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Tradições astronômicas tupinambás na visão de Claude D ... - SBHC

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Tradições astronômicas tupi<strong>na</strong>mbás <strong>na</strong> visão<strong>de</strong> Clau<strong>de</strong> D’AbbevilleTupi<strong>na</strong>mbá astronomical traditions in Clau<strong>de</strong> D’Abbeville’s viewFLÁVIA PEDROZA LIMAMuseu <strong>de</strong> Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCTILDEU DE CASTRO MOREIRAInstituto <strong>de</strong> Física – UFRJ | Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia – UFRJ4RESUMO: Apresenta-se uma análise <strong>de</strong> um dos mais importantes documentos históricos brasileiros sobre conhecimentosastronômicos indíge<strong>na</strong>s: Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>n et terres circonvoisines où esttraicté <strong>de</strong>s singularitez admirables & <strong>de</strong>s moeurs merveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, <strong>de</strong> Clau<strong>de</strong> D’Abbeville,publicado em 1614. A crônica traz <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> constelações, sistemas <strong>de</strong> calendário e alguns conhecimentos astronômicosempíricos. Objetiva-se conhecer os saberes etnoastronômicos <strong>de</strong>senvolvidos pelos tupi<strong>na</strong>mbás do Maranhão, <strong>de</strong>scritos einterpretados por esse missionário francês. As informações históricas são também cotejadas com estudos etnográficosrecentes sobre grupos indíge<strong>na</strong>s atuais.Palavras-chave: etnoastronomia; tupi<strong>na</strong>mbás; Clau<strong>de</strong> D’Abbeville; missionários.ABSTRACT: This work presents one of the most important historical reports about Brazilian indigenous groups that holdsethnoastronomical information: Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>n et terres circonvoisines oùest traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables & <strong>de</strong>s moeurs merveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, by Clau<strong>de</strong> D’Abbeville,published in 1614. This report contains <strong>de</strong>scriptions about constellations, calendar systems and some empirical astronomicalknowledge. The objectives of this work are to become familiar with ethnoastronomical systems <strong>de</strong>veloped by the tupi<strong>na</strong>mbásindians of Maranhão as <strong>de</strong>scribed and interpreted by this French missio<strong>na</strong>ry. In addition, the historicals informations arecompared with recent ethnoastronomical studies on some currently existent indigenous groups.Key words: ethnoastronomy; tupi<strong>na</strong>mbás; Clau<strong>de</strong> D’Abbeville; missio<strong>na</strong>ries.IntroduçãoA maioria dos autores dos primeiros séculos da colonização do Brasil teve contato com ostupi<strong>na</strong>mbás 1 – grupos tribais com unida<strong>de</strong> lingüística e cultural –, que se localizavam <strong>na</strong>s áreas em queos contatos com os brancos foram mais intensos e regulares. Os tupi<strong>na</strong>mbás não mais existem, emconseqüência <strong>de</strong> guerras (com europeus e outros grupos indíge<strong>na</strong>s), escravidão, fome, epi<strong>de</strong>miascausadas pelo convívio com os portugueses. 2 De acordo com o Mapa etno-histórico <strong>de</strong> Curt Nimuendajú, 3que mostra a localização <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 1.400 grupos indíge<strong>na</strong>s no Brasil, os tupi<strong>na</strong>mbás, que pertenciamà família lingüística tupi-guarani, po<strong>de</strong>m ser vistos <strong>na</strong>s áreas amarelas ao longo da costa brasileira.No século XVII, o fra<strong>de</strong> capuchinho francês Clau<strong>de</strong> D’Abbeville 4 escreveu uma importante obrasobre os tupis do Maranhão. Em Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>n et terrescirconvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables & <strong>de</strong>s moeurs merveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong>REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


ce pais, 5 <strong>de</strong> 1614 (Figura 1), D’Abbeville nos apresenta, no capítulo 51, uma relevante <strong>de</strong>scrição daastronomia tupi. A edição brasileira <strong>de</strong> 1945, traduzida por Sérgio Milliet, traz um glossário <strong>de</strong> RodolfoGarcia sobre as palavras e frases em língua tupi contidas no livro, <strong>na</strong> forma <strong>de</strong> notas <strong>de</strong> rodapé.D’Abbeville mostra admiração ao se referir aos tupi<strong>na</strong>mbás em várias passagens da obra, como,por exemplo:São gran<strong>de</strong>s discursadores e mostram gran<strong>de</strong> prazer em falar. Fazem-no às vezes durante duas a três horasseguidas, sem hesitações, revelando-se muito hábeis em <strong>de</strong>duzir dos argumentos que lhes apresentam asnecessárias conseqüências.São bons racioci<strong>na</strong>dores e só se <strong>de</strong>ixam levar pela razão e jamais sem conhecimento <strong>de</strong> causa. Estudamtudo o que dizem e suas censuras são sempre baseadas <strong>na</strong> razão. Por isso mesmo querem que lhes retribuam <strong>na</strong>mesma moeda. 6E se surpreen<strong>de</strong> com a acuida<strong>de</strong> visual dos índios:Durante nossa viagem <strong>de</strong> regresso os índios que trazíamos conosco muito antes <strong>de</strong> qualquer tripulante percebiamos <strong>na</strong>vios no horizonte graças à sua vista maravilhosa. E quando os mais hábeis marujos pensavam ter <strong>de</strong>scobertoterra trepados no alto do gran<strong>de</strong> mastro, os índios sem sair do tombadilho fàcilmente verificavam não se tratar <strong>de</strong>terra, porém <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> horizonte ou <strong>de</strong> simples nuvens escuras. E assim tendo os marujos se enga<strong>na</strong>dovárias vêzes, apesar <strong>de</strong> sua experiência, zombaram dêles os índios dizendo: “caraíbes osapucai tenhe terre, terreeuvac com assupinhé”, isto é, “êsses franceses gritam terra terra e no entanto não é terra, mas sòmente céu prêto”.Em verda<strong>de</strong>, foram os primeiros a <strong>de</strong>scobrir a terra por ocasião <strong>de</strong> nossa chegada, e muito antes que qualquer um<strong>de</strong> nós a pu<strong>de</strong>sse ver, e embora muitos <strong>na</strong> nossa tripulação tivessem excelente vista. Assim como a vista têm elesos outros sentidos do ouvido, do paladar e do tato. 75A Astronomia Tupi<strong>na</strong>mbáSobre a observação do céu pelos tupi<strong>na</strong>mbás do Maranhão, D’Abbeville escreve: “Il y en a sortpeu entr’eux qui ne connoisse la pluspart <strong>de</strong>s astres & Estoiles <strong>de</strong> leur hemisphere & qui ne les appellepar leur nom propre que leurs pre<strong>de</strong>cesseurs ont inventé & imposé à chacune d’icelles” 1 ou, <strong>de</strong> acordocom a edição <strong>de</strong> 1945, “Poucos entre eles <strong>de</strong>sconhecem a maioria dos astros e estrelas <strong>de</strong> seu hemisfério;chamam-nos todos por seus nomes próprios, inventados por seus antepassados [...]”. 2É necessário aqui comentar que a tradução da edição <strong>de</strong> 1945 apresenta várias falhas, inclusive aomissão <strong>de</strong> frases inteiras. Esses dois trechos transcritos são um exemplo, pois o fi<strong>na</strong>l da frase doorigi<strong>na</strong>l foi omitido <strong>na</strong> tradução: “...& imposé à chacune d’icelles”. Por isso, optamos, algumas vezes, portranscrever o texto origi<strong>na</strong>l e a tradução <strong>de</strong> 1945, para efeitos comparativos.No Quadro 1, listamos os nomes <strong>de</strong> alguns astros e constelações tupi<strong>na</strong>mbás, a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>D’Abbeville e os comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia (edição <strong>de</strong> 1945).REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


