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a arma da cultura e os universalismos parciais - Cultura Digital

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A ARMA DA CULTURA E OS UNIVERSALISMOS PARCIAISClara Cristina J<strong>os</strong>t Mafra 1RESUMO: Nesta comunicação parto <strong>da</strong> in<strong>da</strong>gação sobre a relativa inabili<strong>da</strong>de d<strong>os</strong>evangélic<strong>os</strong> no Brasil em empunharem a “<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>”. Enquanto agentes de outrasreligiões, em especial, católic<strong>os</strong> e afro-brasileir<strong>os</strong>, investiram em negociações esubordinações do “religi<strong>os</strong>o” ao “<strong>cultura</strong>l” como estratégia de ganho em term<strong>os</strong> dereconhecimento e de legitimi<strong>da</strong>de social via inclusão de si no leque <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>lque compõe a nação, <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> tendem a desenvolver relações externalistas com aspolíticas <strong>cultura</strong>is prop<strong>os</strong>tas pelo Estado e por agências transnacionais de aporte secular.Com base em <strong>da</strong>d<strong>os</strong> etnográfic<strong>os</strong>, sugiro que as hesitações e ambigüi<strong>da</strong>des d<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong>em relação a estas políticas estão relaciona<strong>da</strong>s com um engajamento mais básico deprodução de “universalism<strong>os</strong> <strong>parciais</strong>”, ou seja, faz parte <strong>da</strong> “<strong>cultura</strong> evangélica” mantervíncul<strong>os</strong> tens<strong>os</strong>, de aceitação e rejeição, <strong>da</strong>s visões de mundo convencionalmente aceitas nocontexto.PALAVRAS-CHAVE: Evangélic<strong>os</strong>, políticas <strong>cultura</strong>is, diversi<strong>da</strong>de religi<strong>os</strong>a, universalismoparcial.INTRODUÇÃO:Se a categoria de <strong>cultura</strong> foi central para a constituição <strong>da</strong> antropologia, há jáalguns an<strong>os</strong> seus us<strong>os</strong> e significad<strong>os</strong> se multiplicaram, ampliaram e transformaramavançando muito além de suas fronteiras disciplinares. Em um mundo que muit<strong>os</strong>definem como multi<strong>cultura</strong>l e pós-colonial, <strong>os</strong> antropólog<strong>os</strong> dificilmente têmreconheci<strong>da</strong> a sua autori<strong>da</strong>de de ‗reguladores d<strong>os</strong> us<strong>os</strong> do termo‘, e ‗nativ<strong>os</strong>‘ d<strong>os</strong> quatrocant<strong>os</strong> do planeta apropriam-se <strong>da</strong> categoria para, em nome do valor de sua própria ‗<strong>cultura</strong>‘ defender seu mod<strong>os</strong> de ser específic<strong>os</strong> em relação a alteri<strong>da</strong>des humanas einstitucionais com diferentes pes<strong>os</strong> e medi<strong>da</strong>s. Assiste-se assim a agenciament<strong>os</strong> muitasvezes inusitad<strong>os</strong>, constituindo redes e espaç<strong>os</strong> de compartilhamento com horizontes queampliam ou fecham, que paroquializam ou universalizam. Tanto é assim, que umSahlins ‗quase‘ otimista chegou a sugerir que mesmo que <strong>os</strong> significad<strong>os</strong> atribuíd<strong>os</strong> acategoria <strong>cultura</strong> não sejam assemelhad<strong>os</strong> ou mesmo sejam mutuamente ininteligíveis, acategoria pode, ain<strong>da</strong> assim, constituir-se como uma ‗<strong>arma</strong>‘ especialmente eficaz deagenciamento de grup<strong>os</strong> e comuni<strong>da</strong>des em um mundo globalizado (Sahlins 1997).1 Professora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de do Estado doRio de Janeiro (PPCIS/UERJ). Email: clarajmafra@gmail.com


Nesta comunicação, a metáfora <strong>da</strong> ‗<strong>cultura</strong> como <strong>arma</strong>‘ será central i . Isto nãoapenas porque a expressão põe em destaque a recusa de uma definição essencialista –não se trata <strong>da</strong> busca de uma <strong>cultura</strong> ‗original‘ mais autêntica que as demais – mastambém porque implicitamente rejeita uma noção construtivista radical - como quand<strong>os</strong>e insiste que a continui<strong>da</strong>de <strong>cultura</strong>l se realiza na soma casual de escolhas arbitrárias.Sobretudo, na metáfora <strong>da</strong> ‗<strong>cultura</strong> como <strong>arma</strong>‘ está em relevo a capaci<strong>da</strong>de de‗objetificação‘ do reconhecimento <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>, algo que ocorre quando alguém de fora sedispõe a representar o que as comuni<strong>da</strong>des vivem e experimentam e, mais que isto,tem<strong>os</strong> a continui<strong>da</strong>de em reverso deste processo, como quando o sujeito ‗objetivado‘ seapropria<strong>da</strong> <strong>da</strong> representação e d<strong>os</strong> pressup<strong>os</strong>t<strong>os</strong> do observador, explorando a bor<strong>da</strong> dereconhecimento mútuo afim de propiciar a emergência de um ‗terceiro termo‘ ou algonovo (Sansi 2007). Neste caso, a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘ pode ser contrabandea<strong>da</strong> eapropria<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> vizinh<strong>os</strong> ‗observad<strong>os</strong>‘ na expectativa política de que eles defen<strong>da</strong>mseus própri<strong>os</strong> valores em um espaço mais abrangente e multi<strong>cultura</strong>l.Para seguir com a metáfora, noto que, como no caso de qualquer relação entre ohomem e umartefato, existem aquelas pessoas que são mais destras que outras na suamanipulação. Se n<strong>os</strong> voltarm<strong>os</strong> para o campo <strong>da</strong>s religiões no Brasil, por exemplo, éconhecido que as primeiras tentativas de preservação de bens <strong>cultura</strong>is foram realiza<strong>da</strong>stendo em vista objet<strong>os</strong> materiais e imateriais ligad<strong>os</strong> ao barroco colonial (Gonçalves1996, Pontes 1998). Desde então, houve todo um desenvolvimento <strong>da</strong>s categorias einstituições volta<strong>da</strong>s para a preservação <strong>da</strong> ‗<strong>cultura</strong> nacional‘, sem rupturas profun<strong>da</strong>scom esta percepção de que o catolicismo é o ‗n<strong>os</strong>so‘ caso emblemático de p<strong>os</strong>sessãoinalienável. Ain<strong>da</strong> hoje, bens sob a guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> Igreja católica, como objet<strong>os</strong> de arte sacrade Tiradentes, de Ouro Preto, de Congonhas, etc são referências primeiras de umaherança coletiva nacional consensualmente referi<strong>da</strong>. A freqüente peregrinação deturistas e devot<strong>os</strong> para estas ci<strong>da</strong>des confirma em outro plano algo que a chancela deórgã<strong>os</strong> públic<strong>os</strong> como o IPHAN e a UNESCO apenas referen<strong>da</strong>m (Camurça eGiovannini 2003, Gracino Jr 2010). Não seria absurdo seguir com a metáfora e afirmarque a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> brasileira‘ foi fabrica<strong>da</strong> levando em conta a fôrma <strong>da</strong> mão dopadre.


