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Arte de ampliar cabeças: - UNIPAC Bom Despacho

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Presidência da RepúblicaPresi<strong>de</strong>nte: Luiz Inácio Lula da SilvaVice-presi<strong>de</strong>nte: José Alencar Gomes da SilvaMinistério do Meio AmbienteMinistra: Marina SilvaSecretaria <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nação da AmazôniaSecretária: Muriel SaragoussiSecretaria <strong>de</strong> Políticas para o Desenvolvimento SustentávelSecretário: Gilney VianaDepartamento <strong>de</strong> Agroextrativismo e Desenvolvimento SustentávelDiretor: Jorg ZimmermannPrograma Piloto para Proteção das Florestas TropicaisCoor<strong>de</strong>nadora: Nazaré SoaresCatalogação na FonteInstituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais RenováveisT912A <strong>Arte</strong> <strong>de</strong> Ampliar Cabeças: uma Leitura Transversal das Sistematizações do PDA / Ministériodo Meio Ambiente, PDA/PPG7/SDS – Brasília: MMA, 2006.52 p. : il. color. ; 28cm. (Série Sistematização, IX)ISBN 85-7738-071-81. Agroflorestais. 2. Agricultura sustentável. 3. Agricultura familiar. I. Ministério doMeio Ambiente. II. Secretaria <strong>de</strong> Desenvolvimento Sustentável – SDS. III. SubprogramaProjetos Demonstrativos – PDA. IV. Programa Piloto para Conservação das FlorestasTropicais Brasileiras – PPG7. V. Título. VI. Série.CDU (1.ed.)631:502


EXPEDIENTESubprograma Projetos Demonstrativos – PDASecretário-Técnico: Jorg ZimmermannSecretária-Técnica Adjunta: Anna Cecília CortinesEquipe Técnica: Demóstenes <strong>de</strong> Moraes, ElmarCastro, Isis Lustosa, Klinton Senra, Mauricio BarbosaMuniz, Odair Scatolini, Rodrigo Noleto, SilvanaBastos e Zaré Brum Soares. Estagiárias: Rafaela Silva<strong>de</strong> Carvalho e Yandra Fontes Bastos.Equipe Financeira: Cláudia Alves, Eduardo Ganzer,Luiz Henrique Marciano e Nilson NogueiraEquipe Administrativa: Francisca Kalidaza, MarizaGontijo e Nei<strong>de</strong> CastroCooperação Técnica Alemã, GTZ: Margot Gaebler eMonika GrossmannCooperação Financeira: República Fe<strong>de</strong>ral daAlemanha – KfW, União Européia – CEC, RainForest Trust Fund – RFT, Fundo Francês para o MeioAmbiente Mundial – FFEMCooperação Técnica: Programa das NaçõesUnidas para o Desenvolvimento – PNUD, ProjetoBRA/03/009. Agência Alemã <strong>de</strong> CooperaçãoTécnica, Deustsche Gesellschaft für TechnischeZusammenarbeit (GTZ) GmbHAgente Financeiro: Banco do BrasilEquipe <strong>de</strong> sistematização:Do MMA - Anna Cecília Cortines, Célia Chaves,Gilberto Nagata, Mara Vanessa F. Dutra (PDA); DeniseLima (GTZ/PDA); Alice Guimarães (AMA/ProgramaPiloto).Consultoras - Elza Falkembach (Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ijuí),Ladjane Ramos e Maristela Bernardo.Dos projetos - A<strong>de</strong>lício Jacinto, Adriana Felipim,Alexandro Chaves, Alexsandro Oliveira, Ana Bonfim,Daniela Nart, Edivânia Duarte, Elias da Silva Santos,Francisco Colli, José Domingos Barra, Joseilton Sousa,José Kuticoski, José Roberto Xavier, Luana Carvalho,Luciano Paixão, Luzia Aparecida Pinheiro, MarceloParanhos, Maria Berna<strong>de</strong>te Franceschini, MárciaNeves, Maria Thereza Sopena Stradmann, MarineteSilva, Raimundo Pureza.Organização: Denise Lima, Elza Falkembach,Mara Vanessa F. DutraRedação: Elza Falkembach, Mara Vanessa F. DutraCopi<strong>de</strong>sque: Mara Vanessa F. DutraRevisão ortográfica e gramatical: Sandra SenaProjeto Gráfico e capa: Masanori Ohashy(Ida<strong>de</strong> da Pedra Produções Gráficas)Esta publicação foi realizada com a colaboraçãoda Cooperação Técnica Alemã - GTZApresentaçãoApresentamos, por meio <strong>de</strong>sta série, algumas histórias que falam <strong>de</strong>saberes, <strong>de</strong> vidas, <strong>de</strong> gente construindo formas mais sustentáveis <strong>de</strong>convivência com o meio ambiente. Essas histórias contam com o apoio doSubprograma Projetos Demonstrativos – PDA, parte do Programa Pilotopara a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil, do Ministério do MeioAmbiente.Ao longo <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> vida, o PDA apoiou e apóia cerca <strong>de</strong> 320projetos na Amazônia e na Mata Atlântica. A história do PDA – as históriasdos projetos apoiados pelo Subprograma – tem <strong>de</strong>monstrado que há umacúmulo <strong>de</strong> conhecimento sendo gerado pelas comunida<strong>de</strong>s e organizações<strong>de</strong> produtores familiares, criando e testando novas tecnologias e sistemas<strong>de</strong> produção sustentável. Há um saudável diálogo entre conhecimentotradicional e novas informações, apontando perspectivas viáveis que,em alguns casos, já saem do limite do “<strong>de</strong>monstrativo” e passam a fazerparte <strong>de</strong> políticas públicas locais e regionais. Importante lembrar que, oque para o po<strong>de</strong>r público é valorizado por seu potencial <strong>de</strong>monstrativo,para os produtores e comunida<strong>de</strong>s envolvidos é a vida real – sua vida, suasobrevivência.As histórias <strong>de</strong>sta série são narradas pelos próprios grupos envolvidosnos projetos apoiados pelo PDA. As narrativas são resultado <strong>de</strong> um processo<strong>de</strong> sistematização <strong>de</strong> experiências, cujo <strong>de</strong>safio maior é apren<strong>de</strong>r com aspráticas, fazendo, <strong>de</strong>stas, objeto <strong>de</strong> conhecimento. Em um projeto pilotorealizado entre julho <strong>de</strong> 2003 e março <strong>de</strong> 2004, onze iniciativas apoiadaspelo PDA sistematizaram alguns aspectos <strong>de</strong> suas práticas. O resultado sãoonze histórias reais, contadas por muitas vozes, tecendo narrativas cheias<strong>de</strong> vida, reflexão, <strong>de</strong>scobertas, aprendizados.Cada grupo ou comunida<strong>de</strong> contou sua história <strong>de</strong> seu jeito. Para isso,criou momentos e instrumentos, experimentou metodologias, fez caminhoao andar. Os textos da série revelam essa experimentação metodológica,mantendo as estruturas e narrativas criadas por cada grupo envolvido.Como na vida, os textos das sistematizações não seguem um único roteiro,mas inventam seus próprios mapas narrativos.O PDA com alegria apresenta essas histórias <strong>de</strong> saberes, <strong>de</strong> gentes,<strong>de</strong> vidas, com o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estar contribuindo para <strong>de</strong>monstrar caminhospossíveis para políticas públicas mais a<strong>de</strong>quadas à produção familiar, àscomunida<strong>de</strong>s tradicionais e ao meio ambiente.Jorg ZimmermannSecretário Técnico PDABrasília, outubro <strong>de</strong> 2006


SumárioUma leitura transversalRecuperando o processo piloto <strong>de</strong>sistematização <strong>de</strong> projetos PDA75Introdução - O PDA e alguns dos <strong>de</strong>safiosda política ambiental brasileiraA sistematização: aproximação conceitualNarração da aventuraO começo do começo1281210A oportunida<strong>de</strong>O caminhoNavegandoOs projetos <strong>de</strong> sistematizaçãoAspectos para reflexãoA “Série Sistematização” do PDAAs práticas sistematizadas eseus núcleos <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>13141822252728


Sistematização, uma arte<strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong> ...Falando <strong>de</strong> um tempo e <strong>de</strong> espaçosUm tempo marcado por ambigüida<strong>de</strong>sA consumição progressiva do humanoDivisando espaços, gerando <strong>de</strong>mandasO que sistematização tem a vercom esses arranjos histórico-sociais?Potenciais e limites da sistematizaçãoFundamentos <strong>de</strong> uma propostaUma proposta em 8 momentosVivendo uma experiênciaSistematização e políticas públicasSistematização, uma arte<strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong> e autorizar corposReferências34353637383940434551535455


Uma leitura transversalEste último volume da série “Sistematização”do PDA tem sido carinhosamente chamado <strong>de</strong>“transversal” pela equipe envolvida. Isso porque nãoé uma narrativa <strong>de</strong> experiência sistematizada, comoos <strong>de</strong>mais volumes da série, mas uma reflexão sobre oconjunto e uma narrativa do caminho percorrido. Dealguma forma, uma “meta-sistematização”.Apresentamos, neste volume transversal,três textos: a narração da aventura, do ponto <strong>de</strong>vista metodológico; um olhar sobre os núcleos<strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> das diversas experiênciassistematizadas; e uma reflexão sobre o processo, emtexto escrito por Elza Falkembach (“Sistematização,uma arte <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>...”).Para preparar este volume, muita conversaaconteceu. Elza, Denise e Mara Vanessa encontraramsealgumas vezes ao vivo e muitas vezes <strong>de</strong> maneiravirtual, conversando sobre os processos, asexperiências, as <strong>de</strong>scobertas, as narrativas.Um primeiro significado que é preciso realçaré o da sistematização enquanto um objeto queune uma pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos e saberes. E quepluralida<strong>de</strong>! Onze diferentes experiências, envolvendoagricultores, pescadores, índios, técnicos, homense mulheres em Rondônia, no Pará, na Bahia, emPernambuco, no Maranhão, no Tocantins, em SãoPaulo… Em cada uma <strong>de</strong>ssas experiências, ummundo distinto, rico, cheio <strong>de</strong> saberes contados pordiferentes sujeitos. Polifonia profundamente melódicae harmoniosa.Essas histórias falam do lugar das experiênciasenquanto possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criação <strong>de</strong> novasrelações – com a produção, com o mercado,com o ambiente, com as pessoas, com a políticapública. Esse é um aspecto que nunca é <strong>de</strong>maisenfatizar: o caminho do fazer diferente, donovo, da experimentação, mudando as relações.São relações familiares novas, construídas emtorno do conceito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong>; novosparâmetros <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> educação, novasrelações <strong>de</strong> gênero, <strong>de</strong> geração, <strong>de</strong> vizinhança.Histórias <strong>de</strong> vida que são contadas a partir <strong>de</strong>ssasmudanças.A melhoria da saú<strong>de</strong>, por exemplo, aparececomo um gran<strong>de</strong> efeito dos projetos, sem queo PDA, ao apoiar as iniciativas, sequer tivessepensado nessa possibilida<strong>de</strong>. Mas o novo jeito<strong>de</strong> trabalhar e produzir, em estreita aliança coma natureza, com a floresta, com as águas, trazesses presentes. São trabalhos que têm a ver coma recuperação da vida – recuperam-se áreas<strong>de</strong>gradadas, recuperam-se, também, relaçõeshumanas às vezes bastante <strong>de</strong>terioradas. Aspessoas mudam, mudam as situações, mudamos centros <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, muda o jeito <strong>de</strong> olhar anatureza; muda a vida.Importante observar, também, a mudança<strong>de</strong> paradigma no campo da produção<strong>de</strong> conhecimento. Já não se po<strong>de</strong> falar <strong>de</strong>“conhecimento e difusão”, mas <strong>de</strong> conhecimento


Série Sistematizaçãoa partir <strong>de</strong> diversos saberes que dialogam entresi, <strong>de</strong> experimentação (lugar on<strong>de</strong> se constróiconhecimento) e <strong>de</strong> educação, como processo quetransforma o sujeito e cria novas atitu<strong>de</strong>s.Há vários exemplos <strong>de</strong>sse processo educativonas narrativas sistematizadas, sempre ligados àexperimentação. Tal processo configura-se comoum jeito <strong>de</strong> “apren<strong>de</strong>r fazendo” ou <strong>de</strong> partir <strong>de</strong> umcurso como momento <strong>de</strong> trazer o novo, que gera aexperimentação, e, sempre, a mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> daspessoas, transformadas no caminho.Algumas experiências falam da figura do“agricultor técnico”, ou “agricultor experimentador”,em iniciativas horizontais <strong>de</strong> assistência técnica,do tipo “<strong>de</strong> agricultor para agricultor”. Há, ainda,aproximações com centros <strong>de</strong> educação formal,com <strong>de</strong>staque para as Escolas Família Agrícola, quevêm cumprindo um papel substantivo na vida <strong>de</strong>muitas comunida<strong>de</strong>s. De uma maneira ou <strong>de</strong> outra,todos os projetos têm um forte componente <strong>de</strong> açãopedagógica, com processos educativos claramentei<strong>de</strong>ntificáveis.A sistematização, como espaço <strong>de</strong> registro, <strong>de</strong>memória, mexeu com as pessoas, com os indivíduos;ofereceu oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ouvir várias vozes, <strong>de</strong>parar para pensar, <strong>de</strong> colocarem-se perguntas. Foi,por tudo isso, um espaço <strong>de</strong> “empo<strong>de</strong>ramento”– cada um ficou mais “dono” <strong>de</strong> sua experiênciaao falar, ao ouvir, ao <strong>de</strong>bater e ao refletir sobre ela.Nas palavras <strong>de</strong> Seu A<strong>de</strong>lício, da Apruram (RO),“sistematizar é registrar o passado, para refletir opresente e planejar o futuro”.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDARecuperandoo processo piloto <strong>de</strong>sistematização<strong>de</strong> projetos PDA


Série SistematizaçãoIntroduçãoO PDA e alguns dos <strong>de</strong>safios dapolítica ambiental brasileira“O real não estána saída nem nachegada,ele se dispõepara a genteé no meio datravessia”.Guimarães RosaO Programa Piloto para a Proteção dasFlorestas Tropicais Brasileiras (ProgramaPiloto) surgiu no bojo da Eco 92 como umaproposta <strong>de</strong> realizar ações <strong>de</strong> preservaçãodas florestas tropicais, integrando diferentesdoadores (inicialmente, os países do G7), emuma intervenção proporcional ao <strong>de</strong>safio eàs dimensões da Amazônia. Era um momentopolítico <strong>de</strong> crise do Estado brasileiro, coma situação do impeachment do primeiropresi<strong>de</strong>nte eleito <strong>de</strong> forma direta no período <strong>de</strong>re<strong>de</strong>mocratização do país, quando a socieda<strong>de</strong>civil organizada buscava mecanismos <strong>de</strong>controle social das políticas públicas.É nesse cenário que nasce, <strong>de</strong>ntro doPrograma Piloto, o Subprograma ProjetosDemonstrativos - PDA, com o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong>incorporar a socieda<strong>de</strong> civil à sua gestão, <strong>de</strong>forma a participar da eleição <strong>de</strong> diretrizes, daseleção <strong>de</strong> projetos e do acompanhamentoe avaliação do Subprograma. Para realizaressa tarefa, a Comissão Executiva do PDAfoi construída <strong>de</strong> forma paritária – Estado esocieda<strong>de</strong> civil.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDAAo longo dos anos, o PDA consolidousecomo o componente do Programa Pilotoque se relaciona mais <strong>de</strong> perto com asocieda<strong>de</strong> civil e tem, como impacto maisvisível, o fortalecimento <strong>de</strong>ssas organizações,aumentando sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proposiçãona discussão sobre o <strong>de</strong>senvolvimento local eregional.Os <strong>de</strong>safios do Subprograma foram, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o início, reconhecer, valorizar e apoiar ageração <strong>de</strong> conhecimentos pelas comunida<strong>de</strong>s,disseminá-los e difundi-los para outrascomunida<strong>de</strong>s e para os tomadores <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisãono nível governamental. Também objetivavainfluenciar as políticas públicas e fortalecer asorganizações da socieda<strong>de</strong> civil nesse processo.A história do PDA – as histórias dosprojetos apoiados pelo Subprograma– tem <strong>de</strong>monstrado que há um acúmulo<strong>de</strong> conhecimento sendo gerado pelascomunida<strong>de</strong>s e organizações <strong>de</strong> produtoresfamiliares, criando e testando novastecnologias e mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> produçãosustentável. Há um saudável diálogo entreconhecimento tradicional e novas informações,apontando perspectivas viáveis que, em algunscasos, já saem do limite do “<strong>de</strong>monstrativo”e passam a fazer parte <strong>de</strong> políticas públicaslocais e regionais.A importância do PDA como financiador<strong>de</strong>ssa pesquisa prática é ressaltada quandose verifica o vazio <strong>de</strong> respostas dos setorespúblicos às necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisageradas pelos avanços da produção familiar.Na prática, quem faz pesquisa para essesegmento é o próprio produtor, que arrisca seusustento anual ao inovar, ao tentar caminhosdiferentes. O PDA tem cumprido a função <strong>de</strong>subsidiar esse risco, porque, se do ponto <strong>de</strong>vista do po<strong>de</strong>r público, projetos como estessão <strong>de</strong>monstrativos, valorizados pela inovaçãoe pela experimentação, para os produtores ésua vida – a vida real, os problemas reais, asubsistência.Como um programa da Diretoria <strong>de</strong>Agroextrativismo e Produção Sustentável daSecretaria <strong>de</strong> Políticas para o DesenvolvimentoSustentável do Ministério do Meio Ambiente, oPDA tem cada vez mais a responsabilida<strong>de</strong> e o<strong>de</strong>safio da gestão da massa <strong>de</strong> conhecimentoe informação acumulada ao longo dos últimosdoze anos, oportunizando o protagonismo<strong>de</strong>ssas experiências na formulação <strong>de</strong> novaspolíticas para o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável.O projeto piloto <strong>de</strong> sistematização, do qualtrata este documento, foi um dos passos dadosnessa direção.