QUADRO 1 – Astros e constelações tupi<strong>na</strong>mbás, segundo Clau<strong>de</strong> D’AbbevilleNome em Tupi<strong>na</strong>mbá 1 Descrição em Francês 2 Descrição em Português 3 Comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia 4EUUAC le Ciel Céu Ibac, <strong>de</strong> yb (alto ou para cima),Eivace bag ou bac (virado).KOÄRASSUH le Soleil Sol Coaraci, <strong>de</strong> guará, particípioCoaracinomi<strong>na</strong>l <strong>de</strong> ecó (o que é, o ser,o vivente) e cy (mãe): mãe dosseres, ou dos viventes. Namitologia tupi, a Coaraci coubea missão <strong>de</strong> criar os animais.YÄSSEUH la Lune Lua Jaci <strong>de</strong> yá (fruto) e cy (mãe): mãeJaceídos frutos. Na mitologia tupi, aJaci coube a missão <strong>de</strong> criar osvegetais, ou os frutos. Significatambém ‘mês’.YÄSSEUH-TATA Les Etoilles en general Estrelas <strong>de</strong> um modo geral Jaci-tatá, <strong>de</strong> Jaci (ver notaJaceí-tatáanterior) e tatá (cintilante):estrela ou estrelas.6SYMBIARERAIEUBOIRESimbiare ra jeiboare[...] c’est à dire machoire.Aussi est-ce uneconstellation disposéecomme les machoires d’uncheval ou d’une vache,laquelle est pluvieuse.[...] isto é, maxilar. Trata-se<strong>de</strong> uma constelação quetem a forma dos maxilares<strong>de</strong> um cavalo ou <strong>de</strong> umavaca. Anuncia a chuva.Devem estar assaz alteradosesses dois vocábulos; seguindoaproximadamente o texto,teríamos tenibaba ou tinoaba(queixada, mandíbula inferior)por symbiare, e rapichara(semelhante, que se parece) emvez <strong>de</strong> raieuboire. Mas os termos<strong>de</strong> C. D’Abbeville se afastamtanto dos que indicamos, que sóo fazemos sub reserva, emborase não se encontrem no tupioutros que melhor correspondamà interpretação do texto.OUROUBOUUrubu[...] laquelle est faite(se disent-ils) em forme<strong>de</strong> coeur & paroistpendant le temps <strong>de</strong>la pluie.[...] [constelação] a qual,dizem, tem a forma <strong>de</strong>um coração e apareceno tempo das chuvas.Urubu: nome genérico dascatártidas, susceptível <strong>de</strong> váriasexplicações, das quais a maisconforme com a bibliografia é aque faz <strong>de</strong>rivar <strong>de</strong> uru (ave,galinácio em geral) e bu (negro);po<strong>de</strong> admitir-se outra que o<strong>de</strong>rive <strong>de</strong> uru, como acima, e u(voraz, o corvo). Talvez aconstelação a que o texto serefere seja a do Corvo.Eichu-jurá: Jirau da abelha.SEYCHOU-IOURASeichu-juráUne constellation <strong>de</strong>neuf Estoilles disposéesem forme <strong>de</strong> gril laquelleleur presagie les pluies.É uma constelação <strong>de</strong>nove estrelas dispostasem forma <strong>de</strong> grelha eanuncia a chuva.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


Nome em Tupi<strong>na</strong>mbá 1 Descrição em Francês 2 Descrição em Português 3 Comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia 4SEYCHOUSeichuTINGASSOUTingaçuNous avons icy la Poussinierequ’ils connoissent sort bien &l’appellent Seychou. Elle necommence à paroistre surleur Hemisphere sinon environla my-Ianvier, & si tost qu’elleparoist ils s’aten<strong>de</strong>nt d’avoirla pluie, comme en effet ellecommence incontinent après.Il y a une autre Etoille qui´ilsappellent Tingassou laquelleest comme la messagere ouavancouriere <strong>de</strong> laditte Poussiniere,paroissant tousiours<strong>de</strong>ssus leur Orizon environquinze iours avant icelleTemos entre nós a‘Poussinière’ que muitobem conhecem e que<strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m seichu.Começa a ser vista, em seuhemisfério, em meados <strong>de</strong>janeiro, e mal a enxergamafirmam que as chuvasvão chegar, como chegamefetivamente pouco <strong>de</strong>pois.[...] [estrela] mensageirada prece<strong>de</strong>nte[Poussiniere],aparecendo no horizontequase sempre quinzedias antes.Eichu, a Abelha mestra, <strong>de</strong> ei-hub(busca mel, ou pai do mel,conforme Batista Caetano).Por essa dicção se vê acomunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> idéias entre ostupis do Norte e seus parentesdo Sul, que também davam onome <strong>de</strong> Eichu à constelaçãodas Plêia<strong>de</strong>s ou Setestrelo.Ave da família das Cocúlidas(Piaya caya<strong>na</strong>, Linn).De ti (bico), açu (gran<strong>de</strong>).SOUÄNRANSuanrãOUÉGNONMOINUènhomuãIl y a une autre, laquelle seleve & paroist aussi <strong>de</strong>vant lespluies qu´ils appellentSouänran, c’est une grosseEstoille merveilleusementclaire & luisante.[...] il y a une constellation<strong>de</strong> plusieurs estoilles qu’ilsappellent Ouégnonmoin c’est adire Escrevisse: elle est aussi enforme d’Escrevisse & paroistsur la fin dês pluies.A outra, que surgetambém antes das chuvas,dão o nome <strong>de</strong> suanrã.É uma gran<strong>de</strong> estrela,maravilhosamente clarae brilhante.Constelação <strong>de</strong> váriasestrelas que <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>muènhomuã, isto é, lagostim;aparece ao termi<strong>na</strong>remas chuvas.Uam-ra<strong>na</strong>: De uam (Pirilampo,vagalume, Malacodérmidas) era<strong>na</strong> (semelhante, parecido). É aestrela Sirius, a mais clara eresplan<strong>de</strong>scente do firmamento.Guaiamum7IAOUÄREJanuareIl y a une autre Estoille que lesMarag<strong>na</strong>ns appellent Iaouärec’est a dire Chien. Elle est fortrouge & ordi<strong>na</strong>irement elle suitla Lune <strong>de</strong> sort pres, tellementque la Lune ve<strong>na</strong>nt à secoucher ils dissent que cetteEstoille abbaye après ellecomme un chien qui la poursuitpour la <strong>de</strong>vorer. Quand la Lunea esté long temps sans semonstrer pendant la saison <strong>de</strong>spluyes, il arrive en quelquesannés qu’elle paroist toute rougecomme sang à la premierefois qu’elle se monster sur lafin <strong>de</strong>sdites pluies; & lors lesMarag<strong>na</strong>ns la voyat en tellesorte ils disent que c’estl’Estoille nommé Iaouäre quila poursuit pour la <strong>de</strong>vorer.A certa estrela chamamos índios januare, cão.É muito vermelha eacompanha a Lua <strong>de</strong> perto.Dizem, ao verem a Lua<strong>de</strong>itar-se, que a estrela lateao seu encalço como umcão, para <strong>de</strong>vorá-la.Quando a Lua permanecemuito tempo escondidadurante o tempo daschuvas, acontece surgirvermelha como sangue daprimeira vez que se mostra.Afirmam então os índiosque é por causa da estrelaJanuare que a perseguepara <strong>de</strong>vorá-la.Jaguar. É a Estrela da Tar<strong>de</strong>,ou Vésper, a que o povo chamaPapaceia. No Tesoro, yaguabebé(cão voador) significa cometa,que não é propriamente o corpoceleste a que alu<strong>de</strong> o texto.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