Segundo Roger Sansi, uma <strong>da</strong>s performances mais surpreendentes e bemsucedi<strong>da</strong>s no campo <strong>da</strong>s artes e <strong>cultura</strong> no século XX, foi a d<strong>os</strong> líderes <strong>da</strong>s religiõesafro-brasileiras (Sansi 2007). Seus cult<strong>os</strong>, que no início do século XX eram objeto deperseguição e acusação de feitiçaria, ao longo do século foram sendo transformad<strong>os</strong> emreferência de arte, de exp<strong>os</strong>ição de museu, de <strong>cultura</strong> moderna radical e autêntica(Dantas 1998, Capone 2004, Castillo 2008, Sansi 2007). Para esta transformaçãohistórica, afirma Sansi, é importante levar-se em conta <strong>os</strong> laç<strong>os</strong> de cooperação e aju<strong>da</strong>mútua estabelecid<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> pais e mães de santo, em especial do Candomblé, comartistas, intelectuais e antropólog<strong>os</strong> nacionais e internacionais. O ‗povo do Candomblé‘,ao invés de se recusar a participação em um processo de objetivação do Candomblécomo ―<strong>cultura</strong> afro-brasileira‖, - processo puxado por intelectuais, boa parteantropólog<strong>os</strong> e sociólog<strong>os</strong> - , apropriaram-se desta reificação, transformando ocandomblé em um espaço aberto e nobre. Neste sentido, a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘ foi utiliza<strong>da</strong>em seu potencial máximo, transformando um objeto carregado de negativi<strong>da</strong>de, - ocandomblé como feitiçaria- , em signo de herança digna e enobrecedora <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>nacional.Poucas vezes <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> brasileir<strong>os</strong> ousaram utilizar a ‗<strong>cultura</strong> como <strong>arma</strong>‘ aseu favor e quando o fizeram demonstraram uma falta de familiari<strong>da</strong>de tremen<strong>da</strong> com oinstrumento. Lembro, por exemplo, o episódio que ficou conhecido como ‗a tentativa d<strong>os</strong>enador Marcello Crivella de inclusão d<strong>os</strong> templ<strong>os</strong> religi<strong>os</strong><strong>os</strong> na lei Rouanet‘ ii . Em2005, o então senador, ex-bispo <strong>da</strong> Igreja Universal do Reino de Deus (IURD),apresentou o projeto de lei que propunha a alteração <strong>da</strong> Lei n 8313, o Programa nacionalde Apoio à <strong>Cultura</strong> (PRONAC), popularmente conheci<strong>da</strong> como Lei Rouanet. O projetoprevia duas modificações: 1.ampliar <strong>os</strong> sujeit<strong>os</strong> que poderiam ser objeto de apoio <strong>da</strong> lei,incorporando ‗as crenças, as tradições e a memória‘. 2. incluir entre <strong>os</strong> p<strong>os</strong>síveisbeneficiári<strong>os</strong> do Fundo Nacional de <strong>Cultura</strong> (FNC), as ‗fun<strong>da</strong>ções <strong>cultura</strong>is de qualquernatureza e <strong>os</strong> templ<strong>os</strong>‖. Com esta segun<strong>da</strong> modificação, o leque de enti<strong>da</strong>desbeneficiárias pela lei seria exponencialmente ampliado, reveria uma previsão restritiva<strong>da</strong> lei original (que indica apenas as ―fun<strong>da</strong>ções <strong>cultura</strong>is com fins específic<strong>os</strong>, comomuseus, bibliotecas, arquiv<strong>os</strong>‖).


Em 2007, o projeto foi amplamente noticiado na grande imprensa. Inicialmentecirculou uma versão distorci<strong>da</strong>, pois afirmava que uma <strong>da</strong>s ementas estaria propondo ‗ odesvio de recurs<strong>os</strong>‘ <strong>da</strong> lei Rouanet para <strong>os</strong> ‗templ<strong>os</strong> religi<strong>os</strong><strong>os</strong>‘ (Folha de São Paulo,04/04/2007). Notícia divulga<strong>da</strong>, replica<strong>da</strong>, contesta<strong>da</strong> e re-apresenta<strong>da</strong>, a prop<strong>os</strong>tasofreu uma forte reação <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de civil, em especial, de artistas e intelectuais.Artistas e celebri<strong>da</strong>des, agentes tradicionalmente envolvid<strong>os</strong> na produção <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>nacional como o então ministro <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong>, Gilberto Gil, vieram a público manifestar-secontra a prop<strong>os</strong>ta. A associação automática do projeto de lei com uma imagem reifica<strong>da</strong><strong>da</strong> IURD como a ―igreja mercantil que confunde <strong>os</strong> pobres para tirar dinheiro deles‖imp<strong>os</strong>sibilitou um exame mais ponderado <strong>da</strong> prop<strong>os</strong>ta, levando em conta inclusive seusp<strong>os</strong>síveis efeit<strong>os</strong> p<strong>os</strong>itiv<strong>os</strong>, na distribuição mais democrática d<strong>os</strong> recurs<strong>os</strong> do FundoNacional <strong>da</strong> <strong>Cultura</strong> (FNC). Em 2009, o senador João Tenório assinou um parecerfavorável à modificação do primeiro ponto, mas contrário ao segundo. Neste últimocaso, o senador Marcello Crivella, que talvez pretendesse utilizar a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘para atender interesses de sua própria clientela religi<strong>os</strong>a e de parceir<strong>os</strong> mais próxim<strong>os</strong>,acabou ‗<strong>da</strong>ndo um tiro pela culatra‘.Nesta comunicação vou explorar <strong>os</strong> argument<strong>os</strong> implícit<strong>os</strong> no caso do projeto delei de Crivella seguindo as seguintes questões: porque <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong>, esses agentesreligi<strong>os</strong><strong>os</strong> que têm sido tão eficazes na conquista de um espaço no campo <strong>da</strong> política nocenário nacional (Freston 1993, Oro, Corten e Dozon 2003, Burity e Machado 2003,Machado 2006), têm tido uma atuação tão marca<strong>da</strong>mente desastr<strong>os</strong>a no terreno <strong>da</strong><strong>cultura</strong>? Porque quando esses líderes tentam apropriar-se <strong>da</strong> linguagem ‗<strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘ ebuscam apresentar <strong>os</strong> seus ‗objet<strong>os</strong> sagrad<strong>os</strong>‘ como ‗objet<strong>os</strong> de <strong>cultura</strong> e de arte‘, estes,ao invés de encontrar o conforto do reconhecimento social, são remetid<strong>os</strong> ao campo doespúrio, do não autêntico, do mercado?Porque não é raro ouvir d<strong>os</strong> líderes evangélic<strong>os</strong>que o que eles fazem ‗não é <strong>cultura</strong>‘, mas algo sagrado que deve ser mantido ‗emseparado‘? Será que <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> são incapazes de segurar a ‗<strong>arma</strong> <strong>da</strong> <strong>cultura</strong>‘ poralgum defeito congênito?O primeiro passo que tomo para explorar estas questões é o <strong>da</strong> atenção adiversi<strong>da</strong>de interna do campo evangélico. De forma alguma a IURD pode ser descritacomo um representante ‗médio‘ deste segmento social. A p<strong>os</strong>ição desta igreja nocampo, muito pelo contrário, é singular, assim como sua história, que é relativamente


