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Obra Completa - Universidade de Coimbra

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MEMORIAHISTÓRICA E DESCRIPTIVA,Á CÊRCA DAB1BLI0THECA DA UNIVERSIDADEm(EDIEHM.


MEMORIAHISTÓRICA E DESCRIPTIYA,Á CÊRCA DAH M D T i m M WWWMMMDE COIMBRA,E MAIS ESTABELECIMENTOS ANNEXOS;cowUuiiO \i(mos> estVa\ecmtw\os o^icÁací.,a w^Wxõfcs VxVAÃo^TO^Vvwav.PELODOUTORJlormio íNago 0arrfto-J : £to;. COMMENDADOR DA ORDEM DE CHRISIO;LEME SUBSTITUTO ORDINÁRIO DA FACULDADE DE MATBEMATICANA UNIVERSIDADE DE COIMBRA;MEMBRO DA COMHISSÃO ESPECIAL,ENCARREGADA DO MELHORAMENTO E REFORMADA BIBLIOTBECASA MESMA UNIVERSIDADE JETC., ETC., ETC.COIMBRAIMPRENSADA UNIVERSIDADE.1857.


ADVERTENCI».O producto liquido <strong>de</strong> todos os exemplares d'esteopusculo foi offerecido pelo auctor á Socieda<strong>de</strong> Philanthropico-Académica.Pelo que vae cada um dos exemplares,rubricado 'nesta pagina pelo Presi<strong>de</strong>nte da mesmaSocieda<strong>de</strong>.


B1BU0THECA DA DIVERSIDADEDE COIMBRA.•uanto pô<strong>de</strong> d'Athenas <strong>de</strong>sejar-se,'udo o soberbo Apollo aqui reserva.CAMÕES, tus. C. M, E. 97.É geralmente reconhecida, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> asmais remotas eras, a utilida<strong>de</strong> das bibliotbecas,que d'ordinario, juncto dosmais celebres estabelecimentos scientificosou litterarios, constituem, por assimdizer, o principal foco <strong>de</strong> luzes, ea condição não menos importante, senão a mais essencial ao esplendor <strong>de</strong>sua existencia.Os livros são auxiliares indispensáveisao estudo; promovem e facilitam oaperfeiçoamento e progressos das scien-1


cias, das bellas-letras, e das artes; e contribuemeííicazmente já para o seu brilhoe engran<strong>de</strong>cimento, já para o proveiloe gloria d'aquelles, que por ventura,cultivando-as ou illustrando-as, têm <strong>de</strong>consultar esses fructos da intelligencia.Mas <strong>de</strong> pouco serviria, como muitobem observou o sr. José Feliciano <strong>de</strong>Castilho', o mais vasto e rico <strong>de</strong>positobiblico, se os ledores não po<strong>de</strong>ssemencontrar 'nelle, opportuna e promplamenle,os livros <strong>de</strong> que necessitassem.Uma bibliotheca importante, semcatalogos alphabeticos e methodicos, seriasimplesmente um armazém, offerecendoenormes difficulda<strong>de</strong>s para o aproveitamentoe uso das suas riquezas. Umcatalogo mal dirigido, ou mal classificado,traz comsigo pesquisas multiplicadas,e muitas vezes inúteis; indicaçõesinexactas; perda <strong>de</strong> tempo; erros nosnovos catalogos fundados sobre o antigo;e emfim, por todas estas razões,* Relatorio acerca da bibliotheca nacional <strong>de</strong>Lisboa, cte., — 18ÍÍ.


uma utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> taes bibliotheeas muitoinferior á que po<strong>de</strong>riam produzir.O dispôr além d'isso os catalogos <strong>de</strong>modo, que possam em breve praso serpublicados, é serviço <strong>de</strong> bastante interesse.Esta publicida<strong>de</strong>, uma vez dada,difficiiltará certos abusos, possiveis, postoque nunca practicados; mas trará comsigooutro proveito <strong>de</strong> transcen<strong>de</strong>nteimportancia para a instrucção em geral :o catalogo manuscripto não sáe do estabelecimento,on<strong>de</strong> só po<strong>de</strong> ser consultadoalgumas horas do dia; em quanto oimpresso, occupando as estantes das livrariasparticulares, po<strong>de</strong> ser constantementee com miu<strong>de</strong>za examinado porquem tem interesse em fazer estudosespeciaes, e em aproveitar na leiturautil todo o tempo, que passa 'numa bibliotheca.Assim que a <strong>de</strong> Berlim publicaannualmente um catalogo, e a estatisticadas novas acquisições; a da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> Gottinga todos os semestres;o museu britannico <strong>de</strong> Londres todosos annos uma exposição, etc.


*4Este e muitos outros pontos, relativosá bibliotheca da universida<strong>de</strong> emais estabelecimentos annexOs, merecerãoaqui especial attenção, junctandosefrequentemente os esclarecimentoshistoricos que foi possivel obter. Ter-sehaprincipalmente em vista referir os melhoramentose reformas que foram intentadas<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834 em diante; e serão nomeadamentemencionadas as diversascommissões, que foram d'isso encarregadas,e o modo por que <strong>de</strong>sempenharamtão complicada como Ímproba incumbência.Os trabalhos bibliographicos,e a estatística da leitura; a administraçãotanto litleraria como economica;e, em summa, todos os ramos do serviçoda bibliotheca, serão tractados, <strong>de</strong>sinvolvidose apreciados com toda a fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>,e com a sufficiente clareza;mas, necessariamente, do modo imperfeitoe conciso, que não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar<strong>de</strong> comportar a natureza d'esta publicação,entrecortada' e restricta a pequeno1Começou este opusculo a publicar-se, antes


5tomo; na qual transluzirá todavia o empenho<strong>de</strong> tornar conhecidas as cousas<strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iro interesse publico, e osúteis serviços que esta repartição universitáriapo<strong>de</strong> prestar, e tem effectivamenteprestado, mais ou menos, em beneficiodas sciencias e das letras; sendoque muito convém que sempre preenchaum dos seus mais importantes fins,o <strong>de</strong> proporcionar aos estudiosos aocessolivre e real ás fontes dos conhecimentos.O averiguar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando data a fundaçãoda actual bibliotheca, e, mais remotamente,d'uma livraria publica dauniversida<strong>de</strong>, foi o ponto primordial que<strong>de</strong> concluído todo, em o n.° 13 e seguintes dojornal — A Or<strong>de</strong>m Publica. —


6<strong>de</strong>mandou repassar pela memoria algu*mas antiguida<strong>de</strong>s; por quanto, além dointeresse historico, era ponto systematico,visto como d'elle partem naturalmenteos primeiros traços do assumptoproposto.O licenciado em Cânones Bernardo<strong>de</strong> Brito Botelho, fallando da universida<strong>de</strong>,na sua—Historia Breve <strong>de</strong> Coim~bra, publicada em Lisboa no anno <strong>de</strong>1733, diz: «Esta celebre e scientificauniversida<strong>de</strong> se acha situada no maisalto da cida<strong>de</strong>; e por todas as partesque os olhos <strong>de</strong>scobrem <strong>Coimbra</strong>, logose alegram, e lhes serve <strong>de</strong> primeiro alvoaquelle seminário <strong>de</strong>. todas as sciencias,e o elevado <strong>de</strong> sua regia architeitura. Tem um grandioso pateo, ou terreiro,que aformosêa muito o dorroitoriodo collegio <strong>de</strong> S. Pedro; e pela outraparte a real capella da universida<strong>de</strong>,<strong>de</strong>dicada ao anjo S. Miguel. Tem trezecapellães, e todos estes apren<strong>de</strong>m, da ca<strong>de</strong>irada solfa, cantochão. e sáem insignescantores pará o culto divino; e juncta-


mente estudam Cânones ou Theologia, e<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> formados, são providos emboas egrejas, das muitas que a universida<strong>de</strong>tem para dar aos benemeritos.«Juncto a esta real capella, se faz <strong>de</strong>proxirno uma grandiosa livraria' comgrandioso porlico, e magnifico edifício,que em quanto ao material, por fora epor <strong>de</strong>ntro, está acabada; falta o ornatodos livros, que na direcção, or<strong>de</strong>m, ecusto, será uma das maravilhas <strong>de</strong> Europa;pois só no material da obra, pinturas,e dourados, que ainda vão continuando,se tem gasto, até o anno <strong>de</strong>1725, cento e cincoenta e oito mil etantos cruzados. O custo dos livros <strong>de</strong>todas as artes e sciencias chegarão asomma extraordinaria.»Ora, pela simples leitura d'estas poucaslinhas, bem se <strong>de</strong>ixa vêr quão incompletae succinta é a noticia, que dizrespeito á bibliotheca; nem é <strong>de</strong> admi-,rar que assim fosse, pois que ainda nãoestava, no anno <strong>de</strong> 1725, <strong>de</strong> todo concluídaa livraria; nem era costume 'lies-


8ses tempos fazerem-se mui circumstanciadosassentos nas diversas repartiçõesuniversitárias, nem facultarem-se os livros,que continham alguns esclarecimentos,a qualquer que <strong>de</strong>sejasse colligil-os.Nos livros do registo das leis, <strong>de</strong>cretos,portarias, e mais artigos <strong>de</strong> legislaçãorelativos á bibliotheca da universida<strong>de</strong>,ha o seguinte assento:—Provisãoregia <strong>de</strong> 31 d'oulubro <strong>de</strong> 1716: «Conce<strong>de</strong>licença para no paleo d'esta universida<strong>de</strong>se fazer uma casa para a livrariano sitio on<strong>de</strong> seja mais util, e <strong>de</strong>menos <strong>de</strong>speza; e approva a compra,que a universida<strong>de</strong> fez, da livraria, quefoi <strong>de</strong> Francisco Barreto, pelo preço <strong>de</strong>qualorze mil cruzados 1 .»Por informações do archivista do cartorio,que pertenceu á extincta junctada fazenda da universida<strong>de</strong>, José MariaPereira, <strong>de</strong>duzidas <strong>de</strong> documentos existentes'naquella repartição, agora subordinadaao governo civil, soubè-se que a1Livro 4." f. 185.


edificação da actual bibliotheca começa»ra em 10 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1712, e fóra concluída,durando o anno <strong>de</strong> 1728, no reinadodo sr. D. João V; tendo-se gasto,como adiante se esmiuçará, na sua construcção,e em todos os arranjos necessáriospara a accommodar ao uso, a que é<strong>de</strong>stinada, a quantia <strong>de</strong> sessenta e seiscontos seiscentos e vinte e dois mil centoe vinte e nove réis, fóra quatorze contostrezentos e oitenta e cinco mil réis, empregadosem compra <strong>de</strong> livros.Antes porém d'esta edificação havia,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> muito tempo, uma livraria públicada universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, ainda que<strong>de</strong> mui acanhadas proporções, em comparaçãoda actual. Isto se collige, não sód'alguns assentos, bem que poucos e muiresumidos, que se encontram nos livrosdo registo já mencionados, mas tambémdos estatutos da mesma universida<strong>de</strong>,confirmados por provisão <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 1597, e por alvará <strong>de</strong> nova confirmação<strong>de</strong> 15 d'outubro <strong>de</strong> 1653. Poron<strong>de</strong> pô<strong>de</strong> com bastante probabilida<strong>de</strong>


10íixar-se a epocha da fundação d'uma livrariapública da universida<strong>de</strong> em 1597;visto que os referidos estatutos, no liv.II, tit. XLYI, <strong>de</strong>terminam que haja nauniversida<strong>de</strong> uma livraria pública, e lheestabelecem uma dotação <strong>de</strong> cem cruzadosem cada triennio; ou pouco antesdo referido anno, pois que esta dotaçãoera <strong>de</strong>stinada, não para fundar, mas paraconservar e augmentar a livraria da universida<strong>de</strong>;da qual todavia se não faziaainda menção nos estatutos anteriores,confirmados por D. Philippe I em 1591'.Nas memorias manuscriptas da universida<strong>de</strong>,or<strong>de</strong>nadas pelo insigne reformadorreitor Francisco Carneiro <strong>de</strong>Figueirôa, se refere que em claustro <strong>de</strong> 20<strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1573, sendo então reitor dauniversida<strong>de</strong> D. Jeronymo <strong>de</strong> Menezes,assistira Ayres da Silva, bispo eleito doPorto, a quem el-rei tinha feito visitadore reformador da universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>que se lhe <strong>de</strong>u o juramento; e que en-1Relatorio da bibliothcca da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 30 d'agosto <strong>de</strong> 18Í9.


11Ire outras cousas fez lambem presenteno claustro, que sua alteza' queria quehouvesse na universida<strong>de</strong> uma livrariatal, qual era necessário para tão illustree insigne universida<strong>de</strong>; e também umhospital para se curarem os estudantespobres: que <strong>de</strong>sejou dar principio áobra das escholas, diligencia tão recommendadapelo car<strong>de</strong>al infante, que lhedice,—não sahisse <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> sem lhe<strong>de</strong>ixar os alicerces feitos, e as pare<strong>de</strong>sem altura <strong>de</strong> um homem—; porém que,propondo-o no claustro, s£ assentou queera impossível, pois ainda nem os chãosestavam comprados, nem havia dinheiropara isso, quanto mais para principiarsea obra.Posteriormente o reitor Alfonso Furtado<strong>de</strong> Mendonça, que tomou posse ejuramento no claustro <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> outubro• <strong>de</strong> 1597, mandou, junctamente com oconselho, fazer, nos paços, doisgeraes <strong>de</strong>novo, e uma casa para livraria, para a1Era o Iractamcnto que liuham os nossos reis'nesse tempo.


12qual encommendou ao bacharel em Cânones,Pedro <strong>de</strong> Mariz, guarda da mesmalivraria e corredor da impressão', quemandasse vir <strong>de</strong> Veneza e d'outras partesalguns livros; diligencia a que ellesatisfez: e importaria a <strong>de</strong>speza que sefez com os livros, quinhentos mil réis.Governando a universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>Affonso Furtado, pa<strong>de</strong>ceu por muitotempo esta cida<strong>de</strong> o mal da peste; e sefecharam totalmente as escholas em 5<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1599, e não se abriramsenão em 3 <strong>de</strong> janeiro do anno seguinte:porém o reitor esteve até 4 <strong>de</strong> maiod'aquelle anno, e se ausentou <strong>de</strong>pois comos <strong>de</strong>putados da meza da fazenda, Gabrielda Costa e Antonio Homem, não se <strong>de</strong>clarapara on<strong>de</strong>, e d'ahi governavam auniversida<strong>de</strong>.Não vem mencionado o anno em quese fez a encommenda dos livros a Pedro<strong>de</strong> Mariz, mas apenas o officio queexercia na livraria; d'on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> talvez1Est. ant. da univ. <strong>de</strong> 1597, liv. II, tit. III,pag. col. 1.?


13<strong>de</strong>prehen<strong>de</strong>r-se, que antes já <strong>de</strong> 1597havia na universida<strong>de</strong> uma livraria,posto que não se encontre precisamente<strong>de</strong>clarada a data da sua fundação, massomente consignado que em 1573 elreiD. Sebastião queria que houvesseuma livraria, digna <strong>de</strong> tão illustre e insigneuniversida<strong>de</strong>.Existem tradicionalmente algumas noções,cujo valor e fundamento não sepô<strong>de</strong> <strong>de</strong>vidamente apreciar nem estabelecer',<strong>de</strong> que a primitiva livraria estiveracollocada ou por baixo da via latinana casa 'ora chamada das obras, ouem parte do andar inferior dos paços,para o qual se entrava pelo lado da ruado Norte: e <strong>de</strong> que as estantes <strong>de</strong> boama<strong>de</strong>ira, bem feitas e pintadas, aindaexistentes alli nos quartos para on<strong>de</strong>, ha1Encontrou-sc apenas uma provisão regia <strong>de</strong>27 d'agosto <strong>de</strong> 1677, dando licença para se fazera obra <strong>de</strong> que necessita a casa da livraria, emandando que se gaste 'nella até a quantia <strong>de</strong>cento e <strong>de</strong>zoito mil e oitocentos réis. L. 3.° 11.254.V


14pouco, sc mudou a secretaria da universida<strong>de</strong>',foram da antiga livraria.Quanto porém á bibliotheca actual,parece pouco exacto que a sua edificaçãocomeçasse em 10 d'abril <strong>de</strong> 1712,pois que antes <strong>de</strong> 1716 se não faz d'ellamenção nas citadas memorias, tão accuradamentecolligidas. Além d'isso, nãoappareceu no archivo da extincta junctada fazenda, documento que o atteste,nem se <strong>de</strong>parou com vestígio algumque servisse <strong>de</strong> confirmar 'naquelle pontoas informações 2 , <strong>de</strong>duzidas anteriormentepelo citado e já fallecido archivista,talvez pela <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e confusãoem que presentemente se encontram allidispersos ou misturados, mas em logarincerto, muitos d'esses preciosos títulosdas nossas glorias litterarias; o que sem1Pela portaria do ministério dos negocios doreino <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1855, permittiu-se quea secretaria da universida<strong>de</strong> e respectivas ofiicinas,se estabelecessem no andar inferior dos paçosdas cscholas.2Relatório citado da bibliotheca da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, <strong>de</strong> 30 d'agosto <strong>de</strong> 1849.


15duvida reclama, instantemente, efficazesprovi<strong>de</strong>ncias para se evitar a continuação<strong>de</strong> similhante estado, e para seproporcionar o melhor aproveitamentoe conservação d'aquellas antiguida<strong>de</strong>s,muitas das quaes são também paginasimportantíssimas da historia portugueza\Com effeito <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 1710 até 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1715,sendo reitor, e <strong>de</strong>pois reformador, D.Gaspar <strong>de</strong> Moscoso e Silva, não ha noticia<strong>de</strong> ter começado a edificação daactual bibliotheca: apenas se reformouno seu tempo a sala da universida<strong>de</strong>, ese accrescentaram as casas dos reitorescom um quarto novo, e se melhoraram,muito principalmente, para a accommodaçãoda familia; e para a <strong>de</strong>speza d'esta1Por immcdiata resolução do Thcsouro Publico,<strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1835, em portaria <strong>de</strong>18 do dicto mez e anno, foi extincla a Juncta daFazenda da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>; e por carta <strong>de</strong> lei <strong>de</strong>23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1848, art.° 12, ficou o seu cartonoconsi<strong>de</strong>rado archivo publico, e se mandouconservar on<strong>de</strong> ainda estava.


16obra <strong>de</strong>u sua magesta<strong>de</strong> licença porprovisão <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1711.E porque os estatutos da universida<strong>de</strong>dispunham que todos os triennios secomprassem cem cruzados <strong>de</strong> livros parase ir accrescentando a livraria d'ella;que além <strong>de</strong> ser quantia limitada, se tinham<strong>de</strong>scuidado muitos dos reitores,<strong>de</strong> os executarem; alcançou o reitorNuno da Silva Telles, segundo d'estenome, licença <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> para secomprar uma livraria por quatorze milcruzados, do que acima já se fallou, e aampliação dos dictos quarenta mil réisa cem mil réis: e porque também nãotinha a universida<strong>de</strong> casa competentepara uma bôa livraria, conseguiu <strong>de</strong> suamagesta<strong>de</strong> licença, por provisão <strong>de</strong> 31d'outubro <strong>de</strong> 1716, para se fazer <strong>de</strong> novo;e lhe <strong>de</strong>u principio com toda agran<strong>de</strong>za, <strong>de</strong>ixando-a já bastante adiantada.Finalmente no tempo do reformadorreitor Figueirôa, cujo governo começaraem 17 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1722, acabou-se


17<strong>de</strong> fazer cora toda a perfeição a casa dalivraria, que é uma das obras mais grandiosase magnificas que tem este reino'.0 elegante portico <strong>de</strong> cantaria, sempe<strong>de</strong>stal, que se vê voltado ao orienteno peristyllo da bibliotheca, é da or<strong>de</strong>mjónica; compõe-se <strong>de</strong> quatro columnascylindricas, massiças e sem estrias, collocadas,duas <strong>de</strong> cada lado, em cima <strong>de</strong>plinthos, que no envasamento assentamsobre um patim rectangular, proporcionadoá gran<strong>de</strong>za d'esta obra; o qual pormeio d'uma escada <strong>de</strong>scoberta e tambémrectangula, que <strong>de</strong>sce ao terreiro, ou pateogeral, fica superior a este plano seis1Figueiroa—Mem. ms. foi. 53, 60, 77 e 79.(Este livro pertence ao archivo da extiucta Junctada Fazenda.)


18<strong>de</strong>graus, que tantos são os da escada, e éformado d'enxilhares <strong>de</strong> cantaria, dispostosregularmente por fiadas horisontaes.No capitel das columnas, gracioso porsuas volutas, pousa a architrave; sobreesta o friso, ligeiramente curvo, mas liso;segue <strong>de</strong>pois a cornija inferiormente<strong>de</strong>nticular, formando estas trez parles oentablamento. A archivolta do portal é<strong>de</strong>corada com ornatos também <strong>de</strong> cantariaem relêvo e <strong>de</strong> assaz lavor.O edifício da bibliotheca, contíguo ácapella real da universida<strong>de</strong>, e voltandoao sul a sua maior face lateral, é umquadrilongo rectangular, e remata comacroterios', que acompanham toda a prolongaçãoda cimalha, e sobre os quaesestão distribuídas, duas a duas, pequenaspyrami<strong>de</strong>s: estas correspon<strong>de</strong>m aprumo, na frente, sobre pe<strong>de</strong>staes maisaltos, sacados um pouco fora do alinhamentodos acroterios, aos eixos das co-1Nos atticos, por <strong>de</strong>traz dos acroterios, ha emvolta passeios d'on<strong>de</strong> se lanra e gosa vista extensíssimae mui aprazível.


19lumnas do porlico; e nos outros trez ladosdo edifício, aos ornatos que sobresahemnas extremida<strong>de</strong>s e nos intervallosdas janellas rasgadas; as quaes inteiramentefaltam na frente, que, sendoo menor lado do rectângulo, para ellasnão tem espaço.0 centro do frontispício apresenta levantadas,sobre a cornija do entablamentodo portico, as armas reaes emponto gran<strong>de</strong>, e trabalhadas com esmeradoprimor.D'este conjuncto architectonico, emcuja <strong>de</strong>scripção se omittiu o menos essencial,resulta a mais perfeita elegancia,na apparencia simples, mas <strong>de</strong>licadae nobre.No portico, no centro do friso do entablamentoestão gravados os versos latinosseguintes 1 :o Hanc augusta dcdit libris Collimbria se<strong>de</strong>m,« Ut caput cxornet bibliotheca suum. »1Não foi possivel <strong>de</strong>scobrir o auctor dos versoslatinos, que estão nas diversas inscripções da bibliotheca,e que são bem feitos e mui conceituosos.


20que em verso portuguez se verteram ':«Tal sé<strong>de</strong> aos livros <strong>de</strong>u Collimbria augusta,« Que a fronte lhe coroa a bibliotheca. »E por baixo da archivolta, e sobre aporta principal, que é <strong>de</strong> excellente ma<strong>de</strong>ira,e nas almofadas tem artezões emolduras á maneira <strong>de</strong> apainelamento,estão escriptos em folha <strong>de</strong> metal, lançadaem forma <strong>de</strong> fita, os versos latinos:• Lusiadae, hanc vobis sapientia condidit arcem:« Ductores libri; miles et arma labor.»assim vertidos:«Da sapiência, ó Lusos, eis oalcaçar;« On<strong>de</strong> por capitães os livros ten<strong>de</strong>s;« Por armas e soldados a fadiga. »Entrando na bibliotheca, as trez salasque alli servem <strong>de</strong> livraria e para a leitura,são das mais ricas, alegres, e as-1A traducção <strong>de</strong> todas as inscripções latinasda bibliotheca em verso portuguez, foi obra donosso erudito e mui insigne latinista, o sr. AntonioCardoso Borges <strong>de</strong> Figueiredo, professor <strong>de</strong>eloquencia e litteratura no lyceu d'esta cida<strong>de</strong>, evogal ordinário do conselho superior d'instrucçãopública.


