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Revista <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>ISSN 0103-5657www.ararajuba.org.br/sbo/ararajuba/revbrasornVolume <strong>17</strong>Número 1Março 2009Publicada pela<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>São Paulo - SP


EDITOREDITORES DE ÁREAEcologia:Comportamento:Sistemática, Taxonomiae Distribuição:Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>Luís Fábio Silveira, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, São Paulo, SP. E-mail: lfsilvei@usp.brJames J. Roper, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Curitiba, PR.Alexandre Uezu, Instituto <strong>de</strong> Pesquisas Ecológicas, Nazaré Paulista, SPCristiano Schetini <strong>de</strong> Azevedo, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Belo Horizonte, MG.Marina Anciães, Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas <strong>de</strong> Amazônia, Manaus, AM.Alexandre Aleixo, Museu Paraense Emílio Goeldi, Belém, PA.Luiz Antônio Pedreira Gonzaga, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ.CONSELHO EDITORIALEdwin O. Willis, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista, Rio Claro, SP.Enrique Buscher, Universidad Nacional <strong>de</strong> Córdoba, Argentina.Jürgen Haffer, Essen, Alemanha.Richard O. Bierregaard, Jr., University of North Caroline, Estados Unidos.José Maria Cardoso da Silva, Conservação Internacional do Brasil, Belém, PA.Miguel Ângelo Marini, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília, Brasília, DF.Luiz Antônio Pedreira Gonzaga, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ.SOCIEDADE BRASILEIRA DE ORNITOLOGIA(Fundada em 1987)www.ararajuba.org.brDIRETORIA (2007-2009)Presi<strong>de</strong>nteIury <strong>de</strong> Almeida Accordi, Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos – presi<strong>de</strong>ncia.sbo@ararajuba.org.br1° Secretário Leonardo Vianna Mohr, Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação da Biodiversida<strong>de</strong> – secretaria.sbo@ararajuba.org.br2° Secretário Marcio Amorim Efe – secretaria.sbo@ararajuba.org.br1° Tesoureiro Jan Karel Félix Mähler Jr. – tesouraria@ararajuba.org.br2° Tesoureiro Claiton Martins Ferreira – tesouraria@ararajuba.org.brCONSELHO DELIBERATIVO2008-2012 Carla Suertegaray Fontana, Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Porto Alegre, RS.Caio Graco Machado, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Feira <strong>de</strong> Santana, Feira <strong>de</strong> Santana, BA.2006-2010 Marcos Rodrigues, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais, Belo Horizonte, BH.Fábio Olmos, Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos, São Paulo, SP.Rafael Dias, Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pelotas, Pelotas, RS.CONSELHO FISCAL2008-2009 Eduardo Carrano, Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Paraná, Curitiba, PR.Paulo Sérgio Moreira da Fonseca, Banco Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Econômico e Social, Brasília, DF.Angélica Uejima, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco, Recife, PE.A Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> (ISSN 0103-5657) é editada sob a responsabilida<strong>de</strong> da Diretoria e do Conselho Deliberativo da <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, com periodicida<strong>de</strong> trimestral, e tem por finalida<strong>de</strong> a publicação <strong>de</strong> artigos, notas curtas, resenhas, comentários, revisõesbibliográficas, notícias e editoriais versando sobre o estudo das aves em geral, com ênfase nas aves neotropicais. A assinatura anual da Revista <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> custa R$ 50,00 (estudantes <strong>de</strong> nível médio e <strong>de</strong> graduação), R$ 75,00 (estudantes <strong>de</strong> pós-graduação), R$ 100,00 (individual),R$ 130,00 (institucional), US$ 50,00 (sócio no exterior) e US$ 100,00 (instituição no exterior), pagável em cheque ou <strong>de</strong>pósito bancário à <strong>Socieda<strong>de</strong></strong><strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> (ver www.ararajuba.org.br). Os sócios quites com a SBO recebem gratuitamente a Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>.Correspondência relativa a assinaturas e outras matérias não editoriais <strong>de</strong>ve ser en<strong>de</strong>reçada a Leonardo Vianna Mohr através do e-mail secretaria.sbo@ararajuba.org.br ou pelo telefone (61) 8142-1206.Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica: Airton <strong>de</strong> Almeida Cruz (e-mail: airtoncruz@hotmail.com).<strong>Capa</strong>: Ararajuba (Guarouba guarouba) no Parque Nacional da Amazônia (veja Laranjeiras e Cohn-Haft, pp. 1-19). Foto: Thiago O. Laranjeiras.Cover: Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba) at Parque Nacional da Amazônia (see Laranjeiras e Cohn-Haft, pp. 1-19). Photo: Thiago O. Laranjeiras.


Revista <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>ISSN 0103-5657www.ararajuba.org.br/sbo/ararajuba/revbrasornVolume <strong>17</strong>Número 1Março 2009Publicada pela<strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>São Paulo - SP


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>Artigos publicados na Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> são in<strong>de</strong>xados por:Biological Abstract, Scopus (Biobase, Geobase e EMBiology) e Zoological Record.FICHA CATALOGRÁFICARevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> / <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Ornitologia</strong>. Vol. 13, n.2 (2005) -São Leopoldo, A <strong>Socieda<strong>de</strong></strong>, 2005 -v. : il. ; 30 cm.Continuação <strong>de</strong>:. Ararajuba: Vol.1 (1990) - 13(1) (2005).ISSN: 0103-56571. <strong>Ornitologia</strong>. I. <strong>Socieda<strong>de</strong></strong> <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>Volume <strong>17</strong> – Número 1 – Março 2009SUMÁRIOArtigosWhere is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba– Psittacidae)On<strong>de</strong> está o símbolo da <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>? A distribuição geográfica da ararajuba (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft.................................................................................................................................... 1Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilDynamics of one communal roost of the Aratinga aurea (Psittacidae) in an urban area of the center-west of BrazilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardi......................................................................................................................... 20Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica: um estudo <strong>de</strong> caso nonorte do Estado do Paraná, sul do BrasilOn the use of the sensitivity levels of birds to forest fragmentation in the evaluation of the Biotic Integrity: a study case in thenorth of State of Paraná, southern BrazilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palomino................................................ 28The use of playbacks can influence encounters with birds: an experimentO uso <strong>de</strong> Playbacks po<strong>de</strong> influenciar encontros com aves: um experimentoAndré Magnani Xavier <strong>de</strong> Lima and James Joseph Roper....................................................................................................................... 37Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilEthno-ecology, ethno-taxonomy and cultural value of Psittacidae in rural districts of the Triângulo Mineiro region, BrazilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha.......................................................... 41Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindo o registro <strong>de</strong>predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilA review on distribution and natural history of White-necked Hawk (Leucopternis lacernulatus), including a record of prey onTegu Lizard (Tupinambis meriane) at Reserva Natural Vale, southeastern BrazilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia Chiarello....................................................................... 53Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Aves: Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da IlhaGran<strong>de</strong>, RJUse of food resources by Philydor atricapillus and P. rufum (Aves: Furnariidae) in an Atlantic rainforest at Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina 1 e Maria Alice S. Alves.............................................................................................................. 59NotasDados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhados em Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Biological data of Puffinus lherminieri ban<strong>de</strong>d in Fernando <strong>de</strong> Noronha archipelago during 2005 and 2006Luiz Augusto Macedo Mestre; Andrei Langeloh Roos e João Luiz Xavier do Nascimento.......................................................................... 65Reprodução <strong>de</strong> Fluvicola nengeta (Tyrannidae) em área urbana da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, BrasilFluvicola nengeta (Tyrannidae) breeding at an urban area in Rio <strong>de</strong> Janeiro city, RJ, BrazilVanessa Cardoso Tomaz, Victor Marcelo Fernan<strong>de</strong>s e Maria Alice S. Alves.............................................................................................. 70Novos registros ornitológicos para o Parque Estadual do Cantão: distribuição e conservação da avifauna do ecótonoAmazônia-CerradoNew ornithological records to the Cantão State Park: area distribution and avifauna conservation of the Amazon-Cerrado ecotoneRenato Torres Pinheiro e Túlio Dornas................................................................................................................................................. 73Predação pelo bem-te-vi Pitangus sulphuratus (Passeriformes, Tyrannidae) no baiacu Colomesus asellus (Actinopterygii,Tetraodontidae) e camarão <strong>de</strong> água doce (Crustacea, Decapoda)Predation by the Great Kiska<strong>de</strong>e Pitangus sulphuratus (Passeriformes, Tyrannidae) on the Amazon Pufferfish Colomesus asellus(Actinopterygii, Tetraodontidae) and freshwater shrimp (Crustacea, Decapoda)Fernando da Silva Carvalho Filho....................................................................................................................................................... 77


ARTIGO Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):1-19março <strong>de</strong> 2009Where is the symbol of Brazilian Ornithology?The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet(Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras 1,2 and Mario Cohn-Haft 11 Departamento <strong>de</strong> Ecologia e Curadoria <strong>de</strong> Aves, Instituto Nacional <strong>de</strong> Pesquisas da Amazônia, Avenida André Araújo, nº 2.936, Petrópolis,CEP 69083‐000, Manaus, AM, Brasil.2 E‐mail: thorsi.falco@gmail.comRecebido em 18/02/2009. Aceito em 15/05/2009.ResuMO: On<strong>de</strong> está o símbolo da <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>? A distribuição geográfica da ararajuba (Guarouba guarouba –Psittacidae). Neste artigo nós analisamos registros <strong>de</strong> ocorrência da ararajuba (Guarouba guarouba) – um emblemático psitací<strong>de</strong>oendêmico da Amazônia <strong>Brasileira</strong> e ameaçado <strong>de</strong> extinção – para i<strong>de</strong>ntificar possíveis modificações temporais em sua ocorrênciae para mo<strong>de</strong>lar sua distribuição potencial. A espécie é conhecida <strong>de</strong> quase 70 localida<strong>de</strong>s. Após 1987, novos registros esten<strong>de</strong>rama distribuição conhecida consi<strong>de</strong>ravelmente para sudoeste, enquanto regiões no extremo leste da distribuição não apresentaramregistros recentes. Nós interpretamos o primeiro caso como um aumento do conhecimento da distribuição histórica através doaumento <strong>de</strong> pesquisas, e o último caso como uma verda<strong>de</strong>ira retração na distribuição, melhor explicada pelo <strong>de</strong>smatamento naquelaregião. Para os últimos anos, nós estimamos a atual área <strong>de</strong> ocorrência em 340.000 km 2 , o que compreen<strong>de</strong> menos <strong>de</strong> 65% dadistribuição original. A mo<strong>de</strong>lagem sugere uma distribuição potencial da ararajuba em uma região menos úmida da Amazônia, numainterface <strong>de</strong> Floresta Ombrófila Sub-montana e Floresta Ombrófila <strong>de</strong> Terras Baixas, na borda do Planalto Central. Esta distribuiçãocoinci<strong>de</strong> com o arco do <strong>de</strong>smatamento, o que coloca em sérios riscos a sobrevivência futura da espécie. Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservaçãona região do rio Tapajós parecem ser a maior esperança para proteção das populações conhecidas. Além disso, esperamos que nossomo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> distribuição potencial direcione buscas por populações previamente <strong>de</strong>sconhecidas e auxilie o entendimento do habitat<strong>de</strong>sse emblemático psitací<strong>de</strong>o.PALAvRAs-CHAve: espécie ameaçada, distribuição potencial, registros <strong>de</strong> ocorrência, <strong>de</strong>smatamento.AbsTRACT: The Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba) is a poorly known, endangered psittacid en<strong>de</strong>mic to the BrazilianAmazon. We examined point records of the species to i<strong>de</strong>ntify possible temporal changes in its occurrence and to mo<strong>de</strong>l its potentialdistribution. It is known from roughly 70 localities. After 1987, new records extend the known distribution consi<strong>de</strong>rably to thesouthwest, whereas regions at the eastern end of the range do not contain recent records. We interpret the former as improvedknowledge of the true historical distribution based on increased sampling, and the latter as a genuine range retraction, best explainedby <strong>de</strong>forestation in that region. We estimate the species’ current area of occurrence at 340,000 km 2 , embracing less than 65% ofits original range. Distribution mo<strong>de</strong>ls predict a potential distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet throughout a region of relativelylow humidity, at the interface between lowland and submontane rainforest at the bor<strong>de</strong>r of the Brazilian Shield. This distributioncoinci<strong>de</strong>s with the colonization frontier (“arc of <strong>de</strong>forestation”) in the Amazon, which places the species’ future in serious risk.Existing and planned parks and reserves in the Tapajos River region appear to offer the best hope for protection of currently knownpopulations. Furthermore, we hope that our distribution mo<strong>de</strong>l leads to intensive searches and discovery of populations previouslyunknown and to improved un<strong>de</strong>rstanding of habitat preference and niche.Key-WORds: endangered species, records of occurrence, potential distribution, <strong>de</strong>forestation.The geographic distribution of a species is a complexinteraction between the environment and the biology ofthe organism throughout its history (Brown 1996). Thisinteraction <strong>de</strong>termines the necessary resources for thespecies’ survival. Thus, to know where a species occursis a basic step for biogeographical and ecological studies(Rushton et al. 2004), and is especially important in conservationplanning for endangered species.The Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba) is aspectacular, large, macaw-like psittacid, en<strong>de</strong>mic to theBrazilian Amazon. Its unusual plumage is entirely yellowand green, the national colors of Brazil. For these reasons,the species is a natural candidate for the Braziliannational bird (Sick 1997) and is the symbol of the BrazilianOrnithological Society. However, it is also the objectof active illegal tra<strong>de</strong> and is officially listed as a threatened


2 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haftspecies (BirdLife International 2007). Ironically, <strong>de</strong>spiteits cultural importance and endangered status, the speciesremains poorly known. No two authors map its distributionallimits similarly (see Oren and Novas 1986, Collar1997, Juniper e Parr 1998, BirdLife International 2007),and the environmental conditions that <strong>de</strong>termine its presenceare unknown (Oren and Novaes 1986). Moreover,new records (Yamashita and França 1991, Lo 1995), extendingits distribution consi<strong>de</strong>rably, created a seeminglyinexplicable lacuna (Collar 1997).Mapping and analysis of point records are importanttools for un<strong>de</strong>rstanding the true geographic distributionof a species (Peterson et al. 2001, Engler et al. 2004,Nunes et al. 2007). Recently, geographical approaches,such as ecological niche mo<strong>de</strong>ling, have been <strong>de</strong>velopedthat offer new possibilities for un<strong>de</strong>rstanding species distributionsand patterns of biodiversity (Jones et al. 1997,Peterson 2001, Salem 2003). Ecological niche is a critical<strong>de</strong>terminant of distribution, and its mo<strong>de</strong>ling givesmore visibility to the complex interaction between speciesand environmental characteristics on a geographical scale(Peterson et al. 1999, Rushton et al. 2004). Mo<strong>de</strong>lingenables prediction of where a species may occur, directingsearches for unknown populations and i<strong>de</strong>ntifyingpotential areas for colonization or reintroduction (Engleret al. 2004, Rushton et al. 2004), which in turn is usefulfor management and conservation, especially for rareand threatened species (Rushton et al. 2004, Guisan andThuiller 2005, Phillips et al. 2006).In this article, we aim to <strong>de</strong>fine the historical andcurrent geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeetand to mo<strong>de</strong>l its potential distribution. The last compilationof this species’ records was published over twentyyears ago (Oren and Novaes 1986), so an update shouldincorporate new data and i<strong>de</strong>ntify any range retraction orexpansion (e.g., Nunes 2003, Nunes et al. 2007). Compilationof known records, along with the results of themo<strong>de</strong>ling of potential distribution, should provi<strong>de</strong> an improvednotion of the habitat and ecological niche of thespecies and help orient conservation of this emblematicspecies.MeTHOdsPoint records and area of occurrenceWe reviewed all records of occurrence of the Gol<strong>de</strong>nParakeet (published or not) from literature, specimens inmuseums and consultations with experienced ornithologists,and we treat all these as “confirmed” records. Theseinclu<strong>de</strong> our own records ma<strong>de</strong> during field research onbehavior and ecology of the species (Laranjeiras 2008).Those records extracted from interviews with locals wereconsi<strong>de</strong>red “uncertain” records. In addition, informationon possible absences were <strong>de</strong>rived from research, expeditionsand inventories that did not <strong>de</strong>tect the Gol<strong>de</strong>nParakeet in a particular region.The records were mapped using ArcMap software(ESRI 2004) for subsequent spatial analyses. Adjacentrecords (separated by less than 10 km) were grouped togetherand treated as one. This is justified based on probablelack of in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nce among adjacent records, lack ofprecise coordinates for historical records, equivalent resolutionin the vegetation data, and the impact of <strong>de</strong>nselypacked points on the calculation of α‐hull polygons (SP‐WG‐IUCN 2006, see below). We <strong>de</strong>termined the limitsof the area of occurrence using the α‐hull technique,which permits the <strong>de</strong>gree of <strong>de</strong>tail and contiguity of thearea to be <strong>de</strong>termined by a user-selected constant, α (seeBurgman and Fox 2003). Values of α range from zero, atwhich point records are treated as disjunct areas of occurrence,to infinity (least convex polygon). We adopted anα value of two, as suggested by SPWG‐IUCN (2006),which permits a reasonably high <strong>de</strong>gree of concavity in<strong>de</strong>scribed polygons and range disjunction between clustersof points separated by relatively long distances. Wefurther adapted this technique to avoid the existence ofany isolated single points or lines (whose areas are incalculableand which represent a biological situation thatwe believe unlikely in this species), by connecting theseisolated features to the nearest polygon or other isolatedfeature by the two shortest possible straight lines.We subdivi<strong>de</strong>d all the confirmed records into “historical”(pre‐1987) and “recent” (since 1987), becausethe first publications synthesizing the distribution of theGol<strong>de</strong>n Parakeet (Oren and Willis 1981, Oren and Novaes1986) date to this period. By this time, <strong>de</strong>forestationin eastern Amazonia had begun in earnest (Fearnsi<strong>de</strong>2005), roughly marking the recent period as onein which anthropogenic changes could be responsiblefor range modifications. In addition, it is reasonable toconsi<strong>de</strong>r a period of 20 years to <strong>de</strong>fine the current distributionof a psittacid (IUCN 2001, Nunes 2003, Tobiasand Brightsmith 2007). To calculate current area of occurrence,we subtracted the area <strong>de</strong>forested (INPE 2007)from the total area of polygons <strong>de</strong>rived from locality data.Field searches for the Gol<strong>de</strong>n ParakeetIn July 2006, we spent ten days traversing the “transamazônica”highway (BR‐230) between the Ma<strong>de</strong>ira(Humaitá, Amazonas) and Tapajós rivers (Jacareacanga,Pará) in active search of Gol<strong>de</strong>n Parakeets. This transectcuts through a large lacuna in the species’ known distribution,in which confirmation of presence or absence ishighly <strong>de</strong>sirable (BirdLife International 2007, see Introduction).In addition to direct searching, we interviewedlocals to <strong>de</strong>termine their familiarity with the species.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


4 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-HaftFIGure 1: All records (confirmed and uncertain) and reported absences of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet.Other uncertain records suggest the species’ presencein several communities and tributaries of the Tapajós Riverin western Pará (Figure 1, Appendix B). Especially highabundance of Gol<strong>de</strong>n Parakeets was reported along the“transgarimpeira” highway (secondary road of BR‐163highway). In general, most of the uncertain records arelocated within areas also containing confirmed records.On the other hand, absences have also been reportedfrom the same general region (see Discussion; Figure 1,Appendix C).Mo<strong>de</strong>ling of potential distributionThe mo<strong>de</strong>ls forecasted correctly that the greatestconcentration of areas with good conditions for occurrenceof the Gol<strong>de</strong>n Parakeet is south of the AmazonRiver (Figure 3, Appendix D). Some areas north of thisriver, where the species is not known to occur, were alsoindicated, although most are separated by long distances.All mo<strong>de</strong>ls had high AUC values, indicating their goodfit to the data (Table 1). Vegetation was the variable thatmost contributed to results, but with less than half of total(Table 1).The three mo<strong>de</strong>ls generated are extremely similar toone another, differing only slightly in their extent or inclusiveness(Figure 3, Appendix D). All show the potentialdistribution of Gol<strong>de</strong>n Parakeet along a roughly eastwestaxis south of the Amazon River. None inclu<strong>de</strong>s thewestern or most of the northern parts of the Amazon, norperipheral areas in the southeast (Serra do Cachimbo andSerra do Carajás), where the species also does not occur.TABLe 1: AUC values, thresholds and layers’ relative contributionfor each mo<strong>de</strong>l. *Values when including uncertain records in mo<strong>de</strong>l(see Methods). ** Maximum training sensitivity plus specificity. ***Minimum annual temperature.Mo<strong>de</strong>l Basic Robust ExtrapolatedAUCTraining 0.936 0.940 0.919Test 0.936 (0.841)* 0.845 0.922Number of Training 38 64 56points used Test 26 (28)* 28 35Threshold MTSPS** 0.265 0.229 0.222Vegetation 47.2 42.1 34.1LayersM.A.T.*** 31 29.4 20.1Walsh In<strong>de</strong>x 19 25.7 32Elevation 2.8 2.9 13.8Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft5FIGure 2: Current geographic distribution of Gol<strong>de</strong>n Parakeet, showing arc of <strong>de</strong>forestation in the Amazon.DiscussIOnWe present in this article the most up-to-date andcomplete compilation of records of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet.Potential localities of occurrence are indicated by uncertainrecords and are reinforced by mo<strong>de</strong>ling. Thus, weoffer directions for the search for new populations andfor un<strong>de</strong>rstanding the species’ geographic distribution,ecological requirements, and conservation status.Historical and current area of occurrenceWe believe the range retraction observed after 1987is best explained by the increased <strong>de</strong>forestation in Maranhãoand eastern Pará in the 1970s and ‘80s (see Fearnsi<strong>de</strong>2005). During that period, there were no recordsof the species in numerous localities within this region,which led Oren and Novaes (1986) to consi<strong>de</strong>r the speciesrare, endangered, and locally extinct. Since then, verylittle research has been conducted in that region. However,although the Gol<strong>de</strong>n Parakeet still survives in localitieswith some <strong>de</strong>gree of <strong>de</strong>forestation, such as Tucuruíand the Reserva Florestal Agropalma (see Appendix A),it seems to require mostly intact forest and disappearsfrom places fully <strong>de</strong>forested (BirdLife International 2007;Laranjeiras 2008). Hence, this range retraction should beconsi<strong>de</strong>red valid until proven otherwise.In the case of the expansion to the west (Rondônia)and south (Mato Grosso), a better explanation is theincrease in research after 1987. These areas had receivedvery little study previously. This combined with the species’apparently low overall population <strong>de</strong>nsity (Laranjeiras2008) leads to low probability of <strong>de</strong>tection in much ofits range. Thus, we suspect that these populations alwaysexisted, but had been overlooked. Nevertheless, these tworecords continue to lack a full connection to the rest ofthe species’ distribution, and large areas appear not tocontain the birds (see below).In the last twenty years, then, records have been concentratedin central and western Pará. Recent records inMaranhão and eastern Pará <strong>de</strong>monstrate the survival ofthe species in those parts of the distribution where <strong>de</strong>forestationis not yet complete. We cannot rule out thepossibility that the distribution is moving west, pushedby <strong>de</strong>forestation. However, if we consi<strong>de</strong>r the total areaof occurrence as including recent and historical records,then there has been a reduction of 30‐40% in the lastRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


6 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-HaftFIGure 3: Potential distribution of Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Basic Mo<strong>de</strong>l; see text). Note that a few outlying records were not inclu<strong>de</strong>d the area predictedby the mo<strong>de</strong>l (omission, see text).years. Furthermore, consi<strong>de</strong>ring the lack of records in vastareas in the western part of the range (Figure 1) as indicativeof a genuinely patchy distribution, then the currentarea of occurrence of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet probablyshould not inclu<strong>de</strong> more than 340,000 km 2 .Uncertain records, absence of evi<strong>de</strong>nceand evi<strong>de</strong>nce of absenceThe uncertain records (not confirmed by experiencedornithologists) are located in regions between confirmedrecords, which make them very probable. Nevertheless,inventories and expeditions in many cases havenot <strong>de</strong>tected the Gol<strong>de</strong>n Parakeet in the same regions.For example, in the Tapajós National Forest, the specieshas not been recor<strong>de</strong>d at numerous points (Henriqueset al. 2003), but it occurs in consi<strong>de</strong>rable abundancealong the Cupari River, which forms the western limitof this reserve (Kyle 2005). This suggests a non-uniformor clumped distribution in space, and perhaps also intime, possibly associated with the distribution of certainfood or nesting resources (Laranjeiras 2008). This sort ofpatchiness is known for other threatened parrots, such asthe Lear’s Macaw (Anodorhynchus leari; Collar 1997).On the other hand, other lacunas, such as alongthe lower and middle Ma<strong>de</strong>ira the lower Aripuanã River(right bank tributary of the middle Ma<strong>de</strong>ira; see Figure1), appear to be genuinely outsi<strong>de</strong> the species’ areaof occurrence. Confirmation of these absences and comparisonof nearby localities with and without the speciesmay be the key to un<strong>de</strong>rstanding the occurrence of theGol<strong>de</strong>n Parakeet.An association with submontane rainforest has beenproposed as a <strong>de</strong>termining factor (Oren and Novaes1986, Yamashita and França 1991, Lo 1995), but manyrecords are not located in this kind of vegetation (AppendixE1). Consequently, the vegetation, as mapped by theavailable sources, does not seem to be the only indicatorfor the Gol<strong>de</strong>n Parakeet.Points of occurrence also show an ill-<strong>de</strong>fined associationwith rivers (Figure 1). Although the species appearsto prefer terra firme forest and not to occur regularly inseasonally floo<strong>de</strong>d forest along rivers, records are usuallywithin several kilometers of rivers and not in the regionsfarthest from them. On the one hand, this is just theRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft7pattern one might expect for any terra firme species wheremost points of access to the forest for surveys are alongrivers, the main route of transportation. Also, the entireAmazon basin is <strong>de</strong>nsely penetrated by rivers, so virtuallyany locality will lie within several kilometers of someriver. However, a transect across an interfluve should permitan analysis of the importance of proximity to rivers ofdifferent sizes and types. The “transamazônica” highwayis just that sort of transect, crossing the Tapajós and thevast interfluve to its west until the Ma<strong>de</strong>ira River. Theabsence of records from anywhere along the “transamazônica”within the state of Amazonas coinci<strong>de</strong>s with the<strong>de</strong>parture of the highway from the vicinity of the TapajósRiver and its long traverse across terra firme cut only bystreams and small rivers. If this indirect association withlarger rivers proves to be real, it is still not clear what specificfeatures of this association are important to the birds.The Gol<strong>de</strong>n Parakeet thus appears to have a complexrelationship to its environment at any scale, reflectedboth in its points of occurrence and its geographic distribution(see below), which remains to be convincinglyexplained. Long-term studies at permanent sites will alsohelp evaluate whether small or large-scale movements andsocial interactions, on a seasonal or longer time frame,play a role in the patchiness of the species’ occurrence.Mo<strong>de</strong>ling of potential distributionThe approaches to mo<strong>de</strong>ling used in this studywere all validated (see Table 1), indicating good predictivepower, and led to very similar predictions. The threemo<strong>de</strong>ls inclu<strong>de</strong>d almost all records as well as including regionsbetween confirmed records and some marginal areasand localities with only uncertain records. Hence, thepotential distribution presented in the mo<strong>de</strong>ls fits wellthe original data, helping us to un<strong>de</strong>rstand the occurrenceof Gol<strong>de</strong>n Parakeet.Omission of known localities from the potential distributionand inclusion of areas without occurrence wereboth acceptably limited in the results of the mo<strong>de</strong>ling.However, specific cases warrant attention. The exclusionof the area near Alta Floresta, from which there is a singleobservation, from the potential distribution suggests thatthe area does not contain i<strong>de</strong>al habitat and is unlikely tomaintain a resi<strong>de</strong>nt population. On the other hand, thearea i<strong>de</strong>ntified by the mo<strong>de</strong>ls on the Mato Grosso – Tocantinsstate line near the Araguaia river is far from anyknown records of the species and is disjunct with respectto other areas of appropriate habitat; thus, it appears ata glance to be unlikely to have a population as yet un<strong>de</strong>tected.Nevertheless, these presumed anomalies can andshould be tested in the field.In addition to <strong>de</strong>limiting reasonably well the regionof actual occurrence of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet andsuggesting areas for future searches, the niche mo<strong>de</strong>ls alsoindicated several areas in the northern Amazon, wherethe species apparently does not and never has occurred.These areas were i<strong>de</strong>ntified as having the same characteristics(from among those inclu<strong>de</strong>d in the mo<strong>de</strong>ling) associatedwith the presence of the species. The absence of thebirds from these regions is not necessarily an error in themo<strong>de</strong>ls, but rather a result of physical or biological barriers,or other historical factors, that prevent the speciesfrom occupying more distant localities with seeminglyappropriate conditions (Pulliam 2000). In the case of theGol<strong>de</strong>n Parakeet, there are no records from north of theAmazon or west of the Ma<strong>de</strong>ira, <strong>de</strong>spite the presence ofapparently appropriate habitat there. These rivers are wellknown distributional limits for hundreds of taxa of Amazonianbirds (Haffer 1978). They are enormously wi<strong>de</strong>and are flanked by broad expanses of a mosaic of várzeavegetation types, none of which the parakeet occupies.They are also the only “whitewater” (muddy-water) riversin this part of the Amazon, providing the first barrier ofthis sort that would be encountered by a species attemptingto disperse out of southeastern Amazonia into the restof the Amazon basin. Thus, it’s reasonable to assume thatthe Gol<strong>de</strong>n Parakeet’s distribution was well mo<strong>de</strong>led inthe region where the species occurs, and that it simplydoes not cross the Amazon or Ma<strong>de</strong>ira rivers to occupyother potentially habitable regions (see Conclusions).If we examine the relationship between point recordsand each of the environmental layers individually, it ispossible to explore habitat requirements more intuitively(Appendix E). The records are limited to an intermediatezone of minimum annual temperature (Appendix E2)and of the Walsh In<strong>de</strong>x (Appendix E3). As for vegetation(Appendix E1) and elevation (Appendix E4), the recordsare located in zones of contact between submontane andlowland forests, at the interface between lowland Amazoniaand the Brazilian Shield. Perhaps these variables havesome direct relevance to the occurrence of the species.Like many parrots, the Gol<strong>de</strong>n Parakeet sleeps intree cavities (Oren and Novaes 1986; Laranjeiras 2008).In other species, temperature control is one of the explanationsfor this behavior (Collar 1997). If this is correct,then cold nighttime temperatures may limit the species’distribution to the south. But why not occur more extensivelyin warmer climates further north and throughoutthe lowlands? The Walsh in<strong>de</strong>x (linked to dry season intensityand duration) may provi<strong>de</strong> a clue. The species mayrequire reasonably warm temperatures at all times, butnot be able to tolerate the constantly high humidity ofthe more aseasonal parts of the Amazon. It is tempting tospeculate that un<strong>de</strong>r more humid conditions its cavitiesmight house pathogenic fungi or molds that harm adultsor nestlings, for example. Or perhaps these relatively restrictedclimatic conditions are important <strong>de</strong>terminantsof one or a few plant species of particular importance toRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


8 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-HaftFIGure 4: Coverage of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet’s potential distribution by parks and reserves, including both sustainable <strong>de</strong>velopment and integralprotection categories at the fe<strong>de</strong>ral and state levels. Note concentration of reserves in the Tapajós River region – the species’ best hope – and theshortage of protected areas in the east.the parakeet as nesting sites or food sources. These possibilitiessuggested by the mo<strong>de</strong>ling offer directions forfuture research.Conservation and future scenariosThe distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet partiallyoverlaps the “arc of <strong>de</strong>forestation” in the Amazon, and inthe last years the species has lost at least 35% of its area ofoccurrence. In the next 25 years, the eastern and northernportions of its range are expected to be <strong>de</strong>vastated(Soares-Filho et al. 2006). In a more pessimistic scenario(Soares-Filho et al. 2006), the south and west will also becompletely <strong>de</strong>forested. Hence, the central portion of thedistribution (along the Tapajós River and possibly towardthe Xingu River as well), where there is a high concentrationof protected areas (Figure 4) represents the species’best hope for survival.The Gol<strong>de</strong>n Parakeet should be consi<strong>de</strong>red a flagshipspecies and could help in more generalized conservationcauses in this most endangered part of the Amazon.The easternmost portion of its distribution is in the socalled“Belém area of en<strong>de</strong>mism”, noted for the presenceof numerous en<strong>de</strong>mic taxa and for its critical state ofendangerment (Silva et al. 2005). As an emblematic andcharismatic species, the Gol<strong>de</strong>n Parakeet could prove animportant tool for the conservation of this region. Putanother way, not only is it risky for this already endangeredspecies to lose yet another major part or its distribution,but the effort to save it there can have positiverepercussions for conservation in general. On the otherhand, in the middle of its range, where most recent recordswere ma<strong>de</strong>, conservation of the species should insureits perpetuation in the wild (Kyle 2005). Recently,numerous reserves have been created in this region. Muchof this area is currently zoned for sustainable timber extraction;thus, careful attention to the preservation of theGol<strong>de</strong>n Parakeet must be given in reserve managementplans. Furthermore, the search for populations in thewest is a conservation priority <strong>de</strong>fined by BirdLife International(2007), reinforced by the results of our mo<strong>de</strong>ls.Some parks and reserves offer good chances for discoveryof populations (Figure 4), such as the Pau-Rosa andRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft9FIGure 5: Best estimate of the geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet based on current data. Medium gray indicates the overall potentialdistribution (basic mo<strong>de</strong>l), cropped by the Amazon and Ma<strong>de</strong>ira rivers. Black indicates where the potential distribution overlaps known records(alpha-hull polygon; see text). The hatched region is that part of the potential distribution from which the species has not been reported since 1987.Rivers shown in pale gray.Jatuarana National Forests and Sucunduri State Park (allin southeastern Amazonas).ConCLusIOnsWe believe that the best <strong>de</strong>piction of the true distributionof the Gol<strong>de</strong>n Parakeet, based on current information,is that area within the Ma<strong>de</strong>ira-Amazon interfluveshown by mo<strong>de</strong>ling to contain the conditions associatedwith likely occurrence (Figure 5). Restriction to this interfluveis common in Amazonian birds. However, the<strong>de</strong>tails of this geographic distribution are peculiar comparedto other Amazonian bird species. Our results showthat Gol<strong>de</strong>n Parakeet should survive in an oddly <strong>de</strong>limitedarea south of Amazon River, along the bor<strong>de</strong>r of BrazilianShield, from extreme western Maranhão to northernRondonia. We hope that the current study representsa useful step in <strong>de</strong>picting this distribution, in helping focusfuture research efforts to better un<strong>de</strong>rstand it, and incalling attention to the strong influence of <strong>de</strong>forestationon the occurrence of the species. Additional informationon the natural history of Gol<strong>de</strong>n Parakeet (see Laranjeiras2008) will be presented elsewhere. This beautiful bird isnot only symbolic of Brazilian ornithology, but also of theplight of bird conservation in the Amazon.ACKnOWLedGMentsField work was supported by World Parrot Trust. TOL receiveda Master’s fellowship from CNPq through INPA’s Graduate coursein ecology. We thank Alexandre Aleixo, Luís Fábio Silveira, José MariaCardoso da Silva, Marcos Raposo, Toa Kyle, Ivo Rohling, Sidnei MeloDantas, Cynthia Schuck Paim, Renata Melo Valente, Wandler Camargo,Luke Parry, Fábio Röhe and André Ravetta for providing information andrecords of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet. Toa Kyle was essential and in the search forthe species in the Southeastern Amazonas. Bruce Nelson, Ralph Trancosoand Catherine Bechtoldt graciously helped with acquisition and treatmentof environmental layers. Alexandre Aleixo, Renato Cintra, Luís FábioSilveira, Marina Anciães, Mauro Galetti, Marcela Torres, Ângela Midori,Catherine Bachtoldt, Carolina Silveira, Ana Albernaz, Toa Kyle and twoanonymous referees ma<strong>de</strong> valuable comments on this manuscript. Also, wethank Clau<strong>de</strong>ir Vargas, Christian Andretti, Gisiane Rodrigues, GonçaloFerraz, Marcelo Santos, Marconi Campos and Thiago Costa for relevantdiscussions. This article is publication 13 in the Amazonian OrnithologyTechnical Series of the INPA Zoological Collections Program.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


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Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft11Version 6.2. http://app.iucn.org/webfiles/doc/SSC/RedList/RedListGui<strong>de</strong>lines.pdf. (acesso em 22/02/2008).Tobias, J. A. and Brightsmith, D. J. (2007). “Distribution, ecologyand conservation status of the Blue-hea<strong>de</strong>d Macaw Primoliuscouloni.” Biological Conservation, 139:126‐138.Veloso, H. P. (1992). Manual técnico da vegetação brasileira. IBGE,Rio <strong>de</strong> Janeiro.Walsh, R. P. D. (1996). The climate, pp. 159‐255. In: P. W. Richards(ed). The Tropical Rain Forest: an ecological sutdy. CambridgeUniversity Press.Yamashita, C. and França, J. T. (1991). A range extension of theGol<strong>de</strong>n Parakeet Aratinga guarouba to Rondonia state, westernAmazonia (Psittaciformes: Psittacidae). Ararajuba, 2:91‐92.Zimmer, K. J.; Parker III, T. A.; Isler, M. L. and Isler, P. R.(1997). Survey of a southern Amazonian avifauna: The AltaFloresta region, Mato Grosso, Brazil. Ornithological Monographs,48:887‐918.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


12 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-HaftAPPendix AAll 69 localities of Gol<strong>de</strong>n Parakeet records. List organized by state, from east to west, and within states in chronologicalor<strong>de</strong>r. Original reference cited for published records (see References). *Approximate date. ** Not used in the mo<strong>de</strong>ling.Maranhão1. 1909 – Serra do Pirocaua (1°31’S, 45°55’W). Three specimens MPEG (#06838, #06839, #06840). Collector: Lima,F.2. 1980 – Drainage of Pindaré River (3°16’S, 44°41’W). Sight record (Silva 1993).3. 1983 – Gurupi area (3°42’S, 46°45’W). Sight record (Silva 1993).4. 1999 – Primavera Farm of Celulose Maranhão Group (4°66’S, 48°14’W). Sight records (Fabio Röhe pers. comm.2008).5. 2001* – Reserva Biológica do Gurupi (3°42’S, 46°44’W). Sight records (Carlos Yamashita in litt. 2008).Pará6. 1903** – Maracanã River, Santo Antônio da Prata (1°19’S, 47°36’W). Specimen MPEG (#02646). Collectors:Schönmann, J./Rodrigues, R. S.7. 1906 – Gurupi River (3°00’S, 46°42’W). Sight record (Hidasi 1973).8. 1908** – Estação experimental do Peixe-Boi (1°11’S, 47°<strong>17</strong>’W). Specimen MPEG (#05886). Collector: Martins, O.9. 1909 – Xingu River, Vitória (2°52’S, 52°00’W). Specimen MPEG (#06614). Collector: Snethlage, E.10. 1912 – Left bank of Tocantins River, Arumatheua (3°53’S, 49°41’W). Two specimens Museu Nacional do Rio <strong>de</strong>Janeiro (#3443, #3444) and one speciemen MPEG (#10273). Collector: Lima, F.11. 1920** – Tocantins River (1°53’S, 49°06’W). Two specimens MZUSP (#11057, #11058). Collector: Lima, F.12. 1932** – Vizeu (1°13’S, 46°07’W). Specimen MPEG (#13938). Collector: Lima, F.13. 1939 – Pracupi River, right bank of lower Amazonas River, Portel (1°57’S, 50°47’W). Specimen MPEG (#28129).Collector: Lasso.14. 1955 – Córrego Murucutum, Gurupi River, Camiranga (1°48’S, 46°16’W). Four specimens Museu Nacional do Rio<strong>de</strong> Janeiro (#1461, #1462, #1482, #1487). Collector: no data. Also in Aguierre and Aldrigui (1983).15. 1959** – Capim River near Belém-Brasília Highway (BR‐163) (1°41’S, 47°46’W). Eight specimens MZUSP(#43976, #43977, #43978, #43979, #43980, #43981, #43982, #43983). Collector: Dente.16. 1959 – Km‐92 of Belém-Brasilia Highway (BR‐163) (2°26’S, 47°31’W). Two specimens MPEG: one at 1959(#15586) and other at 1962 (#28130). Collector: José Hidasi.<strong>17</strong>. 1962 – Fordlândia, right bank of Tapajós River (3°48’S, 55°27’W). Three specimens MZUSP, collected at 1964(#56313) and at 1971 (#64772, #64771). Collector: Olalla.18. 1974 – Km‐186 of Transamazônica Highway (BR‐230), to southwest of Itaituba (5°05’S, 56°59’W). Sight recordmentioned by Oren and Willis (1981). Also, personal observations (TOL) at 2007.19. 1974 – Transamazônica Highway (BR‐230) between Itaituba and Altamira (east of Tapajós River) (4°08’S, 55°12’W).Sight record mentioned by Oren and Willis (1981).20. 1974 – Transamazônica Highway (BR‐230) at 85km to west of Altamira (3°30’S, 53°00’W). Sight record (Oren andWillis 1981).21. 1974 – Transamazônica Highway (BR‐230) at 120km to west of Altamira (3°36’S, 53°18’W). Sight record (Orenand Willis 1981).22. 1974 – Transamazônica Highway (BR‐230) between Altamira and Marabá (west of Tocantins River) (4°10’S,50°06’W).Sight record (Oren and Willis 1981).23. 1974 – Itaituba (4°16’S, 56°02’W). Sight record (Silva 1993).24. 1974 – Altamira (3°11’S, 52°10’W). Sight record (Silva 1993).25. 1977 – Sítio Fé em Deus, Igarapé Pedral, (a tributary of Guamá River), Ourém (1°56’S, 47°07’W). Specimen MPEG(#32083). Collector: Moreira, M.26. 1978 – Km‐95 of the Transamazônica Highway (BR‐230) to southwest of Itaituba, Parque Nacional da Amazônia(4°41’S, 56°27’W). Sight record (Oren and Willis 1981).27. 1978 – Km‐60 of the Transamazônica Highwat (BR‐230) to southwest of Itaituba, Uruá. Parque Nacional da Amazônia.(4°32’S, 56°18’W). Sight record (Oren and Willis 1981). Also, personal observations (TOL) at 2007.28. 1980 – Tucuruí, 18 km toward east of Tocantins River. (3°55’S, 48°28’W). Sight record (Oren and Willis 1981).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft1329. 1985 – Porto do Buburé, Tapajós River, Parque Nacional da Amazônia (4°36’S, 56°19’W). Sight record (Oren andParker 1997).30. 1992 – Vilarinho do Monte. (1°43’S, 52°12’W). Sight record (Collar et al. 1992).31. 1998 – Fazenda Cauaxí, near 100km to southwest of Paragominas (3°23’S, 48°14’W). Sight record (AlexandreAleixo in litt. 2007).32. 2002 – Capim River (2°49’S, 47°51’W). Sight record (Toa Kyle in litt. 2007).33. 2002 – Cuiabá-Santarém Highway (BR‐163), 239 km to North of Novo Progresso, Trairão (5°07’S, 56°06’W). Sightrecord (Pacheco and Olmos 2005).34. 2004 – Cupari River, Floresta Nacional do Tapajós. (4°03’S, 55°19’W). Sight records (Kyle 2005).35. 2004 – Cachoeira do Grim-Rurópolis, Rurópolis. (4°05’S, 55°00’W). Sight records (André Ravetta in litt. 2008).36. 2004 – Rurópolis. (4°54’S, 54°54’W). Sight records (André Ravetta in litt. 2008).37. 2005 – Reserva Florestal Cia Pará Pigmentos, Ipixuna (2°33’S, 47°29’W). Sight record (Luís Fábio Silveira in litt.2007).38. 2005 – Reserva Florestal Agropalma, Tailândia (2°31’S, 48°52’W). Sight records (Silveira and Belmonte 2005).39. 2005 – 20 km toward west of Novo Progresso (7°11’S, 55°29’W). Sight record (Alexandre Aleixo in litt. 2007).40. 2005 – Km‐145 of Transamazônica Highway (BR‐230), to south of Itaituba, Parque Nacional da Amazônia (4°49’S,56°47’W). Sight records (Kyle 2005).41. 2005 – Km‐160 of Transamazônica Highway (BR‐230), to south of Itaituba, Parque Nacional da Amazônia (4°53’S,56°51’W). Sight records (Kyle 2005).42. 2005 – Km‐250 of Transamazônica Highway (BR‐230), to north of Jacareacanga (5°25’S, 57°11’W). Sight records(Kyle 2005).43. 2005 – Km‐305 of Transamazônica Highway (BR‐230), to north of Jacareacanga (5°42’S, 57°30’W). Sight record(Kyle 2005).44. 2005 – Vicinity of Cupari River (3°57’S, 55°20’W). Sight record (André Ravetta and Toa Kyle in litt. 2008).45. 2006 – Monte Carmelo, Prainha (2°11’S, 53°14’W). Sight record mentioned (Ivo Rohling in litt. 2006).46. 2006 – Floresta Nacional <strong>de</strong> Caxiuanã (1°43’S, 51°26’W). Sight records (Renata <strong>de</strong> Melo Valente and AlexandreAleixo in litt. 2007).47. 2006 – Km‐350 of Transamazônica Highway (BR‐230), to north of Jacareacanga (6°02’S, 57°46’W). Personal observations(TOL).48. 2006 – Right bank of Tucuruí Dam (4°13’S, 49°24’W). Sight records (Sidnei <strong>de</strong> Melo Dantas in litt. 2007).49. 2006 – Left bank of Tucuruí Dam (4°22’S, 49°36’W). Sight records (Sidnei <strong>de</strong> Melo Dantas in litt. 2007).50. 2007 – Jamanxim River (5°19’S, 56°00’W). Sight records mentioned by Wandler Camargo (in litt. 2007).51. 2007 – Km‐330 of the Transamazônica Highway (BR‐230), to north of Jacareacanga (5°45’S, 57°36’W). Personalobservations (TOL).52. 2007 – Right bank of the “Volta Gran<strong>de</strong>” of the Xingu River, Belo Monte (3°36’S, 51°47’W). Sight record (Sidnei<strong>de</strong> Melo Dantas in litt. 2008).53. 2007 – Vicinity of Pacajás River, Portel, near 100 km to north of Tucuruí (3°14’S, 50°19’W). Sight record (Sidnei <strong>de</strong>Melo Dantas in litt. 2008).54. 2007 – Vicinity of Pacajás River, Portel, near 120 km to north of Tucuruí (3°11’S, 50°15’W). Sight record (Sidnei <strong>de</strong>Melo Dantas in litt. 2008).55. 2007 – Km‐48 of the Transamazônica Highway (BR‐230), to south of Itaituba (4°25’S, 56°<strong>17</strong>’W). Personal Observations(TOL).56. 2007 – Km‐110 of the Transamazônica Highway (BR‐230), to south of Itaituba, Parque Nacional da Amazônia(4°38’S, 56°34’W). Personal Observations (TOL).57. 2007 – Km‐130 of the Transamazônica Highway (BR‐230), to south of Itaituba, Parque Nacional da Amazônia(4°40’S, 56°43’W). Personal Observations (TOL).58. 2007 – Km‐200 of the Transamazônica Highway (BR‐230), to south of Itaituba (5°08’S, 57°02’W). Personal Observations(TOL).59. 2007 – Km‐245 of the Transamazônica Highway (BR‐230), to north of Jacareacaga (5°20’S, 57°08’W). PersonalObservations (TOL).60. 2007 – Parque Nacional do Jamanxim (5°39’S, 55°31’W). Sight record (Alexandre Aleixo in litt. 2008).61. 2007 – Parque Nacional da Amazônia. 5 km to west of the km‐90 of the Transamazônica Highway (BR‐230)(4°39’S, 56°28’W). Sight record (André Ravetta in litt. 2008).62. 2008 – Left bank of the Xingu River (“Volta Gran<strong>de</strong>”), Eletronorte Camping, Altamira. (3°22’S, 51°56’W). Personalobservations (TOL).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


14 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft63. 2008 – Transamazônica Highway, at 12 km to east of Miritituba (4°23’S, 55°55’W). Personal observations (MCH).64. 2008 – West boundary of the Floresta Nacional do Trairão (4°59’S, 55°44’W). Sight record (André Ravetta in litt.2008).65. 2008 – Right bank of Xingu River, Tapuama, 50 km to north of Altamira (3°36’S, 52°20’W). Sight record (AndréRavetta in litt. 2008)66. 2008 – Right bank of the “Volta Gran<strong>de</strong>” of the Xingu River, Comunida<strong>de</strong> Caracol, Belo Monte (3°27’S, 51°40’W).Sight record (André Ravetta in litt. 2008).Mato Grosso67. 1991 – Alta Floresta (9°51’S, 56°34’W). Sight record (Lo 1995). Also, in 1995, personal observation (MCH, B. M.Whitney).Amazonas68. 2007 – Comunida<strong>de</strong> Laranjal, Maués/Amaná Rivers – Maués (4°18’S, 57°35’W). Sight records (Luke Parry in litt.2007).Rondônia69. 1989 – Floresta Nacional do Jamari (9°07’S, 62°54’W). Sight records (Yamashita and França 1991).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft15APPendix BUncertain records of Gol<strong>de</strong>n Parakeet from interviews with local people in the western portion of the distributionin 2006 and 2007.Southeastern state of Amazonas:1. Maracanã river, 120km to south of Apuí (8°10’S, 59°39’W)2. Cachoeira Monte Cristo, Sucunduri river, to south of Terra Preta village (7°49’S, 58°53’W)3. Transamazônica highway (BR‐230), ramal to Vila Nova village, to east of Sucunduri (6°31’S, 58°27’W)4. Rio Acari, to east of AM‐360 (6°22’S, 59°49’W)5. AM‐360 highway, km‐60, Igarapé Canadá (6°39’S, 60°04’W)6. Transamazônica highway (BR‐230) to west of Jacareacanga, Pará (6°<strong>17</strong>’S, 57°57’W)North of Itaituba, Pará:7. Pote village (not mapped)8. Mãe Maria village (4°31’S, 56°12’W)9. Boa Esperança village (4°34’S, 56°14’W)10. Nova Arixi village (4°19’S, 56°21’W)11. Nova Conquista village (4°21’S, 56°18’W)12. Nova Fronteira village (not mapped)13. Nova Integração village (not mapped)South of Itaituba:14. Montanha’s island in the Tapajós river (4°56’S, 56°45’W)15. Amaná river, affluent of Maués river (5°16’S, 57°33’W)16. Jatobal village in the Tapajós river (5°08’S, 56°52’W)<strong>17</strong>. Penedo village in the Tapajós river (5°30’S, 57°06’W)East of Itaituba (east bank of Tapajós river):18. Pimental village (not mapped)19. Igarapé do Rato (5°32’S, 56°48’W)20. Rapids of Jamanxim river (5°13’S, 56°26’W)21. Crepori river (5°54’S, 57°04’W)22. River of the Tropas (6°22’S, 57°29’W)23. Trairão (4°41’S, 56°02’W)24. Caracol village (5°02’S, 56°11’W)25. Jardim do Ouro village (“transgarimpeira highway), Jamanxim river (6°13’S, 55°46’W)26. São Chico village (“transgarimpeira” highway) (6°27’S, 55°59’W)27. Km‐100 village (“transgarimpeira” highway) (6°38’S, 56°10’W)28. Km‐140 village (“transgarimpeira” highway) (6°47’S, 56°25’W)29. Creporizinho village (“transagarimpeira” highway) (5°50’S, 56°34’W)30. Creporizão village (“transgarimpeira” highway) (6°48’S, 56°51’W)Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


16 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-HaftAPPendix CAbsences reported from field work within the region of distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (see References).1. 1909 – A region between the upper Tapajós and Iriri rivers. A several-day expedition for zoological collection (Orenand Willis 1981).2. 1980 – Serra do Carajás (Pará). A several-week expedition for ornithological inventories and search for the species.Oren and Novaes (1986).3. 1980 – Gorotire (west of Pará). A several-week expedition for ornithological inventories and search for the species.Oren and Novaes (1986).4. 1984 – Airipuanã (north of Mato Grosso). Several years expen<strong>de</strong>d to research of parrot’s community in this region.Roth (1984).5. 1997 – Alta Floresta (north of Mato Grosso). Several years of ornithological inventories and research and bird watchingin several localities of this region (Zimmer et al. 1997)6. 2003 – Central region of Tapajós National Forest. Several years of systematic research of bird community in thisconservation reserve (Henriques et al. 2003).7. 2004 – Lower and middle Aripuanã River (southeast of the state of Amazonas). More than 15 days of ornithologicalinventories over several years. Personal observations (MCH; Cohn-Haft et al. 2007).8. 2006 – Transamazônica Highway (BR‐230) between Humaitá (Amazonas) and Jacareacanga (Pará). A ten-day expeditionfor direct observation of the species. Personal observations (TOL)9. 2006 – AM‐360 Highway between Apuí and Novo Aripuanã (State of Amazonas), one-day car survey. Personal observations(TOL).10. 2006 – Sucunduri river (southeast of the state of Amazonas). A ten-day ornithological survey. Personal observations(MCH)11. 2007 – Roosevelt River (southeast of Amazonas). Twenty-day ornithological survey (Luis Fábio Silveira and VitorPiacentine, pers. comm. 2008).12. 2007 – Abacaxis river. Ten-day ornithological survey (Luís Fábio Silveira, pers. comm. 2008).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft<strong>17</strong>APPendix DPotential distribution of Gol<strong>de</strong>n Parakeet from complementary data sets: Robust and Extrapolated mo<strong>de</strong>ls.1. Potential distribution of Gol<strong>de</strong>n Parakeet in accordance with Robust Mo<strong>de</strong>l.2. Potential distribution of Gol<strong>de</strong>n Parakeet in accordance with Extrapolated Mo<strong>de</strong>l.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


