíduos sólidos; água e variável de<br />

qualidade do produto) que avalia 32 componentes<br />

(IRIAS et al., 2004).<br />

Por sua vez, para a avaliação do impacto social da<br />

introdução da inovação tecnológica, são abarcados<br />

quatro aspectos gerais de avaliação: emprego; renda;<br />

saúde; e gestão e administração. Estes, por sua vez, se<br />

dividem em quatorzes indicadores, organizados em um<br />

sistema de matrizes escalares, onde é inserido, para<br />

cada indicador, um conjunto de componentes (que<br />

chegam a somar setenta e nove desses) (RODRIGUES et<br />

al., 2005).<br />

O método aplica-se tanto para o caso da avaliação de<br />

impactos "ex-ante", no estágio de formulação do<br />

projeto, quanto para a avaliação dos impactos ex-pós,<br />

observados, em campo, com a adoção da tecnologia.<br />

Um elemento importante no procedimento de<br />

avaliação do Sistema AMBITEC é a indicação da direção<br />

(aumento, diminuição ou sem alterações) dos<br />

coeficientes de alteração dos componentes. Os valores<br />

do coeficiente de alteração tomam os valores de +1 e<br />

+3 quando é previsto um aumento moderado ou<br />

grande, respectivamente, no componente de dado<br />

indicador como efeito da tecnologia. Quando o efeito é<br />

de diminuição, o coeficiente utiliza estes valores com<br />

sinal negativo, e no caso de não alteração utiliza o valor<br />

zero. Isto é aplicado para cada indicador, em razão<br />

específica da aplicação da tecnologia à atividade e nas<br />

condições de manejo particulares a sua situação<br />

(EMBRAPA, 2004).<br />

A ponderação por escala de ocorrência expressa o<br />

espaço geográfico no qual se processa a alteração no<br />

componente do indicador, conforme a situação<br />

específica de aplicação da tecnologia, e pode ser:<br />

<br />

<br />

<br />

Pontual: quando os efeitos da tecnologia no<br />

componente se restringem apenas ao local de<br />

sua ocorrência ou à unidade produtiva na qual<br />

esteja ocorrendo à alteração. Neste caso, é<br />

adotado o valor de ponderação igual a 1;<br />

Local: quando os efeitos se fazem sentir<br />

externamente a essa unidade produtiva, porém<br />

confinados aos limites do estabelecimento em<br />

avaliação. Neste caso, é adotado o valor de<br />

ponderação igual a 3;<br />

No entorno: quando os efeitos se fazem sentir<br />

além dos limites do estabelecimento. Neste caso,<br />

é adotado o valor de ponderação igual a 5.<br />

A aplicação do Sistema AMBITEC inclui, além disso,<br />

outro fator de ponderação que se refere à importância<br />

do componente na conformação do indicador. Os<br />

valores dos fatores de importância variam com o peso e<br />

o número de componentes que formam um<br />

determinado indicador, sendo que a soma dos pesos de<br />

todos os componentes estará normalizada no valor de<br />

(1) ou (-1), podendo assumir valores positivos ou<br />

negativos, definindo a direção (favorável ou<br />

desfavorável) do impacto para o indicador dado.<br />

O cálculo do coeficiente de impacto ambiental/social,<br />

para cada indicador, é obtido pela equação (1), segundo<br />

a metodologia AMBITEC (EMBRAPA).<br />

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Onde:<br />

m<br />

C i imp = ∑ A ij . E ij<br />

j=1<br />

C i imp. : coeficiente de impacto do indicador i;<br />

(1)<br />

A ij : coeficiente de alteração do componente j do<br />

indicador i;<br />

E ij : fator de ponderação para escala de ocorrência<br />

espacial do componente<br />

j do indicador i;<br />

P ij : fator de ponderação (K) para importância do<br />

componente j na composição<br />

do indicador i.<br />

Finalmente, o Índice Geral de Impacto da Inovação<br />

Tecnológica no âmbito ambiental ou social é obtido<br />

pela equação (1), segundo a metodologia AMBITEC<br />

(EMBRAPA).<br />

Onde:<br />

m<br />

I imp imp<br />

tecn = ∑ C i<br />

j=1<br />

. P i (2)<br />

I imp tecn. : índice de impacto ambiental ou social da<br />

tecnologia;<br />

C i imp. : coeficiente de impacto do indicador i;<br />

Pi: fator de ponderação segundo a importância do<br />

indicador i para composição do<br />

índice de impacto da tecnologia;<br />

m: número de indicadores.<br />

Modificações ao Sistema AMBITEC<br />

O Sistema de Avaliação de Impactos da<br />

AMBITEC/EMBRAPA tem seu sistema de indicadores<br />

direcionado para unidades de produção agropecuária,<br />

animal e para a agroindústria, geralmente alimentar.<br />

Este tipo de unidade produtiva, contemplada no<br />

Sistema EMBRAPA, tem como entrada (consumo):<br />

matéria-prima padrão, produtos químicos (agrotóxicos),<br />

água e fontes de energia. A agroindústria, objeto do<br />

presente trabalho, apresenta um fluxo diferenciado de<br />

insumos devido à matéria-prima utilizada ser<br />

constituída por resíduos agrícolas. Esta questão não é<br />

adequadamente retratada nos indicadores do Sistema<br />

EMBRAPA atual, pelo que foi necessário, na presente<br />

pesquisa, propor e realizar um conjunto de<br />

modificações (inclusões de novas variáveis) no Sistema,<br />

detalhados a seguir.<br />

Primeiro: dentro do aspecto geral Conservação<br />

Ambiental, é proposta a introdução de um novo<br />

indicador denominado RRR (Redução, Reutilização e<br />

Reciclagem) que avalia a origem dos insumos do<br />

processo produtivo. Neste, são considerados os<br />

diferentes processos de redução de uso, reutilização e<br />

reciclagem que operam à montante (insumos) da<br />

produção, tanto da água, como da energia e de resíduos<br />

sólidos gerados na agroindústria em geral (Tabela 1).<br />

Segundo: no aspecto Qualidade do Produto, é proposta<br />

a inclusão de novos componentes (Tabela 2). Os<br />

componentes adicionados no quadro abaixo justificamse<br />

pelo fato de que as produções resultantes das<br />

alternativas tecnológicas, em estudo, partem do<br />

reaproveitamento de uma biomassa orgânica natural<br />

biodegradável e que, conjuntamente com esta<br />

característica, esses produtos usados e despejados<br />

podem ser novamente processados para seu<br />

reaproveitamento.<br />

Vale ressaltar a diferença conceitual das questões<br />

avaliadas pelo indicador: Geração de Resíduos Sólidos<br />

(incluídas no Sistema AMBITEC original) e o novo<br />

indicador RRR proposto no presente trabalho. Na<br />

Geração de Resíduos Sólidos, geralmente de natureza<br />

negativa, verificam-se os resíduos da própria produção,<br />

onde é aplicada a nova tecnologia. Por exemplo, no<br />

caso estudado, seriam os resíduos gerados no processo<br />

de produção de adsorventes ou de materiais de<br />

construção. Já o indicador RRR foca sua atenção na<br />

origem dos insumos, valorizando o aproveitamento e<br />

reuso de resíduos de outras atividades econômicas<br />

(neste caso, resíduos de coco) no processo produtivo da<br />

agroindústria estudada nos três cenários apresentados.<br />

Como se representa na Figura 1, o potencial de<br />

reaproveitamento de resíduos é avaliado por cada um<br />

dos três indicadores envolvidos (Geração de Resíduos,<br />

RRR, Qualidade do Produto) em diferentes etapas do<br />

processo. Na variável Geração de Resíduos, focaliza-se a<br />

capacidade de reciclagem dos resíduos gerados no<br />

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processo produtivo (saída); no RRR, refere-se à origem<br />

dos insumos (entrada) do processo produtivo; e na<br />

Qualidade do Produto, trata-se da capacidade de ser<br />

reaproveitado o próprio produto após o uso.<br />

Além das modificações acima, referentes à inclusão de<br />

novos indicadores, o Sistema de avaliação de impactos<br />

tecnológicos (que foi efetivamente utilizado no<br />

presente trabalho) manteve toda a sua estrutura de<br />

cálculo similar à do Sistema EMBRAPA atual, ou seja,<br />

foram utilizadas, para os cálculos dos coeficientes de<br />

impacto do índice geral de impacto, as fórmulas (1) e (2)<br />

como aparecem reportadas na metodologia do Sistema<br />

de Avaliação de Impactos da Inovação Tecnológica<br />

AMBITEC (EMBRAPA). Este sistema, em essência, obtém<br />

um índice integrado de impactos composto por uma<br />

soma ponderada de indicadores onde, por sua vez, cada<br />

um é uma soma ponderada de componentes. No<br />

cálculo de cada indicador são considerados o fator de<br />

ponderação da importância do componente (P ij ), o<br />

coeficiente de alteração do componente (A ij ) e o fator<br />

de escala de ocorrência espacial (E ij ).<br />

Assim, a nova tecnologia é avaliada de forma integral<br />

pela composição do Índice de Impacto Ambiental e<br />

Social respectivamente, considerando o peso que lhe é<br />

conferido ao indicador de acordo com sua importância<br />

relativa na composição do impacto final da tecnologia.<br />

Agroindústria de beneficiamento de coco<br />

A região de interesse do estudo foi o Sul do Estado da<br />

Bahia, justificada pela produção expressiva de coco e<br />

seus resíduos. A partir de dados levantados (SEI, 2011),<br />

verificou-se que o município de Una é um dos mais<br />

representativos quanto à área plantada de coco. O<br />

município de Una, distante de Salvador 503 km, tem<br />

aproximadamente 1200 km 2 de território, e uma<br />

população estimada em 25 mil habitantes (IBGE, 2010).<br />

Sua economia baseia-se principalmente na agricultura<br />

(Coco da Baía, Cacau, Seringa, Dendê, e outros) e<br />

turismo.<br />

Em geral, a produção de resíduos de coco pode ser<br />

muito dispersa, como acontece nos pontos de venda de<br />

água de coco nas cidades, ou, de forma mais<br />

concentrada, como na agroindústria de coco. No<br />

presente trabalho foi escolhido o segundo cenário de<br />

maior concentração de resíduos, o qual não precisa de<br />

estudos de logística de transporte para concentração e<br />

armazenamento dos resíduos. O estudo foi aplicado na<br />

fazenda Santa Tereza, localizada no município Una, no<br />

Sul da Bahia. Esta fazenda possui uma área total de 990<br />

hectares, com 130 ha de área plantada de coco. Nela<br />

encontra-se instalada a Plancomar Companhia Agrícola<br />

Ltda., fábrica na qual são processados os derivados do<br />

coco verde: água e polpa para fins alimentares e a casca<br />

triturada para produção da fibra e substrato agrícola. A<br />

estimativa da produção de resíduos de coco<br />

concentrada é de 5 a 6 ton./diárias. A subutilização de<br />

grande parte dos resíduos produzidos nessa<br />

agroindústria e a necessidade de viabilizar uma solução<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

ambiental foram motivos da decisão de escolher essa<br />

agroindústria para desenvolver o presente estudo.<br />

O sistema de avaliação de impactos, já modificado, foi<br />

aplicado a duas alternativas tecnológicas que estão<br />

sendo objeto de investigação na Universidade Estadual<br />

de Santa Cruz (UESC): a produção de adsorventes<br />

naturais de metais tóxicos em água; e a produção de<br />

materiais de construção, a partir de resíduos da<br />

comercialização da água de coco, na área da<br />

Agroindústria estudada no município de Una.<br />

Os cálculos dos impactos correspondentes dos<br />

Coeficientes de Impacto e do Índice Geral de Impacto,<br />

no âmbito social e ambiental, foram realizados nos<br />

seguintes três cenários: Cenário 1: agroindústria com<br />

unidade produtiva de adsorventes naturais; Cenário 2:<br />

agroindústria com unidade produtiva de materiais de<br />

construção; e Cenário 3: a agroindústria sem aplicações<br />

das alternativas tecnológicas.<br />

Ilustram-se, nas tabelas 3 e 4, sinteticamente, os<br />

resultados finais da avaliação ambiental e social dos<br />

impactos da inovação tecnológica analisados para os<br />

diferentes cenários estudados.<br />

Impactos ambientais<br />

Como é apresentado na tabela 3, o estudo realizado na<br />

agroindústria, sob as condições atuais, sem aplicação de<br />

tecnologias para o aproveitamento dos resíduos<br />

gerados (cenário 3), mostra um resultado desfavorável<br />

no âmbito ambiental. O fato explica-se pela ocorrência<br />

de eventos adversos que estão comprometendo a<br />

qualidade do meio ambiente. A situação atual da<br />

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agroindústria caracteriza-se por um aumento da<br />

produção e exportação do produto principal (água de<br />

coco). Em decorrência desse fato, se desencadeia maior<br />

consumo de energia, maior consumo de aditivos,<br />

causados pelo uso de conservantes na água de coco<br />

engarrafada, além do elevado consumo da água<br />

utilizada na lavagem dos cocos. Assim, é gerada uma<br />

maior quantidade de água residual. Este líquido se<br />

deposita em uma lagoa, perto da área de trabalho, o<br />

que constitui um agravo ao ambiente, gerando poluição<br />

hídrica.<br />

Esses resíduos líquidos contêm elevadas quantidades de<br />

açúcares, fenóis, sais e outras impurezas contidas nas<br />

cascas de coco, o que acarreta o surgimento de<br />

condições favoráveis para a proliferação de focos de<br />

vetores, fato que contribui para a transmissão de<br />

doenças que afetam a saúde humana. Nas estimativas<br />

da avaliação de impacto ambiental da introdução das<br />

tecnologias alternativas, o índice total de impacto geral<br />

direciona-se em sentido positivo, contendo alguns<br />

indicadores com variações de efeitos negativos e a<br />

maioria com efeitos de maiores benefícios nos<br />

parâmetros avaliados. No aspecto integral de Eficiência<br />

Tecnológica, os indicadores que causam efeito negativo<br />

ao impacto ambiental, nas duas tecnologias citadas,<br />

foram: uso de energia, uso de água, qualidade da água<br />

e, para o indicador atmosfera, só apresentou efeito<br />

negativo para a tecnologia da produção de adsorventes<br />

naturais.<br />

Para o indicador Uso de Energia, percebeu-se um índice<br />

de impacto negativo de valor igual a -0,125 no caso da<br />

aplicação das duas alternativas tecnológicas. Isso se<br />

justifica pelo aumento gradativo de operações<br />

mecanizadas, nas futuras instalações, para o<br />

funcionamento nas unidades produtivas previstas com<br />

as novas tecnologias. Aspecto esse que introduz o<br />

consumo de energia, devido à utilização de maquinários<br />

e equipamentos elétricos e que são imprescindíveis<br />

para o andamento das linhas de produções. Pode-se<br />

citar, por exemplo, no caso da produção de adsorventes<br />

naturais, as esteiras móveis responsáveis pelo<br />

transporte das cascas de cocos; o moinho de lâminas<br />

fixas, onde é triturada a biomassa de resíduos; e a<br />

máquina dosadora, na qual se efetuará a dosagem do<br />

pó de coco para a embalagem. Quando se considera o<br />

caso da produção dos materiais construtivos, encontrase<br />

a betoneira, um equipamento utilizado para misturar<br />

os materiais na proporção e textura adequadas,<br />

incluindo a fibra de coco. Ainda influi também, neste<br />

indicador, o consumo de combustível diesel em função<br />

do gerador de calor, no caso das duas alternativas<br />

tecnológicas. O mesmo é necessário para alcançar a<br />

temperatura indicada no processo de lavagem dos<br />

resíduos, requerimento associado ao processo<br />

tecnológico.<br />

No que se refere ao indicador Uso de Água, obteve-se<br />

um índice de impacto negativo de valor igual a -0,06 no<br />

caso da produção dos adsorventes naturais, e valor -<br />

0,125 para a produção dos materiais de construção.<br />

Esse fato deve-se à necessidade do consumo da água na<br />

etapa de lavagem da fibra de coco, no início dos<br />

processos produtivos. Neste segmento, pode-se<br />

perceber que, especificamente para a produção de<br />

materiais construtivos, o efeito negativo aumenta<br />

devido não só à utilização da água para a lavagem da<br />

fibra, mas também porque será preciso consumir certa<br />

quantidade adicional de água ao ser incorporada no<br />

próprio processo de elaboração do produto.<br />

Foi obtido, para o indicador Atmosfera, um índice de<br />

impacto negativo de valor igual a -0,0125 no caso da<br />

alternativa tecnológica para a produção dos<br />

adsorventes naturais, e nula no caso da tecnologia para<br />

a produção dos materiais de construção. Essa alteração<br />

no sentido negativo será motivada pela introdução de<br />

um moinho para a trituração da casca de coco até<br />

transformá-la em pó, para a produção dos adsorventes,<br />

o qual gerará uma mudança no que se refere ao nível<br />

de ruído existente.<br />

O item relativo ao consumo da água, exposto<br />

anteriormente, relaciona-se com a sua qualidade, visto<br />

que quando se realizar a lavagem da fibra, a água usada<br />

ficará poluída, independentemente que ainda agreguese<br />

à mesma o líquido extraído do resíduo de coco, o<br />

qual contém um alto teor de fenóis, açúcares, entre<br />

outras impurezas. Essas atividades, provenientes do<br />

processo tecnológico, atribuem, a este recurso natural,<br />

certo grau de turbidez e um nível moderado de sólidos<br />

dissolvidos. Isso explicita o resultado negativo nos casos<br />

das duas inovações analisadas, resultando em valor<br />

igual a -0,06 para ambas as tecnologias alternativas.<br />

Dentre os impactos positivos, o que ganha destaque é o<br />

indicador Qualidade do Produto. Este indicador aponta<br />

os impactos que a aplicação da nova tecnologia terá na<br />

qualidade ambiental medida pelos atributos que o<br />

produto apresenta favoráveis à conservação ambiental.<br />

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Verificou-se um impacto positivo, nas duas tecnologias,<br />

com valor de 0,05. De fato, o novo adsorvente e os<br />

blocos que serão obtidos com a introdução das<br />

tecnologias alternativas terão maior biodegradabilidade<br />

e, além disso, no caso do adsorvente, este adquire a<br />

capacidade de reaproveitamento em outros setores<br />

produtivos, como o de materiais de construção.<br />

Impactos Sociais<br />

Na Tabela 4 são apresentados os resultados obtidos<br />

para os impactos estudados no âmbito social. Os efeitos<br />

negativos que influem no índice de impacto geral no<br />

âmbito social encontram-se no aspecto geral Saúde,<br />

apontando aos indicadores Saúde Ambiental e Pessoal e<br />

Segurança e Saúde Ocupacional.<br />

No caso do indicador Saúde ambiental e Pessoal,<br />

consideraram-se, nas estimativas, algumas alterações<br />

advindas da adoção das novas tecnologias, na existência<br />

de emissão de poluentes hídricos. Isso é devido à<br />

lavagem dos resíduos de coco para a sua utilização no<br />

processo produtivo, os quais geram contaminantes que<br />

ficam na água. Esse indicador alcançou um índice de<br />

impacto negativo de valor -0,016 para as duas<br />

tecnologias.<br />

Entretanto, no indicador Segurança e Saúde<br />

Ocupacional, foi abordada a exposição dos<br />

trabalhadores quanto à alteração do nível de ruído; no<br />

caso somente da produção de adsorventes naturais,<br />

produziu-se uma alteração negativa com um índice de<br />

impacto com valor de -0,0083. Essa situação explicita-se<br />

devido à utilização de um moinho de lâminas fixas para<br />

o processo de trituração das cascas de coco.<br />

Os indicadores que mais influenciaram positivamente<br />

no Índice Geral de Impacto foram: Geração de Rendas e<br />

Valor da Propriedade. Nesses casos, considerou-se o<br />

valor agregado do resíduo do coco ao ser transformado<br />

em produtos para a purificação da água e materiais de<br />

construção. Condicionado pelos benefícios dessa<br />

produção poderá haver um aumento de renda, o qual<br />

estimulará a sua distribuição, de acordo com o<br />

montante, em salários pagos. Verifica-se uma<br />

contribuição nos índices de impactos de 0,2075, nas<br />

duas tecnologias alternativas, e nos dois indicadores.<br />

Soma-se a esse fato o investimento das novas linhas de<br />

produção, devido à introdução das tecnologias, que<br />

contribuirá de forma positiva, aumentando o valor da<br />

propriedade localizada na área da agroindústria de<br />

aproveitamento dos resíduos de coco.<br />

A introdução das tecnologias em avaliação proporciona<br />

um impacto geral positivo no âmbito ambiental e social.<br />

Este resultado indica que, tanto a tecnologia para a<br />

produção de adsorventes naturais quanto à de<br />

produção de materiais de construção são benéficas ao<br />

meio ambiente e contribuirão para o melhoramento<br />

das condições de vida dos moradores dessa<br />

comunidade. Diante disso, pode-se deduzir que as<br />

referidas tecnologias podem ser amplamente utilizadas<br />

em setores agroindustriais de produção de água de<br />

coco para alavancar o desenvolvimento local de forma<br />

sustentável.<br />

Aproveitando praticamente todos os elementos<br />

presentes da metodologia AMBITEC – EMBRAPA, o<br />

presente trabalho desenvolveu uma proposta para sua<br />

ampliação e a aplicou na avaliação de uma<br />

agroindústria de reaproveitamento de resíduos do coco.<br />

O resultado da estimativa do Índice Geral de Impacto<br />

Ambiental e Social obtido mediante a aplicação do<br />

Sistema de Avaliação de Impacto EMBRAPA-UESC, nos<br />

três cenários escolhidos (implantação da unidade<br />

produtiva de adsorventes naturais; implantação da<br />

unidade produtiva de materiais de construção; e<br />

cenário atual com descarte de resíduos in natura) foi de<br />

especial importância para considerar a possibilidade da<br />

possível implantação das alternativas tecnológicas.<br />

CONCLUSÕES<br />

Como a metodologia da AMBITEC – EMBRAPA não<br />

conta com todos os elementos necessários para a sua<br />

aplicação em agroindústria de beneficiamento de<br />

resíduos, em particular no que se refere ao<br />

aproveitamento dos resíduos de coco, o principal<br />

entrave observado encontra-se no nível da definição do<br />

indicador de reaproveitamento de resíduos, seja por<br />

reutilização ou por reciclagem dos mesmos.<br />

No caso dos impactos ambientais nas duas tecnologias,<br />

o novo indicador RRR (Redução, Reutilização e<br />

Reciclagem) influiu significativamente pelo fato de<br />

potencializar o gerenciamento de resíduos na entrada<br />

de insumos; e o indicador Qualidade do Produto foi<br />

redimensionado para considerar especificamente os<br />

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atributos ambientais de degradabilidade e capacidade<br />

de reaproveitamento.<br />

No caso dos impactos sociais, ganham destaque, no<br />

resultado positivo do Índice Geral de Impacto, as novas<br />

oportunidades de emprego, a geração de renda e a<br />

possibilidade de novas produções que atenderiam<br />

novas perspectivas de mercado com um possível<br />

aumento da comercialização.<br />

O resultado do Índice Geral de Impacto Social e<br />

Ambiental, obtido mediante a aplicação do Sistema de<br />

Avaliação de Impacto EMBRAPA-UESC, nos dois<br />

cenários da aplicação das alternativas tecnológicas, teve<br />

efeito positivo, indicando que a implantação das novas<br />

tecnologias poderá conduzir a um possível<br />

melhoramento das condições ambientais e na<br />

qualidade de vida social na agroindústria estudada.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem à Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), por todo o apoio integral à pesquisa; à empresa<br />

Plancomar Companhia Agrícola Ltda “Coco Comandatuba”, pela sua participação, receptividade ao projeto e pela<br />

disponibilização de dados e amostras de resíduos de coco; e também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e<br />

Tecnológico (CNPq), pelo apoio recebido através da bolsa de estudos de mestrado.<br />

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TABELAS<br />

Tabelas 1 - Componentes do novo indicador “Redução, Reutilização e Reciclagem” (RRR) incorporados ao sistema de avaliação de impacto<br />

ambiental adaptado ao caso estudado.<br />

Aspecto Geral Indicador Componentes incorporados<br />

Conservação Ambiental<br />

RRR<br />

Reciclagem da água<br />

Reciclagem de resíduos sólidos<br />

Reciclagem de resíduos perigosos<br />

Eficiência Energética<br />

Tabela 2 - Componentes incorporados no aspecto Qualidade do Produto<br />

Aspecto Geral Indicador Componente incorporado<br />

Qualidade do Produto<br />

Qualidade do produto<br />

Degradabilidade<br />

Capacidade de reaproveitamento<br />

Tabela 3 - Coeficientes de Impacto Ambiental e Índice Geral de Impacto Ambiental, nos casos estudados,<br />

com a aplicação da metodologia adaptada<br />

Tecnologia para a produção de<br />

Adsorventes Naturais<br />

Tecnologia para a produção de<br />

Materiais de Construção<br />

Sem aplicação das Tecnologias<br />

alternativas<br />

Peso do<br />

Indicador<br />

Coeficiente<br />

de Impacto<br />

Ci x Pi<br />

Peso do<br />

Indicador<br />

Coeficiente<br />

de Impacto<br />

Ci x Pi<br />

Peso do<br />

Indicador<br />

Coeficiente<br />

de Impacto<br />

Ci x Pi<br />

Uso de insumos químicos e materiais 0,125 0 0 0,125 0 0 0,125 0,75 0,09375<br />

Uso de Energia 0,125 -1 -0,125 0,125 -1 -0,125 0,125 -1,45 -0,18125<br />

Uso de água 0,125 -0,5 -0,0625 0,125 -1 -0,125 0,125 -1,5 -0,1875<br />

Atmosfera 0,125 -0,1 -0,0125 0,125 0 0 0,125 -0,1 -0,0125<br />

Geração de resíduos sólidos 0,125 0,75 0,09375 0,125 0,75 0,09375 0,125 -0,5 -0,0625<br />

Qualidade de água 0,125 -0,5 -0,0625 0,125 -0,5 -0,0625 0,125 -0,5 -0,0625<br />

RRR 0,125 0,75 0,09375 0,125 5 0,625 0,125 -0,5 -0,0625<br />

Qualidade do produto 0,125 4 0,5 0,125 4 0,5 0,125 0 0<br />

Valor total 1 0,425 1 0,90625 1 -0,475<br />

Índice Geral de Impacto Ambiental<br />

Adsorventes naturais<br />

0,425<br />

Materiais de construção<br />

0,90<br />

Sem Tecnologias alternativas<br />

0,475<br />

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Tabela 4 - Coeficientes de Impacto Social e Índice Geral de Impacto Social, nos casos estudados, com a aplicação da metodologia adaptada<br />

Indicadores de Impacto Social<br />

Tecnologia para a produção de<br />

Adsorventes Naturais<br />

Peso do<br />

Indicador<br />

Coeficiente de<br />

Impacto<br />

Ci x Pi<br />

Tecnologia para a produção de Materiais<br />

de Construção<br />

Peso do<br />

Indicador<br />

Coeficiente de<br />

Impacto<br />

Ci x Pi<br />

Sem aplicação das alternativas tecnológicas<br />

Peso do<br />

Indicador<br />

Coeficiente de<br />

Impacto<br />

Capacitação 0, 083 0,6 0, 0498 0, 083 0,35 0, 0291 0, 083 0 0<br />

Oportunidade de emprego local<br />

qualificado<br />

0, 083 0,75 0, 06225 0, 083 0,75 0, 0623 0, 083 0 0<br />

Oferta de emprego e condição do<br />

trabalhador<br />

0, 083 0,7 0, 0581 0, 083 0,7 0, 0581 0, 083 0 0<br />

Qualidade de emprego 0, 083 0,45 0, 03735 0, 083 0,45 0, 0374 0, 083 0 0<br />

Geração de Renda 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 0 0<br />

Valor da propriedade 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 2,5 0, 2075 0, 083 0 0<br />

Saúde ambiental e pessoal 0, 083 -0,2 -0, 0166 0, 083 -0,2 -0, 0166 0, 083 - 4 -0, <strong>33</strong>2<br />

Segurança e saúde ocupacional 0, 083 -0,1 -0, 0083 0, 083 0 0 0, 083 -0, 15 -0, 01245<br />

Dedicação e perfil do responsável 0, 083 1,7 0, <strong>14</strong>11 0, 083 1,3 0, 1079 0, 083 1,7 0,<strong>14</strong>11<br />

Condição de comercialização 0, 083 2,25 0, 18675 0, 083 2,25 0, 1868 0, 083 2,25 0, 18675<br />

Reciclagem de resíduos 0, 083 1,2 0, 0996 0, 083 1,2 0, 0996 0, 083 0,4 0, 0<strong>33</strong>2<br />

Relacionamento Institucional 0, 083 1,8 0, <strong>14</strong>94 0, 083 1,25 0, 1038 0, 083 1,8 0, <strong>14</strong>94<br />

Materiais de Construção<br />

Sem aplicação das inovações<br />

Índice Geral de Impacto Social Adsorventes Naturais 1, 17<br />

1, 08<br />

0, 16<br />

tecnológicas.<br />

Ci x Pi<br />

FIGURAS<br />

Figura 1 - Esquema da área de avaliação das variáveis de reaproveitamento<br />

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GESTÃO INTEGRADA EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO PARQUE<br />

ESTADUAL DE PORTO FERREIRA<br />

Integrated management in protected areas: case study of Porto Ferreira State Park<br />

Mayra Cristina Prado de<br />

Moraes<br />

Mestre em Sustentabilidade na<br />

Gestão Ambiental (Programa de Pós-<br />

Graduação em Sustentabilidade na<br />

Gestão Ambiental PPG-SGA - UFSCar<br />

Sorocaba); Bióloga; Doutoranda em<br />

Ciências Ambientais, Departamento<br />

de Ciências Ambientais, Universidade<br />

Federal de São Carlos, Campus São<br />

Carlos (UFSCar – São Carlos).<br />

E-mail: mayracpmoraes@gmail.com<br />

Kaline de Mello<br />

Mestre em Diversidade Biológica e<br />

Conservação; Bióloga; Doutoranda em<br />

Engenharia de Sistemas Agrícolas,<br />

Departamento de Engenharia de<br />

Biossistemas, Escola Superior de<br />

Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-<br />

USP).<br />

e-mail: kaline.mello@gmail.com.<br />

Rogério Hartung Toppa<br />

Doutores em Ecologia e Recursos<br />

Naturais; Biólogo; Professor Adjunto<br />

do Departamento de Ciências<br />

Ambientais e do Programa de Pós-<br />

Graduação em Sustentabilidade na<br />

Gestão Ambiental, PPG-SGA da<br />

Universidade Federal de São Carlos,<br />

Campus Sorocaba<br />

(UFSCar – Sorocaba).<br />

Autor para correspondência.<br />

RESUMO<br />

Este estudo analisou a configuração da paisagem na Zona de Amortecimento (ZA) do<br />

Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF) destacando as implicações para a<br />

conservação. O PEPF possui uma área de 611,55 ha, com entorno<br />

predominantemente agrícola, sendo 63% da paisagem composta por cana-de-açúcar<br />

e citricultura. A cobertura florestal corresponde a 12% da ZA com 60 fragmentos de<br />

pequeno tamanho (83% ≤ 10 ha). O isolamento do parque, a proximidade com o<br />

centro urbano, as monoculturas, a extração de argila e a circulação de veículos<br />

representam ameaças à conservação da biodiversidade. O aumento da conectividade<br />

do entorno por meio da recomposição de APP e reservas legais, bem como práticas<br />

agrícolas sustentáveis, devem ser metas para dirimir os impactos das monoculturas<br />

existentes na ZA. A participação da população no processo de atualização do plano<br />

de manejo, bem como na implantação de seus programas, é fundamental para a<br />

efetividade da gestão integrada.<br />

Palavras-chave: fragmentação florestal; área protegida; plano de manejo; zona de<br />

amortecimento; uso e cobertura da terra; conservação da biodiversidade.<br />

ABSTRACT<br />

This study analyzed the landscape configuration of the State Park of Porto Ferreira’s<br />

(SPPF) Buffer Zone (BZ) and highlighting the implications for its conservation. The<br />

SPPF has 611.55 ha its surrounding is predominantly agricultural, with 63% of the<br />

landscape cover by sugarcane and citrus monoculture. The forest covers 12% of the<br />

BZ, distributed in 60 small fragments (83% ≤ 10 ha). The protected area isolation in<br />

the landscape, the proximity to the urban center, the presence of monocultures, the<br />

clay extraction and intense car movement generate threats to the biodiversity<br />

conservation. The increased BZ connectivity through restoration of Riparian Forest<br />

and the establishment of legal reserves as well as sustainable agricultural practices<br />

should be goals to minimize the monocultures’ impacts. The population participation<br />

in the process of management plan updating and the implementation of its programs<br />

is critical to the effectiveness of the integrated management.<br />

Keywords: forest fragmentation; protected area; management plan; buffer zone;<br />

land cover and use; biodiversity conservation.<br />

e-mail: toppa@ufscar.br<br />

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A efetividade da gestão em Unidades de Conservação<br />

