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Eurípedes Gomes da Cruz Junior - PPG-PMUS - Museu de ...

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iii


ivPara o meu pai(in memorian)


vAGRADECIMENTOSAgra<strong>de</strong>cimentos po<strong>de</strong>m ser ao mesmo tempo prazeirosos e perigosos. O prazer vem<strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> honrar aqueles que contribuíram, muitas vezes sem noção <strong>da</strong>dimensão <strong>de</strong> sua importância, para que um trabalho como este chegue ao seuobjetivo. O perigo é o esquecimento que sempre ron<strong>da</strong>, amplificado pelo cacoete <strong>da</strong>importância que atribuímos à memória em nossa campo <strong>de</strong> atuação. A lista a seguirnão possui uma hierarquia, ela é puro rizoma.Ter a Prof.ª Lena Vania como minha orientadora foi mais que uma escolha, foi um<strong>de</strong>sígnio. À sua <strong>de</strong>canta<strong>da</strong> proficiência soma-se uma generosi<strong>da</strong><strong>de</strong> que se expressaatravés <strong>de</strong> uma direção firme que nos trouxe sempre a sensação <strong>de</strong> segurança paraprosseguir.À Coor<strong>de</strong>nação do <strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong>, cujo zelo pelos discentes pu<strong>de</strong> testemunhar em váriasoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e aos <strong>de</strong>mais professores do programa que além do elevado nívelintelectual nos instigaram constantemente a ampliar ca<strong>da</strong> vez mais nossa visão sobreos assuntos estu<strong>da</strong>dos.Na Banca examinadora, incluindo as suplências, estão pessoas que eu admiro econsi<strong>de</strong>ro colaboradores, pelas dicas, sugestões e leituras aconselha<strong>da</strong>s,especialmente no processo <strong>de</strong> qualificação. Meu obrigado inclui tudo aquilo que ain<strong>da</strong>espero apren<strong>de</strong>r com elas.Aos meus colegas do Programa, cujo convívio foi fecundo - um adubo, a relaçãoafetiva como seu principal componente. Em especial a Aline Rocha e Rosângela Brito,amigas sensíveis e sempre disponíveis para aju<strong>da</strong>r – em qualquer hora.A todos os meus colegas do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, não só pelasoli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong><strong>de</strong> como também pela sobrecarga <strong>de</strong> trabalho gera<strong>da</strong> em função <strong>de</strong> minhasmuitas ausências para aten<strong>de</strong>r às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Programa. Ao Luiz Carlos Mello eGladys Schincariol, pelas longas discussões conceituais e filosóficas sobre ainstituição, pelas inúmeras e <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>s informações e principalmente pelo apoioirrestrito e estímulo cotidiano, transmitindo confiança. Agra<strong>de</strong>ço também a MarizeParreira pelo auxílio no levantamento e <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong>s monografias, teses edissertações do acervo, trabalho pioneiro que revelou a dimensão <strong>de</strong>sse conjunto. Aosestagiários <strong>de</strong> Museologia, pelo apoio fun<strong>da</strong>mental no levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos elocalização <strong>de</strong> documentos e arquivos.À direção do Instituto Municipal Nise <strong>da</strong> Silveira, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o primeiro momentomanifestou total apoio à minha participação no Programa, conce<strong>de</strong>ndo-me to<strong>da</strong>s asfacili<strong>da</strong><strong>de</strong>s administrativas e funcionais para o melhor <strong>de</strong>sempenho <strong>da</strong> minhapesquisa.À Coor<strong>de</strong>nação-Geral <strong>de</strong> Documentação e Informação e o Centro Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>,na pessoa <strong>de</strong> Márcia Rollemberg e sua equipe, cuja parceria com o MII disponibilizouinfraestrutura e pessoal ligados a projetos em <strong>de</strong>senvolvimento na instituição, além <strong>de</strong>inestimável apoio à divulgação <strong>de</strong> nossa pesquisa em Congressos e Seminários.Se fosse apenas pelo amor, a contribuição <strong>de</strong> minha família já seria o bastante.Evi<strong>de</strong>ntemente, on<strong>de</strong> existe o amor, tudo vai mais além. Como somos muitos,impossível citar alguém, exceção feita à minha mãe, Doraci Ribeiro, cujo <strong>de</strong>svelomaterno foi muito além do carinho e do encorajamento, impedindo-me em muitosmomentos <strong>de</strong> limitar ou mesmo interromper a pesquisa por motivos econômicos.


viÀ minha esposa Cândi<strong>da</strong> Bougleux, cujo companheirismo e cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> resistiramestoicamente às “síndromes <strong>de</strong> pós-graduação” que frequentemente abalam asrelações mais frágeis, aceitando com carinho minhas longas ausências – apesar <strong>da</strong>presença física – causa<strong>da</strong>s pelas intermináveis horas <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s à leitura, ao estudoou à elaboração <strong>de</strong> textos. Isso sem nunca consentir que eu tivesse um momento <strong>de</strong><strong>de</strong>sânimo.Às minhas filhas Renata e Isabela, cujas existências são faróis que iluminam meucoração, e cuja admiração por mim faz-me sempre refletir sobre tão gran<strong>de</strong>responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> – ser um exemplo para pessoas tão melhores que eu.À minha neta Manuela, cujo nascimento antece<strong>de</strong>u, <strong>de</strong> pouco, o início <strong>de</strong> tudo. Aenergia gera<strong>da</strong> com a chega<strong>da</strong> <strong>de</strong>sse novo ser, composta <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> amoraté então <strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>, foi e tem sido, com certeza, meu maior estímulo afetivo.Aos irmãos e amigos <strong>da</strong> Igreja Nova Vi<strong>da</strong> do Méier, em especial o Pastor SebastiãoEstevam, por me apoiarem com palavras e orações. A comunhão com eles mostroumeque Fé e Ciência não só po<strong>de</strong>m - elas <strong>de</strong>vem an<strong>da</strong>r juntas.Repassando esta lista, me ocorre que nenhum homem é merecedor, por si só, <strong>de</strong>tantas bênçãos.Um dia, manifestei a Deus meu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> continuar os estudos. Orei, pedindo que Eleme indicasse o caminho. Esta dissertação é um dos resultados <strong>de</strong> Sua resposta.Como hoje, a presença d‟Ele em minha vi<strong>da</strong> é como o ar que respiro, agra<strong>de</strong>çocitando as <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>iras palavras do Rei Davi:Obrigado, Senhor“Porque tudo vem <strong>de</strong> ti, e <strong>da</strong>s tuas mãos to <strong>da</strong>mos”.I Crônicas 29:14


Fig. 1: “O trapezista”Carlos PertuisÓleo sobre papelAcervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconscientevii


viiiCRUZ JUNIOR, Eurípe<strong>de</strong>s <strong>Gomes</strong> <strong>da</strong>. O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente: <strong>da</strong>s coleções <strong>da</strong>loucura aos <strong>de</strong>sfios contemporâneos. 2009. Dissertação (Mestrado) – Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, UNIRIO/MAST, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2009. 196 p.Orientadora: Lena Vania Ribeiro Pinheiro.RESUMOO trabalho analisa o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente - MII <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua concepção,as circunstâncias históricas e sociais antece<strong>de</strong>ntes e contemporâneas <strong>da</strong> fase <strong>de</strong> suaimplantação. Apresenta a orientação e as idéias <strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>dora, Dr.ª Nise <strong>da</strong>Silveira, através <strong>da</strong> trajetória <strong>de</strong> sua obra, especialmente o documento por ela<strong>de</strong>nominado “Benedito”, em leitura transdisciplinar e <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> outros pensadores.Mapeia as principais „coleções <strong>da</strong> loucura‟ no mundo, enfoca<strong>da</strong>s nos seus atributosmuseológicos. Abor<strong>da</strong> o MII na condição <strong>de</strong> patrimônio cultural e nos aspectos <strong>de</strong>Ciência e Arte sobre as imagens produzi<strong>da</strong>s pelos freqüentadores dos seus ateliêsterapêuticos, bem como <strong>da</strong> informação em museus e <strong>da</strong> informação em arte. Enfatizaa socialização do conhecimento, pensa<strong>da</strong> a partir <strong>da</strong> relação do museu com acomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e na nova perspectiva do mundo contemporâneo - o ciberespaço.Palavras chave: museologia; patrimônio; Arte; loucura; inconsciente


ixCRUZ JUNIOR, Eurípe<strong>de</strong>s <strong>Gomes</strong> <strong>da</strong>. <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente: from collections ofmadness to the contemporary challenges. 2009 Dissertation (Master‟s) - Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio, UNIRIO/MAST, Rio <strong>de</strong> Janeiro, 2009. 196p.Supervisor: Lena Vania Ribeiro Pinheiro.ABSTRACTAnalysis of the <strong>Museu</strong>m of Images from the Unconscious-MII since its conception, thehistorical circumstances and social contemporary background when its <strong>de</strong>ployment.The gui<strong>da</strong>nce and the i<strong>de</strong>as of its creator, Nise <strong>da</strong> Silveira, through the trajectory of hiswork, especially the document called "Benedito", as a transdisciplinary reading andstudies of other thinkers. Mapping of the main „collections of madness‟ in the world,focusing on their museological aspects. The collection of MII is focused in the conditionof cultural heritage and by the aspects of Science and Art about the images producedby its therapeutic workshops users, as well as information on museums andinformation on art. This trajectory emphasizes, at the end, the socialization ofknowledge, thought from the museum's relationship with the community and in the newperspective of the contemporary world - the cyberspace.Keywords: museology; cultural heritage; art; unconscious


xLISTA DE FIGURASFig. 1. Carlos Pertuis. “O trapezista”. óleo sobre papel. ................................................. viiFig. 2. Facha<strong>da</strong> principal <strong>da</strong> se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente ....................... 1Fig. 3. Nise <strong>da</strong> Silveira na antiga se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente................ 9Fig. 4. Jung e Nise, na inauguração <strong>da</strong> exposição A Esquizofrenia em Imagens ........... 15Fig. 5. Octávio Ignácio. Lápis <strong>de</strong> cor s/ papel ................................................................ 19Fig. 6. Escultura <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong> .............................................................................. 29Fig. 7. Mo<strong>de</strong>lagem - Cultura Tisza ............................................................................... 29Fig. 8. “Niágara” – Obra <strong>da</strong> coleção Morgenthaler ......................................................... 33Fig. 9. Obra <strong>da</strong> Coleção Prinzhorn ................................................................................ 33Fig. 10. Obra <strong>da</strong> Coleção abcd ..................................................................................... 48Fig. 11. Obra reproduzi<strong>da</strong> no livro <strong>de</strong> Osório César ....................................................... 48Fig. 12. Raphael Domingues. Guache sobre papel ....................................................... 71Fig. 13. Carlos Pertuis. Óleo sobre jornal ...................................................................... 85Fig. 14. Dra. Nise e um dos álbuns organizados por ela ................................................ 90Fig. 15. Emygdio <strong>de</strong> Barros. Óleo sobre papel ............................................................ 101Fig. 16. Maquete do projeto para a nova se<strong>de</strong> do MII .................................................. 112Fig. 17. Página inicial – sítio do MII na Internet ........................................................... 114Fig. 18. Carlos Pertuis. Óleo sobre papel. ................................................................... 116Fig.19. Carlos Pertuis. Óleo sobre tela ........................................................................ 121


xiLISTA DE ABREVIATURAS E SIGLASARAS – The Archive for Research in Archetypal SymbolismFINEP – Financiadora <strong>de</strong> Estudos e ProjetosIBICT – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Informação em Ciência e TecnologiaICOFOM-LAM – Grupo Regional <strong>de</strong> Trabalho para a América Latina e o Caribe do ComitêInternacional <strong>de</strong> MuseologiaICOM – Conselho Internacional <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>sIPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico NacionalMAM – <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rnaMASP – <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São PauloMAST – <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Astronomia e Ciências AfinsMII – <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteMOMA – <strong>Museu</strong>m of Mo<strong>de</strong>rn Art (New York)SAMII – Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteSIMBA – Sistema <strong>de</strong> Informações do <strong>Museu</strong> Nacional <strong>de</strong> Belas ArtesSTO – Seção <strong>de</strong> Terapêutica OcupacionalSTOR – Seção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional e ReabilitaçãoUFRJ – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> JaneiroUNESCO – Organização <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para a Educação, a Ciência e a CulturaUNIRIO – Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro


xiiSUMÁRIO1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 12 OBJETIVOS ................................................................................................. 92.1 Gerais .............................................................................................. 102.2 Específicos ......................................................................................... 103 CRIADOR E CRIATURA .............................................................................. 113.1 Nise <strong>da</strong> Silveira, uma psiquiatra rebel<strong>de</strong> .......................................... 143.2 O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente-MII........................................ 164 AS COLEÇÕES DA LOUCURA ................................................................... 214.1 Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e loucura: o estatuto <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> ................................. 234.1.1 O nascimento do asilo4.2 O patrimônio e as coleções <strong>da</strong> loucura ........................................... 274.2.1 O interesse pela diferença: as raízes românticas ........................... 284.2.2 Um patrimônio emergente .............................................................. 304.2.3 A constituição <strong>da</strong>s coleções <strong>da</strong> loucura .......................................... 334.2.3.1 As experiências brasileiras <strong>de</strong> Osório César eNise <strong>da</strong> Silveira4.2.4 As coleções se multiplicam ............................................................ 404.3 Aspectos museológicos nas coleções <strong>da</strong> loucura .......................... 414.3.1 As coleções européias ................................................................... 424.3.2 As coleções brasileiras: Osório César ............................................ 484.3.3 Nise <strong>da</strong> Silveira e o ateliê <strong>de</strong> pintura <strong>da</strong> STO ................................. 504.4 Imagens <strong>da</strong> Loucura, Ciência e Arte: algumas leituras ................... 554.4.1 A gramática <strong>de</strong> Freud e Jung ......................................................... 604.4.2 As leituras européias ...................................................................... 614.4.3 Uma leitura brasileira ..................................................................... 654.4.4 Arte ou ciência? .............................................................................. 665 NISE DA SILVEIRA E O “BENEDITO”: UMA LEITURATRANSDISCIPLINAR .................................................................................. 705.1 Adquirindo Conhecimento ................................................................ 735.2 Produzindo Conhecimento ................................................................ 775.3 O “BENEDITO” .................................................................................. 796 SOCIALIZANDO O CONHECIMENTO ........................................................ 846.1 Organizando o Conhecimento........................................................... 886.1.1 – Princípios <strong>de</strong> organização do conhecimento no MII6.2 Informação em <strong>Museu</strong>s ..................................................................... 926.3 Informação em arte no Brasil ............................................................ 96


xiii7 O MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE NO MUNDOCONTEMPORÂNEO................................................................................... 1007.1 O <strong>Museu</strong> e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ..................................................................... 1057.2 O <strong>Museu</strong> e o território ........................................................................... 1097.2.1 <strong>Museu</strong> e ciberespaço: um novo território possível ............................. 1118 O DESAFIO CONTEMPORÂNEO ............................................................... 1159 REFERÊNCIAS ........................................................................................... 12110 ANEXOSA: Relação dos Documentários ........................................................................ 129B: Relação <strong>de</strong> Exposições ............................................................................... 133C: Fac-simile do Sistema <strong>de</strong> classificação do A.R.A.S. .................................... 142D: Ficha <strong>de</strong> Catalogação.................................................................................. 146E: Relação <strong>de</strong> Monografias, Teses, Dissertações, Coletâneas, Poesias,Estudos, Projetos relativos ao acervo do MII existentes em sua biblioteca. . 148


1.INTRODUÇÃO


2Fig. 2. Facha<strong>da</strong> principal <strong>da</strong> se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconscienteFoto: Arquivo do <strong>Museu</strong>1. INTRODUÇÃOQuando se fala em <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente - MII estamos nosreferindo a uma instituição pública, genuinamente brasileira, cujo acervo <strong>de</strong> obrasplásticas <strong>de</strong>sperta admiração, pela originali<strong>da</strong><strong>de</strong> e pela quali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos trabalhosproduzidos em seus ateliês <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas. Des<strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>ção o <strong>Museu</strong>vem apresentando exposições, seminários, cursos e documentários que procuramlançar luzes sobre os intrigantes fenômenos que ocorrem em regiões poucoconheci<strong>da</strong>s <strong>da</strong> psique humana, tomando como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> a produção plástica <strong>de</strong>indivíduos rotulados como loucos pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.


3Essa produção também tem sido utiliza<strong>da</strong> como um elemento provocativo <strong>de</strong>reflexões sobre a <strong>de</strong>sumana exclusão a que muitas vezes são submetidos osindivíduos portadores <strong>de</strong>sse rótulo, procurando transformar a forma como a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>os vê, trazendo à tona as insuspeita<strong>da</strong>s riquezas <strong>de</strong> seu mundo interno, muitas vezesem contraste com a aparência externa <strong>de</strong> ruína ou <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção.Esses aspectos, embora não sejam os únicos, são predominantes na atuaçãodo MII <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação, em 1952, pela psiquiatra Nise <strong>da</strong> Silveira. Criadora ecriatura muitas vezes se confun<strong>de</strong>m, tornando indispensável o estudo conjunto <strong>da</strong>instituição e sua fun<strong>da</strong>dora para uma melhor compreensão do trabalho produzidonessa relação ao longo do tempo.Criado para ser um centro <strong>de</strong> estudos, é na fase inicial do <strong>Museu</strong>, quando suafun<strong>da</strong>dora esteve à sua frente, que se originou a maior parte <strong>da</strong>s principais pesquisashoje conheci<strong>da</strong>s. Após esse período, as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s museológicas <strong>de</strong> conservação,organização e acondicionamento do acervo, já então na casa dos 180 mil documentosplásticos, passa a ocupar um espaço privilegiado nas preocupações <strong>da</strong> equipe quesuce<strong>de</strong>u Nise <strong>da</strong> Silveira na direção <strong>da</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong> 1 .Este segundo período é fértil na consoli<strong>da</strong>ção dos estudos até então<strong>de</strong>senvolvidos, seja através <strong>de</strong> mostras extensivas que abor<strong>da</strong>m múltiplos assuntos,seja pela publicação <strong>de</strong> livros e catálogos, ou pela realização <strong>de</strong> documentáriosaudiovisuais, filmes e ví<strong>de</strong>os.O século XXI vem encontrar o <strong>Museu</strong> com uma estrutura museológica bastanterazoável no tocante às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação e organização do acervo. Entretantoas mu<strong>da</strong>nças ocorri<strong>da</strong>s na área <strong>da</strong> psiquiatria e <strong>da</strong> museologia, as transformações eexigências <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> contemporânea e as novas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s tecnológicas paraa disseminação <strong>de</strong> conhecimentos reclamam uma reflexão sobre o papel que ainstituição po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sempenhar nessa contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>.Para traçar esse perfil, preten<strong>de</strong>mos percorrer um itinerário on<strong>de</strong> recorreremosinicialmente a uma contextualização histórica <strong>da</strong> loucura, seguindo-se as iniciativas <strong>de</strong>musealização <strong>de</strong> coleções similares à do <strong>Museu</strong> que aconteceram em diversoslugares do mundo e <strong>de</strong> que forma esse patrimônio se insere na atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nummomento seguinte vislumbrar sinteticamente as diferentes leituras <strong>da</strong>s quais essascoleções foram objeto, com <strong>de</strong>staque para a fun<strong>da</strong>mentação teórica estabeleci<strong>da</strong> porNise <strong>da</strong> Silveira, que veio influenciar e mesmo cunhar o caráter do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagensdo Inconsciente.Outro ponto a consi<strong>de</strong>rar é a produção sobre o acervo existente nos arquivosdo <strong>Museu</strong> - ensaios, <strong>de</strong>poimentos, dissertações, teses, artigos, muitos dos quais ain<strong>da</strong>1 Nise <strong>da</strong> Silveira, funcionária pública concursa<strong>da</strong>, foi aposenta<strong>da</strong> compulsoriamente em 1975.


4inéditos. Esses trabalhos são oriundos <strong>de</strong> pesquisadores do <strong>Museu</strong> ou <strong>de</strong> outrasinstituições, além <strong>de</strong> artistas e intelectuais <strong>de</strong> áreas diversas. Por tratar-se <strong>de</strong> umassunto ain<strong>da</strong> pouco divulgado, esse acervo <strong>de</strong> conhecimentos encontra-sesubutilizado, especialmente por não ter havido, ain<strong>da</strong>, na instituição, um projeto parasua recuperação, organização e comunicação.A Dra. Nise tem sido incensa<strong>da</strong> e amplamente reconheci<strong>da</strong> como a fun<strong>da</strong>dorado <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, como a mulher que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>expressão dos loucos, que rebelou-se contra os tratamentos agressivos <strong>da</strong> psiquiatriatradicional, como a protetora dos animais. Porém seu trabalho científico, as basesteóricas e epistemológicas que <strong>de</strong>senvolveu ao longo dos anos e que serviram parafun<strong>da</strong>mentar a atuação do <strong>Museu</strong> como centro <strong>de</strong> pesquisa e estudo é muito poucoconhecido (Melo, 2005). Muitos admiram as obras produzi<strong>da</strong>s nos ateliês do <strong>Museu</strong>,mas poucos sabem o que realmente aquelas obras significaram para seus autores e oque essa significação po<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r na compreensão dos processos psíquicos humanos– assunto que não se limita, como po<strong>de</strong> parecer à primeira vista, aos estudiosos <strong>da</strong>mente, mas a todos aqueles que se interessam por essas complexas e misteriosasregiões que <strong>de</strong>sconhecemos, mas que tanta influência exercem sobre nós. Essesconteúdos perpassam nossa história na terra, povoam nosso imaginário, que opensamento clássico tentou tornar moe<strong>da</strong> <strong>de</strong> duas faces – ora reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, oraalucinação – mas que na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> é cristal multifacetado que não permite um limitearbitrário traçado pelo que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ra como razão, e que já vem sendoquestionado por artistas, pensadores e filósofos, com <strong>de</strong>staque para Foucault:É no espaço <strong>da</strong> pura visão que a loucura <strong>de</strong>senvolve seus po<strong>de</strong>res.Fantasmas e ameaças, puras aparências do sonho e do <strong>de</strong>stinosecreto do homem – a loucura tem, nesses elementos, uma forçaprimitiva <strong>de</strong> revelação: revelação <strong>de</strong> que o onírico é real, <strong>de</strong> que a<strong>de</strong>lga<strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> ilusão se abre sobre uma profun<strong>de</strong>zairrecusável, e que o brilho instantâneo <strong>da</strong> imagem <strong>de</strong>ixa o mundo àsvoltas com figuras inquietantes que se eternizam em suas noites(Foucalt, 1978 p. 27).Se o onírico é real, o problema <strong>da</strong> loucura não po<strong>de</strong> estar – nem nunca esteve– restrito à área médica. Apesar <strong>da</strong>s tentativas dos séculos passados, <strong>de</strong> inseri-la nomo<strong>de</strong>lo médico, po<strong>de</strong>mos constatar hoje os mo<strong>de</strong>stos resultados obtidos, resumidos a<strong>de</strong>scrições, quadros nosológicos e contenção <strong>de</strong> sintomas. O médico <strong>de</strong> LadyMacbeth diz que a loucura é “um mal bem além <strong>de</strong> minha prática”. E Foucalt vai maislonge, sugerindo ser ela a arqueologia espontânea <strong>da</strong>s culturas. “O <strong>de</strong>satino seria agran<strong>de</strong> memória dos povos, a maior fi<strong>de</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>les para com o passado; nele, ahistória lhes será in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong>mente contemporânea.” (Foucalt, 1978, p. 106).


5Esta contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> in<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> <strong>da</strong> loucura po<strong>de</strong> ser constata<strong>da</strong> nasimagens do acervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Não se trata aqui <strong>de</strong> uma“arte contemporânea”, mas sim na emergência <strong>de</strong> imagens cujos símbolos e signosremete-nos a uma história imagética <strong>da</strong> espécie humana, uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira arqueologia<strong>da</strong> psique.É a mediação <strong>de</strong>ssa arqueologia que o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconscientevem fazendo. Não basta apenas o olhar, por mais intuitivo que seja. É preciso umaleitura, fruto <strong>de</strong> uma observação que, embora não hegemônica, seja provocadora nacriação <strong>de</strong> sentidos. Bússola que o navegador po<strong>de</strong>rá abandonar quando se sentirseguro em sua navegação, criando suas próprias rotas. Rotas que po<strong>de</strong>riam retornar àleitura inicial, criar novos nós a ela interligados, gerando conhecimento rizomático, nãoestratificado.As teses <strong>de</strong> mestrado, doutorado, monografias que abor<strong>da</strong>m aspectos doacervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, ou <strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>dora, Dra. Nise <strong>da</strong>Silveira, ou <strong>de</strong> atores que <strong>de</strong>la participaram, suce<strong>de</strong>m-se. A <strong>de</strong>man<strong>da</strong> por essesconhecimentos reflete-se no interesse <strong>de</strong>spertado pelas exposições e cursos que o<strong>Museu</strong> tem realizado no Brasil e no exterior. A nova or<strong>de</strong>m psiquiátrica e as iniciativas<strong>de</strong> inclusão social resultantes do movimento <strong>da</strong> Luta Antimanicomial (Por umaSocie<strong>da</strong><strong>de</strong> sem Manicômios) vêm freqüentemente beber nessa fonte <strong>de</strong> inspiraçãotanto para a prática terapêutica, como para a formação <strong>de</strong> indivíduos e ci<strong>da</strong>dãos <strong>da</strong>mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>, incorporando saberes que dizem respeito diretamente ás suas vivênciasmais íntimas.É nesse universo que esta dissertação se insere, para tentar formalizar umaexpectativa <strong>de</strong> múltiplas abor<strong>da</strong>gens e diferentes formas <strong>de</strong> acesso ao acervo do<strong>Museu</strong> com seus objetos, documentos e saberes.Não se trata <strong>de</strong> propor gran<strong>de</strong>s construções teóricas vazias, mas sim<strong>de</strong> abor<strong>da</strong>r um caso empírico com a intenção <strong>de</strong> construir um mo<strong>de</strong>lo– que não tem a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se revestir <strong>de</strong> uma formamatemática ou formaliza<strong>da</strong> para ser rigoroso -, <strong>de</strong> ligar os <strong>da</strong>dospertinentes <strong>de</strong> tal modo que eles funcionem como um programa <strong>de</strong>pesquisas que põe questões sistemáticas, apropria<strong>da</strong>s a receberrespostas sistemáticas. Em resumo, trata-se <strong>de</strong> construir um sistemacoerente <strong>de</strong> relações, que <strong>de</strong>ve ser posto à prova como tal (Bordieu,2005, p. 32).Com o falecimento <strong>da</strong> Dra. Nise, em 1999, encerrou-se um ciclo na história do<strong>Museu</strong>. Também começou a mu<strong>da</strong>r o perfil dos pesquisadores que procuram ainstituição. Inicialmente composto <strong>de</strong> entusiastas com multidisciplinares formações,


6estes agora estão mais focados na produção acadêmica e agem <strong>de</strong> forma maisindividualiza<strong>da</strong>.Nos últimos anos, gran<strong>de</strong>s mu<strong>da</strong>nças ocorreram na área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental - oBrasil é um dos países na vanguar<strong>da</strong> <strong>de</strong>sse assunto - e também nas instituiçõesmuseológicas. Essas duas vertentes se avolumam nas preocupações <strong>da</strong> atual equipedo <strong>Museu</strong> quanto ao futuro <strong>da</strong> instituição, apontando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> novasiniciativas para integrá-lo ca<strong>da</strong> vez mais à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, para que o <strong>Museu</strong> possa<strong>de</strong>senvolver suas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mediação entre seu objeto principal – asimagens do inconsciente – e seu público-alvo – a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> humana.Nesse sentido, observamos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma maior visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> doconjunto <strong>de</strong> informações e saberes que foram produzidos sobre o acervo do <strong>Museu</strong>,que pela sua peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>man<strong>da</strong> uma organização própria, um arranjo que permitaao estudioso fazer as conexões necessárias para a apreensão <strong>da</strong>quilo que já foiproduzido, bem como abrir um leque para novas interfaces e estudos.Esse patrimônio imagético <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, que compõe-se <strong>de</strong> diversascoleções espalha<strong>da</strong>s pelo mundo, surgi<strong>da</strong>s em um ciclo <strong>de</strong>limitado <strong>da</strong> história ereuni<strong>da</strong>s por motivações diversas, tem no mo<strong>de</strong>sto museu brasileiro seu maior e maisdiferenciado representante. Nenhuma outra possui a dimensão e a riqueza <strong>de</strong> autorese assuntos, nenhuma trouxe tanto conteúdo representativo <strong>da</strong>s vivências especiais<strong>de</strong>sses seres que rotulamos como loucos, nem possuem organização tão peculiar.Dessa maneira, a importância <strong>de</strong>sses saberes, <strong>da</strong>s práticas que os produziram,dos fun<strong>da</strong>mentos teóricos e epistemológicos que o justificam, aumenta sobremaneira.Se aparentemente eles parecem <strong>de</strong>stinar-se inicialmente à área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental,posteriormente verifica-se que na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> trazem uma maior compreensão sobreprocessos e estruturas <strong>da</strong> psique humana, ou seja, pertencentes a todos osindivíduos.Sem diminuir sua importância para a compreensão do processo psicótico, ou<strong>da</strong> loucura como esse processo é mais conhecido coloquialmente, esta novadimensão para o entendimento <strong>de</strong> certas imaginações, acontecimentos psíquicos,produção <strong>de</strong> símbolos, que po<strong>de</strong>m ser acompanha<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> história <strong>da</strong>humani<strong>da</strong><strong>de</strong>, justifica a socialização <strong>de</strong>sses conhecimentos <strong>de</strong> uma forma maisenfática.Adotamos, nesta dissertação, uma pesquisa <strong>de</strong> natureza teórica e exploratória,com base em documentos, numa leitura transdisciplinar que entrecruza aspectoshistóricos, sociais, museológicos, informacionais e <strong>de</strong> patrimônio, na fronteira <strong>de</strong>Ciência e Arte e na perspectiva <strong>da</strong> socialização do conhecimento <strong>da</strong>s coleções


7plásticas e <strong>da</strong> produção científica do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, lócus <strong>da</strong>pesquisa.Da literatura estu<strong>da</strong><strong>da</strong>, a obra <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira é privilegia<strong>da</strong>, por tersido a criadora do MII. Pesquisadora incansável, no seu labor para fun<strong>da</strong>mentarcientificamente sua prática ela reuniu idéias advin<strong>da</strong>s <strong>de</strong> diversos campos do saber,numa prática <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>mente interdisciplinar. A questão mesma <strong>da</strong>s imagens e <strong>de</strong>seu estudo traz uma amálgama <strong>de</strong>sses campos: filosofia, psiquiatria, psicologia, arte eciência, num diálogo nem sempre concor<strong>da</strong>nte; essa interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> refletir-se-ána pesquisa, uma exigência básica para o assunto abor<strong>da</strong>do.A filosofia nos traz, através <strong>de</strong> Foucault, consi<strong>de</strong>rações sobre as relações entrea loucura e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal nos últimos séculos, que <strong>de</strong>ram origem ao hospitalpsiquiátrico; com Régis Debray temos o estudo, tão afim com o trabalho do MII, <strong>da</strong>imagem como mediadora: ambos os autores trabalham com o conceito <strong>de</strong> arché, quesegundo o próprio Debray (1993, p. 21) “significa, ao mesmo tempo, razão <strong>de</strong> ser ecomeço”.No campo <strong>da</strong> arte priorizamos as idéias <strong>da</strong>queles que tiveram estreito contatona constituição <strong>da</strong>s coleções estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s: Jean Dubuffet, o criador do conceito <strong>de</strong> ArtBrut e seu seguidor, Michel Thévoz; Edward A<strong>da</strong>mson, o primeiro artista a criar ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> arte-terapia. E no Brasil, a presença fun<strong>da</strong>mental do crítico <strong>de</strong> arte MárioPedrosa.No aspecto científico, <strong>de</strong>stacamos Hans Prinzhorn, Robert Volmat e OsórioCésar. Prinzhorn é uma referência nesse campo, por ser o pesquisador queconseguiu, no início do século XX, analisar sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> medicina,a coleção que leva o seu nome, uma vez que possuía formação nos dois campos.Brasileiro, Osório César, quase à mesma época e também com uma dupla formaçãosimilar, fez interessante trabalho <strong>de</strong> análise no campo. Já Volmat reuniu em Paris(1950) uma amostragem significativa do que existia na época em termos <strong>de</strong> obrasproduzi<strong>da</strong>s por pacientes psiquiátricos <strong>de</strong> vários países, criando <strong>de</strong>pois disso aSocie<strong>da</strong><strong>de</strong> Internacional <strong>de</strong> Psicopatologia <strong>da</strong> Expressão. E obviamente, Nise <strong>da</strong>Silveira. Estes três últimos autores têm seus principais trabalhos separados por 30anos ca<strong>da</strong>, mostrando assim um panorama significativo do pensamento do século XXsobre o assunto.Evi<strong>de</strong>ntemente, não se po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> citar as influências <strong>de</strong> Freud e Jung.Este último, personagem tão importante na história do pensamento <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveirae, por conseguinte, do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, teve seus conceitosteóricos amplamente adotados nas pesquisas realiza<strong>da</strong>s na instituição.


8No campo <strong>da</strong> museologia e do patrimônio, que são os temas transversais <strong>da</strong>dissertação, <strong>de</strong>stacamos os autores Tereza Scheiner (e o conceito <strong>de</strong> museu interior),e Jean Pierre Tru<strong>de</strong>l (e o conceito <strong>de</strong> museus fora <strong>da</strong>s normas); e documentos doICOM e ICOFOM-LAM, além <strong>de</strong> pesquisadores <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Museologia e <strong>da</strong> Ciência<strong>da</strong> Informação. Reconhecendo que as coleções <strong>da</strong> loucura ficam no limiar entre arte eciência, também incluímos consi<strong>de</strong>rações sobre informação em arte, especificamenteas que se referem aos museus <strong>de</strong> arte. Os capítulos finais trazem reflexões sobre aspotenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s do MII no âmbito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> contemporânea, e alguns possíveiscaminhos, pensados segundo uma perspectiva coerente com sua trajetória.Portanto, nossa pesquisa <strong>de</strong>senvolveu-se em duas etapas: uma investigaçãoteórica que incluiu a contextualização histórica, e outra empírica e exploratória,consistindo no levantamento e análise <strong>de</strong> documentos, artigos, teses e dissertaçõesexistentes no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente e no arquivo pessoal <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong>Silveira, sobretudo o “BENEDITO”, documento que será explicado posteriormente.Partindo <strong>de</strong>ssa metodologia, procuramos respostas para algumas questões:Qual a real dimensão <strong>da</strong> produção teórica sobre o acervo existente no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Imagens do Inconsciente? Afinal, porque <strong>de</strong>vemos conhecer esses conteúdos, paraque eles servem e que papel a Museologia tem nessa discussão? É possível conciliaros aspectos artísticos e científicos do acervo? Qual a importância e a razão para trazeresse patrimônio a um nível maior <strong>de</strong> visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e como utilizar as novas tecnologiaspara alcançar esse objetivo?Perguntas geram outras perguntas, dizia Foucault. Mas sempre será possívelencontrar algumas respostas.


92.OBJETIVOS


102. OBJETIVOS2.1 GeralAnalisar a constituição e a trajetória do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fun<strong>da</strong>mentação teórica que orientou a sua criação, a fim <strong>de</strong> repensá-lo comopatrimônio e em seu papel no mundo contemporâneo, nas interfaces <strong>da</strong>s imagenscria<strong>da</strong>s por psicóticos, Ciência e Arte, nos aspectos museológicos e naspotenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s tecnológicas para socialização e amplo acesso à informação e aoconhecimento <strong>da</strong> produção plástica e científica do seu acervo.2.2 Específicos1. Estu<strong>da</strong>r as idéias <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveira, expostas em sua obra e especialmenteno documento “Benedito”, e <strong>de</strong> outros pensadores que influenciaram naconcepção do MII;2. Analisar o contexto histórico e social na formação <strong>de</strong> coleções similares emoutros locais do mundo, traçando um breve panorama sobre as diferentesleituras <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> arte na musealização <strong>de</strong>ssas coleções, a fim <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificar convergências e divergências teóricas e práticas;3. Analisar a produção plástica e a produção científica resultante do estudo doacervo <strong>de</strong> obras plásticas do MII, a fim <strong>de</strong> propor diretrizes para uma re<strong>de</strong>interativa com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> socialização e amplo acesso ao conhecimento.


113.CRIADOR E CRIATURA


12Fig. 3. Nise <strong>da</strong> Silveira nasala <strong>de</strong> exposições <strong>da</strong> antigase<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagensdo InconscienteFoto: Arquivo do MII3. CRIADOR E CRIATURAA constituição do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente confun<strong>de</strong>-se com atrajetória <strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>dora, a Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira. De como uma mulher simples e<strong>de</strong>spoja<strong>da</strong>, como o atestam todos os <strong>de</strong>poimentos <strong>da</strong>s pessoas que com elaconviveram, encontrou um caminho que viria revolucionar não só as práticasterapêuticas <strong>de</strong> indivíduos portadores <strong>de</strong> sofrimento psíquico, mas também construirum arcabouço epistemológico para fun<strong>da</strong>mentar essas práticas. A constituição <strong>de</strong> umainstituição para abrigar e encaminhar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas e produção <strong>de</strong>conhecimentos foi um fator <strong>de</strong>cisivo para que a sedimentação <strong>de</strong>sses saberesacontecesse <strong>de</strong> forma sóli<strong>da</strong> e regular.O rigor científico com o qual Nise <strong>da</strong> Silveira conduziu seu trabalho foi exercidocom uma profun<strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> que permeia to<strong>da</strong>s as suas ações. Nesse sentido ocriador, a Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, e a criação, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente,comungam <strong>de</strong>sse espírito humanista, surpreen<strong>de</strong>ntemente nascido na ari<strong>de</strong>z dostristes lugares que formam um hospital psiquiátrico.


13Essa perspectiva humanista, que se insere na história brasileira em um período<strong>de</strong> afirmação e consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> sentimentos nacionalistas, indo <strong>da</strong> ditadura Vargas aorestabelecimento do estado <strong>de</strong> direito após a ditadura militar, feriu a atenção <strong>de</strong>intelectuais e artistas e propiciou a criação <strong>de</strong> núcleos <strong>de</strong> pesquisa, grupos <strong>de</strong>estudos, instituições terapêuticas. No primeiro caso, provocou a reformulação <strong>da</strong> visãosobre a loucura e a condição <strong>de</strong> exclusão social dos indivíduos rotulados comodoentes mentais em importante parcela <strong>de</strong> formadores <strong>de</strong> opinião <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>:Freqüentar o grupo <strong>de</strong> estudos Junguiano em sua casa [<strong>de</strong> Nise], nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, era um gran<strong>de</strong> acontecimento. Ali freqüentavampessoas afoitas para saber um pouco sobre os territórios<strong>de</strong>sconhecidos <strong>da</strong> psique humana. Vinham filósofos, matemáticos,sociólogos, psicólogos, senhoras perplexas e instiga<strong>da</strong>s pela fase <strong>de</strong>reflexão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, jovens estu<strong>da</strong>ntes hippies e artistas.É bom lembrar que vivíamos num período fechado, on<strong>de</strong> era proibi<strong>da</strong>a reunião <strong>de</strong> pessoas e a pobreza cultural era tenebrosa. Freqüentartambém o grupo <strong>de</strong> estudos <strong>da</strong>s terças-feiras na STOR [Seção <strong>de</strong>Terapêutica Ocupacional e Reabilitação, que abrigava o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Imagens do Inconsciente], do Centro Psiquiátrico Pedro II [antigonome do Instituto Municipal <strong>de</strong> Assistência à Saú<strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveiraao qual o <strong>Museu</strong> está administrativamente subordinado], juntamentecom a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhar os freqüentadores dos ateliês<strong>de</strong> pintura e outras artes, representou para mim uma experiênciaprofun<strong>da</strong>. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ali se cultivava o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro espíritouniversitário, on<strong>de</strong> a pulsão do saber estava dirigi<strong>da</strong> para uma ética<strong>da</strong> práxis (Pacelli, 2001, p. 59).As instituições que foram cria<strong>da</strong>s sob a inspiração <strong>de</strong>ssas idéias multiplicaramse.O reconhecimento <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> por esse trabalho veio através dos inúmerosprêmios, me<strong>da</strong>lhas e con<strong>de</strong>corações recebi<strong>da</strong>s por Nise <strong>da</strong> Silveira ao longo <strong>de</strong> suatrajetória.


143.1 – Nise <strong>da</strong> Silveira, uma psiquiatra rebel<strong>de</strong>A Dra. Nise é a mulher do século no Brasil, por ter nos<strong>da</strong>do uma visão mais humana e inovadora <strong>da</strong> loucura.Frei BettoNise <strong>da</strong> Silveira tem uma trajetória singular no campo <strong>da</strong> ciência e <strong>da</strong> culturabrasileiras. Nasci<strong>da</strong> em Alagoas, em 1905, filha do jornalista Faustino Magalhães <strong>da</strong>Silveira e <strong>da</strong> pianista Maria Lydia <strong>da</strong> Silveira, foi precocemente cursar Medicina naFacul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Bahia. Seu pai provi<strong>de</strong>nciou um documento alterando sua <strong>da</strong>ta <strong>de</strong>nascimento, para que ela pu<strong>de</strong>sse ser inscrita. Segundo ela própria narra ao poetaFerreira Gullar, “[...] não tinha nenhuma vocação para a Medicina. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> aescolha se <strong>de</strong>u por influência <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> rapazes, que estu<strong>da</strong>vam com meu pai, eque iam todos cursar Medicina, na Bahia. Assim, fomos em bando para Salvador”.(Gullar, 1996, p. 35). Logo após a formatura, o pai <strong>de</strong> Nise falece e ela vem residir noRio <strong>de</strong> Janeiro. Algum tempo <strong>de</strong>pois foi aprova<strong>da</strong> num concurso para médicapsiquiatra no Centro Psiquiátrico Nacional, àquela época ain<strong>da</strong> sediado na Urca (hojeum dos campi <strong>da</strong> UFRJ), on<strong>de</strong> passa a residir.Logo <strong>de</strong>pois, a perseguição aos intelectuais movi<strong>da</strong> pela ditadura Vargasacaba por alcançá-la: vítima <strong>da</strong> <strong>de</strong>núncia <strong>de</strong> uma enfermeira, que notificou aexistência <strong>de</strong> livros marxistas em seu quarto, Nise foi presa e leva<strong>da</strong> para o presídioFrei Caneca, on<strong>de</strong> permaneceu por quase dois anos.Na prisão, trava contato com outros intelectuais e militantes – Olga Benário,Maria Werneck, Elisa Berger, e com o escritor Graciliano Ramos, que <strong>de</strong>screve essaconvivência nas suas Memórias do Cárcere.Liberta<strong>da</strong>, mas sob a ameaça <strong>de</strong> voltar à prisão, Nise inicia uma peregrinaçãopelo Brasil, um auto-exílio do qual poucas informações existem. Sabe-se que elapassou pela Bahia, Pernambuco, Alagoas, Amazonas.Anistia<strong>da</strong>, retoma, em 1944, seu cargo <strong>de</strong> médica no hospício, que nesseínterim havia sido transferido para o subúrbio <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro. É nessa voltaque ela se <strong>de</strong>para com as últimas inovações no tratamento psiquiátrico – oeletrochoque, a insulinoterapia, a lobotomia. Nise <strong>de</strong>screve suas primeirasexperiências com esses métodos:Paramos diante <strong>da</strong> cama <strong>de</strong> um doente que estava ali para tomareletrochoque. O psiquiatra apertou o botão e o homem entrou emconvulsão. Quando o outro paciente ficou pronto para a aplicação dochoque, o médico me disse: - Aperte o botão. Eu respondi:- Nãoaperto! Aí começou a rebel<strong>de</strong>. (Gullar, 1996 p. 46, itálico no original)


15Essa rebeldia vai <strong>de</strong>saguar na adoção <strong>de</strong> um método consi<strong>de</strong>rado subalternono panteão médico: a terapêutica ocupacional. Ela propõe ao diretor do hospício <strong>da</strong>época a instalação <strong>de</strong> algumas oficinas, que logo vão se multiplicar <strong>da</strong>ndo origem àSeção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional. Estas oficinas abriram caminho para a expressão,para a criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não era um conjunto <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s para recreação ou passatempo,mas uma prática soli<strong>da</strong>mente fun<strong>da</strong>menta<strong>da</strong> nos estudos e conceitos teóricos <strong>da</strong>época, ou seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início a utilização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sempre teve para elapropósito terapêutico: “[...] as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocupacionais não constituem, do ponto <strong>de</strong>vista que adotamos, meios para „distrair os doentes‟, mas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iros agentesterapêuticos [...]” (Silveira, 1966, p. 53, aspas no original).Mas são os ateliês <strong>de</strong> pintura e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem que, instalados em pé <strong>de</strong>igual<strong>da</strong><strong>de</strong> com as <strong>de</strong>mais ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, irão se <strong>de</strong>stacar. O ateliê <strong>de</strong> pintura começou afuncionar a partir <strong>de</strong> uma parceria <strong>de</strong> Nise com o jovem artista Almir Mavignier. Desseencontro entre ciência e arte resultou a criação <strong>de</strong> um ambiente on<strong>de</strong> as obras aliproduzi<strong>da</strong>s logo chamaram a atenção pelo volume e pela quali<strong>da</strong><strong>de</strong>, assim como peloenvolvimento <strong>de</strong> seus participantes com a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Esses acontecimentos logo atraíram a atenção <strong>de</strong> diversos artistas e críticos,pessoas liga<strong>da</strong>s ao mundo <strong>da</strong> arte. Impressionado com o que via, Mavignier convi<strong>da</strong>Mário Pedrosa para conhecer os ateliês. Pedrosa logo convi<strong>da</strong> Leon Degand, primeirodiretor do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> São Paulo, para uma visita: o resultado <strong>de</strong>ssemovimento foi a exposição 9 Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro, realiza<strong>da</strong> no recéminaugurado MAM <strong>de</strong> São Paulo (1949). Depois essa exposição viria para o Rio <strong>de</strong>Janeiro, on<strong>de</strong> ficaria exposta no Salão Nobre <strong>da</strong> Câmara dos Vereadores (Silveira,1966, p. 117).É <strong>de</strong>ssa época a polêmica cria<strong>da</strong> sobre a existência ou não <strong>de</strong> valor artísticonessa produção. Defensores <strong>de</strong> ambos os lados escreveram ardorosamente nosjornais <strong>da</strong> época.Vários artistas vão visitar o ateliê <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro. Abraham Palatnik,Ivan Serpa, Djanira, Francisco Brennand, Lygia Pape, todos querem conhecerEmygdio <strong>de</strong> Barros, Raphael Domingues e Carlos Pertuis e seus trabalhossurpreen<strong>de</strong>ntes. Esses artistas <strong>de</strong>ixaram <strong>de</strong>poimentos on<strong>de</strong> narram a influência <strong>de</strong>ssecontato em suas obras (QUATERNIO, 2001; Silva, 2006).Em 1950, os ateliês <strong>da</strong> Seção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional contribuíram com98 obras para a exposição que fez parte <strong>da</strong> programação do I Congresso Internacional<strong>de</strong> Psiquiatria, reunido em Paris. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica internacional começa atomar conhecimento do trabalho <strong>de</strong>senvolvido no longínquo subúrbio carioca.


16Posteriormente o organizador <strong>da</strong> exposição, Dr. Robert Volmat, à época chefe <strong>da</strong>clínica psiquiátrica <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>de</strong> Paris, publicou o livro L’ArtPsycopathologique, on<strong>de</strong> as coleções expostas são <strong>de</strong>scritas e analisa<strong>da</strong>s.Em 1952 Nise fun<strong>da</strong> o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, do qual falaremosmais adiante. Quatro anos mais tar<strong>de</strong>, cria a Casa <strong>da</strong>s Palmeiras, primeira clínica emregime <strong>de</strong> externato do país, on<strong>de</strong> aplica os mesmos princípios terapêuticos<strong>de</strong>senvolvidos no Engenho <strong>de</strong> Dentro, mas agora sob o signo <strong>da</strong> liber<strong>da</strong><strong>de</strong>. Portas ejanelas sempre abertas, a Casa <strong>da</strong>s Palmeiras funciona até hoje e foi a inspiradorados atuais Centros <strong>de</strong> Atenção Psicossocial (CAPs) que se espalham pelo país,núcleos <strong>de</strong> tratamento que substituem, por força <strong>da</strong> Reforma Psiquiátrica em curso noBrasil, os antigos asilos públicos (Delgado, 1998).Nise também criou o Grupo <strong>de</strong> Estudos C. G. Jung (1955), que se reuniasemanalmente em sua residência, no bairro do Flamengo. De portas sempre abertas,ali circulavam[...] pessoas <strong>de</strong> profissões, credos, i<strong>da</strong><strong>de</strong>s, raças e culturasdiferentes. Artistas sentavam ao lado <strong>de</strong> médicos, estu<strong>da</strong>ntes,donas-<strong>de</strong>-casa e doentes mentais. Pessoas extremamente diversascompunham as equipes <strong>de</strong> estudo.[...] ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós ia construindo, aos poucos, um conhecimentosólido, uma maneira própria <strong>de</strong> pensar, confrontando-sepermanentemente com críticas e visões diferentes. [...] Enfrentei doiscursos universitários que, comparados à universi<strong>da</strong><strong>de</strong> livre cria<strong>da</strong>pela médica, me parecem hoje sombrios e <strong>de</strong>sinteressantes.(Ramos, 2000, p. 29, 30)Estimulados por Nise, muitos dos freqüentadores do Grupo <strong>de</strong> Estudos C. G.Jung iam até o Engenho <strong>de</strong> Dentro, conhecer o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente,seu acervo e os pintores <strong>de</strong> seu ateliê.3.2 - O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente - MIIAs mo<strong>de</strong>stas origens do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, inaugurado numapequena sala do hospício <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro, em 20 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1952, não<strong>de</strong>ixavam antever a trajetória <strong>de</strong> crescimento contínuo que ele passaria a ter <strong>de</strong>s<strong>de</strong>então. Quatro anos mais tar<strong>de</strong> o <strong>Museu</strong> seria transferido para um espaço mais amplo,on<strong>de</strong> também foram reuni<strong>da</strong>s várias oficinas <strong>da</strong> Terapêutica Ocupacional. A partir <strong>de</strong>então, <strong>Museu</strong> e oficinas não mais se separariam.


17O <strong>Museu</strong> foi criado não apenas com o objetivo <strong>de</strong> reunir coleções <strong>de</strong> obrasplásticas, mas <strong>de</strong> constituir-se em um centro <strong>de</strong> estudo e pesquisas. A sistematizaçãona organização <strong>da</strong> coleção possibilitou um aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>s pesquisas que a Dra.Nise e seus colaboradores já vinham realizando sobre diversos assuntos relativos àloucura e à sua terapêutica. Essas pesquisas levaram Nise ao encontro <strong>de</strong> CarlGustav Jung, e <strong>de</strong>sse encontro resultou um fecundo relacionamento que viria trazeruma base teórica consistente aos estudos por ela <strong>de</strong>senvolvidos, e uma projeçãointernacional para a coleção.Em 1957 o <strong>Museu</strong> participou do II Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria emZurique com a exposição A Esquizofrenia em Imagens, que foi inaugura<strong>da</strong> pelo próprioC. G. Jung. Ele admirou-se com algumas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s obras, fazendocomentários e reflexões.A partir <strong>de</strong> então, vários contatos entre a Dra. Nise e C. G. Jung suce<strong>de</strong>m-se,tendo a mestra posteriormente realizado estudos no Bild Archiv (arquivo <strong>de</strong> imagens)do Instituto C. G. Jung em Zurique, graças a uma bolsa <strong>de</strong> estudos <strong>da</strong> OrganizaçãoMundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.Fig. 4. Jung (à direita) e Nise(à esquer<strong>da</strong>), na inauguração<strong>da</strong> exposição A Esquizofreniaem ImagensFoto: Arquivo do <strong>Museu</strong>Em 1961 o Presi<strong>de</strong>nte Jânio Quadros assinou o <strong>de</strong>creto 51.169, que instituía aSeção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional e Reabilitação dirigi<strong>da</strong> por Nise <strong>da</strong> Silveira,atribuindo-lhe a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> “manter um <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> obras plásticas, que seráum centro <strong>de</strong> estudo e pesquisa” (Silveira, 1966, p. 99). Embora o <strong>de</strong>creto nunca tenhasido posto em prática, o <strong>Museu</strong> continuou a afirmar-se como um centro <strong>de</strong> estudos.Exposições sucessivas são realiza<strong>da</strong>s e focalizam estudos clínicos através <strong>da</strong> pinturae <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>lagem, que vão atraindo ca<strong>da</strong> vez mais interessados. (Silveira, 1966, p. 97).Em 1968 é criado o Grupo <strong>de</strong> Estudos do <strong>Museu</strong> que passa a ser um núcleo <strong>de</strong>efervescência cultural, freqüentado pela intelectuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> época. Artistas e


18personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> todos os matizes acorrem ao museu não mais apenas para admiraras obras, mas também para participar <strong>de</strong> um diálogo multifacetado, uma troca. Asexposições temáticas apresenta<strong>da</strong>s dão o tom, o leitmotiv para abor<strong>da</strong>genstransdisciplinares, com as quais jovens estu<strong>da</strong>ntes ou artistas consagradosapresentam trabalhos: poesia, música, teatro, literatura, psicologia – uma ebuliçãocultural sem similar na história carioca. É nesse clima que acontece a primeira leituradramática <strong>da</strong> tragédia As Bacantes, <strong>de</strong> Eurípe<strong>de</strong>s, realiza<strong>da</strong> no Brasil. Atores,técnicos, funcionários e clientes (Nise preferia chamar assim os freqüentadores <strong>da</strong>soficinas), misturaram-se para apresentar o gran<strong>de</strong> clássico <strong>da</strong> tragédia grega. (Amaral,2000, p. 89)Nos anos 70, o <strong>Museu</strong> consoli<strong>da</strong>-se <strong>de</strong>finitivamente como uma instituiçãopossuidora <strong>de</strong> um lugar muito especial no imaginário social. O recru<strong>de</strong>scimento <strong>da</strong>ditadura reflete-se no hospital psiquiátrico, e o <strong>Museu</strong> , com o apoio <strong>da</strong> imprensa e <strong>de</strong>setores esclarecidos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, resiste às pressões que quase resultaram no seufechamento. Esse movimento <strong>de</strong> resistência resulta, em 1974, na criação <strong>da</strong>Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente e inaugura um novo tempona história do <strong>Museu</strong>. A Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> passa a ser a principal articulação <strong>da</strong> instituiçãocom o mundo fora do hospital, e após a celebração <strong>de</strong> um convênio com a FINEP, em1979, recebe recursos financeiros para instalar o <strong>Museu</strong> em um novo prédio, dotandoo<strong>da</strong> estrutura física e funcional que ele mantém até hoje.Esse convênio permitiu a restauração <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte do acervo que seencontrava ameaçado, e <strong>de</strong>u um salto em sua organização, acondicionado-o <strong>de</strong>maneira mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> à sua preservação.Os anos seguintes viram a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s pesquisas realiza<strong>da</strong>s no <strong>Museu</strong>,através <strong>de</strong> documentários, filmes, exposições e dos livros publicados pela Dra. Nise.Suas exposições passaram a ser visita<strong>da</strong>s por um público ca<strong>da</strong> vez mais abrangente eos conhecimentos ali acumulados passam a <strong>de</strong>spertar o interesse <strong>de</strong> estudiosos <strong>de</strong>várias áreas do conhecimento: arte, psicologia, pe<strong>da</strong>gogia, antropologia. O <strong>Museu</strong>participa, como representante brasileiro, <strong>de</strong> diversos eventos no exterior – Portugal,Alemanha, Itália – nesta última, representando a Comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Países <strong>de</strong> LínguaPortuguesa nas comemorações dos 50 anos <strong>da</strong> ONU, em 1995. Segundo informou oatual diretor <strong>da</strong> instituição, Luiz Carlos Mello, essa representação foi <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> a partir<strong>de</strong> uma visita dos ministros <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses países ao <strong>Museu</strong>, uma vez que naqueleano a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> tinha como tema a Saú<strong>de</strong> Mental.Outra exposição <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o <strong>Museu</strong> foi sua participação naMostra do Re<strong>de</strong>scobrimento (2000), inicialmente no Pavilhão <strong>da</strong> Bienal <strong>de</strong> São Paulo,<strong>de</strong>pois no Rio (Paço Imperial e Centro Cultural dos Correios), São Luiz (MA –Convento


19<strong>da</strong>s Mercês) e Buenos Aires (Fun<strong>da</strong>ción Proa). Vista por mais <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong>pessoas, a mostra consolidou <strong>de</strong>finitivamente o lugar do <strong>Museu</strong> na história <strong>da</strong>s artesvisuais brasileiras. O módulo Imagens do Inconsciente, que reunia uma seleção <strong>de</strong>várias coleções brasileiras, tinha no <strong>Museu</strong> e no artista Arthur Bispo do Rosário seusexpoentes e foi consi<strong>de</strong>rado por público e crítica como um dos <strong>de</strong>staques <strong>da</strong> Mostra.É também em 2000 que acontece a municipalização <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> no Estado doRio <strong>de</strong> Janeiro, passando o Centro Psiquiátrico Pedro II, ao qual o <strong>Museu</strong> estavaintegrado, a chamar-se Instituto Municipal Nise <strong>da</strong> Silveira. Essa renomeação foi omarco <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconstrução do antigo hospício que, iniciado pelomovimento social que viria <strong>de</strong>nominar-se Luta Antimanicomial nos anos 80, vem<strong>de</strong>saguar na Reforma Psiquiátrica, que modifica to<strong>da</strong> a legislação e as práticasreferente aos tratamentos <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> transtornos psíquicos no país. Assementes lança<strong>da</strong>s por Nise, em 1946, e rega<strong>da</strong>s durante déca<strong>da</strong>s pela atuação do<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, <strong>de</strong>ram seus frutos (Oliveira, 2002).No âmbito <strong>de</strong>ssa “homenagem” 2 , foi <strong>de</strong>senvolvido um projeto para ampliação<strong>da</strong> se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong>, para possibilitar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> suas múltiplas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s:guar<strong>da</strong> a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do seu acervo (agora com o dobro <strong>de</strong> obras), galerias paraexposição, ateliês, café, loja, biblioteca. O projeto nunca saiu do papel. A redução nonúmero <strong>de</strong> funcionários, <strong>de</strong>vido a aposentadorias e transferências, forçou ofechamento <strong>de</strong> várias oficinas. A importância dos conhecimentos científicos e <strong>da</strong>terapêutica proposta pelo <strong>Museu</strong> continuou sem ressonância na área psiquiátrica,especialmente no âmbito oficial.Entretanto, o <strong>Museu</strong> vem participando ca<strong>da</strong> vez mais <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s na esferaacadêmica, on<strong>de</strong> seu trabalho é regularmente apresentado e <strong>de</strong>batido em cursos <strong>de</strong>pós –graduação <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong> psicologia e arte-terapia, com incursões também naárea <strong>da</strong>s artes plásticas.O acervo <strong>de</strong> obras, graças a uma seqüência <strong>de</strong> projetos celebrados entre aSocie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong> e enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s públicas e priva<strong>da</strong>s, está bem protegido esua organização vem se <strong>de</strong>senvolvendo continuamente. O <strong>Museu</strong> conta ain<strong>da</strong> comuma biblioteca que inclui aquela que pertenceu à Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, documentos <strong>de</strong>seu arquivo pessoal, teses e monografias, acervo <strong>de</strong> fotografias históricas,reportagens e matérias publica<strong>da</strong>s na imprensa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua fun<strong>da</strong>ção, revistas edita<strong>da</strong>spelo Grupo <strong>de</strong> Estudos, ví<strong>de</strong>os e filmes que documentam diferentes acontecimentos<strong>de</strong> sua história. Possui um importante conjunto <strong>de</strong> 15 documentários científicos, ain<strong>da</strong>2Segundo o fotógrafo Sebastião Barbosa (2000, p. 167) Nise corroborava a frase do compositor Cartola:“Se quiserem me homenagear, que me homenageiem em vi<strong>da</strong>...”


20sob forma <strong>de</strong> diapositivos, esperando recursos para sua transformação em outro tipo<strong>de</strong> mídia que permita sua divulgação.Em 2003, as principais coleções <strong>de</strong> obras plásticas do <strong>Museu</strong> foram tomba<strong>da</strong>spelo IPHAN, por unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seus conselheiros.Vinculado aos ateliês, o acervo do <strong>Museu</strong> recebe a ca<strong>da</strong> dia novos documentosplásticos, não cessa <strong>de</strong> crescer. O último levantamento revelou a existência <strong>de</strong> mais<strong>de</strong> 352 mil obras em seu acervo, volume que o torna na maior e mais diferencia<strong>da</strong>coleção do gênero, no mundo.Os conhecimentos gerados em torno <strong>de</strong>sse acervo, revelando aspectos emtemas ain<strong>da</strong> tão obscuros para a ciência, as características interdisciplinares <strong>de</strong>ssessaberes, a gran<strong>de</strong> lacuna existente no meio acadêmico sobre esses assuntos e anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma mu<strong>da</strong>nça no imaginário social sobre o louco e a loucura, aimportância <strong>de</strong>sses assuntos para a compreensão do ser humano como um todo,tornam ain<strong>da</strong> mais instigantes os <strong>de</strong>safios que essa instituição <strong>de</strong>ve enfrentar paracumprir o lugar que lhe cabe como patrimônio <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.


214.AS COLEÇÕES DA LOUCURA


22Fig. 5: Sem TítuloOctávio IgnácioLápis <strong>de</strong> cor s/ papelAcervo do MII4. AS COLEÇÕES DA LOUCURAÉ no recinto do hospital psiquiátrico que se originarão as coleções <strong>da</strong> loucura.Este será o lócus para on<strong>de</strong> irão confluir as experiências vivenciais dos excluídos <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> sob o estigma <strong>da</strong> loucura. Assim, buscaremos traçar uma síntese <strong>da</strong>construção <strong>de</strong>sse estatuto <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> que Foucault abordou <strong>de</strong> forma tão extensivaem seu livro História <strong>da</strong> Loucura na i<strong>da</strong><strong>de</strong> clássica, que é hoje uma referência paratodo estudioso do assunto. Esse texto servirá <strong>de</strong> base para alinhar algumasconsi<strong>de</strong>rações sobre a constituição <strong>de</strong>sses espaços, mistos <strong>de</strong> repressão etratamento, cujo ambiente opressor é consi<strong>de</strong>rado um dos fatores que influenciaramno surgimento <strong>da</strong>s expressões imagéticas dos indivíduos con<strong>de</strong>nados ao asilamentonesses locais, expressões essas que são, no fundo, o tema central <strong>de</strong>sta dissertação.


