12.07.2015 Views

Dep. Matemática Pura. FCUP Geometria do Cálculo de Variaç˜oes ...

Dep. Matemática Pura. FCUP Geometria do Cálculo de Variaç˜oes ...

Dep. Matemática Pura. FCUP Geometria do Cálculo de Variaç˜oes ...

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ÍNDICE:1 Elementos <strong>de</strong> cálculo <strong>de</strong> variações 11.1 O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11.2 Transformada <strong>de</strong> Legendre. Equações canónicas . . . . . . . . . . . . . . . 71.3 Sistemas mecânicos conservativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111.4 A forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161.5 Problema com extremida<strong>de</strong>s móveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 191.6 A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 231.7 Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> Maupertuis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 311.8 Os princípios variacionais <strong>de</strong> Jacobi e <strong>de</strong> Fermat.Analogia óptico-mecânica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 361.9 Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 381.10 O integral invariante <strong>de</strong> Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 451.11 Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hamilton . . . . . . . . . . . . . . . 471.12 Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton. Teorema<strong>de</strong> Jacobi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 521.13 Invariantes integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 581.13.1 Preliminares <strong>de</strong> álgebra linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 581.13.2 Subvarieda<strong>de</strong>s integrais. Teorema <strong>de</strong> Darboux . . . . . . . . . . . . 591.13.3 Invariantes integrais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 632 Problemas variacionais paramétricos 672.1 Lagrangeanos paramétricos homogéneos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 672.2 Formalismo canónico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 712.3 Campos <strong>de</strong> Meyer . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 792.4 Indicatriz. Função excesso. Fórmula <strong>de</strong> Weierstrass . . . . . . . . . . . . . 872.5 Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida . . . . . . 901


22.6 Aplicações à óptica geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 982.6.1 Construção das frentes <strong>de</strong> onda a partir <strong>do</strong>s raios . . . . . . . . . . 982.6.2 Propagação das frentes <strong>de</strong> onda através <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>do</strong>meio. Lei <strong>de</strong> Snell . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1012.6.3 Princípio <strong>de</strong> Huygens . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1022.7 Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica . . . . . . . . . . . . . 1042.7.1 Propagação da luz num meio isotrópico não homogéneo . . . . . . . 1042.7.2 Representação integral das equações <strong>de</strong> Maxwell . . . . . . . . . . . 1062.7.3 Propagação das <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s. Frentes <strong>de</strong> onda . . . . . . . . . 1082.7.4 A equação iconal da óptica geométrica . . . . . . . . . . . . . . . . 1123 <strong>Geometria</strong> Simpléctica e Mecânica 1153.1 Varieda<strong>de</strong>s simplécticas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1163.2 Sistemas mecânicos com simetria. Aplicação momento. Redução . . . . . . 1243.2.1 O Problema <strong>de</strong> Kepler . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1263.2.2 Movimento livre <strong>de</strong> um sóli<strong>do</strong> com um ponto fixo . . . . . . . . . . 127


Capítulo 1Elementos <strong>de</strong> cálculo <strong>de</strong> variações1.1 O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variaçõesComecemos por discutir o seguinte problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações:• ♣ Problema 1.1 ... Entre as curvas x(·) ∈ C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ), que satisfazem ascondições <strong>de</strong> fronteira:x(t 0 ) = x 0 , x(t 1 ) = x 1 (1.1.1)on<strong>de</strong> x 0 , x 1 são <strong>do</strong>is pontos fixos em IR n , calcular a curva para a qual o valor <strong>do</strong>funcional:I[x(·)] = ∫ t 1t 0L(t, x(t), ẋ(t)) dt (1.1.2)é mínimo 1 .♣.Figure 1.1:1 Mais geralmente, IR n po<strong>de</strong> ser substituí<strong>do</strong> por uma varieda<strong>de</strong> suave M <strong>de</strong> dimensão n.1