ecente se levarm<strong>os</strong> em conta a presença <strong>da</strong>s demais denominações evangélicas noBrasil. Inicialmente vou procurar descrever algumas <strong>da</strong>s facetas <strong>da</strong>s tentativas denegociação de reconhecimento de Presbiterian<strong>os</strong>, Assembleian<strong>os</strong> e Iurdian<strong>os</strong> cominterlocutores oficiais do campo <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> e <strong>da</strong>s artes no Rio de Janeiro e São Paulo.Após uma apresentação etnográfica relativamente breve, vou retomar a questão maisabrangente, projetando o debate para um campo mais genérico e antropologicamentepertinente.OBJETOS SAGRADOS: JUNTOS E SEPARADOSQuando <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> e <strong>os</strong> agentes <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> se dispõem (ou não se dispõem) anegociar <strong>os</strong> sentid<strong>os</strong> e fronteiras entre ‗sagrado‘, ‗arte‘ e ‗<strong>cultura</strong>‘, eles estão atualizandoum debate conceitual de longa duração cujo ponto de inflexão é a entra<strong>da</strong> namoderni<strong>da</strong>de. Isto porque <strong>os</strong> ‗objet<strong>os</strong> de arte e <strong>cultura</strong>‘ passaram a ser reconhecid<strong>os</strong>como tais com a emergência <strong>da</strong> moderni<strong>da</strong>de. Estes foram definid<strong>os</strong> em op<strong>os</strong>ição ànoção de ‗mercadoria‘ - bens de fácil reprodução, cujo valor relaciona-se com um jogocomplexo de produção, circulação, p<strong>os</strong>se e consumo. No contraste, <strong>os</strong> objet<strong>os</strong> de arte e<strong>cultura</strong> foram definid<strong>os</strong> por carregar uma ‗aura‘, um valor inalienável, algo de tendênciauniversalista, que transcende o indivíduo. Esta quali<strong>da</strong>de a mais d<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> de artevinculou-<strong>os</strong> a um conjunto de práticas, relaciona<strong>da</strong>s a esforç<strong>os</strong> de ‗preservação‘ e‗exp<strong>os</strong>ição‘. Aparat<strong>os</strong> institucionais como <strong>os</strong> museus, centr<strong>os</strong> de <strong>cultura</strong> e demaisespaç<strong>os</strong> de exp<strong>os</strong>ição foram criad<strong>os</strong> para responder a esta nova sensibili<strong>da</strong>de. Enquantoas ‗mercadorias‘ estão liga<strong>da</strong>s ao transitório, ao consumo e ao descarte, <strong>os</strong> ‗objet<strong>os</strong> dearte e <strong>cultura</strong>‘ reafirmam sua aura pel<strong>os</strong> olh<strong>os</strong>, pelo reconhecimento de suasingulari<strong>da</strong>de entre vizinh<strong>os</strong> de uma mesma galeria ou box.Pode-se afirmar que <strong>os</strong> objet<strong>os</strong> sagrad<strong>os</strong> são anteriores a essa classificaçãomoderna, deram origem a um d<strong>os</strong> term<strong>os</strong>, <strong>os</strong> ‗objet<strong>os</strong> de <strong>cultura</strong> e arte‘, e ain<strong>da</strong> assim,não se encaixam adequa<strong>da</strong>mente à nova classificação. N<strong>os</strong> objet<strong>os</strong> sagrad<strong>os</strong>, há semprealguma coisa em excesso ou em falta, algo que não é contido pela disciplina do nome.Relíquia, ídolo, ícone, fetiche, amuleto, são term<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong> para descreverobjet<strong>os</strong> sagrad<strong>os</strong>, boa parte deles referindo-se de modo preconceitu<strong>os</strong>o e deturpado atradições de sagrado entre pov<strong>os</strong> tradicionais. Para <strong>da</strong>r conta deste descompasso, Alfred


