10.07.2015 Views

Teoria do delito. Algumas considerações sobre o ... - BuscaLegis

Teoria do delito. Algumas considerações sobre o ... - BuscaLegis

Teoria do delito. Algumas considerações sobre o ... - BuscaLegis

SHOW MORE
SHOW LESS

Transforme seus PDFs em revista digital e aumente sua receita!

Otimize suas revistas digitais para SEO, use backlinks fortes e conteúdo multimídia para aumentar sua visibilidade e receita.

® <strong>BuscaLegis</strong>.ccj.ufsc.br<strong>Teoria</strong> <strong>do</strong> <strong>delito</strong>.<strong>Algumas</strong> considerações <strong>sobre</strong> o causalismo e finalismoFelix Araújo Neto *ResumoCuida o presente trabalho de um breve enfoque em torno de questões<strong>sobre</strong> a <strong>Teoria</strong> Jurídica <strong>do</strong> Delito, com especial acento no que respeita aoconceito e elementos <strong>do</strong> <strong>delito</strong>.O estu<strong>do</strong> decorre de recomendação <strong>do</strong> eminente Catedrático daUniversidad de Granada, Prof. Lorenzo Morrillas Cueva. E nele, além dasconsiderações já tão conhecidas <strong>sobre</strong> o tema, o desafio se resume noseguinte: "para onde caminhará a teoria jurídica <strong>do</strong> <strong>delito</strong>?".Palavras-Chave: <strong>Teoria</strong> Juridica <strong>do</strong> Delito – <strong>Teoria</strong> Finalista – <strong>Teoria</strong>Causalista – Ação – Tipicidade – Antijuridicidade – Imputabilidade –Punibilidade - Dolo e Culpa.Sumário. I. Introdução. II. Brevísimas considerações <strong>sobre</strong> a evolucão dateoría <strong>do</strong> <strong>delito</strong>. a) O Modelo Causalista. Conceito Clássico de Delito; b) OModelo Neokantiano. Conceito Neoclásico; c) O Modelo Finalista. III.Conclusão. IV. Notas. V. Referências.I. IntroduçãoUm <strong>do</strong>s problemas mais complexos da <strong>do</strong>gmática penal é, decerto,revelar quais os elementos gerais para que determina<strong>do</strong> fato sejaexpressamente afirma<strong>do</strong> como <strong>delito</strong>. No capítulo da <strong>Teoria</strong> Geral <strong>do</strong> Delito,os mais cultos e renoma<strong>do</strong>s juristas cuidam de estudar, tentar compreender,constatar e explicar os aspectos comuns das mais diversas figuras delitivas.


Pode-se dizer que a <strong>Teoria</strong> Jurídica <strong>do</strong> Delito, apresentan<strong>do</strong> uma naturezaabstrata e generaliza<strong>do</strong>ra (1), é sem dúvida "la parte nuclear de todas lasexposiciones de la Parte general (2)" <strong>do</strong> Direito Penal.Resumidamente, é importante demarcar que, na <strong>Teoria</strong> Jurídica <strong>do</strong>Delito, o que se pretende não é verificar quais são os elementos que,isoladamente, compõem cada um <strong>do</strong>s tipos regula<strong>do</strong>s na Parte Especial.Não! Conforme assinala o sempre referencia<strong>do</strong> Jescheck, "la teoría del<strong>delito</strong> no estudia los elementos de cada uno de los tipos de <strong>delito</strong>, sinoaquellos componentes del concepto de <strong>delito</strong> que son comunes a to<strong>do</strong>s loshechos punibles (3)". Pode, então, aduzir-se que to<strong>do</strong> o esforço teóricorealiza<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>utrina, nesta matéria, tem si<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> no senti<strong>do</strong> deinvestigar quais são exatamente as características gerais que qualificam umfato como <strong>delito</strong>.Evidentemente que ao tratar desses aludi<strong>do</strong>s pressupostos evoluíramreflexões em várias vertentes, sob influxo <strong>do</strong>s mais diversos lastrosfilosóficos, algumas, inclusive, colidentes em acendra<strong>do</strong> antagonismo.Entrementes, inobstante as discrepâncias, o certo é que a profusãosistematizada de concepções contribuiu com significativa carga para aconsolidação <strong>do</strong> Direito Penal como Ciência, embora — convenhamos —nesta temática o progresso das idéias esteja a reclamar esforços por novasformulações.Em meio a essa ordem de empenho científico, vislumbran<strong>do</strong> asdiversas correntes de pensamento, o professor Navarrete(4), em suarespeitável <strong>do</strong>utrina, assevera que se reconhece, pre<strong>do</strong>minantemente, comoelementos indispensáveis ao conceito de <strong>delito</strong> a ação, a tipicidade, aantijuridicidade e a culpabilidade. Ressalta, porém, que pensa<strong>do</strong>res emminoritária parcela aduzem, ainda, a punibilidade como componenteessencial à integração <strong>do</strong> conceito de crime.O menciona<strong>do</strong> <strong>do</strong>utrina<strong>do</strong>r esclarece que se costuma atribuir aocientista alemão Franz Von Liszt a distinção entre os elementos: ação,antijuridicidade e culpabilidade. De outra parte, a idéia de tipicidade se deveàs considerações científicas <strong>do</strong> também penalista alemão Ernst Beling (5).Entretanto, para chegar ao atual ponto de indiscutível avanço científico da<strong>Teoria</strong> Geral <strong>do</strong> Delito, deve-se ressaltar — ainda que possamos pecar poreventual omissão de influências igualmente destacáveis —, que foram defundamental importância, <strong>sobre</strong>tu<strong>do</strong>, as significativas contribuições teóricasde Franz Von Liszt, Ernst Beling, Max Ernst Mayer, Edmund Mezger yWelzel (6).Destarte, foi com apoio nos referi<strong>do</strong>s elementos básicos integrantes daconduta punível – ação, tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade e, paraoutros, também a punibilidade (7) – que a mais moderna <strong>do</strong>utrina pôdeelaborar definições formais acerca <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, possibilitan<strong>do</strong>, a margem de