21sèadas que possue a universida<strong>de</strong>; epela sua própria magnificência e riquezainfun<strong>de</strong>m respeito, e aconselham osilencio necessário ao estudo e á meditação.Do lado interior da bibliotheca, sobrea mesma porta principal, estão emfolha <strong>de</strong> metal os versos latinos:« Panduntur cunctis exculta Palatia libris:« Huc a<strong>de</strong>s; Auctores consule, doctus eris.« Haec tibi pro studiis et lex et norma tenenda est:« Mens legat, observet sedula; penna notet. »que trasladados em portuguez dizem:« A todos este paço se franqueia,« De livros adornado : aqui entrando,« Os escriptores lê<strong>de</strong>, e sereis douto.« E para o estudo vosso a norma é esta :« — Lèa e medite a mente; aponte a penna. — »E no tôpo da terceira sala, por baixo doretrato do sr. D. João V, em letras <strong>de</strong>ouro se lêm os versos latinos:« Regia, quamcernis, speculum tibipraestat imago:«In speculo totum, quod capit aula, vi<strong>de</strong>s.« Quaeque augusta patent, Ioannes ordine quinlus« Condidit: aeternum Príncipe vivat opus. »


22que nos seguintes se trasladaram:« 'Neste régio retrato, como em 'spelho,« Vê<strong>de</strong>s quanto este paço comprehen<strong>de</strong>.• Tudo o que majestoso aqui se ostenta,« Feito é <strong>de</strong> João Quinto. Eterna seja,« Como do Principe o nome, a obra sua!»O aspecto realmente magestoso <strong>de</strong>tudo, quanto se ostenta no interior dabibliotheca, produz um eífeito tal que<strong>de</strong>slumbra; e, pelo elevado <strong>de</strong> sua regiaarchitectura, claramente revela que,'nesta obra, não se pouparam <strong>de</strong>spezasnem esforços, para que fosse verda<strong>de</strong>iramenteaugusta, e digna da soberana munificênciado inclyto protector da universida<strong>de</strong>.O pavimento da bibliotheca é formado<strong>de</strong> lijonjas <strong>de</strong> duas côres, cinzenta ebranca, dispostas a imitar lavores <strong>de</strong>vários feitios, em xadrez, e com floreteadosdifferentes; tudo em symetria bemor<strong>de</strong>nada, sendo todavia diverso o riscodo pavimento <strong>de</strong> cada sala.Uma columnata <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,, composta<strong>de</strong> vinte e quatro columnas quadrangu-


23lares, emparelhadas duas a duas, adornalateralmente cada uma das salas: estascolumnas, d'alli <strong>de</strong>stacadas um poucopara fóra, pintadas no gosto chinez, e,no interior <strong>de</strong> suas faces, recamadas <strong>de</strong>ouro sobre florões em relevo, conservam-se,por suas graciosas volutas, subordinadasá or<strong>de</strong>m d'architectura doportico; e servem <strong>de</strong> sustentar uma varandacom balaustres, a qual no terço daaltura, com pequena differença, circumdaquasi cada uma das salas, e tem sobreos remates da balaustrada vinte e quatrovasozinhos com flores douradas, correspon<strong>de</strong>ndoa prumo ás columnas inferiores.As trez salas da bibliotheca são entrasi communicadas por dois arcos plenos,tendo cada um, no intradorso até ás origensdo arco, nos saimeis, e por baixo dasimpostas, diversos ornatos salientes e molduras,dourado tudo; e, na espessura dospés direitos do arco, ha década lado portasembutidas, as quaes por meio d'umaescada, escondida no interior dos encon-


24tros do mesmo arco, dão serventia paraa galeria, que, não obstante seguir ambosos lados das salas no sentido do seu comprimento,se interrompe e remata porcima da porta principal, no vão <strong>de</strong> cadaarco, e no tôpo da terceira sala.A galeria tem, do lado do sul, seisgran<strong>de</strong>s janellas rasgadas, totalmente envidraçadas;e do lado do norte, egual numero,e apenas duas d'ellas sem vidraças;porém d'este lado, na galeria daprimeira sala, estão occupados, na maiorparte, os dous vãos das janellas, que nãopodiam ser envidraçadas por sua contiguida<strong>de</strong>com a capella real da universida<strong>de</strong>,com estantes <strong>de</strong> livros, vindo poresta forma a correspon<strong>de</strong>r quatro janellasa cada sala. Os caixilhos das vidraçaseram <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira; mas posteriormente sefizeram <strong>de</strong> ferro, os do lado do norte; eposto que, pela elevação do edifício, fossetalvez segurança <strong>de</strong>snecessária, os dolado do sul têm todavia <strong>de</strong> resistir aotemporal que, por sua excessiva e frequenteacção, não menos <strong>de</strong>mandava em


25todos os caixilhos a substituição da ma<strong>de</strong>irapelo ferro; o que <strong>de</strong> certo se verárealisado ainda, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pouco tempo.As pare<strong>de</strong>s são, já sobre o pavimentodo lado interior da columnata, já sobreas galerias, completamente forradas <strong>de</strong>estantes, pintadas assim como os balaustresda varanda no mesmo gosto dacolumnata; sendo que na primeira e terceirasala a côr ver<strong>de</strong>, e na segunda a côrencarnada, realçam a profusão e varieda<strong>de</strong>dos dourados: os arcos porém sãopintados <strong>de</strong> branco, fingindo mármore,e polidos por cima.As cimalhas e os tectos <strong>de</strong> cada sala,têm um risco differente e variadíssimo<strong>de</strong> pintura em perspectiva, com figuras,emblemas e grinaldas <strong>de</strong> flôres, maisproprio para admirar-se, do que <strong>de</strong> fácil<strong>de</strong>scripção; pois que tão vivas e finasaté são as côres e as tintas, como aprimoradoe incomparável o <strong>de</strong>senho e ocolorido.Em cada sala sobre o pavimento haquatorze estantes cheias <strong>de</strong> livros, as


26quaes têm 212 tabellas, que assim chamamos repartimentos ou' escaninhosdas estanles; e nas galerias correspon<strong>de</strong>ntesha <strong>de</strong>z estantes, que têm 208 tabellas,perfazendo estas com aquellas onumero <strong>de</strong> vinte e quatro estantes, e <strong>de</strong>420 tabellas; e o total, nas trez salas conjunctamente,<strong>de</strong> setenta eduas estantes,e <strong>de</strong> 1:260 tabellas, para diversos formatos.Na altura, têm as estantes do pavimentoseis tabellas; e as das galerias,oito: a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong>—estante, — bemcomo o numero respectivo, é gravado emletras d'ouro sobre as molduras e ornatos,que cingem e coroam as mesmasestantes: a numeração das tabellas é emrelevo, e <strong>de</strong> metal dourado. As estantesdo pavimento acham-se guardadas comre<strong>de</strong>s <strong>de</strong> arame, que não protegem as infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>snem os roubos. Nas galeriasfazem corpo com as estantes, escadas engenhosamenteconstruidas, que com facilida<strong>de</strong>sahem fora das mesmas estantes,e servem para chegar até ás ultimastabellas.


27As salas, com as suas respectivas galerias,estão classificadas do modo seguinte:1." casa á entrada, contendo livros<strong>de</strong> historia e <strong>de</strong> litteratura; 2. a casa, <strong>de</strong>direito positivo e <strong>de</strong> sciencias naturaes;3. a casa, <strong>de</strong> theologia e <strong>de</strong> direito canonico.Por cima da porta principal, e da volta<strong>de</strong> cada um dos arcos, que entre sicommunicam as salas, e no topo da terceirad'estas, se levantam d'um e d'outrolado, até juncto dascimalhas, armas coma corôa real, em ponto gran<strong>de</strong>, douradas,e obra <strong>de</strong> talha, com apparatosos ornatoslateraes também dourados; e têmsobre o campo do escudo emblemas apropriadose analogos ás diversas faculda<strong>de</strong>sacadémicas. Além d'isso, no topo da terceirasala, em altura proporcionada, está,'num painel com molduras douradas, oretrato do sr. D. João V, collocado <strong>de</strong>ntrod'um cortinado, imitando brocado d'ourocom flores bordadas, com as sanefasdouradas inteiramente, e com seis anjos,trez <strong>de</strong> cada lado, nos apanhados das cor-


28tinas; e tendo por cima as armas reaes,também em ponto gran<strong>de</strong>, e sustentadaspor quatro anjos, dois d'estes com trombetas,e com os emblemas <strong>de</strong> Minerva,a esphera e o mocho, cada um <strong>de</strong> seulado, <strong>de</strong>senrolados; e por baixo do retrato,vários tropheos <strong>de</strong> guerra: tudofeito com tal arte, riqueza e mimo, queconstitue um verda<strong>de</strong>iro primor d'esculpturae <strong>de</strong> pintura.Seis mezas riquissimas estão distribuídaspelas trez salas da bibliotheca,uma <strong>de</strong> cada lado no seu comprimento;quatro são <strong>de</strong> ébano, e duas <strong>de</strong> gandarú;todas <strong>de</strong> muito lavor, com embutidos, ecom ornatos resaltados, <strong>de</strong> petiá; e trabalhadasno gosto antigo, mas com amaior perfeição da marceneria, o quenão <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> lhes dar mais subido valore estimação. A cada meza, rectangular,e accommodada a doze ou mais leitores,correspon<strong>de</strong>m quatro bancos <strong>de</strong> paupreto, e sufficiente numero <strong>de</strong> pequenasestantes, também <strong>de</strong> pau preto, própriaspara collocar os livros na occasião da lei-


30Os referidos gabinetes, da parle <strong>de</strong>fora <strong>de</strong> cada um d'elles, são numeradospor cima, ao meio da sua respectiva porta,a começar seguidamente na primeirasala do lado do sul, até findar na mesmasala do lado do norte; têm as portas envidraçadasdo meio para cima, e exceptoos dous gabinetes, XI e XII, do lado borealna primeira sala, correspon<strong>de</strong> a cadaum dos outros, em frente, uma pequenajanella attica envidraçada, por on<strong>de</strong> recebegran<strong>de</strong> cópia <strong>de</strong> luz.O gabinete undécimo também temestantes com livros, mas serve só <strong>de</strong> passagempara o annexo <strong>de</strong>posito subjacente,construído, on<strong>de</strong> antigamente, até oanno <strong>de</strong> 1834, fôra a prisão académica;e o gabinete duodécimo, chamado gabinetereservado, é on<strong>de</strong> se guardam aspreciosida<strong>de</strong>s d'esta bibliotheca; não.bastando elle só, porque também ê occupadopelas edições mais raras e ricas,pelos manuscriptos, pelo pequeno museunumismático, e por outros objectosselectos, o gabinete do lente bibliotheca-


31rio', <strong>de</strong>signado por gabinete A; o qualcom dous andares (o segundo um poucomais baixo) communicados interiormentepor uma escada <strong>de</strong> caracol encoberta,fica fora da bibliotheca, ao lado da mesma,e com serventia por <strong>de</strong>ntro pelos gabinetesvigésimo segundo e terceiro dasgalerias; pois que 'nestas os vãos dasjanellas têm dos lados estantes com livros2 , e se consi<strong>de</strong>ram também como gabinetes,subenten<strong>de</strong>ndo-se a sua numeraçãodo sul e do norte, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o numerotreze até vinte e quatro, do modo que ficadicto ácêrca dos gabinetes sobre o pavimentoda bibliotheca, posto que nas galeriasdo lado austral são bastante <strong>de</strong>sabri-1Pela varanda do primeiro andar d'este gabineteha externamente communicação differentepara um proximo terraço estreito, e para os atticosda bibliotheca a que conduz uma escada dccantaria em espiral, <strong>de</strong>scoberta, e com seu corrimão<strong>de</strong> ferro.2Ha poucos annos, tiraram-se do lado do sulas estantes, que estavam com livros nos vãos dasjanellas das galerias, por causa da <strong>de</strong>terioraçãoproduzida em gran<strong>de</strong> parte dos livros pela humida<strong>de</strong>.


32gados, e por isso quasi inúteis. Os gabinetesporém sobre o pavimento, sãoaccommodados a um só leitor, offerecendo-lhetoda a commodida<strong>de</strong>: e costumamfacultar-se apenas aos lentes, doutorese professores, ou a pessoas <strong>de</strong> reconhecidaconsi<strong>de</strong>ração, que frequentema bibliotheca; sendo 'nelles tambémadmittidos, por excepção ultimamente introduzida,os estudantes sextanistas <strong>de</strong>todas as faculda<strong>de</strong>s académicas.Nos mezes <strong>de</strong> inverno, a pezar <strong>de</strong> limitadaa entrada a uma só porta, guardadainteriormente por um reposteiro <strong>de</strong>panno escarlate com bordados <strong>de</strong> pannod'outras côres, e com as armas reaes nocentro, o qual ha pouco alli fôra collocado,e é, se não rico, assaz <strong>de</strong>cente, aindaassim, é incommoda a permanencia nassalas da bibliotheca por causa do frio 1 ;sendo que muito conviria mandar distribuirsobre o pavimento gran<strong>de</strong>s capa-1Também ás vezes se colloca, á entrada da bibliotheca,um biombo ordinário, para a resguardardo vento.


33clios juncto <strong>de</strong> todas as mezas <strong>de</strong> leitura,além <strong>de</strong> completar, com outras provi<strong>de</strong>ncias,o que for mister para a conservação,engran<strong>de</strong>cimento e utilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> livrariajá tão rica e vasta, e mais que tudopara se evitar a inconveniente e prejudicialápplicação ou <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> similhanteedifício para qualquer outro serviçoacadémico, que não seja o especiale mais importante, consignado nos regulamentosda mesma bibliotheca; porquanto o pó corrosivo, que se eleva daslijonjas do pavimento, que se <strong>de</strong>sfazemao menor áttríto, é dos mais terríveisinimigos dos livros, que o contínuo perpassar<strong>de</strong> innúmera multidão <strong>de</strong> pessoas,augmenta <strong>de</strong> tal sorte, que é quasiimpossível <strong>de</strong>bellar inteiramente; o queassim, com toda a justiça e razão, foi pon<strong>de</strong>radopelo lente bibliothecario no seuultimo relatorio 1 ", reclamando, com a<strong>de</strong>vida instancia, não só pela complicaçãodo serviço, mas até pela impossibili-1Relatorio da bibliotheca da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong> 4 d'agosto <strong>de</strong> 1856.


34da<strong>de</strong> <strong>de</strong> severa vigilancia, contra se fazeremna bibliotheca os exames do lyceu,e sobrecarregarem-se ou distrahirem-se'nessa occasião os empregados respectivoscom attribuições estranhas ao seuofficio, ou incompativeis com o fim essenciale único <strong>de</strong> tão magnifico <strong>de</strong>pósitodos conhecimentos humanos.'O que fica relatado ácêrca da obragrandiosa da actual bibliotheca, aindacarecia <strong>de</strong> confrontar-se com as verbas* Por não haver <strong>de</strong>soccupado, ou antes convenientementepreparado, outro edifício da universida<strong>de</strong>,foi <strong>de</strong> certo escolhida por isso a bibliotheca,posto que aliás com bem grave <strong>de</strong>trimentoseu d'ella e dos estudiosos, para no mez <strong>de</strong> julhoe na ultima quinzena d'outubro <strong>de</strong> 1856 se fazeremalli, como cffectivamente se fizeram, os examespreparatórios <strong>de</strong> habilitação para a universida<strong>de</strong>.


35correspon<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> sua importancia,para melhor se vêr que não houve èxaggeraçãonem prolixida<strong>de</strong>, e que tudoquanto este alcaçar das sciencias comprehen<strong>de</strong>,se não exce<strong>de</strong>, não é inferiorá menção <strong>de</strong>scriptiva a que <strong>de</strong>u logar.Foram além d'isso artífices portuguezes,os que fizeram e <strong>de</strong>sempenharamas respectivas plantas e a construcçãodo edifício todo; pelo que tanto maissatisfactoria e <strong>de</strong>vida é a commemoraçãodos nomes d'esses artifices, quantoé certo que, ainda hoje, o seu esmeradotrabalho merece gran<strong>de</strong> applauso, e serve<strong>de</strong> admiração a naturaes e a estranhos.As obras <strong>de</strong> alvenaria, e <strong>de</strong> cantaria,com tudo o mais que lhes diz respeito,importaram 55:915^714 réis; a pinturados tectos e das cimalhas, 1:902#100réis; a pintura e douradura das estantes,das varandas, da columnata, etc.,4:245#400 réis; o feitio, ma<strong>de</strong>ira, econducção das seis gran<strong>de</strong>s mezas <strong>de</strong>leitura, 4:4i0#115 réis; os letreiros <strong>de</strong>


36latão sobre a porta principal, fora e<strong>de</strong>ntro, 28$800 réis; o retrato do sr. D.t João V, 120#000 réis: total 66:622^129réis.Os dons mestres Antonio Simões Ribeiropintor, e Vicente Nunes dourador,ambos da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lisboa, arrematarama obra <strong>de</strong> pintura dos tectos e dascimalhas, a razão <strong>de</strong> 600$000 réis cadauma das troz divisões; e as <strong>de</strong>spezasdas jornadas á custa da universida<strong>de</strong>; obrigando-se elles a <strong>de</strong>sempenhara obra com todo o primor, e galhardia';ao que satisfizeram, empregandoem todo o tempo que durou a obra,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1723, até o fim <strong>de</strong> março<strong>de</strong> 1724, seis e sete oíTiciaes, cadadia. E para a dieta obra fez o primeirodos referidos mestres, conforme seestipulou, trez plantas, em que tinhagasto muitos dias e noites.A pintura e douradura das estantes,das varandas, das columnas, c das por-1Liv. das cscript., tom. 42, liv. 2.°, f. 143,anno 1723.


37tas, etc., foi ajustada com Manuel da Silva,<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, a razão <strong>de</strong> 1:280$000réis por cada divisão.'0 reinado do sr. D. João Y foi raagnanimoe famoso para a universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> por esta obra, e por outrasmais, posto que <strong>de</strong> menos vulto.'Nesse reinado fez-se a torre da universida<strong>de</strong>,obra que, principiada em 17d'abril <strong>de</strong> 1728, findara em 1733, importandoem 14:543^522 réis': o riscofoi feito em Lisboa, e custou 48$000réis.No mesmo reinado fez-se o orgão dacapella, o qual, começado em março <strong>de</strong>1732, e concluído em julho <strong>de</strong> 1733,importou em 3:131#100 réis. A pinturada caixa foi, por escriptura do 1.° <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 1737, justa por 2151000 réiscom o mestre pintor Gabriel Ferreira,resi<strong>de</strong>nte em <strong>Coimbra</strong> 3 .1Tom. 2.°, liv. 3.°, f. 66.2Liv. do reg. e <strong>de</strong>sp., <strong>de</strong> 1728 e 1729 até1736.3Liv. 3.°, f. 36.


38Feita esta brevíssima digressão, proseguir-se-hana confrontação encetada,dirigindo a mente para os livros queem tal sé<strong>de</strong> se franquêam á leitura eapontamento dos estudiosos, e que seadquiriram, já por antigas compras maisou menos avultadas, já mo<strong>de</strong>rnamentepelas mui limitadas dotações especiaesda bibliotheca, ou, quando estas cessaram,apparecendo no orçamento doestado uma consignação geral para as<strong>de</strong>spezas dos estabelecimentos universitários,pela sollicitu<strong>de</strong> do lente bibliothecarioe pelas requisições feitas pelosconselhos das faculda<strong>de</strong>s académicas.Todavia, pela impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>iradistincção, serão alli comprehendidas,na maior parte, as òffertas e oslegados, <strong>de</strong> que não ha expressa menção,ou <strong>de</strong> que seria <strong>de</strong>masiado longofazel-a; porém dir-se-ha, sempre queseja possível, o numero das obras, e dosvolumes, <strong>de</strong> que se compõem, e algumascircumstancias mais notáveis. Eseguindo similhante or<strong>de</strong>m, bem está


39<strong>de</strong> vêr que será este o logar <strong>de</strong> fallartambém nos <strong>de</strong>positos annexos á bibliotheca,<strong>de</strong>nominados—subjacente e inferior,— os quaes foram principalmenteformados <strong>de</strong> livrarias das extinctascorporações religiosas d'esta cida<strong>de</strong>.Os primeiros livros da bibliotheca,segundo consta <strong>de</strong> informações colhidasna extincta juncta da fazenda, custaram9:585$000 réis. Depois comprou-se emLisboa uma livraria por 4:800$000 réis.Estas duas verbas perfazem a quantia,já mencionada, <strong>de</strong> 14:385^000 réis 1 .Antes <strong>de</strong> 1834, parece bem poucoprovável não se ter feito maior <strong>de</strong>spezana compra <strong>de</strong> livros. Ainda assim nãoé fácil o estremar, por falta dos competentesassentos, cada uma das compras;nem sequer fixar approximadamente operiodo <strong>de</strong> tempo, a que se refere o empregoda sobredicta quantia; a qual,quando mui diminuta, não fôra até comparadacom o custo excessivo do pro-1Relatorio cit. da biblioth. da univ., <strong>de</strong> 30, d'agosto <strong>de</strong> 1849.


40prio edifício, ao contemplar tantos milvolumes' que adornam a bibliotheca, nãose po<strong>de</strong> admittir senão que está muidistante <strong>de</strong> representar o valor da maiorparte dos livros alli existentes, dosquaes, como se verá, não foi assás 'consi<strong>de</strong>rável a acquisição feita <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1834 até 1856 inclusivamente; sendoque se torna urgentíssimo fazer e regularisareste ramo da escripturação antiga',única base segura <strong>de</strong> qualquerconfrontação rigorosa. E todavia certoque faltam, para similhante eífeito, osempregados necessários, que, para oserviço ordinário d'esta repartição,actualmente são insufficientes, além <strong>de</strong>não estarem ainda <strong>de</strong>terminadas, como1São 32:921 os volumes existentes nas trezsalas da bibliotheca, e nos seus respectivos gabinetes;17:215 "no salão do <strong>de</strong>posito subjacente, e5:607 no <strong>de</strong>posito inferior ao salão: total 55:743volumes.2Apenas foi coor<strong>de</strong>nada, e acha-se registadana bibliotheca em livros especiaes, toda a legislaçãoantiga e mo<strong>de</strong>rna relativa á mesma bibliotheca,e ao <strong>de</strong>pósito geral dos livros das extinctascorporações religiosas.


-41convinha, as attribuições <strong>de</strong> cada um, c<strong>de</strong> não terem, segundo as suas graduaçõesrespectivas, remuneração condigna,mormente os oííiciaes subalternos dabibliotheca, <strong>de</strong>nominados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 31 <strong>de</strong>agosto <strong>de</strong> 1843, substitutos do lentebibliothecario, postoque continuassemequiparados nos vencimentos ao porteiroe ao continuo da mesma bibliotheca.Até o anno <strong>de</strong> 1772 ha <strong>de</strong> ser porextremo difficil encontrar no archivo daextincta juncta da fazenda todos os assentose documentos precisos para aescripturação referida; que ainda o colligil-os<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquelle anno em diante,<strong>de</strong>pois da reformação da universida<strong>de</strong>pelo sr. D. José I, <strong>de</strong>mandará que seempregue aturado trabalho e por longotempo. Este serviço é tão importantecomo necessário, e por ventura <strong>de</strong>veráprece<strong>de</strong>r ou acompanhar a formação dosnovos catalogos, para se conferir e aomesmo tempo verificar a existencia doslivros, a occasião em que foram comprados,o seu preço, e outras muitas


42circumstancias bibliographicas, que émister aproveitar e reunir, por interessepúblico, e credito do estabelecimento.Os livros que Pedro <strong>de</strong> Mariz, moradore natural <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, e auctor dosdiálogos, mandou vir <strong>de</strong> Veneza e doutraspartes, importariam, conforme sedice, em 500#000 réis. Acliam-se tambémno archivo da extincta juncta dafazenda dous róes dos livros, que <strong>de</strong>u áuniversida<strong>de</strong> o padre Francisco SoaresGranatense, com a data do fim <strong>de</strong> marçoe do i.° d'abril <strong>de</strong> Í603. E accrescentandoque, pela carta regia <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 1625, se mandára facultar arevisão da livraria ao padre João AlvesTroco, para colher algumas curiosida<strong>de</strong>s,fica em summa exposto quasi tudo,quanto se pô<strong>de</strong> saber ácêrca da primitivalivraria da universida<strong>de</strong>, com immediatareferencia ao seu fim e uso litterario.Em 1716 foi comprada, como já semencionou, a livraria <strong>de</strong> Francisco Barretopor 5:600#000 réis. Consta que secomprara em Paris, para a bibliotheca


43da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, parle dalivraria do padre La Rue, que morreuem 1725; mas ignora-se o seu custo, equando os livros vieram.Ao sindico da universida<strong>de</strong> o bacharelAntonio <strong>de</strong> Souza Azevedo, foram entreguesem 1743 as chaves da livraria,para cuidar na limpeza e reparos d'ella,na separação dos livros e catalogo d'elles,começando aquella casa a ter forma; elogo no principio d'agosto, e por espaço<strong>de</strong> cinco annos, pouco mais ou menos,continuou na diligencia que lhe foracommettida, apeando das estantes todosos livros que alli se achavam em montão,cheios <strong>de</strong> muito pó, e também <strong>de</strong>ninhos <strong>de</strong> andorinhas que entravampelas vidraças, que estavam <strong>de</strong>sbaratadas.Entrou a beneficiar os livros, queassim era importante, separando-os conformeas faculda<strong>de</strong>s; e recebeu também<strong>de</strong> João Baptista Lerzo, quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>livros que este ven<strong>de</strong>u á universida<strong>de</strong>:e assim os antigos como os mo<strong>de</strong>rnosse collocaram nos logares <strong>de</strong>centes;


44e <strong>de</strong> lodos fez, o referido sindico, oitocatalogos, porque eram oito as faculda<strong>de</strong>s;pelo qual trabalho a juncta da fazendalhe mandou dar trinta moedas.Seguiram-se mais partidas <strong>de</strong> livrosdo mesmo Lerzo, e dos estrangeiros <strong>de</strong>Almedina', que se distribuíram pelasestantes, segundo as' faculda<strong>de</strong>s; e osobredicto bacharel Antonio <strong>de</strong> SouzaAzevedo começou a compor o indice <strong>de</strong>todos os livros, no que teve <strong>de</strong> pôr emlimpo oito gran<strong>de</strong>s tomos <strong>de</strong> todas asfaculda<strong>de</strong>s, empreza <strong>de</strong> cerca d'anno emeio; e ultimamente recebeu <strong>de</strong>zeseiscaixões <strong>de</strong> livros, enviados <strong>de</strong> Lisboapor escôlha <strong>de</strong>-Lucas <strong>de</strong> Seabra da Sylva,vindo os taes caixões por Reicend yGendron, em diíferentes tempos; e assistiuá abertura d'elles, tomando a contapelo extracto do estrangeiro, que seachou conforme.1Tinha antigamente <strong>Coimbra</strong> seis portas, queeram: a da Portagem, Estrella, Castello, CollegioNovo, e a <strong>de</strong> Santa Sofia, c Almedina. Estapalavra Almedina significa—cida<strong>de</strong>.