Nome em Tupi<strong>na</strong>mbá 1 Descrição em Francês 2 Descrição em Português 3 Comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia 4YASSEUHTATA OUÄSSOUJaceí-tatá-uaçuIls connoissent aussil’Estoille du iour &l’appellent YasseuhtataOuässou, c’est à dire lagran<strong>de</strong> Estoille.Conhecem tambéma estrela da manhã echamam-<strong>na</strong> jaceí-tatáuaçu,gran<strong>de</strong> estrela.Jaceí-tatá (ver jaceí-tata acima)e guaçu (gran<strong>de</strong>).PIRA-PANEMPirapanémIl’s appellent l’Estoille dusoir Pira-Panem & disentque c’est le pilote <strong>de</strong> laLune d’autant qu’ellemarche <strong>de</strong>vant elle.Dão à Estrela Vesperti<strong>na</strong> onome <strong>de</strong> pirapaném edizem que é quem guia aLua e lhe vai à frente.Pira-panema: <strong>de</strong> pira (peixe),panema (escasso, falho). Osguaranis chamavam Pira-pané aoplaneta Mercúrio, a cujainfluência atribuíam a falta <strong>de</strong>peixe em dadas monções.YÄPOUYKANIapuicãIls reconnoissent uneautre Estoille qui se levetoujours <strong>de</strong>vant le Soleil& l’appellent Yäpouycanc’est à dire Estoille assizeen sa place. Quãd lespluies commencent ilsper<strong>de</strong>nt cette Estoille<strong>de</strong> veue.Conhecem ainda outraestrela que se acha semprediante do Sol e lhe dão onome <strong>de</strong> iapuicã, ‘sentadaem seu lugar’. Com o iníciodas chuvas per<strong>de</strong>m essaestrela <strong>de</strong> vista.Difícil <strong>de</strong> interpretar esta dicção,e só dubitativamente po<strong>de</strong>mosexplicá-la, <strong>de</strong> acordo com a<strong>de</strong>finição do texto, por y(<strong>de</strong>monstrativo: o que, aqueleque), api (sentar-se, estarassente), hequáb (lugar <strong>de</strong>le):o que está assente nolugar.Talvez o planeta Vênus,conforme a <strong>de</strong>scrição do texto.8CRUSSACriçáIls reconnoissent bie<strong>na</strong>ussi la Croisa<strong>de</strong> quiest une constellation<strong>de</strong> quatre Estoilles fortluisantes qui paroissétau Ciel en forme d’unebelle Croix & l’appellentCrussa, c’est à dire Croix.Conhecem tambémo Cruzeiro, belaconstelação <strong>de</strong>quatro estrelas muitobrilhantes dispostasem Cruz. Chamam-<strong>na</strong>Criçá, cruz.Curuçá, no tupi; Curuzu, noguarani; alteração do vocábuloportuguês e espanhol cruz. É aconstelação do Cruzeiro do Sul,que se <strong>de</strong>sig<strong>na</strong>va com o nomeCruz antigamente.YANDAYJandaiLors que le Soleil secouche il y a une certaineestoille laquelle paroisttoute rouge comme unoiseau appellé Yanday &pour cela ils appellentcette Estoille Yanday.Há uma estrela que selevanta <strong>de</strong>pois do Solposto; como é muitovermelha dão lhe o nome<strong>de</strong> Jandai, <strong>de</strong>rivado <strong>de</strong> umpássaro assim chamado.Jandaia. Yenday oussou(ver nota 11, p. 183).YÄSSATINIaçatimIl y a une constellation<strong>de</strong> sept Estoilles enforme d’un oiseaunommé Yässatin à raison<strong>de</strong>quoy ils appellent aussicet astre Yässatin.Constelação <strong>de</strong> seteestrelas que tem a forma<strong>de</strong> um pássaro e a quechamam iaçatim.Talvez Jabacatim, que está emGabriel Soares; nome antigo <strong>de</strong>uma ave da família Cicônidas.CAYCaíIl y a une autre conte<strong>na</strong>ntplusieus Estoillesdisposées au Ciel en façond’une Monne ou d’uneGuenon qu’ils appellentCay, qui signifie Guenon.Constelação formada<strong>de</strong> muitas estrelasparecida comum macaco.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


Nome em Tupi<strong>na</strong>mbá 1 Descrição em Francês 2 Descrição em Português 3 Comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia 4POTINPotimIl y a une autre qu’ilsappellent Potin, c’est àdire Cancre, parce qu’elleest composée <strong>de</strong> plusieursEstoilles en forme <strong>de</strong>Crabe ou Cancre <strong>de</strong> Mer.A outra chamam Potim,caranguejo, por ter aforma <strong>de</strong>sse animal.Poti: <strong>de</strong> po (mão), ti (pontuda,aguçada).Deve ser Câncer, umdos doze signos do zodíaco. Poti,entretanto, é o nome tupi docamarão, <strong>de</strong>cápodo macruro.TUYVAÉTuivaéCONOMY MANIPOÉREOUARÉConomy-manipoere-uareIl y a une qu´ils appelentTuyvaé, c’est a dire leviel homme, parcequ’elle est composées<strong>de</strong> plusieurs Estoillesdisposées en maniered’un vieil homme te<strong>na</strong>ntun baston à la main.Il y a une autre Estoilleron<strong>de</strong> fort grosse et trêsluysante qu’ils nommentConomy ManipoéreOuaré, c’est a dire le petitgarçon qui mange dupotage <strong>de</strong> Manipoy.[...] Tuivaé, Homem Velho,é como chamam outraconstelação formada<strong>de</strong> muitas estrelassemelhante a umhomem velho pegandoum cacete.Certa Estrela redonda,muito gran<strong>de</strong> e muitoluzente, é chamada poreles conomy-manipoereuareo que quer dizer:menino que bebemanipol.”Tuibaé: velho, ancião.Curumim-manipuera-guara:rapaz manipuea que come,ou rapaz que come manipuera,que é acor<strong>de</strong> com a <strong>de</strong>finiçãodo texto.YANDOUTINIandutimIls ont là une constellationqu’ils appellent Yandoutin,c’est à dire l’Autrucheblanche, conte<strong>na</strong>ntquelques Estoilles fortgran<strong>de</strong>s & tres-luysantes:& parce qu’elles en aplusieurs en forme d’unbec, les Marag<strong>na</strong>nsfeignent & dissent qu’elleveut manger <strong>de</strong>ux autresEstoilles qui font aupresnomées Ouyra-Oupia c’esta dire les <strong>de</strong>ux oeufs.Conhecem umaconstelação <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>daIandutim, ou Avestruzbranca, formada <strong>de</strong>estrelas muito gran<strong>de</strong>s ebrilhantes, algumas dasquais representam umbico; dizem os maranhensesque elas procuram <strong>de</strong>vorarduas outras estrelas quelhes estão juntas e àsquais <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m uirá-upiá,isto é: os dois ovos.Nhandutim: <strong>de</strong> nhandu (?) e tin(branco), conforme o texto.Deve ser a constelação <strong>de</strong>Gêmeos (...) e que contém duasestrelas notáveis, Castor e Polux,às quais <strong>de</strong>ve a <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>ção.9OUYRA-OUPIAUirá-upiá[...] <strong>de</strong>ux autres Estoillesqui font aupres noméesOuyra-Oupia c’est a direles <strong>de</strong>ux oeufs.[...] duas outras estrelasque lhes estão juntas e àsquais <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m uirá-upiá,isto é: os dois ovos.Devem ser Castor e Polux, α e βda constelação <strong>de</strong> Gêmeos.EYRE APOUÄEíre apuáIls y voit une autregran<strong>de</strong> Estoille fortbrillante qu’ils appellétEyre Apouä, c’est à direle miel rond, d’autantqu’elle paroit fort ron<strong>de</strong>& est fort agreable à voir.Eíre Apuá, mel redondo,é uma estrela gran<strong>de</strong>,redonda, brilhantee bonita.Eirapuam, irapuam, irapuá ouarapuá são nomes tupis parauma mesma abelha que nidificano alto das árvores, em forma<strong>de</strong> uma bola <strong>de</strong> meio metro <strong>de</strong>diâmetro mais ou menos e quepertence à família das Melipônidas(Trigo<strong>na</strong> ruficrus, Latr.). Deeira ou ira (mel), apuam (redondo),o que é conforme o texto.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