qualquer polêmica, extrair conceitos eminentemente jurídico-científicos.Neste senti<strong>do</strong>, lecionam os juristas espanhóis Cobo e Vives: "así, pues, todadefinición del <strong>delito</strong> que pretenda ser científica habrá de ser,necesariamente, una definición básicamente formal (8)". Importante esteregistro porque, sob diferentes fundamentos teóricos, a definição de <strong>delito</strong>foi por várias décadas abordada "fuera del ámbito de lo jurídico, parahacerse filosofía, religión o moral (9)"… De maneira que com a fixação <strong>do</strong>selementos supracita<strong>do</strong>s, a formulação conceitual de <strong>delito</strong> passou a ingressarno campo das valorações abstratas de caráter exclusivamente jurídico. Tantoé que, atualmente, a <strong>do</strong>utrina agrupa as definições <strong>do</strong>utrinais em duasimportantes espécies: as definições <strong>do</strong>utrinais materiais e as formais (10).A distinção entre as definições materiais e formais consiste em que,para as últimas, a elaboração conceitual de <strong>delito</strong> é construída precisamente<strong>sobre</strong> o terreno <strong>do</strong> direito penal positivo. Entre os autores que a<strong>do</strong>tam oconceito formal de <strong>delito</strong>, é de destacar-se, entre outros, Mezger e Antolisei.De outra parte, os partidários da definição material utilizam critérios querompem o limite <strong>do</strong> direito positivo, lançan<strong>do</strong>-se muitas vezes em umaperspectiva psicológica, filosófica, sociológica etc. Entre inúmerospensa<strong>do</strong>res que propugnam por este campo conceitual, pontificam, entreoutros, Carrara, Garófalo e Ferri.Portanto, concernentemente à distinção entre estes <strong>do</strong>is gruposconceituais, explicam Maurach e Zipf que se distinguem as concepçõesmaterial e formal a partir da função que cumpre cada uma. Para estesautores, "el concepto formal de <strong>delito</strong> describe la extensión concreta de lazona penal y es por ello determinante para la función de garantía de la leypenal (ver § 10). Por el contrario, el concepto material de <strong>delito</strong> representala concepción de la comunidad <strong>sobre</strong> aquello que puede ser prohibi<strong>do</strong>mediante una amenaza de pena, de suerte que es un importante instrumentopolítico criminal. (...) Además, este concepto representa, para lacriminología, el criterio mediante el cual dicha disciplina extrae su objetode investigación a partir de las ciencias primarias (sociología, psicología,etcétera) (11)".Desta forma, observan<strong>do</strong> que o conceito de crime pode apresentarvárias definições, a depender <strong>do</strong>s critérios enfoca<strong>do</strong> pela <strong>do</strong>utrina, apenas atítulo de curiosidade e para bem confrontar as distintas concepções, oconceito de crime, na vertente material de ín<strong>do</strong>le filosófica, pode serestabeleci<strong>do</strong> como "(...) es el caso de la famosa definición de Carrara, paraquien el <strong>delito</strong> era ‘la infracción de la Ley del Esta<strong>do</strong>, promulgada paraproteger la seguridad de los ciudadanos, resultante de un acto externo delhombre, positivo o negativo, moralmente imputable y políticamente dañoso(12)’". Na perspectiva material sociológica, "relevante es la definición deGarófalo para quien ‘el <strong>delito</strong> social o natural’ ‘es una lesión de aquellaparte del senti<strong>do</strong> moral que consiste en los sentimientos altruistasfundamentales (piedad y probidad) según la medida en que se encuentran en


las razas humanas superiores, cuya medida es necesaria para la adaptacióndel individuo a la sociedad (13)’".De outro la<strong>do</strong>, inteiramente diversa é a definição formal de <strong>delito</strong>. Sobeste prisma, para alguns juristas, crime é to<strong>do</strong> fato humano tipicamenteantijurídico, culpável e punível (14). Para outros – ressalte-se, manejan<strong>do</strong>sempre os mesmos elementos inicialmente referi<strong>do</strong>s – <strong>delito</strong> é conceitua<strong>do</strong>como uma ação típica, antijurídica e atribuível (15). Entre outras variaçõesquanto ao conteú<strong>do</strong> e ao continente <strong>do</strong>s elementos constitutivos <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, háquem proclame que crime é, simplesmente, um fato típico e antijurídico(16).Expostos, a grosso mo<strong>do</strong>, esses conceitos, chega-se, desde logo, àobvia conclusão de que a matéria que se pretende aqui examinar – como jáadvertimos – é profundamente complexa. Assim, como é evidente, esteestu<strong>do</strong> não tem qualquer pretensão de esgotar a matéria em análise. Aocontrário, são brevíssimas, dir-se-ia sumárias considerações <strong>sobre</strong> a <strong>Teoria</strong>Jurídica <strong>do</strong> Delito, sem qualquer ânimo exaustivo, aqui sucintamenteenfoca<strong>do</strong>s conceitos e considerações em torno <strong>do</strong> <strong>delito</strong> e <strong>do</strong>s seuselementos, buscan<strong>do</strong> como a seguir uma epidérmica incursão nas teoriascausalistas e finalistas.II. Brevísimas considerações <strong>sobre</strong> a evolucão da teoría <strong>do</strong> <strong>delito</strong>.Examinar o curso da evolução histórica <strong>do</strong>s sistemas da <strong>Teoria</strong> <strong>do</strong>Delito, oferecen<strong>do</strong> uma investigação bem detalhada, seria tarefa das maisgratificantes, porém, igualmente, das mais extenuantes a demandar esforçosque escapam à delimitação <strong>do</strong>s objetivos a que nos prepusemos. Entretanto,o de que cuidaremos cinge-se tão-só a uma simplificada exposição <strong>sobre</strong> ostraços essenciais <strong>do</strong> sistema desenvolvi<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> as teorias causalistas(conceitos clássico e neoclássico) e finalistas, como se verá em seqüência.a) O Modelo Causalista. Conceito Clássico de Delito.O sistema causalista foi inaugura<strong>do</strong> pelos sempre cita<strong>do</strong>s juristasFranz Von Liszt e Ernst Beling, que elaboraram o conceito clássico de <strong>delito</strong>(também chama<strong>do</strong> de conceito natural de ação ou de causalismo valorativo).Tal modelo surge no final <strong>do</strong> século XIX e início <strong>do</strong> século XX, quan<strong>do</strong> aciência jurídica via-se impregnada pelos princípios e balizas <strong>do</strong> pensamentopositivista e buscava – a toda evidencia –, muito mais que compreender odireito em sua substancia fenomênica, senão tentar explicá-lo. Nesta época,para alçar a evolução de um ramo <strong>do</strong> conhecimento humano ao status deciência, era de fundamental importância a formulação de leis gerais,universais, que se adequassem a suas modalidades, no presente caso, a todasas formas de <strong>delito</strong> concebíveis (17).