45E porque 'nessa assistência teve trabalho,além <strong>de</strong> estar sempre promptoa receber os livros, e abrir as portas dalivraria, com a <strong>de</strong>vida cautela, a muitaspessoas graves, que acompanhava e lhesmostrava o que havia 'naquella casa, naqual assistiu por muito tempo com dousmoços para pôr e tirar os livros, e paraa limpeza <strong>de</strong> bofetes, e das estantes, epaia o mais que era preciso, a junctada fazenda, em meza <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 1748, lhe mandou dar em retribuiçãodo trabalho, que teve até então,como a todos era notorio, e continuariano mais que se seguir, cem mil réis,que recebeu em 26 d'agosto <strong>de</strong> 1749.Isto posto, cumpre observar que poresse tempo, sendo reformador reitor dauniversida<strong>de</strong> D. Francisco da Ajinunciação,e já passados muitos annos <strong>de</strong>pois<strong>de</strong> concluída a obra da actual bibliotheca,não se lhe tinha dado aindacompleta forma interiormente, nem alodos se havia feilo patente; mas eííectivamentetractava-se d'isso com instan-


46cia, para que a livraria não fosse meroobjecto <strong>de</strong> luxo e ostentação.Pela provisão regia <strong>de</strong> 8 d'abril <strong>de</strong>1750 1 se mandou qúe dos sobejos dasrendas da universida<strong>de</strong>, para a livrariad'ella se empregassem mais cincoentamil cruzados em livros, ficando no arbítriodo reitor e da meza da fazenda omodo d'este emprego; <strong>de</strong> sorte que nãohouvesse falta no pagamento das <strong>de</strong>spezas,para que as dietas rendas estavamapplicàdas; e quanto a fazer-se públicaa livraria, e crearem-se ofíicios para ella,se tomaria a resolução, que parecessejusta.Finalmente pela carta regia <strong>de</strong> 9 d'outubro<strong>de</strong> 1777, dirigida ao bispo <strong>de</strong>Zenopoli 2 , reformador reitor da universida<strong>de</strong>,é que sendo presente á rainhaa necessida<strong>de</strong> que, para fomentar e facilitaros progressos dos estudos da1 Liv. 5/° foi. so.2D. Francisco <strong>de</strong> Lemos <strong>de</strong> Faria Pereira Coutinho,bispo coadjutor e futuro successor do bispado<strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.


47mesma universida<strong>de</strong>, havia <strong>de</strong> que sefizesse patente a bibliotheca d'ella, e <strong>de</strong>que 'nella houvesse um bibliothecarioque a dirigisse, e a cujo cargo estivessea boa conservação e custodia d'ella, semandou pôr patente, para se conseguircom o uso d'ella o fim, a que era <strong>de</strong>stinada;e foi nomeado para bibliothecarioo doutor Antonio Ribeiro dos Santos,collegial do real collegio das or<strong>de</strong>nsmilitares.Não obstante a <strong>de</strong>terminação expressana citada carta regia <strong>de</strong> 9 d'outubro<strong>de</strong> 4777, para se fazer patente a bibliothecada universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, talvez<strong>de</strong>corresse algum tempo, ainda quepouco, antes da sua pública abertura, aqual não se po<strong>de</strong> precisamente dizer odia em que teve logar, por nenhum assentohaver d'isso.Em 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1778, foram nomeadose providos pelo conselho dos<strong>de</strong>canos nos dous logares <strong>de</strong> official dabibliolheca, Bernardo Alexandre Leal,bacharel formado em Cânones, e Domin-


48gos Antonio Monteiro, ambos d'esta cida<strong>de</strong>,que estavam servindo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diaem que a bibliotheca se puzera pública,e já antece<strong>de</strong>ntemente tinham trabalhadono inventario e catalogo, que ia continuando,dos livros da mesma'. Estanomeação teve a confirmação regia <strong>de</strong>proprieda<strong>de</strong>, com accresccntamento <strong>de</strong>or<strong>de</strong>nado a cada um dos referidos ofliciaessubalternos, em 15 d'agosto <strong>de</strong>1782 \. * Provisões <strong>de</strong> 17 e 18 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1778, registadasna bibliotheca, para a continuação doserviço d'esses empregados, e dos seus respectivosvencimentos.2A provisão regia <strong>de</strong> 15 d'agosto <strong>de</strong> 1782,por resolução <strong>de</strong> 2J <strong>de</strong> maio anterior, elevou acem mil réis o or<strong>de</strong>nado annual <strong>de</strong> cada um dossubalternos da bibliotheca, que pela tarifa d'essesofficios, estabelecida pela provisão <strong>de</strong> 22 d'outubro<strong>de</strong> 1772, o tinham somente <strong>de</strong> sessenta milréis. Por aviso régio <strong>de</strong> 12 d'outubro <strong>de</strong> 1787teve Bernardo Alexandre Leal o accrescentamento<strong>de</strong> mais trinta mil réis por anno; e por avisorégio <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1791 se conce<strong>de</strong>uegual accrescentamento a Domingos Antonio Monteiro;sendo porém esta segunda graça feita ápessoa e não ao logar. Pelo <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1836, art. 151, foi elevado a du-


i9No officio <strong>de</strong> porteiro da bibliothecafoi provido, em 15 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1778,Manuel Nunes dos Reis, que o estavaservindo também, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro diadas ostentações'. Finalmente por <strong>de</strong>spachodo conselho dos <strong>de</strong>canos, <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong>março <strong>de</strong> 1780, foi nomeado contínuoda livraria, Francisco d'Almeida e Silva,que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro do anno antece<strong>de</strong>nteexercia essa occupação, sem poreste exercicio perceber or<strong>de</strong>nado algum 2 .zentos mil réis o sobredicto or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> cem milréis, porque na disposição do art. 99, relativa aoscontínuos, guardas e oíTiciaes das secretarias, foramcomprehendidos também o 1.° e2.° official dabibliotheca, como <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então começaram a ser<strong>de</strong>signados, quando tivessem, como já têm, os exames<strong>de</strong> grammatica portugueza e latina, e das línguasfrãnceza e ingleza.- Ultimamente tendo sidoprovido no logar vago <strong>de</strong> 1.® official da bibliothecaAntonio da Rocha d'Antas, foi concedida, por <strong>de</strong>creto<strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1857, a mesma graduação<strong>de</strong> 1.° official a José Men<strong>de</strong>s Diniz, que sendono serviço da bibliotheca o official mais antigo, 'orafica, pela nova graça, restituído á <strong>de</strong>vida graduação.1Provisão <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1778 em idênticosentido do provimento dos officiaes subalternos.* Provisão <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1780 para havero competente or<strong>de</strong>nado.4


50Pelo meado <strong>de</strong> 1787 haviam requeridotanto o porteiro como o contínuoda bibliotheca, que se lhes <strong>de</strong>terminasse,cada anno, um salario proporcionadoao trabalho, que necessariamente<strong>de</strong>mandava o asseio e limpeza d'umacasa tão espaçosa, tão frequentada, e tãopatente; e que na razão do mesmo salariose lhes pagassem as <strong>de</strong>spezas e diligenciasanteriores que tinham feito<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o anno <strong>de</strong> 1780, visto que se nãohavia estabelecido estipendio algum pelosobredicto encargo, alheio das suas occupações,e que tomaram a si o cuidado<strong>de</strong> mandar fazer, por insinuação do bibliothecario,para <strong>de</strong>pois lhes ser recompensadoaquelle serviço na conformida<strong>de</strong>do que se practicava, em casos idênticos,com alguns contínuos e porteirosd'outras casas, e officinas da universida<strong>de</strong>,on<strong>de</strong> não era tão necessário comona bibliotheca por causa da sua situaçãoe construcção, crescendo essa necessida<strong>de</strong>em razão da sua pública abertura.Todavia não foram logo attendidos,


51como se vê pelo <strong>de</strong>spacho <strong>de</strong> não terlogar o requerimento, que <strong>de</strong>u a junctada fazenda em 12 d'outubro <strong>de</strong>1787.Os referidos empregados entrarampara o serviço da livraria sem haver regimento,como ainda não havia, dosnovos officios d'aquella casa, que lhesimpozesse a obrigação <strong>de</strong> a varrer ealimpar, nem se lhes impor tal encargona occasião <strong>de</strong> seus provimentos; porémpelo regulamento que bastantes annos <strong>de</strong>poisse mandou practicar interinamentena livraria, em quanto se não dava regimentoaos officiaes da casa, ficára ocontínuo da mesma livraria em alternativacom o outro contínuo porteirod'ella, servindo na sua semana <strong>de</strong> abrire fechar as portas, <strong>de</strong> preparar e assearas mezas, <strong>de</strong> varrer as casas, dé recolhere espanar os livros, e <strong>de</strong> fazer todosos outros misteres da mesma forma, queos fazia o porteiro na sua semana respectiva.Começara em 26 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1787


52aquella alternativa', e a obrigação <strong>de</strong>residir para isso, segundo as novas or<strong>de</strong>ns,em todos os dias lectivos e feriados,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> as oito horas da manhã atéo meio dia, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as trez horas datar<strong>de</strong> até a noite, por conseguinte maishoras do que pelo estatuto antigo'; e1Pelo posterior regulamento da bibliotheca <strong>de</strong>7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1800, ainda em vigor, ficoususpensa a permissão, que se havia dado aos officiaes,para servirem por semanas, e foram obrigadosd'ahi por diante a concorrerem todos ao serviçoda livraria nos dias, e horas, em que ella estiveraberta, sendo apontados pelos be<strong>de</strong>is das faculda<strong>de</strong>s,e do collegio das artes por turno, cadaum em seu quartel.- 1 Os est. ant. da univ. <strong>de</strong> 1597, liv. II, tit.XLVI, §. 1.", diziam: «Terá o dicto guarda cuidado<strong>de</strong> abrir com diligencia a dieta casa, nos dias,em que se lêr nas escholas, duas vezes no dia;convém a saber, no inverno abrirá pela manhã ásoito horas, c fechará ás onze, e á tar<strong>de</strong> abriráás duas, e fechará ás cinco: e no verão abrirápela manhã ás sete, e fechará ás <strong>de</strong>z, e á tar<strong>de</strong>abrirá ás trez, e fechará ás seis, para que oslentes, e estudantes que 'neste tempo quizeremestudar pelos dictos livros o possam fazer: e nãoabrindo a livraria nos dictos dias e horas, oucerrando-a mais cedo, será mulctado em seu salariopelo be<strong>de</strong>l das artes. » (Sobre a creação e


53ainda lendo o contínuo uma semana liregimentoda livraria, veja-se o liv. II dos mesmosest., tit. III, pag. 42, col. 1.'; tit. XXXIII,23; tit. XLVI, e tit. LI.)O regulamento ultimo <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong>1800, mandou que nas vesperas <strong>de</strong> sabbatinas seabrisse a livraria <strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>; e nos maisdias, ou fossem <strong>de</strong> aulas, ou feriados, somente <strong>de</strong>tar<strong>de</strong>, e ás horas que antece<strong>de</strong>ntemente se achavamestabelecidas. Em portaria do bispo con<strong>de</strong> reformadorreitor (D. Francisco <strong>de</strong> Lemos <strong>de</strong> FariaPereira Coutinho) <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1815, pondoem plena execução o citado regulamento, se or<strong>de</strong>nouque o bibliothecario fizesse abrir a livrariatodos os dias <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, e nas vesperas <strong>de</strong> sabbatinas<strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong> ás horas em que o sino chamaás aulas, excepto nos domingos e dias santos <strong>de</strong>guarda, e nos mezes d'agosto e setembro; occupandoos officiaes seus subalternos no bom serviçoe policia da mesma livraria, na formação dos catalogos,Índices, e copias <strong>de</strong> manuscriptos, e emtudo o mais, que fôr a bem d'ella, segundo suasrespectivas graduações, e fiscalisando as faltas quecada um d'elles commetter, tanto na assisteneiapessoal, como no cumprimento <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>veres:e que d'ahi em diante se não pagasse na contadoriada fazenda da universida<strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado algumpertencente aos sobredictos officiaes, sem que'nella apresentassem attestação do bibliothecario,por on<strong>de</strong> conste terem satisfeito suas obrigações.As subsequentes alterações, feitas cm temposmo<strong>de</strong>rnos, serão opportunamente relatadas.


54vre, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> ter egual trabalho,se não maior, ao dos outros contínuosda universida<strong>de</strong>; por tanto estava nostermos <strong>de</strong> merecer o augmento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado,que lhe foi concedido em 28 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 1788', e <strong>de</strong> ser egualado aosmais contínuos, mormente havendo-o jásido o mesmo porteiro da livraria.Não se encontrou pois mais circumstanciadanoticia, nos mencionados' O continuo da bibliotheca tinha sessenta milréis; mas ficou d'alli por diante vencendo anunalmentesetenta e dous mil réis <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado, namesma fórma por que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1778era contado o porteiro. Houve posteriormente variasalterações nos vencimentos respectivos do contínuoe do porteiro; obteve cada um, como ajuda<strong>de</strong> custo, o augmento <strong>de</strong> quarenta e trez mil coitocentos réis em virtu<strong>de</strong> da portaria do referidobispo con<strong>de</strong> reformador reitor, <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1807, o que foi assim confirmado pelo aviso régio<strong>de</strong> 16 d'agosto <strong>de</strong> 1825; por lei <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1839, linha o contínuo duzentos mil réis, c o porteirofoi elevado a cento e cincoenta mil réis, atéque foi este pela carta <strong>de</strong> lei <strong>de</strong> 1*9 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1856 egualado aos mais contínuos, vencendo comoelles, duzentos mil réis <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado, na conformida<strong>de</strong>do art. 99 do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1836.


55provimentos, <strong>de</strong> quando foi effectivamentea pública abertura da bibliotheca,bem como pouco se pô<strong>de</strong> saber ácêrca do seu penúltimo regulamento interino,a não ser a sobredicta citação oureferencia a elle na generalida<strong>de</strong>.A escolha e nomeação para bibliothecario1 , em similhante cathegoria o pri-' Este cargo com a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> guarda dalivraria, pelos est. ant. da univ. <strong>de</strong> 1597, liv.II, tit. LI, tinha trinta mil réis cada anno <strong>de</strong>or<strong>de</strong>nado, e andava juncto com o officio <strong>de</strong> correctorda impressão, hoje director da imprensa.Pelas provisões regias <strong>de</strong> 8 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1624,<strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> maio e 8 d'outubro <strong>de</strong> 1625, foram separadosos dictos officios <strong>de</strong> guarda da livraria ecorrector da imprensa, e mandon-se prover estecom o or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> trinta mil réis sem propinas,e aquelle juncto ao <strong>de</strong> guarda do cartorio em umapessoa com doze mil réis, e propinas do officio <strong>de</strong>corrector e guarda da livraria; e que a pessoa 'nelleprovida não po<strong>de</strong>sse tomar posse sem primeirodar fiança <strong>de</strong> dous mil cruzados, e fosse benemerita.O or<strong>de</strong>nado <strong>de</strong> bibliothecario foi elevado aduzentos mil réis pela tarifa <strong>de</strong> 22 d'outubro <strong>de</strong>1772; assim continuou, e veiu <strong>de</strong>pois no primeiroorçamento, approvado por lei <strong>de</strong> 7 d'abril <strong>de</strong> 1838,conservando-se ainda o mesmo até hoje. Pela portariado vice-reitor da universida<strong>de</strong> (o conselheiroJosé Alexandre <strong>de</strong> Campos) <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1834,


56meiro que houve, mui acertadamenterecahira no sábio e laboriosíssimo AntonioRibeiro dos Santos, que reuniatodas as difficeis qualificações para bem<strong>de</strong>sempenhar tão honrosa missão.Socio da aca<strong>de</strong>mia dos Árca<strong>de</strong>s, on<strong>de</strong>havia tomado o nome d 'Elpino Duriense,applicou-se, como todos os membrosd'esta socieda<strong>de</strong>, a reformar a linguagem;e é recommendavel pela purezado seu estylo, assim como pelo gostoclássico, que <strong>de</strong>nota um verda<strong>de</strong>iro reformador.Além das suas obras poéticas,fez uma excellente traducção daconfirmada em 22 do dicto mez e anno pelo sr fDuque <strong>de</strong> Bragança, Regente em nome da Rainha,tinham sido unidas as attribuições <strong>de</strong> directorda imprensa ás <strong>de</strong> bibliothecario, sem aug_mento <strong>de</strong> or<strong>de</strong>nado, e somente com aposentadoria,que já tinha, nas casas da imprensa. A commissãoespecial <strong>de</strong> reforma e melhoramento daimprensa da universida<strong>de</strong>, em consulta <strong>de</strong> 18 <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 1856, com a ultimação <strong>de</strong> seus trabalhos,propoz que o logar <strong>de</strong> director da imprensafosse outra vez separado do <strong>de</strong> bibliothecario,sendo 'naquelle provido sempre um lente, com umagratificação annual <strong>de</strong> duzentos mil réis; o queainda está pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>.


57Lyrica <strong>de</strong> Horácio, traducção, que temmerecido todos os votos, e que se reputaser a mais perfeita.A direcção da bibliotheca da universida<strong>de</strong>foi assim confiada, como <strong>de</strong>viaser, a um homem <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> esphera,<strong>de</strong> cujo tempo datam os importantesserviços e reconhecida utilida<strong>de</strong> d'aquellarepartição; e com quanto ainda estejalonge <strong>de</strong> preencher, o mais completamentepossível, os fins da sua instituição,é incontestável, que lhe <strong>de</strong>ve oimpulso e andamento mais rápido eprogressivo, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então começoua ter.No seu tempo, e por indicação ou requisiçãofeita por elle, compraram-sepor differentes vezes a Borel Borel &C. a , mercadores <strong>de</strong> livros em Lisboa,consi<strong>de</strong>ráveis partidas <strong>de</strong> livros, queimportaram em 4:428#120 réis'. Fo-1Rol <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1781 com <strong>de</strong>signação dasobras e dos seus preços; dicto do anno <strong>de</strong> 1787;dicto <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1789; catalogo <strong>de</strong> livros <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 1792, e mais um livro em junho <strong>de</strong>1793.


58ram mandados entregar pelo vice-reitor,o doutor José Monteiro da Rocha, livrosque não traziam nota <strong>de</strong> preços, e que porisso não se sabe, se foram comprados ouofferecidosFizeram-se em <strong>Coimbra</strong>compras menos avultadas no valor <strong>de</strong>83$420 réis\ Gastou-se na compra <strong>de</strong>livros feita ao doutor João Antonio Dallabella,lente jubilado na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>Physica Experimental, 619#607 réis';e na livraria do doutor Manuel AntonioSobral, lente jubilado na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>Aphorismos, egualada á segunda ca<strong>de</strong>ira<strong>de</strong> Medicina Practica, 134#440 réis*.Finalmente <strong>de</strong>ram entrada na bibliothe-1Relação <strong>de</strong> livros com data <strong>de</strong> 7 d'abril <strong>de</strong>1788, e <strong>de</strong> 29 d'abril <strong>de</strong> 1790, os quaes <strong>de</strong>ramentrada na bibliotheca.2Factura <strong>de</strong> livros, recebidos na livraria dauniversida<strong>de</strong> em 3 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1789, <strong>de</strong> comprafeita a João Pedro Aillaud; e relação <strong>de</strong> livrosarrematados, no dicto mez e anno, em leilão<strong>de</strong> Antonio Cardoso Seara, por Domingos AntonioMonteiro, official subalterno da bibliotheca.JRelação <strong>de</strong> livros comprados por or<strong>de</strong>m dajuncta da fazenda <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1790.4Relação dos livros, que se compraram na^ivrariado referido doutor, cm 22 d'outubro <strong>de</strong> 1790.


59ca por or<strong>de</strong>m do principal Castro reformadorreitor, vinte e duas obras, dasquaes somente doze traziam a <strong>de</strong>claração<strong>de</strong> preços, e custaram 1:448$000 réis'.As prece<strong>de</strong>ntes compras fôram poisna importancia total <strong>de</strong> 6:713$587 réis,e 'naquelles tempos constituiriam só porsi uma livraria immensa, composta domelhor que se conhecia nas sciencias, enas bellas letras, em obras-periódicas,edições ou manuscriptos mais raros, e,para o dizer d'uma vez, em todos osramos dos conhecimentos humanos, eque procurára com efficacia ir adquirindopara a bibliotheca da universida<strong>de</strong> oseu insigne emui benemerito bibliothecario.Se o mais estremado zêlo e incansável<strong>de</strong>dicação pelo serviço universitário,a par <strong>de</strong> talentos transcen<strong>de</strong>ntes e <strong>de</strong>saber consummado, fôra quanto bastassepara evitar mal cabidos odios e revoltantesinjustiças, ninguém tanto oi1Rrlarão <strong>de</strong> livros com data <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> maio<strong>de</strong> 1796."


60merecia como o doutor Antonio Ribeirodos Santos.A conta porém circumstanciada, quefoi dirigida pelo principal Mendonça reformadorreitor da universida<strong>de</strong>, em data<strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1785, com o objectodas estranhas controvérsias, que nas faculda<strong>de</strong>sacadémicas preten<strong>de</strong>ram excitaralguns dos censores <strong>de</strong>putados para oexame das conclusões magnas, respectivasa cada uma das dietas faculda<strong>de</strong>s,querendo impor aos presi<strong>de</strong>ntes d'ellasa obrigação <strong>de</strong> as subscreverem antes<strong>de</strong> serem apresentadas á censura pelosque haviam <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>l-as, renuindo âoque nas congregações das mesmas faculda<strong>de</strong>sse havia assentado ao mesmorespeito, <strong>de</strong>u origem a sérios <strong>de</strong>sgostos,que soífreu o bibliothecario Antonio Ribeirodos Santos, já então lente substitutoda faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cânones, e que tinha,como censor, impugnado com acrimoniaa <strong>de</strong>cisão do respectivo conselho,arguindo-a <strong>de</strong> errada e nulla, e <strong>de</strong> insubsistentesas suspeições que se ha-


61viam tido por legitimas e pru<strong>de</strong>ntes, erequerera que se tomassem os seusvotos por escripto, na conformida<strong>de</strong> doaviso régio' <strong>de</strong> 18 do sobredicto mez eanno, suscitado e obtido com ufaniapelo principal Mendonça, em consequência<strong>de</strong> similhantes controvérsias.Apparecêra por esse tempo o poemaintitulado—O reino da estupi<strong>de</strong>z— quefalsamente lhe foi attribuido, e que portradição 'ora consta ter sido feito porFrancisco <strong>de</strong> Mello Franco, e José Bo-1'Neste aviso régio, lido na congregação dafaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cânones <strong>de</strong> 28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1785,á qual presidiu o principal Mendonça, se or<strong>de</strong>nava,que subsista a práctica, que ao dicto respeitoteve principio com a nova fundação da universida<strong>de</strong>;tendo-se entendido na universida<strong>de</strong>,que nas cousas, que parecerem casos omissos nosestatutos, não <strong>de</strong>vem tomar-se 'nella resoluções,sem que Sua Magesta<strong>de</strong> saiba a necessida<strong>de</strong> dasprovi<strong>de</strong>ncias, que se requerem, para as dar, comofor conveniente: também se or<strong>de</strong>nava que o preladofaça conhecer aos vencidos pela pluralida<strong>de</strong><strong>de</strong> votos, que no caso <strong>de</strong> julgarem, que os seusvotos são <strong>de</strong> tal pêso, que, a serem presentes aSua Magesta<strong>de</strong>, lhes daria provi<strong>de</strong>ncia, têm o regresso<strong>de</strong> requererem, se tomem os seus votos porescripto, para se remetterem á Sua Real Presença.


62nifacio do Andrada, então estudantes nauniversida<strong>de</strong>, e pouco <strong>de</strong>pois formados,o primeiro em Medicina, e o segundoem Direito e na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Philosophia,na qual se lhe conferiu gratuitamenteo grau <strong>de</strong> doutor, e foi lente daca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Metallurgia, por elle creadaem 1801, <strong>de</strong>pois das suas viagens porespaço <strong>de</strong> <strong>de</strong>z annos, como pensionariodo governo, ao norte da Europa, on<strong>de</strong>estudou Mineralogia e Arte <strong>de</strong> Minas.Com este pretexto se disseminaramintrigas, que foram malevolamente manejadaspor pessoas invejosas do creditoe merecimento do doutor Antonio Ribeirodos Santos, e tanto mais audazesquanto se tornára assás frouxo o reitoradodo principal Mendonça, que todaviaera d'um natural bondoso, mas <strong>de</strong>stituídoda necessaria energia, e, olhandoas sciencias com absoluta indifferença,não servia para governar a universida<strong>de</strong>,quando o ensino 'nella corria menosregular, e a manutenção da disciplinareclamava energicas provi<strong>de</strong>ncias.


63Não pararam ainda aqui os effeitosda malda<strong>de</strong> e da vingança dos inimigos<strong>de</strong> Antonio Ribeiro dos Santos, pois secollige, que esteve fora da universida<strong>de</strong>algum tempo, da carta regia' <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong>novembro <strong>de</strong> 1785, pela qual foi mandadorestituir á universida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong>empregar 'nella os seus úteis e conhecidostalentos. O principal Mendonça,proximo a findar o segundo triennio,tinha ido para Lisboa, on<strong>de</strong> sollicitáraa justa restituição á universida<strong>de</strong> d'umdos seus mais distinctos ornamentos.Na congregação da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cânones,que se fez em 9 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1786,presidida pelo principal Castro reformadorreitor, já esteve presente o doutorAntonio Ribeiro dos Santos, nãohavendo outro assento anterior no respectivolivro das actas, por on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>sseconcluir se mais cêdo voltou á1Foi lida em congregação da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cânones<strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1785, a que presidiuo vice-reitor da universida<strong>de</strong> D. Carlos Maria <strong>de</strong>Figueiredo Pimentel; e acha-se lançada no respectivolivro das actas.


64universida<strong>de</strong>, ou á congregação da suafaculda<strong>de</strong>, tão digníssimo professor.Despachado em 29 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1790lente proprietário da primeira ca<strong>de</strong>irasynthetica <strong>de</strong> Decretaes, foi jubilado porcarta regia <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1795 naca<strong>de</strong>ira immediata, com todo o or<strong>de</strong>nado,honras e privilégios d'ella, sem quetodavia similhante graça possa em tempoalgum ser allegada, ou trazida paraexemplo, pelas muitas, especiaes e singularesrazões, que moveram sua magesta<strong>de</strong>a conce<strong>de</strong>l-a ao doutor AntonioRibeiro dos Santos, em consi<strong>de</strong>ração aoseu merecimento e serviços, e para atten<strong>de</strong>re contemplar por um modo distinctoo zêlo, honra, e acerto com que tinhaservido assim na universida<strong>de</strong> comofora d'ella.A direcção da bibliotheca pública dacôrte', creada pelo alvará <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> fe-1Abriu-se em 13 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1797 a bibliothecapublica da corte, nome <strong>de</strong>s<strong>de</strong> outubro <strong>de</strong>1836 mudado no <strong>de</strong> bibliotheca nacional <strong>de</strong> Lisboa.