Nome em Tupi<strong>na</strong>mbá 1 Descrição em Francês 2 Descrição em Português 3 Comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia 4PANNACONPa<strong>na</strong>conIl’s ont une autreconstellation faictecomme un long pannierqu’ils appellent pourcela Pan<strong>na</strong>con c’est àdire un pannier long.[...] constelação coma forma <strong>de</strong> um cestocomprido a quechamam pa<strong>na</strong>con,isto é, cesto comprido.Pa<strong>na</strong>cúm, difícil <strong>de</strong> explicar.As etimologias que dá BatistaCaetano, tanto no Vocabulárioda Conquista como <strong>na</strong>s Notasaos Índios do Brasil, <strong>de</strong> FernãoCardim, não nos parecemaceitáveis. Tapeti. Quiçá aconstelação da Lebre.TAPITYTapitiIl y a là une constellationqu’ils appellent Tapityc’est à dire lievre,d’autant qu’elle contiétplusieurs Estoilles enforme d’un Lievre,aucunes <strong>de</strong>squellessont disposées emmaniere <strong>de</strong> longuesaureilles au <strong>de</strong>ssus<strong>de</strong> la teste.Há uma constelaçãoa que chamam Tapiti,lebre; é formada pormuitas estrelasà semelhança<strong>de</strong> uma lebre e poroutras em forma <strong>de</strong>orelhas compridas,em cima da cabeça.10TOUCONTuconIl y a une autre estoillequ’ils nomment Toucon,d’autant qu’elleressemble au Toucon quiest un fruict du Touconvue espece <strong>de</strong> Palmier.Tucon é o nome <strong>de</strong> outraEstrela que se assemelhaao fruto do tucon-ive,espécie <strong>de</strong> palmeira.Frutos redondos e amarelos porfora quando maduros (p. 171).TATA ENDEUHTatá-en<strong>de</strong>íIl y a une autre gran<strong>de</strong>Estoille si brillante qu’ilsl’appellent Tata En<strong>de</strong>uh,c’est a dire feu enflambé.Outra gran<strong>de</strong> estrelabrilhante é por eles<strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>da tatá-en<strong>de</strong>í,isto é: fogo ar<strong>de</strong>nte.Tatá-rendi: luzir <strong>de</strong> fogo, facho,tocha, luminária.GUAÈPOUCONNhaèpucon[...] constellation enforme d’une poelleron<strong>de</strong> qu’ils appellentGuaèpoucon, c’est àdire la poelle ron<strong>de</strong>.A uma constelaçãoparecida com umafrigi<strong>de</strong>ira redonda dãoo nome <strong>de</strong> nhaèpucon.Nhaém (alguidar),apuam (redondo).CARANA UVECaraná-uveIls ont aussi uneEstoille qu ils appellentCara<strong>na</strong> uve...Conhecem ainda umaestrela a que chamamcaraná-uve...YASEUH POUYTONJaceí-puitonIls appellent l’Eclipse <strong>de</strong>la Lune Yaseuh pouyton,c’est a dire la nuict <strong>de</strong>la Lune.Dão ao eclipse da Luao nome <strong>de</strong> jaceí-puiton,noite da Lua.Jaci-pitu<strong>na</strong>, com a significaçãodo texto.Notas:1Termos das edições <strong>de</strong> 1614 (em maiúsculas) e <strong>de</strong> 1945 (em minúsculas), respectivamente.2Edição <strong>de</strong> 1614.3Edição <strong>de</strong> 1945, traduzida por Sérgio Milliet.4Notas <strong>de</strong> rodapé da edição <strong>de</strong> 1945.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


O planeta Vênus é conhecido popularmente como “Estrela da Tar<strong>de</strong>”, ou como “Estrela da Manhã”,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da época do ano em que aparece no céu: <strong>de</strong> manhãzinha, ou <strong>de</strong> tardinha. Os tupis <strong>de</strong>ramo nome <strong>de</strong> Yasseuhtata Ouässou (iaceí-tatá-uaçu) à “Estrela da Manhã” e <strong>de</strong> Pirapaném à “Estrela daTar<strong>de</strong>”, segundo D’Abbeville. Mas, segundo Rodolfo Garcia, os guaranis chamavam Pira-pané ao planetaMercúrio, que assim como Vênus aparece no céu à tar<strong>de</strong> próximo ao ponto do horizonte on<strong>de</strong> o Sol sepõe. Como a “Estrela da Tar<strong>de</strong>” é um astro muito brilhante, <strong>de</strong> fácil i<strong>de</strong>ntificação e muito popular, édifícil crer que D’Abbeville tenha se enga<strong>na</strong>do em sua i<strong>de</strong>ntificação. José Vieira Couto <strong>de</strong> Magalhães,em seu Curso <strong>de</strong> Língua Tupi Viva, diz que entre os tupis o planeta Vênus se chama iaci-tatá-uaçú,confirmando D’Abbeville 1 .Os comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia sobre aspectos astronômicos <strong>de</strong>vem ser a<strong>na</strong>lisados com cautela.Ele parece não saber que a “Estrela da Tar<strong>de</strong>” e o planeta Vênus são o mesmo corpo celeste, conformetransparece em seus comentários sobre Januare e Iapuicã. O autor associa Januare à Estrela da Tar<strong>de</strong>, ouVésper, mas pela <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> D’Abbeville para Januare – “Elle est fort rouge & ordi<strong>na</strong>irement elle suit laLune <strong>de</strong> sort pres” – não po<strong>de</strong> ser o planeta Vênus, pois este não tem o brilho vermelho. Marte estariamais próximo <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição do que Vênus.Além disso, Rodolfo Garcia sugere a associação da constelação Potim com a <strong>de</strong> Câncer (queem <strong>na</strong>da se parece com um caranguejo e não tem nenhuma estrela muito brilhante), da constelaçãoUrubu com o Corvo e da constelação <strong>de</strong> Tapiti com a Lebre, sem nenhum argumento que corroboretais afirmações. Rodolfo Garcia, assim como outros autores, têm a visão etnocêntrica <strong>de</strong> que asconstelações indíge<strong>na</strong>s terão correspondência exata com as nossas, o que não é verda<strong>de</strong>. Umaconstelação indíge<strong>na</strong> às vezes correspon<strong>de</strong> a pedaços <strong>de</strong> várias das nossas, ou vice-versa. Além domais, alguns povos da América pré-colombia<strong>na</strong> conceituam constelações negras, e não <strong>de</strong> estrela aestrela, como as que herdamos da astronomia oci<strong>de</strong>ntal, inclusive os guaranis, que têm uma origemcomum com os tupi<strong>na</strong>mbás.Os comentários <strong>de</strong> Rodolfo Garcia têm uma importância lingüística inquestionável, porém, suastentativas <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar planetas, estrelas e constelações se revelaram duvidosas.Quanto às i<strong>de</strong>ntificações <strong>de</strong> D’Abbeville, chama a atenção o seguinte trecho: “Eles têm tambémuma estrela extremamente brilhante que se chama Yaseuh Tatá Oué, sobre a qual eles cantam um cantoem louvor <strong>de</strong> sua beleza e <strong>de</strong> seu movimento” 2 . A alusão ao movimento <strong>de</strong>ssa “estrela” que chamou aatenção dos tupi<strong>na</strong>mbás po<strong>de</strong> indicar que se trata <strong>de</strong> um planeta e não <strong>de</strong> uma estrela.Yäpouykan, a “estrela que se acha sempre diante do Sol” 3 (Quadro 1) po<strong>de</strong>ria ser o planeta Mercúrioou Vênus, pois estes aparecem no céu sempre próximos ao Sol: um pouco <strong>de</strong>pois do pôr-do-sol ou umpouco antes do <strong>na</strong>scer do Sol. Porém, D’Abbeville diz que Jaceí-tatá-uaçu é a “Estrela da Manhã” (Vênus),então Mercúrio se tor<strong>na</strong> mais provável.D’Abbeville também relata que os tupi<strong>na</strong>mbás i<strong>de</strong>ntificam muitas outras estrelas, não mencio<strong>na</strong>daspor ele no livro, e que sabiam distinguir perfeitamente uma estrela da outra, e observar “o Oriente e oOci<strong>de</strong>nte das que se levantam e se <strong>de</strong>itam no horizonte”. 411REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


Sistemas <strong>de</strong> CalendárioD’Abbeville nos informa a respeito dos conhecimentos dos tupi<strong>na</strong>mbás sobre a Lua: “É certo quenão conhecem a Epacta 5 , nem as Ida<strong>de</strong>s da Lua 6 ; porém, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> longa prática, conhecem seucrescente e minguante, o plenilúnio e a Lua nova e muitas outras coisas sobre o seu curso”. 7Como D’Abbeville era um fra<strong>de</strong> capuchinho, conhecia bem a epacta e a ida<strong>de</strong> da Lua, pois eramusadas para se calcular as datas no Calendário Eclesiástico 8 . Estas são meras <strong>de</strong>finições, que só apresentamutilida<strong>de</strong> para calendários lu<strong>na</strong>res ou lunissolares. Acreditamos que os tupi<strong>na</strong>mbás tinham o conhecimentoprático, embora não <strong>de</strong>finissem da mesma forma que os europeus. Ou talvez não <strong>de</strong>ssem muitaimportância, uma vez que utilizavam um calendário solar, como relata D’Abbeville:Observam também o curso do Sol, a rota que segue entre os dois trópicos, como seus limites e suas fronteiras queele jamais ultrapassa; e sabem que quando o Sol vem do pólo ártico traz-lhes ventos e brisas e que, ao contrário,traz chuvas quando vem do outro lado em sua ascensão para nós.Contam perfeitamente os anos com doze meses como nós fazemos, pelo curso do Sol indo e vindo <strong>de</strong> um trópicoa outro. Eles os reconhecem também pela estação das chuvas e pela estação das brisas e dos ventos.Eles os reconhecem, ainda, pela colheita dos cajus [...] assim como nós saberíamos aqui pela época da vindima. 912Figura 1: O curso do Sol nos dias dos solstícios (junho e <strong>de</strong>zembro) e equinócios (março e setembro).A Figura 1 mostra o caminho diário do Sol em dias diferentes do ano. Nos equinócios, o Sol <strong>na</strong>sceno Leste e se põe no Oeste. À medida que vamos nos afastando das datas dos equinócios, os pontos <strong>de</strong><strong>na</strong>scer e ocaso do Sol vão se afastando dos pontos Leste e Oeste. Nos solstícios, o afastamento dospontos <strong>de</strong> <strong>na</strong>scer e pôr do Sol, em relação aos pontos car<strong>de</strong>ais Leste e Oeste, respectivamente, é máximo.Essa é a rota que o Sol segue entre os dois trópicos, à qual se refere D’Abbeville.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