definição <strong>da</strong> arte sacra. Um momento de inflexão no debate foi a construção <strong>da</strong> Igreja <strong>da</strong>Pampulha, em 1952, em Belo Horizonte. No início do século XX, boa parte <strong>da</strong>intelectuali<strong>da</strong>de católica defendia que na moderni<strong>da</strong>de templ<strong>os</strong> construíd<strong>os</strong> comoréplicas de períod<strong>os</strong> passad<strong>os</strong> deveriam ser evitad<strong>os</strong> pois, entre outr<strong>os</strong> motiv<strong>os</strong>, ao invésde educar o povo sobre a semelhança do belo e do divino, multiplicavam o mau g<strong>os</strong>to eo ‗pastiche‘. Em resp<strong>os</strong>ta surgiu uma vertente que defendia que artistas, mesmo quedeclara<strong>da</strong>mente não crentes, estariam plenamente autorizad<strong>os</strong>, com sua alma de artistas,à produção de objet<strong>os</strong> sacr<strong>os</strong>. Objet<strong>os</strong> com beleza e graça produzid<strong>os</strong> por não crentes<strong>da</strong>riam melhor testemunho sobre o transcendente que objet<strong>os</strong> t<strong>os</strong>c<strong>os</strong> construíd<strong>os</strong> porartistas crentes inábeis. Escrit<strong>os</strong> neste sentido circulavam no meio católico quando doisartistas ateus brasileir<strong>os</strong>, o arquiteto Oscar Niemeyer e o artista plástico CândidoPortinari, foram chamad<strong>os</strong> por Juscelino Kubitschek para construir a igreja <strong>da</strong>Pampulha. Sem entrar em detalhes e sem retomar questões que levaram a discordânciasintermináveis entre o clero, o arquiteto e o artista, g<strong>os</strong>taria apenas de registrar que,depois <strong>da</strong> Igreja <strong>da</strong> Pampulha ter sido fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em caráter civil, ela permaneceu 17 an<strong>os</strong>sem a benção <strong>da</strong> Igreja Católica. Neste sentido, a Igreja <strong>da</strong> Pampulha é um testemunhovivo <strong>da</strong> pregnância do debate sobre as fronteiras entre arte sacra e <strong>cultura</strong> no Brasil. Ouseja, a questão <strong>da</strong> representação do transcendente segue em aberto mesmo no interior docristianismo mais estabelecido.Como já indiquei anteriormente, no Brasil <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> foram gradualmentesendo associad<strong>os</strong> a imagem de ‗iconoclastas‘. Nas últimas déca<strong>da</strong>s, esta associação sefortaleceu, especialmente com o avanço <strong>da</strong> teologia <strong>da</strong> batalha espiritual, pois, segundoesta teologia, as imagens têm agência e poder, e por isto, devem ser ativamentecombati<strong>da</strong>s (Meyer 1999, Mariz 1999). Com isto, as disputas e controvérsias deevangélic<strong>os</strong> com católic<strong>os</strong>, membr<strong>os</strong> de cult<strong>os</strong> de candomblé e de umban<strong>da</strong> e agentes <strong>da</strong><strong>cultura</strong> ocuparam as praças e ruas, e estão bem registra<strong>da</strong>s e analisa<strong>da</strong>s em estud<strong>os</strong> decientistas sociais (Giumbelli 2002, Mafra 2002, Mariano 1999, Oro, Corten e Dozon2003). Entretanto, o fato de parte significativa desses religi<strong>os</strong><strong>os</strong> terem aderido acampanhas iconoclastas não quer dizer que eles tenham conseguido desenvolverrelações com o sagrado ignorando a mediação de objet<strong>os</strong>. Como n<strong>os</strong> lembra Engelke,boa parte <strong>da</strong>s religiões vive sob o signo do dilema ‗<strong>da</strong> presença‘ pois se a divin<strong>da</strong>de étranscendente e invisível, o coletivo de adoradores, de homens e mulheres, tende a


deman<strong>da</strong>r algum tipo de objetivação que facilita o compartilhamento do culto (Engelke2007).Na seqüência, vou descrever como estes ‗destruidores de imagens‘ têm secomportado quando está em causa a objetivação de sua própria identi<strong>da</strong>de, para si e para<strong>os</strong> outr<strong>os</strong>. Por uma questão de economia de escrita, vou me concentrar na descrição deetnografias realiza<strong>da</strong>s em três denominações evangélicas – <strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong>, <strong>os</strong>assembleian<strong>os</strong> e <strong>os</strong> iurdian<strong>os</strong> – e sua atuação em duas ci<strong>da</strong>des, Rio de Janeiro e SãoPaulo. Sei que o recorte é arbitrário e não exaustivo, mas espero que sirva para adensara reflexão. As pesquisas de campo foram desenvolvi<strong>da</strong>s entre 2005 e 2010 e contei coma colaboração d<strong>os</strong> pesquisadores Rodrigo <strong>da</strong> Silva, Bruna Lasse Araújo e BernardoBritto Guerral iii .DESTRUIDORES E PRODUTORES DE OBJETOS SAGRADOSA comuni<strong>da</strong>de presbiteriana não é volum<strong>os</strong>a no Brasil (cerca de 980 milmembr<strong>os</strong> (Censo 2000), mas tem, relativamente, uma longa trajetória histórica deinserção no país com a formação de uma identi<strong>da</strong>de socialmente reconheci<strong>da</strong>. Segundo<strong>os</strong> registr<strong>os</strong> <strong>da</strong> igreja, em 12 de ag<strong>os</strong>to de 1859 chegou ao Brasil o primeiro missionáriopresbiteriano, enviado pela Igreja Presbiteriana d<strong>os</strong> Estad<strong>os</strong> Unid<strong>os</strong>, o missionárioAshel Green Simonton. Entre as igrejas evangélicas de missão (metodistas, luteran<strong>os</strong>,anglican<strong>os</strong>,etc), <strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> se destacaram desde <strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> an<strong>os</strong> por formaremexcelentes oradores e polemistas. Além disso, como as outras igrejas evangélicas demissão, <strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> desenvolveram uma estratégia de inserção social via educaçãoformal. Eles são <strong>os</strong> responsáveis pela fun<strong>da</strong>ção de um d<strong>os</strong> primeir<strong>os</strong> colégi<strong>os</strong> nãocatólic<strong>os</strong> no país, em especial, em 1870, o Colégio Mackenzie - atualmente uma redeimportante de ensino privado (Ramalho 1976). Esta trajetória histórica deságuou em umeth<strong>os</strong> congregacional estreitamente vinculado a<strong>os</strong> valores <strong>da</strong> educação formal e detradição iluminista. Esta singulari<strong>da</strong>de dificilmente passa despercebido para o visitante.Enquanto realizávam<strong>os</strong> n<strong>os</strong>sa pesquisa, fom<strong>os</strong> lembrad<strong>os</strong> várias vezes que estávam<strong>os</strong>n<strong>os</strong> relacionado com ‗doutores‘; que o conselho de presbíter<strong>os</strong> é formado poradvogad<strong>os</strong>, juízes, engenheir<strong>os</strong>; que o reverendo Guilhermino Cunha, líder máximo <strong>da</strong>catedral do Rio de Janeiro, é advogado constitucionalista, que representou <strong>os</strong>


