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Sumário33Introdução05 Lições <strong>do</strong> Rio Grande: ReferencialCurricular para as escolas estaduais11 Referenciais Curriculares da EducaçãoBásica para o Século 2<strong>12</strong>5 Por que competências e habilidades naeducação básica?29 A gestão da escola comprometida com aaprendizagem37 Caracterização da área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias40 I - Competências46 II- Interdisciplinaridade eContextualização nas Ciências Humanas47 III- Estratégias para a ação <strong>do</strong>cente48 Conclusão48 ReferênciasHistória51 Introdução51 I – A disciplina de História53 II – Como ensinar História?56 III – Conceitos estruturantes60 IV – Eixos temáticos e seleção de conteú<strong>do</strong>s65 V - Estratégias para a ação <strong>do</strong>cente eavaliação66 Conclusão67 ReferênciasGeografia71 Disciplina de Geografia71 Competências e habilidades no ensinoda Geografia74 Conceitos estrutura<strong>do</strong>res <strong>do</strong> ensino daGeografia76 Conteú<strong>do</strong>s relaciona<strong>do</strong>s aos conceitosestruturantes e às habilidades ecompetências. Operacionalizaçãometo<strong>do</strong>lógica86 Temas estruturantes relaciona<strong>do</strong>s aosblocos de conteú<strong>do</strong>s87 ReferênciasSociologia94 Competências e conceitos estruturantes<strong>do</strong> ensino de Sociologia no ensino médio102 Estratégias para o ensino da Sociologia110 Breve panorama das tendências teóricasda Sociologia113 ReferênciasFilosofia117 Disciplina de Filosofia118 Competências e habilidades em Filosofia119 Significa<strong>do</strong> das competências específicasda Filosofia<strong>12</strong>2 Conceitos e temas estrutura<strong>do</strong>res daFilosofia<strong>12</strong>7 Estratégias para a ação <strong>do</strong>cente<strong>12</strong>8 Quadro resumo <strong>do</strong>s Referenciais deFilosofia<strong>12</strong>9 Referências<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 3 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>41</strong>


Lições <strong>do</strong> Rio GrandeReferencial Curricular para as escolas estaduais55Mariza AbreuSecretária de Esta<strong>do</strong> da EducaçãoNo Brasil e no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, hojeo principal desafio é melhorar a qualidadeda educação de nossos alunos. E isso é difícil.Até algum tempo atrás, precisávamosaumentar o numero de vagas. O desafio eraexpandir o acesso à educação escolar. Issoera mais fácil, pois se tratava de construiruma escola, inaugurá-la e aumentar o númerode matrículas.Hoje, o acesso à escola está, em grandeparte, resolvi<strong>do</strong> ou relativamente encaminha<strong>do</strong>em to<strong>do</strong> o País e aqui no Esta<strong>do</strong>, especialmenteno ensino fundamental e médio. Aindaé problema na educação infantil, responsabilidade<strong>do</strong>s Municípios, e é também problemana educação profissional, responsabilidade<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s. Mas no ensino fundamental noRS, é de 98% a taxa de escolarização dascrianças nas escolas estaduais, municipaisou particulares. E 77% <strong>do</strong>s jovens de 15 a 17anos estão matricula<strong>do</strong>s no sistema de ensino.É um percentual ainda pequeno quan<strong>do</strong>compara<strong>do</strong> com a meta de escolarizar nomínimo 98% também da população nessafaixa etária. E muitos desses jovens ainda estãoatrasa<strong>do</strong>s, cursan<strong>do</strong> o ensino fundamental.Entretanto, somadas as vagas nas escolaspúblicas e particulares <strong>do</strong> ensino médio, hávaga para to<strong>do</strong>s os jovens de 15 a 17 anosresidentes no Rio Grande <strong>do</strong> Sul.É verdade que existe problema na distribuiçãogeográfica dessas vagas. Às vezesfaltam vagas em alguns lugares e há excessonoutros, principalmente nas cidades grandese mais populosas, naquelas que recebempopulação de outras regiões ou de fora <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong>. Às vezes, nas cidades grandes, faltaem alguns bairros e sobra em outros. E noensino médio, há ainda o problema de inadequaçãoentre os turnos, com falta de vagasno diurno.Mas o grande desafio em to<strong>do</strong> o Brasil eno Rio Grande <strong>do</strong> Sul é a falta de qualidadeda educação escolar oferecida às nossascrianças e jovens. Colocamos muitos alunosna escola e os recursos públicos destina<strong>do</strong>sà escola pública não aumentaram na mesmaproporção e, em consequência, caiu a qualidade,as condições físicas das escolas pioraram,baixou o valor <strong>do</strong>s salários <strong>do</strong>s professores,cresceram as taxas de reprovação erepetência e reduziu-se a aprendizagem.Melhorar a qualidade é muito mais difícil.Em primeiro lugar, ninguém tem a fórmulapronta, pois, para começar, já não étão simples conceituar, nos dias de hoje, oque é qualidade da educação. Depois, nãoé palpável, não se “pega com a mão”, comoescola construída e número de alunos matricula<strong>do</strong>s.E depois, não é tão rápi<strong>do</strong>.Construir escola é possível de se fazer notempo de um governo e de capitalizar politicamente.Qualidade da educação é maislenta no tempo, mais devagar. E tem mais umproblema. De mo<strong>do</strong> legítimo, os governantesmovimentam-se atenden<strong>do</strong> a demandas dapopulação. E educação de qualidade nãoé ainda uma demanda de to<strong>do</strong>s. Por isso,apesar <strong>do</strong>s discursos políticos e eleitorais, naprática a educação não tem si<strong>do</strong> prioridade<strong>do</strong>s governos. Nas pesquisas de opinião, emgeral, segurança, saúde e às vezes tambémemprego aparecem antes da educação naspreocupações da população. Isso porque jáhá vaga para to<strong>do</strong>s, ou quase to<strong>do</strong>s na escolapública, e, por exemplo, tem merenda<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 5 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


66para as crianças. As maiores reclamações dapopulação referem-se a problemas com otransporte escolar ou a falta de professores.Dificilmente alguém reclama que seu filhonão está aprenden<strong>do</strong>. Dificilmente os pais oua sociedade se mobilizam por falta de qualidadeda educação.Por tu<strong>do</strong> isso é que se diz que, se queremoseducação de qualidade para to<strong>do</strong>s,precisamos de to<strong>do</strong>s pela educação de qualidade.E a melhoria da qualidade só podeser resulta<strong>do</strong> de um conjunto de ações, <strong>do</strong>governo e da sociedade.Como exemplos, em nosso governo, encaminhamosuma solução para o problema<strong>do</strong> transporte escolar, por meio da aprovação,após longa e proveitosa negociaçãocom os prefeitos através da FAMURS, de umalei na Assembléia Legislativa crian<strong>do</strong> o Programade Transporte Escolar no RS. Juntocom as direções, a Secretaria de Educaçãoestá aperfeiçoan<strong>do</strong> o processo de matrícula,rematrícula e organização das turmasdas escolas estaduais. A confirmação da rematrículapermite realizar um levantamento<strong>do</strong>s alunos que continuam frequentan<strong>do</strong> aescola, eliminan<strong>do</strong> os que deixam a escolapor aban<strong>do</strong>no ou são transferi<strong>do</strong>s e aindaconstam na listagem de alunos. Ao mesmotempo, reaproxima os pais da escola, poisa relação da família com a escola é umadas primeiras condições para que o alunoaprenda. De 2007 para 2008, a organizaçãodas turmas das escolas em parceria comas CRE’s e a Secretaria foi realizada de formaartesanal, em fichas de papel; de 2008 para<strong>2009</strong>, mais um passo – utilizamos o nossoINE, a Informática na Educação. E tambémestá sen<strong>do</strong> feita uma pesquisa sobre o perfilsocioeconômico das comunidades escolarespara promover política de equidade emnossas escolas. A partir de agosto de 2008,aperfeiçoamos a autonomia financeira dasescolas, com atualização <strong>do</strong> número de alunosmatricula<strong>do</strong>s, pois até então eram aindautiliza<strong>do</strong>s os da<strong>do</strong>s de 2003, e aperfeiçoamosos critérios de repasse <strong>do</strong>s recursos. Aomesmo tempo, o valor mensal repassa<strong>do</strong> àsescolas aumentou de 4,2 milhões para 5,4milhões. Consideran<strong>do</strong>-se a redução da matrículana rede estadual, pelo decréscimo dapopulação na idade escolar e a expansão damatrícula nas redes municipais, o valor daautonomia financeira aumentou de R$ 3,99para R$ 4,18 por aluno.Em junho de 2008, foi lança<strong>do</strong> o ProgramaEstruturante Boa Escola para To<strong>do</strong>s, comcinco projetos: SAERS – Sistema de AvaliaçãoEducacional <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul; ProfessorNota 10; Escola Legal; Sala de Aula Digitale Centros de Referência na Educação Profissional.Precisamos de escolas com boas condiçõesde funcionamento. Se muitas escolasestaduais encontram-se em condições adequadas,isso se deve muito mais aos professorese às equipes de direção que conseguiramse mobilizar e mobilizar suas comunidadespara fazer o que o Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,nesses quase 40 anos de crise fiscal, não foicapaz de fazer. Mas temos muitas escolas quenão conseguiram fazer isso, ou porque suasdireções não se mobilizaram o suficiente ouporque suas comunidades não tinham condiçõesde assegurar os recursos necessáriospara fazer o que o governo não conseguiafazer. É difícil, em pouco tempo, recuperaro que o governo, em 30 ou 40 anos, nãofez. Estamos realizan<strong>do</strong> um esforço imensopara isso. Uma das primeiras medidas que ogoverno a<strong>do</strong>tou foi assegurar que o salárioeducaçãofosse to<strong>do</strong> aplica<strong>do</strong> nas despesasque podem ser realizadas com esses recursos.Pela lei federal, o salário educação nãopode ser utiliza<strong>do</strong> na folha de pagamento<strong>do</strong>s servi<strong>do</strong>res da educação ou outros quaisquer.Entretanto, o salário-educação saía daconta própria onde era deposita<strong>do</strong> pelo governofederal e, transferi<strong>do</strong> para o caixa único<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, não retornava às despesas emque pode ser aplica<strong>do</strong>.Para uma educação de qualidade é necessáriolevar às escolas a tecnologia da informação.É um processo complica<strong>do</strong> no Brasile em to<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>, como tivemos oportunidadede observar quan<strong>do</strong> acompanhamos oColégio Estadual Padre Colbachini, de Nova<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 6 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


Bassano, no Prêmio Educa<strong>do</strong>res Inova<strong>do</strong>resda Microsoft, etapa internacional em HongKong. Não adianta instalar laboratório de informáticanas escolas se, nas salas de aula,o ensino continuar a ser desenvolvi<strong>do</strong> apenascom quadro negro, giz e livro didático. E olaboratório for um espaço utiliza<strong>do</strong> uma ouduas vezes por semana para aprender informáticaou bater papo na internet, em geralcom o atendimento de um professor específico,enquanto os professores <strong>do</strong> currículocontinuam a não utilizar softwares educacionais.O laboratório de informática precisavir a funcionar como aquela antiga sala deáudio-visual, onde se tinha o retroprojetor oua televisão com o vídeo-cassete. Para utilizaresse espaço didático, os professores se agendavampara dar aulas específicas das suasdisciplinas. É preciso um servi<strong>do</strong>r de apoio,de multi-meios, que saiba operar o hardware,mas os professores precisam ser capacita<strong>do</strong>spara usarem a tecnologia da informação– os laboratórios com os microcomputa<strong>do</strong>rese os softwares educacionais – como recursosdidáticos em suas aulas. Em parceria com oMEC, nossa meta é instalar mais 500 laboratóriosnas escolas estaduais em <strong>2009</strong>, comparte <strong>do</strong>s microcomputa<strong>do</strong>res compra<strong>do</strong>spela Secretaria e outros recebi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> MEC,através <strong>do</strong> PROINFO.O Sistema de Avaliação Educacional <strong>do</strong>Rio Grande <strong>do</strong> Sul é constituí<strong>do</strong> por duasações: o Projeto de Alfabetização de Criançasde Seis e Sete Anos e o Sistema de AvaliaçãoExterna da Aprendizagem. O Projeto de Alfabetizaçãofoi inicia<strong>do</strong> em 2007, pois o Brasilacabara de introduzir a matrícula obrigatóriaa partir <strong>do</strong>s 6 anos de idade e de ampliara duração <strong>do</strong> ensino fundamental para noveanos letivos, por meio de duas leis federaisrespectivamente de 2005 e 2006. O desafiopassou a ser o de alfabetizar as crianças apartir <strong>do</strong>s 6 anos no primeiro ano <strong>do</strong> ensinofundamental. Nossa proposta é construir umamatriz de habilidades e competências da alfabetização,começan<strong>do</strong> com o processo dealfabetização aos 6 anos para completá-lono máximo no segun<strong>do</strong> ano, aos 7 anos. Oprojeto piloto foi estendi<strong>do</strong> em 2008 para ascrianças de 7 anos no segun<strong>do</strong> ano <strong>do</strong> ensinofundamental e reinicia<strong>do</strong> com novas turmasde crianças de 6 anos no primeiro ano.Em <strong>2009</strong>, o projeto deixou de ser piloto e foigeneraliza<strong>do</strong> na rede estadual, pois passou aser ofereci<strong>do</strong> a todas as turmas com criançasde 6 anos no primeiro ano <strong>do</strong> ensino fundamentalneste ano. O Projeto de Alfabetizaçãoda Secretaria de Educação <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong>Sul a<strong>do</strong>tou três propostas pedagógicas testadase validadas em experiências anteriores:o GEEMPA que desenvolve uma propostapós-construtivista de alfabetização; o Alfa eBeto que se constitui num méto<strong>do</strong> fônico dealfabetização e o Instituto Ayrton Senna quetrabalha uma proposta de gerenciamento daaprendizagem, com base no méto<strong>do</strong> de alfabetizaçãojá utiliza<strong>do</strong> pela escola. O ProjetoPiloto, financia<strong>do</strong> em 2007 com recursos dainiciativa privada e, em 2008 e <strong>2009</strong>, comrecursos <strong>do</strong> MEC, foi desenvolvi<strong>do</strong> em turmasde escolas estaduais e municipais, distribuídasem to<strong>do</strong> o Esta<strong>do</strong>. Para toda a redeestadual, em <strong>2009</strong> o Projeto é financia<strong>do</strong>com recursos próprios <strong>do</strong> governo <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul.O SAERS – Sistema de Avaliação Externade Aprendizagem, inicia<strong>do</strong> em 2007 de formauniversal nas escolas estaduais, é complementarao sistema nacional de avaliação<strong>do</strong> rendimento escolar desenvolvi<strong>do</strong> peloMinistério da Educação. O governo federalaplica o SAEB – Sistema de Avaliação daEducação Básica – desde o início <strong>do</strong>s anos90, numa amostra de escolas públicas e privadasde ensino fundamental e médio e, desde2005, a Prova Brasil em todas as escolaspúblicas de ensino fundamental com mais de20 alunos nas séries avaliadas.A avaliação é realizada para melhorar aqualidade da educação, para que os professorespossam, por meio da entrega <strong>do</strong>s boletinspedagógicos às escolas, apropriar-se <strong>do</strong>sresulta<strong>do</strong>s da avaliação e, com isso, melhoraro processo de ensino-aprendizagem.Mas o Projeto mais importante <strong>do</strong> ProgramaBoa Escola para To<strong>do</strong>s é o Professor Nota77<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 7 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


8810, pois não existe escola de qualidade semprofessor de qualidade, com boa formação,elevada auto-estima e comprometi<strong>do</strong> com aaprendizagem de seus alunos. Para isso, énecessário uma formação continuada oferecidapelo Governo <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>.Desde 2008 já foram realizadas váriasações de formação continuada para os professores,como o Progestão, programa de formaçãocontinuada à distância para gestoresescolares, desenvolvi<strong>do</strong> pelo CONSED – ConselhoNacional de Secretários da Educação.Embora o governo estadual anterior tenhaadquiri<strong>do</strong> o material instrucional <strong>do</strong>Progestão, não implementou o programapara gestores das escolas estaduais. Desde2000, o curso somente foi ofereci<strong>do</strong> em algunsMunicípios gaúchos para gestores municipais.Desenvolvemos o PDE Escola, juntocom o MEC, o Acelera Brasil, e uma sériede ações de capacitação para professoresde diferentes modalidades de ensino, comoeducação indígena, especial, prisional, dejovens e adultos, etc. Chegamos a capacitarem 2008 mais de 16 mil <strong>do</strong>s nossos cercade 80 mil professores em atividade na redeestadual de ensino.E agora estamos entregan<strong>do</strong> para vocêsas Lições <strong>do</strong> Rio Grande. No Rio Grande <strong>do</strong>Sul, como no Brasil, o processo social e educacionaldesenvolve-se de maneira pendular.Nos anos 50/60 até os anos 70, tivemosum processo muito centraliza<strong>do</strong> no que serefere a currículos escolares. Os currículoseram elabora<strong>do</strong>s nas Secretarias de Educaçãoe repassa<strong>do</strong>s às escolas, para que elasos executassem. Aqui no Rio Grande <strong>do</strong>Sul, inclusive os exames finais eram feitosna própria Secretaria de Educação e eramenvia<strong>do</strong>s a todas as escolas <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>, paraserem aplica<strong>do</strong>s. Eram elabora<strong>do</strong>s não paraavaliar o sistema, como o SAEB ou SAERS,mas para avaliar, aprovar ou reprovar osalunos. Os professores deviam desenvolveros currículos elabora<strong>do</strong>s pela Secretaria deforma a preparar seus alunos para fazeremas provas da SEC. Naquela época, a sociedadeera muito mais simples, com menoshabitantes, e era menos diversificada. A frequênciaà escola era muito menor: apenas36% da população de 7 a 14 anos estavamna escola em 1950, enquanto hoje são 97%no Brasil e 98% no Esta<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> apenas36% da população na faixa etária apropriadafrequentava a escola, basicamente só aclasse média estudava e a escola era maispadronizada, tanto no currículo quanto naforma de avaliação da aprendizagem.Atualmente, a sociedade brasileira é muitomais complexa e diversificada, com maishabitantes, e o Brasil é uma das sociedadesmais desiguais <strong>do</strong> planeta. A escola é de to<strong>do</strong>s:todas as classes sociais estão na escola,sen<strong>do</strong> impossível desenvolver um processoeducacional padroniza<strong>do</strong> como antigamente.Com a luta pela redemocratização <strong>do</strong> Paísnos anos 80, conquistou-se o importante conceitode autonomia da escola. Entretanto, nomovimento pendular da história, fomos parao outro extremo. Hoje, no País existem diretrizescurriculares nas normas <strong>do</strong>s Conselhosde Educação, tanto Nacional como Estadual,mas essas diretrizes são muito gerais nãoexistin<strong>do</strong>, assim, qualquer padrão curricular.A partir dessas normas, as escolas são totalmentelivres para fazerem os seus currículos,inclusive dificultan<strong>do</strong> o próprio processo deir e vir <strong>do</strong>s alunos entre as escolas, porquequan<strong>do</strong> um aluno se transfere, é diferente deescola para escola o que se ensina em umamesma série.O Brasil inteiro está fazen<strong>do</strong> um movimentode síntese entre esses <strong>do</strong>is extremos, entreaquilo que era totalmente centraliza<strong>do</strong> nasSecretarias, até os anos 70, e a extrema autonomiada escola, no que se refere a currículos.Estamos chegan<strong>do</strong> a uma posição intermediária,que é uma proposta de referencialcurricular para cada rede de ensino, definidapelas Secretarias: não é aquela centralizaçãoabsoluta, nem a absoluta descentralizaçãode hoje. Essa síntese é também um imperativoda sociedade a partir, por exemplo, dasmetas <strong>do</strong> Movimento To<strong>do</strong>s pela Educação.Esse Movimento, lança<strong>do</strong> em setembrode 2006, têm como objetivo construir uma<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 8 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


10tar situações-problema, construir argumentaçõese elaborar propostas – que haviamorienta<strong>do</strong> a organização da prova <strong>do</strong> ENEM,com as nove habilidades e competências decada uma das quatro áreas de conhecimentoe criou uma matriz de referência para oENCCEJA com quarenta e cinco habilidadese competências cognitivas a serem avaliadasnas provas desse exame nacional. Uma observação:educação física e arte foram incluídasnuma prova escrita de certificação decompetências da EJA; nos novos concursos<strong>do</strong> magistério e na organização <strong>do</strong> currículo,devem ser trabalhadas como componentescurriculares específicos por pressuporemhabilidades específicas, além das exclusivamentecognitivas.As áreas <strong>do</strong> conhecimento e a matriz dereferência <strong>do</strong> ENCCEJA são, hoje, o quese considera como a melhor alternativapara organização <strong>do</strong>s currículos escolaresda educação básica, de forma a superar afragmentação e pulverização das disciplinas.Nessa direção, o MEC está reorganizan<strong>do</strong> oENEM com a intencionalidade de orientar areorganização <strong>do</strong>s currículos <strong>do</strong> ensino médiobrasileiro, dan<strong>do</strong> assim consequência àsdiretrizes curriculares de 1998. Nessa mesmadireção, encaminham-se os ReferenciaisCurriculares para a rede estadual de ensino<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Nessas quatro grandesáreas <strong>do</strong> conhecimento, com seus conteú<strong>do</strong>s,é que passaremos a trabalhar.A proposta de Referencial Curricular <strong>do</strong>Rio Grande <strong>do</strong> Sul contém as habilidades ecompetências cognitivas e o conjunto mínimode conteú<strong>do</strong>s que devem ser desenvolvi<strong>do</strong>sem cada um <strong>do</strong>s anos letivos <strong>do</strong>s quatroanos finais <strong>do</strong> ensino fundamental e no ensinomédio. A partir desse Referencial, cadaescola organiza o seu currículo. A autonomiapedagógica da escola consiste na liberdadede escolher o méto<strong>do</strong> de ensino, em sua livreopção didático-meto<strong>do</strong>lógica, mas não nodireito de não ensinar, de não levar os alunosao desenvolvimento daquelas habilidades ecompetências cognitivas ou de não abordaraqueles conteú<strong>do</strong>s curriculares.Com o nosso Projeto de Alfabetização,fica mais fácil entender o que queremos dizer.Com o projeto piloto, nosso objetivo édesenvolver a matriz das habilidades e competênciascognitivas <strong>do</strong> processo de alfabetização,em leitura e escrita e em matemática,que deve ser desenvolvida com as criançasde seis e sete anos de idade no primeiro esegun<strong>do</strong> anos <strong>do</strong> ensino fundamental denove anos de duração. Essa matriz é o nossocombina<strong>do</strong>: o que fazer com os alunos paraque aprendam aquilo que é apropria<strong>do</strong> parasua idade. Cada escola continua com sua liberdadede escolher o méto<strong>do</strong> de alfabetização.Mas seja qual for o a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>, no final <strong>do</strong>ano letivo os alunos devem ter desenvolvi<strong>do</strong>aquelas habilidades e competências cognitivas.A escola não é livre para escolher nãoalfabetizar, para escolher não ensinar. A liberdadeda escola, sua autonomia, consisteem escolher como ensinar.Somos uma escola pública. Temos compromissocom a sociedade, com a cidadania.Somos professores <strong>do</strong>s nossos alunos quesão os futuros cidadãos e cidadãs <strong>do</strong> nossoPaís. E estamos aqui para cumprir o nossocompromisso com eles. E nós, da Secretariada Educação, estamos aqui para cumprir onosso compromisso com vocês, porque é naescola que se dá o ato pedagógico, é na escolaque acontece a relação professor/aluno.É para trabalhar para vocês, professorase professores das escolas estaduais <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul, que nós estamos aqui, naSecretaria de Esta<strong>do</strong> da Educação.Bom trabalho!Julho de <strong>2009</strong>.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 10 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


Referenciais Curriculares daEducação Básica para o Século 21Guiomar Namo de Mello1111O objetivo principal de um currículo é mapear o vasto território <strong>do</strong>conhecimento, recobrin<strong>do</strong>-o por meio de disciplinas, e articular asmesmas de tal mo<strong>do</strong> que o mapa assim constituí<strong>do</strong> constitua umpermanente convite a viagens, não representan<strong>do</strong> apenas uma delimitaçãorígida de fronteiras entre os diversos territórios disciplinares.Nilson José Macha<strong>do</strong>I - Por que é importante um currículo estadual?A SEDUC-RS vem a<strong>do</strong>tan<strong>do</strong> medidas paraenfrentar o desafio de melhorar a qualidadedas aprendizagens <strong>do</strong>s alunos no ensino públicoestadual <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul. Entreessas medidas, os Referenciais Curricularespara as escolas estaduais gaúchas incidemsobre o que é nuclear na instituição escola:o que se quer que os alunos aprendam e oque e como ensinar para que essas aprendizagensaconteçam plenamente.A reflexão e a produção curricular brasileiratem se limita<strong>do</strong>, nas últimas décadas, aos<strong>do</strong>cumentos oficiais, legais ou normativos.Os estu<strong>do</strong>s sobre currículo não despertamgrande interesse da comunidade acadêmicae também são escassos nos organismostécnico-pedagógicos da gestão <strong>do</strong>s sistemasde ensino público. O currículo vem perden<strong>do</strong>o senti<strong>do</strong> de instrumento para intervir e aperfeiçoara gestão pedagógica da escola e aprática <strong>do</strong>cente. 1 Provavelmente por essa razão,quan<strong>do</strong> nos anos 1990 se aprovaram asDiretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) e seelaboraram os Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs), os sistemas de ensino públicoestaduais e municipais consideraram essetrabalho um material a mais para enviar àsescolas. E, por inexperiência de gestão curricular,assumiram que os Parâmetros constituíamum currículo pronto e suficiente paraorientar as escolas e seus professores quantoao que e como ensinar. Mas não eram.Os Parâmetros não são um material a maispara enviar às escolas sozinhos. Formula<strong>do</strong>sem nível nacional para um país grande e diverso,os Parâmetros também não continhamrecomendações suficientes sobre como fazêlosacontecer na prática. Eram necessariamenteamplos e, por essa razão, insuficientespara estabelecer a ponte entre o currículo propostoe aquele que deve ser posto em ação naescola e na sala de aula.O currículo alinhaO currículo integra e alinha, sob umaconcepção educacional: as aprendizagenscom as quais a escola se compromete naforma de competências e habilidades a seremconstituídas pelos alunos; as propostasde meto<strong>do</strong>logias, estratégias, projetosde ensino, situações de aprendizagem; osrecursos didáticos com os quais a escolaconta, incluin<strong>do</strong> instalações, equipamentos,materiais de apoio para alunos e professores;as propostas de formação continuada<strong>do</strong>s professores; a concepção e o formatoda avaliação. Em outras palavras, o currículoé o núcleo da Proposta Pedagógica,este por sua vez expressão da autonomiada escola. A arte e a dificuldade da gestãoeducacional é articular e colocar em1Vale a pena lembrar que o Rio Grande <strong>do</strong> Sul foi um <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s que cultivou com grande competência esse trabalho curricular nos anos 1960 e 1970.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 11 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


<strong>12</strong>sinergia to<strong>do</strong>s esses insumos <strong>do</strong> processode aprendizagem e ensino. No desalinhamentodeles, residem alguns <strong>do</strong>s entravesmais sérios da reforma para a melhoria daqualidade desse processo.A noção de que na escola existe o curriculare o extracurricular foi profundamente revista aolongo <strong>do</strong> século 20. Era adequada para umaeducação em que os conteú<strong>do</strong>s escolares deveriamser memoriza<strong>do</strong>s e devolvi<strong>do</strong>s tal como foramentregues aos alunos, e o currículo, abstratoe desmotiva<strong>do</strong>r, precisava de um “tempero”extracurricular na forma de atividades culturais,lúdicas ou outras, para que a escola fosse menosaborrecida. Na concepção moderna, o currículosupõe o tratamento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curricularesem contextos que façam senti<strong>do</strong> para osalunos, assim, o que acontece na escola ou écurricular ou não deveria acontecer na escola.Atividades esportivas aos fins de semana semqualquer vinculação com a Proposta Pedagógicada escola, na verdade, mais <strong>do</strong> que extracurriculares,são “extraescolares”, e só acontecemna escola por falta de outros espaços e temposdisponíveis. Atividades de esporte, cultura ou lazer,planejadas e integradas aos conteú<strong>do</strong>s deEducação Física, Artes, Ciências ou Informática,dentro da Proposta Pedagógica, são curricularesquer ocorram em dias letivos ou em fins desemana, na escola ou em qualquer outro espaçode aprendizagem.O currículo, portanto, não é uma lista dedisciplinas confinadas à sala de aula. É to<strong>do</strong> oconteú<strong>do</strong> da experiência escolar, que acontecena aula convencional e nas demais atividadesarticuladas pelo projeto pedagógico.O currículo transpareceO currículo, detalha<strong>do</strong> em termos de “o quee quan<strong>do</strong> se espera que os alunos aprendam”,é também a melhor forma de dar transparênciaà ação educativa.Num momento em que se consolidam ossistemas de avaliação externa como a PRO-VA BRASIL, o SAEB e o ENEM, é fundamentalque a avaliação incida sobre o que está defato sen<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong> na escola, por diferentesrazões.A primeira diz respeito ao compromissocom a aprendizagem das crianças e jovensde um sistema de ensino público. O currículoestabelece o básico que to<strong>do</strong> aluno tem o direitode aprender e, para esse básico, detalhaos contextos que dão senti<strong>do</strong> aos conteú<strong>do</strong>s,às atividades de alunos e professores, aosrecursos didáticos e às formas de avaliação.Orienta o desenvolvimento <strong>do</strong> ensino e daaprendizagem no tempo, garantin<strong>do</strong> que opercurso seja cumpri<strong>do</strong> pela maioria <strong>do</strong>s alunosnum segmento de tempo dentro <strong>do</strong> anoletivo e de um ano letivo a outro, ordenan<strong>do</strong>os anos de escolaridade.A segunda razão diz respeito à gestão escolar,porque explicita quais resulta<strong>do</strong>s são espera<strong>do</strong>se pode ser a base para um compromissoda escola com a melhoria das aprendizagens<strong>do</strong>s alunos. O contrato de gestão porresulta<strong>do</strong>s tem no currículo sua base mais importantee na avaliação o seu indica<strong>do</strong>r maisconfiável. Isso requer que o currículo estabeleçaexpectativas de aprendizagem viáveis deserem alcançadas nas condições de tempo erecurso da escola.A terceira razão, pela qual é importanteque a avaliação incida sobre o que está sen<strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong> na escola, diz respeito à <strong>do</strong>cência,porque é importante que, em cadasérie e nível da educação básica, o professorsaiba o que será avalia<strong>do</strong> no desempenho deseus alunos. A avaliação externa não podeser uma caixa-preta para o professor. A referênciada avaliação é o currículo e não viceversa.Não faz senti<strong>do</strong>, portanto, afirmar quese ensina ten<strong>do</strong> em vista a avaliação, quan<strong>do</strong>o senti<strong>do</strong> é exatamente o oposto: se avaliaten<strong>do</strong> em vista as aprendizagens esperadasestabelecidas no currículo.Finalmente, a quarta razão diz respeitoaos pais e à sociedade. Para acompanharo desenvolvimento de seus filhos de mo<strong>do</strong>ativo e não apenas reagir quan<strong>do</strong> ocorreum problema, é indispensável que a famíliaseja informada <strong>do</strong> que será aprendi<strong>do</strong> num<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong> <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


perío<strong>do</strong> ou ano escolar. Essa informaçãodeve também estar acessível para a opiniãopública e a imprensa.O currículo conectaPor sua abrangência e transparência,o currículo é uma conexão vital que inserea escola no ambiente institucional e noquadro normativo que se estrutura desde oâmbito federal até o estadual ou municipal.Nacionalmente, a Constituição e a LDB estabelecemos valores fundantes da educaçãonacional que vão direcionar o currículo.As DCNs, emanadas <strong>do</strong> Conselho Nacionalde Educação, arrematam esse ambienteinstitucional em âmbito nacional. Noscurrículos que Esta<strong>do</strong>s e Municípios devemelaborar para as escolas de seus respectivossistemas de ensino, observan<strong>do</strong> as diretrizesnacionais, completa-se a conexão da escolacom os entes políticos e institucionais daeducação brasileira.O currículo <strong>do</strong>s sistemas públicos, estaduaisou municipais, conecta a escola comas outras escolas <strong>do</strong> mesmo sistema, configuran<strong>do</strong>o que, no jargão educacional, échama<strong>do</strong> de “rede”: rede estadual ou redemunicipal de ensino.O termo rede, embora seja usa<strong>do</strong> há tempospelos educa<strong>do</strong>res, assume atualmenteum novo senti<strong>do</strong> que é ainda mais apropria<strong>do</strong>para descrever esse conjunto de unidadesescolares cujos mantene<strong>do</strong>res são os governosestaduais ou municipais. De fato, o termorede hoje é emprega<strong>do</strong> pelas Tecnologiasda Comunicação e Informação (TCIs), comoum conjunto conecta<strong>do</strong> de entidades que têmuma personalidade e estrutura próprias, masque também têm muito a compartilhar comoutras entidades.Uma rede pode ser de pessoas, de instituições,de países. No caso de uma rede deescolas públicas, a conexão que permite compartilhare construir conhecimentos em colaboraçãoé muito facilitada com a existênciade um currículo que é comum a todas e quetambém assume características próprias darealidade e da experiência de cada escola.Pode-se mesmo afirmar que, embora os sistemasde ensino público venham sen<strong>do</strong> chama<strong>do</strong>sde “rede” há bastante tempo, apenascom referências curriculares comuns e com ouso de TCIs, essa rede assume a configuraçãoe as características de rede no senti<strong>do</strong> contemporâneo,um emaranha<strong>do</strong> que não é caótico,mas inteligente, e que pode abrigar umaaprendizagem colaborada.Finalmente, o currículo conecta a escolacom o contexto, seja o imediato de seuentorno sociocultural, seja o mais vasto <strong>do</strong>País e <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Se currículo é cultura social,científica, cultural, por mais ári<strong>do</strong> queum conteú<strong>do</strong> possa parecer à primeira vista,sempre poderá ser conecta<strong>do</strong> com um fatoou acontecimento significativo, passa<strong>do</strong> oupresente. Sempre poderá ser referi<strong>do</strong> a umaspecto da realidade, próxima ou distante,vivida pelo aluno. Essa conexão tem si<strong>do</strong>designada como contextualização, como sediscutirá mais adiante.O currículo é um ponto de equilíbrioO currículo procura equilibrar a prescriçãoestrita e a prescrição aberta. A primeiradefine o que é comum para todas as escolas.A segunda procura deixar espaço abertopara a criatividade e a inovação pedagógica,sugerin<strong>do</strong> material complementar, exemplosde atividades, pesquisas, projetos interdisciplinares,sequências didáticas.A presença da prescrição fechada e daprescrição aberta garante a autonomiapara inovar. Quan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> é possível, podeser difícil decidir ações prioritárias e conteú<strong>do</strong>sindispensáveis. Quan<strong>do</strong> estes últimosestão da<strong>do</strong>s, oferecem uma base segura apartir da qual a escola poderá empreendere a<strong>do</strong>tar outras referências para tratar osconteú<strong>do</strong>s, realizar experiências e projetos.1313<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 13 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


14Um bom currículo também combina realidadee visão. Suas prescrições estritas precisamser realistas ao prever quanto e quãobem é possível aprender e ensinar num determina<strong>do</strong>tempo e em condições determinadas.Mas esses possíveis não podem ser tãofáceis que deixem de desafiar o esforço e oempenho da escola.O currículo demarcao espaço de consensoTo<strong>do</strong> currículo tem como referência primeiraas finalidades da educação, consensuadaspela sociedade. No caso <strong>do</strong> Brasil,essas finalidades estão expressas na LDB enos instrumentos normativos que a complementaram.Para cumpri-las, recortam-seos conteú<strong>do</strong>s e estabelecem-se as expectativasde aprendizagem, publicizan<strong>do</strong> oespaço para construir o consenso sobre aeducação que vamos oferecer aos alunos.Isso é mais sério <strong>do</strong> que tem si<strong>do</strong> considera<strong>do</strong>na prática da escola básica brasileira.No Brasil, a legislação nacional, que decorreda Constituição de 1988, tem um princípiopedagógico fundamental e inova<strong>do</strong>rem relação ao quadro legal anterior, que éo direito de aprendizagem. Esse princípio sesobrepõe ao da liberdade de ensino, que foium divisor de águas no campo educacionalbrasileiro nos anos 60. Quan<strong>do</strong> o direito deaprender é mais importante <strong>do</strong> que a liberdadede ensinar, não é o ensino, opera<strong>do</strong>pelo professor, e sim a aprendizagem <strong>do</strong>salunos, que se constitui em indica<strong>do</strong>r de desempenhoe de qualidade.A educação básica não forma especialistas,nem prepara para empregos específicos.Como seu próprio nome afirma, está totalmentevoltada para a constituição de pessoascapazes de viver, conviver e trabalhar nestasociedade de mo<strong>do</strong> produtivo, solidário, integra<strong>do</strong>e prazeroso. Diante de cada disciplinaou conteú<strong>do</strong>, é preciso sempre problematizar:qual o papel desse conteú<strong>do</strong> na formaçãobásica para viver no mun<strong>do</strong> contemporâneo?Para que esse conhecimento é importante? Sea resposta for para ingressar no ensino superiorou para engajar-se num emprego específico,é preciso lembrar que, segun<strong>do</strong> a LDB,a educação básica não está destinada a nenhumdesses objetivos.Afirmar que a educação básica não sedestina a preparar para um posto de trabalhoespecífico, nem para fazer vestibular,não significa que ela seja alheia aotrabalho e à continuidade de estu<strong>do</strong>s, aocontrário. A LDB afirma logo em seu primeiroArtigo, Parágrafo 2º, que “A educaçãoescolar deverá vincular-se ao mun<strong>do</strong><strong>do</strong> trabalho e à prática social”. Nos Arts.35 e 36, dedica<strong>do</strong>s ao ensino médio, a leimenciona explicitamente a preparação básicapara o trabalho.Sen<strong>do</strong> o trabalho projeto de to<strong>do</strong>s os cidadãose cidadãs, a educação básica deverápropiciar a to<strong>do</strong>s a constituição das competênciasnecessárias para ingressar no mun<strong>do</strong><strong>do</strong> trabalho. O acesso ao ensino superior éingresso numa carreira profissional, o quequer dizer que a educação básica deverápropiciar a to<strong>do</strong>s as competências que sãopré-requisito para escolher e perseguir umacarreira de nível superior. Portanto, a respostaàs questões acima deve ser completada: aeducação básica não está destinada ao preparopara um trabalho específico nem paraentrar na faculdade, mas sen<strong>do</strong> básica é indispensávela ambos.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 14 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:42


16A lei nacional da educação brasileiracumpre o papel que lhe cabe num paísfederativo. Dá início a um processo deconstrução curricular que deverá serconcluí<strong>do</strong> pelos sistemas de ensino estaduaise municipais, para ser coloca<strong>do</strong>em ação pelas suas escolas. Indica, noentanto, as diretrizes segun<strong>do</strong> as quaisos sistemas e escolas deverão pautar afinalização desse processo. Essas indicaçõesfazem toda a diferença.Se a lei a<strong>do</strong>tasse um paradigma curriculardisciplinarista, a cooperação entre asesferas de governo seria concretizada naelaboração, pela União, de uma lista dedisciplinas ou matérias obrigatórias que secomplementaria com listas de disciplinas adicionaiselaboradas pelas diversas instânciasde definição curricular. Esse foi de fato o procedimentoa<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> no passa<strong>do</strong>.A verificação <strong>do</strong> cumprimento das disposiçõescurriculares legais, no caso <strong>do</strong> paradigmapor disciplinas, é feita pelo controle <strong>do</strong>comparecimento destas últimas nos currículospropostos. Daí a necessidade de listar disciplinasobrigatórias, impon<strong>do</strong> que toda escoladeveria elaborar sua “grade” curricular,isto é, a lista de disciplinas que constituíamseu currículo, em duas partes: a base nacionalcomum e a parte diversificada, sen<strong>do</strong> queem cada uma dessas partes havia disciplinasobrigatórias. Esse modelo, que ainda é a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>em muitas escolas públicas e privadas, érealmente uma grade no senti<strong>do</strong> de barreiraque impede a passagem e a comunicação.Com o paradigma curricular estabeleci<strong>do</strong>pela LDB, o cumprimento das diretrizesimpõe que tanto a base nacional comumcomo a parte diversificada prestem contasdas competências que os alunos deverãoconstituir. E essas competências não sãoaderentes a uma disciplina ou conteú<strong>do</strong>específico, mas deverão estar presentes emto<strong>do</strong> o currículo. São competências transversais.Além disso, o cumprimento dasdisposições legais curriculares, neste caso,não se realiza pela verificação de uma listade matérias. Para viabilizá-la, é preciso obterevidências <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong>s alunose constatar até que ponto constituíram ascompetências previstas.As disposições curriculares da LDB foramfundamentadas pelo Conselho Nacional deEducação, num trabalho <strong>do</strong> qual resultaramas Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs)para os diferentes níveis e modalidades daeducação básica. Foram também consubstanciadasnos Parâmetros Curriculares Nacionaisque o MEC elaborou como recomendaçãoaos sistemas de ensino.Paradigmas, diretrizes e parâmetros, aindaque bem fundamenta<strong>do</strong>s pedagogicamente,não promovem a melhoria da qualidade <strong>do</strong>ensino. Para não relegá-los a peças formais eburocráticas, é preciso criar as condições necessáriasa sua implementação. E a condiçãode implementação mais importante é a traduçãoda lei, das normas e das recomendaçõescurriculares nacionais em currículos quepossam ser coloca<strong>do</strong>s em ação nas escolas,adequa<strong>do</strong>s às realidades diversas de esta<strong>do</strong>s,regiões, municípios ou comunidade; detalha<strong>do</strong>so suficiente para servirem de guia de açãoàs equipes escolares; abrangentes o bastantepara dar alinhamento e orientação ao conjunto<strong>do</strong>s insumos <strong>do</strong> ensino-aprendizagem: asatividades de alunos e professores, os recursosdidáticos, a capacitação <strong>do</strong>s professores paraimplementar o currículo utilizan<strong>do</strong> os recursosdidáticos e os procedimentos de avaliação.Essa tradução <strong>do</strong> currículo <strong>do</strong> plano propositivopara o plano da ação é uma tarefaintransferível <strong>do</strong>s sistemas de ensino e desuas instituições escolares. É para cumprir asua parte que a SEDUC-RS entrega às escolaspúblicas estaduais os presentes ReferenciaisCurriculares, cujos princípios nortea<strong>do</strong>ressão apresenta<strong>do</strong>s a seguir, reconhecen<strong>do</strong>que caberá às escolas, em suas propostaspedagógicas, transformá-los em currículosem ação, orientadas por estes referenciais eancoradas nos contextos específicos em quecada escola está inserida.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 16 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


III - Desafios educacionais no Brasil contemporâneoA sociedade pós-industrial está mudan<strong>do</strong>a organização <strong>do</strong> trabalho, a produçãoe disseminação da informação e as formasde exercício da cidadania. Essas mudançasestão impon<strong>do</strong> revisões <strong>do</strong>s currículos e daorganização das instituições escolares namaioria <strong>do</strong>s países. Aqueles cujos sistemaseducacionais estão consolida<strong>do</strong>s, que promoverama universalização e democratizaçãoda educação básica na primeira metade<strong>do</strong> século passa<strong>do</strong>, estão empenha<strong>do</strong>s emvencer os obstáculos culturais e políticos aotrânsito da escola para o século 21.Os emergentes como o Brasil, que aindaestão concluin<strong>do</strong> o ciclo de expansãoquantitativa e universalização da educaçãobásica, deparam-se com um duplo desafio.Herdeiro de uma tradição ibérica que destinavaa escolaridade longa apenas a umaseleta minoria, há pouco tempo – cerca detrês décadas –, nosso país ainda devia essedireito básico a quase metade das criançasem idade escolar.Quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s chegaram à escola e, pormecanismos diversos, aí permaneceram, ficouvisível nossa incapacidade de criar, paraa maioria das crianças e jovens brasileiros,situações de aprendizagem eficazes parasuas características e estilos cognitivos. É,portanto, um país que precisa urgentementereinventar a escola para trabalhar com umaluna<strong>do</strong> diversifica<strong>do</strong> culturalmente e desigualsocialmente. E deve dar conta desse desafioao mesmo tempo em que transforma aeducação básica para fazer frente às demandasda sociedade <strong>do</strong> conhecimento.O século 21 chegou, e com ele a globalizaçãoeconômica, o aquecimento global,a despolarização da política internacional,a urgência de dar sustentabilidade ao desenvolvimentoeconômico, a valorização dadiversidade, as novas fronteiras científicas, aacessibilidade da informação a um númerocada vez maior de pessoas, o aparecimentode novas formas de comunicação. É nessetempo que os estudantes brasileiros estão viven<strong>do</strong>,qualquer que seja sua origem social.Mas é na escola pública que estão chegan<strong>do</strong>as maiorias pobres e, portanto, é a qualidade<strong>do</strong> ensino público que se torna estratégicapara nosso destino como nação.O acesso é requisito para democratização<strong>do</strong> ensino básico. Mas, para que esseprocesso seja plenamente consolida<strong>do</strong>, é urgentegarantir que a permanência na escolaresulte em aprendizagens de conhecimentospertinentes. Conhecimentos que os cidadãose cidadãs sejam capazes de aplicar no entendimentode seu mun<strong>do</strong>, na construção deum projeto de vida pessoal e profissional, naconvivência respeitosa e solidária com seusiguais e com seus diferentes, no exercício desua cidadania política e civil para escolherseus governantes e participar da solução <strong>do</strong>sproblemas <strong>do</strong> país.Este é um tempo em que os meios de comunicaçãoconstroem senti<strong>do</strong>s e disputam aatenção e a devoção da juventude, a escolaprecisa ser o lugar em que se aprende aanalisar, criticar, pesar argumentos e fazer escolhas.Isso requer que os conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong> currículosejam trata<strong>do</strong>s de mo<strong>do</strong> a fazer senti<strong>do</strong>para o aluno. Esse senti<strong>do</strong> nem sempredepende da realidade imediata e cotidiana,pode e deve, também, ser referi<strong>do</strong> à realidademais ampla, remota, virtual ou imaginária<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo. Mas terá de seracessível à experiência <strong>do</strong> aluno de algumaforma, imediata e direta ou mediata e alusiva.Esse é o ponto de partida para acederaos significa<strong>do</strong>s delibera<strong>do</strong>s e sistemáticos,constituí<strong>do</strong>s pela cultura científica, artística elinguística da humanidade.Em nosso país, a escolaridade básica de<strong>12</strong> anos está sen<strong>do</strong> conquistada agora pelascamadas mais pobres, inseridas em processosde ascensão social. Milhões de jovensserão mais escolariza<strong>do</strong>s que seus pais e,diferentemente destes, querem se incorporarao merca<strong>do</strong> de trabalho não para sobrevivere seguir reproduzin<strong>do</strong> os padrões de geraçõesanteriores. Trabalhar para estes jovens1717<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 17 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


18é, antes de mais nada, uma estratégia paracontinuar estudan<strong>do</strong> e melhorar de vida. Sãojovens que vivem num tempo em que a a<strong>do</strong>lescênciaé tardia e o preparo para trabalharmais longo e que, contraditoriamente,por sua origem social, precisam trabalharprecocemente para melhorar de vida nolongo prazo. O currículo precisa identificare propor às escolas conhecimentos e competênciasque podem ser relevantes para osucesso desse projeto complexo, envolven<strong>do</strong>o trabalho precoce e a constituição da capacidadede continuar aprenden<strong>do</strong> para, nofuturo, inserir-se nesse mesmo merca<strong>do</strong> commais flexibilidade.Nesse projeto, o fortalecimento <strong>do</strong> <strong>do</strong>mínioda própria língua é indispensável paraorganizar cognitivamente a realidade, exercera cidadania e comunicar-se com os outros.Além disso, a competência de leitura e escritaé condição para o <strong>do</strong>mínio de outras linguagensque precisam da língua materna comosuporte – literatura, teatro, entre outras.O mun<strong>do</strong> contemporâneo disputa o universosimbólico de crianças e a<strong>do</strong>lescentes,lançan<strong>do</strong> mão de suportes os mais varia<strong>do</strong>s– imagens, infográficos, fotografia, sons, música,corpo –, veicula<strong>do</strong>s de forma tambémvariada – a internet, a TV, a comunicaçãovisual de ambientes públicos, a publicidade,o celular. A escola precisa focalizar a competênciapara ler e produzir na própria língua eabrir oportunidades para que os alunos acessemoutros tipos de suportes e veículos, como objetivo de selecionar, organizar e analisarcriticamente a informação aí presente.O currículo é um recorte da cultura científica,linguística e artística da sociedade,ou seja, o currículo é cultura. Os frequentesesforços de sair da escola, buscan<strong>do</strong> a“verdadeira cultura”, têm efeitos devasta<strong>do</strong>res:estiola e resseca o currículo, tira-lhea vitalidade, torna-o aborreci<strong>do</strong> e desmotiva<strong>do</strong>r,um verdadeiro “zumbi” pedagógico.Em vez de perseguir a cultura é prementedar vida à cultura presente no currículo, situan<strong>do</strong>os conteú<strong>do</strong>s escolares no contextocultural significativo para seus alunos. Emnosso País, de diversidade cultural marcante,revitalizar a cultura recortada no currículoé condição para a construção de umaescola para a maioria. Onde se aprende acultura universal sistematizada nas linguagens,nas ciências e nas artes sem perdera aderência à cultura local que dá senti<strong>do</strong>à universal.Finalmente, o grande desafio, diante damudança curricular que o Brasil está promoven<strong>do</strong>,é a capacidade <strong>do</strong> professor paraoperar o currículo. Também aqui é importantedesfazer-se de concepções passadasque orientaram a definição de cursos decapacitação sem uma proposta curricular,qualquer que fosse ela, para identificar asnecessidades de aprendizagem <strong>do</strong> professor.Cursos de capacitação, geralmentecontrata<strong>do</strong>s de agências externas à educaçãobásica, seguiram os padrões e objetivosconsidera<strong>do</strong>s valiosos para os gestores eforma<strong>do</strong>res dessas agências. Independentementeda qualidade pedagógica dessescursos ou programas de capacitação, a verdadeé que, sem que o sistema tivesse umcurrículo, cada professor teve acesso a conteú<strong>do</strong>se atividades diferentes, muitas vezesdescoladas da realidade da escola na qualesse professor trabalhava.Vencida quase uma década no novo século,a Secretaria de Educação <strong>do</strong> RS tem clarezade que a melhor capacitação em serviçopara os professores é aquela que faz parte integrante<strong>do</strong> próprio currículo, organicamentearticulada com o <strong>do</strong>mínio, pelo professor, <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s curriculares a serem aprendi<strong>do</strong>spor seus alunos e da organização de situaçõesde aprendizagem compatíveis.Este <strong>do</strong>cumento, ao explicar os fundamentos<strong>do</strong>s Referenciais Curriculares,inaugura essa nova perspectiva da capacitaçãoem serviço.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 18 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


