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1 Texto extraído da Tese de Doutorado O SOM A TELENOVELA ...

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4auditiva nos permite reconhecer milhares <strong>de</strong> fontes sonoras somente pelo timbre, sem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estar vendo afonte. Quando a ligação fonte-som é altera<strong>da</strong>, as coisas que vemos ficam falsas, mentirosas, há um estranhamentosonoro. Por isso é que nos audiovisuais existe um cui<strong>da</strong>do especial na criação e reprodução dos sons <strong>de</strong> uma paisagemsonora, já que uma cor dissonante <strong>de</strong> sua fonte prejudica a veraci<strong>da</strong><strong>de</strong> do audiovisual.Reconhecemos as pessoas pela singulari<strong>da</strong><strong>de</strong> no timbre <strong>de</strong> sua voz. A relação entre um corpo que fala e o som <strong>de</strong>sua fala está <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelo timbre. Uma mesma pessoa mu<strong>da</strong> a cor <strong>de</strong> sua voz nas passagens <strong>da</strong> infância para omundo adulto e para a velhice. Quando ouvimos uma pessoa falar reconhecemos se é homem ou mulher, jovem ouvelho, sem necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r uma palavra <strong>da</strong> língua em que fala. Nos audiovisuais o timbre <strong>de</strong>sempenha umpapel primordial no reconhecimento <strong>da</strong>s fontes e nas associações espaço-tempo culturais que um som po<strong>de</strong> carregar. Otimbre <strong>de</strong> um instrumento ou <strong>da</strong> voz <strong>de</strong> uma pessoa po<strong>de</strong> remontar instantaneamente o receptor a lugares e épocas<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s.A intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> refere-se ao grau <strong>de</strong> energia <strong>de</strong> um som. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> altura, duração ou timbre, um sompo<strong>de</strong> possuir intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fortes ou fracas. O impacto do som em intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s fortes po<strong>de</strong> <strong>da</strong>nificar o ouvidoprovocando per<strong>da</strong>s irreparáveis na audição. Um som grave contínuo com uma alta intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar um prédiopelas fortes vibrações provoca<strong>da</strong>s nas colunas e pare<strong>de</strong>s. Nos anos 70, o cinema realizou, no filme Terremoto (1974),uma experiência na qual o público sentia os tremores <strong>de</strong> terra através <strong>de</strong> um som grave <strong>de</strong> baixa freqüência e forteintensi<strong>da</strong><strong>de</strong> (sensurround). Esta proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, então, reveste o som <strong>de</strong> uma dinâmica pontual com relação ao receptor. Aintensi<strong>da</strong><strong>de</strong> pren<strong>de</strong> a atenção com suas diversas variações, mol<strong>da</strong>ndo momentos <strong>de</strong> ação e repouso. Em uma fala, porexemplo, as mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser tão ou mais significativas que o que está sendo dito.Um som com amplitu<strong>de</strong> constante gera um grau <strong>de</strong> tensão suspenso na dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> se vai terminar, diminuir ouaumentar. "O som que <strong>de</strong>cresce em intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> po<strong>de</strong> remeter tanto à fraqueza e à <strong>de</strong>bilitação, que teria o silêncio comomorte, ou à extrema sutileza do extremamente vivo (po<strong>de</strong>ndo sugerir justamente o ponto <strong>de</strong> colamento e <strong>de</strong>scolamento<strong>de</strong>sses sentidos, o ponto diferencial entre a vi<strong>da</strong> e a morte, aí potencializados). O crescendo o fortíssimo po<strong>de</strong> man<strong>da</strong>r,por sua vez, um jorro <strong>de</strong> explosão proteínica e vital emanando <strong>da</strong> fonte, ou a explosão mortífera do ruído como<strong>de</strong>struição, como <strong>de</strong>smanche <strong>de</strong> informações vitais" (Wisnik, 