234.1 Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e loucura: o estatuto <strong>da</strong> alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>No século XV, enquanto a loucura ocupava progressivamente o lugar <strong>de</strong>segregação anteriormente <strong>de</strong>stinado à lepra, indivíduos consi<strong>de</strong>rados loucos eramconfiados aos marinheiros, para serem levados a algum porto distante. Não se sabeao certo como esse costume começou, mas não é difícil imaginar a possível seqüência<strong>de</strong> viagens marítimas ou fluviais <strong>de</strong>sses indivíduos, segui<strong>da</strong>mente repudiados. Ou,como no dizer <strong>de</strong> Foucault (1978, p. 12), tornando-os prisioneiros <strong>de</strong> sua própriaparti<strong>da</strong>. Esse fato insólito <strong>de</strong>spertou a imaginação <strong>de</strong> artistas e escritores naRenascença, on<strong>de</strong> encontramos os exemplos clássicos <strong>da</strong> Nau dos Loucos <strong>de</strong> Bosch,na pintura, e a não menos clássica Stultiferae naviculae <strong>de</strong> Josse Ba<strong>de</strong>, ou A Navedos Loucos, <strong>de</strong> Sebastian Brant, na literatura. Este tema, ain<strong>da</strong> segundo Foucault,assombrará to<strong>da</strong> a primeira fase <strong>da</strong> Renascença. A loucura, nesse contexto, reúne umconteúdo imaginário que simboliza a inquietação cultural <strong>da</strong> Europa no final <strong>da</strong> I<strong>da</strong><strong>de</strong>Média, associando-a a transcendências imaginárias, a uma escatologia, aos limitesextremos – o fim dos tempos, a morte, o território do <strong>de</strong>satino.Nessa época já existam alguns locais <strong>de</strong>stinados ao isolamento <strong>de</strong> indivíduosconsi<strong>de</strong>rados loucos - castelos, torres e até mesmo prisões, o interdito <strong>da</strong> loucurasendo exercido <strong>de</strong> formas varia<strong>da</strong>s e até contraditórias. Aparentemente, foi o mundoárabe que primeiro construiu hospitais reservados a loucos: há indícios <strong>de</strong> suaexistência em Fez, já no século VII, e em Bagdá no final do século XII, ecomprova<strong>da</strong>mente no Cairo no Século XII 3 . Em meados do século XV, inicia-se aconstrução <strong>de</strong> hospitais para loucos na Espanha, por religiosos que tinhamfamiliari<strong>da</strong><strong>de</strong> com o mundo árabe: Valência, Saragoza, Sevilha, Toledo, Valladolid. Porto<strong>da</strong> parte, na Europa, surgem instituições similares: Pádua, Bérgamo, Bethlem(Londres), Nuremberg, Frankfurt [...] (Foucault, 1978, p. 120).Essa separação dos loucos era motiva<strong>da</strong> pela intenção <strong>de</strong> tratamento; se nomundo árabe praticava-se “uma espécie <strong>de</strong> cura <strong>da</strong> alma na qual intervêm a música, a<strong>da</strong>nça, os espetáculos e a audição <strong>de</strong> narrativas fabulosas”, e na Espanha (Saragoza)as portas estavam abertas aos “doentes <strong>de</strong> todos os países, <strong>de</strong> todos os governos, <strong>de</strong>todos os cultos” para uma vi<strong>da</strong> regula<strong>da</strong> pela sabedoria dos jardins, <strong>da</strong>s vindimas, <strong>da</strong>colheita; em Londres uma recomen<strong>da</strong>ção do Dr. T. Monro dizia que os doentes<strong>de</strong>veriam ser3 Foucault baseia-se no artigo “The Cairo lunatic asylum”, publicado no Journal of Mental Science, XXIV,<strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> F. M. Sandwith. Segundo o British Journal of Medicine, Sandwith foi um médico cirurgiãoinglês que trabalhou no Hospital Kasr-el-any do Cairo, na vira<strong>da</strong> do século XX. (Cf.http://www.pubmedcentral.nih.gov/pageren<strong>de</strong>r.fcgi?artid=2340072&pagein<strong>de</strong>x=1)


24sangrados o mais tar<strong>da</strong>r até o fim do mês <strong>de</strong> maio, conforme otempo que fizer; após a sangria, <strong>de</strong>vem tomar vomitórios uma vezpor semana, durante um certo número <strong>de</strong> semanas. Após o que, ospurgamos. Isso foi praticado durante anos antes <strong>de</strong> mim, e me foitransmitido por meu pai; não conheço prática melhor (Tuke apudFoucault, 1978, p. 118).Mas é com a concepção segundo a qual os pobres e indigentes precisam docui<strong>da</strong>do público, que começam a ser instituídos os Hospitais Gerais, on<strong>de</strong> o estatuto<strong>da</strong> internação vai atingir não apenas os „loucos‟, „insanos‟, ou „<strong>de</strong>mentes‟, mas tambémtodo tipo <strong>de</strong> <strong>de</strong>vassos, libertinos, blasfemos, dissipadores. Já em 1575 a RainhaElizabeh I <strong>da</strong> Inglaterra prescrevera a construção <strong>de</strong> “houses of correction”, “parapunição dos vagabundos e alívio dos pobres”, recomen<strong>da</strong>ndo a existência <strong>de</strong> pelomenos uma por con<strong>da</strong>do. A experiência francesa tem seu marco no <strong>de</strong>creto real <strong>de</strong>1656 que criou, em Paris, o Hospital Geral; vinte anos após, um édito real <strong>de</strong>termina oestabelecimento <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les em “ca<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do reino”. O Hospital seria inicialmente<strong>de</strong>stinado aos pobres “<strong>de</strong> todos os sexos, lugares e i<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong> qualquer quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>nascimento, e seja qual for a sua condição, válidos ou inválidos, doentes ouconvalescentes, curáveis ou incuráveis” 4 (Foucault, 1978, p. 49).“Em seu funcionamento, ou em seus propósitos, o Hospital Geral não seassemelha a nenhuma idéia médica. É uma instância <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m, <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m monárquicae burguesa [...]” (Foucault, 1978, p. 50). Essa mistura <strong>de</strong> assistência e repressão vaiprogressivamente privilegiando esta última, com significações políticas, religiosas,econômicas, sociais e morais. Ampliando seus domínios, essa população vai semultiplicar. Pouco tempo <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> inaugurado, o Hospital Geral <strong>de</strong> Paris abrigava6000 internos (Foucault, 1978, p. 55).Isso porque, segundo Foucault (1978, p. 66), o internamento na Europa tem omesmo sentido: <strong>da</strong>r uma resposta à crise econômica que afetava o mundo oci<strong>de</strong>ntalem sua totali<strong>da</strong><strong>de</strong>: “diminuição <strong>de</strong> salários, <strong>de</strong>semprego, escassez <strong>de</strong> moe<strong>da</strong>,<strong>de</strong>vendo-se este conjunto <strong>de</strong> fatos muito provavelmente, a uma crise na economiaespanhola”. Ele cita o estudo do economista e historiador norte americano EarlJefferson Hamilton, segundo o qual as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> Europa nesse período se<strong>de</strong>viam a uma para<strong>da</strong> na produção <strong>da</strong>s minas <strong>da</strong>s Américas 5 .4 Foucault está citando aqui o Artigo XI do Decreto Real que instituiu o Hospital Geral <strong>de</strong> Paris.5 American Treasure and the price revolution in Spain, 1934. Hamilton lecionou na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Chicago, foi editor do Journal of Political Economy <strong>de</strong> 1948 a 1954. Ver. Acesso em: set. 2008.


25Assim, muitas <strong>de</strong>ssas casas passaram a empregar essa mão <strong>de</strong> obra baratapara minimizar os efeitos <strong>da</strong> recessão econômica. Criaram-se as workhouses, emespecial na Alemanha e Inglaterra, gerando <strong>de</strong>scontentamento na indústria pelaconcorrência <strong>de</strong>sleal, embora muitas <strong>de</strong>las se utilizassem <strong>da</strong> mão <strong>de</strong> obra dos asilos.(Foucault, 1978, p.67-69). O internamento passa a <strong>de</strong>sempenhar um duplo papel:“reabsorver o <strong>de</strong>semprego ou pelo menos ocultar seus efeitos sociais mais visíveis, econtrolar os preços quando ameaçam ficar muito altos” (Foucault, 1978, p. 70).Foucault afirma que as novas significações <strong>da</strong><strong>da</strong>s à pobreza – “não são pobresapenas aqueles que não têm dinheiro, mas todo aquele que não tem a força do corpo,ou a saú<strong>de</strong>, ou o espírito e o juízo” – a importância <strong>da</strong><strong>da</strong> à obrigação do trabalho etodos os valores éticos a ele ligados modificam o sentido <strong>da</strong> loucura. Se naRenascença ela aparecia à luz do dia – Rei Lear, Don Quixote, agora ela se vê“reclusa e, na fortaleza do internamento, liga<strong>da</strong> à Razão, às regras <strong>da</strong> moral e a suasnoites monótonas” (Foucault, 1978, p. 78).4.1.1 O nascimento do asiloSe o século XVII é o período do gran<strong>de</strong> internamento, o século XVIII verá, emseus meados, o início <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> espaços reservados exclusivamente para ointernamento <strong>de</strong> loucos. Inicialmente são pensões, casas – em Paris eram chama<strong>da</strong>s<strong>de</strong> Petites-Maisons, com algumas <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> internados. Logo esse fenômeno seespalhará pela Europa Oci<strong>de</strong>ntal, revelando o início <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> reformashumanas (THE UNIVERSTITY OF LIVERPOOL, sítio). Foucault (1978, p. 384) afirmaque os primeiros textos que exigem um estatuto médico para os loucos, um esforçoteórico para consi<strong>de</strong>rá-los como doentes, acontece logo após. Mas contesta essas„reformas humanas‟ afirmando que as condições jurídicas do internamento nãomu<strong>da</strong>ram, sendo o espírito <strong>de</strong>ssa renovação apenas a segregação espacial,<strong>de</strong>terminando e isolando asilos especialmente <strong>de</strong>stinados à loucura.A loucura encontrou uma pátria que lhe é própria: <strong>de</strong>slocação poucoperceptível, tanto o novo internamento permanece fiel ao antigo, masque indica que alguma coisa <strong>de</strong> essencial está acontecendo, algoque isola a loucura e começa a torná-la autônoma em relação ao<strong>de</strong>satino com o qual ela estava confusamente mistura<strong>da</strong> (Foucault,1978, p. 384).Ao aproximar-se o final do século, acontece um fato sincrônico, que éconhecido como a „libertação dos loucos‟: as reformas empreendi<strong>da</strong>s por Samuel


26Tuke 6 , na Inglaterra, e Phillipe Pinel 7 , na França. Embora tenham naturezas diferentes,essa sincronici<strong>da</strong><strong>de</strong> chama a atenção, pois irá mu<strong>da</strong>r a face <strong>da</strong> psiquiatria e<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar um processo que chegará até nossos dias. Se Tuke introduz aprivatização <strong>da</strong> assistência, partindo <strong>de</strong> uma reorganização na legislação inglesa,Pinel estabelece <strong>de</strong>finitivamente a avaliação médica para assegurar as dimensões <strong>da</strong>loucura; refutando esse papel „libertador‟. Foucault (1978, 466), afirma ser over<strong>da</strong><strong>de</strong>iro sentido <strong>de</strong>ssa libertação “a aplicação pura e simples <strong>da</strong>s idéias que jáhaviam sido formula<strong>da</strong>s vários anos antes, e que faziam parte <strong>de</strong>sses programas <strong>de</strong>reorganização [...]. Tirar as correntes dos alienados presos nas celas é abrir-lhes odomínio <strong>de</strong> uma liber<strong>da</strong><strong>de</strong> que será ao mesmo tempo o <strong>de</strong> uma verificação [...]; éconstituir um campo asilar puro”.O mo<strong>de</strong>lo inglês prevê a instituição dos Retiros, lugares afastados <strong>da</strong> poluição<strong>da</strong>s ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s, on<strong>de</strong> a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> do louco com a natureza aju<strong>da</strong>ria a eliminar asperturbações do espírito causa<strong>da</strong>s pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uma segregação moral e religiosa,influencia<strong>da</strong> pela Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos Quacres, à qual pertencia Tuke. Já em Pinel opositivismo vem <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> uniformização étnica: ao libertar os acorrentados, os„injustiçados‟, cria paradoxalmente em torno <strong>da</strong> loucura um lugar on<strong>de</strong> as diferençasserão reduzi<strong>da</strong>s, “um instrumento <strong>de</strong> uniformização moral e <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia social”(Foucault, 1978, p. 488).Se anteriormente o espetáculo era o <strong>da</strong> loucura, agora é o próprio louco queassume o papel principal, a coação física substituí<strong>da</strong> por uma liber<strong>da</strong><strong>de</strong> que é limita<strong>da</strong>pela solidão. O diálogo entre a razão e a loucura <strong>de</strong>sfaz-se, [...] o silêncio é absoluto,não mais existe entre a loucura e a razão uma língua comum. A ausência <strong>da</strong>linguagem vai ser a estrutura fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> no asilo (Foucault, 1978, p. 491).A observância <strong>da</strong>s condutas morais vai sendo substituí<strong>da</strong> pela práticapsiquiátrica, o estudo <strong>da</strong>s „doenças <strong>da</strong> cabeça‟ adquire uma autonomia inexistenteanteriormente na ciência oci<strong>de</strong>ntal. A loucura passa <strong>de</strong>finitivamente para o estatuto <strong>de</strong>doença mental. Foucault (1978, p. 500) afirma que “à medi<strong>da</strong> que o positivismo seimpõe à medicina e à psiquiatria, singularmente essa prática torna-se mais obscura”.“O que se chama <strong>de</strong> prática psiquiátrica é uma certa tática moral, contemporânea dofim do século XVIII, conserva<strong>da</strong> nos ritos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> asilar e recoberta pelos mitos dopositivismo” (Foucault, 1978, p. 501).O século XIX caracterizou-se pelos esforços <strong>de</strong> inserir a loucura no mo<strong>de</strong>lomédico, classificando formas clínicas e <strong>de</strong>screvendo-as minuciosamente (Silveira,6 Samuel Tuke (1784 – 1857) foi um comerciante <strong>de</strong> chá que dirigiu o York Asylum <strong>da</strong> Inglaterra, um dosprecursores do „tratamento moral‟ para os doentes mentais.7 Phillipe Pinel (1745 – 1826), médico francês que chefiou os serviços dos famosos hospitais parisienses<strong>de</strong> Bicêtre e Salpetrière


271981, p. 104). A vigilância e o julgamento serão os personagens essenciais do asilo noséculo XIX. (Foucault, 1978, p. 482). Aquilo que era reprovação vira julgamento, aciência <strong>da</strong>s doenças mentais não será diálogo, e sim observação e classificação. Ojulgamento é imediato, pelo estatuto médico, ao qual não cabe recurso. Sua justiça iráinventar os próprios métodos <strong>de</strong> repressão.Acredita-se que Tuke e Pinel abriram o asilo ao conhecimentomédico. Não introduziram uma ciência, mas uma personagem, cujospo<strong>de</strong>res atribuíam a esse saber apenas um disfarce ou, no máximo,sua justificativa. Esses po<strong>de</strong>res, por natureza, são <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral esocial; [...] Se a personagem do médico po<strong>de</strong> <strong>de</strong>limitar a loucura, nãoé porque a conhece, é porque a domina [...] (Foucault, 1978, p. 498).Assim, tem-se completado o quadro do qual irão surgir, do interior <strong>de</strong>ssesilêncio absoluto, <strong>de</strong>ssa ausência <strong>de</strong> linguagem, as imagens e formas plasma<strong>da</strong>spelos agora „doentes mentais‟. Veremos os contextos culturais que cercaram oaparecimento <strong>de</strong>ssa produção, sua instância como patrimônio, sua musealização.4.2 O Patrimônio e as coleções <strong>da</strong> loucuraComo já nos referimos na introdução <strong>de</strong>ssa pesquisa, em 2003, o Instituto doPatrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) tombou, por unanimi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seusconselheiros, um conjunto <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 128 mil obras pertencentes ao <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Imagens do Inconsciente. Esta <strong>de</strong>cisão acatou pleito <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, na época dirigi<strong>da</strong> pelo pesquisador Humberto Franceschi(IPHAN, 2004) 8 .O fato <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> obras plásticas produzi<strong>da</strong>s por indivíduos em suamaioria resi<strong>de</strong>ntes em um hospício público <strong>de</strong> um subúrbio do Rio <strong>de</strong> Janeiro, pelaprimeira vez fazer parte <strong>de</strong> uma lista oficial <strong>de</strong> patrimônio é um reconhecimento <strong>da</strong>importância adquiri<strong>da</strong> por esse tipo <strong>de</strong> acervo. O interesse por esta produção vemcrescendo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras iniciativas nesse sentido, que remontam há quase doisséculos.8 Anteriormente o acervo já havia sido tombado em nível municipal.


284.2.1 O interesse pela diferença: as raízes românticasMédicos e/ou artistas – estes são os dois principais atores no colecionismo <strong>de</strong>criações plásticas <strong>de</strong> indivíduos marginalizados pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, em especial osportadores <strong>de</strong> sofrimento psíquico, os chamados „loucos‟, isolados <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mun<strong>da</strong>napor não po<strong>de</strong>rem mais, segundo a or<strong>de</strong>m psiquiátrica, conviver coma família e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nas instituições psiquiátricas do mundointeiro são rotulados como seres embrutecidos e absurdos. Apesar<strong>de</strong>sta trágica concepção, <strong>de</strong>ste abismo criado pela ciência, surgemdo mais profundo <strong>da</strong> alma, imagens, as mais inusita<strong>da</strong>s e belas(Mello, 2000).A produção <strong>de</strong>sses indivíduos chama a atenção pela sua singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, o quelhe confere uma certa „autentici<strong>da</strong><strong>de</strong>‟. A noção <strong>de</strong> autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> que enten<strong>de</strong>mos aquié aquela <strong>de</strong>scrita por Trilling (apud Gonçalves, J. 1988, p. 2) segundo a qual ela po<strong>de</strong>ser aplicável a objetos ou pessoas etem a ver não com o modo como apresentamos nosso self ao outroem nossas interações sociais, mas sim com o que ele realmente é,ou o que realmente somos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos papéis que<strong>de</strong>sempenhemos e <strong>de</strong> nossas relações com o outro (1972: 106-133).[...] Autentici<strong>da</strong><strong>de</strong> é a expressão <strong>de</strong>sse self <strong>de</strong>finido como umauni<strong>da</strong><strong>de</strong> livre e autônoma em relação a to<strong>da</strong> e qualquer totali<strong>da</strong><strong>de</strong>cósmica ou social.Ou ain<strong>da</strong>, essa produção é um tipo <strong>de</strong> arte que “se <strong>de</strong>fine pela originali<strong>da</strong><strong>de</strong> epela individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> irredutível dos diferentes autores” (Thévoz, 1975, p. 9). Volmat(1956, p. 139) também afirma que a individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> e o polimorfismosão as três noções que se <strong>de</strong>preen<strong>de</strong> do „<strong>de</strong>senho psicótico‟. Já o médico e dublê <strong>de</strong>historiador <strong>da</strong> arte Prinzhorn, à procura <strong>de</strong> uma arte „autêntica‟, encontra como saí<strong>da</strong> aconstrução do mo<strong>de</strong>lo „artista doente mental isolado do mundo por sua doença‟(Brand, 1995, p. 28).Assim o colecionismo <strong>de</strong>ssas obras, esses dois olhares – dos médicos .e dosartistas – confinam com o nascimento do individualismo mo<strong>de</strong>rno on<strong>de</strong>os dois rostos começaram a adquirir contornos ten<strong>de</strong>ndo a umaconcretização social: no conjunto <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> produtiva, passou ahaver lugar para ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s individualiza<strong>da</strong>s, como a do cientista e ado pintor, freqüentemente aproximados pelo colecionador (Janeira,2005, p. 27, grifo nosso)


29Segundo Duarte (2004), este individualismo nasce <strong>de</strong> um movimento <strong>de</strong> reaçãoao universalismo, cujas raízes estariam no pensamento romântico. O universalismoestá fortemente ligado aos processos <strong>de</strong> criação (ou invenção) <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>snações mo<strong>de</strong>rnas, especialmente a França e os Estados Unidos.“Esse individualismo nietzcheano, que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> filosoficamente o direito <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> um exprimir seu ponto <strong>de</strong> vista, influencia <strong>de</strong> forma direta o comportamento <strong>da</strong>svanguar<strong>da</strong>s ao longo do séc. XX” (Scheiner, 1996, p. 274). A representação <strong>da</strong>ver<strong>da</strong><strong>de</strong> pela arte não se dá mais pela idéia do belo “mas pela constatação <strong>da</strong>diferença – refletindo a crença num universo on<strong>de</strong> é possível admitir (até do ponto <strong>de</strong>vista científico) a <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m e o caos” (Scheiner, 1996, p. 274).Mello (2000) assinala que “no final do Séc. 18, as influências do romantismoabriram uma pequena fresta para uma visão mais favorável <strong>da</strong> loucura: o<strong>de</strong>scobrimento <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> criativa dos indivíduos internados em asilos, através <strong>de</strong>suas produções expressivas”.O movimento romântico do século 19 <strong>de</strong>sempenhou um papelimportante e exerceu enorme influência na reorientação <strong>da</strong>s opiniõessobre os doentes mentais. Ele não atingiu apenas a arte, masinfluenciou igualmente as metodologias <strong>da</strong> filosofia, dos homenscientíficos e dos psiquiatras, <strong>de</strong>ixando seus rastros até nossos dias.[...] a tendência manifesta<strong>da</strong> pelo romantismo para uma introspecçãocompleta e um individualismo perfeito, eleva o insano à categoria doherói, em comunicação com uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong> mais viva e maisautêntica, que serve para ressaltar o caráter epistêmico <strong>da</strong>imaginação (Douglas 1995, 62, tradução nossa).Anteriormente, vimos como Foucault <strong>de</strong>clara a ausência <strong>da</strong> linguagem como aestrutura central do asilo. Segundo ele, no início do século XIX dá-se oreaparecimento <strong>da</strong> loucura no domínio <strong>da</strong> linguagem. Relacionando a linguagem <strong>da</strong>loucura e a poesia romântica ele diz:Aquilo que a loucura diz <strong>de</strong> si mesma é, para o pensamento e apoesia do começo do século XIX, igualmente aquilo que o sonho dizna <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m <strong>de</strong> suas imagens: uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> do homem, bastantearcaica e bem próxima, silenciosa e ameaçadora: uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>abaixo <strong>de</strong> to<strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, a mais próxima do nascimento <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> (...) uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que é a retira<strong>da</strong> profun<strong>da</strong> <strong>da</strong>individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> do homem (...) (1978, p. 510).É <strong>de</strong>ssa profun<strong>da</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong> que vão emergir, dos porões dos asilos, ascriações que vão compor as coleções <strong>da</strong> loucura.


304.2.2 Um patrimônio emergenteA ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do colecionismo possibilitou ao homem “reconstruir um passado emque sequer o homem vivia nele” (Cuvier apud Menegat, 2005, p. 6). Ao lado dosachados fósseis e arqueológicos, ou mesmo do exotismo dos artefatos d‟além mar, aprodução <strong>de</strong> seres humanos que parecem ter como característica peculiar apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> extrair representações <strong>de</strong> regiões psíquicas profun<strong>da</strong>s, começa noinício do Séc. XIX, para atingir maiores proporções em meados do Séc. XX. O advento<strong>da</strong> psicanálise e <strong>da</strong> psicologia analítica veio trazer fun<strong>da</strong>mento epistemológico parauma tentativa <strong>de</strong> compreensão <strong>de</strong> uma arqueologia <strong>da</strong> imagem, assim como aquelesprimeiros achados <strong>da</strong> arqueologia propriamente dita, em busca <strong>de</strong> reconstruir umpassado <strong>de</strong> continua<strong>da</strong> evolução, “que insere o humano na imensidão não apenas doespaço, como também do tempo profundo” (Menegat, 2005, p. 6).Espaço imenso, tempo profundo: “é exatamente no cruzamento entre o tempoe o espaço qualificados que se institui a percepção do patrimônio” (Scheiner, 2004, p.35). É no movimento dialético entre a tradição e a ruptura, que, no âmbito <strong>da</strong>s teoriasdo patrimônio cultural se dá a criação (Scheiner, 2004, p. 42) 9 .Ora, a expressão subjetiva <strong>de</strong>ssa produção, inicialmente configura<strong>da</strong> por umanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, uma pulsão para expressão que ultrapassava to<strong>da</strong>s as carências <strong>de</strong>meios e matérias – os <strong>de</strong>senhos e pinturas inicialmente recolhidos nos hospícios eramfeitos em papéis recolhidos nas cestas <strong>de</strong> lixo, em envelopes <strong>de</strong>sdobrados,mo<strong>de</strong>lagens feitas com miolo <strong>de</strong> pão ou sucata <strong>de</strong> oficinas diversas – e aquelasposteriormente <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s nos ateliês <strong>de</strong> terapia ocupacional ou <strong>de</strong> artes livres,conforme o caso - trouxeram, em gran<strong>de</strong> parte, conteúdos que só po<strong>de</strong>m serapreendidos através <strong>da</strong> construção <strong>de</strong> uma linguagem simbólica, prenhe <strong>de</strong>significações mitológicas.Muitas coisas estão aí amalgama<strong>da</strong>s: o sonho e a razão, a busca <strong>da</strong> origem, amediação, a representação do impronunciável, as matrizes <strong>de</strong> uma „memória coletiva‟como o inconsciente <strong>de</strong> Jung ou os campos morfogenéticos <strong>de</strong> Sheldrake (Scheiner,2004, p. 42). A comunicação com o divino, o sagrado, os rituais, os mitos, traduzidosem imagens muitas vezes inusita<strong>da</strong>s ou impressionantes estão presentes em gran<strong>de</strong>parte <strong>de</strong>ssas obras. Muitos <strong>de</strong>sses conteúdos trazem a evidência <strong>de</strong> sua origem nãona consciência, mas em outros estratos <strong>da</strong> psique humana: o inconsciente. SegundoJung “o inconsciente é uma parte <strong>da</strong> natureza, é algo objetivo, real, genuíno. Os9 A autora reporta-se a René Guénon (La Règne <strong>de</strong> la Quantité et lês Signes du Temps) segundo o qual aver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira representação do tempo seria ofereci<strong>da</strong> pela Tradição, cuja concepção <strong>de</strong> ciclos remete a umtempo “qualificado”, diferenciando-o <strong>da</strong> concepção cronológica <strong>de</strong> tempo, <strong>de</strong> algo que se <strong>de</strong>senrolauniformemente sobre uma linha.


31produtos <strong>de</strong> sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> merecem o maior crédito, pois são „manifestaçõesespontâneas <strong>de</strong> uma esfera psíquica não controla<strong>da</strong> pelo consciente, livre em suasformas <strong>de</strong> expressão‟” (Silveira, 1992, p. 158, aspas <strong>da</strong> autora).Se “to<strong>da</strong> experiência artística é também patrimonial, na medi<strong>da</strong> em que revelaum sentimento fun<strong>da</strong>mental <strong>de</strong> pertença: o <strong>de</strong> fazer parte <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> do universo”(Scheiner, 2004, p. 51), este mesmo conceito <strong>de</strong>ve valer para as produçõesespontâneas, pois hoje “as coisas já não são vistas como <strong>da</strong><strong>da</strong>s, mas como processosque atravessam o indivíduo em todos os seus planos <strong>de</strong> percepção” (Scheiner, 2004,p. 53). Essas obras prenunciam “o que caracteriza o contemporâneo, que é oprocesso <strong>de</strong> criação: ca<strong>da</strong> obra po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo próprio criador como „umprolongamento <strong>de</strong> si mesmo’” (Scheiner, 2004, p. 51, grifo e aspas <strong>da</strong> autora).A relação sincrônica <strong>da</strong>s produções feitas nos hospitais psiquiátricos com acontemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mesmas tem sido ressalta<strong>da</strong> por vários autores e estudiososdo assunto (Prinzhorn, Volmat, Dubuffet, Thévoz). Prinzhorn afirma mesmo que “umsentimento <strong>de</strong> mundo análogo ao sentimento <strong>de</strong> mundo esquizofrênico só se encontraem um pequeno número <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte „autênticas‟”. Nesse aspecto, Osório César,médico brasileiro colecionador <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e pinturas produzidos no Hospital doJuqueri, nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong>senvolveu entre os anos <strong>de</strong> 1930 e 1950interessantes pesquisas comparativas entre a produção plástica dos loucos e omovimento vanguardista <strong>da</strong> época. “A estética futurista apresenta vários pontos <strong>de</strong>contato com as dos manicômios. Não <strong>de</strong>sejamos com isso censurar essa novamanifestação <strong>de</strong> arte, longe disso. Achamo-la até muito interessante, assim como aestética dos alienados” (César, 1929, p. 39).“Naturalmente falar <strong>de</strong> arte sã ou <strong>de</strong> arte enferma não tem sentido, porque oque cria não é em si mesmo patológico. Às vezes a angústia profun<strong>da</strong>, a ansie<strong>da</strong><strong>de</strong>„psicótica‟ introduz ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s e forças..., como no caso <strong>de</strong> VAN GOGH” (Melgar eGomara, 1988, p. 21).Por outro lado, são notáveis também a similari<strong>da</strong><strong>de</strong> entre muitas <strong>da</strong>s obrascria<strong>da</strong>s nos ateliês psiquiátricos e a arte primitiva, que Osório César chega aclassificar <strong>de</strong> neo-primitivismo. Exemplos admiráveis são as esculturas <strong>de</strong> A<strong>de</strong>linapertencentes ao <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, que encontram paralelos naCultura Tisza, <strong>de</strong> 5 mil anos antes <strong>de</strong> Cristo (<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente,[199?], p. 16 e 17)


32Fig. 6A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong>Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 50Acervo do MIIFig. 7Cultura TiszaCa. 5000 ACArte para uns, expressões do imaginário para outros. Embora não sejam asúnicas, essas duas noções têm prevalecido sobre as <strong>de</strong>mais. A discussão sobre essa<strong>de</strong>finição até hoje não produziu um consenso. E embora exista hoje maior aceitação<strong>de</strong>ssa produção como arte, as duas noções continuam a coexistir 10 . E se pelo ponto<strong>de</strong> vista <strong>da</strong> Arte chegamos à noção <strong>de</strong> patrimônio, também pelo do imaginário nãoserá difícil fazê-lo. “Como se instaura a relação entre imaginário e patrimônio? Orano exato momento em que ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> nós percebe o universo imaginal comoinstância afetiva, e passa a fazer uso <strong>de</strong>le para vivenciar experiências que<strong>de</strong>sejaríamos „reais‟, no mundo exterior aos nossos sentidos” (Scheiner, 2004, p. 107,grifo <strong>da</strong> autora). Ao mesmo tempo a autora lembra “a força emocional docomponente evocativo do patrimônio, a sua profun<strong>da</strong> ligação com a memóriaafetiva, especialmente naquilo que nos afasta <strong>da</strong> cotidiani<strong>da</strong><strong>de</strong> e nos remete ao sonho,à fantasia, ao extraordinário, ao mundo dos sentidos” (Scheiner, 2004, p. 108, grifo <strong>da</strong>autora, sublinhado nosso).De qualquer forma, esse mundo <strong>da</strong>s imagens origina<strong>da</strong>s nos porões <strong>da</strong> menteé um mundo impregnado pelo onírico, pelo <strong>de</strong>vaneio. Ele é <strong>da</strong> or<strong>de</strong>m do simbólico,quase sempre permeado pela idéia <strong>de</strong> sagrado. Sua presentificação através <strong>da</strong>sconfigurações plásticas <strong>de</strong> indivíduos tão alijados do cotidiano, traz-nos a idéia <strong>de</strong> umfascinante estranhamento, resultante do choque entre universos. Referindo-se àimensidão dos espaços íntimos e o espaço do mundo, Bachelard (1989, p. 207)ressalta quequando a gran<strong>de</strong> solidão do homem se aprofun<strong>da</strong>, as duasimensidões se tocam, se confun<strong>de</strong>m. Numa carta, Rilke se inclina,com to<strong>da</strong> a sua alma para “essa solidão ilimita<strong>da</strong>, [...] essacomunhão com o universo, [...] o espaço invisível que entretanto ohomem po<strong>de</strong> habitar e que o cerca <strong>de</strong> inúmeras presenças.”10 Como esta discussão não entra no escopo do presente trabalho, e em não havendo esse consenso,utilizamos livremente as duas formas, <strong>de</strong> acordo com a dinâmica do texto.


33“E ain<strong>da</strong> que os personagens imaginados já não estejam ali [...] é nestacapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> presentificação que resi<strong>de</strong>m a magia e o fascínio do patrimônio”(Scheiner, 2004, p. 110, grifo <strong>da</strong> autora).Certamente não são apenas as formas configura<strong>da</strong>s que exercem seu fascínio,quando se fala nesse patrimônio constituído pelas criações <strong>de</strong> doentes mentais nosasilos ou ateliês. Mas sim a profun<strong>da</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre o patrimônio culturalmaterial e o patrimônio cultural imaterial, no dizer <strong>da</strong> Convenção para a Salvaguar<strong>da</strong>do Patrimônio Cultural Imaterial (UNESCO, 2004, p. 372), ou seja, do conjuntoresultante do produto e dos processos e ambientes que o geraram. Esses processos<strong>de</strong> criação, originados em função do ambiente e <strong>da</strong> interação com a natureza dotranstorno psíquico e <strong>da</strong> própria história indivíduo/loucura/socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, confirmam suaimportância como patrimônio, contribuindo para promover o respeito à diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>cultural e à criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana.4.2.3 A constituição <strong>da</strong>s coleções <strong>da</strong> loucuraCom a riqueza <strong>de</strong>ssa criação, presente em vários quadrantes do mundo, foramse constituindo coleções e museus <strong>de</strong>dicados a esse tipo <strong>de</strong> expressão. Embora nãoseja possível precisar quando e on<strong>de</strong> originou-se esse colecionismo, os primeirosregistros dão conta que os médicos do Hospital Psiquiátrico <strong>de</strong> Wal<strong>da</strong>u, em Berna,conservavam nos prontuários os escritos e <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> seus pacientes.Pinturas <strong>de</strong> pacientes são conheci<strong>da</strong>s praticamente em to<strong>da</strong>s asinstituições mais antigas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental. Frequentemente elasmotivaram a fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> pequenos museus, ou foram anexa<strong>da</strong>s acoleções que já existiam e que apresentavam manequins mo<strong>de</strong>ladosem pão, ferramentas utiliza<strong>da</strong>s para fuga, gessos representandopartes do corpo humano anormais, em outras palavras, muitopareci<strong>da</strong>s com aquelas coleções <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Alguns psiquiatrasmais antigos também possuem pequenas coleções priva<strong>da</strong>s,especialmente na França. Lombroso provavelmente acumulou amaior <strong>de</strong>las em seus dias. [...] Coleções mais completas foramconstituí<strong>da</strong>s nas instituições <strong>de</strong> Wal<strong>da</strong>u, perto <strong>de</strong> Berna, porMorghentaler [...]; em Konradsberg, perto <strong>de</strong> Estocolmo, porGa<strong>de</strong>lius; e em Londres, por Hyslop. (Prinzhorn, 1972, p. 2, traduçãonossa)Também no Bethlem Hospital <strong>de</strong> Londres são coleciona<strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> seuspacientes “há 150 anos” (BETHLEM HERITAGE, 2008). Porém o núcleo <strong>da</strong> coleção<strong>de</strong>sse hospital foi <strong>de</strong>senvolvido nos anos 30, pelos Drs. Eric Guttmann e Walter


34Maclay, O primeiro, interessado em pesquisas clínicas; o segundo numa abor<strong>da</strong>gemmais cultural (BETHLEM HERITAGE, 2008).Reuni<strong>da</strong>s com objetivos diferentes, <strong>de</strong> acordo com o colecionador, as coleçõessaíram dos porões dos hospitais psiquiátricos para os ateliês, sejam estes <strong>de</strong> terapiaocupacional ou <strong>de</strong> artes, segundo a concepção do profissional envolvido. Dessesateliês, ganharam as galerias e os museus, tornando-se ca<strong>da</strong> vez mais conheci<strong>da</strong>s.Os registros mais antigos <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos e pinturas <strong>de</strong> pacientespsiquiátricos em publicações são encontrados em Auguste Tardieu (Étu<strong>de</strong> médicolegalsur la folie, 1872) e em Max Simon (L’Imagination <strong>da</strong>ns la folie: étu<strong>de</strong> sur les<strong>de</strong>ssins, plans, <strong>de</strong>scriptions, et costumes <strong>de</strong>s alienes, 1876). Nessa mesma épocasurge o conhecido trabalho <strong>de</strong> Cesare Lombroso L’art nei pazzi, <strong>de</strong> 1880 e o <strong>de</strong> MarcelRéja L’art mala<strong>de</strong>: <strong>de</strong>ssins <strong>de</strong>s fous, <strong>de</strong> 1901 (Volmat, 1956, p. 1, 286, 294, 295).Entretanto, Douglas (1995, 61) afirma que apesar <strong>de</strong> Pinel e Tuke já citarem em seusescritos a existência do interesse dos pacientes pela arte, foi sem dúvi<strong>da</strong> JohnHaslam, farmacêutico do Hospital <strong>de</strong> Bethlem, o primeiro a reproduzir <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong>pacientes em sua publicação Ilustrations of Madness, <strong>de</strong> 1810. McCan (2004, p. 29), eMojana (2003, p. 11) assinalam que a primeira coleção <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> arte feitos pordoentes mentais foi cria<strong>da</strong> no início do século 19 pelo Dr. Benjamim Rush, médicoconhecido como pai <strong>da</strong> psiquiatria norteamericana, que fundou com Benjamim Franklino primeiro hospital <strong>da</strong>quele país e também um dos signatários <strong>da</strong> Declaração <strong>da</strong>In<strong>de</strong>pendência e <strong>da</strong> Constituição americana.Ain<strong>da</strong> segundo Volmat (1956, p. 139) no hospital “cerca <strong>de</strong> 2% dos doentespintam espontaneamente, e são geralmente provenientes <strong>de</strong> meios mo<strong>de</strong>stos, quasesempre incultos e sem formação artística”. Completa, ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong>stacando que a gran<strong>de</strong>maioria (69-75%) dos criadores são portadores do diagnóstico <strong>de</strong> esquizofrenia.Em 1908, Morgenthaler criou um pequeno museu no Hospital <strong>de</strong> Wal<strong>da</strong>u, on<strong>de</strong>trabalhava, a partir <strong>de</strong> uma coleção que constituiu, solicitando trabalhos <strong>de</strong> pacientes amédicos <strong>de</strong> diversos hospitais suíços. Segundo Thévoz (1975, p. 44) esta coleção,mesmo “enfrentando as marchas e contra-marchas <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Suíça <strong>de</strong> Psiquiatria”encontra-se ain<strong>da</strong> hoje nos arquivos <strong>da</strong>quele Hospital.


35Fig. 8. “Niágara” – Obra <strong>da</strong>coleção MorgenthalerPrinzhorn (1886-1933) foi um dublê <strong>de</strong> historiador <strong>da</strong> arte e psiquiatraassistente do hospital <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> alemã <strong>de</strong> Heil<strong>de</strong>lberg, on<strong>de</strong> encontrou uma pequenacoleção, em 1918 (Baeyer, 1972, v). Por consi<strong>de</strong>rá-la insuficiente para fins <strong>de</strong>pesquisa, escreve para instituições psiquiátricas na Alemanha, Áustria, Suíça, Itália eHolan<strong>da</strong>, solicitando doações, resultando em 5.000 trabalhos <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 450 autores.Esse fato <strong>de</strong>monstra como essa prática já era difundi<strong>da</strong> naquela época. Artistas comoAlfred Kubin, Paul Klee, Max Ernst e Pablo Picasso foram admiradores <strong>de</strong>sta coleção,usando estes trabalhos como fonte <strong>de</strong> inspiração (PUHH, 2008). Atualmente a coleçãoencontra-se no Hospital Universitário <strong>de</strong> Psiquiatria <strong>de</strong> Heil<strong>de</strong>lberg e po<strong>de</strong> ser visita<strong>da</strong>.Fig. 9. Obra <strong>da</strong>Coleção PrinzhornA coleção Prinzhorn é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a mais célebre e rica já forma<strong>da</strong> numainstituição psiquiátrica européia. Ela foi, sem dúvi<strong>da</strong> inspiradora na criação <strong>de</strong> váriasoutras, em espaços fora do hospital psiquiátrico, entre elas aquela que viria a ser amais conheci<strong>da</strong> <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s: a Coleção <strong>de</strong> Arte Bruta.


36A noção <strong>de</strong> Arte Bruta é <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> por Dubuffet comoProduções <strong>de</strong> to<strong>da</strong> espécie – <strong>de</strong>senhos, pinturas, bor<strong>da</strong>dos,mo<strong>de</strong>lagens, esculturas, etc. – que apresentam um caráterespontâneo e fortemente inventivo, que na<strong>da</strong> <strong>de</strong>vem aos padrõesculturais <strong>da</strong> arte, tendo por autores pessoas obscuras, estranhas aosmeios artísticos profissionais (Silveira, 1992, p. 88).Ele iniciou a coleção em 1945, empreen<strong>de</strong>ndo sucessivas buscas em hospitaispsiquiátricos <strong>da</strong> Suíça. Três anos após, em companhia <strong>de</strong> André Breton, JeanPaulhan, Charles Ratton, H-P Roché e Michel Tapié, fun<strong>da</strong> a Compagnie <strong>de</strong> l’Art Brut.Poucos anos <strong>de</strong>pois, após várias exibições e publicações, a companhia termina, porfalta <strong>de</strong> capital e espaço. Dubuffet consegue conservar a coleção guar<strong>da</strong>ndo-a nosEstados Unidos durante <strong>de</strong>z anos. Depois volta a França, porém sua luta parapreservar a coleção só termina em 1971, quando a prefeitura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lausannece<strong>de</strong>u o castelo <strong>de</strong> Beaulieu, uma construção do séc. XVIII, para abrigar o Musée <strong>de</strong>l‟Art Brut, on<strong>de</strong> permanece até hoje.Apesar <strong>de</strong> não restrita a pacientes psiquiátricos, pois a coleção reúne obras <strong>de</strong>marginais <strong>de</strong> to<strong>da</strong> espécie – prisioneiros, moradores <strong>de</strong> rua, ermitões – como em regraacontece, a produção <strong>da</strong>queles é predominante, respon<strong>de</strong>ndo por cerca <strong>de</strong> 80% <strong>da</strong>coleção.A influência <strong>de</strong>ssa coleção sobre os movimentos artísticos <strong>de</strong> vanguar<strong>da</strong> foienorme. Num texto <strong>da</strong> época <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Compagnie <strong>de</strong> l’Art Brut, André Breton,figura central do movimento surrealista escreveu: “Eu não tenho medo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r aidéia [...] <strong>de</strong> que a arte que hoje classificamos como <strong>de</strong> doentes mentais constitui-seem um reservatório <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> moral” (Cardinal, 1972, p. 15). Os artistas, cansados doespaço linear her<strong>da</strong>do do aca<strong>de</strong>micismo, encontraram nessas produções instigantesestímulos para a busca <strong>de</strong> novas concepções.Na mesma época <strong>da</strong> criação <strong>da</strong> Coleção <strong>da</strong> Arte Bruta, Edward A<strong>da</strong>mson(1911-1996), renomado pintor inglês sem nenhuma ligação com a psicologia oupsiquiatria, teve a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver um ateliê <strong>de</strong> artes plásticas no LondonNetherne Hospital. Ali, trabalhando com pacientes que recebiam como tratamentodrogas, eletrochoques e lobotomias, ele <strong>de</strong>senvolveu uma prática e uma teoria quehoje integram o campo <strong>da</strong> Arte-terapia.Durante sua vi<strong>da</strong> ele colecionou cerca <strong>de</strong> 60 mil trabalhos produzidos pelospacientes do Netherne Hospital (Fountain, 1996). Segundo Silveira (1992, p. 92), logoque ele se aposentou, a galeria on<strong>de</strong> eram expostos os trabalhos foi transforma<strong>da</strong> emum setor <strong>de</strong> fisioterapia! A<strong>da</strong>mson faleceu em 1996, e a informação <strong>de</strong> que sua


37coleção estaria sob a guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Dra. Miriam Rotschild, em sua proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>, (Silveira,1992 e Fountain, 1996), não foi possível se confirmar em nossa pesquisa.Outra coleção que se iguala à <strong>de</strong> A<strong>da</strong>mson em termos numéricos é a do Centro<strong>de</strong> Estudos <strong>da</strong> Expressão pertencente ao Hospital Sainte-Anne, em Paris, tambémcom 60 mil obras (Tru<strong>de</strong>l, 1996, p. 305). As obras foram produzi<strong>da</strong>s nas oficinas dohospital <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1954, reuni<strong>da</strong>s pelo Dr. Clau<strong>de</strong> Wyart. Entretanto, não existemreferências a ela no sítio do hospital 11 . O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente recebeuem setembro <strong>de</strong> 2008 convite para a exposição <strong>de</strong> trabalhos <strong>da</strong> Coleção Sainte-AnneLa couleur <strong>de</strong>s mots 2, realiza<strong>da</strong> pelo Centre d‟Etu<strong>de</strong> <strong>de</strong> l‟Expression e o MuséeSinger Polignac. Entretanto, o en<strong>de</strong>reço (URL) do Centro, fornecido no convite, nãomostrou-se ativo na pesquisa (, acesso em: jan.2008).4.2.3.1 As experiências brasileiras <strong>de</strong> Osório César e Nise <strong>da</strong> SilveiraA história <strong>de</strong>sse colecionismo no Brasil tem início em 1929. No HospitalPsiquiátrico do Juquery, on<strong>de</strong> hoje é o município <strong>de</strong> Franco <strong>da</strong> Rocha, nasproximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> “pacientemente organizar o <strong>Museu</strong>, com aspeças e os trabalhos mais interessantes dos doentes do Juquery”, o médico OsórioCésar realiza uma vasta revisão <strong>da</strong> bibliografia estrangeira <strong>de</strong> até então sobre aexpressão dos doentes mentais. A seguir publica o livro A expressão artística dosalienados: Contribuição para os estudos dos symbolos na arte.Naquela época, pouco tempo após a semana <strong>de</strong> arte mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> 1922 em SãoPaulo, a oposição dos críticos conservadores sobre as novas formas <strong>de</strong> arte era ain<strong>da</strong>muito gran<strong>de</strong>, e os trabalhos <strong>de</strong>sta coleção foram mesmo utilizados para <strong>de</strong>preciar,por comparação, as criações mo<strong>de</strong>rnistas 12 . (Gonçalves T., 2004, p. 41).Curiosamente, na mesma época a clínica <strong>de</strong> Heil<strong>de</strong>lberg é ocupa<strong>da</strong> pelo nazismo.Instala-se o programa <strong>de</strong> exterminação dos doentes mentais e a coleção passa a serusa<strong>da</strong> para fins <strong>de</strong> propagan<strong>da</strong> nazista. Joseph Goebbels coman<strong>da</strong> uma série <strong>de</strong>exposições na Alemanha e Áustria, “comparando <strong>de</strong>preciativamente o acervo <strong>de</strong>Heil<strong>de</strong>lberg com obras <strong>de</strong> artistas <strong>da</strong> arte mo<strong>de</strong>rna como Cézanne, Van Gogh, Klee,Kandinski, Kokosha, Chagall e outros” (Mello, 2000, p. 2).Só mais tar<strong>de</strong>, em uma exposição organiza<strong>da</strong> por ele no MASP (1948) é que acoleção <strong>de</strong>sperta o interesse <strong>de</strong> críticos, artistas e intelectuais. Em 1949 é fun<strong>da</strong><strong>da</strong>11 Ver . Acesso em: jan. 2008.12 Em 1933 obras <strong>da</strong> coleção participaram <strong>da</strong> Semana dos Loucos e <strong>da</strong>s Crianças, organiza<strong>da</strong> no Clubedos Artistas Mo<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> São Paulo por Flávio <strong>de</strong> Carvalho


38oficialmente a Escola Livre <strong>de</strong> Artes Plásticas do Juqueri 13 ; e no ano seguinte, OsórioCésar envia 54 trabalhos <strong>de</strong> 10 autores para figurar na Exposição <strong>de</strong> ArtePsicopatológica do I Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria, realizado em Paris, 1950(Volmat, 1956, p. 7).Esta exposição teve uma gran<strong>de</strong> repercussão: 1362 trabalhos <strong>de</strong> 305 autoresforam apresentados para um público <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 10 mil pessoas, com gran<strong>de</strong> impactona imprensa francesa <strong>da</strong> época. (Volmat, 1956, p. 7). Dos 17 países que enviaramobras, o Brasil teve a maior representação: 395 obras. Os estudos sobre essascoleções resultariam na publicação L’Art Psychopatologique <strong>de</strong> Robert Volmat, oorganizador <strong>da</strong> exposição.A coleção reuni<strong>da</strong> por Osório foi também em parte por ele dispersa<strong>da</strong>. “Gran<strong>de</strong>parte <strong>de</strong>ste acervo foi perdi<strong>da</strong> ou comercializa<strong>da</strong>; alguns <strong>de</strong>senhos do início foramdoados por Osório ao MASP 14 . O que sobrou <strong>de</strong>sta coleção foi encontrado num galpãodo Hospital Juqueri, por um grupo <strong>de</strong> funcionários. Posteriormente outras obras,dispersas pelo complexo hospitalar, foram encontra<strong>da</strong>s”. (Mello 2000, p. 5). Em 1985foi inaugurado o <strong>Museu</strong> Osório César, na antiga residência do primeiro diretor doJuqueri, Dr. Franco <strong>da</strong> Rocha, que hoje dá nome ao município on<strong>de</strong> está localizado ohospital. Seu acervo contém mais <strong>de</strong> 5 mil obras entre <strong>de</strong>senhos, pinturas, esculturase gravuras.Em 2001 os funcionários do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente Eurípe<strong>de</strong>s G.<strong>Cruz</strong> Júnior e Gladys Schincariol encontraram 29 obras pertencentes a essa coleçãono ateliê do artista Giuseppe Baccaro, em Olin<strong>da</strong> (PE). Segundo narrou o artista, eleas recebeu <strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> artista Tarsila do Amaral, que foi companheira <strong>de</strong> OsórioCésar por um período. Baccaro gentilmente doou estas obras, que hoje se encontramguar<strong>da</strong><strong>da</strong>s no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.Na mesma época em que os artistas Dubuffet e A<strong>da</strong>mson iniciavam suascoleções, Nise <strong>da</strong> Silveira, acompanha<strong>da</strong> pelo então jovem artista Almir Mavignier,inaugura os ateliês <strong>de</strong> pintura e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem <strong>da</strong> Seção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacionalno Centro Psiquiátrico Nacional. As produções <strong>de</strong>sses ateliês viriam formar a maiorcoleção do gênero, contabilizando hoje mais <strong>de</strong> 352 mil obras entre telas, <strong>de</strong>senhos emo<strong>de</strong>lagens, constituindo-se no acervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.13 Segundo o diretor do MII, Luiz Carlos Mello, foi a exposição 9 Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro, realiza<strong>da</strong>no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> São Paulo que motivou Osório César a criar a Escola.14 Segundo o sítio do MASP, “A doação Osório César, que faz parte <strong>da</strong> coleção, é composta <strong>de</strong> 101<strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> alienados, realizados na Escola Livre <strong>de</strong> Artes Plásticas do Hospital do Juquerique o doador, médico e psiquiatra dirigia” (MASP, 2006).


39Naqueles idos anos do fim <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> dos 40 vinham frequentementecom Mavignier a Engenho <strong>de</strong> Dentro seus jovens amigos Ivan Serpae Abraão Palatnik, que mais tar<strong>de</strong> teriam nomes famosos nas artesbrasileiras. Nesse primeiro período, organizamos duas exposições:uma em fevereiro <strong>de</strong> 1947, no Ministério <strong>da</strong> Educação, e outra, emoutubro <strong>de</strong> 1949, no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> São Paulo. Era umatentativa para entrar em contato com pessoas talvez interessa<strong>da</strong>s [...]Só alguns artistas e críticos <strong>de</strong> arte respon<strong>de</strong>ram a esse apelo(Silveira, 1980, p. 14).A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 70, o <strong>Museu</strong> passa a organizar ca<strong>da</strong> vez mais,exposições fora <strong>da</strong> sua se<strong>de</strong> e solidifica seu lugar na cultura brasileira. Sempreatraindo gran<strong>de</strong> público, <strong>de</strong>stacaram-se as seguintes exposições: Imagens doInconsciente: centenário <strong>de</strong> C. G. Jung, no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna do Rio <strong>de</strong> Janeiro;O Universo <strong>de</strong> Fernando Diniz, no Paço Imperial do Rio <strong>de</strong> Janeiro; Arqueologia <strong>da</strong>Psique, na Casa França-Brasil, também no Rio <strong>de</strong> Janeiro. Estas mostras tambémforam apresenta<strong>da</strong>s em outros estados. Em sua trajetória no exterior, já teve aoportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> representar o Brasil em vários eventos internacionais. Em 2005 foi umdos representantes oficiais do governo brasileiro no Ano do Brasil na França com aexposição Images <strong>de</strong> l’Inconscient no Musée Halle Saint Pierre, em Paris, instituiçãoque tem se <strong>de</strong>dicado à exposição <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> acervo (HALLE SAINT PIERRE, 2005,p. 2).Enquanto suas congêneres pararam <strong>de</strong> crescer ou o fazem <strong>de</strong> forma reduzi<strong>da</strong>,a coleção do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, pelo funcionamento ininterrupto <strong>de</strong>seus ateliês criativos, continua a aumentar cotidianamente, atingindo em 2003 aimpressionante cifra <strong>de</strong> 352 mil documentos plásticos.Outra importante coleção brasileira é a do artista Arthur Bispo do Rosário,atualmente reuni<strong>da</strong> no <strong>Museu</strong> que leva o seu nome. Diferentemente <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais, essaé uma coleção que reúne praticamente um só criador. Reconhecido como um dosmais criativos artistas do século passado, Bispo do Rosário tem encantado os meiosartísticos contemporâneos pela extrema mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suas obras, sejam naconcepção ou na execução. O <strong>Museu</strong> Bispo do Rosário está localizado na ColôniaJuliano Moreira, uma antiga Colônia Agrícola que era <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> aos pacientesterminais no bairro carioca <strong>de</strong> Jacarepaguá.


404.2.4 As coleções se multiplicam...O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente tem inspirado a criação <strong>de</strong> serviços,oficinas e outras coleções. Em Porto Alegre, um grupo <strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>u início, em1990, a Oficina <strong>de</strong> Criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Esta coleção jáultrapassa as 50 mil obras (Neubarth, 2005, p. 71). Com a Reforma Psiquiátrica,alguns dos mais <strong>de</strong> 2 mil Centros <strong>de</strong> Atenção Psicossocial (substitutos do hospício naterapêutica dos portadores <strong>de</strong> sofrimento psíquico) possuem oficinas <strong>de</strong> pintura; váriasclínicas também têm seus serviços <strong>de</strong> terapia ocupacional, cuja produção resultafrequentemente em exposições nos mais diversos espaços.Um exemplo internacional <strong>de</strong>ssa inspiração é a criação em 1992 do MuseoAttivo <strong>de</strong>lle Forme Inconsapevoli na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Gênova. O <strong>Museu</strong> é atuamente<strong>de</strong>nominado Museoattivo Claudio Costa, em homenagem a um <strong>de</strong> seus fun<strong>da</strong>dores(MAPPA SENSIBILIZATTA, 2004). Na realização <strong>de</strong> nossa pesquisa, nãoconseguimos um contato com o Museo, e o pesquisador Marcelo Maggi, doutourando<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Nova <strong>de</strong> Lisboa em passagem pelo <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente nos informou que o mesmo está atualmente fechado.É possível encontrar hoje coleções que se <strong>de</strong>dicam a reunir, exibir, ven<strong>de</strong>r,obras cria<strong>da</strong>s por pessoas à margem dos processos <strong>da</strong> arte formal em diversoslugares do mundo. Sob os mais diversos nomes – arte visionária, arte intuitiva, artebruta, outsi<strong>de</strong>r art, raw art, arte fora <strong>da</strong>s normas – essas coleções frequentementeintegram em seus acervos obras <strong>de</strong> pessoas portadoras <strong>de</strong> sofrimento psíquico,principalmente psicóticos. Porém as características <strong>de</strong>ssas produções vêm semodificando. As transformações no tratamento psiquiátrico em todo mundo, e oadvento dos medicamentos que agem, ca<strong>da</strong> vez mais po<strong>de</strong>rosamente, nos cérebrosdos pacientes, em busca <strong>da</strong> inibição <strong>de</strong> sintomas, traz dois aspectos que a nosso ver,encerram esta faceta <strong>da</strong> criação humana. Em primeiro lugar, essas pessoas são ca<strong>da</strong>vez mais estimula<strong>da</strong>s ao convívio social, diminuindo seu isolamento. Esse contatopermanente com o mundo exterior, que não acontecia anos atrás, mu<strong>da</strong>completamente o panorama <strong>da</strong> criação, reduzindo a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mesma,avassala<strong>da</strong> pela enxurra<strong>da</strong> <strong>de</strong> imagens que caracteriza nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>contemporânea.Em segundo lugar, o uso generalizado (e em geral excessivo) <strong>de</strong>medicamentosmudou completamente a face dos hospitais psiquiátricos. Os longosisolamentos, as formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>mência mais espetaculares, os <strong>de</strong>líriosinspirados, estão aos poucos <strong>de</strong>saparecendo. Não cabe a nós julgar


41se esta mu<strong>da</strong>nça constitui um progresso global. Nós apenasassinalamos que, se os neuroléticos têm diminuído o sofrimento, elesgeram, em contraparti<strong>da</strong>, um embrutecimento mental e umaanestesia que se traduzem no domínio <strong>da</strong> produção plástica por umaper<strong>da</strong> <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criação (Thévoz 1975, p. 17, traduçãonossa).Apesar <strong>de</strong>ssa visão fatalista, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente mantémseus ateliês em funcionamento on<strong>de</strong> observa-se que, mesmo em mutação, a pulsãopara a expressão em imagens e o benefício terapêutico <strong>de</strong>ssa prática mantêm-sevivíssimos.Esses fatos apontam para a importância que adquire, hoje, a conservação evisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse patrimônio, sobre o qual muito ain<strong>da</strong> há o que <strong>de</strong>scobrir. Umpatrimônio que, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> sua alta carga <strong>de</strong> individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, pertence a todos nós,como um livro escrito para a humani<strong>da</strong><strong>de</strong> através <strong>de</strong> uma sintaxe e uma gramática queparece esqueci<strong>da</strong> e que precisamos reapren<strong>de</strong>r.Se é inevitável a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma parte <strong>da</strong> intangibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse patrimônio, comoprocesso, restam as misteriosas, inusita<strong>da</strong>s, estranhas ou belas imagens que nosforam lega<strong>da</strong>s por seres humanos que vivenciaram estados do ser diferentes donosso, estados “inumeráveis e ca<strong>da</strong> vez mais perigosos” 15 .4.3 Aspectos museológicos <strong>da</strong>s coleções <strong>da</strong> loucuraNeste capítulo, estaremos consi<strong>de</strong>rando as coleções que, <strong>de</strong> alguma forma,adquiriram o estatuto <strong>de</strong> museus, seja através <strong>da</strong> auto<strong>de</strong>nominação, seja através <strong>da</strong>spráticas relativas à museologia: catalogação, museografia, exibição, pesquisa,conservação, restauração.O Conselho Internacional <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s (ICOM) <strong>de</strong>fine o museu comoinstituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> edo seu <strong>de</strong>senvolvimento, aberta ao público e que adquire, conserva,investiga, difun<strong>de</strong> e expõe, para fins <strong>de</strong> estudo, educação e lazer, asevidências materiais do humano e do seu ambiente” [...]. Além <strong>da</strong>sinstituições <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>s como „museus‟, consi<strong>de</strong>ram-se qualificadoscomo museus [...] as instituições que conservam coleções [...] querealizem ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> conservação, pesquisa, educação,treinamento, documentação e outras, relaciona<strong>da</strong>s aos museus e àmuseologia.15 Expressão cria<strong>da</strong> pelo poeta e teatrólogo francês Antonin Artaud, para <strong>de</strong>finir as vivências expressas napintura do surrealista Victor Brauner (Silveira, 1981, p. 235)


42Mesmo reconhecendo as limitações <strong>de</strong>ssa <strong>de</strong>finição, por ser ela “<strong>de</strong>scritiva efuncional” (Loureiro, M., 2003 p. 12), e a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong>ssa limitação, consi<strong>de</strong>ramo-lasuficiente para qualificar os acervos que serão estu<strong>da</strong>dos a seguir.4.3.1 As coleções européiasSe em 1900 o Bethlem Hospital <strong>de</strong> Londres já havia realizado uma exposiçãocom os trabalhos <strong>de</strong> pacientes (Mojana, 2003, p. 11), as primeiras coleções <strong>da</strong> loucuracom a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> museu surgem logo a seguir. Em 1905 o médico suíçoAuguste Marie abre na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> francesa <strong>de</strong> Villejuif o Musée <strong>de</strong> la Folie (Andriolo, 2006,p. 46; Mojana, 2003, p. 11). Hulak (1988, p. 82) atribui a <strong>da</strong>ta “perto <strong>de</strong> 1910” para um“embrião <strong>de</strong> museu”, cuja coleção, ou o que restou <strong>de</strong>la, atualmente está integra<strong>da</strong> aomuseu <strong>da</strong> Collection <strong>de</strong> l‟Art Brut em Lausanne (Chevillion, 1991).O Dr. Pailhas, do asilo <strong>de</strong> Albi (França), já em 1908 fala <strong>de</strong> um “projeto <strong>de</strong> ummuseu ou <strong>de</strong> uma seção <strong>de</strong> museu reserva<strong>da</strong> à produção artística dos alienados, on<strong>de</strong>se reuniria também trabalhos <strong>de</strong> tatuadores e <strong>de</strong>senhistas <strong>de</strong> muros” (Hulak, 1988, p.82, tradução nossa).[...] um pequeno museu <strong>de</strong>stinado a recolher to<strong>da</strong> produção <strong>de</strong>nossos doentes do asilo, entre aqueles que, tendo afini<strong>da</strong><strong>de</strong>s com aarte, seriam suscetíveis <strong>de</strong> trazer uma contribuição ao estudo <strong>de</strong> suaessência, <strong>de</strong> suas produções psíquicas, assim como sua evoluçãoatravés dos anos (Pailhas apud Hulak, 1988, p. 82, tradução nossa).Segundo o prontuário <strong>de</strong> um paciente internado em Bremem, alguns <strong>de</strong> seus<strong>de</strong>senhos foram enviados para o “museu <strong>da</strong> clínica psiquiátrica universitária <strong>de</strong>Hei<strong>de</strong>lberg”, embora um memorando <strong>da</strong> clínica <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 1908 consi<strong>de</strong>re apenas aexistência <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>sta “coleção <strong>de</strong> material didático” (Brand, 1995, p. 14). Comojá foi citado anteriormente, Prinzhorn, convi<strong>da</strong>do a fazer pesquisas na coleção, achouamuito pequena para esse fim. Em 1919, o diretor Karl Williams, em uma <strong>da</strong>s cartasque enviou a diversos asilos e clínicas <strong>de</strong> vários países europeus, pe<strong>de</strong> que aspinturas e escritos, empresta<strong>da</strong>s a título temporário, sejam cedidos à clinica paraserem disponibilizados em um “museu <strong>de</strong> arte patológica”. Um projeto que segundoele tinha a concordância <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s ministeriais (Brand, 1995, p. 14). No anoseguinte, outra carta explicava mais <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente o projeto: caso o interessadoconcor<strong>da</strong>sse em ce<strong>de</strong>r obras, aquelas com interesse do ponto <strong>de</strong> vista artístico oupuramente psicológico seriam emoldura<strong>da</strong>s e pendura<strong>da</strong>s em uma sala <strong>de</strong> museu,


