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Ortodontia e Cirurgia Ortognática - do Planejamento ... - Dental Press

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Tópico Especial<strong>Orto<strong>do</strong>ntia</strong> e <strong>Cirurgia</strong> Ortognática –<strong>do</strong> <strong>Planejamento</strong> à FinalizaçãoOrtho<strong>do</strong>ntics and Orthognathic Surgery – from Planning to FinishingEduar<strong>do</strong>Sant´AnaResumoA cirurgia ortognática consolida-secada vez mais como procedimentoseguro e de resulta<strong>do</strong>s previsíveis.O aprimoramento das técnicas cirúrgicas,o desenvolvimento de novosmateriais de fixação e a determinaçãonumérica <strong>do</strong>s padrões de normalidadeda anatomia facial fizeram com queos problemas de recidiva pós-cirurgiafossem minimiza<strong>do</strong>s, tornan<strong>do</strong>-a umprocedimento viável como coadjuvantena resolução das deformidadesdento-faciais em indivíduos adultos.Valen<strong>do</strong>-se da integração entre planejamentoinicial, preparo ortodônticoprévio preciso, osteotomias programadase técnicas de cirurgia cosmética,a cirurgia ortognática caracteriza-secomo procedimento de correção estéticae funcional, proporcionan<strong>do</strong>ao paciente uma oclusão normal etambém harmonia facial. A precisão<strong>do</strong> procedimento é garantida por umprotocolo que deve ser segui<strong>do</strong> paracada paciente, o qual envolve passostécnicos realiza<strong>do</strong>s previamente à cirurgiapropriamente dita. Tais passospossibilitam o diagnóstico, plano detratamento e prognóstico. No presentetrabalho, será detalhada a seqüênciade procedimentos ortodônticos e cirúrgicosenvolvi<strong>do</strong>s em um paciente queserá submeti<strong>do</strong> à cirurgia ortognáticadesde a fase de diagnóstico até a fasede contenção, demonstran<strong>do</strong> as alteraçõesoclusais, esqueléticas e de perfilmole proporcionadas pelo tratamentointerdisciplinar ortodôntico-cirúrgico.DIAGNÓSTICO E PLANEJAMENTOAo primeiro contato com o pacientesão realiza<strong>do</strong>s os procedimentosde anamnese, onde serão colhidasinformações de sua história médicae também da<strong>do</strong>s relevantes quantoao motivo da consulta, estético e/oufuncional e expectativas quanto aotratamento. Para complementar odiagnóstico são solicitadas duas radiografias,uma panorâmica e umatelerradiografia em norma lateral (telede perfil) com os côndilos em relaçãocêntrica, bem como os modelos de gesso.Neste momento é defini<strong>do</strong> qual otipo de deformidade apresentada pelopaciente (retrusão ou protrusão, macroou micrognatia, excesso ou deficiênciavertical, lateroversão) e o plano detratamento, ou seja, se são necessáriasou não extrações, e que modificaçõesósseas serão inferidas na cirurgia.Defini<strong>do</strong> o diagnóstico e plano de tratamento,o paciente é encaminha<strong>do</strong> aoorto<strong>do</strong>ntista para que seja executa<strong>do</strong> opreparo prévio ortodôntico.Palavras-chave:Tratamento integra<strong>do</strong>.<strong>Cirurgia</strong> ortognática. <strong>Orto<strong>do</strong>ntia</strong>em adultos.Eduar<strong>do</strong> Sant´Ana *Marcos Janson *** Professor responsável pela Disciplina de <strong>Cirurgia</strong> da FOB-USP-BAURU; Membro da Advanced OrthognaticSurgery Foundation.** Especialista em <strong>Orto<strong>do</strong>ntia</strong> pela FOB-USP-BAURU.R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003 119


PREPARO ORTODÔNTICO PRÉ-CIRÚRGICO - PLANEJAMENTOO planejamento é a parte maisimportante <strong>do</strong> tratamento, istoé, deve ser estabeleci<strong>do</strong> antes dequalquer procedimento se a discrepânciaesquelética apresentadapelo paciente será tratada cirurgicamente(tratamento orto-cirúrgico)ou compensações dentáriasserão realizadas para “suavizar”as desarmonias faciais (tratamentoortodôntico somente). O tratamentocompensatório difere totalmente<strong>do</strong> cirúrgico, visto que tem comoobjetivo camuflar as discrepânciasesqueléticas por meio de inclinaçõesdentárias, como por exemplonas más oclusões de Classe II comretrusão mandibular, onde sãorealizadas extrações <strong>do</strong>s primeirospré-molares superiores com intuitode eliminar o trespasse horizontal,aceitan<strong>do</strong> os incisivos superioreslingualiza<strong>do</strong>s e os inferiores comdemasiada inclinação vestibular. Nopreparo pré-cirúrgico o raciocínio éinverso, ou seja, as compensaçõesdentárias são eliminadas, as discrepânciasesqueléticas tornam-semais evidentes e são corrigidas noato cirúrgico.Após análise inicial e conferidasas deficiências dento-esqueléticasapresentadas pelo paciente e quaisserão os objetivos a serem atingi<strong>do</strong>sem relação à estética facial, partesepara exame detalha<strong>do</strong> <strong>do</strong>s arcosdentários, onde devem ser conferidasas discrepâncias dento- alveolarespositivas, presença de diastemasnos arcos, e negativas, apinhamentosdentários, confrontan<strong>do</strong> estesda<strong>do</strong>s com a análise cefalométrica,que permite averiguar se os dentesestão bem posiciona<strong>do</strong>s emsuas bases apicais ou se existemcompensações dentárias que “camuflam”as discrepâncias esqueléticas.De acor<strong>do</strong> com a má oclusãopresente, diversas alternativas demovimentação ortodôntica tornamsecabíveis, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong> quese planeja realizar cirurgicamente.Com finalidade de tornar maisclaras e melhor compreendidas,algumas dessas alternativas serãodescritas e divididas de acor<strong>do</strong> coma má oclusão e o reposicionamentodas bases que serão realizadas noato cirúrgico.