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Leiria-Fatima_ed_46.pdf - Diocese Leiria-Fátima

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Índice. entrevistas .Centro de Acolhimento de <strong>Leiria</strong> • “Sem-abrigo” não são apenas os que não têm casa! 145Cónego José de Oliveira Rosa • Uma vida ao serviço da Fé 149Padre Tony Neves - X Fórum Ecuménico Jovem • Percursos de Unidade 154Luís Sousa, chefe de campo do JAMBOREE 2008 – XIX Acampamento Regional de <strong>Leiria</strong>“O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem” 157Ana Sousa, missionária (Brasil) • “Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras” 161Reflexões•••. teologia/pastoral .Monsenhor Joaquim Carreira • Apóstolo do bem, na guerra e na paz 1671.º ano do Hospital da Misericórdia da BatalhaDiversidade de contributos numa mesma missão de CUIDAR 173. história .Saul António GomesO Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipa de Lencastre no Mosteiro da Batalha 177| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 5


Documentos. decretos . documentos pastorais .. escritos episcopais . diversos .


. decretos .NomeaçãoServiço Diocesano para o Diaconado PermanenteAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,faz saber quanto segue:Sendo necessário prover os serviços diocesanos dos meios humanos necessários,havemos por bem nomear Responsável do Serviço Diocesano parao Diaconado Permanente o Revº P. Dr. Adelino Filipe Guarda, que entrará emfunções no início do próximo mês de Setembro.Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispodiocesano.Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.<strong>Leiria</strong>, 15 de Julho de 2008† António Augusto dos Santos MartoBispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>DocumentosNomeaçãoAdministrador do Santuário de <strong>Fátima</strong>António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,faz saber quanto segue:Tendo terminado o mandato do actual Administrador do Santuário de <strong>Fátima</strong>,de acordo com os Estatutos do Santuário de <strong>Fátima</strong> havemos por bemnomear Administrador e Capelão do Santuário de <strong>Fátima</strong> o Revº P. CristianoJoão Rodrigues Saraiva, que entrará em funções durante o próximo mês deSetembro.Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispodiocesano.Esta nomeação é válida pelo período de cinco anos.<strong>Leiria</strong>, 15 de Julho de 2008† António Augusto dos Santos MartoBispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 11


. decretos .Mantenha-se unido aos outros sacerdotes e sinta-se corresponsável pelobem de toda a <strong>Diocese</strong>. Lembre-se que os bens materiais, adquiridos no exercícioda sua missão, andam intimamente ligados ao múnus sagrado. Socorrapois generosamente as necessidades materiais da Igreja, segundo as própriasdisponibilidades e as indicações superiores.Finalmente, esperamos que os paroquianos o recebam, como legítimopastor e o auxiliem no bom desempenho da sua missão. Todos se lhe devemunir pela oração e pela actividade apostólica. Concorram para a sua côngruasustentação, de modo que, liberto de preocupações económicas, possa d<strong>ed</strong>icar-seinteiramente ao serviço evangélico da comunidade paroquial.Esta nomeação é válida por seis anos.Dado em <strong>Leiria</strong>, a 15 de Julho de 2008† António Augusto dos Santos MartoBispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>DocumentosDecretoPia União das Escravas do Divino Coração de JesusAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,faz saber quanto segue:Sendo necessário providenciar ao bem da <strong>Diocese</strong> e das suas instituições,e tendo em consideração que:- A Pia União das Escravas do Divino Coração de Jesus, Pessoa ColectivaReligiosa com o nº 501232222, com s<strong>ed</strong>e no lugar de Aljustrel, freguesia de<strong>Fátima</strong>, concelho de Ourém, desta <strong>Diocese</strong>, erecta canonicamente pelo Bispode <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> com decreto de 2 de Março de 1959, está sujeita à nossaautoridade, conforme determinam as leis canónicas, por ser uma Associaçãode Fiéis (cf Código de Direito Canónico, cân. 305);- A mesma PIA UNIÃO criou, com finalidade social, a Fundação DivinoCoração de Jesus, com escritura pública de 22 de Junho de 2006, mas semexistência canónica, e para ela transferiu os seus bens, o que acarreta sérioprejuízo no património daquela pessoa colectiva;- Os Estatutos da Fundação criada não asseguram de modo algum os finsreligiosos da Pia União, nem na forma nem no espírito nem na substância,o que traduz inobservância dos Estatutos desta pessoa Colectiva Religiosa <strong>ed</strong>as normas canónicas;| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 13


. decretos .- terminou, em 11 de Junho último, o mandato de três anos, definido pelosEstatutos, da Superiora Geral, Irmã Maria Madalena de Jesus, com o nomecivil de Gabriela Soares de Melo e Simas Prieto Ferreira;Exercendo o dever de vigilância sobre as associações de fiéis sujeitas àautoridade do Ordinário diocesano, conforme os cânones 305, 323, 325, 1276e outros aplicáveis do Código de Direito Canónico, e o artigo 7º das NormasGerais das Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa,Decreta o seguinte:1. Designar, nos termos do cân. 318 § 1 e do artigo 23º das Normas Geraisdas Associações de Fiéis, da Conferência Episcopal Portuguesa, o ecónomodiocesano, Padre Cristiano João Rodrigues Saraiva, portador do Bilhete deIdentidade n.º 8466661, emitido em 05.03.2004 pelos S.I.C. de <strong>Leiria</strong>, residenteem Rua Joaquim Ribeiro Carvalho, nº 2, <strong>Leiria</strong>, como comissário,e o Dr. Luís Manuel Tavares da Silva Anselmo, casado, portador do Cartãode Cidadão n.º 5074584, residente na Rua Dr. João Bernardo de OliveiraRodrigues, n.º 5, em Ponta Delgada, como comissário adjunto, para em meunome, e além dos poderes de representação já conferidos por força do nossoDecreto de 15 de Julho, também administrarem temporariamente os bens daPia União, procurando pelos meios legais anular os proc<strong>ed</strong>imentos administrativosanteriores que lesaram o património da mesma Pia União e asseguraraos membros da Pia União os meios adequados à sua digna subsistência eapostolado.2. Confirmar o mandato conferido ao Dr. Luís Manuel Tavares da SilvaAnselmo, para a prática dos actos em Juízo e fora dele mencionados no nossoDecreto de 15 de Julho e outros que se revelem necessários para o bem daPia União.3. Revogar todas as cr<strong>ed</strong>enciais emitidas até ao presente à mencionadaSuperiora da Pia União e especialmente as de 29 de Setembro, 18 e 28 deOutubro 2005.Enquanto não for feita nova eleição, nos termos do direito, a actual SuperioraGeral dirige os assuntos correntes da Pia União, nomeadamente no quese refere à sua vida religiosa e apostólica, sem prejuízo do mandato conferidoaos Comissários acima designados.O presente decreto entra em vigor na data de hoje. E para constar emite opresente decreto que assina e autentica com o selo branco que usa.<strong>Leiria</strong>, 29 de Julho de 2008† António Augusto dos Santos MartoBispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>Documentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 17


. decretos .NomeaçãoAssociação Fraternitas MovimentoAntónio Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,faz saber quanto segue:Por proposta da Direcção da “Associação Fraternitas Movimento”, associaçãoprivada de fiéis, com s<strong>ed</strong>e em <strong>Fátima</strong>, na Rua Francisco Marto,nº 128, havemos por bem nomear, com a anuência do seu Bispo, o RevºP. Guilhermino Teixeira Saldanha, da <strong>Diocese</strong> de Vila Real, para AssistenteEspiritual da Associação Fraternitas Movimento, conforme o artº 35º dosseus Estatutos.Exercerá o seu cargo segundo a Lei da Igreja e em comunhão com o Bispodiocesano.Esta nomeação é válida pelo período de três anos.<strong>Leiria</strong>, 12 de Setembro de 2008.† António Augusto dos Santos MartoBispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>NomeaçãoEscola de Formação Social Rural de <strong>Leiria</strong>António Augusto dos Santos Marto, Bispo da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,faz saber quanto segue:Tendo em conta a identidade católica da Escola de Formação Social Ruralde <strong>Leiria</strong>, e atendendo ao p<strong>ed</strong>ido que nos foi apresentado pela Direcção destaentidade, bem como ao “Regulamento interno” e à história da mesma instituição,havemos por bem nomear Assistente religioso da Escola de FormaçãoSocial Rural de <strong>Leiria</strong> o Revº P. Adelino Filipe Guarda, que entra im<strong>ed</strong>iatamenteem funções.Desempenhará este serviço em comunhão com o Bispo diocesano e deacordo com os órgãos directivos da Escola.Esta nomeação é válida pelo período de seis anos.<strong>Leiria</strong>, 13 de Setembro de 2008.† António Augusto dos Santos MartoBispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>20 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .2. Toda a Igreja é missionária, a exemplo de S. PauloS. Paulo compreende e vive, de modo extraordinário, esta dimensão missionáriada Igreja. Ele mesmo nos confia o segr<strong>ed</strong>o da sua actividade de missionárioincansável ao exclamar: “O amor de Cristo possui-nos e impele-nos”. Foi o amor de Cristo que o levou a percorrer as estradas do império romanoe a enfrentar todos os riscos como arauto e missionário do Evangelho.A missão é uma irradiação da luz e do amor de Deus que em Cristo entrana história dos homens. Nenhum cristão é estranho a esta tarefa. Toda aIgreja é missionária. A missão não é obra de navegadores solitários. Deve servivida na barca de P<strong>ed</strong>ro, a Igreja, conforme os dons que cada um recebe doEspírito.Bento XVI, numa das catequeses semanais, ao apresentar as figuras doscolaboradores mais íntimos de S. Paulo – Barnabé, Silvano e Apolo – explicouque na evangelização não há solistas, porque todos têm uma tarefa decisivano campo do Senhor. Paulo não age como solista, como puro indivíduo,mas juntamente com outros colaboradores dentro do “nós” da Igreja: “Cadaum tem uma tarefa determinada no campo do Senhor: Eu plantei, Apolo regou,mas é Deus quem faz crescer... Somos de facto colaboradores de Deus evós sois o campo de Deus e o <strong>ed</strong>ifício de Deus.”“Assim, nesta missão de evangelização eles encontraram o sentido da suavida e, enquanto tais, estão diante de nós como modelos luminosos de desinteressee de generosidade”, conclui o Santo Padre.Também hoje o Evangelho deve ser anunciado por nós como o pão paraque o mundo não morra de fome; como a água para que ninguém morra des<strong>ed</strong>e; como o ar que se respira ou como o sol que aquece e retempera. Bastaque levemos o nosso testemunho humilde e generoso mas indispensável eprecioso. E há tantos modos de levar este testemunho!... Felizmente encontramoshoje o ressurgir de novos tipos de vocação missionária entre jovens emenos jovens que se dispõem a oferecer, em forma de voluntariado, algunsmeses ou anos da sua vida ao serviço dos irmãos em terras de missão.24 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .3. A geminação entre a diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>e a diocese do SumbeEntre nós, é de salientar, neste contexto, a geminação entre a nossa diocesee a diocese do Sumbe, em Angola. Esta iniciativa é uma concretizaçãodo método missionário evocado pela mensagem do Santo Padre: “Todas asIgrejas para o mundo inteiro” e expressão da comunhão das Igrejas na missãoevangelizadora. Tem servido para manter viva a dimensão missionária da (ena) nossa <strong>Diocese</strong>. Temos a trabalhar no Sumbe uma equipa constituída porum padre e alguns jovens leigos voluntários. Faço um apelo para que estarealidade seja dada a conhecer em cada uma das nossas comunidades, demodo a tornar-se interpeladora e suscitadora de vocações missionárias entreos jovens.Por fim, peço aos reverendos párocos que dêem a conhecer nas suas comunidadesa realização do Congresso Missionário Nacional e envidem esforçospara que cada comunidade se faça representar por alguns membros.O grande apóstolo São Paulo nos ajude, com a sua intercessão e exemplo,a reavivar o ardor missionário na nossa querida <strong>Diocese</strong>!Documentos13 de Julho de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 25


. documentos pastorais .Carta PastoralIr ao Coração da FéFormar para uma fé adultaCaríssimos Diocesanos,Irmãs e Irmãos no Senhor,“Graça e Pazda parte de Deus Paie de Cristo Jesus, nosso Salvador!”(Tito 1,4)Desejo saudar-vos, afectuosamente, com estas palavras do Apóstolo Pauloa Tito, seu “verdadeiro filho na fé comum”.Peço ao Senhor que me conc<strong>ed</strong>a poder partilhar como bispo, sucessor dosApóstolos, a missão e a paixão de Paulo “servo de Deus, apóstolo de JesusCristo, para chamar à fé os eleitos de Deus e ao conhecimento da verdade,que conduz à pi<strong>ed</strong>ade, na esperança da vida eterna” (Tito 1,1-2).Sim, ó Senhor Jesus, guarda sempre viva e forte em mim a consciênciada missão que me confiaste: “chamar à fé os eleitos de Deus”, ou seja, todosos homens por Ele amados; chamá-los “ao conhecimento da verdade” queresplandece nas palavras da Revelação divina e que encontra a plenitude deluz em Ti, Palavra incarnada.Esta palavra “conduz à pi<strong>ed</strong>ade”, a uma vida filial, boa e bela; que estáfundada “na esperança da vida eterna”, e, assim, abre os nossos olhos e onosso coração à alegria e à plenitude da vida em Deus.É com esta consciência da missão e com esta invocação ao Senhor quevos escrevo a presente carta pastoral, para vos apresentar o percurso da nossaIgreja diocesana para o ano pastoral 2008/09. Esta carta é fruto não só daminha reflexão, mas também do contributo dos vários órgãos pastorais diocesanoscuja d<strong>ed</strong>icada colaboração agradeço.26 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .Como sabeis, estamos a seguir o percurso já traçado pelo Sínodo Diocesanonas suas linhas gerais. A primeira etapa foi d<strong>ed</strong>icada a descobrir a belezae a alegria da vocação cristã e do acolhimento, como resposta e expressão dainfinita ternura de Deus.Não posso concentrar-me aqui sobre todas as iniciativas que se realizaram.Mas, se há uma imagem que me ficou mais gravada que outras noolhar, no coração e na memória, foi a participação impressionante de tantosadolescentes e jovens nas vigílias vocacionais em cada vigararia. A estaimagem associo também a do entusiasmo, que senti de perto, nos jovens queparticiparam no grupo vocacional de Santo Agostinho e nos adolescentes doPré-Seminário. Tudo isto é um sinal de esperança a desmentir uma tendênciapara o pessimismo, relativa ao trabalho pastoral com os jovens. Poderemosnós deixar perder este “capital” de esperança?Admirável foi também a adesão de muitas pessoas (à volta de 5.000) egrupos à proposta de “retiro popular” durante a Quaresma. Quem ousa dizerque não vale a pena fazer propostas porque não há disponibilidade das pessoaspara as agarrar?DocumentosCaminho em sintonia com a Igreja universalEste ano pastoral será d<strong>ed</strong>icado à formação cristã em ordem à revitalizaçãoe crescimento da fé, da sua vivência espiritual e do seu testemunho.Vem na sequência lógica do tema da vocação cristã, assume-o e preparapara o percurso futuro. Com efeito, “a formação dos fiéis leigos tem comoobjectivo fundamental a descoberta cada vez mais clara da própria vocaçãoe a disponibilidade cada vez maior para vivê-la no cumprimento da própriamissão”. (João Paulo II, Vocação e missão dos fiéis leigos, nº 58).A formação na fé é hoje mais necessária que nunca. Trata-se de “ir aocoração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza, o seu encanto,a sua alegria e a sua força irradiante. Uso aqui o termo “coração” numtríplice significado: enquanto núcleo central da fé, que é Jesus Cristo; comocentro propulsor que leva o “sangue”, a vitalidade, o dinamismo, a todos osmembros do corpo que é a Igreja; e como o lugar–símbolo do afecto com quese acolhe no íntimo de cada um, cheio de confiança, o anúncio de Cristo Salvador:“Se confessares com a tua boca que «Jesus é o Senhor» e acr<strong>ed</strong>itaresno teu coração que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rom10,9).Providencialmente, este ano pastoral coincide com dois grandes acontecimentosda Igreja universal, que de modo algum podemos ignorar e que| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 27


. documentos pastorais .vamos integrar no nosso percurso pastoral. Aliás, vêm enriquecê-lo muito.O primeiro é o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e namissão da Igreja. Um sínodo d<strong>ed</strong>icado a r<strong>ed</strong>escobrir a infinita bondade e ternurade Deus que, na sua Palavra, se revela ao homem como amigo, conversacom ele, convida-o à comunhão consigo e a colaborar com Ele na transformaçãoda história, segundo o seu desígnio de salvação. Chama-nos, assim, aatenção para a primazia da Palavra de Deus na formação dos cristãos.O segundo acontecimento é o Ano Paulino para comemorar os dois milanos do nascimento do grande Apóstolo Paulo. “Ele brilha como uma estrelade primeira grandeza na história da fé e do cristianismo”. (Bento XVI). Nestesentido, o Santo Padre proclamou um “Ano Paulino”, que – à semelhança doAno Jubilar da r<strong>ed</strong>enção – possa ajudar a Igreja a r<strong>ed</strong>escobrir a rica e belamensagem de Paulo, para se enamorar cada vez mais de Cristo e reavivar afé.São Paulo será, pois, o mestre e guia no nosso caminho pastoral. Por isso,escolhemos como lema bíblico para este ano a exortação do Apóstolo: “Permaneceifirmes e sólidos na fé” (Col 1,23). E, como símbolo, escolhemos umícone de São Paulo a evocar o rosto da sua fé viva, do seu amor apaixonadopor Jesus Cristo, do seu ardor missionário.Esta carta pastoral é uma reflexão sobre a formação para uma fé adulta. Aprimeira parte apresenta o panorama cultural em que nós somos chamados aviver a fé e o desafio que isso representa para a formação. Na segunda parte,procuramos “ir ao coração da fé”, à luz de São Paulo e na terceira apresentamosos diversos itinerários da formação cristã. Na última, oferecemos indicaçõese propostas pastorais concretas para as comunidades e para a <strong>Diocese</strong>.1. “SENTINELA, QUE VÊS NA NOITE?” (Is 21,11):A NOITE DA FÉ NO NOSSO TEMPOPara indicar o espírito com que pretendo analisar a situação da fé hoje, escolhiuma palavra do profeta Isaías, algo enigmática. Parece imitar um cantoque as sentinelas cantavam na noite para não cair no sono:“Chamam por mim desde Seir:Sentinela, que vês na noite?Sentinela, que vês na noite?28 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .E a sentinela responde:Chega a manhã e a noite também.Se quereis voltar a perguntar, vinde de novo.” (Is 21,11-12).A imagem da sentinela é sugestiva. Evoca a noite, a solidão, o estado devigia, a advertência do perigo a assinalar, o temor do inimigo, uma situaçãoem geral incómoda, mas também a esperança da aurora do novo dia. Por isso,estes versículos, misteriosos e provocadores, são usados como imagem paraindicar a fadiga de perscrutar o tempo presente e o seu significado para a fé.Uma fadiga semelhante à da sentinela que perscruta na noite; e uma vez despontadoo dia, volta de novo a fadiga, porque volta também a noite. E, contudo,há momentos em que se torna imperativo e inevitável a responsabilidad<strong>ed</strong>e perscrutar na noite, como é o momento em que vivemos.Na noite do cenário da história, a nós cristãos é-nos p<strong>ed</strong>ido procurar penetrara obscuridade, estar prontos à escuta das questões e dificuldades para avivência e testemunho da nossa fé, mas também a discernir os apelos de Deusnesta situação e as possíveis aberturas à fé.Documentos1.1. Onde estamos?Todos experimentamos que o mundo atravessa uma crise de fim de umaépoca. Suc<strong>ed</strong>em-se mutações culturais profundas, a um ritmo vertiginoso,impossíveis de controlar e orientar. Assemelham-se a uma série de abalossísmicos com repercussões em todos os âmbitos da vida: familiar, social, cultural,político, económico e religioso. Afectam até os valores fundamentaise perenes.Está a nascer, de forma confusa e algo caótica, um mundo novo, um modonovo de viver no mundo. E todos sofremos as dores deste parto difícil.Mudou também o contexto em que se vivia e transmitia a fé. Salta aosolhos de todos que já não vivemos mais numa “soci<strong>ed</strong>ade cristã” (a cristandade),em que a fé se transmitia em família como uma herança e era protegidapelo ambiente social e cultural, ainda com referências aos princípios cristãos.A fé deixou de ter este suporte ambiental.Hoje vivemos numa situação de pluralismo social e cultural. São-nosapresentados e oferecidos, como num mercado, os mais diversos projectose modelos de vida. Muitos deles são estranhos ou contrários ao Evangelho egeram confusão nos cristãos que não têm a preparação sólida da fé.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 29


. documentos pastorais .Confrontamo-nos ainda com o pluralismo religioso. Surge, inevitavelmente,a questão da identidade cristã: porque sou cristão? O cristianismoé apenas mais uma religião entre as outras? Onde está o específico da fécristã?Assistimos também a uma perda progressiva da memória cristã tanto anível colectivo como individual. Há tentativas de fazer aparecer a fé cristãcomo estranha à cultura ou à moda dominantes, como relíquia ou vestígiodo passado, do tempo dos nossos avós. Vai-se tornando moda ser agnóstico.Instala-se um clima de indiferença religiosa em que não há “ouvido interior”para Deus, nem “apetite” espiritual. Neste clima, muitos cristãos deixaram-seatingir por um complexo de inferioridade, pelo temor de ser diferentes.Mais impressionante é o analfabetismo e a iliteracia religiosos. Umaconstatação que não podemos iludir é a grande ignorância de muitos católicossobre os conteúdos, as noções e os conceitos mais elementares da fé.Há cristãos de idade adulta que, em relação ao conhecimento da fé, permanecemao nível infantil. Permanecem numa religiosidade vaga e superficial;são incapazes de dialogar com a cultura e de enfrentar, à luz da fé, as novasquestões que hoje se põem. E não raramente trazem consigo representaçõesdeturpadas da fé. R<strong>ed</strong>uzem-na a um conjunto de práticas, de preceitos, obrigaçõese proibições como se fosse um fardo. Assim não descobrem a riqueza,a beleza e o encanto da fé em Jesus Cristo. De facto, a ignorância religiosa éhoje uma das “chagas” da Igreja e o maior inimigo da fé.Mesmo ao nível da catequese de crianças e adolescentes, apesar de todosos esforços louváveis para a sua renovação, os resultados não são muitosatisfatórios. Fico triste quando vou crismar a algumas paróquias e o pároco,antecipadamente, me diz: “Senhor Bispo, destes crismandos ficam apenasuns 10% de fiéis praticantes”. Ouço calado e interrogo-me interiormente: seráque estou destinado a ser bispo crismador de ateus práticos que vivem comose Deus não existisse? Mas, apesar disso, é mais forte em mim a esperança deque a semente lançada à terra dará frutos a seu tempo!...Em síntese, verifica-se entre nós o diagnóstico que João Paulo II traçoua respeito da situação europeia: “Muitos europeus pensam que sabem o queé o cristianismo, mas realmente não o conhecem. Frequentemente, ignoramos rudimentos da fé. Muitos baptizados vivem como se Cristo não existisse:repetem-se gestos e sinais da fé por ocasião das práticas de culto, mas sem acorrelativa e efectiva aceitação do conteúdo da fé e adesão à pessoa de Jesus.Em muita gente, as grandes certezas da fé foram substituídas por um sentimentovago e pouco empenhativo; difundem-se várias formas de agnosticis-30 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .mo e ateísmo prático que concorrem para agravar a divergência entre a fé ea vida; muitos há que se deixaram contagiar pelo espírito de um humanismoimanentista que enfraqueceu a sua fé, levando-os, com frequência, a abandoná-lacompletamente” (Igreja na Europa, nº 47).Na noite da fé há também “estrelas da manhã” que anunciam o despertarda aurora. Notam-se sinais de uma busca espiritual, de procura da bondadee da beleza da vida, que abrem caminhos ao anúncio do Evangelho. Têmsurgido na Igreja novos dons do Espírito e múltiplas iniciativas que reacendema chama da fé e a fortalecem. Despontam propostas de formação e temcrescido o interesse e a adesão de muitos fiéis. Há adultos que r<strong>ed</strong>escobrema fé como uma música nova que dá esperança e alegria à vida. Sinto isto nasvisitas pastorais.Documentos1.2. Para onde vamos?Esta é a situação nova em que somos chamados a viver a fé, em temposdifíceis. Devemos encará-la com realismo e esperança. Não podemos ficarjunto ao muro das lamentações. Aliás, não é uma situação inédita. É muitosemelhante àquela em que nasceu e se desenvolveu o cristianismo e viveramos primeiros cristãos. Também não é só negativa. É uma crise acrisoladora,purificadora da nossa fé. É um tempo providencial para reencontrar a autenticidad<strong>ed</strong>a fé.Mostra-nos que estamos a passar de um cristianismo transmitido comoherança, de geração em geração, por uma espécie de pertença passiva, a umafé de opção livre, vivida como um percurso deliberado de adesão consciente,convicta e alegre. É uma provação e provocação, um desafio a crer mais (emprofundidade) e a crer melhor (em qualidade). “Supõe que haja o cuidado depromover a passagem de uma fé apoiada na tradição social, e que tem o seuvalor, a uma fé mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta” (Igreja na Europa,nº 50). Vale para nós hoje o que Tertuliano dizia para o seu tempo (séc.III): “Não se nasce cristão; faz-se cristão”!O desafio, hoje, não é só baptizar os novos convertidos, mas também levaros baptizados a converterem-se a Cristo e ao Seu Evangelho. Antes da questão:como anunciar a fé aos outros?, precisamos de enfrentar ainda esta: comopodemos nós, enquanto cristãos e comunidade cristã, descobrir a riqueza dafé e vivê-la, tornarmo-nos adultos na fé? Eis a razão da nossa preocupaçãopastoral, que é uma aposta decisiva para o século XXI: formar para uma féadulta, deixando-nos iluminar por esse gigante da fé que é São Paulo.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 31


. documentos pastorais .1.3. “Passa e ajuda-nos” (Act 16,9)É neste contexto que queremos viver o Ano Paulino na nossa <strong>Diocese</strong>. Nolivro dos Actos dos Apóstolos há uma passagem muito sugestiva. Mostra-noso itinerário da actividade missionária de São Paulo – o itinerário da Palavrade Deus – que o faz aportar à Europa. É a conhecida “visão do mac<strong>ed</strong>ónio”.Estando em Tróade, na Ásia, “durante a noite, Paulo teve uma visão: um mac<strong>ed</strong>ónioestava de pé, diante dele, e fazia-lhe este p<strong>ed</strong>ido: “Passa à Mac<strong>ed</strong>óniae vem ajudar-nos”. Logo que Paulo teve esta visão, procurámos partir paraa Mac<strong>ed</strong>ónia, persuadidos de que Deus nos chamava, para aí anunciar a BoaNova” (16,9-10).Na Mac<strong>ed</strong>ónia podemos ver a figura dum povo, da própria Europa. Asúplica a Paulo é um convite a fazer-se ao mar e a atravessar o estreito; é umgrito de quem está em perigo de perder-se e tem necessidade da ajuda e daluz do Evangelho.A evangelização de Paulo aparece, assim, como resposta ao grito daEuropa, à urgência da gente que p<strong>ed</strong>e a Palavra; e faz parte do desígnio desalvação, porque é Deus a guiar os acontecimentos.“Passa e ajuda-nos” é também a nossa súplica hoje, a São Paulo, nesteinício do segundo milénio em que a Europa corre o perigo de esquecer e renegara memória e as raízes da fé cristã.“Paulo não é para nós uma figura do passado que recordamos com veneração.É também o nosso mestre, apóstolo e arauto de Jesus Cristo tambémpara nós. Paulo quer falar connosco hoje. Por isso, quis proclamar este especialAno Paulino: para escutá-lo e para aprender dele, agora, a fé e a verdade,em que ele é o nosso mestre” – diz o Papa Bento XVI.Com a sua mestria, São Paulo conduzir-nos-á ao coração da fé e a nelacrescer. Façamos uma pausa, em oração silenciosa, p<strong>ed</strong>indo:Senhor, tu que guiaste São Paulo por caminhos misteriosos e o fizesteaportar à Europa, até junto de nós, para nos trazer a Tua Palavra, faz comque nós o acolhamos hoje e acolhamos o Teu admirável desígnio de salvaçãoque ele proclamou com desassombro.32 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .2. IR AO CORAÇÃO DA FÉ, COM SÃO PAULO2.1. Um terramoto de luz no caminho de Damasco: a revelação deCristo a PauloSe perguntássemos a São Paulo qual o acontecimento fulcral e determinant<strong>ed</strong>e toda a sua vida, certamente não hesitaria em responder-nos: oencontro com Cristo Ressuscitado no caminho para Damasco – assim afirmao cardeal Martini.O que aconteceu a Paulo num dia incerto, entre 33 e 35 do séc. I, a caminhode Damasco, ficou impresso na memória colectiva através da imaginaçãocriadora de Caravaggio na famosa tela que se encontra na igreja de SantaMaria del Popolo, em Roma: um enorme cavalo olha de soslaio para um Pauloque perdeu as estribeiras, caído por terra, inundado por um clarão de luzrepentina que desce do céu como um raio que o cega.Mas a descrição desta singular manifestação de Cristo a Paulo, narradapor São Lucas nos Actos dos Apóstolos, em três textos (9,1-18; 22,3-21;26,9-18), não inclui aquele cenário equestre.Detenhamo-nos, então demoradamente, na primeira narração (Act 9,1-18). Procuraremos descobrir em primeiro lugar a riqueza e beleza do conteúdonuma leitura m<strong>ed</strong>itada (lectio divina), para, num segundo momento,actualizar a sua mensagem para nós.O texto descreve Saulo – que tinha também o nome romano de Paulo– como um judeu praticante e zeloso das tradições religiosas e, por isso,adversário e perseguidor dos cristãos. Foi durante uma viagem em que s<strong>ed</strong>ispunha a prender cristãos, já perto de Damasco, que este homem, natural deTarso, na actual Turquia, teve esse encontro decisivo com Cristo.O acontecimento é descrito através de uma linguagem simbólica, com oobjectivo de expressar em palavras algo que exc<strong>ed</strong>e a linguagem humana.Interessa-nos pois, compreender a experiência sobrenatural de grande densidadeque as palavras e os símbolos deixam entrever.Como na sequência de um filme, o episódio desenrola-se em três cenas deextraordinário efeito.Documentos1. Tudo começa, sendo Paulo “envolvido subitamente por uma luz intensavinda do céu”. O facto de tudo suc<strong>ed</strong>er subitamente acentua o carácter ines-| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 33


. documentos pastorais .perado do acontecimento: trata-se de uma graça divina completamente gratuita,imprevisível, extraordinária. Deus é sempre surpresa e surpreendente!A luz intensa vinda do céu faz referência a uma experiência divina. Comosuc<strong>ed</strong>era tantas vezes ao longo do Antigo Testamento, Deus manifesta a suapresença grande e maravilhosa, através de uma luz intensa, que deslumbra apessoa e a eleva a uma realidade nova fascinante.Paulo não só vê essa luz, mas é envolvido totalmente por ela: não é algoexterior que ele contempla, mas toca toda a sua pessoa, abarca todo o seu sere deixa-o cego. É o esplendor do Ressuscitado que o cega. De facto, Cristo“é um abismo de luz que cega e desassossega” (Kierkgaard).O fulgor no qual é envolvido faz com que caia por terra, expressão doassombro e atitude de adoração. Cai por terra, sim, mas não cai no vazio. Narealidade, cai nos braços do amor de Cristo, como mais tarde virá a descobrir.Paulo está fora de si, rendido ao que acaba de experimentar, incapaz de dizerou fazer o que quer que seja.2. Uma voz irrompe e interroga-o: Saulo, Saulo, porque me persegues? Aresposta de Paulo mostra, uma vez mais, o assombro e o mistério no qual sesente envolvido: ainda não percebeu o que está a suc<strong>ed</strong>er e, menos ainda, dequem é a voz que o interroga. Por isso, responde com uma pergunta: Quemés tu, Senhor? A resposta que recebe é a chave, a explicação de toda a experiência:é Jesus! Mas a frase tem um peso enorme: “Eu sou Jesus, a quem tupersegues”.O texto original grego é muito expressivo: ao utilizar literalmente o pronomepessoal “eu” (só se utiliza nos casos em que se quer sublinhar, nummodo particular, o sujeito) acompanhado pelo verbo ser (eu sou), tem umareferência clara ao nome de Deus como foi revelado a Moisés. Jesus ressuscitadorevela-se assim a Paulo como sendo Deus. Quem lhe veio ao encontro,era o Deus que ele servia e a quem queria ser fiel. Mas agora descobre queesse Deus se identifica com a Pessoa de Jesus, a quem ele estava a perseguirna pessoa dos cristãos.3. Segue-se uma ordem. “Ergue-te, entra na cidade e dir-te-ão o que tensa fazer”. É a continuação lógica do anterior. O “erguer-se”, alude à ressurreição.Significa a nova etapa que começa e é a única resposta que a perguntade Jesus pode ter: dispor-se a uma vida nova, a um novo começo. A partir deagora, já não será ele a decidir o que deve fazer; será a comunidade, a Igrejaque lhe transmitirá o que Deus dele pretende.34 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .O facto de Paulo, ainda cego, ter de ser levado pela mão e estar sem comernem beber durante três dias até que lhe imponham as mãos e seja baptizado,acentua a profundidade do suc<strong>ed</strong>ido: a necessidade de interiorizar o acontecimentoe a necessidade de purificação e preparação para entrar plenamente naIgreja. Só então, Paulo recupera a luz que a “visão” tinha cegado.É curioso que Ananias, a quem Deus ordena ir ter com Paulo, ainda semsaber da sua conversão, mostre m<strong>ed</strong>o de o encontrar pela fama que tinha.A resposta consoladora que recebe de Deus é um resumo daquela que seráa vida de Paulo a partir daquele momento: “Vai, pois esse homem é instrumentoda minha escolha, para levar o meu nome entre os pagãos, os reis e osfilhos de Israel. Eu mesmo lhe hei-de mostrar quanto ele tem de sofrer pelomeu nome!”No futuro, devido a este encontro com Jesus, Paulo intitula-se e é reconhecidopor todos como Apóstolo, equiparado aos doze que conviveram comJesus durante os três anos da sua vida pública.O caminho de Damasco tornou-se um símbolo universal para indicarnão só uma mudança existencial, mas também uma verdadeira fulguraçãoque transforma e transfigura todo o ser de uma pessoa. Além disso, tornouseum paradigma do caminho espiritual de todo o cristão, um itinerário deconversão, de fé e de amor a Cristo, que começa pela experiência pessoal doencontro com ele.Que nos diz a nós hoje? Como ilumina o nosso crescimento e a nossaformação na fé e na vida cristã?Documentos2.2. “Fui agarrado por Cristo” (Fil 3,12): a fé como encontro comCristoEnquanto São Lucas narra o facto com uma grande riqueza de pormenores,Paulo nas suas cartas vai directo ao essencial. Para recordar a mudançaradical da sua vida, várias vezes se refere a essa experiência extraordináriaem termos autobiográficos. Ele fala de visão (Cristo fez-se ver a mim: 1Cor15,8; 9,1), de iluminação (2Cor 4,6) e sobretudo de revelação e vocação(aprouve a Deus revelar o Seu Filho em mim: Gal 1,15-16), de corrida ouluta (fui agarrado por Cristo: Fil 3,12), no encontro com o Ressuscitado.A expressão mais forte a que Paulo recorre talvez seja a da carta aosFilipenses (cf. Fil 3,2-16), onde diz que foi agarrado, apanhado, tomado,conquistado, alcançado, cativado por Cristo. Esta expressão está inserida nocontexto de uma imagem proveniente do campo desportivo: Paulo corre para| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 35


. documentos pastorais .agarrar Cristo, tendo sido já agarrado por Ele. É esta experiência de ter sido“apanhado” por Cristo, que dá impulso à sua “corrida”; e, ao mesmo tempo,proporciona-lhe o maior tesouro: “a maravilha que é o conhecimento de CristoJesus, meu Senhor”. Sim, Jesus Cristo é o seu tesouro!Foi uma revelação que provocou nele uma “revolução”: desde então, tudoo que antes considerava “um ganho” tornou-se paradoxalmente, em palavrassuas, “perda e lixo”.“Daqui deriva para nós uma lição muito importante: o que conta é pôrJesus Cristo no centro da própria vida, de tal modo que a nossa identidadeseja caracterizada, essencialmente, pelo encontro com Cristo e com a Sua Palavra.À sua luz, qualquer outro valor é recuperado e purificado de eventuaisimperfeições” (Bento XVI).Eis a originalidade da fé cristã: ela encontra e exprime a sua originalidadena relação com Jesus Cristo. Ele é o “coração” da própria fé, “o autor eaperfeiçoador da nossa fé” (Heb 12,2). É o fundamento seguro, o conteúdoessencial e a meta viva e pessoal do acto de fé.Só com os olhos postos em Cristo, o cristão aprende a reconhecer a presençae a acção de Deus que o busca, que vem ao seu encontro e o chama auma comunhão nova. Jesus Cristo é o tesouro único que o cristianismo tempara oferecer.2.3. “Vivo na fé do Filho de Deus que me amou e se entregou por mim”(Gal 2,20): a fé como história de amorNum passo ulterior, Paulo guia-nos à contemplação do rosto de Cristo,r<strong>ed</strong>entor do homem e Senhor da história. Aqui deixa-nos ver a razão do seuencanto por Jesus, como tão bem o exprime Bento XVI:“Na carta aos Gálatas, ele dá-nos uma profissão de fé muito pessoal emque abre o seu coração diante dos leitores de todos os tempos e mostra qual éa mola mais íntima da sua vida: “Vivo a vida presente na fé do Filho de Deusque me amou e se entregou por mim” (2,20). Tudo o que Paulo faz, part<strong>ed</strong>este centro.A sua fé é a experiência do ser amado por Jesus Cristo de modo completamentepessoal: é a consciência de que Cristo enfrentou a morte não por qualquercoisa anónima, mas por amor dele, Paulo; e de que, como Ressuscitado,o continua a amar agora, isto é, que Cristo se entregou por ele.A sua fé é o ser alcançado pelo amor de Jesus Cristo, um amor que o tocano mais íntimo e o transforma. A sua fé não é uma teoria, uma opinião sobre36 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor de Deus no seu coração.E assim esta fé é amor por Jesus Cristo.”Vemos portanto que a fé não nos coloca frente a coisas ou a um elenco deverdades abstractas e portanto frias ou ainda perante um conjunto de obrigaçõese proibições. Crer é aceitar alegremente, como válido para mim tal qualsou, esse inigualável acto pessoal de Jesus “Filho de Deus que me amou ese entregou por mim”. Só o Amor é digno de fé! Só daqui, o cristão tira luze força para a sua vida presente que se torna vida nova. Não é uma teoria ouuma lei que nos salva; é a pessoa viva de Cristo acolhido como Filho de Deuse Salvador nosso. Ele é tudo para nós como foi para Paulo: Ele é “a nossapaz” (Ef 2,14) “a nossa vida” (Col 3,4) nossa “sab<strong>ed</strong>oria, justiça, santificaçãoe r<strong>ed</strong>enção” (1Cor 1,30), nosso “único fundamento” (1Cor 3,11), “nossa esperança”(Col 1,27)!“Se não nos enamorarmos de Cristo, não teremos interesse algum comocristãos” (J. Ratzinger).Documentos2.4. “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo...” (Ef 1,3):a fé, um sim ao Deus-AmorPor amor de Cristo, Paulo foi feito prisioneiro. Na prisão sente que a ameaçade morte pende sobre ele como uma espada de Dámocles. Na sua solidão,pensando porventura no fim próximo, procura, de algum modo, “compreenderqual a amplidão, o comprimento, a altura e a profundidade do amor deCristo, que exc<strong>ed</strong>e todo o conhecimento” (Ef 3,18-19).E no amor de Cristo contempla, deslumbrado, a beleza e a riqueza daternura de Deus que se revela no “Filho do Seu Amor”, como um projecto arealizar na história dos homens.Do coração de Paulo comovido, até às entranhas, brota um hino de júbilo,um Magnificat de acção de graças (cf. Ef 1,3-14). Aí desenvolve, como numgrande fresco, o grandioso projecto de Deus e convida a associarmo-nos àsua contemplação maravilhada: não à contemplação estética de um objectoou coisa bela, mas antes à contemplação cristã de um Deus que nos surpreendecom a sua iniciativa, o seu sonho de amor para connosco e nos agraciacom toda a espécie de dons espirituais, em Cristo. Contemplemos, pois, estesdons, ainda que brevemente:– o amor de eleição e pr<strong>ed</strong>ilecção que nos envolve e prec<strong>ed</strong>e desde todaa eternidade, tal como o amor dos nossos pais nos prec<strong>ed</strong>e antes de nos gerarempara a vida. Eis porque, de maneira tão estupenda, São Tomás de Aquino,| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 37


. documentos pastorais .afirma: “Deus ama-me não porque sou bom; mas faz-me bom ao amar-me”;– o dom da filiação pelo qual nos introduz no mistério da sua intimidadee nos faz participantes da sua vida divina, da sua santidade;– o dom da r<strong>ed</strong>enção pelo qual nos recria e regenera através da sua misericórdiae do perdão;– o dom da reconciliação pelo qual nos une a todos em comunhão paraformar um só povo e um só corpo de que Cristo é a cabeça;– o dom do Espírito Santo no baptismo como início da vida nova e garantiada vida eterna como nossa herança;– e, como vértice, o dom da recapitulação final, ou seja, da plenitude devida que nos espera na ressurreição.Eis aqui a síntese da fé cristã! Como não dizer “ámen” (sim) a um Deusassim e ao seu desígnio de amor? Como não dobrar os joelhos diante do Paide quem toma nome toda a família no céu e na terra? (cf. Ef 3,14).Eis aqui um espelho místico no qual cada cristão e cada comunidadepodem ler a infinita ternura de Deus e a sua maravilhosa vocação a seremcolaboradores de Deus neste seu projecto.E que fantástica visão do mundo e da história nos oferece! Enquantotantos homens não sabem porque estão sobre a terra e para onde caminham;enquanto alguns apregoam, com grande retórica, que tudo é absurdo, Deusenche-nos da sua sab<strong>ed</strong>oria e garante-nos que a história humana tem umsentido, uma direcção, um significado, uma meta. A fé dá-nos, pois, umaprofunda confiança e uma imensa alegria para a vida! Como estamos long<strong>ed</strong>a religião do m<strong>ed</strong>o!2.5. O que é que suscita e alimenta a fé?São Paulo ensina-nos que é fundamental pôr Jesus Cristo no centro danossa vida para que marque todo o nosso ser. Mas, im<strong>ed</strong>iatamente, surge apergunta: Como se dá o encontro dum ser humano com Cristo? O que é qu<strong>ed</strong>esperta a fé, a alimenta e nos faz crescer na vida com Cristo?2.5.1. “Esta palavra é a da fé que anunciamos” (Rom 10,8): a escuta da PalavraHá uma passagem verdadeiramente iluminante na carta aos Romanos,como resposta à questão: “É junto de ti que está a palavra: na tua boca e noteu coração. Esta palavra é a da fé que anunciamos. Porque se confessarescom a tua boca: “Jesus é o Senhor” e acr<strong>ed</strong>itares que Deus o ressuscitoudentre os mortos, serás salvo... E como hão-de acr<strong>ed</strong>itar naquele de quem38 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .não ouviram falar? E como hão-de ouvir falar sem alguém que o anuncie?...Portanto, a fé surge da pregação e a pregação surge pela palavra de Cristo”(Rom 10,8-9.14-17).Àqueles que julgam que a salvação é um processo difícil e complicado,submetido a uma série de práticas extenuantes, Paulo diz que a Palavra daSalvação espera somente ser acr<strong>ed</strong>itada e professada com o coração e a boca.Mas, para se tornar próxima precisa de ser anunciada. Trata-se do primeiroanúncio de Cristo, Senhor e Salvador.A atitude fundamental da fé, é pois escutar e responder a Deus que na suaPalavra nos fala como um amigo, coração a coração, e se comunica a nós. Afé é resposta à comunicação que Deus faz de si e esta comunicação é o elementofundador da experiência cristã.Vemos assim como a Palavra de Deus tem um lugar primário, fundamentalno início da vida cristã; mas também para alimentar a vida de fé diaapós dia e formar o cristão maduro e adulto. Assim entendemos a exortaçãode Paulo a Timóteo: “Desde a tua tenra infância conheces as Sagradas Escrituras.Elas têm o poder de te comunicar a sab<strong>ed</strong>oria que conduz à salvaçãopela fé em Cristo Jesus. De facto, toda a Escritura é inspirada por Deus e útilpara ensinar, refutar, corrigir e formar para a justiça, a fim de que o homem deDeus seja completo e preparado para toda a obra boa” (2Tim 3,15-17).O verdadeiro discípulo deixa-se habitar pela Palavra do Verbo (Cristo):escuta-a atentamente e rumina-a pacientemente, de tal modo que é ela quevive nele, nas suas palavras e nos seus gestos. Como Paulo poderá exclamar:“ Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20).Documentos2.5.2. “Deus está no meio de vós” (1Cor 14,25): a celebração da presença doSenhorO coração que acolhe a Palavra do amor do Pai, é um coração que reza.Ao rezar, o cristão escuta o seu Senhor, entra em diálogo com Ele, abre-lhe oseu coração, adora, louva, agradece, suplica (cf. Col 3,16-17).Que outra coisa é a oração cristã se não a expressão da nossa relação filialcom Deus? É o próprio Espírito Santo que inspira a nossa oração, pondo onosso coração em sintonia com o coração do Pai (cf. Rom 8,15.26-27).Mas a pregação do Evangelho inclui também o anúncio da celebraçãodos dons salvíficos de Deus nos sacramentos. Neste sentido, Paulo atribuiuma importância decisiva ao baptismo e à eucaristia. Oferece-nos uma passagemmuito iluminante sobre o significado do baptismo como coroamentodo anúncio da Boa Nova da renovação em Cristo: “Quando se manifestou| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 39


