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Filosofia e Sociologia

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03<br />

[...] Devemos observar que cada uma das formas de<br />

excelência moral, além de proporcionar boas condições à<br />

coisa a que ela dá excelência, faz com que esta mesma<br />

coisa atue bem; por exemplo, a excelência dos olhos faz<br />

com que tanto os olhos quanto a sua atividade sejam<br />

bons, pois é graças à excelência dos olhos que vemos<br />

bem. De forma idêntica a excelência de um cavalo faz<br />

com que ele seja ao mesmo tempo bom em si e bom para<br />

correr e levar seu dono e para sustentar o ataque do<br />

inimigo. Logo, se isto é verdade em todos os casos, a<br />

excelência moral do homem também será a disposição<br />

que faz um homem bom e o leva a desempenhar bem a<br />

sua função. (ARISTÓTELES, 2001, p. 41)<br />

O termo excelência utilizado por Aristóteles é<br />

corriqueiramente entendido também por virtude. Há duas<br />

espécies de excelência: a intelectual e a moral. A<br />

intelectual nasce e se desenvolve com a instrução, ou<br />

seja, com o processo educativo e formativo. Por isso,<br />

desenvolvesse com o tempo e a experiência. É o que de<br />

certa forma estamos fazendo desde que iniciamos nossa<br />

vida escolar e que vai se aprimorando à medida em que<br />

nos dedicamos mais aos estudos. Cada um de nós pode<br />

perceber o quanto se aprimorou desde o dia em que<br />

esteve pela primeira vez em uma sala de aula.<br />

Já a excelência moral é produto do hábito, é tudo aquilo<br />

que podemos alterar pelo hábito. Observe que a palavra<br />

ética tem sua raiz grega – ethiké e ethos - que significam<br />

hábito.<br />

Então a excelência moral é adquirida através da prática,<br />

assim como as artes, por exemplo, você toca violão na<br />

medida em que passa a praticar e quanto mais tempo<br />

praticar, maior será sua habilidade e chances de se tornar<br />

um exímio tocador. Por que o desenvolvimento da<br />

excelência moral é tão importante para nós? Porque está<br />

relacionada com as ações e emoções, que por sua vez<br />

estão relacionadas com o prazer ou sofrimento e por isso,<br />

a excelência moral se relaciona com os prazeres e<br />

sofrimentos. Pode-se dizer que a excelência moral é a<br />

capacidade que vamos desenvolver para lidar com nossas<br />

emoções e ações na relação direta com o prazer e o<br />

sofrimento. E disso resultará o bom uso que faremos ou<br />

não do prazer e do sofrimento.<br />

Para Aristóteles “toda a preocupação, tanto da excelência<br />

moral quanto da ciência política, é com o prazer e com o<br />

sofrimento, porquanto o homem que os usa bem é bom, e<br />

o que os usa mal é mau”. (ARISTÓTELES, 2001, p.38)<br />

Mas o fato de a excelência estar relacionada ao domínio<br />

que fará do prazer e sofrimento implica que a excelência<br />

garantirá atingir o alvo do meio-termo.<br />

Vamos retomar o que ele entende por disposição de<br />

caráter para que possamos entender o que seja a<br />

excelência moral ou virtude do homem. Ora, disposições<br />

de caráter são “os estados de alma em virtude dos quais<br />

estamos bem ou mal em relação às emoções”<br />

(ARISTÓTELES, 2001, p. 40).<br />

Isto nada mais seria que a nossa disposição em relação às<br />

coisas, ou melhor como sentimos, encaramos a realidade<br />

que nos cerca, com certo grau de intensidade e/ou<br />

indiferença.<br />

Por exemplo, pode-se sentir medo, confiança, desejos,<br />

cólera, piedade, e de um modo geral prazer e sofrimento,<br />

demais ou muito pouco, e em ambos os casos isto não é<br />

bom; mas experimentar estes sentimentos no momento<br />

certo, em relação aos objetos certos e às pessoas certas, e<br />

de maneira certa, é o meio termo e o melhor, e isto é<br />

característico da excelência. (ARISTÓTELES, 2001, p.<br />

41-42)<br />

Fala-se que a excelência moral é o desenvolvimento de<br />

hábitos que nos farão escolher nossas ações e emoções,<br />

que são marcadas pelo excesso, falta e meio termo. Mas<br />

o que é o meio termo?<br />

De tudo que é contínuo e divisível é possível tirar uma<br />

parte maior, menor ou igual, e isto tanto em termos da<br />

coisa em si quanto em relação a nós; e o igual é um meio<br />

termo entre o excesso e a falta. Por “meio termo” quero<br />

significar aquilo que é equidistante em relação a cada um<br />

dos extremos, e que é único e o mesmo em relação a<br />

todos os homens; por “meio termo em relação a nós”<br />

quero significar aquilo que não é nem demais nem muito<br />

pouco, e isto não é único nem o mesmo para todos.<br />

(ARISTÓTELES, 2001, p. 41)<br />

Portanto, para Aristóteles a busca é pelo meio termo, ou<br />

seja, o equilíbrio entre o excesso e a falta. É o desafio e<br />

enfrentamento diante de cada ação e emoção. É por isso,<br />

que a formação da excelência moral é uma busca<br />

constante e depende da capacidade racional, pois exige a<br />

todo o momento reflexão e escolha. A mediania não é<br />

algo pronto e dado, mas escolhido e que precisa ser<br />

entendido para que se chegue a atingi-la.

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