- Má oclusão de Classe II:Nas más oclusões de Classe IIesqueléticas, os dentes anteriorespodem encontrar-se compensa<strong>do</strong>s,isto é, os incisivos inferioresvestibulariza<strong>do</strong>s e os superioreslingualiza<strong>do</strong>s. Como as discrepânciasesqueléticas serão corrigidascirurgicamente, um <strong>do</strong>s objetivos<strong>do</strong> preparo ortodôntico prévio édescompensar essas inclinações,posicionan<strong>do</strong> melhor os dentes nasbases no intuito de se conseguirfinalizar o caso de acor<strong>do</strong> com osconceitos das 6 chaves de oclusãode Andrews 1 . Para se analisar estasinclinações, pode-se recorreràs análises cefalométricas e seusconceitos de normalidade, sen<strong>do</strong>que os autores se baseiam paraos incisivos inferiores nos ângulosIMPA e 1.NB, enquanto que paraos incisivos superiores são utiliza<strong>do</strong>sos ângulos 1.PP e 1.NA. Umavez diagnosticadas as inclinaçõespresentes, a decisão de se extrairou não dentes nos arcos superiore/ou inferior basear-se-á nas discrepânciasdente-osso negativas oupositivas presentes (apinhamentosou diastemas) e também namovimentação das bases ósseasplanejada para a cirurgia. Dentrodestas variáveis, diversas alternativaspoderão ser utilizadas. Um<strong>do</strong>s fatores primordiais a ser leva<strong>do</strong>em consideração no tratamentocirúrgico da Classe II com retrusãomandibular é a manutenção detrespasse horizontal suficiente paraque se possa realizar o avançomandibular requeri<strong>do</strong>, portanto asextrações de pré-molares inferioressão bem vindas enquanto muitacautela deve proceder a extraçãode dentes superiores. Se no casoestas forem necessárias, a extraçãode segun<strong>do</strong>s pré-molares na maxilae primeiros pré-molares na mandíbulaseria o mais adequa<strong>do</strong> para semanter o trespasse horizontal oumesmo aumentá-lo 2 . É claro queestas são apenas sugestões frenteàs discrepâncias mais comuns,deven<strong>do</strong> o clínico também ter bomsenso nos casos de discrepânciasdente-osso mais severas na maxilaonde a alternativa de extração <strong>do</strong>sprimeiros pré-molares pode tambémse apresentar cabível e maiseficaz. Outro fator a ser avalia<strong>do</strong>na Classe II é a atresia <strong>do</strong> arco superior,que freqüentemente possuiformato mais triangular que namandíbula. Esta atresia na maiorparte das vezes não se apresentaevidente com os dentes oclui<strong>do</strong>s,porém se os modelos forem posiciona<strong>do</strong>scom os molares em ClasseI, simulan<strong>do</strong> a correção cirúrgicavin<strong>do</strong>ura, poder-se-á notar a mordidacruzada que se estabelece nosegmento posterior. Para correçãodesta discrepância podem-se utilizarprocedimentos distintos. Seo paciente apresentar-se em idadefavorável para a expansão rápidada maxila, de preferência no finalda a<strong>do</strong>lescência, com idade inferiora 20 anos 3 , pode-se realizar aexpansão da maxila no tratamentopré-cirúrgico, no entanto, se a idadefor mais avançada, a osteotomiamultisegmentada da maxila durantea cirurgia ortognática é a opçãomais viável, com o intuito de nãoexpor o paciente ao desconforto erisco desnecessário, e também porse tratar de procedimento estávelno pós-tratamento. Outro recursoque pode ser utiliza<strong>do</strong> em algunscasos é o fechamento <strong>do</strong> arco inferiorcom osteotomia de linha médiamandibular. 4- Más oclusões de Classe III:As más oclusões de Classe IIIesqueléticas são caracterizadaspelo posicionamento mais anteriorda mandíbula em relação àmaxila, sen<strong>do</strong> que a discrepânciapode ser causada pela deficiência120 R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003


anterior da maxila, prognatismomandibular excessivo ou a combinaçãode ambos. Assim comonas discrepâncias de Classe II,os dentes tendem a estar comsuas inclinações compensadas,só que de maneira inversa, poisos incisivos superiores podemse encontrar vestibulariza<strong>do</strong>s eos inferiores lingualiza<strong>do</strong>s. Maisuma vez a ênfase deve ser a manutençãode trespasse horizontalsuficiente para que as modificaçõesântero-posteriores da maxilae mandíbula planeja<strong>do</strong>s para oato cirúrgico sejam passíveis deserem realizadas, buscan<strong>do</strong> aharmonia facial <strong>do</strong> paciente. Adescompensação dentária assumeimportância também porquemuda o suporte <strong>do</strong>s lábios. Ten<strong>do</strong>em vista a correção esquelética,os incisivos superiores e inferioresdevem estar com suas inclinaçõescorretas para que os lábiosrepousem adequadamente, comselamento passivo e mostran<strong>do</strong> atonalidade vermelha proporcionalentre superior e inferior.- Discrepâncias Verticais: Nasdiscrepâncias verticais, com alturafacial aumentada, devem ser levadasem consideração as inclinaçõesmaxilares que serão realizadas cirurgicamente.Quan<strong>do</strong> a maxila gira nosenti<strong>do</strong> horário, os incisivos tendema apresentar inclinação excessivapara lingual, portanto no preparoortodôntico procura-se manter torquevestibular mais eleva<strong>do</strong> nessesdentes para que após a reposiçãocirúrgica eles se encontrem em bomposicionamento. Se a rotação damaxila for no senti<strong>do</strong> anti-horário,o raciocínio é inverso, ou seja, osincisivos podem se apresentar maisverticaliza<strong>do</strong>s na base para que expressembom posicionamento apósa cirurgia. Outro detalhe importantenas impacções maxilares é avaliara necessidade de extrações de prémolaressuperiores, pois devi<strong>do</strong> àinclinação presente <strong>do</strong> processoalveolar superior, sua impacçãopode acarretar volume excessivo naparte inferior <strong>do</strong> nariz, protruin<strong>do</strong>em demasia o lábio superior e comalterações desfavoráveis à estéticafacial. Na mordida aberta esqueléticaesta deve ser mantida duranteo tratamento ortodôntico, poden<strong>do</strong>o nivelamento ser realiza<strong>do</strong> em <strong>do</strong>isplanos (anterior e posterior) e asdeformidades corrigidas durante acirurgia.