. documentos pastorais .a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens, Elesalvou-nos pela sua misericórdia m<strong>ed</strong>iante o baptismo do novo nascimento <strong>ed</strong>a renovação pelo Espírito Santo, que Ele derramou abundantemente sobrenós por Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tito 3,4-6).Porém, no centro da vida da comunidade e dos cristãos está a celebraçãoda “ceia do Senhor” na qual Cristo dá continuamente o seu Corpo em comunhãoe faz de nós o seu Corpo: “O pão que partimos, não é comunhão com oCorpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos,somos um só corpo, porque todos participamos de um só pão” (1Cor 10,16).Para Paulo, Cristo na Eucaristia é o centro da existência cristã em virtud<strong>ed</strong>o qual todos e cada um podem experimentar de modo muito pessoal a entregade Cristo no seu amor por nós: “Ele amou-me e entregou-se por mim”(Gal 2,20).Compreendemos assim que a celebração litúrgica (celebrar a presençado Senhor) faz parte da identidade do cristão. Por isso, os mártires da Abitínia,no momento do martírio, proclamaram esta fé: “Nós não podemos viversem a celebração do dia do Senhor”! E como seria desejável que as nossasassembleias litúrgicas testemunhassem esta fé de tal modo que se realizasse ovoto de S. Paulo aos Coríntios: que um não cristão que entre na nossa assembleia,no final possa dizer: “verdadeiramente, Deus está no meio de vós, estáconvosco!” (1Cor 14,24-25).2.5.3. “Revesti-vos do amor que é o laço da perfeição” (Col 3,14): a santidadeno amorPara Paulo não basta dizer que os cristãos são baptizados ou crentes. Elesvivem de Cristo e com Cristo: o que dá uma nova orientação, um novo estilo,uma nova respiração espiritual à vida. É a vida nova em Cristo.Os cristãos estão chamados por Deus a ser um “hino de louvor à suaglória” (Ef 1,14), ou seja, a deixar aparecer através da santidade da vida, abeleza de Deus e do seu infinito amor na vida pessoal, familiar e social. Esteé o verdadeiro “culto espiritual” agradável a Deus (cf. Rom 12,1).O agir cristão encontra o seu centro e a sua expressão concreta no amor:“Acima de tudo revesti-vos do amor que é o laço da perfeição” (Col 3,14), odom por excelência, a plenitude de toda a lei (cf. Rom 13,8-10).“A fé que actua em obras de amor ” (Gal 5,6) é um dos princípios primordiaisdo cristianismo. Neste sentido, Paulo deixou-nos um dos textosmais significativos, o Hino à Caridade (1Cor 13,1-13) que é um verdadeiromonumento, inspirador de toda a fantasia da caridade em todos os tempos.40 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .Nele se diz, em quinze modos diversos, o que é a caridade no presente(v.4-7). E acrescenta que só a caridade tem futuro: o único que permanece é oamor com a fé e a esperança que o sustentam e o tornam possível.A caridade é amar Deus com todo o coração e amar os outros com o coraçãode Deus. Este é o amor que abraça todas as vocações, se estende a todosos âmbitos, a todos os tempos e lugares, penetra a terra e é eterno. É a molaque tudo move; é o fogo primordial que anima o universo.O próprio Paulo nos deixa um testemunho extraordinário naquela sua iniciativagenial de “fantasia da caridade” que foi a grande colecta, realizadanas várias comunidades, a favor dos pobres de Jerusalém! A chamar-nos hojeà globalização da caridade!Documentos3. CRESCER NA FÉ: FORMAR PARA UMA FÉ ADULTASegundo a narração dos Actos dos Apóstolos, a conversão repentina efulgurante de Paulo, às portas de Damasco, foi continuada com uma iniciaçãopor parte da comunidade cristã. Os três dias de cegueira e de jejumconfiguram um tempo de iniciação, acompanhado pela instrução de Ananiase concluída pela recepção do baptismo. Só então readquiriu a luz dos olhos, osentido da sua inserção na Igreja e da segurança no caminho de Cristo.Embora tendo feito uma experiência formidável de Jesus em Damasco,teve que percorrer um caminho, relativamente longo, da cegueira à luz, deneo-convertido a cristão maduro. Passou mesmo através de provações detodo o género para que resplandecesse nele a força de Cristo (cf. 2Cor 12,7-10).A partir da sua própria experiência, Paulo fala de um crescimento ouprogresso na fé. Como tudo na vida, também a fé requer crescimento parapermanecer viva. De contrário regride e definha. O conhecimento da “riqueza”que está em Cristo não é algo adquirido ou estático. É antes um processopermanente.Todo o ministério de Paulo vai na linha da consolidação e formação davida cristã dos membros da comunidade (cf. 1Tess 2,7-12). A fé precisa dealimento, de cuidado, de orientação, de formação atenta e d<strong>ed</strong>icada. Deveser cuidada e cultivada para que lance raízes profundas em nós e produzamuitos e bons frutos.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 41


. documentos pastorais .3.1. A formação cristã, mais necessária que nuncaA formação cristã sempre foi necessária. Mas hoje é-o mais que nuncapara não abortar a vida de fé. Ninguém, em qualquer âmbito, se pode contentarcom os conhecimentos iniciais. Se é certo que a fé permanece sempre amesma, todavia nunca se acaba de “compreender o que se crê e de crer o quese compreende” (Santo Agostinho).Além disso, é preciso aprender a dizer a fé, a falar da fé e, deste modo, alimentá-lae testemunhá-la. Um amor que não se diz, morre à partida. De igualmodo, uma fé que não se exprime, sofre de anemia, perde a vitalidade.Qual o objectivo da formação cristã?Nunca nos cansaremos de repetir com São Paulo: que a razão de ser daformação é chegar a “que Cristo seja formado em vós” (Gal 4,19) ou a “alcançara estatura do homem adulto, à m<strong>ed</strong>ida de Cristo na sua plenitude” (Ef4,13).Não se trata, simplesmente, de armazenar conhecimentos; mas de formaro “ser cristão” em todas as dimensões para descobrir a riqueza e a beleza dafé, da sua própria vocação, e realizar a sua missão no mundo.A formação para uma fé adulta exige, pois, a <strong>ed</strong>ucação para viver a fécristã na sua totalidade una e indivisível, como fé professada, celebrada evivida.É também uma formação para todas as idades da vida. A fé não é umaposse tranquila, uma segurança definitiva. Em cada fase ou situação da vida,ela é sacudida, posta à prova e deve ser renovada e aprofundada.Novas circunstâncias, novas experiências, novas questões e novos problemasfazem com que a significação da fé precise de ser descoberta de modonovo. Eis porque é importante permanecer sempre iniciados na fé.3.2. Percursos (itinerários) de acesso à fé e de crescimento na féQueremos apresentar agora, numa visão global e coerente, o itineráriode formação dos cristãos e as suas várias etapas. Trata-se de responder àsquestões: quais são os caminhos para um primeiro conhecimento da fé cristã?Como é que a riqueza e a profundidade do Evangelho nos pode tocar? Comopodemos nós, enquanto cristãos, crescer na fé? Numa palavra, como tornar-seadulto na fé?42 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .3.2.1. O primeiro anúncioA fé autêntica, no seu núcleo, é uma adesão amorosa à pessoa viva deJesus Cristo. Acontece aqui algo de semelhante ao amor entre as pessoas. Primeiro,há algo (palavra, atitude, gesto, experiência) que “toca” e atrai; depois,vem o namoro em que se conhecem. Às vezes, depois de uma vida matrimonialenriquec<strong>ed</strong>ora, evoca-se aquele primeiro encontro para testemunhar: “apartir daquele momento, mudou toda a minha vida”.Na origem da fé autêntica está uma Palavra ou experiência de graça quenos toca. Para chegar à fé, há algo de muito pessoal que se passa. Algo quetoca o coração da pessoa e a decide a voltar-se para Jesus Cristo e convertersea Ele.Paulo fez esta experiência única às portas de Damasco. Certamente nãose pode esperar que cada um experimente o que viveu Paulo de modo extraordinário.Todavia, cada vez mais, os cristãos acr<strong>ed</strong>itarão a partir de umadescoberta e de um encontro com Cristo e de uma decisão pessoal.Este ser tocado no íntimo é obra da graça de Deus. Mas passa, normalmente,pelas m<strong>ed</strong>iações humanas: através de um anúncio, do testemunhoou de sinais humanos. Trata-se de um género muito particular de anúncio.Quanto ao seu conteúdo, é muito breve e muito simples: “Jesus Cristo morreupor ti e ressuscitou. Oferece-te uma vida nova. Qual é a tua resposta?”. É aprimeira descoberta de Cristo como Salvador, tal como Paulo ao exclamar:“Ele amou-me e entregou-se por mim” (Gal 2,20) ou “O amor de Cristotomou conta de nós ao pensar que um só homem morreu por todos” (2Cor5,14). Não se trata de uma mera informação neutra e abstracta. É um anúncioque faz emergir todo o potencial de vida, de verdade e de bem que habita nocoração de cada ser humano.É isto que se chama o Kerygma, o apelo que atinge directamente e trespassao coração (cf. Act 2,37). É daí que nasce a conversão. Assemelha-se auma espécie de “big bang” que liberta uma enorme energia capaz de transformartoda a vida da pessoa, de torná-la vida bela, amada, feliz!Chama-se também “primeiro anúncio” pela importância primordialque reveste! E ainda porque está no princípio como os fundamentos estãono princípio da casa. Está no início de tudo. É o coração e a alma de toda arevelação e da fé. Dá cor e calor a tudo. É o primeiro e primordial para todos:crianças, jovens e adultos. E deve estar sempre presente nas outras etapas decrescimento.Na prática pastoral precisamos de valorizar e apoiar as iniciativas (retiros,encontros com testemunhas vivas da fé, leitura orante da Palavra, preparaçãoDocumentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 43


. documentos pastorais .do baptismo ou casamento...) e os vários movimentos que se d<strong>ed</strong>icam a oferecero primeiro anúncio ou a primeira descoberta da fé de modo que levem aum encontro, de coração a coração, com Cristo vivo, ressuscitado.3.2.2. Catequese de iniciação à vida cristãO primeiro anúncio é o catalizador que desencadeia o processo da fé.Mas, em seguida, deve ser aprofundado para encontrar solo firme no caminhoda fé.É esta a função do catecumenado: oferecer um itinerário próprio deaprofundamento da fé, para os não baptizados enquanto crianças, que levaa uma conversão inicial à profissão de fé e à celebração dos sacramentos deiniciação cristã.É esta também, para os baptizados, a função da catequese: apresentar epropor o conteúdo da fé, de modo orgânico e sistemático, p<strong>ed</strong>agogicamenteadaptado a cada idade. Trata-se de estruturar a fé na pessoa, de lhe dar umacoluna vertebral, com o auxílio de um “catecismo” e de um grupo de catequistascomo testemunhas da fé; e também com o apoio da comunidade cristãque é o berço vivo da catequese.Não se pode confundir a catequese com a mera transmissão de conhecimentosou de doutrina; nem a relação de catequista-catequisando com arelação de professor-aluno.A catequese tem o carácter de iniciação, gradual e progressiva, a toda avida cristã, nas várias dimensões: iniciação ao conhecimento do mistério deJesus Cristo e dos grandes conteúdos da fé; à oração e celebração da fé; à vidada comunidade cristã e ao estilo de vida próprio de um cristão.A catequese visa, em última análise, ajudar a fazer discípulos de Jesus,num encontro de amizade com Ele. Isto é algo que tem de estar presente emtodos os encontros de catequese. Por isso, é muito importante a figura docatequista, enamorado por Cristo. O catequista é o “catecismo” vivo e tornavivo o livro do catecismo. Porque um encontro pessoal com Cristo não seensina, nem se pode fabricar. Só se pode partilhar, testemunhar. É um facto deque dispomos de muitos catequistas capazes de ensinar e explicar, mas nemtodos sabem tocar os corações. Devemos, pois, preparar os nossos catequistasde modo que se deixem também “agarrar” por Cristo e, na intimidade comEle, adquiram a arte de cativar os corações.44 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .3.2.3. Formação contínua ou permanente dos jovens e dos adultosCada idade é uma estação da vida que comporta os seus desafios e a suamaturação adulta. Não basta ser adulto em idade, para ser adulto na fé! Umagrande parte dos cristãos crescem em idade e em cultura, mas ao nível da féficaram com os conhecimentos infantis. Na soci<strong>ed</strong>ade actual tão complexa,não se permanece cristão só pelo facto de se ter aprendido a sê-lo, quandocriança ou adolescente. Tornar-se cristão e adulto na fé não é algo automático.Também como adultos temos necessidade de um aprofundamento da fépara que esta seja uma escolha pessoal e fundada, e para o diálogo entre a fé ea cultura do nosso tempo. Para isso, não bastam as homilias ou assistir a umaconferência avulsa. Torna-se indispensável uma formação sistemática.Hoje a formação (ou catequese) dos jovens e dos adultos é mais necessáriaainda do que a das crianças e dos adolescentes. Na situação actualdeveríamos dinamizar toda a formação recentrando-a nos adultos.Uma das maiores lacunas de muitos cristãos é a falta de uma visão desíntese da fé cristã. É como quem vê as árvores, mas não vê a harmonia ea beleza da floresta. Para responder a esta necessidade confio à Comissãode Catequese com Adultos e ao Centro de Formação e Cultura a elaboraçãodesta síntese, em vários encontros ao longo de um ano, e segundo um métodointeractivo em que se possa partilhar a experiência da fé. Esta formação poderá,posteriormente, ser oferecida em cada paróquia ou a nível de vigararia.Outra lacuna a preencher com urgência é a falta de conhecimento e degosto da Palavra de Deus contida na Bíblia. A Bíblia, porém, é o primeirolivro da fé e da cultura cristãs. É uma vergonha que grande parte dos católicosnão tenham familiaridade com a Palavra de Deus por ignorância e incapacidad<strong>ed</strong>e ler e entender a Bíblia. Ora, como diz São Jerónimo, “a ignorânciadas Escrituras é a ignorância acerca de Cristo.” Como se pode amar Aqueleque se não conhece? Neste sentido é necessário que, a nível de paróquias ouvigararias, se realizem cursos de iniciação à Bíblia ou “serões bíblicos”.Além disso, “um meio seguro para aprofundar e saborear a Palavra deDeus é a lectio divina que constitui um verdadeiro itinerário espiritual. Oestudo e a m<strong>ed</strong>itação da Palavra de Deus devem levar à adesão a uma vidaconforme a Jesus Cristo e aos seus ensinamentos” (Bento XVI).Já lançámos, no ano passado, este método de leitura orante e familiar daBíblia, com grande adesão popular. Continuaremos a incentivá-lo neste anopastoral.Documentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 45


. documentos pastorais .3.2.4. O Ano Litúrgico como itinerário de formação para todosOutro lugar e meio fundamental de formação da vida cristã é a liturgia.Como diz o Concílio Vaticano II, ela “é a fonte primeira e necessária ondeos fiéis hão-de ir beber o espírito verdadeiramente cristão” (SC 14), isto é,alimentar a sua fé e a sua vida espiritual.Ao longo do Ano Litúrgico, a Igreja celebra o mistério de Cristo – mistérioda Salvação – nos seus distintos aspectos e momentos.Na celebração é o Senhor que vem ao nosso encontro, que nos fala, quenos faz participantes da infinita riqueza da sua vida e do seu amor, e nossantifica. A espiritualidade do Ano Litúrgico <strong>ed</strong>uca-nos, pois, a vivermos ea alimentarmo-nos da Palavra, das orações, dos símbolos da celebração e domistério celebrado. Assim, o Ano Litúrgico é, para todos, uma verdadeiraescola da fé. Como esta riqueza deveria suscitar em nós todo o cuidado apôr na preparação, na vivência interior, na dignidade e beleza das nossascelebrações!O Ano Litúrgico convida-nos a desenvolver uma outra vertente da formaçãodos fiéis que precisa de ser incrementada: a formação da vida espiritualatravés de propostas de tempos fortes de oração, m<strong>ed</strong>itação e contemplação(retiros, encontros…). Há um défice muito grande de espiritualidade nas nossascomunidades!3.2.5. O contributo da pi<strong>ed</strong>ade popularEmbora a liturgia ocupe o lugar central no caminho espiritual do cristão,não esgota porém toda a espiritualidade da vida cristã. Existe tambéma pi<strong>ed</strong>ade popular que engloba determinadas devoções, peregrinações eprocissões, festas em honra dos santos. Caracterizam-se por um clima maisafectivo e espontâneo, ou então por dar mais espaço à interioridade e à oraçãopessoal.As expressões desta pi<strong>ed</strong>ade popular são também meios para fomentar avida espiritual e até a santidade popular. Merecem que se lhes reserve umaespecial atenção em ordem a renová-las com um conteúdo mais bíblico eevangélico, orientá-las para o coração da fé que é Jesus Cristo, e a purificá-lasde sentimentalismos exagerados e dos riscos de superstições. <strong>Fátima</strong> tem sidoexemplo no esforço de evangelização e renovação da pi<strong>ed</strong>ade popular.De modo particular, impõe-se restituir dignidade cristã às festas popularesem honra dos Padroeiros que, nalguns lugares, estão a resvalar para um consumismoimprudente e até escandaloso, roçando mesmo o paganismo.46 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .4. A IGREJA, CASA E ESCOLA DA FÉJá vimos como Paulo, após a revelação inesperada de Cristo, foi acolhidona Igreja de Jesus, que já existia antes da sua conversão.Foi a Igreja que o iniciou no conhecimento e aprofundamento da fé emJesus e da existência cristã. Ele próprio, no seu anúncio, refere: “ Transmitivoso que eu mesmo recebi” (1Cor 15,3). Isto já diz, por si só, como e quantoa Igreja foi para ele Mãe e Mestra, que o ajudou a gerar para a fé. Disto sentes<strong>ed</strong>ev<strong>ed</strong>or.Torna-se então claro que a fé professada por um cristão não é algo quecada um inventa ou fabrica a seu bel-prazer. É verdade que a fé é dom deDeus. Mas chega até nós através da m<strong>ed</strong>iação da Igreja. Só nesta é possívelencontrar as feições completas e originais do rosto de Cristo.Pelo baptismo tornamo-nos a família de Deus, “membros da casa deDeus” (Ef 2,19), filhos e filhas do mesmo Pai, irmãos e irmãs de Cristo eem Cristo, reunidos todos pelo mesmo Espírito de amor. Isto é a essência daIgreja, a nossa família espiritual, a nossa casa espiritual. Tal como na casade família somos iniciados à vida, assim na casa da nossa família espiritualsomos iniciados à vida cristã.Documentos4.1. A paróquia, comunidade formativaUma comunidade cristã é, pois, o lugar natural onde somos acolhidose iniciados no mistério de Cristo e da existência cristã; onde a fé é vivida epartilhada, onde ela pode crescer, amadurecer e dar frutos. Lugar onde nosreunimos para escutar a Palavra de Deus; onde se celebra a Aliança de Deusconnosco; onde se vive o amor fraterno; onde os cristãos se ajudam mutuamentea viver o Evangelho pela riqueza da fé, do testemunho e do serviço decada um em relação aos outros. Assim se torna uma comunidade de fé viva eirradiante. Eis como e porque a comunidade cristã é uma casa e escola da fé.A fé precisa de um ambiente comunitário para sobreviver e crescer!Toda a comunidade é responsável na iniciação e formação dos seusmembros. A paróquia é, pois, uma comunidade <strong>ed</strong>ucativa, comunidade deformação antes de ser um centro de organização de actividades e serviços.Isto deve ser uma das suas prioridades.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 47


. documentos pastorais .Também neste aspecto, São Paulo é exemplo. Através das cartas, sobressaia sua preocupação por arranjar muitos e bons colaboradores, formandouma r<strong>ed</strong>e de trabalho e em equipa. E cuidava, muito seriamente, da sua formação(formação de formadores!) para o anúncio da Palavra e o crescimentoda comunidade.Só em Rom 16,1-24 recorda 36 pessoas e cada uma é caracterizada comatributos que evocam a intensidade de relações. É surpreendente o afecto ea alegria de Paulo por esta r<strong>ed</strong>e de relações, pela equipa de colaboradoresque considerava preciosa para o evangelho de Jesus Cristo. Chama-os “meuscolaboradores em Cristo”. E deixa ver como se respirava uma atmosfera decomunhão na fé e na alegria, de corresponsabilidade na formação da comunidadecristã.Do que foi dito derivam três propostas concretas a implementar. Antes demais, a escolha e a “formação de formadores idóneos” é uma urgência primáriapara assegurar a formação geral e específica de todos os fiéis. O pároconão pode fazer tudo.Uma atenção particular merece a formação dos adultos. Em cada paróquiaou vigararia poderá criar-se uma escola da fé (ou de formação de adultos)para oferecer, em cada ano, a um grupo diferente de adultos, a visão desíntese da fé, já antes mencionada.A formação cristã não se esgota no âmbito da paróquia, porque esta, porsi só, não é capaz de responder a tudo. Os grupos, as associações e os movimentostambém têm o seu lugar na formação dos fiéis. Seria bom “trabalharem r<strong>ed</strong>e” segundo as necessidades e oportunidades, em espírito de comunhãoeclesial.Quero ainda recordar que a visita pastoral é uma boa oportunidade parasensibilizar e dinamizar as paróquias em ordem à formação cristã.4.2. Serviços diocesanos de apoio à formação cristãA <strong>Diocese</strong> tem uma série de serviços centrais organizados para promovere apoiar a formação cristã, em todas as suas dimensões, para as várias idadese para os diferentes serviços na Igreja e nas comunidades.Lembro o nosso Centro de Formação e Cultura, que, em colaboração comos outros departamentos, oferece uma possibilidade de formação para jovense adultos, a diversos níveis: um curso fundamental da fé, intitulado “Razõesda Esperança”, de acessibilidade geral e frequentado, no ano transacto, por48 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .um livro, com o mesmo título, da autoria de D. Anacleto, Bispo auxiliar deLisboa. É um autêntico itinerário de fé, com 52 temas, um para cada semanado ano, que oferecem uma visão sintética da fé. Para isso seria bom e recomendávelconstituir os “grupos paulinos” nas paróquias, movimentos, associações,para que se faça a reflexão em grupo e se partilhe a fé e a oração.2. O Retiro Quaresmal com São Paulo: à semelhança do que fizemos noano passado, vamos viver a Quaresma como um tempo de “retiro popular”,em ordem ao aprofundamento da fé. Será feito nas paróquias, em pequenosgrupos, a partir de alguns textos de São Paulo, sob a forma de m<strong>ed</strong>itaçãoorante e familiar da Palavra de Deus (lectio divina).3. Um encontro de formação e oração: “Ir ao coração da fé”, em cadavigararia, presidido pelo bispo, particularmente destinado aos membros maisempenhados nos serviços das comunidades e paróquias.4. Um módulo de formação sobre São Paulo e a sua actualidade, da iniciativado Centro de Formação e Cultura, com a duração de 8 horas, a proporàs comunidades.5. A “lectio divina” da Carta aos Romanos, a mais importante das cartasde São Paulo, que é a síntese de todo o seu anúncio e da sua fé. É tambémuma iniciativa do Centro de Formação e Cultura e estará disponível no sit<strong>ed</strong>a <strong>Diocese</strong>.6. O estudo das comunidades paulinas: será o tema da semana de formaçãopermanente para o clero diocesano.7. Início da fase de reflexão e sensibilização do presbitério e das comunidadesem ordem à implementação do diaconado permanente como umministério, com configuração própria, para a <strong>ed</strong>ificação da comunidade eao serviço da sua formação, na linha da teologia de São Paulo acerca dosministérios.8. Uma colecta a favor dos pobres a ser realizada no ofertório das celebraçõeseucarísticas no dia 25 de Janeiro de 2009, festa da conversão deSão Paulo, que coincide com o domingo. É um modo de actualizar a grandecolecta por ele realizada. Será entregue à Cáritas Diocesana.9. Participação numa grande celebração nacional no mesmo dia 25 deJaneiro, na igreja da Santíssima Trindade, em <strong>Fátima</strong>.10. Encerramento solene do Ano Paulino, a 28 de Junho de 2009, domingo,na Sé de <strong>Leiria</strong>, sob a presidência do bispo.50 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. documentos pastorais .Confiemos à intercessão de São Paulo e de Maria, a Virgem fiel, o êxitodo nosso caminho:Dirigimo-nos a ti, ó grande apóstolo São Paulo,Arauto de Cristo e nosso Mestre na fé.Fazemos nossa a mesma súplica do mac<strong>ed</strong>ónio:“Passa e ajuda-nos” com o teu anúncio,o teu exemplo e a tua intercessão.Interc<strong>ed</strong>e ao Senhor por nós, cristãos do século XXI:Que Ele nos abra os olhos da mente e do coraçãoComo abriu os teus, no caminho de Damasco,Para alcançarmos o sublime conhecimento de Cristo,E, assim, podermos ir ao coração da fé.Contigo e com Maria, a Virgem fiel,O Senhor nos conc<strong>ed</strong>aReacender a chama da nossa fé,Crescendo numa fé adulta, esclarecida e convicta.Ajuda-nos a permanecer firmes e sólidos na fé. Ámen!DocumentosSaúdo-vos, de todo o coração,† António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong><strong>Leiria</strong>, 8 de Setembro de 2008Festa da Natividade de Nossa Senhora| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 51


. escritos episcopais .16º Gala da Central FM - Outubro de 2008“Pensar Globalmente e agir localmente”O lugar e a globalizaçãoDocumentosUma das mudanças mais radicais e mais fascinantes do nosso mundo éa globalização da comunicação, do conhecimento, do mercado, da cultura,enfim, da vida. Todos vivemos nesta aldeia global. Na internet todos somosvizinhos: podemos sentar-nos e conversar com pessoas do outro lado doplaneta; podemos viver em comunidades virtuais. A geografia, para muitagente desapareceu. Os jovens autodefinem-se como “nativos digitais”, porqueo ciberespaço é o seu “lar”. Isto é maravilhoso, e evoca a experiênciada universalidade. O homem de hoje é, de facto, cidadão do mundo. Pensarglobalmente vai-se tornando natural. E, além disso, é uma exigência para odesenvolvimento da soci<strong>ed</strong>ade e a resolução dos seus problemas.Mas, por outro lado, não é assim tão simples. Cada pessoa é um ser concreto.E, nesta aldeia global, precisamos de lugares concretos para lançarraízes, para crescer, trabalhar e agir, para nos refrescarmos e renovarmos.Somos corpos e, por isso, precisamos de espaços que tenham recordações,“lares” nos quais nos refresquemos e renovemos. Não se pode viver todo odia na Web.É maravilhoso e apaixonante viver e pensar à escala global, universal.Mas precisamos de amar lugares concretos, determinados, onde possamosdescansar: oásis de paz, onde nos sintamos em casa...<strong>Leiria</strong>, 1 de Julho de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 53


. escritos episcopais .Nota aos fiéis de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>Convocatória da Assembleia DiocesanaCaríssimos Diocesanos, Irmãos e Irmãs no Senhor, “Graça e Paz da part<strong>ed</strong>e Deus Pai e de Cristo Jesus, nosso Salvador” (Tit 1,4).Desejo saudar-vos, afectuosamente, com estas palavras do Apóstolo Pauloa Tito, seu “verdadeiro filho na fé comum”.Como sabeis, estamos a seguir o percurso traçado pelo Sínodo Diocesanoe desenvolvido no projecto pastoral “Testemunhar Cristo, fonte de esperança”.Ao longo do ano passado, tivemos a ocasião de saborear e testemunhar a ternurade Deus, na vida quotidiana pessoal e comunitária e em várias realizaçõesvicariais e diocesanas. Este ano pastoral será d<strong>ed</strong>icado à formação cristã.Nesta caminhada comum, seguindo as realizações dos anos passados, venhoconvocar uma Assembleia Diocesana, que terá lugar na tarde do Domingo,5 de Outubro, no ginásio do Seminário Diocesano, em <strong>Leiria</strong>, com inícioàs 15h00 e termo com a missa, às 18h00.São objectivos deste encontro: fazer experimentar que, como Igreja diocesana,somos muitos, mas um só corpo, em Cristo; apresentar a carta pastoralIr ao Coração da Fé e o programa do ano; e celebrar o Dia da Igreja Diocesana.Os destinatários são os agentes pastorais da <strong>Diocese</strong> e demais fiéisempenhados na sua vida e missão, nomeadamente: Bispo e padres, ConselhoPastoral Diocesano, membros dos Serviços e organismos diocesanos, direcçõesdos Movimentos, Associações e Obras, superiores ou representantesdas comunidades religiosas masculinas e femininas, direcções dos InstitutosSeculares e Novas Comunidades, membros dos conselhos pastorais vicariaise paroquiais, catequistas, ministros da comunhão e outros.Na manhã desse dia e no mesmo local, realiza-se o encontro anual dos catequistasda <strong>Diocese</strong>, promovido pelo Departamento da Educação Cristã. Esteseventos marcam o início do novo pastoral e promovem a comunhão eclesial,imprimindo no coração dos colaboradores da Igreja diocesana maior sentido deco-responsabilidade e de pertença a uma mesma e grande família espiritual.<strong>Leiria</strong>, 18 de Setembro de 2008† António Augusto dos Santos Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>54 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Homilia do Jubileu Sacerdotal e tomada de poss<strong>ed</strong>o Reitor do Santuário de <strong>Fátima</strong>O nosso cântico de júbilo:eu Te bendigo, ó Pai...É grande a alegria dos nossos corações hoje: uma alegria que contém e exprimegratidão e louvor ao Senhor pelos aniversários jubilares dos 25 e 50 anosde ordenação sacerdotal, respectivamente, dos nossos caros P. Jorge Guarda,Vigário Geral da <strong>Diocese</strong>, e P. Virgílio da Silva, pároco da Urqueira. Todo opresbitério diocesano com o seu Bispo e os féis aqui presentes se unem, comafecto, a eles – bem como ao novo reitor e ao novo administrador do Santuárioque hoje tomam posse – e saúdam-nos com vivos e jubilosos parabéns.Este jubileu acontece no Ano Paulino, nas vésperas do Sínodo dos bispossobre a Palavra de Deus, no início do Ano Pastoral da <strong>Diocese</strong> que nos convidaa ir ao coração da fé com São Paulo e no ano centenário do nascimentodo Beato Francisco Marto, exemplo de como uma criança é capaz de ir aocoração da fé. São momentos significativos da vida eclesial que ajudam ailuminar alguns aspectos da missão e da espiritualidade do padre.Para exprimir a nossa alegria e o nosso louvor, deixemo-nos inspirar pelaPalavra de Deus que acaba de ser proclamada.DocumentosO cântico de júbilo de Jesus, nosso cânticoO texto evangélico (Mt 11, 25-30) é uma página extraordinária, consideradacomo uma das pérolas mais preciosas de todo o evangelho: é o hinode júbilo, o Magnificat de Jesus, que constitui uma “síntese da revelação”.Revela-nos o “segr<strong>ed</strong>o” vivo e palpitante de todo o projecto de salvação emJesus, o Filho do Pai. É uma página que lança uma luz calorosa e fascinantesobre a nossa celebração jubilar.Estamos diante do mais belo cântico de amor filial que jamais se entoousobre a terra. Aparece como um “intermezzo” de alegria no meio das dificuldadesdo ministério de Jesus, que encontra a recusa nas cidades de Cafarnaum,de Betsaida e Corozaim. Parece que Jesus, em tais circunstâncias,sente a necessidade de se refontalizar, de ir à fonte profunda.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 55


. escritos episcopais .Este canto sai do coração humano de Jesus, em exultação, pelo mistériode infinito amor, bondade e ternura de Deus que quer comunicar aos homense onde todos encontramos abrigo; pelas maravilhas de graça que este amorrealiza nos corações simples que o acolhem.Contudo, Jesus não o entoou só para si. Entoou-o também para nós; quis envolver-nosnele. O seu cântico torna-se, hoje, o nosso cântico, porque o seu Espírito– o Espírito Santo –, quando toca as cordas do coração, torna-as sensíveisàs vibrações da graça e suscita nelas um cântico divino, a música do Amor.No hino de júbilo de Jesus leio, pois, um convite a viver e exprimir, demodo simples e profundo, três sentimentos fundamentais da vida sacerdotal:o de um agradecimento alegre pelo dom do sacerdócio; o de um voltar denovo ao coração da vida sacerdotal; e o de um renovado impulso na missãoevangélica que nos foi confiada.Gratidão de alegria pelo dom do sacerdócioO primeiro sentimento que deve encher o nosso coração é o de uma extraordináriagratidão ao Senhor pelo dom do sacerdócio: uma gratidão que setorna louvor ao Pai, fonte de todos os dons.O louvor de exultação ao Pai abre e faz vibrar todo o cântico de júbilo deJesus: “Eu Te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estascoisas aos pequeninos”!“Eu te bendigo” significa “ eu te agradeço, te louvo, te exalto, te confesso”.A referência ao Pai (Abbá) proclama a sua infinita ternura de amor, a sua condescendência(o seu voltar-se para nós) cheia de afecto. E o objecto de louvoralegre é o facto de que “estas coisas” – o plano divino da salvação, o reino deDeus, o mistério de Cristo – são reveladas aos “pequenos”, aos humildes, aossimples, àqueles que são transparentes a Deus. Este é o dom, por excelência,que Deus manifesta e oferece à humanidade. E neste dom encontram lugartodos os outros dons que vêm de Deus. Também o dom do sacerdócio.Com Cristo damos graças e louvor ao Pai que no seu amor, absolutamentelivre e gratuito, sem qualquer mérito nosso, nos chamou, na nossa pequenez efragilidade, a colaborar no seu desígnio de salvação como dispensadores dosseus dons aos irmãos.Voltar de novo ao coração da vida sacerdotalUm segundo sentimento que deve caracterizar os jubileus da nossa ordenaçãosacerdotal é a alegria de um voltar, sempre de novo, ao coração da vidasacerdotal, enquanto vida consagrada a Deus e aos irmãos.56 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Qual é este “coração”? Jesus responde: “Tudo me foi dado pelo meu Pai;ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filhoe aquele a quem o Filho O quiser revelar” (v. 27).Encontramo-nos perante o vértice da revelação do mistério de Deus: oPai que nos mostra o seu rosto e nos abre o seu coração no rosto e no coraçãohumanos do Filho, Jesus Cristo. Jesus, no seu cântico de júbilo, é a alegria doEterno Amor. Fala de um conhecimento recíproco, isto é, de uma relação profunda,de uma comunhão íntima de vida e amor. É o mistério da Trindade, davida íntima de conhecimento e amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.É este o “segr<strong>ed</strong>o” de Deus que o Filho quer comunicar aos simples.No desígnio divino, o homem é chamado a participar, partilhar, experimentarem si mesmo a misteriosa riqueza e beleza do Amor Trinitário. Eis o domimpensável e inimaginável que Deus quer oferecer a cada homem. “Ó admirávelintercâmbio que faz com que Deus é graça e o homem acção de graças”!Este é o coração da vida cristã: ser habitados por Deus, Trindade Santíssima.Não pode ser outro o coração da vida sacerdotal. Toda a sua dignidade ebeleza, todo o seu fascínio estão no ser uma existência humana que conheceo “segr<strong>ed</strong>o” da vida divina e faz deste segr<strong>ed</strong>o o sentido, o valor, o destino, afonte e a alegria de todo o seu pensamento e sentimento, de toda a acção doseu ministério. É este o significado exacto e profundo da conhecida expressão:“O padre é um homem de Deus”. A inabitação da Santíssima Trindadeem nós, Deus em nós, deve constituir o tesouro mais precioso que nos é dadoa guardar, amar, adorar, viver, testemunhar!DocumentosRenovado impulso na missão evangélicaUm outro sentimento que deve enriquecer os nossos jubileus é o de umrenovado impulso na missão evangélica que a ordenação sacerdotal nosconfiou. Revelando o mistério do Pai, Jesus revela o coração misericordiosode Deus, o seu rosto de infinita misericórdia e “compaixão” pelo homem:“Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu vos confortarei(darei forças)!”A nossa missão comporta dificuldades, provações, fadigas, cansaços, desilusões.Quem não sente a fadiga de viver, a fadiga do trabalho pastoral, dasementeira dura e, por vezes, árida do semeador do evangelho, os limites daidade ou da saúde, a incompreensão e os pesos a suportar? É então o momentono qual a nossa fé deve despertar e revigorar-se escutando a voz de Jesusque nos chama e assegura: “Vinde a mim e eu vos darei força... O meu jugo ésuave e o meu peso é leve”. Sim, o peso do seu amor levanta quem o leva!| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 57


. escritos episcopais .Contudo, isto que vale para nós, deve valer também para os outros aosquais o Senhor nos envia. Se recebemos ajuda e consolação do Senhor, devemostambém oferecê-las, com a nossa palavra e a nossa acção, a quantos s<strong>ed</strong>irigem a nós. É assim que realizamos a missão que o Senhor nos confia.É Ele, o Senhor Jesus, que nos envolve na sua missão, que nos p<strong>ed</strong>e parasermos instrumentos humildes, dóceis e generosos das suas mãos e do seu coraçãomisericordioso para com os nossos e seus irmãos cansados e oprimidos,necessitados de alívio, famintos e s<strong>ed</strong>entos de consolação e força.Ir ao coração da fé: entrar no sublime conhecimento de Cristo JesusDepois do que acabamos de m<strong>ed</strong>itar, compreendemos o testemunho apaixonadoe vibrante que S. Paulo nos oferece da sua fé em Cristo. Paulo é ummestre e modelo para todos os pastores. Dele devemos aprender um grandeamor por Jesus. Ele mesmo se define como “agarrado” por Cristo, “impelido”pelo seu amor. “A sua fé é o ser alcançado pelo amor de Jesus Cristo, umamor que o toca no mais íntimo e o transforma. A sua fé não é uma teoria,uma opinião sobre Deus e sobre o mundo. A sua fé é o impacto do amor deDeus no seu coração. E assim esta fé é amor por Jesus Cristo” (Bento XVI).Comove-nos, de facto, o amor de Paulo por Jesus precisamente pela suaintensidade. Era tão forte e vivo que o levava a exclamar: “Considero tudouma perda frente ao sublime conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor”.Com este testemunho, Paulo convida-nos a ir ao coração da fé, a pôr Cristono centro da nossa vida, a construir sobre Ele a nossa existência apostólica.A graça que p<strong>ed</strong>imos, nesta Eucaristia jubilar, é entrar cada vez mais no“sublime conhecimento de Cristo”, segundo as palavras de Paulo, de conhecero poder da sua ressurreição, participando nos sofrimentos do seu amorpela humanidade. Não sabemos como serão os tempos novos que o Espíritonos reserva; como serão os tempos novos que nós mesmos, com a nossa vidae o nosso testemunho, preparamos para o futuro. Sabemos, sim, que o Senhornos chama a viver este nosso tempo – “de noite da fé”, de eclipse cultural deDeus – como tempo providencial para ir ao essencial, ao coração da fé, parareencontrar a autenticidade da fé, para crer mais e crer melhor.Nossa Senhora nos acompanhe no caminho, ajudando-nos a viver naescuta da Palavra, na adesão pronta e total à acção do Espírito e no cantoincessante de louvor: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espíritoexulta de alegria em Deus, meu Salvador”! Ámen! Aleluia!<strong>Fátima</strong>, 25 de Setembro de 2008† António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>58 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Tomada de PosseNovo Reitor do Santuário de <strong>Fátima</strong>1. Gratidão a Monsenhor Luciano GuerraEm tão significativa circunstância, neste momento da “passagem de testemunho”,sinto o dever da justiça, a necessidade da virtude (da gratidão) e olaço da comunhão como imperativo para exprimir ao Mons. Luciano Guerrao mais vivo e sentido reconhecimento pela d<strong>ed</strong>icação e pelo amor que colocouno desempenho da nobre, bela e árdua missão de Reitor do Santuário deNossa Senhora de <strong>Fátima</strong> ao longo de 35 anos, para o bem de todo o povo deDeus peregrino.Nestes dois anos de Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> em que o Senhor nos chamoua trabalhar juntos, pude apreciar, pessoalmente, os dotes da sua almade pastor, inteiramente d<strong>ed</strong>icado ao Santuário e à Mensagem que lhe dá arazão de ser; a sua competência iluminada, a seri<strong>ed</strong>ade e ponderação das suasdecisões, a sua capacidade empreend<strong>ed</strong>ora de novos caminhos e estruturasde evangelização, a sua lealdade de colaborador fiel, o seu grande sentidoeclesial, a sua profunda e esclarecida devoção mariana.Com a sua reitoria, o Santuário conheceu uma nova etapa e um novoimpulso que culminaram na inauguração da Igreja da Santíssima Trindadee que deixam marcas indeléveis na história de <strong>Fátima</strong>. O Santuário, a nívelmaterial, espiritual e ambiental, tornou-se um verdadeiro oásis espiritual deencanto, de recolhimento e contemplação, de frescura interior e de paz.Por isso, para além de lhe exprimir os meus sentimentos de gratidão comobispo da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, faço-me também intérprete da gratidão doepiscopado português e de todos aqueles que, no decurso destes 35 anos, oconheceram como Reitor e admiraram a sab<strong>ed</strong>oria prudente e o zelo incansávelcom que, sem poupar energias, realizou a sua missão, tendo em conta,unicamente, o bem da Igreja.Asseguro-lhe a minha sincera e constante estima, o meu afecto de pastore a comunhão fraterna, bem como ao Senhor P.e António Sousa pelo seu trabalhod<strong>ed</strong>icado na administração competente, eficaz, honesta e transparent<strong>ed</strong>o Santuário.Documentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 59


. escritos episcopais .O Senhor Deus, a quem confio todo o desejo da vossa alma sacerdotal,vos conforte e apoie nos anos futuros, dando-vos saúde física e infundindo novosso ânimo serenidade, alegria e esperança.A Virgem Mãe, Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong> vele, de modo particular, sobrevós conc<strong>ed</strong>endo-vos as melhores bênçãos pelo serviço filial que lhe prestastesno nosso Santuário e através do mundo.2. Votos de bênção e serviço fecundo para o novo ReitorCaro Pe Dr. Virgílio Antunes:Acaba, Vossa Reverência, de tomar posse como Reitor do Santuário deNossa Senhora de <strong>Fátima</strong> com estatuto de Santuário nacional e de projecçãomundial, onde afluem, como a um porto de mar acolh<strong>ed</strong>or, cinco milhões deperegrinos por ano.É uma ocasião para lhe endereçar as mais vivas e sentidas felicitaçõesem nome pessoal e do episcopado português que, em assembleia plenária,ratificou, unanimemente, a sua indigitação para este cargo. Estendo estasfelicitações ao novo Administrador, P.e Cristiano Saraiva.É também um momento propício para sublinhar a relevância do lugar <strong>ed</strong>a missão do Santuário de <strong>Fátima</strong> na Igreja, no país e no mundo, e por conseguinte,a relevância da missão que agora lhe é confiada como Reitor.A relevância nacional e mundial do Santuário de <strong>Fátima</strong>A partir da minha experiência, ainda curta, de Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>creio poder afirmar, sem exagero, que o Santuário de Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>representa, de algum modo, o coração materno de Portugal, o coraçãoespiritual do país.Além disso, possui uma particular importância para a Igreja universal epara o mundo inteiro, como testemunham as declarações dos últimos Pontíficesdesde Pio XII a Bento XVI. <strong>Fátima</strong> tornou-se para Portugal e muito alémdas suas fronteiras lugar-símbolo de paz, de reconciliação e de unidade decorações, de povos e culturas.É símbolo de uma abertura que supera não só as fronteiras geográficas enacionais mas, na pessoa de Maria, remete para uma dimensão essencial aohomem: a busca de Deus, a capacidade de se abrir ao mistério de Deus e dabeleza do seu Amor, como o fundamento e advogado supremo da dignidadehumana e da causa da paz entre os povos.60 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .O Santuário de <strong>Fátima</strong> insere-se numa r<strong>ed</strong>e de santuários marianos espalhadospelo mundo, que constituem um recurso de amor, um oásis espiritual euma reserva de esperança face à força devastadora do mal e são fonte peren<strong>ed</strong>e elevação espiritual da humanidade.Como um oásis espiritual, um santuário indica ao mundo de hoje a coisamais importante e, por fim, a única decisiva: existe uma última razão pelaqual vale a pena viver, peregrinar na história, sofrer e esperar, a saber, Deus eo seu Amor imperscrutável, que exc<strong>ed</strong>e todo o nosso entendimento e o nossocálculo.O Santuário na missão evangelizadora da IgrejaComo todos os santuários, também o nosso participa da missão evangelizadorada Igreja e dos desafios que hoje se lhe põem, enquanto lugar privilegiadode acolhimento, centro de unidade pessoal, fraterna e eclesial, caminhopara a santidade de povo (popular), sinal de esperança, lugar de anúncio e derevitalização da fé.Como não evocar aqui a tão bela síntese de Bento XVI em relação a <strong>Fátima</strong>?“Apraz-me pensar em <strong>Fátima</strong> como escola de fé com a Virgem Mariapor Mestra; lá ergueu Ela a sua cát<strong>ed</strong>ra para ensinar aos pequenos videntes <strong>ed</strong>epois às multidões as verdades eternas e a arte de orar, crer e amar”.Nesta vertente, colocam-se, permanentemente, o desafio e a responsabilidad<strong>ed</strong>o santuário, de conservar sempre um rosto e um dinamismo missionáriospara não se r<strong>ed</strong>uzir a um mero “centro de serviços religiosos”.Enquanto desafio, o santuário é provocado a interrogar-se sobre a qualidade,a modalidade e as circunstâncias da comunicação da fé em múltiplasformas, linguagens, símbolos e sinais. É um desafio que requer competênciateológica e cultural, fina sensibilidade psicológica, prudente mas corajosainovação no estilo e no método da comunicação da fé.Do mesmo modo, o Santuário é interpelado, sente-se chamado em causapara responder às novas questões e buscas geradas pela cultura pós-moderna.Isso exige verificar a qualidade e aptidão da pregação; considerar os conteúdosdo anúncio segundo os ritmos do Ano Litúrgico ou de eventos própriosdo Santuário; avaliar o contributo específico nas modalidades de acolhimentoe escuta dos fiéis e nos tempos de diálogo espiritual, mesmo para além doatendimento no sacramento da reconciliação; em síntese, cuidar da “excelência”da oferta, isto é, de tudo o que é oferecido no Santuário para o bem dosperegrinos.Documentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 61


. escritos episcopais .O carisma próprio do Santuário de <strong>Fátima</strong>Não deve ser esquecido, por fim, que o rosto próprio do Santuário se manifestae realiza no cumprimento do seu carisma atribuído pelo desígnio deDeus para a salvação do homem, neste preciso lugar, através da Mensagemde Nossa Senhora com o símbolo do seu Imaculado Coração de Mãe quevela pela humanidade. Maria dá-nos olhos e coração para contemplar o AmorMisericordioso “como força de Deus e limite divino contra o mal no mundo”(Bento XVI).A grande lição de <strong>Fátima</strong> é que a oração é sempre a arma mais forte,mesmo no campo da história, para a conversão dos corações e a paz entre ospovos.“<strong>Fátima</strong> é uma fonte que Deus abriu no mundo e que continua a brotarpara dess<strong>ed</strong>entar corações e fecundar histórias” (João Paulo II).O Santuário, de facto, dilata o coração do homem à m<strong>ed</strong>ida do coraçãode Cristo, a exemplo do coração de Maria, através de um olhar universal. Auniversalidade caracteriza a autêntica espiritualidade católica e o santuário<strong>ed</strong>uca a sair dos limites, das atitudes egoístas, das próprias estreitezas mentaise esforça-se por promover uma corresponsabilidade global, um afecto universaltípico dos cristãos maduros e da própria Mensagem da Senhora; esforçasepor abrir os corações às dimensões do mundo. Como foi dito pelo profeta:“ O meu templo chamar-se-á casa de oração para todos os povos” (Is 56,7).Confiança e esperançaOxalá estas breves reflexões possam iluminar e ajudar o reitor e o administradordo Santuário no desempenho dos seus cargos. Desde já, assegurolhesa minha confiança, a minha comunhão e o meu apoio.O Senhor Reitor, Pe Dr. Virgílio, alia uma sólida formação doutrinal eteológica a uma sábia experiência pastoral, já testada aqui no Santuário. OSenhor Administrador, Pe Cristiano, já deu provas, como ecónomo diocesano,das suas qualidades e aptidões para gerir um grande Santuário, segundoos critérios evangélicos e as normas canónicas. Tudo isto é, para nós, motivode fundada esperança!Por intercessão de Maria, Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>, imploro a luz e aforça do Espírito para a vossa nobre, bela e árdua missão!<strong>Fátima</strong>, 25 de Setembro de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>62 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Homilia na celebração de S. Francisco de Assispara a Família Franciscana“Vai, Francisco, repara a minha casa,que está em ruínas”DocumentosÉ com grande alegria e fraterno afecto que acolho e saúdo toda a famíliafranciscana nesta igreja da SS. Trindade, em celebração eucarística, fazendomemória litúrgica do nosso querido Pai e Irmão S. Francisco. Saúdo-vos atodos, à boa maneira franciscana: “Paz e Bem” a todos e cada um de vós!Para exprimir a nossa alegria e o nosso louvor ao Senhor pelo dom deFrancisco, deixemo-nos inspirar pela Palavra de Deus que acaba de ser proclamada.O cântico de júbilo de Jesus, nosso cânticoO texto evangélico (Mt 11, 25-30) é uma página extraordinária, consideradacomo uma das pérolas mais preciosas de todo o evangelho: é o hinode júbilo, o Magnificat de Jesus, que constitui, por sua vez, uma “síntese darevelação”. Revela-nos o “segr<strong>ed</strong>o” vivo e palpitante de todo o projecto desalvação em Jesus, o Filho do Pai.É o mais belo cântico de amor filial que jamais se entoou sobre a terra.Sai do coração humano de Jesus, em exultação pelo mistério de infinito amor,bondade e ternura de Deus que quer comunicar aos homens e onde todosencontramos abrigo; pelas maravilhas de graça que este amor realiza noscorações simples que o acolhem.Contudo, Jesus não o entoou só para si. Entoou-o também para nós; quisenvolver-nos nele. O seu cântico torna-se, hoje, o nosso cântico, porque oseu Espírito – o Espírito Santo –, quando toca as cordas do coração, torna-assensíveis às vibrações da graça e suscita nelas um cântico divino, uma músicanova – a música do Amor, como fez em Francisco de Assis, que entoou doisdos mais belos cânticos da literatura mundial: “Os louvores de Deus Altíssimo”e “O Cântico das criaturas”.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 63