18 Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-HaftAPPendix EAll records of Gol<strong>de</strong>n Parakeet overlapped on different environmental layers utilized in the mo<strong>de</strong>ls.1. All records of Gol<strong>de</strong>n Parakeet overlapped on vegetation, consi<strong>de</strong>ring specifically lowland and submontane rain forest.2. All records of Gol<strong>de</strong>n Parakeet overlapped on Minimum annual temperature.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Where is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft193. All records of Gol<strong>de</strong>n Parakeet overlapped on Walsh In<strong>de</strong>x.4. All records of Gol<strong>de</strong>n Parakeet overlapped on elevation.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):20-27março <strong>de</strong> 2009ARTIGODinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea(Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi 1,3 e Diana Gonçalves Lunardi 21 Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia, Campus Universitário Darcy Ribeiro, ICC-Sul, Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Brasília, CEP 70910‐000, Brasília, DF, Brasil. E‐mail: lunardi.vitor@gmail.com2 Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Psicobiologia, Centro <strong>de</strong> Biociências, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte, CEP 59078‐970, Natal,RN, Brasil.3 Autor para correspondência.Submetido em 24/05/2008. Aceito em 25/05/2009.Abstract: Dynamics of one communal roost of the Aratinga aurea (Psittacidae) in an urban area of the center-west ofBrazil. Many Psittaciformes routinely gather together in the same roosting place to spend the night. We <strong>de</strong>scribe the dynamics ofone aggregation of the Peach-fronted Parakeet (Aratinga aurea, Psittacidae) in a tree (Tabebuia impetiginosa, Bignoniaceae) used asa roost for this species in an urban area of the Tangará da Serra, MT, Brazil. In 51 h of focal observations we found that the size ofthe aggregation was approximately 290 ± 52 individuals. Peach-fronted Parakeet groups of different numbers (1 to approximately50 individuals) arrive in the roost in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntly, approximately two hours before sunset, and leave the roost one hour after thesunrise. Through the 15 min bird censuses we i<strong>de</strong>ntified two composition types that occur in the roost: lone and paired. While lonecompositions were more frequent when the roost was at low abundance, the paired compositions occurred at high abundance. Loneindividuals were observed more frequently in vigilant behavior, while pairs spent a long time preening themselves or their partners.Both lone and paired individuals vocalized with high frequency. The dynamics of this aggregation and individual behaviour in theroost suggests that the Peach-fronted Parakeet constantly balances the costs and benefits of groups living as a function of the numberof individuals present in the roost, among others factors.Key-Words: group dynamics, Peach-fronted Parakeet, Psittaciformes, roost behaviour.Resumo: Muitos Psittaciformes têm a rotina <strong>de</strong> agregarem-se em um mesmo local <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso para pernoitarem. Descreve-sea dinâmica <strong>de</strong> uma agregação do Periquito-rei (Aratinga aurea, Psittacidae) em uma árvore (Tabebuia impetiginosa, Bignoniaceae)utilizada como dormitório comunal <strong>de</strong>sta espécie em uma área urbana do município <strong>de</strong> Tangará da Serra, MT, Brasil. Em 51 h <strong>de</strong>observações focais observou-se que o tamanho médio da agregação <strong>de</strong> A. aurea neste dormitório foi <strong>de</strong> aproximadamente 290 ± 52indivíduos. Grupos <strong>de</strong> A. aurea <strong>de</strong> diferentes tamanhos (<strong>de</strong> 1 a cerca <strong>de</strong> 50 indivíduos) chegaram, <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, porvolta <strong>de</strong> duas horas antes do pôr-do-sol, e saíram uma hora após o nascer-do-sol. A partir dos censos realizados a cada 15 minno dormitório, foram i<strong>de</strong>ntificados dois tipos <strong>de</strong> composição: solitário e pareado. Enquanto composições solitárias foram maisfreqüentes quando havia baixa abundância <strong>de</strong> indivíduos no dormitório, a composição em par ocorreu em abundâncias maiores.Indivíduos solitários foram vistos mais freqüentemente em vigilância, enquanto indivíduos pareados passaram mais tempo limpandoe/ou coçando a si próprio ou seu parceiro. Ambos indivíduos solitários e pareados exibiram alta freqüência em eventos <strong>de</strong> vocalização.A dinâmica <strong>de</strong>sta agregação e o comportamento dos indivíduos no dormitório permite-nos sugerir que A. aurea constantementebalanceia custos e benefícios da vida em grupo, em função, <strong>de</strong>ntre outros fatores, do número <strong>de</strong> indivíduos presentes no dormitório.PALAVras-ChAVe: dinâmica <strong>de</strong> grupo, Periquito-rei, Psittaciformes, comportamento em dormitório.Muitos Psittaciformes (araras, papagaios, periquitose afins) têm o hábito <strong>de</strong> se agregar para <strong>de</strong>scansar durantea noite (Forshaw 1989). Estas agregações em dormitórioscomunais (roost sites) são formadas no alto <strong>de</strong> árvores, emburacos <strong>de</strong> troncos, em barrancos ou ninhos comunais(Forshaw 1989, Sick 1997), e também em árvores localizadasem áreas urbanas (e.g. Mabb 1997). Algumas espéciesutilizam dormitórios comunais em locais específicos(e.g. Harms e Eberhard 2003, Matuzak e Brightsmith2007), enquanto outras escolhem locais diferentes a cadanoite (e.g. Casagran<strong>de</strong> e Beissinger 1997, Gilardi e Munn1998).Em aves, o valor adaptativo <strong>de</strong> se agregar para <strong>de</strong>scansarnão é claramente compreendido. Os três principaissupostos benefícios relacionados a este comportamentosão: aumento na eficiência em forrageamento, redução <strong>de</strong><strong>de</strong>mandas <strong>de</strong> regulação térmica e redução do risco <strong>de</strong> predação(para revisão ver Eiserer 1984, Beauchamp 1999).O periquito-rei Aratinga aurea (Aves, Psittaciformes)(Gmelin, <strong>17</strong>88) é um Psittacidae Neotropical abundante


22 Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardihoras <strong>de</strong> esforço. Estas amostragens permitiram a elaboração<strong>de</strong> um etograma dos comportamentos freqüentementerealizados pela espécie quando em dormitório comunal(Tabela 1).A partir do etograma, foram realizadas observaçõesanimal-focal (Altmann 1974) com duração <strong>de</strong> 20 mincada, em indivíduos pareados (n = 7) e solitários (n = 7).Realizou-se uma observação individual por semana, sempreno período da tar<strong>de</strong>, entre <strong>17</strong>:00 h e 18:00 h. O esforçoamostral <strong>de</strong>stas observações foi <strong>de</strong> aproximadamentecinco horas.A partir das observações realizadas com indivíduospareados e solitários <strong>de</strong> A. aurea, em dormitório comunal,os comportamentos foram classificados em quatro classesdistintas, <strong>de</strong> acordo com sua freqüência <strong>de</strong> ocorrência.Estas quatro classes foram <strong>de</strong>terminadas a partir da subtraçãoda maior freqüência comportamental pela menorfreqüência observada, em valores aproximados, e dividindoo resultado pelo número <strong>de</strong> classes <strong>de</strong>sejadas (quatro).Assim, os comportamentos foram classificados em:raro (0,00‐0,20); pouco freqüente (0,21‐0,40); freqüente(0,41‐0,60) e muito freqüente (> 0,61). A soma dasfreqüências relativas é diferente <strong>de</strong> 1 porque mais <strong>de</strong> umcomportamento po<strong>de</strong> ser observado em um intervalo <strong>de</strong>1 min.Potenciais Predadores: Foram realizadas amostragensadicionais durante nove dias, no período da tar<strong>de</strong>, totalizando8 h <strong>de</strong> esforço, para registro <strong>de</strong> potenciais predadores(aves <strong>de</strong> rapina) nas proximida<strong>de</strong>s do dormitório.Durante estas ocasiões, verificou-se se os periquitos <strong>de</strong>ixavamo dormitório na presença <strong>de</strong> aves <strong>de</strong> rapina e/ou seas aves <strong>de</strong> rapina realizavam investidas aos periquitos noFIGura 1: A) Dormitório comunal do periquito-rei Aratinga aurea(Psittacidae) em um ipê, Tabebuia impetiginosa (Bignoniaceae), emárea urbana <strong>de</strong> Tangará da Serra, MT, centro-oeste do Brasil; B) Em<strong>de</strong>talhe, indivíduos na extremida<strong>de</strong> da copa da árvore.FIGure 1: A) Communal roost of the Peach-fronted Parakeet Aratingaaurea (Psittacidae) in a tree Tabebuia impetiginosa, (Bignoniaceae)in urban area of Tangará da Serra, MT, center-west of Brazil; B) In<strong>de</strong>tail parakeets roosting in the top of the tree.FIGura 2: Dois tipos <strong>de</strong> composição, solitário (A) e pareado (B),que ocorrem no dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea em área urbana,Tangará da Serra, MT, centro-oeste do Brasil.FIGure 2: Two composition types, lone (A) and paired (B), that occurin a communal roost of Aratinga aurea in urban area, Tangará daSerra, MT, center-west of Brazil.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardi23tABeLA 1: Etograma – Descrição dos eventos e estados comportamentais freqüentemente executados por Aratinga aurea, observados em um ipê,Tabebuia impetiginosa, em área urbana, no centro <strong>de</strong> Tangará da Serra, MT.tABLe 1: Description of the events and behaviour’s states frequently executed by Aratinga aurea, observed in a tree Tabebuia impetiginosa, in urbanarea, in Tangará da Serra, MT.ComportamentoDescriçãoLimpar e/ou coçar a si próprioIndivíduo utiliza o bico e/ou <strong>de</strong>dos para limpar e/ou coçar suas penas e epi<strong>de</strong>rme.Limpar e/ou coçar o outroIndivíduo utiliza o bico e/ou <strong>de</strong>dos para limpar e/ou coçar penas e epi<strong>de</strong>rme <strong>de</strong> um co-específico.Eriçar as penasA ave arrepia as penas.ChacoalharApós eriçar as penas, a ave saco<strong>de</strong> o corpo e o conjunto <strong>de</strong> penas.Vocalização A ave emite um som alto e curto característico “caiac” (Willis e Oniki 2003).Vocalização na presença do predador A ave emite um sibilar baixo e contínuo por 1 a 4 segundos quando possíveis predadores sobrevoamo dormitório.Agonístico com o parceiroInvestida contra co-específico pareado a ele.Agonístico fora do parInvestida contra co-específico, sem que este esteja pareado a ele.Agonístico interespecíficoInvestida contra um indivíduo <strong>de</strong> outra espécie.SentinelaA ave permanece em vigilância, olhando ao redor.Susto com evento intraespecífico A ave se assusta com uma ação executada por um co-específico.Susto com a presença <strong>de</strong> predador A ave se assusta quando observa um possível predador.Susto com interferência antrópica A ave se assusta com uma ativida<strong>de</strong> humana.DefecarA ave excreta quando está empoleirada no dormitório.Formação <strong>de</strong> parIndivíduo forma par com um co-específico.LocomoçãoA ave realiza um vôo curto ou anda pelo dormitório.EspreguiçarA ave levanta a asa ou pernas para esticar a musculatura.BocejarA ave abre o bico, aspirando e expirando ar <strong>de</strong> forma prolongada.dormitório. Nestas amostragens, e ao longo do período<strong>de</strong>sse estudo, foram registrados: número <strong>de</strong> sobrevôos poraves <strong>de</strong> rapina, duração do sobrevôo e permanência e reaçãodos periquitos no dormitório nestas ocasiões.Análise estatística: A análise <strong>de</strong> Spearman foi utilizadacom o intuito <strong>de</strong> avaliar a relação entre o número <strong>de</strong> indivíduospareados e solitários e o número total <strong>de</strong> aves,enquanto a análise <strong>de</strong> qui-quadrado foi utilizada paracomparar as freqüências <strong>de</strong> ocorrência dos comportamentosentre indivíduos pareados e solitários. Para cada comportamento,a freqüência <strong>de</strong> ocorrência foi calculada apartir do número <strong>de</strong> registro <strong>de</strong>ste, dividido pelo númerototal <strong>de</strong> registros <strong>de</strong> observação. Os dados foram analisadosutilizando-se o pacote estatístico SPSS for Windowsversão 11.5 (Statistical Package for Social Sciences 2002).<strong>de</strong> partida foi 06:28 h ± 20 min (n = 52). A partir <strong>de</strong>stesvalores, estima-se que o período médio <strong>de</strong> permanência<strong>de</strong> A. aurea no dormitório seja <strong>de</strong> aproximadamente 13horas (mínimo <strong>de</strong> 12:12 h e máximo <strong>de</strong> 14:14 h). Houveuma variação consi<strong>de</strong>rável nos tamanhos <strong>de</strong> grupos quechegaram (<strong>de</strong> 1 a cerca <strong>de</strong> 50 indivíduos, CV = 60,59%)ResultADOsO tamanho médio da agregação <strong>de</strong> A. aurea nodormitório foi <strong>de</strong> aproximadamente 290 ± 52 indivíduos(n = 32 censos). Os indivíduos <strong>de</strong> A. aurea chegaramao dormitório em grupos <strong>de</strong> diferentes tamanhos, <strong>de</strong>forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, e vindos <strong>de</strong> todas as direções, entre16:36 h e <strong>17</strong>:53 h, com 66,5% das ocorrências entre<strong>17</strong>:11 h e <strong>17</strong>:30 h. Já a partida do dormitório ocorreuentre 06:05 h e 06:50 h, com 64,9% das ocorrências entre06:11 h e 06:30 h. O horário médio <strong>de</strong> chegada dosgrupos no dormitório foi <strong>17</strong>:15 h ± 14 min (n = 140) e oFIGura 3: Distribuição das freqüências relativas dos tamanhos <strong>de</strong>grupos (em classes) <strong>de</strong> Aratinga aurea que chegaram e partiram do dormitóriocomunal em Tabebuia impetiginosa (Bignoniaceae), em áreaurbana <strong>de</strong> Tangará da Serra, MT, centro-oeste do Brasil.FIGure 3: Distribution of relative frequencies of flock sizes (in classes)of Aratinga aurea that arrived and left the roost site in Tabebuiaimpetiginosa (Bignoniaceae) in urban area of Tangará da Serra, MT,center-west of Brazil.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


24 Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardie <strong>de</strong>ixaram (<strong>de</strong> 1 a cerca <strong>de</strong> 50 indivíduos, CV = 87,06%)o dormitório (Figura 3).A partir dos censos realizados, foi verificado que enquantosolitários foram mais freqüentes em baixa abundância<strong>de</strong> indivíduos no dormitório, pares foram mais comunsem abundâncias maiores (Figura 4A e 4B). Ainda,com base nos resultados obtidos, foi possível constataruma relação direta entre número <strong>de</strong> pares e número total<strong>de</strong> aves no dormitório (Teste <strong>de</strong> Spearman: r s= 0,94,P < 0,001, n = 24), e uma forte tendência <strong>de</strong> relação inversaentre número <strong>de</strong> solitários e número <strong>de</strong> pares (Teste<strong>de</strong> Spearman: r s= ‐0,65, P = 0,08, n = 24) (vi<strong>de</strong> Figura 4Ae 4B). Tais resultados confirmam que a razão entre número<strong>de</strong> pares e <strong>de</strong> solitários varia em função do número<strong>de</strong> indivíduos presentes no dormitório. Por exemplo, nosprimeiros 15 min <strong>de</strong> observação durante a manhã (entre06:00 h e 06:15 h), quando a gran<strong>de</strong> maioria dos indivíduosainda permanecia no dormitório, pares <strong>de</strong> A. aureaforam mais freqüentes que solitários. No entanto, com opassar do tempo (entre 06:15 h e 06:30 h), muitos indivíduos<strong>de</strong>ixaram o dormitório e os poucos que ficaram apósesse horário permaneceram solitários. Durante à tar<strong>de</strong>, opadrão <strong>de</strong>scrito acima se inverte, pois, com a chegada <strong>de</strong>indivíduos no dormitório, por volta das <strong>17</strong>:00 h, a abundância<strong>de</strong>stes aumentava com o passar do tempo, fazendocom que animais que estavam solitários se agrupassemem pares (Figura 4A e 4B). Além disso, verificou-se nestedormitório comunal que a composição pareada foi a maisfreqüente em ambas as condições manhã e tar<strong>de</strong> (Figura 4e 5).FIGura 4: Porcentagem <strong>de</strong> indivíduos solitários e pareados <strong>de</strong> Aratingaaurea observados em um dormitório comunal em um ipê, Tabebuiaimpetiginosa, em área urbana, no centro <strong>de</strong> Tangará da Serra, MT,durante censos realizados pela manhã (A) e à tar<strong>de</strong> (B).FIGure 4: Percentage of individuals lonely and in pairs ofAratinga aurea observed in a communal roost in a tree Tabebuiaimpetiginosa (Bignoniaceae) in urban area of Tangará da Serra,MT, during censuses realized by the morning (A) and by theafternoon (B).FIGura 5: Variação do número <strong>de</strong> solitários, pares e total <strong>de</strong> indivíduos<strong>de</strong> Aratinga aurea observados em dormitório comunal em umipê, Tabebuia impetiginosa, (Bignoniaceae), localizado em área urbanaem Tangará da Serra, MT, durante censos realizados pela manhã (A)e pela tar<strong>de</strong> (B).FIGure 5: Variation in number of lonely, pairs and total o individualsof Aratinga aurea observed in a communal roost in a tree Tabebuiaimpetiginosa (Bignoniaceae) in urban area of Tangará da Serra, MT,during censuses realized by the morning (A) and by the afternoon (B).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardi25TabeLA 2: Freqüência relativa <strong>de</strong> comportamentos executados porindivíduos pareados <strong>de</strong> Aratinga aurea, observados em um ipê, Tabebuiaimpetiginosa, em área urbana, no centro <strong>de</strong> Tangará da Serra, MT.tABLe 2: Relative frequency of behaviors executed by individualsAratinga aurea in pairs, observed in a tree Tabebuia impetiginosa, inurban area, in Tangará da Serra, MT.Classes <strong>de</strong>FreqüênciaComportamentosFreqüênciaRelativaFormação <strong>de</strong> par 0,01Bocejar 0,01Susto com evento intra-específico 0,02Susto com a presença <strong>de</strong> predador 0,03Agonístico fora do par 0,04Chacoalhar 0,04RaroVocalização na presença <strong>de</strong> predador 0,05Susto com interferência antrópica 0,05Defecar 0,05Agonístico interespecífico 0,06Espreguiçar 0,06Locomoção 0,07Eriçar as penas 0,11Pouco freqüenteAgonístico com o parceiro 0,24Sentinela 0,25FreqüenteLimpar e/ou coçar a si próprio 0,41Limpar e/ou coçar o outro 0,46Muito freqüente Vocalização 0,76TabeLA 3: Freqüência relativa <strong>de</strong> comportamentos executados porindivíduos solitários <strong>de</strong> Aratinga aurea, observados em uma árvore Tabebuiaimpetiginosa, em área urbana, no centro <strong>de</strong> Tangará da Serra,MT.tABLe 3: Relative frequency of behaviors executed by lonely individualsAratinga aurea, observed in a tree, Tabebuia impetiginosa, inurban area, in the downtown of Tangará da Serra, MT.Classes <strong>de</strong>FreqüênciaComportamentosFreqüênciaRelativaSusto com a presença <strong>de</strong> predador 0,00Bocejar 0,01Susto com evento intraespecífico 0,01Agonístico interespecífico 0,01Vocalização na presença <strong>de</strong> predador 0,02Agonístico fora do par 0,02RaroChacoalhar 0,04Espreguiçar 0,05Defecar 0,06Formação <strong>de</strong> par 0,07Susto com interferência antrópica 0,08Eriçar as penas 0,08Limpar e/ou coçar o outro 0,11Pouco freqüenteLocomoção 0,29Limpar e/ou coçar a si próprio 0,32Muito freqüenteSentinela 0,59Vocalização 0,71Na análise do padrão comportamental <strong>de</strong> A. aureano dormitório, foram observados dois comportamentospouco freqüentes para indivíduos em pares (‘agonísticocom o parceiro’ e ‘sentinela’ – Tabela 2) e dois para indivíduossolitários (‘locomoção’ e ‘limpar e/ou coçar asi próprio’ – Tabela 3). Constatou-se que no dormitóriocomunal os pares <strong>de</strong> A. aurea executaram mais comportamentosagonísticos (χ 2 = 24,32, P < 0,001), exibirammais eventos <strong>de</strong> limpeza (χ 2 = 14,22, P < 0,001) e investirammenos em vigilância (χ 2 = 12,96, P < 0,001) elocomoção (χ 2 = 12,25, P < 0,001) do que os solitários.O comportamento <strong>de</strong> ‘vocalização’ <strong>de</strong> A. aurea foi classificadocomo muito freqüente (Tabela 2 e 3), sendo aocorrência <strong>de</strong>ste comportamento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tipo<strong>de</strong> composição, pareado ou solitário (χ 2 = 0,03, P = 0,87).Durante o período <strong>de</strong> estudo, foram registradoseventos <strong>de</strong> sobrevôo do falcão-<strong>de</strong>-coleira Falco femoralis(Temminck, 1822) e da coruja-buraqueira Athene cunicularia(Molina, <strong>17</strong>82) sobre e ao redor do dormitório.O tempo médio dos sobrevôos e permanência para F. femoralisfoi <strong>de</strong> 1,42 min (EP = 0,19 min, n = 58) e paraA. cunicularia 0,44 min (EP = 0,14 min, n = 13). Nãoforam observadas capturas ou investidas <strong>de</strong>stas aves <strong>de</strong>rapina nos periquitos no dormitório. Estes, por sua vez,emitiam um padrão <strong>de</strong> vocalização característico e atípico(ver Tabela 1) quando <strong>de</strong>tectavam as aves predadoras, entretantonenhum periquito <strong>de</strong>ixou o dormitório duranteestes eventos <strong>de</strong> sobrevôo. Embora Columbina talpacoti(Temminck, 1811), Crotophaga ani (Linnaeus, <strong>17</strong>58) ePasser domesticus (Linnaeus, <strong>17</strong>58) tenham sido observadasutilizando ocasionalmente o ipê como poleiro, foramrapidamente expulsas da árvore por investidas <strong>de</strong> A. aurea.DiscussãoA. aurea apresentou um padrão comportamental típicono uso do dormitório estudado durante o períodonão reprodutivo da espécie. Não houve variação expressivanos horários <strong>de</strong> chegada e saída, no tempo <strong>de</strong> permanênciano dormitório e no número total dos indivíduosque utilizaram o dormitório durante o período <strong>de</strong> estudo.Os indivíduos permaneceram sozinhos ou pareados nodormitório em função do número <strong>de</strong> indivíduos presentesna agregação e apresentaram diferenças comportamentaisquando pareados ou solitários. Vale ressaltar que estes resultadosforam obtidos em área urbana sob forte influência<strong>de</strong> movimentação <strong>de</strong> automóveis e pessoas. Estudos<strong>de</strong> A. aurea em agregações noturnas, em hábitats naturais,po<strong>de</strong>rão esclarecer quais os benefícios encontrados pelaespécie quando agregadas em áreas urbanas para pernoite,um comportamento que é freqüentemente observado emPsittaciformes introduzidos (e.g. Mabb 1997).Quando havia poucos indivíduos no dormitório,a configuração solitária era a mais freqüente, enquantoem maiores concentrações a configuração pareada tornava-semais comum. A permanência dos indivíduos <strong>de</strong>A. aurea em par foi mais freqüente, quando comparada àRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


26 Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardipermanência <strong>de</strong>stes em estado solitário, em ambas as condiçõesmanhã e tar<strong>de</strong>. No presente estudo foi encontradoque indivíduos solitários passam mais tempo em estadovigilante do que quando pareados. Esse resultado confirmaa expectativa <strong>de</strong> que indivíduos em grupos maioresinvistam menos esforço em vigilância (e.g. Pulliam 1973,Caraco et al. 1980), e mais em limpeza e encontros agonísticos,quando há um número elevado <strong>de</strong> indivíduos nodormitório.Westcott e Cockburn (1988), estudando tamanho<strong>de</strong> grupos e vigilância em Psittaciformes australianos duranteforrageamento, também observaram que as aves reduzemsignificativamente o tempo gasto em vigilância,quando o tamanho do grupo aumenta, resultando em aumentodo tempo gasto em forrageamento (veja tambémSouth e Pruett-Jones 2000). Portanto, presume-se que ocomportamento <strong>de</strong> agregação para pernoite em A. aureapo<strong>de</strong> ter se originado do benefício obtido com a reduçãoda vigilância individual, resultando em aumento <strong>de</strong> tempopara outras ativida<strong>de</strong>s e favorecendo assim o sucessoadaptativo individual. A partir <strong>de</strong>sta suposição, se consi<strong>de</strong>rarmosque em agregações <strong>de</strong> aves há maior vulnerabilida<strong>de</strong>à transmissão <strong>de</strong> parasitas e patógenos (e.g. Browne Brown 1986), A. aurea, quando em agregação, aproveitao menor tempo gasto em vigilância para ajustar o períodonecessário a higienização (redução dos parasitas daepi<strong>de</strong>rme e penas). Entretanto, essa suposição não <strong>de</strong>veser a única a explicar o comportamento <strong>de</strong> agregação parapernoite em A. aurea. Os benefícios térmicos (termoregulação)obtidos ao se agruparem para pernoitar (du Plessiset al. 1984) e o aumento da eficiência em forrageamento(Chapman et al. 1989, Beauchamp 1999) po<strong>de</strong>m serfatores-chave para explicar a agregação <strong>de</strong> A. aurea e <strong>de</strong>outros Psittaciformes durante pernoite.O fato da associação pareada ter sido mais freqüenteque a solitária, quando havia maior concentração <strong>de</strong>indivíduos na árvore, também po<strong>de</strong> ser conseqüência daredução da disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espaço no dormitório. Emcondições <strong>de</strong> baixa concentração <strong>de</strong> indivíduos, os periquitosteriam mais locais disponíveis para se empoleirarnas extremida<strong>de</strong>s da árvore, permitindo o distanciamentoentre indivíduos. No entanto, em condições <strong>de</strong> alta concentração,ten<strong>de</strong>riam a permanecer mais próximos unsdos outros (e.g. Craig e Craig 1984). Psittaciformes têmo hábito <strong>de</strong> vocalizar quando estão em vôo, entretantousam a tática <strong>de</strong> permanecerem calados quando estão empoleiradosse alimentando, evitando assim sua <strong>de</strong>tecção(Sick 1997). Quando estão empoleirados no dormitórioten<strong>de</strong>m a vocalizar muito até o início da noite, e logose tornam abruptamente silenciosos (e.g. Mabb 1997). Ocomportamento <strong>de</strong> vocalização foi classificado neste estudocomo muito freqüente para A. aurea, sendo a ocorrência<strong>de</strong>ste comportamento in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do tipo <strong>de</strong> composição,pareado ou solitário. Também se observou queo número <strong>de</strong> aves vocalizando no dormitório aumentouquando grupos <strong>de</strong> A. aurea em vôo vocalizavam a distânciasconsi<strong>de</strong>ráveis do dormitório. Este comportamento <strong>de</strong>vocalização conjunta parece direcionar os co-específicosem vôo para a agregação comunal, levando a um aumentoda abundância <strong>de</strong> aves no dormitório. Embora o comportamento<strong>de</strong> vocalização pareça ser uma <strong>de</strong>svantagem paraas aves agregadas, <strong>de</strong>vido à maior chance <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção porpredadores, certamente <strong>de</strong>ve haver benefícios individuaisque o compensem. Por exemplo, é esperado que em agregaçõeshaja redução do risco <strong>de</strong> predação dos indivíduosno dormitório pelo ‘efeito da diluição’ (e.g. Hamilton1971, Cresswell 1994, Whitfield 2003) e pelo ‘efeito daconfusão’, ocasionado pela presença <strong>de</strong> muitas presas juntas(e.g. Neill e Cullen 1983). Nas diversas ocasiões on<strong>de</strong>aves <strong>de</strong> rapina (F. femoralis e A. cunicularia) foram vistaspróximas ao dormitório, não foram registrados quaisquerataques aos indivíduos, sugerindo a possível proteçãofornecida pelo agrupamento. Embora não tenhamosverificado quaisquer ataques, A. aurea presumivelmentereconheceu as duas espécies como potenciais predadoras,emitindo um padrão <strong>de</strong> vocalização atípico no momentoda <strong>de</strong>tecção. Esta emissão sonora <strong>de</strong> alarme po<strong>de</strong> aumentarainda mais a eficiência do grupo em <strong>de</strong>tectar o predador(e.g. Charnov e Krebs 1975, South e Pruett-Jones2000).Os resultados apresentados aqui nos permitem concluirque A. aurea, no seu período não-reprodutivo, exibeuma dinâmica específica <strong>de</strong> chegada, permanência e partidado seu dormitório comunal em área urbana. Além disso,a espécie constantemente balanceia custos e benefíciosda vida em grupo, em função, <strong>de</strong>ntre outros fatores, donúmero <strong>de</strong> indivíduos presentes no dormitório. A priori,a redução do risco <strong>de</strong> predação é um dos fatores dominantesque explica o hábito <strong>de</strong> se agregar para pernoitar.AgrADecimentosNós agra<strong>de</strong>cemos ao Programa <strong>de</strong> Pós-graduação em Ecologiada Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília e ao Departamento <strong>de</strong> CiênciasBiológicas da Universida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> Mato Grosso, CampusTangará da Serra, pelo apoio ao trabalho. Nós agra<strong>de</strong>cemos a ReginaH. F. Macedo pela valiosa revisão e sugestões à primeira versão domanuscrito e ao revisor anônimo pelas enriquecedoras consi<strong>de</strong>raçõese críticas. Vitor O. Lunardi recebeu bolsa <strong>de</strong> doutorado pelaCoor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal <strong>de</strong> Nível Superior(CAPES) e pelo Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científicoe Tecnológico (CNPq) (processo nº141831/2007‐3) e DianaG. Lunardi bolsa <strong>de</strong> doutorado pela CAPES e CNPq (processonº142646/2007‐5).ReferêncIAsAltmann, J. (1974). Observational study of behavior: samplingmethods. Behaviour, 49:227‐267.Beauchamp, G. (1999). The evolution of communal roosting inbirds: origin and secondary losses. Behav. Ecol., 10(6):675‐687.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardi27Brown, C. R. e Brown, M. B. (1986). Ectoparasitism as a cost ofcoloniatialy in cliff swallows (Hirundo pyrrhonota). Ecology,67(5):1206‐1218.Caraco, T.; Martindale, S. e Pullian, R. (1980). Avian flocking in thepresence of a predator. Nature, 285(5):400‐401.Casagran<strong>de</strong>, D. G. e Beissinger, S. R. (1997). Evaluation offour methods for estimating parrot population size. Condor,99:445‐457.Chapman, C. A.; Chapman, L. J. e Lefebvre, L. (1989). Variabilityin parrot flock size: possible functions of communal roosts.Condor, 91:842‐847.Charnov, E. L. e Krebs, J. R. (1975). The evolution of allarm calls:Altruism or manipulation. Am. Nat., 109:107‐112.Craig, T. H. e Craig, E. H. (1984). A large concentration of roostinggol<strong>de</strong>n eagles in southeastern Idaho. Auk, 101:610‐613.Cresswell, W. (1994). Flocking is an effective anti-predation strategyin redshanks, Tringa totanus. Anim. Behav., 47:433‐442.du Plessis, M. A.; Weathers, W. W. e Koenig, W. C. (1984).Energetic benefits of communal roost by acorn woodpeckersduring nonbreeding season. Condor, 96:631‐637.Eiserer, L. (1984). Communal roosting in birds. Bird Behav., 5:61‐80.Faria, I. P. (2007). Peach-fronted Parakeet (Aratinga aurea) feedingon arboreal termites in Brazilian Cerrado. Rev. Bras. Orn.,15(3):457‐458.Forshaw, J. (1989). Parrots of the word. Willoughby: LandsdoweEdition.Galetti, M. e Pedroni, F. (1996). Notes on the diet of the PeachfrontedParakeet Aratinga aurea in the Serra do Cipó, MinasGerais, Brazil. Cotinga, 6:59‐60.Gilardi, J. D. e Munn, C. (1998). Patterns of activity, flocking,and habitat use in parrots of the Peruvian Amazon. Condor,100:641‐653.Hamilton, W. D. (1971). Geometry for the selfish herd. J. Theor.Biol., 31(2):295‐311.Harms, K. E. e Eberhard, J. R. (2003). Roosting behavior of theBrown-throated Parakeet (Aratinga pertinax) and roost locationson four southern caribean islands. Ornithol. Neotrop., 14:79‐89.Mabb, K. T. (1997). Roosting behavior of naturalized parrots in theSan Gabriel Valley, California. W. Birds, 28:202‐208.Matuzak, G. D. e Brightsmith, D. J. (2007). Roosting of YellownapedParrots in Costa Rica: estimating the size and recruitmentof threatened populations J. Field Ornithol., 78(2):159‐169.Neill, S. R. St J. e Cullen, J. M. (1974). Experiments on whetherschooling by their prey affects the hunting behaviour ofcephalopods and fish predators. J. Zool. Lond., <strong>17</strong>2:549‐569.Paranhos, S. J. (2001). Biologia comportamental <strong>de</strong> Aratinga aurea(Gmelin, <strong>17</strong>98) (Aves – Psittaciformes) no sudoeste <strong>de</strong> Minas Gerais:alimentação e reprodução. Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Instituto<strong>de</strong> Biociências, Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista, Campus <strong>de</strong> RioClaro.Pulliam, H. R. (1973). On the advantages of flocking. J. Theor. Biol.,38:419‐422.Sazima, I. (1989). Peach-fronted Parakeet feeding on winged termites.Willson Bull., 101(4):656‐657.Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>, uma introdução. Rio <strong>de</strong>Janeiro: Editora Nova Fronteira.South, J. M. e Pruett-Jones, S. (2000). Patterns of flock size, diet,and vigilance of naturalized monk parakeets in Hyge Park,Chicago. Condor, 102:848‐854.Westcott, D. A. e Cockburn, A. (1988). Flock size and vigilance inparrots. Australian J. Zool., 36(3):335‐349.Whitfield, D. P. (2003). Redshank Tringa totanus flocking behaviour,distance from cover and vulnerability to sparrowhawk Accipiternisus predation. J. Avian Biol., 34(2):163‐169.Willis, E. O. e Oniki, Y. (2003). Aves do Estado <strong>de</strong> São Paulo. RioClaro: Editora Divisa.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):28-36março <strong>de</strong> 2009ARTIGOSobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>aves à fragmentação florestal na avaliação daIntegrida<strong>de</strong> Biótica: um estudo <strong>de</strong> caso nonorte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos 1,6 , Gabriela Menezes Bochio 2 , João Vitor Campos 3 , Gabriel B. McCrate 4 e Fernando Palomino 51 Departamento <strong>de</strong> Biologia Animal e Vegetal, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina. Caixa Postal 6001, CEP 86051‐970, Londrina, PR, Brasil.E‐mail: llanjos@sercomtel.com.br2 Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina. E‐mail: gabrielabochio@yahoo.com.br3 Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia, INPA – Instituto <strong>de</strong> Pesquisas da Amazônia. E‐mail: jvpieda<strong>de</strong>@gmail.com4 E‐mail: yobl@yahoo.com.br5 E‐mail: taquauel@yahoo.com.br6 Autor para correspondência.Recebido em 09/06/2008. Aceito em 10/05/2009.ABStrACt: On the use of the sensitivity levels of birds to forest fragmentation in the evaluation of the Biotic Integrity: astudy case in the north of State of Paraná, southern Brazil. A In<strong>de</strong>x of Biotic Integrity (IBI) is presented based on levels of birdsensitivity to forest fragmentation. Three levels of sensitivity were consi<strong>de</strong>red: high, medium, and low. In the present study, 30 birdspecies were selected, 10 in each level, and the presence/absence of them were verified in 39 forest fragments in the north of theState of Paraná, southern Brazil. Based on occurrence data of those selected species, the IBI was calculated in each fragment. The IBIvalues were influenced by the area of forests fragments (r 2 = 0,34; P < 0,01; F = 18,02). The IBI was also correlated with the speciesnumber occurring in the forest fragments (Pearson; r = 0,829, P < 0,01). The largest and more preserved forest fragment presentedthe highest IBI value (0.85). Therefore, the smaller, isolated and more disturbed forest fragments had the smallest IBI values. It isimportant to consi<strong>de</strong>r that the sensitivity levels of bird species are variable according to different fragmented landscapes; it meansthat, a previous study to <strong>de</strong>termine the sensitivity levels of bird species is a key factor to an useful IBI. Such procedure can make theIBI an interesting tool for environmental evaluation.Key-Words: In<strong>de</strong>x of Biotic Integrity, Atlantic forest, fragmented landscapes, conservation.rESuMO: O Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica (IIB) é baseado em níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal. Três níveis<strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> são consi<strong>de</strong>rados: alto, médio e baixo. No presente estudo, 30 espécies <strong>de</strong> aves foram selecionadas, 10 em cadanível, e a presença/ausência <strong>de</strong>las foram verificadas em 39 fragmentos florestais no norte do Estado do Paraná, sul do Brasil. Combase em dados relativos à ocorrência <strong>de</strong>ssas espécies selecionadas, foi calculado o IIB em cada fragmento. Os valores do IIB foraminfluenciados pela área dos fragmentos florestais (r 2 = 0,34; P < 0,01; F = 18,02). O IIB foi também correlacionado com o número<strong>de</strong> espécies que ocorrem nos fragmentos florestais (Pearson; r = 0,829, P < 0,01). O fragmento maior e mais preservado apresentouo maior valor <strong>de</strong> IIB (0.85). Consequentemente, fragmentos florestais menores, isolados e mais perturbados tiveram os menoresvalores <strong>de</strong> IIB. É importante consi<strong>de</strong>rar que os níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves são variáveis <strong>de</strong> acordo com as diferentespaisagens fragmentadas; isto significa que, um estudo anterior para <strong>de</strong>terminar os níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> das espécies <strong>de</strong> aves é umfator chave para um IIB eficiente. Tal procedimento po<strong>de</strong> tornar o IIB uma ferramenta interessante para avaliação ambiental.PALAVrAS-ChAVE: Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica, floresta Atlântica, paisagens fragmentadas, conservação.A Integrida<strong>de</strong> Biótica representa a habilida<strong>de</strong> dossistemas biológicos <strong>de</strong> funcionar, se manter e <strong>de</strong>senvolverfrente às perturbações antrópicas (Kay 1991, Lyonset al. 1995). Ela expressa-se na forma <strong>de</strong> um índice, oÍndice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica. Um sistema sem perturbaçãoantrópica, supostamente, apresentaria o valor máximo<strong>de</strong>ste Índice. O Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica (IIB)foi inicialmente elaborado utilizando-se parâmetros (taiscomo, riqueza taxonômica, guildas <strong>de</strong> habitat e guildastróficas) que englobam características estruturais e funcionais<strong>de</strong> organismos ou comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> peixes empequenos córregos do centro-norte dos Estados Unidos(Karr 1981, Karr e Dudley 1981). Naquele estudo, foramavaliados os valores do IIB em comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>


Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palomino29peixes que habitam ambientes com diferentes níveis <strong>de</strong><strong>de</strong>gradação, como, poluição da água por contaminantesagrícolas. Posteriormente, o IIB foi adaptado para outrosecossistemas. Lyons et al. (1995), por exemplo, adicionaramoutros parâmetros, como número <strong>de</strong> espécies nativas,percentagem <strong>de</strong> espécies tolerantes e, assim comono presente estudo, número <strong>de</strong> espécies sensíveis em 27rios na região centro-oeste do México. Em aves, o IIB foiobtido para ambientes ripários da América do Norte utilizandoparâmetros como tolerâncias a distúrbios antrópicos,técnicas <strong>de</strong> forrageamento, preferência alimentar eestratégias <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> cada espécie <strong>de</strong> ave <strong>de</strong>ntrodas comunida<strong>de</strong>s (Bryce e Hughes 2002, Bryce 2006).Elaborado a partir <strong>de</strong> dados sobre organização funcionale estrutural e da composição das comunida<strong>de</strong>s em relaçãoaos taxa estudados, o IIB tem sido consi<strong>de</strong>rado uma ferramentaquantitativa interessante para análise ambiental(Lyons et al. 1995).A vegetação do norte do Paraná consistia essencialmente<strong>de</strong> floresta estacional semi<strong>de</strong>cidual. A partir da década<strong>de</strong> 40, houve um rápido processo <strong>de</strong> colonização, oque resultou na quase completa substituição das florestaspor áreas <strong>de</strong> cultivo <strong>de</strong> café (Maack 1981). Devido a esteprocesso, as florestas contínuas foram reduzidas a esparsosfragmentos que correspon<strong>de</strong>m, atualmente, a menos<strong>de</strong> 1% da área original do norte do Paraná. Processos <strong>de</strong>extinção <strong>de</strong> espécies em paisagens florestais fragmentadastêm sido intensivamente investigados e documentados(e.g. Debinski e Holt 2000, Purvis et al. 2000, Fahrig2003, Henle et al. 2004, Watling e Donnelly 2006). Emmuitos grupos taxonômicos, como em aves, existem diferentesníveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> das espécies à fragmentação;claramente, existem espécies mais sensíveis do que outrascomo <strong>de</strong>monstrado na região neotropical (Willis 1979,Parker III 1996, Ribon et al. 2003, Uezu et al. 2005,Anjos 2006, Lee e Peres 2008, Martensen et al. 2008).Estudos quantitativos sobre os efeitos da fragmentaçãoflorestal sobre a avifauna do norte do Paraná vêm sendoconduzidos há vários anos, o que permite avaliar osprocessos <strong>de</strong> extinção <strong>de</strong> espécies em função do tamanhoe isolamento <strong>de</strong> fragmentos florestais (Anjos 2001a, b,2002, Anjos et al. 2004). A partir <strong>de</strong>sses estudos, as espécies<strong>de</strong> aves foram categorizadas quanto à sensibilida<strong>de</strong> àfragmentação florestal da região em três níveis; alta, médiae baixa (Anjos 2006).Neste estudo apresenta-se uma forma <strong>de</strong> utilizar osníveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> das aves à fragmentação florestal naregião norte do Paraná, para a obtenção <strong>de</strong> um Índice <strong>de</strong>Integrida<strong>de</strong> Biótica, buscando caracterizar a qualida<strong>de</strong> dosfragmentos. Assim, a Integrida<strong>de</strong> Biótica <strong>de</strong> um <strong>de</strong>terminadofragmento florestal po<strong>de</strong> ser expressa <strong>de</strong> forma numérica,o que representa uma vantagem pela possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> comparação direta entre os valores do IIB. A hipóteseé a <strong>de</strong> que o IIB seja maior em um fragmento <strong>de</strong> maiorárea (ha) e conectado a outros, do que naqueles pequenose isolados. Também espera-se que fragmentos com maiorriqueza <strong>de</strong> espécies tenham maior IIB. Esta, provavelmente,é a primeira tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong>Biótica para aves na região Neotropical.MaterIAL e MétodOSÁrea <strong>de</strong> estudo e método <strong>de</strong> campo: O Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong>Biótica foi obtido em 39 fragmentos florestais daregião norte do Estado do Paraná. Os dados sobre o registro<strong>de</strong> aves em 14 <strong>de</strong>stes fragmentos florestais foram apresentadosem Anjos et al. (2004). As <strong>de</strong>nominações <strong>de</strong>stesfragmentos foram mantidas (PG, FA, FB, FC, FD, FE,FG, FH, FI, FJ, FM, FN e FO) exceto no caso <strong>de</strong> HI, oqual passou a ser <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> FF (Tabela 1, Anjos et al.2004); todos são fragmentos que ocorrem em zona rural,exceto no caso <strong>de</strong> FF que está bem próximo à zona urbanada cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ibiporã. Os dados referentes ao registro <strong>de</strong>aves nos outros 25 fragmentos florestais foram obtidosem campo e apresentados pela primeira vez no presenteestudo. Dezoito <strong>de</strong>stes fragmentos florestais ocorrem emzona rural (<strong>de</strong>nominados FR1 a FR18) e três estão inseridosna zona urbana da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina (<strong>de</strong>nominadosFU1, FU2 e FU3). Os outros quatro fragmentos florestaissão, na realida<strong>de</strong>, corredores florestais, <strong>de</strong>nominados CA,CB, CC e CD que unem fragmentos. O conjunto <strong>de</strong>stesfragmentos florestais representa uma amostra significativada paisagem fragmentada do norte paranaense. A área dosfragmentos varia entre 10 ha (FU3) e 832 ha (FR1), sendoque alguns se encontram isolados e outros conectadospor corredores florestais (Figura 1). Dados sobre a área(ha) e conectivida<strong>de</strong> (distância em m do fragmento próximo<strong>de</strong> tamanho similar ou maior; fragmentos com distânciasmaiores <strong>de</strong> 1000 m foram consi<strong>de</strong>rados isolados;fragmentos maiores foram utilizados como referência)<strong>de</strong>stes fragmentos são apresentados na Tabela 1, excetopara os corredores florestais. A paisagem predominanteno entorno dos fragmentos é composta por agricultura(soja) e pasto, o que, supostamente, a torna pouco permeávelpara espécies <strong>de</strong> aves com hábitos florestais.Todos os fragmentos são constituídos por florestaestacional semi<strong>de</strong>cidual em diferentes estados <strong>de</strong> conservação;uma <strong>de</strong>scrição mais <strong>de</strong>talhada <strong>de</strong>sta floresta éapresentada em Anjos (2002). O fragmento melhor conservadoé o PG, o qual se constitui em uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Conservação (UC), o Parque Estadual Mata dos Godoy.Outros quatro fragmentos são também UCs: FF- ParqueEstadual <strong>de</strong> Ibiporã, FR1- Parque Estadual MataSão Francisco, FU1- Parque Municipal Arthur Thomas eFR11- Parque Estadual <strong>de</strong> Ibicatu.As amostragens <strong>de</strong> aves nos 18 fragmentos rurais(FR1 a FR18), nos quatro corredores florestais (CA, CB,CC e CD) e nos três fragmentos urbanos (FU1, FU2 eFU3) foram realizadas em quatro manhãs, a partir doRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


30 Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando PalominoTabela 1: Categoria do fragmento (rural, urbano e corredor); Coor<strong>de</strong>nadas Geográficas; Área (ha); e Conectivida<strong>de</strong> (referência, conectado porcorredor florestal ou distâncias menores que 1000 m e isolado); quando isolado, é indicada a distância (m) em relação ao fragmento <strong>de</strong> porte similarou maior mais próximo. Um * indica fragmento que são Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação (UC).tABLE 1: Fragment catagory (rural, urban, corridor); Geographic Coordinates; Area (ha); and Connectivity (reference, connected by a forest corridoror distances no longer than 1000 m and isolated); when isolated, the distance is indicated in relation of a similar size or larger fragment. A *indicates a fragment that is a Conservation Unit (CU).Fragmento Florestal Categoria Coor<strong>de</strong>nadas Geográficas Área (ha) Conectivida<strong>de</strong>PG* Rural S23°27’9,39” O51°15’<strong>17</strong>,77” 656 ReferênciaFM Rural S23°28’16,66” O51°2’49,87” 564 ReferênciaFJ Rural S23°29’37,33” O51°6’7,80” 393 ReferênciaFN Rural S23°23’41,86” O51°0’55,22” 387 Isolado, 7000 m <strong>de</strong> FMFE Rural S23°24’22,6” O 51°19’31,8” 350 Isolado, 5600 m <strong>de</strong> PGFG Rural S23°27’13,83” O51°12’4,21” 285 Conectado c/PGFI Rural S23°30’11,35” O51°4’34,74” 184 ReferênciaFD Rural S23°25’8,14” O51°14’10,84” 87 Isolado, 1200 m <strong>de</strong> PGFH Rural S23°29’<strong>17</strong>,95” O51°11’38,35” 72 Conectado c/PGFO Rural S23°26’43,61” O51°0’10,37” 70 Isolado, 3300 m <strong>de</strong> FMFF* Urbano S23°15’22” O51°01’54” 60 Isolado, 14000 m <strong>de</strong> FNFA Rural S23°28’8,14 O51°14’19,85” 56 Conectado c/FCFB Rural S23°28’6,31” O51°15’<strong>17</strong>,1” 25 Conectado c/PGFC Rural S23°28’31,27” O51°15’22,<strong>17</strong>” 28 Conectado c/FBFR1* Rural S23°09’15,8” O50°34’18,5” 832 Isolado, 74000 m <strong>de</strong> PGFR2 Rural S22°58’42,7” O51°11’1,8” 337 Isolado,18000 m <strong>de</strong> FR3FR3 Rural S22°58’12,5” O51°24’77” 328 ReferênciaFR4 Rural S23°33’50,9” O51°13’8,8” 234 Isolado, 8000 m <strong>de</strong> PGFR5 Rural S22°58’3,3” O51°26’38,3” 165 Conectado c/FR3FR6 Rural S23°27’26,43” 51°6’5,76” 128 Isolado, 2500 m <strong>de</strong> FMFR7 Rural S23°0’11” O50°56’44” 106 Isolado, 23000 m <strong>de</strong> FNFR8 Rural S22°59’11,6” O51°23’14” 90 Conectado c/FR3FR9 Rural S23°31’7,41” O51°5’24,86” 90 Conectado c/FIFR10 Rural S22°59’25,7” O51°25’24,4” 70 Conectado c/FR3FR11* Rural S22°46’49,5” O51°29’21,1” 60 Isolado, 5300 m <strong>de</strong> um mais próximoFR12 Rural S23°22’9,9” O51°4’32,7” 55 Isolado, 4470 m <strong>de</strong> FNFR13 Rural S23°21’57,3” O51°5’51” 55 Isolado, 7000 m <strong>de</strong> FNFR14 Rural S23°0’29,4” O51°24’39,2” 46 Conectado c/FR10FR15 Rural S23°22’44,84” O51°14’9,87” 15 Isolado, 2200 m <strong>de</strong> FDFR16 Rural S23°25’41,1” O51°1’54,28” 35 Isolado, 2500 m <strong>de</strong> FNFR<strong>17</strong> Rural S23°29’57,3” O51°11’44,2” 21 Conectado c/FHFR18 Rural S23°26’44” O51°01’48” 18 Isolado, 1800 m <strong>de</strong> FMFU1* Urbano S23°20’45,7” O51°8’18,5” 70 Isolado, 12000 m <strong>de</strong> FGFU2 Urbano S23°18’58,6” O51°12’18,5” 22 Isolado, 6000 m <strong>de</strong> FU1FU3 Urbano S23°19’44,6” O51°12’26” 10 Isolado, 6600 m <strong>de</strong> FU1CA Corredor S23°27’11,9” O51°14’1,3” 6,6 Conecta FB c/PGCB Corredor S23°27’54,1” O51°14’52,5” 0,4 Conecta PG c/CCCC Corredor S23°27’16,7” O51°12’56,2” 4,5 Conecta CC c/FGCD Corredor S23°29’43,2” O51°5’14” 2,6 Conecta FJ c/FInascer do sol até cerca <strong>de</strong> três horas <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong> setembroa <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007 nos fragmentos rurais e urbanos, excetonos corredores florestais, on<strong>de</strong> foram realizadas <strong>de</strong>setembro a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2000. A transecção percorria,tentativamente, toda a área do fragmento. A i<strong>de</strong>ntificaçãodas espécies <strong>de</strong> aves foi realizada <strong>de</strong> maneira visuale/ou auditiva. Tal procedimento permitiu que o esforçoamostral nos fragmentos e corredores fosse similar entresi, o qual correspon<strong>de</strong> a aproximadamente 12 horas <strong>de</strong>observações divididas em quatro manhãs.Obtenção do Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica: Dados jápublicados sobre os níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> à fragmentaçãoflorestal <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves em 14 fragmentos florestaislocalizados na região sul da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina (23°<strong>17</strong>’S,51°15’W), norte do Paraná, (Anjos 2006) foram utilizadospara elaboração do IIB. Selecionou-se 10 espécies <strong>de</strong>cada nível <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> (alta, média e baixa) <strong>de</strong>ntre asapresentadas em Anjos (2006). O critério para seleção das30 espécies (Apêndice 1) foi a facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registro auditivoe/ou visual durante primavera e verão. A ocorrênciaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palomino31<strong>de</strong>stas 30 espécies em cada fragmento florestal serviu <strong>de</strong>base para o cálculo do IIB (Tabela 2).Para o cálculo do IIB foram usados pesos <strong>de</strong> formapon<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> acordo com os níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> dasespécies. Assim, foi atribuído o maior peso (3) às espécies<strong>de</strong> alta sensibilida<strong>de</strong>, o intermediário (2) às espécies <strong>de</strong>média sensibilida<strong>de</strong> e o menor (1) às espécies <strong>de</strong> baixasensibilida<strong>de</strong>. Para o cálculo do IIB em cada fragmentoflorestal multiplicou-se o número <strong>de</strong> espécies sensíveisregistradas por três, o número <strong>de</strong> espécies intermediariamentesensíveis por dois e o número <strong>de</strong> espécies poucosensíveis por um; dividiu-se então o somatório dos trêsvalores por 60, como expressa na fórmula abaixo:AS = número <strong>de</strong> espécies que apresentam alta sensibilida<strong>de</strong>à fragmentação florestal;MS = número <strong>de</strong> espécies que apresentam média sensibilida<strong>de</strong>à fragmentação florestal;BS = número <strong>de</strong> espécies que apresentam baixa sensibilida<strong>de</strong>à fragmentação florestal.O maior valor <strong>de</strong> IIB obtido no presente estudofoi utilizado então em um segundo cálculo; o fragmentoon<strong>de</strong> foi obtido o maior valor <strong>de</strong> IIB foi assim consi<strong>de</strong>radoFIGura 1: Localização das regiões <strong>de</strong> estudo no Estado do Paraná. Os mapas <strong>de</strong>talhados mostram os 39 fragmentos florestais amostrados; as coor<strong>de</strong>nadasgeográficas dos fragmentos são apresentadas na Tabela 1.FIGure 1: Localization of the study areas in the state of Paraná. The <strong>de</strong>tailed maps show the 39 sampled forest fragments; geographical coordinatesare showed in Table 1.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