10Série SistematizaçãoA sistematização:aproximação conceitualA sistematização <strong>de</strong> experiências vemsendo utilizada como metodologia paranarrar vivências coletivas, recuperaraprendizados e construir conhecimentosa partir <strong>de</strong> práticas sociais. O conceitosurgiu do <strong>de</strong>bate sobre educação popularna América Latina, a partir <strong>de</strong> uma visãopolítica que vê os movimentos popularescomo transformadores da realida<strong>de</strong>,cuja prática, embora seja muitas vezes<strong>de</strong> vanguarda, não consegue mudaros conceitos que, em última análise,fundamentam o <strong>de</strong>bate social e criamas bases para formulação <strong>de</strong> políticaspúblicas.Outros conceitos <strong>de</strong> sistematizaçãotambém são utilizados na prática <strong>de</strong>projetos e programas. Trata-se sempre,porém, <strong>de</strong> um exercício <strong>de</strong> organizar,classificar e resumir o que foi vivido; lidacom a memória, com o registro e com ahistória. O avanço do conceito originadoda educação popular é a proposta <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> conhecimento, <strong>de</strong> diálogocom a teoria e <strong>de</strong> reflexão sobre osaprendizados.No ciclo <strong>de</strong> gerenciamento <strong>de</strong> projetos,a sistematização entra como um elemento amais nos sistemas <strong>de</strong> monitoria e avaliação.Po<strong>de</strong> ser equivalente, em muitos aspectos,à avaliação participativa. Existe umarelação estreita entre monitoria, avaliaçãoe sistematização – os resultados <strong>de</strong>ssesprocessos se alimentam reciprocamente.O que singulariza a sistematização é suain<strong>de</strong>pendência em relação a indicadoresou parâmetros iniciais – seu compromissonão é medir o que ou quanto se avançou,mas enten<strong>de</strong>r o que aconteceu e por quê.Com isso, abre espaço para lidar com asubjetivida<strong>de</strong> da vivência.Há diversos instrumentos quepo<strong>de</strong>m ser utilizados na sistematização.A flexibilida<strong>de</strong> é muito maior do queacontece com as metolodogias <strong>de</strong>planejamento, monitoria e avaliação.A partir do mesmo conceito, diferentesautores têm formatado propostasmetodológicas distintas para o processo <strong>de</strong>sistematização. Essas propostas, emboravariem enquanto instrumental, seguembasicamente os mesmos passos.Este texto busca relatar a aventurado PDA numa experiência piloto <strong>de</strong>sistematização <strong>de</strong> experiências a partir <strong>de</strong>onze projetos. Narra o caminho percorrido,a metodologia utilizada, os erros e acertosdo processo. Especificamente: Guia Metodologico do PREVAL/FIDApara sistematização; textos <strong>de</strong> Oscar Jara e dos grupos <strong>de</strong>sistematização do Peru, do Uruguai e <strong>de</strong> outros países daAmérica Latina, que seguem a escola <strong>de</strong> Jara; textos <strong>de</strong> ElzaFalkembach.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA11


12Série SistematizaçãoNarração daaventuraO começo do começoEm 2001, o PDA formulou a primeira proposta <strong>de</strong> sistematização ,a partir da constatação <strong>de</strong> que havia muito conhecimento geradonas experiências que vinha apoiando e que isso merecia sersistematizado. Em novembro <strong>de</strong> 2001, a proposta foi aprovada peloBanco Mundial, mas não foram disponibilizados recursos.O <strong>de</strong>bate sobre a necessida<strong>de</strong> da sistematização ganhou, então,espaço na equipe da Secretaria Técnica do PDA, e foram feitos osprimeiros contatos com a professora Elza Falkembach, do Programa<strong>de</strong> Apoio à Sistematização da Fi<strong>de</strong>ne/ Unijuí . Ela <strong>de</strong>monstrouinteresse em colaborar, leu os relatórios enviados, fez comentáriosque indicavam o sentido da sistematização e colocou questõespara reflexão: que tipo <strong>de</strong> respostas o PDA busca encontrar coma realização da sistematização? Aon<strong>de</strong> quer chegar? O que buscaalcançar, no campo do conhecimento, com a implementação dasistematização?Tudo era ainda muito inicial. O conceito <strong>de</strong> sistematização nãoestava claro para todos, mas o <strong>de</strong>bate já estava acontecendo.A proposta do PDA não foi implementada naquela época pordificulda<strong>de</strong>s com o financiamento. Mas a porta havia sido aberta e o<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ssa nova aventura já tinha sido plantado, e em terra fértil. Compreendida como processo coletivo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimentos sobre práticassociais singulares. Houve uma reunião em agosto <strong>de</strong> 2002 e uma troca <strong>de</strong> emails.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA13A oportunida<strong>de</strong>Em 2003 surgiu a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retomar ereconstruir a proposta <strong>de</strong> sistematização, aproveitandosobras <strong>de</strong> recursos do RFT e a contribuição da CooperaçãoTécnica Alemã - GTZ. A Secretaria Técnica estavaconvencida da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> testar, <strong>de</strong> vivenciaro conceito e a metodologia que ganhavam mais emais importância, sobretudo na formulação do PDAConsolidação .O total <strong>de</strong> recursos disponíveis era <strong>de</strong>aproximadamente R$ 213 mil, e o tempo para suaexecução, <strong>de</strong> julho a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003. Foram retomadosos contatos com a professora Elza Falkembach, que veioa uma reunião inicial com a Secretaria Técnica em julho<strong>de</strong> 2003. Foi estabelecido um acordo e um cronograma<strong>de</strong> trabalho. A equipe começou a enten<strong>de</strong>r melhor oconceito <strong>de</strong> sistematização e, embora ainda com muitasdúvidas sobre o “como fazer”, empenhou-se numa corridapara dar conta do <strong>de</strong>safio, vencer a burocracia e fazeracontecer a experiência. Rain Forest Trust Fund, o fundo do Programa Piloto manejado pelo BancoMundial. Novo componente do PDA, com financiamento para a consolidação <strong>de</strong>experiências apoiadas pelo Subprograma. A proposta do PDA Consolidação é<strong>de</strong> apoiar um salto qualitativo <strong>de</strong>sses projetos, <strong>de</strong> maneira a que se consoli<strong>de</strong>mconceitualmente e vençam a barreira do “<strong>de</strong>monstrativo”, local, restrito, parauma interação regional maior. Para os projetos apoiados nesse novo componente,a sistematização é condição contratual – supõe-se que há um acúmulo<strong>de</strong> vivências, <strong>de</strong> experimentos, <strong>de</strong> resultados, <strong>de</strong> erros e <strong>de</strong> acertos, e <strong>de</strong> conhecimentosque foram produzidos, e que todo esse acervo <strong>de</strong>ve ser disponibilizadopara além do grupo ou entida<strong>de</strong> executora do projeto. Essa seria a funçãoda sistematização, buscando contemplar um dos objetivos do PDA: apoiar aprodução e a difusão <strong>de</strong> conhecimentos sobre o <strong>de</strong>senvolvimento sustentável apartir das práticas das comunida<strong>de</strong>s.


14Série SistematizaçãoO caminhoa Procurandoo conceitoA primeira aproximação como conceito <strong>de</strong> sistematização<strong>de</strong> experiências como processo<strong>de</strong> aprendizagem a partir dareconstrução do vivido e dareflexão sobre essa históriahavia sido feita pela equipedo PDA por meio <strong>de</strong> textospesquisados na internet,especialmente os <strong>de</strong> Oscar Jara,e na literatura sobre o ciclo <strong>de</strong>projetos. Houve também umaoportunida<strong>de</strong>, oferecida peloFundo Cana<strong>de</strong>nse <strong>de</strong> Gênero,<strong>de</strong> duas vagas para a equipe eprojetos do PDA participarem <strong>de</strong>um curso sobre sistematização.A primeira <strong>de</strong>finição maisclara foi a diferença entresistematização <strong>de</strong> dados esistematização <strong>de</strong> experiências,enten<strong>de</strong>ndo esta última comoprocesso <strong>de</strong> aprendizagem e“empo<strong>de</strong>ramento”. O conceitoficou mais claro <strong>de</strong>pois daprimeira reunião com aprofessora Elza, mas o comofazer, como vivenciar isso naprática dos projetos e no ciclo<strong>de</strong> planejamento, monitoriae avaliação, ainda era umagran<strong>de</strong> dúvida.b BuscandoassessoriaContar com a mediação da professora ElzaFalkembach, da Unijuí, foi o ponto <strong>de</strong> partida doprocesso. Ela apresentou o conceito, indicou osrumos e ajudou a equipe da Secretaria Técnicaa estruturar o que seria o projeto piloto <strong>de</strong>sistematização – os passos a serem dados.Nesta experiência, trabalhou-se com umaseqüência <strong>de</strong> passos proposta pela assessora, emque o primeiro momento é o da i<strong>de</strong>ntificação,caracterização e problematização da experiênciaa ser sistematizada, quando são revelados: 1)o objeto - experiência a ser sistematizada, 2) ajustificativa da sistematização, 3) um primeirorelato resumido ou esquemático do que se viveu,e 4) o contexto da experiência. O próximo passo éestabelecer o foco – que aspectos da experiênciaserão trabalhados – e <strong>de</strong>sdobrá-lo em perguntasorientadoras.O <strong>de</strong>senvolvimento da sistematização começacom a i<strong>de</strong>ntificação dos registros e, com basenesses, a construção <strong>de</strong> uma primeira narrativa.Depois, a segunda narrativa incorpora as vozesdas pessoas que interpretam e recontam o vivido.E aí chega o momento da análise – a i<strong>de</strong>ntificaçãodos momentos significativos, os conceitos etermos utilizados, as tensões da experiência,as perguntas que po<strong>de</strong>m ser feitas sobre o quese viveu, tudo isso respon<strong>de</strong>ndo às perguntasorientadoras. Finalmente as conclusões, emque se verifica se os objetivos da sistematizaçãoforam atingidos, se novos objetivos surgiram noprocesso. É nesse momento que se extraem osaprendizados e as recomendações. Como basepara tudo isso, <strong>de</strong>ve-se elaborar um plano <strong>de</strong>trabalho precisando os produtos a que se querchegar com a sistematização e a previsão <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s, com atribuição <strong>de</strong> responsáveis eplanejamento <strong>de</strong> tempo, custos e metodologias.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA15cConvidando os parceirosNesse período <strong>de</strong>preparação, a SecretariaTécnica também estava muitoempenhada em consolidar umsistema <strong>de</strong> monitoria e avaliaçãodo PDA, e havia avançadobastante na discussão damonitoria como aprendizageme na elaboração <strong>de</strong> roteiros<strong>de</strong> observação <strong>de</strong> campo eindicadores para avaliação <strong>de</strong>impacto dos projetos, testandoesses instrumentos em campo,nas visitas, para realizar doisestudos: <strong>de</strong> 12 projetos na MataAtlântica e <strong>de</strong> 20 na Amazônia .A premência <strong>de</strong> se terem dadose reflexões disponíveis sobre ariqueza das experiências estavaclara para toda a equipe e muitoesforço estava sendo dirigidopara isso. A sistematizaçãoentrava como mais um conceitono ciclo <strong>de</strong> planejamento,monitoria e avaliação, numlugar ainda pouco <strong>de</strong>finido, masesbarrando com a comunicaçãoe difusão <strong>de</strong> resultados e <strong>de</strong>aprendizados. Estudos realizados em 2002 e 2003,respectivamente, e publicados pelo PDA em2004, na série “Experiências do PDA”. Sãoavaliações <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> 32 projetos,selecionados por tipologia (temas) e porabrangência geográfica nas áreas <strong>de</strong> atuaçãodo Subprograma.Como o total <strong>de</strong> recursos era limitado, econsi<strong>de</strong>rando os aspectos que esses recursos teriam que cobrir– basicamente, o pagamento <strong>de</strong> duas pessoas por projeto,para se responsabilizarem pela condução do processo; custos<strong>de</strong> reuniões, encontros, e outros momentos coletivos <strong>de</strong> cadaprojeto – a Secretaria Técnica consi<strong>de</strong>rou um valor médio <strong>de</strong>R$ 20 mil por projeto, o que daria para apoiar entre 10 e 12iniciativas.A partir <strong>de</strong>ssa limitação, a Secretaria Técnica pon<strong>de</strong>roualguns critérios para convidar os projetos a embarcar naaventura: manifestação <strong>de</strong> interesse já <strong>de</strong>monstrado pelo tema;processos com riqueza <strong>de</strong> experiência acumulada; diversida<strong>de</strong>temática e <strong>de</strong> públicos; representação da Amazônia e da MataAtlântica, consi<strong>de</strong>rando alguma proximida<strong>de</strong> geográfica entre osprojetos, uma vez que se pensava em seminários regionais comoparte do processo.Com base nesses critérios, a Secretaria Técnica convidou11 projetos para participarem da experiência. Todos aceitaramo convite, o que foi um indicador muito importante, poissignificava trabalho adicional, em tempo curto e com recursoslimitados. Os projetos <strong>de</strong>sejavam fazer a experiência, gastartempo e energia recuperando sua história e refletindo sobre ela.As organizações convidadas foram: Associação dosProdutores Alternativos - APA (RO), Associação dos ProdutoresRurais Rolimourenses para Ajuda Mútua - Apruram (RO), GrupoAmbientalista da Bahia - Gambá (BA), Serviço <strong>de</strong> Assessoriaa Organizações Populares Rurais - SASOP (BA), Centro <strong>de</strong>Desenvolvimento Agroecológico do Sul da Bahia - Terra Viva(BA), Centro <strong>de</strong> Trabalho Indigenista - CTI e Comunida<strong>de</strong> Guaranido Aguapeú (SP), Associação Wyty Catë das Comunida<strong>de</strong>sTimbira (MA e TO), Fundação Viver, Produzir e Preservar - FVPP(PA), Colônia <strong>de</strong> Pescadores Z-15 <strong>de</strong> Igarapé Miri (PA), Colônia <strong>de</strong>Pescadores Z-16 <strong>de</strong> Cametá (PA) e Centro Agroecológico Sabiá(PE).Ficou também <strong>de</strong>cidido que cada projeto <strong>de</strong>stacaria duaspessoas para serem as encarregadas da sistematização. Essaspessoas teriam que ter um perfil complementar, consi<strong>de</strong>randoseos aspectos técnicos e políticos – garantindo a articulaçãointerna do processo e a execução dos passos e ativida<strong>de</strong>s, osregistros e a construção da narrativa.


16Série SistematizaçãodA organização interna do PDApara o processoPara viabilizar o processo em tão curtotempo, a equipe do PDA trabalhou em sistema<strong>de</strong> “mutirão”, com muita coor<strong>de</strong>nação esolidarieda<strong>de</strong> interna. A equipe financeiraencarregou-se <strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar os contratospreparados em tempo hábil e <strong>de</strong> fazer todosos contatos com o Banco do Brasil <strong>de</strong> forma aagilizar as aprovações e repasses <strong>de</strong> recursos.A equipe técnica dividiu a responsabilida<strong>de</strong>pelo acompanhamento dos projetos <strong>de</strong>sistematização, ficando cada técnicoresponsável por um ou mais projetos.O que significou acompanhar cadaprojeto <strong>de</strong> sistematização? Agilizar e/ouintermediar, sempre que necessário, osaspectos burocráticos e contratuais junto àequipe financeira; ser o ponto <strong>de</strong> referênciapara os responsáveis, no projeto, por qualquerdúvida ou dificulda<strong>de</strong>; visitar os projetos,se necessário, para orientar a realização dasistematização; recorrer à professora Elza paraesclarecimentos <strong>de</strong> que o projeto necessitasse;ler criticamente os relatos e apoiar os projetosna reflexão sobre seus processos e produtos.A princípio, pensou-se numa equipe <strong>de</strong>assessores ad hoc – especialistas em diversostemas <strong>de</strong> interesse dos projetos – quepo<strong>de</strong>riam ser acionados, se necessário, paraajudar no processo <strong>de</strong> reconstrução históricae reflexão, mas, na prática, essa proposta nãofuncionou.A professora Elza preparou algunstextos <strong>de</strong> suporte que serviram <strong>de</strong> “guia”para os aventureiros: “Para sistematizarexperiências <strong>de</strong>monstrativas”; “Sistematização:fundamentos <strong>de</strong> uma proposta”; “O projeto<strong>de</strong> sistematização e seus momentos”; e o“Formulário <strong>de</strong> recuperação <strong>de</strong> experiências”.Assessoria ememetodologiasparticipativasO “como fazer” continuavasendo a gran<strong>de</strong> dúvida <strong>de</strong> todos;muitos dos “sistematizadores”sentiam-se pouco à vonta<strong>de</strong> nacondução do processo, sobretudona realização <strong>de</strong> momentos coletivos<strong>de</strong> reconstrução da história e <strong>de</strong>análise do que foi vivido e narrado.A assessoria da professoraElza, rica e profunda nos aspectosconceituais e <strong>de</strong> reflexão, não cobriaessa necessida<strong>de</strong> mais instrumentaldos projetos. Como dar, na prática,os passos da sistematização? Comogarantir a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes nanarrativa? Como enfrentar situações<strong>de</strong> conflito ou tensão internos?Como fazer uma reflexão coletiva?Para apoiar nesse aspectomais instrumental, o PDA buscououtra assessora, Ladjane Ramos,especialista em metodologiasparticipativas. Ela acompanhou oprocesso, participou da segundaoficina, oferecendo algumasferramentas para trabalhoparticipativo, e visitou aquelesprojetos que tinham maiornecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio metodológicona condução do trabalho.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA17f A metodologia:marcando os momentosO processo foi marcado por três momentos coletivos:uma primeira oficina, <strong>de</strong> 15 a 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2003, emBrasília, para os entendimentos iniciais – conceito <strong>de</strong>sistematização, plano <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> cada projeto eacordos entre projetos e Secretaria Técnica;uma segunda oficina, nos dias 4 e 5 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong>2003, também em Brasília, para primeira apreciaçãodos produtos e reflexão sobre os processos, procurandoindicar o que fazer para superar dificulda<strong>de</strong>s e terminaro processo com qualida<strong>de</strong> refletida no produto. Nessaoficina, também foram oferecidas ferramentas paratrabalho em grupo, buscando suprir uma necessida<strong>de</strong>dos projetos. Inicialmente, pensava-se em oficinasregionais, reunindo grupos <strong>de</strong> projetos com temáticasafins. No entanto, por uma questão <strong>de</strong> recursos e <strong>de</strong>tempo, essa idéia foi transformada em uma oficina <strong>de</strong>meio-termo para monitorar o processo, contando com aprofessora Elza e a consultora Ladjane;uma terceira e última oficina, nos dias 18 e 19 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2003, para apreciação dos produtos finaise reflexão sobre sua utilização tanto pelos projetos comopelo PDA.Entre as oficinas, cada dupla <strong>de</strong> “sistematizadores”voltava para suas bases e fazia o trabalho <strong>de</strong> reunirinformações, recuperar a história, analisar as informaçõescoletadas, promover momentos coletivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bate,entrevistas e oficinas, e, ao final, produzir a narrativa.


