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reportagem - Fortaleza de São João - FunCEB

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○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○Paulo Roberto Rodrigues TeixeiraAdler Homero onseca <strong>de</strong> CastroEncerramos a nossa edição com a <strong>reportagem</strong>sobre a <strong>Fortaleza</strong> <strong>de</strong> São João, preservandoo mesmo mo<strong>de</strong>lo que tem pautadoas edições da revista DaCultura,abordando os fortes e fortalezas espalhados emtodo o território nacional. Por se tratar <strong>de</strong> umaedição em que o enfoque principal é o Patronodo Exército, no ano das comemorações do bicentenáriodo seu nascimento, buscamos e encontramosa <strong>Fortaleza</strong> <strong>de</strong> São João, <strong>de</strong> cuja históriao então Ministro da Guerra, Duque <strong>de</strong> Caxias,também faz parte.O complexo começou a ser erguido na épocado <strong>de</strong>sembarque <strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá, em 1 o <strong>de</strong>março <strong>de</strong> 1565, por ocasião da fundação da Cida<strong>de</strong>do Rio <strong>de</strong> Janeiro, na várzea entre os morrosCara-<strong>de</strong>-Cão e Pão <strong>de</strong> Açúcar. Inicialmente,eram instalações precárias, porém, com o passardo tempo, foi sendo ampliada e reforçada, transformando-sea primitiva fortificação num conjunto<strong>de</strong> obras espalhadas e que veio a ser chamado<strong>Fortaleza</strong> <strong>de</strong> São João.A <strong>Fortaleza</strong> <strong>de</strong> São João talvez seja a únicano país que é verda<strong>de</strong>iramente uma fortaleza, poisANO III / Nº 571


otografia do século passado, aparecendo a Praia do Porto,e ao fundo o orte São Tiagona Engenharia Militar antiga, tratava-se <strong>de</strong> umconjunto <strong>de</strong> baterias, atualmente fortes, mas inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.No caso <strong>de</strong> São João porém, oconjunto é formado por fortes in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: SãoJosé (1578), São Teodósio (1572), São Martinho(1565) e São Tiago (1618), posteriormente reforçadospelas baterias Mallet e Marques Porto (1902).A razão <strong>de</strong>ssa complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> construçãoé compreensível. Situada no local da fundação daCida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, no Morro Cara-<strong>de</strong>-Cão,apresentava três frentes <strong>de</strong> atuação, a Praia <strong>de</strong> Fora,a Praia do Porto, além da entrada da Baía <strong>de</strong>Guanabara, o que dificultava sobremaneira a organizaçãoda posição <strong>de</strong>fensiva.As mesmas instalações em fotografia recente72ANO III / Nº 5


orte São Martinho (1565), localizado na Praia <strong>de</strong> oraAs Baterias Mallet e Marques Portoforam construídas paraaumentar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo da ortaleza<strong>de</strong> São João em 1902Marco daBateria MalletANO III / Nº 5Marco da Bateria Marques Porto73


Canhões Whitworth <strong>de</strong> sítio, na entradada fortaleza, adquiridos em 1863, para usopela Escola <strong>de</strong> Aplicaçãodo Exército, na instrução <strong>de</strong> tiroortaleza <strong>de</strong> Santa Cruz...”que as fortalezas <strong>de</strong> Santa Cruze São João sejam levadas aúltima perfeição e estejam semprearmadas e guarnecidas”Em 1715, o Governo português feza seguinte recomendação: ... “que as fortalezas<strong>de</strong> Santa Cruz e São João sejamlevadas a última perfeição e estejam semprearmadas e guarnecidas”.Em 1831, por ocasião da Abdicaçãodo Imperador D. Pedro I, a <strong>Fortaleza</strong>foi <strong>de</strong>sativada e <strong>de</strong>sarmada, permanecendoapenas sete canhões no ForteSão José, sem dispor <strong>de</strong> uma guarniçãopara operá-los.Em 1855, foi criada a Escola <strong>de</strong>Aplicação do Exército que usou as instalaçõesda <strong>Fortaleza</strong>, transferindo parao local a instrução prática, tanto <strong>de</strong> material<strong>de</strong> artilharia como <strong>de</strong> infantaria.Apesar da Escola ter sido transferida paraa Praia Vermelha dois anos <strong>de</strong>pois, a <strong>Fortaleza</strong>continuou a ser uma <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>-74 ANO III / Nº 5


