FERTILIZANTESCaminhos para aautossuficiênciaGOVERNOBRASILEIRO TOMAA DECISÃOPOLÍTICA DE LIVRARO PAÍS DA FORTEDEPENDÊNCIA PORFERTILIZANTESIMPORTADOSnew holland/abr/divulgaçãoEvandro BittencourtAexpressiva elevação dos preços dos fertilizantesem 2008 impactou fortemente aativi<strong>da</strong>de canavieira e a produção de soja,entre várias outras culturas. A reali<strong>da</strong>de levouprodutores, autori<strong>da</strong>des e grande parcela <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>deà preocupante constatação de que o Brasil,a despeito de ser um dos maiores produtores agrícolasdo mundo, é altamente dependente dos fertilizantesproduzidos a partir de matérias-primas obti<strong>da</strong>em jazi<strong>da</strong>s de outros países. E mais, que a comercializaçãodesses produtos no País está na mãode, basicamente, três grandes empresas multinacionais,uma situação de alta vulnerabili<strong>da</strong>de que levouo governo federal a reagir e tentar reverter ou,pelo menos, reduzir a concentração do mercado e odesequilíbrio entre produção e deman<strong>da</strong> desses insumos,imprescindíveis para a ativi<strong>da</strong>de agrícola.Em recente participação no Congresso Brasileirode soja, realizado em Goiânia, no mês de maio, o Ministro<strong>da</strong> Agricultura, Reinhold Sthepanes, revelouao público presente os motivos que levaram o governoa elaborar o Plano Nacional de Fertilizantes. Otrabalho é desenvolvido pelo Mapa, em conjuntocom outros ministérios e instituições, para reduzir adependência do Brasil <strong>da</strong>s importações de insumos,sobretudo do nitrogênio, fósforo e potássio.Como exemplo, o ministro destaca que há, basicamente,quatro países no mundo que produzeme dominam as reservas de potássio e três empresasque controlam a comercialização. “Por isso,a gente já pode ver o tamanho do problemaque temos e vamos ter pela frente. Numa situaçãoassim, essas empresas têm to<strong>da</strong> uma condiçãode regular o mercado. Precisamos achar uma soluçãopara conviver de uma forma mais equilibra<strong>da</strong>com essa reali<strong>da</strong>de”, defende o ministro.O detalhamento do Plano Nacional de Fertilizantesestá previsto para ser apresentado no final domês de junho, mas Reinhold Stephanes, em suaapresentação no Congresso Brasileiro de Soja, dissecouaos quase 2 mil participantes do evento o perfil<strong>da</strong> dependência do Brasil, destacando que as importaçõesrespondem por 73% do consumo nacional defertilizantes. Garantiu, ain<strong>da</strong>, que o Brasil tem jazi<strong>da</strong>sain<strong>da</strong> não explora<strong>da</strong>s suficientes para tornar oPaís auto-suficiente em um prazo de 10 anos.PÓ DE ROCHAParalelamente ao esforço do governo, instituiçõesde ensino e de pesquisa, com destaque para aEmbrapa e Universi<strong>da</strong>de de Brasília, buscam soluçõesalternativas de fertilizantes cuja matéria-primaseja abun<strong>da</strong>nte e barata e, o que é mais importante,esteja disponível aqui mesmo, no Brasil.Pesquisadora associa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Brasíliae funcionária <strong>da</strong> Petrobras, Suzi Huff Theodoro,que há vários anos desenvolve pesquisas sobreo uso de pós de rochas na agricultura, destaca queo Brasil é um País extremamente geodiverso. Trata-sede uma riqueza inexplora<strong>da</strong>, que pode aju<strong>da</strong>ra diminuir a dependência por fertilizantes.As rochas que podem ser utiliza<strong>da</strong>s para adubar,explica a pesquisadora, são aquelas que, por sua naturezagenética, apresentam quanti<strong>da</strong>des significativasdos principais macro e micronutrientes requeridospelas plantas, a exemplo <strong>da</strong>s rochas ultra-potássicas,fonte de potássio. “Quando consideramos que 91% dopotássio consumido no Brasil é importado, percebe-14 CANAL, Jornal <strong>da</strong> Bioenergia - MAIO 2009
mos o quanto é importante encontrarfontes alternativas.”Outros tipos de rocha, prossegueSuzi Huff Theodoro, sãofonte de cálcio, magnésio e fósforo.“Consideramos que a presençadesses nutrientes é umaparte <strong>da</strong> razão do sucesso deprodutivi<strong>da</strong>de. Além deles, osmicronutrientes desempenhamuma função muito especial”.Segundo a pesquisadora, aagricultura moderna convencionaldeixou de lado grandeparte dos micronutrientes. Deuma lista de muitos, usam-se,basicamente, apenas 10 deles e,ain<strong>da</strong> assim, eventualmente.“Com isso, os alimentos deixamde ter esses nutrientes, porqueeles já se exauriram no solo. Oalimento consumido não temesses elementos e, portanto, oorganismo deixa de assimilar asquanti<strong>da</strong>des necessárias de molibdênioe vanádio, por exemplo,o que acaba acaba acarretandoproblemas à saúde.”Bactérias fixadoras de nitrogênioA consistência dos resultadosobtidos em uma pesquisa sobreinoculantes com bactérias fixadorasde nitrogênio para aplicaçãoem cana-de-açúcar, lidera<strong>da</strong> porVerônica Massena Reis, <strong>da</strong> EmbrapaAgrobiologia, promete revolucionara aplicação de fertilizantesnitrogenados na cultura.Ensaios em larga escala <strong>da</strong> aplicação<strong>da</strong>s bactérias já estão sendorealizados em várias usinas parceiras<strong>da</strong> Embrapa no desenvolvimento<strong>da</strong> tecnologia. “Estamosfazendo testes de campo em canaplanta e já tentando aplicar abactéria na cana soca”.Segundo a líder <strong>da</strong> pesquisa, háum grande esforço sendo realizado,no momento, para desenvolverprocessos de aplicação em largaescala do inoculante, de umaforma fácil e que reduza a necessi<strong>da</strong>dede adubação nitrogena<strong>da</strong>convencional em 100% na canade primeiro ano. Na cana soca,provavelmente, essa redução deveficar em torno de 50%. Esse é oporcentual que estamos preconizando,embora tenhamos trabalhadocom até 100% de redução,sem per<strong>da</strong> de produtivi<strong>da</strong>de.”A tecnologia já foi repassa<strong>da</strong> àindústria, informa Verônica MassenaReis. “Fizemos um editalaberto à indústria nacional e quatrocompanhias se habilitaram,receberam as estirpes e agora elastêm até dois anos para lançar oproduto final, pois serão as responsáveispelo inoculante que serácomercializado no mercado.”A princípio, segundo VerônicaMassena, o produto deverá ser recomen<strong>da</strong>dopara to<strong>da</strong>s as regiõesdo País. “Estamos trabalhandocom várias usinas do Nordeste, deSão Paulo e vamos começar noParaná e no Rio Grande do Sul,regiões mais frias, mas onde a canatambém está avançando, e naregião do Cerrado.”Reinhold Stephanes diz que oBrasil tem condições de se tornarauto-suficiente em fertilizantesCANAL, Jornal <strong>da</strong> Bioenergia - MAIO 2009 15