18Série SistematizaçãoNavegandoaPrimeira oficina:acordos iniciaisA aventura começou para valer naprimeira oficina: enten<strong>de</strong>r o que eraesse negócio <strong>de</strong> sistematização, o queexatamente estava sendo proposto, discutiro conceito, a metodologia, construir aspropostas iniciais e <strong>de</strong>bater as questõespráticas do processo.A preparação da oficina envolveuintensamente a equipe do PDA, que<strong>de</strong>senhou uma matriz relacionandotemas <strong>de</strong> interesse do programa quepo<strong>de</strong>riam subsidiar a escolha dos focosou eixos temáticos <strong>de</strong> sistematizaçãodos projetos. De um lado, os seguintestemas: experiências adaptativas <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Sistemas Agroflorestais/SAFs; apicultura/meliponicultura;manejo <strong>de</strong> recursos aquáticos; manejoflorestal não-ma<strong>de</strong>ireiro; recuperação <strong>de</strong>reservas legais/RL, <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> proteçãopermanente/APP e <strong>de</strong> áreas alteradas.Do outro, os seguintes componentes:fortalecimento organizacional,beneficiamento, comercialização, gênero egeração, viabilida<strong>de</strong> econômica, segurançaalimentar, fogo, instrumentos inovadores<strong>de</strong> assistência técnica, participação,estratégias <strong>de</strong> disseminação/difusão,políticas públicas, integração <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sna proprieda<strong>de</strong> (visão sistêmica). Essescomponentes foram pensados a partir dosindicadores elaborados para o estudo daAmazônia. O exercício <strong>de</strong> preparar essamatriz foi um importante passo para aelaboração do sistema <strong>de</strong> monitoria doPDA, que corria paralelo à experiênciapiloto <strong>de</strong> sistematização.O tipo <strong>de</strong> sistematização que seestava propondo incluía suscitar umaproblematização das experiências parapossibilitar avanços. Problematizaçãonão tanto com ênfase nos resultadosalcançados, mas na compreensão docaminho percorrido – como e por queforam alcançados esses resultados, comoeles se constituíram, como foram seformando no bojo da experiência.As pessoas embarcaram na aventura<strong>de</strong> se <strong>de</strong>bruçar sobre suas práticas, narrálascriando um “conto coletivo” feito <strong>de</strong>muitas vozes, e buscar enten<strong>de</strong>r o queestavam produzindo com essa prática.Pareceu a todos que a oportunida<strong>de</strong> dasistematização gerava possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>crescimento pessoal e coletivo, na relação<strong>de</strong> “agonismo” no sentido usado porMichel Focault: provocação e acolhimentoao outro. Um estado que joga o sujeito aexperimentar, a não ter medo do aindanão vivido. Enquanto espaço <strong>de</strong>mocrático,a sistematização serviria para também<strong>de</strong>ixar vir à tona as tensões da experiênciae trabalhá-las. E ficou clara a importância<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar que as coisas se revelem, e queo façam em linguagem própria – porque éum processo <strong>de</strong> revelação do sujeito.Esse primeiro encontro entre as pessoasdos projetos, com suas práticas e vivências,e a professora Elza, com sua análise teórica<strong>de</strong>ssas práticas, foi muito rico para os doislados. Era incrível ouvir, na mesma sala esobre a mesma fala, citações <strong>de</strong> Gramsci epalavras <strong>de</strong> Raimundo Pureza, da colônia<strong>de</strong> pescadores Z-15 <strong>de</strong> Igarapé Miri: “a


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA19potencialida<strong>de</strong> está no conhecimento daspessoas que fazem a experiência”.A proposta metodológica previaa contextualização da experiência; a<strong>de</strong>finição dos objetivos da sistematizaçãoe sua utilida<strong>de</strong>; a <strong>de</strong>limitação do foco aser trabalhado e seu <strong>de</strong>talhamento emperguntas orientadoras; a relação dasfontes e registros disponíveis; e a <strong>de</strong>scriçãodos passos concretos para se fazer areconstrução histórica, a análise e reflexãodo vivido, criando, para isso, momentoscoletivos. Todo esse trabalho <strong>de</strong>veria serfeito em quatro meses, gerando produtosfinais <strong>de</strong> cada experiência que po<strong>de</strong>riamtomar formas diferentes, embora todostivessem que entregar um relatório final.Os processos <strong>de</strong> sistematização estariamse dando em torno da construção <strong>de</strong>“narrativas polifônicas”, que recuperassemas experiências do ponto <strong>de</strong> vista docoletivo que as viveu. No processo, haveriaum primeiro momento para apresentaçãoda primeira narrativa, para submetê-laà leitura crítica da professora Elza e dos<strong>de</strong>mais companheiros <strong>de</strong> aventura; e umsegundo momento, para apresentação dasegunda versão da narrativa e nova rodadacrítica que <strong>de</strong>veria subsidiar a construçãodas narrativas finais.Para os processos <strong>de</strong> análise dasexperiências, a recomendação foi buscari<strong>de</strong>ntificar seus momentos significativos,conceitos que <strong>de</strong>veriam ser explicitados,problemas, tensões e potencialida<strong>de</strong>s.Esses elementos po<strong>de</strong>riam permitir “abrir”a experiência para compreendê-la em suacomplexida<strong>de</strong> real.b Intermezzo:a primeira narrativaEntre a primeira e a segunda oficinas,as duplas <strong>de</strong> “sistematizadores” produziramsuas primeiras narrativas. Definidos ofoco, com seus eixos e componentes, e asperguntas orientadoras, cada grupo <strong>de</strong>limitouexatamente o período da experiência queseria sistematizado. O caminho que cadaprojeto percorreu para elaborar a primeiranarrativa foi diferente – uns fizeram linhas dotempo, outros, diagramas <strong>de</strong> Venn, a maioriafez entrevistas, porém todos trabalharam naor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> documentos relativos ao período<strong>de</strong>finido e, por fim, estruturaram um primeirodocumento.Havia muita insegurança das duplas<strong>de</strong> “sistematizadores” sobre o que fazerexatamente, por on<strong>de</strong> começar, comoestruturar o documento… Nesse períodohouve visitas da consultora em metodologiasparticipativas a alguns grupos e muitainteração com os técnicos do PDA encarregadosdo acompanhamento, incluindo algumasvisitas e oficinas. A orientação da professoraElza era a <strong>de</strong> se montar a reconstrução históricada experiência vivida e analisá-la buscandoi<strong>de</strong>ntificar as mudanças significativas, osconceitos por trás das ações e das escolhasfeitas, e as tensões da experiência. Cada grupoorganizou sua narrativa inicial <strong>de</strong> uma formadiferente.


20Série SistematizaçãocSegunda oficina:observando o rumoNa avaliação dos “sistematizadores”dos distintos projetos, o processoestava trazendo muita riqueza, gerandomobilização, visibilida<strong>de</strong> para o projeto,<strong>de</strong>spertando a curiosida<strong>de</strong> e aumentandoa auto-estima dos grupos envolvidos. Ofato <strong>de</strong> se resgatar a história e valorizaros registros também foi importantepara todos. As dificulda<strong>de</strong>s estavammais centradas no “como fazer” – comocontemplar todas as vozes na narrativa,como dar forma a todas as informaçõescoletadas, como trabalhar o produtofinal… Os “sistematizadores” perceberama necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mais instrumentos paratrabalhar nos coletivos, ferramentas <strong>de</strong>educação popular, <strong>de</strong> dinâmicas <strong>de</strong> grupo,que auxiliassem na tarefa. O processo <strong>de</strong>análise da história reconstruída tambémapresentava dificulda<strong>de</strong>s. E o tempocorria contra todos, como um fatorlimitante e ao mesmo tempo instigador.Entre as oportunida<strong>de</strong>s possibilitadaspela sistematização <strong>de</strong>stacavam-se ocrescimento individual e institucional<strong>de</strong> cada organização ou grupo, o“empo<strong>de</strong>ramento” e a reorientação daprática.A sistematização mobiliza e possibilitaao sujeito condições <strong>de</strong> expressão;contribui para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suavisão crítica quando situa a experiênciano contexto e historicamente. Esseconhecimento contamina indivíduo ecoletivo, possibilita o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> uma atitu<strong>de</strong> reflexiva e, ao mesmotempo, provoca a ação. Gera curiosida<strong>de</strong>quanto às coisas, às relações, aos fatoresque as provocam. Curiosida<strong>de</strong> epistêmica,segundo Paulo Freire. E possibilita aformação continuada dos sujeitos quereúne. Formação pela experiência que,para ser apreendida, <strong>de</strong>manda relaçãoentre conhecimento teórico e conhecimentoprático.Para aproveitar ao máximo os <strong>de</strong>batessobre a análise <strong>de</strong> cada narrativa, aestrutura da oficina contemplou umprimeiro momento coletivo, <strong>de</strong> avaliaçãodo processo; e, no segundo momento,um agrupamento das experiênciaspor similitu<strong>de</strong>, formando “blocos” <strong>de</strong>narrativas cujos responsáveis se reuniamcom a professora Elza para revisãodas narrativas e teorização , enquantoos <strong>de</strong>mais trabalhavam técnicas emetodologias participativas para trabalhoem grupos com Ladjane Ramos.Os “sistematizadores” das experiênciasda APA, da Apruram, <strong>de</strong> Igarapé Miri e <strong>de</strong>Cametá formaram um grupo <strong>de</strong> trabalho,sendo que as duas primeiras tratam <strong>de</strong>SAFs, e, as duas últimas, <strong>de</strong> acordos <strong>de</strong>pesca e manejo <strong>de</strong> açaizais, todas naAmazônia. O público das duas primeirasé <strong>de</strong> agricultores familiares e, das outras,pescadores artesanais. Um outro gruporeuniu as experiências indígenas – dosGuarani e da Wyty Catë (Timbira), ambosassessorados pelo Centro <strong>de</strong> TrabalhoIndigenista, e a Fundação Viver, Produzire Preservar, da Transamazônica. Asexperiências da Mata Atlântica formaram ooutro grupo - Gambá, Sabiá, Terra Viva eSasop.Escutar a análise das outras narrativasfoi muito rico para cada participantedos grupos – todos queriam ouvir asexperiências dos <strong>de</strong>mais. O próximoencontro <strong>de</strong>veria tentar apresentar umaestrutura que facilitasse esse intercâmbio. As narrativas haviam sido enviadas com antecedênciapara análise e sugestões.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA21dIntermezzo: segunda narrativaO tempo entre a segunda e a terceira oficinas foi utilizadopelos “sistematizadores” para reelaborar as narrativas <strong>de</strong> acordocom os comentários e sugestões resultantes do momento coletivo<strong>de</strong> análise da primeira narrativa. Em alguns casos, foram feitosnovos momentos coletivos, novas análises. Contudo, todostrabalharam na elaboração da segunda narrativa.eTerceira oficina:e agora?O último encontro foi em <strong>de</strong>zembro e teve doismomentos. O primeiro tratou da apresentaçãosucinta das narrativas, pelas duplas sistematizadoras,e da análise da professora Elza sobre cada uma,pontuando o que ainda precisaria ser melhorado.Para ser consi<strong>de</strong>rado finalizado, cada produto <strong>de</strong>veriater, ainda, uma terceira versão, burilada sobre oscomentários finais da consultora e do grupo envolvidono processo. Ou seja, os produtos “finais” levadospara a última oficina eram ainda apenas a “segundaversão”, necessitando mais um tempo para sua revisãoe acabamento.A segunda parte da oficina tratou da questão dacomunicação – o que fazer com esses produtos? Comoconvidada do PDA para o tema <strong>de</strong> uso da informação,Maristela Bernardo, especialista no assunto, falousobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir comunicação <strong>de</strong>forma estratégica, pensando o que se quer comunicar,para quem, e só aí <strong>de</strong>finindo a forma. Para cada temae para cada público po<strong>de</strong> haver uma forma diferente<strong>de</strong> comunicar. Isso inverte a tendência geral <strong>de</strong>pensar primeiro num formato (publicação, ví<strong>de</strong>o…)e, <strong>de</strong>pois, tentar que esses produtos cheguem até umpúblico geralmente difuso, pouco <strong>de</strong>finido.À luz <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>bate, a equipe do PDA e as duplas<strong>de</strong> “sistematizadores” ficaram com o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> buscaresclarecer o que se quer comunicar a quem, paraprecisar uma estratégia <strong>de</strong> finalização dos produtosda sistematização. O PDA, como parceiro dos projetos,afirmou seu compromisso <strong>de</strong> buscar apoio paraa realização <strong>de</strong>ssas estratégias. Ficou clara aimportância <strong>de</strong> se <strong>de</strong>finir a própria estratégia<strong>de</strong> comunicação do PDA, o que se queriacomunicar <strong>de</strong>sse processo <strong>de</strong> sistematização,para quem e com que finalida<strong>de</strong>.As pessoas que se reuniram na aventura dasistematização haviam chegado a bom portoe era hora <strong>de</strong> se <strong>de</strong>spedir – fim <strong>de</strong> ano, fim <strong>de</strong>um ciclo, começo <strong>de</strong> outros. O clima <strong>de</strong> alegriadava o tom da oficina – as pessoas falaramda valorização <strong>de</strong> si mesmas e dos outros, daelevação da auto-estima e das <strong>de</strong>scobertas quetinham feito ao longo do caminho.E, para completar, houve toda umaaventura na volta da oficina – um caminhãocom problemas havia “fechado” a estrada<strong>de</strong> Pirenópolis a Brasília, o que provocouatraso na viagem e perda do vôo por algunsdos participantes e pela consultora. QuaseNatal, o aeroporto <strong>de</strong> Brasília era uma loucura– como todos do país, nessa data – e forammontadas várias estratégias para se tentarresolver a situação. Um momento <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong>inesperado, que <strong>de</strong> alguma forma mostrou aunião e a solidarieda<strong>de</strong> do grupo <strong>de</strong> amigosque se formou no processo <strong>de</strong> sistematização.Finalmente, todos conseguiram chegar em paza suas casas, mesmo com um certo atraso,mas a tempo para as comemorações e para o<strong>de</strong>scanso do Natal.


22Série SistematizaçãoOs projetos <strong>de</strong> sistematizaçãoForam onze projetos, abaixo listados, com o focoestabelecido em cada caso e a dupla encarregada dasistematização.Projeto Recomposição Florestal em Áreas Rurais- Reflorar,do Grupo Ambientalista da Bahia – GambáObjetivo do projeto: recuperar áreas <strong>de</strong>gradadas <strong>de</strong> MataAtlântica na região do recôncavo sul da Bahia.Tempo <strong>de</strong> execução: apoio do PDA <strong>de</strong> 1999 a 2003(financiamento e refinanciamento).Equipe <strong>de</strong> sistematização: Márcia Neves, responsável pelaestratégia <strong>de</strong> educação ambiental e articulação regional doProjeto Reflorar, e Maria Tereza, técnica do Gambá.Foco: inicialmente, seria a estratégia <strong>de</strong> difusão e disseminaçãoutilizada pelo projeto. Posteriormente alterado para o conceito<strong>de</strong> relações <strong>de</strong> parceria.Projeto Promover o Estímulo aoDesenvolvimento Sócio Econômicoe Cultural das Famílias Rurais, daAssociação dos Produtores Ruraispara Ajuda Mútua – Apruram.Foco: beneficiamento,comercialização e gênero.Equipe <strong>de</strong> sistematização: A<strong>de</strong>lícioJacinto, presi<strong>de</strong>nte da Apruram eli<strong>de</strong>rança reconhecida na região, eMarinete Silva, da equipe técnica daAssociação.Projeto Desenvolvimento Sustentávelpara Agricultores da Amazônia Oci<strong>de</strong>ntal- Fase II, da Associação dos ProdutoresAlternativos – APAObjetivo do projeto: produção,beneficiamento e comercialização dosprodutos dos SAFs e <strong>de</strong> outros produtosflorestais não ma<strong>de</strong>ireiros, especialmente omel.Foco da sistematização: Inicialmente,beneficiamento, comercialização e gênero.Posteriormente alterado para a relação entrea organização do trabalho da família e ossistemas <strong>de</strong> produção agroflorestais.Equipe <strong>de</strong> sistematização: José Kuticoski,presi<strong>de</strong>nte da APA na época, e AlexsandroOliveira, técnico da Associação.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA23Projeto <strong>de</strong> Continuida<strong>de</strong>do Trabalho <strong>de</strong> Difusão <strong>de</strong>Sistemas Agroflorestais, doCentro <strong>de</strong> DesenvolvimentoAgroecológico SabiáFocos: a comercializaçãoagroecológica dos produtosdos SAFs e a estratégia<strong>de</strong> difusão utilizada pelainstituição.Equipe <strong>de</strong> sistematização:Joseilton Sousa e Daniela Nart.Projeto <strong>de</strong> Educação Agroecológica e Disseminação<strong>de</strong> Sistemas Agroflorestais do Centro <strong>de</strong>Desenvolvimento Agroecológico do Sul da Bahia– Terra VivaFoco da sistematização: as estratégias <strong>de</strong> difusão edisseminação da agroecologia utilizadas pelo Centro- estratégias <strong>de</strong> disseminação <strong>de</strong> SAFs e aspectosmais relevantes nos processos <strong>de</strong> introdução <strong>de</strong> umanova matriz produtiva <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento paracomunida<strong>de</strong>s rurais da região.Equipe <strong>de</strong> sistematização: Alexandro Chaves eFrancisco Colli.Projeto <strong>de</strong> Apoio a IniciativasComunitárias: Preservação <strong>de</strong>Recursos Aquáticos; ManejoFlorestal, da Colônia <strong>de</strong>Pescadores Z-16, <strong>de</strong> CametáFoco da sistematização:acordos <strong>de</strong> pesca comoalternativa econômica,alimentar e organizacional paraos pescadores artesanais <strong>de</strong>Cametá.Equipe <strong>de</strong> sistematização: JoséDomingos Fernan<strong>de</strong>s Barra e JoséRoberto Gomes Xavier.Projeto Apoio a Iniciativas <strong>de</strong> GestãoComunitária <strong>de</strong> Recursos Aquáticos, daColônia <strong>de</strong> Pescadores Z-15, <strong>de</strong> IgarapéMiriFoco: acordos <strong>de</strong> pesca como alternativaeconômica, alimentar e organizacional paraos pescadores artesanais <strong>de</strong> Igarapé Miri.Equipe <strong>de</strong> sistematização: RaimundoPureza, presi<strong>de</strong>nte da Colônia, e Elias daSilva Santos, técnico.