1989: 23). O som audiovisual aproveita-se <strong>de</strong>sta riquezapara criar figuras auditivas às vezes concor<strong>da</strong>ntes com a imagem e, às vezes, dissonantes <strong>de</strong>sta. No a<strong>de</strong>quado controle<strong>da</strong>s intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s resi<strong>de</strong> um dos segredos <strong>de</strong> uma mixagem sonora e talvez do encantamento do receptor ao assistir umaudiovisual.Os sons, com suas alturas, durações, timbres e intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, não se apresentam <strong>de</strong> forma individual; ouvimos naspaisagens sonoras físicas e fílmicas conglomerados <strong>de</strong> sons sucessivos e simultâneos. A sucessão <strong>de</strong> notas variando emsuas alturas criam a melodia. Em uma peça musical ela po<strong>de</strong> ser interpreta<strong>da</strong> por um ou vários instrumentos, ou pelavoz humana. No âmbito do audiovisual falar <strong>de</strong> melodia torna-se um pouco mais complicado, pois como <strong>de</strong>terminaruma linha melódica em uma trilha composta por tantos elementos diferenciados? A princípio, po<strong>de</strong>mos dizer que apartir do cinema sonoro as falas assumem o papel <strong>de</strong> melodia. Não é necessário realizar uma pesquisa para concluir queas falas nos audiovisuais transportam para si a missão do enca<strong>de</strong>amento narrativo. O intuito dos realizadores é que aaudição focaliza<strong>da</strong> concentre-se nas falas, naquilo que é dito. Seria, então, uma melodia que em sua organizaçãolingüística estaria direciona<strong>da</strong> à sua compreensão racional. Porém, esse valor <strong>de</strong> melodia dilui-se ao notar que os outroselementos sonoros, inclusive os não-lingüísticos <strong>da</strong>s próprias falas, <strong>de</strong>vem ser ouvidos com a audição periférica,provocando respostas emocionais. Nesta relação <strong>de</strong> figura/fundo, a figura dirige-se ao racional e o fundo ao emocionaldo receptor. Apresenta-se, então, uma articulação na qual a trilha sonora <strong>de</strong>tém não uma linha melódica, mas sim umjogo <strong>de</strong> várias linhas melódicas simultâneas. A trilha sonora <strong>de</strong>fine-se, <strong>de</strong>ssa forma, como uma polifonia sonoraestimulando ininterruptamente, e por várias frentes, a atenção auditiva do receptor.Na combinação simultânea dos sons, ou seja, na harmonia, a polifonia <strong>da</strong> trilha sonora encontra seu papel <strong>de</strong>ação vertical. Na música enten<strong>de</strong>-se por acor<strong>de</strong> o momento em que duas ou mais notas são ouvi<strong>da</strong>s ao mesmo tempo.Um acor<strong>de</strong> em uma trilha sonora po<strong>de</strong> acontecer na simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> fala, música, sons e/ou silêncio, e aspossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> significado projetam-se às múltiplas combinações realizáveis. Quiçá, um dos maiores atributosestéticos <strong>da</strong>s manifestações audiovisuais resi<strong>da</strong> nos bons aproveitamentos <strong>da</strong>s articulações harmônicas tanto no interior<strong>da</strong> imagem, como nos acor<strong>de</strong>s sonoros e nas articulações <strong>de</strong> som e imagem.A manipulação ilimita<strong>da</strong> <strong>de</strong> intervenção linear horizontal e vertical dotam o som <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s várias nasomatória <strong>de</strong> sentidos propostos pelo realizador e apropriados e reelaborados pelo receptor. A composição melódica eharmônica <strong>da</strong>s falas, dos sons, <strong>da</strong>s músicas e dos silêncios, constrói uma paisagem sonora exclusiva do universo doaudiovisual, composição esta <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong> pelo homem até a aparição do cinema sonoro. Embora o teatro pu<strong>de</strong>sserealizar jogos sonoros similares muito antes do cinema, ele não contava com os recursos tecnológicos trazidos pelasnovas formas <strong>de</strong> relacionamento <strong>da</strong>s manifestações sonoras como a imagem, o espaço e o tempo.

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