32 Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando PalominoTabela 2: Riqueza (número total <strong>de</strong> espécies); Número <strong>de</strong> espécies relacionadas em cada categoria <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> à fragmentação florestal, <strong>de</strong>acordo com Anjos (2006) e percentagem <strong>de</strong>stas espécies relacionadas em relação ao total em cada fragmento. Também são apresentados para cadafragmento o Índice <strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica (IIB) e a representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste valor em relação ao IIB do parque Estadual Mata dos Godoy (IIB‐PG;ver metodologia).tABLE 2: Richness (total number of species); Number of species related in each catagory of forest fragmentation sensibility and percentage of thesespecies related in relation to the total of all species in each fragment. The In<strong>de</strong>x of Biotic Integrity is also presented for each fragment and the representationof this value in relation to IBI of Mata dos Godoy State Park (IIB‐PG; see method).Fragmento Florestal Riqueza AS MS BS % IIB IIB‐PGPG 114 7 10 10 23,7% 0,85 1FM 102 5 6 8 18,6% 0,58 0.68FJ 106 3 8 10 19,8% 0,58 0.68FN 93 2 5 8 16,1% 0,4 0.47FE 81 0 5 9 <strong>17</strong>,3% 0,32 0.38FG 106 4 9 9 20,8% 0,65 0.76FI 122 7 9 9 20,5% 0,8 0.94FD 96 0 7 9 16,7% 0,38 0.45FH 87 0 5 9 16,1% 0,32 0.38FO 76 0 4 8 15,8% 0,27 0.32FF 72 0 4 8 16,7% 0,27 0.32FA 89 0 9 9 20,2% 0,45 0.53FB 87 1 8 8 19,5% 0.45 0.53FC 87 0 8 9 19,5% 0,42 0.49FR1 71 2 8 7 23,9% 0,48 0.56FR2 65 1 4 3 12,3% 0,23 0.27FR3 92 2 9 8 20,7% 0,53 0.62FR4 84 1 8 8 20,2% 0,45 0.53FR5 72 1 3 7 15,3% 0,27 0.32FR6 ND* 3 6 9 ND* 0,5 0.59FR7 63 0 2 5 11,1% 0,15 0.18FR8 72 1 4 7 16,7% 0,3 0.35FR9 ND* 2 7 7 ND* 0,45 0.53FR10 54 1 4 6 20,4% 0,28 0.33FR11 55 1 3 6 18,2% 0,25 0.29FR12 62 0 5 7 19,4% 0,28 0.33FR13 41 0 4 5 22,0% 0,22 0.26FR14 61 1 4 7 19,7% 0,3 0.35FR15 38 0 4 6 26,3% 0,23 0.27FR16 ND* 1 3 7 ND* 0,27 0.32FR<strong>17</strong> 53 0 3 8 20,8% 0,23 0.27FR18 ND* 1 4 6 ND* 0,28 0.33FU1 84 0 2 6 9,5% 0,<strong>17</strong> 0.2FU2 62 0 1 4 8,1% 0,1 0.12FU3 ND* 0 1 7 ND* 0,15 0.18CA 101 3 7 8 <strong>17</strong>,8% 0,52 0.61CB 102 1 8 9 <strong>17</strong>,6% 0,47 0.55CC 89 1 6 8 16,9% 0,38 0.44CD 104 3 6 8 16,3% 0,48 0.56como referência. Neste segundo cálculo os valores <strong>de</strong> IIB<strong>de</strong> cada fragmento foram divididos pelo valor obtido nofragmento referência. Os fragmentos que obtiveram umIIB até 90% do fragmento referência foram consi<strong>de</strong>radoscomo <strong>de</strong> alta Integrida<strong>de</strong> Biótica; aqueles com valoresabaixo <strong>de</strong> 90%, porém acima <strong>de</strong> 60%, foram consi<strong>de</strong>rados<strong>de</strong> Integrida<strong>de</strong> Biótica média. Os fragmentos comvalores <strong>de</strong> IIB abaixo <strong>de</strong> 60% do fragmento referência foramconsi<strong>de</strong>rados <strong>de</strong> baixa Integrida<strong>de</strong> Biótica.Análises estatísticas: Uma regressão linear simples foi<strong>de</strong>senvolvida entre o IIB e a área (ha) dos fragmentos. Avariável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte foi o IIB e a variável in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntefoi a área do fragmento. Para aten<strong>de</strong>r a homogeneida<strong>de</strong>da variância transformamos os dados da área (ha) dosfragmentos em uma função logarítmica. Correlação (Pearson)entre o IIB e a riqueza dos fragmentos também foiobtida. Para a regressão e correlação utilizou-se o programaSYSTAT 8.0. Os corredores florestais foram excluídosRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palomino33riqueza. Essa representativida<strong>de</strong> variou <strong>de</strong> 8,1% a 23,9%(Média ± DP : 18,07 ± 3,85, n = 34), os valores os quaisse afastaram <strong>de</strong>ssa média, foram dois fragmentos urbanos,os quais obtiveram um valor em torno <strong>de</strong> 9% (9,5% e8,1%; respectivamente FU1 e FU2).dISCuSSãoFIGura 2: Regressão entre os valores <strong>de</strong> IIB e a área dos fragmentos.Para aten<strong>de</strong>r a homogeneida<strong>de</strong> da variância transformamos os dados<strong>de</strong> área (ha) em uma função logarítmica.FIGure 2: Regression between IBI values and fragments areas (ha).To take care of the homogeneity of the varience we transformed thearea data (ha) in a logaristhmic function.em ambas as análises. Em alguns fragmentos (FR6; FR9;FR16; FR18 e FU3) não foram obtidos dados <strong>de</strong> riqueza,estes fragmentos foram excluídos da análise <strong>de</strong> correlação.rESultadOSO maior IIB foi obtido em PG (0,85), o qual foiconsi<strong>de</strong>rado como fragmento referência para o presenteestudo. O segundo fragmento florestal com maior IIB foio FI (0,80). O menor valor <strong>de</strong> IIB foi encontrado emum fragmento urbano (FU2, com 0,1).Os corredoresflorestais apresentaram valores <strong>de</strong> IIB entre 0,38 e 0,52(Tabela 2).Utilizando o PG como referência, apenas um fragmento,FI, apresentou uma Integrida<strong>de</strong> Biótica alta(0,94). Cinco fragmentos (FM, FJ, FG, FR3 e CA)apresentaram uma Integrida<strong>de</strong> Biótica média e os outros32 fragmentos apresentaram Integrida<strong>de</strong> Biótica baixa(Tabela 2).A regressão entre o tamanho dos fragmentos e seusvalores <strong>de</strong> IIB mostrou, como esperado, a existência <strong>de</strong>uma relação positiva (r 2 = 0,34; P < 0,01; F = 18,02). Assimhouve a tendência <strong>de</strong> alto valor <strong>de</strong> IIB em fragmentosflorestais maiores (Figura 2). Também houve correlaçãoentre a riqueza (número <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves) e o IIB (Pearson;r = 0,829, P < 0,01).Nos fragmentos estudados, as 30 espécies <strong>de</strong> avesrelacionadas representaram aproximadamente 20% daOs valores <strong>de</strong> IIB obtidos foram coerentes com o conhecimentodisponível sobre os efeitos da fragmentaçãoflorestal (Debinski e Holt 2000, Fahrig 2003). O maiorvalor <strong>de</strong> IIB foi obtido no maior fragmento florestal oqual é, ao mesmo tempo, o melhor conservado, o PG. OFR1 (com 832 ha) é maior que PG (656 ha), porém gran<strong>de</strong>parte <strong>de</strong>le (em torno <strong>de</strong> 40%) é constituído por matasecundária em avançado estado <strong>de</strong> recuperação. O outroúnico fragmento florestal consi<strong>de</strong>rado neste estudo como<strong>de</strong> alta Integrida<strong>de</strong> Biótica (tendo como referência o PG)é o FI, o qual não po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte(184 ha), porém está ligado por um corredor florestal aoFJ (393 ha), o que soma uma área total <strong>de</strong> 577 ha (Figura1). Tamanho e isolamento são variáveis que influenciamna persistência das espécies nos fragmentos (Karr1982, Bierregaard e Stouffer 1997, Stratford e Stouffer1999). Uezu et al. (2005) analisaram como o tamanhodo fragmento e seu grau <strong>de</strong> conectivida<strong>de</strong> (estrutural efuncional) explicam variações da abundância <strong>de</strong> sete espécies<strong>de</strong> aves em uma paisagem fragmentada na região <strong>de</strong>Ibiúna (próxima à cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo). Naquele estudoa abundância em espécies <strong>de</strong> aves frugívoras foi mais afetadapela variação do tamanho do fragmento enquantoque insetívoras tiveram a conectivida<strong>de</strong> como fator maisimportante (Uezu et al. 2005). Na mesma região <strong>de</strong> Ibiúna,<strong>de</strong>sta vez englobando 62 espécies, Martensen et al.(2008) <strong>de</strong>monstraram que a área do fragmento e sua conectivida<strong>de</strong>(existência <strong>de</strong> corredor ou distância ao fragmentomais próximo) influenciam diferentemente gruposfuncionais <strong>de</strong> aves. No presente estudo os valores <strong>de</strong> IIBforam baixos justamente em fragmentos pequenos e maisisolados (FR11; FR12; FR13; FR15; FR16 e FR18). Nosfragmentos urbanos (FU1, FU2, FU3), os quais são menosconservados que os rurais, além <strong>de</strong> também serempequenos e isolados, o IIB atingiu os menores valores.A permeabilida<strong>de</strong> da paisagem no entorno dos fragmentosinfluencia na riqueza <strong>de</strong> espécies, como sugeridoem estudo <strong>de</strong>senvolvido na região amazônica (Antogiovanie Metzger 2005). A paisagem no entorno dos fragmentosestudados no norte do Paraná é pouco permeávelàs aves, o que salienta o efeito do isolamento. Uma paisagemmais permeável, supostamente, influenciaria em ummaior número <strong>de</strong> espécies e, eventualmente, em maiorvalor <strong>de</strong> IIB dos fragmentos.O IIB se mostrou correlacionado com a riqueza <strong>de</strong>aves dos fragmentos, o que seria esperado, pois locais comRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


34 Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palominoalto número <strong>de</strong> espécies também apresentam uma gran<strong>de</strong>percentagem <strong>de</strong> espécies sensíveis (Anjos 2006), o queaumenta o valor do Índice. A vantagem <strong>de</strong> utilizar o IIBao invés da riqueza <strong>de</strong> espécies do fragmento para caracterizaçãoda Integrida<strong>de</strong> Biótica está na maior facilida<strong>de</strong><strong>de</strong> treinamento <strong>de</strong> pessoal na i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> um menornúmero <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves. No presente estudo foram relacionadas30 espécies <strong>de</strong> aves, <strong>de</strong>ntre a cerca <strong>de</strong> 250 queocorrem no conjunto dos fragmentos. Um programa <strong>de</strong>monitoramento po<strong>de</strong> ser implantado, por exemplo, comum treinamento específico para i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> poucasespécies <strong>de</strong> aves, as quais não são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>para registro em campo.O esforço amostral é uma importante variável a serconsi<strong>de</strong>rada para obtenção do IIB. Em estudo anterior noPG, <strong>de</strong>monstrou-se que quatro manhãs <strong>de</strong> amostragem,utilizando o método por pontos, é eficiente para o registro<strong>de</strong> uma consi<strong>de</strong>rável proporção <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves (Anjos2007). Em Anjos (2007) <strong>de</strong>monstrou-se que uma das espéciesrelacionadas neste estudo, Aratinga auricapillus, foiregistrada em todos os quatro dias <strong>de</strong> amostragem, a qualpo<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada <strong>de</strong> ocorrência regular e uma importanteindicadora biológica. Assim, consi<strong>de</strong>ra-se que quatromanhãs <strong>de</strong> amostragem são necessárias para a composiçãodo IIB. Sugere-se que as amostragens <strong>de</strong>vem ser realizadasna primavera/verão on<strong>de</strong> a ativida<strong>de</strong> das aves é alta. Devidoà ativida<strong>de</strong> vocal <strong>de</strong> certas espécies estar concentradano amanhecer, como por exemplo, em Tinamus solitarius eCrypturellus undulatus (Sick 1997), sugere-se que as amostragens<strong>de</strong>vam começar logo com o nascer do sol. Uma ferramentaque po<strong>de</strong>ria aumentar a <strong>de</strong>tecção das espécies <strong>de</strong>aves e assim melhorar a potencialida<strong>de</strong> das amostragens é agravação do som das espécies. Isto é, utilizar gravações dasespécies selecionadas na composição do IIB para estimulara manifestação vocal das aves e facilitar o registro <strong>de</strong>las,um procedimento aplicado por Boscolo et al. (2006).Além da avaliação entre fragmentos, o IIB po<strong>de</strong>ser usado no monitoramento ambiental, po<strong>de</strong>ndo atuarcomo um indicador <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ou recuperação. Alteraçõessignificativas no valor do IIB, as quais refletiriamem alterações na comunida<strong>de</strong> ao longo do tempo,po<strong>de</strong>riam ser compreendidas como sinais <strong>de</strong> <strong>de</strong>gradaçãoflorestal (<strong>de</strong>gradação do habitat que leva a alterações naestrutura da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado local com perda<strong>de</strong> espécies) ou <strong>de</strong> recuperação (no caso <strong>de</strong> uma matasecundária ou <strong>de</strong> uma área <strong>de</strong>gradada colonizada por espécies<strong>de</strong> aves florestais).Na elaboração do IIB para comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> peixesem córregos da América do Norte utilizou-se um total <strong>de</strong>12 parâmetros biológicos (Karr 1981). No presente estudoutilizou-se apenas um parâmetro, o da sensibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> aves à fragmentação florestal; consi<strong>de</strong>ra-se, entretanto,que esta sensibilida<strong>de</strong> é o resultado do conjunto <strong>de</strong> fatoresbióticos e abióticos limitantes, sendo uma expressão doconjunto <strong>de</strong> parâmetros apresentados por Karr (1981).Embora o IIB apresentado tenha sido <strong>de</strong>senvolvidopara a região <strong>de</strong> Londrina, sua aplicabilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> sermais ampla englobando a região norte do Paraná; acredita-seque, neste caso, a sensibilida<strong>de</strong> das espécies sejasimilar. Para que seja aplicado a<strong>de</strong>quadamente em outraspaisagens fragmentadas, entretanto, é necessário queseja <strong>de</strong>terminado previamente o nível <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> àfragmentação florestal das espécies <strong>de</strong> aves na região emquestão. Tal procedimento é crítico porque o nível <strong>de</strong>sensibilida<strong>de</strong> das espécies <strong>de</strong> aves à fragmentação florestalpo<strong>de</strong> ser diferente em diferentes regiões, como <strong>de</strong>monstradoem Anjos (2006), quando as paisagens fragmentadasdas regiões <strong>de</strong> Londrina (Paraná) e <strong>de</strong> Viçosa (MinasGerais) foram comparadas. Para avaliar a aplicabilida<strong>de</strong>do procedimento sugerido no presente estudo, foi obtidoo IIB <strong>de</strong> um fragmento florestal <strong>de</strong> 1.451 ha (22°45’S e48°09’O), localizado na Fazenda Barreiro Rico no município<strong>de</strong> Anhembi, São Paulo, que está relativamentedistante do norte do Paraná, utilizando a lista <strong>de</strong> espéciesapresentada em Antunes (2005). Por ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porteo valor do IIB <strong>de</strong>veria ser alto, o que não se confirmou,atingindo apenas 0,47. A explicação po<strong>de</strong> ser justamenteo fato <strong>de</strong> tratar-se <strong>de</strong> uma outra paisagem fragmentada,eventualmente com processos evolutivos distintos, on<strong>de</strong>as sensibilida<strong>de</strong>s das espécies à fragmentação florestal sãoprovavelmente diferentes daquelas a elas atribuídas nonorte do Paraná. Uma explicação alternativa seria o histórico<strong>de</strong> <strong>de</strong>gradação ambiental da Fazenda Barreiro Rico, aqual é <strong>de</strong>scrita em Antunes (2005). Assim, os dados apresentadosno presente estudo sugerem a importância doIIB, porém recomendam cautela em sua utilização.AgradECIMEntOSO Instituto Ambiental do Paraná (IAP) permitiu e apoiouo presente estudo nas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação, especialmenteno Parque Estadual Mata dos Godoy (permissões 36/07; 51/07).Agra<strong>de</strong>cemos também aos proprietários rurais on<strong>de</strong> se situam osoutros fragmentos florestais estudados. O primeiro autor recebe Bolsa<strong>de</strong> produtivida<strong>de</strong> em pesquisa do CNPq (processo 302556/2004‐4).Sugestões <strong>de</strong> dois revisores anônimos melhoraram substancialmente aversão final <strong>de</strong>ste manuscrito.ReferênCIASAnjos, L. dos. (2001a). 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Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palomino35Anjos, L. dos. (2007). A eficiência do método <strong>de</strong> amostragem porpontos <strong>de</strong> escuta na avaliação da riqueza <strong>de</strong> aves. Revista <strong>Brasileira</strong><strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, 15(2):239‐243.Anjos, L. dos.; Zanette, L. e Lopes, E. D. (2004). Effects offragmentation on the bird guilds of Brazilian Atlantic Forestin the north Paraná, southern Brazil. <strong>Ornitologia</strong> Neotropical,15(Suppl):137‐144.Antongiovanni, M. e Metzger, J. P. (2005). Influence of matrix onthe ocurrence of insectivorous bird species in Amazonian forestfragments. 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36 Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica:um estudo <strong>de</strong> caso no norte do Estado do Paraná, sul do BrasilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando PalominoApêndice 1: Espécies <strong>de</strong> aves as quais foram verificada presença/ausência nos fragmentos florestais. Organizadas <strong>de</strong> acordocom seus níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> à fragmentação florestal,conforme Anjos (2006), com seus respectivos pesos atribuídos. Ataxonomia segue o Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (2008).Appendix 1: Bird species which the presence/absence was verified in forest fragments. Arranged according to their levelsof sensitivity to forest fragmentation, as Anjos (2006), with their assigned weights. The taxonomy follow the ComitêBrasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos (2008).Alta Sensibilida<strong>de</strong> (Peso 3)Tinamus solitarius; Crypturellus undulatus; Aratinga auricapillus; Pionopsitta pileata; Trogon rufus; Pteroglossus bailloni;Pteroglossus aracari; Campephilus robustus; Drymophila rubricollis; Grallaria varia.Média Sensibilida<strong>de</strong> (Peso 2)Aratinga leucophthalma; Trogon surrucura; Baryphthengus ruficapillus; Ramphastos dicolorus; Seleni<strong>de</strong>ra maculirostris;Melanerpes flavifrons; Chamaeza campanisona; Sittasomus griseicapillus; Xiphocolaptes albicollis; Chiroxiphia caudate.Baixa Sensibilida<strong>de</strong> (Peso 1)Crypturellus obsoletus; Crypturellus parvirostris; Thamnophilus caerulescens; Pyriglena leucoptera; Conopophaga lineata;Automolus leucophthalmus; Cyclarhis gujanensis; Trichothraupis melanops; Basileuterus culicivorus; Basileuterusleucoblepharus.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


ARTIGO Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):37-40março <strong>de</strong> 2009The use of playbacks can influence encounterswith birds: an experimentAndré Magnani Xavier <strong>de</strong> Lima and James Joseph RoperUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná, Graduate Program in Ecology and Conservation, Caixa Postal 19031, CEP 81531‐980, Curitiba, PR, Brasil.E‐mail: andremxlima@uol.com.br; jjroper@gmail.comRecebido em <strong>17</strong>/07/2008. Aceito em 15/06/2009.Resumo: O uso <strong>de</strong> Playbacks po<strong>de</strong> influenciar encontros com aves: um experimento. A reprodução do repertório sonoro“playback” costuma ser utilizada para atrair aves tanto para visualizá-las como para capturá-las. O uso combinado <strong>de</strong> playback ecaptura po<strong>de</strong> afetar o comportamento das aves <strong>de</strong> modo que a continuida<strong>de</strong> do uso po<strong>de</strong> não gerar os resultados <strong>de</strong>sejados na coleta<strong>de</strong> dados. Neste trabalho estudamos efeitos do uso <strong>de</strong>sta técnica na <strong>de</strong>tectabilida<strong>de</strong> das aves subseqüente ao uso <strong>de</strong> playback. Avesexpostas a playbacks ten<strong>de</strong>m a se aproximar menos do observador nas amostragens subseqüentes. Estas aves ainda respon<strong>de</strong>m <strong>de</strong>modo mais breve aos playbacks em relação a indivíduos que nunca tiveram contato prévio com esta técnica. É possível que a capturaem si tenha menor ou pouca importância nos comportamentos posteriores das aves. Consi<strong>de</strong>rando o amplo uso <strong>de</strong> playbacks,recomendamos atenção para as análises em estudos populacionais que utilizam este método.PALAvRAs-Chave: playback, viés amostral, Conopophaga melanops, Drymophila squamata, Myrmeciza squamosa, experimentoAbsTRACT:Playback of recor<strong>de</strong>d bird songs is often used to attract birds for sighting as well for captures. The combined useof playbacks and captures may in fact change the behavior of birds such that the response to playbacks does not reflect responsesto natural songs. Here we studied whether the use of playbacks changes <strong>de</strong>tectability of the birds. Birds previously exposed toplaybacks (experienced birds) did not approach the sound source as closely as did naive birds in playback trials. The response timeof experienced birds is also shorter than that of naive birds. Limited data suggest that the biased response to playbacks is unrelatedto whether the bird was captured. Consi<strong>de</strong>ring the common use of playback, we recommend caution in the analysis in populationstudies in which playbacks are used.Key-Words: playback, bias, Black-cheeked Gnateater, Scaled Antbird, Squamate Antbird, experiment.The use of playbacks may be a useful tool for avariety of studies of bird behavior, ecology, and populationdynamics. Studies of vocalization and behaviorin birds often use playbacks of recor<strong>de</strong>d bird songs togather data of the role of those songs (Ficken and Ficken1970, Verner and Milligan 1971, Simpson 1984, Rigelskiand Mol<strong>de</strong>nhauer 1996, Kroodsma 2005). Otherstudies, especially those of survival, reproductive successand population dynamics, often require that birdsbe captured and uniquely color-ban<strong>de</strong>d (Kearns et al.1998, Bayne and Hobson 2002, Hansen and Slagsvold2003, Roper 2005). In these studies, recor<strong>de</strong>d songsmay be used to attract birds to nets to improve captureprobabilities. Later, marked birds must then be foundagain to gather the relevant data, where re-sightingmarked birds is equivalent to recapture. If birds are difficultto find or bands difficult to read, researchers mayagain use playbacks to attract the birds for sighting orrecapture.If birds that were previously exposed to playbacksbehave differently than unexperienced birds (<strong>de</strong>nominatedhere as naive birds), then this bias must be taken intoconsi<strong>de</strong>ration when analyzing data. If this bias exists, thenbirds exposed to playbacks are likely to respond to playbacksdifferently than they would to songs of neighboringbirds. Also, if sighting of birds is required and birds thatwere previously captured by the use of playbacks behavedifferently than naive birds, then using playbacks will resultin a biased sampling. Here we tested whether birdsthat had been exposed to playbacks and capture respon<strong>de</strong>ddifferently to playbacks than did naive birds.MethodsThis study took place in the Salto Morato NatureReserve (25°10’S, 48°18’W) in southern Brazil. The reservecomprises coastal tropical Atlantic Forest, relatively


38 The use of playbacks can influence encounters with birds: an experimentAndré Magnani Xavier <strong>de</strong> Lima and James Joseph Roperclose to the city of Guaraqueçaba, in the state of Paraná.Experimental use of playbacks inclu<strong>de</strong>d three species ofinsectivorous, permanently territorial, un<strong>de</strong>rstory forestbirds: the Black-cheeked Gnateater (Conopophaga melanops,Conopophagidae), the Scaled Antbird (Drymophilasquamata) and the Squamate Antbird (Myrmeciza squamosa,both Thamnophilidae).Birds were captured beginning in July 2006. By September2006, males of C. melanops (n = 10), D. squamata(n = 6) and M. squamosa (n = 3) and three females ofC. melanops were captured and uniquely color-ban<strong>de</strong>d, allprior to the beginning of the experiment proposed in thecurrent study. Captures were carried out by using playbacksto attract birds to the mist-nets. All of these wererandomly exposed at least two times to playbacks of threedifferent recor<strong>de</strong>d songs. Songs <strong>de</strong>stined to be used asplaybacks were recor<strong>de</strong>d nearby, but not in the study area,prior to the beginning of the experiment. Three distinctiverecor<strong>de</strong>d territorial songs per species were used for all tests.Since these three species are territorial and pairstravel together, playbacks exposed both members of eachpair to the playback. Thus, we consi<strong>de</strong>r each pair as naiveor unexperienced (if there was no attempt at capture withthe use of playback) or experienced (at least one memberof the pair captured after the use of playback), accordingto the area where the playbacks were conducted.Also, since members of a pair travel together, exposingone to playbacks also exposes the other. Thus, when onlyone member of a pair was color-ban<strong>de</strong>d, we assumed theother was the mate who was also exposed. Observationsindicate that this assumption is valid since pairs remaintogether while on an established territory within onebreeding season (Lima and Roper in review).ExperimentTwo areas (each ~20 ha, separated by > 300 m) wereused in the experiment, one with experienced birds (previouslyexposed to playbacks) and the other with naive birds(never exposed to playback). Playbacks of each of the threespecies were used to attract birds during a nine day intervalin late October 2006, in the breeding season of these species.In the experienced area, playbacks were used in 12locations, and in the naive area playbacks were used in 22locations. Playback locations were used only once each inthe naive area. All playback locations were a minimum of100 m from each other. Each day of the experiment thelocation of the playback was selected randomly, with theconstraint that adjacent territories were never used on thesame or the following day. Each day 20 locations were used.The experiment was carried out throughout the dayat all 20 daily playback points and began with two repetitionsof the recor<strong>de</strong>d song. Playbacks lasted for 6 minafter the initial response (<strong>de</strong>fined as singing nearby orFIGure 1: A comparison between Naive and Experienced birds ofthe Nearest Approach Distance (A) and Stay Time (B) for Conopophagamelanops and Drymophila squamata (only Distance, C), showingthat experienced birds tend to remain farther from the sound source(A, C), and they leave the area sooner (B), than do naive birds. Averagesand 95% confi<strong>de</strong>nce intervals are shown (A and C, all P < 0.05).In the distance comparison, values were log transformed prior to testingto normalize the residuals, and therefore the Y‐axis is logarithmic.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


The use of playbacks can influence encounters with birds: an experimentAndré Magnani Xavier <strong>de</strong> Lima and James Joseph Roper39FIGure 2: Approach distance (left axis, circles) and Stay Time (rightaxis, triangles) for C. melanops compared between captured-and-ban<strong>de</strong>dbirds (white) and attempt-to-capture birds (black), both exposed toplaybacks, showing that <strong>de</strong>spite the small sample size, both treatmentsfall within the same range, suggesting that the effect shown in Figure 1is due to playback and not capture per se.approaching the loudspeaker < 30 m). During the 6 min,the closest distance that the bird approached the loudspeakerwas measured (Minimum Approach Distance).Duration of the response (Stay Time) was timed, beginningwith the first sign of response (song or approach) andlasted until the bird lost interest and flew away (> 30 m),or 6 min, whichever came first. Immediately after 6 minthe experiment was moved to the next location and repeated.If there was no response by the target species tothe playback within 5 min, the experiment was moved tothe next location.The unit of analysis was each individual response. Ifboth birds of the pair respon<strong>de</strong>d, only that of the first individualseen was used for the main analysis. In the test ofthe <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ncy of the capture and playback exposure, weinclu<strong>de</strong>d responses of unmarked males mated to the threemarked females of C. melanops. Minimum Approach Distance(meters) was compared between naive and experiencedbirds with t‐tests. Since Stay Time was censored(that is, not continuous because it has a maximum cut-offat 360 seconds) we used Proportional Hazards SurvivalAnalysis to compare the two treatments. All tests used a<strong>de</strong>cision rule of α = 0.05.ResuLTsDistance was log-normally distributed and so analyseswere based on log e-transformed data; in the <strong>de</strong>scriptionthe values were back transformed. Naive C. melanops approachedmore closely (2.8 m versus 11.1 m for experiencedbirds, t 18= 4.34, P < 0.05, Figure 1A) and stayedlonger (302.6 s versus 157.8 s, log-likelihood ratioχ 2 = 6.18, d.f. = 1, P < 0.05, Figure 1B) than experiencedbirds. naive D. squamata also approached more closely(3.3 m versus 6.8 m, t 14= 2.89, P < 0.05, Figure 1C).Stay Time for D. squamata was similar for naive and experiencedbirds and most birds stayed the entire 6 min (2experienced birds had shorter stay times). Sample size forM. squamosa did not allow statistical comparison, yet theone naive individual approached more closely than didthe three experienced individuals (3.0 m versus 5.5‐8.0 mrespectively).While the sample size was small to test for the effectsof actual capture, with C. melanops a simple comparisonwas possible for Minimum Approach Distance and StayTime. Uncaptured but experienced individuals (n = 2)were within the ranges of values of the captured individuals(Figure 2).dIscussionThe use of playbacks may result in changes in theresponses of the birds being studied. These responsesmay influence the probabilities of resighting and recapture,when playbacks are used. These changes have implicationsfor studies of avian behavior and ecology whenplaybacks are used. In studies that specifically examinebird song (Ficken and Ficken 1970, Martin 1980, Richards1981, Rigelski and Mol<strong>de</strong>nhauer 1996, Kroodsma2005), the repeated use of playbacks may have causedbiased responses by the birds which would lead to subsequentbiased analyses. We suggest that the response tothe first exposure to a playback might be the only unbiasedresponse by territorial forest birds. The use of differentrecor<strong>de</strong>d songs for each trial may resolve this issueand only further testing will confirm this possibility (e.g.,Dabelsteen and McGregor 1996). In nature, singing interlopersare usually visible to and interactive with theterritory occupant. Once the bird arrives at the locationof the sound-source, the playback may no longer elicitcorrect or typical responses of the territory owner, sincethere is no subsequent behavioral interaction.Behavioral studies that use playbacks to elicit responsesmust also take into consi<strong>de</strong>ration that the biased“experiment effect” may be important. For example, ifcensuses inclu<strong>de</strong> seasonal (e.g., Yahner and Ross 1995)or annual (Boscolo et al. 2006) estimates of bird abundance,then a bias may be expected that <strong>de</strong>creases withtime since the last capture or playback trial. Due to theshort time interval of this study, it is unclear whether thisbias <strong>de</strong>creases with time, or whether birds become moreaccustomed to playbacks and change their response evenRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


40 The use of playbacks can influence encounters with birds: an experimentAndré Magnani Xavier <strong>de</strong> Lima and James Joseph Roperfurther. Many ornithologists recognize that birds maylearn to ignore playbacks. In<strong>de</strong>ed, there are anecdotal reportsof popular birding locations where birds no longerrespond to playbacks because of their intense and continueduse (personal communications with several ornithologistsand online discussion groups, Neoorn‐l archives,www.museum.lsu.edu/~Remsen/NEOORNintro).For mark-and-recapture studies, this bias has severalimplications. First capture probabilities will <strong>de</strong>pend onwhether the birds are naive or experienced with respectto playbacks (Amstrup et al. 2005). Also, if playbacks areinvolved, recapture probabilities should be assumed to bedifferent from initial capture probabilities. If birds maybe captured or found both with and without using playbacks,then the use of playbacks must be consi<strong>de</strong>red inthe mo<strong>de</strong>l. In other words, if other birds show the samepatterns as these, then capture and recapture probabilitiesboth <strong>de</strong>pend whether playbacks were used, and the appropriateadjustments must be ma<strong>de</strong> in the mo<strong>de</strong>ls (Amstrupet al. 2005). On the other hand, if playbacks areonly used to find individuals and not estimate populationparameters (e.g., Roper 2003, 2005) then the associatedbias will be unimportant.Similarly, distance methods for estimating populationsize should not inclu<strong>de</strong> the use of playbacks due tothe assumptions of the methods (Buckland et al. 2004).Biases would come from two sources that both violate theassumptions: experienced birds will remain farther fromthe observer, and naive birds will stay longer in the area,increasing the probability of encounter.Additionally, playbacks, perhaps surprisingly, mayhave a greater influence on behavior than does bird capture(Figure 2), suggesting that these effect are due to theplayback itself and not due to the capture of the birds.Perhaps, from the bird perspective, to be held is lessmemorable than an apparent and strange interloper inthe territory. Further study with larger sample sizes willbe nee<strong>de</strong>d to a<strong>de</strong>quately test this.In summary, the use of playbacks for some aspectsof study must be avoi<strong>de</strong>d, such as estimating populationsize. For un<strong>de</strong>rstanding behavior associated with songs,the use of playbacks is more complicated, since responsemay only occur after the use of playbacks. Nevertheless,the use of playbacks and the interpretation of the resultsrequire well-<strong>de</strong>signed experiments that control for the introducedbias (examples in Kroodsma 2005).ACKnoWLedgementsWe would like to thank all field assistants (Flora HML,Arthur GN and Michel VG) and the Field Ecology 2006 course ofthe Graduate Program in Ecology and Conservation of the Fe<strong>de</strong>ralUniversity of Paraná, Brazil, for conceptual and moral support withthis experiment. IBAMA/CEMAVE provi<strong>de</strong>d licenses for captureand banding. CAPES provi<strong>de</strong>d a fellowship to AMXL. We thank theFundação O Boticário para a Proteção <strong>de</strong> Natureza for the use of SaltoMorato Nature Reserve, where the research took place, and financialsupport. Special thanks also to the Reserve manager Paulo Chaves andtwo anonymous reviewers.LITeRATure CITedAmstrup, S. C.; McDonald, T. L. and Manly, B. F. J. (2005). (eds.)Handbook of Capture-Recapture Analysis. Princeton UniversityPress, Princeton.Bayne, E. M. and Hobson, K. A. (2002). Annual survival of adultAmerican Redstarts and Ovenbird in the southern boreal forest.Wilson Bull., 114:358‐367.Boscolo, D.; Metzger, J. P. and Vielliard, J. M. E. (2006). Efficiencyof playback for assessing the occurrence of five bird speciesin Brazilian Atlantic Forest fragments. An. Acad. Bras. Ciênc.,78:629‐644.Buckland, S. T.; An<strong>de</strong>rson, D. R.; Burnham, K. P.; Laake, J. L.;Borchers, D. L. and Thomas, L. (2004). Introduction to DistanceSampling, Oxford Press, Oxford. Oxford Press, Oxford.Dabelsteen, T. and McGregor, P. K. (1996). Dynamic acousticcommunication and interactive playback. Pp. 398‐408. In: D. E.Kroodsma and E. H. Miller (eds.), Ecology and Evolution of AcousticCommunication in Birds. Cornell Univ. Press, Ithaca, New York.Ficken, M. S. and Ficken, R. W. (1970). Responses of Four WarblerSpecies to Playback of their Two Song Types. Auk, 87:296‐304.Hansen, B. T. and Slagsvold, T. (2003). Rival imprinting:interspecifically cross-fostered tits <strong>de</strong>fend their territories againstheterospecific intru<strong>de</strong>rs. An. Behav., 65:11<strong>17</strong>‐1123.Kearns, G. D.; Kwartin, N. B.; Brinker, D. F. and Haramis, G.C. (1998). Digital playback and improved trap <strong>de</strong>sign enhancescapture of migrant Soras and Virginia Rails. J. Field Ornithol.,69(3):466‐473.Kroodsma, D. (2005). The Singing Life of Birds: the Art and Science ofListening to Birdsong. Houghton Mifflin Company, Boston.Lima, A. M. X. and Roper, J. J. (2009). Population dynamicsof the black-cheeked gnateater (Conopophaga melanops,Conopophagidae) in southern Brazil. J. Tropical Ecol., 25:1-9.Martin, D. J. (1980). Response by Male Fox Sparrows to Broadcast ofParticular Conspecific Songs. Wilson Bull., 92:21‐32.Richards, D. G. (1981). Estimation of Distance of SingingConspecifics by the Carolina Wren. Auk, 98:127‐133.Rigelski, D. J. and Mol<strong>de</strong>nhauer, R. R. (1996). DiscriminationBetween Regional Song Forms in the Northern Parula. WilsonBull., 108:335‐341Roper, J. J. (2003). Nest-sites influence predation differently atnatural and experimental nests. Ornitol. Neotrop., 14:1‐14.Roper, J. J. (2005). Try and try again: Nest Predation FavorsPersistence in a Tropical Bird. Ornitol. Neotrop., 16:253‐262.Simpson, B. S. (1984). Tests of Habituation to Song Repertoires byCarolina Wrens. Auk, 101:244‐254.Verner, J. and Milligan, M. M. (1971). Responses of Male WhitecrownedSparrows to Playback of Recor<strong>de</strong>d Songs. Condor,73:56‐64.Yahner, R. H. and Ross, B. D. (1995). Seasonal response of WoodThrushes to taped-playback songs. Wilson Bull., 107:739‐741.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


ARTIGO Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):41-52março <strong>de</strong> 2009Etnoecologia, etnotaxonomia e valoraçãocultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais doTriângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki 1,2 ; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido 1 e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha 11 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia, Instituto <strong>de</strong> Biologia, Caixa Postal 593, CEP 38400‐902, Uberlândia, MG, Brasil.2 E‐mail: patriciathieme@yahoo.com.brRecebido em 29/05/2009. Aceito em 14/08/2009.ABSTrACT: Ethno-ecology, ethno-taxonomy and cultural value of Psittacidae in rural districts of the Triângulo Mineiroregion, Brazil. Studies in Ethno-biology search to un<strong>de</strong>rstand the knowledge of local populations about the environment as startingpoint for the success of conservation strategies. Researches in Ethno-ornithology field are still incipient in the Triângulo Mineiroregion. This research investigated the local knowledge of the inhabitants of the rural districts of Cruzeiro dos Peixotos, Martinésia andTapuirama (Uberlândia, MG) on the ecology, behavior, taxonomy, nomenclature and economic-cultural aspects of the Psittacidaeof the region, pointing the agreements and disagreements between the scientific knowledge and the local knowledge. It was usedfor data collection semi-structured interviews and presentation of audio-visual materials. Amazona aestiva, Ara ararauna, Aratingaaurea, Aratinga leucophthalma, Brotogeris chiriri and Forpus xanthopterygius were the Psittacidae species most cited at all stages ofthe work, and there was an increase in the percentage of citations after presentation of the plates. These species most rememberedand recognized by informants also had their vocalizations more easily i<strong>de</strong>ntified, although the acoustic i<strong>de</strong>ntification has not beenas accurate as the visual i<strong>de</strong>ntification, due to the great similarity of the vocalization of Psittacidae. Damages in crop and electricalwiring were cited as problems for human. Psittacidae traffic is known by informants, who are aware of the illegality of that tra<strong>de</strong>.Interviewees informations about breeding and nesting of Psittacidae are similar to the data from scientific literature. They i<strong>de</strong>ntifiedthe localization of the nests ranging between Psittacidae and spoke of parental care by both parents. It was perceived that involvinglocal populations in ethno-biological researchs stimulates a rediscovery of the environment around them, which favors the practiceof conservation actions and provi<strong>de</strong>s rescue of cultural knowledge.Key-Words: Ethno-ornithology. Psittacidae. Local knowledge. Rural districts. Conservation strategies.rESuMO: Estudos em Etnobiologia buscam compreen<strong>de</strong>r o conhecimento <strong>de</strong> populações locais acerca do ambiente como ponto<strong>de</strong> partida para o sucesso <strong>de</strong> estratégias conservacionistas. Pesquisas em Etnoornitologia são ainda incipientes na região do TriânguloMineiro. Esta pesquisa investigou o conhecimento local dos moradores dos distritos rurais <strong>de</strong> Cruzeiro dos Peixotos, Martinésiae Tapuirama (Uberlândia, MG) sobre ecologia, comportamento, taxonomia, nomenclatura e aspectos econômico-culturaisdos Psittacidae da região, apontando as concordâncias e discordâncias entre o conhecimento científico e o conhecimento local.Foram utilizados como instrumentos <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados entrevistas semi-estruturadas e apresentação <strong>de</strong> materiais áudio-visuais.Amazona aestiva, Ara ararauna, Aratinga aurea, Aratinga leucophthalma, Brotogeris chiriri e Forpus xanthopterygius foram as espécies<strong>de</strong> Psittacidae mais citadas em todas as etapas do trabalho, sendo que houve um aumento na porcentagem <strong>de</strong> citações após aapresentação das pranchas. Essas espécies mais lembradas e reconhecidas pelos informantes também tiveram suas vocalizações maisfacilmente i<strong>de</strong>ntificadas, embora a i<strong>de</strong>ntificação acústica não tenha sido tão acurada quanto a visual, <strong>de</strong>vido a gran<strong>de</strong> semelhança davocalização dos psitací<strong>de</strong>os. Prejuízos nas lavouras e na fiação elétrica foram citados como problemas para o homem. Os informantesmostraram conhecimento sobre o tráfico <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os e consciência da ilegalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse comércio. As informações dos entrevistadosquanto à reprodução e nidificação dos Psittacidae assemelham-se aos dados da literatura científica. Eles i<strong>de</strong>ntificaram a localizaçãodos ninhos conforme o psitací<strong>de</strong>o e falaram do cuidado parental por ambos os pais. Percebeu-se que envolver as populações locaisem pesquisas etnobiológicas estimula a re<strong>de</strong>scoberta do meio ao redor <strong>de</strong>las, o que favorece a prática <strong>de</strong> ações conservacionistas epropicia resgate cultural do conhecimento.PALAvrAS-Chave: Etnoornitologia, Psittacidae, Conhecimento local, Distritos rurais, Estratégias conservacionistas.A biodiversida<strong>de</strong> é utilizada pelo homem, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> osseus primórdios, para inúmeras finalida<strong>de</strong>s. A relação dohomem com o ambiente tem sido investigada pela Etnobiologia,uma área da ciência que consiste no estudodo conhecimento e das conceituações <strong>de</strong>senvolvidas porqualquer socieda<strong>de</strong> a respeito do complexo conjunto <strong>de</strong>relações dos elementos da natureza com socieda<strong>de</strong>s humanas(Berlin 1992).A natureza representa para essas populações um lugar<strong>de</strong> permanente observação, experimentação e aquisição


42 Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha<strong>de</strong> saberes (Berkes et al. 2000). Tentar enten<strong>de</strong>r esses conhecimentose a percepção <strong>de</strong> uma população sobre oambiente em que vive, com a intenção <strong>de</strong> valorizá-los eintegrá-los em ações visando à conservação ambiental, omanejo e a transformação dos espaços comunitários e escolares,observando a relação <strong>de</strong> mútua <strong>de</strong>pendência entrediversida<strong>de</strong> etnocultural e biodiversida<strong>de</strong>, é uma necessida<strong>de</strong>iminente e carece <strong>de</strong> mais atenção por parte <strong>de</strong>pesquisadores e educadores.As aves são animais que <strong>de</strong>spertam interesse nos humanos,agregando gran<strong>de</strong> importância ecológica e cultural.Nesse contexto surge a Etnoornitologia, <strong>de</strong>finida porFarias e Alves (2007) como “conjunto <strong>de</strong> estudos em quese busca compreen<strong>de</strong>r as relações cognitivas, comportamentaise simbólicas entre a espécie humana e as aves”.Os trabalhos Etnoornitológicos buscam compreen<strong>de</strong>r osprocessos cognitivos humanos em relação à ornitofaunaobservando padrões classificatórios e <strong>de</strong> nomenclatura,bem como a maneira que socieda<strong>de</strong>s humanas se relacionamcom as aves, comportamental e simbolicamente,visando ao estabelecimento <strong>de</strong> práticas <strong>de</strong> conservaçãobiológica e cultural (Farias e Alves 2007).Um dos táxons das Aves mais admirado em todo omundo é a família Psittacidae. Esta é constituída por 344espécies, sendo o Brasil o país mais rico, com 85 espécies reconhecidas(CBRO 2008). O gran<strong>de</strong> apreço dos humanospor esse grupo favorece o aprisionamento <strong>de</strong> espécimensselvagens em cativeiro e a biopirataria. Além <strong>de</strong>sses problemasque afetam essas aves, a perda do habitat tem sidoreconhecida como o principal fator para o <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> muitaspopulações <strong>de</strong> Psittacidae (IBAMA/CEMAVE 2003).Segundo o livro vermelho (CITES 2009) há 42 espécies<strong>de</strong>sse grupo ameaçadas <strong>de</strong> extinção. Desse modo, torna-sefundamental que sejam realizados estudos sobre a interrelaçãodas populações humanas com tais aves, tão afetadaspela <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> áreas naturais e tão apreciadas no tráficonacional e internacional, para que estratégias <strong>de</strong> conservaçãoe sensibilização ambiental sejam colocadas em prática.O campo da Etnoornitologia ainda é pouco exploradono Brasil e incipiente no Triângulo Mineiro, vistoque poucos trabalhos com essa abordagem foram publicadosnessa região (Cadima e Marçal-Júnior 2004, Almeidaet al. 2006). A escassez <strong>de</strong> trabalhos nessa área aparececomo uma contradição à boa documentação científica sobreas Aves, já que se acredita que 99% das espécies <strong>de</strong>ssegrupo já tenham sido <strong>de</strong>scritas (Sick 2001).Esta pesquisa teve como objetivo investigar o conhecimentodos moradores dos distritos rurais Cruzeiro dosPeixotos, Martinésia e Tapuirama (Uberlândia, MG) sobreecologia, comportamento, taxonomia, nomenclaturae aspectos econômico-culturais dos Psittacidae <strong>de</strong> ocorrêncianas áreas <strong>de</strong> estudo, buscando estabelecer articulaçõesentre o conhecimento científico e o conhecimentolocal, para subsidiar ações <strong>de</strong> sensibilização ambiental econservação a serem implementadas nos distritos.MATErIAL e MéTOdOSÁreas <strong>de</strong> estudoO município <strong>de</strong> Uberlândia encontra-se em domínios<strong>de</strong> Cerrado, na região do Triângulo Mineiro(18°55’23”S e 48°<strong>17</strong>’19”W). Possui mais <strong>de</strong> 600 milhabitantes (IBGE 2007), sendo constituído pelo distritose<strong>de</strong> e por quatro distritos rurais, os quais são formadospor um núcleo urbanizado e pelas fazendas e sítios do entorno.O presente estudo foi realizado nos distritos ruraisCruzeiro dos Peixotos, que está localizado a 27 km dase<strong>de</strong> do município e possui 1.<strong>17</strong>6 habitantes; Martinésia,que dista 32 km da se<strong>de</strong> e possui 871 habitantes; e Tapuirama,que possui 2.126 habitantes, estando distante40 km da se<strong>de</strong>.Gran<strong>de</strong> parte da população dos distritos possui rendamensal <strong>de</strong> 1 a 2 salários mínimos (IBGE 2007), subsistindobasicamente <strong>de</strong> práticas agrícolas e pecuária. Apesar<strong>de</strong> possuírem uma certa estrutura, com ruas asfaltadas,escolas e igrejas, os distritos mantêm ares “<strong>de</strong> roça” e seusmoradores cultivam hábitos “tradicionais e provincianos”,uma vez que suas relações <strong>de</strong> trabalho estão muito maisvoltadas para o campo do que para a cida<strong>de</strong> (PMU 2008).A vegetação original da região já foi praticamente dizimada,<strong>de</strong>vido às ativida<strong>de</strong>s agropecuárias e à instalaçãoda Usina Hidrelétrica Amador Aguiar (Capim Branco II)nas proximida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Cruzeiro dos Peixotos e Martinésia.A região <strong>de</strong> Uberlândia e seus distritos constitui área<strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> 14 espécies <strong>de</strong> Psittacidae: Alipiopsittaxanthops, Amazona aestiva, Amazona amazonica, Anodorhyncushyacinthinus, Ara ararauna, Aratinga aurea,Aratinga auricapillus, Aratinga leucophthalma, Brotogerischiriri, Diopsittaca nobilis, Forpus xanthopterygius, Orthopsittacamanilata, Pionus maximiliani e Primolius maracana(Sigrist 2007). Dessas, Alipiopsitta xanthops é endêmicado Cerrado e Anodorhyncus spp. e Primolius maracanaencontram-se no livro vermelho <strong>de</strong> proteção às espéciesameaçadas <strong>de</strong> extinção (CITES 2009).Escolha dos informantesOs primeiros contatos, para apresentação dos objetivosdo trabalho e estabelecimento <strong>de</strong> confiança entre aspartes, se <strong>de</strong>ram através da escola, em Cruzeiro dos Peixotos;do Conselho Comunitário <strong>de</strong> DesenvolvimentoRural, em Martinésia; e <strong>de</strong> moradores nascidos em Tapuirama,participantes <strong>de</strong> outras ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidaspelo grupo <strong>de</strong> pesquisa, ensino e extensão Etnobiologia,Conservação e Educação Ambiental, do Instituto <strong>de</strong> Biologiada Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia.Foram selecionados 10 informantes em cada distrito,resi<strong>de</strong>ntes há no mínimo 10 anos no local, sem instruçãoformal sobre Aves e dispostos a colaborar com oRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha43estudo. Em Cruzeiro dos Peixotos foram realizadas 11 entrevistas,uma vez que um dos informantes “se mudou”,sendo acrescido um novo informante para a realização dasegunda etapa da pesquisa.A seleção dos informantes diferiu entre os distritos,<strong>de</strong>vido a realida<strong>de</strong>s distintas encontradas nos mesmos.Nos distritos <strong>de</strong> Martinésia e Tapuirama todos os informantesforam selecionados pelo método “bola-<strong>de</strong>-neve”,no qual a inclusão progressiva <strong>de</strong> informantes culturalmentecompetentes se dá a partir das informações <strong>de</strong> umprimeiro informante, encontrado ao acaso, ou apontadopor um membro da comunida<strong>de</strong> (Silvano 2001). No distrito<strong>de</strong> Cruzeiro dos Peixotos, foram apontados comoinformantes-chave, pela comunida<strong>de</strong> escolar, dois moradoresque possuíam aves em gaiolas, registradas no órgãocompetente. Desse modo, a seleção dos informantes nestedistrito mesclou escolha aleatória e indicações através datécnica “bola-<strong>de</strong>-neve”.O perfil dos entrevistados foi construído a partir <strong>de</strong>perguntas sobre sexo, ida<strong>de</strong>, naturalida<strong>de</strong>, ocupação/profissão,grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> e tempo <strong>de</strong> residência no local.Coleta <strong>de</strong> dadosO estudo apresentou uma articulação entre os enfoquesêmico e ético, conforme sugerido por Marques(1995) para pesquisas etnocientíficas. Harris (2000) <strong>de</strong>finiucomo êmica a abordagem que <strong>de</strong>screve e interpretaenfaticamente o ponto <strong>de</strong> vista dos informantes/participantesda pesquisa, <strong>de</strong>screvendo seus sistemas sociais <strong>de</strong>pensamento e comportamento percebidos por eles próprios;já a abordagem ética enfatiza o ponto <strong>de</strong> vista do(s)pesquisador(es)/observador(es), <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> distinçõesconsi<strong>de</strong>radas apropriadas por observadores com instruçãocientífica formal.A pesquisa foi conduzida no período <strong>de</strong> novembro<strong>de</strong> 2006 a <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007 e dividiu-se em duas etapas:1) entrevistas semi-estruturadas direcionadas por um roteiroe 2) apresentação <strong>de</strong> instrumentos áudio-visuais <strong>de</strong>Psittacidae.Na primeira etapa, foram explicados aos informantesos objetivos da pesquisa, a fim <strong>de</strong> se estabelecer uma confiançamútua entre pesquisadora e informantes. Àquelesinteressados em participar da pesquisa foi solicitado queassinassem um termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido,<strong>de</strong>ixando-os cientes <strong>de</strong> sua participação por livre arbítrio.Tal procedimento é recomendado para que sejamreconhecidos os direitos intelectuais coletivos das comunida<strong>de</strong>sque os <strong>de</strong>têm, assegurando também ao pesquisadora obtenção do consentimento prévio dos informantespara publicação do conhecimento gerado, sem divulgação<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s (Santilli 2005).As entrevistas abordaram composição, i<strong>de</strong>ntificação,taxonomia, nomenclatura, ecologia, comportamento easpectos econômico-culturais dos psitací<strong>de</strong>os encontradosna região <strong>de</strong> Uberlândia e seus distritos. As entrevistasforam gravadas, com a autorização dos informantes e,posteriormente, transcritas na íntegra.Para o levantamento dos psitací<strong>de</strong>os, foram utilizadasas técnicas <strong>de</strong> lista livre, na qual o informante vaielencando as categorias conhecidas, <strong>de</strong> acordo com o resgate<strong>de</strong> sua memória; a técnica <strong>de</strong> indução não específica(Nonspecific prompting) e a nova leitura (Reading back),para incentivar os informantes a incrementar progressivamentea lista <strong>de</strong> categorias etnotaxonômicas <strong>de</strong>sse grupo,até o esgotamento da riqueza por eles conhecida (Brewer2002).Na segunda etapa foram apresentadas aos informantespranchas das 14 espécies <strong>de</strong> Psittacidae <strong>de</strong> possívelocorrência na região e <strong>de</strong> duas espécies exóticas (Amazonafarinosa e Ara chloropterus), para que eles procurassemi<strong>de</strong>ntificá-las e nomeá-las, acrescentando informaçõessobre seus aspectos ecológicos, não mencionados no primeiromomento. As pranchas foram copiadas <strong>de</strong> um guia<strong>de</strong> campo (Sigrist 2006) e foram elaboradas da maneiramais fiel possível à estrutura morfológica dos psitací<strong>de</strong>os,quanto a dimensões e cores, uma vez que Diamond(1989) explicitou a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se usar figuras em pesquisasetnobiológicas.Ainda, foi solicitado aos informantes que i<strong>de</strong>ntificassemauditivamente as espécies <strong>de</strong> Psittacidae, por meioda apresentação dos cantos das espécies e da associaçãoentre vocalização e imagem. Para tanto, as pranchas foramcolocadas sobre um substrato e, após reprodução <strong>de</strong>um canto, o informante apontava a qual espécie pertencia<strong>de</strong>terminada vocalização. As vocalizações foram fornecidaspelo Laboratório Sonoro Neotropical, da Universida<strong>de</strong>Estadual <strong>de</strong> Campinas, e extraídas <strong>de</strong> Boesman (2005)e Vielliard (2002).Análise dos dadosAs informações ornitológicas fornecidas pelos informantesforam analisadas através <strong>de</strong> comparação entre asfalas dos entrevistados com as informações da literaturaespecializada, possibilitando o <strong>de</strong>staque <strong>de</strong> concordânciase discordâncias entre o conhecimento ornitológico local ea ornitologia científica, assim como a formulação <strong>de</strong> tabela<strong>de</strong> cognição comparada (Marques 1995).As respostas dadas pelos entrevistados foram registradas,permitindo a obtenção <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> uma citaçãopor informante, relativas a cada pergunta. Dessa forma,para padronização dos resultados, o número <strong>de</strong> citaçõesnão correspon<strong>de</strong>, necessariamente, ao número <strong>de</strong> informantesem cada distrito, sendo que os dados mostradosse referem ao número <strong>de</strong> respostas para cada questão,seguido <strong>de</strong> sua porcentagem, quando necessário àcompreensão.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