(UC) é um tema de grande interesse no Brasil e no<br />

mundo, visto que as suas estratégias e ações visam à<br />

integração das áreas protegidas com o seu entorno<br />

(BRASIL, 2000). Essa temática se fundamenta em<br />

abordagens aplicadas a gestão integrada de territórios,<br />

incorporando em seu processo de planejamento<br />

diretrizes de diferentes instrumentos voltados ao<br />

ordenamento do uso e ocupação da terra, como Planos<br />

de Manejo, Planos Diretores, Planos de Bacias,<br />

Zoneamento Ecológico-Econômico e o Código Florestal<br />

(SANTOS 2003).<br />

Um importante instrumento de planejamento da<br />

conservação da biodiversidade no Brasil, procurando<br />

atender os acordos internacionais, foi a criação do<br />

Sistema Nacional de Unidades de Conservação da<br />

Natureza (SNUC). O SNUC foi instituído pela Lei n°<br />

9.985/2000 que foi regulamentada posteriormente pelo<br />

Decreto n° 4.340/2002 (BRASIL, 2002). O SNUC foi<br />

criado após um longo processo de discussão, com a<br />

finalidade de proteger a fauna, flora, micro-organismos,<br />

corpos d’água, solo, clima, paisagens, e amostras<br />

significativas dos ecossistemas existentes e de seus<br />

processos ecológicos por meio das UC (SIMÕES et al.,<br />

2008).<br />

A principal ferramenta de gestão e planejamento de<br />

uma UC previsto no SNUC é o Plano de Manejo. Esse<br />

documento técnico é fundamentado nos objetivos<br />

gerais da UC, e estabelece o seu zoneamento, bem<br />

como as normas que devem presidir o uso da área e o<br />

manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação<br />

das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade<br />

(BRASIL, 2000). Dentre as suas orientações, os Planos de<br />

Manejo estabelecem a área do entorno das UC,<br />

denominadas Zonas de Amortecimento (ZA)<br />

(MORSELLO, 2001). Essa área tem por finalidade,<br />

diminuir os efeitos dos impactos negativos exercidos<br />

pelas atividades antrópicas externas às unidades,<br />

funcionando como uma espécie de filtro ou até mesmo<br />

impedindo o efeito de borda ocasionado pela<br />

fragmentação das áreas naturais (ISHIHATA, 1999;<br />

BENSUAN, 2001).<br />

Na concepção mundial, o estabelecimento das ZA pode<br />

ter o objetivo tanto de conservação quanto de<br />

INTRODUÇÃO<br />

desenvolvimento, onde regiões conservadas convivem<br />

com populações humanas (LYNAGH; URICH, 2002). A<br />

política que estabelece as ZA ao redor das áreas<br />

protegidas ao longo dos países é similar, com diferenças<br />

nas características geográficas, legais e de gestão<br />

(STRAEDE; TREUE, 2006). Entretanto, apenas a criação<br />

da ZA não atende necessariamente às necessidades das<br />

UC, pois não há abrangência das particularidades de<br />

cada unidade ou a implantação das ações que garantam<br />

a eficácia da ZA (MARETTI, 2001). O Parque Estadual de<br />

Porto Ferreira (PEPF) é uma unidade na categoria de<br />

proteção integral do interior do estado de São Paulo<br />

que ilustra esse problema.<br />

A ZA do PEPF apresenta uma situação bastante<br />

conflitante entre uso da terra e a conservação da<br />

biodiversidade. O parque faz divisa com a Rodovia SP<br />

215 e apresenta diversas atividades no seu entorno<br />

conflitantes com a proteção da UC, destacando-se a<br />

extração de argila, monoculturas, pastagens, caça e<br />

tráfego intenso de veículos. Além disso, o centro<br />

urbano do município de Porto Ferreira encontra-se<br />

muito próximo ao parque, e observa-se o crescimento<br />

da zona urbana em sua direção. No entorno há vários<br />

cursos d’água importantes, inclusive para o<br />

abastecimento da cidade, dentre eles, o rio Mogi-<br />

Guaçu, que possui uma das poucas matas ciliares<br />

remanescentes dentro do PEPF (SÃO PAULO, s/d). Essas<br />

atividades antrópicas provocam a fragmentação da<br />

paisagem, isolando cada vez mais as manchas florestais<br />

do PEPF.<br />

Segundo Geist; Lambim (2001), a expansão agrícola e a<br />

exploração dos recursos naturais aliados ao aumento da<br />

infraestrutura em áreas urbanas, representam as<br />

principais causas do desmatamento das florestas.<br />

Sendo assim, os conflitos presentes na ZA que ameaçam<br />

a integridade ecológica e a biodiversidade da UC,<br />

necessitam ser analisados de forma a proporcionar um<br />

entendimento dos padrões de uso e ocupação da terra,<br />

bem como da dinâmica socioeconômica que rege esses<br />

padrões, para a proposição de estratégias de<br />

planejamento e gestão integrada da ZA. As estratégias<br />

para a conservação necessitam ser balizadas por dados<br />

que permitam a interação entre perspectivas de fatores<br />

biológico-ecológicos e socioeconômicos (ALEXANDRE et<br />

al., 2010).<br />

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Considerando que a revisão do Plano de Manejo do PEPF se encontra em tempo hábil para ser iniciada, os padrões de<br />

uso e ocupação da terra do seu entorno podem subsidiar políticas ambientais que conciliem as necessidades sociais com<br />

a integridade ecológica da paisagem, garantindo assim, a sustentabilidade da paisagem, que é, sem dúvida, o maior<br />

desafio do planejamento ambiental. Frente a esses aspectos, o presente trabalho teve como principal objetivo analisar o<br />

uso e ocupação da terra da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira, com a finalidade de subsidiar<br />

uma discussão sobre a gestão integrada da ZA para se atingir o cumprimento dos objetivos da área protegida.<br />

Área de Estudo<br />

O PEPF possui 611,55 ha e localiza-se ao Nordeste do<br />

Estado de São Paulo, no município de Porto Ferreira,<br />

Rodovia SP - 215, Km 89, que liga Porto Ferreira a Santa<br />

Cruz das Palmeiras. A UC fica no fuso 23S, entre as<br />

coordenadas geográficas a UTM 7.579.500 à 7.583.500<br />

e 245.000 a 251.000 (Figura 1).<br />

A temperatura máxima é de 37°C, com mínima de 16°C<br />

e temperatura média de 21°C (ROSSI et al. 2005a). A<br />

litologia é composta basicamente por arenitos finos,<br />

arcóseos, argilitos, siltitos, calcários e folhelhos, e os<br />

Em 06 de novembro de 1962 a UC foi criada pelo<br />

Decreto Estadual n° 40.991, e classificada como Reserva<br />

Estadual (SÃO PAULO, 1962). Posteriormente, em 02 de<br />

março 1987, por meio do Decreto Estadual n° 26.891,<br />

foi transformada em Parque Estadual (SÃO PAULO,<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

solos do tipo Latossolos nos topos, Argissolos nas<br />

vertentes e Neossolos Flúvicos e Gleissolos nas planícies<br />

(SÃO PAULO, 2003). O PEPF localiza-se na unidade<br />

morfoestrutural da Bacia Sedimentar do Paraná,<br />

unidade morfoescultural da Depressão Periférica<br />

Paulista, e unidade morfológica da Depressão do Mogi-<br />

Guaçú (AB’SABER, 1969).<br />

Em relação à cobertura florestal, o PEPF tem sua<br />

formação composta por dois hotspots globais: a Mata<br />

Atlântica (378 ha) e o Cerrado (169 ha), com<br />

predomínio de Floresta Estacional Semidecidual (ROSSI<br />

et al., 2005a, b).<br />

1987). O Plano de Manejo do PEPF foi elaborado em<br />

2003 e aprovado pelo CONSEMA em 2007,<br />

completando em 2012 cinco anos de sua elaboração,<br />

período em que se pode iniciar a sua revisão (BRASIL,<br />

2000).<br />

Figura 1. Localização da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF),<br />

município de Porto Ferreira, estado de São Paulo, Brasil.<br />

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Mapeamento do Uso da Terra<br />

Foi utilizada uma imagem do satélite ALOS do ano de<br />

2008, com resolução espacial de 10 metros. Além disso,<br />

foram utilizados dados vetoriais em formato shapefile<br />

(hidrografia, curvas de nível, malha viária, limites da UC<br />

e da ZA) referentes ao Plano de Manejo da UC.<br />

Os planos de informação foram vetorizados em tela, em<br />

escala 1:15.000 com o auxílio do programa ArcGIS.<br />

Segundo Henke-Oliveira (2001), a incorporação do<br />

conhecimento e a certificação do pesquisador na<br />

classificação digital significa incorporar princípios de<br />

fotointerpretação simultaneamente, considerando<br />

assim o uso da vetorização em tela. Para o<br />

mapeamento foram definidas <strong>14</strong> classes de uso da terra<br />

(Tabela 1), tomando como base as tipologias definidas<br />

pelo manual técnico de usos da terra (IBGE, 2013).<br />

Antes de iniciar o processo de mapeamento foi<br />

realizado um trabalho de campo auxiliado por um<br />

receptor GPS (Global Positioning System), a fim de obter<br />

e relatar pontos de controle. Com base nesses pontos<br />

conhecidos da área e características de tonalidade,<br />

textura e forma das fotografias e imagem (ANDERSON,<br />

1982; TOPPA et al., 2006), foi elaborada uma chave de<br />

classificação das principais classes de uso para facilitar a<br />

interpretação da imagem (MARCHETTI; GARCIA, 1989;<br />

TOPPA et al., 2006).<br />

A interpretação das fotos e imagens foi baseada no<br />

método de Lueder (1959) e Spurr (1960), que utiliza<br />

elementos identificáveis na imagem e fotografias aéreas<br />

como cor, tonalidade, textura, forma, dimensão e<br />

associação de evidências para classificar a vegetação.<br />

Após essa etapa todas as informações duvidosas foram<br />

confrontadas com base em dados do Levantamento<br />

Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do<br />

Estado de São Paulo (LUPA), e de documentos de<br />

registro das propriedades. Posteriormente ao<br />

mapeamento foram realizadas visitas técnicas de<br />

campo com auxílio de receptor GPS e câmera<br />

fotográfica, a fim de realizar o reconhecimento e<br />

localização de pontos de interesse das variáveis na<br />

imagem, selecionando os aspectos de maior relevância<br />

para a verdade terrestre.<br />

O mapa referente ao uso da terra foi analisado com a<br />

verdade terrestre para obtenção da concordância entre<br />

ambos. Para isso, foi estimada a exatidão do mapa por<br />

meio de matriz de erros e coeficiente kappa<br />

(CONGALTON; GREEN, 1998). A matriz de erros,<br />

também chamada de matriz de confusão, identifica o<br />

erro global da classificação e, para cada categoria, os<br />

erros de omissão e comissão. Os erros de omissão<br />

podem ser definidos como a omissão no mapa de uma<br />

feição constatada em campo, já os erros de comissão<br />

são descritos como a atribuição no mapa de<br />

determinada feição a uma classe a qual a mesma não<br />

pertence, segundo verificação de campo (CAMPBELL,<br />

2002). Os pontos para aferição em campo foram<br />

obtidos com a sobreposição de um mapa da malha<br />

viária na ZA, com outro de distâncias plotado com linhas<br />

concêntricas a cada 500 m a partir de um ponto central<br />

na área (MELLO, 2012; FUSHITA, 2006). O cruzamento<br />

das estradas com as linhas concêntricas foram os locais<br />

selecionados no campo para a parada do automóvel e<br />

posterior checagem, sendo que em cada parada foram<br />

checados dois pontos, um em cada lado da estrada,<br />

totalizando assim, 224 pontos ao longo da ZA.<br />

Sabe-se que no processo de mapeamento há erros, por<br />

mais confiável que o método de classificação seja<br />

(NUSSER; KLAAS, 2003). Como os mapeamentos<br />

influenciam diretamente no processo decisório, esses<br />

erros não podem ser desconsiderados ou omitidos. Para<br />

o presente estudo o índice Kappa foi de 0,86, o que<br />

indica um resultado considerado muito bom (KORMAN,<br />

2003), já que o valor para esse índice varia de 0 a 1,<br />

sendo que quanto mais se aproxima de 1, mais a<br />

classificação se aproxima da realidade (MOREIRA,<br />

2001). Pode-se assim, considerar a aplicação desse<br />

mapeamento nas análises abordadas pelo estudo.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A configuração do uso da terra do entorno do PEPF é predominantemente agrícola, com as culturas de cana-de-açúcar e<br />

citricultura ocupando 3.805,64 ha, o que corresponde a 63,38% da área total da ZA. As áreas de floresta correspondem<br />

a terceira maior classe de uso e ocupação (Tabela 1), com um total de 760,27 ha (12,66%). A Figura 2 apresenta o<br />

mapeamento do uso e ocupação da terra na Zona de Amortecimento da UC.<br />

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Tabela 1. Uso e ocupação da terra da Zona de Amortecimento do Parque Estadual de Porto Ferreira.<br />

Classe de uso e ocupação Área (ha) Área (%)<br />

Área Alagável 213,13 3,55<br />

Batata 578,69 9,63<br />

Cana-de-açúcar 2776,30 46,24<br />

Citricultura 1029,34 17,<strong>14</strong><br />

Corpo d’água 85,43 1,42<br />

Eucalipto 95,27 1,60<br />

Instalações rurais e industriais 166,76 2,78<br />

Pastagem 153,07 2,55<br />

Floresta 760,27 12,66<br />

Outras Culturas 54,72 0,91<br />

Outras Atividades 91,34 1,52<br />

Figura 2 - Uso e ocupação da terra na Zona de Amortecimento (ZA) do Parque Estadual de Porto Ferreira (PEPF), município de Porto Ferreira,<br />

estado de São Paulo, Brasil. Mapeamento elaborado com base em imagem ALOS do ano de 2008.<br />

Frente aos objetivos de gestão da área protegida, que<br />

se enquadra como uma UC de proteção integral, os<br />

remanescentes de floresta tem papel fundamental na<br />

manutenção da biodiversidade local. Nesse sentido,<br />

vale destacar que na ZA foram mapeados 60<br />

fragmentos de floresta, sendo que 21 são menores que<br />

01 ha, 19 tem área entre 01 a 05 ha, 10 entre 05 a 10<br />

ha, 07 entre 10 e 50 ha e apenas 03 fragmentos são<br />

maiores que 50 ha, sendo que a maior mancha de<br />

floresta na ZA possui 96,97 ha. Esse resultado revelou<br />

que 83,3 % dos fragmentos da ZA do PEPF são menores<br />

do que 10 ha, indicando uma fragilidade para a gestão<br />

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integrada entre a área do parque e a ZA, quando<br />

correlacionada a estratégias de manejo e conservação<br />

da fauna e da flora locais. Ribeiro et al. (2009)<br />

consideraram em estudo na Mata Atlântica, que<br />

fragmentos menores que 50 ha são pequenos, sendo<br />

assim, com base nesse referencial, 95% dos fragmentos<br />

de floresta da ZA apresentam esse enquadramento. Os<br />

fragmentos maiores do que 50 ha se encontram<br />

associados aos corpos d’água, enquanto que os<br />

menores estão dispersos na matriz agrícola, o que de<br />

certa forma, essa configuração espacial pode ser<br />

considerada positiva, pois na estrutura da paisagem<br />

pode-se planejar e efetivar uma estratégia de gestão<br />

para a formação e/ou análise de corredores que<br />

poderão integrar a UC e a sua ZA.<br />

A configuração florestal da ZA em pequenos fragmentos<br />

pode afetar a permanência e deslocamento de algumas<br />

espécies animais que não conseguem se adaptar a<br />

pequenas manchas de habitat. O PEPF possui um total<br />

de nove espécies ameaçadas e quatro provavelmente<br />

ameaçadas de mamíferos não voadores. Dentre as<br />

espécies ameaçadas estão o Chrysocyon brachyurus<br />

(lobo-guará) e a Puma concolor (onça-parda) (SÃO<br />

PAULO, 2003), que necessitam de grandes áreas<br />

florestadas para sobreviverem. Chiarello (2000)<br />

concluiu que apenas fragmentos maiores ou iguais a<br />

20.000 ha são capazes de manter populações viáveis de<br />

mamíferos de médio e grande porte, uma condição que<br />

não ocorre no município de Porto Ferreira. A área mais<br />

próxima que apresenta esse tipo condição abrange a<br />

Estação Ecológica de Jataí, no município de Luiz<br />

Antônio, com uma distância de aproximadamente 30<br />

km em linha reta para o PEPF.<br />

O predomínio de monoculturas de cana-de-açúcar e<br />

citricultura na configuração da paisagem da ZA (63% de<br />

toda a área) representa uma ameaça à conservação da<br />

biodiversidade, em especial a cana-de-açúcar. Os<br />

problemas ambientais se referem à poluição e<br />

contaminação das águas a partir do<br />

lançamento/vazamento do vinhoto nos corpos d’água<br />

no entorno das usinas, aos problemas de exaustão do<br />

solo pela utilização de adubação química em grandes<br />

áreas de monocultura, e principalmente a queima dos<br />

canaviais (MORAES; MELLO; TOPPA, 2013). A queima<br />

libera gás carbônico, ozônio, gases de nitrogênio e de<br />

enxofre, além da fuligem da palha formada pela<br />

queimada (RICCI, 1994; SZMRECSANYI, 1979).<br />

Grande parte da degradação ambiental das florestas<br />

tropicais está associada à expansão das fronteiras<br />

agrícolas, juntamente com a intensificação de métodos<br />

de cultivo (BIRDLIFE INTERNATIONAL, 2008; FAO, 2010;<br />

MULITZA et al., 2010). Em estudo realizado por Ellis;<br />

Ramankutty (2008) foi indicado que <strong>14</strong> dos 21 tipos de<br />

biomas mundiais são afetados pela agricultura, e há<br />

estudos prevendo a expansão desse uso sobre as<br />

florestas no futuro (HOCKLEY et al., 2008; PEREIRA et<br />

al., 2010; WWF, 2010). Esse é o caso do bioma Mata<br />

Atlântica, que cada vez mais perde área para pastagens<br />

e cultivos agrícolas. No estado de São Paulo, nos anos<br />

2010/2011, foi registrada uma média anual de<br />

desmatamento de <strong>14</strong>.090 ha de Mata Atlântica (SOS<br />

MATA ATLÂNTICA; INPE, 2012).<br />

Vale salientar que a gestão da UC possui ainda dois<br />

grandes desafios para integração da ZA com área do<br />

parque, quando considerados aspectos para a<br />

conservação da biodiversidade: i) nos limites da área<br />

protegida encontram-se a rodovia SP 215 ao norte; e ii)<br />

o rio Mogi-Guaçu ao sul, criando uma barreira de<br />

travessia para diversos grupos da fauna. Souza et al.<br />

(2010) registraram 70 atropelamentos no entorno do<br />

PEPF, sendo que 60 % eram mamíferos, 23 % aves, 12 %<br />

répteis, 1 % anfíbios e 4 % não foram determinados.<br />

Dentre as espécies atropelas destacam-se as<br />

ameaçadas, como o veado catingueiro (Mazama<br />

gouazoubira), lobo-guará (Chrysocyon brachyurus),<br />

jaguatirica (Leopardus pardalis) e o gato mourisco<br />

(Puma yagouaroundi) (SOUZA et al., 2010).<br />

As UC em si não asseguram que os objetivos de<br />

conservação sejam atendidos, devido, principalmente,<br />

às pressões externas exercidas sobre elas. Essas áreas<br />

necessitam ser geridas não somente dentro de seus<br />

limites, mas também além deles. As ZA servem para<br />

preencher essa lacuna e assegurar que o entorno das<br />

UC não prejudiquem o bom funcionamento da área<br />

protegida (RIBEIRO et al., 2010).<br />

A organização não governamental The Nature<br />

Conservancy (TNC) assumiu como estratégia um<br />

programa para 27 países, incluindo o Brasil,<br />

denominado “Planejando uma Geografia da Esperança”,<br />

no qual previa um planejamento não só da UC, mas das<br />

áreas externas a ela (TRESSINARI, 2002). No Brasil, a<br />

legislação mais adequada ao planejamento da ZA de<br />

uma UC é o SNUC (artigo 25) (BRASIL, 2000). Iniciativas<br />

anteriores ao SNUC, na década de 60, já buscavam<br />

normatizar o uso e ocupação dessas áreas de entorno<br />

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(RIBEIRO et al., 2010). Em 1967, no artigo 10 da Lei n°<br />

5.197, foi estabelecido que em terrenos adjacentes as<br />

UC fossem proibidas as atividades de destruição e caça<br />

de espécimes de fauna silvestre (VIO, 2001).<br />

Com o Decreto n° 99.274/1990, foi a primeira vez que o<br />

termo “áreas circundantes” apareceu para como uma<br />

proposta de ZA. Era previsto nesse decreto que toda<br />

atividade que pudesse afetar a biota, dentro de um raio<br />

de dez quilômetros, ficaria subordinada às normas<br />

editadas pelo CONAMA (VIO, 2001). Foram tomadas<br />

algumas iniciativas para regulamentar as atividades que<br />

estivessem nas ZA, e que fossem geradoras de<br />

significativo impacto ambiental para as UC. A Resolução<br />

CONAMA n° 13/90 (BRASIL, 1990) apresentou os<br />

primeiros dispositivos legais que regulamentam os<br />

procedimentos para o licenciamento ambiental nessas<br />

condições. As interfaces dessa norma foram supridas<br />

com a aprovação da Resolução CONAMA nº 428/10,<br />

que revoga, dentre outras, a Resolução nº 13/90. A<br />

Resolução nº 428/10 prevê que atividades impactantes<br />

às UC que não possuem Plano de Manejo estabelecido,<br />

em um raio de três mil metros a partir de seus limites,<br />

devem sofrer o processo de licenciamento ambiental, e<br />

não mais em um raio de dez mil metros (VITALLI, 2009)<br />

como previa a CONAMA 13/90 (BRASIL, 2010). Vale<br />

salientar que as fragilidades das ZA, na maioria das<br />

vezes, não são totalmente levadas em consideração, e<br />

os possíveis impactos que atingem diretamente ou<br />

indiretamente as UC não são previstos (MARETTI,<br />

2001).<br />

Há certa controvérsia com relação ao tamanho préestabelecido<br />

para as ZA. Cada área protegida tem uma<br />

necessidade diferente quando se planeja estabelecer<br />

sua ZA. São necessárias pesquisas com metodologias<br />

definidas para cada caso em específico, de maneira que<br />

a escolha do tamanho da ZA minimize os impactos do<br />

entorno sobre a UC (LI et al., 1999). Esse mesmo autor<br />

sugere a largura de uma ZA na China a partir de um<br />

modelo de Processo Hierárquico Analítico (AHP). O<br />

modelo AHP hierarquiza cada fator e sua potencialidade<br />

em influenciar negativamente a UC.<br />

Em outros países como a França, não há critérios para<br />

delimitar as ZA, e nos Estados Unidos os limites<br />

estabelecidos para essas zonas não coincidem com os<br />

limites dos ecossistemas (OLIVA, 2003). A Suíça foi o<br />

primeiro país a adotar a faixa dos dez quilômetros para<br />

o entorno das áreas protegidas para proteger a<br />

biodiversidade de seus parques nacionais (VITALLI,<br />

2009). Outros países passaram a adotar essa largura<br />

para suas ZA, como é o caso Brasil. Como aspectos<br />

regionais (físicos, socioculturais, econômicos e<br />

ambientais) não foram levados em consideração<br />

quando o Brasil internalizou um modelo de outro país,<br />

com contexto totalmente diferente, roteiros<br />

metodológicos estão sendo testados para discutir e<br />

desenvolver os melhores critérios para o<br />

estabelecimento do tamanho dessas zonas (GALANTE et<br />

al., 2002; FERNANDES et al., 2011).<br />

Os critérios para o estabelecimento de uma ZA, bem<br />

como usos e normas que as regulam, devem estar<br />

contidos no Plano de Manejo da UC. Esse plano deve<br />

possuir caráter preventivo e necessita levar em<br />

consideração as peculiaridades de cada UC, e analisa-las<br />

individualmente (VASQUES, 2008). As atividades<br />

humanas realizadas no entorno das UC devem estar<br />

sujeitas a normas e restrições específicas. Embora seja<br />

essencial que existam pesquisas para identificar e<br />

diagnosticar as áreas de entorno das UC, poucos são os<br />

Planos de Manejo que efetivamente definem a ZA e a<br />

consideram no processo de planejamento e gestão de<br />

seus recursos naturais (COSTA et al., 2009). De acordo<br />

com Vio (2001), as ZA devem auxiliar na: a) Formação<br />

de uma área de amortecimento no entorno da UC, que<br />

diminua os efeitos de borda gerados pelas atividades<br />

antrópicas; b) Proteção de mananciais, mantendo o<br />

padrão e a qualidade da água; c) Manutenção da<br />

paisagem do entorno da UC; d) Contenção da<br />

urbanização contínua e não planejada; e) Consolidação<br />

de usos adequados e de atividades complementares à<br />

proposta do plano de manejo da UC.<br />

A implementação de uma ZA que cumpra seu papel de<br />

fiscalizar e estabelecer diretrizes para o entorno de uma<br />

UC, é um instrumento de extrema importância para a<br />

redução das pressões sobre a conservação ambiental.<br />

Porém, para a implementação efetiva dessa<br />

ferramenta, as ações conservacionistas necessitam de<br />

um aparato de informações econômicas, ambientais<br />

(METZGER et al., 2008) e socioculturais, sendo<br />

necessário um diagnóstico preciso do contexto em que<br />

a UC está inserida, principalmente no que se refere aos<br />

usos e ocupação de terras estabelecidas em sua ZA.<br />

As medidas adotadas para o planejamento do uso da<br />

terra, principalmente nas ZA, foram, até recentemente,<br />

tomadas com base em informações fragmentadas de<br />

efeitos desses usos no ambiente, em razão de não<br />

haver registros seguros sobre as práticas adequadas de<br />

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uso da terra, não se podendo avaliar, portanto, as<br />

alterações antrópicas nessas áreas (COSTA et al., 2009).<br />

O monitoramento do uso da terra nas ZA pode<br />

favorecer a compreensão dos padrões de organização<br />

do espaço, pois o solo sempre está em processo de<br />

mudança devido às ações humanas. O uso da terra nas<br />

ZA, na maioria das situações, é realizado sem a<br />

preocupação com o meio ambiente. A queimada,<br />

desmatamento, o uso de agrotóxicos e a caça ilegal são<br />

alguns exemplos desses usos maléficos (RAMOS, 2008).<br />

Esse uso inadequado das ZA coloca em risco as UC, e<br />

nesse contexto devem-se buscar soluções educativas,<br />

legais ou científicas para esses problemas relacionados<br />

com o entorno das áreas protegidas, a fim de viabilizar<br />

alternativas efetivas para identificação e mitigação dos<br />

conflitos existentes nesses espaços limítrofes<br />

(DRUMMOND et al., 2009).<br />

A gestão dos diferentes tipos de áreas protegidas com<br />

suas ZA deve incorporar um planejamento conjunto dos<br />

diversos setores do desenvolvimento socioeconômico<br />

do país, incluindo estrategicamente a conservação da<br />

biodiversidade e de seus recursos naturais, com base<br />

em diretrizes que permitam que todas as UC e suas ZA<br />

se integrem no que diz respeito às tomadas de decisão,<br />

e concomitantemente, que estejam incorporadas aos<br />

principais planos de gestão territorial previstos na<br />

Agenda 21: Plano Nacional de Recursos Hídricos,<br />

Zoneamento Ecológico-Econômico, Planos de Bacias<br />

Hidrográficas e os Planos Diretores (FREITAS, 2009).<br />

O Plano Nacional de Áreas Protegidas tem como um dos<br />

seus princípios a cooperação entre municípios, Estados<br />

e Federação para o estabelecimento e gestão das UC e<br />

de suas ZA, bem como a articulação das ações de gestão<br />

das áreas protegidas com as políticas públicas dessas<br />

três esferas de governo e com os grupos de interesse da<br />

sociedade. Para atrelar o planejamento das ZA aos<br />

demais planos de abrangência local e regional, as áreas<br />

protegidas devem ser apoiadas por um sistema de<br />

práticas de manejo sustentável dos recursos naturais,<br />

integrado com a gestão de bacias hidrográficas. Essa<br />

concepção traz uma nova dimensão ao planejamento<br />

do território, conectando os planos setoriais e<br />

estimulando o diálogo entre políticas locais, construídas<br />

pelos municípios e organizações de apoio, que são os<br />

grandes responsáveis por definir o uso e ocupação da<br />

terra nas mais diversas paisagens (FREITAS, 2009). Essa<br />

visão de planejamento pode ser aliada a Ecologia de<br />

Paisagens e suas aplicações para traçar as ações<br />

prioritárias.<br />

Segundo Bursztyn; Bursztyn (2006), para o sucesso das<br />

UC, é preciso uma gestão correta dessas áreas. Essa<br />

gestão deve ser integrada, ou seja, envolvendo ações<br />

atreladas a políticas públicas, setor produtivo e a<br />

comunidade, visando o uso sustentável e racional dos<br />

recursos ambientais. Uma gestão integrada não é tarefa<br />

simples, pois deve estar articulada com os diferentes<br />

atores e níveis de atuação, com conhecimentos em<br />

áreas diversificadas. Os gestores das UC possuem a<br />

difícil tarefa de lidar com as questões políticas e<br />

institucionais que podem ameaçar ou beneficiar essas<br />

áreas. Para o sucesso dessa tarefa, é preciso conhecer e<br />

compreender as políticas públicas que regem a ação do<br />

Estado nas áreas protegidas, e principalmente em seu<br />

entorno. Devem-se conhecer as dinâmicas e tendências<br />

de ocupação e as políticas de desenvolvimento que<br />

interferem no uso da terra, na proteção e na gestão<br />

dessas UC e suas ZA. Desta maneira a gestão da área<br />

protegida poderá ser articulada com as demais ações e<br />

estratégias desenvolvidas em um dado território (WWF;<br />

IPÊ, 2012).<br />

Apesar da importância do entendimento dessas<br />

políticas norteadoras, há divergências entre a forma de<br />

implementação de tais políticas no território e as bases<br />

conceituais e formais sobre as quais estão formuladas.<br />

A “posição” do Estado não é necessariamente a que<br />

está nos documentos oficiais. Torna-se fundamental<br />

compreender que as políticas públicas vão além da ação<br />

governamental de coordenar os meios à disposição do<br />

Estado e as atividades privadas, para a realização de<br />

objetivos socialmente relevantes e politicamente<br />

determinados (BUCCI, 2002).<br />

Uma das formas de construir estratégias integradas de<br />

desenvolvimento e conservação é a implementação de<br />

planos interministeriais, que agreguem diferentes<br />

setores em uma mesma abordagem ou território.<br />

Exemplos disso foram a tentativa do Plano de Ação para<br />

Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia<br />

(PPCDAM) e o Plano BR-163 Sustentável. A criação<br />

desses instrumentos possibilitou um avanço ao<br />

tratamento do tema no governo federal, evidenciando a<br />

importância da participação social nos problemas<br />

(WWF; IPÊ, 2012).<br />

O estabelecimento de processos participativos na<br />

gestão das UC surge como consequência da<br />

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necessidade de incluir os mais variados aspectos<br />

socioculturais e econômicos no processo decisório para<br />

a conservação ambiental. Entende-se que quando a<br />

sociedade é envolvida, principalmente as populações<br />

localizadas nas ZA, espera-se uma maior garantia de<br />

apoio para a unidade. O desenvolvimento de processos<br />

participativos contribui com a minimização de conflitos<br />

em conjunto com todos os atores sociais envolvidos<br />

nessas zonas, de forma que, por meio do diálogo aberto<br />

e da compreensão dos diferentes pontos de vista, se<br />

consiga o apoio das populações e instituições regionais<br />

para o planejamento e manejo das UC. O processo<br />

participativo do planejamento deve envolver todos os<br />

grupos relevantes para o manejo da unidade, como os<br />

residentes locais, moradores, usuários dos recursos,<br />

organizações não governamentais ambientalistas,<br />

outros tipos de organizações não governamentais e<br />

associações de base, prefeituras, setor privado,<br />

comunidade acadêmica, administrações regionais e<br />

instituições federais (WWF; IPÊ, 2012).<br />

A gestão integrada adequada à implementação de áreas<br />

protegidas, além de envolverem o processo<br />

participativo, deve ser embasada por um diagnóstico da<br />

área em questão. Os diagnósticos de UC têm como<br />

principal objetivo a geração de informação para<br />

identificar objetos e agentes de manejo, e áreas<br />

prioritárias para o desenvolvimento de ações de<br />

conservação. Esse processo deveria ocorrer durante a<br />

fase que antecipa a criação de uma UC, mas a realização<br />

de diagnósticos posteriores está cada vez mais comum.<br />

Esses diagnósticos tardios são voltados à geração de<br />

informação básica para complementar conhecimento<br />

insatisfatório para elaboração ou a revisão de planos de<br />

gestão (BERNARD, 2008).<br />

Após a implementação de uma UC, é necessário um<br />

monitoramento para assegurar uma gestão efetiva<br />

dessas áreas. Esses monitoramentos necessitam trazer<br />

propostas inovadoras, gerando conhecimento<br />

socioambiental, e ainda permitir o entendimento de<br />

processos e causas de vulnerabilidades e ameaças a sua<br />

sustentabilidade, de forma que intervenções sejam<br />

prevenidas antes de tornarem-se fatores de pressão.<br />

Ressalva as raras iniciativas participativas ligadas ao uso<br />

de recursos naturais, como é o caso do Programa de<br />

Monitoramento da Biodiversidade e do Uso de<br />

Recursos Naturais em Unidades de Conservação<br />

Estaduais do Amazonas - ProBUC - (MARINELLI et al.,<br />

2007), os saberes tradicionais, a opinião pública sobre<br />

as demandas locais, ou qualquer outro tipo de<br />

participação de populações residentes, continuam<br />

sendo colocados em segundo plano no monitoramento<br />

das UC.<br />

Os sistemas de gestão estratégica estão ligados à teoria<br />

das organizações, sistemas de informação e à gestão da<br />

tecnologia e inovação (VAN KROGH, 1998). Além de<br />

medidas inovadoras para a geração de conhecimento<br />

aplicado e na apropriação tecnológica para a<br />

implementação de áreas protegidas, o sucesso em sua<br />

gestão dependerá de qualificação e fixação de capital<br />

humano e integração institucional; gestão (inclusão<br />

social, promoção da preservação e manejo sustentável,<br />

efetividade das ações e adequação às realidades<br />

regionais); e governança (articulação federal<br />

juntamente com o Poder Judiciário e o Ministério<br />

Público) (WWF; IPÊ, 2012).<br />

Os resultados obtidos nesse trabalho evidenciaram a<br />

necessidade de proposições para alcançar a<br />

sustentabilidade da paisagem do entorno do Parque<br />

Estadual de Porto Ferreira, e a situação atual dos<br />

remanescentes de floresta provavelmente não<br />

sustentarão espécies de fauna e flora em um futuro não<br />

muito distante. A gestão integrada entre o PEPF e sua<br />

ZA, deve envolver a participação dos diversos atores<br />

sociais, mas em especial, a participação dos produtores<br />

rurais do entorno. Uma proposição justa seria o<br />

Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) aos<br />

agricultores que possuem as suas propriedades no<br />

interior da ZA. O PSA consiste em um incentivo<br />

econômico para quem gerir de forma adequada<br />

determinado recurso natural, ou seja, é a recompensa<br />

àquele que deixa de se apropriar de um recurso natural<br />

para assegurar sua preservação (WUNDER, 2009).<br />

A articulação da UC junto aos órgãos competentes é<br />

essencial, inclusive com o município de Porto Ferreira.<br />

O próprio Plano Diretor Municipal traz que: “o<br />

planejamento ambiental do município” deverá ser<br />

elaborado de forma integrada com todas as áreas da<br />

administração pública local, em especial a Divisão de<br />

Planejamento, devendo considerar também, as<br />

diretrizes estabelecidas pelo “Plano Diretor do Comitê<br />

da Bacia Hidrográfica do rio Mogi-Guaçu” e do “Plano<br />

de Manejo do Parque Estadual de Porto Ferreira”<br />

(PORTO FERREIRA, 2007). Estabelecida essa diretriz, é<br />

essencial que o gestor, grupos de interesse e a<br />

população em geral cobrem isso perante a gestão<br />

municipal. Visto que o planejamento ambiental<br />

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municipal se baseará também no Plano de Manejo do<br />

