der esse homem que os insulta e ao mesmo tempo embriaga-lhesa alma com um vinho celestial. Chamavam-no,ora pedindo outras canções, ora amaldiçoando-o.JalaI Paxá rugia como um leão, passando deuma sala a outra, maldizendo Bulas As-Solban, criticandoos convivas que lhe davam atenção.Eis o que aconteceu ontem. Que achais d<strong>este</strong> gêniolouco? Que achais das suas manias?Calil Bei Tamer - Eis uma história extraordinária.Minha opinião é esta: Admiro muito Bulos Efêndi.Apesar disto, digo que ele errou ontem. Podia ter cantadona casa de Jalal Paxá como cantou na casa deHabib Saade, e atendido aos pedidos dos presentescom algo de sua arte. (A Yussef Mussarra) Queachas, Yussef Efêndi?Yussef Mussarra - Eu não censuro As-Solban, nemprocuro compreender seus segredos e mistérios. Consideroo assunto estritamente pessoal, que diz respeitoa ele, exclusivamente; pois sei que 'os artistas, e particularmenteos cantores, diferem dos demais mortais.Não é justo nem correto medir suas ações e reaçõescom as medidas comuns.O artista - e chamo artista aquele que cria novasformas para seus <strong>pensamentos</strong> e sentimentos - é umestrangeiro na sua própria família, e na sua pátria, eno mundo. O artista se dirige para o l<strong>este</strong> quando todosse dirigem para o o<strong>este</strong> e se deixa influenciar pormovimentos subjetivos que nem ele próprio é semprecapaz de explicar. É feliz em meio aos infelizes e infelizem meio aos felizes; fraco entre os poderosos e poderosoentre os fracos. O artista está acima da lei, queiramos homens ou não queiram.Calil Rei Tamer - Estas <strong>palavras</strong> tuas, Yussef Eíêndi,não diferem do que diss<strong>este</strong> no teu artigo sobre asbelas-artes. Permite-me repetir por minha vez que o36espírito do Ocidente que inspira a tua pregação seláa causa de <strong>nos</strong>so desaparecimento como povo e comonação.Yussef M ussarra - Consideras o comportamentode Bulos Eíêndi como uma manifestação desta almaeuropéia que detestas e rejeitas? Não assiste a BulasAs-Solban a liberdade de fazer de sua voz e de suaarte o que quiser, quando quiser?Calil Bei Tamer - Ele tem sem dúvida toda a liberdadede fazer o que quiser. Mas acho que <strong>nos</strong>sa vidasocial não se acomoda a <strong>este</strong> tipo de liberdade. 'Nossasinclinações e modos e tradições não permitem ao indivíduocomportar-se como Bulos Efêndi se comportouontem.Hele.na Mussarra - Este é um debate interessante eproveitoso. Mas já que o pivô d<strong>este</strong> debate se encontraentre nós, ele poderia defender-se.B ulos As-Solban (após um silêncio prolongado) Teria preferido que Salim não tivesse abordado <strong>este</strong>assunto. Mas já que estou numa situação delicada,como diz CaIil Bei, acho-me na obrigação de expressarmeus <strong>pensamentos</strong> sobre o assunto.Sabeis todos que a maioria dos que me" conhecemme criticam. Uns dizem que sou mimado; outros dizemque sou torto. E há quem diga que sou um homemsem dignidade. Por que essas críticas e ofensas? Porcausa do meu caráter, que não posso modificar, e quenão modificaria se pudesse fazê-lo.E por que os homens se interessam tanto por mime meu caráter? Não me podem esquecer? Há nesta cidademuitos cantores e declamadores e músicos; e hámuitos poetas e aduladores e mendigos que venderiamnão somente sua voz e <strong>pensamentos</strong> e sentimentos, masvenderiam a própria alma por dinheiro, ou por umjantar ou por uma garrafa de vinho. E <strong>nos</strong>sos ricos37