IV - Princípios e fundamentos <strong>do</strong>s Referenciais CurricularesImportância da aprendizagemde quem ensinaQuem ensina é quem mais precisa aprender.Esse é o primeiro princípio destes Referenciais.Os resulta<strong>do</strong>s das avaliações externasrealizadas na última década, entre asquais o SAEB, a PROVA BRASIL, o ENEM eagora o SAERS, indicam que os esforços e recursosaplica<strong>do</strong>s na capacitação em serviço<strong>do</strong>s professores não têm impacta<strong>do</strong> positivamenteo desempenho <strong>do</strong>s alunos. Essa faltade relação entre educação continuada <strong>do</strong>professor e desempenho <strong>do</strong>s alunos explicasepelo fato de que os conteú<strong>do</strong>s e formatosda capacitação nem sempre têm referêncianaquilo que os alunos desses professoresprecisam aprender e na transposição didáticasdesses conteú<strong>do</strong>s.Dessa forma, estes Referenciais têm como princípiodemarcar não só o que o professor vai ensinar,mas também o que ele precisa saber paradesincumbir-se a contento da implementação <strong>do</strong>currículo e, se não sabe, como vai aprender.É por esta razão que, diferentemente demuitos materiais didáticos que começam peloslivros, cadernos ou apostilas destinadasaos alunos, estes Referenciais começam commateriais destina<strong>do</strong>s aos professores. Tratasenão de repetir os acertos ou desacertosda formação inicial em nível superior, mas depromover a aderência da capacitação <strong>do</strong>sprofessores aos conteú<strong>do</strong>s e meto<strong>do</strong>logiasindica<strong>do</strong>s nos Referenciais.E como devem aprender os que ensinam? Aresposta está dada nos próprios Referenciais:em contexto, por áreas e com vinculação àprática. Se a importância da aprendizagemde quem ensina for observada no trabalhoescolar, os Referenciais devem ser base paradecidir ações de capacitação em serviço paraa equipe como um to<strong>do</strong> e para os professoresde distintas etapas e disciplinas da educaçãobásica. E os princípios <strong>do</strong>s Referenciais devemorientar as estratégias de capacitação em nívelescolar, regional ou central.Aprendizagem comoprocesso coletivoNa escola, a aprendizagem de quem ensinanão é um processo individual. Mesmono merca<strong>do</strong> de trabalho corporativo, as instituiçõesestão valorizan<strong>do</strong> cada vez mais acapacidade de trabalhar em equipe. A vantagemda educação é que poucas atividadeshumanas submetem-se menos à lógica dacompetitividade quanto a educação escolar,particularmente a <strong>do</strong>cência. O produto daescola é obrigatoriamente coletivo, mesmoquan<strong>do</strong> o trabalho coletivo não é uma estratégiavalorizada.Diante <strong>do</strong> fracasso <strong>do</strong> aluno, a responsabilidaderecai em algum coletivo – o governo,a educação em geral ou a escola, dificilmentesobre um professor em particular. Na <strong>do</strong>cência,o sucesso profissional depende menos<strong>do</strong> exercício individual <strong>do</strong> que em outrasatividades, como, por exemplo, as artísticas,a medicina, sem falar em outras mais óbvias,como a publicidade, vendas ou gestão <strong>do</strong> setorprodutivo priva<strong>do</strong>. Os professores atuamem equipe mesmo que não reconheçam.Esse caráter coletivista (no bom senti<strong>do</strong>)da prática escolar quase nunca é aproveita<strong>do</strong>satisfatoriamente. Ao contrário, muitasvezes, serve de escu<strong>do</strong> para uma responsabilizaçãoanônima e diluída, porque, emborato<strong>do</strong>s sejam responsabiliza<strong>do</strong>s pelo fracasso,poucos se empenham coletivamentepara o sucesso. Espera-se que estes Referenciaisajudem a reverter essa situação,servin<strong>do</strong> como base comum sobre a qualestabelecer, coletivamente, metas a seremalcançadas e indica<strong>do</strong>res para julgar se o foramou não e o porquê. Sua organização poráreas já é um primeiro passo nesse senti<strong>do</strong>.1919<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 19 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


20As competências como referência 2O currículo por competências constitui hojeum paradigma <strong>do</strong>minante na educação escolar,no Brasil e em quase to<strong>do</strong>s os demais paísesda América, da Europa e até países asiáticos.Na África, também vem sen<strong>do</strong> a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong> comoorganiza<strong>do</strong>r de várias propostas de reformaeducacional e curricular. Nestes Referenciais,as competências são entendidas como organiza<strong>do</strong>res<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s curriculares a seremtrabalha<strong>do</strong>s nas escolas públicas estaduais.Essa onipresença das competências no discursoe nas propostas educacionais, nem semprese faz acompanhar de explicações para tornaro conceito mais claro no nível das escolas, oque motiva estes Referenciais a estenderem-seno exame da questão.Como a maior parte <strong>do</strong>s conceitos usa<strong>do</strong>sem pedagogia, o de competênciasresponde a uma necessidade e uma característicade nossos tempos. Na verdade,surge como resposta à crise da escola nasegunda metade <strong>do</strong> século 20 provocada,entre outros fenômenos, pela então incipienterevolução tecnológica e pela crescenteheterogeneidade <strong>do</strong>s alunos. Essacrise levou a uma forte crítica <strong>do</strong>s currículosvolta<strong>do</strong>s para objetivos operacionaliza<strong>do</strong>se observáveis, que fragmentava oprocesso pedagógico.As competências são introduzidas comoum conjunto de operações mentais, que sãoresulta<strong>do</strong>s a serem alcança<strong>do</strong>s nos aspectosmais gerais <strong>do</strong> desenvolvimento <strong>do</strong> aluno.Em outras palavras, caracterizaram-se, noinício, pela sua generalidade e transversalidade,não relacionadas com nenhum conteú<strong>do</strong>curricular específico, mas entendidascomo indispensáveis à aquisição de qualquerconhecimento.O exame das muitas definições de competênciapermite destacar o que está presenteem todas elas. A competência, nasvárias definições, se refere a:• um conjunto de elementos....• que o sujeito pode mobilizar....• para resolver uma situação....• com êxito.Existem diferenças não substantivas quantoao que se entende de cada uma dessaspalavras, o que não é incomum quan<strong>do</strong>se trata de descrever aspectos psicológicoscognitivos ou emotivos. Em uma definiçãoos elementos são designa<strong>do</strong>s como recursos,em outras, como conhecimentos, emoutras, como saber. Mobilizar para uns significacolocar em ação, para outros colocaresquemas em operação e ainda selecionare coordenar. Situação é caracterizada comouma atividade complexa, como um problemae sua solução, como uma representaçãoda situação, pelo sujeito. O êxito é entendi<strong>do</strong>como exercício conveniente de um papel,função ou atividade, ou como realizar umaação eficaz, ou responder de mo<strong>do</strong> pertinenteàs demandas da situação ou ainda comoação responsável, realizada com conhecimentode causa.Analisan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong>s diversos termosutiliza<strong>do</strong>s para caracterizar o conceitode competência, pode-se afirmar que não hápolissemia, isto é, diferentes significa<strong>do</strong>s decompetência, e apesar das diferenças terminológicasto<strong>do</strong>s têm em comum uma abordagemque entende a competência comoalgo que acontece, existe e é aciona<strong>do</strong> desdeprocessos internos ao sujeito. Este aspectoessencial, ou seja, de que a competência nãoestá na situação, nem em conhecimentos ousaberes <strong>do</strong> currículo, e sim naquilo que asituação de aprendizagem e esses saberesconstituíram no aluno, é o que importa parafins pedagógicos por duas razões.A primeira é a de que, se esses processosinternos <strong>do</strong> aluno são constituí<strong>do</strong>s, eles podeme devem ser aprendi<strong>do</strong>s. A segunda éa de que um currículo por competências se expressa,manifesta e valida pelas aprendizagens2Deste ponto em diante este <strong>do</strong>cumento incorpora algumas ideias das discussões e <strong>do</strong>s textos de trabalho <strong>do</strong> grupo responsável pela concepção <strong>do</strong> currículona Secretaria da Educação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de São Paulo.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 20 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


que constituiu no aluno e que este coloca emação de determinada maneira em determinadasituação. Os objetivos de ensino podem ser expressosnaquilo que o professor faz, nos materiaisque manipula, nos contú<strong>do</strong>s que selecionae nas operações que realiza para explicar.Mas o que valida o currículo não são osobjetivos de ensino e sim os processos que seconstituíram no aluno e se expressam pela competênciade saber, de saber fazer e de saber porquesabe.Um currículo que tem as competênciascomo referência, organiza-se por opera<strong>do</strong>rescurriculares transversais, que se referemàs competências gerais que devem ser perseguidasem todas as áreas ou disciplinas,porque são competências indispensáveis paraaprender qualquer conteú<strong>do</strong> curricular. EstesReferenciais a<strong>do</strong>tam como competênciaspara aprender as cinco grandes competências<strong>do</strong> ENEM, que podem ser consideradas seusopera<strong>do</strong>res transversais:•Dominar a norma culta e fazer uso das linguagensmatemática, artística e científica;•Construir e aplicar conceitos das váriasáreas <strong>do</strong> conhecimento para a compreensãode fenômenos naturais, de processoshistórico-geográficos, da produção tecnológicae das manifestações artísticas;•Selecionar, organizar, relacionar, interpretarda<strong>do</strong>s e informações representa<strong>do</strong>sem diferentes formas, para tomar decisõese enfrentar situações-problema;•Relacionar informações, representadasde diferentes formas, e conhecimentosdisponíveis em situações concretas, paraconstruir argumentação consistente;•Recorrer aos conhecimentos desenvolvi<strong>do</strong>sna escola para elaborar propostas deintervenção solidária na realidade, respeitan<strong>do</strong>os valores humanos e consideran<strong>do</strong>a diversidade sociocultural.Mas um currículo é constituí<strong>do</strong> por conteú<strong>do</strong>se é preciso que as competências transversais paraaprender, como as <strong>do</strong> ENEM, sejam articuladascom as competências a serem constituídas emcada uma das áreas ou disciplinas. Na ausênciadessa articulação instaura-se uma aparenteruptura entre competências e conteú<strong>do</strong>s curriculares,que tem leva<strong>do</strong> ao entendimento equivoca<strong>do</strong>de que a abordagem por competênciasnão valoriza os conteú<strong>do</strong>s curriculares, quan<strong>do</strong>na verdade eles são nucleares e imprescindíveispara a constituição de competências.A inseparabilidade entrecompetência e conhecimentoUm currículo por competências não eliminanem secundariza os conteú<strong>do</strong>s. Sem conteú<strong>do</strong>s,recursos intelectuais, saberes ou conhecimentos,não há o que possa ser mobiliza<strong>do</strong> pelosujeito para agir pertinentemente numa situaçãodada, portanto não se constituem competências.Os conteú<strong>do</strong>s são a substância <strong>do</strong> currículoe para tanto se organizam em áreas <strong>do</strong>conhecimento ou disciplinas. É preciso, portanto,construir um currículo que não se limite apenasàs disciplinas, mas inclua necessariamenteas situações em que esses conteú<strong>do</strong>s devemser aprendi<strong>do</strong>s para que sejam constituintes decompetências transversais.2<strong>12</strong>1Isso significa que um currículo referi<strong>do</strong> a competênciassó tem coerência interna se conteú<strong>do</strong>sdisciplinares e procedimentos de promover, orientare avaliar a aprendizagem sejam inseparáveis.Para isso é preciso identificar, em cadaconteú<strong>do</strong> ou disciplina, os conceitos mais importantese as situações nas quais eles devemser aprendi<strong>do</strong>s de forma a constituírem competênciastransversais como as <strong>do</strong> ENEM. Aausência desse trabalho resultou, no Brasil, naanomia curricular instalada nos anos recentes,de currículos em ação nas escolas que são divorcia<strong>do</strong>sdas normas curriculares mais geraise <strong>do</strong>s pressupostos teóricos que as orientam.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 21 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


V - Competências e conteú<strong>do</strong>s nos currículos brasileiros22O espaço de articulação dascompetências com os conteú<strong>do</strong>sNo processo de definição curricular jáanalisa<strong>do</strong> nestes Referenciais, o paradigmacurricular que poderia ser chama<strong>do</strong> de “mestre”está na Lei 9394/1996 – LDB, que foiseguida das Diretrizes Curriculares Nacionais(DCNs) e <strong>do</strong>s Parâmetros Curriculares Nacionais(PCNs). As DCNs, obrigatórias, apresentamdisciplinas ou áreas de conhecimento eas competências que devem ser constituídas.Quanto aos conteú<strong>do</strong>s, são bastante gerais,porque supõem uma etapa intermediária dedesenvolvimento curricular para adequar asdiretrizes nacionais às distintas realidades regionais,locais e escolares, tarefa que cabeaos mantene<strong>do</strong>res e gestores das redes públicase privadas. Os PCNs e qualquer orientaçãoemanada <strong>do</strong> MEC não têm caráterobrigatório. São recomendações e assistênciatécnica aos sistemas de ensino.Tanto os PCNs como as DCNs não constituemum currículo pronto para ser coloca<strong>do</strong>em ação. Não são pontos de chegada e simde partida para um caminho que se inicianas normas nacionais e só consegue alcançaro chão da escola de mo<strong>do</strong> eficaz, se ossistemas de ensino completarem o percurso,desenvolven<strong>do</strong> seus próprios currículos.Estes currículos, partin<strong>do</strong> das competênciastransversais e de indicações genéricas de conteú<strong>do</strong>sestabelecidas no âmbito nacional, devemincluir: um recorte <strong>do</strong> conteú<strong>do</strong>; sugestãode meto<strong>do</strong>logia de ensino e de materiais deapoio didático e situações de aprendizagem;procedimentos de avaliação; e as necessidadesde formação continuada <strong>do</strong>s professores.No Brasil, em função <strong>do</strong> regime federativoe <strong>do</strong> regime de colaboração entre União,Esta<strong>do</strong>s e Municípios, a mediação entre oâmbito nacional e o estadual, municipal ouescolar demarca o espaço de articulação entreas competências transversais ou competênciaspara aprender e os conteú<strong>do</strong>s curriculares.Nesse marco institucional, portanto,esse trabalho articula<strong>do</strong>r é de responsabilidade<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s, Municípios ou escolas.A aprendizagem em contextoA passagem das competências transversaispara aprender para as competências a constituirem cada área ou conteú<strong>do</strong> curricular ea passagem da representação, investigação eabstração para a comunicação, compreensãoe contextualização, são facilitadas por meiode duas estratégias: a aprendizagem em contextoe a interdisciplinaridade.A contextualização é a abordagem para realizara já mencionada, indispensável e difícil tarefade cruzar a lógica das competências com alógica <strong>do</strong>s objetos de aprendizagem. Para queo conhecimento constitua competência e sejamobiliza<strong>do</strong> na compreensão de uma situaçãoou na solução de um problema, é preciso quesua aprendizagem esteja referida a fatos da vida<strong>do</strong> aluno, a seu mun<strong>do</strong> imediato, ao mun<strong>do</strong> remotoque a comunicação tornou próximo ouao mun<strong>do</strong> virtual cujos avatares têm existênciareal para quem participa de sua lógica.Quan<strong>do</strong> a lei indica, entre as finalidades<strong>do</strong> ensino médio, etapa final da educaçãobásica, “a compreensão <strong>do</strong>s fundamentoscientífico-tecnológicos <strong>do</strong>s processos produtivos,relacionan<strong>do</strong> a teoria com a prática, noensino de cada disciplina” (Art. 35 inciso IV);ou quan<strong>do</strong>, no Art. 36, afirma que o currículo<strong>do</strong> ensino médio “destacará [...] a compreensão<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> da ciência, das letrase das artes” (grifo nosso), está estabelecen<strong>do</strong>a aprendizagem em contexto como imperativopedagógico da educação básica. Maisainda, ao vincular os conteú<strong>do</strong>s curriculares<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 22 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


com os processos produtivos caracteriza umcontexto não apenas relevante, mas mandatóriopara tratar os conteú<strong>do</strong>s curriculares: omun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e da produção.O destaque da relação entre teoria e práticaem cada disciplina, lembra que a dimensãoda prática deve estar presente em to<strong>do</strong>sos conteú<strong>do</strong>s. A prática não se reduz a açõesobserváveis, experiências de laboratório ouelaboração de objetos materiais. A práticacomparece sempre que um conhecimentopode ser mobiliza<strong>do</strong> para entender fatos darealidade social ou física, sempre que umconhecimento passa <strong>do</strong> plano das abstraçõesconceituais para o da relação com arealidade. A aprendizagem em contexto é aabordagem por excelência para estabelecera relação da teoria com a prática.As Diretrizes Curriculares Nacionais para oensino médio assim explicam a aprendizagemem contexto: “O tratamento contextualiza<strong>do</strong><strong>do</strong> conhecimento é o recurso que a escola tempara retirar o aluno da condição de especta<strong>do</strong>rpassivo. Se bem trabalha<strong>do</strong>, permite que,ao longo da transposição didática, o conteú<strong>do</strong><strong>do</strong> ensino provoque aprendizagens significativasque mobilizem o aluno e estabeleçamentre ele e o objeto <strong>do</strong> conhecimento umarelação de reciprocidade. A contextualizaçãoevoca por isso áreas, âmbitos ou dimensõespresentes na vida pessoal, social e cultural, emobiliza competências cognitivas já adquiridas”(Parecer 15/98 da Câmara de EducaçãoBásica <strong>do</strong> Conselho Nacional de Educação).Organizar situações de aprendizagem nasquais os conteú<strong>do</strong>s sejam trata<strong>do</strong>s em contextorequer relacionar o conhecimento científico,por exemplo, a questões reais da vida <strong>do</strong> aluno,ou a fatos que o cercam e lhe fazem senti<strong>do</strong>.A Biologia ou a Química precisam fazersenti<strong>do</strong> como recursos para entender opróprio corpo e gerenciar sua saúde, paraidentificar os problemas envolvi<strong>do</strong>s no uso dedrogas, na a<strong>do</strong>ção de dietas radicais, ou naagressão ao meio ambiente.Mas a contextualização não pode ser umfim em si mesma. Se a transposição didáticase limitar ao contexto, o conhecimento constituí<strong>do</strong>pode ficar refém <strong>do</strong> imediato, <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>particular daquele contexto, e essa não éa finalidade última <strong>do</strong> currículo. Como recorteda cultura humanista, científica e artística,que se sistematiza e organiza em nível maisuniversal e abstrato, o currículo quer, em últimainstância, tornar o aluno participantedessa cultura sistematizada.Partir <strong>do</strong> que é próximo significativo e presenteno mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> aluno é uma estratégia.Seu propósito final é propiciar apropriaçãodaquilo que, mesmo sen<strong>do</strong> longínquo, sistemáticoe planetário, também é intelectual eemocionalmente significativo. A contextualização,portanto, não elimina, ao contrário,requer um fechamento pela sistematizaçãoe pela abstração. Não queremos cidadãosaprisiona<strong>do</strong>s em seu mun<strong>do</strong> cultural e afetivopróximo, queremos cidadãos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> nosenti<strong>do</strong> mais generoso dessa expressão.Interdisciplinaridadecomo prática permanenteA interdisciplinaridade acontece como umcaso particular de contextualização. Como oscontextos são quase sempre multidisciplinares,quan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> de uma determinada áreaou disciplina é em contexto, é quase inevitávela presença de outras áreas de conhecimento.Um conteú<strong>do</strong> de história, por exemplo, no contextode um lugar, instituição ou tempo específico,depara-se com questões de geografia, demeio ambiente, de política ou de cultura. Nessaaprendizagem em contexto trata-se não apenasde aprender fatos históricos, mas de entenderrelações <strong>do</strong> tipo: como os recursos naturais determinarama história <strong>do</strong>s povos e o que aconteceuquan<strong>do</strong> esses recursos se esgotaram; oucomo a história de um lugar foi determinadapor seu relevo ou bacia hidrográfica. Esse entendimentoinevitavelmente requer conhecimentosde biologia e geografia para aprender o quesão os recursos naturais e entender o territóriocomo determinante desses recursos.2323<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 23 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:43


<strong>24</strong>A interdisciplinaridade acontece naturalmentese houver sensibilidade para o contexto,mas sua prática e sistematização demandamtrabalho didático de um ou mais professores.Por falta de tempo, interesse ou preparo, oexercício <strong>do</strong>cente na maioria das vezes ignoraa intervenção de outras disciplinas na realidadeou fato que está trabalhan<strong>do</strong> com os alunos.Há inúmeras formas de realizar atividades outrabalhos interdisciplinares. Muitos professores<strong>do</strong>s anos iniciais <strong>do</strong> ensino fundamental trabalhamde mo<strong>do</strong> interdisciplinar. Mesmo o professordisciplinarista pode realizar a “interdisciplinaridadede um professor só”, identifican<strong>do</strong>e fazen<strong>do</strong> relações entre o conteú<strong>do</strong> de suadisciplina e o de outras, existentes no currículoou não. Numa mesma área de conhecimentoas possibilidades de abordagem interdisciplinarsão ainda mais amplas, seja pelo fato de umprofessor assumir mais de uma disciplina daárea, seja pela proximidade entre elas que permiteestabelecer conexões entre os conteú<strong>do</strong>s.A interdisciplinaridade, portanto, não precisa,necessariamente, de um projeto específico.Pode ser incorporada no plano de trabalho <strong>do</strong>professor de mo<strong>do</strong> contínuo; pode ser realizadapor um professor que atua em uma sódisciplina ou por aquele que dá mais de uma,dentro da mesma área ou não; e pode, finalmente,ser objeto de um projeto, com um planejamentoespecífico, envolven<strong>do</strong> <strong>do</strong>is ou maisprofessores, com tempos e espaços próprios.Ao tratarmos da interdisciplinaridade é fundamentallevar em conta que, como o próprionome indica, ela implica a existência de disciplinas.Sem <strong>do</strong>mínios disciplinares não há relaçõesa estabelecer. Por esta razão, é convenientelembrar que a melhor interdisciplinaridade éa que se dá por transbordamento, ou seja, é o<strong>do</strong>mínio profun<strong>do</strong> e consolida<strong>do</strong> de uma disciplinaque torna claras suas fronteiras e suas “incursões”nas fronteiras de outras disciplinas ousaberes. Dessa forma, o trabalho interdisciplinarnão impede e, ao contrário, pode requerer queuma vez trata<strong>do</strong> o objeto de perspectivas disciplinaresdistintas, se promova o movimento aocontrário, sistematizan<strong>do</strong> em nível disciplinar osconhecimentos constituí<strong>do</strong>s interdisciplinarmente.Duas observações para concluir.A interdisciplinaridade pode ser simples,parte da prática cotidiana da gestão <strong>do</strong> currículona escola e da gestão <strong>do</strong> ensino na salade aula. Para isso, mais <strong>do</strong> que um projeto específico,é preciso que o currículo seja conheci<strong>do</strong>e entendi<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s, que os planos <strong>do</strong>sprofessores sejam articula<strong>do</strong>s, que as reuniõeslevantem continuamente os conteú<strong>do</strong>s queestão sen<strong>do</strong> desenvolvi<strong>do</strong>s e as possibilidadesde conexão entre eles, que exista aberturapara aprender um com o outro.Segun<strong>do</strong>, a interdisciplinaridade requer generosidade,humildade e segurança. Humildadepara reconhecer nossas limitações diante daousada tarefa de conhecer e levar os alunos aconhecerem o mun<strong>do</strong> que nos cerca. Generosidadepara admitir que a “minha” disciplinanão é a única e, talvez, nem a mais importantenum determina<strong>do</strong> contexto e momento da vidade uma escola. E segurança, porque só quemconhece profundamente sua disciplina podedar-se ao luxo didático de abrir para os alunosoutras formas de entender o mesmo fenômenoou de buscar em outros o auxílio para isso.Referências:ETTAYEBI, Moussadak; OPERTTI, Renato; JONNAERT,Philippe. Logique de compétences et dévelopment curriculaire:débats, perspectives et alternative pour lessystèmes éducatifs. Paris: Harmattan, 2008.DENYER, Monique; FURNÉMONT, Jacques; POU-LAIN, Roger; VANLOUBBEECK, Georges. Las competenciasem éducación: un balance. Mexico: Fon<strong>do</strong>de Cultura Económica, 2007.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>24</strong> <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:44


Por que competências ehabilidades na educação básica?2525Lino de Mace<strong>do</strong>Instituto de Psicologia, USP <strong>2009</strong>O objetivo de nossa reflexão é analisar oproblema da aprendizagem relacionada aodesenvolvimento de competências e habilidadesna educação básica. Em outras palavras,trata-se de pensar a questão – quaissão os argumentos para a defesa de um currículocomprometi<strong>do</strong> com o desenvolvimentode competências e habilidades na educaçãobásica? Sabemos que elas sempre foramuma condição para a continuidade <strong>do</strong> exercíciode profissões qualificadas e socialmentevalorizadas. Mas, hoje, temos duas alteraçõesfundamentais, que expressam conquistasde direitos humanos e superação de desigualdadessociais. Primeira, competênciase habilidades são julgadas necessárias paratodas as profissões e ocupações. Segunda,mais que isto, são essenciais para uma boagestão e cuida<strong>do</strong> da própria vida, na formacomplexa que assume, hoje.O melhor momento e lugar para formarcompetências profissionais é na escola superiorou em cursos de habilitação. O melhormomento e lugar para formar competênciase habilidades válidas para qualquer profissãoe que têm valor para a vida como um to<strong>do</strong> éna educação básica, ou seja, no sistema deensino que a compõe (Escola de Educação Infantil,Escola Fundamental e Escola de EnsinoMédio). E se os conteú<strong>do</strong>s e os procedimentosrelativos às competências e habilidades profissionaissão necessariamente especializa<strong>do</strong>s,as competências e habilidades básicas só podemser gerais e consideradas nas diferentesdisciplinas que compõem o currículo da educaçãobásica. Daí nossa opção pelas competênciasvalorizadas no Exame Nacional <strong>do</strong>ensino médio (ENEM) como referência.Consideremos, agora, o problema daaprendizagem em si mesma. Aprender semprefoi e será uma necessidade <strong>do</strong> ser humano.É que os recursos biológicos (esquemasinatos ou reflexos) de que dispomos aonascer não são suficientes, ocorren<strong>do</strong> o mesmocom os valores e condições socioculturaisque lhes são complementares, expressoscomo cuida<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s adultos. Por exemplo, acriança nasce saben<strong>do</strong> mamar, isto é, nascecom esquema reflexo de sucção. Mas nestereflexo não estão previstos, nem poderiamestar, as características (físicas, psicológicas,sociais, culturais, etc.) da mama e da mamãe,que a amamentará. Da parte da mamãe é amesma coisa. Mesmo que ter um filho sejaum projeto queri<strong>do</strong>, sua mama cheia de leitee seu coração cheio de disponibilidade nãosubstituem os esforços de sucção de seu filho,deste filho em particular, com suas característicase condições singulares, não previsíveispara a pessoa que cuidará dele. Paraque esta interação entre <strong>do</strong>is particularesseja bem sucedida, mesmo que apoiada em<strong>do</strong>is gerais (uma criança e uma mãe), ambosterão de aprender continuamente, terão dereformular, corrigir, estender, aprofundar osaspectos adquiri<strong>do</strong>s.Aprender é uma necessidade constante <strong>do</strong>ser humano, necessidade que encerra muitosconflitos e problemas, apesar de sua importância.Nem sempre reunimos ou <strong>do</strong>minamosos diferentes elementos que envolvem umaaprendizagem. Cometemos erros. Calculamosmal, não sabemos observar os aspectospositivos e negativos que compreendemuma mesma coisa, nem sempre sabemosponderar os diferentes la<strong>do</strong>s de um mesmoproblema. Daí a necessidade de fazer regulações,de prestar atenção, aperfeiçoar, orientaras ações em favor <strong>do</strong> resulta<strong>do</strong> busca<strong>do</strong>.Este processo é sustenta<strong>do</strong> pelo interesse de<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 25 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:44


26aprender. As crianças desde ce<strong>do</strong> descobremo prazer funcional de realizar uma mesmaatividade, de repeti-la pelo gosto de repetir,pelo gosto de explorar ou investigar mo<strong>do</strong>sde compreender e realizar, de enfrentar e resolverproblemas que elas mesmas se colocam.Gosto de aprender, não só pelas consequências,não só como um meio para outrofim, mas como um fim em si mesmo. Comoconservar na escola este mo<strong>do</strong> de se relacionarcom os processos de aprendizagem? Ummo<strong>do</strong> que a reconhece como solução paraum problema interessante? Que valoriza aaprendizagem não apenas por suas consequênciasfuturas (algo difícil de ser entendi<strong>do</strong>por uma criança), mas pelo prazer funcionalde realizá-la em um contexto de problemas,tarefas ou desafios que comportam significaçõespresentes, atuais, para os alunos?Uma característica de certas formas deaprendizagem é que, em sen<strong>do</strong> adquiridas,se estabelecem como hábitos ou padrõescondiciona<strong>do</strong>s. Funcionam como mo<strong>do</strong>sde respostas que, uma vez adquiridas, nospossibilitam responder de mo<strong>do</strong> pronto, imediatoaos problemas <strong>do</strong> cotidiano. Mesmoque seus processos de formação tenhamsi<strong>do</strong> ativos, presentes, pouco a pouco vãose tornan<strong>do</strong> habituais. Se estas respostas sãosuficientes, tu<strong>do</strong> bem. Se não, muitas vezestemos desistências, desinteresses, ocorrênciasde padrões emocionais negativos. Alémdisso, nelas o interesse é sustenta<strong>do</strong> porconsequências (ameaças, reforços) externasque substituem, agora, o prazer funcional daprópria ação. Fazemos porque é necessáriofazer, porque deve ser feito.Há outras formas de aprendizagem quesempre deverão conservar o sabor e o desafiode seus mo<strong>do</strong>s de construção. Sempre terãoalgo original, novo como forma ou conteú<strong>do</strong>,que nunca será suficiente repetir ou aplicaro já conheci<strong>do</strong>. Não é assim, por exemplo,em uma situação de jogo? Por mais que seusobjetivos e regras sejam conheci<strong>do</strong>s, por maisque a estrutura (sistema de normas e valores)se mantenha, cada partida tem sua especificidade,tem problemas e desafios cuja resoluçãonão se reduz a um conheci<strong>do</strong> ou controlável.Ou seja, não basta repetir ou seguir umhábito ou resposta aprendida. É necessárioestar presente, sensível, atento aos diferentesaspectos que caracterizam o desenrolarde uma partida. É necessário manter o foco(concentração), saber planejar, antecipar, fazerboas inferências, tornar-se um observa<strong>do</strong>rde si mesmo, <strong>do</strong> oponente e <strong>do</strong> próprio jogo.Além disso, nesta situação o sujeito deve semanter ativo, não passivo nem distraí<strong>do</strong>, conscientede que suas ações têm consequênciase que supõem boa capacidade de leitura e detomada de decisão. Esta forma de aprendizagem– como se pôde observar – tem todasas características que qualificam uma pessoacompetente e habili<strong>do</strong>sa.Aprender é muito importante, dentro e forada escola. Qual a diferença entre estes <strong>do</strong>isambientes? Na escola, a aprendizagem se referea <strong>do</strong>mínios que só ela pode melhor prover.São aprendizagens que supõem professorese gestores, intencionalidade pedagógica,projeto curricular, materiais e recursos didáticos,to<strong>do</strong> um complexo e caro sistema deensino e avaliação que sustenta e legitima osconhecimentos pelos quais a escola é socialmenteresponsável por sua transmissão e valorização.Fora da escola, to<strong>do</strong>s estes aspectosnão estão presentes, só o ter de aprender éque se mantém. Seja por exigências externas(<strong>do</strong>s pais, por exemplo) ou por exigências internas(a criança quer brincar ou usar um objetoe o que já sabe não é suficiente para isso).Necessidade constante de aprender combinacom características de nossa sociedade atual:tecnológica, consumista, globalizada e influenciadapelo conhecimento científico. Sãomuitos interesses, problemas, informações,novidades a serem adquiri<strong>do</strong>s, consumi<strong>do</strong>s.E não basta poder comprar ou possuir umatecnologia, é preciso aprender a usá-la e, depreferência, a usá-la bem.Como oferecer na escola as bases paraas aprendizagens fora dela? Como reconhecere assumir que em uma cultura tecnológicaderivada <strong>do</strong> conhecimento científico, emuma sociedade de consumo, globalizada, os<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 26 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:44


28perspectiva <strong>do</strong>s alunos, incluin<strong>do</strong> por istomesmo conhecimentos e valores que envolvema vida pessoal e social como um to<strong>do</strong>.E isto se faz através das disciplinas escolares,<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, méto<strong>do</strong>s e recursos necessáriosao ensino das matérias que compõema grade curricular. Trata-se, então, de criarsituações de aprendizagem organizadas paradesenvolver competências e habilidades nocontexto das disciplinas. Nestas situações,como propusemos, as competências de referênciasão as <strong>do</strong> ENEM e as habilidadessão as que possibilitam aprender os conteú<strong>do</strong>sdisciplinares, ou seja, observar, identificar,comparar, reconhecer, calcular, discutir,definir a ideia principal, desenhar, respeitar,consentir, etc. Assim, o aluno, pouco a pouco,vai se tornan<strong>do</strong> uma pessoa habili<strong>do</strong>sa, que fazbem feito, que tem destreza mental ou física,que valoriza, porque aprendeu a fazer bem, acompreender bem, a viver e conviver bem.Estamos sonhan<strong>do</strong>? Quem sabe, mas sãoestes tipos de sonhos que justificam o nossopresente como profissionais da educação,que nos dão esperança para um futuro melhore mais digno para nossos alunos. Queos professores <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul se sintambem qualifica<strong>do</strong>s hoje, para esta imensatarefa de construir em seus alunos as basespara um melhor amanhã!<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 28 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:44


A gestão da escola comprometidacom a aprendizagem2929Sonia Balzano eSônia BierNos últimos anos, a sociedade brasileiravem toman<strong>do</strong> consciência da necessidade demelhorar a qualidade <strong>do</strong> ensino ofereci<strong>do</strong> àmaioria da população, por meio <strong>do</strong> fortalecimentoe da qualificação da gestão da escola.A gestão escolar deve mobilizar e articular ascondições materiais e humanas necessárias àpromoção da efetiva aprendizagem <strong>do</strong>s alunos,tornan<strong>do</strong>-os capazes de enfrentar os desafiosda sociedade <strong>do</strong> século XXI.A partir da LDB (art.15), a escola passou ater maior autonomia nas áreas administrativa,pedagógica e financeira, e a sua gestão tornou-semais complexa, o que passou a exigirda equipe gestora, além de uma visão global,a capacidade de reconhecer que na sociedade<strong>do</strong> conhecimento, a dimensão pedagógicada gestão é a mais importante. Assim, o focoda gestão passa a ser pedagógico e as dimensõesadministrativa e financeira são meiospara alcançar as finalidades da educação.Para responder às exigências da sociedade<strong>do</strong> conhecimento, o Movimento To<strong>do</strong>s pelaEducação estabeleceu 5 metas para a educaçãobrasileira, que devem ser cumpridas até2022. Entre elas, a de número três prevê que“to<strong>do</strong> aluno aprenda o que é adequa<strong>do</strong> à suasérie”. Mas, o que é adequa<strong>do</strong> a cada série?Hoje, na rede estadual, cada escola fixa oque entende ser o adequa<strong>do</strong>. Pois não há referênciasque definam as aprendizagens necessáriasem cada momento da educação básica,o que abre espaço para os livros didáticos fazeremesse papel. Os parâmetros e as diretrizescurriculares nacionais têm caráter geral, nãosuprem essa necessidade. Apenas as matrizesde competência das avaliações externas, comoo SAEB e a PROVA BRASIL, estabelecem umpatamar de aprendizagens a serem atingidasao final da 4ª série/5º ano e da 8ª série/9ºano <strong>do</strong> ensino fundamental e <strong>do</strong> 3º ano <strong>do</strong> ensinomédio. O SAERS avalia aprendizagens deséries intermediárias, utilizan<strong>do</strong> a mesma matriz<strong>do</strong> SAEB. Embora tenham finalidade diversa,essas avaliações tornam-se, em muitos casos,referência para as aprendizagens na escola,desempenhan<strong>do</strong> outro papel além daquelepara o qual foram cria<strong>do</strong>s.Com a intenção de suprir essa lacuna, apresentamosàs escolas da rede estadual <strong>do</strong> RSestes Referenciais Curriculares que fixam, porárea de conhecimentos e disciplinas, aprendizagensque devem ocorrer em cada momentoda educação básica, a partir da 5ª série <strong>do</strong> ensinofundamental, indican<strong>do</strong> a unidade mínimaque deve ser comum a uma rede de ensino.Em consonância com as mais atualizadasconcepções de currículo, este Referencial deslocao foco <strong>do</strong> ensino para a aprendizagem,o que significa organizar o processo educativopara o desenvolvimento de competências básicasque a sociedade demanda.Por isso, o planejamento das situações deaprendizagem em todas as áreas <strong>do</strong> conhecimento,respeitadas suas especificidades, tem afinalidade de levar o aluno a: expressar idéiascom clareza, oralmente e por escrito; analisarinformações e proposições de formacontextualizada; ser capaz de tomar decisõese argumentar; e resolver problemas/conflitos. Essas competências estão previstasna LDB em objetivos <strong>do</strong> ensino fundamental(artigo 32), como “o desenvolvimento da capacidadede aprender, ten<strong>do</strong> como meios básicoso pleno <strong>do</strong>mínio da leitura, da escrita e <strong>do</strong> cálculo”,e <strong>do</strong> ensino médio, (artigo 35), em especial,“a preparação básica para o trabalho e acidadania <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, para continuar aprenden<strong>do</strong>,de mo<strong>do</strong> a ser capaz de se adaptar com<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 29 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:44


A concretização dessa mudança é desafioàs escolas públicas estaduais <strong>do</strong> Rio Grande<strong>do</strong> Sul, que deve ser enfrenta<strong>do</strong> a partir dapublicação deste Referencial Curricular.Uma das primeiras tarefas da escola,após conhecer os Referenciais, é a revisãoda sua proposta pedagógica. Essa tarefa seimpõe como um processo de reconstruçãocoletiva, lidera<strong>do</strong> pela equipe gestora, daqual devem participar to<strong>do</strong>s os professorese também representantes <strong>do</strong>s segmentosda comunidade escolar. Para isso, é necessárioconsiderar alguns pressupostos basilaresda proposta:• O aluno como sujeito de sua aprendizagem.• A construção <strong>do</strong> conhecimento decorrede processo progressivo de aprendizagem.• A superação da fragmentação <strong>do</strong> conhecimentoé estimulada por meio dainterdisciplinaridade.• A contextualização <strong>do</strong> conhecimento sedá a partir das vivências e experiências<strong>do</strong> cotidiano <strong>do</strong> aluno.• A organização das atividades escolarestem como objetivo a motivação e mobilização<strong>do</strong>s alunos para o desejo deconhecer, descobrir e realizar, estimulan<strong>do</strong>o aprender a aprender.• O respeito às diferenças <strong>do</strong>s alunos sefaz por meio de trabalho diversifica<strong>do</strong>que tem a equidade como princípioeducativo.• O estímulo à autonomia e o incentivoao trabalho em equipe e à aprendizagemcooperativa estão presentes nameto<strong>do</strong>logia sugerida.Duas questões se impõem como fundamentaispara efetivar essa mudança: a capacidadeda escola de concretizar na prática osprincípios de interdisciplinaridade e de contextualização<strong>do</strong> currículo e a organização eaproveitamento <strong>do</strong> tempo escolar.Interdisciplinaridade econtextualização <strong>do</strong> currículoComo se observa no quadro comparativo,ao contrário da escola tradicional, organizadapor disciplinas, que privilegiava a memóriaem detrimento da compreensão de conceitos,a escola contemporânea visa a construçãode aprendizagens significativas, mais permanentes.Esta escola, organizada por áreas <strong>do</strong>conhecimento e que tem por finalidade o desenvolvimentode competências e habilidades,rompe o isolamento das disciplinas, e propõeum trabalho interdisciplinar, “numa outra concepçãode divisão <strong>do</strong> saber, marcada pelainterdependência, interação e comunicaçãoentre as disciplinas voltadas para a integração<strong>do</strong> conhecimento em áreas significativas”(PORTELA e ATTA, 2001, p. 101).Essa cooperação ocorre a partir de unidadestemáticas e conceitos estruturantescomuns, que mobilizam diferentes conhecimentosescolares e/ou saberes oriun<strong>do</strong>sde experiências pessoais <strong>do</strong>s alunos, parareconstituição ou construção <strong>do</strong> objeto outema em estu<strong>do</strong>. A partir dessa premissa,o plano de trabalho <strong>do</strong> professor não deveser elabora<strong>do</strong> individualmente. Deve ser oresulta<strong>do</strong> da construção coletiva pela equipede professores de determinada área <strong>do</strong>conhecimento.Por sua vez, a contextualização <strong>do</strong>s conhecimentosprecisa levar em conta a realidadee as experiências de vida <strong>do</strong> aluno e oque é relevante em relação aos conteú<strong>do</strong>sescolares. A primeira é um elemento naturalde mobilização cognitiva, afetiva e deinclusão <strong>do</strong> aluno. A segunda deve ser umelemento motiva<strong>do</strong>r para que o aluno seconstitua protagonista <strong>do</strong> seu processo deaprendizagem. Isso ocorre quan<strong>do</strong> as es-3131A interdisciplinaridade começa pelo planejamentoconjunto, por área <strong>do</strong> conhecimento, e seconcretiza pela cooperação entre as disciplinas.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 31 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:44


34de uma visão pedagógica, o que significaatender também pressupostos de qualidade,como, por exemplo, aspectos que favoreçamo acesso, a permanência e a aprendizagem<strong>do</strong>s alunos. Para isso, a distribuição<strong>do</strong>s componentes <strong>do</strong> currículo deve atendercondições que concorram para a participaçãoativa <strong>do</strong>s alunos.A experiência <strong>do</strong>cente nos mostra que aaprendizagem de conceitos complexos ocorrede mo<strong>do</strong> mais efetivo nos primeiros perío<strong>do</strong>sde aula, em que o nível de atenção <strong>do</strong>s alunosé maior. Assim, componentes que exigemmaior concentração devem preferencialmenteconstar <strong>do</strong>s primeiros perío<strong>do</strong>s <strong>do</strong> turno escolar,como é o caso da matemática. Ao contrário,componentes que originalmente desenvolvematividades mais lúdicas, motoras,artísticas, podem ser ofereci<strong>do</strong>s em horáriosde final de turno. Obviamente, a carga horáriasemanal deve ser distribuida com base noprincípio de equidade entre as turmas.Outra questão a considerar refere-se à utilizaçãoe ao aproveitamento <strong>do</strong> tempo curricular,pois é comprova<strong>do</strong> que o melhor aproveitamento<strong>do</strong> tempo reduz as taxas de evasão, aindisciplina e os conflitos no recreio e em outrosespaços. Uma escola com planejamento<strong>do</strong> uso <strong>do</strong> espaço e <strong>do</strong> tempo gera atitudes deresponsabilidade e compromisso de alunos eprofessores que, por exemplo, ao sinal de término<strong>do</strong> recreio ou de um perío<strong>do</strong>, organizamseimediatamente para o início da próximaatividade. Com esta organização, em geral,o clima escolar melhora, professores e alunosdesenvolvem maior proximidade, o ambientetorna-se mais tranquilo e agradável, o queconcorre para a melhoria no rendimento <strong>do</strong>salunos, em especial daqueles com baixo aproveitamentoe dificuldade de aprendizagem.Para possibilitar a realização de trabalhointerdisciplinar, as aulas das disciplinas dedeterminada área <strong>do</strong> conhecimento devemocorrer nos mesmos dias da semana. Essamedida favorece também o uso <strong>do</strong>s recursose <strong>do</strong>s ambientes de apoio pedagógico emconjunto e o desenvolvimento de atividadescurriculares fora <strong>do</strong> ambiente escolar, com aparticipação <strong>do</strong>s professores da área.É necessário que a organização e a distribuição<strong>do</strong> tempo escolar possibilitem o encontro periódico<strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes na escola nas suas horas deatividades “para estu<strong>do</strong>s, planejamento e avaliação”(LDB, artigo 67, V).Como sugestão, apresenta-se (p. 33) umaproposta de horário semanal, que viabiliza oencontro sistemático <strong>do</strong>s professores de umamesma área <strong>do</strong> currículo, no mínimo, uma vezpor semana. Nela, as horas-atividades <strong>do</strong>s professoressão previstas em um mesmo dia da semana,quan<strong>do</strong> serão realizadas as reuniões semanaisde trabalho por área <strong>do</strong> conhecimento.É indiscutível a importância das horas-atividadesna jornada de trabalho <strong>do</strong>s <strong>do</strong>centes.Por exemplo, para tornar efetiva a sua participaçãona elaboração, acompanhamento eavaliação da proposta pedagógica da escola.Além disso, para a integração <strong>do</strong>s professoresentre si e deles com a comunidade escolar,faz-se necessário esse tempo extraclasse,no qual poderão ser realizadas reuniões compais, sessões de estu<strong>do</strong> e principalmente reuniõesde planejamento coletivo.Para um ensino de qualidade, toda aulaministrada pressupõe planejamento e avaliação,o que exige <strong>do</strong> professor um tempoindividual ou coletivo remunera<strong>do</strong>, incluí<strong>do</strong>na jornada de trabalho. De acor<strong>do</strong> com essaconcepção, é que a Secretaria de Esta<strong>do</strong>da Educação implantou, em 2008, 20% dehoras-atividades para to<strong>do</strong>s os professorescontrata<strong>do</strong>s e, para os efetivos convoca<strong>do</strong>s,a complementação das horas de atividadesem relação ao total de horas de trabalho,reconhecen<strong>do</strong> que, além das aulas, a preparação/planejamentoe avaliação são tarefasinerentes à função <strong>do</strong>cente.Além disso, a hora-atividade na jornada<strong>do</strong> professor é condição para o desenvolvimentode programas de formação continuadaem serviço. Esses programas corres-<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 34 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


pondem desde as ações internas da escola,desenvolvidas por suas próprias equipes,até aquelas promovidas pela SE/CRE, envolven<strong>do</strong>toda ou parte da rede de ensino.Nas horas-atividades <strong>do</strong>s professores devemser realizadas reuniões, oficinas pedagógicas,planejamento e troca de experiênciasentre professores da mesma escola, de maisde uma unidade escolar, e entre os mais novose os mais experientes.3535MatemáticaMatemáticaHorário escolar semanalSegunda Terça Quarta Quinta SextaLinguagense CódigosLinguagense CódigosLinguagense CódigosLinguagense CódigosCiênciasHumanasEnsinoReligiosoCiências daNaturezaLinguagense CódigosMatemáticaCiênciasHumanasCiências daNaturezaHorário de reúniões semanais por áreaSegunda Terça Quarta Quinta SextaReuniãoCiências daNaturezaReuniãoCiênciasHumanas eEnsino ReligiosoReuniãoLinguagense CódigosReuniãoMatemáticaConsiderações finaisA implementação <strong>do</strong> Referencial Curricularna rede estadual de ensino é uma tarefadesafia<strong>do</strong>ra que não pode ser de responsabilidadeexclusiva da escola. Exige a constituiçãode uma rede de cooperação entreescolas e CREs, Secretaria da Educação (SE)e outras instituições, pois a apropriação <strong>do</strong>Referencial Curricular pela equipe gestora,<strong>do</strong>centes e demais membros da comunidadeescolar, deve ser processual e sistemática.Nesta perspectiva, a SE disponibilizaráespaço virtual no seu site para apoio<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 35 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


36pedagógico e divulgação de práticas <strong>do</strong>centesexitosas. A CRE deverá assessorar o processode estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Referencial, a revisão da propostapedagógica, <strong>do</strong>s planos de estu<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>s planosde trabalho <strong>do</strong>s professores, viabilizan<strong>do</strong> eotimizan<strong>do</strong> as orientações <strong>do</strong>s Referenciais.Para complementar a formação <strong>do</strong>s professores,as Instituições de Ensino Superior (IES)da região poderão ser chamadas a integraressa rede, dan<strong>do</strong> continuidade, em sintoniacom o Referencial Curricular, à formação iniciadano curso Lições <strong>do</strong> Rio Grande que visaa capacitação <strong>do</strong>s professores, de todas asáreas e disciplinas das séries finais <strong>do</strong> ensinofundamental e ensino médio, para implementaro currículo escolar com foco no desenvolvimentode competências e habilidades.À equipe diretiva da escola, cabe garantiras condições para que essas ações se efetivem,a partir:• da divulgação <strong>do</strong> Referencial Curricular àcomunidade escolar;• <strong>do</strong> planejamento das reuniões pedagógicas,envolven<strong>do</strong> to<strong>do</strong>s os professores;• da implementação de medidas administrativo-pedagógicas,que visam a melhoria daqualidade <strong>do</strong> ensino e da aprendizagem <strong>do</strong>salunos, tais como as sugeridas neste texto.Assim, será possível fazer, de mo<strong>do</strong> mais seguro,a transição entre a escola voltada para amemorização de conteú<strong>do</strong>s para a escola interativa,que atende aos princípios da interdisciplinaridadee contextualização <strong>do</strong> currículo no desenvolvimentode competências e habilidades.Cumpre reafirmar que a essência <strong>do</strong> trabalhoda escola é o ensino e a aprendizagem.A autonomia da escola será tão ou maisefetiva, na medida em que reconhecer o seupapel social, tiver clareza de seus fins e queseus professores <strong>do</strong>minem os conhecimentose a meto<strong>do</strong>logia da sua área de atuação, e,principalmente, que assumam o compromissode que cada aluno aprenda o que é adequa<strong>do</strong>para a sua série, conforme a meta <strong>do</strong> MovimentoTo<strong>do</strong>s pela Educação.Para concluir, cabe referir Guiomar Namode Mello (2004), quan<strong>do</strong> diz: “As normas,vale lembrar, não mudam a realidade daeducação. Elas apenas criam as condiçõespara que as mudanças sejam feitas pelosúnicos protagonistas em condições de fazê-las:as escolas e seus professores.”ReferênciasMELLO, Guiomar Namo. Educação Escolar Brasileira: oque trouxemos <strong>do</strong> século XX?. Porto Alegre: Artmed, 2004.PIMENTA.Selma Garri<strong>do</strong>. Questões sobre a organização<strong>do</strong> trabalho na escola. Disponínel em www.srmariocovas.sp.gov.bracesso em 19 julho <strong>2009</strong>.PORTELLA, Adélia e ATTA, Dilza. Dimensão Pedagógicada Gestão da Educação. Guia de Consultapara o programa de Apoio aos Secretários Municipaisde Educação – PRASEM II. Brasília: FUNDES-COLA/MEC, 1999, p. 77-114.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 36 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


Caracterização da área deCiências Humanas e suas Tecnologias3737A Lei de Diretrizes e Bases da EducaçãoNacional 1 estabelece como finalidades daeducação básica: o pleno desenvolvimento<strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, seu preparo para o exercício dacidadania e sua qualificação para o trabalho;o aprimoramento como pessoa humana, incluin<strong>do</strong>a formação ética e o desenvolvimentoda autonomia intelectual e <strong>do</strong> pensamentocrítico; e a compreensão <strong>do</strong>s fundamentoscientífico-tecnológicos <strong>do</strong>s processos produtivos.Portanto, a educação básica objetivanão apenas a qualificação para o trabalho,mas também o aprimoramento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>como ser humano, sua formação ética, o desenvolvimentode sua autonomia intelectuale de seu pensamento crítico. Tais finalidadessão explicitadas também nas Diretrizes CurricularesNacionais <strong>do</strong> ensino médio (DiretrizesCurriculares Nacionais para o ensinomédio PARECER CEB 15/98, aprova<strong>do</strong> em1/6/98, Processo 23001.000309/97-46),através de três princípios: a estética da sensibilidade,que visa superar a padronizaçãoe estimula a criatividade; a política da igualdade,que busca desenvolver sujeitos quepratiquem a igualdade, a justiça e o respeitoao bem comum; e a ética da identidade, quevisa a constituição de sujeitos responsáveis esolidários, compromissa<strong>do</strong>s com a inserção,pautada em valores, em seu tempo e em seuespaço.A contribuição que as disciplinas de História,Geografia, Filosofia e Sociologia,que constituem a área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias têm na efetivaçãodesses princípios, decorre <strong>do</strong>s conceitose competências cujo desenvolvimento elaspropiciam. Com efeito, o objetivo dessasdisciplinas é oportunizar conhecimentos,competências e habilidades que serão mobiliza<strong>do</strong>sna resolução de problemas complexos,que ocorrem em sociedade e nomun<strong>do</strong> em transformação, a partir da perspectiva<strong>do</strong> desenvolvimento da autonomia,<strong>do</strong>s valores, da criatividade e <strong>do</strong> pensamentocrítico.Um ensino que busca esses objetivos requermais <strong>do</strong> que reproduzir da<strong>do</strong>s e denominarclassificações, já que formar parao exercício da cidadania “significa saber seinformar, se comunicar, argumentar, compreendere agir, enfrentar problemas de qualquernatureza, participar socialmente, deforma prática e solidária, ser capaz de elaborarcríticas ou propostas e, especialmente,adquirir uma atitude de permanente aprendiza<strong>do</strong>”(PCN+, 2002, p. 9). Por essas razões,o processo de ensino-aprendizagemdeve ter como foco o desenvolvimento decompetências e não o acúmulo de informações.Além disso, deve estar inseri<strong>do</strong> noscontextos culturais, éticos e sociais nos quaiso aluno se desenvolve, e não ficar restrito aum repertório de textos abstratos e formulaçõesfechadas.O presente <strong>do</strong>cumento refere-se à educaçãobásica de mo<strong>do</strong> geral, não faz distinçãoàs especificidades de ensino fundamental emédio, pois entende que as competênciasaqui propostas são as mesmas, distinguin<strong>do</strong>-seem uma e outra modalidade pelograu de aprofundamento e complexidadeque podem adquirir, conforme as observações<strong>do</strong> professor relativas a seus alunos,levan<strong>do</strong> em consideração como aprendemnas diferentes fases <strong>do</strong> processo de construçãode conhecimento.Se a educação básica é para a vida e paraa cidadania, a qualidade <strong>do</strong> conhecimentotem de ser determinada por sua relevância1Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 37 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