44 Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira CunhaAs aves citadas pelos informantes dos distritos foramlistadas em uma tabela, apresentando-se as categorias folke seus correspon<strong>de</strong>ntes científicos lineanos, assim como afrequência em que os psitací<strong>de</strong>os foram citados em cadadistrito.rESuLTAdOS e dISCuSSãoPerfil dos informantesAs entrevistas duraram entre 30 e 50 minutos, sendoo grupo entrevistado composto por 24 homens e sete mulheres.A média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> dos informantes foi <strong>de</strong> 64 anos.O tempo <strong>de</strong> residência no distrito variou entre 12 e 71anos, com média <strong>de</strong> 38 anos.A maioria dos entrevistados (58%) possuía formaçãoescolar até a 4ª série do Ensino Fundamental, sendo queseis não foram alfabetizados (19%), três sabiam escreverapenas o nome (10%) e apenas dois informantes concluíramo Ensino Fundamental (6,5%) e dois o Ensino Médio(6,5%).As ocupações dos entrevistados se distribuíram entrelavrador/fazen<strong>de</strong>iro, aposentado, servidor público, pedreiro,encanador, caseiro e “do lar” (para as mulheres),sendo que a maioria dos homens se intitulou lavrador(46%) e as mulheres “do lar” (86%).Etnotaxonomia <strong>de</strong> PsittacidaeNenhum dos entrevistados havia tido contato anteriorcom o termo Psittacidae e todos ficaram surpresos,ao enten<strong>de</strong>r que nesse grupo incluem-se os papagaios, asmulatas e os periquitos, <strong>de</strong>ntre outros: “Isso é um nome <strong>de</strong>um passarinho?”Dentre as 14 espécies <strong>de</strong> Psittacidae da região, somenteuma não foi citada durante a entrevista: Pionusmaximiliani, embora tenha sido i<strong>de</strong>ntificada por cincoinformantes quando da apresentação das pranchas. Ospsitací<strong>de</strong>os foram i<strong>de</strong>ntificados <strong>de</strong>ntro da classificaçãocientífica, após a apresentação das pranchas, o que permitiua correspondência nome vernáculo-nome científico(Tabela 1).Amazona aestiva, Ara ararauna, Aratinga aurea,Aratinga leucophthalma, Brotogeris chiriri e Forpus xanthopterygiusforam muito citadas em todas as etapas dotrabalho por todos os informantes, sendo que houve umaumento na porcentagem <strong>de</strong> citações e no número <strong>de</strong>etnoespécies citadas após a apresentação das pranchas.Begossi e Garavello (1990) não obtiveram um incrementono número <strong>de</strong> peixes citados por pescadores quandoapresentadas pranchas dos mesmos, principalmente emrelação às espécies raras ou não utilizadas como recursopelos pescadores. Foram consi<strong>de</strong>radas etnoespécies as avesque apresentaram boa correspondência com espécies reconhecidaspela ornitologia acadêmica (Marques 1998).Esses psitací<strong>de</strong>os mais lembrados e reconhecidos pelosinformantes também tiveram suas vocalizações maisfacilmente i<strong>de</strong>ntificadas (Tabela 1), embora a i<strong>de</strong>ntificaçãoacústica não tenha sido tão acurada quanto a i<strong>de</strong>ntificaçãovisual, por meio das pranchas, <strong>de</strong>vido à gran<strong>de</strong>semelhança da vocalização das espécies <strong>de</strong> Psittacidae,como enfatizado por um informante: “Esses grito é tudoigual! É muito parecido um com o outro e tem hora que elesmuda a voz”.Provavelmente tal fato se <strong>de</strong>ve ao maior contato dosinformantes com as aves mais facilmente i<strong>de</strong>ntificáveis,tanto visual como acusticamente, seja pela presença diária,como animal <strong>de</strong> estimação ou por serem espécies amplamenteencontradas no perímetro urbano dos distritos, <strong>de</strong>passagem, se alimentando e/ou nidificando nos quintais,praças e casas. Os psitací<strong>de</strong>os raramente i<strong>de</strong>ntificados pormeio da vocalização constituem-se em espécies <strong>de</strong> habitatsmenos antropizados, que habitam preferencialmentematas mais preservadas e, portanto, menos frequentadaspelas populações dos distritos, como por exemplo P. maximiliani,que vive em matas altas, pinheirais e mata ciliar(Sick 2001). Ainda, segundo os informantes, tais espéciesmenos citadas, em sua maioria, são “mais raras <strong>de</strong> se ver”,po<strong>de</strong>ndo evi<strong>de</strong>nciar um menor número <strong>de</strong> indivíduos dasmesmas na região. Para Berlin (1973) as espécies mais facilmentereconhecidas e lembradas pelos informantes sãoaquelas que possuem um maior significado cultural paraaquela população.Em um estudo <strong>de</strong> censo populacional <strong>de</strong> Psittacidae,em áreas <strong>de</strong> vereda na região <strong>de</strong> Uberlândia, foi relatadauma gran<strong>de</strong> abundância <strong>de</strong> indivíduos para O. manilata,B. chiriri e A. leucophthalma, sendo que essas duas últimascaracterizam-se por frequentar habitats antropogênicos(Galetti e Pizo 2002), enquanto a primeira dificilmenteé encontrada em ambientes antrópicos, uma vez quese caracteriza por alto grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> Mauritiaflexuosa, palmeira típica <strong>de</strong> áreas <strong>de</strong> vereda, para obtenção<strong>de</strong> recursos alimentares, abrigo e nidificação (Junipere Parr 1998). Segundo Sick (2001), A. aurea frequentaconstantemente habitats arborizados abertos e áreas cultivadas,para alimentação e reprodução. Rodrigues (2008)consi<strong>de</strong>rou que a não diferença <strong>de</strong> ocorrência das espécies<strong>de</strong> Psittacidae em veredas <strong>de</strong> Uberlândia, MG entreos períodos matutino e do entar<strong>de</strong>cer aponta que essasaves são ativas o dia todo, o que po<strong>de</strong> facilitar o encontroobservador-psitací<strong>de</strong>o, principalmente quando em abundânciana área.Os psitací<strong>de</strong>os são aves cuja diagnose é imediataquando comparados a outros grupos, <strong>de</strong>vido às suas característicasmarcantes, como tipo <strong>de</strong> bico, capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> emitir sons semelhantes à fala humana e inteligênciaapurada. No entanto, as espécies pertencentes à famíliaPsittacidae são muito semelhantes entre si, o que dificultaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha45TABELA 1: Classificação científica lineana, nome(s) vernáculo(s) e frequência <strong>de</strong> citações <strong>de</strong> Psittacidae pelas comunida<strong>de</strong>s dos distritos Cruzeirodos Peixotos, Martinésia e Tapuirama, Uberlândia, MG, durante a entrevista semi-estruturada (f ent.) e após a apresentação das pranchas (f pran.). Vocal.:correspon<strong>de</strong> à freqüência <strong>de</strong> acertos dos informantes na correspondência prancha-vocalização.TABLE 1: Scientific linean classification, vernacular name(s) and frequency of Psittacidae’s citation from the communities of the districts of Cruzeirodos Peixotos, Martinésia and Tapuirama, Uberlândia, MG, during semi-structured interview (f ent.) and after presentation of the plates (f pran.). Vocal.:corresponds to the frequency of hits of the informants in the correspon<strong>de</strong>nce plate-vocalization.Nome científicoNome(s) vernáculo(s)Cruzeiro Martinésia Tapuiramaf ent.f pran.Vocal. f ent.f pran.Vocal. f ent.f pran.Vocal.Alipiopsitta xanthops Papagaio-grego; papagaio-galego; papagaio ver<strong>de</strong>amarelado;0,3 0,4 0,3 0,2 0,4 0,1 0,7 0,7 0,7papagaio-boia<strong>de</strong>iroAmazona aestiva Papagaio; Papagaio-boia<strong>de</strong>iro; papagaio verda<strong>de</strong>iro; 0,8 1,0 0,4 1,0 1,0 0,5 0,4 0,7 0,6papagaio da asa vermelha; Papagaio-giru; mulataAmazona amazonica Papagaio comum; louro; papagaio verda<strong>de</strong>iro; papagaio 0,4 0,5 0 0,3 0,5 0,2 0,4 0,5 0,1mais pequeno; papagaio-boia<strong>de</strong>iro; papagaio-caracutá;mulataAnodorhyncus hyacinthinus Arara azul 0,1 0,2 0,1 0,2 0,2 0 0,2 0,3 0Ara ararauna Arara maior; arara ver<strong>de</strong> e amarela; arara azul 0,4 0,5 0,3 0,5 0,5 0,4 1,0 1,0 0,6Aratinga aureaMulata cabeça-<strong>de</strong>-coco; periquito cabeça-<strong>de</strong>-coco; 0,7 0,9 0,7 1,0 0,9 0,6 0,4 0,7 0,7mulata-maracanã; periquito da cabeça-amarela;maritaca; jandaiaAratinga auricapillus Jandaia; mulata beira-rio; arara-pequena-<strong>de</strong>-cabeçavermelha;0,2 0,3 0** 0,3 0,3 0** 0,2 0,4 0**jandaia-grega; maritaca-cabeça-<strong>de</strong>-coco;mulata cabeça-<strong>de</strong>-cocoAratinga leucophtalma Maracanã; maracanã do bico branco; maracanã; jandaia; 0,8 0,8 0,6 0,7 0,9 0,4 0,7 0,7 0,7maritaca; maritaca-da-cabeça-vermelhaBrotogeris chiriri Periquito; mulata-enre<strong>de</strong>ira; periquito gran<strong>de</strong>; 0,9 1,0 0,5 0,7 0,9 0,6 1,0 1,0 0,7periquito-rico; periquito-da-asa-amarela; periquitodo-coqueiro;periquito-do-encontro-amarelo;periquito-faladorDiopsittaca nobilis Maracanã-<strong>de</strong>topete-azul; arara menor; maritaca 0,2 0,3 0,2 0,2 0,5 0,2 0,1 0,3 0,3Forpus xanthopterygius Periquito-do-reino; periquito; periquito verdinho 1,0 1,0 0,6 0,7 0,7 0,4 0,6 1,0 0,8Orthopsittaca manilata Arara miúda; arara; ararinha; maracanã 0,2 0,4 0 0,5 0,6 0 0,5 0,7 Δ 0Pionus maximiliani Papagaio-urubu; papagaio-boia<strong>de</strong>iro 0 0,1 0 0 0,1 0 0 0,3 0Primolius maracana Ararinha 0,2 0,3 0 0,4 0,5 0 0,1 0,4 Δ 0Amazona farinosa* Papagaio-boia<strong>de</strong>iro (fêmea); papagaio da asa vermelha; 0,7 0,8 0 0,6 0,7 0,1 0,6 0,7 0,3papagaio verda<strong>de</strong>iro; papagaio comum; louro; Papagaiogiru;mulataAra chloropterus* Arara vermelha 0 0,1 0 0,1 0,1 0 0 0 0* espécies exóticas (SIGRIST, 2006).** A vocalização <strong>de</strong> A. auricapillus não foi utilizada nesse estudo.Δ40% das citações foram dúbias quanto à espécie: O. manilata ou P. maracana.uma i<strong>de</strong>ntificação precisa <strong>de</strong> todas as espécies <strong>de</strong>ste grupo,quer pela morfologia, quer pela vocalização, comoi<strong>de</strong>ntificado no discurso <strong>de</strong> alguns informantes.Há gran<strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong> por parte dos etnotaxonomistase dos sistematas acadêmicos em estabelecer umanomenclatura padrão para esse grupo <strong>de</strong> animais. Sick(2001) evi<strong>de</strong>nciou algumas divergências entre as espéciessegundo seus nomes vernaculares, como por exemplo, ostipos <strong>de</strong> cauda, coloração da face e vocalização para distinção<strong>de</strong> araras, maracanãs, periquitos e papagaios, emboratenha enfatizado a inclusão errônea <strong>de</strong> algumas espécies<strong>de</strong> maracanãs no gênero Ara, como Orthopsittaca manilatae Diopsittaca nobilis, o que <strong>de</strong>monstra que os acadêmicostambém estão susceptíveis ao erro, assim como osetnotaxonomistas. Segundo Sick (2001), as maracanãs <strong>de</strong>cara nua possuem vocalização mais semelhante às espéciesgenuínas do gênero Aratinga, que também possui representantesincluídos artificialmente, o que po<strong>de</strong> explicara gran<strong>de</strong> confusão na distinção das vocalizações entre asespécies <strong>de</strong> Psittacidae, evi<strong>de</strong>nciada pela baixa frequência<strong>de</strong> acertos na correspondência prancha-vocalização (Tabela1). No entanto, apesar das dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> diferenciaçãodas espécies, a experiência prática dos informantespermite que eles diferenciem os principais grupos <strong>de</strong>Psittacidae, como expresso por um informante: “A mulatacom o papagaio é bem parecido, mas a maritaca num fala eo papagaio fala. O periquito também num fala, só grita!”.Das espécies exóticas, a figura <strong>de</strong> Amazona farinosafoi amplamente indicada e reconhecida na prancha pelosinformantes, apesar do seu limite leste <strong>de</strong> distribuição geográficalocalizar-se a su<strong>de</strong>ste do estado <strong>de</strong> Goiás (Sigrist2007). Tal fato po<strong>de</strong> ser explicado pela gran<strong>de</strong> semelhançaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


46 Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunhana morfologia <strong>de</strong> Amazona farinosa e Amazona aestiva,espécies diferenciadas por algumas manchas coloridasprincipalmente na cabeça. Foi notado que muitos informantesnão se atentaram muito a pequenos <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong>cores enquanto observavam as pranchas, principalmentepara espécies semelhantes. Muitos entrevistados quepossuíam espécimens <strong>de</strong> Amazona aestiva como animais<strong>de</strong> estimação i<strong>de</strong>ntificaram, erroneamente, seus animaiscomo Amazona farinosa.Uma outra hipótese a ser consi<strong>de</strong>rada é a possívelexpansão da distribuição geográfica <strong>de</strong> Amazona farinosa<strong>de</strong>vido à intensificação da <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> habitats em todoo Cerrado, uma vez que quatro informantes afirmaramjá ter ouvido sua vocalização, assim como foi observadaexpansão da distribuição geográfica <strong>de</strong> Fluvicola nengetana região <strong>de</strong> Uberlândia (Silva-Júnior et al. 2005), cujadistribuição até então documentada não se aproximavados limites da região do Triângulo Mineiro. Assim, as informaçõesetnobiológicas fornecidas pelos informantesdos distritos permitem formular novas hipóteses a sereminvestigadas.A arara-vermelha foi citada por apenas dois informantes,o que po<strong>de</strong> ter sido ocasional, já que a presença<strong>de</strong>sta espécie não foi lembrada, pela maioria dos informantes.Como as araras são observadas em migração ea certa altitu<strong>de</strong>, po<strong>de</strong> ter havido uma confusão na diferenciaçãodos psitací<strong>de</strong>os por esses dois entrevistados, oque nos permite corroborar que não há presença <strong>de</strong> Arachloropterus na região, como já <strong>de</strong>scrito na literatura (Sigrist2007).A seguir, serão relatadas e discutidas algumas dasrespostas dos informantes às perguntas da entrevista. Entreparênteses assinalamos a frequência relativa <strong>de</strong> cadacategoria.Etnoecologia <strong>de</strong> PsittacidaeQuanto aos locais on<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m ser encontradas asaves, as respostas foram variadas e foram agrupadas emcategorias, sendo mais frequentes “os mato”, os quintais,beira <strong>de</strong> córregos, pastos e lavouras, embora árvores e pomares,edificações antrópicas urbanas (praças, escolas e estradas),“reservas” e parques/zoológicos também tenhamsido citados por alguns entrevistados.Recursos alimentaresCom relação aos hábitos alimentares, todos os entrevistados(100%) apontaram as frutas como principalfonte <strong>de</strong> alimento para Psittacidae e quase meta<strong>de</strong> dosinformantes (42%) também citou grãos <strong>de</strong> lavouras adjacentescomo importante recurso alimentar para essesanimais. Ainda, foram relatadas como fonte <strong>de</strong> energiapara os psitací<strong>de</strong>os as sementes típicas para a alimentação<strong>de</strong> aves criadas em cativeiro, como girassol, quirela e alpiste(35,5%) e “cumê”, relacionando à comida <strong>de</strong> humanos,como arroz com feijão e fubá (25,8%). Sementes(16,1%), brotos (6,5%), leite (3,2%) e “os fio” (13%)também foram citados como alimento.Os psitací<strong>de</strong>os po<strong>de</strong>m se alimentar em árvores altasou em arbustos frutíferos e são muito atraídos por frutossuculentos, como manga, goiaba, jabuticaba, laranja emamão, frutos amplamente citados pelos informantes duranteas entrevistas. Po<strong>de</strong>m se alimentar também <strong>de</strong> florese brotos, apesar <strong>de</strong> sua alimentação se constituir basicamente<strong>de</strong> frutos e sementes (Galetti 2002), evento tambémobservado por um informante: “Periquito arranca atéflor. Se você olhar num pé <strong>de</strong> ipê, eles corta no talinho, comea partezinha mais molinha e a outra eles joga no chão…”.O bico forte com maxila móvel favorece a ingestão<strong>de</strong> frutos e sementes duros, como cocos. Sua língua grossaé muito sensível e rica em papilas gustativas, sendo o grupo<strong>de</strong> aves com maior número <strong>de</strong>ssas estruturas. As papilasgustativas <strong>de</strong>sses animais são tão diferenciadas como asdos humanos, permitindo a distinção dos gostos amargo,doce, salgado e azedo. Assim, os Psittacidae repudiamalimentos com gosto amargo, lhes sendo mais atrativosos alimentos <strong>de</strong> gosto doce (Sick 2001). Tal proprieda<strong>de</strong>po<strong>de</strong> explicar o aceite <strong>de</strong> alimentos antrópicos (comoarroz com feijão), uma vez que esses animais apren<strong>de</strong>ma “apreciar” o alimento <strong>de</strong> fácil acesso, sem necessitarcompetir por recursos com outros indivíduos <strong>de</strong> nichosemelhante. Uma explicação dada pelos informantes paraalimentar esses animais com “cumê” é que as “fruta dosmato tá acabando né!”.Alimentação baseada em girassol, quirela e alpiste foicitada pelos informantes que possuem psitací<strong>de</strong>os <strong>de</strong> estimaçãoe utilizam <strong>de</strong>sses recursos para alimentá-los. Foiafirmado que quando se tira um filhote <strong>de</strong> papagaio doninho para criá-lo em casa, o melhor alimento para fornecera eles é o girassol, porque segundo eles “as pena ficaverdinha, linda e eles encorpa logo!”.Os informantes dos distritos mostraram um bomconhecimento acerca da alimentação primária dos Psittacidae,assim como <strong>de</strong>scrito na literatura científica (Sick2001), embora tenham citado também como alimentopara essas aves “leite” e “cumê”, o que <strong>de</strong>monstra a cultura<strong>de</strong> domesticação e antropização <strong>de</strong> animais silvestres nessassocieda<strong>de</strong>s. Ainda, foi citado como comida “os fios”,se referindo aos prejuízos na fiação elétrica que essas avestêm causado e que foi por alguns <strong>de</strong>les entendido comoforma <strong>de</strong> alimentação.Adicionalmente, um entrevistado relatou que essasaves “comem lagarta <strong>de</strong> roça”. Relação ecológica semelhantetambém é <strong>de</strong>scrita na literatura, a partir <strong>de</strong> relatos sobrepsitací<strong>de</strong>os ingerindo moluscos, vermes e larvas <strong>de</strong> besouros(Sick 2001). Dois entrevistados citaram como benefícioa dispersão <strong>de</strong> sementes realizadas por essas aves: “…eu acredito que eles num <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> proliferar plantações,Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha47TABELA 2: Locais <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> Psittacidae citados pelos informantes dos distritos Cruzeiro dos Peixotos, Martinésia e Tapuirama, discutidospelos dados da literatura especializada.TABLE 2: Nesting places of Psittacidae cited by the informants of the districts of Cruzeiro dos Peixotos, Martinésia and Tapuirama, Uberlândia,MG, discussed by the literature data.Psittacidae Local <strong>de</strong> nidificação Descrição científica*PapagaioOco <strong>de</strong> pau; cupim do chão;coqueiro; árvore alta; paredãoNidificam em ocos <strong>de</strong> árvores altas; em cupinzeiros terrestres e às vezes em paredõesrochosos.Periquito comum Cupim <strong>de</strong> árvore; barranco; caixa<strong>de</strong> joão-<strong>de</strong>-barro; oco <strong>de</strong> pauNidificam em cupinzeiros arbóreos; em escarpas rochosas, em barrancos ou em ocos<strong>de</strong> árvores.MulataOco <strong>de</strong> pau, caixa <strong>de</strong> joão-<strong>de</strong>-barro; Cupinzeiros arbóreos; estirpes mortas <strong>de</strong> palmeiras e ocos <strong>de</strong> árvores.cupim-<strong>de</strong>-árvore; galho <strong>de</strong> árvoreAraraÁrvore; coqueiro; oco <strong>de</strong> pau;barrancoNidificam às vezes em paredões rochosos e cavida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s árvores, como oburiti.MaracanãForro das casas; oco <strong>de</strong> pau; cupim<strong>de</strong> árvore; barranco; coqueiroNidificam às vezes em paredões rochosos e, eventualmente, sob o telhado das casas econstruções em cida<strong>de</strong>s.Mulata cabeça-<strong>de</strong>-coco Forros das casas; oco <strong>de</strong> pau; cupim Escava seu ninho principalmente em cupinzeiros arbóreos. Nidificam às vezes em<strong>de</strong> árvoresparedões rochosos; em ocos <strong>de</strong> palmeiras ou em galerias <strong>de</strong> cupinzeiros terrestres.Periquito-do-reino Caixa <strong>de</strong> joão-<strong>de</strong>-barro; cupim <strong>de</strong>árvore; oco <strong>de</strong> pauInquilino regular do joão-<strong>de</strong>-barro; nidificam em cupinzeiros arbóreos e em ocos <strong>de</strong>árvores.Jandaia Barranco; coqueiro Nidificam em ocos <strong>de</strong> pau e paredões <strong>de</strong> pedra.* Fontes: Sick (2001); Sigrist (2006); Birdlife International (2007).como árvores, eles come uma semente aqui e leva pra umoutro lugar, que faz nascer…”. No entanto, Sick (2001)afirma que os psitací<strong>de</strong>os alimentam-se das sementes,<strong>de</strong>scartando a polpa das frutas; trituram os caroços, <strong>de</strong>struindoas sementes, atuando predominantemente comopredadores ao invés <strong>de</strong> dispersores das plantas. Há umadiscussão na literatura abordando se os psitací<strong>de</strong>os atuamsomente como predadores, ou se também po<strong>de</strong>magir como dispersores. Em estudo na Costa Rica, Janzen(1981) analisou conteúdo estomacal <strong>de</strong> Brotogeris e observouque estes po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>struir pequenas sementes; jáFleming et al. (1985), em estudo <strong>de</strong> oferta <strong>de</strong> alimento aindivíduos <strong>de</strong>sse mesmo gênero, encontrou sementes viáveisnas fezes das aves.A dieta dos psitací<strong>de</strong>os neotropicais não é bem documentadapara cada espécie, fazendo-se necessários maisestudos que verifiquem as especificida<strong>de</strong>s alimentares comfinalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estabelecer programas <strong>de</strong> manejo voltadosa populações específicas, uma vez que a abundância <strong>de</strong>uma <strong>de</strong>terminada família vegetal po<strong>de</strong> estar associada àabundância <strong>de</strong> alguns gêneros <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os, como porexemplo frutos e flores <strong>de</strong> Palmae correlacionados com apresença <strong>de</strong> Ara e Anodorhyncus (Galetti 2002).Aspectos reprodutivosAs informações dos informantes quanto à reproduçãoe nidificação vão ao encontro dos dados da literatura.Quanto à reprodução, a maioria dos entrevistados(56,5%) afirmou que os indivíduos do grupo Psittacidaepõem <strong>de</strong> dois a três ovos a cada ninhada e 30,8%citaram que essas aves põem em média <strong>de</strong> quatro a seisovos, embora haja possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver postura <strong>de</strong> 10a 12 ovos por Aratinga aurea (2,5% das citações). Quatroinformantes não souberam apontar a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ovos produzida pelos psitací<strong>de</strong>os. O número <strong>de</strong> ovos <strong>de</strong>Psittacidae varia interespecificamente. Sick (2001) relatoupostura <strong>de</strong> três a quatro ovos para espécies do gêneroAmazona e <strong>de</strong> três a cinco para Forpus xanthopterygius. Noentanto, o sucesso reprodutivo <strong>de</strong>sse grupo, expresso nonúmero <strong>de</strong> filhotes que sobrevivem e se reproduzem, nãoé tão gran<strong>de</strong>, já que se observa quase sempre <strong>de</strong> um a doisfilhotes voando lado a lado com os pais.Com relação à forma <strong>de</strong> postura, um informanteafirmou que os psitací<strong>de</strong>os “botam em grupo”, o que po<strong>de</strong>explicar a citação <strong>de</strong> ninhada com até 12 ovos. Tal observação<strong>de</strong> ninhada gran<strong>de</strong> também já foi questionadapor Sick (2001), quando em uma ninhada <strong>de</strong> F. xanthopterygiusnasceram oito filhotes, que, segundo este autor,po<strong>de</strong>riam ser <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> duas fêmeas.Quanto aos locais <strong>de</strong> nidificação, os informantes citaramocos <strong>de</strong> paus, cupins em árvores e no chão, casas<strong>de</strong> joão-<strong>de</strong>-barro, barrancos, galhos <strong>de</strong> árvores, paredõesrochosos e forros <strong>de</strong> casas (Figura 1), sendo que a localizaçãodos ninhos variou entre os psitací<strong>de</strong>os, como <strong>de</strong>scritona literatura especializada (Tabela 2), predominando ocos<strong>de</strong> paus e cupins em árvores.Comportamentos reprodutivos não relatados pelosinformantes po<strong>de</strong>m ser notados em papagaios, araras etuins (nomeados periquito-do-reino, pelos entrevistados).Os primeiros raspam as pare<strong>de</strong>s dos troncos ocos, on<strong>de</strong>se instalam para forrar a cavida<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> facilitar a secagemdas fezes líquidas que caem no fundo dos ninhos;os tuins apossam-se <strong>de</strong> ninhos <strong>de</strong> joão-<strong>de</strong>-barro, sendoque já houve registro <strong>de</strong> retirada à força do construtor doninho juntamente com sua família (Sick 2001).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


48 Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira CunhaO déficit <strong>de</strong> locais para nidificação tem se reveladofator limitante para Psittacidae, principalmente <strong>de</strong>vido àretirada <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, à pecuária extensiva e ao avanço contínuodas monoculturas <strong>de</strong> soja, milho e cana-<strong>de</strong>-açúcar.Uma estimativa recente revelou que 60% a 70% dos habitatspreferidos por Alipiopsitta xanthops, espécie endêmicado Cerrado, sofreram forte impacto antrópico nasúltimas décadas (Sigrist 2006). Tal limitação apresenta-sena explicação dos informantes para a reprodução urbana<strong>de</strong> Aratinga leucophthalma: “Maracanã sempre está reproduzindoem cima das lajes, pra se sentir mais segura”.A caça furtiva po<strong>de</strong> ter efeitos negativos na disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> locais para nidificação, pelo fato dos caçadorescortarem os troncos das árvores, para extrair os filhotes dacavida<strong>de</strong> do ninho (Enkerlin-Hoeflich 1995). Alguns informantesrelataram que muitas vezes, para retirar filhotes,principalmente <strong>de</strong> papagaios, os traficantes quebramos troncos das árvores, já que os ninhos se situam em pontosaltos e difíceis <strong>de</strong> alcançar, <strong>de</strong>struindo assim, sítios <strong>de</strong>nidificação na área. Ainda ocorre competição pelos locais<strong>de</strong> nidificação entre psitací<strong>de</strong>os, com pica-paus, tucanos,alguns gaviões e pequenos mamíferos, e muitos buracosutilizáveis são ocupados por abelhas, marimbondos e formigas(Sick 2001).A maioria das espécies <strong>de</strong>sta família é monogâmica,vivendo rigorosamente em casais que permanecem unidospor toda a vida. No período reprodutivo, o casal frequentementepermanece junto no ninho (Juniper e Parr1998). Todos os entrevistados informaram que há cuidadoparental por ambos os genitores, sendo que 77,5% relataramque os cuidados com a prole são divididos igualmenteentre o macho e a fêmea e 16% dos informantes<strong>de</strong>clararam que a maior parte dos cuidados fica por contada fêmea.O papo dos psitací<strong>de</strong>os é <strong>de</strong> tamanho consi<strong>de</strong>rável eé usado para armazenar a ceva que será dada aos filhotes,FIGura 1: Freqüência <strong>de</strong> citação dos locais para nidificação <strong>de</strong> Psittacidaesegundo as respostas dos informantes dos distritos Cruzeirodos Peixotos, Martinésia e Tapuirama, Uberlândia, MG.FIGure 1: Frequency of citation of Psittacidae nesting sites accordingthe answers of the informants of the districts of Cruzeiro dos Peixotos,Martinésia and Tapuirama, Uberlândia, MG.o que é particularmente importante para os representantes<strong>de</strong>ssa família, que realizam migrações diárias à procura<strong>de</strong> alimento para <strong>de</strong>pois retornar ao dormitório, levandosuprimento para os filhotes, como no caso <strong>de</strong> muitas ararase papagaios (Reillo et al. 2000). Os pais alimentam os“ninhegos” regurgitando a ceva diretamente em seu bico,que funciona como uma “concha” para recepção dos nutrientes(Sick 2001). Segundo este autor, os machos sãomais ativos no processo <strong>de</strong> regurgitação do alimento, oque sugere que as fêmeas permanecem por mais temponos ninhos enquanto os machos saem à procura <strong>de</strong> comida,o que po<strong>de</strong> levar os informantes a perceber que afêmea dispensa maiores cuidados, por estar por mais tempojunto aos filhotes. Essas aves são classificadas comoaltriciais, cujos filhotes nascem <strong>de</strong>sprovidos <strong>de</strong> penas e sãocompletamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos pais e susceptíveis a predadores,iniciando tardiamente seu período reprodutivo(Sutherland et al. 2004).Flutuações populacionaisA abundância <strong>de</strong> Psittacidae na região aumentou, <strong>de</strong>alguns anos atrás até o presente, segundo 47,6% dos informantes<strong>de</strong> Martinésia e Cruzeiro dos Peixotos, eventoeste atribuído à construção da barragem da Usina Hidrelétrica<strong>de</strong> Capim Branco II, que estaria “empurrando” asaves para perto das cida<strong>de</strong>s. Outras hipóteses dos entrevistados,para o aumento das populações <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os éa eficiência em sua reprodução, o aumento da disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> alimento nas lavouras e a sensibilização ambientalfeita nas escolas.O <strong>de</strong>smatamento foi citado, tanto como causa <strong>de</strong> aumentono número <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os, quanto como causa <strong>de</strong>incrementos populacionais na área urbana: “E tem tambémo <strong>de</strong>smatamento aí agora, vem tudo pra porta né?! Com certeza<strong>de</strong>ve ter aumentado…”. A diminuição das populações <strong>de</strong>Psittacidae foi relatada por 60% dos informantes <strong>de</strong> Tapuiramae 23,8% dos entrevistados <strong>de</strong> Martinésia e Cruzeirodos Peixotos, que acreditam que a causa <strong>de</strong>ssa baixa populacionalestá relacionada principalmente ao <strong>de</strong>smatamentoe à utilização <strong>de</strong> pesticidas e agrotóxicos nas lavouras, ingeridospelas aves, acarretando a morte <strong>de</strong> vários indivíduos:“Ah, tem diminuído. Eu tenho a explicação: veneno que elespõe nas lavoura aí…”. Além disso, um informante afirmouque a abundância <strong>de</strong> Psittacidae está menor na região <strong>de</strong>vidoà ação predatória dos tucanos sobre os filhotes.Os informantes <strong>de</strong> Cruzeiro dos Peixotos e Martinésiaestão vivenciando, <strong>de</strong> forma mais próxima, os problemasrelacionados à instalação <strong>de</strong> uma usina hidrelétrica,por isso alegam que a abundância aumentou, ao passoque os participantes <strong>de</strong> Tapuirama, que sentem a monoculturacomo principal fator impactante <strong>de</strong>ssas populações,citaram o <strong>de</strong>smatamento e aplicação <strong>de</strong> venenos naslavouras, como principais fatores da diminuição <strong>de</strong> populações<strong>de</strong> Psittacidae.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha49Aproximadamente um quarto dos entrevistados relatouque o número <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os na região vem se mantendoao longo do tempo, sem gran<strong>de</strong>s flutuações.Valor econômico-cultural <strong>de</strong> Psittacidae e Legalida<strong>de</strong>Uma importante fonte <strong>de</strong> alimentação para os psitací<strong>de</strong>os,citada por 42% dos informantes, são as lavouras,em especial as <strong>de</strong> milho, sorgo, girassol, arroz e quiabo.Embora estas se constituam como importante fonte <strong>de</strong>nutrientes para essas e muitas outras aves, a maioria dosinformantes acredita que a utilização das plantações porPsittacidae acarreta prejuízo para o homem. Mais <strong>de</strong> 80%dos informantes apontaram como prejuízo ao homemtais perdas nas lavouras <strong>de</strong> grãos, além <strong>de</strong> prejuízos como “trato” (alimento comprado para os animais domesticados)e os fios, todos relacionados por eles à alimentação<strong>de</strong>ssas aves. Segundo os informantes, os psitací<strong>de</strong>os quetrazem maiores prejuízos ao homem tanto nas lavourasquanto na <strong>de</strong>struição da fiação elétrica e telhas das casassão as mulatas-cabeça-<strong>de</strong>-coco (Aratinga aurea), as maracanãs(A. leucophthalma) e os periquitos (Brotogeris chiriri),como visto na fala a seguir:“… e como é um número muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> pássaros aquilocausa um prejuízo muito gran<strong>de</strong>! Imagina 100 mulatas, porexemplo, cada um carrega um cacho, é um prejuízo muitogran<strong>de</strong>! Lavoura <strong>de</strong> quiabo, arroz, milho, girassol, tudo elasataca! A cabeça-<strong>de</strong>-coco é a mais danadinha, o periquito daasa amarela também!”Os informantes que alegaram que a retirada <strong>de</strong> grãosdas lavouras pelos psitací<strong>de</strong>os não acarreta prejuízos aohomem consi<strong>de</strong>raram que eles precisam <strong>de</strong> alimento eque não há mais tanta disponibilida<strong>de</strong> do mesmo nasmatas <strong>de</strong> origem, sendo pequeno o “estrago” causado poresses animais frente à imensidão das plantações: “… elesnum planta e tem que cumê né?”Já foram relatados “estragos” causados nas lavouraspor psitací<strong>de</strong>os em vários trabalhos (Fallavena e Silva1988, Bucher 1992, Galetti 1993, Long 1985, Sick2001). Jacinto (2008) analisando o impacto <strong>de</strong> aves emcultivo <strong>de</strong> sorgo em Uberlândia, MG, registrou Aratingaleucophthalma como uma das espécies com maior número<strong>de</strong> visitações às plantações do grão, com alta taxa<strong>de</strong> predação. Ainda nesse estudo, foi registrado no cultivodo sorgo B. chiriri, D. nobilis e F. xanthopterygius.Entretanto, é necessário intensificar as pesquisas sobreo impacto <strong>de</strong>sses animais nas lavouras e que medidas<strong>de</strong>vem ser tomadas para conciliar a presença dos psitací<strong>de</strong>oscom a ativida<strong>de</strong> agrícola, avaliando também osimpactos da implantação <strong>de</strong> lavouras em populações <strong>de</strong>aves, a fim <strong>de</strong> se evitar gran<strong>de</strong>s perdas econômicas aohomem e buscar soluções à perseguição indiscriminadados psitací<strong>de</strong>os (Fallavena e Silva 1988, Dhindsa et al.1992).Alguns informantes relataram as estratégias utilizadaspelos agricultores como medidas mitigadoras aos estragosprovocados nas lavouras por essas aves: foguetes,espantalhos, venenos e ação mecânica do homem (comoem milharais). Alguns lavradores da região colocam umespantalho no meio da plantação, ou pagam pessoaspara ficar soltando rojões nos arredores da lavoura a fim<strong>de</strong> espantar as aves, em especial as mulatas, periquitos,pássaros-pretos e pombas, que segundo eles também atacammuito as plantações. Outra estratégia utilizada poralguns agricultores é a aplicação <strong>de</strong> venenos nos cultivos,que acabam por dizimar populações inteiras das aves que<strong>de</strong>las se alimentam.Tal prática <strong>de</strong> aplicação <strong>de</strong> substâncias tóxicas não évista com bons olhos pelos informantes que a relataram.Como solução alternativa, às práticas que po<strong>de</strong>m matarou estressar os animais, alguns informantes relataram quemuitos lavradores (inclusive alguns <strong>de</strong>les), para evitargran<strong>de</strong>s perdas em sua safra <strong>de</strong> milho, quebram o colmoem sua base quando o milho já está quase seco, impedindoo acesso <strong>de</strong> mulatas e periquitos à espiga.Em contrapartida, mais da meta<strong>de</strong> dos informantescitaram como benefício que os Psittacidae trazem ao homem,a beleza exibida por esses animais e a “alegria” quea presença <strong>de</strong>les trás, visualizada através da observação <strong>de</strong>comportamentos, como “apren<strong>de</strong>r a falar” e canto. Alémdisso, para aqueles que possuem psitací<strong>de</strong>o <strong>de</strong> estimação,tais animais não somente alegram a família, como servem<strong>de</strong> companheiros, principalmente para as pessoas que vivemsozinhas.Cinco informantes disseram que a beleza e a alegria<strong>de</strong>ssas aves são interessantes, mas não se constituem embenefício, uma vez que não se po<strong>de</strong> mais comercializá-las:“E nem vão me dar lucro, porque eu não posso comercializareles, porque o IBAMA se ficá sabendo vem e pren<strong>de</strong> eucom eles e ainda vou ter que pagar uma multa muito carané?!”, ao passo que outro informante citou como benefícioa venda <strong>de</strong>sses animais. Dois entrevistados cultuaramo benefício da presença <strong>de</strong>sses animais “porque é da natureza<strong>de</strong> Deus”, mostrando que a religião é presente nascomunida<strong>de</strong>s, que foram todas fundamentadas a partirda construção <strong>de</strong> capelas (Corsi 2006). Três informantesalegaram não trazer benefício algum a presença dos psitací<strong>de</strong>osno convívio humano.O valor financeiro dos psitací<strong>de</strong>os atribuído pelaquase totalida<strong>de</strong> dos informantes (93,5%) foi relacionadoà “venda”, sendo que apenas dois informantes disseramque essas aves não apresentam valor financeiro, uma vezque não é mais permitida a venda: “Não, valor num temnão. Porque, hoje, por exemplo, você num po<strong>de</strong> pegá um procêmanter ele nem procê ven<strong>de</strong>r. O IBAMA pega mesmo…”.Foi relatado que a espécie que “ven<strong>de</strong> mais” é o papagaio-boia<strong>de</strong>iro(Amazona aestiva), <strong>de</strong>vido ao seu potencialRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


50 Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha<strong>de</strong> imitar a fala humana, e as araras, por sua beleza; as<strong>de</strong>mais espécies não são tão apreciadas pelo comércio ilegal:“Essa arara que eu tinha aí, por exemplo, muita genteperguntou se eu vendia ela por dinheiro… Chegaram aoferecer novilha, vaca!”; “Eu ganhei muita oferta pra essepapagaio aqui. O povo compra tudo! … Ih papagaio é caro,R$ 500,00 um filhote, se quiser… Periquito eles num gosta<strong>de</strong> comprar não, eles gosta <strong>de</strong> ganhar… Mulata também…”.Os preços informados variaram muito, sendo que já foiofertado aos informantes <strong>de</strong>s<strong>de</strong> R$ 50,00 a R$ 1.500,00para venda <strong>de</strong> Amazona aestiva.Sick (2001) <strong>de</strong>screve a apreensão em larga escala <strong>de</strong>araras e papagaios, por todo o mundo. Psittacidae são avesmuito inteligentes, com alto nível <strong>de</strong> cerebralização queas permite compreen<strong>de</strong>r situações lógicas, realizar brinca<strong>de</strong>irase até mesmo apresentar sinais <strong>de</strong> emoção (Sick2001). Todos esses fatores aliados à gran<strong>de</strong> facilida<strong>de</strong> queeles apresentam na imitação da fala humana favorecemo comércio ilegal <strong>de</strong>sses animais em tráficos nacionaise internacionais. Segundo Thomsen e Mulliken (1992)não se tem uma estatística oficial correta <strong>de</strong> quantas avessão retiradas da natureza para o comércio, uma vez queesta prática é ilegal. Os psitací<strong>de</strong>os, com predominância<strong>de</strong> papagaios, são os mais comercializados no Brasil e noexterior.Todos os informantes afirmaram que é proibida avenda <strong>de</strong> aves, sendo que essa fiscalização é <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>do IBAMA ou da Guarda Florestal. Foi relatadopela maioria que antigamente havia maior comercialização<strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os na região; muitas vezes as aves erambuscadas por compradores <strong>de</strong> outros estados, mas atualmenteesse tipo <strong>de</strong> comércio encontra-se escasso e “camuflado”:“Hoje é muito fiscalizado”.Apesar <strong>de</strong> terem conhecimento sobre a legislação <strong>de</strong>retirada e registro <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os da natureza para criaçãoem casa, muitos <strong>de</strong>les têm um xerimbabo sem registro noórgão competente: “Hoje prá cria em casa é com licença.Tem a pulserinha na perna…”.Quando indagados se eles achavam bom ou ruimretirar animais do meio natural para criar em casa, 84%dos informantes disseram que achavam ruim, pois “Temmuitos que você vê preso em uma gaiola… E voar! Voar émelhor do que nós caminhar! Pega ocê e joga numa cela praficar preso… é o mesmo! É eles vê esse mundo livre e ficá aí<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma gaiola…”. Cinco entrevistados <strong>de</strong>clararamque retirá-los da natureza, para criar em casa é bom quandoo animal vive solto e é bem cuidado e amado. Tal fatopo<strong>de</strong> ser explicado pelo forte domínio cultural que essaprática se impôs no Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da colonização,on<strong>de</strong> ter um papagaio ou arara <strong>de</strong> estimação representavaluxo, prática cultural que tem sido transmitida, ao longodas gerações.As espécies <strong>de</strong> Psittacidae criadas pelos informantesforam Alipiopsitta xanthops, Amazona aestiva, Ara ararauna,Aratinga aurea, Aratinga leucophthalma e Brotogerischiriri, com predomínio <strong>de</strong> A. aestiva. A maioria afirmouter ganhado o animal como presente, enquanto foi relatadopelos entrevistados a compra <strong>de</strong> dois A. aestiva ea retirada <strong>de</strong> seis psitací<strong>de</strong>os dos ninhos, pelos própriosinformantes e/ou parentes próximos, embora três tenhamalegado que pegaram filhotes que estavam correndo perigo<strong>de</strong> vida, fora <strong>de</strong> seus respectivos ninhos.Dos 31 entrevistados, nove possuem hoje pelo menosum indivíduo <strong>de</strong> Psittacidae <strong>de</strong> estimação, enquanto10 não têm psitací<strong>de</strong>os em casa atualmente, embora játenham possuído algum exemplar e 11 informantes nuncacriaram tais xerimbabos em domicílio. Esses números<strong>de</strong>monstram que parece estar havendo uma sensibilizaçãoentre os moradores dos distritos acerca da problemática<strong>de</strong> se retirar animais silvestres para domesticação já que osinformantes relataram que, há alguns anos, havia 65,5%<strong>de</strong> suas casas com pelo menos um psitací<strong>de</strong>o <strong>de</strong> estimaçãoe hoje se constatou apenas 29%, uma redução significativapara populações que estão entrando em <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong>vidoa ações antrópicas, como Alipiopsitta xanthops (Sigrist2006).Essa sensibilização, que é cultural e pessoal, po<strong>de</strong>ser fundamental na implantação <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s futuras <strong>de</strong>educação ambiental nos distritos “Eu já fiz muita gentesoltá passarinho… Eu num crio passarinho fechado, eu tratoem casa pra eles chocarem, <strong>de</strong>pois eu solto eles…”. Todos osinformantes ficaram admirados com as pranchas e gran<strong>de</strong>parte, principalmente as mulheres, <strong>de</strong>monstraram interessenas gravuras para confeccionar quadros para suascasas. O gran<strong>de</strong> apreço artístico pelos Psittacidae remota625 a.C., quando já se encontravam pinturas <strong>de</strong>ssas aves,com valor <strong>de</strong>corativo (Sick 2001). Wilson (1989) acreditaque os humanos têm afinida<strong>de</strong> inata com outras espécies,conhecida como biofilia ou “a tendência inata <strong>de</strong> dirigirnossa atenção à vida e aos processos vitais”.Quando questionados se eles conheciam quem possuíapsitací<strong>de</strong>os <strong>de</strong> estimação no seu distrito, a maioriadisse que não conhecia quase ninguém ou apenas algumaspessoas, evitando listar os nomes, com medo <strong>de</strong> quefossem <strong>de</strong>nunciados ao IBAMA e per<strong>de</strong>ssem seus xerimbabos.Tal receio se diluiu, com a recordação do “Termo<strong>de</strong> Consentimento”, no qual a pesquisadora assumiu ocompromisso <strong>de</strong> não-divulgação da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos informantes,o que <strong>de</strong>monstra a relevância do uso <strong>de</strong>sse instrumentoem pesquisas etnobiológicas.Material áudio-visualFoi solicitado aos informantes que avaliassem a qualida<strong>de</strong>e similitu<strong>de</strong> do material áudio-visual com as observaçõescotidianas que eles fazem das aves. A maioria(90%) dos informantes aprovou as pranchas, ressaltandoque eram muito belas e possuíam características quaseidênticas ao que eles observam no seu dia-a-dia. ApenasRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha51um informante ressaltou dificulda<strong>de</strong> em reconhecer ospsitací<strong>de</strong>os através do material visual.As vocalizações também foram bem conceituadaspelos informantes, embora a maioria tenha tido muitadificulda<strong>de</strong> em diferenciá-las: “Esses é difícil, é muito parecidoum com o outro e tem hora que eles muda a voz…”;“Esses grito é tudo igual!”. O instrumento acústico não foitão eficiente para incrementar a lista <strong>de</strong> Psittacidae citadapelos informantes dos distritos Cruzeiro dos Peixotos,Martinésia e Tapuirama. Po<strong>de</strong>-se explicar a dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> se diferenciar as espécies <strong>de</strong>ssa família através dos sonsporque possuem vocalizações muito semelhantes entresi, cuja distinção requer prática longa e constante, sendomais fácil o reconhecimento <strong>de</strong> gêneros (Sick 2001). Nanatureza, essas aves mostram evidência <strong>de</strong> dialetos populacionaise aprendizado vocal cultural (Wright 1996,Baker 2000, Kleeman e Gilardi 2005). Algumas espéciespossuem ricos repertórios, como Amazona albifrons, quepossui mais <strong>de</strong> 25 gritos diferentes (Levinson 1980 apudSick 2001). Nesta pesquisa foi apresentado aos informantesapenas um tipo <strong>de</strong> vocalização <strong>de</strong> cada espécie.Foi observado que os informantes levaram certotempo para se familiarizar com o material visual, para emseguida observá-lo mais criteriosamente e distinguir <strong>de</strong>talhesentre as espécies, embora algumas tenham sido i<strong>de</strong>ntificadasinstantaneamente, como Forpus xanthopterygius,Aratinga aurea, Brotogeris chiriri, Aratinga leucophthalmae Ara ararauna, que são aquelas mais conspícuas entresi, ao passo que entre as Amazona e entre Orthopsittacamanilata e Primolius maracana houve muitas permutas edificulda<strong>de</strong>s no reconhecimento. Essa constatação chamaatenção para o cuidado e paciência que o pesquisador<strong>de</strong>ve ter ao se trabalhar com materiais visuais, como jáobservado por Begossi e Garavello (1990), principalmenteem se tratando <strong>de</strong> aves com tantas características semelhantes,como os psitací<strong>de</strong>os, sendo necessário, semprerespeitar o tempo <strong>de</strong> adaptação ao material, que envolvea observação e processamento das idéias dos informantes.Ficou evi<strong>de</strong>nte que instrumentos visuais, como aspranchas utilizadas, permitiram um incremento consi<strong>de</strong>rávelna lista <strong>de</strong> psitací<strong>de</strong>os citados pelos informantesdos distritos e auxiliaram os mesmos a recordar elementosda biodiversida<strong>de</strong>, pouco explorados durante as entrevistas,como pequenas diferenças morfológicas, quesão suficientes para diferenciar aves semelhantes, cujosnomes vernaculares apresentam sub-diferenciações (Berlin1973). Ainda, o uso <strong>de</strong> instrumentos áudio-visuais,como pranchas e sons, apresentou-se como uma boa alternativaà realização <strong>de</strong> turnês guiadas (Spradley 1979),que não foram possíveis <strong>de</strong>vido a dificulda<strong>de</strong>s logísticas,uma vez que os principais critérios utilizados pelos informantespara distinguir aves foram a cor, o tamanho e avocalização.Os instrumentos áudio-visuais estimularam os informantese familiares a fazer “visitas <strong>de</strong> campo” nas ruas enos quintais, acompanhados ou não pela pesquisadora,para comparar as características morfológicas das avesas quais eles apresentaram dúvidas, tornando a pesquisamuito mais agradável para ambas as partes.Observou-se que muitas vezes os informantes apresentaramas mesmas dificulda<strong>de</strong>s dos pesquisadores formaisem relação ao aspecto biológico estudado, o que<strong>de</strong>monstra que nenhum grupo <strong>de</strong> observadores do ambiente,seja ele formal ou informal, encontra-se livre <strong>de</strong>dúvidas.Os informantes <strong>de</strong>monstraram ciência acerca da <strong>de</strong>gradaçãodo ambiente e <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> habitats, confirmandoque as ações antrópicas têm influenciado na dinâmica daspopulações naturais, o que parece ser um bom indicativo dapresença <strong>de</strong> potenciais parceiros e multiplicadores em projetos<strong>de</strong> Conservação e Educação Ambiental nos distritos.Envolver uma população em pesquisas etnobiológicasestimula uma re<strong>de</strong>scoberta do meio ao seu redor, oque favorece a prática <strong>de</strong> ações conservacionistas e propiciaresgate cultural do conhecimento. Apenas a presençados pesquisadores do grupo Etnobiologia, Conservação eEducação Ambiental nos distritos rurais <strong>de</strong> Uberlândiajá foi suficiente para promover pequenas mudanças nocomportamento dos moradores, que po<strong>de</strong>m vir a se tornargran<strong>de</strong>s aliados na luta pela conservação dos recursosnaturais na região do Triângulo Mineiro.AgradECIMENTOSAgra<strong>de</strong>cemos aos moradores, aos conselhos comunitários e àsescolas dos distritos rurais <strong>de</strong> Uberlândia, MG, que tão gentilmentenos acolheram, possibilitando a realização <strong>de</strong>ste trabalho.ReferêNCIASAlmeida, S. M.; Franchin, A. G. e Marçal-Júnior, O. (2006). Estudoetnoornitológico no distrito rural <strong>de</strong> Florestina, município <strong>de</strong>Araguari, região do Triângulo Mineiro, Minas Gerais. 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52 Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira CunhaBoesman, P. (2005). Birds of Brazil – MP3 Sound Collection (1.0).Belgium: Merelbeke (CD).Brewer, D. D. (2002). Supplementary Interviewing Techniquesto Maximize Output in Free Listing Tasks. Field Meth.,14(1):108‐118.Bucher, E. H. (1992). Neotropical parrots as agricultural pests. Em:S. R. Beissinger e N. F. R. Sny<strong>de</strong>r (eds) New World parrots incrisis. Washington: Smithsonian Institution Press.Cadima, C. I. e Marçal-Junior, O. (2004). Notas sobre etnoornitologiana comunida<strong>de</strong> do Distrito Rural <strong>de</strong> Miraporanga, Uberlândia,MG. Biosc. J., 20(1):81‐91.CBRO. (2008). Listas das aves do Brasil. www.cbro.org.br/CBRO/listabr (acesso em 08/04/2009).CITES. (2009). 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ARTIGO Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):53-58março <strong>de</strong> 2009Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> histórianatural do gavião‐pombo‐pequeno(Leucopternis lacernulatus), incluindo o registro<strong>de</strong> predação sobre teiú (Tupinambis meriane) emMata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilAna Carolina Srbek-Araujo 1,3 ; Vinicius Del Gaudio Albergaria 1 e Adriano Garcia Chiarello 21 Instituto Ambiental Vale – Caixa Postal nº 91, Bairro Centro, CEP 29.900‐970, Linhares, ES, Brasil.2 Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Zoologia <strong>de</strong> Vertebrados, Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Minas Gerais. Avenida Dom José Gaspar, nº 500,Bairro Coração Eucarístico, CEP 30535‐610, Belo Horizonte, MG, Brasil.3 Autor para correspondência: E‐mail: ana.carolina.srbek@vale.com / srbekaraujo@hotmail.comRecebido em 09/01/2009. Aceito em 06/07/2009.ABSTRACT: A review on distribution and natural history of White-necked Hawk (Leucopternis lacernulatus), including arecord of prey on Tegu Lizard (Tupinambis meriane) at Reserva Natural Vale, southeastern Brazil. The fragmentation and theconversion of forest habitats to other types of land use affected negatively forested species, like the white-necked hawk (Leucopternislacernulatus), an endangered and en<strong>de</strong>mic bird of prey of the Atlantic Forest. Habitat loss, habitat isolation and low population<strong>de</strong>nsity associated with lack of knowledge on the biology of this species are the main threats to its conservation. This article presentsa brief review of the recent field records of Leucopternis lacernulatus over its original geographical distribution and adds newinformation on feeding habits of this bird of prey.Key-WoRDS: camera trap; conservation; forest fragmentation; endangered species; predation.Resumo: A fragmentação e a conversão <strong>de</strong> florestas em outros tipos <strong>de</strong> uso do solo afetam negativamente as espécies típicas<strong>de</strong> ambientes florestais, como o gavião-pombo-pequeno (Leucopternis lacernulatus), que se revela uma ave <strong>de</strong> rapina ameaçada <strong>de</strong>extinção e endêmica da Mata Atlântica. A perda <strong>de</strong> habitat, o isolamento e a baixa <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional nas áreas remanescentes,associados à falta <strong>de</strong> conhecimento sobre a biologia <strong>de</strong>sta espécie, são as principais ameaças à sua conservação. O presente artigoapresenta uma breve revisão dos locais com registro atual <strong>de</strong> Leucopternis lacernulatus ao longo <strong>de</strong> sua distribuição original e reúneinformações relativas à sua dieta e comportamento <strong>de</strong> forrageamento.PALAVRAS-CHAVe: armadilha fotográfica; conservação; espécie ameaçada; fragmentação florestal; predação.O gavião-pombo-pequeno (Leucopternis lacernulatus)(Temminck, 1827) (Falconiformes, Accipitridae) éuma ave <strong>de</strong> rapina <strong>de</strong> médio porte, alcançando cerca <strong>de</strong>50 cm <strong>de</strong> comprimento total e 100 cm <strong>de</strong> envergadura<strong>de</strong> asa (Sick 1997, Amaral e Cabanne 2008). Possui asaslargas e relativamente curtas, sendo a cauda ligeiramentelonga, em comparação com espécies semelhantes (Seipkeet al. 2006). Apresenta cabeça e porções ventrais do corpobranco-puro, sendo a coloração do manto enegrecida acinza escuro (Sick 1997, Seipke et al. 2006). A superfícieventral das asas e da cauda é branca, possuindo emambas estruturas uma estreita faixa submarginal enegrecida(Seipke et al. 2006, Amaral e Cabanne 2008), queconstitui uma característica diagnóstica para a espécie,especialmente quando observada em vôo (Seipke et al.2006).Endêmica da Mata Atlântica, ocorre da Paraíba(Roda e Pereira 2006, Amaral e Cabanne 2008) eAlagoas (Sick 1997, Mallet-Rodrigues et al. 2007) atéSanta Catarina. Embora seja consi<strong>de</strong>rada uma espéciecaracterística da faixa costeira/planície litorânea do país(Sick 1997, Straube e Urben-Filho 2005), Zorzin et al.(2006) relatam sua presença em Minas Gerais, estandoos registros mais recentes concentrados na porção centrale leste <strong>de</strong>ste estado. Sua presença em Minas Geraisé também apontada por Carvalho e Marini (2007) e nacompilação <strong>de</strong> dados apresentada por Amaral e Cabanne2008).