Inspira<strong>do</strong>, pois, pelos princípios e méto<strong>do</strong>s das ciências naturaisexperimentais, o sistema Liszt-Beling, utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> analítico <strong>do</strong>positivismo, elaborou o conceito clássico <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, <strong>sobre</strong> as basesmensuráveis e comprováveis empiricamente <strong>do</strong>s elementos <strong>do</strong> crime,passan<strong>do</strong> a isolar distinguir e tais elementos, enfim, "buscan<strong>do</strong> en cada casosu base empírico-descriptiva y diferencian<strong>do</strong> estrictamente los caracteresobjetivos de los subjetivos (18)". É importante frisar que, em linhas gerais,no entender <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sistema enfoca<strong>do</strong>, por parte objetiva entende-sea manifestação <strong>do</strong> fenômeno criminógeno no mun<strong>do</strong> externo – lesões ouameaça a bens jurídicos; e por subjetiva compreendem-se os fatorespsíquico-internos <strong>do</strong> agente <strong>do</strong> <strong>delito</strong>.Para Liszt, o <strong>delito</strong> significava um ato culpável – seja <strong>do</strong>loso ouculposo – contrário ao direito, ofensivo à ordem jurídica. Assim, registra afirme <strong>do</strong>utrina de Muñoz Conde e García Arán, que em Liszt o <strong>delito</strong> era um"acto, contrario a derecho, culpable y sanciona<strong>do</strong> con una pena" (19). Ouseja, impunha-se um juízo <strong>sobre</strong> a ação e um outro <strong>sobre</strong> o sujeito. Porém, onúcleo da definição <strong>do</strong> <strong>delito</strong> se fixava na ação (20) (senti<strong>do</strong> amplo) que,conforme o posicionamento <strong>do</strong>gmático <strong>do</strong> classicismo, traduzia-se em umamanifestação física, em um movimento corpóreo (ação em senti<strong>do</strong> estrito)(21), <strong>do</strong> qual resultava modificação <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> exterior (resulta<strong>do</strong>), estedecorrente <strong>do</strong> desencadeamento de to<strong>do</strong> um processo causal unitário, cujoinício consistia na realização de um ato – a mencionada manifestação física– e que se exauria com a eclosão de um resulta<strong>do</strong>, registran<strong>do</strong>-se, pois, entreum e outro um nexo de causa e efeito.Desta forma, os demais elementos <strong>do</strong> crime se convertiam "en merospredica<strong>do</strong>s del concepto de acción" (22). Assim, para Franz Von Liszt, osindispensáveis elementos integrantes <strong>do</strong> conceito de <strong>delito</strong> eram, portanto, aação (compreendida na perspectiva de um processo causal), aantijuridicidade (tal ação teria que ser necessariamente contrária ao direito) ea culpabilidade (núcleo de balizamento da imputabilidade <strong>do</strong> agente, bemcom <strong>do</strong>lo ou da culpa stricto senso) (23).O célebre pensa<strong>do</strong>r clássico Ernst Beling propôs inserir a tal conceitoum outro elemento. Introduziu, pois, a noção de tipicidade que, em suavisão, nada mais era que a adequação da conduta (positiva ou negativa) <strong>do</strong>agente ao preceito legal. Assim, classicamente, o <strong>delito</strong> era concebi<strong>do</strong> comouma ação típica, antijurídica e culpável. Como asegura Muñoz Conde: "Enesta consideración del <strong>delito</strong> como acción típica, antijurídica y culpable,amenazada con una pena, se agotaban todas las posibilidades de análisisdel hecho punible (24)". A verdade é que, independentemente da higidezcientífica <strong>do</strong> conceito posto, não há negar, daí surgiram as bases para oinesgotável debate <strong>sobre</strong> a definição formal de crime, controvérsia que searrasta aos dias atuais.


Em face de tais elementos, é imprescindível expor que a tipicidade e aantijuridicidade, para o modelo causalista clássico, são requisitoseminentemente objetivos, sen<strong>do</strong> na culpabilidade onde se verificam, comoexclusividade, as circunstâncias subjetivas <strong>do</strong> <strong>delito</strong>. Portanto, a tipicidadeaqui tem caráter meramente descritivo – concepção objetivo-descritiva –,não implican<strong>do</strong> uma valoração da conduta, senão em uma descrição objetivade um determina<strong>do</strong> processo causal (25). De acor<strong>do</strong> com essa idéia, M. E.Mayer, no curso da evolução conceitual <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, acrescentou que erapossível reconhecer a tipicidade (26) como "un indicio, pero nada más queun indicio de la antijuridicidad (...). Por tanto, la tipicidad de la conducta esun indicio que nos pone en la pista para conocer o advertir que puede serantijurídica, pero tal indicio puede ser confirma<strong>do</strong> o por el contrariocontradicho o desvirtua<strong>do</strong> en el ámbito de la antijuridicidad (27)".A antijuridicidade, observada dentro de uma concepção objetivovalorativa,delimita o objeto normativo, revelan<strong>do</strong> que o fato pratica<strong>do</strong> écontrário ao Direito. Segun<strong>do</strong> esta concepção clássica, a antijuridicidadeimplica conseqüente juízo de desvalor. Há – neste caso– uma valoraçãonegativa da ação, distinta, portanto, <strong>do</strong> caráter neutro e meramente descritivoda tipicidade. Luzón Peña, com muita precisão, explica que "laantijuridicidad es, en fin, un juicio valorativo, pero puramente formal; puesbasta con comprobar que la conducta es típica y que no concurre ningunacausa de justificación que excepcionalmente la permita, para poderenjuiciarla negativamente como antijurídica, sin tener que entrar en razoneso conteni<strong>do</strong>s materiales para esa valoración (28)".Por último, convém consignar que, na plataforma clássico-formal, aculpabilidade é o aspecto subjetivo <strong>do</strong> <strong>delito</strong>. E neste contexto, consiste aculpabilidade no nexo subjetivo que liga o sujeito à conduta típica eantijurídica por ele praticada. Ou seja, trata-se <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> e da relaçãopsicológica existente entre o agente e o fato (29). Aqui, para além dasquestões atinentes à imputabilidade <strong>do</strong> sujeito, as formas anímicassubsistentes de culpabilidade, o <strong>do</strong>lo e a culpa, esgotam o seu conteú<strong>do</strong>. Eisque explica Jescheck: "el concepto de culpabilidad de la estructura clásicadel <strong>delito</strong> aunaba to<strong>do</strong>s los procesos espirituales y psíquicos que en relacióncon el hecho se desarrollaban en el interior del autor. La capacidad deculpabilidad fue concebida como presupuesto de la culpabilidad, el <strong>do</strong>lo y laimprudencia fueron entendi<strong>do</strong>s como ‘formas o clases de culpabilidad’, y elesta<strong>do</strong> de necesidad fue clasifica<strong>do</strong> como ‘causa de exclusión de laculpabilidad (30)’".b) O Modelo Neokantiano. Conceito Neoclásico.A segunda etapa <strong>do</strong> causalismo foi marcada profundamente por umarevisão crítica e sistemática <strong>do</strong> conceito causal-naturalista de <strong>delito</strong>,embasada nos pressupostos da filosofia neokantiana. Nessa época, a teoriacausalista atingiu proporções antes imagináveis, transpassan<strong>do</strong>as fronteiras