1.1. O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações 2Em (1.1.2) a função L : IR×T IR n ∼ = IR 2n+1 → IR, chamada Lagrangeano, supõe-se <strong>de</strong>classe C 2 , e o mínimo é entendi<strong>do</strong> como mínimo fraco, no senti<strong>do</strong> seguinte - o funcionalI atinge um mínimo fraco numa curva ̂x(·) ∈ C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ) se existir δ > 0 tal que,para toda a curva x(·) ∈ C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ) que satisfaz as condições <strong>de</strong> fronteira (2.1.4) e acondição ‖x(·) − ̂x(·)‖ C 1 < δ, se tem I[x(·)] ≥ I[̂x(·)].Outra possibilida<strong>de</strong> consiste em alargar a classe das funções admissíveis à classeSC 1 ([t 0 , t 1 ],IR n ) das funções contínuas, <strong>de</strong> classe C 1 por pedaços, munida da norma C o . Neste caso,o mínimo é entendi<strong>do</strong> como mínimo forte, no senti<strong>do</strong> seguinte - o funcional I atingeum mínimo forte numa curva ̂x(·) ∈ SC 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ) se existir δ > 0 tal que, para todaa curva x(·) ∈ SC 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ) que satisfaz as condições <strong>de</strong> fronteira (2.1.4) e a condição‖x(·) − ̂x(·)‖ C o < δ, se tem I[x(·)] ≥ I[̂x(·)].É claro que um mínimo forte é necessàriamente um mínimo fraco.Vamos agora supôr que ̂x(·) é uma solução <strong>do</strong> Problema 1.1, e vejamos uma condiçãonecessária para que a curva ̂x(·) seja mínimo fraco. Esta será também uma condiçãonecessária para que essa mesma curva seja mínimo forte. Para isso, consi<strong>de</strong>remos umafamília a 1-parâmetro λ <strong>de</strong> curvas em C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ):que <strong>de</strong>penda diferenciàvelmente <strong>do</strong> parâmetro λ e tal que:x( · ; λ = 0) = ̂x(·)λ ↦−→ x( · ; λ), λ ∈ IR (1.1.3)x(t 0 ; λ) = x 0 e x(t 1 ; λ) = x 1 , ∀λ<strong>de</strong>f dδ̂x(·) = η(·) =dλ∣ x( · ; λ) (1.1.4)λ=0on<strong>de</strong> η(·) = δ̂x(·) é uma variação com extremida<strong>de</strong>s fixas, isto é, uma função em C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ),tal que η(t 0 ) = 0 = η(t 1 ). Po<strong>de</strong>mos por exemplo tomar a família a 1-parâmetroλ ↦→ ̂x(·) + λ η(·).Então a função real <strong>de</strong> variável real:φ(λ) = I [x( · ; λ)]=∫ t1t 0L (t, x( · ; λ), ẋ(t; λ)) dt (1.1.5)é uma função <strong>de</strong> classe C 2 , que atinge um mínimo local em λ = 0. Portanto φ ′ (0) = 0 eφ ′′ (0) ≥ 0.Sejam x i coor<strong>de</strong>nadas locais em IR n e (x i , ẋ i ) as correspon<strong>de</strong>ntes coor<strong>de</strong>nadas paraT IR n ∼ = IR n × IR n . Suponhamos que x(·) = x i (·) e η(·) = η i (·), e calculemos φ ′ (0) usan<strong>do</strong>a regra da ca<strong>de</strong>ia e a <strong>de</strong>rivação sob o sinal integral. Usan<strong>do</strong> sistemàticamente a convenção<strong>de</strong> Einstein, vem que:φ ′ (0) =∫ t1 [ (L x i t, ̂x(t), ˙̂x(t)) (η i (t) + Lẋi t, ̂x(t), ˙̂x(t))t 0]˙η i (t) dt (1.1.6)


1.1. O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações 3on<strong>de</strong> pusemos L x i = ∂L e∂x i Lẋi = ∂L . Po<strong>de</strong>mos ainda escrever o integral (1.1.6) na seguinte∂ẋ iforma vectorial simplicada:∫ t1A este integral vamos aplicar o Lema seguinte:t 0[L x (t) η(t) + Lẋ(t) ˙η(t)] dt (1.1.7)• ♣ Lema 1.1 (Du Bois-Reymond) ... Sejam f, g ∈ C 0 ([t 0 , t 1 ], IR n ) duasfunções contínuas tais que:∫ t1t 0[f(t)η(t) + g(t) ˙η(t)] dt = 0 (1.1.8)para toda a função η ∈ C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ) que satisfaz η(t 0 ) = η(t 1 ) = 0. Então afunção g é <strong>de</strong> classe C 1 e:− d g(t) + f(t) = 0 (1.1.9)dtDem.: Seja F(t) = ∫ tt 0f(τ)dτ + k uma primitiva da função f, e calculemos ointegral (1.1.8) por partes. Vem que:∫ t1[−F(t) + g(t)] ˙η(t) dt = 0 (1.1.10)t 0Consi<strong>de</strong>remos agora a função:η(t) =∫ tt 0[−F(τ) + g(τ)] dτTemos então que η(t 0 ) = 0, e, escolhen<strong>do</strong> convenientemente a constante k, garantimostambém a condição η(t 1 ) = 0. Substituin<strong>do</strong> esta função η no integral (1.1.8),obtemos:∫ t1t 0[−F(t) + g(t)] 2 dt = 0<strong>do</strong>n<strong>de</strong> se <strong>de</strong>duz que F(t) = g(t) e portanto g é <strong>de</strong> classe C 1 e é válida a equação(1.1.9).Aplican<strong>do</strong> este lema a (1.1.6), com f(t) = L x(t, ̂x(t), ˙̂x(t))(e g(t) = Lẋ t, ̂x(t), ˙̂x(t)),concluímos que ̂x(·) <strong>de</strong>ve satisfazer a chamada equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange:− d dt L ẋ(t, ̂x(t), ˙̂x(t))+ L x(t, ̂x(t), ˙̂x(t))= 0 (1.1.11)que é um sistema <strong>de</strong> n ODE’s <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m, que escrevemos na forma simplificadaseguinte:− d dt L ẋ i + L xi = 0, i = 1, . . . , n (1.1.12)♣