PEPF, esse documento necessita ser o mais detalhado<br />

possível para atender a todas as necessidades da UC e<br />

de seu entorno. No processo de revisão do Plano de<br />

Manejo, demanda do PEPF, deve-se discutir a<br />

proposição de uma nova delimitação de zonas,<br />

incluindo e/ou excluindo certas áreas.<br />

Segundo a Política Nacional de Recursos Hídricos (Lei<br />

n°94<strong>33</strong>), em seu artigo 3°, fica estabelecido que deve<br />

haver a “articulação do planejamento de recursos<br />

hídricos com o dos setores usuários e com os<br />

planejamentos regional, estadual e nacional” e ainda a<br />

compatibilização da “articulação da gestão de recursos<br />

hídricos com a do uso do solo” (BRASIL, 1997). Essa<br />

diretriz deve ser tomada, levando em consideração a<br />

importância de que o rio Mogi-Guaçu é um recurso<br />

hídrico que percorre e abastece várias cidades, não só<br />

do estado de São Paulo, mas também de Minas Gerais.<br />

Em 2002, houve um grande impacto para a ictiofauna<br />

devido à eutrofização em um trecho do rio próximo ao<br />

Parque, onde foi detectada a morte de cerca de 30<br />

toneladas de peixes (SÃO PAULO, 2003).<br />

No Plano de Manejo do PEPF foi diagnosticado que os<br />

afluentes do rio Mogi-Guaçu sofrem com o<br />

assoreamento devido ao uso intensivo e a falta de<br />

conservação do solo por técnicas aplicadas nas<br />

propriedades, em alguns pontos do percurso natural<br />

das águas. Esse sedimento é carreado dos córregos<br />

presentes na ZA (Água Parada e ribeirão dos Patos) e<br />

chega ao rio Mogi-Guaçu, decaindo sua qualidade (SÃO<br />

PAULO, 2003). Assim, é importante que a política<br />

municipal fundamentada na coletividade e no<br />

desenvolvimento sustentável de Porto Ferreira, como<br />

previsto em seu plano diretor, seja cumprida e<br />

associada à Política Nacional de Recursos Hídricos, para<br />

uma gestão efetiva desses recursos, incorporando uma<br />

maior atenção para as diretrizes estabelecidas no Plano<br />

de Manejo do PEPF.<br />

Outro aspecto fundamental para a gestão integrada de<br />

UC é o estudo dos ciclos econômicos da região, que<br />

ajuda a compreender e a vislumbrar cenários futuros da<br />

paisagem. Essa pode ser considerada como uma<br />

ferramenta chave para a melhor gestão da paisagem e<br />

para melhorar a porcentagem de áreas florestadas na<br />

ZA do PEPF. Além disso, devem-se estabelecer áreas<br />

prioritárias para a conservação, visto que elas permitem<br />

o direcionamento dos esforços e recursos para<br />

conservação, e subsidia a elaboração de políticas<br />

públicas de ordenamento territorial (TABARELLI; SILVA,<br />

2002). As estratégias de conservação para a ZA do PEPF,<br />

depois de implementadas, necessitarão de programas<br />

específicos de gestão integrada ao manejo do Parque e<br />

a aplicação de técnicas de monitoramento baseadas em<br />

indicadores de desempenho ambiental de acordo com<br />

os objetivos e metas da UC. Essa fase é muito<br />

importante para a efetividade da gestão, pois, é por<br />

meio dela que se pode ter o envolvimento da<br />

população local e de grupos de apoio no processo da<br />

manutenção da sustentabilidade no entorno da UC.<br />

Dentre os programas de gestão integrados ao manejo<br />

da UC, deve-se considerar a possibilidade de se<br />

trabalhar com os agricultores para o desenvolvimento<br />

de práticas agrícolas sustentáveis, incorporando<br />

técnicas fundamentadas na Agroecologia, assim como<br />

deve-se implementar um programa de Educação<br />

Ambiental direcionado especificamente para as pessoas<br />

residentes ou de interação direta com a ZA da UC. Além<br />

disso, deve-se considerar a presença da Rodovia<br />

Anhanguera (SP 215), que isola o Parque da maior<br />

porção da ZA, sendo fundamental o desenvolvimento<br />

de pesquisas específicas para avaliar as consequências<br />

desse cenário na conservação da biodiversidade do<br />

PEPF. O manejo da fauna e da flora de ocorrência na UC<br />

deve estar integrado a essas questões, sendo que a<br />

revisão do Plano de Manejo deverá considerar<br />

propostas que ultrapassam os limites do Parque, com a<br />

finalidade de conectar as áreas naturais próximas para<br />

manutenção da variabilidade genética da UC,<br />

considerando as características do meio físico e<br />

socioeconômico da ZA.<br />

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CONSIDERAÇÕES FINAIS<br />

O Parque Estadual de Porto Ferreira apresenta-se na paisagem como uma mancha de habitat imersa em uma matriz<br />

antrópica, com diversas atividades que ameaçam a sua conservação, como a proximidade com o centro urbano,<br />

monoculturas de cana-de-açúcar, eucalipto e citricultura, extração de argila e circulação intensa de veículos. Os<br />

fragmentos florestais em sua ZA apresentam-se esparsos e em pequenos tamanhos, representando apenas 12% da<br />

paisagem. Por outro lado, o PEPF exerce grande importância para a conservação de remanescentes de transição entre<br />

Mata Atlântica e Cerrado, abrigando espécies ameaçadas de ambos os biomas e que possuem funções ecológicas<br />

essenciais para a conservação da biodiversidade.<br />

Programas e ações devem ser incorporados ao Plano de Manejo para que a ZA exerça sua função de dirimir os impactos<br />

negativos sobre o PEPF. O aumento da conectividade da paisagem do entorno por meio da recomposição de APP e<br />

estabelecimento de reservas legais, bem como práticas agrícolas sustentáveis, devem ser metas para minimizar os<br />

impactos das monoculturas existentes atualmente na ZA e aumentar a cobertura florestal do entorno. A presença da<br />

rodovia limítrofe ao PEPF deve ser melhor estudada para analisar os seus impactos sobre a biodiversidade.<br />

O estabelecimento de propostas de manejo na ZA deve ser tão importante quanto os programas de gestão para a UC.<br />

Para tanto, é imprescindível que a população e os representantes governamentais participem da reformulação do Plano<br />

de Manejo com a compreensão das problemáticas que envolvem o uso da terra no entorno da UC sobre a conservação<br />

da biodiversidade, e para o estabelecimento de metas para a gestão integrada da ZA, objetivando a melhoria da<br />

qualidade ambiental da unidade de conservação.<br />

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ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO DE MANGUEZAIS SOB CONDIÇÕES DE VARIAÇÃO SAZONAL<br />

Attributes chemical manguezais soil with variations on seasonal conditions<br />

Marina Lopes de Souza<br />

Universidade Federal do Pará – Belém<br />

– PA. Departamento de Geociências.<br />

E-mail: marina.lopes@hotmail.com<br />

Maria Aurora da Mota<br />

Universidade Federal do Pará – Belém<br />

– PA. Departamento de Geociências.<br />

E-mail: aurora@ufpa.br<br />

Maria de Lourdes Pinheiro<br />

Ruivo<br />

Museu Paraense Emílio Goeldi –<br />

Belém – PA. Coordenação de Ciências<br />

da Terra e Ecologia.<br />

E-mail: ruivo@museu-goeldi.br<br />

Rosecélia Moreira Castro<br />

Museu Paraense Emílio Goeldi –<br />

Belém – PA. Coordenação de Ciências<br />

da Terra e Ecologia.<br />

E-mail: rmsilva@museu-goeldi.br<br />

José Francisco Berredo<br />

Museu Paraense Emílio Goeldi –<br />

Belém – PA. Coordenação de Ciências<br />

da Terra e Ecologia.<br />

E-mail: berredo@museu-goeldi.br<br />

Paulo Jorge Oliveira de Souza<br />

Universidade Federal Rural da<br />

Amazônia – Belém – PA. Instituto de<br />

Ciências Agrárias/ICA.<br />

E-mail: paulo.jorge@ufra.edu.br<br />

Adriano Marlisom Leão de<br />

Souza<br />

Universidade Federal Rural da<br />

Amazônia – Belém – PA. Instituto de<br />

Ciências Agrárias/ICA.<br />

E-mail: adriano.souza@ufra.edu.br<br />

RESUMO<br />

Nesta pesquisa foram estudadas variações dos atributos químicos do solo,<br />

teor de nutrientes e suas relações de dependência com as precipitações em<br />

manguezal amazônico no período chuvoso e menos chuvoso. Os sítios<br />

experimentais foram estabelecidos como área 1 e 2. Os teores de Na e K<br />

foram variáveis que mais representaram período de estiagem. Na Área 1,<br />

correlacionada com maiores concentrações de nutrientes neste período,<br />

atingiram média 520,23 cmo c /dm 3 e 163,48 cmo c /dm 3 , respectivamente. Na<br />

estação chuvosa, essas concentrações foram menores com média 11,27<br />

cmoc/dm3 de Na e 4,07 cmo c /dm 3 de K provavelmente pela diluição desses<br />

nutrientes pelas águas da precipitação pluviométrica durante o período<br />

chuvoso. Houve alta variação de Na e K, durante estiagem, concentração de<br />

nutrientes foram maiores, principalmente no manguezal de intermaré, e na<br />

época chuvosa, a diluição provocada pela água das chuvas, assim como a<br />

lixiviação dos nutrientes do solo provocou uma redução significativa nos<br />

teores desses nutrientes.<br />

Palavras-chave: Precipitação, nutrientes, ecossistema, floresta de manguezal.<br />

ABSTRACT<br />

In this research we studied changes in soil chemical properties, the nutrient<br />

content and their dependency relationships with the rainfall in the Amazon<br />

mangrove in the rainy and dry season of 2011 and 2012. The levels of Na and<br />

K are variables that represent more droughts. Area 1, correlated with higher<br />

concentrations of nutrients in this period, reaching average 520,23<br />

cmoc/dm3 and 163,48 cmoc/dm3, respectively. In the rainy season, these<br />

concentrations were lower with average 11,27 cmoc/dm3 Na and 4,07<br />

cmoc/dm3 K probably due to the dilution of these nutrients by the waters of<br />

rainfall during the rainy season. There was great variation of Na and K, during<br />

the dry season, the concentration of nutrients was higher, especially in<br />

mangrove intertidal, and in the rainy season, the dilution caused by rain, as<br />

well as leaching of soil nutrients caused a reduction significant in the levels of<br />

these nutrients.<br />

Keywords: Precipitation, nutrients, ecosystem, mangrove forest.<br />

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Os manguezais são sistemas abertos, no que se refere<br />

ao fluxo de matéria e energia, recebendo um grande<br />

aporte de água doce, sedimentos e nutrientes do<br />

ambiente terrestre e exportando água e matéria<br />

orgânica para o mar, águas estuarinas e ambientes<br />

costeiros adjacentes (LEMOS, 20111).<br />

Frequentemente, as florestas de mangue exportam<br />

carbono e nutrientes sob a forma de serapilheira e<br />

carbono orgânico particulado para a zona costeira,<br />

sendo a precipitação um fator importante que<br />

influencia na exportação de carbono através da<br />

serapilheira. Por sua vez, esta exportação é maior em<br />

regiões de baixa precipitação anual e temperaturas<br />

médias anuais elevadas do que em locais com elevada<br />

precipitação e baixas temperaturas. Entretanto,<br />

algumas vezes esses materiais são exportados e outras<br />

vezes importados de ecossistemas adjacentes (ADAME<br />

et. al, 2011).<br />

As condições climáticas (pluviosidade, temperatura,<br />

ventos e outras) e morfológicas em manguezais<br />

justificam progressivo e contínuo desenvolvimento dos<br />

sedimentos e solos desse ecossistema e suas<br />

diferenciações, que por sua vez, estão relacionadas ao<br />

regime hídrico, composição da água superficial e<br />

periodicidade de inundação. Portanto, as<br />

transformações e interações que ocorrem nesse<br />

ecossistema, físicas (perda de água, aeração, oxidação,<br />

estruturação), químicas (perda da salinidade,<br />

dessaturação, lixiviação) e geoquímicas, são processos<br />

que acontecem simultaneamente (TURENNE, 1997).<br />

Pesquisas realizadas na costa nordeste do estado do<br />

Pará sugerem que as modificações ocorridas nos<br />

sedimentos/solos e águas intersticiais, como a oxidação<br />

total ou parcial da superfície dos sedimentos,<br />

modificações na mineralogia e nas características<br />

químicas e físico-químicas das águas intersticiais, são<br />

resultado da curta, porém marcante sazonalidade da<br />

região, da distribuição anual das chuvas, da<br />

evapotranspiração, do regime de marés e das<br />

características morfológicas e sedimentológicas dos<br />

manguezais (BERRÊDO et. al,2008).<br />

As constantes inundações nos manguezais, em função<br />

da ação das marés, criam condições favoráveis ao<br />

INTRODUÇÃO<br />

processo de decomposição anaeróbia dos altos<br />

conteúdos de matéria orgânica presentes nos solos e<br />

sedimentos. Essas inundações também provocam<br />

alterações físico-químicas nos solos de manguezais,<br />

causando a diminuição do potencial redox, a elevação<br />

dos valores de pH, mudanças drásticas no equilíbrio de<br />

minerais e na dinâmica de elementos como o ferro e o<br />

enxofre (PONNAMPERUMA, 1972).<br />

O substrato do manguezal é rico em material orgânico<br />

semi decomposto incompletamente e constituído de<br />

matéria orgânica morta de origem animal e vegetal.<br />

Este material é decomposto por bactérias anaeróbias,<br />

resultando na produção de ácido sulfídrico responsável<br />

pelo odor característico de manguezais lodosos<br />

(SANT’ANNA, et. al, 1981).<br />

A evolução de manguezais está vinculada aos fluxos de<br />

matéria e energia, associados aos processos<br />

hidrodinâmicos proporcionados pelas variações das<br />

marés, estabelecendo trocas por meio da interação e<br />

interdependência entre os componentes do manguezal<br />

e ecossistemas próximos ou adjacentes, como o<br />

apicum. Este ambiente é encontrado próximo a<br />

manguezais, em locais de topografia mais elevada, nas<br />

regiões intertropicais, com presença de solos com alta<br />

salinidade ou acidez (HADLICH, 2010). Entretanto, nem<br />

sempre apresentam salinidade elevada ou solos muito<br />

ácidos, devido às características próprias de cada<br />

ambiente.<br />

Os apicuns ocorrem em locais onde a maré atinge com<br />

uma frequência bem menor (marés de sizígia) ou onde<br />

há pouca influência de água doce vinda de rios e/ou<br />

chuvas, contribuindo para a hipersalinidade do solo,<br />

uma vez que longos períodos de exposição ao processo<br />

de evaporação concentram os sais em superfície,<br />

impossibilitando o desenvolvimento da vegetação de<br />

mangue (LEMOS, 2011).<br />

Diante das diversas interações que se estabelecem em<br />

manguezal e entre esse ecossistema e outros<br />

adjacentes, este estudo pretende analisar os atributos<br />

químicos do solo sob condições de variação sazonal,<br />

verificando as diferenças no teor de nutrientes do solo<br />

entre os manguezais estudados, na região do Salgado,<br />

nordeste paraense.<br />

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Descrições do sítio experimental<br />

Este estudo foi conduzido no município de Salinópolis,<br />

na zona costeira do nordeste do Estado do Pará. O sitio<br />

experimental do projeto Mudanças Climáticas está<br />

localizado na Ilha de Itarana (0°39'23.76" S e<br />

47°<strong>14</strong>'35.58" W), e em São João de Pirabas, na<br />

comunidade Caranã, (0°41'9.60" S e 47°15'59.82" W) a<br />

sudoeste da Ilha de Itarana. Os dois sítios experimentais<br />

escolhidos para este estudo também representam, em<br />

pequena escala, estas variações de unidades<br />

paisagísticas.<br />

Sítio experimental da Ilha de Itarana<br />

A Ilha de Itarana está a leste da península de Cuiarana e<br />

a sudeste da península de Salinópolis, entre as baías de<br />

Inajá (a leste) e Arapepó (a oeste), se interligando<br />

através do Furo Grande. É um ambiente costeiro sob<br />

forte influência do regime de marés, intercalado por<br />

canais de maré, furos e córregos, com presença de<br />

manguezais com relativo grau de preservação.<br />

A ilha (parte central: 0º39’11" S e 47º13’32’’ W)<br />

abrange uma área com cerca de 91km 2 e faz parte do<br />

município de São João de Pirabas e está separada de<br />

Cuiarana por um sistema de grandes canais estuarinos,<br />

sendo o maior deles, o Furo Grande. A área<br />

experimental é um segmento da Ilha de Itarana,<br />

caracterizada como manguezal de intermaré, devido<br />

sofrer constantes inundações, que ocorrem em função<br />

da variação das marés, como também por apresentar<br />

uma área topograficamente mais baixa, possuir um<br />

porte arbóreo maior e ser colonizada por mangues<br />

jovens que margeiam a planície costeira, adaptados às<br />

inundações e à elevada salinidade.<br />

A condição natural da floresta, com estrutura bastante<br />

diferenciada, formada por árvores de mais ou menos 30<br />

m de altura. Apresenta uma colonização de bosque de<br />

mangue composto em sua maioria por Rhizophora<br />

mangle, indivíduos jovens, e espécies do gênero<br />

Laguncularia, em alguns pontos existem a presença de<br />

árvores mais altas e bosque mais fechado.<br />

Sítio Experimental da comunidade de Caranã<br />

Localizado em São João de Pirabas, na comunidade<br />

Caranã, (0°41'9.60" S e 47°15'59.82" W) a sudoeste da<br />

Ilha de Itarana, caracterizada como manguezal de<br />

supramaré, existe uma zona de apicum no início deste<br />

MATERIAL E MÉTODOS<br />

perfil, que recebe influência de água doce proveniente<br />

de igarapés que atingem o local, resultante da água da<br />

chuva, principalmente durante o período chuvoso,<br />

favorecendo o aparecimento de uma vegetação de<br />

pequeno porte, composta principalmente de<br />

Rhizophora mangle, que não consegue se desenvolver<br />

devido a pouca umidade e salinidade elevada.<br />

Este sítio apresenta características de manguezais<br />

típicos de intermaré, com solo mais lodoso e úmido,<br />

com grande quantidade de pneumatóforos (raízes que<br />

crescem verticalmente em direção à superfície e que na<br />

maré baixa ficam expostas ao ar), sendo que a espécie<br />

R. mangle se manifesta de forma mais abundante do<br />

que outras espécies, com ocorrência de algumas<br />

Avicennia germinans com aproximadamente 30 m de<br />

altura, e Laguncularia racemosa com altura de<br />

aproximadamente 12 metros.<br />

Frequência e período sazonal amostrado<br />

A coleta de solo e folhas de serapilheira ocorreu no<br />

período menos chuvoso (setembro/2011) e no período<br />

chuvoso (abril/2012), nos três perfis de manguezal<br />

selecionados, para verificar a dinâmica dos atributos<br />

químicos do solo e de nutrientes em folhas de<br />

serapilheira, sob condições de precipitação elevada e<br />

baixa.<br />

Coletas dos dados de precipitação<br />

pluviométrica<br />

Em fevereiro de 2012, foi instalado próximo a área de<br />

estudo (0°42'41.44" S e 47°18'2.54" W) um pluviômetro<br />

confeccionado de garrafa pet (pluviômetro PET), de<br />

acordo com a figura 1, para fornecer informações da<br />

quantidade de precipitação no período chuvoso e<br />

menos chuvoso. Este pluviômetro foi instalado em São<br />

João de Pirabas, na comunidade Pindorama, no quintal<br />

de uma casa situada próxima a rodovia PA-124, em local<br />

livre de qualquer interferência externa. A distância<br />

aproximada do pluviômetro para área 1 e 2 é de,<br />

respectivamente, 8,8 km; 4,73 km.<br />

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Figura 1: Pluviômetro adaptado com garrafa pet<br />

Figura 2: Pluviômetro automático basculante da torre<br />

micrometeorológica<br />

As medições da quantidade de chuva acumulada em 24<br />

horas foram realizadas diariamente às 9 h da manhã<br />

com o auxílio de uma proveta de 250 ml. Após abrir a<br />

torneira e posicionar a proveta, anota-se a quantidade<br />

de precipitação que caiu dentro do pluviômetro. O<br />

pluviômetro PET possui uma área de captação de 177<br />

cm 2 e <strong>14</strong>,5 cm de diâmetro, e foi confeccionado<br />

adaptando a técnica de Assunção e Assis (1997).<br />

Além das coletas de precipitação realizadas pelo<br />

puviometro PET, também foram realizadas medidas<br />

com pluviômetro de báscula, resolução de 0.1mm<br />

(Figura 2), situado na torre micrometeorológica do LBA<br />

(Large Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in<br />

Amazonia) em Cuiarana, próxima a área de estudo<br />

(0°39’50.48” S e 47°17'4.05" W). As medições de<br />

precipitação são registradas de 10 em 10 minutos,<br />

fornecendo dados de precipitação diários e mensais, os<br />

quais são armazenados em um data-logger. Esses dados<br />

foram fornecidos pela equipe do LBA, responsável pelo<br />

monitoramento da torre situada em Cuiarana. A<br />

distância desse pluviômetro para o perfil 1, 2 e 3 é de<br />

aproximadamente 4,66 km; 3,<strong>14</strong> km e 2,97 km,<br />

respectivamente. A distância entre o pluviômetro PET e<br />

o de báscula é de aproximadamente 5,55 km.<br />

Ao analisar os dados fornecidos pelos dois<br />

pluviômetros, observou-se variação entre as medidas<br />

pluviométricas, em alguns meses, isso ocorre devido à<br />

distância entre os pluviômetros nos sítios amostrais<br />

fato que levou a acreditar que a distância dos<br />

pluviômetros aos sítios amostrais, bem como a maior<br />

proximidade da torre do micrometeorológica do mar,<br />

foram fatores que possivelmente influenciaram nessa<br />

diferença. A partir dessa consideração, optou-se por<br />

utilizar os registros pluviométricos da torre<br />

micrometeorológica do LBA.<br />

Os registros, dos anos de 2010, 2011 e 2012,<br />

mostraram os meses de setembro, outubro, novembro<br />

e dezembro (Figura 3), com baixos índices<br />

pluviométricos em relação aos outros meses o que<br />

caracteriza o período Menos chuvoso, a exceção foi o<br />

mês de outubro/2011, que registrou 105 mm de chuva.<br />

Destaque para o mês de setembro, que teve valor<br />

próximo à zero mm (0,254 mm) em 2010 e nos anos de<br />

2011 e 2012 não registrou nenhuma ocorrência de<br />

chuva, fato que influenciou nas características do solo,<br />

que ficou mais Menos chuvoso, salino e compacto,<br />

principalmente nas áreas de apicum, no início do perfil<br />

2.<br />

Os meses com maiores precipitações foram fevereiro,<br />

março e abril nos anos de 2011 e 2012 (Figura 3),<br />

caracterizando o período mais chuvoso registrado<br />

através do pluviômetro de báscula, com o maior pico de<br />

672 mm em abril/2011. No mês de coleta (abril/2012)<br />

período chuvoso, a precipitação chegou a 280 mm, o<br />

que deixou o solo mais úmido e menos salino.<br />

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Figura 3: Valores mensais de precipitação pluviométrica de setembro de 2010 a novembro de 2012, coletada pelo pluviômetro automático<br />

basculante, da torre micrometeorológica do LBA, em Cuiarana<br />

Procedimentos de Campo<br />

Seleção dos pontos amostrais<br />

Em cada perfil de manguezal foi realizado um transecto,<br />

seguindo a mesma orientação do gradiente de transição<br />

ecológico típico de áreas ecótonas, ao longo do qual<br />

determinaram-se os pontos de coleta de solo. Na Área<br />

1, estabeleceram-se 5 pontos de coleta de solo em um<br />

transecto de 150 m de comprimento. Na Área 2,<br />

selecionaram-se 6 pontos de coleta de solo ao longo do<br />

transecto de 136 m de comprimento.<br />

Todos os pontos de coleta, bem como outros pontos<br />

importantes foram marcados com GPS marca Garmin,<br />

modelo GPSmap 76C5x.<br />

Coleta e acondicionamento das amostras de solo<br />

As amostras de solo foram coletadas com trado tipo<br />

calador, indicados para solos argilosos e saturados, e<br />

com trado holandês, indicados para solos mais duros,<br />

fibrosos e com grande quantidade de raízes.<br />

Na área 1, nos pontos (P1,P2,P3,P4,P5), as amostras<br />

foram coletadas com trado calador, nas profundidades<br />

0-5 cm, 5-10 cm, 10-20 cm, 20-40 cm e 40-60 cm. Na<br />

área 2, nos pontos (P1 e P2), as amostras foram<br />

coletadas com trado holandês e nos pontos<br />

(P3,P4,P5,P6) foram coletados com trado calador, nas<br />

profundidades 0-50 cm.<br />

Nas coletas com trado calador, o material foi colocado<br />

sobre uma calha e revestido com papel filme e,<br />

posteriormente papel alumínio, com objetivo de<br />

manter as características originais das amostras e inserilas<br />

em sacos plásticos, com as devidas identificações.<br />

Logo após a coleta de solo com trado holandês e em<br />

trincheiras, todas as amostras foram inseridas em sacos<br />

plásticos, devidamente identificados, e acondicionadas<br />

em caixas de isopor com gelo. Em seguida as amostras<br />

foram transportadas até o Campus de Pesquisa do<br />

Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém (PA), onde<br />

foram protocoladas e enviadas aos laboratórios de<br />

análises químicas, ficando armazenadas em freezer a<br />

uma temperatura abaixo de 0°C, até a realização dos<br />

procedimentos analíticos.<br />

Importante destacar que as coletas de solo ocorreram<br />

na maré vazante e de quadratura, que acontece quando<br />

as forças de atração do sol e da lua se opõem duas<br />

vezes em cada lunação, devido ao quarto crescente e ao<br />

quarto minguante da lua, produzindo as marés de<br />

quadratura, ou marés de águas mortas, com preamares<br />

mais baixas e baixa-mares mais altas (MIGUENS, 1996).<br />

Medidas de Salinidade da água intersticial (Sal),<br />

pH do solo em campo e Potencial Redox (Eh) do<br />

solo<br />

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No campo, as medidas de salinidade da água intersticial<br />

realizaram-se com um refratômetro de campo (ATAGO),<br />

mediante a extração sobre pressão, de um pequeno<br />

volume (gotas) de água intersticial. O Eh (mV) e o pH<br />

foram medidos através da inserção direta (em cada<br />

amostra de solo) do eletrodo de platina (Eh) e do<br />

eletrodo de vidro (pH) de alta precisão.<br />

Procedimentos de laboratório<br />

Preparo e análise química de solo<br />

Nas análises químicas, os perfis de solo foram dispostos<br />

separadamente em recipientes de plástico,<br />

devidamente limpos e identificados, para a secagem<br />

das amostras em uma sala climatizada, livre de<br />

contaminações externas. Posteriormente, as amostras<br />

foram maceradas, destorroadas com rolo e peneiradas<br />

em peneira de malha 1 mm, retirando com pinça, o<br />

excesso de raízes finas que passaram através da malha.<br />

Este procedimento inicial de preparo de amostras foi<br />

adotado para todas as análises químicas.<br />

Carbono orgânico total, nitrogênio total e enxofre<br />

As análises de carbono, nitrogênio e enxofre ocorreram<br />

por combustão a Menos chuvoso, em Analisador<br />

Elementar- TruSpec CHN/ CHNS.<br />

Fósforo disponível<br />

A determinação de fósforo adotou o método<br />

espectrofotométrico, cuja análise utiliza a solução<br />

obtida através da extração com extrator de Mehlich,<br />

reagindo com o molibidato de amônio e utilizando<br />

ácido ascórbico como redutor. A reação resulta na<br />

coloração azulada da solução, proporcional ao teor de<br />

fósforo presente na solução. As leituras de P foram<br />

determinadas no espectrofotômetro UV/vis DB 1880 S<br />

(Spectro Vision).<br />

Sódio, Potássio, Cálcio, Magnésio e Ferro<br />

Nas determinações dos macronutrientes sódio e<br />

potássio e do micronutriente ferro, utilizou-se o<br />

método Mehlich. As leituras de Na e K processaram-se<br />

no aparelho Fotômetro de Chama, marca Corning,<br />

modelo 400, e as determinações de Fe ocorreram no<br />

equipamento Espectrômetro de Absorção Atômica com<br />

Chama da marca Instrumentos Científicos C. G. e<br />

modelo AA 904, equipado com corretor de fundo com<br />

lâmpada de deutério.<br />

Para as análises de cálcio e magnésio, utilizou-se o<br />

método com solução extratora de KCl, a 1N, pH 7 e as<br />

leituras foram feitas no mesmo Espectrômetro de<br />

Absorção Atômica com Chama.<br />

Alumínio<br />

A metodologia empregada para determinação do<br />

alumínio foi através da volumetria de neutralização,<br />

titulando o NaOH 0,025N até o aparecimento da<br />

coloração levemente rósea.<br />

Potencial hidrogeniônico<br />

Foi determinado em água destilada (pH H2O ) e com<br />

solução de KCl (pH KCl ) na proporção de 1: 2,5. A<br />

metodologia utilizada para as análises químicas de solo<br />

seguiu as recomendações dos manuais de análise de<br />

solos (SILVA, 2003; EMBRAPA, 1997)2.6 Análises de<br />

dados.<br />

Para a análise estatística dos dados realizou-se a média<br />

ponderada nas profundidades de 0-5 cm, 5-10 cm e 10-<br />

20 cm, padronizando-as como a amostra na<br />

profundidade de 0-20 cm, permitindo o estudo<br />

comparativo entre as áreas estudadas, considerando as<br />

profundidades de 0-20cm, 20-40 cm, 40-60 cm.<br />

Primeiramente, aplicou-se o teste de normalidade<br />

Shapiro-Wilk nos dados de concentração de nutrientes<br />

do solo, através do qual se observou que os dados não<br />

apresentam distribuição normal. Em seguida, foram<br />

submetidos à análise estatística ACP (Análise de<br />

Componentes Principais) ou PCA (Principal Component<br />

Analysis), que não apresenta restrições quanto à<br />

normalidade dos dados. A ACP é uma técnica<br />

matemática da análise multivariada que possui como<br />

ideia central a redução do conjunto de dados a ser<br />

analisado, principalmente quando os dados são<br />

constituídos de um grande número de variáveis interrelacionadas<br />

(VICINI, 2005).<br />

Neste estudo, foram utilizadas apenas as duas primeiras<br />

componentes principais, tanto pela facilidade de<br />

interpretar gráficos em duas dimensões, quanto<br />

principalmente, por juntas (componente principal 1 e 2)<br />

totalizarem mais de 70% dos dados, porcentagem acima<br />

da qual é considerada suficiente para explicar a<br />

distribuição dos dados.<br />

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Não foi possível realizar a ACP do potencial redox (Eh),<br />

do pH de campo e da salinidade da água intersticial<br />

(Sal), pois esses parâmetros não foram medidos em<br />

todas as amostras da Área 1, no período de estiagem,<br />

bem como nos pontos P1 e P2 situados na zona de<br />

apicum da Área 2, devido o solo encontrar-se muito<br />

Menos chuvoso. Sendo assim, para esses parâmetros,<br />

utilizou-se a análise estatística descritiva. As análises<br />

estatísticas deste trabalho foram realizadas através do<br />

software R, versão 2.15.2.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Os resultados de pH em água destilada (pH H2O ) e dos nutrientes do solo (Na, K, Ca, Mg, C, N, S, P e Fe) na Área 1 e 2,<br />

com as respectivas profundidades (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm), na estação chuvosa e menos chuvosa, estão<br />

representados no gráfico de ACP (Figura 4), através do qual foram geradas informações relevantes acerca das variáveis<br />

em estudo. Na área 1, o Na e K apresentaram maior correlação com o pH na época menos chuvosa e os nutrientes Ca,<br />

Fe e Mg maior correlação na época chuvosa.<br />

Figura 4: Gráfico de ACP (com as componentes principais 1 e 2) dos parâmetros químicos do solo, com as profundidades coletadas,<br />

nas áreas 1 e 2, durante a época chuvosa e menos chuvosa<br />

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Figura 5: Gráfico de ACP (com as componentes principais 1 e 2) dos parâmetros químicos do solo,<br />

com as profundidades coletadas, nas áreas 1 e 2<br />

A componente principal 1 explica 56,21% dos dados e a<br />

componente principal 2 (comp. 2) 21,59 %, totalizando<br />

77,8% dos dados. As variáveis que estão associadas à<br />

componente 1 são os elementos C, N, S, Ca, Mg, Al, Fe,<br />

P e a componente 2 são Na, K e pH.<br />

As variáveis do período sazonal (chuvoso e menos<br />

chuvoso), das áreas 1 e 2, profundidades (0-20 cm, 20-<br />

40 cm, 40-60 cm) e nutrientes do solo (Na, K, Ca, Mg, P,<br />

C, N, S e Fe) e o pH medido pelo método em água<br />

destilada (pH H2O), foram resumidas em um gráfico<br />

que expressa a importância das variáveis para os<br />

resultados obtidos, explorando também a correlação<br />

entre essas variáveis.<br />

A formação dos agrupamentos em função de dois<br />

fatores principais (área e período sazonal) está<br />

apresentada na figura 4. Do lado direito do plano das<br />

componentes principais, situam-se as amostras da Área<br />

1, e do lado esquerdo as amostras da Área 2. O período<br />

de estiagem está representado pelo agrupamento das<br />

amostras no plano superior do gráfico e o período<br />

chuvoso no plano inferior. A formação desses<br />

agrupamentos indica que a profundidade não tem<br />

muita influência nos resultados e que a área e o período<br />

sazonal são os fatores que mais explicam a distribuição<br />

dos dados.<br />

Os nutrientes Na e o K são variáveis que mais<br />

representam a formação do agrupamento no período<br />

de estiagem na Área 1, que estão correlacionadas. Esse<br />

resultado coincide com as elevadas concentrações<br />

desses nutrientes neste período, que atingiram uma<br />

média de 520,23 cmoc/dm3 e 163,48 cmoc/dm3,<br />

respectivamente. Durante a estação chuvosa, essas<br />

concentrações foram bem mais baixas, com média de<br />

11,27 cmoc/dm3 de Na e 4,07 cmoc/dm3 de K na Área<br />

1, em função da diluição desses nutrientes pelas águas<br />

da precipitação pluviométrica durante o período<br />

chuvoso.<br />

Os aportes de Na, K, Ca e Mg sugerem contribuições das<br />

marés, os maiores valores desses cátions encontram-se<br />

no perfil 1 (Tabela 1), que está sob constante influência<br />

dos canais de maré que entrecortam a Ilha de Itarana.<br />

O período sazonal foi importante para a grande<br />

variação de Na e K nas áreas de estudo 1 e 2. Durante a<br />

estiagem, as concentrações foram maiores,<br />

principalmente no manguezal de intermaré, enquanto<br />

que no período chuvoso, a diluição provocada pela água<br />

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das chuvas, assim como a lixiviação dos nutrientes do<br />

solo provocou uma redução significativa nos teores<br />

desses nutrientes. Resultados semelhantes foram<br />

encontrados por (BERRÊDO, 2008), no qual o aumento<br />

dos teores de Na, K, Ca, Mg e SO4-2 reflete o período da<br />

estiagem e a presença das águas oceânicas no estuário<br />

do rio Marapanim.<br />

Tabela 1: Valores médios dos parâmetros químicos sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg), aluminio (Al) e ferro (Fe) na Área 1 e na<br />