germânicas, influin<strong>do</strong> em diversos outros ordenamentos jurídicos (31).Nessa fase, pretenden<strong>do</strong> aperfeiçoar o sistema causalista, seus pensa<strong>do</strong>res –cujo mais notável representante foi Mezger – aban<strong>do</strong>naram o méto<strong>do</strong>empírico – científiconaturalismo – de observação e descrição (32), passan<strong>do</strong>a tentar compreender, apreender, valorar significa<strong>do</strong>s e, em fim, a própriaobra humana (33), utilizan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> que batizaram como compreensivo evalorativo. Esclarece Jeschek que "(...) en lugar de la coherencia formal deun pensamiento jurídico encerra<strong>do</strong> en sí mismo se situó ahora la aspiraciónde estructurar el concepto de <strong>delito</strong> según los fines persegui<strong>do</strong>s por elDerecho penal y las valoraciones en que descansa (teoría teleológica del<strong>delito</strong>) (34)".Extraí<strong>do</strong> o caráter naturalista, de logo, o elemento da ação deixou deser a exclusiva coluna (o sustentáculo) onde se apoiava to<strong>do</strong> a estrutura dateoria <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, passan<strong>do</strong>, então, o binômio injusto-tipicidade (35) a serconsidera<strong>do</strong>, como o fundamento pre<strong>do</strong>minante desse sistema. Assim, nessanova vertente, a ação é examinada de forma bem mais ampla (36),definin<strong>do</strong>-se, em um primeiro momento, como manifestação exteriorizadada vontade (37). Tal evolução conceitual rechaça a antiga idéia de que aação era exclusivamente puro movimento corpóreo, como defendia a teoriacausal-naturalista, pois esta superada definição esquecia situações em que aconduta omissiva, bem assim como não se adequava aos casos em que vem aocorrer um resulta<strong>do</strong> de tipo ideal ou espiritual como sucede, por exemplo,com a injúria. Sobre este tema, Muñoz Conde y García Arán, com peculiarperspicacia, comenta que "ya en 1904, el filósofo del Derecho y penalistaGustav Radbruch, discípulo de Von Liszt, demostró la imposibilidad dereducir conceptos de acción y omisión a un denomina<strong>do</strong>r común al no haberen la omisión movimiento corporal alguno y ser, por esencia, la negación deuna acción. (...). E, igualmente, el sistema fallaba en los <strong>delito</strong>s de meraactividad, porque también en ellos faltaba el movimiento corporal. Así, porejemplo, la esencia de las injurias verbales no radica, como decía Von Liszt,intentan<strong>do</strong> salvar un poco ridículamente el concepto causal de acción, en la«inervación de las cuerdas bucales», sino en el significa<strong>do</strong> social que se lesatribuye (38)".Outro importante momento <strong>do</strong> causalismo neokantiano foi marca<strong>do</strong>pelos fundamentos da teoria social da ação, que defendia a ação como umcomportamento humano socialmente relevante (recorre-se a um senti<strong>do</strong>social). Aqui, a concepção de ação serve de base para desenvolver acompreensão de tipicidade (39). Tais fundamentos foram defendi<strong>do</strong>sar<strong>do</strong>rosamente por Eberhard Schmidt, discípulo de Liszt e considera<strong>do</strong>funda<strong>do</strong>r deste pensamento (40).Também, nesta outra fase <strong>do</strong> causalismo, os pensa<strong>do</strong>res neoclássicospassaram a ver e analisar de outra maneira o conceito de tipicidade. Paraeles, este elemento não persiste em sua forma meramente objetivadescritiva,como afirmavam os teóricos clássicos, introduz-se em sua


definição os "elementos normativo, así como elementos de componentesubjetiva (elementos subjetivos del injusto o del tipo), diferencia<strong>do</strong>s del <strong>do</strong>lo(41)". Neste passo, ainda que prossiga tratada como uma categoria objetiva,a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> agora um caráter híbri<strong>do</strong>, ou seja, descritivo e valorativo, resultainviável assegurar que a tipicidade é exclusivamente objetiva, como tambémse torna insubsistente a assertiva de que só a culpabilidade abrange toda amatriz subjetiva <strong>do</strong> fenômeno delitivo, no escopo teórico até entãodefendi<strong>do</strong> pelos causalistas-naturalistas.Importante destacar que, ao la<strong>do</strong> da corrente que defendia o carátermisto da tipicidade (elementos normativo e valorativo), conforme referi<strong>do</strong>no parágrafo anterior, outras posições foram expostas como a que defendiaque o tipo (42) era essencialmente valorativo, pois, muito mais que meroindício, resultava na própria antijuridicidade(43).A antijuridicidade, para a concepção neokantiana, começou a serverificada de forma mais próxima da tipicidade. Por isso, inclusive,introduziu-se a expressão «tipo de injusto». A antijuridicidade também,assim como ocorreu com a tipicidade, deixou de ser tratada comocaracterística exclusivamente objetiva para ser consideradapreponderantemente objetiva. Os pensa<strong>do</strong>res neokantianos passaram aconceber a antijuridicidade como elemento verdadeiramente material <strong>do</strong><strong>delito</strong> (44), como nocividade social da conduta, porque importava em lesãoou perigo a bem juridicamente protegi<strong>do</strong>. Tal concepção possibilitou arealização de várias reflexões, com enfoque axiológico e teleológico, <strong>sobre</strong>quais condutas efetivamente devem ou não ser todas como antijurídicas.Jescheck, de forma magistral, ensina que "la consideración material abrió laposibilidad de graduar el injusto según la gravedad de la lesión de losintereses. Suponien<strong>do</strong> no haya en realidad ninguna lesión de intereses, elhecho no puede ser antijurídico. Se llegó así, con la ayuda de la <strong>do</strong>ctrinamaterial, a desarrollar nuevas causas de justificación, más allá del círculo decasos reconoci<strong>do</strong>s legalmente, v. g. El esta<strong>do</strong> de necesidad supra legal, quedescansa en la consideración de que hay utilidad social si en una situaciónirremediable un bien jurídico de superior valor es conserva<strong>do</strong> a costa de otromenos valioso (RG 61, 242 [254]) (45)".Por último, no que se refere à culpabilidade, é importante dizer queesta também sofreu algumas modificações. Os neokantianos estabeleceramno conceito normativo de culpabilidade a idéia de "juicio de reproche"(Frank), aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> a concepção psicológica, defendida pelos causalistasnaturalistas.Esta corrente neoclássica considerava que a concepçãopsicológica não reunia todas as questões atinentes à culpabilidade como, porexemplo, o caso da culpa inconsciente (46). Também falhava ao deparar-secom situações em que o autor se apresentava diante de uma situação anormalcomo em circunstâncias de inexigibilidade de outra conduta. Explica MuñozConde que, pelos fundamentos da teoria normativa da culpabilidade, "sóloasí podía explicarse satisfactoriamente por qué quedaba impune el autor de