65vereiro <strong>de</strong> 1796, foi logo commettidaao doutor Antonio Ribeiro dos Santos,que por meio <strong>de</strong> cuidados e esforçosextraordinários procurou franquear aosportuguezes um estabelecimento litterario,correspon<strong>de</strong>nte á civilisação europêa;enriquecendo até por fim a dietabibliotheca com a importante doação <strong>de</strong>muitos impressos, manuscriptos, mappas,cartas, e medalhas, que eram proprieda<strong>de</strong>sua'. Foi alli por muitos annosbibliothecario-mór, e ao mesmo tempo<strong>de</strong>putado conselheiro da meza da consciênciae or<strong>de</strong>ns.Na bibliotheca da universida<strong>de</strong> concluiram-sepor esse tempo os seguintescatalogos manuscriptos, em que trabalhavamos officiaes da casa: um catalogo<strong>de</strong> matérias, constando <strong>de</strong> Theologia,Direito, Medicina, Mathematica,1No relatorio citado <strong>de</strong> 1844 á cerca da bibliothecanacional <strong>de</strong> Lisboa, se mencionam osimmensos trabalhos bibliographicos <strong>de</strong> A. R. dosSantos, cujo systema na coor<strong>de</strong>nação e disposiçãodos livros, é verda<strong>de</strong>iramente ainda hoje a baseda classificação dos contentos d'aquella casa.5


66Philosophia, Sermões, Artes e Officios;outro catalogo <strong>de</strong> auctores <strong>de</strong> scienciasnaluraes. (Medicina, Mathematica e Philosophia): ambos os dictos catalogos forampostos em limpo pelo official subalternoBernardo Alexandre Leal; o primeirod'elles, em treze grossos volumes,por or<strong>de</strong>m alphabetica tanto as matérias,como os auctores em relação a cadamatéria; e o segundo em dous grossosvolumes, por or<strong>de</strong>m alphabetica somenteos auctores 1 . Além d'estes, ha quatrocatalogos antigos, a saber, um <strong>de</strong> Historia,outro <strong>de</strong> Direito Canon ico, outro <strong>de</strong> DireitoCivil e Romano, outro <strong>de</strong> Theologia,ácêrca dos quaes se ignora o tempo emque foram feitos.1O catalogo <strong>de</strong> Artes e Officios tem a data <strong>de</strong>1795, cos outros <strong>de</strong> matérias a <strong>de</strong> 1798; e noprimeiro tomo do catalogo <strong>de</strong> Theologia se lè:« Deu entrada na bibliotheca da universida<strong>de</strong> estagran<strong>de</strong> obra, e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> trabalho, offerecida pelobacharel Bernardo Alexandre Leal, e acceita pelamesma universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m do ill. nw> e rev. m0 sr.vice-reitor Manuel Paes <strong>de</strong> Aragão Trigoso, cm 48<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1805.—O bibliothecario Joachim dosReis». — O catalogo <strong>de</strong> auctores não tem data.


67Ao doutor Antonio Ribeiro dos Santossuccedêra no logar <strong>de</strong> bibliotbecarioo doutor Ricardo Raymundo Nogueira,lente <strong>de</strong> Leis na universida<strong>de</strong>, o qualfoi nomeado e provido no referido logarpor carta regia <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1798:era digníssimo também, e reunia todasas qualida<strong>de</strong>s que <strong>de</strong>vem sempre concorrerna pessoa que houver <strong>de</strong> servire occupar similhante cargo. Pela suapromoção ao logar <strong>de</strong> reitor do collegioreal dos nobres da côrte e cida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Lisboa, ficou vago o <strong>de</strong> bibliothecario,ue poucos annos exerceu, sem por issoeixar <strong>de</strong> correspon<strong>de</strong>r ao elevado conceitoque merecia, confirmado pelos seusvastos conhecimentos e aprimorado gostopelas letras, mas ainda pela mui acertadaescolha e <strong>de</strong>spacho distincto parareitor do collegio dos nobres'. Sendoelle bibliothecario, foi or<strong>de</strong>nado pelo con-1Este profundo jurisconsulto, e litterato distincto,que possuia perfeito conhecimcnto das linguasclassicas c das linguas franceza, ingleza, allemã, italianae hespanhola, foi também governador do reino.


68selheiro José Monteiro da Rocha, vicereitorda universida<strong>de</strong>, e mandado affixarna livraria, o ultimo regulamento<strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1800. <strong>de</strong> cujocontexto se <strong>de</strong>prehen<strong>de</strong>, que tinha estadoalgum tempo fechada a mesma livraria; visto que pelo dicto regulamento,ainda hoje não revogado inteiramente,se procurava então acautelar para o futuroa reproducção dos inconvenientes,que <strong>de</strong>ram motivo para se suspen<strong>de</strong>r aabertura d'ella: não existem documentossobre o motivo d'aquella suspensão;comtudo, por informações dos empregadosmais antigos, consta que fôra porcausa <strong>de</strong> tumultos que houvera na própriabibliotheca ! .Por carta regia <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong>1A bibliotheca esteve fechada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1832 até outubro <strong>de</strong> 1834, e <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os fins <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1846 até outubro <strong>de</strong> 1847, pelos acontecimentospoliticos <strong>de</strong> cada uma d'essas epochas;consta porém que esteve também fechadaem tempos menos recentes, por causa dos trabalhos<strong>de</strong> catalogos, e por occasião <strong>de</strong> se fazeremobras no edifício.


691802, foi nomeado bibliothecario o doutorJoaquim dos Reis', lente <strong>de</strong> InstituiçõesCanónicas, que muito se distinguiapela sua gran<strong>de</strong> intelligencia, conhecidaerudição, e zêlo, havendo-oassim manifestado no distinclo serviçoque fazia na sua ca<strong>de</strong>ira, e em outrasem que tinha sido empregado. Era alémd'isso mui versado no estudo das línguas,e sabia o Latim, o Grego, o Hebreu,o Francez, o Inglez, e o Italiano.No seu tempo comprou-se em Lisboaa livraria <strong>de</strong> monsenhor Hasse por6:000$000 réis', que principiaram a pagar-seem 27 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1806 a' O illustrc professor do mesmo nome, actualmentejubilado na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito e conselheiro,e filho do referido lente bibliothecario.2A livraria, que já se dice ter sido compradaem Lisboa por 4:800^000 réis, é sem dúvida a<strong>de</strong> monsenhor Hasse, posto que no exame dosrespectivos assentos houve o engano <strong>de</strong> não incluiruma das prestações pagas <strong>de</strong> 1:200$000 réis,com a qual se perfez a sua importancia effecliva<strong>de</strong> 6:000$000 reis. A mesma inexactidão teve logar,'nessa parte, no relatorio cit. da biblioth. dauniv. <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> <strong>de</strong> 30 d'agosto <strong>de</strong> 1849.


70seu irmão Pedro José Hasse. 0 primeiropagamento foi <strong>de</strong> 2:400$000 réis, <strong>de</strong>vendoser pagos os restantes 3:600#000réis, em trez eguaes porções annuaes,e regular-se estes pagamentos da epochado primeiro em diante 1 ; o que se não,verificou assim, por quanto somente cm30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1811 acabou <strong>de</strong>pagar-se a D. Luiza Justiniana Hasse daCunha, irmã <strong>de</strong> monsenhor Hasse, oresto <strong>de</strong> 300#000 réis, relativo á ultimaprestação, que se lhe tinha começado apagar em 31 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1810.Esta excellente e magnifica livraria,composta <strong>de</strong> muitos livros raros e manuscriptospreciosos, e da collecção maiscompleta e rica <strong>de</strong> Direito Pátrio, poiscontinha exemplares <strong>de</strong> toda a nossa legislaçãoque se achava impressa, e copiasda que o não estava, foi vendidaá bibliotheca por intervenção <strong>de</strong> monsenhorFerreira, encarregado também <strong>de</strong>a receber em Lisboa, sendo vice-reitor1L.° <strong>de</strong> rec. c <strong>de</strong>sp. da juncla da fazenda, doanno <strong>de</strong> 1806, foi. 223.


71da universida<strong>de</strong> o doutor Manuel Paes<strong>de</strong> Aragão Trigoso. Existe um catalogoalphabetico dos livros portuguezes dalivraria <strong>de</strong> monsenhor Hasse, escriptoem setembro <strong>de</strong> 1811 por Francisco d'Almeidae Silva, contínuo da bibliotheca,provido posteriormente no logar <strong>de</strong> officialsubalterno. O antigo catalogo geralda sobredicta livraria <strong>de</strong>sappareceu,ha muito, da bibliotheca; e quando foiremettido <strong>de</strong> Lisboa, com os respectivoslivros, era sabido que já tinham sidojroubadosalgunsjdosmanuscriptosLmaisapreciáveise primorosos..Em 7 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1814, achando-sevago, ha muito tempo, o logar <strong>de</strong> bibliothecario,foi pelo bispo con<strong>de</strong> reformadorreitor da universida<strong>de</strong> nomeadointerinamente para o dicto logar. o doutorAntonio Honorato <strong>de</strong> Caria e Moura,oppositor mais antigo da faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Mathematica, e primeiro ajudante doobservatorio astronomico, que reunia aomerecimento litterario os conhecimentosbibliographos, zêlo e mais qualida-


72<strong>de</strong>s necessarias para com assiduida<strong>de</strong>,intelligencia e exactidão cuidar na bôaor<strong>de</strong>m e administração da livraria académica;<strong>de</strong>vendo entrar logo no exercidodo referido cargo, proce<strong>de</strong>r á combinaçãodos catalogos da mesma livrariacom as obras que 'nelles estivessem <strong>de</strong>scriptas,e dar conta ao prelado da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> tudo o que achasse, e domais, que lhe parecesse conveniente parao bem d'este importante estabelecimento.Esta nomeação, que tão acertadamenterecahira em pessoa mui hábil elaboriosa, foi confirmada por carta regia<strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1815, escripta nopalacio do Rio <strong>de</strong> Janeiro: assim que,por uma vez mais, se procurou <strong>de</strong>sterraras preoccupações, com que na universida<strong>de</strong>se olhavam umas para outrasfaculda<strong>de</strong>s académicas, não só entre si,mas até na or<strong>de</strong>m das honras e prerogativas,que sem justiça, nem razão, econtra os seus progressos, umas suppunhamsó próprias <strong>de</strong> si mesmas, e incommunicaveisás outras.


73Durou vinte annos completos o governo<strong>de</strong> tão insigne bibliothecario, quefoi egualmente um dos mais distinctosornamentos da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mathematica.Na bibliotheca o recommendam immensostrabalhos interessantes, dignos<strong>de</strong> mui honrosa e mais extensa menção,os quaes, sobresahindo entre os <strong>de</strong> seusantecessores, bastariam para estabelecere perpetuar um nome glorioso e venerando.Logo no meado <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1815principiaram a fazef-se no edifício dabibliotheca obras <strong>de</strong> alvenaria e <strong>de</strong> cantaria,gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro, portas, janellas,estantes, pintura, e bambinellas; e continuarampelos dous annos seguintes,acabando em 18 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1818. Taesobras, em que se gastaram muitos milcruzados, serviram <strong>de</strong> concluir o quefaltava, e dirigiam-se talvez a accrescentarmais consi<strong>de</strong>ravelmente o proprioedifício; todavia esse projecto, por grandioso,já então não pô<strong>de</strong> realisar-se, apezar <strong>de</strong> haver muitos mais recursos• do que presentemente.


74iFez-se o gabinete A, <strong>de</strong>nominadodo bibliothecario, on<strong>de</strong> se collocaram,como n'outro logar fica dicto, as obrasmais raras e selectas, assim da bibliotheca,como da livraria <strong>de</strong> monsenhorHasse, e provenientes d'outras acquisiçõese offertas, entre as quaes é digna<strong>de</strong> mencionar-se a offerta <strong>de</strong> livros, quesua magesta<strong>de</strong> britannica 1 fez á universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, e a doação <strong>de</strong> manuscriptose impressos, feita á universida<strong>de</strong>por Joaquim Ignacio <strong>de</strong> Freitas 2 , pro-1Aviso régio <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1830, parase entregar ao procurador da universida<strong>de</strong>, emLisboa, uma caixa da marca BI n.° 377, vinda<strong>de</strong> Inglaterra com diversos livros.2Á excepção dos estatutos da sé <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,que ficaram no po<strong>de</strong>r do be<strong>de</strong>l <strong>de</strong> Medicina, encarregado<strong>de</strong> copial-os, e do ms. autographo <strong>de</strong>André Falcão <strong>de</strong> Rezen<strong>de</strong>, que foi entregue a seudono o thesoureiro-mór <strong>de</strong> Guimarães, os impressossão unicamente os commentarios <strong>de</strong> Manuel <strong>de</strong>Faria e Souza a Camões, dous vol. in-fol. com algumasnotas marginaes, que ellc doador acreditavaserem do punho do mesmo Manuel <strong>de</strong> Fariac Sousa; e os manuscriptos são cópias quasi todasmuito mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> papeis volantes, mas curiosos,e algumas <strong>de</strong> obras que se acham já impressas.


75fessor jubilado <strong>de</strong> Latim, e revisor daimprensa da mesma universida<strong>de</strong>.Estabeleceu-se a communicação dasgalerias da bibliotheca para o quintal dothesoureiro da capella real, e para os paçosda universida<strong>de</strong>, por meio d'umproximo terraço 1 estreito, mas compridoe proprio para passeio, formado <strong>de</strong>enxelhares <strong>de</strong> cantaria, e guarnecido <strong>de</strong>gra<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ferro dos lados.Reformaram-se os doze gabinetes dopavimento da bibliotheca, dando-se-lhesmelhor forma, e, excepto o gabinete XIIque tem trez estantes, próprias para gran<strong>de</strong>sformatos, com oito estantes cada umdos outros, e com rê<strong>de</strong>s d'arame, cujoscaixilhos <strong>de</strong> correr, quatro <strong>de</strong> cada lado,se abrem ou fecham, d'um modo engenhoso,por uma só chave e fechadura;pozeram-se nos mesmos gabinetes portas1A serventia para este terraço, parallelo á bibliothecano sentido do seu comprimento, é, comojá se dice, por <strong>de</strong>ntro pelos gabinetes vigésimosegundo e terceiro das galerias, ou externamentepela varanda do primeiro andar do gabinete A.


76envidraçadas do meio para cima, e naespessura dos pés direitos dos dous arcos,<strong>de</strong> cada lado portas embutidas.Finalmente substituiram-se nas galeriasdo lado do norte os caixilhos das vidraças,que ta'mbem eram <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira,como os do lado do sul, por caixilhos<strong>de</strong> ferro, sendo esta e as mais obras <strong>de</strong>ferro executadas por José Francisco Corrêa,antigo serralheiro da universida<strong>de</strong>.O bibliothecario Antonio Honorato <strong>de</strong>Caria e Moura, foi na verda<strong>de</strong> infatigávelna administração, já economica, jálitteraria; e não se limitava só a <strong>de</strong>lineare distribuir o serviço litterario doestabelecimento pelos officiaes subalternose mais empregados da casa, masfazia-o também, do que ainda se encontramexuberantes provas nos catalogosantigos, em vários assentos e documentos,on<strong>de</strong> se vê a sua letra, e nos treznovos catalogos, escriptos e feitos porelle nos annos <strong>de</strong> 1830, 1831 e 1832,a saber, um <strong>de</strong> Direito Civil e Romano,


77e dous <strong>de</strong> Historia, Geographia e MiscellaneaLitteraria 1No seu tempo comprou-se uma bíbliasacra, hebraica, um volume em quartoricamente enca<strong>de</strong>rnado; este códice <strong>de</strong>raro merecimento e gran<strong>de</strong> valor, é escriptoem excellente pergaminho, em columnas<strong>de</strong> perfeitíssima letra com a ponctuaçãomassoretica. A margem, e noalto das paginas traz muitas notas massoreticasem hebreu (poucas em rabbinoe em arabe) escriptas em letra tãopequena que não po<strong>de</strong> ler-se a olhos <strong>de</strong>sarmados.As primeiras oito paginas, assimcomo as oito ultimas apresentam bemtraçados <strong>de</strong>senhos, em forma <strong>de</strong> arabescos,muito apreciaveis pela <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e perfeiçãodas miniaturas; pois são sentençasem letra microscópica hebraica sem ponctuação.1A mór parte d'estes esclarecimentos foramdados por José Men<strong>de</strong>s Diniz, antigo oiBcial subalternoda bibliotheca, que servira no tempo domesmo bibliothecario, e que tivera parte nos últimostrabalhos d'esse tempo.


78A dieta biblia, segundo informações 1accuradamente obtidas, custou 700#000réis, e parece ter sido comprada emHollanda para a bibliotheca da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> pelo doutor ManuelPedro <strong>de</strong> Mello, primeiro lente, tambémdistinctissimo, da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Mathematica,com exercício na ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong>Hydraulica, que tinha ido estudar forado reino, como pensionario do governo 2 .Na bibliotheca não se encontrou as-1' Dcve-se principalmente a Jose Antonio Ferraz,que fora contínuo da livraria no tempo dobibliothecario Antonio Honorato, o conhecimentoda existencia e mais particularida<strong>de</strong>s relativas atão precioso códice.1Manuel Pedro <strong>de</strong> Mello foi revisor e collaboradorda Astronomia <strong>de</strong> Delambre, na qual seencontra por vezes citado o seu nome; foi auctor(fuma Memoria sobre o Parallelogrammo dasForças, premiada pela Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Copenhaguecom uma medalha d'ouro; auctor d'outra Memoriamuito estimada sobre as Binomiaes, impressana collecção das da Aca<strong>de</strong>mia das Sciencias <strong>de</strong>Lisboa, <strong>de</strong> que elle era membro; traductor e annotadordas Memorias Astronómicas <strong>de</strong> JoseMonteiro da Rocha; e collaborador do Jornal <strong>de</strong><strong>Coimbra</strong>.


79sento algum ácêrca da referida biblia,talvez por não ter ahi dado ainda entrada;<strong>de</strong>vido isto, a que a mesma bibliaestava sendo examinada por uma commissão<strong>de</strong> theologos, presidida por Fr.Domingos <strong>de</strong> Carvalho, segundo 'lente<strong>de</strong>Theologia, jubilado em 1822: a commissãoreunia-se na sala das sessões doconselho dos <strong>de</strong>canos, conservando-sepor isso a biblia na secretaria da universida<strong>de</strong>,on<strong>de</strong> a final ficara por muitosannos esquecida nos armarios dasestantes, e guardada 'numa caixa <strong>de</strong> papelãoPara se avaliar <strong>de</strong>vidamente o estadogeral da bibliotheca da universida<strong>de</strong>, se1O actual vice-reitor da universida<strong>de</strong> o conselheiroJosé Ernesto <strong>de</strong> Carvalho e Rego, constando-lheque na secretaria da mesma universida<strong>de</strong>existia a sobredicta biblia, or<strong>de</strong>nou, cm portaria<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1857, que fosse remettida immediatamentepara a bibliotheca, on<strong>de</strong> no dia 3<strong>de</strong> fevereiro do dicto anno <strong>de</strong>u entrada, passando-seo competente recibo, e ficou arrecadadano gabinete reservado (n.° XII), para maior recatoe boa conservação, na conformida<strong>de</strong> das or<strong>de</strong>nsdo referido prelado.


80aproveitaram os seguintes fragmentosd'um relatorio antigo, sem data, nemassignatura, mas com notas á margemescriptas pelo doutor Antonio Honorato<strong>de</strong> Caria e Moura.« A bibliotheca real da universida<strong>de</strong>exige consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>speza para se pôrho estado, que pe<strong>de</strong> a <strong>de</strong>cencia da corporaçãoa que pertence, e o serviço dopúblico; e necessita, além d'isto, d'umaconsignação annual para se prover doslivros, que successivamente forem sahindo.«Ramos ha <strong>de</strong> litteratura, que temmui poucos livros; e em todos elles,faltam-lhe obras capitaes e necessarias;sendo mui particularmente <strong>de</strong> notar apequena copia, que tem <strong>de</strong> livros portuguezes,dos quaes <strong>de</strong>veria possuir umacollecção abundante, e bem escolhida 1 .«A classe dos AA. <strong>de</strong> Historia, <strong>de</strong>Geographia, e <strong>de</strong> Viagens, principalmentedos mo<strong>de</strong>rnos, está muito <strong>de</strong>sprovida.' Pediu-se catalogo para Hamburgo: (nota dobibliot. A. II.).


81«No ramo da Philosophia Natural,faltam-lhe muitas obras preciosas pelabelleza typographica e perfeição dasestampas« Tem algumas edições boas <strong>de</strong> Clássicos,mas faltam-lhe outras muitas, eem particular as edições esplendidas,que <strong>de</strong> alguns d'elles se têm publicadoha poucos annos a esta parte.« As collecções <strong>de</strong> Memorias, que possue,estão pela maior parte incompletas,e é necessário inteiral-as, e ir comprando,as que ainda continuam, á proporção,que se publicarem«Deve subscrever para algumas dasmelhores obras periódicas e gazetas litterarias,e também para os livros, que,pelas gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>spezas da edição, secostumam imprimir por subscripção;sendo muito proprio da dignida<strong>de</strong> da' Está encommendada uma gran<strong>de</strong> porção, principalmenteem Malhematica, a Manuel Pedro <strong>de</strong>Mello: (nota do bibliot. A. H.).2O complemento encommendou-se a Borel Borel& C.*, e a continuação ao procurador, em Paris,Lenoir: (nota do bibliot. A. H).


82corporação, que o nome da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> appareça nas listas dos assignantes,que na frente <strong>de</strong> similhantesobras costumam imprimir-se 1 .« Cumpre também que a bibliothecareal tenha uma collecção <strong>de</strong> Manuscriptos,comprando os que se lhe oíferecerem<strong>de</strong> venda, se forem dignos <strong>de</strong> seconservar; e mandando copiar os quese guardam em bibliothecas publicasou particulares, quando houver occasião;e ainda mesmo os que estão <strong>de</strong>positadosem archivos, e que po<strong>de</strong>mservir para illustraçâo da Historia e Antiguida<strong>de</strong>sda nação.« Para se executarem estas provi<strong>de</strong>ncia^,é necessário que o bibliothecarioabra correspondência com homens le-' Fez-se em 1803 a nota competente, que sedirigiu a Lenoir: (nota do bibliot. A. H.).É immensa a relação dos livros, que por <strong>de</strong>spachodajunctada fazenda <strong>de</strong> 27 d'abril <strong>de</strong> 1803,se mandaram subscrever e comprar; pô<strong>de</strong> vèr-sea dieta relação no archivo da extincta juncta dafazenda, on<strong>de</strong> existe com o <strong>de</strong>spacho assignadopor — Faria P: (nota do auctor).


83trados nacionaes, c estrangeiros, e commercadores <strong>de</strong> livros, que lhe remettamos melhores catalogos, para por ellesfazer as encommendas, sem a intervenção<strong>de</strong> commissarios, quando se pu<strong>de</strong>remhaver em direitura da primeiramão«Todas estas cousas, sem as quaesnão pô<strong>de</strong> a universida<strong>de</strong> ter uma copiosa,rica, e bem escolhida bibliotheca,necessitam <strong>de</strong> avultadas <strong>de</strong>spezas: <strong>de</strong>maneira que, além d'um gran<strong>de</strong> empregoque se <strong>de</strong>veria fazer logo, para a proverdas principaes obras, que lhe faltam,era necessário, como fica dicto,applicar uma consignação annual e consi<strong>de</strong>rávelpara livros novos, subscripções<strong>de</strong> escriptos periodicos, collecções dasActas e Memorias das aca<strong>de</strong>mias, copias<strong>de</strong> Manuscriptos, e <strong>de</strong>spezas <strong>de</strong>correspondência.1Como <strong>de</strong> presente se começa a haver <strong>de</strong> Parispor via, e agencia do lente <strong>de</strong> MathematicaManuel Pedro <strong>de</strong> Mello. Todas estas cousas etc.(Nota do bibliot. H.).


84«Não se falia em collecções <strong>de</strong> Medalhas',e Moedas, etc., porque estesartigos são tão dispendiosos, que talveznão seja possível entrar no projecto <strong>de</strong>os colligir, sem que primeiramente secui<strong>de</strong> no provimento dos livros, cujafalta é mais sensivel, e se faz por issodigna <strong>de</strong> immediata provi<strong>de</strong>ncia.»Os acontecimentos políticos <strong>de</strong> 1834vieram retirar o bibliothecario AntonioHonorato <strong>de</strong> Caria e Moura, da gerenciaque lhe fôra commettida, e fizeramcom que tão benemerito funccionariopúblico estivesse por alguns annos fórada universida<strong>de</strong>, e per<strong>de</strong>sse para sem-1Quando se traclar do museu numismático,será occasião mais própria para se fallar do inventariodas antigas medalhas, e outras antiguida<strong>de</strong>spertencentes á universida<strong>de</strong>, feito em 8 d'agosto <strong>de</strong>1789 por Bernardo Alexandre Leal, official subalternoda bibliotheca; e bem assim para se confrontaro dicto inventario com a relação, escriptapelo bibliothecario Antonio Honorato, das medalhasc moedas que havia na mesma bibliotheca,e que foram encaixotadas em 23 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1832, na fórma or<strong>de</strong>nada pelo aviso régio <strong>de</strong> 11do dicto mez e anno. (Nota do auctor.)