43enquanto as outras seriam arquiva<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maneira a ficarem sempre disponíveis aoestudo (Brand, 1995, p. 15).Se as informações sobre o museu organizado em Villejuif são poucas, asativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s museológicas <strong>da</strong> coleção-museu <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>lberg estão bem documenta<strong>da</strong>s.Po<strong>de</strong>-se saber que após um inventário realizado em 1920 que dá conta <strong>de</strong> 4.500obras, as preocupações financeiras para conservar e exibir as obras tomaram vulto.Numa Europa enfraqueci<strong>da</strong> economicamente pela Primeira Guerra Mundial, Williams ePrinzhorn tentam obter doações para seguir com a parte museográfica do projeto.Salas <strong>de</strong> exposição planeja<strong>da</strong>s seria a única solução satisfatória para tornar a coleção“tão acessível quanto o interesse geral exige”. Os recursos conseguidos ficam muitoabaixo do esperado, suficientes apenas para o pagamento <strong>da</strong> colocação <strong>de</strong> passepartoute dos serviços <strong>de</strong> um moldureiro (Brand, 1995, p. 16). A conservação <strong>da</strong>sprincipais obras não segue as normas museológicas em vigor na época, a utilização<strong>de</strong> material <strong>de</strong> má quali<strong>da</strong><strong>de</strong> vai resultar em <strong>da</strong>nos tais como o <strong>de</strong>saparecimento <strong>de</strong><strong>de</strong>senhos e textos dos versos dos suportes, a falta do registro <strong>da</strong> <strong>da</strong>ta <strong>da</strong> execução <strong>da</strong>obra ou <strong>de</strong> sua aquisição. Apenas a procedência e o diagnóstico são consi<strong>de</strong>rados.Anotações são feitas em letras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s proporções sobre textos escritos no verso<strong>da</strong>s obras.Alegando problemas pessoais, Prinzhorn <strong>de</strong>ixa a clínica em 1921. O projeto do<strong>Museu</strong>, com suas salas <strong>de</strong> exposição, nunca veio à luz.Outras consi<strong>de</strong>rações emergem <strong>da</strong>s correspondências troca<strong>da</strong>s entre osdiretores <strong>da</strong>s clínicas e asilos que enviavam trabalhos para Hei<strong>de</strong>lberg, e osorganizadores <strong>da</strong> coleção. A questão <strong>da</strong> aquisição <strong>de</strong> acervo para o projeto do “<strong>Museu</strong><strong>de</strong> arte patológica” era leva<strong>da</strong> a sério. Numa carta dirigi<strong>da</strong> a um dos diretores <strong>de</strong>ssasclínicas, Karl Williams promete enviar para os internos um “pequeno presente emdinheiro a título <strong>de</strong> encorajamento” ou mesmo material <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho e escultura. E vaimais longe, dizendo que se o autor quisesse fazer valer o seu direito <strong>de</strong> proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sobre os trabalhos que seriam cedidos ao museu por um preço razoável, ele ficariafeliz em consi<strong>de</strong>rar a proposta.As exposições <strong>da</strong> coleção começam em 1921 na Galeria Zingler <strong>de</strong> Frankfurt,mesmo local e ano on<strong>de</strong> foram apresentados os trabalhos <strong>de</strong> Paul Klee. Seguem-semostras em Hannover, Leipzig. Em 1923 trabalhos <strong>da</strong> coleção fazem parte <strong>de</strong> umaexposição no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Belas Artes <strong>de</strong> Mannheim. Em 1929 a coleção chega a Paris;1933, Genebra, <strong>de</strong>pois um circuito <strong>de</strong> 9 ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s alemãs, sempre com títulos girandoem torno <strong>de</strong> “A Arte dos Doentes Mentais”(Brand, 1995, p. 33 e 34).Com a ascensão do nacional socialismo, começam a levantar-se vozes queprocuram <strong>de</strong>squalificar a produção e seus criadores. Psiquiatras contestam Prinzhorn


44abertamente: com o crescimento <strong>da</strong> eugenia, do arianismo e do anti-semitismo essasobras passam a ser classifica<strong>da</strong>s como “produções <strong>de</strong> idiotas”, <strong>de</strong> técnica grosseira,faltosas <strong>de</strong> espírito crítico, bizarras, <strong>de</strong> simbolismo confuso, contribuindo para “fazercair a digni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong> ao nível mais baixo” (Weygandt apud Brand, 1995, p.36).O diretor Karl Williams é <strong>de</strong>mitido por ultraje ao Führer e Carl Schnei<strong>de</strong>r, quemais tar<strong>de</strong> será o responsável pelo programa <strong>de</strong> extermínio dos doentes mentais,assume a clínica <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>lberg. O passo seguinte é exibir a coleção ao lado dosartistas mo<strong>de</strong>rnos, para <strong>de</strong>squalificar estes últimos.Inicia-se uma série <strong>de</strong> exposições na Alemanha e Áustria,coman<strong>da</strong><strong>da</strong>s por Joseph Goebbels, comparando <strong>de</strong>preciativamenteo acervo <strong>de</strong> Heil<strong>de</strong>lberg com obras <strong>de</strong> artistas <strong>da</strong> arte mo<strong>de</strong>rna comoCézanne, Van Gogh, Klee, Kandinski, Kokosha, Chagall e outros.Essas exposições tinham como título Arte Degenera<strong>da</strong>. Continhamum enfoque preconceituoso em relação às duas manifestações,negando-lhes o valor artístico. Gran<strong>de</strong> ironia, esta atitu<strong>de</strong> do nazismoacabaria por comprovar que não há fronteiras entre os ditos normaise os loucos (Mello, 2000, p. 2).As exposições acontecem até o ano <strong>de</strong> 1941, e <strong>de</strong>pois a coleção vai aospoucos ficando no esquecimento. Nos início dos anos 70, a coleção, já <strong>de</strong>sfalca<strong>da</strong> <strong>de</strong>muitas obras, é encontra<strong>da</strong> por Inge Jádi <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um gran<strong>de</strong> armário, as obrasagrupa<strong>da</strong>s por “casos”, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> pastas habitualmente utiliza<strong>da</strong>s para prontuáriosmédicos. Estavam contamina<strong>da</strong>s por traças, que foram erradica<strong>da</strong>s pela restauração(Jádi, 1995, p. 56). Além <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa e ação cultural Jádi diz queassumiu também a tarefa <strong>da</strong> “catalogação científica, acondicionamento e conservaçãodos documentos e <strong>da</strong>s obras”. De 1980 a 1985 a coleção sofre um processo <strong>de</strong>restauração, patrocinado por uma empresa <strong>de</strong> automóveis alemã (Jádi, 1985, p. 55).“Ca<strong>da</strong> medi<strong>da</strong> <strong>de</strong>stina<strong>da</strong> a prevenir uma <strong>de</strong>struição provoca outra”, diz ele.“Mesmo o recurso <strong>da</strong>s técnicas museográficas mo<strong>de</strong>rnas, que garantem a melhorconservação possível, haja visto a extrema fragili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s peças e permitem múltiplasexplorações do acervo – sem contar que elas fornecem um campo <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> adiversos profissionais – irremediavelmente cortam algo <strong>da</strong> originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssestrabalhos, <strong>de</strong>struindo alguma coisa que lhes pertencia” (Jádi, 1995, p. 55, traduçãonossa).“A gran<strong>de</strong> diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos processos criativos envolvidos na coleção não nospermitem rotulá-la: ela compreen<strong>de</strong> produções plásticas, escritos e músicas [...]Particularmente, é um erro acreditar, como acontece em certos círculos, que ela se


45trata <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> Arte Bruta, comparável aquela do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Bruta <strong>de</strong>Lausanne” (Jádi, 1995, p. 46, tradução nossa).Como já dissemos anteriormente, a Coleção <strong>de</strong> Arte Bruta não reúne apenas<strong>de</strong>senhos feitos por pessoas interna<strong>da</strong>s em hospitais psiquiátricos. Mas o hospitalpsiquiátrico está na própria gênese <strong>da</strong> coleção: no início <strong>de</strong> suas prospecções sobre aarte bruta Dubuffet visitou as coleções dos hospitais psiquiátricos suíços (1945). Eleain<strong>da</strong> não pensava em organizar uma coleção, senão reunir documentos emonografias para a publicação <strong>de</strong> um trabalho (Thévoz, 1975 p. 52).Entretanto, várias pessoas <strong>da</strong> França e <strong>de</strong> outros lugares se interessam peloprojeto e a coleção começa a tomar corpo. Assim, o Foyer <strong>de</strong> l‟Art Brut abre as portasem novembro <strong>de</strong> 1947, ocupando duas salas no subsolo <strong>da</strong> Galeria René Drouin, emParis. Um ano <strong>de</strong>pois é transferi<strong>da</strong> para um pavilhão na rue <strong>de</strong> l‟Université.Organizando-se sob o nome <strong>de</strong> Compangnie <strong>de</strong> l‟Art Brut, esta “socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> amigos”chegou a contar com 60 membros, tendo o pintor Slavko Kopac sido escolhido comocurador <strong>da</strong> coleção. Uma exposição <strong>de</strong> 1949 apresenta um conjunto <strong>de</strong> 200 trabalhos<strong>de</strong> 63 autores, e seu catálogo é um manifesto <strong>de</strong> Dubuffet intitulado L’art brut préféréaux arts culturels (Thévoz, 1975 p. 53).Porém o local não apresentava condições para a conservação <strong>da</strong> coleção.Além disso, a falta <strong>de</strong> pessoal, as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s financeiras e mesmo dissensões entreos participantes <strong>da</strong> Companhia levaram Dubuffet a extingui-la. Ele aceita o convite dopintor Alfonso Ossorio e a coleção é transferi<strong>da</strong> para East Hampton, um local próximo<strong>de</strong> Nova York (Thévoz, 1975 p. 53).Após uma exposição na Galerie Cordier et Eckström em Nova York, a coleçãovolta a se enriquecer com novas aquisições. Segundo Thévoz (1975, p. 54) essaspeças foram “adquiri<strong>da</strong>s, acha<strong>da</strong>s ou doa<strong>da</strong>s” (grifo nosso). Em 1962 a coleção voltanovamente a Paris, on<strong>de</strong> vai ocupar um edifício <strong>de</strong> quatro an<strong>da</strong>res, fechado ao públicoporém aberto para visitantes especialmente interessados. A Compagnie <strong>de</strong> l‟Art Brut éreorganiza<strong>da</strong> com uma centena <strong>de</strong> membros e Slavko Kopac é reconduzido ao cargo<strong>de</strong> curador <strong>da</strong> coleção. Em 1967 acontece uma importante exposição no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Artes Decorativas em Paris, on<strong>de</strong> são apresentados 700 trabalhos <strong>de</strong> 75 autores. Em1971 é publicado o catálogo <strong>da</strong> coleção, <strong>da</strong>ndo conta <strong>de</strong> 4104 trabalhos <strong>de</strong> 133autores. Mais <strong>de</strong> 1000 outros trabalhos, consi<strong>de</strong>rados “a meio-caminho entre a artebruta e a arte cultural” são classifica<strong>da</strong>s como “coleções anexas” (Thévoz, 1975 p. 54).Finalmente em 1972 a coleção é cedi<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> suíça <strong>de</strong> Lausanne, quecompromete-se com a conservação e a gestão do acervo e sua exposição públicapermanente em um local adquirido pela municipali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o Château <strong>de</strong> Beaulieu, um


46hotel construído no século XVIII, próximo ao centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, on<strong>de</strong> encontra-se atéhoje. De 1964 a 1975 foi publica<strong>da</strong> uma série <strong>de</strong> doze fascículos, ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>lescontendo uma ou mais monografias sobre o acervo e seus autores. O apoio <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Lausanne põe um final na gran<strong>de</strong> viagem <strong>de</strong> Dubuffet inicia<strong>da</strong> em1945, e que vem terminar justamente na Suíça, o mesmo lugar on<strong>de</strong> teve início.No mesmo ano em que se constituía a primeira Compagnie <strong>de</strong> l‟Art Brut, opintor inglês Edward A<strong>da</strong>mson abria o ateliê <strong>de</strong> pintura do Netherne Hospital emLondres. Ele relata que mesmo antes <strong>de</strong> iniciar as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do ateliê, encontrouvários indivíduos que <strong>de</strong>senhavam; como exemplo, reproduz os <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> uminternado, feitos em papel higiênico com pontas <strong>de</strong> palitos <strong>de</strong> fósforos queimados àguisa <strong>de</strong> lápis. (A<strong>da</strong>mson, 1984, p. 10). Falando dos materiais utilizados, diz queiniciou as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s com pe<strong>da</strong>ços cortados <strong>de</strong> rolos <strong>de</strong> papel <strong>de</strong> pare<strong>de</strong> que sobraram<strong>da</strong> <strong>de</strong>coração <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s enfermarias. Os cabi<strong>de</strong>s <strong>de</strong> roupa feitos <strong>de</strong> arame eramfrequentemente <strong>de</strong>sfeitos para serem utilizados como estrutura <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagens; quedurante a reforma <strong>de</strong> um setor do hospital, “<strong>de</strong>sapareceu uma significativa quanti<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> cimento”. Outros pacientes pintavam em pedras, seixos ou mesmo em ossos(A<strong>da</strong>mson, 1984, p. 10). Para alegrar o ambiente A<strong>da</strong>mson pintou os corredores comcores fortes e pendurou neles mais <strong>de</strong> 70 obras <strong>de</strong> autores contemporâneos, doadospelos próprios artistas, como resultado <strong>de</strong> uma campanha <strong>da</strong> artista Julie Lawson doInstituto <strong>de</strong> Arte Contemporânea (A<strong>da</strong>mson, 1984, p. 13).Ele nunca expôs os <strong>de</strong>senhos dos internados no ateliê ou nos corredores, comreceio <strong>de</strong> que isso expressasse uma <strong>de</strong>svalorização dos trabalhos. Então montou umagaleria que era aberta para visitantes selecionados, com a função <strong>de</strong> ser um espaçodidático para médicos, enfermeiros e outros profissionais, um fórum on<strong>de</strong> o ponto <strong>de</strong>vista do paciente pu<strong>de</strong>sse ter expressão. A galeria chegou a receber 3 mil e 500visitantes anualmente.Depois <strong>de</strong> 35 anos <strong>de</strong> trabalho no ateliê a aposentadoria compulsória chegoupara A<strong>da</strong>mson. Logo após sua saí<strong>da</strong>, a galeria construí<strong>da</strong> por ele foi transforma<strong>da</strong>num <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> fisioterapia, e o <strong>de</strong>stino <strong>da</strong> coleção <strong>de</strong> 60 mil trabalhos começoua ser questionado pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s hospitalares (Timlin, 1983, p. 68). Entretanto, areputação internacional adquiri<strong>da</strong> por A<strong>da</strong>mson e seu trabalho, resultaram naformação <strong>da</strong> associação beneficente “A<strong>da</strong>m‟s Collection”, com o objetivo <strong>de</strong> preservar,ampliar e encontrar um espaço mais acessível e permanente para a coleção. Emsetembro <strong>de</strong> 1983 é aberta ao público uma galeria próxima a Cambridge, sob osauspícios <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s associa<strong>da</strong>s, a Dra Miriam Rothschild. Segundo o psiquiatracana<strong>de</strong>nse Dr. Sherwood Appleton o objetivo seria organizar “não apenas um museu,


47mas um centro; um oásis on<strong>de</strong> qualquer um que sinta necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> possa pintar numaatmosfera <strong>de</strong> apoio que reflita a forma peculiar <strong>de</strong> cui<strong>da</strong>do <strong>de</strong> A<strong>da</strong>mson” (Timlin, 1983,p. 68, tradução nossa).Um ano antes, em 1982, na França, um grupo <strong>de</strong> três pintores também resolveformar uma associação, que ocupasse o vazio <strong>de</strong>ixado pela coleção <strong>da</strong> Arte Bruta.Como “uma Fênix que renasce <strong>da</strong>s cinzas”, <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>m “reorganizar e salvaguar<strong>da</strong>r umpatrimônio freqüentemente ameaçado, através <strong>da</strong> constituição <strong>de</strong> uma coleçãopública” (Lomell et al, 1988, p. 6). Eles procuraram um nome que não fosse um rótulomarginalizante, e a partir <strong>da</strong> sugestão fonética provoca<strong>da</strong> pela palavra „art‟ aassociação a transforma em L‟Aracine (Lomel et al, 1988, p. 6). Encontraram naci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Neuilly-sur-Marne um local para a instalação <strong>de</strong> um <strong>Museu</strong>, que passa afuncionar “baseado mais na paixão <strong>de</strong> seus criadores e admiradores do que em basesadministrativas” (Danchint, 1988, p. 14).L‟Aracine ten<strong>de</strong> a ser, <strong>de</strong>ntro do <strong>de</strong>serto afetivo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana, umaespécie <strong>de</strong> oásis on<strong>de</strong> os visitantes [...] vêm entrar em contato comtrabalhos que fazem apelo não ao intelecto, como a maioria dosmuseus contemporâneos, mas ao instinto, e on<strong>de</strong> eles possamreencontrar uma simplici<strong>da</strong><strong>de</strong> esqueci<strong>da</strong>, uma emoção ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira,alimentar uma certa exigência secreta [...] (Danchant, 1988, p. 14,tradução nossa).Segundo Duchein (1988, p. 5), a se<strong>de</strong> do L‟Aracine não parece um museu.“Mais que um museu, um castelo, ou uma fun<strong>da</strong>ção ele é um refúgio, um abrigo para oacolhimento. [...] Ela parece ter por natureza a vocação para salvatagem mais do quepropriamente do espetáculo”. Em 1986, L‟Aracine ganhou <strong>da</strong> Direction <strong>de</strong>s Musées <strong>de</strong>France o status <strong>de</strong> “musée contrôlé”.Segundo Tru<strong>de</strong>l (1996, p. 303) isso garante „ovalor científico <strong>da</strong> coleção, sua inalienabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, permitindo receber aju<strong>da</strong> do Estado.No Hospital Sainte-Anne <strong>de</strong> Paris, o Centre d‟Etu<strong>de</strong> <strong>de</strong> l‟Expression é oresponsável pela documentação e conservação <strong>de</strong> sua coleção <strong>de</strong> 60 mil obras. Aexistência <strong>de</strong>ssa coleção está intimamente liga<strong>da</strong> à Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Francesa <strong>de</strong>Psicopatologia <strong>da</strong> Expressão, associação que “formou, em 1993, uma Seção <strong>de</strong>Patrimônio que se ocupa essencialmente <strong>de</strong> inventário, conservação e difusão pormeio <strong>de</strong> exposições <strong>da</strong>s obras que se produzem nos ateliês terapêuticos <strong>de</strong> arte naFrança. Também se espera, eventualmente, po<strong>de</strong>r dispor <strong>de</strong> um espaço museal”(Tru<strong>de</strong>l, 1996, p. 305).


484.3.2 As coleções brasileiras: Osório CésarNo início <strong>de</strong> seu livro A expressão artística nos alienados, a título <strong>de</strong>advertência, Osório César relata que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua <strong>de</strong>signação para o lugar <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>nteinterno do hospital <strong>de</strong> Juquery, em 1923, já tinha idéia <strong>de</strong> “estu<strong>da</strong>r a arte nosalienados, comparando-a com a dos primitivos e a <strong>da</strong>s crianças”. Segundo ele estaidéia surgiu logo após o contato com o livro <strong>de</strong> Prinzhorn Bildnerei <strong>de</strong>r Geisteskranken(César, 1929, p. xxi).No começo, encontramos uma serie enorme <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>: literaturaescassa entre nós, falta <strong>de</strong> <strong>Museu</strong> artístico no Hospital eprincipalmente carência <strong>de</strong> sólido conhecimento <strong>da</strong> matéria queíamos estu<strong>da</strong>r. [...]Depois <strong>de</strong> pacientemente organizado o <strong>Museu</strong>, com as peças e ostrabalhos mais interessantes do Juquery, fomos procurar nas revistasmédicas nacionais e estrangeiras e nos catálogos <strong>de</strong> livrarias, obrasreferentes ao nosso assunto (César, 1929, p. xxi, grifo nosso).Osório César transcreve a história psiquiátrica dos doentes, apresentandoreproduções <strong>de</strong> algumas obras. Curiosamente, a maioria <strong>de</strong>las pertence não aomuseu que afirma ter organizado, mas à “coleção do autor”.Seu objetivo era fazer um estudo comparativo entre “o trabalho artístico dosprimitivos e <strong>da</strong>s crianças” (César, 1929, p. xxi). Para conseguir o seu intento elerealizou pesquisas no então <strong>Museu</strong> Nacional do Rio <strong>de</strong> Janeiro, dirigido por RoquettePinto:Uma boa parte do material artístico que reproduzimos dos índios doBrasil e dos negros, <strong>de</strong>vemos ao prof. Roquette Pinto, diretor do<strong>Museu</strong> Nacional do Rio <strong>de</strong> Janeiro, que nos facilitou e orientou, coma bon<strong>da</strong><strong>de</strong> e a inteligência que lhes são inatas, durante o tempo <strong>de</strong>nossa esta<strong>da</strong> no Rio, as ricas coleções do <strong>Museu</strong> (César, 1929, p.xxii).Paradoxalmente, Osório dispersou gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> coleção, conforme jáobservamos anteriormente. Um <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> Albino Brás, um dos principais artistas doJuquery, aparece reproduzido na página 91 do livro Art Brut <strong>de</strong> Michel Thévoz, comoparte <strong>da</strong> coleção <strong>de</strong> Dubuffet no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Bruta <strong>de</strong> Lausanne. Segundo nosinformou o diretor do MII Luiz Carlos Mello, em visita a uma exposição no hospitalSainte-Anne <strong>de</strong> Paris ele verificou a existência <strong>de</strong> obras doa<strong>da</strong>s por Osório Césaràquela enti<strong>da</strong><strong>de</strong>, por ocasião do I Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria <strong>de</strong> 1950,segundo informações obti<strong>da</strong>s no próprio hospital. Durante pesquisa, encontramos na


49coleção particular organiza<strong>da</strong> por Bruno Decharme 16 , o <strong>de</strong>senho <strong>de</strong> um autor brasileiro<strong>de</strong>sconhecido que indiscutivelmente pertence à coleção do Juquery, haja visto suasemelhança com outro publicado no livro <strong>de</strong> Osório César:Fig. 10. Obra <strong>da</strong>Coleção abcdFig. 11. Obra reproduzi<strong>da</strong>no livro <strong>de</strong> Osório César16 Disponível em . Acesso em: 8 out. 2008


504.3.3 Nise <strong>da</strong> Silveira e o ateliê <strong>da</strong> STONa mesma época em que Dubuffet criava a Compagnie <strong>de</strong> l‟Art Brut em Paris,Nise <strong>da</strong> Silveira e o artista Almir Mavignier organizavam o ateliê <strong>de</strong> pintura <strong>da</strong> Seção<strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional, no distante subúrbio carioca do Engenho <strong>de</strong> Dentro. Em1947 acontece a primeira exposição <strong>da</strong> coleção, no Palácio Capanema, se<strong>de</strong> doMinistério <strong>da</strong> Educação no Rio <strong>de</strong> Janeiro, e outra em 1949, no recém criado <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>de</strong> São Paulo. Foi o próprio diretor do MAM <strong>de</strong> São Paulo, o críticofrancês Leon Degand, quem escolheu pessoalmente os <strong>de</strong>senhos pinturas emo<strong>de</strong>lagens para a exposição 9 Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro. Depois viria a primeiraexposição internacional <strong>da</strong> coleção, no I Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria, emParis, 1950.A produção do atelier era muito gran<strong>de</strong>, aumentando ca<strong>da</strong> dia. Oagrupamento em séries <strong>da</strong>s pinturas levantava interrogações nocampo <strong>da</strong> psicopatologia. Começou-se a falar em museu, como umórgão que reunisse todo esse volumoso material <strong>de</strong> importânciacientífica e artística. E, assim, foi inaugurado o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente, cujas raízes estavam nos ateliers <strong>de</strong> pintura e <strong>de</strong>mo<strong>de</strong>lagem <strong>de</strong> uma mo<strong>de</strong>sta seção <strong>de</strong> terapêutica ocupacional(Silveira, 1981 p. 16).Em 1956 o <strong>Museu</strong> é transferido para um novo local do Hospital, mais amplo eno pavimento térreo.No dia 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1961, os jornais publicaram mensagem do Presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong>República Jânio Quadros, convocando a Dra. Nise ao seu gabinete, para apresentarum plano <strong>de</strong> trabalho “para o exercício e <strong>de</strong> ampliação para o futuro” (Silveira, 1966, p.39). No texto do plano apresentado, Nise afirma que o <strong>Museu</strong> possuía, naquelaocasião, cerca <strong>de</strong> 40 mil peças, e pleiteia recursos para a aquisição <strong>de</strong> estantes <strong>de</strong>aço “que nos livrarão <strong>da</strong> permanente ameaça dos cupins, fichários, arquivos,remo<strong>de</strong>lação <strong>de</strong> álbuns antigos e confecção <strong>de</strong> novos álbuns, biblioteca especializa<strong>da</strong>”(Silveira, 1966, p. 41 e 43).Fato interessante, ela agra<strong>de</strong>ce ao Presi<strong>de</strong>nte as medi<strong>da</strong>s que ele teria tomadono sentido <strong>de</strong> provi<strong>de</strong>nciar o retorno <strong>da</strong>s “pinturas e mo<strong>de</strong>lagens <strong>da</strong>s maissignificativas pertencentes às coleções <strong>de</strong> nosso <strong>Museu</strong>, que se encontram na Europa<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1957, quando foram apresenta<strong>da</strong>s na Exposição Internacional, organiza<strong>da</strong> peloII Congresso Mundial <strong>de</strong> Psiquiatria reunido em Zurique” (Silveira, 1966, p. 43). Issosignifica que as obras permaneceram pelo menos quatro anos na Europa!


51Ela afirma queo museu <strong>de</strong> obras plásticas <strong>da</strong> STO [Seção <strong>de</strong> TerapêuticaOcupacional] do CPN [Centro Psiquiátrico Nacional] tornar-se-á umcentro <strong>de</strong> estudo e pesquisa, aberto não só a psiquiatras, mastambém a antropólogos, artistas, críticos <strong>de</strong> arte e educadoresinteressados pelos problemas <strong>da</strong> psicologia profun<strong>da</strong> e <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>criadora (Silveira, 1966, p. 46).Como resposta ao plano apresentado pela Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, o Presi<strong>de</strong>nteJânio Quadros edita o Decreto 51.169, <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1961, que entre outrascoisas institui o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Segundo ela própria narra, logoapós acontece a renúncia do Presi<strong>de</strong>nte e “as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos novos governos não seinteressaram pela execução do <strong>de</strong>creto presi<strong>de</strong>ncial 51.169 ou não houve condiçõespara fazê-lo. Tudo continuou como antes” (Silveira, 1966, p. 51).Em 1963, o Diretor do Serviço Nacional <strong>de</strong> Doenças Mentais, órgão do governoao qual o hospital estava subordinado, edita a Or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> Serviço no. 3/63, on<strong>de</strong>,<strong>de</strong>termina que as obras plásticas do <strong>Museu</strong> sejam “inalienáveis e que, para fins <strong>de</strong>estudo e pesquisa [...] terão <strong>de</strong> permanecer <strong>de</strong>ntro do território <strong>da</strong>quela Seção”[STOR] (Silveira, 1966, p. 100)Mas, segundo Nise (1966, p. 100), apesar <strong>da</strong> constante vigilância, “o acervo do<strong>Museu</strong> tem sido <strong>de</strong>sfalcado, pelo furto, <strong>de</strong> documentos importantes. Em princípios <strong>de</strong>1965 foi cometido furto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> vulto, que privou as coleções do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> peças domaior interesse para as pesquisas concernentes à psicopatologia profun<strong>da</strong>”. Elaenumera 12 exposições organiza<strong>da</strong>s na se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> 1958 a 1966 e afirma ter o<strong>Museu</strong>, naquela ocasião, cerca <strong>de</strong> 70 mil documentos.Quanto à organização do acervo, vale a pena transcrever o texto integral noqual ela se refere, pela primeira vez, a uma efetiva metodologia museológica.Des<strong>de</strong> o início, <strong>de</strong>senhos e pinturas vêm sendo reunido, segundoseus autores, em or<strong>de</strong>m cronológica. Sentíamos porém, anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma organização <strong>de</strong>sse material que permitisse oestudo <strong>de</strong> temas, sem contudo <strong>de</strong>sfazer a posição <strong>da</strong>s peças <strong>de</strong>ntrodo contexto dos casos clínicos. Dra. Maria Stela Braga, assistente <strong>da</strong>seção <strong>de</strong> terapêutica ocupacional no período maio 1956 – <strong>de</strong>zembro1958, fez as primeiras tentativas <strong>de</strong> organização do <strong>Museu</strong>.Em relatório <strong>de</strong> 1956 escrevíamos: „Dra. Maria Stela Braga tomou ainiciativa <strong>de</strong> organizar o nosso <strong>Museu</strong>, o que vale dizer, <strong>de</strong> inventar aorganização <strong>de</strong> um museu <strong>de</strong> arte psicopatológica, pois amuseologia mundial ain<strong>da</strong> não estabeleceu regras neste campoespecializado‟ (Silveira, 1966, p. 100, aspas no original, grifo nosso).


52Em 1964, graças a uma bolsa <strong>da</strong> Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS), Nisevai estu<strong>da</strong>r no Instituto C. G. Jung, em Zurique. Nessa época o Instituto estavaorganizando seu arquivo <strong>de</strong> imagens (Bild Archiv). (Silveira, 1966, p. 101). De volta aoBrasil, preocupa<strong>da</strong> com a metodologia para catalogação <strong>da</strong>s obras, Nise entra emcontato com o Instituto C. G. Jung, que disponibiliza os <strong>da</strong>dos referentes à sistemática<strong>de</strong> catalogação utiliza<strong>da</strong> por eles:Esta sistemática é a mesma utiliza<strong>da</strong> pelo Archiv for Research inArchetypal Symbolism (ARAS) <strong>de</strong> Nova York, realização <strong>da</strong> BollingenFoun<strong>da</strong>tion. Portanto, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que nos sejam proporciona<strong>da</strong>sindispensáveis condições <strong>de</strong> trabalho, po<strong>de</strong>rá ser organizado no Rio<strong>de</strong> Janeiro um arquivo <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong>ntro do mesmo sistemaadotado pelo Bild Archiv e pelo Aras, o que nos permitirácomunicarmo-nos com essas organizações usando uma linguagemcomum (Silveira, 1966, p. 101, grifo no original).Citando como exemplo as bibliotecas e seus sistemas universais <strong>de</strong>catalogação, ela afirma que, no futuro, arquivos <strong>de</strong> imagens também serãoestruturados segundo sistemas semelhantes, possibilitando aos pesquisadores “terconhecimento <strong>da</strong>s imagens concernentes aos temas que estejam investigando, sejaqual for a procedência <strong>de</strong>ssas imagens e seja qual for o país on<strong>de</strong> se encontre opesquisador” (Silveira, 1966, p. 101). Isso 30 anos antes <strong>da</strong> internet! 17O <strong>Museu</strong> foi admitido como membro do ICOM em 1973. Nesse período, aconvite <strong>da</strong> Dra. Nise, a presi<strong>de</strong>nte e a secretária geral <strong>da</strong> AM-ICOM Brasil,respectivamente Fernan<strong>da</strong> <strong>de</strong> Camargo-Moro e Lour<strong>de</strong>s Maria Novaes, prestamcolaboração no que diz respeito à organização técnica, inclusive com a realização <strong>de</strong>um curso <strong>de</strong> ciclagem museológica para os funcionários do <strong>Museu</strong> em novembro <strong>de</strong>1974 (Silveira, 1980, p.24).A experiência <strong>de</strong>ssas profissionais do campo <strong>da</strong> museologia está <strong>de</strong>scrita noartigo <strong>Museu</strong>m of Images of the Unconscious, Rio <strong>de</strong> Janeiro: an experience livedwithin a psychiatric hospital, publicado em 1976 na Revista <strong>Museu</strong>m, <strong>da</strong> UNESCO. Noartigo, a autora confirma a utilização do ARAS como sistemática utiliza<strong>da</strong> no <strong>Museu</strong>.Segundo ela, o <strong>de</strong>safio era promover modificações sem comprometer a estruturaçãodo <strong>Museu</strong>, sem gran<strong>de</strong>s alterações no convívio <strong>de</strong> pacientes, funcionários e visitantes(Camargo-Moro, 1976, p. 35).Assim, as modificações empreendi<strong>da</strong>s foram realiza<strong>da</strong>s durante o dia, à vista<strong>de</strong> todos: aumento <strong>da</strong> área <strong>de</strong> exposição, montagem <strong>de</strong> uma exposição permanente,17 Fato interessante, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias tentativas <strong>de</strong> contato com o ARAS sem sucesso, durante arealização <strong>de</strong>sta pesquisa finalmente entrou no ar o sítio do ARAS, sobre o qual falaremos em umcapítulo posterior.


53suportes e prateleiras para exibição <strong>de</strong> esculturas, forração <strong>da</strong>s pare<strong>de</strong>s <strong>da</strong>s salas <strong>de</strong>exibição com cânhamo, foram alguns dos aspectos museográficos trabalhados então.Segundo ela, algumas práticas profissionais, padrões em museologia, apesar <strong>de</strong> seualto valor técnico, não po<strong>de</strong>riam ser aplica<strong>da</strong>s no <strong>Museu</strong>, <strong>de</strong>vido às suaspeculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s (Camargo-Moro, 1976, p. 36).A „ciclagem museológica‟ dos funcionários a que se referia Nise, constou <strong>da</strong>realização <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> noventa e oito horas on<strong>de</strong> foram abor<strong>da</strong>dos estudos sobrepatrimônio cultural, preservação, museologia e museografia. Como parte prática,foram realiza<strong>da</strong>s visitas a museus, com a posterior elaboração <strong>de</strong> relatórios ediscussões sobre classificação e catalogação, com a implantação <strong>de</strong> um sistema <strong>de</strong>classificação em bases museológicas, além <strong>da</strong>quela já existente (ARAS) (Camargo-Moro, 1976, p. 44).Participaram <strong>de</strong>sse treinamento 35 pessoas entre médicos (1), psicólogos (2),estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> medicina (1), terapeutas ocupacionais (20) e pessoal administrativo(10). (Camargo-Moro, 1976, p. 44). Foi também realiza<strong>da</strong> pesquisa no entorno dohospital, para verificar o conhecimento sobre o <strong>Museu</strong> na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> circun<strong>da</strong>nte. Oresultado é que 80% <strong>da</strong>s pessoas não sabiam <strong>da</strong> existência do <strong>Museu</strong>. Entrevistascom visitantes <strong>de</strong>monstraram o alto impacto causado pelas obras expostas. Outro<strong>da</strong>do que aparece no artigo é o número <strong>de</strong> visitantes: 280 em 1973 e 580 em 1974(Camargo-Moro, 1976, p. 43).Nessa época, a hostili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> direção do Hospital torna-se evi<strong>de</strong>nte - reduçãodos espaços do <strong>Museu</strong>, corte <strong>de</strong> verbas. (Silveira, 1980, p. 26). Porém, umacontecimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para a sobrevivência do <strong>Museu</strong> vem mu<strong>da</strong>r essecenário <strong>de</strong> ameaças: a criação, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1974, <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, centraliza<strong>da</strong> pela educadora Zoé NoronhaChagas Freitas. Já em 1975 a SAMII tem papel <strong>de</strong>cisivo na realização <strong>da</strong> exposiçãoImagens do Inconsciente – centenário <strong>de</strong> C. G. Jung, primeira mostra itinerante do<strong>Museu</strong>, inaugura<strong>da</strong> no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna do Rio <strong>de</strong> Janeiro em junho <strong>de</strong> 1975 eque <strong>de</strong>pois percorreria as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Brasília, Curitiba e Belo Horizonte (Silveira, 1980p. 27).Inicialmente presidi<strong>da</strong> pelo ministro Eduardo Portela, foi durante aadministração <strong>de</strong> Aluísio Magalhães que a atuação <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> executou o projetoque seria um divisor <strong>de</strong> águas na história <strong>da</strong> instituição: Treinamento Terapêutico eManutenção do <strong>Museu</strong> foi o nome <strong>da</strong>do ao convênio celebrado entre a SAMII e aFINEP e que foi coor<strong>de</strong>nado pela psicóloga Gladys Schincariol (Silveira, 1980, p. 29).A contratação <strong>de</strong> uma equipe <strong>de</strong> bolsistas, técnicos e profissionais possibilitou arealização <strong>de</strong> seminários, cursos, exposições, documentários científicos; a


54organização <strong>de</strong> uma pequena biblioteca especializa<strong>da</strong> e <strong>de</strong> uma imagoteca, comcromos, diapositivos e fotografias; foi também aperfeiçoado o sistema <strong>de</strong> registro ein<strong>de</strong>xação do acervo; possibilitou a restauração <strong>da</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s obras em suporte <strong>de</strong>tela, e a parte mais <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong> do acervo em papel (Silveira, 1980, p. 29). Otreinamento <strong>da</strong> equipe para a conservação e pequenos reparos possibilitou mutirõesque impediram o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> obras importantes do acervo(SOCIEDADE...., [1983])O Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> ce<strong>de</strong>u um prédio in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, nos fundos do terrenodo hospital, anteriormente ocupado por um pronto-socorro. O edifício foi a<strong>da</strong>ptadopara suas novas funções, e a equipe contrata<strong>da</strong> pelo projeto foi absorvi<strong>da</strong> peloMinistério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, uma exigência <strong>da</strong> FINEP para a continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do convênio. Salasforam projeta<strong>da</strong>s especialmente para receber as obras, e móveis <strong>de</strong> aço adquiridospara acondicioná-las. Até então, as obras eram guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s precariamente em salassem nenhuma segurança, e embora organiza<strong>da</strong>s, não possuíam nenhuma proteção.Agora os papéis foram empacotados ou acondicionados em caixas <strong>de</strong> papelão, e astelas dispostas em trainéis <strong>de</strong> telas <strong>de</strong> aço ou estantes modulares (SOCIEDADEAMIGOS...[1983])Uma atmosfera <strong>de</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> permeia hoje o museu como um todo[...]. Bem cedo <strong>de</strong> uma manhã ensolara<strong>da</strong> eu cheguei à nova se<strong>de</strong>.Ela vibrava <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Pacientes pintavam e esculpiam no jardim.As oficinas lá <strong>de</strong>ntro estavam cheias <strong>de</strong> pessoas. Um forte clima <strong>de</strong>entusiasmo permeava o ambiente, acompanhado harmoniosamentepelo piano <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> convívio” (Camargo-Moro, 1981, p. 168,tradução nossa).A precarie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados suportes até então utilizados – papéis <strong>de</strong>embrulho, jornais, formulários administrativos, bem como técnicas não apropria<strong>da</strong>s –óleo sobre papel – levaram a pesquisas e iniciativas não ortodoxas na área <strong>da</strong>conservação, segundo nos informou a conservadora Ingrid Beck, responsável pelaconservação e restauração <strong>da</strong>s obras do MII <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1979. O <strong>Museu</strong> possui em seusarquivos ampla documentação <strong>de</strong>ssa época, com fichas <strong>de</strong> conservação e fotografiasdo processo <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong>s obras.Com o novo espaço o <strong>Museu</strong> passou a exibir mostras mais complexas e commaior cui<strong>da</strong>do nas informações e no acabamento visual. Paralelamente, a equipe<strong>de</strong>senvolvia materiais didáticos para divulgação dos trabalhos realizados no <strong>Museu</strong>:dirigidos por Luiz Carlos Mello, editados por Eurípe<strong>de</strong>s Júnior e coor<strong>de</strong>nados porGladys Schincariol, sempre sob a supervisão científica <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, umconjunto <strong>de</strong> 15 documentários científicos, feitos em diapositivos com textos gravadospor gran<strong>de</strong>s atores e atrizes brasileiros, foi realizado entre 1982 e 1994 (Ver Anexo A).


55Esses documentários são frequentemente apresentados em universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e centros<strong>de</strong> cultura do país, sempre que o <strong>Museu</strong> é convi<strong>da</strong>do a expor seus métodos <strong>de</strong>trabalho.É também na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 que acontece a mostra <strong>de</strong> maior repercussão noRio <strong>de</strong> Janeiro: Os Inumeráveis Estados do Ser, no Paço Imperial <strong>da</strong> Praça XV. Essaexposição, que sintetizava as principais pesquisas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s por Nise e seuscolaboradores no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, visitaria <strong>de</strong>pois as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>Porto Alegre e Belo Horizonte. Alguns anos <strong>de</strong>pois ela iria representar o Brasil emcomemorações internacionais: Lisboa Capital Européia <strong>da</strong> Cultura (Fun<strong>da</strong>çãoGulbenkian, 1994), e 50 Anos <strong>da</strong> ONU (Roma, Istituto Italolatinoamericano <strong>de</strong> Cultura,1995). Uma relação completa <strong>da</strong>s exposições do <strong>Museu</strong> encontra-se no Anexo B.Segundo o curador e diretor do <strong>Museu</strong> Luiz Carlos Mello, a linguagem <strong>da</strong>sexposições do <strong>Museu</strong>, especialmente a partir <strong>de</strong>ssa nova fase <strong>da</strong> instituição, procuraapresentar trabalhos <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética, sem <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> enfatizar a pesquisacientífica. No final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90 crescem as mostras com uma abor<strong>da</strong>gem maisartística, especialmente <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> participação do <strong>Museu</strong> na Mostra doRe<strong>de</strong>scobrimento Brasil + 500.O apoio financeiro <strong>da</strong> FINEP terminou em 1982. Depois, a escassez <strong>de</strong>recursos e a falta <strong>de</strong> pessoal <strong>da</strong> área museológica fez <strong>de</strong>crescer as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>conservação e catalogação, alternando períodos <strong>de</strong> total estagnação com outros <strong>de</strong>pouca produção.4.4 Imagens <strong>da</strong> Loucura, Ciência e Arte: algumas leituras“Mu<strong>de</strong>i para o mundo <strong>da</strong>s imagens.As imagens tomam a alma <strong>da</strong> pessoa.”Fernando DinizO <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente ocupa hoje um lugar especial noimaginário social brasileiro, e é bastante conhecido no exterior. É evi<strong>de</strong>nte o fascínioque ele exerce ao abor<strong>da</strong>r tema tão peculiar, ressaltando não a forma resultante <strong>da</strong>união entre método, suporte e expressão (pintura, escultura), mas a expressão em sicomo possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mensagem: a imagem ela mesma.Nesta seção procuraremos inicialmente refletir sobre o seu assunto principal,ou seja, as imagens elas mesmas. E particularmente os diversos tipos <strong>de</strong> apropriaçãopelo olhar <strong>da</strong>s produções <strong>de</strong> indivíduos excluídos socialmente ou fora <strong>da</strong>s normas,como é o caso dos freqüentadores do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente,especialmente no período em que esteve sob a direção <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira. Num


56mundo ca<strong>da</strong> vez mais dominado por um cau<strong>da</strong>loso e interminável fluxo <strong>de</strong> imagens, oestudo a elas referente ganha importância. Preten<strong>de</strong>mos relacionar as principaiscoleções liga<strong>da</strong>s ao tema <strong>da</strong> loucura e os conceitos e noções com os quaistrabalharam aqueles que as colecionaram ou estu<strong>da</strong>ram <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vistacientífico ou artístico, traçando uma linha do tempo sobre este campo <strong>de</strong> investigação.Quando a Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira começou a reunir as obras produzi<strong>da</strong>s nosateliês <strong>de</strong> pintura e mo<strong>de</strong>lagem por ela inaugurados em 1946, no então CentroPsiquiátrico Nacional 18 , a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa produção logo feriu suaatenção. Entretanto, foi o fato <strong>de</strong> encontrar imagens que representavam símbolos <strong>da</strong>uni<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong> imago <strong>de</strong>i, que levaram-na a buscar uma compreensão maior, uma vezque os indivíduos que as produziam eram rotulados pela medicina <strong>de</strong> dissociados,embotados afetivamente. Se inicialmente a utilização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas tinhacomo objetivo a busca <strong>de</strong> um método terapêutico com um perfil humanista, emoposição ao organicismo predominante na psiquiatria <strong>da</strong> época, a procura <strong>de</strong>explicação científica para o surgimento <strong>da</strong>s imagens e símbolos acima citados acaboupor levá-la a encontrar um meio <strong>de</strong> acesso ao mundo interno <strong>da</strong>queles indivíduos,muitos <strong>de</strong>les incapazes <strong>de</strong> uma expressão verbal inteligível; uma forma <strong>de</strong> realizaruma leitura possível <strong>de</strong> processos intra-psíquicos através <strong>de</strong> longas seqüências <strong>de</strong>imagens.A eficácia do método e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma epistemologia para a leitura<strong>da</strong>s imagens foi a tônica <strong>de</strong> todo o <strong>de</strong>senvolvimento posterior do pensamento <strong>de</strong> Nise<strong>da</strong> Silveira. No capítulo O Mundo <strong>da</strong>s Imagens, <strong>de</strong> sua obra homônima, ela faz umrecolhimento <strong>da</strong>s diversas formas <strong>de</strong> leitura que a psicologia, a psicanálise, apsiquiatria e outros campos, fazem <strong>da</strong>s imagens. Ela chegou mesmo a elaborar umguia para o pesquisador que queira investigar as imagens do acervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Imagens do Inconsciente, do qual trataremos oportunamente.As características dos conteúdos emergentes nas pinturas dos freqüentadoresdo ateliê <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro, aproximaram-na <strong>da</strong> psicologia <strong>de</strong> C. G. Jung. Aexperiência <strong>de</strong> Jung nos hospitais psiquiátricos, sempre procurando compreen<strong>de</strong>r osentido dos <strong>de</strong>lírios e alucinações <strong>de</strong> seus pacientes, certamente contribuiu para queNise pu<strong>de</strong>sse encontrar na obra do mestre suíço uma fun<strong>da</strong>mentação teóricaconsistente para a compreensão <strong>da</strong>s imagens surgi<strong>da</strong>s nos ateliês do hospital. Elamesma afirma que esse encontro foi “o mais importante acontecimento ocorrido nasminhas buscas <strong>de</strong> curiosa dos dinamismos <strong>da</strong> psique” (Silveira, 1981, p. 11).18 Na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60 o CPN passou a chamar-se Centro Psiquiátrico Pedro II, e em 2000, InstitutoMunicipal Nise <strong>da</strong> Silveira, em homenagem a fun<strong>da</strong>dora do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.


57Outras vertentes <strong>de</strong> seus estudos vêm através dos historiadores e críticos <strong>de</strong>arte, <strong>da</strong> filosofia e <strong>da</strong> literatura. Nise dizia que po<strong>de</strong>-se apren<strong>de</strong>r muito mais com aliteratura do que com os “massudos tratados <strong>de</strong> psiquiatria” (Passeti, 1992). Morin(2006) concor<strong>da</strong>: “nos romances há um conhecimento mais profundo dos sereshumanos que nas ciências humanas”.Foi a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse conhecimento profundo que Nise vislumbrou nessasobras. Bachelard (1996, p.7) ressalta que a imagem “atinge as profun<strong>de</strong>zas antes <strong>de</strong>emocionar na superfície”. A atemporali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s formas simbólicas que emergiam naspinturas e <strong>de</strong>senhos dos internados <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro e a observação <strong>da</strong>conseqüente ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> transformadora <strong>de</strong> energias psíquicas, corroboram a afirmação<strong>de</strong> Debray (1993, p. 40) segundo a qualHá uma „história <strong>da</strong> arte‟, mas „a arte‟ em nós não tem história. Aimagem fabrica<strong>da</strong> é <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> em sua fabricação; também o é em suarecepção. O que é intemporal é a facul<strong>da</strong><strong>de</strong> que ela tem <strong>de</strong> serpercebi<strong>da</strong> como expressiva até mesmo por aqueles que nãopossuem seu código. Uma imagem do passado jamais seráultrapassa<strong>da</strong> porque a morte é o nosso limite inultrapassável eporque o inconsciente religioso não tem i<strong>da</strong><strong>de</strong>.É, portanto, em razão <strong>de</strong> seu arcaísmo, que uma imagem po<strong>de</strong>permanecer mo<strong>de</strong>rna.A imagem foi, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a pré-história, meio <strong>de</strong> expressão <strong>da</strong> cultura humana.Segundo Debray, (1993, p. 15) é um fato comprovado, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> há algumas<strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> anos, as imagens nos fazem agir e reagir. Concor<strong>da</strong>ndo coma frase <strong>de</strong> Fernando Diniz, um freqüentador do ateliê do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente que dá epígrafe à presente seção, ele afirma quese nossas imagens nos dominam, se, por natureza, são em potência<strong>de</strong> algo diferente <strong>de</strong> uma simples percepção, sua capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> – aura,prestígio ou irradiação – mu<strong>da</strong> com o tempo [...] variam com o campogravitacional em que são inscritas por nosso olhar coletivo, esseinconsciente partilhado que modifica suas projeções ao sabor <strong>de</strong>nossas técnicas <strong>de</strong> representação. (Debray, 1993, p. 15)A imagem é pré-verbal, não narrativa. Sua íntima relação com a questão <strong>da</strong>morte é conheci<strong>da</strong>, anima que tenta intermediar, preservar, ou mesmo atuar comosubstitutivo do representado, como as réplicas que substituíam os reis <strong>da</strong> França ouos imperadores romanos nos mais importantes momentos <strong>da</strong>s exéquias. No primeirocaso, para evitar a inevitável putrefação durante as honrarias; em Roma, a incineração<strong>de</strong>sse duplo levaria suas cinzas, pela fumaça, a juntarem-se aos <strong>de</strong>uses no empíreo(Debray, 1993, p. 24).


58A imagem seria, assim, na origem e por função “mediadora entre os vivos e osmortos, os seres humanos e os <strong>de</strong>uses; entre uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e uma cosmologia;entre uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sujeitos visíveis e a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s forças invisíveis que ossubjugam” (Debray, 1993, p. 33).Esse po<strong>de</strong>r vem <strong>de</strong> sua originali<strong>da</strong><strong>de</strong> como potência <strong>de</strong> transmissão: sem asproprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s semânticas <strong>da</strong> língua ela possui um po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transmissão inigualável,uma função simbólica ou religiosa: “[...] intermediário entre o homem e seus <strong>de</strong>uses, aimagem exerce uma função <strong>de</strong> relação. Estabelece a ligação entre termos opostos.Garantindo uma transmissão (<strong>de</strong> sentido, <strong>de</strong> graça ou <strong>de</strong> energia), serve <strong>de</strong> junção”(Debray, 1993, p. 47). Se a palavra tem múltiplos significados, a imagem adquire umsignificado para ca<strong>da</strong> olhar.As estelas funerárias procuravam comunicar os vivos com os mortos. O íconebizantino insere-se num espaço eclesial, numa prática litúrgica coletiva. As imagens doCristo e <strong>de</strong> Maria foram diferentemente li<strong>da</strong>s ou estiliza<strong>da</strong>s em diferentes épocas. Aarte contemporânea reflete o individualismo <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> oci<strong>de</strong>ntal contemporânea. Aimagem contém, assim, uma história <strong>de</strong> si própria e ao mesmo tempo reflete umahistória <strong>de</strong> quem a vê.Partindo do conceito <strong>de</strong> midiologia, que segundo Debray (1993, p. 104), seriauma interdisciplina que reduziria a distância entre o aspecto material e o aspectoespiritual <strong>da</strong> imagem ele faz uma interessante divisão <strong>da</strong> história <strong>da</strong> imagem nooci<strong>de</strong>nte, em três períodos que ele <strong>de</strong>nomina midiasferas. No quadro a seguirprocuramos representar essa divisão:Quadro 1: As midiasferasMIDIASFERASLogosfera Grafosfera Vi<strong>de</strong>osferaÍdolo(presença)Arte(representação)Visual(simulação)Grécia Itália AméricaFonte: Debray (1993, p. 7).Essa divisão baseia-se principalmente no aparecimento <strong>da</strong> escrita, <strong>da</strong> imprensae <strong>da</strong> eletrônica, e os países citados são aqueles mais representativos do período emquestão. O segundo quadro que reproduzimos a seguir mostra os atributos <strong>da</strong> imageme sua evolução nessas diferentes fases <strong>da</strong> história:


59Quadro 2: Os atributos <strong>da</strong> imagem segundo as diferentes épocasA IMAGEM TEMCOMO...PRINCÍPIO DEEFICÁCIA(OU RELAÇÃO AOSER)MODALIDADE DEEXISTÊNCIAREFERENTECRUCIAL (FONTEDE AUTORIDADE)FONTE DE LUZOBJETIVO EEXPECTITATIVADE...CONTEXTOHISTÓRICODEONTOLOGIAIDEAL E NORMADE TRABALHOHORIZONTETEMPORAL(E SUPORTE)MODO DEATRIBUIÇÃOFABRICANTESORGANIZADOSEM...OBJETO DOOCULTOINSTÂNCIA DEGOVERNOCONTINENTE DEORIGEM ECIDADE-PONTEMODO DEACUMULAÇÃOAURATENDENCIAPATOLÓGICAPONTO DE MIRARDO OLHARRELAÇÕESMÚTUASNA LOGOSFERA(após a escrita)REGIME IDOLO PRESENÇA(transcen<strong>de</strong>nte)A imagem é vi<strong>de</strong>nteVIVAA imagem é um serO SOBRENATURAL(Deus)ESPIRITUAL(<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro)PROTEÇÃO(e salvação)A imagem capturaDa MAGIA para o RELIGIOSO(tempo cíclico)EXTERIOR(direção teológico-política)EU CELEBRO (uma força)Segundo a Escritura (cânon)A ETERNIDADE(repetição)Duro (pedra e ma<strong>de</strong>ira)COLETIVA – ANONIMATO(Do feiticeiro ao artesão)CLERICATURA –CORPORAÇÃONA GRAFOSFERA(após a imprensa)REGIME ARTEREPRESENTAÇÃO (ilusória)A imagem é vistaFÍSICAA imagem é uma coisaO REAL(A natureza)SOLAR(<strong>de</strong> fora)DELEITAÇÃO(e prestígio)A imagem cativaDo RELIGIOSO para oHISTÓRICO (tempo linear)INTERNA(Administração autônoma)EU CRIO (uma obra)Segundo o Antigo (mo<strong>de</strong>lo)A IMORTALIDADE(tradição)Flexivel (tela)PESSOAL – ASSINATURA(Do artista ao gênio)ACADEMIA – ESCOLANA VIDEOSFERA(após o audiovisual)REGIME VISUALSIMULAÇÃO(computadoriza<strong>da</strong>)A imagem é visualiza<strong>da</strong>RITUALA imagem é uma percepçãoO PERFORMÁTICO(A máquina)ELÉTRICA(<strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro)INFORMAÇÃO(e jogo)A imagem é capta<strong>da</strong>Do HISTÓRICO para oTÉCNICO (tempoindividualizado)AMBIENTE(gestão tecno-econômica)EU PRODUZO(um acontecimento)Segundo Minha Concepção(mo<strong>da</strong>)A ATUALIDADE (inovação)Imaterial (tela)ESPETACULAR – griffe,logotipo, marca(do empresário à empresa)REDE – PROFISSÃOO SANTO(Eu sou sua salvaguar<strong>da</strong>)O BELO(Eu lhe dou prazer)O NOVO(Eu o surpreendo)1) CURIAL – O Imperador 1)MONÁRQUICA = MÍDIA/MUSEU/MERCADO2) ECLESIÁSTICA – Mosteiros ACADEMIA 1500-1750(artes pláticas)e catedrais)BURGUESIA=PUBLICIDADE3) SENHORIAL – O Palácio SALÃO+CRÍTICA+(audiovisual)GALERIA 1968ÁSIAEUROPA – FLORENÇA AMERICA – NOVA IORQUE(entre a antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> e(entre a cristan<strong>da</strong><strong>de</strong> e (entre o mo<strong>de</strong>rno e pósmo<strong>de</strong>rno)cristan<strong>da</strong><strong>de</strong>)mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong>)PÚBLICO:PARTICULAR:PRIVADO/PÚBLICO:o Tesouroa Coleçãoa ReproduçãoCARISMÁTICAPATÉTICALUDICA(anima)(animus)(animação)PARANÓIA CARATER OBSESSIVO ESQUIZOFRENIAATRAVÉS DA IMAGEMA vidência transitaA INTOLERÂNCIA(religiosa)MAIS DO QUE A IMAGEMA visão contemplaA RIVALIDADE(Pessoal)SOMENTE A IMAGEMA visualização controlaA CONCORRÊNCIA(econômica)Fonte: Debray (1996, p. 210).


604.4.1 A gramática <strong>de</strong> Freud e JungA influência <strong>da</strong> contribuição <strong>de</strong> Freud e Jung no campo <strong>da</strong> leitura <strong>da</strong>s imagensé enorme. Embora não seja objetivo <strong>de</strong>sta pesquisa <strong>de</strong>talhar as teorias <strong>de</strong>ssesexpoentes do pensamento analítico, pontuaremos apenas os principais eixos quedizem respeito à questão <strong>da</strong> compreensão do simbolismo <strong>da</strong>s imagens.A Interpretação dos Sonhos foi “a mais valiosa <strong>de</strong>scoberta que tive a felici<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> fazer” (Freud, 1987, p. 38). Segundo ele, “os sonhos realmente têm um sentido eque é possível ter-se um método científico para interpretá-los” (Freud, 1987, p. 122). Éesse método que a psicologia freudiana utiliza para fazer a interpretação dosconteúdos <strong>da</strong>s imagens pelo homem.Para Freud, as imagens estão num plano secundário, são apenas um véu, umamáscara que disfarça tendências e <strong>de</strong>sejos inconscientes. O seu método <strong>de</strong>investigação, aplicado às imagens “as reduz quase inescapavelmente a motivos <strong>de</strong>natureza sexual” (Silveira, 1992, p. 83). Exemplos são os bastante conhecidos estudos<strong>de</strong> Freud sobre pinturas <strong>de</strong> Leonardo <strong>da</strong> Vinci. Mas o que o atrai não é a imagem emsi: “o conteúdo <strong>de</strong> uma obra <strong>de</strong> arte me atrai mais que suas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s formais [...]Teremos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir previamente o sentido e o conteúdo do representado na obra <strong>de</strong>arte, isto é, teremos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r interpretá-la” (Freud apud Silveira, 1992, p. 84).Se o caráter reducionista <strong>da</strong> teoria freudiana obteve sucesso na compreensão<strong>de</strong> conteúdos neuróticos, o mesmo não se po<strong>de</strong> dizer em relação à psicose. Nessecampo, Jung, com sua já menciona<strong>da</strong> larga experiência no hospital psiquiátrico, foimais além, compreen<strong>de</strong>ndo que as imagens não eram apenas máscaras, mas “autoretratosdo que está acontecendo no espaço interno <strong>da</strong> psique”, por ser esta umapeculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial à natureza <strong>da</strong> psique – a configuração <strong>de</strong> imagens. Asimagens seriam a linguagem inata <strong>da</strong> psique em sua estrutura profun<strong>da</strong>. (Silveira,1992, p. 85).Jung concebeu um processo <strong>de</strong> individuação on<strong>de</strong> existiria uma dialética entreo ego e as imagens do inconsciente. Assim, encontram-se em sua obra inúmerasleituras <strong>de</strong> imagens, sejam em sonhos, visões, <strong>de</strong>senhos ou pinturas (Silveira, 1992, p.87). Suas idéias acerca <strong>da</strong> concepção sistêmica dos fenômenos mentais, em oposiçãoao conceito cartesiano <strong>de</strong> Freud (Capra, 1997, p. 352), vêm fazendo com que suainfluência se amplie ca<strong>da</strong> vez mais nos exauridos terrenos antes monopolizados pelapsicanálise.


614.4.2 As leituras européiasA produção <strong>de</strong> imagens feitas por indivíduos marginalizados (outsi<strong>de</strong>rs)começa a <strong>de</strong>spertar interesse, na Europa, no final do século XIX. Dentre essaprodução, <strong>de</strong>staca-se aquela feita por pacientes <strong>de</strong> hospitais psiquiátricos. Como vistoanteriormente, os tratamentos <strong>da</strong> época con<strong>de</strong>navam essas pessoas a longos anos <strong>de</strong>reclusão, em geral abandonados ao azar <strong>da</strong> não-ação. Entretanto, alguns psiquiatrascomeçaram a notar que alguns <strong>de</strong>sses indivíduos produziam escritos, <strong>de</strong>senhos epinturas em suportes os mais diversos. Os primeiros registros dão conta que osmédicos do Hospital Psiquiátrico <strong>de</strong> Wal<strong>da</strong>u, em Berna, conservavam nos prontuários<strong>de</strong> seus pacientes os escritos e <strong>de</strong>senhos por eles produzidos. Entretanto, Simon jáem 1876, Lombroso em 1888 (Gênio e Folia) e Mohr em 1906, já haviam escrito sobreo assunto (Prinzhorn, 1972, p. 1).Entre 1908 e 1910, o Dr. W. Morgenthaler começa a reunir uma coleção a partir<strong>de</strong> obras que solicitava aos médicos suíços <strong>de</strong> estabelecimentos psiquiátricos. Elepublica uma monografia sobre os trabalhos <strong>de</strong> Adolf Wölfli 19 , o mais célebre dosinternados em Wal<strong>da</strong>u, em 1921. Segundo Thévoz (1975, p. 44), uma característicaimportante <strong>de</strong>sse trabalho é a primazia do aspecto estético sobre o interesse clínico.A monografia <strong>de</strong> Morghentaler antece<strong>de</strong> em um ano uma publicação que é atéhoje um marco na história <strong>da</strong>s coleções <strong>de</strong> obras produzi<strong>da</strong>s por pacientespsiquiátricos: Bildnerei <strong>de</strong>r Geisteskranken (A vocação artística dos doentes mentais),<strong>de</strong> H. Prinzhorn (1889 – 1933). Constitui-se no estudo <strong>da</strong> coleção forma<strong>da</strong> inicialmenteno Hospital <strong>de</strong> Heil<strong>de</strong>lberg, entre 1890 e 1920, com cerca <strong>de</strong> 5 mil trabalhos <strong>de</strong> 450pacientes alemães, austríacos, suíços, italianos e holan<strong>de</strong>ses. Prinzhorn enumera 36instituições hospitalares às quais ele se dirigiu solicitando a doação <strong>de</strong> trabalhos.Nessa época ain<strong>da</strong> não havia serviços <strong>de</strong> terapia ocupacional, o quecaracteriza o alto grau <strong>de</strong> espontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sses trabalhos, feitos por uma prementenecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> interior. São obras realiza<strong>da</strong>s em papéis subtraídos <strong>de</strong> cestas <strong>de</strong> lixo,envelopes <strong>de</strong>sdobrados, ou papel higiênico. A atenção <strong>de</strong> Prinzhorn não se volta paraa interpretação dos conteúdos dos <strong>de</strong>senhos, mas para o <strong>de</strong>staque <strong>da</strong>s tendênciasexpressivas. Segundo o autor, apesar <strong>de</strong> utilizar nas imagens “investigaçãopsicopatológica comparativa com as histórias clínicas dos autores”, ele protege-secontra “falsas conclusões” utilizando as experiências <strong>da</strong> história <strong>da</strong> arte e <strong>da</strong> Gestalt(Cardinal, 1972, p. 4). Mesmo assim, ele evita usar o termo “arte” (Kunst), preferindo otermo Gestaltung (<strong>da</strong>r forma a, configurar) (Cardinal, 1972, p. 18).19 Este trabalho foi republicado: Adolf Wölfli par le Prof. Dr. W. Morgenthaler. L‟Art Brut, fascicule 2, 1964.