A divisão do ano em doze meses po<strong>de</strong> ser uma <strong>de</strong>dução etnocêntrica <strong>de</strong> D’Abbeville, poishá estudos sobre calendários <strong>de</strong> grupos tupi-guaranis atuais que não utilizam divisão em meses comoos nossos.Para fi<strong>na</strong>lizar, D’Abbeville nos explica como os tupi<strong>na</strong>mbás utilizam também um calendárioestelar (si<strong>de</strong>ral):Além do mais a estrela Seichu começa a aparecer alguns dias antes das chuvas e <strong>de</strong>saparece no fim das mesmas;ela reaparece acima do horizonte no começo das chuvas do ano seguinte, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os maranhenses reconhecemperfeitamente bem o interstício e o tempo <strong>de</strong> um ano inteiro. 10D’Abbeville diz que seichu é a “Poussinière”, as Plêia<strong>de</strong>s, um aglomerado <strong>de</strong> estrelas muito bonitoe conspícuo, facilmente visível a olho nu, <strong>na</strong> constelação oci<strong>de</strong>ntal do Touro: “Temos entre nós a‘Poussinière’ que muito bem conhecem e que <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m seichu. Começa a ser vista, em seu hemisfério,em meados <strong>de</strong> janeiro, e mal a enxergam afirmam que as chuvas vão chegar, como chegam efetivamentepouco <strong>de</strong>pois”. 11O centro-norte do estado do Maranhão tem duas estações: a seca, quando os totais <strong>de</strong> chuvaapresentam pequenos valores (junho a novembro) e a chuvosa, quando os totais apresentam valoressignificativos (<strong>de</strong>zembro a maio). O período chuvoso é subdividido em pré-estação (<strong>de</strong>zembro e janeiro)e a estação chuvosa propriamente dita (fevereiro a maio). 12D’Abbeville diz que seichu “começa a aparecer alguns dias antes das chuvas”. A expressão “começaa aparecer” po<strong>de</strong> se referir ao Nascer Helíaco <strong>de</strong>sse aglomerado <strong>de</strong> estrelas, ou ao seu Nascer Cósmico(anti-helíaco). O Nascer Helíaco das Plêia<strong>de</strong>s é a primeira aparição das Plêia<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> suainvisibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vido a sua conjunção com o Sol, do lado Leste, pouco antes do <strong>na</strong>scer do Sol. Issoocorre no início do mês <strong>de</strong> junho. O Nascer Cósmico é o primeiro dia em que uma estrela ou constelaçãoé visível no horizonte Leste ao pôr-do-sol. O Nascer Cósmico das Plêia<strong>de</strong>s ocorre em meados do mês<strong>de</strong> novembro.D’Abbeville, porém, diz que seichu começa a ser vista em janeiro, época que não correspon<strong>de</strong> aoseu Nascer Helíaco, e que também não correspon<strong>de</strong> ao seu Nascer Cósmico. Como as chuvas começamem <strong>de</strong>zembro, é mais provável que D’Abbeville esteja se referindo ao Nascer Cósmico. O Nascer Helíacodas Plêia<strong>de</strong>s, em junho, correspon<strong>de</strong> ao início da época seca no Norte do Brasil.Por sua vez, Germano Afonso 13 afirma que, para os guaranis, que pertencem à mesma famílialingüística e possuem sistema astronômico parecido com o dos tupi<strong>na</strong>mbás, o Nascer Helíaco dasPlêia<strong>de</strong>s, <strong>na</strong> primeira quinze<strong>na</strong> <strong>de</strong> junho, marca o início do ano.As Plêia<strong>de</strong>s ficam aproximadamente um mês sem possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem observadas <strong>de</strong>vido àproximida<strong>de</strong> com o Sol. Seu Ocaso Helíaco (último dia em que po<strong>de</strong>m ser vistas, do lado Oeste, logoapós o pôr-do-sol) ocorre próximo a 30 <strong>de</strong> abril, voltando a aparecerem (Nascer Helíaco) próximo a 5<strong>de</strong> junho. D’Abbeville diz que seichu “<strong>de</strong>saparece” no fim das chuvas, o que provavelmente se refere aoseu Ocaso Helíaco. De fato, a estação chuvosa termi<strong>na</strong> em maio.D’Abbeville diz que seichu é a “Poussiniere”, as Plêia<strong>de</strong>s, porém se refere a elas como “a estrelaseichu...”, e as Plêia<strong>de</strong>s são um conjunto com várias estrelas próximas, e não uma estrela ape<strong>na</strong>s; portanto,essa frase é incoerente.13REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


posição ao longo do ano, se observada todas as noites numa mesma hora (conseqüência da revoluçãoda Terra em torno do Sol). Ela é utilizada para orientação e para fins <strong>de</strong> calendário quando se encontra<strong>na</strong> posição exatamente acima da cabeça do observador (zênite), o que ocorre <strong>na</strong>s datas próximas aosequinócios <strong>de</strong> março e setembro.Conseguimos localizar no céu, com a ajuda <strong>de</strong> informantes guaranis, algumas das constelações<strong>de</strong>scritas por D’Abbeville, como, por exemplo: Yandoutim, Tuyvaé e Crussa.D’Abbeville cita uma constelação chamada Iandutim, que ele traduz como ‘Avestruz branca’:“Conhecem uma constelação <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>da Iandutim, ou Avestruz branca, formada <strong>de</strong> estrelas muitogran<strong>de</strong>s e brilhantes, algumas das quais representam um bico; dizem os maranhenses que elas procuram<strong>de</strong>vorar duas outras estrelas que lhes estão juntas e às quais <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m uirá-upiá, isto é: os doisovos”. 23 Mas no Brasil não existiam avestruzes e, sim, uma ave parecida chamada ema (Rhea America<strong>na</strong>).A constelação <strong>de</strong>scrita por D’Abbeville é, provavelmente, correspon<strong>de</strong>nte à constelação guarani daEma (Guyra Nhandu). De acordo com Germano Afonso:Os Guarani do Paraná nos mostraram a localização exata da constelação da Ema (Guyra Nhandu) que fica <strong>na</strong>região do céu ocupada pelas constelações oci<strong>de</strong>ntais do Cruzeiro do Sul, da Mosca, do Centauro, do Escorpião, doTriângulo Austral e <strong>de</strong> Altar.A cabeça da Ema é formada pelo Saco <strong>de</strong> Carvão, sendo que a parte superior fica perto da estrela Mimosa e obico perto <strong>de</strong> Magalhães, ambas da constelação do Cruzeiro do Sul. Perto do seu bico parece existirem dois ovos<strong>de</strong> pássaro (Guirá-rupiá, em guarani) que ela tenta <strong>de</strong>vorar. Esses ovos são as estrelas Alfa e Beta da constelaçãoda Mosca.As estrelas Alfa e Beta da constelação do Centauro estão <strong>de</strong>ntro do pescoço da Ema, que também é formado poruma mancha escura da Via Láctea.A cauda da Ema é formada por Antares, Al niyatn e outras estrelas da constelação do Escorpião. Um dos pés daEma é formado pela cauda do Escorpião.A parte <strong>de</strong> baixo do corpo da Ema começa a ser formado pela estrela Beta da constelação do Triângulo Austral (TriangulumAustrale) e por estrelas da constelação da Altar (Ara), sendo que a parte <strong>de</strong> cima <strong>de</strong> seu corpo é formado principalmentepor estrelas pertencentes às constelações <strong>de</strong> Escorpião e do Lobo (Lupus). 2415A constelação da Ema aparece em relatos <strong>de</strong> várias etnias brasileiras. Couto <strong>de</strong> Magalhães relataque, uma noite, os carajás lhe fizeram observar que uma das manchas escuras do céu que fica <strong>na</strong> ViaLáctea, próxima à constelação do Cruzeiro do Sul, representava uma cabeça <strong>de</strong> uma avestruz (<strong>na</strong> verda<strong>de</strong>,uma ema), e, à medida que a noite se adiantava, aparecia o pescoço e, <strong>de</strong>pois, o resto do corpo <strong>de</strong>ssaave. 25 Segundo os padres salesianos, os bororós (que não pertencem à família tupi-guarani) tambémtêm uma constelação da Ema, que <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m Pári, <strong>na</strong> mesma região do céu que os guaranis: “É umconjunto <strong>de</strong> manchas, ocupando gran<strong>de</strong> parte da abóbada celeste, semelhante a uma ema correndocuja cabeça está perto do Cruzeiro do Sul”. 26Outros relatos revelam que a constelação da Ema aparece também em outras etnias, como ostembés e os teneteharas:Eduardo Galvão relata que os teneteharas, do Maranhão, também conhecem uma constelação que forma a figura<strong>de</strong> uma ema e que aparece somente no verão. Perto da Linha do Equador, a estação da seca é chamada <strong>de</strong> verãocorrespon<strong>de</strong>ndo, nessa região, ao inverno (frio) no Sul do Brasil. Tivemos a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> confirmar essainformação com os tembés, no Pará. 27A constelação da Ema aparece, inclusive, em culturas <strong>de</strong> outros continentes, como, por exemplo,entre os boorongs, povo aborígene que vive em Victoria, Austrália: “O ano boorongs começa no outono,REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