evangélic<strong>os</strong> na Comissão d<strong>os</strong> 50, responsável pela elaboração do pré-projeto <strong>da</strong>Constituição de 1988; que a igreja tem o seu próprio historiador.Se n<strong>os</strong> guiarm<strong>os</strong> pela narrativa de n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> entrevistad<strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong>, foi apenasnas últimas déca<strong>da</strong>s que eles se deram conta do tesouro histórico que p<strong>os</strong>suíam naedificação <strong>da</strong> Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro – um d<strong>os</strong> pouc<strong>os</strong> prédi<strong>os</strong> nãocatólic<strong>os</strong> em processo de tombamento pelo INEPAC (Instituto Estadual de PatrimônioHistórico). Segundo n<strong>os</strong>s<strong>os</strong> informantes, o valor <strong>da</strong> edificação foi reveladoacidentalmente. Ao longo do governo de Anthony Garotinho (1999-2002), o primeirogovernador presbiteriano do Estado do Rio de Janeiro, foi implementa<strong>da</strong> uma políticade valorização d<strong>os</strong> prédi<strong>os</strong> históric<strong>os</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e em função disto, vári<strong>os</strong> deles foramincluíd<strong>os</strong> em um projeto de iluminação noturna. A idéia era colocar em destaque napaisagem noturna <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de alguns d<strong>os</strong> seus monument<strong>os</strong> <strong>cultura</strong>is e naturais. ACatedral Presbiteriana entrou na lista. Com isto, uma visitação esporádica dedesconhecid<strong>os</strong>, sendo a maioria alun<strong>os</strong> de arquitetura interessad<strong>os</strong> em conhecer o estiloneo-gótico, se diversificou e ampliou. Diante do aumento <strong>da</strong> visitação, a congregaçãoangariou fund<strong>os</strong> para uma reforma do prédio, imprimiu folders e se preparou pararecepcionar bem seus nov<strong>os</strong> visitantes, muit<strong>os</strong> deles simplesmente ‗turistas‘.Contudo, esta gener<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de <strong>da</strong> congregação com seus visitantes não transformoutudo ‗em flores‘. Com a maior visibili<strong>da</strong>de pública, a catedral foi objeto de duastentativas de tombamento, ambas sem o conhecimento e/ou a concordância <strong>da</strong>congregação. Na primeira vez, em 2003, corria o governo de R<strong>os</strong>inha Garotinho,esp<strong>os</strong>a de Anthony, também presbiteriana. Com acesso ao palácio do governo, acongregação presbiteriana pressionou contra e o projeto, que depois de algunspercalç<strong>os</strong>, foi arquivado. O segundo projeto, apresentado na gestão do governadorSérgio Cabral, foi negociado sob tensão. Na percepção do reverendo GuilherminoCunha, desta vez, vári<strong>os</strong> impasses foram mal resolvid<strong>os</strong> em função <strong>da</strong> condiçãominoritária de denominação. Com baixo poder de pressão política, a congregação teveque aceitar não só a idéia do tombamento, como assumir várias <strong>da</strong>s prescrições quantoa<strong>os</strong> term<strong>os</strong> e formato de sua efetivação.O que g<strong>os</strong>taria de sublinhar neste processo é a <strong>os</strong>cilação d<strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> entrea aceitação e a rejeição <strong>da</strong> inclusão de si em uma política patrimonialista mais ampla.Além d<strong>os</strong> desgastes decorrentes <strong>da</strong> relação entre um segmento social minoritário e um


Estado de tradição autoritária, esta <strong>os</strong>cilação está liga<strong>da</strong> a uma tradição iconoclastaReforma<strong>da</strong>, na busca de um Deus que deve ser reverenciado sem ter sua facematerializa<strong>da</strong>.Contudo, após resistências iniciais, <strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> sucumbiram à dinâmicapatrimonialista mais geral, em grande medi<strong>da</strong> por que a Catedral Presbiteriana tornou-seícone d<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> no leque <strong>da</strong> diversi<strong>da</strong>de religi<strong>os</strong>a <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de. Deste modo, foiaberta uma nova porta no esforço de preservação <strong>da</strong> memória d<strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> naregião.Ao longo <strong>da</strong> última déca<strong>da</strong>, com maior visibili<strong>da</strong>de e aceitação entre <strong>os</strong> poderespúblic<strong>os</strong>, <strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> tiveram a licença de inaugurar vári<strong>os</strong> monument<strong>os</strong> no centro<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de (a praça João Calvino em frente à igreja, a estátua em homenagem a<strong>os</strong> 450an<strong>os</strong> do primeiro culto evangélico no Brasil com <strong>os</strong> hugenotes; o monumento emhomenagem a Maurício de Nassau (calvinista presbiteriano) na praça Mauá). Isto querdizer, que eles estiveram atent<strong>os</strong> em estabelecer homologias inclusivas, onde eles, comorepresentantes de um cristianismo diverso, afirmam uma presença amplia<strong>da</strong> no tempo –são 450 an<strong>os</strong> e não apenas 150 an<strong>os</strong> de evangélic<strong>os</strong> no país – e no espaço – nas praçascom suas estátuas interativas, didáticas e de g<strong>os</strong>to duvid<strong>os</strong>o.Segundo o reverendo Guilhermino Cunha, o interesse crescente <strong>da</strong> populaçãopela história <strong>da</strong> Igreja Presbiteriana responde tanto a um interesse mais geral dopopulação pelo ‗passado‘ quanto uma busca de nov<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> pela memóriade ‗seu grupo‘. Nas suas palavras ―Eu diria que interessa a<strong>os</strong> grup<strong>os</strong> nov<strong>os</strong>[pentec<strong>os</strong>tais e neopentec<strong>os</strong>tais] saber que eles têm uma origem evangélica, umatradição evangélica histórica.(...) Estam<strong>os</strong> celebrando 450 an<strong>os</strong> do primeiro cultoevangélico no Brasil. Isso dá uma sensação de permanência e historici<strong>da</strong>de‖.Com uma inserção social burguesa, a p<strong>os</strong>se de objet<strong>os</strong> que se encaixamrazoavelmente nas expectativas d<strong>os</strong> agentes de <strong>cultura</strong> sobre ‗arte sacra‘ iv , <strong>os</strong>presbiterian<strong>os</strong> estão especialmente bem qualificad<strong>os</strong> para criar pontes entre diferentesredes sociais – com especialistas <strong>da</strong> <strong>cultura</strong> e <strong>da</strong> religião, com a indústria do turismo,com <strong>os</strong> irmã<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> men<strong>os</strong> afortunad<strong>os</strong> em term<strong>os</strong> de ‗memória materialpatrimonializável‘. Para o interior do campo denominacional, o custo é a hierarquização<strong>da</strong>s memórias, onde <strong>os</strong> presbiterian<strong>os</strong> ocupam o topo e representam simultaneamente aparte e o todo do segmento evangélico.