- Assimetrias Unilaterais: Asassimetrias unilaterais podem serdentárias e/ou esqueléticas e a diferenciaçãoentre ambas deve serrealizada meticulosamente, poisAmuitas vezes extrações assimétricasserão necessárias. No exame<strong>do</strong> paciente, primeiro observa-sese existe assimetria fontal da facee posteriormente o relacionamentoda linha média <strong>do</strong>s dentes superiorese inferiores com o plano médioda face. Como exemplo pode sercita<strong>do</strong> o caso de um paciente ClasseII subdivisão direita, que apesar daassimetria no relacionamento dentárionão exibia assimetria esquelética,ou seja, em visão frontal aface apresentava-se simétrica, como mento coincidente com a linhamediana da face. Devi<strong>do</strong> à retrusãomandibular e excesso verticalapresenta<strong>do</strong>, planejava-se avançomandibular e impacção da maxila.Para se estabelecer as chaves deoclusão no pós-cirúrgico manten<strong>do</strong>a simetria frontal da face, foirealizada extração <strong>do</strong> primeiro prémolarinferior esquer<strong>do</strong> para que aClasse II se tornasse bilateral e oavanço fosse feito de forma simétrica.Se essa abordagem não fosserealizada, duas situações poderiamocorrer, ou a face apresentaria assimetriaou o relacionamento oclusalficaria incorreto (Fig. 1A,B,C,D).- Terceiros molares: Os terceirosmolares devem ser observa<strong>do</strong>s tambémde maneira diferente nos casoscirúrgicos, pois em diversas ocasiõessão realizadas extrações somenteno arco superior ou inferior epreven<strong>do</strong> a movimentação cirúrgicadas bases ósseas tem-se que antevera relação nas extremidades <strong>do</strong>sarcos para que nenhum dente fiquesem antagonista, o que provocariaem longo prazo extrusão <strong>do</strong> mesmo,poden<strong>do</strong> prejudicar a estabili-B C DFIGURA1 - A) Visão frontal da face onde nota-se simetria <strong>do</strong> mento com o plano médio da face; B) visão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> direito em oclusão;C) visão frontal <strong>do</strong>s arcos dentários em oclusão com desvio da linha média; e D) visão <strong>do</strong> la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong> em oclusão, demonstran<strong>do</strong>Classe II, primeira divisão, subdivisão direita.R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003 121


dade da oclusão principalmente nosmovimentos protrusivos funcionaisda mandíbula. Um exemplo típicodesta situação é quan<strong>do</strong> o pacienteapresenta Classe II primeira divisão,com retrusão mandibular e apinhamentoinferior. Se forem planejadasextrações de pré-molares inferioressomente, o arco tornar-se-á maiscurto e quan<strong>do</strong> for realiza<strong>do</strong> avançomandibular posicionan<strong>do</strong> os caninosem Classe I o segun<strong>do</strong> molarsuperior ocluirá com o terceiro inferior,portanto pode-se proceder comexo<strong>do</strong>ntia <strong>do</strong>s terceiros molaressuperiores mas devem-se manteros inferiores.Basicamente estas são as situaçõesmais comuns <strong>do</strong>s casoscirúrgicos, porém muitas vezes háuma combinação de fatores na máoclusão apresentada e portantodeve ser coloca<strong>do</strong> em prática to<strong>do</strong>conhecimento <strong>do</strong> orto<strong>do</strong>ntista e<strong>do</strong> cirurgião para se chegar a umconsenso <strong>do</strong> que é melhor paraaquele paciente, levan<strong>do</strong> em consideraçãoa face <strong>do</strong> indivíduo comodeterminante <strong>do</strong> planejamento. Asnoções de estética facial e como oposicionamento dentário pode afetaros teci<strong>do</strong>s moles são desta formaimprescindíveis para o sucesso <strong>do</strong>tratamento.PREPARO ORTODÔNTICO PRÉ-CIRÚRGICO – PRONTO PARA CI-RURGIAO paciente encontra-se prontopara cirurgia quan<strong>do</strong> os arcos dentáriossuperior e inferior estão alinha<strong>do</strong>se nivela<strong>do</strong>s, com ausência decurva de Spee e espaços de eventuaisextrações já fecha<strong>do</strong>s. Neste momento<strong>do</strong> tratamento são realizadasmoldagens superior e inferior (Fig. 2)e verifica-se a oclusão fora da boca,simulan<strong>do</strong> o posicionamento queserá da<strong>do</strong> na cirurgia. Se houvereminterferências oclusais estas devemser corrigidas de imediato, para queo encaixe no momento cirúrgico sejaperfeito. Se forem necessários muitosmovimentos é interessante, apósrealizá-los, proceder com nova moldagem,que estan<strong>do</strong> agora de acor<strong>do</strong>com os objetivos traça<strong>do</strong>s, servirápara confeccionar a cirurgia de modelo.Nestas condições, é importanteque os fios presentes no momentosejam retangulares, de preferência.019” x .025” ou .021” x .025” comganchos solda<strong>do</strong>s ou amarra<strong>do</strong>s aosarcos para propiciar o uso de elásticosintermaxilares no pós-operatórioimediato, sen<strong>do</strong> que o