Área 2, durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm).<br />

Na (cmolc/kg)<br />

K (cmolc/kg)<br />

Ca (cmolc/kg)<br />

Mg (cmolc/kg)<br />

Al (cmolc/kg)<br />

Fe<br />

(g/Kg)<br />

Profundidade<br />

ÁREA 1 ÁREA 2<br />

(cm)<br />

Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso<br />

0-20 551,46 Aa 9,46 Ba 130,57 Aa 4,53 Ba<br />

20-40 508,21 Ab 11,28 Ba <strong>14</strong>5,7 Aa 5,50 Ba<br />

40-60 501,01 Ab 13,05 Ba 157,36 Aa 5,52 Ba<br />

0-20 169,45 Aa 4,03 Ba 35,91 Aa 1,25 Ba<br />

20-40 165,28 Aab 4,15 Ba 31,86 Aa 1,40 Ba<br />

40-60 155,69 Ab 4,04 Ba 39,66 Aa 1,<strong>33</strong> Ba<br />

0-20 4,43 Ba 8,55 Ab 1,69 Ba 3,08 Aa<br />

20-40 5,35 Ba 9,47 Aab 1,61 Ba 3,70 Aa<br />

40-60 4,86 Ba 9,93 Aa 1,73 Ba 4,00 Aa<br />

0-20 15 Aa 16,48 Ab 4,07 Aa 5,53 Aa<br />

20-40 16,29 Ba 21,35 Aa 3,77 Ba 7,22 Aa<br />

40-60 <strong>14</strong>,60 Ba 22,32 Aa 4,00 Ba 8,09 Aa<br />

0-20 2,89 Ab 2,50 Aa 2,22 Aa 1,85 Ab<br />

20-40 5,85 Aa 3,61 Ba 3,51 Aa 2,52 Aab<br />

40-60 5,81 Aa 3,11 Ba 3,52 Aa 3,45 Aa<br />

0-20 2,08 Bb 3,43 Aa 0,79 Aa 1,05 Aa<br />

20-40 2,55 Ba 2,94 Ab 0,89 Aa 1,13 Aa<br />

40-60 2,38 Bab 3,02 Aab 1,17 Aa 1,55 Aa<br />

Com base na figura 4, as variáveis C, N, S, P, Ca, Mg, Al e<br />

Fe explicam a separação dos grupos em Área 1 e 2,<br />

situados do lado direito e esquerdo, respectivamente,<br />

do plano das componentes principais, assim como o Na<br />

e o K, citados anteriormente, que exercem maior<br />

influência sobre os resultados. Essa distribuição das<br />

variáveis do lado direito do eixo da componente 2 pode<br />

ser muito bem explicada pela elevada concentração<br />

desses nutrientes na Área 1, em comparação com a<br />

Área 2, que representam manguezais de intermaré e<br />

supramaré, respectivamente. Sendo assim, a Área 1<br />

apresenta mangues desenvolvidos, maior contribuição<br />

de matéria orgânica transportada pela maré e maior<br />

quantidade de serapilheira, enquanto que a Área 2<br />

possui uma vegetação de porte menor e menos denso,<br />

menor influência da maré e, portanto, menor aporte de<br />

matéria orgânica.<br />

A diferença no teor de matéria orgânica entre as áreas<br />

pode é observada pelos teores de carbono, com média<br />

de 40,95g/kg e 21,23 g/kg na Área 1 e 2,<br />

respectivamente, na época de estiagem, e 38,47 g/kg e<br />

21,04 g/kg na Área 1 e 2, respectivamente, na época<br />

chuvosa.<br />

O acréscimo de material orgânico ao substrato de<br />

manguezal é o principal processo de adição que se<br />

observa nesse ecossistema, resultante do material de<br />

origem vegetal, como folhas, galhos e raízes em<br />

decomposição. Esse processo é evidenciado pela<br />

distribuição dos valores de carbono orgânico nos<br />

substratos, que são mais elevados em superfície e, na<br />

medida em que a profundidade aumenta, esses valores<br />

vão diminuindo, enfatizando a importante contribuição<br />

da vegetação no aporte de matéria orgânica para o solo<br />

(VIDAL-TORRADO et. al, 2005).<br />

Além das diferenças nas características ambientais<br />

entre as áreas 1 e 2, ainda existem diferenças dentro de<br />

cada área. A área 2 se inicia em uma zona de apicum,<br />

com presença de Rhizophora mangle com altura de até<br />

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3 m e solo mais Menos chuvoso e arenoso. Ao final<br />

desta área, ocorre a presença de mangues de maior<br />

porte, em sua maioria de R. mangle (altura média de<br />

9,81m), solo mais argiloso e úmido, indicando<br />

contribuição da água e nutrientes nesse<br />

desenvolvimento. Essas diferenças observadas explicam<br />

o aumento na concentração de carbono ao final da área<br />

2.<br />

Os teores de nitrogênio, de forma geral, foram maiores<br />

na área 1 em comparação com a área 2, nos dois<br />

períodos sazonais (Tabela 2). Nesta área, o teor de<br />

nitrogênio diminui na medida em que se aproxima da<br />

zona de apicum, na parte mais interna do manguezal.<br />

Os teores de enxofre também foram mais elevados no<br />

manguezal de intermaré, com média de 11,50 g/kg na<br />

área 1 e 3,18 g/kg na área 2, durante a época menos<br />

chuvosa e, na época chuvosa, a área 1e 2 apresentaram<br />

valores médios de 10,41 g/kg e 3,76, respectivamente.<br />

Observou-se um aumento da concentração de enxofre<br />

com a profundidade, com valores médios<br />

significativamente mais elevados na área 1 em relação a<br />

área 2 (Tabela 2).<br />

A zona de oxidação gradativamente se torna zona de<br />

redução com a profundidade, mudando a coloração de<br />

marrom amarelada na matriz e aspecto marrom escuro,<br />

para coloração cinza clara a cinza escura dos<br />

sedimentos, representando o aumento da matéria<br />

orgânica, a ocorrência da pirita (FeS2) e a presença de<br />

H2S dissolvidos, explicando o aumento do enxofre com<br />

a profundidade.<br />

A variação da condição reduzida-oxidada na zona de<br />

apicum, que é exposta por longos períodos nas marés<br />

baixas e submersa sob condições de marés muito<br />

elevadas (marés de sizígia), favorece a concentração de<br />

ferro através da mobilização e precipitação deste metal<br />

(HADLICH et. al, 2010). Este processo é evidenciado<br />

pelo aspecto mosqueado encontrado em algumas<br />

amostras coletadas no início da área 2, que constitui<br />

zona de apicum, apesar disso, os valores de ferro nesta<br />

área foram muito inferiores no apicum, em relação ao<br />

manguezal, com médias de 0,10 g/kg (ponto P1) e 1,88<br />

g/kg (ponto P5), no período de estiagem, e médias de<br />

0,57 g/kg (ponto P1) e 2 g/kg (ponto P5), no período<br />

chuvoso.<br />

A concentração mais elevada de fósforo na área 1 pode<br />

ser devido o transporte pelas águas dos canais de maré<br />

até os sedimentos na forma de fosfato (PO43-), pelas<br />

espécies vegetais e maior densidade arbórea nessa<br />

área, produzindo mais serapilheira. Na área 1 o teor<br />

médio de fósforo foi de 29,97 mg/kg no período menos<br />

chuvoso e 26,5 mg/kg no chuvoso, e na área 2 teor de 8<br />

mg/kg e 9,37 mg/kg, evidenciando uma grande<br />

diferença entre as áreas.<br />

Segundo (MENDOZA et. al, 2012), a interação de<br />

diferentes características físico-químicas entre água<br />

intersticial e o regime de inundação pode controlar a<br />

concentração de fósforo na fase líquida disponível para<br />

os manguezais. A maior variação redox (ΔEh) e maior<br />

oxidação foram encontradas na zona de raízes de A.<br />

germinans, em comparação com a de R. mangle, em<br />

região de baixa variação de marés, o que pode estar<br />

controlando a disponibilidade de fósforo. A maior<br />

oxidação na zona de raízes de sedimentos sob A.<br />

germinans limita a disponibilidade de P e sua<br />

distribuição, e o gradiente vertical redox mais baixo sob<br />

as árvores de R. Mangle resultam em condições<br />

redutoras, favorece a formação de fósforo extraível,<br />

podendo ser considerada uma resposta adaptativa à<br />

absorção de nutrientes sob condições de alagamento.<br />

Os teores de alumínio (Al) não apresentaram grandes<br />

variações entre os períodos sazonais, e apresentaram<br />

maiores concentrações na estiagem, provavelmente por<br />

influência do processo de lixiviação (Tabela 2).<br />

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Tabela 2: Valores médios dos parâmetros químicos sódio (Na), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e ferro (Fe) na Área 1 e na Área 2,<br />

durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas (0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm).<br />

Na (cmolc/kg)<br />

K (cmolc/kg)<br />

Ca (cmolc/kg)<br />

Mg (cmolc/kg)<br />

Al (cmolc/kg)<br />

Fe<br />

(g/Kg)<br />

Profundidade<br />

ÁREA 1 ÁREA 2<br />

(cm)<br />

Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso<br />

0-20 551,46 Aa 9,46 Ba 130,57 Aa 4,53 Ba<br />

20-40 508,21 Ab 11,28 Ba <strong>14</strong>5,7 Aa 5,50 Ba<br />

40-60 501,01 Ab 13,05 Ba 157,36 Aa 5,52 Ba<br />

0-20 169,45 Aa 4,03 Ba 35,91 Aa 1,25 Ba<br />

20-40 165,28 Aab 4,15 Ba 31,86 Aa 1,40 Ba<br />

40-60 155,69 Ab 4,04 Ba 39,66 Aa 1,<strong>33</strong> Ba<br />

0-20 4,43 Ba 8,55 Ab 1,69 Ba 3,08 Aa<br />

20-40 5,35 Ba 9,47 Aab 1,61 Ba 3,70 Aa<br />

40-60 4,86 Ba 9,93 Aa 1,73 Ba 4,00 Aa<br />

0-20 15 Aa 16,48 Ab 4,07 Aa 5,53 Aa<br />

20-40 16,29 Ba 21,35 Aa 3,77 Ba 7,22 Aa<br />

40-60 <strong>14</strong>,60 Ba 22,32 Aa 4,00 Ba 8,09 Aa<br />

0-20 2,89 Ab 2,50 Aa 2,22 Aa 1,85 Ab<br />

20-40 5,85 Aa 3,61 Ba 3,51 Aa 2,52 Aab<br />

40-60 5,81 Aa 3,11 Ba 3,52 Aa 3,45 Aa<br />

0-20 2,08 Bb 3,43 Aa 0,79 Aa 1,05 Aa<br />

20-40 2,55 Ba 2,94 Ab 0,89 Aa 1,13 Aa<br />

40-60 2,38 Bab 3,02 Aab 1,17 Aa 1,55 Aa<br />

O pH (H2O) e o Ca são duas variáveis independentes e<br />

inversamente proporcionais, o pH (H2O), a variável que<br />

mais influencia o agrupamento da área 2 na época<br />

menos chuvosa, com diminuição do pH (H2O) em<br />

comparação com a época chuvosa, com médias de 4 e<br />

3, respectivamente. Os valores de pH (H2O) assumem<br />

uma escala decrescente na medida que aumenta a<br />

profundidade (Tabela 3), diferente dos resultados<br />

encontrados por (HADLICH et. al, 2010), em solos sob<br />

condições anaeróbicas, como no caso de manguezais<br />

sob forte influência das marés, em que o pH fica em<br />

torno de 6,7 a 7,2. O pH de campo indica valores mais<br />

altos, tendendo a neutralidade assemelhando-se ao<br />

trabalho de (HADLICH et. al, 2010).<br />

A análise descritiva permitiu inferir que, de forma geral,<br />

o Eh foi redutor na área 1, com média de – 300 mv na<br />

estiagem e -305 mv na estação chuvosa, verificando<br />

que o período sazonal não alterou os valores para este<br />

parâmetro. Na área 2, o Eh apresentou características<br />

oxidantes no início do perfil, onde se encontra a zona<br />

de apicum, ficando cada vez mais redutor quanto mais<br />

próximo do manguezal, no final deste perfil. Nas duas<br />

áreas amostradas, o Eh apresentou características<br />

fortemente redutoras com a profundidade (Tabela 3),<br />

com exceção da zona de apicum no perfil 2. A<br />

característica redutora dos sedimentos de manguezais<br />

está associada à baixa declividade, que favorece a<br />

influência das águas por um período de tempo maior.<br />

Em consequência, os sedimentos são<br />

predominantemente redutores, fracamente ácidos a<br />

neutros, com salinidade elevada, principalmente<br />

durante o período menos chuvoso (BERRÊDO et. al,<br />

2008).<br />

A salinidade intersticial (Sal) está associada à intrusão<br />

salina pelas águas dos estuários, precipitação<br />

pluviométrica e processo de evaporação (CRUZ, 2009)<br />

uma vez que no período Menos chuvoso a evaporação<br />

favorece a concentração de sais na superfície do<br />

terreno e, no período chuvoso, as águas pluviais<br />

propiciam a diluição desses sais (Tabela 3).<br />

Para BERRÊDO (2006) a influência da curta, porém<br />

marcante sazonalidade climática do nordeste paraense<br />

(especialmente a precipitação pluviométrica e a<br />

temperatura), sobre os sedimentos lamosos do estuário<br />

do rio Marapanim, onde os efeitos do clima sobre a<br />

cunha salina resultou na concentração ou na diluição da<br />

salinidade intersticial na superfície do sedimento. No<br />

presente estudo, a sazonalidade climática foi fator<br />

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determinante para as oscilações de salinidade. Em<br />

geral, a salinidade varia em diferentes ecossistemas de<br />

acordo com a topografia, marés (baixas ou altas) e<br />

aporte de água doce (Palanisamy et. al, 2009).<br />

Tabela 3: Valores médios de carbono total, pH com água destilada (pH-água), pH em campo (pH-campo), potencial de redox (Eh) e Salinidade<br />

intersticial (Sal) na Área 1 e na Área 2, durante a época menos chuvosa (estiagem) e chuvosa, nas profundidades coletadas<br />

(0-20 cm, 20-40 cm, 40-60 cm)<br />

pH (água)<br />

pH (campo)<br />

Eh<br />

(mV)<br />

Sal<br />

Profundidade (cm)<br />

ÁREA 1 ÁREA 2<br />

Estiagem Chuvoso Estiagem Chuvoso<br />

0-20 4,52 3,69 4,53 3,44<br />

20-40 3,66 3,00 4,02 2,99<br />

40-60 3,57 2,79 3,72 2,74<br />

0-20 6,15 6,71 6,45 6,51<br />

20-40 6,68 6,73 6,57 6,23<br />

40-60 6,76 6,78 6,63 6,08<br />

0-20 -232,75 -263,10 -<strong>33</strong>9,58 -67,07<br />

20-40 -<strong>33</strong>5,60 -317,60 -374,<strong>33</strong> -107,80<br />

40-60 -<strong>33</strong>0,60 -<strong>33</strong>5,73 -193,<strong>33</strong> -35,<strong>33</strong><br />

0-20 41,60 19,75 19,75 15,57<br />

20-40 35,2 29 21 22,27<br />

40-60 <strong>33</strong>,6 32,27 28,<strong>33</strong> 23,47<br />

CONCLUSÃO<br />

A sazonalidade no clima exerceu maior influência sobre<br />

os resultados de Na, K e salinidade intersticial, por meio<br />

dos processos de evaporação, na estação seca e de<br />

diluição, na estação chuvosa, comportamento<br />

observado nas duas áreas amostradas.<br />

Existe diferença entre as áreas 1 e 2 com relação ao<br />

teor de nutrientes, os quais apresentaram valores mais<br />

elevados no manguezal de intermaré (área 1),<br />

considerando a totalidade dos nutrientes. A formação<br />

de alguns agrupamentos não foi bem explicada nos<br />

gráficos de análises de componentes principais (APC),<br />

possivelmente devido a não inclusão de outros<br />

parâmetros que podem está influenciando nesses<br />

resultados, como o Eh e a salinidade, que são medidas<br />

importantes para a caracterização de manguezais.<br />

Em manguezais, vários fatores inter-relacionados<br />

devem ser levados em consideração, como o regime de<br />

marés, a topografia e a sazonalidade climática, visando<br />

um melhor entendimento dos processos de troca que<br />

ocorrem dentro do manguezal e entre este e<br />

ecossistemas adjacentes.<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem ao projeto Rede de Mudanças Climáticas/Edital 0<strong>14</strong>/2009/CNPq/FAPESPA, ao Conselho Nacional<br />

de Desenvolvimento e Pesquisa/ CNPq pela bolsa concedida à aluna do curso de Ciências Ambientais/UFPA, e ao Museu<br />

Paraense Emílio Goeldi/MPEG pelo auxílio no desenvolvimento da pesquisa e infraestrutura de campo e laboratório.<br />

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ANÁLISE DO PROCESSO PARTICIPATIVO NA AVALIAÇÃO AMBIENTAL ESTRATÉGICA<br />

NO BRASIL<br />

Analysis of participatory process in the strategic environmental assessment in Brazil<br />

Maria José Ferreira Berti<br />

Engenheira da Secretaria de<br />

Estado do Meio Ambiente do<br />

Mato Grosso e Doutoranda do<br />

Programa de Pós-Graduação em<br />

Engenharia Urbana da<br />

Universidade Federal de São<br />

Carlos.<br />

E-mail: ad.mari@hotmail.com<br />

Nemésio Neves Batista<br />

Salvador<br />

Engenheiro Civil, Doutor em<br />

Saneamento e Meio Ambiente e<br />

Professor do Programa de Pós-<br />

Graduação em Engenharia Urbana<br />

da Universidade Federal de São<br />

Carlos.<br />

E-mail: nemesio@ufscar.br<br />

RESUMO<br />

A United Nations Economic Commission for Europe (UNECE), a International<br />

Association for Impact Assessment (IAIA) e a Comissão Europeia recomendam<br />

ou requerem a adoção de alguma forma de participação pública nos<br />

processos de avaliação ambiental, incluindo a Avaliação Ambiental<br />

Estratégica (AAE). No Brasil a AAE vem sendo praticada voluntariamente,<br />

tornando-se indispensável compreender os procedimentos de envolvimento<br />

das partes interessadas e, particularmente o público, nos processos de<br />

tomada de decisão. Portanto, o objetivo deste trabalho foi averiguar o<br />

processo de participação pública nas AAEs no Brasil, através de uma análise<br />

qualitativa, comparativa e crítica do conteúdo de dez relatórios de AAE. A<br />

análise contemplou as metodologias de práticas de participação pública<br />

constantes na literatura e as diretrizes internacionais da IAIA. Verificou-se<br />

que o principal meio empregado no processo de participação no Brasil ainda<br />

é a audiência pública e que, apesar de sua prática, não são atendidos de<br />

forma efetiva aos critérios recomendados.<br />

Palavras-chave: Avaliação Ambiental Estratégica, AAE, participação pública.<br />

ABSTRACT<br />

The United Nations Economic Commission for Europe (UNECE), the<br />

International Association for Impact Assessment (IAIA) and the European<br />

Commission recommend or require the adoption of some kind of public<br />

participation in the environmental assessment processes, including the<br />

Strategic Environmental Assessment (SEA). In Brazil SEA has been voluntarily<br />

practiced, being imperative to understand the procedures for involvement of<br />

stakeholders and particularly the public in the decision-making processes.<br />

Therefore, the focus of this paper was to study the public participation<br />

process in the Brazilian SEAs through a qualitative, comparative and critical<br />

analysis of the content of ten reports of SEA. The analysis involved methods<br />

of practices for public participation presented in the literature and<br />

international IAIA guidelines. It was verified that the main method utilized in<br />

the process of public participation in Brazil is the public hearing, and despite<br />

that practice the recommended criteria are not effectively met yet.<br />

Keywords: Strategic Environmental Assessment, SEA, public participation.<br />

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A Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) surge como<br />

uma nova perspectiva de avaliação ambiental por ser<br />

uma ferramenta proativa, incorporando a variável<br />

ambiental nos níveis estratégicos de decisão, contudo,<br />

de forma flexível e adaptada ao planejamento corrente<br />

para trazer a decisão sobre o contexto de<br />

sustentabilidade, permitindo o envolvimento da<br />

sociedade na tomada de decisão (PARTIDÁRIO, 2004;<br />

FISCHER, 2007; BINA, 2008).<br />

Segundo Therivel (2004), o objetivo principal da AAE é<br />

alcançar a integração das componentes de<br />

desenvolvimento sustentável no processo de<br />

planejamento de Política, Planos e Programas (PPPs).<br />

A ocorrência da participação pública no nível mais alto<br />

de tomada de decisão, ou seja, nas PPPs que precede a<br />

fase de projetos específicos, estabelece mecanismos de<br />

participação pública em discussões relevantes para a<br />

sustentabilidade, permitindo ao público manifestar seus<br />

pontos de vista ainda no processo de planejamento<br />

(DALAL-CLAYTON; SADLER, 2005).<br />

Dentro da pressão existente para a gestão ambiental<br />

participativa, a AAE proporciona uma sistemática<br />

considerável quanto aos aspectos socioambientais, e<br />

também um vasto espaço para a participação social se<br />

comparada à avaliação de impacto ambiental (COSTA;<br />

BURSZTYN; NASCIMENTO, 2008).<br />

A participação pública pode ser definida como o<br />

envolvimento de indivíduos e grupos que são positiva<br />

ou negativamente afetados por uma intervenção<br />

proposta (por exemplo, uma política, um plano, um<br />

programa e um projeto), sujeita a um processo de<br />

decisão, ou que estão interessados na mesma (ANDRÉ<br />

et al., 2006). Conforme estes autores, os objetivos da<br />

participação pública são essenciais para a boa<br />

governança, pois fortalecem as comunidades locais,<br />

obtêm reações do público e contribuem para melhorar<br />

a análise de propostas e para a aprendizagem mútua<br />

entre as partes interessadas. A Associação Internacional<br />

para Participação Pública - International Association for<br />

Public Participation (IAP2) cita que “participação pública<br />

significa envolver aqueles que são afetados por uma<br />

deliberação no processo de tomada de decisão” (IAP2,<br />

2005).<br />

Além de ser baseada nos princípios de democracia, a<br />

participação pública é abordada em vários acordos<br />

INTRODUÇÃO<br />

intergovernamentais como, por exemplo, o Princípio 10<br />

da Declaração do Rio e da Convenção de Aarhus sobre o<br />

acesso à informação, participação pública na tomada de<br />

decisão e acesso à justiça em matéria de meio<br />

ambiente, e na Diretiva Européia de Avaliação<br />

Ambiental Estratégica - Diretiva 42/2001/CE (CRNČEVIĆ,<br />

2007).<br />

A maioria dos documentos internacionais de orientação<br />

e enquadramentos legais sobre AAE recomenda ou<br />

exige a adoção de alguma forma de participação pública<br />

em seu processo de avaliação. Organismos como a<br />

United Nations Economic Commission for Europe<br />

(UNECE, 2003), a International Association for Impact<br />

Assessment (IAIA, 2002) e a Comissão Europeia (CEC,<br />

2001), estabelecem princípios e critérios para a<br />

realização da participação pública em processos de<br />

tomada de decisão.<br />

Conforme Partidário (2008), o conceito de AAE<br />

preconiza que a sua direção deve ser feita com a<br />

participação dos diversos atores envolvidos, direta ou<br />

indiretamente com o objeto a ser avaliado. A prática da<br />

participação pública oferece legitimidade e<br />

transparência ao processo de tomada de decisão e<br />

melhora a capacidade de resposta das instituições<br />

públicas (THERIVEL, 2004).<br />

Segundo a IAIA (2002) uma Avaliação Ambiental<br />

Estratégica de boa qualidade passa por um processo<br />

que deve atender a vários critérios de desempenho.<br />

Entre esses critérios, a AAE deve ser participativa. A<br />

participação pública, pelo menos em teoria, é uma<br />

questão importante, pois está presente na maior parte<br />

dos sistemas de AAE propostos pela literatura ou<br />

estabelecidas em legislação.<br />

A escolha dos métodos utilizados para abranger o<br />

público é um importante fator na determinação da<br />

qualidade da participação, pois às vezes ele apenas<br />

informa e não permite que a comunidade interaja e<br />

exponha suas opiniões. A participação do público<br />

engloba uma série de procedimentos e métodos<br />

concebidos para informar, consultar, envolver e<br />

colaborar, a fim de permitir que aqueles que seriam<br />

potencialmente afetados por uma decisão ou política,<br />

possam ser ouvidos no processo (IFC, 2007).<br />

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A Figura 1 apresentada a seguir ilustra os níveis de participação pública desenvolvidos pela Associação Internacional de<br />

Participação Pública (IAP2, 2000)<br />

Figura 1. Níveis de participação pública. Fonte: IAP2 (2000)<br />

Conforme mostrado na Figura 1, cada nível de<br />

participação pública tem um aumento correspondente<br />

na medida da intensidade de envolvimento público e de<br />

sua participação no processo de avaliação ambiental.<br />

De acordo com CEAA (2008), a informação e a consulta<br />

podem ser entendidas como a participação no sentido<br />

mais restrito. A informação é um processo em que o<br />

público recebe informações, mas não pode fazer<br />

quaisquer declarações sobre as mesmas. Neste nível, a<br />

oportunidade para a participação do público foi<br />

classificado como nenhuma. A consulta é uma<br />

abordagem bilateral, uma forma de diálogo, onde as<br />

autoridades oferecem informações sobre o projeto ou<br />

outra ação para o público e em seguida, o público<br />

realiza comentários sobre as informações fornecidas.<br />

Este nível é classificado como baixo. No terceiro nível é<br />

fornecida a oportunidade de diálogo e interação. A<br />

oportunidade para a participação do público foi<br />

classificada como média. No quarto nível é fornecido ao<br />

público a oportunidade de parceria ou trabalhar em<br />

conjunto com os tomadores de decisão. Neste caso, a<br />

oportunidade para a participação pública foi classificada<br />

como alta. No quinto nível é fornecida a capacitação do<br />

público, colocando em suas mãos a tomada de decisão<br />

final (IAP, 2000). A oportunidade para a participação do<br />

público é classificada como alta.<br />

Existem várias técnicas de participação pública<br />

disponíveis, como audiências públicas, reuniões,<br />

workshops, oficinas, comitês consultivos,<br />

levantamentos (construir um perfil dos atores<br />

envolvidos), mala direta, artigos na mídia local e site<br />

eletrônico (web) (ANDRÉ et al., 2006). Cada método<br />

apresenta uma finalidade específica e, quando aplicado<br />

de forma adequada, pode trazer benefícios<br />

significativos para a organização patrocinadora do<br />

programa ou implementação de políticas (HILLIKER;<br />

KLUZ, 2001). Conforme Bisset (2000) a consulta pública<br />

é provavelmente a forma mais comum de envolver o<br />

público na avaliação ambiental.<br />

A Constituição Brasileira de 1988 instituiu, no âmbito<br />

das políticas públicas, a participação social como eixo<br />

fundamental na gestão e no controle das ações do<br />

governo (Beghin; Jaccoud; Silva, 2002). Com isto, foram<br />

implementados novos mecanismos nos processos de<br />

tomada de decisões, o que fez emergir um regime de<br />

ação pública descentralizada, no qual são criadas<br />

formas inovadoras de interação entre governo e<br />

sociedade.<br />

A partir de 1990 a participação da sociedade civil na<br />

gestão pública ganhou novos contornos e dimensões,<br />

sendo uma delas a ambiental, com a inclusão de vários<br />

atores sociais no processo de deliberação pública,<br />

tornando-a um mecanismo para a democracia na<br />

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promoção da coesão social entre o governo e os<br />

cidadãos (ROCHA, 2009).<br />

No Brasil a AAE não é obrigatória, mas tem sido<br />

realizada de forma voluntária, contando com a ausência<br />

total de exigências legais na sua aplicação (SÁNCHEZ,<br />

2008). Portanto, não existem orientações oficiais<br />

específicas para a sua realização.<br />

As AAEs são realizadas algumas vezes para facilitar o<br />

processo de licenciamento ambiental, outras vezes para<br />

atender às exigências do Banco Interamericano de<br />

Desenvolvimento (BID), para que conceda o<br />

financiamento de programas e projetos. Nos últimos 15<br />

anos foram elaborados no Brasil, cerca de trinta AAEs<br />

(OPPERMANN, 2012).<br />

A metodologia do estudo envolveu a revisão<br />

bibliográfica do tema em questão, com a finalidade de<br />

constituir um referencial conceitual acerca das<br />

possibilidades de participação pública na AAE nos<br />

diversos níveis de tomada de decisão, verificando, para<br />

tanto, os métodos e as práticas nacionais e estrangeiras<br />

existentes.<br />

METODOLOGIA<br />

Para o Ministério do Meio Ambiente (2010), o processo<br />

de AAE deve prever os momentos, as formas e os canais<br />

de comunicação, além do envolvimento e inclusão da<br />

opinião dos atores, em função da dinâmica de cada<br />

setor e do respectivo processo de decisão, de modo a<br />

criar uma cultura de participação.<br />

Nesse sentido, este artigo tem por objetivo apresentar<br />

uma avaliação da participação pública em processos de<br />

Avaliação Ambiental Estratégica no Brasil, com a<br />

averiguação do conteúdo de relatórios de AAE e da<br />

consideração, no decorrer desses processos, das<br />

diretrizes estabelecidas pelo critério participativo de<br />

boas práticas preconizado pela IAIA (2002), a fim de<br />

verificar se as referências brasileiras atenderam de<br />

forma apropriada ao mesmo.<br />

Através dos relatórios ambientais das AAEs foram<br />

levantados os atores, métodos aplicados para o<br />

envolvimento destes, a fase em que ocorreu a<br />

participação pública e, ainda, se as sugestões foram<br />

consideradas no relatório final da AAE. Em seguida, foi<br />

realizada uma análise crítica do processo de<br />

participação pública nessas AAEs.<br />

Para atender ao objetivo da pesquisa foi realizada uma<br />

análise crítica qualitativa dos métodos e práticas de<br />

participação pública em AAEs brasileiras, a qual foi<br />

aplicada ao conteúdo de diferentes relatórios<br />

ambientais. Para este propósito foi utilizada um<br />

conjunto de dez estudos de caso, em diferentes setores<br />

de atividades. Como contextualizado por Lee e Colin,<br />

(2006), a análise do conteúdo dos relatórios ambientais<br />

se baseia na leitura de textos de forma sistemática,<br />

como forma de interpretá-los e fazer suposições sobre<br />

os processos que descrevem, sendo estes fontes<br />

facilmente acessíveis de conhecimentos relevantes,<br />

embora esses relatórios não contemplem de forma<br />

exaustiva a complexidade dos processos de<br />

planejamento e a dinâmica de governança.<br />

Os critérios para a escolha dos relatórios ambientais<br />

foram os seguintes:<br />

Disponibilidade na Internet dos relatórios<br />

ambientais;<br />

Processos que se encontravam concluídos, uma<br />

vez que se pretendia analisar os relatórios finais<br />

de cada AAE.<br />

Para a avaliação das práticas do processo de<br />

participação pública, foi realizada uma análise<br />

comparativa com o critério participativo, estabelecido<br />

pela IAIA (2002), que faz parte de um conjunto dos seis<br />

critérios de desempenho, considerados essenciais para<br />

um processo de AAE.<br />

No critério participativo de boas práticas de AAE devese<br />

considerar se a mesma obedece aos os seguintes<br />

procedimentos:<br />

<br />

<br />

<br />

Informa e envolve o público interessado e<br />

afetado, assim como os órgãos governamentais<br />

ao longo de todo o processo de decisão;<br />

Considera as sugestões e preocupações da<br />

sociedade na documentação da AAE e na<br />

tomada de decisão;<br />

Apresenta requisitos de informação claros e<br />

facilmente compreensíveis, assegurando acesso<br />

suficiente a toda a informação relevante.<br />

Com base em uma escala pré-definida foi realizada uma<br />

análise comparativa a fim de averiguar o cumprimento<br />

dos três itens para o critério participativo, conforme<br />

estipulado pela IAIA (2002), para cada AAE analisada.<br />

De acordo com a escala, o símbolo S representa que a<br />

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AAE analisada atende Satisfatoriamente os três itens do<br />

critério. O símbolo RS representa que atende<br />

Razoavelmente Satisfatório, com dois itens; NS<br />

representa que atende de forma Não Satisfatória,<br />

constando somente um item e NE Não Encontrado.<br />

que o emprego da AAE deve seguir os princípios de bom<br />

desempenho reconhecidos por organizações<br />

internacionais de desenvolvimento profissional,<br />

cooperação técnica e de apoio ao desenvolvimento<br />

econômico.<br />

A utilização desse critério estipulado pela IAIA é<br />

reforçada e apoiada pelo MMA (2010), o qual menciona<br />

No Quadro 1 estão relacionadas e analisadas de forma<br />

sintética as dez AAEs consideradas neste estudo, bem<br />

como o setor de atividade e nível de governo, a<br />

localização (site) dos seus relatórios, e os atores<br />

envolvidos, além de apresentar a síntese dos métodos<br />

e práticas de participação pública e as fases em que<br />

ocorreram.<br />

Por meio da análise apresentada no Quadro 1 pode-se<br />

verificar que a participação pública é mencionada em<br />

todos os relatórios ambientais, sendo que foram<br />

utilizados diversos métodos de envolvimento das partes<br />

interessadas, conforme se segue:<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Reuniões técnicas e seminários;<br />

Sessões públicas de apresentação e discussão;<br />

Consulta pública (reuniões com a comunidade<br />

afetada e audiências públicas);<br />

Comitês de acompanhamento;<br />

Disponibilização na web ─ que ocorreu através<br />

de site próprio da agência ambiental onde o<br />

estudo está inserido ou no site dos<br />

elaboradores da AAE;<br />

Workshop com oficinas;<br />

Realização de cursos sobre AAE;<br />

Divulgação da informação escrita (folders).<br />

Mediante os dados disponíveis e analisados, identificouse<br />

que a consulta através de audiências públicas foi<br />

utilizada em 90 % (noventa por cento) das AAEs, fato<br />

este já constatado em outros estudos (BISSET, 2000).<br />

Além das audiências públicas, observaram-se também<br />

outros métodos, como as reuniões técnicas, que foram<br />

verificadas em sete AAEs; o comitê de<br />

acompanhamento, em quatro; seminários e oficinas,<br />

em três; site eletrônico, em duas e curso, em apenas<br />

uma AAE. Somente a AAE da Mata Branca dispõe de um<br />

site próprio para a participação do público<br />

(http://aaebiomacaatinga.webnode.com.br/).<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

Observa-se que em todas as AAEs o processo de<br />

participação pública adotou formas distintas de atender<br />

as partes interessadas, como as agências<br />

governamentais e especialistas, através de reuniões<br />

técnicas, e o público em geral, por meio de consultas e<br />

audiências públicas.<br />

Somente a AAE da Mata Branca aplicou o quinto nível<br />

de participação pública configurada pela IAP (2000),<br />

que é a capacitação do público. Foi realizado um curso<br />

sobre AAE com o objetivo de proporcionar um<br />

nivelamento para as partes interessadas e comunidade<br />

e foi promovido um ciclo de palestras que abordavam<br />

temas relevantes sobre a importância da preservação<br />

da Caatinga. Este procedimento é importante, pois<br />

conforme Arbter (2005), no planejamento estratégico é<br />

mais difícil envolver os vários grupos que compõem a<br />

parte afetada. Excluindo os especialistas, o público<br />

geralmente não se interessa por planejamento por<br />

conter propostas abstratas que requerem<br />

conhecimentos específicos.<br />

A síntese dos resultados obtidos, conforme análise<br />

crítica realizada segundo o critério de desempenho<br />

participativo da IAIA (2002) é apresentada no quadro<br />

seguinte.<br />

Conforme pode ser visualizado a partir do Quadro 2, a<br />

participação pública ocorreu nos estudos de caso (AAEs)<br />

selecionados pelo presente trabalho. Observa-se que<br />

para o Item a do Critério Participativo da IAIA (2002),<br />

três casos foram considerados satisfatórios, sete casos<br />

foram razoavelmente satisfatórios e nenhum foi<br />

considerado não satisfatório. Para o Item b, não houve<br />

nenhum caso satisfatório, houve seis casos<br />

razoavelmente satisfatórios e quatro não satisfatórios.<br />

Por fim, com relação ao Item c, três casos foram<br />

satisfatórios, cinco se apresentaram razoavelmente<br />

satisfatórios e dois não satisfatórios.<br />

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Com os dados obtidos no Quadro 2 nota-se que, das trinta possibilidades encontradas, cinco foram consideradas<br />

satisfatórias (16,67%), 18 razoavelmente satisfatórias (60%), três não satisfatórias (10%) e quatro não encontradas<br />

