Daniela Matera do Monte Lins Gomes - PPG-PMUS - Museu de ...
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FOLHA DE APROVAÇAOUm artista <strong>de</strong>svenda o 'Labirinto':a fraseologia <strong>do</strong>cumental <strong>de</strong> Hélio Oiticica aplicadaà sua produçãoDissertação <strong>de</strong> Mestra<strong>do</strong> submetida ao corpo <strong>do</strong>cente <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong>Pósgraduação em Museologia e Patrimônio, <strong>do</strong> Centro <strong>de</strong> Ciências Humanase Sociais da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro – UNIRIO e<strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Astronomia e Ciências Afins – MAST/MCT, como parte <strong>do</strong>srequisites necessários à obtenção <strong>do</strong> grau <strong>de</strong> Mestre em Museologia ePatrimônio.Aprovada por:Profa. Dra. _________________________________________Irene V. SmallUniversity of Illinois, Urbana-Champaign/USA.Profa. Dra. _________________________________________Lena Vania Ribeiro PinheiroInstituto Brasileiro <strong>de</strong> Informação em Ciência e Tecnologia, IBICT (e <strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong>).Profa. Dra. _________________________________________Diana Farjalla Correia LimaUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro, UNIRIO (<strong>PPG</strong>-<strong>PMUS</strong>).Rio <strong>de</strong> Janeiro, marco <strong>de</strong> 2012
Antes <strong>de</strong>le, não existia o êxtase …
SUMÁRIOApresentação: Diante <strong>do</strong> Labirinto 101.E teu amor eu guar<strong>do</strong> aqui... 132.Unin<strong>do</strong> os fios soltos 212.1 Os escritos <strong>do</strong>s artistas e a urgência <strong>de</strong> uma nova arte 252.2 A <strong>de</strong>nominação da Obra <strong>de</strong> Arte e a Informação em Arte 332.3. O pioneirismo em Documentação da Arte: GettyFoundation e o <strong>Museu</strong>m Prototype Project 402.4 O Artista Universal 453.Aspiran<strong>do</strong> ao gran<strong>de</strong> labirinto3.1 Objetivo geral e Objetivos específicos 513.2 Meto<strong>do</strong>logia 534.Apropriar-se... a eleição pelo afeto 554.1 Apropriação das ‘coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>’: processos <strong>de</strong>musealização e processo <strong>de</strong> significação estética 584.2 O Artista-Inventor 685. Per<strong>de</strong>r-se... o labirinto <strong>de</strong> Oiticica, a construção <strong>de</strong> sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong>fios soltos e a fraseologia oiticiana como guia. 725.1 Dos Labirintos à fita <strong>de</strong> Moebius 735.2 Whitechapel Experience 785.3 Termos e Conceitos Oiticianos: a fraseologia <strong>de</strong> Oiticica 82
6.Encontrar-se... os fios soltos, <strong>de</strong>finin<strong>do</strong> as classes <strong>de</strong> Oiticica 946.1 Delimitan<strong>do</strong> o espaço concreto através da linguagem: osinventos <strong>de</strong> Hélio Oiticica 957.Criar-se e recriar-se... gênese e apocalipse: como per<strong>de</strong>r-se no jardim<strong>do</strong> É<strong>de</strong>n e encontrar-se pela Informação em Arte. 138Referências
Agra<strong>de</strong>cimentosA cada passo da<strong>do</strong> em direção às <strong>de</strong>scobertas oiticianas é um passo emdireção a gratidão. Mais <strong>do</strong> que um agra<strong>de</strong>cimento, quero expressar a minhaenorme gratidão a to<strong>do</strong>s que colaboraram, direta e indiretamente, com opresente estu<strong>do</strong>.À minha querida orienta<strong>do</strong>ra, Diana Farjalla Correia Lima, umaverda<strong>de</strong>ira mestra que soube com muita generosida<strong>de</strong> pegar em minha mão eme ajudar a passar por este labirinto sem ser <strong>de</strong>vorada.Aos amigos <strong>do</strong> Projeto Hélio Oiticica que ouviram com atenção to<strong>do</strong>s os<strong>de</strong>vaneios que este artista po<strong>de</strong> proporcionar, em especial, a Ariane Figueire<strong>do</strong>que como Ariadne <strong>de</strong> Teseu guarda com apreço o precioso arquivo <strong>de</strong> Oiticica,além <strong>de</strong> conhecer meios <strong>de</strong> entrar-e-sair.Aos professores e colegas da turma <strong>de</strong> 2011 <strong>do</strong> Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Museologia e Patrimônio <strong>de</strong>sta universida<strong>de</strong>, em especial aoscolegas, Antonio Carlos, Anna Thereza, Emerson Castilho e Eliane Frenkel.Meus sentimentos <strong>de</strong> gratidão a César e Claudio Oiticica que guardamcom muito amor e carinho o lega<strong>do</strong> <strong>de</strong> seu irmão e com generosida<strong>de</strong> abremas portas a to<strong>do</strong>s os pesquisa<strong>do</strong>res.Ao amigo Luciano Figueire<strong>do</strong> que, com carinho e atenção, me ensinou aver Hélio Oiticica e auxiliou durante toda esta caminhada.Aos amigos <strong>do</strong> Instituto Brasileiro <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s que aguentaram por umano uma profissional apaixonada por um artista. Em especial, agra<strong>de</strong>ço àJacqueline Assis, à Monica Muniz Melhem, à Cícero Antônio Fonseca <strong>de</strong>Almeida, Felipe Evangelista, e a querida amiga Lucia Ibrahim, que sempre meaconselharam a ir em frente em tempos <strong>de</strong> dúvidas e receios.Ao ama<strong>do</strong> mari<strong>do</strong>, Fabio Farias <strong>Gomes</strong>, sem o qual nenhuma conquistateria este <strong>do</strong>ce gosto. À compreensão pelas ausências e por me ouvir dissertartantas vezes sobre Oiticica.
Aos meus queri<strong>do</strong>s pais, Marilena e Antoninho, que me ensinaram asentir aquilo que nem sempre os olhos po<strong>de</strong>m enxergar.Ao meu irmão, que mesmo <strong>de</strong> longe, presentifica a força e perseverança<strong>de</strong> caminhar caminhos as vezes solitários.A minha avó, Maria Stella <strong>Matera</strong> (in memoriam) por ter me da<strong>do</strong>consciência <strong>de</strong> que o me<strong>do</strong> <strong>do</strong> <strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> é apenas um ponto <strong>de</strong> vista.Ao glorioso Deus que nos inspira através <strong>do</strong> sopro da vida.
ApresentaçãoDiante <strong>do</strong> LabirintoA experiência obtida nos últimos sete anos no Projeto Hélio Oiticica(PHO),o contato direto com seu acervo, tanto <strong>de</strong> caráter artístico quanto<strong>do</strong>cumental, a participação na equipe <strong>de</strong> contatos curatoriais eacompanhamento técnico e museológico técnico para exposições individuais ecoletivas no Brasil e no exterior tem si<strong>do</strong> fundamental para o estu<strong>do</strong> da“fraseologia”, linguagem especial <strong>do</strong> artista.Apesar <strong>de</strong> diversos críticos chamarem atenção para a práticaorganizacional <strong>de</strong>ste artista, e, sobretu<strong>do</strong> para a criação <strong>de</strong> <strong>de</strong>nominaçõesdistintas ao campo da Arte para seus ‘inventos’, poucos se <strong>de</strong>tiveram emi<strong>de</strong>ntificá-lo para além da arte, o aproximan<strong>do</strong> ao modus operandi quenormalmente profissionais <strong>de</strong> outros campos realizam, como no caso daDocumentação.O primeiro contato direto com os ‘inventos’ <strong>de</strong> Oiticica impulsionarampara que a prática museológica levasse em conta a própria meto<strong>do</strong>logiaapresentada pelo artista. O caráter <strong>de</strong> suas obras aponta para o fragmentário,ou seja, era necessário enten<strong>de</strong>r a parte para se compreen<strong>de</strong>r e <strong>de</strong>codificar oto<strong>do</strong>. Uma obra como a Tropicália, que <strong>de</strong> fato, se caracteriza em umaambientação jamais po<strong>de</strong>rá ser acondicionada montada, por tanto, me <strong>de</strong>pareicom uma reserva técnica com pedaços <strong>de</strong> sarrafos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, placas <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira, carpete, telhas, tijolos, colchões, lonas, etc. Como <strong>do</strong>cumentar umaobra <strong>de</strong>ste tipo? Como inventariar e <strong>do</strong>cumentar os seus ‘ inventos’?Aproximadamente 2500 <strong>do</strong>cumentos, entre fotos, textos <strong>do</strong> próprioartista, textos <strong>de</strong> amigos, críticos, recortes <strong>de</strong> jornais, correspondências,plantas, mo<strong>de</strong>los, listas <strong>de</strong> obras, <strong>de</strong> materiais, <strong>de</strong> idéias, era necessárioa<strong>de</strong>ntrar neste labirinto <strong>do</strong>cumental <strong>de</strong> Oiticica, para po<strong>de</strong>r entendê-lo. O‘esta<strong>do</strong> preservativo’ <strong>de</strong>ste artista se coloca adiante, projeta-se para a exatacompreensão <strong>de</strong> seu espírito investigativo, mas, sobretu<strong>do</strong>, poético.O Arquivo <strong>de</strong> Hélio Oiticica (AHO) pertencente aos irmãos Cesar eClaudio Oiticica faz parte <strong>do</strong> seu lega<strong>do</strong> artístico e tem servi<strong>do</strong> <strong>de</strong> fontefi<strong>de</strong>digna para a compreensão <strong>de</strong> sua obra. Através <strong>do</strong> Projeto Hélio Oiticica,10
uma fundação sem fins lucrativos, criada após o falecimento <strong>do</strong> artista em1980, por seus familiares, amigos e artistas com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudar,preservar, divulgar o pensamento e a produção artística <strong>de</strong> Oiticica, gran<strong>de</strong>parte <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>cumentos foram disponibiliza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a evitar equívocos.Des<strong>de</strong> sua fundação, o PHO preocupa-se em tornar notório opensamento <strong>de</strong>ste artista especial. Ten<strong>do</strong> a família a posse sobre cerca <strong>de</strong>90% <strong>de</strong> sua produção, além da <strong>de</strong>tenção <strong>do</strong>s direitos <strong>de</strong> reprodução <strong>de</strong>imagens e textos <strong>do</strong> arquivo priva<strong>do</strong> <strong>de</strong> HO, o contato direto com este material<strong>do</strong>cumental e museológico possibilitou o entendimento <strong>do</strong> seu pensamento eda análise <strong>do</strong> seu sistema <strong>de</strong> catalogação e categorização <strong>de</strong> sua obra(fraseologia ‘oiticiana’).Devi<strong>do</strong> ao reconhecimento internacional <strong>de</strong> Oiticica, durante os anos <strong>de</strong>2004 e 2007, o PHO em conjunto com o <strong>Museu</strong>mof Fine Arts, Houston epatrocínio da Petrobrás Internacional, iniciaram o projeto para a realização <strong>do</strong>Catalogue Raisonné <strong>do</strong> artista. Este projeto viabilizava a publicação <strong>do</strong>svolumes, duas gran<strong>de</strong>s exposições individuais itinerárias sobre <strong>do</strong>is perío<strong>do</strong>sdistintos <strong>de</strong> sua produção: 1954-1969 e 1970-1980.Como parte da coleta <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s para a pesquisa <strong>do</strong> Catalogue Raisonnéfoi realizada uma base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s para a recuperação da informação no acervo<strong>do</strong>cumental <strong>do</strong> artista, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> textos, artigos, cartas <strong>de</strong> autoria <strong>do</strong> artista acriticas <strong>de</strong> arte <strong>de</strong> outros autores e recortes <strong>de</strong> jornais. To<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentosque faziam referência a sua produção foram in<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>s nesta base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s, oque foi fundamental para a elaboração e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisa.A participação neste projeto, mas, principalmente, a participação nacatalogação, na museografia das exposições, participação <strong>de</strong> reuniões comdiversos cura<strong>do</strong>res e pesquisa<strong>do</strong>res, além <strong>de</strong> trazer um crescimentoprofissional, trouxe um caráter novo e inédito para a área, enxergar um artistapara além das suas funções artísticas e estéticas, e i<strong>de</strong>ntificá-lo como umcientista, um pensa<strong>do</strong>r. A viabilida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sta pesquisaconfigura-se nestes conjuntos <strong>de</strong> ações <strong>de</strong>sempenhadas durante os últimossete anos, alia<strong>do</strong>s a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso a este material e o conhecimentoempírico <strong>de</strong> to<strong>do</strong> o acervo artístico e <strong>do</strong>cumental <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo artista.11
A presente dissertação trabalha um aspecto inédito <strong>de</strong> HO e i<strong>de</strong>ntifica noseu pensamento e na sua produção sua faceta original, condição que lhe dá aposição <strong>de</strong> relevância no contexto da arte brasileira que lhe vem si<strong>do</strong> dadanacional e internacionalmente. A realização da pesquisa permitiu, <strong>de</strong>sse mo<strong>do</strong>,i<strong>de</strong>ntificar uma nova perspectiva para entendimento da sua própria obra pormeio <strong>do</strong> seu ‘olhar científico’, muito liga<strong>do</strong> àquele <strong>de</strong> sua própria gênese12
1.E o teu amor eu guar<strong>do</strong> aqui...Art is an invention of aesthetics, which in turn is an invention ofphilosophers. Nietzsche buried both and danced on their graves: whatwe call art is a gameOctávio PazArte é uma invenção estética, mas antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, um jogo. Um jogo quepermite enten<strong>de</strong>r criticamente o nosso mun<strong>do</strong>. Através <strong>de</strong> lentes especiais e<strong>do</strong>s olhos <strong>do</strong>s artistas, po<strong>de</strong>-se ver o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> diversas formas, ou melhor, éatravés da arte que se po<strong>de</strong> ver e experimentar diversos mun<strong>do</strong>s.O Homem, na construção <strong>de</strong> seu Universo, <strong>de</strong> seu Mun<strong>do</strong>, nomeou tu<strong>do</strong>a sua volta. Após dar nomes, sua ânsia pelo conhecimento o impulsionou acategorizar, a classificar as coisas e a agrupá-las em sistemas <strong>de</strong> correlatos.Dar nome às coisas é um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> atribuir qualida<strong>de</strong>s, é uma das primeirasações <strong>do</strong> Homem para conhecer o seu Mun<strong>do</strong> e se fazer reconhecer nele, masé, também, um ato <strong>de</strong> Apropriação. Po<strong>de</strong>-se dizer que a organização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>inicia-se aí, unin<strong>do</strong> a palavra ao signo como meio <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong>objeto/coisa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>ste universo. Assim, dar nomes aos objetos/coisas éfundamental para a construção e organização <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> se atribuinomes aos objetos/coisa, cria-se um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> interpretação e comunicação.Sen<strong>do</strong> a Arte uma construção humana, nomear uma obra é antes <strong>de</strong>tu<strong>do</strong> colocá-la em um sistema relacional. O uso <strong>do</strong> título <strong>de</strong> uma obrarepresenta as aspirações <strong>do</strong> artista. No caso da Arte Contemporânea, o título<strong>de</strong> uma obra po<strong>de</strong> trazer consigo inúmeras indagações, reflexões e liberda<strong>de</strong>s,13
permitiu ao artista criar um sistema <strong>de</strong> in<strong>de</strong>xação próprio, que atua comoelemento auxiliar para a compreensão <strong>de</strong> suas criações.Enten<strong>de</strong>-se por In<strong>de</strong>xação “o processo pelo qual <strong>do</strong>cumentos ouinformações são apresenta<strong>do</strong>s por termos, palavras-chave ou <strong>de</strong>scritores,propician<strong>do</strong> a recuperação da informação” 6 .Como um cientista em seu laboratório, mas, principalmente, como umpesquisa<strong>do</strong>r diante <strong>de</strong> seu objeto <strong>de</strong> estu<strong>do</strong>, Oiticica analisou e atribuiu nomescomo se fora um cientista atribuin<strong>do</strong> termos <strong>de</strong> caráter científico. Como umpesquisa<strong>do</strong>r-teórico – para além <strong>do</strong> artista - pensou sua obra como umespécime a ser <strong>de</strong>scoberto e <strong>de</strong>svenda<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> pré-requisito paracompreen<strong>de</strong>r sua obra, vê-la como um ‘invento’.A presente dissertação aborda este Oiticica, para além <strong>do</strong> papel <strong>do</strong>artista e o revela como se auto<strong>de</strong>nominava, inventor:Esse conjunto <strong>de</strong> obras é para fazer inteligível o que eu sou.Eu passo a me reconhecer através <strong>do</strong> que eu faço. [...] Narealida<strong>de</strong>, eu não sei o que eu sou, porque se é invenção eunão posso saber. Se eu já soubesse o que seriam estas coisas,elas já não seriam mais invenções. [...] A existência <strong>de</strong>las quepossibilita a concreção da invenção 7 .O perfil <strong>de</strong> inventor para Oiticica correspon<strong>de</strong> àquele que tem primeiro aidéia, aquele que <strong>de</strong>scobre ou encontra algo que ainda não é conheci<strong>do</strong>. Mas étambém aquele que arquiteta, que fantasia. É aquele que cria e <strong>de</strong>scobre, é ocria<strong>do</strong>r. É o sonha<strong>do</strong>r-inventor, é o artista-inventor. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> invenção6 In<strong>de</strong>xação. Dicionário Brasileiro <strong>de</strong> Terminologia arquivística. Rio <strong>de</strong> Janeiro: ArquivoNacional, 2005. p. 107.7 HO, filme <strong>de</strong> Ivan Car<strong>do</strong>so, 197916
para Oiticica passa a ser “algo livre, solto das amarras da invenção <strong>de</strong> or<strong>de</strong>mesteticista: inventar é criar, viver [...]” 8Sua imaginação cria<strong>do</strong>ra ou inventiva po<strong>de</strong> ser apresentada ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>uma re<strong>de</strong>, on<strong>de</strong> as nomenclaturas criadas são interligadas umas às outras:Metaesquema,Pinturas Brancas, Invenções, Bilateral,Relevo Espacial, Núcleo, Penetráveis, Bóli<strong>de</strong>s,Parangolés,Topological Ready-Ma<strong>de</strong> Landscape,Ready Constructible,Apropriações,Cosmococaforman<strong>do</strong> uma trama, re<strong>de</strong> <strong>de</strong> termos e conceitos, como “um sistema universalda origem da percepção construtiva <strong>do</strong> espaço” 9 , relaciona<strong>do</strong> aoDocumento/Discurso <strong>de</strong> Arte e Documento/Discurso sobre Arte.O tema da presente dissertação envolve a i<strong>de</strong>ntificação <strong>do</strong> sistema <strong>de</strong>classificação e categorização na <strong>do</strong>cumentação relativa ao artista HélioOiticica, apontan<strong>do</strong> para contribuir aos estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> sua produção sob uma novaperspectiva; e <strong>do</strong> mesmo mo<strong>do</strong>, contribuin<strong>do</strong> para <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> umaLinguagem Documentária baseada em sua fraseologia, isto é, linguagem <strong>de</strong>in<strong>de</strong>xação para a recuperação da informação representada pelas fontes <strong>de</strong>consulta no contexto da Informação em Arte que o representa.A relevância <strong>de</strong> Oiticica no panorama da Arte Mundial, conformeatesta<strong>do</strong> pelos estu<strong>do</strong>s e exposições realizadas nos últimos anos, em8 OITICICA, Hélio. Sem título. AHO/PHO 0871.70 p. 1.9 OITICICA, Helio. Sobre Bóli<strong>de</strong>s. In: AHO/PHO. 0001.64, p. 217
diferentes museus e galerias <strong>de</strong> diversos países, estimula focalizar este artistasob esse novo aspecto, como um “<strong>do</strong>cumentalista”, ou seja, aquele queelabora a representação da informação, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong> o conteú<strong>do</strong> da suaprodução artística.A<strong>de</strong>ntrar neste ‘espaço <strong>de</strong> memória’ ou ‘<strong>Museu</strong> Oiticiano’ com os fios <strong>de</strong>Ariadne, a ‘fraseologia oiticiana’, ou seja, a Documentação/Informação em<strong>Museu</strong>s como guia, é per<strong>de</strong>r-se, encontran<strong>do</strong>-se.Lúdico, Oiticica apresenta a Arte como um jogo cotidiano e convida a ir<strong>de</strong> encontro ao seu Labirinto 10 .Entra-se e saí por inúmeras frestas <strong>de</strong>ixadas pelo artista, permitin<strong>do</strong>vislumbrar novos mun<strong>do</strong>s, novas vivências, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> que aos poucos cada umpossa construir o seu próprio mun<strong>do</strong> através das perspectivas <strong>de</strong>ixadas peloartista.Compreen<strong>de</strong>r o ‘espaço <strong>de</strong> memória’ = <strong>Museu</strong> ou o mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oiticica =‘<strong>Museu</strong> Oiticiano’, com o auxilio <strong>de</strong> Ariadne representa a Informação em Arte.Isso permite enxergar uma nova trajetória <strong>de</strong> pensamento <strong>de</strong>ste artista. Para oentendimento, faz-se necessário a utilização <strong>de</strong> práticas e méto<strong>do</strong>s usa<strong>do</strong>spela Ciência da Informação e pela Museologia a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar quais foramos passos <strong>de</strong>ste artista para a classificação <strong>de</strong> seus inventos, unin<strong>do</strong> os fiossoltos para entendimento da classificação realizada por Oiticica.Unir os fios soltos, se possível, mas o papel <strong>de</strong> especta<strong>do</strong>r/participa<strong>do</strong>r 11diante <strong>de</strong> sua obra <strong>de</strong>ve ser o mesmo <strong>de</strong> Teseu que, com ajuda <strong>de</strong> Ariadne,10 Oiticica em seu diário <strong>de</strong> 1956 escreveu em um dia especifico, apenas uma frase, quetornaria emblemática a sua produção: “Aspiro ao gran<strong>de</strong> labirinto”.11 Especta<strong>do</strong>r-Participa<strong>do</strong>r: a problemática apontada por Oiticica com relação a mobilização <strong>do</strong>especta<strong>do</strong>r diante <strong>de</strong> suas obras que exigem a participação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r - como no caso daobra Parangolé na qual a participação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r é total - o impulsionaram pensar em umnovo papel para especta<strong>do</strong>r, passan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>nominá-lo <strong>de</strong> participa<strong>do</strong>r.18
(unin<strong>do</strong> os fios soltos) consegue entrar e sair <strong>do</strong> Labirinto. Aquela que segurao fio para encontrar o caminho <strong>de</strong> retorno. Os ‘fios <strong>de</strong> Ariadne’ po<strong>de</strong>m <strong>de</strong> fatolevar a verda<strong>de</strong>ira essência da construção expressiva da vida-obra <strong>de</strong> Oiticica.VidaObra, duas palavras unidas, sem hífen, pois a história <strong>de</strong> umaobra é a história <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> seu autor 12 no contexto em que a mesma foicriada.A dissertação foi <strong>de</strong>senvolvida dan<strong>do</strong> prosseguimento à Linha <strong>de</strong>Pesquisa Informação em Arte, introduzida pela Professora Dra. Lena VaniaPinheiro Ribeiro no Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação em Ciência da Informação <strong>do</strong>Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Informação em Ciência e Tecnologia – IBICT,queorientou a primeira tese <strong>de</strong> <strong>do</strong>utoramento sobre o tema, da museóloga, DianaFarjalla Correia Lima, <strong>de</strong>fendida em 2003. 13A reflexão sobre o tema orientou à elaboração <strong>do</strong>s capítulos:E teu amor eu guar<strong>do</strong> aquiUnin<strong>do</strong> os fios soltosAspiran<strong>do</strong> ao gran<strong>de</strong> labirinto12 Moraes, Fre<strong>de</strong>rico. Palestra no Instituto Moreira Salles, setembro <strong>de</strong> 2010.1319
Apropriar-sePer<strong>de</strong>r-seEncontrar-seCriar-se e recriar-se<strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a convidar to<strong>do</strong>s à participação,assim como cada invenção criada por este artista que convida a sair <strong>do</strong> papelestático <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r para a ação <strong>do</strong> participa<strong>do</strong>r.Joga-se seu jogo, a fim <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir todas as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seusinventos.20
2.Unin<strong>do</strong> os fios soltosA construir um novo mun<strong>do</strong> ou uma nova condição humana - umacondição cada vez mais próxima da sabe<strong>do</strong>ria humana - a Arte “na verda<strong>de</strong>, éuniversal e correspon<strong>de</strong> a um plano cósmico e da existência humana” 14 . Cadaobra <strong>de</strong> arte criada no mun<strong>do</strong> faz parte <strong>de</strong> um conjunto maior que quan<strong>do</strong> vistae interpretada eleva o especta<strong>do</strong>r para um mun<strong>do</strong> experimental, para ummun<strong>do</strong> além da matéria, “permitin<strong>do</strong> assim, o puro exercício cria<strong>do</strong>r <strong>do</strong>espírito” 15 .Este mun<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> pela Arte é um mun<strong>do</strong> construí<strong>do</strong> por exemplos,fatos e objetos. É através da Obra <strong>de</strong> Arte que “o jogo das relações entrefenômenos culturais e contexto histórico torna-se muito mais imbrica<strong>do</strong>” 16 .Enten<strong>de</strong>-se aqui a Obra <strong>de</strong> Arte como a representação objetivada <strong>de</strong> umsistema <strong>de</strong> pensamento, nascida <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> complexa <strong>de</strong> influências, massobretu<strong>do</strong> influenciada pelo mun<strong>do</strong> interior poético <strong>do</strong> artista que pela tradiçãoestética <strong>de</strong>seja apresentar: “um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ver o mun<strong>do</strong>” 17Esta maneira <strong>de</strong> olhar o mun<strong>do</strong>, analisá-lo e recriá-lo <strong>de</strong>sperta um olharpretencioso que <strong>de</strong>seja encontrar e colocar em evidência personagens,fantasmas, inquietações,formas poéticas, tu<strong>do</strong> aquilo que o observa<strong>do</strong>r14 OITICICA, H. AHO/PHO 0057 p. 0615 Ibi<strong>de</strong>m, p. 0616 ECO, Umberto. Obra aberta. São Paulo: Perspectiva, 2010. p. 3517 Ibi<strong>de</strong>m, p. 3421