e líderes descobriram <strong>este</strong> segredo, e estão comprandoartistas e cantores pelos preços mais baixos, expondo-os<strong>nas</strong> suas casas e palácios como expõem seus cavalose coches <strong>nas</strong> praças e <strong>nas</strong> ruas. Sim, senhores, oscantores e os poetas são, no Oriente, portadores de incensórios;mais exatamente são escravos, obrigados acantar <strong>nas</strong> festas de bodas e a chorar e declamar elegias<strong>nos</strong> enterros. São mecanismos que se montam paraoperar <strong>nos</strong> dias de luto e <strong>nas</strong> noites de alegria; e quandonão há luto nem alegria, são postos de lado comoobjetos sem valor.Não censuro os ricos. Censuro os artistas que nãose respeitam e não se fazem respeitar.CaIU Bei Tamer (excitado) - Ontem .à noite, osconvidados rogavam-te e usavam todos os meios paraque condescendesses e lhes cantasses uma canção. Considerasque cantar na casa de Jalal Paxá é uma subnllssãodesonrosa?Bulos As-Solban - Se tivesse podido cantar na casade Jalal Paxá, tê-lo-ia feito. Mas olhei em volta demim, e só vi milionários cujos ouvidos só apreciam amúsica do ouro batendo contra o ouro, notáveis quenão etendem da vida senão o que os eleva e abaixaos. outros. Ouem dos que estavam lá teria sido 'capazde distinguir o Nahauand do Rasd ou o Achaak doAsfahan?,(*) Por isto, não consegui abrir meu coraçãodiante de cegos, nem falar dos segredos de minhaalma aos surdos. A música é a linguagem das almas.É um fluido misterioso que ondula entre o espírito docantor e o espírito do ouvinte Quando não há espíritospara ouvir e apreciar, o cantor perde sua jnspira- .ção e seu· incentivo. O músico é como uma lira de cordasesticadas e sensíveis. Se as cordas se afrouxam,(,.) ~elodias da música árabe.38~.''If'..~)ouvintesdeterioram-se suas características, e elas se tomam semelhantesà. simples barbantes. As cordas da minhaa1ma afrouxaram-se na casa de JalaI Paxá, quandofitei os presentes, homens e mulheres, e achei-os ouesnobes, ou vaidosos, ou estúpidos. -Ouanto às suassúplicas a mim. dirigidas resultavam exclusivamenteda minha soberba e negação. Se eu fosse como oscantores-rãs, ninguém se teria ocupado de mim.Calil Bei Tamer (interrompendo-o, gracejando)Depois disto, foste à casa de Habib Saade.. E, por vingança,só por isto, ficaste cantando até a madrugada!Bulos As-Solban - Fiquei cantando até a madrugadaporque queria libertar meu coração de um fardopesado; queria queixar-me da noite e' da vida e do destino.Sentia a necessidade de esticar as cordas que seafrouxaram na casa do Paxá. Se quiseres pensar, CalilBei, que fui instigado pelo sentimento da vingança,estás naturalmente livre de fazê-lo. Mas, na verdade,a arte é um pássaro livre que paira no espaço quando.Ihe convier e desce à terra quando lhe convier. E nãohá força no mundo capaz-de encadeá-lo ou mudar-lheo curso. A arte é um sentimento sublime que não sevende nem se compra. Os orientais devem descobriresta verdade. Quanto aos verdadeiros artistas entrenós - e são mais raros do que o fósforo vermelho precisam respeitar-se a si mesmos porque são como vasossagrados que Deus enche com vinho celestial.Yussef Mussarra - Estou de acordo contigo, Bulos.Expressaste· meus <strong>pensamentos</strong> com uma eloqüênciade que não sou capaz. És um artista e eu sou um pesquisador.A diferença entre nós é a diferença entre auva verde e o vinho velho.Salim Muauad. - As-Solban fala como canta. Seussó podem convencer-se e aplaudir.39
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