(13,<strong>33</strong>%) (vide Figura 2 a seguir).<br />

70,00%<br />

60,00%<br />

50,00%<br />

40,00%<br />

30,00%<br />

20,00%<br />

10,00%<br />

0,00%<br />

Figura 2 ─ Classificação da participação pública nas AAEs<br />

60%<br />

16,67%<br />

13,<strong>33</strong>%<br />

10%<br />

S (5) RS (18) NS (3) NE (4)<br />

S (5)<br />

RS (18)<br />

NS (3)<br />

NE (4)<br />

Desta forma, pode-se interpretar que a deficiência<br />

maior é verificada no Item b, que não foi encontrado<br />

em quatro AAEs, evidenciando a não incorporação das<br />

ações ou decisões tomadas em resposta à participação<br />

pública, com relação às questões que foram levantadas<br />

e sugeridas ao relatório ambiental final.<br />

Analisando o Critério Participativo de Boas Práticas da<br />

IAIA (2002), verifica-se que apenas quatro dos relatórios<br />

ambientais citam que as sugestões ocorridas durante o<br />

processo de participação pública foram incorporadas<br />

nas AAEs. É reconhecido que, no contexto das boas<br />

praticas de participação pública, que os participantes<br />

saibam como sua contribuição foi considerada na<br />

decisão final.<br />

Outro fato observado é que a participação pública,<br />

embora ocorrendo em algumas das etapas das AAEs,<br />

não foi viabilizada logo no início desses processos, na<br />

fase de prospecção (screening), conforme preconizado<br />

pelo Critério Participativo de Boas Práticas (IAIA, 2002).<br />

Somente em um caso a participação pública foi<br />

realizada na fase da elaboração do Termo de Referência<br />

(AAE do Extremo Sul da Bahia), onde ainda é possível a<br />

comunidade influenciar no escopo de uma AAE.<br />

Em relação à realimentação (feedback) que deveria<br />

ocorrer entre os responsáveis pela elaboração das AAEs<br />

e os atores chave durante o processo de participação<br />

pública, constatou-se a existência de poucas<br />

informações nos relatórios, que somente citam que as<br />

sugestões foram incorporadas.<br />

Outra questão relevante constatada é a falta de<br />

conclusões sobre a participação pública nos relatórios<br />

ambientais, por exemplo, explicitando o modo como as<br />

opiniões recebidas foram avaliadas.<br />

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Esta pesquisa identificou lacunas centrais relacionadas<br />

aos critérios necessários à realização das boas práticas<br />

de participação pública em AAE no Brasil. Foi<br />

constatada a necessidade de aprofundamento das<br />

questões teóricas relacionadas aos procedimentos e<br />

teorias substanciais à realização de AAE, para o<br />

processo de participação.<br />

Com a análise dos relatórios foi possível verificar que a<br />

participação pública na AAE no contexto brasileiro vem<br />

sendo praticada, de um modo em geral, apenas com o<br />

cumprimento mínimo recomendado. Tal fato se<br />

constata quando o método mais utilizado para envolver<br />

os atores chave é a consulta através da audiência<br />

pública, percebendo-se, portanto, que ainda se pratica<br />

esta participação nos moldes do Estudo de Impacto de<br />

Ambiental (EIA), que esta prática ocorre principalmente<br />

no final do processo, não oportunizando aos atores uma<br />

real contribuição para o mesmo, tornando-o mais<br />

transparente, legítimo e eficaz. Em relação ao método<br />

através da disponibilização dos relatórios de AAE na<br />

web, através do site eletrônico, restringe-se o<br />

envolvimento e a participação e das pessoas sem<br />

acesso à Internet.<br />

Percebe-se que a prática da participação pública no<br />

Brasil precisa ainda avançar no que diz respeito aos<br />

métodos e práticas nos processos decisórios, visto que<br />

as AAEs consideradas neste estudo atenderam apenas a<br />

alguns critérios estabelecidos pela IAIA e pela literatura<br />

pertinente. Contudo, apesar dessa constatação,<br />

observa-se que em algumas AAEs foram adotadas<br />

alguns métodos de participação, numa tentativa de<br />

abranger os atores chave envolvidos, o que pode ser<br />

considerado um ponto positivo nesse processo.<br />

Assim, conclui-se que a participação pública, da forma<br />

como vem sendo praticada, atende apenas<br />

parcialmente aos requisitos mínimos exigidos pelos<br />

organismos internacionalmente conceituados sobre a<br />

matéria em questão.<br />

Desta forma, algumas recomendações podem ser feitas<br />

para que a participação pública na AAE se torne mais<br />

eficaz no Brasil, tais como:<br />

CONCLUSOES E RECOMENDAÇÕES<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

<br />

Proporcionar diversas formas e oportunidades<br />

de participação pública e implementar<br />

abordagens para o alcance de opiniões<br />

diferentes, empregando variados meios de<br />

divulgação e comunicação, em função das<br />

diversidades culturais;<br />

A abordagem de envolver o público através da<br />

disponibilização das informações na Internet<br />

restringe a participação pública apenas a<br />

pessoas com acesso a ela. Mesmo em casos em<br />

que a consulta realizada via internet alcance um<br />

grande número de pessoas, este processo<br />

deverá ser complementado com a utilização de<br />

formas presenciais de participação, para que as<br />

questões e dúvidas que surjam possam ser<br />

discutidas de forma mais dinâmica e interativa;<br />

As informações devem ser disponibilizadas por<br />

um tempo adequado, ou seja, a tempo das<br />

pessoas poderem analisa-las adequadamente e<br />

dar sugestões. Prazos demasiadamente curtos<br />

podem reduzir o número de pessoas a serem<br />

informadas e de terem a possibilidade de se<br />

manifestar;<br />

As informações disponibilizadas devem ser<br />

textos não longos e de fácil compreensão,<br />

sendo interessante a elaboração de um sumário<br />

não técnico para ser amplamente divulgado a<br />

população interessada e afetada;<br />

Fornecer sempre retorno (feedback) em relação<br />

às sugestões recebidas durante o processo de<br />

participação pública. Informar se as sugestões<br />

foram ou não aceitas na versão final da AAE, o<br />

que reforça a responsabilidade e credibilidade<br />

do processo.<br />

A AAE deve ser regulamentada no Brasil, com<br />

dispositivo prevendo a obrigatoriedade da<br />

consulta pública e de outros mecanismos<br />

pertinentes que fomentem a participação de<br />

todos os interessados ou envolvidos no<br />

processo, por exemplo, com a elaboração de<br />

guias ou diretrizes correlatas e com a realização<br />

de audiências publicas nas regiões ou locais<br />

objeto das PPPs avaliadas.<br />

<br />

Considerar os aspectos sociais e culturais da<br />

comunidade envolvida, compreendendo e<br />

respeitando o perfil cultural dos participantes;<br />

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Ressalva-se que a análise crítica realizada teve por base<br />

somente os relatórios ambientais das AAEs, não se<br />

fazendo uso de outros documentos e instrumentos.<br />

Recomenda-se que, para futuros estudos, as análises<br />

envolvam documentos que embasaram as AAEs e<br />

outros instrumentos, como entrevistas com os<br />

responsáveis pela sua elaboração, comunidade<br />

científica e os atores chave envolvidos, principalmente<br />

os representantes das comunidades a serem afetadas.<br />

AAE<br />

1) Setor de<br />

petróleo e gás<br />

natural na Bacia de<br />

Camamu-Almada<br />

(2003).<br />

Setor/ Nível<br />

Energia - petróleo e<br />

gás natural /<br />

Estadual (BA).<br />

Quadro 1. Informações e análise das AAEs estudadas<br />

Relatório de AAE<br />

(acesso)<br />

http://lima.coppe.u<br />

frj.br/aaesulbahia/<br />

Atores<br />

- Sociedade local e<br />

a grupos de<br />

interesse<br />

Métodos de<br />

Participação<br />

Pública/ Fases<br />

- Reuniões técnicas<br />

(elaboração da<br />

metodologia e<br />

desenvolvimento<br />

do estudo, que se<br />

considera escopo e<br />

cenários);<br />

- Consultas públicas<br />

(audiências<br />

públicas)<br />

- Comitê de<br />

acompanhamento<br />

- Internet<br />

(relatórios e<br />

documentos)<br />

Observações<br />

- Considerou as<br />

sugestões e<br />

preocupações da<br />

sociedade na AAE.<br />

2) Programa<br />

Rodoviário de<br />

Minas Gerais<br />

(PRMG) (2006).<br />

Transportes/<br />

Estadual (MG).<br />

http://www.transp<br />

ortes.mg.gov.br/in<br />

dex.php?view=artic<br />

le&catid=47:geral&<br />

id=747:avaliacaoambientalestrategicaaae&tmpl=compon<br />

ent&print=1&page<br />

=<br />

- Usuários e<br />

operadores dos<br />

serviços de<br />

transportes<br />

rodoviários de<br />

cargas e<br />

passageiros;<br />

- Sociedade local<br />

- Consultas Públicas<br />

através de<br />

audiências públicas<br />

(dez) nos trechos<br />

atingidos pela<br />

rodovia, realizadas<br />

pela COPAM.<br />

- Reuniões, a partir<br />

de solicitação, com<br />

associações,<br />

entidades<br />

ambientalistas e<br />

organizações da<br />

sociedade civil das<br />

áreas de influência.<br />

- Não informa se as<br />

considerações da<br />

participação<br />

pública foram<br />

inseridas na AAE.<br />

3) Programa da<br />

Qualidade<br />

Ambiental Urbana<br />

do Amapá - GEA-<br />

BID (2006).<br />

Meio ambiente/<br />

Estadual (AP).<br />

http://idbdocs.iadb<br />

.org/wsdocs/getdo<br />

cument.aspx?docn<br />

um=724751<br />

- Representantes<br />

de ONG, da<br />

comunidade<br />

envolvida com o<br />

programa, demais<br />

representantes da<br />

sociedade civil e<br />

lideranças<br />

- Na elaboração do<br />

RAAE foram<br />

realizados contatos<br />

e promovidas<br />

reuniões com os<br />

órgãos executores<br />

e de controle<br />

ambiental. As<br />

consultas públicas<br />

- Não informa se as<br />

sugestões foram<br />

inseridas na AAE.<br />

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AAE<br />

Setor/ Nível<br />

Relatório de AAE<br />

(acesso)<br />

Atores<br />

empresariais.<br />

Métodos de<br />

Participação<br />

Pública/ Fases<br />

ocorreram em<br />

diferentes<br />

momentos da fase<br />

de preparação.<br />

Observações<br />

- Reuniões de<br />

consulta pública<br />

(Laranjal do Jari,<br />

Santana e Macapá).<br />

4) Plano de<br />

Turismo<br />

Sustentável na<br />

Costa Norte (2007).<br />

Turismo/Federal.<br />

http://lima.coppe.u<br />

frj.br/aaeturismoco<br />

stanorte/<br />

- Mapeamento de<br />

instituições<br />

governamentais,<br />

privadas e<br />

organizações não<br />

governamentais e<br />

universidade.<br />

- Empresários do<br />

turismo e<br />

pescadores.<br />

- Consulta<br />

institucional e<br />

pública, nas etapas<br />

do escopo e nas<br />

fases de<br />

caracterização,<br />

identificação dos<br />

planos e programas<br />

e para o<br />

diagnóstico.<br />

- Relatórios<br />

disponibilizados<br />

eletronicamente e<br />

posterior discussão<br />

na Consulta<br />

Pública.<br />

- As informações e<br />

dados levantados<br />

por intermédio de<br />

pesquisa e de<br />

consulta aos atores<br />

sociais relevantes<br />

foram<br />

considerados na<br />

AAE.<br />

- Reuniões técnicas;<br />

5) Programa de<br />

Transporte Urbano<br />

do Distrito Federal<br />

e Entorno - Brasília<br />

Integrada. (2007).<br />

Transportes/<br />

Distrito Federal.<br />

http://www.st.df.g<br />

ov.br/sites/100/16<br />

7/00000390.PDF<br />

- Atores das esferas<br />

federal e distrital<br />

de governo, da<br />

sociedade civil, do<br />

setor produtivo e<br />

do terceiro setor,<br />

populações de<br />

ambulantes,<br />

motoristas e<br />

cobradores de<br />

ônibus.<br />

- Consulta pública<br />

(audiência pública)<br />

foi realizada,<br />

sustentada por<br />

documentação<br />

apropriada, com a<br />

participação de<br />

representantes da<br />

sociedade civil, das<br />

comunidades, de<br />

lideranças locais e<br />

ONGs. Não se<br />

verifica a<br />

participação dos<br />

outros municípios<br />

envolvidos pelo<br />

programa.<br />

- Sugestões e<br />

recomendações<br />

por parte do<br />

público, foram<br />

avaliadas e<br />

incorporadas aos<br />

relatórios para<br />

elaboração da<br />

versão definitiva do<br />

RAAE.<br />

6) Sub-bacia do Rio<br />

Verde (2007).<br />

Energia elétrica /<br />

Estadual (MS).<br />

Disponibilizado<br />

pelo Instituto de<br />

Meio Ambiental de<br />

Mato Grosso do<br />

Sul.<br />

- Prefeituras,<br />

populações locais,<br />

produtores da<br />

região<br />

(pecuaristas),<br />

- Reuniões Técnicas<br />

e seminários com a<br />

comunidade<br />

técnico-científica<br />

(durante a<br />

- Não esclarece se<br />

os<br />

questionamentos<br />

foram<br />

considerados na<br />

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AAE<br />

Setor/ Nível<br />

Relatório de AAE<br />

(acesso)<br />

Atores<br />

pescadores,<br />

instituições de<br />

pesquisa, entidades<br />

ambientalistas,<br />

órgãos públicos de<br />

saúde,<br />

empreendedor.<br />

Métodos de<br />

Participação<br />

Pública/ Fases<br />

finalização de cada<br />

etapa), só<br />

informou.<br />

- Seminários de<br />

Consulta Pública<br />

com distribuição de<br />

um folder com<br />

informações<br />

básicas<br />

(apresentou<br />

resultados<br />

preliminares da<br />

AAE).<br />

Observações<br />

AAE final.<br />

7) Polo Industrial e<br />

de Serviços de<br />

Anchieta (2009).<br />

Minero-industrial /<br />

Estadual (ES).<br />

Disponibilizado<br />

pelo Instituto<br />

Estadual de Meio<br />

Ambiente do<br />

Espírito Santo.<br />

- Representantes<br />

dos órgãos<br />

públicos;<br />

população da<br />

região do entorno<br />

de Anchieta.<br />

- Conselho de<br />

Acompanhamento -<br />

Fórum da<br />

Companhia<br />

Siderúrgica Ubu e<br />

Comitê de Bacia do<br />

Rio Benevente.<br />

(composto por<br />

representantes da<br />

comunidade civil<br />

organizada).<br />

- Audiências<br />

públicas e<br />

seminários (três)<br />

realizados pelo<br />

Conselho de<br />

Planejamento,<br />

Avaliação e<br />

Monitoramento de<br />

Políticas Públicas<br />

para a Região do<br />

Polo – COPLAM,<br />

com intuito de<br />

informar à<br />

população acerca<br />

dos investimentos<br />

e projetos para a<br />

região.<br />

- Não cita se as<br />

sugestões foram<br />

inseridas na AAE.<br />

8) Programa -<br />

Complexo Porto<br />

Sul (2010).<br />

Desenvolvimento<br />

minero-industrial /<br />

Estadual (BA).<br />

http://www.inema.<br />

ba.gov.br/estudosambientais/avaliac<br />

aoambiental/portosul<br />

http://www.lima.c<br />

oppe.ufrj.br/files/a<br />

aeportosul/aae_su<br />

mario_executivo.p<br />

df<br />

- Atores sociais da<br />

região de estudo.<br />

- Comitê de<br />

Acompanhamento;<br />

- Grupo de<br />

Trabalho<br />

Governamental;<br />

- Disponibilização<br />

do relatório<br />

preliminar da AAE<br />

no momento da<br />

consulta pública.<br />

- As sugestões e<br />

observações do<br />

Comitê e da<br />

Consulta foram<br />

avaliadas e<br />

incorporadas no<br />

relatório final da<br />

AAE.<br />

9) Projeto Mata<br />

Branca (2010).<br />

Meio ambiente /<br />

Estadual (CE).<br />

Disponibilizado<br />

pela equipe<br />

elaboradora da<br />

- Representantes<br />

de instituições<br />

governamentais, da<br />

academia e<br />

- Curso de<br />

nivelamento<br />

(definição dos<br />

objetivos e<br />

- As sugestões<br />

foram<br />

incorporadas na<br />

etapa dos Fatores<br />

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Setor/ Nível<br />

Relatório de AAE<br />

(acesso)<br />

Atores<br />

Métodos de<br />

Participação<br />

Pública/ Fases<br />

AAE. sociedade civil. resultados);<br />

- Ciclo de palestras,<br />

oficinas; seminários<br />

(descrição da<br />

situação atual de<br />

cada fator crítico<br />

de decisão);<br />

Observações<br />

Críticos de Decisão<br />

(FCD).<br />

- Disponibilidade de<br />

um site eletrônico<br />

para expressar<br />

opiniões.<br />

10) Extremo Sul da<br />

Bahia (2011).<br />

Indústria, energia e<br />

agricultura /<br />

Estadual (BA).<br />

http://www.seia.ba<br />

.gov.br/sites/defaul<br />

t/files/other/Produ<br />

to%203%20-<br />

%20AAE-<br />

Extremo%20Sul.pdf<br />

http://www.lima.c<br />

oppe.ufrj.br/files/a<br />

aeextremosul/aae_<br />

sumario_executivo.<br />

pdf<br />

- Técnicos da<br />

INEMA, SEMA e<br />

representantes da<br />

comunidade local.<br />

- Reuniões técnicas<br />

(elaboração do<br />

Termo de<br />

Referencia e na<br />

fase resultados do<br />

diagnóstico)<br />

- Comitê de<br />

acompanhamento<br />

com a participação<br />

dos setores da<br />

sociedade (fase dos<br />

cenários e<br />

discussão dos<br />

resultados).<br />

- Consulta pública<br />

(apresentou os<br />

resultados da fase<br />

de diagnóstico).<br />

- Os resultados das<br />

fases finais<br />

(cenários e<br />

avaliação<br />

ambiental) não<br />

foram<br />

apresentados e<br />

validados em<br />

consulta pública<br />

aos atores sociais<br />

da região.<br />

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AAE<br />

Critério Participativo<br />

(IAIA, 2002)<br />

1) Setor de petróleo e gás<br />

natural na Bacia de Camamu-<br />

Almada (2003)<br />

2) Programa Rodoviário em<br />

Minas Gerais (PRMG) (2006)<br />

3) Programa da Qualidade<br />

Ambiental Urbana do Amapá -<br />

GEA-BID (2006)<br />

4) Plano de Turismo<br />

Sustentável na Costa Norte<br />

(2007)<br />

5) Programa de Transporte<br />

Urbano do Distrito Federal e<br />

Entorno - Brasília Integrada<br />

(2007)<br />

6) Sub-bacia do Rio Verde<br />

(2007)<br />

7) Polo Industrial e de Serviços<br />

de Anchieta (2009)<br />

8) Programa-Complexo Porto<br />

Sul (2010)<br />

Quadro 2 – Resultados da análise da participação pública no processo de AAE<br />

a) Informa e envolve o público<br />

interessado e afetado, assim<br />

como os órgãos<br />

governamentais, ao longo de<br />

todo o processo de decisão?<br />

b) Considera as sugestões e<br />

preocupações da sociedade na<br />

documentação da AAE e na<br />

tomada de decisão?<br />

c) Apresenta requisitos de<br />

informação claros e<br />

facilmente compreensíveis e<br />

assegura suficiente acesso a<br />

toda a informação relevante?<br />

RS RS RS<br />

RS NE NS<br />

RS NE NS<br />

S RS S<br />

RS RS RS<br />

RS NE RS<br />

RS NE RS<br />

S RS RS<br />

9) Projeto Mata Branca (2010) S RS S<br />

10) Extremo Sul da Bahia<br />

(2011)<br />

RS RS NS<br />

Legenda:<br />

S – satisfatório<br />

RS – razoavelmente satisfatório<br />

NS – não satisfatório<br />

NE – não encontrado.<br />

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ALTERAÇÕES QUÍMICAS EM SOLO OCUPADO POR CEMITÉRIO HORIZONTAL<br />

NO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL<br />

Chemical changes in soil occupied for cemetery horizontal in Rio Grande do Sul - North<br />

Pedro Daniel da Cunha<br />

Kemerich<br />

Universidade Federal do Pampa,<br />

Caçapava do Sul-RS.<br />

E-mail: eng.kemerich@yahoo.com.br<br />

Willian Fernando de Borba<br />

Universidade Federal de Santa Maria -<br />

UFSM, Santa Maria-RS.<br />

E-mail: borbawf@gmail.com<br />

Natana Schmachtenberg<br />

Universidade Federal de Santa Maria -<br />

UFSM, Frederico Westphalen – RS.<br />

E-mail: Natana_2005@yahoo.com.br<br />

Cristiane Graepin<br />

crisgraepin@hotmail.com,<br />

Universidade Federal de Santa Maria,<br />

Santa Maria – RS<br />

Carlos Eduardo Balestrin Flores<br />

carlos.ebf@hotmail.com,<br />

Universidade Federal do Pampa -<br />

Unipampa, Caçapava do Sul-RS<br />

Guilherme Barros<br />

guilherme_barrosp@hotmail.com,<br />

Universidade Federal de Santa Maria -<br />

UFSM, Frederico Westphalen-RS<br />

Ademir Eloi Gerhardt<br />

adegerhardt@bol.com.br,<br />

Universidade Federal de Santa Maria -<br />

UFSM, Santa Maria-RS<br />

RESUMO<br />

Atualmente, têm-se poucos estudos que relacionam os cemitérios como<br />

atividades causadoras de impactos ambientais. Com isso, o presente estudo<br />

tem por objetivo determinar alterações nas propriedades químicas em um<br />

solo ocupado por cemitério. Foram realizadas tradagens no solo nas<br />

profundidades de 0 a 300 cm, para consequente determinação dos<br />

parâmetros Amônia, Nitrato, pH e Nitrito. Foram verificadas as<br />

variações de Amônia (17,63 a 580,08 mg kg -1 ), Nitrato ((valores menores<br />

que o Limite de Detecção (L.D). a 361,93 mg kg -1 )), Nitrito (valores menores<br />

que o L.D. até 7,19 mg kg -1 ) e pH (de 4,8 a 7,9). O parâmetro Altitude<br />

apresentou correlação negativa moderada (-0,45) e Fraca (-0,<strong>33</strong>) com os<br />

parâmetros Amônia e Nitrato respectivamente, já a Amônia e Nitrato<br />

apresentaram correlação positiva moderada (0,55). Foi possível concluir que<br />

a área apresenta maiores concentrações dos parâmetros analisados nas<br />

maiores profundidades, evidenciando que o sepultamento dos corpos alterou<br />

as propriedades químicas do solo.<br />

Palavras-chave: Amônia; Cemitério; Nitrito, Poluição.<br />

ABSTRACT<br />

Currently, there are few studies that relate the cemeteries as activities<br />

causing environmental impacts. Thus, this study aims to determine changes<br />

in the chemical properties in a soil occupied by the cemetery. Boreholes were<br />

carried out in soil at depths between 0 -300 cm for subsequent<br />

determination of the parameters of: Ammonia, Nitrate, pH and Nitrite. Were<br />

verified Ammonia variations (17,63 to 580,08 mg kg -1 ), nitrate variations<br />

(values less than the L.D. to 361,93 mg kg -1 ) Nitrite variations ((values less<br />

than the Limits of Detection (L.D.) to 7,19 mg kg -1 )) and pH variations (4,8 to<br />

7,9). The altitude parameter presented a moderate negative correlation (-<br />

0,45) and weak (-0,<strong>33</strong>) with ammonia and nitrate, respectively, although the<br />

Ammonia and nitrate parameters showed a moderate positive correlation<br />

(0,55). It was concluded that the area presents higher concentrations of the<br />

parameters analyzed in greater depths, indicating that the burial of bodies<br />

changed the chemical properties of the soil.<br />

Keywords: Ammonia; Cemetery; Nitrite, Pollution.<br />

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Os cemitérios, como qualquer outra instalação que<br />

afete as condições naturais do solo e das águas<br />

subterrâneas, são classificados como atividade com<br />

risco de contaminação ambiental. A razão disso é que o<br />

solo em que estão instalados funciona como um filtro<br />

das impurezas depositadas sobre ele (KEMERICH;<br />

UCKER; DE BORBA, 2012).<br />

A falta de medidas de proteção ambiental no<br />

sepultamento de corpos humanos em covas abertas no<br />

solo, ao longo de muitas décadas, fez com que a área de<br />

muitos cemitérios fosse contaminada por diversas<br />

substâncias, orgânicas e inorgânicas, e por microorganismos<br />

patogênicos. Por economia, é comum os<br />

municípios elegerem áreas de baixo ou quase nenhum<br />

valor de mercado para os sepultamentos. Geralmente<br />

terrenos grandes e íngremes em regiões mais afastadas<br />

do centro, ignorando critérios como formação geológica<br />

e hidrogeológica (FELICIONI et al., 2007).<br />

Segundo Kemerich et al. (2012c), a partir de 2003, com<br />

a implementação da Resolução do Conselho Nacional<br />

de Meio Ambiente (CONAMA) número <strong>33</strong>5 (CONANA<br />

<strong>33</strong>5/2003), observou-se a péssima situação dos<br />

cemitérios no Brasil.<br />

A escolha do local para instalação dos cemitérios deve<br />

ser feita com critério, observando as características do<br />

meio. Embora o solo seja uma barreira natural de<br />

proteção aos aquíferos subterrâneos, a contaminação<br />

das águas subterrâneas pode ocorrer da mesma<br />

maneira.<br />

Kemerich et al. (2012b) dizem que a implantação de<br />

cemitérios sem levar em consideração os critérios<br />

geológicos (características litológicas e estrutura do<br />

terreno) e hidrogeológicos (nível do lençol freático)<br />

constitui uma das causas de deterioração da qualidade<br />

das águas subterrâneas.<br />

INTRODUÇÃO<br />

Segundo Campos (2008), o produto da decomposição<br />

dos corpos humanos, conhecido como necrochorume, é<br />

liberado pelo corpo durante seis a oito meses, sendo<br />

que cada cadáver pode gerar de 30 a 40 litros.<br />

Composto de 60% de água, 30% de sais minerais e 10%<br />

de substâncias orgânicas tóxicas (putrescina e<br />

cadaverina), o necrochorume apresenta, ainda, carga<br />

patogênica. Essa substância é mais viscosa que a água,<br />

de cor acinzentada ou acastanhada, odor forte e<br />

desagradável. Se o solo dos cemitérios for poroso e<br />

permeável, o necrochorume pode vir a se mover e<br />

misturar com a água subterrânea, podendo tornar-se,<br />

assim, veículo de doenças, caso haja micro-organismos<br />

patogênicos.<br />

Os metais pesados presentes no necrochorume podem<br />

ter sua origem do próprio corpo humano, como<br />

resíduos de tratamentos hospitalares, como a<br />

quimioterapia, produtos utilizados no preparo do corpo,<br />

como cosméticos, dentre outros. Segundo Barros<br />

(2008), as partes metálicas dos caixões são<br />

consideradas as principais fontes de contaminação dos<br />

solos de cemitério pelos metais pesados.<br />

Nos terrenos destinados à implantação de cemitérios, a<br />

espessura da zona não saturada e o tipo de material<br />

geológico são fatores determinantes para a filtragem do<br />

necrochorume. A porcentagem ideal de argila no solo<br />

para que isso ocorra situa-se na faixa de 20% a 40%, a<br />

fim de que os processos de decomposição aeróbica e as<br />

condições de drenagem do necrochorume sejam<br />

favorecidos (SILVA, 1995).<br />

A toxicidade química do necrochorume diluído na água<br />

freática relaciona-se aos teores anômalos de compostos<br />

das cadeias do fósforo e do nitrogênio e aminas. O<br />

necrochorume no meio natural decompõe-se e é<br />

reduzido a substâncias mais simples e inofensivas, ao<br />

longo do tempo (ROMANÓ, 2005).<br />

OBJETIVO<br />

Esse trabalho tem como objetivo determinar as alterações nas propriedades químicas de um solo ocupado por<br />

cemitério, por meio de análises dos parâmetros Amônia, Nitrato, Nitrito e Potencial Hidrogeniônico, em diferentes<br />

profundidades e pontos de amostragem.<br />

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Caracterização da área de estudo<br />

“O local de estudo está situado no noroeste do estado<br />

do Rio Grande do Sul, Brasil, na latitude 27º 28’ 4” S e<br />

longitude 53º 24' 09" O, com altitude de 546 metros do<br />

nível do mar, abrangendo uma área de 301 km 2 e com<br />

população de 11098 habitantes (IBGE, 2009). Esta<br />

unidade territorial pertence à bacia hidrográfica do Rio<br />

Uruguai com clima subtropical úmido.<br />

A classificação do solo do município é determinada<br />

como Latossolo, Vermelho distroférico típico, gerado<br />

pelo processo de latolização; são solos profundos,<br />

minerais, não-hidromórficos, com cores que variam de<br />

vermelhas escuras a amareladas (SOUSA; LOBATO,<br />

2007).<br />

O cemitério municipal São João Batista está situado a<br />

520 m de altitude e foi fundado no ano de 1930,<br />

contendo atualmente cerca de 3 mil sepulturas,<br />

recebendo em média 7 corpos por mês em uma área de<br />

1,2 hectares (KEMERICH et al., 2012b).<br />

Localização dos pontos de amostragem e<br />

coleta de amostras<br />

A tradagem para coleta das amostras foi realizada em<br />

função da topografia existente no terreno e do fluxo<br />

preferencial de água superficial, do mesmo modo<br />

utilizado por Kemerich et al. (2012b), com o auxílio do<br />

software Surfer 8 da Golden Software, utilizando-se o<br />

método de interpolação matemática Krigagem<br />

(LANDIN; STURARO, 2002), conforme Figura 1. Foram<br />

considerados 10 pontos de coleta, denominados de P1<br />

a P10, conforme mostra a figura 1, que ilustra também<br />

a área total do cemitério e as linhas de fluxo superficial<br />

da água. P1 encontra-se no ponto de maior elevação,<br />

sendo considerado o ponto controle.<br />

Para a coleta das amostras, foi utilizado um trado<br />

manual Sonda Terra de 4 m de comprimento. Cada<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

amostra coletada foi armazenada em sacos plásticos e<br />

recebeu identificação correspondendo à localização do<br />

ponto de amostragem e à profundidade da coleta. Nos<br />

pontos analisados, foram coletadas amostras a cada 50<br />

cm de profundidade, iniciando-se com a amostra<br />

superficial em 0 cm até a profundidade de 300 cm,<br />

totalizado 7 amostras por ponto. Antes da coleta de<br />

cada amostra, o trado foi lavado com água destilada e<br />

deionizada (KEMERICH et al., 2012b).<br />

Preparo das amostras, espacialização dos<br />

dados e análise estatística<br />

O preparo das amostras seguiu procedimento descrito<br />

por Kemerich et al. (2012a). As determinações de<br />

Amônia (NH 3 ), Nitrato (NO 3 - ), Nitrito (NO 2 - ) e pH foram<br />

realizadas por metodologias e equipamentos ilustrados<br />

na Tabela 1.<br />

O Destilador de Nitrogênio utilizado neste estudo para a<br />

-<br />

determinação de NH 3 e NO 3 tem como Limite de<br />

Detecção (L.D.) de 0,35 mg kg -1 , já para o NO - 2 o L. D. é<br />

de 0,002 mg kg -1 .<br />

Para a confecção dos cartogramas, foi utilizado o<br />

programa SURFER 8 (GOLDEN SOFTWARE, 2004) e<br />

como método de interpolação matemática, foi utilizado<br />

krigagem (LANDIM; STURARO, 2002). Logo após foram<br />

espacializadas as informações de interesse com o uso<br />

da opção Post Map.<br />

Com relação à análise estatística, foi utilizado o<br />

Software Statistica 7, através da matriz de correlação de<br />

Pearson, com p significativo


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RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

A tabela 2 ilustra a variação das concentrações dos parâmetros Amônia, Nitrato, e Nitrito e os valores de pH do solo na<br />

área ocupada pelo cemitério municipal São João Batista, nos 10 pontos de amostragem com suas respectivas<br />

profundidades. Já a tabela 3, destaca os valores mínimos, máximos, médios e seus respectivos desvios padrões para a<br />