fugazmente não enxerga. Fazer enxergar na escuridão pontos <strong>de</strong> luz queremetem à verda<strong>de</strong>ira idéia <strong>de</strong> mun<strong>do</strong> e suas realida<strong>de</strong>s.Mas a Arte é, <strong>de</strong> fato, um ato. A Obra <strong>de</strong> Arte é consequência <strong>de</strong> um atorealiza<strong>do</strong> pelo Artista que necessita colocar em prática este mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> ver/sentiro mun<strong>do</strong>. É aquele quenos <strong>de</strong>ixa olhar com seus olhos a realida<strong>de</strong>, e assim tornamonosparticipantes, por sua intermediação, <strong>do</strong> conhecimento dasIdéias. Que ele possua tais olhos, a <strong>de</strong>svelar-lhes o essencialdas coisas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente <strong>de</strong> suas relações [...] 18Como fios condutores, as Obras <strong>de</strong> Arte expressam um olhar sob oponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> apenas um sujeito que <strong>de</strong>seja <strong>de</strong>scortinar uma nova visada.Entretanto, enxergarestes objetos e traduzir seu discurso <strong>de</strong>ve ser<strong>de</strong>codifica<strong>do</strong> por outro sujeito queao fazê-lo como forma legitima <strong>de</strong> umdiscurso estético, <strong>de</strong>clara: Isto é Arte.A Crítica, inerente ao campo <strong>do</strong> conhecimento da História da Arte,surgiu, como disciplina no contexto “<strong>de</strong> colapso da imitação como recurso, nosenti<strong>do</strong> teológico, <strong>de</strong> presentificação da verda<strong>de</strong>” 19 , ten<strong>do</strong> como ativida<strong>de</strong> amediação entre sujeito e objeto. O objeto/linguagem artística configura-secomo objeto <strong>de</strong> investigação, <strong>do</strong> qual:se trata e sobre o qual se emite conceitos, sen<strong>do</strong> submetida àanálise pelo próprio campo das Artes nas suas análises críticas<strong>de</strong>senvolvidas pela História da Arte, à luz <strong>do</strong>s fundamentos daEstética e seguin<strong>do</strong> a perspectiva histórica 20 .Um ato <strong>de</strong> confirmação da Obra <strong>de</strong> Arte, sua validação enquanto tal esua <strong>de</strong>codificação é uma prática <strong>de</strong>senvolvida por um campo <strong>do</strong> conhecimento:18 SCHOPENHAUER, A. Metafisica <strong>do</strong> Belo. São Paulo: Edusp, 2001. p.19 FERREIRA, G. 193 confe.<strong>Museu</strong> da Vale20 LIMA, Diana Farjalla Correia. AcervosArtísticos: Proposta <strong>de</strong> umMo<strong>de</strong>loEstruturalparaPesquisasemArtes Plásticas.1996. Dissertação (Mestra<strong>do</strong>) – Programa<strong>de</strong> pós-graduaçãoememMemória Social e Documento, Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>do</strong> Esta<strong>do</strong> <strong>do</strong> Rio<strong>de</strong> Janeiro, 1996. p. 3222
o Campo da Arte. Conforme to<strong>do</strong> campo <strong>do</strong> conhecimento, é mister a criação/<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> premissas, meto<strong>do</strong>logia e a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> seus atores e oseu nível <strong>de</strong> atuação.Deste mo<strong>do</strong>, a Obra <strong>de</strong> Arte, segun<strong>do</strong> Eco 21 , “se coloca comomedia<strong>do</strong>ra entre a abstrata categoria da meto<strong>do</strong>logia científica e a matéria viva<strong>de</strong> nossa sensibilida<strong>de</strong>”, todavia,uma obra <strong>de</strong> arte, como projeto meto<strong>do</strong>lógico científico e umsistema filosófico não se refere <strong>de</strong> imediato ao contextohistórico - a menos que recorramos a [...] interferênciasbiográficas 22 .A Obra <strong>de</strong> Arte é um objeto analisa<strong>do</strong> sob o ponto <strong>de</strong> vista da Estética, e<strong>de</strong>nomina-se objeto como sen<strong>do</strong>artefato tridimensional, réplica <strong>de</strong> artefato, ou entida<strong>de</strong> queocorrem naturalmente. [...] o termo também inclui dioramas,jogos, sli<strong>de</strong>s para microscópio, mo<strong>de</strong>los e realia. Um trabalhoartístico e <strong>de</strong> arquitetura, ou outro artefato <strong>de</strong> relevânciacultural. [...] tanto objetos físicos como arte performática 23 .Da maneira <strong>de</strong> ver o mun<strong>do</strong> à maneira <strong>de</strong> ver a Arte. Ver a Arte, ler suascaracterísticas físicas, conceituais e seu contexto envolvem especialistas <strong>de</strong>formações multidisciplinares como filósofos, historia<strong>do</strong>res, museólogos,jornalistas, <strong>de</strong>ntre outros,atuan<strong>do</strong> em pesquisa, ensino, publicações,cura<strong>do</strong>ria, conservação, exposições, que também po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>sempenhar o papel<strong>de</strong> Teóricos/Críticos da Arte <strong>de</strong>senvolven<strong>do</strong> suas ativida<strong>de</strong>s no “Território <strong>do</strong>sAnalistas <strong>do</strong> Saber-Fazer” 24 . Logo, são produtores <strong>do</strong>s “Discursos sobre Arte”21 ECO, op. cit., p.22 LIMA, op. cit., p. 3423 OBJECT, REITZ, Joan M. Odlis – Online Dictionary for Library and Information Science.Disponível em http://www.abc-clio.com/ODLIS/odlis_A.aspx24 LIMA, op. Cit., p. 3423
estimulan<strong>do</strong> novas maneiras <strong>de</strong> ver um objeto não funcional, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a atribuirvalor artístico.A fim <strong>de</strong> promover o entendimento e a difusão das informaçõescontidas na Obra <strong>de</strong> Arte, sua complexida<strong>de</strong> e problemática exigiam aestruturação <strong>de</strong> um campo forma<strong>do</strong> por Agentes especializa<strong>do</strong>s:que se fazem representar pelos profissionais qualifica<strong>do</strong>s,aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aos padrões que estipulam tanto as condições <strong>de</strong>acesso à profissão quanto as <strong>de</strong> participação no meio 25 .Os especialistas capazes <strong>de</strong> indicar critérios para compreensão<strong>de</strong>stes objetos estabelecem, segun<strong>do</strong> o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Lima 26 , duas divisõesno primeiro grupo o(s) artista(s), que é o produtor da Obra <strong>de</strong>Arte, ocupan<strong>do</strong> o Território <strong>do</strong> Saber-Fazer; e <strong>do</strong> outro la<strong>do</strong>distribuí<strong>do</strong>s entre várias categorias/posições os <strong>de</strong>maisespecialistas que se conhece, tais como aqueles que se po<strong>de</strong><strong>de</strong>signar como os analistas da arte, que ocupam por sua vez oTerritório <strong>do</strong>s Analistas <strong>do</strong> Saber-Fazer, integran<strong>do</strong> oshistoria<strong>do</strong>res da arte, museólogos, críticos <strong>de</strong> arte, e outrascategorias técnico-profissionais cujos interesses estão volta<strong>do</strong>sàs ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong> campo <strong>do</strong> conhecimento da Arte, assim comopara o tratamento <strong>do</strong> bem artístico em suas diversas formas.Assim sen<strong>do</strong>, enten<strong>de</strong>m-se estes Agentes especializa<strong>do</strong>s que atuam nocampo da Arte, da seguinte forma:25 Lima, op. cit., p. 3226 Ibi<strong>de</strong>m, p. 2524
Território Agente Objetivo Objeto Resulta<strong>do</strong>Saber-ArtistaDiscurso daDocumentosObra <strong>de</strong> ArteFazerArteda ArteAnalistas <strong>do</strong>CríticoDiscursoDocumentosTextos críticosSaber-sobre Artesobre ArteFazerMuseólogosDiscursoDocumentosDocumentação;sobre Artesobre ArteExposiçãoCura<strong>do</strong>resDiscursoDocumentosExposição;sobre Artesobre ArteCatálogos2.1. Os escritos <strong>de</strong> artistas e a urgência <strong>de</strong> uma nova arteNo século XV, a passagem da idéia <strong>de</strong> pintor à <strong>de</strong> artista e <strong>do</strong>artesanato às Belas-Artes, remeten<strong>do</strong> a origem <strong>do</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> criação pessoal,ocasionou na preocupação por parte <strong>de</strong>ste Agente em uma reflexão teóricaefetiva <strong>de</strong> sua obra. Deste mo<strong>do</strong>, ao longo <strong>do</strong>s tempo, tornou-se perceptível anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer <strong>do</strong> ato artístico uma voz pública e estes escritos“oscilaram entre a experiência pessoal e a interrogação teórica” 27 . De Vasari eos relatos biográficos <strong>de</strong> seus contemporâneos, das anotação científicas <strong>de</strong>27 FERREIRA, Gloria e COTRIM, Cecilia (org,). Escritos <strong>de</strong> Artistas. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Jorge ZaharEditora, 2003. p. 1125
Leonar<strong>do</strong> da Vinci às memórias <strong>de</strong> Gaugin, embora sejam diferentes asnarrativas <strong>de</strong>stes artistas, constituem uma base teórica irrefutável, afinal trataseda fala <strong>do</strong> Artista, ten<strong>do</strong> como ponto <strong>de</strong> convergência o fato <strong>de</strong> necessitar“tornar problemas estéticos ou técnicos precisos para si mesmos [...], para seuspares ou para o público cultiva<strong>do</strong>” 28 .Contu<strong>do</strong>, é durante os anos 60, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Glória Ferreira 29 , que a“fala na primeira pessoa” torna-se um novo instrumento inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte àgênese da obra.A reflexão teórica passa a constituir parte da obramodifican<strong>do</strong>, <strong>de</strong> certa maneira, o campo da Arte, tanto a História da Artequanto a própria crítica. Assim, “o ato <strong>de</strong> <strong>de</strong>finição não estava separa<strong>do</strong> <strong>do</strong> ato<strong>de</strong> apreciação”.Chama atenção que apenas alguns artistas passaram a ingressar noterritório da crítica, ou seja, passaram a transitar também pelo Território <strong>do</strong>sAnalistas <strong>do</strong> Saber-Fazer <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a <strong>de</strong>sautorizar conceitos <strong>de</strong>scritos elegitima<strong>do</strong>s pela crítica, portanto,estabelecen<strong>do</strong> uma nova relação com aObra <strong>de</strong> Arte.A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se ouvir a fala <strong>do</strong> artista, “fala na primeira pessoa” 30 ,corrobora com o fato que os objetos/linguagens estéticas na época mo<strong>de</strong>rnauniam cada vez mais o fazer artístico com a informação disseminada peloArtista. O Artista transforma-se em Agente especializa<strong>do</strong> <strong>do</strong> Campo que atuanos <strong>do</strong>is Territórios menciona<strong>do</strong>s anteriormente. O envolvimento da ArteMo<strong>de</strong>rna com este novocorpus teórico [que] estabelece uma relação entre teoria epráxis na qual o pensamento plástico se <strong>de</strong>senvolve em uma28 Ibi<strong>de</strong>m, p. 1129 FERREIRA, G. e COTRIM, C. op. cit., p. 1030 Ibi<strong>de</strong>m, p. 1026
dialética incessante entre a prática artística e o pensamentoteórico 31 .O Artista Hélio Oiticica enquadra-se neste tipo <strong>de</strong> Agente que conseguetransitar entre estes <strong>do</strong>is Territórios distintos: o <strong>do</strong> Saber-Fazer e <strong>do</strong>sAnalistas/Aprecia<strong>do</strong>res <strong>do</strong> Saber-Fazer. Conceitua<strong>do</strong>r <strong>de</strong> seu próprio fazerartístico, Oiticica iniciou sua “fala na primeira pessoa” ainda muito jovemquan<strong>do</strong>, ao invés <strong>de</strong> discutir sobre seu fazer, discute sobre a Arte e seu campo,colocan<strong>do</strong>-se, assim, no papel <strong>do</strong> crítico. Escrever foi “inicialmente um meio <strong>de</strong>fixar questões essenciais <strong>do</strong> campo da arte e isto está bem claro em seusprimeiros textos, curtos e ainda sob forma <strong>de</strong> diário” 32 .Os diários <strong>de</strong> uma pessoa remontam um cotidiano <strong>de</strong>scritivo a partir dasações realizadas e/ou questões pensadas que precisam <strong>de</strong> maturação porparte <strong>de</strong> seu autor. Oiticica inicia seu diário como to<strong>do</strong>s, com a entrada <strong>do</strong> dia,mês e ano, mas apesar <strong>de</strong> algumas anotações corriqueira, enaltecia a sua falapoética e sua urgência <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar no mun<strong>do</strong> concreto uma nova essência.Percebe-se, em sua escrita, a progressão <strong>de</strong> seu fazer poético e artístico.Não escreveu manifestos, seus textos se configuram ao mo<strong>do</strong> <strong>de</strong> bulas,necessárias para a compreensão <strong>do</strong> problema, ou a problemática <strong>de</strong> um ato.Inclusive, em um diário, Oiticica expressou uma das suas frasesemblemáticas: “Aspiro ao Gran<strong>de</strong> Labirinto” que, <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong>, explicita todaa sua vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> ser Artista, com A maiúsculo, perfil que será, posteriormente,agrega<strong>do</strong> à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Inventor:31 Ibi<strong>de</strong>m, p. 1332 FIGUEIREDO,Luciano (org.). Hélio Oiticica: Aspiro ao gran<strong>de</strong> labirinto. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Rocco, 1986. p. 527
a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> inventar é agora algo livre, solto das amarrasda invenção <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m esteticista: inventar é criar, viver [...] 33 .Caso raro da História da Arte Brasileira, (ou caso raro na história da artemundial?), Oiticica escreveu incessantemente, toman<strong>do</strong> para si o papel <strong>de</strong>objeto/autor ao mesmo tempo <strong>de</strong> comentário/interpretativo. Presente em duasperspectivas-teóricas <strong>de</strong> pensamento e <strong>de</strong> ação estética, Oiticica foi um artistateórico-criticoe o que se <strong>de</strong>stacana presente pesquisa foi o cria<strong>do</strong>r <strong>de</strong> umaterminologia própria, realizan<strong>do</strong> uma classificação <strong>de</strong> sua obra estética,fornecen<strong>do</strong> uma Linguagem Estética - Terminologia <strong>de</strong> Oiticica - para o uso daLinguagem Documentária, isto é, os Termos e Conceitos trata<strong>do</strong>s comoin<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>res, crian<strong>do</strong> um Sistema <strong>de</strong> In<strong>de</strong>xação e Recuperação da Informaçãopara um contexto da Arte.To<strong>do</strong>s seus escritos foram realiza<strong>do</strong>s <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a acompanhar a sua obrapo<strong>de</strong>n<strong>do</strong> assim encarar a escrita como ação <strong>de</strong> uma mesma ativida<strong>de</strong>, unin<strong>do</strong>pensamento ao ato <strong>de</strong> invenção. Ensaios, artigos, citações, entrevistas, cartas,pequenas fichas com os primeiros vislumbres para a construção/‘invenção’ <strong>de</strong>uma nova obra, to<strong>do</strong> pensamento, sen<strong>do</strong> registra<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira arquivística,sen<strong>do</strong> concretiza<strong>do</strong> em um ou mais <strong>de</strong> um objeto estético.Oiticica, como se sabe, participou <strong>de</strong> um <strong>do</strong>s momentos especiais daHistória da Arte Brasileira, o Movimento Neoconcreto.Em 22 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1959, Ferreira Gullar publicou o ManifestoNeoconcreto no Suplemento Dominical <strong>do</strong> Jornal <strong>do</strong> Brasil, anuncian<strong>do</strong> acriação <strong>do</strong> Movimento Neoconcreto, ten<strong>do</strong> em sua maioria artistas cariocas. OMovimento rompeu <strong>de</strong> vez com o movimento Concreto <strong>de</strong> São Paulo, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong>aos postula<strong>do</strong>s utiliza<strong>do</strong>s pelo Grupo paulista diferin<strong>do</strong>-o <strong>do</strong>s artistas cariocas.33 OITICICA, Hélio. Sem título. AHO/PHO 0871.70. p. 0128
O Grupo tinha uma“dinâmica <strong>de</strong> laboratório” 34 , era “praticamenteapolítico” manten<strong>do</strong>-se contra as regras sugeridas pelo merca<strong>do</strong>, manten<strong>do</strong><strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong> um afastamento confortável para confrontar e criar novaspremissas para a Arte.Este novo entendimento sobre o papel da Arte corrobora<strong>do</strong>, no casobrasileiro, pelo movimento Neoconcreto expõe na voz <strong>do</strong> próprio Oiticica 35 .[...] a conseqüente <strong>de</strong>rrubada <strong>de</strong> todas as antigas modalida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> expressão: pintura-quadro, escultura, etc., propõem umamanifestação total, íntegra, <strong>do</strong> artista, nas suas criações [...].Ambiental é para mim a reunião indivisível <strong>de</strong> todas asmodalida<strong>de</strong>s em posse <strong>do</strong> artista ao criar – as já conhecidas:cor, palavra, luz, ação, construção, etc. [...].Os Neoconcretos, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com Ronal<strong>do</strong> Brito 36 , representaram a umsó tempo o vértice da consciência construtiva no Brasil e sua explosão, ouseja, mesmo ten<strong>do</strong> como influências as premissas propostas pelo projetoconstrutivo internacional, colocou em discussão a pertinência da Arte naprodução industrial. O Grupo recolocou “questões ontológicas no centro dasteorizações sobre linguagem”. Assim, divergiram <strong>do</strong>s Concretos paulistas cujoo caráter <strong>do</strong>gmático os colocaram próximos <strong>do</strong>s i<strong>de</strong>ais da Escola <strong>de</strong> Ulm,enquanto os Neoconcretos foram sua vertente <strong>de</strong> ruptura, recolocan<strong>do</strong> ohomem como um ser no mun<strong>do</strong> e com pretensões <strong>de</strong> pensar a arte nestecontexto, influencia<strong>do</strong>s pela fenomenologia <strong>de</strong> Merleau-Ponty.34 BRITO, Ronal<strong>do</strong>. Neoconcretismo: vértice e ruptura <strong>do</strong> projeto construtivo brasileiro.São Paulo: Cosac&Naify, 1999. p. 6235 OITICICA, Hélio. op. cit., p. 10036 BRITO, R. op. cit., p. 5529
Luiz Sacilotto. Concreção 5942, escultura em alumínio pinta<strong>do</strong>, 30 x 30 x 17 cm, 1959Wal<strong>de</strong>mar Cor<strong>de</strong>iro. Idéia visível, 1956 Ma<strong>de</strong>ira plastificada com pintura. Coleção A<strong>do</strong>lpho Leirner /<strong>Museu</strong>m of FineArts, HoustonAssim, o movimento Neoconcreto é referenda<strong>do</strong> e aceito pelo campo da Artecomo um movimento legítimo, <strong>de</strong> origem nacional. Entretanto, <strong>de</strong>ve-se ter emmente que a Arte produzida: “antes <strong>de</strong> ser nacional, tem que ser obra <strong>de</strong> arte,isto é, tem que possuir as qualida<strong>de</strong>s imprescindíveis que lhe dão autonomia eexpressão” 37 .37 GULLAR, Ferreira. Cultura posta em questão, Vanguarda e sub<strong>de</strong>senvolvimento: ensaiossobre arte. 2a ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro: José Olympio, 2002. p. 8630
Revista O Cruzeiro. Matéria <strong>de</strong> Luiz Edgard <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong> sobre a discussão entre os poetas <strong>do</strong> Movimento Concreto(SP) e Neoconcreto (RJ)O Neoconcretismo estabeleceu novos paradigmas ocasionan<strong>do</strong> uma revoluçãoestética. Rompeu, primeiramente com a idéia <strong>de</strong> suporte além <strong>de</strong> modificar ediscutir o papel <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r que, segun<strong>do</strong> Oiticica, passa a ser <strong>de</strong>participa<strong>do</strong>r.Lygia Clark. Bicho, ca. 1960. 14 x 34 x 30 cm31
A problemática apontada por Oiticica com relação a mobilização <strong>do</strong>especta<strong>do</strong>r diante das obras que exigem sua ação e as discussões sobre oespecta<strong>do</strong>r versus Obra <strong>de</strong> Arte foram levadas adiante pelo artista, como nocaso da obra Parangolé, na qual a participação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r é total. Asdiscussões e a preocupação, em particular, <strong>de</strong> Hélio Oiticica, impulsionaram-noa pensar e a por em prática um novo papel para especta<strong>do</strong>r, passan<strong>do</strong> a<strong>de</strong>nominá-lo <strong>de</strong> participa<strong>do</strong>r.O intuito <strong>do</strong> Movimento era principalmente renovar a linguagemgeométrica e seu caráter racionalista e mecanicista que <strong>do</strong>minava a ArteConcreta <strong>de</strong>ste perío<strong>do</strong>, revitalizan<strong>do</strong>-a dan<strong>do</strong> ênfase aos aspectosexperimentais da linguagem artística. Sua relevância como Movimento recaiusobre o fato que o Neoconcretismo fixou “alguns conceitos <strong>de</strong>cisivos dasignificação <strong>do</strong> processo da arte no Brasil” 38 .Juntamente com a legitimação <strong>do</strong> Movimento Neoconcreto, o artistaHélio Oiticica é hoje consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> pelos críticos, teóricos, historia<strong>do</strong>res <strong>de</strong> arte ecura<strong>do</strong>res como o exemplo <strong>de</strong> artista que carrega consigo uma linguagemprópria. Ele ansiou que a vanguarda brasileira tivesse tanta importância quantoa OpArt ou a Pop Art. Por este motivo, Oiticica se coloca emum lugar <strong>de</strong> li<strong>de</strong>rança ao <strong>de</strong>finir o papel possível da arte nocontexto brasileiro. Ele queria encontrar uma maneira <strong>de</strong>‘explicar o aparecimento <strong>de</strong> uma vanguarda e justificá-la’ em umpaís sub<strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>, ‘não como uma alienação sintomática,mas como um fator <strong>de</strong>cisivo no seu progresso coletivo 39 .38 BRITO, op. cit., p. 6839 BRETT, Guy. Brasil Experimental. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Contra-capa, 2008. p. 23.32
É interessante observar que mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> Grupo Neoconcreto haviasua diferenciação. De um la<strong>do</strong> os artistas preocupa<strong>do</strong>s com a sensibilização daArte e <strong>do</strong> outro, os artistas liga<strong>do</strong>s à dramatização.De to<strong>do</strong> mo<strong>do</strong>, a urgência <strong>de</strong> uma nova Arte introduzida por movimentosartísticos como no caso <strong>do</strong> Neoconcretismo no Brasil, e anteriormente peloDadaísmo, Surrealismo em âmbito mundial apenas para citar alguns,impulsionou a experiência brasileira para as tendências mais radicais a ponto<strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar que “to<strong>do</strong>s são artistas e ninguém é artista” 40 . A Arte passou adispensar o processo <strong>de</strong> fazer artístico, concretiza<strong>do</strong> apenas na Obra <strong>de</strong> Artecomo parte <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo individual, <strong>de</strong>spojan<strong>do</strong> o seucaráter artesanal e enaltecen<strong>do</strong> a constituição <strong>de</strong> uma Linguagem Estética,expressada e inscrita na Obra <strong>de</strong> Arte, constituin<strong>do</strong> assim um objeto <strong>de</strong>investigação.Um objeto <strong>de</strong> investigação carece <strong>de</strong> análise pelo campo da Artetoman<strong>do</strong> como parâmetro os fundamentos da Estética e da perspectivahistórica, além <strong>de</strong> outros preceitos <strong>de</strong> diferentes campos <strong>do</strong> conhecimento,assim a Obra <strong>de</strong> Arte passa a ser consi<strong>de</strong>rada sob a categoria <strong>de</strong> BemSimbólico.2.2. A <strong>de</strong>nominação da Obra <strong>de</strong> Arte e a Informação emArteQuan<strong>do</strong> este Campo específico <strong>de</strong>nomina Obra <strong>de</strong> Arte, sejamanufaturada através <strong>de</strong> técnicas relacionadas ao campo como: pintura,40 GULLAR, F. op. cit,. p. 1833
escultura, gravura, fotografia, ou constituída por linguagens poéticas, o sujeito- Agente <strong>do</strong> campo da Arte - atribui um valor estético, mas antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, umvalor simbólico. Este objeto/obra <strong>de</strong> arte passa a representar o Homem, afinala “Arte é tu<strong>do</strong> aquilo que os humanos chamam <strong>de</strong> Arte” 41 .Arte é, <strong>de</strong> fato, uma <strong>de</strong>nominação.No intuito <strong>de</strong> envolver o leitor pelos caminhos <strong>de</strong>ste Campo, o critico <strong>de</strong>Arte Thierry De Duve, em seu livro Kant after Duchamp 42 , solicita ao leitor quese coloque inicialmente como um antropólogo extraterrestre. Sob estacondição, a Arte passa a ser reconhecida como um produto que foi chama<strong>do</strong><strong>de</strong> Arte pela Humanida<strong>de</strong>.Posteriormente, De Duve solicita ao leitor que se coloque como umhistoria<strong>do</strong>r humanista e veja a Arte. Este sujeito, historia<strong>do</strong>r humanista,i<strong>de</strong>ntificará o objeto <strong>de</strong> Arte como Patrimônio, Termo que segun<strong>do</strong> Desvallees,no estu<strong>do</strong> sobre Terminologia Museológica, apresenta conceito correlato aBem Cultural 43 .Levan<strong>do</strong> em consi<strong>de</strong>ração a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Obra <strong>de</strong> Arte comouma <strong>de</strong>nominação construída pelo campo artístico que<strong>de</strong>signa, no caso das Artes Plásticas, a proposta conceitualformulada e apresentada tanto em um objeto material que seproduz, (natureza tangível) quanto na chamada ‘situaçãoartística’ que se promove (natureza intangível) ao qual foiatribuí<strong>do</strong> juízo <strong>de</strong> valor (juízo estético) que <strong>de</strong>termina suaqualificação segun<strong>do</strong> critério <strong>de</strong> ‘originalida<strong>de</strong>’, em virtu<strong>de</strong> dasqualida<strong>de</strong>s diferenciais, não tradicionais, que o campoespecializa<strong>do</strong> percebe nele/nela inscrito, reconhecen<strong>do</strong>-o(a)como porta<strong>do</strong>ra das questões que são objeto <strong>de</strong> tratamentoque este <strong>do</strong>mínio <strong>do</strong> saber problematiza e referenda, e que sãoassuntos consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s <strong>de</strong> particular relevância e para os quais41 DE DUVE, Thierry. Kant after Duchamp. Cambridge: MIT Press, 1966.42 Kant após Duchamp [tradução nossa]43 DESVALLEES, Andre. Key ConceptsofMuseology34