un hecho antijurídico que había actua<strong>do</strong> <strong>do</strong>losa o culposamente, cuan<strong>do</strong> seencontraba en una situación extrema de motivación anormal o de necesidad(47)".c) O Modelo Finalista.Frente aos modelos anteriores, a teoria finalista lança a concepção daação, outra vez, ao centro <strong>do</strong> debate teórico, fazen<strong>do</strong> que repercuta <strong>sobre</strong>to<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> da estrutura da teoria <strong>do</strong> <strong>delito</strong>. Os partidários <strong>do</strong> finalismo(48), a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> posturas lógico-objetivas e inspira<strong>do</strong>s pelas correntesfilosóficas ontologistas, fenomenológicas e jusnaturalista, compreendiamque o ato relevante para o direito penal deveria estar dirigi<strong>do</strong> a um fim (49).A elaboração desta forma de pensamento se deve fundamentalmente aoconsagra<strong>do</strong> penalista e filósofo <strong>do</strong> Direito Hans Welzel, considera<strong>do</strong>"crea<strong>do</strong>r y padre de la teoría finalista (50)".A ação, portanto, agora é entendida como direção a um acontecer real.Ou seja, é o exercício de uma atividade humana final (ou finalista).Necessariamente, ao desenvolver uma ação, o homem – segun<strong>do</strong> o queafirma esta teoria – dirige-a conscientemente a um fim. Assim, o sujeitoestaria, ao praticar uma ação, executan<strong>do</strong> um plano – uma meta quetransmigra <strong>do</strong>s desvãos de sua subjetividade para o mun<strong>do</strong> fenomênicomensurável no tempo e no espaço – com finalidade própria e dirigida. Essaposição rompe e rechaça por completo as concepções causalistas, que sóvaloram o objeto sensível enquanto efeito de um fator etiológico posto emmovimento pelo agente (51). Os Profesores Maurach y Zipf concordam que"la finalidad y la causalidad se diferencian esencialmente por el intercambiode los momentos lógico-temporales de relación; la segunda es el producto dela cadena causal determinada en forma objetiva, cuyas conexiones requierenuna explicación posterior objetiva; la finalidad, que conoce o cree conocerlas leyes de la causalidad en base a la experiencia, valora estosconocimientos anticipadamente, ‘supradeterminan<strong>do</strong> el nexo causal’ y tomaaquellos medios que permitirán dirigir el acontecer causal hacia el finpersegui<strong>do</strong>: ‘la causalidad es ciega, la finalidad vidente, un actuar dirigi<strong>do</strong>desde la meta’ (Welzel, Lb. 30, y Engisch, op. Cit., 153) (52)".O ponto nuclear da teoria finalista orbita em torno da consciência <strong>do</strong>fim; da vontade reitora de um acontecer causal (53); da possibilidade deprever as conseqüências de uma conduta.A distancia entre o finalismo e causalismo se alarga de forma aindamais drástica ao verificar os fundamentos <strong>sobre</strong> o tema da tipicidade. Nesteaspecto, a teoria final incorpora ao tipo um elemento subjetivo de conexãomental com o resulta<strong>do</strong> (54); ou seja, o <strong>do</strong>lo – compreendi<strong>do</strong> como a"finalidad dirigida a realizar los elementos objetivos del hecho típico – dejade ser una forma de culpabilidad para convertirse en un elemento (subjetivo)del injusto típico (55)". Assim, o <strong>do</strong>lo (56) é desaraiga<strong>do</strong> da culpabilidade


para ser "un elemento esencial del injusto típico (57)". Como explicitaQuintero, passa "a integrarse en el juicio de injusto <strong>sobre</strong> el acto (58)".Em conseqüência, pode aduzir-se que há uma subjetivação datipicidade e também da antijuridicidade, que passam a ser qualificadas naprópria ação, onde se baliza, a um só tempo, a manifestação externa etambém a finalidade da conduta. Portanto, nessa esfera de teorização, atipicidade e a antijuridicidade não podem mais ser consideradas comocategorias infundidas por elementos «exclusivamente» ou«pre<strong>do</strong>minantemente» objetivos, tal como anteriormente o defendiam ascorrentes clássicas e neoclássicas. De mo<strong>do</strong> diverso, sob as lentes <strong>do</strong>finalismo, tipicidade e antijuridicidade engastam em sua essência elementostanto objetivos como subjetivos (caráter híbri<strong>do</strong>).A partir desse contorno, observa-se que o conceito de culpabilidade éamplamente desnaturaliza<strong>do</strong>, melhor dizen<strong>do</strong>, é contundentementeesvazia<strong>do</strong>, passan<strong>do</strong> a ser concebida como mero juízo de reprovabilidade. Ecom isto literalmente afasta<strong>do</strong> o caráter psicológico que a distinguia,assumin<strong>do</strong> ín<strong>do</strong>le puramente normativa. Assim, os elementos queconstituem a culpabilidade, segun<strong>do</strong> a teoria finalista, cingem-se àexigibilidade de conduta conforme a lei, à imputabilidade <strong>do</strong> agente e àpossibilidade (real ou potencial) de conhecer a ilicitude (ou o semblante deilicitude) <strong>do</strong> fato pratica<strong>do</strong>. Neste senti<strong>do</strong>, o jurista brasileiro CláudioBrandão explicita que para a teoria finalista a "culpabilidade é um juízopuramente normativo que reprova o autor de um fato típico e antijurídico,quan<strong>do</strong> se verificam concomitantemente a potencial consciência deantijuridicidade, a imputabilidade e a exigibilidade de outra conduta (59)".Jair Leonar<strong>do</strong> Lopes, "a culpabilidade é o juízo de reprovação que incide<strong>sobre</strong> a pessoa <strong>do</strong> agente que, ten<strong>do</strong> ou poden<strong>do</strong> ter a consciência dailicitude de sua conduta, ainda assim, a pratica, e, por isso, age de mo<strong>do</strong>contrário ao direito, quan<strong>do</strong> lhe era exigível, nas circunstâncias em que seencontrava, outra conduta (60)".III. ConclusãoExpostos alguns traços <strong>sobre</strong> as duas principais correntes <strong>sobre</strong> ateoria <strong>do</strong> <strong>delito</strong> (causalismo e finalismo), esperar-se-ia, decerto, a tomada deposição em prol de uma dessas teorias que, como se sabe, conflagram oambiente acadêmico. Entretanto, conforme as linhas mais modernas <strong>do</strong>pensamento científico, deixaremos (pelo menos por agora) de eleger uma ououtra corrente, seja no to<strong>do</strong> ou em parte, porquanto temos que em matéria deconceito de <strong>delito</strong> não é mais conveniente insistir no debate – diga-se jásupera<strong>do</strong> – entre <strong>do</strong>gmas exclusivamente causais e finais.