85pre o logar <strong>de</strong> bibliothecario, que <strong>de</strong>sempenhárao mais dignamente possível.Obteve reparação porém dos acerbosazares da fortuna, por que passou; porquanto, — atten<strong>de</strong>ndo a que o doutorAntonio Honorato <strong>de</strong> Caria e Mouraserviu com distincção no observatorioastronomico da universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> oanno <strong>de</strong> 1801 até 1817 na qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> ajudante do mesmo observatorio, e<strong>de</strong>pois do anno <strong>de</strong> 1815 na qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> lente substituto, continuando ainda,<strong>de</strong>pois daquella epocha, em que foi<strong>de</strong>spachado lente cathedratico até o anno<strong>de</strong> 1824, a occupar-se nos trabalhosastronomicos, como consta das ephemeri<strong>de</strong>spublicadas até aquella data,nas quaes está <strong>de</strong>signado o seu trabalho; — atten<strong>de</strong>ndo outrosim á falta,que havia <strong>de</strong> professores d'aquella boaeschola, que estivessem longamenteexercitados em tão importante, e transcen<strong>de</strong>nteramo da sciencia; em 21 dojaneiro <strong>de</strong> 1837 outra vez entrou emserviço na faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Malhematica,


86tendo sido por <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 12 do diclomez e anno, não só jubilado no cargo<strong>de</strong> terceiro lente da referida faculda<strong>de</strong>,para que fôra <strong>de</strong>spachado no mezd'agosto <strong>de</strong> 1827, mas também nomeadodirector do observatorio, na conformida<strong>de</strong>do art. 2.° do regulamento <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1799, impondo-se-lhe todaviaa obrigação <strong>de</strong> reger interinamenteuma ca<strong>de</strong>ira da faculda<strong>de</strong>, na qualfosse mais vantajosa a sua aptidão, eque lhe seria <strong>de</strong>signada pela congregação1 , em quanto a faculda<strong>de</strong> não fosseprovida <strong>de</strong> lentes, <strong>de</strong> que para o seucompleto serviço então carecia.Os fundamentos do citado <strong>de</strong>creto,communicado em portaria do ministériodos negocios do reino <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> janeiro<strong>de</strong> 1837, eram <strong>de</strong> tal Sorte honrosos,que não podiam <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser aqui exarados,para completar o padrão <strong>de</strong> ver-1Regeu a ca<strong>de</strong>ira do 1.° anno mathematicoem 1837, e <strong>de</strong>pois passou para a ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> Astronomia,on<strong>de</strong> se conservou até o anno <strong>de</strong> 1843,em que falleceu no dia 16 <strong>de</strong> novembro.


87da<strong>de</strong>ira gloria, tão justa e merecidamente<strong>de</strong>vido á memoria do sábio e laboriosíssimoprofessor <strong>de</strong> Mathematica,e director do observatorio astronomicoda universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> \A epocha, que teve começo em 1834,inaugurou-se com varias provi<strong>de</strong>ncias,algumas das quaes não foram tão profícuas,como se esperava, e seria para<strong>de</strong>sejar, que o fossem.Entre estas, a primeira, e mais transcen<strong>de</strong>nteem quanto á bibliotheca, foi a<strong>de</strong> mandar pôr á disposição do vicereitorda universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, emvirtu<strong>de</strong> da sua representação, os livrosraros e preciosos, assim como os excel-1Além <strong>de</strong> calcular ultimamente os artigos,que vem <strong>de</strong>signados na ephemeri<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1841, publicada<strong>de</strong>pois d'uma interrupção <strong>de</strong> quinze annos,e nas seguintes até o anno <strong>de</strong> 1845 inclusivamente,escreveu importantes Memorias, aindainéditas, sobre diversos pontos <strong>de</strong> Geometria, Analysee Mechanica; também escreveu uma GeometriaSynthetica, em que era eminente, e fez umasTaboas utilissimas para abbreviar o calculo dasascensões rectas, trabalhos não publicados por 'ora,mas primorosos e dignos <strong>de</strong> se estamparem.


88lentes painéis, que existiam nas casasdas extinctas or<strong>de</strong>ns regulares d'esta cida<strong>de</strong>,para serem incorporados na bibliotheca,ou no museu da universida<strong>de</strong>,como exigisse a sua côllocação e diversanatureza, para o melhor serviço e proveitopúblico; <strong>de</strong>vendo o mesmo vicereitor,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> receber por inventariotodos os mencionados objectos, á vistad'elle, da capacida<strong>de</strong> dos edifícios, emque tivessem <strong>de</strong> ser accommodados, econsi<strong>de</strong>rando todas as mais conveniênciasd'este negocio, propôr o modo, quemais util lhe parecesse, para levar a effeitoaquella soberana resolução 1 .1Portaria do ministério do reino <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 1834.—Na mesma data se officiou ao ministrodos negocios da fazenda, para fazer expediras or<strong>de</strong>ns da sua competencia ao prefeito daprovinda do Douro (Manuel Gonçalves <strong>de</strong> Miranda),a fim <strong>de</strong> que, fazendo elle inventariar todasessas livrarias, painéis, e outros quaesquer objectosrelativos ás sciencias, e ás artes, os mandassepôr á disposição do vicc-reitor. O dicto prefeito,em vez <strong>de</strong> cumprir a or<strong>de</strong>m que se lhe expediu,póz dúvida a que se verificasse a entrega das livrariasdos extinctos conventos e mosteiros, o queserá cm logar competente referido, e bem assim


89É <strong>de</strong> crer, que o <strong>de</strong>plorável systemaseguido, pelo que toca á arrecadação,arranjo e <strong>de</strong>finitiva collocação das livrariasdas extinctas corporações religiosas,tivesse motivos justificados em circumstanciasespeciaes. O certo porém éque nada eguala a confusão, em que selançou tão vasto <strong>de</strong>posito <strong>de</strong> livros, o qualfoi confiado por fim a mais d'uma numerosacommissão, como adiante se verá,<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> haver sido a maior porção doslivros, recolhida em 1835 no edifício doantigo collegio das Artes; e dahi, feitasgran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>spezas e muitos trabalhos, seremoveu quasi tumultuariamente em setembro<strong>de</strong> 1853 para o antigo hospital <strong>de</strong>N. S. da Conceição, on<strong>de</strong> 'ora se acha;sendo que se torna <strong>de</strong> primeira necessida<strong>de</strong>,o dar um <strong>de</strong>stino áquelle aindaconsi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>pósito geral, que não sóse vae quotidianamente <strong>de</strong>teriorando,mas se acha alli morto para a instrucasmais provi<strong>de</strong>ncias tomadas sobre similhanteobjecto.


90ção pública, com mui grave prejuízo dacivilisação.As attribuições <strong>de</strong> bibliothecario annexaram-seprovisoriamente ás <strong>de</strong> directorda imprensa da universida<strong>de</strong> 1 , semalgum outro or<strong>de</strong>nado, senão o <strong>de</strong> bibliothecarioe aposentadoria nas casasda imprensa, provi<strong>de</strong>ncia fundada principalmentena economia exigida pelosapuros do thesouro, mas inconveniente,e até incompatível, como a experienciatem mostrado, com o serviço d'ambosos respectivos estabelecimentos. Comeffeito a direcção especial <strong>de</strong> cada umd'elles, carece hoje <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>sempenhadacom muito maior zêlo e assiduida<strong>de</strong>,e com as vantagens correspon<strong>de</strong>ntes, enão po<strong>de</strong> por isso consi<strong>de</strong>rar-se reformadaem melhor or<strong>de</strong>m, como se achavaestabelecido pelos citados estatutos' Portaria do vice-reitor da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 16<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1834.—A annexação proposta foi, comouma medida provisoria, confirmada pelo governo<strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>, em 22 do dicto mez e anno, ctem todavia subsistido até hoje d'um modo permanente.


91antigos da universida<strong>de</strong> no liv. II, tit. III,pag. 42, col. i. a , e tit. LI, já em consequênciado mais amplo <strong>de</strong>sinvolvimentoe reconhecida utilida<strong>de</strong>, que tême po<strong>de</strong>m prestar aquelles estabelecimentos,já por causa do extraordinárioaugmento <strong>de</strong> trabalho, e das obrigaçõesinherentes ao director <strong>de</strong> cada um d'elles.Por carta regia <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1834 <strong>de</strong>terminou sua magesta<strong>de</strong>, queo lente <strong>de</strong> prima da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Leis,Manuel <strong>de</strong> Serpa Machado, entrasse noexercício do logar <strong>de</strong> bibliothecario edirector da imprensa da universida<strong>de</strong>,<strong>de</strong> cujo logar se lhe havia feito mercêpela portaria <strong>de</strong> 13 d'agosto do dictoanno, na fórma acima <strong>de</strong>clarada.O actual lente bibliothecario mereceua singular e privilegiada ventura <strong>de</strong> havero seu governo já excedido em duraçãoo <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong> seus antecessores;e se não lhes tem avantajado em todosos actos da sua gerencia, nem por issoo illustre e famigerado nome <strong>de</strong> tão distinctoprofessor e respeitável ancião se


92offuscou, em attenção aos longos e brilhantesserviços por elle prestados á universida<strong>de</strong>e á patria; sendo bem notorioque pela ausência, por ir para as côrtes,ora como senador, ora como digno pardo reino, e por outras causas que não éaqui o logar <strong>de</strong> referir, o sábio <strong>de</strong>cano edirector da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, o conselheiroManuel <strong>de</strong> Serpa Machado, temsido repetidas vezes distraindo, e atélegalmente impedido das attribuições <strong>de</strong>bibliothecario, assaz laboriosas e complicadas,e muito mais por serem simultâneascom as <strong>de</strong> director da imprensada universida<strong>de</strong>. Ainda assim, ha <strong>de</strong> referir-seuma boa porção <strong>de</strong> trabalhos importantes,mandados fazer por elle nabibliotheca, a pezar da omissão necessária<strong>de</strong> muitos outros, ácèrca dos quaespor'ora seria prematuro e menos <strong>de</strong>licadoemittir qualquer juiso, postoque semdúvida terão <strong>de</strong> ser egualmente dignos<strong>de</strong> menção honrosa.Formaram-se os <strong>de</strong>positos <strong>de</strong> livros nosbaixos da bibliotheca da universida<strong>de</strong>,


93on<strong>de</strong> antigamente, até o anno <strong>de</strong> 1834,fóra a prisão académica. 'Neste mesmoanno, e nos seguintes <strong>de</strong> 1835 e 1836,feitas na referida casa <strong>de</strong>tensora as obrase arranjos necessários para a tornar accommodadaao novo <strong>de</strong>stino para quefôra escolhida, se recolheram para esses<strong>de</strong>positos, <strong>de</strong>nominados—subjacente einferior—varias livrarias, a saber: a docollegio dos Militares, livraria escolhida<strong>de</strong> excellentes edições, a do collegio <strong>de</strong>S. Paulo, pequena livraria, a <strong>de</strong> S. Josédos Marianos, também pequena, e umaparte das livrarias do collegio <strong>de</strong> S.Bento e do convento <strong>de</strong> Santa Cruz, asedições mais selectas e raras; e <strong>de</strong>pois,em 1839, a livraria e os manuscriptos litterariosdo <strong>de</strong>sembargador, o conselheiroJoão Pedro Ribeiro, por elle <strong>de</strong>ixadosem legado á bibliotheca da universida<strong>de</strong>,com reserva d'uma porção <strong>de</strong> livros,cuja fruição ficou a seu sobrinho Pedrodo Rosario Ribeiro, e que por fallecimentod'este foram, em 1852, recolhidostambém aos sobredictos <strong>de</strong>positos.


94Sob a direcção do actual lente bibliothecariose emprehen<strong>de</strong>u e completou ocatalogo dos livros dos mencionados <strong>de</strong>pósitosannexos, sendo empregado 'nesteserviço o antigo official subalterno dabibliotheca José Men<strong>de</strong>s Diniz, o qual<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter classificado e disposto nasestantes as obras todas pela or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>matérias, passou a fazer o respectivo catalogo,no anno <strong>de</strong> 1836, e o concluiuem 1840, mas não chegou a pôl-o poror<strong>de</strong>m alphabetica, por causa d'outrostrabalhos bibliographicos, <strong>de</strong> que fôraem 1841 encarregado, uma parte dosquaes foi executada sob a direcção domesmo lente bibliothecario 1 .Entre os mo<strong>de</strong>rnos catalogos da bibliotheca,<strong>de</strong>ve também nomear-se um' No principio do anno <strong>de</strong> 1841 passou o officialda bibliotheca José Men<strong>de</strong>s Diniz ao <strong>de</strong>positogeral do collegio das Artes, on<strong>de</strong> prestoumui distinctos serviços até o fim <strong>de</strong> março <strong>de</strong>1844, no arranjo, collocação e catalogos dos livrosdas extinctas corporações religiosas. Estestrabalhos ainda foram continuados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> abrilaté o fim d'agosto <strong>de</strong> 1844, por dous amanuenses;mas <strong>de</strong>pois suspen<strong>de</strong>ram-se.


95<strong>de</strong> Direito, feito em 1839 pelo já citadoofficial subalterno. Ha outro catalogoprincipiado, e bastante adiantado, <strong>de</strong>todos os livros existentes na bibliotheca,no qual têm trabalhado os empregadosda casa, e é feito pela mesma or<strong>de</strong>mem que se acham collocados os livrosnas estantes. Este catalogo, emprehendidosob a direcção do lente substitutodo bibliothecario, o doutor Bernardo<strong>de</strong> Serpa Pimentel 1 , já estaria concluido,se não foram acontecimentos,que têm a isso obstado, taes, como amudança dos exames preparatórios, dolyceu para a bibliotheca, on<strong>de</strong> tiveramlogar, pelo modo anteriormente pon<strong>de</strong>rado,no mez <strong>de</strong> julho e na ultima quin-1Pela portaria do ministério do reino <strong>de</strong> 11<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1849, se permittiu que o doutorBernardo <strong>de</strong> Serpa Pimentel, lente substituto dafaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito, po<strong>de</strong>sse substituir a seu paiManuel <strong>de</strong> Serpa Machado, durante a ausênciad'elle por serviço na camara dos pares do reino,ou por outro legitimo impedimento, na direcçãoda bibliotheca e typographia da universida<strong>de</strong>, semvencimento algum, e sem prejuízo do provimento<strong>de</strong>finitivo no caso <strong>de</strong> vacatura.


96zena d'outubro <strong>de</strong> 1856, e como o<strong>de</strong>sempenho d'outros serviços mais urgentes,e ainda extraordinários paraum pessoal tão limitado como o da bibliotheca; pois além do bibliothecario,tem mais quatro empregados, que são—o primeiro e o segundo official, substitutosdo lente bibliothecario, o porteiro,e o contínuo; e um servente pago pelafolha do expedienteTem sido a <strong>de</strong>speza feita, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834até 1856 inclusivamente, na compra <strong>de</strong>livros, 3:073$740 réis, incluindo n'estaverba a renda annual <strong>de</strong> 50#000 réisdo collegio <strong>de</strong> S. Pedro, em quanto foiapplicada para compra da continuaçãodos jornaes scientificos da bibliothecada~universida<strong>de</strong>, por estar o dicto collegioannexo á mesma bibliotheca 1 .1O servente da bibliotheca tem o vencimento<strong>de</strong> 200 réis diários, incluídos os domingos e diassantos.2Portaria do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terena (<strong>de</strong>pois Marquez<strong>de</strong> Terena) reitor da universida<strong>de</strong>, do 1."d'outubro <strong>de</strong> 1844. —A quantia <strong>de</strong> 3:073$740réis, gasta na compra <strong>de</strong> livros, segundo os apon-


97O numero do volumes impressos queno fim do anno lectivo <strong>de</strong> 1848 a 1849continha a bibliotheca, comprehen<strong>de</strong>ndotambém os <strong>de</strong>positos annexos, era<strong>de</strong> 52:000 volumes; as obras ou brochuras16:216; e os volumes manuscriptos900; sendo todavia poucos os códicesantigos, e uma gran<strong>de</strong> parte postillas,escriptos "<strong>de</strong> pouca importancia:as brochuras foram contadas em o numerodos volumes. Calculou-se em 170volumes, os que vinham annualmentepara a bibliotheca, regulando-se o calculopelo anno <strong>de</strong> 1848, que melhorcorrespondia ao termo mcdio".Ora, proximo ao fim do anno <strong>de</strong> 1856,o numero total dos volumes existentesna bibliotheca e nos <strong>de</strong>positos annexos,tamentos subminislrados pela bibliotheca da universida<strong>de</strong>,comprehen<strong>de</strong> a verba <strong>de</strong> 166$080 réis,proveniente das rendas do collegio <strong>de</strong> S. Pedro<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os annos <strong>de</strong> 1844 a 1845 até 1848 a 1849,excepto o anno <strong>de</strong> 1846 a 1847, em que o collegioesteve occupado militarmente.' Relatorio cit. da biblioth. da univ., <strong>de</strong> 30d'agosto <strong>de</strong> 1849.


98era <strong>de</strong> 55:743 volumes, <strong>de</strong>vendo assimter sido pouco consi<strong>de</strong>rável a acquisiçãofeita por compra, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1848 até1856; visto que 'nesse periodo <strong>de</strong> tempotinha-se gasto apenas 1:058#020 réis, ecomprehendia-se 'naquelle numero, alémdos volumes <strong>de</strong> todas as obras impressasna officina typograpbica da universida<strong>de</strong>o<strong>de</strong> 700 volumes das obras offerecidasou legadas á bibliotheca, poucomais ou menos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834 em diante" 1 .1A bibliotheca da universida<strong>de</strong> tinha direito adois exemplares <strong>de</strong> todas as obras impressas naofficina typographica da mesma universida<strong>de</strong>, segundoo arl. XXXI do regulamento d'aquclla officina,confirmado por alvará <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1790. Pela portaria do ministério dos negociosdo reino, <strong>de</strong> 16 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1854, art. 7.°, ficaramas propinas da bibliotheca reduzidas a umexemplar <strong>de</strong> todas as obras, que alli se imprimissem.Nas acquisições, feitas por este modo, comprehen<strong>de</strong>m-seos compêndios e mais publicações <strong>de</strong>quasi todos os lentes e professores da universida<strong>de</strong>e do lyccu nacional <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, sendo osexemplares <strong>de</strong> muitas d'essas obras em duplicado."2A relação, que na bibliotheca da universida<strong>de</strong>existe, das offertas e legados <strong>de</strong> livros, não é


99Empregou-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834 até 1848na compra <strong>de</strong> livros, como resulta doque fica exposto, 2:015$720 réis, quantiamui diminuta, e que não comprehen<strong>de</strong>verba alguma dos annos <strong>de</strong> 1834a 1837, porque 'nesses quatro annos nenhumaquantia se gastou na compra <strong>de</strong>livros; e é <strong>de</strong> advertir que, por causa docerceamento feito em 1844 na dotaçãodos estabelecimentos universitários, foisuspensa a encommenda <strong>de</strong> quaesquerlivros, que não fossem jornaes, cuja collecçãoestivesse começada, ou outros <strong>de</strong>absoluta necessida<strong>de</strong>'. Não será portanto muito affastado da verda<strong>de</strong> o suppôr,na falta d'outros documentos, e <strong>de</strong>melhores dados estatisticos, que não tibemexplicita n'este ponto; porem, exceptuandoo legado do conselheiro João Pedro Ribeiro, po<strong>de</strong>sem gran<strong>de</strong> erro suppôr-se que a mór parte dasoutras obras,,cujo numero total é <strong>de</strong> 226, c odos volumes <strong>de</strong> 700L, <strong>de</strong>ram entrada na mesmabibliotheca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834 em diante.' Portaria do Con<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terena, reitor da universida<strong>de</strong>,<strong>de</strong> 31 d'agosto <strong>de</strong> 1844, com referenciaao officio do ministério do reino, em data <strong>de</strong>27 do dicto mez e anno.


100vesse por isso a bibliotheca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834até 1848, maior acquisição <strong>de</strong> livroscomprados, do que a <strong>de</strong> 2:143 volumes,como proveiu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o anno <strong>de</strong> 1848até o <strong>de</strong> 1856 inclusivamente.D'on<strong>de</strong> approximadamenle se collige,que possuia, antes <strong>de</strong> 1834, a bibliothecada universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, cêrca<strong>de</strong> 28:000 volumes; e que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>1834, se formaram os <strong>de</strong>positosannexoscom 22:822 volumes <strong>de</strong> livrarias, pertencentesprincipalmente ás extinctascorporações religiosas d'esta cida<strong>de</strong>; sendoalém das referidas livrarias, a totalacquisição até o fim do anno <strong>de</strong> 1856,com as offertas e doações feitas á bibliotheca,<strong>de</strong> pouco menos <strong>de</strong> 5:000 volumes'.As circumslancias mais notáveis, epor isso dignas <strong>de</strong> especial menção, ácerca dos legados e offerlas que <strong>de</strong>ramentrada na bibliotheca"da universida<strong>de</strong>,1A mór parte (Testes esclarecimentos foramdados por Antonio da Rocha d'Antas, primeirooflicial subalterno da bibliotheca.


101são mui resumidamente as seguintes:quanto aos legados, foi aceitado por<strong>de</strong>spacho do conselho dos <strong>de</strong>canos <strong>de</strong>30 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1836, o que <strong>de</strong>ixou áuniversida<strong>de</strong> o doutor Domingos dosReis Teixeira, d'uma collecção <strong>de</strong> obrasperiódicas, contendo 310 volumes emquarto e oitavo, como em compensaçãod'uma caixa <strong>de</strong> Mineralogia, que fôrado doutor Paulino <strong>de</strong> Nola, e por este<strong>de</strong>ixada á mesma universida<strong>de</strong>, a qualcaixa faltara por effeito <strong>de</strong> causas inevitáveise alli <strong>de</strong>claradas: outro legadomais rico e precioso foi o, já citado, do<strong>de</strong>sembargador, o conselheiro João PedroRibeiro, constando da livraria e dosmanuscriptos litterarios do mesmo distinctojurisconsulto 1 , e conjunctamented'um monetário, ou pequeno museu <strong>de</strong>medalhas e moedas antigas 2 .* Na relação das ofíertas e legados <strong>de</strong> livros,não vem <strong>de</strong>signado o numero das obras nem dosvolumes do sobredicto legado, por constar do catalogodo annexo <strong>de</strong>posito subjacente, on<strong>de</strong> se collocou,e por isso foi incluído alli no seu respectivocatalogo.1A caixa das medalhas e moedas antigas, co-


102Passando ás offertas, com que maisse ensoberbece a bibliotheca, tem o primeirologar a Bibliothek <strong>de</strong>s LiterarischenVereinsin Stnttgart, Stutlgart 1843a 1846, quinze volumes em oitavo, obra'preciosa offerecida por sua magesta<strong>de</strong>fi<strong>de</strong>líssima el-rei o sr. D. Fernando II; eaFloraFluminensis,Va.risns 1827, dozevolumes com o respectivo indice, emfolio gran<strong>de</strong>, offerecida por sua magesta<strong>de</strong>imperial o sr. D. Pedro II, imperadordo Brasil.A offerta do governo inglez á bibliozidaem volta, lacrada e marcada com as letras— J. P. R. — iniciaes do nome <strong>de</strong> João Pedro Ribeiro,conservou-se na bibliotheca por muitos annos,assim como veiu; até que, tendo isto constadoao actual vice-reitor da universida<strong>de</strong> o conselheiroJosé Ernesto <strong>de</strong> Carvalho e Rego, a mandouelle abrir em 20 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1856, e lavraro auto competente d'abertura da referidacaixa, achando-se presentes, além do mesmo conselheirovice-reitor, o doutor Bernardo <strong>de</strong> SerpaPimentel, lente substituto ordinário da faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Direito, servindo <strong>de</strong> bibliothecario, e o officialda bibliotheca José Men<strong>de</strong>s Diniz. E contadasas medalhas e moedas, que são 884, e novamenterecolhidas na caixa em que vieram, ficaram <strong>de</strong>-


103theca da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong> égrandiosa, pois consta <strong>de</strong> 40 obras em108 volumes, impressas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1783 até1841, muitas d'ellas em folio gran<strong>de</strong>, eas outras em oitavo gran<strong>de</strong>, e todasmuito apreciaveis.Outra oíferta <strong>de</strong> mui subido valor, éa que fez a universida<strong>de</strong> central <strong>de</strong> Madridá <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, em 29 d'abril <strong>de</strong>1853, vindo uma relação dos livros assignadapelo reitor marquez <strong>de</strong> Morante,e pelo secretario geral d'aquella universida<strong>de</strong>Victoriano Marino; 'nesta oífertamagnifica, encontram-se os compêndiose outras publicações primorosas dosmais distinctos professores da sobredictauniversida<strong>de</strong>, impressas em differentesformatos e ricamente enca<strong>de</strong>rnadas, algumasdas quaes, até pela niti<strong>de</strong>z typograpluca,e preciosida<strong>de</strong> das enca<strong>de</strong>rnações,se conservam guardadas no gabinetereservado: as obras são 75 e osvolumes 113; e 'nestes números se compositadasno gabinete reservado, on<strong>de</strong> se achamoutras. O dicto auto foi por lodos trez assignado.


10 íprehcn<strong>de</strong>m duas obras, ou trez volumes,remeltidos já posteriormente, e maisquatro obras ou oito volumes, que paraa bibliotheca enviou em 1852 o lentecathedratico da faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Direito odoutor Vicente Ferrer Neto Paiva, actualmenteministro e secretario d'estadodos negocios ecclesiasticos e <strong>de</strong> justiça,e que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> viajar pela Hespanlia,'naquelle anno tinha regressado <strong>de</strong> Madrid,on<strong>de</strong>, o sábio professor, e distinctopublicista, auctor <strong>de</strong> varias obras <strong>de</strong>Direito Natural e das Gentes, promoveuc <strong>de</strong>finitivamente conseguiu estabeleceras reciprocas relações scientificas e litterariasentre as duas referidas universida<strong>de</strong>s.Em fim, também possue a bibliothecaum exemplar 1 dos Lusíadas <strong>de</strong> Camões,edição riquíssima do morgado <strong>de</strong> Matheus,além d'outras oíTertas <strong>de</strong> muitossábios e litteratos, assim nacionaes como1Adquiriu outro exemplar da mesma edição,pela annexação da livraria do collegio dos Militares,a que pertencia.