convergem o interesse das suas investigações teóricas epráticas 44 .percebe-se que este objeto contém e expressa um sistema especifico <strong>de</strong>significação, adjetiva<strong>do</strong> sob um caráter <strong>de</strong> interpretação técnico-temporais econfigura-se, assim, como um Testemunho Cultural. Deste mo<strong>do</strong>:a Obra <strong>de</strong> Arte consi<strong>de</strong>rada como testemunhoculturaltorna-serepresentativa das multifacetadas situações conceituais pelasquais é contemplada na área da Cultura, e que ocorremenvolven<strong>do</strong> sua ‘existência’, portanto, abrangen<strong>do</strong> suatrajetória <strong>de</strong> significações no seio das instituições sociais,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua criação até o momento presente 45 .A Obra <strong>de</strong> Arte em face da perspectiva interpretativa que a Cultura lheatribui é,principalmente um Bem Simbólico. Entretanto, este ‘valor’, “nãoexiste como tal a não ser para quem <strong>de</strong>tenha os meios <strong>de</strong> apropriar-se <strong>de</strong>la, ouseja, <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifrá-la 46 ”Logo, o objeto artístico - a Obra <strong>de</strong> Arte – é conforme a face <strong>de</strong> objeto <strong>de</strong>comunicação, porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mensagens. Deste mo<strong>do</strong>, assume o caráter <strong>de</strong> umobjeto referencial, ou seja, um Documento passível <strong>de</strong> várias interpretações,ten<strong>do</strong> em vista que, assim como a literatura, tem um significa<strong>do</strong> e valor em sipróprio.Em 1934, Paul Otlet, ‘pai’ da Documentação, caracterizava comoDocumento “objetos naturais, artefatos, objetos que contêm traços <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong>s humanas (como objetos arqueológicos), mo<strong>de</strong>los exploratórios,jogos educativos, e obra <strong>de</strong> arte” 47 .44 LIMA, D. op. cit,. p. 3445 Ibi<strong>de</strong>m [grifo <strong>do</strong> autor]46 BOURDIEU, Pierre e DARBEL, Alan. O Amor pela Arte: os museus <strong>de</strong> arte na Europa eseu público. São Paulo: Edusp, 2003. p. 7147 BUCKLAND apud OTLET. What is a <strong>do</strong>cument? Journal Of The American Society ForInformation Science. 48(9):804–809, Set.1997, p. 80535
Consi<strong>de</strong>ra-se Documento qualquer fonte <strong>de</strong> informação, representadaem forma material, capaz <strong>de</strong> ser usa<strong>do</strong> como referência ou estu<strong>do</strong>, como porexemplo, manuscritos, impressos, ilustração, diagramas, objetos museológicos,etc 48 .Para Suzanne Briet 49 , Madame Documentation, afirma que Documento équalquer signo físico ou simbólico, preserva<strong>do</strong> e grava<strong>do</strong>, com intenção <strong>de</strong>representar, reconstruir, ou <strong>de</strong>monstrar um fenômeno físico ou conceitual.Segun<strong>do</strong> Buckland 50 , a partir da <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Briet infere-se que Documento:1—Tem materialida<strong>de</strong>: objetos físicos e signos físicos;2 – Tem intencionalida<strong>de</strong>: intenção <strong>de</strong> que o objeto seja trata<strong>do</strong>como evidência;3 – O objeto tem que ser processa<strong>do</strong>: <strong>de</strong>vem sertransforma<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>cumento;4 – Tem uma posição fenomenológica: o objeto é percebi<strong>do</strong>como evidência.O processo <strong>de</strong> validação <strong>do</strong> status <strong>de</strong> um objeto para uma Obra <strong>de</strong> Arte,assim como a análise e <strong>de</strong>codificação <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s que estão presentes requernormas e padrões constituí<strong>do</strong>s não somente pelo Campo da Arte, mas tambémpor outros Campos <strong>do</strong> Conhecimento ten<strong>do</strong> em vista o seu caráter simbólico e<strong>do</strong>cumental. Ou seja, reconhecê-la na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vetor <strong>de</strong> comunicação,interpretan<strong>do</strong>-a como fragmento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e com qualida<strong>de</strong>s intrínsecas eextrínsecas ao Objeto-Documento.Enten<strong>de</strong>-se por qualida<strong>de</strong>s acima mencionadas os da<strong>do</strong>s intrínsecos àObra <strong>de</strong> Arte aquele que são “concernentes às proprieda<strong>de</strong>s físicas e48 Definição Segun<strong>do</strong> InternationalInstitute for intelectual Cooperation, em colaboração coma Union Français dês Organisment <strong>de</strong> Documentation.49 BUCKLANDapud BRIET.op. cit., p. 80650 Ibi<strong>de</strong>m, p. 80636
particulares <strong>do</strong> objeto (âmbito interno peculiar, aspecto da estrutura material eformal) 51 ”. Já os da<strong>do</strong>s extrínsecos, sãoinformações <strong>do</strong>cumental e contextual, são aquelas obtidas <strong>de</strong>outras fontes que não o objeto e que só muito recentementevêm receben<strong>do</strong> mais atenção por parte <strong>do</strong>s encarrega<strong>do</strong>s <strong>de</strong>administrar coleções museológicas. Elas nos permitemconhecer os contextos nos quais os objetos existiram,funcionaram e adquiriram significa<strong>do</strong> e geralmente sãofornecidas quan<strong>do</strong> da entrada <strong>do</strong>s objetos no museu e/ouatravés das fontes bibliográficas e <strong>do</strong>cumentais existentes 52 .Os da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m intrínseca e extrínseca consubstanciam também os<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s Documentos da Arte e Documentos sobre Arte.O conjunto informacional que compõem estão a cargo da Informação emArte que <strong>de</strong>senvolve estu<strong>do</strong> especializa<strong>do</strong> relaciona<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Pinheiro, à“Arte”, “Artista” e “Obra”.A Obra <strong>de</strong> Arte na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Bem Simbólico, só po<strong>de</strong> sercompreendida, retoman<strong>do</strong> a citação já mencionada <strong>de</strong> Bourdieu, por quemtem condições culturais <strong>de</strong> <strong>de</strong>codificá-la. Percebe-se que a “inexauribilida<strong>de</strong> damensagem faz com que a riqueza da recepção <strong>de</strong>penda antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, dacompetência <strong>do</strong> receptor” 53 . A significação da Obra <strong>de</strong> Arte é <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da“gra<strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação que lhe é aplicada” 54 .Além da crítica, a análise e a legitimação <strong>de</strong> um objeto/linguagemestético na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Obra <strong>de</strong> Arte, logo bem simbólico, serão tambémrealizadas por outras instâncias <strong>de</strong> consagração juntamente com a Crítica.Segun<strong>do</strong> Bourdieu, “as áreas <strong>de</strong> exercício da legitimação culturalsão51 Ibi<strong>de</strong>m, p. 80452 FERREZ, Helena. Documentação Museológica: teoria para uma boa prática. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong>Ensaio n. 2, Estu<strong>do</strong>s <strong>de</strong> Museologia. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Minc/Iphan, p. 64-74, 1996. p. 65.53 BOURDIEU, P. e DARBEL, A. op. cit,. p. 7154 Ibi<strong>de</strong>m, p. 8037
<strong>de</strong>nominadas [...] <strong>de</strong> instâncias <strong>de</strong> consagração, instâncias <strong>de</strong> difusãoouinstâncias oficiais e semi oficiais <strong>de</strong> difusão,e instâncias <strong>de</strong> reprodução <strong>do</strong>sprodutores e <strong>do</strong>s consumi<strong>do</strong>res” 55 .De forma a institucionalizar e objetivar a Representação Cultural,enten<strong>de</strong>-se por Instâncias <strong>de</strong> consagração, os <strong>Museu</strong>s, instituições cultuais,coleções privadas e/ou publicas, e eventos/ premiações, como Salões <strong>de</strong> Arte,Bienais, <strong>de</strong>ntre outros.A leitura <strong>do</strong> <strong>do</strong>cumento/objeto estético presente nas instituiçõesmuseológicas é realizada com auxilio da Informação em Arte conduzin<strong>do</strong>,ao encontro das duas dimensões interpretativas <strong>do</strong>s bensculturais, que se dão nos espaços da percepção/produçãoartística e da percepção/recepção artística [...] contextos dacriação artística e da interpretação sobre a criação 56 .Os Agentes sociais <strong>do</strong> Campo Simbólico da Arte, segun<strong>do</strong> Lima 57 , sãoapresenta<strong>do</strong>s como:produtores/autores <strong>do</strong> Saber-Fazer ====== o(s) artista(s)<strong>do</strong>minam os conhecimentos acumula<strong>do</strong>s e específicos dalinguagem artística nos territórios da percepção/criaçãoartística/Autoria <strong>do</strong> Saber-Fazer;analistas <strong>do</strong> Saber-Fazer ====== os intérpretes ou media<strong>do</strong>resda linguagem da Arte/<strong>do</strong> artista, isto é, o pesquisa<strong>do</strong>r emgeral:críticos/historia<strong>do</strong>resda arte/museólogos/professores, etc.<strong>do</strong>minam os conhecimentos acumula<strong>do</strong>s e específicos dalinguagem artística nos territórios da percepção/apreciação,interpretação acerca da criação artística /Análise <strong>do</strong> Saber-Fazer.A Informação em Arte, <strong>de</strong>senvolvida para as Pesquisas em Arte,trabalha com <strong>do</strong>is tipos <strong>de</strong> discursos: Discursos da Arte e Discursos sobre Arte55 LIMA apud BOURDIEU, p. 2756 LIMA, op. cit,. p. 6757 Ibi<strong>de</strong>m, p. 7938
epresenta<strong>do</strong>s através <strong>do</strong>s Documentos da Arte, a Obra <strong>de</strong> Arte e osDocumentos sobre Arte, os <strong>do</strong>cumentos bibliográficos primários e secundárioscomo livros, artigos, folhetos, catálogos, exposições, jornal, dissertações,teses, entre outros.Ten<strong>do</strong> em vista que uma Obra <strong>de</strong> Arte é consagrada no espaço <strong>do</strong><strong>Museu</strong>, o fazer artístico, objetiva<strong>do</strong> na Obra <strong>de</strong> Arte, passa a fazer parte <strong>do</strong> queo historia<strong>do</strong>r Gerard Namer nomeia <strong>de</strong> “memória seletiva <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>” 58 , sãotestemunhos culturais escolhi<strong>do</strong>s/recebi<strong>do</strong>s para posteriormente seremanalisa<strong>do</strong>s. Assim, os <strong>Museu</strong>s <strong>de</strong> Arte salvaguardam exemplos da História daArte consagra<strong>do</strong>s por <strong>do</strong>is campos legitima<strong>do</strong>res: a Arte e o <strong>Museu</strong>.O <strong>Museu</strong> po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>do</strong>, conforme Bourdieu como um espaço<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, é instância <strong>de</strong> consagração on<strong>de</strong> se ratificam posturas jáconsagradas ou on<strong>de</strong> novas posturas são apresentadas. O <strong>Museu</strong>:tem o privilégio <strong>de</strong> falar a linguagem da época, a linguagem daimagem, linguagem inteligível para to<strong>do</strong>s e a mesma em to<strong>do</strong>sos países (...). O museu [...] em breve, será o complementonecessário, o substrato <strong>de</strong> todas as nossas ativida<strong>de</strong>s 59 .Enten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a Obra <strong>de</strong> Arte na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Objeto Museológico,isto é, <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s que precisam ser <strong>de</strong>codifica<strong>do</strong>s e dissemina<strong>do</strong>s, além<strong>do</strong> seu papel <strong>de</strong> legitima<strong>do</strong>r <strong>de</strong>stes bens simbólicos/estéticos, o <strong>Museu</strong>também se caracteriza como espaço <strong>de</strong> pesquisa, tanto para seu interior,estabelecen<strong>do</strong> subsídios para a compreensão e o manejo <strong>de</strong> suas coleções,quanto para seu exterior, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos interesses <strong>do</strong>s58 NAMER, G. p. 17859 BOURDIER,P. e DARBEL, A. op. cit,. p. 2039
especialistas, <strong>do</strong> visitante e <strong>do</strong> pesquisa<strong>do</strong>r, condicionan<strong>do</strong> exercer sua práticaàs orientações conceituais da Documentação.Sob este foco enten<strong>de</strong>-se por Documentação Museológica, <strong>de</strong>acor<strong>do</strong> com Ferrez 60 :o conjunto <strong>de</strong> informaçõessobrecada um <strong>do</strong>s seusitens e,porconseguinte, a representação<strong>de</strong>stespormeio da palavra eda imagem (fotografia). Aomesmo tempo, é um sistema <strong>de</strong>recuperação <strong>de</strong> informaçãocapaz <strong>de</strong> transformar, […], ascoleções <strong>do</strong>s museus <strong>de</strong> fontes <strong>de</strong> informações semfontes <strong>de</strong>pesquisacientíficaoueminstrumentos <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong>conhecimento.Assim,o <strong>Museu</strong> [...]mais <strong>do</strong> que qualquer outra instituição cultural, sobo ponto <strong>de</strong> vista organizacional, revela perfil a<strong>de</strong>qua<strong>do</strong> parasediar a informação especializada às pesquisas <strong>de</strong> temáticaligada ao seu acervo 612.3. O pioneirismo em Documentação aplicada à Arte: GettyFoundation e <strong>Museu</strong>m Prototype ProjectA interpretação <strong>de</strong>stes bens culturais artísticos pertencentes a coleções<strong>de</strong> arte em <strong>Museu</strong>s, assim como sua especialida<strong>de</strong>, impulsionou algumasinstituições a <strong>de</strong>senvolver meto<strong>do</strong>logias próprias que auxiliassem naconstrução <strong>de</strong>ste arcabouço informacional artístico.60 FERREZ, op. cit,. p. 6461 Ibi<strong>de</strong>m40
A interpretação acerca da criação artística - artista, obra <strong>de</strong> arte e seucontexto - apresentada sob o Discurso da Arte e Discurso sobre Arte nosDocumentos da Arte e Documentos sobre Arte que se encontram sob a possedas instituições museológicas, levou instituições como a Getty Foundation areconhecer a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ampliação no seu campo <strong>de</strong> atuação.Assim, a Getty Foundation criou no ano <strong>de</strong> 1982 um programa volta<strong>do</strong> paraPesquisa em Arte que tinha como objetivos:1. Desenvolver padrões para troca <strong>de</strong> informações sobrepintura oci<strong>de</strong>ntal2. Defen<strong>de</strong>r um acor<strong>do</strong> sobre mo<strong>do</strong>s <strong>de</strong> registro outrosprojetos <strong>de</strong> história da arte e automação <strong>de</strong> museus.3. Definir da<strong>do</strong>s capazes <strong>de</strong> conter informações quenormalmente são encontradas nos arquivos <strong>de</strong> cura<strong>do</strong>r <strong>de</strong>museus e museólogos4. Consi<strong>de</strong>rar a extensão <strong>de</strong>stes da<strong>do</strong>s com os seus tipos <strong>de</strong>objetos5. Planejar uma recuperação <strong>de</strong> informação flexível.Conteú<strong>do</strong>1. Coor<strong>de</strong>nar o conteú<strong>do</strong> catalográfico <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s para facilitara sua inserção e sua recuperação2. Desenvolver ou adaptar vocabulários controla<strong>do</strong>s outhesauros para catalogação <strong>de</strong>scritiva e nomes <strong>de</strong>autorida<strong>de</strong>Dividir1. Dar entrada aos da<strong>do</strong>s <strong>de</strong> catálogos sobre pintura oci<strong>de</strong>ntalnos arquivos <strong>de</strong> registro e curatoriais que não sejamconfi<strong>de</strong>nciais.2. Realizar um catálogo compartilha<strong>do</strong> através <strong>de</strong> um sistema<strong>de</strong> fácil seleção para o compartilhamento, busca emanutenção <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>sSistema para gestão <strong>de</strong> coleções1. Desenvolver sistemas <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> coleçõesautomatiza<strong>do</strong>s conforme as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cadainstituição2. Analisar links entre catálogos compartilha<strong>do</strong>s e sistemas <strong>de</strong>gestão <strong>de</strong> coleções automatiza<strong>do</strong>s 6262 Library Trends41
Decorrente <strong>de</strong>sta iniciativa, criou-se no âmbito <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> Paul Getty, oCentro para História da Arte e Humanida<strong>de</strong>s, e o Programa <strong>de</strong> Informação emHistória da Arte, hoje conheci<strong>do</strong> como Research Institute, liga<strong>do</strong> à FundaçãoGetty. O Programa <strong>de</strong> Informação em História da Arte visava criar um sistemaintegrada <strong>de</strong> informação por meio <strong>de</strong> computa<strong>do</strong>r que oferecesse subsídiospara apoiar pesquisas no campo da Arte em âmbito nacional.Chama<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>m Prototype Project – MPP, o projeto reuniu oito<strong>Museu</strong>s <strong>de</strong> Arte localiza<strong>do</strong> nos Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s em diferentes esta<strong>do</strong>s eadministra<strong>do</strong>s por diversos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> gestão. Os oito <strong>Museu</strong>s que a<strong>de</strong>riramao MPP, foram:J. Paul Getty <strong>Museu</strong>m (Califórnia);Solomon R. Guggenheim <strong>Museu</strong>m (Nova York);<strong>Museu</strong>m of Mo<strong>de</strong>rnArt (Nova York);Metropolitan <strong>Museu</strong>m of Art (MET,);<strong>Museu</strong>mof Fine Arts (MFA/Boston),National Gallery of Art (Galeria Nacional <strong>de</strong> Arte, Washington);Art<strong>Museu</strong>m Princeton UniversityHood <strong>Museu</strong>m Dartmont CollegeCom finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> automação <strong>de</strong>stes acervos museológicos, o MPPreuniu os conhecimentos <strong>do</strong>s mais diversos campos como História da Arte,Museologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação, Informática. Sua meta foiprocessar tecnicamente as informações necessárias e consi<strong>de</strong>radas42
indispensáveis para o estu<strong>do</strong> e o registro das Obras <strong>de</strong> Arte pertencentes ascoleções.I<strong>de</strong>ntificada a Obra <strong>de</strong> Arte comoum Objeto museológico e que secaracteriza como“porta<strong>do</strong>r <strong>de</strong> mensagens” 63(data carrier), conforme já<strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> por Peter Van Mesch, a museológa Lima 64 . explica queos estu<strong>do</strong>s para in<strong>de</strong>xação e recuperação da informaçãomuseológica das obras <strong>de</strong> arte/artistas, buscaram a<strong>de</strong>quar,reconstruir, <strong>de</strong>finir, e estabelecer um conjunto normativo <strong>de</strong>indica<strong>do</strong>res/itens para os campos <strong>de</strong> informação, sedimenta<strong>do</strong>nas categorias já aprovadas e usadas pelas experiências daMuseologia, a fim <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r aos manejos da catalogação <strong>do</strong>sobjetos <strong>de</strong> acervos, e o resulta<strong>do</strong> enumerou quais os pontosconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s característicos para <strong>de</strong>terminar os aspectos<strong>de</strong>scritivos <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação da obra artística e/ou <strong>do</strong>s seusprodutores, e outros aspectos liga<strong>do</strong>s aos atributos e relaçõesque ela recebe e estabelece na sua históriaDeterminou-se, então, os itens/da<strong>do</strong>s que possivelmente seriam utiliza<strong>do</strong>spelas instituições culturais envolvidas no projeto, compon<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta maneira ummo<strong>de</strong>lo padrão <strong>de</strong>stinada à base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s. O formulário elabora<strong>do</strong> viabilizou ainserção <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s em sessenta campos <strong>de</strong> informação, anexa<strong>do</strong>s aos tópicosArtista, Obra, Vida e Contexto,requisitos básicos para entendimento einterpretação <strong>de</strong> um objeto artístico e o universo temático da área daInformação em Arte.As pesquisas e os trabalhos <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong>s pela Getty através <strong>do</strong> MPPformalizaram o <strong>de</strong>lineamento <strong>do</strong> campo disciplinar daInformação em Arte -- cuja matéria <strong>de</strong> estu<strong>do</strong> associapesquisas em arte às fontes <strong>de</strong> investigação/informação, nasformas <strong>de</strong>nominadas <strong>do</strong>cumentação museológica e<strong>do</strong>cumentação bibliográfica; a primeira, embasada nostestemunhos culturais/objetos <strong>do</strong> acervo <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>, e a outra,63 MESCH, Peter Van. In: PIERCE, Susan. Objectsofknowledge, p. 14264 LIMA apud MESCH, P.43
constituída pelos testemunhos culturais/<strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong>Biblioteca e Arquivo -- procuram atentar, ainda, para anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> compor, com este conjunto <strong>do</strong>cumental <strong>de</strong>duas naturezas, um “recurso <strong>de</strong> referência” para informação,consubstancia<strong>do</strong> no princípio da inter-relação <strong>do</strong>s objetosmuseológicos e da <strong>do</strong>cumentação contextual, que po<strong>de</strong>rá serapresenta<strong>do</strong> sob diversas formas, conquanto que se a<strong>de</strong>que àsindagações da comunida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s pesquisa<strong>do</strong>res 65 (grifo <strong>do</strong>autor).A Informação em Arte, segun<strong>do</strong> Lena Vania Ribeiro Pinheiro, é <strong>de</strong>caráter interdisciplinar abrangen<strong>do</strong>, “o conteú<strong>do</strong> informativo <strong>do</strong> objeto <strong>de</strong> arte,no seu senti<strong>do</strong> mais amplo, <strong>do</strong>cumento oriun<strong>do</strong> <strong>de</strong> manifestações e produçãoartística e sobre Arte, artista e obra”. E seu âmbito <strong>de</strong> açãoopera em <strong>do</strong>is níveis, localizan<strong>do</strong>-se, no primeiro extrato, a<strong>do</strong>cumentação museológica que contempla a fonte <strong>de</strong>informação ‘objeto museológico’, a obra <strong>de</strong> arte propriamentedita, na sua qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> testemunho ou <strong>do</strong>cumento(s) <strong>de</strong> arte,e no segun<strong>do</strong>, a <strong>do</strong>cumentação bibliográfica que trata da fonte<strong>de</strong> informação ‘<strong>do</strong>cumentos <strong>de</strong> biblioteca e arquivo’,representan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>cumentos sobre arte, engloban<strong>do</strong> as<strong>de</strong>nominadas literatura <strong>de</strong> arte e literatura sobre arte [...] 66O resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste Programa encaminhou para a elaboração <strong>de</strong>vocabulários controla<strong>do</strong>s específicos para o Campo da Arte comoThe Art &Architecture Thesaurus , The Cultural Objects Name Authority (CONA), TheGetty Thesaurus of Geographic Names e The Union List of Artist Names quepo<strong>de</strong>m ser acessa<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> site da Instituição – www.getty.edu. Aindahoje o Programa colhe frutos. De um projeto tornou-se um Instituto <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>uma Fundação privada, chamada <strong>de</strong> Research Institute ten<strong>do</strong> por finalida<strong>de</strong>65 Ibi<strong>de</strong>m66 LIMA, op. cit,. p. 6844
não somente dar continuida<strong>de</strong> ao MPP como também <strong>de</strong> disponibilizarsubsídios, tanto <strong>de</strong> caráter intelectual quanto financeiro às Pesquisas em Arte.A visão sistémica <strong>do</strong> campo <strong>do</strong> Conhecimento da História da Artepermitiu i<strong>de</strong>ntificar nódulos <strong>de</strong> confluências e <strong>de</strong> divergências capazes <strong>de</strong> darpotência para um outro campo que ao que se po<strong>de</strong> constatar já po<strong>de</strong> estar seconstruin<strong>do</strong>: Informação em Arte.2.4. O Artista UniversalOs Agentes que atuam, ou <strong>de</strong>veriam atuar no campo da Informação emArte, estão cada vez mais próximos a mesma idéia <strong>do</strong> Artista <strong>de</strong> um serUniversal, aquele que transita com enorme <strong>de</strong>senvoltura por to<strong>do</strong>s os espaçospertinentes ao seu conhecimento.Observa-se que Oiticica po<strong>de</strong> ser incluí<strong>do</strong> nas características <strong>de</strong> ArtistaUniversal - polímata, sujeito cujo conhecimento não está restrito a uma únicaárea <strong>de</strong> conhecimento. Idéia difundida durante o perío<strong>do</strong> renascentista. Apaixão <strong>de</strong> criar, para Oiticica, se confun<strong>de</strong> com a paixão pelo conhecimento,aspecto clarivi<strong>de</strong>nte em sua trajetória e que ressoa até os dias atuais. Afinal,conforme explicita<strong>do</strong> por Merleau-Ponty 67 , “não se tem <strong>de</strong> escolher entre omun<strong>do</strong> e a arte, entre os nossos senti<strong>do</strong>s e a pintura absoluta: estão to<strong>do</strong>sentrelaça<strong>do</strong>s”.O projeto <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma nova realida<strong>de</strong> poética e artística <strong>de</strong>Oiticica, mas, sobretu<strong>do</strong> <strong>de</strong> reconhecimento <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> através da Arte, oi<strong>de</strong>ntifica como um Sujeito que para além <strong>do</strong> artista <strong>de</strong>sejava, conforme67 MERLEAU-PONTY, Maurice. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac&Naify, p. 7845