54 Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindoo registro <strong>de</strong> predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia ChiarelloSegundo Mallet-Rodrigues et al. (2007), o gaviãopombo-pequenoocorre em áreas montanhosas acima <strong>de</strong>400 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, embora ocupe especialmente florestas<strong>de</strong> baixada, alcançando até 500 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> (Sick 1997).Segundo Seipke et al. (2006) e Amaral e Cabanne (2008),entretanto, a espécie é observada em maiores altitu<strong>de</strong>s,com registros a cerca <strong>de</strong> 900 m e à altitu<strong>de</strong> máxima <strong>de</strong>2.890 m, respectivamente. No estudo realizado por Zorzinet al. (2006), a espécie foi registrada em localida<strong>de</strong>sem diferentes altitu<strong>de</strong>s, incluindo regiões serranas, tendosido observada planando a 1.300 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, em umfragmento <strong>de</strong> mata secundária contendo áreas <strong>de</strong> camporupestre localizadas nas porções mais elevadas do terreno(Zorzin et al. 2006). Estas informações corroboramWillis e Oniki (2002) que consi<strong>de</strong>ram a espécie frequenteem terras baixas e ocasionalmente presente em terrenoscom altitu<strong>de</strong> mais elevada.Apesar da distribuição atual <strong>de</strong>sta ave <strong>de</strong> rapina sersemelhante à conhecida originalmente para a espécie, ogavião-pombo-pequeno encontra-se atualmente restrito aremanescentes <strong>de</strong> floresta e áreas adjacentes a eles (Amarale Cabanne 2008), revelando-se tipicamente florestal(Sick 1997, Zorzin et al. 2006, Mallet-Rodrigues et al.2007, Simon et al. 2007a) e <strong>de</strong> interior <strong>de</strong> mata (Amarale Cabanne 2008). Entretanto, como consequência dafragmentação e reversão <strong>de</strong> ambientes florestais em áreasalteradas, a espécie tem se tornado cada vez mais rara aolongo <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong> distribuição original.O presente artigo apresenta registros <strong>de</strong> gavião-pombo-pequenoobtidos na Reserva Natural Vale (RNV), localizadana porção norte do Espírito Santo. Estes incluemvisualizações ocasionais e dados obtidos a partir <strong>de</strong> armadilhasfotográficas, compreen<strong>de</strong>ndo também informaçõesrelativas à história natural da espécie. São tambémapresentados registros <strong>de</strong> distribuição do gavião-pombopequeno,consi<strong>de</strong>rando especialmente dados disponíveisna literatura científica, reunindo informações necessáriasà conservação <strong>de</strong>sta ave <strong>de</strong> rapina.MATeRIAL e MétodosA Reserva Natural Vale (RNV) está localizada a30 km ao norte do Rio Doce, entre os municípios <strong>de</strong> Linharese Jaguaré (19°06’‐19°18’S e 39°45’‐40°19’W). AReserva está inserida em uma das áreas <strong>de</strong> extrema importânciabiológica para a conservação da biodiversida<strong>de</strong> daMata Atlântica, no Corredor Central da Mata Atlântica(Ministério do Meio Ambiente et al. 2000), integrandotambém o Sítio do Patrimônio Natural Mundial da Costado Descobrimento, estabelecido pela UNESCO em1999. Recentemente (2008), a RNV recebeu o título <strong>de</strong>Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica,também conferido pela UNESCO. A RNV possuicerca <strong>de</strong> 21.787 ha <strong>de</strong> extensão, apresentando-se contíguaà Reserva Biológica <strong>de</strong> Sooretama (Rebio Sooretama;24.250 ha), com a qual constitui um bloco praticamentecontínuo <strong>de</strong> vegetação nativa, sendo interceptadas pelaRodovia BR‐101. Juntas, estas reservas representam quase10% da área <strong>de</strong> cobertura florestal original remanescenteno Espírito Santo e a maior formação em florestas contínuasdo estado.A RNV apresenta relevo relativamente plano, compostopor uma sequência <strong>de</strong> colinas tabulares, com altitu<strong>de</strong>sentre 28 e 65 m (Jesus e Rolim 2005). O clima naregião é do tipo tropical quente e úmido (Aw), segundoa classificação <strong>de</strong> Köppen, apresentando estação chuvosano verão e seca no inverno (Jesus e Rolim 2005). A temperaturamédia anual é <strong>de</strong> 23,3°C (média das mínimas emáximas = 14,8 e 34,2°C, respectivamente), com umaprecipitação pluviométrica média anual <strong>de</strong> 1.202 mm,observando-se uma forte variação entre anos (Jesus e Rolim2005). Sua hidrografia é composta por uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong>drenagens <strong>de</strong>ndrítica/dicotômica, composta por córregostributários do Rio Barra Seca (Jesus e Rolim 2005). ARNV está localizada nos domínios da Floresta OmbrófilaDensa, segundo o Mapa <strong>de</strong> Vegetação do Brasil (IBGE1993), sendo classificada como Floresta Estacional Perenifóliapor Jesus e Rolim (2005), que representa umatipologia intermediária entre a primeira e a Floresta EstacionalSemi<strong>de</strong>cídua. A vegetação presente na RNV épredominantemente florestal, apresentando trechos <strong>de</strong>mussununga e nativo (Jesus e Rolim 2005). A Reservaapresenta contorno não regular, estando seu entornoconstituído principalmente por pastagem, sendo tambémencontradas áreas <strong>de</strong>stinadas ao cultivo <strong>de</strong> mamão, cafée eucalipto, entre outras culturas (Jesus e Rolim 2005).Amostragens sistematizadas empregando armadilhasfotográficas estão sendo realizadas na RNV <strong>de</strong>s<strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 2005, tendo sido utilizados equipamentos importados(marca Cam Trakker/35 mm, comercializadas pela ForestSuppliers Inc. – EUA) e nacionais (marca Tigrinus/mo<strong>de</strong>loConvencional, fabricadas pela Tigrinus Equipamentospara Pesquisa – Brasil). As armadilhas foram instaladasem estradas internas à Reserva e no interior da mata, <strong>de</strong>acordo com o <strong>de</strong>senho amostral empregado em cada período<strong>de</strong> estudo. São monitorados sempre 10 pontos <strong>de</strong>amostragem mensal consecutiva e não foram empregados,em nenhum momento, atrativos para a fauna (isca).ResuLTADos e DISCuSSãoConforme dados disponíveis na literatura científica,há registros recentes do gavião-pombo-pequeno(obtidos a partir <strong>de</strong> 2000) nos estados <strong>de</strong> Pernambuco,Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio <strong>de</strong> Janeiro, SãoPaulo e Paraná, estando representados, em sua maioria,por ocorrências pontuais (Tabela 1). Registros anterioresa 2000 são também encontrados na literatura científicaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindoo registro <strong>de</strong> predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia Chiarello55TABeLA 1: Registros recentes <strong>de</strong> gavião-pombo-pequeno (Leucopternis lacernulatus) – obtidos a partir <strong>de</strong> 2000, <strong>de</strong> acordo com dados disponíveisna literatura científica e o presente estudo.TABLe 1: Recent records of white-necked hawk (Leucopternis lacernulatus) – collected since 2000, according to data available in scientific literatureand the presente study.Ano Localida<strong>de</strong> Referência Bibliográfica1997 a 2003* 1 Minas Gerais, porção sul da Ca<strong>de</strong>ia do Espinhaço Zorzin et al. (2006)1999 a 2001* 1 Bahia, 10 localida<strong>de</strong>s distribuídas no sul do estado, entre os municípios <strong>de</strong> Nilo Peçanha e Prado Cor<strong>de</strong>iro (2003)2000 Pernambuco, porção ao norte do Rio São Francisco Roda e Pereira (2006)2001 Bahia, município <strong>de</strong> Arataca, Serra das Lontras-Javi Silveira et al. (2005)2003 Espírito Santo, município <strong>de</strong> Vitória, Parque Estadual da Fonte Gran<strong>de</strong> Simon et al. (2007a)2003 Rio <strong>de</strong> Janeiro, município <strong>de</strong> Cachoeiras <strong>de</strong> Macacu, Reserva Ecológica <strong>de</strong> Guapiaçu Olmos et al. (2006)2003 Paraná, município <strong>de</strong> Guaraqueçaba, Reserva Natural Salto Morato Straube e Urben-Filho (2005)2003 ou 2004* 1 Espírito Santo, município <strong>de</strong> Vargem Alta, região <strong>de</strong> Caetés Venturini et al. (2005)2004 São Paulo, municípios <strong>de</strong> Santos e Cubatão, região do Canal <strong>de</strong> Piaçaguera Silva e Silva e Olmos (2007)2005 a 2008* 2 Espírito Santo, município <strong>de</strong> Linhares, Reserva Natural Vale presente estudo2007 Espírito Santo, município <strong>de</strong> Vila Velha, Convento da Penha presente estudo* 1 O ano <strong>de</strong> obtenção do registro não é especificado no documento.* 2 Espécie observada com relativa frequência durante o período citado.(referenciados ao longo do texto), <strong>de</strong>stacando um registroantigo para o estado <strong>de</strong> Santa Catarina (limite sul <strong>de</strong> distribuiçãoda espécie).Segundo Roda e Pereira (2006), o gavião-pombopequenoé consi<strong>de</strong>rado raro no Centro <strong>de</strong> En<strong>de</strong>mismoPernambuco (porção ao norte do Rio São Francisco),ocorrendo em áreas <strong>de</strong> floresta semi-<strong>de</strong>cídua e em formaçõesflorestais abertas e úmidas. A espécie foi registradanesta região através da visualização <strong>de</strong> um espécime emárea <strong>de</strong> floresta madura, a partir <strong>de</strong> amostragens realizadasem 2000 (Roda e Pereira 2006).No sul da Bahia, registros recentes <strong>de</strong> gavião-pombopequenosão apontados para 10 localida<strong>de</strong>s distribuídasentre os municípios <strong>de</strong> Nilo Peçanha e Prado, consi<strong>de</strong>rando30 áreas <strong>de</strong> estudo amostradas por Cor<strong>de</strong>iro (2003),entre 1999 e 2001, incluindo a Reserva Biológica <strong>de</strong> Una(município <strong>de</strong> Una), o Parque Nacional Monte Pascoal(município <strong>de</strong> Porto Seguro), o Parque Nacional do PauBrasil (município <strong>de</strong> Porto Seguro) e o Parque Nacionaldo Descobrimento (município <strong>de</strong> Prado).Silveira et al. (2005) sugerem a presença <strong>de</strong> populaçõesresi<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> gavião-pombo-pequeno, assim como<strong>de</strong> outras aves <strong>de</strong> rapina <strong>de</strong> maior porte, na região entre osul da Bahia e o norte do Espírito Santo, estando a permanência<strong>de</strong>stes grupos relacionada à utilização <strong>de</strong> regiõesmontanhosas como locais <strong>de</strong> alimentação e reprodução, aexemplo da Serra das Lontras-Javi (próximo ao município<strong>de</strong> Arataca, Bahia). Para os autores, a obtenção <strong>de</strong> um númerosignificativo <strong>de</strong> registros da espécie em 2001 sugerea existência <strong>de</strong> um volume suficiente <strong>de</strong> remanescentes,embora a região esteja composta por um mosaico <strong>de</strong> diferenteshabitats, sendo a Serra das Lontras-Javi uma importanteárea para as populações locais <strong>de</strong> falconiformes<strong>de</strong> médio e gran<strong>de</strong> porte em geral (Silveira et al. 2005).No Espírito Santo, a espécie está presente na ReservaNatural Vale (RNV; município <strong>de</strong> Linhares), localizadana porção norte do estado, on<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser observada comrelativa frequência (A. C. Srbek-Araujo obs. pess.). Noestudo realizado por Simon et al. (2007a), no Parque Estadualda Fonte Gran<strong>de</strong> (município <strong>de</strong> Vitória), o gaviãopombo-pequenofoi consi<strong>de</strong>rado pouco comum, a partir<strong>de</strong> dados coletados em 2003. Ainda na Gran<strong>de</strong> Vitória,a espécie foi observada sobrevoando a porção <strong>de</strong> mataque envolve o Convento da Penha (município <strong>de</strong> VilaVelha), em 2007 (V. D. G. Albergaria obs. pess.). Apesar<strong>de</strong> se encontrar em um contexto urbano, o espécimeobservado naquela ocasião expressava comportamentosnaturais para a espécie, apresentando-se em bom estadoaparente <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Outros registros da espécie no EspíritoSanto são apontados para a região <strong>de</strong>nominada Caetés,no município <strong>de</strong> Vargem Alta, porção su<strong>de</strong>ste do estado(Venturini et al. 2005). Apesar dos registros <strong>de</strong> gaviãopombo-pequenocitados por Ruschi (final da década <strong>de</strong>1970) para a Reserva <strong>de</strong> Nova Lombardia (atual ReservaBiológica Augusto Ruschi) e da visualização <strong>de</strong> um espécimeem 1996, próximo à Estação Biológica <strong>de</strong> SantaLúcia, a presença atual da espécie na região <strong>de</strong> Santa Teresa(região serrana do estado) foi consi<strong>de</strong>rada incerta porWillis e Oniki (2002).Zorzin et al. (2006) reúnem vários registros da espécieem Minas Gerais, obtidos no período <strong>de</strong> 1997 a2003, evi<strong>de</strong>nciando a ocorrência da espécie na Ca<strong>de</strong>iado Espinhaço (porção sul <strong>de</strong>sta formação), incluindo aregião metropolitana <strong>de</strong> Belo Horizonte (município <strong>de</strong>Nova Lima) e o Parque Estadual do Rio Doce (municípios<strong>de</strong> Marliéia, Timóteo e Dionísio). A presença do gavião-pombo-pequenona região metropolitana da capitalmineira também foi confirmada por Carvalho e Marini(2007), a partir <strong>de</strong> registros obtidos em 1999 (municípios<strong>de</strong> Belo Horizonte e Nova Lima). Segundo os autores,a espécie foi consi<strong>de</strong>rada rara, ocorrendo em áreasflorestadas e habitats semi-naturais (vegetação secundáriaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


56 Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindoo registro <strong>de</strong> predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia Chiarellona região <strong>de</strong> transição entre os biomas Mata Atlântica eCerrado), não tendo sido registrada em áreas urbanizadas(Carvalho e Marini 2007).Para o estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Olmos et al. (2006)citam o registro <strong>de</strong> gavião-pombo-pequeno para a ReservaEcológica <strong>de</strong> Guapiaçu (município <strong>de</strong> Cachoeiras <strong>de</strong>Macacu), consi<strong>de</strong>rando observação efetuada em 2003,em área <strong>de</strong> floresta secundária. Para este estado, Mallet-Rodrigues et al. (2007) apresentaram também uma coletânea<strong>de</strong> registros obtidos para a região da Serra dosÓrgãos (município <strong>de</strong> Guapimirim), sendo o gaviãopombo-pequenoconsi<strong>de</strong>rado raro e registrado a partir<strong>de</strong> observações esporádicas, embora não sejam relatadosregistros recentes confirmando a presença atual da espéciena região. Alves e Vecchi (2009) também citam a presença<strong>de</strong> gavião-pombo-pequeno em Ilha Gran<strong>de</strong> (município<strong>de</strong> Angra dos Reis), a partir <strong>de</strong> coletas realizadas <strong>de</strong>s<strong>de</strong>1995, embora não seja apresentada a data dos registrosefetuados ou do término do período <strong>de</strong> amostragem consi<strong>de</strong>radono artigo.Em São Paulo, Silva e Silva e Olmos (2007) apontama presença da espécie na região do Canal <strong>de</strong> Piaçaguera(municípios <strong>de</strong> Santos e Cubatão), em 2004, como registro <strong>de</strong> um espécime adulto planando. Segundo osautores, o gavião-pombo-pequeno po<strong>de</strong> ser esporadicamenteobservado nas encostas próximas à Serra do Mar enos morros isolados ao longo da planície costeira, incluindoáreas próximas a cida<strong>de</strong>s (Silva e Silva e Olmos 2007).No sul do país, a espécie foi registrada por Straubee Urben-Filho (2005), na Reserva Natural Salto Morato(município <strong>de</strong> Guaraqueçaba, Paraná), a partir <strong>de</strong> registrosescassos coletados em 2003. Embora a presença dogavião-pombo-pequeno seja citada por Branco (2000)para o Estuário do Saco da Fazenda, na foz do Rio Itajaí-Açú (município <strong>de</strong> Itajaí, Santa Catarina), o autor relata aobtenção <strong>de</strong> um único registro da espécie, datado <strong>de</strong> 1997.Segundo Roda e Pereira (2006), as principais ameaçasà conservação do gavião-pombo-pequeno no Centro<strong>de</strong> En<strong>de</strong>mismo Pernambuco são o isolamento e a baixa<strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> populacional local, a fragmentação e a <strong>de</strong>struiçãodas florestas, embora o status da espécie seja <strong>de</strong>sconhecidopara a região (Roda e Pereira 2006). De formasemelhante, Zorzin et al. (2006) consi<strong>de</strong>ram que a espéciepo<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada em <strong>de</strong>clínio no estado <strong>de</strong> Minas Gerais,em <strong>de</strong>corrência da redução dos remanescentes florestais<strong>de</strong> vegetação nativa. Para Amaral e Cabanne (2008),ativida<strong>de</strong>s como o avanço da agropecuária e a expansão daurbanização na Mata Atlântica, com a consequente <strong>de</strong>struiçãodo bioma, são as principais ameaças a esta espéciealtamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> hábitats florestais. A perseguiçãopara evitar o ataque a animais domésticos tambémtem sido apontada para algumas localida<strong>de</strong>s (Amaral eCabanne 2008).O gavião-pombo-pequeno é atualmente consi<strong>de</strong>rado“Vulnerável” à extinção internacionalmente (IUCN2007) e em território brasileiro (Machado et al. 2005,Amaral e Cabanne 2008). No Brasil, está inserido nacategoria “Criticamente em Perigo” em Minas Gerais(Fundação Biodiversitas 2007) e no estado <strong>de</strong> São Paulo(Secretaria <strong>de</strong> Estado do Meio Ambiente 1998), “Em Perigo”no Paraná (Instituto Ambiental do Paraná 2007) e“Vulnerável” no Rio <strong>de</strong> Janeiro (Alves et al. 2000). Ressalta-seque, entre os estados brasileiros contidos na área <strong>de</strong>distribuição do gavião-pombo-pequeno e que possuemlista oficial <strong>de</strong> espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção, o EspíritoSanto é o único no qual a espécie ainda é consi<strong>de</strong>rada nãoameaçada (Simon et al. 2007b).De forma geral, po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar que a drástica redução<strong>de</strong> hábitat, especialmente nas áreas <strong>de</strong> baixada e nasencostas em baixas altitu<strong>de</strong>s, revela-se a principal ameaçaao gavião-pombo-pequeno (Mallet-Rodrigues et al.2007), ressaltando que a falta <strong>de</strong> conhecimento a cerca<strong>de</strong> sua história natural dificulta a elaboração <strong>de</strong> medidaspara a conservação da espécie, corroborando o apontadopor Amaral e Cabanne (2008).Neste sentido, <strong>de</strong>staca-se, por exemplo, a escassez <strong>de</strong>dados relativos ao hábito alimentar do gavião-pombo-pequeno,se limitando a registros genéricos (gran<strong>de</strong>s gruposzoológicos) e pouco precisos. Assim, po<strong>de</strong>-se citar Sick(1997), que consi<strong>de</strong>ra que esta ave <strong>de</strong> rapina alimenta-se<strong>de</strong> besouros, aranhas e pequenas serpentes, complementadopelo relato <strong>de</strong> Olmos et al. (2006), que observaram umexemplar recém abatido e semi-<strong>de</strong>vorado <strong>de</strong> rã-manteiga(Leptodactylus ocellatus) (Linnaeus, <strong>17</strong>58) (Amphibia,Anura, Leptodactylidae) próximo ao local on<strong>de</strong> um gavião-pombo-pequenoencontrava-se pousado, sugerindoa utilização daquele anfíbio como recurso alimentar poresta espécie <strong>de</strong> predador. Amaral e Cabanne (2008), <strong>de</strong>forma mais ampla, citam a utilização <strong>de</strong> insetos, aranhas,moluscos, serpentes, aves e mamíferos pela espécie.O presente artigo acrescenta o registro <strong>de</strong> predação<strong>de</strong> um indivíduo imaturo <strong>de</strong> teiú (Tupinambis meriane)(Duméril e Bibron, 1839) (Reptilia, Squamata, Teiidae)por gavião-pombo-pequeno no interior da RNV. O gavião-pombo-pequenofoi observado se <strong>de</strong>slocando atravésda estrada Bicuíba (porção oeste da RNV, em trechocom dossel comunicado), no dia 22 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2006,às <strong>17</strong>:20 h, contendo um material não i<strong>de</strong>ntificado presoàs garras. Após sobrevoar os observadores, a ave realizourápida manobra em direção ao interior da mata (ângulo<strong>de</strong> aproximadamente 90°), abandonando o material quecarregava (Figura 1). Este era composto por um pequenoteiú abatido (aproximadamente 20 cm <strong>de</strong> comprimentocorporal) e parcialmente envolvido em uma folha seca <strong>de</strong>embaúba (Cecropia sp.), sugerindo o comportamento <strong>de</strong>apreensão <strong>de</strong> presas no solo, conforme apontado por Sick(1997).O teiú revela-se um lagarto terrestre <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte,po<strong>de</strong>ndo alcançar mais <strong>de</strong> 150 cm <strong>de</strong> comprimentototal (Pianka e Vitt 2003). Mostra-se ativo durante o diaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindoo registro <strong>de</strong> predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia Chiarello57e apresenta hábito alimentar onívoro generalista (itensanimais e vegetais), revelando-se predador <strong>de</strong> várias espécies<strong>de</strong> invertebrados e pequenos vertebrados, estandoamplamente distribuído na América do Sul (Pianka e Vitt2003). Ocorre em vegetação aberta e em áreas <strong>de</strong> borda,além <strong>de</strong> estar presente em ambientes florestais (Wernecke Colli 2006).Registros complementares obtidos durante o estudocom armadilhas fotográficas na RNV (quatro ocasiõesdistintas: 7 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2007 às 12:36 h; 13 <strong>de</strong> fevereiro<strong>de</strong> 2007 às 8:34 h; 31 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 às 13:16 h; e18 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2007 às 9:39 h) reforçam o comportamento<strong>de</strong> apreensão <strong>de</strong> presas no solo, on<strong>de</strong> o gaviãopombo-pequenofoi fotografado no chão, a partir <strong>de</strong> registrosconsecutivos em uma mesma ocasião (intervalomínimo <strong>de</strong> 30 s entre fotografias; Figura 2), não tendosido possível i<strong>de</strong>ntificar as espécies alvo. Registros fotográficossemelhantes foram também obtidos para o urubu-<strong>de</strong>-cabeça-vermelha(Cathartes aura) (Linnaeus, <strong>17</strong>58)(Cathartiformes, Cathartidae) e para outras espécies <strong>de</strong>aves <strong>de</strong> rapina na RNV, sendo o gavião-carijó (Rupornismagnirostris) (Gmelin, <strong>17</strong>88) (Falconiformes, Accipitridae)e uma espécie <strong>de</strong> coruja (corujinha-do-mato – Megascopscholiba) (Vieillot, 18<strong>17</strong>) (Strigiformes, Strigidae).Embora as armadilhas fotográficas não se revelem umequipamento direcionado para a amostragem <strong>de</strong> Aves, osdados obtidos indicam que o mesmo po<strong>de</strong> ser empregadona obtenção <strong>de</strong> dados complementares para este grupo,consi<strong>de</strong>rando as espécies <strong>de</strong> maior porte (i<strong>de</strong>ntificáveis apartir <strong>de</strong> fotografias).Consi<strong>de</strong>ra-se que o <strong>de</strong>sconhecimento sobre o tamanhodas populações e a falta <strong>de</strong> conhecimento a cercada tolerância das espécies aos distúrbios ambientaisdificultam o estabelecimento <strong>de</strong> programas específicos eprioritários para a proteção das aves <strong>de</strong> rapina (Roda e Pereira2006), bem como da fauna <strong>de</strong> maneira geral. Infelizmente,observa-se que os Falconiformes ainda são poucofavorecidos na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> estratégias para a conservaçãoFIGuRA 1: Indivíduo imaturo <strong>de</strong> teiú (Tupinambis meriane) predadopor gavião-pombo-pequeno (Leucopternis lacernulatus) na ReservaNatural Vale.FIGure 1: Immature tegu lizard (Tupinambis meriane) preyed bywhite-necked hawk (Leucopternis lacernulatus) at the Reserva NaturalVale.FIGuRA 2: Sequência <strong>de</strong> registros obtidos a partir <strong>de</strong> armadilha fotográfica(13 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007), reforçando a apreensão <strong>de</strong> presas nosolo por gavião-pombo-pequeno (Leucopternis lacernulatus).FIGure 2: Sequences of camera trap records (2008 February 13),<strong>de</strong>monstrating the prey capture on ground by white-necked hawk(Leucopternis lacernulatus).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


58 Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindoo registro <strong>de</strong> predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia Chiarelloda fauna em áreas <strong>de</strong> Mata Atlântica, <strong>de</strong>vendo ser urgentementeconsi<strong>de</strong>rados em programas regionais <strong>de</strong> conservaçãoque visem o melhor conhecimento <strong>de</strong> sua histórianatural e, especialmente, a recuperação das populaçõessilvestres, corroborando com o apontado por Roda e Pereira(2006).AGRADeCIMeNTosO presente artigo foi realizado com base em registrosobtidos durante coleta <strong>de</strong> dados do projeto intitulado “TamanhoPopulacional, Densida<strong>de</strong> e Uso do Hábitat da Onça-pintada (Pantheraonca; Carnivora; Felidae) na Reserva Natural Vale, Linhares, EspíritoSanto”. Agra<strong>de</strong>cemos à Vale/Instituto Ambiental Vale pelo apoiologístico durante ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> campo e financiamento concedido.Agra<strong>de</strong>cemos também a Felipe Sá Fortes Leite, Samuel Ferreira eGustavo Maganago, pelo auxílio na confirmação da i<strong>de</strong>ntificação dasespécies, e aos assessores ad hoc, pela revisão do manuscrito.ReferêNCIAS BIBLIoGRáFICASAlves, M. A. S. e Vecchi, M. B. (2009). Birds, Ilha Gran<strong>de</strong>, state ofRio <strong>de</strong> Janeiro, Southeastern Brazil. Check List, 5(2):300‐313.Alves, M. A. S.; Pacheco, J. F.; Gonzaga, L. A. P.; Cavalcanti, R. B.;Raposo, M. A.; Yamashita, C.; Maciel, N. C. e Castanheira, M.(2000). Aves, p. 113‐124. Em: H. G. Bergallo; C. F. D. Rocha;M. A. S. Alves e M. Van Sluys (orgs.) A Fauna Ameaçada <strong>de</strong>Extinção do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro. 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ARTIGO Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):59-64março <strong>de</strong> 2009Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares porPhilydor atricapillus e P. rufum (Aves: Furnariidae)em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina 1 e Maria Alice S. Alves 21 Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica, Departamento <strong>de</strong> Ecologia, Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UERJ), Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, Brasil.E‐mail: aline<strong>de</strong>l05@gmail.com2 Departamento Ecologia, Instituto <strong>de</strong> Biologia Roberto Alcantara Gomes, UERJ. Rua São Francisco Xavier, 524, CEP 20550‐011,Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, Brasil. E‐mail: masaal@globo.comRecebido em 02/10/2008. Aceito em 04/08/2009.AbstRAct: Use of food resources by Philydor atricapillus and P. rufum (Aves: Furnariidae) in an Atlantic rainforest at IlhaGran<strong>de</strong>, RJ. Bird species within the Furnariidae are found in vertical strata in the rainforest from the un<strong>de</strong>rstory to the canopy.Their diet is composed mainly by insects and they forrage on arthropods that accumulate in leaves and leaf litter. This study aims toanalyze how two simpatric species, Philydor atricapillus and P. rufum use the food available in the habitat. We estimated arthropodavailability, bird capture rates in mist nets and diet composition (regurgitation using tartar emetic 1% and fecal samples). The studywas carried out in an Atlantic rainforest area (23°10’58”S, 44°12’49”W) with little anthropic disturbance between December 2004and May 2007. The estimate of food availability was ma<strong>de</strong> by collecting green leaves, <strong>de</strong>ad leaves and leaf litter used as substrate forinvertebrates where the birds studied were observed foraging. We used a branch clipper composed of a gar<strong>de</strong>ning scissor and a basketadapted to 2 m aluminum poles. Leaves were collected at four different heights, 1.5 m, 3 m, 4.5 m and 6 m. Ants were the arthropodsmost frequently captured at 1.5 m and spi<strong>de</strong>rs at the other three heights categories. Coleoptera and Orthoptera were also sampledwith high frequency. Both bird species had a similar diet composition, with Coleoptera being the most frequent or<strong>de</strong>r in the faecaland regurgitate samples. Hemiptera was almost as important in the composition of P. rufum diet and for P. atricapillus, Orthopetra,Hemiptera, Formicidae and Lepidoptera were also important. The percentage of success in use of the tartar administration was of93.3% for P. atricapillus, with only two <strong>de</strong>aths occurring in a total of 30 individuals subjected to the method, and 100% for P. rufumin a total of 16 individuals.Key-WoRDS: Philydor, diet, food availability, Atlantic forest.ReSUMo: Espécies <strong>de</strong> aves da família Furnariidae ocupam estratos verticais na floresta que vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o solo até o dossel,apresentam dieta predominantemente insetívora e forrageiam pela retirada <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s que se acumulam em folhiço suspensoe folhas. O presente trabalho teve como objetivos analisar como duas espécies congêneres e simpátricas, Philydor atricapillus eP. rufum, utilizam o alimento disponível no ambiente. Para isso foram realizadas estimativas <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s noambiente, captura das aves com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina e análises <strong>de</strong> dieta (amostras <strong>de</strong> fezes e <strong>de</strong> regurgitos, utilizando-se o tartarato <strong>de</strong>antimônio e potássio a 1%).O estudo foi realizado em área <strong>de</strong> Mata Atlântica pouco perturbada antropicamente na Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ(23°10’58”S, 44°12’49”W), entre <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2004 e maio <strong>de</strong> 2007. A estimativa <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s no ambientefoi realizada coletando-se folhas ver<strong>de</strong>s, secas e folhiço suspenso, utilizados como substrato por invertebrados on<strong>de</strong> as aves estudadasforam observadas forrageando. Utilizou-se um coletor composto por uma tesoura <strong>de</strong> poda e um cesto coletor adaptados a tubosarticuláveis <strong>de</strong> alumínio <strong>de</strong> 2 m <strong>de</strong> comprimento. As coletas foram realizadas nas alturas <strong>de</strong> 1,5 m, 3 m, 4,5 m e 6 m. Formigasforam os artrópo<strong>de</strong>s mais capturados a 1,5 m e aranhas nas <strong>de</strong>mais alturas. Or<strong>de</strong>ns como Coleoptera e Orthoptera também foramamostradas com freqüência relativamente elevada. Ambas espécies apresentaram composição <strong>de</strong> dieta similar sendo Coleoptera aor<strong>de</strong>m mais freqüentemente registrada nas amostras <strong>de</strong> fezes e regurgitos. Hemiptera teve importância similar na composição dadieta <strong>de</strong> P. rufum e para P. atricapillus, Orthoptera, Hemiptera, Formicidae e Lepidoptera também foram importantes. O total <strong>de</strong>sucesso na administração do tártaro emético foi <strong>de</strong> 93,3% (n = 30) para P. atricapillus, ocorrendo apenas duas mortes em <strong>de</strong>corrênciada aplicação do método, e 100% (n = 16) para P. rufum.PalavRAS-Chave: Philydor, dieta, disponibilida<strong>de</strong> alimentar, Mata Atlântica.O entendimento sobre interações entre recursos alimentarese seus consumidores é fundamental para estudos<strong>de</strong> ecologia. A extensa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses recursos é consi<strong>de</strong>radacomo uma das principais razões para a elevadariqueza da fauna em regiões tropicais (Karr e Brawn 1990).A composição da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> plantas, por exemplo,influencia a composição <strong>de</strong> comunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aves e a ecologiadas espécies (Whelan 2001, Hasui et al. 2007).


60 Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina e Maria Alice S. AlvesO passo primordial ao se trabalhar com estimativas<strong>de</strong> recursos alimentares no ambiente é a escolha <strong>de</strong>um método <strong>de</strong> amostragem a<strong>de</strong>quado (Wolda 1990). Aassociação do método selecionado com dados <strong>de</strong> dietatambém é importante porque, sabendo quais tipos <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>ssão ingeridos pelas aves, o método selecionadoserá diretamente relacionado com o comportamento e omodo <strong>de</strong> vida dos mesmos (Poulin e Lefebvre 1997). Para<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> dieta <strong>de</strong> aves, o método <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> fezesé o mais fácil para obtenção <strong>de</strong> amostras, causando poucodistúrbio (Rosenberg e Cooper 1990), enquanto o uso <strong>de</strong>substâncias químicas eméticas para indução <strong>de</strong> regurgitosé, provavelmente, o melhor método (Poulin et al. 1994).O presente estudo aborda a utilização <strong>de</strong> recursospor duas espécies do gênero Philydor, pertencentes à famíliaFurnariidae, uma das maiores da região neotropical(Sick 1997). Essa família inclui espécies predominantementeinsetívoras (Mallet-Rodrigues 2001), especialistasem forragear pela retirada <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s que se acumulamem folhas mortas e folhiço suspenso (Remsen e Parker1984). O gênero Philydor possui aproximadamente<strong>de</strong>z espécies arborícolas encontradas principalmente emflorestas úmidas (Mallet-Rodrigues 2001) e que ocasionalmenteformam bandos mistos com espécies da famíliaDendrocolaptidae, com as quais compartilham semelhançascomo coloração e vocalização (Sick 1997).As espécies <strong>de</strong> aves estudadas foram Philydor atricapillus,endêmica <strong>de</strong> Mata Atlântica (Bencke et al. 2006),po<strong>de</strong>ndo ser encontrada também na Argentina e no Paraguaie Philydor rufum, que ocorre do Panamá à Bolívia,na Argentina, e no Brasil em toda a área Meridional eCentral (Sick 1997). Estudos <strong>de</strong> dieta <strong>de</strong> P. atricapillus(Mallet-Rodrigues 2001) e P. rufum (Ribeiro 2001) emáreas <strong>de</strong> Mata Atlântica do Rio <strong>de</strong> Janeiro e Minas Gerais,respectivamente, encontraram um padrão predominantementeinsetívoro, além <strong>de</strong> indicarem uma elevada eficiênciada utilização <strong>de</strong> substância emética nos regurgitos paraestas espécies <strong>de</strong> aves.A relação entre a disponibilida<strong>de</strong> das presas no ambientee sua utilização por uma <strong>de</strong>terminada espécie <strong>de</strong>ave continua pouco documentada (Mallet-Rodrigues2001), principalmente pela dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> se estimar adisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses recursos (Poulin e Lefebvre 1997).Além disso, estudos ornitológicos sobre dieta ainda são escassose geralmente priorizam espécies frugívoras (Ribeiro2001). Um dos poucos estudos sobre dieta que quantificaa utilização <strong>de</strong> recursos por diversas espécies <strong>de</strong> aves emsub-bosque <strong>de</strong> Mata Atlântica, utilizando tártaro eméticofoi o <strong>de</strong> Durães e Marini 2003. O presente estudo procurapreencher essa lacuna e teve como objetivos <strong>de</strong>terminare comparar a composição da dieta <strong>de</strong> P. atricapilluse P. rufum; <strong>de</strong>terminar o sucesso <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> tártaroemético para as duas espécies <strong>de</strong> aves estudadas; estimaros artrópo<strong>de</strong>s do ambiente disponíveis como presas e suaseleção por P. atricapillus e P. rufum.Área <strong>de</strong> Estudo e MétodosO estudo foi realizado em uma área <strong>de</strong> Mata Atlânticana face oceânica da Ilha Gran<strong>de</strong>, a maior ilha do Estadodo Rio <strong>de</strong> Janeiro. Localizada no município <strong>de</strong> Angrados Reis, essa ilha apresenta clima sem estações <strong>de</strong>finidas,predominantemente quente e úmido, com temperaturamédia <strong>de</strong> 23°C e precipitação anual <strong>de</strong> <strong>17</strong>00 mm em média(Araújo e Oliveira 1988). O local específico do estudo(23°10’58”S, 44°12’49”W) está situado em área <strong>de</strong>encosta a aproximadamente 240 m <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi<strong>de</strong>marcada uma gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> 5 ha. A dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> acessoreflete em uma baixa perturbação antrópica, justificadapela elevada riqueza <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> bromélias (Almeida1997). O registro <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> aves tais como Lipauguslanioi<strong>de</strong>s, Pyro<strong>de</strong>rus scutatus (ambos Cotingidae), Amazonarhodocoryta (Psitacidae) e Leucopternis lacernulata(Accipitridae) (Alves 2001) indicam um bom estado <strong>de</strong>conservação. O sub-bosque é relativamente esparso e penetrávele o dossel é elevado, apresentando árvores comaltura média <strong>de</strong> 23 m, mas que po<strong>de</strong>m alcançar até 40 m(Vecchi 2007).Captura das aves e coleta <strong>de</strong> amostras <strong>de</strong> fezes e regurgitosDurante 30 meses foram realizadas excursões mensaisà área <strong>de</strong> estudo. As aves foram capturadas por doisdias consecutivos, em uma gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> 5 ha, utilizando-sere<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina (12 x 2,6 m, malha 36 mm), sendo 10re<strong>de</strong>s no sub-bosque (do solo até 3 m <strong>de</strong> altura) e 10re<strong>de</strong>s no sub-dossel (aproximadamente 15 m <strong>de</strong> altura)simultaneamente. Para as re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> sub-dossel utilizou-sea estrutura <strong>de</strong> um trabalho que comparou a assembléia<strong>de</strong> aves <strong>de</strong>sses dois estratos (Vecchi 2007). As re<strong>de</strong>s foramcolocadas em pontos alternados a cada mês, visandoamostrar a área <strong>de</strong>marcada como um todo. A aberturadas re<strong>de</strong>s foi efetuada ao amanhecer (06:30 h) e estas permaneceramabertas por um período <strong>de</strong> 7 h consecutivas,sendo revisadas a intervalos regulares.Todas as aves capturadas foram acondicionadas emsacos <strong>de</strong> algodão limpos e, em seguida foram individualmentemarcadas (com anilhas metálicas cedidas pelo CE‐MAVE/IBAMA e anilhas coloridas). Foram registradostambém o estrato (sub-bosque ou sub-dossel) e o horário<strong>de</strong> captura <strong>de</strong> cada indivíduo.As amostras <strong>de</strong> regurgitos foram conseguidas atravésda administração via oral <strong>de</strong> tártaro emético (tartarato <strong>de</strong>antimônio e potássio 1%) na proporção <strong>de</strong> 0,8 ml <strong>de</strong> tártaropor 100 g <strong>de</strong> peso da ave (segundo Tomback 1975).As aves foram mantidas em um recipiente plástico fechado(15 x 10 x 10 cm), com furos na tampa, por 15 minutose em seguida, liberadas. As amostras <strong>de</strong> regurgitos,assim como as amostras <strong>de</strong> fezes eventualmente encontradasnos sacos <strong>de</strong> algodão foram coletadas e armazenadasem álcool 70% para análise posterior em laboratório.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina e Maria Alice S. Alves61Estimativas <strong>de</strong> disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>sCom base em observações <strong>de</strong> forrageamento, foramaleatoriamente amostrados nove pontos em área em quejá se sabia as espécies estarem presentes. Em cada um dospontos, foram feitas coletas <strong>de</strong> folhas na vegetação emquatro alturas (1,5 m; 3 m; 4,5 m e 6 m).O material utilizado foi uma tesoura <strong>de</strong> poda e umcesto coletor adaptados a tubos articuláveis <strong>de</strong> alumínio<strong>de</strong> aproximadamente dois metros <strong>de</strong> comprimento emcada segmento. Conectores <strong>de</strong> ferro foram usados paraunir os tubos até a altura <strong>de</strong>sejada. A tesoura <strong>de</strong> poda eraacionada do chão a partir <strong>de</strong> um cabo <strong>de</strong> aço que permitiaseu fechamento e abertura. Para minimizar a fuga dosinvertebrados, o cesto coletor foi revestido por tecido <strong>de</strong>malha fina (filó, malha 1 mm). Um tipo semelhante <strong>de</strong>cortador <strong>de</strong> ramos utilizado para coletar folhas foi usadono estudo <strong>de</strong> Johnson (2000). As folhas coletadas foramcolocadas em sacos plásticos, juntamente com algodãoembebido em éter para provocar a morte dos artrópo<strong>de</strong>s,lacradas para posterior análise em laboratório.Análise das amostrasAs amostras <strong>de</strong> fezes e <strong>de</strong> regurgitos foram examinadasem laboratório com o uso <strong>de</strong> microscópio estereoscópico(Olympus SZX9 aumento 6.3 a 57). Os itensalimentares foram classificados até o nível taxonômico <strong>de</strong>or<strong>de</strong>m. A contagem dos itens foi feita <strong>de</strong> acordo com amorfologia do artrópo<strong>de</strong> encontrado. Por exemplo, duasasas e uma cabeça <strong>de</strong> Hemiptera foram consi<strong>de</strong>ras comoapenas um indivíduo. Esse procedimento foi o mesmoadotado por outros autores (e.g. Ribeiro 2001, Durães eMarini 2003, Vecchi 2002).As folhas coletadas foram triadas e todos os artrópo<strong>de</strong>se outros invertebrados encontrados foram recolhidose armazenados em álcool (70%). A i<strong>de</strong>ntificação tambémfoi realizada até o nível <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m.Por apresentarem características tanto morfológicasquanto comportamentais diferentes do restante dos Hymenoptera,e também para facilitar a comparação comoutros estudos, Formicidae foi agrupado em uma categoriaà parte. Adicionalmente, <strong>de</strong>vido a sua gran<strong>de</strong> abundância<strong>de</strong> coleta no presente estudo, foram feitas análisesseparadas que excluem a família Formicidae, evitando assimresultados ten<strong>de</strong>nciosos.Estágios <strong>de</strong> vida imaturos tais como larvas, pupas,ninfas e ovos também foram agrupados em categoriasseparadas.Análise estatísticaPara comparação dos artrópo<strong>de</strong>s encontrados na dietacom os disponíveis no ambiente, foi utilizado o Índice<strong>de</strong> eletivida<strong>de</strong> (D) (Jacobs 1974), com a fórmula:D =Rk – Pk(Rk + Pk) – (2. Rk . Pk)on<strong>de</strong> “k” representa a categoria alimentar consi<strong>de</strong>rada e“R” e “P” representam a proporção <strong>de</strong>ssa categoria na dietae no ambiente, respectivamente. O valor do índice varia<strong>de</strong> ‐1 a +1. Valores negativos indicam que as presas sãoencontradas mais freqüentemente no ambiente do que nadieta, enquanto valores positivos indicam que as presasestão proporcionalmente mais abundantes na dieta doque no ambiente; quando o valor do índice é 0 significaque o recurso é consumido na mesma proporção em queestá disponível no meio ambiente.DietaReSUltADosPara P. atricapillus, foram obtidas 40 amostras (22<strong>de</strong> regurgitos e 18 <strong>de</strong> fezes) e para P. rufum 24 amostras(12 <strong>de</strong> regurgitos e 12 <strong>de</strong> fezes). Deste total, seis amostras<strong>de</strong> fezes (cinco para P. atricapillus e uma para P. rufum)apresentaram conteúdo amorfo, e não foram incluídasnos cálculos finais.Foram registrados, nas amostras <strong>de</strong> fezes e regurgitos,sete grupos <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s para P. atricapillus e cincopara P. rufum. A categoria alimentar mais freqüente eabundante na dieta <strong>de</strong> ambas espécies foi Coleoptera. Emtermos <strong>de</strong> abundância, Orthoptera, Hemiptera, Formicidaee Lepidoptera foram presentes em proporções semelhantesna dieta <strong>de</strong> P. atricapillus assim como Formicidaee Hemiptera foram similares na dieta <strong>de</strong> P. rufum (Tabela1). A or<strong>de</strong>m Lepidoptera foi ingerida apenas em seuestágio <strong>de</strong> larva, nenhum indivíduo adulto foi encontradonas amostras analisadas.Trinta indivíduos <strong>de</strong> P. atricapillus e 16 indivíduos<strong>de</strong> P. rufum foram induzidos ao regurgito com tártaroemético. Oito indivíduos da primeira espécie e quatro dasegunda não regurgitaram, sendo que para P. atricapillusocorreram duas mortes em casos <strong>de</strong> insucesso. O percentual<strong>de</strong> regurgitações positivas foi <strong>de</strong> 80% (n = 24) paraP. atricapillus e 75% (n = 8) para P. rufum Em 10 indivíduos<strong>de</strong> P. atricapillus e um <strong>de</strong> P. rufum não ocorreu administraçãodo tártaro emético por terem sido capturadosnas primeiras horas do dia, <strong>de</strong> acordo com a recomendação<strong>de</strong> Durães e Marini (2003) <strong>de</strong> se evitar esse horário<strong>de</strong>vido às aves terem tido pouco tempo para forragear.Disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s no ambientee seleção pelas espécies <strong>de</strong> aves estudadasAraneae foi a or<strong>de</strong>m mais freqüentemente coletadaem todas as alturas, exceto 1,5 m, on<strong>de</strong> a família Formicidaefoi a mais coletada. Coleoptera foi a segunda or<strong>de</strong>mRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