38para a vida presente e futura, além <strong>do</strong>s limitesda escola. A competência é um guia melhorpara educar para a vida <strong>do</strong> que os conteú<strong>do</strong>sisoladamente, pois a velocidade das mudançaspode tornar rapidamente desatualizadasmuitas informações. Já a competência, umavez adquirida, possibilita o enfrentamento desituações inéditas com autonomia e proficiência,e viabiliza a aprendizagem de formacontinuada ao longo de toda a vida (informaçãonão é conhecimento).A partir dessa visão, as disciplinas da áreade Ciências Humanas e suas Tecnologias 2compartilham um objeto central, competências,conceitos e situações de aprendizagem,que estabelecem uma articulação didáticopedagógicainterna. É disso que trata estaseção dedicada aos referenciais de área: asdiretrizes discutidas aqui terão um papel nortea<strong>do</strong>rpara os referenciais de cada uma dasdisciplinas.a) O objeto central da áreade Ciências HumanasComo sintetizam os PCN+, o objeto centralda área de Ciências Humanas é o estu<strong>do</strong>das ações e das elaborações intelectuais queos seres humanos constroem no âmbito dasrelações que travam entre si 3 .A expressão “Ciências Humanas” 4 refereseàqueles saberes que têm o próprio serhumano, suas ações e práxis social comoobjeto, toman<strong>do</strong> suas valorações, visões demun<strong>do</strong> e instituições como fenômenos <strong>do</strong>ta<strong>do</strong>sde senti<strong>do</strong> e significação. Portanto, nadamais relevante, num mun<strong>do</strong> caracteriza<strong>do</strong>pela complexidade e fluidez 5 , <strong>do</strong> que oportunizarconhecimentos e competências quedespertem a autoconsciência, a compreensãoe a responsabilidade individual, a fim depromover a emancipação e a autonomia <strong>do</strong>sjovens em formação.Em outras palavras, o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> objetocentral das Ciências Humanas mobiliza conceitos,competências e habilidades que buscamentender como o mun<strong>do</strong> funciona, paraque nele seja possível operar com competênciae responsabilidade.b) Conceitos estruturantesOs conceitos estruturantes permeiamtransversalmente a Geografia, a História, aSociologia e a Filosofia. Por meio deles, define-sea perspectiva unitária a<strong>do</strong>tada pelaárea sobre o seu objeto de estu<strong>do</strong> para todaa educação básica (séries finais <strong>do</strong>s ensinosfundamental e médio).São compartilha<strong>do</strong>s, de mo<strong>do</strong> explícitoou implícito, pelas disciplinas da área, nosenti<strong>do</strong> de promover uma ação interdisciplinara serviço <strong>do</strong> desenvolvimento de competênciasgerais. Estruturar uma área pormeio de conceitos é afirmar que os mesmossão importantes para compreender a razãoda existência da área e, assim, sinalizar aosprofessores que devem voltar-se constantementea eles para realizar seus planejamentos.Para o estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> objeto central das CiênciasHumanas – as ações e elaborações intelectuais<strong>do</strong>s seres humanos – fazem-se necessáriosos seguintes conceitos estruturantes 6 :• Relações Sociais: As ações e elaboraçõesintelectuais <strong>do</strong>s seres humanos se dão2A presença das tecnologias na área de Ciências Humanas aparece, nos PCN (1997), a partir de diversos vieses: a) tomada como fenômeno social,remeten<strong>do</strong> ao seu uso e às reflexões que sobre ela fazem as outras três áreas <strong>do</strong> conhecimento (Linguagens, Ciências Naturais e Matemática); b)tomadas como construções intelectuais específicas da área, referidas mais diretamente ao plano das teorias; c) com respeito ao uso que as CiênciasHumanas fazem de tecnologias originárias de outros campos <strong>do</strong> conhecimento (como os satélites na cartografia ou o vídeo na antropologia); e, d) porúltimo, como reflexão sobre as relações entre a tecnologia e a totalidade cultural, debaten<strong>do</strong> e questionan<strong>do</strong> seu papel nos processos econômicos,nas ciências e seu impacto no mun<strong>do</strong> da vida.3PCN+, 2002: <strong>24</strong>.4As Ciências Humanas compreendidas em senti<strong>do</strong> lato, incluin<strong>do</strong> a Filosofia.5Conferir, por exemplo, BAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. Nessa obra, o sociólogo apresenta oconceito de fluidez como uma metáfora para o atual estágio da era moderna ou pós-moderna, no qual os padrões, regras e códigos não são pontosestáveis de orientação, mas estão em constante transformação.6Esta definição <strong>do</strong>s conceitos estrutura<strong>do</strong>res das Ciências Humanas toma como orientação para toda a educação básica (séries finais <strong>do</strong> ensinofundamental e ensino médio) os estu<strong>do</strong>s realiza<strong>do</strong>s pelos PCN+ da área. No entanto, fez-se necessário o acréscimo <strong>do</strong>s conceitos de “espaço” e de“tempo”, por serem duas representações <strong>do</strong> real essenciais para a definição <strong>do</strong> objeto geral da área.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 38 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


40balho, a paisagem como materializaçãode diferentes tempos históricos, incluin<strong>do</strong>o tempo cotidiano, entre outros. A área deCiências Humanas e suas Tecnologias buscarelacionar eventos mundializa<strong>do</strong>s comeventos <strong>do</strong> lugar, construin<strong>do</strong> o conhecimentogeográfico em diferentes escalas.O espaço, portanto, constitui um elementoativo na organização social, pois atua comoprodutor e produto. A interpretação dessalógica <strong>do</strong> arranjo espacial e de seus senti<strong>do</strong>scompõe o campo fundamental das questõesespaciais nas Ciências Humanas e Sociais:por que as coisas estão dispostas no espaçodessa maneira? Qual é o significa<strong>do</strong> e quaisas consequências de tal ordem espacial?O espaço, nas Ciências Humanas, não serestringe a uma “visão fisicalista”; ele não épensa<strong>do</strong> apenas como uma parte <strong>do</strong> meioambiente, o cenário ou continente da sociedade,mas como uma estrutura forma<strong>do</strong>racriada pela sociedade, produto da transformaçãoe experiências sociais 7 .• Tempo: A noção de tempo é fundamentalpara compreender a área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias. Implica inserirações e pensamentos no tempo, comoprocesso, entenden<strong>do</strong> suas mudanças/transformações, permanências, rupturase continuidades. É necessário coordenaras relações de sucessão, simultaneidade,duração, espaço e velocidade, que compõemo conceito de tempo, para construiro conceito de tempo histórico, que seconstitui de múltiplas temporalidades coexistin<strong>do</strong>no tempo cronológico. O temposobre o qual esta área se debruça é o tempohistórico, que não é nem homogêneo enem linear, mas comporta durações e ritmosdiferencia<strong>do</strong>s. Isso significa que, paraque o aluno construa o conceito de tempohistórico, precisa entender que organizaçõessociais de diferentes grupos humanospodem conviver com características própriasem um mesmo tempo cronológico,com processos, ritmos e durações diferencia<strong>do</strong>s.Para Braudel, os múltiplos temposda história não são tempos individuais, massociais e coletivos, plurais e diversos. Dizque as durações se medem dentro de umregistro unitário e global, o marco temporal,utiliza<strong>do</strong> como simples registro de diferentestemporalidades sociais e históricas, enão mais como uma folha em branco, emque se inscreviam, de forma linear e homogênea,os fatos históricos. Nessa proposta,os fatos históricos de um tempo imediato– curta duração – precisam ser repensa<strong>do</strong>se entendi<strong>do</strong>s a partir de processos e estruturasmais permanentes, de média e longaduração 8 . Esse entendimento da história e<strong>do</strong> tempo histórico constituí<strong>do</strong> de múltiplastemporalidades e durações diferenciadasrequer uma ação didático-pedagógicaespecial, inova<strong>do</strong>ra, voltada para a tematizaçãodas relações espaciotemporais emaula. Ou seja, que essas relações possamse tornar objeto de reflexão através da interdisciplinaridadee da contextualizaçãoespaciotemporal <strong>do</strong>s acontecimentos e saberes,trabalha<strong>do</strong>s sob a ótica de cada disciplinaque compõe a área.I - CompetênciasO desenvolvimento de competências é umobjetivo <strong>do</strong>s processos de ensino-aprendizageme deve estar presente na intencionalidadeda ação pedagógica, visan<strong>do</strong> o desenvolvimentocognitivo, afetivo e social <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s.A competência se caracteriza como acapacidade de mobilizar conhecimentos, valores,decisões para agir de mo<strong>do</strong> pertinentenuma determinada situação-problema. Ouseja, competência requer o saber fazer e nãoapenas o acúmulo de informações. Aprendesefazen<strong>do</strong> na situação que requer esse fazerdetermina<strong>do</strong>. Para desenvolver competências,é preciso ir além da memorização de conceitosabstratos e fora de contexto. É preciso fa-7SANTOS, M. A Natureza <strong>do</strong> Espaço: Técnica e Tempo, Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.8ROJAS, Carlos Antonio A. Tempo, Duração e Civilização. Percursos braudelianos. SP: Cortez, 2001.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 40 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


vorecer que aprendam como, quan<strong>do</strong> e paraque serve o conhecimento. Nesse senti<strong>do</strong>, oprofessor deve propor situações pedagógicasque visem à aprendizagem e à aplicação<strong>do</strong> que os alunos aprenderam, através de situações-problema,análise de casos, debates,projetos de pesquisa, entre outras.A - Competências transversaisNos Referenciais Curriculares da educaçãobásica <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, três competênciastransversais são a<strong>do</strong>tadas: ler, escrevere resolver problemas. Na área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias, as três competênciassão definidas <strong>do</strong> mo<strong>do</strong> que segue:• LerEnsinar a ler e formar leitores é funçãoessencial da educação básica. Não apenaspelos ganhos cognitivos que decorrem da leitura,mas porque a compreensão de textos éuma habilidade pressuposta no processo deaprendizagem em geral. Na era <strong>do</strong> conhecimento,onde a necessidade de aprendizagemé contínua por toda a vida, esta competênciatransversal é preocupação de todas as áreas.A capacidade leitora envolve a construção,por parte <strong>do</strong> sujeito, de uma representaçãomental <strong>do</strong>s objetos que o texto ou osfatos evocam, isto é, um modelo mental, ouimagens mentais, da situação que o textodescreve. Para que ocorra a compreensão<strong>do</strong>s significa<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s textos, o leitor precisadecodificá-los, analisá-los, num processo interativoentre autor, leitor e contexto. Ao compreenderum texto, o educan<strong>do</strong> mobiliza osconhecimentos que já tem sobre o mun<strong>do</strong> esua capacidade para interpretar as intençõescomunicativas <strong>do</strong> escritor, assim como umasérie de capacidades cognitivas e afetivas. Acompetência leitora propicia também a leitura<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, uma vez que a interpretação<strong>do</strong>s acontecimentos é revela<strong>do</strong>ra de diferentesolhares sobre o mun<strong>do</strong>.A contribuição dessa área no desenvolvimentoda competência leitora decorre da suaprópria definição. Os fatos sociais e históricos,as ações e criações intelectuais <strong>do</strong>s povos, suasteorias e culturas, caracterizam-se por seremfenômenos abertos à compreensão, provocan<strong>do</strong>sua leitura e releitura, e é de responsabilidadedas disciplinas da área criar oportunidadespara a prática da leitura com atividades decompreensão de textos escritos, imagéticos oumusicais, de variadas extensões.• EscreverUma escola que não se restrinja à reproduçãode conhecimentos precisa exercitaruma prática sistemática da leitura associadaao diálogo, à oralidade e à escrita. Assim, asatividades de ler e escrever não podem sertransformadas em ritual no qual o educan<strong>do</strong>apenas reproduza o que leu, sem possibilidadede discutir ou criticar, mas precisa desenvolvera competência de produzir sua visão demun<strong>do</strong> e de comunicá-la ao mun<strong>do</strong> tambématravés da escrita. Nesse senti<strong>do</strong>, o papel <strong>do</strong>professor de Filosofia, Geografia, História ouSociologia é ser provoca<strong>do</strong>r e media<strong>do</strong>r daleitura, da oralidade e da escrita, através dediscussões e registros especialmente sobre oconhecimento que se constrói na escola.• Resolver problemasA resolução de problemas nas CiênciasHumanas busca vincular o trabalho escolara aspectos da realidade vivencial <strong>do</strong> aluno;constitui-se, ao mesmo tempo, em uma açãodidático-pedagógica e uma competência aser desenvolvida 9 .Mace<strong>do</strong> (2008) considera que é um desafioaos professores ensinar o conteú<strong>do</strong>específico da disciplina e ao mesmo tempodesenvolver as competências, pois não é fácilcoordenar as duas demandas. Salienta<strong>41</strong><strong>41</strong>9Como ação didático-pedagógica, propõe tarefas complexas e desafios como forma de incitar os alunos a mobilizarem seus conhecimentos,habilidades e valores. Trabalhar por projetos é um exemplo de como desenvolver nos alunos um raciocínio volta<strong>do</strong> para o levantamento de problemassociais, específicos da área, em determina<strong>do</strong> tema, bem como provocá-los a pesquisar e buscar soluções pertinentes. O problema seleciona<strong>do</strong>deve ser surpreendente e desafia<strong>do</strong>r; instigar a invenção e a criatividade. Como desenvolvimento de competência, exige <strong>do</strong> aluno que desenvolvaas habilidades de ler, interpretar e organizar da<strong>do</strong>s, levantar possibilidades de ação e solução, escolher um caminho ten<strong>do</strong> clareza das razões dessaescolha e avaliar as consequências possíveis de sua ação. Implica o uso de competências e habilidades adquiridas também em outras áreas comomeio para solucionar os problemas propostos, como cálculos, leitura de gráficos e mapas, interpretações para contextualizar e compreender situaçõese processos histórico-geográficos problematiza<strong>do</strong>s (Castillo, 1998).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>41</strong> <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


42que são demandas complementares e queé necessário mudar a perspectiva, passan<strong>do</strong>a considerar os conteú<strong>do</strong>s como meios necessáriospara desenvolver as competências(como fim). O autor propõe a resolução desituações-problema como estratégia possívelpara superar essa dificuldade e esse desafio:ao mesmo tempo em que o professortrabalha os conteú<strong>do</strong>s através da resoluçãode problemas, também possibilita o desenvolvimentoda competência de resolver problemas.Trata-se de superar uma situaçãocomum ao ensino tradicional que privilegia oconteú<strong>do</strong>, cujas aprendizagens são fugazes elogo esquecidas, enquanto que as competênciasadquiridas através <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s ficampara sempre e poderão ser usadas ao longode diferentes situações e etapas da vida.Castillo (1998) considera a área dasCiências Humanas como uma área incomum,cujos problemas são de difícil definição, dadasas especificidades <strong>do</strong>s problemas sociais e seusprocessos de solução. Justifica sua posição argumentan<strong>do</strong>que os problemas são de explicaçãomulticausal, carregam necessariamenteopções de valor e são intermedia<strong>do</strong>s pelosmeios de comunicação.As dificuldades estão no número de v ariáveise de circunstâncias que intervêm na definiçãode um problema, tornan<strong>do</strong> difícil dizer quaisas mais determinantes. A causalidade múltiplaou complexa <strong>do</strong>s eventos nessa área requerexame mais detalha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fatores causais esuas conexões, pois há uma tendência <strong>do</strong> ensinotradicional de trabalhar com causalidadelinear e cadeia de conexões simples.Quanto às soluções <strong>do</strong>s problemas propostos:são interpretações e não são neutras <strong>do</strong>ponto de vista moral ou ideológico; implicamnecessariamente opções de valor, que começampelo ponto de vista <strong>do</strong> próprio pesquisa<strong>do</strong>r,o que traz importantes consequências;não há soluções “corretas” para os problemassociais; a solução precisa levar em conta,muitas vezes, outros pontos de vista diferentes<strong>do</strong>s que foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s. Isso não deve levarà conclusão de que nesta área, por ser umadiscussão de caráter aberto, tu<strong>do</strong> seja possívele aceitável, que todas as respostas ou soluçõespara os problemas pesquisa<strong>do</strong>s e discuti<strong>do</strong>ssejam igualmente válidas. Sempre hásoluções melhores e piores para um problemaou questão, e isso tanto a partir de critériostécnicos (coerência, rigor) como de critériosque contenham posições ideológicas e morais(justiça, respeito ao meio ambiente, liberdade,eficácia, rentabilidade, etc.).A resolução de problemas na área deCiências Humanas e suas Tecnologias visa,portanto, preparar o aluno para tomar decisõese enfrentar situações problemáticastanto dentro quanto fora da escola. Isso incluidesenvolver a autonomia como princípiopedagógico – argumentar, pensar, formularhipóteses, fazer escolhas, justificar –, sercrítico e responsável pelo que faz ou pensa(MACEDO, 1999). Inclui ainda a capacidadede aplicar os conhecimentos adquiri<strong>do</strong>s,com propostas de intervenção na realidade,trocan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> estuda<strong>do</strong> em aula poroutros, pertinentes e adapta<strong>do</strong>s aos problemasreais da vida em sociedade, tais comodesenvolver estratégias para resolver conflitos,saber cooperar, saber viver com normas,conviver e interagir na diversidade cultural.B - Competências gerais da áreaAlém dessas três competências transversais, aárea de Ciências Humanas articula competênciasgerais relativas a três diferentes eixos: Representaçãoe Comunicação, Investigação e Compreensãoe Contextualização Sociocultural 10 .1) Eixo representaçãoe comunicaçãoEste eixo relaciona-se com as linguagens,entendidas como instrumentos de produção desenti<strong>do</strong> para as formulações <strong>do</strong> intelecto humano,e faz referências às formas de acesso, organizaçãoe sistematização de conhecimentos.10Registre-se que os Referenciais Curriculares da Área de Ciências Humanas <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul assumem, para toda a educação básica, os trêsconjuntos de competências também propostos pelos PCN+, à luz das suas inter-relações com as competências de Ler, Escrever e Resolver Problemas.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 42 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


Os PCN+ propõem, para a área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias, que esteeixo se manifeste, nas disciplinas que a compõem,através da competênica de “entendera importância das tecnologias contemporâneasde comunicação e informação paraplanejamento, gestão, organização e fortalecimento<strong>do</strong> trabalho de equipe” 11 . Esta competênciaoportuniza aos educan<strong>do</strong>s:(a) processar e comunicar diferentes informaçõese conhecimentos;(b) desenvolver a habilidade de comunicação(oral, escrita, gráfica, pictórica, etc.);(c) desenvolver atitudes e valores que reconheçama importância da ação coletivapara a construção <strong>do</strong> conhecimento; e(d) situar-se socialmente, valorizan<strong>do</strong> suasproduções e a de outros, enquanto construçãodas identidades sociais.2) Eixo investigação ecompreensãoEste eixo relaciona-se com os diferentesprocedimentos, méto<strong>do</strong>s, conceitos e conhecimentosque são mobiliza<strong>do</strong>s nos processosde intervenção no real <strong>12</strong> .Nele, estão implicadas três competênciasgerais da área de Ciências Humanas:(1) compreender os elementos cognitivos,afetivos, sociais e culturais que constituem aidentidade própria e a <strong>do</strong>s outros;(2) compreender a sociedade, sua gênese etransformação, e os múltiplos fatores que nelaintervêm, como produtos da ação humana; asi mesmo como agente social; e os processossociais como orienta<strong>do</strong>res da dinâmica <strong>do</strong>s diferentesgrupos de indivíduos; e(3) entender os princípios das tecnologiasassociadas ao conhecimento <strong>do</strong> indivíduo, dasociedade e da cultura, entre os quais os deplanejamento, organização, gestão, trabalhode equipe, e associá-los aos problemas quese propõe resolver.3) Eixo contextualizaçãosocioculturalContextualizar social ou historicamente osconhecimentos refere-se à diversidade, portanto,à constituição <strong>do</strong>s diferentes significa<strong>do</strong>sque ações e saberes de ordem variada podemassumir em diversos contextos sociais 13 .A transposição <strong>do</strong> eixo “contextualizaçãosociocultural” para a área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias, segun<strong>do</strong> osPCN+, ocorre no ensino básico através de:(1) compreender o desenvolvimento da sociedadecomo processo de ocupação de espaçosfísicos e das relações da vida humanacom a paisagem, em seus des<strong>do</strong>bramentospolíticos, culturais, econômicos e humanos;(2) compreender a produção e o papel históricodas instituições sociais, políticas e econômicas,associan<strong>do</strong>-as às práticas <strong>do</strong>s diferentesgrupos e atores sociais, aos princípiosque regulam a convivência em sociedade,aos direitos e deveres da cidadania, à justiçae à distribuição <strong>do</strong>s benefícios econômicos;(3) traduzir os conhecimentos sobre apessoa, a sociedade, a economia, as práticassociais e culturais em condutas de indagação,análise, problematização e protagonismodiante de situações novas, problemasou questões da vida pessoal, social, política,econômica e cultural;(4) entender o impacto das tecnologiasassociadas às Ciências Humanas sobre suavida pessoal, os processos de produção, odesenvolvimento <strong>do</strong> conhecimento e a vidasocial; e(5) aplicar as tecnologias das Ciências Humanase Sociais na escola, no trabalho e emoutros contextos relevantes para sua vida 14 .O quadro a seguir apresenta a correlaçãoentre essas competências gerais, osconceitos estruturantes e as habilidades específicasda área de Ciências Humanas esuas Tecnologias.434311PCN+, Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, 2002: 28.<strong>12</strong>Conferir a este respeito as definições contidas nos PCNEM, 1999, p. 296.13PCNEM, 1999, p. 296.14Cf. PCN+, 2002: 30-31.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 43 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:<strong>45</strong>


ÁREA CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS44EIXOS DECOMPETÊNCIASCONCEITOSESTRUTURANTESHABILIDADES 15Representação ecomunicação1. Entender a importânciadas tecnologiascontemporâneasde comunicação einformação paraplanejamento,gestão, organização efortalecimento <strong>do</strong> trabalhode equipe.Investigação ecompreensão1. Compreender oselementos cognitivos,afetivos, sociais eculturais que constituem aidentidade própria e a <strong>do</strong>soutros.2. Compreender asociedade, sua gênesee transformação, e osmúltiplos fatores quenela intervêm comoprodutos da açãohumana; a si mesmocomo agente social; e osprocessos sociais comoorienta<strong>do</strong>res da dinâmica<strong>do</strong>s diferentes grupos deindivíduos.3. Entender osprincípios dastecnologias associadasao conhecimento <strong>do</strong>indivíduo, da sociedadee da cultura, entre asquais as de planejamento,organização, gestão,trabalho de equipe,• Relações Sociais• Identidade• Ética• Cultura• Trabalho• Poder• Dominação• Espaço- Interpretar historicamente fontes <strong>do</strong>cumentais denatureza diversa.- Analisar a produção da memória e <strong>do</strong> espaçogeográfico pelas sociedades humanas.- Associar as manifestações culturais <strong>do</strong> presente aosseus processos históricos.- Comparar pontos de vista expressos em diferentesfontes sobre um determina<strong>do</strong> aspecto da cultura.- Valorizar a diversidade <strong>do</strong> patrimônio culturale artístico, identifican<strong>do</strong> suas manifestações erepresentações em diferentes sociedades.- Interpretar diferentes representações <strong>do</strong> espaçogeográfico e <strong>do</strong>s diferentes aspectos da sociedade.- Identificar os significa<strong>do</strong>s históricos das relações depoder entre as nações.- Analisar os processos de transformação histórica eseus determinantes principais.- Comparar o significa<strong>do</strong> histórico da constituição<strong>do</strong>s diferentes espaços.- Reconhecer a dinâmica da organização <strong>do</strong>smovimentos sociais e a importância da participaçãoda coletividade na transformação da realidadehistórico-geográfica.- Identificar diferentes representações cartográficas deum mesmo espaço geográfico.- Analisar o papel <strong>do</strong>s recursos naturais na produção<strong>do</strong> espaço geográfico, relacionan<strong>do</strong> transformaçõesnaturais e intervenção humana.- Correlacionar a dinâmica <strong>do</strong>s fluxos populacionais ea organização <strong>do</strong> espaço geográfico.- Correlacionar textos analíticos e interpretativossobre diferentes processos histórico-geográficos.- Confrontar formas de interações culturais,sociais, econômicas, ambientais, em diferentescircunstâncias históricas.- Identificar registros em diferentes práticas <strong>do</strong>sdiferentes grupos sociais no tempo e no espaço.- Analisar o papel <strong>do</strong> direito (civil e internacional) naestruturação e organização das sociedades.- Analisar a ação das instituições no enfrentamentode problemas de ordem econômico-social.- Comparar diferentes pontos de vista sobresituações ou fatos de natureza histórico-geográfica,identifican<strong>do</strong> os pressupostos de cada interpretaçãoe analisan<strong>do</strong> a validade <strong>do</strong>s argumentos utiliza<strong>do</strong>s.- Reconhecer alternativas de intervenção em conflitossociais e crises institucionais que respeitem os15A base utilizada para a seleção de habilidades é a matriz de competências e habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias, realizadapelo Instituto Nacional de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas Educacionais – INEP, Diretoria de Avaliação para Certificação de Competências, Exame Nacional deCertificação de Competências de Jovens e Adultos – ENCCEJA – 2002.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 44 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:46


46EIXOS DECOMPETÊNCIASassociadas às CiênciasHumanas sobre suavida pessoal, osprocessos de produção,o desenvolvimento <strong>do</strong>conhecimento e a vidasocial.5. Aplicar as tecnologiasdas Ciências Humanase Sociais na escola, notrabalho e em outroscontextos relevantes parasua vida.CONCEITOSESTRUTURANTESHABILIDADESnas relações da vida social e no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho.- Relacionar alternativas para enfrentar situaçõesdecorrentes da introdução de novas tecnologias nosetor produtivo e na vida cotidiana, respeitan<strong>do</strong> osvalores humanos e a diversidade sociocultural.- Identificar os instrumentos para ordenar os eventoshistóricos, relacionan<strong>do</strong>-os a fatores geográficos,sociais, econômicos, políticos e culturais.- Analisar as interferências ocorridas em diferentesgrupos sociais, consideran<strong>do</strong> as permanências outransformações ocorridas.- Interpretar realidades histórico-geográficas, a partirde conhecimentos sobre economia, as práticassociais e culturais.- Confrontar as diferentes escalas espaço/temporais apartir de realidades históricas e geográficas.- Posicionar-se criticamente sobre os processos detransformações políticas, econômicas, culturais esociais.II- Interdisciplinaridadee contextualização nasCiências HumanasA relevância <strong>do</strong> desenvolvimento de competênciasna educação básica exige que aaprendizagem seja interdisciplinar e contextualizada.A compreensão <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s e acapacidade de relacionar a teoria com aprática em todas as disciplinas <strong>do</strong> currículo(artigos 32, 35 e 36 da LDB) são <strong>do</strong>is marca<strong>do</strong>resimportantes que apontam para o fatode que o objetivo da educação básica nãoé formar “pequenos cientistas ou filósofos”,dedica<strong>do</strong>s ao conhecimento puro, tal comoé produzi<strong>do</strong> pela academia, mas um conhecimentoem ação, que ganha senti<strong>do</strong> por suarelação com a cultura próxima <strong>do</strong> aluno.Assim, a interdisciplinaridade e a contextualizaçãosão recursos fundamentais pararealizar a transposição didática, pois convertemo conhecimento acadêmico em objetode ensino, selecionam e recortam os conteú<strong>do</strong>sde acor<strong>do</strong> com a proposta pedagógica.Portanto, para propiciar a aprendizagem decompetências, é preciso identificar os recursosdidáticos mais relevantes a serem utiliza<strong>do</strong>s,contextualizan<strong>do</strong> seus conteú<strong>do</strong>s.a) InterdisciplinaridadeA respeito de interdisciplinaridade, <strong>do</strong>cumentosoficiais (PCN) apresentam:“Na perspectiva escolar, a interdisciplinaridade(...) é utilizar os conhecimentos de várias disciplinaspara resolver um problema concreto ou compreenderum determina<strong>do</strong> fenômeno sob diferentes pontosde vista. Em suma, a interdisciplinaridade tem umafunção instrumental. Trata-se de recorrer a um saberdiretamente útil e utilizável para responder às questõese aos problemas sociais contemporâneos” (PC-NEM, 1999: 22).“Um trabalho interdisciplinar, antes de garantirassociação temática entre diferentes disciplinas– ação possível, mas não imprescindível–, deve buscar unidade em termos de prática<strong>do</strong>cente, ou seja, independentemente <strong>do</strong>s temas/assuntostrata<strong>do</strong>s em cada disciplina isoladamente.(...) Em nossa proposta, essa prática<strong>do</strong>cente comum está centrada no trabalho permanentementevolta<strong>do</strong> para o desenvolvimentode competências e habilidades, apoia<strong>do</strong> naassociação ensino-pesquisa e no trabalho comdiferentes fontes expressas em diferentes linguagens,que comportam diferentes interpretaçõessobre temas/assuntos trata<strong>do</strong>s em aula.Portanto, esses são fatores que dão unidade aotrabalho das diferentes disciplinas, e não a associaçãodas mesmas em torno de temas supostamentecomuns a todas elas” ( PCN+, 2002).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 46 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:46


Logo, na educação básica, é recurso aser utiliza<strong>do</strong> para favorecer interconexões entreos conhecimentos através de relações decomplementaridade, convergência e divergência.O mun<strong>do</strong> e seus problemas são complexos,mas o conhecimento que se constróia partir dele não pode ser fragmenta<strong>do</strong>.As atividades interdisciplinares, desde queas condições institucionais o permitam, podemser também um fator motiva<strong>do</strong>r dasaprendizagens. Para isso, é preciso selecionartemas ou problemas próximos à vida dacomunidade, relaciona<strong>do</strong>s com os acontecimentos<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> contemporâneo ou presentesnos noticiários, e a eles agregar conhecimentose desafios como ponto de partidapara a abertura investigativa, que ultrapasseo senso comum e os contextos mais imediatos.O objetivo em vista é tornar a aprendizagemsignificativa para os educan<strong>do</strong>s atravésda integração das disciplinas, uma vez que omun<strong>do</strong> e seus problemas raramente são apenasdisciplinares.b) ContextualizaçãoQuan<strong>do</strong> se fala em contextualização, fala-seem estratégias necessárias para a construçãode significa<strong>do</strong>s. Literalmente, contextualizaré remeter uma referência a um texto,entenden<strong>do</strong> que, sem essa remissão, o textoperde parte substancial de seu significa<strong>do</strong>.Em sala de aula, isso pressupõe que, paratornar os conteú<strong>do</strong>s disciplinares significativospara os educan<strong>do</strong>s, é preciso que sejamremeti<strong>do</strong>s aos seus contextos.Os contextos podem ser compreendi<strong>do</strong>spelo menos em <strong>do</strong>is senti<strong>do</strong>s. No primeirosenti<strong>do</strong>, chama<strong>do</strong> de hermenêutico 16 , contextualizaré remeter um texto ou um conceitoà obra ou teoria <strong>do</strong> qual ele faz parte, aoseu contexto histórico e social e até mesmoao contexto biográfico <strong>do</strong> seu autor. Nestesenti<strong>do</strong>, contextualizar é dar significa<strong>do</strong> aostextos a partir de uma remissão às condiçõesque lhe deram origem. Por exemplo, paratornar significativo um conceito da filosofiapolítica de Maquiavel, é importante remeteresse conceito ao contexto social e políticodas repúblicas italianas <strong>do</strong> Renascimento ou,então, ao debate filosófico da época.Num segun<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>, chama<strong>do</strong> de sociocultural,contextualizar é tornar o tema próximoda realidade <strong>do</strong> aluno, tanto de sua práticasocial quanto de sua cultura e história.O trabalho com situações-problema reais dacomunidade ou localidade <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s éum bom exemplo dessa acepção, que exige oentendimento dessa situação também em umcontexto mais amplo. Em ambos os casos,o objetivo da contextualização é possibilitarque o aluno vivencie o conhecimento comoalgo relevante e, portanto, significativo.III- Estratégias paraa ação <strong>do</strong>centePara que o aluno desenvolva as competênciasesperadas ao final de cada etapa <strong>do</strong>ensino básico na área de Ciências Humanase suas Tecnologias, o espaço <strong>do</strong> trabalho escolarprecisa ser ocupa<strong>do</strong> por procedimentosdidáticos orienta<strong>do</strong>s para a construção<strong>do</strong> encontro entre conceitos e competências.Para tanto, faz-se necessário que a ação <strong>do</strong>professor se dê em função da provocação emediação <strong>do</strong>s processos de construção deconhecimentos e capacidades pelo educan<strong>do</strong>.O professor instiga o questionamento, adiscussão, a pesquisa, isto é, provoca; eletambém intervém constantemente nesse processo,encaminhan<strong>do</strong>-o na direção <strong>do</strong>s objetivospropostos, isto é, faz mediação. Este<strong>do</strong>cumento entende que tais objetivos podemser alcança<strong>do</strong>s no âmbito de atividades centradasna resolução de problemas.Desenvolver competências no aluno implicatambém um perfil de professor. Para Meirieu(1998, 2005), uma das competências básicas<strong>do</strong> professor é saber propor boas estratégiasde aprendizagem. Isso, conforme o autor, é474716O termo “hermenêutica” significa que alguma coisa é “tornada compreensível” ou “levada à compreensão”; a hermenêutica é a ciência dainterpretação <strong>do</strong>s textos.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 47 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:46


48ReferênciasBAUMAN, Zygmunt. A Modernidade Líquida. Rio deJaneiro: Jorge Zahar Ed., 2001.BRASIL, Ministério da Educação. PCN: introdução aosparâmetros curriculares nacionais. Brasília: Secretariade Educação Fundamental, 1997.______. Parâmetros Curriculares Nacionais: História.5 a a 8 a Séries. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental,1998.______. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensinomédio. PCNEM. Brasília: Secretaria de EducaçãoMédia e Tecnologia (Semtec/MEC), 1999.______. PCN+ ensino médio: Orientações Educacionaiscomplementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais.Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília:Ministério da Educação/Secretaria de EducaçãoMédia e Tecnológica, 2002.______. Orientações Curriculares para o ensino médio,Volume 3 Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília:Secretaria de Educação Básica, 2006.CASTILLO, Jesus D. A Solução de Problemas nos Estu<strong>do</strong>sSociais. IN: J. I. POZO, (Org). A Solução de Problemas.Aprender a resolver, resolver para aprender.Porto Alegre: Artmed, 1998.saber trabalhar com situações-problema.Por isso, propõe-se que as atividades aserem formuladas aos alunos sejam contextualizadas,interdisciplinares e partam desituações-problema, tais como dilemas, para<strong>do</strong>xos,projetos, estu<strong>do</strong>s de caso, pesquisas,saídas de campo, tribunais, assembleiase outras dinâmicas pedagógicas que mobilizemcompetências de uma maneira significativa.Há, ainda, o uso de seminários, pesquisasbibliográficas, o uso de música, poesia,literatura, jornais e filmes para contextualizaro tema a ser desenvolvi<strong>do</strong>. Atividades comesse perfil possibilitam o desenvolvimento daautonomia <strong>do</strong>s alunos, mobilizan<strong>do</strong> instrumentosde análise, conceitos e diferentes esquemasde pensamento e competências.Outro aspecto a ressaltar é a questão daavaliação. Um procedimento avaliativo consisteno processo regula<strong>do</strong>r das aprendizagens,orienta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> percurso escolar e certifica<strong>do</strong>rdas diversas aquisições realizadaspelos alunos. A avaliação visa à aferição deconhecimentos, competências e habilidades.Portanto, precisa ser constituída de atividadesmediante as quais sejam avaliadas não apenasas aquisições cognitivas, mas também ascompetências alcançadas.ConclusãoO objetivo da área é desenvolver a tradução<strong>do</strong> conhecimento das Ciências Humanasem consciências críticas e criativas, capazesde gerar respostas adequadas a problemasatuais e a situações novas. Nesse senti<strong>do</strong>, étarefa das Ciências Humanas o desenvolvimentode competências e habilidades necessáriaspara o exercício da cidadania, ou seja,que possibilitem compreender a sociedadena qual se vive, construir a si próprio comoagente social, avaliar criticamente o senti<strong>do</strong><strong>do</strong>s processos sociais, usar as tecnologias associadasà área de Ciências Humanas e sustentarsua opiniões com base em argumentosconsistentes, que superem o senso comum.Os aspectos orienta<strong>do</strong>res da área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias são complementa<strong>do</strong>spelos Referenciais específicosde cada disciplina, nos quais são apresenta<strong>do</strong>sos conceitos estrutura<strong>do</strong>res e as competênciasespecíficas de História, Geografia,Filosofia e Sociologia.INEP – Instituto Nacional de Estu<strong>do</strong>s e Pesquisas Educacionais,Diretoria de Avaliação para Certificação deCompetências, Exame Nacional de Certificação deCompetências de Jovens e Adultos – ENCCEJA – Matrizde Competências e Habilidades de Ciências Humanase suas Tecnologias, 2002.MACEDO, L. Competências e Habilidades: Elementospara uma reflexão pedagógica. Seminário. ENEM, 1999.______. Situações-problema: forma e recurso de avaliação,desenvolvimento de competências e aprendizagemescolar. IN: P. Perrenoud; M. G. Thurler; L. Mace<strong>do</strong>;N. J. Macha<strong>do</strong>; C. D. Allessandrini (Orgs). Ascompetências para ensinar no século XXI: A formaçãode professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre:Artmed, 2002, p.113-135.MEIRIEU, P. Aprender... Sim, mas como? Porto Alegre:Artmed, 1998.______. O cotidiano da Escola e da sala de aula: Ofazer e o compreender. Porto Alegre, Artmed, 2005.POZO, J. I. (Org). A Solução de Problemas. Aprender a resolver,resolver para aprender. Porto Alegre: Artmed, 1998.ROJAS, Carlos Antonio A. Tempo, Duração e Civilização.Percursos braudelianos. São Paulo: Cortez, 2001.SANTOS, M. A natureza <strong>do</strong> espaço: técnica e tempo,razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1999.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 48 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:47


José Rivair Mace<strong>do</strong><strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 49 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:48


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IntroduçãoO conhecimento histórico é imprescindívelpara que os indivíduos tomem consciência<strong>do</strong> lugar que ocupam na sociedade, e a reflexãocrítica sobre as múltiplas relações entrepassa<strong>do</strong> e presente deve orientar a práticadidático-pedagógica da disciplina de História.Seu principal objetivo no ensino fundamentale no ensino médio é a ampliação daconsciência a respeito da realidade de cadaindivíduo, a partir <strong>do</strong> confronto com outrasrealidades históricas.O presente <strong>do</strong>cumento apresenta diretrizese orientações sobre o saber histórico escolar.Seus pressupostos encontram-se nosParâmetros Curriculares Nacionais, <strong>do</strong> ensinofundamental e <strong>do</strong> ensino médio, e nos ReferenciaisCurriculares da Área de Ciências Humanase suas Tecnologias, da Secretaria deEducação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul.Aqui, a História é tratada em sua especificidade,como disciplina escolar, e não comodisciplina acadêmica, e suas preocupaçõesdizem respeito aos objetivos, perspectivas eméto<strong>do</strong>s relaciona<strong>do</strong>s àquilo que se podedenominar de “cultura escolar” 1 .Parte-se <strong>do</strong> princípio de que a História,enquanto “passa<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>”, não se altera nasdiferentes séries e ciclos <strong>do</strong> ensino básico. Opassa<strong>do</strong> enquanto passa<strong>do</strong> é o mesmo, maso que se modifica é a maneira de compreender,organizar e interpretar os fatos, contextose processos históricos. A proposta é queo conhecimento histórico seja organiza<strong>do</strong> apartir de conceitos estruturantes. Os conteú<strong>do</strong>sserão seleciona<strong>do</strong>s em diferentes grausde complexidade e profundidade, permitin<strong>do</strong>que os alunos possam, ao longo <strong>do</strong> ensinobásico, desenvolver competências e habilidadesa partir deles. O que se propõe é um gradativoaprofundamento no tratamento <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s, assim como nas competências ehabilidades a serem desenvolvidas.Trata-se a seguir de expor as vinculações<strong>do</strong> saber histórico escolar com as competênciastransversais <strong>do</strong>s Referenciais Curricularesda Educação Básica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande<strong>do</strong> Sul para a Área de Ciências Humanase suas Tecnologias, relacionadas com o Ler,Escrever e Resolver problemas, vinculan<strong>do</strong>-asaos três eixos fundamentais ou conjuntosde competências que lhe são próprios: oda Representação e comunicação; da Investigaçãoe compreensão; da Contextualizaçãosociocultural.I – A disciplina de HistóriaA palavra história pode ser entendida detrês maneiras diferentes e complementares:1) como a totalidade <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>, deto<strong>do</strong>s os acontecimentos (políticos, sociais,econômicos e culturais) ocorri<strong>do</strong>s ao longo<strong>do</strong> tempo; 2) como o conhecimento possívela respeito destas vivências e experiências <strong>do</strong>sseres humanos, obti<strong>do</strong> por meio de pesquisa;3) como a reflexão crítica sobre o conhecimento<strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e as tendências de estu<strong>do</strong><strong>do</strong>s historia<strong>do</strong>res.A totalidade <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> é tão ampla quemuito dificilmente poderia ser apreendida.Por isso, tanto o saber histórico acadêmicoquanto o saber histórico escolar tendem a serseletivos. Resultam de opções teóricas, meto<strong>do</strong>lógicas,ou de escolhas pessoais daquelesque se dedicam ao estu<strong>do</strong>, à pesquisa e aoensino. Por isto é que o conhecimento históricoestá sempre sujeito a revisões e abertoaos avanços proporciona<strong>do</strong>s por novas interpretaçõese descobertas. Nas palavras <strong>do</strong>historia<strong>do</strong>r Leandro Karnal:“Existe o passa<strong>do</strong>. Porém, quem recorta, escolhe,dimensiona e narra este passa<strong>do</strong> é um homem<strong>do</strong> presente. Assim, uma vez produzi<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> textohistórico torna-se ele mesmo objeto de história, poispassa a representar a visão de um indivíduo sobre opassa<strong>do</strong>...A representação <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> e <strong>do</strong> que consideramosimportante representar é um processo de1Para a caracterização <strong>do</strong> lugar da história ensinada no âmbito da cultura escolar, ver o artigo de Oldimar CARDOSO: “Para uma definição deDidática da História”. Revista Brasileira de História, vol. 28, nº 55, 2008, p. 153-170.5151<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 51 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


52constante mudança. Se a memória muda sobre fatosconcretos e protagoniza<strong>do</strong>s por nós, também mudapara fatos mais amplos. A história está envolvida emum fazer orgânico. É viva e mutável” 2 .Presente nos currículos escolares desde aformação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Nacionais contemporâneos,no século XIX, o saber histórico escolardesempenha papel importante na formaçãode uma memória coletiva vinculadaao Esta<strong>do</strong> e aos grupos de poder que o controlam.Veículo de identidade e de memória,esse saber nunca é neutro, nem desinteressa<strong>do</strong>.Em torno de sua enunciação e de suadefinição, gravitam diferentes sujeitos e seproduzem diferentes senti<strong>do</strong>s para o políticoe para o social. Assim, estrutura<strong>do</strong> a partirda narração de grandes eventos, funda<strong>do</strong>rese paradigmáticos <strong>do</strong> sentimento patriótico,o ensino da História brasileira confundia-secom a evolução político-institucional <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong>,e a própria divisão convencional de suastrês partes constitutivas (Colônia, Império eRepública) sugere essa vinculação com a esferapolítica.No Brasil, a História já aparecia como conteú<strong>do</strong>sugeri<strong>do</strong> para desenvolver as práticasde leitura <strong>do</strong>s estudantes logo após a criação<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> monárquico, em 1827, por determinação<strong>do</strong> Decreto das Escolas de PrimeirasLetras. Tornou-se disciplina autônoma em1838, por ocasião da criação <strong>do</strong> ColégioPedro II, instituição oficial de ensino públicoassocia<strong>do</strong> ao Instituto Histórico e GeográficoBrasileiro e ao Arquivo Público <strong>do</strong> Império.Desde então, sobre seu ensino incidiram diretamenteas influências <strong>do</strong> contexto políticonacional – monárquico ou republicano –, jáque a atribuição à História da capacidade deformar consciências nunca passou despercebidadas instituições de poder 3 .Ao longo <strong>do</strong> século XX, a essa História imbuídade caráter cívico foi associa<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong>da evolução da humanidade, compreendi<strong>do</strong>a partir de uma percepção eminentementeetnocêntrica, calcada numa rígida seleçãode conteú<strong>do</strong>s que apontava a evolução <strong>do</strong>spovos e nações, ten<strong>do</strong> por centro a Europa,desde a Antiguidade, a Idade Média, a IdadeModerna e a Idade Contemporânea.Entretanto, desde mea<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s anos 1980,passou a haver certo consenso entre historia<strong>do</strong>res,pedagogos, professores e políticaseducacionais a respeito <strong>do</strong>s limites inerentesao modelo <strong>do</strong> saber histórico factual ede sua vinculação a uma postura meramentereprodutora, passiva. Não há dúvida queos caminhos da História ensinada devam serbaliza<strong>do</strong>s por um conhecimento crítico, criativo,dinâmico, e para tal não basta a revisão<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s. É necessária uma mudançade atitude na prática pedagógica e uma revisão<strong>do</strong>s procedimentos da aprendizagem 4 .Referência para os Esta<strong>do</strong>s Nacionais, a Históriapode tornar-se também uma referênciapara as sociedades e um instrumento paraa cidadania. Sobre esse papel forma<strong>do</strong>r dadisciplina, diz a pesquisa<strong>do</strong>ra Selva GuimarãesFonseca:“A proposta de meto<strong>do</strong>logia <strong>do</strong> ensino de Históriaque valoriza a problematização, a análise críticada realidade, concebe alunos e professores comosujeitos que produzem História e conhecimento emsala de aula. Logo, são pessoas, sujeitos históricos,que cotidianamente atuam, transformam, lutam e resistemnos diversos espaços de vivência: em casa,no trabalho, na escola, etc... Esta concepção de ensinoe aprendizagem facilita a revisão <strong>do</strong> conceitode cidadania abstrata, pois ela nem é algo apenasherda<strong>do</strong> via nacionalidade, nem liga-se a um únicocaminho de transformação política. Ao contrário derestringir a condição de cidadão a de mero trabalha<strong>do</strong>re consumi<strong>do</strong>r, a cidadania possui um caráterhumano e construtivo, em condições concretas deexistência” 5 .Não obstante, haverá de se levar em contaas especificidades <strong>do</strong> saber histórico escolar2Leandro KARNAL. “Introdução”. In: Leadro KARNAL (org). História na sala de aula: conceitos, práticas e propostas. São Paulo: Ed. Contexto, 2003,p. 7-8.3A esse respeito, ver Manoel Luís Salga<strong>do</strong> GUIMARÃES. “Nação e civilização nos trópicos. O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e o projeto deuma história nacional”. Estu<strong>do</strong>s Históricos (RJ), n. 1, 1988, p. 5-27; Circe Maria Fernandes BITTENCOURT. Pátria, civilização e trabalho: o ensino dehistória nas escolas paulistas, 1917-1930. São Paulo: Loyola, 1990.4Para as primeiras discussões nesse senti<strong>do</strong>, ver Jaime PINSKY. O ensino de história e a criação <strong>do</strong> fato – Edição revista e atualizada. São Paulo: Ed.Contexto, <strong>2009</strong>; Marcos Antonio da SILVA (org). Repensan<strong>do</strong> a história. São Paulo: Marco Zero/ANPUH, 1984.5Selva Guimarães FONSECA. “O ensino de história e a construção da cidadania”. In: Fernan<strong>do</strong> SEFFNER; José Alberto BALDISSERA (orgs). Qualensino, qual história, qual cidadania?. Porto Alegre: ANPUH/Ed. Unisinos, 1997, p. 18.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 52 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


enquanto campo <strong>do</strong> conhecimento e sua fundamentaçãodidático-pedagógica. Nesta tarefa,compete aos professores oferecer condiçõespara que os alunos possam interferirdiretamente na elaboração <strong>do</strong> conhecimentopossível a respeito <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>: 1) oferecen<strong>do</strong>-lheos meios necessários para que a Históriaseja compreendida como representação<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, e não como o passa<strong>do</strong> em si;2) extrain<strong>do</strong> as informações relativas ao passa<strong>do</strong>de testemunhos históricos (sonoros; escritos;iconográficos), bem como de estu<strong>do</strong>se interpretações históricas; 3) apontan<strong>do</strong> astensões, divergências e contradições que seapresentam ao longo <strong>do</strong> processo de elaboração<strong>do</strong> conhecimento, de acor<strong>do</strong> com asleituras e interpretações sobre o passa<strong>do</strong> esua vinculação com o contexto atual.II – Como ensinar História?Nas atividades práticas em salas de aula<strong>do</strong>s ensinos fundamental e médio, na escolha<strong>do</strong>s materiais a serem emprega<strong>do</strong>s e naseleção <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s, é preciso não perderde vista a relação estreita <strong>do</strong> ensino de Históriacom o desenvolvimento de competênciase habilidades específicas da área de CiênciasHumanas e suas Tecnologias.Para o saber histórico escolar, os três eixosfundamentais forma<strong>do</strong>s a partir <strong>do</strong>s conjuntosde competências de ler, escrever eresolver problemas deverão ser toma<strong>do</strong>scomo propostas nortea<strong>do</strong>ras da elaboração<strong>do</strong> conhecimento. Essas são competênciasfundamentais, transversais a to<strong>do</strong> o processode desenvolvimento de habilidades. Segun<strong>do</strong>os Referenciais Curriculares <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul – Área de Ciências Humanase suas Tecnologias:“A competência é um guia melhor para educarpara a vida <strong>do</strong> que os conteú<strong>do</strong>s isoladamente, poisa velocidade das mudanças pode tornar rapidamentedesatualizadas muitas informações. Já a competência,uma vez adquirida, possibilita o enfrentamentode situações inéditas com autonomia e proficiência,e viabiliza a aprendizagem de forma continuada aologo de toda a vida”.A competência se caracteriza como a capacidadede mobilizar conhecimentos, valores,decisões para agir de mo<strong>do</strong> pertinentenuma determinada situação-problema. Namedida em que o saber histórico escolar supõeescolhas, saber efetuar recortes, formularou reformular problemas, eleger temas dediscussão e pesquisa e saber articular informaçõese conceitos são habilidades imprescindíveisna atividade didático-pedagógica.Ensinar a ler e a formar leitores é uma dasfunções essenciais <strong>do</strong> ensino básico. Parao saber histórico escolar, ensinar a ler significapreparar os alunos para as diferentesdimensões de leitura que se apresentam nareapropriação de da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>. A compreensãodas realidades passadas dependeda leitura em primeiro lugar <strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentoshistóricos. E também da leitura de interpretaçõesformuladas sobre o passa<strong>do</strong> por escritores,historia<strong>do</strong>res e cientistas sociais. Pormeio da leitura, espera-se que o aluno sejainstiga<strong>do</strong> a se posicionar criticamente, a argumentar,duvidar, indagar, enfim, problematizara reflexão sobre o conteú<strong>do</strong> e interagircom o tema.Para a leitura, é preciso estabelecer umadistinção de valor entre fontes primárias ereferências bibliográficas. As primeiras resultamda experiência <strong>do</strong>s sujeitos históricos e,nessa condição, informam diretamente sobreos acontecimentos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, fornecen<strong>do</strong>da<strong>do</strong>s brutos que precisam ser seleciona<strong>do</strong>s,analisa<strong>do</strong>s, avalia<strong>do</strong>s. As outras constitueminterpretações sobre o passa<strong>do</strong>. São obrasde caráter historiográfico, o resulta<strong>do</strong> depesquisas que estão sujeitas a confirmação,questionamento, revisão, e crítica. Além disso,a leitura poderá dizer respeito não apenasa textos escritos, mas a outras formas delinguagem – como a visual e a sonora.O ato de escrever ou reescrever textosexige que sejam desenvolvidas diversas habilidadesde compreensão, interpretação eexpressão. Ao realizar atividades que desenvolvamessa competência, os alunos estarãotambém amplian<strong>do</strong> a competência leitorae de resolução de problemas, encontran<strong>do</strong>5353<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 53 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