. escritos episcopais .No hino de júbilo de Jesus leio, pois, um convite a viver e exprimir, demodo simples e profundo, três sentimentos fundamentais da vida cristã: ode um agradecimento alegre pelo dom da revelação aos pequeninos; o deum voltar de novo ao coração da vida cristã; e o de um renovado impulso namissão evangélica que nos foi confiada.Gratidão de alegria pelo dom da Revelação aos pequeninosO primeiro sentimento que deve encher o nosso coração é o de uma extraordináriaalegria e gratidão ao Senhor pelo dom da revelação aos pequeninos:uma gratidão que se torna louvor ao Pai, fonte de todos os dons.O louvor de exultação ao Pai abre e faz vibrar todo o cântico de júbilo deJesus: “Eu Te bendigo ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque revelaste estascoisas aos pequeninos”!“Eu te bendigo” significa “ eu te agradeço, te louvo, te exalto, te confesso”.A referência ao Pai (Abbá) proclama a sua infinita ternura de amor, asua condescendência (o seu voltar-se para nós) cheia de afecto. E o objectode louvor alegre é o facto de que “estas coisas” – o plano divino da salvação,o reino de Deus, o mistério de Cristo, o Evangelho – são reveladas aos “pequenos”,aos humildes, aos simples, àqueles que são transparentes a Deus.Este é o dom, por excelência, que Deus manifesta e oferece à humanidade. Eneste dom encontram lugar todos os outros dons que vêm de Deus: os donsda criação, da vida, da bondade e beleza da vida, da graça do Seu amor quesalva…Com Cristo damos graças e louvor ao Pai que no seu amor, absolutamentelivre e gratuito, sem qualquer mérito nosso, nos chamou, na nossa pequenez efragilidade, a colaborar no seu desígnio de salvação.Francisco respondeu a este chamamento: abandonou os sonhos da glóriae dos sucessos mundanos, tornou-se pequeno, irmão menor, humilde e pobre,satisfeito só com Deus e a sua ternura. Descobriu que o Evangelho vividona santa simplicidade e sem descontos, nos torna criaturas novas e felizes.Tornou-se um cantor apaixonado da ternura e da beleza de Deus, verdadeirojogral (trovador) de Deus com os “Louvores de Deus Altíssimo” e “O cânticodas criaturas”. São o cântico novo da “perfeita alegria” em Deus, da bondadee da beleza da vida e da criação, do louvor e da gratidão como estilo devida.64 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Voltar de novo ao coração da vida cristãUm segundo sentimento é a alegria de um voltar, sempre de novo, aocoração da vida cristã, enquanto vida baptismal consagrada a Deus e aosirmãos.Qual é este “coração”? Jesus responde: “Tudo me foi dado pelo meu Pai;ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filhoe aquele a quem o Filho O quiser revelar” (v. 27).Encontramo-nos perante o vértice da revelação do mistério de Deus: oPai que nos mostra o seu rosto e nos abre o seu coração no rosto e no coraçãohumanos do Filho, Jesus Cristo. Jesus, no seu cântico de júbilo, é a alegriado Eterno Amor. Fala de um conhecimento recíproco, isto é, de uma relaçãoprofunda, de uma comunhão íntima de vida e amor. É o mistério da Trindade,da vida íntima de conhecimento e amor entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.É este o “segr<strong>ed</strong>o” de Deus que o Filho quer comunicar aos simples.No desígnio divino, o homem é chamado a participar, partilhar, experimentarem si mesmo a misteriosa riqueza e beleza do Amor Trinitário. Eis odom impensável, inimaginável, inigualável, que Deus quer oferecer a cadahomem. “Ó admirável intercâmbio que faz com que Deus é graça e o homemacção de graças”!Este é o coração da vida cristã: ser habitados por Deus, Trindade Santíssima.A inabitação da Santíssima Trindade em nós, Deus em nós, deveconstituir o tesouro mais precioso que nos é dado a guardar, amar, adorar,viver, testemunhar!Também neste aspecto, Francisco é um grande <strong>ed</strong>ucador da nossa fé.Quem como ele era um verdadeiro enamorado de Cristo que ele “levavasempre no coração, nos lábios, nos ouvidos, nos olhos, nas mãos…”, comodiz o biógrafo? E “Os louvores de Deus Altíssimo” revelam uma alma constantementearrebatada no diálogo com a Trindade! Em Francisco, tudo part<strong>ed</strong>e Deus e a Deus volta!DocumentosRenovado impulso na missão evangélicaUm outro sentimento que nos deve enriquecer é o de um renovado impulsona missão evangélica. Revelando o mistério do Pai, Jesus revela o coraçãomisericordioso de Deus, o seu rosto de infinita misericórdia e “compaixão”pelo homem: “Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e euvos confortarei (darei forças)!”A nossa vida e a nossa missão comportam dificuldades, provações, fadigas,cansaços, desilusões. Quem não sente a fadiga de viver, a fadiga do| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 65


. escritos episcopais .trabalho pastoral, da sementeira dura e, por vezes, árida do semeador doevangelho, os limites da idade ou da saúde, a incompreensão e os pesos asuportar? É então o momento no qual a nossa fé deve despertar e revigorar-seescutando a voz de Jesus que nos chama e assegura: “Vinde a mim e eu vosdarei força... O meu jugo é suave e o meu peso é leve”. Sim, o peso do seuamor levanta quem o leva!Foi o amor de Cristo, contemplado no crucifixo da igreja de S. Damião egravado no seu corpo através dos sinais dos estigmas, que constituiu a molada missão de Francisco: reparar a casa do Senhor, o amor aos leprosos e comunicara paz de Deus (“O Senhor te dê a paz”).Queria chamar a vossa atenção, muito brevemente, para a actualidade damissão de reparar a casa do Senhor. É uma responsabilidade atribuída a cadabaptizado. Também hoje o Senhor diz a cada um como a Francisco: “Vai,Francisco, repara a minha casa que, como vês, está em ruínas”. Trata-se derenovar a Igreja a partir de dentro, a partir de nós mesmos, indo ao coraçãoda fé, vivendo a m<strong>ed</strong>ida alta da santidade, descobrindo e realizando, com generosidade,a vocação a que o Senhor chama cada um. A lei do crescimento <strong>ed</strong>a renovação da Igreja é de dentro para fora…Que S. Francisco e Maria, a Virgem Mãe, que ele tão ternamente amou ecantou, vos acompanhem e iluminem na vossa missão e no vosso testemunhoda simplicidade, da alegria e beleza do Evangelho que irradia a paz nos corações,nas famílias e nos povos.Igreja da Santíssima Trindade, 4 de Outubro de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>66 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Bênção do Centro de Interpretação de S. JorgeRevisitar a Figura de Nun’ÁlvaresSaúdo com toda a deferência e cordialidade Sua Excelência, o SenhorPresidente da República e sua Ex.ma esposa, e estendo esta saudação a todosos ilustres convidados.Saúdo e agradeço, de modo particular, ao Senhor Presidente da “FundaçãoBatalha de Aljubarrota” o amável convite para proc<strong>ed</strong>er à bênçãodeste Centro de Interpretação. A seu insistente p<strong>ed</strong>ido, aceitei fazer, nestemomento, uma breve evocação da exemplaridade cristã do Patrono espiritualda Fundação e herói da batalha, D. Nuno Álvares Pereira. Interpretei o p<strong>ed</strong>idocomo um convite a revisitar a antiga e nobre figura de Nun’Álvares, porvezes tão maltratada.Como todas as grandes figuras da história, também esta está sujeita aoconflito de interpretações.O que está em causa é a interpretação da figura do Condestável do Reino,militar distinto na campanha da consolidação da independência nacional depoisda crise de 1383-85, considerado fundador da Real Casa de Bragança,proprietário de boa parte do território nacional que, a certa altura da vida,pensa abandonar a pátria e, na impossibilidade disso, resolve – à semelhançade Francisco de Assis – doar grande parte da fortuna aos pobres e a mosteirose ingressar na Ordem dos Carmelitas, como simples irmão leigo. A sua caridadee generosidade sem limites para com os pobres, criando casas de abrigopara doentes, órfãos e viúvas, a sua benevolência, misericórdia e protecçãopara com os vencidos nas batalhas, granjearam-lhe já em vida o epíteto de “OSanto Condestável”. O seu amor ao próximo não conhecia distinção de raçasou crenças, acolhendo nas suas terras mouros ou judeus que o chamavam de“pai” por lhes ter construído mesquitas e sinagogas.Neste conflito de interpretações há, segundo um interessante estudo deD. António Ferreira Gomes, bispo do Porto, duas versões inaceitáveis, umaantiga e uma moderna.A primeira delas é de Luís de Camões que o vê como um militar violento(“A mão na espada, irado e não facundo/ Ameaçando a terra, o mar emundo”), à imagem do Orlando Furioso (“D. Nuno Álvares digo, verdadeiroDocumentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 67


. escritos episcopais .açoute dos soberbos castelhanos, como já o fero Huno o foi primeiro…”).Esta é uma interpretação belicista, própria de um espírito m<strong>ed</strong>ieval de cruzada,completamente inexacta e desactualizada.A segunda é a de Júlio Dantas (1907 e 1913). Trata-se de uma interpretaçãoque oscila entre o jacobinismo republicano, a m<strong>ed</strong>icina e a psicologiapositivista. Faz de Nun’Álvares uma espécie de D. Sebastião, avant la lettre,um homem movido pela neurose da violência, um doente psíquico, possuídopor estranhas ideias sobre a virgindade, portador de uma her<strong>ed</strong>itari<strong>ed</strong>ade patológica(com um bispo de Braga de permeio!) que o autor vai rebuscar, porduvidosos métodos historiográficos, até à 5ª geração! Esta interpretação éproposta precisamente no momento em que acontecia o processo de beatificaçãodo Condestável, para a ridicularizar. O texto de Júlio Dantas chama-sesignificativamente “Libelo do Cardeal Diabo”.Ambas as interpretações são completamente erróneas e inaceitáveis parao Bispo Ferreira Gomes. Ele propõe a sua própria interpretação, no contextoda reflexão sobre a tradição portuguesa antiga a respeito dos “direitos humanos”.Começa por revisitar a “Crónica de D. João I” de Fernão Lopes que mostraNun’Álvares como um homem mesurado, sensato na palavra e na presença,inteligente, militar eficaz, mas nunca gratuitamente violento. Como homemdo seu tempo, era muito interessado por romances de cavalaria (“TávolaR<strong>ed</strong>onda”), de origem britânica. Mas não leria somente isso; eventualmenteterá lido também as teorias de João de Salisbúria sobre o regime do príncipe ea consolidação das liberdades contidas na “Magna Charta” de 1215, sobre osdireitos dos cidadãos. Esta índole e esta formação são decisivas para explicara sua história posterior e engrandecem a sua figura humana e cristã.Porque pensou o Condestável deixar o Reino (como fizeram os PríncipesD. Fernando e D. P<strong>ed</strong>ro, filhos de D. João I), uma vez consolidada a paz e aindependência? Na interpretação de D. António, é por duas razões. Primeiro,porque estava em desacordo com a posição da velha nobreza (para reconstituira velha ordem feudal), que não compreendeu o sentido cívico-burguês darevolução de 1383/85. Em segundo lugar, porque a política D. João I se encaminhavano sentido de centralização do poder, anulando as liberdades municipaisdos Burgos. D. António dá o exemplo do Porto, cidade cujo senhoriofoi, por essa altura, comprado pelo rei ao bispo. A tese é que as liberdadesdas cidades m<strong>ed</strong>ievais (liberdades de cidadania) e o seu desenvolvimentoburguês económico se processam mais facilmente sob a inspiração cristã daIgreja do que sob a ordem do centralismo real.68 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Uma vez que o rei se opôs à partida do Condestável do Reino, ele escolheua forma de recusa mais radical (em vista dos desenvolvimentos dahistória com que não estaria de acordo) e recolheu-se ao claustro carmelita,despojando-se dos seus bens, numa entrega total a Deus.É inegável a exemplaridade cristã da sua vida, a sua exemplar santidade devida reconhecida pela Igreja e que nos interpela, sobremaneira, na momentoactual: como apelo a uma cidadania exemplar animada pelas virtudes evangélicas;a um sentido nobre da política alicerçada nos valores transcendentesdo humanismo cristão para “mais e melhor democracia” não só como regimeformal mas sobretudo como virtude e cultura da dignidade da pessoa e dosdireitos humanos; e à escuta do clamor dos pobres e dos mais desfavorecidos,as primeiras vítimas da actual crise do sistema financeiro e da sua avidez dolucro im<strong>ed</strong>iato. Num país onde o fosso entre ricos e pobres é um dos maioresda Europa é necessário lembrar a indiscutível frase de Kant e repetida pelocardeal Cardijn: “as coisas têm preço; os homens têm dignidade”!Oxalá a canonização próxima de D. Nun’Álvares possa trazer uma novalinfa vital para uma mais digna, justa e saudável vida cívica, social e políticaà sua e nossa amada Pátria!DocumentosCampo de S. Jorge, 11 de Outubro de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 69


. escritos episcopais .Nota EpiscopalO nosso Seminário precisa de ajuda!Dois desafios importantes marcam o início do presente ano pastoral: olançamento do segundo biénio do Projecto Pastoral Diocesano, d<strong>ed</strong>icadoao aprofundamento da dimensão comunitária da vida cristã, e o arranque daprimeira fase das obras de conservação e introdução de melhorias no interiordo <strong>ed</strong>ifício do Seminário. É uma feliz coincidência, porque se, com a novaetapa do Projecto Pastoral, queremos cuidar do <strong>ed</strong>ifício espiritual da <strong>Diocese</strong>– indo ao coração da fé – com estas obras vamos melhorar os espaços qu<strong>ed</strong>arão apoio aos seus dinamismos pastorais.Para o futuro, nesta casa coexistirão duas dinâmicas essenciais à vida doPovo de Deus: a formação dos candidatos ao sacerdócio e a formação dosfiéis leigos. Olhando para o <strong>ed</strong>ifício, aberto em 2/11/1965, temos de reconhecerque o nosso antecessor (D. João Venâncio e quem o acompanhava) pensouem grande, ao dotar o Seminário dos meios necessários para que pudessecumprir a sua missão.Agora é a nossa vez! Como então, também hoje somos convidados a responderaos novos desafios com ousadia e generosidade. Temos de ser dignosda herança recebida e do tempo que nos é dado viver! Vamos todos dar onosso contributo.Como? Que cada comunidade/centro de culto assuma as obras do Semináriocomo suas, pois o que está ao serviço de todos por todos deve serparticipado; que cada cristão se sinta co-responsável pelo seu bom êxito ecolabore nas iniciativas propostas. Proponho três formas de colaboração:com a oração, promover o ambiente favorável às vocações; com a formação,melhorar a participação na vida eclesial e social; com festas e outras iniciativas,participar na angariação de fundos para as obras do Seminário.Neste sentido, faço um apelo à iniciativa dos reverendos párocos parasensibilizarem e dinamizarem as comunidades e os centros de culto para estacausa que é de todos nós.Espero, pois, que todos possamos amar esta obra e contribuir generosamentepara ela com a consciência de que o nosso Seminário é uma casa nocoração da <strong>Diocese</strong> e ao serviço de toda a <strong>Diocese</strong>!<strong>Leiria</strong> 24 de Outubro de 2008† António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>70 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Mensagem de Natal“Desperta, ó homem;por ti, Deus fez-Se homem”O Natal de Cristo é de todos e para todosDocumentos1. O Natal, festa da fraternidade e da pazO Natal é a festa mais alegre, mais familiar, mais calorosa do nosso calendário.A ceia em família, a missa da meia noite, os cânticos tradicionais, a trocade presentes, os votos de Boas Festas, o presépio, a árvore de Natal, a partilhacom os pobres... Tudo isto nos mostra que o Natal é uma festa diferente dasoutras. É símbolo da alegria do reencontro, da fraternidade e da paz dos corações;é a festa de crentes e não crentes, de todos os que esperam um mundomais fraterno, mais acolh<strong>ed</strong>or e mais justo!Mas ao falar assim do Natal, não estaremos, porventura, a r<strong>ed</strong>uzi-lo àfantasia de um sonho que, uma vez por ano, nos reconcilia com realidadesem que, de facto, não se acr<strong>ed</strong>ita? Não será que corremos o risco de r<strong>ed</strong>uziro Natal a uma recordação nostálgica do passado, a uma fantasia poética, aum mero jogo de sentimentos? Será que o Natal é apenas celebração poéticaduma página convencional do calendário?2. O Natal de Cristo, novidade e coração da fé cristãDe facto, o Natal cristão, para além das expressões culturais a que deuorigem, é sobretudo a celebração dum profundo mistério, que constitui a novidadee o coração da fé cristã: o mistério da Encarnação de Deus. Deus entrouno mundo dos homens num sentido inaudito! Não só por via psicológica, noânimo de uma pessoa profundamente pi<strong>ed</strong>osa; não só em termos espirituais,nos pensamentos de uma grande personalidade. Mas, em Jesus Cristo, o Filhoeterno do Pai, Deus entrou em pessoa na história dos homens: fez-se homem,filho duma mãe humana, sem deixar de ser o que Ele é eternamente.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 71


. escritos episcopais .É Deus connosco, Deus junto de nós, com rosto e coração humanos, paracontagiar os nossos corações e os nossos dias com o Seu Amor Eterno eSanto, partilhá-lo connosco, criando uma família de irmãos, uma nova fraternidade.“Desperta, ó homem; por ti, Deus fez-se homem” (Santo Agostinho)! Édeste acontecimento que fala o Natal. Tudo o resto tira sentido a partir daqui.A nossa fé não é um pensamento, uma ideia, uma opinião. É o acolhimentohumilde e maravilhado deste dom incalculável e incrível: Jesus Cristo, Deusconnosco.3. O Natal e os direitos humanosDe Deus feito homem, aprendemos a verdadeira humanidade. Por isso“quem coloca a afirmação da sua fé na Encarnação do Filho de Deus, podeser protector dos homens, pode levar a felicidade às crianças, às famílias, aosaflitos. A fé na Encarnação ajuda a salvar os homens e a realizar os direitoshumanos” (Th. Schniltzer). Eis o apelo forte do Natal deste ano de 2008 emque comemoramos os 60 anos da Declaração Universal dos Direitos humanos!Vivemos este Natal num contexto de profunda crise económico-socialque se reflecte em várias formas de pobreza. Que o “Menino-Deus” desperteem todos uma onda de ternura e caridade, de partilha e solidari<strong>ed</strong>ade a favorde quantos fazem a experiência dura da fragilidade: os pobres, os doentes, osidosos, os sós, os sem trabalho e sem casa, os marginais, os recusados e osdesesperados. O Natal de Cristo é de todos e para todos: é plural. Ou o fazemosjuntos ou não é verdadeiro Natal!A todos os diocesanos cheguem os meus melhores votos de Santo Natale Feliz 2009!<strong>Leiria</strong>, 10 de Dezembro de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>72 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Dia da Sagrada FamíliaMensagem às famílias1. Celebramos o Natal de Jesus, como a festa do “grande encontro” deDeus com a humanidade. Um encontro que nos faz ver aquele grande “Sim”que, em Jesus Cristo, Deus disse ao homem, à sua vida, ao amor humano, àfamília, e que é fonte de alegria para o mundo.Jesus, Filho de Deus, dignou-Se ser também filho de uma família humanafundada pelo amor de dois esposos, Maria e José. Ele abraçou a vocaçãohumana primordial, que é a família, desde o seu nascimento, em Belém, até àcasa de Nazaré, amando e sendo amado, crescendo em sab<strong>ed</strong>oria e em graçadiante de Deus e dos homens, e ganhando a vida com o suor do seu rosto.Na alegria e na paz do Natal do Senhor, saúdo afectuosamente as vossasfamílias e cada um de vós. Que o Senhor Jesus Cristo seja por vós acolhidopara poderdes crescer no amor e reforçar sempre os laços familiares que vosunem.Quarenta dias após o nascimento do Menino, os seus pais levaram-no aJerusalém para o apresentarem ao Senhor (Cf: Lc 2,22-40). Era uma normaque todos os casais, em Israel, observavam após o nascimento do primeiro filho.Mas Maria e José, proc<strong>ed</strong>endo do mesmo modo, acr<strong>ed</strong>itavam no que lhesfoi dado a conhecer da parte de Deus e guardavam tudo em seus corações.Ninguém poderá sentir melhor que vós, pais e mães, a fé e a emoçãocom que se apresenta a Deus um filho, esse tesouro que o Senhor colocounos vossos braços depois de abençoar e tornar fecundo o vosso amor. É umgesto que condensa e celebra de maneira extraordinária toda a grandeza domatrimónio e da família.Documentos2. No início do Ano Pastoral escrevi uma Carta à Igreja diocesana, desejandoque todos “vão ao coração da fé” para descobrirem a sua riqueza, a suabeleza, o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E, pensando emvós, deixei um apelo que me saiu do coração: Família, reacende o dom da féque está em ti! Comunica a tua fé! Voltando a escrever-vos, renovo hoje omesmo apelo. É o chamamento a despertar e a reforçar a consciência do domda fé: não só para descobrir a sua preciosidade e beleza, mas também para| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 73


. escritos episcopais .superar o clima generalizado de desalento e de m<strong>ed</strong>o que pesa fortementesobre a família e sobre a sua missão <strong>ed</strong>ucativa da transmissão dos valores e,em particular, da fé.O dom de Deus é fonte e garantia de confiança e coragem, torna-nos seguros,serenos e alegres: esta missão é possível e é bela, como diz o salmista:“O que ouvimos e aprendemos e os nossos pais nos transmitiram não o ocultaremosaos seus filhos; contaremos às gerações futuras as glórias do Senhor,o seu poder e as maravilhas que Ele fez” (Sl 78,3-4).Os cristãos sabem que a comunidade familiar só brilhará com todo o seuesplendor à luz do projecto e do desígnio do amor de Deus. Também ela foisalva, juntamente com a nossa humanidade, pelo amor de Jesus Cristo que seentregou para a vida e felicidade de todos. O amor humano lembra e assinalaeste amor/doação de Jesus Cristo e é chamado a caminhar no exemplo doSenhor.Pensando nas pessoas e famílias que mais sofrem com as duras dificuldadesque estão a atingir a nossa soci<strong>ed</strong>ade, peço ao Pai celeste que nos conc<strong>ed</strong>aum coração generoso na partilha, atento, cooperante e solidário.Confiando-vos à Sagrada Família de Nazaré, imploro sobre vós e vossasfamílias as bênçãos de Deus para que vos confirme na alegria da unidade <strong>ed</strong>o amor.Com votos de Feliz Ano 2009, saúdo-vos com fraterno afecto.28 de Dezembro de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>74 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .Homilia de fim de anoGratos a Deus pelos seus donsNo final de um ano civil encontramo-nos reunidos todos juntos, em vigília,para elevar um hino de acção de graças a Deus, Senhor do tempo e dahistória; para dar graças pelos inúmeros dons e benefícios conc<strong>ed</strong>idos a cadaum, à Igreja e à humanidade.É nosso dever – para além duma necessidade do coração – louvar e agradecerÀquele que nos acompanha no tempo, sem nunca nos abandonar, quevela sobre a humanidade com o seu amor fiel e misericordioso (1ª leitura) eque nos enche com todos os dons espirituais em Cristo (2ª leitura).O canto do Te Deum, que hoje ressoa nas igrejas de todo o mundo, querser um sinal da gratidão alegre que dirigimos a Deus por todos os dons quenos ofereceu em Cristo.Neste momento desejaria fazer memória de alguns acontecimentos daIgreja universal e diocesana pelos quais sinto o dever e a alegria de agradecerao Senhor e com os quais Ele ilumina o nosso caminho rumo ao futuro.Documentos1. Antes de mais, o Ano Paulino proclamado pelo Santo Padre, no bimilenáriodo nascimento do grande Apóstolo Paulo, para pôr toda a Igreja “umano a caminhar com S. Paulo”, a fim de r<strong>ed</strong>escobrir a sua rica e bela mensagem,de enamorar-se cada vez mais de Cristo, de reavivar a sua fé e o ardormissionário. “O Ano Paulino é um ano de peregrinação não só no sentido deum caminho exterior em direcção aos lugares paulinos, mas também e sobretudono sentido de uma peregrinação interior, do coração, com S. Paulo, atéJesus Cristo” (Bento XVI). Quem entra em diálogo com Paulo é levado porele ao coração da fé: ao encontro vivo com Cristo crucificado e ressuscitado,até exclamar: “Já não sou eu que vivo; é Cristo que vive em mim”. Por isso,também a Igreja em Portugal marca um grande encontro com São Paulo,numa especial peregrinação a <strong>Fátima</strong> no dia 25 de Janeiro, festa litúrgica daconversão do apóstolo a Cristo.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 75


. escritos episcopais .2. Dentro do Ano Paulino, recordamos um outro acontecimento significativo:o Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus na vida e na missão daIgreja, que nos chama a atenção para a Primazia da Palavra de Deus na fé ena formação dos cristãos, a tal ponto que, como diz São Jerónimo, “ignoraras Escrituras é ignorar Cristo”.Convida-nos a tomar consciência de que Deus, na sua Palavra, se dirigepessoalmente a cada um de nós, fala ao coração de cada um. Se o nossocoração desperta e se abre o ouvido interior, então cada um pode aprender aouvir a Palavra dirigida, propositadamente, a ele. Esta Palavra tem uma vozque é a Revelação de Deus; tem um rosto que é Jesus Cristo; tem uma casaque é a Igreja e o coração de cada um; e tem um caminho que é a missão quea leva às várias estradas da vida e do mundo, onde se faz nossa companhia eluz. De um verdadeiro amor à Palavra de Deus esperamos uma primavera derenovação espiritual da Igreja!3. Na linha do Ano Paulino e do Sínodo sobre a Palavra de Deus insereseo percurso pastoral da nossa Igreja Diocesana, d<strong>ed</strong>icado à formação cristãem ordem à revitalização e crescimento da fé, da sua vivência espiritual e doseu testemunho, em tempos difíceis como os nossos. Para esse efeito, escreviuma carta pastoral: “Ir ao coração da fé: formar para uma fé adulta”.Trata-se de “ir ao coração da fé” para descobrir a sua riqueza, a sua beleza,o seu encanto, a sua alegria e a sua força irradiante. E com a descobertada beleza da fé, descobrir também a bondade e a beleza da vida. Por isso, aformação na fé é mais necessária que nunca em ordem a uma fé esclarecida,convicta, adulta. A ignorância religiosa é hoje o maior inimigo da fé.Também nesta perspectiva se insere a Visita Pastoral às paróquias queeste ano iniciámos e tem sido ocasião de um novo despertar da fé nas comunidades,do entusiasmo e da coragem de ser cristão e uma força criadora decomunhão.4. Voltando-nos agora para o nosso Santuário desejaria lembrar a comemoraçãodo centenário do nascimento do Beato Francisco Marto, exemplo decomo uma criança é capaz de “ir ao coração da fé”.Aqui queria fazer-vos uma confidência. Todos vós conheceis o meu particularafecto pelas crianças. Este meu afecto vem de Jesus no Evangelho, masaprofundou-se e alargou o seu horizonte no contacto com a Mensagem deNossa Senhora em <strong>Fátima</strong> confiada a três crianças. Foi o momento de tomarconsciência da importância do papel das crianças na história da salvação e76 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. escritos episcopais .do mundo. Relativamente ao Francisco é impressionante a capacidade daexperiência religiosa de Deus, o intenso amor e encanto pela beleza de Deus,a dimensão mística da fé, a coragem da fé frente às provações, a capacidad<strong>ed</strong>e evangelizar os outros. O centenário do seu nascimento não será um chamamentoa dar a devida importância às crianças e ao serviço que elas podemoferecer ao mundo e à Igreja?5. Em Setembro passado assistimos à passagem de testemunho no cargode Reitor do Santuário. Tivemos ocasião de dar graças pelos 35 anos deserviço d<strong>ed</strong>icado de Mons. Luciano Guerra ao Santuário de <strong>Fátima</strong>, que culminaram,simbolicamente, com a inauguração desta belíssima Igreja da SantíssimaTrindade. E dirigimos ao novo Reitor, P.e Dr. Virgílio Antunes, votosde bênção e de serviço fecundo para a nova missão. Exprimimos então o votode que o Santuário conserve sempre um rosto e um dinamismo missionáriospara não se r<strong>ed</strong>uzir a um mero “centro de serviços religiosos”.Hoje queria confidenciar-vos um sonho que trago comigo, a saber: que,com o tempo e a seu tempo, o Santuário possa oferecer um serviço de acolhimento,aconselhamento e acompanhamento a pessoas com problemas ou perturbaçõesde ordem psíquico-espiritual, com uma fragilidade interior a toda aprova e que, cada vez em maior número, batem à nossa porta. E também umoutro serviço de acolhimento e acompanhamento ao grupo dos “buscadoresde Deus”, isto é, de pessoas que se afastaram da fé e da sua prática, que aesqueceram, mas que, neste momento, andam à procura de encontrar-se comum Deus vivo que lhes dê outro sentido à vida.Documentos6. Sabemos bem que nunca acabaríamos de enumerar os dons do Senhore de captar o seu alcance de graça para a vida da Igreja e do mundo. Há tantosdons escondidos que não têm conta, nem contabilidade, nem visibilidade. Émotivo para tornar mais profunda a nossa gratidão.Muitas vezes, no escondimento querido pelas pessoas ou imposto pelosilêncio dos meios de comunicação, quanto bem quotidiano, humilde, desinteressado,generoso que não se rende diante das dificuldades:Quantos gestos de vida frente a factos e a fenómenos de morte;Quantos gestos de caridade e de justiça frente a antigas e novas pobrezas;Quantas formas de comunhão fraterna e de solidari<strong>ed</strong>ade frente a tantassolidões;Quantas intervenções de diálogo e de paz frente a tensões e conflitospermanentes;| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 77


. escritos episcopais .Quantos gestos de consolação para com quem vive angustiado ou desesperado.Estes gestos e tantos outros são obra do homem, fruto do seu amor paracom os outros. Mas, no fundo, são sinais de amor do próprio Deus para comos homens. São dons de Deus pelos quais lhe dizemos a nossa alegre e eternagratidão: “Nós te louvamos, ó Deus; nós te bendizemos, Senhor”!7. Enquanto se encerra 2008 e se antevê já a aurora de 2009, peçamos àMãe de Deus que nos obtenha o dom de uma fé adulta: uma fé semelhante àsua, uma fé límpida, genuína, humilde mas também corajosa, feita de alegriae entusiasmo por Deus, liberta de todo o fatalismo, e toda disponível a cooperarno projecto salvífico de Deus, com a certeza de que Deus não quer outracoisa que Amor e Vida verdadeira, sempre e para todos.Obtém-nos, ó Maria, com a tua intercessão, uma fé autêntica e pura.Obtém-nos um novo ano de paz interior, de paz familiar e de paz social.P<strong>ed</strong>imo-la sobretudo para a terra de Jesus ensanguentada pela guerra e pelamorte de tantos inocentes.Faz com que olhemos para o novo ano com os olhos da fé, da esperançae da caridade. Sê sempre louvada e bendita, ó Santa Maria, Mãe de Deus eMãe nossa. Ámen! Aleluia!Abençoado Ano Novo para todos vós aqui presentes e para todos os quevos são queridos!<strong>Fátima</strong>, 31 de Dezembro de 2008† António Marto,Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>78 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


Comunicado do Conselho PresbiteralProfessar, celebrar e viver a fé. diversos .O Conselho Presbiteral da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, sob a presidênciado Sr. Bispo, D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 24 de Junho, noSeminário Diocesano, para avaliar o Ano Pastoral e perspectivar o próximo,integrando as grandes iniciativas da Igreja Católica, tanto a nível nacionalcomo internacional, nomeadamente o Ano Paulino e o Sínodo dos Bispossobre A Palavra de Deus na vida e missão da Igreja, a realizar em Outubro.Os Conselheiros passaram em revista os principais momentos deste Anod<strong>ed</strong>icado à consolidação dos dinamismos criados no primeiro biénio do ProjectoPastoral sobre A Vocação Pessoal é Dom e Missão. Além de salientarema sua importância, referiram o bom acolhimento que as propostas lançadas(Carta Pastoral, Retiro Popular, Vigílias, Campanhas da Catequese...) tiveramjunto das comunidades, suscitando novas oportunidades para acolher, saboreare testemunhar a ternura de Deus.Num segundo momento e após breve introdução de D. António Marto,os membros do Conselho, tendo em conta o previsto para o primeiro ano dosegundo biénio do Projecto Pastoral – Testemunhar Cristo, fonte de Esperança– d<strong>ed</strong>icado ao aprofundamento da dimensão comunitário da fé, reflectiram sobreos caminhos a percorrer no próximo Ano Pastoral que terá como objectivocuidar da formação dos cristãos. Este cuidar, nas palavras de D. António, concretizar-se-áem três dimensões: a fé professada, a fé celebrada e a fé vivida.No diálogo que se seguiu, os membros do Conselho acentuaram duaslinhas de acção: por um lado, a formação cristã deverá levar à renovação dosdinamismos existentes; por outro, promover a coragem de inovar, na fidelidadeà Palavra de Deus e ao tempo que nos foi dado viver, segundo o exemplode São Paulo.Também se foi sentindo que as propostas da Igreja, vindas dos âmbitosnacional e internacional, são uma ajuda preciosa para lançar e articular, comos diversos níveis de acção pastoral da <strong>Diocese</strong>, um itinerário cristão deformação que responda aos novos desafios expressos numa diversidade desituações cada vez maior.O SecretariadoDocumentos| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 79


. diversos .Comunicado do Conselho Pastoral DiocesanoAno Pastoral d<strong>ed</strong>icado à formaçãoSob a presidência do Senhor Bispo, D. António Marto, no dia 4 de Outubro,no Seminário Diocesano, o Conselho Pastoral da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> teve como ponto principal da sua ordem de trabalhos “Perspectivasdo Ano Pastoral”. Assim, tendo em conta a temática prevista para este anopastoral 2008/09, d<strong>ed</strong>icado à formação dos cristãos para uma fé adulta, esclarecidae convicta, p<strong>ed</strong>ia-se aos conselheiros a apresentação e apreciação depropostas concretas e mais necessárias para o efeito, a partir da Carta Pastoral“Ir ao coração da Fé”.No dia em que a Igreja invoca a memória de São Francisco de Assis, D.António Marto, num momento de oração e m<strong>ed</strong>itação, deu início aos trabalhosreflectindo, a partir de um excerto da Epístola aos Efésios (Ef 4, 11-13),sobre a actual necessidade e importância da formação dos membros da Igrejae o apelo que Deus hoje nos lança: “Vai e reconstrói a minha Igreja”, o mesmolançado ao santo fundador da Ordem Franciscana.Seguidamente o Vigário Geral, padre Jorge Guarda, apresentou, de formasucinta, aos conselheiros presentes a Carta Pastoral “Ir ao coração da Fé” deD. António Marto e salientou as acções locais e diocesanas nela propostas,com o objectivo de formar os membros da Igreja Diocesana para uma féadulta.Os conselheiros foram depois convidados a reflectir, em pequenosgrupos, sobre as formas de implementar e levar por diante as propostas dareferida Carta Pastoral. No diálogo que se seguiu, os membros do Conselhoacentuaram a necessidade de sensibilizar as comunidades para a formaçãosólida na Fé. Assim, considerando que o trabalho deverá ser feito em r<strong>ed</strong>e,sugeriu-se a criação de equipas responsáveis pela formação nas diversas vigararias,que sejam o elo de ligação entre os organismos centrais da <strong>Diocese</strong> eas comunidades, além de gerirem os recursos humanos das respectivas paróquias.Também se considerou imprescindível preparar formadores em todosos campos, nomeadamente na liturgia, catequese e caridade. Porque a Igrejaprecisa de pessoas bem formadas e o investimento nos recursos humanos éo melhor que se pode fazer, nos orçamentos das comunidades deve constara formação. Concluindo, o senhor Bispo apelou aos membros do Conselho80 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. diversos .Pastoral Diocesano para que sejam impulsionadores das propostas feitas nassuas comunidades e advertiu que a sua Carta Pastoral não se esgotará aolongo deste ano.A terminar, houve um apelo à participação de todos os membros do Conselhona Assembleia Diocesana que se realizaria no dia seguinte, e marcaram-seas reuniões do próximo ano para 10 de Janeiro e 23 de Maio.O Secretariado PermanenteDocumentosComunicado do Conselho PresbiteralReorganização pastoral da <strong>Diocese</strong>O Conselho Presbiteral da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, sob a presidência doSr. Bispo, D. António Marto, reuniu-se na manhã do dia 28 de Outubro, noSeminário Diocesano, para iniciar a reflexão sobre a reorganização pastoralda <strong>Diocese</strong>, tendo em conta as suas necessidades e os desafios da nova evangelização.Depois do canto dos Salmos, os conselheiros, em quatro grupos, procuraramdiscernir a situação da <strong>Diocese</strong>, no que diz respeito aos meios humanosde que dispõe (clero e laicado) e propor caminhos a seguir.Já em plenário, os grupos fizeram-se eco da necessidade e delicadeza dotema, reconheceram a sua importância e apresentaram algumas propostas.No essencial, estas apontam para uma dupla forma de trabalhar: por um lado,gerir melhor os recursos humanos para atender às situações mais urgentes,e, por outro, pensar a <strong>Diocese</strong> a médio e longo prazo, começando por definirprincípios e identificar critérios que hão-de presidir à sua reorganizaçãopastoral.Na sua intervenção final, o Sr. Bispo agradeceu o trabalho do Conselhoe informou que nomeará uma Comissão para dar continuidade à reflexãoiniciada.O Secretariado| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 81


TemaAno Pastoral 2008–2009«Ir ao coração da Fé»Documento orientador: Carta Pastoral do Bispo Diocesano: “Ir ao Coração da Fé”Subsídios para estudo da Carta Pastoral: Guião de leitura, para CatequistasMotivo Condutor Caminhar com S. PauloAcções “paulinas”: • Criação de grupos para reflexão sobre escritos paulinos• Colecta para os pobres• Encerramento diocesano do “Ano Paulino”, no dia 28 JunhoObjectivo Geral Formar para uma fé adultaObjectivo Específico 1Intensificar a formação cristã de adultosInstrumentos: Itinerário catequético para uma síntese da féAcções locais: • “Escolas da Fé” para adultos• Cursos de iniciação à leitura da Bíblia ou “serões bíblicos”Acções diocesanas: • Curso sobre São Paulo orientado pelo CFC• Cursos de formação teológica no CFCObjectivo Específico 2Reacender a chama da fé e permanecer firmes nelaInstrumentos: • Guião para os grupos de “lectio divina”• “Lectio divina” com a Carta aos Romanos• Livro: “Um ano a caminhar com S. Paulo”Acções locais: • “Retiro popular”: grupos de “lectio divina” na Quaresma• Grupos de “lectio divina” na preparação das visitas pastorais• Constituir “grupos paulinos” para reflexão, partilha e oraçãoObjectivo Específico 3Cuidar da formação dos colaboradoresInstrumentos: (os mesmos dos objectivos anteriores)Acções locais: Encontros vicariais de formação e oração, com o BispoAcções diocesanas: • Escola “Razões da Esperança”• Curso para o clero sobre as comunidades paulinas• Reflexão e sensibilização sobre o diaconado permanente• Divulgação dos cursos de formação teológica do CFC82 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


Vida Eclesial. destaque . notícias . Santuário de <strong>Fátima</strong> .. serviços e movimentos . entrevistas .


