Como se pode observer na Figura 12, mais de um terço dos pesquisados esperavapermanecer no Reino Unido entre um e cinco anos, o que indica que consideram suaestada como t<strong>em</strong>porária, ao invés de definitiva. Entretanto, cerca de 11% esperavampermanecer a longo prazo (acima de cinco anos), e <strong>em</strong> média, por 4.5 anos. Outros 11%pretendiam ficar para s<strong>em</strong>pre no Reino Unido, enquanto uma importante minoria(29%) sequer havia feito uma previsão quanto à duração de sua permanência. Muitosdestes expressaram suas expectativas com o uso de frases como pelo maior t<strong>em</strong>popossível, por quanto Deus quiser, enquanto der, deixando entrever, assim, o desejo depermanecer <strong>em</strong> definitivo.No que diz respeito à expectativa da duração de sua estada no exterior por homens <strong>em</strong>ulheres, Margolis (1998) observou que praticamente metade dos brasileiros e metadedas brasileiras pesquisados <strong>em</strong> Nova York pretendiam retornar ao Brasil. Esse estudotambém revelou que os homens, mais do que as mulheres, estavam determinados apermanecer <strong>em</strong> definitivo. O levantamento de <strong>Londres</strong> revelou resultados um poucodiferentes, conforme mostra a Figura 13. Pode-se ver, por ex<strong>em</strong>plo, que tanto homensquanto mulheres pretendiam permanecer a longo prazo ou <strong>em</strong> definitivo. Contudo, oshomens, mais do que as mulheres, tinham a intenção de ficar a médio prazo (umadiferença de doze pontos percentuais), enquanto as mulheres, mais do que os homens,mostravam-se indecisas quanto ao t<strong>em</strong>po que esperavam permanecer no Reino Unido.Os homens esperavam estabelecer-se, <strong>em</strong> média, por 4.6 years, ao passo que asmulheres esperavam continuar, <strong>em</strong> média, por 4.3 anos.Figura 13Expectativa de Permanência no Reino Unido: homens e mulheres45403530%252015105homensmulheres0até maisum anode 1 a 5anosmais de 5anosparase m preindefinidonãorespondeuApoiando a Campanha De Estrangeiros a Cidadãos da <strong>London</strong> CitizensConforme oberservado anteriormente, cerca, de metade dos brasileiros que participaramdo levantamento <strong>em</strong> <strong>Londres</strong> estava não-documentada. Ao mesmo t<strong>em</strong>po, aesmagadora maioria dos pesquisados concordou com a idéia de uma anistia para osimigrantes que se encontram <strong>em</strong> situação irregular no Reino Unido, apoiando, assim, areivindicação de sua regularização pela campanha De Estrangeiros a Cidadãos.Portanto, o respaldo a tal avocação estende-se para muito além dos que têm o potencialde se beneficiar diretamente de uma anistia.17
O levantamento de <strong>Londres</strong> d<strong>em</strong>onstrou que a maior parte dos que haviam deixado oBrasil rumo à capital londrina havia cursado até o segundo grau ou universidade,pertencendo originariamente à classe média ou média baixa. Sua principal motivaçãoera a procura de melhores oportunidades econômicas do que as existentes no seu paísde orig<strong>em</strong>. Após chegar<strong>em</strong> a <strong>Londres</strong>, a maior parte se <strong>em</strong>prega <strong>em</strong> serviços de baixaqualificação e que <strong>em</strong> nada se ass<strong>em</strong>elham aos trabalhos que faziam no Brasil, mas queainda assim lhes propiciam melhores salários e, portanto, a possibilidade de poupar.Muitos inicialmente vislumbram sua estada como t<strong>em</strong>porária, apenas, tencionandopermanecer somente o t<strong>em</strong>po necessário para poupar o suficiente para uma vida melhorno Brasil. Outros gostariam de permanecer a médio prazo ou ainda <strong>em</strong> definitivo. Emambos os casos, os vistos que consegu<strong>em</strong> acessar ao chegar no Reino Unido impõ<strong>em</strong>limites à sua estada, <strong>em</strong>bora muitos, ao tentar<strong>em</strong> atingir seus objetivos, transgridam ascondições estipuladas nos vistos e se torn<strong>em</strong> não-documentados.Tal como Margolis (1998), o argumento apresentado aqui é de que os brasileirospesquisados <strong>em</strong> <strong>Londres</strong> representam a comunidade mais ampla de imigrantes nãodocumentadosno Reino Unido, que vêm buscar aqui melhores oportunidades. Sãotrabalhadores que têm um papel importante na economia britânica, não só portrabalhar<strong>em</strong> <strong>em</strong> serviços que os próprios britânicos evitam e que são essenciais a<strong>of</strong>uncionamento da sociedade, mas também por criar<strong>em</strong> efeitos multiplicadores por meiodo consumo de bens e serviços. Freqüent<strong>em</strong>ente tais trabalhadores são vulneráveis àexploração, <strong>em</strong> virtude de sua situação de não-documentados. E é esta mesmavulnerabilidade que a reivindicação pela campanha De Estrangeiros a Cidadãos daanistia aos não-documentados procura eradicar.AgradecimentosAgradec<strong>em</strong>os a todos os brasileiros que participaram do levantamento aqui relatado, etambém a Esmê Machado, pela revisão do texto <strong>em</strong> português.BibliografiaCwerner, S (2001) “The Times <strong>of</strong> Migration”, Journal <strong>of</strong> Ethnic and Migration Studies,27 (1): 7-36.Datta, K, McIlwaine, C, Evans, Y, Herbert, J, May, J and Wills, J (2007a) ‘FromCoping Strategies to Tactics: <strong>London</strong>’s low-pay economy and migrant labour’, BritishJournal <strong>of</strong> Industrial Relations, 45 (2): 404 – 432.Datta, K, McIlwaine, C, Wills, J, Evans, Y, Herbert, J, and May, J (2007b) ‘The NewDevelopment Finance or Exploiting Migrant Labour? R<strong>em</strong>ittance sending among lowpaidmigrant workers in <strong>London</strong>’, International Development Planning Review, 29 (1):43 – 67.Finella, G (2005) <strong>London</strong> Country <strong>of</strong> Birth Pr<strong>of</strong>iles: an analysis <strong>of</strong> Census data,<strong>London</strong>: GLA.Jordan, B and Duvell, F (2002) Irregular Migration: the dil<strong>em</strong>mas <strong>of</strong> transnationalmobility, Cheltenham: Edward Elgar.Margolis, M (1998) An Invisible Minority: Brazilians in New York City, Ally andBacon: Massachusetts.18