salienta<strong>do</strong> por Bergson 68 em relação a intuição estética, levantar o véuespesso que a rotina interpõe entre os homens e as coisas.Unin<strong>do</strong>, a abstração com a objetivação <strong>de</strong> seu pensamento, criou umsistema <strong>de</strong> classificação a partir <strong>de</strong> utilização <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outroscampos <strong>do</strong> Saber. O conjunto <strong>do</strong>s Termos e Conceitos utiliza<strong>do</strong>s permitei<strong>de</strong>ntificar o processo criativo <strong>do</strong> artista e seu pensamento estético sob o ponto<strong>de</strong> vista, não apenas <strong>do</strong> cria<strong>do</strong>r, mas especialmento <strong>do</strong> teórico que classificasuas obras/invenções artísticas como itens para in<strong>de</strong>xação, trata<strong>do</strong> nadissertação como fraseologia 69 oiticiana.A fraseologia oiticiana <strong>de</strong>termina um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> classificação paraobra estética que permite aplicação para in<strong>de</strong>xação e recuperação daInformação: a Linguagem Documentária. Uma linguagem artificial, construídacom regras estabelecidas que é utilizada nos sistema <strong>do</strong>cumentários parain<strong>de</strong>xação, armazenamento e recuperação 70 .Quan<strong>do</strong> o artista nomeia: B1 Bóli<strong>de</strong> Caixa 1 “Cartesiano”, 1962, maisque um título, realiza uma categorização ou uma catalogação precisa <strong>de</strong> grupo<strong>de</strong> trabalhos ou série, neste caso, in<strong>de</strong>xa<strong>do</strong>s sob o termo Bóli<strong>de</strong>.Utiliza um código alfanumérico:B1que expressa o primeiro trabalho realiza<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta nomenclatura, oprimeiro Bóli<strong>de</strong>.68 BOSI apud BERGSON, p. 4169 Expressões constituídas pela combinação frequente <strong>de</strong> substantivo, adjetivo ou verbo, comou sem preposição, que mantém unicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significa<strong>do</strong>. Também chamada unida<strong>de</strong>fraseológica.70 ELABORAÇÃO DE TESAURO DOCUMENTÁRIO. In: Biblioteca, Informação & Tecnologia daInformação. Disponível em http://www.conexaorio.com/biti/tesauro/glossario.htm. Acessa<strong>do</strong>17/12/2011.46
Além <strong>de</strong> ser o primeiro Bóli<strong>de</strong>, é também o primeiroBóli<strong>de</strong> CaixaSen<strong>do</strong> assim:Bóli<strong>de</strong> Caixa 1Alguns Bóli<strong>de</strong>s, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> tipo <strong>de</strong> material agregaram mais umnome. Trata<strong>do</strong> na dissertação como Sub-título, neste exemplo“Cartesiano”B1 Bóli<strong>de</strong> Caixa 1 - “Cartesiano”, 196447
Hélio Oiticica. B1 Bóli<strong>de</strong> Caixa 1 Cartesiano. Acrílica sobre ma<strong>de</strong>ira, 1962.Em vista <strong>de</strong>sta especificida<strong>de</strong>, a nomenclatura estabelecida pelo artistacategoriza uma or<strong>de</strong>nação conceitual que merece ser levada em conta nãosomente na catalogação, mas também disseminada pela exposição e bases <strong>de</strong>da<strong>do</strong>s das instituições/fontes <strong>de</strong> consulta <strong>de</strong> pesquisa<strong>do</strong>res que o tenhamcomo foco.Com a categorização <strong>de</strong> suas invenções, Oiticica estabelece umprocesso <strong>de</strong> ‘auto-reconhecimento’. Um sistema criativo particular <strong>de</strong>nomenclatura/terminologia que no contexto da Informação em Arte, leva arefletir e indagar sobre a maneira a<strong>de</strong>quada <strong>de</strong> registro e interpretação a ser48
feita hoje em dia, respeitan<strong>do</strong> o espírito <strong>de</strong> sua obra, <strong>de</strong>scortinan<strong>do</strong> umamaneira meto<strong>do</strong>lógica <strong>de</strong> ‘participar’ <strong>de</strong> seus ‘inventos’.Como num <strong>Museu</strong>, que da mesma forma intenta <strong>de</strong>scortinar uma novarealida<strong>de</strong> pré-existente e não observada, e a partir <strong>de</strong>sta i<strong>de</strong>ia,criar um“espaço aon<strong>de</strong> é possível recriar um mun<strong>do</strong> or<strong>de</strong>na<strong>do</strong>, on<strong>de</strong> as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser frágeis, vagas e instáveis 71 .O <strong>Museu</strong> é, segun<strong>do</strong> Malraux 72 , um <strong>do</strong>s locais que proporciona a maiselevada i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Homem. Assim, não se po<strong>de</strong> escolher entre a Obra e oMun<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que ambas estão entrelaçadas em nossos senti<strong>do</strong>s 73 .As Obras <strong>de</strong> Arte <strong>de</strong> Oiticica são como fios soltos que necessitam <strong>do</strong>participa<strong>do</strong>r, ou neste caso <strong>de</strong> Agentes especializa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> “Campo Simbólicoda Arte”, para recomeçar o gesto que as criou.Unir estes fios soltos - Linguagem Artística e Documentária <strong>de</strong> Oiticica -através da Documentação Museológica e com os conhecimentos daInformação em Arte é a gestão <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>s etécnicas eficientes e confiáveiscom a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> coletar, preservar, organizar, representar, selecionar,reproduzir e disseminar as informações presentes em “<strong>do</strong>cumento significativosou potencialmente significativos 74 .Mediante os Documentos da Arte e Documentos sobre Arte e seusrespectivos Discursos, um novo território e um novo espaço é <strong>de</strong>scortina<strong>do</strong>pela compreensão <strong>de</strong> um novo pensamento que é atualiza<strong>do</strong> por meio <strong>de</strong>práticas distintas <strong>de</strong> um campo <strong>do</strong> conhecimento.71 BAUMAN apud SOLA72 MALRAUX, A. <strong>Museu</strong> imaginário. Lisboa: Edições 70, 2011. p. 1273 MERLEAU-PONTY, op. cit,. p. 7874 BUCKLAND, op. cit,. p. 80449
Recolher os poemas, as palavras, os termos e conceitos espalha<strong>do</strong>s porneste ‘espaço <strong>de</strong> memória’, no museu <strong>de</strong> Oiticica com o auxílio <strong>do</strong>s ‘fios <strong>de</strong>Ariadne’, a Informação em Arte, cria-se uma Linguagem compreensível aosEstudiosos da Arte.É mediantes as práticas <strong>de</strong> Documentação em <strong>Museu</strong>s, mas,principalmente com o <strong>do</strong>mínio da Informação em Arte que se po<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificarno artista Hélio Oiticica a criação <strong>de</strong> um sistema <strong>do</strong>cumentário através <strong>de</strong> seusTermos e Conceitos.50
3.Aspiran<strong>do</strong> ao gran<strong>de</strong> LabirintoObjetivos e Meto<strong>do</strong>logiaObjetivo Geral· I<strong>de</strong>ntificar e analisar no contexto <strong>de</strong> invenção <strong>de</strong> Oiticica, e sob aperspectiva da Informação em Arte, a fraseologiaoiticianarepresentada nos Discurso/ Documento da Arte e Discurso/Documento sobre a Arte para harmonizar termos, conceitos e suasobras/inventos, visan<strong>do</strong> estabelecer critérios <strong>de</strong> normalizaçãoterminológica a ser utilizada na catalogação, in<strong>de</strong>xação e disseminação<strong>de</strong> suas obras.Objetivos Específicos· I<strong>de</strong>ntificar e analisar na multiplicida<strong>de</strong> tipológica da produção artística ascategorias terminológicas criadas por Oiticica para sua obra einova<strong>do</strong>ras nas Artes Plásticas;· Estabelecer, a partir <strong>do</strong> conjunto terminológico i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong> e analisa<strong>do</strong> -fraseologia oiticiana; o critério usa<strong>do</strong> por Hélio Oiticica (sua51
meto<strong>do</strong>logia) para classificação <strong>do</strong>s termos e conceitos componentes<strong>de</strong>sta catalogação ‘oiticiana’.· Fornecer subsídios no contexto da normalização terminológica para umaLinguagem Documentária ‘oiticiana’ (In<strong>de</strong>xação / Recuperação /Disseminação da Informação Artística).52
Meto<strong>do</strong>logiaA meto<strong>do</strong>logia aplicada na pesquisa para a dissertação no seu mo<strong>de</strong>loconceitual e operatório se configura como um Estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> Caso abordan<strong>do</strong> oque se nomeou <strong>de</strong> fraseologia oiticiana, um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> classificação paraobra estética que permite aplicação como Linguagem Documentária.No contexto artístico, reflete um mo<strong>do</strong> particular que o artista utilizoupara se expressar, <strong>de</strong>stacan<strong>do</strong>-se as Categorias criadas – inventadas -- porHélio Oiticica para classificar sua produção.Os procedimentos técnicos a<strong>do</strong>ta<strong>do</strong>s para i<strong>de</strong>ntificar os pontos <strong>do</strong> temaforam os seguintes:-- 1 -- Levantamento bibliográfico: Discurso/Documentos sobre ArteA partir da coleção particular <strong>de</strong> César e Cláudio Oiticica:A) Fontes primárias:a) <strong>do</strong>cumentos escritos por Hélio Oiticica acerca das suas questõesartísticas e sobre arte em geral ten<strong>do</strong> como <strong>de</strong>staque o material que aborda acategorização da sua obra;b) a produção artística <strong>de</strong> Hélio Oiticica reproduzida em fotos e emoutros tipos <strong>de</strong> imagem;c) filmes e gravações relacionadas a <strong>de</strong>poimentos <strong>do</strong> autor e sobre oautor.B) Fontes secundárias:53
a) monografias (teses e dissertações), críticas <strong>de</strong> arte, catálogos <strong>de</strong>exposições, artigos e <strong>de</strong>mais fontes <strong>de</strong> consulta focalizan<strong>do</strong> Hélio Oiticica esua produção em suportes tradicionais bem como em ambiente Internet.-- 2 -- Elaboração <strong>de</strong> um ‘cartograma’: Documentos/Discurso da Arte‘Esquema para compreensão <strong>do</strong> Labirinto’ constituí<strong>do</strong> através <strong>de</strong> umaimagem em forma <strong>de</strong> re<strong>de</strong> representan<strong>do</strong> as Categorias utilizadas pelo artista,o que exemplifica e corrobora a construção <strong>de</strong> sua produção artística sob aforma da fraseologia oiticiana.-- 3 -- Elaboração <strong>de</strong> Glossário:‘Inventos <strong>de</strong> Hélio Oiticica’. Como resulta<strong>do</strong> da pesquisa sobre afraseologia oiticiana foi gera<strong>do</strong> um glossário com os termos e conceitoscria<strong>do</strong>s pelo artista para suas obras/invenções (Apêndice).54
4.Apropriar-se... a eleição pelo afetoGuardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.Em cofre não se guarda coisa alguma.Em cofre per<strong>de</strong>-se a coisa à vista.Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la poradmirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela ilumina<strong>do</strong>.Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília porela, isto é, velar por ela, isto é, estar acorda<strong>do</strong> por ela,isto é, estar por ela ou ser por elaAntonio CíceroOs homens são construí<strong>do</strong>s pelos afetos. São construí<strong>do</strong>s por escolhas.Elege-se, escolhe-se, guardam-se os afetos, e às vezes os <strong>de</strong>safetos.Evi<strong>de</strong>ncia-se ou se esquece, não importa. To<strong>do</strong>s estão guarda<strong>do</strong>s:E on<strong>de</strong> são guarda<strong>do</strong>s os afetos?Na lembrança, na memória, no<strong>Museu</strong>. Elege-se e escolhe-se o que i<strong>de</strong>ntifica o homem. O que ajudai<strong>de</strong>ntificar a si mesmo e, especialmente o outro. Cada um vê o mun<strong>do</strong> comolhos diferentes. Da mesma maneira, o homem escolhe o que o i<strong>de</strong>ntifica eesquece aquilo que o aflige.Em 1963, Oiticica criou o seu primeiro Bóli<strong>de</strong> Saco. Poético, o artistacosturou em letras <strong>de</strong> teci<strong>do</strong> vermelho a frase: Teu Amor Eu Guar<strong>do</strong> Aqui. ODiscurso da Arte oiticiano atua como uma vitrine que encapsula a pessoa queinterage com a obra, e o especta<strong>do</strong>r que a vê, tem a sensação <strong>de</strong> que estarven<strong>do</strong> aquilo que quer guardar, aquilo que comove, que se ama. Ao mesmotempo, aquele que ‘veste’ ou experimenta a obra é aquele que quer guardar eapropriar-sedaquilo que o afeta, a própria existência.55
Hélio Oiticica com B Bóli<strong>de</strong> Saco Teu amor eu guar<strong>do</strong> aquiO <strong>Museu</strong> exerce papel especial em relação a estes afetos, pois é oelemento que faz a mediação entre o homem e os afetos, entre asmanifestações simbólicas e o sujeito. De acor<strong>do</strong> com Bosi 75 , o homem semprecria ao seu re<strong>do</strong>r espaços expressivos, masquanto mais volta<strong>do</strong>s ao uso quotidiano mais expressivos são osobjetos: os metais se arre<strong>do</strong>ndam, se ovalam, os cabos <strong>de</strong>ma<strong>de</strong>ira brilham pelo contato com as mãos, tu<strong>do</strong> per<strong>de</strong> as75 BOSI, Eclea. O Tempo Vivo da Memória: Ensaios <strong>de</strong> Psicologia Social. São Paulo: AteliêEditorial, 2003, p. 2656
arestas e se abranda. [...] chama <strong>de</strong> objeto biográficos, poisenvelhecem como possui<strong>do</strong>r e se incorporam à sua vida.Hélio Oiticica foi um homem construí<strong>do</strong> por afetos.Um artista preocupa<strong>do</strong> em <strong>de</strong>ixar aos homens, também construí<strong>do</strong>s peloafeto, um novo mun<strong>do</strong>. A construção <strong>de</strong>ste Mun<strong>do</strong> por Oiticica iniciou aindamuito ce<strong>do</strong>. Quan<strong>do</strong> criança, preferia ler enciclopédias, ou <strong>de</strong>corar o GuiaRex 76 , ao invés <strong>de</strong> jogar bola ou correr na rua como costumavam fazer seusirmãos. Devi<strong>do</strong> a sua fascinação pelo espaço urbano e possivelmente pelo seucontato com a cartografia encartada nos guias da cida<strong>de</strong>, criou uma novacida<strong>de</strong>, a nova Belo Horizonte. Desenhou ruas, avenidas, lagoas, praças,parques, muitos lugares que posteriormente vão servir <strong>de</strong> ‘palco’ ou inspiraçãopara sua produção. Colan<strong>do</strong> uma folha ofício na outra até caber por inteiro asua cida<strong>de</strong>, Oiticica apresentou cartograficamente seu mun<strong>do</strong> imaginário.Mapa realiza<strong>do</strong> por Oiticica aos 10 anos (circa), <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> posteriormente <strong>de</strong> ‘Nova Belo Horizonte’76 Guia Rex: guia <strong>de</strong> ruas e transporte público <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro. Havia encarta<strong>do</strong>, mapas,nome <strong>de</strong> ruas e trajeto <strong>de</strong> ônibus. No Rio <strong>de</strong> Janeiro, a publicação foi substituída pela Rio Ruasda editora Quadro Rodas.57
Neste mapa se faz presente a sua afetivida<strong>de</strong>. Afetivida<strong>de</strong> e memória, olocal on<strong>de</strong> se guarda a expressiva i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> uma criança, a sua casa. Aúnica menção <strong>de</strong> arquitetura que se po<strong>de</strong> ver no mapa i<strong>de</strong>ntificada por “palácioimperial” na verda<strong>de</strong> se refere à casa da família on<strong>de</strong> Oiticica e seus irmãospassaram parte da infância:aquilo que faz a profundida<strong>de</strong> das casas da infância, suapregnância na lembrança, é evi<strong>de</strong>ntemente esta estruturacomplexa <strong>de</strong> interiorida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> os objetos <strong>de</strong>spenteiam diante<strong>de</strong> nossos olhos os limites <strong>de</strong> uma configuração simbólicachamada residência 77 .A memória é a própria alma, é “aquela que opera no sonho e na poesia,está situada no reino privilegia<strong>do</strong> <strong>do</strong>s espíritos livres [...]” 78 .4.1. Apropriação das ‘coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>’: processos <strong>de</strong>musealização e processo <strong>de</strong> significação estéticaElegen<strong>do</strong>, guarda-se. Guardan<strong>do</strong>, conserva-se. Ao se guardar um objeto- como fazem os <strong>Museu</strong>s - retira-o <strong>do</strong> seu contexto primeiro, atribuin<strong>do</strong> valoressimbólicos, sobretu<strong>do</strong>, afetivos. Apropriar-se <strong>de</strong>stes objetos é uma ação paraalém <strong>do</strong> intelectual.77 BAUDRILLARD, J. O sistema <strong>do</strong>s objetos. São Paulo: Perspectiva, 2002. p. 22.78 BOSI, Op. Cit. p. 3958
A Musealizaçãose inicia com a separação ou suspensão <strong>de</strong> um objeto. Éum ato <strong>de</strong> escolha, mas sobretu<strong>do</strong> um ato <strong>de</strong> registro.É a separação <strong>do</strong> objeto ou coisa <strong>de</strong> seu contexto original para seranalisa<strong>do</strong> como <strong>do</strong>cumento, como item <strong>de</strong> caráter representativo <strong>de</strong> umarealida<strong>de</strong>. Torna-se uma evidência autentica da realida<strong>de</strong> 79 . Contu<strong>do</strong>, oprocesso <strong>de</strong> Musealização é uma ação com práticas <strong>de</strong>finidas:musealização, como processo cientifico incluinecessariamente, ativida<strong>de</strong>s essenciais para o museu:preservação (seleção, aquisição, gestão <strong>de</strong> coleções,conservação), pesquisa (incluin<strong>do</strong> catalogação) e comunicação(através <strong>de</strong> exposições, publicações, etc.) 80 .O processo <strong>de</strong> Musealização é uma ação que retira <strong>do</strong> objeto ‘recolhi<strong>do</strong>’eo transforma em Bem Cultural. Per<strong>de</strong> sua funcionalida<strong>de</strong>, mas passa a seralgo significativo, carrega o caráter <strong>de</strong> Patrimônio.Assim, apropriar-se <strong>de</strong> alguma coisa é também colecionar e catalogaralgo. Ou seja, a prática museológica:Em verda<strong>de</strong>, o ser humano tem retira<strong>do</strong> formas <strong>de</strong> seu cotidiano,elegen<strong>do</strong>-as como peças para os museus, compon<strong>do</strong> tiposforma<strong>do</strong>res <strong>de</strong> séries, fenômenos [...] i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>s comomusealização 81 .É um processo científico que acaba por <strong>de</strong>slocar a imagem <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>enquanto templo para a imagem <strong>de</strong> <strong>Museu</strong> na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> laboratório, ten<strong>do</strong>em vista a sua prática ligadas à ativida<strong>de</strong>s essenciais para os <strong>Museu</strong>s.79 DESVALLÉES, Ae MAIRESSE, F (ed.). Key Concept of Museology. Paris: Armand Colin,2010. p. 5080 Ibi<strong>de</strong>m81 CURY, Marilia Xavier. Musealização, comunicação e processo curatorial no MAE/USP.Trabalho apresenta<strong>do</strong> na II Semana <strong>do</strong>s <strong>Museu</strong>s da USP. São Paulo, maio <strong>de</strong> 1999. p. 1.59
Se, musealizar inclui tarefas como Preservar, Pesquisar, Comunicar, oato <strong>de</strong> apropriação por parte <strong>do</strong> artista Oiticica é também um ato <strong>de</strong>Preservação. Como não i<strong>de</strong>ntificava em sua produção obras finitas em si, mas‘inventos’ na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ‘projetos em progressão’, <strong>de</strong>clarou que apenas oconjunto <strong>de</strong> obras realiza<strong>do</strong> po<strong>de</strong>ria <strong>de</strong>monstrar <strong>de</strong> fato sua intensão, o seu atoevi<strong>de</strong>ncia uma prática <strong>de</strong> musealização e, <strong>de</strong> certa forma, um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ‘autocolecionar’.I<strong>de</strong>ntifica a sua obra como ‘conjunto’ e <strong>de</strong> certa forma como‘coleção’, a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar que a:sucessão <strong>de</strong> obras é para fazer inteligível o que sou. Eu passoa me conhecer através <strong>do</strong> que eu faço. Que na realida<strong>de</strong> eunão sei o que eu sou [...].De acor<strong>do</strong> com Baudrillard 82 , a posse jamais é a <strong>de</strong> um utensílio, ésempre a <strong>de</strong> um objeto abstraí<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua função e relaciona<strong>do</strong> ao indivíduo. Oobjeto apropria<strong>do</strong>/musealiza<strong>do</strong> torna-se Objeto <strong>de</strong> Coleção. A Coleção,segun<strong>do</strong> o mesmo autor, serve <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lo, “pois é nela que triunfa esteempreendimento apaixona<strong>do</strong> <strong>de</strong> posse <strong>de</strong>la que a posse cotidiana <strong>do</strong>s objetosse torna poesia, discurso inconsciente e triunfal” 83 .O ato <strong>de</strong> apropriar-se por parte <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> é o ato <strong>de</strong> resignificar o objetopara qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Bem Simbólico, transforman<strong>do</strong>-o em ObjetoMuseológico/Musealiza<strong>do</strong>, logo, Documento. Assim, o objeto museológico<strong>de</strong>verá ser inscritos sob as práticas <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> Musealização.Deste mo<strong>do</strong>, o apropriar-se museológico é semelhante ao ato <strong>de</strong>apropriar-se da Arte. O artista ao apropriar-se <strong>de</strong> um objeto opera da mesmamaneira que o <strong>Museu</strong>, e este objeto apropria<strong>do</strong> passará pelos mesmos82 BAUDRILLARD, J. op. cit,. p. 9583 Ibi<strong>de</strong>m60
processos <strong>de</strong> Musealização. O artista que preservar o objeto apropria<strong>do</strong>,pesquisa, ou seja, conceitua sobre este objeto <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a inseri-lo ao campoda Arte e comunica, coloca o objeto em exposição.O ato <strong>de</strong> coletar objetos, segun<strong>do</strong> Outlet, tem como propósito apreservação, a ciência e a educação, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong> o ato <strong>de</strong> coletar objetos, ouse apropriar se confun<strong>de</strong> a ação <strong>de</strong> Musealizar um objeto. Se confun<strong>de</strong> com oprocesso <strong>de</strong> Musealização. As coleções são criadas por itens apropria<strong>do</strong>s quecontribui como importante evidência autêntica da realida<strong>de</strong>.Já termo Apropriação na Arte começou a ser emprega<strong>do</strong> pela História eCrítica da Arte como fator indicativo à incorporação <strong>de</strong> objetos ‘extra-artístico’ àobra <strong>de</strong> arte, ou até mesmo à própria obra <strong>de</strong> arte em si.Inicia<strong>do</strong> pelos processos experimentais <strong>de</strong> artistas cubistas, comoBraque e Picasso, o ato <strong>de</strong> apropriação liberta o artista <strong>do</strong> jugo da superfície:busca recriar fotografias, <strong>de</strong>senhos, cartuns e reproduçõesimpressas <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> arte, partin<strong>do</strong> da premissa <strong>de</strong> que énecessário recicla-las por já não existirem i<strong>de</strong>ias originais 84 .Contu<strong>do</strong>, foi a partir <strong>do</strong>s Ready-Ma<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcel Duchamp que a ação<strong>de</strong> apropriar-se <strong>de</strong> algo é transformá-lo em Obra <strong>de</strong> Arte. O movimentodadaísta transforma o fazer artístico como uma forma <strong>de</strong> critica radical contra osistema da arte estabeleci<strong>do</strong>.84 MARCONDES, Luiz Fernan<strong>do</strong>. Dicionário <strong>de</strong> Termos Artísticos. Rio <strong>de</strong> Janeiro: EdiçõesPinakotheke, 1998. p. 19.61
Marcel Duchamp. Roda <strong>de</strong> bicicleta. Primeiro Ready-Ma<strong>de</strong>A ‘estética <strong>de</strong> acumulação’ 85 ou o ato <strong>de</strong> apropriação realizada pela Arteinicia-se a partir <strong>do</strong> ato <strong>de</strong> tomar para si um Objeto e uma idéia, da mesmaforma que realiza a Museologia ou um coleciona<strong>do</strong>r.Alguns artistas, influencia<strong>do</strong>s pela Semiologia, mas especificamente porBarthes, crítico literário e semiólogo, utilizaram meios <strong>de</strong> expressão diferentes<strong>do</strong>s já legitima<strong>do</strong>s como pintura, escultura, entre:o texto é um teci<strong>do</strong> <strong>de</strong> citações, saídas <strong>do</strong>s mil focos dacultura. [...] o escritor não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> imitar um gestosempre anterior, nunca original 86 .Embora Barthes esteja se referin<strong>do</strong> ao texto literário, a afirmaçãosintetiza também a criação artística. O Ready-Ma<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcel Duchamp é85 DICIONARIO DE ARTES PLÁSTICAS, Itau Cultural. Disponivel emhttp://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/in<strong>de</strong>x.cfm?fuseaction=termos86 BARTHES, Roland. O rumor da língua. Lisboa: Edições 70, 1984, p. 52.62