54condições de organizar seus conhecimentos e,no caso específico da História, de se posicionarcriticamente em relação às diferentes realidadestemporais trabalhadas na disciplina.Enfim, no âmbito <strong>do</strong> saber histórico escolar,a ação pedagógica de resolver problemasimplica pôr em prática diversas operaçõesde análise relacional, comparativa. Essasanálises serão qualitativas, quan<strong>do</strong> o objetivofor compreender, avaliar e interpretartextos narrativos. Mas também poderão serquantitativas, quan<strong>do</strong> as informações estiveremexpressas em da<strong>do</strong>s numéricos de quadrose tabelas das tendências sociais e econômicas,por exemplo. Aqui, espera-se queeles possam detectar proporções, aumentose recuos das tendências estudadas.Além dessas competências transversais,será preciso considerar as competênciasespecíficas da área de Ciências Humanas,que se desenvolvem em torno de três eixosprincipais: Representação e Comunicação;Investigação e Compreensão; ContextualizaçãoSociocultural, conforme estabelecem osParâmetros Curriculares Nacionais.Representação e comunicação estão diretamenteligadas ao mo<strong>do</strong> de compreendere interpretar a realidade que se apresentaaos nossos olhos. Trata-se de saber processare comunicar diferentes informações e conhecimentos,entenden<strong>do</strong> a importância das tecnologiascontemporâneas de comunicação einformação. Nesse aspecto, seria inclusive ocaso de insistir na importância a ser dada aosrecursos disponíveis na internet e nos cuida<strong>do</strong>snecessários para o uso adequa<strong>do</strong> dessaferramenta de pesquisa. A grande capacidadede armazenamento de informações obrigaos educa<strong>do</strong>res a repensarem seu papelcomo forma<strong>do</strong>res e orienta<strong>do</strong>res, porque, naera da tecnologia digital, a disponibilizaçãovirtual de da<strong>do</strong>s exige cada vez mais que sesaiba avaliar, selecionar e organizar criticamenteas evidências <strong>do</strong>cumentais e referênciasbibliográficas sobre os mais varia<strong>do</strong>stemas de estu<strong>do</strong>.Quanto ao eixo Investigação e compreensão,é fundamental que sejam ofereci<strong>do</strong>srecursos que capacitem o aluno a pensarhistoricamente. É preciso superar o tipo deensino eminentemente reprodutor, pronto eacaba<strong>do</strong>, e investir em ações didático-pedagógicascriativas, dinâmicas, questiona<strong>do</strong>ras,desafia<strong>do</strong>ras. Para a compreensão <strong>do</strong>sfenômenos sociais e culturais em sua historicidade,é necessário que os alunos exercitempráticas que desenvolvam habilidades (identificar,descrever, caracterizar, ordenar as informações)e que culminem em competênciascomo a atitude crítica e metódica. Outrashabilidades e/ou competências pretendidase desejáveis, como comparação e análise,dependem diretamente <strong>do</strong>s conceitos postosa sua disposição para estu<strong>do</strong>.Nas aulas de História, conceitos tão frequentementeutiliza<strong>do</strong>s, como o de “guerra”,por exemplo, não deverão ser emprega<strong>do</strong>sdescola<strong>do</strong>s de realidades históricas específicas.Será preciso considerar as formas própriasde combate (infantaria na Grécia e emRoma; cavalaria na Idade Média, artilharia),as táticas e estratégias utilizadas em diferentescontextos bélicos, a dimensão política,econômica e cultural e as implicações sociais<strong>do</strong>s conflitos em diferentes épocas e sociedades.Os mesmos cuida<strong>do</strong>s com a buscada especificidade, da historicidade, deverãoacompanhar o uso de tantos outros conceitoshabitualmente presentes na análise dehistoria<strong>do</strong>res e cientistas sociais. O melhor éevitar generalizações como Esta<strong>do</strong>, Nação,Revolução, Classe ou Democracia, e a<strong>do</strong>tarconceitos mais precisos e historicamente data<strong>do</strong>scomo Esta<strong>do</strong> Absolutista no século XVIIou Esta<strong>do</strong>-Nação no século XIX, Revoluçãofrancesa ou Revolução Russa, classe operáriaou classe média, democracia atenienseou democracia americana.Das competências gerais da área de CiênciasHumanas, aquela que está mais diretamentevinculada às preocupações <strong>do</strong> saberhistórico escolar diz respeito à Contextualizaçãosociocultural. É próprio da históriabuscar compreender o desenvolvimento dasociedade a partir das relações sociais, políticas,culturais e econômicas. A historicidade<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 54 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


<strong>do</strong>s fenômenos humanos depende <strong>do</strong> quantose possa compreender as noções de duraçãoe os diferentes ritmos da dinâmica histórica.Para que o conhecimento seja desenvolvi<strong>do</strong>a partir de um ponto de vista relacional,conceitual, as operações de análise (identificação,interpretação, associação, comparação)deverão promover o entrecruzamentode da<strong>do</strong>s, temas e conteú<strong>do</strong>s históricos seleciona<strong>do</strong>s,como, por exemplo, a questão dareligiosidade popular e sincretismo na Europamedieval, na América Latina e no Brasil; oproblema da industrialização na Europa, naÁfrica e na América; o impacto das migraçõesna História; as diferentes formas e representaçõesdas nações e repúblicas nos séculosXIX e XX. Considera-se que o conhecimentonasce da comparação e da confrontação detextos e registros históricos, de mo<strong>do</strong> que sepossam perceber as uniformidades, regularidadese variações na duração temporal <strong>do</strong>passa<strong>do</strong> e sua relação com o presente.Deste mo<strong>do</strong>, na passagem <strong>do</strong> tempo, recortadapor inumeráveis ações cuja importânciaserá maior ou menor de acor<strong>do</strong> como significa<strong>do</strong> que lhe atribuirmos, é possívelidentificar:* Fatos, eventos ou acontecimentos,que podem ser políticos (quan<strong>do</strong> estiveremliga<strong>do</strong>s às ações que digam respeito às instituições<strong>do</strong> governo de uma coletividade),sociais (quan<strong>do</strong> estiverem liga<strong>do</strong>s às açõesde indivíduos ou grupos que constituem umacoletividade) ou econômicos (quan<strong>do</strong> estiveremliga<strong>do</strong>s à produção ou distribuição dariqueza produzida numa dada sociedade).Os fatos resultam de ações individuais oucoletivas que transcorrem no cotidiano, e seusignifica<strong>do</strong> será maior ou menor de acor<strong>do</strong>com o peso que vierem a ter nos destinos detoda a coletividade, inclusive no significa<strong>do</strong>que venham a ter no momento em que estiveremsen<strong>do</strong> relembra<strong>do</strong>s pelo saber históricoescolar.* Conjunturas ou contextos, que podemtambém ser políticos, sociais ou econômicos.São conceitos emprega<strong>do</strong>s para designar oconjunto de fatos ocorri<strong>do</strong>s num certo lugar (cidade,país, continente) e numa certa duração(ano, década, no máximo, século). Na análiseda conjuntura o que se deve observar é a maneiracomo as várias partes ou fatos se combinam,ligan<strong>do</strong>-se ou opon<strong>do</strong>-se, resultan<strong>do</strong> emsituações gerais relativamente estáveis quan<strong>do</strong>compara<strong>do</strong>s aos fatos individuais.* Estruturas ou sistemas, que podem serpolíticos, sociais, econômicos e culturais. Sãoconceitos emprega<strong>do</strong>s para designar a formapela qual as diferentes partes ou elementos dasociedade estão organiza<strong>do</strong>s, liga<strong>do</strong>s, interagin<strong>do</strong>entre si. O conceito designa, ao mesmotempo: a) to<strong>do</strong> o conjunto de fatos e conjunturas;b) cada uma das partes deste conjunto;c) as relações destas partes entre si 6 .* Processos históricos são sequências defatos inter-relaciona<strong>do</strong>s por uma relação decausalidade (interferências mútuas, causais)ou finalidade. Este relacionamento é assinala<strong>do</strong>pelas lutas políticas e sociais, pelosconflitos de interesses, pela vitória ou derrota<strong>do</strong>s diferentes agentes históricos. Ao consideraros processos históricos, verificaremos quea história é dinâmica, marcada por avançosou recuos, dependen<strong>do</strong> da ação <strong>do</strong>s gruposhumanos que nela atuam. Ao buscar compreenderesses processos, os alunos serãoestimula<strong>do</strong>s a interagir com os fatos e conjunturas,estabelecen<strong>do</strong> um permanente diálogoentre passa<strong>do</strong> e presente.Na aplicação desses conceitos, a análisedeverá ser realizada a partir de pelo menos<strong>do</strong>is pares de oposição:Semelhanças/diferenças: Neste caso, oconfronto entre da<strong>do</strong>s relativos ao passa<strong>do</strong>(testemunhos históricos; historiografia) comda<strong>do</strong>s da realidade social <strong>do</strong>s alunos seráobserva<strong>do</strong> a partir daquilo que os assemelhae daquilo que os distingue. Através dessacomparação, desenvolve-se a capacidadede identificar, selecionar e organizar aquiloque, no passa<strong>do</strong> ou no presente, apresentaou não traços comuns.55556Para a definição desses conceitos: Nadir Domingues MENDONÇA. Uma questão de interdisciplinaridade: o uso <strong>do</strong>s conceitos. Petrópolis: Ed. Vozes,1985.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 55 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


56Transformação/permanência: Nesse caso,a partir da observação das ligações, interações,trocas, semelhanças ou diferenças, o que sepretende é detectar as descontinuidades oucontinuidades <strong>do</strong>s fenômenos em perspectivatemporal diacrônica.Pensa<strong>do</strong>s desta maneira, os fatos, contextosou estruturas deixam de ser vistos por simesmos, mas passam a se subordinar às indagaçõese aos questionamentos formula<strong>do</strong>spor professores e alunos, tornan<strong>do</strong>-se parteintegrante <strong>do</strong> processo de aprendizagem.III – Conceitos estruturantesNos <strong>do</strong>is níveis de ensino da educação básica,o objetivo fundamental é preparar os alunospara a vida, qualifican<strong>do</strong>-os para a cidadania ecapacitan<strong>do</strong>-os para o aprendiza<strong>do</strong> permanentee autônomo. Com esse fim, o que se esperaé que o próprio processo de aprendizagem lhespossibilite experiências em que possam atuar eparticipar diretamente, como produtores de conhecimento.Para isso, as experiências de salade aula precisam ser suficientemente criativase dinâmicas, de mo<strong>do</strong> a retirá-los de uma posiçãoeminentemente passiva no processo deelaboração <strong>do</strong> conhecimento.Também é preciso insistir no aspecto interdicisplinardas áreas de conhecimento queintegram o currículo, e no desejável diálogoentre campos <strong>do</strong> conhecimento como a Literatura,a Sociologia, a Geografia e a Filosofia.O que está aqui em pauta não é a meraaproximação, justaposição ou colagem deconteú<strong>do</strong>s, mas a aproximação entre pontose elementos comuns e o distanciamento deaspectos que são próprios de cada um <strong>do</strong>scampos envolvi<strong>do</strong>s na análise, por um viéseminentemente analítico, conceitual.Para superar o alinhamento artificial <strong>do</strong>s<strong>do</strong>centes dessas disciplinas, é preciso promoveruma transformação da própria culturaescolar, sem deixar de considerar as condiçõesintelectuais e materiais <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong>sprofessores, e não se passará <strong>do</strong> plano dasintenções, se não houver o compromissocom a formação continuada e o entendimento<strong>do</strong>s fundamentos básicos das áreas <strong>do</strong>saber que se pretende integrar. Sem isso, asações multidisciplinares poderão resultar nadiluição da História nos espaços de outrasdisciplinas, resultan<strong>do</strong> em um somatório deconceitos e conteú<strong>do</strong>s emaranha<strong>do</strong>s aleatoriamente,incapazes de formar senti<strong>do</strong> paraos estudantes.Os conceitos são ferramentas imprescindíveispara o fazer histórico em sala de aula.Por seu intermédio, professores e alunos encontrammeios para sintetizar ideias, articulare reagrupar os da<strong>do</strong>s inerentes à realidadesocial. Sua definição prévia e sua problematizaçãoé que deverão determinar a eleiçãode temas a serem estuda<strong>do</strong>s e a seleção <strong>do</strong>sseus respectivos conteú<strong>do</strong>s.Convém ressaltar, entretanto, que os conceitossomente podem ser entendi<strong>do</strong>s em suahistoricidade. Quer dizer que eles devem seremprega<strong>do</strong>s para explicar certas realidades<strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, mas não podem ser aplica<strong>do</strong>sindistintamente, como modelos a toda equalquer situação semelhante, sob pena deincorrer em anacronismos. É preciso semprecircunscrevê-los a realidades espaciais e temporaisbem precisas. No momento em queos conceitos são contextualiza<strong>do</strong>s, ganhammaior concretude histórica. Assim, em vez deuma categoria mais geral, como “trabalho”,é preferível refletir sobre as particularidades<strong>do</strong> “trabalho escravo”, <strong>do</strong> “trabalho servil”ou <strong>do</strong> “trabalho assalaria<strong>do</strong>” 7 .Tempo: O tempo situa-se como umanoção-chave para o saber histórico escolar.Embora o tempo cronológico continue aser uma referência para a organização <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s sobre o passa<strong>do</strong>, é a percepção dasmúltiplas dimensões <strong>do</strong> tempo histórico queprecisa ser ressaltada na análise <strong>do</strong>s fenômenossociais, econômicos, políticos, culturais.Que esse tempo histórico não seja linear,nem homogêneo, é algo que foi claramente7Holien Gonçalves BEZERRA. “Ensino de história: conteú<strong>do</strong>s e conceitos básicos”. In: Leadro KARNAL (org). História na sala de aula: conceitos, práticase propostas. São Paulo: Ed. Contexto, 2003, p. 46-47.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 56 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


proposto por Fernand Braudel, em seu célebreestu<strong>do</strong> sobre a noção de “longa duração”. Aotempo breve e acelera<strong>do</strong> <strong>do</strong>s eventos na esfera<strong>do</strong> político, deve-se acrescentar o tempomédio das conjunturas (aquele em queas mudanças não se sucedem em ritmo rápi<strong>do</strong>,e que deixa entrever visões de conjuntomais amplas) e também o tempo lento, quaseimóvel mesmo, das estruturas e da paisagemgeográfica – marca<strong>do</strong> pela extrema lentidão,pelas resistências, pelas continuidades 8 .Compreender as dinâmicas <strong>do</strong> tempohistórico exige que se leve em conta as diferentesinstâncias e ritmos em que se dãoessas variadas ingerências das forças sociaise das relações econômicas e culturais. Implicacompreender os fatos históricos e seussujeitos dentro <strong>do</strong> tempo imediato de suasações, <strong>do</strong> tempo médio <strong>do</strong>s contextos sociaise políticos e <strong>do</strong> tempo longo das estruturaseconômicas, culturais e mesmo das atitudesmentais. Implica pensar a História comocenário de múltiplas possibilidades que seapresentam nos fenômenos humanos.Poder: As múltiplas formas pelas quais ossujeitos se constituem, se organizam e se relacionamnas formações sociais ao longo daHistória estão ligadas ao exercício <strong>do</strong> poder.As relações de poder permeiam as ações <strong>do</strong>ssujeitos históricos e seu exercício manifestaseem diversas instâncias da vida privada ouda vida pública (família, escola, fábrica), sobretu<strong>do</strong>nas relações político-institucionais.Através dessas instâncias é que se estabelecemrelações de <strong>do</strong>minação, hegemonia,dependência, submissão e resistência. Oestu<strong>do</strong> da História poderá contribuir para acompreensão da natureza mutável das organizaçõespolíticas, a constituição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>sNacionais e de órgãos de representação internacional,as formas de organização política,as guerras, revoltas e revoluções.Cidadania: A atuação <strong>do</strong>s indivíduosjunto aos órgãos de representação de suacomunidade, a consciência social queorienta a ação desses indivíduos como sujeitoshistóricos e a percepção da dimensãocoletiva <strong>do</strong>s fenômenos humanos conferempapel de primeiro plano ao conceitode cidadania. Neste particular, mostra-sesempre necessária a reflexão sobre as lutassociais e movimentos organiza<strong>do</strong>s para aaquisição de direitos civis por parte das camadaspopulares, das minorias religiosas,étnicas, sexuais e etárias, consideran<strong>do</strong> asespecificidades históricas <strong>do</strong>s contextos emque ocorreram 9 .Trabalho: A produção das condições materiaisda existência está ligada à capacidadede transformação da natureza a partir <strong>do</strong> esforçomental ou físico despendi<strong>do</strong> pelos sereshumanos. As alterações observadas na paisagem(natural, rural, urbana), o emprego <strong>do</strong>srecursos naturais ou industriais, o desenvolvimentode artefatos, técnicas e processos detransformação ao longo da História são partesconstitutivas da dimensão conceitual e histórica<strong>do</strong> trabalho. Interessa também identificaros níveis das relações de trabalho, no âmbito<strong>do</strong>méstico, comunitário, priva<strong>do</strong> ou público, ecomo as sociedades estruturaram em diferentesépocas as relações de trabalho (escravo,livre, servil; assalaria<strong>do</strong>, informal ou formal)e as divisões <strong>do</strong> trabalho (braçal, técnico ouintelectual; artesanal ou industrial).Cultura: Ao la<strong>do</strong> das instituições políticase das formas de organização social e econômica,as criações culturais ocupam lugarde relevo na História da humanidade. Nelas,estão conti<strong>do</strong>s os sentimentos, as formas desociabilidade, a representação da realidadenas diferentes sociedades e nas diferentestemporalidades, a construção de senti<strong>do</strong>scompartilha<strong>do</strong>s pelos diferentes grupos (sociais,sexuais, etários, étnicos, nacionais, religiosos,regionais, etc.). A vida material nãoestá separada <strong>do</strong>s sistemas simbólicos, <strong>do</strong>shábitos e costumes (de vestuário, alimentares),<strong>do</strong>s rituais e festividades, <strong>do</strong> lazer eda diversão, pelos quais as coletividades expressamsuas visões de mun<strong>do</strong>. Para o saberhistórico escolar, interessa avaliar as formas57578Fernand BRAUDEL. “História e ciências sociais: a longa duração”. In: IDEM. Escritos sobre a história. São Paulo: Ed. Pespectiva, 1978, p. <strong>41</strong>-77.9BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. 5ª. a 8ª. Séries. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998,p. 72.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 57 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


58pelas quais se operam as identidades culturais,as trocas, relações e influências entre osgrupos humanos.Identidade: A busca da dimensão histórica<strong>do</strong> conceito de identidade pode revelar-sepromissora em sala de aula. Os sentimentosde pertencimento produzi<strong>do</strong>s pelas relaçõesfamiliares, escolares, étnicas, culturais, religiosas,regionais, nacionais ou sociais criamvalores compartilha<strong>do</strong>s pelos indivíduos epelos grupos, que os aproximam. Essa proximidade,por outro la<strong>do</strong>, é construída e medidaa partir de critérios de diferenciação emrelação ao diverso, ao diferente, ao “outro”.Ao avaliar as determinações históricas presentesem conceitos como os de “racismo”,“patriotismo” e “regionalismo”, professores ealunos poderão testar suas próprias convicçõese pontos de vista em relação aos integrantesde outras sociedades. Terão a oportunidadede discutir aspectos fundamentaispara o exercício da cidadania, como o dediversidade cultural, multiculturalismo, etnocentrismo,discriminação, segregação e preconceito10 .O quadro a seguir apresenta algumascorrelações entre as competências gerais daárea de Ciências Humanas e suas Tecnologiase os conceitos estruturantes e habilidadesespecíficas da disciplina de História.EIXOS DECOMPETÊNCIASCONCEITOSESTRUTURANTESHISTÓRIAHABILIDADESRepresentação ecomunicação1. Entender a importânciadas tecnologias contemporâneasde comunicaçãoe informação para planejamento,gestão, organizaçãoe fortalecimento <strong>do</strong>trabalho em equipe• Trabalho• Poder• Cidadania1. Identificar o papel <strong>do</strong>s diferentes meios de comunicaçãona construção da cidadania e da democracia.2. Identificar e interpretar formas de registro das novastecnologias na organização <strong>do</strong> trabalho e da vida sociale pessoal.3. Identificar e interpretar registros sobre as formas detrabalho em diferentes contextos históricos, relacionan<strong>do</strong>-osà produção humana.4. Analisar as formas de circulação da informação, dariqueza e <strong>do</strong>s produtos em diferentes momentos da História.5. Comparar diferentes processos de produção e suasimplicações sociais e espaciais.6. Identificar vantagens e desvantagens <strong>do</strong> conhecimentotécnico e tecnológico produzi<strong>do</strong> pelas diversassociedades em diferentes circunstâncias históricas.10Para os conceitos de identidade e cultura, ver Martha ABREU & Raquel SOIHET (org). Ensino de história: conceitos, temáticas e meto<strong>do</strong>logia. Rio deJaneiro: Casa da Palavra, 2003.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 58 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


HISTÓRIAEIXOS DECOMPETÊNCIASCONCEITOSESTRUTURANTESHABILIDADES5959Investigação ecompreensão1. Compreender os elementoscognitivos, afetivos,sociais e culturais queconstituem a identidadeprópria e a <strong>do</strong>s outros.2. Compreender a sociedade,sua gênese e transformação,e os múltiplosfatores que nela intervêmcomo produtos da açãohumana; a si mesmocomo agente social; e osprocessos sociais comoorienta<strong>do</strong>res da dinâmica<strong>do</strong>s diferentes grupos deindivíduos.3. Entender os princípiosdas tecnologias associadasao conhecimento <strong>do</strong>indivíduo, da sociedade eda cultura, entre os quaisos de planejamento, organização,gestão, trabalhoem equipe, e associá-losaos problemas que se propõeresolver.EIXOS DECOMPETÊNCIASContextualizaçãosociocultural1. Compreender o desenvolvimentoda sociedadecomo processo de ocupaçãode espaços físicos edas relações da vida humanacom a paisagem,em seus des<strong>do</strong>bramentospolíticos, culturais, econômicose humanos.2. Compreender a produçãoe o papel histórico dasinstituições sociais, políticase econômicas, associan<strong>do</strong>-asàs práticas <strong>do</strong>sdiferentes grupos e atores• TempoCONCEITOSESTRUTURANTES• Trabalho• Poder• Cultura1. Associar as manifestações culturais <strong>do</strong> presente aosseus processos históricos.2. Comparar pontos de vista expressos em diferentesfontes sobre um determina<strong>do</strong> aspecto da cultura.3. Valorizar a diversidade <strong>do</strong> patrimônio cultural e artístico,identifican<strong>do</strong> suas manifestações e representaçõesem diferentes sociedades.4. Analisar os processos de transformação histórica eseus determinantes principais.5. Confrontar formas de interações culturais, sociais,econômicas, ambientais, em diferentes circunstânciashistóricas.6. Comparar diferentes pontos de vista sobre situaçõesou fatos de natureza histórica, identifican<strong>do</strong> os pressupostosde cada interpretação e analisan<strong>do</strong> a validade<strong>do</strong>s argumentos utiliza<strong>do</strong>s.HABILIDADES1. Associar as manifestações culturais <strong>do</strong> presente aosseus processos históricos.2. Comparar o significa<strong>do</strong> histórico da constituição <strong>do</strong>sdiferentes espaços.3. Confrontar formas de interações culturais, sociais,econômicas, ambientais, em diferentes circunstânciashistóricas.4. Identificar registros em diferentes práticas <strong>do</strong>s diferentesgrupos sociais no tempo e no espaço.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 59 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


60EIXOS DECOMPETÊNCIASsociais, aos princípios queregulam a convivência emsociedade, aos direitos edeveres da cidadania, àjustiça e à distribuição <strong>do</strong>sbenefícios econômicos.3. Traduzir os conhecimentossobre a pessoa, asociedade, a economia,as práticas sociais e culturaisem condutas de indagação,análise, problematizaçãoe protagonismodiante de situações novas,problemas ou questões davida pessoal, social, política,econômica e cultural.4. Entender o impacto dastecnologias associadas àsCiências Humanas sobresua vida pessoal, os processosde produção, o desenvolvimento<strong>do</strong> conhecimentoe a vida social.5. Aplicar as tecnologiasdas Ciências Humanas esociais na escola, no trabalhoe em outros contextosrelevantes para suavida.CONCEITOSESTRUTURANTESHABILIDADESIV – Eixos temáticos eseleção de conteú<strong>do</strong>sO presente <strong>do</strong>cumento parte <strong>do</strong> princípiode que os conteú<strong>do</strong>s a serem ensina<strong>do</strong>s nãosão um fim em si mesmo, mas meios parase alcançar objetivos previamente estabeleci<strong>do</strong>s.Esses objetivos, por sua vez, vinculam-seàs competências e habilidades anteriormenteapontadas, e nesse caminho é que eles deverãoser seleciona<strong>do</strong>s.A partir <strong>do</strong> que estabelecem os ParâmetrosCurriculares Nacionais <strong>do</strong>s ensinos fundamentale médio para a disciplina de História,não é plausível e nem aconselhávelpensar em organizar e selecionar o conteú<strong>do</strong>programático a partir de uma perspectivacronológica e linear, visto ser impossívele desnecessário retratar toda a História dahumanidade. Primeiro porque não faz parte<strong>do</strong>s objetivos da educação básica formar historia<strong>do</strong>res,depois porque, em geral, a perspectivacronológica e linear induz à memorizaçãoe repetição, e não à compreensão.Ao enfatizar o desenvolvimento de competênciase habilidades, os conteú<strong>do</strong>s passama ser encara<strong>do</strong>s como meios para levaros alunos a refletir, analisar e compararinformações <strong>do</strong>s diversos contextos históricose geográficos, de mo<strong>do</strong> a confrontaras realidades sociais que se apresentam notempo histórico. Isso não quer dizer que osfatos e perío<strong>do</strong>s convencionais tenham deser despreza<strong>do</strong>s e muito menos aban<strong>do</strong>na<strong>do</strong>s,apenas deixam de ser concebi<strong>do</strong>s<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 60 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


como da<strong>do</strong>s brutos, prontos e acaba<strong>do</strong>s,e passam a ser trata<strong>do</strong>s em sua especificidade,de acor<strong>do</strong> com indagações quepossam vir a se tornar significativas para acompreensão da realidade social de que osalunos fazem parte.Para realizar o estu<strong>do</strong> da História, éfundamental compreender e utilizar as noçõesbásicas de duração e temporalidade.A partir das referências cronológicas,aprendemos a contar, medir e nos localizartempo. Ao longo das atividades, seráimportante trabalhar com as marcaçõestemporais utilizadas com maior frequênciapelos historia<strong>do</strong>res, expressas em geralem dias, meses, anos, décadas, séculose milênios, e sempre que possível estimularos alunos a preparar linhas de tempo.Esse é um bom ponto de partida para aorganização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s e informações históricas,mas não deve ser considera<strong>do</strong> fimem si mesmo.Ao trabalhar com a questão da passagem<strong>do</strong> trabalho escravo para o trabalho assalaria<strong>do</strong>no Brasil da segunda metade <strong>do</strong>século XIX, por exemplo, pretende-se que oaluno desenvolva as competências de contextualizarhistoricamente diferentes formasde organização social <strong>do</strong> trabalho, investigare compreender mudanças sociais ocorridasem nível conjuntural, refletin<strong>do</strong> e comparan<strong>do</strong>da<strong>do</strong>s, debaten<strong>do</strong> pontos de vista erealizan<strong>do</strong> sínteses e conclusões. Quan<strong>do</strong> omesmo tema vier a ser estuda<strong>do</strong> em outrocontexto histórico, surgirão boas possibilidadesde aproximação ou distinção conceitual.A comparação entre o processo de transiçãoda mão de obra escrava no Brasil (com osmovimentos de resistência <strong>do</strong>s escravos, omovimento abolicionista, a legislação antiescravocratae o movimento republicano) ea abolição da escravidão nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s(com o processo de independência, aConstituição, a Guerra Civil e o processode Reconstrução <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Sul, com oaparecimento <strong>do</strong> racismo e da Ku Klux Klan)permitirá que os alunos exercitem sua capacidadede compreensão, análise e reflexãocrítica.O fim de seleção de conteú<strong>do</strong>s por ordemcronológica e por periodização colocao problema crucial de saber o que deveorientar a organização <strong>do</strong>s conhecimentoshistóricos. De acor<strong>do</strong> com os ParâmetrosCurriculares Nacionais da área de História11 , os <strong>do</strong>is eixos transversais considera<strong>do</strong>sfundamentais são as categorias de trabalhoe cidadania. O primeiro, porque organizae dá significa<strong>do</strong> aos processos dinâmicos <strong>do</strong>fazer e da organização social e econômicaem diferentes tempos, espaços e condiçõessociais, e o segun<strong>do</strong>, porque se colocacomo axial na constituição da consciênciasocial <strong>do</strong>s sujeitos e dá suporte à noçãode participação social e política no mun<strong>do</strong>contemporâneo.Para o saber histórico escolar promovi<strong>do</strong>no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, abrem-se assim possibilidadesque podem redimensionar o papelda escola como lugar privilegia<strong>do</strong> de reflexãocrítica e de transformação social. Nesse caso,conviria afastar de imediato as opções cômodasde reorganização curricular pelo viés <strong>do</strong>sparticularismos locais e regionais, que poucocontribuiriam para o esclarecimento das especificidadesda sociedade rio-grandense, alémde fechar o circuito das complexas relaçõesespaciais e temporais em âmbito nacional,continental, hemisférico, e no âmbito das múltiplascontribuições de grupos étnicos e sociaisque lhe deram e lhe dão forma.Caberá aos professores avaliar que experiênciashistóricas vivenciadas no Rio Grande<strong>do</strong> Sul podem vir a ser tomadas como paradigmáticas(a partir <strong>do</strong>s atores nela envolvi<strong>do</strong>s;de seu impacto na sociedade) e confrontadascom experiências outras <strong>do</strong> Brasil e<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, no presente e no passa<strong>do</strong>. Partir<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong>, daquilo que é prenhe de significa<strong>do</strong>spara os sujeitos <strong>do</strong>s processos histó-616111BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: História. 5ª a 8ª Séries. Brasília: Secretaria de Educação Fundamental, 1998.; BRASIL,Ministério da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensino médio PCN+ – Orientações complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais –Ciências Humanas e suas Tecnologias. Brasília: DF: MEC – Secretaria de Educação Média e Tecnológica, 2002.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 61 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:49


62ricos e os sujeitos envolvi<strong>do</strong>s no processo deaprendizagem, é o caminho proposto paraa busca de um conhecimento renova<strong>do</strong>, noqual os fatos não falem por si, mas participemefetivamente <strong>do</strong> necessário diálogo como nosso tempo.De acor<strong>do</strong> com os Parâmetros CurricularesNacionais, para as 5ª e 6ª séries <strong>do</strong> ensinofundamental, é imprescindível que sejam proporcionadasaos alunos condições que lhespermitam desenvolver reflexões de caráter históricoa partir de realidades sociais concretas,próximas. Eles deverão partir de reflexões desuas vivências cotidianas e confrontá-las cominformações sobre mo<strong>do</strong>s de vida de diferentesépocas e realidades sociais.O eixo temático proposto para este ciclogira em torno da “História das relaçõessociais, da cultura e <strong>do</strong> trabalho”. Os estu<strong>do</strong>sdeverão enfatizar as relações entre arealidade histórica brasileira, a história daAmérica, da Europa, da África e de outraspartes <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, e caberá ao professor selecionaros conteú<strong>do</strong>s que melhor explicitem asdiferentes formas pelas quais os seres humanosse relacionam com a natureza (através<strong>do</strong> trabalho, da cultura material, da exploraçãoeconômica e das condições materiaisde subsistência) e se organizam em torno dasatividades sociais e políticas (no espaço <strong>do</strong>mésticoe no espaço público; em profissões,atividades e papéis sociais).Nas 7ª e 8ª séries <strong>do</strong> ensino fundamental,o eixo temático diz respeito à “História dasrepresentações e das relações de poder”.Trata-se de uma problemática cujos temaspodem ser aborda<strong>do</strong>s a partir de perspectivasmais gerais e teóricas, embora continue a serrecomendável partir de estu<strong>do</strong>s de realidadesconcretas e próximas da vivência <strong>do</strong>s alunos.A partir <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> de eventos e conjunturasespecíficas, o que se pretende é problematizaras relações sociais a partir <strong>do</strong>s conceitosestruturantes de poder, identidade e cidadania,a partir da História <strong>do</strong> Brasil e em relaçãocom a História <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, com destaquepara a constituição <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Nacionais eas formas de expressão da cidadania ao longoda História.A partir dessas orientações gerais, propõe-sea seguir um quadro de ReferenciaisCurriculares que deverão ser pensa<strong>do</strong>s, organiza<strong>do</strong>s,adapta<strong>do</strong>s e reorganiza<strong>do</strong>s peloprofessor, de acor<strong>do</strong> com o projeto pedagógicoda escola ou <strong>do</strong> local em que a escolaestá inserida. A intenção é apenas oferecerelementos gerais para a constituição de umsaber histórico escolar minimamente equilibra<strong>do</strong>e articula<strong>do</strong> com as proposições geraisem âmbito nacional:DISCIPLINA DE HISTÓRIA – SUGESTÕES DE CONTEÚDOSEnsino fundamentalANOCONCEITOS/TEMASESTRUTURANTESCOMPETÊNCIAS/HABILIDADESSUGESTÕES DECONTEÚDO5ª série• Trabalho• Cultura1. Identificar as singularidades de diferentescontextos históricos.2. Comparar diferentes dimensõestemporais, a partir de da<strong>do</strong>s da realidadelocal e regional.3. Perceber as mudanças e permanênciasem diferentes épocas.4. Perceber as relações entre sociedade,cultura e natureza, em diferentesmomentos da História.1. Os indígenas, primeiros povoa<strong>do</strong>res<strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul.2. A ocupação <strong>do</strong> espaço territorial <strong>do</strong>Rio Grande <strong>do</strong> Sul: séculos XVIII-XIX.3. As missões e o processo de cristianizaçãono sul da América portuguesa.4. As migrações e a formação histórica<strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul e <strong>do</strong> Brasil: séculosXVIII-XIX5. Campo, cidade e alterações da paisagemna história brasileira.6. Industrialização e desenvolvimento urbanono Rio Grande <strong>do</strong> Sul e no Brasil.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 62 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:50


ANO6ª sérieCONCEITOS/TEMASESTRUTURANTES• Trabalho• PoderCOMPETÊNCIAS/HABILIDADES1. Confrontar informações sobre asdistintas formas de organização <strong>do</strong>trabalho em diferentes épocas e sociedades.2. Refletir sobre as continuidades erupturas nas formas de relacionamento<strong>do</strong>s seres humanos com oambiente natural.3. Identificar os processos dinâmicose contraditórios de organização daprodução econômica e das relaçõessociais no Brasil e no mun<strong>do</strong>.SUGESTÕES DECONTEÚDO1. Escravidão e liberdade nas sociedadesantigas e nas sociedades modernas.2. Oficinas e trabalho artesanal no mun<strong>do</strong>feudal e no mun<strong>do</strong> capitalista.3. Comércio, colônia e exploração econômicano Brasil e na América: séculosXVI-XVIII.4. Divisão social <strong>do</strong> trabalho e industrializaçãona Europa, América e Brasil.6363ANOCONCEITOS/TEMASESTRUTURANTESCOMPETÊNCIAS/HABILIDADESSUGESTÕES DECONTEÚDO7ª sérieANO8ª série• Cidadania• PoderCONCEITOS/TEMASESTRUTURANTES• Trabalho• Poder1. Compreender a dimensão históricadas instituições políticas e relaçõesde poder contemporâneas.2. Identificar as semelhanças e diferençasentre formas políticas deEsta<strong>do</strong> (monarquias, repúblicas, teocracias)e tipos de governo (democracias,ditaduras).3. Comparar os fundamentos das<strong>do</strong>utrinas políticas e movimentos políticoscontemporâneos.4. Confrontar os conceitos de cidadaniae de participação em diferentescontextos históricos <strong>do</strong> Brasil e <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>.COMPETÊNCIAS/HABILIDADES1. Pesquisar as diferentes formas decomunicação social e seus respectivoscontextos.2. Comparar informações sobre oprocesso de constituição e desenvolvimento<strong>do</strong> capitalismo no Brasil, naAmérica e na Europa.3. Interpretar textos e <strong>do</strong>cumentossobre as condições sociais <strong>do</strong> trabalhono passa<strong>do</strong> e no presente.4. Contextualizar as manifestaçõesculturais, estabelecen<strong>do</strong> as relaçõesentre comunicação de massa, capitalismoe sociedade de consumo.5. Relacionar o consumo de benssimbólicos (arte, formas de entretenimento,moda) com a sociedadecapitalista contemporânea.1. As revoluções liberais e a invenção dademocracia: Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s e França,século XVIII.2. A formação <strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s Nacionais noBrasil e na América Latina: século XIX.3. Revoltas e contestações regionais naformação <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> brasileiro. Estu<strong>do</strong>sde caso. O movimento farroupilha.4. Cidadania, democracia e a Repúblicabrasileira.5. Ascensão e queda <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> socialista:século XX.SUGESTÕES DECONTEÚDO1. A dinâmica <strong>do</strong> capitalismo e a globalização(capitalismo mercantil e capitalismoindustrial; capitalismo monopolista;globalização e liberalismo).2. Trabalho, tecnologia e robotização nasociedade industrial.3. A sociedade de consumo e o merca<strong>do</strong>de bens simbólicos (história das formasde entretenimento, <strong>do</strong>s esportes e <strong>do</strong>sespetáculos; história da moda e <strong>do</strong> consumoindustrial).4. Cinema, rádio e televisão como meiosde comunicação de massa.5. História da informática e da redemundial de computa<strong>do</strong>res.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 63 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:50


ANOCONCEITOS/TEMASESTRUTURANTESCOMPETÊNCIAS/HABILIDADES3ª série • Poder• Cidadania• Identidade1. Identificar as transformações epermanências históricas provocadaspelos movimentos sociais, consideran<strong>do</strong>as especificidades <strong>do</strong>s contextosem que ocorreram.2. Estudar os processos de aquisiçãode direitos sociais e políticos degrupos étnicos, sexuais e etários nosEsta<strong>do</strong>s contemporâneos.3. Refletir sobre as tensões sociais epolíticas nos processos de constituição<strong>do</strong>s Esta<strong>do</strong>s e nações.SUGESTÕES DECONTEÚDO1. Os fundamentos políticos da cidadaniae os direitos humanos: séculos XIX-XX.2. O movimento operário e o mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>trabalho na Europa e na América.3. Os camponeses, o mun<strong>do</strong> rural e aquestão da terra no Brasil e na AméricaLatina.4. Esta<strong>do</strong>, diversidade étnica e racismo.5. História das mulheres e das relaçõesde gênero.6. História <strong>do</strong>s movimentos culturais dejuventude (organizações estudantis; gruposjuvenis; movimentos musicais e culturais,como o rock, o rap e o reggae).6565V - Estratégiaspara a ação <strong>do</strong>centee avaliaçãoOs procedimentos didáticos que envolvema aprendizagem devem ser orienta<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong>ao desenvolvimento de um conhecimentocrítico, reflexivo, que desenvolva competênciasa partir <strong>do</strong> uso das habilidades específicasantes mencionadas.Dentre as competências gerais da áreade Ciências Humanas e suas Tecnologias,aquela que está mais diretamente vinculadaaos procedimentos específicos da análisehistórica é a Contextualização sociocultural.Saber articular da<strong>do</strong>s e informações àsdiferentes instâncias temporais e atribuir-lhessignifica<strong>do</strong> é uma competência de grandepotencial formativo.Para a disciplina de História, o trabalhocom <strong>do</strong>cumentação primária mostra-se crucial,porque isso dá aos alunos a oportunidadede participar diretamente na elaboraçãode conhecimento a respeito <strong>do</strong> passa<strong>do</strong> edesenvolver as habilidades de organização,análise e reflexão.É bem sabi<strong>do</strong> o quanto, ao longo <strong>do</strong> séculoXX, o conceito de <strong>do</strong>cumento históricofoi sen<strong>do</strong> amplia<strong>do</strong> e problematiza<strong>do</strong>. Além<strong>do</strong>s <strong>do</strong>cumentos oficiais escritos (certidões,trata<strong>do</strong>s políticos, processos judiciais, testamentos),os registros diretos <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>passaram a dizer respeito a todas as instâncias<strong>do</strong> cotidiano (cartas pessoais, diáriose cadernos de anotação, poesias, letras demúsicas, grafites e inscrições) e a todas asformas de manifestação das atividades humanas.Ruas, praças, prédios públicos, templose monumentos são testemunhos vivosda cultura material das sociedades e contêmregistros precisos das criações sociais e culturais.Além disso, os <strong>do</strong>cumentos poderãoser orais, sonoros (tradição oral, música) eiconográficos (pinturas em papel, tela ouparede; imagens fixas, como a fotografia;imagens em movimento, como a televisão eo cinema) <strong>12</strong> .De mo<strong>do</strong> geral, os conhecimentos históricostornar-se-ão significativos para os alunosquan<strong>do</strong> estiverem relaciona<strong>do</strong>s na prática ouem teoria às suas vivências e inserções históricas.Por essa razão, é fundamental que aolongo das séries de estu<strong>do</strong> aprendam e aprimorema capacidade de reconhecer costumes,<strong>12</strong>Carla PINSKY (org). Fontes históricas. São Paulo: Editora Contexto, 2005; Maria <strong>do</strong> Pilar A. VIEIRA. A pesquisa em história (Série princípios). SãoPaulo: Editora Ática, 1989.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 65 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:50


66valores e crenças de outros povos e de outrasépocas; que consigam distinguir as formas detrabalho e de comunicação, as técnicas e astecnologias de diferentes contextos históricos;que possam reconhecer que os senti<strong>do</strong>s e ossignifica<strong>do</strong>s para os acontecimentos históricose cotidianos estão relaciona<strong>do</strong>s com a formaçãosocial e intelectual <strong>do</strong>s indivíduos e comas possibilidades e os limites construí<strong>do</strong>s nasconsciências <strong>do</strong>s grupos sociais, sexuais, étnicose etários.O papel <strong>do</strong> professor deixa de ser o demero transmissor de informações e conteú<strong>do</strong>s.É preciso considerar que vivemos numasociedade marcada pela altíssima capacidadede processar, armazenar e distribuir informaçõesem tempo real, através de meioseletrônicos e digitais. Nessa sociedade informatizada,aos educa<strong>do</strong>res, está reserva<strong>do</strong> opapel imprescindível de seleção, organizaçãoe interpretação das informações, condiçãoessencial para a inserção social <strong>do</strong>sindivíduos.Faz parte <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> professor saberestruturar uma proposta coerente de trabalhocom a realidade social na qual a escolaem que atua está inserida, diagnosticar o queos alunos sabem e pensam sobre o tema deestu<strong>do</strong>, definir propostas de ensino, elencare escolher atividades pedagógicas adequadase material didático pertinente para cadasituação. Essas escolhas devem estar subordinadasa objetivos claramente estabeleci<strong>do</strong>se articula<strong>do</strong>s com as vivências próprias <strong>do</strong>meio de que faz parte. Nesse caso, sua funçãopassa a ser a de organiza<strong>do</strong>r <strong>do</strong> conhecimento,de orienta<strong>do</strong>r de atitudes positivase dinâmicas <strong>do</strong>s alunos na busca de competênciase habilidades.Na avaliação <strong>do</strong> processo de aprendizagem,é fundamental que o professorconsiga ir além <strong>do</strong>s limites das aferiçõesaritméticas, das médias de acerto obtidaspelo cálculo entre respostas consideradas“certas” ou “erradas”. A avaliação deve ser,antes de tu<strong>do</strong>, um processo regula<strong>do</strong>r daaprendizagem, orienta<strong>do</strong>r e reorienta<strong>do</strong>r<strong>do</strong> percurso escolar. Sua finalidade deve sera de certificar aquisições realizadas pelosalunos, não apenas as de caráter cognitivo,mas também as competências e habilidadesalcançadas.Para avaliar o desenvolvimento das competênciase habilidades, o professor deveráconsiderar os conhecimentos prévios trazi<strong>do</strong>spelos alunos para poder relacioná-loscom as mudanças ocorridas no processo deaprendizagem. Será preciso levar em contaa ampliação das noções, conceitos, procedimentos,como conquistas <strong>do</strong>s alunos, comparan<strong>do</strong>o antes, o durante e o depois. Éparte importante da avaliação diagnosticara capacidade de iniciativa nas ações significativaspara a aquisição de conhecimentos,como a seleção e a coleta de informações, acapacidade de discernimento na leitura, reflexãoe crítica <strong>do</strong>s textos e <strong>do</strong>cumentos, naproposição de alternativas de análise e interpretaçãodas questões e problemas estuda<strong>do</strong>s,e na capacidade de expressão (oral,escrita) <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s alcança<strong>do</strong>s.ConclusãoO objetivo da disciplina de História é proporcionarcondições e oferecer ferramentasconceituais para que os alunos possam compreenderde mo<strong>do</strong> crítico a maneira pela quala realidade social é construída, e o quanto aação <strong>do</strong>s sujeitos resulta em diferentes mo<strong>do</strong>sde percepção dessa realidade. Ao definire estabelecer como objetivo a busca de competências,mediante o desenvolvimento dehabilidades específicas, espera-se que a naturezarelacional <strong>do</strong> saber histórico contribuaefetivamente para a formação de indivíduosindaga<strong>do</strong>res, criativos, participantes efetivosna sociedade.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 66 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:50


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Roselane Zordan Costella<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 69 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


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Disciplina de GeografiaA Geografia é, por natureza, uma ciênciainterdisciplinar, abrangen<strong>do</strong> várias áreas<strong>do</strong> conhecimento e utilizan<strong>do</strong> conceitos queenvolvem a natureza e a sociedade em seusaspectos econômicos, populacionais, políticos;enfim, tu<strong>do</strong> aquilo que permita a leituracoerente <strong>do</strong> espaço geográfico. Entretanto,como nas demais disciplinas que compõema área de Ciências Humanas e suas Tecnologias,o envolvimento de vários <strong>do</strong>centes emações multidisciplinares deve considerar ascondições intelectuais e materiais <strong>do</strong> trabalho<strong>do</strong>s professores e seu compromisso coma formação continuada e o entendimento <strong>do</strong>sfundamentos básicos das áreas <strong>do</strong> saber quese pretende integrar. Sem isso, essas açõesresultarão na diluição da Geografia nos espaçosde outras disciplinas e num somatóriode conceitos e conteú<strong>do</strong>s emaranha<strong>do</strong>saleatoriamente, sem qualquer senti<strong>do</strong> para aformação <strong>do</strong>s estudantes.Em síntese, propõe-se que o aluno desenvolvacompetências e habilidades que lhepermitam compreender, com mais clareza,os diversos espaços que compõem o mun<strong>do</strong>,a partir de conceitos estruturantes da ciênciageográfica, quais sejam, os de paisagem, lugar,território, territorialidade, redes, globalização,escala e ambiência. Tais conceitosbalizarão o desenvolvimento das competênciasde ler, escrever e resolver problemas, aserem desenvolvidas durante a educação básica,afastan<strong>do</strong>-se das visões tradicionais quedissociavam natureza e sociedade, desconsideran<strong>do</strong>as múltiplas e complexas relaçõesde interdependência que existem entre elas.A Geografia constitui-se, assim, em caminhoque possibilita estabelecer relações constantesentre espaços mais próximos e espaçosmais distantes e complexos. A compreensãodessa complexidade decorre da condição derepresentar o espaço geográfico. Para isso,não basta percebê-lo, sen<strong>do</strong> preciso internalizá-loe processá-lo mentalmente. Tambémfaz parte dessa representação a capacidadede transformar em conhecimento as inúmerasinformações que o mun<strong>do</strong> apresenta para, apartir delas, compreender a produção espacial.Competências e habilidadesno ensino da GeografiaNo que se refere às competências e habilidadesque se pretende desenvolver a partirdeste Referencial Curricular para o ensino daGeografia nas escolas da Rede Pública <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul, foram levadas em conta asindicações contidas nas orientações estabelecidasa partir da LDB/96 (Parâmetros e OrientaçõesCurriculares), as quais são pautadasem três eixos: a competência de representare comunicar, a de investigar e compreender ea de contextualizar social e historicamente osconhecimentos. Numa perspectiva mais detalhada,a Geografia deve levar o educan<strong>do</strong> a:• Conhecer a organização <strong>do</strong> espaçogeográfico e o funcionamento da naturezaem suas múltiplas relações, demo<strong>do</strong> a compreender o papel das sociedadesem sua construção e na produção<strong>do</strong> território, da paisagem e <strong>do</strong>lugar;• Identificar e avaliar as ações <strong>do</strong>s homensem sociedade e suas consequênciasem diferentes espaços e tempos, demo<strong>do</strong> a construir referenciais que possibilitemuma participação propositivae reativa nas questões socioambientaislocais;• Compreender a espacialidade e temporalidade<strong>do</strong>s fenômenos geográficosestuda<strong>do</strong>s em suas dinâmicas e interações;• Compreender que as melhorias nascondições de vida, os direitos políticos,os avanços técnicos e tecnológicos e astransformações socioculturais são con-7171<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 71 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