Esta p<strong>os</strong>ição, entretanto, pode ser tanto disputa<strong>da</strong> quanto ignora<strong>da</strong> pel<strong>os</strong> demaisevangélic<strong>os</strong>. Lembro a Assembléia de Deus, uma <strong>da</strong>s primeiras igrejas pentec<strong>os</strong>taisforma<strong>da</strong>s no país, e que representa cerca de 50% <strong>da</strong> população pentec<strong>os</strong>tal nacional(com mais de 8 milhões de membr<strong>os</strong> (Censo 2000). Em 2011, essa denominação celebraseus 100 an<strong>os</strong> de história. O marco inicial para este cálculo é a chega<strong>da</strong> de doismissionári<strong>os</strong> suec<strong>os</strong> – Gunnar Vingren e Daniel Berg – em Belém do Pará, norte dopaís. Aparentemente, mesmo com uma estrutura institucional fortemente segmenta<strong>da</strong> epolicêntrica, há um razoável consenso entre <strong>os</strong> assembleian<strong>os</strong> sobre este marco inicial.Ao longo d<strong>os</strong> últim<strong>os</strong> an<strong>os</strong>, multiplicou-se a produção de publicações do tipo diário,livro, mensagens de orientação moral, assim como museus e centr<strong>os</strong> de celebração emtorno destes dois homens. Porém, em sintonia com essa mesma estruturaorganizacional, não houve um grande encontro para celebrar o centenário. As trêsconvenções, centr<strong>os</strong> organizacionais <strong>da</strong> igreja, concor<strong>da</strong>ram em organizar umcalendário com dois an<strong>os</strong> de festa, onde reuniões com 16.000 obreir<strong>os</strong> do sudesteseguem-se a reunião d<strong>os</strong> 500s anciões no nordeste e 21.000 homens e mulheres de Deusem Belém do Pará. Nestes dois an<strong>os</strong>, cadeias auto-celebrativas se multiplicaram pelopaís, onde taças e camisetas comemorativas do centenário são distribuí<strong>da</strong>s entremilhares de ‗homens e mulheres de Deus‘ em todo o país como sinal de reconhecimentode trabalh<strong>os</strong> desenvolvid<strong>os</strong> com o mesmo ‗espírito‘ d<strong>os</strong> missionári<strong>os</strong> precursores.Nesta mesma linha celebrativa, depois de dois an<strong>os</strong> de campanha do jornal OMensageiro <strong>da</strong> Paz – o principal <strong>da</strong> denominação – foi inaugurado no Rio de Janeiro oMemorial Gunnar Vingren. Neste Memorial – de difícil acesso e que conta comagen<strong>da</strong>mento e visitas monitora<strong>da</strong>s por membr<strong>os</strong> <strong>da</strong> igreja – o visitante encontra umacoleção de objet<strong>os</strong> que aju<strong>da</strong>m a rememorar a vi<strong>da</strong> pessoal e pública de um conjuntoexpressivo de homens e mulheres ligad<strong>os</strong> a história <strong>da</strong> instituição. Em destaque, nomemorial o visitante pode ver as réplicas do quarto d<strong>os</strong> missionári<strong>os</strong>, bíbliasexaustivamente anota<strong>da</strong>s, sublinha<strong>da</strong>s, e comenta<strong>da</strong>s, cartas, agen<strong>da</strong>s, histórias depessoas que se encontraram com <strong>os</strong> missionári<strong>os</strong>, o violino de Gunnar. Os objet<strong>os</strong> estãodisp<strong>os</strong>t<strong>os</strong> para valorizar a trajetória individual e a subjetivi<strong>da</strong>de d<strong>os</strong> pioneir<strong>os</strong> <strong>da</strong> igreja.Isto quer dizer que <strong>os</strong> assembleian<strong>os</strong> encontraram um modo de narrar a sua históriaonde a quali<strong>da</strong>de maior do objeto está na sua ligação íntima com o antigo proprietário.


Isto acontece até mesmo quando se está narrando a história institucional – como oprimeiro contrato editorial, a primeiro LP, as primeiras fitas cassetes.Este estilo de materialização <strong>da</strong> memória apresenta certa semelhança com algunsmuseus ju<strong>da</strong>ic<strong>os</strong>. Por diversa e diaspórica que seja a comuni<strong>da</strong>de ju<strong>da</strong>ica, uma longahistória de perseguição e do Holocasto criou um compromisso de ‗jamais esquecer‘,onde são valoriza<strong>da</strong>s as trajetórias individuais com suas estratégias diferencia<strong>da</strong>s desobrevivência. Se, segundo a ortodoxia, o transcendente não pode ser objetivado, <strong>os</strong>homens que se relacionaram de modo excepcional com ele devem ser lembrad<strong>os</strong> ecelebrad<strong>os</strong>.Outra semelhança está no sentimento compartilhado de ‗minoria persegui<strong>da</strong>‘. Oacúmulo de event<strong>os</strong> tens<strong>os</strong> entre a diáspora e diferentes Estad<strong>os</strong> Nacionais, levou acomuni<strong>da</strong>de ju<strong>da</strong>ica a prática sistemática de criação de museus e centr<strong>os</strong> autônom<strong>os</strong>,gerid<strong>os</strong> por membr<strong>os</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong>de. Os museus e centr<strong>os</strong> <strong>cultura</strong>is quevisitam<strong>os</strong> <strong>da</strong> Assembléia de Deus (AD do Brás, Memorial Gunnar Vingren, MuseuHistórico de Belém do Pará) ou estão localizad<strong>os</strong> no interior de espaç<strong>os</strong> sacr<strong>os</strong> ou temacesso restrito. Tod<strong>os</strong> são monitorad<strong>os</strong> por membr<strong>os</strong> <strong>da</strong> própria comuni<strong>da</strong>de.Isto quer dizer que encontram<strong>os</strong> entre <strong>os</strong> assembleian<strong>os</strong> um tratamento <strong>da</strong><strong>cultura</strong> material igualmente ambíguo, ain<strong>da</strong> com um estatuto diferente ao d<strong>os</strong>presbiterian<strong>os</strong>. Por um lado, eles rejeitam a lógica <strong>da</strong> celebração de memória viamonumento e grandi<strong>os</strong>i<strong>da</strong>de física e dedicam-se a recolha, seleção e celebração deobjet<strong>os</strong> que ganham valor pela relação íntima com pessoas excepcionais. Uma soma deobjet<strong>os</strong> heterodox<strong>os</strong> são destacad<strong>os</strong> do cotidiano para <strong>da</strong>r testemunho de uma trajetóriacoletiva carinh<strong>os</strong>amente celebra<strong>da</strong>.Por outro lado, <strong>os</strong> centr<strong>os</strong> e museus que reúnem estes objet<strong>os</strong> são administrad<strong>os</strong>e gerid<strong>os</strong> por membr<strong>os</strong> <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de, e não são facilmente acessíveis a não membr<strong>os</strong>.Há um temor (razoavelmente fun<strong>da</strong>do) de que a atitude de reverência que eles própri<strong>os</strong>têm para com estes objet<strong>os</strong>-agentes, não seria manti<strong>da</strong> pelo visitante curi<strong>os</strong>o. Nestesentido, eles se apropriam de uma lógica de colecionador, própria <strong>da</strong> tradição secular,mas se recusam a compartilhar ‗sua‘ história material, por exemplo, nas exp<strong>os</strong>ições d<strong>os</strong>espaç<strong>os</strong> oficiais de celebração <strong>da</strong> memória popular no Brasil – que se faz especialmentevia celebração de festas e folgued<strong>os</strong> religi<strong>os</strong><strong>os</strong> (Cavalcanti e Gonçalves 2010). Misturar