posicionamento<strong>do</strong>s mesmos deve ser racionaliza<strong>do</strong>de acor<strong>do</strong> com os elásticos (ClasseII, Classe III e intercuspidação anteriore posterior) que serão usa<strong>do</strong>s no póscirúrgico. Esses ganchos podemser fios de latão .014” (Fig. 3A) oupré-fabrica<strong>do</strong>s (Fig. 3B.) solda<strong>do</strong>s aofio e Kobayashi .012” (Fig. 3D) ouganchos de amarrilho .012” (Fig. 3E)amarra<strong>do</strong>s aos braquetes.Com o paciente devidamenteprepara<strong>do</strong> orto<strong>do</strong>nticamente, parte-separa o planejamento cirúrgico.Neste momento aplica-se oprotocolo preconiza<strong>do</strong> pelo Dr. G.William Arnett 5,6 que é constituí<strong>do</strong>de análise facial, traça<strong>do</strong> predictivoe cirurgia de modelo precisa.ANÁLISE FACIAL E TRAÇADOPREDICTIVOSabe-se que os teci<strong>do</strong>s duros sãoa base de apoio e de repouso <strong>do</strong>steci<strong>do</strong>s moles. O reposicionamentodas bases ósseas pode alterar drasticamentea estética facial. Assim,conclui-se que o sucesso da cirurgiaortognática está diretamente relaciona<strong>do</strong>à harmonia entre estruturasdento-esqueléticas e componentes<strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s moles. Sob este aspecto,entende-se que seria difícil separara análise facial e o traça<strong>do</strong> predictivoem tópicos distintos. Defini-seanálise facial como o conjunto demensurações e observações frontaise laterais em porções moles da faceA B CD E FFIGURA 2 - A,B,C) Visão intrabucal de um caso de Classe III com mordida aberta pronto para cirurgia; D,E,F) fotos <strong>do</strong>s modelospré-cirúrgicos <strong>do</strong> mesmo paciente, onde verifica-se a oclusão que será estabelecida durante a cirurgia. Neste momento são observadasquaisquer interferências que porventura possam estar presentes, e se for o caso alguma movimentação ortodôntica pode sernecessária antes da cirurgia.122 R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003


tais como comprimento da base alarnasal, espessura <strong>do</strong>s lábios superiore inferior, suporte da ponta <strong>do</strong> nariz,contorno zigomático e espaço interlabial.Também se observam a inclinação<strong>do</strong> plano maxilar (feito com opaciente morden<strong>do</strong> espátula de madeirana região <strong>do</strong>s caninos superioresou molares e comparan<strong>do</strong>-a coma linha virtual das pupilas) (Fig.4),relação entre as linhas médias dentáriase da face, posicionamento <strong>do</strong>mento e exposição <strong>do</strong>s incisivoscentrais superiores com o lábio emrepouso e no sorriso (Fig. 5).O traça<strong>do</strong> predictivo consiste detraça<strong>do</strong> cefalométrico simplifica<strong>do</strong>feito em papel de acetato sobretelerradiografia de perfil ou em programasde computa<strong>do</strong>r. A 9 cm daporção mais proeminente da frontetraça-se uma linha que deve passarpela região sub-nasal tangencian<strong>do</strong>o lábio superior. A esta linha chamamosde True Vertical Line (TVL) 6ou Linha Vertical Verdadeira. Apartir dela são feitas medidas ântero-posterioresque representama posição <strong>do</strong>s teci<strong>do</strong>s moles sobreos teci<strong>do</strong>s duros. Observa-se no esquemaabaixo (Fig. 6) os pontos daface (em vermelho) utiliza<strong>do</strong>s nasmensurações, bem como os valoresde referência (absolute values). Adistância horizontal para cada limiteindividual, medidas perpendicularesà TVL, é chamada de “valorlimite absoluto”. É interessantedestacar que as análises faciaissão feitas a partir <strong>do</strong> perfil mole,demonstran<strong>do</strong> a preocupação emse restabelecer a harmonia facial<strong>do</strong> paciente.Tanto na análise facial quantona análise radiográfica <strong>do</strong> traça<strong>do</strong>predictivo, obtêm-se valores numéricosna avaliação. Estes valoresdevem ser compara<strong>do</strong>s às medidasABCFIGURA 3 - Tipos de ganchos que podem ser utiliza<strong>do</strong>s no preparo pré-cirurgico; A)fios de latão .014” solda<strong>do</strong>s ao arco; B) fios de latão pré-fabrica<strong>do</strong>s pressiona<strong>do</strong>s ousolda<strong>do</strong>s ao arco; C) Kobayashi .012” amarra<strong>do</strong>s aos braquetes; D) fios de amarrilho.012” amarra<strong>do</strong>s aos braquetes.DFIGURA 4 - Análise da inclinação <strong>do</strong> planoda maxila com a paciente morden<strong>do</strong>espátula de madeira ou régua na região<strong>do</strong>s caninos superiores ou primeiros molares.PROJECTIONS TO TVLTVLG -9 -8-19 -22 OR21-25 CB-15 -18 SP-13 -15 AB-9 -12 Mx1 - TVL-12-15 Md1 - TVLABSOLUTEVALUESNTSnAULA 4LLA 2B1600-5Pog -3170032-7-4AFIGURA 5 - Análise <strong>do</strong> sorriso A) em repouso e; B) sorrin<strong>do</strong>.BFIGURA 6 - Pontos de mensuração em relaçãoà TVL e seus valores de referência.R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003 123