1.1. O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações 4ou ainda, em forma vectorial:− d dt L ẋ + L x = 0 (1.1.13)A solução geral <strong>de</strong>ste sistema <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> pois <strong>de</strong> 2n parâmetros que <strong>de</strong>vem ser escolhi<strong>do</strong>spara que as condições <strong>de</strong> fronteira (2.1.4) sejam verificadas pela solução (note que (2.1.4)são 2n condições <strong>de</strong> fronteira). No entanto, nada se afirma àcerca da existência <strong>de</strong> soluçãoque, <strong>de</strong> facto, po<strong>de</strong> não existir.Qualquer solução das equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange diz-se uma extremal <strong>do</strong> problemavariacional 1.1.Notas ...1. Quan<strong>do</strong> o Lagrangeano L não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explìcitamente <strong>de</strong> t, isto é, L = L(x, ẋ), achamada energia <strong>de</strong> L:E L (x, ẋ)<strong>de</strong>f= Lẋ ẋ − L(x, ẋ) (1.1.14)ou mais <strong>de</strong>talhadamente, E L (x i , ẋ i ) = Lẋiẋ i − L(x i , ẋ i ), é um integral primeiro daequação <strong>de</strong> Euler-Lagrange. De facto, se x(t) é solução da equação (1.1.11), então:ddt E L(x(t), ẋ(t)) = d dt (L ẋ ẋ) − d L(x, ẋ)( dtd= ẋ)dt L ẋ + Lẋ ẍ − L x ẋ − Lẋ ẍ= L x ẋ + Lẋ ẍ − L x ẋ − Lẋ ẍ= 0 (1.1.15)2. Quan<strong>do</strong> o Lagrangeano L não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explicitamente da variável x i , para um certoi ∈ {1, · · · , n}, o chama<strong>do</strong> momento conjuga<strong>do</strong> a x i :p i (t, ẋ)<strong>de</strong>f= L x i(t, ẋ) (1.1.16)é um integral primeiro da equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange. De facto, L x i = 0 e a i-nésimaequação (1.1.11) fica apenas − d dt L x i = 0, isto é p i(t, ẋ(t)) ≡ c. Diz-se neste caso quea variável x i é cíclica.♣.♣ Exemplo 1.1 (A braquistócrona) (Johann Bernoulli, 1696) ... É a curva queune <strong>do</strong>is pontos P 1 e P 2 num plano vertical, <strong>de</strong> tal mo<strong>do</strong> que um ponto material <strong>de</strong> massam, <strong>de</strong>slizan<strong>do</strong> sem atrito sobre essa curva, sujeito apenas à gravida<strong>de</strong>, a percorre numtempo mínimo (<strong>do</strong> grego brakhystós: “o mais curto” + khrónos: “tempo”).Suponhamos que o plano vertical é o plano xy, P 1 = (0, 0), P 2 = (a, b), com a > 0 eb > 0 e que y = ϕ(x) é a equação da curva braquistócrona (o eixo <strong>do</strong>s y ′ s orienta-se parabaixo).


1.1. O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações 5Figure 1.2: BraquistócronaA velocida<strong>de</strong> <strong>do</strong> ponto material, <strong>de</strong>slizan<strong>do</strong> sem atrito sobre essa curva, é:v = dsdt = √ 1 + [y ′ (x)] dx 2 dte como, por outro la<strong>do</strong>, v é também <strong>de</strong>terminada pela equação <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> energia:12 mv2 = mgy ⇒ v = √ 2gy<strong>de</strong>duzimos que o tempo T <strong>de</strong> <strong>de</strong>scida <strong>de</strong> P 1 = (0, 0) até P 2 = (a, b) é da<strong>do</strong> por:T [y(x)] ===∫ a0∫ a0dsv√1 + [y′ (x)] 2 dx√ 2gy[ ] 1 + y′2 1/2dx (1.1.17)∫1 a(2g) 1/20ycom condições <strong>de</strong> fronteira y(0) = 0 e y(a) = b.Como o Lagrangeano L não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> parâmetro x, há conservação da energiaE L = L y ′y ′ − L:Simplifican<strong>do</strong>, vem que:E L =y ′2√y(1 + y ′2 ) − √1 + y′2√ y≡ c1√y(1 + y ′2 ) = C ⇒ y(1 + y′2 ) = C 1Introduzin<strong>do</strong> um parâmetro t e pon<strong>do</strong> y ′ = cotg t, vem que:y =C 11 + cotg 2 t = C 1 sin 2 t = C 1(1 − cos 2t)2