. destaque .Assembleia diocesana“O melhor investimento que a Igrejapode fazer é na formação”Por Luís Miguel FerrazMais de 500 diocesanos participaram na assembleia que marcou o iníciodas actividades do novo ano pastoral de 2008-2009. Leigos, padres e religiosos,em representação das comunidades e serviços da <strong>Diocese</strong>, sintonizaramno mesmo tema e assumiram os mesmos objectivos, para que o projecto pastoral,em curso desde 2005, seja caminhada comum em todos os sectores daacção pastoral e em todo o território desta Igreja particular.LMFerrazVida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 85


. destaque .Resumo do passadoA sessão começou por uma breve retrospectiva do último ano, em quese aprofundaram as temáticas do acolhimento e da vocação, as mesmas quemarcaram o primeiro biénio do projecto pastoral. Em apresentação multimédia,foram passando em revista algumas das principais acções, tanto a níveldiocesano, como a nível do que algumas paróquias ou serviços sectoriaisprogramaram.Sem se pretender uma análise exaustiva, recordaram-se a inauguração daIgreja da Santíssima Trindade, a acção missionária do grupo Ondjoyetu, aordenação sacerdotal de Marcelo Cavalcante, várias iniciativas da pastoralvocacional, os jubileus vocacionais, vigílias de oração vocacional e outrosmomentos celebrativos, o Retiro Popular Quaresmal, sessões da lectio divinaque aconteceram um pouco por toda a <strong>Diocese</strong>, reuniões de programação pastoral,acções de formação do clero, conferências, colóquios, debates e outrasiniciativas de formação laical, sobretudo ao nível da Escola Razões da Esperança,acções culturais e de evangelização de várias instituições e serviços, aperegrinação diocesana a <strong>Fátima</strong>, a acção social da Cáritas, o acampamentoregional de escuteiros, a participação nas jornadas mundiais da juventude, atomada de posse dos novos reitor e administrador do Santuário de <strong>Fátima</strong>…O principal destaque foi para o início da visita pastoral à diocese, que D.António Marto iniciou na vigararia da Batalha e já se afirmou como momentoprivilegiado de proximidade do Pastor com os fiéis e com a vida social eeclesial das comunidades, levando a todos o testemunho vivo da “ternura doamor de Deus”.LMFerraz86 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. destaque .“Ir ao coração da f锓A vivência comunitária do Evangelho é o melhor anúncio”. Este lemada segunda fase temática do projecto pastoral, que vai no seu quarto ano,focaliza-se sobretudo na formação cristã, base da renovação das comunidades.E porque decorre o Ano de S. Paulo, escolheu-se a frase do Apóstolo,“Permanecei firmes e sólidos na fé” (Col 1, 23) para explicitar o subtema doano, “Ir ao coração da Fé”.Intensificar a formação cristã de adultos; reacender a chama da fé e permanecerfirmes nela; cuidar da formação dos colaboradores. Para o cumprimentode cada uma destas vertentes do objectivo último de “Formar para umaFé adulta”, preparam-se instrumentos de trabalho e propostas de acção, queforam apresentadas pelo vigário-geral da <strong>Diocese</strong>, padre Jorge Guarda.O momento central do encontro foi a apresentação da Carta Pastoral “Irao coração da fé”, em que o Bispo diocesano faz uma reflexão sobre a urgênciada formação cristã no contexto da soci<strong>ed</strong>ade actual, indica como modelode caminhada o percurso de formação na fé do apóstolo S. Paulo, e aponta asorientações gerais para este ano pastoral.A formação no topo das prioridadesApelando ao “entusiasmo e ousadia” dos agentes pastorais presentes naassembleia, D. António Marto lembrou a “exigência do mundo moderno,caracterizado pela ignorância e relativismo religiosos”, em que “a formaçãoé um caminho primordialpara que os cristãos saibamdar as razões da suafé adulta e esclarecida”.E afirmou que “a faltade familiaridade com aPalavra de Deus, a incapacidad<strong>ed</strong>a maioriados cristãos de lerem ecompreenderem a Bíblia,é uma das vergonhas danossa Igreja”, adiantandoque esta sua maneirade falar sem rodeios das“situações negras” quevivemos não é por pessi-Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 87


. destaque .mismo, mas sim uma forma de “chocar, de tocar um alarme que nos acord<strong>ed</strong>o marasmo”.Na mesma linha, o Pastor defendeu a importância do tema deste ano,considerando que “o melhor investimento da Igreja é na formação dos seusmembros, padres e leigos”. Desde as catequeses de infância e adolescênciaaté à <strong>ed</strong>ucação permanente dos adultos, “temos de investir na qualidade daoferta formativa, pois precisamos de gente espiritualmente e intelectualmentebem preparada”.Na celebração eucarística que encerrou esta jornada, o Bispo diocesanovoltou a frisar a importância de cada um dos agentes pastorais assumir o papelque lhe compete, na “autenticidade da resposta ao chamamento de Deusque convida permanentemente cada um a trabalhar na Sua vinha”. E o segr<strong>ed</strong>opara essa resposta está em “conhecer verdadeiramente Jesus Cristo comoSalvador, dando primazia à Sua Palavra e colocando o Evangelho no centroda vida, para descobrir a novidade, beleza e riqueza da Sua mensagem”, concluiuD. António Marto.O último acto da celebração foi a entrega de um ícone de S. Paulo aosrepresentantes da vigararia de Ourém, uma imagem que irá percorrer todasas paróquias durante o ano pastoral, como sinal da unidade em torno desteobjectivo comum, especialmente visível aquando da realização dos encontrosde formação que cada vigararia irá realizar sob a presidência do Bispo.LMFerraz88 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. destaque .Tomadas de posse no Santuário de <strong>Fátima</strong>No “coração mariano de Portugal”o apelo a “ir ao coração da fé”Por Luís Miguel FerrazA 25 de Setembro, o padre Virgílio do Nascimento Antunes assumiu areitoria do Santuário de <strong>Fátima</strong>.A celebração decorreu na igreja da Santíssima Trindade, presidida por D.António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, com a participação de três Bisposeméritos, cerca de uma centena de sacerdotes e várias centenas de fiéis, napresença das principais autoridades civis e militares da região. Na mesmacelebração, o padre Cristiano Saraiva assumiu o cargo de administrador doSantuário, função que acumula com a de ecónomo da <strong>Diocese</strong>, e celebraram-seos jubileus sacerdotais dos padres Virgílio da Silva (50 anos) e JorgeManuel Faria Guarda (25 anos).Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 89


. destaque .“Este é um dia especial para a <strong>Diocese</strong>”, começou por referir D. AntónioMarto, centrando a sua homilia no “agradecimento alegre pelo dom do sacerdócio”,no apelo a “voltarmos de novo ao coração da vida sacerdotal, que éser-se habitado por Deus” e no estímulo a um “renovado impulso na missãoevangélica”, os três sentimentos que apresentou como fundamentais nestacelebração jubilar. “O Senhor chama-nos a viver este tempo como «tempoprovidencial», para encontrarmos de novo a autenticidade e o coração da fé”,sintetizou.Passagem de testemunhoO acto simbólico da tomada de posse dos novos reitor e administradordo santuário, inserido nos ritos finais da celebração, deu-se com a leitura dosdecretos de nomeação, a assinatura dos respectivos textos de compromisso ea entrega das chaves da reitoria por monsenhor Luciano Guerra, que ocupavao cargo desde 1973, ao padre Virgílio Antunes.D. António Marto manifestou gratidão e reconhecimento ao ex-reitor portodos os serviços prestados ao longo dos últimos 35 anos, com “sab<strong>ed</strong>oriaprudente, zelo incansável, inteira d<strong>ed</strong>icação e seri<strong>ed</strong>ade, capacidade empreend<strong>ed</strong>ora,lealdade ao serviço eclesial e uma devoção mariana profunda eesclarecida”.Referindo-se depois ao novo estatuto de “Santuário Nacional” que esteespaço passa a deter, o Bispo diocesano salientou a sua projecção mundial,com mais de 5 milhões de peregrinos anuais, classificando-o como “um verdadeirooásis espiritual, de encanto, frescura interior e paz, o coração marianode Portugal, lugar privilegiado para o acolhimento da reconciliação e santificaçãodo povo, lugar de esperança e de revitalização da fé”.Dirigindo-se ao novo reitor, o prelado felicitou-o pela nomeação, quemereceu a aprovação unânime da Conferência Episcopal, mas alertou paraa responsabilidade de não se r<strong>ed</strong>uzir o Santuário a “mero centro de serviçosreligiosos”, antes um lugar de resposta às novas exigências de uma soci<strong>ed</strong>adecaracterizada pela “debilidade do pensamento, precari<strong>ed</strong>ade dos afectose relativismo moral”, de modo que “tudo o que é oferecido seja para bemdos peregrinos”, não perdendo de vista que “a grande lição de <strong>Fátima</strong> é quea oração é sempre a arma mais forte, mesmo no campo da história, para aconversão dos corações e a paz entre os povos”.Na sua primeira alocução oficial, o padre Virgílio Antunes começou poragradecer aos familiares, amigos e a todos os que o ajudaram e confiaramnele para esta missão, e desejou que “não faltem ao Santuário os meios huma-90 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. destaque .nos, concretamente os sacerdotes, para o seu serviço”, de modo a responderaos desafios que lhe são colocados. Referindo a sua ligação a <strong>Fátima</strong> desdeos tempos de criança, confessou admirar a força deste espaço como “algo quenos comove e nos ultrapassa, algo que os homens não controlam”. E quantoao futuro, agradeceu o legado de monsenhor Luciano Guerra, cuja d<strong>ed</strong>icaçãoafirmou admirar, e defendeu que terá “a marca da continuidade, para que tenhaa marca da fidelidade à história e ao Deus que a conduz”. A palavra finalfoi para os peregrinos: “Vós sois a razão de ser de tudo o que aqui se propõe,se anuncia e se vive; queremos ser pequenos instrumentos que vos ajudem aoencontro com Deus através da figura de Maria”.ConsagraçãoJá na Capelinha das Aparições, o ex-reitor agradeceu à Virgem as graçasrecebidas, que poeticamente resumiu no “dom das lágrimas, que tantas vezespude contemplar, no meio da multidão e no oásis desta Capelinha: lágrimasde alegria, nas promessas cumpridas; muitas e muitas lágrimas de solidão,clamando por sinais de fraternidade; lágrimas de arrependimento, que proclamama alegria do perdão”. E deixou também uma palavra de gratidão àsentidades oficiais, comerciantes, funcionários, sacerdotes e peregrinos emgeral, que com ele colaboraram nesta missão de mais de três décadas.Num último gesto, o novo reitor, dirigindo-se também à imagem de NossaSenhora de <strong>Fátima</strong>, fez a sua consagração:“Neste dia tão especial, diante da vossa singela capela e da vossa brancaimagem, a vós nos consagramos.Nas vossas mãos entregamos ovosso santuário, a vós oferecemostodos os projectos e programas.A vós suplicamos auxílio eprotecção, para que seja difundidaa vossa mensagem, para quetriunfe o vosso coração imaculado,para que encontrem salvaçãoos vossos peregrinos. A vós consagramostodos os colaboradores,os sacerdotes, os assalariados, osvoluntários. Abençoai as nossaspessoas e todas as nossas acções.Ámen”.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 91


Visita Pastoral à <strong>Diocese</strong>. especial . visita pastoral .“Sinal visível da presença de Cristo”D. António Marto iniciou a 15 de Outubro a segunda fase da Visita Pastoralà <strong>Diocese</strong>. Depois da abertura deste périplo, na vigaria da Batalha, noinício do ano, seguiu-se a vigararia de Porto de Mós. Sob o lema “O Bispofaz-se sinal visível da presença de Cristo que visita o seu povo na paz”, oPastor percorreu as paróquias de Alqueidão da Serra (de 16 a 19 de Outubro),Alvados, Mira de Aire, Serra de S. António e S. Bento (de 22 de Outubro a2 de Novembro), Minde (de 6 a 9 de Novembro), Arrimal, Mendiga e SerroVentoso (de 20 a 30 de Novembro), Alcaria (de 5 a 7 de Dezembro) e Portode Mós (de 10 a 14 de Dezembro).Prosseguindo o acompanhamento da visita, damos conta de uma primeiraleitura dos párocos acerca do modo como decorreu e do que dela resulta demais importante, continuando a trazer à revista <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> as entrevistaspublicadas na ocasião no jornal O Mensageiro. Manteremos as mesmas perguntasque voltarão a ser colocadas a cada um:1. Que pensa desta iniciativa de o Bispo diocesano fazer uma visita pastorala todas as paróquias?2. Como se preparou a comunidade para receber o Bispo?3. Qual foi o critério na elaboração do programa?4. De forma geral, como decorreu a visita?5. Houve algum momento especial que queira destacar?6. Qual a principal mensagem ou marca deixada por D. António Marto?7. Quais as expectativas criadas a partir da Visita Pastoral?8. Foi já definida alguma prioridade pastoral ou tomada alguma decisãoem ordem à renovação da dinâmica paroquial?Vida EclesialPadre José Frazão, pároco do Alqueidão da Serra1. A vinda do Bispo diocesano à paróquia é uma excelente oportunidad<strong>ed</strong>e contacto directo com o Povo de Deus, presente nesta comunidade, que éuma simples parcela da realidade maior da <strong>Diocese</strong>, confiada aos seus cui-| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 93


. especial . visita pastoral .dados de Pastor, embora, por delegação, entregue aquem o representa, o pároco.2. Para além do simples anúncio público e daentrega ao domicílio do desdobrável com o calendáriovicarial da visita pastoral, houve uma primeirareunião alargada a todos os organismos pastorais daparóquia, com a presença das respectivas direcções.A partir daí desencadeou-se um processo de constituiçãode grupos de Lectio Divina, que ajudaram acriar uma sensibilização crescente e maior espíritode Igreja. A expectativa e a receptividade iam aumentando.Além disso, na regularidade dos encontros com os diversos grupos deCatequese, ACR, Vicentinos, Apostolado da Oração, JOC, Movimento Esperançae Vida, Ministros Extraordinários da Comunhão, etc. o anúncio davisita pastoral ia sendo feito, de maneira directa e indirecta, apurando e mobilizandosensibilidades.Fez-se ainda um forte apelo à oração pessoal, familiar, em grupo e emcomunidade, pelo melhor proveito humano e espiritual deste momento únicode graça.Em termos de sensibilização devo salientar não só a divulgação doprograma em diversos locais de maior afluência e referência pública, mastambém a possibilidade de cada pessoa poder ter consigo um exemplar doprograma largamente distribuído.3. A partir das ideias colhidas numa primeira reunião aberta a todos, chegou-sea um esboço de programa que depois, num segundo encontro, voltoua ser apreciado e reajustado de modo a dar melhor conta da realidade, não sóreligiosa, mas também sócio-económica, geográfica e cultural da paróquia.Posteriormente apresentado ao senhor Bispo, que o ratificou, proc<strong>ed</strong>eu-se àsua divulgação à escala máxima.4. A visita correu bastante bem, de forma agradável e leve. A aceitação eparticipação foram as melhores. Convocadas por sectores, as pessoas correspondiame mostravam a sua alegria. Do mesmo modo, foi clara a satisfaçãomanifestada pelas diferentes colectividades e organismos que D. António fezquestão de visitar.5. É-me difícil destacar um momento sem me arriscar a desconsiderar oque terá sido mais importante e digno de registo para outros. Ainda assim,permito-me destacar o encontro com os cabouqueiros (cortadores de p<strong>ed</strong>ra), eo diálogo com estes conhec<strong>ed</strong>ores da riqueza da p<strong>ed</strong>ra e da arte de a trabalhar.94 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. especial . visita pastoral .Puderam falar dos seus anseios no meio das imposições feitas ao seu sectorlaboral, que sentem demasiado pesadas para quem dá o melhor de si, pelosseus e pela arte que conhecem como ninguém.Destacaria ainda a celebração dos doentes e idosos, com a administraçãoda Santa Unção a 48 pessoas, e, na mesma linha, a visita aos dois lares deidosos da paróquia, sem esquecer a visita ao Centro de Dia onde o SenhorBispo almoçou com os utentes e demais pessoas.Também não posso esquecer a visita às escolas do pré-escolar e do 1º ciclo,aos “amiguitos e amiguitas” que guardam a melhor recordação e amizadeao Bispo amigo que acolheram com as suas músicas e presentearam com osseus desenhos.D. António Marto também não esquecerá a descoberta dos principaispontos turísticos e culturais da freguesia, com a ajuda dos apontamentoshistóricos do professor Carlos Vieira.Entretanto, a apoteose deu-se na Eucaristia final, com a administração doCrisma a 19 jovens e as bodas de ouro matrimoniais de um casal.Depois de ofertas várias, além de outras ocorridas ao longo dos dias, seguiu-seum lanche de convívio, seguiu-se um lanche de convívio em perfeitasintonia com os sentimentos que uniram as pessoas entre si e na sua relaçãoe estima para com o Pastor.6. Tudo foi mensagem: na palavra, nos gestos, na presença, na relaçãohumana, fraterna e amiga, gerando uma verdadeira empatia e confiança qu<strong>ed</strong>ificilmente deixa indiferente quem quer que seja, incluindo, porventura, osmais distraídos, arr<strong>ed</strong>ios, indiferentes ou descrentes…No respeito pelas mais diferentes sensibilidades e reconhecendo comapreço o contributo válido de cada um na construção de uma soci<strong>ed</strong>ademelhor, foi também particularmente notável, digno e elevado o encontrocom as diversas colectividades e associações. Estabeleceu-se um diálogocordial, confiante e aberto, com desafios a uma unidade plural, capaz de umaintegração de todos na consideração e respeito pela validade dos seus diferentescontributos, em ordem a um empenhamento colectivo e orgânico pelacomparticipação corresponsável de uma soci<strong>ed</strong>ade chamada à comunhão, àunidade e ao crescimento, na aceitação do contributo válido de cada um coma riqueza da sua participação específica.Foi particularmente notável e fortemente sonante o apelo final: “Abri asportas do vosso coração a Cristo e ao seu amor por todos vós…”, em consonânciacom o destaque dado à importância e necessidade de um cada vezmaior conhecimento da Palavra de Deus e da progressiva formação cristã deVida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 95


. especial . visita pastoral .todos.7. Em termos de expectativas, fica, sem dúvida, o desejo de maior unidadee comunhão para um melhor bem-estar humano, social e eclesial.8. Teremos de reunir, sem perda de tempo, de energia e de entusiasmo,para, numa expressão alargada de comunhão com todos, nos tornarmos naquiloque somos chamados a ser, a Igreja de Jesus Cristo, na certeza de queEle a todos ama e chama para o melhor serviço à pessoa humana.Padre Manuel Peixoto, pároco de Mira de Aire,Alvados, S. Bento e Serra de Santo António1. É a melhor das iniciativas. A Igreja, na pessoado Bispo, ou melhor, Cristo, na pessoa do Bispo,desce visivelmente ao meio do povo. Cheias deentusiasmo, as pessoas exclamam que nunca se viucoisa semelhante.2. A preparação fez-se, espiritualmente, atravésda oração da Lectio Divina… Depois elaborou-seum programa para as quatro paróquias, que, depoisde aprovado pelo Senhor Bispo, foi distribuído de casa em casa. Enviaram-seconvites às várias associações e aos empresários… só a estes escreveram-secerca de 100 cartas também entregues pessoalmente.3. Na elaboração do programa teve-se em conta que o Senhor Bispo nãovinha ver monumentos nem em visita de cortesia mas, sendo pastor de todos,desejava encontrar-se com as pessoas e os grupos, com os que estão dentroda Igreja e os que vivem mais ou menos fora. Tivemos a preocupação de quea presença do Bispo servisse para uma maior aproximação da Igreja ao povoajudando a fazer desaparecer a ideia da distância que por vezes se vive, e adespertar muitos que apenas se abeiram para casar, baptizar um filho, ou terfuneral religioso.4. A vista correu muito bem. Toda a gente está contente, mesmo toda. Acorrespondência foi grande. Não foi perfeito…mas muitíssimo bom. É deacentuar a pontualidade de todos, algo que muitíssimo aprecio.5. De entre os vários momentos destacaria a visita às escolas de Mira deAire, a celebração com os idosos e doentes, o encontro inter-paroquial decatequistas (Mira, Alvados, Serra de Santo António, S. Bento) e os diversosencontros com as crianças e adolescentes da catequese. De tantas coisas96 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. especial . visita pastoral .comoventes, realçaria ainda a visita particular a duas doentes em Alvados.Quer do lado das doentes, quer do lado do Bispo, foi um verdadeiro encontrode Cristo. Via-se nos olhos dessas doentes, que foi mesmo uma inesperada efelicíssima surpresa!6. Porque as marcas parecem tantas e tão profundas, é difícil destacaralgumas. A primeira terá sido o optimismo e a alegria de se ser cristão, contrariandotanta lamúria que há por aí. O Bispo disse claramente, e isso ficounas memórias e nos corações, que não vinha alimentar lamúrias mas fazer vero lado positivo das coisas. A nossa fé é uma mais-valia.Depois, deu-nos uma imagem daquilo que Jesus é, tão perto de todos, sobretudodas crianças, dos doentes e dos idosos. Quer uns quer outros ficaramradiantes e até muito comovidos. Pudemos dizer: Cristo veio até nós!Por fim, deixou-nos uma mensagem de encorajamento. Cada paróquiaouviu o apelo: “Ó querida comunidade de Mira de Aire, da Serra de SantoAntónio, de S. Bento, de Alvados: coragem, abre as portas a Jesus Cristo!Não tenhas m<strong>ed</strong>o!”7. Criaram-se excelentes expectativas. As paróquias não serão como antes.Os objectivos de reavivar a fé adormecida, renovar a vida cristã, viver aalegria da comunhão, de libertação do m<strong>ed</strong>o, encorajamento nas dificuldades,superação das divisões, alegria e coragem no testemunho do Evangelho, estãoao alcance, diria mesmo, estão em acção. Assim sejamos capazes de oslevar por diante.8. Em ordem ao aprofundamento e renovação, iremos insistir, nomeadamentena Lectio divina que desejamos seja descoberta por um númerocrescente de pessoas.Vida EclesialPadre Albino da Luz Carreira, pároco de Minde1. Porque a nossa Igreja diocesana foi confiadaao nosso Bispo, é ele que tem a missão de nos conduzircomo nosso pastor, em nome do Senhor JesusCristo, sob a autoridade do Sumo Pontífice. Sendoo pároco apenas colaborador do Bispo, a quem esteconfia o cuidado da comunidade paroquial, no exercíciodo único sacerdócio de Cristo, a presença episcopalé momento privilegiado e grande testemunhode d<strong>ed</strong>icação à maneira de Jesus, o Bom Pastor. A| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 97


. especial . visita pastoral .vinda do nosso Bispo é sempre uma presença visível do Cristo invisível.2. Se «A oração é a alma de todo o apostolado» e o Espírito Santo é a«alma e o coração da Igreja», como dizia o Santo Padre Pio XI, era forçosocomeçar a preparação desencadeando um clima de oração em toda a paróquia.Para isso recorremos à Lectio divina, tão recomendada pelo SenhorBispo, ao terço e a outras orações particulares e comunitárias.Em simultâneo, formou-se uma equipa para preparação do programa que,através do “Jornal de Minde” e de uma distribuição pessoal, havia de chegara todas as famílias, juntamente com a carta de anúncio da visita.3. Na elaboração do programa tivemos presentes as orientações de BentoXVI aos Bispos, na sua visita “Ad Sacra Limina”, em 19/11/2007: “Que ospadres sejam padres e que os leigos sejam leigos”. Os leigos também sãoresponsáveis por tornar “Deus presente na soci<strong>ed</strong>ade e na família”. Por seulado, o Senhor D. António, numa comunicação aos párocos, dizia: “Trabalhaimenos, trabalhai melhor, trabalhai mais unidos”. Com estas orientaçõesacr<strong>ed</strong>itámos poder confirmar o provérbio: “Se queres chegar depressa, corresozinho; se queres chegar longe, corre juntamente com outros”. Acabou otempo do pároco auto-suficiente que tudo resolve sozinho. Aliás, hoje issoé impossível. Em pastoral litúrgica, formação da fé, pastoral dos jovens, dafamília, da caridade, cultura, saúde… só se pode trabalhar em cooperação.Porque Jesus veio para todos e ama a todos, o programa foi elaborado demodo que a visita atingisse todos os paroquianos, praticantes ou não. Certosde que “é a oração profunda que nos confere a certeza de que vale a pena colocar-seao serviço, trabalhando pela Igreja, pelas almas e pelo Reino, sob asbênçãos do Pai”, enviámos o programa ao Senhor Bispo, que o aprovou.4. Começou com esta saudação do povo: “Salvé, salvé, ó eleito de Cristo,mensageiro da paz e do amor”. E terminou desta forma, por parte do SenhorBispo: “Salvé, ó povo santo, abri as portas do vosso coração ao Senhor. Parto,mas levo-vos a todos no coração”. Ao que foi logo respondido: “As portasdo nosso coração já estão abertas. Também fica no nosso coração. O nossoobrigado à maneira de Minde: volte sempre”.Esta maneira de falar tão coloquial manifesta bem a proximidade criada, aamizade franca e cordial e o bom ambiente que deixou todos contentes.Os objectivos propostos pelo Senhor Bispo na sua recepção foram conseguidos:“Contactar com todos, olhos nos olhos, coração a coração, transmitirconforto espiritual às famílias, aos organismos da Igreja e a toda a comunidade,e proporcionar um novo impulso, ardor, e mais-valia à fé e a uma vida decomunhão onde todos se sintam unidos pelos vínculos espirituais da carida-98 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. especial . visita pastoral .de”. Além dos organismos da Igreja, os mesmos objectivos foram escutadospelas colectividades, empresários e autoridades da freguesia.5. Destacarei especialmente o encontro com os conselhos e comissões detoda a paróquia, pelo testemunho de unidade e capacidade de acção, o diálogodo Senhor Bispo com os crismandos e com as crianças e adolescentes nacreche, nas escolas e na catequese, e ainda a sessão com representantes dos14 movimentos e sectores da paróquia durante a qual cada um expôs a acçãoapostólica desenvolvida e os problemas e expectativas que vão vivendo. Sãode salientar ainda a visita ao Vitória Clube Mindense, ao Conservatório deMúsica, aos Bombeiros, ao Rancho Folclórico do Covão do Coelho e, demodo especial, ao Lar de Idosos onde cumprimentou os utentes um por um.Foram muito ricas as celebrações: a do Vale Alto, que se centrou na figurade S. Paulo e contou com a presença dos crismandos e de cristãos de toda aparóquia; a do Covão do Coelho, muito participada e animada pelo grupo coralda terra; e, de modo especial a celebração do domingo, na igreja paroquial,em que foram crismados 28 jovens e adultos, a encerrar a visita pastoral.6. D. António deixou em todos a forte impressão dum pastor próximo doseu povo, sempre com um sorriso e uma palavra amiga de acolhimento paratodos, nas visitas programadas ou em plena rua.D. António chamou mais uma vez a atenção para o grave problema daignorância religiosa, “chaga da Igreja”, e por isso insistiu na necessidade dese desenvolver a formação cristã em todas as idades. A partir da passagem daexpulsão dos vendilhões do templo, referiu ainda o problema duma religiãomercantilista, baseada numa atitude comercial para com Deus, à qual é precisoopor um amor desinteressado, sem qualquer desejo de lucro. Falou damudança dos tempos, que proporcionou a vergonha de ser cristão, contra aqual é urgente lutar, pela coragem do testemunho. Assinalou a necessidade doenriquecimento espiritual, o mais importante da vida.7. Como expectativas mais fortes, ficaram a esperança de uma caminhadaprogressiva, na linha da novidade na continuidade, rumo a maior união entreos diversos centros, sectores e pessoas da paróquia; o desejo de uma comunidademais eucarística, empenhada na escuta prática da Palavra, quer vença osmeros limites dos preceitos, obrigações e proibições. Uma vida de comunhãofraterna, sem conflitos nem rixas, permita a feliz experiência de “como é bome agradável encontrarmo-nos entre irmãos”.8. Embora ainda não tenhamos analisado a visita, é nosso desejo dar prioridadeà Palavra de Deus. Deste modo, realizar-se-á na Quaresma um cursobíblico sobre S. Paulo; tentaremos introduzir o Curso Alpha, como modo deVida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 99


. especial . visita pastoral .r<strong>ed</strong>escobrir a fé cristã; iremos incrementar a prática da missa dominical e fomentara interioridade através dum retiro destinado sobretudo a pessoas maisnovas. Não é uma meta fácil, mas alenta-nos o o apelo do nosso Bispo para opresente ano pastoral, “Permanecei firmes e sólidos na fé”, e a palavra segurade S. Paulo: “Tudo posso n’Aquele que me conforta”.Padre Orlandino Bom, pároco de Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso1. Vejo a visita pastoral numa dupla perspectiva.Por parte do nosso Bispo, é resposta ao desafio doMestre e Bom Pastor que conhece as suas ovelhas.Veio celebrar, conviver e aprofundar a fé com o seupovo. Aproximou-se dos cristãos, nos lugares ondea sua fé acontece. Da parte do povo de Arrimal,Mendiga e Serro Ventoso, foi uma oportunidade ímparde contacto com o lado mais humano do seu Bispoque, na simplicidade exterior, manifestou umaprofundidade interior que tocou até os mais frios <strong>ed</strong>istantes. É uma iniciativa a continuar, ainda que emmoldes mais suaves, porque um ritmo de duas visitas pastorais de dois mesesnum só ano, com a intensidade que se viu na Vigararia, me pareceu demasiadodesgastante para um Bispo que tem ao seu cuidado toda a <strong>Diocese</strong>.2. Logo na preparação, houve a perspectiva do enquadramento de cadaparóquia num todo formado por três: Arrimal, Mendiga e Serro Ventoso. Nãohouve um só dia destinado apenas a uma mas olhou-se sempre para o conjunto.As comunidades paroquiais começaram a ter maior consciência da visitapastoral quando, a partir de Julho, se inseriu uma prece na Oração dos Fiéisda Eucaristia dominical, a p<strong>ed</strong>ir que esta actividade fosse um momento deGraça. Constituíram-se também 14 grupos de Lectio Divina e, um mês antesda visita, chegaram a cada casa o anúncio e o programa da visita.No início do ano pastoral, houve uma reunião geral de pais com umacatequese sobre a <strong>Diocese</strong>, o Bispo e a Visita Pastoral. Ainda em Outubro,convocou-se a assembleia de cada paróquia para cada serviço e movimentopoder partilhar o seu trabalho, inquietações e esperanças. Entretanto, os catequistastrabalhavam com as crianças e adolescentes com base nos textos daLectio divina e preparavam em conjunto uma apresentação multimédia dosseus trabalhos.100 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. especial . visita pastoral .Também os crismandos tiveram encontros com o pároco e com o SenhorBispo, oito dias antes do Crisma, enquanto os jovens preparavam um temaque haveriam de apresentar e as zeladoras da Sagrada Família das três paróquiaspreparavam a celebração com os doentes e idosos, incluindo a administraçãoda Santa Unção. Às comissões das igrejas coube a distribuição da cartae a preparação dos convívios, e aos grupos corais o cuidado das celebrações.Estou convicto de que houve outra preparação, ainda mais importante eprofunda, no silêncio da oração de cada um, de cada família e de cada grupo.3. Tratando-se da sua primeira visita, houve a preocupação de que D.António Marto estivesse em todos as celebrações e que houvesse distribuiçãoequilibrada entre celebrações, convívios e reuniões. Em cada paróquia haveriauma celebração mais forte – bênção da igreja de Chão das Pias (SerroVentoso), Santa Unção no Arrimal e Crisma na Mendiga – e as celebrações eencontros seriam sempre que possível inter paroquiais. Isso aconteceu com aSanta Unção, com o Crisma, os nos encontros com adolescentes, crismandos,jovens e casais. Realizaram-se ainda encontros com todas as faixas etárias,em horários adequados.4. Na sua preparação e execução, a avaliação geral é positiva. Fica agorapor saber o que, como comunidades cristãs, saberemos aproveitar destetempo de graça que nos foi dado viver com o nosso Bispo que, como o BomPastor, visitou o seu povo.5. Qual o momento a destacar? A pergunta foi feita ao nosso Bispo poruma criança. D. António salientou dois momentos: a celebração com os doentese idosos e os encontros com as crianças. Como pároco e pelo empenhono acompanhamento às famílias, considero muito rico o encontro com casais.D. António fez então um apelo à descoberta da alegria da vida familiar econjugal. Todos, até os que habitualmente não participam muito na vida dascomunidades, se sentiram tocados pela mensagem de esperança e pelo altoapreço que D. António manifestou pela vivência do sacramento do Matrimónio.Foi um momento especial, em que ouvimos a voz do Pastor a abordar abeleza de um estado de vida tão desacr<strong>ed</strong>itado pelos meios de comunicaçãosocial e pelas políticas facilitistas do nosso tempo.6. A grande mensagem que D. António Marto deixou foi o desafio às comunidadespara viverem a alegria da fé. Um convite à r<strong>ed</strong>escoberta do essencialda fé no encontro pessoal com Jesus Cristo. A fé é uma relação que deveser alimentada ao longo da vida e diversamente consoante a etapa em que seestá. Cada pessoa e cada comunidade precisam de descobrir e acolher a luz dafé para cada situação de vida e para a novidade que cada etapa vai trazendo.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 101


. especial . visita pastoral .Padre Isidro Alberto, pároco de Alcaria e Porto de Mós1. Além de ser um desejo pessoal, a visita donosso bispo inscreve-se no desempenho directo dasua missão. Como lemos no Catecismo da IgrejaCatólica, “a consagração episcopal confere a plenitud<strong>ed</strong>o Sacramento da Ordem” (nº 1557) e “juntamentecom o poder de santificar, confere tambémos poderes de ensinar e governar” (idem). De facto,“a graça do Espírito Santo é dada e é impresso ocarácter sagrado, de tal modo que os bispos representam,de uma forma eminente e visível, o próprioCristo, Mestre, Pastor e Pontífice, e actuam em vezd’Ele (…). Por isso, pelo Espírito Santo, que lhes foi dado, os bispos foramconsagrados verdadeiros e autênticos mestres da fé, pontífices e pastores (nº1558). Cada bispo tem, como vigário de Cristo que é, o encargo pastoral daigreja particular que lhe foi confiada. Mas, ao mesmo tempo, colegialmentecom todos os seus irmãos no episcopal, partilha a solicitude por todas as Igrejas.Se cada bispo é pastor propriamente dito apenas da porção do rebanhoque foi confiada aos seus cuidados, a sua qualidade de legítimo sucessor dosApóstolos, por instituição divina, torna-o solidamente responsável da missãoapostólica da Igreja (nº 1560). Por tudo isto, “a Eucaristia celebrada pelo bispo,tem um significado muito especial como expressão da Igreja reunida emtorno do altar sob a presidência daquele que representa visivelmente a CristoBom Pastor e cabeça da Sua Igreja” (nº 1561).2. Durante a preparação, distribuímos a carta do Sr. Bispo em todas ascasas, constituíram-se vários grupos da Lectio Divina, mobilizaram-se aspessoas ligadas aos serviços e organismos das Paróquias, rezou-se nas Eucaristiasa oração pela Visita pastoral, fez-se divulgação na rádio «Dom Fuas»,e no jornal «O Portomosense».3. O programa da Visita foi elaborado pelo Conselho Pastoral, atendendoàs características das Paróquias, e depois apresentado ao Sr. Bispo para aprovação.Deu-se prioridade ao encontro pessoal com as pessoas envolvidas nacatequese, catequizandos, pais e catequistas, crismandos, jovens, comissõesdas Igrejas, professores das Escolas Básicas, Ciclo e Secundária de Porto deMós, casais e famílias, autarcas da Vigararia, Conselhos pastorais paroquiais,Conselhos económicos paroquias, Conferência de S. Vicente de Paulo, RenovamentoCarismático, Associação da Sagrada Família, ministros da Co-102 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. especial . visita pastoral .munhão, leitores, grupos corais, acólitos, escuteiros, doentes e idosos. Todosos encontros terminaram num convívio onde o contacto com D. António,sempre solícito e amável, era constantemente solicitado.4. O cumprimento do programa exc<strong>ed</strong>eu em muito as expectativas, graçasà boa coordenação e colaboração de todos. O Sr. Bispo foi inexc<strong>ed</strong>ível na suaatenção a todos.5. Foram muitas as mensagens deixadas pelo Senhor Bispo: a alegria deser cristão, encarar a vida humana e cristã pela positiva, a mais valia da féem Jesus Cristo que está presente em todos sobretudo nas crianças, doentes,idosos e mais pobres. Só precisamos de O reconhecer.6. Mas, o principal e mais impressionante desafio deixado pelo SenhorBispo foi este: «Alcaria, S. João Batista e S. P<strong>ed</strong>ro, de Porto de Mós, coragem!Abri as portas a Jesus Cristo! Não tenhais m<strong>ed</strong>o!».7. A Visita Pastoral do Sr. Bispo foi como um relâmpago, cheio de muitaluz, calor humano, oração, partilha, convívio, alegria, presença e emoção doVisitante e dos Visitados. A mensagem ficou. É agora necessário desenvolvêlae aplicá-la à vida concreta das Paróquias, na evangelização, no culto e nacaridade.8. O alerta do Sr. Bispo foi muito forte e muito sentido: a formação cristãé a grande prioridade.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 103


. notícias .CFC – Formação para a vida religiosaNo dia 8 de Outubro, D. António Marto presidiu, na capela da Ressurreição,no Santuário de <strong>Fátima</strong>, à Eucaristia de abertura do ano académicodo ciclo de formação teológica para jovens que fazem o seu noviciado emdiversas congregações religiosas.Trata-se de um curso de iniciação à teologia, organizado pelo Centro deFormação e Cultura da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, aberto às congregaçõesreligiosas que querem integrar este projecto de formação “inter-noviciados”.O curso, que decorre ao longo de dois anos, pretendendo ser uma iniciação aopensamento teológico, proporciona conhecimentos elementares para formaçãocomum. Cada instituto religioso mantém uma formação própria no qu<strong>ed</strong>iz respeito à sua espiritualidade e carisma.Aderiram à iniciativa congregações residentes em <strong>Fátima</strong> e algumasvindas da área de Lisboa e Coimbra. Após dois anos de funcionamento, oprojecto encontra-se consolidado e recolhe uma avaliação muito positiva dasirmãs responsáveis.A celebração foi ocasião para a entrega de diplomas às jovens religiosasque concluíram o ciclo de estudos em Junho. Depois da Eucaristia houveconvívio e partilha, com um lanche no Albergue do Peregrino. Além dasnoviças que integram o curso, participaram as irmãs responsáveis das congregações,o director do Centro de Formação e Cultura, alguns professores eoutros religiosos que quiseram associar-se, nomeadamente os noviciados daCompanhia de Jesus e dos Padres do Sagrado Coração de Jesus.Vida EclesialFormação sobre “acompanhamento espiritual”A aproximação e o acolhimento, a escuta e a interrogação, o esclarecimentoà luz da palavra de Deus e o abrir de horizontes, o consolar e o encorajara pessoa dar os próprios passos para o seu crescimento na vida cristã eclarificação vocacional, são atitudes importantes no acompanhamento espiritualpessoal. Assim ensinou o bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, nas duas acções deformação, nos dias 27 de Junho e 22 de Novembro, em <strong>Leiria</strong>.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 105


. notícias .Partindo da caminhada de Jesus com os discípulos de Emaús, que inspiratodo o acompanhamento espiritual, D. António Marto sublinhou a importânciadesta ajuda pessoal para a resposta ao chamamento divino e defendeu que,na Igreja, é preciso maior disponibilidade para oferecer este serviço aos fiéise, em especial, aos jovens. Disse ainda que poderão fazer este acompanhamento,além dos sacerdotes e dos religiosos, também as religiosas e mesmoos leigos com certa preparação e maturidade espiritual.As duas sessões desta acção formativa, promovida pelo Serviço Diocesanode Animação Vocacional, juntaram mais de uma centena de pessoas, entresacerdotes, religiosas, leigos, alguns deles jovens, o que surpreendeu positivamenteos organizadores e constitui um sinal de interesse pela ajuda que oacompanhamento espiritual pode dar. Na partilha de experiências focou-se aprocura crescente por parte de jovens, que querem ser escutados e ajudadospara poderem orientar as suas vidas. Muitos já concluíram cursos superiores,mas não clarificaram o rumo a seguir. O acompanhamento pode ser pontual,por quem está próximo, em casa, em grupos, nos movimentos eclesiais ou nascomunidades paroquiais. Mas pode também ser mais pessoal, regular e prolongado,proporcionado por quem tem conhecimentos e experiência, nomeadamentesacerdotes. A formação será, em princípio, continuada no próximoano, integrada na escola diocesana “Razões da Esperança”.<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> nas Jornadas Mundiais da JuventudeCatorze jovens da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> participaram nas JornadasMundiais da Juventude (JMJ), em Sydney, Austrália: quatro de Maceira, doisda Marinha Grande, dois dos Marrazes, dois da Bajouca, um da Caranguejeira,um de Ourém, um dos Pousos e um de São Mam<strong>ed</strong>e. Foram acolhidos nadiocese de Brisbane, a 1000 quilómetros de Sydney, onde participaram emdiversas actividades culturais e religiosas. “Recebereis a força do EspíritoSanto que virá sobre vós, e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). Foi o mot<strong>ed</strong>as JMJ que, de 15 a 20 de Julho, reuniram jovens do mundo inteiro em peregrinaçãode fé, de r<strong>ed</strong>escoberta da sua vocação baptismal e celebração ossacramentos, nomeadamente da Eucaristia e da Reconciliação. Os momentosmais altos, que contaram com a presença do Papa, Bento VI, foram a granderecepção na Baía de Sydney no dia 17, a vigília do dia 18 e a Eucaristia deencerramento. Mas o programa deu um destaque muito especial à participaçãodos jovens nas catequeses matinais orientadas por bispos de diversasnacionalidades, de acordo com os muitos grupos linguísticos.106 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .Jovens diocesanos decidem vocaçãoAlguns jovens clarificaram a sua posição vocacional no Grupo SantoAgostinho, após a caminhada que decorreu durante o ano e se concluiu a 6 deJulho, em <strong>Fátima</strong>. Os 10 jovens que fizeram a experiência orientam a sua vidapara a formação num seminário ou casa religiosa, ou para uma participaçãomais consciente e integrada na vida das comunidades cristãs.O itinerário durou seis meses, com encontros mensais em tardes de domingo,e incluiu a leitura orante da palavra de Deus, catequese sobre aspectosvários do chamamento de Deus, testemunhos de vocações concretas, partilhaem grupo e momentos de reflexão pessoal. D. António Marto, que orientoutodo o encontro, fez uma m<strong>ed</strong>itação vocacional a partir da palavra de Deus,contou a história da sua vocação e dialogou com os jovens, respondendo àssuas interpelações. A equipa dinamizadora é constituída por elementos doserviço diocesano de animação vocacional e da pastoral juvenil.No final, os jovens salientaram como a presença e os testemunhos dosanimadores e a progressividade das abordagens, cada mês melhor que o anterior,os foram aproximando de Deus, e não esconderam o desejo de veremoutros colegas a fazerem a mesma experiência.O Grupo Vocacional Santo Agostinho é um itinerário proposto por D. AntónioMarto aos jovens, como “experiência de fé, em grupo, cuja finalidadeé ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e aescolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parteque a cada um diz respeito”. Iniciado em 2007, continuará em 2008, provavelmenteem Fevereiro, com nova caminhada para os jovens que entretantomanifestem desejo de viver a experiência.Vida EclesialAssociação Mãos Unidas P. Damião em <strong>Leiria</strong>O 10º aniversário da Associação Portuguesa de Solidari<strong>ed</strong>ade Mãos UnidasP. Damião, foi duplamente celebrado em <strong>Leiria</strong>: com a realização, no dia19 de Abril, do I Encontro Regional dos seus sócios e benfeitores, animadocom um sarau musical, e no dia 13 de Junho, com a nomeação da direcção doNúcleo Regional de <strong>Leiria</strong> da mesma associação. Os dois momentos tiveramlugar no Convento da Portela e contaram com a presença do director/sóciofundador Mário Nogueira.No dia foi analisado o Aditamento ao Regulamento Interno da Associação,sobre os Núcleos Regionais, que define as competências, o funcionamento e| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 107


. notícias .a constituição das Assembleias Regionais, e entregue um documento, paraanálise posterior por parte da Direcção do Núcleo Regional, sobre “CentrosAlimentares Contra a Pobreza”. No final, foi eleita a direcção do NúcleoRegional de <strong>Leiria</strong>, que ficou constituída pelos seguintes elementos, para obiénio 2008-2009: presidente – Francisco de Jesus Moreira; vice-presidente– Sandrina Jesus Silva; secretárias – Isabel Maria Pereira Sousa, Dina MariaPereira Sousa e Pi<strong>ed</strong>ade Duarte; tesoureiros – Luís Oliveira Silva e CarlosManuel Vertini; vogais – Joaquina Francisco, Ilda Cerejo, Maria MarquesCaneira e Graciete J. Ricardo.Espera-se que a direcção saiba corresponder ao que dela se espera para asua área de acção, difundido os princípios e os objectivos prosseguidos pelaAssociação, angariando novos sócios, celebrando, de modo especial, o DiaMundial dos Leprosos, o Dia Mundial da Luta contra a Tuberculose, o DiaMundial da Criança e o Dia Mundial da SIDA, e estudando a viabilidade dese conseguir, para breve, um espaço onde possa ser montado um Banco Alimentarcontra a Pobreza.Acampamento de Verão do MCEForam 56 estudantes da <strong>Diocese</strong> que participaram num campo de fériasorganizado pelo Executivo Diocesano do Movimento Católico de Estudantes(MCE). De 29 de Julho a 4 de Agosto, na praia fluvial de Mosteiro (Ribeirade Pêra), P<strong>ed</strong>rógão Grande, estes estudantes, acompanhados pelo assistent<strong>ed</strong>iocesano, padre Gonçalo Diniz, viveram momentos de reflexão e debate emgrupo, de oração e de lazer. “A verdade e as suas consequências” foi o temado encontro, tratado segundo a metodologia do “Ver, Julgar e Agir”, própriados movimentos de Acção Católica. Um dia de “p<strong>ed</strong>dy paper” proporcionouum contacto mais directo com o meio, mas ficou também na recordação detodos a visita dos pais numa tarde que foi convívio e integrou a celebração daEucaristia e um “banquete regional”.Este ano, funcionaram na <strong>Diocese</strong> equipas base do MCE, distribuídaspelos três níveis de ensino: básico, secundário e superior.Celebração do padroeiro Santo AgostinhoD. António Marto presidiu à Eucaristia em honra de Santo Agostinho,padroeiro da diocese, no dia 28 de Agosto, na igreja que lhe é d<strong>ed</strong>icada, nacidade de <strong>Leiria</strong>. Não obstante o dia litúrgico do Santo Doutor cair em pleno108 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .tempo de férias, a diocese esteve bem representada, em torno do seu Bispo,por sacerdotes, religiosos e religiosas, e leigos que colaboram sobretudo nosserviços diocesanos, movimentos e associações. D. António convidou todosa “celebrarem juntos em honra do padroeiro, ao r<strong>ed</strong>or do bispo e do mesmoaltar, e a contribuírem para exprimir e alimentar a comunhão na mesma fée a consciência de pertencer ao mesmo corpo de Cristo”. Sob o exemplo deSanto Agostinho e à luz da sua imensa herança doutrinal, D. António evocouas palavras do Prefácio para reafirmar a importância dos santos como domde Deus: no seu “exemplo” permite-nos contemplar a realização concretada vida cristã; “na comunhão com eles”, oferece-nos “uma família” que é,para todos, apoio e ajuda; e na sua intercessão possibilita-nos “um auxílio”.Compreende-se pois que a comunidade diocesana se reúna para celebrar afesta do seu padroeiro.No mesmo acto litúrgico teve lugar a celebração do jubileu matrimonial(25 anos) do casal Maria Eugénia e José António Ferreira, que têm dado provasde grande d<strong>ed</strong>icação ao serviço da Igreja.Santo Agostinho foi adoptado como padroeiro em 1918, aquando darestauração da <strong>Diocese</strong>, escolha que radica, certamente, no facto de <strong>Leiria</strong>ter estado, desde o século XII até 1545, sob a influência do Mosteiro deSanta Cruz de Coimbra, dos religiosos da Ordem de Santo Agostinho. Estaadopção foi confirmada pelo Papa João XXIII, que, em 13 de Dezembro de1962, respondendo a um p<strong>ed</strong>ido do bispo diocesano, conc<strong>ed</strong>eu à <strong>Diocese</strong> doispadroeiros principais: manteve o anterior, Santo Agostinho, e acrescentouNossa Senhora de <strong>Fátima</strong>.Vida EclesialBênção da primeira p<strong>ed</strong>ra da igreja da MartingançaA 31 de Agosto teve lugar a bênção da primeira p<strong>ed</strong>ra da igreja de S. JoãoBaptista, na Martingança, paróquia de Pataias.D. António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, presidiu à celebração em queparticiparam também o pároco e outros sacerdotes com especial ligação àcomunidade. Estiveram ainda presentes o Governador Civil de <strong>Leiria</strong>, oPresidente da Câmara de Alcobaça e o Presidente da Junta de Freguesia daMartingança, e muitas pessoas da população local e terras vizinhas.Após a Eucaristia, em sessão solene, foi assinado um pergaminho evocativo,depois inserido na p<strong>ed</strong>ra com algumas mo<strong>ed</strong>as do ano de 2008. As váriasentidades presentes salientaram a importância do novo templo para o serviçoda comunidade local e a sua beleza e funcionalidade, bem como a necessida-| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 109


. notícias .de da conjugação de esforços da população e dos organismos públicos paraque o projecto possa chegar a bom termo.Segundo o arquitecto Vítor Grenha, autor do projecto, o “Tempieto inMontorio”, obra de Bramante, em Roma, foi a inspiração. “O espaço daigreja procura congregar a assembleia (172 lugares sentados) cujo corpo écomunidade. A luz, usada como matéria de construção física e espiritual, usasecomo metáfora do guia e destino da comunidade, provindo do rasgo notecto e reforçando o caminho para o altar e para o sacrário”, explicou VítorGrenha.Fernando Santos, membro da Comissão da Igreja, e o pároco, padre VirgílioRossio, explicam o que pesou na decisão de uma nova construção: d<strong>ed</strong>imensões r<strong>ed</strong>uzidas e sem condições, a igreja existente era manifestamenteinsuficiente para as necessidades da população e desprovida de qualquermais-valia estética ou histórica.O investimento ronda os 500 mil euros e os prazos de execução ainda nãoestão definidos. Com apenas um quinto do total necessário, os responsáveisvoltam-se agora para a generosidade das pessoas em iniciativas de angariaçãode fundos, e aguardam a resposta à candidatura para financiamento já apresentadaàs entidades próprias.Jubileus sacerdotaisÀ semelhança dos últimos anos, a Fraternidade Sacerdotal da <strong>Diocese</strong> de<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> promoveu, no dia 25 de Setembro, no Santuário de <strong>Fátima</strong>, acelebração dos jubileus sacerdotais.Este ano comemoraram bodas de ouro e de prata sacerdotais, respectivamente,os padres Virgílio da Silva, a 10 de Agosto, e Jorge Manuel FariaGuarda, a 24 de Abril. Do programa constou a Eucaristia, celebrada na Basílicaàs 11h00, e o almoço convívio na Casa Senhora do Carmo.Assembleia do Clero para revisão do RABICerca de 60 membros do clero diocesano reuniram-se em Assembleia, a16 de Setembro pretérito. Na ordem do dia esteve em destaque a discussão deum projecto de revisão do Regulamento da Administração dos Bens da Igreja(RABI), sobretudo no que aos sacerdotes diz respeito, preparado por uma Comissãoestatutária. Além das linhas gerais, estiveram em discussão algumaspropostas que a experiência dos últimos anos foi suscitando, por exemplo, a110 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .possibilidade de as paróquias instituírem o Fundo Paroquial de forma distintado Fundo da Igreja Paroquial.Refira-se que o RABI, ao tratar da partilha de bens na diocese e nassuas paróquias, também estabelece o estatuto económico dos sacerdotes,com base no espírito de comunhão e de partilha que a tudo há-de presidir. Aproposta final, alargando o âmbito de incidência para lá do estatuto do cleroe das paróquias, faz referência a outras instituições e associações canónicas,r<strong>ed</strong>efine responsabilidades e competências dos responsáveis das instituiçõese serviços, pondera a sustentabilidade económica das instituições e projectoseclesiais e aponta para o melhoramento da organização das instituições e doproc<strong>ed</strong>imentos das pessoas responsáveis.Aprovada, primeiro na generalidade e depois na especialidade, a propostafoi entregue à Comissão de revisão. A este parecer da Assembleia, virá juntarse-á,em princípio, o parecer autónomo do Conselho Presbiteral que o BispoDiocesano quererá consultar igualmente antes de tomar a decisão final da suaaprovação e publicação.Capelão dos imigrantes UcranianosO padre Sílvio Litvinczuk Osbm, novo capelão da comunidade de imigrantescatólicos ucranianos, tomou posse no passado dia 14 de Setembro,na capela bizantina da Domus Pacis, em <strong>Fátima</strong>. Filho de pais brasileiros,descendentes de ucranianos, nasceu no Brasil, em Prodentopolis, no Paraná, a25 de Dezembro de 1978, frequentou o seminário da Congregação dos PadresBasilianos, em Curitiba, durante um ano e meio, formou-se em Teologia em2002, na Ucrânia e, em 2006, foi ordenado sacerdote. De 2006 a 2008 esteveem Roma, no Ateneu Santo Anselmo, onde se licenciou em História da Teologia.C<strong>ed</strong>ido por D. Dionísio Lachovicz, bispo ucraniano responsável pelapastoral dos emigrantes, foi nomeado por D. António Marto e reside na CasaNossa Senhora do Carmo, no Santuário de <strong>Fátima</strong>.Vida EclesialDia da <strong>Diocese</strong>: serviço à Igreja e ao mundoA 5 de Outubro, Dia da <strong>Diocese</strong>, arrancou oficialmente o novo ano pastoral.Ao mesmo tempo que, em Assembleia diocesana, D. António Martoapresentava aos primeiros responsáveis e agentes pastorais os objectivos para2008/2009, nas paróquias dava-se início à catequese e a outras actividadesfundamentais das comunidades.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 111