pendências, com uma pequena guarnição,on<strong>de</strong> prosseguiu a instrução <strong>de</strong> tiro.Em 1862, após o episódio da QuestãoChristie, pairava sobre o ImperadorD. Pedro II uma gran<strong>de</strong> preocupação pelasegurança do Rio <strong>de</strong> Janeiro, em virtu<strong>de</strong>do fácil acesso, pelo mar, dos estrangeiros.Criou-se um projeto audacioso paraaumentar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da Baía<strong>de</strong> Guanabara. Uma obra <strong>de</strong> porte, atravésda construção <strong>de</strong> 17 casamatas e queiria proporcionar ao Forte São José o aumentodo seu po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo. Ao encerrara construção, os canhões Whitworthse posicionaram para barrar qualquer tentativado invasor. Ficou registrada estaobra em placa alusiva, na entrada do Forte,até hoje, com a marca do Imperador.Placa alusiva com a marca doImperador D. Pedro IICanhão Whitworth em posiçãoANO III / Nº 575


Canhão Krupp 75mm c.26, também conhecido pelo apelido <strong>de</strong> “Canhão Cachorro” ou “Galgo”Em 1875, foi construída umanova bateria sobre o Forte São Theodósio,preparada para receber o gigantescocanhão Armstrong <strong>de</strong> 11 polegadas(280 mm), pesando 25 toneladase cujo projetil pesava 550 libras(250kg). Era conhecido como “Vovô”.No mesmo ano, foi também instaladono local o canhão mais mo<strong>de</strong>rnoentão em uso no Exército, um Krupp75mm c.26, presenteado pela CasaKrupp ao Imperador. Pelas suas linhasesguias, foi apelidado como “CanhãoCachorro” ou “Galgo”.Em 1902, foram instalados quatrocanhões Krupp 150mm – L/40,mo<strong>de</strong>lo 1895, nas “baterias mascaradas”,pois se <strong>de</strong>stinavam à <strong>de</strong>fesa aproximadado porto, ficando camufladasaté os alvos estarem bem próximos.Foram parte do novo e ambi-Canhão “Vovô”, na época da instalaçãoCanhão “Vovô”, hoje, no mesmo local76 ANO III / Nº 5


Casamata <strong>de</strong> concreto, on<strong>de</strong> funcionavao Posto <strong>de</strong> Observação do PlanoPrati <strong>de</strong> Aguiar (1940),o último projeto <strong>de</strong> Defesa do Brasilcioso plano <strong>de</strong> fortificação apresentado em 1898.A estas peças foram adicionadas mais um Krupp<strong>de</strong> 120mm e dois Armstrong <strong>de</strong> 95mm, tornandoa fortificação em uma posição-chave no esquema<strong>de</strong>fensivo da capital, com a função <strong>de</strong><strong>de</strong>ter qualquer ataque feito por embarcações menores.Para guarnecer o novo material tinha sidocriado um Batalhão <strong>de</strong> Artilharia <strong>de</strong> Posição, o6 o , que foi sendo sucessivamente transformadono 2 o Batalhão <strong>de</strong> Artilharia <strong>de</strong> Costa.Canhão Krupp 150mm – L/40,mo<strong>de</strong>lo 1895, usado para a <strong>de</strong>fesa aproximadaficando camuflado atéo alvo estar bem próximo (1902)ANO III / Nº 577


ortaleza da Laje, para on<strong>de</strong> foram transferidos dois canhõesKrupp <strong>de</strong> 150mm da ortaleza <strong>de</strong> São João, em 1956Portão da ortaleza, tombadoem 1938 pelo IPHANEm 1938, o portão da <strong>Fortaleza</strong> foitombado pelo Instituto <strong>de</strong> Patrimônio Históricoe Artístico Nacional.Em 1956, transferiram-se dois canhõesKrupp <strong>de</strong> 150mm para a <strong>Fortaleza</strong> da Laje,<strong>de</strong>ixando o forte equipado com apenas outrosdois e mais alguns canhões Vickers-Armstrong <strong>de</strong> 152,9mm, <strong>de</strong> artilharia <strong>de</strong>costa motorizada, até que o grupo foi extintoem 1990, voltando a <strong>Fortaleza</strong> a terseu papel <strong>de</strong> ensino, passando a ser administradapela Escola <strong>de</strong> Educação Física, <strong>de</strong>poispelo Centro <strong>de</strong> Capacitação Física/ForteSão João e, atualmente, pela Diretoria <strong>de</strong>Pesquisa e Estudo <strong>de</strong> Pessoal, cujo diretor éo General-<strong>de</strong>-Brigada Juarez Genial.Caxias e os fortesApós a Abdicação do Imperador D.Pedro I, vindo em seguida o período da78 ANO III / Nº 5