72quistas decorrentes de conflitos e acor<strong>do</strong>s,que ainda não são usufruídas porto<strong>do</strong>s os seres humanos e, dentro desuas possibilidades, devem empenharseem democratizá-las;• Conhecer e saber utilizar procedimentosde pesquisa da Geografia paracompreender o espaço, a paisagem, oterritório e o lugar, seus processos deconstrução, identifican<strong>do</strong> suas relações,problemas e contradições;• Fazer leituras de imagens, de da<strong>do</strong>s e de<strong>do</strong>cumentos de diferentes fontes de informação,de mo<strong>do</strong> a interpretar, analisar erelacionar informações sobre o espaçogeográfico e as diferentes paisagens;• Saber utilizar a linguagem cartográfica paraobter informações e representar a espacialidade<strong>do</strong>s fenômenos geográficos;• Valorizar o patrimônio sociocultural erespeitar a sociodiversidade, reconhecen<strong>do</strong>-acomo um direito <strong>do</strong>s povos eindivíduos e um elemento de fortalecimentoda democracia.No que se refere à apreensão <strong>do</strong>s conceitos,importa lembrar que o aluno os compreendenão apenas pelas informações contidasneles, mas pelas relações que pode estabelecercom eles. Isso significa dizer que umconceito é compreendi<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> o aluno seapropria <strong>do</strong> novo, como resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> processode interação entre o conhecimento quejá possui e o que lhe é apresenta<strong>do</strong>.Logo, a construção de conhecimentos somentese efetiva quan<strong>do</strong> são desenvolvi<strong>do</strong>smecanismos que levem os alunos a transformarinformações em conhecimentos, osquais não estão centra<strong>do</strong>s no conteú<strong>do</strong>, masem infinitas possibilidades de aplicação emsituações diversas.A aplicabilidade <strong>do</strong> conceito, no entanto,somente será possível se o aluno tiver desenvolvi<strong>do</strong>competências e habilidades necessáriaspara isso. Quan<strong>do</strong> um adulto, fora daescola, por exemplo, for utilizar a planta deuma cidade para chegar a um lugar qualquer,ele aplica saberes geográficos, e nãoprecisa ter visto antes uma planta da cidade,para conseguir se orientar sobre ela.Desse mo<strong>do</strong>, não é o conteú<strong>do</strong> planta oucidade que acomoda esse saber, e sim o queenvolve a orientação: lateralidade, projeçãoespacial, escala, leitura de símbolos e outroselementos que não dependem da planta estudada,mas das habilidades e competênciasque foram adquiridas através desse estu<strong>do</strong> eque, por sua vez, poderão ser aplicadas eminfinitas plantas de infinitos lugares.Quanto às habilidades e competências quenorteiam o ensino da Geografia, elas têm suaorigem em três competências básicas.A primeira refere-se ao ler. Na Geografia,ler significa compreender os signos quecompõem o espaço em suas representações.Ler, sob essa ótica, significa atribuir significa<strong>do</strong>saos componentes <strong>do</strong> espaço próximo edistante, por meio de gráficos, mapas, figurase outros elementos que possam ser indica<strong>do</strong>resde entendimento <strong>do</strong> espaço.A segunda competência refere-se ao escrever,o que corresponde ao textualizar,com coerência e entendimento, os acontecimentosarticula<strong>do</strong>s que envolvem o mun<strong>do</strong>em diferentes escalas. O desenvolvimentodesta competência visa desenvolver no alunoa capacidade de produzir textos contextualiza<strong>do</strong>sno tempo e no espaço.A terceira competência diz respeito aoresolver problemas, o que, nesta ciência,compreende o poder de argumentação frentea situações que exigem reflexões suscitadaspor dificuldades e tensões que o espaçoapresenta. Resolver problemas é, portanto,propor soluções não somente para situaçõesimediatas, mas também para aquelas que oaluno possa prever a partir das complexidadesapresentadas pelo espaço.As habilidades que competem ao ensinode Geografia dependem da observação,pois o laboratório desta ciência é o campo, oespaço geográfico, em suas diversas escalas.O desenvolvimento dessa habilidade possibilitaa compreensão <strong>do</strong>s diferentes elementosque compõem o espaço e as relações existentesentre esses elementos. A partir destas<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 72 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


leituras, os alunos serão capazes de escreversobre as ações que compõem o espaçoe refletir sobre as tensões e diferenças quefazem parte da heterogeneidade observada,poden<strong>do</strong> propor a resolução <strong>do</strong>s problemasque envolvem cada contexto observa<strong>do</strong>.Outra habilidade é a compreensão da inter-relação<strong>do</strong>s eventos, tanto naturais comosociais, no espaço. Essa capacidade permitea interpretação de da<strong>do</strong>s e desenvolve a capacidadede ler e produzir textos e analisar osproblemas que o espaço possa apresentar.O ensino da Geografia também visa desenvolvera habilidade da representaçãoespacial. Representar um espaço não é somentepercebê-lo numa leitura preliminar,mas compreendê-lo no mun<strong>do</strong>, numa escalaplanetária e local. Quan<strong>do</strong> representa emseu imagético um espaço como a Índia, porexemplo, é importante que o aluno considerenão somente da<strong>do</strong>s enciclopédicos memoriza<strong>do</strong>ssobre esse país, mas aborde suas vivências,as relações que o país apresenta emseus aspectos humanos e econômicos, comotambém as relações histórico-espaciais quetem com o restante <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.A habilidade de compreensão espaciotemporalpontua toda a contextualização<strong>do</strong>s eventos que compõem as relações espaciais.Sem ter desenvolvi<strong>do</strong> esta habilidade,o aluno será incapaz de interpretaras questões espaciais, o que dificultará sualeitura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Cabe ao professor deGeografia alfabetizar cartograficamente oaluno, o que significa conduzi-lo à compreensão<strong>do</strong>s signos, interpretan<strong>do</strong>-os no contexto.A alfabetização cartográfica permite odesenvolvimento das habilidades de leitura,produção e interpretação de mapas,gráficos, desenhos e outros elementosque compreendem a representação <strong>do</strong>espaço.Os conceitos que estruturam a disciplinada Geografia devem estar presentes no desenvolvimentodas habilidades e o professordeve promover situações em que os alunosconsigam compreender a articulaçãoexistente entre o território, a paisagem,o lugar, o espaço, a escala, a territorialidade,a globalização e as redes.As habilidades descritas são fundamentaispara que se desenvolvam as competências.Tornar o aluno competente é proporcionarlhea vivência de diversas situações em queele possa utilizar o que aprendeu para resolverdiferentes desafios. Os desafios sãoconstituí<strong>do</strong>s por situações (e não conteú<strong>do</strong>s),compostas por infinitas possibilidades articuladasno momento da aplicação, pelo aluno,daquilo que ele aprendeu.Como competência a ser desenvolvida peloensino da Geografia, é importante destacaro <strong>do</strong>mínio da linguagem que articula o conhecimentodessa ciência, lembran<strong>do</strong> que esse<strong>do</strong>mínio vai além da interpretação de signos,compreenden<strong>do</strong> a aplicabilidade de qualquertema ou conceito na interpretação de fatos observa<strong>do</strong>s,inter-relaciona<strong>do</strong>s e assim compreendi<strong>do</strong>snum contexto espaciotemporal.O <strong>do</strong>mínio da linguagem geográficaoportunizará ao aluno a compreensão dediferentes mapas, gráficos ou figuras querepresentam o espaço e suas relações, poissaber ler o espaço é saber escrever sobre elee assim ter condições de interagir com ele.Outra competência fundamental é atransposição <strong>do</strong>s eventos que compõemo espaço em diferentes escalas. Por meiodela é possível estabelecer uma relaçãoconstante <strong>do</strong> lugar <strong>do</strong> aluno com outros lugares<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. A capacidade de representardiversos lugares e compreender as relaçõesexistentes entre eles está relacionada atodas as habilidades desenvolvidas. A operação<strong>do</strong>s conceitos geográficos permite, commaior naturalidade, a interpretação <strong>do</strong> espaçoem diferentes escalas.O desenvolvimento <strong>do</strong> espírito crítico,por sua vez, é uma competência que supõeargumentação, e saber argumentar está relaciona<strong>do</strong>principalmente à habilidade deinterpretação e análise <strong>do</strong>s diferentes elementosque compõem o espaço. O aluno,ao interagir com as relações que o espaçoapresenta de forma interpretativa, compreenden<strong>do</strong>os conceitos estruturantes da dis-7373<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 73 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


74ciplina, será capaz de argumentar sobre omesmo, não somente critican<strong>do</strong> as relaçõesconsideradas tensas, mas também opinan<strong>do</strong>e posicionan<strong>do</strong>-se diante dessas relações.Finalmente, registre-se que to<strong>do</strong> o eventoestuda<strong>do</strong> em Geografia apresenta três elementosfundamentais: a ação que representao próprio evento, o momento que o justificae o espaço que o localiza. Portanto, a compreensãogeográfica depende, fundamentalmente,da capacidade de compreendera dimensão espaciotemporal <strong>do</strong>s eventosanalisa<strong>do</strong>s. O espaço e o tempo são categoriasque auxiliam a leitura e a interpretaçãode qualquer elemento que compõe os conceitosestuda<strong>do</strong>s e articula<strong>do</strong>s, a partir de suaadequada contextualização.É importante que todas as habilidades ecompetências aqui relacionadas estejam presentesem cada momento da aprendizagem, oque envolve a vontade <strong>do</strong> aluno em aprender,a condição <strong>do</strong> professor de ensinar e o valor<strong>do</strong> conceito no ato da construção <strong>do</strong> conhecimento.É grande, portanto, a responsabilidade<strong>do</strong> educa<strong>do</strong>r, que também deve se preocuparem tornar a educação um compromissointerdisciplinar, que depende de saber ler alinguagem de cada ciência e saber escrever oque o outro possa interpretar, visan<strong>do</strong> resolverdesafios que a vida possa apresentar.Conceitos estrutura<strong>do</strong>res<strong>do</strong> ensino da GeografiaA Geografia, como qualquer outra ciência,apresenta na estrutura <strong>do</strong> seu conteú<strong>do</strong>uma base de conceitos importantes para acompreensão das diferentes escalas <strong>do</strong>s espaçosestuda<strong>do</strong>s. É a partir desses conceitosque os alunos constroem o conhecimentogeográfico e têm possibilidade de aplicá-lossempre que necessário.Um <strong>do</strong>s conceitos que possibilita a compreensão<strong>do</strong> mun<strong>do</strong> dividi<strong>do</strong> por fronteiraspolíticas ou por outro tipo de poder é o deterritório, que compreende o <strong>do</strong>mínio deum determina<strong>do</strong> espaço que apresenta certaautonomia. Esse conceito é aplica<strong>do</strong> sempreque se estudam países, esta<strong>do</strong>s, cidades ouaté lugares específicos compreendi<strong>do</strong>s porfronteiras concretas ou simbólicas.O conceito de território deve fazer parte <strong>do</strong>cotidiano da sala de aula e ser contempla<strong>do</strong>constantemente, pois a Geografia também explicaa mobilidade das fronteiras nos mapasque representam o mun<strong>do</strong>. Se esse conceitofor bem trabalha<strong>do</strong>, fica mais fácil fazer umaleitura adequada <strong>do</strong>s mapas e suas modificaçõesno decorrer <strong>do</strong>s processos temporais.Num olhar mais apura<strong>do</strong>, o territóriopode também ser li<strong>do</strong> como uma paisagemque compreende em si não somente o queestá sen<strong>do</strong> vivencia<strong>do</strong>, mas também um testemunhode vivências de outros tempos, quedeixam significa<strong>do</strong>s aguça<strong>do</strong>s de relaçõestemporais e espaciais.A paisagem representa tu<strong>do</strong> aquilo quese vê num determina<strong>do</strong> momento, assim osterritórios abrangem muitas paisagens queexplicam as características destes territórios.Quan<strong>do</strong> o aluno constrói o conceito depaisagem, ele reconhece que existem inúmerascomposições espaciais sobre um mesmoterritório. O mais interessante no estu<strong>do</strong> daspaisagens é reconhecer que elas poderão serobservadas de formas diferentes por diferentesalunos, e assim essas inúmeras interpretaçõesde um mesmo recorte de espaço facilitamas discussões e apresentam ao alunopossibilidades de ler essas representações deforma identitária, valorizan<strong>do</strong> o seu saber erespeitan<strong>do</strong> a leitura e os saberes <strong>do</strong> outro.O conjunto de acontecimentos, paisagens,lugares e interpretações, a partir de diferentesleituras de mun<strong>do</strong>, constitui o conceitode espaço geográfico que é defini<strong>do</strong> comoto<strong>do</strong> espaço pertencente ao planeta, que temcomo características marcantes a ação e aintenção <strong>do</strong> homem:“O espaço é forma<strong>do</strong> por um conjunto indissociável,solidário e também contraditório de sistemade objetos e de sistema de ações não consideradasisoladamente, mas como o quadro único no qual ahistória se dá” (SANTOS, 1997, p. 51).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 74 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


Esse conceito, trazi<strong>do</strong> por Milton Santos,compreende o espaço como um palco deacontecimentos que se modifica constantementeem função das ações <strong>do</strong>s homens sobre osobjetos que o espaço apresenta. Imaginemosuma área urbana ou uma área rural. Em ambasacontecem inúmeras modificações com opassar <strong>do</strong> tempo e to<strong>do</strong>s esses acontecimentosestão associa<strong>do</strong>s a outros acontecimentos.Muitas vezes, o que ocorre no espaço não é <strong>do</strong>interesse de to<strong>do</strong>s os sujeitos que o compõem,e é por isso que as relações entre os acontecimentospodem gerar tensões e conflitos.Essas tensões comprovam que o espaço éheterogêneo e contém infinitas relações. Aoestudar o espaço com essa representatividade,é permiti<strong>do</strong> ao aluno vivenciar constantementea condição de se posicionar e resolverproblemas que aparecem na leitura <strong>do</strong>sacontecimentos. O aluno precisa reconheceras contradições e se posicionar perante elas,emitin<strong>do</strong> constantemente pareceres e reflexõessobre os problemas emergentes.Ao compreender essas interações, é indispensávelque os alunos enxerguem sempre o to<strong>do</strong><strong>do</strong> espaço como um conjunto e não como umasoma de conteú<strong>do</strong>s estanques e sem senti<strong>do</strong>.Por exemplo, ao estudar os continentesseparadamente, obedecen<strong>do</strong> a uma lógica<strong>do</strong>s manuais didáticos, costuma-se iniciarpor aspectos naturais, seguin<strong>do</strong>-se os humanose os econômicos. Após a conceituaçãode cada “gaveta”, realiza-se uma prova paraavaliar se as informações foram acumuladas,reforçan<strong>do</strong>-se dessa forma a reprodução <strong>do</strong>senso comum sobre o continente. Entretanto,o que é interessante para o aluno é enxergarno conteú<strong>do</strong> as relações que existem entreos diferentes assuntos trabalha<strong>do</strong>s. Assim, aoestudar um continente, seria bem mais instiganterelacionar constantemente o quadronatural com a distribuição da população,com as riquezas minerais ou com a concentraçãoeconômica, por exemplo.Se o conteú<strong>do</strong> for trabalha<strong>do</strong> de uma formaassociada, o espaço geográfico será entendi<strong>do</strong>com maior facilidade e passará a tersignifica<strong>do</strong> para o aluno.O lugar é um outro conceito importanteque compete à Geografia. Estudá-lo é compreenderos acontecimentos que estão maispróximos <strong>do</strong> aluno, pois o lugar representa oespaço de vivência, de identidade, de continuação<strong>do</strong> próprio aluno e de suas relações.A leitura <strong>do</strong> lugar não é simplista e unidirecional,ela é carregada de conteú<strong>do</strong> globale compreende uma bagagem temporal queexplica muitos canais de conexões. Não setrata de sair <strong>do</strong> estu<strong>do</strong> da família na 1ª série<strong>do</strong> ensino fundamental e de chegar ao estu<strong>do</strong><strong>do</strong> mun<strong>do</strong> na 8ª série <strong>do</strong> ensino fundamental,como se faz na maioria das composições deconteú<strong>do</strong>s sistematiza<strong>do</strong>s em escolas. Trata-sede fazer com que, em cada série, os alunos seapropriem de cada lugar estuda<strong>do</strong>, sentin<strong>do</strong>os,realmente, como um ponto identitário.Para que o aluno chegue a essa compreensão,o professor precisa conhecer oconteú<strong>do</strong> da Geografia, <strong>do</strong>minan<strong>do</strong> sua essênciae ten<strong>do</strong> clareza da sua validade, eser capaz de transformar esse conteú<strong>do</strong> emconhecimento no pensamento <strong>do</strong>s alunos.E para que o mun<strong>do</strong> seja um lugar para osalunos, o professor deve estar sempre atentoaos acontecimentos globais, cuidan<strong>do</strong>de ligá-los à vivência de seus educan<strong>do</strong>s econsideran<strong>do</strong> as inúmeras relações que seestabelecem, atualmente, entre os diferenteslugares <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.A globalização está vinculada a umconjunto de inovações na comunicação ena informatização, transforman<strong>do</strong> o mun<strong>do</strong>em uma grande rede composta por diferenteselos e ligações. Ao compreendera globalização, é possível compreenderas tensões existentes no mun<strong>do</strong>, os avançosde muitas nações e o recuo de outras,tanto nas questões econômicas como emindica<strong>do</strong>res sociais.Os conceitos estruturantes aqui apresenta<strong>do</strong>s,e que compõem o Referencial Curricularda Geografia, estão propostos de formaarticulada e compreendem um conjuntode ações a serem desenvolvidas na sala deaula. A partir <strong>do</strong> entendimento <strong>do</strong>s conceitosde território, paisagem, lugar, globalização7575<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 75 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


76e espaço geográfico, os professores poderãotrabalhar outros conteú<strong>do</strong>s que derivam dessacompreensão.O entendimento e a leitura de mapas, aanálise de diferentes escalas, a textualizaçãode espaços mundiais e a compreensão <strong>do</strong>tempo e <strong>do</strong> espaço como sistemas dinâmicossão consequência de articulação <strong>do</strong>s diferentesconceitos estruturantes.Contu<strong>do</strong>, é fundamental lembrar aqui que,para tornar esses conteú<strong>do</strong>s mais prazerosos edesafia<strong>do</strong>res, os professores precisam estar sempreatentos a acontecimentos cotidianos, muitasvezes simples, aproveitan<strong>do</strong>-os em suas atividadesde ensino e aprendizagem, pois a Geografiatem como principal laboratório de ensino o própriomun<strong>do</strong>, em diferentes escalas, o que inclui,de mo<strong>do</strong> destaca<strong>do</strong>, a sala de aula.Conteú<strong>do</strong>srelaciona<strong>do</strong>s aosconceitos estruturantese às habilidadese competências.Operacionalizaçãometo<strong>do</strong>lógicaA título de sugestão, este Referencial Curricularrelaciona as competências compreendidasem cada bloco de conteú<strong>do</strong>s aos trêseixos da disciplina, a saber:• Representar e comunicar, o que envolvetodas as leituras realizadas referentesàs relações espaciais;• Investigar e compreender, o que se aplicaàs situações de textualização espacial;e• Contextualização sociocultural, presenteno desenvolvimento <strong>do</strong> poder argumentativoe crítico que resultará na resolução deproblemas evidencia<strong>do</strong>s constantemente.A relação entre a discussão <strong>do</strong>s conceitosestrutura<strong>do</strong>res e os conteú<strong>do</strong>s deve ser íntimae complementar. Em cada bloco de conteú<strong>do</strong>s,que conterá os conceitos por série, semprehaverá essa relação, articulada ao desenvolvimentode habilidades e competências.Na 5ª e na 6ª séries <strong>do</strong> ensino fundamental,os alunos já devem reconhecer o espaçopor meio da projeção espacial e precisam estarprepara<strong>do</strong>s para vivenciar cada momentoda alfabetização espacial. Portanto, é importantetrabalhar, por meio de oficinas, deforma que os educan<strong>do</strong>s participem de cadaetapa <strong>do</strong> processo da aprendizagem.Antes de ler um mapa, por exemplo, eledeve mapear; antes de estudar uma rosa <strong>do</strong>sventos, ele deve construí-la no pátio da escola;antes de ler um texto pronto referente àorganização espacial, ele deve textualizar apartir de maquetes; e assim por diante.Para serem capazes de ler diferentes espaços,paisagens ou lugares, é necessária a compreensão<strong>do</strong>s signos da Geografia na 5ª e na 6ªséries, graças aos quais serão instrumentaliza<strong>do</strong>spara atingir outros níveis de complexidade.É fundamental registrar que o diferencialdeve estar na meto<strong>do</strong>logia trabalhada, já que oaluno precisa participar ativamente da construção<strong>do</strong> conhecimento, quan<strong>do</strong> a descentraçãodeve se fazer presente, pois o aluno precisa,paulatinamente, teorizar os conceitos, compreenden<strong>do</strong>-ose não apenas memorizan<strong>do</strong>-os.Conteú<strong>do</strong>s indispensáveis para compreendera Geografia, como coordenadas geográficas,fusos horários, movimentos da Terra, porexemplo, não podem ser trabalha<strong>do</strong>s comomodelos fecha<strong>do</strong>s propostos pelo professor.O aluno precisa antes manipular o globo paracompreender os movimentos, responder constantesindagações para entender diferençasde horas ou coordenadas geográficas. Tu<strong>do</strong>o que envolve o Universo deve ser trabalha<strong>do</strong>no senti<strong>do</strong> das relações <strong>do</strong>s elementos quecompõem o cotidiano <strong>do</strong> estudante, comoas questões de luminosidade, importância daLua, as estações <strong>do</strong> ano, as estrelas...As paisagens climato-botânicas, por suavez, também devem aparecer em relaçãocom o lugar <strong>do</strong> aluno: por meio de saídasde campo, os alunos observam, descreveme textualizam o espaço para, posteriormente,poder comparar os da<strong>do</strong>s locais com escalas<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 76 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


planetárias. Se o aluno mora num lugar ondeexistam campos, por exemplo, este bioma éo ponto de partida para levá-lo a pensar emoutros lugares <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> que registram amesma ocorrência geográfica e, a partir <strong>do</strong>seu lugar, compreender as semelhanças quecaracterizam esses lugares.Na 6ª série <strong>do</strong> ensino fundamental, osalunos precisarão aplicar os conceitos construí<strong>do</strong>sna 5ª série num espaço ainda próximo.O estu<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul deveráser aborda<strong>do</strong> de forma contínua, estabelecen<strong>do</strong>relações com o Brasil, pois é a partirda compreensão das relações estabelecidasno Esta<strong>do</strong> que se pode compreender, posteriormente,o país e o mun<strong>do</strong>.Meto<strong>do</strong>logicamente, a 5ª e a 6ª sériescompreendem assuntos que deverão seraborda<strong>do</strong>s num contexto de relações cons-tantes. As leituras e interpretações de mapas,gráficos e tabelas deverão pautar to<strong>do</strong>s osconteú<strong>do</strong>s. Para priorizar as competências deler, escrever e resolver problemas, é interessanterecorrer à utilização de músicas, poesias,charges, notícias, figuras e outros meiosque provoquem a reflexão <strong>do</strong> aluno.O espaço é um sistema de ações e elasprecisam estar presentes em todas as questões.Um conteú<strong>do</strong> não pode ser trabalha<strong>do</strong>isoladamente, é necessário contextualizá-lono tempo e no espaço. A leitura de mapas ea comparação destes por meio de análises einterpretações são um bom caminho meto<strong>do</strong>lógicopara representar o espaço brasileiro ecolocá-lo no espaço mundial, preparan<strong>do</strong> asleituras que serão realizadas em outras séries.Em vista disso, apresentam-se a seguir osblocos de conteú<strong>do</strong>s para a 5ª e a 6ª séries:7777CompetênciaSugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (5ª série)ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização1. Representar o espaçovivi<strong>do</strong> em suasinter-relações.2. Compreendercomportamentoscotidianos por meiode transposição deescalas espaciais.3. Ler o espaço projeta<strong>do</strong>nos mapasem diferentes escalas.4. Compreender arelação entre a localização,o clima, avegetação e a ação<strong>do</strong> homem no espaçogeográfico.1. Nesta série, osconceitos estruturantesserão estuda<strong>do</strong>sde forma mais próximaao aluno:Conceitos:- Lugar, espaço, paisageme escala.1. O aluno no seulugar, na sua paisagem,no seu espaço;A orientação aplicadaao lugar.2. Acontecimentoscotidianos explica<strong>do</strong>sa partir <strong>do</strong> entendimentoda dinâmica<strong>do</strong> espaço sideral.3. O mapa e seussignos4. O clima e a vegetação<strong>do</strong> lugar <strong>do</strong>aluno relaciona<strong>do</strong>sàs paisagens mundiais.1. Saídas de campo pelo lugar <strong>do</strong>aluno, textualização, representaçãode paisagem por meio de figuras,desenhos e maquetes.2. Construção de maquetes localizan<strong>do</strong>a Terra no Sistema Solar numaescala fictícia; trabalho com o globonas mãos <strong>do</strong>s alunos na construçãode hipóteses; observação da Lua comdesenhos representativos de cada fase.3. A partir da construção de maquetes,o aluno pode produzir mapas/croquis por meio da visão verticaldas maquetes. É importante que seaplique os conceitos de orientaçãoe localização nas leituras de mapas,trabalhan<strong>do</strong> com Atlas e produçõesde textos a partir dessas leituras.4. O aluno precisa observar o espaçopróximo, fazer levantamentos das característicasdesse espaço e, por meiode desafios, transferir essas característicasa escalas mundiais, através daleitura de mapas, gráficos e figuras.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 77 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


78CompetênciaSugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (6ª série)ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização1. Ler e representarpaisagens diferenciadas<strong>do</strong> Rio Grande<strong>do</strong> Sul e <strong>do</strong> Brasil.Os conceitos estruturantes– lugar,espaço, paisagem,escala, território eterritorialidade –serão aborda<strong>do</strong>sno contexto <strong>do</strong> RioGrande <strong>do</strong> Sul e <strong>do</strong>Brasil.1. As paisagensrelacionadas aosaspectos naturais –econômicos e demográficos.1. Por meio de leitura de mapas, músicas,charges e desenhos, os alunosinterpretarão diferentes paisagens,partin<strong>do</strong> <strong>do</strong> lugar das vivências paraespaços maiores. As paisagens devemser estudadas, nas inter-relações,compreenden<strong>do</strong> o espaço como umto<strong>do</strong>, por meio de desenho e textualizaçãodas características que diferenciamas paisagens, argumentan<strong>do</strong>sobre diversas possibilidades de preservaçãoe ocupação <strong>do</strong>s espaços.2. Relacionar os diferenteseventos quecompõem o espaçopara explicar a suaorganização.2. Recursos naturais,econômicos epopulacionais emdiferentes paisagensgaúchas e brasileiras.2. Produção de textos e realização deleituras que favoreçam a textualização<strong>do</strong> espaço estuda<strong>do</strong>. Leitura deartigos jornalísticos, que apresentamdinâmicas que ajudem a interpretar oespaço. Utilizar vários tipos de mapaspara comparar informações, como adistribuição populacional relacionadaao clima, relevo, economia.3. Compreendernuma escala espaciotemporala dinamização<strong>do</strong>s acontecimentos.3. O aluno na vidaurbana e suas relaçõescom o campo:indústria, agropecuáriae serviços.3. Aproveitar os acontecimentos queenvolvem o aluno observa<strong>do</strong> no seudia a dia para abordar os conceitos,utilizan<strong>do</strong> os produtos consumi<strong>do</strong>spor eles e consideran<strong>do</strong> sua origem,o destino, o valor e to<strong>do</strong>s os serviçosque envolvem a produção.É interessante abordar o conjuntode relações campo-cidade, evitan<strong>do</strong>trabalhá-los separadamente.4. Aplicar conceitos,compreenden<strong>do</strong> aarticulação entreterritórios, paisageme lugar.4. Abordagem <strong>do</strong>Brasil regional e suasrelações com o mun<strong>do</strong>.4. As leituras de mapas favorecemuma aprendizagem relacional, pormeio de levantamento de característicasque por sua vez regionalizam umespaço. É interessante que o alunocompreenda o porquê da regionalizaçãoe possa justificá-la. O mapacontém da<strong>do</strong>s que permitem esseconhecimento, assim como a leitura ea interpretação de paisagens que caracterizame territorializam o espaço.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 78 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


Os alunos de 7ª e 8ª séries podem compreenderas relações espaciais de maneira maisabstrata, pois já são capazes de construir suaspróprias formas de pensamento e questionaras organizações espaciais defenden<strong>do</strong> pontosde vista próprios e discutin<strong>do</strong>, com maior propriedade,os assuntos geográficos.A representação espacial deve compor umconjunto de elementos inter-relaciona<strong>do</strong>s queexpliquem as ações que compõem o espaçomundial. Para que as ações planetárias tenhamsenti<strong>do</strong> na compreensão <strong>do</strong>s sistemas espaciais,os conteú<strong>do</strong>s precisam abordar diferentesterritorialidades que justifiquem diferenças eproximidades existentes entre os povos.A proposta meto<strong>do</strong>lógica que envolve o ensinoda 7ª e da 8ª séries é o estu<strong>do</strong> de um conjuntode paisagens que dão conta da interpretaçãodas ações que fazem parte <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.O conhecimento não está potencializa<strong>do</strong>em partes desconexas, pois as ações nãoacontecem isoladas, mas sim internalizadas.Estudar um continente relacionan<strong>do</strong> com outroe com o Brasil, por exemplo, é uma propostadesafia<strong>do</strong>ra, através da qual o alunopode observar as simultaneidades espaciotemporaispara compreender o seu próprio lugarno mun<strong>do</strong>. Para isso, são importantes aulasdinâmicas, planejadas de mo<strong>do</strong> a oferecerleitura e interpretação de mapas, textos didáticose jornalísticos. A partir da observação, osalunos podem ser instiga<strong>do</strong>s a construir textosresultantes de interpretações e análises reflexivas,motivadas pela necessidade de resolverproblemas.Os conteú<strong>do</strong>s da 7ª série, respeitan<strong>do</strong> aideia de territorialidades na composição <strong>do</strong> entendimento<strong>do</strong> espaço, estão assim distribuí<strong>do</strong>s:7979CompetênciaSugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (7ª série)ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização1. Compreender atransposição <strong>do</strong>seventos em diferentesescalas espaciais.Os conceitos estruturanteslugar, espaço,paisagem, escala,território, territorialidade,globalização eredes são aplica<strong>do</strong>sno estu<strong>do</strong> de relaçõesestabelecidasentre o continenteamericano e o mun<strong>do</strong>.1. Localização ecomposição <strong>do</strong>scontinentes defini<strong>do</strong>spor diferentes paisagense característicasinter-relacionadas.1. É indispensável a apresentação <strong>do</strong>scontinentes mundiais, diferencian<strong>do</strong>oscom atividades de leituras de mapas,gráficos e figuras, mostran<strong>do</strong> arelação que eles têm entre si e com oBrasil.2. Ler as relaçõesmundiais em diferentescontextos comunicacionais.2. A situação geopolítica<strong>do</strong> Brasil e daAmérica no contextoda guerra fria e pósguerrafria.2. É fundamental situar o aluno emcada contexto que compreende osacontecimentos, respeitan<strong>do</strong> a escalatemporal <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>. É interessanteque a representação de cada espaçose dê a partir de acontecimentos locaise que os alunos transfiram constantementeesses acontecimentos paradiferentes leituras de mun<strong>do</strong>.3. Desenvolver oespírito crítico e opoder de argumentaçãona compreensãoda espacialidademundial.3. Divisão <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>em países centrais– emergentes e periférico–, relaçãodesta divisão com aformação de blocoseconômicos e questõesambientais.3. É importante para o desenvolvimentodesta competência situar o alunona espacialidade, mostran<strong>do</strong> o porquêdele ser emergente e diferencian<strong>do</strong> oseu cotidiano com outros países pertencentesa outros grupos de países.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 79 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:53


80Competência4. Compreender oespaço e seus eventosnum sistema de açõescontextualizadas narelação econômicosociale natural.ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>s4. Continente americano– questões naturaisrelacionadas àsquestões econômicase humanas.Operacionalização4. Trabalhar esse conteú<strong>do</strong> de formaintegrada, mostran<strong>do</strong> as relaçõesexistentes e o conjunto de situaçõesque territorializam o espaço. Sempremostrar ao aluno as causas e consequênciasde cada evento espacial.5. Ler e textualizar astensões que envolvemo espaço americano,o Brasil e o mun<strong>do</strong>.CompetênciaNa 8ª série, as análises compreendemuma escala planetária, as relações se ampliam,sempre ten<strong>do</strong> em mente o desafioconstante de construção e reconstrução dehipóteses. As teorias devem ser discutidas eas realidades lidas, visan<strong>do</strong> transformar informaçõesem conhecimento.Para que os alunos sintam-se desafia<strong>do</strong>s,o professor deverá questioná-los constantemente,por meio de provocações que osfaçam refletir sobre figuras que evidenciempaisagens de mun<strong>do</strong>, reportagens jornalísticasque tragam a realidade de outros países,filmes que possam mostrar o cotidianode uma época num determina<strong>do</strong> espaço, porexemplo, utilizan<strong>do</strong> músicas que retratem umlugar determina<strong>do</strong>. Todas essas atividadesfarão a diferença no momento da aprendizagem,e assim as informações trazidas poresses diferentes meios, depois de discutidas erelacionadas aos conceitos estuda<strong>do</strong>s, serãotransformadas em conhecimento.Para que o aluno compreenda as açõesque formam o espaço geográfico, é importanteque o professor dê atenção às sugestõesde conteú<strong>do</strong>s propostos:Sugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (8ª série)Conceitosestruturantes5. O <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>sEsta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s noBrasil, Oriente médioe mun<strong>do</strong>. As relaçõesgeopolíticas da AméricaLatina:. As transformaçõescubanas.. Guerrilha na Colômbia.. Fronteiras mexicanas.. O gás da Bolívia.. A Itaipu e os brasiguaiosno Paraguai.. O Haiti e o Brasil.Conteú<strong>do</strong>s5. As tensões geopolíticas <strong>do</strong> continenteamericano, representadas no tempoe no espaço num senti<strong>do</strong> contextualiza<strong>do</strong>.O aluno precisa entender as relaçõescompreendidas nessas tensõescom vistas à leitura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Localizarno mapa as tensões e mostrar,por meio de interpretações de textos, opoder que emana desses acontecimentos;fazer com que o aluno transformea informação em conhecimento.Operacionalização1. Representar aespacialização pelaarticulação <strong>do</strong> podere das relações detrabalho.Na 8ª série a relação<strong>do</strong>s conceitos estruturantescontempla oespaço planetário deforma interpretada eargumentativa:Conceitos:. lugar, espaço, paisagem,escala, território,1. Estu<strong>do</strong> Integra<strong>do</strong><strong>do</strong> Continente Europeue Africano.. Localização e partilhas.. Paisagens climatobotânicase morfológicascomparativase relacionadas à1. Essa competência precisa serconstruída por da<strong>do</strong>s comparativos eleituras de mapas. Não se deve trabalharos continentes de forma compartimentadacomo se as relações deum continente não influenciassem nasrelações de outros. O aluno precisafazer parte da leitura como se estivesseno próprio espaço e não com um<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 80 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


CompetênciaConceitosestruturantesterritorialidade, globalizaçãoe redes.Conteú<strong>do</strong>socupação econômicae demográfica.Operacionalizaçãoolhar alheio a ele.818<strong>12</strong>. Argumentar de formacrítica e textualizadaos espaços mundiaisque explicam opoder comunicacionale técnico-científico.2. Espaço japonês eTigres Asiáticos.Índia – China – Rússia:. Configuração industriale comércioexterior.2. O aluno será capaz de ler essesespaços com dinamicidade, se identificara interferência <strong>do</strong>s mesmos noseu cotidiano. Comparar as relaçõesde exploração existentes na AméricaLatina com as explorações ocorridasnesses espaços também é uma boaforma de compreender as análises.3. Compreender asinter-relações espaciotemporaisnos acontecimentosde tensõesgeopolíticas.3. A espacialidade <strong>do</strong>Oriente Médio no seucontexto natural-econômicoe geográfico.3. O estu<strong>do</strong> das tensões ocorridas noOriente Médio deve estar pauta<strong>do</strong> noentendimento deste espaço por meio deconstantes desafios, levan<strong>do</strong> os alunos aconcluírem sobre a importância geopolíticarelacionada à economia mundial.4. Interpretar ascondições naturaise culturais na concepçãoda ocupaçãoespacial.4. Os brasileiros naAntártida – dificuldadese pesquisas.A Oceania é comoum conjunto de ilhasrepresentadas peladicotomia entre acultura autóctone e aeconomia global.4. Esses continentes deverão ser trabalha<strong>do</strong>sde forma integrada, dan<strong>do</strong> senti<strong>do</strong>às suas localizações e condiçõesnaturais.A leitura desses espaços por meio demapas e suas interpretações provocarãotextualizações paisagísticas emresposta a desafios constantes pormeio de resolução de problematizações.Estas relacionarão a ocupação,as riquezas e as explorações geopolíticasdesses espaços.Os alunos <strong>do</strong> ensino médio já devem ser capazesde teorizar e aplicar, a partir de problematizações,os conceitos construí<strong>do</strong>s ao longo<strong>do</strong> ensino fundamental. Para compreender oespaço em que vivem, explicar os acontecimentoscotidianos e as relações estabelecidasentre esses acontecimentos e a organizaçãoespacial, é preciso lançar sobre a Geografiaum olhar mais amplo e interpretativo.Retoma-se a necessidade de oportunizar aoaluno a formulação e refutação de suas hipóteses,aban<strong>do</strong>nan<strong>do</strong> modelos fecha<strong>do</strong>s e verdadesabsolutas que não favorecem a construçãodas competências propostas. No ensino médio,é prioritário desenvolver no aluno a capacidadede interpretar fenômenos sociais.A autonomia da interpretação está ligadaà competência de ler o mun<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>seu próprio olhar. Para isso, o professor nãopode esquecer de trabalhar com recursosque envolvam realidades locais que possamser transferidas para diferentes escalas. Essesrecursos podem incluir registros diversos,como músicas e obras literárias regionais,que envolvam realidades espaciotemporais,além de charges, desenhos e textos jornalísticosrelaciona<strong>do</strong>s aos conceitos estuda<strong>do</strong>s.As aulas devem propor desafios, problematizações,que levem o aluno a pensarsobre o assunto em pauta, construin<strong>do</strong> umpensamento crítico e interativo com os acontecimentos<strong>do</strong> espaço.A localização no tempo e no espaço <strong>do</strong>acontecimento estuda<strong>do</strong> precisa favorecer<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 81 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


82a interação com seu lugar e com diferentesespaços projeta<strong>do</strong>s no mun<strong>do</strong>, por meio deleituras de mapas.Assim, enxergar mentalmente as tensões ese posicionar criticamente frente a elas sãoum exercício meto<strong>do</strong>lógico indispensávelpara aplicar e desenvolver as competênciasde ler, escrever e resolver problemas. Pararealizar uma boa leitura <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> em quevive, o aluno deverá situar-se nele, compreendero seu lugar, as suas relações, as causase consequências dessas relações e a produçãoe textualização <strong>do</strong> espaço.Meto<strong>do</strong>logicamente, é essencial que asaulas sejam desafia<strong>do</strong>ras, apresentan<strong>do</strong> constantesdesequilíbrios e reequilíbrios para queos alunos tenham autonomia ao pensar o espaço.Assim, além de trazer para a sala deaula registros varia<strong>do</strong>s de informações, favoreceráa reflexão sobre a posição e o lugarque os educan<strong>do</strong>s ocupam no mun<strong>do</strong>, o queexige a leitura e a interpretação de mapas e asproduções realizadas a partir dessas leituras.Ao final da 3ª série, os alunos deverão estaraptos a construir, mentalmente, um mapamúndie, a partir dessa construção, relacionarpermanentemente o Brasil e o mun<strong>do</strong>. Essemapa deverá representar o espaço planetárionum contexto dinâmico, de forma a ser possívelenxergar nele os territórios, territorialidades,paisagens, redes, globalização, lugares eespaços textualiza<strong>do</strong>s em diferentes escalas.A partir dessas considerações, o conjuntode temas e questões a serem trabalha<strong>do</strong>s foidistribuí<strong>do</strong>, sob forma de sugestão, nos seguintesconteú<strong>do</strong>s:CompetênciaSugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (1ª série)ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização1. Investigar asações que compõemos espaços paradiferenciá-los em suaorganização.Na 1ª série <strong>do</strong> ensinomédio, os conceitosestruturantes envolvemuma leitura maiscomplexa <strong>do</strong> espaçonatural.Conceitos:. lugar, espaço, paisagem,escala.1. Rede de conceitosque envolvem o espaço:natural, cultural,sideral, econômicoe geopolítico.1. Apresentar para os alunos diferentesfiguras de diferentes paisagens e,a partir daí, levá-los a investigar essasfiguras para compreenderem as açõesque elas demonstram, classifican<strong>do</strong>assim os conceitos e mostran<strong>do</strong> assuas inter-relações.2. Compreender aorganização espacialem suas velocidades,distâncias e relaçõescom a Terra e seusacontecimentos.2. Relação de espaçosideral com aTerra – movimentos;formações – consequênciascotidianas– estruturas.2. O aluno precisa responder a constantesdesafios e problematizaçõesque o levem a compreender a relaçãodireta e complexa existente entre osacontecimentos siderais e o desenvolvimento<strong>do</strong> espaço geográfico. O alunodeverá propor hipóteses de movimentosda Terra na dinâmica <strong>do</strong> espaçosideral e comprovar essas hipótesescom acontecimentos cotidianos, comoo movimento <strong>do</strong> Sol, da Lua...3. Ler e interpretar ossignos cartográficos.3. Cartografia e oselementos que permiteminterpretar ummapa.3. Fazer o aluno ler diferentes mapase enxergar seu potencial interpretativo.A apresentação espacial está pautadana leitura de mapas. O aluno deveproduzir textos a partir dessas leituras.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 82 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


Competência4. Investigar a organização<strong>do</strong> espaçonatural em suas inter-relações com osrecursos econômicose ocupações demográficas.ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>s4. Paisagens climatobotânicae culturais:formação e ocupação.Operacionalização4. Além da leitura de mapas, esse éum bom momento para fazer com queo aluno reflita sobre suas hipótesesrelativas à localização e às característicasque compõem o espaço mundial,pois não se deve abordar a paisagemnatural sem investigar a organizaçãodemográfica e econômica que esseespaço compõe.8383Se, na 1ª série, o aluno entender a dinâmicanatural relacionada ao seu lugarno espaço, na 2ªsérie, a partir <strong>do</strong>s acontecimentosestuda<strong>do</strong>s, ele poderá ler essadinâmica, relacionan<strong>do</strong>-a aos fenômenosmundiais. O mun<strong>do</strong> e suas relações estarãopauta<strong>do</strong>s na dinâmica e movimentaçãoespacial, desenvolvi<strong>do</strong>s nos seguintesblocos de conteú<strong>do</strong>s, apresenta<strong>do</strong>s comosugestões:CompetênciaSugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (2ª série)ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização1. Contextualizar oseventos espaciaishistoricamente paracompreender a organizaçãogeopolítica<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>.Na 2ª série <strong>do</strong> ensinomédio, os conceitosestruturantes são utiliza<strong>do</strong>spara representarinter-relações geopolíticasplanetárias.Conceitos:. lugar, espaço, escala,território, territorialidade,globalização eredes.1. Espaço bipolar,multipolar, excludente,excluí<strong>do</strong>, periférico,emergente, central,capitalista, emtransformação...1. O aluno deve representar o espaçomundial e compreender assim asdiferenças que o mun<strong>do</strong> apresenta. Énecessário que o aluno leia e interpreteconstantemente textos a partir dessaleitura, compreenden<strong>do</strong> e aplican<strong>do</strong> osacontecimentos estuda<strong>do</strong>s.2. Compreender asorganizações humanas,apresentan<strong>do</strong>argumentos sobre assuas distribuições.2. Organização demográficamundial.2. O aluno deve enxergar o mun<strong>do</strong>em movimento, argumentan<strong>do</strong> o destino,a origem e as causas <strong>do</strong>s movimentos,bem como a temporalidadeda estrutura da população.3. Ler e interpretaro espaço em redeseconômicas e sociais.3. Indústria – agropecuária,comérciointerno – comércioexterno.3. A leitura se dará pela análise críticadas relações econômicas e sociais. Éimportante que os alunos partam dequestionamentos referentes às diferençasde ocupações <strong>do</strong>s espaços eanalisem o porquê das diferenças e asconsequências dessas análises.4. Investigar e compreenderas tensõesgeopolíticas e mundiais.4. Relações de poder:. conflitos;. cidades informais;. xenofobia;4. A leitura, interpretação e resoluçãode problemas a partir de textos é umaação meto<strong>do</strong>lógica importante. O alunoprecisa localizar a tensão geopolíticae justificar essa localização com os<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 83 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


84CompetênciaConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>s. estruturas fundiárias;. exclusão digital;. venda de cérebros...Operacionalizaçãoacontecimentos. Junto à localização, éindispensável compreender os motivose os espaços de territorialização envolvi<strong>do</strong>snesses conflitos.5. Compreender ocontexto histórico-espacialdas paisagensdiante das tensõesambientais.5. Desgastes ambientais.5. No desenvolvimento da competênciada contextualização <strong>do</strong> espaciotemporal,é muito importante observarinicialmente o lugar <strong>do</strong> aluno, investigarnesse lugar o que existe de tensõesambientais e, assim, ampliar o entendimento.Se o aluno fortalecer a suaação no lugar, com certeza ampliaráessa ação para o mun<strong>do</strong> e relacionaráessas tensões com a organização <strong>do</strong>espaço.Os conteú<strong>do</strong>s sugeri<strong>do</strong>s para a 3ª série <strong>do</strong> ensino médio estão representa<strong>do</strong>s como umaaplicação de conceitos sobre o Brasil e o Rio Grande <strong>do</strong> Sul, e são assim distribuí<strong>do</strong>s:CompetênciaSugestões de blocos de conteú<strong>do</strong>s (3ª série)ConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização1. Contextualizarespacial e historicamenteo Brasil paracompreender suasrelações internas eexternas.2. Representar oespaço e comunicara compreensão dasrelações espaciais.Os conceitos lugar, espaço,escala, território,territorialidade, globalizaçãoe redes deverãoestar representa<strong>do</strong>sde forma coerente naleitura de qualquerespaço <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>,sempre partin<strong>do</strong> dasanálises <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> e<strong>do</strong> País.1. Formação históricoespacial<strong>do</strong> territóriobrasileiro e gaúcho;relações geopolíticasinternas <strong>do</strong> País; relaçõesinternacionais <strong>do</strong>País.2. Organização econômica<strong>do</strong> Rio Grande<strong>do</strong> Sul e <strong>do</strong> Brasil:. relação campo/cidade;. recursos minerais eenergéticos relaciona<strong>do</strong>saos aspectosnaturais;1. Ler o espaço brasileiro por meiode mapas, textos literários, notícias dejornais e acontecimentos locais. Selecionardiferentes mapas que mostremas modificações das fronteiras <strong>do</strong> Brasile propor que os alunos percebamas mudanças e estabeleçam relaçõesentre os mapas, o que permitirá umentendimento <strong>do</strong> processo de regionalização<strong>do</strong> País.Construir um jornal <strong>do</strong>s acontecimentosgeopolíticos com comentários epropor júris simula<strong>do</strong>s que contemplempesquisas também oportunizamum fazer pedagógico mais significativo.2. Trabalhar com questionamentos ediscussões oportuniza a argumentação.As questões a seguir são exemplosde momentos desafia<strong>do</strong>res paradesencadear os estu<strong>do</strong>s de conceitos:“Por que o Brasil, apesar de ser um<strong>do</strong>s países que mais produzem grãosno mun<strong>do</strong>, é também um <strong>do</strong>s quemais têm fome?”;“Por que nosso país, apesar de ter e<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 84 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


CompetênciaConceitosestruturantesConteú<strong>do</strong>sOperacionalização. comércio interno eexterno.exportar tanto ferro, não o utiliza paraconstruir ferrovias que são meio detransporte barato, eficiente e adequa<strong>do</strong>ao país?”;“Por que temos tantas indústrias emesmo assim somos pobres e temosdesemprego?”.Esses desafios instigam a reflexão <strong>do</strong>salunos e, a partir deles, o professor poderámediar a construção <strong>do</strong> conhecimento,chegan<strong>do</strong> aos conceitos necessáriospara compreender a economia<strong>do</strong> país e suas relações internacionais.85853. Compreender oespaço, argumentan<strong>do</strong>sobre a dinamicidadee a estrutura dapopulação.3. Relação das paisagensnaturais eeconômicas com aestrutura e a distribuiçãoda populaçãogaúcha e brasileira.3. Para o aluno relacionar o estu<strong>do</strong> dapopulação <strong>do</strong> Brasil com a organização<strong>do</strong> espaço brasileiro, é necessárioque o professor promova pesquisasreferentes a diferentes culturas quecompõem o espaço e essas pesquisasculminem em textos teatrais, poemas,músicas, mostras de culinárias, desenhos,maquetes e outros recursos que,soma<strong>do</strong>s, demonstrem a diversidadeda população.Quanto à estrutura demográfica, éindispensável utilizar recursos comoleituras comparativas de diferentes pirâmidesetárias, sempre diferencian<strong>do</strong>estes gráficos no decorrer <strong>do</strong> tempo,justifican<strong>do</strong> as mudanças e preven<strong>do</strong>futuras estruturas de pirâmides etárias.4. Ler criticamenteas tensões espaciais,argumentan<strong>do</strong> a respeitodelas.4. Tensões espaciais:. ambientais;. fundiárias;. demarcações deespaços indígenas;. movimento <strong>do</strong>s“SEM”;. urbanos (cidadesinformais, áreas derisco...).4. Quan<strong>do</strong> possível, o professor devepropor saídas de campo que mostremproblemas existentes nos lugares próximosaos alunos e, a partir de relatóriose fotos <strong>do</strong> que foi visto, permitam aprodução de textos comparativos entreos fatos observa<strong>do</strong>s pelos alunos. Aorealizar essa análise local, é possível,por meio de leituras de mapas, pontuaroutras tensões e tecer relaçõesconstantes. Nesse conteú<strong>do</strong>, tambémé necessário propor aos alunos situações-problemapara que argumentemsobre possíveis soluções e se posicionemdiante <strong>do</strong>s acontecimentos.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 85 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


86Temas estruturantesrelaciona<strong>do</strong>s aos blocosde conteú<strong>do</strong>sA Geografia compreende o campo <strong>do</strong> conhecimentoque propicia aos alunos a representação<strong>do</strong> espaço geográfico. Essa representaçãotem um senti<strong>do</strong> amplo e significativo,in<strong>do</strong> além da mera percepção.Representar um espaço é refletir sobre ele,teorizar e produzir o conhecimento que envolvea compreensão da organização espacial.Para que o aluno tenha autonomia ao pensaro espaço, é importante elencar algunstemas que possam estar articula<strong>do</strong>s aos conceitosestrutura<strong>do</strong>res dessa ciência, às competênciasque se utilizam <strong>do</strong>s conceitos paraarticular a aplicabilidade interdisciplinar <strong>do</strong>conhecimento e aos conteú<strong>do</strong>s que, gradualmente,compõem os quadros inter-relaciona<strong>do</strong>sque dão senti<strong>do</strong> à organização espacial.Assim, para referenciar o ensino da Geografia,foram escolhi<strong>do</strong>s os seguintes temasque norteiam os conteú<strong>do</strong>s:1. A leitura e a interpretaçãodas representações cartográficasEsse tema compreende to<strong>do</strong>s os passos <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s, que envolvem desde alfabetizaçãocartográfica até a construção de um mapa mental.A interpretação <strong>do</strong>s signos cartográficos e assuas textualizações permitem, em todas as séries<strong>do</strong>s ensinos fundamental e médio, a transferência<strong>do</strong>s processos que compõem o espaçopara os mapas, que se tornam, a partir dessaconcepção, dinâmicos e representativos.2. Formação histórico-espacial<strong>do</strong>s territórios e suas territorialidadesnas relações de podersobre o espaçoEsse tema é articula<strong>do</strong> sempre que sepropõe um estu<strong>do</strong> relacional entre os continentes,compreenden<strong>do</strong> o espaço como umto<strong>do</strong>, transpon<strong>do</strong> fronteiras e mundializan<strong>do</strong>culturas e conhecimentos.O tema também se faz presente na compreensãodas relações de poder na determinaçãoda formação de fronteiras no Brasil eno mun<strong>do</strong>, através da reflexão sobre a diferençaentre o território emana<strong>do</strong> de poder ea territorialidade, compreendida como a vontadee a essência da formação de um povo.3. A relação dinâmica entreo campo e a cidade nacompreensão da linguagemtecnológicaEm todas as séries, há a preocupação eminterpretar diferentes paisagens que compõema produção <strong>do</strong> espaço geográfico.A relação <strong>do</strong> campo com a cidade está inseridana leitura de to<strong>do</strong>s os aspectos econômicosque envolvem a espacialidade e, nessa relação,está o desenvolvimento tecnológico quemodificou e deixou mais íntima a dependênciaentre os lugares que compõem o espaço.4. A modernização <strong>do</strong>s eventosque compõem um mun<strong>do</strong>globaliza<strong>do</strong> e estrutura<strong>do</strong>no desenvolvimento técnicocientíficoEm cada conteú<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>, independentemente<strong>do</strong> espaço geográfico defini<strong>do</strong>,deve estar sempre clara a importância <strong>do</strong> entendimentode um mun<strong>do</strong> veloz e complexo.Não se pode simplificar o entendimento <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>, por isso, é importante o desenvolvimentoda competência de resolução de problemaspara que o aluno se sinta parte <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> repleto de ações, eventos e invençõestecnológicas que globalizam a comunicação,a economia, a cultura e a própria visão demun<strong>do</strong>.Diante da globalização, é indispensável acoerência em assegurar a identidade <strong>do</strong> lugarde vivência <strong>do</strong> aluno ao mesmo tempoem que essa identidade é globalizada.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 86 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