105estrangeiros, entre os primeiros dosquaes <strong>de</strong>vem mencionar-se o car<strong>de</strong>al Saraiva<strong>de</strong> S. Luiz, o conselheiro e ministrod'estado honorário Silvestre PinheiroFerreira, o viscon<strong>de</strong> d'Almeida Garrett,Alexandre Herculano, o doutor José Feliciano<strong>de</strong> Castilho, os viscon<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Santarém,<strong>de</strong> Sá da Ban<strong>de</strong>ira, e da Torre<strong>de</strong> Moncôrvo, o conselheiro José MariaDantas Pereira, o doutor Philippe Folque,Daniel Augusto da Silva, etc.; e entreos segundos d'aquelles o príncipe FelixFurst Lichnowsky, A. Raczynski,John Adamson, Henry Dunckley, Edm.<strong>de</strong> Selys-Longchamps, F. Y. Raspail,Manuel Odorico Men<strong>de</strong>s, etc.Para completar o abreviadíssimo quadrodas acquisições feitas, faltaria enumerarainda algumas das principaespreciosida<strong>de</strong>s da bibliotheca, guardadasnos gabinetes reservados, XII e A. Todaviapela difficulda<strong>de</strong> na verda<strong>de</strong>ira emais acertada escolha, e por outras consi<strong>de</strong>raçõespon<strong>de</strong>rosas, pareceu preferível<strong>de</strong>sistir d'isso; e tanto mais que,


106não <strong>de</strong>ixará <strong>de</strong> ser, <strong>de</strong>ntro em pouco,publicado o respectivo catalogo na suaintegra, como é mister, e bem assim odas offertas e legados, tudo acompanhadodas competentes notas bibliographicas,que d'um modo ou d'outro tem relaçãocom as obras. Assim que, ficarásimilhante lacuna preenchida, com maisproveito publico, sendo fácil <strong>de</strong>pois, emperíodos convenientes, a publicação dasnovas acquisições'.A bibliotheca da universida<strong>de</strong> foidotada, na conformida<strong>de</strong> da lei <strong>de</strong> 7d'abril <strong>de</strong> 1838, para livros e jornaes,com õOOSOOO réis.Em todo o anno economico <strong>de</strong> 1838a 1839 gastou 488^435 réis.1Pela portaria do ministério dos ncgocios doreino <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1855 se or<strong>de</strong>nou, artl. 6.°e 8,°, a impressão dos catalogos da bibliothecae mais estabelecimentos annexos, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> reformadospelo modo que na mesma portaria se <strong>de</strong>clara.À sabedoria e sollicitu<strong>de</strong> do prelado dauniversida<strong>de</strong> não escapará <strong>de</strong> certo provi<strong>de</strong>nciar,para se lhe dar prompta execução, sendo por venturamuito util, em tão vasta empreza, algumprimeiro ensaio <strong>de</strong> menos trabalho.


107A lei <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1839 augmenlou-lhemais para limpeza, expediente ecatalogos, 130S000 réis, e para o arranjodas livrarias das extinctas corporaçõesreligiosas, 500$000 réis; o queperfez com a mencionada dotação da lei<strong>de</strong> 7 d'abril <strong>de</strong> 1838 a quantia total <strong>de</strong>1:130£000 réis.No anno economico <strong>de</strong> 1839 a 1840,a livraria teve a dieta dotação, e gastou770#720 réis.No anno <strong>de</strong> 1840 a 1841 teve a mesmadotação, a qual gastou toda.No anno <strong>de</strong> 1841 a 1842 ainda tevea dotação <strong>de</strong> 1:130$000 réis, e gastou735^925 réis.No anno <strong>de</strong> 1842 a 1843 não houvedotação especial, porque no orçamentodo estado veiu uma consignação geral,para os diversos estabelecimentos universitários,<strong>de</strong> 12:000^000 réis. A bibliothecanão tornou a ter d'esta epochaem diante dotação especial.No dicto anno <strong>de</strong> 1842 a 1843 gastoua bibliotheca 593#535 réis; e nos se-


108guintes <strong>de</strong> 1843 a 1844 — 6453555reis; <strong>de</strong> 1844 a 1845, em que foi reduzidaa 6:0003000 réis a dotação dauniversida<strong>de</strong>—2913700 réis; <strong>de</strong> 1845a 1846—1343540 réis; <strong>de</strong> 1846 a 1847,em que foi elevada <strong>de</strong> 6:0003000 réis 1a 9:5003000 réis a dotação da universida<strong>de</strong>—151^850réis; <strong>de</strong> 1847 a 1848— 136JS595 réis; <strong>de</strong> 1848 a 1849 —1053380 réis; <strong>de</strong> 1849 a 1850 —1133352 réis; <strong>de</strong> 1850 a 1851 —429^085 réis; -<strong>de</strong> 1851 a 1852 —2343340 réis; <strong>de</strong> 1852 a 1853, em quese augmentou mais 103000 réis á dotaçãoda universida<strong>de</strong> — 2213645 réis;<strong>de</strong> 1853 a 1854 — 2353450 réis; <strong>de</strong>1854 a 1855 — 1193290 réis; finalmente<strong>de</strong> 1855 a 1856, em que se elevou<strong>de</strong> 9:5103000réis a 11:7003000 réisa dotação da universida<strong>de</strong> — 3073065réis. Em todos os referidos annos, gas-1Esta quantia não chegou em nenhum dosdous sobredictos annos; e o governo teve <strong>de</strong> mandaror<strong>de</strong>m para pagar as <strong>de</strong>spezas, que se achavamfeitas, em cada um d'elles, até 30 <strong>de</strong> junho.


109lou por tanto a bibliotheca da universida<strong>de</strong>6:844$4G2 réis; e além d'isso emobras, cuja <strong>de</strong>speza não entrou nas folhasdo expediente, por serem feitas pelacasa das obras, 491$ 105 réis, perfazendoassim com a prece<strong>de</strong>nte verba a importânciatotal <strong>de</strong> 7:335$567 réis'.A escripturação cm todos os ramosdo serviço da bibliotheca começou a serregularisada no anno <strong>de</strong> 1839 a 1840,e d'ahi em diante tem-se aperfeiçoadosuccessivamente\1Estes apontamentos, que são rigorosamenteexactos, foram dados pelo mui hahil e laboriosooííicial <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong> da secretaria da universida<strong>de</strong>,Eugénio Antonio Galeão. A sobrediclaquantia <strong>de</strong> 7:335|>567 réis não compreben<strong>de</strong> averba <strong>de</strong> 166^080 réis, proveniente, como já semencionou, das rendas do collegio <strong>de</strong> S. Pedro.2 As instrucções sobre o processo das folhasdo expediente, em conformida<strong>de</strong> com a disposiçãodo art. 105 do <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1836, e a continuação da práctica das folhasem duplicados, foram recommendadas pelas portariasdo vice-reitor da universida<strong>de</strong> (o conselheiroJosé Machado d'Abreu, actualmente barão <strong>de</strong> S.Thiago <strong>de</strong> Lor<strong>de</strong>llo e reitor honorário da universida<strong>de</strong>)<strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1839, e <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong>


110Des<strong>de</strong> 31 d'outubro <strong>de</strong> 1843 ha umsetembro <strong>de</strong> 1840. Foi <strong>de</strong>pois or<strong>de</strong>nada a apresentação<strong>de</strong> relatorios parciaes annuos, em observânciado <strong>de</strong>creto <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1841,communicado cm portaria circular do ministériodo reino <strong>de</strong> 12 <strong>de</strong> março do mesmo anno ao dictovice-rcitor da universida<strong>de</strong>, que a mandoupor copia transmittir em 22 do referido mez atodos os empregados, que tinham <strong>de</strong> lhe darcumprimento. A apresentação lambem <strong>de</strong> orçamentosparciaes, que <strong>de</strong>vem ser annualmenteremettidos á secretaria da universida<strong>de</strong> até o dia31 <strong>de</strong> julho, foi or<strong>de</strong>nada pela portaria do con<strong>de</strong><strong>de</strong> Terena, reitor da universida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 3 <strong>de</strong> julho<strong>de</strong> 184S. A escripturação em dia das <strong>de</strong>spezas,nos livros para isso <strong>de</strong>stinados, sem o que nãopo<strong>de</strong>ria ter logar requisição alguma <strong>de</strong> novas quantias,foi or<strong>de</strong>nada pela portaria do sobredicto vicereitor<strong>de</strong> 26 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1848: as instrucçõespara melhor regularida<strong>de</strong> da escripturação daconta dc caixa, pela portaria circular do mesmovice-reitor <strong>de</strong> 25 d'abril <strong>de</strong> 1849 : a formação<strong>de</strong> inventários exactos <strong>de</strong> toda a mobília e maisobjectos, pertencentes ao expediente <strong>de</strong> cada umdos estabelecimentos e repartições da universida<strong>de</strong>,pela portaria do, então, reitor effectivo o conselheiroJíosé Machado d'Abreu, <strong>de</strong> 13 d'abril <strong>de</strong>1850: finalmente pela circular do ministério doreino <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> setembro dc 1850, e pela portariado mesmo ministério <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1852,foi or<strong>de</strong>nada a remessa d'ahi em diante, junctamentecom o relatorio annual, <strong>de</strong> dous mappas confor-


111livro especial, on<strong>de</strong> muitas pessoas <strong>de</strong>vária cathegoria que têm visitado abibliotheca, assignaram os seus nomes.N'elle se lêm as regias assignaturas <strong>de</strong>sua magesta<strong>de</strong> a rainha a senhora D.Maria II, <strong>de</strong> saudosíssima memoria, a<strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> el-rei o sr. D. FernandoII, e as <strong>de</strong> seus augustos filhos, sua magesta<strong>de</strong>el-rei o sr. D. Pedro V, então príncipereal, e sua alteza real o sr. D. Luizduque do Porto, quando suas magesta<strong>de</strong>se alteza real em 23 d'abril <strong>de</strong> 1852honraram a universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>com a sua mui fausta e festejada visita:a assignatura <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> elreio sr. D. Fernando II, já existia nodicto livro, no qual sua magesta<strong>de</strong> sedignára escrever em 22 d'abril <strong>de</strong> 1851.A estatística da leitura, com relaçãomes com os mo<strong>de</strong>los 'naquella circular inclusos;um d'elles sobre a estatislica das obras e volumes,que possue a bibliotheca, classificados pelosramos bibliographicos, com <strong>de</strong>claração do numero<strong>de</strong> volumes que tem, não classificados; e o outromappa, sobre a estatística da leitura, com aclassificação e numero das obras.


112principalmente ao numero <strong>de</strong> leitores,já se fazia na bibliotheca, muitos annosantes <strong>de</strong> ser a sua remessa exigida peloministério do reino, em 2 <strong>de</strong> setembro<strong>de</strong> 1850, e, <strong>de</strong> novo em 23 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>1852, por não ter sido a estatística remettidacom o relatorio do anno lectivoantece<strong>de</strong>nte; todavia quanto' aos hábitos,especialida<strong>de</strong>s e ten<strong>de</strong>ncias da leitura,é que porora são mui escassos, imperfeitose até <strong>de</strong>ficientes os dados estatísticos;talvez <strong>de</strong>vido isto á organisação,por faculda<strong>de</strong>s, dos estudos universitários,e á varieda<strong>de</strong> das multiplicadasexigencias da leitura, avultando o concurso<strong>de</strong> académicos estudiosos, quenão só jèm, mas copiam, extractam, confrontame meditam. Pelo que no actualsystema seguido em conformida<strong>de</strong> como regulamento da bibliotheca 1 , se tornaquasi impossível aos poucos empregadosda casa. tomar as necessarias e conve-1Regulamento já citado <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 1800, ainda em vigor na maior parte das suasdisposições.


113nientes notas, c ao mesmo tempo satisfazerás outras obrigações do serviço.A vista d'um mappa geral, relativoaos últimos doze annos lectivos, a contardo <strong>de</strong> 1843 a 1844, com excepçãodo anno <strong>de</strong> 1846 a 1847, em que estevefechada a universida<strong>de</strong>, resulta que,o máximo numero <strong>de</strong> leitores e visitadores,que frequentaram a bibliotheca, foi<strong>de</strong> 4:083 no anno lectivo <strong>de</strong> 1855 a1856; e o minimo <strong>de</strong> 2:388, no annolectivo <strong>de</strong> 1843 a 1844; o termo médioannual, nos doze annos <strong>de</strong>corridos, foi<strong>de</strong> 3:141, posto que o numero 3:236,que representa o médio entre o máximoe o minimo, seria menos distante <strong>de</strong>cada um dos números que mostram osúltimos quatro annos lectivos, nos quaesa concurrencia na bibliotheca foi maiore mais regular.De cada anno lectivo, os mezes emque o numero <strong>de</strong> leitores é maior, sãoabril e maio; em que é menor, são julhoe outubro: em poucos annos se encontrarádivergencia notável 'nesta observa-8


114ção. Em maio dc 1850 foi quando estevena bibliotheca o maior numero <strong>de</strong>leitores, a saber 702; <strong>de</strong>duzindo d'ahio termo médio <strong>de</strong> leitores quotidianos,obler-se-hia proximamente 28.Nos dous últimos annos lectivos omaior numero das obras pedidas, correspon<strong>de</strong>uaos mezes <strong>de</strong> março e abril,e o menor a outubro: d'esses númeroso máximo foi 1:304 em março <strong>de</strong> 1856,e o minimo foi 134 em outubro do mesmoanno.Os ramos bibliographicos a que pertenciamas obras pedidas, foram o maiornumero <strong>de</strong> Direito, e o menor <strong>de</strong> Jornaese Manuscriptos, d'ambos os quaestambém é que a bibliotheca possue muilimitada colecção.O termo médio das obras pedidas foipor mez dc 827, nos dous últimos annoslectivos; e <strong>de</strong> 719 entre o máximoe o minimo, que tiveram logar no anno<strong>de</strong> 1856. A proporção respectiva das obraspedidas com o numero dos leitores, pelosdous modos indicados na <strong>de</strong>ducção dos


115termos médios, mostra que estão approximadamenteentre si como 26 para 10,e como 22 para 10; e fazendo a comparaçãosomente no anno <strong>de</strong> 1856, entreos máximos do numero das obras pedidase dos leitores, acha-se que estão entresi, pouco mais ou menos, como 18para 10. O resultado médio, obtido porestas trez ultimas proporções, é como 22para 10.Taes são os corollarios prácticos qued'aquelles dados estatísticos se pô<strong>de</strong> tirar,e que mais tar<strong>de</strong> serão <strong>de</strong> certomais rigorosos, abundantes e satisfactorios.Aos estudos archeologicos e históricosprestam gran<strong>de</strong> subsidio, não só


I«11Gos monumentosos quaes 'neste reino,outr'ora tão rico <strong>de</strong> preciosas antiguida<strong>de</strong>s,poucos têm escapado á <strong>de</strong>struiçãoda picareta sacrilega e estúpida dos <strong>de</strong>molidores;mas ainda as collecções numismáticas,e os livros relativos ao estudoda archeologia, propriamente dieta.0 pequeno museu numismático dabibliotheca da universida<strong>de</strong>, está muilonge <strong>de</strong> preencher tão importante fim;sendo que as collecções <strong>de</strong> medalhas emoedas são artigos assaz dispendiosos,e por isso não tem sido possível entrarno projecto <strong>de</strong> os colligir, como 'noutrologar foi já pon<strong>de</strong>rado. Os livros especiaes,e necessários aos sobredictos estudos,são também poucos, e acham-sedistribuidos nas estantes da bibliotheca,segundo a classificação das salas; porémmuito conviria formar com ellesuma repartição alli distincta, on<strong>de</strong> se1Os monumentos <strong>de</strong> que se falia são edifíciosantigos, estatuas, mármores, cippos, l/iminas, ouchapas dc qualquer metal, com letreiros phenicios,gregos, romanos, gothicos, ou arabicos,principalmente até o reinado do sv. D. Sebastião.


117collocasse egualmcnte o pequeno museunumismático, e mais antiguida<strong>de</strong>s conservadas'nesta casa.A collecção numismatica da bibliothecaorça por 3:380 medalhas. Nomeadamentecontém medalhas <strong>de</strong> familiasconsulares, no tempo da republica romana,<strong>de</strong> prata 456, <strong>de</strong> cobre 58: medalhasdos imperadores romanos, <strong>de</strong>ouro 1, <strong>de</strong> prata 134 e <strong>de</strong> cobre 660:medalhas <strong>de</strong> prata, 1 grega <strong>de</strong> Alexandre,e 23 incertas: medalhas ainda nãoreduzidas, <strong>de</strong> prata 5 arabicas; <strong>de</strong> cobre,225 romanas consulares do tempoda republica, 398 romanas imperatorias,76 gregas, 70 da media eda<strong>de</strong> ebaixo império, e 231 <strong>de</strong> differentes reinosda Europa, e mo<strong>de</strong>rnas: medalhase moedas portuguezas; — medalhas, 2<strong>de</strong> cobre; e — moedas, <strong>de</strong> ouro 2, <strong>de</strong>prata 22, e não reduzidas 7; <strong>de</strong> cobre63, e não reduzidas, por muito damnificadas,62. O total das prece<strong>de</strong>ntes medalhase moedas, ó 2:496: a saber, 3<strong>de</strong> ouro; 648 <strong>de</strong> prata, e 1845 dc co-


118bre*. O monetário do conselheiro JoãoPedro Ribeiro, por elle á universida<strong>de</strong>legado, consta dc 884 medalhas e moedas,sendo 1 <strong>de</strong> ouro, 1 <strong>de</strong> prata dourada,38 <strong>de</strong> prata, e as restantes <strong>de</strong> cobree <strong>de</strong> estanho.Por falta <strong>de</strong> tempo e <strong>de</strong> pessoa competente,está por classificar'uma gran<strong>de</strong>parte do mencionado museu numismáticoda bibliotheca da universida<strong>de</strong>; sen-1Tal é resumidamente o resultado da relação dasmedalhas, feita em 23 dc julho <strong>de</strong> 1832 pelo bibliothecarioxlntonio Honorato <strong>de</strong> Caria e Moura.Com este resultado, está conforme o que achou,em 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1856, o doutor Bernardo<strong>de</strong> Serpa Pimentel, lente substituto do bibliothecario,e actualmente <strong>de</strong>putado em cortes. Segundoo inventario das medalhas antigas, que passarampara a bibliotheca, feito no museu em 8 d'agosto<strong>de</strong>" 1789, pelo oflicial subalterno da bibliothecaBernardo Alexandre Leal, na presença do doutorDomingos Vandclli, lente da primeira ca<strong>de</strong>ira dafaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Philosophia, e <strong>de</strong> Luiz José Foucault,<strong>de</strong>putado e secretario da juncla da fazenda, erao numero das medalhas — <strong>de</strong> ouro 3, <strong>de</strong> prata 428,e <strong>de</strong> cobre 1:882: total 2:313. Em quanto ásoutras antiguida<strong>de</strong>s, constantes do mesmo inventario,ha muito que não existem na bibliothecada universida<strong>de</strong>.


119do certo, e até confirmado pela própriaexperiencia na bibliotheca nacional <strong>de</strong>Lisboa, que trabalhos d'esta or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>mandamuma assiduida<strong>de</strong>, que mal recompensaapparenteinente o resultado'.Ha muitos annos, é também conhecido,e até usado 'naquella bibliotheca, oprocesso para se tirarem das medalhasexistentes, inpromptus, que habilitam atransmittir cópias fieis das peças possuídas.Assim que, a dieta bibliotheca pô<strong>de</strong>enviar á socieda<strong>de</strong> real dos antiquariosdo norte, oitenta inpromptus <strong>de</strong> diversasmedalhas da Cyrenaica, da antigaAfrica, e <strong>de</strong> algumas cida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Hespanhá,Belica, e outras, que por aquellasábia corporação lhe foram pedidas paraa obra monumental — Médailles <strong>de</strong> l'ancienneAfrique— feita por Falbe, e Lindberg,<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong> el-rei<strong>de</strong> Dinamarca; peças que saíram já comparticular esmero e perfeição, a pezar "<strong>de</strong> ser novo o trabalho.1Relatorio citado <strong>de</strong> 1844, ácèrca da bibliothecanacional <strong>de</strong> Lisboa, ctc.


120Por meio do citado processo, pô<strong>de</strong>obter-se o numero <strong>de</strong> exemplares, que sequizer, dos inpromptus <strong>de</strong> medalhas jácopiadas, para enriquecer com estas impressões,alguns dos gabinetes, ou dosestabelecimentos litterarios do reino 1 .Na impossibilida<strong>de</strong> por tanto <strong>de</strong> fazertão cêdo novas acquisições numismáticas,sem que primeiro se cui<strong>de</strong> noprovimento geral dos livros, cuja falta émais sensível, torna-se mui util e <strong>de</strong>reconhecida importancia supprir poraquelle modo a dispendiosa compra <strong>de</strong>monetários, e prover a que seja um similhantetrabalho lambem emprehendidoe realisado na bibliotheca da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>.' O bibliothecario mór da bibliotheca nacionaldc Lisboa, o doutor José Feliciano <strong>de</strong> Castilho,no relatorio <strong>de</strong> Í844, por vezes citado, <strong>de</strong>claraque poria á disposição do governo <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>o numero <strong>de</strong> exemplares, que o mesmo governolhe <strong>de</strong>terminasse, para o <strong>de</strong>stino indicado.


121As livrariasr dos extinclos conventose mosteiros, á cerca das quaes já se diceque, pelo ministério do reino, em 9 <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 1834, se mandaram expediras or<strong>de</strong>ns competentes, a fim <strong>de</strong> seremincorporadas na bibliotheca da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, continuaram a existirainda em mãos <strong>de</strong> particulares, e sema arrecadação, que <strong>de</strong>viam ter, expostasa extravios, pela dúvida que pozera o prefeitoda provincia do Douro, a que severificasse a entrega das sobredictas livrariasá mesma universida<strong>de</strong> sem prece<strong>de</strong>rinventario legal, feito com escrupulosaindividuação; vindo dahi, comopon<strong>de</strong>rou o vice-reitor na sua conta, cmdata <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> setembro seguinte, a resul-


122lar consi<strong>de</strong>rável <strong>de</strong>mora, e a dar occasiãoao <strong>de</strong>scaminho d'uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong>sseslivros, aliás importantes. Isto se colligeda portaria do ministério do reino, <strong>de</strong>6 d'outubro do dicto anno, or<strong>de</strong>nando aoreferido prefeito que, sem mais <strong>de</strong>moraou sublerfugio, mandasse fazer a dietaentrega, a quem se apresentasse auctorisadopelo vice-reitor da universida<strong>de</strong>;ao qual lambem na mesma data se or<strong>de</strong>nou,que nomeasse duas pessoas damais reconhecida probida<strong>de</strong>, para junctamentecom o bibliothecario da universida<strong>de</strong>receberem e inventariarem asmencionadas livrarias, remeltendo-sed'esse inventario uma copia áquella secretariad'estado, e outra ao prefeito doDouro.Seria <strong>de</strong>masiado longo, expôr e <strong>de</strong>senrolaraqui circunstanciadamente aserie <strong>de</strong> trabalhos, que foram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> entãocommettidos, e <strong>de</strong>sempenhados porvários lentes e professores da universida<strong>de</strong>e do lyceu <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>. Dir-se-hatodavia o mais essencial, ácêrca das provi<strong>de</strong>nciassuccessivamente tomadas.


123As duas pessoas nomeadas pelo vicereitor,em portaria <strong>de</strong> 24 d'outubro <strong>de</strong>1834, foram os doutores Joaquim dosReis, e Adrião Pereira Forjaz, para que<strong>de</strong> intelligencia com o bibliothecario proce<strong>de</strong>ssemá recepção e inventario daslivrarias dos extinctos conventos emosteiros d'esta cida<strong>de</strong> e aros.Em portaria <strong>de</strong> 23 <strong>de</strong>janeiro <strong>de</strong> 1835,para obviar á damnificação e possívelextravio dos livros, que se achavam nasdifferentes livrarias dos conventos e collegiosextinctos, em casas <strong>de</strong>spovoadas,e no risco <strong>de</strong> serem roubadas, comoaconteceu á livraria do collegio do Carmo,antes <strong>de</strong> ser entregue aos commissariosd'esta universida<strong>de</strong>, or<strong>de</strong>nou ovice-reitor, que o lente bibliothecariocom os outros dous commissarios fizessemrecolher á bibliotheca aquelles livrosdas livrarias annexas, que julgassemalli convenientes, para irem substituiroutros, ou inúteis, ou menos proveitosos;fazendo elles recolher o restodos livros das livrarias dos conventos e


124collegios extinctos, e aquelles que fossemsubstituídos na da universida<strong>de</strong>,para os salões do edifício do collegiodas Artes, que formam a linha do norte,e para os quartos, ou gabinetes subjacentes;e aproveitando para a collocaçãodos dictos livros as estantes, que foramdas livrarias das mesmas corporaçõesreligiosas, ou provisoriamente outras,ainda que toscas.Para presidir, inspeccionar, e fazerexecutar a importante diligencia da immediataarrecadação dos preciosos objectosrelativos ás sciencias, e ás artes,que pertenceram ás extinctas or<strong>de</strong>ns regulares,e foram mandados entregar áuniversida<strong>de</strong>, foi nomeada pela portariado vice-reitor <strong>de</strong> 4 d'agosto <strong>de</strong> 1835uma commissão, composta dos lentesJoaquim Pereira Ferraz, Guilherme Henriques<strong>de</strong> Carvalho, Joaquim dos Reis,Basilio Alberto <strong>de</strong> Souza Pinto, AntonioJoaquim Barjona, Sebastião <strong>de</strong> Almeidae Silva, Agostinho José Pinto <strong>de</strong> Almeida,Antonio Joaquim Ban<strong>de</strong>ira, e FortunatoRafael Pereira <strong>de</strong> Sena.


