4entrevistaJornal da Fundação - Você acredita que o conceitoveio para ficar ou se trata de uma modapassageira?Marcelo Barros Torres Alves - Não há dúvidas deque o conceito veio para ficar. Primeiro porque não éum conceito exatamente novo - ao longo da história,o ser humano sempre esteve vinculado à natureza ea relações saudáveis em comunidade. Segundo porquea sociedade conectada em rede gera e transmiteinformações sempre ao vivo. Portanto, as empresasnão têm alternativa: precisam rever seusnegócios. A sociedade está só começandoa exigir das organizações produtos eserviços limpos que promovam o desenvolvimentodas pessoas. Setores inteirosserão impactados: muitos diminuirãodrasticamente e outros crescerão fortemente.As inovações tomarão conta domercado e os profissionais precisam estarpreparados para isso.sustentabilidade“O desafio não é formar uma pessoa parao mercado como ele é hoje, mas para ummercado em forte mudança”Muito se fala, hoje, em sustentabilidade. Do chamado consumo consciente,passando pela exploração responsável dos recursos vegetais e minerais, o termopassou a ser usado por empresas e pessoas preocupadas com o futuro.No final do ano passado, o Univem promoveu uma semana inteirade reflexões sobre o tema, estimuladas por palestras ministradas por profissionaisde grandes empresas e pesquisadores de outras universidades.A 1ª Semana do Saber Sustentável lançou a semente... e o debate continua.Atento a estas novas demandas, o Univem procura modernizar conceitos epráticas que alicerçam seus cursos. Afinal, como já é tradição, os profissionais quese graduam na instituição levam na bagagem uma formação de qualidade e sintonizadacom os anseios da sociedade.Nesta edição, o Jornal da Fundação entrevistou Marcelo Barros Torres Alves,Gerente Executivo de Desenvolvimento Sustentável do Santander, um dos palestrantespresentes da 1ª Semana. Para ele, “quando um profissional compreendeos princípios de sustentabilidade, precisa aplicá-los à sua área e encontrar soluções”.Acompanhe a íntegra da entrevista:JF - Em relação às empresas que atuamno Brasil, você vê uma evoluçãoem relação às práticas de sustentabilidade?Alves - Temos feito workshops em várias cidades,levando a experiência do banco em sustentabilidade,e percebemos que há uma mudança rápida em curso:as empresas estão investindo no tema e repensandoseus negócios, produtos e processos. Aindahá muito a ser feito, mas o número de empresários elíderes dispostos a mudar é cada vez maior.JF - As empresas estão incorporando critérios e"A sustentabilidadeprecisada inovaçãoe oempreendedoré, pornatureza,alguém queinova."práticas sustentáveis na sua gestão?Alves - Interessante que, ao falar de sustentabilidade,podemos ver mudanças desde o tipo dematéria-prima usada, processos produtivos maislimpos e eficientes, até relações diferenciadascom fornecedores e clientes. Já existem tecnologiasno mercado, mas há um campo imenso parainovar. Quando um profissional compreende osprincípios de sustentabilidade, precisa aplicá-losà sua área e encontrar soluções. Por exemplo:como se pode fazer contabilidade decustos de forma sustentável? Ou, oque precisa ser modificado para que alogística incorpore a sustentabilidadena sua função dentro da empresa?Profissionais inovadores e empreendedoresestão à busca de respostas paraessas e outras perguntas. Nós acreditamosno valor das ideias e o períododa graduação é muito oportuno paraisso, razão pela qual o banco tambémestimula professores e alunos a participaremde prêmios de inovação e empreendedorismo,ciência e tecnologia.JF - Você considera que as instituições deensino superior estão adequando seus cursos,visando a formação de profissionais preparadospara estas demandas?Alves - Essa é uma boa pergunta! O desafio não éformar uma pessoa para o mercado como ele éhoje, mas para um mercado em mudança, e umamudança forte. Os novos profissionais precisam ser* Com Marcelo Barros Torres Alves,Gerente Executivo de DesenvolvimentoSustentável do Santandercapazes de compreender de maneira maisprofunda as relações do mundo à sua volta efundirem conhecimentos diversos para encontraremrespostas para a sociedade. Grandeparcela das ciências tradicionais parte deuma lógica linear, o que tem feito os profissionais,às vezes, encontrarem soluções incompletaspara os desafios que o mundovive hoje. Por exemplo: profissionais queprojetam embalagem precisam hoje saber dafuncionalidade e proteção ao produto, doapelo comercial e facilidade de uso, mastambém a origem da matéria-prima, os componentesquímicos usados que podem gerardanos para as pessoas e a natureza, e qual ecomo será feito o descarte final da embalagem.Ou seja, são vários conhecimentosdiferentes interconectados.JF - Os cursos do Univem têm a preocupaçãoem estimular a vertente do empreendedorismo.Você acredita que os estudantes possamcriar e empreender a partir das demandasestimuladas pela sustentabilidade?Alves - Como disse antes, a sustentabilidadeprecisa da inovação e o empreendedor é, pornatureza, alguém que inova, alguém que acreditaque dá pra fazer as coisas de forma diferente.E empreendedor não é só quem abre uma empresa,mas é quem consegue ir adiante com umaideia ou um projeto mesmo quando as condiçõessão adversas. Há muitos exemplos assim: o Lito,um empresário de São Paulo, decidiu que lavariacarros sem usar água. Muitos disseram que eraimpossível, mas ele insistiu e conseguiu desenvolverum produto que é ecologicamente corretoe capaz de lavar um carro inteiro usando só 200ml de água para diluir o produto. A Beraca éuma empresa de extratos vegetais para cosméticos;ela descobriu uma forma de trabalhar emparceria com comunidades da Amazônia quecultivam, extraem e processam óleos de sementesda região, gerando renda para muitas famíliasque trabalham em forma de cooperativa e preservama floresta de pé. Para isso, tiveram queinvestir em conhecimentos sobre as comunidades,produção orgânica de sementes, formaçãode cooperativas e outros assuntos que não faziamparte da rotina de uma indústria química.Jornal da Fundação - Março 2011