padrão estabelecidas pelo Dr. G.William Arnett 5,6 . Nestes trabalhosforam estabeleci<strong>do</strong>s padrões numéricosde harmonia facial para indivíduosleucodermas e a partir delesforam elaboradas fichas para estasanálises. Assim é possível que o cirurgiãoanote os valores obti<strong>do</strong>s deseus pacientes e já os compare comos valores padroniza<strong>do</strong>s, possibilitan<strong>do</strong>estabelecer numericamentequal o tipo de deficiência apresentadapelo paciente e o quanto se devealterar as bases ósseas (em mm)para que se faça a correção.Com uma segunda folha deacetato ou com o auxilio de softwarepara predicção, faz-se umsegun<strong>do</strong> traça<strong>do</strong> sobre o primeiro,corrigin<strong>do</strong>-se os valores, obten<strong>do</strong>seo prognóstico <strong>do</strong> perfil facialpós-cirúrgico. Ressalta-se que nemsempre as movimentações das basesósseas alteram os teci<strong>do</strong>s molesna mesma proporção. Segun<strong>do</strong>Epker, Stella, Leward 4 e Epker 7 , osvalores de mudança <strong>do</strong> perfil molefrente ao reposicionamento da maxilae mandíbula são os seguintes:no avanço da maxila temos 20% <strong>do</strong>valor total de avanço na região <strong>do</strong>teci<strong>do</strong> mole sobre a espinha nasalanterior, 45% na região sobre o rebor<strong>do</strong>alveolar e 60% na região <strong>do</strong>sincisivos superiores; já no avançoda mandíbula, tem-se 100% deavanço <strong>do</strong> teci<strong>do</strong> mole sobreposto.Exemplifican<strong>do</strong>, proceden<strong>do</strong>-se umavanço de 10,0mm na maxila,tem-se 2,0mm de avanço na basealar nasal haven<strong>do</strong> a elevação daponta <strong>do</strong> nariz; 4,5mm no buço e6,0mm no lábio superior. A mesmaconduta na mandíbula representariaum avanço de 10,0mm no lábioinferior e mento. Estes valores sãoreais quan<strong>do</strong> faz-se o avanço puroda maxila, sem alterar sua inclinação.Caso o cirurgião queira apenaso avanço da espinha nasal anteriorsem alterar a posição <strong>do</strong>s incisivos,promoven<strong>do</strong> o aumento da basealar nasal e da dimensão vertical ounos casos onde há plano oclusal inverti<strong>do</strong>,pode-se proceder com a inclinação<strong>do</strong> plano oclusal da maxila.Neste caso faz-se uma impacçãoda região posterior, diminuin<strong>do</strong>-sea distância <strong>do</strong>s molares superioresem relação à base <strong>do</strong> crânio, massem alterar a altura <strong>do</strong> incisivo. Esteprocedimento permite também quea mandíbula tenha um recuo maisefetivo (nos casos de prognatismomandibular), visto que ela irá deslocar-separa trás e para cima, ocorren<strong>do</strong>diminuição da proeminência<strong>do</strong> mento, aumento da dimensãovertical e tensionamento da peleda região cervical, evitan<strong>do</strong>-se oaparecimento de <strong>do</strong>bras geradaspelo recuo no senti<strong>do</strong> horizontal. Oinverso é váli<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> se pretendeprotuir o mento <strong>do</strong> paciente de formanatural sem precisar de grandeavanço <strong>do</strong> mesmo, pois a estéticafacial é beneficiada quan<strong>do</strong> não seavança muito a base <strong>do</strong> mento.Caso o paciente apresente deficiênciana curva mento-labial,mesmo com inclinação vestibularadequada <strong>do</strong>s incisivos inferiores,é possível fazer avanço <strong>do</strong> mento,promoven<strong>do</strong>-se progressão, namesma proporção, <strong>do</strong> pogônio molee diminuin<strong>do</strong> a flacidez cutâneana região submentoniana. Esteartifício é muito utiliza<strong>do</strong> nas correçõesde pacientes micrognatas,que apresentam colapso <strong>do</strong> terçomédio facial. Para alguns casos énecessário a colocação de prótesesintética (POREX®) para se recuperaro contorno e o aumento <strong>do</strong>zigoma (maçã <strong>do</strong> rosto) em pacientesque apresentem má-oclusão <strong>do</strong>stipos classe II ou III de Angle comdeficiência maxilar e de contornozigomático.CIRURGIA DE MODELOObti<strong>do</strong>s os valores das basesósseas a serem corrigidas no perfil,parte-se para a simulação tridimensionalda correção da oclusão. Comos modelos de gesso atuais previamentemonta<strong>do</strong>s em articula<strong>do</strong>rsemi-ajustável são feitas medidas,em uma mesa com paquímetro digital,da porção <strong>do</strong> modelo correspondenteà maxila <strong>do</strong> paciente. Algunsautores já provaram que a cirurgiade modelo confeccionada com aferiçãode instrumentos digitais, semdúvida é mais precisa, propician<strong>do</strong>maior fidelidade <strong>do</strong>s valores dereferência obti<strong>do</strong>s em laboratóriodurante a cirurgia ortognática, propician<strong>do</strong>excelente pós-operatórioe resulta<strong>do</strong>s condizentes ao planejamentoinicial de cada paciente 8 .São mensuradas a altura <strong>do</strong> incisivocentral superior esquer<strong>do</strong>, primeirosmolares, linha média (com o la<strong>do</strong> esquer<strong>do</strong>volta<strong>do</strong> para baixo) e relaçãoântero-posterior. O modelo é serra<strong>do</strong>e guia<strong>do</strong> para a nova posição aplican<strong>do</strong>-seos valores de correção.Terminan<strong>do</strong> o reposicionamento, omodelo é fixa<strong>do</strong> com cera e recoloca<strong>do</strong>no articula<strong>do</strong>r. Tem-se agoraa nova posição da maxila, poréma porção <strong>do</strong> modelo correspondenteà mandíbula está intacta. Pode-seentão confeccionar o splint ou guiacirúrgico em resina acrílica, que seráresponsável em guiar a maxila parasua nova posição em relação à base<strong>do</strong> crânio durante a cirurgia.ATO CIRÚRGICOCom o paciente sob anestesiageral, o cirurgião deve seguir to<strong>do</strong>sos passos estabeleci<strong>do</strong>s no planejamento.Cabe a ele executar asosteotomias programadas para aliberação das bases ósseas e conduçãoà nova posição. Alguns procedimentoscomplementares podemser utiliza<strong>do</strong>s caso seja necessário.Estes procedimentos nada mais sãoque técnicas de cirurgia cosmética,tais como: lipectomia de bochecha,aumento da espessura <strong>do</strong> lábio superior(V/Y de lábio), fechamentoda base alar nasal, mentoplastia ecolocação de próteses sintéticas; evisam a melhoria funcional <strong>do</strong> sistemaestomatognático e demarcação<strong>do</strong>s contornos faciais. No protocolocirúrgico as 3 osteotomias básicassão utilizadas em cirurgia ortognáti-124 R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003