quando Tchingal, a ema gigante, aparece no céu à noite. Esta é a época em que as emas começam a pôrseus ovos e que seus filhotes saem dos ovos”. 28Os tupi<strong>na</strong>mbás também reconhecem uma constelação em forma <strong>de</strong> Cruz próxima à constelaçãoda Ema, segundo D’Abbeville: “Conhecem também a Cruzada, que é uma bela constelação <strong>de</strong> quatroestrelas muito brilhantes que aparecem no céu em forma <strong>de</strong> uma bela Cruz e a chamam <strong>de</strong> Crussa, ouseja, cruz”. 29 Os guaranis a chamam <strong>de</strong> Curuzu. 30Outra constelação citada por D’Abbeville é a do Homem Velho: “Há uma outra [constelação] queeles chamam <strong>de</strong> Tuyvaé, isto é, Homem Velho, pois ela é composta <strong>de</strong> muitas estrelas dispostas <strong>na</strong>forma <strong>de</strong> um homem velho segurando um bastão”. 31Os guaranis também reconhecem no céu uma constelação chamada Homem Velho:Na segunda quinze<strong>na</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro, quando o Homem Velho (Tuya’i, em guarani) surge totalmente ao anoitecer,no lado Leste, indica o início do verão para os índios do sul do Brasil e o início da estação chuvosa para os índiosdo norte do Brasil.A constelação do Homem Velho é formada pelas constelações oci<strong>de</strong>ntais Taurus e Orion.Conta o mito que essa constelação representa um homem cuja esposa estava interessada no seu irmão. Para ficarcom o cunhado, a esposa matou o marido, cortando-lhe a per<strong>na</strong>. Os <strong>de</strong>uses ficaram com pe<strong>na</strong> do marido e otransformaram em uma constelação.[...] A cabeça do Homem Velho é formada pelas estrelas do aglomerado estelar Hya<strong>de</strong>s em cuja direção se encontraa Tauri (Al<strong>de</strong>baran), a estrela mais brilhante da constelação Taurus.Acima da cabeça do Homem Velho fica o aglomerado estelar das Plêia<strong>de</strong>s que representa um pe<strong>na</strong>cho que ele temamarrado à sua cabeça. 3216Segundo Magaña, 33 os tarenos, do norte do Brasil, <strong>na</strong>rram o mito da origem <strong>de</strong> Órion (Yalawale)e Sírius (Urutula), mulher <strong>de</strong> Órion. Segundo a lenda, uma vez Yalawale estava pescando e se feriu emuma per<strong>na</strong>, a qual fi<strong>na</strong>lmente teve <strong>de</strong> amputar, <strong>de</strong>cidindo então ir para o céu como constelação. Aparece,dizem, para anunciar a estação seca com seu Nascer Helíaco em junho. Se em outras fontes se encontracomo o Senhor das Chuvas, <strong>de</strong>ve-se ao seu Nascer Cósmico em janeiro (o que confere com as informaçõesobtidas por Afonso), ou <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong> que ao ocultar-se em meados <strong>de</strong> junho leva consigoas chuvas.A constelação do Homem Velho dos guaranis do Paraná contém três outras constelações indíge<strong>na</strong>s,cujos nomes em guarani são: Eixu (as Plêia<strong>de</strong>s), Tapi’i rainhykã (as Hya<strong>de</strong>s, incluindo Al<strong>de</strong>baran) eJoykexo (O Cinturão <strong>de</strong> Orion). 34Sobre as Plêia<strong>de</strong>s (Poussinière), D’Abbeville diz: “Temos entre nós a ‘Poussinière’ que muito bemconhecem e que <strong>de</strong>nomi<strong>na</strong>m seichu. Começa a ser vista, em seu hemisfério, em meados <strong>de</strong> janeiro, emal a enxergam afirmam que as chuvas vão chegar, como chegam efetivamente pouco <strong>de</strong>pois”. 35Eixu significa “ninho <strong>de</strong> abelhas” em guarani. 36 Segundo Germano Afonso, essa constelação marcao início <strong>de</strong> ano, quando surge pela primeira vez no lado leste, antes do <strong>na</strong>scer do Sol (Nascer Helíacodas Plêia<strong>de</strong>s), <strong>na</strong> primeira quinze<strong>na</strong> <strong>de</strong> junho.Há algumas diferenças nos vocábulos utilizados pelos tupi<strong>na</strong>mbás e pelos guaranis, como é ocaso <strong>de</strong> Seichu (tupi) e Eixu (guarani). Couto <strong>de</strong> Magalhães comenta algumas <strong>de</strong>ssas diferenças:[...] O mesmo se dá entre o Tupi e o Guarani; o que é som <strong>de</strong> ç cedilhado ou s passou para o Guarani com o <strong>de</strong> haspirado; amar em tupi é: çaiçú, em guarani haihu; ovo em tupi, çupiá, em guarani hupiá; verbo ir, em tupi çô, emguarani ho, e assim por <strong>de</strong>ante. 37REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