[...] um trivial objeto manufatura<strong>do</strong>, <strong>de</strong> uso corrente, que éescolhi<strong>do</strong> por um artista para ser exibi<strong>do</strong> como obra <strong>de</strong> arte,<strong>de</strong>spoja<strong>do</strong> da sua função própria, em uma espécie <strong>de</strong>comentário divulga<strong>do</strong> pelo Dada e pelo Surrealismo, sobre asintenções <strong>do</strong> artista ao fazer arte, diferente da habilida<strong>de</strong>manipulativa aplicada às formas tradicionais 87 .Quan<strong>do</strong> Duchamp apropriou-se <strong>de</strong> um objeto manufatura<strong>do</strong> e otransformou em Obra, coloca em evidência o olhar/percepção <strong>do</strong> artista aoobjeto em <strong>de</strong>trimento a habilida<strong>de</strong> manual, ato no qual se i<strong>de</strong>ntifica o Discursoda Arte se expressan<strong>do</strong> e ligan<strong>do</strong> para o campo artístico um referencial <strong>de</strong>estu<strong>do</strong> que se formaliza como Documento da Arte. O ato <strong>de</strong> eleição passa aser uma operação artística.Marcel Duchamp, com a obra La Fontaine subverte <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> irônico ofazer artístico, o artista e o merca<strong>do</strong>, mas involuntariamente, o <strong>Museu</strong>. E naHistória da Arte exercita-se o ato <strong>de</strong> apropriação, assim como po<strong>de</strong>-sei<strong>de</strong>ntificar o mesmo ato na própria prática museológica. Percebe-se na ação <strong>de</strong>Duchamp “uma articulação entre os campos verbal e visual [...] com profundasrepercussões na Arte Contemporânea” 88 .87 MARCONDE, L. F. op cit. p. 249.88 FERREIRA, G. e COTRIM, C. (org.). op. cit,. p. 14.63
Marcel Duchamp. La Fountaine (A fonte).Na obra <strong>de</strong> Hélio Oiticica, a utilização <strong>do</strong> termo Apropriação se iniciacom o Bóli<strong>de</strong>durante a década <strong>de</strong> 60, mas somente em 1979 é transforma<strong>do</strong>em um conjunto <strong>de</strong> obras ‘in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte’ cuja categoria é o próprio termoApropriação:Na minha experiência, tenho em programa e já iniciei o quechamo <strong>de</strong> “apropriação”: acho um objeto ou conjunto-objetoforma<strong>do</strong> <strong>de</strong> partes ou não, e <strong>de</strong>le tomo posse como algo quepossui para mim um significa<strong>do</strong> qualquer 89 .Com os Bóli<strong>de</strong>s, o artista se apropriou <strong>de</strong> um objeto pré-fabrica<strong>do</strong>, maspoeticamente quer guardar algo <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> objeto apropria<strong>do</strong>. São coisasapropriadas que guardam, como nos <strong>Museu</strong>s, valores simbólicos, umaapropriação mágico-poética:89 OITICICA, Hélio. Posição e Programa. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong> Janeiro: RIOARTE,1996. p. 100.64
Oiticica pouco difere <strong>de</strong> um homem da era <strong>do</strong> paleolíticoexibin<strong>do</strong> o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> sua caça – o troféu <strong>de</strong> um pedaço <strong>de</strong>asfalto da Avenida Presi<strong>de</strong>nte Vargas semelhan<strong>do</strong> o formatoda ilha-miolo <strong>de</strong> Nova York na apropriação mágico-poéticaintitulada Manhattan Brutalista. 90O primeiro Bóli<strong>de</strong> Apropriação é categoriza<strong>do</strong> pelo autor como B36Bóli<strong>de</strong> Caixa 19, Apropriação 1, 1966.Hélio Oiticica, B36 Bóli<strong>de</strong> Caixa 19, apropriação 1, 1966Trata-se <strong>de</strong> duas padiolas utilizadas na construção <strong>de</strong> casas paracarregar brita. Em exposição, uma padiola é disposta sobre a outra <strong>de</strong> mo<strong>do</strong>que <strong>do</strong>is participa<strong>do</strong>res, obe<strong>de</strong>cen<strong>do</strong> ao critério <strong>do</strong> artista, possam interagirretiran<strong>do</strong> uma sobre a outra, e assim, ‘<strong>de</strong>scobrir’ o que está escondi<strong>do</strong>.A pesquisa utilizará o termo Participa<strong>do</strong>r em <strong>de</strong>trimento <strong>do</strong> termoEspecta<strong>do</strong>r por se a<strong>de</strong>quar as propostas estéticas <strong>do</strong> artista. O termo90 SALOMÃO, Wally. Qual é o Parangolé? Rio <strong>de</strong> Janeiro: Rocco, 2003, p. 32.65
Participa<strong>do</strong>r aparece pela primeira vez no texto <strong>de</strong> sua autoria intitula<strong>do</strong>Posição e Programa <strong>de</strong> 1966.Contu<strong>do</strong>, o que chama mais atenção é a obra:Bóli<strong>de</strong> Lata 1, Apropriação 2, realizada no mesmo ano.B38 Bóli<strong>de</strong> Lata 1, Apropriação 2, 1966De maneira poética e lírica, Oiticica se apropria não somente <strong>do</strong> objetopré-fabrica<strong>do</strong>, manufatura<strong>do</strong>, mas também da intangibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um atopoético, e <strong>de</strong> algo simbólico ao homem: o fogo. Com uma lata <strong>de</strong> alumínio,66
estopa e álcool, Oiticica dá a luz da mesma maneira que os mora<strong>do</strong>res <strong>de</strong> ruase utilizam <strong>de</strong>la para iluminar os caminhos:[...] transformo-o em obra: uma lata conten<strong>do</strong> óleo, ao qual éposto fogo (uma pira rudimentar, se quisermos): <strong>de</strong>claro-aobra, <strong>de</strong>la tomo posse: pra mim, adquiriu o objeto umaestrutura autônoma – acho nele algo fixo, um significa<strong>do</strong> quequero expor à significação [...] 91 .A partir da experiência proposta com o Bóli<strong>de</strong> Lata, Oiticica instaura oque <strong>de</strong>nomina “apropriação geral”. O seu intuito é que a experiência da lata <strong>de</strong>fogo sirva <strong>de</strong> referência a to<strong>do</strong>s os sinais luminosos que são encontra<strong>do</strong>s nasruas durante a noite:[...] quem viu a lata <strong>de</strong> fogo isolada como obra não po<strong>de</strong>rá<strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> lembrar que é uma obra ao ver, na calada da noite,as outras espalhadas como que sinais cósmicos, simbólicos,pela cida<strong>de</strong>: juro <strong>de</strong> mãos postas que nada existe <strong>de</strong> maisemocionante <strong>do</strong> que essas latas sós, iluminan<strong>do</strong> a noite (o fogoque nunca apaga) – são uma ilustração da vida 92 .O artista se apropriou <strong>de</strong> um objeto e i<strong>de</strong>ia da rua e, como consequência<strong>de</strong>sta ação, redigiu no mesmo ano (1966) <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s seus textos emblemáticos,Posição e Programa, e Programa Ambiental.Nestes textos críticos, Oiticica <strong>de</strong>senvolve novos conceitos para Arte,<strong>Museu</strong> e Especta<strong>do</strong>r.O conceito <strong>de</strong> exposição, para Oiticica, <strong>de</strong>veria ser modifica<strong>do</strong> a partir<strong>do</strong> entendimento <strong>de</strong> obra ambiental, o processo <strong>de</strong> comunicação <strong>do</strong> objetoatravés da exposição se esten<strong>de</strong>, em consequência disso, intenta <strong>de</strong>senvolverum novo conceito para <strong>Museu</strong>. Todavia, esta nova conceituação <strong>do</strong> I<strong>de</strong>al <strong>de</strong>91 OITICICA, H. op. cit,. p. 103-104.92 OITICICA, op. cit,. p. 10067
<strong>Museu</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> pelo artista está ligada diretamente à prática museológica,quan<strong>do</strong> preten<strong>de</strong>:[...] esten<strong>de</strong>r o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> apropriação às coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>com que <strong>de</strong>paro nas ruas, terrenos baldios, campos, o mun<strong>do</strong>ambiente, enfim – coisas que não são transportáveis, mas paraas quais eu chamaria o público à participação – seria isto umgolpe fatal ao conceito <strong>de</strong> museu, galeria <strong>de</strong> arte, etc., e aopróprio conceito <strong>de</strong> exposição [...]. <strong>Museu</strong> é o Mun<strong>do</strong>: é aexperiência cotidiana: os gran<strong>de</strong>s pavilhões para mostrasindustriais são os que ainda servem para tais manifestações 93 .E seria esta ação um golpe fatal ao conceito <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>?Oiticica utilizou o termoApropriação em diversas obras e textos.Entretanto, o caráter <strong>de</strong> apropriação <strong>de</strong> termos oriun<strong>do</strong>s <strong>de</strong> outros camposchama atenção e colabora para sua construção exemplar <strong>de</strong> uma linguagemestética própria.4.2. O Artista-InventorA apropriação <strong>de</strong> palavras, termos, objetos, conceitos, transforma oartista em inventor, em especial Hélio Oiticica que <strong>de</strong>senvolveu uma linguagemprópria, não somente estética mas também cientifica que dialoga com aInformação em Arte, no contexto da Ciência da Informação.Conforme explicita<strong>do</strong> anteriormente a Obra <strong>de</strong> Arte é entendida pelaInformação em Arte como um objeto que carrega um caráter cada vez maiscomplexo <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong> e abstração, passan<strong>do</strong> a incluir assim diferentes93 Ib<strong>de</strong>m, p. 103-104.68
manifestações artística/poéticas como cinema, fotografia, ví<strong>de</strong>o, música edança 94 .As questões propostas durante o perío<strong>do</strong> trata<strong>do</strong> nesta pesquisa (1955-1980) <strong>de</strong>monstram que o fazer artístico se <strong>de</strong>sloca, aproximan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong>pensamento conceitual <strong>do</strong>s artistas que além <strong>de</strong> exercitar sua prática, discursasobre ela. Seu discurso “torna-se elemento central das estratégias poéticas e<strong>do</strong> <strong>de</strong>bate em torno <strong>de</strong>las” 95 .Desta forma, a leitura <strong>de</strong>stes objetos por parte da Museologia <strong>de</strong>ve serrealizada com o auxilio da Informação em Arte, através <strong>do</strong> conhecimento eestu<strong>do</strong> da produção intelectual <strong>do</strong> artista, <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s intrínsecos e extrínsecos<strong>do</strong> objeto.De certo mo<strong>do</strong>, anteven<strong>do</strong> a problemática que o estu<strong>do</strong> <strong>de</strong> suaprodução, ou melhor, o seu caráter <strong>de</strong>safia<strong>do</strong>r imposto por ela, Oiticica sereconhece em suas obras e aconselha como se <strong>de</strong>ve vê-las e estudá-las.Por se tratar <strong>de</strong> um artista cuja importância para a História da Arte évalidada por diversos pesquisa<strong>do</strong>res, críticos e cura<strong>do</strong>res, a pesquisa sefundamenta em sua própria produção intelectual (estético e conceitual): “HOsoube metamorfosear o mun<strong>do</strong> da<strong>do</strong> em sistema significante e chumbar aor<strong>de</strong>m da vivência com a or<strong>de</strong>m da expressão” 96 .Oiticica foiconceitua<strong>do</strong>r<strong>de</strong> sua própria progressão artística. Escrevia semparar, era verborrágico, seus escritos acompanhavam as suas obras, talvez94 PINHEIRO, Lena Vania Ribeiro. Prefácio. In: Interdiscursos da Ciência da Informação: Arte,<strong>Museu</strong> e Imagem. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IBICT, 2000. p. 08.95 FERREIRA, G. OpCit, p. 19.96 SALOMÃO, W. Op. Cit, p. 67.69
preferin<strong>do</strong> encarar obra e escrita como uma só ativida<strong>de</strong>, como “uma correnteincessante <strong>de</strong> invenção e pensamento” 97 .Trata-se <strong>de</strong> um artista que <strong>de</strong>ixou como lega<strong>do</strong> centenas <strong>de</strong> textosteóricos que versam sobre sua obra e sobre outros artistas contemporâneos;sobre Arte, Filosofia e, sobretu<strong>do</strong> sobre Museologia, por conta <strong>de</strong> sua critica aoprocesso <strong>de</strong> institucionalização da Obra <strong>de</strong> Arte por parte <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>, pelaGaleria <strong>de</strong> Arte, ou até mesmo pelo próprio público ou pela crítica. Projetan<strong>do</strong>secontra qualquer tendência artística <strong>de</strong> “uma arte reducionista, instrumental epolítica em favor da experimentação, ‘proposições abertas’ nas quais fossempossíveis ‘uma condição ampla <strong>de</strong> participação popular’” 98 (grifo <strong>do</strong> autor).Ávi<strong>do</strong> leitor <strong>de</strong> teorias filosóficas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Merleau-Ponty, Cassirer aNietzsche, passan<strong>do</strong> por teóricos da Escola <strong>de</strong> Frankfurt, como A<strong>do</strong>rno eMarcuse, Oiticica apropriou-se da leitura <strong>de</strong>stes filósofos como um mo<strong>do</strong> <strong>de</strong>legitimar e tornar verda<strong>de</strong>iro o seu pensamento e a construção <strong>de</strong> suaprodução na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong>‘inventos’.Essa urgência pelo mo<strong>de</strong>rno, não somente com relação a Arte, mastambém <strong>do</strong> Homem corrobora para a suplantação <strong>de</strong>ste artista ao status <strong>de</strong>artista/pensa<strong>do</strong>r/inventor/cientista. No fim <strong>de</strong> sua vida, <strong>de</strong>clarou não ser apenasum artista, e não fazer apenas Arte, <strong>de</strong>scobre “q faço é música” 99 .Seu <strong>de</strong>sejo, <strong>de</strong> homem mo<strong>de</strong>rno a frente <strong>de</strong> seu tempo, era ‘reconectar’o homem com a poética mítica outrora perdida, aproprian<strong>do</strong>-se <strong>de</strong> afetos,salvaguardan<strong>do</strong>-os, transforman<strong>do</strong> a própria ação estética em ações97 BRETT, Guy. Notas sobre os escritos. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong> Janeiro: RIOARTE,1996. P. 20798 BRETT, Guy. O exercício experimental da liberda<strong>de</strong>. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong>Janeiro: RIOARTE, 1996. p. 229.99 OITICICA, H. De Hélio Oiticica para Biscoitos Finos. 11/11/1979. APHO 0057/79. p. 02.70
constitutivas <strong>de</strong> seu ‘espaço <strong>de</strong> memória’. Sim, o que ele faz é musica. Música,palavra com a mesma raiz da palavra <strong>Museu</strong>, e que<strong>de</strong>rivam coinci<strong>de</strong>ntemente da palavra Musa. O que Hélio, sim,profundamente intuía é que seu “fazer” tinha a ver com amúsica das musas: era fazer muséico, antes <strong>do</strong> quemuseológico 100 (grifo <strong>do</strong> autor).<strong>Museu</strong> que “recopila, reor<strong>de</strong>na, recupera, o espalhamento da poesiadas coisas” 101 . O artista, Orfeu-Oiticica, é aquele que fixou e tornou acessívelaos mais ‘humanos’ <strong>do</strong>s homens o espetáculo <strong>de</strong> que fazem parte sem vêlo102 .Oiticica se apropriou <strong>do</strong> fazer <strong>de</strong> Orfeu, filho <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>. Apropriou-se <strong>de</strong>nomes <strong>de</strong> campos <strong>do</strong> conhecimento distintos <strong>do</strong> campo da Arte, e vai além, seapropriou da palavra e <strong>do</strong> verbo, como se verbalizasse às suas obras:“conheces o nome que te <strong>de</strong>ram, não conheces o nome que tens” 103 .100 CAMPOS, Harol<strong>do</strong>. Revista <strong>do</strong> Masp. São Paulo, ano 2, no. 2, P. 64, s/d.101 CURY, Marilia Xavier. <strong>Museu</strong>, filho <strong>de</strong> Orfeu, e a musealização. In: ColoquioMuseología,Filosofia e I<strong>de</strong>ntidad in America Latina e no Caribe. Documentos <strong>de</strong> Trabajos. Rio <strong>de</strong> Janeiro:ICOFOM LAM; Tacnet Cultural, 2011. p. 50.102 MERLEAU-PONTY, op. cit,.103 SARAMAGO, José. To<strong>do</strong>s os nomes. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 371
5.Per<strong>de</strong>r-se...o labirinto <strong>de</strong> Oiticica, a construção <strong>de</strong> sua re<strong>de</strong> <strong>de</strong> fios soltos e afraseologia oiticiana como guiao artista funciona como um ser mediúnico que, <strong>de</strong>um labirinto situa<strong>do</strong> além <strong>do</strong> tempo e <strong>do</strong> espaçoprocura caminhar até uma clareiraGregory BattcockDédalo foi consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> um “artista universal, arquiteto, escultor einventor consuma<strong>do</strong>” 104 . Sua engenhosida<strong>de</strong> o permitiu construir tanto umlabirinto, on<strong>de</strong> os homens se perdiam e eram ‘<strong>de</strong>vora<strong>do</strong>s’ pelo Minotauro, comoas asas artificiais para Ícaro, permitin<strong>do</strong> alçar vôo e escapar.Oiticica realiza o mesmo percurso, apresenta um novo mun<strong>do</strong> induzin<strong>do</strong>ao homem a perceber novamente seu mito <strong>de</strong> origem, como “que [...] pisan<strong>do</strong>outra vez a terra” 105 .Construiu o labirinto e também as asas.A construção <strong>do</strong> labirinto <strong>de</strong> Oiticica não se <strong>de</strong>tém meramente aconstrução artística concreta <strong>de</strong> uma Obra <strong>de</strong> Arte finita em si, mas a criação<strong>de</strong> um esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser. E por que não dar a este novo esta<strong>do</strong> <strong>de</strong> ser, asas?A imagem mítica e imagem cientifica encontram-se objetivada em suasobras. A imagem <strong>do</strong> labirinto é emblemática na obra <strong>de</strong> Oiticica, tanto a sua104 BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Vozes, p. 55105 BARATA, Mario. Hélio <strong>de</strong>põe sobre Tropicália e Parangolés. Jornal <strong>do</strong> Commercio.21/05/196772
produção teórica quanto artística tem um fluxo sinuoso e <strong>de</strong> possível perda.Per<strong>de</strong>r-se, nos processos proferi<strong>do</strong>s por Oiticica é como no Labirinto, per<strong>de</strong>r-secomo maneira <strong>de</strong> encontrar-se.O emaranha<strong>do</strong> <strong>de</strong> textos, obras, fotos, bulas, intenções, entre outros, seapresentam <strong>de</strong> fato como um extensivo ‘espaço <strong>de</strong> memória’ que na realida<strong>de</strong>se converge à aplicação <strong>de</strong> práticas pertinentes a este espaço, cuja leitura éhipertextual. É como a fita <strong>de</strong> Moebius que “pelo seu <strong>de</strong>senrolar quase queentre novelos infinitos e pista-volante, entre estrias geométricas e resto <strong>de</strong>placenta 106 ”, <strong>de</strong>sven<strong>do</strong>u novos caminhos possíveis.5.1. Dos Labirintos à fita <strong>de</strong> MoebiusProjeto Cães <strong>de</strong> Caça, 1961106 CAMPOS, Harol<strong>do</strong>. Asa <strong>de</strong>lta para o êxtase. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong> Janeiro:RIOARTE, 1996. p. 219-22073
Em 1961, Oiticica realiza o Projeto Cães <strong>de</strong> Caça na forma <strong>de</strong> umgran<strong>de</strong> Labirinto:com três saídas e logo <strong>de</strong> inicio seu caráter passou a ser muitoparticular, pelo fato <strong>de</strong> não ser um jardim no senti<strong>do</strong> habitualque se conhece e somente porque seria construí<strong>do</strong> permitin<strong>do</strong>o acesso <strong>do</strong> público 107 .Projeta<strong>do</strong> para a cor ser experimentada da mesma forma que o seuprimeiro Penetrável (PN1), o Projeto Cães <strong>de</strong> Caça <strong>de</strong>veria ser um lugar amplopara a experimentação e vivências, uma espécie <strong>de</strong> “jardim lúdico”, espaçoeste que será realiza<strong>do</strong> para a experimentação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r posteriormentena obra intitulada, É<strong>de</strong>n.O Projeto Cães <strong>de</strong> Caça se configura como um enorme labirinto,composto por 5 penetráveis e as obras Poema enterra<strong>do</strong>, <strong>de</strong> Ferreira Gullar eTeatro Integral <strong>de</strong> Reinal<strong>do</strong> Jardim. Este projeto era para ser construí<strong>do</strong> comoum jardim, mas como um jardim habitual 108 , era para ser realiza<strong>do</strong> em umparque, em uma cida<strong>de</strong> qualquer. Deveria ser um lugar on<strong>de</strong>:o individuo [...] se refugiaria, assim como quem entra nummuseu, para vivências <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m estética como se fossealgo “mágico”, capaz <strong>de</strong> levá-lo a outro plano que não o<strong>do</strong> cotidiano 109 (grifo <strong>do</strong> autor).No texto sobre o Projeto Cães <strong>de</strong> Caça, Mario Pedrosa 110 afirma queeste projeto agrega uma nova idéia às experiências <strong>de</strong> Hélio Oiticica, a <strong>do</strong>107 OITICICA, H. Sobre o Projeto Cães <strong>de</strong> caça. In: FiGUEIREDO, L. op. cit,. p. 35108 OITICICA, Hélio. Sobre criação e vonta<strong>de</strong> construtiva na composição. AHO/PHO 0109.67. p.01109 Ibi<strong>de</strong>m110 PEDROSA, Mario. Projetos Cães <strong>de</strong> Caça <strong>de</strong> Hélio Oiticica. In: APHO <strong>do</strong>c. 2360/61.74
tempo vivencia<strong>do</strong> através da participação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r na criação <strong>do</strong> artista,integran<strong>do</strong>-o para libertá-lo <strong>do</strong> cotidiano.Apesar <strong>do</strong> Projeto Cães <strong>de</strong> Caça ser constituí<strong>do</strong> por cinco Penetráveis,Hélio Oiticica não o incluiu na categoria ‘Penetrável’.O seu Projeto Cães <strong>de</strong> Caça foi exposto pela primeira vez no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong>Arte Mo<strong>de</strong>rna<strong>do</strong> Rio <strong>de</strong> Janeiro e infelizmente nunca foi concretiza<strong>do</strong> <strong>de</strong> fato,apesar disso po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rar a maquete enquanto Obra <strong>de</strong> Arte finita emsi. Seus caminhos <strong>de</strong>veriam se construí<strong>do</strong>s em mármore branco, la<strong>de</strong>a<strong>do</strong>s porareia também branca, que leva às construções labirínticas. Penetráveissimples, mas com um refinamento peculiar que é próprio <strong>de</strong> Oiticica.Estes ‘Labirintos’ <strong>de</strong> Oiticica inseri<strong>do</strong>s ou não na categoria Penetrável,são mais que meros espaços cria<strong>do</strong>s para experimentação por parte <strong>do</strong>especta<strong>do</strong>r-participa<strong>do</strong>r. O <strong>de</strong>senvolvimento da produção artística e intelectual,também apresenta-se sob forma labiríntica que necessita, assim como olabirinto <strong>do</strong> Minotauro, <strong>de</strong> fios condutores para po<strong>de</strong>r entrar e sair.Observa-se que quan<strong>do</strong> se fala sobre a categoria Penetrável e as obrasque ali estão inseridas , vem primeiramente à mente a imagem <strong>do</strong> labirinto, eprofere-se assim a comparação da forma pela forma, sem maiores elaboraçõescognitivas que a categoria exige.Quan<strong>do</strong> questiona<strong>do</strong> sobre o que são <strong>de</strong> fato os Labirintos <strong>de</strong> Oiticica, opoeta Harol<strong>do</strong> <strong>de</strong> Campos, os <strong>de</strong>finem como sen<strong>do</strong> “âmbitos que ele constróie <strong>de</strong>strói, nos quais encontram um habitat natural às suas invençõesparticulares 111 ”. De certo mo<strong>do</strong>, a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> Campos traz à mente, oconceito <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>. O <strong>Museu</strong> é o espaço físico (<strong>Museu</strong> tradicional) ou111 CAMPOS, op. cit,.75
metafísico on<strong>de</strong> os mitos são cria<strong>do</strong>s ou reatualiza<strong>do</strong>s através <strong>do</strong> rito. Assim,Oiticica <strong>de</strong>clarou que a experiência que o especta<strong>do</strong>r <strong>de</strong>veria ter com o ProjetoCães <strong>de</strong> Caça está próxima a experiência que este tem ao entrar em um<strong>Museu</strong>.Seja em espaço físico, seja em espaço metafisico, os ‘inventos’ <strong>de</strong>Oiticica formam, em conjunto, um labirinto, que possuem pontos <strong>de</strong>interseções. Um espaço “que <strong>de</strong>s<strong>do</strong>brava das categorias mais rígidas <strong>do</strong> quese entendia por arte 112 "A imagem <strong>do</strong> labirinto na produção <strong>de</strong> Oiticica remete a criação <strong>de</strong> suascategorias:-- Metaesquema-- Bilateral-- Relevo Espacial-- Núcleo-- Penetrável-- Bóli<strong>de</strong>E a imagem e i<strong>de</strong>ia da fita <strong>de</strong> Moebius está presente na categoria:Parangolé 113 .seja:No labirinto <strong>de</strong>scança-se, no Parangolé ganha-se asas e o <strong>de</strong>lírio, ou... o labirinto éo âmbito on<strong>de</strong> pairam, naturalmente, os seus"ninhos" sem pássaro, mas que pediam, pela ausência <strong>de</strong>112 CAMPOS, op. cit,. P. 217113 Esta divisão das categorias através das imagens Labirinto e fita <strong>de</strong> Moebius po<strong>de</strong>ser vista na entrevista <strong>de</strong> Harol<strong>do</strong> <strong>de</strong> Campos sobre a obra <strong>de</strong> Hélio Oiticica, publicadano catalogo Helio Oiticica <strong>de</strong> 1996.76
pássaro, o vôo que ele <strong>de</strong>pois iria restituir a esse ninhos,através <strong>do</strong> parangolé, on<strong>de</strong> o ausente pássaro passa a ter asascom as quais <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> o seu vôo(grifo <strong>do</strong> autor) 114 .A essência dicotômica <strong>de</strong> Oiticica se resvala sobre os seus ‘inventos’ esobre sua ânsia <strong>de</strong> criar alguma obra/conceito/filosofia, <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>-a aoshomens. Talvez a percepção da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suas obras e conceitos tenhacolabora<strong>do</strong> para o surgimento <strong>de</strong> um Oiticica auto-preservativo, que pensavasua produção como um to<strong>do</strong>, como uma re<strong>de</strong> ou sistema.Deste mo<strong>do</strong>, Hélio Oiticica se apresenta ao mesmo tempo possuin<strong>do</strong>“<strong>de</strong>lirante aban<strong>do</strong>no e or<strong>de</strong>m meticulosa, intelecto e transe” 115 .Critico com relação a Arte vigente e as categorias vigentes <strong>do</strong> Campo daArte, sempre <strong>de</strong>sejou:propor o seu próprio sistema <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns que se cingiriam eentrelaçariam em to<strong>do</strong>s os níveis, <strong>do</strong> objeto ao corpo, àarquitetura, a " totalida<strong>de</strong>s ambientais" incorporan<strong>do</strong> o " da<strong>do</strong>"e o " construí<strong>do</strong>", a natureza e a cultura (grifo <strong>do</strong> autor) 116 ".“Organizan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>lírio”, segun<strong>do</strong> Campos, impulsiona o artista a criar oseu próprio mun<strong>do</strong> através daexperiênciaartística. A Arte <strong>de</strong> Oiticica é realizadaem laboratório queacostuma<strong>do</strong> a viver num ambiente <strong>de</strong> cientistas, que cultivavaao mesmo tempo o gosto artístico. Vin<strong>do</strong> então <strong>de</strong>ssa família<strong>de</strong> intelectuais e cientistas (o pai fotografo <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>sensibilida<strong>de</strong>), isto explica <strong>de</strong> certa maneira, ou ajuda acompreen<strong>de</strong>r, o la<strong>do</strong> <strong>de</strong> organização, <strong>de</strong> méto<strong>do</strong>, quasecartesiano <strong>de</strong> Hélio 117 .114 Ibi<strong>de</strong>m, p. 221115 BRETT, op. cit,. p. 222116 BRETT, op. cit,.p.208117 CAMPOS, op. cit,. p.21977