ca. A partir delas é possível corrigira grande maioria de deformidadesdento-faciais. Serão descritas a seguir,passo a passo, as técnicas cirúrgicaspara osteotomia da maxilae da mandíbula:- Osteotomia Le Fort I da maxila:incisa-se o fun<strong>do</strong> de sulco vestibular,a partir da mesial <strong>do</strong> 1º molarsuperior em direção à linha média,terminan<strong>do</strong> na mesial <strong>do</strong> 1° molarsuperior <strong>do</strong> la<strong>do</strong> oposto. Descola-seo teci<strong>do</strong> mole e mucosa nasal, afimde expor to<strong>do</strong> o teci<strong>do</strong> ósseo livrede periósteo. Com o auxílio de umaserra reciprocicante, faz-se a diérese<strong>do</strong> teci<strong>do</strong> duro, inician<strong>do</strong> pela fossapterigomaxilar, passan<strong>do</strong> pelo pilarzigomático e parede anterior <strong>do</strong>seio maxilar e finalizan<strong>do</strong> no pilarcanino, bilateralmente. Libera-se aregião posterior da maxila <strong>do</strong> processopterigóideo <strong>do</strong> osso esfenóide,utilizan<strong>do</strong>-se de cinzél e martelo.Com toda a maxila liberada de seuspilares, realiza-se seu rebaixamentoatravés de pressão manual sobrea espinha nasal anterior. Nestemomento, to<strong>do</strong> o bloco é nutri<strong>do</strong>apenas pela mucosa da região posteriore pelas artérias palatinas descendentes.Esta técnica é utilizadapara a correção das retrusões maxilarese <strong>do</strong>s excessos de crescimentovertical, pois é possível visualizar amaxila no seu interior, permitin<strong>do</strong>o recorte <strong>do</strong> processo piramidalpara impacção posterior e avançoda espinha nasal anterior. Tem-setambém acesso à porção inferior damucosa nasal caso seja necessária arealização de turbinectomia.- Osteotomia multissegmentarda maxila: este procedimento é indica<strong>do</strong>com bastante segurança noscasos que necessitam de correçãoda discrepância transversa e ânteroposteriorou súpero-inferior, poden<strong>do</strong>resolver em um só procedimentoas alterações nos três planos <strong>do</strong>espaço. Realiza-se a incisão labialna maxila, de túber a túber, posteriormentefaz-se osteotomia tipoLe Fort I com to<strong>do</strong>s os seus passosnormais. Executa-se a osteotomiainterdental entre os dentes 12-13e 22-23, que se estende nas fossasnasais paramedianamente ao septonasal, antes da maxila ser rebaixada(Figs. 7A, B). No ato operatório,o paciente estará com aparelhofixo monta<strong>do</strong> com arco retangularjá segmenta<strong>do</strong> entre os laterais ecaninos. Os segmentos serão entãomobiliza<strong>do</strong>s preservan<strong>do</strong>-se a gengivainserida e a saúde perio<strong>do</strong>ntal,bem como a integridade da mucosa<strong>do</strong> palato 9 .- Osteotomia sagital <strong>do</strong> ramo ascendenteda mandíbula redefinida 10 :esta técnica é utilizada nas correções<strong>do</strong>s prognatismos mandibulares,pois permite o deslocamento ântero-posteriore látero-lateral damandíbula sem que haja sobrecargacondilar. Com uma incisão de aproximadamente3,0 cm estenden<strong>do</strong>-seda mesial <strong>do</strong> 2º molar em direçãoposterior, expõe-se to<strong>do</strong> o ramoascendente e trígono retromolar.Desgasta-se a linha oblíqua interna,obten<strong>do</strong>-se completa visualizaçãoda língula, região na qual ocorre aentrada <strong>do</strong> feixe vásculo-nervosoalveolar inferior. Protege-se o nervoe realiza-se um corte horizontal,com serra, no pilar interno <strong>do</strong> ramoascendente. Coloca-se a mesmaem posição vertical, descen<strong>do</strong> umcorte sobre a linha oblíqua externaaté a região <strong>do</strong> 1º molar inferior.Novamente em posição vertical, fazsea diérese da base da mandíbula.Inicia-se o corte da base envolven<strong>do</strong>as corticais vestibular e lingual porcerca de 5,0 mm em direção aorebor<strong>do</strong> alveolar e deve apenas limitar-seà cortical vestibular até unir-seao corte horizontal. Como o corte érealiza<strong>do</strong> sobre a entrada <strong>do</strong> feixevásculo-nervoso alveolar inferior ecorre vestibularmente a ele, sua integridadeé preservada evitan<strong>do</strong>-sequalquer tipo de parestesia permanentena mandíbula.As bases ósseas são fixadascom miniplacas e miniparafusos detitânio, presos somente na corticalvestibular, evitan<strong>do</strong>-se tambémqualquer injúria à estruturas vascularese nervosas. Os materiaispara osteossíntese feitos de titâniogarantem fixação sem rigidez devi<strong>do</strong>à maleabilidade <strong>do</strong> material, fatoeste importante para evitar-se a sobrecargae a reabsorção condilar.Para a finalização <strong>do</strong> tratamento,o paciente utiliza contenção intermaxilarcom elásticos 5/16 seguin<strong>do</strong>a seguinte prescrição na maioria <strong>do</strong>scasos: na 1ª semana a contenção érígida, impedin<strong>do</strong> a abertura bucal; apartir da segunda semana o pacientepassa a utilizar apenas 3 elásticos nosenti<strong>do</strong> <strong>do</strong>s movimentos por mais 4semanas, deven<strong>do</strong> apenas serem retira<strong>do</strong>spara a alimentação; após esteperío<strong>do</strong>, o uso <strong>do</strong>s elásticos torna-seapenas noturno até que se completea fase de maturação óssea (entre 60a 90 dias).AFIGURA 7A - Foto da osteotomia multissegmentarda maxila antes de serabaixada.BFIGURA 7B - Visão superior da osteotomiamultisegmentar da maxila jáabaixada.CONSIDERAÇÕES ORTODÔN-TICAS PÓS-CIRÚRGICASGeralmente os 45 primeiros diasseguintes à cirurgia são acompanha<strong>do</strong>spelo cirurgião, onde é controla<strong>do</strong>o uso <strong>do</strong>s elásticos intermaxilares eestabilidade pós-operatória. Após esteperío<strong>do</strong>, levan<strong>do</strong> em consideração oR <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003 125