1.1. O problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações 6Por outro la<strong>do</strong>:dx = dyy ′= 2C 1 sin t cos t dtcotg t)sin 2t2⇒ x = C 1(t −e a forma paramétrica da solução é:{ x − C2 = C 12(2t − sin 2t)y = C 12(1 − cos 2t)= 2C 1 sin 2 t dt = C 1 (1 − cos 2t)dt+ C 2 = C 12 (2t − sin 2t) + C 2 (1.1.18)Pon<strong>do</strong> τ = 2t e como C 2 = 0, já que y(0) = 0, obtem-se a família <strong>de</strong> ciclói<strong>de</strong>s:{ x(τ) =C(τ − sin τ)2y(τ) = C (1 − cos τ) (1.1.19)2on<strong>de</strong> C se calcula impon<strong>do</strong> a condição y(a) = b.♣Exemplo 1.2 ... Calcular as extremais <strong>de</strong>:I[x(t)] =∫ 21(ẋ 2 − 2tx) dt, x(1) = 0, x(2) = −1Como L(t, x, ẋ) = ẋ 2 − 2tx, a equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange é:− d dt L ẋ + L x = −2ẍ − 2t = 0cuja solução geral é:x(t) = − t3 6 + at + bUtilizan<strong>do</strong> as condições <strong>de</strong> fronteira, calculamos a = 1/6 e b = 0. A extremal é poisx(t) = t 6 (1 − t2 ).♣Exemplo 1.3 ... Calcular as extremais <strong>de</strong>:I[y(x)] =∫ 21(y ′ (1 + x 2 y ′ ) dx, y(1) = 3, y(2) = 5Como L(x, y, y ′ ) = y ′ (1+x 2 y ′ ), não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> y, o momento p = L y ′(x, y ′ ) = 1+2x 2 y ′é constante. A equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange é:cuja solução geral é:ddx L y ′ = 1 + 2x2 y ′ = 01 + 2x 2 y ′ ≡ cPortanto y ′ = c−1 , i.e., y = a 1−c+ b, on<strong>de</strong> a = . As extremais são pois uma família <strong>de</strong>2x 2 x 2hipérboles. Utilizan<strong>do</strong> as condições <strong>de</strong> fronteira, calculamos a = −4 e b = 7. A extremalé pois y(x) = 7 − 4.x


1.2. Transformada <strong>de</strong> Legendre. Equações canónicas 7♣Exemplo 1.4 ... Calcular as extremais <strong>de</strong>:I[y(x)] =∫ ba√1 + (y′ ) 2dx, y(a) = A, y(b) = Byon<strong>de</strong> os pontos (a, A), (b, B) pertencem ao semiplano superior H + = {(x, y) : y > 0}.√Como L(x, y, y ′ 1+(y) =′ ) 2, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> parâmetro x, a energia total:y√E L (y, y ′ ) = y ′ L y ′(y, y ′ ) − L(y, y ′ ) = y ′ y ′ 1 +y √ 1 + (y ′ ) − (y′ ) 22 yé constante. <strong>Dep</strong>ois <strong>de</strong> simplificar, obtemos:Pon<strong>do</strong> y ′ = tg t, vem que:y 2 =ou y = r cos t. Por outro la<strong>do</strong>:y √ 1 + (y ′ ) 2 ≡ r > 0r21 + y = r 2′2 1 + tg 2 t = r2 cos 2 tdydx = y′ ⇒ dx = dyy ′=−r sin t dttg t= −r cos t dtou x = −r sin t + C. A solução é pois, em forma paramétrica:{ x − C = −r sin ty = r cos te, eliminan<strong>do</strong> t, obtemos uma família <strong>de</strong> circunferências centradas no eixo <strong>do</strong>s x ′ s: (x −C) 2 + y 2 = r 2 . A extremal pedida será a que passa pelos <strong>do</strong>is pontos da<strong>do</strong>s, e é única.♣.1.2 Transformada <strong>de</strong> Legendre. Equações canónicasA transformada <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> uma função F : IR n → IR é, grosso mo<strong>do</strong>, a equação dafamília <strong>de</strong> hiperplanos tangentes ao gráfico <strong>de</strong> F . Por exemplo, para n = 2, F é umafunção <strong>de</strong> 2 variáveis e o seu gráfico é a superfície <strong>de</strong> IR 3 :gr F = {(x 1 , x 2 , z) : z = F (x 1 , x 2 )}A superfície gr F , em IR 3 x 1 x 2 z , po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita por <strong>do</strong>is processos duais - ou como oconjunto <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pela equação z = F (x 1 , x 2 ), ou como a envolvente <strong>do</strong>sseus planos tangentes. Vejamos qual a equação a que <strong>de</strong>ve satisfazer um plano afim em


