A associação entre o início <strong>de</strong> cuidados pré-natais numa fase <strong>de</strong> gestação tardia e re sul -tados adversos ao nível da saú<strong>de</strong> das mães e crianças tem vindo a ser confirmada (Gort-maker, 1979; Ryan, Sweeney e Solola, 1980; Quick, Greenlick e Roghmann, 1981).Dados indicam que 20% das mortes maternas, directa ou indirectamente rela cio nadascom a gravi<strong>de</strong>z, verificam-se em <strong>mulheres</strong> com acompanhamento reduzido, tardio ou atéinexistente, ao nível dos cuidados pré-natais (Bragg, 2008).A literatura aponta para diversos factores relacionados com os cuidados pré-natais tardiosque incluem a ida<strong>de</strong>, o baixo nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, a pertença a uma minoria étnica, asdificulda<strong>de</strong>s linguísticas, o estatuto irregular e a gravi<strong>de</strong>z não <strong>de</strong>sejada ou não planeada(Al<strong>de</strong>rliesten et al., 2007; Blon<strong>de</strong>l et al., 1993; Delgado-Rodriguez et al., 1997; Delvauxet al., 2001; Essex, Counsell e Geddis, 1992; Hemingway, Saun<strong>de</strong>rs e Parsons 1997;Hulsey, 2001; Kupek et al., 2002; McDonald e Coburn, 1988; Pagnini e Reichman, 2000;Rowe e Garcia, 2003; Wolff et al., 2008). Delvaux e colaboradores (2001) ana li sa ram entrevistascom <strong>mulheres</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>z países europeus e concluíram que existem bar rei ras <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m socioeconómica, organizacional e cultural aos cuidados pré-natais na Europa.As <strong>mulheres</strong> migrantes recém-chegadas ao país <strong>de</strong> acolhimento têm geralmente poucosconhecimentos sobre os serviços sociais e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> disponíveis e, em especial, sobre osserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> materna (Janssens, Bosmans e Temmerman, 2005; House of Com -mons Health Committee, 2003).Também os factores culturais, como papéis sociais <strong>de</strong> género, hábitos tradicionais, lin gua -gem e padrões <strong>de</strong> comunicação po<strong>de</strong>m condicionar a utilização dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>materna e cuidados pré-natais, por parte das <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> (Kennedy e Murphy-Lawless, 2002). Vários estudos têm i<strong>de</strong>ntificado a associação entre o reduzido acesso aserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> materna por parte <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> e a indisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>serviços <strong>de</strong> tradução e falta <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para as diferençasculturais (Bulman e McCourt, 2002).Em muitos casos, alguns grupos <strong>de</strong> <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> necessitam <strong>de</strong> um intérpretequan do recorrem aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pelo que, muitas vezes, fazem-se acompanharSaú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo (43)
pelos seus maridos ou outros elementos masculinos da família. Durante a consulta, todaa informação é transmitida pelo intérprete homem, o que po<strong>de</strong> ser problemático, es pe cial -mente se a mulher pertencer a culturas em que a discussão <strong>de</strong> aspectos sobre a gravi<strong>de</strong>ze o parto com elementos familiares masculinos não é habitual (Ascoly, Van Halsema eKeysers, 2001). Devido a normas culturais, as <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> sentem-se muitasvezes <strong>de</strong>sconfortáveis com <strong>de</strong>terminados procedimentos nos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do país<strong>de</strong> acolhimento, como o atendimento por médicos do sexo masculino ou a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> tirar a roupa para realizar exames médicos (Mestheneos, Gaunt e Ioannadi, 1999).O <strong>de</strong>sconhecimento, por parte dos técnicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, acerca dos aspectos culturais relacionados com o comportamento <strong>sexual</strong> e reprodutivo dos migrantes, bem como a exis tên -cia <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s discriminatórias e <strong>de</strong> preconceitos face a estes grupos po<strong>de</strong>m ter impactona utilização dos cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e na forma como se vivencia a experiência da gra -vi<strong>de</strong>z, parto e maternida<strong>de</strong> (Bulman e McCourt, 2002; Dias, Matos e Gonçalves, 2002;Janssens, Bosmans e Temmerman, 2005; House of Commons Health Committee, 2003;WHO, 2003a).Outro aspecto importante a referir diz respeito às práticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nos países <strong>de</strong> origemque, muitas vezes, se caracterizam pelo recurso à medicina tradicional, especialmentedurante e após a gravi<strong>de</strong>z, traduzindo-se numa menor procura e utilização dos serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, po<strong>de</strong>ndo afectar negativamente a saú<strong>de</strong> da mãe ou do bebé (Ayaz e Efe, 2008).A mudança do contexto social e económico, subjacente ao processo <strong>de</strong> migração, po<strong>de</strong>con dicionar as opções sobre as questões relativas à reprodução. As populações migrantes,especialmente as <strong>mulheres</strong>, vêem-se frequentemente confrontadas com a imposição dare dução do tamanho da família, muitas vezes forçada pelo elevado custo associado à ma -nu tenção das condições <strong>de</strong> vida.No que respeita à interrupção voluntária da gravi<strong>de</strong>z (IVG), apesar da escassa informação,as investigações têm apontado para uma maior prevalência <strong>de</strong>sta situação na populaçãoim igrante (Carballo, 2006). Na Noruega, as <strong>mulheres</strong> <strong>imigrantes</strong> apresentam taxas maiselevadas <strong>de</strong> IVG do que as <strong>mulheres</strong> autóctones (Ackerhans, 2003). Em 2000, a taxa <strong>de</strong>(44) Saú<strong>de</strong> Sexual e Reprodutiva <strong>de</strong> Mulheres Imigrantes Africanas e Brasileiras: um estudo qualitativo
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