<strong>os</strong> seus objet<strong>os</strong> com objet<strong>os</strong> sacr<strong>os</strong> d<strong>os</strong> cult<strong>os</strong> concorrentes significaria torná-l<strong>os</strong>equivalentes ao fetiche que se quer combater.Outra denominação que desenvolveu uma política patrimonial singular foi aIgreja Universal do Reino de Deus (terceira maior igreja pentec<strong>os</strong>tal no país, com cercade 2,5 milhoes de fiéis(Censo 2000). Fun<strong>da</strong><strong>da</strong> em 1977 e com uma trajetória inicial deocupação de salas de cinema antigas para suas reuniões, a igreja foi objeto de acusaçõesnão só de ‗inautentici<strong>da</strong>de‘ no sentido genérico, mas de implementar uma política ativade destruição <strong>da</strong> memória coletiva (Gomes 2004). De 1995 em diante, a liderança <strong>da</strong>igreja mudou de estratégia e passou a construir a partir <strong>da</strong> raiz megacatedrais em pont<strong>os</strong>estratégic<strong>os</strong> <strong>da</strong> metrópole (Gomes 2004, Mafra e Swatowiski 2008, Almei<strong>da</strong> 2009). Em2000, a IURD inaugurou o Centro <strong>Cultura</strong>l Jerusalém, uma réplica ‗cientificamente‘reproduzi<strong>da</strong> de ‗Jerusalém na época do segundo templo‘(www.centro<strong>cultura</strong>ljerusalem.com.br/institucional.php. Visita em 24/08/2010).Recentemente, em ag<strong>os</strong>to passado, em um evento amplamente coberto pela mídianacional e internacional, o líder Edir Macedo lançou a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> construção<strong>da</strong> réplica do Templo de Salomão. Em seu blog, o bispo descreve <strong>da</strong> seguinte forma atarefa:―Esta construção terá 126 metr<strong>os</strong> de comprimento com104 metr<strong>os</strong> de largura, dimensões que superam as de um campode futebol oficial e as do maior templo <strong>da</strong> Igreja católica <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de de São Paulo, a Catedral <strong>da</strong> Sé. São mais de 70 milmetr<strong>os</strong> quadrad<strong>os</strong> de área construí<strong>da</strong> num quarteirão inteiro de28 mil metr<strong>os</strong>. A altura de 55 metr<strong>os</strong> corresponde a de umprédio de 18 an<strong>da</strong>res, quase duas vezes a altura <strong>da</strong> estátua doCristo Redentor. Com previsão de entrega para <strong>da</strong>qui a 4 an<strong>os</strong>, aobra será um marco na história <strong>da</strong> igreja Universal do Reino deDeus. Para a igreja, haverá o antes de depois de2014.‖(http://bispomacedo.com.br/blog visita em 24/08/2010).Nesta construção, <strong>os</strong> líderes <strong>da</strong> igreja não se preocupam em fornecer indíci<strong>os</strong> deuma relação minimamente autêntica com um passado vivido. A força de persuasão <strong>da</strong>magnificência do Templo de Salomão está, se seguirm<strong>os</strong> as palavras de Edir Macedo,na sugestão de um outro ‗entendimento‘ do cristianismo onde, na longa narrativaju<strong>da</strong>ico-cristã, Roma e a Europa seriam largamente ignora<strong>da</strong>s. Com o templo, uma linhaespaço-temporal cruzará o Mediterrâneo e o Atlântico, ligando Israel ao Brás, São


Paulo, sem desvio em terras européias. Há aqui um diálogo com a tese do ‗mal estar <strong>da</strong>civilização‘ - se a Europa filtrou a mensagem cristã de tal forma que ela se autorepresentouno topo <strong>da</strong> hierarquia do mundo, sustentando a reprodução de umahumani<strong>da</strong>de crescentemente desigual, está na hora de ignorar estes interlocutoresconsagrad<strong>os</strong> e reler a mensagem cristã em nov<strong>os</strong> term<strong>os</strong>. Se estou capturando estametanarrativa corretamente, esta prop<strong>os</strong>ta inusita<strong>da</strong> de re-organização <strong>da</strong> memóriacoletiva segue um princípio evolutivo básico – ‗o que causa dor e auto-depreciação,deve ser evitado‘.Além disso, com o Templo de Salomão, Edir Macedo procura superar asambigüi<strong>da</strong>des entre objeto sacro e objeto <strong>cultura</strong>l que tanto incomo<strong>da</strong> seus paresevangélic<strong>os</strong>. Para não estabelecer equivalência entre <strong>os</strong> seus objet<strong>os</strong> sacr<strong>os</strong> e <strong>os</strong> objet<strong>os</strong>de outr<strong>os</strong> cult<strong>os</strong>, boa parte d<strong>os</strong> quais considerad<strong>os</strong> fetichistas, Macedo opta por celebraruma história de dimensões não humanas. Nesta história, sentid<strong>os</strong> mais autêntic<strong>os</strong> ever<strong>da</strong>deir<strong>os</strong> do culto ju<strong>da</strong>ico, ignorad<strong>os</strong> por mais de XX sécul<strong>os</strong>, aterrisariamabruptamente em um bairro de trabalhadores migrantes na periferia do capitalismo. Ointeressante é que ao fazer isto, Edir Macedo aproxima ain<strong>da</strong> mais o seu culto comcaracterísticas marcantes do capitalismo contemporâneo, especialmente neste seucaráter arbitrário e fugidiu de deslocamento d<strong>os</strong> centr<strong>os</strong> de produção <strong>da</strong> riqueza(Comaroff e Comaroff 2001).CONSIDERAÇÕES FINAIS:Comecei esta comunicação apontando a aparente inadequação <strong>da</strong> conjugação <strong>da</strong>spalavras ‗<strong>cultura</strong>‘ e ‗evangélico‘. No Brasil, enquanto soa crível e usual falar em‗<strong>cultura</strong> católica‘ e ‗<strong>cultura</strong> afro-brasileira‘, o mesmo não acontece quandopronunciam<strong>os</strong> o compósito ‗<strong>cultura</strong> evangélica‘. Ao longo <strong>da</strong> comunicação procureiindicar alguns d<strong>os</strong> caminh<strong>os</strong> que aju<strong>da</strong>ram a promover esta relação de exteriori<strong>da</strong>de ecomo isto foi se fortalecendo gradualmente.Sem que <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> tenham sido ‗vítimas‘ de uma dinâmica que veio de forae <strong>os</strong> modelou, as indicações etnográficas sugerem que <strong>os</strong> moviment<strong>os</strong> disjuntiv<strong>os</strong>ganharam força no interior <strong>da</strong>s próprias congregações estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Presbiterian<strong>os</strong>,Assembleian<strong>os</strong> e Iurdian<strong>os</strong> hesitam de mod<strong>os</strong> distint<strong>os</strong> em se alinhar com as políticas