1.2. Transformada <strong>de</strong> Legendre. Equações canónicas 8IR 3 para que seja tangente a gr F . A equação <strong>de</strong> um plano afim não vertical em IR 3 , po<strong>de</strong>ser sempre escrita na forma:Z − p 1 X 1 − p 2 X 2 + u = 0on<strong>de</strong> (X 1 , X 2 , Z) são as coor<strong>de</strong>nadas correntes <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong>sse plano. Neste caso,chamamos a (p 1 , p 2 , u) as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong>sse plano, que é pois o plano perpendicular aovector (p 1 , p 2 , −1) e que intersecta o eixo <strong>do</strong>s zz no ponto (0, 0, −u).Como o plano tangente a gr F , no ponto (x 1 , x 2 , z = F (x 1 , x 2 )) ∈ gr F , é o plano <strong>de</strong>equação [(X 1 , X 2 , Z) − (x 1 , x 2 , F (x))] · ( ∂F(x), ∂F (x), −1 ) = 0, on<strong>de</strong> x = (x 1 , x 2 ), isto é:∂x 1 ∂x 2Z − F (x) − ∂F∂x 1 (x)(X1 − x 1 ) − ∂F∂x 2 (x)(X2 − x 2 ) = 0, x = (x 1 , x 2 )as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong>sse plano são portanto:p 1 = ∂F∂x 1 (x1 , x 2 )p 2 = ∂F∂x 2 (x1 , x 2 )u = x 1 ∂F∂x 1 (x1 , x 2 ) + x 2 ∂F∂x 2 (x1 , x 2 ) − F (x 1 , x 2 ) (1.2.1)que se dizem as coor<strong>de</strong>nadas tangenciais da superfície gr F . A superfície fica também<strong>de</strong>terminada se conhecermos u como função <strong>de</strong> p 1 e p 2 , isto é, se conhecermos a famíliaa <strong>do</strong>is parâmetros <strong>de</strong> planos tangentes ao gr F . Esta relação u = Φ(p 1 , p 2 ), que se diz aequação tangencial <strong>do</strong> gr F , po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>duzida a partir <strong>de</strong> z = F (x 1 , x 2 ), calculan<strong>do</strong>(se possível) os valores <strong>de</strong> x 1 e x 2 , como função <strong>de</strong> p 1 e p 2 , a partir das equações:p 1 = ∂F∂x 1 (x1 , x 2 ),p 2 = ∂F∂x 2 (x1 , x 2 )e substituin<strong>do</strong> esses valores x 1 (p 1 , p 2 ) e x 2 (p 1 , p 2 ) em u, da<strong>do</strong> por (1.2.1):u = Φ(p 1 , p 2 )= x 1 ∂F∂x 1 (x1 , x 2 ) + x 2 ∂F∂x 2 (x1 , x 2 ) − F (x 1 , x 2 )= p 1 x 1 (p 1 , p 2 ) + p 2 x 2 (p 1 , p 2 ) − F (x 1 (p 1 , p 2 ), x 2 (p 1 , p 2 )) (1.2.2)A esta função Φ(p 1 , p 2 ) chamamos a transformada <strong>de</strong> Legendre da função F (x 1 , x 2 ).Recìprocamente, para <strong>de</strong>terminar as coor<strong>de</strong>nadas pontuais a partir das coor<strong>de</strong>nadastangenciais, calculamos as <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> Φ(p 1 , p 2 ), dada por (1.2.2). Como p 1 =∂F(x 1 , x 2 ) e p∂x 1 2 = ∂F (x 1 , x 2 ), obtemos:∂x 2e anàlogamente:∂Φ∂p 1= x 1 + p 1∂x 1∂p 1+ p 2∂x 2∂p 1− ∂F∂x 1 ∂x 1∂p 1− ∂F∂x 2 ∂x 2∂p 1= x 1∂Φ∂p 2= x 2


1.2. Transformada <strong>de</strong> Legendre. Equações canónicas 9Concluin<strong>do</strong> - obtemos o seguinte conjunto <strong>de</strong> fórmulas:Φ(p 1 , p 2 ) + F (x 1 , x 2 ) = p 1 x 1 + p 2 x 2p 1 = ∂F∂x 1p 2 = ∂F∂x 2x 1 = ∂Φ∂p 1x 2 = ∂Φ∂p 2(1.2.3)que ilustra o carácter dual da passagem entre coor<strong>de</strong>nadas pontuais e coor<strong>de</strong>nadas tangenciais.A transformada <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> uma função F : IR 2 → IR po<strong>de</strong> ser sempre calculadase as duas equações p 1 = ∂F , p∂x 1 2 = ∂F pu<strong>de</strong>rem ser resolvidas em or<strong>de</strong>m a x 1 , x 2 , o que é∂x 2possível se:( )∂ 2 F ∂ 2 F ∂ 2 2∂(x 1 ) 2 ∂(x 2 ) − F≠ 02 ∂x 1 ∂x 2A generalização para funções F : IR n x → IR é óbvia - a transformada <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong>F é a função Φ : IR n p → IR, <strong>de</strong>finida da seguinte forma. Primeiro <strong>de</strong>finimos os p = (p i )através <strong>de</strong>:p = p(x) = ∂F∂x (x), isto é p i = ∂F , i = 1, . . . , n (1.2.4)∂xi Supon<strong>do</strong> que:<strong>de</strong>t[ ∂ 2 F∂x i ∂x j ]≠ 0 (1.2.5)po<strong>de</strong>mos inverter a relação p = p(x), para calcular os x i′ s como função <strong>do</strong>s p i ′ s: x = x(p).Definimos então a transformada <strong>de</strong> Legendre Φ : IR n p → IR, <strong>de</strong> F , através <strong>de</strong>:Φ(p) = px(p) − F (x(p)) (1.2.6)Suponhamos agora que temos um Lagrangeano L(t, x, ẋ), <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> em IR t × IR n x × IR ṅ x.Para cada (t, x) fixo, consi<strong>de</strong>remos a função parcial F (ẋ) = L(t, x, ẋ) e calculemos atransformada <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> F . Essa transformada é uma função H(t, x, p), a que sechama o Hamiltoniano correspon<strong>de</strong>nte ao Lagrangeano L, e que é <strong>de</strong>finida em IR t ×IR n x × IR n p, através <strong>de</strong>:H(t, x, p) = pẋ − L(t, x, ẋ)|ẋ=ẋ(t,x,p) (1.2.7)Nesta fórmula, ẋ = ẋ(t, x, p) obtem-se inverten<strong>do</strong> a relação (com (t, x) fixo):p = p(t, x, ẋ)= ∂L∂ẋ (t, x, ẋ) = L ẋ(t, x, ẋ) (1.2.8)