5. A movimentaçãoda populaçãoTorna-se imprescindível representar omun<strong>do</strong> em movimento tanto no senti<strong>do</strong>vertical, demonstran<strong>do</strong> as diferenças de estruturaspopulacionais, quanto no senti<strong>do</strong>horizontal, mostran<strong>do</strong> o movimento entreos espaços. Justificar e compreender essesmovimentos que envolvem a natureza e asdiscordâncias econômicas mundiais é umponto fundamental, pois anuncia a organização<strong>do</strong> espaço.O estu<strong>do</strong> da população que perpassa todasas séries deve ter um papel fundamental noentendimento <strong>do</strong>s movimentos, tanto concretoscomo virtuais, compreenden<strong>do</strong> as relações depoder que orientam e determinam essas interpretações.6. As tensões ambientaisresultantes das organizaçõeseconômicas e humanasCompreender o mun<strong>do</strong> em diferentesescalas e concepções propicia uma leituracrítica que envolve a relação entre o desenvolvimentoeconômico e as agressões aoambiente.Nesse tema, cruzam-se algumas reflexõesdistribuídas em diferentes conteú<strong>do</strong>s, desdeo entendimento das organizações agráriasaté o conjunto de elementos que formam ascidades e os aglomera<strong>do</strong>s urbanos. Tambémé preciso considerar o avanço tecnológico eas perspectivas de mudanças na organização<strong>do</strong> espaço.7. As relações de trabalhoem diferentes espaçosEm cada espaço geográfico desenvolvemsediferentes relações de trabalho que dinamizamou desaceleram o desenvolvimentoeconômico. Compreender essas relações éser capaz de flexibilizar os entendimentos erelacioná-los a organizações das sociedadestecnológicas ou tradicionais.O trabalho produz o espaço e, por meiodele, pode-se estudar as relações de poder,as transposições de territórios, a compreensãode culturas e os movimentos populacionais.8787Referências:ALMEIDA, Rosângela Doin de; PASSINI, Elza Y. O EspaçoGeográfico: ensino e representação. 3. ed. São Paulo:Contexto, 1991.BECKER, Fernan<strong>do</strong>. Educação e Construção <strong>do</strong> Conhecimento.Porto Alegre: Artmed, 2001.BRASIL, Ministério da Educação. Parâmetros CurricularesNacionais: Geografia. 5 a a 8 a Séries. Brasília:Secretaria de Educação Fundamental, 1988.______. PCN+ ensino médio: Orientações EducacionaisComplementares aos Parâmetros CurricularesNacionais. Ciências Humanas e suas tecnologias.Brasília: Ministério da Educação/Secretaria de EducaçãoMédia e Tecnológica, 2002.CALLAI, Helena C. Estudar o lugar para compreendero mun<strong>do</strong>. In: CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos(Org.). Ensino de Geografia - Práticas de Textualizaçõesno Cotidiano. 3. ed. Porto Alegre: Mediação,2003.CASTROGIOVANNI, Antonio Carlos; COSTELLA,Roselane Zordan. Brincar e Cartografar com os DiferentesMun<strong>do</strong>s Geográficos: a alfabetização espacial.Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.COSTELLA O Significa<strong>do</strong> da Construção <strong>do</strong> ConhecimentoGeográfico Gera<strong>do</strong> por Vivencias e por representaçõesEspaciais, <strong>2009</strong>. Estu<strong>do</strong> de Tese (UFRGS).GOMES, Edvânia T. A. Natureza e Cultura. In: COR-RÊA, Roberto Lobato; ROSENDAHL, Zeny (Orgs.). Paisagem,Imaginário e Espaço. Rio de Janeiro: EdURJ,2001.HEIDRICH, Álvaro; SUERTEGARAY, Dirce; REGO, Nelson.O ensino de Geografia como uma hermenêuticainstaura<strong>do</strong>ra. In: REGO, Nelson; AIGNER, Carlos; PI-RES, Claudia; LINDAU, Heloísa (Orgs.). Um Pouco <strong>do</strong>Mun<strong>do</strong> Cabe em Suas Mãos. Porto Alegre: UFRGS,2003.KOCH, Inge<strong>do</strong>re Villaça; TRAVAGLIA, Luiz Carlos.A Coerência Textual. 17. ed. São Paulo: Contexto,2006.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 87 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:54


88PIAGET, Jean; INHELDER, Barbel. A Representação <strong>do</strong>Espaço na Criança. Tradução de Bernardina Macha<strong>do</strong>de Albuquerque. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.PIRES, Claudia; LINDAU, Heloisa; RODRIGUES, Milton.Geografizan<strong>do</strong> Lugares: transitan<strong>do</strong> por diferentesambiências. In: REGO, Nelson; AIGNER, Carlos; PIRES,Claudia, LINDAU, Heloisa (Orgs.). Um Pouco <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>Cabe em Suas Mãos. Porto Alegre: UFRGS, 2003.REGO, Nelson; <strong>REF</strong>FATI, Lucimara. Representações deMun<strong>do</strong>, Geografias Adversas e Manejo Simbólico. PortoAlegre: Terra Livre, 2005.______. (Org.); AIGNER, Carlos; PIRES, Claudia; LIN-DAU, Heloisa. Um pouco <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong> Cabe em SuasMãos. Porto Alegre: UFRGS, 2003.______. Apresentan<strong>do</strong> um pouco <strong>do</strong> que sejam ambiênciase suas relações com a geografia e a educação.In: REGO, Nelson, HEIDRICH, Álvaro, SUERTEGARAY,Dirce. (Orgs.). Geografia e Educação: geração deambiências. Porto Alegre: UFRGS, 2000.SANTOS, Milton. A Natureza <strong>do</strong> Espaço: técnica etempo. Razão e Emoção. 2. ed. São Paulo: Hucitec,1997.VASCONCELLOS, Celso. Construção <strong>do</strong> Conhecimentoem Sala de Aula. São Paulo: Libertad, 2005.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 88 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:55


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SociologiaA Sociologia estuda uma ampla variedadede temas, empregan<strong>do</strong> um conjunto deconceitos teóricos e recursos meto<strong>do</strong>lógicose técnicos, com o objetivo de contribuir parao conhecimento <strong>do</strong>s problemas sociais e oequacionamento de suas possíveis soluções.Seu ensino no nível médio, conforme indica<strong>do</strong>neste Referencial Curricular 1 , será desenvolvi<strong>do</strong>a partir de um conjunto de situaçõesde ensino-aprendizagem que enfoquem temassocialmente relevantes e que sejam, aomesmo tempo, significativos para os alunos 2 .A dimensão desse desafio pode ser visualizada,se considerarmos os da<strong>do</strong>s da pesquisa daUNICEF A Voz <strong>do</strong>s A<strong>do</strong>lescentes 3 , os quais indicamque, “ainda que 70,2% <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentesconsiderem que os conteú<strong>do</strong>s que estudam naescola são importantes para sua vida e crescimentoprofissional, menos da metade deles(39,7%) considera que as aulas ajudam a compreendermelhor a sociedade em que vivem”(UNICEF/Fator OM, 2002: 49) 3 . Destaqueseque 79,9% <strong>do</strong>s a<strong>do</strong>lescentes consideramque os conteú<strong>do</strong>s leciona<strong>do</strong>s não são distantesda sua vida, nem são sem utilidade prática,enquanto que <strong>12</strong>,8% consideram que osconteú<strong>do</strong>s leciona<strong>do</strong>s “são distantes da suavida, sem utilidade prática”. (UNICEF/FatorOM, 2002: 49)Mas, como trabalhar, na sala de aula, comsituações didático-pedagógicas que não sejam“distantes da vida” <strong>do</strong>s alunos, nem sejamconsideradas por eles “sem utilidade prática”?Mais ainda, como auxiliá-los a “compreendermelhor a sociedade em que vivem”?Frente a esses desafios, cabe recordar queuma das principais finalidades <strong>do</strong> ensino daSociologia no nível médio é contribuir para aconstrução da cidadania <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>, enquantoprotagonista de seus direitos e deveres,instrumentalizan<strong>do</strong>-o para a compreensãode seu “estar no mun<strong>do</strong>” com os outros epara a compreensão das principais transformaçõessociais contemporâneas, tais comoo processo de globalização, ou as questõesrelacionadas à sociedade <strong>do</strong> conhecimento,à exclusão social e às políticas públicas– sempre trata<strong>do</strong>s à luz <strong>do</strong>s conceitos ofereci<strong>do</strong>spelas múltiplas abordagens teóricaspresentes neste campo disciplinar 4 .No universo escolar, o tratamento e aproblematização <strong>do</strong>s processos e fenômenossociais que estão na base das principaistransformações sociais contemporâneas devemter por referência um conjunto central dequestões, quais sejam:a) De que maneira explicar a existênciae a manutenção das coletividades humanas?De que mo<strong>do</strong> acontece a interaçãoentre o indivíduo e essas coletividades?b) Que mecanismos interferem na organizaçãoe estruturação <strong>do</strong>s quadros sociaisda vida humana?c) Como a mudança social é produzidae pode ser explicada? (MEC/PCNEM-CH,1999: 36-37).91911O presente Referencial Curricular foi elabora<strong>do</strong> a partir da <strong>do</strong>cumentação nacional formulada pelo Ministério da Educação relativa à Sociologia noensino médio, assim como <strong>do</strong> Referencial Curricular da Educação Básica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, especialmente quanto à área de CiênciasHumanas (SEC/RS, <strong>2009</strong>). Os principais <strong>do</strong>cumentos nacionais considera<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> da elaboração <strong>do</strong> presente Referencial Curricular de Sociologia<strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul foram: Diretrizes Curriculares Nacionais <strong>do</strong> ensino médio (MEC/DCNEM, 1998); Parâmetros Curriculares Nacionaispara o ensino médio (MEC/PCNEM, 1999); PCN+ ensino médio (MEC/PCN+EM, 2002); e Orientações Curriculares para o ensino médio (MEC/OCEM-CH, 2008). To<strong>do</strong>s esses <strong>do</strong>cumentos estão disponíveis para <strong>do</strong>wnload no site <strong>do</strong> MEC, e contêm significativas contribuições sobre o processoensino-aprendizagem de Sociologia no ensino médio, as quais podem, certamente, auxiliar na elaboração detalhada de planos de ensino.2Para uma visão da história <strong>do</strong> ensino da Sociologia no ensino médio no Brasil, ver MEC/OCEM-CH (2008) e a obra Sociologia e Ensino em Debate.Experiências e Discussão de Sociologia no Ensino Médio (CARVALHO, 2004), que contém, além de artigos e <strong>do</strong>cumentos sobre essa história, importantesrelatos de experiências didático-pedagógicas, incluin<strong>do</strong> propostas curriculares e planos de ensino. Atente-se que to<strong>do</strong>s os livros cita<strong>do</strong>s nesse Referencial,ainda que esgota<strong>do</strong>s, estão normalmente disponíveis para compra em livrarias vinculadas ao site estantevirtual, sistema de compra via internet, quecongrega livrarias de to<strong>do</strong> o Brasil.3Recorde-se que o Estatuto da Criança e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescente (ECA) considera a<strong>do</strong>lescentes aqueles que integram a faixa etária <strong>do</strong>s <strong>12</strong> aos 18 anos. AOrganização Mundial da Saúde circunscreve a a<strong>do</strong>lescência à segunda década da vida (de 10 a 19 anos), entre a infância e a fase adulta (MS, 2005:7). Considera, outrossim, que a juventude se estende <strong>do</strong>s 15 aos <strong>24</strong> anos, identifican<strong>do</strong> duas categorias: a <strong>do</strong>s jovens a<strong>do</strong>lescentes (idade entre 15 e19 anos) e a <strong>do</strong>s jovens adultos (idade entre 20 e <strong>24</strong> anos), a primeira das quais corresponden<strong>do</strong>, pois aproximadamente, à faixa de idade esperadade alunos <strong>do</strong> ensino médio no Brasil.4É relevante deixar indica<strong>do</strong> aqui que foram identificadas significativas diferenças regionais quanto a essa última percepção. No Centro-Oeste, 46,4% <strong>do</strong>sa<strong>do</strong>lescentes acreditam que as aulas ajudam a compreender melhor a sociedade, enquanto que, no Sudeste, esse índice é de 39,8%; no Nordeste, 39,5%;no Norte, 39,3%; e no Sul, de apenas 36,4%” (UNICEF/Fator OM, 2002: 49). Ressalte-se que esses da<strong>do</strong>s podem tanto indicar um ensino mais socialmenteresponsável nos primeiros casos, como, ao contrário, um grau de exigência maior <strong>do</strong>s alunos em relação ao ensino ofereci<strong>do</strong>, nos últimos casos.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 91 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:57


92Ao trabalhar com essas questões, a Sociologiapode contribuir, em situações detrabalho interdisciplinar, para a reflexão permanentesobre a questão básica da área deCiências Humanas: quais as possibilidadesde vivermos “em sociedade, enquanto diferentesindivíduos, grupos, segmentos e classessociais, desenvolven<strong>do</strong> ações no âmbitodas relações sociais, em contextos de construçãode conhecimentos [de elaboração deconstruções intelectuais]?” (PCN+, 2002:<strong>24</strong>). Em outros termos, trata-se de ter semprepresente que o ensino das disciplinas queconstituem a área de Ciências Humanas nonível médio tem por objetivo básico:o estu<strong>do</strong> das ações humanas no âmbitodas relações sociais, que são construídasentre diferentes indivíduos, grupos,segmentos, classes sociais, bem como asconstruções intelectuais que estes elaboramnos processos de construção de conhecimentosque, em cada momento, semostram necessários para viver em sociedade,em termos individuais ou coletivos(PCN+, 2002: <strong>24</strong>).A partir dessas orientações, cabe ao ensinoda Sociologia selecionar temas/problemasgera<strong>do</strong>res, os quais – a partir da conceituaçãode Paulo Freire 5 – são aqueles capazesde cativar e motivar os alunos para oseu exame, bem como fornecer instrumentaisconceituais e meto<strong>do</strong>lógicos para o estu<strong>do</strong><strong>do</strong>s mesmos, de suas origens 6 e efeitos sociais,bem como de suas possíveis soluções.Mas quais seriam os temas/problemas quecaracterizam, atualmente, o estar no mun<strong>do</strong><strong>do</strong>s jovens que frequentam nossas escolas?Uma vez identifica<strong>do</strong>s esses temas/problemas,como podemos transformá-los em situaçõesdidático-pedagógicas? Estudantespaulistas entrevista<strong>do</strong>s por Souza (2003), porexemplo, responderam que os maiores problemasenfrenta<strong>do</strong>s pela juventude, por ordemde relevância, são: as drogas; o desemprego;o fato <strong>do</strong>s próprios jovens serem umproblema, por serem imediatistas e individualistas;o fato das pessoas não acreditaremmuito nos jovens; a violência; a influêncianegativa de amigos; a falta de oportunidadede expressar seu talento/capacidade; o fatode não serem entendi<strong>do</strong>s/compreendi<strong>do</strong>s; ea ocorrência de gravidez indesejada (SOU-ZA, 2003: 96 e 97). A partir da mobilizaçãode da<strong>do</strong>s, informações e elementos dasvivências <strong>do</strong>s alunos, os problemas identifica<strong>do</strong>sna pesquisa podem ser transforma<strong>do</strong>sem objeto de atividades didático-pedagógicas,constituin<strong>do</strong>-se em temas/problemasgera<strong>do</strong>res a serem submeti<strong>do</strong>s à análise individuale coletiva, com base em conceitos eteorias sociológicas.O Referencial Curricular de Sociologia assumecomo compromisso que o exame dessestemas-problemas-chaves deve se realizara partir <strong>do</strong> conceito de desenvolvimento humanosustentável e equitativo, proposto pelaUNESCO (1997), na obra Nossa DiversidadeCria<strong>do</strong>ra 7 :a questão central <strong>do</strong> processo de desenvolvimentoé determinar que políticas promovem, sob a égidede uma Ética Universal, um verdadeiro desenvolvimentohumano sustentável e equitativo, ao mesmotempo em que estimulam o florescimento de diferentesculturas (UNESCO, 1997: 27).Desse mo<strong>do</strong>, um desenvolvimento humanosustentável e equitativo só poderá ser alcança<strong>do</strong>se forem respeita<strong>do</strong>s os seguintesprincípios:(a) a democracia é a forma política maispropícia à proteção das minorias raciais,5Na concepção de Paulo Freire, os temas gera<strong>do</strong>res, “qualquer que seja a natureza de sua compreensão, como a ação por eles provocadas, [eles]contêm em si a possibilidade de des<strong>do</strong>brar-se em tantos outros temas que, por sua vez, provocam novas tarefas que devem ser cumpridas” (FREIRE,1987: 93, nota 18). Recorde-se que, “as palavras gera<strong>do</strong>ras são instrumentos que, durante o trabalho de alfabetização, conduzem os debates quecada uma delas sugere e à compreensão de mun<strong>do</strong>, que é o melhor nome para a ideia de conscientização [...] a ser aberta e aprofundada com osdiálogos <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s em torno <strong>do</strong>s temas gera<strong>do</strong>res,” os quais são instrumentos de debate em fases posteriores <strong>do</strong> trabalho <strong>do</strong> círculo de cultura(Brandão, 1999: 39). Sobre esses conceitos, ver especialmente Freire (1969: 1<strong>12</strong> e seguintes); e Freire (1987: 95 e seguintes).6Utiliza-se aqui a noção de origens sociais de um problema social, no senti<strong>do</strong> de multicausalidade, emprega<strong>do</strong> por Moore Jr. (1975), em oposiçãoà ideia de causalidade linear ou de cadeia de conexões simples entre fenômenos. Sobre esse tema e suas implicações na área de estu<strong>do</strong>s sociais, verespecialmente Castillo (1998: 117).7Ver, também, o Programa Objetivos de Desenvolvimento <strong>do</strong> Milênio (ONU, 2000).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 92 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:57


étnicas e culturais, comprometen<strong>do</strong>-secom a solução pacífica <strong>do</strong>s conflitos edas controvérsias através de negociaçõesequitativas;(b) uma efetiva “Cultura da Paz” deve sercultivada entre as nações e nos espaçosintranacionais;(c) quanto à questão de gênero, são necessáriasmudanças para a concreção deuma plena igualdade jurídica e <strong>do</strong> acessoà educação e à saúde (a fim de acelerar asuperação <strong>do</strong> hiato entre os sexos), assimcomo mudanças em matéria de igualdadede oportunidades – acesso ao crédito, posiçõesde gerência e eleição de autoridadesgovernamentais; e(d) a equidade em cada geração e entregerações implica que as gerações atuaiscuidem <strong>do</strong> meio ambiente e <strong>do</strong>s recursosculturais e naturais, utilizan<strong>do</strong>-os emproveito das gerações presentes e futuras(UNESCO, 1997).A “Cultura da Paz”, referida acima, estáintrinsecamente relacionada à prevenção e àresolução não violenta <strong>do</strong>s conflitos. Fundaseno princípio <strong>do</strong> pluralismo, que assegurae sustenta a liberdade de opinião, na tolerância,na solidariedade e no compartilhamentoem base cotidiana 8 . Trata-se de construirglobalmente uma cultura que respeite to<strong>do</strong>sos direitos individuais, que se empenhe emprevenir conflitos e que se comprometa coma solução das novas ameaças não militarespara a paz e para a segurança, como a exclusão,a pobreza extrema e a degradaçãoambiental. A “Cultura de Paz”, em síntese,tem por objetivo básico resolver os problemaspor meio <strong>do</strong> diálogo, da negociação eda mediação, de forma a tornar a guerra e aviolência inviáveis.Esse conjunto de valores e princípios temcomo fundamento os direitos humanos, responsáveispela formação de uma Ética Universalque deve nortear todas as formas deconvivência social, asseguran<strong>do</strong> a integridadefísica e emocional <strong>do</strong> indivíduo contraameaças da sociedade e garantin<strong>do</strong> as condiçõesmínimas para uma vida decente, o tratamentojusto e o acesso equitativo aos mecanismosde correção de injustiças. A essesdireitos enuncia<strong>do</strong>s na Declaração Universal<strong>do</strong>s Direitos somaram-se, recentemente, oschama<strong>do</strong>s novos direitos humanos, quais sejam,o direito a um meio ambiente saudável epropício ao bem-estar <strong>do</strong> homem e da mulhere as responsabilidades individuais e coletivaspara sua salvaguarda (UNESCO, 1997: 53).A universalidade e a indivisibilidade <strong>do</strong>s DireitosHumanos e a luta contra a discriminaçãosão assumidas como as forças diretrizespara o estabelecimento de uma paz justa esustentável. Para tanto, a UNESCO dirige seusmúltiplos programas, em especial, aos gruposmarginaliza<strong>do</strong>s (como as mulheres, as criançasdeficientes, os refugia<strong>do</strong>s e as minorias),trabalhan<strong>do</strong> na disseminação da informaçãosobre os instrumentos disponíveis para a proteção<strong>do</strong>s Direitos Humanos, bem como deprocedimentos que possibilitem sua efetivapromoção. Ten<strong>do</strong> presente que a discriminaçãoe a intolerância caminham frequentementejuntas, a Organização a<strong>do</strong>tou, em 1995, aDeclaração <strong>do</strong>s Princípios sobre a Tolerância(UNESCO, 1995), propon<strong>do</strong> uma educaçãoque, no senti<strong>do</strong> mais amplo <strong>do</strong> termo, tornecada cidadão sensível ao outro e que estabeleçaum senso de responsabilidade com respeitoaos direitos e liberdades, colocan<strong>do</strong> aías bases fundamentais da “Cultura de Paz”.Mais ainda, reafirma-se nesse contexto que aeducação (formal e informal) para to<strong>do</strong>s, aolongo de toda a vida, deve ser baseada nosquatro pilares <strong>do</strong> conhecimento: “aprender aconhecer”, “aprender a fazer”, “aprender aviver junto” e “aprender a ser” 9 .Alinhan<strong>do</strong>-se com esse conjunto de valorese princípios, comprometi<strong>do</strong>s com odesenvolvimento humano assenta<strong>do</strong> empolíticas inspiradas por uma ética universal,93938Sobre o Programa “Cultura da Paz”, ver http://www.comitepaz.org.br/o_manifesto.htm, acessa<strong>do</strong> em 28/11/2008. O Programa “Escola Aberta”desenvolvi<strong>do</strong> em vários esta<strong>do</strong>s <strong>do</strong> Brasil, inclusive no Rio Grande <strong>do</strong> Sul, insere-se no âmbito dessa iniciativa da UNESCO.9Ver o Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o Século XXI, intitula<strong>do</strong> Educação: um tesouro a descobrir. (DELORS,et al., 1996).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 93 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:57


94alicerçada na tolerância e na paz, o presenteReferencial Curricular considera que as CiênciasHumanas, em geral, e a Sociologia, emparticular, podem auxiliar no exame das questõesmais prementes na sociedade e no encaminhamentode suas possíveis soluções. Paratanto, é possível contar, ainda, com o indispensávelconcurso da ciência e da tecnologia,que – de acor<strong>do</strong> com a UNESCO – podemcontribuir de forma clara e efetiva, e o têmfeito, para a redução da pobreza e o alívio <strong>do</strong>sofrimento, para a manutenção <strong>do</strong> equilíbrioecológico, para a pesquisa fundamental emto<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>mínios <strong>do</strong> saber humano e paratornar a vida mais fácil, plena, confortável eagradável (UNESCO, 1997: <strong>12</strong>2).A consciência de que um currículo de Sociologiana educação básica 10 deve ser formata<strong>do</strong>consideran<strong>do</strong>-se os objetivos e limitesdesse nível educacional – bastante diversos<strong>do</strong>s cursos de graduação volta<strong>do</strong>s à formaçãode sociólogos – também impõe escolhasno que se refere ao universo teórico a ser trabalha<strong>do</strong>com os estudantes. Isto significa queé necessário proceder-se a uma seleção deconceitos, teoricamente contextualiza<strong>do</strong>s, erealizar sua transposição para o tratamentode temas relevantes, que venham ao encontrotanto <strong>do</strong>s interesses <strong>do</strong>s alunos quanto <strong>do</strong>sobjetivos de formação preconiza<strong>do</strong>s para essenível de ensino:• a formação da pessoa, de maneira a desenvolvervalores e competências necessáriasà integração de seu projeto individualao projeto da sociedade em que se situa;• o aprimoramento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> comopessoa, incluin<strong>do</strong> a formação ética e odesenvolvimento da autonomia intelectuale <strong>do</strong> pensamento crítico;• a preparação e orientação básica paraa sua integração ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho,com as competências que garantam seuaprimoramento profissional e permitamacompanhar as mudanças que caracterizama produção no nosso tempo;• o desenvolvimento das competênciaspara continuar aprenden<strong>do</strong>, de forma autônomae crítica, em níveis mais complexosde estu<strong>do</strong>s. (PCNEM, 1999, p. 22).Desse mo<strong>do</strong>, no ensino de Sociologia,teorias, conceitos, méto<strong>do</strong>s e resulta<strong>do</strong>s depesquisas devem ser trabalha<strong>do</strong>s de formacriativa e não escolástica, o que não significaignorar to<strong>do</strong> o patrimônio de conhecimentosdessa área de saber acumula<strong>do</strong> ao longo<strong>do</strong> tempo. Ao contrário, cabe ao professorapresentá-los e esclarecê-los em função dassituações de aprendizagem trabalhadas emsala, para o que pode servir-se, inicialmente,<strong>do</strong> breve panorama teórico apresenta<strong>do</strong> aofim deste Referencial.Competências econceitos estruturantes<strong>do</strong> ensino de Sociologiano ensino médioO Referencial Curricular de Sociologia assume,no contexto <strong>do</strong> Referencial Curricular daEducação Básica <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong>Sul 11 , o pressuposto de que as atividades didático-pedagógicasdevem objetivar o desenvolvimentode competências para Ler, Escrevere Resolver problemas, consideradas fundamentaispara que os alunos possam continuaraprenden<strong>do</strong>, de forma autônoma e crítica, emníveis mais complexos de estu<strong>do</strong>s <strong>12</strong> .Ler envolve a construção, por parte <strong>do</strong>sujeito, de uma representação mental <strong>do</strong>sobjetos que o texto ou os fatos neles trata<strong>do</strong>sevocam, isto é, um modelo mental, ouimagens mentais, da situação (ou situações)que o texto apresenta. Em Sociologia, o educan<strong>do</strong>,a partir de sua vivência cotidiana e10Recorde-se que para o estu<strong>do</strong> de temas da realidade brasileira, assim como de outros países, como os latino-americanos, deve-se estar sempreatento para os cuida<strong>do</strong>s que precisam ser toma<strong>do</strong>s para a utilização de teorias, conceitos e hipóteses propostos por autores em outros contextossociais como o europeu e o norte-americano. Essa atenção permite escapar das armadilhas da orto<strong>do</strong>xia, ou da aplicação mecânica, acrítica edescontextualizada de elementos teóricos para o tratamento de temas emergentes em realidades muito diversas daquelas em que os mesmos foramoriginariamente formula<strong>do</strong>s. Ver MEC/OCEM-CH (2008), especialmente páginas 115 a <strong>12</strong>5.11Além <strong>do</strong>s textos introdutórios desses Referenciais, ver o Referencial da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias (SEC/RS, <strong>2009</strong>).<strong>12</strong>Ver os Referencial Curricular da Área de Ciências Humanas e suas Tecnologias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (<strong>2009</strong>), e especialmente Castillo(1998).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 94 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:57


de estu<strong>do</strong>s, poderá enriquecer sua visão demun<strong>do</strong> e compartilhá-la, comunican<strong>do</strong>-aaos outros através <strong>do</strong> diálogo ou da escrita,pois os fatos sociais e históricos, as ações ecriações culturais <strong>do</strong>s povos, suas tradiçõese concepções de mun<strong>do</strong> caracterizam-se porserem fenômenos permanentemente abertosà compreensão, permitin<strong>do</strong> leitura e releiturasocial e historicamente contextualizadas.O Escrever, por sua vez, é uma prática decodificação de que nos servimos para transmitirsentimentos, conhecimentos e ideias eque está intrinsecamente associada à leituranão só de textos, mas também <strong>do</strong> “estar nomun<strong>do</strong> com os outros” –, ao diálogo, à oralidadee às múltiplas formas de representaçãonão linguísticas (desenho, dança e música,por exemplo).Resolver problemas, em Sociologia, assimcomo no conjunto das disciplinas da áreade Ciências Humanas, é uma competênciacom características peculiares que necessitamser observadas em situações didáticopedagógicas.Os problemas sociais, por suasespecificidades, são de difícil definição, poispossuem explicações e processos de soluçãomulticausais, que carregam necessariamenteopções de valor (CASTILLO, 2008: 118) 13 .As possíveis soluções de problemas sociaissão sempre interpretações e não são neutras<strong>do</strong> ponto de vista moral ou ideológico. Nãohá soluções “corretas”, já que elas precisamlevar em conta outros pontos de vista, diferentes<strong>do</strong>s que foram a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s. Nesse contexto,há sempre soluções melhores e piorespara um problema social, a partir de critériostécnicos (coerência, rigor) e que contêmposições valorativo-ideológicas e morais (eficácia,rentabilidade, respeito ao meio ambiente,liberdade e justiça). Ao consideraros problemas sociais em situações didáticopedagógicas,torna-se então importante: (a)formulá-los de forma consistente, identifican<strong>do</strong>suas principais causas, assim como osprincipais atores envolvi<strong>do</strong>s; e (b) equacionaras soluções possíveis, hierarquizan<strong>do</strong>-as, segun<strong>do</strong>critérios técnicos e valorativos, previamenteacorda<strong>do</strong>s.É preciso ter presente, também, que a mobilizaçãoe o desenvolvimento das competênciaspara Ler, Escrever e Resolver problemastendem a estar presentes simultaneamente nasmúltiplas atividades de ensino-aprendizagem,poden<strong>do</strong> todavia ocorrer a pre<strong>do</strong>minância deuma sobre as demais, que desempenham, assim,um papel secundário ou auxiliar. Ao lerindividualmente um texto e escrever um resumode suas ideias principais, o aluno está mobilizan<strong>do</strong>,exercitan<strong>do</strong> duas dessas competências.Já para resolver um problema apresenta<strong>do</strong>por escrito, torna-se necessário tambémmobilizar e exercitar, como elementos auxiliares,as competências de leitura e de escrita.No que se refere ao desenvolvimento dessastrês competências, este Referencial Curricularparte <strong>do</strong> princípio de que elas devem ser organicamentearticuladas com os três eixos de competências,a serem contempla<strong>do</strong>s pelo ensino deSociologia no nível médio, quais sejam:(a) representação e comunicação,(b) investigação e compreensão, e(c) contextualização sociocultural 14 .O eixo de competência representação ecomunicação objetiva o desenvolvimento porparte <strong>do</strong> aluno da compreensão da Sociologiacomo Ciência da Sociedade, o que significaque ele deve:(a) identificar, analisar e comparar os diferentesdiscursos sobre a realidade; asexplicações das Ciências Sociais, amparadasnos vários paradigmas teóricos, e asexplicações <strong>do</strong> senso comum, e(b) identificar, a partir das observações e reflexõesrealizadas, as fontes sociais <strong>do</strong>s diferentesdiscursos sobre as realidades sociais(MEC/PCN+EM, 2002: 89).959513Castillo (2008) ressalta que, no presente, a emergência <strong>do</strong>s problemas sociais e de suas possíveis soluções são fortemente intermediadas pelosmeios de comunicação, tema esse que pode ser objeto de significativo estu<strong>do</strong> interdisciplinar no ensino médio.14MEC/PCNEM-CH, 1999, e MEC/PCN+EM, 2002. Cabe aqui a mesma advertência já feita quanto à possível copresença da mobilização dascompetências de Ler, Escrever e Resolver problemas em toda e qualquer atividade didático-pedagógica, ainda que sob a <strong>do</strong>minância de uma ou duasdessas. Embora apresenta<strong>do</strong>s formalmente como elementos a serem desenvolvi<strong>do</strong>s em momentos separa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> trabalho didático-pedagógico emSociologia, os conjuntos de competências – (a) representação e comunicação, (b) investigação e compreensão e (c) contextualização sociocultural – tendemtambém a uma permanente copresença, caben<strong>do</strong> aos planos de ensino definir qual ou quais serão <strong>do</strong>minantes nas atividades didático-pedagógicas a seremdesenvolvidas em da<strong>do</strong> momento.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 95 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:57


96Entre os principais temas a serem aborda<strong>do</strong>s,no senti<strong>do</strong> aqui considera<strong>do</strong> de temasgera<strong>do</strong>res, destacam-se as questões da multiplicidadeteórica, conceitual e meto<strong>do</strong>lógicada Sociologia e a variedade <strong>do</strong>s temas de estu<strong>do</strong>a que essa ciência se dedica, merecen<strong>do</strong>destaque, também, a relevância social dessaciência e de suas tecnologias de pesquisa, informaçãoe comunicação para o conhecimentoe possível solução de problemas sociais.O eixo de competências investigação ecompreensão tem por temas principais asquestões da Cultura e da Diversidade Cultural,da Tolerância e da “Cultura da Paz”. A análisedesses temas-gera<strong>do</strong>res orienta-se no senti<strong>do</strong><strong>do</strong> desenvolvimento, por parte <strong>do</strong>s alunos, dacompreensão <strong>do</strong>s elementos cognitivos, afetivos,sociais e culturais que constituem as múltiplasidentidades sociais, relativizan<strong>do</strong> assima sua própria identidade social e a de outrosagentes sociais. Esse eixo objetiva o desenvolvimentodas seguintes competências:(a) construir instrumentos para uma melhorcompreensão da vida cotidiana, amplian<strong>do</strong>a “visão de mun<strong>do</strong>” e o “horizonte deexpectativas” nas relações interpessoaiscom os vários grupos sociais;(b) construir uma visão crítica da indústriacultural e <strong>do</strong>s meios de comunicação demassa, avalian<strong>do</strong> o papel ideológico <strong>do</strong>marketing, como estratégia de persuasão<strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s eleitores; e(c) compreender e valorizar as diferentesmanifestações culturais de etnias e segmentossociais, agin<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a preservar,sob a égide da “Cultura da Paz”, odireito à diversidade, enquanto princípioestético, político e ético que supera conflitose tensões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> atual (MEC/PCN+EM, 2002: 90).Em síntese, trata-se aqui de desenvolver acompreensão da sociedade, de sua gênesee transformação, bem como <strong>do</strong>s múltiplosfatores e processos sociais que nela intervêm,enquanto produtos da ação humana,sen<strong>do</strong> que a possibilidade de ampliar a visãode mun<strong>do</strong>, desenvolver uma visão críticada sociedade contemporânea e respeitar asdiversidades culturais, sociais e pessoais vaipermitir ao aluno a decodificação da complexarealidade social, levan<strong>do</strong>-o a assumir atitudesmais críticas e atuantes na comunidade(MEC/PCN+EM, 2002: 90).Finalmente, o eixo de competências contextualizaçãosociocultural objetiva o desenvolvimentopor parte <strong>do</strong> aluno da compreensão<strong>do</strong> papel histórico das instituições sociais,políticas e econômicas, associan<strong>do</strong>-asàs práticas <strong>do</strong>s diferentes grupos e atoressociais, aos princípios que regulam a convivênciaem sociedade, à distribuição equitativa<strong>do</strong>s benefícios econômicos, aos direitos edeveres da cidadania e à justiça. As competênciasa serem contempladas neste eixo são:(a) compreender as transformações nomun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e o novo perfil de qualificaçãoexigida, gera<strong>do</strong>s por mudançasna ordem econômica;(b) construir a identidade social e políticade mo<strong>do</strong> a viabilizar o exercício da cidadaniaplena, no contexto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> deDireito, atuan<strong>do</strong> para que haja, efetivamente,reciprocidade de direitos e deveresentre o poder público e o cidadão e, também,entre os diferentes grupos e(c) compreender o significa<strong>do</strong> históricosocial<strong>do</strong> Protagonismo Juvenil na Luta porseus Direitos (MEC/PCN+EM, 2002: 91).Consideran<strong>do</strong> que os principais temasgera<strong>do</strong>res a serem enfoca<strong>do</strong>s no ensino deSociologia referem-se às questões <strong>do</strong> Trabalhoe da Cidadania e à Situação Social e àsPerspectivas <strong>do</strong>s Jovens e <strong>do</strong>s A<strong>do</strong>lescenteshoje, é possível afirmar, em consonância como que dispõem os PCN+EM, que:o professor e o aluno poderão avançar ainda mais,se forem criadas oportunidades de atuação cidadã,isto é, se o aluno puder protagonizar a mudança,mesmo que pequena, viabilizan<strong>do</strong> o exercício dacidadania dentro ou fora da escola. Propostas deações democráticas no interior da escola (análisedas relações de poder envolven<strong>do</strong> a direção, o grêmioestudantil, a APM, etc.) e o encaminhamentode propostas para solucionar problemas da comu-<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 96 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:57


nidade para a Câmara Municipal ou associaçõesde bairro (questões ecológicas, poluição visual esonora, por exemplo) são possibilidades de atuação<strong>do</strong> aluno (MEC/PCN+EM, 2002: 91).O tema Jovens e A<strong>do</strong>lescentes Hoje, enquantotema-gera<strong>do</strong>r, permite o exame sociológicode situações e vivências familiares,bem como das possibilidades educacionais<strong>do</strong>s estudantes 15 , de seus mo<strong>do</strong>s de inserção/exclusão no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e <strong>do</strong> consumo,de suas múltiplas preferências culturais eestéticas, das diversas formas de afetividadee de sexualidade, assim como das possibilidadese mo<strong>do</strong>s de protagonismo de seus direitose deveres (MEC/OCEM-CH, 2008) 16 .À luz dessas reflexões e propostas para aSociologia no ensino médio, o presente ReferencialCurricular propõe que os planos deensino e as atividades didático-pedagógicasorientem-se a partir <strong>do</strong> estabelecimento deinter-relações entre um <strong>do</strong>s três eixos de competências(a. representação e comunicação,b. investigação e compreensão, e c. contextualizaçãosociocultural) com as habilidades aserem desenvolvidas, ten<strong>do</strong> por referência otratamento sociológico de temas e subtemasseleciona<strong>do</strong>s, conforme especifica<strong>do</strong> no Quadro1. Nesse Quadro, são explicitadas as ênfasesanalíticas relativas a cada um <strong>do</strong>s eixosde competências e as relações daquelas comhabilidades a serem mobilizadas e valorizadas,quan<strong>do</strong> <strong>do</strong> planejamento e da realizaçãode atividades didático-pedagógicas. Cumpreenfatizar que os programas de Sociologia devemconsiderar a série de conceitos estrutura<strong>do</strong>respropostos pelo MEC/PCN+EM: indivíduo,sociedade, trabalho, produção, classesocial, poder, <strong>do</strong>minação, ideologia, cultura,mudança social 17 . É pertinente, também, incluirtemas tais como violência, globalização,questão racial, etnocentrismo, preconceito,sexualidade, gênero, meio ambiente, cidadania,direitos humanos, religião e religiosidade,movimentos sociais e meios de comunicaçãode massas (OCEM CH, 2008: <strong>12</strong>1) 18 .No estu<strong>do</strong> da Sociologia como ciência,entre os temas, de estu<strong>do</strong> propostos, cabedestacar os conceitos fundamentais da SociologiaSistemática 19 , por sua relevânciapara o conhecimento da realidade social.Conceitos como os de Comunidade e Sociedade,de Categorias Sociais e Grupos SociaisPrimários e Secundários, de Ação Social e deMo<strong>do</strong>s de Interação Social, de Processos deSocialização, de Status Social e de Papéis Sociais,de Identidades e de Máscaras Sociaistêm si<strong>do</strong> por vezes relega<strong>do</strong>s a um segun<strong>do</strong>plano, ou mesmo ao esquecimento no ensinoda Sociologia, inclusive em graduaçõese pós-graduações da área. Sua equivocadaidentificação exclusivamente com o funcionalismoparece estar na base desse desprestígio.Esses conceitos podem ser de granderelevância para os alunos, se apresenta<strong>do</strong>se discuti<strong>do</strong>s em associação com os conceitosde Controle Social, de Comportamento Desviante20 , e especialmente de Poder Simbólicoe de Violência Simbólica 21 , em atividades didático-pedagógicas.Nesta condição, podemcontribuir para a desnaturalização e o estranhamentoao ler o mun<strong>do</strong> social 22 .979715Sobre as relações jovem-escola, ver o instigante estu<strong>do</strong> Escola e Juventude. O Aprender a Aprender, de Souza (2003).16Sobre a situação e aspiração <strong>do</strong>s jovens hoje, ver UNICEF/Fator OM (2002) e os estu<strong>do</strong>s incluí<strong>do</strong>s no livro Integração Social (Perret-Clermont et al., 2004).17Ver MEC/OCEM-CH, 2008, página 119. Os MEC/PCN+EM consideram, outrossim, que referências aos conceitos e méto<strong>do</strong>s da Antropologia,da Ciência Política, <strong>do</strong> Direito, da Economia e da Psicologia são também indispensáveis à formação básica <strong>do</strong> cidadão. Assim sen<strong>do</strong>, a seleção etratamento interdisciplinar e contextualiza<strong>do</strong> <strong>do</strong>s conceitos estrutura<strong>do</strong>res da Sociologia devem levar em conta a contribuição fundamental dessasáreas das Ciências Humanas e Sociais (MEC/PCN+EM, 2002: 87).18Destaque-se que, conforme será visto a seguir, a própria Escola, enquanto instituição social, pode ser um significativo tema gera<strong>do</strong>r, “objeto deestu<strong>do</strong> da Sociologia”, ensejan<strong>do</strong> “pesquisas quantitativas e qualitativas, a serem realizadas pelos alunos, guardan<strong>do</strong>-se os devi<strong>do</strong>s limites quanto ainstrumentos, técnicas e resulta<strong>do</strong>s” (MEC/OCEM-CH, 2008: 114).19Sobre os conceitos fundamentais da Sociologia Sistemática, ver, entre outros: Mannheim (1971), Vila Nova (1995), Rex (1973), Foracchi e Martins(1978), Foracchi e Pereira (1974). Em Giddens (2008) e Dubar (1997) tem-se interessantes exemplos das possibilidades de emprego <strong>do</strong>s conceitos emquestão para o tratamento de temas contemporâneos. Dubar (1997), por exemplo, enfoca em seu estu<strong>do</strong>, a partir de uma rica revisão das abordagensteóricas sobre o tema, as relações entre a socialização e a construção das identidades sociais e profissionais.20Para uma revisão teórica <strong>do</strong>s conceitos de Controle Social e Desvio, ver Giddens, 2008, páginas 172 e seguintes.21Sobre os conceitos de Poder Simbólico e de Violência Simbólica, ver a obra O Poder Simbólico de Pierre Bourdieu (1989). Para uma introdução aopensamento desse autor, ver o <strong>do</strong>ssiê “Ensaios sobre Pierre Bourdieu”, na Revista Educação & Sociedade, n o 78, disponível no site Scielo.22Sobre o papel da Sociologia e das Ciências Sociais na desnaturalização e no estranhamento <strong>do</strong> “estar no mun<strong>do</strong>”, ver MEC/OCEM-CH (2008: p. 105).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 97 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


98Quadro 1Sociologia no ensino médio no Rio Grande <strong>do</strong> Sul.Eixos de competências, habilidades e temas 1Eixos de competências;competências e ênfasesHabilidades 3 Temas 4analíticas 2A - EIXO DE COMPETÊNCIAREPRESENTAÇÃO E COMUNI-CAÇÃOEntender a importância da Sociologiacomo ciência e suas tecnologiasde pesquisa, informaçãoe comunicação para o conhecimentode problemas sociais, bemcomo equacionar possíveis soluçõespara eles.CompetênciasO eixo representação e comunicaçãoaponta para as seguintescompetências:• A. 1. Identificar, analisar e compararos diferentes discursos sobrea realidade expressos nas explicaçõesda Sociologia, amparadasnos vários paradigmas teóricos, eas explicações <strong>do</strong> senso comum.• A. 2. Identificar, a partir das observaçõese reflexões realizadas,as fontes <strong>do</strong>s diferentes discursossobre as realidades sociais.Ênfases AnalíticasAs Questões Teóricas eMeto<strong>do</strong>lógicas em SociologiaO embate <strong>do</strong> conhecimento científicoversus conhecimento vulgar(ou senso comum).As questões relativas aos méto<strong>do</strong>se técnicas de pesquisa e de investigaçãosocial.- A. 1. Identificar em diferentes fontesos elementos que compõem osistema societário e seus processosde permanência e transformação.- A. 1. Identificar e compararsemelhanças e diferenças entrerepresentações sociais acerca desituações ou fatos de natureza social,reconhecen<strong>do</strong> os pressupostosde cada interpretação e analisan<strong>do</strong>a validade <strong>do</strong>s argumentosutiliza<strong>do</strong>s.- A. 1. Identificar e comparar pontosde vista científicos e <strong>do</strong> sensocomum acerca de aspectos culturaisseleciona<strong>do</strong>s, expressos emdiferentes fontes e registros.- A. 2. Identificar e analisar asraízes socioculturais <strong>do</strong>s preconceitos(étnico-raciais, de gênero,sexualidade e de idade) e avaliaras propostas formuladas paracombatê-los.- A. 2. Identificar os instrumentospara ordenar, analisar e explicar osprocessos e eventos sociais, relacionan<strong>do</strong>-osa fatores históricos,geográficos, econômicos, políticose culturais.- A. 2. Identificar e correlacionarcom seus contextos de formulaçãofontes <strong>do</strong>cumentais de naturezasdiversas e textos analítico-interpretativossobre diferentes processos sociais,interpretan<strong>do</strong> seus significa<strong>do</strong>s.Sociologia e Sociedade• A Sociologia: ConhecimentoCientífico versus Senso Comum• História <strong>do</strong> Pensamento Sociológico:as Contribuições das PrincipaisCorrentes Teóricas• A Sociologia no Brasil: História ePerspectivas• Ciências Sociais e Educação:Sociologia no ensino médioConceitos Fundamentais daSociologia Sistemática para oConhecimento <strong>do</strong> Cotidiano• Comunidade e Sociedade• Categorias Sociais e Grupos SociaisPrimários e Secundários• Ação Social e Mo<strong>do</strong>s de InteraçãoSocial: Processos Sociais deCooperação; Acomodação; Assimilação;Competição e ConflitoSocial• Os Indivíduos e os Processos deSocialização: Status Social, PapéisSociais, Identidades e MáscarasSociais• Instituições Sociais: InstituiçõesEconômicas, Instituições Políticas,Instituições Jurídicas, InstituiçõesReligiosas, e Instituições Culturais• A Família, a Escola, o Jovem e oA<strong>do</strong>lescente• Valores e Normas Sociais: ControleSocial e ComportamentoDesvianteEixos de competências;competências e ênfasesanalíticasB - EIXO DE COMPETÊNCIAINVESTIGAÇÃO E COMPREEN-SÃO1. Compreender os elementoscognitivos, afetivos, sociais e culturaisque constituem a identidadeprópria e a <strong>do</strong>s outros.Habilidades- B. 1. Analisar manifestações culturaissignificativas <strong>do</strong> presente,associan<strong>do</strong>-as aos seus contextossocio-históricos.- B. 2. Analisar, em um mun<strong>do</strong>globaliza<strong>do</strong>, os efeitos e as interferênciasdas mudanças provocadasTemasCultura e Sociedade• Conceitos de Cultura e de Ideologia• Cultura e a Questão <strong>do</strong> RelativismoCultural• Cultura Material e Imaterial• Cultura Erudita e Cultura Popular<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 98 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


Eixos de competências;competências e ênfasesanalíticasHabilidadesTemas99992. Compreender a sociedade,sua gênese e transformação, bemcomo os múltiplos fatores que nelaintervêm, como produtos da açãohumana; a si mesmo como agentesocial; e os processos sociais comoorienta<strong>do</strong>res da dinâmica <strong>do</strong>s diferentesgrupos de indivíduos.3. Entender os princípios das tecnologiasda Sociologia voltadasao conhecimento <strong>do</strong> indivíduo,da sociedade e da cultura, entreas quais as de planejamento, deorganização, de gestão, de trabalhoem equipe, empregan<strong>do</strong>-aspara a identificação de problemassociais e suas possíveis soluções.CompetênciasO eixo investigação e compreensãoaponta para as seguintescompetências:• B. 1. Construir instrumentos parauma melhor compreensão da vidacotidiana, amplian<strong>do</strong> a “visão demun<strong>do</strong>” e o “horizonte de expectativas”nas relações interpessoaiscom os vários grupos sociais.• B. 2. Construir uma visão críticada indústria cultural e <strong>do</strong>s meios decomunicação de massa, avalian<strong>do</strong>o papel ideológico <strong>do</strong> marketing,como estratégia de persuasão <strong>do</strong>sconsumi<strong>do</strong>res e <strong>do</strong>s eleitores.• B. 3. Compreender e valorizaras diferentes manifestações culturaisde etnias e segmentos sociais,agin<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> a preservar, sob aégide da “Cultura da Paz”, o direitoà diversidade, enquanto princípioestético, político e ético que superaconflitos e tensões <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> atual.Ênfases AnalíticasCultura, Diversidade Cultural,Educação, Tolerância e“Cultura da Paz”Identidade cultural, indústria cultural,mídia e propaganda, educação,alienação e conscientizaçãotolerância, “Cultura da Paz” e a lutacontra os preconceitos e o etnocentrismo.pela indústria cultural no cotidianode diferentes grupos sociais,consideran<strong>do</strong> as permanências etransformações de suas identidadessociais.- B. 3. Analisar a produção dasmúltiplas formas de memória sociale suas inter-relações com otempo social.- B. 3. Valorizar a diversidade <strong>do</strong>patrimônio social, cultural e artístico,suas manifestações e representaçõesem diferentes espaçossociais.- B. 3. Identificar e avaliar distintasformas de tratamento e preservaçãoda memória material e imaterialde grupos sociais, comunidadese sociedades nacionais.• Cultura Popular e Cultura deMassa• Relações entre Consumo e Alienaçãona Cultura de Massa Hoje• Os Movimentos de Contracultura• Criação Cultural e ConscientizaçãoCultura e Sociedade no Brasil• Valores Culturais Brasileiros: ADiversidade Cultural e a Questãoda Identidade Nacional• Mapas Culturais <strong>do</strong> Brasil• A Indústria Cultural no Brasil:Política, Economia e os Meios deComunicação de MassaEducação e Cultura: Democratizaçãode Oportunidades• Cultura, Educação e Novas Tecnologiasde Informação• As Desigualdades de OportunidadesEducacionais e PolíticasPúblicasJuventude, A<strong>do</strong>lescênciae Cultura• O Jovem e o A<strong>do</strong>lescente noBrasil Hoje: Afetividade, Sexualidadee Relações de Gênero• A Cultura Jovem no Brasil Hoje:“Tribos” e PropostasDiversidade Cultural e Tolerância• Etnocentrismo, DiscriminaçãoSocial e Preconceito Social emRelações Étnico-Raciais, de Gêneroe Sexualidade, assim comode Categorias Sociais de Idade• Educação, Tolerância e “Culturada Paz”<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 99 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