62Prinzhorn afirma ter procurado, sem sucesso, por uma base firme <strong>de</strong> referênciaem qualquer <strong>da</strong>s ciências. Que os conceitos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/doença e <strong>de</strong> arte/não-arte nãoseriam claramente distintos, a não ser dialeticamente. Assim, escolheucomo ponto central <strong>de</strong> referência um conceito psicológico queaproxima-se <strong>de</strong> nosso principal problema (configuração artística epercepção <strong>da</strong> doença mental), ou seja, o <strong>da</strong> configuraçãopropriamente dita. Este conceito <strong>de</strong>ve ser teoricamente interpretadotão amplamente quanto necessário (Prinzhorn, 1972, p. 4, tradução esublinhado nossos).Apesar <strong>de</strong> admirador do trabalho <strong>de</strong> Freud, Prinzhorn exclui conscientementetodos os aspectos psicanalíticos (Baeyer, 1972, p. vi). Segundo Prinzhorn, o subtítulo<strong>de</strong> seu livro - uma contribuição para a psicologia e a psicopatologia <strong>da</strong> configuração –mostra sua intenção <strong>de</strong> contribuir para uma futura psicologia <strong>da</strong> configuração. Ou seja,uma abor<strong>da</strong>gem fenomenológica.Segundo Silveira (1992, p. 88), foi o <strong>de</strong>sprestígio do estudo <strong>da</strong>s imagens quefez com que a obra <strong>de</strong> Prinzhorn só fosse traduzi<strong>da</strong> para o inglês em 1972 e para ofrancês em 1984. Mas se os psiquiatras tardiamente se interessaram por ela, o mesmonão se po<strong>de</strong> dizer <strong>da</strong> arte mo<strong>de</strong>rna: Marx Ernst, Paul Klee, Kubin e numerosossurrealistas franceses foram por ela influenciados.Silveira (1992) e Cardinal (1972) <strong>de</strong>stacam que uma <strong>da</strong>s principais teses <strong>de</strong>Prinzhorn era a <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> “formas psíquicas <strong>de</strong> expressão e objetos <strong>de</strong> formascorrespon<strong>de</strong>ntes, que em todos os homens, em <strong>da</strong><strong>da</strong>s condições, seriamnecessariamente quase idênticas, mais ou menos como os processos fisiológicos”.Assim como Prinzhorn, o psiquiatra clínico L. Navratil (1921 – 2006), tambémfoi um estudioso <strong>de</strong> arte. Durante muito tempo trabalhou no Hospital Maria Gugging,nas proximi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> Viena. Em seu livro Schizophrenie und Kunst (Esquizofrenia eArte, 1965) afirma que um dos sintomas <strong>da</strong> esquizofrenia é a expressão artística,normalmente sob a forma <strong>de</strong> escritos ou <strong>de</strong>senhos, atribuí<strong>da</strong> por ele como uma funçãoreformadora, ou seja, uma tentativa <strong>de</strong> restauração <strong>da</strong> psique (Cardinal, 1972, p. 21).Ele fala <strong>de</strong> “eixos” estruturais nas pinturas <strong>de</strong> esquizofrênicos: formalização,<strong>de</strong>formação, simbolismo e fisionomização; fala também <strong>de</strong> um “estilo” esquizofrênicocomo sendo irreal, anti-naturalista, <strong>de</strong>sintegrado, maneirista, original. Fazendo umaanalogia com o conceito <strong>de</strong> maneirismo <strong>de</strong>finido por Hocke, diz ser a arteesquizofrênica o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro gesto primitivo <strong>de</strong> maneirismo, uma arte anti-clássica enão <strong>de</strong>riva<strong>da</strong> <strong>de</strong> nenhuma tradição, no sentido <strong>de</strong> uma arte autenticamente original,uma arte não conformista (Cardinal, 1972, p. 21).


63Em 1981 Navratil fundou a “Casa dos Artistas”, um pavilhão multicolorido comas pare<strong>de</strong>s e pisos repletos <strong>da</strong>s mais varia<strong>da</strong>s expressões plásticas <strong>de</strong> seushabitantes – uma <strong>de</strong>zena <strong>de</strong> pessoas com transtornos crônicos, que ali moravam emcomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> e on<strong>de</strong> tinham seus ateliês.Baitello (2000), um estudioso <strong>da</strong>s imagens midiáticas, fala <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>Navratil, afirmando que eleoferece aos estudos <strong>da</strong> imagem, <strong>da</strong> comunicação e <strong>da</strong> cultura umcaminho instigante para compreen<strong>de</strong>r a obsessivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do assédio aque nos submetemos. A fértil produção <strong>de</strong> imagens no <strong>de</strong>correr doséculo que recém findou, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> seu âmbito <strong>de</strong>origem, tem sempre presente ao menos um dos traços <strong>da</strong>expressivi<strong>da</strong><strong>de</strong> esquizofrênica. A obsessão pelas fisionomiasconheci<strong>da</strong>s e pelos ídolos, pelas caras e pela visibili<strong>da</strong><strong>de</strong>fisionômica, a frenética repetição, a insaciável recorrência <strong>da</strong>smesmas imagens em evidência, a adoração pelos formatospadronizados, previsíveis e sempre os mesmos, a adoração dossímbolos e obediência cega a seus preceitos são alguns dosevi<strong>de</strong>ntes traços <strong>da</strong> subordinação humana em relação ao mundo <strong>da</strong>simagens.E conclui: “A contribuição <strong>de</strong> Leo Navratil, reconheci<strong>da</strong> internacionalmente,ain<strong>da</strong> se restringe ao pequeno mundo <strong>da</strong> psiquiatria, não tendo podido, por enquanto,frutificar em universos cognitivos mais amplos”.As imagens produzi<strong>da</strong>s por pacientes <strong>de</strong> hospitais psiquiátricos ganhamimportância. Em 1950, o I Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria realizado em Paris,tem uma exposição <strong>de</strong>sses trabalhos organiza<strong>da</strong> por Robert Volmat. O Brasilcontribuiu com 236 obras para esta exposição, entre elas trabalhos pertencentes àSeção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional dirigi<strong>da</strong> por Nise <strong>da</strong> Silveira, e também <strong>da</strong> coleçãoparticular <strong>de</strong> Osório César, Mário Yahn, e H. Peres <strong>da</strong> Colônia Juliano Moreira(Silveira, 1992; Andriolo, 2003; Volmat, 1956, p. 7).Motivado por esta mostra, Volmat publica, em 1956, o livro L’ArtPsychopathologique, e posteriormente fun<strong>da</strong> a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Psicopatologia <strong>da</strong>Expressão (1959), que realiza vários Congressos Internacionais, um <strong>de</strong>les no Brasil,no Copacabana Palace, em 1988. Segundo Silveira (1992, p. 90-91), embora nessesencontros predomine o mo<strong>de</strong>lo médico, o mérito <strong>de</strong> Volmat, apesar <strong>da</strong> escolha <strong>de</strong>ssa<strong>de</strong>nominação, é o <strong>de</strong> “não utilizar <strong>de</strong>senhos e pinturas unicamente com objetivosdiagnósticos e esclarecimento redutivo <strong>da</strong> dinâmica <strong>de</strong> sintomas, mas tem suaatenção dirigi<strong>da</strong> para a utilização <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas como métodos <strong>de</strong>tratamento nos hospitais psiquiátricos”. Isso porque outros psiquiatras tradicionaisbuscam nas imagens <strong>da</strong>dos para a confirmação <strong>de</strong> seus diagnósticos, não aceitando oefeito terapêutico <strong>da</strong>s mesmas sobre o indivíduo que as configura. Muitos <strong>de</strong>les


64admitem até que “o ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhar ou pintar contribui para um mergulho maisprofundo na psique e fixação em temas <strong>de</strong>lirantes (E. Kries, F. Reitman, J. Plokker,etc.)” (Silveira, 1992, p. 90).Melgar e Gomara (1998, p. 28) classificam o livro L’Art Psychopatologique <strong>de</strong>Volmat como “um importante aporte para o estudo científico <strong>da</strong> arte do psicótico <strong>de</strong>s<strong>de</strong>o ponto <strong>de</strong> vista clínico, terapêutico e psicopatológico”.Uma outra leitura é trazi<strong>da</strong> pelo movimento <strong>da</strong> Arte Bruta. Em um catálogopublicado em 1966 pela Compagnie <strong>de</strong> l‟Art Brut, Dubuffet pontifica o objetivo <strong>de</strong>ssetrabalho: “O objetivo <strong>de</strong> nossa empreita<strong>da</strong> é a procura <strong>de</strong> obras que tanto quantopossível escapem do condicionamento cultural e provenha <strong>de</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras atitu<strong>de</strong>smentais originais” (Cardinal, 1972, p. 24, tradução nossa). Ele não espera uma arte„normal‟ mas “original e imprevisível, <strong>de</strong> outra maneira não terá efeito sobre nós.Apenas <strong>de</strong> uma arte que expressa uma autêntica pureza bruta po<strong>de</strong>-se esperarconduzir a alguma coisa como um dinamismo ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro. To<strong>da</strong>s as outras formas <strong>de</strong>arte são ditas cozi<strong>da</strong>s – <strong>de</strong> acordo com as fastidiosas receitas elabora<strong>da</strong>s pelos chefs<strong>da</strong> cultura” (Cardinal, 1972, p. 26, grifos no original, tradução nossa) 20 .Cardinal afirma ain<strong>da</strong> que essa visão <strong>de</strong> Dubuffet, que chegou a incorporar emseu próprio trabalho aspectos <strong>da</strong> arte infantil, „primitiva‟ e dos loucos, radicaliza seudiscurso no ambiente vivido pela França na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 60. Ele estava plenamenteconvencido quena cultura <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, a massa estava sendo doutrina<strong>da</strong>por poucos que, esgrimindo armas intelectuais – idéias comopatriotismo, orgulho cívico, respeito pelo passado, etc. – buscavapreservar um odioso status quo <strong>de</strong> proporções totalitárias. Cultura,ele diz tornou-se vicia<strong>da</strong> em classificar e estabelecer todos osprodutos a ela oferecidos. (Cardinal, 1972, p. 26, tradução nossa).Dubuffet não aceita a ditadura do passado sobre o presente. Consi<strong>de</strong>rava acultura segundo dois pontos <strong>de</strong> vista: 1) o conhecimento e a <strong>de</strong>ferência para com asobras do passado (que sobreviveram e foram assim <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s pelos historiadores<strong>da</strong> arte); 2) o pleno <strong>de</strong>senvolvimento do pensamento humano. Segundo ele, o primeiroasfixiou o segundo.Num texto <strong>da</strong> época <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Compagnie <strong>de</strong> l’Art Brut, André Bretonescreveu: “Eu não tenho medo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r a idéia [...] <strong>de</strong> que a arte que hoje20 Segundo Silveira (Op. Cit., 15) “no Brasil Mário Pedrosa assumiu posição equivalente a partir doencontro com <strong>de</strong>senhos e pinturas <strong>de</strong> internados no Centro Psiquiátrico [em Engenho <strong>de</strong> Dentro, Rio <strong>de</strong>Janeiro]. [...] A esta arte, que Jean Dubuffet chama Arte Bruta, Mário Pedrosa <strong>de</strong>u o nome <strong>de</strong> ArteVirgem”.


65classificamos como <strong>de</strong> doentes mentais constitui-se em um reservatório <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>moral” (Cardinal, 1972, p. 15, tradução nossa).4.4.3 Uma leitura brasileiraO médico Osório César, pioneiro no Brasil na coleção <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> pacientespsiquiátricos lança, em 1929, o livro A Expressão Artística nos Alienados: Contribuiçãopara os estudos dos Symbolos na Arte, fruto dos estudos que vinha <strong>de</strong>senvolvendo<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1923 no Hospital Psiquiátrico <strong>de</strong> Juqueri. César foi fortemente influenciadopelas idéias <strong>de</strong> Freud, com quem chegou a correspon<strong>de</strong>r-se. Passa a circular no meiointelectual paulista como psicanalista, embora não tenha essa formação (Andriolo,2003).As representações <strong>de</strong> arte <strong>de</strong>sses doentes são to<strong>da</strong>s emocionais,pois elas são <strong>de</strong> caráter espontâneo e se dirigem para um fito único:a satisfação <strong>de</strong> uma necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> instintiva. Elas representam<strong>de</strong>scargas acumula<strong>da</strong>s <strong>de</strong> emoções, durante muito tempo nosubconsciente adormeci<strong>da</strong>s pela censura, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> certosimpulsos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m moral (César apud Mello, 2000).Se para Osório César arte é compensação, realização na fantasia <strong>da</strong>quilo queo real negou, seus estudos comparativos <strong>da</strong> produção plástica dos internados doJuqueri com <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s épocas <strong>da</strong> história <strong>da</strong> arte – arte primitiva, arte futurista,arte vanguardista – mostram que não consi<strong>de</strong>rava as orientações <strong>de</strong> Freud no campo<strong>da</strong>s artes como um corpo <strong>de</strong> doutrina propriamente dito para essa questão. Ele operatambém com a noção <strong>de</strong> inspiração poética em relação ao funcionamento <strong>da</strong>sfantasias infantis e dos sonhos, trabalhando com idéias provenientes <strong>de</strong> Oskar Pfistere Otto Rank (Andriolo, 2003). Como pesquisador, reuniu uma extensa bibliografiasobre o assunto, que abrange praticamente tudo que tinha sido publicado até então.Apesar <strong>de</strong> não discutir em seus escritos a questão <strong>da</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> – ou não –<strong>de</strong>ssas produções como obras <strong>de</strong> arte, sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> no campo artístico é notável.Participou <strong>da</strong> exposição organiza<strong>da</strong> por Flávio <strong>de</strong> Carvalho no Clube dos ArtistasMo<strong>de</strong>rnos, "Semana dos Loucos e <strong>da</strong>s Crianças" (1933), com a palestra intitula<strong>da</strong>"Estudo Comparativo Entre a Arte <strong>de</strong> Vanguar<strong>da</strong> e a Arte dos Alienados”.É um erro classificar a obra <strong>de</strong> arte cria<strong>da</strong> pelo doente mental, <strong>de</strong>arte <strong>de</strong>genera<strong>da</strong> ou patológica. Na expressão artística do doente,<strong>de</strong>scortinamos um mundo calmo, ingênuo, rico <strong>de</strong> colorido, do qual adoença não participa como <strong>de</strong>generescência. É, pois, umaclamorosa injustiça classificá-la como tal. O Panorama artístico do


66doente mental tem a mesma ampliação, a mesma beleza, <strong>da</strong>queledo homem chamado normal (César apud Ferraz, 1998, p. 89).Sua participação no XV Congresso <strong>de</strong> Fisiologia na Rússia, sob a presidência<strong>de</strong> Pavlov, colocou-o em contato com o marxismo, que passa a ser um <strong>de</strong> seusprincipais interesses, <strong>de</strong>pois <strong>da</strong> psicanálise.Dois anos após expor sua coleção no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> São Paulo, OsórioCésar contribui com cinqüenta e quatro obras à exposição, já cita<strong>da</strong> anteriormente, doI Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria, organiza<strong>da</strong> por Robert Volmat. Em 1952 voltaa França para estu<strong>da</strong>r Psicologia Social, e apresenta o trabalho L'Art chez les Alienés<strong>da</strong>ns l'Hôpital <strong>de</strong> Juqueri nos Annales Médico-Psychopatologiques.Nessa mesma época Osório participa <strong>da</strong> formação <strong>da</strong> Escola Livre <strong>de</strong> ArtesPlásticas do Juquery, apontando para um reconhecimento institucional <strong>de</strong>sta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>nos hospitais psiquiátricos (ver nota n. 12).O método comparativo <strong>de</strong> estudo <strong>da</strong>s imagens por Osório César vem namesma linha <strong>de</strong> Lombroso e Prinzhorn. Ele cria um sistema <strong>de</strong> categorias on<strong>de</strong> ca<strong>da</strong>grupo correspon<strong>de</strong> a um „estilo‟, ao qual as obras dos pacientes eram compara<strong>da</strong>s eclassifica<strong>da</strong>s. Seu conteúdo simbólico era, como <strong>de</strong> esperar, feito através <strong>de</strong> umaleitura freudiana (Andriolo, 2003).Esses estudos comparativos <strong>de</strong> Osório César resultaram na produção do livroA Arte nos Loucos e Vanguardistas (Rio <strong>de</strong> Janeiro: Flores & Mano, 1934).O conceito <strong>de</strong> “arte <strong>de</strong>genera<strong>da</strong>” referido por Osório César, foi utilizado pelosnazistas para <strong>de</strong>squalificar a arte mo<strong>de</strong>rna e a cultura não ariana, conforme já vimosanteriormente. A exposição <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> Arte Degenera<strong>da</strong> ocorre em 1937, promovi<strong>da</strong>durante o regime fascista na Alemanha. Nela, a coleção <strong>de</strong> Hei<strong>de</strong>lberg é coloca<strong>da</strong> ladoa lado com obras <strong>da</strong>s vanguar<strong>da</strong>s mo<strong>de</strong>rnas a fim <strong>de</strong> caracterizar aquelas produçõescomo anômalas, não salutares e mostrando o que não seria a arte ariana prega<strong>da</strong> peloregime, o <strong>de</strong>svio a ser evitado (Mello, 2000).4.4.4 Arte ou Ciência?Os exemplos trazidos mostram claramente as duas vertentes principais naabor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s produções expressivas <strong>de</strong> indivíduos marginalizados, em especialàqueles habitantes <strong>de</strong> asilos e hospitais psiquiátricos. Uma é a abor<strong>da</strong>gem „científica‟,médica, e a outra, uma abor<strong>da</strong>gem estética. A primeira, subdivi<strong>de</strong>-se em uma parteque <strong>de</strong>seja servir-se <strong>de</strong>ssa expressão para uma confirmação <strong>de</strong> seu olhar diagnóstico,buscando i<strong>de</strong>ntificar nos conteúdos <strong>de</strong>ssa produção indícios <strong>de</strong> <strong>de</strong>generação e


67anomalia; e outra que, a partir do empirismo, busca compreen<strong>de</strong>r os processos queregeriam uma configuração simbólica, processos subjacentes à área <strong>da</strong> consciência.Compreen<strong>de</strong>-se o fato <strong>da</strong> menor consi<strong>de</strong>ração dos aspectos estéticos por essacorrente, provavelmente <strong>de</strong>vido ao “mal estar que provoca estabelecer relações entrea arte e a loucura, e também a lógica <strong>de</strong>sorientação <strong>de</strong> incursionar em temas <strong>de</strong> artesendo profissionais <strong>de</strong> outras disciplinas” (Melgar e Gomara, 1998, p. 28, traduçãonossa).Conhecedores <strong>de</strong> arte afirmavam a existência <strong>de</strong> valores estéticosem obras <strong>de</strong> esquizofrênicos. [...] Tudo isso me alegravaprofun<strong>da</strong>mente. Mas sempre me mantive discreta quanto apronunciamentos sobre a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s criações plásticas dosdoentes. Isso competia aos conhecedores <strong>de</strong> arte (Silveira, 1981, p.16).Já artistas em geral procuraram encontrar objetos artísticos não convencionais,sustentando a convicção <strong>de</strong> sua natureza artística e seu valor como obras <strong>de</strong> criação.No entanto, existem outras opiniões, segundo as quais essas obras não possuemvalor artístico, seja pela falta <strong>de</strong> intenção na sua criação, seja pela ingerência <strong>de</strong>processos inconscientes na sua execução.De fato há, no meio artístico, uma divergência entre a aceitação ounão dos trabalhos plásticos <strong>de</strong> doentes mentais como arte. Por umlado, consi<strong>de</strong>ra-se e valoriza-se esta expressão exatamente pela suaespontanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e não suscetibili<strong>da</strong><strong>de</strong> às amarras e pré-condiçõesque a arte erudita assim imporia. Por outro lado, há os queconsi<strong>de</strong>rem que nenhum <strong>de</strong>sses trabalhos po<strong>de</strong>ria sequer serconsi<strong>de</strong>rado como obra, uma vez que as pessoas que os geram nãopossuem uma intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> (Gonçalves T., 2004, p. 61).No Brasil essa polêmica aconteceu já na primeira exposição <strong>da</strong> coleção <strong>de</strong>Engenho <strong>de</strong> Dentro. Mário Pedrosa foi um admirador dos ateliês <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong>Dentro. Des<strong>de</strong> o princípio <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>u com entusiasmado o valor artístico <strong>da</strong>s obras aliproduzi<strong>da</strong>s: ele e Quirino Campofiorito esgrimiram, em textos publicados nos jornais<strong>da</strong> época, suas opiniões antagônicas sobre o assunto. Em um <strong>de</strong>sses textos Pedrosa<strong>de</strong>safia:As imagens do inconsciente são apenas uma linguagem que opsiquiatra tem por <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>cifrar. Mas ninguém impe<strong>de</strong> que essasimagens e sinais sejam, além do mais, harmoniosos, sedutores,dramáticos, vivos ou belos, enfim, constituindo em si ver<strong>da</strong><strong>de</strong>irasobras <strong>de</strong> arte (Silveira, 1981, p. 14).[...]Estamos mesmo dispostos a comparecer a um tribunal <strong>de</strong> críticose especialistas, para aí sustentar, <strong>de</strong> pés juntos, ser Raphael umartista <strong>da</strong> sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um Matisse ou <strong>de</strong> um Klee, e que o


68Municipal <strong>de</strong> Emygdio, por exemplo, é uma tela que, pela força <strong>de</strong>expressão, o sopro criador, a atmosfera especial e o arranco <strong>da</strong>imaginação, não tem talvez segun<strong>da</strong> na pintura brasileira (Correio <strong>da</strong>Manhã, 14/2/49).E Nise <strong>da</strong> Silveira (1981, p. 16) completa:Os loucos são comumente consi<strong>de</strong>rados seres embrutecidos eabsurdos. Custará admitir que indivíduos assim rotulados emhospícios sejam capazes <strong>de</strong> realizar alguma coisa comparável àscriações <strong>de</strong> legítimos artistas – que se afirmem justo no domínio <strong>da</strong>arte, a mais alta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana.Essa produção e o interesse por ela <strong>de</strong>spertado tem suas raízes nopensamento romântico, tal como está <strong>de</strong>finido por Duarte (2004). Como já citado, foi,segundo ele, uma reação <strong>de</strong> resistência ao universalismo, que operou principalmentena cultura germânica (lembremos que este movimento <strong>de</strong> estudo e apreciação <strong>de</strong>processos psíquicos inconscientes acontecem nessa cultura: Suíça, Alemanha eÁustria).Nesse pensamento romântico, Duarte <strong>de</strong>staca as dimensões/categoriasconstituintes <strong>de</strong> singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, diferença, fluxo e pulsão, entre outras. Na categoria <strong>de</strong>singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>, o indivíduo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> totali<strong>da</strong><strong>de</strong> em si.“Nações, culturas, organismos e obras <strong>de</strong> arte só são compreensíveis comototali<strong>da</strong><strong>de</strong>s na medi<strong>da</strong> em que se apresentam como singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s nas seqüênciasdos seres <strong>de</strong> seu mesmo nível ontológico” (Duarte, 2004, p. 9). Na dimensão <strong>da</strong>diferença, “ca<strong>da</strong> momento <strong>de</strong> um ente ou <strong>da</strong> dimensão <strong>de</strong> um fenômeno tem suaprópria intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, quase sempre associável à <strong>de</strong> singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>” (Duarte, 2004. p.10).O fluxo seria uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> temporal <strong>da</strong> condição íntima e não uma medi<strong>da</strong>externa: os tempos <strong>de</strong> um mesmo ente não são idênticos entre si, exemplificado nadurée <strong>de</strong> Henri Bérgson, não po<strong>de</strong> ser medi<strong>da</strong> com o mecanismo comum do relógio,mas com a sensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> interior (Duarte, 2004, p. 10).A pulsão, embora um conceito hoje muito associado à psicanálise, traz a idéia<strong>de</strong> que “os fenômenos e os entes, singulares como são dotados <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sedisten<strong>de</strong>r no fluxo vital, temporal, com uma quali<strong>da</strong><strong>de</strong> especial, interna, própria [...] ecaracteriza o elemento mais essencial <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> organiza<strong>da</strong>: o seu horizonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>stinorealizável” (Duarte, 2004, p. 11, grifo nosso).Em sua História <strong>da</strong> Loucura, Foucault afirma que o gesto que divi<strong>de</strong> a loucura<strong>da</strong> razão é ele próprio uma forma <strong>de</strong> loucura. Um ato <strong>de</strong> cisão que traspassa auni<strong>da</strong><strong>de</strong> essencial do homem, mesmo que isso sirva para proteger a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> emque vivemos. Não existe uma linguagem comum entre „doente‟ e „são‟, a comunicação


69foi interrompi<strong>da</strong> e “a linguagem <strong>da</strong> psiquiatria, que é um monólogo <strong>da</strong> razão sobre aloucura, foi baseado apenas nesse silêncio” (Cardinal, 1972, p. 23, tradução nossa).Arnulf Rainer, pintor austríaco contemporâneo, chama a loucura <strong>de</strong> “a décima -terceira musa”; ele <strong>de</strong>senvolveu a noção <strong>de</strong> que a riqueza criativa <strong>da</strong> esquizofrenia é acoisa mais original <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Romantismo, e tão importante para o futuro <strong>da</strong> arte como omo<strong>de</strong>lo Negro no final do séc. XIX. Longe <strong>de</strong> ser relega<strong>da</strong>, “esta produção <strong>de</strong>veriaser reconheci<strong>da</strong> como uma cultura autônoma <strong>de</strong> direito próprio” (Cardinal, 1972,p. 22, tradução e grifo nossos).Com a superação do pensamento romântico, na pós-mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> essaprodução começa a se inserir <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> lógica capitalista, gerando um nicho <strong>de</strong>mercado que já tem uma consi<strong>de</strong>rável expansão principalmente nos Estados Unidos eem alguns países <strong>da</strong> Europa. O interesse econômico tem aguçado diretores <strong>de</strong>museus, marchands e galerias para a exploração <strong>de</strong>sse filão; a biologização <strong>da</strong>loucura, cujo tratamento vai sendo ca<strong>da</strong> vez mais medicalizante, embrutecendo eanestesiando os indivíduos; juntos, esses fatores vão extinguindo esse tipo <strong>de</strong>produção. Mas isto já é uma outra história.


70NISE DA SILVEIRA E O “BENEDITO”:UMA LEITURA TRANSDISCIPLINAR5.


71Fig. 12Raphael DominguesGuache sobre papelAcervo do MII5. NISE DA SILVEIRA E O “BENEDITO”: UMA LEITURA TRANSDISCIPLINARComo já foi citado anteriormente, as principais coleções do acervo do <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente foram tomba<strong>da</strong>s pelo Instituto do Patrimônio Histórico eArtístico Nacional (IPHAN), num total <strong>de</strong> 128 mil obras. Esse foi um significante passopara o reconhecimento, por parte <strong>da</strong> mais alta autori<strong>da</strong><strong>de</strong> do país na área <strong>de</strong>patrimônio, <strong>da</strong> importância <strong>da</strong> preservação <strong>de</strong>sse conjunto <strong>de</strong> obras para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>brasileira. Essas coleções reúnem a produção dos principais criadores do <strong>Museu</strong>, taiscomo Fernando Diniz, A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong>, Carlos Pertuis, Emygdio <strong>de</strong> Barros, RaphaelDomingues, Isaac Liberato, entre outros. Estes artistas já são reconhecidos comoimportantes para a história <strong>da</strong>s artes visuais brasileiras, e o encantamento e influênciaque exerceram em muitos artistas brasileiros po<strong>de</strong> ser atestado nos <strong>de</strong>poimentos<strong>de</strong>sses admiradores, ao longo <strong>da</strong>s déca<strong>da</strong>s <strong>da</strong> existência do <strong>Museu</strong> (Silva, 2006).Entretanto, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente não se resume apenas a umacoleção <strong>de</strong> obras: ele é um exemplo típico <strong>de</strong> patrimônio intangível. Segundo aUNESCO, enten<strong>de</strong>-se por esse conceito


72as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas –junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares que lhes sãoassociados – que as comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, os grupos e, em alguns casos, osindivíduos reconhecem como parte integrante <strong>de</strong> seu patrimôniocultural. Este patrimônio cultural imaterial, que se transmite <strong>de</strong>geração em geração, é constantemente recriado pelas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>se grupos em função <strong>de</strong> seu ambiente, <strong>de</strong> sua interação com anatureza e <strong>de</strong> sua história, gerando um sentimento <strong>de</strong> i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> econtinui<strong>da</strong><strong>de</strong>, contribuindo assim para promover o respeito àdiversi<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural e à criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana (UNESCO, 2004, p.373).Assim o patrimônio do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente reúne não apenasum conjunto <strong>de</strong> obras plásticas, mas todo o processo e o ambiente, o convívio on<strong>de</strong>elas se originam. Posteriormente veremos a importância <strong>de</strong>sse conceito quandorefletirmos sobre os <strong>de</strong>safios atuais <strong>da</strong> instituição.Mas é através <strong>da</strong> materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> constituí<strong>da</strong> pela produção farta dos ateliês <strong>de</strong>pintura e mo<strong>de</strong>lagem instalados por Nise <strong>da</strong> Silveira, em 1946, que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>começa a se interessar por esse trabalho. Vimos como a polêmica cria<strong>da</strong> pelaexposição 9 Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro, com críticos e artistas dividindo-se acercado reconhecimento do valor artístico <strong>de</strong>sses trabalhos, uns afirmando-o, outrosnegando-o, é um exemplo <strong>de</strong> como, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início, essas pinturas, <strong>de</strong>senhos eesculturas romperam preconceitos, suscitando reflexões e <strong>de</strong>bates, questionamentos.Vimos também como a Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira mantinha-se afasta<strong>da</strong> <strong>de</strong>sses<strong>de</strong>bates. Embora acompanhasse com interesse, sua atenção estava volta<strong>da</strong> a outroaspecto do acervo: qual o significado <strong>da</strong>quelas criações para os seus realizadores,que testemunhos essas imagens traziam do interior <strong>de</strong>sses seres e <strong>de</strong> suas sofri<strong>da</strong>sexperiências ontológicas.O que me cabia era estu<strong>da</strong>r os problemas científicos e investigar ofato <strong>de</strong> que certos esquizofrênicos, inclusive alguns ditos „crônicos‟,exprimissem suas vivências através <strong>de</strong> formas que os conhecedores<strong>de</strong> arte admiravam. E, acima <strong>de</strong> tudo, eu me sentia no <strong>de</strong>ver <strong>de</strong>ressaltar o aspecto humano <strong>de</strong>sse fenômeno (Silveira, 1981, p. 16).Esse interesse <strong>de</strong> investigação científica do material produzido nos ateliês <strong>de</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas foi o leitmotiv <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> conhecimentoque resultou em um conjunto <strong>de</strong> práticas e saberes inéditos, caracterizando o <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente como instituição ímpar no mundo. Esse é um patrimôniopouco visível, cuja importância, nos parece, não foi ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente avalia<strong>da</strong>.A Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira chamava <strong>de</strong> “projeto Chaplin” ao <strong>de</strong>sejo utópico <strong>de</strong>fazer uma leitura não verbal <strong>da</strong>s imagens. A leitura <strong>da</strong>s imagens foi o gran<strong>de</strong> fiocondutor <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a sua pesquisa no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Ela


73<strong>de</strong>senvolveu um método <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong>s imagens produzi<strong>da</strong>s nos ateliês, que estáamplamente <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> nos seus livros Imagens do Inconsciente e O Mundo <strong>da</strong>sImagens.Para conhecer melhor essa leitura seria pertinente estabelecer a trajetóriaepistemológica <strong>de</strong>sse trabalho, traçando inicialmente um resumo do itinerário dosestudos <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira. Isso porque “o conhecimento possui proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sinerentes ao sujeito que o constrói. Essas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s serão utiliza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> formadiferente, por ca<strong>da</strong> indivíduo, caracterizando-se, assim, como conhecimento único”(Valentim, 2005, p. 10).Desse modo, interessa-nos o percurso <strong>da</strong> formação intelectual <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong>Silveira, conhecer melhor as origens <strong>de</strong> seu pensamento.5.1. Adquirindo conhecimentoA Dra. Nise formou-se em 1926, na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>da</strong> Bahia, únicamulher entre 157 rapazes. Precoce, conta que o pai teve que alterar sua i<strong>da</strong><strong>de</strong> paraque lá fosse aceita, com presumidos 16 anos. Já vimos, anteriormente que elaafirmava não possuir vocação para medicina, foram os rapazes que freqüentavam suacasa em Maceió que a influenciaram nesse sentido. Além <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça na certidão <strong>de</strong>nascimento, o próprio fato <strong>da</strong> admissão <strong>da</strong> Dra. Nise na Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina vemcontrapor-se aos paradigmas estabelecidos pelo conhecimento para a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>época. Esses paradigmas estabeleciam a mulher como necessária ao papel <strong>de</strong>organizadora do lar e <strong>da</strong> educação dos filhos, segundo a proposta higienista eeugênica <strong>da</strong> época, já aten<strong>de</strong>ndo a um discurso médico. A Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Medicina <strong>da</strong>Bahia fica no Terreiro dos Meninos <strong>de</strong> Jesus, emSalvador, on<strong>de</strong> séculos antes osjesuítas preconizavam a salvação do homem pela religião. Agora, eram os médicos ossalvadores do povo <strong>da</strong>s moléstias, <strong>da</strong> loucura, do crime. O saber médico já era oinstituinte <strong>de</strong> uma nova or<strong>de</strong>m que procurava regular as leis <strong>da</strong> família. Também faziaapenas 40 anos que D. Pedro II promulgara o Decreto que possibilitava o ingresso <strong>de</strong>mulheres nas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s brasileiras (Melo, 2005, p. 44 e 49).A medicina legal encontrava-se então em fase <strong>de</strong> consoli<strong>da</strong>ção; o po<strong>de</strong>rmédico passa a brandir o conhecimento recentemente adquirido sobre as funçõespsíquicas para intervir na <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong>s penas imputa<strong>da</strong>s aos criminosos.Questões como a razão, o grau <strong>de</strong> racionali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o livre arbítrio, levam à criação <strong>da</strong>figura do médico-perito, trazendo o crime para a esfera <strong>da</strong> medicina: “criminalização<strong>da</strong> doença e psiquiatrização do crime”, no dizer <strong>de</strong> Delgado (apud Melo, 2005, p. 62).


74Tendo em vista essa valorização <strong>da</strong> psiquiatria, não é estranhável que váriasteses 21 sobre assuntos psiquiátricos estejam entre os colegas <strong>de</strong> facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Dra.Nise. Influencia do Sympathico na Etiopathogenia <strong>da</strong> Demencia Precoce 22 ,Diagnóstico differencial <strong>da</strong> Demencia Precoce, Espiritismo e Loucura, Primitivo eLoucura. Esta última foi escrita por Arthur Ramos, gran<strong>de</strong> erudito por quem os colegas(inclusive Nise) nutriam admiração. Iniciado nos estudos psicanalíticos, ele cita Freu<strong>de</strong> Jung, traçando algumas relações entre arte, pensamento primitivo e alienaçãomental (Melo, 2005, p. 55-56). Certamente esses estudos marcaram e influenciaram ajovem Nise.Nessas teses po<strong>de</strong>-se notar o embate entre as correntes organicista epsicológica, que persiste até hoje. Na primeira, <strong>de</strong> forte inspiração cartesiana, adoença ocorre no corpo, como um mau funcionamento <strong>de</strong> uma máquina, e por issosão necessárias intervenções para consertá-lo(a). A segun<strong>da</strong> admite as influências doambiente e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> na conformação dos comportamentos individuais.Mário Magalhães, primo e futuro marido <strong>de</strong> Nise, que também se tornaria umdos mais importantes médicos na área <strong>de</strong> políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e sanitarismo do Brasil,também apresentou sua tese À margem dos meios punitivos on<strong>de</strong>, apoiado em idéiassociológicas, trata sobre <strong>de</strong>finições <strong>de</strong> crimes e meios <strong>de</strong> punição (Melo, 2005, p. 62).A tese <strong>da</strong> Dra. Nise intitulou-se Ensaio sobre a criminali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mulheres naBahia. Sua preferência pelos assuntos referentes às minorias oprimi<strong>da</strong>s socialmente éinequivocamente <strong>de</strong>monstra<strong>da</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já. Manter-se-á ao longo <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>,influenciando to<strong>da</strong> sua produção científica. Nela, o problema é <strong>de</strong>batido à luzhigienista <strong>da</strong> época, com ênfase na profilaxia. Destacando não só os fatores sociaisque po<strong>de</strong>m levar o indivíduo ao crime, mas também outros tais como a geografia e oclima, traz consi<strong>de</strong>rações sobre o fato <strong>de</strong> misturarem-se nas penitenciárias criminosose doentes mentais, argumentando a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> separação institucional ediferenciação no tratamento. Enfatiza a atuação <strong>da</strong> medicina no campo social, com areabilitação dos chamados „<strong>de</strong>sregrados‟: prostitutas, vagabundos (Silveira, 1926).Vindo para o Rio <strong>de</strong> Janeiro após a morte <strong>de</strong> seu pai, Nise <strong>da</strong> Silveira vai morarem Santa Teresa, on<strong>de</strong> tem contato com Manuel Ban<strong>de</strong>ira, Laura e Otávio Brandão 23 .Com este último, possuidor <strong>de</strong> uma biblioteca <strong>da</strong> qual era leitora assídua, mantinhafreqüentes <strong>de</strong>bates sobre filosofia, literatura e religião (Bezerra, 1995, p. 148). Com21 - Nessa época as teses eram <strong>de</strong> inteira responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno, sem orientação do professor,versando sobre assuntos relativos às ca<strong>de</strong>iras estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s (Melo, 2005, p. 53).22 - Esse era o termo médico instituído por Emil Kraepelin para a loucura, que estabelecia umacomparação com a <strong>de</strong>menciação verifica<strong>da</strong> na senili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Posteriormente seria adotado o termoesquizofrenia para <strong>de</strong>screver o mesmo quadro.23 - Laura era poetisa e esposa <strong>de</strong> Otávio, lí<strong>de</strong>r comunista do Bloco Operário, partido marxista fun<strong>da</strong>do nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 20.


75Laura, Nise diz ter aprendido a “<strong>de</strong>scobrir beleza em to<strong>da</strong>s as coisas”, a “buscar abeleza nas coisas aparentemente feias”. (Bezerra, 1995 p. 148; Gullar, 1996, p. 37).Essa <strong>de</strong>claração, <strong>de</strong> aparência tão simples, vai nortear a abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> Nise emrelação aos loucos e suas produções e, consequentemente, na apreensão dossignificados que se originaram <strong>de</strong>ssa abor<strong>da</strong>gem.Nise vai então prestar concurso público para médica psiquiatra. Ela afirma terestu<strong>da</strong>do com muito afinco. Já nessa época, indigna-se com o tratamento <strong>da</strong>do aosdoentes, que eram exibidos em sala <strong>de</strong> aula. Interessa-se por Proust, Anatole France,Oscar Wil<strong>de</strong> (Gullar, 1996, p. 38-39).Logo após assumir o cargo no antigo Hospital <strong>da</strong> Praia Vermelha, Nise é presapela ditadura Vargas, em 1935. Quando sua mãe, informa<strong>da</strong> <strong>de</strong> que po<strong>de</strong>ria ser solta,uma vez que não havia nenhuma prova contra ela, veio ao Rio <strong>de</strong> Janeiro naexpectativa <strong>de</strong> libertá-la, o encarregado do processo disse-lhe, nessa ocasião, queNise não sairia tão cedo <strong>da</strong> prisão. “Se há duas pessoas que me têm <strong>da</strong>do muitotrabalho na formação do processo é ela e o Francisco Mangabeira Filho. Eles parecemmalucos, tomavam nota <strong>de</strong> tudo o que liam, e eu estou sendo obrigado pela lei a ler eanalisar to<strong>da</strong>s essas anotações. São folhas e folhas <strong>de</strong> anotações sobre marxismo,sobre literatura, etc.” (Gullar, 1996, p. 44). Esse hábito iria acompanhá-la por to<strong>da</strong>vi<strong>da</strong>, como mostra a farta quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manuscritos <strong>de</strong> seu acervo pessoal, hoje soba guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.Anistia<strong>da</strong>, Nise é reintegra<strong>da</strong> ao serviço público em 1944. Em 1946, asprimeiras oficinas <strong>da</strong> Seção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional são abertas por ela. Ariqueza <strong>da</strong> produção dos ateliês <strong>de</strong> pintura e <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem logo feriu sua atenção.Alguns colegas médicos ridicularizavam seu trabalho, mas essa hostili<strong>da</strong><strong>de</strong> nãoarrefeceu seu ânimo em ampliar seus conhecimentos sobre a linguagem <strong>da</strong> arte e asignificação <strong>da</strong>s formas simbólicas (Gullar, 1996, p. 11). Worringer, Jaspers, Focillon eMerleau-Ponty estão entre os autores citados como esclarecedores <strong>de</strong> suas primeiraspesquisas (Silveira, 1981 cap. 1).Em sua busca para compreen<strong>de</strong>r o fenômeno do não-figurativismo, <strong>da</strong>abstração e do geometrismo nas produções plásticas dos ateliês, fenômeno esse quemuitos psiquiatras atribuíram a um processo regressivo, <strong>de</strong> <strong>de</strong>sumanização, elaescreve:


76Worringer já havia trazido esclarecimentos <strong>de</strong>cisivos quando eu me<strong>de</strong>batia em inúteis procuras nos livros dos psiquiatras. Mais tar<strong>de</strong>, oencontro com Kandinski trouxe <strong>da</strong>dos talvez ain<strong>da</strong> mais importantespara o entendimento <strong>de</strong> numerosas pinturas abstratas surgi<strong>da</strong>s nonosso atelier. [...] O achado empírico encontrava lugar nasconcepções <strong>de</strong> um mestre <strong>de</strong> teoria <strong>da</strong> arte (Silveira, 1981, p. 20).Posteriormente, em um estudo para compreen<strong>de</strong>r as diferentes vivênciasespaciais que fazem parte <strong>da</strong>s experiências psicóticas, é na fenomenologia e ain<strong>da</strong> nocampo <strong>da</strong> arte que vai buscar inspiração: Paul Klee, Herbert Read, Giedion,Minkowski.Mas é o encontro <strong>de</strong> Nise com a psicologia <strong>de</strong> Carl Gustav Jung que vaifertilizar o entendimento <strong>da</strong>s produções dos criadores dos ateliês, trazendo, segundosuas palavras, “uma nova abertura para a compreensão <strong>da</strong> esquizofrenia”. (Silveira,1981, p. 52). Este encontro, iniciado através <strong>de</strong> uma carta por ela dirigi<strong>da</strong> ao Prof.Jung, irá estreitar-se quando <strong>da</strong> apresentação <strong>da</strong> exposição <strong>de</strong> obras do <strong>Museu</strong> no IICongresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria, reunido em Zurique, 1957, inaugura<strong>da</strong> pelopróprio Jung. Outros encontros suce<strong>de</strong>r-se-iam, o mestre suíço ain<strong>da</strong> <strong>da</strong>ria preciosasorientações para o estudo <strong>da</strong> pesquisadora brasileira.No dia 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1957 tive a feliz oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser recebi<strong>da</strong>por C. G. Jung, na sua residência <strong>de</strong> Kusnacht. Senta<strong>da</strong> diante domestre no seu gabinete <strong>de</strong> trabalho, junto à larga janela com vistasobre o lago, falei-lhe <strong>de</strong> minhas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> autodi<strong>da</strong>ta. Ele meouvia muito atento. Perguntou-me <strong>de</strong> repente:- Você estu<strong>da</strong> mitologia?Não, eu não estu<strong>da</strong>va mitologia.- Pois se você não conhecer mitologia nunca enten<strong>de</strong>rá os <strong>de</strong>lírios<strong>de</strong> seus doentes, nem penetrará na significação <strong>da</strong>s imagens queeles <strong>de</strong>senhem ou pintem. Os mitos são manifestações originais <strong>da</strong>estrutura básica <strong>da</strong> psique. Por isso seu estudo <strong>de</strong>veria ser matériafun<strong>da</strong>mental para a prática psiquiátrica (Silveira, 1981, p. 98).Outros estudos também tiveram gran<strong>de</strong> influência no conjunto <strong>de</strong>ssasinvestigações. O movimento <strong>da</strong> antipsiquiatria – com <strong>de</strong>staque para Ronald Laing eDavid Cooper – e autores <strong>de</strong> diferentes áreas do conhecimento como John Perry,Capra, Artaud, Bachelard, entre outros, também influenciaram a Dra. Nise nesseprocesso <strong>de</strong> formação do arcabouço teórico que alicerçou, contribuiu para o<strong>de</strong>senvolvimento dos conhecimentos que foram gerados 24 .24 Essas influências po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>preendi<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> leitura dos dois principais livros <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong>Silveira Imagens do Inconsciente e O Mundo <strong>da</strong>s Imagens.


775.2 Produzindo conhecimentoO <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s pesquisas utilizando a coleção produzi<strong>da</strong> nos ateliêsterapêuticos <strong>da</strong> STO começou pelo estudo dos efeitos <strong>da</strong> lobotomia sobre a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>criadora, um clássico sobre o assunto (Silveira, 1955). Enquanto a primeira exposiçãoexterna <strong>da</strong> coleção <strong>de</strong>spertava interesse e suscitava polêmicas, um dos artistasparticipantes <strong>da</strong> mostra, Lúcio Noemann, foi lobotomizado como resultado <strong>de</strong> umacordo entre o médico e sua família. Nise protestou veementemente (“vocês vão<strong>de</strong>capitar um artista”), sem sucesso. A comparação entre a refina<strong>da</strong> produção do autorantes <strong>da</strong> operação, e a pobreza <strong>de</strong> concepção e execução em sua obra após aintervenção, torna tão evi<strong>de</strong>nte a <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção ocorri<strong>da</strong> no sistema cognitivo do artista,que permite ao mais leigo visualizar os efeitos nocivos <strong>de</strong>ssa prática <strong>da</strong>nosa aocérebro humano.A questão dos afetos, dos relacionamentos, as expressões e vivências doespaço, espaço interno versus espaço externo, a evolução <strong>de</strong> casos clínicos vistosatravés <strong>de</strong> longas séries <strong>de</strong> imagens, temas <strong>de</strong> interesse psiquiátrico e psicológico – o<strong>Museu</strong> se afirma ca<strong>da</strong> vez mais como um centro <strong>de</strong> estudo. Em 1968 passa afuncionar regularmente o Grupo <strong>de</strong> Estudos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, <strong>de</strong>caráter interdisciplinar e freqüentado por médicos, psicólogos, antropólogos,historiadores, artistas e professores, técnicos e estu<strong>da</strong>ntes, numa constante trocaentre experiência clínica e conhecimentos teóricos, sempre tendo como ponto <strong>de</strong>parti<strong>da</strong> a produção plástica dos seus ateliês (Silveira, 1980, p.21).As principais pesquisas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconscientepela Dra. Nise e seus colaboradores estão reuni<strong>da</strong>s nos dois livros mais importantes<strong>de</strong> sua obra, no que se refere ao estudo <strong>da</strong>s imagens: Imagens do Inconsciente e OMundo <strong>da</strong>s Imagens. Esses estudos lançam luzes sobre problemas ain<strong>da</strong> muitoobscuros para a ciência. Se aparentemente parecem <strong>de</strong>stinar-se inicialmente à área<strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> posteriormente verifica-se que trouxeram maiorcompreensão sobre processos e estruturas <strong>da</strong> psique humana, ou seja, pertencentesa todos os indivíduos.Dessa maneira, a relevância <strong>de</strong>sses saberes, <strong>da</strong>s práticas que os produziram,dos fun<strong>da</strong>mentos teóricos e epistemológicos que os justificam, aumenta sobremaneira.Sem diminuir sua importância vital para a compreensão do processo psicótico, ou <strong>da</strong>loucura como esse processo é mais conhecido coloquialmente, esta nova dimensãopara a compreensão <strong>de</strong> certas imaginações, acontecimentos psíquicos, produção <strong>de</strong>


78símbolos, que po<strong>de</strong>m ser acompanha<strong>da</strong>s através <strong>da</strong> história <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>,justificam a socialização <strong>de</strong>sses conhecimentos <strong>de</strong> forma mais enfática.Essa instância <strong>de</strong> conhecimento nos leva a concor<strong>da</strong>r com a nova <strong>de</strong>finiçãopara esses processos <strong>da</strong><strong>da</strong> pela Dra. Nise, segundo uma expressão que ela tomouempresta<strong>da</strong> <strong>de</strong> Antonin Artaud: “os inumeráveis estados do ser 25 ”. Essa novaconcepção vem <strong>de</strong> encontro a to<strong>da</strong> noção <strong>de</strong> „normali<strong>da</strong><strong>de</strong>‟, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o Século XVIIvem recebendo o título <strong>de</strong> racionalismo. E, em ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, encontramos no acervo do<strong>Museu</strong> incontáveis <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> vivências <strong>de</strong>sses inumeráveis, às vezes perigosos,estados do ser. Perigo nesse caso residindo na ameaça à integri<strong>da</strong><strong>de</strong> do ser quevivencia esses estados.Sabemos que uma <strong>da</strong>s características principais <strong>da</strong> esquizofrenia, termomédico que <strong>de</strong>fine a psicose, é a <strong>de</strong>sagregação do pensamento, a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>or<strong>de</strong>nar os conteúdos avassaladores que emergem do inconsciente. Kant (apudHessen, 2000, p. 63) via o pensamento como a função que dá forma às sensaçõesvin<strong>da</strong>s <strong>da</strong> experiência, idéia assim explicita<strong>da</strong>: “nosso pensamento produz or<strong>de</strong>mnesse caos na medi<strong>da</strong> em que conecta os conteúdos sensíveis uns aos outros e fazcom que eles se relacionem”.Entretanto, o pensamento do ponto <strong>de</strong> vista do racionalismo acha-se impotentepara manter a coesão <strong>de</strong>ssa tensão entre as vivências internas e a visão <strong>de</strong> mundopor ele imposta. Caberia mais, aqui, o conceito <strong>de</strong> pensamento complexo no dizer <strong>de</strong>Edgar Morin (2006), no qual os operadores dialógicos juntariam, entrelaçariam coisasque aparentemente estão dissocia<strong>da</strong>s: razão x emoção, sensível x inteligível, real ximaginário, razão x mito, homem x natureza etc.O leitor atento dos livros Imagens do Inconsciente e O Mundo <strong>da</strong>s Imagensperceberá, além <strong>da</strong> forte presença dos conceitos junguianos, uma coerência nométodo analítico <strong>da</strong>s séries <strong>de</strong> imagens que permite entrever, a partir dos resultadospropostos, uma visão dialógica <strong>de</strong>sse universo <strong>de</strong> imagens. Depois <strong>de</strong>acompanharmos os encontros <strong>da</strong> mestra com as obras e as personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s maisdiversas áreas do saber, vamos conhecer, a seguir, os principais fun<strong>da</strong>mentosepistemológicos para essa visão, que a Dra. Nise legou, em um documento especial, aum pesquisador fictício ao qual chamou <strong>de</strong> “BENEDITO”.25 Poeta e teatrólogo francês, Artaud foi durante muito tempo internado em hospitais psiquiátricos e<strong>de</strong>screveu, como nenhum outro, as profun<strong>da</strong>s vivências internas e espirituais pelas quais passou, emcontraste com a incompreensão dos psiquiatras e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em aceitá-las como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras. Narevista Cahiers d‟Art, Artaud refere-se à obra do pintor surrealista Victor Brauner afirmando que eleconhecia os “estados do ser inumeráveis e ca<strong>da</strong> vez mais perigosos”.


795.3 O “Benedito”“O crescimento contínuo nos diversos campos do conhecimento temsido uma constante preocupação dos epistemologistas. Paraorganizar e avaliar os <strong>da</strong>dos do conhecimento são feitos estudossobre a vi<strong>da</strong> científica, a compreensão <strong>da</strong> natureza e a formação <strong>de</strong>assuntos”. (Naves, 2006, p. 40)A Dra. Nise elaborou e organizou um roteiro <strong>de</strong> leituras para o pesquisador que<strong>de</strong>sejasse se aventurar no estudo <strong>da</strong>s imagens. Confeccionou um pequeno ca<strong>de</strong>rno<strong>de</strong> 49 páginas <strong>da</strong>tilografa<strong>da</strong>s, com o seguinte título: “PEQUENO FICHÁRIORELATIVO A OBRAS SOBRE EXPRESSÃO PLÁSTICA DE PSICÓTICOS EALGUMAS DICAS PARA O BENEDITO” [grifo e sublinhado no original]. Este título éesclarecido por ela, com a pergunta: “Quem será o Benedito que vai se interessar porestes livros?” 26Não existe nenhuma <strong>da</strong>ta nesse guia elaborado pela Dra. Nise, porém Melo(2005, p. 281) afirma tê-lo conhecido em 1990, e como o texto citado mais próximo notempo é <strong>de</strong> 1989, supõe-se que foi ao longo <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80 que ela organizou o“Benedito”. Anteriormente, Nise já havia trabalhado em um guia <strong>de</strong> leituras: o livroJung Vi<strong>da</strong> e Obra (1968), até hoje uma referência para os estudiosos <strong>de</strong> Jung noBrasil. Mas é no capítulo 5 do seu livro O Mundo <strong>da</strong>s Imagens que vão aparecer asprincipais linhas traça<strong>da</strong>s no Benedito.Interessante é que nessa compilação a Dra. Nise inclui várias tendências epontos-<strong>de</strong>-vista contraditórios, alguns dos quais exprimem conceitos aos quais ela seposiciona <strong>de</strong> forma contrária. Sua intenção é óbvia: fornecer uma estruturação teóricamultilateral para a compreensão e o <strong>de</strong>senvolvimento do trabalho realizado no <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.O Benedito está dividido em 4 seções:1) Freud e estudos psicanalíticos;2) Jung e estudos junguianos;3) Arteterapia; e4) Estudos psiquiátricos.No primeiro tópico Nise seleciona alguns textos <strong>de</strong> Freud referentes ao estudo<strong>da</strong>s imagens (p.2). Logo após (p.3), cita a frase do mestre “As imagens constituem ummeio muito imperfeito para tornar o pensamento consciente e po<strong>de</strong>-se dizer que opensamento visual aproxima-se mais dos processos inconscientes que o pensamento26 - O “Benedito” encontra-se hoje nos arquivos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.


80verbal e é mais antigo que este, tanto do ponto <strong>de</strong> vista filogenético quantoontogenético”. Define sublimação em um verbete e adiciona um comentário <strong>de</strong>Melaine Klein sobre o assunto. Seguem-se publicações <strong>de</strong> Osório César, comorepresentante brasileiro, Abraham, Grod<strong>de</strong>ck, William Phillips, Baudoin, Schnei<strong>de</strong>r,Goiten, Pickford, Wael<strong>de</strong>r, Sechehaye, Frie<strong>da</strong> Fromm Reichmann, Marion Milner, ErnstKries, Eissler, Adrian Stokes, Melaine Klein, Otto Rank, Robert Volmat, Wiart eDenner. A página 4 do Benedito é to<strong>da</strong> <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> a Osório César, mencionando asquatro publicações <strong>de</strong> sua autoria 27 e chamando a atenção para a Escola Livre <strong>de</strong>Artes Plásticas do Juqueri, cria<strong>da</strong> por Osório, “que produziu obras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> interessecientífico e artístico. Infelizmente esta Escola não conseguiu manter-se e seu acervodispersou-se”.Esten<strong>de</strong>ndo-se ao longo <strong>da</strong>s 16 primeiras páginas, nesse primeiro tópico a Dra.Nise vai apresentando, por entre a bibliografia, conceitos importantes <strong>de</strong> algunsautores, trechos <strong>de</strong> textos que sintetizam seus pensamentos, algumas vezes fazendocontraponto com autores que não fazem parte do bloco.Nessa primeira parte do Benedito, Nise <strong>de</strong>tém-se no estudo feito por Freud 28sobre o quadro pintado por Leonardo <strong>da</strong> Vinci on<strong>de</strong> estão representados o meninoJesus, Maria e Sant‟Ana, estudo sobre o qual Jung e Eissler fizeram observaçõesposteriores; sobre o livro L’art psycopathologique, <strong>de</strong> Robert Volmat, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>staca aspassagens que referem-se aos artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro que participaram <strong>da</strong>mostra por ele organiza<strong>da</strong> no I Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria (Paris, 1950)anteriormente cita<strong>da</strong>; e também sobre os <strong>de</strong>sdobramentos <strong>de</strong>sse evento, que motivoua criação <strong>da</strong> Societé Internationale <strong>de</strong> Psychopathologie <strong>de</strong> l‟Expression, <strong>da</strong> qual a DraNise é sócia fun<strong>da</strong>dora (BRASILIANA DE FRANKFURT, 1994, p. 22).No segundo tópico, Jung e estudos junguianos, a bibliografia referente aomestre suíço está dividi<strong>da</strong>: na primeira parte, os escritos sobre expressão plástica eliteratura; na segun<strong>da</strong> parte, os trabalhos on<strong>de</strong> ele faz interpretação <strong>de</strong> imagens. Entreas duas partes, um texto no qual a Dra. Nise apresenta alguns dos principais conceitos<strong>de</strong> Jung sobre a natureza e significado <strong>da</strong>s imagens configura<strong>da</strong>s por indivíduospsicóticos. “Elas representam auto-retratos <strong>de</strong> sua situação interna e do processopsicótico em <strong>de</strong>sdobramento”, escreve na página 19, e também frequentementeconfiguram-se em “símbolos que con<strong>de</strong>nsam profun<strong>da</strong>s significações e constituemuma linguagem arcaica <strong>de</strong> raízes universais”. O pesquisador não po<strong>de</strong>rá prescindir doestudo <strong>da</strong> mitologia para o aprendizado <strong>de</strong>ssa linguagem. As imagens aterrorizantes,que frequentemente assolam o indivíduo que sofre esse processo, po<strong>de</strong>rão ser27 A Arte nos loucos e vanguardistas (1934); Simbolismo místico nos alienados (1949); Contribuition àl‟étu<strong>de</strong> <strong>de</strong> l‟art chez les alienés (1951); Os místicos dos hospícios (1952).28 Uma recor<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> infância <strong>de</strong> Leonardo <strong>da</strong> Vinci, <strong>de</strong> 1910.


81esvazia<strong>da</strong>s <strong>de</strong> sua forte carga energética por meio <strong>da</strong> pintura. A configuração <strong>de</strong>imagens simbólicas possui eficácia terapêutica, elas transformam energia psíquica,permitindo ao indivíduo a transposição <strong>de</strong> níveis.Embora admitindo que a maioria dos autores não vê eficácia nas imagens nãoverbaliza<strong>da</strong>s e compreendi<strong>da</strong>s, na página 20 a Dra. Nise afirma, com convicção, ocontrário:Entretanto, a experiência <strong>de</strong>monstra que as imagens simbólicaspo<strong>de</strong>m ser apreendi<strong>da</strong>s pela via <strong>de</strong> percepções inconscientes,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do intelecto, influindo sobre o curso do processopsicótico. (sublinhado no original)Conhecendo-se os textos <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, po<strong>de</strong>mos dizer que essesconceitos fazem parte do alicerce <strong>de</strong> sua prática terapêutica e conseqüente produçãocientífica.Este tópico encerra-se com os Estudos Junguianos, compostos por títulos <strong>de</strong>Neumann, Fordhan, Perry, Baynes, Wickes, Morris Philipson, Maud Bodkin, umacoletânea <strong>de</strong> textos sobre inconsciente coletivo, além, é claro, do seu próprio livro,Imagens do Inconsciente. Finaliza (página 23) com a indicação do trabalhoRosegar<strong>de</strong>n and labyrinth, <strong>de</strong> Seonaid Robertson, professora <strong>de</strong> arte em escolasinglesas que encontrou empiricamente imagens arquetípicas nos trabalhos <strong>de</strong> seusalunos, o que aproximou-a <strong>da</strong> psicologia junguiana, levando-a a pesquisas em váriosmuseus e a investigações no campo <strong>da</strong> arqueologia e <strong>da</strong>s religiões antigas.Na parte intitula<strong>da</strong> Arteterapia, a Dra. Nise <strong>de</strong>staca logo <strong>de</strong> início, seupensamento sobre essa <strong>de</strong>nominação, segundo ela ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>, pela conotação <strong>de</strong>valor e quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética conti<strong>da</strong> na palavra arte. Manifesta sua preferência pelostermos “linguagem plástica” ou “expressão plástica”, justificando-a pelo argumento <strong>de</strong>que “nenhum terapeuta tem em mira que seu doente produza obras <strong>de</strong> arte” mas, “oque se <strong>de</strong>seja conseguir com o <strong>de</strong>senho, pintura ou mo<strong>de</strong>lagem espontâneos é teracesso ao misterioso mundo dos psicóticos” (página 25).Entretanto, nesta seção a Dra. Nise se <strong>de</strong>tém sobre ca<strong>da</strong> autor, comentando-oem separado. O <strong>de</strong>staque é para a obra <strong>de</strong> Margaret Naumburg, cuja título Dinamicallyoriented art therapy: its principles and practice (1966), ela recomen<strong>da</strong> “estu<strong>da</strong>r comatenção a introdução”. Na página 27 volta a apontar a diferença entre seu método e aarte-terapia, uma vez que aqui as imagens cria<strong>da</strong>s “não são completamenteespontâneas. São „dinamicamente orienta<strong>da</strong>s‟.” (aspas no original).Estão relaciona<strong>da</strong>s publicações <strong>de</strong> Ainslie Meares, Regina Chagas Pereira,Harris e Cliff J., Hans Prinzhorn. Nise preferiu incluir Prinzhorn nesta seção, muito


82embora seu livro Bildnerei <strong>de</strong>r Geisterkranken tenha sido escrito em 1922, muito antesdo conceito <strong>de</strong> arte-terapia, mais utilizado nos países anglo-saxônicos. Além disso,como já vimos anteriormente, Prinzhorn não foi um terapeuta e sim um pesquisadorque ajudou a reunir a coleção que leva seu nome, constituí<strong>da</strong> por contribuições <strong>de</strong><strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> hospitais <strong>da</strong> Europa. Entretanto, seus estudos no campo <strong>da</strong> arte e ainfluência recebi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Conrad Fiedler, historiador <strong>de</strong> arte e <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong> Gestalt,além <strong>da</strong> exclusão <strong>de</strong>libera<strong>da</strong> dos aspectos psicanalíticos <strong>de</strong> sua leitura, certamentelevaram a Dra. Nise a incluí-lo nesse grupo, reconhecendo que o livro “traz a marca <strong>da</strong>profun<strong>da</strong> intuição e alta inteligência do próprio Prinzhorn” (página 32).Os Estudos Psiquiátricos encerram o Benedito, trazendo uma extensa lista <strong>de</strong>obras que vão <strong>de</strong> 1905, com Rogues <strong>de</strong> Fursac 29 , até A<strong>da</strong>mson (1984). Logo no início<strong>de</strong>ssa seção a Dra. Nise inclui seu trabalho <strong>de</strong> 1955, Contribuição ao estudo dosefeitos <strong>da</strong> leucotomia sobre a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> criadora. Entretanto, é nas obras que se<strong>de</strong>bruçam sobre Van Gogh que ela se <strong>de</strong>tém com mais <strong>de</strong>talhes. Também apareceaqui o estudo <strong>de</strong> Morghentaller sobre Adolf Wolfli, já citado anteriormente.Se a Dra. Nise incluiu Prinzhorn no grupo <strong>da</strong> arte-terapia, porque <strong>de</strong>slocouA<strong>da</strong>mson para os estudos psiquiátricos, ele um artista plástico sem nenhumaformação no campo <strong>da</strong> psiquiatria e cujo trabalho é uma <strong>da</strong>s referências para a arteterapia?Mesmo levando-se em conta que seu trabalho <strong>de</strong>senvolveu-se no interior dohospital psiquiátrico, 30 ao longo <strong>de</strong> 34 anos, um fato chamou-nos a atenção: na página43, que abor<strong>da</strong> as idéias <strong>de</strong> Leo Navratil conti<strong>da</strong>s em seu livro Esquizofrenia e Arte(1965), a propósito <strong>da</strong> comparação <strong>de</strong> Navratil entre o estilo esquizofrênico e omaneirismo, a Dra. Nise remete o leitor para uma “seção <strong>de</strong> arte”, não existente noBenedito. Ela cita duas obras e seus autores não encontrados no Benedito, apontandopossivelmente para uma seção que não chegou a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> 31 .Essa idéia embrionária <strong>de</strong> uma seção <strong>de</strong> arte po<strong>de</strong> ser o motivo <strong>de</strong>encontrarmos, nas últimas páginas do Benedito (Estudos psiquiátricos), anotaçõesreferentes a trabalhos que recusam a abor<strong>da</strong>gem psiquiátrica. Se aparecemjustifica<strong>da</strong>mente aí os nomes <strong>de</strong> Fursac, Antheaume, Dromard, Reitman, CunninghamDax, Plokker, Jean Vichon, Henri Ey, Irene Jakob, Jaspers, Françoise Minkowska,Minkowski, Doiteau, Graetz, Guy Vogelweith, Morgenthaler, parece ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> ainclusão <strong>de</strong> Michel Thévoz, Alfred Ba<strong>de</strong>r e Roger Cardinal, que procuram ver asimagens produzi<strong>da</strong>s pelos pacientes exclusivamente pelo campo <strong>da</strong> Arte. Isso reforçanossa hipótese <strong>de</strong> uma possível quinta seção do Benedito, que seria <strong>de</strong>dica<strong>da</strong> à29 Les écrits et les <strong>de</strong>ssins <strong>da</strong>ns les maladies nerveuses et mentales.30 Netherne Hospital em Londres.31 Labyrinthe <strong>de</strong> l’art fantastique, <strong>de</strong> G. R. Hocke e Maneirismo, <strong>de</strong> A. Hauser


83abor<strong>da</strong>gem do ponto <strong>de</strong> vista artístico. Isso explicaria a ausência <strong>de</strong> autoresimportantes como Mário Pedrosa e Antonin Artaud.Talvez a tarefa <strong>de</strong> escrever seu segundo trabalho sobre leitura <strong>de</strong> imagens, OMundo <strong>da</strong>s Imagens (1992), tenha interrompido a compilação do Benedito, cuja últimapágina tem o título <strong>de</strong> Desenhos Infantis e apresenta obras <strong>de</strong> oito autores, sem tecernenhum comentário. Aliás, o último comentário <strong>da</strong> Dra. Nise no Benedito (página 48) éum alerta muito especial. Ela comenta o fato, já narrado por nós anteriormente napágina 35, do <strong>de</strong>smonte do ateliê criado por A<strong>da</strong>mson, logo após sua morte. “O acervoteve a sorte <strong>de</strong> ser recolhido na residência <strong>de</strong> uma admiradora <strong>de</strong> A<strong>da</strong>mson, ariquíssima Miriam Rothschild. Salvou-se o acervo, mas se acabou o atelier, on<strong>de</strong> osinternados do hospital psiquiátrico exprimiriam suas emoções”, diz ela e arremata:“Esteja vigilante, Benedito, na <strong>de</strong>fesa do seu <strong>Museu</strong>, (M.I.I.) e seu atelier livre!”