conforto <strong>do</strong> paciente, a diminuição <strong>do</strong>edema e abertura bucal suficiente, jáé possível ao orto<strong>do</strong>ntista dar prosseguimentoà terceira etapa <strong>do</strong> tratamentoque dura aproximadamentede 6 a 8 meses, dependen<strong>do</strong> <strong>do</strong>sajustes que forem necessários parafinalizar o detalhamento da oclusão.Esta terceira fase consiste <strong>do</strong>s seguintesprocedimentos, nem sempre nestamesma ordem:1) Recolagem e resoldagem <strong>do</strong>sacessórios que porventura tenhamse quebra<strong>do</strong>;2) Recolagem de braquetes emnovas posições nos casos de maxilamultisegmentada;3) Procedimentos de nivelamentose estes forem necessários;4) Uso de elásticos intermaxilares;5) Fechamento de diastemas;6) Intercuspidação;7) Remoção e contenção.Basicamente, pode-se pensarno tratamento pós-cirúrgico, apósa fase crítica de contenção, comoorto<strong>do</strong>ntia convencional, onde ofoco se concentra no detalhamentoda oclusão visan<strong>do</strong> as 6 seis chavesde oclusão de Andrews e a oclusãomutuamente protegida preconizadapor Roth 11 , buscan<strong>do</strong> coincidênciada relação cêntrica com a máximaintercuspidação habitual, guia noscaninos nos movimentos lateraismandibulares e guia anterior paradesoclusão <strong>do</strong>s dentes posterioresdurante a protrusão mandibular.Portanto to<strong>do</strong>s os procedimentosrotineiros que usualmente fazemparte da estratégia ortodônticapodem e devem ser emprega<strong>do</strong>s,inclusive utilizan<strong>do</strong>-se os mesmospotenciais de força 4 .- Freqüência das consultas nopós-cirúrgico: Logo depois de libera<strong>do</strong>pelo cirurgião, o pacientepode ser marca<strong>do</strong> para a primeiraconsulta ortodôntica de imediato.É interessante observar o pacienteem pequenos intervalos no primeiromês, uma ou duas semanas entre asconsultas, para se averiguar qualquerinstabilidade cirúrgica que possa estarocorren<strong>do</strong> principalmente quan<strong>do</strong> oselásticos pós-cirúrgicos são descontinua<strong>do</strong>s.Frente à estabilidade observada,prossegue-se com o agendamentorotineiro, em média de quatrosemanas entre as consultas.- Contenção: A fase de contençãocorresponde aos mesmosprocedimentos executa<strong>do</strong>s para opaciente ortodôntico convencional,sen<strong>do</strong> que os autores utilizam a placade Hawley no arco superior 24horas nos primeiros 6 meses e mais6 meses com o uso noturno. Noarco inferior é utilizada a contençãofixa 3x3 com fio de aço inoxidávelde .028 polegadas.RELATO DE CASO CLÍNICOPara melhor ilustrar este tópico,será demonstra<strong>do</strong> um caso clínicono qual integraram-se a <strong>Orto<strong>do</strong>ntia</strong>e a <strong>Cirurgia</strong> Ortognática. Optou-sepor um caso de retrognatismo mandibularassocia<strong>do</strong> a excesso verticalmaxilar, pois nestes casos há modificaçõessubstanciais no perfil facial.Em análise clínica lateral da paciente(Fig. 8), nota-se a retrusão <strong>do</strong> terçomédio facial definida pela longaproeminência <strong>do</strong> nariz, depressãoe aplainamento da rima orbitária,pobre suporte <strong>do</strong> lábio superior dadaa ausência de curva naso-labial esulcos naso-genianos acentua<strong>do</strong>s. Aausência de mento causava o colapso<strong>do</strong> terço médio facial, promoven<strong>do</strong><strong>do</strong>bras na pele da região cervical esubmentoniana além de retrusãoacentuada da mandíbula e <strong>do</strong> mento,linha queixo pescoço bastante diminuída,e mostran<strong>do</strong> demasiadamenteos incisivos superiores em repouso.No exame intrabucal nota-se aposição posterior <strong>do</strong>s 1º molares ecaninos inferiores em relação aosmesmos dentes <strong>do</strong> arco superior,caracterizan<strong>do</strong> má-oclusão de ClasseII de Angle, ausência (devi<strong>do</strong> a extraçãopor lesão cariosa extensa) <strong>do</strong>segun<strong>do</strong> pré molar inferior esquer<strong>do</strong>e canino superior esquer<strong>do</strong> reti<strong>do</strong>(Fig. 9 A, B, C).Traçan<strong>do</strong>-se a TVL, constatou-senumericamente as anomalias avaliadasclinicamente. Propôs-se à pacienteos seguintes procedimentos:- Extração <strong>do</strong>s primeiros pré molaressuperiores e segun<strong>do</strong> pré molarFIGURA 8 - Aspecto pré-operatório lateralda face.A B CFIGURA 9 - A) Visão clínica inicial lateral direita; B) frontal e; C) lateral esquerda.126 R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003