24Série SistematizaçãoProjeto Valorização e Conservação das Reservas Florestaisnos Lotes dos Pequenos Produtores Rurais <strong>de</strong> Medicilândia ePacajá, da Fundação Viver, Produzir e PreservarObjetivo do projeto: valorização das áreas <strong>de</strong> reserva legal.Foco da sistematização: a relação entre o fortalecimentoorganizacional, a comercialização e a visão sistêmica daproprieda<strong>de</strong>.Equipe <strong>de</strong> sistematização: Luzia Aparecida Pinheiro e EdvâniaDuarte.Projeto Jaguatarei Nhemboé - Caminhandoe Conhecendo, do Centro <strong>de</strong> TrabalhoIndigenista – CTI e Comunida<strong>de</strong> Guarani doAguapeúObjetivo do projeto: or<strong>de</strong>nar a visitaçãoturística à al<strong>de</strong>ia.Foco da sistematização: participação dacomunida<strong>de</strong> e incidência do projeto sobrepolíticas públicas. Posteriormente alteradopara compreensão do processo organizativo dacomunida<strong>de</strong> ao redor do projeto.Equipe <strong>de</strong> sistematização: Maria Berna<strong>de</strong>teFranceschini e Adriana Felipim, ambas doquadro técnico do CTI.Projeto Consolidação das PráticasAgroextrativistas e Beneficiamento<strong>de</strong> Frutas nas Al<strong>de</strong>ias, daAssociação Wyty Catë dasComunida<strong>de</strong>s Timbira do Maranhãoe TocantinsFoco da sistematização:<strong>de</strong>senvolvimento da organizaçãoindígena, <strong>de</strong>stacando os aspectosdas relações <strong>de</strong> geração e dasrelações interétnicasEquipe <strong>de</strong> Sistematização: AndréiaBavaresco, técnica do CTI, e JonasGavião, da diretoria da Wyty Catë.Projeto Manejo <strong>de</strong> Sistemas Agroflorestais: Conservação do BiomaMata Atlântica no Contexto da Agricultura Familiar, do Serviço <strong>de</strong>Assessoria a Organizações Populares Rurais/SasopFoco da sistematização: as estratégias <strong>de</strong> disseminação implementadaspela entida<strong>de</strong> e pelos agricultores para a adoção <strong>de</strong> práticas e princípios<strong>de</strong> manejo sustentável <strong>de</strong> sistemas agroflorestais no Baixo Sul da Bahia.Equipe <strong>de</strong> sistematização: Marcelo Paranhos (coor<strong>de</strong>nador), Ana Bonfim,Luana Carvalho e Luciano Paixão.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA25Aspectos parareflexãoaAlguns erros eacertos do processoA orientação oferecida às equipes <strong>de</strong>“sistematizadores” foi mais conceitual e teórica epouco instrumental. Para recuperar essa lacuna,foi contratada uma consultora em metodologiasparticipativas. No entanto, a inserção <strong>de</strong>ferramentas <strong>de</strong> trabalho em grupo nos processos <strong>de</strong>sistematização, muitas <strong>de</strong>las originadas da tradiçãoda educação popular, ficou pouco <strong>de</strong>finida. Seriaimportante uma capacitação mais vivencial e um tipo<strong>de</strong> guia metodológico mais prático, com instrumentalpara o trabalho <strong>de</strong> campo.O diálogo entre os representantes <strong>de</strong> projetos e aprofessora Elza, que trazia elementos da teoria para o<strong>de</strong>bate, revelou-se profundamente rico.Poucos projetos conseguiram, até a segundanarrativa, chegar à formulação <strong>de</strong> conclusões– lições aprendidas e recomendações. É importanteter uma orientação metodológica clara sobre comofazer esse momento coletivo. Em vários dos projetossistematizados, houve uma última oficina local, quasedois anos <strong>de</strong>pois, com apoio do PDA, para fechar oprocesso e finalizar a narrativa.É necessário contar com apoio para a construçãodas narrativas, valorizando as gravações e asfilmagens. Dotar todos os projetos com gravadores foiuma iniciativa muito a<strong>de</strong>quada.Formar grupos <strong>de</strong> discussão (internet, encontros)mostrou-se produtivo e integrador. Outro aspectoimportante a ressaltar foi a proposição <strong>de</strong> uma matrizcom eixos e componentes para orientar os projetosnas escolhas dos seus focos <strong>de</strong> sistematização,apesar <strong>de</strong> muitos terem mudado os focos ao longodo processo. O fato <strong>de</strong> haver projetos com focossemelhantes é recomendável para o programa,porque permite o intercâmbio, propicia análisescomparativas e amplia a aprendizagem.Finalmente, é fundamental consi<strong>de</strong>rarque o processo não termina com aprodução <strong>de</strong> um documento final, masque é necessário pensar na comunicaçãodo aprendizado. Cada projeto tem umaproposta local para uso <strong>de</strong> seu produtoda sistematização. Em praticamente todosos casos, isso significou retrabalhar asnarrativas, seja para finalizar melhor aversão existente, seja para “trocar <strong>de</strong>forma” o material produzido – transformarlinguagem oral ou linguagem audiovisualem linguagem escrita, por exemplo. Essefoi o gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>safio na finalização dasnarrativas, publicadas pela parceria doPDA com a Fundação Banco do Brasil, comapoio da Cooperação Técnica Alemã (GTZ).bTropeços, aprendizados,novas perguntasAs equipes <strong>de</strong> sistematizaçãoapontaram muitos aprendizados edificulda<strong>de</strong>s encontrados no processo.Para o Centro Sabiá, o processopermitiu conhecer melhor as experiênciasem que atua e resgatar elementos quecontribuem para repensar o trabalho dainstituição. Uma das reflexões da equipeé que a sistematização garante que ahistória das experiências e o conhecimentoacumulado possam ser repassados aoutras pessoas que venham a somar-se àdinâmica institucional. “O método utilizadoproporcionou maior interação com ascomunida<strong>de</strong>s”, afirmou Joseilton Sousa.Arnaldo Fernan<strong>de</strong>s, conselheiro do TerraViva, afirmou que “é importante refletirsobre nosso processo e sobre nossa históriae mostrar isso, assim a socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>espelhar em nós, pois tudo que dá certoé copiado. Essa reflexão e comunicaçãopo<strong>de</strong>m <strong>de</strong>spertar o interesse”.


26Série SistematizaçãoPara a equipe do Gambá, asistematização revelou e potencializouum aprendizado que ocorreu na prática,criando espaço para a discussãoentre os integrantes da experiência, eoportunizou uma reflexão importantepara o futuro do projeto e da instituiçãoproponente. A equipe constatou, ainda,que, contrariamente à idéia inicial <strong>de</strong>que todas as relações <strong>de</strong>senvolvidas peloprojeto eram <strong>de</strong> parceria, estas só seestabeleceram com os proprietários rurais.A importância do registro organizado<strong>de</strong> tudo que se faz, foi também umaprendizado. “Se a gente pensa que po<strong>de</strong>vir a utilizar esse registro mais adiante, eleganha maior significado”, explica MárciaNeves.De uma forma geral, a avaliaçãodas equipes envolvidas é <strong>de</strong> que foi umprocesso muito rico. O presi<strong>de</strong>nte da APAafirmou que “o projeto <strong>de</strong> sistematização<strong>de</strong>u uma sacudida na Associação”.Em termos das dificulda<strong>de</strong>sencontradas, as equipes concordaram que,embora a fase <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> informaçõestenha apresentado momentos difíceis, o<strong>de</strong>safio maior foi mesmo o <strong>de</strong> elaborar asnarrativas. Dedicar tempo ao estudo, àreflexão e ao ato <strong>de</strong> escrever, encontrar alinguagem a<strong>de</strong>quada, escolher o formatoe a estrutura dos documentos foramalgumas das dificulda<strong>de</strong>s reiteradas pelos“sistematizadores”.Além da dinâmica e da rotina <strong>de</strong>escrever, que necessita <strong>de</strong> uma disciplinaprópria, muitos enfatizaram tambéma necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aprofundar-se noconhecimento dos métodos e instrumentosque possam ser trabalhados nasistematização.Para a Secretaria Técnica do PDA,a experiência piloto traz uma série <strong>de</strong>aprendizados e coloca questões. Ficouclaro que a sistematização <strong>de</strong> experiências,com essa metodologia, é um processomuito rico, que gera “empo<strong>de</strong>ramento”das pessoas e organizações, mas que temum custo que <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>rado nosorçamentos dos projetos, e que <strong>de</strong>mandamuito tempo e <strong>de</strong>dicação, sobretudo nafase <strong>de</strong> escrever/<strong>de</strong>screver as narrativas.Talvez se pu<strong>de</strong>sse pensar em produtos“parcelados”, menores, que fossem sendorealizados ao longo da execução doprojeto, tirando o “peso” <strong>de</strong> se ter queescrever uma narrativa final, que ten<strong>de</strong>a se tornar gran<strong>de</strong> e, às vezes, muitoexaustiva.Um <strong>de</strong>safio que ainda permaneceé como casar melhor a proposta <strong>de</strong>sistematização com a monitoria do projeto<strong>de</strong> maneira que esta gere registrosinteressantes, que possam ser consolidadosem documentos, narrativas ou produtos“parcelados” <strong>de</strong> sistematização.Uma coisa certa é que as organizaçõescarecem <strong>de</strong> mais formação na área <strong>de</strong>metodologias e <strong>de</strong> ferramentas para otrabalho participativo. E, ainda, que asestratégias <strong>de</strong> difusão e disseminação dosprojetos <strong>de</strong>vem estar também casadascom os produtos da sistematização,<strong>de</strong>finindo claramente os públicos quese quer alcançar e as mudanças que sequer promover a partir dos processos <strong>de</strong>comunicação.Criar um padrão metodológico <strong>de</strong>sistematização para os projetos PDA apartir <strong>de</strong>sse piloto implicaria rever algunsaspectos, retrabalhar a proposta indicando


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA27instrumentos simples e concretos<strong>de</strong> forma a auxiliar os projetos nareconstituição da história vivida,em sua análise e na preparação<strong>de</strong> produtos interessantes e úteispara seus propósitos e para suasestratégias <strong>de</strong> disseminação.Alguns pontos <strong>de</strong>estrangulamento são facilmentei<strong>de</strong>ntificáveis. Um <strong>de</strong>les é o aspectofinanceiro – o projeto piloto <strong>de</strong>sistematização só pô<strong>de</strong> acontecerconforme o previsto porque maisrecursos foram injetados, cobrindoos custos das oficinas em Brasíliae em Pirenópolis. Também foramrecursos adicionais (da GTZ) quepagaram as consultorias <strong>de</strong> ElzaFalkembach e <strong>de</strong> Ladjane Ramos.Uma outra questão que ficoupara a reflexão do PDA é comomanter a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um processo<strong>de</strong> sistematização sem contar comuma assessoria externa que tragaaportes, sobretudo nos momentos<strong>de</strong> análise das reconstruçõeshistóricas. No caso do projetopiloto, as condições foram próximasdo i<strong>de</strong>al, com a equipe técnicatotalmente <strong>de</strong>dicada, visitando osprojetos quando necessário, com asduas consultoras permanentementeapoiando o trabalho, com arealização <strong>de</strong> três oficinas e com aprodução <strong>de</strong> material <strong>de</strong> suporte eleitura. Na prática dos projetos, <strong>de</strong>uma forma geral, essas condiçõesnão estão presentes.A “SérieSistematização”do PDAEm 2005, o PDA firmou uma parceria com aFundação Banco do Brasil para publicação dasnarrativas <strong>de</strong> sistematização dos onze projetos.Nascia a “Série Sistematização: Comunida<strong>de</strong>sconstruindo sua sustentabilida<strong>de</strong>”. Para finalizaros processos e as narrativas, nova consultoriafoi contratada pelo PDA; foram realizadasoficinas em alguns dos projetos, para tirar lições,recomendações, conclusões, e também paracompletar aspectos que houvessem faltado nanarrativa anterior.Foi feito todo um trabalho <strong>de</strong> edição dostextos e, em alguns casos, <strong>de</strong> nova formatação– transposição <strong>de</strong> uma linguagem a outra, <strong>de</strong>um suporte a outro. Assim, a fita gravada pelosGuarani virou um livrinho, da mesma forma queo ví<strong>de</strong>o dos Timbira. Além disso, foi preparadoum último volume da série, com uma visão geralda metodologia utilizada e uma reflexão sobre oprocesso, os temas e conceitos que emergiram aolongo do trabalho.As narrativas já começaram a ganhar omundo, servindo para o que nasceram, afinal:contar a história <strong>de</strong> uns para outros, para muitosoutros, em diferentes lugares. Que sirvam parajogar mais luz sobre tantas lindas iniciativas queexistem neste País. Como dizem as três ceguinhas<strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong> , “a pessoa é para o quenasce”; e a aventura da sistematização só secompleta com a serventia da comunicação. Corrermundo é uma das funções para as quais nascemas narrativas. Três irmãs cegas <strong>de</strong> Campina Gran<strong>de</strong>, protagonistas do documentário“A pessoa é para o que nasce”.


28Série SistematizaçãoAspráticassistematizadas e seusnúcleos <strong>de</strong>singularida<strong>de</strong>Neste texto procuramos apresentar o significado que atribuímosà expressão “núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>” ao trabalhar a sistematização<strong>de</strong> práticas sociais. Procuramos, também, apresentar os “núcleos<strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>” que i<strong>de</strong>ntificamos em cada uma das 11 práticassociais sistematizadas mediante apoio do PDA/MMA e quecompuseram a “Série sistematização: comunida<strong>de</strong>s construindo suasustentabilida<strong>de</strong>”.Quando falamos em “núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>” <strong>de</strong> uma práticasocial, não estamos nos referindo a algo fixo ou estrutural, mas aum conjunto <strong>de</strong> elementos – coisas, pessoas, idéias, significados,relações – que, ao se combinarem em um dado tempo e espaço,produzem certas configurações que tornam esta mesma práticadistinta <strong>de</strong> outras, inclusive daquelas com as quais compartilha ummesmo ambiente ou campo <strong>de</strong> manifestação e um mesmo momento<strong>de</strong> expressão. Um “núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>” acolhe significadosculturais e revela a produção <strong>de</strong> conhecimentos, atos e relaçõesque sobre eles se tornam possíveis em um momento da prática. Emrazão disso, acaba atuando como motivação interna para que osintegrantes da sistematização reflitam sobre as peculiarida<strong>de</strong>s doentão criado e apresentado.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA29Centro SabiáO núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> da práticasistematizada pelo Centro Sabiá situa-se sobreas relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> construídas entreprodutores e entre estes e os consumidores:os produtores que participam dos “espaçosagroecológicos” comercializam produtospróprios e <strong>de</strong> outros produtores. Essa forma<strong>de</strong> agir, ao mesmo tempo que dá volumeà produção, viabilida<strong>de</strong> aos “espaçosagroecológicos” e objetiva propósitos <strong>de</strong>solidarieda<strong>de</strong> entre companheiros, criatensões, uma vez que as responsabilida<strong>de</strong>s egastos <strong>de</strong> comercialização acabam recaindoapenas sobre os produtores presentes nasfeiras. Com isso, pu<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar, então,o confronto entre os novos valores que aconvivência <strong>de</strong>manda e aqueles do mercadocapitalista – tensão que a prática terá queadministrar.Por outro lado, os produtores que têmacesso aos “espaços” acumulam ganhossecundários (nem todos e nem por todosreconhecidos), pois ampliam sua sociabilida<strong>de</strong>(passam a freqüentar a cida<strong>de</strong> e a ter acessoa instituições por ela oferecidas, como:bancos, secretarias municipais, entreoutros), e expan<strong>de</strong>m suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>comunicação (na relação com o consumidor,além <strong>de</strong> oferecer produtos, <strong>de</strong>sempenham otrabalho educativo <strong>de</strong> argumentar sobre osignificado do produto agroecológico paraa sustentabilida<strong>de</strong> do indivíduo e do seumeio natural e social). Com isso criam valores(valorização da vida), relativizam normase suscitam a constituição <strong>de</strong> outras novas(insurgem-se, com o apoio dos consumidores,contra a proibição <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> praçaspúblicas para a realização <strong>de</strong> feiras). Há, ainda,a valorização da mulher e <strong>de</strong> seu trabalho,enquanto cidadã e trabalhadora, na medidaem que esta também passa a ter presençanos espaços públicos (<strong>de</strong>ntre outros, os <strong>de</strong>comercialização).FVPPA sistematização da prática da Fundaçãomostra como um movimento social preocupadocom a sobrevivência <strong>de</strong> produtores ruraisque vivem a agressão constante do meionatural e social, colocando em risco vidase i<strong>de</strong>ais, consegue constituir-se como umaprática <strong>de</strong> resistência aos processos sociaisdominantes que ten<strong>de</strong>m a inviabilizáloscomo trabalhadores e mesmo comocidadãos. Mostra como, a partir das lutas<strong>de</strong>senvolvidas, o movimento que protagonizaconsegue expandir-se e tornar-se complexo,chegando a ser propositivo em suas ações – dasobrevivência ao <strong>de</strong>senvolvimento da região.Utilizando-se <strong>de</strong> estratégias diversificadas,cria formas novas <strong>de</strong> mobilização (os “Gritos”)e propõe novas formas <strong>de</strong> relação com avida, com a produção, com o trabalho e como ambiente: “viver, produzir, preservar”.Mostra à socieda<strong>de</strong> brasileira, a setores daspopulações <strong>de</strong> outros países e a instituiçõesnacionais e estrangeiras os problemas daTransamazônica. Utiliza-se, também, darepresentação indireta, elegendo vereadorese <strong>de</strong>putados para pressionar órgãosgovernamentais no sentido <strong>de</strong> preservar asriquezas regionais e <strong>de</strong> criar políticas queviabilizem a região. Em relação ao Estado,percebe as suas diferentes políticas eestratégias, assume atitu<strong>de</strong> reivindicativa epropositiva, alia-se, quando possível, massem se <strong>de</strong>ixar cooptar, e ainda força o Governoà tomada <strong>de</strong> posição e à ação quanto àslutas do movimento. Atua na promoção do<strong>de</strong>senvolvimento regional, abrindo frentesdiversas <strong>de</strong> proposição e ação nos âmbitos daprodução, meio ambiente, educação, saú<strong>de</strong> equalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.


30Série SistematizaçãoApruram“Solidarieda<strong>de</strong>”, “<strong>de</strong>scentralizaçãodo po<strong>de</strong>r” e “visão empreen<strong>de</strong>dora” sãoexpressões que <strong>de</strong>finem a prática da Apruram,associação <strong>de</strong> produtores pautada por umaorganização <strong>de</strong> tipo familiar, cujos diretorese funcionários que <strong>de</strong>sempenham funçõesburocráticas não per<strong>de</strong>m o vínculo com a terra.Há na Apruram uma tradição <strong>de</strong> expressãooral, associada a uma capacida<strong>de</strong> muitogran<strong>de</strong> <strong>de</strong> reflexão das suas vivências, daspolíticas agrícolas que enfrentaram e dos<strong>de</strong>safios da conjuntura, o que possibilitaclareza <strong>de</strong> objetivos, rapi<strong>de</strong>z na orientação ereorientação <strong>de</strong> metas sem haver, contudo,perda <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>sconhecimentodos princípios do processo associativo.Essas características têm fortalecido tanto a“Central”, como as “associações filiadas” e as“famílias dos associados” que participam comseus diversos integrantes da vida da Apruram– produzindo, refletindo, tomando <strong>de</strong>cisõese confraternizando. Com isso, há gran<strong>de</strong>transparência administrativa, minimizaçãodo <strong>de</strong>sperdício (não per<strong>de</strong>m produto naroça), cuidado com os recursos tecnológicose ambientais (não <strong>de</strong>predam, recuperam operdido e consi<strong>de</strong>ram parte dos recursos comopoupança da família) e preservação da vida(cuidado com a alimentação, saú<strong>de</strong>, bem-estare relações <strong>de</strong> amiza<strong>de</strong>). Mesmo que a maiorescolarização seja um privilégio ao qual só temacesso a nova geração (filhos que freqüentamas Escolas Familiares Rurais), há uma intuiçãoe austerida<strong>de</strong> administrativa (capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> riscos, aprendizado com ospróprios erros, perseverança no trabalho)que fazem a Apruram superar <strong>de</strong>ficiênciasteóricas e técnicas, além <strong>de</strong> constituir-secomo uma central <strong>de</strong> associações dirigida àcomercialização <strong>de</strong> produtos agrícolas ágil,comprometida com os associados e comgran<strong>de</strong> visão empreen<strong>de</strong>dora.APAEmbora constitua sua estrutura administrativa<strong>de</strong> forma mais institucional e burocrática do que a<strong>de</strong> um movimento social, a prática da APA apresentaalgumas características comuns a esse tipo <strong>de</strong>movimento: trabalho <strong>de</strong> base, forma <strong>de</strong> militânciaem torno do tema da agroecologia, e conquista<strong>de</strong> espaços alternativos e não-alternativos para acomercialização dos seus produtos. Sua gran<strong>de</strong>frente <strong>de</strong> luta e ação está situada na produçãoagroecológica (SAFs). A apicultura, por exemplo, éum elemento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador das transformaçõesintroduzidas no processo produtivo das proprieda<strong>de</strong>sfamiliares: repovoamento da floresta, diversificação,eliminação total <strong>de</strong> agrotóxicos, racionalização eaproveitamento, ao máximo, do produzido.A construção da agroindústria foi uma dasformas <strong>de</strong> viabilizar as mudanças, seguida <strong>de</strong>formas diversificadas e audazes <strong>de</strong> comercialização.A nova forma <strong>de</strong> orientar a produção provocoua reorganização do trabalho na proprieda<strong>de</strong>(incorporação do trabalho das mulheres e dos jovens),transformações nas relações familiares (relações <strong>de</strong>gênero e <strong>de</strong> geração), novos modos <strong>de</strong> formação esolidarieda<strong>de</strong> (trabalho educativo que incorporoua figura do agricultor técnico e o monitoramentodas ativida<strong>de</strong>s para garantir a adoção <strong>de</strong> práticassustentáveis) e maior empenho na qualida<strong>de</strong> eorientação da educação das crianças e jovens (EscolasFamiliares Rurais).Des<strong>de</strong> sua constituição, a APA mantém relaçõescom as pastorais da saú<strong>de</strong> e da terra e, por essasvias, incorporou o trabalho à saú<strong>de</strong> da família, o queresultou em melhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, tanto objetivaquanto subjetivamente. Esse é o gran<strong>de</strong> elementomotivador da ação institucional e aglutinador dasfamílias associadas.A sistematização não chegou a expor como ogrupo <strong>de</strong> mulheres tem contribuído para as mudançasverificadas, e também não explorou o processomigratório das famílias, que parece tensionarsubjetivamente a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, principalmenteentre as mulheres da Associação.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA31Terra VivaA sistematização do Terra Viva mostrauma prática institucional que tem noeducativo seu ponto forte. A singularida<strong>de</strong><strong>de</strong>ssa prática revela-se em dois pontos.O primeiro correspon<strong>de</strong> à maneira comoo processo educativo é mediado pelostécnicos-experimentadores-educadores.São técnicos militantes e, ao mesmotempo, qualificados e preocupados emqualificar-se teórica e pedagogicamente.Assumem, em sua prática, uma atitu<strong>de</strong>investigativa e dispõem <strong>de</strong> ferramentaspedagógicas diversificadas e “adaptadas”aos grupos que atingem, tornandoa entida<strong>de</strong> viva e ativa. O segundo,<strong>de</strong>corrente do primeiro, está associado ao“estalo” (diagnosticado pelos técnicos)pelo qual passam os agricultores comquem a instituição interage. Esse “estalo”é o momento da mudança do agricultor,momento em que o mesmo vê que a suasustentabilida<strong>de</strong> e a do planeta envolvemnova forma <strong>de</strong> relação consigo, com oambiente e com o social. Essa mudançatem também dois componentes: é umamudança <strong>de</strong> paradigma no produtivo (daagricultura dos pacotes tecnológicos paraa agroecologia) e no processo educativo(virada pedagógica do ensino para aaprendizagem).SasopNo processo <strong>de</strong> sistematização <strong>de</strong>senvolvidopelo Sasop ficaram evi<strong>de</strong>ntes duas coisas.Primeiramente a preocupação com o processoeducativo, em especial o empenho emencontrar ferramentas que permitissem àprática institucional romper com o paradigmadifusionista. Ainda no processo educativo,<strong>de</strong>stacou-se o uso <strong>de</strong> ferramentas diversaspara facilitar a comunicação com o produtor:boletins, trabalho com imagens, técnicasparticipativas. Em segundo lugar, a mudança<strong>de</strong> paradigma na produção: a coragem <strong>de</strong>abandonar um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> SAFs prestigiado,porém não situado culturalmente, e a criação,em parceria com os produtores, <strong>de</strong> umaproposta experimentalmente construída,mais flexível, culturalmente situada, sem<strong>de</strong>sconhecer o mérito do mo<strong>de</strong>lo anterior.Houve a incorporação e ressignificação <strong>de</strong>práticas tradicionais, como o mutirão, para o<strong>de</strong>senvolvimento da nova proposta.