. notícias .O grande ponto de esforço será a formação em todas as comunidadespara que cada cristão, aprofundando “as razões da sua esperança”, se tornefermento activo na Igreja e no mundo. Importa não desperdiçar nenhumaoportunidade. Entretanto, prosseguirá o esforço de construção de uma comunidadeunida e com maior consciência eclesial, na continuidade do anoanterior.A consciência e o sentido de pertença à Igreja serão das principais incidênciasda formação. Neste aspecto, o Dia da <strong>Diocese</strong> constitui uma óptimaoportunidade para os cristãos reforçarem e tornarem visível a comunhãoeclesial, que há-de ultrapassar âmbitos demasiado restritos e os próprioscontornos paroquiais. Assistimos ao desabrochar de carismas e projectos masnem aqueles nem estes podem fechar ninguém no seu grupo restrito contrariandoos desígnios do Espírito que conc<strong>ed</strong>e os seus dons para o crescimentocomum.As comunidades cristãs não existem sem a pertença efectiva à Igreja Universal.O particularismo, por vezes sentido como virtude, é um falso engodo.Não se atinge a meta sem cooperar na mesma estafeta. Ninguém, por hábilque seja, poderá prescindir da equipa, numa união fundamental que faz aforça.O Dia da Igreja diocesana exprime e cultiva o sentido de família alargada.A Igreja de Jesus Cristo está onde os cristãos se reúnem, em comunhão de fé <strong>ed</strong>e sentimentos, com o seu bispo. Por belas que pareçam as obras de cada um,ou de cada comunidade, é sempre em torno do Pastor que se faz a unidade.Canção Nova obtém aprovação pontifíciaA comunidade católica Canção Nova, presente em <strong>Fátima</strong>, recebeu dasmãos do Cardeal Rylko o reconhecimento pontifício e a aprovação dos seusestatutos como Associação Internacional de Fiéis de Direito Privado. Foi emRoma, no Conselho Pontifício para os Leigos, a 3 de Novembro, na presençado fundador, monsenhor Jonas Abib, de dois milhares de membros, de umcardeal e vários bispos brasileiros. A diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> fez-se representarpelo vigário-geral.Na audiência geral do dia 5, Bento XVI dirigiu-se aos peregrinos emPortuguês: “Saúdo a Comunidade “Canção Nova”, em festa pelo reconhecimentocomo associação internacional de fiéis junto do Pontifício Conselhopara os Leigos. Exprimo o apreço da Igreja pelo ideal e empenho que vosanima de dar inspiração cristã às linguagens do nosso mundo e à leitura dos112 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .acontecimentos da história. Sobre todos vós invoco os dons do Espírito Santopara serdes verdadeiros discípulos e missionários de Cristo Ressuscitado,fazendo jorrar a sua Vida nas vossas famílias e comunidades, que de coraçãoabençoo.”Na cerimónia do reconhecimento, o fundador da Canção Nova p<strong>ed</strong>iu aosseus membros: «Permanecei unidos no amor e na oração. Que sejais umacomunidade de amor e de adoração. Queremos levar ao mundo uma CançãoNova renovada pelo Espírito Santo».A Canção Nova foi fundada em Cachoeira Paulista (Brasil), no ano de1978, por Jonas Abib, sacerdote salesiano, para promover a evangelizaçãodos jovens e dos homens e mulheres de hoje, através dos meios de comunicaçãosocial, especialmente a rádio, a televisão, a Internet, a publicação delivros, a música e várias outras acções. Inspirada no Renovamento Carismático,conta actualmente com 1.075 membros consagrados, homens e mulheres:sacerdotes, seminaristas, leigos consagrados e casais. Além do Brasil, a CançãoNova está em Portugal, Itália, Israel, Estados Unidos, França e África.Em Portugal dispõe de televisão, rádio, duas livrarias e uma revista.Padre Jorge Guarda publica No Silêncio do SantuárioNo dia 24 de Outubro, foi apresentado o livro do padre Jorge Guarda “NoSilêncio do Santuário – Orações a partir dos Salmos”, no auditório do Espaço<strong>Fatima</strong>e, em <strong>Fátima</strong>. Com a colaboração da Comunidade Canção Nova eapresentação pelo padre Dário P<strong>ed</strong>roso, <strong>ed</strong>itor pelo Apostolado da Oração, asessão incluiu cânticos e momentos de oração baseados nos textos publicados,e ainda a habitual sessão de autógrafos.Vida EclesialSacerdotes diocesanos em retiro em SingevergaCinco dias de “escuta para ouvir o Mestre e inclinar o ouvido do coração”,seguindo a recomendação de S. Bento.A proposta do Serviço de Apoio ao Clero foi aceite por nove sacerdotes da<strong>Diocese</strong>, que fizeram retiro anual, no mosteiro dos Ben<strong>ed</strong>itinos de Singeverga,de 19 a 24 de Outubro, sob orientação do abade do Mosteiro, Luís Aranha,e do padre Lino de Miranda, mestre de noviços. Os participantes sentiram-se“acolhidos como a Cristo (cf Regra, cap. 53), elevados pelo canto monásticoe serenados pelo ambiente da cerca e pelo silêncio do claustro”, segundo atradição ben<strong>ed</strong>itina. Agradecidos pela hospitalidade, tinham as palavras de S.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 113


. notícias .Bento no coração: «Depois de termos, irmãos, perguntado ao Senhor quemhabitaria na sua morada, ouvimos as condições para nela se habitar. Oxalácumpramos nós agora os deveres do morador» (Regra, Prólogo, 39).Padre José Reis: 40 anos de sacerdócioNo passado dia 18 de Outubro, a comunidade cristã do Juncal reuniu-se naIgreja paroquial para celebrar os 40 anos de sacerdócio do seu pároco, padreJosé Marques dos Reis. O templo estava repleto de paroquianos e representantesdos vários serviços – grupo coral, Conselho Económico, catequistas,membros do Centro Paroquial, entre outros. Após uma representação cénicada vocação sacerdotal, pelos jovens, houve jantar-convívio, com os membrosda comunidade e com o homenageado e seus familiares.José Marques dos Reis, segundo de sete irmãos, nasceu a 24 de Junho de1943, numa família humilde da Gondemaria, concelho de Vila Nova de Ourém.Aos treze anos sentiu-se chamado por Deus, inicialmente com o intuitode partir para as Missões. Entrou no Seminário de <strong>Leiria</strong>, em 1956, e apóslonga caminhada foi ordenado sacerdote em 18 de Outubro de 1968. Cincodias depois, iniciou o trabalho paroquial, nomeado sacerdote coadjutor, emMaceira, onde permaneceu 3 anos e meio. Em 5 de Março de 1972 o Bispode <strong>Leiria</strong> deu-lhe uma nova missão, que o levaria a assumir a paroquialidad<strong>ed</strong>e Serro Ventoso e S. Bento. Em Setembro desse ano, começou a leccionarReligião e Moral, na Escola Secundária de Porto de Mós, acompanhandoadolescentes e jovens, actividade que apenas deixou no passado mês de Junho,quando atingiu a reforma, aos 65 anos. Em 1979, para estender a missãoparoquial a Arrimal e Mendiga, foi dispensado de São Bento.Em Janeiro de 1993, o Senhor Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> nomeou-o Párocodo Juncal, cargo que vem desempenhando há cerca 15 anos, com total d<strong>ed</strong>icaçãoao crescimento desta comunidade cristã.Pré-seminário…Depois do reencontro de doze dos pré-seminaristas do ano passado, de 11a 12 de Outubro, o Pré-Seminário reiniciou a 8 de Novembro as actividadesmensais para rapazes do 6º ao 8º ano (ordinariamente no 1º sábado de cadamês, das 10h00 às 17h00). Os rapazes que frequentam a partir do 9º ano têmum outro acompanhamento adequado à sua idade, com programa diverso.Pretende-se, com este serviço, “continuar, passo a passo, o esforço iniciado114 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .em 2006 para a reabilitação deste sector da <strong>Diocese</strong> e do seu Seminário, numesforço comum de promoção e acompanhamento das vocações sacerdotais”.D. Anacleto apresentou“Um ano a caminhar com São Paulo”Em pleno Ano Paulino, a Conferência Episcopal Portuguesa propôs àscomunidades cristãs a m<strong>ed</strong>itação da Palavra de Deus com base na vida etestemunho do Apóstolo S. Paulo. Para tal, foi <strong>ed</strong>itado um instrumento detrabalho, “Um ano a caminhar com São Paulo”, com 52 temas de reflexão,um por semana. O autor deste livro, D. Anacleto Cordeiro de Oliveira, bispoauxiliar de Lisboa, natural das Cortes, foi convidado pela vigararia da Batalhaa apresentar, na primeira pessoa, os conteúdos da proposta.Cerca de duas centenas de pessoas acorreram à conferência proferida noCentro Pastoral da Batalha, no passado dia 7 de Novembro. Na sessão, decerca de duas horas, D. Anacleto falou da vida de São Paulo e explanou ascinco partes em que se agrupam os 52 temas: “a nossa vida cristã”, “a Igrejade Deus”, “a nossa conduta cristã” “a vida que nos espera” e “Paulo fala-nos(depois) do seu martírio”. Sobre o modelo de conversão, de evangelizador <strong>ed</strong>e vivência profunda da fé, referiu que a vida do Apóstolo foi “uma permanentee incansável caminhada para Cristo e para os homens” e que à luz dosseus escritos podemos hoje “percorrer as sucessivas fases da nossa caminhadacristã”.A leitura dos textos seleccionados permitirá descobrir a riqueza do ensinamentopaulino e suscitará, por certo, a vontade de ler a totalidade das suascartas.Cada tema é desenvolvido em três páginas: uma introdução de contextualização,um texto paulino e a respectiva m<strong>ed</strong>itação, sugestões de outrasleituras e uma proposta de oração. A reflexão, em leitura lenta e repetida, comespaços de silêncio “para que Deus fale no coração de cada um”, pode serindividual “mas será mais rica em grupo”.Interpelado sobre a r<strong>ed</strong>uzida presença dos jovens, D. Anacleto exprimiu aconvicção de que muitos estão a fazer esta caminhada e p<strong>ed</strong>iu aos seus formadoresque “não lhes ofereçam facilidades e coisas leves, mas a radicalidad<strong>ed</strong>o Evangelho e a exigência da vida cristã na sua integralidade, porque é issoque eles p<strong>ed</strong>em e que os conquista”.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 115


. notícias .4º aniversário da Comunidade Pastoralde S. Romão e GuimarotaConstituída por decreto episcopal de 21 de Novembro de 2004, a ComunidadePastoral de S. Romão e Guimarota celebrou o seu quarto aniversáriomarcado pela renovação de algumas equipas litúrgicas, de catequese e deserviço de voluntariado social.Embrião de uma futura paróquia que congregue as populações de Casaisde São José, Casal dos Matos, São Romão, Guimarota, Quinta de São Venâncio,Quinta do Taborda (lado sul), Rua da Assunção, e Rua Vale de Lobos, acomunidade assume-se em crescimento solidário e na organização progressivade estruturas de unidade e de vida cristã no seio da Igreja diocesana.Enquanto prosseguem as questões processuais da construção da igreja ecentro pastoral, decorrem já projectos de carácter pastoral a curto e médioprazo, nomeadamente, anúncio (actividades formativas) e celebração da Fé(sacramentos e sacramentais), e o exercício organizado da solidari<strong>ed</strong>ade (partilhae atenção especial aos mais carenciados, a todos os níveis).Nova Junta Diocesana dos EscuteirosNo passado dia 7 de Dezembro, na igreja de S. P<strong>ed</strong>ro, em <strong>Leiria</strong>, tomaramposse a Junta Regional e o Conselho Fiscal e Jurisdicional do Corpo Nacionalde Escutas da Região de <strong>Leiria</strong>, eleitos pelos Dirigentes e Caminheiros, emacto que decorreu em Novembro último.O momento solene da tomada de posse e juramento dos eleitos foi presididopelo Vigário-geral da diocese, Padre Dr. Jorge Guarda, em representaçãodo Sr. Bispo. Estiveram presentes representantes do Governo Civil, da CâmaraMunicipal de <strong>Leiria</strong> e do Instituto Português da Juventude, um membroda Junta Central do CNE, os Chefes Regionais de Santarém e de Portalegre/Castelo Branco, antigos Chefes Regionais, vários Dirigentes e elementos dasdiferentes secções, e familiares e amigos dos novos elementos investidos.A cerimónia, iniciada por um momento musical de órgão de tubos e repletade simbologia escutista, marcou o início das actividades de mais umtriénio d<strong>ed</strong>icado ao lema “Formar, Partilhar, Crescer”, que se espera profícuoem termos de <strong>ed</strong>ucação integral das crianças e jovens, com rumo ao HomemNovo que Escutismo católico preconiza, fiel aos princípios do fundador BadenPowell.116 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .No final, o representante da Junta Central afirmou esperar que a Regiãode <strong>Leiria</strong>, apesar de pequena em espaço territorial, continue com a dinâmicae empreendorismo que tem vindo a demonstrar.Instituição de Leitor, na festa de Natal no SeminárioA data escolhida foi 19 de Dezembro. Seminaristas, equipa formadora,padres residentes, funcionários e outras pessoas que colaboram de perto como Seminário, reuniram-se para a festa de Natal a que se dignou presidir D.António Marto, Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>. A celebração seria enriquecida com ainstituição no ministério dos Leitores do seminarista Miguel Sottomayor quevinha acompanhado por seus familiares e alguns amigos.D. António Marto, no início da Eucaristia, saudou a todos no espírito natalícioe convidou ao “acolhimento da surpresa inaudita e última de Deus nanossa vida”, e da humanidade e esperança que o Senhor nunca deixa de trazeràs situações de desesperança por que vamos passando.Na homilia, retomando o tema da alegre confiança no Senhor que veioser o Deus Connosco, na nossa humanidade, o Presidente da assembleia afirmariaque “a nossa pequena e humilde história está inserida nessa grande esublime história do amor de Deus pelos homens: Ele ama-nos e está de mãoestendida para acolher o nosso amor, uma mão que nos acaricia, nos levanta,nos abençoa e nos conduz”. Por isso, “toda e qualquer vida deve ser um projectode amor, de colaboração no desígnio de salvação para o mundo, sinal deesperança onde parece não haver esperança”.No momento que prec<strong>ed</strong>eu a instituição de Leitor, D. António dirigiua Miguel de Sottomayor palavras de acolhimento e recomendação: “Fostesurpreendido por Deus, que desconcertou os teus caminhos e te trouxe a estadiocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> (...) Como proclamador da Palavra, deverás emprimeiro lugar escutá-la, amá-la, rezá-la, assimilá-la e vivê-la (...) Receberása graça para o realizar, a fim de saboreares antecipadamente a Palavra queirás servir”. Depois da instituição, salientando que este é um primeiro passoa caminho do ministério da Ordem, confiou o novo Leitor à protecção deNossa Senhora.No final da celebração, no refeitório do Seminário, foi servido um almoçode confraternização a que não faltaram os habituais sinais de Natal.Natural de Vila do Conde, Miguel Sttomayor é aluno do Seminário de<strong>Leiria</strong> e está a estudar no Seminário Filosofico-Teologico Internazionale GiovanniPaolo II, em Roma.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 117


. notícias .Estipêndios na Província Eclesiástica de LisboaOs Bispos da Província Eclesiástica de Lisboa (Lisboa, Santarém, Setúbal,Angra, Funchal, Portalegre-Castelo Branco, <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, Guarda eForças Armadas e de Segurança) aprovaram um decreto conjunto sobre osestipêndios das missas que uniformizou o valor (10 euros) com o já praticadopelas Províncias Eclesiásticas de Braga e de Évora, com data de aplicação apartir de 13 de Outubro passado.O decreto refere que “não é permitido a qualquer sacerdote exigir quantiamais elevada”, ressalvando, no entanto, que pode “receber o que lhe forespontaneamente oferecido” e que, por outro lado, “não deixe de aceitarquantia inferior, de modo que ninguém se sinta excluído”, uma norma especialmentesublinhada pelo “momento social que se vive”. Quanto às Missasplurintencionais, “o estipêndio é de oferta livre”.Os Bispos recordam ainda o referido sobre assunto no Código de DireitoCanónico e na Tabela de Taxas, Tributos e Emolumentos já aprovada para aProvíncia Eclesiástica, e recomendam o especial cuidado de “evitar em absoluto,especialmente nas Missas plurintencionais, a mais leve aparência decomércio ou negócio; de atender à intenção expressa do oferente, mesmo queo estipêndio seja diminuto ou se venha a perder; de recordar que as esmolaslançadas na «Caixa das Almas» têm tradicionalmente a finalidade exclusivade contribuírem para a celebração de Missas em sufrágio de todos os fiéis defuntos;de fomentar nos cristãos um sentido de mais ampla caridade, de modoque, não sendo possível atender localmente aos seus p<strong>ed</strong>idos, aceitem que asmissas sejam celebradas em outro lugar; e de evitar enganos e esquecimentos,anotando as obrigações assumidas e o seu cumprimento.Finalmente, os Bispos determinam que “se dê oportunamente conhecimentodeste Decreto a todos os fiéis, sacerdotes e leigos”.A acompanhar este decreto, os Bispos assinam também uma “Carta aosSacerdotes e às Comunidades Cristãs”, em que esclarecem mais pormenorizadamentea pastoral que fundamenta o estabelecimento do estipêndio, “umalonga tradição da Igreja, confirmada pelo Direito Canónico”, e justificam oactual aumento com a exigência de cumprimento do acordo existente com asoutras Províncias Eclesiásticas, embora o façam “com preocupação pastoralmotivada pela situação social que o País atravessa, com a maior parte dasfamílias a sentirem dificuldades económicas”.Na mesma perspectiva, lembram “o sentido desta oferta e dos valorespastorais que devem orientar as nossas atitudes, quer do clero, quer dos fi-118 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. notícias .éis”, e salientam em primeiro lugar a gratuidade dos sacramentos que “não sevendem, nem têm preço material”. Nesse espírito, deve cuidar-se que os fiéismais pobres, que não possam pagar, “tenham direito a que o sacerdote celebrepelas suas intenções”, e que os fiéis contribuam “livremente para as despesasda Igreja, entre as quais se conta a sustentação do clero”. Em todo o caso,“esta gratuidade dos sacramentos exige dos sacerdotes o desprendimento e aausência de qualquer espírito de avidez e de negócio”.Sobre o sentido do estipêndio, lembra-se que é “uma oferta ao sacerdote”,não para o fundo paroquial, que o deve usar para “praticar pessoalmente acaridade e investir na sua própria formação cultural”.Sobre a Missa por várias intenções, que “não deve anular o direito que osfiéis têm de p<strong>ed</strong>ir a Missa por uma só intenção”, nada pode ser exigido aosfiéis, “dando cada um segundo as suas posses e generosidade”, não sendosequer “legítimo indicar o estipêndio fixado para as intenções individuaiscomo ponto de referência”. Do dinheiro recolhido, “o sacerdote pode retiraro correspondente ao estipêndio fixado” e o restante “não pertence ao FundoParoquial”, mas “constitui um fundo autónomo posto à disposição do BispoDiocesano, que o deve utilizar para o bem da Igreja, para ajudar outras <strong>Diocese</strong>smais necessitadas, para mandar celebrar Missas pelas intenções de quemofereceu e para incentivar a acção pastoral”.A concluir, os Bispos convidam a “encontrar em Paulo um modelo inspirador”e reconhecem que “há alguns pontos a corrigir”, tarefa a cumprir por“todos generosamente, na certeza de que o nosso desprendimento mereceráde Deus a força da Sua graça para fazer crescer a Igreja”.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 119


Faleceu o padre Boaventura VieiraUm homem de paze de obrasO padre Boaventura Domingos Vieira, da diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>,faleceu no dia 29 de Agosto, no Hospital de S. André, em <strong>Leiria</strong>. Tinha79 anos de idade e era capelão do Mosteiro de Santa Clara, em MonteReal. O funeral realizou-se no dia seguinte para Santa Catarina da Serra,de onde este sacerdote era natural. Presidiu à celebração das exéquias obispo diocesano, D. António Marto, que recordou o percurso deste sacerdotee disse estar grato a Deus pela sua vida e pelas suas obras. De entreas suas qualidades, destacou o testemunho de d<strong>ed</strong>icação, disponibilidade egenerosidade ao longo de um ministério exercido ao serviço da Igreja, emmúltiplos lugares e actividades.Filho de José Vieira Repolho e de Ana Maria, o Padre Boaventura nasceua 1 de Janeiro de 1929, em Santa Catarina da Serra. Tinha 8 irmãos,um deles também sacerdote. Entrou para o Seminário de <strong>Leiria</strong> em 1942.Terminando o curso em 1953, foi ordenado sacerdote no dia 12 de Julhodesse ano, no Santuário de <strong>Fátima</strong>, e logo nomeado coadjutor na paróquiade Monte R<strong>ed</strong>ondo. Em 1956, recebeu a missão de Pároco de Nossa Senhorados Prazeres, em Aljubarrota, serviço que exerceu até Setembro de1961. Neste ano, foi nomeado ecónomo do Seminário Diocesano e começoua acompanhar os trabalhos de construção do novo <strong>ed</strong>ifício.Cessado aquele serviço, em 1973, foi enviado para trabalhar na Dioces<strong>ed</strong>e Nova Lisboa, em Angola, onde também desempenhou funções deecónomo do Seminário. Dali, em 1976, transferiu-se para o Brasil, onde,em São José do Rio Preto, estado de S. Paulo, exerceu a missão de Párocoe de administrador da <strong>Diocese</strong>.Em 1987, regressado à diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, colaborou com o seuirmão, Padre Júlio, na paróquia de Maceira onde também foi professor deEducação Moral e Religiosa Católica. Dez anos depois, passou a ser administradorda Gráfica de <strong>Leiria</strong>, cargo que exerceu até Julho de 2007. Entretanto,desde 1998, exerceu também o serviço de Vigário Paroquial do Soutoda Carpalhosa e de capelão do Mosteiro de Santa Clara, em Monte Real.120 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .Presidente da Ucrânia peregrino de <strong>Fátima</strong>Victor Yushchenko, acompanhado de sua esposa, integrou uma viagem aoSantuário de <strong>Fátima</strong> no programa da visita presidencial realizada a Portugal nofinal de Junho. À chegada ao Santuário, vários grupos de ucranianos acolheramcom emoção, no Recinto de Oração, o seu Chefe de Estado. Seguiu-se a recepçãooficial pelo padre Virgílio Antunes, director do Serviço de Peregrinos doSantuário, que acompanhou e guiou a numerosa comitiva presidencial na visitaa vários locais do Santuário, nomeadamente, à Capelinha, onde o casal estevepor breves momentos em oração, Basílica e Igreja da Santíssima Trindade.O casal manifestou muito interesse em tudo o que se refere a <strong>Fátima</strong> egrande conhecimento da sua história e mensagem, particularmente das referênciasà conversão da Rússia. Sempre rodeado de fortes m<strong>ed</strong>idas de segurança,o Presidente da Ucrânia colocou uma vela a arder no tocheiro localizadoao lado da Capelinha das Aparições. No Livro de Honra do Santuário, o casalformulou votos de bênçãos de Deus para o mundo e, no final da visita, ofereceuao Santuário um ícone de Nossa Senhora.Vida Eclesial…e o irmão do PresidenteDias depois, foi a vez do deputado Petro Yushchenko, irmão mais velhodo Presidente da Ucrânia, visitar o recinto. Na mesma página do Livro deHonra do Santuário em que o irmão tinha assinado, escreveu: “Glória a Deuspor tudo”. No livro que lhe foi oferecido, “Memórias da Irmã Lúcia” (também<strong>ed</strong>itado em ucraniano), o deputado p<strong>ed</strong>iu que, na publicação, lhe fosseindicada a parte onde a vidente escreveu sobre a Rússia, e leu de im<strong>ed</strong>iato orelato de terceira aparição de Nossa Senhora em <strong>Fátima</strong>. P<strong>ed</strong>iu para ver a coroaque tem incrustada a bala oferecida pelo Papa João Paulo II e, na ocasião,visitou a exposição “<strong>Fátima</strong> Luz e Paz”, patente no <strong>ed</strong>ifício da Reitoria. Nasala d<strong>ed</strong>icada a João Paulo II disse ter visitado recentemente o Vaticano e que,na altura fez questão de ir à cripta onde está o corpo do falecido Papa.Por várias vezes durante a visita-guiada aos espaços do Santuário, o deputadoafirmou a sua preocupação pela situação na Geórgia e disse que a decisãode se deslocar a <strong>Fátima</strong> foi tomada precisamente pelo receio em relação àinstabilidade sentida naquela área geográfica. Petro Yushchenko ofereceu aoSantuário de <strong>Fátima</strong> o livro “Churches of Ukraine”.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 121


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .Curso de música litúrgicaCom o patrocínio do Santuário de <strong>Fátima</strong>, numa organização do ServiçoNacional de Música Sacra e do Secretariado Nacional de Liturgia iniciou-se,nos dias 18 a 30 de Agosto de 2008, um Curso de Música Litúrgica, Destinadoprincipalmente aos responsáveis vicariais, arciprestais ou paroquiais deMúsica Sacra e Litúrgica e aos cantores, organistas e directores de coro quetrabalham nas comunidades.Com a duração de três anos e realização nas duas últimas semanas deAgosto, em dois dias a seguir ao Natal e em dois dias a seguir à Páscoa,o Curso é estruturado e orientado pelo Serviço Nacional de Música Sacra,presidido pelo Cónego Dr. António Ferreira dos Santos. Os anos lectivosiniciar-se-ão em Agosto (segunda metade do mês) de 2008, 2009 e 2010,e terminarão na segunda metade de Agosto de 2011. No final do Curso seráentregue um diploma.O curso tem três departamentos: a) Cantores: cadeiras de tronco comum eespecíficas; b) Directores de Coros: cadeiras de tronco comum e específicas;c) Organistas: cadeiras de tronco comum e específicas. As condições geraispara a admissão, nas suas variadas vertentes são: a) prova de bom ouvido eboa voz, para todos e, sobretudo, para os Cantores; b) prova de formaçãomusical, de média dificuldade, para todos; c) prova de domínio de tecladopara os organistas; d) prova de capacidade para dirigir, para os directores deCoros; e) aceitação de regulamento do Curso que, por ser intensivo, implicatrabalho, disciplina e amor à causa. Com um número “clausus” de alunos (40Cantores, 30 Directores de Coros e 30 Organistas), o curso terá 13 professores:a) dois professores de formação musical; b) dois professores de DirecçãoCoral; c) quatro professores de Órgão; d) dois professores de Canto; e) umprofessor de Liturgia; f) um professor de História da Salvação; g) em professorde História da Música Sacra.“Um dia em peregrinação”Sem qualquer necessidade de marcação prévia por parte dos interessados,decorreu este ano mais uma <strong>ed</strong>ição do programa “Um dia em peregrinação”,iniciativa do Santuário de <strong>Fátima</strong>, desenvolvida pelo Serviço de Peregrinosatravés da secção Acolhimento e Informações, que é retomada todos os anos,de 16 de Julho a 15 de Setembro.122 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .Todos os dias e sempre com início marcado no “coração” do Santuário de<strong>Fátima</strong>, a Capelinha das Aparições, o programa assume-se como um conviteaos peregrinos que pretendam conhecer de forma acompanhada os locais, ahistória e a mensagem de <strong>Fátima</strong>.Neste projecto, que para além da exibição de vídeos e da visita aos principaislocais relacionados com as aparições, contempla também vários momentosde oração, o acompanhamento aos peregrinos estará uma vez mais acargo de um grupo de seminaristas.PROGRAMA: De segunda a sexta-feira: 10h15 – Saudação a NossaSenhora, na Capelinha; 10h30 –Encontro (junto à Azinheira grande) e visitaao Santuário; 12h00 – Rosário, na Capelinha; 12h30 – Missa, na Capelinha;15h00 – Vídeo (por baixo da Colunata Norte); 16h00 – Partida (frente aoPosto de Socorros), em autocarro; visita aos Valinhos e Aljustrel; 18h00– Regresso, com passagem pela Rodoviária; 21h30 – Rosário, na Capelinha,e procissão de velas. Sábado: 10h00 – Rosário, na Capelinha; 11h00 – Missainternacional, na ISST; 12h15 – Encontro (frente à porta principal da Igrejada Santíssima Trindade) e visita ao Santuário; 15h00 – Vídeo (por baixo daColunata Norte); 16h00 – Partida (frente ao Posto de Socorros), em autocarro;visita aos Valinhos e Aljustrel; 18h00 – Regresso, com passagem pelaRodoviária; 21:30 – Rosário, na Capelinha, e procissão de velas.Vida EclesialExposição “<strong>Fátima</strong> no mundo”Inaugurada por ocasião do encerramento das celebrações dos 90 anos dasAparições de Nossa Senhora em <strong>Fátima</strong>, a exposição “<strong>Fátima</strong> no mundo” foitransferida para a Igreja da Santíssima Trindade, também ela inaugurada emOutubro de 2007.Esta mostra exibe, no espaço conhecido como “Convívio de Santo Agostinho”,no piso inferior da Igreja da Santíssima Trindade, um vasto conjuntode fotografias de santuários, igrejas e capelas d<strong>ed</strong>icados a Nossa Senhora de<strong>Fátima</strong> nos cinco continentes. Conta também com um roteiro dos santuários eigrejas vistas do espaço (imagens de satélite), a partir do Google Earth, ondeé possível identificar alguns dos templos expostos em fotografia.As entradas são livres e permitem ao visitante conhecer de forma rápida eresumida alguns dos inúmeros lugares d<strong>ed</strong>icados a Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>,e aperceber-se da grande difusão da Mensagem de <strong>Fátima</strong>. Desde a primeiraCat<strong>ed</strong>ral no mundo d<strong>ed</strong>icada a Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>, a Sé Cat<strong>ed</strong>ral Nossa| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 123


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .Senhora de <strong>Fátima</strong> Mãe da Paz, em Nampula, Moçambique, sagrada a 23de Agosto de 1956, até outros locais menos prováveis como a Paróquia deNossa Senhora de <strong>Fátima</strong>, em Her<strong>ed</strong>ia, na <strong>Diocese</strong> San Jose de Costa Rica,na Costa Rica, construída em 1996 após a destruição da anterior igreja pelossismos de 1990.Fotograficamente, um dos grandes santuários expostos é o Santuário NossaSenhora de <strong>Fátima</strong>, em Zakopane, na <strong>Diocese</strong> de Kraków, na Polónia, cujaconstrução teve início em 1987 e terminou em 1994. Em 1987, o Santo PadreJoão Paulo II coroou a imagem de Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong> aí venerada e,em 7 de Junho de 1997, em viagem apostólica ao seu país natal, sagrou estaigreja–santuário e proclamou que a sua sobrevivência ao atentado de 13 deMaio de 1981 se deveu à intercessão da Virgem de <strong>Fátima</strong>: “A minha vida foisalva por intercessão da Virgem de <strong>Fátima</strong>”. O P. Drozdek, amigo pessoal deJoão Paulo II, foi o mentor e reitor.Perfil do visitante de <strong>Fátima</strong>No dia 27 de Setembro, Dia Mundial do Turismo, foi apresentado umnovo estudo sobre o perfil do visitante de <strong>Fátima</strong>, trabalho desenvolvidopela Escola Superior de Educação de <strong>Leiria</strong> (ESEL) e coordenado porGraça Poças Santos, no âmbito do Projecto de Investigação Identidade(s) eDiversidade(s) para a Cooperação Europeia dos Locais Maiores de Acolhimento(COESIMA) liderado a nível local pela Região de Turismo de <strong>Leiria</strong>/<strong>Fátima</strong>. A autora afirma que o estudo verificou a existência de uma “considerávelheterogeneidade” dos que visitam <strong>Fátima</strong>, considerando não estudaro fenómeno do Turismo Religioso “por ser uma excentricidade, mas sim porser uma realidade em crescimento em todo o mundo”.Dia Mundial das MissõesA 19 de Outubro, a Igreja Católica viveu o Dia Mundial das Missões. NoSantuário de <strong>Fátima</strong>, D. Augusto César, Bispo Emérito de Portalegre-CasteloBranco, exortou os peregrinos a, tal como o apóstolo Paulo p<strong>ed</strong>iu aos Tessalonicenses,serem “firmes na esperança e fecundos na caridade, como servose apóstolos de Jesus Cristo”. O prelado sublinhou que a fé “não assenta emteorias e promessas mas na pessoa de Jesus Cristo” e apelou aos cristãos paraque “saibamos cultivar a paz à nossa volta e rezemos por aqueles que não124 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .sabem ou não querem rezar”. Ainda na homilia da Eucaristia internacionaldesse domingo, no Recinto de Oração, D. Augusto César falou sobre a suavida de missionário: «Fala-vos quem esteve 16 anos nas missões, e ainda láestaria hoje, se Aquele que me enviou para lá, não me enviasse de lá para cá.As “missões” são o encanto da “missão”, na linha do bem-fazer, de partilhara sorte com os que mais precisam e de testemunhar a Jesus Cristo com entusiasmoe sem desistências. Em todas estas circunstâncias, devemos sentir oconforto da presença de Deus; e, se quisermos um modelo concreto que nosé proposto este ano, será S. Paulo, como gigante da fé».Não basta ser cristão, reiterou o Bispo, “é preciso ser apóstolo de convicçãoe de vida”, “em minha casa e junto dos que vivem comigo… no emprego,colaborando com todos e testemunhando a alegria de ser cristão… na paróquia,fazendo escola de comunhão e mostrando disponibilidade apostólica…e, segundo os apelos de mais longe e a inspiração de Deus, partindo comgenerosidade e com o coração agradecido e cheio de confiança”.No final da homilia D. Augusto César rezou: “Nossa Senhora de <strong>Fátima</strong>e Rainha das Missões… dai-nos muitos e santos missionários. E fazei-nos,ainda, servos, apóstolos e missionários, ao jeito dos Pastorinhos. Acolhei,também, as súplicas destes peregrinos aqui presentes e de muitos jovens indecisos.Tornai-os generosos, Ámen!”Vida EclesialSistema de videovigilância no Santuário de <strong>Fátima</strong>O Santuário de <strong>Fátima</strong> congratulou-se com a decisão do Ministério daAdministração Interna, com a assinatura do despacho que permitiu a activaçãodo sistema de videovigilância nos espaços do Santuário, por considerarque possibilitará aos peregrinos e visitantes maior segurança, tranquilidadee liberdade.O Santuário de <strong>Fátima</strong> é um local onde as pessoas se sentem seguras, porser espaço de oração e recolhimento, conhecido dentro e fora de fronteirascomo “cidade da paz”, e que pretende continuar a zelar pelo bem-estar e segurançados cerca de cinco milhões de peregrinos e turistas que anualmenteo visitam.Felizmente, não tem havido notícia de ocorrências graves, mesmo nasgrandes peregrinações que reúnem multidões vindas de vários lugares domundo (Em 2007, o Serviço de Peregrinos registou grupos de 74 países). Deacordo com os dados oficiais, mesmo os pequenos furtos vêm diminuindo.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 125


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .Reconhecendo e agradecendo o importante trabalho das forças policiaise de segurança nos espaços do Santuário, no tocante à segurança colectiva eao respeito dos direitos individuais, a instituição acr<strong>ed</strong>ita que a activação dosistema de videovigilância será uma mais valia para todos.Delegação do Iraque visita <strong>Fátima</strong>Liderada por Ammar Al-Hakim, vice-presidente do Conselho SuperiorIslâmico e líder político da actual coligação no governo do Iraque, uma delegaçãodaquele país esteve no Santuário de <strong>Fátima</strong> em Outubro deste ano.Para além de outros membros do Governo iraquiano, a missão integrou NazihRadwan, da Direcção do Fórum Luso Árabe, e o Embaixador do Iraque emPortugal, Mowafak Maroki.À chegada, o grupo foi recebido, no <strong>ed</strong>ifício da Reitoria, pelo Reitordo Santuário de <strong>Fátima</strong>, Padre Virgílio Antunes. Dirigindo-se ao grupo,o Reitor afirmou ser “para nós uma grande honra receber-vos aqui noSantuário de <strong>Fátima</strong>”. De seguida, resumiu a mensagem e a história dosantuário.A paz foi o tema fundamental do breve discurso de Ammar Al-Hakim,que começou por agradecer ao Santuário de <strong>Fátima</strong> o acolhimento caloroso.Sobre a situação no Iraque disse que “milagres estão a acontecer nas mãosde boas pessoas” e acrescentou que também a religião e a cultura islâmicaprocuram caminhos de entendimento para a paz no mundo.Em visita oficial a Portugal, Ammar Al-Hakim fez questão de visitar <strong>Fátima</strong>,segundo as suas palavras, porque “no Iraque ouvimos muito falar sobreesta cidade”.O grupo visitou a Capelinha das Aparições, onde Ammar Al-Hakim estevealguns minutos em silêncio a orar, a Basílica de Nossa Senhora do Rosárioe as casas de Francisco e Jacinta, e de Lúcia, em Aljustrel.Ciclo de conferências sobre São PauloO Santuário de <strong>Fátima</strong> leva a efeito, de Novembro de 2008 a Abril de2009, na Basílica de Nossa Senhora do Rosário, um Ciclo de Conferênciassobre S. Paulo, para o qual foram convidados vários especialistas. Cada sessão,sempre aos domingos e com carácter mensal, será enriquecida com umconcerto de órgão.126 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. Santuário de <strong>Fátima</strong> .As conferências dirigem-se a todos os que venham a interessar-se pelainiciativa e corresponde ao desejo da Conferência Episcopal Portuguesa naNota Pastoral “Ano Paulino, uma proposta pastoral”.Programa do ciclo:• 9 de Novembro, 16h00 – “A mensagem da Irmã Lúcia (e dos Pastorinhos)à luz de São Paulo”, pelo Doutor José Carlos Carvalho.• 14 de Dezembro, 16h00 – “S. Paulo - Uma vida ao serviço do Evangelho”,pelo Padre Doutor Gonçalo Teixeira Diniz.• 11 de Janeiro, 16h00 – “A vida nova em Cristo”, pelo Padre DoutorVítor Leitão Coutinho.• 8 de Fevereiro, 16h00 – “As comunidades cristãs de São Paulo”, por D.António Rocha Couto.• 8 de Março, 16h00 – “São Paulo e a Nova Evangelização”, por D. AnacletoCordeiro Gonçalves de Oliveira.• 19 de Abril, 16h00 – “As grandes descobertas de S. Paulo: Cristo, aIgreja e a Graça”, pelo Padre Doutor Jacinto Farias.Site do Santuário de <strong>Fátima</strong> em polacoA página oficial do Santuário de <strong>Fátima</strong> na Internet – www.fatima.pt– está também disponível em polaco. Esta iniciativa pretende dar resposta àssolicitações de peregrinos de outros idiomas, neste caso do Polaco, que desejamassim estar mais intimamente ligados ao Santuário de Nossa Senhora de<strong>Fátima</strong>, em Portugal.Recorde-se que, em 13 de Maio de 2004, o Santuário remodelou a suapágina oficial na Internet, na altura em dois idiomas – Português e Inglês.Em Abril de 2007 entrou on-line a <strong>ed</strong>ição em Italiano e, por ocasião da PeregrinaçãoAniversária de Outubro 2007, no encerramento dos 90 anos dasaparições de Nossa Senhora, a página disponibilizou também uma versão emEspanhol.Em resposta ao desenvolvimento que o site foi conhecendo, no Verãode 2008 proc<strong>ed</strong>eu-se a nova remodelação gráfica e, no que diz respeito aoArquivo Multimédia, à inserção de novos meios ao serviço dos internautas,com a disponibilização de ficheiros áudio e vídeo, que permitem o acesso ahomilias, entrevistas, pequenas reportagens e vídeos.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 127


. serviços e movimentos .Seminário Diocesano de <strong>Leiria</strong>As obras no <strong>ed</strong>ifício diocesanoComeçado a construir em 10 de Junho de 1962, nos terrenos da Quintada Bela Vista, o actual <strong>ed</strong>ifício do Seminário Diocesano abriu as portas a 2de Novembro de 1965 ainda com obras em curso. A inauguração oficial sóaconteceria no dia 22 de Maio de 1968.Com características únicas, era um dos <strong>ed</strong>ifícios mais notáveis da cidadee do país. Numa área coberta de 19070 m2, tinha capacidade para 250 alunosem 3 sectores (secções) diferentes, Seminário Menor, Seminário Médio eSeminário Maior, cada um com capela, refeitório, salas de aulas, quartos ezonas de recreio próprios. Em comum, havia ainda outras salas, igreja, ginásio,aula magna, enfermaria, biblioteca, museu e outros espaços de serviço.Além disso, havia também uma zona de quartos e habitação para empregadose outra para lar de sacerdotes. Na sua abertura, frequentavam o Seminário174 alunos.Na homilia proferida no dia da inauguração oficial, o senhor bispo D.João Pereira Venâncio d<strong>ed</strong>icou a nova igreja e todo o <strong>ed</strong>ifício ao patrocínio deNossa Senhora de <strong>Fátima</strong>. E D. Domingos de Pinho Brandão, bispo auxiliarda diocese, dizia em conferência proferida na mesma ocasião que “o Seminário-<strong>ed</strong>ifícioé obra de muitos e muitas coisas, desde o arquitecto à empresaconstrutora, desde a oração à oferta material, da pregação do sacerdote aoentusiasmo dos fiéis, desde o pequeno subsídio à oferta avultada (…) Tantosnomes, tanta d<strong>ed</strong>icação”.Com o passar dos anos, o <strong>ed</strong>ifício foi sendo usado cada vez mais para actividadesdiocesanos que não eram especificamente de formação e preparaçãosacerdotal, ao mesmo tempo que ia aumentando a área desabitada, por escassezde alunos. Foram assim surgindo adaptações e ajustes físicos, ao sabordas necessidades. Actualmente, o Seminário alberga uma escassa dezena dealunos provenientes de diferentes dioceses.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 129


. serviços e movimentos .Estes e outros condicionalismos levaram a equacionar uma remodelaçãono <strong>ed</strong>ifício que, sem esquecer a sua especificidade como casa de formaçãoe preparação de candidatos ao sacerdócio, permita acorrer também às necessidadesda reorganização pastoral da diocese. Depois de propostas d<strong>ed</strong>iferentes equipas, longamente discutidas, chegou-se ao projecto que está emexecução há cerca de um mês.Com esta remodelação, o Seminário que é o coração da <strong>Diocese</strong> por cuidarda formação dos candidatos ao sacerdócio, sê-lo-á por mais um motivo:sem deixar aquela sua função prioritária, será também espaço de formaçãolaical (Casa de Retiros) e s<strong>ed</strong>e dos organismos diocesanos (Centro Pastoral).A 1ª fase das obras abrange a Comunidade do Seminário e a Casa deRetiros e Formação; a 2ª fase abrange o Centro Pastoral e os grandes espaçosdo <strong>ed</strong>ifício; a 3ª fase, a Residência Sacerdotal e as salas comuns a todas asvalências.A primeira fase, já em execução, permitirá melhorar os espaços da Comunidad<strong>ed</strong>o Seminário, com 25 quartos que poderão triplicar, e criar uma Casade Retiros/Formação com 43 quartos que podem duplicar.O esforço financeiro ultrapassa as possibilidades do Seminário e da<strong>Diocese</strong>! Precisamos da ajuda de todas as comunidades cristãs e de cadaum dos seus membros. Para o efeito, sugerimos que, durante as obras, cadacomunidade organize, anualmente, uma festa de angariação de fundos e propomospara esta festa dois momentos principais: um tempo de oração pelasvocações, em especial sacerdotais, e um convívio cuja receita reverta a favordas obras do nosso Seminário.Pe. Armindo Janeiro (reitor)Comissão de obras e acompanhamento: Padre Manuel Armindo PereiraJaneiro (Reitor do Seminário e Coordenador das obras); Padre JorgeManuel Faria Guarda (Vigário Geral); Padre Cristiano João RodriguesSaraiva (Ecónomo Diocesano); Padre P<strong>ed</strong>ro Miguel Ferreira Viva(Ecónomo do Seminário); Monsenhor Henrique Fernandes da Fonseca;Padre António Lopes de Sousa.Equipa Diocesana de angariação de fundos: P. Armindo Janeiro; P. JorgeGuarda; Jacinta Santos; Joaquim Mexia; Joaquim Silva; Júlio Martins;Manuel Valentim; Vítor Joaquim.130 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .Serviço de Animação Vocacional“Acompanhar é começar por escutar”O acompanhamento personalizado faz o jovem entender o seu caminho eencoraja-o a responder positivamente ao chamamento de Cristo para seguiruma vocação concreta. Este foi um dos ensinamentos dados no encontro deformação sobre esta relação de ajuda, que teve lugar no Seminário de <strong>Leiria</strong>,no dia 22 de Novembro. Quase duas dezenas de sacerdotes, religiosas e leigos,participaram nesta iniciativa do Serviço de Animação Vocacional cujoobjectivo é sensibilizar para que cada vez mais pessoas se tornem disponíveise capazes de ajudar outros na sua caminhada de fé e da vocação.Partindo da sua experiência de acompanhamento vocacional de jovens,a irmã Maria Amélia Costa, franciscana da Imaculada Conceição, observouque eles estão “numa procura impressionante de Deus” e é preciso ir ao seuencontro onde eles estão. Encontrar-se com eles é, em primeiro lugar, escutarcada um com o coração e procurar conhecê-lo com grande compreensão epaciência. Quem faz caminho com um jovem para o ajudar espiritualmente,também aprende e é enriquecido por ele.Em diálogo e partilha mencionaram-se oportunidades que a catequese dosadolescentes, os grupos de jovens e mesmo a vida das famílias podem constituirpara levar os mais novos a conhecerem a ajuda a que podem recorrer.Por seu lado, a atenção e zelo dos <strong>ed</strong>ucadores, animadores, sacerdotes e paisnão deixarão perder as ocasiões para um diálogo oportuno e para proporem asolicitação de um acompanhamento espiritual de alguém de confiança.A formação, tal como a anterior realizada em Junho passado, concretiza asorientações pastorais do Bispo diocesano que tem sublinhado a “fundamentalimportância” da “chamada direcção ou orientação espiritual”, “forma privilegiadade acompanhamento personalizado e de discernimento vocacional”.Vida EclesialGrupo Vocacional de Santo AgostinhoO Bispo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> propõe, uma vez mais, aos jovens cristãos, rapazese raparigas, dos 20 aos 30 anos, abertos ao chamamento de Deus, umitinerário formativo designado por Grupo Vocacional Santo Agostinho. “Éuma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é ajudar a buscar a vontade| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 131


