Ecologi@ 4: 31-42 (2012) <strong>Artigo</strong>s <strong>de</strong> RevisãoDados do Instituto Florestal Europeumostram que a esmagadora maioria daárea florestal <strong>em</strong> Portugal (>90%) éproprieda<strong>de</strong> privada (EFI, 2007),enquanto que a razão áreaflorestal+lenhosa/habitante é baixa (0.35)comparada com a razão áreaterreno/habitante que é 0.92, indicandoque as áreas florestais são fracamentepovoadas.A tipologia florestal <strong>de</strong> PortugalContinental cuidadosamente caracterizadapor (Godinho-Ferreira et al., 2005)evi<strong>de</strong>ncia 22 tipos diferentes <strong>de</strong> floresta ea respectiva distribuição geográfica, <strong>em</strong>que para além das espécies dominanteshabituais, se têm expandido acaciais,giestais e estevais com uma área <strong>de</strong>ocupação <strong>de</strong> 0.6%, 4.3% e 7.5%,respectivamente, a que correspond<strong>em</strong> 18551 ha, 145 319 ha e 249 382 ha.A importância da Indústria Florestal naeconomia nacional traduz-se nosseguintes números (Esteves, 2009):- 5.3% do Valor AcrescentadoBruto nacional- 12% do Produto Interno Bruto daIndústria- 12% do <strong>em</strong>prego na Indústria10% das exportações2. Consi<strong>de</strong>rações finaisNa história do comércio <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>em</strong>Portugal distingu<strong>em</strong>-se 3 períodos (DHP1992d): A Ida<strong>de</strong> Média, a Época Mo<strong>de</strong>rnae a Época Cont<strong>em</strong>porânea. A primeira foicaracterizada pelo consumo internofundamentalmente para construção naval.<strong>Lisboa</strong>, por ex<strong>em</strong>plo, era abastecida peloPinhal <strong>de</strong> Leiria sendo o carvalho e opinheiro manso as principais árvoresutilizadas para a construção dos naviosenquanto o pinheiro bravo era usado paraos mastros e vergas.Na Época Mo<strong>de</strong>rna, <strong>de</strong>vido à escassez d<strong>em</strong>a<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> nacional, começou aimportar-se esta matéria-prima do Norteda Europa (a partir do século XV, Danzig eRiga são os gran<strong>de</strong>s fornecedores), Brasil,Açores e Ma<strong>de</strong>ira. Desta última, quase<strong>de</strong>saparece o coberto florestal dando lugara campos <strong>de</strong> trigo e cultivo da cana-doacúcar.Finalmente no século XIX (ÉpocaCont<strong>em</strong>porânea) Portugal comprava muitomais ma<strong>de</strong>ira do que vendia, (ver Tabela1) fundamentalmente <strong>de</strong>vido ao comérciodos vinhos da Ma<strong>de</strong>ira e do Porto.Indiscutivelmente, a construção navalcomo consequência da expansão marítimafoi o gran<strong>de</strong> motor da <strong>de</strong>sarborização dopaís. Contudo, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os salientar todauma série <strong>de</strong> activida<strong>de</strong>s industriais queconsumiam ma<strong>de</strong>ira como por ex<strong>em</strong>plo, ametalurgia, a indústria do vidro e da canado-açúcar,a tanoaria, para além daintensa activida<strong>de</strong> pesqueira. Nãopod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> referir o aumento daárea cultivada e <strong>de</strong> pastag<strong>em</strong> fruto dapressão d<strong>em</strong>ográfica. Se analisarmos aevolução da população <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o século XVIaté ao século XX, concluímos que <strong>em</strong>1527 o efectivo populacional estimava-seentre 1.100.000 e 1.400.000 habitantes.Cerca <strong>de</strong> 200 anos <strong>de</strong>pois, isto é, <strong>em</strong> 1732éramos 2.143.368, <strong>em</strong> 1835 já seultrapassava os três milhões (3.061.648)e <strong>em</strong> 1920 chegámos aos 5.621.977(DHP, 1992b). A pressão sobre osrecursos florestais tinha necessariamente<strong>de</strong> se fazer sentir a que não <strong>de</strong>ve seralheio a extr<strong>em</strong>a pobreza da populaçãoque tinham na lenha e no carvão a únicasaída para as necessida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong>energia.Ultrapassado o ponto crítico <strong>de</strong><strong>de</strong>sarborização do país que ocorreu noséculo XVIII, medidas legislativas eficazesque se esten<strong>de</strong>ram pelos séculos XIX eXX, reverteram substancialmente o estadocalamitoso da nossa floresta, ainda quepouco diversificado, mas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>importância para a economia nacional.Pena que os fogos que constant<strong>em</strong>enteassolam o país já tenham <strong>de</strong>struídoalgumas das áreas mais belas dopatrimónio florestal português.3. 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