12.07.2015 Views

Michel Foucault, choses dites, choses vues - Culturgest

Michel Foucault, choses dites, choses vues - Culturgest

Michel Foucault, choses dites, choses vues - Culturgest

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Projecto para um monumento funerárioA comemoração do 20º aniversário da mortede <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong> serviu de ocasiãopara a realização do espectáculo <strong>Michel</strong><strong>Foucault</strong>, <strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong>. Oratoda a comemoração traz consigo o risco dasaturação comunicacional e de uma espéciede paralisia do entendimento. É por isso quea Théâtre/Public apresenta apenas o textodo espectáculo, sequência de citações,percurso pela obra de <strong>Foucault</strong>, sem outrocomentário a não ser esta curta apresentaçãoem forma de “modo de usar” e, comoeco, um único texto, o de Jean-Louis Bessonconsagrado ao poeta Georg Büchner, autorde Woyzeck e da Morte de Danton, duas peçasque tinham atraído a atenção de <strong>Michel</strong><strong>Foucault</strong> e que dão testemunho de certasafinidades entre as suas obras respectivas,nomeadamente na forma de apreender oque se convencionou chamar as Luzes. Paraquê enquadrar o texto de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>,<strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong> com comentáriosconsagrados a este ou àquele aspecto doseu pensamento? No entanto, sentimo-nostentados a tratar as seguintes questões: oespaço, a imagem, a pintura, sendo o espectáculouma tentativa para apreender oobjecto “<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>” sob o ângulo doespaço.A actual fragmentação do saber induzno leitor espectador contemporâneo umaabordagem por fragmentos. Foi esse o nossoponto de partida: não excluir o espectador,partir do que ele é no estado actual dasociedade. Mas sobretudo nada de demagogia,nada de Bouvard e Pécuchet condenadosaos “trabalhos forçados da sedução”,nada de angariação. O actor em cena (MarcBarbé) não é uma personagem de teatrousando o nome do filósofo, vem da plateia,e se se introduz no palco é primeiro quetudo para o explorar, para o medir, perseguesem dúvida um objectivo que ignoramos. Ecomo os espectadores estão ali, dirige-lhesde passagem, sem destinatário específico,como um operário ocupado a fazer o seu trabalho,enunciados que por acaso são todos(menos um) “citações” de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>.Este fulano “cita” <strong>Foucault</strong> sem ligar aosusos universitários, também sem fazer poucodeles. Descobre neste palco um círculode cor cinzenta clara que gira em volta doseu centro, podia ser a “roda” de um oleiro.Sobre esta roda, vai instalar em leque, trabalhode marceneiro ou de escultor, váriospainéis azuis de dois metros e picos de alturae com um pouco menos de um metro delargura: este marceneiro é provavelmenteum pintor. Consoante estes painéis ficamna metade de trás ou na metade da frenteda “roda”, instauram um espaço teatral oupanóptico: assim que o actor se instala nocentro do dispositivo, estando os painéis colocadosentre ele e o público, altera a relaçãoteatral, deixa de ser um actor, é ele quemobserva o público. Quem observa quem,quem é observado, um jogo de olhares, umespectáculo para uma voz, um corpo, umacor, um objecto arquitectural, luzes e uminstrumento de música; é do espaço que setrata; espaço teatral, espaço panóptico. Atéque um último painel, o 7º, fecha o panópticoe o torna impraticável. O actor vê-se encerrado.No lugar onde o actor escultor podiasubtrair-se ao olhar teatral e invertê-lo,ei-lo encerrado, prisioneiro do objecto arquitecturalque ele próprio construiu, entreguenovamente ao olhar do espectador. É entãoque cita dois extractos de uma conferênciaintitulada “Dos espaços outros”, consagradosrespectivamente ao cemitério e aoespelho. Quando <strong>Foucault</strong> escreveu estetexto, Jean Genet propunha construir os teatrosnos cemitérios. O nosso espectáculoinverte a proposta. Um teatro é um lugaronde construir e apresentar um projectode monumento funerário. Sabemos agora oque o Festival de Outono esperava de nós:imaginar um possível monumento funeráriopara <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!