Com esse perfil <strong>de</strong> ‘investiga<strong>do</strong>r solitário’ e sua necessida<strong>de</strong> latente emorganizar quase que cientificamente a sua obra, foi exposta ao público em1969 durante a sua exposição em Londres, intitulada nada mais sugestivo que“Whitechapel Experience”, ou seja Experiência Whitechapel.5.2. Whitechapel ExperienceHélio Oiticica em frente da Galeria Whitechapel. Londres, 1969A plenitu<strong>de</strong> plástica <strong>de</strong> sua produção só se <strong>de</strong>u a partir da inclusão <strong>do</strong>especta<strong>do</strong>r em sua obra, e é a partir <strong>de</strong>sta preocupação que Oiticicaenvere<strong>do</strong>u por caminhos que o levaram para a construção <strong>de</strong> um pensamentoartístico distinto.O ápice da relação <strong>de</strong> Oiticica com sua coerente construção artística érealiza<strong>do</strong> em 1969 com a exposição Whitechapel Experience que ocorreu em78
Whitechapel Gallery em Londres. Para além <strong>de</strong> exposição, a Whitechapelapresentou pela primeira vez a obra É<strong>de</strong>n, um espaço realiza<strong>do</strong> para aexperimentação <strong>do</strong> conceito elabora<strong>do</strong> pelo artista <strong>de</strong> Crelazer. Po<strong>de</strong>-secontrastar o É<strong>de</strong>n com uma comunida<strong>de</strong> elaborada para as experimentações<strong>de</strong> sensações, para a ação e para construção <strong>do</strong> cosmo individual <strong>de</strong> cadaum. 118 Edén foi concedi<strong>do</strong> para ser uma espécie <strong>de</strong> proposição para ocomportamental. Nesta obra, Oiticica apresenta mais <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suascategorias. Seu ‘E<strong>de</strong>n Plan’ envia<strong>do</strong> para exposição Whitechapel Experience,apresenta inclusive o ‘circuito <strong>de</strong> visitação’ ou ‘experimentação’ <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r.Hélio Oiticica. Plano para o É<strong>de</strong>n: exercício para o Crelazer e circulações118 OITICICA, Hélio. É<strong>de</strong>n. AHO/PHO 0365.69-a. p. 0179
Com a obra É<strong>de</strong>n e a obra Tropicália, Hélio Oiticica <strong>de</strong>sejava ‘reproduzir’lugares on<strong>de</strong> o próprio artista se sentia vivo, seriam a apropriação <strong>de</strong> espaçosurbanos reais, lugares consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s experimentais.Vista <strong>do</strong> Penetrável PN3 “Imagético”, parte da obra Tropicália.A invenção <strong>de</strong> um espaço para que o ‘participa<strong>do</strong>r’ pu<strong>de</strong>sseexperimentar a própria experiência <strong>do</strong> artista em <strong>de</strong>scobrir a rua através <strong>do</strong>andar é transposta nestas obras, mas está também presente em obras como o80
Projeto Cães <strong>de</strong> Caça. A busca <strong>do</strong> artista na relação possível entre arte e vida,através <strong>do</strong> <strong>de</strong>spertar <strong>do</strong> participa<strong>do</strong>r, criou não apenas exposições <strong>de</strong> arte,mas uma extra-exposição, uma extra-obra, criou um contexto para ocomportamento, para a vida. 119Todas as obras sob as categorias Bóli<strong>de</strong>, Parangolé e Penetrável -, sãocondutoras para o novo, e o novo está liga<strong>do</strong> a “emergência <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> <strong>de</strong>invenção no qual eu cheguei, que ela se torne um mun<strong>do</strong>, um edifício sóli<strong>do</strong> ecoletivo”. 120Para a Whitechapel Experience, Oiticica colocou em prática pelaprimeira vez, na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registro não somente o seu caráter <strong>de</strong>laboratório, mas também o seu intuito <strong>de</strong> olhar e analisar a própria obra comoum sistema.Oiticica através <strong>do</strong> É<strong>de</strong>n exemplifica a sua preocupação <strong>de</strong> realizar umaobra que pu<strong>de</strong>sse ser mais que Arte, que pu<strong>de</strong>sse ser uma Experiência. Nestecampus, <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> por uma taba, Oiticica criou um mun<strong>do</strong> hierarquiza<strong>do</strong> parareflexão sobre seu próprio pensamento. As categorias apresentadas atrás <strong>do</strong>‘cerca<strong>do</strong>’ <strong>de</strong>monstram a construção <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> com seus Termos eConceitos, <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> uma <strong>de</strong> suas teorias mais importantes paracompreensão <strong>de</strong> sua produção: ‘Programa Ambiental’.Segun<strong>do</strong> o artista, sua produção entre 1960 e 1961 convergiu aosprimeiros contatos com o espaço ambiental. O ambiental para Oiticica não ésomente apresentar as obras num espaço ambiente, mas <strong>de</strong> transformá-las aofazer-se a Obra, ao ser gerada no seu to<strong>do</strong>. Agrupan<strong>do</strong> suas Obras <strong>de</strong> acor<strong>do</strong>119 PIRES, Luiz Antonio. HélioOiticica. AHO/PHO, 0871.70. p. 01120 Ivan Car<strong>do</strong>so entrevista HélioOiticica. AHO/PHO 2555.79. p. 1581
com o seu <strong>de</strong>senvolvimento artístico em Manifestação Ambiental nº 1 e 2,enten<strong>de</strong>-se aato <strong>de</strong> expor:representação da fusão ambiental <strong>de</strong> Núcleos e Bóli<strong>de</strong>s,acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong> elementos, como os Relevos que antece<strong>de</strong>maos Núcleos e que po<strong>de</strong>riam ser Bóli<strong>de</strong>s pelo senti<strong>do</strong> da cor[...] as outras seriam Penetráveis e Parangolé, que constituirãoa Manifestação Ambiental nº2 121 .É a partir <strong>de</strong>sta <strong>de</strong>finição que o artista percebe a urgência <strong>de</strong> modificar oÉ necessária a criação <strong>de</strong> “ambiente” para essas obras – opróprio conceito <strong>de</strong> exposição já muda, pois nada significa“expor” tais peças (teria aí um interesse parcial menor), massim a criação <strong>de</strong> espaços estrutura<strong>do</strong>s, livres ao mesmo tempoà participação e invenção criativa <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r (grifo <strong>do</strong>autor) 122 .Assim sen<strong>do</strong>, a partir da elaboração da exposição WhitechapelExperience, po<strong>de</strong>-se estabelecer uma hipótese que comprova a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>Oiticica como um artista que <strong>de</strong>senvolveu critérios, que se avizinham aDocumentação para a leitura <strong>de</strong> sua produção.5.3. Termos e Conceitos Oiticianos: a fraseologia <strong>de</strong> OiticicaOiticica se configura em um artista/inventor que cria sua próprialinguagem para além da estética, ten<strong>do</strong> em vista que “a essência linguística <strong>do</strong>homem está no fato <strong>de</strong> ele nomear as coisas” 123 . Seu sistema <strong>de</strong> categorias éintercomunicantee se retroalimenta trazen<strong>do</strong> a público novos paradigmasaocampo da Arte. Seu papel na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> artista assemelha-se ao <strong>de</strong>121 OITICICA, Hélio. Sobre manifesto ambiental e parangolé. AHO/PHO 0247.66. p. 01122 Ibi<strong>de</strong>m123 BENJAMIM, W. Escritos sobre mito e linguagem. São Paulo: Editora 34. p. 5582
pesquisa<strong>do</strong>r, aquele que utiliza <strong>de</strong> uma linguagem própria quan<strong>do</strong> <strong>de</strong>bruça<strong>do</strong>sobre seus inventos, expostos em mesa <strong>de</strong> dissecação, ten<strong>do</strong> por finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>extrair aquilo que é pertinente à sua busca, à sua investigação.A fraseologia <strong>de</strong> Oiticica é a construção que serve à LinguagemDocumentária e foi realizada por este artista, ten<strong>do</strong> como intuito a classificação<strong>de</strong> sua Obra. Utilizou/Apropriou-se <strong>de</strong> Termos, elaborou seus Conceitos, <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> acriar um Sistema pronto para a In<strong>de</strong>xação e Recuperação daInformação presente em sua obra.O Termo, palavra apropriada por Oiticica, afinal trata-se <strong>de</strong> um termo <strong>de</strong>outro campo, e não da Arte, é um Termo que remete a novas possibilida<strong>de</strong>s.Um Bóli<strong>de</strong>, por exemplo não é uma escultura, ou um objeto tridimensional, éum ‘transobjeto’.É interessante observar, retoman<strong>do</strong> a citação <strong>de</strong> Campos que sinaliza ainfluência <strong>do</strong> olhar cientifico <strong>do</strong> artista ao fato <strong>de</strong> crescer em um ambiente queciência e arte estavam tão próximos colaboran<strong>do</strong> dar ao artista um perfilmeto<strong>do</strong>lógico e cientifico. Auxilian<strong>do</strong> seu pai no <strong>Museu</strong> Nacional em suaspesquisas <strong>de</strong> Entomologia, especificamente sobre Lepidópteras, as borboletasque voam no escuro, houve a contribuição para este artista vislumbrar anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratar também o Objeto <strong>de</strong> Arte como espécime científico. Ouseja, como uma modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Documento.Em seu arquivo po<strong>de</strong>-se verificar inúmeros apontamentos sobrepigmentos, isto é, encontram-se notas ‘cientificas’ sobre seus inventos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>sua idéia, sua conceituação, até a sua concepção e objetivação em forma <strong>de</strong>objeto.83
Trecho <strong>do</strong> Diário <strong>de</strong> Hélio Oiticica conten<strong>do</strong> anotações <strong>de</strong> cor para o NC1 Pequeno Núcleo 184
Este importante lega<strong>do</strong> apresenta diretrizes <strong>de</strong> como Oiticica concebeuseus ‘inventos’, entretanto, é necessário salientar a importância que este artistateve ao estabelecer a criação <strong>de</strong> uma meto<strong>do</strong>logia que o auxiliasse em suasinvestigações. Este intuito é herança <strong>de</strong> uma união entre o conceito e a práxisexistente em duas figuras importante para Oiticica, seu pai e avó, José OiticicaFilho e José Oiticica, respectivamente.Entomologista, e exímio fotografo, seu pai, José Oiticica Filho era ummeticuloso pesquisa<strong>do</strong>r, tanto durante suas pesquisas na área cientifica quantoem sua fotografia. Em seu ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> fotografia, <strong>de</strong> linguagem ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> aorigor geométrico, Oiticica Filho, inventariou, por assim dizer, todas asfotografias tiradas da seguinte maneira:Local on<strong>de</strong> a foto foi tirada+data (dia/mês/ano)+pequena<strong>de</strong>scrição da imagem ou titulo+ número <strong>do</strong> negativo85
Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> anotações <strong>de</strong> José Oiticica Filho com notas <strong>de</strong> suas fotografias e negativos86
Esta produção, caracterizada <strong>de</strong> forma sistêmica e sequencial, po<strong>de</strong> seri<strong>de</strong>ntificada no ‘processo criativo total’ através das categorias (termos econceitos por ele cria<strong>do</strong>s).E a fraseologia oiticiana não <strong>de</strong>ve ser analisada somente como títulos,pois existe <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um sistema com regras <strong>de</strong>finidas, conforme explicita<strong>do</strong>:Ou seja:forma + conteú<strong>do</strong> + materialIndica<strong>do</strong>r alfa-númerico + Termo e conceito+ Tipo + sub-título (opcional) + ano <strong>de</strong> execução.Como por exemplo:P8 Parangolé Capa 5 “Mangueira”, 1965.87
Parte <strong>de</strong> lista <strong>de</strong> Obras <strong>de</strong> Hélio Oiticica que foram enviadas à exposição Whitechapel Experience, 196988
Deste mo<strong>do</strong>, Oiticica construiu uma ferramenta para ‘leitura’ <strong>do</strong> seu‘espaço <strong>de</strong> memória’ que, construí<strong>do</strong> como uma teia, com nódulos distintos quese apresentam aparentemente <strong>de</strong>sconecta<strong>do</strong>s, mas se conectam um com osoutros, abertos à experimentação artística e filosófica, oferecem meios <strong>de</strong>entrar-sair <strong>de</strong>ste espaço. Uma teia, que ainda hoje po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstradaatravés das experiências proporcionadas por sua produção <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> rememorativo,“como um a<strong>de</strong>sivo psíquico invisível que mantém [sua] i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>unida a cada movimento”. 124A sua intenção po<strong>de</strong> ser explicitada numa imagem semelhante a umatrama ou re<strong>de</strong>, conforme esboçada a seguir.124 ROSZAK, Theo<strong>do</strong>re. O culto da informação. São Paulo: Brasiliense, 1988, p. 152.89
Re<strong>de</strong> Oiticiana, unin<strong>do</strong> os fios soltos90
Segun<strong>do</strong> Guy Brett, Luciano Figueire<strong>do</strong>, WynnePhelan, <strong>de</strong>ntre outros,po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>finir cada Termo <strong>de</strong> obra realizada por Oiticica através <strong>de</strong> seusescritos, mas também através da análise <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong> sua forma,conteú<strong>do</strong>, matéria e ano.Esgarçan<strong>do</strong> os limites da Arte e retiran<strong>do</strong> o objeto das categorias préestabelecidas<strong>de</strong> pintura e escultura, Oiticica criou novos ‘objetos’ <strong>de</strong> Artecolocan<strong>do</strong>-as em ‘Categorias’ especificas utilizada somente pelo artista.Embora certas palavras tenham si<strong>do</strong> utilizadas posteriormente por outrosartistas, como no caso da palavra Penetrável que foi utilizada pelo artistavenezuelano Jesus Soto 125 . Este ato <strong>de</strong> levar a Arte a um patamar que vaialém da apreciação estética eleva sua produção artística para além da pinturae da escultura.Oiticica sabia que estava realizan<strong>do</strong> um Objeto para além <strong>do</strong> senti<strong>do</strong>estético, o que é perceptível em seus textos sobre a própria Obra e sobre o seupapel <strong>de</strong> artista.A preocupação com o espaço, mas principalmente com a invenção <strong>de</strong>novas categorias para seus ‘inventos’, inicia-se com os <strong>de</strong>senhos da sérieMetaesquema, nos quais formas geométricas são apresentadas em um espaço<strong>de</strong>limita<strong>do</strong> não somente pela margem <strong>do</strong> papel, mas por uma margem criada,transforman<strong>do</strong> um espaço real em virtual, amplian<strong>do</strong> a experiência da formacorneste espaço. A importância <strong>do</strong>s Metaesquemas e sua contribuição comoexercício não somente <strong>de</strong> cor, mas também da relação das formas no espaçotempoé retifica<strong>do</strong> por Oiticica em <strong>do</strong>is <strong>de</strong>senhos, no Sêco nº 26 e Sêco nº 27.125 A palavra Penetrável é utilizada por Oiticica pela primeira vez em 1960 e foi tambémutiliza<strong>do</strong> em 1973 pelo artista Jesus Soto para <strong>de</strong>nominar suas “integrações ambientais” . O<strong>de</strong>vi<strong>do</strong> crédito foi da<strong>do</strong> a Oiticica.91
No primeiro diz Oiticica:nota:este trabalho, que pra mim sempre sugeriu algo <strong>de</strong>‘ambiental’, foi uma previsão, como sinto hoje, <strong>do</strong>s núcleos queviria a criar bem mais tar<strong>de</strong>, em 1960/sign/13/nov/1968” (grifo<strong>do</strong> autor) 126 .Metaesquema Sêco n’26, 1957No Metaesquema Sêco n.27, diz:nota: consi<strong>de</strong>ro este trabalho importante, hoje, e para mim, naépoca, foi <strong>de</strong>sconcertante pelo senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> ‘diluição estrutural’além <strong>do</strong> espaço permanente pictórico – é que eu ainda queria arenovação dêste espaço, mais ainda não estava prepara<strong>do</strong>para o salto, ou a transformação – mas hoje vejo que estetrabalho estava bem à frente, no conflito entre espaço pictórico126 Transcrição <strong>do</strong> verso da obra Sêco 26, 195792
e extra-espaço, e prenuncia diretamente o aparecimento <strong>do</strong>s‘bilaterais’, ‘núcleos’ e ‘penetráveis’/sign/13/nov/68 (grifo <strong>do</strong>autor) 127 .Metaesquema – Sêco n. 27, 1957As anotações realizadas pelo artista datam <strong>de</strong> 1968, ano que gran<strong>de</strong>parte <strong>de</strong> suas categorias já haviam si<strong>do</strong> estabelecidas e conceituadas.Possivelmente, Oiticica ao analisar o conteú<strong>do</strong> estético <strong>de</strong> seus <strong>de</strong>senhostenha observa<strong>do</strong> que o Mestaesquema não é <strong>de</strong>senho nem pintura, todaviaconjuga os <strong>do</strong>is em uma só proposta.Desta maneira, estes ‘não-<strong>de</strong>senhos’ o impulsionaram a categorizá-lossob o Termo, Metaesquema.127 Transcrição <strong>do</strong> verso da obra Sêco 27, 195793
6.Encontrar-se....<strong>de</strong>finin<strong>do</strong> as categorias <strong>de</strong> OiticicaEm seu Programa Ambiental, Oiticica propõe não a construção <strong>de</strong> umaObra <strong>de</strong> Arte, mas uma manifestação total e integral com relação às criaçõesartísticas. Seu pensamento aponta para que o ato criativo <strong>do</strong> artista <strong>de</strong>va serassocia<strong>do</strong> ao <strong>de</strong> manifestação que seria a libertação <strong>do</strong>s meios, tal posição sópo<strong>de</strong>rá ser aqui uma posição totalmente anárquica.Oiticica também inclui nestePrograma a apropriação <strong>de</strong> lugares ou obras que se transformam nas ruas:preten<strong>do</strong> esten<strong>de</strong>r o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> “apropriação” às coisas <strong>do</strong>mun<strong>do</strong> com que me <strong>de</strong>paro nas ruas, terrenos baldios,campos, o mun<strong>do</strong> ambiente, enfim, coisas que não seriamtransportáveis, mas para as quais eu chamaria o público àparticipação (grifo <strong>do</strong> autor) 128 .Com a apropriação das coisas <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> e as criações <strong>de</strong> proposiçõesque leva o público a participação configura-seuma nova conceituação <strong>de</strong>exposição e <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>. Para Oiticica “o museu é o mun<strong>do</strong>: é a experiênciacotidiana” 129 .A busca pela construção <strong>de</strong> uma Obra <strong>de</strong> Arte enquanto manifestaçãototal e integral, como se po<strong>de</strong> ver, impulsionou este artista a criação <strong>de</strong> novosconceitos ou a atualizações <strong>de</strong> conceitos que não mais serviam a umalinguagem artística <strong>de</strong> vanguarda, a ponto <strong>de</strong> criar novos Termos para oCampo da Arte e discutir sobre a sua institucionalização.128 OITICICA, Hélio. Programa Ambiental. AHO/PHO 0253.66. p.02129 Ibi<strong>de</strong>m94
A sua intenção está expressa nas suas categorias, presentes em suafraseologia e <strong>de</strong>finidas pelo próprio artista e pelos Agentes especializa<strong>do</strong>s noCampo da Arte. No presente trabalho, através das <strong>de</strong>finições <strong>de</strong>scritasestabelece-se um paralelo crítico entre a “fala da primeira pessoa” e a fala <strong>do</strong>scríticos. E tornou-se possível constatar que há também <strong>de</strong>finições que estãopróximos a <strong>de</strong>scrição formal <strong>do</strong> objeto, enquanto outras se ajustam a teoriaproferida e registrada pelo artista.6.1. Delimitan<strong>do</strong> o espaço concreto através da linguagem: osinventos <strong>de</strong> Hélio OiticicaEm 2003, o Projeto Hélio Oiticica – PHO e o <strong>Museu</strong>m of Fine Arts,Houston – MFAH (Texas/USA) iniciaram uma parceria <strong>de</strong> pesquisa em Arteten<strong>do</strong> por finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver e publicar o Catalogue Raisonné <strong>do</strong> artistaHélio Oiticica. O primeiro importante passo foi a organização <strong>do</strong> arquivopessoal <strong>do</strong> artista e a criação <strong>de</strong> sistema <strong>de</strong> automação para auxiliar apesquisa <strong>de</strong>stes <strong>do</strong>cumentos (Discursos/Documentos sobre Arte).O passo seguinte foi a realização <strong>do</strong> inventário <strong>de</strong> sua obra(Discursos/Documentos <strong>de</strong> Arte). Seguin<strong>do</strong> o espirito <strong>de</strong> sua obra, optou-sepela numeração <strong>de</strong> registro alfanumérico. As três letras anteriores ao número<strong>de</strong>veriam i<strong>de</strong>ntificar a sua categoria, exemplo, uma obra inscrita sob acategoria Metaesquema <strong>de</strong>veria receber o i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>r MET, segui<strong>do</strong> <strong>do</strong>número com três algarismo, 001.95
Entretanto, o início <strong>de</strong> sua produção não foi categorizada pelo artista,como no caso <strong>do</strong>s <strong>de</strong>senhos <strong>do</strong> perío<strong>do</strong> em que o artista participou <strong>do</strong> GrupoFrente, e as obras anteriores ao Movimento Neoconcreto, com exceção <strong>do</strong>s<strong>de</strong>senhos sob a categoria Metaesquema que possivelmente foramcategoriza<strong>do</strong>s em 1968. Conforme explicita<strong>do</strong>, Oiticica se apropriou <strong>de</strong> termos,palavras, muitas vezes corriqueiras, <strong>de</strong>ste mo<strong>do</strong> a presente conceituação <strong>de</strong>seus Termos e Conceitos utiliza<strong>do</strong>s na Fraseologia Oiticica inicia-se com aapresentação da etimologia da palavra.Assim, os Termos e Conceitos <strong>de</strong> Oiticica apresentam-se em cerca <strong>de</strong>90% <strong>de</strong> sua Obra, <strong>de</strong>scritas da seguinte forma:1. Grupo FrenteRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: GFRGrupo Frente, 195696
Guache sobre cartão realiza<strong>do</strong>s no perío<strong>do</strong> <strong>de</strong> 1956-57, antece<strong>de</strong> osMetaesquemas.São <strong>de</strong>senhos cria<strong>do</strong>s pelo artista durante a sua participação no GrupoFrente.O Grupo Frente (1954), sob a li<strong>de</strong>rança <strong>do</strong> artista Ivan Serpa,foiforma<strong>do</strong> pelos artistas Lygia Clark, Lygia Pape, Aloisio Carvão, Carlos Val eseu irmão César Oiticica, além <strong>do</strong>s críticos Mario Pedrosa e Ferreira Gullar. OGrupo realizou quatro exposições e Oiticica passou a expor apenas nasegunda exposição que foi realizada no <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Arte Mo<strong>de</strong>rna <strong>do</strong> Rio <strong>de</strong>Janeiro, on<strong>de</strong> tanto ele quanto o irmão, César, eram alunos <strong>do</strong> artista IvanSerpa.Definição por Hélio Oiticica“[...] Usava cores muito próximas umas das outras e escuras. E sempretinha uma cor mais clara para dar um espaço <strong>de</strong> vai-e-vem, <strong>de</strong>ambivalência visual” 130 .130 Entrevista Hélio Oiticica a Jorge Guinle Filho.97
2. MetaesquemaRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: METMetaesquema, 1958Etimologia <strong>do</strong> TermoNeologismo, união <strong>do</strong> prefixo Meta+ a palavra Esquemameta-(grego metá, no meio <strong>de</strong>, entre, com)pref.1. Exprime a noção <strong>de</strong> mudança (ex.:metafonia).2. Exprime a noção <strong>de</strong> transcendência (ex.:metafísica).3. Exprime a noção <strong>de</strong> reflexão sobre si (ex.:metalinguagem) 131 .131 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/98
esquema |ê|1. Figuraquerepresenta, não a forma verda<strong>de</strong>ira <strong>do</strong>s objetos, mas assuasrelações e funções.2. Resumo 132 .Definição por Hélio Oiticica“Obsessiva dissecação <strong>do</strong> espaçoEspaço sem tempo: frestas plano mu<strong>do</strong>Apintura” 133Não é um <strong>de</strong>senho a guache. Essa <strong>de</strong>finição não significa nada. E paramim, Metaesquema significa que, pelo fato <strong>de</strong> não usar cor, usar poucacor e papelão, continua a ser pintura. Então Metaesquema é isso: umacoisa que fica entre. Que não é nem pintura, nem <strong>de</strong>senho, mas narealida<strong>de</strong> uma evolução da pintura. 134Em guache sobre cartão, estas ‘apinturas’ foram realizadas entre osanos <strong>de</strong> 1957-1958. Apresenta a percepção da existência <strong>de</strong> um espaçovirtualiza<strong>do</strong> e sua preocupação <strong>de</strong> tornar este espaço real como experiênciapara o especta<strong>do</strong>r ocorrida no fim <strong>de</strong> 1959 e no início da década <strong>de</strong> 60.Extra-espaço/além <strong>do</strong> espaço. O espaço virtualiza<strong>do</strong> nos <strong>de</strong>senhos é, apartir <strong>de</strong> 1959-60, propulsa<strong>do</strong> para o espaço real com as obras Relevos132 Ibi<strong>de</strong>m133 OITICICA, Hélio. Metaesquemas 57/58. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong> Janeiro:RIOARTE, 1996. P. 27134 Entrevista <strong>de</strong> Hélio Oiticica a Jorge Guinle Filho99