62 Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina e Maria Alice S. AlvesTabela 1: Freqüência <strong>de</strong> ocorrência e abundância percentual dos itens alimentares registrados para Philydor atricapillus e P. rufum em área <strong>de</strong> MataAtlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ. – significa ausência <strong>de</strong> registros.tAble 1: Frequency of occurency and percentual abundance of food items recor<strong>de</strong>d for Philydor atricapillus and P. rufum in an Atlantic rainforestof Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ. – means lack of records.Categoria alimentarPhilydor atricapillusPhilydor rufumocorrência (n = 35) % abundância (n = 57) % ocorrência (n = 23) % abundância (n = 72) %InsetosColeoptera (25) 71,4 (24) 42,1 (16) 69,6 (27) 37,5Formicidae (6) <strong>17</strong>,1 (7) 12,3 (8) 34,8 (<strong>17</strong>) 23,6Orthoptera (8) 22,8 (8) 14,0 — —Hemiptera (7) 20,0 (7) 12,3 (15) 65,2 (18) 25,0Lepidoptera (5) 14,2 (6) 10,5 — —Ootecas (3) 7,5 (3) 5,3 (7) 30,4 (9) 12,5Outros artrópo<strong>de</strong>sAraneae — — (1) 4,3 (1) 1,4Miriapoda (4) 11,4 (2) 3,5 — —mais coletada a 3 m, 4,5 m e 6 m e a terceira mais coletadaa 1,5 m (Tabela 2). Excluindo-se Formicidae completamentedas análises, Araneae passa a ser a or<strong>de</strong>m maisabundante também a 1,5 m. Coleoptera passa a ser a segundaor<strong>de</strong>m mais abundante nas quatro alturas, seguidapor Ortoptera, sendo 6 m a única altura on<strong>de</strong> essa or<strong>de</strong>mé superada em abundância pela or<strong>de</strong>m Blattaria. A 3 me 4,5 m, as or<strong>de</strong>ns Lepidoptera, Diptera e Hymenopteraestiveram entre as sete mais abundantes. Hemiptera foi aquarta or<strong>de</strong>m mais abundante a 3 m e a quinta a 6 m <strong>de</strong>altura. Larvas foram mais abundantes a 4,5 m e 6 m <strong>de</strong>altura.Não foram coletados indivíduos adultos da or<strong>de</strong>mLepidoptera, mas <strong>de</strong>vido à fase <strong>de</strong> larva ser a mesmatAbela 2: Percentagem <strong>de</strong> abundância das or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong> invertebradosamostradas em diferentes alturas acima do solo entre os meses <strong>de</strong>junho <strong>de</strong> 2006 e maio <strong>de</strong> 2007, em área <strong>de</strong> Mata Atlântica da IlhaGran<strong>de</strong>, RJ. – significa ausência <strong>de</strong> registros.Table 2: Percentage of occurency of invertebrate or<strong>de</strong>rs sampled atdifferent heights between june 2006 and may 2007 in an Atlanticrain forest at Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ. – means lack of records.Alturas amostradas (m)Categorias <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s 1,5 m 3 m 4,5 m 5 mn = 351 n = 187 n = 138 n = 139Gastropoda 1,1 2,1 1,4 2,2Isopoda 1,4 1,6 — 5,8Araneae 15,4 26,7 31,2 21,6Miriapoda 1,4 0,5 — 5,0Opilionidae 0,9 1,1 0,7 3,6Orthoptera 5,7 9,6 10,9 8,6Blattaria 2,8 2,7 1,4 10,8Psocoptera — 1,6 — —Neuroptera — 0,5 — —Coleoptera 7,1 11,8 13,0 13,7Lepidoptera 1,1 5,9 6,5 3,6Diptera 1,4 7,0 5,8 1,4Formicidae 56,4 10,7 8,7 2,9Hymenoptera 1,4 5,3 8,0 0,7Hemiptera 1,1 7,5 2,2 7,2Homoptera — 1,1 0,7 0,7Ootecas 0,4 0,5 2,9 3,6Larvas 2,3 3,7 6,5 8,6i<strong>de</strong>ntificada nas amostras <strong>de</strong> fezes e regurgitos <strong>de</strong> P. atricapillus,essa or<strong>de</strong>m foi consi<strong>de</strong>rada à parte, e não juntamentecom o restante dos estágios imaturos.O índice <strong>de</strong> eletivida<strong>de</strong> mostrou que P. atricapillusselecionou seis itens, (cinco <strong>de</strong>les em proporções muitosimilares), sendo eles em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, Miriapoda,ootecas, Hemiptera, Coleoptera, Lepidoptera e Orthopterae evitou Araneae e Formicidae (Figura 1). Philydorrufum selecionou apenas três itens, sendo ootecas e Hemipteraaqueles com maiores proporções seguidos porColeoptera, e evitou algumas or<strong>de</strong>ns selecionadas peloseu congênere, como Orthoptera, Lepidoptera e Miriapoda(Figura 2).DIScUSSãoO método utilizado para avaliar a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>artrópo<strong>de</strong>s no presente estudo pareceu ser eficiente paraas espécies <strong>de</strong> aves estudadas, pois através <strong>de</strong>le conseguiusecapturar todas as or<strong>de</strong>ns por elas consumidas.Assim como no trabalho <strong>de</strong> Johnson (2000), o métodonão amostrou insetos muito ativos como libélulas emoscas. Mas, como não fizeram parte da dieta <strong>de</strong> P. atricapilluse P. rufum, não tiveram influência no resultadofinal.As dietas <strong>de</strong> ambas espécies <strong>de</strong> aves estudadas foramcompostas totalmente por artrópo<strong>de</strong>s, não sendo nenhumfruto (ou qualquer outro material vegetal) encontrado nasamostras. As duas espécies <strong>de</strong> aves estudadas foram similaresquanto à composição e à diversida<strong>de</strong> da dieta. Dosoito grupos <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>s presentes nas amostras, meta<strong>de</strong>foi consumida por ambas. Com relação à abundância<strong>de</strong> itens, P. rufum apresentou um número superior ao <strong>de</strong>P. atricapillus, mesmo com o número total <strong>de</strong> amostras daprimeira espécie sendo inferior. O número <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong>artrópo<strong>de</strong>s foi similar para ambas as espécies <strong>de</strong> aves estudadas.As médias ± <strong>de</strong>svios padrão <strong>de</strong> massa corporal paraindivíduos <strong>de</strong> P. atricapillus e P. rufum foram 20,2 ± 1,8(n = 10) e 25,6 ± 0,9 (n = 10), respectivamente. ParaRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina e Maria Alice S. Alves63P. atricapillus, Coleoptera foi a or<strong>de</strong>m com abundância eocorrência mais expressivas, sendo Orthoptera, Hemipterae Formicidae também freqüentes. Para P. rufum, Coleopterae Hemiptera tiveram praticamente a mesma importância.A presença <strong>de</strong> apenas um indivíduo da or<strong>de</strong>mAraneae sugere que esse item foi consumido ao acaso, ouque o número <strong>de</strong> amostras obtidas não foi suficiente paraexpressar uma proporção real <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong>sse item. EntretantoSchubart et al. (1965) encontraram elevada proporção<strong>de</strong>ssa or<strong>de</strong>m para P. rufum. Para ambas espécies, afamília Formicidae, registrada como altamente disponívelno ambiente, foi consumida em proporções similares a artrópo<strong>de</strong>smenos disponíveis como Lepidoptera, Orthopterae ootecas.Levando-se em conta o índice <strong>de</strong> eletivida<strong>de</strong>, o presenteestudo encontrou alta rejeição à or<strong>de</strong>m Araneae,e preferência pelas or<strong>de</strong>ns Miriapoda e Hemiptera paraP. atricapillus, ao contrário do encontrado por Mallet-Rodrigues(2001), que trabalhou em área <strong>de</strong> Mata Atlânticada Serra dos Órgãos, no estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, e registroupara essa espécie seleção da or<strong>de</strong>m Araneae e índicenulo para as outras duas or<strong>de</strong>ns mencionadas. Porém, emambos estudos Coleoptera foi a or<strong>de</strong>m com maior ocorrêncianas amostras e Lepidoptera, Coleoptera e ootecasforam selecionados para P. atricapillus. Para P. rufum, opresente estudo encontrou a or<strong>de</strong>m Coleoptera comopredominante, com formigas tendo menor importânciana composição da dieta. Esses dados estão <strong>de</strong> acordo como estudo <strong>de</strong> Ribeiro (2001), que trabalhou em área <strong>de</strong>Mata Atlântica em Minas Gerais. Entretanto, ootecas eindivíduos da or<strong>de</strong>m Hemiptera, que foram encontradosquase na mesma proporção que Coleoptera no presenteestudo, não foram i<strong>de</strong>ntificados em nenhuma amostrapor Ribeiro (2001).As diferenças encontradas nas composições das dietaspara P. atricapillus e P. rufum nos estudos <strong>de</strong> Mallet-Rodrigues (2001) e Ribeiro (2001) respectivamente, po<strong>de</strong>mser atribuídas a diferenças na fauna <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>sdisponíveis como presa para as duas espécies <strong>de</strong> Philydornas distintas áreas <strong>de</strong> estudo, a variações entre os indivíduosdas espécies nas diferentes localida<strong>de</strong>s em que foramestudadas, além <strong>de</strong> questões relacionadas ao ambiente,ou seja, apesar dos três estudos terem sido realizados emMata Atlântica, características específicas <strong>de</strong> cada ambientepo<strong>de</strong>m ter influenciado os resultados finais.Autores como Rosenberg e Cooper (1990) mencionamque a diferença na composição do corpo dos artrópo<strong>de</strong>s,ou seja, se eles apresentam partes duras ou moles,influi na digestão estomacal por parte das aves. Isso po<strong>de</strong>justificar uma maior presença <strong>de</strong> Coleoptera nas amostras,já que esses são compostos principalmente <strong>de</strong> partes duras.Porém, <strong>de</strong> acordo com Chapman e Rosenberg (1991),até Orthoptera, que apresenta corpo predominantementemole, possuem partes mais duras como o aparelho bucal.Logo, especialistas em entomologia po<strong>de</strong>m ser capazes <strong>de</strong>distinguir essas partes mesmo em amostras fragmentadas.Ambas espécies estudadas apresentaram resposta positivaao tratamento com o tártaro emético. Ocorreramapenas dois óbitos para P. atricapillus, o que correspon<strong>de</strong>a 93,3% <strong>de</strong> sucesso e para P. rufum houve 100% <strong>de</strong> sucesso.Esses resultados estão <strong>de</strong> acordo com os estudos <strong>de</strong>Mallet-Rodrigues (2001) que obteve 91% <strong>de</strong> sucesso paraa primeira espécie e Ribeiro (2001) que obteve sucessoigual ao do presente estudo trabalhando com a segundaespécie. Isso indica que o tártaro emético po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radocomo um método eficiente para estudos <strong>de</strong> dietapara ambas as espécies <strong>de</strong> aves.O índice <strong>de</strong> eletivida<strong>de</strong> mostrou que P. rufum selecionouapenas três or<strong>de</strong>ns, Coleoptera, Hemiptera e ootecas.Essas também foram selecionadas por P. atricapillusem proporções relativamente similares. Com relação aositens evitados, ambos evitaram a or<strong>de</strong>m Araneae e formigas,todavia como esses são os artrópo<strong>de</strong>s mais disponíveisno ambiente, para que o índice refletisse uma seleção positiva,essas or<strong>de</strong>ns teriam que ser consumidas em elevadasproporções. Philydor rufum apresentou alto índice <strong>de</strong>FIGURA 1: Índice <strong>de</strong> eletivida<strong>de</strong> para os diferentes grupos <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>sconsumidos por Philydor atricapillus em área <strong>de</strong> Mata Atlânticada Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ.FIGURe 1: Electivity in<strong>de</strong>x for diferent groups of arthopods consumedby Philydor atricapillus in an Atlantic forest at Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ.FIGURA 2: Índice <strong>de</strong> eletivida<strong>de</strong> para os diferentes grupos <strong>de</strong> artrópo<strong>de</strong>sconsumidos por Philydor rufum em área <strong>de</strong> Mata Atlântica daIlha Gran<strong>de</strong>, RJ.FIGURe 2: Electivity in<strong>de</strong>x for diferent groups of arthopods consumedby Philydor rufum in an Atlantic forest at Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


64 Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina e Maria Alice S. Alvesrejeição para a or<strong>de</strong>m Orthoptera, que se mostrou comabundância relativamente expressiva em todas as alturas,sendo a terceira ou quarta or<strong>de</strong>m mais capturada no ambiente.Quando o consumo para os itens muito abundantesno meio for baixo, não há dúvida que esses itens sãoevitados pelas espécies, como ocorreu com alguns itensrelacionados no presente estudo. Entretanto, levando-seem conta a capacida<strong>de</strong> e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingestão <strong>de</strong> itensalimentares pelos indivíduos, <strong>de</strong>ve-se consi<strong>de</strong>rar a dificulda<strong>de</strong><strong>de</strong> consumo <strong>de</strong> itens muito disponíveis no ambienteem proporção semelhante ao amostrado. Além disso, emtermos comportamentais é possível que indivíduos possamdar preferência a itens menos abundantes ou disponíveis,quando os encontram, visto que po<strong>de</strong>m consumiros muito abundantes a qualquer momento.Os resultados do presente estudo indicam que asduas espécies <strong>de</strong> aves amostradas selecionam or<strong>de</strong>ns <strong>de</strong>artrópo<strong>de</strong>s similares e evitam itens que se encontrammais disponíveis no ambiente, na área <strong>de</strong> Mata Atlânticaestudada.AGRADecIMentosAgra<strong>de</strong>ço a equipe do laboratório <strong>de</strong> Ecologia <strong>de</strong> aves daUERJ, que foi fundamental principalmente na coleta dos dados. Aoprofessor José Ricardo Miras Mermu<strong>de</strong>s (IBRAG, UERJ) e ao VagnerReis da Silveira (Departamento <strong>de</strong> Entomologia, UFRJ) pela imensaajuda com a triagem e i<strong>de</strong>ntificação dos artrópo<strong>de</strong>s. A toda equipedo Centro <strong>de</strong> Estudos Ambientais e Desenvolvimento Sustentável(CEADS)/Ilha Gran<strong>de</strong>, principalmente Dan (in memóriam) e aosmoradores da Vila Dois Rios. Ao Davor Vrcibradic, pela ajuda com atradução do abstract. Ao Instituto Biomas e à I<strong>de</strong>a Wild pela concessão<strong>de</strong> materiais indispensáveis para o <strong>de</strong>senvolvimento do projeto. AoCEMAVE e ao IBAMA pelas licenças <strong>de</strong> captura e anilhamento e pelasanilhas metálicas para a marcação das aves capturadas. À Sub-reitoria<strong>de</strong> Pós Graduação e Pesquisa (SR‐2) da UERJ pela concessão <strong>de</strong> umabolsa durante todo o período <strong>de</strong> Iniciação Científica para A.F.P.D.,no qual o presente trabalho foi <strong>de</strong>senvolvido, e pelo apoio financeiroe administrativo para as pesquisas no CEADS. O CNPq conce<strong>de</strong>ubolsa <strong>de</strong> Pesquisador e grant associado para M.A.S.A.(processonº 3027185/03‐6).ReferêncIASAlmeida, D. R. (1997). Composição, riqueza e diversida<strong>de</strong> dascomunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bromeliáceas em diferentes ambientes <strong>de</strong> área <strong>de</strong>Mata Atlântica da Vila Dois Rios, Ilha Gran<strong>de</strong>, RJ. Monografia<strong>de</strong> Bacharelado, Instituto <strong>de</strong> Biologia Roberto Alcantara Gomes,Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro, Rio <strong>de</strong> Janeiro.Alves, M. A. S. (2001). Estudos <strong>de</strong> Ecologia <strong>de</strong> aves na Ilha Gran<strong>de</strong>,Rio <strong>de</strong> Janeiro. Em: Albuquerque, J. L. B, Cândido, J. F. Jr,Straube, F. C. e Roos, A. L. (Eds) <strong>Ornitologia</strong> e conservação – daciência as estratégias. Tubarão: UnisulAraújo, D. e Oliveira, R. (1988). 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NOTA Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):65-69março <strong>de</strong> 2009Dados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhadosem Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Luiz Augusto Macedo Mestre 1,2 ; Andrei Langeloh Roos 1,3 e João Luiz Xavier do Nascimento 1,41 Centro Nacional <strong>de</strong> Pesquisa para Conservação das Aves Silvestres (CEMAVE) – Instituto Chico Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Conservação da Biodiversida<strong>de</strong>(ICMBio). Floresta Nacional da Restinga <strong>de</strong> Cabe<strong>de</strong>lo, BR 230, Km 11, Cabe<strong>de</strong>lo, PB, Brasil.2 Email: luiz.mestre@gmail.com3 Email: andrei.roos@icmbio.gov.br4 Email: joao.nascimento@icmbio.gov.brRecebido em 11/03/2008. Aceito em 02/03/2009.AbstRAct: Biological data of Puffinus lherminieri ban<strong>de</strong>d in Fernando <strong>de</strong> Noronha archipelago during 2005 and 2006.This study reports on banding and biometry data of Puffinus lherminieri from the Fernando <strong>de</strong> Noronha Archipelago taken duringthe 2005 and 2006 breeding seasons. Nesting and conservation strategies are also discussed.Key-WoRDs: Audubon shearwater, banding, Fernando <strong>de</strong> Noronha, Puffinus lherminieri, morphometry, nesting, Brazil.PALAvRAs-Chave: Par<strong>de</strong>la-da-asa-larga, anilhamento, Fernando <strong>de</strong> Noronha, Puffinus lherminieri, morfometria, reprodução, BrasilA par<strong>de</strong>la-<strong>de</strong>-asa-larga (Puffinus lherminieri Lesson1839) é uma espécie <strong>de</strong> Procellariiforme com distribuiçãotropical, ocorrendo principalmente entre o sul do Canadáe Caribe, porém com populações reprodutivas no nor<strong>de</strong>stee su<strong>de</strong>ste do Brasil (Carboneras 1992, Austin et al.2004, Onley e Scofield 2007). No território brasileiro,Puffinus lherminieri é consi<strong>de</strong>rado uma espécie ameaçada<strong>de</strong> extinção por se reunir em poucas colônias reprodutivasapenas duas ilhas oceânicas (Itatiaia, ES e Fernando <strong>de</strong>Noronha, PE), sendo particularmente vulnerável à introdução<strong>de</strong> espécies predadoras e à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> seu habitat(Efe e Musso 2001, Soto e Filipini 2003, MMA 2003,MMA 2008). Pouco se sabe sobre esta espécie no Brasile menos <strong>de</strong> quinze casais foram observados nas localida<strong>de</strong>son<strong>de</strong> foi registrada (Neves et al. 2003). Neste estudofazemos uma contribuição apresentando os dados morfométricos<strong>de</strong> jovens, adultos e ovos <strong>de</strong> Puffinus lherminiericoletados nas expedições realizadas em outubro <strong>de</strong> 2005e em setembro <strong>de</strong> 2006 no Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong>Noronha, PE.MateriAL e MétodosO arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha está localizadoa 345 km do cabo <strong>de</strong> São Roque no estado do RioGran<strong>de</strong> do Norte, sendo formado por uma ilha gran<strong>de</strong> domesmo nome, cinco ilhas pequenas e 15 ilhotas que juntasnão exce<strong>de</strong>m 26 km 2 (03°52’S, 32°26’W). O ParqueNacional Marinho <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha foi criadoem 1988 (pelo Decreto-Lei nº 96.693) ocupando 70%do arquipélago, sendo o restante uma Área <strong>de</strong> ProteçãoAmbiental. Estas ilhas, juntamente com o Atol das Rocas,são consi<strong>de</strong>radas áreas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância paraa reprodução e conservação <strong>de</strong> aves marinhas no Brasil,abrigando uma das comunida<strong>de</strong>s mais ricas e abundantesdo país (Antas 1991, Schulz-Neto 2004).Devido às curtas temporadas das expedições <strong>de</strong> 2005e 2006 optamos por trabalhar <strong>de</strong> forma mais direcionada,para obtermos resultados mais rápidos. Tivemos preferênciapor voltar aos locais on<strong>de</strong> já haviam sido registradosninhos da par<strong>de</strong>la-da-asa-larga por Soto e Filipini (2003)e Robson Silva e Silva (com. pess.). Embora o nosso esforçotenha sido principalmente direcionado às ilhas Morroda Viuvinha e Morro do Leão (Figura 1), também percorremosoutras localida<strong>de</strong>s à procura <strong>de</strong> ninhos e jovens.Os ninhos encontrados foram georreferenciadosatravés <strong>de</strong> um GPS (Garmin) e em alguns <strong>de</strong>les suas entradasforam marcadas e numeradas com tinta em 2006(Figura 2). Os indivíduos localizados foram marcados(anilha metálica tamanho N do CEMAVE) e tomadasmedidas do peso do indivíduo (PE), comprimento dotarso (TA), narina à ponta do bico (NP), comprimentodo bico (CB), altura do bico (AB), comprimento total dacabeça (CTC) e comprimento asa (AS) quando adultos.O peso do indivíduo foi medido com uma balança comprecisão <strong>de</strong> 300 g e as medidas <strong>de</strong> tamanho foram tomadascom paquímetro e régua milimetrada. As medidastomadas no Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha (<strong>de</strong>steestudo e <strong>de</strong> Soto e Filippini 2003) foram comparadas por


66 Dados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhados em Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Luiz Augusto Macedo Mestre; Andrei Langeloh Roos e João Luiz Xavier do Nascimentomeio <strong>de</strong> teste t com as medidas obtidas nas ilhas do EspíritoSanto por Efe e Musso (2001).ResultADosNas duas expedições a Fernando <strong>de</strong> Noronha em2005 e 2006 registramos sete ninhos ativos na ilha daViuvinha e seis na Ilha do Leão. Também procuramos porP. lherminieri na ilha da praia do Meio, nas encostas dapraia do Leão, na ponta da Sapata e em outras praias dailha <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha. Na expedição <strong>de</strong> 2006 aindafoi feita a procura <strong>de</strong> ninhos em alguns blocos caídosna Ponta da Sapata, conforme indicado no Plano <strong>de</strong> AçãoNacional para Albatrozes e Petréis (Neves et al. 2003). Asbuscas nestes sítios não tiveram sucesso.Em outubro <strong>de</strong> 2005 capturamos, mensuramos eanilhamos três indivíduos jovens e dois adultos <strong>de</strong> Puffinuslherminieri na Ilha da Viuvinha. Ainda mensuramosmais dois indivíduos anteriormente anilhados por RobsonSilva e Silva (N 22191 e N 22192, também incluídosna Tabela 1) e observamos um indivíduo adulto e umjovem que não pu<strong>de</strong>ram ser acessados. Em setembro <strong>de</strong>2006 capturamos, mensuramos e anilhamos cinco indivíduosadultos na Ilha da Viuvinha e seis na Ilha do Leãoe observamos mais dois ninhos ocupados inacessíveis (Figura2). Todos os indivíduos anilhados estavam chocandoum ovo cada um. Dois <strong>de</strong>stes indivíduos já tinham sidoanilhados na expedição anterior (N 33029 e N 33030) eum <strong>de</strong>les por Robson Silva e Silva (N 22199, incluído naTabela 1). Estes indivíduos estavam no mesmo local emque foram capturados um ano antes. Esta e outras recapturascitadas por Musso (com. pess.) levam a consi<strong>de</strong>rarque os casais voltem para o mesmo local que nidificaramanteriormente.As medidas da par<strong>de</strong>la-<strong>de</strong>-asa-larga tomadas nesteestudo são semelhantes às tomadas por Soto e Filippini(2003) e Efe e Musso (2001). As medidas tomadas emFernando <strong>de</strong> Noronha (Soto e Filippini 2003 e este estudo)não foram significativamente diferentes das medidastomadas no Espírito Santo (comparações dados em Efee Musso 2001; para todas as medidas comparadas: t < 1,p > 0.1, ns). Os dados morfométricos dos indivíduos jovense adultos estão indicados na Tabela 1 e as medidasdos ovos na Tabela 2, os números dos ninhos representamos que foram marcados nas suas entradas.DiscussãoNeste estudo foi observado um número maior <strong>de</strong> ninhosna ilha da Viuvinha que o mencionado por Soto eFilippini (2003). Em 2001 foram <strong>de</strong>tectados apenas cinconinhos nesta ilha, enquanto <strong>de</strong>tectamos nove. Apesarda par<strong>de</strong>la-<strong>de</strong>-asa-larga parecer ter um território bem <strong>de</strong>finido(Burger e Lawrence 2001), constatamos que nasduas ilhas os ninhos foram construídos muito próximos,e que esse território, se existir, <strong>de</strong>ve também ser muitopequeno. Observamos quatro dos ninhos em menos <strong>de</strong>3 m 2 , além disso, os outros ninhos mais separados tinhamFiguRA 1: Mapa do PARNA Fernando <strong>de</strong> Noronha indicando as áreas <strong>de</strong> estudo.Figure 1: Map of PARNA Fernando <strong>de</strong> Noronha showing the study sites.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Dados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhados em Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Luiz Augusto Macedo Mestre; Andrei Langeloh Roos e João Luiz Xavier do Nascimento67dois indivíduos em cada cavida<strong>de</strong>. O que po<strong>de</strong> estar ocorrendonestes locais é que as cavida<strong>de</strong>s apropriadas paranidificação não <strong>de</strong>vem ser tão comuns quanto em outraslocalida<strong>de</strong>s, sendo utilizadas por mais <strong>de</strong> um casal. Estaconstatação é condizente com o observado nas Bahamas,on<strong>de</strong> o tamanho da colônia parece ser proporcional aotamanho e quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> locais específicos para nidificar(Trimm 2001).Em 2005 não foram encontrados ninhos ativos nailha do Leão. Por outro lado, em 2006 foram encontradosseis ninhos na parte norte da ilha, agrupados em cerca<strong>de</strong> 10 m 2 . Estes ninhos estavam dispostos em cavida<strong>de</strong>spouco profundas (menos <strong>de</strong> 30 cm) ou diretamente nomeio das rochas. É possível que os indivíduos ocupem asilhas em diferentes lugares ao longo dos anos, porém nãopo<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scartada a hipótese dos adultos terem saídodos locais <strong>de</strong> nidificação em 2005, pois a expedição <strong>de</strong>steano foi <strong>de</strong>pois do período <strong>de</strong> incubação.Há poucas informações sobre a dieta da Par<strong>de</strong>la<strong>de</strong>-asa-larga,que inclui crustáceos, lulas e larvas <strong>de</strong> peixeplanctônicos (Harris 1969, MMA 2008). Puffinus bailloni(anteriormente consi<strong>de</strong>rada P. lherminieri nicolae) dasIlhas Seychelles (Oceano Índico) po<strong>de</strong> capturar peixes-voadoresem vôo e po<strong>de</strong>m mergulhar até 15 m <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>à procura <strong>de</strong> alimento (Burger 2001). Na expedição<strong>de</strong> 2006, dois indivíduos regurgitaram enquanto erammanipulados. Apesar <strong>de</strong> o alimento regurgitado estar emavançado estágio <strong>de</strong> digestão, foi possível observar restos<strong>de</strong> lulas e algas ver<strong>de</strong>s. Esta observação leva a consi<strong>de</strong>rarque estes indivíduos estejam se alimentando distante dasilhas, pois ainda não foram registradas lulas próximas aoarquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha (IBAMA 1990).Em Fernando <strong>de</strong> Noronha existem espécies <strong>de</strong> predadoresintroduzidos, como ratos, gatos, cães e lagartosteiús (Silva e Silva 2008), que po<strong>de</strong>m estar impedindo aocupação da ilha principal por esta espécie. A proximida<strong>de</strong>da ilha Morro da Viuvinha da praia a coloca sob risco<strong>de</strong> invasão por ratos, que po<strong>de</strong>m impactar gravementeas populações <strong>de</strong>stas aves. Apesar da espécie constar naLista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> espécies ameaçadas <strong>de</strong> extinção (MMAFiguRA 2: Localização aproximada dos ninhos observados em 2005 e 2006 na Ilha do Morro da Viuvinha e Ilha Morro do Leão a Su<strong>de</strong>ste doArquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha indicada na Figura 1 (adaptado <strong>de</strong> Google Earth 2009).Figure 2: Nest locations observed in 2005 and 2006 in Morro da Viuvinha Island and Morro do Leao Island, Southeast of Fernando <strong>de</strong> NoronhaArchipelago (adaptted from Google Earth 2009).Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


68 Dados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhados em Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Luiz Augusto Macedo Mestre; Andrei Langeloh Roos e João Luiz Xavier do NascimentoTabeLA 1: Dados morfométricos <strong>de</strong> Puffinus lerminieri obtidos na Ilha Morro da Viuvinha e Ilha Morro do Leão – Fernando <strong>de</strong> Noronha, emoutubro <strong>de</strong> 2005 e setembro <strong>de</strong> 2006. PE, peso (g); TA, comprimento (c.) do tarso (mm); NP, c. narina à ponta do bico (mm), AB altura do bico(mm); CTC, c. total do bico (mm); AS, c. da asa (mm). M = média, DP = Desvio Padrão.tAble 1: Morphometric data of Puffinus lerminieri obtained in Morro da Viuvinha Island and Morro do Leao Island – Fernando <strong>de</strong> Noronha. PE,weight (g); TA, lenght (c.) of tarsus (mm); NP, culmen (mm), CB, bill height ate the nares (mm); AB bill height (mm); CTC, c. bill width (mm);AS, wing (mm). M = mean, DP = standard <strong>de</strong>viation.Anilha Data Local (Ilha) Ida<strong>de</strong> PE TA NP AB CTC ASN 22191 20/10/2005 Viuvinha Ninhego 250 47.0 20.3 9.1 66.1 —N 22192 20/10/2005 Viuvinha Ninhego 260 40.6 20.3 9.3 66.5 —N 33026 20/10/2005 Viuvinha Ninhego 160 34.9 14.5 8.6 54.4 —N 33027 20/10/2005 Viuvinha Ninhego 290 44.2 24.7 — 67.0 —N 33028 20/10/2005 Viuvinha Ninhego 250 40.3 22.5 9.2 69.5 —M 242 41.4 20.4 9.1 64.7 —DP 48.6 4.5 3.7 0.3 5.9 —N 33029 21/10/2005 Viuvinha Adulto 225 41.9 23.3 — 71.0 210N 33030 21/10/2005 Viuvinha Adulto 205 41.7 20.7 8.5 67.9 208.0N 22199 28/8/2006 Viuvinha Adulto 220 44.4 22.6 8.0 70.7 210N 33003 28/8/2006 Viuvinha Adulto 210 43.7 28.6 8.4 73.3 210N 33002 28/8/2006 Viuvinha Adulto 225 41.0 23.0 8.0 68.6 210N 33001 28/8/2006 Viuvinha Adulto 285 45.4 29.4 7.2 71.0 210N 33004 6/9/2006 Leão Adulto 206 44.4 23.0 9.6 72.0 —N 33005 6/9/2006 Leão Adulto 201 43.7 22.2 9.2 70.8 —N 33006 6/9/2006 Leão Adulto 221 44.2 26.0 8.0 71.6 —N 33007 6/9/2006 Leão Adulto 226 45.0 18.6 7.5 68.4 —N 33008 6/9/2006 Leão Adulto 181 41.0 21.3 7.4 68.6 —N 33009 6/9/2006 Leão Adulto 211 45.1 19.6 8.3 67.7 —M 218 43.4 23.1 8.1 70.1 209.6DP 24.7 1.6 3.3 0.7 1.8 0.8tAbeLA 2: Medidas (mm) e peso (g) dos ovos <strong>de</strong> Puffinus lherminieriobtidos na Ilha Morro da Viuvinha e Ilha do Leão – Fernando <strong>de</strong> Noronha,em setembro <strong>de</strong> 2006. Anilha = número da anilha do indivíduoobservado no ninho, Ovo larg. = Largura do ovo, Comp. = Comprimentodo ovo, Ninho = número do ninho marcado.tAble 2: Puffinus lherminieri egg measurements and weight, obtainedin Morro da Viuvinha Island and Morro do Leao Island – Fernando<strong>de</strong> Noronha. Anilha = band number of the bird observed in thenest, Ovo larg. = egg width, Comp. = egg length, Ninho = number ofthe nest.Anilha Data LocalPesoovoOvoLarg.OvoComp. NinhoN 33030 28/8/2006 Viuvinha 30 36.4 51.0 4N 22199 28/8/2006 Viuvinha 30 36.6 50.0 5N 33003 28/8/2006 Viuvinha 39 37.0 53.5 3N 33002 28/8/2006 Viuvinha 40 38.4 53.7 2N 33001 28/8/2006 Viuvinha 35 33.2 55.0 1N 33004 6/9/2006 Leão 36 37.0 50.0N 33005 6/9/2006 Leão 36 35.8 52.1N 33006 6/9/2006 Leão 36 35.0 51.1N 33007 6/9/2006 Leão 36 35.5 54.3N 33008 6/9/2006 Leão 39 37.1 54.3N 33009 6/9/2006 Leão 36 35.4 51.0M 35.72 36.1 52.4DP 3.25 0.14 0.182003, MMA 2008), ainda são necessárias ações com relaçãoa estes fatores ressaltadas no plano <strong>de</strong> manejo doParque Nacional e APA <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha. Aindasugerimos que novas comparações sejam feitas entre aspopulações <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha e Espírito Santo,pois apesar <strong>de</strong> não termos encontrado diferenças significativasentre estas populações é interessante notar que apopulação <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha <strong>de</strong>ve ser mais próxima(geneticamente) da população do Caribe (Austinet al. 2004) enquanto a colônia do Espírito Santo estariamais próxima das colônias extintas ou relictuais <strong>de</strong> SantaHelena e Ascension, <strong>de</strong>talhes que nunca foram analisadosmais criticamente.Nestas expedições reafirmamos a gran<strong>de</strong> importânciadas pequenas ilhas no Arquipélago <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong>Noronha para conservação <strong>de</strong> Puffinus lherminieri noBrasil. Consi<strong>de</strong>ramos que esta po<strong>de</strong> estar entre as menorespopulações <strong>de</strong> P. lherminieri já registradas atualmente,sendo ainda uma das menos conhecidas. Enfatizamosa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos estudos sobre a espécie nas árease que sejam tomados cuidados especiais com estas ilhas,sendo imprescindíveis medidas urgentes para evitar qualqueracesso, tanto por pessoas como por possíveis predadoresterrestres que venham por em risco estas pequenaspopulações.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Dados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhados em Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Luiz Augusto Macedo Mestre; Andrei Langeloh Roos e João Luiz Xavier do Nascimento69AgRADecimentosAgra<strong>de</strong>cemos aos funcionários do PARNA e da APA <strong>de</strong> Fernandoque Noronha pelo apoio cedido, especialmente a Policarpo Felipe.Também agra<strong>de</strong>cemos a Adriana Kolhausch, Melina Baungarten eMaurício Villela que gentilmente transportaram e acompanharamos autores na primeira expedição à ilha do Leão. Somos tambémmuito gratos pelas importantes sugestões dadas pelos revisores <strong>de</strong>stemanuscrito. Este estudo foi financiado pelo PNUD – Programa dasNações Unidas para Desenvolvimento e viabilizado pelo CEMAVE– ICMBio.ReferênciasAntas, P. T. Z. (1990). Status and conservation of seabirds breeding inBrazilian waters, p. 140‐158. Em: Coaxal, J. P. (ed.) Seabird statusand conservation: a supplement ICBP Technical Publication, 11,Cambridge, United Kingdom.Austin, J. J.; Bretagnolle, V. e Pasquet, E. (2004). A global molecularphylogeny of the small Puffinus shearwaters, and implications forthe systematics of the Little-Audubon’s shearwaters complex. Auk,121:847‐864.Burger, A. (2001). Diving <strong>de</strong>pths of shearwaters. Auk, 118(3):755‐759.Burger, A. e Lawrence, A. D. (2001). Census of wedge-tailedshearwaters Puffinus pacificus and Audubon’s shearwatersP. lherminieri on Cousin Island, Seychelles using call-playback.Marine Ornithology, 29, 57‐64Carboneras, C. (1992). Family Procellariidae (petrels andshearwaters). Em: <strong>de</strong>l Hoyo,J., Elliot, A., Sargatal, J., (Eds.)Handbook of the Birds of the World, Volume 1 Ostritch to Ducks.Barcelona: Lynx Editions. 696 pp.Efe, M. A. e Musso, C. M. (2001). Primeiro registro <strong>de</strong> Puffinuslherminieri Lesson, 1839 no Brasil. Nattereria, 2:21‐23.Harris, M. P. (1969) Food as a factor controlling breeding of Puffinuslherminieri. Ibis, 111:139‐156.IBAMA. (1990). Plano <strong>de</strong> Manejo do Parque Nacional Marinho <strong>de</strong>Fernando <strong>de</strong> Noronha. Brasília: IBAMA/FUNATURA, 253 p.MMA. (2003). Instrução Normativa do MMA Nº 03, 27/05/2003.Dispõe sobre as espécies da fauna brasileira ameaçadas <strong>de</strong> extinção.Diário Oficial da União, Brasília, DF, nº 101 publicado em28/05/2003, Seção 1, pp. 88‐97.MMA. (2008). Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada <strong>de</strong>extinção / eds. Machado A. B. M., Drummond G. M., PagliaA. P. – Brasília, DF : MMA; Belo Horizonte, MG : FundaçãoBiodiversitas, 2v., 1420 p.Neves, T. S.; Olmos, F.; Pepes, F. e Mohr, L. V. (2006). Plano <strong>de</strong>Ação Nacional para a conservação <strong>de</strong> albatrozes e petréis. Brasília:IBAMA, 124 p. (Serie Espécies Ameaçadas 2).Onley, D. e Scofield, P. (2007) Albatrosses, petrels and shearwaters ofthe world. London: Christopher Helm.Schulz-Neto, A. (2004). Aves insulares do Arquipélago <strong>de</strong> Fernando<strong>de</strong> Noronha, p. 147‐168. Em: Branco J. O. (Ed). Aves Marinhas einsulares brasileiras. Itajaí: UNIVALI, 266 p.Silva e Silva, R. (2008). Aves <strong>de</strong> Fernando <strong>de</strong> Noronha. São Paulo: AvisBrasilis, 240 p.Soto, J. e Filippini, A. (2003). Ocorrência e reprodução <strong>de</strong> par<strong>de</strong>la<strong>de</strong>-Audubon,P. lherminieri Lesson, 1839 (Procellariiformes,Procellariidae), no Arquipélago Fernando <strong>de</strong> Noronha, comrevisão dos registros <strong>de</strong> P. lherminieri e P. assimilis no Brasil.Ararajuba, 11(1):131‐145.Trimm, N. A. (2001). Ecology of Audubons Shearwaters (Puffinuslherminieri) at San Salvador, Bahamas. Unpublished MS thesis,Loma Linda University, Loma Linda, California.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):70-72março <strong>de</strong> 2009NOTAReprodução <strong>de</strong> Fluvicola nengeta (Tyrannidae) emárea urbana da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, BrasilVanessa Cardoso Tomaz 1,2 , Victor Marcelo Fernan<strong>de</strong>s 1,3 e Maria Alice S. Alves 11 Instituto <strong>de</strong> Biologia "Roberto Alcantara Gomes", Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UERJ). Rua São Francisco Xavier, 524, PHLC,sala 220, Maracanã, CEP 20050-013, Rio e Janeiro, RJ, Brasil. E‐mail: masaal@globo.com2 Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro. E‐mail: v.c.tomaz@gmail.com3 Programa <strong>de</strong> Iniciação Científica, UERJ. E‐mal: victorbio@gmail.comRecebido em 19/02/2008. Aceito em 10/04/2009.ABSTRACT: Fluvicola nengeta (Tyrannidae) breeding at an urban area in Rio <strong>de</strong> Janeiro city, RJ, Brazil. We report observationson three nests of a Fluvicola nengeta reproductive pair. The nests, with an oval shape and a lateral entrance, were built at an urban areawith intense flux of pe<strong>de</strong>strian and vehicles, 100 m away to the nearest body of water. Only the female incubated the eggs (15 days).From hatching to the fifth day the female stayed in the nest sometime, usually after <strong>de</strong>livering food to the chicks. The food <strong>de</strong>liveredto the chicks was apparently only arthropods. From the total food items recor<strong>de</strong>d (n = 191), 66% were <strong>de</strong>livered by the male and34% by the female. All nests were found <strong>de</strong>stroyed before the young fledged and we recor<strong>de</strong>d a Rupornis magnirostris predation onthe third nest. This suggests that predation may be an important factor to reduce the breeding success of F. nengeta at urban areas.Key-Words: Fluvicola nengeta, breeding, parental care, urban environment.PalAVRAS-ChAVe: Fluvicola nengeta, reprodução, investimento parental, ambiente urbano.Fluvicola nengeta é uma ave típica do nor<strong>de</strong>ste brasileiroque habita a beira <strong>de</strong> açu<strong>de</strong>s e águas lamacentas emlocais <strong>de</strong> vegetação baixa ou chão <strong>de</strong>scoberto, com alta incidênciasolar (Willis 1991, Sick 1997, Carlos et al. 2000).Des<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 50, sucessivos registros <strong>de</strong>sta espécievêm sendo feitos na região su<strong>de</strong>ste (Alvarenga 1990, Sick1997) e sul (Straube et al. 2007), sendo atribuída ao <strong>de</strong>smatamentoessa recente expansão geográfica (Willis 1991).Poucos estudos foram realizados a respeito da biologia<strong>de</strong> F. nengeta, tanto em seu habitat nativo quanto emárea urbana. No presente estudo são apresentados dadosreferentes à nidificação e investimento parental, durante aincubação e o cuidado parental, <strong>de</strong> um par reprodutor <strong>de</strong>F. nengeta no campus da Universida<strong>de</strong> do Estado do Rio<strong>de</strong> Janeiro (22°54’S, 43°14’W), localizado em área urbanado município do Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, Brasil.Foram acompanhados três ninhos entre agosto e novembro<strong>de</strong> 2006. Um dos indivíduos do par reprodutorfoi capturado durante a construção do primeiro ninho emarcado com anilhas coloridas. Deste indivíduo foi retiradauma amostra <strong>de</strong> sangue da veia tíbio-tarsal e o sexofoi <strong>de</strong>terminado através <strong>de</strong> análises genéticas, utilizandoo gene CHD (Griffiths et al. 1998, ver também Ritteret al. 2003 para <strong>de</strong>talhes metodológicos). O indivíduo foiliberado em seguida à manipulação.As observações foram realizadas com auxílio <strong>de</strong>binóculos 7 x 25, em períodos <strong>de</strong> 2 h. Os horários dasobservações foram complementares em dias subseqüentes,<strong>de</strong> forma a amostrar todos os períodos entre 06:00 he 18:00 h. A distância entre o observador e o ninho foi<strong>de</strong> aproximadamente 15 m. Foi contabilizado o tempo<strong>de</strong> permanência <strong>de</strong> cada indivíduo do par reprodutor noninho durante a incubação e o cuidado com a prole, alémdo tipo <strong>de</strong> alimento e do número <strong>de</strong> itens alimentareslevados por cada indivíduo aos ninhegos.Os três ninhos foram construídos no mesmo local,sem reaproveitamento <strong>de</strong> material. A área era aberta, comvegetação rasteira, sendo o local cercado por edificações,com intenso fluxo <strong>de</strong> pe<strong>de</strong>stres e veículos. Os ninhos estavamapoiados pela base sobre um holofote fora <strong>de</strong> uso,a 2 m <strong>de</strong> altura do solo. Os corpos d’água mais próximosestavam a cerca <strong>de</strong> 100 m e 200 m do local dos ninhos,tratando-se <strong>de</strong> um lago artificial e um rio canalizado, respectivamente.Os ninhos possuíam forma ovalada, comuma entrada lateral. Para a construção foi utilizado predominantementematerial vegetal, além <strong>de</strong> penas forrandoa câmara incubatória (preferencialmente brancas, comorelatado por Pacheco e Simon 1995), pedaços <strong>de</strong> plástico,barbante e emaranhados <strong>de</strong> cabelo. A área em que os ninhosforam construídos está <strong>de</strong> acordo com as <strong>de</strong>scriçõesfeitas por Carlos et al. (2000) sobre o habitat da espécie.A forma do ninho e a localização da entrada seguiramo padrão encontrado por Skutch (1985), Pacheco e Simon(1995) e Luciano et al. (2006). A ausência <strong>de</strong> corpos


Reprodução <strong>de</strong> Fluvicola nengeta (Tyrannidae) em área urbana da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, BrasilVanessa Cardoso Tomaz, Victor Marcelo Fernan<strong>de</strong>s e Maria Alice S. Alves71d’água adjacentes aos ninhos encontrados no presenteestudo confirma que este não é um fator <strong>de</strong>terminantepara a nidificação da espécie (Pacheco e Simon 1995). Operíodo reprodutivo registrado no presente estudo (início<strong>de</strong> agosto até meados <strong>de</strong> novembro) foi mais curto e teveinício um mês antes do registrado por Pacheco e Simon(1995) em Minas Gerais (setembro a abril).Todos os ninhos foram predados e/ou <strong>de</strong>struídos antesda saída dos filhotes. O primeiro ninho foi encontrado<strong>de</strong>struído seis dias após a eclosão dos filhotes, o segundoninho foi também encontrado <strong>de</strong>struído antes <strong>de</strong> ter sidoterminado. Não foi possível <strong>de</strong>terminar a causa da perda<strong>de</strong>sses ninhos. O terceiro ninho foi predado por Rupornismagnirostris (Acciptridae) durante um dos períodos<strong>de</strong> observação. Na ocasião, os ninhegos já apresentavama primeira plumagem quase completamente <strong>de</strong>senvolvida,entre 8 a 10 dias após a eclosão. O gavião realizoudois ataques sucessivos ao ninho entre 15:00 h e <strong>17</strong>:00 h,tendo capturado dois ninhegos no primeiro ataque e umno segundo. Não houve danos ao ninho durante os doisprimeiros ataques, tendo o gavião colocado uma das pernaspela entrada do ninho para capturar os ninhegos. Oninho foi encontrado <strong>de</strong>struído no chão às 18:00 h domesmo dia.Em cada um dos dois ninhos em que houve postura(primeiro e terceiro), foram registrados três ovos brancoscom manchas marrons, e todos os filhotes eclodiram. Estesdados estão <strong>de</strong> acordo com a literatura (Skutch 1985,para outras espécies do gênero Fluvicola, Pacheco e Simon1995).A incubação durou 15 dias (registro para o primeironinho). Apenas a fêmea incubou, aparentemente tambémdurante a noite, padrão comum na família Tyrannidae(Sick 1997). O macho se mostrou mais ativo quanto à<strong>de</strong>fesa do ninho, atacando outras aves e pessoas que seaproximassem do local. A fêmea permaneceu no ninho55% do tempo <strong>de</strong> observação (24 h), cada período no ninhodurou, em média (± DP), 15 ± 6 min, e cada períodofora, 11 ± 5 min. Estes resultados são similares aos encontradospor Skutch (1962) para tiraní<strong>de</strong>os da Sub-famíliaFluvicolinae. Os períodos do dia em que a fêmea passoumenos tempo no ninho foram entre 06:00 h e 08:00 h eentre 12:00 h e 14:00 h.Nos cinco dias seguintes à eclosão dos filhotes, a fêmeaainda permaneceu no ninho 42% do tempo <strong>de</strong> observação(10 h), cada período no ninho durou, em média(± DP), 8 ± 3 min, e cada período fora, 11 ± 6 min. Afêmea passou a não mais permanecer no ninho a partir dosexto dia, coincidindo com o aparecimento dos primeiroscanhões nos corpos dos ninhegos.A dieta oferecida aos ninhegos foi aparentementeconstituída apenas por artrópo<strong>de</strong>s, assim como relatadopor Luciano (2006). Do total <strong>de</strong> 194 itens registradosem 12 h <strong>de</strong> observação, 66% foram levados pelo machoe 34% pela fêmea. O número médio <strong>de</strong> itens/h (± DP)levados aos ninhegos pelo macho foi <strong>de</strong> 10,7 ± 2, e semanteve relativamente constante ao longo dos dias <strong>de</strong>observação. O número médio <strong>de</strong> itens/h (± DP) levadosaos ninhegos pela fêmea foi <strong>de</strong> 5,5 ± 4,7, e variou <strong>de</strong> 0,5(no quarto dia após a eclosão dos filhotes) a 11,5 itens/h(no sexto dia após a eclosão dos filhotes). Esta variaçãoestá, possivelmente, associada com a permanência dafêmea no ninho até o quinto dia seguinte à eclosão dosfilhotes. Luciano (2006) registrou uma média <strong>de</strong> 24,43itens/h, consi<strong>de</strong>rando as visitas realizadas por macho e fêmeaconjuntamente, valor maior do que o encontrado nopresente estudo (16,2 itens/hora). Esses valores, entretantonão po<strong>de</strong>m ser diretamente comparados, pois o ninhoacompanhado por Luciano (2006) tinha dois filhotes queforam monitorados até o 15º dia após sua eclosão, enquantono presente estudo havia três filhotes que foramacompanhados até o sexto dia.Os resultados obtidos no presente estudo indicamque a fêmea é responsável pela incubação dos ovos epor ajudar na termoregulação dos filhotes recém-eclodidos,enquanto o macho é mais engajado na <strong>de</strong>fesado ninho. Os resultados também indicam que a alimentaçãodos ninhegos é uma ativida<strong>de</strong> compartilhadapor ambos os membros do par reprodutor, com participaçãomais intensa da fêmea a partir do período emque os filhotes não necessitam mais <strong>de</strong> ajuda para a suatermoregulação.AgRA<strong>de</strong>cimeNTosÀ I<strong>de</strong>a Wild pelo apoio com equipamentos, à CAPES pela bolsaa V. C. T. (Mestrado) e ao CNPq pelas bolsas a V. M. F. (IniciaçãoCientífica) e M. A. S. A. (Produtivida<strong>de</strong> em Pesquisa - processono. 3027185/03‐6), durante a redação do manuscrito. Ao revisoranônimo, pelas contribuições feitas ao manuscrito.ReferêNCiASAlvarenga, H. M. F. (1990). Novos registros e expansão geográfica<strong>de</strong> aves no leste do estado <strong>de</strong> São Paulo. Ararajuba, 1: 115‐1<strong>17</strong>.Carlos, C. J.; Castaleti, C. H. M. e Souza, M. A. (2000). Seleção <strong>de</strong>habitat por Fluvicola nengeta (Aves: Passeriformes) no campus daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco – UFPE. Biota, 1(1):01‐04.Griffiths, R., Darblem, M.; Orr, K. C. Y. e Dawson, R. J. G. (1998).A DNA test to sex most birds. Mol. Ecol., 7:1071‐1075.Luciano, E.; Fernan<strong>de</strong>s, P. A. e Melo, C. (2006). Cuidado parental <strong>de</strong>Fluvicola nengeta (Tyrannidae, Aves) em ambiente urbano. 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72 Reprodução <strong>de</strong> Fluvicola nengeta (Tyrannidae) em área urbana da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, BrasilVanessa Cardoso Tomaz, Victor Marcelo Fernan<strong>de</strong>s e Maria Alice S. AlvesSick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. 4ª impressão. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Ed. Nova Fronteira.Skutch, A. F. (1962). The constancy of incubation. Wilson Bull.,74(2):115‐152.Skutch, A. F. (1985). Clutch size, nesting success, and predationon nests of neotropical birds, reviewed. Ornithol. Monog.,36:575‐594.Straube, F. C.; Urben-Filho, A.; Deconto, L. R. e Patrial, E. W.(2007). Fluvicola nengeta (Linnaeus, <strong>17</strong>66) nos estados do Paranáe Mato Grosso do Sul e sua expansão <strong>de</strong> distribuição geográficapelo sul do Brasil. Atual. Ornitol., 137:33‐38.Willis, E. O. (1991). Expansão geográfica <strong>de</strong> Netta erythrophthalma,Fluvicola nengeta e outras aves <strong>de</strong> zonas abertas com a“<strong>de</strong>sertificação” antrópica em São Paulo. Ararajuba. 2:101‐102.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