área de estudo.<br />

Amônia (NH3)<br />

Com exceção dos pontos P9 e P10, as maiores<br />

concentrações de Amônia encontram-se nas<br />

profundidades superficiais até 100 cm. A figura 2 ilustra<br />

a variação da concentração de Amônia no solo da área<br />

de estudo, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e<br />

150 cm (d).<br />

Kemerich et al. (2012a), estudando um solo de aterro<br />

sanitário no município de Seberi-RS, encontraram<br />

concentrações variando de 84 até 752,5 mg kg -1 , nas<br />

profundidades entre 0 e 150 cm, valores estes inferiores<br />

aos encontrados no presente estudo.<br />

A figura 3 ilustra a variação da concentração de NH 3 no<br />

solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),<br />

250 (b) e 300 cm (c).<br />

Giracca (2012) afirma que a decomposição microbiana<br />

de resíduos de plantas e animais no solo libera<br />

nitrogênio mineral, nitrato e amônia, formas desse<br />

elemento, que as plantas podem absorver da solução<br />

do solo, sendo assim a ocorrência de NH 3 pode ser um<br />

indicativo de poluição recente, possivelmente oriunda<br />

da redução de nitrato por bactérias ou íons ferrosos,<br />

presentes no solo (SILVA; ARAÚJO, 2003).<br />

As transformações do nitrogênio no solo envolvem a<br />

passagem das formas orgânicas (aquelas incorporadas<br />

pelos microrganismos e plantas) para as formas<br />

minerais. Este processo é controlado única e<br />

exclusivamente pelos microrganismos e gera o<br />

aparecimento de NH 3 , que pode ser perdida por<br />

volatilização ou reagir com o elemento Hidrogênio da<br />

solução do solo e, assim, produzir o íon Amônio (NH 4 + )<br />

(GIRACCA, 2012).<br />

Na área de estudo, os maiores valores ocorreram na<br />

camada até 100 cm, profundidade esta a que<br />

geralmente são enterrados os corpos humanos, o pode<br />

acarretar em sérios problemas relacionados à qualidade<br />

da água subterrânea.<br />

Segundo Zychowski (2012) a amônia foi considerada o<br />

produto principal de decomposição, sendo mais móveis<br />

que cloretos e íons de sulfato de sódio. A mesma migra<br />

através da zona insaturada em um tempo de até 20<br />

anos.<br />

Com isso, em áreas ocupadas por cemitérios, é de suma<br />

importância analisar as concentrações de tais<br />

compostos Nitrogenados.<br />

Nitrato (NO3 - )<br />

O NO 3 - é uma das formas inorgânicas do nitrogênio no<br />

solo e, juntamente, com o NH 4 , constitui produto final<br />

da mineralização do nitrogênio orgânico, contido em<br />

qualquer resíduo orgânico após adição ao solo. Por ser<br />

repelido pelas partículas do solo, que geralmente<br />

apresentam carga elétrica líquida negativa, esse ânion<br />

permanece livre na solução (DINYA et al., 2006). Em<br />

consequência disso, a quantidade presente na camada<br />

arável do solo fica sujeita à lixiviação. Ao longo do<br />

tempo, pode atingir o lençol freático e os corpos de<br />

água por ele alimentados, tornando-se este um grande<br />

problema de contaminação ambiental, uma vez que os<br />

maiores valores ocorreram nas amostras superficiais.<br />

Assim, os compostos podem ser facilmente lixiviados e<br />

carregados aos recursos hídricos superficiais.<br />

Devido a essa contaminação, as características da água<br />

podem ser alteradas, e se consumida pelo ser humano,<br />

pode vir a causar danos à saúde, pois o NO 3 - possui ação<br />

na síntese de nitrosaminas e nitrosamidas no estômago<br />

humano (FEITOSA; FILHO, 1997).<br />

Pode-se verificar que as concentrações mínimas na área<br />

de estudo, apresentam-se acima de 150 cm de<br />

profundidade (com exceção do ponto P2, em que<br />

apresentou valores


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cidade de Seberi-RS, encontraram concentrações<br />

variando entre 15,5 e 294,5 mg kg -1 , em profundidade<br />

de 0 a 150 cm, com isso é possível verificar os altos<br />

valores, comparando aos identificados na presente<br />

área, evidenciando a possível alteração dessa<br />

propriedade causada pelo uso de cemitério.<br />

A figura 5 ilustra a variação da concentração de Nitrato<br />

no solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),<br />

250 (b) e 300 cm (c).<br />

Vários trabalhos têm mostrado que o NO 3 - , por ser um<br />

ânion, é facilmente lixiviado no perfil do solo, sendo<br />

levado para fora do alcance das raízes das plantas e<br />

podendo atingir as águas subsuperficiais. Oliveira et al.<br />

(2001) verificaram um aumento com a profundidade,<br />

enquanto que Cardoso Neto (2006) obteve diminuição<br />

do nitrato com a profundidade, tendo a maior<br />

concentração na camada superficial, sabendo-se que as<br />

perdas de nitrato por lixiviação dependem da<br />

ocorrência de excedente hídrico. O mesmo<br />

comportamento foi identificado no presente trabalho,<br />

onde as maiores concentrações ocorreram nas<br />

amostras superficiais.<br />

Estudos realizados, em diferentes contextos geográficos<br />

e climáticos em diferentes cemitérios (Ziychowski,<br />

2012), demonstram que as alterações das águas<br />

subterrâneas nestas áreas resultam da presença de<br />

níveis elevados de vários contaminantes. No Brasil,<br />

estudos como o realizado por Zychowski (2012)<br />

mostram a presença de contaminação por nitrato perto<br />

das sepulturas, além de outros contaminantes não<br />

levados em consideração para a área do Cemitério<br />

Municipal São João Batista (RS) no presente estudo.<br />

Nitrito (NO2 - )<br />

O Nitrito presente no ambiente, em determinadas<br />

condições, podem combinar-se com aminas<br />

secundárias, formando nitrosaminas, sendo estas<br />

altamente cancerígenas e mutagênicas (REYES et al.,<br />

1987). Esse mesmo autor afirma que o Nitrito apresenta<br />

relação com o aparecimento de metemoglobinemia em<br />

crianças, o que evidencia a importância do estudo de tal<br />

elemento no meio.<br />

Com relação as concentrações de Nitrito no solo da<br />

área de estudo, valores de ordens diferentes foram<br />

encontrados por Kemerich et al. (2012a) em um solo na<br />

cidade de Seberi-RS, entre as profundidades de 0 a 150<br />

cm, cujos valores de NO 2 - variaram de 0,183 a 21,7 mg<br />

kg -1 . Já Cardoso Neto (2006), no município de Tibau- RN,<br />

encontrou as maiores concentrações na camada de 30 a<br />

45 cm de solo.<br />

A figura 6 ilustra a variação da concentração de Nitrito<br />

no solo da área de estudo nas profundidades de 0 (a),<br />

50 (b), 100 (c) e 150 cm (d).<br />

Barros et al. (2008) encontraram baixos teores de NO 2<br />

-<br />

acumulados no solo, sendo que a presença de amônia,<br />

proveniente das fontes amoniacais, associada a valor<br />

inicial do pH do solo, 7,3, pudesse ter inibido a oxidação<br />

do nitrito a nitrato pelas nitro bactérias. Em contato<br />

com os recursos hídricos (superficiais e subterrâneas),<br />

esses compostos se tornam fontes de problemas<br />

relacionados à saúde pública, sendo que o mesmo pode<br />

reagir com o Ferro II e ser fonte de uma doença<br />

conhecida como methemoglobina, conhecida também<br />

como “síndrome do bebê azul”.<br />

Chan et al. (1992) apud Zychowski (2012) encontraram<br />

concentrações baixas de Nitrito em águas subterrâneas<br />

de cemitérios. Já Dent e Knight (1998) apud Zychowski<br />

(2012) encontraram concentrações de Nitrito elevadas<br />

na água subterrânea do cemitério em Melbourne.<br />

A figura 7 ilustra a variação da concentração de Nitrito<br />

no solo da área de estudo nas profundidades de 200 (a),<br />

250 (b) e 300 cm (c).<br />

Potencial hidrogeniônico (pH)<br />

O pH varia na amplitude de 0 a <strong>14</strong> e é definido como a<br />

acidez ou alcalinidade relativa de uma solução, sendo o<br />

valor 7 é definido como neutro, valores abaixo são<br />

classificados como ácidos e os acima de 7 são<br />

classificados como alcalinos. Nos solos este varia de 3 a<br />

9.<br />

Conforme Silva (2011), o pH constitui-se um importante<br />

regulador da fertilidade do solo, por manter uma<br />

relação com a disponibilidade de cátions e influência<br />

nos diferentes processos e atividades no solo, tais<br />

como, adsorção, precipitação, solubilidade, formação<br />

de agregados, infiltração de água, atividade microbiana,<br />

entre outros (PAVAN; MIYAZAWA, 1996).<br />

A figura 8 ilustra a variação da concentração de pH no<br />

solo da área de estudo nas profundidades de 0 (a), 50<br />

(b), 100 (c) e 150 cm (d).<br />

Como pode ser observado na figura 8, os menores<br />

valores de pH estão presentes nos pontos de menor<br />

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cota, já as maiores concentrações foram evidenciadas<br />

nas menores cotas topográficas. Foi possível observar<br />

que o pH variou em função da profundidade, onde os<br />

valores maiores foram encontrados na amostra<br />

superficial.<br />

O pH do solo também influencia na velocidade de<br />

decomposição da matéria orgânica. Kemerich et al.<br />

(2012a), na cidade de Seberi-RS, em solo ocupado por<br />

aterro sanitário, encontraram valores semelhantes,<br />

variando de 4,12 a 7,9.<br />

Tem-se admitido que a acidez do solo e as condições<br />

fisiológicas que o acompanham resultam da ausência de<br />

cátions metálicos permutáveis. A quantidade destes<br />

cátions absorvidos exerce controle sobre a<br />

porcentagem de saturação de base e, assim,<br />

indiretamente determina a concentração dos íons de<br />

hidrogênio da solução do solo (OLIVEIRA, 2001).<br />

Oliveira et al. (2008) afirmam que os caixões de metal<br />

podem causar contaminação do solo por diversos<br />

elementos, tais como: Ferro, Cobre, Chumbo e Zinco,<br />

durante vários anos, especialmente em solos com baixo<br />

pH, o que se aplica à realidade do presente estudo, em<br />

que foram registrados valores baixos de pH. Segundo<br />

Cardoso Neto (2006) o pH pode ser influenciado pelas<br />

alterações da temperatura e atividades biológicas.<br />

A maior ou menor mobilidade dos metais pesados será<br />

determinada pelos atributos do solo, como teores e<br />

tipos de argila, pH, capacidade de troca de cátions, teor<br />

de matéria orgânica entre outros, que influenciarão as<br />

reações de adsorção/dessorção,<br />

precipitação/dissolução, complexação e oxirredução<br />

(BARROS et al., 2008).<br />

A figura 9 ilustra a variação do pH nas profundidades de<br />

200 (a), 250 (b) e 300 cm (c).<br />

Como pode ser observado, os maiores valores de pH<br />

estão presentes nos pontos de menores cotas<br />

topográficas, evidenciando a relação do parâmetro com<br />

o fluxo superficial e subsuperficial da água.<br />

Segundo Dent et al. (2004), as condições adequadas<br />

para a formação de nitrito e nitrato por bactérias<br />

nitrificantes, incluem valores favoráveis de pH no meio,<br />

devido as mesmas serem muito sensíveis a este<br />

parâmetro. As Nitrobacter spp. preferem um pH entre 5<br />

e 8, enquanto as Nitrossomonas spp. preferem pH entre<br />

7 e 9. Portanto, o pH é um elemento importante<br />

também na decomposição pelas bactérias nitrificantes.<br />

Correlação estatística entre os parâmetros<br />

analisados<br />

O coeficiente de correlação Pearson (r) varia de -1 a 1,<br />

sendo que o sinal indica direção positiva ou negativa do<br />

relacionamento e o valor sugere a força da relação<br />

entre as variáveis (FIGUEIREDO FILHO; SILVA JÚNIOR,<br />

2009).<br />

A tabela 3 ilustra a correlação estatística entre os<br />

parâmetros Altitude, Amônia, Nitrato, Nitrito e pH. Os<br />

valores destacados na cor vermelha apresentaram<br />

correlação significativa com p


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Figura 01: Fluxo preferencial de água superficial da área de estudo<br />

Tabela 01: Equipamentos e metodologias utilizadas para determinação de Amônia, Nitrato, Nitrito e pH.<br />

Parâmetro Equipamento Metodologia<br />

NH3 Destilador de Nitrogênio MA-036/MARCONI TEDESCO (1995)<br />

NO3- Destilador de Nitrogênio MA-036/MARCONI TEDESCO (1995)<br />

NO2- NOVA 2100 uv SPECTROPHOTOMER ABNT (1992)<br />

pH<br />

pHmetro pH-2100/INSTRUTHERM série<br />

3923/612<br />

TEDESCO (1995)<br />

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PONTOS DE AMOSTRAGEM<br />

PONTOS DE AMOSTRAGEM<br />

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1<br />

2<br />

3<br />

4<br />

5<br />

Tabela 02: Concentrações de Amônia, Nitrato, Nitrito e valores de pH no solo do Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS.<br />

Concentrações (mg kg-1)<br />

Concentrações (mg kg-1)<br />

Profundidade<br />

Profundidade<br />

(cm) NH3 Nitrato Nitrito pH (cm)<br />

NH3 Nitrato Nitrito pH<br />

0 273,44 361,93 2,28 5,97<br />

0 303,41 <strong>14</strong>8,61 1,25 7,9<br />

0-50 326,84 19,51 2,98 5,45 0-50 324,65 17,78 4,64 7,7<br />

50-100 <strong>33</strong>7,52 3,49 2,98 5,55 50-100 308,72 32,86 0,18 7,4<br />

100-150 <strong>33</strong>7,52 13,47 3,68 5,56 6 100-150 292,79 <strong>14</strong>,97 2,<strong>14</strong> 6,7<br />

150-200 284,12 12,42 4,74 5,52 150-200 3<strong>14</strong>,03 17,96 4,46 6<br />

200-250 311,89 9,96 7,19 5,46 200-250 38,99 30,49 2,68 6,2<br />

250-300 289,46 4,62 7,19 5,51 250-300 49,67 17,15


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Figura 02: Variação da concentração de Amônia do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />

Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm<br />

Figura 03: Variação da concentração de Amônia do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />

Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />

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Figura 04: Variação da concentração de Nitrato do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />

Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm.<br />

Figura 05: Variação da concentração de Nitrato do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />

Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />

94


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Figura 06: Variação da concentração de Nitrito do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />

Seberi-RS, nas profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm.<br />

Figura 07: Variação da concentração de Nitrito do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista,<br />

Seberi-RS, nas profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />

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Figura 08: Variação do pH do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS, nas<br />

profundidades de 0 (a), 50 (b), 100 (c) e 150 (d) cm<br />

Figura 09: Variação do pH do solo nos 10 pontos de amostragem localizados no Cemitério Municipal São João Batista, Seberi-RS, nas<br />

profundidades de 200 (a), 250 (b) e 300 (c) cm.<br />

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Tabela 03: Matriz de correlação de Pearson entre os parâmetros: altitude, Amônia, Nitrato, Nitrito e pH do solo no Cemitério Municipal São<br />

João Batista, Seberi-RS.<br />

Altitude Amônia Nitrato Nitrito pH<br />

Altitude 1,00<br />

Amônia -0,45* 1,00<br />

Nitrato -0,<strong>33</strong>* 0,55* 1,00<br />

Nitrito 0,07 0,15 -0,<strong>14</strong> 1,00<br />

pH -0,06 0,<strong>14</strong> 0,<strong>14</strong> -0,09 1,00<br />

*Correlação significativa para p < 0,05000, N=70<br />

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PERCEPÇÃO AMBIENTAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL: ESTUDO DE CASO SOBRE A<br />

CONSERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO PALEONTOLÓGICO<br />

Environmental perception and heritage education: a case study on paleontological heritage and<br />

your conservation<br />

Marcelo de Oliveira Soares<br />

Doutor em Geociências. Docente<br />

do Instituto de Ciências do Mar<br />

(LABOMAR-UFC).<br />

Vice-coordenador do Curso de<br />

Graduação em Ciências<br />

Ambientais (UFC).<br />

E-mail: marcelosoares@ufc.br<br />

Wedja Suhelen Paes da Silva<br />

Graduanda em Ciências<br />

Ambientais (UFC)<br />

Luana Kelly Ferreira da<br />

Silva<br />

Graduanda em Ciências<br />

Ambientais (UFC)<br />

Thais Chaves da Silva<br />

Graduanda em Ciências<br />

Ambientais (UFC)<br />

RESUMO<br />

Os fósseis no Brasil têm adquirido valor econômico junto à população local, o<br />

que leva a um tráfico ilegal, sobretudo internacional. Nesse contexto, a<br />

educação patrimonial possibilita o acesso ao conhecimento necessário para<br />

que a sociedade adquira o hábito de preservar este importante patrimônio.<br />

Assim, foram desenvolvidas atividades em um sítio fossilífero de importância<br />

mundial (Chapada do Araripe, NE Brasil) para capacitar a população a gerar<br />

renda através de réplicas de fósseis, analisar a percepção ambiental quanto<br />

ao patrimônio paleontológico e conscientizar a comunidade quanto à<br />

importância dos fósseis. Foram realizadas etapas distintas de atividades, que<br />

incluíram oficina de réplicas, produção de “mapas mentais” e aplicação de<br />

questionários. Ressalta-se entre os resultados, o reconhecimento da<br />

importância da fabricação de réplicas como uma alternativa sustentável ao<br />

tráfico, o reconhecimento do paleoambiente pela população e a necessidade<br />

de propagar o conhecimento adquirido, voltado à conservação ambiental dos<br />

fósseis. O estudo de caso analisado pode servir de exemplo para a discussão<br />

mundial do desenvolvimento sustentável em áreas de significativo<br />

patrimônio geológico.<br />

Palavras-chave: Conservação; Geração de renda; Gestão Ambiental do<br />

Patrimônio.<br />

ABSTRACT<br />

The Brazilian fossils have acquired economic value among the local<br />

population, leading to an illegal traffic, especially internationally. In this<br />

context, heritage education provides access to the necessary knowledge for<br />

society to get into the habit of preserving this important heritage. Thus,<br />

activities were carried out in a important fossiliferous basin (Araripe Basin,<br />

NE Brazil) to enable people to generate income through fossils replicas,<br />

analyze the environmental perception about the paleontological heritage and<br />

educate the community about the importance of fossils. Distinct steps were<br />

carried out activities, which included workshop on replicas, production of<br />

"mental maps" and questionnaires. It should be noted between the results,<br />

the recognition of the importance of fossils replicas as a sustainable<br />

alternative, the recognition of the paleo environment that existed and the<br />

need to publicize the knowledge to the community, focused on<br />

environmental conservation of fossils. The analysis of this study case can<br />

serve as an example for the world discussion of sustainable development in<br />

areas of significant geological heritage.<br />

Keywords: Conservation; Income generation; Heritage Environmental<br />

Management<br />

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Patrimônio fossilífero e conservação<br />

ambiental<br />

Fossil Lagerstätten são sítios fossilíferos extraordinários<br />

que geram grande quantidade de informações sobre a<br />

história ambiental do Planeta, sendo imprescindível a<br />

sua conservação para o entendimento das alterações<br />

ambiental e modificações da vida ao longo do tempo<br />

geológico. A Bacia do Araripe é a mais extensa das<br />

bacias interiores do Nordeste do Brasil (Peulvast et al.,<br />

2008), se estendendo pelo Vale do Cariri com<br />

aproximadamente 11.000 km2. Possui a maior área de<br />

exposição de rochas cretáceas (aproximadamente 110<br />

milhões de anos) dentre as bacias intracratônicas do<br />

Nordeste. Sua grande diversidade fossilífera varia desde<br />

pequenos ostracodes até grandes dinossauros e<br />

pterossauros. Esta bacia sedimentar representa um dos<br />

mais importantes sítios fossilíferos da Gondwana<br />

devido à excepcional qualidade e diversidade dos<br />

fósseis (Martill, 2007; CUPELLO et al. 2012).<br />

A Bacia do Araripe é um verdadeiro museu, devido a<br />

sua alta complexidade geológica e paleontológica.<br />

Desde a época do Brasil colônia até a atualidade,<br />

estudos realizados tanto por pesquisadores nacionais<br />

quanto por estrangeiros, admitiram seu alto potencial<br />

paleontológico. Esta bacia sedimentar é bem conhecida<br />

no Brasil e no restante do mundo pelos excepcionais<br />

fósseis que nela são encontrados, chamando a atenção<br />

de colecionadores e de cientistas. Assim, ela tem sido<br />

alvo de pesquisas e investigações científicas desde<br />

antes da Independência brasileira. Os primeiros<br />

cientistas a terem contato com os fósseis de peixes tão<br />

característicos da bacia foram J. B. von Spix e C. F. P.<br />

von Martius. Desde então, muitos paleontólogos e<br />

geólogos brasileiros e estrangeiros têm se dedicado ao<br />

estudo dos fósseis dessa bacia (CARVALHO & SANTOS,<br />

2005).<br />

Com o passar dos anos o patrimônio paleontológico, tão<br />

valorizado por leigos e pela comunidade científica,<br />

adquiriram um valor econômico junto à população<br />

local, principalmente nos municípios de Santana do<br />

Cariri, Porteiras e Jardim no Estado do Ceará. Eles<br />

passaram a ser extraídos e comercializados como forma<br />

de complementar a renda de populações de baixa<br />

renda, principalmente no período de entressafras ou de<br />

secas duradouras, quando as atividades agropecuárias<br />

ficavam prejudicadas (MARTILL, 2007). O comércio de<br />

INTRODUÇÃO<br />

fósseis parece ter se intensificado a partir da década de<br />

70 e curiosamente era relativo aos peixes fósseis ou<br />

ictiólitos. Segundo o senso geral dos comerciantes na<br />

época, somente estes fósseis tinham valor. Quando se<br />

descobriu que tetrápodes (dinossauros, anfíbios,<br />

pterossauros, etc..) também eram bastante visados por<br />

instituições e outros compradores do Japão, Estados<br />

Unidos e Europa, fósseis desse grupo ganharam preços<br />

ainda mais altos do que os dos nódulos contendo<br />

peixes. No entanto, esta é uma prática ilegal segundo a<br />

Constituição Brasileira (CARVALHO & SANTOS, 2005),<br />

com aspectos negativos claros, como a concentração de<br />

holótipos em instituições de pesquisa estrangeiras, e<br />

positivos no mínimo questionáveis (MARTILL, 2007).<br />

A educação ambiental surgiu como uma nova forma de<br />

encarar o papel do ser humano no mundo, propondo<br />

novos modelos de relacionamentos mais harmônicos<br />

com a natureza, novos paradigmas e novos valores<br />

éticos (DEL RIO & OLIVEIRA, 1996; BONIFACIO & ABILIO,<br />

2010). Carvalho (2008) afirma que a educação acontece<br />

como parte da ação humana de transformar a natureza<br />

em cultura, atribuindo-lhes sentidos, trazendo-a para o<br />

campo da compreensão e da experiência de estar no<br />

mundo e participar da vida. Neste sentido, é importante<br />

ressaltar que a sensibilização por meio de instrumentos<br />

educacionais que estimulem a valorização dos bens<br />

ambientais da sociedade, materiais e imateriais,<br />

contribui para aprimorar a gestão do patrimônio,<br />

fortalecendo a memória de seu povo e consolidando as<br />

idéias presentes no âmbito das políticas públicas em<br />

desenvolvimento no país. A Educação Patrimonial<br />

fortalece a relação das pessoas com suas heranças<br />

culturais, estabelecendo um melhor relacionamento<br />

destas com estes bens, percebendo sua<br />

responsabilidade pela valorização e preservação do<br />

Patrimônio, fortalecendo a vivência real com a<br />

cidadania (NOELLI, 2004; XAVIER, 2011).<br />

A missão principal da educação patrimonial é<br />

possibilitar o conhecimento, o acesso à informação, à<br />

fruição dos bens culturais, para que a sociedade possa<br />

habituar-se a importância de sua cultura e educação, e<br />

possa escolher, no passado e no presente, que objetos,<br />

signos, tradições e lugares se quer preservar (NOELLI,<br />

2004). Os fósseis constituem importante patrimônio<br />

para a região em questão e devem ser objeto de<br />

constantes estudos para a sua preservação (XAVIER,<br />

2011). Apesar da importância da conservação ambiental<br />

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do patrimônio paleontológico (nesta região de interesse<br />

mundial), poucos estudos realizaram trabalhos voltados<br />

para a educação patrimonial e a percepção ambiental<br />

do patrimônio fossilífero na Bacia do Araripe.<br />

O patrimônio paleontológico da Bacia do<br />

Araripe: Uma problemática sócio-ambiental<br />

eminente<br />

Desde a publicação do Decreto-Lei N. 25 de<br />

30/11/1937, que trata do patrimônio artístico e<br />

histórico (o qual considera que monumentos naturais<br />

de feição notável são sujeitos ao tombamento), existe<br />

amparo legal para a proteção do patrimônio<br />

paleontológico brasileiro. Na atual legislação, a<br />

Constituição de 1988 destaca a necessidade de proteger<br />

os sítios naturais e depósitos que contenham fósseis. Os<br />

artigos 20, 23 e 24 da Constituição do Brasil de 1988 são<br />

bastante claros ao indicar que os fósseis são bens da<br />

União e que há a responsabilidade do Estado na defesa<br />

deste patrimônio natural.<br />

Pelo Decreto-Lei n. 4.<strong>14</strong>6 de 1942, os fósseis já eram<br />

considerados bens da União, situando-se no âmbito do<br />

inciso I. Na conceituação de fóssil como o registro de<br />

vida do passado que se preservou graças a um processo<br />

de mineralização, podemos enquadrá-lo no inciso IX<br />

e/ou X do artigo 20 da atual Constituição da República<br />

Federativa do Brasil”. O artigo 216 da Constituição é<br />

bastante claro nesta temática:<br />

“Constituem patrimônio cultural brasileiro os” bens de<br />

natureza material e imaterial, tomados individualmente<br />

ou em conjunto, portadores de referência à identidade,<br />

à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da<br />

sociedade brasileira, nos quais se incluem: “V - os<br />

conjuntos urbanos e sítios de valor histórico,<br />

paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico,<br />

ecológico e científico.”<br />

A Lei 8.176 de 1991 pode ser considerada em relação à<br />

proteção dos fósseis dentro do território nacional,<br />

como pode ser observado no artigo abaixo:<br />

“Art. 1° Os depósitos fossilíferos existentes em<br />

território nacional e os fósseis nele coletados são bens<br />

da União, constituindo-se patrimônio cultural e natural<br />

brasileiro e sua proteção e utilização obedecerão aos<br />

seguintes princípios: I - geração de conhecimentos<br />

científicos sobre o patrimônio fossilífero do País,<br />

cabendo ao poder público dar prioridade e incentivos<br />

ao fortalecimento da capacidade científica nacional<br />

nessa área; II - responsabilidade solidária do poder<br />

público federal, estadual, municipal e do Distrito<br />

Federal nas ações de fiscalização e proteção do<br />

patrimônio fossilífero; III - consideração dos aspectos<br />

cultural, histórico, científico, ambiental e social em<br />

quaisquer decisões do poder público que digam<br />

respeito, direta ou indiretamente, ao patrimônio<br />

fossilífero; IV - envolvimento da população na proteção<br />

do patrimônio fossilífero, por meio de facilidades no<br />

acesso à informação e criação de oportunidades<br />

socioeconômicas vinculadas àquela proteção; V -<br />

valorização do patrimônio fossilífero brasileiro, por<br />

meio de divulgação e ações educativas destinadas à<br />

conscientização da sociedade”.<br />

O patrimônio paleontológico do Araripe é reconhecido<br />

nacionalmente e internacionalmente (MARTILL &<br />

UNWIN, 1989; KELLNER & CAMPOS, 2002; MARTILL,<br />

2007; CUPELLO et al. 2012), despertando o interesse de<br />

colecionadores, de museus, de pesquisadores e de<br />

comerciantes, sobretudo internacionais, devido à<br />

legislação de outros países permitirem a venda. Na<br />

década de 70 a venda clandestina de fósseis se<br />

intensificava. Com o intuito de proteger esse jazigo foi<br />

desenvolvido o Projeto Chapada do Araripe (OLIVEIRA<br />

et al., 1979), através de uma ação do Departamento<br />

Nacional de Produção Mineral/Companhia de Pesquisa<br />

de Recursos Minerais (DNPM/ CPRM), tendo como<br />

objetivos estudar, cadastrar e selecionar áreas de<br />

interesse paleontológico e de preservação. Com a<br />

implantação desse projeto houve uma coleta<br />

sistemática de fósseis, devidamente assinalados em<br />

perfis e mapas, que foram incorporados à coleção<br />

paleontológica do DNPM. Desse projeto, duas espécies<br />

novas foram descritas destas coletas: Iemanja palma e<br />

Obaichthys laevis (WENZ, 1989; WENZ & BRITO, 1992).<br />

Na década de 80, foram criadas duas instituições com a<br />

finalidade de preservar os exemplares fósseis nos<br />

municípios de origem (em 1988): Centro de Pesquisas<br />

Paleontológicas da Chapada do Araripe (CPCA), na<br />

cidade do Crato, pertencente ao DNPM e o Museu<br />

Paleontológico de Santana do Cariri, em convênio com a<br />

Universidade Regional do Cariri (URCA). Assim, a criação<br />

do museu mitiga os efeitos negativos do tráfico de<br />

fósseis da região e incentiva o estabelecimento do<br />

turismo científico.<br />

Na década de 90, os movimentos de proteção aos sítios<br />

naturais assumem maior expressão em conseqüência<br />

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disso houve a realização do “Primeiro Simpósio sobre a<br />

Bacia do Araripe e Bacias Interiores do Nordeste”, na<br />

cidade do Crato, com a apresentação de trabalhos<br />

sobre a geologia, estratigrafia, sedimentologia, e<br />

paleontologia destas bacias (CAMPOS et al., 1990) e<br />

posteriormente, em 1997, foi realizado novamente na<br />

mesma cidade o “Segundo Simpósio sobre a Bacia do<br />

Araripe e Bacias Interiores do Nordeste” (BARROS et al.,<br />

2001).<br />

Na virada do milênio (2000), as pesquisas se<br />

intensificam, devido às parcerias entre as universidades<br />

locais com outras universidades (estaduais e federais),<br />

museus de outros estados e inclusive com<br />

universidades e instituições museológicas estrangeiras.<br />

O senso de preservação está mais acesso devido à<br />

preocupação do seu alto impacto ambiental que os<br />

jazidos fossilíferos vem sofrendo ao longo dos anos. Em<br />

2002, a Comissão Brasileira de Sítios Geológicos e<br />

Paleobiológicos, reuniu um importante conjunto de<br />

informações dos mais relevantes sítios naturais do país,<br />

entre os quais a Chapada do Araripe, destacando os<br />

membros Romualdo e Crato da Formação Santana<br />

(KELLNER, 2002; VIANA & NEUMANN, 2002).<br />

A União Internacional das Ciências Geológicas<br />

(International Union of Geological Sciences – IUGS) em<br />

parceria com a UNESCO deu apoio a Rede Global de<br />

Geoparques (Geoparks Global Network), criada em<br />

2004. Geoparques envolvem áreas geográficas onde<br />

sítios do patrimônio geológico são parte de um conceito<br />

holístico de proteção, educação e desenvolvimento<br />

sustentável. No ano de 2006 o Brasil ganha seu primeiro<br />

Geoparque, o do Araripe. Composto por uma rede de<br />

nove Geossítios de valor histórico, geológico,<br />

paleontológico que possuem características únicas e<br />

que merecem proteção integral (SABADIA, 2009). O<br />

município de Santana do Cariri, por conter afloramentos<br />

fossiliferos importantes, está contido dentro da área do<br />

Geoparque Araripe.<br />

O Geopark Araripe está localizado no sul do estado do<br />

Ceará, na porção cearense da Bacia Sedimentar do<br />

Araripe e abrange 06 municípios da região do Cariri.<br />

Possui uma área de aproximadamente 3.520,52 Km² e<br />

que corresponde ao contexto territorial das cidades de<br />

Crato, Juazeiro do Norte, Barbalha, Missão Velha, Nova<br />

Olinda e Santana do Cariri. Sua função está além da<br />

proteção e preservação dos registros geológicos,<br />

paleontológicos, antropológicos, ambientais,<br />

paisagísticos e culturais. As visitas exploratórias<br />

originadas desta ação e a infraestrutura de apoio ainda<br />

em consolidação proporcionam um processo natural e<br />

desejável de inclusão social, onde a participação da<br />

sociedade deve se constituir em um pilar importante<br />

para o funcionamento pleno do Geopark Araripe<br />

(NASCIMENTO et al., 2007; SABADIA, 2009).<br />

A Técnica de Réplicas de Fósseis: Uma<br />

Alternativa Economicamente e<br />

Ambientalmente Sustentável<br />

As réplicas, que são cópias de fósseis, podem ser<br />

utilizadas por professores de diversas disciplinas<br />

(biologia, geografia, paleontologia), como um rico<br />

material didático. Paleontólogos amadores podem<br />

também ter este material para o incremento de suas<br />

coleções. Todo o trabalho de fabricação visa<br />

reconstituir com fidelidade o original: a moldagem é<br />

feita em silicone e reproduzida em gesso-pedra de alta<br />

qualidade, seguida de pintura que reproduza as cores<br />

originais (CARVALHO, 2000; TORRES et al., 2007).<br />

O ex-coordenador do Museu de Paleontologia, Prof.<br />

Francisco da Cunha abordou o tema da perda do<br />

patrimônio paleontológico na região de Santana do<br />

Cariri:<br />

"O grande problema é que os fósseis ocorrem em uma<br />

região muito pobre. A população ganha um salário<br />

miserável escavando a procura deles para<br />

atravessadores que depois o contrabandeiam para o<br />

exterior" (COSTA, 2004).<br />

No caso da cidade de estudo (Santana do Cariri) na<br />

Chapada do Araripe, as réplicas de fósseis constituem<br />

uma alternativa economicamente e ambientalmente<br />

sustentável, pois a partir do exemplar original (que será<br />

preservado) podem ser feitos milhares de cópias<br />

fidedignas que podem ser comercializadas, gerando<br />

uma renda alternativa para a população de baixa renda<br />

do referido município e preservando o patrimônio<br />

paleontológico através do turismo (NASCIMENTO et al.<br />

2007) (Figura 1). O conhecimento da técnica é comum<br />

aos técnicos e pesquisadores do Museu de<br />

Paleontologia da região. O presente projeto inova ao<br />

treinar jovens de escolas de Santana do Cariri para<br />

multiplicar esta atividade para a população em geral,<br />

visando à produção de peças para a venda e<br />

comercialização, sobretudo com turistas.<br />

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O objetivo deste trabalho é realizar atividades de<br />

educação patrimonial na região da Chapada do Araripe,<br />

visando à conscientização da importância da<br />

preservação do patrimônio paleontológico. Constituem<br />

objetivos específicos: (a) Formar multiplicadores na<br />

técnica de moldes e réplicas de fósseis visando<br />

capacitar a população a gerar renda, a partir da<br />

preservação dos fósseis; (b) Analisar a percepção<br />

ambiental dos jovens quanto ao patrimônio<br />

paleontológico, visando o delineamento de ações para a<br />

preservação ambiental e (c) Conscientizar a<br />

comunidade quanto à importância dos fósseis para a<br />

sociedade. Espera-se que este estudo possa servir de<br />

exemplo para a discussão mundial do desenvolvimento<br />

sustentável em áreas de significativo patrimônio<br />

geológico.<br />

Área de Estudo<br />

A cidade de Santana do Cariri, localizada no estado do<br />

Ceará, distante cerca de 550 km da capital Fortaleza<br />

(Figura 2), faz parte da Bacia Sedimentar do Araripe,<br />

localizada no extremo sul do estado, e nela está um dos<br />

mais importantes sítios paleontológicos do mundo, com<br />

fósseis em destaque pela sua excelente preservação e<br />

importância científica (FARA et al., 2005), inclusive<br />

contando com vários geossítios preservados no<br />

contexto do Geopark Araripe.<br />

Público-Alvo<br />

O estudo foi conduzido no Museu de Paleontologia de<br />

Santana do Cariri no ano de 2010 e foi direcionado a um<br />

grupo de 30 estudantes de escolas da região, com faixa<br />

etária de 9 a 18 anos. Este ocorreu por meio de<br />

minicurso de Introdução à Paleontologia, Técnicas de<br />

Moldes e Réplicas de Fósseis, com intuito de formar<br />

multiplicadores da técnica de réplicas de fósseis e da<br />

conscientização ambiental, Análise da Percepção<br />

Ambiental e aplicação de questionários. Os<br />

multiplicadores possuem a missão de influenciar e<br />

ensinar seus familiares e outros cidadãos a fazer as<br />

réplicas para estudos e venda e a não degradar este<br />

patrimônio cultural. Assim, tornam-se grandes aliados<br />

do museu e da cidade no combate a venda ilegal de<br />

fósseis.<br />

Procedimentos Metodológicos<br />

As atividades de educação ambiental e patrimonial<br />

foram realizadas a partir de diferentes ações. Na etapa<br />

inicial esclareceu-se o que é paleontologia, como se<br />

desenvolvem os trabalhos paleontológicos em campo e<br />

em laboratório, sua importância para o conhecimento e<br />

para preservação do patrimônio. Esta etapa foi<br />

METODOLOGIA<br />

complementada através de uma visita guiada nas<br />

coleções científicas do Museu de Paleontologia. Em<br />

seguida, foi explicado aos participantes qual o propósito<br />

de realizar o minicurso de moldes e réplicas e transmitir<br />

a eles a idéia de que eles seriam multiplicadores. Esta<br />

etapa teve sua parte prática feita em três dias e compôs<br />

a oficina de réplicas de fósseis (Figura 3 e 4). Ao fim<br />

desta etapa, foi sugerido que os alunos levassem os<br />

moldes para as suas escolas, reafirmando os seus<br />

papéis de multiplicadores.<br />

Na etapa II foi realizada uma abordagem diferenciada: A<br />

Percepção Ambiental aplicada ao patrimônio<br />

paleontológico. Foi requerido aos participantes que eles<br />

representassem, através de desenhos, do tipo “mapas<br />

mentais”, a visão deles sobre o passado e o presente da<br />

sua cidade. A percepção ambiental é uma corrente<br />

teórica relativamente nova e que pode ser aplicada em<br />

Educação Patrimonial (DEL RIO, 1996).<br />

Na etapa III foi realizado um questionário estruturado<br />

com perguntas abertas, para verificar a percepção e<br />

uma possível mudança de conscientização (Figura 5 A).<br />

Nesta etapa realizou-se, após o minicurso, a aplicação<br />

de questionários (n=30) para verificar a percepção<br />

quanto ao patrimônio fossilífero, o museu de<br />

Paleontologia e uma possível mudança de<br />

conscientização. As perguntas do questionário foram as<br />

seguintes:<br />

1) Qual a importância dos fósseis para a sua cidade?;<br />

2) Qual o papel do museu na sua cidade?;<br />

3) Se você visse alguém vendendo um fóssil da sua<br />

região, o que você faria? e<br />

4) Qual a importância de fazer réplicas?.<br />

Os resultados foram agrupados em categorias e submetidos ao teste do Qui-Quadrado (X2) ao nível de significância de<br />

5%. Por fim, foi realizada na cidade uma exposição das réplicas dos fósseis feitos pelos participantes do minicurso,<br />

durante a qual eles puderam fazer uma conscientização popular (Figura 5B).<br />

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Moldes e Réplicas de fósseis<br />