inferior esquer<strong>do</strong> com objetivo de diminuira biprotrusão dento alveolar;- Tracionamento e nivelamento<strong>do</strong> canino superior esquer<strong>do</strong>;- Osteotomia da maxila, comgrande impacção posterior e anteriorbilateral sem necessidade deAexpansão transversal;- Osteotomia sagital <strong>do</strong> ramoascendente da mandíbula;- Mentoplastia de avanço 8 ;- Turbinectomia, lipectomia debochecha e aumento da espessura<strong>do</strong> lábio superior.FIGURA 10 - A) Fotografia inicial da lateral direita da face; B) Fotografia final da lateraldireita da face. Notar o equilíbrio sagital das bases ósseas após rotação da mandíbulano senti<strong>do</strong> anti-horário, decorrente da impacção maxilar, e <strong>do</strong> avanço <strong>do</strong> mento.BApós a realização da fase cirúrgica,a paciente utilizou elásticosintermaxilares esquelético e dentáriodurante 3 meses. Ao avaliá-lano pós-cirúrgico de 1 ano, faz-se asseguintes considerações:- A reposição superior da maxilapermitiu melhorar o suporte <strong>do</strong>lábio superior e ápice nasal, diminuin<strong>do</strong>a profundidade <strong>do</strong>s sulcosnaso-genianos, com formação desulco naso-labial e melhor posicionamentolabial ;- A rotação mandibular para anteriore superior corrigiu o retrognatismo,diminuiu a dimensão vertical,aumentan<strong>do</strong> também a linha mentopescoço (Fig. 10 A, B) e posicionouos caninos e molares nas chaves normaisde oclusão (Fig. 11 A, B, C);- O avanço <strong>do</strong> mento corrigiu aausência de curva mento-labial;- Houve demarcação <strong>do</strong>s contornos<strong>do</strong> arco zigomático (maçã<strong>do</strong> rosto) e base mandibular coma remoção <strong>do</strong> corpo adiposo da bochecha(lipectomia) (Fig. 12 A,B);A B CFIGURA 11 - A) Visão clínica final da lateral direita; B) frontal e; C) lateral esquerda.ABFIGURA 12 - A) Fotografia inicial frontalem repouso; B) Fotografia final frontalem repouso. Notar a demarcação <strong>do</strong>scontornos <strong>do</strong> arco zigomático (maçã <strong>do</strong>rosto) e base mandibular após a remoção<strong>do</strong> corpo adiposo da bochecha (lipectomia).R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003 127


A B CFIGURA 13 - A) Aspecto frontal <strong>do</strong> sorriso pré-tratamento. Notar a quantidade excessiva de gengiva aparente. B) Aspecto frontal <strong>do</strong>sorriso pós tratamento. Observar a diminuição significante da quantidade de gengiva aparente após a impacção de 9 mm da maxila;C) Fotografia produzida da paciente 1 ano após o término <strong>do</strong> tratamento.- A remoção <strong>do</strong>s cornetos nasaisinferiores (turbinectomia) liberou arepiração;- O procedimento cirúrgico propicioudiminuição significante nosorriso gengivoso, característicaesta enfatizada pela paciente comodesagradável (Fig. 13 A,B,C).CONSIDERAÇÕES FINAISAo contrário <strong>do</strong> que possa parecer,a cirurgia ortognática não é umprocedimento impreciso ou precipita<strong>do</strong>.Atualmente pode-se resolvera grande maioria das deformidadesdento-faciais com segurança e previsibilidade,permitin<strong>do</strong> ao pacienteo retorno às suas atividades laboraisem 2 semanas. De maneira geralo fator estético é mais relevanteem relação ao fator funcional paraa maioria <strong>do</strong>s indivíduos, o quecontra-indica apenas o tratamentoortodôntico para a correção das deformidadesdento-esqueléticas comgrande comprometimento facial emadultos. Assim, a cirurgia ortognáticatorna-se uma realidade naO<strong>do</strong>ntologia, garantin<strong>do</strong> completorestabelecimento estético e funcional<strong>do</strong>s pacientes. Um correto diagnósticorealiza<strong>do</strong> pela análise faciale radiográfica, manipulação <strong>do</strong>smodelos de gesso e plano de tratamentoconjunto entre orto<strong>do</strong>ntista ecirurgião bucomaxilofacial determinamo procedimento integra<strong>do</strong> maisoportuno para a correção isolada ouconjunta das discrepâncias esqueléticas<strong>do</strong>s maxilares.AGRADECIMENTOSAgradecemos ao Dr. CesarAugusto Mattos pela colaboraçãoneste trabalho.AbstractThe orthognatic surgery has beenconsidered in the last years as asafe and predictable procedure.The improvement in surgicaltechniques, the development ofnew fixation materials and thenumeric determination of facialanatomy normality patternsminimized post-surgical relapse,making it possible as a viablehelping procedure to the resolutionof dento-facial deformities inadult patients. Taking intoaccount the integration amonginitial planning, precise previousortho<strong>do</strong>ntic prepare, programme<strong>do</strong>steotomies and cosmetic surgerytechniques, orthognatic surgerycan be described as an esthetic andfunctional correction procedure,providing the patient a normalocclusion and facial harmony, aswell. The procedure preciseness isguaranteed by a protocol that mustbe followed by each patient, whichinvolves technical steps performedpreviously to the surgery itself.These steps allow the diagnosis,treatment planning and prognosisof the cases. In the present study,the sequence of ortho<strong>do</strong>ntic andsurgical procedures performedto the treatment of a patientsubmitted to orthognatic surgerysince diagnostic stage untilortho<strong>do</strong>ntic retention will bedescribed, demonstrating theocclusion, skeletal and soft tissueprofile modifications providedby interdisciplinary ortho<strong>do</strong>nticsurgicaltreatment.Key words: Orthognatic surgery.Interdisciplinary treatment. Adultortho<strong>do</strong>ntics.128 R <strong>Dental</strong> <strong>Press</strong> Orto<strong>do</strong>n Ortop Facial, Maringá, v. 8, n. 3, p. 119-129, maio/jun. 2003


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