NOTA Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):73-76março <strong>de</strong> 2009Novos registros ornitológicos para o ParqueEstadual do Cantão: distribuição e conservaçãoda avifauna do ecótono Amazônia-CerradoRenato Torres Pinheiro 1,2 e Túlio Dornas 2,31 Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins, Campus <strong>de</strong> Palmas, Palmas, TO, Brasil. Email: renatopin@uft.edu.br2 Grupo <strong>de</strong> Pesquisa em Ecologia e Conservação <strong>de</strong> Aves, ECOAVES-UFT, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins.3 Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciências do Ambiente, ECOAVES-UFT, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Tocantins.Recebido em 04/03/2009. Aceito em 05/06/2009.AbsTRACT: New ornithological records to the Cantão State Park: area distribution and avifauna conservation of theAmazon-Cerrado ecotone. We present the first records of three Amazonian bird species (Hemitriccus minimus, Heterocercus linteatusand Xenopipo atronitens), as well as the central Brazil en<strong>de</strong>mic Paroaria baeri, to the Cantão State Park (09°32’S, 50°01’W), westernTocantins state, Brazil. These records represent new range extensions for the Amazonian species, reinforcing the importance of thisprotected area to the preservation of birds associated with the Amazon-Cerrado ecotone.Key-WoRDs: Cantão State Park, Amazonian birds, range extension, conservation, Paroaria baeri.PalavRAs-Chave:A região do Parque Estadual do Cantão (PEC) caracteriza-sepor ser uma área <strong>de</strong> transição entre o biomaAmazônico e o Cerrado (Tocantins 2004). O mosaico <strong>de</strong>ambientes ali encontrado inclui <strong>de</strong>s<strong>de</strong> formações florestaissazonalmente alagadas (mata <strong>de</strong> várzea e igapó) ousecas (mata <strong>de</strong> torrão), à formações campestres inundáveis(varjão) ou não (cerrado), havendo uma predominânciados ambientes florestais e conseqüentemente prevalência<strong>de</strong> espécies da flora com distribuição amazônica (Tocantins2004, Pinheiro e Dornas 2009).Localizado no oeste do Estado do Tocantins, área <strong>de</strong>influência da planície da Ilha do Bananal, entre os riosdo Côco, Javaés e Araguaia (09°32’S, 50°01’W), o PECpossui 3<strong>17</strong> espécies <strong>de</strong> aves, sendo 26 endêmicas do biomaFloresta Amazônica e 5 endêmicas do bioma Cerrado(Tocantins 2004).Apresentamos aqui registros inéditos para o ParqueEstadual do Cantão <strong>de</strong> Hemitriccus minimus (Todd,1925), Heterocercus linteatus (Strickland, 1850) e Xenopipoatronitens Cabanis, 1847, espécies com centro <strong>de</strong> distribuiçãona Amazônia, e Paroaria baeri Hellmayr, 1907endêmico do interflúvio Xingu-Araguaia (Sick 1950, Silva1996; Stotz et al. 1996).As diferentes fitofisionomias do PEC foram exploradasentre 2005 e 2006. A documentação das espécies<strong>de</strong> aves ocorreu por meio <strong>de</strong> captura com re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> neblina,registro fotográfico digital e <strong>de</strong> vocalizações, utilizando-segravador digital Marantz PMD 670, equipadocom microfone Sennheiser ME‐66. A nomenclaturasegue o Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos(2008).Hemitriccus minimus (Todd, 1925)Após verificação <strong>de</strong> caracteres morfológicos, Stotz(1992) renomeou a espécie, anteriormente, <strong>de</strong>nominadacomo H. aenigma. Sua distribuição está baseada emescassos registros (Sigrist 2006), sendo confirmada paraa região do baixo rio Tapajós no Pará, Alta Floresta noMato Grosso e norte da Bolívia (Ridgely e Tudor 1994,Zimmer et al. 1997, Sick 1997). Entretanto, diversasnovas localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ocorrência da espécie foram <strong>de</strong>scobertas.Alvarez e Whitney (2003) registram-no para oPeru; Borges et al. (2001) para o Parque Nacional do Jaú,Amazonas; Pacheco et al. (2007) em florestas na região<strong>de</strong> Carajás, leste do Pará e por fim Olmos et al. (2004),observaram a espécie na região norte do Tocantins, admitindo-secomo sendo o registro mais a leste da espécie.Contudo, em abril <strong>de</strong> 2006, registramos H. minimus noPEC (vocalização <strong>de</strong>positada em 13/04/2007 – www.xeno-canto.org) próximo às margens do lago do Meio(9°21’54”S 49°59’12”W). Borges e Carvalhaes (2000)e Borges (2004), também relatam a ocorrência da espécieem ambientes sazonalmente alagados do P. N. doJaú, embora diversos autores consi<strong>de</strong>ram as campinas e


74 Novos registros ornitológicos para o Parque Estadual do Cantão: distribuição e conservação da avifauna do ecótono Amazônia-CerradoRenato Torres Pinheiro e Túlio Dornasambientes arenosos da Amazônia como sendo os ambientespreferenciais para a ocorrência <strong>de</strong> H. minimus (Ridgelye Tudor 1994, Stotz et al. 1996, Zimmer et al. 1997).Neste sentido, este registro, juntamente com o <strong>de</strong> Olmoset al. (2004) apresentam-se como os mais orientais paraespécie na Amazônia brasileira, ampliando significativamentesua distribuição até os limites entre a FlorestaAmazônica e o Cerrado.Heterocercus linteatus (Strickland, 1850)Espécie florestal que habita o sub-bosque das matasribeirinhas e inundáveis com predomínio <strong>de</strong> solo arenoso(Ridgely e Tudor 1994, Sick 1997, Alvarez e Whiteney2003), distribui-se pela região sul amazônica <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o rioXingu até o extremo oeste do Mato Grosso, nor<strong>de</strong>ste daBolívia e nor<strong>de</strong>ste do Peru. Os registros <strong>de</strong>sta espécieno leste amazônico referem-se ao <strong>de</strong> Pinto e Camargo(1957) para a Serra do Cachimbo, interflúvio Tapajós-Xingú, sul do Pará e aos espécimes coletados na região<strong>de</strong> Santana do Araguaia, su<strong>de</strong>ste do Pará e <strong>de</strong>positadosno Museu Paraense Emílio Goeldi em Belém, Pará (AlexandreAleixo, comunicação pessoal). No dia 24 <strong>de</strong> janeiro<strong>de</strong> 2005, foi capturada, fotografada e anilhada, namata que margeia o lago do Meio no Parque Estadualdo Cantão (9°21’15”S 49°58’44”W) uma fêmea adulta<strong>de</strong> H. linteatus, que pesou 21 gramas, comprimentoalar 82 mm, comprimento da cauda 50 mm, e do tarso16,1 mm, não apresentando muda. Outros três indivíduosforam registrados, sendo o primeiro, dia 7 <strong>de</strong><strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, quando foi verificado um casal nasproximida<strong>de</strong>s do Centro <strong>de</strong> Pesquisas Canguçu – UFT(9°58’45”S, 50°02’11”W), estação <strong>de</strong> pesquisa vizinhaao PEC, na calha seca e arenosa do canal que comunicao lago do Mato Ver<strong>de</strong> ao rio Javaés (09°58’57”S,50°00’54”W), enquanto o terceiro indivíduo foi visualizadono dia 19 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2007, em mata sazonalmentealagada próxima ao lago do Boto, na porção norte doParque Estadual do Cantão (09°21’45”S, 49°59’41”W).Portanto, o registro <strong>de</strong> H. linteatus no oeste do estadodo Tocantins amplia a área <strong>de</strong> distribuição conhecida daespécie, sendo este o primeiro registro para a margemdireita do rio Araguaia, reforçando assim sua ocorrênciaem áreas sazonalmente alagadas e <strong>de</strong> solo arenoso, emboraexistam registros para mata <strong>de</strong> terra firme (LeonardoE. Lopes, comunicação pessoal).Xenopipo atronitens Cabanis, 1847De ampla distribuição amazônica, ocorre nas Guianas,Venezuela, extremo leste da Colômbia, pontualmenteno su<strong>de</strong>ste do Peru e nor<strong>de</strong>ste da Bolívia. No Brasil,ocorre em ambas as margens do rio Amazonas, a leste dorio Negro, e do rio Ma<strong>de</strong>ira até o rio Araguaia, norte doMato Grosso (Ridgely e Tudor 1994, Sick 1997). Habitamatas <strong>de</strong> galeria e áreas <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong> campina, quecrescem em solos arenosos distribuídos pela região amazônica(Borges 2004, Pacheco e Olmos 2005, Poletto eAleixo 2005). Durante os inventários realizados no P. E.Cantão foram capturados e fotografados dois indivíduos,no dia 13 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005, em uma área <strong>de</strong> mata <strong>de</strong>igapó na margem do furo da Barreirinha, próximo ao riodo Côco (09°25’12”S, 50°00’30”W). O registro posteriordo dia 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2006, no encontro entre o furoda Barreirinha e rio do Côco, 600 metros a leste do local<strong>de</strong> captura (09°24’13”S, 50°00’03”W), reafirmou a presença<strong>de</strong>sta espécie nos limites do Parque. Portanto, esteregistro é o primeiro documentado para o PEC e para amargem direita do rio Araguaia.Paroaria baeri Hellmayr, 1907A forma nominal <strong>de</strong>ste car<strong>de</strong>al é endêmica do valedo rio Araguaia, principalmente no que se refere à Ilha doBananal e entorno (Silva 1996, Sick 1997), embora existauma população disjunta e diferenciada (P. baeri xinguensis),no vale do alto rio Xingú (Sick 1950, Silva 1997). Noentanto, sua ocorrência na região Amazônica permitiu aatribuição do caráter endêmico amazônico à P. baeri dadopor Stotz et al. (1996), ainda que o mais notório pareçaser consi<strong>de</strong>rar P. b. xinguensis um en<strong>de</strong>mismo Amazônico,enquanto P. b. baeri en<strong>de</strong>mismo do Cerrado. Bagno(1998) apresenta o registro <strong>de</strong> ocorrência <strong>de</strong> P. baeri noDistrito Fe<strong>de</strong>ral, o que contestaria a limitação do en<strong>de</strong>mismo<strong>de</strong>sta espécie ao vale do rio Araguaia. No entanto,é provável que este espécime tenha sido obtido através <strong>de</strong>xerimbabo.Para a região do P. E. do Cantão, a espécie foi visualizadaem duas oportunida<strong>de</strong>s, sempre nas margens dosrios e ilhas fluviais, sobre a vegetação <strong>de</strong> sarã (Sapiumhaematospermum) e goiabinha-da-praia (Psidium riparium),típica do rio Araguaia e rio do Côco. Em uma dasocorrências, nove indivíduos <strong>de</strong> P. baeri foram visualizadosassociados a um bando <strong>de</strong> 12 indivíduos <strong>de</strong> P. gularis.Todos se encontravam forrageando e empoleirados sobreo capim alagado na região da praia da Ilha (09°14’02”S,49°58’37”W), extremo norte do Parque, no encontrodo rio do Côco e rio Araguaia. Na outra oportunida<strong>de</strong>,no dia 16 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2005, observou-se umcasal em uma ilha fluvial do rio Araguaia (09°15’26”S,50°00’05”W).Em 1965, J. Hidasi, explorando a bacia do Araguaiacoletou a citada espécie em Aruanã, GO, e fez excursõesà Ilha do Bananal, on<strong>de</strong> indica a ocorrência da espéciena sua porção centro-sul (Hidasi 1998). A não <strong>de</strong>tecçãoda espécie na região norte da ilha, fronteiriça ao PEC(Hidasi 1998) e por Tocantins (2004), valida o registroRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Novos registros ornitológicos para o Parque Estadual do Cantão: distribuição e conservação da avifauna do ecótono Amazônia-CerradoRenato Torres Pinheiro e Túlio Dornas75apresentado <strong>de</strong> P. baeri como o primeiro para o ParqueEstadual do Cantão, ampliando para seis o número <strong>de</strong>táxons endêmicos do Cerrado conhecidos para o PEC.Além disso, o presente registro parece ser o mais setentrionalda calha do rio Araguaia, como verificado pelarevisão da bibliografia (Hellmayr 1908, Pinto 1938,Pinto e Camargo 1952, Sick 1950, Bagno 1998) e <strong>de</strong>espécimes tombados nas coleções ornitológicas do Museu<strong>de</strong> Zoologia da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo, MuseuNacional, Museu Paraense Emílio Goeldi (L. E. Lopescom. pessoal), do Louisiana State University Museum ofZoology e do Field Museum of Natural History (Ornisnet2007).ConsiDERAções FiNAisSilva (1996) <strong>de</strong>monstrou que uma representativaparcela da avifauna Amazônica a<strong>de</strong>ntra o Cerrado atravésdas <strong>de</strong>pressões periféricas, <strong>de</strong>stacando as matas <strong>de</strong> galeriados rios Araguaia e Tocantins. Deste modo, a ocorrênciano Parque Estadual do Cantão <strong>de</strong> H. minimus, H. linteatuse X. atronitens <strong>de</strong>monstra a funcionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>stasflorestas como corredores faunísticos, permitindo a ocorrência<strong>de</strong> aves com distribuição no centro-norte Amazôniconas margens do médio rio Araguaia, extremo lesteAmazônico.A fragmentação florestal no leste Amazônico (Embrapa2002), em um importante centro <strong>de</strong> en<strong>de</strong>mismo<strong>de</strong> aves (Cracraft 1985, Haffer 1985), vem propiciandouma significativa perda <strong>de</strong> habitat para diversas espécies<strong>de</strong> aves, favorecendo o isolamento <strong>de</strong> algumas populações<strong>de</strong> aves amazônicas. Deste modo, a ampliação da distribuição<strong>de</strong>stas espécies, assim como a presença <strong>de</strong> outras26 aves endêmicas do bioma amazônico (Tocantins 2004,Pinheiro e Dornas 2009) e dos en<strong>de</strong>mismos do Cerrado,como Cercromarca ferdinandi, Synallaxis simoni e P. b. baericonferem ao Parque Estadual do Cantão relevante papelna conservação das aves em uma região fortementeameaçada, relevante por seus en<strong>de</strong>mismos e biogeograficamentecaracterizada como zona <strong>de</strong> tensão ecológicaAmazônia/Cerrado.AgRADECiMENTosAgra<strong>de</strong>cemos a Joaquim Carneiro por acompanhar e guiarnosem campo, a Leonardo E. Lopes pelos registros compiladosem museus e coleções sobre P. baeri e revisão do texto original. AAlexandre Aleixo pelas informações sobre as espécies amazônicas ea Luis Fábio da Silveira pelas valiosas contribuições ao manuscrito.Somos gratos ao Instituto Natureza do Estado do Tocantins –Naturatins, pelo importante apoio logístico e ainda à ConservaçãoInternacional do Brasil, pelo financiamento do projeto Conservação<strong>de</strong> Aves Migratórias no Brasil e à Fundação ULBRA que ofereceugrandiosa oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar na área dos respectivosregistros.RefERêNCias BibliográfiCAsAlvarez, J. e Whitney, B. M. (2003). New distribution records ofbirds from White-sand forests of the Northern Peruvian Amazon,with implications for biogeography of northern South America.The Condor, 105:552‐566.Bagno, M. A. (1998). As aves da Estação Ecológica <strong>de</strong> ÁguasEmendadas.— In: J. Marinho-Filho, F. Rodrigues e M. Guimarães(eds.). 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76 Novos registros ornitológicos para o Parque Estadual do Cantão: distribuição e conservação da avifauna do ecótono Amazônia-CerradoRenato Torres Pinheiro e Túlio DornasPinto, O. M. O. (1938). A Ban<strong>de</strong>ira Anhanguera e sua contribuição àornitologia do rio Araguaia. Boletim Biológico, nova série 3:98‐106.Pinto, O. M. O. e Camargo, E. A. (1952). Nova contribuição àornitologia do rio das Mortes: resultados da expedição conjuntado Instituto Butantã e Departamento <strong>de</strong> Zoologia. Papéis AvulsosDept. Zool. São Paulo, 10:213‐234.Pinto, O. M. O. e Camargo, E. A. (1957). Sobre uma coleção <strong>de</strong>aves da região <strong>de</strong> Cachimbo (sul do Estado do Pará). Papéis AvulsosDept. Zool. São Paulo, 13:51‐59.Poletto, F. e Aleixo, A. (2005). Implicações biogeográficas <strong>de</strong> novosregistros ornitológicos em um enclave <strong>de</strong> vegetação <strong>de</strong> campinano sudoeste da Amazônia brasileira. Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Zoologia,22(4):1196‐1200.Ridgely, R. S. e Tudor, G. (1994). The birds of South America. Vol. 1 –The Oscine Passerines. University of Texas Press. Austin.Sick, H. (1950). Uma nova raça <strong>de</strong> car<strong>de</strong>al proce<strong>de</strong>nte do Brasilcentral Paroaria baeri xinguensis n. ssp. (Fringillidae, Aves). Revista<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> Biologia, 10:465‐468.Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Ed. Nova Fronteira. Rio <strong>de</strong>Janeiro.Sigrist, T. (2006). Aves do Brasil, uma visão artística. São Paulo:Fosfértil, Avis Brasilis.Silva, J. M. C. (1995). Birds of the Cerrado region, South America.Steenstrupia, 21(1):69‐92.Silva, J. M. C. (1996). The distribution of Amazonian and AtlanticForest elements in the gallery forests of the Cerrado region.<strong>Ornitologia</strong> Neotropical, 7(1):1‐18.Silva, J. M. C. (1997). En<strong>de</strong>mic bird species and conservation in theCerrado region, South America. Biodiversity and Conservation,6:435‐450.Silva, J. M. C. e Bates, J. M. (2002). Biogeographic patterns andconservation in the South American Cerrado: a tropical savannahotspot. Bioscience, 52(3):225‐233.Stotz, D. F. (1992). Specific Status and Nomenclature of Hemitriccusminimus and Hemitriccus aenigma. The Auk, 109(4):916‐9<strong>17</strong>.Stotz, D. F.; Fitzpatrick, J. W. e Parker III, T. A. (1996). NeotropicalBirds: Ecology and Conservation. University of Chicago Press,Chicago, Illinois.Tocantins. (2004). Avaliação Ecológica Rápida – Parque Estadual doCantão. Secretaria <strong>de</strong> Planejamento e Meio Ambiente do Estadodo Tocantins, Palmas.Zimmer, K. J.; Parker III, T. A.; Isler, M. L. e Isler, P. R. (1997).Survey of a Southern Amazonian Avifauna: the Alta FlorestaRegion, Mato Grosso, Brazil Ornithological Monographs,48:887‐918.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


NOTA Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):77-78março <strong>de</strong> 2009Predação pelo bem-te-vi Pitangus sulphuratus(Passeriformes, Tyrannidae) no baiacuColomesus asellus (Actinopterygii, Tetraodontidae)e camarão <strong>de</strong> água doce (Crustacea, Decapoda)Fernando da Silva Carvalho FilhoMuseu Paraense Emílio Goeldi, Departamento <strong>de</strong> Zoologia, Avenida Perimetral, 1901, Terra Firme, CEP 660<strong>17</strong>‐970, Belém, PA, Brasil.E‐mail: fernanbio@yahoo.com.brRecebido em 29/01/2009. Aceito em 15/04/2009.AbSTrACT: Predation by the Great Kiska<strong>de</strong>e Pitangus sulphuratus (Passeriformes, Tyrannidae) on the Amazon PufferfishColomesus asellus (Actinopterygii, Tetraodontidae) and freshwater shrimp (Crustacea, Decapoda). Here I report predation bythe Great Kiska<strong>de</strong>e (Pitangus sulphuratus) on the Amazon Pufferfish (Colomesus asellus) and an uni<strong>de</strong>ntified species of freshwatershrimp in Maratauíra River, Abaetetuba, state of Pará. Predation on Colomesus asellus by P. sulphuratus is enigmatic since this speciesis known to be toxic.Key-WorDS: fish, crustacean, Amazon Basin, Pará.PalavrAS-Chave: peixe, crustáceo, Bacia Amazônica, Pará.O bem-te-vi ou bem-te-vi verda<strong>de</strong>iro (Pitangus sulphuratus)é um dos pássaros mais comuns no Brasil, ocorrendodo Texas à Argentina e em todo o território Brasileiro.No Brasil po<strong>de</strong> ser encontrado preferencialmenteem bordas <strong>de</strong> clareiras <strong>de</strong> florestas <strong>de</strong> todo tipo. Esta espécieocorre também em capoeiras, plantações, eucaliptais,cerrados, caatingas, pastos sujos, mangues, parques e ruasarborizadas (Sick 2001, Sigrist 2006).O bem-te-vi é uma ave que se adaptou bem ao ambienteurbano (Sick 2001) e cujo comportamento <strong>de</strong> forrageamentoé consi<strong>de</strong>rado como sendo generalista (Fitzpatrick1989, Gabriel e Pizo 2005). P. sulphuratus é umaespécie onívora, e <strong>de</strong>ntre as espécies da família Tyrannidaeé o que consegue explorar uma maior varieda<strong>de</strong><strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> alimentos. Po<strong>de</strong>m se alimentar <strong>de</strong> sementese frutos (Haverschmidt e Mess 1994, Ribeiro e Silva2005). Consomem insetos e outros pequenos artrópo<strong>de</strong>s(como caranguejos, aracní<strong>de</strong>os, caracóis) (Argel-<strong>de</strong>-Oliveiraet al. 1998, Sick 2001, Sigrist 2006). O bem-teviconsegue quebrar o exoesqueleto dos gran<strong>de</strong>s insetosbatendo os mesmos contra um substrato duro (Sigrist2006) e retirar as lagartas do bicho-do-cesto (Lepidoptera,Psychidae) do interior <strong>de</strong> resistentes casulos (Santos2004), além <strong>de</strong> apanhar insetos durante a noite atraídospor lâmpadas nas ruas (Silva 1988). Além disso, capturamzangões em apiários (Santos 2004) e as fases aladas<strong>de</strong> içás e cupins em revoadas (Sick 2001). O bem-te-vipo<strong>de</strong> apanhar também pequenos vertebrados, como filhotes<strong>de</strong> pequenas aves (e.g. Coereba flaveola), morcegos,pererecas, peixes, pequenas serpentes e lagartos, além <strong>de</strong>restos <strong>de</strong> alimentos <strong>de</strong>ixados por humanos (Haverschmidte Mess 1994, Argel-<strong>de</strong>-Oliveira et al. 1998, Sick 2001,Ghizoni-Jr. 2006).Em 02 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2009, no município <strong>de</strong> Abaetetuba,estado do Pará, um bem-te-vi adulto foi observadoaparentemente avistando no forrageio, empoleirado sobreum tronco usada para amarrar embarcações na margemdo Rio Maratauíra. Após três minutos <strong>de</strong> observação obem-te-vi abandonou seu posto e vôo em direção a umpequeno (ca. 3 cm) baiacu Colomesus asellus que nadavacalmamente sob a lamina d’agua junto com outros <strong>de</strong> tamanhoequivalente. Pegou o baiacu e vôo a um telhado<strong>de</strong> uma residência. Não engoliu imediatamente o mesmo,porque o baiacu havia inflado o corpo. O bem-te-vi entãolargou o baiacu sobre o telhado e com duas bicadas perfurouo baiacu que <strong>de</strong>sinflou, voltando ao tamanho normal.Logo em seguida, o bem-te-vi tomou o baiacu com o bicoe o engoliu.No dia 3 <strong>de</strong> janeiro, a 5 m do mesmo lugar, foi observadoum bem-te-vi capturando um pequeno camarão.Nesta ocasião o bem-te-vi estava pousado nas cordas domastro <strong>de</strong> uma embarcação e com um vôo rasante apanhouo camarão (ca. 7 cm) <strong>de</strong> água doce (possivelmenteum Macrobrachium)e partiu voando com este no bico.


78 Predação pelo bem-te-vi Pitangus sulphuratus (Passeriformes, Tyrannidae) no baiacu Colomesus asellus(Actinopterygii, Tetraodontidae) e camarão <strong>de</strong> água doce (Crustacea, Decapoda)Fernando da Silva Carvalho FilhoO hábito <strong>de</strong> apanhar pequenos peixes tem sido documentandocom frequência para o bem-te-vi (Andra<strong>de</strong>1992, Belton 1994, Sick 2001, Santos 2004, Sigrist 2006)e outros tiraní<strong>de</strong>os, como Megarynchus (Sick 2001). Emgeral estes estudos não mencionam as espécies <strong>de</strong> peixessendo capturadas pelas aves. A captura <strong>de</strong> C. asellus pelobem-te-vi surpreen<strong>de</strong> e parece ser um evento enigmático,uma vez que, as espécies <strong>de</strong> C. asellus, assim comoas outras espécies da família Tetraodontidae são tóxicos(Oliveira et al. 2006).ReferêNCiASAndra<strong>de</strong>, M. A. (1992). Aves Silvestres <strong>de</strong> Minas Gerais. BeloHorizonte: Conselho Internacional pra preservação das aves.Argel-<strong>de</strong>-Oliveira, M. M.; Curi, N. A. e Passerini, T. (1998).Alimentação <strong>de</strong> um filhote <strong>de</strong> bem-te-vi, Pitangus sulphuratus(Linnaeus, <strong>17</strong>66) (Passeriformes: Tyrannidae), em ambienteurbano. Revta. Bras. Zool., 15(4):1103‐1109.Belton, W. (1994). Aves do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, distribuição e biologia.São Leopoldo: Editora Unisinos.Fitzpatrick, J. W. (1980). Foraging behavior of neotropical tyrantflycatchers. Condor, 82(1):43‐57.Gabriel, V. A. e Pizo, M. (2005). Foraging behavior of tyrantflycatchers (Aves, Tyrannidae) in Brazil. Rev. Bras. Zool.,22(4):1072‐1077.Ghizoni-Jr., I. R. (2006). Kentropyx striata (Striped Kentropyx).Juvenile Predation. Herpetol. Rev., 37(2):224.Haverschmidt, F. e Mees, G. F. (1994). Birds of Suriname. Paramaribo:Vaco Press.Oliveira, J. S.; Fernan<strong>de</strong>s, S. C. R.; Schwartz, C. A.; Bloch Jr., C.B.; Melo, J. A. T.; Pires Jr., O. R. e Freitas, J. C. (2006). Toxicityand toxin i<strong>de</strong>ntification in Colomesus asellus, an Amazonian(Brazil) freshwater puffer fish. Toxicon, 48(1):55‐63.Ribeiro, L. B. e Silva, M. G. (2005). Comportamento Alimentar dasAves Pitangus sulphuratus, Coereba flaveola e Thraupis sayaca emPalmeiras Frutificadas em Área Urbana. Rev. Etologia, 7(1):39‐42.Santos, E. (2004). Pássaros do Brasil, vida e costumes dos pássaros doBrasil. Belo Horizonte: Editora Itatiaia.Silva, J. M. C. (1988). Ativida<strong>de</strong> noturna <strong>de</strong> forageamento sobiluminação artificial <strong>de</strong> algumas aves amazônicas. Bol. Mus.Paraense E. Goeldi, ser. Zool., 4:<strong>17</strong>‐20.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


NOTA Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):79-81março <strong>de</strong> 2009Registro <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> Dendrocolaptes platyrostris(Dendrocolaptidae) em forro <strong>de</strong> edificação semi-ruralShayana <strong>de</strong> Jesus 1 e Sandra Bos Mikich 21 Rua Joana Souza Gusso, 484, 82560‐050, Boa Vista, Curitiba, PR, Brasil. E‐mail: shay_bio@yahoo.com.br2 Laboratório <strong>de</strong> Ecologia, Embrapa Florestas, Estrada da Ribeira, km 111, 83411‐970, Colombo, PR, Brasil. E‐mail: sbmikich@cnpf.embrapa.brRecebido em 08/02/2008. Aceito em 12/05/2009.ABStRAct: Breeding record of Dendrocolaptes platyrostris (Dendrocolaptidae) in the roof of a semi-rural building. InNovember 2005 we found an active nest of Dendrocolaptes platyrostris insi<strong>de</strong> the roof of a five-year-old research facility partlysurroun<strong>de</strong>d by forest remnants in the state of Parana, Brazil. The nest, measuring 1.8 x 1.0 m, was composed basically by pieces(up to 24.5 cm) of Araucaria angustifolia bark. Both parents fed insects to the three nestlings, whose fate could not be monitored.In September 2006 we examined the roof again and found an apparently abandoned egg (31.5 x 24.0 mm) in a reformed nestmeasuring 0.90 x 0.50 m. This seems to be the first breeding record of D. platyrostris in a semi-rural building.Key-Words: reproduction, Dendrocolaptes platyrostris, nest.PALAVRAS-ChAVE: reprodução, Dendrocolaptes platyrostris, ninho.A família <strong>de</strong>ndrocolaptidae (arapaçus) é compostapor 52 espécies distribuídas predominantemente em ambientesflorestais do sul do México ao norte da Argentina(Sick 1997, Marantz et al. 2003). Segundo o CBRo (2006),42 espécies foram registradas em território nacional.Os arapaçus estão entre os passeriformes mais abundantesdas florestas neotropicais, sobretudo em florestasprimárias; em florestas secundárias empobrecidas, comreduzido número <strong>de</strong> espécies vegetais e parcas árvoresmaiores e velhas, seu número reduz-se muito (Willis eOniki 2001, Poletto et al. 2004, Ferraz et al. 2007). Tal<strong>de</strong>clínio, provavelmente <strong>de</strong>ve-se à escassez <strong>de</strong> alimento eà falta <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong>s para nidificação (Sick 1997, Marantzet al. 2003, Poletto et al. 2004), já que fazem seus ninhosem ocos e cavida<strong>de</strong>s naturais em troncos, mas não sãocapazes <strong>de</strong> construí-los, como os pica-paus. Assim sendo,utilizam árvores em adiantado estado <strong>de</strong> <strong>de</strong>composição,troncos atingidos por fogo ou ocos abandonados <strong>de</strong> picapaus(Narosky et al. 1983, Sick 1997, Sigrist 2006).Dendrocolaptes platyrostris (Spix, 1825) distribui-se doPiauí ao Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, Goiás, Mato Grosso (até o rioXingu), Paraguai, Bolívia e norte da Argentina (Sick 1997,Sigrist 2006). É uma espécie com gran<strong>de</strong> plasticida<strong>de</strong> ecológica(Poletto et al. 2004, Ridgely e Tudor 1994, Marantzet al. 2003), ocorrendo tanto em florestas primárias quantosecundárias. Segundo Marantz et al. (2003), apesar <strong>de</strong>ssaplasticida<strong>de</strong>, a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> D. platyrostris dispersar-se porambientes não florestados é <strong>de</strong>sconhecida, mas provavelmentebaixa, uma vez que está intimamente associada aambientes florestais. <strong>de</strong> acordo com Sigrist (2006) ocupatodos os tipos <strong>de</strong> florestas secas e úmidas, florestas <strong>de</strong> galeria,caatinga, cerrado, além do Chaco paraguaio e boliviano.Willis e Oniki (2001) afirmam que o comportamentoreprodutivo dos representantes do gênero Dendrocolaptesé pouco conhecido e <strong>de</strong>screvem brevemente o comportamentoparental <strong>de</strong> D. platyrostris, com base em umninho ocupado que encontraram em uma cavida<strong>de</strong>, a 6 m<strong>de</strong> altura, no tronco <strong>de</strong> uma araribá (Centrolobium tomentosum,Leguminosae), situado em um plantio antigo <strong>de</strong>eucalipto em Rio Claro, São Paulo.Em 28 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2005, nós também encontramosum ninho ocupado por essa espécie, mas este estavasituado no forro <strong>de</strong> uma edificação <strong>de</strong> dois pisos (sobrado),na unida<strong>de</strong> da Embrapa Florestas (25°19’S e 49°09’W),município <strong>de</strong> Colombo, estado do Paraná, Brasil.A Embrapa Florestas situa-se no Primeiro PlanaltoParanaense e, portanto, está inserida no domínio da Florestacom Araucária (Floresta Ombrófila Mista, segundoVeloso et al. 1991). A área total da unida<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>aproximadamente 305 ha, sendo que <strong>de</strong>ste total 125 hasão <strong>de</strong> cobertura vegetal nativa, divididos em remanescentesflorestais em diversos estádios <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento(Rotta 1981). Esses remanescentes estão entremeados poráreas <strong>de</strong> reflorestamentos experimentais com espécies exóticase nativas, como Pinus spp., Araucaria angustifolia,Mimosa spp. e Eucalyptus spp., além <strong>de</strong> áreas em regeneraçãoe alagadas, algumas edificações, estradas internas ecórregos, formando um mosaico <strong>de</strong> ambientes.O ninho encontrava-se a cerca <strong>de</strong> 4,5 m <strong>de</strong> altura dosolo, no forro <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> uma construção <strong>de</strong> 5 anos,


80 Registro <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> Dendrocolaptes platyrostris (Dendrocolaptidae) em forro <strong>de</strong> edificação semi-ruralShayana <strong>de</strong> Jesus e Sandra Bos Mikichrecoberta por telhas <strong>de</strong> barro. O ninho propriamente ditoera uma gran<strong>de</strong> (aproximadamente 1,8 x 1,0 m) “cama”,que se estendia em direção à cumeeira do telhado, formadapor uma espessa camada <strong>de</strong> ritidomas (= cascas,cortiça), na sua maioria <strong>de</strong> Araucaria angustifolia, fragmentadosem pedaços <strong>de</strong> até 24,5 cm <strong>de</strong> comprimento,além <strong>de</strong> pequenos ramos. Praticamente não havia plumas,excrementos ou restos <strong>de</strong> alimento, <strong>de</strong> tal forma que se osanimais não tivessem sido observados no local, seria difícilrelacionar aquele acúmulo (massa estimada = 5260 g)<strong>de</strong> material a um ninho <strong>de</strong> ave, principalmente do porte<strong>de</strong> Dendrocolaptes platyrostris (comprimento = 25‐27 cm,Sigrist 2006).Segundo Narosky et al. (1983), o leito dos ninhosdos representantes argentinos da família Dendrocolaptidaeé geralmente forrado com ervas (Campyloramphus),musgos (Dendrocincla, Sittasomus), fungos (Dendrocincla),folhas secas (Dendrocincla, Sittasomus, Xiphocolaptes,Lepidocolaptes, Campyloramphus), pequenos ramos (Drymornis,Campyloramphus) e/ou ritidomas, geralmente daprópria árvore-ninho (Drymornis, Xiphocolaptes, Lepidocolaptes,Campyloramphus). Sick (1997) também cita queos ninhos <strong>de</strong>ssa família possuem um colchão <strong>de</strong> pedaços<strong>de</strong> casca ou <strong>de</strong> folhas secas. No caso <strong>de</strong> Campyloramphusfalcularius, Narosky et al. (1983) relataram a presença<strong>de</strong> ritidomas com 30‐40 mm x 10‐20 mm, bem menores,portanto, do que aqueles encontrados no ninho <strong>de</strong>D. platyrostris aqui <strong>de</strong>scrito, apesar <strong>de</strong>ssas espécies possuíremporte similar (C. falcularius = 24‐28 cm; Sigrist2006).Para coletar informações a respeito dos seus ocupantes,foram realizadas, entre 29 <strong>de</strong> novembro e 05 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 2005, cinco sessões <strong>de</strong> observação, com duraçãomínima <strong>de</strong> 1 h e 30 min e máxima <strong>de</strong> 3 h, totalizando11 h e 25 min. As observações foram realizadas no solo,com auxílio <strong>de</strong> binóculos, por um único observador situadoa maior distância possível do ninho. Assim, visava-seminimizar a influência sobre o comportamento das aves,embora elas provavelmente já estivessem acostumadas àpresença humana, já que o prédio abriga no mínimo 10pessoas, em horário <strong>de</strong> expediente (08:00‐<strong>17</strong>:00). Alémdisso, como o ninho estava situado junto à escada externaque leva ao andar superior, o fluxo <strong>de</strong> pessoas nesse localé freqüente e as aves foram observadas entrando e saindodo ninho mesmo quando pessoas transitavam no local,ainda que <strong>de</strong>monstrando cautela e hesitação.O ninho continha três filhotes, evi<strong>de</strong>nciados pelassuas vocalizações e por rápidas visualizações quando seaproximavam da margem do telhado para receber alimento.Segundo dados <strong>de</strong> Narosky et al. (1983), a posturados <strong>de</strong>ndrocolaptí<strong>de</strong>os é composta por dois a quatro ovos,sendo dois ou três o número mais comum <strong>de</strong> filhotes encontradosnos ninhos citados por eles.Dois adultos participaram da alimentação dos filhotes.Supostamente eram macho e fêmea, já que aespécie não apresenta dimorfismo sexual, embora noninho acompanhado por Willis e Oniki (2001), eles ostenham diferenciado com base na postura e dominância.Sick (1997) diz que os casais <strong>de</strong> Dendrocolaptidae geralmentese revezam na incubação e cuidado dos filhotes.Os adultos entravam no ninho pela lateral do telhadoe saíam pela frente, uma diferença <strong>de</strong> quase 2 m entreos pontos. Desconfiados, muitas vezes antes <strong>de</strong> entraremno ninho, pousavam em árvores próximas ou em outrospontos do telhado para observar os arredores e, não raramente,retornavam ao interior da floresta sem aten<strong>de</strong>raos ninhegos. Willis e Oniki (2001) fazem uma boa <strong>de</strong>scriçãodo comportamento <strong>de</strong>ssas aves junto ao local <strong>de</strong>nidificação.Os filhotes foram alimentados com insetos, principalmenteadultos <strong>de</strong> Odonata e Homoptera, e larvas,aparentemente, <strong>de</strong> Coleoptera e Lepidoptera. Esses itens,com exceção <strong>de</strong> Odonata, também foram registrados porMarini et al. (2002) que analisaram o conteúdo estomacal<strong>de</strong> dois adultos e dois ninhegos <strong>de</strong> Lepidocolaptes fuscus.No entanto, esses autores reportaram ainda o consumo,aparentemente freqüente, <strong>de</strong> Orthoptera e Araneae, itemeste também registrado por Willis e Oniki (2001) para adieta <strong>de</strong> ninhegos <strong>de</strong> D. platyrostris. As sessões <strong>de</strong> alimentaçãoocorreram a intervalos <strong>de</strong> 14,03 ± 14,63 minutos.Não foi possível verificar se o número <strong>de</strong> visitas ao ninhodiferiu entre os sexos.No segundo dia <strong>de</strong> observação (30 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong>2005), pela manhã, um filhote foi encontrado morto nochão, sob a entrada do ninho. Como seu corpo estavafrio, <strong>de</strong>ve ter caído durante a noite, aci<strong>de</strong>ntalmente ouempurrado pelos outros ninhegos, já que a ausência <strong>de</strong>ferimentos aparentes não sugeria ataque <strong>de</strong> predadoresou mesmo dos pais. A partir do dia 6 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro osadultos e os outros filhotes não foram mais observadosno ninho ou nos seus arredores, sendo seu <strong>de</strong>stino incerto.Um exame posterior do ninho não revelou sinais<strong>de</strong> predação, sugerindo que os filhotes tenham <strong>de</strong>ixado oninho com sucesso. Segundo Sick (1997), os filhotes <strong>de</strong>Lepidocolaptes souleyetii, da América Central, abandonamo ninho com 19 dias.No dia 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, nós examinamoso telhado novamente e encontramos o ninho reformado,medindo agora 0,9 x 0,5 m (Figura 1). Neste repousavaum ovo, <strong>de</strong> coloração branca e superfície lisa, opaca,medindo 31,5 x 24,0 mm (vi<strong>de</strong> centro da Figura 1). Segundodados <strong>de</strong> Narosky et al. (1983) e Sick (1997) osovos dos representantes <strong>de</strong>ssa família são sempre brancose opacos ou com pouco brilho. No entanto, o tamanhodo ovo é superior àqueles encontrados em Narosky et al.(1983) para <strong>de</strong>ndrocolaptí<strong>de</strong>os com porte semelhante ao<strong>de</strong> D. platyrostris, como D. picumnus [ave = 24‐30 cm,Sigrist 2006; maior ovo = 29,2 x 21,6 mm, Wetmore(1972) citado por Narosky et al. 1983] e Campyloramphustrochilirostris (ave = 22‐28 cm, Sigrist 2006; tamanhoRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Registro <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> Dendrocolaptes platyrostris (Dendrocolaptidae) em forro <strong>de</strong> edificação semi-ruralShayana <strong>de</strong> Jesus e Sandra Bos Mikich81médio dos ovos = 26,2 x 20,9 mm, n = 3 ovos, Naroskyet al. 1983). No entanto é similar ao <strong>de</strong> algumas espéciescom porte superior ao seu, como Drymornis bridgesii(ave = 29‐35 cm, Sigrist 2006; tamanho médio dos ovos= 31,2 x 24,5 mm, n = 18 ovos, Narosky et al. 1983).Como Hartert e Venturi (1909 citados por Naroski et al.1983) citaram ovos <strong>de</strong> 30 x 21 mm para C. trochilirostris,po<strong>de</strong>-se supor que, caso todos os valores acima apresentadosestejam corretos, existe variação intraespecífica consi<strong>de</strong>rávelno tamanho dos ovos dos representantes <strong>de</strong>ssafamília. Lamentavelmente a falta <strong>de</strong> dados na literaturasobre os ovos da espécie em questão não permite o exame<strong>de</strong>ssa hipótese.Consi<strong>de</strong>rando a literatura disponível, esse é o primeiroregistro <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong> uma espécie do gêneroDendrocolaptes em edificações, já que registros anteriores(Sick 1997) indicavam apenas que duas espécies <strong>de</strong> Lepidocolaptes(L. angustirostris e L. squamatus) utilizavam,ocasionalmente, buracos existentes em edificações paranidificar, embora o mesmo autor cite que para dormir os<strong>de</strong>ndrocolaptí<strong>de</strong>os “procuram buracos, chegando a entrarem chaminés <strong>de</strong> residências, po<strong>de</strong>ndo instalar-se tambémem vigas sob o telhado (Xiphocolaptes albicollis)”.Além disso, o aproveitamento <strong>de</strong> uma edificação habitadae em local com fluxo <strong>de</strong> pessoas é curioso, principalmentese consi<strong>de</strong>rarmos que a Embrapa Florestas abrigaremanescentes florestais relativamente bem conservados,um <strong>de</strong>les situado a poucos metros do ninho. Assim, sugere-seque a escolha <strong>de</strong>sse local tenha sido feita com baseem outros fatores que não a falta <strong>de</strong> cavida<strong>de</strong>s naturaispara nidificação, como a proteção contra predadores naturais(p.ex. pequenos mamíferos florestais e serpentes).AgRADecimentOSSomos gratos à Rafael Fernando da Silva Possette e NelsonGonçalves <strong>de</strong> Lima pelo auxílio no acesso ao ninho; Ricardo PamplonaCampos pelo auxílio nas observações; à Flávio Freire Carvalho pelotratamento das imagens; à Ernesto Krauczuk e Fernando Costa Straubepelo envio <strong>de</strong> material bibliográfico; e à Gledson Vigiano Bianconi porcríticas e sugestões ao manuscrito.ReferênciASFiguRA 1: Ninho <strong>de</strong> Dendrocolaptes platyrostris no telhado <strong>de</strong>uma edificação da Embrapa Florestas, Colombo, Estado do Paraná(13/09/2006).Figure 1: Nest of Dendrocolaptes platyrostris in the roof of a buildingof Embrapa Florestas, Colombo, Paraná (13/09/2006).CBRO – Comitê Brasileiro <strong>de</strong> Registros Ornitológicos. (2006).Listas das aves do Brasil. Versão 15/07/2006. Disponível em < www.cbro.org.br>. Acesso em: 28 junho 2007.Ferraz, G.; Nichols, J. D.; Hines, J. E.; Stouffer, P. C.; BierregaardJr., R. O. e Lovejoy, T. E. (2007). A large-scale <strong>de</strong>forestationexperiment: effects of patch area and isolation on Amazonbirds. Science, 315:238‐241.Marantz, C.; Aleixo, A.; Bevier, L. R. e Patten, M. A. (2003). FamilyDendrocolaptidae (Woodcreepers), p. 358‐447. Em: J. Del Hoyo,A. Elliot e D. Christie (eds). Handbook of the Birds of the World,Volume 8, Broadbills to Tapaculos. Barcelona, Lynx Ediciones.Marini, M. Â.; Lopes, L. E.; Fernan<strong>de</strong>s, A. M. e Sebaio, F. (2002).Descrição <strong>de</strong> um ninho <strong>de</strong> Lepidocolaptes fuscus (Dendrocolaptidae)do nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Minas Gerais, com dados sobre a sua dieta epterilose dos ninhegos. Ararajuba, 10: 95‐98.Narosky, S.; Fraga, R. e <strong>de</strong> la Penã, M. (1983). Nidificación <strong>de</strong> las avesargentinas (Dendrocolaptidae y Furnariidae). Córdoba, AssociaciónOrnitológica <strong>de</strong>l Plata.Poletto, F.; Anjos, L. dos; Lopes, E. V.; Volpato, G. H.; Serafini,P. P. e Favaro, F. L. (2004). Caracterização do microhabitate vulnerabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cinco espécies <strong>de</strong> arapaçus (Aves:Dendrocolaptidae) em um fragmento florestal do norte do estadodo Paraná, sul do Brasil. Ararajuba, 12:89‐96.Ridgely, R. S. e Tudor, G. (1994). The birds of South America. TheSuboscine Passerines. Austin, University of Texas Press.Rotta, E. (1981). Composição florística da Unida<strong>de</strong> Regional <strong>de</strong> PesquisaFlorestal Centro-Sul. Colombo, PR (Resultados Parciais). Curitiba,EMBRAPA/URPFCS.Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Editora Nova Fronteira.Sigrist, T. (2006). Aves do Brasil: uma visão artística. São Paulo: [s.n.].Veloso, H. P.; Rangel Filho, A. L. R. e Lima, J. C. A. (1991).Classificação da vegetação brasileira, adaptada a um sistemauniversal. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBGE.Willis, E. O. e Oniki, Y. (2001). On a nest of the PlanaltoWoodcreeper, Dendrocolaptes platyrostris, with taxonomic andconservation notes. Wilson Bull., 113(2):231‐233.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):82-83março <strong>de</strong> 2009NOTANovo registro amplia mais ao sul o limite dadistribuição geográfica <strong>de</strong> Parkerthraustes humeralis(Passeriformes) no BrasilAlessandro Pacheco NunesPrograma <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ecologia e Conservação, CCBS, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Mato Grosso do Sul, Cida<strong>de</strong> Universitária, s/n,Caixa Postal 549, 79070-900, Campo Gran<strong>de</strong>, MS. E-mail: udu@ibest.com.brRecebido em 12/02/2009. Aceito em 15/05/2009.Abstract: New record extends southward the known range of the Yellow-shoul<strong>de</strong>red Grosbeak (Parkerthraustes humeralis,Passeriformes). Here, I report on the occurrence of Parkerthraustes humeralis in the Sepotuba river valley, municipality of Tangará daSerra, Mato Grosso State, Brazil. This record extends significantly the known range of P. humeralis and indicates that the Sepotubariver valley might represent its southermost limit as verified for other Amazonian species occurring in southwestern Mato Grosso.Key-Words: Sepotuba river valley, range extension, Parkerthraustes humeralis, Passeriformes.Palavras-Chave: Vale do rio Sepotuba, extensão geográfica, Parkerthraustes humeralis, Passeriformes.O furriel-<strong>de</strong>-encontro (Parkerthraustes humeralis Lawrence,1867) é uma ave rara e incomum nas copas ebordas das florestas <strong>de</strong> terra firme da Amazônia oci<strong>de</strong>ntal,ocorrendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a Colômbia ao Equador, Peru e Bolívia.No Brasil, ocorre principalmente na região das cabeceirasdos tributários da margem direita dos rios Solimõese Amazonas, como alto Purus, Rondônia, noroeste <strong>de</strong>Mato Grosso e sul do Pará, em Carajás (Ridgely e Tudor1989, Sick 1997). Para o Mato Grosso, até recentementehaviam registros <strong>de</strong> ocorrência apenas para Alta Floresta(Whitney 1997, Boute e Carlos 2007).Willis (1976) inventariou a região do vale do rio Sepotubaem 1975, porém, o furriel-<strong>de</strong>-encontro não constana lista do autor. Em 11 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 2008, observeidois indivíduos <strong>de</strong> P. humeralis em um fragmento <strong>de</strong> matana fazenda Vale Formoso (14°41’9”S, 57°51’55W), emTangará da Serra, Mato Grosso. A i<strong>de</strong>ntificação da espécie<strong>de</strong>u-se por meio <strong>de</strong> comparações dos caracteres morfológicosobservados com os <strong>de</strong>scritos na literatura (Dunning1988, Ridgely e Tudor 1989). Foi observado com um binóculo<strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> 40 x 8 o padrão singular da plumagemda espécie, <strong>de</strong>stacando-se a máscara fascial negramargeada por uma estria malar branca, o dorso amareloolivaceo, as partes inferiores cinza e o criso amarelo.As aves foram avistadas participando <strong>de</strong> um bandomisto na copa <strong>de</strong> uma sumaúma (Ceiba pentandra), aaproximadamente 20 metros <strong>de</strong> altura. Dentre as espécies<strong>de</strong>ste bando misto, <strong>de</strong>stacaram-se o tietinga (Cissopisleverianus), o sete-cores-da-amazônia (Tangara chilensis),o saí-andorinha (Tersina viridis), a saíra-<strong>de</strong>-máscara-preta(Dacnis lineata), a saíra-galega (Hemithrauspis flavicolis) eo guaturamo-do-norte (Euphonia rufiventris).Nas região, a paisagem encontra-se bastante alteradae fragmentada e as áreas <strong>de</strong> proteção permanente comoas formações florestais ao longo das nascentes <strong>de</strong> rios eencostas não são respeitadas e encontram-se sériamentecomprometidas ou praticamente inexistentes em algunspontos da fazenda inventariada. Os remanescentes florestaisencontram-se na maioria, isolados em uma matriz <strong>de</strong>pastagem cultivada e as matas ripárias que po<strong>de</strong>riam atuarcomo potenciais corredores conectando os remanescentesflorestais, estão drasticamente <strong>de</strong>gradadas e inexistentesem alguns trechos do rio do Sangue (afluente do rioSepotuba).Willis (1976) relata que a avifauna da região do valedo rio Sepotuba é composta por elementos da AmazônicaCentral, do oeste do rio Ma<strong>de</strong>ira e das florestas secasda região dos rios Xingú-Tapajós ou florestas do su<strong>de</strong>steamazônico <strong>de</strong> influência Andina. Tangará da Serra, <strong>de</strong>acordo com a FEMA‐MT (2002), está inserida nos domíniosda Floresta Amazônica, predominando florestas<strong>de</strong> “terra firme”, fitofisionomia característica <strong>de</strong> áreas nãoalagadas on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvem-se árvores <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> portetais como as sumaúmas (C. pentandra).Alguns elementos amazônicos estão amplamentedifundidos na Bacia do Alto Paraguai e planície do pantanal(Brown Jr. 1986, Nunes e Tomas 2004), tendo asmatas <strong>de</strong> galeria, importante papel como corredores <strong>de</strong>dispersão para estas aves (Silva 1996, Less e Peres 2008).Entretanto, para a maioria das aves amazônicas, a região


Novo registro amplia mais ao sul o limite da distribuição geográfica <strong>de</strong> Parkerthraustes humeralis (Passeriformes) no BrasilAlessandro Pacheco Nunes83do vale do rio Sepotuba parece ser o limite sul <strong>de</strong> suadistribuição na Bacia do Alto Paraguai, não ocorrendoem planaltos adjacentes como Serra das Araras e Chapadados Guimarães (Willis 1976, Silva e Oniki 1988, Willis eOniki 1990). P. humeralis também não consta na lista <strong>de</strong>aves da região <strong>de</strong> Vila Bela da Santíssima Trinda<strong>de</strong>, noroeste<strong>de</strong> Mato Grosso (Silveira e D’Horta 2002).O registro <strong>de</strong> P. humeralis em Tangará da Serra esten<strong>de</strong>mais ao sul, em aproximadamente 550 Km <strong>de</strong> distância,a distribuição conhecida da espécie no estado doMato Grosso e po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado o primeiro avistamento<strong>de</strong>sta ave na Bacia do Alto Paraguai.Agra<strong>de</strong>cimentosSou grato ao WWF‐Brasil e à Embrapa Pantanal pelo apoiologístico durante a realização do estudo no vale do rio Sepotuba.Ao proprietário da fazenda Vale Formoso, Tangará da Serra, pelahospitalida<strong>de</strong> e apoio logístico. Ao CNPq pelo financiamento da bolsa<strong>de</strong> pós-graduação durante a realização <strong>de</strong>ste estudo. Aos revisoresanônimos que muito contribuíram na elaboração da versão <strong>de</strong>finitiva<strong>de</strong>sta nota.Referências BibliográficasBoute, P. e Carlos, B. (2007). Preliminary Bird List of the State ofMato Grosso. Cuiabá, Carlini & Caniato Editorial.Brown Jr., K. S. (1986). Zoogeografia da região do PantanalMatogrossense. p. 137‐182. In: EMBRAPA‐CPAP (Ed.). AnaisI Simpósio sobre recursos naturais e sócio-econômicos do Pantanal.Corumbá, EMBRAPA‐CPAP.Dunning, J. S. (1988). South American Birds: a photographic aid toi<strong>de</strong>ntification. USA, Harrowood Books.FEMA‐MT. (2002). Fundação Estadual do Meio Ambiente <strong>de</strong> MatoGrosso. Parque Estadual do Cristalino: um lugar para se conservar.Cuiabá, Governo do Estado <strong>de</strong> Mato Grosso.Less, A. C. e Peres, C. A. (2008). Conservation value of remnantriparian forest corridors of varying quality for amazonian birdsand mammals. Conservation Biology, 22(2):439‐449.Nunes, A. P. e Tomas, W. M. (2004). Análise preliminar das relaçõesbiogeográficas da avifauna do Pantanal com biomas adjacentes.p. 1‐8. In: Soriano, B. M. A.; Salis, S. M.; Mourão, G. M. ePellegrin, L. A. (Eds.). Anais IV Simpósio sobre Recursos Naturaise Socioeconômicos do Pantanal, Embrapa Pantanal: Sustentabilida<strong>de</strong>Regional. Corumbá, EMBRAPA‐CPAP.Ridgely, R. S. e Tudor, G. (1989) The birds of South America: TheOscines Passerines. Austin, University of Texas Press.Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro, Nova Fronteira.Silva, J. M. C. (1996). Distribution of Amazonian and Atlantic Birdsin gallery forests of the cerrado region, South America. <strong>Ornitologia</strong>Neotropical, 7(1):1‐18.Silva, J. M. C. e Oniki, Y. (1988). Lista preliminar da avifauna daEstação Ecológica Serra das Araras, Mato Grosso, Brasil. Bol. Mus.Paraense Emílio Goeldi, sér. Zool., 4:123‐143.Silveira, L. F. e D’Horta, F. M. (2002). A avifauna da região <strong>de</strong> VilaBela da Santíssima Trinda<strong>de</strong>, Mato Grosso. Pap. Avul. Zool., S.Paulo, 42(10):265‐286.Whitney, B. M. (1997). Birding the Alta Floresta region, northernMato Grosso, Brazil. Cotinga, 7: 64‐68.Willis, E. O. (1976). Effects of a cold wave on an Amazonian avifaunain the upper Paraguay drainage, western Mato Grosso, withcomments on oscine-suboscine relationships. Acta Amazonica,6:379‐394.Willis, E. O. e Oniki, Y. (1990). Levantamento preliminar das aves<strong>de</strong> inverno em <strong>de</strong>z áreas do sudoeste <strong>de</strong> Mato Grosso, Brasil.Ararajuba 1:19‐38.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1):84-85março <strong>de</strong> 2009NOTAA record of predation on apoisonous toad Rhinella granulosa(Anura, Bufonidae) by Guira CuckooGuira guira (Cuculidae, Crotophaginae)in the state of Ceará, BrazilPaulo Cesar Mattos Dourado <strong>de</strong> MesquitaRua Plínio Monteiro, 123, Engenheiro Luciano Cavalcante, CEP 60811‐285, Fortaleza, CE, Brasil. E‐mail: paulocmdm@gmail.comRecebido 31/03/2009. Aceito em 01/07/2009.Resumo: Registro <strong>de</strong> predação <strong>de</strong> um anuro venenoso Rhinella granulosa (Anura: Bufonidae) por Guira guira (Cuculidae,Crotophaginae) no Estado do Ceará, Brasil. Informações precisas sobre predação <strong>de</strong> vertebrados por Anu-branco Guira guira sãoescassas e raramente as espécies predadas são i<strong>de</strong>ntificadas ao nível <strong>de</strong> espécie. Eu registro um evento <strong>de</strong> predação <strong>de</strong> G. guira sobreRhinella granulosa, um anfíbio venenoso.PalvRAs-Chave: Guira guira, dieta, alimentação, comportamento.Key-WoRDs: Guira guira, predation, diet, feeding, behavior.The Guira Cuckoo Guira guira (Gmelin, <strong>17</strong>88), isa species of the subfamily Crotophaginae and it is wi<strong>de</strong>lydistributed through South America, inhabiting Brazil,Bolivia, Paraguay, Uruguay and Argentina (Sick, 1997).They are common in areas affected by human activities,like <strong>de</strong>forested areas, urban areas and crop fields. Thediet of G. guira is essentially carnivore, composed mainlyby arthropods (Schubart, et al. 1965), especially thoseof the or<strong>de</strong>r Orthoptera (Martins and Donatelli, 2001);however some studies of stomach contents indicate theeventual consumption of small vertebrates (Schubart,et al. 1965).Predation of anurans by birds is consi<strong>de</strong>red merelyoccasional (Toledo, et al. 2007) and registers of predationof anurans by G. guira are rare and in general are notprecise in relation to the i<strong>de</strong>ntification of prey species.Apparently the only register that i<strong>de</strong>ntified the preyedanuran was ma<strong>de</strong> by Kokubum and Zacca (2003), whoi<strong>de</strong>ntified the small frog (Family Leiuperidae) Physalaemuscf. fuscomaculatus as a prey of G. guira. Toads (FamilyBufonidae) are preyed by only few species of birdsbecause of the high toxicity of its poison (Frost, 2009).Nevertheless this poison seems to be inefficient againstsome bird species as Theristicus caudatus (Carvalho,1941) and Corvus macrorhynchos (Krishna and Vijayalaxmi,2004). Macedo (1994) reports, but do not i<strong>de</strong>ntify,that rarely some small toads can be inclu<strong>de</strong>d in the dietof G. guira.Here I report an event of capture and handling ofa toad by Guira guira in the city of Fortaleza, State ofCeará, Brazil.On 27 March 2009, at 15 h 10 min in an urban areaof the city of Fortaleza (03°46’41.9”S, 38°29’52.7”W),State of Ceará, Brazil, while I was observing the social behaviorof a small group of three individuals of Guira guiraI saw one of the birds capturing a Granulated Bufo, Rhinellagranulosa, and afterwards flying to a nearby coconuttree (Cocus nucifera), the toad was first loosely caught byits back legs but the bird started to handle it with its beakuntil the toad was held firmly by its dorsal skin (Figure 1),a refined handling technique not usual in Guira guira (seeMartins and Donatelli, 2001). When the predator was tostart to consume the toad another specimen of G. guiraappeared and tried to pile the prey. The two birds thenflew away and I could not see them anymore. This is thefirst record of Guira guira and Family Cuculidae preyingon Rhinella granulosa. This report explicits the lack ofinformation on natural history and ecology of birds evenin the case of very common and well known species likeGuira guira and agrees with Christianini (2005) that thiskind of occasional information are important to increasethe knowledge available about Neotropical species.