Espaciais Bilaterais, Núcleos e seu primeiro Penetrável, segun<strong>do</strong> sua anotação<strong>de</strong> 1968.100
3. Pré-NeoconcretoRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: PNCPintura Branca [ Relevo <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>],1959Constituição <strong>de</strong> novas formas <strong>do</strong> suporte. Manipulação da cor naestrutura até que a estrutura pu<strong>de</strong>sse dar seu ‘salto para o espaço’.Formas geométricas que <strong>de</strong> maneira discreta tentam se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong> dapare<strong>de</strong>.Sob as categoria PNC estão as obras: Pinturas Brancas, Série Amarela,Série Vermelha e Invenções.101
Pinturas BrancasPintura Branca, 1959Manipulou os diferentes tons possíveis <strong>de</strong> branco, apenas mudan<strong>do</strong> adireção da pincelada, ou seja, <strong>de</strong>sejava que apenas modifican<strong>do</strong> a direção dapincelada apenas uma cor apresentasse <strong>do</strong>is aspectos.Definição por Hélio Oiticica“O branco é a cor-i<strong>de</strong>al, síntese-luz <strong>de</strong> todas as cores. É mais estática,favorecen<strong>do</strong>, assim, à duração silenciosa, <strong>de</strong>nsa, metafísica. Oencontro <strong>de</strong> <strong>do</strong>is brancos diferentes se dá surdamente, ten<strong>do</strong> um mais102
alvura e o outro, naturalmente mais opaco, ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao tomacinzenta<strong>do</strong>” 135 .Série Amarela e Série VermelhaSérie Amarela, “Olímpico”, 1959Definição por Hélio Oiticica“O amarelo, ao contrário <strong>do</strong> branco, é o menos sintético possuin<strong>do</strong>forte pulsação óptica e ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> ao espaço real, a se <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r daestrutura material e a se expandir” 136 .135 OITICICA, H. Cor, Tempo e Estrutura. FIGUEIREDO, L. op. cit,. p. 44136 OITICICA. Hélio. Cor, tempo, Estrutura. In: FIGUEIREDO, L. op. cit,.103
Definição pelo Campo da Arte“Representa as investigações sobre a interação da cor com a luz para criaruma cor tonal” 137 .InvençõesInvenções, 1959-1962Etimologia <strong>do</strong> Termo1. Ato ou efeito <strong>de</strong> inventar.2. Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> inventar; invento.3. Parte da retórica que ensina a procurar os meios <strong>de</strong> agradar e persuadir 138 .137 PHELAN, Wynne. To bestow a sense of light: Hélio Oiticica’s experimental process. In:RAMIREZ, Mari Carmen. Hélio Oiticica: The Body of Color. Houston: <strong>Museu</strong>m of Fine ArtsHouston, 2006. p. 80104
Definição por Hélio Oiticica“Na fase imediatamente anterior ao lançamento das estruturas noespaço, cheguei a “Invenções” [...], em que trabalhava com aluminosida<strong>de</strong> da cor, reduzida aí ao seu esta<strong>do</strong> primeiro, a um ou <strong>do</strong>istons, tão próximos que se fundiam, ou a monocromia” (grifo <strong>do</strong>autor) 139 .“Nas invenções, que são placas quadradas e a<strong>de</strong>rem ao muro (30 cm<strong>de</strong> la<strong>do</strong>), a cor aparece em um só tom. O problema estrutural da corapresenta-se por superposições; seria a verticalida<strong>de</strong> da cor no espaço,e sua estruturação <strong>de</strong> superposição. A cor expressa aqui o ato único, aduração que pulsa nas extremida<strong>de</strong> <strong>do</strong> quadro, que por sua vez fechaseem si mesmo e se recusa a pertencer ao muro ou a se transforma emrelevo” 140 .Um grupo <strong>de</strong> 40 painéis <strong>de</strong> eucatex medin<strong>do</strong> 30 x 30 centímetros. Noseu verso, pequenos sarrafos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Quan<strong>do</strong> coloca<strong>do</strong>s na pare<strong>de</strong> aObra (painel) parecesse <strong>de</strong>scolar <strong>de</strong>la, projetan<strong>do</strong> na pare<strong>de</strong> uma linhasombreada.A dissolução <strong>do</strong> suporte pela cor e pelo não uso da moldura, adiciona<strong>do</strong>ao fato da Obra <strong>de</strong> projetar para fora da pare<strong>de</strong>, impulsionou o artista a realizaros Bilaterais e os Relevos Espaciais.138 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/139 OITICICA, H. Cor tonal e <strong>de</strong>senvolvimento nuclear da cor. In: FIGUEIREDO, L. op. cit,. p. 40140 Ibi<strong>de</strong>m. p. 50105
Nas categorias expostas acima nenhuma <strong>de</strong>las recebeu o que<strong>de</strong>nomina-se <strong>de</strong> fraseologia <strong>de</strong> Oiticica.E apenas Metaesquema e Invenções foram <strong>de</strong>nominadas pelo artista,conforme se explicitou anteriormente.E nota-se uma característica a ser <strong>de</strong>stacadana categoria Invenções:Oiticica <strong>de</strong>sejou que no verso <strong>de</strong> cada painel tivesse a fórmula da cor utilizada.Como uma fórmula química, mas sobretu<strong>do</strong>, semelhante a anotaçõescientificas.106
4. Bilateral (BIL)Utiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: BILRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: BILBilateral e Bilateral “Clássico”, 1959Etimologia <strong>do</strong> Termo:1. Que tem <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s.2. Volta<strong>do</strong> para <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s 141 .Po<strong>de</strong>-se perceber o <strong>de</strong>senvolvimento das Pinturas Brancas através dasObras que compõem esta categoria. A composição também é feita com <strong>do</strong>istons diferentes <strong>de</strong> branco enfatiza<strong>do</strong>s pelas pinceladas em direções opostas.141 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/107
É o início <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> estruturas no espaço.Definição pelo Campo da Arte“A estrutura <strong>de</strong>ste trabalho é superficialmente tridimensional. Pequenastiras <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, anexadas ao la<strong>do</strong> reverso da obra, espaça os painéis em 1centímetro, forman<strong>do</strong> uma linha escura em negativo entre eles” 142 .No arquivo <strong>de</strong> Oiticica, algumas listas <strong>de</strong> obras que incluem o Bilateralo registra sob a inscrição BL + número. Nota-se com mais evidência nocatálogo da Whitechapel Experience, no qual o artista apresenta as Obraslistadas em sequencia. Por exemplo: BL1, BL2, BL3. O mesmo será realiza<strong>do</strong> nacategoria seguinte, Relevo Espacial.142 PHELAN, op. cit,. p. 82108
5. Relevo Espacial (REL)Utiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: RELRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: RELEtimologia <strong>do</strong> Termo:Relevo Espacial [amarelo], 1960Utilização <strong>de</strong> duas palavras distintas: Relevo + Espacial.Relevo:1. Ato ou efeito <strong>de</strong> relevar.2. Saliência.109
3. Obra <strong>de</strong> escultura ou <strong>de</strong> gravura que sai da superfície natural.4. Aci<strong>de</strong>ntes (<strong>do</strong> terreno).5. [Figura<strong>do</strong>] Distinção; realce; evidência.Pôr em relevo: fazer sobre sair, tornar saliente, chamar a atenção para 143 .Espacial1. Relativo a o espaço <strong>de</strong> lugar ou <strong>de</strong> tempo.2. Relativo ao espaço intersi<strong>de</strong>ral 144 .Definição por Hélio Oiticica“Ai comecei a fazer as primeiras coisas no espaço, que eram RelevosEspaciais, on<strong>de</strong> a cor entrava por <strong>de</strong>ntro e tinha uma porção <strong>de</strong>vaza<strong>do</strong>s. A cor entrava e saia <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro” 145 .Definição pelo Campo da Arte“Ele <strong>de</strong>u aos suportes <strong>do</strong>is la<strong>do</strong>s com os seus Bilaterais, e o trouxe parafora para pen<strong>de</strong>r livremente no espaço, em seus Relevos Espaciais, queintroduziram também um relacionamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>slize entre placas queanteriormente se justapunham” 146143 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/144 Ibi<strong>de</strong>m145 Entrevista <strong>de</strong> Hélio Oiticica a Jorge Guinle Filho. AHO/PHO 1022.80 p. 2146 BRETT, G. O exercício experimental da liberda<strong>de</strong>. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong>Janeiro: RIOARTE, 1996. p. 226110
6. NúcleoUtiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: NCRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: NUCNC3 Núcleo Médio 1, 1960-61Etimologia <strong>do</strong> Termo:1. Massa central <strong>do</strong> átomoformada <strong>de</strong> protões. (positivos) e <strong>de</strong> neutrões.(neutros).2. Miolo <strong>de</strong> fruto <strong>de</strong> cascadura.111
3. Centro; parte central.4. Parte central da cabeça <strong>de</strong> um cometa.5. Aglomeração, grupo.6. Âmago, essência.7. Ponto principal.8. Se<strong>de</strong> 147 .Definição por Hélio OiticicaO Núcleo, que em geral consiste numa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> placas <strong>de</strong> cor quese organizam no espaço tridimensional, permite a visão da obra no espaço eno tempo.“O especta<strong>do</strong>r gira a sua volta, penetra mesmo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu campo<strong>de</strong> ação. [...] é uma visão cíclica” 148 .Definição pelo Campo da Arte“Painéis pinta<strong>do</strong>s fisicamente expandi<strong>do</strong>s no espaço, crian<strong>do</strong> uma gra<strong>de</strong>tridimensional colorida 149 .A experiência da cor exercitada por Oiticica nos trabalhos <strong>de</strong>stacategoria po<strong>de</strong>-se inferir ter si<strong>do</strong> iniciada com as Invenções, mas também comsua experiência da pintura no espaço, como no Relevo Espacial e Bilateral.Segun<strong>do</strong> Phelan 150 , os projetos para o Núcleo são consequências <strong>de</strong>seus experimentos <strong>de</strong> pintura no espaço. Enquanto,para Small, “a cor <strong>de</strong>147 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/148 Oiticica, H. A transição da cor <strong>do</strong> quadro para o espaço e o senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> construtivida<strong>de</strong>. In:FIGUEIREDO, op. cit,. p. 51149 SMALL, Irene. Hélio Oiticica and the morphology of things. Dissertação (Doutora<strong>do</strong>)Programa <strong>de</strong> pós-graduação em Filosofia. Yale University, 2008. p. 141150 PHELAN, op. cit,. p. 101112
qualida<strong>de</strong> tonal que Oiticica notou nas Invenções foi aqui transfigurada para oque o artista <strong>de</strong>screveu como intensida<strong>de</strong>s cromáticas ascen<strong>de</strong>nte e<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte experimentada no tempo real e no espaço” 151 .Na categoria Núcleo, Oiticica começou a estabelecer o que secaracteriza na presente dissertação como fraseologia. E foi mais adiante. Suaexperiência com a cor e, talvez, sua urgência por uma linguagem própria quepu<strong>de</strong>sse ser <strong>de</strong>monstrada, por assim dizer, cientificamente, po<strong>de</strong> tercolabora<strong>do</strong> não somente, no caso da categoria Núcleo, para o registro emdiário <strong>de</strong> fórmulas pictóricas, incluin<strong>do</strong> a medida <strong>de</strong> tinta utilizada para cadaobra <strong>de</strong>sta categoria.Exemplo da Fraseologia Oiticiana:NC1 Pequeno Núcleo n.1, 1960NC3 Núcleo Médio n.1, 1960-1961As categorias seguintes, Bóli<strong>de</strong> e Parangolé, foram as que Oiticica<strong>de</strong>finiu <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> claro, algumas vezes retoman<strong>do</strong>-as e re<strong>de</strong>finin<strong>do</strong>-as. OParangolé, e a mítica que envolve esta categoria, foi a mais elaborada peloartista, o que colaborou para o artista o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma teoria quedividisse as suas obras em <strong>do</strong>is distintos grupos: Manifestação Ambiental n. 1e Manifestação Ambiental n.2.151 SMALL, op. cit,. p. 141113
7. Bóli<strong>de</strong> (B)Utiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: BRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: BOLB11 Bóli<strong>de</strong> Caixa 9, 1964Etimologia <strong>do</strong> termo:(francês boli<strong>de</strong>)1. Antiga <strong>de</strong>signação <strong>do</strong>s meteoritos mais importantes.2. Automóvel cujo motor e carroçaria foram especialmente concebi<strong>do</strong>s para corridas eque é capaz <strong>de</strong> alcançar altas velocida<strong>de</strong>s.3. Pessoa ou coisa que se move com gran<strong>de</strong> rapi<strong>de</strong>z 152 .152 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/114
Definição por Hélio Oiticica“Objeto como pintura, ou pintura como objeto, e conten<strong>do</strong> elementosda massa nucléica, a caixa apresenta divisões espaciais, e brinca commistérios <strong>do</strong>s espaços interiores <strong>do</strong> abrir e <strong>do</strong> fechar, <strong>do</strong> que po<strong>de</strong> serfisicamente a<strong>de</strong>ntra ou completamente visto” 153 .“Os Bóli<strong>de</strong>s eram caixas e vidros. Umas caixas como se fosse amaterialização <strong>do</strong> pigmento. Era a cor pigmentária e tinha sempretextura. Eram coisas manipuláveis, que você podia mexer. Eu chamava<strong>de</strong> Estruturas <strong>de</strong> Inspeção porque po<strong>de</strong>-se olhar por <strong>de</strong>ntro e por fora. Etinha uns vidros que são coisas que têm pigmentos puros 154 ”.“São transobjetos [...] transporta<strong>do</strong> <strong>do</strong> “mun<strong>do</strong> das coisas” para o planodas formas simbólicas” 155 .Categoria subdividida em:Bóli<strong>de</strong> Caixa,Bóli<strong>de</strong> Vidro,Bóli<strong>de</strong> Saco,Bóli<strong>de</strong> Área,Bóli<strong>de</strong> Plástico,Bóli<strong>de</strong> Bacia,Bóli<strong>de</strong> Luz,153 OITICICA, Hélio. Bóli<strong>de</strong>s. AHO/PHO154 Entrevista <strong>de</strong> Hélio Oiticica a Jorge Guinle Filho. AHO/PHO 1022.80 p. 2155 OITICICA, Hélio. Bóli<strong>de</strong>s. AHO/PHO115
Bóli<strong>de</strong> Roupa,Bóli<strong>de</strong> Ninho,Bóli<strong>de</strong> Lata,Bóli<strong>de</strong> Pedra.Bóli<strong>de</strong> Caixa:Definição pelo Campo da Arte“[...] os Bóli<strong>de</strong>s Caixas são estruturas feitas por mo<strong>de</strong>stos materiaismo<strong>de</strong>rnos: eucatex, sarrafos <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira, caixas recicladas e restos <strong>de</strong>pedaços <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira. Tem <strong>do</strong>bradiças e painéis <strong>de</strong>slizantes que po<strong>de</strong>m sermanipula<strong>do</strong>s pelos especta<strong>do</strong>res 156 .B13 Bóli<strong>de</strong> Caixa 10, 1964156 PHELAN, op. cit,. p. 97116
Bóli<strong>de</strong> Vidro:“[...] a cor como massa incan<strong>de</strong>scente para qual a pessoa é atraída,como se para um fogo (mais tar<strong>de</strong>, Hélio referiu se a isso como “massapigmentonuma nova forma extra-pintura”) 157 ”.B18 Bóli<strong>de</strong> Vidro 6 “Metamorfose”, 1965Exemplo da Fraseologia Oiticiana:B1 Bóli<strong>de</strong> Caixa 1 “Cartesiano”, 1963B7 Bóli<strong>de</strong> Vidro 1, 1953B54 Bóli<strong>de</strong> Area 1, 1967 em É<strong>de</strong>n157 BRETT, op. cit,. p. 226117
8. Parangolé (P)Utiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: PRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: PARP4 Parangolé Capa 1, 1964Etimologia <strong>do</strong> termo(origemobscura)1. [Brasil, Informal] Conversa sem nexo.118
2. [Brasil, Informal] Discursoinútil. = LÉRIA, LERO-LERO3. [Brasil, Informal] Ato ou conversa para enganar alguém. = LÉRIA 158Sem sombra <strong>de</strong> dúvida esta categoria, o Parangolé, é a mais estudadapelos críticos, e também foi a categoria que Oiticica conflui Obra <strong>de</strong> Arte evivência. Obra mítica, inclusive na sua própria concepção.Definição por Hélio Oiticica:“[...] é a formulação <strong>de</strong>finitiva <strong>do</strong> que seja a antiarte ambiental,justamente porque nessas obras foi-me dada oportunida<strong>de</strong>, a idéia <strong>de</strong>fundir cor, estruturas, senti<strong>do</strong> finitivo com o que <strong>de</strong>fino por totalida<strong>de</strong> daobra [...] 159Anti-arte, por excelência 160“ [...] isso eu <strong>de</strong>scobri na rua, essa palavra mágica. Porque eutrabalhava no <strong>Museu</strong> Nacional da Quinta, com meu pai, fazen<strong>do</strong>bibliografia. Um dia eu estava in<strong>do</strong> <strong>de</strong> ônibus e na Praça da Ban<strong>de</strong>irahavia um mendigo que fez assim uma espécie <strong>de</strong> coisa mais linda <strong>do</strong>mun<strong>do</strong>: uma espécie <strong>de</strong> construção. No dia seguinte já havia<strong>de</strong>sapareci<strong>do</strong>. Eram quatro postes, estacas <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> uns 2 metros<strong>de</strong> altura, que ele fez como se fossem vértices <strong>de</strong> retângulo no chão.158 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/159 OITICICA, Hélio. Programa Ambiental. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong> Janeiro:RIOARTE, 1996.160 OITICICA, op. cit,.119
Era um terreno baldio, com um matinho e tinha essa clareira que o caraestacou e botou as pare<strong>de</strong>s feitas <strong>de</strong> fio <strong>de</strong> barbante <strong>de</strong> cima a baixo.Bem feitíssimo. E havia um pedaço <strong>de</strong> aniagem prega<strong>do</strong> num <strong>de</strong>ssesbarbantes, que dizia: “aqui é...”e a única coisa que eu entendi, queestava escrito a palavra Parangolé. Aí eu disse: é essa a palavra 161 .”Hélio Oiticica e o escultor Jackson Ribeiro e a “gênese <strong>do</strong> Parangolé”, 1964A <strong>de</strong>scoberta da palavra e da construção, relatada por Oiticica aojornalista e pintor Jorge Guinle Filho, foi uma fato impactante que motivou o161161 Entrevista <strong>de</strong> Hélio Oiticica a Jorge Guinle Filho. AHO/PHO 1022.80 p. 2120
seu retorno ao local, e <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong> se <strong>de</strong>u a origem <strong>do</strong> Parangolé foi<strong>do</strong>cumenta<strong>do</strong> através <strong>de</strong> fotografias.Definição pelo Campo da Arte“São flexíveis e formas imprevisíveis. A noção entrópica da pessoa queveste o Parangolé prescreve o mo<strong>do</strong> como a luz interage na cor, textura ebrilho. Os Parangolés não são fantasias. São preferivelmente, estruturas <strong>de</strong>teci<strong>do</strong>s em camadas” 162 .É estrutura ambiental, possuin<strong>do</strong> como núcleo principal: o participa<strong>do</strong>r.Toda a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas obras está baseada na ‘estrutura-ação’ que é aquifundamental; o ato <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>r carregar a obra ou ao dançar ou correr,revela a totalida<strong>de</strong> expressiva. É a anti-arte por excelência.Segun<strong>do</strong> Campos, o Parangolé é a Asa-<strong>de</strong>lta para o êxtase, elementojubilo e erótico.O Parangolé é subdividi<strong>do</strong> em:Parangolé Capa,Parangolé Estandarte,ParangoléTenda,Parangolé Ban<strong>de</strong>ira,Parangolé Área162 PHELAN, op. cit,. p. 101121
Exemplo da Fraseologia Oiticiana:P1 Parangolé Estandarte 1, 1964P4 Parangolé Capa 4, 1964P29Parangolé Área 1, Área aberta ao Mito, 1968-69 em É<strong>de</strong>n122
9. Penetrável (PN)Utiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: PNRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: PENPN1 Penetrável 1, 1960Etimologia <strong>do</strong> Termo:1. Que po<strong>de</strong> ser penetra<strong>do</strong>; acessível 163 .163 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/123
Definição por Hélio OiticicaO primeiro penetrável -- PN1 -- foi realiza<strong>do</strong> por Oiticica em 1960.Deseja “dar a gran<strong>de</strong> or<strong>de</strong>m à cor”, on<strong>de</strong> a relação <strong>do</strong> especta<strong>do</strong>rcom a obra se realiza numa “integração completa 164 ”.No Penetrável, a “visão cíclica <strong>do</strong> Núcleo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radacomo uma visão global ou esférica 165 ”.A criação <strong>do</strong> primeiro Penetrável, segun<strong>do</strong> Oiticica, fez surgir a criação<strong>do</strong> Projeto Cães <strong>de</strong> Caça e <strong>de</strong> outros projetos, alguns realiza<strong>do</strong>s em plantas,outros em maquetes, o que permite consi<strong>de</strong>rar seus projetos <strong>de</strong> Penetráveis,Obra.Entretanto, é interessante observar que os cinco penetráveis quepertencem ao Projeto Cães <strong>de</strong> Caça não foram numera<strong>do</strong>s pelo artista, sen<strong>do</strong><strong>de</strong>nomina<strong>do</strong>s na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Penetráveis, mas não incluso em sua categoria.O segun<strong>do</strong> e o terceiro Penetrável compõem a obra Tropicália.Tropicália é “uma espécie <strong>de</strong> labirinto fecha<strong>do</strong> sem saída no final.[...] Quis neste penetrável fazer um exercício da “imagem” em todas assua formas 166 ”.164 OITICICA, op. cit,. p. 44165 Ibi<strong>de</strong>m166 OITICICA, Hélio. Catálogo Whitechapel. In: FIGUEIREDO, L. op. cit,. sem número.124
10. ApropriaçãoRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: APREtimologia <strong>do</strong> Termo:1. Tornar próprio (ex.:apropriar bens).2. Acomodar.3. Aplicar, atribuir.4. Tornar ou será <strong>de</strong> quan<strong>do</strong> ou conveniente a (ex.:é preciso apropriar odiscurso; isto não se apropria à situação). = ADEQUAR5. Apossar-se.6. Tornar seu uma coisa alheia (ex.:apropriou-se <strong>de</strong> valores eserájulga<strong>do</strong>porisso). = APODERAR-SE 167 .Definição pelo Campo da Arte“[…]eles são uma conseqüência natural em que ele chegou <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> enfrentaralguns problemas específicos <strong>de</strong> cor e pintura” 168 .167 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/168 FIGUEIREDO, L. .... In: RAMIREZ, Mari Carmen. HélioOiticica: The Bodyof Color. Houston:<strong>Museu</strong>mof Fine Arts Houston, 2006. p. 109125
11. Quasi-Cinema: Cosmococa (CC)Utiliza<strong>do</strong> por Hélio Oiticica: CCRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: QCICC5 Progama in Progess – Cosmococa 5 “Hendrix-War”Etimologia <strong>do</strong> Termo:Neologismo – Cosmo + CocaCosmo(gregokósmos, -ou, or<strong>de</strong>m, forma, governo)elem. <strong>de</strong> comp.Exprime a noção <strong>de</strong> universo (ex.:cosmografia) 169 .169 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/126
Coca1. [Botânica] Planta <strong>do</strong> Peru, narcótica e alimentar.2. Substância extraída <strong>de</strong>sta planta com que se narcotizamos peixes.3. O mesmo que cocaína.4. [Botânica] Cadauma das células ocas <strong>de</strong> um pericarpo.5. Harmonia <strong>de</strong> formas e graça <strong>do</strong>s movimentos.estar à coca: espreitar.Confrontar: coça, soca 170 .Definição por Hélio Oiticica“Cosmococa – programa in progress: se cita<strong>do</strong> em inglês: programa: nolugar respectivo: a insistência em making a point quanto ao fato <strong>de</strong> serprograma em progress – programa aberto – vem <strong>de</strong> que como viemoseu e Neville 171 <strong>de</strong> concretizar essa primeira série <strong>de</strong> Bloco-Experiências eque tomam abreviação CC seguida <strong>do</strong> numero correspon<strong>de</strong>nte parai<strong>de</strong>ntificação [...]” 172 .Definição pelo Campo da Arte“Cosmococas, [...], redimensiona a idéia <strong>do</strong> dispositivo cinematográficoao produzir uma nova sensação <strong>do</strong> espaço em uma situação <strong>de</strong> nãonarrativa”173 .170 Ibi<strong>de</strong>m171 O cita<strong>do</strong> por Oiticica é o cineasta brasileiro Neville d’Almeida.172 OITICICA. Bloco experiências in Cosmococa – programa in progress. In: Hélio Oiticica(catálogo). Rio <strong>de</strong> Janeiro: RIOARTE, 1996. p. 174173 MACIEL, K. O cinema tem que virar instrumento. In: BRAGA, Paula (org.). Fios soltos: aarte <strong>de</strong> Hélio Oiticica. São Paulo: Perspectiva, 2008. p. 169127
“Para cada bloco-experimento há uma ficha com especificações técnicasbásicas, recomendações para projetar os sli<strong>de</strong>s, para a trilha sonora, para o setda performance e para ativida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s participantes” 174 .174 CARNEIRO, Beatriz S. Cosmococa – Programa in Progress: Heterotopia <strong>de</strong> guerra. In:BRAGA, op. cit,. p. 187.128
12. Magic-SquareNão recebeu i<strong>de</strong>ntifica<strong>do</strong>r alfanumérico, nem pelo artista, nem peloProjeto Hélio OiticicaMagic Square n. 3, 1978 (maquete)Etimologia <strong>do</strong> Termo:Junção <strong>de</strong> duas palavras em língua inglesa.Magic= mágico1. Relativo a magia.2. Que acontece por magia, sem explicação. = Fantástico3. Que encanta, Seduz. = Encanta<strong>do</strong>r, Fascinante, Maravilhoso4. Pessoa que pratica a Magia. = Bruxo, Feiticeiro, Mago, Nigromante5. Pessoa que faz números <strong>de</strong> ilusionismo. = Ilusionista, Prestidigita<strong>do</strong>r 175 .175 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/129
Square = quadra<strong>do</strong>1. Circunscrito por quarto la<strong>do</strong>s iguais.2. [Geometria] Quadriláterocujosquatrola<strong>do</strong>ssãoiguais e formamângulosretos.3. [Aritmética] Produto <strong>de</strong> um númeromultiplica<strong>do</strong>porsimesmo.4. [Militar] Disposição especial das tropas <strong>de</strong> infantariaqueconsisteem seor<strong>de</strong>naremforman<strong>do</strong>quatrofrentespararesistiraosataques da cavalariainimiga 176 .Todavia, <strong>de</strong>ve-se reconhecer que o melhor significa<strong>do</strong> da palavraSquare vem da própria língua inglesa que também significa Praça ou Parque.Definição por Hélio Oiticica“Chama-se Magic Square, o nome tem que ser em inglês porque squarequer dizer ao mesmo tempo quadra<strong>do</strong> e praça. É to<strong>do</strong> basea<strong>do</strong> noquadra<strong>do</strong>, e partin<strong>do</strong> da planta que eu fiz como uma colagem, umplano entran<strong>do</strong> por <strong>de</strong>ntro <strong>do</strong> outro [...]” 177 .176 Ibi<strong>de</strong>m177 OITICICA, Hélio. Fala Helio <strong>de</strong> Lygia Pape. Revista <strong>de</strong> Cultura Vozes, Petrópolis junhojulho<strong>de</strong> 1978. AHO/PHO130