32Série SistematizaçãoGambáO núcleo <strong>de</strong>singularida<strong>de</strong> daprática do Gambá – asrelações <strong>de</strong> parceria naeducação ambiental– foi brotando àmedida em que o grupofoi se tornando maisreflexivo, recorrendoà teoria e à criaçãoe ao uso <strong>de</strong> técnicasparticipativas paracompreen<strong>de</strong>r a prática.Ficou “explicado” que ainterinstitucionalida<strong>de</strong>criada no início dotrabalho e mantidana sistematizaçãoconsistia em uma forma<strong>de</strong> construir relações<strong>de</strong> parceria pluraissem, contudo, afetaros princípios que aorganização se propunhaa colocar em pautapor meio da educaçãoambiental.GuaraniA sistematização <strong>de</strong>senvolvida pelos índios Guarani quevivem em uma pequena al<strong>de</strong>ia nas cercanias da Gran<strong>de</strong> SãoPaulo (Comunida<strong>de</strong> Mbyá <strong>de</strong> Aguapeú) passou por significativasmudanças. Foi iniciada com a pretensão <strong>de</strong> acompanhar aimplantação e o funcionamento <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> recebimento<strong>de</strong> turistas e moradores da cida<strong>de</strong> praiana <strong>de</strong> Monguaguá, daqual a al<strong>de</strong>ia se separa por um pequeno rio. O projeto previa aconstrução <strong>de</strong> uma “Casa da Cultura” e <strong>de</strong> um roteiro <strong>de</strong> visitapela al<strong>de</strong>ia – parte pelo rio e parte por terra – o que levou àaquisição <strong>de</strong> equipamento <strong>de</strong> navegação e construção <strong>de</strong> uma“trilha” para acesso à floresta.Com o projeto, os Guarani pretendiam receber os visitantes<strong>de</strong> forma organizada, evitando a invasão dos brancos na al<strong>de</strong>ia(o que vinha comprometendo a privacida<strong>de</strong> das famílias); darinformações sobre a cultura mediante a abertura da Casa daCultura ao acesso dos brancos e apresentação <strong>de</strong> cantos, danças,mostra e comercialização <strong>de</strong> artesanato; “educar os brancos parao silêncio, para ouvir a natureza, para compreen<strong>de</strong>r um pouco,um pouquinho só, da cultura guarani”; e gerar renda para acomunida<strong>de</strong>.Contudo, o projeto não chegou a <strong>de</strong>slanchar como previstopor “problemas <strong>de</strong> percurso” (dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> parceria com aPrefeitura, em razão do conflito dos tempos culturais <strong>de</strong> brancose índios, burocracia do setor público e outros). Poucas visitasforam realizadas. Porém, a preparação para a implantação doprojeto foi uma caminhada <strong>de</strong> aprendizagens, com acertos eerros <strong>de</strong> tal or<strong>de</strong>m que acabou se constituindo em objeto <strong>de</strong>sistematização.O objeto <strong>de</strong> sistematização converteu-se, então, no processo<strong>de</strong> preparação para a implantação do projeto, que exigiu,dos moradores da al<strong>de</strong>ia e <strong>de</strong> seus assessores, <strong>de</strong>bates ereflexões intensas. O núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong> da sistematizaçãorecaiu sobre as questões em pauta: os diversos papéis ecomportamentos a serem <strong>de</strong>sempenhados pelos índios noprojeto – barqueiro, guia, integrantes <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> dança,canto, venda <strong>de</strong> artesanato; a educação dos visitantes quanto àrelação com a natureza; o <strong>de</strong>stino a ser dado ao lixo produzidopelos turistas; os preços dos ingressos; a distribuição e o usodos recursos financeiros a serem gerados pelas visitações;treinamentos internos realizados para viabilizar a implantaçãodo projeto.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA33Wyty CatëNeste caso, o núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong><strong>de</strong>corre do confronto das lógicas com asquais a prática sistematizada trabalha: ada cultura e a do mercado; o uso <strong>de</strong> ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> associação, cuja figura jurídicaé própria do mundo dos brancos e quefoi utilizada pelos índios Timbira, comtoda a diversida<strong>de</strong> étnica que congrega– Krahô, Gavião, Apinayé, Krikati, CanelaRamkomekra – e ainda a diversida<strong>de</strong>geracional – papel dos jovens, papel dosvelhos no empreendimento. Trata tambémdo papel do sócio não-indígena, que é aorganização <strong>de</strong> assessoria aos Timbira, oCTI.A estratégia <strong>de</strong> valorização dos frutosnativos como forma <strong>de</strong> proteger o cerradoda <strong>de</strong>vastação provocada pelo avanço dafrente sojeira levou à criação da indústria<strong>de</strong> polpas <strong>de</strong> fruta, que se estruturou<strong>de</strong> forma a concorrer no mercado, ouseja, passou a <strong>de</strong>mandar regularida<strong>de</strong> evolume <strong>de</strong> matéria-prima para tornar-secompetitiva. No entanto, sua inserçãono mercado foi feita a favor da culturaindígena, sem pressionar os índios aentrarem na roda viva da produção parasuprir as exigências do empreendimento.A sistematização mostra que foi necessário,então, criar alianças, primeiro com osagroextrativistas da região, e <strong>de</strong>pois coma Re<strong>de</strong> Solidária do Araguaia Tocantins,<strong>de</strong> forma a assegurar o funcionamentoregular da indústria. Sobre esse núcleo<strong>de</strong> construções, ações e relações, asistematização foi apontando criações,estratégias, tensões, superações e novosproblemas a serem enfrentados pelaprática.Igarapé-Miri e CametáSob o eixo temático “acordos <strong>de</strong> pesca”, as duas experiênciassistematizadas tratam da prática social das comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pescadores artesanais das regiões <strong>de</strong> Cametá e Igarapé-Miri,estado do Pará, áreas <strong>de</strong> atuação das Colônias <strong>de</strong> PescadoresZ-16 e Z-15, respectivamente. Falam da saga das populaçõeslocais – “tanto as urbanas (consumidores) como as ribeirinhas(pescadores artesanais) e os mercadores (atravessadores)”– frente ao <strong>de</strong>sastre ambiental <strong>de</strong>corrente da implantação<strong>de</strong> usinas hidrelétricas no rio Tocantins, no estado do Pará,que prece<strong>de</strong>u os referidos acordos. Resgatam as iniciativas elutas que possibilitaram à população ribeirinha romper com asrelações escravizantes que viviam até as proximida<strong>de</strong>s dos anos80 e pactuar acordos <strong>de</strong> pesca que reconfiguraram o uso <strong>de</strong>recursos ambientais e econômicos: organização em movimentossociais, construção <strong>de</strong> alianças com outros movimentos queresultaram em “unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mobilização”, e apoio <strong>de</strong> umapastoral social ligada à CNBB (Conferência Nacional dos Bisposdo Brasil), conquistas das Colônias <strong>de</strong> Pescadores.Os “acordos <strong>de</strong> pesca” se estabeleceram no bojo <strong>de</strong> uma lutaque buscou, portanto, resgatar condições <strong>de</strong> vida para essapopulação atingida pelos danos sociais e ambientais <strong>de</strong>correntes<strong>de</strong> projetos culturalmente invasivos, socialmente exclu<strong>de</strong>ntese politicamente anti<strong>de</strong>mocráticos. Po<strong>de</strong>m ser caracterizadoscomo uma prática <strong>de</strong> resistência: são propositivos, inovadores,culturalmente situados e repactuados continuamente. Seusprotagonistas são as comunida<strong>de</strong>s.Pressionado pela <strong>de</strong>manda dos ribeirinhos organizados,o Estado tem reconhecido e fortalecido os acordos e, comisso, as comunida<strong>de</strong>s têm também conquistado mais força ereconhecimento. Por sua vez, o Estado se aproveita e transfereà população algumas <strong>de</strong> suas funções, como a <strong>de</strong> fiscalização.Isso tem gerado tensões nas relações comunitárias e familiares,bem como nas relações entre comunida<strong>de</strong> e Estado, pois há a<strong>de</strong>legação <strong>de</strong> funções que não é acompanhada das condiçõesnecessárias – respaldo e preparo dos agentes – ao seu<strong>de</strong>sempenho. Essa <strong>de</strong>scentralização intensifica o po<strong>de</strong>r dascomunida<strong>de</strong>s, mas lhe atribui “um novo peso”, uma maiorresponsabilida<strong>de</strong>.


34Série SistematizaçãoSistematização,uma arte <strong>de</strong><strong>ampliar</strong><strong>cabeças</strong>...Elza Maria Fonseca Falkembach, 2006O objetivo <strong>de</strong>ste texto é apresentar a proposta teórico-metodológica queorientou o <strong>de</strong>senvolvimento da sistematização <strong>de</strong> 11 experiências, apoiadas peloPDA, e cujos produtos vieram a compor a Série Sistematização: comunida<strong>de</strong>sconstruindo sua sustentabilida<strong>de</strong>, iniciativa viabilizada pelo mesmo programa.Esses escritos apresentam ao leitor reflexões sobre a contemporaneida<strong>de</strong>e argumentam sobre a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a sistematização constituir-se emum instrumental pedagógico que instiga coletivos humanos à produção <strong>de</strong>conhecimentos e aprendizagens. Procuram mostrar como a sistematizaçãocontribui para a formação <strong>de</strong> sujeitos, <strong>de</strong> pensamento e ação, que fazem <strong>de</strong> suaspráticas oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estar no mundo <strong>de</strong> forma reflexiva e, ao mesmo tempo,propositiva; como contribui para que espaços <strong>de</strong> práticas sociais produtivas,organizativas, educativas e culturais se constituam em oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> viver“experiência”.O texto apresenta os fundamentos, os limites e as potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>uma “proposta <strong>de</strong> sistematização <strong>de</strong> práticas sociais”, cujos procedimentosforam traçados para serem vividos em 8 atos. Foi produzido com o objetivo<strong>de</strong> proporcionar maior visibilida<strong>de</strong> a uma lógica metodológica reconstruída,mediante 11 estilos – das 11 experiências apoiadas pelo PDA – e <strong>de</strong>safiar a novasvivências e reconstruções.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA35Falando <strong>de</strong> umtempo e <strong>de</strong> espaçosNão é fácil, para nós, humanos, estarmosno mundo, nos vermos em um tempo e emum espaço e <strong>de</strong>cidirmos como vivê-los. Atéporque esse tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão exige capacida<strong>de</strong> ehabilida<strong>de</strong> para divisar as fissuras que intercalamos condicionamentos e as <strong>de</strong>terminações dosprocessos sociais dominantes que, sem gran<strong>de</strong>esforço, as encobrem. Requer a concentração<strong>de</strong> forças do intelecto para compreendê-las eperceber que os processos sociais dominantes sãocapazes <strong>de</strong> gerir, ao seu modo, os espaços on<strong>de</strong>se expressam as vidas humanas, mas nem sempreconseguem transformar homens e mulheres emsimples marionetes. Deixam fissuras ou vazios quepo<strong>de</strong>rão constituir caminhos para que os sujeitosescapem dos referidos condicionamentos e<strong>de</strong>terminações, vazios que po<strong>de</strong>m ser preenchidospor práticas sociais que experimentam modos <strong>de</strong>viver inusitados, espaços em que a liberda<strong>de</strong> seapresenta como um valor que instiga à criação.Demanda, então, o <strong>de</strong>slocamento do foco dacuriosida<strong>de</strong> e da ação humanas para questões edinâmicas que <strong>de</strong>finem rumos tanto para a vidasocial como para as vidas dos indivíduos.Decidir implica, portanto, divisarpossibilida<strong>de</strong>s e impossibilida<strong>de</strong>s e com elaspo<strong>de</strong>r conflitar. Leva-nos a i<strong>de</strong>ntificar territóriosa serem conquistados, não para simplesmentereproduzir, em outros lugares, ações járealizadas, mas para reconhecer os caminhosque se abrem e as portas que se fecham ao quefazemos, pensamos e queremos. Convoca-nosa nos capacitarmos para criar novas estratégiase implementar ações que nos permitam abrirportas, a<strong>de</strong>ntrar caminhos, construir saídas.Incita-nos a fabricar o novo.Decidir pressupõe também a capacitação<strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> nós para “dispor <strong>de</strong> si mesmo”e organizar relações pessoais e sociais emtempos e espaços <strong>de</strong> convivência. Envolve oreconhecimento dos saberes em circulaçãonesses espaços-tempo, acompanhar oempali<strong>de</strong>cimento <strong>de</strong> algumas afirmações ouverda<strong>de</strong>s com as quais tais saberes operam, e oflorescimento <strong>de</strong> outras. Requer escolhas. Nãodá <strong>de</strong>scanso ao sujeito que a isso se predispõee que emerge nessas relações, relações <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r associadas a saberes que as alimentame nelas se apóiam. Chega a atordoar muitos <strong>de</strong>nós, envolvendo-nos em ações que configuramséries mecanicamente conduzidas. Po<strong>de</strong> noslevar ao limite da renúncia “do eu”, isto é, dasubtração dos espaços que po<strong>de</strong>riam alojaras motivações pessoais para o “governo <strong>de</strong>si próprio”, para a conquista <strong>de</strong> formas <strong>de</strong>vida mais autônomas. Com isso, abre portasa um sofrimento que contamina os espaços<strong>de</strong> convívio, põe em risco a sustentabilida<strong>de</strong>do indivíduo e das organizações sociais queintegra.Cada momento na história da humanida<strong>de</strong>apresenta, então, às mulheres e aos homensque reúne, <strong>de</strong>safios singulares, que semanifestam recobertos por uma pluralida<strong>de</strong><strong>de</strong> formas. Desenca<strong>de</strong>iam as mais diversas(re)ações sobre aqueles que reúne, <strong>de</strong>ntre elase para alguns, a necessida<strong>de</strong> e a disposição <strong>de</strong>pensar sobre o vivido e sobre o viver.