1.2. Transformada <strong>de</strong> Legendre. Equações canónicas 10o que é possível se suposermos L hiperregular, isto é, se:[ ] ∂L<strong>de</strong>t ≠ 0 (1.2.9)∂ẋ i ∂ẋ jNotemos que H não é mais <strong>do</strong> que a energia <strong>do</strong> Lagrangeano L, expressa nas coor<strong>de</strong>nadas(t, x, p).Calculemos agora a diferencial <strong>do</strong> Hamiltoniano:Vem sucessivamente que:H = H(t, x, p)dH = H t dt + H x dx + H p dp= pẋ(t, x, p) − L(t, x, ẋ(t, x, p)) (1.2.10)= (pẋ t − L t − Lẋẋ t ) dt + (pẋ x − L x − Lẋẋ x ) dx + (ẋ + pẋ p − Lẋẋ p ) dp= (pẋ t − L t − pẋ t ) dt + (pẋ x − L x − pẋ x ) dx + (ẋ + pẋ p − pẋ p ) dp= −L t dt − L x dx + ẋ dp (1.2.11)<strong>do</strong>n<strong>de</strong> se <strong>de</strong>duz que:H t = −L t , H p = ẋ H x = −L x (1.2.12)O sistema <strong>de</strong> Euler-Lagrange − d L dt ẋ + L x = 0 escreve-se portanto na seguinte formacanónica:{ ẋ = Hp (t, x, p)(1.2.13)ṗ = −H x (t, x, p)já que ṗ = d dt L ẋ = L x = −H x . Estas equações dizem-se as equações canónicas <strong>de</strong>Hamilton associadas às equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange.Mais <strong>de</strong>talhadamente - uma curva t ↦→ x(t) é solução das equações <strong>de</strong> Euler-Lagrangese e só se a curva:()t ↦→ x(t), p(t) = Lẋ(t, x(t), ẋ(t))é solução das equações canónicas.♣Exemplo 1.5 ... Calcular as equações canónicas para o funcional:I[x(t)] =∫ π0(2xy − 2x 2 + ẋ 2 − ẏ 2 ) dt, on<strong>de</strong> x = (x, y) ∈ IR 2O Lagrangeano L(x, ẋ) = 2xy − 2x 2 + ẋ 2 − ẏ 2 é hiperregular, já que:<strong>de</strong>t[ ] [Lẋẋ Lẋẏ 2 0= <strong>de</strong>tLẏẋ Lẏẏ 0 −2]= −4 ≠ 0


1.3. Sistemas mecânicos conservativos 11Portanto os momentos p = (p, q) são da<strong>do</strong>s por:O Hamiltoniano é:p = Lẋ = 2ẋ ⇒ ẋ =q = Lẋ = −2ẏ ⇒ ẏ = − q 2H(x, y, p, q) = pẋ + qẏ − L(x, y, ẋ, ẏ)|ẋ= p2 , ẏ= q 2= 2x 2 − 2xy + p24 − q24p2e as equações canónicas são: ⎧⎪ ⎨⎪ ⎩ẋ = p 2ẏ = − q 2ṗ = −4x + 2y˙q = 2x♣.1.3 Sistemas mecânicos conservativosPara sistemas mecânicos conservativos, o Lagrangeano é da<strong>do</strong>, em notação matricial,por:L(x, ẋ) = 1 2ẋT g(x) ẋ − V (x) (1.3.1)on<strong>de</strong> g(x) é uma matriz simétrica <strong>de</strong>finida positiva, que representa uma métrica Riemannianaem IR n x. As parcelas da soma (1.3.1) chamam-se respectivamente:2ẋT 1g(x) ẋ energia cinéticaV (x) energia potencial (1.3.2)O Lagrangeano (1.3.1) é hiperregular, uma vez que a matriz g(x) é inversível ∀x.Portanto a matriz inversa G(x) = g(x) −1 <strong>de</strong>fine uma métrica contravariante em IR n .Como:p = Lẋ = ẋ T g(x) ⇒ ẋ = G(x)p T , on<strong>de</strong> G(x) = g(x) −1o Hamiltoniano é da<strong>do</strong> por:H(x, p) = pẋ − L(x, ẋ)|ẋ=G(x) p T= pG(x)p T − 1 2 pG(x)g(x)G(x)pT + V (x)= 1 2 pG(x)pT + V (x)= 1 2 Gij (x)p i p j + V (x) (1.3.3)