13. Topological Ready-Ma<strong>de</strong> LandscapeRegistro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: TRMTopological ready-ma<strong>de</strong> landscape n. 4 “Dedica<strong>do</strong> a Lygia Clark”, 1978Oiticica utiliza 3 palavras da língua inglesa: Topological = Topológico, Ready-Ma<strong>de</strong>=palavra criada pelo artista Marcel Duchamp e Landscape= paisagem,panorama ou vista.Etimologia <strong>do</strong>s TermosTopológicoRelativo à topologia 178Ready-Ma<strong>de</strong>178 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/131
“O termo é cria<strong>do</strong> por Marcel Duchamp (1887 - 1968) para <strong>de</strong>signar um tipo <strong>de</strong>objeto, por ele inventa<strong>do</strong>, que consiste em um ou mais artigos <strong>de</strong> uso cotidiano,produzi<strong>do</strong>s em massa, seleciona<strong>do</strong>s sem critérios estéticos e expostos comoobras <strong>de</strong> arte em espaços especializa<strong>do</strong>s (museus e galerias). Seu primeiroready-ma<strong>de</strong>, <strong>de</strong> 1912, é uma roda <strong>de</strong> bicicleta montada sobre um banquinho(Roda <strong>de</strong> Bicicleta).Duchamp chama esses ready-ma<strong>de</strong>s compostos <strong>de</strong> mais<strong>de</strong> um objeto <strong>de</strong> ready-ma<strong>de</strong>s retifica<strong>do</strong>s.Posteriormente, expõe um escorre<strong>do</strong>r<strong>de</strong> garrafas e, em seguida, um urinol inverti<strong>do</strong>, assina<strong>do</strong> por R. Mutt, a que dáo título <strong>de</strong> Fonte, 1917 179 ”.Paisagem1. Extensão <strong>de</strong> território que se abrange com um lance <strong>de</strong> vista.2. Desenho, quadro, gênero literário ou trecho que representa ou em que se<strong>de</strong>screve um sítio campestre 180 .Definição por Hélio Oiticica“[...] são peças em q o conceito <strong>de</strong> ready-ma<strong>de</strong> <strong>de</strong> Marcel Duchamp éinvoca<strong>do</strong> não como categoria artística (ou obra <strong>de</strong> arte) mas comoparte <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>do</strong> novo alcance da mão: oelástico (rubber band) nessa peça po<strong>de</strong> ser muda<strong>do</strong> <strong>de</strong> ânguloposiçãoto<strong>do</strong>s os dias ao bel-prazer <strong>do</strong> participa<strong>do</strong>r 181 ”179 Enciclopédia Itaú <strong>de</strong> Artes Visuais. Disponível em:http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_ic/in<strong>de</strong>x.cfm180 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/181 OITICICA. Topological Ready Ma<strong>de</strong> Landscape no. 3132
14. Ready Constructible (RCT)Registro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: RCTReady Constructible n. 01, 1978.Utilização <strong>de</strong> duas palavras <strong>de</strong> língua inglesa, entretanto a palavra Readyremete novamente a obra Ready Ma<strong>de</strong> <strong>de</strong> Duchamp.Etimologia <strong>do</strong> Termo:construtivo(latim constructivus, -a, -um)1. Queserveparaconstruir.133
2. Positivo, eficaz <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vista prático (ex.:atitu<strong>de</strong> construtiva) 182 .Definição por Hélio Oiticica“ [..] esta obra é a mais fina linha entre o brutalismo e a matemática: amaior precisão no bricklaying <strong>de</strong> tijolos irregulares seguin<strong>do</strong> a topografo-logia<strong>do</strong>s mesmos: periferia interno-externas que se justapõem emestrutura finamente matemática [...] 183 ”.182 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/183 OITICICA, Hélio. Anotações sobre Ready Constructible. In: Hélio Oiticica (catálogo). Rio <strong>de</strong>Janeiro: RIOARTE, 1996.134
15. Contra-Bóli<strong>de</strong>Registro utiliza<strong>do</strong> pelo Projeto HO para o inventário <strong>do</strong> artista: CBOContra-Boli<strong>de</strong> n. 2 “A tua na minha”, 1979Etimologia <strong>do</strong> Termo:Junção das palavras Contra + Bóli<strong>de</strong>Contra(latimcontra, emfrente, <strong>de</strong>fronte, aocontrário, contrariamente)Exprime a noção <strong>de</strong> contrário (ex.:contra-harmónico., contramão) 184 .184 Dicionário Priberam <strong>de</strong> Lingua Portuguesa. Disponível em: http://www.priberam.pt/dlpo/135
Definição por Hélio Oiticica“[...] ato poético que eu chamei <strong>de</strong> Contra-Bóli<strong>de</strong>, porque éexatamente o processo <strong>do</strong> Bóli<strong>de</strong> às avessas 185 ” .Em sua última entrevista publicada em 1980, Oiticica respon<strong>de</strong> questõesfundamentais para enten<strong>de</strong>r o uso <strong>de</strong> Termos diferentes <strong>do</strong>s já legitima<strong>do</strong>spela Arte, como se fosse necessário criar algo para além <strong>do</strong> objeto estético. Oentrevista<strong>do</strong>r, Jorge Guinle Filho, notou está preocupação <strong>do</strong> artista, e próximoao fim da entrevista constata:“Jorge:Agora: é incrível como o fato <strong>de</strong> você nomear to<strong>do</strong>s os objetos já criauma <strong>de</strong>limitação e uma área on<strong>de</strong> você po<strong>de</strong> atuar.Hélio:ExatoJorge:O espaço linguístico <strong>de</strong>limita o espaço concreto. Uma bolaçãofantástica.Hélio:Exato. Sempre faço issoJorge:Porque as vezes o sujeito tem i<strong>de</strong>ias mas não sabe como concretizá-las185 AHO/PHO 1022/80 p. 3136
Hélio:Isso é importante para mim, porque senão não consigo fazer as coisas.Isso daí é uma ausência <strong>de</strong> bloqueio verbal [...] 186 .É através das palavras, ou melhor <strong>do</strong>s Termos e Conceito, que como osFios soltos sãoenergias q brotam para um número aberto <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s.no brasil há fios soltos num campo <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s: porquenão explorá-los 187 .Esse ‘espaço <strong>de</strong> memória’ cria<strong>do</strong> por Oiticica é sobretu<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong> pelapalavra apropriada.186 Entrevista <strong>de</strong> Hélio Oiticica a Jorge Guinle Filho, 1980. AHO/PHO 1022.80 p. 3187 OITICICA, Hélio. Experimentar o experimental. AHO/PHO137
8.Criar-se e recriar-seo mun<strong>do</strong> <strong>de</strong> Oiticica, gênese e Apocalipse: como per<strong>de</strong>r-seno jardim <strong>do</strong> É<strong>de</strong>n e encontrar-se pela Informação em ArteCriar não é tarefa <strong>do</strong> artista. Suatarefa é a <strong>de</strong> mudar o valor das coisasHélio Oiticica citan<strong>do</strong> Yoko OnoA<strong>de</strong>ntra-se ao <strong>Museu</strong>, ou ao espaço expositivo.A primeira imagem que se vê, é um cerca<strong>do</strong> feito <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira e palha,uma Taba.Para entrar neste cerca<strong>do</strong> é necessário retirar os sapatos e <strong>de</strong>ixálos<strong>de</strong> la<strong>do</strong>.Ao primeiro passo sente-se os pés pisan<strong>do</strong> em algo macio, porémgela<strong>do</strong>, areia.O caminho feito com os pés <strong>de</strong>snu<strong>do</strong>s sobre a areia é interrompi<strong>do</strong> pordiversas ‘construções’, Penetráveis, Bóli<strong>de</strong>s e Parangolés:Bóli<strong>de</strong> Cama -cama com cobertura <strong>de</strong> juta e colchão <strong>de</strong> palha;Penetrável Lololiana -cabana feita <strong>de</strong> lona plástica azul e folhas secas;Penetrável Canabiana -cabana feita <strong>de</strong> lona plástica amarela e palha;138
Penetrável Iemanjá -cabana feita <strong>de</strong> lona plástica branca e água;Penetrável Tenda Caetano-Gil - tenda feita <strong>de</strong> courim preto e colchão <strong>de</strong>palha ou esteira e com música);Penetrável Ursa - cabana <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira pintada <strong>de</strong> vermelho com colchão;Bóli<strong>de</strong> Área 1 -cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com palha;Bóli<strong>de</strong> Área 2 -cerca<strong>do</strong> <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira com areia;E o Parangolé Área aberta ao mito - espaço circular <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira perfuradae carpete da cor da areia, on<strong>de</strong> no vazio, apenas um carpete quente se fazpresente. Da mesma cor da areia, o carpete aconchega, e é um espaço abertoao Crelazer 188 .De volta à areia, mais alguns passos são da<strong>do</strong>s. O chão torna-se outravez quente, porém duro.Leves véus caem <strong>do</strong> alto, como leves cortinas. Ao <strong>de</strong>scortinar, seisnichos convidativos com seis materiais diferentes: espuma, palha, feno, livros,colchonetes, revistas. São como berços. On<strong>de</strong> a vida se inicia, ou repousa, sãoNinhos. Após os Ninhos, continua a caminhada, <strong>de</strong> volta para terra, ou melhor,para areia da terra.Entra-se e saí-se <strong>de</strong>stas “construções” <strong>de</strong> forma ritualizada, terminan<strong>do</strong>ou começan<strong>do</strong> o circuito na “Área aberta ao mito”. A única sem cobertura, a188 Crelazer -139
única em formato circular, como um espaço livre on<strong>de</strong> to<strong>do</strong>s possam retornarao mito.O É<strong>de</strong>n <strong>de</strong> Oiticica é “O” espaço construí<strong>do</strong> pelo artista e pensa<strong>do</strong> parareunir sua produção <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a instaurar uma nova vivência comportamental eartística, mas é também, um espaço <strong>de</strong> reatualização <strong>do</strong> mito, ten<strong>do</strong> em vistaque a busca pelo mito e a sua <strong>de</strong>smitificação foi latente em seus trabalhos apartir <strong>de</strong> 1966 como os Parangolés e os Penetráveis que compõem aTropicália.Hélio Oiticica construiu o ‘seu É<strong>de</strong>n’ especialmente para a exposiçãoWhitechapel Experience realizada em 1969, em Londres.O próprio artista <strong>de</strong>screve o É<strong>de</strong>n como um tipo <strong>de</strong> lugar mítico <strong>de</strong>sensações, para ação, para a construção <strong>do</strong> seu próprio cosmos. Além dapreocupação <strong>do</strong> artista em construir um espaço para que pu<strong>de</strong>sse ‘reatualizar’a relação mítica <strong>do</strong> sujeito com o Mun<strong>do</strong>, ele realizou esta obra em umarelação íntima com o espaço. Oiticica cria o É<strong>de</strong>n como um espaço real que seassemelha ao espaço expositivo.As obras existentes e sua montagem só po<strong>de</strong>m existir neste espaçoespecifico, on<strong>de</strong> é necessário o homem, através <strong>do</strong> rito se fazer presente. Apalavra Rito aqui se <strong>de</strong>sloca para o significa<strong>do</strong> da palavra no campo daMuseologia. Exposições são concebidas ten<strong>do</strong> um circuito <strong>de</strong> visitaçãopossível e Oiticica em seu plano para É<strong>de</strong>n, realiza da mesma forma,apontan<strong>do</strong> as possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> circulação no espaço. A ritualização que ocorrecom os visitantes <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>s é o mesmo processo para os participa<strong>do</strong>res emcontato com o É<strong>de</strong>n.140
A intuitiva autopreservação <strong>do</strong> artista po<strong>de</strong> ter estimula<strong>do</strong> inúmeraspráticas relativas à Museologia, uma <strong>de</strong>las a <strong>de</strong> criar categorias, termos econceitos para Documentação <strong>de</strong> suas Obras, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> a organizar ecompreen<strong>de</strong>r seu pensamento, crian<strong>do</strong> assim, um ‘espaço <strong>de</strong> memória’. O ato<strong>de</strong> criar nomes próprios às suas obras liga-se também a criação <strong>de</strong> um Sistema<strong>de</strong> In<strong>de</strong>xação e Recuperação da Informação (S.I.R) fundamental para acompreensão <strong>de</strong> sua produção e disseminação <strong>de</strong> seu pensamento, da suavoz.A constituição <strong>de</strong> seu ‘espaço <strong>de</strong> memória’ e a criação <strong>de</strong> nomespróprios para suas Obras transmuta Oiticica a uma prática para além daartística, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> colocá-lo não somente em <strong>de</strong>staque na História da Artecomo já vem sen<strong>do</strong> feito pelo campo artístico, mas também em disciplinas cujaprática seja associada a estes espaços <strong>de</strong> memória, como Recuperação <strong>de</strong>Informação, Documentação e Informação em <strong>Museu</strong>s, Preservação, Projeto eExecução <strong>de</strong> Exposições, <strong>de</strong>ntre outras. De certa forma, Oiticica compôs uminstrumento <strong>de</strong> Representação da Informação que permite e exige aosEstudiosos<strong>do</strong> Território <strong>do</strong>s Analistas <strong>do</strong> Saber Fazer acrescentar da<strong>do</strong>s<strong>do</strong>cumentais para a interpretação, ou neste caso, a <strong>de</strong>codificação <strong>do</strong>s‘inventos’ <strong>de</strong> Oiticica, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> a complexida<strong>de</strong> que encenam. Os inventos <strong>de</strong>Oiticica merecem ser analisa<strong>do</strong>s seguin<strong>do</strong> as suas indicações, não somente <strong>de</strong>montagem, mas principalmente <strong>de</strong> pensamento.Este caráter ‘museológico/arquivístico’ e seu caráter ‘inventivo’, opermitiu transitar por esta<strong>do</strong>s polariza<strong>do</strong>s. Da mesma maneira que Oiticicapo<strong>de</strong>ria ser extremamente metódico e freneticamente organiza<strong>do</strong>, no senti<strong>do</strong><strong>de</strong> organização <strong>de</strong> seu ‘espaço <strong>de</strong> memória’, possuía uma personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>141
total liberda<strong>de</strong> para a experimentação, não somente artística como também <strong>de</strong>vida. Polarizan<strong>do</strong> os extremos, este artista conseguiu transitar com <strong>de</strong>streza e<strong>de</strong>senvoltura entre o cosmos (or<strong>de</strong>m) e caos (<strong>de</strong>sor<strong>de</strong>m), po<strong>de</strong>n<strong>do</strong>,sistematicamente ir <strong>do</strong> caos à or<strong>de</strong>m e da or<strong>de</strong>m ao caos.Assim sen<strong>do</strong>, Oiticica através <strong>do</strong> É<strong>de</strong>n exemplifica a sua preocupação<strong>de</strong> realizar uma Obra que pu<strong>de</strong>sse ser mais que Arte, que pu<strong>de</strong>sse ser umaExperiência. Neste campus, <strong>de</strong>limita<strong>do</strong> por uma taba, Oiticica criou um mun<strong>do</strong>hierarquiza<strong>do</strong> para reflexão sobre seu próprio pensamento. Estão presentes,atrás <strong>do</strong> ‘cerca<strong>do</strong>’ algumas <strong>de</strong> suas ‘categorias’: Bóli<strong>de</strong>, Parangolé ePenetrável, <strong>de</strong>monstran<strong>do</strong> a construção <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> com seus Termos eConceitos, e antes <strong>de</strong> tu<strong>do</strong>, legitiman<strong>do</strong> uma <strong>de</strong> suas teorias, talvez a que sepossa dar o caráter <strong>de</strong> relevante compreensão <strong>de</strong> sua produção: ProgramaAmbiental.Segun<strong>do</strong> o artista, sua produção entre 1960 e 1961 convergiu aosprimeiros contatos com o espaço ambiental. O ambiental para Oiticica não ésomente apresentar as Obras num espaço ambiente, mas <strong>de</strong> transformá-las aofazer-se a obra, ao ser gerada no seu to<strong>do</strong>.Agrupan<strong>do</strong> suas Obras <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com o seu <strong>de</strong>senvolvimento artísticoem Manifestação Ambiental nº 1 e 2, enten<strong>de</strong>-se por elas conforme o próprioHélio a “representação da fusão ambiental <strong>de</strong> Núcleos e Bóli<strong>de</strong>s, acresci<strong>do</strong>s <strong>de</strong>elementos, como os Relevos que antece<strong>de</strong>m aos Núcleos e que po<strong>de</strong>riam serBóli<strong>de</strong>s pelo senti<strong>do</strong> da cor [...] as outras seriam Penetráveis e Parangolé, queconstituirão a Manifestação Ambiental nº2 189 ”.189 OITICICA, H. Posição Programa. p. 01142
A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ste artista <strong>de</strong> criar um ambiente que pu<strong>de</strong>sse exporsuas Obras o impulsionou para o dilatamento <strong>do</strong> conceito <strong>de</strong> exposição. AObra <strong>de</strong> Arte vista <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um <strong>Museu</strong> para ele <strong>de</strong>veria ser vista como umobjeto <strong>de</strong> conhecimento, ou como <strong>de</strong>finiu o Bóli<strong>de</strong>, a arte <strong>de</strong>ve ser vista comouma ‘estrutura <strong>de</strong> inspeção’. Deste mo<strong>do</strong>, o artista percebe a urgência <strong>de</strong>modificar o ato <strong>de</strong> expor.Todavia, antes mesmo da construção <strong>de</strong>stes espaços Oiticica,ironicamente, questiona o papel <strong>do</strong> <strong>Museu</strong> para a socieda<strong>de</strong>.Não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> mencionar aqui que a imagem <strong>de</strong> <strong>Museu</strong> queOiticica tinha era a <strong>do</strong> <strong>de</strong>nomina<strong>do</strong> <strong>Museu</strong> Tradicional, fixa<strong>do</strong> no objeto e comoum espaço físico que se tornava cada vez mais distante da complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong>suas Obras. Portanto, no seu entendimento, era necessário ampliar o conceito<strong>de</strong> <strong>Museu</strong>, a ponto <strong>de</strong> <strong>de</strong>clarar que o <strong>Museu</strong> é o mun<strong>do</strong>, a experiênciacotidiana <strong>de</strong> cada sujeito. Sim, <strong>de</strong> fato o <strong>Museu</strong> é o mun<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista queé neste espaço que se preserva exemplos <strong>do</strong> Mun<strong>do</strong>, mas não, não é aexperiência cotidiana, esquecen<strong>do</strong> muitas vezes o papel fundamental que lheé atribuí<strong>do</strong>, o papel <strong>de</strong> ser Agente divulga<strong>do</strong>r e legitima<strong>do</strong>r <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> vida,como <strong>de</strong>sejava Oiticica.A Objeto <strong>de</strong> Arte e a crítica ao <strong>Museu</strong> lançou Oiticica a apropriar-se davida e <strong>de</strong> tu<strong>do</strong> que é remetida por ela: objetos, senti<strong>do</strong>s, palavras, mo<strong>do</strong>s,expressão, a ponto <strong>de</strong> ter que criar novos paradigmas da Arte, ou <strong>de</strong> retomarnovos paradigmas <strong>do</strong> conhecimento social e humano.O <strong>Museu</strong> cotidiano <strong>de</strong> Oiticica é o <strong>Museu</strong> da Rua, é o <strong>Museu</strong> realiza<strong>do</strong> elegitima<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s, para to<strong>do</strong>s que <strong>de</strong>sejam experimentar a Vida através daArte. Assim sen<strong>do</strong>, o espaço museológico <strong>de</strong> Oiticica é o terreno baldio, é o143
objeto estético esqueci<strong>do</strong> na topografia da cida<strong>de</strong>, é aquilo que ele se permiteartisticamente aproximar-se e musealizar.A construção tanto da Tropicália quanto <strong>do</strong> É<strong>de</strong>n talvez fosse aexpressão <strong>de</strong> um pensamento, <strong>de</strong> uma critica à uma prática, já que as duasObras são constituídas por um grupo <strong>de</strong> objetos expostos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umpossível circuito para visitação e, ao mesmo tempo, são obras que nãoprecisam estar necessariamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um espaço museológico. Nãoteriam si<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong>s para serem um espaço museológico per si?<strong>Museu</strong> é lugar. Lugar <strong>de</strong> maneira mais abrangente e menos física. Istoé, volta<strong>do</strong> para suas práticas, metafísica. Sen<strong>do</strong> assim, po<strong>de</strong>-se inferir <strong>de</strong>forma crítica que Oiticica não estava somente esgarçan<strong>do</strong> a relação entre Arteversus Sujeito versus <strong>Museu</strong>, tornan<strong>do</strong> prática uma nova idéia <strong>de</strong> <strong>Museu</strong> e <strong>de</strong>exposição, mas estava retoman<strong>do</strong> o próprio mito da gênese <strong>de</strong> <strong>Museu</strong>focaliza<strong>do</strong> nas Musas. Pensou no senti<strong>do</strong> das coisas no mun<strong>do</strong> e na vida <strong>de</strong>mo<strong>do</strong> a reelaborar sua missão poética.É<strong>de</strong>n é um campo experimental e magnético <strong>de</strong> sedução.E não valeria para os campos <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>? Afinal, a Museologia estáconstantemente trabalhan<strong>do</strong> neste senti<strong>do</strong> em relação aos seus visitantes:informan<strong>do</strong> <strong>de</strong> maneira sedutora, <strong>de</strong>spertan<strong>do</strong> novos senti<strong>do</strong>s e fantasia. Éestar em outro tempo e/ou espaço no hoje. O É<strong>de</strong>n é a imagem mítica <strong>do</strong> mito<strong>de</strong> origem, um espaço on<strong>de</strong> o Sujeito po<strong>de</strong> entrar em conta<strong>do</strong> com o seucosmo interior, mas é também o <strong>Museu</strong> <strong>de</strong> Oiticica.A prática museológica ao mo<strong>do</strong> da forma <strong>de</strong> pensamento e da ação <strong>de</strong>Oiticica impulsionou este artista à criação <strong>de</strong> sua fraseologia, <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> aorganizar o seu pensar, mas <strong>de</strong> fato como um ato <strong>de</strong> preservação e <strong>de</strong>144
classificação. Apesar <strong>do</strong> artista e da crítica <strong>de</strong>nominarem este conjunto <strong>de</strong>Termos apropria<strong>do</strong>s e/ou cria<strong>do</strong>s por Oiticica como ‘or<strong>de</strong>ns’, optou-se por<strong>de</strong>nominá-lo na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ‘categorias’, dada a importância <strong>de</strong>ste atoclassificatório, especialmente, estético.É possível afirmar a partir da sua trajetória que Hélio Oiticica instaurounovas categorias da Arte, assim como Marcel Duchamp realizou ao criar oReady-Ma<strong>de</strong>. As categorias <strong>de</strong> Oiticica <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas categorias daArte, não somente pela importância que este artista tem no campo da Arte,mas a fraseologia oiticiana é a pedra fundamental para a compreensão <strong>do</strong>seu caminho e da trajetória <strong>de</strong> artistas brasileiros que, sob a influência <strong>de</strong>Oiticica, iniciaram uma linguagem artística nacional-universal, como o estu<strong>do</strong>s<strong>do</strong> campo artístico estão indican<strong>do</strong>.Ten<strong>do</strong> em vista que a presente dissertação teve como objetivo ai<strong>de</strong>ntificação da fraseologia oiticiana, e dada a sua relevância no âmbito daHistória da Arte, da Museologia e da Ciência da Informação entre outras,permite-se dizer que se torna necessário disseminar para os pesquisa<strong>do</strong>res<strong>do</strong>s Temas relaciona<strong>do</strong>s em repositórios (base <strong>de</strong> da<strong>do</strong>s online) o ‘sistema’cria<strong>do</strong> por Oiticica para classificar e catalogar sua produção.O motivo para a afirmativa está basea<strong>do</strong> no estu<strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvi<strong>do</strong> aolongo da pesquisa que verificou ter o artista, no percurso percorri<strong>do</strong> paraestabelecer um critério <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação para sua Obra; <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>, nocontexto <strong>do</strong> que hoje se <strong>de</strong>nomina Informação em Arte, um mo<strong>de</strong>lo querepresenta as duas perspectivas da interpretação <strong>do</strong> objeto estético: osDocumentos/Discursos da Arte e os Documentos/Discursos sobre Arte.A Obra <strong>de</strong> Oiticica, como é <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong> campo da Arte,145
apresenta-se como parte componente <strong>de</strong> acervos museológicos em diferentespaíses da América <strong>do</strong> Sul, Europa e Esta<strong>do</strong>s Uni<strong>do</strong>s. E sua produção já foiexposto em to<strong>do</strong>s os continentes, tanto em exposições individuais quanto emexposições coletivas.Hoje, Hélio Oiticica juntamente com sua amiga Lygia Clark, éconsi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> o artista brasileiro mais influente, quiçá mundial, ten<strong>do</strong> trazi<strong>do</strong> àtona, não somente uma Nova Arte, mas uma nova forma <strong>de</strong> vida, um novoconceito <strong>de</strong> ser INVENTOR.E, como o papel <strong>do</strong> <strong>Museu</strong>, o papel <strong>do</strong> artista é <strong>de</strong> fato, mudar o valordas coisas.146
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[…] terá <strong>de</strong> fazer com que as suas invenções se sintam, seapalpem, se escutem. Se o que traz <strong>de</strong> longe tem forma, eledá forma; se é informe, dá algo <strong>de</strong> informe. Encontrar umalíngua;De resto, uma vez que toda a palavra é idéia, virá o tempo<strong>de</strong> uma linguagem universal! […]Essa língua será língua da alma para a alma, língua queresume tu<strong>do</strong>, perfumes, sons, cores, pensamento que agarrao pensamento e o puxa. O poeta <strong>de</strong>finiria a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong><strong>de</strong>sconheci<strong>do</strong> que <strong>de</strong>sperta no seu tempo, na almauniversal: daria mais <strong>do</strong> que a fórmula <strong>do</strong> seu pensamento,que a anotação da sua marcha para o Progresso!Enormida<strong>de</strong> que se torna norma absorvida por to<strong>do</strong>s, seriaverda<strong>de</strong>iramente um multiplica<strong>do</strong>r <strong>de</strong> progresso!Arthur Rimbaud