36Série SistematizaçãoUm tempo marcado por ambigüida<strong>de</strong>sConviver com ambigüida<strong>de</strong>s é uma dasmarcas do nosso tempo. E saber i<strong>de</strong>ntificá-lasé uma das capacida<strong>de</strong>s que nos são requeridaspara que possamos fazer escolhas e tomar<strong>de</strong>cisões. E também para que essas <strong>de</strong>cisõesnão aconteçam <strong>de</strong> forma mecânica, ingênuae/ou submissa, se nosso <strong>de</strong>sejo é mudar asnossas formas <strong>de</strong> estar no mundo até paramanter vivo o planeta e as espécies que opovoam.Vivemos, hoje, sob a expansão docapitalismo em sua forma neoliberal eglobalizada. Por um lado, essa expansão nosapresenta uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas,o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> novos produtos,condições e procedimentos para tornar menostrabalhosos os nossos cotidianos. Comoafirma o estudioso Tomás Ta<strong>de</strong>u da Silva,“Vivemos num tempo em que vemos nossascapacida<strong>de</strong>s ampliadas e intensificadas, emque, potencialmente, se esten<strong>de</strong>m nossaspossibilida<strong>de</strong>s vitais: <strong>de</strong> conhecimento, <strong>de</strong>comunicação, <strong>de</strong> movimento, <strong>de</strong> diminuição dador e <strong>de</strong> aumento do prazer, <strong>de</strong> sustentação davida” (2001, p. 7). Contudo, segue o pensador,essa mesma expansão está contribuindo parao aumento do “espaço da <strong>de</strong>struição, daexclusão e da privação, da exploração do outroe da terra”; não está conseguindo enfrentar“a dimensão objetiva da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social,a dimensão ética da injustiça e a dimensãosubjetiva do sofrimento”, é o que afirma Ba<strong>de</strong>rSawaia (1999, p. 8), ao discutir as artimanhasda exclusão nas condições concretas da vidasocial na contemporaneida<strong>de</strong>.A <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social, hoje, po<strong>de</strong> advirda forma como nos inserimos nos ambíguoscircuitos econômico-produtivos das socieda<strong>de</strong>scontemporâneas. Mas, não é só. Desdobrase,<strong>de</strong> forma não menos exclu<strong>de</strong>nte, sobre oscircuitos reprodutivos que abrangem relações<strong>de</strong> gênero, geração, relações raciais, étnicas,religiosas, <strong>de</strong>ntre outras. Em tais circuitos,<strong>de</strong>senvolvem-se mecanismos que monitorama exclusão e produzem a inserção social,porém <strong>de</strong> forma exclu<strong>de</strong>nte. Tais mecanismossão abrangentes, complexos, sutis e eficazes,pois não criam apenas as formas objetivas<strong>de</strong> inserção “assujeitada” <strong>de</strong> nossos corposnos circuitos da produção e da reprodução.Atuam também no plano subjetivo, isto é, noplano da relação do sujeito consigo mesmo,na constituição do “eu”. Fabricam a imagemdo “igual” - do bem sucedido, conforme ospadrões do mercado - e do “não igual”. Aeste último inferiorizam, culpabilizam por nãoconseguir ser “um igual”. Com isso, marcamindividual e socialmente as subjetivida<strong>de</strong>s,o jeito <strong>de</strong> pensar, <strong>de</strong> sentir, <strong>de</strong> ser <strong>de</strong> cadaum, individualmente e também dos coletivossociais.O excluído, hoje, não é somente o pobre,aquele que não consegue ter acesso aos bensmateriais e culturais produzidos socialmente.É o pobre e também todos aqueles sobre osquais atuam mecanismos como o preconceito,a intolerância, a incapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> admitir adiferença - o “não igual”. Há uma nova ética,que encobre e banaliza o direito <strong>de</strong> ter direitos,dirigida a regular essas vidas.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA37A consumição progressiva do humanoDany-Robert Dufour (2005, p. 10) i<strong>de</strong>ntifica,em concomitância com a expansão docapitalismo, mundialmente, a consumiçãoprogressiva do humano: se antes eram os “corposprodutivos” que se esvaíam no trabalho paracolocar a máquina produtiva em movimento eviabilizar a acumulação do capital, chegamosa um tempo em que a “redução das <strong>cabeças</strong>”também se torna necessária para introduzir emanter a lógica do mercado e da mercadoria nassocieda<strong>de</strong>s contemporâneas, afirma o pensador.Mas, o que significa isso?Significa que um novo homem está sendoproduzido nos tempos atuais: um homemmercadoria,plástico, a<strong>de</strong>quado ao mercado. “Oshomens não <strong>de</strong>vem mais entrar em acordo com osvalores simbólicos transcen<strong>de</strong>ntes, simplesmente<strong>de</strong>vem se dobrar ao jogo da circulação infinita eexpandida da mercadoria.” (Dufour, 2005, p.13).Se, em gerações anteriores, cada um <strong>de</strong> nóscrescia e se constituía orientado pela referência aalguma “entida<strong>de</strong>” religiosa, filosófica, política,educativa, jurídica ou a uma tradição, o novoespírito do capitalismo atua na direção <strong>de</strong> livrarse<strong>de</strong> valores culturais, <strong>de</strong> distanciar o indivíduo<strong>de</strong> referências fundantes, <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas quepossam insinuar uma herança. Atua também <strong>de</strong>forma a erradicar os elementos das culturas quesingularizam esse mesmo indivíduo.Daí o sentimento <strong>de</strong> insegurança profunda,a avi<strong>de</strong>z por encontrar algo que aponte para umfuturo e o <strong>de</strong>sânimo frente aos sonhos <strong>de</strong>sfeitos.Nós, humanos, estamos nos sentindo frágeis esós, mesmo nos acotovelando em multidões, on<strong>de</strong>somos apenas mais um. O “ser-si” (ser pessoa,construir uma i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, ser reconhecido) eo “ser-junto” (participar <strong>de</strong> um coletivo, agirem conjunto, integrar uma organização, teramigos), expressões do pensador citado(2005, p. 189), estão em <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m. O mercadoos faz <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, pois o que lhes oferecee <strong>de</strong>manda amanhã não é o mesmo queapresenta e requer hoje. Ao mesmo tempoé predatório e facilmente esten<strong>de</strong> essacaracterística às expressões e interaçõeshumanas com os outros da espécie, com associeda<strong>de</strong>s e com a natureza.Os pacotes tecnológicos, <strong>de</strong> duraçãoefêmera, chegam ao mercado para substituirformas culturais <strong>de</strong> produção. Os sistemas,formas e rotinas adotados para gerir aprodução, são, em sua maioria, predatóriosao ambiente natural e social. Os mecanismosadotados para apresentar os produtos aoconsumidor fazem-no presa do mercado. Asformas <strong>de</strong> expressão, as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidase os valores transmitidos pelos diversosdispositivos da educação e da comunicaçãomassificam e controlam o indivíduo. Esseconjunto <strong>de</strong> dispositivos é incompatível comqualquer propósito <strong>de</strong> sustentabilida<strong>de</strong> quequeiramos afirmar. Sustentabilida<strong>de</strong> vistacomo relações do indivíduo consigo próprio,com os outros e com o meio ambiente naturale social, relações que implicam transformação,criação e, ao mesmo tempo, preservação ecuidado, que se apresentam em oposição aqualquer tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição esterilizante.Deslocar-se <strong>de</strong>ssa roda-viva talvezse constitua, hoje, a forma mais madura<strong>de</strong> fortalecimento do sujeito. Deslocar-sesem, contudo, <strong>de</strong>sconhecê-la. Deslocar-sereconhecendo a singularida<strong>de</strong> das condiçõessociais que possibilitaram a emergência <strong>de</strong>ssenovo modo <strong>de</strong> alienação do sujeito - sujeito/mercadoria - e dispor-se a experimentar


38Série Sistematizaçãooutras formas <strong>de</strong> “estar-nomundo-ambiente”.Isso significa:atuar sobre o homem, vivente econvivente neste momento dahistória da humanida<strong>de</strong>, mastambém construir uma forma nova<strong>de</strong> conceber a condição humana.Requer a construção <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>e <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>mandare fazer uso da liberda<strong>de</strong>, valorcom o qual a humanida<strong>de</strong> semprese envolveu no <strong>de</strong>senrolar dasua história e que a i<strong>de</strong>ologiado mercado “super-explora”,banalizando o seu significado.Implica dispor da liberda<strong>de</strong>, porématribuindo-lhe um novo significado.Conceber a liberda<strong>de</strong> comoforma <strong>de</strong> relação consigo e coma vida, aberta à experimentação.Forma <strong>de</strong> relação capaz <strong>de</strong> tornaro “ser-si” (sustentabilida<strong>de</strong>da pessoa), o “ser-junto”(sustentabilida<strong>de</strong> grupal) e o “serrelação”(sustentabilida<strong>de</strong> sociale ambiental) objeto <strong>de</strong> reflexão;arte <strong>de</strong> “<strong>ampliar</strong> as <strong>cabeças</strong>” e“autorizar os corpos” a expandirsua expressivida<strong>de</strong>; atitu<strong>de</strong>, novaforma <strong>de</strong> presença na “socieda<strong>de</strong>ultraliberal” Plagiando Dufour (2005), às avessas.Divisandoespaços, gerando<strong>de</strong>mandasA dinâmica <strong>de</strong> produção <strong>de</strong>mercadorias, em especial a roda-vivado consumo a ela associado, <strong>de</strong>stróirecursos e potenciais da natureza, controlainteresses, vonta<strong>de</strong>s e a criativida<strong>de</strong> dosindivíduos. Um dos mecanismos queutiliza é a inumerável varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> formas,capacida<strong>de</strong>s, funções e quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>objetos que põe em movimento. Essadinâmica, por um lado, torna os indivíduoscada vez mais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos estímulosdo mercado e mais ansiosos, por não terema capacida<strong>de</strong> infinita <strong>de</strong> consumo quelhes é sugerida. Por outro lado, gera umasensação <strong>de</strong> saturação que convoca muitos<strong>de</strong>les a problematizar as relações que osenvolvem.As mesmas forças que conduzemindivíduos e produtos ao mercado nãodão conta, contudo, <strong>de</strong> acomodá-los <strong>de</strong>modo a impedir a constituição das járeferidas fissuras ou aberturas ao novo,que ficarão localizadas no âmbito objetivodos processos sociais (sempre haverá anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos produtos) e noplano das subjetivida<strong>de</strong>s (o sujeito é maisdo que consumo). Po<strong>de</strong>rão, também,escapar dos comandos da dinâmica domercado e acolher construções sociais eculturais que fogem a sua <strong>de</strong>terminação.Essas construções, ainda que possíveis,encontrarão dificulda<strong>de</strong>s para seremsocialmente legitimadas.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA39Dentre as dificulda<strong>de</strong>s possíveis,po<strong>de</strong>mos divisar: iniciativas <strong>de</strong>sobrevivência e reprodução <strong>de</strong>experiências produtivas (agriculturafamiliar, práticas produtivas sustentáveis,empreendimentos <strong>de</strong> economia solidária),processos participativos <strong>de</strong> educaçãoe <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões (pedagogiasalternativas, negociação e criação <strong>de</strong>políticas públicas), e iniciativas inovadoras<strong>de</strong> produção artística, científica e cultural(experimentos <strong>de</strong> campo, pontos <strong>de</strong>cultura, exposições).Essas iniciativas sociais, ao mesmotempo em que experimentam novosprodutos, conhecimentos, valores erelações, estão gerando novas <strong>de</strong>mandasteóricas, metodológicas e técnicas apartir <strong>de</strong> suas próprias produções, dadaa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlá-las e avaliarseus efeitos e impactos sobre a natureza,as socieda<strong>de</strong>s e as populações. Sãoreivindicativas, mas também propositivas.Precisam <strong>de</strong> conhecimentos novos e<strong>de</strong> espaços para produzi-los, mas secolocam também na perspectiva <strong>de</strong> criaralternativas sustentáveis que venhama subsidiar necessida<strong>de</strong>s, ressignificaroutras e criar novas. Geram, ainda, anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicar o que foicriado. Configuram-se como iniciativas epráticas <strong>de</strong> resistência que alimentam eten<strong>de</strong>m a transformar as relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rvigentes. Po<strong>de</strong>m “atropelar” inclusive oEstado. Essas iniciativas, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo dasforças político-sociais que aglutinam edas capacida<strong>de</strong>s que conseguem forjarao se expressar, ora têm seus espaços <strong>de</strong>expansão alargados, ora diminuídos.O que sistematizaçãotem a ver com essesarranjos históricosociais?A convergência <strong>de</strong> <strong>de</strong>mandas e potenciais humanos esociais, anteriormente <strong>de</strong>scrita, po<strong>de</strong> ser “costurada” pormeio da sistematização <strong>de</strong> práticas sociais estratégicas. Asistematização possibilita, a partir dos lugares que ocupamose dos tempos em que vivemos, transformar nossas práticassociais em objeto <strong>de</strong> reflexão, produção <strong>de</strong> conhecimentose aprendizagens. O que foi feito/vivido? Quem o fez/viveu?On<strong>de</strong>? Quando? Como?Já nas primeiras propostas teórico-metodológicas <strong>de</strong>sistematização, construídas e socialmente divulgadas,verificamos que os processos investigativos que ela<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia, ao transformá-las em objeto <strong>de</strong> reflexão,tornam transparentes as iniciativas e práticas <strong>de</strong> indivíduos ecoletivos sociais para eles próprios e para aqueles com quemse comunicam. Para que isso aconteça, além <strong>de</strong> resgatá-las,situam-nas historicamente e percorrem com o pensamentoas condições externas associadas ao seu surgimento e<strong>de</strong>senrolar. Esse recorrido histórico ajuda a compreen<strong>de</strong>ra singularida<strong>de</strong> das configurações internas atuais daspráticas e do conjunto <strong>de</strong> elementos que possibilitarama sua emergência. Propicia, também, o diagnóstico dosproblemas com os quais se <strong>de</strong>batem, dos seus potenciais edas construções realizadas a partir <strong>de</strong>las - aprendizagens,conhecimentos e ações.A sistematização transforma práticas sociais em objetospara o pensamento. Com isso, possibilita que os seusintegrantes, sem se distanciarem da singularida<strong>de</strong> doseu mundo cultural, consigam vê-lo e dêem conta da suarelação com um exterior. Permite que percebam, ainda, quea complexida<strong>de</strong> das coisas com as quais se <strong>de</strong>batem pararealizar ações, produzir conhecimentos e aprendizagensadvém também <strong>de</strong>sse “pertencer” a algo mais amplo.Um processo <strong>de</strong> sistematização concentra-se, portanto,em um objeto – prática social - porém o faz <strong>de</strong>s<strong>de</strong> espaçostempoque o significam. Essa condição <strong>de</strong> objeto histórico,social e culturalmente situado assegura-lhe potenciais, mastambém limitações. É sobre isso que trataremos a seguir.


40Série SistematizaçãoPotenciais e limites da sistematizaçãoA sistematização constitui-se, então, em um processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimentoscultural e socialmente situados. Ocorre a partir <strong>de</strong> práticas sociais que, conforme expressão<strong>de</strong> Oscar Jara (1996, p. 25), configuram-se como “experiências vitais, carregadas <strong>de</strong> umaenorme riqueza acumulada <strong>de</strong> elementos que, em cada caso, representam processosinéditos e irrepetíveis”. Dota as práticas e os sujeitos <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>s, abrepossibilida<strong>de</strong>s novas <strong>de</strong> conhecimento, aprendizagens e relações. Contudo, apresentalimitações.aTransforma as práticas sociaisem objeto <strong>de</strong> investigação - objetoconstruído; problematiza essaspráticas, recorta-as e as trata apartir <strong>de</strong> um foco e mediante: a) aescolha <strong>de</strong> uma abordagem teórica;b) a opção quanto a uma referênciaempírica; c) <strong>de</strong>cisões quanto aosprocedimentos – métodos e técnicas– a serem adotados ao investigá-las.Não tem a pretensão <strong>de</strong> apreen<strong>de</strong>rtoda a complexida<strong>de</strong> e diversida<strong>de</strong>das manifestações <strong>de</strong>ssas práticas.Preten<strong>de</strong>, contudo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um foco,transformá-las em objeto para opensamento, isto é, propiciar aos seusintegrantes a tomada <strong>de</strong> distânciacrítica e i<strong>de</strong>ntificar as relações queelas configuram, o que elas produzeme as verda<strong>de</strong>s que afirmam. Com isto,evita que as relações dos sujeitos daspráticas com as suas verda<strong>de</strong>s setornem fixas e incita-os a submetêlasao jogo do falso e do verda<strong>de</strong>iro.Esta é uma relação entre teoria eprática que não separa uma da outra.bIntensifica a vivênciacoletiva no interior daprática social em estudo.Procura fazer com que osprocessos instalados afetem econvoquem seus integrantesa narrá-la, sob o foco<strong>de</strong>finido, marcando essasnarrativas com significadosdiversos, como são diversasas vozes que narram. Essessignificados são dinâmicos,passam por mudanças ou“<strong>de</strong>slocamentos” em razãodas interações e jogos <strong>de</strong>verda<strong>de</strong>s que ocorrem nointerior da prática em estudo.Costumamos dizer que asistematização incentiva aconstrução <strong>de</strong> uma narrativaque contempla “olharessingulares, plurais e sensíveisàs mudanças”.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA41cAo transformar a prática em objeto<strong>de</strong> reflexão, constitui-se um espaçoinvestigativo e educativo; faz-se mediadoraentre a formação <strong>de</strong> sujeitos <strong>de</strong> pensamentoe ação - investigadores, avaliadores,planejadores, atores - por meio <strong>de</strong> umprocesso <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimentosque se <strong>de</strong>sdobra em <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador <strong>de</strong>aprendizagens. Com isso, po<strong>de</strong>rá tratar aaprendizagem como uma dinâmica que aliao “apren<strong>de</strong>r-a-fazer” fazendo; o “apren<strong>de</strong>ra-pensar”pensando e o “apren<strong>de</strong>r-a-ser”sendo.eTrabalha com os conflitos,transformando-os em objeto <strong>de</strong>reflexão. Procura i<strong>de</strong>ntificar os conflitosvivenciados objetivamente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aspráticas, como os <strong>de</strong>sentendimentos e aslutas sociais contra o Estado, instituiçõese outras práticas e sujeitos sociais. Damesma forma, procura problematizar osconflitos que se instalam no plano dassubjetivida<strong>de</strong>s. Neste âmbito, enfrenta,sem dúvida, o sofrimento do “sujeito<strong>de</strong>-ação”,trata-o como tensão, sem,contudo, banalizá-lo. A sistematizaçãonão foge da tematização da relaçãomoral dos sujeitos consigo mesmos, comos outros e com a socieda<strong>de</strong>. Não sepropõe, contudo, a construir heróis, masa potencializar a formação <strong>de</strong> homense mulheres “bem resolvidos” quanto àaventura humana para a qual as práticassociais os convocam.dFaz da prática experiência,isto é, vivência refletida e,para melhor compreendê-la,complementa a narrativa com a<strong>de</strong>scrição das condições sociais epolíticas que possibilitaram suaemergência. Orienta a i<strong>de</strong>ntificaçãodas marcas que imprimiu sobreos seus integrantes. Com isso, asistematização intensifica a relaçãodos participantes com a “práticaexperiência”,e se faz mediadoratambém no plano da ética: afeta o“ser-si”, o “ser-junto” e, ainda, o “serem relação” com o ambiente naturale social do seu tempo, edificandonovos valores e sentimentos comoa solidarieda<strong>de</strong>, a amiza<strong>de</strong>, oreconhecimento e a liberda<strong>de</strong>.f Instiga e prepara os sujeitosda prática para, a partir <strong>de</strong>la e dasaprendizagens possibilitadas pelasistematização, assumir atitu<strong>de</strong><strong>de</strong> experimentação <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os seuscotidianos: criação <strong>de</strong> novas formas<strong>de</strong> organização, gestão e participação<strong>de</strong> empreendimentos produtivos,processos organizativos, educativos e<strong>de</strong> promoção social.