84SOCIALIZANDO O CONHECIMENTO6.


85Fig. 13Carlos PertuisÓleo sobre jornalAcervo do MII6. SOCIALIZANDO O CONHECIMENTOEntendo conhecimento como aquele gerado por um sujeitocognoscente, portanto é único, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> estruturas teóricas epráticas que possibilitarão sua construção. No entanto, acredito queo conhecimento somente será construído, a partir <strong>da</strong> suasocialização aos outros. Esta dinâmica é que permite ao outroconhecer o conhecimento socializado, <strong>de</strong> forma a propiciar aconstrução <strong>de</strong> „novo‟ conhecimento. (Valentim, 2005, p. 2).Já foi bastante enfatiza<strong>da</strong> aqui a relevância <strong>da</strong>s pesquisas, em diversas áreasdo conhecimento, sobre o acervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Compartilharesses saberes com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> é o caminho natural, pressuposto mesmo para suaorganização. Trata-se, aqui, <strong>de</strong> transmitir socialmente um patrimônio complexo (objetodo conhecimento) que reúne obras plásticas e textuais, artefatos, técnicas, saberfazer,constituindo-se em um patrimônio que transcen<strong>de</strong> o regional, tornando-secomum à humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.Tendo como eixo principal o método para leitura <strong>de</strong> séries <strong>de</strong> imagens<strong>de</strong>senvolvido pela Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, outro importante acervo se formou no <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, além <strong>da</strong>s obras plásticas: o conjunto <strong>de</strong> textos –


86trabalhos, monografias <strong>de</strong> diferentes autores, que po<strong>de</strong>m ser encontrados nosarquivos do <strong>Museu</strong>. Como exemplo, citaremos os oito números <strong>da</strong> revista Quaternio,edita<strong>da</strong> pelo Grupo <strong>de</strong> Estudos C. G. Jung, que reunia-se nas quartas-feiras à noite noescritório <strong>da</strong> Dra. Nise, à Rua Marquês <strong>de</strong> Abrantes. Esses encontros eram abertos aqualquer pessoa que <strong>de</strong>sejasse freqüenta-los, os participantes revezando-se naapresentação <strong>de</strong> trabalhos sobre os temas escolhidos. A mesma dinâmica ocorria nasreuniões do Grupo <strong>de</strong> Estudos do <strong>Museu</strong>, que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1968 se reúne às terças-feiras <strong>de</strong>manhã, na se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong>. Um interessante trabalho <strong>de</strong> pesquisa seria localizar aspessoas que elaboraram textos para as reuniões <strong>de</strong>sses grupos e que não estão nosseus arquivos, para que sejam agregados aos já existentes 32 .Cerca <strong>de</strong> 90 monografias – teses, dissertações, trabalhos <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong>curso - po<strong>de</strong>m ser encontra<strong>da</strong>s na biblioteca do <strong>Museu</strong> (Ver Anexo E). Algumasversam sobre o trabalho <strong>de</strong>senvolvido no <strong>Museu</strong>, ou a ele referem-se em parte. Outras<strong>de</strong>senvolvem idéias diferentes, inclusive trazendo outras propostas <strong>de</strong> leituras ouclassificação <strong>da</strong>s imagens.A coleção <strong>de</strong> artigos em jornais e revistas também é bastante significativa. Trazregistros importantes <strong>da</strong> história <strong>da</strong> instituição e <strong>de</strong> seu trabalho (ou <strong>de</strong> seuspersonagens), testemunhando a constante luta pela sua sobrevivência no ambientehostil do asilo. Mas também contém o registro <strong>de</strong> eventos, além <strong>de</strong> textos <strong>de</strong> críticos<strong>de</strong> artes do calibre <strong>de</strong> Mário Pedrosa, Ferreira Gullar e Wilson Coutinho.Outro conjunto não menos importante são as anotações feitas pelos monitores<strong>da</strong>s oficinas/ateliês, on<strong>de</strong> estão relata<strong>da</strong>s suas observações durante o trabalho doscriadores, contextualizados em episódios <strong>da</strong>s relações do dia-a-dia.Após o falecimento <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, todo seu acervo pessoal foi doadoà Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, e atualmente encontra-sena se<strong>de</strong> do MII. Este acervo compõe-se <strong>de</strong> manuscritos, correspondência, material <strong>de</strong>imprensa, fotografias, biblioteca, prêmios e me<strong>da</strong>lhas, mobiliário, obras <strong>de</strong> arte.No campo mais específico <strong>da</strong> documentação museológica, temos o registro <strong>da</strong>intensa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conservação/restauração <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> obras, ao longo dosúltimos 30 anos, além <strong>da</strong> iconografia e <strong>da</strong>s informações gera<strong>da</strong>s pela organização <strong>de</strong>mais <strong>de</strong> uma centena <strong>de</strong> exposições, cursos, seminários.Põe-se-nos então a questão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> organização <strong>de</strong>sseconhecimento, difícil <strong>de</strong> se realizar por um sistema unitário, haja vista “a característicaheteróclita dos saberes contemporâneos, muitas vezes discor<strong>da</strong>ntes entre si” (Gil,2000, p. 254). O motivo central é o ineditismo <strong>de</strong>sse conjunto e sua importância para o32 Segundo nos informou a coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> projetos do <strong>Museu</strong>, Gladys Schincariol, o arquivo pessoal <strong>da</strong>Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, que está sob a guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> SAMII, encontra-se em processo <strong>de</strong> organização.


87<strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s pesquisas sobre as origens do imaginário, <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, nosrecantos ain<strong>da</strong> pouco estu<strong>da</strong>dos do psiquismo humano. Conjunto esse cujo acessopúblico resume-se praticamente ao conteúdo dos dois livros <strong>da</strong> Dra. Nise citados comoa síntese <strong>de</strong>ssas principais pesquisas – Imagens do Inconsciente e O Mundo <strong>da</strong>sImagens, às exposições e apresentações dos documentários. Entretanto, seusfun<strong>da</strong>mentos teóricos, bem como to<strong>da</strong> uma gama <strong>de</strong> documentação que vemcomplementá-las – teses, artigos, manuscritos, monografias, ensaios – acha-se ain<strong>da</strong>adormeci<strong>da</strong> para o gran<strong>de</strong> público nas prateleiras <strong>da</strong> biblioteca do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagensdo Inconsciente. Seria necessária a organização <strong>de</strong>sse conjunto sem per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista aconcordância com seu eixo principal, as imagens do acervo.Uma questão seria a metodologia utiliza<strong>da</strong> para a organização <strong>de</strong>sseconhecimento. Arte, ciência, filosofia, história oral, “a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> está em sua forma eeconomia, em se dispor uma varie<strong>da</strong><strong>de</strong> tamanha <strong>de</strong> material sem que isso resulte nummontão <strong>de</strong> partes incoerentes, e sim num todo consistente...” (Chambers apudDarnton, 2001, p. 253). Da<strong>da</strong> a sua característica multifaceta<strong>da</strong>, na qual tantasvertentes e abor<strong>da</strong>gens estão em intersecção, é preciso ter em mente o conceito jácitado <strong>de</strong> pensamento complexo, uma vez que esse conhecimento não está limitadoao campo <strong>da</strong> ciência ou <strong>da</strong> arte, mas engloba mitologia, folclore, religião, arte,educação, antropologia, literatura. Será preciso <strong>de</strong>stacar um elemento integrador quedê uni<strong>da</strong><strong>de</strong> ao conjunto - uma interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, que i<strong>de</strong>ntifique e reúna os pontosfun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong>sse conhecimento.A interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> trata e abrange no universo do conhecimentoa investigação que, sob um projeto <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m comum, proce<strong>de</strong> àcombinação <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los teóricos e práticas próprias a diferentesdisciplinas / áreas, integrando conceitos, métodos distintivos ecomplementares dirigidos ao entendimento para resolver<strong>de</strong>terminado problema (Lima, 2003, p. 62).Pinheiro (2007, p. 3) <strong>de</strong>staca o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> ciência e os problemasepistemológicos <strong>da</strong>s Ciências Humanas e Sociais como motivo para trazer ainterdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> para o centro <strong>da</strong>s discussões, na busca <strong>da</strong> compreensão <strong>da</strong>sinterfaces entre disciplinas. Ela cita a <strong>de</strong>finição <strong>da</strong><strong>da</strong> por Japiassu e Marcon<strong>de</strong>s noDicionário Básico <strong>de</strong> Filosofia:Método <strong>de</strong> pesquisa e <strong>de</strong> ensino suscetível <strong>de</strong> fazer com que duasou mais disciplinas interajam entre si, esta interação po<strong>de</strong>ndo ir <strong>da</strong>simples comunicação <strong>da</strong>s idéias até a integração mútua dosconceitos, <strong>da</strong> epistemologia, <strong>da</strong> terminologia, <strong>da</strong> metodologia, dosprocedimentos, dos <strong>da</strong>dos e <strong>da</strong> organização <strong>da</strong> pesquisa (grifonosso).


88Ain<strong>da</strong> segundo Lima (2003, p. 16), a interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao configurar umaoutra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para a produção do conhecimento, “tem sido i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong> comoalternativa, um novo mo<strong>de</strong>lo para a reorganização do saber, um novo paradigma”.É pensando a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> e plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> documentação do MII, que seráabor<strong>da</strong><strong>da</strong> a organização do conhecimento, sem aprofun<strong>da</strong>r os seus fun<strong>da</strong>mentos, umavez e nos limites <strong>da</strong> presente pesquisa.6.1 Organizando o conhecimentoA organização <strong>de</strong> um conhecimento sempre pressupõe uma classificação,preocupação constante do homem. Após os quase dois mil anos em que prevaleceramas categorizações aristotélicas, suce<strong>de</strong>ram-se diferentes propostas para aestruturação <strong>de</strong> uma or<strong>de</strong>m que permitisse o arranjo metódico e hierarquizado doconhecimento. Em geral, o princípio <strong>de</strong>ssas propostas é <strong>de</strong>terminar gran<strong>de</strong>s áreas ouregiões que se subdivi<strong>de</strong>m em agrupamentos ou facetas, arranja<strong>da</strong>s numa seqüênciasignificativa (Vickery, 1980, p. 37). Estas facetas po<strong>de</strong>m ser subdividi<strong>da</strong>s ehierarquiza<strong>da</strong>s, relaciona<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com sua or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> prevalência. Por exemplo,memória, linguagem e razão foram alguns dos atributos subjetivos utilizados parabasear os agrupamentos. No Séc. XX, o empirismo passa a prevalecer sobre oaspecto teórico <strong>da</strong> questão, surgindo novos conceitos. Aos mo<strong>de</strong>los arborescentes,isto é, baseados na lógica biunívoca, vêm opor-se outros arranjos como o sistema<strong>de</strong>cimal <strong>de</strong> Dewey, a Classificação Decimal Universal <strong>de</strong> Paul Otlet, ou aquelaproposta pelas comissões <strong>da</strong> Library of Congress, dos Estados Unidos.Diferentemente <strong>de</strong> outros teóricos, Ranganathan consi<strong>de</strong>ra „organização doconhecimento‟ e „classificação‟ como sinônimos (Naves 2006, p. 40). Para superar arígi<strong>da</strong> estrutura dos sistemas hierárquicos propõe uma estrutura faceta<strong>da</strong> com síntesenotacional, mapeando o conhecimento com um número ilimitado <strong>de</strong> divisões. Seuconceito <strong>de</strong> multidimensionali<strong>da</strong><strong>de</strong> do conhecimento procura <strong>de</strong>monstrar como osassuntos são resultantes <strong>da</strong> síntese <strong>de</strong> múltiplos conceitos (Naves 2006, p. 42).Embora não seja um sistema teórico <strong>de</strong> classificação na acepção clássica dotermo, po<strong>de</strong>mos também citar a concepção rizomática <strong>de</strong> arranjo.“Os sistemas arborescentes são sistemas hierárquicos quecomportam centros <strong>de</strong> significância e <strong>de</strong> subjetivação. A estessistemas centrados os autores opõem sistemas a-centrados, [...] nosquais a comunicação se faz <strong>de</strong> um vizinho a um vizinho qualquer, [...]<strong>de</strong> tal maneira que as operações locais se coor<strong>de</strong>nam e o resultadofinal global se sincroniza in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma instância central”(Deleuze e Guatarri, 1997, p. 26 e 27).


89A explosão <strong>de</strong> conhecimentos e informação navegantes no tráfego ilimitado <strong>da</strong>Web, trouxe os paroxismos <strong>da</strong> ubiqüi<strong>da</strong><strong>de</strong>, o presencial/distanciamento do sujeito, asnovas tecnologias que o permitem atuar como <strong>de</strong>stinatário e/ou instituinte do saber.Em um processo organizativo contemporâneo, não só esse aspecto tem <strong>de</strong> ser levadoem conta, como consi<strong>de</strong>rá-lo estratégico na formulação, implantação e<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um sistema cujo arranjo possibilite a pesquisa transdisciplinar.Uma organização que reúna o acervo visível e o „invisível‟ do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente vai precisar <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> relação entre assuntos e suas interações,<strong>da</strong> construção <strong>de</strong> um vocabulário compartilhado para a troca <strong>de</strong> informações pelacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sobre esta questão, é oportuno introduzir os princípios <strong>da</strong> organizaçãodo acervo do MII, por suas peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e singulari<strong>da</strong><strong>de</strong>.


906.1.1 – Princípios <strong>de</strong> organização do conhecimento no MIIA primeira forma <strong>de</strong> organização do acervo para consulta pública no <strong>Museu</strong> foibastante criativa e eficaz. A Dra. Nise organizou álbuns <strong>de</strong> pinturas, geralmentecontendo <strong>de</strong> 50 a 100 obras monta<strong>da</strong>s sobre passepartout e enca<strong>de</strong>rna<strong>da</strong>s,inicialmente <strong>de</strong> maneira bastante rudimentar, segundo os materiais disponíveis.Apresentavam seqüências <strong>de</strong>monstrativas <strong>da</strong> reorganização psíquica do indivíduo notranscorrer temporal <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou narrações em imagens <strong>de</strong> sua história pessoalou seus fragmentos, além <strong>de</strong> vivências internas e temas recorrentes na obra <strong>de</strong> um ouvários autores. Alguns <strong>de</strong>sses álbuns ficavam dispostos numa gran<strong>de</strong> mesa <strong>de</strong>reuniões que havia numa <strong>da</strong>s poucas salas <strong>de</strong> exposição, na antiga se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong>.Quando chegava um visitante ou pesquisador, a Dra. Nise folheava esses álbuns,fazendo sobre o assunto comentários e consi<strong>de</strong>rações. Sem sua presença,transformava-se em uma exposição enca<strong>de</strong>rna<strong>da</strong>, coleção que cativava o visitanteseja pela quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética, pelo simbolismo misterioso ou pelo inusitado <strong>de</strong> seusconteúdos.Fig. 14. Dra. Nise e um dosálbuns organizados por elaAs séries <strong>de</strong> imagens constituem a base <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a organização do acervoprincipal do MII, que a equipe chama <strong>de</strong> „prioritário‟. Dentro <strong>de</strong>ssa classificação estãoobras que foram objeto <strong>de</strong> estudos e pesquisas ou possuam relevância na história <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus autores; ou ain<strong>da</strong>, aquelas cita<strong>da</strong>s ou reproduzi<strong>da</strong>s em documentários,filmes, publicações, ou que participaram <strong>de</strong> alguma <strong>da</strong>s centenas <strong>de</strong> exposições járealiza<strong>da</strong>s. Segundo seu diretor atual, essa parte do acervo po<strong>de</strong> chegar a 50 milobras, o que representa cerca <strong>de</strong> 15% do acervo total.


91Uma vez constituí<strong>da</strong>s, essas séries recebem uma classificação, que po<strong>de</strong>obe<strong>de</strong>cer ao assunto abor<strong>da</strong>do pelo autor na série – por exemplo, Os cavalos <strong>de</strong>Octávio Ignácio 33 . ou ao tema estu<strong>da</strong>do na série, geralmente composta <strong>de</strong> váriosautores – por exemplo, Rituais ou Animais Fantásticos. Outras vezes po<strong>de</strong>mrepresentar assuntos que englobam outros assuntos, por exemplo – a Série <strong>da</strong>Japonesa, <strong>de</strong> Fernando Diniz, on<strong>de</strong> temas associados ao Japão e sua cultura sãoreunidos, tendo a figura <strong>da</strong> japonesa como elemento central. Uma mesma série po<strong>de</strong>apresentar-se em várias classificações. Como exemplo, esta última série cita<strong>da</strong> (Série<strong>da</strong> Japonesa) encontra-se no âmbito <strong>de</strong> um tema <strong>de</strong> pesquisa, O afeto catalisador.Já citamos, anteriormente, como a Dra. Nise esperava um sistema <strong>de</strong>classificação <strong>da</strong>s imagens que permitisse o intercâmbio entre instituições afins, quepermitisse aos bancos <strong>de</strong> imagens „conversar‟ entre si. Para isso incluiu um campo naficha <strong>de</strong> catalogação <strong>da</strong>s obras do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>stinado a classificá-las segundo o sistemautilizado na época pelo Archiv for Research in Archetypal Symbolism - ARAS. Essesistema, que reproduzimos no Anexo C refere-se ao conteúdo simbólico <strong>da</strong>s imagens,visto segundo uma leitura analítica. Seu i<strong>de</strong>alizador, o Dr. Joseph L. Hen<strong>de</strong>rson,escreveu com Jung e outros o livro O homem e seus símbolos, publicação que tem porobjetivo apresentar as idéias do mestre suíço <strong>de</strong> forma mais acessível ao público emgeral.O ARAS teve origem numa coleção constituí<strong>da</strong> por Olga Froebe-Kapteyn, naSuíça, inicia<strong>da</strong> em 1933 (ARAS, 2008). Esta coleção reunia inicialmente reproduçõesoriginais, <strong>de</strong>senhos, gravuras - <strong>de</strong> antigos artefatos simbólicos, que eram estu<strong>da</strong>dosem reuniões anuais, promovi<strong>da</strong>s por ela num espaço <strong>de</strong>nominado Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Eranos.Essas reuniões apresentavam caráter interdisciplinar, no mesmo espírito <strong>da</strong>quelas quea Dra. Nise organizaria no Brasil posteriormente. Compareciam a estas reuniõescientistas, teólogos, filósofos, psicólogos, e historiadores tais como Heinrich Zimmer,C. Kerényi, Mircea Elia<strong>de</strong>, Erich Neumann, Gilles Quispel, Gershom Scholem, HenryCorbin, Adolf Portmann, Herbert Read, Max Knoll, Joseph Campbell, além do próprioC.G. Jung.Em 1946 Olga Froebe-Kapteyn doou sua coleção para o Warburg Institute, emLondres, uma escola <strong>de</strong> estudos avançados em literatura, arte, pensamento europeu econhecimentos <strong>de</strong>rivados <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong><strong>de</strong> clássica. Hoje essa coleção po<strong>de</strong> serencontra<strong>da</strong> nos arquivos <strong>da</strong>quele instituto, nomea<strong>da</strong> como Eranos Collection ofJunguian Archetypes. (THE WARBURG INSTITUTE, 2008). Duas cópias fotográficas33 Esta série foi publica<strong>da</strong> com o mesmo título (FUNARTE, [1978]). O organizador e também autor <strong>da</strong>sfotografias foi Humberto Franceschi, que <strong>de</strong>pois veio a ser presi<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente (período 2002 – 2007).


92<strong>da</strong> coleção foram doa<strong>da</strong>s: uma ao Instituto C.G. Jung <strong>de</strong> Zurique, on<strong>de</strong> Dra. Niseestudou, e outra à Bollingen Foun<strong>da</strong>tion <strong>de</strong> New York, que <strong>de</strong>pois originou o ARAS.O atual sistema <strong>de</strong> classificação do ARAS, além dos campos normalmenteencontrados em um sistema <strong>de</strong>ssa natureza inclui uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>talha<strong>da</strong> <strong>da</strong>imagem acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu contexto cultural, com o objetivo <strong>de</strong> esclarecer osignificado do seu simbolismo, atribuído na época <strong>de</strong> sua origem. A imagem também écomenta<strong>da</strong> <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista arquetípico, buscando uma interpretação <strong>da</strong>psicologia mo<strong>de</strong>rna. Segundo o Dr. Hen<strong>de</strong>rson (ARAS, 2008), “embora a interpretaçãopsicológica repouse fortemente na teoria junguiana, a natureza universal dosimbolismo no nível <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> religião é plenamente respeita<strong>da</strong>”. Seguem-se abibliografia e o repositório on<strong>de</strong> a imagem po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong>, além <strong>de</strong> um glossáriodos termos técnicos utilizados no comentário. Conexões po<strong>de</strong>m levar o pesquisador aimagens do mesmo período, ou localiza-la <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma linha do tempo on<strong>de</strong> estãoassinala<strong>da</strong>s as principais civilizações e culturas conheci<strong>da</strong>s.Este sistema <strong>de</strong> organização preenche uma lacuna freqüente nos museus,on<strong>de</strong>, segundo Besser, “a relação entre um objeto e outros objetos, pessoas outeorias, (geralmente um elemento chave para um catálogo <strong>de</strong> exposição) raramenteaparece no sistema <strong>de</strong> gerenciamento <strong>da</strong> coleção” (Besser, 1997)Não encontramos, no sítio do ARAS, nenhum vestígio ou referência ao antigosistema. No MII, o gran<strong>de</strong> volume do acervo para catalogação e a redução progressiva<strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> pesquisa 34 , fez com que a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90 este campo não fossemais preenchido nas fichas <strong>de</strong> catalogação.6.2 Informação em <strong>Museu</strong>sAs obras plásticas que constituem o acervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente situam-se no ambíguo território entre obras <strong>de</strong> arte e documentoscientíficos. São cria<strong>da</strong>s no recinto <strong>de</strong> um ateliê com intenções claramente terapêuticas,e esse próprio ato <strong>de</strong> criação já faz parte do processo <strong>de</strong> musealização, o próprio fazerjá é integrante do processo museal. Mas não se po<strong>de</strong> negar a presença ali <strong>de</strong> artistas,cujas produções são reconheci<strong>da</strong>s pela sua quali<strong>da</strong><strong>de</strong> estética. Seria correto,34 A falta <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> pessoal para o <strong>Museu</strong>, por parte <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s responsáveis, provocou aredução, por transferência, doença ou aposentadoria, <strong>de</strong> 18 funcionários em 2000 (ano em que aPrefeitura do Rio assume a administração <strong>da</strong> instituição) para apenas 9 em 2008. Fonte: Folhas <strong>de</strong>freqüência <strong>de</strong> pessoal, arquivo administrativo do <strong>Museu</strong>.


93consi<strong>de</strong>rar to<strong>da</strong>s as 352 mil peças como obras <strong>de</strong> arte? E que to<strong>da</strong>s pessoas quefreqüentaram os ateliês – centenas <strong>de</strong>las – po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s artistas plásticos?Tru<strong>de</strong>l (1996, p. 306) nos traz a compreensão <strong>de</strong> que as obras cria<strong>da</strong>s emateliês terapêuticos “não são obrigatoriamente obras <strong>de</strong> arte, nem que todos ospacientes possuem real talento <strong>de</strong> artista. [...] Entretanto, as obras ali cria<strong>da</strong>s po<strong>de</strong>mser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s – em um primeiro nível – como documentos médicos. Somente peloprocesso <strong>de</strong> vali<strong>da</strong>ção museal e pela colocação na vitrine obtêm o status <strong>de</strong> obras <strong>de</strong>arte reconhecido em nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”.Já o ex-curador do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Bruta, Michel Thévoz (Chevillion, 1991),afirma que a psiquiatria, a terapia, a saú<strong>de</strong> mental não são <strong>de</strong> sua competência, massegundo o seu ponto <strong>de</strong> vista “a arte-terapia po<strong>de</strong> se justificar por um benefícioterapêutico, mas não produz arte <strong>de</strong> maneira nenhuma. Do ponto <strong>de</strong> vista artístico aprodução dos ateliês <strong>de</strong> arte-terapia é nula [...]”. Já vimos anteriormente a diferençaentre o conceito <strong>de</strong> arte-terapia e o trabalho dos ateliês <strong>de</strong> expressão espontânea do<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Entretanto, pela popularização do termo, estaexpressão vem atualmente a<strong>de</strong>rir-se a todos os tipos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que incluem aexpressão criativa através <strong>de</strong> produções plásticas. Mesmo não trabalhando com osconceitos e métodos <strong>da</strong> arte-terapia, os ateliês terapêuticos do MII certamente sãoatingidos pela fala <strong>de</strong> Thévoz 35 .Esta polêmica não parece, até hoje, chegar a qualquer conclusão <strong>de</strong>finitiva. Emcarta a Jean Tru<strong>de</strong>l (1996, p. 305), o Secretario Geral <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Francesa <strong>de</strong>Psicopatologia <strong>da</strong> Expressão escreve:Nosso gran<strong>de</strong> problema [...] é <strong>de</strong>finir esta arte cuja finali<strong>da</strong><strong>de</strong> não érealmente arte. Também não nos apropriamos do conceito <strong>de</strong> artebruta, apesar <strong>de</strong> seu sucesso. O termo „arte terapêutica‟ pareceincompatível com a difusão <strong>de</strong>sses documentos entre o gran<strong>de</strong>público, <strong>da</strong>do que a terapia, por <strong>de</strong>finição, pertence à or<strong>de</strong>m doíntimo e está preserva<strong>da</strong> pelo sigilo médico. Nosso <strong>de</strong>sejo écomunicar algo sobre a experiência humana aí conti<strong>da</strong>, rompendoassim com o isolamento e a rejeição.A própria proliferação <strong>de</strong> nomes, a persistência na tentativa <strong>de</strong> uma taxonomiaque possa diferenciar as produções dos indivíduos à margem dos processos formais<strong>de</strong> criação, entre os quais <strong>de</strong>stacam-se os loucos, mostra a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> em consi<strong>de</strong>rar35 Em outro artigo, L’Art therapeutique ou l’avenir d’une illusion Thevoz vai mais longe, afirmando que “apenetração no mercado <strong>de</strong> arte <strong>da</strong> expressão artística dos doentes mentais põe em dúvi<strong>da</strong> o valorartístico e a terapêutica <strong>da</strong> terapia pela arte” (Tru<strong>de</strong>l 1996, 305).


94essa produção, como querem alguns, exclusivamente como „arte‟, sem a extensão <strong>de</strong>substantivos ou adjetivos.O jornal New York Times (THE NEW TORK TIMES, 2008, tradução nossa),apresentando a Outsi<strong>de</strong>r Art Fair 2008 36 , expõe a questão:Algumas pessoas acham que o rótulo “outsi<strong>de</strong>r artist” <strong>de</strong>veria serretirado. O que importa se um artista é autodi<strong>da</strong>ta, <strong>de</strong>ficiente mentalou louco, escreve Ken Johnson. A arte „outsi<strong>de</strong>r‟ é boa pela mesmarazão que a arte profissional: porque é atrativa visualmente,realiza<strong>da</strong> <strong>de</strong> forma inventiva, imprevisivelmente imaginativa eapaixonante. Mas é difícil negar que os trabalhos <strong>de</strong> „outsi<strong>de</strong>r art‟mais intrigantes frequentemente parecem oriundos <strong>de</strong> um tipoalternativo <strong>de</strong> consciência – nelas as convenções sociais eintelectuais são menos predominantes, afinam-se mais com osimpulsos visionários intuitivos e emocionais.Por sua vez, o crítico <strong>de</strong> arte Fre<strong>de</strong>rico <strong>de</strong> Morais (2003, p. 373) consi<strong>de</strong>ra queBispo do Rosário, como Fernando Diniz, Raphael, Emygdio, Carlos,A<strong>de</strong>lina, Isaac, são artistas, apesar <strong>da</strong> loucura37. Não se tornaramartistas porque eram loucos. A loucura é uma circunstância navi<strong>da</strong>/obra do artista [...]. Com isso quero dizer que não existe “artelouca” assim como não existe uma “loucura artística” [...]. O queexiste é tão somente arte. Ou loucura.Esta questão, difícil <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r, mostra também a impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>classificar o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente como museu <strong>de</strong> arte ou museu <strong>de</strong>ciência, uma vez que os produtos <strong>de</strong> sua pesquisa estão no âmbito <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong>saú<strong>de</strong> e <strong>da</strong>s ciências humanas, e as obras <strong>de</strong> seu acervo são utiliza<strong>da</strong>s tanto parainterpretações <strong>de</strong> investigações científicas como artísticas. Segundo o curador ediretor do MII, Luiz Carlos Mello, as obras consagra<strong>da</strong>s no meio <strong>da</strong>s artescorrespon<strong>de</strong>m a uma parcela aproxima<strong>da</strong> <strong>de</strong> 15 a 20% do acervo total; <strong>de</strong>ntre estasmuitas também se legitimam no campo <strong>da</strong> ciência, como o restante do acervo.É evi<strong>de</strong>nte que não se busca aqui uma classificação 38para o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Imagens do Inconsciente, o que nos parece irrelevante. “Não há, pois, compartimentosestanques entre os diferentes tipos <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>, sendo, por vezes, bastante flui<strong>da</strong>s asfronteiras entre as suas coleções e domínios <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>” (Bragança, 1988, p. 73).Trata-se <strong>de</strong> investigar as características dos sistemas <strong>de</strong> informação mais a<strong>de</strong>quadosa um acervo <strong>de</strong>ssa natureza. E, neste caso, a <strong>de</strong>finição dos objetos é importante, uma36 Esta feira é um evento anual, realizado no bairro do Soho, em Nova York. Muitas instituições e galerias<strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s à arte „fora <strong>da</strong>s normas‟ são ali apresenta<strong>da</strong>s.37 À exceção <strong>de</strong> Bispo do Rosário, todos os artistas citados pintaram nos ateliês do MII.38 O ICOM é constituído por diversos comitês <strong>de</strong>dicados a museus <strong>de</strong> áreas específicas: ciências, artemo<strong>de</strong>rna, música. O comitê que mais se aproxima do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente é o ComitêInternacional <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s Etnográficos (CIME).


95vez que as informações conti<strong>da</strong>s nos mesmos, provenientes <strong>de</strong> diferentes campos,estão sujeitas a diferentes éticas e representações.Vimos que Tru<strong>de</strong>l 39 consi<strong>de</strong>ra a musealização como vali<strong>da</strong>dora do status <strong>de</strong>obra <strong>de</strong> arte. Este processo é entendido como o “conjunto <strong>de</strong> ações caracteriza<strong>da</strong>spela separação/<strong>de</strong>slocamento do contexto original e privação <strong>da</strong>s funções <strong>de</strong> uso <strong>de</strong>alguns objetos, que passariam a <strong>de</strong>sempenhar a função <strong>de</strong> documentos” (Loureiro, M.,2007). A autora <strong>de</strong>monstra que o conceito „criado‟ ou „inventado‟ <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong>limita oprocesso <strong>de</strong> musealização dos objetos nesse campo, em dois aspectos:1) “obras <strong>de</strong> arte” cria<strong>da</strong>s intencionalmente por profissionaisreconhecidos como artistas para que sejam experimenta<strong>da</strong>s <strong>de</strong>um modo propriamente estético;2) objetos criados fora do contexto mo<strong>de</strong>rno-oci<strong>de</strong>ntal paraexercerem funções as mais diversas, mas que são, entretanto,reconhecidos como “obras <strong>de</strong> arte” e apreciados por suasquali<strong>da</strong><strong>de</strong>s estéticas e valores formais. (Loureiro M., 2003, p.18)A autora ressalta que, no primeiro caso, existe uma forte cumplici<strong>da</strong><strong>de</strong> entre oato <strong>de</strong> musealização e o estatuto <strong>de</strong> obra <strong>de</strong> arte, enquanto o segundo <strong>de</strong>smonta oprocesso tradicional <strong>de</strong> musealização. Embora não se possa dizer que a criação nosateliês do <strong>Museu</strong> esteja fora do contexto mo<strong>de</strong>rno-oci<strong>de</strong>ntal, reconhecemos queambas as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s se fazem presentes nesse caso, ou seja, as criações sãoexecuta<strong>da</strong>s para também exercer funções diversas <strong>da</strong>quelas estabeleci<strong>da</strong>s pelocampo <strong>da</strong> arte.Lembremos que ao ser <strong>de</strong>nominado <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, estásendo reporta<strong>da</strong> uma virtuali<strong>da</strong><strong>de</strong> (imaginário, vivências internas) que se manifesta(atualiza) no real através <strong>da</strong>s imagens plasma<strong>da</strong>s nos ateliês. Este fato aproxima o MIIdos museus <strong>de</strong> ciência, que frequentemente li<strong>da</strong>m com acontecimentos e eventosinacessíveis à percepção humana e on<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados objetos “só po<strong>de</strong>m sertransportados por meio <strong>de</strong> imagens ou mo<strong>de</strong>los (cartas celestes, mapas, globos) efragmentos” (Loureiro M., 2007). Assim como as expedições naturalistas para aformação <strong>de</strong> coleções gerou uma enorme produção <strong>de</strong> imagens, a introspecçãopsíquica traz para o mundo externo visões <strong>de</strong> um território afastado <strong>de</strong> nossasconsciências. Assim, temos na contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> referências e fragmentos <strong>de</strong> outrosespaços, tempos e significados (Loureiro, M. 2007).É nesse processo <strong>de</strong> musealização que vão se constituir as informaçõesinstitucionaliza<strong>da</strong>s, ou seja, o grupo <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos que, lembremos, sempre vai estar39 Op. Cit.


96contaminado por alguma parcela <strong>de</strong> arbitrarie<strong>da</strong><strong>de</strong>, e virá a luz nos procedimentos <strong>de</strong>comunicação – exposições, catálogos, bancos <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos. A informação em museusabrange os espaços <strong>da</strong> exposição, <strong>da</strong>s bibliotecas, arquivos e bases <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos (Lima eCosta, 2007, p. 4). É no cruzamento <strong>da</strong> Museologia e <strong>da</strong> Ciência <strong>da</strong> Informação queestá situa<strong>da</strong>:É do processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong>scritiva a que são submeti<strong>da</strong>svaria<strong>da</strong>s coleções, elementos e espaços, tanto sob o aspecto formalcomo <strong>da</strong> relação contextual agregando numerosas fontes <strong>de</strong>referência, que se originam os catálogos dos acervos museológicos.A Documentação Museológica (...), sistema <strong>de</strong> recuperação <strong>da</strong>informação - é o território comum para o processo <strong>de</strong> interseção dosdois domínios do conhecimento. (Lima e Costa, 2007, p.8).O objeto museal que impõe-se, aqui, são obras plásticas, e sob este aspecto éa informação em arte – in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>da</strong> discussão acima referi<strong>da</strong> – quepredomina, uma vez que a valorização estética será apenas mais um <strong>da</strong>do noconjunto do sistema <strong>de</strong> informações.“„Informação em Arte é o estudo <strong>da</strong> representação do conteúdo informacional<strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> Arte, a partir <strong>de</strong> sua análise e interpretação. Nesse sentido, a obra <strong>de</strong>arte é fonte <strong>de</strong> informação,‟ objeto <strong>de</strong> estudo e trabalho pertinente a museólogos, emmuseus <strong>de</strong> Arte” (Pinheiro, 2000 e 2008, p. 10).Segundo a autora, é nos anos 80 que tomam impulso as iniciativas <strong>de</strong> criação<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> informação em museus <strong>de</strong> arte. Um dos reflexos <strong>de</strong>sse impulso foi acriação, pelo ICOM, do Comitê Internacional <strong>de</strong> Documentação – CIDOC, quecongrega cientistas <strong>da</strong> informação e <strong>da</strong> computação e tem trazido importantecontribuição para os estudos nessa área. O Comitê produziu um mo<strong>de</strong>lo técnico<strong>de</strong>scritivopara catalogação, uma matriz proposta para a ficha catalográfica do objetomuseológico: o International gui<strong>de</strong>lines for museum object information que serve <strong>de</strong>base para gran<strong>de</strong>s museus em todo o mundo (Lima, 2003, p. 154).Uma iniciativa pioneira foi o Getty Art History and Information Program – AHIP,<strong>da</strong> Getty Foun<strong>da</strong>tion. Em seu início reunia alguns dos maiores museus dos EUA, comoo MOMA, o Metropolitan, o Guggenhein, a National Gallery of Art <strong>de</strong> Washington, como objetivo <strong>de</strong> “fortalecer a presença, a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e a acessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> informação emarte cultura através <strong>da</strong> tecnologia computacional” (Pinheiro, 2000; Fink, 1998). Por suaimportância, o programa transformou-se no Getty Information Institute, <strong>de</strong>sativado em1998 após <strong>de</strong>senvolver uma série <strong>de</strong> ferramentas e padrões com os principais centros<strong>de</strong> pesquisa nas diversas áreas do patrimônio cultural. Na área dos museus <strong>de</strong>stacaseo Consortium for the Computer Interchange of <strong>Museu</strong>m Information (CIMI), em


97parceria com o The Canadian Heritage Information Network e o Research LibrariesGroup. O objetivo do consórcio foi <strong>de</strong>senvolver e testar aplicativos e formatos <strong>de</strong>intercâmbio como o protocolo Z39.50 e <strong>de</strong>senvolver padrões <strong>de</strong> meta<strong>da</strong>dos como oDublin Core (Fink, 1999).Um dos resultados do CIMI foi a publicação do Categories for the Description ofWorks of Art (CDWA), uma estrutura <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir categorias <strong>de</strong>informação em obras <strong>de</strong> arte para acesso eletrônico. Esta ferramenta, construí<strong>da</strong> como auxílio <strong>de</strong> pesquisadores acadêmicos, curadores <strong>de</strong> museus, profissionais <strong>da</strong>informação, apresenta um padrão para a documentação <strong>de</strong> objetos <strong>de</strong> arte ereproduções que permite o intercâmbio <strong>de</strong> informações via internet e tem sidolargamente adota<strong>da</strong>, inclusive em regiões como o Leste Europeu e a América Latina.6.3 Informação em arte no BrasilSão muito frágeis os investimentos <strong>da</strong> museologia brasileira quando o assuntoé museu como sistema ou fonte <strong>de</strong> informação, ou seja, intermediários entredocumentos/objeto e usuários. Como resultado, temos a subutilização dos acervosenquanto fontes <strong>de</strong> pesquisa (Ferrez e Bianchini, 1987 p xvi). O processo <strong>de</strong>automação <strong>da</strong>s informações dos museus brasileiros encontra-se ain<strong>da</strong> numa faseon<strong>de</strong> o foco principal é sua utilização para i<strong>de</strong>ntificação e controle internos, ain<strong>da</strong> semacesso publico via internet. Entretanto, a presença ca<strong>da</strong> vez maior <strong>de</strong> pesquisadores etécnicos <strong>da</strong> Museologia e áreas afins tem aumentando a utilização dos acervosmuseológicos como fontes <strong>de</strong> pesquisa.O Projeto Portinari foi a primeira iniciativa <strong>de</strong> automação <strong>de</strong> uma coleção emnosso país (Pinheiro, 1996, p. 4), feita <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte pelo filho do artista. EmSão Paulo, o Banco Itaú criou um banco <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos sobre a arte brasileira dos séculosXIX e XX, também fora do âmbito dos museus. Segundo Pinheiro (1996, p. 4)osprojetos <strong>de</strong> automação surgem tardiamente no final dos anos 80, como o SIMBA -Sistema <strong>de</strong> Informação do Acervo do <strong>Museu</strong> Nacional <strong>de</strong> Belas Artes e o Projeto LygiaClark, no MAM - <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Este último, como o nomeindica, cuidou apenas <strong>da</strong> coleção <strong>da</strong> artista, ou seja, uma pequena parcela do acervototal do museu. Mesclando Museologia, Ciência <strong>da</strong> Informação, Ciência <strong>da</strong>Computação, Biblioteconomia, Arquivística, Psicologia, Psiquiatria, História, o projetoteve importância não só pela preservação do conjunto <strong>da</strong> obra <strong>da</strong> artista, on<strong>de</strong> secruzam a Arte e a terapia psicológica, ou a automação do acervo através <strong>da</strong> produção<strong>de</strong> bancos <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos integrados entre si, senão pelo impulso que <strong>de</strong>u para a


98constituição <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> pesquisa sobre Informação em Arte. No IBICT – InstitutoBrasileiro <strong>de</strong> Informação Ciência e Tecnologia essa linha “abrigou sobretudomuseólogos, que <strong>de</strong>senvolveram pesquisa <strong>de</strong> mestrado e doutorado <strong>de</strong> cunhofortemente interdisciplinar, nas interfaces <strong>da</strong>s duas áreas, Ciência <strong>da</strong> Informação eMuseologia” (Pinheiro, 2008 p. 2). Entre esses pesquisadores encontram-se nomesque compõem atualmente o Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Museologia e Patrimônio<strong>da</strong> UNIRIO/MAST.Já o SIMBA foi concebido como sistema unificado <strong>de</strong> informação <strong>de</strong> todo oacervo do <strong>Museu</strong> Nacional <strong>de</strong> Belas Artes. Financiado pela Fun<strong>da</strong>ção Vitae, o projetoenfrentou dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, em parte <strong>de</strong>vido ao caráter heteróclito <strong>da</strong>s coleções do <strong>Museu</strong>.O sistema foi instrumentalizado através do programa DONATO, cuja primeira versãonão permitia sua utilização na Web. O <strong>de</strong>senvolvimento do software culminou em umasegun<strong>da</strong> versão que aten<strong>de</strong> essa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> indispensável. Hoje, cerca <strong>de</strong> 36museus brasileiros, entre os quais o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, adotam estesistema (FAPESP, 2007). No caso particular do MII, a equipe realizou uma a<strong>da</strong>ptação,on<strong>de</strong> <strong>de</strong>scartou diversos campos <strong>de</strong> informação, seja por não se aplicarem àspeculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s do acervo, ou pelo gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> obras a catalogar, o que exigeeconomia <strong>de</strong> meios. No Anexo D apresentamos um mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> ficha hoje utiliza<strong>da</strong>.O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente possui hoje 12.694 40 obras tomba<strong>da</strong>s, ouseja, contendo um número <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e um registro em livro, on<strong>de</strong> estãoapensa<strong>da</strong>s as informações básicas sobre a obra: autor, <strong>da</strong>ta, técnica, dimensões,classificação ARAS (até meados dos anos 90) e um campo para observações. Apenas1.225 estão inseri<strong>da</strong>s na base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos (Donato). Isso porque entre esse tombamentoe a base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos existe a migração para o SIMBA, com o preenchimento <strong>da</strong> fichacita<strong>da</strong> anteriormente, que congrega um número muito maior <strong>de</strong> informações. Alémdisso, a inserção <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos teve <strong>de</strong> ser interrompi<strong>da</strong> à espera <strong>da</strong> nova versão doprograma Donato, cita<strong>da</strong> anteriormente, que <strong>de</strong>morou cerca <strong>de</strong> dois anos para serconcretiza<strong>da</strong> (2006-2008) 41 . A reestruturação do sistema <strong>de</strong> computadores <strong>da</strong>instituição, feita com financiamento do Departamento <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s do IPHAN, tambémfoi responsável pela interrupção <strong>da</strong> alimentação <strong>da</strong> base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, que a equipeespera retomar em 2009. Atualmente, o <strong>Museu</strong> conta com a pesquisadora CarmemMaia, Doutora em História <strong>da</strong> Arte, que tem se <strong>de</strong>dicado às <strong>de</strong>scrições formais <strong>da</strong>sobras, cuja varie<strong>da</strong><strong>de</strong> abarca referências aos mais diversos períodos <strong>da</strong> civilizaçãohumana. Entretanto, não existe ain<strong>da</strong> um projeto institucional <strong>de</strong>senhado para supriras informações contextuais, para aten<strong>de</strong>r ao processo <strong>de</strong> elaboração e transmissão <strong>da</strong>40 Conforme <strong>da</strong>dos apurados nos Livros <strong>de</strong> Tombo <strong>da</strong> instituição, em janeiro <strong>de</strong> 2009.41 Conforme correspondência entre a coor<strong>de</strong>nação do projeto SIMBA e o MII.


99informação que, segundo Lima (2003, p. 30), é operado tomando-se como fun<strong>da</strong>mento“não só os acervos museológicos mas também os bibliográficos pertinentes aos seusdiversificados referentes técnicos”, aos quais acrescentaríamos ain<strong>da</strong> os acervosdocumentais e os iconográficos que lhes fazem paralelo.Como outras referências em relação à automação <strong>de</strong> museus brasileiros,po<strong>de</strong>ríamos citar o <strong>Museu</strong> do Folclore Edson Carneiro, do IPHAN, no qual asinformações já estão automatiza<strong>da</strong>s, constituindo bases <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos bibliográficos e <strong>de</strong>acervo museológico (Pinheiro, 1996, p. 5). No <strong>Museu</strong> do Índio, a base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dosdisponibiliza on line as referências <strong>de</strong> todo o acervo do <strong>Museu</strong>, integrando adocumentação bibliográfica (teses, periódicos, folhetos, livros e obras raras), adocumentação arquivística (textual, cartográfica, digital, imagética e sonora) e adocumentação museológica (MUSEU DO ÍNDIO/FUNAI, 2004).Não realizamos uma pesquisa sobre o estado <strong>da</strong> arte <strong>da</strong> automação emmuseus brasileiros, que foge ao escopo <strong>de</strong> nossa pesquisa. Limitamo-nos a citaralgumas experiências que constam na literatura disponível. O gran<strong>de</strong> impulso que aárea museológica tem recebido no Brasil, especialmente com a implementação <strong>de</strong>políticas públicas para o setor, com a abertura <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> fomento e a constituição<strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong> museus nos municípios e estados, certamente está trazendo em seubojo um avanço nessa importante área, fun<strong>da</strong>mental para o <strong>de</strong>safio em que seconstituem, hoje, as novas tecnologias.


1007.O MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTENO MUNDO CONTEMPORÂNEO


101Fig. 15Emygdio <strong>de</strong> BarrosÓleo sobre papelAcervo do MII7. O MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE NO MUNDO CONTEMPORÂNEO“[...] é possível imaginar, filosoficamente, ummuseu plural, um museu que sejasimultaneamente a representação <strong>de</strong> ummundo concreto, exterior ao indivíduo, euma presentificação do seu mundo interior.”Tereza ScheinerAo longo <strong>de</strong>sse trabalho estivemos discorrendo sobre os aspectos queconsi<strong>de</strong>ramos mais relevantes no que diz respeito à trajetória do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagensdo Inconsciente. Ao iniciarmos, procuramos fazer um breve histórico <strong>de</strong> sua formação,apresentando a instituição e sua fun<strong>da</strong>dora, para em segui<strong>da</strong> <strong>da</strong>r um salto aopassado, trazendo as reflexões <strong>de</strong> Foucault sobre a constituição do estatuto <strong>da</strong>loucura na i<strong>da</strong><strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rna, e os antece<strong>de</strong>ntes histórico-sociais que viriam conformar oambiente, criar as condições que possibilitaram a insurgência <strong>de</strong>sse trabalho.Vimos, assim, que é a partir <strong>de</strong> uma recusa, <strong>de</strong> um ato <strong>de</strong> contestação erebeldia que foi <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ado o processo que levaria à criação do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens


102do Inconsciente. A loucura passaria, então, no pequeno subúrbio carioca <strong>de</strong> Engenho<strong>de</strong> Dentro, a ser revisita<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma forma humana, com uma abor<strong>da</strong>gempredominantemente cultural e interdisciplinar, ressaltando-se o rigor científico dosestudos e pesquisas que passaram a ser <strong>de</strong>senvolvidos pela Dra. Nise e sua equipe,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> então.Constatamos a influência que esse trabalho exerceu sobre o campo <strong>da</strong> artebrasileira quando <strong>de</strong> seu aparecimento público, influência que viria alcançar outrasáreas <strong>da</strong> cultura quando, durante o período <strong>da</strong> ditadura militar, artistas epersonali<strong>da</strong><strong>de</strong>s reuniam-se no hospício, <strong>de</strong>ntro do melhor espírito <strong>da</strong> „universi<strong>da</strong><strong>de</strong>livre‟, para produzir conhecimento e exercer um convívio que iria criar várias aberturasno círculo intelectual <strong>da</strong> época. Essas aberturas viriam a inspirar, quando domovimento <strong>de</strong> re<strong>de</strong>mocratização do país, os grupos <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental queempreen<strong>de</strong>ram a cruza<strong>da</strong> antimanicomial, e que <strong>de</strong>saguaria na Reforma Psiquiátricahoje em curso, on<strong>de</strong> o principal substitutivo dos hospícios <strong>de</strong>sconstruídos - os Centros<strong>de</strong> Atenção Psicossocial - estão intimamente ligados, em sua origem, ao trabalho <strong>da</strong>Casa <strong>da</strong>s Palmeiras e, conseqüentemente, ao <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.Examinando um recorte mais amplo, pu<strong>de</strong>mos observar que na constituição<strong>da</strong>s coleções <strong>da</strong> loucura que nos foi possível estu<strong>da</strong>r, existem semelhanças que nospermitem in<strong>da</strong>gar se não se trata <strong>de</strong> um movimento coletivo, movimento psíquico <strong>de</strong>reação contra o interdito ao discurso <strong>da</strong> loucura, iniciado nos porões silenciados dosmanicômios e que, rasgando as estruturas dominantes do po<strong>de</strong>r médico-psiquiátrico,surgem na superfície subvertendo e transformando conceitos e paradigmas,fertilizando os movimentos artísticos <strong>da</strong> época com sua liber<strong>da</strong><strong>de</strong> e originali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Apontamos os percursos <strong>de</strong>ssas coleções sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> seus aspectosmuseológicos, acompanhando seus passos até nossos dias.Entre outros fatos notáveis sobre a coleção brasileira, observamos que, aocontrário do esforço <strong>da</strong> psiquiatria em medicalizar os sentidos <strong>de</strong>ssa produção, <strong>da</strong>sfrustra<strong>da</strong>s tentativas <strong>de</strong> apropriação buscando a elaboração <strong>de</strong> um discurso patológicosobre essas obras, essa coleção foi a base para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um métodoconsistente <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong>s imagens que, pela sua interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>, afasta-seprogressivamente do enfoque médico para chegar a uma arqueologia <strong>da</strong> psique, semnunca per<strong>de</strong>r <strong>de</strong> vista o cui<strong>da</strong>do com o sofrimento e a dor do outro.Após i<strong>de</strong>ntificarmos os conjuntos <strong>de</strong> informação gerados pelo acervo do<strong>Museu</strong>, tentamos apontar, na produção científica atual, ferramentas que po<strong>de</strong>riam serúteis na organização e socialização do acervo e dos conhecimentos produzidos sobreele.


103Neste último capítulo, queremos, à guisa <strong>de</strong> conclusão, traçar um percursoreflexivo procurando unir dois pontos: o referencial museológico atual e um porvirpossível para o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, tendo como percurso as própriaspotenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s inerentes à sua constituição e trajetória.Os primeiros textos sobre o <strong>Museu</strong> na área <strong>da</strong> museologia apareceram em1976 e 1981, conforme citado no capítulo 6. Esses textos caracterizam-se pelo teor<strong>de</strong>scritivo; trabalhos on<strong>de</strong> a instituição é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> forma conceitual surgem em1996: Museologia e Arte Uma Imprecisa Relação, <strong>de</strong> Tereza Scheiner, e Musées et ArtHors-le-Normes <strong>de</strong> Jean Tru<strong>de</strong>l. No primeiro, a autora nos fala <strong>de</strong> uma „i<strong>de</strong>ologia <strong>da</strong>precisão‟, que seria uma tendência oci<strong>de</strong>ntal a valorizar apenas o que po<strong>de</strong> ter certezacientífica, tendência que menospreza “a parcela do real não explicável pelo métodocientífico [...] e que fazem parte <strong>de</strong> um domínio muito dificilmente mensurável: osubconsciente humano, o imaginário pessoal e social, o irracional, as crenças, osprocessos <strong>de</strong> emergência <strong>da</strong>s formas, os estados <strong>de</strong> <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m” (Scheiner, 1996, p.268). Segundo a autora, nessa esfera estariam situados o artista, o processo <strong>da</strong> arte,a obra <strong>de</strong> arte, além <strong>da</strong> própria Museologia. Scheiner refere-se diretamente ao MII (p.274) em uma nota que ilustra citação <strong>de</strong> Nietszche/Schomberg: “uma obra <strong>de</strong> arte nãoserá suficiente para dizer o essencial: é somente no itinerário do artista que ele po<strong>de</strong>ráeventualmente <strong>de</strong>svelar-se” (em itálico no original). Na nota 24 (p. 278), a autoraafirma ser possível encontrar, “entre as muitas expressões do museu na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>contemporânea, iniciativas como o <strong>Museu</strong> [<strong>de</strong> Imagens] do Inconsciente e o <strong>Museu</strong>Nise <strong>da</strong> Silveira 42 , com acervos constituídos pelo produto <strong>da</strong> criação artística dosindivíduos <strong>de</strong>nominados “loucos” pela socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”.Em seu texto, Jean Tru<strong>de</strong>l (1996, p. 302) <strong>de</strong>fine a origem do conceito que dátítulo ao seu trabalho nos artistas que se encontram fora do sistema,“cujas obras, quenão são limita<strong>da</strong>s pelas ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s estéticas oficiais, ao serem apresenta<strong>da</strong>s ao público,suscitam assombro, questionamento, reflexão, <strong>de</strong>bates, mas também prazer e <strong>de</strong>leiteestético”. Ele estabelece relações entre esse conceito e a noção <strong>de</strong> arte bruta, cria<strong>da</strong>por Jean Dubuffet. Entre as várias coleções <strong>de</strong> diversos lugares do planeta quetrabalham com o conceito <strong>de</strong> „arte bruta‟, ou „outsi<strong>de</strong>r art‟ como preferem os países <strong>de</strong>língua inglesa 43 , refere-se à coleção <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro citando como fonte osprimeiros textos sobre o MII, <strong>de</strong> autoria <strong>de</strong> Camargo-Moro, publicados na revista<strong>Museu</strong>m, aos quais já aludimos. Tru<strong>de</strong>l (1996, p. 306) afirma que os museus „fora <strong>da</strong>snormas‟ apesar <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivarem do mesmo sistema museal que os museus <strong>de</strong> arte42 Atual <strong>Museu</strong> Bispo do Rosário Arte Contemporânea.43 Embora próximos entre si, os dois conceitos apresentam nuances que os diferenciam. Enquanto oconceito <strong>de</strong> arte bruta permanece muito ligado às <strong>de</strong>finições <strong>da</strong><strong>da</strong>s por Dubuffet, o conceito <strong>de</strong> outsi<strong>de</strong>rart engloba outras categorias não previstas pela arte bruta.