patrimoniais prop<strong>os</strong>tas pelo Estado e agências transnacional de caráter secular como‗<strong>arma</strong>‘. Dessa forma, ao longo <strong>da</strong> comunicação, procurei situar como <strong>os</strong> Presbiterian<strong>os</strong>comungam parte do vocabulário d<strong>os</strong> agentes do Estado sobre política patrimonial.Porém, eles se recusam a participar de um processo de ‗tombamento‘ cujo principalresultado é a per<strong>da</strong> do controle comunitário sobre o bem. Muito a contrag<strong>os</strong>to, eles sesubmeteram a essa política patrimonial no caso <strong>da</strong> Catedral Presbiteriana do Rio deJaneiro, e conseguiram tirar algum proveito político <strong>cultura</strong>l em sua implementação. OsAssembleian<strong>os</strong>, por sua vez, estão em sintonia com a noção de <strong>cultura</strong> na moderni<strong>da</strong>deem um plano muito básico, de resgate e preservação <strong>da</strong> memória coletiva através <strong>da</strong>produção de coleções. Inclusive, muit<strong>os</strong> assembleian<strong>os</strong> tornaram-se exími<strong>os</strong>colecionadores, formadores e preservadores de acerv<strong>os</strong> eclétic<strong>os</strong> e diversificad<strong>os</strong> <strong>da</strong>história cotidiana <strong>da</strong>s cama<strong>da</strong>s populares no país. Porém, esses evangélic<strong>os</strong> hesitam ouse recusam a abrir as portas de seus centr<strong>os</strong> <strong>cultura</strong>is e museus para um públicoheterogêneo. No fundo, eles entendem que a audiência não inicia<strong>da</strong> permanecerá cega esur<strong>da</strong> à história narra<strong>da</strong>. Quase que como contraponto, a Igreja Universal cria objet<strong>os</strong>com alguma remissão arqueológica, algo que venha a se tornar índice <strong>da</strong>excepcionali<strong>da</strong>de histórica <strong>da</strong> própria denominação. Com o Terceiro Templo deSalomão, por exemplo, eles estão sugerindo uma conexão direta com uma remotahistória ju<strong>da</strong>ica e, ao mesmo tempo, estão repudiando um modo convencional deconstrução <strong>da</strong> história cristã, que necessariamente passa pela Europa.Nestas disjunções, ao invés de relações pacifica<strong>da</strong>s d<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> com o seupassado ou com o passado d<strong>os</strong> outr<strong>os</strong> segment<strong>os</strong> sociais que compõem a nação, tem<strong>os</strong>relações tensas, disputa<strong>da</strong>s, retoricamente marca<strong>da</strong>s pela negação. Esta tendência talvez<strong>os</strong> vincule a uma história messiânica, mais comprometi<strong>da</strong> com o futuro que com opresente. Mas talvez, mais que religi<strong>os</strong><strong>os</strong> messiânic<strong>os</strong>, <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> sejamadequa<strong>da</strong>mente descrit<strong>os</strong> por seu comprometimento com uma ‗<strong>cultura</strong> parcial‘. Comeste termo, Simon Coleman (2006) procurou chamar atenção para a tendência d<strong>os</strong>pentec<strong>os</strong>tais e algumas vezes, d<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> em geral, em vincularem-se a uma visãode mundo que está em contato com outras visões de mundo cuj<strong>os</strong> valores são rejeitad<strong>os</strong>.Em outras palavras, <strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> tendem a formar <strong>cultura</strong>s que ao mesmo temporejeitam e reconhecem o convencional contextual. Isto garante, segue Coleman, que opentec<strong>os</strong>talismo tenha grande facili<strong>da</strong>de na circulação em diferentes context<strong>os</strong> sociais,


pois freqüentemente essa <strong>cultura</strong> motiva as pessoas a permanecerem vigilantes sobreseu passado e sobre a sua própria propensão para o pecado sem as desvincularcompletamente de seu contexto particular. Um horizonte universalista é parcialmentedesenvolvido na intereconexão entre ‗<strong>cultura</strong> evangélica‘ e a ‗<strong>cultura</strong> hegemônicaregional‘. Sobretudo, segundo Joel Robbins, como promovedores de ‗<strong>cultura</strong>s <strong>parciais</strong>‘,<strong>os</strong> evangélic<strong>os</strong> podem ser comparad<strong>os</strong> com outr<strong>os</strong> atores sociais engajad<strong>os</strong> na promoçãode universalism<strong>os</strong>, pois ‗nenhum universalismo se realiza em si mesmo‘ e,complementarmente, ‗tod<strong>os</strong> <strong>os</strong> universalism<strong>os</strong> são <strong>cultura</strong>s <strong>parciais</strong>‘ (Robbins 2010).BIBLIOGRAFIA:ALMEIDA, Ronaldo de. ―Pluralismo religi<strong>os</strong>o e espaço metropolitano‖. In MAFRA,Clara e ALMEIDA, Ronaldo de (orgs). Religiões e Ci<strong>da</strong>des – Rio de Janeiro e SãoPaulo. São Paulo. Editora Terceiro Nome. 2009.BAPTISTA, Anna Paola Pacheco. ―O Eterno ao Moderno: arte sacra no Brasil, an<strong>os</strong>1940-50‖. Tese defendi<strong>da</strong> Programa de Pós-Graduação em História Social/UFRJ.2002.BIRMAN, Patrícia (org).2003. Religião e Espaço Público. São Paulo.CNPq/Pronex/Attar Editorial.BURITY, Joanildo e MACHADO, Maria <strong>da</strong>s Dores (eds.).2005. Os vot<strong>os</strong> de Deus :evangélic<strong>os</strong>, política e eleições no Brasil. Recife: Fun<strong>da</strong>ção Joaquim Nabuco.CAMURÇA, Marcelo e GIOVANNINI JR, Oswaldo. 2003. Religião, PatrimônioHistórico e Turismo na Semana Santa em Tiradentes (MG). Horizontes Antropológic<strong>os</strong>.Vol 9 (20).CAPONE, Stefania. 2004. A busca <strong>da</strong> África no candomblé. Tradição e poder noBrasil. Rio de Janeiro. Contracapa.CASTILLO, Lisa Louise Earl.2008. Entre a Orali<strong>da</strong>de e a Escrita – percepções e us<strong>os</strong>do discurso etnográfico no candomblé <strong>da</strong> Bahia. Salvador: EDUFBA.CAVALCANTI, Maria Laura e GONÇALVES, Reginaldo. 2010. ―<strong>Cultura</strong>, Festas ePatrimôni<strong>os</strong>‖. In MARTINS, Carl<strong>os</strong> e DUARTE, Luiz F.(coords). Horizontes <strong>da</strong>sCiências Sociais no Brasil – Antropologia. São Paulo. Barcarolla-Discurso Editorial.


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