100Eixos de competências;competências e ênfasesanalíticasC - EIXO DE COMPETÊNCIACONTEXTUALIZAÇÃOSOCIOCULTURAL1. Compreender o desenvolvimentoda sociedade como processode ocupação de espaçosfísicos e das relações da vida humanacom a paisagem, em seusdes<strong>do</strong>bramentos políticos, culturais,econômicos e humanos.2. Compreender a produção eo papel histórico das instituiçõessociais, políticas e econômicas,associan<strong>do</strong>-as às práticas <strong>do</strong>sdiferentes grupos e atores sociais,aos princípios que regulam aconvivência em sociedade, aosdireitos e deveres da cidadania, àjustiça e à distribuição <strong>do</strong>s benefícioseconômicos.3. Traduzir os conhecimentossobre a pessoa, a sociedade, aeconomia, as práticas sociais eculturais em condutas de indagação,análise, problematização eprotagonismo diante de situaçõesnovas, problemas ou questões davida pessoal, social, política, econômicae cultural.4. Entender o impacto das tecnologiasassociadas à Sociologiae às demais Ciências Humanassobre sua vida pessoal, os processosde produção, o desenvolvimento<strong>do</strong> conhecimento e a vidasocial.5. Compreender, também, a relevânciasocial dessa ciência ede suas tecnologias de pesquisa,informação e comunicação parao conhecimento e possível soluçãode problemas sociais.6. Aplicar as tecnologias daSociologia e demais CiênciasHumanas e Sociais na escola, notrabalho e em outros contextosrelevantes para sua vida.CompetênciasNo eixo contextualização sociocul-Habilidades- C. 1. Analisar e interpretar osprocessos de transformação sociohistóricade distintas realidadessociais, a partir de conhecimentossobre a economia e as práticassociais e culturais.- C. 1. Analisar e interpretar amundialização da economia e osprocessos de interdependência dasnações, acentua<strong>do</strong>s pelo desenvolvimentode novas tecnologias.- C. 1. Identificar as principaiscaracterísticas das novas tecnologiase avaliar as modificações queimpõem ao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho(desterritorialização da produçãoindustrial e agrícola), às condiçõessocioambientais e às relações sociaiscotidianas.- C. 1. Correlacionar a dinâmica<strong>do</strong>s fluxos populacionais (migraçõesinternas e internacionais) comas formas contemporâneas deorganização <strong>do</strong> espaço sociogeográfico.- C. 1. Posicionar-se criticamentesobre os processos de transformaçõessociais, econômicas, políticase culturais no contexto societáriopresente, identifican<strong>do</strong> e comparan<strong>do</strong>referenciais alternativos quevisem erradicar formas de exclusãosocial.- C. 1. Propor formas de atuaçãopara a conservação <strong>do</strong> meio ambientee a promoção de um desenvolvimentosustentável e equitativo.- C. 2. Analisar e interpretar, ten<strong>do</strong>como referência a concepção de“Ética Universal” da UNESCO, opapel <strong>do</strong>s valores éticos e moraisna estruturação política das sociedades.- C. 2. Analisar e interpretar o papel<strong>do</strong> Direito (civil e internacional)na estruturação, organização edemocratização das sociedades.- C. 2. Identificar os significa<strong>do</strong>ssocio-históricos das relações depoder nas sociedades nacionaisTemasTrabalho e Sociedade• Conceitos de Trabalho e de suaRelevância Social• Mo<strong>do</strong>s de Produção e HistóriaSocial• Estrutura de Classes e EstratificaçãoSocial• Trabalho, Ócio e Lazer na SociedadePós-Industrial• O Trabalho no Brasil: Escravidão,Trabalho Livre e a Exclusão SocialGlobalização, Novas Tecnologiase as Novas Qualificações• Merca<strong>do</strong> de Trabalho: Emprego eDesemprego• Profissionalização e MobilidadeSocial: Perspectivas de AscensãoSocial no BrasilDesigualdades Sociais: Conceituaçãoe Formas Históricas• Desigualdades de Oportunidadesde Trabalho: As Múltiplas Discriminaçõespor Gênero, Raça,Idade e Escolaridade• As Desigualdades Sociais no BrasilHoje e as Políticas SociaisDesenvolvimento SustentávelEquitativo e Mudanças Sociais• Concepções e Conceitos deMudanças Sociais, de ReformasSociais e de Revolução Social• Políticas Públicas, Reformas Sociaise Desenvolvimento SustentávelEquitativoO Esta<strong>do</strong> e a Questão daDemocracia• Concepções de Ditadura, Autoritarismoe Esta<strong>do</strong> de Direito• Estruturas Políticas: Representaçãoe Participação• Direitos <strong>do</strong> Cidadão e Relaçõesde Poder Político no CotidianoO Esta<strong>do</strong> Brasileiro ea Democracia• Democracia e República noBrasil: Man<strong>do</strong>nismo, Patrimonia-<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 100 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


Eixos de competências;competências e ênfasesanalíticastural, as competências são:• C. 1. Compreender as transformaçõesno mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalhoe os novos perfis de qualificaçãoexigi<strong>do</strong>s por mudanças nos sistemasde produção.• C. 2. Construir a identidade sociale política de mo<strong>do</strong> a viabilizaro exercício da cidadania plena,no contexto <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> de Direito,atuan<strong>do</strong> para que haja, efetivamente,reciprocidade de direitos edeveres entre o poder público e ocidadão e, também, entre os diferentesgrupos.• C. 3. Compreender o significa<strong>do</strong>histórico-social <strong>do</strong> ProtagonismoJuvenil na Luta por seusDireitosÊnfases AnalíticasTrabalho e CidadaniaDesenvolvimento econômico etransformações no mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalhonas diferentes estruturas sociaisem um mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>.Democracia e Cidadania: Identidadesocial, Participação Políticae Desenvolvimento Sustentável eEquitativo.Jovens e A<strong>do</strong>lescentes Hoje:Situação Social e PerspectivasProtagonismo de Jovens e A<strong>do</strong>lescentes:Direitos, Deveres e CidadaniaPlena.Habilidadese entre as nações no contexto <strong>do</strong>processo de globalização.- C. 2. Analisar e interpretar opapel social das instituições sociais(sindicatos; parti<strong>do</strong>s políticos;ONGs; igrejas; organismos internacionais,por exemplo), no enfrentamentode problemas de ordemeconômico-social.- C. 2. Identificar a dinâmica daorganização <strong>do</strong>s movimentos sociaise a importância da participaçãoda coletividade na transformaçãoda realidade social.- C. 2. Analisar e avaliar as conquistassociais e as transformaçõesdemocratizantes ocorridas na legislaçãopolítica, civil e social, emdiferentes perío<strong>do</strong>s históricos.– C. 2. Identificar o papel <strong>do</strong>sdiferentes meios de comunicaçãona formação da opinião pública eavaliar, criticamente, suas possíveiscontribuições para o fortalecimentoda cidadania e da democracia.- C. 2. Reconhecer alternativasdiferenciadas de intervenção emconflitos sociais e crises institucionaise resolução <strong>do</strong>s mesmos soba égide da “Cultura da Paz”, respeitan<strong>do</strong>os valores humanos e adiversidade sociocultural.- C. 3. Identificar as principaiscaracterísticas e perspectivas dasituação social <strong>do</strong> Jovem e <strong>do</strong>A<strong>do</strong>lescente no Brasil Hoje e astendências <strong>do</strong> Protagonismo Juvenilna Luta por seus Direitos.Temaslismo, Autoritarismo e Esta<strong>do</strong> deDireito• A Constituição e os Três Poderesno Brasil Hoje: Atribuições Constitucionaise Desempenho• Movimentos Sociais, Ética e Democraciano Brasil• “Cultura da Paz” e a ResoluçãoDemocrática de Conflitos Sociaise de Crises InstitucionaisO Jovem e o A<strong>do</strong>lescente Hoje• Situação Social, Direitos e Deveres<strong>do</strong>s Jovens e <strong>do</strong>s A<strong>do</strong>lescentesno Brasil Hoje: Educação, Trabalho,Saúde, Cultura e Lazer• O Jovem e o A<strong>do</strong>lescente comoProtagonistas de seus Direitos eDeveres101 101Fonte: Elaboração a partir das Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais (MEC/PCN+EM, 2002) e da Matrizde Competências e Habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias <strong>do</strong> ENCCEJA (INEP, 2002).Notas: 1 – A articulação entre as competências e as habilidades está indicada pela classificação alfabética e numérica. Por exemplo, a CompetênciaA. 1. relaciona-se às Habilidades A.1., na segunda coluna. 2 – A especificação <strong>do</strong>s Eixos de Competências, das Competências e das ÊnfasesAnalíticas para a Sociologia fundamenta-se no <strong>do</strong>cumento MEC/PCN+EM (2002); 3 – A especificação das Habilidades tem por referência a Matrizde Competências e Habilidades de Ciências Humanas e suas Tecnologias <strong>do</strong> ENCCEJA (INEP, 2002), assumida pelo Referencial Curricular da Área deCiências Humanas e suas Tecnologias <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul (SEC/RS, <strong>2009</strong>); 4 – A especificação de temas tem por referência as propostaspara a Sociologia presentes no <strong>do</strong>cumento MEC/PCN+EM (2002, páginas 93 e seguintes) e nas Orientações Curriculares para o ensino médio (MEC/OCEM-CH, 2008).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 101 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


102Ressalte-se que os temas e subtemas arrola<strong>do</strong>sno Quadro 1, enquanto referência para aelaboração de planos de ensino de sociologiano nível médio, são fundamentalmente indicativos.Cabe aos professores, no âmbito <strong>do</strong> trabalhointerdisciplinar das propostas pedagógicasde suas comunidades escolares e consideran<strong>do</strong>os interesses <strong>do</strong>s alunos, eleger, especificare operacionalizar, de forma criativa e pluralista,os conteú<strong>do</strong>s a serem trabalha<strong>do</strong>s.Estratégias para oensino da SociologiaAs Orientações Curriculares para o EnsinoMédio das Ciências Humanas e suasTecnologias/OCEM CH (2008) apresentamuma importante reflexão sobre as vantagense desvantagens <strong>do</strong> desenvolvimento de planospedagógicos de Sociologia no ensinomédio 23 , fundan<strong>do</strong>-os, estrategicamente,ora em temas, ora em conceitos, ora emteorias (Quadro 2). Sustentan<strong>do</strong> a importânciade buscar a articulação permanentedesses três recortes analíticos <strong>24</strong> , é importanteque as atividades didático-pedagógicaspartam <strong>do</strong>s interesses e conhecimentos <strong>do</strong>salunos, proporcionan<strong>do</strong>-lhes a possibilidadede desnaturalização e de estranhamentoem suas leituras <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> social, em oposiçãoà naturalização e habitualidade típicas<strong>do</strong>s conhecimentos <strong>do</strong> senso comum.EstratégiasQuadro 2Estratégias para o ensino da SociologiaDesvantagensVantagensESTRATÉGIA CENTRADAEM TEMAS- seleção e estu<strong>do</strong> de temas/problemassociais relevantes.ESTRATÉGIA CENTRADA EMCONCEITOS- seleção, apresentação e análisede conceitos, que se constituemem elementos básicos <strong>do</strong> discursocientífico, sintetizan<strong>do</strong> as ações eprocessos sociais e permitin<strong>do</strong> suaexplicação como uma totalidade.ESTRATÉGIA CENTRADA EMTEORIAS- seleção, apresentação e análisede teorias sociológicas, enquantoreconstruções da realidade sociale “modelos explicativos” da mesma.- pode-se reduzir a mera narraçãode informações ou experiências pessoaisou a mera coleta de informaçõesem jornais, revistas e internet.- requer que o professor tenha umaformação sólida, uma capacidadeanalítica muito grande e um amploconhecimento da realidade social.- admite vários senti<strong>do</strong>s para umconceito, conforme o autor, a correnteteórica ou a época.- oportuniza o risco de apresentaçãoformal, escolástica, de “quaseverbetes”<strong>do</strong>s conceitos.- oportuniza o risco de mera apresentaçãoformalista, escolástica,<strong>do</strong>gmática de teorias, tenden<strong>do</strong> à<strong>do</strong>utrinação.- permite evitar que os alunossintam a disciplina como algoestranho.- permite, quan<strong>do</strong> analisadas à luzde critérios teórico-conceituais,desenvolver uma abordagem sociológicamais sólida de questõessignificativas.- permite o desenvolvimento da capacidadede abstração necessáriapara a análise da sociedade.- permite elevar o conhecimento aum patamar além <strong>do</strong> senso comume das aparências.- permite ao aluno conhecer ahistória das diversas teorias daSociologia.- permite ao aluno verificar as diferentespossibilidades teóricas decompreender e explicar os fenômenossociais ofereci<strong>do</strong>s pelasdistintas teorias.Fonte: elabora<strong>do</strong> com base nos Pressupostos Meto<strong>do</strong>lógicos da Sociologia no ensino médio, in MEC/OCEM-CH, 2008.23Entre outras obras que podem servir de referência para os professores elaborarem suas propostas didático-pedagógicas, destaque-se: Sociologia, deGiddens (2008), a qual abrange o tratamento sociológico de uma expressiva gama de problemas sociais; e as obras Relativizan<strong>do</strong> (DAMATTA, 1981)e Teorias de Política Comparativa (CHILCOTE, 1997), as quais oferecem, respectivamente, interessantes panoramas de preocupações e alternativasteórico-conceituais da Antropologia e da Ciência Política para o estu<strong>do</strong> de problemas contemporâneos. Como textos complementares para consulta,sugere-se, entre outras, as obras de Rex (1973), Megale (1989) e Vila Nova (1995).<strong>24</strong>Esses recortes se referem às três dimensões necessárias que devem ser atendidas pelo ensino de Sociologia: uma dimensão explicativa oucompreensiva – teorias; uma dimensão linguística ou discursiva – conceitos; e uma dimensão empírica ou concreta – temas (MEC/OCEM-CH, 2008:117).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 102 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


Ao mesmo tempo, da<strong>do</strong>s os objetivose características <strong>do</strong> ensino médio, o <strong>do</strong>cumentoargumenta de mo<strong>do</strong> consistente queos planos de ensino de sociologia devem serorganiza<strong>do</strong>s pre<strong>do</strong>minantemente pela análisede temas sociais relevantes sob a luz deconceitos sociológicos fundamentais. A apresentaçãoe o desenvolvimento de unidadespedagógicas a partir de temas/problemasgera<strong>do</strong>res é exemplificada no Quadro 3, noqual são sugeridas técnicas e atividades parao tratamento de temas seleciona<strong>do</strong>s.Uma segunda forma de organizar as atividadesdidático-pedagógicas centra-se naapresentação e análise de distintos conceitossociológicos, sem descurar da referência àsteorias que os embasam. Nessas situações,a ênfase está na tensão entre os conceitosque expressam, no limite, distintas concepçõesteóricas acerca desses temas, caben<strong>do</strong>aos da<strong>do</strong>s trazi<strong>do</strong>s para as situações didáticopedagógicasenriquecer os estu<strong>do</strong>s em desenvolvimento.Trata-se neste caso de apresentaras conexões <strong>do</strong>s conceitos em foco com oscorrespondentes campos teóricos (contextualizaçãoheurística) e momentos históricos (contextualizaçãohistórico-social) de sua formulaçãoe emprego.Por exemplo, toman<strong>do</strong>-se o conceito deeducação, ou mais particularmente de escola25 , pode-se apresentar inicialmente as concepçõesque a consideram como instituiçãoresponsável pelo ensinar a moral para nossascrianças das escolas primárias em termospuramente laicos (DURKHEIM, 2007: 62)ou como aparelho ideológico de Esta<strong>do</strong> efator de reprodução das relações de produção(ALTHUSSER, 1985), ou como fator deconservação social (BOURDIEU, 1999). Emcontraste com essas concepções tem-se, porexemplo, o instigante antagonismo entre asconclusões das pesquisas de Souza (2003) eas de Freitag (1979) sobre a escola públicano Brasil hoje. Souza (2003), em oposição àsinterpretações que enfatizam o papel da escolana adaptação das novas gerações à ordemsocial vigente e especialmente ao mun<strong>do</strong> daprodução, argumenta que a socialização juvenilna escola pública não se dá como um processode interiorização de hábitos e valores,mas como o desenvolvimento da capacidadede “aprender a aprender”, essencial para aadaptação a um meio instável (SOUZA, 2003:182). Trata-se aqui, fundamentalmente, nãomais de disciplinamento da força de trabalho,mas de adaptação <strong>do</strong> indivíduo à instabilidade,à ausência de autoridade e de critérios, àprevalência <strong>do</strong>s interesses individuais sobreos coletivos, ao descrédito da justiça e da lei,característicos da vida contemporânea (SOU-ZA, 2003: 183). Frente a essa visão pessimista,contrapõem-se as conclusões <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>Sociedade e Consciência de Bárbara Freitag(1986), realiza<strong>do</strong> em São Paulo em 1979, oqual buscou avaliar a competência linguística,moral e lógica de crianças de diferentes classessociais e faixas etárias, ten<strong>do</strong> por referência ateoria psicogenética de Piaget e de Kohlberg 26 .Os resulta<strong>do</strong>s desse estu<strong>do</strong> indicam que a experiênciaescolar contínua entre 6 e 16 anos,independentemente da origem socioeconômicae da qualidade das escolas e da formação<strong>do</strong>s professores, pode efetivamente favorecero amadurecimento linguístico, moral e lógicodas crianças e a<strong>do</strong>lescentes, revelan<strong>do</strong> a urgênciade assegurar a escolarização plena atodas as crianças brasileiras (FREITAG, 1986).Ressalte-se que o amadurecimento das estruturaslógico-morais 27 independe da aprendizagem<strong>do</strong> conteú<strong>do</strong> em si, sen<strong>do</strong> a convivên-103 10325Como exemplo de uma apresentação pedagógica de diferentes, e no limite antagônicas, concepções de educação e de escola, ver o Capítulo 1 <strong>do</strong> livroEscola, Esta<strong>do</strong> e Sociedade (Freitag, 1978), no qual são comparadas criticamente as concepções de autores como Durkheim, Parsons, Bourdieu e Gramsci.26Ver, também, a relevante obra Itinerários de Antígona. A Questão da Moralidade (Freitag, 1992).27Em grandes linhas, na concepção teórica em foco, a construção da moral pela criança desenvolve-se em quatro etapas: a) etapa da pré-moralidadeou <strong>do</strong> egocentrismo infantil (0 a 5 anos), marcada inicialmente pela absoluta ausência da noção de regra social e de consciência moral, e culminan<strong>do</strong>na imitação automática das regras <strong>do</strong>s adultos (hábitos), sem a consciência das noções de infração de regras e de sanções; b) etapa da moralidadeheterônoma ou de realismo moral (5 a 8 anos), caracterizada pela vigência de uma noção rudimentar das regras, as quais são percebidas comosagradas e imutáveis e personificadas por autoridades como os pais, o padre, o policial e o líder político; c) etapa da semiautonomia moral (8 a 10anos), em que ocorre a relativização das regras sociais, mas as mesmas ainda são percebidas como imposições desde fora, e não como um produtode cuja elaboração se participou; e d) etapa da autonomia moral (a partir <strong>do</strong>s 10 ou <strong>12</strong> anos), tipificada pela consciência de que a necessidadeda moral decorre da relação com o outro, sen<strong>do</strong> que as regras são cumpridas quan<strong>do</strong> percebidas e avaliadas como necessárias e importantes e,conforme a situação, relativizan<strong>do</strong>-se a noção de dever e a intenção <strong>do</strong> sujeito (Freitag, 1986 e 1992).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 103 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


104cia escolar com os pares um aspecto-chavedesse amadurecimento. Em outras palavras,as crianças que tiveram uma possibilidade depermanência maior na escola revelaram, nostestes emprega<strong>do</strong>s, níveis de maturidade socialsuperior a crianças da mesma idade queaban<strong>do</strong>naram a escola ce<strong>do</strong>. Um aspectoessencial <strong>do</strong> modelo de construção da moralpela criança aqui em foco é a crescente descentração<strong>do</strong> indivíduo, o qual, partin<strong>do</strong> <strong>do</strong>egocentrismo infantil, tem a possibilidade dechegar ao pleno reconhecimento <strong>do</strong> outro –o “estranho/estrangeiro” –, como diferente,com suas características e interesses própriosque devem ser respeita<strong>do</strong>s 28 .O exame comparativo dessas diferentese antagônicas concepções acerca da escola– em especial da escola pública – permitea geração de novas direções de trabalhodidático-pedagógico, através da incorporaçãode outros conceitos (e temas/problemasgera<strong>do</strong>res), tais como: (a) o a<strong>do</strong>lescente,a família e a escola; (b) escola etrabalho; (c) a<strong>do</strong>lescência, individualismoe solidariedade; e (d) a escola e o a<strong>do</strong>lescenteenquanto protagonista de seus direitose deveres. Outrossim, cumpre registrarque essa abertura crescente da rede de temas/problemasa serem aborda<strong>do</strong>s deveter sempre presente o objetivo didáticopedagógicode desenvolvimento, por parte<strong>do</strong>s alunos, de suas competências de Ler,Escrever e Resolver problemas, bem comoa problematização <strong>do</strong>s conceitos de desenvolvimentohumano sustentável e equitativoe de Cultura da Paz.Uma terceira alternativa é trabalhar comteorias sociológicas selecionadas, o que podeser desenvolvi<strong>do</strong> no ensino médio, enquantouma Unidade Didática específica 29 , através desua apresentação sistemática e sintética, visan<strong>do</strong>sensibilizar os alunos para a importânciadas contribuições da disciplina na análise<strong>do</strong>s problemas sociais contemporâneos.Da<strong>do</strong> que a literatura especializada voltadaao ensino de Sociologia no nível médio aindanão é numerosa 30 , torna-se necessário,quan<strong>do</strong> da opção por essa estratégia deensino, apoiar-se sistematicamente em textosacadêmico-científicos e realizar a tarefade transposição <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s mesmospara esse nível de ensino.As Orientações Curriculares para Sociologia(MEC/OCEM-CH, 2008) apresentame discutem uma interessante seleção depráticas de ensino e de recursos didáticosque podem enriquecer o ensino da disciplina.As práticas podem ser: aula expositiva,leitura e análise de textos, seminários, bemcomo excursões, visitas a museus e a parquesecológicos. Entre os recursos didáticos,apontam o emprego de filmes, vídeosou DVD, programas de TV e fotografias;charges, cartuns e tiras para o enriquecimento<strong>do</strong> tratamento <strong>do</strong>s temas seleciona<strong>do</strong>s.A realização, por parte <strong>do</strong>s alunos, depesquisas sobre temas sociais relevantes évalorizada, deven<strong>do</strong> ocorrer sempre à luzde teorias e conceitos nortea<strong>do</strong>res da leiturada realidade social, da análise <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s, fatos e/ou opiniões colhi<strong>do</strong>s (MEC/OCEM-CH, 2008: <strong>12</strong>5-<strong>12</strong>7).Em relação às práticas de ensino, cabe indicara interessante obra O Ensino que Funciona,de Marzano et al. (2008), na qual éapresenta<strong>do</strong> e discuti<strong>do</strong> um conjunto de estratégiasdidático-pedagógicas selecionadaspara melhorar a aprendizagem e o desem-28Essa concepção vem ao encontro da concepção de “Cultura da Paz”, conforme acima definida.29Recorde-se que, aqui, não se assume o compromisso de formar cientistas sociais no ensino médio, mas sim o de sensibilizar os alunos para aspossibilidades explicativas <strong>do</strong>s conhecimentos sociológicos.30Entre os livros volta<strong>do</strong>s para a Sociologia no ensino médio cabe indicar Meksenas (1993); SEED-PR, (2006); e Tomazi (2007), Brym et al. (2008) eHandfas e Oliveira (<strong>2009</strong>). Conta-se, presentemente, com a revista mensal Sociologia Ciência & Vida. da Editora Escala, a qual traz temas relevantes esugestões de exercícios a serem desenvolvi<strong>do</strong>s em aula. Na internet, além <strong>do</strong> site Scielo, que proporciona o acesso gratuito e o <strong>do</strong>wnload de artigos deinúmeras revistas de todas áreas <strong>do</strong> conhecimento, é possível também identificar sites e fóruns dedica<strong>do</strong>s à apresentação e discussão de experiênciasdidático-pedagógicas de Sociologia no ensino médio, utilizan<strong>do</strong> para busca delimitada, expressões entre aspas tais como: “ensino sociologia” ou“sociologia ensino médio”. Entre outros, tem-se os seguintes sites: http://www6.ufrgs.br/laviecs/home.htm, <strong>do</strong> Laboratório Virtual e Interativo de Ensino deCiências Sociais – LAVIES; http://sociologia.incuba<strong>do</strong>ra.fapesp.br/portal; http://www.sed.sc.gov.br/lefis/; e http://www.educacert.com.br/; nos quais sãoapresenta<strong>do</strong>s elementos relevantes sobre o ensino de Sociologia no nível médio.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 104 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


penho escolar <strong>do</strong>s alunos 31 . Em ordem designificância para a aprendizagem, são elas:(a) identificar semelhanças e diferençasentre <strong>do</strong>is ou mais elementos;(b) resumir e fazer anotações;(c) reforçar e proporcionar o reconhecimento<strong>do</strong>s esforços e <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong>salunos;(d) realizar lição de casa e atividades práticas;(e) empregar representações não linguísticas(desenhos; gráficos; criação de modelosfísicos; movimentos físicos);(f) criar situações para a aprendizagemcooperativa;(g) estabelecer objetivos explícitos e fornecerfeedback aos alunos nas situações deaprendizagem;(h) gerar e testar hipóteses; e(i) empregar estratégias de fornecimentode pistas, de sugestão de perguntas orienta<strong>do</strong>rase de proposição de organiza<strong>do</strong>resavança<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong> (esquemas expositivos,narrativos ou apresentações gráficasda unidade a ser iniciada).Quatro exemplos da possível operacionalizaçãodessas estratégias didático-pedagógicaspara o tratamento sociológico de algunstemas seleciona<strong>do</strong>s são apresenta<strong>do</strong>s aseguir (Quadro 3), objetivan<strong>do</strong> demonstrar,ainda que sucintamente, como seu empregopode enriquecer as atividades de ensino daSociologia. Dentre os temas propostos noQuadro 1, os seleciona<strong>do</strong>s para essa exemplificaçãosão: A - Conhecimento Científicoversus Senso Comum; B - Cultura e a Questão<strong>do</strong> Relativismo Cultural; C - As DesigualdadesSociais no Brasil Hoje e as PolíticasSociais; Desigualdades de Oportunidadesde Trabalho: As Múltiplas Discriminações porgênero, raça, idade e escolaridade; D - PolíticasPúblicas, Reformas Sociais e DesenvolvimentoSustentável Equitativo; e O Jovem eo A<strong>do</strong>lescente como Protagonistas de seusDireitos e Deveres. Nessas atividades, a ênfaseestá colocada principalmente no materialempírico, histórico-social, que é apresenta<strong>do</strong>aos alunos, para análise e comparação.Complementarmente, são apresenta<strong>do</strong>s, namedida <strong>do</strong> necessário e oportuno, os conceitosque possam vir a auxiliar na análise emdesenvolvimento.Cumpre recordar que essas atividadesdidático-pedagógicas estão voltadas para odesenvolvimento das competências para Ler,Escrever e Resolver problemas, consideradasfundamentais, nesse Referencial Curricular,para que os alunos possam continuaraprenden<strong>do</strong> de forma autônoma e crítica.No primeiro exemplo, sobre o tema ConhecimentoCientífico versus Senso Comum, éapresentada a tarefa de ler comparativamenteum texto sociológico e um texto desenso comum sobre um tema social significativo,como as desigualdades sociais. Essaleitura deve ser acompanhada pelas tarefasde resumir e fazer anotações, comparan<strong>do</strong>os itens relevantes identifica<strong>do</strong>s em cadatexto, verifican<strong>do</strong> as semelhanças e diferençasentre esses, e entre as explicações apresentadasnos textos sobre o tema em análise.A Resolução <strong>do</strong> problema didático-pedagógicoproposto implica apresentar aosalunos as principais características <strong>do</strong> ConhecimentoCientífico e <strong>do</strong> Senso Comum,tais como o uso de conceitos teóricos versusa expressão de preconceitos, e solicitar queverifiquem e discutam a possível classificação<strong>do</strong>s textos examina<strong>do</strong>s, como exemplos<strong>do</strong>s tipos de conhecimento em estu<strong>do</strong>.105 10531Essa obra, inserida no esforço para a construção de uma Ciência <strong>do</strong> Ensino, realiza uma detalhada revisão de estu<strong>do</strong>s sobre o desempenho dealunos que vivenciaram situações de ensino-aprendizagem nas quais foram empregadas diferentes estratégias de ensino. Ainda que a parte de revisão ediscussão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s enfoca<strong>do</strong>s possa apresentar alguma dificuldade inicial, dada a utilização de procedimentos estatísticos, essa podeser superada pela leitura criteriosa da subseção Efeitos Gerais das Técnicas de Ensino (página 9 e seguintes). O cuida<strong>do</strong> e a riqueza da apresentaçãodas estratégias analisadas compensam essa possível dificuldade inicial. Nos Cadernos de Sociologia, são sugeri<strong>do</strong>s exercícios didático-pedagógicos que,embora tenham si<strong>do</strong> elabora<strong>do</strong>s de forma independente, podem ser compreendi<strong>do</strong>s como variações de algumas dessas estratégias. Ver Caderno <strong>do</strong>Professor e Caderno <strong>do</strong> Aluno da Disciplina de Sociologia.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 105 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


106Quadro 3Estratégias didático-pedagógicas para a sociologia noensino médio temas seleciona<strong>do</strong>sTemas/habilidadesA - EXEMPLO 1TEMAConhecimento Científico versusSenso Comum.HABILIDADEA. 1. Identificar e compararpontos de vista científicos e <strong>do</strong>senso comum acerca de aspectossociais e culturais seleciona<strong>do</strong>s,expressos em diferentesfontes e registros.Estratégiasdidático-pedagógicas 1- resumir e fazer anotações (b);e- identificar semelhanças e diferençasentre <strong>do</strong>is ou mais elementos(a).Operacionalização1. selecionar e distribuir aos alunos umtexto sociológico e um texto de sensocomum (por exemplo, entrevista dejornal com populares) sobre um temasocial significativo, como as desigualdadessociais, ou a política universitáriade quotas por raça ou por trajetóriaeducacional prévia (escola pública ouprivada);2. solicitar aos alunos que leiam os textos,resumin<strong>do</strong> e fazen<strong>do</strong> anotações, eassinalan<strong>do</strong> (I) com pontos de interrogaçãoos itens que não foram compreendi<strong>do</strong>s;(II) com pontos de exclamação ositens que o aluno considerar mais relevantes;e (III) sublinhan<strong>do</strong> os itens queconsidera importantes e que gostariaque fossem discuti<strong>do</strong>s no grande grupo;3. solicitar aos alunos que comparemos itens relevantes identifica<strong>do</strong>s emcada texto, verifican<strong>do</strong> as semelhançase diferenças entre esses, bem como asrazões/explicações apresentadas sobreo tema em análise;4. organizar a apresentação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s trabalhos individuais no grandegrupo, registran<strong>do</strong> em quadro as semelhançase diferenças identificadas entreos textos e as dúvidas a serem esclarecidas.Esclarecer as principais dúvidasregistradas;5. apresentar aos alunos, de formacomparativa, as principais características<strong>do</strong> Conhecimento Científico e <strong>do</strong>Senso Comum, tais como o uso deconceitos teóricos versus a expressão depreconceitos;6. retomar com os alunos, à luz dessaapresentação, o quadro comparativoelabora<strong>do</strong> acerca <strong>do</strong>s textos analisa<strong>do</strong>s,solicitan<strong>do</strong> que verifiquem e discutama possível classificação <strong>do</strong>s mesmos,como exemplos <strong>do</strong>s tipos de conhecimentoem estu<strong>do</strong>.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 106 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:58


Temas/habilidadesB - EXEMPLO 2TEMACultura e a Questão <strong>do</strong> RelativismoCultural.HABILIDADEB. 2. Analisar, em um mun<strong>do</strong>globaliza<strong>do</strong>, os efeitos e asinterferências das mudançasprovocadas pela indústria culturalno cotidiano de diferentesgrupos sociais, consideran<strong>do</strong>as permanências e transformaçõesde suas identidadessociais.Estratégiasdidático-pedagógicas- criar situações para a aprendizagemcooperativa (f);e- empregar estratégias de fornecimentode pistas, de sugestãode perguntas orienta<strong>do</strong>ras e deproposição de organiza<strong>do</strong>resavança<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong> (esquemasexpositivos, narrativos ou apresentaçõesgráficas da unidade aser iniciada) (i).Operacionalização1. selecionar diferentes textos (acadêmicose jornalísticos) relativos aos impactos daindústria cultural sobre as múltiplas identidadessociais em um mun<strong>do</strong> globaliza<strong>do</strong>(Ver, por exemplo, os capítulos sobre Culturae Sociedade e sobre um Mun<strong>do</strong> emMudança, in: GIDDENS, 2005.);2. organizar a atividade a partir da dinâmica<strong>do</strong> trabalho individual, em pequenoe em grande grupo, visan<strong>do</strong> criar umasituação de aprendizagem cooperativa;3. fornecer pistas e sugerir perguntasorienta<strong>do</strong>ras para a leitura individual eposterior discussão e sistematização empequeno grupo das ideias, da<strong>do</strong>s e fatosapresenta<strong>do</strong>s pelos textos em estu<strong>do</strong>;4. solicitar aos pequenos grupos queelaborem organiza<strong>do</strong>res avança<strong>do</strong>s deestu<strong>do</strong> (esquemas expositivos, narrativosou apresentações gráficas da unidade)para apresentação, discussão e avaliaçãono grande grupo;5. coordenar a apresentação, sistematizaçãoe discussão <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong>spequenos grupos ao grande grupo;6. apresentar, comparan<strong>do</strong> e contrastan<strong>do</strong>com os resulta<strong>do</strong>s da discussão <strong>do</strong>grande grupo, o significa<strong>do</strong> da Questão<strong>do</strong> Relativismo Cultural no contexto daconstrução da “Cultura da Paz”.107 107Temas/habilidadesEstratégiasdidático-pedagógicasOperacionalizaçãoC - EXEMPLO 3TEMASAs Desigualdades Sociais noBrasil Hoje e as Políticas Sociais;Desigualdades de Oportunidadesde Trabalho: As MúltiplasDiscriminações por gênero,raça, idade e escolaridade.HABILIDADEC. 1. Posicionar-se criticamentesobre os processos de transformaçõessociais, econômicas,políticas e culturais no contextosocietário presente, identifican<strong>do</strong>e comparan<strong>do</strong> referenciais- estabelecer objetivos explícitos efornecer feedback aos alunos nassituações de aprendizagem (g);- empregar estratégias de fornecimentode pistas, de sugestãode perguntas orienta<strong>do</strong>ras e deproposição de organiza<strong>do</strong>resavança<strong>do</strong>s de estu<strong>do</strong> (esquemasexpositivos, narrativos ou apresentaçõesgráficas da unidade aser iniciada) (i);e- empregar representaçõesnão linguísticas (desenhos; gráficos;etc.) (e).1. apresentar aos alunos os objetivosexplícitos da unidade: (I) análise das Desigualdadesde Oportunidades de Trabalhopor Escolaridade no Brasil Hoje e dasPolíticas Sociais para minorá-las; e (II)aprendiza<strong>do</strong> de leitura e de elaboraçãode tabelas;2. apresentar aos alunos os conceitosde Desigualdades Sociais e de PolíticasSociais (Ver RESENDE, in Tomazi, 2000; eTomazi, 2007);3. solicitar aos alunos a leitura de texto(s)seleciona<strong>do</strong>(s) sobre o tema, indican<strong>do</strong>quais os principais aspectos conceituais eempíricos a observar, fornecen<strong>do</strong> pistas,e sugerin<strong>do</strong> perguntas orienta<strong>do</strong>ras daleitura;4. selecionar da<strong>do</strong>s quantitativos e qualita-<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 107 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:59


108Temas/habilidadesEstratégiasdidático-pedagógicasOperacionalizaçãoalternativos que visem erradicarformas de exclusão social.tivos relativos às Desigualdades de Oportunidadesde Trabalho por escolaridade noBrasil e no Rio Grande <strong>do</strong> Sul (destaque-seque da<strong>do</strong>s estatísticos podem ser obti<strong>do</strong>sno site <strong>do</strong> IBGE, e artigos sobre o temapodem ser obti<strong>do</strong>s no site Scielo);5. organizar tabelas de frequência simplescom da<strong>do</strong>s absolutos acerca <strong>do</strong> tema emestu<strong>do</strong>;6. solicitar aos alunos que calculem ospercentuais (da<strong>do</strong>s relativos) de cada tabelaselecionada;7. apresentar aos alunos o processo deelaboração de gráficos (em barras, pizza,etc.) e solicitar que elaborem gráficosutilizan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s percentuais das tabelasem foco, fornecen<strong>do</strong> feedback aosalunos nas situações de aprendizagem(em caso de disponibilidade de recursosde informática, essa elaboração pode serdesenvolvida com o uso de programasespecializa<strong>do</strong>s);8. discutir, no grande grupo, os resulta<strong>do</strong>squantitativos encontra<strong>do</strong>s, à luz da leitura<strong>do</strong>s textos seleciona<strong>do</strong>s e <strong>do</strong>(s) conceito(s)de desigualdades sociais apresenta<strong>do</strong>(s);9. solicitar aos alunos que indiquem eavaliem – enquanto geração e teste teóricode hipóteses –, possíveis medidas quepoderiam ser tomadas, enquanto PolíticasSociais, para o enfrentamento das Desigualdadesde Oportunidades de Trabalhopor escolaridade.[Obs.: Essa unidade pode ser ampliada,através, por exemplo, da apresentaçãode tabelas e da construção de gráficos,contemplan<strong>do</strong> as relações entre as desigualdadessociais por escolaridade comas relacionadas à questão de gênero e/ouà questão das raças.]Temas/habilidadesEstratégiasdidático-pedagógicasOperacionalizaçãoD - EXEMPLO 4TEMASPolíticas Públicas, ReformasSociais e Desenvolvimento SustentávelEquitativo;O Jovem e o A<strong>do</strong>lescentecomo Protagonistas de seusDireitos e Deveres.- gerar e testar hipóteses (h);- realizar lição de casa e atividadespráticas (d);e- reforçar e proporcionar o reconhecimento<strong>do</strong>s esforços e <strong>do</strong>desempenho <strong>do</strong>s alunos (c).1. apresentar aos alunos os conceitos dePolíticas Públicas e Reformas Sociais, indican<strong>do</strong>que essas podem ser compreendidascomo hipóteses geradas para buscarresolver problemas sociais, as quais são“testadas” quan<strong>do</strong> de sua implementação;2. solicitar aos alunos que identifiqueme registrem em seu Caderno de Aula trêsproblemas sociais principais enfrenta<strong>do</strong>s<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 108 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:59


Temas/habilidadesHABILIDADES - C. 2. Posicionar-secriticamente sobre osprocessos de transformaçõessociais, econômicas, políticas eculturais no contexto societáriopresente, identifican<strong>do</strong> e comparan<strong>do</strong>referenciais alternativosque visem erradicar formasde exclusão social.C. 3. Identificar as principaiscaracterísticas da situação social<strong>do</strong> Jovem e <strong>do</strong> A<strong>do</strong>lescenteno Brasil Hoje e as tendências<strong>do</strong> Protagonismo Juvenilna Luta por seus Direitos.Estratégiasdidático-pedagógicasOperacionalizaçãopelos jovens de sua comunidade hoje;3. solicitar que identifiquem e registremem seu Caderno de Aula quais as PolíticasPúblicas e Reformas Sociais, que têmsi<strong>do</strong> propostas e implementadas para apossível solução desses problemas, bemcomo a eficácia dessas;4. solicitar que os alunos registrem emseu Caderno de Aula que outras medidaspoderiam ser tomadas para uma possívelsolução desses problemas, ressaltan<strong>do</strong>que essas medidas podem também serentendidas como hipóteses geradas quepodem ser “testadas”, teoricamente,através de sua hierarquização, quanto asua necessidade, possibilidade e possíveisresulta<strong>do</strong>s de sua implementação;5. organizar a apresentação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s<strong>do</strong>s trabalhos individuais no grandegrupo, registran<strong>do</strong> em quadro comparativoos problemas sociais principais,as avaliações da eficácia das PolíticasPúblicas e Reformas Sociais que têmsi<strong>do</strong> propostas e implementadas, e queoutras medidas poderiam ser tomadas,no entender <strong>do</strong>s alunos, para a possívelsolução desses problemas;6. realizar, em grande grupo, a análise eavaliação das informações constantes noquadro comparativo;7. hierarquizar com os alunos, peloscritérios de possibilidade e possíveis resulta<strong>do</strong>s,as soluções propostas – enquantohipóteses – para os problemas sociaisidentifica<strong>do</strong>s;8. solicitar que os alunos explicitemindividualmente, em um relatório a serelabora<strong>do</strong> como lição de casa, as suasprincipais conclusões sobre a análise desenvolvida,ten<strong>do</strong> como referência o princípio<strong>do</strong> Protagonismo <strong>do</strong>s Jovens e <strong>do</strong>sA<strong>do</strong>lescentes na Luta por seus Direitos;9. avaliar os relatórios individuais,comentar os trabalhos, reforçan<strong>do</strong> eproporcionan<strong>do</strong> o reconhecimento <strong>do</strong>sesforços e <strong>do</strong> desempenho <strong>do</strong>s alunos;10. solicitar que alguns alunos apresentemseus trabalhos ao grande grupo,como ponto de partida para um balançofinal da unidade didática.109 109Fonte: Elabora<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong> Quadro 1 e da adaptação das estratégias didático-pedagógicas apresentadas por Marzano et al. (2008).Nota: 1 – A letra entre parênteses visa permitir a rápida identificação da estratégia didático-pedagógica na obra de Marzano et al. (2008).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 109 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:59


110A implantação da Sociologia no ensinomédio, certamente, representará uma oportunidadeímpar para consolidar um amplo entendimento<strong>do</strong> significa<strong>do</strong> das contribuiçõesdessa disciplina, não só em relação aos alunos,mas, de forma indireta, a seus familiarese demais pessoas de suas relações. O desafioserá construir propostas curriculares pedagógicascapazes de sensibilizar os alunos paraa relevância dessa disciplina, de suas orientaçõesteórico-meto<strong>do</strong>lógicas e <strong>do</strong>s problemase temas que se propõe estudar.Nesta perspectiva, apresenta-se a seguiruma visão panorâmica da história da Sociologia,como um convite aos colegas professores,e um mapa para o estu<strong>do</strong> das principaiscontribuições de autores clássicos econtemporâneos.Breve panorama dastendências teóricas daSociologiaA apresentação panorâmica <strong>do</strong> surgimentoe <strong>do</strong> des<strong>do</strong>bramento <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s sociológicosrevela um rico leque de tendênciasteóricas e meto<strong>do</strong>lógicas, bem como deestu<strong>do</strong>s empíricos e de respostas alternativaspara a questão de como a Sociologia podecontribuir para o conhecimento e possívelsolução de problemas sociais. Em outras palavras:para que serve a Sociologia? 32 . Entreos pais funda<strong>do</strong>res da Sociologia, AugustoComte 33 , por exemplo, considerava que aSociologia é a ciência que tem por objetoo estu<strong>do</strong> <strong>do</strong>s fenômenos sociais, entendi<strong>do</strong>scomo submeti<strong>do</strong>s a leis naturais invariáveis,e cuja descoberta seria o objetivo especialde suas pesquisas, empregan<strong>do</strong> para talo méto<strong>do</strong> histórico e visan<strong>do</strong> – dentro <strong>do</strong>sprincípios de Filosofia Positiva –, saber paraprever; prever para agir; agir para prover.Já, dentro da conjuntura revolucionária europeiade 1848, Marx e Engels, assumin<strong>do</strong>a perspectiva <strong>do</strong> comunismo proletário– depois de proclamarem, ironicamente,no Manifesto <strong>do</strong> Parti<strong>do</strong> Comunista que oespectro <strong>do</strong> comunismo rondava a Europa–, atribuíram à teoria revolucionária <strong>do</strong> materialismodialético-histórico orientar a práxisrevolucionária <strong>do</strong> proletaria<strong>do</strong> mundial.Marx declarava na Tese 11 sobre Feuerbachque, até então, os filósofos se limitaram a interpretaro mun<strong>do</strong> diferentemente, enquantoque “cabe transformá-lo” (MARX, 1978:59) 34 .Cumpre aqui, ainda que rapidamente,relembrar por sua relevância as perspectivasteóricas acerca da Sociologia de <strong>do</strong>isclássicos das Ciências Sociais – Durkheime Weber 35 . De um la<strong>do</strong>, no contexto da TerceiraRepública Francesa, Émile Durkheim 36propõe, sob inspiração <strong>do</strong> reformismo socialcomtiano, uma sociologia para a ação, nãoconserva<strong>do</strong>ra como aquele, mas progressivista(FILLOUX, 1975: 8), a qual tem por objetoos fatos sociais e por méto<strong>do</strong> “a observaçãoe a experimentação indireta, em outrostermos, o méto<strong>do</strong> comparativo” (DURKHEIM,1975: 94). Investigan<strong>do</strong> as causas da crisemoral de seu tempo, marcada pelo enfraquecimento<strong>do</strong> espírito de coletividade, pelo individualismoe pela perda de consciência daunidade orgânica da sociedade, Durkheimpostula que a Sociologia está, mais <strong>do</strong> quequalquer outra ciência, em condições de restauraressas ideias [da unidade orgânica dasociedade]. É ela que fará o indivíduo compreendero que é a sociedade, como ela ocompleta e como ele é insignificante reduzi<strong>do</strong>exclusivamente às suas forças (DURKHEIM,32Sobre as principais tendências teóricas da Sociologia Clásssica e Contemporânea, ver Liedke, 2007. Ver também, entre outros, Lallement (2004),Giddens (1998), Giddens e Turner (1999) e Levine (1997).33Comte foi o cria<strong>do</strong>r da palavra Sociologia através da junção <strong>do</strong>s termos socius, de origem latina, e logos, de origem grega. Sobre a obra de Comte,ver, entre outros, Aron (1997) e Giddens (1998).34Posteriormente, a elaboração, por Marx, de O Capital veio a representar, junto com obras como O 18 Brumário e As Teorias da Mais-Valia, umacontribuição marcante, não só para o pensamento social, mas principalmente para movimentos sociopolíticos <strong>do</strong>s séculos XIX e XX. Sobre a obra deMarx, ver, entre outros, Aron (1997) e McLellan (1977).35Sobre as contribuições teóricas de Marx, Durkheim e Weber, ver também Quintanero (1996) e os volumes da Coleção Os Pensa<strong>do</strong>res da AbrilCultural, dedica<strong>do</strong>s a esses autores (GIANNOTI, 1974a, 1974b e 1983).36Sobre a obra de Durkheim, ver Giddens (1981) e Giddens (1998).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 110 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:59


1975: 102). Em contraposição, tem-se o argumento,<strong>do</strong> sociólogo alemão Max Weber,acerca da necessidade <strong>do</strong> cientista social deobservar permanentemente uma postura deneutralidade axiológica. Para ele, por Sociologiadeve-se entender (no senti<strong>do</strong> aqui aceitodesta palavra, empregada com tão diversossignifica<strong>do</strong>s): uma ciência que pretende entender,interpretan<strong>do</strong>-a, a ação social para, destamaneira, explicá-la causalmente em seu desenvolvimentoe efeitos (WEBER, 1969: 5). Emum contexto de crescente desencantamento<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, Weber argumenta ser necessáriodistinguir permanentemente, na prática científica,a ética da responsabilidade da ética daconvicção, equacionan<strong>do</strong>, pois, as tarefas daciência como vocação como distintas das dapolítica como vocação (FREUND, 1987: 27).Assumin<strong>do</strong> na prática científica uma posiçãode neutralidade axiológica frente aos juízosde valores, Weber sustenta que uma ciênciaempírica não está apta a ensinar a ninguémaquilo que “deve”, mas sim e apenas o que“pode” e – em certas circunstâncias – o que“quer” fazer (WEBER, 1977: 17) 37 .No perío<strong>do</strong> entre as duas Grandes GuerrasMundiais, destacaram-se as obras deautores europeus como Mauss, Luckàcs,Mannheim, Gramsci e <strong>do</strong>s membros <strong>do</strong> grupoinicial da Escola de Frankfurt (A<strong>do</strong>rno,Horkheimer e Benjamim) 38 , e de autores estadunidensescomo Park e Mead 39 . Os primeirosanos após a Segunda Guerra foramcaracteriza<strong>do</strong>s por importantes novas tendênciasdas atividades de análise e pesquisa,destacan<strong>do</strong>-se, por exemplo nos Esta<strong>do</strong>sUni<strong>do</strong>s, as contribuições teóricas de autorescomo Parsons, Merton, Wright Mills e Gouldner40 . Simultaneamente, ocorreu uma diversificaçãoda pesquisa sociológica, passan<strong>do</strong>esta a abranger novos campos de estu<strong>do</strong>,tais como os estu<strong>do</strong>s das organizações edas profissões; a pesquisa macrossociológicacomparativa, ilustrada pelos estu<strong>do</strong>s dastemáticas da modernização e <strong>do</strong> desenvolvimento;e a pesquisa <strong>do</strong>s diversos aspectosda estratificação social, como a mobilidadesocial, os estilos de vida das classes sociais,o comportamento político e as imagens e representaçõesque os indivíduos e grupos sociaisconstroem sobre a sociedade.Já no panorama internacional contemporâneo,cabe referir a rica contribuição dasobras de autores como Giddens, Bourdieu,Foucault, Elias, Habermas, Luhman e Bauman<strong>41</strong> . Suas pesquisas abrangem, entre outros,temas e conceitos tão diversos como:poder político, educação, poder simbólico,micropoderes, processo civilizatório, açãocomunicativa, sistemas sociais e modernidadelíquida, respectivamente.No Brasil, a Sociologia 42 veio a ser incorporadaem mea<strong>do</strong>s da década de 1920, nasEscolas Normais, como uma disciplina auxiliarpara a formação <strong>do</strong>s professores, visan<strong>do</strong>instrumentá-los para conhecer as comunidadesonde atuariam, poden<strong>do</strong> assim adaptarseus planos pedagógicos às necessidadeslocais. Em mea<strong>do</strong>s da década de 1930, noBrasil, a Sociologia foi institucionalizada noensino superior com a criação da Escola Livrede Sociologia e Política de São Paulo (1933)e com a criação da Seção de Sociologia eCiência Política da Faculdade de Filosofiada Universidade de São Paulo (1934). Direcionava-se,em grande parte, à preparaçãode professores de Sociologia para a EscolaSecundária, em cujo currículo essa disciplinafora incluída com a Reforma Educacional de1930 43 .111 11137Destaque-se também a relevante obra Ética Protestante e o Espírito <strong>do</strong> Capitalismo de Max Weber (2004), a qual influenciou, entre outros, ointeressante livro Bandeirantes e Pioneiros de Vianna Moog (1969), que analisa comparativamente a colonização brasileira e a norte-americana.38Sobre a Escola de Frankfurt, ver a obra A Teoria Crítica: ontem e hoje de Bárbara Freitag (1986).39Sobre a sociologia nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s, ver Herpin (1982).40Sobre a contribuição de Parsons, ver, entre outros, Roche (1979) e Giddens (1998).<strong>41</strong>Sobre as contribuições desses autores, ver, entre outros, Lallement, 2004; e Giddens e Turner, 1999.42Sobre a história da Sociologia no Brasil, ver Fernandes, 1977; Ianni, 1989; Miceli, 1989 e 1995; e Liedke Filho, 2005.43A Reforma Educacional de 1942 retirou o ensino da Sociologia da Escola Secundária, desestimulan<strong>do</strong> indiretamente a expansão <strong>do</strong> ensino damesma também no ensino superior, pois este estava, até então, volta<strong>do</strong>, principalmente, à preparação de professores para aquela. Ainda quenovos cursos tenham si<strong>do</strong> cria<strong>do</strong>s, especialmente em fins da década de 1950, somente após a Reforma Educacional de 1961 verificou-se umainstitucionalização crescente de cursos de graduação em Sociologia. A essa veio somar-se, após a Reforma Universitária de 1969, a expansão econsolidação da pós-graduação.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 111 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:<strong>45</strong>:59