42Série SistematizaçãogiProduz, a partir dotrabalho <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adojuntamente com os sujeitosda prática (narrativas,reflexões, negociaçõese ressignificações),instrumentos <strong>de</strong>comunicação, dandovisibilida<strong>de</strong> para: O quefoi feito/vivido? Quem ofez/viveu? On<strong>de</strong>? Quando?Como? Por quê? Para quê?Dá espaço paraa maturação dossujeitos, na medidaem que amplia oseu universo <strong>de</strong>comunicação, <strong>de</strong>sociabilida<strong>de</strong> e a suareflexibilida<strong>de</strong>.hPossibilita divisar aspectose caminhos a serem erradicados,reconstruídos e/ou reforçadospara orientar ou reorientar aprática: criar novas estratégias <strong>de</strong>relação com a socieda<strong>de</strong> civil ecom o Estado, inclusive no âmbitoda negociação e criação <strong>de</strong>políticas públicas. Potencializa,portanto, a dimensão política daspráticas sociais.Não <strong>de</strong>scartamos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ocorrer a frustração <strong>de</strong> expectativas eequívocos <strong>de</strong> construção em processos <strong>de</strong>sistematização, levando a interrupçõesou a opções por outras formas <strong>de</strong>intervenção sobre as práticas sociais -como as avaliações e outras abordagensinvestigativas - embora não sejamfreqüentes esses tipos <strong>de</strong> ocorrência.Pelo contrário, a sistematização ten<strong>de</strong> a<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar, entre os participantes, umasérie <strong>de</strong> disposições capazes <strong>de</strong> entrelaçarmotivações, vonta<strong>de</strong>s, reflexibilida<strong>de</strong>,relações, necessida<strong>de</strong>s, compromisso eação social.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA43Fundamentos <strong>de</strong> uma propostaA proposta metodológica <strong>de</strong> sistematizaçãocom a qual trabalhamos tem sido pautada pelosseguintes fundamentos:Consi<strong>de</strong>ra o sujeito como resultado <strong>de</strong> umprocesso <strong>de</strong> produção cultural e social.Esse processo implica relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e,com isso, afirma uma lógica não unitária,aci<strong>de</strong>ntada, por vezes surpreendida peloacaso. Po<strong>de</strong> ser caracterizado como campo <strong>de</strong>lutas. Na atualida<strong>de</strong>, os sujeitos que emergem<strong>de</strong>sses campos <strong>de</strong> lutas assumem umaforma-sujeito fragmentada. Em sua busca<strong>de</strong> um auto-governo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>satar amarraspara construir autonomia, está sempre se<strong>de</strong>batendo com os mecanismos que atuam nadireção <strong>de</strong> assujeitá-lo.Vê as relações sociais como complexase múltiplas. Leva em conta que não sãoapenas as relações econômicas que regemas ações humanas e as subjetivida<strong>de</strong>s dosindivíduos, embora elas assumam um gran<strong>de</strong>peso, especialmente em uma socieda<strong>de</strong>globalizada, como a contemporânea. Há,contudo, questões raciais, <strong>de</strong> gênero, étnicas,<strong>de</strong> geração, parentais que atravessam osprocessos sociais e marcam os indivíduose as socieda<strong>de</strong>s. Elas se apresentam ora<strong>de</strong>claradas, ora encobertas. Nem semprese revelam numa primeira observação ounarrativa das vivências dos indivíduos e domovimento <strong>de</strong> suas práticas na socieda<strong>de</strong>.Como parte <strong>de</strong> processos e práticas sociais,os sujeitos produzem conhecimentos e seempenham para que os mesmos sejamreconhecidos e legitimados socialmente.Esses conhecimentos não são, portanto,naturais, nem fixos. Há diferentes formas<strong>de</strong> conhecer, <strong>de</strong> integrar a luta em torno daverda<strong>de</strong>. Verda<strong>de</strong> tida como um conjunto<strong>de</strong> afirmações sobre a prática, à qualassociamos um certo efeito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, comotrata a obra <strong>de</strong> Michel Foucault (1990, p.13-14). As fronteiras entre as formas <strong>de</strong>conhecer não são fixas. Os saberes daexperiência e o conhecimento acadêmicosão formas <strong>de</strong> produzir conhecimentoque se distinguem pela menor oumaior capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sustentar a críticasistemática, a argumentação e a contraargumentação.A sistematização, na suadiversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> propostas metodológicas,apóia-se em ambos, procura mantê-losem diálogo e romper com a hierarquia que<strong>de</strong>squalifica os primeiros.A sistematização, ao recuperar aspráticas que transforma em objeto <strong>de</strong>conhecimento, apóia-se em narrativasacompanhadas <strong>de</strong> análises e interpretações.Consi<strong>de</strong>ra que essas narrativas já seconstroem mediante as interpretações queos sujeitos das práticas formulam sobreelas. Pontua, contudo, aspectos que serãorefletidos mais <strong>de</strong>tidamente, que passarãopor uma sistemática <strong>de</strong> interpretação dainterpretação. Há, portanto, em nossaproposta <strong>de</strong> sistematização, momentosem que privilegiamos a construção <strong>de</strong>narrativas, outros em que a reflexão sobreelas ocorre com maior intensida<strong>de</strong>. Sãodiferentes os movimentos do pensamentoque estão por trás <strong>de</strong> tais procedimentos.O primeiro narra o vivido, faz uso damemória, remexe heranças, atribuisignificados às coisas e às relações. Osegundo lê e interpreta o que o <strong>de</strong>scrito“tem a dizer” e “como o faz”. Procuraestabelecer um afastamento que assegurecondições <strong>de</strong> crítica ao vivido e ao narrado.


44Série SistematizaçãoNossa proposta <strong>de</strong> sistematizaçãolida, portanto, com práticas sociais,discursos e interpretações. Oportunizaque estes tomem forma e se constituamem objeto <strong>de</strong> crítica e argumentação.A sistematização não parte <strong>de</strong>elaborações teóricas, previamentefeitas, às quais serão submetidaspráticas e discursos. Utiliza elaboraçõesteóricas <strong>de</strong> campos disciplinaresdiversos como a economia, asociologia, a antropologia, a educação,a ecologia, a arte, a literatura, abiologia, a psicologia, entre outros,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo das <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>conhecimento pontuadas sobre aspráticas que transforma em objeto<strong>de</strong> reflexão. Ao situar tais <strong>de</strong>mandasno vivido e nas narrativas que osignificam, ten<strong>de</strong> a inter-relacionarcampos disciplinares, a produzirinterdisciplinarida<strong>de</strong>. Recorre a essescampos teóricos <strong>de</strong> tal forma que, aoutilizar-se <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les, em resposta auma <strong>de</strong>manda <strong>de</strong> conhecimento, dáentrada a outras <strong>de</strong>mandas e campos.Cria uma relação <strong>de</strong> provocação eacolhimento com diversos camposdisciplinares e, assim, vai rompendocom hierarquias e fazendo uma entradamais integrada e solidária nos jogos <strong>de</strong>verda<strong>de</strong>.O espaço educativo propiciadopela sistematização é um espaço<strong>de</strong> expressão e interação <strong>de</strong> umapluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes (que admiteencontros e <strong>de</strong>sencontros, coerçõese reconhecimentos solidários). Asistematização concebe a educaçãocomo diálogo ampliado, polifonia.Convoca o sujeito a integrar “jogos<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>”, ou seja, a revelar ossignificados que atribui à práticae a confrontar-se com outrossignificados também a ela atribuídos,com produções teóricas produzidashistoricamente e com os diferentesprocedimentos utilizados nessasproduções. A sistematização é,ainda, um espaço <strong>de</strong> subjetivação:possibilida<strong>de</strong> do sujeito ressignificarum “ser-si” (o seu eu, a sua relaçãoconsigo), um “ser-junto” (as relaçõescom os outros), um “ser-relação”(sua relação com a natureza ecom a socieda<strong>de</strong> do seu tempo).Propicia aprendizagem e formação.A dinâmica educativa, que aporta,acontece mediada por “educadores/investigadores” – internos e/ouexternos à prática. Está, contudo, <strong>de</strong> talforma centrada nos sujeitos da prática,que os faz “educandos/investigadores”.Realiza a virada pedagógica, do ensinopara a aprendizagem, como já sugeriaPaulo Freire (1983).A sistematização da qual falamosnão é isenta <strong>de</strong> caráter político, nãoé neutra. Propõe-se a apreen<strong>de</strong>ras relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, que afirmamverda<strong>de</strong>s “históricas”, “culturalmentesituadas”, “predispostas à contestaçãoe à ressignificação”, nos âmbitos daspráticas, das socieda<strong>de</strong>s e dos sujeitos.Atua no sentido da integração entreteoria e prática. Desconfia, portanto, <strong>de</strong>abordagens que não estão atentas paraas inversões e interseções <strong>de</strong> forçasconjunturalmente produzidas em razãodos jogos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que constituem osdiversos espaços da vida social.Ao incentivar que se manifestem ossignificados atribuídos pelos sujeitosas suas práticas, a sistematização vaipossibilitando que as singularida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>stas sejam apreendidas.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA45Uma propostaem 8 momentosAo realizar a sistematização <strong>de</strong> uma práticasocial, trabalhamos a partir <strong>de</strong> três frentes:os processos e vivências: atos cotidianos,acontecimentos, ações estratégicas,instituições, sujeitos (suas relações econdutas), procedimentos e técnicas;os significados atribuídos pelos sujeitos aosprocessos e vivências, que configuram aprática social em questão: atos <strong>de</strong> fala queexpressam os saberes que eles aportam emanifestam ao atribuir significados a essesprocessos e vivências;as construções teóricas que buscamos,criamos e recriamos na medida em que<strong>de</strong>las precisamos para subsidiar as análisese interpretações pretendidas: discursos dasciências naturais e, principalmente, dasciências humanas.Ao recuperar a prática medianteperspectivas diversas, estaremosproblematizando-a, interrogando-a sobre suaforma <strong>de</strong> se apresentar em uma <strong>de</strong>terminadaépoca e em um lugar mediante um focoque será uma espécie <strong>de</strong> trilha pela qualandará o nosso pensamento questionador.Se, anteriormente, a nós, integrantes <strong>de</strong>ssaprática, cabia vivê-la, planejá-la, administrálae até mesmo avaliá-la, com a sistematizaçãovamos refletir sobre a forma historicamenteprópria com que essa prática, em um tempoe em um lugar, está dando “um certo tipo <strong>de</strong>resposta a um certo tipo <strong>de</strong> problema” (Revel,p.2005, p. 70).Nossa proposta prevê 8 momentos nosprocessos <strong>de</strong> sistematização:1 Aproximação dos sujeitos da sistematizaçãoComo são diversos os sujeitos, os lugares queeles ocupam na prática e as tarefas que assumem nasistematização, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que exponham ejustifiquem as motivações, interesses e objetivos quetêm com a sistematização. Por que sistematizar? Para quesistematizar?É fundamental, também, que comecem a i<strong>de</strong>ntificaro foco para o qual vão dirigir o pensamento, queesclareçam quais os problemas da prática estãomobilizando os seus saberes a formular perguntas e aesperar respostas. O que sistematizar?Começamos, com isso, a explorar o jeito <strong>de</strong> cadaparticipante da sistematização ver a prática e expora multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significados que a ela conferem.Iniciamos trocas, negociações e novas construções noplano dos significados, incentivando a polifonia, ou seja,que o coletivo da sistematização venha a falar a práticapor meio <strong>de</strong> uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vozes em interação.Damos início a um tipo <strong>de</strong> investigação que <strong>de</strong>verá se<strong>de</strong>senvolver concomitantemente a um processo educativo,que se proporá a <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar novas interpretações eaprendizagens sobre a prática.A proposta <strong>de</strong> sistematização com a qual trabalhamos,como as <strong>de</strong>mais que estão vinculadas à educaçãopopular, não simpatiza com a idéia <strong>de</strong> um sujeitoexterno realizar a sistematização (Jara, 1996, p. 86). Temcomo característica criar um “ambiente” no qual são osintegrantes da prática, dispostos em grupos, que realizama problematização e a <strong>de</strong>limitação do objeto, o traçadoe o <strong>de</strong>senvolvimento do processo <strong>de</strong> sistematização.Consi<strong>de</strong>ramos, contudo, que nem todos participarão damesma forma nesse processo, como também nem todos<strong>de</strong>sempenham as mesmas funções na prática.Reconhecemos que há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitosexternos mediarem tanto os processos investigativoscomo as ações pedagógicas que preparam e alimentama sistematização. São diversas as <strong>de</strong>mandas <strong>de</strong>conhecimentos e as aprendizagens que uma prática social<strong>de</strong>manda e suporta no momento em que é transformadaem objeto para o pensamento.


46Série Sistematização2 Elaboração do projetoRealizados os primeiros ensaios eaproximações, elaboramos o projeto dasistematização, isto é, <strong>de</strong>finimos:a) um objeto: qual a prática a sertrabalhada e qual o recorte empírico (notempo e no espaço) que faremos para resgatála,acompanhá-la e significá-la? O quesistematizar?b) uma justificativa: quais as razõesque temos para sistematizá-la? Por quesistematizar?c) um conjunto <strong>de</strong> objetivos: o quepreten<strong>de</strong>mos com o processo e os produtos dasistematização? Para que sistematizar?d) um eixo temático e perguntasorientadoras: qual a pergunta ou hipótese(afirmação antecipada) que guiará osresgates e os or<strong>de</strong>namentos que vão comporas narrativas e garantir as reflexões? Vamos,também, <strong>de</strong>sdobrar esta pergunta ou hipóteseem outras para “abrir”, ainda que limitando, onosso foco <strong>de</strong> pensamento nos aspectos sobreos quais preten<strong>de</strong>mos produzir conhecimentos.Sob qual foco realizar a sistematização?e) uma metodologia: qual o jeito previstopara abordar o objeto da sistematização <strong>de</strong>forma a apreen<strong>de</strong>r os processos, as vivênciase os significados a ele associados; qual o<strong>de</strong>senho dos procedimentos a serem seguidose das técnicas a serem utilizadas para abordálo?Como dispor e acessar registros sobre aprática? Como animar as falas para construiras narrativas dos processos vividos? Comoconstruir instrumentos para isso?f) para quem vamos dirigir os produtos dasistematização, com quem vamos trocar essesprodutos, como vamos “utilizá-los”?3 Viabilida<strong>de</strong> da sistematizaçãoRealizado o projeto, vamos discutir suaviabilida<strong>de</strong>.a) há registros sobre a constituição e o<strong>de</strong>senrolar da prática?b) há recursos materiais, humanose financeiros disponíveis ou a seremdisponibilizados para que a sistematizaçãoocorra?c) há vonta<strong>de</strong> política entre osintegrantes da prática para transformá-laem objeto <strong>de</strong> reflexão?d) o eixo da sistematização e osobjetivos previstos po<strong>de</strong>m ser atingidoscom os recursos disponíveis?e) cronograma <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s – prevêtempos, ativida<strong>de</strong>s, recursos, <strong>de</strong>finição<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s não somente para arealização da sistematização, mas tambémpara o retorno do processo <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado,à prática, e para a comunicação <strong>de</strong>ste,externamente.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA474 Registros e informaçõesVamos i<strong>de</strong>ntificar os registros existentessobre a prática. Estes, além <strong>de</strong> possibilitaro resgate do que “aconteceu”, e das formascomo os fatos, atos, relações se objetivaramem um tempo e lugar, contribuempara que seja maior a pluralida<strong>de</strong> <strong>de</strong>significados com os quais a sistematizaçãovai trabalhar. Trazem as visões <strong>de</strong> outrossujeitos que se relacionaram com a práticaem outros momentos e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outroslugares.As fontes existentes po<strong>de</strong>m serrelatórios, produtos <strong>de</strong> avaliações eplanejamentos, atas, diários <strong>de</strong> campo,memórias <strong>de</strong> oficinas, <strong>de</strong> seminários, <strong>de</strong>dias <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> outros percursos <strong>de</strong>ação relacionados à prática, materiais <strong>de</strong>divulgação, relatórios <strong>de</strong> pesquisas, fotos,ví<strong>de</strong>os, gravações.Po<strong>de</strong>mos, também, trabalhar sobre“as memórias” dos integrantes da prática,mobilizando novas fontes <strong>de</strong> informação,como: oficinas, reuniões, vivências,entrevistas; construir linhas <strong>de</strong> tempo,mapas, diagramas, jogos dramáticos, dias<strong>de</strong> campo e outros instrumentos e técnicasusados em diagnósticos, pesquisas,avaliações e planejamentos participativos;construir e fazer uso <strong>de</strong> roteiros <strong>de</strong>perguntas, protocolos <strong>de</strong> discussão,listagens <strong>de</strong> itens.Há uma infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> instrumentos etécnicas que intensificam a participaçãodos integrantes da prática na construçãodas informações <strong>de</strong>mandadas pelasistematização e que viabilizam areconstrução da prática. É importante<strong>de</strong>finir participativamente quais utilizar.5 Construção das narrativasA narrativa – reconstrução da prática medianteo eixo temático <strong>de</strong>finido pela sistematização – vaipassar por construções e reconstruções. Uma primeiraversão se fará com base especialmente nos registrose documentos já existentes e i<strong>de</strong>ntificados pelasistematização. A coor<strong>de</strong>nação da sistematizaçãopo<strong>de</strong>rá responsabilizar-se por esta elaboração,que po<strong>de</strong>rá ser construída <strong>de</strong> forma esquemática,explorando a cronologia da prática e possibilitando oor<strong>de</strong>namento das buscas seguintes. Digamos que seráuma narrativa em “branco e preto”.Este primeiro resgate, se pedagogicamentetrabalhado, tornar-se-á instrumento <strong>de</strong> motivaçãopara que outros integrantes da prática ocupem-seda sistematização como portadores <strong>de</strong> saberes esignificados que estarão em <strong>de</strong>bate e contribuirãopara que a narrativa da prática ocorra mediante a járeferida polifonia.Uma segunda versão da narrativa já estarájuntando as diferentes vozes e os significados diversosque estas aportam à prática. O que os integrantes daprática sabem sobre ela? Como a vêem e a sentem?Suas vozes pintarão com diferentes cores o que foiresgatado da prática na primeira narrativa. O processoserá mediado por uma equipe <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nação(educadores, pesquisadores e animadores internose externos à prática) que ajudará o grupo a nãoper<strong>de</strong>r o foco da sistematização e a alcançar formas<strong>de</strong>mocráticas <strong>de</strong> viver a experiência <strong>de</strong> sistematizare <strong>de</strong> fazer da prática experiência, ou seja, objetorefletido.Essa segunda narrativa integrará interpretaçõesda prática que estarão ocorrendo coletivamenteno <strong>de</strong>senrolar da sistematização, mas é o momentoseguinte – reflexão e teorização – que privilegia essemovimento do pensamento do coletivo organizadopara a sistematização, como trataremos a seguir.


48Série Sistematização6 Reflexão e teorizaçãoPrimeiramente faremos uma “exegese”da segunda narrativa construída, istoé, uma “revisão crítica” da mesma. Hámaneiras diversas <strong>de</strong> organizar estemomento que procura a<strong>de</strong>nsar a dinâmicareflexiva sobre a prática, especialmentecom o auxílio <strong>de</strong> teorias já legitimadassocialmente que nos ajudarão a construire a respon<strong>de</strong>r questões, a partir do quefoi vivido e do que foi narrado, orientandonosso pensamento.A narrativa foi guiada pelo eixotemático e respon<strong>de</strong> às perguntasorientadoras da sistematização? Hálacunas? Há repetições? Quais? Vamosacrescentar o que falta e retirar o quesobra na narrativa.A narrativa permite i<strong>de</strong>ntificarmosalguns momentos significativos daprática sob sistematização? Em casopositivo, quais são eles? O que os<strong>de</strong>fine? Quais são os “marcadores”<strong>de</strong>sses momentos significativos? Umaruptura, crises ou tensões, conquistas,mudanças <strong>de</strong> estratégia, mudanças nasrelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, a incorporação <strong>de</strong>novos significados dando conteúdo àprática?A narrativa oferece elementospara localizarmos algum “núcleo<strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>” na prática, nasconstruções e relações que estarealiza? Algo que a faz diferente das<strong>de</strong>mais e que motiva os participantesda sistematização a explorarem osconhecimentos e aprendizagens queali estão sendo gerados? Algo querevele como os sujeitos da práticavivem com intensida<strong>de</strong> uma situaçãoou que aponte as interpretações queos levam ao <strong>de</strong>bate, os conceitoscom os quais operam, os significadosnovos atribuídos a esses conceitos e asrepercussões <strong>de</strong>sses movimentos sobrea prática?Um “núcleo <strong>de</strong> singularida<strong>de</strong>” po<strong>de</strong>correspon<strong>de</strong>r à forma como se apresentae/ou se organiza um conjunto <strong>de</strong>fenômenos como: relações econômicas(produtor-mercado, produtor-órgãosestatais), relações sociais e culturais(<strong>de</strong> classe, <strong>de</strong> gênero, entre gerações),relações entre sujeitos e instituições(parcerias, cooperação, concorrências,acordos), lutas sociais (pela terra,por organização, pela produção, pelacomercialização), processos <strong>de</strong> educação(aprendizagem) e formação (construção<strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>s), comunicação edifusão (enfoques e formas), entre outros.Geralmente, aparece sobre o eixo temáticoda sistematização, mas não são raros oscasos em que <strong>de</strong>sponta e produz <strong>de</strong>sviosno trabalho <strong>de</strong> construção e crítica dasnarrativas gerando, inclusive, sub-eixos nasistematização ou temas para a construção<strong>de</strong> objetos para a investigação.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA49A narrativa permite localizarmosproblemas e tensões da prática? Quaissão os elementos que se apresentam emtensão? Houve possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superaras tensões e problemas i<strong>de</strong>ntificados no<strong>de</strong>senrolar da prática ou eles seguem<strong>de</strong>mandando esforços para que possamser administrados? Como isso estáocorrendo?Quais foram as potencialida<strong>de</strong>si<strong>de</strong>ntificadas na prática em estudo ecomo atuaram no amadurecimentoou consolidação da prática? Há comoatuar no sentido <strong>de</strong> direcioná-las paraa superação das tensões e problemasi<strong>de</strong>ntificados? Como?Quais foram as aprendizagens econhecimentos mais relevantesconstruídos nas vivências propiciadaspela prática e potencializadas pelasistematização?A produção teórica “acontecida”durante a sistematização vem sendoincorporada à prática? Como? O grupoque a integra está operando com novosconceitos? Quais? Já há indícios <strong>de</strong> asistematização estar criando atitu<strong>de</strong>smais reflexivas entre os sujeitos daprática? Como isso se verifica?Procuramos, então, dar resposta a estasperguntas, situá-las, <strong>de</strong>talhá-las e ampliá-lassem, contudo, per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o eixo temáticoda sistematização. Para dar seguimento à“reflexão e teorização” lançamos mão daoportuna pergunta formulada por Oscar Jaraao tratar o tema da sistematização (1996, p.105): “Por que aconteceu o que aconteceu?”;ou, mais explicitamente: Quais as condiçõesinternas e externas à prática que concorrerampara que acontecesse o que aconteceu? Comoatuaram?Neste momento, a equipe <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>naçãoda sistematização orienta a i<strong>de</strong>ntificação<strong>de</strong> formulações teóricas que possam serdirigidas aos aspectos da prática que estão<strong>de</strong>mandando compreensão, às perguntas queestão esperando por esclarecimentos.Uma terceira versão da narrativa dasistematização estará então se construindo coma incorporação <strong>de</strong>ssas reflexões e teorizações.A narrativa tornar-se-á mais viva e complexaao sobrepor, aos relatos dos processos evivências e aos significados conferidosà prática, as construções teóricas entãoencetadas.No plano dos valores, po<strong>de</strong>mosi<strong>de</strong>ntificar mudanças nas relações dossujeitos da prática consigo-mesmos(no “ser-si”), com os outros (no “serjunto”),com a prática e com o meioambiente (no “ser-relação”)? Quais asmudanças?