Importantíssimas foram as contribuições das teorias causalistasclássicas e neoclássicas, como também os fundamentos da teoria finalista.Ainda que não espanquem as imensas perplexidades... Mas, pode-seclaramente observar que ambas estão inseridas em um contexto deseqüencial evolução histórica e científica. Cada uma delas, em seu momentoespecífico, concorren<strong>do</strong> com expressiva carga contributiva para asubstancial afirmação <strong>do</strong> direito penal como ciência que é.Entretanto, a teoria jurídica <strong>do</strong> <strong>delito</strong> segue necessitan<strong>do</strong> de inovaçõesconceituais que expliquem verdadeiramente o fenômeno <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, reunin<strong>do</strong>suas mais distintas manifestações, com especial atenção, entre outras, àsformas de <strong>delito</strong>s omissivos e culposos.Para além <strong>do</strong> causalismo e <strong>do</strong> finalismo, a <strong>do</strong>utrina já registra váriosoutros posicionamentos, ampliativos ou contestatórios, como por exemplo, omodelo funcionalista – em sua concepção tanto teleológica como sistemática– que seria tema para outras abordagens, mas que já serve para demonstrarque o empenho científico na busca por um modelo explicativo da infraçãopenal não se reduz – e não estanca – aos admiráveis e enriquece<strong>do</strong>res, porémhoje ultrapassa<strong>do</strong>s, debates pela primazia de uma corrente ou outraconcepção <strong>do</strong>utrinária.A verdade é que creio que a abordagem conceitual <strong>do</strong> <strong>delito</strong> devepersistir ainda manten<strong>do</strong> a tradicional tripartição, consistente em tipicidade,antijuridicidade e culpabilidade – o que não é incompatível com a <strong>do</strong>utrinacausal, tampouco com a finalista. De outra parte, no tocante à punibilidade,enten<strong>do</strong> que esta categoria deve ser ventilada no âmbito da teoria <strong>do</strong> crimenão como componente integrante <strong>do</strong> universo ontológico <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, mas aeste enlaçada por sua natural condição de fator consequencial. Isto porque,sen<strong>do</strong> a punibilidade a decorrência legal e socialmente esperada em face dainfração, tal elemento, como consectário que é, não pode, a meumodestíssimo juízo, ser, a um só tempo, causa e conseqüência. Uma coisa éo <strong>delito</strong> em si (causa determinante); outra, e dele bem diversa, é apunibilidade - a conseqüência determinada.Partin<strong>do</strong> desses elementos aludi<strong>do</strong>s nos parágrafos anteriores,problema ainda maior complexidade passa a ser onde, afinal,verdadeiramente, há que se "hospedar" o elemento subjetivo <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, demo<strong>do</strong> a conciliar as mais diversas inquietações que o avanço <strong>do</strong>gmáticoainda não houve por superar.Evidentemente que este estu<strong>do</strong> não pretende chegar a ditames <strong>sobre</strong>está temática, como previamente alerta<strong>do</strong>. A tanto, seriam, sem qualquerdúvida, necessárias incursões mais extensivas e exaustivas <strong>sobre</strong> ângulo deespecífica e ponderosa investigação, que não é o caso deste estu<strong>do</strong>. Contu<strong>do</strong>,só para anunciar o tema, instigan<strong>do</strong>, seria de indagar-se: por quê <strong>do</strong>lo eculpa hão de ser, a to<strong>do</strong> transe, aloja<strong>do</strong>s, de par ou isoladamente, porém