Tapi’i rainhykã significa “a queixada da anta” para os guaranis 38 . Essa constelação po<strong>de</strong> estarrelacio<strong>na</strong>da a uma constelação tupi<strong>na</strong>mbá: “Entre aquelas [constelações] que eles conhecem emparticular, há uma que se chama Symbiare Raieuboare, isto é, maxilar, uma constelação disposta comoos maxilares <strong>de</strong> um cavalo ou <strong>de</strong> uma vaca, a qual é chuvosa”. 39Segundo Rodolfo Garcia 40 , os vocábulos symbiare e raieuboare <strong>de</strong>vem estar alterados, pois não hápalavras em tupi parecidas com essas.A constelação guarani Joykexo correspon<strong>de</strong> às estrelas que nós chamamos <strong>de</strong> Três Marias: “Joykexorepresenta uma linda mulher, símbolo da fertilida<strong>de</strong>, servindo como orientação geográfica, pois essaconstelação <strong>na</strong>sce no ponto car<strong>de</strong>al leste e se põe no ponto car<strong>de</strong>al oeste. Joykexo também representao caminho dos mortos”. 41Em um trabalho <strong>de</strong> campo <strong>na</strong> al<strong>de</strong>ia guarani <strong>de</strong> Paraty Mirim (Rio <strong>de</strong> Janeiro), em março <strong>de</strong>2004 42 , pu<strong>de</strong>mos ver algumas constelações pintadas <strong>na</strong> pare<strong>de</strong> da escola pelas crianças guaranis (Figura4), como a constelação da Ema (Guyra Nhandu), Eixu (Favo <strong>de</strong> Mel, que correspon<strong>de</strong> às Plêia<strong>de</strong>s) eKuruxu (Cruz, correspon<strong>de</strong>ndo ao Cruzeiro do Sul). Na mesma pare<strong>de</strong> aparecem também: Tapi’i rapé(Via Láctea), uma constelação chamada Jakare rainhykã (Queixada <strong>de</strong> Jacaré) e uma outra chamadaA(k)uarai, que ainda precisam ser i<strong>de</strong>ntificadas. Em trabalhos <strong>de</strong> campo anteriores com esses mesmosguaranis, Luiz C. Borges e Lour<strong>de</strong>s Gondim 43 recolheram os seguintes nomes <strong>de</strong> constelações, algumasdas quais ainda precisam ser i<strong>de</strong>ntificadas: Tapi’i rainhykã (Queixada da Anta), Aka’eKora (Cercado ouGaiola <strong>de</strong> Gralha), mboikuá (Buraco <strong>de</strong> Cobra), Guaxu ou Guaxu Puku (Veado), Jakare rainhykã (Queixada<strong>de</strong> Jacaré, uma constelação mista formada por três estrelas e o fundo escuro do céu), Kaguare (Tamanduá);Guyra Nhandu (Ave Aranha, um tipo <strong>de</strong> ave <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte).17Consi<strong>de</strong>rações Fi<strong>na</strong>isD’Abbeville fez o melhor trabalho sobre astronomia tupi<strong>na</strong>mbá encontrado <strong>na</strong> literatura históricabrasileira. Embora tenha passado ape<strong>na</strong>s quatro meses no Maranhão, foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>screver mais <strong>de</strong>trinta termos relacio<strong>na</strong>dos à astronomia e alguns conceitos empíricos astronômicos. 54O estudo sobre a i<strong>de</strong>ntificação das estrelas e constelações tupi<strong>na</strong>mbá mostra algumas dasdificulda<strong>de</strong>s ligadas ao estudo da astronomia indíge<strong>na</strong> em relatos etno-históricos. Os testemunhoshistóricos com freqüência po<strong>de</strong>m parecer confusos. O pesquisador não só precisa compreen<strong>de</strong>r ofuncio<strong>na</strong>mento da astronomia <strong>de</strong> posição, como também a visão do cosmos que tinham os autores quecompilaram alguns testemunhos etnográficos <strong>de</strong> que dispomos <strong>na</strong> atualida<strong>de</strong> para estudo.Quando se trata <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar estrelas e constelações indíge<strong>na</strong>s, <strong>de</strong>vemos ter cuidado para evitarque nossa própria bagagem cultural interfira no processo <strong>de</strong> entendimento dos saberes celestes <strong>de</strong>ssespovos. Por exemplo, se esperarmos encontrar constelações <strong>de</strong> estrela-a-estrela, como as oci<strong>de</strong>ntais,talvez não consigamos perceber que a constelação que o informante está nos mostrando não é <strong>de</strong>ssetipo e, sim, uma constelação escura. D’Abbeville provavelmente perguntava sobre a <strong>na</strong>tureza do céucom expectativas inteiramente oci<strong>de</strong>ntais, antecipando, quem sabe, respostas que podiam se vincularà ciência celeste <strong>de</strong> sua época. As perguntas que formulava e as respostas que interpretava provavelmenteforam inteiramente distintas das que ema<strong>na</strong>riam <strong>de</strong> um antropólogo especializado.Além dos testemunhos históricos escritos, há outras culturas que possuem um passado comumREVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


com os antigos tupi<strong>na</strong>mbás, como os guaranis. Assim, para nossa compreensão da astronomia antigapraticada pelos povos <strong>na</strong>tivos, o estudo do registro etnográfico contemporâneo sobre observaçõesastronômicas é tão importante quanto o estudo dos livros dos primeiros séculos pós-Conquista.NOTAS E REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS18Flávia Pedroza Lima, astrônoma e mestre em História das Ciências e das Técnicas eEpistemologia pela COPPE/UFRJ, é doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação emHistória das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da COPPE/UFRJ. Il<strong>de</strong>u <strong>de</strong> CastroMoreira, doutor em Física, é professor do Instituto <strong>de</strong> Física – UFRJ e do Programa <strong>de</strong>Pós-Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia da COPPE/UFRJ. Este artigo é parte da dissertação <strong>de</strong>fendida pela autora em 2004 intitulada“Observações e <strong>de</strong>scrições astronômicas <strong>de</strong> indíge<strong>na</strong>s brasileiros: a visão dos missionários,colonizadores, viajantes e <strong>na</strong>turalistas”. Os autores agra<strong>de</strong>cem ao Professor GermanoB. Afonso e ao Dr. Luiz C. Borges pelas valiosas discussões sobre etnoastronomia guarani.1 Os tupi<strong>na</strong>mbás são “grupos tribais tupi que, <strong>na</strong> época da colonização do Brasil, entraramem contato com os brancos no Rio <strong>de</strong> Janeiro e <strong>na</strong> Bahia; e os grupos tribaistupi que, <strong>de</strong>pois, povoaram o Maranhão, o Pará e a ilha dos Tupi<strong>na</strong>mbara<strong>na</strong>s. Todos osgrupos tribais tupi constituíam ramos <strong>de</strong> um tronco comum e provavelmente tiveramum mesmo centro <strong>de</strong> dispersão”. (FERNANDES, Florestan. Organização social dostupi<strong>na</strong>mbá. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1963. p. 15.)2 Muitos dos tupi<strong>na</strong>mbás que escaparam do extermínio foram submetidos à escravidão.Após a sangrenta batalha <strong>de</strong> Cabo Frio, em 1574, <strong>de</strong> oito a <strong>de</strong>z mil índios se tor<strong>na</strong>ramcativos dos portugueses (ibi<strong>de</strong>m, p. 31). Por causa dos cruéis embates no Rio <strong>de</strong>Janeiro, os sobreviventes abando<strong>na</strong>vam a costa em movimentos migratórios para osul e para o norte. No fi<strong>na</strong>l do século XVI, trinta mil se dirigiram para o sul; <strong>de</strong>stes,<strong>de</strong>z mil foram extermi<strong>na</strong>dos pelos portugueses e vinte mil foram repartidos comoescravos (ibi<strong>de</strong>m, p. 33). Na Bahia, os jesuítas chegaram a contar com mais <strong>de</strong>quarenta mil índios cristãos. Incluindo os índios que estavam trabalhando comoescravos em lavouras, o total chegava a oitenta mil índios, porém, em 1585, estavamreduzidos a <strong>de</strong>z mil. Muitos morriam <strong>de</strong> tristeza por terem sido escravizados, ou pordoenças (uma epi<strong>de</strong>mia matou trinta mil <strong>de</strong>les em 1562; no ano seguinte, maistrinta mil morreram <strong>de</strong> varíola). Em 1564, ocorreu uma “fome geral” e algumasal<strong>de</strong>ias tiveram <strong>de</strong> ser <strong>de</strong>spovoadas (ibi<strong>de</strong>m, p. 39-40).3 IBGE. Mapa etno-histórico <strong>de</strong> Curt Nimuendajú. Ed. fac-sim. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBGE;Brasília: Ministério da Educação, 2002.4 O frei Clau<strong>de</strong> D’Abbeville “<strong>na</strong>scera certamente <strong>na</strong> cida<strong>de</strong> que lhe <strong>de</strong>u o nomereligioso. Faleceu em Ruão no ano <strong>de</strong> 1616, com 23 anos <strong>de</strong> hábito, segundoFerdi<strong>na</strong>nd Denis, ou em 1632, <strong>na</strong> indicação <strong>de</strong> Eyriès. Foi, com seu irmão seráficofrei Yves d´Evreux, cronista da França Equinocial <strong>na</strong>s terras do Maranhão. Veio como Almirante <strong>de</strong> Rasilly. Ficou em São Luís do Maranhão e arredores <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> julho a8 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1612”. (CASCUDO, Luís da Câmara. Antologia do folclore brasileiro.4. ed. São Paulo: Livraria Martins Ed., 1971. p. 39.)5 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais. Gallica: bibliothèque numérique <strong>de</strong> laBibliothèque <strong>na</strong>tio<strong>na</strong>le <strong>de</strong> France, 1995. Microfilm Reprod. <strong>de</strong> l’éd. <strong>de</strong> Paris: <strong>de</strong> l’Impr.<strong>de</strong> François Huby, 1614. Disponível em: . Acesso em: 30<strong>de</strong>z. 2003.6 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. História da missão dos padres capuchinhos <strong>na</strong> Ilha doMaranhão e terras circunvizinhas. Tradução: Sérgio Milliet. Introdução e notas: RodolfoGarcia. São Paulo: Livraria Martins Ed., 1945. p. 244.7 Ibi<strong>de</strong>m, p. 243-44.8 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 310-11.9 I<strong>de</strong>m. História da missão dos padres capuchinhos <strong>na</strong> Ilha do Maranhão e terrascircunvizinhas, op. cit., p. 246.10 A tradução, nesse caso, está incompleta, pois falta uma parte da frase origi<strong>na</strong>l. Umatradução melhor seria: “Eles têm também uma estrela extremamente brilhante quese chama Yaseuh Tatá Oué, sobre a qual eles cantam um canto em louvor <strong>de</strong> suabeleza e <strong>de</strong> seu movimento”.11 MAGALHÃES, José Vieira Couto <strong>de</strong>. Curso <strong>de</strong> língua tupi viva. In: O selvagem. 3. ed.São Paulo: Cia. Ed. Nacio<strong>na</strong>l, 1935. (Brasilia<strong>na</strong>, v. 52.) p. 78.12 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong>Marig<strong>na</strong>n et terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp,<strong>de</strong>s moeurs merveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 319. Traduçãolivre do origi<strong>na</strong>l.13 Ibi<strong>de</strong>m, p. 317.14 Ibi<strong>de</strong>m, p. 320.15 Epacta: Diferença entre o ano solar e o ano lu<strong>na</strong>r. No calendário gregoriano, chamaseepacta <strong>de</strong> um ano qualquer ao número <strong>de</strong> dias passados <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a última Lua novado ano anterior até 1° <strong>de</strong> janeiro, a menos <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong>. Como a lu<strong>na</strong>ção temaproximadamente 29,5 dias, ela compreen<strong>de</strong> 30 dias no calendário, o que significaque a epacta é um número que assume valores entre 0 e 29.16 Ida<strong>de</strong> da Lua: intervalo <strong>de</strong> tempo, medido em dias, entre a Lua nova e uma dadaposição da Lua. A ida<strong>de</strong> da Lua varia entre 1 e 29,5 dias.17 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit. p. 320.18 Calendário eclesiástico: calendário lunissolar que tem por objetivo estabelecer asnormas <strong>de</strong> cálculos das datas <strong>na</strong>s quais as festas religiosas <strong>de</strong>vem ser comemoradas.19 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 320.20 I<strong>de</strong>m. História da missão dos padres capuchinhos <strong>na</strong> Ilha do Maranhão e terrascircunvizinhas, op. cit., p. 250.21 Ibi<strong>de</strong>m, p. 246-47.22 MELLO, Namir. Consi<strong>de</strong>rações a respeito do clima do setor norte do Nor<strong>de</strong>ste doBrasil. Revista Ciência Online, ano 1, n. 3, jun./ago. 2002. Disponível em: .01_03/meteorologia>. Acesso em: nov. 2004.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005