Regência, ocorreram mudanças no quadropolítico do país. Foi criada a Guarda Nacionale houve uma expressiva redução doefetivo <strong>de</strong> militares, para diminuir os gastosdo governo. O Exército, que tinha umtotal aproximado <strong>de</strong> 28 mil homens, ficoureduzido a cerca <strong>de</strong> quatro mil, sendo impossívelmanter uma <strong>de</strong>fesa compatívelcom o efetivo disponível.Caxias foi um dos oficiais que partilhava<strong>de</strong> uma corrente favorável à reformulaçãoda doutrina militar do Império,na qual constava a <strong>de</strong>sativação dos pequenose ineficientes fortes costeiros <strong>de</strong>ixadospelos portugueses.As antigas fortificações eram vistascomo um dreno <strong>de</strong> recursos por exigir gran<strong>de</strong>quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> material <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa, alémdas guarnições que ficavam imobilizadasnuma <strong>de</strong>fesa precária, pois o litoral commais <strong>de</strong> oito mil quilômetros <strong>de</strong> extensãonão po<strong>de</strong>ria ser efetivamente protegido pelopequeno efetivo militar, como tambémpelo <strong>de</strong>ficiente armamento.Tal situação só se reverteria em 1855.Naquele ano, o Ministro da Guerra, Marquês<strong>de</strong> Caxias, visando aperfeiçoar o ensinomilitar, fundou nos terrenos da <strong>Fortaleza</strong>a Escola <strong>de</strong> Aplicação do Exército.Em 1875, agora agraciado com o títulonobiliárquico <strong>de</strong> duque, pelos relevantesserviços prestados na Guerra da TrípliceAliança, e também, já promovido a marechal,empenhou-se na aquisição <strong>de</strong> armamentosmais mo<strong>de</strong>rnos para reequipar o Exército.Na <strong>Fortaleza</strong> <strong>de</strong> São João, instalou-seuma nova bateria; o Forte <strong>de</strong> São TheodósioEntrada do orte São JoséAlameda dos canhõesANO III / Nº 579


Com sua imponência e austerida<strong>de</strong>,o orte São José é o maisimportante do complexo São Joãopela sua posição estratégicaProfessor Adler,do IPHAN, acompanhandoo Redator-Chefefoi preparado para receber o canhão Armstronge também um canhão Krupp 75mm c.26, presenteadoao Imperador pela fábrica Krupp.A <strong>Fortaleza</strong> <strong>de</strong> São João, pelo que representavapara a segurança da Cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro,na visão estratégica do herói nacional, Duque<strong>de</strong> Caxias, não foi esquecida. O ilustre chefe,ao contrário, empenhou-se – apesar das restriçõesorçamentárias – em manter a <strong>Fortaleza</strong> emcondições <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a Baía <strong>de</strong> Guanabara contraqualquer ameaça externa.Paulo Roberto Rodrigues Teixeira – Coronel <strong>de</strong> Infantaria e Estado-Maior, énatural do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Tem o curso <strong>de</strong> Estado-Maior e da Escola Superior <strong>de</strong> Guerra.Atualmente é assessor do vice-presi<strong>de</strong>nte da unCEB e redator-chefe da revista DaCultura.Adler Homero onseca <strong>de</strong> Castro, natural da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, émestre em História. Pesquisador do IPHAN, vem realizando, há vinte anos, pesquisasobre a história das armas e fortificações.Atualmente é membro do Conselho <strong>de</strong> Curadores do Museu Militar Con<strong>de</strong> <strong>de</strong>Linhares e do Museu das Armas erreira da Cunha.80 ANO III / Nº 5

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