sempre estáticos, em uma só das esferas constitutivas <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, a tipicidadeou a culpabilidade, que, para esse fim, são hospedeiras mutuamenteexcludentes?Com efeito, acredito na possibilidade, na perspectiva de num caminhoque divise os elementos subjetivos <strong>do</strong> <strong>delito</strong> como categorias transeuntes, ouseja, que possam estes elementos migrar de um campo a outro, sem que, apeso disso, se venha desfigurar as formas que as contribuições <strong>do</strong>utrináriasprefiniram para a tipicidade e a culpabilidade. O elemento subjetivo dainfração pode (ou deveria poder) permear por toda a unidade <strong>do</strong> <strong>delito</strong>, pois,como fluxo anímico que é, transita ao longo da extensão <strong>do</strong> fenômeno crime,em sua híbrida natureza constitutiva, diga-se, física, psicológica e normativa.O <strong>delito</strong> tem seu componente "a priori", que nada mais é senão, noscasos <strong>do</strong>losos, a representação <strong>do</strong> agente ou, nos casos de culpa, apossibilidade de previsão. Tanto é verdade que, na verificação de <strong>delito</strong>s<strong>do</strong>losos, à conduta (ação ou omissão ofensivas), deve anteceder o elementosubjetivo, "a vontade". Entrementes, neste "a priori", só aí, não se esgota.Eis que, para exemplificar, considerem-se os casos de excesso <strong>do</strong>loso.Nessas hipóteses, penso que a vontade pode ser reafirmada ou contida pelasforças da censurabilidade, durante o correr <strong>do</strong> impulso delitivo.Na culpa, por seu turno, esse componente "a priori" enraíza-se numacategoria excepcional, que é exatamente a previsibilidade. Uma condutadeflagrada sem as cautelas necessárias, desguarnecida <strong>do</strong>s cuida<strong>do</strong>sobjetivos indispensáveis, pode chegar a resulta<strong>do</strong> lesivo não pretendi<strong>do</strong> (umnão fim). A previsibilidade é o "a priori", que já agora não está mais navontade, senão no dever de cautela que o homem deve ter ao atuar. Talmodelo pode ser amplia<strong>do</strong> para situações de culpa consciente, onde aprevisibilidade cede à representação de um fim reprovável, embora não oconceba o agente possível de <strong>sobre</strong>vir, ciente, a to<strong>do</strong> tempo, de que os freiosmorais estão a exigir dele conduta conforme o direito. Isto porque – deve-sefrisar – no agir mediante culpa não se realiza uma finalidade pretendida (umfim), mas se executa uma conduta previsível, não desejável (um não fim),absolutamente alcançável pela auto-censurabilidade, que é parâmetroefetivamente estranho à estrutura orto<strong>do</strong>xa da tipicidade.Assim, em que pese o confronto causalismo x finalismo, o <strong>do</strong>lo e aculpa não são, necessariamente, como vislumbram estas concepções, cadauma a seu mo<strong>do</strong>, segmentos estáticos e exclusivos, seja da tipicidade, seja daculpabilidade. Ao inverso, são, por assim dizer, migratórios dentro <strong>do</strong>espaço conceitual <strong>do</strong> <strong>delito</strong>.Encerran<strong>do</strong> estes apontamentos feitos como foram, a vagos traços,<strong>sobre</strong> as teorias causalista e finalista e suas inestimáveis contribuições àconceituação e compreensão <strong>do</strong> fenômeno crime, importa ressaltar, por fim,que o pensamento moderno, não há render-se ao debate emocional de


preferência por concepções. Não! A ciência <strong>do</strong> direito penal deve buscar, enisto se tem empenha<strong>do</strong>, o caminho da síntese, sujeita sempre às maisdiversas críticas, mas prenuncia<strong>do</strong>ras da sua própria evolução, <strong>sobre</strong>maneirano que se volta ao superior interesse da sociedade.IV. Notas(1) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S.Derecho penal. Parte General, 5ª ed., Valencia, 1999, p. 245.(2) ROXIN, Claus. Derecho penal parte general. Fundamentos. Laestructura de la teoría del <strong>delito</strong>, 2ª Ed, Madrid, 2003, p. 192.(3) JESCHECK, Hans-Heinrch. Trata<strong>do</strong> de derecho penal, partegeneral, 4ª ed., Granada, 1993, p.(4) NAVARRETE, Miguel Polaino. Derecho penal, parte general –teoría jurídica del <strong>delito</strong>, Tomo II, V. I. Bosch, S.A. Barcelona, 2000, p. 21.(5) NAVARRETE, Miguel Polaino. Ob. Cit,, p. 21(6) ROXIN, Claus. Ob. Cit, p. 197.(7) Aduce Roxin: "En la moderna <strong>do</strong>gmática del Derecho penal existeen lo sustancial acuer<strong>do</strong> en cuanto a que toda conducta punible supone unaacción típica, antijurídica, culpable y que cumple otros eventualespresupuestos de punibilidad". (ROXIN, Claus. Ob. Cit, p. 193.)(8) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.Cit., p. 252.(9) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes,Derecho penal, parte general. 4ª ed., Valencia, 2000, p. 222.(10) "Desde el punto de vista <strong>do</strong>ctrinal, los diversos mo<strong>do</strong>s de definirel <strong>delito</strong> o bien han tendi<strong>do</strong> a la captación de sus características materiales,con independencia de la concreta formulación legislativa, o bien se handirigi<strong>do</strong> a precisar las notas que configuran determinadas acciones como<strong>delito</strong>s en las diferentes legislaciones positivas. En el primer caso,pudiéramos hablar de definiciones substanciales del <strong>delito</strong> y, en el segun<strong>do</strong>,de definiciones formales". (COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN,Tomás S. Ob. Cit., p. 249).


(11) MAURACH, Reinhart/ ZIPF, Heinz. Derecho penal, partegeneral I, teoría general Del derecho penal y estructura del hecho punible, 7ªed. Buenos Aires, 1994, p. 213.(12) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.Cit., p. 250(13) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.Cit., p. 251(14) COBO DEL ROSAL, Manuel/ VIVES ANTÓN, Tomás S. Ob.Cit., p. 254(15) MAURACH, Reinhart/ ZIPF, Heinz. Ob. Cit., p. 212(16) Em esta línea se mueve el jurista brasileño Damásio de Jesus:"Sob o aspecto formal, crime é um fato típico e antijurídico. A culpabilidade(...) constitui pressuposto da pena". (DE JESUS, Damásio E. Direito penal –parte geral, 22ª ed., São Paulo, 1999, p. 151).(17) BRANDÃO, Cláudio. <strong>Teoria</strong> jurídica <strong>do</strong> crime. Rio de Janeiro:Forense, 2001, p. 21.(18) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Curso de derecho penal partegeneral I. Madrid, 1996, p. 228.(19) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob.cit, p. 226.(20) Sobre el concepto de acción expuesto por Von Liszt, el ínclitoprofesor Luzón Peña, en su conceptuada obra, añade que: "Von Liszt definela acción como inervación muscular producida por la energía de un impulsocerebral, que a través del medio natural y conforme a las leyes causales de lanaturaleza provoca una mutación en el mun<strong>do</strong> externo perceptible por lossenti<strong>do</strong>s. Y se trata de un concepto de acción fundamentalmente objetivo,pues, aunque se menciona su origen en la voluntad, no se le presta mayoratención, sino que se destaca el aspecto objetivo de la causación deresulta<strong>do</strong>s externos". (LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 228).(21) Advierte MIRA RODRÍGUES: "Para Beling lo esencial de laacción es la presencia de una conducta humana guiada por la voluntad, perodejan<strong>do</strong> de un la<strong>do</strong> la cuestión del conteni<strong>do</strong> de dicha voluntad. Éstespresupuestos serán acepta<strong>do</strong>s posteriormente por los segui<strong>do</strong>res de dichaconcepción causal como Mezger". (MIRA RODRÍGUEZ, Carlos Suárez yotros. Manual de derecho penal, I. Parte general, Tomo I, Madrid, 2002, p.100).