50Série Sistematização7 ReconstruçõesEste é um momento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância,pois é a hora <strong>de</strong> lançar mão daquilo que foiproduzido, aprendido e vivenciado, <strong>de</strong> formareflexiva, e incorporá-lo objetivamente àprática. É o momento <strong>de</strong> sugerir mudançasquanto aos saberes em circulação (conteúdostemáticos, formas <strong>de</strong> tratá-los, procedimentose técnicas para implementá-los), quanto àsrelações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r (objetivos, estratégias,relações) e quanto aos sujeitos das práticas(relação consigo, convivência, participaçãosocial).A sistematização tem esse caráterpragmático <strong>de</strong> subsidiar o <strong>de</strong>senrolar daspráticas e <strong>de</strong> se constituir formadora paraaqueles que <strong>de</strong>la participam. Há, contudo,como <strong>de</strong>senvolver essas tarefas <strong>de</strong> formareflexiva. Não tratamos, na sistematização,<strong>de</strong> abordar as práticas a partir da relação“problema-solução”, mas sim <strong>de</strong> trabalharsobre as mesmas mediante a relação“problema-reflexão-aprendizagem”,“mudanças na prática” e “formação <strong>de</strong>sujeitos”.Por sua vez, a sistematização atuasobre dinâmicas <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> muitogran<strong>de</strong>. Por esta razão, não é simples chegar<strong>de</strong>mocraticamente a proposições <strong>de</strong> mudançase reconstruções e <strong>de</strong> fato objetivá-las. Éimportante que a sistematização crie espaçospara que essa diversida<strong>de</strong> se manifeste,para que os confrontos <strong>de</strong>la <strong>de</strong>correntesse explicitem, para que negociações seestabeleçam e seja possível consensarestratégias.8 Produtos para a comunicaçãoAlém das construções e reconstruçõespropostas e possibilitadas, a sistematizaçãogera produtos <strong>de</strong> comunicação, quepo<strong>de</strong>rão <strong>de</strong>sempenhar funções relevantesjuntamente com os integrantes das práticas, eexternamente, uma vez que retomam e narramprocessos, pontuam problemas e tensões,expõem construções, aprendizagens e revelamverda<strong>de</strong>s que passam a ser afirmadas a partirda oportunida<strong>de</strong> assumida por um coletivo<strong>de</strong> voltar-se sobre vivências compartilhadas,culturalmente situadas, problematizá-las eanalisá-las.Há uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> produtosque vêm sendo construídos para comunicaros processos e resultados da sistematização<strong>de</strong> práticas sociais. Oscar Jara (1996, p. 110)lembra que <strong>de</strong>vemos “levar em conta aquem é dirigido esse material e para que eleé produzido”. Assim saberemos extrair doproduzido – além <strong>de</strong> um relatório <strong>de</strong>talhandoo processo da sistematização – produtosdiversos e a<strong>de</strong>quados a funções e públicosdiversos: livros, ca<strong>de</strong>rnos, artigos paraperiódicos, cartazes, fotografias, exposiçõesorais, músicas, peças <strong>de</strong> teatro, filmes, novelasetc.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA51Vivendo umaexperiênciaFreqüentemente acompanhamos avaliaçõessobre os processos <strong>de</strong> sistematização dos quaisparticipamos. Sem surpresa, <strong>de</strong>paramo-noscom <strong>de</strong>poimentos que aliam sofrimento eprazer a essa aventura coletiva que coloca sobcrítica vivências tão caras a muitos <strong>de</strong> nós.“São processos trabalhosos, nada fáceis <strong>de</strong>realizar”, ouvimos. Fazer sistematização exigetempo, recuperação <strong>de</strong> informações, <strong>de</strong>mandareconstruções, provoca insatisfações, testa nossascapacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suportar constatações como“não é sempre que conseguimos realizar o queplanejamos”. Ouvimos, por outro lado, que éinstigante a aventura, pois a sistematização levanosa constatar “que produzimos”, a i<strong>de</strong>ntificar“o que produzimos” e a nos darmos conta <strong>de</strong>“como produzimos”. São oportunida<strong>de</strong>s muitoricas, pois experimentamos novas relações comas pessoas, com o conhecimento, com as própriaspráticas e com nosso “eu”. Os processos vividossão <strong>de</strong>nsos; chegam a ser “mais significativos”do que os produtos gerados. Muitas vezes “nos<strong>de</strong>sestruturam”, também ouvimos. Geralmente,constituem-se em “experiências que a gente nãoesquece”...Ao relembrar esses <strong>de</strong>poimentos, sem dúvida,nos fixamos no último <strong>de</strong>les: “experiências que agente não esquece”, e passamos a <strong>de</strong>sdobrá-lo,em especial o termo “experiência”, em perguntase conjecturas que nos auxiliam a explorá-lo:são oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> “viver uma experiência”,oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vivência e <strong>de</strong> experiência. Oque significa viver uma experiência? O que é umaexperiência? Participar <strong>de</strong> uma prática social éparticipar <strong>de</strong> uma experiência? A sistematizaçãopossibilita-nos viver uma experiência?A noção <strong>de</strong> experiência, através dostempos, tem sido discutida por diversospensadores e mediante perspectivas diversas.Na obra do pensador francês Michel Foucault,po<strong>de</strong>mos encontrá-la em distintos momentos.Constatamos, também, os <strong>de</strong>slocamentos <strong>de</strong>significados pelos quais o termo passa aolongo da produção do referido pensador.Contudo, a conotação <strong>de</strong> “intensida<strong>de</strong>”reinci<strong>de</strong> nos diferentes momentos em que serefere ao termo. Experiência é vivência intensa,é algo que impacta o indivíduo, que o leva asituações-limite: “a experiência é alguma coisada qual saímos transformados” (Revel, 2005,p. 47).Por sua vez, Marie-Cristhine Josso,interessada em compreen<strong>de</strong>r e teorizar sobre“experiências <strong>de</strong> vida e formação do sujeito”,chegou a constatações, como a <strong>de</strong> queexperiências são vivências particulares queassumem um status diferenciado “a partirdo momento que fazemos um certo trabalhoreflexivo sobre o que se passou e sobre o quefoi observado, percebido e sentido” (2004,p. 48). A experiência combina vivência ereflexão. Possibilita que singulares vivênciasse constituam em objeto para o pensamentodos sujeitos que as experimentam, mas tocatambém seus sentimentos, suas sensibilida<strong>de</strong>s,suas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação, <strong>de</strong> jogar parafrente o vivido como i<strong>de</strong>ação. Contamina acomplexida<strong>de</strong> do sujeito e, fazendo isso, dá aele condições <strong>de</strong> intensificar suas relações como vivido.Ao serem problematizadas e apresentadaspela sistematização como objeto para opensamento, as práticas sociais e as vivênciasque elas oportunizam aos seus sujeitosvão se configurando como experiências. Asistematização, ao interrogá-las mediante um


52Série Sistematizaçãoeixo temático, estará possibilitando que seexponham, em suas formas historicamentesingulares <strong>de</strong> se objetivarem, e permitindoque mostrem como estão dando respostas aosproblemas, tensões e <strong>de</strong>safios com os quaisestão convivendo.Trabalhamos, na sistematização, aconstrução <strong>de</strong> narrativas. Ao fazê-lo,orientamos os sujeitos das práticas apriorizarem uma construção coletiva quetransforma “o que se passou”, “o que seviveu” e “o como se viveu” em um discursoarticulado a partir <strong>de</strong> um eixo temático e <strong>de</strong>análises e interpretações. Como mencionamosanteriormente, trabalhamos sistematizaçãoem três frentes: com documentos que nosapresentam processos e vivências; com atos<strong>de</strong> fala que revelam significados atribuídospelos sujeitos das práticas a esses processos evivências e, ainda, com construções teóricasque permitem realizar as referidas análises einterpretações, que não resultarão, portanto,em um simples narrar, mas em narrativasrefletidas.Ao trabalhar sobre tais narrativas,experimentamos o trânsito <strong>de</strong> nossas forçaspotencializadoras <strong>de</strong> processos e vivências emdireção a um discurso articulado que expõesignificados, promove <strong>de</strong>bates, favoreceintegração, passa por análises e interpretaçõese reconstruções. Há, nesse percurso, ummovimento <strong>de</strong> articulação <strong>de</strong> saberes e po<strong>de</strong>rese abertura <strong>de</strong> espaço para que os indivíduosse autorizem a assumir a palavra e se revelemcomo sujeitos <strong>de</strong> linguagem. No momentoem que, do interior <strong>de</strong> uma prática social ecultural, esses sujeitos se autorizam a articulardiscursos, afirmando algumas verda<strong>de</strong>s einfirmando outras, eles estão também seenunciando. Estão se apresentando comosujeitos <strong>de</strong> um espaço-tempo e também seassumindo em sua historicida<strong>de</strong>, revelando-sesujeitos <strong>de</strong> experiência, ativamente envolvidos,por meio <strong>de</strong> seus pensamentos, atitu<strong>de</strong>s,comportamentos, sentimentos, saber-fazer,com suas vivências, e, por sua vez, forjandocondições para apresentar propostas, traçarestratégias, implementar projetos no âmbito <strong>de</strong>suas práticas e para além <strong>de</strong>las.Para que tudo isso seja possível, atravessamsituações-limite que os <strong>de</strong>mandam, comosujeitos inteiros, a suportar o vazio <strong>de</strong> versua obra posta à crítica e a ter que enfrentarexigências <strong>de</strong> criação para recompô-la emseus significados, estratégias, ações e relações.Estarão “juntando cacos e construindo vitrais”(Prado, 1991). Po<strong>de</strong>mos dizer que isso éviver “experiência”, é fazer, tanto da práticasocial como do processo <strong>de</strong> sistematização,“experiência”. É, também, caminhar nadireção <strong>de</strong> uma sustentabilida<strong>de</strong> ampliadadaquilo e daqueles que estão implicadoscom a sistematização; da prática socialtransformada em objeto <strong>de</strong> reflexão e do “sersi”(sustentabilida<strong>de</strong> pessoal), do “ser-junto”(sustentabilida<strong>de</strong> grupal) e do “ser-relação”(sustentabilida<strong>de</strong> social e ambiental) que elaacolhe e provoca.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA53Sistematização epolíticas públicasVimos que a sistematização <strong>de</strong>senvolve acapacida<strong>de</strong> propositiva do indivíduo, no momento emque o situa em um espaço-tempo e assegura um lugara partir do qual ele po<strong>de</strong>rá revelar as verda<strong>de</strong>s quesuas práticas afirmam e as suas verda<strong>de</strong>s como sujeitohistórico, <strong>de</strong> discurso. Forma, portanto, esse indivíduopara integrar <strong>de</strong>bates como o das políticas públicas,assumindo, quanto a estas, perspectiva críticopropositiva,<strong>de</strong>safio da contemporaneida<strong>de</strong>, quandoos condicionamentos e <strong>de</strong>terminações dos processossociais dominantes - <strong>de</strong>nsos e sutis - reduzem aspossibilida<strong>de</strong>s humanas <strong>de</strong> criar.Como vimos, a sistematização <strong>de</strong>senvolvepotencial e prepara o indivíduo para divisar fissurasno emaranhado social, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> suas práticas, e traçarestratégias que coloquem a plasticida<strong>de</strong> humana aserviço <strong>de</strong>ssa sustentabilida<strong>de</strong> ampliada a que vimosnos referindo.O fato <strong>de</strong> lidar com práticas social eculturalmente situadas (locais, regionais),transformando-as em objeto <strong>de</strong> reflexãoe produção <strong>de</strong> conhecimentos, localizao indivíduo nos espaços que percorre(extrapolando, inclusive, os recortes locaise regionais <strong>de</strong> suas práticas); favorece acompreensão das relações <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r que o<strong>de</strong>finem e facilita o seu auto-conhecimentocomo integrante <strong>de</strong>sses espaços. Contextualizao seu potencial propositivo, na medida em queamplia a sua sensação <strong>de</strong> “pertencer” a umcoletivo real, a uma prática social e cultural,que é parte <strong>de</strong> processos <strong>de</strong> maior amplitu<strong>de</strong>.Realça suas capacida<strong>de</strong>s, como sujeito <strong>de</strong>conhecimento, moral e político, <strong>de</strong> produzirconhecimentos, valores e ações estratégicas.No caso das políticas públicas e,na atualida<strong>de</strong>, capacita-se este mesmoindivíduo para uma participação socialativa, apontando para a viabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criarpossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ação e reforçar tendências,como a <strong>de</strong>scentralização do Estado, dotandoas<strong>de</strong> caráter participativo. Possibilitaaprendizagens e força para tratar questõescomo a <strong>de</strong>scentralização das responsabilida<strong>de</strong>ssociais do Estado, institucionalizada por meio<strong>de</strong> políticas públicas, como conquista dasmunicipalida<strong>de</strong>s, do cidadão e da cidadã,para entrar nesse <strong>de</strong>bate, que é público,concebendo a <strong>de</strong>scentralização não apenascomo um mecanismo <strong>de</strong> substituição <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>veres e tarefas <strong>de</strong>uma instância estatal mais ampla (União eEstados) para outra <strong>de</strong> âmbito mais restrito(municípios e voluntariado), mas como umanova configuração <strong>de</strong> “formatos institucionais”que tenha capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> “as arenaspúblicas para a explicitação dos conflitos e<strong>de</strong>mandas sociais” (Seibel, 1999, p. 7).


54Série SistematizaçãoSistematização, umaarte <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong><strong>cabeças</strong> e autorizarcorposA reflexibilida<strong>de</strong> que a sistematização exige dossujeitos, ao promover a análise e reconstrução dossignificados, relações e ações que dão i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> as suaspráticas, estará, sem dúvida, ampliando a capacida<strong>de</strong>crítica dos mesmos e as suas percepções sobre o que vemse passando em outras esferas do social. Po<strong>de</strong>rá tornarcomplexas necessida<strong>de</strong>s, sentimentos, vonta<strong>de</strong>s, valores esignificados, esclarecer os nexos entre os movimentos <strong>de</strong>práticas singulares e as dinâmicas da socieda<strong>de</strong>, e, ainda,potencializar a criativida<strong>de</strong> e a sociabilida<strong>de</strong> individuais etambém dos coletivos que as práticas representam.Viver, conviver, viver bem... são sentimentos,expectativas e <strong>de</strong>sejos presentes nas vidas humanas:perpassam o “ser-si”, o “ser-junto” e o “ser-relação” nasdiversas escalas do social. São sentimentos que po<strong>de</strong>mestar objetivados em nossas práticas, mas, na concretu<strong>de</strong><strong>de</strong>las, nem sempre cabem tais expectativas e <strong>de</strong>sejos nasproporções e gran<strong>de</strong>zas que imaginamos. Portanto, o quese nos apresenta como “movimento em vida e vida emmovimento”, quando problematizamos nossas práticase as abrimos à reflexão, é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> “divisarpossibilida<strong>de</strong>s e conflitar com impossibilida<strong>de</strong>s”; abrirportas, traçar rumos para nossas práticas e para a vidasocial. E resistir a nos assujeitarmos a uma forma-sujeitoreduzida a mercadoria.Se a sistematização leva a isso, po<strong>de</strong>mos concluirque há razões para consi<strong>de</strong>rá-la uma arte <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong><strong>cabeças</strong> e <strong>de</strong> autorizar corpos a expressar necessida<strong>de</strong>s,expectativas e vonta<strong>de</strong>s – movimento <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação entrediscursos e ações. Movimento que solidifica os nexos entrereflexão e ação, teoria e prática; que cria i<strong>de</strong>ntificações edá sentido às vidas humanas, mas que, sem dúvida, exigemuito trabalho.


<strong>Arte</strong> <strong>de</strong> <strong>ampliar</strong> <strong>cabeças</strong>: uma leitura transversal das sistematizações do PDA55ReferênciasDUFOUR, Dany-Robert. A arte <strong>de</strong> reduzir as <strong>cabeças</strong>: sobre anova servidão na socieda<strong>de</strong> ultraliberal. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Companhia <strong>de</strong> Freud, 2005.FOUCAULT, Michel. Política e ética: uma entrevista. In: __ Ética,sexualida<strong>de</strong>, política. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Forense Universitaria,2004. p. 218-224. (Ditos e Escritos, 5)FOUCAULT, Michel. Verda<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r. In: __. Microfísica do po<strong>de</strong>r.9. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Graal, 1990. p. 1-14.FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 14. ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paze Terra, 1983.JARA, Oscar. Para sistematizar experiências. João Pessoa: Ed.Universitária/UFPB, 1996.JOSSO, Marie-Christine. Experiências <strong>de</strong> vida e formação. SãoPaulo: Cortez, 2004.PRADO, Adélia. Cacos para um vitral. São Paulo: Siciliano, 1991.REVEL, Judith. Foucault, conceitos essenciais. São Paulo: Claraluz,2005.SAWAIA, Ba<strong>de</strong>r. (Org.) As artimanhas da exclusão: análisepsicossocial e ética da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> social. Petrópolis:Vozes, 1999.SEIBEL, Erni J. Prefacio. Revista Ciências Humanas, Florianópolis,Ed. da UFSC, especial, 1999. p. 7-9.SILVA, Tomaz Ta<strong>de</strong>u da. O currículo como fetiche: a poética e apolítica do texto curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.


56Série Sistematização


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