104contemporânea, foram constituídos <strong>de</strong> forma paralela, vali<strong>da</strong>ndo obras executa<strong>da</strong>s porpessoas que não sofreram influência <strong>da</strong> cultura artística, fora do pertencimento apadrões estilísticos, estéticos ou históricos. A questão <strong>da</strong> vali<strong>da</strong>ção (ou não) comoobras <strong>de</strong> arte atribuí<strong>da</strong> aos trabalhos criados em oficinas e ateliês terapêuticos, umponto nevrálgico quando se fala <strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> expressão plástica, é também levanta<strong>da</strong>por ele nesse trabalho, assunto que abor<strong>da</strong>remos um pouco adiante.Dois anos após a publicação <strong>de</strong>sse texto e com o sugestivo título Desvelando omuseu interior, Scheiner (1998, p. 18) retoma o conceito <strong>de</strong> Tru<strong>de</strong>l e acrescenta que(...) Nietzsche, Freud e Jung tornam possível a criação dos “museusfora <strong>da</strong>s normas” que enfatizam a representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> onírica <strong>da</strong> artee atuam como instância <strong>de</strong> legitimação <strong>de</strong> representações materiaise não-materiais <strong>da</strong> sombra, do <strong>de</strong>svio e <strong>da</strong> loucura. Pois emboratodos os museus do mundo (especialmente os <strong>de</strong> arte) trabalhem, <strong>de</strong>uma ou <strong>de</strong> outra forma, com essas representações, é nos museus<strong>de</strong>votados ao inconsciente que se faz presente, com to<strong>da</strong> a suaforça, o fantástico mundo simbólico contido no universo interior dosindivíduos rotulados socialmente como „<strong>de</strong>sviantes‟: o infradotado, osuperdotado, o louco, o poeta, o marginal.Dentro <strong>de</strong>ssas duas noções – a <strong>de</strong> museu interior e <strong>de</strong> museu fora <strong>da</strong>s normas,resi<strong>de</strong> uma concepção <strong>de</strong> memória como patrimônio, memória não necessariamenteconsciente, seja ela <strong>de</strong> caráter individual ou coletiva, como Jung viria <strong>de</strong>monstrarposteriormente em seus estudos.As idéias <strong>de</strong> Jung ensinam ao Oci<strong>de</strong>nte que já não é mais possívelviver apenas segundo as normas formais <strong>da</strong>quilo a que chamamosvi<strong>da</strong> consciente. E ao fazê-lo, abre caminho para a compreensão do<strong>Museu</strong> como representação <strong>da</strong>s forças do inconsciente, como leiturado mundo inteligível existente para além do plano consciente dohomem (Scheiner, 1988 p. 18, grifo no original).Visto como planos <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, esse mundo estranho (embora inteligível)torna-se fun<strong>da</strong>mental para a filosofia, a arte e também para o museu: “Estasubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, que po<strong>de</strong> ser (como diria Guatarri) individual, coletiva, ou mesmoinstitucional, leva-nos a consi<strong>de</strong>rar a vali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos atuais mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> estudo doinconsciente e a valorizar, na produção artística, aquilo que é externo ao terreno <strong>da</strong>razão”. (Scheiner, 1996 p. 274.).É interessante notar que a museóloga utiliza-se <strong>da</strong>s concepções junguianaspara a compreensão do museu que opera com o universo interior, e a estreita relaçãoque essas mesmas concepções tiveram na história do MII e na construçãoepistemológica do método <strong>de</strong> leitura <strong>da</strong>s imagens <strong>de</strong> seu acervo <strong>de</strong>senvolvido pelaDra. Nise <strong>da</strong> Silveira, tão impregnados <strong>da</strong> presença do mestre suíço. Esse fato mostraporque foram as idéias <strong>de</strong> Jung que se mostraram mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para o


105esclarecimento e compreensão <strong>da</strong>s questões suscita<strong>da</strong>s pela produção dos ateliês emEngenho <strong>de</strong> Dentro.As peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> um museu tão especial, certamente <strong>de</strong>vem serpreserva<strong>da</strong>s. Sua trajetória, ímpar no campo museal brasileiro, mostra uma coerênciaque se reflete no seu discurso expositivo.Se levar-mos em conta as profun<strong>da</strong>s transformações no contexto on<strong>de</strong> o MII seencontra: transformações na estrutura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r; no campo <strong>da</strong>s ciências <strong>da</strong> saú<strong>de</strong>on<strong>de</strong> está inserido; na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários e freqüentadores que lhe dásustentação; na nova reali<strong>da</strong><strong>de</strong> físico-espacial (hospital fechado x espaçocomunitário); se acrescentar-mos a esse panorama o <strong>de</strong>senvolvimento do campoteórico <strong>da</strong> museologia e as concomitantes mu<strong>da</strong>nças nos paradigmas <strong>de</strong> pensar erefletir o fenômeno museu, na ressignificação <strong>de</strong> suas atribuições, estaremosassinalando o lugar on<strong>de</strong> se encontra, hoje, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente.Esse lugar encontrado é o lugar <strong>da</strong> preparação, <strong>de</strong> repensar a instituição comvistas ao futuro, traçar as metas e diretrizes que irão sulear 44 suas iniciativas nospróximos anos, <strong>da</strong>r um salto qualitativo nas suas esferas <strong>de</strong> comunicação. É com essaperspectiva que tentaremos, a seguir, i<strong>de</strong>ntificar alguns caminhos possíveis.7.1 O <strong>Museu</strong> e a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>A Mesa Redon<strong>da</strong> <strong>de</strong> Santiago do Chile 45 , realiza<strong>da</strong> em 1972, propôs o conceito<strong>de</strong> „museu integral‟, um tipo <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>stinado a proporcionar à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> umavisão <strong>de</strong> conjunto <strong>de</strong> seu meio material e cultural, um museu dirigido ao homem nasua condição <strong>de</strong> indivíduo e ser social, contextualizado em seu meio ambiente. Vinteanos após, a Declaração <strong>de</strong> Caracas reavaliou aquele encontro: reafirma o museucomo um domínio <strong>de</strong> intervenção, on<strong>de</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> no espaço social dopróprio museu, <strong>de</strong>ve encontrar um lugar para se exprimir. Consoli<strong>da</strong>-se, assim, aimportância <strong>da</strong> participação comunitária no discurso museal e no próprio conceito <strong>de</strong>museu, resultante <strong>da</strong> relação espaço/comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>/patrimônio. Esta posição indica44 O Prof. Marcio d‟Olne Campos, propõe o termo sulear, em substituição a nortear: “Devemos – aocontrário do que nos é ensinado - dirigir o nosso olhar para o <strong>Cruz</strong>eiro do Sul, o que significaria SULearseem vez <strong>de</strong> NORTEar-se. Dessa referência noturna, também se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzir os outros pontoscar<strong>de</strong>ais. Para a<strong>de</strong>quarmos nossa orientação ao hemisfério em que vivemos a regra prática <strong>de</strong>ve seinverter” (www.sulear.com.br). Esta orientação tem sido segui<strong>da</strong> por vários pesquisadores e instituições,p. ex. o Fórum Social do Mercosul(http://www.forumsocialdomercosul.org/modules/noticias/article.php?storyid=56)45 A Mesa Redon<strong>da</strong> <strong>de</strong> Santiago do Chile foi um encontro interdisciplinar organizado pela UNESCO . Otema "Papel do museu na América Latina <strong>de</strong> hoje", iria constituir-se “não só numa análise profun<strong>da</strong> dopapel dos museus, como viria a traduzir-se num conjunto <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>ções concretas, visando umamu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s nos <strong>Museu</strong>s” (Constancia, 1993, p. 63)


106claramente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos museus como promotores <strong>de</strong> uma consciência críticana comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (Constancia, 1993 p. 66).Logo em seu primeiro encontro regional, em Buenos Aires, o ICOFOM-LAM(1992, p. 1) apóia esses conceitos e afirma o <strong>Museu</strong> como “um fenômeno socialdinâmico, que se apresenta <strong>de</strong> formas distintas, <strong>de</strong> acordo com as características enecessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em que se encontra”. O documento final do encontrorecomen<strong>da</strong> aos museus que “<strong>de</strong>senvolvam projetos e elaborem programas <strong>de</strong>stinadosa fazer com que a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> conheça, compreen<strong>da</strong> e valorize a utili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ciênciaposta ao serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento sustentável”.No VI Encontro, realizado em Cuenca, os profissionais <strong>de</strong>claram-seconvencidos <strong>de</strong> que „os museus são ambiente a<strong>de</strong>quado para proteger a paulatinaper<strong>da</strong> <strong>de</strong> nossa i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural – ou seja, <strong>de</strong> nossa memória [...]‟ (ICOFOM-LAM,1997 p. 1). Na Declaração <strong>da</strong> Bahia, em 2003, os participantes do XII Encontrorecomen<strong>da</strong>m (p. 3) a introdução <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s locais “na dinâmica <strong>de</strong> trabalho dosmuseus, para que conheçam e valorizem o acervo museológico e os conhecimentoscientíficos neles produzidos; procurando fazer com [que] esta experiência se constituanuma extensão <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> cotidiana, tanto em nível individual como coletivo”.No caso do MII, qual é essa „comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> local‟, em que socie<strong>da</strong><strong>de</strong> se encontra,<strong>de</strong> que i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural estamos falando? Como já sabemos, o MII foi criado nointerior <strong>de</strong> um hospital psiquiátrico, a priori um local interditado ao público. Oconhecimento <strong>de</strong> seu trabalho se fazia inicialmente quase exclusivamente através <strong>da</strong>sexposições extra-muros que realizava. Nesse período inicial, a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> do museuera então constituí<strong>da</strong> basicamente <strong>de</strong> seus usuários, ou seja, os internos quefreqüentavam seus ateliês, participavam <strong>de</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Foi só a partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong><strong>de</strong> 60, com o movimento intelectual em torno do Grupo <strong>de</strong> Estudos do <strong>Museu</strong>, já citadoanteriormente, que passou a haver uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> mais significativa <strong>de</strong> públicoexterno visitante. Essa quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> foi se intensificando com o passar dos anos,especialmente com a aquisição <strong>da</strong> nova se<strong>de</strong>, na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 80. No último ano (2008),conforme o livro <strong>de</strong> assinaturas, a instituição registrou 2.727 visitantes. Examinando aocupação <strong>de</strong>clara<strong>da</strong> pelos visitantes, verificamos que a maioria é <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>sáreas afins com a saú<strong>de</strong>: psicologia, enfermagem.Com as gran<strong>de</strong>s transformações que ocorreram na área <strong>da</strong> psiquiatria, omuseu, que atendia em seus ateliês uma parte <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos internos dohospital, passa por uma transformação, atraindo hoje para seus espaços pessoas comtranstornos psíquicos, mas que estão livres, recuperaram espaços na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e seafirmam hoje ca<strong>da</strong> vez mais como ci<strong>da</strong>dãos que, com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> serviçosambulatoriais ou <strong>de</strong> atenção especial levam suas vi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> maneira mais in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte


107possível. Por outro lado, com a divulgação ca<strong>da</strong> vez maior <strong>da</strong> instituição, seja através<strong>de</strong> exposições ou <strong>de</strong> sua página na internet, o público visitante aumenta e sediversifica. I<strong>de</strong>ntificamos, então, uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> segmenta<strong>da</strong> em três estratos: a)freqüentadores dos ateliês, em geral usuários dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental; b)público acadêmico: pesquisadores, técnicos e estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> áreas <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>da</strong>sartes; c) publico em geral.A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> frequentadores dos ateliês tem se reduzido segundo doisfatores: a) o esvaziamento <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s do hospital, com a transferência <strong>de</strong> seusserviços para outras locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> política <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização eterritorialização do atendimento psicossocial; b) o progressivo fechamento dos ateliêse oficinas <strong>de</strong>vido à falta <strong>de</strong> pessoal. Sem reposição ou concurso público, asaposentadorias e transferências implicam em redução <strong>de</strong> serviços oferecidos.Em relação à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes e pesquisadores, sua parcela maissignificativa é, sem dúvi<strong>da</strong>, <strong>da</strong> área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental, com <strong>de</strong>staque para a psicologia.A política pública brasileira em relação à saú<strong>de</strong> mental é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>, hoje, uma <strong>da</strong>smais avança<strong>da</strong>s no mundo. Entretanto, no que diz respeito à memória, à história<strong>de</strong>ssa trajetória, são muito poucas as iniciativas que contemplam esse aspecto. Comoexemplos <strong>de</strong>ssas iniciativas po<strong>de</strong>mos citar a criação <strong>da</strong> Re<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> História ePatrimônio Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, A Biblioteca Virtual em Saú<strong>de</strong> Mental, as linhas <strong>de</strong>pesquisa <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> Oswaldo <strong>Cruz</strong> (FIOCRUZ). A gran<strong>de</strong> re<strong>de</strong> que constituiatualmente os Centros <strong>de</strong> Atenção Psicossocial – CAPS, representa uma <strong>de</strong>man<strong>da</strong>nacional no que diz respeito à capacitação e formação <strong>de</strong> pessoal técnico para<strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s terapêuticas nessas uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que buscam ca<strong>da</strong>vez mais uma abor<strong>da</strong>gem cultural. Como instituição a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para a preservação <strong>de</strong>memória, o museu tem a potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> para ser o aglutinador não só <strong>da</strong> história <strong>da</strong>saú<strong>de</strong> mental no Brasil, mas também constituir-se numa referência <strong>da</strong> produçãoplástica dos inúmeros ateliês que, inspirados em sua experiência, são criados em todoo país.O <strong>Museu</strong> recebe cotidianamente grupos <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes e técnicos <strong>de</strong> várioslugares do país, que vêm para conhecer o acervo, o trabalho, e a história <strong>da</strong>instituição. Ao ampliar o seu âmbito <strong>de</strong> atuação, o MII tem potencial para transformarseem um centro on<strong>de</strong> os técnicos e profissionais <strong>da</strong> área possam ter acesso àsinformações, <strong>de</strong>senvolver projetos <strong>de</strong> pesquisa e experimentar o convívio dos ateliês.O <strong>Museu</strong> possui ain<strong>da</strong> a Biblioteca Nise <strong>da</strong> Silveira, um conjunto <strong>de</strong> títulosespecializados nas áreas <strong>da</strong> arte, loucura, psiquiatria, psicologia, literatura e filosofia;seu núcleo principal é a biblioteca que pertenceu à Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, contendoobras dificilmente encontra<strong>da</strong>s em outras coleções brasileiras.


108Na introdução <strong>da</strong> presente dissertação, já citamos que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1982 o MII vem<strong>de</strong>senvolvendo um conjunto <strong>de</strong> documentários didáticos sobre a vi<strong>da</strong> e obra <strong>de</strong> seusprincipais criadores, e sobre as principais pesquisas. Estes documentários, cujarelação completa encontra-se no Anexo A, têm sido utilizados para a realização <strong>de</strong>cursos nas principais universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e centros <strong>de</strong> cultura do país 46 . Sob a <strong>de</strong>nominaçãoO Mundo <strong>da</strong>s Imagens, a experiência acumula<strong>da</strong> ao longo <strong>de</strong> inúmeras apresentações<strong>de</strong>sses cursos, po<strong>de</strong> servir <strong>de</strong> base para reestruturá-los <strong>de</strong> forma a constituir-se numaferramenta didática in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte, inclusive disponível pela tecnologia <strong>da</strong> educação àdistância, através <strong>de</strong> parceria com universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Entretanto, esses documentáriosestão em um sistema já ultrapassado – diapositivos – e até o momento o <strong>Museu</strong> nãoconseguiu recursos para a<strong>da</strong>pta-los a uma mídia mais atual (DVD) 47 .Entretanto o fato mais notável que se po<strong>de</strong> constatar, após essa i<strong>de</strong>ntificação<strong>da</strong>(s) comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>(s) do museu, é a ausência <strong>de</strong> um outro elemento: a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>circun<strong>da</strong>nte, ou seja, os habitantes <strong>da</strong> região do „Gran<strong>de</strong> Encantado‟, que engloba osvários bairros vizinhos ao MII 48 . Apesar <strong>de</strong> não existir uma pesquisa sobre esseassunto, é certo que o <strong>Museu</strong> é <strong>de</strong>sconhecido pela maioria <strong>da</strong> população <strong>de</strong>ssa área.Sua permanência durante tantos anos atrás dos muros <strong>de</strong> um espaço <strong>de</strong> exclusãosocial é um dos fatores que explicam esse <strong>de</strong>sconhecimento. A falta <strong>de</strong> sinalizaçãoexterna em sua se<strong>de</strong> (<strong>de</strong>vido, segundo seu diretor, a problemas <strong>de</strong> segurança), e ofato <strong>de</strong> não funcionar nos fins-<strong>de</strong>-semana, certamente contribuem para esseisolamento. Scheiner (2000, p. 94) consi<strong>de</strong>ra imprescindível que os museus “realizemum trabalho constante <strong>de</strong> integração com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, partindo <strong>de</strong> seu próprio espaçofísico em direção à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> on<strong>de</strong> está localizado e <strong>da</strong>í em direção a outrascomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s – num progressivo trabalho <strong>de</strong> ampliação <strong>de</strong> fronteiras”. Ao dilatar odomínio patrimonial, os museus vêem-se também forçados a dilatar e reorganizar seuspróprios limites (Chagas e Nascimento Jr., 2007, p. 201)No caso do MII, na<strong>da</strong> mais lógico do que seguir o caminho já trilhado pela suacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> usuários: sua integração ao tecido social extra-hospitalar, não maisapenas ao público especializado e acadêmico, mas ampliando o seu papel educativona área <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental, hoje completamente inseri<strong>da</strong> na questão <strong>da</strong> ecologia e do<strong>de</strong>senvolvimento sustentável, enten<strong>de</strong>ndo-se o equilíbrio entre o indivíduo e o meioambiente como um dos pressupostos para alcançá-la. Será preciso, então,<strong>de</strong>smistificar, <strong>de</strong>ssacralizar e <strong>de</strong>sencantar a idéia <strong>de</strong> museu,possibilitar às comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s a percepção do significado <strong>da</strong>quilo que46 O anexo citado inclui também uma longa listagem dos locais on<strong>de</strong> o curso foi apresentado.47 Conforme informado pela coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> projetos do MII, Gladys Schincariol.48 O termo foi cunhado pelo cinegrafista Luiz Carlos Sal<strong>da</strong>nha, ao referir-se à região on<strong>de</strong> se encontra o<strong>Museu</strong>.


109constitui a memória local, conscientizando-a do acervo do qual éportadora, e <strong>de</strong>monstrar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> viabilizar um museu pormais mo<strong>de</strong>stas que possam ser estas comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (Sperb e Ramos,2005, p. 22).7.2 O <strong>Museu</strong> e o territórioO „Gran<strong>de</strong> Encantado‟ é uma região suburbana, distante cerca <strong>de</strong> 20quilômetros do centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro, on<strong>de</strong> praticamente inexistemequipamentos culturais. A região é plana e encontra-se aos pés <strong>da</strong> Serra dos PretosForros, um belo conjunto <strong>de</strong> montanhas que faz parte do Maciço <strong>da</strong> Tijuca, um dostrês gran<strong>de</strong>s maciços do Rio <strong>de</strong> Janeiro. A Serra é uma Área <strong>de</strong> Proteção Ambiental, oseu nome refere-se à sua ocupação pelos escravos que eram libertos. São muitopoucos os relatos históricos sobre a região, as pesquisas na Biblioteca Nacional e noArquivo Geral <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> não revelaram mais que umas poucas citações 49 .O complexo do Instituto Municipal Nise <strong>da</strong> Silveira, espaço que abrigava oantigo hospício e no interior do qual encontra-se o MII, ocupa todo um quarteirão,totalmente cercado por altos muros ou gra<strong>de</strong>s. Em seu interior existem váriasedificações, que vêm progressivamente recebendo nova <strong>de</strong>stinação em virtu<strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>de</strong>sconstrução do manicômio. Algumas fazem parte <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> moradiaspara usuários dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mental, a maioria antigos moradores do hospício.Um Centro Comunitário abriga alguns serviços oferecidos por pequenas ONGs àcomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. No prédio <strong>da</strong> administração central fica a Biblioteca Alexandre Passos,fun<strong>da</strong><strong>da</strong> por Juliano Moreira, que possui mais <strong>de</strong> 40 mil títulos e é, sem dúvi<strong>da</strong>, amaior do Brasil sobre o assunto. Aí encontramos também um fundo, bastante bemconservado, contendo milhares <strong>de</strong> prontuários médicos e documentos que remetem àinauguração do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro (1852), através dos quais épossível traçar uma linha evolutiva <strong>da</strong> organização social do Brasil, sem falar,evi<strong>de</strong>ntemente, dos métodos terapêuticos e <strong>da</strong> progressão <strong>da</strong> visão médicopsiquiátricasobre a(s) doença(s) mentais. Equipamentos médicos e objetos que nãosão mais utilizados, mas trazem consigo a potência <strong>de</strong> musealização, encontram-se àespera <strong>da</strong> organização <strong>de</strong> um memorial <strong>da</strong> instituição 50 .49 Um estudo mais <strong>de</strong>talhado sobre a região po<strong>de</strong> ser encontrado em O Gran<strong>de</strong> Encantado e a Geografia<strong>da</strong> Exclusão (<strong>Cruz</strong> Jr. E. G. C. e Costa, H. H.), trabalho apresentado no XVI Congresso Brasileiro <strong>de</strong><strong>Museu</strong>s, Recife, 2007)50 Segundo informação <strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nadora <strong>de</strong> projetos do MII, Gladys Schincariol, a Coor<strong>de</strong>nação-Geral <strong>de</strong>Documentação e Informação do Ministério <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> e a Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Amigos do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente, estão concluindo o inventário dos acervos museológicos, bibliográficos e arquivísticos doInstituto.


110Tudo isto em uma área pública nobre, com <strong>de</strong>nsa cobertura vegetal <strong>de</strong> árvorescentenárias e largas alame<strong>da</strong>s internas, a maior área ver<strong>de</strong> <strong>da</strong> região. Atualmente, apopulação do bairro vem ca<strong>da</strong> vez mais utilizando o seu entorno como local para aprática <strong>de</strong> esportes. Nos meses em que há brisa, os adolescentes sempre pularam osmuros para soltar pipas, lugar sem tráfego e sem re<strong>de</strong> elétrica aérea.Esse espaço carregado <strong>de</strong> simbolismo, po<strong>de</strong>ria ser transformado em um centro<strong>de</strong> memória on<strong>de</strong> a história <strong>da</strong> instituição e <strong>da</strong> região seriam integra<strong>da</strong>s; o acervodocumental, uma biblioteca pública com acesso gratuito à internet, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Imagens do Inconsciente, um Memorial <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental, aliados a serviçoscomunitários (alguns já existentes: rádio comunitária, núcleo <strong>de</strong> artes, coral <strong>da</strong> terceirai<strong>da</strong><strong>de</strong>, escola <strong>de</strong> informática), distribuídos entre jardins e praças, formando um núcleo<strong>de</strong> convívio e fruição <strong>de</strong> cultura inexistente na região. Promover estímulo aos projetos<strong>de</strong> história oral (<strong>da</strong> instituição e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>) e resgate <strong>da</strong>s vivências, valorizando amemória social.As ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s precisam <strong>de</strong> espaços a<strong>de</strong>quados para que arememoração aconteça, para que se estabeleça um diálogo <strong>de</strong>gerações no qual jovens e idosos tenham oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seconhecerem e <strong>de</strong> trocarem experiências. Por exemplo, pensarprojetos <strong>de</strong> urbanização que privilegiem as praças públicas, osjardins, a segurança, o entorno dos monumentos, edifícios e sítioshistóricos, cujas características inovadoras permitam ao ci<strong>da</strong>dão umacompleta apropriação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> como lugar <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e não <strong>de</strong> morte(Costa, 2000, p. 149).Nesse complexo, o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente teria o papel <strong>de</strong>privilegiado mediador entre o patrimônio e a coletivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, centralizando o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> educação patrimonial visando à integração <strong>de</strong> outrosvalores patrimoniais existentes no bairro ao espaço afetivo <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>.Este novo território musealizado, tendo o <strong>Museu</strong> como centro, aproximar-se-iado conceito <strong>de</strong> Metamuseu, cujo mo<strong>de</strong>lo “é semelhante ao <strong>de</strong> uma célula, on<strong>de</strong> omuseu é o núcleo, o ponto central a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> se irradia, ou para on<strong>de</strong> converge,todo o trabalho <strong>de</strong> coleta, investigação, documentação, conservação e interpretação<strong>da</strong>quele conjunto” (Scheiner, 1991, p. 86). Esse conceito <strong>de</strong>riva dos assim chamadosmuseus <strong>de</strong> território, cuja forma mais conheci<strong>da</strong> é o Ecomuseu 51 .Em 2002, durante as comemorações do cinqüentenário do <strong>Museu</strong>, foiconcebido um projeto para ampliação <strong>da</strong> atual se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong>, feito pela SecretariaMunicipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> com a consultoria <strong>da</strong> Escola <strong>de</strong> Arquitetura <strong>da</strong> UFRJ. Esse51 Segundo Scheiner (1991, p. 86) o Ecomuseu foi <strong>de</strong>senhado por Hughes <strong>de</strong> Varine, inspirado nas idéias<strong>de</strong> Henri Rivière, e sua base conceitual não repousa no objeto, mas no território do homem, incluindoto<strong>da</strong>s as características geográficas, ambientais e culturais.


111projeto, que nunca foi executado, previa três espaços <strong>de</strong> atuação: reserva técnica,exposições e ateliês.Fig. 16. Maquete do projeto para a nova se<strong>de</strong> do MIIOs museus são “percebidos como práticas sociais complexas, que se<strong>de</strong>senvolvem no presente, para o presente e para o futuro, como centros (ou pontos)envolvidos com criação, comunicação, produção <strong>de</strong> conhecimentos e preservação <strong>de</strong>bens e manifestações culturais”. (Chagas, 2007). E o futuro passa pelos novosterritórios virtuais, mais um <strong>de</strong>safio para os museus contemporâneos.7.2.1 <strong>Museu</strong> e ciberespaço: um novo território possívelÉ patente a vocação do MII para a pesquisa e a produção <strong>de</strong> conhecimentos.Inicialmente na área <strong>da</strong> loucura, <strong>da</strong> saú<strong>de</strong> mental, abriram-se portas parainvestigações com múltiplas e interdisciplinares abor<strong>da</strong>gens no estudo <strong>da</strong>s imagens.Para <strong>de</strong>senvolver e ampliar essa potência <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> saberes, uma possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>que se mostra bastante a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para esse perfil é o estabelecimento no ciberespaço<strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> pesquisa interativa, on<strong>de</strong> o perfil <strong>de</strong> „universi<strong>da</strong><strong>de</strong> livre‟, já atribuídoaos encontros realizados pela Dra. Nise, encontre terreno fértil para prosperar. Nomundo contemporâneo, esse caminho parece irreversível: muitos autores sublinham “atendência à <strong>de</strong>smaterialização que acompanha a emergência e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>snovas tecnologias <strong>de</strong> digitalização e <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s eletrônicas” (Loureiro, M. 2003, p.2).Essas re<strong>de</strong>s propiciam, segundo Lévy (1998, p. 28) a manifestação <strong>de</strong> uma„inteligência coletiva‟, inteligência que seria “distribuí<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> parte,incessantemente valoriza<strong>da</strong>, coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong> em tempo real, que resulta em umamobilização efetiva <strong>de</strong> competências”. Ain<strong>da</strong> segundo o autor, ciberespaço e re<strong>de</strong> se


112aproximam, pois o termo refere-se “não apenas a infra-estrutura material <strong>da</strong>comunicação digital, mas, também, ao universo oceânico <strong>de</strong> informações que elaabriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo”.(Lévy, 1999, p. 17).Essa re<strong>de</strong> possível <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ria inicialmente <strong>da</strong> estruturação do sistema <strong>de</strong>informações do MII, integrando as informações museológicas, bibliográficas earquivísticas. Essa não é uma tarefa fácil, tendo em vista o volume do acervo, mas umprojeto inicial que contemplasse uma parte do acervo prioritário po<strong>de</strong>ria servir <strong>de</strong>piloto. O problema inicial para a construção <strong>de</strong>ssa base <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos é que não existeuma ferramenta, um software livre que contemple essa arquitetura. Por exemplo, oPHL, utilizado no <strong>Museu</strong> do Índio, não permite a visualização <strong>de</strong> imagens. Em setratando <strong>de</strong> um <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens, é evi<strong>de</strong>nte sua inviabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. No sítio do <strong>Museu</strong> doÍndio encontramos uma informação <strong>de</strong> que em breve po<strong>de</strong>rão ser vistas fotografias, aoque parece uma costumização do programa citado (MUSEU DO ÍNDIO/FUNAI, 2004).O software Donato, adotado no MII e que é um shareware cedido mediante contrato<strong>de</strong> cessão celebrado com o <strong>Museu</strong> Nacional <strong>de</strong> Belas Artes, é um programa específicopara acervos museológicos, cujo perfil se assemelhe àquele do MNBA.Na página do <strong>Museu</strong> na Internet, que encontra-se em processo <strong>de</strong> atualização,po<strong>de</strong>-se encontrar uma gama diversifica<strong>da</strong> <strong>de</strong> informações: exposições virtuais, textos,históricos. Nessa atualização, a equipe trabalha com a organização <strong>de</strong> álbuns virtuais,ou seja, séries <strong>de</strong> imagens e textos semelhantes aos criados por Nise <strong>da</strong> Silveira nosprimórdios do MII. Esses álbuns apresentam estudos comparativos, temáticos, ouséries artísticas, para serem disponibilizados ao público em geral. Os álbuns quetratam <strong>de</strong> estudos <strong>de</strong> caso teriam um acesso mais restrito, reservados aospesquisadores cre<strong>de</strong>nciados para tal. A publicação <strong>de</strong>sse material na Web e suadisponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> em outras línguas certamente trará um gran<strong>de</strong> impulso à formação <strong>da</strong>re<strong>de</strong> interativa <strong>de</strong> pesquisa à qual nos referimos.


113Fig. 17. Página inicial – sítio do MII na InternetGarantido o acesso às informações, sua disseminação seria feita também peloestreitamento <strong>de</strong> laços com organizações similares, tais como o ARAS, O Instituto C.G. Jung <strong>de</strong> Zurique, e tantas outras associações <strong>de</strong>dica<strong>da</strong>s ao estudo e pesquisas naárea <strong>da</strong> psicologia analítica, do simbolismo <strong>da</strong>s imagens.“Vê-se claramente a existência recente – e que vem se ampliando – <strong>de</strong> umare<strong>de</strong> <strong>de</strong> museus <strong>de</strong> arte bruta e outros intimamente a eles relacionados, que sesomam aos interesse <strong>de</strong> colecionadores e galerias nesta forma <strong>de</strong> arte, cujosparâmetros são difíceis <strong>de</strong> <strong>de</strong>finir” (Tru<strong>de</strong>l, 1996, p. 306).Debray (1992, p. 362) chama <strong>de</strong> „uma certa cegueira simbólica, no interior‟, aoefeito causado pelo excesso <strong>de</strong> imagens do mundo externo. Segundo ele, a extensãodos espaços observáveis, potencializa<strong>da</strong> pelos tratamentos informáticos, parece estarsendo paga com a amputação dos territórios <strong>da</strong> utopia. Se as imagens doinconsciente, pelos seus <strong>de</strong>miurgos ou exploradores intra-galácticos, presentificam,constelam espaços utópicos no Real, o museu enquanto fenômeno será então aheterotopia do <strong>de</strong>svio que abrigará esse cluster dissonante, sempre a provocar o


114<strong>de</strong>sconforto necessário à instigação do <strong>de</strong>vir, à eterna procura do Outro que seencontra <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> nós.


1158.O DESAFIO CONTEMPORÂNEO


116Fig. 18Carlos PertuisÓleo sobre papelAcervo do MII8. O DESAFIO CONTEMPORÂNEONão tivemos a pretensão <strong>de</strong> esgotar, nesta pesquisa, to<strong>da</strong>s as complexas emultifaceta<strong>da</strong>s inserções, intercessões, projeções dos sentidos e significadosproduzidos pela instituição <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Sempre haverãozonas <strong>de</strong> sombra e esquecimento. Entretanto, nessas consi<strong>de</strong>rações finais queremosconstatar a vocação heterotópica <strong>da</strong> instituição. Foucault (1967) <strong>de</strong>senvolve o conceito<strong>de</strong> heterotopia como uma utopia que é encena<strong>da</strong> no real, um anti-lugar on<strong>de</strong> cama<strong>da</strong>s<strong>de</strong> acontecimentos simultâneos e mesmo contraditórios coexistem. Jung afirma queacontecimentos po<strong>de</strong>m ser relacionados <strong>de</strong> forma não causal, mas existindo entre elesuma relação <strong>de</strong> conteúdos significativos. “Conteúdo significativo é a forma <strong>de</strong>expressar os eventos afins, que separados pela cronologia, só po<strong>de</strong>m se encontrar naparalisação do tempo, na simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>” (Cavalheiro, 2001).


117Nas reflexões conti<strong>da</strong>s nesta pesquisa, procuramos, por um lado, aprofun<strong>da</strong>r oestudo sobre o contexto e as sincronici<strong>da</strong><strong>de</strong>s 52 que possibilitaram a construção, emdiversos lugares <strong>da</strong> civilização oci<strong>de</strong>ntal, <strong>de</strong> coleções que têm na loucura seu motivocentral – criações <strong>de</strong> indivíduos on<strong>de</strong> se configuram formas inusita<strong>da</strong>s e „imensamenteimpressionantes‟, no dizer <strong>de</strong> C. G. Jung.Muitas <strong>de</strong>ssas coleções estão encerra<strong>da</strong>s em seu contexto histórico, <strong>de</strong>princípio meio e fim. Será difícil renová-las, retomá-las <strong>de</strong> forma anacrônica. Outrasvão se ampliando vagarosamente, concorrendo <strong>de</strong>slealmente com o mercadocapitalista que institucionaliza, ca<strong>da</strong> dia mais, a valorização <strong>da</strong> produção fora <strong>da</strong>snormas dos meios formais <strong>da</strong> arte.O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto, é um patrimôniocultural no qual i<strong>de</strong>ntificamos um contínuo processo <strong>de</strong> crescimento, não só nonúmero <strong>de</strong> obras em seu acervo, mas em quase to<strong>da</strong>s as áreas que afetam o museu,como instituição e enquanto fenômeno.Pu<strong>de</strong>mos observar sua afini<strong>da</strong><strong>de</strong> com os conceitos mais recentes do campo <strong>da</strong>Museologia, seja <strong>de</strong> forma atuante ou como potência, latente no <strong>de</strong>sejo <strong>da</strong> equipeatualmente responsável pelas suas diretrizes. O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente éum museu que já nasceu mo<strong>de</strong>rno.O MII é mais que um espaço: é um ambiente cuja existência o diferencia <strong>da</strong>maioria dos seus congêneres. Traz a revelação <strong>de</strong> que, afinal, não somos nós aensinar o louco: ele é o privilegiado mergulhador <strong>da</strong>s ricas dimensões do inconscienteque não nos são acessíveis, ou o são limita<strong>da</strong>mente, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> trazem ora imagens queadmiramos, ora as “ver<strong>da</strong><strong>de</strong>s insuportáveis”, no dizer <strong>de</strong> Antonin Artaud 53 . Isso muitasvezes à custa <strong>de</strong> enormes sofrimentos, para os quais, mais uma vez, o afeto pareceser o melhor remédio.Que têm feito as autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s responsáveis por essa jóia engasta<strong>da</strong> no subúrbiocarioca, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> tantos brilhos já iluminaram a cultura brasileira? Quais são asperspectivas mais imediatas para a instituição?Nos arquivos do MII, em um relatório <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007, encontramos oseguinte texto, que achamos apropriado transcrever:[...] apesar do reconhecimento do pioneirismo e <strong>da</strong> importância<strong>de</strong>sse trabalho por uma expressiva parcela <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, o <strong>Museu</strong>vem enfrentando graves problemas <strong>de</strong>correntes <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> apoioefetivo por parte <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s responsáveis. A equipe <strong>de</strong>52 Jung criou o conceito <strong>de</strong> sincronici<strong>da</strong><strong>de</strong> para <strong>de</strong>finir acontecimentos os quais, segundo ele, só po<strong>de</strong>mser apreendidos na supressão do tempo por uma função psíquica: o inconsciente.53 Segundo Artaud, a psiquiatria é a invenção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> tara<strong>da</strong> “para se <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r <strong>da</strong>sinvestigações <strong>de</strong> certos indivíduos <strong>de</strong> luci<strong>de</strong>z superior, cujas facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> percuciência aincomo<strong>da</strong>vam”(apud Silveira, 1981, p. 105)


118funcionários vem se reduzindo progressivamente sem que o po<strong>de</strong>rpúblico tome nenhuma iniciativa em relação a esse problema, que jácomeça a afetar o funcionamento regular <strong>da</strong> instituição. Os ateliêsforam sendo sucessivamente fechados com a aposentadoria e/oulicença <strong>de</strong> seus monitores, restando apenas dois setores sob oscui<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> três técnicos54. A Reserva Técnica do <strong>Museu</strong> encontraseatualmente sem nenhum funcionário. Os técnicos que acham-seem cargos <strong>de</strong> gestão estão próximos <strong>da</strong> aposentadoria, sem quehaja nenhuma perspectiva <strong>de</strong> renovação do quadro.Existe mesmo uma corrente que consi<strong>de</strong>ra esses ateliêsdispensáveis, sugerindo que o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>dique-se exclusivamente àsexposições, inclusive transferindo sua responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para oâmbito do Ministério <strong>da</strong> Cultura certamente por <strong>de</strong>sconhecimento: <strong>da</strong>concepção <strong>de</strong> patrimônio intangível, na qual o <strong>Museu</strong> se encaixacom perfeição; ou pela ignorância acerca do rico acervo <strong>de</strong>conhecimentos que são gerados pela produção diária e metódica<strong>de</strong>sses ateliês; pelo não reconhecimento <strong>da</strong> comprova<strong>da</strong> eficácia dométodo terapêutico proposto pelo <strong>Museu</strong>; ou mesmo pelaimpossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> inserir o <strong>Museu</strong> nas estreitas normas burocráticas<strong>da</strong> saú<strong>de</strong> pública, o fato é que a instituição encontra-se hoje numasituação <strong>de</strong> impasse e in<strong>de</strong>terminação quanto ao seu futuro.É nessa hora crucial que a equipe do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens doInconsciente ao lado <strong>de</strong> sua Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Amigos vem conclamar asocie<strong>da</strong><strong>de</strong> para uma ampla discussão sobre seu futuro.Consi<strong>de</strong>ramos necessária a construção <strong>de</strong> um coletivo pensantepara uma profun<strong>da</strong> reflexão sobre o papel do <strong>Museu</strong> na saú<strong>de</strong>mental, nas artes, na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> em geral. Umcoletivo que apresente e convali<strong>de</strong> propostas para assegurar acontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> instituição e <strong>de</strong> seus princípios. Como fruto <strong>de</strong>ssepensamento o <strong>Museu</strong> vem estreitar laços com a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>patrimonialista através <strong>da</strong> participação do Programa <strong>de</strong> PósGraduação em Museologia e Patrimônio <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estadodo Rio <strong>de</strong> Janeiro (UNIRIO)/<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Astronomia, pelaapresentação em congressos e simpósios, pela sua participação nasRe<strong>de</strong>s Brasileira e Latinoamericana <strong>de</strong> História e Patrimônio Cultural<strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>, como integrante do Sistema Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s, <strong>da</strong>Associação Brasileira <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental. Nessas instânciasprocuramos i<strong>de</strong>ntificar e agregar ressonâncias para compor umcolegiado cuja representativi<strong>da</strong><strong>de</strong> seja o importante trunfo quepo<strong>de</strong>rá garantir o sucesso <strong>de</strong> um futuro Plano Diretor para ainstituição, com o compromisso <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>s instânciascompetentes do po<strong>de</strong>r público.A quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ste acervo, monumental em termos <strong>de</strong>número <strong>de</strong> peças, <strong>de</strong>termina um cui<strong>da</strong>do na área <strong>de</strong> conservação,acondicionamento e restauro, necessário para bens culturais <strong>de</strong>importância fun<strong>da</strong>mental. Somando-se a isso sua trajetória nahistória <strong>da</strong>s práticas terapêuticas e o acervo <strong>de</strong> conhecimentosgerados por suas pesquisas em assuntos que abrangem um amploleque do saber humano faz-se necessário um alicerce firme para suapreservação e <strong>de</strong>senvolvimento (SOCIEDADE AMIGOS..., 2007).Em texto <strong>de</strong> 1980, Pedrosa (p. 10) já alertava:Nise <strong>da</strong> Silveira e sua equipe [...] se vêm com problemas ca<strong>da</strong> vezmais complexos. Que fazer como todos esses enfermos elevadoshoje a personali<strong>da</strong><strong>de</strong>s artísticas com obras esteticamente54 No mês <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 2008, a Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental <strong>da</strong> Prefeitura do Rio <strong>de</strong> Janeiro, retirouo último funcionário do ateliê Fernando Diniz (mo<strong>de</strong>lagem, jardinagem e produção <strong>de</strong> textos).


119respeitáveis, tais como Emygdio, Raphael, Fernando Diniz, Carlos,Isaac, Octávio e outros? Como preservar suas obras, como protegeresses seres por vezes <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> talento, mas frágeis, muito frágeismesmo, assegurar-lhes um futuro menos incerto, menos trágico? Daínasceu com eles a idéia <strong>de</strong> museu. Mas que museu? Uma coleção<strong>de</strong> belos quadros pendurados à pare<strong>de</strong>, com salas contíguas paraserem aprecia<strong>da</strong>s? Não. Os criadores <strong>de</strong> arte, os seus produtos nãopo<strong>de</strong>m ser dispersos. O museu tem <strong>de</strong> ser também uma instituição,uma casa que os abrigue. Mas que não seja uma <strong>de</strong>ssas “colônias”<strong>de</strong> doidos por aí, ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro <strong>de</strong>pósito <strong>de</strong> homens insanos aos quais asocie<strong>da</strong><strong>de</strong> já renunciou aceita-los como tais, embora lá os retenha[...]. O museu que a doutora Nise batizou, com sua habitual precisão,<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, tem por isso mesmo <strong>de</strong>completar-se numa comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tem que ser realmente umacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> qual, ao contrário <strong>da</strong> teoria hoje prevalecente nocampo <strong>da</strong> psiquiatria, não se po<strong>de</strong> afastar <strong>de</strong> lá os doentes. O que,ao contrário, a experiência crua tem <strong>de</strong>monstrado é serabsolutamente necessário criar-se, com essa autêntica comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>,uma ambiência que lhes faça a ela afluírem os doentes e não <strong>de</strong>lafugirem.No momento em que o processo mundial <strong>de</strong> globalização enfraquece os laçosi<strong>de</strong>ntitários <strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s e grupos sociais mais vulneráveis, a atuação do <strong>Museu</strong><strong>de</strong> Imagens do Inconsciente mantém-se no sentido <strong>de</strong> preservar o espaço on<strong>de</strong> odiscurso <strong>da</strong> loucura e <strong>de</strong> seus portadores não é silenciado, on<strong>de</strong> não se tem medo doinconsciente: “o complexo e versátil mundo do <strong>Museu</strong> só se <strong>de</strong>svela inteiramente paraaqueles que não sentem medo” (Scheiner, 1998, p. 93).Isso nos leva à conclusão: O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente é um museuespecial, “um museu <strong>da</strong> paixão, que toca o homem profun<strong>da</strong>mente, elevando-o àsalturas ou fazendo-o enfrentar o abismo [...]. Que apresenta as entranhas do homem,e não apenas a superfície, que fala <strong>da</strong> luta e do medo, <strong>da</strong> dor e <strong>da</strong> coragem, dosangue e <strong>da</strong>s lágrimas, <strong>da</strong> angústia e do riso [...] que não suporta o meio termo, aconciliação, a mediocri<strong>da</strong><strong>de</strong> travesti<strong>da</strong> em virtu<strong>de</strong> [...]. Um museu vinculado à estética<strong>da</strong> criação como ontológica, cuja beleza é intensiva e se dá na relação, povoa<strong>da</strong> <strong>de</strong>afetos” (Scheiner, 1998, p. 93).Mário Pedrosa dizia ser o MII “mais que um museu, pois se prolonga <strong>de</strong> interiora <strong>de</strong>ntro, até <strong>da</strong>r num ateliê on<strong>de</strong> artistas em potencial trabalham, fazem coisas, criam,vivem e convivem [...]” (Pedrosa, 1980, p. 10). O afeto, um dos eixos principais dotrabalho <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira, gera e é gerado por esse convívio que envolve osfreqüentadores do ateliê, as obras que já foram cria<strong>da</strong>s e estão nas galerias e nosarquivos do museu, os técnicos e funcionários <strong>da</strong> instituição, o público visitante, osanimais, e tudo isso retroalimenta a criação que acontece a todo momento: <strong>de</strong>repente, irrompe um usuário lendo poemas em voz alta; outro manifestaveementemente <strong>de</strong>lírios incompreensíveis; um terceiro mostra seu trabalho recémcriado.Nesse processo, todos são envolvidos: ninguém fica impune.


120Essa experiência profun<strong>da</strong>mente humana, este convivium difícil <strong>de</strong> encontrarno cotidiano <strong>de</strong> nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> globaliza<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> o lúdico, o inspirador, o criativoestão amalgamados, é um patrimônio ético, moral e cultural que, pertencente a umespaço e tempo qualificados, é intrinsecamente ligado à alma brasileira, e que peloseu profundo compromisso com o ser humano alcança a universali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Fig.19Carlos PertuisÓleo sobre telaAcervo do MII


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128______. Conhecimento científico e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: interação e responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Apresentaçãodisponível em:. Acesso em: 7ago. 2007.VICKERY, Brian C. A necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> classificação. In: Classificação e in<strong>de</strong>xação nasciências. Rio <strong>de</strong> Janeiro: BNG/Brasilart, 1980. Cap. 1, p. 23-38VOLMAT, Robert. L’Art Psycopathologique. Paris: PUF, 1956.WARBURG INSTITUTE, THE 2008. Disponível em:. Acesso em: <strong>de</strong>z. 2008.


129ANEXOS


130ANEXO A – RELAÇÃO DE DOCUMENTÁRIOSO MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE (19‟)Pequeno resumo <strong>de</strong> sua história e <strong>de</strong> seus métodos <strong>de</strong> trabalhoNarração : Cláudio CavalcantiAFETIVIDADE NA ESQUIZOFRENIA (25')As pesquisa no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>monstram a permanência viva <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> nos esquizofrênicos, contrariandoum dos chavões <strong>da</strong> psiquiatria tradicional, que frisa o embotamento afetivo progressivo <strong>de</strong>sses indivíduosNarração: Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong>ABSTRAÇÃO E GEOMETRISMO (30')A psiquiatria tradicional interpreta a abstração e o geometrismo como sendo uma característica do estiloesquizofrênico, significando embotamento afetivo e intelectual. Esta afirmação não correspon<strong>de</strong> àreali<strong>da</strong><strong>de</strong> revela<strong>da</strong> nos documentos do atelier <strong>de</strong> pintura. Emoção, angústia e o esforço para se opor aoestado <strong>de</strong> caos e confusão psíquica são mostrados neste documentário. Uma panorâmica dos primeirosanos <strong>da</strong> obra <strong>de</strong> Fernando DinizNarração: Rubens CorreaMANDALA (30')Na tentativa <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r o aparecimento <strong>de</strong> imagens or<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s na pintura <strong>de</strong> esquizofrênicos quefrequentavam o atelier <strong>de</strong> pintura, Nise recorreu a Jung, cujos esclarecimentos acerca <strong>de</strong>ssas imagenscomprovando a existência <strong>de</strong> um potencial autocurativo na psique, foram o ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> paraintrodução <strong>da</strong> psicologia junguiana no Brasil.Narração: Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong>VIVÊNCIAS DO ESPAÇO (30')As estranhas vivências espaciais dos esquizofrênicos, são estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s através <strong>da</strong>s imagens por elespinta<strong>da</strong>s, que revelam a interpenetração mundo externo/mundo interno.Narração: Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong>EFEITOS DA LEUCOTOMIA SOBRE A ATIVIDADE CRIADORA (20')Apresentação do estudo <strong>de</strong> três casos clínicos, através <strong>de</strong> imagens produzi<strong>da</strong>s antes e <strong>de</strong>pois <strong>da</strong>intervenção cirúrgica.Narração: Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong>PAIXÃO E MORTE DE UM HOMEM (20')A série <strong>de</strong> imagens apresenta<strong>da</strong> nesse audiovisual, contradiz um dos chavões <strong>da</strong> psiquiatria tradicional,que frisa o embotamento afetivo do esquizofrênico crônico. Permite o acompanhamento <strong>da</strong> paixão <strong>de</strong> umhomem, durante 36 anos, até o exato momento <strong>de</strong> sua morte, comprovando a permanência viva <strong>da</strong>afetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> num esquizofrênico crônico.Narração : Cláudio CavalcantiEMYGDIO – Um caminho para o infinito (45')Depois <strong>de</strong> três déca<strong>da</strong>s internado e realizando trabalhos subalternos no hospital, Emygdio <strong>de</strong> Barrosrevelou um talento excepcional para a pintura <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que começou a frequentar o atelier do pintura <strong>da</strong>Seção <strong>de</strong> Terapêutica Ocupacional. Críticos como Mário Pedrosa e Ferreira Gullar consi<strong>de</strong>ram sua obracomo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> artística, o que faz ruir o conceito tradicional que consi<strong>de</strong>ra crônicos indivíduoscom mais <strong>de</strong> cinco anos <strong>de</strong> internação.Narração : Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong>NO REINO DAS MÃES (45')Durante mais <strong>de</strong> 30 anos, Nise <strong>da</strong> Silveira acompanhou a evolução do caso clínico <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lina. Suatrajetória <strong>de</strong> auto-cura po<strong>de</strong> ser observa<strong>da</strong> através <strong>da</strong>s imagens pinta<strong>da</strong>s por ela.Narração : Nise <strong>da</strong> SilveiraOS CAVALOS DE OCTÁVIO IGNÁCIO (30')Através <strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> <strong>de</strong>senhos <strong>de</strong> cavalos, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>frontam cavalo e cavaleiro, vi<strong>da</strong> instintiva erazão, po<strong>de</strong>-se acompanhar o conflito interno que cindiu a psique <strong>de</strong> Octávio e o trabalho autocurativopara reconstruí-la.


131Narração: Nathália Timberg e Cláudio CavalcantiRAPHAEL (30')Doente <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os 15 anos, portador <strong>da</strong> forma mais grave <strong>da</strong> esquizofrenia, através do contato afetivo po<strong>de</strong>realizar uma obra <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valor artístico, reconheci<strong>da</strong> pelos maiores críticos <strong>de</strong> arte brasileiros.Narração: Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong>IMAGENS ARQUETÍPICAS (50')Para explicar o surgimento <strong>de</strong> certas idéias, <strong>de</strong> certas imagens "imensamente impressionantes" naesquizofrenia, e, muitas vezes também, nos sonhos e fantasias <strong>de</strong> pessoas normais, tendo analogiassurpreen<strong>de</strong>ntes com mitos, contos <strong>de</strong> fa<strong>da</strong> e outros produtos <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> humana, Jung postulou aexistência <strong>de</strong> uma estrutura psíquica básica comum a todos os homens. Neste documentário, imagenspinta<strong>da</strong>s livremente num hospital psiquiátrico do Rio <strong>de</strong> Janeiro, aparecem ao lado <strong>de</strong> imagens históricas,confirmando as <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> C.G.Jung.Narração : Rubem Rocha FilhoARQUEOLOGIA DA PSIQUE (75')Estudo comparativo entre imagens espontâneas e atuais, produzi<strong>da</strong>s por internos do antigo CentroPsiquiátrico Pedro II (atual Instituto Municipal Nise <strong>da</strong> Silveira), e imagens que constituem achadosarqueológicos em distantes épocas e diferentes regiões do mundo, bem como entre imagens históricas naarte e na alquimia.A primeira parte traz textos <strong>de</strong> Freud e Jung que esclarecem os fatos e in<strong>da</strong>gações dos dois mestressobre o assunto. Na segun<strong>da</strong> parte Nise discorre sobre O Tema Mítico <strong>de</strong> Dionysos, ilustrado por um ricopainel <strong>de</strong> imagens que vêm <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a época clássica até os nossos dias. Finalmente, A Barca do Solapresenta um estudo sobre o tema mítico do Sol, <strong>de</strong>stacando-se a obra <strong>de</strong> Carlos Pertuis. Uma partesignificativa <strong>da</strong> sua criação nos últimos anos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> será aqui apresenta<strong>da</strong>.Narração : Van<strong>da</strong> Lacer<strong>da</strong> e Claudio CavalcantiOS INUMERÁVEIS ESTADOS DO SER (45')Este documentário tem em Antonin Artaud, poeta e teatrólogo francês, seu ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>. Apresenta<strong>de</strong>senhos, fotografias e <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> Artaud; obras do acervo do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente,acompanha<strong>da</strong>s <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> várias épocas <strong>da</strong> história humana que lhes fazem paralelo.Narração: José Wilker e Rubens Correa como ArtaudRITUAIS (55')Os rituais constituem barreiras para conter os perigos do inconsciente. O documentário apresenta umestudo comparativo entre imagens <strong>de</strong> rituais pinta<strong>da</strong>s por esquizofrênicos e imagens encontra<strong>da</strong>s nahistória <strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>.Narração: Domitila do AmaralFicha TécnicaTextos: NISE DA SILVEIRADireção: LUIZ CARLOS MELLOMontagem: EURÍPEDES JÚNIORCoor<strong>de</strong>nação: GLADYS SCHINCARIOLFotografia: JOSÉ A. MAURO, MAURO DOMINGUES, LUIZ CARLOS SALDANHAApoio: FINEP, RIOARTE, FUNARTE (CTAV), MINC, ALIANÇA FRANCESA


132Curso: O Mundo <strong>da</strong>s ImagensO curso O MUNDO DAS IMAGENS é realizado através <strong>da</strong> projeção <strong>de</strong>documentários seguidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>bates coor<strong>de</strong>nados por membros <strong>da</strong> equipe do <strong>Museu</strong>.Com textos <strong>da</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira e ilustrados por mais <strong>de</strong> 1000 imagens, em suagran<strong>de</strong> maioria pertencentes ao acervo do MII, são narrados por gran<strong>de</strong>s artistasbrasileiros. O Curso vem sendo apresentado nas principais universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s einstituições culturais do Brasil, sempre contando com numerosos interessados. Pelocaráter universal dos temas abor<strong>da</strong>dos, está aberto a estu<strong>da</strong>ntes e profissionais <strong>de</strong>diversas áreas <strong>de</strong> conhecimento: psicologia, psiquiatria, arte, história, educação,antropologia, etc., e a todos interessados no estudo <strong>da</strong> alma humana.Mais <strong>de</strong> 10 mil pessoas já viram o curso O MUNDO DAS IMAGENS, já apresentadonas principais universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e centros <strong>de</strong> cultura do país:Centro <strong>de</strong> Ensino Unificado <strong>de</strong> Brasília (1984), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Se<strong>de</strong>s Sapientiae-SP(1985), PUC-RJ (1985), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Santa Úrsula-RJ (1985 e 1989), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Gama Filho-RJ (1986), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (1987), Associaçãodos Psicólogos <strong>de</strong> Santos (1988), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora-MG (1989),Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá-RJ (1989), <strong>Museu</strong> Histórico Palácio <strong>Cruz</strong> e Souza,Florianópolis (1990), Fun<strong>da</strong>ção Hospitalar <strong>de</strong> Minas Gerais, Barbacena (1996),Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Mackenzie-SP (1997), Clínica Terapêutica TERAPEUTAS - PsicologiaAplica<strong>da</strong>, Maceió, Setembro/98. Espaço Cultural Eranos, Santos (SP), Agosto/99Em 2000: Centro Terapêutico Olhos<strong>da</strong>almaSã, Goiânia (abril), Centro <strong>de</strong> EstudosFreudiano, Recife (agosto), Hospital Psiquiátrico Estadual São Pedro, Porto Alegre,Abor<strong>da</strong>gem Multidisciplinar ao Psicótico, S. José do Rio Preto-SP (<strong>de</strong>zembro).Em 2001: Loucuras do Inconsciente, na PUC-SP (abril), Loucura, Instituições eExclusão Social, Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> Ruy Barbosa, Salvador (maio), II Congresso <strong>da</strong> Liga <strong>de</strong>Psiquiatria <strong>de</strong> Taubaté (setembro). Em 2002: Centro Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong> (RJ), eSecretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Santo André (SP).Em 2003: Espaço Eranos (Santos).Em 2004 –Facul<strong>da</strong><strong>de</strong>s A<strong>da</strong>mantinenses Integra<strong>da</strong>s, A<strong>da</strong>mantina (SP) Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> doEstado <strong>de</strong> São Paulo – Campus Assis (SP). Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> São Marcos, Campus <strong>de</strong>Paulínia (SP)Em 2005: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> São Paulo (UNESP) , Campus Ribeirão Preto.Hospital Psiquiátrico São Pedro, Porto Alegre (RS). Centro Cultural Teóphilo Massad,Angra dos Reis (RJ), Fun<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> Ensino Superior do Vale dos Sinos, Novo Hamburgo(RS).Em 2006: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> La Salle (Niterói, RJ), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Passo Fundo (RS),Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> São Paulo (UNESP), Núcleo Psicanalítico <strong>de</strong> Aracajú (SE),Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UERJ), Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong>Pernambuco.Em 2007: Núcleo <strong>de</strong> Arte e Educação, São José dos Campos (SP); Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Pará (Belém); Programa <strong>de</strong> Pós Graduação em Arteterapia <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>São Marcos, Campus <strong>de</strong> Paulínia (SP)


133ANEXO B - RELAÇÃO DE EXPOSIÇÕES1946Título: Sem títuloLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: 22/12 a ?Observações: Obras <strong>de</strong> 35 internos1947Título: Sem TítuloLocal: Associação Brasileira <strong>de</strong> Imprensa, Rio <strong>de</strong> Janeiro.Período: 24 a 31/03?Observações: --------1949Título: Nove Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> DentroLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna, São Paulo.Período: 12/10 a ?Observações: -------1952Título: Sem títuloLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: 20/05 a ?Observações: Inauguração <strong>da</strong>s primeiras instalações do museu1956Título: Sem títuloLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: 28/09 a ?Observações: Inauguração <strong>da</strong>s novas instalações do museu1957Título: Exposição Patrocina<strong>da</strong> pela Fédération <strong>de</strong>s Sociétès <strong>de</strong> Croix MarineLocal: Salle Saint-Jean, Hôtel <strong>de</strong> Ville, Paris.Período: 15/10/57Observações: O primeiro prêmio, Hors Concours, coube a Fernando Diniz1958Título: Imagens <strong>de</strong> Arquétipos do Inconsciente ColetivoLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -------Observações: Estudo <strong>da</strong> evolução <strong>de</strong> casos clínicos através <strong>da</strong> pintura e <strong>da</strong> mo<strong>de</strong>lagem1960Título: A Esquizofrenia em ImagensLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -------Observações: ---------1961Título: Isaac LiberatoLocal: Galeria Macunaíma, Rio <strong>de</strong> Janeiro.Período: 27/10 a ?Observações: -------1961Título: Um Caso Clínico ( I.L. )Local: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: --------Observações: ---------


1341962Título: O RetratoLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -------Observações: Interpretação <strong>da</strong> pessoa humana segundo vários autores1963Título: Um Caso ClínicoLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: pinturas e mo<strong>de</strong>lagens <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong>1964Título: Pinturas <strong>de</strong> E.B.Local: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: ---------1965Título: A ÁrvoreLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: A árvore segundo vários autores1966Título: Formas Animais e Relações doEsquizofrênico com o AnimalLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -----Observações: --------1968Título: A ÁrvoreLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -------Observações: --------1970Título: Quatro Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> DentroLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna, Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 13/08 a ?Observações: --------1971Título: Um Caso ClínicoLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: Octávio Ignácio1973Título: RituaisLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: ---------1974Título: Afetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> e Contato na EsquizofreniaLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: ---------


1351975Título: Imagens Arquetípicas do Inconsciente ColetivoLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: -------1975Título: Centenário <strong>de</strong> C.G.JungLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna do Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 05/06 a 20/07Observações: Comemoração ao Centenário <strong>de</strong> C.G. Jung.1975Título: Centenário <strong>de</strong> C.G.JungLocal: Fun<strong>da</strong>ção Cultural do Distrito Fe<strong>de</strong>ra, Brasília.Período: 16/09 a 28/09Observações: Comemoração ao Centenário <strong>de</strong> C. G. Jung.1975Título: Centenário <strong>de</strong> C.G.JungLocal: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do ParanáPeríodo: 20/11 a 05/12Observações: Comemoração ao Centenário <strong>de</strong> C.G. Jung1977Título: 30 Anos <strong>de</strong> Pintura <strong>de</strong> Carlos PertuisLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -------Observações: --------1978Título: Estudo Paralelo entre o Simbolismo Alquímico e as Pinturas <strong>de</strong> Octávio IgnácioLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -------Observações: -------1978Título: Psicologia <strong>da</strong> EsquizofreniaLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -----Observações: --------1979Título: Fernando Diniz: Desenhos e PinturasLocal: Galeria Sérgio Milliet, FUNARTE, Rio <strong>de</strong> Janeiro.Período: --------Observações: ---------1980Título: Psicologia <strong>da</strong> EsquizoferniaLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -----Observações: -------1981Título: Miséria do Hospital Psiquiátrico/ nas Fontes do FantásticoLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -----Observações: -------


1361982Título: As Forças Auto-Curativas <strong>da</strong> PsiqueLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: -------1983Título: Simbolismo <strong>da</strong> <strong>Cruz</strong>Local: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: -----Observações: -------1984Título: O Desenvolvimento <strong>da</strong> ConsciênciaLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: -------1985Título: A<strong>de</strong>lina, Vi<strong>da</strong> e ObraLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ------Observações: -------1986Título: O Mundo <strong>da</strong>s ImagensLocal: <strong>Museu</strong> Universitário Gama Filho no Rio <strong>de</strong> Janeiro.Período: ------Observações: --------1987Título: Os Inumeráveis Estados do SerLocal: Paço Imperial do Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 12 / 05 a 14 / 06 / 1987Observações: -----------------------1988Título: Os Cavalos <strong>de</strong> Octavio IgnácioLocal: Copacabana Palace/ Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 07/09 a 10/09Observações: Durante o XII Congresso Internacional <strong>de</strong> Psicopatologia e Expressão1989Título: Fun<strong>da</strong>mento e Perspectivas <strong>da</strong> Psicologia JunguianaLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: ---------Observações: -----------------1991Título: Imagens do Inconsciente: Uma Experiência em Terapêutica OcupacionalLocal: Espaço Cultural Mascarenhas/ Juiz <strong>de</strong> ForaPeríodo: 16/09 a 30/09Observações:1993Título: Arqueologia <strong>da</strong> Psique e Dubuffet e L'Art BrutLocal: Casa França-Brasil / Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: Junho <strong>de</strong> 1993Observações:


1371994Título: Brasil: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteLocal: 46ª Feira do Livro <strong>de</strong> FrankfurtPeríodo: Nov/Dez <strong>de</strong> 1994Observações:1995Título: Os Inumeráveis Estados do SerLocal: Istituto Italo-Latino Americano/ RomaPeríodo: nov. a <strong>de</strong>z / 95 a jan/96Observações: Comemorações do Cinquentenário <strong>da</strong> ONU1996Título: Man<strong>da</strong>lasLocal: Fortaleza - CEPeríodo: 13 / 10 a 18 / 10 / 1996Observações: I Congresso Norte - Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Terapia Ocupacional1997Título: Arqueologia <strong>da</strong> PsiqueLocal: Conj. Cultural <strong>da</strong> Caixa Ec.Fed. - Brasília / D.FPeríodo: 17 / 11 a 12 / 12 / 97Observações: -----------------1998Título: O Homem Produtor <strong>de</strong> MemóriaLocal: <strong>Museu</strong> Nacional / UFRJPeríodo: 05/11 a ?Observações: Exposição do Fórum Permanente dos <strong>Museu</strong>s <strong>da</strong> Zona Norte1998Título: Octavio Ignácio-Estudo Comparativo com o Caso SchreberLocal: Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Psicanálise /RJPeríodo: 29/05 a ?Observações: ----------------------1999Título: Arqueologia <strong>da</strong> PsiqueLocal: Sofitel Palace Hotel - Av. Atlântica, posto 6 / RJPeríodo: <strong>de</strong> 21 / 04 a 24 / 04 / 99Observações: 17º Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Psicanálise1999Título: Mostra Retrospectiva <strong>de</strong> Abraham PalatnikLocal: MAC - NiteroiPeríodo: 25 / 08 a 24 / 10Observações:1999Título: O Universo <strong>de</strong> Fernando DinizLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscientePeríodo: 22/06 a ?Observações: -----------------------2000Título: Mostra do Re<strong>de</strong>scobrimento - Imagens do Inconsciente *Local: Ibirapuera-São PauloPeríodo: 25/04 a 10/09Observações:


1382000Título: Nise <strong>da</strong> Silveira : <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteLocal: Fun<strong>da</strong>ção Oswaldo <strong>Cruz</strong> - R.JPeríodo: 28 / 11 a 15 / 12 /00Observações: II Bienal <strong>de</strong> Pesquisa2000Título: Nise <strong>da</strong> Silveira e C. G. Jung: O EncontroLocal: Hotel Glória - Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 21 a 34/6Observações: II Congresso Latino Americano <strong>de</strong> Psicologia Analítica2000Título: Sem títuloLocal: Centro Psiquiátrico Pedro SegundoPeríodo: 23 / 08 a 31 / 12 / 00Observações: -------------------2000Título: Quando o Brasil Era Mo<strong>de</strong>rnoLocal: Paço ImperialPeríodo: 07/12/00 a 25/03/01Observações:2000Título: Nise <strong>da</strong> Silveira e Carl Gustav Jung: O EncontroLocal: Hotel Glória - R.JPeríodo: 21 a 24 /06/00Observações: II Congresso Latino-Americano <strong>de</strong> Psicologia Analitica2001Título: Sem títuloLocal: Câmara dos Deputados - D.FPeríodo: abril <strong>de</strong> 2001Observações: Referente ao Dia Mundial <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>2001Título: Imagens do Inconsciente: A Emoção <strong>de</strong> Li<strong>da</strong>rLocal: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Sacra <strong>de</strong> ParatyPeríodo: 30/06 a 08 / 07/ 01Observações: -----------------2001Título: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente: Man<strong>da</strong>laLocal: SESC - PetrópolisPeríodo: 09/11 a 24/11/01Observações: ------------------------2002Título: Cinquentário do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteLocal: Se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong>Período: jul/2002 a Dez./2005Observações:2002Título: Cinco Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> DentroLocal: Centro Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>Período: Julho <strong>de</strong> 2002Observações: Comemorações do cinquentenário


1392003Título: Coleção <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteLocal: Se<strong>de</strong> do IPHAN - Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 14/Ago. a 26/set.Observações: 15 obras - reabertura <strong>da</strong> galeria <strong>de</strong> exposições2004Título: O <strong>Museu</strong> Vivo do Engenho <strong>de</strong> DentroLocal: Centro Cultural <strong>da</strong> Saú<strong>de</strong>Período: 17/jun a2/out.Observações: 51 obras - 2013 visitantes2004Título: No Centro <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>Local: Centro <strong>de</strong> Convenções - São PauloPeríodo: 29/6 a 2/7Observações: Encontro Nacional <strong>de</strong> CAPS - 32 obras2005Título: Trauma: Imagens do InconscienteLocal: <strong>Museu</strong> do Exército - Rio <strong>de</strong> janeiroPeríodo: 28 a 31/julObservações: 44º Congresso Intern. <strong>de</strong> Psicanálise2005Título: Mostra Arte, Diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> e Inclusão Socio-culturalLocal: Centro Cultural Banco do Brasil - Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 3 a 29 mai.Observações: 12 obras <strong>de</strong> F. Diniz2005Título: Imagens do Inconsciente: Centenário <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveira (II)Local: RioCentro - Rio <strong>de</strong> JaneiroPeríodo: 11 a 17/abr.Observações: Exposição interativa: Ciência para todos2005Título: Imagens do Inconsciente: Centenário <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveira (III)Local: Centro Cultural Teóphilo Massad, Angra dos Reis (RJ)Período: 30 <strong>de</strong> junho a 30 <strong>de</strong> julho.2005Título: Images <strong>de</strong> l'InconscienteLocal: Musée Halle Saint Pierre - ParisPeríodo: set./2005 a fev./2006Observações: Ano do Brasil na França - 182 obras2006Título: Imagens do Inconsciente: Centenário <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveira (IV)Local: Biblioteca <strong>da</strong> PUC - São PauloPeríodo:Observações: Soc. Brasileira <strong>de</strong> Psic. Analítica2006Título: Arqueologia <strong>da</strong> PsiqueLocal: Socie<strong>da</strong><strong>de</strong> Semear - AracajuPeríodo: 8 a 30/set.Observações: VII Jorna<strong>da</strong> <strong>de</strong> Psicanálise - 25 obras2006Título: Arqueologia <strong>da</strong> Psique


140Local: Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Pernambuco – Dep. PsicologiaPeríodo: 16 a 27 <strong>de</strong> outubro.2006Título: 7 Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> DentroLocal: Centro Cultural <strong>da</strong> Caixa - BrasíliaPeríodo: 2/set a 1/outObservações:


1412007Título: ExposisomLocal: Se<strong>de</strong> do <strong>Museu</strong>Período: 25/set. a ?Observações:Arte e Loucura: O <strong>Museu</strong> Vivo do Engenho <strong>de</strong> DentroLocal: SESC <strong>de</strong> Ribeirão PretoPeríodo: Maio <strong>de</strong> 2008Obs.: Semana <strong>da</strong> Luta Antimanicomial.2008Título: Fotoforma: Pinturas QuaseLocal: Centro Universitario Maria Antonia - São PauloPeríodo: 24/mar a 25/maiObservações: Participação exposição <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> Manoel <strong>de</strong> Barros2008Título: Nise <strong>da</strong> Silveira: caminhos <strong>de</strong> uma psiquiatra rebel<strong>de</strong>Local: <strong>Museu</strong> Oscar NiemeyerPeríodo:Observações:


ANEXO C – FAC-SIMILE DO DOCUMENTOSISTEMA DE CLASSIFICAÇÃO A.R.A.S.142


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ANEXO D – FICHA DE CATALOGAÇÃO146


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148ANEXO EMONOGRAFIAS, TESES, DISSERTAÇÕES, COLETÂNEAS, POESIAS, ESTUDOS, PROJETOS E ARTIGOSRELATIVOS AO ACERVO DO MUSEU01TÍTULO: “Drª. NISE DA SILVEIRA” - UMA VIAGEM NAS IMAGENS...AUTOR (AS): MARISILVIA BARROS BORGES E FÁTIMA M. S. VICTORIODATA: 02 DE MAIO DE 1995 (BAURU – SÃO PAULO)ASSUNTO: BREVE HISTÓRICO DA VIDA DA Drª. NISE, UMA VISÃO DO MUSEU, DA CASA DAS PALMEIRAS, OS CASOS CLÍNICOS E ASOBRAS DE LÚCIO E ADELINA, COM PROJEÇÃO DE SLIDES. FOI FEITOS UM “MINI MUSEU” COM EXPOSIÇÃO DE FOTOS TIRADAS.TRABALHO FEITO COMO CONCLUSÃO DE ETAPA DE FORMAÇÃO JUNGUIANA EM BAURU (SÃO PAULO) EM CONGRESSO.EM ANEXO, CARTA DAS AUTORAS A LUIZ CARLOS MELLO COM OS RELATOS ACIMA.OBSERVAÇÃO: ORIGINAL E CÓPIASUMÁRIO:Dra. Nise Magalhães <strong>da</strong> Silveira<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteEncontro <strong>de</strong> Nise com JungViagem para ZuriqueExposição no II Congresso Internacional <strong>de</strong> PsiquiatriaCasa <strong>da</strong>s Palmeiras, “Emoção em Li<strong>da</strong>r...”Método Terapêutico empregado na Casa <strong>da</strong>s PalmeirasDra. NisePublicações <strong>de</strong> Dra. Nise <strong>da</strong> SilveiraExposiçõesPrêmios. Títulos e Homenagens à Dra. NiseViagemReferências Bibliografias e Fontes02TÍTULO: A SAÚDE DO TRABALHADOR EM UMA INSTITUIÇÃO PSIQUIÁTRICAAUTOR: FERNANDO MAURO DE MORAES MIRANDADATA: OUTUBRO DE 1997 – FLORIANÓPOLIS (SANTA CATARINA)COORDENADOR: PROFESSOR: SEBASTIÃO IVONE VIEIRAORIENTADOR: PROFESSOR: OCTACÍLIO SCHÜLER SOBRINHOASSUNTO: XII CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM MEDICINA DO TRABALHOUNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DE SANTA CATARINA – ASSOCIAÇÃO CATARINENSE DE MEDICINASUMÁRIO:ApresentaçãoAbstractIntroduçãoA mente – O Normal, o PatológicoO trabalhador em Saú<strong>de</strong> MentalUma Visão <strong>da</strong> Reali<strong>da</strong><strong>de</strong>ConclusõesReferências Bibliográficas03TÍTULO: FOTOFORMAS: A MÁQUINA LÚDICA DE GERALDO DE BARROSAUTOR (A): HELOISA ESPADA RODRIGUES DE LIMADATA: 2006 – SÃO PAULOÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA DA ARTEASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE ARTES PLÁSTICAS DA ESCOLA DE COMUNICAÇÃO E ARTES DAUNIVERSODADE DE SÃO PAULO COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARTES, SOBORIENTAÇÃO DO PROFESSOR Dr. DOMINGOS TADEU CHIARELLISUMÁRIO:IntroduçãoCapítulo I: Concomitância, conflito e renovação: arte em São Paulo no segundo pós-guerra;Capítulo II: Facetas <strong>da</strong> máquina lúdica <strong>de</strong> Geraldo <strong>de</strong> Barros;Capítulo III: Geraldo <strong>de</strong> Barros e o sistema <strong>da</strong> fotografia;Consi<strong>de</strong>rações FinaisCronologiaReferências Bibliográficas


14904TÍTULO: ARTE, LOUCURA E CIÊNCIA NO BRASIL: AS ORIGENS DO MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTEAUTOR (A): PAULA BARROS DIASDATA: 2003 – RIO DE JANEIROÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA DAS POLÍTICAS, INSTITUIÇÕES E PROFISSIONAIS DE SAÚDEORIENTADOR: PROFESSORA DRA. NÍSIA TRINDADE DE LIMAASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA DAS CIÊNCIAS DA SAÚDE DA CASA DEOSWALDO CRUZ, COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU MESTRE.SUMÁRIO: Lista <strong>de</strong> siglas Resumo Abstract1. Introdução2. Arte, Inconsciente e Loucura: A aproximação entre arte e loucura e a emergência do discurso psicanalítico no Brasil:2.1. Freud, a psicanálise e o conceito <strong>de</strong> Inconsciente2.2. O conceito <strong>de</strong> inconsciente como crítica à civilização2.2.1. Surrealismo e Psicanálise2.2.2. Mo<strong>de</strong>rnismo e a emergência do discurso psicanalítico no Brasil2.3. A ocupação terapêutica no âmbito <strong>da</strong> história <strong>da</strong> psiquiatria brasileira2.3.1. A utilização do trabalho como terapia: colônia <strong>de</strong> alienados e terapêutico ocupacional2.3.2. Psicanálise e ocupação terapêutica2.3.3. Psicologia Analítica Junguiana e ocupação terapêutica: a originali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveira3. Nise <strong>da</strong> Silveira e a Terapêutica Ocupacional em Engenho <strong>de</strong> Dentro3.1. Uma Alagoana no Rio <strong>de</strong> Janeiro: A trajetória <strong>de</strong> Nise <strong>da</strong> Silveira3.2. A Terapêutica Ocupacional em Engenho <strong>de</strong> Dentro3.3. O <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente4. A Psiquiatria Brasileira na Déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 19404.1. Periódicos médicos4.2. O ensino e a assistência a alienados no Brasil4.2.1. O ensino <strong>de</strong> psiquiatria e a assistência a psicopatas em São Paulo4.2.2. O ensino psiquiátrico e a assistência a alienados no Rio <strong>de</strong> Janeiro4.3. As terapêuticas psiquiátricas4.3.1. O predomínio <strong>da</strong>s terapêuticas biológicas em psiquiatria4.3.2. As psicoterapias4.4. A expressão artística dos alienados4.4.1. A exposição <strong>de</strong> Arte Psicopatológica no I Congresso Internacional <strong>de</strong> Psiquiatria4.4.2. Nise <strong>da</strong> Silveira e Osório César5. O apoio <strong>de</strong> artistas e críticos <strong>de</strong> arte nas origens do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente5.1. Almir Mavignier, co-fun<strong>da</strong>dor do Ateliê <strong>de</strong> Pintura <strong>da</strong> STO5.2. Realismo x Abstracionismo: A arte brasileira na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 19405.3. A presença crítica <strong>de</strong> Mário Pedrosa5.4. Abraham Palatinik, artista plástico5.5. As primeiras exposições <strong>da</strong> STO5.5.1. I Mostra do CPN: A exposição <strong>de</strong> Alienados <strong>de</strong> 19475.5.2. A exposição <strong>de</strong> 1949: 9 Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro5.6. Os loucos-Artistas <strong>de</strong> Engenho <strong>de</strong> Dentro6. Conclusão7. Referências Bibliográficas7.1. Obras cita<strong>da</strong>s7.2. Obras consulta<strong>da</strong>s05TÍTULO: INICIAÇÃO À LOUCURAAUTOR: FAUZI ARAPDATA: SEM DATAASSUNTO: UM ESTUDOÍNDICEParte 1 – Iniciação à LoucuraParte 2 – IniciaçãoParte 3 – LoucuraParte 4 – Ou cura06TÍTULO: O ESPÍRITO DA UTOPIAAUTOR: MARCOS FERNANDES DA SILVA MOREIRADATA: 1989ORIENTADOR: PROFESSOR: MÁRCIO TAVARES D’AMARAL NÍSIA TRINDADE DE LIMAASSUNTO: TESE APRESENTADA A ESCOLA DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO PARA OBTENÇÃODO GRAU DOUTOR.