(22) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Manual de derechopenal, parte general, 2ª Ed., Rev. Amp, 2000, p. 249.(23) "Estas tres características, acción, antijuridicidad y culpabilidad,formaban la esencia del concepto de <strong>delito</strong>, aunque a veces era necesario,además, añadir algunas características que condicionaban todavía el castigo,pero que no tenia nada que ver con el acto mismo ni con sus elementos, yque debían considerarse separadamente, las llamadas condiciones objetivasde penalidad, excusas absolutorias, etc.". (MUÑOZ CONDE, Francisco/GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob. cit, p. 226).(24) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob.cit, p. 227.(25) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 249(26) Sobre este tema, explican<strong>do</strong> el modelo clásico, JESCHECK diceque ahí: "la relación entre tipicidad y juridicidad consistía tan sólo en que laprimera sería un ‘indício’ para la presencia de la antijuridicidad".(JESCHECK, Hans-Heinrch. Trata<strong>do</strong> de derecho penal, parte general, 4ª ed.,Granada, 1993, p. 182).(27) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 229.(28) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 229.(29) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 249(30) JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 182.(31) "Con la teoría neoclásica del <strong>delito</strong> alcanzó la Ciencia alemanadel derecho penal un punto álgi<strong>do</strong> de su capacidad de trabajo y prestigiointernacional. Entonces empezó a influir en Italia, España, Polonia, Portugal,Grecia, Argentina y Brasil". (JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 185).(32) JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 185.(33) LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 230(34) JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 184.(35) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 249(36) En este senti<strong>do</strong>: "La <strong>do</strong>ctrina mayoritaria sigue sostenien<strong>do</strong> elconcepto causal de acción, pero defini<strong>do</strong> ahora como conducta (ocomportamiento) humana externa y dependiente de la voluntad, o como


manifestación de voluntad al exterior". (LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel,Ob. Cit., p. 231)(37) "las nuevas definiciones como conducta o manifestación externade voluntad son más sobrias, pues se despojan de los matices físiconaturalistade la definición como impulso cerebral productor de intervenciónmuscular causante de modificaciones externas perceptibles sensorialmente,que se consideran exageradamente materialistas y por ello inadecua<strong>do</strong>s paraabarcar otros resulta<strong>do</strong>s de tipo ideal o espiritual que se presentan en muchos<strong>delito</strong>s (nuevamente aquí aflora la perspectiva normativa), como p.ej. lasinjurias o las falsedades, o en otras acciones humanas no delictiva)".(LUZÓN PEÑA, Diego- Manuel, Ob. Cit., p. 231)(38) MUÑOZ CONDE, Francisco/ GARCÍA ARÁN, Mercedes, Ob.cit, p. 227/228.(39) RAMÍREZ, Juan Bustos. Manual de derecho penal, parte general,4ª Ed, amp. Y cor. Barcelona, 1994, p. 233.(40) In RAMÍREZ, puede se verificar el planteamiento de EberhardSchmidt <strong>sobre</strong> el carácter social de la acción: "«Para la comunidad social lasacciones se presentan como unidades de senti<strong>do</strong> social funcional, que han deser ‘entendidas’ primeramente como son concebidas según las concepciones,experiencias, costumbres de la vida social»". (RAMÍREZ, Juan Bustos.Manual de derecho penal, parte general, 4ª Ed, amp. Y cor. Barcelona, 1994,p. 233).(41) QUINTERO OLIVARES, Gonzalo y otros. Ob. Cit., p. 250.(42) En Jescheck: "el tipo no se encuentra situa<strong>do</strong> ya al mismo nivelde la antijuridicidad, como en el sistema clásico, sino que queda reduci<strong>do</strong> asu misión formal de fijar los elementos de la antijuridicidad en la ley penal,mientras que los elementos materiales del <strong>delito</strong> siguen sien<strong>do</strong> ahora,exclusivamente, la antijuridicidad y la culpabilidad". JESCHECK, Hans-Heinrch. Ob. Cit., p. 186.(43) Esta posición se mantiene a su vez desde <strong>do</strong>s perspectivas muydistintas, la concepción del tipo estricto como tipo desvalora<strong>do</strong> y la teoría delos elementos negativos del tipo. Para la primera, uno de cuyo más notablesrepresentantes fue Mezeger (...), el tipo no describe una conducta con finesneutros, sino para prohibirla, y la conducta típica esta desvalorada y es yaantijurídica, prohibirla, porque lesiona bien jurídico; por tanto, el tipoestricto fundamenta la antijuridicidad, aunque luego esa antijuridicidad yaexistente pueda excepcionalmente ser suprimida por una causa dejustificación. Pero, en suma, el tipo es tipo de injusto, y no debe hablarse deacción típica y antijurídica, sino de acción típicamente antijurídica. Para lateoría de los elementos negativos del tipo (Frank y otros), el tipo también es


tipo de injusto y e implica antijuridicidad, pero porque sólo estamos ante untipo completo si se incluye su parte negativa, implícita en la mayoría de lasdescripciones legales, a saber, la ausencia de causas de justificación; por elloel indicio del tipo en senti<strong>do</strong> estricto – o tipo positivo – se ve confirma<strong>do</strong> porla ausencia de causa de justificación; por ello el indicio del tipo en senti<strong>do</strong>estricto – o tipo positivo – se ve confirma<strong>do</strong> por la ausencia de causas dejustificación y así la conducta que encaja en el autentico tipo, en el tipoamplio o completo (al que se denomina «tipo total de injusto»), es siempreantijurídica y desvalorada. En definitiva, y pese a su distintafundamentación, ambas perspectivas coinciden en entender la tipicidad concarácter valorativo, exactamente igual que la antijuridicidad, da<strong>do</strong> queambas categorías no están separadas, sino estrechamente unidas, ya que si laconducta es típica, también es antijurídica". (LUZÓN PEÑA, Diego-Manuel, Ob. Cit., p. 232/233).* Advoga<strong>do</strong> em Campina Grande (PB), <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> em Direito Penal e Políticacriminal pela Universidade de Granada (Espanha)Disponível em : < http://jus2.uol.com.br/<strong>do</strong>utrina/texto.asp?id=6245 >.Acesso em : 15 de setembro de 2006.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!