. serviços e movimentos .de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do projecto de vidapara servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um diz respeito”.O percurso consta de um encontro mensal, durante seis meses, de Fevereiro aJulho de 2009, em <strong>Fátima</strong>. Haverá também um retiro espiritual.A equipa de apoio é constituída por pessoas de diferentes vocações ligadasaos serviços diocesanos de pastoral juvenil e de animação vocacional. Odesdobrável com a proposta de D. António Marto, as informações gerais e aficha de inscrição encontram-se disponíveis no site da <strong>Diocese</strong>: www.leiriafatima.ptna secção “Notícias”, de onde pode ser descarregado. Quem desejarmais informações pode obtê-las junto de uma das seguintes pessoas: Irª ÂngelaCoelho (914 199 234), Padre Gonçalo Diniz (960 194 507), Padre JorgeGuarda (962 445 325) e Filomena Carvalho (962 550 764).Este grupo vocacional teve já dois percursos nos anos passados, comcerca de 30 jovens, alguns dos quais já clarificaram a sua vocação e tomaramdecisões, enquanto outros continuam em busca a melhor maneira de se empenharemna Igreja e na soci<strong>ed</strong>ade.Encontro de Animadores VocacionaisSubindo a escadaria do Santuário de Nossa Senhora da Encarnação, sobo impulso dos textos de São Paulo, os animadores vocacionais paroquiaisda vigararia de <strong>Leiria</strong> reuniram-se na noite de 10 de Dezembro para oração,formação e convívio. A organização foi da Equipa Vicarial de AnimadoresVocacionais, com apoio respectivo do Serviço Diocesano. Estavam cinco dasnove paróquias da Vigararia.No momento formativo, acolheram-se as orientações do bispo diocesanosobre a finalidade deste serviço: “preparar nas paróquias um terreno fértilpara que a acção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ouvido eseguido”. Ouviram depois o relato de uma experiência de caminhada naconstituição e definição de objectivos, e primeiras iniciativas de uma equipaparoquial das vocações. No diálogo, focaram-se algumas dificuldades e umaou outra acção já desenvolvida. Os animadores viram reconhecida e fortalecidaa sua missão.Este esforço de <strong>Leiria</strong> é sinal de que o novo “ministério da animaçãovocacional” se vai desenvolvendo nas comunidades cristãs. Já se avança, emboralentamente. A criação de um Grupo de Animadores Vocacionais em cadaparóquia ou vigararia faz parte das linhas de acção apresentadas pelo nossoBispo na sua carta pastoral de 2006 e reafirmadas na de 2007.132 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .Pré-SeminárioAlguém continua a chamar-teO Pré-Seminário é um serviço da <strong>Diocese</strong> de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> que pretendeproporcionar aos adolescentes e jovens da <strong>Diocese</strong> um espaço de discernimentoe acompanhamento no seu crescimento vocacional e de fé.Procura ajudar a criar na <strong>Diocese</strong> uma cultura da vocação ao sacerdócio.Destina-se a todos os rapazes a partir dos 12 anos (até qualquer idade)que apresentem sinais de abertura ao dom da vocação sacerdotal e estejamdisponíveis para descobrir e deixar entrar esse dom na sua vida.Actividades programadas para o ano lectivo 2008/09:08.Novembro.08: Encontro de Convocação22/23.Novembro.08: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos06.Dezembro.08: Primeiro Sábado20/21.Dezembro.08: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos03.Janeiro.08: Primeiro Sábado17/18.Janeiro.09: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos07.Fevereiro.09: Primeiro Sábado21.Fevereiro.09: Recolecção para o Grupo dos Mais Velhos28/29.Março.09: Peregrinação Diocesana09.Abril.09: Missa Crismal02.Maio.09: Primeiro Sábado16/17 Maio.09: Encontro com o Grupo dos Mais Velhos06 Junho.09; Primeiro Sábado6/7/8 Julho.09: Actividade de Verão.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 133


. serviços e movimentos .Serviço Diocesano de Catequese“A Bíblia na catequese e na vida”Encontro Diocesano de CatequistasO ginásio do seminário ficou praticamente cheio com cerca de 400 catequistasque responderam ao convite. Muitos vieram de Bíblia na mão para sesintonizarem com o Sínodo dos Bispos, sobre a Palavra de Deus, que, nesse5 de Outubro, se iniciava em Roma, e corresponderem à dinâmica do AnoPaulino e, nessa manhã do Dia da Igreja Diocesana, se unirem na perspectivacomum do ano pastoral: “Ir ao coração da Fé – Formar para uma Fé adulta”.O Pe. Paulo Malícia, director do Secretariado da Catequese de Lisboa, começoupor aprofundar a importância da Palavra de Deus na catequese, referiuas várias formas de contacto com a Bíblia e ajudou a ler um texto bíblico,fornecendo um esquema de leitura desde a pré-compreensão, à exegese dotexto e sua actualização existencial e ao compromisso para a vida. Salientouainda a necessidade de compreender a mensagem como uma boa notícia, querpara o catequista quer para o catequizando.Alguns aspectos práticos foram também referidos: a necessidade de habilitaras crianças e adolescentes para o contacto com a Bíblia, a importância deum «cantinho da Bíblia», nas salas de catequese, para que os catequizandoscompreendam desde c<strong>ed</strong>o que é um livro diferente, a leitura directa da Bíblianas catequeses e a necessidade de os catequistas trabalharem os textos bíblicosem casa.Seguiu-se uma parte prática de aplicação do que foi aprofundado. Nummomento de partilha e oração, 30 grupos, espalhados pelo seminário, procuraramconcretizar o esquema de leitura de um texto bíblico.Após o plenário dos grupos, o Encontro terminou com um apelo à paixãopela Palavra de Deus que fará de cada um seu portador. A tarde foi preenchidacom a Assembleia Diocesana.134 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .Catequese com espaço na internetEm plena época de início das catequeses paroquiais, apresentamos umsítio, www.catequeseparoquial.net, para apoio aos catequistas durante todoo ano. É um espaço em que se disponibiliza uma grande quantidade de subsídiospara a apresentação e desenvolvimento dos temas dos diferentes anoscatequéticos, se incentiva a partilha entre catequistas, e se expõe um largorepositório de textos e apresentações multimédia.Na página inicial encontram-se alguns pequenos artigos em destaque. Noitem “catequese”, há documentos importantes sobre os 10 anos do itinerário,com temáticas adequadas. Se pretendemos numa reunião de pais, saber paraque serve a catequese, há um esquema apropriado em “reuniões de pais”. Naopção “catequistas” apresentam-se temas de formação própria e de p<strong>ed</strong>agogia.Também não foi esquecida a catequese de adultos (informações em “adultos”).Em “dinâmicas”, encontram-se várias formas de desenvolvimento e explanaçãodos temas. Por último, a ideia do blog, neste momento desactualizado, épermitir um contacto permanente, directo e regular entre os visitantes.Fica a sugestão. Quem organiza reuniões de pais, sessões de catequese,espaços de oração, dinâmicas e jogos de grupo… pode disponibilizá-los paratodos colocando-os aqui.Vida EclesialCampanha para o Advento 2008“Postais de Natal”O Serviço Diocesano de Catequese apresentou uma proposta de caminhadadesde o início do Advento até ao final do Natal. É uma campanha para ascatequeses da infância e adolescência que, sob o imaginário «Postais de Natal»,contribui para uma aproximação à Bíblia, na linha da formação propostapelo nosso Bispo para este ano pastoral.Recebendo um postal de Natal por semana, cada criança e adolescenteacolhe a Palavra de Deus sobre o mistério da Encarnação de Jesus Cristo,celebrado na liturgia, e será convidado a partilhar a sua fé com os outrospara que a manifestação do Senhor (Epifania) chegue a toda a humanidade. Acompletar a vertente missionária, há um convite para uma recolha de fundospara a Infância Missionária e de catecismos para a missão da <strong>Diocese</strong> noGungo (Angola).| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 135


. serviços e movimentos .Programa de actividades de 2008-2009No mês de Setembro: 9: Reunião da Equipa; 16: Exames da 2ª Época;23: Reunião da Equipa; 30: Abertura da Escola Diocesana «Razões da Esperança».Outubro: 5: Encontro Diocesano de Catequistas; 7: 1ª Escola Diocesana«Razões da Esperança»; 14: Reunião da Equipa; 21: 2ª Escola Diocesana«Razões da Esperança»; 25: Encontro de Formação sobre os novos catecismos.Novembro: 4: 3ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 11: Reuniãoda Equipa; 18: 4ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 19: Reuniãocom os Padres Responsáveis Vicariais da Catequese.Dezembro: 2: 5ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 9: Reunião daEquipa; 16: 6ª Escola Diocesana «Razões da Esperança».Janeiro: 6: 7ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 13: Reunião daEquipa; 20: 8ª Escola Diocesana «Razões da Esperança».Fevereiro: 3: 9ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 10: Reuniãoda Equipa; 17: 10ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 21 – 22: EncontroInterdiocesano – Catequistas da Zona Centro.Março: 3: 11ª Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 10: Reunião deEquipa; 13-15: Retiro Diocesano de catequistas; 17: 12ª Escola Diocesana«Razões da Esperança»; 31: 13ª Escola Diocesana «Razões da Esperança».Abril: 14-17. Encontro nacional dos Secretariados Diocesanos; 21: 14ªEscola Diocesana «Razões da Esperança».Maio: 5: 15ª Escola Diocesana «Razões da Esperança», 12: Reunião daEquipa, 19: 16º escola Diocesana «Razões da Esperança».Junho: 2: Encerramento da Escola Diocesana «Razões da Esperança»; 9:Reunião da Equipa.136 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .Serviço Diocesano da Juventude“4x4” – Formação de animadores juvenisNuma leitura atenta da situação da <strong>Diocese</strong> no que diz respeito à pastoral juvenil,reconhece-se uma urgência no campo da formação de animadores de jovens.Para dar resposta a esta necessidade, e de acordo com as prioridades desteano pastoral a nível diocesano, o Serviço Diocesano da Pastoral Juvenil (SDPJ)decidiu fazer uma aposta séria na formação de animadores, aberta também aoscatequistas dos últimos anos de catequese da adolescência (9º e 10º anos).Esta formação destina-se a todas as pessoas que já trabalham no âmbitoda pastoral juvenil ou que possam vir a fazê-lo, sobretudo na animação degrupos de jovens, tanto no espaço paroquial como no seio de movimentoseclesiais e aos catequistas ou futuros catequistas dos 9º e 10º anos da catequese.Os participantes devem ter pelo menos 20 anos.Os objectivos desta equipa são capacitar os destinatários para o desempenhoda missão de animador, ajudar a aproximar o projecto de Jesus Cristoda realidade actual da juventude, aprofundar a animação de jovens como<strong>ed</strong>ucação na fé e para a fé, promover o gosto pelo trabalho de animação comos jovens, contribuir para a vivência da própria vocação como animador dejovens e apontar caminhos práticos no relacionamento com os jovens e nodesenrolar da dinâmica de grupo.A formação decorrerá em duas modalidades alternativas: a) De Outubroa Maio, quinzenalmente, inserida na Escola Razões da Esperança (às terçasfeirasno Seminário de <strong>Leiria</strong>): na primeira hora (das 21h00 às 21h45), osparticipantes assistem à formação teológica geral proposta; na segunda hora(das 22h00 às 22h45), tem lugar a formação “4x4” propriamente dita; b)Durante quatro sábados, em sessões de quatro horas (das 09h00 às 13h00),numa frequência quinzenal. Esta modalidade realiza-se três vezes ao ano, emlugares distintos da <strong>Diocese</strong>, para facilitar o mais possível a participação detodos os interessados: Em <strong>Leiria</strong> (Salão da Quinta da Matinha): 18 de Outubro;8 e 22 de Novembro; 13 de Dezembro. Na Bajouca: 17 e 31 de Janeiro;14 e 28 de Fevereiro. Em <strong>Fátima</strong> (Salão da Igreja Paroquial): 18 de Abril; 9,23 e 30 de Maio. Seguir-se-á como linha orientadora o “Curso de Iniciaçãopara Animadores de Pastoral Juvenil”, completado e adaptado de acordo comos objectivos e destinatários.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 137


. serviços e movimentos .O I Módulo – Pastoral juvenil e dinâmica de grupo – tem quatro temas:A Pastoral Juvenil, A animação, O Grupo na Pastoral Juvenil e Dinâmica degrupo. O II Módulo – O animador – tem como temas: A vocação, A espiritualidad<strong>ed</strong>o animador, A maturidade do animador e O animador – mestre eacompanhante. O III Módulo – A animação do jovem: processo <strong>ed</strong>ucativo– apresenta os seguintes temas: A dimensão da identidade, A dimensão relacional,A dimensão social e A dimensão espiritual. O último e IV Módulo– Metodologias – visa os seguintes temas: Planificação e avaliação (ou:Avaliação e planificação), Dimensões da animação, Dinâmicas de grupo eExpressão e linguagem.As inscrições deverão ser enviadas para: geral@sdpj.com.<strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong> vence festival nacional“Recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós, e sereis minhastestemunhas” (Act 1, 8). Este foi o tema do VII Festival Nacional Jovemda Canção Mensagem que se realizou no dia 1 de Dezembro de 2008, pelas15h00, no pavilhão multi-usos em Coimbra. Participaram 13 das 19 diocesesdo país e o Secretariado Diocesano Pastoral Juvenil (SDPJ) de Coimbra, emconsonância com todos os SDPJ, foi o responsável pela organização. A <strong>Diocese</strong><strong>Leiria</strong>/<strong>Fátima</strong> esteve muito bem representada.O grupo de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, ANIMAchorus – Cortes <strong>Leiria</strong>, foi o grandevenc<strong>ed</strong>or. Além do primeiro prémio, ainda obtiveram o de melhor música e,o mais importante, segundo eles, o prémio Ser, atribuído pelos colegas concorrentes,o que demonstra grande carinho pelos nossos participantes. Istoguarda-se no coração!De facto, o nosso grupo teve uma presença muito forte ao longo destesdias. Pr<strong>ed</strong>ominou a boa disposição e, acima de tudo, o companheirismo.Sempre activos, na Eucaristia, nas orações, na catequese, no serão, por ondeandaram cativaram sorrisos! Foram merecidos venc<strong>ed</strong>ores, pela qualidade damúsica e pelas pessoas que são, humildes, simpáticos, divertidos, trabalhadorese cheios de força (do Espírito Santo).ANIMAchorus, em Latim, Coro da Alma, em Português, ó o nome dogrupo constituído por sete elementos que partilham um sentimento comum ea música! Sentem também o orgulho de poderem, através da música, “espalhara palavra que cada uma traz (…) sobre Deus, e a união de todos num só.”(Fábio Ferreira – teclista, palhaço e muito amigo de todos).138 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .O programa teve início no dia 30 de Novembro, com o acolhimento às10h00, seguido da oração da manhã. Primeiro encontro de todos os concorrentes,primeiro e único, diria, tendo em conta que, a partir de então, os doisdias se viveram em plena comunhão, sem mais separação. “O festival foiuma experiência única! Já tinha começado a nível regional e a atitude foisempre a mesma, com a diversão, o convívio e a mensagem a orientarem anossa caminhada! Ainda agora terminou, e as saudades já se fazem sentir…”(Joana Bento – voz).Seguimos para o autocarro panorâmico, em passeio por Coimbra, aosabor do vento, chuva e muito frio! Almoço e, durante a tarde, os testes desom quando cada grupo realizou alguns ensaios sob o olhar atento do júricomposto por um elemento representante dos SDPJ. Às 19h00 fomos para aIgreja de São José onde participámos na Eucaristia presidida por D. Serafim,bispo emérito da nossa diocese, e animada pelos concorrentes do festival.Jantámos e seguimos logo para um serão muito alegre, entre danças, jogos emuita, muita união e companheirismo. “Foi simplesmente fantástico, cheiode alegria e diversão! Adorei estar lá, principalmente no que toca às amizades!”(Marcelo Andrade – percussão).No grande dia, iniciámos a manhã com uma catequese esclarec<strong>ed</strong>ora <strong>ed</strong>inâmica. Já se sentia a ânsia e o nervosismo mas pr<strong>ed</strong>ominou a união. Defora, ninguém percebia quem era de cada diocese, não havia grupos, antes umsó, de amigos a partilharem uma única experiência de fé e cheios da força doEspírito Santo. “Senti uma imensa alegria, felicidade, companheirismo e pazinterior, uma vontade de levar a música e a fé pela terra fora, de levar estaalegria a todos ”(Helder Brites – baixo)O grande momento chegou, mas nunca se sentiu espírito de competição,antes de união. Todos deram o seu melhor e todos se apoiaram mutuamente,numa vibração muito positiva e aconchegante. Afinal todos já eram venc<strong>ed</strong>ores.Melhor do que ninguém, só eles podem descrever o que se viveu. “Existemmomentos que nos marcam e que nunca mais esqueceremos como os deconvívio, alegria, paz, fé, partilha, loucura, conhecimento, amor e muita emoção,quando todos fomos um durante um festival onde acolhemos o EspíritoSanto! (…). Obrigado pela oportunidade de levar a mensagem a todos comocanção e a honra de sermos ainda mais felizes! Ao grupo de 7 elementos,mais um, a nossa júri, e às nossas famílias e amigos, que estiveram sempre atorcer por nós, muito obrigado!” (Marco Fernandes – voz).Catarina BagagemVida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 139


. serviços e movimentos .Comissão Diocesana Justiça e PazColóquio “Direitos Humanos:limites e potencialidades no contexto actual”Ocorreu em 10 de Dezembro de 2008 o sexagésimo aniversário da adopçãoe proclamação da Declaração Universal dos Direitos do Homem pelaAssembleia-geral da ONU. A declaração defende, logo no seu preâmbulo, adignidade da pessoa humana e os seus direitos, iguais e inalienáveis, a justiçae a paz no mundo, a liberdade religiosa e a libertação de todos os homens doterror e da miséria, a protecção dos direitos humanos através do estado d<strong>ed</strong>ireito, a igualdade de direitos de homens e mulheres, numa palavra, a instauraçãode melhores condições de vida, dentro de uma liberdade mais ampla.Sabendo o enorme contributo que esta carta ética universal tem prestadoao longo destes anos ao serviço do homem, sabendo também as enormeslimitações a que ainda hoje está sujeita uma enorme multidão de pessoasno nosso país e no mundo, a Comissão Diocesana Justiça e Paz, na linha daDoutrina Social da Igreja e tendo sempre presente a referida Declaração daONU, tem vindo a promover uma série de colóquios sobre direitos humanose realidades actuais.A mesma Comissão Diocesana quis assinalar o aniversário da DeclaraçãoUniversal, com a realização, a 11 de Dezembro, data quase coincidente, demais um colóquio no qual se fez o ponto da promoção dos direitos humanos,tendo em conta situações como a que se refere à realização do Estado de Direitoe à matéria candente das relações entre a ética e a vida política.Para tanto convidou uma autoridade eminente da Igreja Católica nest<strong>ed</strong>omínio, o Sr. D. Carlos Azev<strong>ed</strong>o, Bispo Auxiliar de Lisboa e Presidente daComissão Episcopal de Pastoral Social, que versou o tema “Direitos Humanos:limites e potencialidades no contexto actual”.“Direitos humanos e Vida cristã” – Texto de D. Carlos Azev<strong>ed</strong>oAc<strong>ed</strong>endo ao p<strong>ed</strong>ido da Comissão Diocesana Justiça e Paz, que desejavaanunciar o 4º colóquio sobre Direitos humanos e Realidades actuais, D. CarlosAzev<strong>ed</strong>o disponibilizou o seguinte texto sobre “Direito humanos e Vidacristã”, que foi publicado alguns dias antes, na imprensa diocesana:140 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .Um grande avanço na civilização representa a sistematização e formulaçãojurídica desse critério maior, resultante da simples condição humana,da defesa da sua dignidade. Hoje parece-nos incrível como é que tão tardiamente(1948) se tenha chegado à proclamação da Declaração Universal dosDireitos humanos, que afirma no artigo primeiro: “Todos os seres humanosnascem livres e iguais em dignidade e em direitos. São dotados de razão econsciência e devem agir uns com os outros com espírito de fraternidade”.Continua contudo a ser urgente esclarecer o ensino da Igreja sobre a matéria.Faz parte da missão essencial da Igreja proclamar a dignidade do serhumano. As razões para esta identificação são profundas e próprias. Paraos cristãos, cada ser humano é criado à imagem de Deus, amado por Deuse salvo por Cristo.É por isso imperativo para os cristãos trabalhar com todas as energias esempre para valorizar tudo o que salvaguarde e promova a dignidade humana,recebida do Criador. Aqui os cristãos unem-se a muitos outros irmanadosna construção da fraternidade humana.Muitos e significativos passos têm sido dados para garantir a aplicaçãodesses direitos nas decisões dos governos e nas relações internacionais.Constituem talvez a página mais bela da humanidade no século XX que, emcontraponto, tão dolorosamente sofreu atentados graves contra o espíritopatente na Declaração.Existe ainda muito trabalho p<strong>ed</strong>agógico para transmitir às novas geraçõeseste património, de modo a ser preocupação comum de todos e não assuntode especialistas. Acontecem ainda limites postos a uma efectiva práticade todos os direitos: direito á vida, à liberdade e à segurança pessoal, à justiça,ao respeito pela vida privada e familiar, domicílio e correspondência;à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; à liberdade de opiniãoe de expressão, de reunião e associação; à <strong>ed</strong>ucação e à participaçãona vida cultural, à escolha de residência, ao benefício de asilo, de casar econstituir família, à participação na vida pública, ao trabalho sem discriminação,ao repouso a ao tempo livre, direito a não ser pobre.Aprofundar as nossas motivações cristãs, perceber a fundamentaçãoque inspira a nossa luta pelos direitos humanos é serviço essencial para osnossos dias. A base da nossa acção necessita de muita solidez perante o pluralismotendencioso que desvaloriza os critérios universais de valores.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 141


. serviços e movimentos .Serviço de Animação MissionáriaCongresso Missionário 2008Convocados pelo Espírito, por meio dos pastores da Igreja em Portugal,reuniram-se em <strong>Fátima</strong>, de 3 a 7 de Setembro, oito centenas de participantesportugueses e representantes de diversos países. O dia 6 foi enriquecido coma presença e a juventude do voluntariado missionário.Dez anos após o Ano Missionário de 1998, o Congresso celebrou, reflectiue apontou caminhos de futuro a partir do tema: “No encontro com Cristovivo, chamados e enviados para a Missão em Portugal e no mundo”, e sob olema: “Portugal, rasga horizontes, vive a Missão”.Linhas de forçaDeus, Trindade de Amor, envia a humanidade toda a fazer do outro umirmão. A Missão é de Deus. Por isso, ao tomar parte na vida de Cristo, o baptizado,é impelido a ser contemplativo e servo da sua Palavra.A Missão de cada cristão é tarefa indelegável. Esta concretiza-se no espaçoe no tempo, conhecendo e amando aqueles a quem se é enviado. A vivênciacomunitária da fé em família, na paróquia, na diocese ou comunidades devida consagrada, é o testemunho mais cr<strong>ed</strong>ível do anúncio de Deus-Amor.A Santidade (sair de si por amor) e a Missão (ser enviado por Deus ao diferente)são o húmus vital de todo o cristão e de todas as actividades pastorais.Com o Concílio Vaticano II (1965), assistimos a uma nova compreensãoda Missão. Cada um de nós é, simultaneamente, enviado e destinatário daevangelização. O Espírito é o protagonista da Missão e a Igreja Local o seusujeito de encarnação e vivência. Nela e a partir dela, surgem e actuam todasas vocações missionárias laicais, consagradas e sacerdotais. O despertar dolaicado para a Missão é hoje um dos sinais dos tempos.Em pleno Ano Paulino, o Apóstolo dos gentios, com o seu itinerário deconversão e missão, é para nós modelo a conhecer melhor e a seguir no zeloe na urgência de evangelizar.Para além de momento privilegiado de reflexão e partilha, o Congressofoi também uma experiência de comunhão na dor com os nossos irmãos perseguidosna Índia e em outras situações de falta de liberdade religiosa.142 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .PropostasSentimos o coração a arder e desejamos que toda esta riqueza possacontribuir para a Igreja em Portugal viver mais em Missão. Por isso, comoCongressistas, propomos que:A Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) promova uma melhor coordenaçãoe integração das diversas áreas pastorais para todas serem fecundadaspelo dinamismo missionário e anseio de santidade.A CEP, partindo do Congresso Missionário e do Ano Paulino, avive avocação missionária de todos os cristãos e prepare um documento-base paraa Missão em Portugal.Cada Igreja Local incentive a criação de estruturas e dinâmicas que demonstrema consciência e urgência do anúncio do Evangelho: Secretariadodiocesano missionário, grupos missionários paroquiais, semanas de animaçãomissionária, geminações, voluntariado, sacerdotes “fidei Donum”, institutosde vida consagrada...Cada diocese promova, oportunamente, um Congresso Missionário Diocesano.Promova-se formação missionária às crianças, jovens, adultos, seminaristas,consagrados e sacerdotes, de acordo com o novo paradigma de Missão.Fomente-se, com espírito de solidari<strong>ed</strong>ade e subsidiari<strong>ed</strong>ade, a comunhãoe a partilha de fé, de pessoas - numa dinâmica de partir e receber - e de bensentre as diversas Igrejas.Ajude-se cada cristão a crescer até à estatura de Cristo, Sacerdote quecelebra a liturgia e oferece a sua vida pela salvação de todos, Profeta queproclama a Palavra de Deus e denuncia as injustiças e contravalores da suasoci<strong>ed</strong>ade e cultura, e Rei que serve com caridade os mais desprotegidos eexcluídos.Num mundo global e em mudança, à procura de sucesso mas infeliz, queremosviver em Missão e anunciar Cristo Vivo ao mundo, sendo profetas daesperança e rasgando novos horizontes.<strong>Fátima</strong>, 7 de Setembro de 2008Os participantes no congresso missionário nacionalVida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 143


. serviços e movimentos .Cáritas DiocesanaPor Ambrósio Santos, Presidente da Cáritas DiocesanaApontamentos de VerãoNão tem férias, a solidari<strong>ed</strong>ade genuína e verdadeira. No frenesim dosdias de verão, como nos dias sombrios do Inverno mais agreste. O tempo deprecisar não conhece hora marcada, e o de estar disponível não escolhe estaçõesnem dias, porque é sempre tempo de <strong>ed</strong>ificar, de ajudar e de construir.E é mesmo nos aprazíveis meses do verão que ganham visibilidade maioras acções mais estruturadas da Cáritas de <strong>Leiria</strong> no seu equipamento na praiada P<strong>ed</strong>rógão. Uma casa que nesta época regurgita de actividade e azáfamalaboriosa, com as actividades ali desenvolvidas em prol das gerações maisnovas e das pessoas mais velhas.São perto de oito centenas as pessoas que, de Maio a Setembro, encontramnaquele espaço, por entre o marulhar das ondas e o verde ondulante da mata, oambiente propiciador do desenvolvimento das suas capacidades, uns, e o convíviosaudável que ajuda a retemperar energias e refazer equilíbrios, outros.Para as crianças: crescer em tempo de fériasDesde o dia 22 de Julho que a Casa ficou cheia da vozearia alegre dascrianças. Um frenesim de actividades e emoções que se vão prolongar até jáperto do recomeço das aulas.As colónias da Cáritas são, como não podia deixar de ser, um tempo delazer e de brincadeiras. Mas visam também a descoberta e desenvolvimentode capacidades, a aprendizagem da vida em grupo, escola de socialização <strong>ed</strong>e integração social onde se aprende também a respeitar e a conviver com aslegítimas diferenças.Na Cáritas, entende-se que não é legítimo falar de colónias de férias semdar lugar às dezenas de jovens monitores e monitoras. Rapazes e raparigas,mais novos ou já em vida profissional, tirando dias de férias para não faltar, anoapós ano. São eles e elas os pais, as mães, os psicólogos, enfermeiras, animadorase quanto mais. São tudo, na colónia, dando-se todos os dias, até à exaustão.144 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .A recompensa? Fazer uma experiência de voluntariado em gratuidade total,ficar de bem consigo e com os outros, e experimentar a satisfação ímpar deter conseguido, de vencer os próprios limites e pôr as capacidades pessoais aoserviço do projecto comum de ajudar 300 crianças a crescer e ser felizes. Umap<strong>ed</strong>rada no charco da m<strong>ed</strong>iocridade, e a esperançosa certeza de muitas mãosque não cessam de abrir-se em promissores gestos de humanidade.Um lugar ao sol, também para os mais velhosComeçaram a chegar na segunda quinzena de Maio, os primeiros grupos.Vindas de S. Catarina da Serra, Ourém, Tomar, Junceira, Ferreira do Zêzere,Cruz da Légua, <strong>Leiria</strong>, Porto de Mós, Torres Novas, <strong>Fátima</strong>, e também osCentros de Recuperação Infantil de Ourém e de <strong>Fátima</strong>, foram até agora 304as pessoas que, por iniciativa das suas instituições, encontraram na Casa umambiente acolh<strong>ed</strong>or e tranquilo, para alguns dias de repouso e de animado convívio.Após as crianças, outros grupos se seguirão, até meados de Outubro.Por breves que sejam, em cada ano, os dias ali passados, eles são intensamentevividos e saboreados, ajudando a contrariar a rotina dos diasinvariavelmente iguais, a vencer desalentos e a retemperar energias físicas eespirituais, num ambiente de rara beleza.Uma saudação, por isso, e aplauso, bem merecidos, para as instituiçõesque cultivam esta preocupação de proporcionar aos seus idosos oportunidadescomo esta.Vida EclesialVida Ascendente – a coragem de acr<strong>ed</strong>itarMas nem só das instituições partem as belas iniciativas.Foi o caso da “Vida Ascendente – movimento cristão de reformados”.Atentas aos apelos que emanam da matriz que lhe dá o nome, as suas responsáveispuseram mãos ao trabalho. Dinamizaram-se vontades, motivaram-sevoluntárias, por todas as formas trataram de reunir os meios.Diversas entidades deram a sua colaboração, para que nada faltasse, e atéequipamentos especializados foram trazidos, para que algumas pessoas emsituação “especialíssima” pudessem, uma vez na vida, saborear o prazer docontacto com a água do mar.Coisas banais, dirão alguns; mas acontecimento único para o Luís, quehá seis anos não saía de casa, ou para o Tiago, ambos em cadeira de rodas| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 145


. serviços e movimentos .e também para a Isabel a quem, por não ver, nunca fora dado experimentaressa sensação.Um aplauso agradecido para Governo Civil de <strong>Leiria</strong>, Juntas de Freguesiado Coimbrão e Chainça, Bombeiros Voluntários de <strong>Leiria</strong>, nadador salvadordo Clube de Pesca do P<strong>ed</strong>rógão, Santuário de <strong>Fátima</strong>, Paróquia do Arrabal,Grupo de Jovens Missionários da Consolata, e outras pessoas que levaramamizade e animação ao grupo reunido no Casa da Cáritas.Mais de cinquenta pessoas, em situações e de proveniências diferentes,mas todas amarradas a um quotidiano invariavelmente estreito e muitas vezessofrido, puderam, assim, saborear dias felizes de saudável convívio, numespaço diferente a agradável, quebrando a monotonia dos dias penosamenteiguais.Na hora de regressar, tão intensa era a satisfação comum, que não erapossível distinguir para que lado pendia a felicidade maior: se a das que s<strong>ed</strong>eram e organizaram, se a de quem recebeu com simplicidade e alegria. Emcircunstâncias como esta, como não recordar Bento XVI na mensagem para aQuaresma deste ano?: “Quando partilhamos com amor, tudo nos retorna soba forma de bênção, de satisfação interior, de alegria e de paz”.Pastoral Social em CongressoDe 9 a 11 de Setembro, decorreu em <strong>Fátima</strong>, no Centro Social Paulo VI,o I Congresso da Pastoral Social.Subordinado ao tema “Intervir na soci<strong>ed</strong>ade, hoje! memória e projecto”,contou com a participação de reputados conferencistas que reflectiram sobreas linhas que distinguem a identidade cristã da acção social da Igreja, discutindoo presente, com os olhos postos no futuro.Destinou-se a quantos intervêm, de alguma forma, nas nossas instituiçõesde acção social e espera-se que venha a repercutir-se nas comunidades, comoverdadeira força mobilizadora.21 de Setembro: Cáritas de Portugal, rumo a <strong>Fátima</strong>Foi o III Encontro Nacional de todas as Cáritas Diocesanas, que assumecomo tema central “Na diversidade, peregrinos da verdade”. O encontro destinou-sea todos os colaboradores, voluntários e utentes das Cáritas Diocesanase aos grupos paroquiais sócio-caritativos que se relacionam com elas.146 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. serviços e movimentos .Pretendeu-se reforçar os laços por que se exprime a identidade comum,aprofundar motivações e estimular para uma acção generosa e esclarecidaque constitua compromisso efectivo pela promoção e ajuda aos mais pobres.Uma causa social, mobilizadora e concreta, foi também proposta aos participantese outras entidades: a reunião de meios para atribuição de dez bolsas deestudo para estudantes em formação superior, atendendo às imensas dificuldadesque têm sido presentes à Cáritas Portuguesa.Peregrinação a <strong>Fátima</strong>O III Encontro Nacional da Cáritas teve lugar no dia 21 de Setembro,em <strong>Fátima</strong>, como os anteriores, para onde peregrinaram, mais uma vez, asCáritas Diocesanas e Paroquiais, grupos de acção social identificados coma missão e acção da Cáritas, colaboradores, voluntários e utentes dos seusserviços. Para orar aos pés de Maria, para lhe consagrar o trabalho generoso <strong>ed</strong><strong>ed</strong>icado, feito de Norte a Sul de Portugal, na ajuda e promoção daqueles quesão também os seus filhos mais dilectos.Foi também ocasião para reforçar os laços por que se exprime identidadecomum, e para aprofundar o sentido evangélico e evangelizador do serviçoaos outros, sobretudo os mais empobrecidos e marginalizados. A reunião demeios, através da venda de um boné identificativo, para 10 bolsas de estudopara estudantes pobres, foi a causa social que deu sentido concreto ao espíritoque a todos reuniu.Vida EclesialCampanha Anual: “Acender estrelas pela paz”Num mundo tão atravessado de contradições e conflitos e graves ameaçasà segurança humana e ambiental, não são demais os esforços e iniciativas deexposição pública da causa da paz. Compreender-se-á, por isso, que a Cáritas,a todos os níveis da sua organização, abrace também com entusiasmo a causada paz, tão indissoluvelmente ligada à dignidade, ao bem-estar e ao desenvolvimentodos povos.Foi a constatação da precari<strong>ed</strong>ade da paz e da necessidade de continuadament<strong>ed</strong>esenvolver esforços no sentido da sua construção ou consolidação,que fez a Cáritas em França desencadear a operação “Dez Milhões de Estrelas,um Gesto pela Paz”, há mais de 30 anos. A iniciativa está hoje difundidaum pouco por todo o mundo e conta também com a participação das Cáritas| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 147


. serviços e movimentos .de Portugal que, vai para seis anos, a realizam anualmente, na quadra do Natal.Sensibilizar e <strong>ed</strong>ucar para uma cultura de paz, alicerçada nos valores universaisda solidari<strong>ed</strong>ade e da justiça, é o objectivo da operação “10 milhõesde estrelas” que, nos dois momentos mais marcantes, recorre à linguagemsimbólica para se exprimir e comunicar.Assim, na noite de Natal, as famílias foram convidadas a fazer brilhar nasjanelas ou varandas de suas casas, a chama de uma vela, dando visibilidade àesperança universal, evocada nessa noite, de um mundo mais justo e solidário.Além de símbolo, a vela é também um instrumento ao serviço da partilhade bens com os mais pobres. Adquiri-la constitui um gesto de descentramentoindividual, mas também uma forma de ajudar numa causa social de âmbitointernacional, (neste ano, projectos de apoio à comunidade minoritária dosPigmeus, na República do Congo, nas áreas da saúde e <strong>ed</strong>ucação), e de colaborarna ajuda aos mais desamparados e desprotegidos, através da Cáritasde cada diocese.Com a colaboração da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia de<strong>Leiria</strong>, “10 Milhões de Estrelas - um gesto pela Paz” desenvolveu-se tambémno espaço público, com a Festa pela Paz. Aberta à participação de todos, foiem <strong>Leiria</strong>, na tarde de 13 de Dezembro, no palco da Aldeia de Natal, junto aojardim da cidade.Indiferentes ao frio e à chuva copiosa no último sábado à tarde, centenasde pessoas acorreram a esta Festa pela Paz. E não foram iludidas as expectativasdos participantes. Cerca de duzentas crianças e jovens de escolas ecolectividades do concelho encherem de cor e de ritmo uma tarde que seprefigurava cinzenta, mas que acabou por constituir um tempo bem agradável,marcado pela alternância das danças ao som de ritmos trepidantes, dascanções de mensagem, de interpretações de música instrumental e tradicionalportuguesa, do coro das crianças e das coreografias de belo efeito cénico.Diferentes, mas igualmente belas, foram as formas por que se exprimiramo talento, a criatividade, o bom gosto e a alegria das gerações mais novas.A uni-las, o propósito comum de sensibilizar, formar e fortalecer as consciênciaspara uma cultura de solidari<strong>ed</strong>ade e de paz; não uma paz qualquer,mas a paz autêntica assente em fundamentos sólidos como o são a justiça, aprevalência do bem comum, e os direitos humanos; não uma paz anónimae distante, mas aquela que está ao alcance da cada um, no dia a dia, que serealiza em gestos de perdão e de generosidade e na vontade de melhorar oquotidiano de cada existência concreta.148 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


Escola Razões da Esperança. serviços e movimentos .Formação de agentes pastoraisA Escola Diocesana Razões da Esperança (EDRE) reabriu no dia 30 deSetembro, com a Missa presidida pelo Bispo D. António Marto. Trata-se deum espaço de formação especialmente d<strong>ed</strong>icado às pessoas envolvidas nasvárias actividades pastorais das paróquias e serviços, a funcionar no SeminárioDiocesano, às terças-feiras, a um ritmo quinzenal, com as aulas a começaremno dia 7 de Outubro.Como usual, na primeira hora (21h00 às 21h50), os participantes frequentamem conjunto uma das cadeiras teóricas propostas em cada semestre; nasegunda hora (22h00 às 23h00), dividem-se conforme desejarem pelas váriasofertas formativas que cada serviço ou movimento organizam (catequese,animação vocacional, grupos de jovens, canto litúrgico, leitores, cursos decristandade, etc.).“Animação Vocacional”A animação e o acompanhamento vocacional foi uma das ofertas escolhidaspara este ano, para o período da segunda hora. Orientada pelo ServiçoDiocesano de Animação Vocacional, pretende dar apoio concreto a quemse ocupa da animação vocacional ou está interessado em fazer algo nestesentido, na catequese, na liturgia ou em qualquer outro serviço apostólicoque realiza. Podem inscrever-se qualquer animador vocacional, integrado ounão num grupo organizado, os catequistas, os animadores da liturgia e outraspessoas que queiram escolher esta oferta formativa. O programa do primeirosemestre centra-se em vários aspectos práticos da ajuda ao despertar dasvocações nos grupos e comunidades. No segundo semestre, o assunto centralserá o acompanhamento pessoal e em grupo, como ajuda para a descoberta eamadurecimento da própria vocação.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 149


. entrevistas .Centro de Acolhimento de <strong>Leiria</strong>“Sem-abrigo” não são apenasos que não têm casa!Entrevista de Ana Vala e Joaquim SantosCruzamo-nos com eles numa rua, num jardim, numa passadeira, na fachadade um prédio. O conceito de dificuldade é sempre relativo, assim como ode estado económico e psíquico. Quando menos se espera, podemos encontrar-nosna encruzilhada da vida, sem soluções à vista.Aberto em 15 de Setembro de 1998, na sequência de uma proposta daAssembleia Sinodal da <strong>Diocese</strong>, que reconhecia a urgência na criação de “umespaço de apoio aos excluídos onde, gratuitamente, se possa oferecer o mínimoque a dignidade humana exige”, o Centro de Acolhimento da Paróquiade <strong>Leiria</strong> é um espaço aberto aos que um dia viram o chão fugir-lhes, umainstituição que há dez anos ajuda pessoas com dificuldades de toda ordem:económicas, familiares, sociais, de saúde...Antec<strong>ed</strong>endo a época natalícia que se aproxima, fomos tentar percebermelhor os problemas dos sem-abrigo, visitando uma das instituições da Igrejaque lhes abre as portas.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 151


. entrevistas .Entrámos pela Rua Conde Ferreira e deparámo-nos com um quadropendurado numa pequena sala de espera onde se lêem versos adaptados deManuel Alegre: “É possível andar sem olhar para o chão; É possível viversem que seja de rastos; Os teus olhos nasceram para os astros…; É possívelviver de outro modo… É possível o amor; É possível viver de pé”. EditeTojeira, coordenadora do Centro, mostrou-nos a casa onde se proporcionamalimentação, cuidados de higiene pessoal e espaços de lazer, numa tarefa diáriade organização por vezes bem complexa. P<strong>ed</strong>imos-lhe que respondesseàs nossas perguntas.Sabemos que o seu trabalho social já vem de longe, em grande parteexercido neste Centro de Acolhimento de <strong>Leiria</strong>. Que nos diz dessa experiênciae dos objectivos do Centro desde a sua abertura?Há vinte anos que faço serviço social. Embora pertença ao Centro PastoralPaulo VI, uma valência paroquial, há 10 anos que exerço a função decoordenadora deste Centro de Acolhimento que tem como presidente o Párocode <strong>Leiria</strong>.Desde a sua fundação, em 15 de Setembro de 1998, o objectivo é oacolhimento de todos os que manifestem carências primárias, de forma asatisfazer as principais necessidades, com todo o respeito pela dignidade dassuas pessoas.Como consegue manter-se um serviço que, além da sua complexidade,tem custos tão avultados?Não se trata de um trabalho isolado, que não iria longe, mas de uma cooperação,sob forma de parceria, que inclui a Santa Casa da Misericórdia, aConferência de São Vicente de Paulo, a Cáritas Diocesana e a Ordem Terceirade São Francisco.Estas são cooperações permanentes que permitem a subsistência da instituição.Mas a prossecução dos seus objectivos é ainda possível graças àajuda imprescindível do Banco Alimentar e de pessoas privadas e colectivas,materializada em donativos monetários e em géneros.Quais são as principais actividades e serviços prestados pelo Centro?São acolhidas todas as pessoas atingidas de exclusão, de qualquer formaque seja: alcoolismo, toxicodependência, doenças do foro psiquiátrico e outras,pobreza, violência, ex-reclusos, sem-abrigo, desempregados, isolados…Na sua maioria, os casos agravam-se pela acumulação de múltiplas destas si-152 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .tuações e com a falta tão comum de apoio familiar de retaguarda. Procuramosatender a todos, que se apresentem por iniciativa própria ou recomendadospor outras instituições, de modo a minimizar os resultados negativos dos seusproblemas, mesmo que sem solução definitiva.O próprio processo individual, ainda que sucinto, com alguns dados deidentificação e o elenco dos principais problemas, já se orienta para a buscadas melhores soluções possíveis. Há, normalmente, necessidades básicas asatisfazer: duas refeições diárias, possibilidade de banho e higiene pessoal,roupas e pequenos curativos.Mas é importante pensar num encaminhamento, rumo a um projecto devida, à reconstrução de uma autonomia pessoal e, sempre que viável, a umaintegração familiar. A linha condutora é a promoção da pessoa, com as suasetapas, o que pressupõe um verdadeiro trabalho conjunto.Como tem evoluído o número de procuras?Com alguma variabilidade, ao longo de 10 anos atendemos 980 pessoas,mais homens que mulheres, de 25 nacionalidades diferentes, incluindo paísesque vão da Finlândia aos países do Leste, ao Brasil e países dos PALOP’S.Ultimamente a procura tem vindo a acentuar-se, no sentido inverso da diminuiçãoda distribuição de géneros alimentares, assim como a reincidência dosutentes, que voltam duas e três vezes.Vida EclesialExistem espaços de lazer, no Centro?O acolhimento deve ser, por natureza, temporário, na premissa de que oimportante é integrar. Mesmo assim, e não obstante a exiguidades dos locais,os utentes podem passar aqui parte do seu tempo, o que dependerá sempr<strong>ed</strong>os casos. Além dos famintos, que é preciso alimentar, algumas pessoas demorammais algum tempo a serem devolvidas a uma vida própria e condigna.Explicam-se perfeitamente uma sala de televisão e de leitura, com funcionamentodiurno, das 10h00 às 19h00.Haverá muita gente a viver nas ruas de <strong>Leiria</strong>?Claro que sim, apesar de nada constar nos resultados do recenseamentonacional, dado que há diferença relativamente a Lisboa e Porto onde se vêempessoas a dormirem diariamente nas ruas, sobre cartão ou algum cobertor.Em <strong>Leiria</strong>, vivem na rua os dependente do álcool e de outras drogas mas osdemais abrigam-se em casas abandonadas onde são procurados pela intervençãodos serviços sociais.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 153


. entrevistas .Pode dizer-se que a exclusão é um problema leiriense?É difícil responder. Já aconteceu arranjarmos pensão para quem vivia narua e, passado um mês, essa pessoa veio dizer que desistia porque “queria veras estrelas no céu”. Uma coisa é a exclusão social e outra a auto-exclusão.Nem todos sentem a vida como nós seguindo os mesmos padrões, o que nosobriga a um permanente ajustamento. A exclusão, sendo sempre a de cadaum, não é tipicamente leiriense.A crise económica deve afectar o CAL… Há alguma ajuda do Estado?Não há qualquer comparticipação do Estado. A Paróquia de <strong>Leiria</strong> assumeos encargos do Centro, contando com os apoios e contributos dos parceirosestratégicos já referidos e com donativos mais ou menos eventuais. Entreestes contributos avulta especialmente o da Caritas diocesana que tem doadometade do seu p<strong>ed</strong>itório anual ao Centro de Acolhimento.A crise económica sente-se bastante. há uns anos nunca comprávamosbatatas, mas nestes últimos tempos temos de o fazer porque as ofertas não noschegam como antes e gastamos seis sacos por mês. O mesmo está a acontecercom outros géneros. <strong>Leiria</strong> é uma cidade com proximidade a meios rurais.Antigamente, as pessoas traziam algumas das suas produções, ajudando oCentro no seu aprovisionamento com a oferta de leguminosas secas, batatas eoutros alimentos. Para continuarmos a servir refeições gratuitas, e desde 1998já foram servidas 85.904, contamos com toda a espécie de ajuda.E na quadra natalícia que se avizinha, haverá programa especial?Sim, faremos uma festa de Natal que juntará os utentes e os ex-utentesque residam perto, os trabalhadores e os nossos parceiros. Os que refizeram asua vida são sempre convidados a envolverem-se nessa festa, numa partilhaentre os que já saíram e os que estão a chegar. É o testemunho vivo de queserá possível mudar. Ao mesmo tempo é mais um momento de afirmação deque ninguém é apenas um número mas todos têm nome e são pessoas.154 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Cónego José de Oliveira RosaUma vida ao serviço da FéEntrevista de Rui Ribeiro e Ana ValaFigura singular e por todossobejamente conhecido, osenhor Cónego Rosa celebrou92 anos de vida no passadodia 31 de Julho, 69 delesd<strong>ed</strong>icados à <strong>Diocese</strong> comosacerdote. Nasceu na pequenaaldeia (a que ele chama decapital) do Padrão, freguesiados Pousos, no seio de umafamília humilde, trabalhadorae muito religiosa. Seu paifaleceu quando ele ainda eracriança e por isso provavelmente a figura que mais marcou os seus momentosde criança foi a avó “uma grande mulher, sempre muito activa”.Nessa data, o jornal O Mensageiro publicou uma entrevista, que aquireproduzimos. Apesar de curvado, de bengala na mão e cabelos brancos,continua o homem conversador, sábio, perspicaz e bem-humorado.Vida EclesialNascido em 1916 é praticamente contemporâneo das aparições de <strong>Fátima</strong>.Recorda-se de alguma coisa sobre o assunto e que pertença às suasrecordações de criança?Não muito. Os meus conhecimentos e o meu interesse por <strong>Fátima</strong> pertencemjá ao tempo em que era estudante no Seminário. A primeira vez que ouvifalar de <strong>Fátima</strong>, no entanto, terá sido pelos 7 ou 8 anos, e foi pela boca daminha avó que era uma entusiasta das aparições. Só depois de entrar no Seminárioé que <strong>Fátima</strong> começou a interessar-me e comecei eu próprio a procurarconhecer melhor o que ali aconteceu.”| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 155