1.3. Sistemas mecânicos conservativos 12Como H não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explìcitamente <strong>de</strong> t, H é um integral primeiro das equações <strong>de</strong>Hamilton. De facto, se (x(t), p(t)) é uma solução <strong>de</strong>ssas equações:{ ẋ(t) = Hp (x(t), p(t))então:<strong>de</strong> tal forma que:ṗ(t) = −H x (x(t), p(t))ddt H(x(t), p(t)) = H xẋ + H p ṗ= H x H p − H p H x= 0 (1.3.4)H(x(t), p(t)) ≡ h (1.3.5)para uma certa constante h, dita o nível <strong>de</strong> energia da solução (x(t), p(t)).Por exemplo, para uma partícula <strong>de</strong> massa m, moven<strong>do</strong>-se em IR 3 sob a acção <strong>de</strong> umcampo <strong>de</strong> forças F(x) = −∇V (x), o Lagrangeano é:L(x, ẋ) = 1 2 m ẋ2 − V (x)on<strong>de</strong> ẋ 2 = ẋ · ẋ = ‖ẋ‖ 2 = ẋ T ẋ, e o Hamiltoniano é:H(x, p) = 12m p2 + V (x)As equações <strong>de</strong> Hamilton são:{ ẋ = p T /mṗ = −∇V (x) T<strong>do</strong>n<strong>de</strong> se <strong>de</strong>duz que:e como F(x) = −∇V (x):ẍ = ṗTmque é a famosa equação <strong>de</strong> Newton.= −∇V(x)mm ẍ = F(x) (1.3.6)Mais geralmente, da<strong>do</strong> um sistema <strong>de</strong> N partículas <strong>de</strong> massas m i e coor<strong>de</strong>nadas x i =(x i , y i , z i ), para i = 1, . . . , N, que se movem sob a acção <strong>de</strong> forças F i que <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong> umpotencial V = V (x 1 , · · · , x N ), que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas das posições das partículas:a energia cinética é:F i = −∇ xi V,12N∑m i ẋ 2 ii=1i = 1, . . . , Ne a energia potencial é V . As equações <strong>do</strong> movimento são:m i ẍ i = F i , i = 1, . . . , N (1.3.7)


1.3. Sistemas mecânicos conservativos 13♣ Exemplo 1.6 (Oscila<strong>do</strong>r harmónico) ... O oscila<strong>do</strong>r harmónico (<strong>de</strong> dimensão1) é <strong>de</strong>scrito pela seguinte ODE <strong>de</strong> segunda or<strong>de</strong>m em IR x :ẍ + ω 2 x = 0, ω ≠ 0 (1.3.8)cuja solução geral é:x(t) = A cos(ωt + b),A, b constantesA equação (1.3.8) é a equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange correspon<strong>de</strong>nte ao Lagrangeano (quenão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> t):De facto:L(x, ẋ) = ẋ22ω − ωx22− d dt L ẋ + L x = − ẍω − ωx(1.3.9)Aplican<strong>do</strong> a transformada <strong>de</strong> Legendre a L, vem que p = Lẋ = ẋ , <strong>do</strong>n<strong>de</strong> ẋ = ωp, eωportanto o Hamiltoniano é:H(x, p) = pẋ − L(x, ẋ)|ẋ=ωp = ω 2 (x2 + p 2 ) (1.3.10)As equações canónicas são pois:{ ẋ = Hp = ωpṗ = −H x = −ωx(1.3.11)cuja solução geral é:{ x(t) =p(t) =A cos(ωt + b)−A sin(ωt + b) , A = √ 2a, b constantes (1.3.12)Note que <strong>de</strong> facto p(t) = Lẋ(x(t), ẋ(t)).♣ Exemplo 1.7 (Movimento num campo central) ... Consi<strong>de</strong>remos um pontomaterial <strong>de</strong> massa m, que se move em IR 3 −{0}, sob a influência <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> forçascentral:F (x) = ϕ(r) x, on<strong>de</strong> r = ‖x‖ > 0 (1.3.13)rEm (1.3.13), ϕ :]0, ∞[→ IR representa uma função contínua. Po<strong>de</strong>mos então escrever:on<strong>de</strong>:O Lagrangeano é:F (x) = −∇V (x) (1.3.14)V (x) = −Φ(r), com Φ(r) = ∫ rr 0ϕ(ρ)dρ (1.3.15)L(x, ẋ) = 1 2 m ẋ2 − V (x)