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Disciplina de FilosofiaA reformulação <strong>do</strong> ensino médio no Brasil,estabelecida pela Lei de Diretrizes e Bases daEducação Nacional (LDB/96) e regulamentadapelos PCN – Parâmetros CurricularesNacionais – e pelas DCN – Diretrizes CurricularesNacionais –, procurou atender a umareconhecida necessidade de atualização daeducação brasileira, propon<strong>do</strong> que o ensinomédio deixasse de ser apenas preparatóriopara o ensino superior ou profissionalizante eassumisse a responsabilidade de completar aeducação básica. De acor<strong>do</strong> com a LDB/96,o ensino médio passaria a ter como objetivos:o aprimoramento <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> comoser humano, a sua formação ética, o desenvolvimentode sua autonomia intelectual e deseu pensamento crítico, sua preparação parao mun<strong>do</strong> <strong>do</strong> trabalho e o desenvolvimento decompetências para continuar seu aprendiza<strong>do</strong>(Art. 35).Nas Orientações Educacionais Complementaresaos Parâmetros Curriculares Nacionais(os PCN+), por sua vez, afirma-se que oensino médio deve desenvolver no educan<strong>do</strong>as seguintes competências:“Mais <strong>do</strong> que reproduzir da<strong>do</strong>s, denominarclassificações ou identificar símbolos, estar forma<strong>do</strong>para a vida, num mun<strong>do</strong> como o atual,de tão rápidas transformações e de tão difíceiscontradições, significa saber se informar, se comunicar,argumentar, compreender e agir, enfrentarproblemas de qualquer natureza, participarsocialmente, de forma prática e solidária,ser capaz de elaborar críticas ou propostas e,especialmente, adquirir uma atitude de permanenteaprendiza<strong>do</strong>.” (PCN +, p. 9).Nessa direção, o Referencial Curricularde Filosofia foi formata<strong>do</strong> ten<strong>do</strong> como focoo desenvolvimento de competências e não oacúmulo de informações, buscan<strong>do</strong> sempreo alinhamento <strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s a serem trabalha<strong>do</strong>sà vivência <strong>do</strong> educan<strong>do</strong> em seus contextosculturais, éticos e sociais, o que nãodeve se restringir a um repertório de textos eformulações.Além de favorecer a integração das váriasáreas de conhecimento, a Filosofia pode daruma contribuição específica para esse novoensino médio, na medida em que seu papelno desenvolvimento da autonomia, dacapacidade crítica e na formação ética estáliga<strong>do</strong> diretamente à sua natureza argumentativae à sua tradição histórica. Cabe à Filosofiaa capacidade de análise, de reconstruçãoracional e de crítica, a partir da compreensãode que tomar posições diante detextos e argumentos propostos de qualquertipo e emitir juízos acerca deles é um pressupostoindispensável para o exercício dacidadania. Mais ainda, as transformaçõesde caráter econômico, social ou cultural, noBrasil e no mun<strong>do</strong> – e que evidenciaram anecessidade de transformar a própria escola–, ressaltam a importância da Filosofia naformação cidadã, como reconhece a LDB,já que o educan<strong>do</strong> necessita compreender ouniverso cultural em que está inseri<strong>do</strong>, analisaros nexos que promovem a realidade nasua existência humana e ser capaz de desenvolverações nesse contexto, destacan<strong>do</strong>a importância <strong>do</strong> “<strong>do</strong>mínio <strong>do</strong>s conhecimentosde Filosofia e de Sociologia necessáriosao exercício da cidadania” (Art. 36 §1º, incisoIII).Portanto, “sob vários aspectos, conquantonão a privilegie, a legislação parece prestigiara Filosofia, conceden<strong>do</strong>-lhe até algumacentralidade” 1 . Nesse senti<strong>do</strong>, as DiretrizesCurriculares Nacionais para o ensino médio(RESOLUÇÃO CNE/CEB Nº 3, de 26de JUNHO de 1998) 2 postulam três tipos deprincípios tradicionais da Filosofia – estéticos,políticos e éticos –, os quais, associa<strong>do</strong>s respectivamenteà sensibilidade, à igualdade e à117 1171http://www.anpuhsp.org.br/pdfs/14Filosofia.pdf. Documento elabora<strong>do</strong> por solicitação da Diretoria <strong>do</strong> ensino médio <strong>do</strong> MEC à ANPOF – AssociaçãoNacional de Pós-Graduação em Filosofia.2Recomendamos fortemente também a leitura <strong>do</strong> parecer da relatora desta resolução, a conselheira Guiomar Namo de Mello.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 117 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


118identidade, deverão nortear a prática pedagógicadas escolas e <strong>do</strong>s sistemas de ensino.A partir da homologação, em 2008, <strong>do</strong>Parecer 38/2006 <strong>do</strong> Conselho Nacional deEducação, ocorreu a reimplantação de umadisciplina por muito tempo ausente na maioriadas instituições de ensino, motivo peloqual ela não se encontra consolidada, demo<strong>do</strong> satisfatório, como componente curricular<strong>do</strong> ensino médio, tanto no que se refereaos materiais didáticos adequa<strong>do</strong>s quantoaos procedimentos pedagógicos, faltan<strong>do</strong>ainda uma avaliação de seu desempenho,por assim dizer, histórico, que lhe permitavencer as várias formas de resistência culturalque questionam sua importância como componentecurricular.No que se refere às indicações desteReferencial Curricular, o professor nãodeve considerar que elas visam oferecerum programa fecha<strong>do</strong> ou uma relação deconteú<strong>do</strong>s obrigatórios, embora indiquemconhecimentos e competências considera<strong>do</strong>smais pertinentes em relação a cadaetapa <strong>do</strong> ensino médio: “o currículo é a expressãodinâmica <strong>do</strong> conceito que a escolae o sistema de ensino têm sobre o desenvolvimento<strong>do</strong>s seus alunos e que se propõem arealizar com e para eles. Portanto, qualquerorientação que se apresente não pode chegarà equipe <strong>do</strong>cente como prescrição quantoao trabalho a ser feito” 3 . Nosso objetivo é,portanto, propor um Referencial Curricular,um marco, que sirva de orientação para queos <strong>do</strong>centes e diretores de ensino formulemseus programas de acor<strong>do</strong> com o seu contextoeducacional.Competências ehabilidades em FilosofiaUm currículo focaliza<strong>do</strong> na aprendizagemrevela uma nova concepção da importânciae <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensino das CiênciasHumanas, em geral, e da Filosofia,em particular. Quan<strong>do</strong> se trata de pensaro ensino de Filosofia, é quase obrigatóriaa lembrança da ideia kantiana de que“não se ensina Filosofia, ensina-se a filosofar”.E a diferença entre aprender Filosofiae aprender a filosofar corresponde,em termos de senti<strong>do</strong>, à diferença entre aideia de ensino e a ideia de aprendizagem.Aprender Filosofia pressupõe a centralidadede um conteú<strong>do</strong> programático que, emtermos gerais, representaria o saber específicoda Filosofia. Aprender a filosofar significaromper com a centralidade da ideiade um conteú<strong>do</strong> programático e privilegiara Filosofia como atividade, como aquisiçãode competências específicas <strong>do</strong> filosofar. Éexatamente esta a implicação <strong>do</strong> infinitivofilosofar: uma disciplina de Filosofia desejafazer com que o aluno aprenda a filosofar,o que significa, em última instância, adquiriruma série de capacidades e habilidadesque lhe permitirá dialogar com textosfilosóficos, através da leitura crítica e daescrita, e mobilizar os conhecimentos enquantorecursos a serem emprega<strong>do</strong>s nasmais complexas situações reais.Com isto, não estamos queren<strong>do</strong> dizerque a aprendizagem da Filosofia possa oudeva acontecer sem contato com a históriada Filosofia, pois – como se afirma nasOrientações Curriculares para o ensinomédio – a Filosofia está sempre retornan<strong>do</strong>aos seus textos clássicos para descobrirsua identidade, mas também sua atualidadee senti<strong>do</strong>. Mais ainda, “não é possívelfazer Filosofia sem recorrer a sua própriahistória. Dizer que se pode ensinar Filosofiaapenas pedin<strong>do</strong> que os alunos penseme reflitam sobre os problemas que osafligem ou que mais preocupam o homemmoderno, sem oferecer-lhes a base teóricapara o aprofundamento e a compreensãode tais problemas, e sem recorrer à basehistórica da reflexão sobre tais questões, éo mesmo que numa aula de Física pedir3Ciências Humanas e suas Tecnologias / Secretaria de Educação Básica. – Brasília: Ministérioda Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006. 133 p. (Orientações Curriculares para o ensino médio; volume 3).<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 118 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


que os alunos descubram por si mesmos afórmula da lei da gravitação sem estudarFísica, esquecen<strong>do</strong>-se de todas as conquistasanteriores neste campo, omitin<strong>do</strong> o esforçoe o trabalho monumental de Newton” 4 .As Orientações Curriculares ainda salientamque “é salutar, portanto, para o ensino daFilosofia que nunca se desconsidere a suahistória, em cujos textos reconhecemos boaparte de nossas medidas de competência etambém elementos que despertam nossa vocaçãopara o trabalho filosófico. Mais queisso, é recomendável que a história da Filosofiae o texto filosófico tenham papel centralno ensino da Filosofia, ainda que a perspectivaa<strong>do</strong>tada pelo professor seja temática, nãosen<strong>do</strong> excessivo reforçar a importância de setrabalhar com os textos propriamente filosóficose primários, mesmo quan<strong>do</strong> se dialogacom textos de outra natureza, literários e jornalísticos,por exemplo – o que pode ser bastanteútil e instigante nessa fase de formação<strong>do</strong> aluno. Porém, é a partir de seu lega<strong>do</strong>próprio, com uma tradição que se apresentana forma amplamente conhecida comoHistória da Filosofia, que a Filosofia podepropor-se ao diálogo com outras áreas <strong>do</strong>conhecimento e oferecer uma contribuiçãopeculiar na formação <strong>do</strong> educan<strong>do</strong>” 5 .Mas, de que capacidades se está falan<strong>do</strong>quan<strong>do</strong> se trata de ensinar Filosofia no nívelmédio? Em síntese, nossa legislação educacionalpropõe classificar as competênciase as habilidades a serem desenvolvidas emFilosofia em três grupos, de acor<strong>do</strong> com ascompetências gerais da área de Ciências Humanase suas Tecnologias e conforme aparecenos Referenciais Curriculares da áreade Ciências Humanas para o Rio Grande <strong>do</strong>Sul: (A) representação e comunicação; (B) investigaçãoe compreensão; e (C) contextualizaçãosociocultural 6 .Significa<strong>do</strong> dascompetênciasespecíficas da FilosofiaA- Representação e comunicação:Esse campo de competências relaciona-secom as linguagens, entendidas como instrumentosde produção de senti<strong>do</strong> para toda equalquer formulação <strong>do</strong> intelecto humano,além de referir-se também às diferentes formasde acesso, organização e sistematizaçãode conhecimentos 7 .Neste campo, estão implicadas quatrocompetências específicas da Filosofia. Asaulas de Filosofia devem estar focadas nodesenvolvimento das capacidades de: (1) lertextos filosóficos de mo<strong>do</strong> significativo; (2)ler, de mo<strong>do</strong> filosófico, textos de diferentesestruturas e registros; (3) elaborar por escritoo que foi apropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo; e 4)debater, toman<strong>do</strong> uma posição, defenden<strong>do</strong>aargumentativamente e mudan<strong>do</strong> de posiçãoface a argumentos mais consistentes.(1) Ler textos filosóficosde mo<strong>do</strong> significativoNo que se refere aos textos filosóficos,não se trata de a<strong>do</strong>tar como procedimentoa transmissão da herança filosófica comoum produto acaba<strong>do</strong>. Para que o aluno seaproprie realmente <strong>do</strong> texto filosófico, eledeverá compreender o mo<strong>do</strong> de pensar peculiara uma determinada corrente filosófica,o que só é possível pelo desenvolvimento dacompetência discursivo-filosófica. O acessoaos textos filosóficos se faz, num primeiromomento, de maneira reflexiva e analítica,buscan<strong>do</strong> compreender os pressupostos <strong>do</strong>stextos e identifican<strong>do</strong> as ideias centrais e a119 1194NASCIMENTO, Milton, apud SILVEIRA, René, Um senti<strong>do</strong> para o ensino de Filosofia no ensino médio, p. 142.5Orientações Curriculares para o ensino médio volume 3, p. 27-28.6Nos Referenciais Curriculares da Educação Básica <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul, três competências transversais são tomadas como objetivos de todasas áreas: ler, escrever e resolver problemas. Na seção destes Referenciais, referida à área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, apresentamoscomo essas três competências transversais são trabalhadas na área e, por último, na seção “Apresentação da Disciplina Filosofia”, indicamos como aFilosofia, de maneira específica, oportuniza o seu desenvolvimento.7PCNEM, 1999, p. 296.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 119 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


<strong>12</strong>0articulação argumentativa. Em seguida, épossível entrar nos aspectos denotativos <strong>do</strong>texto e exercitar a análise interpretativa e aproblematização crítica. Apropriar-se desseprocesso <strong>do</strong> filosofar é uma maneira deconstruir uma forma de pensar autônoma.(2) Ler, de mo<strong>do</strong> filosófico,textos de diferentesestruturas e registrosEsse processo de desenvolvimento da capacidadede realizar uma leitura significativa<strong>do</strong>s textos filosóficos pode ser amplia<strong>do</strong> peloprofessor, oferecen<strong>do</strong> aos alunos textos dediferentes estruturas e registros.Já é prática comum nas aulas de Filosofiano ensino médio o recurso a filmes, músicas,fotografias, pinturas e textos científicos, entreoutros. Porém, é indispensável que essestextos sejam apresenta<strong>do</strong>s visan<strong>do</strong> “um olharespecificamente filosófico, vale dizer, analítico,reflexivo, investigativo, questiona<strong>do</strong>r,que possa contribuir para uma compreensãomais profunda da produção textual específicaque [o aluno] tem sob as vistas” 8 .O desenvolvimento dessas competênciasestá comprometi<strong>do</strong> com uma leitura transdisciplinar<strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, já que supõe a capacidadede articular os diversos conhecimentos,superan<strong>do</strong> a artificialidade <strong>do</strong>s recortes disciplinaresda realidade.(3) Elaborar por escrito o que foiapropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo8PCNEM, 1999, p. 338.Além da leitura e interpretação de diferentestextos, é importante que o aluno sejacapaz de organizar seu próprio pensamentoe, consequentemente, desenvolver sua autonomia,através de uma produção textualprópria. Dessa forma, o currículo de Filosofiadeve oferecer ao educan<strong>do</strong> possibilidadesde desenvolvimento da expressão escrita, emacréscimo às capacidades argumentativas ede organização <strong>do</strong> pensamento que são desenvolvidaspela expressão oral em debatesou em trabalhos em grupo. Portanto, propõe-se,apesar de todas as dificuldades, queé preciso estimular a expressão escrita, pormeio da dissertação filosófica.Embora se apresente como trabalho individual,a dissertação deve ser compreendidacomo o amadurecimento das discussões emsala de aula, pelo intercâmbio de argumentoscom os colegas de classe e pela mediação <strong>do</strong>professor. É importante registrar que, por dissertação,não estamos supon<strong>do</strong> uma dissertaçãomonográfica e extensa; mas, sim, textosdissertativos, de caráter argumentativo e dialógico,independentemente de sua extensão.(4) Debater, toman<strong>do</strong>posição, defenden<strong>do</strong>-aargumentativamente emudan<strong>do</strong> de posição face aargumentos mais consistentesComplementan<strong>do</strong> o conjunto de competênciasde representação e comunicação, acapacidade de debater racionalmente, isto é,sustentan<strong>do</strong> a opinião em argumentos própriose mudan<strong>do</strong> de posição em virtude daforça de outros argumentos, é uma capacidadeessencial da cidadania. Desde o seunascimento na praça pública ateniense, a Filosofiaé uma atividade dialógica, por excelênciaintersubjetiva, já que se dá pela trocade argumentos num espaço público.É prática comum nas aulas de Filosofia,o debate sobre temas filosóficos ou de interessefilosófico. O desafio para o professorestá em transformar uma simples troca egocêntricade opiniões num debate informa<strong>do</strong>pela análise <strong>do</strong>s textos e pauta<strong>do</strong> pela disposiçãosocial <strong>do</strong> respeito pelo outro, o queimplica o desenvolvimento da disposiçãopara dar razões de suas opiniões e modificá-lasa partir das perspectivas e argumentosapresenta<strong>do</strong>s por outros. Nesse senti<strong>do</strong>,é um requisito para o desenvolvimento destacompetência que a sala de aula seja trans-<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>0 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


formada numa comunidade de indagação 9 ,num espaço comunitário e colaborativo,no qual os participantes sintam-se estimula<strong>do</strong>sa dar forma e modificar de maneirarecíproca suas ideias e opiniões. Portanto,é preciso reconhecer, para o desenvolvimentoadequa<strong>do</strong> desta competência, queo conhecimento é uma construção coletiva,forjada sociointerativamente na sala deaula, no trabalho, na família e em to<strong>do</strong>s osdemais espaços de convivência; assim comoa aprendizagem mobiliza afetos, emoções erelações com seus pares, além das cogniçõese habilidades intelectuais.B. Investigação e compreensãoConforme os PCNEM, esse campo decompetências refere-se aos diferentes procedimentos,méto<strong>do</strong>s, conceitos e conhecimentosque são mobiliza<strong>do</strong>s e/ou construí<strong>do</strong>s/reconstruí<strong>do</strong>s nos varia<strong>do</strong>s processos de intervençãono real, que são sistematiza<strong>do</strong>s apartir da resolução de problemas relaciona<strong>do</strong>sàs análises acerca da realidade social 10 .A contribuição específica da Filosofia nestecampo pode ser resumida na competência de:Articular conhecimentosfilosóficos e diferentesconteú<strong>do</strong>s e mo<strong>do</strong>s discursivosnas Ciências Naturais eHumanas, nas Artes e emoutras produções culturaisA interdisciplinaridade, como se sabe,tornou-se um eixo privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensinomédio, o que valoriza ainda mais o ensinoda Filosofia, pela sua vocação para uma visãode conjunto e para a percepção da totalidade,em decorrência de sua naturezatransdisciplinar ou metadisciplinar 11 . Nessesenti<strong>do</strong>, a Filosofia tem duas contribuiçõesa dar: a primeira, cooperan<strong>do</strong> no trabalhode articulação <strong>do</strong>s diversos sistemas teóricose conceituais curriculares, seja no trabalhocom diferentes visões de mun<strong>do</strong>, seja atravésde atividades e projetos interdisciplinares;a segunda, toman<strong>do</strong> a transdisciplinaridadecomo um conteú<strong>do</strong> disciplinar da Filosofia.Neste senti<strong>do</strong>, a Filosofia pode levar o estudanteà apropriação reflexiva de conceitos,textos e problemas das Ciências Naturais,das Ciências Humanas e das Artes <strong>12</strong> .C. Contextualização socioculturalEsse campo de competências refere-se àdiversidade e, portanto, à constituição <strong>do</strong>sdiferentes significa<strong>do</strong>s que saberes de ordemvariada podem assumir em diversos contextossociais 13 :“Contextualizar o conteú<strong>do</strong> que se queraprendi<strong>do</strong> significa, em primeiro lugar, assumirque to<strong>do</strong> conhecimento envolve uma relação entresujeito e objeto. Na escola fundamental oumédia, o conhecimento é quase sempre reproduzi<strong>do</strong>das situações originais nas quais acontecesua produção. Por esta razão, quase sempre oconhecimento escolar se vale de uma transposiçãodidática, na qual a linguagem joga papeldecisivo.O tratamento contextualiza<strong>do</strong> <strong>do</strong> conhecimentoé o recurso que a escola tem para retiraro aluno da condição de especta<strong>do</strong>r passivo.Se bem trabalha<strong>do</strong>, permite que, ao longo datransposição didática, o conteú<strong>do</strong> <strong>do</strong> ensinoprovoque aprendizagens significativas que mobilizemo aluno e estabeleçam entre ele e oobjeto <strong>do</strong> conhecimento uma relação de reciprocidade.A contextualização evoca, por isso,áreas, âmbitos ou dimensões presentes na vidapessoal, social e cultural, e mobiliza competênciascognitivas já adquiridas” 14 .<strong>12</strong>1 <strong>12</strong>19Cf. KENNEDY, David. Comunidade de indagação filosófica e transformação educacional: Alguns princípios básicos, em Filosofia e Sociedade –Perspectivas para o Ensino de Filosofia. Org, SARDI, Sérgio Augusto. Ijuí: Ed. Unijuí, 2007.10Conferir, PCNEM, 1999, p. 296.11Cabe aqui uma advertência feita pela Conselheira Guiomar Namo de Mello nos comentários às Diretrizes Curriculares, para que se evite incorrer,em nome da interdisciplinaridade, em meras generalidades e na diluição das especificidades disciplinares. Cf. Diretrizes Curriculares Nacionais parao ensino médio, Parecer CEB nº 15/98.<strong>12</strong>Sob o mesmo ponto, conferir PCNEM, 1999, p. 342.13PCNEM, 1999, p. 296.14Diretrizes Curriculares Nacionais para o ensino médio, PARECER CEB 15/98, aprova<strong>do</strong> em 1/6/98 (Processo 23001.000309/97-46). RelatoraConselheira Guiomar Namo de Mello.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>1 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


<strong>12</strong>2A transposição <strong>do</strong> campo de competências“contextualização sociocultural” para adisciplina de Filosofia se dá através da competênciaespecífica de:Contextualizar conhecimentosfilosóficos, tanto no plano desua origem específica quantoem outros planos: o pessoalbiográfico;o entorno sociopolítico,histórico-cultural; o horizonteda sociedade científicotecnológica.No trabalho com textos filosóficos e nodiálogo com textos de diferentes estruturas eregistros – visan<strong>do</strong> desenvolver as capacidadesde ler e escrever, assim como de participarde debates de acor<strong>do</strong> com disposições racionais– é importante não lidar com os problemasfilosóficos como se fossem fecha<strong>do</strong>s emsi mesmos. Há, pelo menos, <strong>do</strong>is riscos quepodem decorrer desse insulamento disciplinare temático provoca<strong>do</strong> pela descontextualização<strong>do</strong>s problemas filosóficos: primeiro, comprometen<strong>do</strong>sua correta compreensão peloaluno; segun<strong>do</strong>, ao se separar os problemasfilosóficos <strong>do</strong>s contextos problemáticos quelhes deram origem, acaba-se dificultan<strong>do</strong> aautonomia e o desenvolvimento das demaiscompetências filosóficas.Para evitar esse duplo risco, é necessárioque a contextualização <strong>do</strong>s conhecimentos filosóficosseja feita de duas maneiras complementares.Para superar a primeira descontextualização,é necessário promover as habilidadeshermenêuticas <strong>do</strong>s alunos, situan<strong>do</strong> os conhecimentosfilosóficos nos sistemas conceituaisde onde surgiram, assim como remeter essesconhecimentos ao entorno sociocultural e pessoal-biográfico<strong>do</strong> estudante. Tal contextualizaçãose dá numa relação dialética entre o abstratoe o concreto, que não apenas favorecea compreensão <strong>do</strong>s problemas, como tambémenriquece a experiência pessoal <strong>do</strong>s alunos.Em relação ao segun<strong>do</strong> risco – a separação<strong>do</strong>s conceitos e das teorias <strong>do</strong>s seuscontextos de origem –, sua superação nosremete à competência de resolver problemas.Como aponta<strong>do</strong> nos Referenciais daárea, a resolução de problemas é umamaneira de levar os alunos a aprender aaprender. Nas Ciências Humanas, a resoluçãode problemas constitui-se em um mo<strong>do</strong>inova<strong>do</strong>r de abordar as questões sociais efilosóficas, afastan<strong>do</strong>-se da visão tradicionalque privilegia fatos, personagens e explicaçõessobre o passa<strong>do</strong>. Para aproximaro conteú<strong>do</strong> escolar da realidade, propõeseum enfoque “problematiza<strong>do</strong>r”, ou seja,o ideal é que as questões filosóficas sejamapresentadas, desde o início, através de dilemas,para<strong>do</strong>xos, análise de casos, de filmes,entre outros recursos, para só entãoapresentar teorias e soluções tradicionaispara esses problemas. Dessa forma, mais<strong>do</strong> que entender a disciplina como um conjuntode teorias prontas e acabadas, a Filosofiaé apreendida pelo aluno como umconjunto de problemas abertos com diversastentativas de solução, o que desenvolvesobremaneira a sua autonomia.Conceitos e temasestrutura<strong>do</strong>res daFilosofiaPara manter em níveis eleva<strong>do</strong>s o padrãoda educação praticada em nossas escolaspúblicas, é fundamental que o professorde Filosofia elabore seu próprio programapara a disciplina, levan<strong>do</strong> em consideraçãoo perfil de seus alunos, a sua situaçãopessoal e o tempo de que dispõe para asaulas 15 . Para facilitar esse trabalho, apresentamos,a seguir, um conjunto de temascorrespondentes aos conceitos estrutura<strong>do</strong>resda área apresenta<strong>do</strong>s nos PCN+, assimcomo às competências específicas da Filosofiaantes referidas, além das três arqui-15Sugere-se a leitura <strong>do</strong> livro Ensino de Filosofia e Currículo, de Ronai Pires da Rocha, Petrópolis, Vozes, 2008.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>2 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


competências postuladas pelos Referenciaispara o Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio Grande <strong>do</strong> Sul: ler,escrever e resolver problemas 16 .Do mo<strong>do</strong> como foram concebi<strong>do</strong>s os ReferenciaisCurriculares, no interior das áreasde conhecimento, cada disciplina apresentaum conjunto de conceitos estrutura<strong>do</strong>res articula<strong>do</strong>scom conhecimentos, que não sãoapenas tópicos disciplinares, nem somentecompetências gerais ou habilidades, massugestões de sínteses de ambas as intençõesformativas. Tais conceitos não são de responsabilidadede uma única disciplina, já que incorporammetas educacionais comuns às váriasdisciplinas da área. Esses conceitos nãoprecisam estar explícitos em todas as disciplinas,já que são representações gerais <strong>do</strong> realcompartilhadas pela área nos processos deanálise <strong>do</strong>s objetos das diferentes disciplinas,mesmo que não sejam específicos de nenhumadelas em particular. No caso da Filosofia,os conceitos estrutura<strong>do</strong>res são relaçõessociais, identidades, trabalho, poder e<strong>do</strong>minação, cultura e ética, os quais, porsua vez, articulam-se com os três conceitosestrutura<strong>do</strong>res específicos para a Filosofia,propostos pelos PCN+, quais sejam: o ser,o conhecimento e a ação.Quanto aos critérios para seleção <strong>do</strong>sconteú<strong>do</strong>s, em primeiro lugar, sua composiçãodeve ser considerada como um meiopara que o educan<strong>do</strong> construa/reconstruaos conhecimentos próprios da Filosofia, mastambém para que ele desenvolva um elencode competências, concebi<strong>do</strong> a partir deum recorte nos conteú<strong>do</strong>s que a disciplinapode oferecer. Seguin<strong>do</strong> Stampacchio, e deacor<strong>do</strong> com os PCN, indicamos uma série dequestões que podem orientar a opção de organizaçãoprogramática pelo educa<strong>do</strong>r:• Os recortes permitem o trabalho contextualiza<strong>do</strong>,ou seja, com questões que se relacionamcom o viver em sociedade amplo e/ou particular <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s?• Os recortes encerram questões que podemser permanentemente problematizadaspelos educan<strong>do</strong>s?• Os recortes permitem o trabalho com conhecimentose questões relacionadas aeles que possam ser apropriadas e transpostaspelo educan<strong>do</strong> para situações novas?• Os recortes permitem o trabalho com questõesque envolvem o universo de diferentessujeitos sociais?• Os recortes permitem o trabalho com diferenteslinguagens e diferentes interpretaçõespresentes em diferentes fontes deconhecimento?• Os recortes permitem o trabalho sistemáticoe, portanto, permanente, com atividadesde pesquisa que visem ao desenvolvimentode competências, habilidades e conceitospelo educan<strong>do</strong>?• Os recortes permitem o trabalho com questõessituadas em diferentes épocas e lugares? 17A - Conceito estruturante:conhecimentoDe acor<strong>do</strong> com os PCN+, para a áreade Ciências Humanas e suas Tecnologias,“na reflexão sobre os fundamentos e fins <strong>do</strong>conhecimento, a Filosofia investiga os instrumentos<strong>do</strong> pensar, como a lógica e a meto<strong>do</strong>logia;distingue e compara as diversasformas de apreensão <strong>do</strong> real, tais como mito,religião, senso comum, ciência, filosofia,etc.; elabora a teoria <strong>do</strong> conhecimento, indagan<strong>do</strong>sobre as possibilidades e os limites <strong>do</strong>conhecimento” (PCN+, Ciências Humanas esuas Tecnologias, p. <strong>45</strong>).O conceito estruturante conhecimento mobilizadiversas capacidades específicas da disciplina,dentre as quais destacamos: ler textosfilosóficos de mo<strong>do</strong> significativo, elaborar porescrito o que foi apropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo,debater de forma argumentativa, articularos conhecimentos filosóficos com os conteú<strong>do</strong>sdas Ciências Naturais e Humanas, além<strong>12</strong>3 <strong>12</strong>316Observe-se que este conjunto de temas não se pretende exaustivo e completo e não pode ser toma<strong>do</strong> como um conteú<strong>do</strong> programático fecha<strong>do</strong>.Além disso, não se tem a intenção de que estas sugestões sejam aplicadas na sequência em que são apresentadas neste <strong>do</strong>cumento.17STAMPACCHIO, Léo. Pratican<strong>do</strong> a interdisciplinaridade na Escola Fundamental e Média – Unidade 1. São Paulo: PUC/SP – COGEAE, 1997.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>3 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:02


1<strong>24</strong>de possibilitar o desenvolvimento da competênciade resolver problemas.No âmbito da área de Ciências Humanas,esse conceito estruturante específico está relaciona<strong>do</strong>,de maneira implícita, com as seguintescapacidades e habilidades: desenvolvimentodas capacidades lógico-matemáticas;construção da autonomia intelectual (sensocrítico); capacidade de trabalhar com diferentesinterpretações, relacionan<strong>do</strong> o desenvolvimento<strong>do</strong>s conhecimentos com os sujeitossociais que os produzem; e apropriação de diferenteslinguagens e instrumentais de análise.Desse conceito estruturante específico derivamtemas estrutura<strong>do</strong>res, que sintetizam umaquestão geral central da disciplina, geran<strong>do</strong>se,a partir destes, diversos subtemas, como severá a seguir.1. Tema estrutura<strong>do</strong>r: lógica eracionalidade argumentativaEste tema está diretamente relaciona<strong>do</strong>com o conjunto das capacidades lógico-matemáticase com o desenvolvimento da autonomiaintelectual, já que reconhecer e avaliarargumentos, assim como sustentar as própriasopiniões baseadas em argumentos, são capacidadesinerentes ao exercício da cidadaniaem sociedades democráticas, desde a GréciaAntiga. A escolha deste tema também se justificapela presença das competências e habilidadesa ele associadas em avaliações <strong>do</strong>ensino médio, como o ENEM e o ENCCEJA.Observe-se que a presença da lógica noensino médio não se traduz necessariamentenum bloco de conteú<strong>do</strong>s volta<strong>do</strong> para a lógicaformal. Para atingir os principais objetivosdeste tema, é possível trabalhar com a lógicainformal, entendida como arte de argumentare de analisar argumentos. Nesse senti<strong>do</strong>, otema pode ser desenvolvi<strong>do</strong> através da análisede argumentos reais presentes, não apenas nostextos da tradição filosófica, como também nosdebates contemporâneos veicula<strong>do</strong>s em diferentestipos de textos 18 .Subtema: argumentação e lógicaUm possível percurso para este tema: identificara estrutura <strong>do</strong>s argumentos; distinguirvalidade/verdade; critérios e formas de inferênciaválidas; reconhecer falácias; distinguire reconhecer argumentos dedutivos e indutivos;desenvolver noções de lógica formal; retóricae arte da persuasão.2. Tema estrutura<strong>do</strong>r:teoria <strong>do</strong> conhecimentoEntre os principais temas das especulaçõesfilosóficas está o <strong>do</strong> conhecimento. Desdea Antiguidade, quase to<strong>do</strong>s os filósofos sepreocuparam com o problema <strong>do</strong> conhecimento,envolven<strong>do</strong> questões como: o que é oconhecimento; qual o fundamento <strong>do</strong> conhecimento;a possibilidade <strong>do</strong> conhecimento verdadeiro.Subtema: o ato de conhecerUm possível percurso para o subtema teoria<strong>do</strong> conhecimento: definição de conhecimento,possibilidades <strong>do</strong> conhecimento e a origem <strong>do</strong>conhecimento; realismo e idealismo; racionalismoe empirismo.Subtema: Filosofia da ciênciaUm possível percurso para este subtema:distinção entre senso comum e conhecimentocientífico, o méto<strong>do</strong> científico, a validade e verificabilidadedas hipóteses, a questão da objetividadee as críticas à racionalidade científica.Subtema: problemas dacultura científico-tecnológicaSugere-se que este conceito estruturanteseja desenvolvi<strong>do</strong> a partir <strong>do</strong>s problemasapresenta<strong>do</strong>s pela cultura científico-tecnológica.Algumas sugestões: a ciência, o podere os riscos; a construção histórico-social daciência; o trabalho e as novas tecnologias;18A importância deste tema e suas conexões interdisciplinares fica patente na recente explosão bibliográfica sobre o tema no Brasil. A título deorientação, destaquem-se as seguintes obras: MEYER, Bernard. A arte de argumentar: com exercícios corrigi<strong>do</strong>s. São Paulo: Martins Fontes, 2008;FISHER, Alec. A lógica <strong>do</strong>s verdadeiros argumentos. São Paulo: Novo Conceito Editora, 2008.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> 1<strong>24</strong> <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:03


o impacto da sociedade da informação navida cotidiana; a industrialização e o impactoambiental; a investigação científica e os interesseseconômico-políticos; a tecnociência e aética; a manipulação genética; entre outros.3. Tema estrutura<strong>do</strong>r:o que é a Filosofia?É uma tradição no ensino da Filosofia tomarcomo objeto de reflexão a própria atitudefilosófica: o que a diferencia <strong>do</strong> mito e <strong>do</strong>senso comum, características <strong>do</strong> pensamentofilosófico e <strong>do</strong>s problemas filosóficos.Um possível percurso para este tema:Mito e Filosofia e o nascimento da Filosofiana Grécia; <strong>do</strong> senso comum ao pensamentofilosófico; Filosofia, ciência e tecnocracia; diferentesconcepções da Filosofia; características<strong>do</strong>s problemas filosóficos.B - Conceito estruturante: açãoDe acor<strong>do</strong> com os PCN+ para a área deCiências Humanas e suas Tecnologias, “aoanalisar os fundamentos e os fins da ação,parte-se das grandes áreas de reflexão ética,estética, política e antropologia, etc., a fimde compreender as formas de agir nos camposda moral, da arte, <strong>do</strong> exercício <strong>do</strong> poder,da técnica, da magia, etc”. (PCN+, CiênciasHumanas e suas Tecnologias, p. <strong>45</strong>).O conceito estruturante ação mobilizadiversas capacidades específicas da disciplina,dentre as quais destacamos: ler textos filosóficosde mo<strong>do</strong> significativo, elaborar porescrito o que foi apropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo,debater de forma argumentativa, articularos conhecimentos filosóficos com osconteú<strong>do</strong>s das Ciências Naturais e Humanas,além de possibilitar o desenvolvimentoda competência de resolver problemas.No âmbito da área de Ciências Humanas,esse conceito estruturante específicoestá relaciona<strong>do</strong> com o desenvolvimentodas seguintes capacidades: construir aautonomia intelectual (senso crítico); sercapaz de trabalhar com diferentes interpretações,relacionan<strong>do</strong> o desenvolvimento <strong>do</strong>sconhecimentos com os sujeitos sociais que osproduzem; apropriar-se de diferentes linguagense instrumentais de análise; adquirir umamelhor compreensão da vida cultural <strong>do</strong>s grupos;processar e comunicar informações e conhecimentos,entre outras.Propõe-se que os temas estrutura<strong>do</strong>resdeste eixo da ação sejam desenvolvi<strong>do</strong>s apartir de situações-problemas dilemas, assembleiasde classe, tribunais <strong>do</strong> júri, debatese estu<strong>do</strong>s de caso.1. Tema estrutura<strong>do</strong>r: éticaA relevância deste tema estrutura<strong>do</strong>r éevidente na sociedade contemporânea, naqual as reflexões éticas tornaram-se verdadeirosimperativos culturais. Um possívelpercurso para este tema poderia ser: análiseda especificidade humana <strong>do</strong> agir, distinguin<strong>do</strong>causas de ações; a consciênciamoral; heteronomia/autonomia; a Regrade Ouro; Kant e a ética baseada no dever;o utilitarismo e a ética baseada nas consequências;Aristóteles e a ética baseadanas virtudes; análise <strong>do</strong>s valores sociais,com reflexões sobre a riqueza da diversidadede valores, reconhecen<strong>do</strong> a necessidadede encontrar critérios intersubjetivosde valoração, bem como a importância datolerância, da diferença e <strong>do</strong> diálogo intercultural;códigos de ética; casos de éticaaplicada; bioética.2. Tema estrutura<strong>do</strong>r:Filosofia políticaO termo “política” designa o campo daatividade humana que se refere à cidade, aoEsta<strong>do</strong>, à administração pública e à cidadania.O nascimento da pólis na Grécia Antigae a Filosofia são fenômenos correlaciona<strong>do</strong>s.A Filosofia política é o campo da reflexãoque se ocupa <strong>do</strong> fenômeno político e demaisfenômenos sociais, analisan<strong>do</strong> o poder,<strong>12</strong>5 <strong>12</strong>5<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>5 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:03


<strong>12</strong>6as formas de governo e de participação <strong>do</strong>scidadãos na vida pública, entre outros. Estetema estrutura<strong>do</strong>r permite o trabalho explícitocom diversos conceitos estrutura<strong>do</strong>res daárea: poder e <strong>do</strong>minação, relações sociais,identidade e cultura.O percurso sugeri<strong>do</strong> para este tema: adimensão política da Filosofia e sua contribuiçãopara a construção da cidadania, retoman<strong>do</strong>o vínculo que une a Filosofia com ademocracia e com o debate público na pólis;o papel da tolerância e <strong>do</strong> diálogo na construçãoda cidadania; a democracia diretagrega; a democracia contemporânea e seusantecedentes; o confronto entre as ideiasliberais e o socialismo; o avesso da democracia;autonomia e as várias dimensões daliberdade; o individualismo contemporâneo;as condutas massificadas; relação entre éticae política; os limites entre público e priva<strong>do</strong>;Platão e Aristóteles e o surgimento da teoriapolítica; Maquiavel e os fundamentos <strong>do</strong>Esta<strong>do</strong> moderno; teoria <strong>do</strong> contrato social:Hobbes e Rousseau; problemas políticos <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> contemporâneo: direitos humanos eglobalização, direitos das mulheres, a pazmundial, entre outros.3. Tema estrutura<strong>do</strong>r: estéticaAlém da ética ou Filosofia moral e daFilosofia política, a Filosofia prática tambémreflete sobre os valores estéticos, sen<strong>do</strong>importante lembrar que a estética dasensibilidade é um princípio nortea<strong>do</strong>r daeducação básica. Cabe ressaltar que estetema estrutura<strong>do</strong>r oportuniza trabalhos interdisciplinarescom a área de Linguagense seus Códigos.O percurso sugeri<strong>do</strong> para este tema:reconhecimento da especificidade da experiênciaestética no tríplice registro deexperiência da natureza, da criação artísticae da contemplação da obra de arte;a natureza <strong>do</strong> juízo estético e <strong>do</strong> gosto; osignifica<strong>do</strong> da arte ao longo <strong>do</strong>s tempos;produção e consumo da arte; industrializaçãoda estética na sociedade contemporânea;pluralidade de senti<strong>do</strong>s (polissemia)da obra artística; manifestação daidentidade cultural <strong>do</strong>s povos, das classese <strong>do</strong>s grupos sociais; revelação de novosmo<strong>do</strong>s de conhecer o sujeito e o mun<strong>do</strong>.C - Conceito estruturante: serDe acor<strong>do</strong> com os PCN+ da área deCiências Humanas e suas Tecnologias,“quanto à reflexão sobre o ser, de que trataa Filosofia? Sabemos, desde Platão, que ofilósofo é aquele que se admira diante <strong>do</strong>óbvio, porque introduz no mun<strong>do</strong> a estranhezae o questionamento. Dessa forma,busca a origem, o senti<strong>do</strong> das coisas, dasideias, <strong>do</strong>s comportamentos estabeleci<strong>do</strong>s.(...) a Filosofia se ocupa da totalidade <strong>do</strong>sseres”. (PCN+, Ciências Humanas e suastecnologias, p. <strong>45</strong>)O conceito estruturante ser mobiliza diversascapacidades específicas da disciplina,dentre as quais se destacam: ler textosfilosóficos de mo<strong>do</strong> significativo, elaborarpor escrito o que foi apropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong>reflexivo, debater de forma argumentativa,articular os conhecimentos filosóficoscom os conteú<strong>do</strong>s das Ciências Naturais eHumanas, além de possibilitar o desenvolvimentoda competência de resolver problemas.O conceito de ser tem uma longa tradiçãona Filosofia, sen<strong>do</strong> objeto das reflexõesontológicas e metafísicas. Sob esta rubricapodemos classificar questões centraisda Filosofia, como o problema da liberdade,da identidade pessoal, da existência deDeus, <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> da existência, da temporalidadee finitude da condição humana,entre outros.Sem dúvida, este é o tema que apresentamaiores dificuldades para ser trabalha<strong>do</strong> noensino médio. Porém, é um tema relevanteque aborda problemas fundamentais e clássicosda Filosofia, que também fazem parteda vida <strong>do</strong>s educan<strong>do</strong>s: a existência de Deus,a liberdade, a questão da identidade pessoale o senti<strong>do</strong> da vida.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>6 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:03


O percurso sugeri<strong>do</strong> para este tema étrabalhar no mínimo um <strong>do</strong>s seguintes tópicosde metafísica: as provas da existênciade Deus; determinismo e livre-arbítrio; oproblema da identidade pessoal; o conceitode tempo; finitude e temporalidade: a tarefade ser no mun<strong>do</strong>; pensamento e memória:a responsabilidade pelo futuro, a dimensãopessoal de dar senti<strong>do</strong> à sua vida e a contextualizaçãocoletiva, histórica e ontológicadessa decisão.Estratégias paraa ação <strong>do</strong>centeOs procedimentos didáticos que envolvemos processos de ensino e de aprendizagemdevem estar orienta<strong>do</strong>s para a construção<strong>do</strong> encontro entre conceitos e competências.Para tanto, é preciso que as aulas ditas “discursivas”ou “expositivas” deixem de ter umpapel central e tornem-se coadjuvantes emrelação a outras práticas, nas quais a atuação<strong>do</strong> professor se dê em função da mediação<strong>do</strong>s processos de construção de conhecimentose capacidades pelo educan<strong>do</strong>.Para que o aluno desenvolva as competênciasesperadas ao final <strong>do</strong> ensino médioem Filosofia, torna-se um pressuposto queo espaço <strong>do</strong> trabalho escolar passe a serocupa<strong>do</strong> pela ação educativa <strong>do</strong>s alunos enão esteja centra<strong>do</strong>, exclusivamente, no professor.Esse objetivo pode ser alcança<strong>do</strong> noâmbito de atividades voltadas à resolução deproblemas, o que, no caso das Ciências Humanas,está diretamente liga<strong>do</strong> às capacidadesde ler e escrever.Nesses termos, o que aqui se propõe éque as atividades a serem apresentadasaos alunos não sejam iniciadas pela exposiçãodas teorias e <strong>do</strong>s conceitos comoum conteú<strong>do</strong> fecha<strong>do</strong>, e sim por situaçõesproblema,tais como dilemas, para<strong>do</strong>xos,estu<strong>do</strong>s de caso, tribunais e assembleiase outras dinâmicas pedagógicas que mobilizemas competências de uma maneirasignificativa, interdisciplinar e contextualizada,sen<strong>do</strong> importante a prática de semináriosrealiza<strong>do</strong>s pelos alunos, as pesquisasbibliográficas, o uso de música, poesia,literatura e filmes em vídeo; enfim, de tu<strong>do</strong>o que possa ampliar as possibilidades deabordagem <strong>do</strong> tema a ser desenvolvi<strong>do</strong>.Atividades com esse perfil permitem odesenvolvimento da autonomia <strong>do</strong>s alunos,mobilizan<strong>do</strong> instrumentos de análise, conceitose diferentes esquemas de pensamentoe competências. No entanto, cabe aqui recomendar,enfaticamente, que as atividadesnão sejam propostas aos alunos sem a mediaçãodecisiva <strong>do</strong> professor, já que não éde se esperar que os conceitos necessáriospara servir de instrumental de análise surjamespontaneamente a partir das situaçõesproblema.Tais conceitos, mesmo quan<strong>do</strong>não apresenta<strong>do</strong>s de forma explícita, precisamestar presentes no planejamento <strong>do</strong>professor e nas fontes oferecidas aos alunoscomo base para a pesquisa, deven<strong>do</strong> seuentendimento se tornar explícito ao final <strong>do</strong>percurso.Destacamos, ainda, como recomendamos PCN+, que o desenvolvimento das competênciasespecíficas da disciplina depende<strong>do</strong> apoio consistente da história da Filosofia,manten<strong>do</strong>-se a centralidade <strong>do</strong>s textos filosóficos(primários de preferência), já que a Filosofiacomporta um acervo próprio de questões.Também não se sugere a eliminaçãodas aulas expositivas, sempre consideran<strong>do</strong>que a exposição tem seu momento pedagógicoadequa<strong>do</strong>. Porém, a aula expositiva nãopode ser o único recurso didático, sob riscode se transformar o ensino de Filosofia numamera transmissão de informações a respeito<strong>do</strong>s autores e suas teorias.Outro aspecto a ressaltar é a questão daavaliação. O procedimento avaliativo consisteno processo regula<strong>do</strong>r das aprendizagens,orienta<strong>do</strong>r <strong>do</strong> percurso escolar e certifica<strong>do</strong>rdas diversas aquisições realizadaspelos alunos. A avaliação visa à aferição deconhecimentos, competências e habilidades.Portanto, consiste nas atividades medianteas quais se avaliarão não apenas as<strong>12</strong>7 <strong>12</strong>7<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>7 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:03


<strong>12</strong>8aquisições cognitivas, mas também as competênciasalcançadas. No caso da Filosofia,avaliamos, por exemplo, se o aluno aprendeuque o argumento ontológico de SantoAnselmo é um argumento a favor da existênciade Deus que se baseia numa redução aoabsur<strong>do</strong>, mas também avaliamos se o alunoaprendeu a argumentar por redução ao absur<strong>do</strong>.Isso indica que a avaliação das aprendizagensem Filosofia incide não estritamentesobre o que chamamos “conhecimentos”(aquilo que o educan<strong>do</strong> sabe), mas igualmentesobre capacidades e habilidades 19 .Quadro resumo <strong>do</strong>sReferenciais de FilosofiaAs diretrizes apresentadas nestes referenciaisnão esgotam as possibilidades de organizaçãocurricular, ten<strong>do</strong> si<strong>do</strong> formatadasvisan<strong>do</strong> os conteú<strong>do</strong>s básicos de cada etapa<strong>do</strong> ensino médio. Cabe aos professores, principaisresponsáveis pela formulação e aplicação<strong>do</strong>s programas de ensino, adaptarem ecomplementarem estes temas, adequan<strong>do</strong>-osà sua realidade local.Temas/estruturantes1. O que é filosofia?2. Perío<strong>do</strong>s e áreas daFilosofia3. Ética4. Argumentação e lógica1. O ato de conhecer2. Filosofia da ciência3. Problemas da culturacientífico-tecnológica4. Questões de metafísicaCompetências/habilidades(1) ler textos filosóficos de mo<strong>do</strong>significativo;(2) ler, de mo<strong>do</strong> filosófico, textosde diferentes estruturas e registros;(3) elaborar por escrito o que foiapropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo;(4) debater, toman<strong>do</strong> uma posição,defenden<strong>do</strong>-a argumentativamentee mudan<strong>do</strong> de posiçãoface a argumentos mais consistentes;(5) contextualizar conhecimentosfilosóficos, tanto no plano de suaorigem específica quanto em outrosplanos: o pessoal-biográfico;o entorno sociopolítico, históricoe cultural; o horizonte da sociedadecientífico-tecnológica.(1) ler textos filosóficos de mo<strong>do</strong>significativo;(2) ler, de mo<strong>do</strong> filosófico, textosde diferentes estruturas e registros;(3) elaborar por escrito o que foiapropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo;(4) debater, toman<strong>do</strong> uma posição,defenden<strong>do</strong>-a argumentativamentee mudan<strong>do</strong> de posiçãoface a argumentos mais consistentes;Sugestões/estratégiasa) Propor dinâmicas que mobilizem ascompetências de uma maneira significativa,interdisciplinar e contextualizada;explicitan<strong>do</strong> as razões para a aprendizagem<strong>do</strong>s conteú<strong>do</strong>s e a relação desseconteú<strong>do</strong> com as habilidades a seremtrabalhadas e com o contexto <strong>do</strong> aluno.b) Propor tarefas que estimulem a expressãoescrita, por meio da dissertaçãofilosófica.c) Iniciar a leitura <strong>do</strong>s textos filosóficosde maneira reflexiva e analítica, buscan<strong>do</strong>compreender os pressupostos <strong>do</strong>stextos e identifican<strong>do</strong> as ideias centraise a articulação argumentativa. Em umsegun<strong>do</strong> momento, entrar nos aspectosdenotativos <strong>do</strong> texto e exercitar a análiseinterpretativa e a problematizaçãocrítica.d) Propor tarefas que oportunizem aapropriação reflexiva de conceitos, textose problemas das Ciências Naturais,das Ciências Humanas e das Artes.e) Propor textos de diferentes estruturase registros (artigos de jornais e revistas,filmes, músicas, pinturas, etc.).f) Desenvolver um processo avaliativoconstante, através de atividades medianteas quais serão aferidas não apenasas aquisições cognitivas, mas tambémas competências alcançadas.19Leitura recomendada sobre avaliação em Filosofia: http://www.apfilosofia.org/<strong>do</strong>cumentos/pdf/APCosta_avaliacao.pdf<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>8 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:03


Temas/estruturantes Competências/habilidades Sugestões/estratégias1. Filosofia política2. Estética3. Tópicos de ética aplicadae cidadania(5) articular conhecimentos filosóficose diferentes conteú<strong>do</strong>s emo<strong>do</strong>s discursivos nas CiênciasNaturais e Humanas, nas Artes eem outras produções culturais.1) ler textos filosóficos de mo<strong>do</strong>significativo;(2) ler, de mo<strong>do</strong> filosófico, textosde diferentes estruturas e registros;(3) elaborar por escrito o que foiapropria<strong>do</strong> de mo<strong>do</strong> reflexivo;(4) debater, toman<strong>do</strong> uma posição,defenden<strong>do</strong>-a argumentativamentee mudan<strong>do</strong> de posição facea argumentos mais consistentes;(5) articular conhecimentos filosóficose diferentes conteú<strong>do</strong>s emo<strong>do</strong>s discursivos nas CiênciasNaturais e Humanas, nas Artes eem outras produções culturais;(6) contextualizar conhecimentosfilosóficos, tanto no plano de suaorigem específica quanto em outrosplanos: o pessoal-biográfico;o entorno sociopolítico, históricoe cultural; o horizonte da sociedadecientífico-tecnológica.g) orientar projetos de pesquisa transdisciplinaressobre temas atuais: célulastronco,direito <strong>do</strong>s animais, paz mundial,temas de bioética, ética ambiental, etc.<strong>12</strong>9 <strong>12</strong>9ReferênciasALMEIDA, Aires e outros. A Arte de Pensar. Lisboa: DidácticaEditora, 2008.BRASIL, Ministério da Educação. Orientações Curricularespara o ensino médio, Volume 3 – CiênciasHumanas e suas Tecnologias. Brasília: Secretaria deEducação Básica, 2006______. Parâmetros Curriculares Nacionais para o ensinomédio. Brasília: Secretaria de Educação Média eTecnologia (Semtec/MEC), 1999______. PCN+ ensino médio: Orientações EducacionaisComplementares aos Parâmetros CurricularesNacionais. Ciências Humanas e suas tecnologias. Brasília:Ministério da Educação/Secretaria de EducaçãoMédia e Tecnológica, 2002.CHAUÍ, Marilena, Convite à Filosofia, São Paulo: Ática,13ª ed., 2005.KOHAN, Walter O. (Org.). Filosofia: caminhos para seuEnsino. Rio de Janeiro: DP&a, 2004.______. Walter O. (Org.). Políticas para o Ensino de Filosofia.Rio de Janeiro: DP&a, 2004.MORIN, E. Educar para a Era Planetária: O PensamentoComplexo como Méto<strong>do</strong> de Aprendizagemno Erro e na Incerteza Humanos. São Paulo: Cortez,s/dNOBRE, Marcos e TERRA, Ricar<strong>do</strong>. Ensinar Filosofia –Uma Conversa sobre Aprender a aprender. Campinas:Papirus, 2007.PERRENOUD, Philippe. Dez Novas Competências paraEnsinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.RANCIÉRE, J. O Mestre Ignorante. Belo Horizonte: Autêntica,2002.ROCHA, Ronai Pires da. Ensino de Filosofia e Currículo.Petrópolis, RJ: Vozes, 2008SARDI, Sérgio Augusto; SOUZA, Draiton Gonzaga eCARBONARA, Vanderlei (Orgs.). Filosofia e Sociedade:Perspectivas para o Ensino de Filosofia. Ijuí: Ed.Unijuí, 2007.SPLITTER, Laurence e SHARP, Ann. La Otra Educación– Filosofia para Niños y la Comunidad de Indagación.Buenos Aires: Manantial, 1996.<strong>REF</strong> <strong>CURRICULAR</strong> V <strong>5.indd</strong> <strong>12</strong>9 <strong>24</strong>/8/<strong>2009</strong> <strong>12</strong>:46:03


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