125Por outra portaria do vice-reitor, <strong>de</strong>26 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1&35, foi nomeadauma nova commissão, para effeituar astransferencias e <strong>de</strong>cente collocação doslivros das extinctas or<strong>de</strong>ns religiosas;visto que este assumpto <strong>de</strong>mandava trabalhosuperior ao. <strong>de</strong> um único individuo,e conhecimentos universaes, quesó podiam encorítrar-se em um corpocollectivo, e não era trabalho <strong>de</strong> rigorosaobrigação do bibliothecario da universida<strong>de</strong>.A esta commissão, compostados seguintes lentes e professores, JoãoThomaz <strong>de</strong> Sousa Lobo, Joaquim dosReis, Manuel <strong>de</strong> Serpa Machado, JóãoAlberto Pereira <strong>de</strong> Azevedo, AgostinhoJosé Pinto <strong>de</strong> Almeida, Albino Allão,José Maria da Silva Torres, AntonioCardoso Borges <strong>de</strong> Figueiredo, e LuizIgnacio Ferreira, foram mandadas entregartodas as chaves e catalogos daslivrarias aon<strong>de</strong> houvesse ainda algumobjecto pertencente á universida<strong>de</strong>.Em portaria do vice-réitor dc 7 <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 1839 foi substituído na com-


126missão o doutor Albino Allão pelo doulorFortunato Rafael Pereira <strong>de</strong> Sena. E finalmentepor outra portaria, datada <strong>de</strong>20 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1841, o reitor, con<strong>de</strong> <strong>de</strong>Terena, fundado na ausência do doutorManuel <strong>de</strong> Serpa Machado, senador emcôrtes, e na escusa concedida ao doutorJoão Alberto Pereira <strong>de</strong> Azevedo, nomeoumais para membros da referida commissãoos doutores Basilio Alberto <strong>de</strong> SouzaPinto', e Florêncio Peres FurtadoGalvão.No <strong>de</strong>posito geral do collegio das Artesem 1849 existiam 102:300 volumes,que pertenceram ás extinctas corporaçõesreligiosas, e que não po<strong>de</strong>ram accommodar-senos <strong>de</strong>positos annexos á1Pelo mesmo impedimento legal do conselheirobibliothecario, director da imprensa, e membroda sobredicta commissão, tinha sido, em portariado vicc-reitor <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1841, encarregadointerinamente <strong>de</strong> todas as funeções do referidoconselheiro, durante a sua ausência, o lente cathedraticoda faculda<strong>de</strong> dc Direito,Basilio Alberto <strong>de</strong>Souza Pinto, para coadjuvar o qual, foi auctorisadoo doutor Bernardo <strong>de</strong> Serpa Pimentel em portaria domesmo vice-reitor <strong>de</strong> 13 do dicto mez e anno.


127bibliotheca, para on<strong>de</strong> vieram, como jáfôra mencionado, os mais importantesd'essas corporações. D'estes volumesestavam por classificar e reduzir a catalogo30:520; e não se pô<strong>de</strong> informarao certo sobre o numero <strong>de</strong> obras, queformam todos esses volumes, achandosemuitos d'elles troncados, ou dispersose confundidos naquella gran<strong>de</strong> multidão<strong>de</strong> livros 1 .No anno <strong>de</strong> 1853, e posteriormente,tanto o conselho superior <strong>de</strong> InstrucçãoPública, como as faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Theologia,<strong>de</strong> Medicina, e <strong>de</strong> Philosophia, ebem assim os professores do lyceu, obtiveramdo prelado da universida<strong>de</strong> auctorisação,para formarem livrarias propriamentesuas.Finalmente quanto aos trabalhos d'aquellasegunda numerosa commissão 2 ,1Relatorio cit. da biblioth. da univ., <strong>de</strong> 30d'agosto <strong>de</strong> 1849.JPelos membros da sobredicta commissão distribuiram-seos trabalhos em classes; e 'nessasclasses trabalharam mais assiduamente, na <strong>de</strong> Direitoo lente bibliothecario digno par do reino,


128é incontestável que chegaram a estarmuito adiantados, e a correspon<strong>de</strong>r aosprolongados esforços, e avultadas <strong>de</strong>spezasque se empregaram alli. Um catalogoporém, não é só feito para uma dadaclassificação, é <strong>de</strong>stinado a servir <strong>de</strong>guia 'numa <strong>de</strong>terminada localida<strong>de</strong>; eo <strong>de</strong>posito geral 1 , pela funesta mudança,que teve principio em setembro <strong>de</strong> 1853,inutilisou uma gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> tão Ímproboscomo interessantes serviços, ereclamou por isso novas e soberanasprovi<strong>de</strong>ncias \e no seu impedimento, ou como membro da commissão,o conselheiro Basilio Alberto <strong>de</strong> SouzaPinto; na <strong>de</strong> Theologia o doutor José Maria daSilva Torres, <strong>de</strong>pois arcebispo primaz do Oriente,e na <strong>de</strong> Litteralura o <strong>de</strong>cano e professor dolvceu Antonio Cardoso Borges <strong>de</strong> Figueiredo.1A guarda das livrarias, cóllocadas no <strong>de</strong>positogeral, não tocava especialmente ao porteiro da bibliothcca;e tanto no collegio das Artes, como<strong>de</strong>pois da mudança para o antigo hospital <strong>de</strong> N.S. da Conceição, foi ao servente José Maria Teixeira,que se entregaram as chaves do edifício,para cuidar na guarda d'elle, e na sua limpeza,e da enorme multidão <strong>de</strong> livros alli existentes.2Foram tnmbem mui distinetos os serviços,


129Tornando-se <strong>de</strong> urgente necessida<strong>de</strong>,dar <strong>de</strong>finitiva organisação ao <strong>de</strong>positogeral <strong>de</strong> livros dos extinctos conventos,annexo á bibliotheca da universida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>Coimbra</strong>, foi creada pela portaria do ministériodos negocios do reino, <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong>outubro <strong>de</strong> 1854, uma commissão espefeitosassim na bibliotheca como no <strong>de</strong>posito geral,pelo então 1." official da bibliotheca, JoaquimAlves Pereira, 'ora capellão-mór, thesoureiroda real capclla da universida<strong>de</strong>, e arcediagoda cida<strong>de</strong>. Em atteução a isso, foi em 12 <strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 1855 nomeado bibliothecario da livrariado collegio<strong>de</strong>S. Pedro, e encarregado da guarda,aceio e boa conservação da mesma livraria, pelovice-rcitor da universida<strong>de</strong> o conselheiro José Ernesto<strong>de</strong> Carvalho e Rego.9


130ciai, que teria a seu cargo ': verificar sena bibliotheca existiam todas as obras,constantes dos diffcrentes catalogos, examinandose estes estavam bem or<strong>de</strong>nados;<strong>de</strong>vendo tractar, no caso contrario,<strong>de</strong> fazer dois catalogos, um systematico,e outro alphabetico; <strong>de</strong> cujo trabalho po<strong>de</strong>riamser incumbidos os empregadosda mesma bibliotheca: formar catalogos<strong>de</strong> todos os livros, que estivessem no<strong>de</strong>posito geral, que actualmente existeno antigo hospital da Conceição: exigirdas commissões do lyceu, e das faculda<strong>de</strong>s,que têm organisado livrarias suas,catalogos <strong>de</strong> todos os livros, <strong>de</strong> queconstam essas livrarias, annexas á universida<strong>de</strong>,e sua bibliotheca geral:propôr ao governo o logar mais propriopara a <strong>de</strong>finitiva collocação dos livrosdas extinctas corporações religiosas;1A commissão especial, encarregada do melhoramentoc reforma da bibliotheca da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, foi creada em conformida<strong>de</strong>com as provi<strong>de</strong>ncias, propostas a similhante respeitopelo prelado da mesma universida<strong>de</strong> no seuoliicio <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> setembro dc 1854.


131<strong>de</strong>vendo préviamente, cada uma das faculda<strong>de</strong>sprover-se das obras, <strong>de</strong> queprecisasse, para formar a sua livrariaparticular: indicar, á cerca das obrasrestantes, que estivessem repetidas, nãofossem <strong>de</strong> differente edição, e sendo-o,não contivessem importantes ou notáveisalterações, os meios mais propriospara obter a sua troca por outros livros,Memorias e Jornaes Scientificos; apontandoo modo <strong>de</strong> efFeituar esta troca, jácom os livreiros nacionaes e estrangeiros,estabelecidos 'neste reino, já pormeio <strong>de</strong> transacções directas com os livreirosestabelecidos fóra d'elle: proporas reformas e meios, que mais conviessempara a conservação, augmento, eorganisação material, e bom uso litterarioda mesma bibliotheca; — po<strong>de</strong>ndo acommissão tomar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo, d'accôrdocom o prelado, as provi<strong>de</strong>ncias económicase regulamentares, que o bem dabibliotheca exigisse, e não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ssem<strong>de</strong> resolução regia.Esta commissão. composta do doutor


132Antonio Sanches Goulão, lente calhedraticoda faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Philosophia, queserviria <strong>de</strong> presi<strong>de</strong>nte; e dos doutores,Francisco Antonio Rodrigues d'Azevedo,lente cathedratico <strong>de</strong> Theologia, JoaquimJosé Paes da Silva, lente substituto <strong>de</strong>Direito, José Ferreira <strong>de</strong> Macedo Pinto,lente substituto <strong>de</strong> Medicina, FlorêncioMago Barreto Feio, lente substituto <strong>de</strong>Mathematica; e do professor <strong>de</strong> Hebreuno lyceu nacional <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, JoaquimAlves <strong>de</strong> Souza, que ser viria <strong>de</strong> secretario;foi installada pelo Vice-reitor da universida<strong>de</strong>,o doutor José Ernesto <strong>de</strong> Carvalhoe Rego, aos vinte e seis dias do mez<strong>de</strong> outubro do sobredicto anno; e nomesmo dia da sua installação, <strong>de</strong>u principio<strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo aos trabalhos <strong>de</strong> quefôra incumbida, e 'nelles têm continuadotão assiduamente, quanto era compatívelcom as obrigações do magistério, e outrasnão menos urgentes e laboriosas,a que tinha <strong>de</strong> satisfazer cada um dosmembros da referida commissão.Em <strong>de</strong>zesetc sessões, que abrangeram


133o espaço <strong>de</strong> quasi um anno, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 26d'outubro <strong>de</strong> 1854 até 22 d'outubro <strong>de</strong>1855, se encontra miudamente trasladadonos livros das respectivas actas, e doregisto, o modo por que a commissãoprocurou <strong>de</strong>sempenhar similhante incumbência.O appenso A contém na integrao relatorio e consulta, em que acommissão, em data <strong>de</strong> 15 d'abril <strong>de</strong>1855, teve a honra <strong>de</strong> apresentar asua magesta<strong>de</strong> a succinta exposição doque já tinha feito, e <strong>de</strong> propor ao mesmotempo as provi<strong>de</strong>ncias, que julgavanecessai ias, para fazer o que lhe restava,e conseguir, quanto em si estivesse,os fins da sua creação.Tal era, como se vê d'aquelle appenso,o estado em que se achavam ostrabalhos da commissão, quando cmsessão <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1855, lhe forampresentes as cópias, remetlidaspelo prelado da universida<strong>de</strong>, do <strong>de</strong>creto<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> maio, e da portaria do ministériodos negocios do reino <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> junhodo referido anno. 'Nessa mesma


134sessão, a commissão resolveu unanimemente,que se archivassem ambos os sobredictosdocumentos na secretaria dacommissão, e que na acta respectiva selançasse a <strong>de</strong>claração seguinte.«A commissão respeita profundamenteas soberanas or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> sua magesta<strong>de</strong>,ás quaes passa a dar, na parte quelhe toca, prompto e cabal cumprimento;sem discutir, nem apreciar, os motivoscertamente po<strong>de</strong>rosos, que o governo <strong>de</strong>Sua Magesta<strong>de</strong> podia ter, para não atten<strong>de</strong>ra differentes consi<strong>de</strong>rações e propostas,exaradas no relatorio e consulta,que a commissão tivera a honra <strong>de</strong> elevarao conhecimento <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>,em 15 d'abril <strong>de</strong> 1855.« Todavia, <strong>de</strong>clarando-se tanto na citadaportaria do ministério dos negociosdo reino <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> junho, como no <strong>de</strong>creto<strong>de</strong> 30 <strong>de</strong> maio a que ella se refere, quea commissão fôra consultada pelo governo<strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>; e mais,ainda, sendosabido e notorio, que ella representara epropuzera varias provi<strong>de</strong>ncias sobre os


135objectos, constantes daquelles dois documentos,sem que em nenhum d'ellesse faça distincção entre o proposto pelacommissão, e o resolvido pelo governo<strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>: enten<strong>de</strong> a commissão,já por seu <strong>de</strong>coro proprio, já, e principalmente,para <strong>de</strong>clinar a responsabilida<strong>de</strong>d'actos, que não são seus, que,segunda vez, <strong>de</strong>ve fazer aqui menção <strong>de</strong>todas as propostas, que dirigira ao governo<strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong> na consulta <strong>de</strong>15 d'abril 1 .»Pelas mesmas razões, que ficam expostas,resolveu finalmente a commissão,que se remettesse ao prelado dauniversida<strong>de</strong> cópia authentica da mencionadaacta; pedindo-se-lhe a graça <strong>de</strong>a mandar registar na secretaria da universida<strong>de</strong>,e <strong>de</strong>clarando-se, ao mesmotempo, que as attribuições da commissãoficavam d'ahi em diante restringidasao disposto na ultima parte da citada1Vejam-se pag. 155 a 157 do appcnso A, noqual estão incluídos lambem os dois últimos documentosofficiaes, a que se tem feito referencia.


136portaria do ministério dos ncgocios doreino <strong>de</strong> 2 <strong>de</strong> junho, que <strong>de</strong>termina:—t que a commissão da bibliotheca formee proponha um regulamento para a mesmabibliotheca, prevenindo os abusos,que possa haver na administração economicae litteraria do estabelecimento,do modo mais conveniente e util ao publico.»A commissão, na ultima sessão <strong>de</strong>22 d'outubro <strong>de</strong> 1855, foi presente orelatorio especial da bibliotheca da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, relativo ao annolectivo findo <strong>de</strong> 1854 a 1855', para1'Neste relatorio, e no do anno lectivo seguinte,foram indicadas c propostas pelo lente substitutodo bibliothecario algumas provi<strong>de</strong>ncias <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> interesse e utilida<strong>de</strong> para a bibliotheca.Quanto á mudança das horas, em que <strong>de</strong>veráconservar-se a bibliotheca aberta, e patente aopublico, se nota no primeiro d'aquelles relatorios,qne em antigos tempos costumava estar aberta <strong>de</strong>manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>; sendo que varias occorrencias<strong>de</strong>ram causa a se mandar abrir somente <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>,apenas ás sextas feiras, por serem vesperas <strong>de</strong>sabbatina, se abria também <strong>de</strong> manhã; e mostrando<strong>de</strong>pois a experiencia, <strong>de</strong> quão pouco pro-


137que a commissão lhe fizesse qualqueradditamento ou alteração, que julgassenecessário, na conformida<strong>de</strong> do officiodo prelado da mesma universida<strong>de</strong>, rcmettido,junctamente com o dicto relatorio,ao presi<strong>de</strong>nte da commissão, emdata <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> setembro antece<strong>de</strong>nte. Acommissão resolveu que o seu presi<strong>de</strong>nte,'num breve relatorio, désse contaao prelado <strong>de</strong> todos os trabalhos, a quea commissão havia procedido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> odia da sua installação.E com effeito eram dignas <strong>de</strong> appaveitoisto era no dia indicado, recentemente mudou-se,com <strong>de</strong>cidida vantagem, da sexta feirapara a quinta, a abertura <strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>;porem, no anno lectivo pretérito, <strong>de</strong>terminou oconselheiro D. José Manuel <strong>de</strong> Lemos, 'ora bispo<strong>de</strong> Vizeu, e antecessor do actual prelado da universida<strong>de</strong>,que cm cada dia estivesse aberta das<strong>de</strong>z da manhã até ás quatro horas da tar<strong>de</strong>, eassim se practicou até ao começo das ferias <strong>de</strong>Paschoa do corrente anno, em que em virtu<strong>de</strong> da<strong>de</strong>terminação da commissão especial, d'accôrdocom o prelado, se abriu <strong>de</strong>s<strong>de</strong> aquella epocha atéao fim do anno, <strong>de</strong> manhã e <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, cujas provi<strong>de</strong>nciasnão tiveram os inconvenientes dos antigostempos, e pareceram proveitosas.


138recer, como por aquelle modo se proporcionou,no relatorio geral da universida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, assim as provi<strong>de</strong>nciastomadas pela commissão daccôrdocom o prelado da mesma universida<strong>de</strong>,como as outras que dirigira ao illustradogoverno <strong>de</strong> Sua Magesta<strong>de</strong>.


139APPENSO A.WtWUmo a (\ue Te\tTeuwaSenhor! A Commissão, que Vossa Magesta<strong>de</strong>Foi servido crear, por Portaria do Ministériodos Negocios do Reino <strong>de</strong> 20 d'Outubro<strong>de</strong> 1854, para melhorar a organisaçãomaterial, a administração economica, e o usolitterario da Bibliotheca da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><strong>Coimbra</strong>, e dar a mais conveniente or<strong>de</strong>m ecollocação <strong>de</strong>finitiva aos livros das extinctas. Corporações Religiosas d'esta cida<strong>de</strong>, os quaesainda aqui se guardam em um gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>posito,—tem a honra <strong>de</strong> apresentar a VossaMagesta<strong>de</strong> a succinta exposição do que jáfez, e <strong>de</strong> propor ao mesmo tempo as provi<strong>de</strong>ncias,que julga necessarias, para fazer oque lhe resta, e conseguir, quanto em si esteja,os fins da sua creação.Encarregada nomeadamente <strong>de</strong> reformaros catalogos da Bibliotheca, e <strong>de</strong> organisaros do Deposito geral, a Commissão, antes <strong>de</strong>tudo, cuidou <strong>de</strong> informar-se do que havia'nesta parte.


140Dividiu-se em duas secções, a primeiratomou a seu cargo a inspecção da Bibliotheca,e achou que os mais antigos dos catalogosdos livros, alii existentes, estão gravemente<strong>de</strong>teriorados pelo tempo e longo uso,sem abertura nem encerramento: — que outrosmais mo<strong>de</strong>rnos ha, apenas começadosem ca<strong>de</strong>rnos, e que mais propriamente merecemo nome <strong>de</strong> additamentos aos catalogosantigos; — e que assim 'nestes, como 'naquelles,reina gran<strong>de</strong> confusão, nascida dasemendas frequentes, das entrelinhas escriptascom lápis, e hojequasi ininteliigiveis, da mutilaçãoe <strong>de</strong>slocação <strong>de</strong> muitas obras, e dafalta d'outras, que, ha annos, páram fóra daBibliotheca em po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> particulares (Documentosn.° 1.° e 2.°)'.' Doe. n.° 1.° — Relatorio da serrão encarregadado exame da Bibliotheca.Esta secção compunha-se do Presi<strong>de</strong>nte da Commissão,e dos dois immediatos Yogaes. A outrasecção, encarregada da inspecção dos livros do Depositogeral, era composta do Doutor MacedoPinto, e do Vogal Secretario da Commissão.Doe. n.° 2.° — Relatorio do Doutor Barreto-Feio, sobre a parte administrativa, eeconomicadaBibliotheca, que elle foi incumbido <strong>de</strong> examinar.


141Soube também, que a escolhida livrariado Collegio <strong>de</strong> S. Pedro, a pezar <strong>de</strong> haversido, como as outras livrarias das extinctasOr<strong>de</strong>ns Religiosas, annexada á Bibliotheca da<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, se tem conservado até hoje,entregue á guarda officiosa, e exclusiva serventiados moradores do mesmo Collegio(Doe. n.° 2.°, já citado).A outra secção, nos livros do Deposito geral,que tractou <strong>de</strong> inspeccionar, encontrou <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>me confusão incomparavelmente maiores.De tão prodigiosa quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> livros,poucos catalogos ha feitos; e ainda esses poucos,sobre carecerem <strong>de</strong> authenticida<strong>de</strong>, comoos da Bibliotheca, hoje acham-se quasi totalmenteinutilisados. Por quanto, em consequênciado modo tumultuoso, como aquelleslivros foram recentemente transferidos doedifício do antigo Collegio das Artes, hojeLyceu Nacional, on<strong>de</strong> haviam começado acatalogar-se, para o do antigo Hospital <strong>de</strong>N. S. da Conceição, on<strong>de</strong>'ora se conservam,transtornou-se inteiramente a or<strong>de</strong>m, porque estavam dispostas as estantes, as obras,e até mais, do que uma vez, os volumes <strong>de</strong>uma mesma obra; e assim per<strong>de</strong>u-se quasitodo esse trabalho, que estava feito, e que


142assás avultadas sommas havia custado á nação(Doe. n.° 3.°)'.Para tornar eífectiva a responsabilida<strong>de</strong>d'este rico <strong>de</strong>posito á pessoa, ou pessoas, officialmenteencarregadas <strong>de</strong> o guardarem, officioua Commissão ao Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,perguntando—a quem, e por que documentoofficial, havia sido commettida emgeral a guarda e inspecção das livrarias dasextinctas Or<strong>de</strong>ns Religiosas d'esta cida<strong>de</strong>?E, mandado ouvir sobre aquelle quesito, o-Lente Bibliothecario, ou quem suas vezes fazia,<strong>de</strong>u a resposta que vai juncta por copia(Doe. n.° b. 0 )' 1 <strong>de</strong>clinando <strong>de</strong> si toda a respon-1Doe. n.° 3." — Relação das quantias, que no<strong>de</strong>cennio <strong>de</strong> 1836 a 1846 se gastaram na catalogaçãodos livros das extinctas Or<strong>de</strong>ns Religiosas.Gastou-se mais <strong>de</strong> 1:071$900 reis, porque 'nestaverba não se comprehen<strong>de</strong>u a <strong>de</strong>speza do anno <strong>de</strong>1839 a 1840, em que não se <strong>de</strong>ram os duplicadosdas folhas, e por isso não se pô<strong>de</strong> saber, quantose gastou.Além d'isso, no ultimo trimestre <strong>de</strong> 1853, fez-secom a conducção dos livros, pela sobredicta transferencia,a <strong>de</strong>speza <strong>de</strong> 44^380 réis.2Doe. n.° 4.° — Officio do Lente BibliothecarioInterino, respon<strong>de</strong>ndo ao quesito, sobre a pessoaofficialmente encarregada da guarda e inspecçãod'aqoellas livrarias.


143sabilida<strong>de</strong> para a pessoa do Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,a cuja disposição, diz, que tinhamsido postas as mencionadas livrarias; e paraa do Porteiro e Servente, encarregados <strong>de</strong>guardar a Bibliotheca e o Deposito. O Prelado,a quem a Commissão transmittiu aresposta do Bibliothecario, para o inteirardo seu conteúdo, no officio, que dirigiu ámesma Commissão, e que mandou junctar aesta consulta (Doe. n.° 5.°)', refutando as razõesadduzidas na resposta do Bibliothecario,attribuiu-lhe a responsabilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>posito<strong>de</strong> que se tracta, e fez por essa occasiãooutras consi<strong>de</strong>rações sobre o mesmo objecto.Convencida, <strong>de</strong> que da boa administraçãoda dotação da Bibliotheca <strong>de</strong>pendia* em gran<strong>de</strong>parte, a vida regular e o vigor crescented'este estabelecimento, a Commissão dirigiutambém para este ponto as suas vistas. Ed'accôrdo com o Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> incumbiuum dos seus Membros <strong>de</strong>junctamentecom o Official <strong>de</strong> Contabilida<strong>de</strong> da Secretariada <strong>Universida<strong>de</strong></strong> examinar por que modocorria aquella administração, e <strong>de</strong> verificar1Doe. n.° 5.°—Officio do Prelado, sobre aquellaresposta do Lente Bibliothecario Interino.


144as verbas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834 ató hoje requisitadaspara as <strong>de</strong>spezas da Bibliotheca, confrontando-ascom os documentos, que justificassema sua applicaçâo. Por occasião d'esse exame,que a Commissão foi forçada a interromperpelas razões constantes do Doe. juncto (n.°6 °) , <strong>de</strong>scubriram-se abusos e <strong>de</strong>feitos, quereclamavam prompto remedio. Foi só <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1841, que começou a fazer-se assentamento,mais ou menos regular, do <strong>de</strong>spendido no expedienteda Bibliotheca: antes d'aquella epocliaapparecem apenas apontamentos avulsos. .Não havia ainda hoje livros especiaes, on<strong>de</strong>se fossem lançando as facturas das obras compradas,e as relações das enca<strong>de</strong>rnações, feitaspara a Bibliotheca; sendo todavia este umdos artigos em que maiores sommas se <strong>de</strong>spen<strong>de</strong>mtodos os annos. Das verbas requisitadaspara o expediente da Bibliotheca, muitastiveram applicaçâo differente; <strong>de</strong>ram-segratificações a varias pessoas, e augmentá-1Doe. n.° 6.°—Oflicio do Lente Bibliothecarioao Prelado, <strong>de</strong>clarando que não pô<strong>de</strong> apresentarjá ao Vogal da Commissão, encarregado do exameda parte .economica da Bibliotheca, os esclarecimentospor elle pedidos, relativos ao primeiro<strong>de</strong>cennio da sua administração, a contar <strong>de</strong> 1836.


145ra-se o salario a um dos empregados sem Portariado Prelado, que tal auctorisasse (Doe.n.° 2.°, já citado). E alem d'estes, outros abusose <strong>de</strong>feitos mais se <strong>de</strong>scubriram, assim 'nesta,como nas outras repartições do estabelecimentoda Bibliotheca, <strong>de</strong> muito antigadata, e altamente nocivos ás letras e á fazendapublica, nos quaes a Commissão se abstém<strong>de</strong> insistir, porque não po<strong>de</strong>m ser ignoradosdo Governo <strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong>, comoo prova o facto mesmo da creação da Commissão.D'accôrdo com o Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>já ella tomou algumas provi<strong>de</strong>ncias, ten<strong>de</strong>ntesa remover, quanto antes, alguns dos malesque ficam indicados. Mandou que em livrosespeciaes se lançassem as facturas e asrelações das enca<strong>de</strong>rnações, munidas das <strong>de</strong>claraçõesconvenientes: e que em quantoumas e outras não levassem a nota <strong>de</strong> registadas,e os livros não <strong>de</strong>ssem entrada na Bibliotheca,nada se pagasse pela Repartiçãorespectiva. Prohibiu que ás verbas <strong>de</strong>stinadaspara a Bibliotheca se désse outra applicação,ou se augmentassem salarios e <strong>de</strong>ssemgratificações sem auctorisação do Prelado,communicada em Portaria. Mandou recolher10


lif)á Bibliotheca todos os livros, pertencentes ámesma, que se achassem fóra em mãos <strong>de</strong> particulares,não encarregados oficialmente dccommissões scientificas e litterarias. E da relaçãojuncta (Doe. n.° 7.°)', cuja inteira exactidãoa Commissão ha <strong>de</strong> affirmar, quandoproce<strong>de</strong>r à catalogação dos livros da Bibliotheca,se infere que effectivamente entraram já'nesta muitas das obras que existiam fóra. Pediuao Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> provi<strong>de</strong>ncias,e approvou as que este lhe propoz para obviara qualquer frau<strong>de</strong> ou extravio que po<strong>de</strong>ssedar-se nos livros do Deposito geral, e que,no estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m em que estes se acham,e em razão da falta dos catalogos respectivos,muito difficil, se não impossível, seria <strong>de</strong>conhecer, provar, e impedir. Sobre um novo<strong>de</strong>posito <strong>de</strong> livros, guardado no edifício doConselho Superior <strong>de</strong> Instrucção Publica, doqual, só ha pouco, terve conhecimento porvia do Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, espera aCommissão tomar na primeira occasião provi<strong>de</strong>nciasanalogas ás que já tomou sobre os1Doe. n.° 7.°—'Relação dos livros da Bibliotheca,que ainda em 17 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1855,estavam fóra da mesma, cm po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> particulares,para on<strong>de</strong> tinham saído <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834.