150SUMÁRIO:Capítulo I – Exílio e êxodoCapítulo II – Cáli<strong>da</strong> correnteCapítulo III – A razão dos vencidosCapítulo IV – HeterodoxiaCapítulo V – Invisibili<strong>da</strong><strong>de</strong> – Iluminação do InstanteCapítulo VI – ElectraCapítulo VII – Socialismo utópico-religiosoCapítulo VIII – A árvore <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>Epílogo – FlorençaBibliografiaOBSERVAÇÃO: Ficha Catalográfica1. Utopia2. Ju<strong>da</strong>ísmo3. Cristianismo4. Marxismo07TÍTULO: MINHA VIDA SENTIMENTAL - POESIASAUTOR: CARLOS DE OLIVEIRADATA: 18 DE ABRIL DE 1991 – COLÔNIA JULIANO MOREIRA – MS – RIO DE JANEIROORIENTADOR: SANDRA REGINA GUEDES PACHECO – TERAPEUTA OCUPACIONALASSUNTO: POESIAS01. Minha vi<strong>da</strong>02. Aqui está presente03. Ain<strong>da</strong> sou flamengo04. A vi<strong>da</strong> é assim05. Coração06. Coração07. Coração bate sempre assim08. Coração ver<strong>de</strong>09. Cadê a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>10. Conquistar coração11. Deixa <strong>de</strong> queixar-se12. Deixe esse tempo correr13. Eu brinquei com o amor14. Estou sempre triste15. Esqueci <strong>de</strong> viver16. Estou na ban<strong>de</strong>ira branca17. Eu não tenho namora<strong>da</strong>18. Eu e você19. Eu gosto <strong>de</strong> você20. Eu nunca amei21. Me leva pra casa22. Meu pensamento é tão feliz23. Mesmo na multidão24. Não mora no presente25. O meu tempo <strong>de</strong> criança26. O <strong>de</strong>samor27. Oh! Deus querido28. Pai29. Pra que nasci?30. Procurando a felici<strong>da</strong><strong>de</strong>31. Que beleza32. Quem <strong>de</strong>ras33. Que vonta<strong>de</strong>34. Sau<strong>da</strong><strong>de</strong>35. Sofrimento36. Thelma37. Vamos presi<strong>de</strong>nte38. Vai coração39. Vai sau<strong>da</strong><strong>de</strong>, vai tristeza40. Vai quem tem coraçãoÍNDICE


15108TÍTULO: A POESIA DO PARAÍSO DE DANTE & OUTROS ESTUDOSAUTOR: MARCO LUCCHESIDATA: SEM DATA – RIO DEASSUNTO: POESIAS E OUTROSSUMÁRIOPrefácioApresentaçãoA Viagem <strong>de</strong> UlissesOs mares do serAo eterno do tempoA sombra <strong>de</strong> ArgosO prefácio <strong>de</strong> DeusO alto do lumeO arco tricórdioO hipersigno do paraísoBibliografiaNota sobre o Autor09TÍTULO: QUATÉRNIO – A MORTE DA CRIANÇA IMORTAL – O EXTERMÍNIO DE MENINOS DE RUAAUTOR (ES) /REDATORES: BERNARDO HORTA (ORGANIZADOR), CLEIA SCHIAVO WEYRAUCH, CRISTINA BETHENCOURT, EDGARSILVA TAVARES DE MELO, ELVIA MARIA BEZERRA DE MELLO, HELOISA MARIA CARDOSO DA SILVA (ORGANIZADORA) MÁRCIALEITÃO DA CUNHA, MAY WADDINGTON, NARA MATOS, NILTON SOUZA SILVA, PHILIPPE BANDEIRA DE MELLODATA: 1993 – RIO DE JANEIROCORDENAÇÃO: DRª. NISE DA SILVEIRAASSUNTO: GRUPO DE ESTUDOS C.G.JUNGSUMÁRIO:Introdução1. Parte: A criança imortalI. O mito <strong>da</strong> criança imortalII. A criança e os sistemas ético-religiososIII. A criança na cultura indígena e os ritos <strong>de</strong> passagem2. Parte: Os meninos <strong>de</strong> rua no BrasilIV. A <strong>de</strong>núncia na imprensa escrita do extermínio <strong>de</strong> menores no Brasil.O papel político <strong>da</strong> imprensaV. A socie<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira, o mercado <strong>de</strong> trabalho e os meninos <strong>de</strong> rua.VI. Meninos <strong>de</strong> rua, pra rua já.VII. O extermínio, segundo suas vítimas e criminosos.3. Parte: O significado do sacrifício <strong>da</strong> criançaVIII. Uma reflexão psicológica: Meninos <strong>de</strong> rua, meninos na rua, meninos sem ruaIX. A interpretação Junguiana10TÍTULO: REFLEXÃO TEÓRICA SOBRE O FILME “ESTRELA DE OITO PONTAS” DO ARTISTA PLÁSTICO FERNANDO DINIZAUTOR (A): MARIA CLÁUDIA BOLSHAW GOMESDATA: SEM DATA – RIO DE JANEIROASSUNTO: PROPOSTA DE DISSERTAÇÃO - MESTRADO EM DESIGN, APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE ARTES DA PONTIFÍCIAUNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO.SUMÁRIO:1. Introdução2. Objetivos2.1. Objetivos Gerais2.2. Objetivos Secundários3. Justificativa4. Metodologia4.1. Análise dos <strong>de</strong>senhos em plano isolados e estáticos4.2. Análise dos <strong>de</strong>senhos sobrepostos em movimento4.3. Análise e classificação dos elementos em movimento que constituem planos <strong>de</strong> construção plástica <strong>da</strong> animação4.4. Análise <strong>da</strong>s características que diferenciam as técnicas convencionais <strong>de</strong> animação e as técnicas <strong>de</strong> animação utiliza<strong>da</strong>s porFernando Diniz4.5. Análise <strong>da</strong> “História <strong>da</strong> Estrela” procurando estabelecer uma correlação entre o método <strong>de</strong> criação <strong>da</strong>s formas plásticas egeométricas com uma teoria <strong>de</strong> composição.4.6. Análise <strong>da</strong> especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> estrutura psiquiátrica <strong>de</strong> Diniz e sua reorganização psíquica através <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> artística5. Revisão Bibliográfica6. Anexos:6.1. O Relógio Escultura6.2. Jogo <strong>de</strong> Montar Estrelas6.3. A História <strong>da</strong> Estrela


1527. Glossário <strong>de</strong> Termos Técnicos8. Bibliografia8.1. Artes Plásticas8.2. Arte e Psicologia8.3. Cinema <strong>de</strong> Animação8.4. Metodologia <strong>de</strong> Pesquisa8.5. Artigos e Publicações sobre o Artista Fernando Diniz11TÍTULO: MUSEU VIVO: UM PANORAMA SOBRE A INSTITUIÇÃOAUTOR (A): CAREM CRISTINA RIBEIRO PINHEIRODATA: 2001 – RIO DE JANEIROORIENTADOR (A): GLADYS SCHINCARIOL DE MELLOASSUNTO: MONOGRAFIA APRESENTADA AO CURSO DE MUSEOLOGIA DA UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOSREQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE BACHAREL EM MUSEOLOGIASUMÁRIO:IntroduçãoI. <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente: um breve histórico sobre a instituição1.1 <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente1.2 O que é <strong>Museu</strong>?II. Nise <strong>da</strong> Silveira e a psiquiatria no Brasil2.1 Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira e o pensamento “Junguiano”, explícito através <strong>de</strong> símbolos2.2 Fernando Diniz: uma trajetória <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>2.3 Instituto Nise <strong>da</strong> Silveira: o cotidiano2.3.1 Ex-pacientes2.3.2 As Oficinas <strong>da</strong> Terapêutica OcupacionalIII. Museologia3.1 <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente x Museologia3.2 O tipo <strong>de</strong> acervo <strong>da</strong> Instituição?3.3 O espaço físico que abriga as obras3.4 A clientelaConsi<strong>de</strong>rações FinaisBibliografia12TÍTULO: CINCO CONTOS PSICANALÍTICOS (A LINGUAGEM DA LOUCURA)AUTOR : MARCONDES FARIA COSTA (POETA E ESCRITOR)DATA: JUNHO DE 1997 - MACEIÓOpiniõesLimites <strong>da</strong> loucuraAgra<strong>de</strong>cimentos O objeto e a coisa Fragmentos Delírio Expressão <strong>da</strong> Loucura Fragmentos <strong>de</strong> uma análise O Psicótico e o Analista Os Urubus Esperança O Quarto O Pássaro e o EspantalhoSUMÁRIO:13TÍTULO: NISE DA SILVEIRAAUTOR : WALTER MELODATA: 2001 – RIO DE JANEIROIntroduçãoCapítulo 1 – O Estudo do Processo PsicóticoA Ferramenta JunguianaSerá o Benedito?O Pequeno-Gran<strong>de</strong> Tratado <strong>de</strong> PsiquiatriaCapítulo 2 – A Casa <strong>da</strong>s MusasAnjo DuroNem por Sangue <strong>de</strong> AragãoMan<strong>da</strong>laSUMÁRIO:


153A Linguagem Esqueci<strong>da</strong>Capítulo 3 – A Emoção <strong>de</strong> Li<strong>da</strong>rO Paradigma Ético-EstéticoO Afeto CatalizadorOs Devaneios e a Imaginação MaterialA Cozinha e os Devaneios CósmicosCapítulo 4 – Os Inumeráveis Estados do SerO Gato e Outros BichosMulheres na PrisãoConclusãoReferências BibliográficasAnexosTextos Publicados14TÍTULO: COLETÂNEA DE TEXTOS TEÓRICOSAUTOR (A): LEA 101DATA: SEM DATAASSUNTO: COLETÂNEA DE TEXTOS UNIVERSIDADE GAMA FILHO, DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS – DEPARTAMENTO DELETRASUNIDADE I.A linguagem como representação <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>1. Linguagem e Comunica2. A linguagem verbalUNIDADE II.A produção textual1. Elementos <strong>da</strong> comunicação e sua função no texto2. Texto/Contexto3. Condições <strong>de</strong> produção do texto3.1. Condições <strong>de</strong> produção <strong>da</strong> leitura3.2. Tipologia <strong>de</strong> texto: produção escrita3.2.1. expositivo-argumentativo; narrativo, <strong>de</strong>scritivo3.2.2. texto acadêmico; jornalístico; publicitário; literárioUNIDADE III.Estratégias Discursivas1. Varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s lingüísticas1.1. As mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s fala<strong>da</strong>s e escrita e registros1.2. A língua padrão2. Coerência e coesão textuais2.1. Da frase2.2. Do parágrafo2.3. Do textoSUMÁRIO:15TÍTULO: A INTERAÇÃO LUA/SOL NO LANCE DE DADOS DO ESPELHO INTERIOR (UMA LEITURA DO “MITO SOLAR” NA VERSÃOMALLARMAICA DE QUATRO CONTOS INDIANOS).AUTOR (A): MARIA LÚCIA FABRINI DE ALMEIDADATA: 1987 – SÃO PAULOORIENTADOR (A): FERNANDO SEGOLINASSUNTO: TESE APRESENTADA JUNTO AO DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DE SÃO PAULO COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM COMUNICAÇAO E SEMIÓTICA.O Girassol e o LótusCapítulo 1 A Capitulação Sorri<strong>de</strong>nteCapítulo 2 O Texto em Férias- Aos DadosCapítulo 3 Octávio Paz, Leitor e Mallarmé3.1. O Mito com Chave <strong>de</strong> Leitura- Soneto em IX3.2. O Mito SolarCapítulo 4 Rastreando Palavras4.1. Do Mito ao Método SolarCapítulo 5Narrativas em espelho: O Conto do Conto5.1. O Retrato EncantadoÍNDICE:


154Reflexos: O Retrato e o Desejo5.2. A Falsa VelhaAuroras e Olhares5.3. O Morto-VivoO Rajá <strong>da</strong> Lua5.4. Nala e DamayantíSol e Estrela: As Faces dos DadosCapítulo 6O Sol e o Jogo <strong>de</strong> DadosCapítulo 7A Lua Escondi<strong>da</strong> <strong>de</strong> MallarméOu As Merys <strong>de</strong> StéphaneOu O LunaristaO Lótus e o GirassolGlossárioBibliografia16TÍTULO: NISE, RACONTE-NOUS! OU QUELQUES SOUVENIRS D’UNE PSYCHIATRE REBELLEAUTOR (A): MAIONE DE QUEIROZ SILVADATA: 1987 – SÃO PAULOASSUNTO: FILM - DOCUMENTAIRE DE 52’LÊS PRODUCTEURS INDÉPENDANTS ASSOCIÉSNOTE D’ INTENTIONEst une conversation avec Nise <strong>da</strong> Silveira, 91 ans, psychiatre rebelle selon ses propres termes. A travers le fil conducteur <strong>de</strong> sesparoles, prises lors d’un entretien fait récemment à Rio <strong>de</strong> Janeiro, nous suivrons as trajectoire singuliére. Nise <strong>da</strong> Silveira nous conduit à l’atelier<strong>de</strong> peinture crée <strong>da</strong>ns le cadre <strong>de</strong> la Thérapeutique Occupationnelle, section qu’elle a dirigée pen<strong>da</strong>nt <strong>de</strong> nombreuses années. Nous connaîtronsses patients et leurs oeuvrez: Emygdio <strong>de</strong> Barros, A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong>, Raphael Domingues, Carlos Pertuis et Fernando Diniz. Nous visiterons le“Musée d’Images <strong>de</strong> l’Inconscient”, la “Maison <strong>de</strong> Palmiers” et nous allons au carnaval <strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro <strong>de</strong> cette année participer à l’hommagequi lui est rendu par l’école <strong>de</strong> samba du “Salgueiro”.Pour reconstituer les scènes du passé nous servirons d’images d’archives photographiques et <strong>de</strong> séquence du film “Images <strong>de</strong>l’Inconscient”, réalisé par Leon Hirstzman em collaboration avec Dr. Nise <strong>da</strong> Silveira, où nous voyons ses patients em activit é au CentrePsychiatrique Pedro II.Dans l’intention <strong>de</strong> reconstituer l’histoire profissionalle du Dr. Nise <strong>da</strong> Silveira, une mise-em-scéne non-réaliste, sera introduite, avecfemme <strong>da</strong>ns le role du Douteur. Cette démarche <strong>de</strong> reconstitution fait appel a l’imagination <strong>de</strong> celui qui regar<strong>de</strong> le film par certains plans vi<strong>de</strong>sd’action où la parole se charge <strong>de</strong> ranconter l’histoire et permet aussi um rapprochement, d’abord sonore et ensuite visuel, entre la “vraie” Nise etla ieune femme où l’une <strong>de</strong>viente le complément <strong>de</strong> l’autre et vice-versa.A l’interieur <strong>de</strong> chaque série <strong>de</strong> peinture, un fil conducteur ou <strong>de</strong>s fils conducteurs seront indiqués afin <strong>de</strong> retrer <strong>da</strong>ns la lecture <strong>de</strong>simages, cette plongée <strong>da</strong>ns le mon<strong>de</strong> intérieur <strong>de</strong> chacun d’ eux dont nous parle Dr. Nise. Notre intention ne sera pas <strong>de</strong> montrer une étu<strong>de</strong>approfondie (voir la trilogie “Images <strong>de</strong> l’Inconscient” <strong>de</strong> Leon Hirstzman), mais <strong>de</strong> donner <strong>de</strong>s chemis <strong>de</strong> lecture et <strong>de</strong> laisser ces images, sansaucune réserve d’une gran<strong>de</strong>ur plastique, parler d’elles mêmes. Le choix <strong>de</strong>s images et ses déploiments seron faits avec l’irremplaçable apportscientifique <strong>de</strong> M. Luiz Carlos Mello.Une gran<strong>de</strong> barque lumineuse, la “Barque du Soleil”, apparaît à l’image. Autour d’elle la fête em paillettes, sourires et <strong>da</strong>nses explose emsnsualité et joie. Des tournesols voltigent em tourbillon. C’est le Carnaval brésilien ren<strong>da</strong>nt homage aux artistes, aux fous et à Nise <strong>da</strong> SilveiraSur le images du Carnaval <strong>de</strong> Rio <strong>de</strong> cette année 1997 apparaît le titre en encrustation: NISE RACONTE NOUS!17TÍTULO: “RAPHAEL DOMINGUES”: O TRAÇO EM SEU PERCURSO POÉTICO”AUTOR : CLAUDIO DE SOUZA CASTRO FILHO (RA: 040133)DATA: JUNHO DE 2005 - CAMPINASASSUNTO: TRABALHO APRESENTADO À PROFESSORA LÚCIA REILY COMO CONCLUSÃO DA DISCIPLINA ANÁLISE CRÍTICA EHISTÓRICA DAS ARTES / ARTES VISUAIS E DOENÇA MENTAL E DEFICIÊNCIA (AT 313 A), NO PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EMARTES DA UNICAMP18TÍTULO: COMPÊNDIO DE TERAPIA OCUPACIONAL: UMA ALTERNATIVA À SAÚDE MENTALAUTOR : GILBERTO VERARDO MOULARDDATA: 1997ASSUNTO:SUMÁRIONota ao LeitorApresentaçãoPrefácioCapítulo I – A Fenomenologia Existencial: Uma abor<strong>da</strong>gem filosófica1. Breve histórico do existencialismo e <strong>da</strong> fenomenologia2. Um olhar na corporali<strong>da</strong><strong>de</strong> humana3. O pacto entre o corpo e o mundo4. A fenomenologia <strong>da</strong> indiferença


1555. A fenomenologia do amorCapítulo II – A terapia Ocupacional e a Gestalterapia: Um encontro possível1. Um olhar na teoria <strong>da</strong> Gestalterapia segundo Fritz Perls2. Um olhar revelado <strong>da</strong> Terapia Ocupacional por Nise <strong>da</strong> Silveira3. Método científico versus Técnica Terapêutico3.1. A doutrina Biomédica3.2. A doutrina Freudiana3.3. A abor<strong>da</strong>gem fenomenológicaCapítulo III – Breve histórico <strong>da</strong> Terapia Ocupacional1. A Terapia Ocupacional através dos tempos2. O início <strong>da</strong> Terapia Ocupacional como expressão e profissão3. A difusão <strong>da</strong> Terapia Ocupacional4. A Terapia Ocupacional no BrasilCapítulo IV – As diferentes escolas e a Terapia Ocupacional1. A escola organicista2. A escola psicanalítica3. A psicologia analítica <strong>de</strong> Carl Gustav Jung4. A Terapia Ocupacional em países socialistasCapítulo V – Terapia Ocupacional: Um método alternativo para o tratamento <strong>de</strong> disfunções mentais1. Aspectos psicológicos <strong>da</strong> relação Terapeuta Ocupacional e algumas condições psiquiátricas2. Processo <strong>de</strong> tratamento em Terapia Ocupacional para psicosesConclusãoReferências Bibliográficas19TÍTULO: PARA UMA TEORIA LINGÜÍSTICA SOBRE OS MECANISMOS DE COMUNICAÇÃO NAS PSICOSESAUTOR (A): MARILUCI NOVAES (PESQUISADORA)DATA: MARÇO DE 2001 A FEVEREIRO DE 2003ASSUNTO: ÁREA: LINGÜÍSTICA – SUB-ÁREA: TEORIA E ANÁLISE LINGÜÍSTICA – PALAVRAS CHAVES: PRAGNMÁTICA/ATOS DELINGUAGEM/COMUNICAÇÃO/PSICANÁLISE/PSICOSETITULAÇÃO: DOUTORA EM CIÊNCIAS (UNICAMP 1995)VÍNCULO EMPREGATÍCIO: PROFESSOR ADJUNTO III – DE – UFFSUMÁRIOI<strong>de</strong>ntificaçãoResumoIntroduçãoAs formações imaginárias e a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> simbólica dos sujeito nas psicosesObjetivos e justificativasMetodologiaCronograma <strong>de</strong> execuçãoEquipe executoraReferências Bibliográficas20TÍTULO: TIRÉSIAS – OLHOS DA ALMA SÃ – A BUSCA DA DOENÇA E O ENCONTRO COM A SAÚDE NUMA ABORDAGEM JUNGUIANAAUTOR: JORGE ANTÔNIO MONTEIRO DE LIMADATA: SEM DATAApresentaçãoIntrodução: A <strong>de</strong>ficiência Visual: Uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>Introdução ao MitoSUMÁRIO21TÍTULO: A PSICOLOGIA DA FORMA E AS IMAGENS DO INCONSCIENTE – DE MÁRIO PEDROSA A NISE DA SILVEIRAAUTOR : GUSTAVO HENRIQUE DIONÍSIODATA: SEM DATAASSUNTO: PROJETO DE PESQUISA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICAI - IntroduçãoII - A Arte Inconsciente ou Arte e InconscienteIII – A experiência do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens <strong>de</strong> Imagens do InconscienteIII – JustificativaIII – Objetivos <strong>da</strong> Pesquisa e CronogramaIV – Material e MétodosVI – Referências BibliográficasSUMÁRIO22


156TÍTULO: “A MIGRAÇÃO E SUAS VICISSITUDES: ANÁLISE DE UMA CERTA DIVERSIDADE”AUTOR: ADEMIR PACELLI FERREIRADATA: 1996 – RIO DE JANEIROASSUNTO: TESE DE APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DEJANEIRO, PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM PSICOLOGIA CLÍNICAORIENTADORA: PROFESSORA DOUTORA LÚCIA RABELLO DE CASTRO - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIAÍNDICEResumoAbstractIntroduçãoParte I: Olhares <strong>da</strong> Diferença na Construção do MigranteCapítulo I – As mu<strong>da</strong>nças sócio-econômicas e a abertura <strong>da</strong>s fronteiras migrantes: Novos Campos <strong>de</strong> subjetivação e <strong>de</strong> circulação dosujeito1.1. Das reminiscências1.2. Do Regime <strong>de</strong> assujeitamento à construção <strong>de</strong> caminhos migrantes1.3. A Mobili<strong>da</strong><strong>de</strong> nos discursos dos alienistas: Etnocentrismo ou natureza versus civilizaçãoCapítulo II – Da clínica <strong>da</strong>s diferenças: A marca dos rompimentos ou o drama <strong>da</strong> reancoragem2.1. Experiência <strong>de</strong> migrar: O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> lançar-se ao outro2.2. O migrante no campo interdisciplinar2.2.1. A epi<strong>de</strong>miologia e as Análises sócio-antropológicas <strong>da</strong> migração2.2.2. O migrante na clínica: O fracasso na mediação eu-outroParte II: O Migrante na Re<strong>de</strong> do Outro: Análise <strong>de</strong> uma certa diversi<strong>da</strong><strong>de</strong>Capítulo III: O migrante e seus espelhamentos: A diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> semiótica na construção <strong>de</strong> um objetoCapítulo IV: O Migrante no Jogo <strong>da</strong> Alteri<strong>da</strong><strong>de</strong>4.1. O eu e o outro: Um campo <strong>de</strong> circulação4.2. Loucura e alteri<strong>da</strong><strong>de</strong> migrante4.2.1. História <strong>de</strong> Nano: Ruptura psicótica ou encarnação do fantasma do outro4.3. Cinema e reflexivi<strong>da</strong><strong>de</strong> migrante4.3.1. “O homem que virou suco”: Uma construção migrante contra a loucura4.3.2. I<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong>si<strong>de</strong>ntificação: Uma metabolização necessária na experiência migrante4.3.3. A carta: Um dispositivo na intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> migrante4.4. Literatura e presentificação migrante4.4.1. “História <strong>de</strong> Macabéa”: Um instante <strong>de</strong> explendor4.4.2. “A hora <strong>da</strong> estrela”: O estilhaçamento do ser na ótica do outroParte III: Espaço e Temporali<strong>da</strong><strong>de</strong> na Intersubjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> migranteCapítulo V: O migrante e o <strong>de</strong>vaneio lírico: Uma memória saudosista ou o recalcamento do passadoCapítulo VI: O campo e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>: O bucólico e o futurístico no imaginário migranteConclusãoBibliografia23TÍTULO: TAOISM AND ALCHEMY – THE ALCHEMICAL MYTH OF THE GOLDEN MANN MANAUTOR (A): FRANKLIN CHANGDATA: 1991ASSUNTO: DIPLOMA THESIS – C. G. JUNG INSTITUT, ZURICH AO DEPARTAMENTOTHESIS ADVISOR: DR. MARIE LOUISE VON FRANZIntroductionThe Creation or the gol<strong>de</strong>n man myth1) Chapter 1 – The creation2) Chapter 2 – The alchemical opus3) Chapter 3 – The fall4) Chapter 4 – The re-birth of the anthroposEpilogueNotesFiguresTablesBibliographyÍNDICE24TÍTULO: O TERAPEUTA OCUPACIONAL COMO AGENTE DA SAÚDE MENTALAUTOR (A): ÉRIMA CASTELO BRANCO DE ANDRADEDATA: 1º SEMETRE DE 1994ASSUNTO: MONOGRAFIA APRESENTADA COMO REQUISITO PARA CONCLUSÃO DA DISCIPLINA DE DESEMPENHO PROFISSIONALEM TERAPIA OCUPACIONAL II - DEPARTAMENTO DE TERAPIA OCUPACIONAL, ESCOLA SUPERIOR DE ENSINO HELENA ANTIPOFF1 – Introdução2 – Pequeno histórico <strong>da</strong> Terapia Ocupacional3 – Processo criadorSUMÁRIO


1574 – Tratamento com uso <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas5 – Objetivos gerais <strong>da</strong> Terapia Ocupacional em saú<strong>de</strong> mental6 – Critérios para um bom Terapeuta Ocupacional7 – Avaliações8 – Psicoses9 – Produção Plástica <strong>de</strong> um paciente P.M.D.10 – Conclusão11 – Referências Bibliográficas12 - Bibliografia25TÍTULO: NISE DA SILVEIRA OU LE RAVISSEMENT DES IMAGES DE L’INCONSCIENTAUTOR (A): MAIONE DE QUEIROZ SILVADATA: SEM DATAASSUNTO: FILM - DOCUMENTAIRE DE 52’RESUMÉNise <strong>da</strong> Silveira ou le Ravissement <strong>de</strong>s Images <strong>de</strong> l’Inconscient, documentaire <strong>de</strong> 52 minutes sur le travail <strong>de</strong> la psychiatre Nise <strong>da</strong> Silveiraau Musée d’Images <strong>de</strong> l’Inconscient. Par as vision <strong>de</strong> la folie et ses pratiques thérapeutiques, Nise est une figure à part <strong>da</strong>ns le mon<strong>de</strong> <strong>de</strong> lapsychiatrie brésilienne. Le film, centre sur la personnalité, témoigne <strong>de</strong> son travail pionnier et <strong>de</strong> son experience à l’àtelier <strong>de</strong> peinture. Au côté <strong>de</strong>Nise, nous rencontrerons Isaac, Emygdio et Raphael, ses clients et auteurs d’étonnantes peintures. Ce film est une fenêntre entroverte surl’univers <strong>de</strong>s Images <strong>de</strong> l’Inconscient.26TÍTULO: REFLEXÃO CRÍTICA SOBRE A OBRA DE FERNANDO DINIZAUTOR (A): MARIA CLÁUDIA BOLSHAW GOMESDATA: 1º SEMETRE DE 1994ASSUNTO: MESTRADO EM DESIGN, DEPARTAMENTO DE ARTES DA PUC, RIO DE JANEIROSUMÁRIO1.0 – Introdução2.0 – Situação problemática3.0 – Objetivo Principal3.1 – Objetivos Secundários3.2 – Delimitação4.0 – Metodologia4.1 – Passos <strong>da</strong> Pesquisa5.0 – Justificativa5.1 – Material conceitual5.2 – Histórico <strong>da</strong> teoria formal <strong>de</strong> Fernando Diniz5.3 – Tratamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos5.4 – A história <strong>da</strong> Estrela5.5 – Release: “O filme <strong>de</strong> Fernando Diniz”6.0 – Literatura relaciona<strong>da</strong>6.1 – Bibliografia7.0 – Anexos7.1 – Relatórios dos encontros semanais <strong>da</strong> equipe do “Filme <strong>de</strong> Fernando Diniz”7.2 – Principais obras <strong>de</strong> Fernando DinizJogo <strong>de</strong> montar estrelasA EstrelaO relógio esculturaO tapete digital7.3 – Histórico do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do InconscienteReportagens <strong>de</strong> Jornal27TÍTULO: NISE DA SILVEIRA – L’AUTRE CÔTÉ DU RÉELAUTOR (A): MAIONE DE QUEIROZ SIVA & MARCELO TELESDATA: SEM DATAASSUNTO: FILMNOTE D’INTENTIONL’oeuvre du Docteur Nise <strong>da</strong> Silveira est le fil conducteur <strong>de</strong> notre film. C’est à partir <strong>de</strong> son oeuvre que nous allons connaître aspersonalité singulière et son influence <strong>da</strong>ns la psychiatrie au Brésil et <strong>da</strong>ns le mon<strong>de</strong>. C’est <strong>da</strong>ns um climat <strong>de</strong> complicité et <strong>de</strong> décontraction quenous allons fimer chez elle.En ce qui concerne lês autre psychiatres, notre démarche será différente. Nous avons envie <strong>de</strong> constater simplement la manière dontils voient leur travail et comment lês patients vivent au quotidien à l’intérieur <strong>de</strong> l’hôspital qu’ils dirigent.L’utilisation d’images d’archives, filme et photo, sont indispensables pour pouvoir reconstituer 50 années <strong>de</strong> travail. Nise ayanttoujours refuse tout ce que lui semblait être “faire <strong>de</strong> la promotion personelle”, les documents son rares. Cepen<strong>da</strong>nt, nous connaissons l’exsitence


158d’une interview exclusive faite <strong>da</strong>ns les années 1970 par Leon Hirtszman, avec qui elle a realize trios films appelés “Images <strong>de</strong> L’Inconscient”.Nous comptons utiliser dês extraits <strong>de</strong> cette trilogie, ainsi qu’une partie <strong>de</strong> l’interview em question.L’utilisation <strong>de</strong> l’image super-8 à l’intérieurs d’um film em 16mm releve d’um besoin <strong>de</strong> flexibilité et légèreté à la prise <strong>de</strong> vue. Emeffet, nous allons rencontrer plusieurs cas <strong>de</strong> figures où l’utilisation <strong>de</strong> tel ou tel support nous permettra <strong>de</strong> mieux cerner le sujet. Ainsi, lorsquenous trouvons <strong>da</strong>ns les rues <strong>de</strong> Rio, une câmera super-8 est plus a<strong>da</strong>ptée <strong>de</strong> par as taille et maniabilitté.28TÍTULO: NISE DA SILVEIRA – A FELINA DAMA DA MENTE OU UMA BELLA TRAVERSATAAUTOR (A): MARIA DA LUZ ALVES E SILVADATA: 1997 – RIOARTEASSUNTO: PEÇA TEATRAL SOBRE A DRA NISE DA SILVEIRACONTEÚDOObjetivoJustificativaNotasFilmografiaCronogramaFontes <strong>de</strong> PesquisaBibliografiaCurriculum Vitae <strong>da</strong> AutoraCarta à RioArte do Ator e Diretor Paulo JoséCarta à RioArte do Ator e Diretor Miguel FalabellaRecorte do Segundo Ca<strong>de</strong>rno do Jornal O GLOBO <strong>de</strong> 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1996Cópia <strong>da</strong> Revista Veja <strong>de</strong> 17 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1996Cópia do Diário Catarinense, parte Varie<strong>da</strong><strong>de</strong>s – TeatroCópia do Dário Regional <strong>de</strong> Aveiro, <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 14 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1997 – OpiniãoCópia <strong>de</strong> Crítica <strong>de</strong> teatro <strong>de</strong> Manuel João <strong>Gomes</strong> – Lisboa – 24 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 199729TÍTULO: NISE DA SILVEIRA – A SENHORA DAS IMAGENSAUTOR: PROJETO DE: ANDRÉ HORTADATA: 1997 – RIOARTEASSUNTO: FILME DA TVZEROCONTEÚDO01. Sala <strong>de</strong> recreação do Hospital Psiquiátrico <strong>da</strong> Praia Vermelha. INT-DIA02. Hospital <strong>da</strong> Praia Vermelha: corredores, pátios, salas INT/EXT-DIA03. Refeitório dos Médicos. INT-DIA04. Quarto <strong>de</strong> Nise – Hospital <strong>da</strong> Praia Vermelha. INT-ENTARDECER05. Corredor do Hospital – INT-AMANHECER06. Quarto <strong>de</strong> Nise – INT-AMANHECER07. Jardim interno do Hospital <strong>da</strong> Praia Vermelha – EXT-DIA08. Quarto <strong>de</strong> Nise. INT-NOITE09. Sala <strong>da</strong> Casa <strong>de</strong> O. Brandão. INT-NOITE10. Ruas do Rio. EXT-NOITE e AMANHECER11. Sala <strong>de</strong> Recreação. INT-NOITE12. Quarto <strong>de</strong> Julieta. INT-DIA13. Corredor do Hospital, frente ao quarto <strong>de</strong> Julieta. INT-DIA14. Quarto <strong>de</strong> Nise – INT-DIA15. Sala <strong>de</strong> recreação. INT-DIA16. Corredor do Hospital. INT-DIA17. Sala <strong>de</strong> recreação. INT/DIA18. “Sala 6” Penitenciária do Complexo Frei Caneca. INT-NOITE19. “Sala 6” <strong>da</strong> Frei Caneca. INT-DIA20. Sala seis. Frei Caneca. INT-DIA21. Sala seis. Frei Caneca. INT-DIA22. Corredor e Pátio do Presídio. EXT-DIA23. Sala seis. INT-DIA24. Pátio do Presídio. EXT-DIA25. Algum lugar do Rio, talvez Centro. EXT-DIA26. Ônibus para o Engenho <strong>de</strong> Dentro. INT/EXT-DIA27. Entra<strong>da</strong> do Hospital Pedro II. INT-DIA28. Escritório do Diretor do Hospital. INT-DIA29. Corredores do Hospital, Engenho <strong>de</strong> Dentro. INT-DIA30. Sala <strong>de</strong> eletrochoque. INT-DIA31. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE32. Escritório do Diretor. INT-DIA33. Ônibus Engenho <strong>de</strong> Dentro-Flamengo34. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE35. Quarto <strong>de</strong> uma paciente. INT-DIA


15936. Escritório do Diretor. INT-DIA37. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE38. Setor <strong>de</strong> T. Ocupacional, Hospital. INT-DIA39. Setor <strong>de</strong> T. Ocupacional. INT-DIA40. Ateliê <strong>de</strong> enca<strong>de</strong>rnação. INT-DIA41. “Salão <strong>de</strong> Beleza”. INT-DIA42. Sala principal <strong>da</strong> STO. INT/DIA43. Ateliê <strong>de</strong> Pintura. INT-DIA44. Escritório <strong>de</strong> Nise. INT-DIA45. Pátio do Hospital. EXT-DIA46. Ateliê. INT-DIA47. Corredor do Hospital. INT-DIA48. Sala <strong>de</strong> Reunião. INT-DIA49. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE50. Ateliê. INT-DIA51. Quarto <strong>de</strong> Hospital. INT-DIA52. Ateliê. INT-ENTARDECER53. Pátio do Hospital. INT-DIA54. Escritório <strong>de</strong> Nise. INT-DIA55. Ateliê. INT-DIA56. Ateliê <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lagem. INT-DIA57. Corredor. INT-DIA58. Posto Seis ou...EXT-DIA59. Quarto <strong>de</strong> Carlos. INT-AMANHECER60. Ateliê. INT-DIA61. Escritório <strong>de</strong> Nise62. Pátio. EXT-DIA63. Escritório <strong>de</strong> Nise. INT-DIA64. Pátio. EXT-DIA65. Exposição no Ministério <strong>da</strong> Cultura e no MASP. INT-DIA66. Sala do Diretor. INT-DIA67. Ateliê <strong>de</strong> Pintura. INT-DIA68. Escritório <strong>de</strong> Nise. INT-DIA69. Apartamento do Flamengo. INT-DIA70. Ateliê. INT-DIA71. Ponto <strong>de</strong> Ônibus. EXT-ENTARDECER72. Ateliê. INT-DIA73. Ateliê. INT-DIA74. Escritório <strong>de</strong> Nise. INT-DIA75. Pátio. EXT-DIA76. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE77. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE78. Ateliê. INT-ENTARDECER79. Pátio. EXT-DIA80. Corredor. INT-DIA81. Sala do Diretor. INT-DIA82. Escritório <strong>de</strong> Nise. INT-DIA83. Ateliê. INT-DIA84. Ateliê. INT-ENTARDECER85. Corredores do Hospital. INT-DIA86. Pátio. EXT-DIA87. Ateliê. INT-DIA88. Apartamento do Flamengo. INT-NOITE89. Hospital. INT-DIA90. Ateliê. INT-DIA91. Corredores do Hospital. INT-DIA92. Apartamento do Flamengo. INT-DIA93. Ateliê. INT-DIA94. Ateliê. INT-ENTARDECER95. Exposição brasileira no CPI, Zurich. INT-NOITE96. Ateliê. INT-ENTARDECERCRÉDITOS FINAISOUTRA PROPOSTA:97. Ateliê. INT-DIACRÉDITOS FINAISTV ZERO CURRICULO30TÍTULO: ENFERMAGEM EM SAÚDE MENTALAUTOR (A): RUTH MYLIUS ROCHADATA: SEM DATAASSUNTO: LIVRO – FACULDADE DE ENFERMAGEM - UERJDa Psiquiatria à Saú<strong>de</strong> MentalAs novas diretrizesSUMÁRIO


160O Técnico e o Auxiliar <strong>de</strong> enfermagem como membros <strong>da</strong> equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mentalExercíciosO Ser Humano e a Saú<strong>de</strong> MentalPeríodos críticosSentimentosSexuali<strong>da</strong><strong>de</strong>Doença física e aspectos psico-sócio-espirituaisExercíciosSAÚDE MENTAL E TRANSTORNOS MENTAIS E DE COMPORTAMENTOOrigem dos transtornos mentaisPrevenção em Saú<strong>de</strong> MentalO Usuário dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mentalExercíciosTRATAMENTOPsicoterapiaTerapia <strong>de</strong> famíliaTerapia pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>Terapia pelo trabalhoTerapia medicamentosaEletroconvulsoterapiaSaú<strong>de</strong> mental e sistemas populares <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>ExercíciosO PAPEL DA ENFERMAGEMEnfermagem em situações específicasAdmissão do clienteEnfermagem e terapia medicamentosaRegistro <strong>de</strong> enfermagemAlta do ClienteExercíciosUMA PALAVRA FINALBIBLIOGRAFIA31TÍTULO: A CRIAÇÃO DO INDIVÍDUO NA OBRA DE C.G. JUNGAUTOR : MADDI DAMIÃO JUNIORDATA: 1997 – RIO DE JANEIRO - PUCORIENTADORA: MONIQUE R. AUGRASASSUNTO: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADECATÓLICA DO RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM PSICOLOGIACLÍNICAÍNDICEIntroduçãoCapítulo 1 – A subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> como narrativa <strong>da</strong> experiência; <strong>da</strong> historici<strong>da</strong><strong>de</strong> à historiali<strong>da</strong><strong>de</strong>Capítulo 2 – As mora<strong>da</strong>s do humano; o fun<strong>da</strong>mento do solo <strong>da</strong> existência como experiênciaCapítulo 3 – Hermenêutica e Psicologia Junguiana, diálogo entre pensamento e exeriênciaCapítulo 4 – A criação do indivíduo, ou o mito junguiano <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>Consi<strong>de</strong>rações FinaisAnexoReferências Bibliográficas32TÍTULO (PROVISÓRIO): A LÓGICA DA COMUNICAÇÃO E A QUESTÃO DAS PSICOSESAUTOR (A): ROSEMARY CAETANODATA: 1999 – RIO DE JANEIRO - UFFORIENTADORA: MARILUCI NOVAESASSUNTO: ANTEPROJETO DE TESE – ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LINGÜÍSTICOS – LINHA DE PESQUISA: DISCURSO EINTERAÇÃO1. Apresentação: Definição do Objeto <strong>de</strong> Análise2. Justificativa: Relevância do Tema3. Metodologia4. Cronograma provável5. Orientação Bibliográfica6. NotasÍNDICE33TÍTULO: A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA TERAPIAAUTOR (A): LELA PINTO SILVADATA: 2001– RIO DE JANEIRO


161COORDENAÇÃO: CONCEIÇÃO ROBAINAASSUNTO: MONOGRAFIA APRESENTADA AO FINAL DE ESTÁGIO EM SAÚDE MENTAL NO IMAS NISE DA SILVEIRASUMÁRIOIntrodução1. A REFORMA PSIQUIÁTRICA E A LUTA ANTIMANICOMIAL2. O CENTRO COMUNITÁRIO E A INCLUSÃO SOCIAL2.1. Oficinas <strong>de</strong> Arte como Proposta <strong>de</strong> Inclusão Social2.2. O Estágio em Parcerias <strong>da</strong>s Oficinas <strong>de</strong> Artes com o Projeto vi<strong>da</strong>s2.3. Relatos <strong>de</strong> Experiências com alguns Usuários nas Oficinas <strong>de</strong> Artes3. O MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE3.1. A Comemoração dos 50 Anos <strong>de</strong> Fun<strong>da</strong>ção do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente4. O ESTÁGIO NO CENTRO COMUNITÁRIO E MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE E A INTERFERÊNCIA DA GREVECONCLUSÃOBIBLIOGRAFIA34TÍTULO: SOFRIMENTO: UM CAMINHO PARA DEUSAUTOR: GUSTAVO JOPPERTDATA: 1994 – RIO DE JANEIROASSUNTO: LIVRO – CÓPIA PARTICULAR – DISTRIBUIÇÃO RESTRITAMensagem sobre parte <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> do próprio Gustavo JoppertSUMÁRIO35TÍTULO: PSICOLOGIA ANALÍTICA NO BRASL: CONTRIBUIÇÕES PARA A SUA HISTÓRIAAUTOR: ARNALDO ALVES DA MOTTADATA: 2005– PUC – SÃO PAULOORIENTADOR(A): PROFESSORA DOUTORA MARIA DO CARMO GUEDESASSUNTO: DISSERTAÇÃO À BANCA EXAMINADORA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO, COMO EXIGÊNCIAPARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM PSICOLOGIA SOCIAL.SUMÁRIOIntrodução – Da origem do problema aos objetivos <strong>da</strong> pesquisa- Origem do problema- As pessoas- O contexto- História <strong>da</strong> Psicologia- Objetivo <strong>da</strong> PesquisaCapítulo 1 – Como fazer história <strong>da</strong> psicologiaCapítulo 2 – Em busca dos pioneiros- O surgimento <strong>da</strong> psicologia analítica- Assistência psiquiátrica no Brasil: do Hospício D. Pedro II ao setor <strong>de</strong> terapêutica ocupacional em Engenho <strong>de</strong> Dentro- Definindo pioneirosCapítulo 3 – Os pioneiros <strong>da</strong> PA no Brasil- Nise <strong>da</strong> Silveira- Pethö Sándor- Léon BonaventureCapítulo 4 – Algumas consi<strong>de</strong>raçõesConclusãoReferências BibliográficasAnexos- Anexo 1 – Situando a psicologia analítica no Brasil, <strong>da</strong>tas e fatos- Anexo 2 – Produção e iniciativas liga<strong>da</strong>s a Nise <strong>da</strong> Silveira- Anexo 3 - Produção e iniciativas liga<strong>da</strong>s a Pethö Sándor- Anexo 4 - Produção e iniciativas liga<strong>da</strong>s a Léon Bonaventure- Anexo 5 – Informações sobre o panorama atual <strong>da</strong> PA no Brasil36TÍTULO: O TRABALHO CRIADOR – UM IMPORTANTE CAMINHO DE TRATAMENTOAUTOR (A): LUCIANA RAMOSDATA: 1995 – ABRIL – RIO DE JANEIROORIENTADOR (A): DRA NISE DA SILVEIRAASSUNTO: MONOGRAFA APRESENTADA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO DE PSIQUIATRIA DA UFRJ, COMO PARTE DOSREQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE ESPECIALISTA EM PSIQUIATRIA.INTRODUÇÃOI – Antônia – Uma História TípicaÍNDICE


162II – Prática Sem Base TeóricaIII – Uma Medicina em Transformação3.1 – A Crise <strong>da</strong> Formação Médica3.2 – Uma Revolução Social3.3 – Uma Medicina em TransformaçãoIV – O Trabalho CriadorUma Questão <strong>de</strong> sobrevivência para Indivíduos e PovosV – Astrid uma História IncomumVI – O Símbolo6.1 – Elemento <strong>de</strong> Expressão do Mundo Interior6.2 – As Transformações <strong>da</strong> CabeçaConclusãoBibliografia37TÍTULO: CASO BEATRIZAUTOR (A): VERA L. M. MACEDO E AGILBERTO CALAÇA NEVESDATA:ASSUNTO: TRABALHO APRESENTADO NO GRUPO DE ESTUDOS C. G. JUNG – DIREÇÃO DRª NISE DA SILVEIRASUMÁRIOAgra<strong>de</strong>cimentosIntroduçãoHistórico ClínicoDiagnóstico: EsquizofreniaOBS.: Junto a este trabalho, encontra-se um exemplar do jornal <strong>da</strong> Casa <strong>da</strong>s Palmeiras <strong>de</strong> Junho <strong>de</strong> 1999 - ARAUTO38TÍTULO: THE AESTHETIC OF THE MASSESAUTOR (A): NILZA DE OLIVEIRADATA: 1982ASSUNTO: SUBMITTED IN PARTIAL FULFILLMENT OF THE REQUIREMENTS FOR THE DEGREE OF MASTER IN ART EDUCATION(C.N.A.A.) SCHOOL OF ART EDUCATION, BIRMINGHAM POLYTECNIC.PrefaceIntroductionChapter:I. Aesthetic as a Common element in art and in thechnologyII. Aesthetic Autonomy, A Kantiant ViewIII. The Aesthetic of the MassesIV. Aesthetic in Art Education and in our Daily LifeAppendixBibliographyCONTENTS39TÍTULO: MUROS POÉTICOSAUTOR: CARLOS DE OLIVEIRADATA: 24 DE NOVEMBRO DE 1992 – COLÔNIA JULIANO MOREIRA – RIO DE JANEIROORIENTADOR (A): SANDRA REGINA GUEDES PACHECO – TERAPÊUTA OCUPACIONALASSUNTO: SEGUNDO LIVRO DE POESIAS.ÍNDICECriançaSofremos e MorremosChegou a Nova DireçãoMisériaQue dor!ViolênciaTenho Amor Guar<strong>da</strong>doNão é AssimTo<strong>da</strong>s as ManhãsVale a pena ChorarTemos que pensaSer MãeAlô, Meu Brasil!Todo dia to<strong>da</strong> horaAI! Rio <strong>da</strong>s Flores


163Cara e VozAi!, Que Tanto SonhoHumani<strong>da</strong><strong>de</strong> PessoalContrariadoQue SufocoÉ Outra Que Te AmaTudo AquiloSalve a SeleçãoEu Tenho que Mu<strong>da</strong>rSau<strong>da</strong><strong>de</strong>Flamengo é o CampeãoIsso não é HoraMe Deixa em PazCui<strong>da</strong>do com ElaEstá ChocadoEu Não EsperavaBem PareceCorrupçãoInvasãoTentei o AmorEsta Pra ChoverQuero Sair Daqui40TÍTULO: O DESENVOLVIMENTO CIENTÍFICO DA PSICOLOGIA ANALÍTICAAUTOR (A): JÚLIO CÉSAR ASSIS KÜHLDATA: 1982 – SÃO PAULOORIENTADOR : PROF. DR. SHOZO MOTOYAMAASSUNTO: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DA FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRASE CIÊNCIAS HUMANAS DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.ÍNDICEIntroduçãoCapítulo I – Uma arqueologia <strong>da</strong> psique (1902-1961)Seção 01 – Religiosos e LibertinosSeção 02 – Associação e DissociaçãoSeção 03 – Descrição e InterpretaçãoSeção 04 – Redução e AmpliaçãoSeção 05 – Análise e SínteseSeção 06 – O Pessoal e o ColetivoSeção 07 – Sujeito e ObjetoSeção 08 – Progressão e RegressãoSeção 09 – Carvões e DiamantesSeção 10 – Coincidência e SignificadoCapítulo II – Jung e RogersSeção 11 – Individuação e AtualizaçãoSeção 12 – Individuação e SocializaçãoSeção 13 – Sincronici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Serendipi<strong>da</strong><strong>de</strong>Capítulo III – Jung e PopperSeção 14 – Falseabili<strong>da</strong><strong>de</strong> Objetiva e Falseabili<strong>da</strong><strong>de</strong> SubjetivaSeção 15 – Dogma e CríticaSeção 16 – Inatismo Lógico e Inatismo PsicológicoSeção 17 – Psique Subjetiva e Psique ObjetivaCapítulo IV – A hipótese dos HomótiposSeção 18 – Razões Lógicas e Psicológicas para a Hipótese <strong>da</strong> Existência <strong>de</strong> Propensões InatasO Homótipo do CosmoSeção 19 – O Conceito do Homótipo do CosmoSeção 20 – O Homótipo do Cosmo e a Teoria do DesamparoSeção 21 – O Homótipo do Cosmo e a Hipótese do Controle PlásticoSeção 22 – O Homótipo do Cosmo na História <strong>da</strong>s ReligiõesSeção 23 – O Homótipo do Cosmo e a Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> CientìficaHomótipo do DesenvolvimentoSeção 24 – O Processo <strong>de</strong> Desenvolvimento em Jung, Rogers e SeligmanSeção 25 – O Processo <strong>de</strong> Desenvolvimento em Popper e Elia<strong>de</strong>Seção 26 – O Conceito <strong>de</strong> Homótipo do DesenvolvimentoHomótipo do Mo<strong>de</strong>loSeção 27 – O Homótipo do Mo<strong>de</strong>lo na História <strong>da</strong>s ReligiõesSeção 28 – O Homótipo do Mo<strong>de</strong>lo na Psicologia Analítica e na Psicologia RogerianaSeção 29 – O Homótipo do Mo<strong>de</strong>lo e a Transmissão <strong>de</strong> Estruturas CulturaisSeção 30 – O Conceito <strong>de</strong> Homótipo do Mo<strong>de</strong>loSeção 31 – Síntese <strong>da</strong> Hipótese dos HomótiposCapítulo V – Resposta <strong>de</strong> JungSeção 32 – O Psíquico e o Não-Psíquico


164Seção 33 – Persona, Ego, Sombra e Anima/AnimusSeção 34 – O Self e o Homótipo do CosmoSeção 35 – Símbolo e AnalogiaSeção 36 – A Hipótese dos Homótipos como um Programa Científico <strong>de</strong> PesquisaSeção 37 – Implicação Espistemológicas <strong>da</strong> Hipótese dos HomótiposCapítulo VI – O Ato CriadorSeção 38 – O Ato Criador na Ciência e na ArteSeção 39 – O Ato Criador em Kuhn, Seligman, popper, Jung, Bronowiski e RogersSeção 40 – Os Homótipos e o Ato CriadorCapítulo VIII – Os Quatro Momentos <strong>da</strong> Psicologia AnalíticaSeção 41 – O Momento Psicológico: Uma Interpretação dos “Septem Sermones ad Mortuos”Seção 42 – O Momento Lógico: O Desenvolvimento científico <strong>da</strong> Psicologia AnalíticaSeção 43 – O Momento Técnico: As Técnicas ClínicasSeção 44 – O Momento Institucional: As InstituiçõesSeção 45 – ConclusãoNotasBibliografia41TÍTULO: PROCESSO SIMBÓLICO: UM ESTUDO PARA A TERAPIA OCUPACIONALAUTOR (A): CLÁUDIA CRISTINA PULCHINELLIDATA: 1989 – PUC – CAMPINASORIENTADOR (A): PROF (A) SELMA APARECIDA CASELLI MARTINSASSUNTO: MONOGRAFIA APRESENTADA COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE GRADUAÇÃO EM TERAPIAOCUPACIONALIntroduçãoCapítulo I – Uma Introdução ao Estudo do Processo Simbólico1. Símbolos2. Processo SimbólicoCapítulo II – Reflexões Acerca do Uso do Processo Simbólico1. Fidler e Fidler e o Processo Simbólico2. Nise <strong>da</strong> Silveira e o Processo Simbólico3. Análise Comparativa entre Fidler e Fidler e Nise <strong>da</strong> SilveiraCapítulo III – A Terapia Ocupacional e o Símbolo1. O Processo <strong>da</strong> Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>2. O Símbolo <strong>de</strong>ntro do Processo <strong>da</strong> Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>ConclusãoBibliografiaAnexos1. Revista Ciência Hoje – Entrevista com Nise <strong>da</strong> Silveira2. Folhetim Cultura – O Estado <strong>de</strong> São Paulo3. Relato <strong>de</strong> Visita feita à Dra Nise <strong>da</strong> Silveira4. Relato <strong>de</strong> Visita no Centro Psiquiátrico Pedro II5. Relato <strong>de</strong> Visita na Casa <strong>da</strong>s Palmeiras6. Entrevista com o Psicólogo José Henrique Alves Marcusso7. Entrevista com o Artista Plástico e Professor <strong>de</strong> Arte José <strong>de</strong> OliveiraOBS.: Contém 26 figurasSUMÁRIO42TÍTULO: TERAPIA OCUPACIONAL: LÓGICA DO CAPITAL OU DO TRABALHO? RETROSPECTIVA HISTÓRICA DA PROFISSÃO NO ESTADOBRASILEIRO DE 1950 A 1980AUTOR (A): LÉA BEATRIZ TEIXEIRA SOARESDATA: 1987 – UFSCarORIENTADOR : PROF. DR. VALDEMAR SGUISSARDIASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO, DO CENTRO DE EDUCAÇÃO ECIÊNCIAS HUMANAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS COMO PARTE DOS REQUISITOS PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULODE MESTRE EM EDUCAÇÃO (ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PESQUISA EDUCACIONAL)SUMÁRIOIntroduçãoCapítulo I – TRABALHO, CAPITAL E SAÚDEIntroduçãoA concepção histórica-material <strong>de</strong> homem e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>A saú<strong>de</strong> na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> classesCapitulo II – POLÍTICAS DE SAÚDE NO SÉCULO XX FACE AS CONDIÇÕES ESTRUTURAIS DO ESTADO BRASILEIROHistória <strong>da</strong> medicina institucional no Brasil, início do séculoO período <strong>de</strong> transição <strong>de</strong> 945-50A partir do segundo governo Vargas 1950 a 1964O governo militar-civil – 1964 a 1980Capítulo III – A REABILITAÇÃO NO ESTADO BRASILEIRO DE 1950 A 1980As raízes <strong>da</strong> reabilitação no Brasil