. entrevistas .Outra grande transformação que marcou a Igreja foi o Concílio VaticanoII. Seria uns anos mais tarde, quando já era sacerdote. Foi difícil parasi apanhar o comboio do Concílio?No próprio momento da sua realização e mesmo nos anos im<strong>ed</strong>iatamentea seguir, o Concilio Vaticano II não teve o impacto que depois se haveria d<strong>ed</strong>escobrir. Por isso, assisti à sua realização, acompanhando de longe, masdevo confessar que sem grande motivação ou transformação da minha formade ser padre.Eu e os meus colegas de ministério só queríamos ser padres para servir aIgreja, Povo de Deus. As especulações não nos interessavam muito. Houveaspectos que de im<strong>ed</strong>iato se fizeram sentir, sobretudo na celebração da fé,mas as mudanças rituais que foram realizadas não são o mais importante dasinovações do Vaticano II. Quem só dá importância a isso mostra que não sabeapreciar o que realmente tem importância.”O facto de não parecer muito motivado pelas especulações, significa queo espírito académico não fervilhava nos seminaristas do seu tempo?Eu frequentei o Seminário no <strong>ed</strong>ifício junto ao Castelo. Fui um bom aluno,sem ser intelectualmente avançado ou inovador. Não era o melhor, mastambém não era o pior; fui um aluno m<strong>ed</strong>iano. De qualquer modo, termineio curso bastante c<strong>ed</strong>o (teria uns 22 anos de idade) e requeri a dispensa parapoder ser ordenado.Logo depois do final do curso, fiquei no Seminário como professor demúsica, mesmo ainda antes da ordenação, que só aconteceu a 6 de Julho de1939. O facto de ficar no Seminário como professor deveu-se ao meu gostopessoal, e alguma capacidade, para a música.Devo confessar que a música era o de que gostava realmente. E foi elaque me manteve “preso” ao Seminário por muitos anos, praticamente tantosquantos os do ministério activo.Recorda-se da sua ordenação. O acontecimento marcou a diocese?Fui ordenado na Sé de <strong>Leiria</strong> pelo Bispo D. José. Não havia naquela épocaum sentido ou uma valorização social tão grande como há hoje sobre esteassunto. Por isso o dia da minha ordenação foi um dia de festa para mim epara a minha família, não um dia de farra, mas celebrado com muita alegriajunto dos que mais estavam presentes na minha formação sacerdotal. Ness<strong>ed</strong>ia foram ordenados mais dois padres, o padre António Cunha e o padreSimão.156 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Continuou então no Seminário. E a partir de então, como foi o seu percursoministerial?Nos primeiros anos fui professor no Seminário e em <strong>Fátima</strong>, depois fuipároco dos Parceiros durante um ou dois anos e, ao mesmo tempo, era chancelerda Câmara Eclesiástica. Esta foi uma missão que assumi desde logo.Ainda fui Capelão no Santuário de Nossa Senhora da Encarnação onde celebravaa eucaristia aos domingos e era o coordenador do pessoal que cuidavado santuário. Creio que é daí que as pessoas mais me conhecem.Todos recordamos o seu trabalho na Câmara Eclesiástica. Foi para si umgosto ou um trabalho “sofrido”, por ob<strong>ed</strong>iência?Foi um gosto pessoal. Gostei muito deste trabalho na Câmara Eclesiástica.Permitia-me uma visão abrangente da diocese e um contacto com os padres,que provavelmente não é possível noutros ambientes. Nisso até me sintoum privilegiado. O trabalho era bastante burocrático mas havia um grandecontacto com os padres e outras pessoas que se d<strong>ed</strong>icavam à Igreja.Foi também nesse âmbito que esteve na origem e organização da Cáritas?Não me considero como fundador da Cáritas, mas de facto há uma explicaçãoa dar sobre esse assunto.O nome “Caritas” está ligado à caridade para com as crianças vítimasda Segunda Grande Guerra. França, Áustria e Alemanha organizaram umacomplexa r<strong>ed</strong>e de ajuda às crianças, muitas delas órfãs, outras a viverem emcondições menos favoráveis. A caridade passava então pelo acolhimentodessas crianças de diferentes países em famílias acolh<strong>ed</strong>oras. O convite foifeito também à diocese de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, via Câmara Eclesiástica, onde eutrabalhava.Fui assim envolvido neste trabalho, que me deu enorme satisfação. Eramcrianças que precisavam de apoio psicológico, moral e económico. Fazíamoso possível para as ajudar.Vida EclesialFoi um movimento esporádico ou teve alguma continuidade?Eu era uma espécie de interm<strong>ed</strong>iário entre os padres, as famílias acolh<strong>ed</strong>orase os responsáveis dos países de onde elas vinham. Passaram por cácerca de 30 crianças que foram bem recebidas sem problemas de maior aregistar. Isto só foi possível com muito trabalho. As famílias apareciam e nóstínhamos que conhecê-las, saber em que condições ficavam as crianças, tudo| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 157


. entrevistas .com critério muito apertado, pois não se podiam mandar crianças frágeis,algumas sem família, para casa de desconhecidos.Quase tudo me passava pelas mãos, mas nunca me senti o responsávelpela criação da Caritas. Éramos muitos os que fazíamos o que se podia.Nos últimos tempos veio residir para <strong>Fátima</strong> e deixou o Seminário queo acolheu durante tantos anos. O <strong>ed</strong>ifício prepara-se agora para entrarem obras, sinal dos tempos, da falta de vocações e talvez até dos rumosdiferentes dos trabalhos pastorais. Tudo isto o inquieta? Como vive estasmudanças?O facto do <strong>ed</strong>ifício do Seminário ser usado para outras coisas não é umimp<strong>ed</strong>imento para que continue a ser um lugar onde se cultivam as sementesde vocação. Penso até que o melhor caminho para enfrentar a apregoada cris<strong>ed</strong>e vocações sacerdotais e laicais, é a oração, e por isso é bom que se pensenum espaço que ajude a orar, a fazer retiro, a pensar. Para além da oração parece-meque o exemplo da parte do clero é fundamental para este dinamismovocacional que a diocese quer viver. Foi o Senhor que escolheu os apóstolos,é Ele também que nos escolhe a nós. Não se pode só olhar para a própriavocação é preciso também preocupar-se com os outros. Antigamente haviapessoas que encaminhavam outras para o seminário, umas ficavam, outrasnão. É preciso continuar a desafiar.Augurámos ao Senhor Cónego Rosa todo o bem-estar que a sua avançadaidade permita, guardámos a excelente impressão das suas recordaçõese confirmámos a gratíssima certeza da sua amizade.158 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Figura ilustre da nossa IgrejaTestemunho de Ambrósio J. Santos, Presidente da Caritas DiocesanaFoi uma lembrança feliz e plena de actualidade, a da evocação, pelo Mensageiro,da figura ilustre da nossa Igreja de <strong>Leiria</strong>-<strong>Fátima</strong>, que é o Sr. CónegoRosa. São quase sessenta e nove anos de sacerdócio generoso e esclarecido,e a Cáritas Diocesana associa-se às legítimas manifestações de júbilo e deacção de graças pela fecundidade do seu longo e profícuo ministério.Para além de repetidas expressões de estímulo e de apoio que lhe temprodigalizado, há ainda um laço especial que associa o Sr. Cónego Rosa àCáritas em <strong>Leiria</strong>.Muitos leitores saberão já que foi durante a II guerra mundial que a instituiçãoCáritas se expandiu por toda a Europa e chegou a Portugal. E queas várias delegações nacionais da Cáritas nasceram todas para participar noprojecto comum de responder às imensas carências de uma Europa em ruínas.Acolher em famílias portuguesas centenas de crianças órfãs, vindas da Áustriadepois de terminada a guerra, foi a primeira e principal actividade a que,na ocasião, se lançou a Cáritas de Portugal.Poucos saberão, porém, que foi ao padre José Rosa que D. José AlvesCorreia da Silva encarregou de identificar famílias da diocese em condiçõesde poder receber essas crianças. “ Deviam ter algumas posses”, disse-me hátempos, “porque vêm de países mais avançados”. Eram também com ele aorganização dos transportes, na vinda e no regresso, bem como o acompanhamentodas crianças e das famílias em Portugal.Por entre as muitas dificuldades que não é difícil imaginar - valia-lhea motorizada para vencer distâncias e dificuldades de comunicação e levarlonge algum recado urgente -, o Padre Rosa conseguiu encontrar, assim, portoda a diocese, numerosas famílias que souberam receber carinhosamentecomo filhos, muitas dessas crianças, estabelecendo com elas laços indestrutíveisde afecto, que perduram até aos nossos dias.Com esta actividade diocesana, integrada num projecto da Cáritas dePortugal, e pela mão do P. José Rosa, a Cáritas em <strong>Leiria</strong>, se não ainda pelonome, ao menos pela pureza do espírito e grandeza das motivações, tinhadado também os primeiros passos.É-nos grato trazer, assim, a memória deste acontecimento fundador;mas esta é, sobretudo, uma ocasião bem ao jeito para saudar também comafectuoso respeito, reconhecimento e admiração, o Sr. Cónego Rosa.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 159


. entrevistas .Padre Tony Neves - X Fórum Ecuménico JovemPercursos de UnidadeO X Fórum Ecuménico Jovem (FEJ 2008) realizou-se na Quinta da Matinha,Marrazes, sob o tema ‘Alegrai-vos na Esperança’. Depois das boasvindas dadas pelos responsáveis das quatro Igrejas organizadoras (Católica,Lusitana, Metodista e Presbiteriana), houve uma apresentação multimédiasobre os 10 anos de caminho percorrido no ‘planeta jovem’. Foi uma viagemde <strong>Leiria</strong> a <strong>Leiria</strong>, passando por Lisboa, V. N. Gaia, Coimbra, Aveiro,Santarém, Braga, Guarda e Viana do Castelo, como mostravam as dez placasespalhadas pelo auditório.D. Manuel Felício (Presidente da Comissão Episcopal do Ecumenismo)e D. Sifr<strong>ed</strong>o Teixeira (Presidente do Conselho Português das Igrejas Cristãs)aprofundaram o tema do FEJ, assegurando este espaço formativo que desembocouno trabalho de 10 grupos de reflexão. Os mais novos tiveram umadinâmica própria, coordenada pelos Jovens Sem Fronteiras.Foi simbólico o momento em que os grupos de reflexão levaram um panocom uma palavra-chave e, depois de a proclamarem, o ofereceram para seratado a todos os outros, em sinal de unidade e comunhão.Na desp<strong>ed</strong>ida, ficou a certeza de que o XI FEJ já está na linha do horizontee o Maestro Carlos P<strong>ed</strong>ro, responsável pela animação musical, garantiu que oII CD ecuménico jovem está já a caminho.160 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Quando o Fórum estava ainda em preparação, não quisemos perder oportunidad<strong>ed</strong>a presença do padre Tony Neves, organizador e delegado da IgrejaCatólica, a quem colocámos as nossas perguntas. Ficamos-lhe gratos pelassuas respostas que ajudam a compreender a natureza destes encontros e oespírito que os anima.Qual é a ideia que presidiu à origem do Fórum?O espírito que anima o Fórum Ecuménico Jovem é envolver as geraçõesjovens na prática do ecumenismo. O passado contava já com algumas experiênciasenriquec<strong>ed</strong>oras desenvolvidas na Suiça, Áustria e Roménia. Dessasexperiências saiu a certeza de que os jovens têm uma forte capacidade paraacções ecuménicas. Daí que se tenha avançado.E tem havido outras iniciativas, além do Fórum?Ao longo dos anos têm-se realizado acções diversas, sempre carregadasde significado. Lançou-se um CD com músicas que abrem ao ecumenismoe todos os anos há coisas novas, como o encontro em Taizé, onde o grupotambém participou.A semana da unidade, celebrada todos os anos em meados de Janeiro, temproporcionado um vasto conjunto de realizações e celebrações que muito têmajudado a incrementar o mesmo espírito. Este ano celebramos em comum oAno Paulino, por isso pegámos no apóstolo dos gentios, o primeiro grandeobreiro do ecumenismo e acolhemos a sua recomendação: “Alegrai-vos naesperança, s<strong>ed</strong>e pacientes na tribulação, preservai na oração” (Rom 12,12).Vida EclesialQuais expectativas antec<strong>ed</strong>em a realização de mais um Fórum?Queremos motivar os jovens que já têm alguma caminhada neste espíritoe, ao mesmo tempo, encontrar novos rostos e novos desafios.Contamos geralmente com 200 a 250 jovens mas já chegámos aos 800,em Braga, que é uma cidade grande com muita juventude. A escolha de <strong>Leiria</strong>tem a ver com o facto de ter sido o local do I Fórum após o qual fomos percorrendoo país, passando por Lisboa, Porto (Gaia), Coimbra, Aveiro, Santarém,Braga, Guarda e Viana do Castelo.Quem são os organizadores habituais?A organização não está atribuída a nenhuma pessoa em concreto; é antesuma organização conjunta das quatro Igrejas referidas e que trabalham aolongo do ano em verdadeiro espírito ecuménico. No dia do Fórum todas as| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 161


. entrevistas .igrejas são representadas por dois membros: a Igreja Católica conta com o padreTony Neves e o professor João Luís Fontes; a Igreja Metodista conta como bispo Sifr<strong>ed</strong>o e Ana Lameiras; a Igreja Lusitana conta com a presença doPastor Jorge Cabral e Sérgio Alves; e a Igreja Presbiteriana será representadapelo pastor Eva Michel e P<strong>ed</strong>ro Brito.Quais são os apoios com que contam para a realização deste evento?Procuramos fazer com que estes encontros sejam momentos de partilhae troca de experiências, por isso os custos são mínimos. De qualquer modocada Igreja e cada participante encontra os meios necessários para se auto-financiar.Tudo o que é material logístico é proveniente de ofertas e patrocíniosparticulares. Trabalhamos sem orçamentos previamente elaborados, apostamosmais na generosidade e na partilha, também ao nível das despesas.Quem pode participar no Fórum?Não há qualquer tipo de discriminação. Trata-se de um encontro ecuménicoe por isso mesmo todos os jovens podem participar, sem qualquer reservacultural, religiosa ou racial. Basta querer e estar deveras preocupado com acausa ecuménica.O ecumenismo é mais que uma ideia e que um bonito propósito?A nosso ver o ecumenismo é uma urgência e uma necessidade para a Igreja.Constatamos que nem tudo é fácil, por vezes fica-se em bonitas palavrase desafios que depois não são levados à acção. Recordo que em Braga houvemesmo o desabafo de alguns jovens que se mostravam descontentes com apouca actividade ecuménica. Mas nem por isso desistimos porque achamosque é uma causa importante e um verdadeiro serviço ao Evangelho.Concretamente, em Portugal, como está a causa ecuménica?No início, em Portugal, as pessoas não aderiram muito ao ecumenismo.As pessoas são mais fechadas e auto-suficientes, vivem a sua vida e fechamsepara as outras religiões. Hoje os tempos são outros, temos muitas áreas,temos muita gente que não acr<strong>ed</strong>ita em coisa nenhuma, outras acr<strong>ed</strong>itam emalgumas coisinhas. Tiram um bocado de cada religião e vivem assim, umacomunidade difusa, onde existem muitas religiões.Está portanto na altura de fazer diferença, ajudar a formar pessoas paraconcertar posições e atitudes, lutar contra a pobreza e dignificar as pessoas,criar pontes com toda a gente de todas as religiões.162 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Luís Sousa, chefe de campo do JAMBOREE 2008– XIX Acampamento Regional de <strong>Leiria</strong>“O escutismo é um complementoà formação integral de cada jovem”Entrevista de Joaquim SantosNa Charneca do Nicho, Souto daCarpalhosa, decorreu o XIX AcampamentoRegional (ACAREG), designadocomo “Jamboree 2008”. Participaramcerca de 1400 escuteiros, alguns dosquais estrangeiros.O chefe de campo, Luís Filipe Ruivode Sousa, de 38 anos, natural da Maceirae residente na Batalha, deu-nos contada organização que o encheu de orgulhoe das vivências dos escuteiros duranteessa semana, de 3 a 10 de Agosto.Num desafio abraçado há quatro anos, a organização haveria de transformar-senuma rica fonte de experiências, na conjugação de princípios e conhecimentose no máximo aproveitamento dos valores comuns. O acampamentodo Souto da Carpalhosa destacou-se pela organização que valorizou temáticasde países que se separavam por arruamentos mas se uniam na partilha,com entusiasmo e fé, das suas culturas complementares.Vida EclesialTanto empenhamento faz pensar numa grande paixão… Como começoutudo isso?É uma paixão de 23 anos, que remonta à minha entrada no Agrupamento762 de Maceira,, em Outubro de 1985, com os meus 15 anos. Um familiar queestava integrado nessa equipa falava-me do que faziam com tanto entusiasmoque acabou por me contagiar. O agrupamento tinha nascido há pouco e não| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 163


. entrevistas .havia suficiente divulgação mas queria saber a fundo o que era ser escuteiro.O interesse foi-se desenvolvendo e acabai por me integrar por completo. Decidientrar como pioneiro embora, na altura, não fosse essa a designação.E o que é, afinal, ser escuteiro?É complicado transmitir os nossos sentimentos e propósitos no escutismo.Para mim, ser escuteiro é muito mais do que uma forma de vida e de estar. Éestar presente, ser pessoa sempre alerta para poder servir, entendendo a mão,dando uma palavra amiga. E há também uma ligação forte com a naturezaque se defende e utiliza com respeito e espírito. Ser escuteiro é ter uma forçaque nos faz estar bem connosco próprios, entregando-nos com mais verdadee intensidade aos outros.Mas a contra-corrente, numa soci<strong>ed</strong>ade em crise de valores, acha que sevislumbram facilmente caminhos de autêntico crescimento humano?O escutismo é um complemento à formação integral de cada jovem. Hojeem dia, numa soci<strong>ed</strong>ade com tantos e tão diversificados desafios, os jovenstêm dificuldades sérias de identidade. Ser escuteiro não é apenas um abrigoou refúgio, é uma força que se encontra, que acompanha e dá a mão para queseja ainda possível tomar boas decisões e abraçar a própria vida. Nisto sobretudo,o escutismo, embora com cem anos, continua um movimento actual.Pela sua metodologia continua a incutir nos jovens valores essenciais.É verdade que o escutismo estreita laços com a religião e aproxima da intimidadecom Deus. Poderá abrir também a outros horizontes culturaise a atitudes verdadeiramente ecuménicas?Claro que sim. Há dois movimentos de escuteiros em Portugal. O CNE– Corpo Nacional de Escutas (Escutismo Católico Português – a que pertencemose que conta com mais de 60 mil participantes e a AEP – Associaçãodos Escuteiros de Portugal, com o acolhimento diversificado, sem qualquercritério de religião. Tendo o CNE requisitos como ser-se baptizado, frequentara catequese enquanto jovem e estar efectivamente ligado à Igreja, os escuteirosdevem descobrir o verdadeiro espírito ecuménico, com acolhimentoe respeito pelas diferenças. Neste “Jamboree 2008” formulámos um convitea um grupo de escuteiros de Marrocos que, infelizmente, não vieram porproblemas de vistos. O objectivo era criar um espaço ecuménico, abrindo asportas a outras religiões, estreitando laços e respeitando-nos mutuamente,como nos ensina a nossa fé.164 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Como foi a programação do ACAREG 2008?Depois do convite da Junta Regional de <strong>Leiria</strong>, criámos uma equipa e começámosa planear o acampamento, há cerca de um ano e meio. Não queríamosmais um ACAREG mas algo de diferente. Daí o aproveitamento para “Jamboree2008”. “Jamboree” significa encontro de escuteiro. Nesta belíssima mata doSouto da Carpalhosa pugnámos sempre pelo respeito do sentido da palavra. Aestrutura que, com escuteiros de outras nações, teve uma vertente internacional,dividia o acampamento em subáreas de países, embora a participação externanão tenha sido numerosa como desejávamos por causa das formalidades comas passagens para Portugal. Tivemos apenas Cabo Verde e o Canadá, e contávamostambém com os jovens angolanos e marroquinos.Voltando à programação, foi preciso começar im<strong>ed</strong>iatamente distribuindotarefas e responsabilidades pela equipa. Depois foi coordenar os contributosespecíficos de cada área: p<strong>ed</strong>agógica, logística, infra-estruturas, segurança,programação, burocracias e imagem. Estas realizações, que se fazem dequatro em quatro anos, são bastante complexas. Só o desejo de fazer melhorpermitiu que nos ultrapassássemos e apontássemos para um jamboree. Passoa passo, a ideia tornou-se realidade.Quanto às actividades propostas…Foram muitas e diversificadas. No domingo à noite abrimos o acampamentocom uma concentração na arena, dando aos participantes a verdadeiranoção do “Jamboree 2008”. Desenvolvemos temas como a cultura, direitoshumanos, ambiente e fé, com cerca de trezentos participantes em cada área erodando-os de duas em duas horas.Em saídas de campo desenvolvemos ateliers com temáticas como “serleal”, “ser escuteiro” e “ser sensível”. Houve também saídas pelo distrito.Base Aérea de Monte Real, salinas de Rio Maior, Mosteiro de Santa Maria daVitória na Batalha, porto de abrigo da Nazaré com a possibilidade de andarde traineira, farol de São P<strong>ed</strong>ro, Pia do Urso e <strong>Fátima</strong>. Numa visita à Valorlisfez-se sensibilização sobre o meio ambiente. Não podíamos deixar de visitartambém <strong>Leiria</strong>, onde se prepararam jogos para todos, incluindo uma surpreendentecriação de um logótipo humano da actividade, com 1240 escuteirosformando um chapéu, na Aldeia do Desporto nos Marrazes. Entretanto, lobitos,exploradores e caminheiros organizavam-se em secções para actividadese dinâmicas que se transformaram em experiências marcantes, enchendochouriços, competindo em carros de rolamentos, fazendo pão, trabalhando obarro, numa evocação das principais actividades tradicionais da região.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 165


. entrevistas .Em termos de acompanhamento espiritual, havia alguma orientação defundo?“Partilhar a mesma Aventura” era o tema que presidia a tudo. Havia depoissubtemas como “Ser, Saber e Fazer”. Sempre presentes, os padres JoséHenrique (Assistente Regional), Leonel Baptista e André Antunes, iam colocandoa espiritualidade na mira constante de uma sólida formação. Sobretudo,a Palavra de Deus ia abrindo horizontes transformando o ACAREG numacompanhamento também de espiritualidade vivida e partilhada.E se lhe p<strong>ed</strong>ir para destacar alguns momentos do Jamboree 2008?Um dos momentos mais importantes foi a “Feira dos Povos” em quetodos os países apresentaram um pouco da sua cultura, gastronomia, jogos,costumes e outras realidades próprias. Depois, e a condizer com esta aberturaaos outros, assinalo, na manhã desse mesmo dia, a dádiva de sangue, porparte dos escuteiros e de seus familiares, numa recolha que o Instituto doSangue propôs no local.A mensagem de Baden Powell continua bem presente…É um legado que nos propomos cultivar sempre, nomeadamente nas reuniõessemanais, nos agrupamentos. Mas os acampamentos são tempos fortesde aprofundamento mesmo das coisas mais simples. Há um pequeno hábitomuito simbólico de fazer pela manhã um nó no lenço e só o desatar quandose praticar uma boa acção. É a prática da BA (boa acção) que todos os escuteirosdevem levar a sério. É também com pequenos detalhes que o espíritose mantém vivo.E, no fim de tudo, uma enorme satisfação, não?Há um lema na minha vida que me ajudou muito neste “Jamboree 2008”:na nossa existência é preciso simultaneamente acr<strong>ed</strong>itar e agir para podermosalcançar. Esta equipa começou por acr<strong>ed</strong>itar no projecto, lançou depois mãosà obra e, finalmente, alcançou o objectivo.166 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


Ana Sousa, missionária em Alagados (Brasil). entrevistas .“Todos somos pobresde algumas coisas e ricos de outras”Entrevista de Rui RibeiroAna Maria Febra de Sousanasceu na Maceirinha no dia31 de Dezembro de 1971.Teve uma formação cristãtradicional e os tempos daadolescência trouxeram-lhealguma revolta interior <strong>ed</strong>escontentamento. Mesmoassim, ainda muito nova, sentiu-setocada pela experiênciade alguns missionários quepassaram pela sua terra.Por iniciativa própria e para não desagradar aos pais, frequentava a missadominical e integrou-se no grupo de jovens da paróquia, enquanto prosseguiaos estudos até realizar o sonho de ser professora.Em 1996 participou no Fórum Jovem, em <strong>Fátima</strong>, e aí a sua vida mudoucompletamente. Nas vésperas de partir em missão, por dois anos, no Brasil,pudemos encontrar-nos e conversar.Vida EclesialSobre a mudança na sua vida explicou-nos:Um dos frutos da experiência do Fórum Jovem, em Setembro de 1996,foi o desejo de anunciar o amor de Deus a quem ainda o não experimentou.E como o amor só com amor se paga, em resposta ao apelo de Deus, decidisegui-Lo no celibato consagrado, numa entrega radical da minha vida que mepermitisse a maior disponibilidade para a missão de anunciar o evangelho.| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 167


. entrevistas .Nesse encontro fui posta em contacto com a Comunidade Emanuel e desdeentão o Senhor tem-me surpreendido muito para além das minhas expectativas.Tem sido uma aventura na confiança, na fé e na providência de Deus, queme tem proporcionado uma felicidade ímpar.E por que decidiu partir, em vez de continuar no seu meio?A missão além fronteiras é um desejo que vem dos meus 12 anos, fruto dapassagem de um grupo de missionários na minha terra natal. Após uma dúziade anos de trabalho como professora do 2º Ciclo do Ensino Básico, varianteEducação Visual Tecnológica, já no quadro de nomeação definitiva, soliciteium tempo de licença sem vencimento para poder partir com a Fidesco, paracolocar as minhas competências profissionais ao serviço dos mais pobres. Foium p<strong>ed</strong>ido que surgiu de mim e da própria Comunidade Emanuel.No ano passado estive em Formação na Comunidade Canção Nova, emBruxelas. Foi uma experiência aliciante, com as irmãs de Madre Teresa deCalcutá. Percorríamos as ruas de Bruxelas e abeirávamo-nos dos mais pobresentre os pobres. No decurso da formação, a comunidade Emanuel lançou-meo desafio, que logo abracei, de partir em missão. E cá estou, com bilhete deviagem para 16 de Outubro.O que a motiva, fundamentalmente?O que me move é o amor. A minha felicidade consiste em colocar-me aoserviço do outro, particularmente dos mais pobres. Só se deixa um amor porum amor mais forte. A m<strong>ed</strong>ida do amor é amar sem m<strong>ed</strong>idas! Na vida tudo épassageiro, só o amor permanece para sempre!O que é a Fidesco?Trata-se de uma palavra composta por FIDES (fé) e CO (cooperação).Fundada em 1981, a Fidesco é uma ONG, (Organização Não Governamental)de Solidari<strong>ed</strong>ade Internacional, que envia todos os anos cerca de 60 voluntáriospara países em desenvolvimento para colocarem as suas competênciasprofissionais ao serviço de projectos de desenvolvimento ou de acções humanitárias.Cerca de 130 voluntários estão actualmente no terreno em, mais ou menos,30 países do mundo, nos diversos continentes. Desde 1981, mais de1200 voluntários partiram para darem um ou dois anos das suas vidas, nodesejo de viverem a aventura do serviço.168 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. entrevistas .Que tipo de pessoas são os voluntários?Os voluntários que partem com a Fidesco podem ser celibatários, casais,ou famílias que desejam trabalhar para os mais desfavorecidos em nome dasua fé, como o nome indica: FIDES+CO = Fé e cooperação. Colocam-seao serviço de parceiros locais que já trabalham para o bem das populaçõesdesfavorecidas sem distinção de religião, de etnia ou de cultura, em diversosdomínios: <strong>ed</strong>ucação, agronomia, saúde, ensino, construção, etc.A Fidesco trabalha prioritariamente nos países do Sul, com as Igrejas locais,que têm uma experiência única ao serviço dos pobres, na defesa dos seusdireitos e na boa gestão dos seus meios.Concretamente, que conta ir fazer?Eu não escolhi um país e um projecto, mas acolhi uma missão que a Fidescome confiou. Em resposta ao meu desejo e ao apelo da igreja da Américado Sul, em Outubro de 2008, irei para o Nordeste do Brasil, para o estado daBahia, cidade de Salvador, paróquia de Nossa Senhora de Alagados, por doisanos. Alagados é uma favela construída em terrenos alagadiços e enlameados.Há uns anos as pessoas viviam em palafitas, e os camiões do lixo iamdespejar para dar estabilidade a estas frágeis construções.Hoje são poucas as famílias que ainda vivem nessas condições, mas obairro continua bastante desfavorecido. Quando João Paulo II fez a sua 1ªvisita ao Brasil, manifestou o desejo de ir ao lugar onde se encontrassem osmais pobres dos pobres. A Conferência Episcopal do Brasil enviou-o a Alagados.O Papa ofereceu o necessário para a construção da igreja paroquial.A minha missão será coordenar um centro de formação feminina, na paróquiade Nossa Senhora de Alagados, onde a Fidesco criou, há cerca de 5 anos,um projecto de reforço escolar para crianças carentes, dos 8 aos 13 anos. Asmães dessas crianças vivem em condições miseráveis em termos de habitaçãoe outros recursos.Muitas passam o dia na rua a apanhar garrafas descartáveis e a juntarcartão para vender, e recebem muito pouca formação humana e profissional.As famílias são destruturadas, com filhos de diferentes companheiros. Portudo isto, o referido projecto vai ser ampliado de forma a oferecer formaçãoculinária, sanitária, de cabeleireiro, de costura, e outros cursos de primeiranecessidade, e assim colaborar com as mães no reforço escolar e na promoçãode uma <strong>ed</strong>ucação familiar; a promovê-las com um curso que lhes abraas portas de um emprego; a restituir-lhes a sua dignidade de mães na missão<strong>ed</strong>ucativa dos filhos.Vida Eclesial| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 169


. entrevistas .Todos somos pobres de algumas coisas e ricos de outras. Vou fazer umaexperiência de partilha dando do que tenho e recebendo do que as pessoastêm para me dar. Cada um à sua maneira, todos temos algo para dar, desdeque acolhamos o apelo.Comigo vão estar mais cinco voluntários, dois casais e um seminarista.Como pudemos acompanhar e ajudar a Ana na sua Missão?De duas formas, designadamente: pela oração, sempre e antes de mais, ecom um financeiramente. Se alguém contribuir com um donativo regular de15€ por mês (ou o valor pontual de 360€), receberá trimestralmente o meu relatóriodetalhado da missão e será meu “padrinho”. Comprometo-me a enviarum relatório de 3 em 3 meses e a rezar diariamente por todos os meus padrinhos(dos quais apenas conhecerei os nomes). Em todo o caso, quem fizer umdonativo, qualquer que seja, receberá o “Courrier des Missions Fidesco” comnotícias trimestrais das diversas missões no mundo.Um voluntário custa cerca de 18000 € por ano (viagem, seguro, alojamento,saúde, alimentação...): 30% deste custo é financiado pelo Ministériodos Negócios Estrangeiros Francês e os restantes 70% dependem das generosidadespessoais. Todo o apoio é verdadeiramente precioso. Quanto a mim,receberei mensalmente um valor de subsistência, que me permitirá viverconvenientemente, nas condições próximas da população local, ou seja, comcerca de 100€.Espero que possamos ser muito numerosos nesta barca que nos levarámuito longe, até ao outro lado do Atlântico, e não só ao longo dos próximos2 anos.170 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


Reflexões. teologia / pastoral . história .


. teologia / pastoral .Monsenhor Joaquim CarreiraApóstolo do bem, na guerra e na pazCelebra-se em 2008 ocentenário do nascimento deMonsenhor Joaquim Carreira,extraordinário e zeloso sacerdot<strong>ed</strong>esta diocese. Foi pároco da BoaVista, mas exerceu o seu ministério,sobretudo em Roma, comoreitor do Colégio Português,onde deixou marcas notáveis naprotecção aos judeus e demaisrefugiados do nazismo.O momento alto das comemoraçõesdo centenáriodecorreu a 7 de Setembro, comromagem à sua sepultura, nocemitério dos Soutos, Caranguejeira,e a celebração solene daEucaristia, presidida pelo Bispodiocesano, D. António Marto.Seguiu-se um momento musicalpela Filarmónica de S. Cristóvãoe o lançamento de uma biografia da autoria do padre João Carreira Mónico,seu sobrinho e principal promotor das comemorações, sob o título: “MonsenhorJoaquim Carreira. Apóstolo do bem, na guerra e na paz”. Na sessãomarcou presença a mãe do padre Mónico, irmã mais nova do homenageado,actualmente com 95 anos. O autor da biografia destacou a faceta humanista esacerdotal de Monsenhor Carreira, as saudades que tinha da sua terra, o factode ter sido o primeiro piloto aviador padre em Portugal e, sobretudo, o quesofreu em Roma, pondo em risco a sua vida e a dos alunos do Colégio Por-Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 173


. teologia / pastoral .tuguês, para dar guarida e comida a judeus e outros perseguidos pelo regimeNazi. Homem discreto e simples, de vasta cultura, viveu os últimos anos emRoma, na Casa das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que se fizeram presentes,numerosamente, nesta homenagem, que encheu o auditório da paróquiada Caranguejeira.No final da sessão, D. António Marto, de forma veemente, lembrou quenão podemos esquecer os grandes valores que temos na nossa Igreja, numtempo onde faltam referências. Lembrando um adágio m<strong>ed</strong>ieval, “nós somosanões levados às costas de gigantes”, referiu que “o que somos hoje, o devemosa quem nos prec<strong>ed</strong>eu” e salientou, sobretudo, a coragem de MonsenhorCarreira em arriscar a vida para salvar a de outros. “Isto não se pode esquecere deve constituir para todos exemplo e uma referência”, concluiu o prelado.A sessão terminou com um convívio, oferecido pela Junta de Freguesia quetambém se associou aos festejos.No SeminárioNo dia 16 de Setembro, foi a vez de o Seminário de <strong>Leiria</strong> acolher umasessão comemorativa do centenário do nascimento de Monsenhor JoaquimCarreira, também com a presença de D. António Marto. Mais uma vez, oBispo exaltou as qualidades deste notável servidor da Igreja e da soci<strong>ed</strong>ade:o seu carácter inovador e ousado, que manifestou tanto na criação de umlaboratório de física e química no Seminário, que na época era o melhor dasinstituições de ensino da cidade de <strong>Leiria</strong>, a sua acção pastoral, especialmentena Boa Vista, cuidando de dar às pessoas do movimento da Acção Católicauma sólida formação humana e espiritual. Foi o primeiro sacerdote com acarta de aviador e criou uma rádio local. Na sua vida transparecia uma féintrépida e uma espiritualidade profunda. Na defesa dos perseguidos, foi umhomem corajoso e de grande caridade cristã. No seu zelo pastoral e na práticado bem, é um sacerdote digno de ser imitado nos dias de hoje.O padre João Carreira Mónico voltou a fazer a apresentação da biografiade seu tio, um livro volumoso com fotografias e documentos que nos permitemconhecer a grandeza da vida e da acção desta grande figura, “um sacerdot<strong>ed</strong>e corpo inteiro, ao serviço de Deus, da Igreja e dos perseguidos, apóstolodo bem, na guerra e na paz, com acções, palavras e escritos”.Ao historiador José Travaços Santos coube a tarefa de dar a conhecera acção humanitária de Monsenhor Carreira, no acolhimento aos judeus ea outros perseguidos, em Roma. Associou a sua acção solidária à de outroportuguês ilustre, Aristides Sousa Mendes, na mesma época. E leu alguns174 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. teologia / pastoral.depoimentos daqueles que encontraram abrigo no Colégio Português. Comoutros participantes na sessão, defendeu que urge divulgar, a nível nacionale mesmo internacional, a obra deste leiriense em favor das vítimas de perseguição.O padre Joaquim Carreira das Neves testemunhou o seu convívio comMonsenhor Carreira e a tentativa que fizera para ouvir do próprio o relato daobra que realizara. Ao que o sacerdote sempre respondeu: “Essas coisas nãose dizem, fazem-se”.Retalhos da vidaPor João Carreira MónicoJoaquim Carreira nasceu no lugar do Souto de Cima, paróquia da Caranguejeira,a 8 de Setembro de 1908. Seus pais, Joaquim Carreira e MariaInácia, pequenos lavradores, c<strong>ed</strong>o se preocuparam com a <strong>ed</strong>ucação do pequenitoJoaquim, o único rapaz do ranchinho de 5 filhos que Deus conc<strong>ed</strong>eu aocasal.Fez a 3.ª classe na Escola da Caranguejeira. Para continuar os estudos,teve de imigrar para Monte Real. Aqui, com apenas 10 anos, entre o trabalhode casa (ir à lenha e à fonte) e a escola, fez a 4ª classe. Preparou-se entãopara ingressar no Seminário de <strong>Leiria</strong>. Vencidas as resistências do pai, quese opunha por este ser o seu único rapaz, é aceite em 15 de Outubro de 1920.Tinha 12 anos. No Seminário, foi aluno aplicado, distinto e alegre, revelandoos seus talentos e o muito que tinha para dar. Com os seus colegas de curso,fundou a revista manuscrita, “Vida Activa”.Por decisão do Bispo de <strong>Leiria</strong>, D. José Alves Correia da Silva, foi enviadopara Roma, em 1926, para continuar os estudos eclesiásticos na UniversidadePontifícia Gregoriana. Aí concluiu a Licenciatura em Filosofia e DireitoCanónico e o Doutoramento em Teologia. A 19 de Setembro de 1931 foiordenado sacerdote, em Roma. Nesse mesmo ano regressou a Portugal, cheiode entusiasmo e conhecimentos filosóficos, teológicos e científicos.No Seminário de <strong>Leiria</strong>, de 1931 a 1940, o seu saber, alegria, d<strong>ed</strong>icaçãoaos alunos, amor ao sacerdócio e ao apostolado, eram contagiantes. A actividadesacerdotal multifacetada granjeou-lhe simpatia e colaboração, dentroe fora do Seminário. Animado pelos conhecimentos da física e química, lan-Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 175


. teologia / pastoral .çou-se na organização de um Laboratório para fazer experiências naquelasdisciplinas. Criado para os alunos do Seminário era, no entanto, aberto aosde outras escolas da cidade. Paladino da comunicação, pôs no ar a sua Rádiolocal que, com graça, rotulou de “Rádio Esfola Gatos”! De Roma, trouxeconsigo uma máquina fotográfica. Com ela, guindou-se a fotógrafo do Santuário,elaborando um pequeno álbum intitulado “Vistas de <strong>Fátima</strong>”.Nomeado capelão da Boavista (1931-1940), para lá caminhava todas assemanas, quer chovesse, ventasse ou fizesse sol. Não tinha carro. Apenasuma bicicleta. Mesmo assim, chegava a tempo e horas, tantas vezes com abatina repassada pela chuva e lama dos caminhos. Na Boavista deu o melhorda sua vida, através de uma pastoral pensada e organizada para um povofaminto de Deus e de cultura. Fundou a Acção Católica e Conferência de S.Vicente de Paulo. Organizou a catequese e formou as catequistas através deretiros e cursos. Para as crianças, além da catequese, havia récitas, magustos,amêndoas e concursos. Fomentou encontros inter-paroquiais e diocesanos.Promoveu e acarinhou as vocações sacerdotais e religiosas que acompanhavacom solicitude paternal.Em 1940, após os treinos no aeródromo de <strong>Leiria</strong> e Monte Real, fezexame em Alverca e, sendo considerado apto e idóneo, recebeu a carta parapilotar aviões de turismo. Válida em Portugal e na Itália.Em Maio de 1940, o Bispo D. José Alves Correia da Silva mandou-o irnovamente para Roma. Foi de comboio. A Europa estava em guerra. Hitlere Mussolini faziam distúrbios em Roma. Não era risonho o cenário que oesperava. Nomeado Vice-Reitor do Colégio Pontifício Português, em brevepassou a Reitor. Aqui e durante a guerra, correndo o risco da própria vida,acolheu muitos refugiados, políticos e civis, fascistas, antifascistas, judeuse não judeus. Nunca foi molestado, mesmo quando saía de Roma para as aldeiasvizinhas à procura de alimentos. Furtando-se à vigilância dos soldadosnazis, lá ia, estrada fora, no carro do Colégio, mendigando alguns quilos demilho e outros mimos para os seus refugiados.Dispensado dos afazeres do Colégio Português, onde viveu 16 anos deintenso trabalho, d<strong>ed</strong>icação e orientação, retirou-se para a sua nova “Tebaida”– a Casa Madonna di <strong>Fátima</strong> – confiada às Irmãs Franciscanas Hospitaleirasda Imaculada Conceição. Daqui, fazia caminho para a Embaixada de Portugaljunto da Santa Sé, onde era Consultor Eclesiástico.Fiel cumpridor dos seus deveres, por todos era apreciado pela sua inteligência,bondade, desprendimento, hospitalidade e alegria. Acompanhoumissões diplomáticas. Recebeu e acompanhou a visita da Imagem Peregrina176 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. teologia / pastoral.a Roma. Pregou, viveu e difundiu a Mensagem de <strong>Fátima</strong>.Tinha apenas 73 anos de idade, quando Deus Pai, Senhor da vida e damorte, veio chamar este seu servo bom e fiel. Faleceu no seu quarto, na CasaMadonna di <strong>Fátima</strong>, em Roma, no dia 7 de Dezembro de 1981, em ambient<strong>ed</strong>e simplicidade e pobreza franciscana, como era o seu viver. Nada faziaprever este súbito desenlace. No entanto, Monsenhor Carreira preparou, commuita antec<strong>ed</strong>ência, a sua viagem para a casa do Pai, como podemos ler nascartas que escreveu, depois de ter celebrado, com a família e na casa paterna,as suas Bodas de Ouro Sacerdotais, em Setembro de 1981. Ficou sepultadoem jazigo do Pontifício Colégio Português, no cemitério do Campo Verano,em Roma. Volvidos 20 anos, os seus restos mortais foram trasladados para ocemitério dos Soutos da Caranguejeira, sua terra natal. Era o dia 25 de Fevereirode 2001.Testemunhos de uma acção heróica“O coração português em Roma”A ternura de Deus manifesta-se não apenas directamente mas tambématravés das pessoas. Ele mesmo as escolhe para seus ministros, mensageirose instrumentos e lhes dá a capacidade de fazerem o bem. Monsenhor JoaquimCarreira, cujo centenário de nascimento ocorre no dia 8 de Setembro, praticouo bem por palavras e gestos simples, mas também por actos heróicos, acolhendoperseguidos, durante a guerra, em Roma, nos anos 1943 e seguintes.Ao seu lado estiveram alunos e funcionários do Colégio Português. Váriascartas relatam e agradecem o amor de que beneficiaram. Quando a gratidãoperdura no tempo e se repete é sinal de que o benefício deixou marcas profundasna memória das pessoas.Um dos refugiados refere o aumento destes no Colégio e o tratamento quereceberam. Eram dezenas de professores, estudiosos, comerciantes, militares,estudantes, hebreus: “todos puderam, a seu modo, experimentar a bondade eo espírito de altruísmo do reitor que, com verdadeira caridade cristã e nobregenerosidade, desafiou as ferozes leis de guerra alemãs e fascistas, para aju-Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 177


. teologia / pastoral .dar aqueles que, como nós, se encontravam expostos ao perigo”. Nesta acção,os padres portugueses, diz outro, “arriscavam-se a muito – e sabiam-no. Masnunca nos deram a perceber que estávamos a mais. Pelo contrário, rodeavamnos,a cada instante, de atenções, procurando tornar-nos a vida o mais agradávelpossível”. E conclui o depoimento de admiração, afirmando: “Em nom<strong>ed</strong>a caridade cristã, um punhado de corajosos sacerdotes portugueses sob adirecção do Rev.º Dr. Carreira fazia à sua maneira a guerra contra a injustiçae contra o arbítrio, contra a violência, contra o despotismo”.Um médico declara que ali experimentou o acolhimento fraternal dos“braços amigos” do reitor e uma “vida que deveria ser a de todos os homens– verdadeiros irmãos, sem distinção de raça, de religião, de nacionalidade”.Mesmo sem esquecer as “tristes e cruéis vicissitudes da guerra, viverá sempreem mim a lembrança daqueles poucos dias passados na paz tão hospitaleirae fraterna do Colégio Português”. Outro médico, na altura estudante, fala doreitor que aparecia “em toda a parte com o seu sorriso a alentar a nossa mocidad<strong>ed</strong>eprimida”. Se “Roma sofria as torturas da fome”, no Colégio, “emnossa mesa, nada faltava, graças à estremada diligência e aos sacrifícios dequem nos hosp<strong>ed</strong>ava. Superior e alunos todos partilhavam das nossas angústiase das nossas alegrias”.Um engenheiro recorda a sua experiência de sete meses: “Guardo aindauma maior admiração e gratidão para com o reitor, Dr. Joaquim Carreira, quefoi para mim, mais do que para qualquer um dos hósp<strong>ed</strong>es, pai e irmão, queme dispensou não só o conforto de sacerdote, mas também o da amizade eainda o exemplo admirável do homem que não se deixa abater pelas dificuldades,que sabe assumir a responsabilidade, ainda que grave, no momento dacrise e sabe perdoar de modo perfeito”. “Um oásis de serena espiritualidade,de alta intelectualidade e de afectuosa hospitalidade, eis o que encontrámosquando, perturbados pela situação geral e pessoal, entrámos no inviolávelrecinto do Colégio Português”, testemunha outro refugiado. E classifica ainstituição como “ilha de paz no coração da cidade atormentada”. Outro faloudele como “o coração português na Itália”.Um ano depois do termo da guerra, no aniversário da aparição de nossaSenhora em <strong>Fátima</strong>, os que tinham encontrado abrigo no Colégio reuniram-se“em torno do altar” para agradecerem o benefício daquele acolhimento.178 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. teologia / pastoral.1.º ano do Hospital da Misericórdia da BatalhaDiversidade de contributosnuma mesma missão de CUIDARPor Luís Miguel Ferraz“Foi um ano em quelevámos a cabo a missãodos cuidados continuados,em trabalhos suados, numaobra de bem-fazer queprocurámos sempre quefosse bem feita”. Foi comestas palavras que AntónioMonteiro, prov<strong>ed</strong>or daIrmandade da Santa Casada Misericórdia da Batalha(ISCMB), abriu a sessãodo primeiro aniversário doCentro Hospitalar de NossaSenhora da Conceição (CHNSC), no passado dia 6 de Dezembro. Em jeito deapresentação do espírito que preside à instituição, esta frase pode também resumiro trabalho que, de facto, ali tem sido desenvolvido desde a sua aberturaoficial, há cerca de um ano.A cerimónia de aniversário contou com a participação de cerca de umacentena de irmãos da Misericórdia da Batalha, que se juntaram nesta datafestiva aos utentes, à equipa de médicos, enfermeiros, administrativos e auxiliares,ao grupo de voluntários que ali prestam apoio e a alguns convidados,como os presidentes da Assembleia e da Câmara Municipal, respectivamente,Francisco Freitas e António Lucas, o presidente do Concelho de Gestão doGrupo Misericórdias Saúde, Salazar Coimbra, e um representante do SecretariadoNacional da União das Misericórdias Portuguesas, Júlio Freire.Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 179