A record of predation on a poisonous toad Rhinella granulosa (Anura, Bufonidae) by GuiraCuckoo Guira guira (Cuculidae, Crotophaginae) in the state of Ceará, BrazilPaulo Cesar Mattos Dourado <strong>de</strong> Mesquita85Figure 1: Guira guira holding a Rhinella granulosa by its dorsal skin.RefereNCesCarvalho, A. L. (1941). Observações sobre casos <strong>de</strong> batracofagia entreas aves. Mem. Inst.Oswaldo Cruz, 35:575‐576.Christianini, A. V. (2005). A feeding record of the Short-tailedHawk Buteo brachyurus in its southern range. Rev. Bras. Ornit.,13(2)192‐192.Frost, D. R. (2009). Amphibian Species of the World: an onlinereference. Version 5.3 (12 February, 2009). Electronic Databaseaccessible at http://research.amnh.org/herpetology/amphibia/.American Museum of Natural History, New York, USA. (acessadoem 28/03/2009).Kokubum, M. N. C. and Zacca, W. (2003). Physalaemus cf.fuscomaculatus (NCN). Predation. Herpetol. Rev., 34:232‐233.Krishna, S. and Vijayalaxmi, K. K. (2004). Bufo parietalis (ForestToad). Predation. Herpetol. Rev., 35:156‐157.Macedo, R. H. (1994). Inequities in parental effort and costs ofcommunal breeding in the Guira Cuckoo. Orn. Neotrop., 5:79‐90.Martins, F. C. and Donatelli, R. J. (2001) Estratégia alimentar <strong>de</strong>Guira guira (Cuculidae, Crotophaginae) na região centro-oeste <strong>de</strong>Estado <strong>de</strong> São Paulo. Ararajuba, 9(2):89‐94.Schubart, O.; Aguirre, A. C. and Sick, H. (1965). Contribuição parao conhecimento da alimentação das aves brasileiras. Arq. Zool.,12:95‐249.Sick, H. (1997). <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro. Editora NovaFronteira.Toledo, L. F.; Ribeiro, R. S; Haddad, C. F. B. (2007) Anurans asprey: an exploratory analysis and size relationships betweenpredators and their prey. Jour. Zool., 271: <strong>17</strong>0‐<strong>17</strong>7.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, <strong>17</strong>(1), 2009


IINSTRUÇÕES AOS AUTORESA Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> receberá contribuiçõesoriginais relativas a qualquer aspecto da biologia das aves,enfatizando a documentação, a análise e a interpretação <strong>de</strong>estudos <strong>de</strong> campo e laboratório, além da apresentação <strong>de</strong> novosmétodos ou teorias e revisão <strong>de</strong> idéias ou informações préexistentes.A Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> tem interesse empublicar, por exemplo, estudos sobre a biologia da reprodução,distribuição geográfica, ecologia, etologia, evolução, migração eorientação, morfologia, paleontologia, sistemática, taxonomia enomenclatura. Encoraja-se a submissão <strong>de</strong> análises <strong>de</strong> avifaunasregionais, mas não a <strong>de</strong> listas faunísticas <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s. Trabalhos<strong>de</strong> caráter monográfico também po<strong>de</strong>rão ser consi<strong>de</strong>rados parapublicação.Os trabalhos submetidos à Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>não po<strong>de</strong>m ter sido publicados anteriormente ou estaremsubmetidos para publicação em outros periódicos ou livros.Serão avaliados os manuscritos originais escritos em português,espanhol ou inglês (preferencialmente), que <strong>de</strong>vem ser gravadosno formato do programa Microsoft Word, com fonte “TimesNew Roman” tamanho 12, espaço duplo, com alinhamento àesquerda. Os nomes científicos <strong>de</strong>vem ser grafados em itálico eencoraja-se o uso da seqüência sistemática e da nomenclaturapresente nas listas brasileira (http://www.cbro.org.br) ou sulamericana<strong>de</strong> aves (http://www.museum.lsu.edu/~Remsen/SACCBaseline), quando pertinente.Submissão:Os originais <strong>de</strong>vem ser submetidos ao editorpreferencialmente por correio eletrônico, mas também emCD (que não serão <strong>de</strong>volvidos) ou impressos (neste caso, trêscópias do manuscrito completo, seguindo as normas acima).O título (no idioma do texto) <strong>de</strong>ve ser conciso e indicarclaramente o assunto abordado no trabalho. Expressõesgenéricas como “contribuição ao conhecimento...” ou “notassobre...” <strong>de</strong>vem ser evitadas. O nome <strong>de</strong> cada autor <strong>de</strong>ve serescrito por extenso, acompanhado do en<strong>de</strong>reço completopara correspondência (incluindo correio eletrônico). No caso<strong>de</strong> múltiplos autores, o autor para correspondência <strong>de</strong>ve serclaramente indicado.Resumo e abstract <strong>de</strong>vem informar o objetivo e os resultadosdo trabalho, e não apenas relacionar os assuntos discutidos.Abaixo do nome do(s) autor(es), <strong>de</strong>ve-se relacionar, na seguinteseqüência:• Português: abstract em inglês, com título e key-words;resumo em português, sem título e com palavras-chave;• Inglês: resumo em português, com título e palavras-chave;abstract em inglês, sem título com key-words;• Espanhol: resumo em português, com título e palavraschave;abstract em inglês, com título e key-words.No caso <strong>de</strong> notas curtas, <strong>de</strong>ve ser incluído apenas umabstract (trabalhos em português) ou um resumo (trabalhosem inglês ou espanhol), acompanhado <strong>de</strong> palavras-chave ekey-words.O manuscrito <strong>de</strong>verá apresentar uma breve introdução,<strong>de</strong>scrição dos métodos incluindo a área <strong>de</strong> estudo, apresentaçãoe discussão dos resultados, agra<strong>de</strong>cimentos e referências.Conclusões po<strong>de</strong>rão ser apresentadas <strong>de</strong>pois da discussão oujunto com a mesma. As partes do manuscrito <strong>de</strong>vem estarorganizadas como segue:• Título (do manuscrito, e os nomes e en<strong>de</strong>reços dosautores, e somente isso)• Resumo / Abstract / Palavras-chave• Introdução (que começa em uma nova página, nãohavendo quebras <strong>de</strong> página com as seções seguintes)• Material e Métodos• Resultados (somente os resultados, em forma sucinta)• Discussão (que opcionalmente po<strong>de</strong> ser seguido porConclusões, mas, melhor incluir conclusões <strong>de</strong>ntro dadiscussão)• Agra<strong>de</strong>cimentos• Referências• Tabelas• Legendas das Figuras• Figuras (cada uma em uma única página)Cada Tabela <strong>de</strong>ve vir em uma página, numerada emalgarismos arábicos e acompanhada da sua respectiva legenda.A legenda da tabela <strong>de</strong>ve ser parte da tabela, ocupando aprimeira linha da tabela com as células mescladas. As Legendasdas figuras também <strong>de</strong>vem vir numeradas e cada Figura <strong>de</strong>vevir em uma página, também numerada em algarismos arábicose <strong>de</strong> acordo com as suas respectivas legendas. N.B.: Todas aslegendas <strong>de</strong>vem ser apresentadas em duplas, a primeira nalíngua do trabalho, e a segunda em inglês.Os diversos tópicos <strong>de</strong>vem apresentar subtítulosapropriados quando for necessário. Todas as páginas <strong>de</strong>vem sernumeradas no canto superior direito.Devem-se usar as seguintes abreviações: h (hora), min(minuto), s (segundo), km (quilômetro), m (metro), cm(centímetro), mm (milímetro), ha (hectare), kg (quilograma),g (grama), mg (miligrama), todas com letras minúsculas e semponto. Use as seguintes notações estatísticas: P, n, t, r, F, G, U, x 2 ,gl (graus <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong>), ns (não significativo), CV (coeficiente <strong>de</strong>variação), DP (<strong>de</strong>svio padrão), EP (erro padrão). Com exceçãodos símbolos <strong>de</strong> temperatura e porcentagem (e.g., 15°C, 45%),dê espaço entre o número e a unida<strong>de</strong> ou símbolo (e.g., n = 12,P < 0,05, 25 min). Escreva em itálico palavras e expressões emlatim (e.g., et al., in vitro, in vivo, sensu). Números <strong>de</strong> um anove <strong>de</strong>vem ser escritos por extenso, a menos que se refiram auma medida (e.g., quatro indivíduos, 6 mm, 2 min); <strong>de</strong> 10 emdiante escreva em algarismos arábicos.A citação <strong>de</strong> autores no texto <strong>de</strong>ve seguir o padrão: (Pinto1964) ou Pinto (1964); dois trabalhos do mesmo autor <strong>de</strong>vemser citados como (Sick 1985, 1993) ou (Ribeiro 1920a, b);autores diversos <strong>de</strong>vem ser relacionados em or<strong>de</strong>m cronológica:(Pinto 1938, Aguirre 1976b); quando a publicação citadaapresentar dois autores, ambos <strong>de</strong>vem ser indicados: (lhering eIhering 1907), mas quando os autores são mais <strong>de</strong> dois, apenasRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


IIo primeiro é citado: (Schubart et al. 1965); nomes <strong>de</strong> autorescitados juntos são unidos por “e”, “y” ou “and” (nunca “&”),<strong>de</strong> acordo com o idioma do texto. Informações inéditas <strong>de</strong>terceiros <strong>de</strong>vem ser creditadas à fonte pela citação das iniciaise sobrenome do informante acompanhada <strong>de</strong> abreviaturaa<strong>de</strong>quada da forma <strong>de</strong> comunicação, seguida <strong>de</strong> data: (H. Sickcom. pess., 1989) ou V. Loskot (in litt. 1990); observaçõesinéditas dos autores po<strong>de</strong>m ser indicadas pela abreviatura:(obs. pess.); quando apenas um dos autores merecer o créditopela observação inédita ou qualquer outro aspecto apontadono texto <strong>de</strong>ve ser indicado pelas iniciais do seu nome: “... em1989 A. S. retomou ao local...”. Manuscritos não publicados(e.g., relatórios técnicos, monografias <strong>de</strong> graduação) e resumos<strong>de</strong> congressos po<strong>de</strong>rão ser citados apenas em casos excepcionais,quando absolutamente imprescindíveis e não houver outrafonte <strong>de</strong> informação.A lista <strong>de</strong> referências no final do texto <strong>de</strong>verá relacionartodos e apenas os trabalhos citados, em or<strong>de</strong>m alfabética pelossobrenomes dos autores. No caso <strong>de</strong> citações sucessivas, <strong>de</strong>ve-serepetir o sobrenome do autor, como nos exemplos a seguir:Ihering, H. von e Ihering, R. von. (1907). As aves do Brazil.São Paulo: Museu Paulista (Catálogos da Fauna <strong>Brasileira</strong>v. 1). 74IUCN. (1987). A posição da IUCN sobre a migração <strong>de</strong>organismos vivos: introduções, reintroduções e reforços.http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/in<strong>de</strong>x (acesso em25/08/2005).Novaes, F. C. (1970). Estudo ecológico das aves em uma área <strong>de</strong>vegetação secundária no Baixo Amazonas, Estado do Pará.Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,Ciências e Letras <strong>de</strong> Rio Claro.Remsen, J. V. e Robinson, S. K. (1990). A classification schemefor foraging behavior of birds in terrestrial habitats,p. 144-160. Em: M. L. Morrison, C. J. Ralph, J. Verner eJ. R. Jehl Jr. (eds.). Avian foraging: theory, methodology,and applications. Lawrence: Cooper OrnithologicalSociety (Studies in Avian Biology 13).Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920a). A fauna vertebrada da ilha daTrinda<strong>de</strong>. Arq. Mus. Nac. 22:169-194.Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920b). Revisão dos psittací<strong>de</strong>os brasileiros.Rev. Mus. Paul. 12 (parte 2):1-82.Sick, H. (1985). <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução, v. 1.Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.Notas <strong>de</strong> rodapé não serão aceitas; notas adicionais,quando absolutamente relevantes, po<strong>de</strong>rão ser incluídas apósas referências, com numeração correspon<strong>de</strong>nte às respectivaschamadas no texto, abaixo do subtítulo notas.Ilustrações e tabelas. As ilustrações (fotografias, <strong>de</strong>senhos,gráficos e mapas), que serão chamadas <strong>de</strong> “figuras”, <strong>de</strong>vemser numeradas com algarismos arábicos na or<strong>de</strong>m em que sãocitadas e que serão inseridas no texto.As tabelas e figuras, que receberão numeraçãoin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>vem vir no final do manuscrito, assim comotodas as legendas das figuras, que <strong>de</strong>vem ser apresentadas emfolha separada (ver acima).As chamadas no texto, para figuras e tabelas, <strong>de</strong>vem seguiro padrão “(Figura 2)” ou “... na figura 2”.As tabelas <strong>de</strong>vem ser encabeçadas por um título completoe prescindir <strong>de</strong> consulta ao texto, sendo auto-explicativas.Para trabalhos em português os autores <strong>de</strong>verão fornecerversões em inglês das legendas das figuras e cabeçalhos <strong>de</strong>tabelas.As fotografias <strong>de</strong>vem ser em preto e branco, apresentandomáxima niti<strong>de</strong>z.Todas <strong>de</strong>vem ser digitalizadas com 300 dpi, no tamanhomínimo <strong>de</strong> 12 x 18 cm, em grayscale e 8 bits.No caso <strong>de</strong> só existirem fotografias coloridas, estas po<strong>de</strong>rãoser convertidas para preto e branco.No caso da publicação <strong>de</strong> fotografias ou pranchas coloridas,o(s) autor(es) <strong>de</strong>verão arcar com as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> gráfica.Os autores não terão que arcar com os custos <strong>de</strong> impressãose a ilustração/fotografia for selecionada para a capa da revista.Só serão aceitas ilustrações digitalizadas em formato tifou jpeg.Os <strong>de</strong>senhos, gráficos e mapas feitos em papel vegetal ou<strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, a nanquim preto ou impressora a laser, <strong>de</strong>vemapresentar traços e letras <strong>de</strong> dimensões suficientes paraque permaneçam nítidos e legíveis quando reduzidos parapublicação.As escalas <strong>de</strong> tamanhos ou distâncias <strong>de</strong>vem serrepresentadas por barras, e não por razões numéricas.Desenhos, gráficos e mapas <strong>de</strong>vem ser enviados nos arquivosoriginais, no programa em que foram gerados, além daquelesanexados ao texto. No caso <strong>de</strong> envio <strong>de</strong> arquivos <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>2 MB por e-mail, estes <strong>de</strong>vem estar compactados (consultediretamente o editor no caso <strong>de</strong> enviar arquivos maiores). Nãoserá necessário comprimir o arquivo se o trabalho for enviadoem CD.Todo o material <strong>de</strong>ve ser enviado para o editor da Revista<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>:Prof. Dr. Luís Fábio SilveiraDepartamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São PauloCaixa Postal 11.461, CEP 05422-970São Paulo, SP, BrasilTel./Fax: (# 11) 3091-7575E-mail: lfsilvei@usp.brA carta <strong>de</strong> encaminhamento <strong>de</strong>verá mencionar o títulodo trabalho, nome dos autores, en<strong>de</strong>reço e e-mail daquele comquem o editor manterá contato. Um aviso <strong>de</strong> recebimento dosoriginais será imediatamente remetido ao autor responsávelpelos contatos com a Revista. Após a aceitação do trabalho, umarquivo já diagramado em formato PDF será enviado por e-maila este autor para revisão, o qual <strong>de</strong>verá retomar ao editor em 72horas. A correção da versão final enviada para publicação é <strong>de</strong>inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores. Os autores que dispõe <strong>de</strong>correio eletrônico receberão, sem ônus e por correio eletrônico,uma cópia em formato PDF do seu trabalho publicado.Separatas po<strong>de</strong>rão ser adquiridas pelo(s) autor(es) mediantepagamento. Entre em contato com o editor caso tenha algumadúvida com relação às regras para envio dos manuscritos.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


IIIINSTRUCCIONES A LOS AUTORESLa Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> recibirá contribucionesoriginales relacionadas con cualquier aspecto <strong>de</strong> la biología <strong>de</strong>las aves, enfatizando la documentación, análisis e interpretación<strong>de</strong> estudios <strong>de</strong> campo y laboratorio, presentación <strong>de</strong> nuevosmétodos o teorías y revisión <strong>de</strong> i<strong>de</strong>as o informacionespreexistentes. La Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> tiene interésen publicar, por ejemplo, estudios sobre la biología <strong>de</strong> lareproducción, distribución geográfica, ecología, etología,evolución, migración y orientación, morfología, paleontología,sistemática, taxonomía y nomenclatura. También, pue<strong>de</strong>presentarse análisis <strong>de</strong> avifauna regional, pero no pue<strong>de</strong> sersolamente una lista faunística <strong>de</strong> localida<strong>de</strong>s. Trabajos <strong>de</strong>carácter monográfico también podrán ser aceptados parapublicación.Los manuscritos submetidos para publicación en la Revista<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> no pue<strong>de</strong>n haber sido publicadosanteriormente, o estar siendo consi<strong>de</strong>rados para publicación,en entero o en parte, en ningún otro periódico o libro. Lostrabajos pue<strong>de</strong>n ser escritos en portugués, español o inglés y<strong>de</strong>ben ser grabados en formato <strong>de</strong>l programa Microsoft Word,usando la fuente “Times New Roman”, tamaño 12, espaciodoble, alineado a la izquierda. Los nombres científicos <strong>de</strong>benser escritos en itálico y seguir la secuencia sistemática y <strong>de</strong> lanomenclatura en la lista brasileña (http://www.cbro.org) osur-americana <strong>de</strong> aves (http://www.museum.lsu.edu/~Remsen/SACCBaseline), cuando pertinente.Submissión:Los originales <strong>de</strong>ben ser mandados al editorpreferentemente por correo electrónico, en CD (que no serávuelto), o por copias impresas (en esto caso, se <strong>de</strong>ben enviar trescopias <strong>de</strong>l manuscrito completo).El título (en el idioma <strong>de</strong>l texto) <strong>de</strong>be ser conciso y <strong>de</strong>limitarclaramente el asunto abordado en el trabajo. Expresionesgenéricas como “contribuciones al conocimiento...” o “notassobre...” <strong>de</strong>ben ser evitadas. Debe ser escrito el nombre yapellidos completos <strong>de</strong> cada autor, acompañado <strong>de</strong> la direcciónexacta para correspon<strong>de</strong>ncia, incluso correo electrónico, eindicar autor <strong>de</strong> comunicación cuando haya más que un autor.Resumen y Abstract <strong>de</strong>ben informar el objetivo y losresultados <strong>de</strong>l trabajo y no limitarse únicamente a presentarlos aspectos discutidos. Estos <strong>de</strong>ben ser colocado <strong>de</strong>bajo <strong>de</strong>lnombre <strong>de</strong>l(os) autor(es), <strong>de</strong> la siguiente forma <strong>de</strong>pendiendo<strong>de</strong> la idioma:• Portugués: abstract en inglés, con título y key-words;resumen en portugués, sin título y con palabras-claves;• Inglés: resumo en portugués, con título y palavras-chave;abstract en inglés, sin título y key-words;• Español: resumo en portugués, con título y palabras-clave;abstract en inglés, con títulos y key-words.En el caso <strong>de</strong> notas cortas, <strong>de</strong>be ser incluido solamente unabstract (trabajo en portugués) o un resumo (trabajo en inglés oespañol), acompañado <strong>de</strong> palabras-clave y key-words.El texto <strong>de</strong>be tener una introducción breve, <strong>de</strong>scripción<strong>de</strong> los método incluyendo la área <strong>de</strong>l estudio, resultados y sudiscusión, agra<strong>de</strong>cimientos e referencias. Conclusiones pue<strong>de</strong>nser parte da la discusión, o seguir, opcionalmente, la discusióncomo una parte separada. Las partes <strong>de</strong>l manuscrito <strong>de</strong>ben estarorganizadas como sigue:• Título (<strong>de</strong>l manuscrito, y los nombres y direcciones <strong>de</strong> losautores, y nada mas)• Resumo / Abstract / Palabras-claves• Introducción (que empieza en una nueva página)• Métodos (estas partes siguen sin quebrar las páginas)• Resultados (solamente los resultados mismos, en unaforma sucinta)• Discusión (que, opcionalmente, pue<strong>de</strong> ser seguido porConclusiones, pero mejor incluir conclusiones en ladiscusión)• Agra<strong>de</strong>cimientos• Referencias• Tablas• Leyendas <strong>de</strong> las Figuras• FigurasCada Tabla <strong>de</strong>be venir en una única página, numeradaen dígitos arábicos y con su respectiva leyenda. La leyenda <strong>de</strong>la tabla <strong>de</strong>be ser parte <strong>de</strong> la tabla, ocupando la primera línea <strong>de</strong>la tabla con las células mezcladas. Las Leyendas <strong>de</strong> las figurastambién <strong>de</strong>ben venir numeradas y cada Figura <strong>de</strong>be venir enuna única página, también numerada en dígitos arábicos y <strong>de</strong>acuerdo con sus respectivas leyendas. N.B.: Todas las leyendas<strong>de</strong>ben estar en dupla -la primera en la lengua <strong>de</strong>l trabajo, yla segunda en inglés.Los diversos tópicos <strong>de</strong>ben tener subtítulos apropiadoscuando sea necesario. Todas las páginas <strong>de</strong>ben estar numeradasen el rincón superior <strong>de</strong>recho.Se <strong>de</strong>ben usar las siguientes abreviaciones: h (hora),min (minuto), s (segundo), km (kilómetro), m (metro), cm(centímetro), mm (milímetro), ha (hectárea), kg (kilogramo),g (gramo), mg (milígramo), todas con letras minúsculas ysin punto. Use las siguientes notaciones estadísticas: P, n, t, r,F, G, U, x 2 , gl (grados <strong>de</strong> libertad), ns (no significativo), CV(coeficiente <strong>de</strong> variación), DE (<strong>de</strong>sviación estándar), EE (errorestándar). Con excepción <strong>de</strong> los símbolos <strong>de</strong> temperatura yporcentaje (e.g., 15°C, 45%), <strong>de</strong>je espacio entre el número yla unidad o símbolo (e.g., n = 12, P < 0,05, 25 min). Escribaen itálica palabras y expresiones <strong>de</strong>l latín (e.g., et al., in vitro,in vivo, sensu). Los números <strong>de</strong>l uno al nueve <strong>de</strong>ben ser escritoscomo texto, y <strong>de</strong>l 10 en a<strong>de</strong>lante en números arábicos.Cuando sean citados autores en el texto, <strong>de</strong>be seguirse elmo<strong>de</strong>lo siguiente: (Pinto 1964) o Pinto (1964); dos trabajos<strong>de</strong>l mismo autor <strong>de</strong>ben ser citados como (Sick 1985, 1993)o (Ribeiro 1920a, b); autores diversos <strong>de</strong>ben ser relacionadosen or<strong>de</strong>n cronológico: (Pinto 1938, Aguirre 1976b); cuandola publicación citada presenta dos autores, ambos <strong>de</strong>ben serindicados: (Ihering y Ihering 1907), pero cuando los autoresson más <strong>de</strong> dos, solamente el primero se cita: (Schubart et al.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


IV1965); nombres <strong>de</strong> autores citados juntos <strong>de</strong>ben ser unidos por“e”, “y”, o “and” (nunca “&”) <strong>de</strong> acuerdo con el idioma <strong>de</strong>ltexto. Informaciones inéditas <strong>de</strong> terceros <strong>de</strong>ben ser reconocidas.Para citar la fuente, <strong>de</strong>ben colocarse las iniciales <strong>de</strong>l nombre y elapellido <strong>de</strong>l informante, seguidos por las abreviaturas a<strong>de</strong>cuadas<strong>de</strong> la forma <strong>de</strong> comunicación, y finalmente el año: (H. Sick com.per., 1989) o V. Loskot (in litt. 1990); observaciones inéditas<strong>de</strong> los autores pue<strong>de</strong>n ser indicadas por las abreviaturas: (obs.per.); cuando solamente uno <strong>de</strong> los autores, merece el créditopor la observación inédita o cualquier otro aspecto <strong>de</strong>scrito enel texto, <strong>de</strong>be ser indicado por las iniciales <strong>de</strong> su nombre: “... en1989 A. S. regreso a la región...”. Manuscritos no publicados (porej. relatorios técnicos, monografias <strong>de</strong> graduación) y resúmenes<strong>de</strong> congresos podrán ser citados sólo en casos excepcionales,cuando imprescindibles y no halla otra fuente <strong>de</strong> información.La lista <strong>de</strong> referencias al final <strong>de</strong>l texto, <strong>de</strong>berá relacionarúnicamente los trabajos citados, en or<strong>de</strong>n alfabético <strong>de</strong> losapellidos <strong>de</strong> los autores. Las citaciones sucesivas <strong>de</strong>ben sersubstituidas por un trazo horizontal seguidas por el año <strong>de</strong>publicación entre paréntesis, como en los ejemplos siguientes:Ihering, H. von e Ihering, R. von. (1907). As aves do Brazil.São Paulo: Museu Paulista (Catálogos da Fauna <strong>Brasileira</strong>v. 1). 74IUCN. (1987). A posição da IUCN sobre a migração <strong>de</strong>organismos vivos: introduções, reintroduções e reforços.http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/in<strong>de</strong>x (acesso em25/08/2005).Novaes, F. C. (1970). Estudo ecológico das aves em uma área <strong>de</strong>vegetação secundária no Baixo Amazonas, Estado do Pará.Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,Ciências e Letras <strong>de</strong> Rio Claro.Remsen, J. V. e Robinson, S. K. (1990). A classification schemefor foraging behavior of birds in terrestrial habitats,p. 144-160. Em: M. L. Morrison, C. J. Ralph, J. Verner eJ. R. Jehl Jr. (eds.). Avian foraging: theory, methodology,and applications. Lawrence: Cooper OrnithologicalSociety (Studies in Avian Biology 13).Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920a). A fauna vertebrada da ilha daTrinda<strong>de</strong>. Arq. Mus. Nac. 22:169-194.Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920b). Revisão dos psittací<strong>de</strong>os brasileiros.Rev. Mus. Paul. 12 (parte 2):1-82.Sick, H. (1985). <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução, v. 1.Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.Notas <strong>de</strong> pie <strong>de</strong> página no se aceptarán; notas adicionalescuando sean absolutamente relevantes podrán ser incluidas<strong>de</strong>spués <strong>de</strong> las referencias, con numeración correspondiente alas respectivas llamadas en el texto, <strong>de</strong>bajo <strong>de</strong>l subtítulo notas.Ilustraciones y tablas. Las ilustraciones (fotografías,dibujos, gráficos y mapas) que serán llamados figuras, <strong>de</strong>beránser numeradas con guarismos arábigos en el or<strong>de</strong>n que soncitados y serán introducidos en el texto.Las tablas y las figuras recibirán enumeración in<strong>de</strong>pendientey <strong>de</strong>ben aparecer al final <strong>de</strong>l texto, así como todas las leyendas alas figuras, que se <strong>de</strong>ben presentar en hojas separadas.Las llamadas en el texto para figuras y tablas <strong>de</strong>ben seguirel mo<strong>de</strong>lo: “(Figura 2)” o “… en la figura 2”.Las tablas <strong>de</strong>ben ser encabezadas por un título completo,ser autos explicativas y no necesitar consultar el texto.Todas las leyendas <strong>de</strong> las figuras <strong>de</strong>ben ser reunidas en unahoja separada.Para trabajos en español, los autores <strong>de</strong>berán proveerversiones en inglés <strong>de</strong> las leyendas <strong>de</strong> las figuras y títulos <strong>de</strong>tablas.El texto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> las figuras <strong>de</strong>be ser legible cuandoreducido por 60%.Las fotografías <strong>de</strong>ben estar en blanco y negro y presentarla claridad máxima.En caso <strong>de</strong> existir solamente las fotografias <strong>de</strong>l color, éstosse pue<strong>de</strong>n convertir a blanco y negro.Todas <strong>de</strong>ben ser digitalizadas en 300 dpi, con tamañomínimo <strong>de</strong> 12 x 18 centímetros, en escala <strong>de</strong> cinza, <strong>de</strong> 8 bits ygravadas en tif o en jpeg.En los dibujos, los gráficos y los mapas, las escalas <strong>de</strong>tamaños o las distancias <strong>de</strong>ben ser representadas por barras, nopor cocientes numéricos.Los dibujos y las letras <strong>de</strong>ben tener dimensiones <strong>de</strong>modo que sigan siendo legibles cuando estén reducidos parala publicación.Los dibujos, los gráficos y los mapas <strong>de</strong>ben ser enviar enlos archivos originales, en el programa don<strong>de</strong> han sido creados,a<strong>de</strong>más <strong>de</strong> aquellos en el texto. En caso <strong>de</strong> enviar archivepor correo electrónico con más <strong>de</strong> 2 MB, éstos <strong>de</strong>ben sercon<strong>de</strong>nsados. Si el trabajo es enviado en CD, no es necesariocomprimir el archivo.Todo el material <strong>de</strong>be ser enviar al redactor <strong>de</strong> la Revista<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>:Prof. Dr. Luís Fábio SilveiraDepartamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São PauloCaixa Postal 11.461, CEP 05422-970São Paulo, SP, BrasilTel./Fax: (# 11) 3091-7575E-mail: lfsilvei@usp.brLa carta <strong>de</strong> presentación <strong>de</strong>l artículo <strong>de</strong>berá mencionarel título <strong>de</strong>l trabajo, nombre <strong>de</strong> los autores, dirección e e-mail <strong>de</strong> aquel con el cual el editor mantendrá contacto parasu colaboración. Un aviso <strong>de</strong> recibimiento <strong>de</strong> los originalesserá inmediatamente remitido al autor responsable por loscontactos con la revista. Una vez que el trabajo esté aceptado,un archivo en PDF <strong>de</strong>berá ser enviado por el e-mail a esteautor, para la revisión. La corrección <strong>de</strong> la versión finalenviada para publicación es <strong>de</strong> entera responsabilidad <strong>de</strong> losautores. El primer autor <strong>de</strong> cada trabajo recibirá, por correoelectrónico y sin ningún costo, una copia PDF <strong>de</strong> su trabajopublicado. A correção da versão final enviada para publicaçãoé <strong>de</strong> inteira responsabilida<strong>de</strong> dos autores. Los autores quedisponen <strong>de</strong> correo electrónico receberán, sin onus y por correoelectrónico, una copia en formato PDF <strong>de</strong>l trabajo publicado.Separatas po<strong>de</strong>rán ser adquiridas por el(los) autor(es) mediantepagamiento. Con dudas sobre las reglas, entre en contacto conel editor antes <strong>de</strong> la sumisión.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


VINSTRUCTIONS TO AUTHORSThe Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> will accept originalcontributions related to any aspect of the biology of birds, withemphasis on the documentation, analysis and interpretation offield and laboratory studies, presentation of new methodologies,theories or reviews of i<strong>de</strong>as or previously known information.The Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong> is interested in publishingstudies of reproductive biology, geographic distribution,ecology, ethology, evolution, migration and orientation,morphology, paleontology, taxonomy and nomenclature.Regional studies are also acceptable, but not mere lists of theavifauna of a specific locality. Monographs may be consi<strong>de</strong>redfor publication.Manuscripts submitted to The Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong><strong>Ornitologia</strong> must not have been published previously or beun<strong>de</strong>r consi<strong>de</strong>ration for publication, in whole or in part, inanother journal or book. Manuscripts may be written inPortuguese, Spanish or English and must be typed in MicrosoftWord, using Times New Roman 12, double spaced and leftjustified. Scientific names must be shown in italic, and authorsare encouraged to follow the systematic sequence of theBrazilian (http://www.cbro.org.br) or South American (http://www.museum.lsu.edu/~Remsen/SACCBaseline) bird lists,when pertinent.Submission:Originals must be submitted to the editor preferablyby email, recor<strong>de</strong>d in compact disc (CD, that will not bereturned), or by printed copies (in this in case, three copies ofthe complete manuscript must be sent).The title (in the same language as the text) must beconcise and clearly <strong>de</strong>fine the topic of the manuscript. Genericexpressions such as “contribution to the knowledge...” or“notes about...” must be avoi<strong>de</strong>d. The name of each authormust be written fully, followed by the full mailing address,and author for communication in the case of multipleauthors.Abstract and Resumo (= Portuguese abstract) must statethe objective and the results of the study, and not only mentionthe topics discussed. They must be placed below the author(s)name(s), as follows:• Portuguese: abstract in English with title and with keywords;resumo in Portuguese without title and withpalavras-chave (= key-words in Portuguese);• English: resumo in Portuguese with title and palavraschave;abstract in English without title and with key-words;• Spanish: resumo in Portuguese with title and palavraschave;abstract in English with title and key-words.For short notes, only an abstract must be inclu<strong>de</strong>d (for aPortuguese manuscript) or a resumo (manuscripts in English orSpanish), followed by palavras-chave and key-words.The text must provi<strong>de</strong> a brief introduction, <strong>de</strong>scription ofmethods and of the study area, presentation and discussion ofthe results, acknowledgments and references. Conclusions maybe provi<strong>de</strong>d after the discussion or within it. The parts of themanuscript must be organized as follows:• Title (of the manuscript, with names and addresses of allthe authors)• Resumo / Abstract / Key-words• Introduction (starting on a new page)• Methods (this and subsequent parts continue withoutpage breaks)• Results (only the results, succinctly)• Discussion• Acknowledgments• References• Tables• Figure Legends• FiguresEach Table should be on a separate page, numberedin Arabic numerals, with its own legend. The legend shouldbe part of the table, and occupy the space ma<strong>de</strong> by insertingan extra line at the beginning of the table, in which the cellsare merged. Figure legends occupying one or more pagesfollowing the tables, should be numbered successively, also inArabic numerals. Figures will follow, one to each page, andclearly numbered in agreement with the legends.As necessary, subsections may be i<strong>de</strong>ntified and labeled assuch. All pages should be numbered in the upper, right handcomer.The following abbreviations should be used: h (hour),min (minute), s (second), km (kilometer), m (meter), cm(centimeter), mm (millimeter), ha (hectare), kg (kilogram), g(gram), mg (miligram), all of them in non capitals and with no“periods” (“.”). Use the following statistical notations: P, n, t, r,F, G, U, x 2 , df (<strong>de</strong>grees of freedom), ns (non significant), CV(coefficient of variation), SD (standard <strong>de</strong>viation), SE (standar<strong>de</strong>rror). With the exception of temperature and percentagesymbols (e.g., 15°C, 45%), leave a space between the numberand the unit or symbol (e.g., n = 12, P < 0,05, 25 min). Latinwords or expressions should be written in italics (e.g., et al., invitro, in vivo, sensu). Numbers one to nine should be writtenout unless a measurement (e.g., four birds, 6 mm, 2 min); from10 onwards use numbers.Author citations in the text must follow the pattern:(Pinto 1964) or Pinto (1964); two publications of the sameauthor must be cited as (Sick 1985, 1993) or (Ribeiro 1920a,b); several authors must be presented in chronological or<strong>de</strong>r:(Pinto 1938, Aguirre 1976b); for two-author publications bothauthors must be cited: (Ihering and Ihering 1907), but for morethan two authors, only the first one should be cited: (Schubartet al. 1965); authors’ names cited together are linked by “e”,“y” or “and” (never “&”), in accordance with the text language.Unpublished information by third parties must be creditedto the source by citing the initials and the last name of theinformer followed by the appropriate abbreviation of the formof communication, followed by the date: (H. Sick pers. comm.,1989) or V. Loskot (in litt. 1990); unpublished observations byRevista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


VIthe authors can be indicated by the abbreviation: (pers. obs.);when only one of the authors <strong>de</strong>serves credit for the unpublishedobservation or another aspect cited or pointed out in the text,this must be indicated by the name initials: “... in 1989 A. S.returned to the area...”. Unpublished manuscripts (e.g., technicalreports, un<strong>de</strong>rgraduate monographs) and meeting abstractsshould be cited only exceptionally in cases they are absolutelyessential and no alternative sources exist.The reference list must inclu<strong>de</strong> all and only the citedpublications, in alphabetical or<strong>de</strong>r by the authors’ last name,which must be replaced by a horizontal bar in subsequentcitations, and followed by the year of publication in parenthesis,as below:Ihering, H. von e Ihering, R. von. (1907). As aves do Brazil.São Paulo: Museu Paulista (Catálogos da Fauna <strong>Brasileira</strong>v. 1). 74IUCN. (1987). A posição da IUCN sobre a migração <strong>de</strong>organismos vivos: introduções, reintroduções e reforços.http://iucn.org/themes/ssc/pubs/policy/in<strong>de</strong>x (acesso em25/08/2005).Novaes, F. C. (1970). Estudo ecológico das aves em uma área <strong>de</strong>vegetação secundária no Baixo Amazonas, Estado do Pará.Tese <strong>de</strong> doutorado. Rio Claro: Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Filosofia,Ciências e Letras <strong>de</strong> Rio Claro.Remsen, J. V. e Robinson, S. K. (1990). A classification schemefor foraging behavior of birds in terrestrial habitats,p. 144-160. Em: M. L. Morrison, C. J. Ralph, J. Verner eJ. R. Jehl Jr. (eds.). Avian foraging: theory, methodology,and applications. Lawrence: Cooper OrnithologicalSociety (Studies in Avian Biology 13).Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920a). A fauna vertebrada da ilha daTrinda<strong>de</strong>. Arq. Mus. Nac. 22:169-194.Ribeiro, A. <strong>de</strong> M. (1920b). Revisão dos psittací<strong>de</strong>os brasileiros.Rev. Mus. Paul. 12 (parte 2):1-82.Sick, H. (1985). <strong>Ornitologia</strong> brasileira, uma introdução, v. 1.Brasília: Editora Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Brasília.Footnotes will not be accepted; additional notes, whenabsolutely essential, may be inclu<strong>de</strong>d after the references, withthe corresponding number in the text, below the subtitle notes.Illustrations and tables. The illustrations (photographs,drawings, graphics and maps), which will be called figures,must be numbered with Arabic numerals in the or<strong>de</strong>r in whichthey are cited and will be inserted into the text.Tables and figures will receive in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt numberingand must appear at the end of the text, as well as all legends tothe figures that must be presented on separate sheets.In the text, mentioning figures and tables must follow thepattern: “(Figure 2)” or “... in figure 2.”.Table headings must provi<strong>de</strong> a complete title, and be selfexplanatory,without needing to refer to the text.All figure legends must be grouped in numerical or<strong>de</strong>r ona separate sheet from the figures.Photographs must be in black-and-white and present themaximum clearness.In case of existing only color photographs, these could beconverted to black-and-white.All of them must be scanned with 300 dpi, with minimumsize of 12 x 18 cm, in grayscale, 8 bits and saved on tif or jpeg.In the drawings, graphs and maps, scales of sizes ordistances must be represented by bars, not by numerical ratios.Drawings and text in figures must be large enough inthe originals so that they remain legible when reduced forpublication.Drawings, graphs and maps must be sent in the originalfiles, in the program where they had been created, besi<strong>de</strong>s thoseattached to the text. In case of sending files by email with morethan 2 MB, these must be compacted. If the manuscript is senton compact disc, file compression is unnecessary.All material must be sent to the editor of the Revista<strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>:Prof. Dr. Luís Fábio SilveiraDepartamento <strong>de</strong> Zoologia, Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São PauloCaixa Postal 11.461, CEP 05422-970São Paulo, SP, BrasilTel./Fax: (# 11) 3091-7575E-mail: lfsilvei@usp.brA letter of submission must accompany the manuscriptand mention the manuscript title, authors’ names, address an<strong>de</strong>-mail address of the author with whom the editor will maintaincontact concerning the manuscript. Notification of receipt ofthe originals will be sent to the corresponding author. Oncethe manuscript is accepted, a PDF file will be sent by email tothis author for revision. The correction of the final version sentfor publication is entirely the authors’ responsibility. The firstauthor of each published paper will receive via e-mail, free ofcharge, a PDF file of the published paper. Hard copy reprintsmay be obtained by the authors at a nominal fee. In the case ofdoubts as to the rules of format, please contact the editor priorto submission.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>


Continuação do Sumário...Novos registros ornitológicos para o Parque Estadual do Cantão: distribuição e conservação da avifauna do ecótonoAmazônia-CerradoNew ornithological records to the Cantão State Park: area distribution and avifauna conservation of the Amazon-Cerrado ecotoneRenato Torres Pinheiro e Túlio Dornas................................................................................................................................................. 73Predação pelo bem-te-vi Pitangus sulphuratus (Passeriformes, Tyrannidae) no baiacu Colomesus asellus (Actinopterygii,Tetraodontidae) e camarão <strong>de</strong> água doce (Crustacea, Decapoda)Predation by the Great Kiska<strong>de</strong>e Pitangus sulphuratus (Passeriformes, Tyrannidae) on the Amazon Pufferfish Colomesus asellus(Actinopterygii, Tetraodontidae) and freshwater shrimp (Crustacea, Decapoda)Fernando da Silva Carvalho Filho....................................................................................................................................................... 77Registro <strong>de</strong> nidificação <strong>de</strong> Dendrocolaptes platyrostris (Dendrocolaptidae) em forro <strong>de</strong> edificação semi-ruralBreeding record of Dendrocolaptes platyrostris (Dendrocolaptidae) in the roof of a semi-rural buildingShayana <strong>de</strong> Jesus e Sandra Bos Mikich................................................................................................................................................. 79Novo registro amplia mais ao sul o limite da distribuição geográfica <strong>de</strong> Parkerthraustes humeralis (Passeriformes) no BrasilNew record extends southward the known range of the Yellow-shoul<strong>de</strong>red Grosbeak (Parkerthraustes humeralis, Passeriformes)Alessandro Pacheco Nunes................................................................................................................................................................... 82A record of predation on a poisonous toad Rhinella granulosa (Anura, Bufonidae) by Guira Cuckoo Guira guira (Cuculidae,Crotophaginae) in the state of Ceará, BrazilRegistro <strong>de</strong> predação <strong>de</strong> um anuro venenoso Rhinella granulosa (Anura: Bufonidae) por Guira guira (Cuculidae, Crotophaginae)no Estado do Ceará, BrasilPaulo Cesar Mattos Dourado <strong>de</strong> Mesquita............................................................................................................................................ 84Instruções aos AutoresInstrucciones a los AutoresInstructions to Authors


Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>Volume <strong>17</strong> – Número 1 – Março 2009SUMÁRIOARTIGOSWhere is the symbol of Brazilian Ornithology? The geographic distribution of the Gol<strong>de</strong>n Parakeet (Guarouba guarouba– Psittacidae)On<strong>de</strong> está o símbolo da <strong>Ornitologia</strong> <strong>Brasileira</strong>? A distribuição geográfica da ararajuba (Guarouba guarouba – Psittacidae)Thiago Orsi Laranjeiras and Mario Cohn-Haft.................................................................................................................................... 1Dinâmica <strong>de</strong> um dormitório comunal <strong>de</strong> Aratinga aurea (Psittacidae) em área urbana no centro-oeste do BrasilDynamics of one communal roost of the Aratinga aurea (Psittacidae) in an urban area of the center-west of BrazilVitor <strong>de</strong> Oliveira Lunardi e Diana Gonçalves Lunardi......................................................................................................................... 20Sobre o uso <strong>de</strong> níveis <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aves à fragmentação florestal na avaliação da Integrida<strong>de</strong> Biótica: um estudo <strong>de</strong> caso nonorte do Estado do Paraná, sul do BrasilOn the use of the sensitivity levels of birds to forest fragmentation in the evaluation of the Biotic Integrity: a study case in thenorth of State of Paraná, southern BrazilLuiz dos Anjos, Gabriela Menezes Bochio, João Vitor Campos, Gabriel B. McCrate e Fernando Palomino................................................ 28The use of playbacks can influence encounters with birds: an experimentO uso <strong>de</strong> Playbacks po<strong>de</strong> influenciar encontros com aves: um experimentoAndré Magnani Xavier <strong>de</strong> Lima and James Joseph Roper....................................................................................................................... 37Etnoecologia, etnotaxonomia e valoração cultural <strong>de</strong> Psittacidae em distritos rurais do Triângulo Mineiro, BrasilEthno-ecology, ethno-taxonomy and cultural value of Psittacidae in rural districts of the Triângulo Mineiro region, BrazilPatrícia Thieme Onofri Saiki; Lucia <strong>de</strong> Fátima Estevinho Guido e Ana Maria <strong>de</strong> Oliveira Cunha.......................................................... 41Revisão da distribuição e dados <strong>de</strong> história natural do gavião‐pombo‐pequeno (Leucopternis lacernulatus), incluindo o registro <strong>de</strong>predação sobre teiú (Tupinambis meriane) em Mata Atlântica <strong>de</strong> Tabuleiro, su<strong>de</strong>ste do BrasilA review on distribution and natural history of White-necked Hawk (Leucopternis lacernulatus), including a record of prey onTegu Lizard (Tupinambis meriane) at Reserva Natural Vale, southeastern BrazilAna Carolina Srbek-Araujo; Vinicius Del Gaudio Albergaria e Adriano Garcia Chiarello....................................................................... 53Utilização <strong>de</strong> recursos alimentares por Philydor atricapillus e P. rufum (Aves: Furnariidae) em uma área <strong>de</strong> Mata Atlântica da IlhaGran<strong>de</strong>, RJUse of food resources by Philydor atricapillus and P. rufum (Aves: Furnariidae) in an Atlantic rainforest at Ilha Gran<strong>de</strong>, RJAline Francisca Paineiras Delarmelina 1 e Maria Alice S. Alves.............................................................................................................. 59NOTASDados biológicos <strong>de</strong> Puffinus lherminieri anilhados em Fernando <strong>de</strong> Noronha em 2005 e 2006Biological data of Puffinus lherminieri ban<strong>de</strong>d in Fernando <strong>de</strong> Noronha archipelago during 2005 and 2006Luiz Augusto Macedo Mestre; Andrei Langeloh Roos e João Luiz Xavier do Nascimento.......................................................................... 65Reprodução <strong>de</strong> Fluvicola nengeta (Tyrannidae) em área urbana da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, RJ, BrasilFluvicola nengeta (Tyrannidae) breeding at an urban area in Rio <strong>de</strong> Janeiro city, RJ, BrazilVanessa Cardoso Tomaz, Victor Marcelo Fernan<strong>de</strong>s e Maria Alice S. Alves.............................................................................................. 70ISSN 0103-5657Continua no verso <strong>de</strong>sta página...9 7 7 0 1 0 3 5 6 5 0 0 3

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