Os participantes argumentaram que a curiosidade sobre<br />

a temática os levou a realizar o curso de moldes e<br />

réplicas de fósseis; o que reforça a necessidade de<br />

ampliação dessas capacitações para educação<br />

patrimonial na Bacia do Araripe. A retirada dos moldes<br />

de silicone é uma parte fundamental no processo,<br />

tendo em vista a possibilidade de ocorrer injúrias no<br />

molde; o que prejudicara a réplica. Os alunos retiraram<br />

cuidadosamente os moldes gerando uma grande<br />

quantidade de formas prontas para a geração de<br />

réplicas (Figura 6). Os multiplicadores foram<br />

capacitados para que levassem os moldes para as suas<br />

escolas, tendo em vista a possibilidade de ensinar aos<br />

colegas e realizar atividades conjuntas de exposição,<br />

como em semanas culturais comumente realizadas ao<br />

longo do ano na cidade de Santana do Cariri e nos<br />

municípios de entorno. Junto aos multiplicadores<br />

levantou-se uma importante questão relacionada à<br />

sustentabilidade: De que com um único molde de<br />

silicone pode-se realizar dezenas ou centenas de cópias<br />

de fósseis com uso de gesso (material abundante e<br />

barato na região do Cariri), contribuindo para a<br />

economia solidária sustentável.<br />

Como resultado das atividades averiguou-se que foram<br />

confeccionadas peças de alto padrão com réplicas sem<br />

bolhas e de pintura adequada. Peixes, Libélulas,<br />

Pterossauros, Gimnospermas, Besouros, Anuros, dentre<br />

outros foram alguns dos fósseis do Período Cretáceo<br />

que foram replicadas (Figura 7) constituindo mais de<br />

100 peças. Estas réplicas foram sujeitas a pintura com<br />

tinta guache. Ressaltou-se que se deve buscar colorir o<br />

material de acordo com a coloração do fóssil original,<br />

por isso se optou pela tonalidade amarelada e cinzenta,<br />

respectivamente, características dos Membros Crato e<br />

Romualdo da Formação Santana. Estas peças foram<br />

envolvidas em plástico para poderem ser expostas nas<br />

praças de Santana do Cariri, no fim do mês de<br />

novembro. Tais peças, após a exposição, foram levadas<br />

para as residências dos participantes visando<br />

compartilhar as experiências vividas, com os demais<br />

amigos e membros das famílias.<br />

Uma coleção de réplicas dos fósseis de maior interesse<br />

científico é imprescindível para preservar o material<br />

original depositado em museus (VIEIRA et al. 2007),<br />

bem como réplicas que possam ser usadas na difusão<br />

RESULTADOS E DISCUSSÕES<br />

da Paleontologia nas Escolas na região da Bacia do<br />

Araripe no Nordeste do Brasil. Torres et al. (2007)<br />

abordou que as réplicas são úteis em termos científicos,<br />

havendo a possibilidade do estudo da réplica,<br />

conservando assim o material original e possibilitando o<br />

intercâmbio entre museus e universidades. Além disso,<br />

também se mostram úteis em termos didáticos e<br />

ilustrativos, possibilitando aos alunos um aprendizado<br />

construtivista de diversos conceitos paleontológicos,<br />

tais como Evolução, Paleoecologia, Paleogeografia,<br />

Sistemática, entre outros. Professores de Ensino<br />

Fundamental e Médio têm ainda a possibilidade de<br />

relacionar os fósseis e a Biosfera, podendo focar em<br />

suas aulas um determinado ramo de estudo da<br />

Paleontologia (Paleobotânica, Paleovertebrados,<br />

Paleoicnologia).<br />

Percepção ambiental<br />

A aplicação dos conceitos para avaliação da percepção<br />

quanto ao patrimônio paleontológico e as mudanças<br />

ambientais no tempo geológico foram extremamente<br />

relevantes junto aos estudantes na cidade de Santana<br />

do Cariri. Um dos estudantes apresentou um panorama<br />

interessante sobre o passado e o presente de Santana<br />

do Cariri (Figura 8). No passado, ressalta-se no Céu a<br />

presença de um pterossauro e um grande corpo d’água<br />

junto ao terreno desenhado. Esta interpretação ressalta<br />

que os pterossauros (mais de 25% das espécies do<br />

mundo foram descritas a partir de espécimes da<br />

Chapada do Araripe; sendo famosos junto ao público<br />

em geral e a comunidade científica) e o grande “Lago<br />

Araripe” que se formou no Cretáceo a partir da<br />

fragmentação da Gondwana são conceitos comuns para<br />

o autor do referido desenho. Atualmente, ressalta-se o<br />

simbolismo e a relevância do Museu de Paleontologia e<br />

o Pontal da Santa Cruz (com a Cruz e a Igreja) situado<br />

no platô da chapada tem para o autor do desenho<br />

(“mapa mental”). Bonifacio & Abílio (2010) abordaram<br />

que dentre os paradigmas formulados nas últimas<br />

décadas, a Teoria das Representações Sociais destacase<br />

como nova maneira de interpretar o comportamento<br />

dos indivíduos e dos grupos sociais. Esta importância<br />

figura-se na leitura dos desenhos que desvendam fatos<br />

e conhecimentos percebidos. Relativo à questão<br />

ambiental, os desenhos traz à tona, significados, valores<br />

existentes no imaginário por aqueles que convivem e o<br />

vínculo que criam com aquilo que os rodeiam, como o<br />

observado para a área de estudo.<br />

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Outro estudante apresentou um panorama<br />

interessante: Na paisagem pretérita apresentou<br />

dinossauros herbívoros, aves, vulcões e outros<br />

elementos no ecossistema aquático como peixes e algas<br />

(Figura 9). Apesar do relato no desenho, fósseis de<br />

dinossauros herbívoros não foram encontrados na<br />

Chapada do Araripe. Existem diversos relatos de<br />

dinossauros carnívoros que não estão representados no<br />

desenho. Na paisagem atual reforça-se o forte<br />

simbolismo que o Pontal da Santa Cruz e o relevo<br />

acidentado da Chapada do Araripe representam. Outro<br />

ponto interessantíssimo é a presença da ictiofauna e de<br />

relações ecológicas como predação; ambos os aspectos<br />

são muito comuns no registro fóssil do Membro<br />

Romualdo e Crato (FARA et al. 2005). Registros de Aves<br />

também foram encontrados, porém restritos a penas<br />

(MARTINS-NETO & KELLNER, 1988).<br />

No desenho exposto na Figura 10 o estudante<br />

representa o relevo da mesma forma (no passado e no<br />

atual) demonstrando desconhecimento do fenômeno<br />

da subsidência, de processos denudacionais e de<br />

preenchimento sedimentar (temas complexos que<br />

normalmente não são vistos ao nível de Ensino<br />

Fundamental) que resultaram no relevo atualmente<br />

observado em Santana do Cariri. Ressaltam-se<br />

tartarugas e peixes na paleofauna aquática, a<br />

representação do Pontal da Santa Cruz e um item<br />

inédito importante para o patrimônio ambiental da<br />

área, possivelmente o Rio Cariús (recurso hídrico<br />

superficial) que passa no núcleo urbano da cidade de<br />

Santana do Cariri (Ceará).<br />

Ainda na década de 70, diversos trabalhos<br />

demonstraram a grande diversidade biológica nos<br />

paleoambientes existentes na região durante o<br />

Cretáceo (120-105 milhões de anos) (o que concorda<br />

com os táxons existentes nos “mapas mentais”<br />

elaborados). Foram descritos fósseis de vegetais<br />

(DUARTE & JAPIASSU, 1971), peixes como Microdon<br />

penalvai, Paraelops cearensis, Enneles audax e Notelops<br />

Brahma (SANTOS, 1970, 1971; TAVERNE, 1974, 1976;<br />

WENZ, 1977), a primeira tartaruga Araripemys barretoi<br />

e os pterossauros Araripesaurus castilhoi e<br />

Araripedactylus dehmi (PRICE, 1971, 1973;<br />

WELLNHOFER, 1977), além de trabalhos sobre<br />

paleoecologia (MABESOONE & TINOCO, 1973).<br />

A presença de organismos (nos mapas mentais)<br />

existentes no acervo do Museu reforça que o<br />

patrimônio paleontológico depositado na Instituição é<br />

importante para a compreensão desta vida pretérita<br />

que existiu e das transformações ambientais ocorridas.<br />

Vieira et al. (2007) abordaram que os museus têm papel<br />

importante na difusão e sensibilização da comunidade,<br />

sobre os fósseis e sua importância científica e social. Os<br />

desenhos das Figuras 8, 9 e 10 tem em comum o<br />

ecossistema aquático do grande “Lago Araripe”; um<br />

ecossistema lagunar de grandes proporções que gerou<br />

o preenchimento da Bacia Sedimentar do Araripe e que<br />

estão de acordo com os modelos científicos (Figura 11).<br />

Mabesoone & Tinoco (1973) abordam que a deposição<br />

do Membro Crato ocorreu em lagos rasos e ambientes<br />

pantanosos em um clima quente e seco. Apesar das<br />

temperaturas quentes, dados dendrológicos indicam<br />

que o clima pode ser caracterizado por ciclos alternados<br />

de períodos secos e chuvosos influenciados pela<br />

precipitação periódica (PIRES & SOMMER, 2009). O<br />

membro Crato pode ter sido depositada sob condições<br />

salinas, representando um corpo d’água com possível<br />

estratificação térmica e salina, com entradas de água<br />

doce a partir da drenagem superficial. Martill et al.<br />

(2007) aborda que as condições hipersalinas<br />

prevaleceram durante as deposições dos carbonatos<br />

laminados. Neumann & Cabrera (2002) abordam que o<br />

sistema lacustre cretáceo experimentou amplas<br />

variações de salinidade. Os autores observam que em<br />

alguns setores do lago ocorria um ambiente aqüífero<br />

dulcícola (próximo às desembocaduras flúvio-deltaicas).<br />

Indícios de salinidade elevada também foram<br />

encontrados por Martill et al. (2007) o que influenciou<br />

nos processos tafonômicos.<br />

A corrente teórica que emprega a percepção ambiental,<br />

em seus esforços de compreender as relações<br />

comportamento-ambiente, vem experimentando<br />

crescentes reconhecimentos. No Brasil, principalmente<br />

a partir de década de 80, o tema vem suscitando maior<br />

atenção, e a percepção, como área cientifica, têm<br />

assumido papel cada vez mias destacado nas atividades<br />

que envolvem análise e projeção ambiental, com alguns<br />

autores investigando mais detidamente sua eventual<br />

aplicabilidade no campo do planejamento e<br />

conservação do patrimônio ambiental e cultural<br />

(FERRARA, 1993; DEL RIO, 1996). Para Bonifácio & Abílio<br />

(2010), a percepção ambiental é definida como a<br />

operação que expõe a lógica da linguagem que organiza<br />

os signos expressivos dos usos e hábitos de um lugar. É<br />

uma explicitação da imagem de um lugar, veiculada nos<br />

signos que uma comunidade constrói em torno de si.<br />

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Nesta acepção, a percepção ambiental é revelada<br />

mediante uma leitura semiótica da produção discursiva,<br />

Questionários e percepção da importância da<br />

preservação patrimonial<br />

As respostas quanto aos questionamentos realizados<br />

estão sumarizadas nas Figuras 12 a 15. Na figura 12,<br />

relativa ao primeiro questionamento, houve diferença<br />

estatisticamente significante (teste do X², P0,05) (Figura 13). Este aspecto denota que a<br />

instalação e operação de museus em regiões carentes<br />

(longe das capitais brasileiras), é algo a ser incentivado<br />

pelo poder público. A geração de renda relativa à<br />

visitação do turismo científico, a divulgação das<br />

informações sobre o patrimônio existente na região e as<br />

atividades de sensibilização da população para a<br />

preservação demonstram a importância da promoção<br />

dos museus, no território nacional. A maioria dos<br />

participantes (teste do X², P


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Atividades de Educação Patrimonial e Percepção<br />

Ambiental foram realizadas em Santana do Cariri. Estas<br />

ações envolveram a formação de multiplicadores nas<br />

técnicas de moldes e réplicas de fósseis, análise da<br />

percepção ambiental quanto ao patrimônio fossilífero e<br />

exposição na cidade de Santana do Cariri (Ceará). Os<br />

desenhos confeccionados pelos estudantes<br />

demonstraram a compreensão dos processos<br />

geomorfológicos e dos ambientes (marinho, lagunar)<br />

que existiram no passado geológico nesta área do<br />

sertão nordestino. Estes desenhos também<br />

demonstraram elementos importantes da paisagem<br />

natural e cultural da região (a morfologia da chapada, o<br />

museu e o pontal da santa cruz na cidade de Santana do<br />

Cariri). Os dados referentes aos questionários<br />

demonstraram que os estudantes reconhecem o papel<br />

do patrimônio fossilífero na promoção do turismo, da<br />

beleza cênica e do seu papel em reconstruir a história<br />

do planeta. Estas informações dos questionários<br />

sugerem que existe uma conscientização destes jovens<br />

CONCLUSÕES<br />

referente a inadequação da venda dos fósseis, e que as<br />

réplicas são uma alternativa interessante para a<br />

geração de renda com a conservação do patrimônio<br />

existente.<br />

As atividades realizadas visarão sensibilizar e formar<br />

pessoas da comunidade com o foco na conservação dos<br />

recursos patrimoniais (patrimônio fossilífero) e sua<br />

valorização sociocultural. O projeto foi bem visto pela<br />

comunidade e pelas escolas que tem interesse em<br />

aumentar o conhecimento sobre esta técnica que é<br />

economicamente e ambientalmente sustentável, pois<br />

preserva o patrimônio fossilífero, ao mesmo tempo em<br />

que gera renda para uma comunidade de baixa renda<br />

localizada na Chapada do Araripe. Espera-se aumentar<br />

este projeto (em parceria com o GEOPARK Araripe)<br />

agora em conjunto com as escolas da cidade e dos<br />

municípios do entorno para poder aumentar a<br />

conscientização e a preservação dos fósseis em uma<br />

região que contém alguns dos sítios paleontológicos<br />

mais importantes do mundo.<br />

Figura 1 - Réplicas de peixes fósseis confeccionadas pelo Museu de Paleontologia para venda aos turistas em visita a Santana do Cariri, CE.<br />

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Figura 2 - Mapa da região da Chapada do Araripe (NE Brasil), destacando a cidade de Santana do Cariri e municípios do entorno com grande<br />

potencial fossilífero (Modificado de FARA et al., 2005)<br />

Figura 3 - Fabricação de caixas de papelão para colocar os fósseis originais e produzir os moldes de silicone (A), (B) e (C); (D) Aplicação de<br />

paralóide em toda a caixa<br />

Figura 4 - Preparação dos moldes. Para fabricação do molde de silicone utiliza-se silicone industrial (A), (B) e (C); Fóssil imerso no silicone<br />

industrial (D)<br />

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Figura 5 - (A) Estudante respondendo a questionário apresentado pela equipe. (B) Exposição das réplicas de fósseis na praça da cidade e<br />

conscientização popular realizada pelos alunos das atividades de educação patrimonial.<br />

Figura 6 - Moldes de silicone de peixes, pterossauros, ossos e insetos preparados pelos multiplicadores participantes das atividades de educação<br />

patrimonial.<br />

Figura 7 - Réplicas de fósseis da Formação Santana feitos pelos multiplicadores.<br />

Figura 8 - Lado esquerdo (paisagem pretérita) e direito (atual) apresentam riqueza de detalhes e forte simbolismo de bens culturais (fósseis,<br />

museu e Pontal da Santa cruz).<br />

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Figura 9 - Lado esquerdo do desenho (paleopaisagem) apresenta dinossauros herbívoros, vulcões, árvores de porte e paleoecossistema aquático<br />

com vegetais e tubarões (ou peixes de grande porte) realizando predação em pequenos peixes. Certos fósseis do Cariri reforçam esta possível<br />

interação. Lado direito ressalta o verde das encostas da Chapada do Araripe, Aves, o Sol e novamente o Pontal da Santa Cruz com a Cruz e a<br />

Igreja.<br />

Figura 10 - Paisagem pretérita (lado esquerdo) e presente (lado direito), referente a percepção ambiental. Observa-se o paleoecossistema<br />

aquático com tartarugas e peixes (lado esquerdo) e atualmente representa o rio de baixa vazão que corta a cidade e o pontal da Santa Cruz.<br />

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Figura 11 – Reconstrução hipotética científica do paleoambiente na região de estudo. Adaptado dos dados de paleoflora de Neumann et al.<br />

(2003).<br />

Figura 12 - Resultados relativos ao questionamento: “Qual a importância dos fósseis para a sua cidade?”.<br />

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Figura 13 - Resultados relativos ao questionamento (Qual o papel do museu na sua cidade?).<br />

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Figura <strong>14</strong> - Resultados relativos ao questionamento (Se você visse alguém vendendo um fóssil da sua região, o que você faria?).<br />

Figura 15 - Resultados relativos ao questionamento (Qual a importância de fazer réplicas?).<br />

AGRADECIMENTOS<br />

Os autores agradecem o apoio do Museu de Paleontologia de Santana do Cariri pelo apoio concedido.<br />

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GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS EM CAPITAIS BRASILEIRAS ALTERNATIVAS PARA<br />

UM MODELO DE GESTÃO<br />

Urban solid waste management in Brazilian capital cities - alternatives for a model of management<br />

Christian Luiz da Silva<br />

Pós-doutor em administração, bolsista<br />

produtividade CNPq, Professor do<br />

mestrado e doutorado em Tecnologia<br />

(PPGTE) e do mestrado em<br />

planejamento e governança pública<br />

(PGP) pela Universidade Tecnológica<br />

Federal do Paraná – UTFPR, Curitiba,<br />

PR, Brasil.<br />

E-mail: christiansilva@utfpr.edu.br<br />

Gabriel Massao Fugii<br />

Mestre em Tecnologia pelo Programa<br />

de Pós-Graduação em Tecnologia<br />

(PPGTE) da Universidade Tecnológica<br />

Federal do Paraná (UTFPR), Curitiba,<br />

PR, Brasil.<br />

E-mail: gabrielfugii@hotmail.com<br />

Alain Hernández Santoyo<br />

Pós-doutor em Tecnologia (PPGTE),<br />

bolsista CAPES, Professor da<br />

Universidad Piñardel Rio - Pinar delRío,<br />

Cuba.<br />

E-mail: santoyocu@upr.edu.cu<br />

Nadia Solange Bassi<br />

Doutoranda em Tecnologia (PPGTE),<br />

Universidade Tecnológica Federal do<br />

Paraná – UTFPR, Curitiba, PR, Brasil.<br />

E-mail: sbnadia@gmail.com<br />

Marta Chaves Vasconcelos<br />

Graduanda do curso de administração<br />

da Universidade Tecnológica Federal<br />

do Paraná, (UTFPR), Curitiba, PR, Brasil.<br />

E-mail: martacvasconcelos@hotmail.com<br />

RESUMO<br />

O presente artigo tem como principal objetivo comparar a gestão dos<br />

resíduos sólidos de dez capitais brasileiras, destacando seus aspectos<br />

negativos e positivos. Muitos municípios brasileiros possuem dificuldades<br />

em fazer uma gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos devido a<br />

vários fatores, como: falta de capacidade financeira e administrativa, pouca<br />

capacidade técnica na gestão dos serviços de limpeza pública, além do<br />

tema não ser uma prioridade em muitos casos para a gestão pública. Tratase<br />

de uma pesquisa qualitativa e de análise de conteúdo, que busca<br />

compreender melhor a forma de gestão dos resíduos sólidos desde o<br />

planejamento até a aplicação. Com os resultados observam-se que a<br />

maioria dessas capitais possui uma gestão que contempla a coleta seletiva,<br />

tratamento, pontos de transbordo, cooperativas de catadores de papel,<br />

além da parceria da prefeitura com programas e projetos específicos<br />

envolvendo os resíduos sólidos. Entretanto, problemas básicos ainda<br />

persistem, como o não atendimento da coleta a 100% da área urbana em<br />

alguns municípios e a demanda por mais aterros pela exaustão dos atuais e<br />

pelo crescente volume de novos resíduos destinados.<br />

Palavras-chave: Meio Ambiente, Resíduos Sólidos, Planejamento e Capitais<br />

brasileiras.<br />

ABSTRACT<br />

This article aims to compare the management of solid waste ten capital<br />

cities, highlighting its positive and negative aspects. Many municipalities<br />

have difficulties in making a proper urban solid waste management due to<br />

various factors, such as lack of financial and administrative capacity, little<br />

expertise in the management of public sanitation services, and the theme<br />

is not a priority in many cases public management. This is a qualitative<br />

research and content analysis, which seeks to better understand the<br />

management of solid waste from planning to implementation. With the<br />

results it is observed that most of these capital has a management that<br />

includes the selective collection, treatment, transfer points, paper recycling<br />

cooperatives, and on cooperation with the city government programs and<br />

specific projects involving solid waste. However, But basic problems still<br />

persist , such as the non-compliance of collecting 100 % of the urban area<br />

in some municipalities and the demand for more landfills by exhaustion of<br />

the current and the growing volume of new waste.<br />

Keywords: Environment, Solid Waste, Planning and Brazilian Capitals.<br />

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A problemática acerca dos resíduos sólidos é uma<br />

preocupação global e ela é trabalhada e discutida<br />

constantemente em simpósios, encontros, congressos e<br />

outros eventos, porque os problemas gerados pela falta<br />

de gerenciamento e gestão de resíduos é um dos<br />

maiores desafios para a sustentabilidade urbana.<br />

Segundo a OCDE - Organização para a Cooperação e<br />

Desenvolvimento Econômico (2008), a gestão de<br />

resíduos nos países em desenvolvimento ainda<br />

necessita grande atenção devido a dificuldades<br />

fundamentais em âmbito da gestão municipal, tais<br />

como, déficit na capacidade financeira e administrativa,<br />

pouca capacidade técnica na gestão dos serviços de<br />

limpeza pública, coleta seletiva e tratamento dos<br />

resíduos (JACOBI e BESEN,2011).<br />

Além dos problemas de ordem administrativa, os<br />

municípios não possuem áreas livres suficientes para a<br />

construção de novos aterros sanitários ou instalações<br />

físicas para tratamento dos resíduos. Locais adequados<br />

para a implantação de novos sistemas de tratamento de<br />

resíduos estão cada vez mais distantes, devido à<br />

existência de áreas ambientalmente protegidas e aos<br />

impactos negativos sobre a vizinhança próxima,<br />

decorrentes das crescentes urbanizações nas capitais<br />

brasileiras (JACOBI e BESEN, 2011).<br />

A falta de atenção pelo poder público está<br />

comprometendo cada vez mais a saúde da população,<br />

os recursos naturais e, principalmente, o solo e os<br />

recursos hídricos (MONTEIRO et al., 2001). A<br />

insuficiência de gerenciamento causa outros impactos<br />

socioambientais, como o assoreamento de rios, o<br />

entupimento de bueiros e o aumento de enchentes,<br />

mau-cheiro, proliferação de insetos e vetores que<br />

afetam diretamente ou indiretamente a saúde, além de<br />

concorrer com o aquecimento global e as mudanças<br />

climáticas (JACOBI; BESEEN, 2011; GOUVEIA, 2012;<br />

GOUVEIA, 1999).<br />

Problemas que são intensificados pelo crescimento<br />

populacional e sua longevidade, obsolescência<br />

programada e descartabilidade dos produtos, mudanças<br />

nos padrões de consumo caracterizado por ser<br />

supérfluo e excessivo. Nos últimos três levantamentos<br />

realizados pela Associação Brasileira de Empresas de<br />

Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) nos<br />

anos de 2010, 2011 e 2012, a quantidade de resíduos<br />

aumentou, superando a taxa de crescimento<br />

INTRODUÇÃO<br />

populacional, caracterizando uma produção diária de<br />

mais de um quilo de resíduos por habitante por dia<br />

(ASSOCIAÇÃO..., 2010, 2011, 2012). Esta situação se<br />

agrava em municípios cujo Produto Interno Bruto (PIB)<br />

é maior e consequentemente geram maior volume de<br />

resíduos (MELO; SAUTTER e JANISSEK, 2009). Portanto,<br />

a sustentabilidade urbana passa pela resolução dos<br />

problemas causados pelos resíduos sólidos que é de<br />

responsabilidade municipal.<br />

Neste contexto, a consciência do processo de<br />

aproveitamento, tratamento ou destino dos resíduos<br />

urbanos é de primordial importância, assim como a<br />

elaboração de estudos que objetivem o seu<br />

aproveitamento (SOUSA, GAIA, RANGEL, 2010),<br />

buscando a redução efetiva da quantidade de resíduos<br />

potencialmente recicláveis dispostos em aterros ou<br />

lixões (JACOBI e BESEN, 2011), além de potencializar o<br />

aproveitamento de subprodutos como a compostagem<br />

e o aproveitamento energético.<br />

Logo, trabalhar as questões dos resíduos sólidos, requer<br />

reforçar e fortalecer a importância de questões<br />

ambientais, bem como, de aspectos legais e políticas<br />

públicas, objetivando a construção de espaços urbanos<br />

democráticos, socialmente justos e com condições<br />

físico-ambientais seguras (ROSSETTO, ORTH E<br />

ROSSETTO, 2006). Além disso, deve-se contribuir para a<br />

aplicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos e ao<br />

Plano Nacional de Resíduos Sólidos.<br />

Apesar da rede urbana brasileira ser formada por<br />

cidades com características bastante diferentes, estas<br />

possuem com maior ou menor intensidade, problemas<br />

intraurbanos que afetam sua sustentabilidade e<br />

gerenciamento (ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006).<br />

Contra estes problemas, os municípios acabam<br />

desenvolvendo soluções para as questões que afligem a<br />

sociedade em suas diversas dimensões, como a social,<br />

econômica, físico-espaciais e ambientais, que fazem<br />

parte desse complexo emaranhado de relações e<br />

demandas (ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006).<br />

Assim, o objetivo deste artigo é demonstrar o atual<br />

modelo de gestão de resíduos sólidos urbanos<br />

brasileiro, a partir da análise de algumas capitais,<br />

destacando seus aspectos negativos e positivos. A<br />

hipótese é que a partir da identificação dos pontos<br />

positivos e negativos sobre a gestão de resíduos sólidos<br />

urbanos em diferentes municípios, seria possível<br />

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promover melhorias em suas atuais gestões, com a<br />

aplicabilidade de alternativas que já são realizadas e<br />

outras capitais. Estas mudanças poderiam representar<br />

melhoria nas esferas econômica, social e ambiental,<br />

estimulando o desenvolvimento da região.<br />

Políticas Públicas<br />

O planejamento é a base para as demais ações,<br />

determinando antecipadamente quais são os objetivos<br />

e o que realizar para alcançá-los. Trata-se, de um<br />

modelo teórico para a escolha da melhor ação futura<br />

para chegar aos objetivos desejados (CHIAVENATO,<br />

2000).<br />

Porém repensar a gestão, a governabilidade e o<br />

planejamento urbano, a partir de um considerável<br />

contingente de limitações, não é fácil, mas é essencial.<br />

Como possível solução para equacionar essas questões<br />

encontra-se a priorização na elaboração de<br />

instrumentos que viabilizem, a realização de ações<br />

públicas para o desenvolvimento sustentável<br />

(ROSSETTO, ORTH E ROSSETTO, 2006). Desta forma as<br />

políticas públicas são fundamentais para que projetos<br />

sejam feitos com o intuito de alcançar futuros<br />

desejáveis.<br />

Segundo Souza (2006), a política pública não possui<br />

uma única, nem a melhor definição. Ela pode ser<br />

entendida como um conjunto de atividades<br />

desenvolvidas pelo Estado, que concebem e<br />

programam ideias relevantes aos problemas da<br />

sociedade. E, apesar do Estado ser o responsável por<br />

estabelecer as regras e mecanismos de punição, em<br />

Este artigo está dividido em seis seções, incluindo esta<br />

introdução. As próximas três seções abordam<br />

respectivamente a fundamentação sobre as políticas<br />

públicas, sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos e<br />

apresenta-se a metodologia de pesquisa. As duas<br />

últimas seções tratam dos resultados e discussões e,<br />

por fim, são feitas as considerações finais.<br />

virtude de sua capacidade de universalização, coerção e<br />

regulamentação; as políticas somente se realizam<br />

quando os atores sociais (do Estado e da sociedade civil)<br />

envolvidos na sua implementação interagem e se<br />

integram entre si (SILVA; BASSI, 2012).<br />

Para Frey (2000), os conceitos: policy, politics, polity,<br />

policy network, policyarena’epolicycycle, são<br />

fundamentais para a compreensão de políticas públicas,<br />

quanto para a estruturação de um processo de<br />

pesquisa. A polity denomina as instituições políticas, a<br />

politics retrata os processos políticos e a policy aborda<br />

os conteúdos da política. A policy network são as redes<br />

de interação de diferentes grupos e instituições e que<br />

vem ganhando importância em processos decisórios nas<br />

democracias modernas, por gerarem e implementarem<br />

uma policy. A policy arena retrata os processos de<br />

conflitos e de consenso dentro das várias áreas da<br />

política. Por fim, a policycycle realiza uma análise da<br />

vida de uma política pública, sendo segundo Frey<br />

(2000), divididas nas seguintes fases: percepção e<br />

definição dos problemas, agenda-setting, elaboração de<br />

programas e decisão, implementação de políticas e,<br />

finalmente, a avaliação de políticas e a eventual<br />

correção da ação. A definição destas fases pode ser<br />

observada na tabela 1 abaixo (SILVA; BASSI, 2012).<br />

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PROCESSO<br />

POLÍTICO<br />

Identificação do<br />

problema<br />

Agenda dos<br />

agentes<br />

Formulação de<br />

política<br />

Legitimação da<br />

política<br />

Implementação<br />

da política<br />

Avaliação da<br />

política<br />

DESCRIÇÃO GENÉRICA DA ETAPA<br />

Identificação dos problemas<br />

políticos por meio da demanda de<br />

indivíduos e grupos de ação<br />

governamental<br />

Atenção na mídia e nos órgãos<br />

públicos oficiais sobre problemas<br />

públicos específico para decidir o<br />

que será decidido<br />

Desenvolvimento da proposta de<br />

política pelo interesse de grupos<br />

Definição da ação e política como<br />

sendo oficial, tornando-a lei<br />

Implementação da política pelas<br />

burocracias, gastos públicos,<br />

regulações e outras atividades afins<br />

Avaliação continuada da política<br />

pública tanto em termos de<br />

processo quanto de resultado<br />

Tabela 1 - Processo da política pública<br />

AGENTES PARTICIPANTES<br />

Instituições formais e informais<br />

(Responsáveis por identificar este problema por pressões<br />

sociais, econômicas, políticas, ambientais ou culturais)<br />

Instituições formais e informais (Responsáveis por discutir o<br />

problema e apresentar demandas ao governo)<br />

Instituições formais, informais e o governo (a<br />

responsabilidade é compartilhada, mas dependendo do<br />

arranjo institucional existente um deles será o responsável<br />

por consolidar a formulação da política)<br />

Governo (Responsabilidade típica do governo que garante a<br />

legitimidade da política)<br />

Governo e Instituições formais, informais (a<br />

responsabilidade é compartilhada, mas normalmente é<br />

coordenada pelo governo. Em alguns casos é exclusivamente<br />

implementado pelo governo)<br />

Governo e Instituições formais, informais (a<br />

responsabilidade é compartilhada, mas o governo<br />

necessariamente deve avaliar a sua política).<br />

(As instituições formais e informais, quando bem<br />

estruturadas e atuantes, sempre como uma espécie de<br />

auditoria dos resultados e grupo de pressão para melhoria<br />

das ações com intuito de não desvirtuar dos objetivos<br />

definidos pela política)<br />

FONTE: SILVA; BASSI (2012)<br />

Assim, pode-se afirmar que a política pública busca “colocar o governo em ação” e/ou analisar essa ação, propondo<br />

quando necessárias mudanças no rumo ou curso dessas ações (SOUZA, 2006). Daí a importância do monitoramento e<br />

avaliação, pois as políticas públicas refletem na sociedade (SOUZA, 2006). Assim, as tomadas de decisões devem ser<br />

realizadas, levando em conta a minimização das incertezas e riscos futuros. Logo, compreender alternativas para uma<br />

gestão adequada, serve como base para futuras tomadas de decisões, bem como, para aplicação de modelo melhorado,<br />

representando a redução dos problemas, além de representar ganhos ambientais, sociais e econômicos.<br />

Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos<br />

Segundo a Lei Federal nº 12.305/10, que institui a<br />

Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Resíduo Sólido<br />

Urbano (RSU) se caracteriza por englobar os resíduos<br />

domiciliares, ou seja, aqueles originados nas atividades<br />

domésticas em residências urbanas, e os resíduos<br />

provenientes da limpeza urbana (varrição, limpeza de<br />

logradouros e vias públicas, bem como de outros<br />

serviços de limpeza urbana). Essa mesma lei traz<br />

Na gestão e gerenciamento de resíduos sólidos, deve<br />

ser observada a seguinte ordem de prioridade: não<br />

definições para o gerenciamento de resíduos sólidos,<br />

caracterizado pelo conjunto de ações exercidas, direta<br />

ou indiretamente, nas etapas de coleta, transporte,<br />

transbordo, tratamento e destinação final<br />

ambientalmente adequada dos resíduos sólidos, de<br />

acordo com plano municipal de gestão integrada de<br />

resíduos sólidos ou com plano de gerenciamento de<br />

resíduos sólidos.<br />

geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento<br />

dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente<br />

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adequada dos rejeitos. Poderão ser utilizadas<br />

tecnologias visando à recuperação energética dos<br />

resíduos sólidos urbanos, desde que tenha sido<br />

comprovada sua viabilidade técnica e ambiental e com<br />

a implantação de programa de monitoramento de<br />

emissão de gases tóxicos aprovado pelo órgão<br />

ambiental, assim como a adoção, desenvolvimento e<br />

aprimoramento de outras tecnologias limpas como<br />

forma de minimizar impactos ambientais.<br />

A gestão integrada de resíduos sólidos pode ser<br />

definida como, a seleção e aplicação de técnicas,<br />

tecnologias e programas de gestão adequados, que<br />

busquem específicos objetivos e metas. A Agência de<br />

Proteção Ambiental dos Estados Unidos identificou<br />

quatro estratégias básicas para a gestão integrada de<br />

resíduos. São elas, a redução na fonte, reciclagem e<br />

compostagem, combustão e destinação em aterros<br />

sanitários. A proposta da agência americana é que<br />

todas estas estratégias estejam conectadas<br />

(TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002).<br />

Para Economopoulos (2012, p. 42-43) as alternativas de<br />

gestão podem ser baseadas nas tecnologias de<br />

tratamentos, representadas na figura 1. Entre as<br />

alternativas, pode-se destacar os materiais recicláveis<br />

separados na fonte, sendo reutilizados ou reciclados. Os<br />

resíduos sólidos urbanos (RSU) misturados podem ser<br />

tratados tanto anaerobicamente como aerobicamente<br />

pelo tratamento mecânico-biológico, desta forma<br />

obtendo materiais recicláveis, energia e<br />

bioestabilizados orgânicos resíduos inertes devem estar<br />

aterrados.<br />

Como meio de produção de combustível, os resíduos<br />

podem ser processados por instalações de incineração e<br />

em quantidades limitadas por fornos na indústria do<br />

cimento. O RSU misturados podem ser processados,<br />

juntamente com a geração de combustível, em<br />

instalações de incineração de resíduos, após a<br />

recuperação de alguns materiais recicláveis. A energia<br />

pode ser exportada sob a forma de eletricidade e / ou<br />

calor para o aquecimento do lugar ou utilização<br />

industrial. Os resíduos que contém substâncias tóxicas<br />

devem ser eliminados em instalações apropriadas. O<br />

RSU misturados também podem ser pré-tratados em<br />

instalações de secagem biológica, após a recuperação<br />

do material reciclável. Existem outros tratamentos além<br />

destes citados e demonstrados no diagrama, como por<br />

exemplo, a gaseificação e a pirólise.<br />

Figura 1: Alternativas de gestão de resíduos sólidos<br />

FONTE: ADAPTADO DE ECONOMOPOULOS (2012, P. 42-43)<br />

Esta figura representa ações interligadas, com o<br />

objetivo de reduzir as quantidades de resíduos que<br />

serão depositados em aterros sanitários. Sua aplicação<br />

começa desde a não geração, com a aplicação de uma<br />

gama de possibilidades de tratamento,<br />

(re)aproveitamento, transformação dos resíduos de<br />

forma interconectada com as demais etapas, com o<br />

objetivo de reduzir as quantidades de resíduos<br />

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dispostos em aterros. Proposta que é priorizado pela<br />

Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010. Além de<br />

pensar em outras dimensões como a social, a cultural, a<br />

educacional entre outras, que são fundamentais para o<br />

sucesso deste complexo sistema.<br />

Dentre essas etapas, a reciclagem é uma das formas<br />

vista como mais positiva, devido ao retorno das<br />

A compostagem é o processo de conversão aeróbia da<br />

matéria orgânica, tendo por produto final um<br />

condicionador do solo, denominado composto. Outra<br />

forma de tratamento biológica é a digestão anaeróbia<br />

que estabiliza a matéria orgânica e produz biogás,<br />

constituído principalmente por gás metano e dióxido de<br />

carbono (ZANTA e FERREIRA, 2003). O processo de<br />

compostagem aeróbia pode ser dividido em duas fases,<br />

a primeira chamada de "bioestabilização", caracterizase<br />

pela redução da temperatura da massa orgânica. A<br />

segunda fase, chamada de "maturação", na qual ocorre<br />

a humificação e a mineralização da matéria orgânica.<br />

Na compostagem anaeróbia a decomposição é realizada<br />

por microrganismos que podem viver em ambientes<br />

sem a presença de oxigênio, com baixa temperatura,<br />

com período maior de tempo para que a matéria<br />

orgânica se estabilize (MONTEIRO et al., 2001). Porém,<br />

a utilização de seus subprodutos deve ser tratada com<br />

cautela, pois pode ocorrer contaminação da água por<br />

pesticidas e resíduos de fertilizantes (TCHOBANOGLOUS<br />

e KREITH, 2002).<br />

A incineração é um tratamento eficaz para reduzir o<br />

volume do lixo, tornando o resíduo inerte em pouco<br />

tempo, se realizada de forma adequada (MONTEIRO et<br />

al. 2001). Consiste na combustão controlada através de<br />

equipamentos especiais denominados incineradores,<br />

tratando tanto de resíduos sólidos, semissólidos e<br />

líquidos. Com a queima os remanescentes são<br />

matérias-primas que possibilita para o mercado, através<br />

da separação dos produtos reutilizáveis<br />

(TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002), além de promover<br />

a inclusão social em instalações, associações ou<br />

cooperativas que fazem o beneficiamento destes<br />

produtos. É vista também como uma forma de<br />

promover o desenvolvimento local.<br />

geralmente constituídos de gases, como o anidrido<br />

carbônico (CO2), o anidrido sulfuroso (SO2), o<br />

nitrogênio (N2), o oxigênio (O2) proveniente do ar em<br />

excesso que não foi queimado completamente, água<br />

(H2O), cinzas e restos constituídos de metais ferrosos e<br />

inertes, como vidro e pedras (SCHLACH et al, 2002).<br />

Entretanto, suas restrições estão atreladas ao seu custo,<br />

e o alto grau de sofisticação necessária para operá-los<br />

de forma segura (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002).<br />

Aterros sanitários são a opção para os resíduos que não<br />

puderam ser aproveitados nas etapas anteriores à<br />

disposição final (TCHOBANOGLOUS e KREITH, 2002). Os<br />

aterros sanitários contam com controle de gás, sistema<br />

de coleta de chorume (líquido proveniente da<br />

decomposição da matéria orgânica, de cor escura e<br />

odor desagradável, com alta capacidade de poluição),<br />

monitoramento de águas subterrâneas e estão<br />

localizados estrategicamente para tirar proveito das<br />

condições naturais de geologia. Além disso, os aterros<br />

podem contribui na recuperação de gás metano e de<br />

dióxido de carbono.<br />

Considerando as diferentes estratégias existentes e<br />

etapas realizadas dentro do gerenciamento dos<br />

resíduos sólidos urbanos, é importante investigar os<br />

atuais sistemas de gestão de resíduos sólidos, tanto<br />

para aprimoramento quanto para servir de exemplo<br />

para tantas outras cidades que não os possuem de<br />

forma adequada.<br />

A pesquisa realizada é qualitativa e descritiva. Busca<br />

compreender melhor a forma de gestão dos resíduos<br />

sólidos tanto no aspecto de gestão, aplicação e<br />

planejamento dos municípios e descreve o<br />

funcionamento da gestão de resíduos sólidos em cada<br />

município.<br />

A pesquisa consolidou-se em 3 etapas, primeiramente a<br />

compreensão teórica dos termos para análise do<br />

gerenciamento dos resíduos, tais como políticas<br />

MATERIAIS E MÉTODOS<br />

públicas, sistemas de gerenciamento, tratamento e<br />

disposição final de resíduos e aspectos legais referentes<br />

a gestão de resíduos sólidos. A segunda etapa foi a<br />

realização de entrevistas a partir de um questionário<br />

semiestruturado. Elas foram realizadas nas cidades de<br />

Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Florianópolis,<br />

Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e<br />

Vitória com gestores das secretarias municipais<br />

responsáveis pelo gerenciamento e gestão dos resíduos<br />

sólidos durante os meses de fevereiro a novembro de<br />

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2012. O questionário semiestruturado abordava as<br />

seguintes perguntas: quantidade diária coletada de<br />

resíduos, composição gravimétrica, possuem coleta<br />

seletiva, compostagem e reciclagem, utilizam aterro<br />

sanitário, se possuem aproveitamento energético,<br />

estação de transbordo, trabalham com associações ou<br />

cooperativas de reciclagem, ações e/ou projetos. A<br />

última etapa consistiu na análise qualitativa das<br />

informações por meio da comparação dos modelos de<br />

gestão por item relacionado no roteiro de entrevista e<br />

corroborando com dados secundários coletados nos<br />

sites dos próprios municípios ou das empresas que<br />

executam o serviço de limpeza pública.<br />

RESULTADOS E DISCUSSÃO<br />

As dez capitais trabalhadas neste artigo, ou possuem mais de um milhão de habitantes ou são importantes para a<br />

economia da região e para a composição do Produto Interno Bruto brasileiro conforme demonstrado pelo IBGE em 2012<br />

(Tabela 2).<br />

Município<br />

Tabela 2 - Produto Interno Bruto dos Municípios das Capitais estudadas,<br />

por posição em relação às outras capitais e municípios brasileiros no ano de 2010<br />

Valor<br />

(1000 R$)<br />

Posição em relação a outras<br />

capitais brasileiras<br />

Posição em relação a<br />

outros municípios<br />

brasileiros<br />

São Paulo/ SP 443 600 102 1° 1°<br />

Rio de Janeiro/RJ 190 249 043 2° 2°<br />

Brasília/DF <strong>14</strong>9 906 319 3° 3°<br />

Curitiba/PR 53 106 497 4° 4°<br />

Belo Horizonte/MG 51 661 760 5° 5°<br />

Porto Alegre/RS 43 038 100 7° 7°<br />

Salvador/BA 36 744 670 9° 10°<br />

Vitória/ES 24 969 295 11° 20°<br />

Belém/PA 17 987 323 13° 27°<br />

Florianópolis/SC 9 806 534 20° 55°<br />

FONTE: INSTITUTO BRASILEIRO DE ESTATÍSTICA E GEOGRAFIA (2012)<br />

O Produto Interno Bruto (PIB) é um fator que segundo Melo, Sautter e Janissek (2009) está relacionado diretamente<br />

com a geração de resíduo.<br />

Tabela 3 - Informações sobre a população e quantidade coletada de RSU nas capitais selecionadas - 2010<br />

Unidade da Federação<br />

População<br />

Quantidade RSU<br />

Coletada (t/dia)<br />

Quantidade RSU<br />

Coletada (Kg/hab/dia)<br />

Belém Pará 1.390.780 1.788,6 1,286<br />

Belo Horizonte Minas Gerais 2.385.639 2.990,8 1,254<br />

Brasília Distrito Federal 2.521.692 4.031,0 1,599<br />

Curitiba Paraná 1.764.540 2.175,4 1,2<strong>33</strong><br />

Florianópolis Florianópolis 421.203 450,1 1,095<br />

Porto Alegre Rio Grande do Sul 1.413.094 1.635,5 1,157<br />

Rio de Janeiro Rio de Janeiro 6.323.037 8.263 1,300<br />

Salvador Bahia 2.692.869 3.679,5 1,366<br />

São Paulo São Paulo 11.244.369 <strong>14</strong>.261,3 1,274<br />

Vitória Espírito Santo 325.453 342,0 1,035<br />

FONTE DOS DADOS BRUTOS: ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS (2011)<br />

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A tabela 3 foi construída a partir de dados da<br />

Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e<br />

Resíduos Especiais (2011) e apresenta dados sobre a<br />

população dos municípios estudados, além da<br />

quantidade de resíduos coletados diariamente e a<br />

quantidade em quilos de resíduos produzidos por<br />

habitante/dia. Calculando-se a média produzida entre<br />

os municípios obtém o seguinte resultado 1,260<br />

Kg/habitante/dia. Sendo que os municípios de São<br />

Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Belém estão<br />

acima desta média. A justificativa dos três primeiros<br />

municípios pode estar ligada ao PIB, influenciando uma<br />

maior geração de resíduo. Já o município de Salvador<br />

sofre com uma grande geração de resíduos<br />

principalmente na época de Carnaval, além de ser uma<br />

cidade turística. A justificativa de Belém pode ser dada<br />

como a falta de programas sociais, culturas, ambientais,<br />

educacionais, entre outros, que contemplem a não<br />

geração, além da ausência significativa de carrinheiros<br />

(coletores informais ou não de matérias possivelmente<br />

recicláveis) ou de associações estruturadas que<br />

recolham o material e que deixam de entrar nas<br />

estatísticas. Justificativas que também podem estar<br />

relacionadas aos municípios citados acima.<br />

De forma geral, todas estas capitais possuem um<br />

sistema de coleta de resíduos sólidos urbanos que<br />

contemplam em partes a Lei Federal nº. 12.305/2010,<br />

que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Em<br />

partes, porque algumas cidades possuem mais ações e<br />

outras menos, mas que são voltadas para a busca de<br />

soluções para os resíduos sólidos, levando em conta<br />

dimensões política, econômica, ambiental, cultural e<br />

social, com controle social e com a premissa do<br />

desenvolvimento sustentável. Porém nem todas estas<br />

capitais e diversas outras cidades do país<br />

(ASSOCIAÇÃO..., 2011) possuem todas as etapas do<br />

gerenciamento, que se caracteriza pelo conjunto de<br />

ações exercidas, direta ou indiretamente, nas etapas de<br />

coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação<br />

final ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e<br />

disposição final ambientalmente adequada de forma<br />

que estejam interconectadas. Cabe reforçar, como<br />

explicitado na metodologia, que todas as informações<br />

obtidas a partir da pesquisa de campo foram obtidas de<br />

fevereiro a novembro de 2012.<br />

Tabela 4 - Dados sobre a gestão de resíduos sólidos urbanos das capitais selecionadas<br />

Cidade Tratamentos Forma de disposição final<br />

Cooperativa de<br />

Reciclagem<br />

Transbordo<br />

Belém Reciclagem, Coleta seletiva Aterro do Aurá Sim Sim Sim<br />

Belo Horizonte<br />

Brasília<br />

Curitiba<br />

Florianópolis<br />

Porto Alegre<br />

Rio de Janeiro<br />

Salvador<br />

São Paulo<br />

Vitória<br />

Reciclagem, compostagem,<br />

coleta seletiva<br />

Coleta seletiva,<br />

compostagem, reciclagem e<br />

usinas de tratamento de lixo<br />

Coleta seletiva, reciclagem<br />

Coleta seletiva, reciclagem e<br />

compostagem<br />

Coleta seletiva, Reciclagem,<br />

compostagem,<br />

Coleta seletiva, reciclagem e<br />

compostagem.<br />

Coleta seletiva, Reciclagem,<br />

compostagem.<br />

Coleta seletiva, Reciclagem,<br />

compostagem.<br />

Coleta seletiva e reciclagem,<br />

compostagem<br />

Aterro - Centro de Tratamento em<br />

Resíduos Macaúbas em Sabará<br />

Biogás<br />

Sim Sim Sim<br />

Aterro do Jóquei Sim Sim Não<br />

Aterro- Centro de Gerenciamento de<br />

Resíduos Iguaçu em Fazenda Rio Grande<br />

Sim Não Não<br />

Aterro na cidade de Biguaçu Sim Sim Não<br />

Aterro - Central de Resíduos Recreio Sim Sim Não<br />

Sanitário Gericinó e Aterro Sanitário<br />

Seropédica<br />

Aterro Metropolitano Centro e Aterro<br />

controlado de Canabrava<br />

Aterros privados Centro de Disposição de<br />

Resíduos - CDR Pedreira (Estre Ambiental)<br />

e a Central de Tratamento de Resíduos -<br />

CTR Caieiras (Essencis),<br />

Sim Sim Não<br />

Sim Sim Sim<br />

Sim Sim Sim<br />

Aterro Sanitário de Cariacica Sim Sim Sim<br />

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Nota-se, a partir da Tabela 4, que todas as capitais<br />

estudadas possuem como destinação final o aterro<br />

sanitário, além de possuírem coleta seletiva e<br />

possuírem associações e ou cooperativas de reciclagem.<br />

Com exceção do município de Curitiba, todas as demais<br />

possuem estação de transbordo sendo importante para<br />

logística de transporte e estratégias, justificado pela<br />

distância das instalações de tratamento dos resíduos,<br />

bem como, a disposição final em aterros. Metade dos<br />

municípios estudados possuem usinas que aproveitam a<br />

energia gerada pelos resíduos.<br />

Belém destaca-se com a coleta noturna em roteiro<br />

extra, isto é, a remoção de lixo programada para<br />

complementar os roteiros diurnos de coleta especial e<br />

de varrição; além da coleta domiciliar nas principais vias<br />

da cidade e o destino final do lixo coletado. O<br />

tratamento do lixo é feito através da coleta seletiva e<br />

de reciclagem. Na cidade há uma associação de<br />

catadores que ajuda na coleta seletiva, entretanto é<br />

necessário maior investimento porque a estrutura para<br />

reciclagem a partir da cooperativa ainda é precária<br />

quanto a instalações e logística do material reciclável.<br />

Para a localização do aterro foram observadas as<br />

condições favoráveis de solo, topografia, cobertura<br />

vegetal, cursos de água, ventos dominantes e ausência<br />

de vizinhança.<br />

Em Belo Horizonte, o lixo é coletado por meio da coleta<br />

seletiva, reciclagem e compostagem. Há um consórcio<br />

entre a prefeitura e uma empresa terceirizada para a<br />

coleta do lixo. Há duas alternativas para os moradores:<br />

além do porta a porta, o ponto a ponto distribui<br />

contêineres específicos disponíveis na cidade para a<br />

coleta do lixo. As associações de catadores também<br />

contribuem no processo de limpeza urbana. A<br />

prefeitura começou a trabalhar ativamente com os<br />

Em Brasília, o tratamento dos resíduos sólidos é<br />

realizado por meio de coleta seletiva, compostagem,<br />

reciclagem e usinas de tratamento de lixo. Assim, todos<br />

os resíduos coletados têm o seu tratamento adequado.<br />

Até o final do ano de 2012 ainda não possuía um<br />

consórcio confirmado para a coleta e transporte dos<br />

resíduos sólidos, porém há um projeto para sua<br />

implementação. Possui associações de catadores que<br />

contribuem na triagem dos resíduos sólidos, porém a<br />

organização ainda é incipiente.<br />

Curitiba possui um sistema de coleta porta a porta de<br />

RSU, realizada manualmente por catadores e que<br />

despejam os resíduos em caminhões com caçambas<br />

catadores. Neste papel, o poder público incentiva o<br />

cooperativismo do grupo, não só cedendo três galpões<br />

na região central, que são utilizados como depósitos,<br />

mas também apoiando um conjunto de iniciativas que<br />

envolvem capacitação profissional, educação e<br />

empenho em garantir os elementos necessários ao<br />

resgate da cidadania. Quanto ao aterro sanitário, possui<br />

tratamento adequado, conta com um sistema de<br />

tratamento de chorume em duas estações já<br />

construídas e a sua interligação a um sistema de células<br />

de tratamento biológico dos resíduos, também há a<br />

utilização de bactérias para acelerar o processo de<br />

decomposição do lixo. Esse sistema gera um composto<br />

que pode ser utilizado na recuperação de solos<br />

degradados pela ação de mineradoras.<br />

Com a estação de transbordo os resíduos coletados por<br />

meio de caminhões compactadores, são transferidos<br />

para carretas com maior capacidade e assim<br />

transportados para o aterro, economizando viagens.<br />

Possuindo também usina de Biogás. Algo a ser<br />

destacado é uma parceria entre das Secretarias de<br />

Educação e do Meio Ambiente, por meio da qual as<br />

escolas são mobilizadas e desenvolvem-se atividades<br />

educativas que despertam a consciência ambiental. As<br />

Secretarias de Saúde e Cultura utilizam-se do Projeto<br />

Ponto Verde, que visa à eliminação de lixões e<br />

recuperação de áreas degradadas pelo despejo irregular<br />

de resíduos sólidos. Com o fim dos vetores de poluição<br />

e da queima de lixo, os espaços estão sendo<br />

apropriados pela população local. Os caminhões<br />

convencionais que antes faziam a coleta foram<br />

substituídos por caminhões compactadores – o que só<br />

foi possível com a colaboração da população, que<br />

passou a dispor o lixo de forma adequada nos pontos<br />

de coleta.<br />

compactadoras. Em áreas de difícil acesso e não<br />

urbanizadas a prefeitura realiza a coleta convencional<br />

indireta, através de caçambas estacionárias.<br />

A coleta seletiva é realizada através do Programa “Lixo<br />

que não é Lixo” e em pontos de trocas, denominado<br />

Programa Cambio Verde. A coleta dos recicláveis é<br />

realizada por caminhões baús e destinados às Unidades<br />

de Valorização de Recicláveis – UVR, que é administrada<br />

pelo Instituto Pró- Cidadania de Curitiba – IPCC e está<br />

localizada no Município de Campo Magro, cidade que<br />

compõem a Região Metropolitana de Curitiba. O IPCC é<br />

responsável pela triagem e comercialização dos<br />

resíduos recicláveis coletados no Programa “Lixo que<br />

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não é Lixo” e Câmbio Verde. Ou, ainda, os recicláveis<br />

são destinados ao Projeto Reciclagem Inclusão Total –<br />

ECOCIDADÃO, que é realizado nos Parques de Recepção<br />

de Recicláveis, caracterizados por possuírem espaços<br />

dotados de infraestrutura física, administrativa e<br />

gerencial para recepção, classificação e venda do<br />

material coletado pelos catadores organizados em<br />

sistema de associações e cooperativas. Apesar da<br />

organização da coleta seletiva e no reaproveitamento<br />

de recicláveis, o modelo de gestão do município não<br />

avança na geração de energia pelo biogás e no reuso<br />

pela compostagem. A lei municipal de 11268 de 16 de<br />

dezembro de 2004 autoriza o Município de Curitiba a<br />

conceder o uso do Aterro Sanitário da Caximba para<br />

exploração do Biogás, porém isso não ocorreu.<br />

Florianópolis possui uma associação com os demais<br />

municípios da região metropolitana, para o tratamento<br />

e disposição final de resíduos da região. Além de<br />

possuir coleta seletiva que alcança todos os bairros da<br />

cidade, o material reciclável é selecionado por seus<br />

associados, que não necessitam coletar os materiais nas<br />

ruas. Com a matéria orgânica é feita a compostagem<br />

que servirá de adubo para hortas comunitárias.<br />

Destaque para o programa De Olho na Sujeira que<br />

beneficiamento de resíduos arbóreos. Outro projeto em<br />

desenvolvimento é o Ecoparque, quem tem o intuito de<br />

promover estudos para prospecção de novas formas de<br />

tratamento e valorização dos resíduos sólidos,<br />

maximizando a reciclagem e o aproveitamento<br />

energético das diversas frações do resíduo sólido<br />

urbano gerado no município de Porto Alegre e para o<br />

ECOPONTOS que são o conjunto de unidades que serão<br />

estrategicamente espalhadas pela cidade e se destinam<br />

a atender pequenos geradores de materiais<br />

reaproveitáveis.<br />

Rio de Janeiro possui coleta seletiva e os recicláveis são<br />

triados por associações de catadores. Possui uma usina<br />

de queima, porém, não há aproveitado de seu potencial<br />

energético. Não possui um consórcio intermunicipal. É<br />

realizado a compostagem que serve de adubo para o<br />

reflorestamento da cidade, oriundo de resíduos sólidos<br />

urbanos– FERTILURB, produzido pela SECONSERVA,<br />

através da Companhia Municipal de Limpeza Urbana –<br />

COMLURB. Destaque também para o Projeto Coco<br />

Verde, que em articulação com a<br />

SECONSERVA/COMLURB e parceiros da iniciativa<br />

privada, no trecho de praias entre o Arpoador e o<br />

Leblon, incentivou a cadeia produtiva da reciclagem das<br />

remove resíduos/entulhos em qualquer parte da<br />

cidade. Destaque também para as ações de educação<br />

ambiental e mobilização comunitária exercida pela<br />

Companhia de Melhoramentos da Capital (COMCAP).<br />

Porto Alegre possui coleta seletiva e usinas de<br />

compostagem e unidades de reciclagem. Foi a pioneira<br />

na atividade de associações de catadores. Uma das<br />

particularidades destas associações foi a oportunidade<br />

de participação de ex-dependentes químicos, pessoas<br />

contaminadas com o vírus da imunodeficiência humana<br />

ou com baixa escolaridade e que não conseguiram<br />

colocação em outra área. Outro projeto é o Programa<br />

de Reaproveitamento de Resíduos Orgânicos via<br />

Suinocultura. Outra iniciativa importante foi a<br />

construção da Estação de Transbordo Lomba do<br />

Pinheiro para otimização dos serviços de coleta e<br />

transporte dos resíduos sólidos do município de Porto<br />

Alegre. Também possui uma unidade de alimentação<br />

dos recicláveis por gravidade das mesas de triagem:<br />

esse sistema inovador cuja ação por gravidade dispensa<br />

a necessidade de esteira transportadora de materiais<br />

para separação dos recicláveis, economizando energia<br />

elétrica. Possui centrais de<br />

cascas de coco, garantindo também que esse tipo de<br />

resíduo tenha destinação ambientalmente adequada.<br />

Em 2012, aproximadamente 1.000 t de cascas de coco<br />

verde deixaram de ser encaminhadas aos aterros<br />

sanitários municipais.<br />

Salvador possui coleta seletiva, reciclagem e<br />

compostagem. A matéria orgânica e rejeitos são<br />

coletados e transportados para o Aterro Sanitário<br />

Metropolitano Centro, diretamente ou através da<br />

estação de transbordo. O aterro possui usina geradora<br />

de biogás. Grande parte da coleta seletiva é realizada<br />

por catadores, porta a porta, na origem, organizados<br />

em associações e cooperativas, reconhecidas em sua<br />

maioria pela Prefeitura, como parte integrante do<br />

sistema de gestão de resíduos sólidos do município.<br />

Conta também com Postos de Entrega Voluntária (PEVs)<br />

que estão distribuídos estrategicamente em pontos na<br />

cidade. Já a coleta alternativa é realizada por Agentes<br />

Voluntários, barco, balsa e pelo sistema de "lixoduto"<br />

quando o sistema de coleta convencional possui difícil<br />

acesso. O aterro possui tratamento adequado e o<br />

chorume é coletado e transportado por veículo do tipo<br />

carro-pipa, para ser tratado da forma adequada.<br />

Quanto aos gases provenientes da decomposição da<br />

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matéria orgânica são captados e queimados. Já os<br />

compostos orgânicos são tratados por compostagem<br />

assim, esses compostos, servem para enriquecimento<br />

do solo das praças e jardins das cidades. Opera em<br />

parceria com a Superintendência de Parques e Jardins<br />

(SPJ) e há a gestão dos novos geradores de resíduos,<br />

por meio de um avanço institucional, similar a uma<br />

licença ambiental. Como quesito de funcionamento, os<br />

novos estabelecimentos, especialmente comerciais,<br />

devem apresentar um plano de gerenciamento e<br />

reaproveitamento dos resíduos para obtenção da<br />

licença.<br />

São Paulo possui coleta seletiva, reciclagem e<br />

compostagem. A coleta seletiva acontece através de um<br />

consórcio com empresas privadas e a prefeitura, e<br />

também tem o auxílio das organizações de catadores,<br />

dessa forma, o que não é reciclado é levado para dois<br />

aterros privados. Um fator que interfere de forma<br />

negativa na coleta seletiva na cidade é a coleta<br />

clandestina realizada por caminhões em mau estado de<br />

manutenção e sem segurança no trabalho. Essa coleta<br />

clandestina reduz o rendimento das cooperativas de<br />

catadores. A cidade possui um sistema de captação e<br />

recuperação de metano nos aterros públicos, Pode-se<br />

concluir que existe um crescente investimento na<br />

construção de aterros sanitários e recuperação de<br />

energia, centrais de triagem e de compostagem,<br />

infraestrutura e capacitação para organizações de<br />

catadores. Um dos avanços na gestão de resíduos<br />

sólidos na cidade de São Paulo foi a implantação de<br />

sistemas de captação e recuperação de metano nos<br />

aterros públicos Bandeirantes e São João para geração<br />

de elétrica.<br />

Vitória possui coleta seletiva e reciclagem. Existe um<br />

consórcio entre a prefeitura e uma empresa<br />

terceirizada para realizar a coleta dos resíduos sólidos, a<br />

qual é realizada porta a porta em todos os bairros da<br />

cidade. Os resíduos que não são reaproveitados são<br />

levados ao aterro sanitário. A coleta convencional é<br />

realizada por coletores nos locais de morros e encostas,<br />

onde os veículos são impossibilitados de chegarem. A<br />

coleta seletiva é realizada somente em Pontos de<br />

Entrega Voluntária (PEVs), localizados em condomínios,<br />

estabelecimentos comerciais, escolas, instituições<br />

públicas e também em vias e praças, duas vezes por<br />

semana, não sendo realizada nos morros e encostas.<br />

Também há o auxílio dos catadores de papel que<br />

ajudam na reciclagem dos resíduos. Para esses a<br />

Prefeitura Municipal de Vitória oferece treinamentos,<br />

capacitações, equipamentos de segurança e uniformes<br />

para os catadores. O aterro sanitário dispõe de um<br />

sistema de aproveitamento de biogás e a<br />

comercialização de créditos de carbono, esse efetua a<br />

incineração de resíduos hospitalares. Em Vitória a<br />

compostagem de resíduos não é realizada em grande<br />

escala, sendo efetuados apenas os provenientes de<br />

podas de árvores e galhos mais finos.<br />

Quanto aos projetos, destacam-se o programa Praia<br />

Limpa que possui campanhas educativas sobre a<br />

qualidade das praias; o Programa Mangueando na<br />

Educação, que possui ações de educação ambiental<br />

referentes aos manguezais; o Programa Comunidades<br />

Conscientes que oferece cursos de preservação<br />

ambiental e manutenção dos ecossistemas e o evento<br />

Feira do Verde, realizado anualmente, com a<br />

participação de instituições públicas e privadas,<br />

institutos de pesquisa e de membros da sociedade em<br />

geral, com o intuito de promover um evento de<br />

relevante impacto na comunidade sobre as temáticas<br />

de educação ambiental e sustentabilidade.<br />

A tabela 5 traz de forma comparativa os pontos<br />

positivos e negativos da gestão de resíduos sólidos<br />

utilizados nas capitais mencionadas anteriormente.<br />

Cabe destacar que os pontos positivos referem-se as<br />

ações existentes e não se são suficientes para lidar com<br />

a questão. Por exemplo, verificou-se se tem a coletiva<br />

seletiva, e não se é feita de maneira otimizada, ou seja,<br />

se atingi todo o potencial de reciclagem. Inclusive<br />

porque a expansão da escala dos programas existentes,<br />

especialmente na questão dos recicláveis, é um ponto a<br />

melhorar em todos os municípios.<br />

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Tabela 5 - Comparação dos pontos positivos e negativos na gestão RSU das capitais selecionadas<br />

Cidade Pontos Positivos Pontos Negativos<br />

Belém<br />

Aproveitamento energético.<br />

Ausência de um consórcio intermunicipal e<br />

ainda a coleta não cobriu 100% da área urbana<br />

Belo Horizonte<br />

Utilização de tecnologia para o tratamento,<br />

ações sociais e de educação ambiental. Possui<br />

aproveitamento energético.<br />

Brasília<br />

Buscando melhorar atual gestão de RSU e Ausência de um consórcio intermunicipal,<br />

realiza coleta de 100% da área urbana<br />

aproveitamento energético.<br />

Curitiba<br />

Ações voltadas para práticas sociais e de Não possui compostagem, aproveitamento<br />

reciclagem. Coleta atinge 100% da população energético e sistema de transbordo.<br />

Florianópolis<br />

Coleta atinge 100% da população e ações de<br />

educação ambiental<br />

Não possui aproveitamento energético<br />

Porto Alegre<br />

Ações sociais, reciclagem, tecnologia, pesquisa e<br />

a coleta atingem 100% da população.<br />

Não possui aproveitamento energético<br />

Rio de Janeiro<br />

Aproveitamento da compostagem para<br />

Ausência de um consórcio intermunicipal e<br />

reflorestamento, reciclagem do coco verde e a<br />

aproveitamento energético<br />

coleta atinge 100% da população.<br />

Salvador<br />

Alternativas para coleta e tratamento. Possui<br />

aproveitamento energético.<br />

A coleta não atinge 100% da população<br />

São Paulo<br />

A coleta atinge 100% da população e ações.<br />

sociais. Possui aproveitamento energético<br />

Demanda de vários aterros<br />

Vitória<br />

Ações sociais, de educação ambiental, pesquisa<br />

e coleta atingem 100% da população. Possui<br />

aproveitamento energético.<br />

Compostagem é incipiente<br />

Este artigo demonstrou que as capitais estudadas em<br />

sua maioria possuem alternativas para o tratamento<br />

dos resíduos antes de ser depositado no aterro<br />

sanitário, o que representando uma redução da<br />

quantidade de resíduos destinados de forma<br />

equivocada aos aterros, prolongando a vida útil dos<br />

mesmos. Além de proporcionar o reaproveitamento de<br />

materiais e possibilitar a geração de emprego, renda e<br />

inclusão social. São as ações e projetos que alavancam a<br />

gestão dos resíduos colocando os municípios em<br />

evidência, sendo modelo de referência para a<br />

apropriação de modelos de gestão e planejamento para<br />

outros municípios. Entretanto, a produção per capita de<br />

resíduos é maior que 1 kg por habitante por dia, o que<br />

torna todo o esforço necessário, mas não suficiente<br />

para diminuir a pressão sobre novos aterros.<br />

Assim, problemas básicos ainda persistem, como o não<br />

atendimento da coleta a 100% da área urbana e a<br />

demanda por mais aterros pela exaustão dos atuais e<br />

CONCLUSÕES<br />

pelo crescente volume de novos resíduos destinados.<br />

Por outro lado, o sistema de reaproveitamento existe,<br />

mas normalmente em uma escala insuficiente para<br />

diminuir a pressão nos aterros e que varia conforme o<br />

perfil e a capacidade de coleta e tratamento dos<br />

reciclados nos municípios, por exemplo.<br />

A despeito do percentual de reaproveitamento ser<br />

baixo, as ações trabalhadas, por exemplo, na coleta e<br />

reaproveitamento de reciclado têm o enfoque da<br />

inclusão social, como ocorre em Porto Alegre, Curitiba e<br />

São Paulo, além de projetos voltados para a educação<br />

social e conscientização ambiental dos moradores,<br />

como os praticados em Vitória e Florianópolis. Outros<br />

municípios possuem uma gama de alternativas para a<br />

coleta como é o caso de Salvador, que utiliza meios de<br />

transportes terrestres e aquáticos para o transporte de<br />

resíduos ampliando assim a área de abrangência do<br />

serviço prestado. Ainda em Salvador há um avanço<br />

institucional de controle dos grandes geradores de<br />

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resíduos, especialmente novos estabelecimento<br />

comerciais, em que se exige, como quesito para o<br />

funcionamento, um plano de gerenciamento e<br />

reaproveitamento dos resíduos, similar a uma licença<br />

ambiental. Outros municípios possuem tecnologias<br />

diferenciadas no tratamento como, por exemplo, a<br />

capital mineira e a gaúcha. Em Porto Alegre as mesas de<br />

triagem de materiais recicláveis são alimentadas por um<br />

sistema inovador cuja ação por gravidade dispensa a<br />

necessidade de esteira transportadora de materiais<br />

para separação dos recicláveis, economizando energia<br />

elétrica e em Belo Horizonte o município conta com a<br />

utilização de bactérias que aceleraram o processo de<br />

decomposição dos resíduos.<br />

Do uso sustentável dos resíduos principalmente o<br />

orgânico destaque para o Rio de Janeiro que utiliza a<br />

compostagem como adubo para o reflorestamento da<br />

cidade.<br />

Ainda há possibilidades de implementação ou<br />

aperfeiçoamento de ações e programas nos municípios<br />

estudados, o que possibilitaria a potencialização da<br />

gestão de resíduos e consequentemente ganhos nas<br />

esferas sociais, econômicas e ambientais. Os pontos<br />

negativos destacados anteriormente servem de norte<br />

para os planejamentos futuros, mas questões básicas,<br />

como o atendimento da coleta em 100% da área<br />

urbana, são prioritárias para serem resolvidas. Cabe<br />

destacar que a pesquisa de campo realizou-se em 2012,<br />

mas a partir desta metodologia podem-se atualizar as<br />

informações para novas comparações. A implantação<br />

de um gerenciamento estratégico dos resíduos sólidos<br />

urbanos pode refletir ganhos econômicos e ambientais<br />

em um primeiro momento, mas poderá representar<br />

também ganhos sociais com o desenvolvimento local,<br />

bem como poderá fomentar pesquisas e<br />

desenvolvimentos tecnológicos na área.<br />

Para tanto é necessário à união e cobrança dos<br />

constituintes da sociedade. A população deve cobrar e<br />

fiscalizar ações realizadas pelo município ou Estado. O<br />

Estado deve fomentar e trabalhar com as instituições de<br />

ensino e pesquisa elaborando soluções, desenvolvendo<br />

tecnologias para os atuais problemas, bem como tratar<br />

a problemática juntamente com as futuras gerações<br />

presentes nas escolas. A difusão dos conhecimentos e<br />

dos produtos alcançados deve ser propagada pela<br />

população e é uma maneira das instituições darem um<br />

retorno positivo para a sociedade e para os órgãos<br />

financiadores.<br />

As proposições futuras para este trabalho são levantar<br />

informações sobre as demais capitais brasileiras, bem<br />

como outros municípios de áreas metropolitanas,<br />

destacando as ações positivas para futuros projetos<br />

para o melhor aproveitamento dos resíduos sólidos<br />

urbanos, especialmente, as áreas de grande<br />

aglomeração populacional. Outra importante questão<br />

refere-se ao estudo sobre o reaproveitamento do<br />

biogás. Pode-se verificar os casos positivos sobre o<br />

aproveitamento energético, como nas capitais<br />

pesquisadas – Belém, Belho Horizonte, Salvador, São<br />

Paulo e Vitória, como intuito de avaliar como ocorreu a<br />

partir das questões institucionais e econômicas.<br />

Há um campo de pesquisa e de ações ainda importante<br />

na gestão de resíduos sólidos urbanos para melhor<br />

compreensão e atuação, necessidade, por isso, forte<br />

interação da academia, governos e dos cidadãos para<br />

transformar um problema urbano importante em<br />

possibilidades de desenvolvimento da região.<br />

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