. teologia / pastoral .Presente de sucesso rumo ao futuro“O sucesso deste ano de trabalho deve-se à excelente equipa de profissionais,em todos os sectores desta Unidade de Cuidados Continuados (UCC),mas também à profícua colaboração com os parceiros nacionais e regionaisda Segurança Social, da Saúde e da autarquia”, continuou o prov<strong>ed</strong>or, deixando,no entanto, a nota de que “este é um arrem<strong>ed</strong>o de obra feita, pois aindahá muito trabalho a fazer para ampliar este tipo de serviços sociais e tambémdiversos problemas a enfrentar, como seja a sustentabilidade financeira doprojecto”, muito dependente das políticas de Saúde do Governo.A título de exemplo, António Monteiro referiu o anunciado serviço domiciliáriode m<strong>ed</strong>icina e enfermagem, para o qual defendeu que se “aproveite aexperiência, os meios e as equipas já presentes no terreno por parte dos serviçosde apoio domiciliário das Instituições Privadas de Solidari<strong>ed</strong>ade Sociais”(IPSS), que “devem ser ouvidas pelo Estado antes de ditar as suas sentençasvindas de cima, normalmente acompanhadas de complexas obrigações e burocracias”.E atreveu-se a sugerir que “em vez de mais uns quilómetros deauto-estrada, de mais uns relvados para o jogo da bola, de mais uns minutosna velocidade do TGV, o Governo usasse uma parte dos nossos impostos parafinanciar os serviços de apoio domiciliário, possibilitando a sua extensão aosfins-de-semana e o alargamento do leque de serviços para além das refeiçõese trabalho doméstico, aos cuidados médicos e de enfermagem”.Ampliar as valências da acção social é também uma preocupação daCâmara da Batalha, como referiu na ocasião António Lucas, defendendo o“rápido regresso às negociações, entretanto paradas, para a transferência decompetências do Governo para as autarquias nas áreas sociais, como sejama Educação e a Saúde”. O presidente da <strong>ed</strong>ilidade frisou a colaboração quetem sido prestada ao CHNSC, por ser “uma infra-estrutura de topo na regiãoe uma mais-valia fundamental no Concelho”, defendendo a continuidad<strong>ed</strong>este serviço noutras áreas e para outros públicos, “onde a autarquia teminvestido, mesmo sem ter essas competências específicas, como é exemploa recente criação de um Centro de Ajudas Técnicas, em colaboração com aSegurança Social, que permite uma resposta rápida e eficaz aos p<strong>ed</strong>idos dosmunícipes de equipamentos como camas articuladas, cadeiras de rodas, etc.”Outro exemplo apontado foi a tentativa de implementação do serviço SOSVizinhos, visando um apoio directo às pessoas dependentes por parte de umvizinho, devidamente ajudados financeiramente, e que “apenas não está emexecução porque, infelizmente, apenas uma pessoa em todo o concelho semanifestou disponível para este trabalho”.180 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. teologia / pastoral.Voluntariado destacadoEsta disponibilidade para a ajuda a quem mais precisa é uma das condiçõesessenciais para o funcionamento de excelência deste tipo de projectos.Também neste caso, a instituição registou uma resposta de qualidade, comosalientou Carlos Monteiro, coordenador-geral do CHNSC: “O grupo de voluntariado,que desde a primeira hora se organizou e se disponibilizou paracolaborar com a unidade no apoio aos doentes, assegura essa colaboraçãodurante todos os dias da semana, período de férias e feriados, o que não écomum no voluntariado que se faz pelas demais unidades de saúde”. Comoexemplo desse compromisso, foi referida a organização pelos voluntários deuma campanha para a oferta de um moderno sistema de som e projecção deimagem que foi estreado nesta sessão.Considerando que “também aqui marcamos a diferença”, este responsávellembrou o lema que move toda a equipa: “associar à vertente do trabalho,um grande espírito de solidari<strong>ed</strong>ade e de amor ao próximo”. Esse será, aliás,o segr<strong>ed</strong>o para o sucesso, que se m<strong>ed</strong>e pela satisfação geral dos mais de 150doentes que já passaram por esta UCC, como prova o facto de “todos os queregressaram a suas casas, apresentando grandes resultados de recuperação,o fizeram com lágrimas de emoção, por sentirem que receberam aqui todo oacolhimento, tratamento, carinho e respeito, que não encontraram em nenhumaoutra unidade de saúde por onde haviam passado”. Graças a isso, concluiCarlos Monteiro, “deixaram-nos a agradável sensação do dever cumprido”.Cuidar, mais que tratarO mesmo espírito é assumido por todos os profissionais, desde o corpoclínico aos administrativos e auxiliares. “Curar às vezes, aliviar frequentemente,mas confortar sempre” é o lema apresentado por José Leite, directorclínico desta UCC. Honrado com o convite que lhe foi dirigido há um ano, omédico afirma encontrar neste espaço o lugar ideal para o cumprimento dessamissão, num compromisso entre exigência de profissionalismo e primazia aohumanismo com que se desempenham as tarefas. “A primeira preocupação éa saúde, mas o alívio da dor é o primeiro objectivo”, num processo que deveenvolver o doente, tendo como finalidade o cimentar da esperança e qualidad<strong>ed</strong>e vida enquanto se vive.Na ocasião, foi projectado um filme sobre este primeiro ano de actividade,que tornou clara esta mensagem. Os rostos iluminados pelo sorriso forammais evidentes do que as lágrimas de dor, a força de vontade para voltar aaprender os primeiros passos foi mais visível do que o desânimo de um AVC,Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 181


. teologia / pastoral .a luz dos espaços e ambientes quase escondeu a realidade soturna da doençaque motivou o levantar desta casa. Como bem resumiu Graça Pereira, enfermeira-chef<strong>ed</strong>a unidade, em forma de poema, é o esforço multidisciplinar demuitos que dá sentido a este trabalho, na “certeza de que estamos a crescer”.Unidade modeloO presidente do Grupo Misericórdias Saúde reconheceu também o trabalhoexemplar desta unidade no âmbito da r<strong>ed</strong>e nacional, salientando o papeldeste Governo na solução do problema dos Cuidados Continuados, em diálogocom as Misericórdias e outras IPSS. “A Batalha é um bom exemplo doserviço que queremos prestar”, afirmou Salazar Coimbra, alertando para ofacto de “continuarmos atentos às necessidades e a defender um projecto qu<strong>ed</strong>everá ir mais longe, abrangendo os apoios domiciliários nas áreas da m<strong>ed</strong>icina,enfermagem, psicologia, terapias da fala e ocupacionais, etc.”Na mesma linha, o representante da União das Misericórdias Portuguesasreferiu a importância da cooperação com o Estado, “que não conseguirá nuncaresponder a todas a necessidades sociais e poderá contar com o inestimávelserviço das Misericórdias”. Júlio Freire apontou o exemplo do CHNSC como“das melhores instituições a nível nacional, com provas dadas no serviço àspessoas, com qualidade e humanismo, pela dignidade humana”. Referindo oselevados índices de satisfação dos utentes, louvou o facto de “terem começadono início do projecto e revelado a capacidade e a coragem de aprender”.Se dúvidas havia ainda, o testemunho espontâneo de alguns utentes alipresentes desfê-las por completo. O senhor Joaquim afirmava com comoção:“eu não era capaz de andar nem de fazer nada e recebi aqui todo o carinhoe força para recuperar essas capacidades”. Também a dona Alice, primeirautente desta unidade, marcou presença no acto. As lágrimas de gratidão corroboraramas palavras da sua filha: “melhorou muito e sente-se aqui muitoacarinhada por uma equipa que poupou imenso sofrimento, a ela e a toda afamília”. Curiosamente, neste momento partilha o quarto com o marido, quefoi também ali internado posteriormente, “num verdadeiro lar onde ambos sesentem amados”.Voltando à alegria, a sessão terminou com uma bonita interpretação musicala capela pelo grupo Domus, seguindo-se a Missa de acção de graças,presidida pelo padre franciscano Joaquim Costa, e um beberete de convívioentre todos.182 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .O Primeiro Epitáfio Latino de D. Filipade Lencastre no Mosteiro da BatalhaSaul António Gomes (Universidade de Coimbra)António Manuel Rebelo (Universidade de Coimbra)Resumo: Neste artigo, os autores dão notícia e proc<strong>ed</strong>em à publicaçãocrítica do epitáfio latino, que se conserva inédito e apenas fragmentariamente,alusivo à trasladação, em 1416, da rainha D. Filipa de Lencastrepara o Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha).Abstract: A latin epitaph of the Philippa of Lencastre, Queen consort ofPortugal through her marriage with King John I, remain<strong>ed</strong> unpublish<strong>ed</strong>and unstudi<strong>ed</strong> until now. It regards the first transfer of her body into theMonastery of Santa Maria da Vitória (Batalha), in 1416, which was plac<strong>ed</strong>in a crypt, where it temporarily remain<strong>ed</strong> until the royal pantheon wasfinish<strong>ed</strong>.1 — Problemática historiográficaNo braço meridional do transepto da igreja do Mosteiro de Santa Mariada Vitória, à mão esquerda de quem nele entra, encontra-se uma lápide,extremamente esfacelada e incrustada entre silhares enegrecidos, na qual s<strong>ed</strong>escobrem e se lêem, não sem dificuldade, tal o estado de deterioração que ap<strong>ed</strong>ra atingiu, antigos caracteres góticos.Ainda que seja uma lápide gótica rara no espectro da epigrafia quatrocentista,em Portugal, o seu estudo nunca foi levado a cabo por nenhum doshistoriadores que se debruçaram sobre o passado deste monumento pátrio.Fr. Francisco de S. Luiz, que viveu algum tempo “exilado” no Mosteiroda Batalha, antes de ser elevado ao cardinalato, anota a sua existência na“Memoria Historica Sobre as Obras do Real Mosteiro de Santa Maria da Victoria”,publicada em 1827, onde se lhe refere nos seguintes termos:Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 183


. história .“Ultimamente no outro topo fronteiro, entrando a porta travessa daigreja, vê-se na par<strong>ed</strong>e do lado esquerdo a inscripção latina, de que falla ochronista no fim do cap. XXV, mas está a p<strong>ed</strong>ra tão desp<strong>ed</strong>açada, e lascadano fogo, que ahi fizerão os soldados francezes, que nos não foi possiveller o seu conteudo, e nem ao menos conhecer, se com effeito se referiaá trasladação da senhora D. Filippa, como Fr. Luiz de Souza affirma nomesmo lugar.” 1A leitura do passo da História de S. Domingos, de Fr. Luís de Sousa, aque se refere o Cardeal Saraiva, sendo esclarec<strong>ed</strong>ora, não nos deixa, infelizmente,a respectiva transliteração epigráfica. Escreveu o insigne cronistadominicano, que estanciou no Mosteiro por 1621, momento em que r<strong>ed</strong>igiuo magnífico texto que consagra ao monumento gótico, encerrando o capítulod<strong>ed</strong>icado ao enaltecimento de D. Filipa de Lencastre, que:“Aqui pertence advirtirmos aos curiosos, que querem rezão de tudo,que a letra de huma p<strong>ed</strong>ra, que parece na Igreja á entrada da porta travessacontém hum breve epitafio Latino d’esta santa Rainha pera memoria dasua primeira tresladação pera esta Igreja, que fica contada, em quanto tardavaa segunda pera a sua capella, que foi muitos annos despois.” 2Revelaram-se infrutíferas as investigações que realizámos junto de outrosAutores, especialmente os mais antigos, no sentido de apurar uma possíveltransliteração ou nova informação acerca da lápide que nos ocupa. Aspormenorizadas informações acerca da morte de D. Filipa de Lencastre, noMosteiro de Odivelas, no dia 19 de Julho de 1415, devidas ao erudito labordo cronista Gomes Eanes de Zurara, são omissas em matéria de registo dosepitáfios da generosa Rainha 3 . Igual silêncio se encontra nas páginas em quecronistas como Rui de Pina, Garcia de Resende, Damião de Góis, CristóvãoAcenheiro ou D. Jerónimo Osório aludem às trasladações dos féretros reaispara o mausoléu batalhense 4 .Não menciona esta inscrição o até hoje ainda não identificado autor de OCouseiro ou Memórias do Bispado de <strong>Leiria</strong>, em r<strong>ed</strong>acção por volta de 1650-1657, posto que apresente preciosas informações acerca do Convento nessaépoca 5 . Também o Conde da Ericeira, D. Fernando de Menezes, em 1677,nas páginas, inspiradas no Cronista dominicano, em que enaltece a obra deD. João I não se lhe refere 6 .184 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .Nas páginas generosas, em informação documental, coligidas por JoséSoares da Silva, d<strong>ed</strong>icadas ao reinado de D. João I e publicadas em 1730,encontramos dados relevantes para a biografia da rainha D. Filipa. Deve-selhe,aliás, a primeira tentativa de publicação integral do epitáfio da Rainha,exposto no facial do túmulo real existente na Capela do Fundador, mas, infelizmente,não se ateve minimamente ao epitáfio em causa 7 . Muito emboraD. António Caetano de Sousa nos tenha deixado, com data de 1744, umapormenorizada notícia sobre a morte desta rainha, ela nada adianta, uma vezmais, para a questão que nos ocupa 8 , o mesmo se podendo aferir da consultade outros historiógrafos desses séculos 9 .Têm um elevado lugar de relevo, no panorama da historiografia batalhina,os comentários históricos e descritivos que James Murphy insere no Álbumintitulado Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalha…,mas, também aqui, a informação histórica limita-se a reproduzir o estabelecidopor Fr. Luís de Sousa, nada se enunciando acerca deste letreiro gótico 10 .Igualmente infrutíferas, sobre esta matéria, são as observações sobre o monumentodevidas a Thomas Pitt, que o visitou em 1760 11 . Escapou a inscrição,ainda, a Francisco da Fonseca Benavides, na sua obra sobre as Rainhas dePortugal, publicada em 1878 12 . Não consta, finalmente, do opus magnum daepigrafia m<strong>ed</strong>ieval portuguesa, onde se reúnem todas as epígrafes m<strong>ed</strong>ievaisdo País entre 862 e 1422, da autoria de Mário Jorge Barroca 13 .2 — Características epigráficasColocada, como escrevemos, no muro poente do braço meridional dotransepto da igreja conventual de Santa Maria da Vitória, a 2,06 metros dochão, esta lápide m<strong>ed</strong>e 70cm de altura por 47 cm de largura 14 .Do ponto de vista paleográfico, a inscrição apresenta caracteres perfeitamentegóticos, contrastando com a tradição gráfica uncial corrente em peçasm<strong>ed</strong>ievais anteriores. Ainda que estejamos perante uma lápide fragmentáriabastante estilhaçada, deveremos assinalar a sua regularidade gráfica traduzidanuma paginação reflectida e bem programada, na cuidadosa definição dasmargens, na projecção de espaços interlineares amplos e na preferência pelaconcatenação das linhas de texto em ordem a acentuarem o efeito visual daversificação.A elegância das letras maiúsculas, no começo de cada linha, por seulado, traduz alguma uncialidade e gosto pelo ornato (sobretudo letras maisr<strong>ed</strong>ondas como os AA, os MM e os CC, contrastando estas, no entanto, comos HH mais angulosos), numa época, a dos começos do século XV, em que,Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 185


. história .nas chancelarias reais, se recupera o gosto pelo traçado de litterae elongataee também de literae notabiliores.Nas datas recorreu-se a numeração romana de tradição m<strong>ed</strong>ieva (“CCCC”e não “CD”) escrevendo-se ainda o milésimo por extenso.Entre as minúsculas, devemos anotar a prevalência de nexos em conjuntoscomo “or” e “pr” (v. g., “florentis”, “armorum”, “prelustris”, na primeira esegunda linhas) e “le” (“culentis”, na primeira regra). O recurso a abreviaçãopor contracção é, contudo, muito r<strong>ed</strong>uzido podendo referir-se, na última linha,os exemplos “glia” (gloria) e “xpisto” (Christo) que dão expressão à antífonalitúrgica. Recorreu-se a modificação literal na expressão “[F]rancique”em que suc<strong>ed</strong>em ao “q” final três pontos.Usou-se o ponto intermédio na separação entre cada palavra assim seprocurando viabilizar uma leitura menos árdua e mais compassada do textoinscrito.3 — Análise filológicaMuito embora, como escrevemos, a lápide esteja muito estilhaçada, é possívelobservar que possuiu 14 linhas de texto, em caracteres de gótica alemã,de que, hoje em dia, apenas se consegue reconstituir uma leitura satisfatóriapara as primeiras quatro, bastante insuficiente para as regras cinco a sete, epouco mais do que sofrível para as restantes linhas com excepção das duasúltimas cujo sentido se reconstitui por sabermos corresponderem a parte domilésimo ou data da morte de D. Filipa e a uma imprecação final de louvora Jesus Cristo.A planificação do epitáfio, com linhas alternadamente recuadas, à maneirados dísticos elegíacos, parece indiciar uma disposição em verso, apesar dosinformes mais prosaicos das linhas finais e da doxologia com que termina otexto completo, ocupando parte da última linha.O grau de destruição, levada a cabo pelas tropas francesas, é tal que onúcleo do texto ficou irrecuperavelmente perdido. Podemos presumir o quelá se encontrava, mas não podemos conjecturar uma reconstituição segura dotexto. Neste capítulo, aduzimos a autoridade de R. Marichal para justificara orientação cautelosa do nosso trabalho: “l’expérience prouve que les restitutions,lorsqu’il ne s’agit pas de formules établies, sont presque toujoursannulées par les découvertes postérieures” 15 .186 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .ReflexõesFotografia da lápide no Mosteiro de Santa Maria da VitóriaFoto: Luís Ferraz| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 187


. história .O texto da lápide poderá ser reconstituído do seguinte modo:A[n]glie florentis armorum q[......] culentisHenrrici prelustris german[a fra]ncique regisHic iacet in cripta quondam [praec]lara [Philipp]aMoribus et vita gra[n]d[is] d(om)i(n)a [.......a]Ind[e in] mon(a)s[terio.....................................no]nMin[ime............................................................]mInf[antes....................................................] aDudum regin[a......................................]naPortugalis et [........................................................]Augusti xiii[i............................ ultimum die]mClausit mallis[.........................mortem] uicitLumen adprehendens [......................][A]nno millesimo quadringentesimo[..........................][D]ecimo quinto. Sit laus [et glor]ia Christo.A suspeita de se tratar de um poema é reforçada pela colocação em posiçõespoeticamente estratégicas dos principais nomes. Como se pode ver, Anglie,Henrrici, Philippa, Infantes e Portugalis ora estão no início ou no finalda linha – as posições mais importantes onde os poetas latinos habitualmentecostumam colocar os nomes que pretendem enaltecer.A assonância florentis – culentis, prelustris – regis, e cripta – Philippafazem-nos suspeitar de rima leonina, embora a primeira palavra não coincidacom o final do primeiro hemistíquio e, a partir do séc. XII, a rima seja geralment<strong>ed</strong>issilábica (mesmo que impura) 16 .Todavia, ainda que admitíssemos um ritmo intensivo (o ritmo quantitativoestá fora de questão devido a irregularidades gritantes), o esquema maispróximo que poderíamos admitir seria o ritmo anapéstico baseado essencialmenteem metros anfíbracos. Trata-se de um ritmo muito semelhante ao dobritânico limerick uma forma variante de poesia atestada na poesia inglesavernácula já desde o séc. XIV 17 .E é curioso que, tratando-se de um epitáfio de D. Filipa, o autor comecepor enaltecer a Inglaterra e o Rei Henrique IV, irmão de D. Filipa, apesar deo soberano em causa ter falecido dois anos antes da irmã. À data do falecimentoda Rainha portuguesa reinava já Henrique V, filho de Henrique IV esobrinho de D. Filipa. Todavia, dois ou três anos de reinado ainda não tinhamsido suficientes para merecer uma referência especial na lápide da tia. Estava188 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .ainda bem presente o reinado do pai. É, pois, de estranhar que o nome daprópria homenageada só surja no final da terceira linha.Ao enfatizar a ascendência britânica de D. Filipa, em vez de começar pora relacionar com o seu marido, D. João I, bem mais glorioso e conhecido nomosteiro que ele próprio mandou construir, o autor do epitáfio denuncia a suanacionalidade: só pode ser inglesa. Efectivamente, o texto abre com o nom<strong>ed</strong>e Inglaterra (Anglie). Por outro lado, a referência ao título do monarca britânico,um Plantageneta em plena guerra dos cem anos, está de acordo com adocumentação da época: Regis Anglie et Francie 18 . Com Eduardo III, os reisde Inglaterra, que também eram duques da Aquitânia, tornaram-se pretendentesao trono de França.Não admira que este título tenha suscitado a ira dos soldados de Napoleão,gerando neles o desejo de descarregar sobre a lápide toda a fúria quenutriam contra os Ingleses.Se a primeira linha começa por Anglie, a segunda principia por Henrrici etermina por Francique regis. Esperar-se-ia Francieque regis. Não está claro quehaja razões de natureza métrica para se substituir o substantivo pelo adjectivo.Obscuro é para nós, ainda, o final da primeira linha que termina em algoque nos parece –culentis. Mais sentido faria, neste contexto, tanto excellentiscomo luculentissimi (ambos com um sentido muito parecido) ou luculentissimorume luculentissimae, se concordar, respectivamente com armorum oucom Anglie. Poder-se-ia admitir uma abreviatura por suspensão, mas falta asílaba inicial, da qual não se vislumbram quaisquer vestígios. A referência àsarmas é idêntica àquela com que Camões inicia Os Lusíadas, na linha da imitaçãode Virgílio: as armas da casa real inglesa ou da de Lencastre, uma vezque é D. Filipa que, nessa referência à ilustre linhagem inglesa, é nobilitada.Traduzindo a primeira parte, à excepção do final da primeira linha, teríamoso seguinte sentido:A irmã do mui ilustre D. Henrique, Rei da florescente Inglaterra, (dearmas ilustríssimas) e de França, a preclara D. Filipa, que outrora foi umagrande senhora em costumes e no modo de vida, jaz aqui na cripta...ReflexõesSeguir-se-á uma alusão à sua morte no Mosteiro de Odivelas e à trasladaçãodo seu corpo para a Batalha. Onde conjecturamos non minime, tambémpoderíamos admitir non minus, uma lítotes para enaltecer D. Filipa ou a acçãodos Infantes, cujos feitos gloriosos em Ceuta estavam ainda bem presentes.Relembremos que D. Filipa sempre incentivou os filhos a conquistar as espo-| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 189


. história .ras de cavaleiro através de feitos gloriosos, não em justas e torneios, mas emacções guerreiras, como era o caso da conquista de Ceuta.Só depois virá a referência à sua condição de Rainha de Portugal e dosAlgarves, e esposa de D. João I.O mês de Agosto e o número XIII, que nós reconstituímos para XIV (naforma habitual de xiiii), estará certamente relacionado com a sua morte: no14º dia das calendas de Agosto (19 de Julho), embora reconheçamos que aposposição do número ao nome do mês seja pouco comum.O texto que se segue descreve a morte da Rainha, recorrendo certamente aum eufemismo muito comum equivalente à forma mais prosaica mortua est:ultimum (ou extremum) diem clausit. O autor exprime a convicção de a Rainha,tendo vencido a morte e resistido aos males deste mundo, se encontrar jána plenitude da luz de Deus (lumen adprehendens).As duas linhas finais fazem alusão à data da morte ou da sua deposição.É, todavia, de estranhar a ausência das letras iniciais, que se esperariam noalinhamento das iniciais das linhas anteriores. Terão sido destruídas – pelosFranceses ou num primeiro processo de limpeza ou de qualquer outro polimento,a que a lápide terá sido submetida para se eliminar o negrume dafogueira a que foi exposta – ou terá sido lapso do sculptor?Entre o início da data, registada por extenso, e o final, há um espaço que nãoconseguimos descortinar. Estaria reservado à designação da Era de Cristo?O texto é rematado com uma aclamação doxológica de louvor e glória aCristo.O elevado estado de fragmentação desta lápide não nos permite aquilatardevidamente a qualidade literária do texto, no qual subsistem algumas dúvidase incertezas.4 — Contexto históricoPelo que subsiste desta p<strong>ed</strong>ra, podemos testemunhar a elevada qualidad<strong>ed</strong>a paginação primitiva (ainda que o lapicida possa ter desvirtuado nalgunselementos de pormenor o texto escrito que lhe foi fornecido pelo autor intelectualda epígrafe), toda ela servida pela inscrição de caracteres góticos,maiúsculos e minúsculos, de elevado esmero gráfico e efeito estético. O razoávelprofissionalismo do lapicida mostra-se à altura da dignidade régia queenvolve todo o monumento batalhino, o qual, depois da conquista de Ceuta,em 1415, se viu elevado à categoria de panteão da nova dinastia lusitanaconsagrada, como sabemos, pela vitória portuguesa, na Batalha Real de 14de Agosto de 1385, nos campos vizinhos ao Mosteiro, sobre os exércitos190 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .invasores que faziam perigar a independência nacional 19 .Esta foi, aliás, a primeira lápide a ser afixada nas par<strong>ed</strong>es da igreja monásticamandada <strong>ed</strong>ificar, entre os anos de 1385-1388, como é bem conhecido,por D. João I. A informação legada por Fr. Luís de Sousa indica que era epígrafealusiva à trasladação dos restos mortais de D. Filipa de Lencastre dosMosteiro de Odivelas para este novo mausoléu.Conhece-se bastante bem o acontecimento em causa. Os cronistas referem-se-lhee as fontes epigráficas subsistentes no Mosteiro da Batalha confirmam-na.De facto, no segundo e longo epitáfio da rainha D. Filipa de Lencastre,exposto no painel lateral sul do túmulo conjugal, levantado no centro daCapela do Fundador, para onde ela foi levada, conjuntamente ao seu marido,em soleníssimo cerimonial de Estado celebrado em 1434, sensivelmente umano após o falecimento do Rei da Boa Memória, podemos ler a dado passo:“(…) Obiit autem decima octava die Julii anno Domini Mº CCCCXVº.Et in monasterio de odivellis ante chorum monialium decima nona diemensis ejusdem extitit sepulta, et anno sequenti, mensis obtobris die[decima] nona fuit pretiosum corpus ejus desepultum, integrum inventum,et suavviter odoriferum, et per victoriosissimum Regem dominumJohannem eius coniugem et per illustrissimos infantes scilicet dominumEdduardum, suum primogenitum, et dominum Petrum Colimbrie ducem,et dominum Henricum ducem Viseensem, et dominum Johannem, et dominumFernandum, et infantem dominam Elisabeth ipsorum gloriosissimiregis, et felicissime Regine filios, sociante prelatorum, et cleri, et religiosorumcopia numerosa, et dominis, et generosis dominabus etiam etdomicellis quamplurimis comitantibus, fuit corpus dicte reginehonorandissimetranslatum in capella maiori, et principaliori, die mensis obtobrisdecima quinta, anno Domini Mº CCCCº. XVIº, et postea fuit translatumad hanc capellam, in hoc tumulo reconditum, cum corpore gloriosissimiregis domini Johannis sui coniugis virtuosissimi, sub illa forma, que insuo epitaphio continetur. Horum autem personas Deus omnipotens glorificar<strong>ed</strong>ignetur perpetua felicitate. Amen.” 20Reflexões(“Faleceo a dezoito de Julho de 1415, e foi sepultada no dia seguinteno antecoro das Freiras de Odivellas. E sendo desenterrada no annoadiante em nove de Outubro, foi achado seu corpo inteiro, e sem corrupção,e acompanhado de suave cheiro, e foi trazido a este Convento polovictoriosissimo Rei dom João seu marido, e polos serenissimos Infantes, a| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 191


. história .saber, dom Duarte seu filho primogenito, dom P<strong>ed</strong>ro Duque de Coimbra,dom Anrique Duque de Viseu, dom João, e dom Fernando, e dona Isabelfilhos d’elle, e d’ella: sendo acompanhados de grande numero de Prelados,e Clerigos, e Frades, e de todos os senhores, e fidalgos da Corte, <strong>ed</strong>e muitas donas, e donzellas illustres que seguião a Infante dona Isabel: eem quinze de Outubro do anno de 1416 ficou depositado na capella mór,d’onde foi despois treladado a esta capella, e sepultura em companhia del-Rei seu marido, na fórma que no epitafio do dito Rei se declara. Ambostenha o Senhor em sua gloria. Amen.” 21 )Bastaria, de qualquer modo, a própria lápide exposta no transepto da igreja,todavia, para assinalar a solenidade da trasladação do féretro de D. Filipade Lencastre para o Mosteiro. Como vemos, no entanto, o acontecimentoficou gravado tanto na inscrição exposta no transepto como na parietal do túmuloconjugal destes monarcas. Ainda assim, cumpre considerar o testamentode D. João I, datado de 1426, no qual o assunto vem igualmente explicitadonos seguintes termos:“(…) Item mandamos que noso corpo se lamçe no Moesteiro de SamtaMaria da Vitoria, que nos mandamos fazer com a rrainha dona Felipa,mynha molher, a que Deus acreçente em sua glorya, em aquell moymentoem que ella jaaz, nom com os seus ossos della, mas em huum ataude, asye em tall guisa que ella jaça em seu ataude e nos em o noso, pero jaçamosambos em huum moymento, asy como o nos mandamos fazer. E esto sejana capella moor, asy como ora ella jaaz, ou na outra que nos ora mandamosfazer, despois que for acabada.” 22Há que assinalar, ainda, o precioso documento lavrado no Mosteiro daBatalha, por Gonçalo Lourenço, escrivão da puridade régia, autenticado pelaassinatura autógrafa do próprio D. João I, com data de 24 de Outubro de1416, no qual se atesta terem decorrido nesse exacto dia — informe que nãocoincide, significativamente, com o que foi lavrado no respectivo túmulo,onde aparece inscrito 15 de Outubro — as cerimónias da solene trasladaçãoda rainha defunta. Embora já publicado, reiteramos, aqui, o seu teor, dada asua relevância para o assunto que nos motiva:“Saibam quantos este strumento birem como na Era de mil iiii c çinquoentae quatro anos, vynte e quatro dias do mes d Outubro dentro no192 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .Moesteiro de Sancta Maria da Batalha, o qual Moesteiro he <strong>ed</strong>eficadoe aseentado no termo da bila de Leyrea, em presença de mim notairo etestemunhas adiante scriptas. Estando hi o muito alto, ilustriximo domJoham pela graça de Deus Rei de Portugal e do Algarve e Senhor deÇepta e com el os muito altos e nobres senhores Ifantes seus filhos e osnobres condes e cavaleiros e ricos homees e fidalgos dos seus senhoriose outrossi muitos e honrrador e discretos bispos e abades e priores desua terra e muito clerigos e religiooes dos seus Regnos que por seu mandadoforam chamados pera traladarem aa mujto alta enobre ilustriximasua molher dona Philipa Rainha dos dictos Regnos em cuja gloria Deusacreçente, do Moesteiro d Odivelas onde primeiramente foy sopultada aodicto Moesteiro de Sancta Maria da Batalha. E estando a dicta Senhorem o dicto Moesteiro pera lhe seerem çelebradas suas honrras de suatraladaçom pareçeo perante o dicto senhor Rei Gonçalo Gill enlecto doMoesteiro de Sancta Cruz 23 de Coinbra e disse lhe em como el bem sabiaque o dicto Moesteiro da Batalha en que se a dicta traladaçom faziaesta fecto e adificado em termo da dicta bila de Leirea que he terra dodicto Moesteiro de Sancta Cruz em a qual bila de Leirea e termo o dictoMoesteiro de Sancta Cruz ha toda jurdiçom episcopal, isenta aa igreja deRoma sem outro alguum meo perteeçente. E em como assy fosse e he queo dicto Moesteiro de Sancta Cruz aja e ha muitos privilegios e liberdadesdos padres sanctos de Roma e dos nobres sanctos Reix de Portugale confirmados por o dicto senhor Rei dom Joham que Deus mantenha,em os quaees faz mençom antre as outras eygeiçooes e liberdades quenenhuuns arçebispos nem bispos nem outro alguum escresiastico nompossam çelebrar o sancto sacrifiçio divino nem outro nenhuum ofiçio queperteeça aa jurdiçom e hordem episcopal em a dicta bila de Leyrea e seutermo salvo ao priol que for do dicto Moesteiro de Sancta Cruz, o qualpriol por bem do dicto privilegio pode çelebrar em pontefical em a dictabila de Leyrea e seus termos.E que agora em estes autos eram prestes bispos e abades e priorespera çelebrarem em as dictas oussequyas em pontefical, a qual cousaera em prejuizo dos privilegios do dicto Moesteiro. E porquanto o dictoenleyto estava de presente e por os dictos privilegios do dicto Moesteironom seerem quebrantados fez dello rolaçam ao dicto senhor Rei que fossesua merçee que mandase comprir e agoardar os privilegios e liberdadesdo dicto Moesteiro e nom desse lugar a sse quebrantarem. E o dicto senhorRei respondendo disse que o que da parte do dicto enleyto era razo-Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 193


. história .ado que lhe prazia muito quanto em esto que seus privilegios lhe fossemgoardados ao dicto Moesteiro como em eles faz mençom. E porquantoo dicto Moesteiro careçia por agora de prelado que podesse do dictopontifical husar e çelebrar segundo nos dictos privilegios faz mençam, eporquanto era neçessario seerem celebradas as dictas oussequyas ponteficalmentepor bispos e abades e priores e hordees segundo perteeçia atam alta Senhor, que mandava esto fazer com entençom de nom husurparnem mingoar nem ir contra os privilegios do dicto Moesteiro, mandandoo dicto Senhor Rey que os dictos bispos e abades e priores çelebrassem asdictas oussequias ponteficalmente, nom consentindo nem quebrantandoos dictos privilegios nem hursupando sua honrra e jurdiçom senom tamsolamente porque o dicto Moesteiro careçia de prelado por agora. E porse fazerem as sobr<strong>ed</strong>ictas cousas mais honrradamente. E mandou e deulugar ao dicto enlecto que assy de presente era que fezesse suas protestaçooespera goarda do direito do dicto Moesteiro de Sancta Cruz. O quallogo protestou que de toda cousa que se em o dicto Moesteiro fezesse eçelebrasse em as dictas oussequias lhe nom quebrantasse nem fezesseperjuizo em parte nem em todo aos dictos privilegios e honrra e jurdiçomdo dicto Moesteiro. E p<strong>ed</strong>io por 24 merçee ao dicto senhor Rei que lhemandase assy delo dar huum strumento pubrico pera goarda do dictoMoesteiro. E o dicto senhor Rei lho mandou dar. E por mayor abastançaasynou o dicto senhor Rei este strumento por sua maao. Testemunhas quepresentes foram o meestre frey Joham Xira seu confessor e Johane Anesseu meirinho e Fernam Gomes de Lemos seu camareiro e outros.(Ass.) El Rey.E eu Gonçalo Lourenço scripvam da poridade do dicto senhor Rei enotairo geeral na ssa corte e em todo o seu senhorio que com as dictastestemunhas a esto pressente fui e esto por minha mãao ssoescrevi e aquimeu signal fiz que tal he (sinal do notário).” 25Por outro lado, sabemos, por carta de 11 de Novembro de 1416, que “natraslladaçom que nosso senhor el Rei ora fez ao corpo de nossa Senhora aRaynha dona Phillipa a cuja alma Deus perdõoe no soterramento que do dictoseu corpo fez no Monsteiro da Batalha honde jaz sopultado” foram feitasmuitas ofertas, esmolas,, oferendas e dós, entre eles setenta peças de panos deouro e de s<strong>ed</strong>a “novos emteiros mui nobre e mui ricos”. Destes panos, ficaramaos frades da Batalha sete peças tendo as demais sido distribuídas pelos preladose beneficiados presentes nas reais exéquias, facto que motivou o agravo194 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .dos cónegos de Santa Cruz de Coimbra, senhores, no espiritual, do Prioradode <strong>Leiria</strong>, em cujo termo se situava o novo mausoléu dinástico 26 .D. João I e os seus filhos, perante toda a Corte, patrocinaram uma trasladaçãosoleníssima. Nos rituais que envolveram todo o cerimonial projectavasea mais pura consideração familiar pela defunta Rainha ao mesmo tempoque se propiciava, no amplo e majestoso cenário batalhino, o ambiente espiritualcomemorativo da pi<strong>ed</strong>osa consorte em torno da qual se s<strong>ed</strong>imentara todoum discurso que reflectia a sua consideração como mulher de vida exemplare morte santa. Gomes Eanes de Zurara recolheu e amplificou, eficazmente,esta projecção de santidade maternal no seio das duas primeiras gerações danova dinastia avisina.O epitáfio que aqui publicamos não só proclama, com óbvio significadoinstitucional, a Rainha de Portugal como orgulhoso membro da Casa dosLencastre, como enaltece o prestígio de que se revestia, na Europa do tempo,a associação entre as Coroas de Portugal e da Inglaterra. Não menos significativoé o facto da inscrição registar que o corpo da Rainha jazia “in cripta”,ou seja, soterrado em túmulo raso.A lápide mantém-se in situ, assinalando o preciso lugar da primeira tumulaçãode D. Filipa de Lencastre na igreja dominicana 27 . Tratava-se, comovemos, de sepultura térrea. Algum tempo depois, contudo, o corpo de D.Filipa de Lencastre seria trasladado para túmulo alto à entrada da capelamorda igreja. Aí se encontrava em 1426, conforme refere o testamento deD. João I e, ainda, em 1433, por ocasião da morte do monarca. No ano seguinte,o corpo de D. João I foi levado da Sé de Lisboa, onde tivera primeirasepultura, para o Mosteiro da Batalha. No dia 14 de Agosto desse ano, com agrandiosa pompa de que os cronistas dão nota, proc<strong>ed</strong>eu-se, na presença donovo soberano, D. Duarte, e de toda a Corte, à tumulação dos féretros de D.João e de D. Filipa no seu novo e definitivo jazigo, na Capela do Fundador,expressamente <strong>ed</strong>ificada, segundo um projecto do arquitecto catalão MestreHuguet, para esse efeito.Nas inscrições mandadas lavrar nos parietais desta arca funerária conjugal,a primeira que assim de cerziu no País, assinalam-se dados biográficosde ambos os monarcas com grande pormenor de factos e de datas. Nelesomite-se a prévia tumulação de D. Filipa, em 1416, defronte da Capela dosMártires ou de S. Miguel, só depois transferida para lugar mais adequado àsua dignidade como era a capela-mor do Mosteiro. A lápide comemorativada chegada do corpo da Rainha à Batalha, contudo, permaneceria intacta noseu devido lugar, sobre a cripta fúnebre. Na Terceira Invasão Francesa, co-Reflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 195


. história .mandada pelo General Massena, as tropas francesas aquartelaram, entre 1810e inícios de 1811, no Mosteiro. A igreja viu-se transformada em estrebaria,guardando-se o feno e demais forragem para os animais na capela-mor. Nasacristia conventual, como no próprio braço sul do transepto da igreja, a soldadescaacendeu fogueiras 28 .As marcas dessas bárbaras sevícias ainda hoje perduram nas par<strong>ed</strong>es enalguns dos túmulos do monumento. O primeiro epitáfio de D. Filipa deLencastre, infelizmente, foi uma das peças que mais prejuízo sofreu nessaocasião. Foi à sua <strong>ed</strong>ição, interpretação e contextualização histórica, na fragmentari<strong>ed</strong>adeque lhe é própria e no fecho de quase seiscentos anos depoisda sua inauguração em que tem passado praticamente em silêncio, que nospropusemos no presente estudo.Notas1S. Luiz, Fr. Francisco de (1827), “Memoria Historica sobre as Obras do real Mosteirode Santa Maria da Victoria, chamado vulgarmente da Batalha”, in Memorias daAcademia Real das Sciencias de Lisboa. Lisboa: Academia das Ciências de Lisboa,163-231: 206.2Sousa, Fr. Luís de (1977), História de S. Domingos. Volume Primeiro. Introdução eRevisão de M. Lopes de Almeida. Porto: Lello & Irmãos – Editores, 671. [1ª <strong>ed</strong>ição:Lisboa, 1623].3Zurara, Gomes Eanes de (1992), Crónica da Tomada de Ceuta. Introdução e notasde .Reis Brasil. Lisboa: Publicações Europa-América, 143-177. [1ª <strong>ed</strong>ição: Lisboa:1644].4Uma consulta cómoda destas páginas pode encontrar-se em Gomes, S. A. (1997),Vésperas Batalhinas. Estudos de História e Arte. <strong>Leiria</strong>: Edições Magno, 43-66.5O Couseiro ou Memórias do Bispado de <strong>Leiria</strong> (1980), <strong>Leiria</strong>: O Mensageiro, 97-107.[1ª <strong>ed</strong>ição, 1868: Braga: Typographia Lusitana].6Menezes, D. Fernando (1677), Vida e Acçoens D’El Rey Dom João I Offerecida àMemoria Posthuma do Serenissimo Principe Dom Theodosio. Lisboa: Oficina deJoão Galrão, 414-427.7Silva, José Soares da (1730), Memorias para a Historia de Portugal que comprehendemo governo del Rey D. João o I. Tomo Primeiro. Lisboa: Oficina de JosephAntonio da Sylva, 308-315. [O epitáfio tumular de D. Filipa de Lencastre, como ode D. João I, aliás, foi parcialmente publicado, e traduzido, por Fr. Luís de Sousa.Retomou-o José Soares da Silva, como escrevemos, completando a transcrição deFr. Luís de Sousa. D. Fr. Francisco de S. Luiz, por seu turno, voltaria a <strong>ed</strong>itá-lo, em1827, repondo texto em falta nas citadas <strong>ed</strong>ições. Permanece em aberto, hoje emdia, a necessidade de uma nova leitura epigráfica destes epitáfios, desejando-se queseja metodológica e cientificamente mais criteriosa].196 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |


. história .8Sousa, D. António Caetano de (2002), Agiológio Lusitano dos Santos e Varões Ilustresem Virtude do Reyno de Portugal e suas Conquistas. Tomo IV. Porto: Faculdade deLetras da Universidade do Porto, 220-229. [1ª <strong>ed</strong>ição: 1744, Lisboa]. O mesmo autornão se lhe refere na sua Historia Genealogica da Casa Real Portugueza.9Nomeadamente Vasconcelos, Pe. António (1621), Anacephalaeoses id est SummaCapita Actorum Regum Lusitaniae. Antuérpia: Petrum & Ioannem Belleros., 154-155;Leão, Duarte Nunes (1690), Genealogia Verdadera de los Reyes de Portugal con suselogios y summario de sus vidas. Lisboa: Oficina de Antonio Alvarez49-50.10Murphy, James (1795), Plans, Elevations, Sections and Views of the Church of Batalhain the Province of Estremadura in Portugal, with the History and Description by Fr.Luis de Sousa; with remarks. Londres. [2ª <strong>ed</strong>ição, Londres: 1836].11Pitt, Thomas (2006), Observações de uma Viagem a Portugal e Espanha (1760).Introdução de Maria João Neto. Lisboa: Ippar – Centro de História da Universidad<strong>ed</strong>e Lisboa, 130-135.12Benevides, Francisco da Fonseca (1878), Rainhas de Portugal. Estudo Historico commuitos documentos. Tomo I. Lisboa: Typographia Castro Irmão, 243-260. De notarque Fr<strong>ed</strong>erico Francisco de la Figanière não abrange, nas suas Memorias das Rainhasde Portugal (Lisboa: Tip. Universal, 1859), o reinado de D. Filipa de Lencastre.Alguns curiosos dos séculos XIX e XX aludem a esta placa epigráfica, mas sempresem proc<strong>ed</strong>erem a qualquer estudo ou interpretação da mesma.13Barroca, Mário Jorge, Epigrafia M<strong>ed</strong>ieval Portuguesa (862-1422). Vol. II. CorpusEpigráfico M<strong>ed</strong>ieval Português, Tomo 2. Porto: Fundação Calouste Gulbenkian eFundação para a Ciência e a Tecnologia.14Cumpre agradecer a ajuda que nos foi gentilmente prestada, para o estudo destalápide, bem assim a sua reprodução, pelo Senhor Dr. P<strong>ed</strong>ro R<strong>ed</strong>ol, conservador doquadro do Mosteiro da Batalha.15Vd. R. Marichal (1961), “La critique des textes”, in Ch. Samaran (<strong>ed</strong>.) L’histoire et sesméthodes (Encyclopédie de la Pléiade, 11). Paris, 1247-1360; citação da p. 1273.16Em épocas anteriores, bastava que a rima fosse monossilábica, i. e. que a vogal e aconsoante final fossem idênticas ou semelhantes (assonância).17Embora os exemplos mais frequentes do limerick se possam encontrar na poesiainglesa do séc. XIX, Shakespeare recorreu a ele nas sua peças Othello, King Lear,The Tempest e Hamlet.18Eis alguns exemplos colhidos ao acaso: “Serenissimo principi ac domino, dominoHenrico, florentis Anglie ac Francie inclito regi...”; “Henricus, Edwardus (etc.)... Deigratia Regis Anglie et Francie”; “...ex parte dicti Serenissimi principis, regis Anglieet Francie”; “B<strong>ed</strong>a [...] Ecclesiasticam scripsit Historiam regi Henrico Dei gratia regiAnglie et Francie...”. Repare-se no epíteto de Inglaterra, no primeiro exemplo quefornecemos – florentis – o mesmo que encontramos no nosso texto.19Na verdade, como temos vindo a defender de há muito, só depois de Ceuta o Mosteiroda Batalha se viu decididamente elevado à missão de panteão régio. À data damorte do primogénito real, o Infante D. Afonso, ocorrida em 1400, D. João I optouReflexões| 46 • LEIRIA-FÁTIMA | 197


. história .por o sepultar na Sé de Braga. Poderia argumentar-se que o Mosteiro da Batalhanão ofereceria, nesse momento, as condições minimamente adequadas à recepçãotumular desse Infante. É uma hipótese. Cremos, contudo, que a morte de D. Filipade Lencastre, em 1415, coincidindo com o momento da conquista de Ceuta veioprecipitar a opção régia pela Batalha como lugar de memória funerária da Dinastiade Avis. Sobre a família e vida de D. João I, leia-se Coelho, Maria Helena da Cruz(2005), D. João I. O que re-colheu Boa Memória. Lisboa: Círculo de Leitores. Paraa história do monumento e sua <strong>ed</strong>ificação, permita-se-nos remeter para Gomes, S.A. (1990), O Mosteiro de Santa Maria da Vitória no Século XV. Coimbra: Institutode História da Arte da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 1-146 e293-368.20Seguimos a lição de S. Luiz, Fr. Francisco de, “Memoria Historica…”, 229-230.21Mantemos a tradução de Sousa, Fr. Luís de, História de S. Domingos, 671.22Silva, J. Soares da (1730), Memorias…, T. 1, 285 e segs.; Sousa, D. António Caetanode (1738), Provas da História Genealógica, T. 1, Liv. 3, nº 4; Monumenta Henricina.Dir. J. Dias Dinis. Vol. III (1421-1431), Coimbra: Comissão Comemorativa do 6ºCentenário da Morte do Infante D. Henrique, 131-139 (cuja <strong>ed</strong>ição seguimos).23Riscou um “E”.24Riscou “a mi”.25Costa, A. D. de Sousa Costa (1985), “A Jurisdição quase episcopal do Mosteiro deSanta Cruz de Coimbra em <strong>Leiria</strong> e seus termos, reivindicada em processo judicialperante D. Álvaro Afonso, Bispo de Silves e legado a latere do papa Calisto III”,in Itinerarium, XXXI, nº 123, 432-435; Gomes, S. A. (2000), Fontes Históricas eArtísticas do Mosteiro e da Vila da Batalha (Séculos XIV a XVII). Vol. I. Lisboa:Ippar, 93-95.26Gomes, S. A. (2000), Fontes Históricas e Artísticas…, T. I, 96-97.27Recentemente verificou-se a existência, justamente neste ponto da igreja, de umacripta, facto que mais reitera as observações que deixamos neste artigo. (A informaçãoem causa foi-nos prestada, há alguns anos atrás, pelo Senhor Dr. Júlio Órfão,Director do Mosteiro, a quem muito agradecemos).28Fr. Francisco de S. Luiz recolheu memórias precisas da barbárie napoleónica nesteMosteiro; podem somar-se-lhe os testemunhos, bastante impressivos, devidos a autoresestrangeiros como o Reverendo W. M. Kinsey (Portugal Illustrat<strong>ed</strong>. Londres:1829) e Julia Pardoe (Traits and Traditions of Portugal, Vol. I. Londres: 1833).Leia-se, também, Estrela, Jorge (2009), <strong>Leiria</strong> no Tempo das Invasões Francesas.Lisboa: Gradiva, 72-75.198 | LEIRIA-FÁTIMA • 46 |

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