23 AFONSO, Germano B. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras. Observatórios Virtuais,USP, 2004. Disponível em: .Acesso em: nov. 2004.24 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 320. Tradução livre do origi<strong>na</strong>l.25 GALILEU, Galileo. Discorso <strong>de</strong>l flusso e reflusso <strong>de</strong>l mare. In: Le opere di GalileoGalilei. Firenze: G. Barbèra Editore, 1968. v. 5, p. 372-95.26 Ibi<strong>de</strong>m, p. 391.27 Ibi<strong>de</strong>m, p. 389.28 BURSTYN, Harold L. Galileo’s attempt to prove that the earth moves. ISIS, v. 53, part2, n. 172, p. 161-185, 1962.29 Ibi<strong>de</strong>m, loc cit.30 Existem 17 reservas, com aproximadamente 9.500 indíge<strong>na</strong>s, no estado do Paraná.Germano Afonso realizou pesquisas com indíge<strong>na</strong>s <strong>de</strong> todas as reservas. No entanto,os seus dois principais informantes foram os pajés guaranis Onório Benites, 85 anos,da Reserva Indíge<strong>na</strong> Ocoí (latitu<strong>de</strong> = 25,350S, longitu<strong>de</strong> = 52,150W) e ManoelFirmino, 98 anos, da Reserva Indíge<strong>na</strong> Mangueirinha (latitu<strong>de</strong> = 25,950S, longitu<strong>de</strong>= 53,570W).31 AFONSO, Germano B. Arqueoastronomia brasileira. Curitiba: UFPR. CD-ROM. 2000.(Também disponível em: .)32 I<strong>de</strong>m. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras, op. cit., p. 1.33 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. História da missão dos padres capuchinhos <strong>na</strong> Ilha doMaranhão e terras circunvizinhas, op. cit., p. 248.34 AFONSO, Germano B. Arqueoastronomia brasileira, op. cit.35 MAGALHÃES, José Vieira Couto <strong>de</strong>, op. cit., p. 78.36 ALBISETTI, César; VENTURELLI, Ângelo J. Enciclopédia bororo. Campo Gran<strong>de</strong>: MuseuRegio<strong>na</strong>l Dom Bosco, 1962. v. 1, p. 614.37 AFONSO, Germano B. Arqueoastronomia brasileira, op. cit.38 MORIESON, John. Indigenous astronomy. Disponível em: . Acesso em: 21 ago. 2004.40 AFONSO, Germano B. Arqueoastronomia brasileira, op. cit.41 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 318.42 AFONSO, Germano B. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras, op. cit., p. 5.43 MAGAÑA, Edmundo. Astronomia Waya<strong>na</strong> y Tareno. América Indíge<strong>na</strong>, v. 48, n. 2, p.447-461, abr./jun.1988. p. 456.44 AFONSO, Germano B. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras, op. cit., p. 5.45 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. História da missão dos padres capuchinhos <strong>na</strong> Ilha doMaranhão e terras circunvizinhas, op. cit., p. 246-47.46 AFONSO, Germano B. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras, op.cit., p. 5.47 MAGALHÃES, José Vieira Couto <strong>de</strong>, op. cit., p. 320.48 AFONSO, Germano B. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras, op. cit., p. 5.49 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 31050 I<strong>de</strong>m. História da missão dos padres capuchinhos <strong>na</strong> Ilha do Maranhão e terrascircunvizinhas, op. cit., p. 246.51 AFONSO, Germano. B. As constelações indíge<strong>na</strong>s brasileiras, op. cit., p. 5.52 Participaram <strong>de</strong>sse trabalho os pesquisadores Luiz C. Borges e Flavia Pedroza Lima,ambos do MAST, e as colaboradoras Lour<strong>de</strong>s Gondim e A<strong>na</strong> Claudia Bastos.53 BORGES, Luiz. C.; GONDIM, Lour<strong>de</strong>s. O saber no mito – conhecimento e inventivida<strong>de</strong>indíge<strong>na</strong>s. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Teatral, 2003. p. 65.54 “É <strong>na</strong> verda<strong>de</strong> surpreen<strong>de</strong>nte como, em período tão limitado, viajando quase todo otempo, Frei Clau<strong>de</strong> D’Abbeville possa ter domi<strong>na</strong>do a língua Tupi, escrevendo sobregeografia, botânica, zoologia, etnologia (incluindo o conhecimento <strong>de</strong> astronomiados índios). Nossa hipótese é que ele muito provavelmente incluiu em seu livroinformações <strong>de</strong> outras fontes (<strong>de</strong> <strong>de</strong>s Vaux ou <strong>de</strong> Migan, como sugerido por RodolfoGarcia), sem <strong>de</strong>vidamente reconhecer a autoria.” (PAPAVERO, Nelson et al. O novoé<strong>de</strong>n: a fau<strong>na</strong> da Amazônia brasileira nos relatos <strong>de</strong> viajantes e cronistas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a<strong>de</strong>scoberta do rio Amazo<strong>na</strong>s por Pizón (1500) até o Tratado <strong>de</strong> Santo I<strong>de</strong>lfonso(1777). Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi. 2000. p. 84.1939 D’ABBEVILLE, Clau<strong>de</strong>. Histoire <strong>de</strong> la mission <strong>de</strong>s pères capucins en l’isle <strong>de</strong> Marig<strong>na</strong>net terres circonvoisines où est traicté <strong>de</strong>s singularitez admirables &amp, <strong>de</strong>s moeursmerveilleuses <strong>de</strong>s indiens habitans <strong>de</strong> ce pais, op. cit., p. 312.Artigo recebido para publicação em 1/2005. Aprovado para publicação em 5/2005.REVISTA DA <strong>SBHC</strong>, Rio <strong>de</strong> Janeiro, v. 3, n. 1, p. 4-19, jan. | jun. 2005

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