147outros dois (o do Hospital <strong>de</strong> N. S. da Conceição,e o do Collegio <strong>de</strong> S. Pedro) acimareferidos. Finalmente, para po<strong>de</strong>rem ver-seem breve quadro, assim as provi<strong>de</strong>ncias, queficam indicadas, como as outras também tomadaspela Commissão, para se melhorar<strong>de</strong>s<strong>de</strong> já o uso da Bibliotheca, vai junctauma breve relação <strong>de</strong> todas ellas.« 1." Que um dos Membros da Commissão,e por ella <strong>de</strong>signado, fosse encarregado<strong>de</strong> verificar, junctamente com o Official <strong>de</strong>Contabilida<strong>de</strong> da Secretaria da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,as verbas que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1834 até hoje foramrequisitadas para as <strong>de</strong>spezas da Bibliotheca,comparando-as com os documentos que justifiquema sua applicação.« 2." Que <strong>de</strong> hoje em diante não seja pagapela Bepartição <strong>de</strong> Contabilida<strong>de</strong> facturaalguma <strong>de</strong> livros, sem que leve a nota <strong>de</strong>que — fica registada no livro competente: e<strong>de</strong> que—os livros <strong>de</strong>ram entrada na Bibliotheca.« 3. a Que em um livro especial, competentementenumerado e rubricado, se vãolançando as relações <strong>de</strong> todas as obras, quese mandarem enca<strong>de</strong>rnar; <strong>de</strong>clarando-se ahi— o titulo <strong>de</strong> cada obra:—o numero <strong>de</strong>


118volumes <strong>de</strong> que consta:—o anno, a que serefere, sendo jornaes scientificos ou litterarios:—adata da entrega da obra ao enca<strong>de</strong>rnador,e do recibo, passado por este, da importânciada enca<strong>de</strong>rnação: <strong>de</strong>vendo outrosimlançar-se nas dietas relações a nota <strong>de</strong>— registadas no livro <strong>de</strong> que se tracta.« 4." Q ue a nenhuma das verbas, requisitadaspara as <strong>de</strong>spezas da Bibliotheca, possadar-se outra applicaçâo; nem tão poucoaugmentar-se o salario a qualquer empregado,ou dar-se gratificação alguma, semauctorisação do Prelado, dada por Portaria.« 5.* 0" e a assignatura do Diário do Governo,já no corrente anno <strong>de</strong> 1855, se façaem nome da Bibliotheca, e que "nessa conformida<strong>de</strong>sejam expedidos os recibos pelaadministração respectiva.« 6." Que até ao fim <strong>de</strong> Dezembro <strong>de</strong> 1854se pozesse o sêllo da Bibliotheca, em todosos livros da mesma, que o não tivessem.« 7. a Que se mandassem recolher immediatamenteao edifício da Bibliotheca todosos livros d'esta, que se achassem fóra empo<strong>de</strong>r d'individuos, que não estivessem encarregados.oficialmente <strong>de</strong> commissões scientificasou litterarias; <strong>de</strong>vendo os que o esti-


150po<strong>de</strong>r dos Membros d'ella, que também <strong>de</strong>verãoser em numero <strong>de</strong> trez.« 10." Que se inspeccionasse a Livrariado Collegio <strong>de</strong> S. Pedro, pertencente á <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,do mesmo modo, e pela mesmarazão por que se tinha inspeccionado já oDeposito do Hospital <strong>de</strong> N. S. da Conceição. »Eis aqui, Senhor, o que a Commissão jáfez: mas tudo isto pouco é, comparado como muito que lhe resta por fazer, para correspon<strong>de</strong>raos fins da sua creação. A reformados catalogos antigos, e a organisação doutrosnovos, tal é a parte mais <strong>de</strong>morada elaboriosa; porém a primeira e mais importantedo seu trabalho: parte, a que todas asoutras se surbordinam, como o accessorio aoprincipal. Porquanto da commoda disposiçãodas obras bem catalogadas <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, parao empregado a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as achar, e parao público a promptidão em as consultar; ed'estas duas cousas resulta a um tempo economiapara o Thesouro, e proveito para asletras. Álem <strong>de</strong> que, sabendo-se, por meiod'um catalogo alphabetico geral, toda a riquezada Bibliotheca; e por meio d'outrosystematico, todos os recursos, <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>mdispor as Sciencias e as Artes, não será dif-


151ficil separar <strong>de</strong>pois o necessário, 6 util, e aindao meramente curioso, do <strong>de</strong>snecessário, epor ventura inconveniente para os fins doEstabelecimento, e d'estcs últimos objectospromover, com os livreiros nacionaes e estrangeiros,as transacções recommendadas nacitada Portaria que creou a Commissão.Foi em virtu<strong>de</strong> d'estas consi<strong>de</strong>rações, quea Commissão principiou já a verificar o catalogoda livraria do Collegio <strong>de</strong> S. Pedro,confrontando-o cuidadosamente com os livrosrespectivos. Quiz mais, ao passo que ia examinandoo antigo catalogo da Bibliothecada <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, lançar as bases do novo,por enten<strong>de</strong>r que assim pouparia tempo e<strong>de</strong>speza; mas como, para realisar estes seus<strong>de</strong>sejos, precisasse <strong>de</strong> amanuenses para escreveremos catalogos, e <strong>de</strong> homens para oserviço braçal da mudança e collocação dasobras, que se fossem catalogando; e comonem na Bibliotheca houvesse empregados<strong>de</strong> sobejo, dos quaes a Commissão po<strong>de</strong>ssedispor para aquelle duplo serviço, nem oPrelado, <strong>de</strong> quem os requisitara, lh'os po<strong>de</strong>ssesubministrar, suspen<strong>de</strong>u aquelle exame,até que provida <strong>de</strong> meios realise o projecto,que <strong>de</strong>ixa referido.


152Meios, pois, para a formação dos catalogos,tal é uma das primeiras necessida<strong>de</strong>s, aque o Governo <strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong> <strong>de</strong>veprover <strong>de</strong> prompto. Á Commisão parece, queuma verba annual, não inferior á que, parasimilhante fim, fôra votada na lei do orçamentodo Estado <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Julho <strong>de</strong> 1839,será sufficiente para cubrir a <strong>de</strong>speza, quetem <strong>de</strong> fazer-se com a organisação <strong>de</strong> doiscatalogos, um geral alpliabetico, e outro systematicodos livros da Bibliotheca e do Deposito,no caso da dieta verba se applicar exclusivamentepara este serviço.O trabalho da catalogação, porém, <strong>de</strong>veficar a cargo do Lente Bibliothecario, porser uma das primeiras obrigações do seu officio;cumprindo á Commissão sómente —o dar o plano, fiscalisar a obra, e vir em auxiliodo dicto Lente, quando este o requisitar,e a Commissão pudér. E como convirámuito abreviar, o mais que ser possa, o tempoque tem <strong>de</strong> gastar-se em um trabalho <strong>de</strong>sua natureza <strong>de</strong>morado, em razão do gran<strong>de</strong>numero <strong>de</strong> volumes, que ha para catalogar,<strong>de</strong>verá aproveitar-se ainda, durante as feriasgran<strong>de</strong>s, o préstimo dos diversos empregadosda Bibliotheca, nos dias em que esta


153haja <strong>de</strong> estar fechada, segundo o seu especialregulamento.Depois <strong>de</strong> feitos os catalogos, seguir-sehaa <strong>de</strong>finitiva e conveniente collocação dasobras, na qual <strong>de</strong>verá atten<strong>de</strong>r-se á naturezad'estas e á facilida<strong>de</strong> e regularida<strong>de</strong> doserviço.Cumpre não inutilisar as <strong>de</strong>spezas quese fizeram, para preparar no Hospital <strong>de</strong>N. S. da Conceição o local, on<strong>de</strong> se recolheramos livros das extinctas Corporações Religiosas;conservando ahi interinamente oslivros, que não se reputarem necessários ouproprios para se incorporarem na Livrariapública, e que <strong>de</strong>verem entrar nas transacções<strong>de</strong> que tracta a Portaria, que creou aCommissão.A Livraria pública po<strong>de</strong>rá dividir-se commodamenteem duas secções. Das quaes uma,e a principal, comprehen<strong>de</strong>ndo as obras douso diário, esteja sempre patente a quem aquizer frequentar. Na outra entrarão as obrasmais raras e preciosas, os manuscriptos e outrosobjectos <strong>de</strong> similhante genero, aos quaespor serem <strong>de</strong> uso menos frequente, e alguns<strong>de</strong> mera curiosida<strong>de</strong>, haja livre accesso sómenteno dia ou dias da semana, que o Bi-


154bliothecario <strong>de</strong>signar, e a commodida<strong>de</strong> doserviço permittir.As obras do primeiro genero achar-se-hãono edifício da Bibliotheca. Para as do segundo,julga a Commissão logar mui apropriadoo Collegio <strong>de</strong> S. Pedro. A sala, que alliserve <strong>de</strong> livraria, era uma das mais ricas,alegres e aceiadus, que possuíam as extinctasCorporações Beligiosas, e ainda hoje,graças ao zôlo <strong>de</strong> quem tem olhado pela suaconservação e limpeza, e em virtu<strong>de</strong> do respeito,que infun<strong>de</strong> a sua mesma magnificência,se conserva em quasi todo o seu antigoesplendor. Po<strong>de</strong>rá, se o quizerem assim,abrir-se uma entrada para aquella sala pelòlado do patea da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, tomando-sed'este modo, mais fácil e prompta a communicaçãoentre a Bibliotheca e o Collegio<strong>de</strong> S. Pedro, e menos dispendiosa a guardados objectos, que 'neste ultimo se collocarem.E assim realisar-se-ha o pensamento, queoccupava o Governo <strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong>,quando pelos Decretos <strong>de</strong> 25 <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1842e <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1848, <strong>de</strong>terminouque o dicto Collegio fosse applicado para supplementoda Bibliotheca, c para o uso da<strong>Universida<strong>de</strong></strong>.


155Taes são, além d'outros, os trabalhos, quea Commissão tem <strong>de</strong>lineados, e para os quaescarece <strong>de</strong> ser habilitada com os meios necessários.Porém, Senhor, para não ficarem baldadosos esforços, que ella intenta empregar,a fim <strong>de</strong> melhorar sob todos os respeitos oestabelecimento da Bibliotheca, forçoso é,que o Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, a quem incumbea suprema inspecção do que á mesmarespeita, e bem assim o Governo <strong>de</strong> VossaMagesta<strong>de</strong>, que <strong>de</strong>ve proteger as letras, etudo quanto possa concorrer para a prosperida<strong>de</strong>d'ellas, venha em auxilio da mesmaCommissão, não só sanccionando com a suaapprovação as provi<strong>de</strong>ncias, que esta tomare lhes parecerem dignas <strong>de</strong> ser approvadas,senão também, e mais que tudo, fazendo-asexecutar prompta e pontualmente.A Commissão termina jà este escriplo, revocandoa poucos artigos as provi<strong>de</strong>nciasque, segundo fica antece<strong>de</strong>ntemente exposto,julga necessarias para conseguir os fins dasua missão, e que hoje tem a honra <strong>de</strong> propora Vossa Magesta<strong>de</strong>.I. Que o Governo <strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong>habilite a Commissão com a verba votada


156na lei do orçamento do Estado <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong> Julho<strong>de</strong> 1839, exclusivamente <strong>de</strong>stinada paraa formação dos catalogos dos livros da Bibliotheca,e do Deposito geral.II. Que da Bibliotheca não possa tornara sair, <strong>de</strong> hoje em diante, livro ou qualqueroutro objecto, á mesma pertencente, semPortaria do Prelado, que tal auctorise.III. Que a execuçSo dos trabalhos dacatalogação fique a cargo do Lente Bibliothecario;no que todavia a Commissão o coadjuvará,quando pu<strong>de</strong>r, e elle o requisitar.IV. Que os empregados da Bibliothecasejam occupados na formação dos catalogos,em todo o tempo das ferias gran<strong>de</strong>s, menosos dias em que a Bibliotheca haja <strong>de</strong> estaraberta ao público, segundo o seu especialregulamento.V. Que os livros das extinctas Or<strong>de</strong>nsReligiosas, <strong>de</strong>stinados para as transacções <strong>de</strong>que tracta a Portaria do Ministério dos Negociosdo Reino <strong>de</strong> 20 d'Outubro <strong>de</strong> 1854,que creou a Commissão, se conservem noedifício do antigo Hospital <strong>de</strong> N. S. da Conceição,on<strong>de</strong> ora existem; e que os <strong>de</strong>mais,escolhidos para comporem Livraria pública,sejam transferidos ou para a Bibliotheca da


157<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, ou para a Livraria do Collegio<strong>de</strong> S. Pedro, como mais convier.VI. Que se conserve a Livraria do Collegio<strong>de</strong> S. Pedro, composta principalmentedos livros mais raros e preciosos, dos manuscriptose outros objectos similhantes, <strong>de</strong> menosfrequente uso; ficando livre ao públicoo accesso a esta Livraria, do mesmo modoque á Bibliotheca da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, mas sónos dias <strong>de</strong>signados pelo Lente Bibliothecario.VII. Que, por intervenção do Preladoda <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, sejam ponctualmente executadas,todas as resoluções e provi<strong>de</strong>nciasrelativas â Bibliotheca da mesma, tomadasd'accòrdo, ou com elle ou com o Governo<strong>de</strong> Vossa Magesta<strong>de</strong>; ao qual a Commissão<strong>de</strong>verá dar, pelo menos todos os seis mezes,conta circumstanciada do que tiver feito, ouhouver occorrido quanto aos objectos, paraque foi creada'.' A ultima parte da sobrcdicta provi<strong>de</strong>ncia,proposta pela Commissão, ficou prejudicada pelaresolução, que foi por cila tomada em sessão <strong>de</strong>17 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1855, e que se acha transcripta napagina 135.


V158<strong>Coimbra</strong>, cm sessão <strong>de</strong>1855'.15 <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong>Antonio Sanches Goulão, Presi<strong>de</strong>nte.Francisco Antonio Rodrigues d'Azevedo.José Ferreira <strong>de</strong> Macedo Pinto.Florêncio Mago Barreto Feio.Joaquim Alves <strong>de</strong> Souza, Secretario.THcfelo A.e. 30 &e KLoáo Ad \%ão.Sendo-Me presente a Consulta do ConselhoSuperior d'Instrucção Publica, e a daCommissão <strong>de</strong> reforma da Bibliotheca da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, á cêrca do <strong>de</strong>stinoque agora <strong>de</strong>va ser dado ao edifício e livrariado extincto Collegio <strong>de</strong> S. Pedro;—Atten<strong>de</strong>ndoa que o Conselho Superior d'InstrucçãoPublica se acha <strong>de</strong>finitivamente collocadoem <strong>Coimbra</strong> no edifício do extincto1O Vogal da Commissão o Doutor Joaquim JoséPaes da Silva, 'ora Lente Cathedratico da Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Direito, não assignou o supra exaradoRclatorio e Consulta, pelas razões attendidas,que apresentou á Commissão nas sessões <strong>de</strong> 11<strong>de</strong> Fevereiro, e <strong>de</strong> 15 d'Abril <strong>de</strong> 1855.i


159Convento dos Paulistas, em virtu<strong>de</strong> do Decreto<strong>de</strong> vinte e um <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> miloitocentos e quarenta e oito, e Portaria <strong>de</strong>vinte e dous<strong>de</strong> Septembro <strong>de</strong> mil oitocentosquarenta e nove, tendo consequentementeficado sem effeito o que pelo artigo sessentae cinco do Decreto <strong>de</strong> <strong>de</strong>z <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong>mil oitocentos quarenta e cinco se haviaor<strong>de</strong>nado sobre a collocação do mesmo Conselhono Collegio <strong>de</strong> S. Pedro; — Atten<strong>de</strong>ndoa que o edifício d'esse Collegio não pô<strong>de</strong><strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar-se uma parte integrantedo Paço das Escholas da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong><strong>Coimbra</strong>, por se tornar <strong>de</strong> absoluta necessida<strong>de</strong>para uso e accommodação da comitivadas Pessoas Reaes, quando por qualquer occasiãoforem alojar-se no referido Paço, comopor differentes vezes tem já acontecido; —Atten<strong>de</strong>ndo a que a livraria do Collegio dcS. Pedro, composta <strong>de</strong> oito mil volumes, emque se comprehen<strong>de</strong>m muitos livros, manuscriptose outros objectos raros e preciosos,pô<strong>de</strong> ser alli conservada como pertença doPaço para o serviço da Familia Real, ou dosPrelados da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> na ausência daCôrte: — Hei por bem em Nome d'El-Rei,Or<strong>de</strong>nar o seguinte:


160Artigo 1.° O edifício do extincto Collegio<strong>de</strong> S. Pedro, contíguo aos Paços da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, é incorporado nosmesmos Paços, e fica sendo parte integranted'elle para accommodação da comitiva dasPessoas Reaes, quando alli forem pousar ouresidir.§. l.° Na frente do Collegio sobre oterreiro da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong>verão fazer-se asobras necessarias, a fim <strong>de</strong> que o prospectodo edifício, por aquelle lado, se torne regular,e, quanto possivel, em harmonia com oPaço das Escholas.§. 2.° O Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, mandandoproce<strong>de</strong>r ao risco e orçamento d'estasobras, fará applicar ás <strong>de</strong>spezas respectivas,quaesquer rendimentos que possam colher-sedo edifício, sem prejuizo dos trabalhos ou doserviço a que é <strong>de</strong>stinado; e bem assim quaesquerquantias, que accrescerem, ou se economisaremna dotação da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.Artigo 2.° A livraria do Collegio <strong>de</strong> S.Pedro continuará a ser conservada, como atéaqui, no edificio do mesmo Collegio, ficandoconjunctamente com elle annexa e incorporadanos Paços das Escholas para uso daFamilia Real.


161único. Os Prelados da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,na ausência das Pessoas Reaes, po<strong>de</strong>m servir-seda livraria, e são encarregados da suaimmediata e exclusiva administração, e daque respeitar á guarda e boa conservação <strong>de</strong>todo o edifício.Artigo 3.° Ficam revogadas quaesquerPortarias ou disposições regulamentares emcontrario.O Ministro e Secretario d'Estado dos Ne^gociosdo Reino assim o tenha entendido efaça executar. Paço das Necessida<strong>de</strong>s emtrinta <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> mil oitocentos e cincoenfe*e cinco.—Rei Regente.—Rodrigo da FonsecaMagalhães.Vortana 4o Wv


162<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, com a data do dia prece<strong>de</strong>nte,sobre as medidas por ella já adoptadas no<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> sua incumbência com plenoaccôrdo do Prelado; e á cêrca das que enten<strong>de</strong>serem egualmente indispensáveis paramelhoramento da mesma Bibliotheca; masque para terem o conveniente cumprimento,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da approvação do Governo; —Consi<strong>de</strong>rando que das livraries dos extinctosConventos e Collegios da Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>,com que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> fóra dotada,passaram apenas para ella as dos Collegiosdos Militares e <strong>de</strong> S. Bento, achando-se conservadaainda no seu proprio Edifício a doCollegio <strong>de</strong> S. Pedro, e recolhidas todas asoutras no do antigo Hospital da Conceição,que lhe ficou servindo <strong>de</strong> Deposito;—Consi<strong>de</strong>randoque a livraria do extincto Collegio<strong>de</strong> S. Pedro, composta <strong>de</strong> oito mil volumes,e principalmente dos livros mais rarose preciosos, assim como dos manuscriptos,e outros objectos similhantes, sendo <strong>de</strong>menos frequente uso, po<strong>de</strong>rá ser conservadacomo uma pertença do Paço Reitoral, paraserviço da Real Familia, quando alli fdr, edos respectivos Prelados na ausência d'ella;—Consi<strong>de</strong>rando que pelo Deposito <strong>de</strong> livros


163estabelecido no edifício do antigo Hospitalda Conceição, se tem fornecido <strong>de</strong> muitasobras as diversas Faculda<strong>de</strong>s da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>para formarem livrarias especiaes; —Consi<strong>de</strong>rando finalmente, quanto importaeffectuar, pela formação dos competentes catalogos,o inventario <strong>de</strong> todas as diversas livrariasadhereutes â <strong>Universida<strong>de</strong></strong> <strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>;—Tendo em vista, assim as propostasda Commissão <strong>de</strong> reforma da Bibliotheca da<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, como as consultas do ConselhoSuperior d'Instrucçâo Pública, e as informaçõesdo Prelado da mesma <strong>Universida<strong>de</strong></strong>;Ha por bem Or<strong>de</strong>nar o seguinte:1.° Cada uma das Faculda<strong>de</strong>s da <strong>Universida<strong>de</strong></strong><strong>de</strong> <strong>Coimbra</strong>, que se tiver fornecido<strong>de</strong> livros do Deposito existente no edifíciodo antigo Hospital da Conceição, encarregaráum <strong>de</strong> seus Membros do arranjo e guardados dictos livros, <strong>de</strong> modo que possamservir ao fim para que foram assim adquiridos.2.° Os livros serão classificados, e d'ellesse formarão os competentes catalogos. D'estescatalogos remetter-se-hão copias, assignadaspelo Lente encarregado da Livraria, ao Depositopara servirem <strong>de</strong> recibo, por on<strong>de</strong> se


164possa tornar effectiva qualquer responsabilida<strong>de</strong>a similhante respeito.3.° O Deposito fornecerá a Bibliothecada <strong>Universida<strong>de</strong></strong> dos livros que houver, e <strong>de</strong>que ella possa carecer; e para elle passarão,os que na Bibliotheca forem <strong>de</strong>snecessários.4.° Dos livros que restarem <strong>de</strong>pois noDeposito, formar-se-ha um novo catalogo,aproveitando para elle o que pu<strong>de</strong>r servirdos antigos, e 'neste trabalho serão empregados,um dos Officiaes da Bibliotheca da<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, e dois Amanuenses, <strong>de</strong>baixoda direcção do Lente Substituto do Bibliothecarioda mesma Bibliotheca.5.° O Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, colhendoesclarecimentos <strong>de</strong> cada uma das Faculda<strong>de</strong>ssobre os livros necessários para uso d'ellas,e que não haja na Bibliotheca da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>,nem nas especiaes <strong>de</strong> cada uma dasmesmas Faculda<strong>de</strong>s, nem no Deposito, remetterápela Secretaria d'Estado dos Negociosdo Reino uma relação <strong>de</strong> todos elles.6.° Esta relação, com um exemplar docatalogo dos livros do Deposito, que <strong>de</strong>veráser impresso com a nota d& preço d'elles,que se pu<strong>de</strong>r saber, será remedida ao AgenteDiplomático Portuguez na CSrte <strong>de</strong> Pa-


165ris para negociar a troca cTesses livros poraquelles <strong>de</strong> que a <strong>Universida<strong>de</strong></strong> carecer.7.° O Bibliothecario da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> promoveráesta mesma negociação, por meio <strong>de</strong>troca, ou mesmo venda dos dictos livros<strong>de</strong>ntro do paiz, acceitando qualquer propostaque a similhante respeito lhe seja feita,e levando-a ao conhecimento do Prelado,para ser approvada ou rejeitada por elle noConselho dos Decanos.8.° Concluido que seja o catalogo doslivros do Deposito, proce<strong>de</strong>r-se-ha pelo mesmomodo â reforma do da Bibliotheca da<strong>Universida<strong>de</strong></strong>, formando dois, um systematico,e outro alphabetico, os quaes serão tambémimpressos.9.° E prohibido que da Bibliotheca saialivro, ou qualquer outro objecto, á mesmaBibliotheca pertencente, sem Portaria doPrelado qne tal auctorise.10.° A livraria do Collegio <strong>de</strong> S. Pedroserá conservada no mesmo Edifício, nos termosdo Decreto da copia juncta, expedidoem 30 <strong>de</strong> Maio proximo passado.11.° A Commissão nomeada para proporos melhoramentos e reformas necessarias naBibliotheca da <strong>Universida<strong>de</strong></strong>, empregará to-


166dos os seus cuidados em formar e proporeffectivamente um projecto <strong>de</strong> Regulamentopara ella, <strong>de</strong>vendo 'nesse trabalho ser acauteladosos abusos que possa haver, tanto naadministração economica d'aquelle Estabelecimento,como na litteraria, e regulando oseu serviço do modo, que se torne o maiscommodo e util ao publico.O que tudo Sua Magesta<strong>de</strong> Manda participarao Prelado da <strong>Universida<strong>de</strong></strong> para suaintelligencia, e <strong>de</strong>vida execução, transmittindo-oao conhecimento da Commissão <strong>de</strong>reforma da Bibliotheca da mesma <strong>Universida<strong>de</strong></strong>.Paço das Necessida<strong>de</strong>s em 2 <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong>1855.—R. Fonseca Magalhães.—Cumprasee registe-se, e man<strong>de</strong>-se copia ao Presi<strong>de</strong>nteda Commissão especial da Bibliotheca,para ser presente na Commissão, para oseffeitos convenientes. <strong>Coimbra</strong>, 11 <strong>de</strong> Junho<strong>de</strong> 1855.— Vice-Reitor.FIM


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