165A revolução técnico-científica e a reabilitaçãoOs serviços <strong>de</strong> reabilitação na área hospitalarOs serviços <strong>de</strong> reabilitação nas enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s filantrópicas e particularesA reabilitação no interior <strong>da</strong>s políticas sociaisCapítulo IV - TERAPIA OCUPACIONAL: DO REDUCIONISMO A UMA PRÁXIS UNITÁRIAConcepções e práticas <strong>da</strong> terapia pela ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> no BrasilA formação <strong>de</strong> terapeutas ocupacionais – dos anos 40 em dianteAs práticas terapêutico-ocupacionais no mercado <strong>de</strong> trabalhoA corrente reducionista e os mo<strong>de</strong>los em terapia ocupacionalDa crise atual para uma práxis unitáriaReferências BibliográficasAnexo I – CURSOS DE TERAPIA OCUPACIONAL NO BRASILAnexo II - ENTREVISTAS43TÍTULO: O CENTRO PSIQUIÁTRICO PEDRO II – ANÁLISE DE ALGUNS ASPECTOS DE SEU PROCESSO DE MUDANÇAAUTOR (A): LUIZA CRISTINA REGO RAMALHO, MARIA RITA LUSTOSA BYLINGTON, SHEYLA MARIA LEMOS LIMA, VIRGÍNIA HELENACAMPOS COUTINHODATA: 1989 – DEZEMBRO – RIO DE JANEIRO - FGVORIENTADOR : PROF. DR. VALDEMAR SGUISSARDIASSUNTO: TRABALHO APRESENTADO PARA A OBTENÇÃO DE CRÉDITOS DA DISCIPLINA TEORIA DAS ORGANIZAÇÕES DO CURSODE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DA ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – FUNDAÇÃO GETÚLIOVARGAS1. Apresentação2. Antece<strong>de</strong>ntes Históricos E Justificativa3. Caracterização Geral3.1. Localização e Estrutura Física3.2. Situação Jurídico-administrativa3.3. Estrutura formal/informal e ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s4. O Processo De Mu<strong>da</strong>nça4.1. Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Gestão4.2. Objetivos/Estratégias4.3. Elementos Facilitadores e Obsculizadores4.4. Medi<strong>da</strong>s Implementa<strong>da</strong>s5. ConclusõesBibliografiaAnexos Anexo 1 – Roteiro e Entrevista Anexo 2 - OrganogramaÍNDICE44TÍTULO: MOSAICO DE DIONÍSO – UMA VISÃO JUNGUIANA DE PEER GYNT, DE IBSENAUTOR (A): LUCIANA RAMOS MESQUITADATA: SEM DATAASSUNTO: LIVROPrefácioCap. I – O Desenvolvimento <strong>da</strong> ConsciênciaCap. II – DionisoCap. III – A Loucura do DeusCap. IV – Puer AeternusCap. V – O Teatro DionisíacoCap. VI – Peer GyntCap. VII – Dioniso e CristoCap. VIII – A Ressurreição <strong>de</strong> DionisoCap. IX – A Evolução <strong>da</strong> Mulher InteriorCap. X – A Deterioração do SentimentoCap. XI – A Mulher Sem AlmaCap. XII – A Máscara Animal <strong>de</strong> DionisoCap. XIII – SolveigCap. XIV – PerséfoneCap. XV – Dioniso e PerséfoneCap. XVI – Capitalismo: Relações <strong>de</strong> Po<strong>de</strong>rCap. XVII – A EsfingeCap. XVIII – O Viajante SolitárioCap. XIX – A Viagem SubterrâneaCap. XX – Dorme e Sonha, Meu Filho Querido!Cap. XXI – A Mãe DivinaCap. XXII – O Filho DivinoCap. XXIII – A Contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> IbsenÍNDICE


16645TÍTULO: RATIONALISM AND ROMANTICISM: TWO DISEASES OF THE SOULAUTOR : J. O. DE MEIRA PENNADATA: 1976 – JANEIRO – C.G.JUNG. INSTITUTE – ZÜRICHASSUNTO:1. Introduction2. Nosos3. The Sun-King, Reason in apogee4. Hobbes and Leviathan5. Rousseau and the Romantics6. Things fall apartBibliographyÍNDICE46TÍTULO: CITY AND SOUL – ANALYTICAL PSYCHOLOGY AND POLITICAL ORGANIZATIONAUTOR : J. O. DE MEIRA PENNADATA: 1969 – FEBRUARY –ASSUNTO: ANALYTICAL SPYCHOLOGY AND POLITICAL ORGANIZATIONÍNDICETherefore I tell you, know your-selves, for you are the city, and the city is the Kingdom.From the fragments of the Apocryphal New Testament1. IntroductionAnankê e the Archetypal CityThe disor<strong>de</strong>rs of the CityI I – The i<strong>de</strong>al City in the shape of a sterBibliography47TÍTULO: A EXPRESÃO ARTÍSTICA COMO VIA TERAPÊUTICA: UMA POSSIBILIDADE NO TRATAMENTO DAS PICOSESAUTOR (A): FABIANA BANDEIRA MAIADATA: 15/07/1996ASSUNTO: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DA FACULDADE DE PSICOLOGIA DA PUC/SPIntroduçãoTratamento e sua trajetória históricaTateando a PsicoseReferências BibliográficasSUMÁRIO48TÍTULO: A I O N – AND THE ARCHETYPE OF THE THIRD STAGEAUTOR : J. O. DE MEIRA PENNADATA: 1977 – JANUARY – OSLOASSUNTO: ANALYTICAL SPYCHOLOGY AND POLITICAL ORGANIZATIONÍNDICEIn the present series of three lectures. I am proceding with na enquiry I atarted several years ago, in an attmpt to appro the fielf of political i<strong>de</strong>asand the philosophy o history through the categories of Jungian thought.My Central concept is that of the City. There are however two cities. One is the outer city of the world, the city which we live in, the city of externalreality as we know it in history. The other is what I call the inner City of <strong>de</strong> Soul, a well-know symbol of the self. It is on the dialectics of these twoCities that the enquiry will concentrate through an analysis of the ambivalent contents which <strong>de</strong>velop in the four corners and the four gates of theInner City. These four gates which form a philosophical Quaternio lead to the two avenues that cross city at right angles. And the names of thegates are Logos and Eros, Freuma and EmpirisBibliography49TÍTULO: A PSYCHOLOGICAL APPROACH TO CITY PLANNING (PEKING AND BRASILIA)AUTOR : J. O. DE MEIRA PENNADATA: 1961 – ZURICHASSUNTO: ANALYTICAL SPYCHOLOGY AND POLITICAL ORGANIZATIONI. PekingII. BrasíliaÍNDICE


16750TÍTULO: A ÚLTIMA VIAGEM DE ULISSESAUTOR: MARCO AMERICO LUCCHESIDATA: 1989 – RIO DE JANEIRO – UFRJORIENTADOR: PROFESSOR (A): DRª BELLA JOZEFASSUNTO: DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DE LETRAS E ARTES DA FACULDADE DE LETRAS DA UFRJ, COMOPARTE DOS REQUSITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIA DA LITERATURAIntrodução1. ULISSES: CRÍTICA E TEORIAa) A vocaçãob) A norma do textoc) O texto <strong>da</strong> norma2. IMAGENS DE ULISSESa) Imagens tardo-romanasb) Tradição e memóriac) A volta <strong>de</strong> Ulisses3. ULISSES: SISTEMA E MISTÉRIOa) O rosto <strong>de</strong> Ulissesb) Ulisses na históriac) A magia e a missãod) O retorno em questãoe) A estética totalizantef) O tempog) A oraçãoh) O mari) Mistério e hermenêuticaj) A distânciak) Leitura do abismol) A estética do silêncio4. O ACASO DO LÓGOSa) A odisséia na Cityb) A leitura do signoc) O corpo <strong>de</strong> Penéloped) A rota do signof) Penélope e o resgateCONCLUSÃOBIBLIOGRAFIASUMÁRIO51TÍTULO: SHAMANISM AND PSYCHOTHERAPYAUTOR: WALTER BOECHAT, M.D.DATA: 1979 - ZURICHORIENTADOR: PROFESSOR (A): THESIS ADVISER: DR. MARIO JACOBYASSUNTO: DIPLOMA THESIS AT THE C.G.JUNG INSTITUTE.I. IntroductionII. The Initiatory IlnessIII. The Shamanic EcstasyIV. Whole Man TherapyV. he Mirror Mo<strong>de</strong>l of Lévi-StraussVI. The Killing of the Shaman among the Brazilian IndiansVII. The transference of the Archetypal HealerBibliographyTABLE OF CONTENTS52TÍTULO: PASSAGEM DE NÍVELAUTOR: JOSÉ CARLOS PEREIRA PELIANODATA: 1978 – DEZEMBRO – BRASÍLIAOBS: POESIAS TRECHO EXTRAÍDO DO LIVRO: OS CAVALOS DE OCTÁVIO IGNÁCIOALAVAM: A Revelação Caminhos Impressões Apenas Atitu<strong>de</strong> ContracantoSUMÁRIO


168 TeoremaTURUMA: A Alquimia Beira<strong>da</strong> <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> Acontecências Intervalo Etapa Alquimia Contato Livramento LimiteCONTATO: O Plantio <strong>da</strong> Terra Instantâneo Cantiga Eclosão Hoje à Noite Decisão Conquista Tarefa Renascimento Individuação Negativo Decadência Moto-Contínuo Bala<strong>da</strong> Livre Confissão Simplesmente Assim Está Escrito O Filho Que Nunca Tive Pregar a Peça Termo <strong>de</strong> Compromisso Gatos Pardos O Rio Nosso <strong>de</strong> Ca<strong>da</strong> Curva53TÍTULO: COMPÊNDIO DE PSICOLOGIAAUTOR: KURIDATA: 1975 – NOVEMBRO - RIO DE JANEIROASSUNTO: POESIASOBS.: DA AUTORA: “LUGAR NENHUM” – POEMAS – PONGETTI – 1968“POEMANCIPAÇÃO”- POEMAS – PONGETTI – 1970“O NEGÓCIO DA PIA” – POEMAS – PONGETTI - 1972 Percepção nº1 (ou Vi<strong>da</strong> Paralela) Percepção nº2 Percepção nº3 Percepção nº4 Percepção nº5 Percepção nº6 (ou Cinerama) Percepção nº7 a Percepção nº28 Quem? Percepção nº29 a Percepção nº57 Ano Velho Retoma<strong>da</strong> Percepção nº58 a Percepção nº60 Cápsula Fantástica (I) Cápsula Fantástica (II) Percepção nº61 a Percepção nº63 Persona Percepção nº64 a Percepção nº68 Delírio nº1 Delírio nº2 (ou Ela) Delírio nº3 ao Delírio nº28SUMÁRIO54TÍTULO: SONHOS ARQUETÍPICOSAUTOR: CARLOS ALBERTO CORRÊA SALLESDATA: SEM DATAASSUNTO: PUBLICAÇÃOOBS.: DR. CARLOS ALBERTO SALLES E MÉDICO PSIQUIATRA E, ANALISTA GRADUADO PELO C.G. JUNG INSTITUT DE ZURIQUE, NASUÍÇA, ONDE FEZ UMA ESPECIALIZAÇÃO POR UM PERÍODO DE CINCO ANOS NA ESCOLA DE C.G. JUNG. DEFENDEU TESE NAQUELE


169INSTITUTO SOBRE O PROCESSO ANALÍTICO NAS PSICOSES ATRAVÉS DE IMAGENS. ATUALMENTE RESIDE EM BELO HORIZONTE,ONDE SE DEDICA A SEU CONSULTÓRIO E PUBLICAÇÕES CIENTÍFICAS. TAMBÉM TEM REALIZADO CURSOS E CONFERÊNCIASDESDE SEU RETORNO AO BRASIL SOBRE A ANÁLISE JUNGUIANA.ÍNDICEI - Sonhos Arquetípicos – Uma IntroduçãoII - Imaginação AtivaIII - Sonhos IniciaisIV – Os Sonhos <strong>de</strong> NabucodonosorV – Metamorfose – Estudo <strong>de</strong> Um SonhoVI – Símbolos <strong>de</strong> Transformação em um SonhoVII – A Serpente Humana. Imagens <strong>de</strong> um Sonho Representando o Desenvolvimento <strong>da</strong> Consciência do Corpo e o Processo <strong>de</strong> Transformação<strong>de</strong> AnimaReferênciaBibliografia Geral55TÍTULO: ARTHUR BISPO - ARTISTA PLÁSTICOAUTOR (A): DENISE DE ALMEIDA CORRÊADATA: 1992 – RIO DE JANEIRO – UFRJASSUNTO: MONOGRAFIA CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO – MESTRADO – ESCOLA DE COMUNICAÇÃO - ÉTICA, ESTÉTICA, MEIOS DECOMUNICAÇÃO E FORMAS NOVAS DE SOCIALIDADEIntrodução – Hipótese <strong>de</strong> Trabalho1 – Em Dionísio: a transgressão2 – O neo-tribalismo e a lógica <strong>da</strong>s re<strong>de</strong>s3 – A ética <strong>da</strong> estética e o processo <strong>de</strong> comunicão4 – O novo paradigma e a nova ética5 – Em Arthur Bispo: a transgressão e a contemporanei<strong>da</strong><strong>de</strong>ConclusãoBibliografiaÍNDICE56TÍTULO: “DESATANDO NÓS”. UMA ABORDAGEM PSICOSSOCIOLÓGICA DE MULHERES DE UMA COMUNIDADE PRISIONALAUTOR: NÍVEA GRAÇA DE TOMMASO ROCHADATA: 1997 – JUNHO - RIO DE JANEIRO – UFRJORIENTADOR (A): PROF (A): DRª MARIA LUIZA ASSUMPÇÃO SEMINERIOCO-ORIENTADOR: PROF (A): DRª MARIA CECÍLIA DE MELLO E SOUZAASSUNTO: DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UFRJ, COMO PARTE DOSREQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM PSICOSSOCIOLOGIA DE COMUNIDADES E ECOLOGIA SOCIAL –PROGRAMA EICOSSUMÁRIOI – INTRODUÇÃO1.1 – Fun<strong>da</strong>mentação do problema1.2 – Objetivos1.3 – Justificativa – relato <strong>de</strong> uma experiência anterior1.4 – Apresentação dos conteúdos teóricosII – UMA VISÃO DA INSTITUIÇÃO, SOB O ÂNGULO DE “INSTITUIÇÃO TOTAL” E “ESPAÇO DISCIPLINAR”2.1 – A prisão feminina: informações sobre o seu surgimento, as características disciplinares dos anos 50 e <strong>de</strong> hoje2.2 – A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> prisional: o espaço on<strong>de</strong> vivem as mulheres participantes <strong>da</strong> pesquisa: seu histórico e funcionamento<strong>da</strong> instituição. O primeiro contato.2.3 – A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> prisional como lócus <strong>de</strong> controle <strong>de</strong> conceitos <strong>de</strong> Goffman e FoucaultIII – O GRUPO DE MULHERES PRESAS: EM BUSCA DA COMPREENSÃO DO EU.Metodologia3.1 – O material <strong>de</strong> estudo3.2 – O trabalho <strong>de</strong> campo: experiências, dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s e algumas consi<strong>de</strong>rações3.3 – Histórias <strong>de</strong> Vi<strong>da</strong>3.3.1 – Relatos: Visualizando os laços perdidos3.3.2 – Análise Desatando NÓSa) Um sujeito <strong>de</strong> “si e do social”b) Procedênciac) Relação Materna/Paterna/A inserção relacionald) Escolari<strong>da</strong><strong>de</strong>/Profissão/Relação com o Trabalhoe) Perspectivas para o futuro: apresentação dos <strong>de</strong>senhosIV – CONCLUSÃO: Re-pensando a escolha criminalizanteV – BIBLIOGRAFIAVI - ANEXOS57TÍTULO: UM ESTUDO DO ESPAÇO PSICOLÓGICO APLICADO EM PROPOSTA CENTRO TERAPÊUTICO


170AUTOR: JERUSHA CHANGDATA: 1977ORIENTADOR: MIGUEL JULIANOASSUNTO: ESTUDO - FAUMSUMÁRIOIntroduçãoSobre o Desenvolvimento <strong>da</strong>s formasEsboço <strong>de</strong> Projeto Man<strong>da</strong>laCentro Terapêutico Programa-EspaçoCentro Terapêutico Implantação EfetivaJung e a TerapiaTerapia e FormaTerapia e CorTerapia e NaturezaDo PaisagismoDo ProjetoMo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> DesenvolvimentoOutro Mo<strong>de</strong>lo Teórico <strong>de</strong> DesenvolvimentoProposta <strong>de</strong> Centro Terapêutico na Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>Proposta <strong>de</strong> Centro Terapêutico no Campo58TÍTULO: FRAGMENTOS DE LUCIDEZ NESSE MUNDO DE LOUCURASAUTOR (A): ISIS MARIA PEREIRA DE AZEVEDO (NOME ARTÍSTICO ISIS BAIÃO)DATA: 1977ORIENTADOR: MIGUEL JULIANOASSUNTO: PROJETOSUMÁRIOApresentaçãoObjetivosPlano <strong>de</strong> Trabalho: Previsão para 12 mesesDo 1º ao 3º mês: Entrevistas: com a Dra. Nise <strong>da</strong> Silveira – história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>, trajetória profissional, casos clínicos, e etc.Com pessoas que trabalharam com ela, médicos e paramédicos. Pesquisa: o pensamento e as técnicas <strong>de</strong> tratamento <strong>da</strong> Dra. Nise: casos clínicos Digitação do materialDo 4º ao 6º mês Pesquisa: o pensamento <strong>da</strong> psiquiatria tradicional e suas práticas no Brasil; casos clínicos Entrevistas: com pessoas que combateram (e/ou combatem) os métodos <strong>da</strong> Dra. Nise; com pacientes <strong>da</strong> Dra. Nise e/ou dos seusseguidores Digitação do materialDo 7º ao 9º mês Estudo <strong>de</strong> todo material coletado Criação <strong>de</strong> uma sinopse – <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> plot e sub-plots Elaboração <strong>de</strong> uma estrutura dramáticaDo 10º ao 12º mês Escritura do texto: primeira re<strong>da</strong>ção Segun<strong>da</strong> re<strong>da</strong>ção Re<strong>da</strong>ção finalCronogramaCurriculum VitaeCartas <strong>de</strong> Referência <strong>de</strong> Marieta Severo e Ivone HoffmannComprovação <strong>de</strong> trabalhos anteriores em dramaturgiaCarta a Dra. Nise59TÍTULO: “TERAPIAS EXPRESSIVAS: UMA PESQUISA DE REFERÊNCIAS TEÓRICOS-PRÁTICOS”AUTOR (A): LIOMAR QUINTO DE ANDRADEDATA: 1993ORIENTADOR: PROF. Dr. NORBERTO ABREU E SILVA NETOASSUNTO: TESE APRESENTADA AO INSTITUTO DE PSICOLOGIA, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, COMO PARTE DOS REQUISITOSPARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM PSICOLOGIA - ÁREA DE CONCENTRAÇÃO PSICOLOGIA CLÍNICAResumosIntroduçãoPressupostos TeóricosHistórico Do Uso De Arte Em PsicoterapiaOrigens: Arteterapia E Arte-Educação Sob A Luz Da PsicanáliseSUMÁRIO


171Arte: Psicoterapia E Educação – FronteirasArteterapia E Terapia Expressivas De Orientação JunguianaReferenciais Humanísticos Em Arteterapia E Terapia ExpressivasConclusõesBibliografia60TÍTULO: O MITO E A ARTE COMO FORMAS DEQUETÍPICAS DO INCONSCIENTE COLETIVO NA PSICOLOGIA ANALÍTICIA DE CARLGUSTAV JUNGAUTOR (A): MARIA HELENA ZILBERBEGDATA: 1980 – JULHO – RIO DE JANEIROORIENTADOR: PROF. CELSO LEMOSASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA COMO REQUISITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DEMESTRE EM FILOSOFIAÍndiceAgra<strong>de</strong>cimentosResumoAbstractIntroduçãoCAPÍTULO I – INCONSCIENTE1 – O Inconsciente Individual2 – O Inconsciente Coletivo3 – O Processo <strong>de</strong> Individuação (dialética entre o Eu e o Inconsciente)4 – Os Arquétipos e o Inconsciente ColetivoCAPÍTULO II – OS MITOS1 – Os Mitologemas (Imaginário Arquetípico)2 – O Homem Arcaico3 – O Retorno “ab origine” (conceito <strong>de</strong> mito)CAPÍTULO III – A ARTE1 – A Arte e o Mito: sua posição na Cultura Humana2 – O Universo do Significado: O Símbolo3 – Arte e ArquétipoConclusãoReferência Bibliográfica (Bibliografia cita<strong>da</strong> e consulta<strong>da</strong>)ÍNDICE61TÍTULO: PAREIDOLIASAUTOR: AGILBERTO CALACA NEVESDATA: 1993 – 19 DE DEZEMBRO – RIO DE JANEIROASSUNTO: POEMASSUMÁRIOALQUIMIA POÉTICA Alquimia poética A Manuel Ban<strong>de</strong>ira Poema inspirado no “Livro do Desassossego <strong>de</strong> Fernando Pessoa” Trabalho <strong>de</strong> poeta Poesia e palavra Penúltimo canto operário Haicai Fetiche Destino Estrangeiro Anima Rosita Espanha Diagnóstico Prostituta Dois poeminhas apocalípticos extraídos <strong>de</strong> um livro <strong>de</strong> S. FreudVINHETAS Prosaico Tivemos uma dura existência Paisagem Tempo Do que não gosto dos livros Viagem Eu e você Rio <strong>de</strong> Janeiro Eu nuca volto


172 Conceito A louca Eqüestre Biografia Sau<strong>da</strong><strong>de</strong> Dois Koans62TÍTULO: HYPNAGOGIC IMAGERY AND PSYCHOTIC OUTSIDER ART – STUDY OF FORM-CONSTANTS AND VISUAL PROPERTIESAUTOR : NELSON MARAVALHAS, JRDATA: 2002ORIENTADOR: PROF. CELSO LEMOSASSUNTO: THESIS SUBMITTED FOR THE DEGREE OF DOCTOR OF PHILOSOPHY (PHD) - HISTORY AND THEORY OF ART –UNIVERSITY OF KENT AT CANTERBURYOBS.: Volume I: Thesis, Volume II: IllustrationsVolume I- Abstract- Notes on Abbreviations- Preface- IntroductionPART ONE – THE THEORYChapter 1 – Pictures in the Mind- Mental Imagery- Hypnagogic State- Psychotic HallucinationsChapter 2 – Studies of form – Constants and Visual Properties- Klüver’s- Siegel & Jarvik Mo<strong>de</strong>l- Lewis – Williams & Dowson’s Entopic Mo<strong>de</strong>l- SummaryChapter 3 – Tools- The Loop-state and the Image-recall Hypotheses- Mo<strong>de</strong>l of twelve form-Constants (FC)- Mo<strong>de</strong>l of Visual Properties (VP)- Repertoire of StrategiesPART TWO – THE APPLICATIONTABLE OF CONTENTSChapter 4 – Comparative examples- Cartoons- Spiralgraph- Vertigo- Mystics & Visions- Romanticism- SurrealismChapter 5 – General points concerning Outsi<strong>de</strong>r Mental Imagery, and Psychosis- Psychotic Art- Distinction between Integrated and outsi<strong>de</strong>r Artists- Psychotic Outsi<strong>de</strong>r Art- The presence of FC and VP in works of nineteenth-century self-taught psychotic artists- Preservation of art-training during psichosis- SumaryChapter 6 – Classic Outsi<strong>de</strong>r Art from Europe- Adolf Wölfli- August Natterer- Hélène Smith and Frank MillerChapter 7 – Case-Studies from a Brazilian Collection- <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente and the Brazilian concern- Choice and structure of the case-studies- A<strong>de</strong>lina- Carlos Pertuis- Fernando Diniz- Octávio Ignácio- Raphael- SumaryConclusionBibliography62 – AVolume II- Appendixes


173- The Mo<strong>de</strong>l of 12 FC- The Mo<strong>de</strong>l of VP- Repertoire of Strategies- List of Illustrations- Notes on the Illustrations- Illustrations- Theoretical Ad<strong>de</strong>n<strong>da</strong>- Translation Hypothesis and Concrete-image- Universal Organising Agent- Form-Constants in Nature- Templates- Mixed-categories-Last Consi<strong>de</strong>ration63TÍTULO: O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO E O INFERNO DE DANTEAUTOR (A): LÊDA MARIA DONNABELLA QUINETE MAASDATA: 1998 – PUC – SÃO PAULOORIENTADOR: PROF. DR. GILBERTO GORGULHOASSUNTO: DISSETAÇÃO APRESENTADA À BANCA EXAMINADORA DA PUNTIFÍCIA UNIVERSDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO, COMOEXIGÊNCIA PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃOINTRODUÇÃOI.O HOMEM EM SEU TEMPO1.A trajetória existencial <strong>de</strong> Dante2.O cenário medieval <strong>de</strong> sua experiênciaII. A OBRA; A (DIVINA) COMÉDIA1. Mapa <strong>de</strong> leitura2. As três tapas <strong>da</strong> peregrInaçãoIII . O PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO E O INFERNO DE DANTE1. O limiar do Inferno2. A Ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Dite1. A saí<strong>da</strong>CONCLUSÃOBIBLIOGRAFIAGLOSSÀRIOSUMÁRIO64TÍTULO: ESPAÇO REAL, ESPAÇO IMAGINÁRIOAUTOR (A): MARIA HELENA LISBOA DA CUNHADATA: 1990 – UFRJ – RIO DE JANEIROORIENTADOR: PROF. DR. GILBERTO A. BORNHEIMASSUNTO: TESE APRESENTADA AO DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA, COMO REQUISITO PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOREM FILOSOFIAINTRODUÇÃOCAPÍTULOI – VIVÊNCIAS ORIGINÁRIAS NA ARTE EXPRESSIVA INFANTILII- O ESPAÇO E O TEMPOIII – A REALIDADE DO MITOIV – AS RAÍZES DO SÍMBOLOV – A PERCEPÇÃO ESTÉTICA E A OBRA DE ARTECONCLUSÃOBIBLIOGRAFIA GERALBIBLIOGRAFIA SUPLEMENTARAPÊNDICESSUMÁRIO65TÍTULO: MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE: UM EPAÇO TERAPÊUTICO E DE CONVIVÊNCIA AFETIVA E PSICOSSOCIALAUTOR (A): NATHÁLIE DE SOUZA JORGEDATA: 2002ORIENTADOR: PROF. DR. GILBERTO A. BORNHEIMASSUNTO: ESTÁGIO INTEGRADO EM SAÚDE MENTAL NO MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTE/INSTITUTO MUNICIPAL DEASSISTÊNCIA A SAÚDE NISE DA SILVEIRAApresentaçãoApren<strong>de</strong>ndo a Li<strong>da</strong>r com a Desestruturação Interna do EsquizofrênicoAs Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s Expressivas e a Terapêutica OcupacionalÍNDICE


174Os Grupos Terapêuticos e o Contato com a Reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ExternaO Ambiente Facilitador <strong>de</strong> WinnicottConclusãoBibliografia66TÍTULO: DIÁLOGOS DA ALMA: UMA OUTRA HISTÓRIA DA LOUCURAAUTOR (A): JULIANA ROCHA DE AZEVEDODATA: 2006 – NATAL - RNORIENTADOR: PROFª: DRª. MARIA DA CONCEIÇÃO XAVIER DE ALMEIDAASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS, DA UNIVERSIDADE FEDERALDO RIO GRANDE DO NORTE, COMO REQUISITO PARCIAL À OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM CIÊNCIAS SOCIAISSUMÁRIOINTRODUÇÃOTEMPESTADE E BONANÇAUm iluminado pôr do sol no PotengiO crepúsculo anuncia a noite e a escuridãoUm luminoso alvorecer anuncia bom tempoUma flor <strong>de</strong>sabrocha no orvalho fresco <strong>da</strong> manhãMEU ABRIGO, MINHA CASAO nascimento e os primeiros dias <strong>da</strong> CasaO jardim <strong>de</strong> Zé RaimundoA CapelaOs cantos especiaisMEU MEDO DO TROVÃO E MEU AMOR PELA CHUVAChico DomingosZé Raimundo e SebastianaAloízio AlbuquerqueOutras Pessoas, outros momentosBRISASSUSSURROSLista <strong>de</strong> FigurasFig.01 – BOUGART – Natal no século XIX, vista panorâmica <strong>da</strong> Praça André <strong>de</strong> Albuquerque - Acervo: Coleção IHGRNFig.02 – Vista <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> do Leprosário São Francisco <strong>de</strong> Assis, fonte: Cd 400 anos <strong>de</strong> NatalFig.03 – Foto do paciente Sabino Alves. Ficha <strong>de</strong> controle do Hospício <strong>de</strong> Alienados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (1922). Acervo: Hospital Dr. JoãoMachadoFig.04 – Foto do paciente Antônio <strong>de</strong> Tal. Fonte: Ficha <strong>de</strong> controle do Hospício <strong>de</strong> Alienados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (1922). Acervo: Hospital Dr.João MachadoFig.05 – Foto <strong>da</strong> paciente Elysa Lopes do Santos. Fonte: Ficha <strong>de</strong> controle do Hospício <strong>de</strong> Alienados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (1922). Acervo:Hospital Dr. João MachadoFig.06 – Ficha <strong>de</strong> controle do paciente Silvino <strong>de</strong> Tal, Hospício <strong>de</strong> Alienados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (1922). Acervo: Hospital Dr. João MachadoFig.07 – Verso <strong>da</strong> ficha <strong>de</strong> controle do paciente Silvino <strong>de</strong> tal, Hospício <strong>de</strong> Alienados do Rio Gran<strong>de</strong> do Norte (1922). Acervo: Hospital Dr. JoãoMachadoFig.08 – Ulysses Pernambucano (*1892 / +1943)Fig.09 – João <strong>da</strong> Costa Machado. Fonte: SUCAR, Douglas Dogol. Nas Origens <strong>da</strong> Psiquiatria Social: Um corte através <strong>da</strong> História do Rio Gran<strong>de</strong>do Norte, Natal: Clima, 1993Fig.10 – Chanana. Foto: Juliana Rocha <strong>de</strong> AzevedoFig.11 – Nise <strong>da</strong> Silveira com gato. Fonte: www.annafrank.blog.uol.com.brFig.12 – Nise <strong>da</strong> Silveira. Acervo: <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente. Fonte: www.museuimagensdoinconscirente.org.brFig.13 – Vista panorâmica do Hospital <strong>da</strong> Colônia <strong>de</strong> Psicopatas – 1957. Acervo: Hospital Dr. João MachadoFig.14 – Chega<strong>da</strong> <strong>da</strong> Comitiva presi<strong>de</strong>ncial. Presença do Presi<strong>de</strong>nte Juscelino Kubitschek – 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1957. Acervo do Hospital Dr. JoãoMachadoFig.15 – Internos praticando s Laborterapia no Aviário do Hospital Colônia <strong>de</strong> Psicopatas. Acervo do Hospital João MachadoFig.16 – Outro aspecto do Aviário. Acervo do Hospital João MachadoFig.17 – Pacientes na lavoura. Acervo do Hospital João MachadoFig.18 – Outro aspecto <strong>da</strong> lavoura. Acervo do Hospital João MachadoFig.19 – Pocilga. Internos no trato com os animais. Acervo do Hospital João MachadoFig.20 – Outro aspecto <strong>da</strong> Pocilga. Acervo do Hospital João MachadoFig.21 – Lavan<strong>de</strong>ria do Hospital Colônia. Acervo do Hospital João MachadoFig.22 – Internos e Visitantes na exposição dos trabalhos feitos nas oficinas <strong>de</strong> praxiterapia. Fonte: Acervo do Hospital João MachadoFig.23 – Fragmentos jornalísticos sobre os eventos realizados pelas Damas ProtestorasFig.24 – Poema Emerau<strong>de</strong> feito pela paciente Ronil<strong>da</strong> PinheiroFig.25 – Mu<strong>da</strong>s prepara<strong>da</strong>s para o plantio. Foto: Juliana Rocha <strong>de</strong> AzevedoFig.26 – José Raimundo – <strong>de</strong>talhe <strong>da</strong> mão e <strong>da</strong> rosa. Foto: Juliana Rocha <strong>de</strong> AzevedoFig.27 – José Raimundo no jardim. Foto: Juliana Rocha <strong>de</strong> AzevedoFig.28 – Nossa Senhora <strong>da</strong> Cabeça – <strong>de</strong>talhe. Foto: Manoel BezerraFig.29 – Ex-voto em ma<strong>de</strong>ira – cabeça. Foto: Manoel BezerraFig.30 – Detalhe <strong>de</strong> uma flor na gra<strong>de</strong> <strong>da</strong> capela. Foto: Manoel BezerraFig.31 – Detalhe <strong>da</strong> porta do Setor <strong>de</strong> Terapia Ocupacional. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.32 – Detalhe do pátio interno durante a festa junina <strong>de</strong> 2005. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.33 – Francisco Domingos. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.34 – Francisco Domingos. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.35 – Príapo – lamparina em terracota encontra<strong>da</strong> em Pompéia, pertencente ao século I d.C.Fig.36 – Foto do Jornal “Diário <strong>de</strong> Natal” – Dia 05 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1998


175Fig.37 – Sebastiana durante a Festa Junina do Hospital Dr. João Machado 2005. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.38 – José Raimundo na Festa Junina do Hospital Dr. João Machado 2005. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.39 – Ilustração <strong>de</strong> São João menino e o carneirinho. Acervo: Juliana Rocha AzevedoFig.40 – Sebastiana na inauguração <strong>da</strong> Residência Terapêutica dia 18 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.41 – Equipe Brasileira <strong>da</strong> Copa do Mundo <strong>de</strong> 1958. Fonte: www.reservaer.com.brFig.42 – Aloizio Albuquerque. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.43 - Aloizio Albuquerque. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.44 – Baiano tocando o triângulo no dia <strong>da</strong> <strong>de</strong>spedi<strong>da</strong> 17 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2005. Foto: Juliana Rocha AzevedoFig.45 – Ilustração <strong>de</strong> AdrianoFig.46 – Ilustração <strong>de</strong> AdrianoFig.47 – Ilustração <strong>de</strong> AdrianoFig.48 – Ilustração <strong>de</strong> AdrianoFig.49 – Ilustração <strong>de</strong> AdrianoFig.50 – Ilustração <strong>de</strong> RobsonFig.51 – Bilhete <strong>de</strong> RobsonFig.52 – Detalhe <strong>da</strong> Bíblia nas mãos <strong>de</strong> Baltazar. Foto: Juliana Rocha Azevedo67TÍTULO: NISE DA SILVEIRA, A EMOÇÃO DE LIDAR – Vi<strong>da</strong> e Obra <strong>de</strong> uma psiquiatrarebel<strong>de</strong>AUTOR: SYDNEY CINCOTTO JUNIORDATA: 2003 – SÃO PAULOORIENTADOR: PROF: DR. EDGARD DE ASSIS CARVALHOASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA À BANCA EXAMINADORA DA PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO,COMO EXIGÊNCIA PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM CIÊNCIAS SOCIAIS NA ÁREA DE ANTROPOLOGIA1. Princesa Caralâmpia2. Uma Psiquiatra rebel<strong>de</strong> e anti-cartesiana3. Em busca <strong>da</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> do serNo caminho do conscienteÁ sombra dos Ateliês, o afeto humanizadorA totali<strong>da</strong><strong>de</strong> reencontra<strong>da</strong>Notas4. Cartas à Nise <strong>da</strong> Silveira5. Carta I6. Carta II7. Carta IIIObras e fontes consulta<strong>da</strong>sAnexosSUMÁRIO68TÍTULO: A UTILIZAÇÃO DA ARTE COMO DISPOSITIVO TERAPÊUTICOAUTOR(A): LAURA BARROS DE SOUZADATA: 2002 – SÃO LEOPOLDOORIENTADOR: PROFª: ANNA MARIA RUSCHELASSUNTO: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO DA UNIVERSIADE DO VALE DO RIO DOS SINOS, CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE,CURSO DE PSICOLOGIASUMÁRIOINTRODUÇÃO1 A ARTE COMO PRODUÇÃO SIMBÓLICA1.1 Um pouco <strong>de</strong> história – Nise <strong>da</strong> Silveira – uma psiquiatra rebel<strong>de</strong>1.2 A arte e a psicologia analítica <strong>de</strong> Carl Gustav Jung1.2.2 Individuação, Símbolo e Self1.3 Arteterapia1.3.1 O papel do arterapeuta2. ANÁLISE PRÁTICA: ARTE X GRUPO DE USUÁRIOS DO CAIS MENTAL E GRUPO DE PROFESSORESCONCLUSÃOOBRAS CONSULTADAS69TÍTULO: TERAPIAS EXPRESSIVAS – UMA PESQUISA DE REFERÊNCIAS TEÓRICO-PRÁTICOSAUTOR (A): LIOMAR QUINTO DE ANDRADEDATA: 1993 – SÃO PAULOORIENTADOR: PROF: DRº NORBERTO ABREU E SILVA NETOASSUNTO: TRABALHO APRESENTADO AO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, COMO PARTE DOSREQUISITOS PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM PSICLOGIA CLÍNICA


176SUMÁRIORESUMOSINTRODUÇÃOPRESSUPOSTOS TEÓRICOSHISTÓRICOS DO USO DE ARTE EM PSICOTERAPIAORIGENS: ARTETERAPIA E ARTE-EDUCAÇÃO SOB A LUZ DA PSICANÁLISEARTE: PSICOTERAPIA E EDUCAÇÃO – FRONTEIRASARTETERAPIA E TERAPIAS EXPRESSIVAS DE ORIENTAÇÃO JUNGUIANAREFERÊNCIAS HUMANÍSTICAS EM ARTETERAPIA E TERAPIAS EXPRESSIVASCONCLUSÕESBIBLIOGRAFIAOBRAS CONSULTADAS70TÍTULO: O ENGENHO DE DENTRO DO LADO DE FORA – CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA E PROPOSTAS PARA O FIM DE UM MANICÔMIOAUTOR: EDMAR OLIVEIRADATA: 2004 – RIO DE JANEIROORIENTADOR: PROF: BENILTON BEZERRA JUNIORASSUNTO: MONOGRAFIA APRESENTADA COMO REQUISITO DE TÍTULO PARA O CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO DE GESTÃO EM SAÚDE– FUNDAÇÃO JOÃO GOULARTSUMÁRIOAGRADECIMENTOSSUMARIORESUMODA METODOLOGIAINTRODUÇÃO: INÍCIO DATADO, O FIM POSSÍVELCAPÍTULO 1: PARA IMAGINAR ONDE CHEGAR É PRECISO UM PONTO DE PARTIDAPRIMEIRA PARTE: CONSTITUIÇÃO HISTÓRICACAPÍTULO 2: A MESMA CENA SE REPETE QUASE UM SÉCULO DEPOIS: O NASCIMENTO DO HOSPÍCIO NO BRASILCAPÍTULO 3: HIGIENE MENTAL: UM ENGENHO DE DENTRO QUE SUBSTITUI A PRAIA DA SAUDADE...CAPÍTULO 4: PERDE-SE O PASSADO, FICA-SE SEM O FUTURO: A PSIQUIATRIA, ENVERGONHADA, FOI PRIVATIZADA PELOSMERCADORES DE INFORTÚNIOS...SEGUNDA PARTE: ECOS DA REFORMA NO ENGENHO DE DENTROCAPÍTULO 5: A RECONSTRUÇÃO DA FORMA: A REFORMA PSIQUIÁTRICA NÃO MODIFICA O CONTEÚDO MANICOMIALTERCEIRA PARTE: PROPOSIÇÕES ESTRATÉGICASCAPÍTULO 6: A INTENÇÃO DE CHEGAR AO TERRITÓRIO: DE UM ENGENHO DE DENTRO PARA UM ENGENHO DE FORAENGENHO DE DENTROPROPOSIÇÕES ESTRATÉGICAS AINDA NO LADO DE DENTRO, MAS QUE POSSIBILITEM AÇÕES DO LADO DE FORAUM ENGENHO DO FORAO PROVISÓRIO DA CONCLUSÃOBIBLIOGRAFIAFONTES PRIMÁRIASANEXO: DOCUMENTAÇÃO FOTOGRÁFICA71TÍTULO: COMPREENSÃO NO ESQUIZOFRÊNICOAUTOR: CARLOS ROBERTO HOJAIJDATA: 1987 – SÃO PAULOORIENTADOR: PROF: SIDNEY CHIOROASSUNTO: TESE DE DOUTORAMENTO APRESENTADA À FACULDADE DE MEDICINA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. CURSO DEPÓS-GRADUAÇÃO.ÁREA DE PSIQUIATRIA1. INTRODUÇÃO2. LITERATURA2.1. A questão do <strong>de</strong>lírio2.2. A idéia do processo psíquico2.3. Fenomenologia2.4. Compreensão3. MATERIAL E MÉTODO3.1. Paciente AComentários3.2. Paciente BComentários3.3. Paciente CComentários3.3. Paciente DComentários3.4. Paciente EComentários4. DISCUSSÃOSUMÁRIO


1775. CONCLUSÕESREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASABSTRACT72TÍTULO: JANELAS – DESENHOS E PINTURAS COMO ESPAÇOS ABERTOS PARA O INCONSCIENTEAUTOR(A): BÁRBARA ELISABETH NEUBARTHDATA: INVERNO DE 1996 – RIO GRANDE DO SULORIENTADOR: PROFa. DRa. ANALICE DUTRA PILLARASSUNTO: UM ESTUDO SOBRE A OFICINA DE CRIATIVIDADE DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO DE SÃO PEDRO – UNIVERSIDADE DO RIOGRANDE DO SUL FACULDADE DE EDUCAÇÃO – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃOINTRODUÇÃOII – A JANELA DESDE O LADO DE FORA – Uma Primeira Olha<strong>da</strong>– Cem anos <strong>de</strong> Hospital Psiquiátrico São Pedro (1884-1984)– A História Recente e as Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Mental– Alguns Números e Serviços– A Oficina <strong>de</strong> Criativi<strong>da</strong><strong>de</strong> – Inserção do Setor na OrganizaçãoIII – O CAIXILHO QUE SUSTENTA3.1 – Os Freqüentadores3.2 – A Dimensão do Espaço3.2.1 – O Lugar <strong>da</strong> Oficina3.2.2 – Relação Freqüentador – Espaço3.3 – A Dimensão Tempo3.3.1 – O Tempo que se congela3.3.2 – Horário3 4 – Técnicas Utiliza<strong>da</strong>s e os Materiais EmpregadosIV – ABRINDO UMA NESGA DA JANELA – A Luz e o Ar Renovam4.1 – As Psicoses4.2 – Jung e a Psicologia <strong>da</strong> Esquizofrenia4.3 – O Tratamento Psicológico na Esquizofrenia4.4 – Arte e Inconsciente4.5 – Antece<strong>de</strong>ntes <strong>da</strong> Utilização <strong>da</strong> Arte com fins Terapêuticos4.6 – A Expressão Plástica como Recurso TerapêuticoV – JANELAS ABERTAS5.1 – CLEÒPATRA5.2 – NATÁLIA5.3 – Cenil<strong>da</strong>5.4 – Ernesto5.5 – Sorriso5.6 – LuizVI – ENCOSTANDO A JANELA – Consi<strong>de</strong>rações parciaisREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASSUMÁRIO73TÍTULO: RELÓGIOS SEM PONTEIROS – DESVELANDO UMA HISTÓRIA – A VIDA E A OBRA DE LUIZ SILVEIRA GUIDES, MORADOR DOHOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDROAUTOR(A): BÁRBARA ELISABETH NEUBARTHDATA: VERÃO DE 1997 – RIO GRANDE DO SULORIENTADOR: PROFa. DRa. ANALICE DUTRA PILLARASSUNTO: UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO SUL - FACULDADE DE EDUCAÇÃO – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EMEDUCAÇÃOINTRODUÇÃOI. A VIDALuiz Silveira Gui<strong>de</strong>s – Fragmentos <strong>de</strong> uma história <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>O Cotidiano <strong>de</strong> Luiz na Oficina <strong>de</strong> Criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>O Rito SagradoII. CONSIDERAÇÕES TEÓRICASO Diálogo com a ObraImagem e SímboloIII. O SIGNIFICADO DAS IMAGENS NA OBRA DE LUIZNo Início era o CaosRelógios sem PonteirosIV. FINALIZANDOV. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASANEXOSSUMÁRIO74


178TÍTULO: GÊNERO E ENVELHECIMENTO NA ESQUIZOFRENIA – UM ESTUDO DE CASO ATRAVÉS DA ICONOGRAFIA DE ADELINAGOMES, PACIENTE DO MUSEU DE IMAGENS DO INCONSCIENTEAUTOR(A): MARIA CRISTINA REIS AMENDOEIRADATA: NOVEMBRO DE 2003ASSUNTO: ANTEPROJETO DE TESE DE DOUTORADO PARA ÁREA DE SAÚDE MENTAL – UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DEJANEIRO – CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – FACULDADE DE MEDICINA – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSIQUIATRIA ESAÚDE MENTALCOMPOSIÇÃO DO PROJETO1. Trabalho escrito dividido em 5 capítulosIntroduçãoMetodologiaO perfil <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong>O papel <strong>da</strong> mulher na cultura – trecho <strong>da</strong> primeira versão em anexo2. Produção <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o/documentário com material sobre A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong>3. Montagem <strong>de</strong> Exposição com obras <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong> pertinentes ao Projeto realizadoCronogramaEtapasI. Revisão bibliográfica sobre o tema, assim como listagem <strong>da</strong>s exposições – em processoII. Inventário e estudo do acervo, com seleção dos trabalhos a serem estu<strong>da</strong>dos – em processoIII. Entrevistas – em processoIV. Fotos <strong>da</strong>s obras e organização do material <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o selecionados – fotos <strong>de</strong> A<strong>de</strong>lina <strong>Gomes</strong> realiza<strong>da</strong>s. Fotos <strong>da</strong>s obras do grupo –controle – a programarV. Análise do material coletadoVI. Re<strong>da</strong>ção final do trabalhoVII.Confecção do documentário em ví<strong>de</strong>o e seleção <strong>da</strong>s peças para exposição75TÍTULO: NISE DA SILVEIRA: A EMOÇÃO DE LIDARAUTOR (A): MAIONE DE QUEIROZDATA: OUTUBRO DE 1996ASSUNTO: DOCUMENTÁRIO DE 60 MINUTOS, SOBRE O TRABALHO DE NISE DA SILVEIRA NO CENTRO PSIQUIÁTRICO PEDRO II EMENGENHO DE DENTRO. O FORMATO FINAL DO DOCUMENTÁRIO SERÁ EM VÍDEO BETACAM SPSINOPSERio <strong>de</strong> Janeiro, outubro <strong>de</strong> 1996. Nise <strong>da</strong> Silveira, em seu apartamento, retraça a história do <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do Inconsciente, dosfreqüentadores do ateliê <strong>de</strong> pintura, <strong>da</strong>s lutas contras os psiquiatras tradicionais.76TÍTULO: A PONTE DE MADEIRA – A POSSIBILIDADE ESTRUTURANTE DA ATIVIDADE PROFISSIONAL NA CLÍNICA DA PSICOSEAUTOR: ARNALDO ALVES DA MOTADATA: 1994 – SÃO PAULOORIENTADOR: DR. CARLOS BYINGTONASSUNTO: MONOGRAFIA PARA CONCLUSÃO DO CURSO DE FORMAÇÃO DE ANALISTAS DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOLOGIAANALÍTICAINTRODUÇÃOPSICOSE E LOUCURAO TRABALHOO PERCURSOA MARCENARIACONCLUSÃORESUMOBIBLIOGRAFIAABSTRACTÍNDICE77TÍTULO: ESPAÇO E TEMPO: PALAVRAAUTOR(A): MARIA DA GLORIA ATALLADATA: 1998 –ASSUNTO: PRIMEIRA PROVA DE UM LIVRO QUE HÁ MUITO ESTAVA SENDO PREPARADO78TÍTULO: A HISTÓRIA DE BETAAUTOR(A): ABERTINA BORGES DA ROCHA - ELIZABETHDATA: SEM DATAASSUNTO: ORIGINAL DO LIVRO EM PASTA PARA ARQUIVOSÍNDICE


179DedicatóriaPrólogoCapítulo 1º - Da infância a primeira criseCapítulo 2º - Viagem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma crise misturando o realCapítulo 3º - Os gran<strong>de</strong>s achados nos gran<strong>de</strong> mergulhos (os ca<strong>de</strong>rnos)Capítulo 4º - ReflexõesCapítulo 5º - Vivências através do tempoCapítulo 6º - O gran<strong>de</strong> passo <strong>de</strong> estar sóCapítulo 7º - O caminho pelo saber <strong>da</strong> razãoCapítulo 8º - Mergulho em uma viagem fantásticaEpílogo – O gran<strong>de</strong> golpe do <strong>de</strong>stino78 – ATÍTULO: A HISTÓRIA DE BETAAUTOR (A): ABERTINA BORGES DA ROCHA - ELIZABETHDATA: SEM DATAASSUNTO: ORIGINAL DO LIVRO EM PASTA PARA ARQUIVOSDedicatóriaPrólogoCapítulo 1º - Da infância a primeira criseCapítulo 2º - Viagem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma crise misturando o realCapítulo 3º - Os gran<strong>de</strong>s achados nos gran<strong>de</strong> mergulhos (os ca<strong>de</strong>rnos)Capítulo 4º - ReflexõesCapítulo 5º - Vivências através do tempoCapítulo 6º - O gran<strong>de</strong> passo <strong>de</strong> estar sóCapítulo 7º - O caminho pelo saber <strong>da</strong> razãoCapítulo 8º - Mergulho em uma viagem fantásticaEpílogo – O gran<strong>de</strong> golpe do <strong>de</strong>stinoÍNDICE79TÍTULO: A RELAÇÃO ENTRE A PATOLOGIA PSÍQUICA E A PERCEPÇÃO IMPRESSIONISTAS DE VINCENT VAN GOGHAUTOR (A): NATÁLIA TÁVORA CELESTINODATA: 2008 – VASSOURASORIENTADOR: PROF MADDI DAMIÃO JUNIORASSUNTO: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC) APRESENTADO AO CURSO DE PSICOLOGIA DA USS, PARA OBTENÇÃO DOGRAU DE PSICÓLOGO.UNIVERSIDADE SEVERINO SOMBRA – CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE – CURSO DE PSICOLOGIASUMÁRIOINTRODUÇÃOCAPÍTULO 1 – A ARTE1.1 O que é impressionismo?1.2 A vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Vincent Van GoghCAPÍTULO II – O QUE É PERCEPÇÃO2.1 A percepção <strong>de</strong> Vincent Van GoghCAPÍTULO III – A PSICOPATOLOGIA E A PATOLOGIA PSÍQUICA3.1 O transtorno afetivo bipolarCAPÍTULO IV – A PATOLOGIA PSÍQUICA E A PERCEPÇÃO IMPRESSIONISTA DE VINCENT VAN GHOGCONSIDERAÇÕES FINAISREFERÊNCIAS80TÍTULO: GENUINESS AS DUALITY IN UNITYAUTOR: CARLOS A B BYINGTON, MDDATA: 1965 - NOVEMBERASSUNTO: DIPLOMA THESIS FOR THE C G JUNG INSTITUTE - ZURICH.INTRODUCTIONCHAPTER ICHAPTER 2CHAPTER 3CHAPTER 4SUMÁRIO81TÍTULO: RIOBALDO/ROSA: “O HOMEM MODERNO À PROCURA DE UMA ALMA”. UM PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃOAUTOR (A): TANIA REBELO COSTA SERRADATA: 1965 - AGOSTO


180PROFESSOR: ORIENTADOR: AGLAEDA FACÓ VENTURAASSUNTO: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA À UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA, DF. – MESTRADO DE LITERATURABRASILEIRA – DEPARTAMENTO DE LETRAS E LINGUÍSTICAÍNDICECapítulosI INTRODUÇÃOII O NÍVEL REALA - A Conquista do SertãoB – A Estrutura Fundiária e as Relações <strong>de</strong> Classe1 – A Estrutura Fundiária2 – As Relações <strong>de</strong> Classe3 - Bandidos, Jagunços e Cangaceiros4 – José Rebelo Adro Antunes, vulgo Zé Bebelo: Símbolo <strong>de</strong> um Novo Ciclo; a Urbanização/IndustrializaçãoIII O NÍVEL MÍTICO/PSÍQUICO1 – O Mito2 – O Processo <strong>de</strong> Individuação3 – Riobaldo Rosa: “O homem mo<strong>de</strong>rno a procura <strong>de</strong> uma alma”4 – Gran<strong>de</strong> Sertão: Vere<strong>da</strong>s como um processo <strong>de</strong> IndividuaçãoI – PrólogoII – Primeiro AtoIII - Segundo AtoIV - Terceiro AtoV – Quarto AtoVI – EpílogoIV ConclusãoV Referências Bibliográficas82TÍTULO: ATIVIDADES EXPRESSIVAS COMO VIA TERAPÊUTICA: UMA POSSIBILIDADE NO TRATAMENTO DAS PSICOSESAUTOR (A): FABIANA BANDEIRA MAIADATA: 1977 - OUTUBROPROFESSOR: ORIENTADOR: MARIA CECÍLIA VILHENA MORAES SILVAASSUNTO: TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO COMO EXIGÊNCIA PARA GRADUAÇÃO NO CURSO DE PSICOLOGIA DA PUC – SÃOPAULOÍNDICEI. IntroduçãoO tratamento e sua trajetória histórica: <strong>da</strong> marginalização à responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s expressivas: uma legítima via terapêuticaTateando a psicose1.3.1 Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> Psicologia Analítica1.3.2 Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> Psiquiatria Clássica1.3.3 Sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> outras abor<strong>da</strong>gensII. Nise <strong>da</strong> Silveira e o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Imagens do IncoscienteIII. MetodologiaIV. AnáliseV. DiscussãoVI. ConclusãoVII. AnexosVIII. Bibliografia83TÍTULO: MÉTODO DO SONHO ACORDADO DE DESOILLE E A TEORIA DA TRANSFERÊNCIAAUTOR (A): ADEMIR PACELLI FERREIRADATA: 1986 - MARÇOPROFESSOR: ORIENTADOR: LUIZ ALFREDO GARCIA ROZAASSUNTO: TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DE ENINO PARA GRADUADOS E PESQUISA DO INSTITUTODE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUIITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO DOGRAU DE MESTRE - UFRJI – INTRODUÇÃOII – O SONHO ACORDADO DE DESOILLE1.1 Dados Biográficos do Autor1.2 A Técnica e o Método1.2.1 A Série <strong>de</strong> Imagens Iniciais1.2.2 As Características <strong>da</strong>s Imagens no SAD1.2.3 A Análise – Um exemplo1.2.4 O SAD, o Inconsciente, o Imaginário e a LinguagemÍNDICE


1811.2.5 Evolução Histórica do SAD1.2.6 O Afloramento <strong>da</strong> Problemática Inconsciente1.2.7 A Integração <strong>da</strong> Problemática Inconsciente1.2.8 A Superação dos Conflitos1.2.9 A Indicação do SADIII – IMAGINÁRIO, IMAGINAÇÃO E FUNÇÃO IMAGINÁRIA2.1 Definição <strong>de</strong> Imaginário2.2 Desejo: do Mo<strong>de</strong>lo Hegeliano a Lacan2.3 O imaginário em Lacan: O estágio do Espelho2.3.1 Or<strong>de</strong>m do Fantasma e Or<strong>de</strong>m do Imaginário2.4 O Imaginário em BachelardIV – A Transferência – Momentos do Conceito no Devir <strong>da</strong> Psicanálise3.1 A Transferência em Freud3.1.1 Transferência como conceito periférico e como interferência na cura psicanalítica3.1.2 O Lugar estratégico <strong>da</strong> transferência na prática psicanalista3.1.3 Sobre a sugestão e a transferência3.1.4 A transferência, suas formas e a estrutura libidinal do sujeito3.1.5 A transferência e a compulsão <strong>de</strong> repetição3.2 A transferência em Jung – A função transcen<strong>de</strong>nte do símbolo3.2 A transferência em Lacan3.3.1 O sujeito suposto sabeV - A Transferência no SAD4.1 Desoille e a questão <strong>da</strong> transferência4.1.1 Exemplo <strong>da</strong> simbolização <strong>da</strong> transferência4.1.2 A questão <strong>da</strong> escuta, <strong>da</strong> interpretação e <strong>da</strong> resistênciaVI – A Trama <strong>da</strong> Transferência no Drama <strong>de</strong> René – Um Exemplo <strong>da</strong> Clínica5.1 Introdução5.2 Dados <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Rene5.3 Observações sobre o primeiro contato com René. O impacto inicial5.4 Sonhos noturnos <strong>de</strong> Rene5.5 Sonhos Acor<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> RenéVII – ConclusãoVIII - Bibliografia84TÍTULO: VOZES DO HOSPÍCIOAUTOR: RICARDO AQUINODATA: SEM DATAASSUNTO: POESIAIDENTIFICAÇÃO- Elegia para ValneiQUEIXA PRINCIPAL- “O trouxeram para o hospício”ANAMNESEQUADRO CLÍNICO- “Os saberes científicos” – “as pare<strong>de</strong>s” – silêncio – <strong>de</strong>sgraça – “o olhar singelo do paciente” – comadre ColôniaPERÍODO DE ESTADO- “No corredor” – “não como” – “percorri a Colônia” – “eu o vi chorando”HISTÓRIA PATOLÓGICA PREGRESSA- Dilema – “ele rodopiou” – menino - impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>ANTECEDENTES FAMILIARES- Crise – nosso tempo – “hoje o hospital” – “os maços <strong>de</strong> cigarro”BIOGRAFIA- “Seu nome é nome <strong>de</strong> outro” - “o asilo é o exílio” – reino do silêncioSÚMULA PSICOPATOLÓGICA- “Meu íntimo” – tagarela – pinel – protesto - ofeganteDIAGNÓSTICO- “Ser maluca” – “tua voz distante” – <strong>de</strong>zembro na Colônia Juliano MoreiraDIAGNÓSTICO DIFERENCIAL- Rainha – suicídio – um homem – <strong>de</strong>spedi<strong>da</strong> - anos – psicopata – pessimista – “chorando ele implorou” – aposentado – alcoolismo –hipocondríaco - catatônicoTRATAMENTO


182- “Na madruga<strong>da</strong>” – <strong>de</strong>stino – sobre vivência “seu engajamento na doençaPROGNÓSTICO85TÍTULO: MANDALAS – UM OLHAR PARA O FUTUROAUTOR (ES): ANA ELISA A L REIS E ROBERTO SILVADATA: 2008ASSUNTO: PROJETO REALIZADO NO ATELIER FERNANDO DINIZIntroduçãoObservação <strong>da</strong> Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>I<strong>de</strong>ntificação do ObjetivoExperimentosPartido AdotadoGeração <strong>de</strong> AlternativasAlternativas Adota<strong>da</strong>sConstruçãoExperimentação FinalConclusãoBibliografiaPessoas Consulta<strong>da</strong>sGratidõesObs: Anexo CDÍNDICE86TÍTULO: NISE , SIMPLESMENTE NISEAUTOR (A): VALQUÍRIA DA PAZDATA: SEM DATAASSUNTO: MATÉRIA PARA JORNAL DE MACEIÓ QUE SE TRANSFORMOU EM LIVROCara Doutora NiseNise, Simplesmente NiseCorações PartidosDe perto ninguém é normalEncontro CósmicoO Mito <strong>de</strong> DafneNatureza e EspíritoUnião dos OpostosO Planetário <strong>de</strong> DeusSUMÁRIO87TÍTULO: “UMA MITOLOGIA INDIVIDUAL” – ESBOÇO DE UMA POSSÍVEL UTILIZAÇÃO DOS CONCEITOS JUNGUIANOS NA ANÁLISE DEALGUMAS VISÕESAUTOR (A): THEREZINHA RUSSODATA: 1971 – JUNHO – RIO DE JANEIRO - PUCASSUNTO: MESTRADO DE PSICOLOGIA – CADEIRA PERSONALIDADESPLANO DE TRABALHOI – O porque <strong>da</strong> escolha do material apresentadoII – Caracterização <strong>de</strong> AJ – as funções <strong>de</strong> consciência que predominam no seu processo <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptaçãoIII – Retração para o centro do Ser – a dor profun<strong>da</strong> <strong>da</strong> per<strong>da</strong>IV – A dissociação – os vários EusV – Eva e o Princípio <strong>de</strong> Sedução – a serpenteVI – A integraçãoVII – A Gran<strong>de</strong> Mãe – a i<strong>de</strong>ntificação com a naturezaVIII – A experiência mística – <strong>de</strong>finição do Si-mesmoIX – ConclusõesX - Bibliografia


18388TÍTULO: INICIAÇÃO À LOUCURA – UM ESTUDOAUTOR: FAUZI ARAPDATA: SEM DATAASSUNTO: MATÉRIA PARA JORNAL DE MACEIÓ QUE SE TRANSFORMOU EM LIVRO89TITULO: A PSIQUIATRA E O ARTISTA: NISE DA SILVEIRA E ALMIR MAVIGNIER ENCONTRAM AS IMAGENS DO INCONSCIENTEAUTOR: JOSÉ OTÁVIO POMPEU E SILVADATA: 2006ASSUNTO: DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE ARTES DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, PARA AOBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE EM ARTESORIENTADORA: PROFA. DRA. LUCIA HELENA REILY1 IIntrodução1.1 A importância <strong>da</strong> Investigação1.2 Espírito <strong>de</strong> uma época1.2.1 A capital <strong>da</strong> República e as artes nas déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 40 e 501.2.2 A produção artística e a psiquiatria1.2.3 Os hospitais psiquiátricos2 O Recontar <strong>de</strong> Uma História2.1 Nise <strong>da</strong> silveira e a terapêutica ocupacional2.2 Um artista como monitor <strong>de</strong> pintura2.3 A escolha dos participantes2.4 O afeto catalisador2.5 O espaço físico e o material usado no ateliê2.6 As exposições e os Congresos2.7 Os Amigos: Mavignier, Serpa, Palatnik; e o mestre Mário Pedrosa2.8 Francisco Brennando visita o ateliê <strong>de</strong> pintura3 Consi<strong>de</strong>rações FinaisAnexos: Matérias <strong>de</strong> Jornal, Excerto <strong>de</strong> transcrição <strong>de</strong> fita <strong>de</strong> entrevista com Almir Mavignier. Questionário.90TITULO: NINGUÉM VAI SOZINHO AO PARAÍSO: O PERCURSO DE NISE DA SILVEIRA NA PSIQUIATRIA DO BRASILAUTOR: WALTER MELO JUNIORDATA: FEVEREIRO DE 2005ASSUNTO: TESE APRESENTADA AO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA SOCIAL DO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DAUNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO COMO REQUISITO PARCIAL PARA A OBTENÇÃO DO TÍTULO DE DOUTOR EMPSICOLOGIA SOCIAL.ORIENTADOR: LUIZ FELIPE BAÊTA NEVES FLORES1 As Três Ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s2 A Escafandrista <strong>da</strong> Substância Infinita3 Atravessando os Desertos com a SantaConsi<strong>de</strong>rações Finais

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