1.3. Sistemas mecânicos conservativos 14que, como não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> t, implica a conservação <strong>de</strong> energia:E L = m ẋ22para alguma constante E (o nível <strong>de</strong> energia).+ V (x) ≡ E (1.3.16)Definamos agora o momento p(t) e o momento angular l(t), <strong>do</strong> movimento x(t),através <strong>de</strong>:p(t) = Lẋ = mẋ(t), l(t) = x(t) × p(t) (1.3.17)Deduzimos então que:isto é, o momento angular l(t) é conserva<strong>do</strong>:˙l(t) = ẋ(t) × p(t) + x(t) × ṗ(t)= ẋ × mẋ + x × m ϕ(r) xr= 0 (1.3.18)l(t) ≡ a (1.3.19)para algum vector constante a. Os 4 integrais primeiros in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes (1.3.16) e (1.3.19),são suficientes para integrar as equações <strong>do</strong> movimento (??). De facto, po<strong>de</strong>mos escolherum sistema <strong>de</strong> eixos tal que a aponte na direcção positiva <strong>do</strong> eixo <strong>do</strong>s x ′ s:a = (0, 0, a), a ≥ 0De l(t) = x(t) × p(t) = m(x(t) × ẋ(t)) ≡ a, obtemos que a · x(t) = 0, ∀t. Portanto,se a > 0, x(t) está sempre no plano xy e o movimento processa-se neste plano:x(t) = (x(t), y(t), 0)A conservação <strong>do</strong> momento angular (1.3.19), po<strong>de</strong> então ser escrita na forma:xẏ − yẋ = a m(1.3.20)que é a chamada lei das áreas <strong>de</strong> Kepler: “as áreas varridas pelo vector <strong>de</strong> posição x(t),em tempos iguais, são iguais”. Em particular, o movimento ou é linear (a = 0) ou x(t) eẋ(t) nunca são colineares.A lei <strong>de</strong> conservação <strong>de</strong> energia (1.3.16) toma agora a forma seguinte:m2 (ẋ2 + ẏ 2 ) = E + Φ(r) (1.3.21)on<strong>de</strong> Φ é dada por (1.3.15), e r = √ x 2 + y 2 . Introduzin<strong>do</strong> coor<strong>de</strong>nadas polares <strong>de</strong> pólona origem:x = r cos θ, y = r sin θpo<strong>de</strong>mos escrever (1.3.20) e (1.3.21), em termos <strong>de</strong> r(t) e θ(t), na forma seguinte:r 2 ˙θ =am(1.3.22)


1.3. Sistemas mecânicos conservativos 15m2 (ṙ2 + r 2 ˙θ2 ) = E + Φ(r) (1.3.23)Analisemos mais <strong>de</strong>talhadamente o problema <strong>de</strong> Kepler em que:F (x) = −γmMr 3 x, r = ‖x‖ (1.3.24)Esta é a força gravitacional que um ponto material <strong>de</strong> massa M, fixo no centro 0, exercesobre um ponto material <strong>de</strong> massa m, situa<strong>do</strong> em x ≠ 0, <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a lei da atracçãouniversal <strong>de</strong> Newton. γ é a constante universal <strong>de</strong> gravitação. Neste caso, temos queF (x) = −∇V (x), on<strong>de</strong>:V (x) = Φ(r) = γmMrVamos supôr que o movimento não é linear (a > 0, em (1.3.22)). Então (1.3.22) e (1.3.23)ficam com o aspecto:˙θ = C , on<strong>de</strong> C = a/m (1.3.25)r2 12 (ṙ2 + r 2 ˙θ2 ) = γM + W, on<strong>de</strong> W = E/m (1.3.26)rDestas duas equações <strong>de</strong>duzimos que:[ ( ) ]21 dr2 C2 r −4 + r −2 = γM + Wdθre portanto a função s(θ) = 1/r(θ) satisfaz:[ (ds ) ] 212 C2 + s 2 − γMs = W (1.3.27)dθDerivan<strong>do</strong> esta equação em or<strong>de</strong>m a θ obtemos:Como dsdθe portanto:dsdθ(C 2 [ d 2 sdθ 2 + s ]− γM≠ 0, excepto em pontos isola<strong>do</strong>s, vemos que:on<strong>de</strong> α e θ 0 são constantes arbitrárias, α > 0. Pon<strong>do</strong>:)= 0d 2 sdθ 2 + s = γM C 2 (1.3.28)s(θ) = γM C 2 + α C cos(θ + θ 0) (1.3.29)k = C2γM ,e recordan<strong>do</strong> que r(θ) = 1/s(θ), obtemos:r(θ) =ɛ = αCγMk1 + ɛ cos(θ + θ 0 )(1.3.30)


1.4. A forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan 16que é a equação polar <strong>de</strong> uma cónica com excentricida<strong>de</strong> ɛ. Esta equação <strong>de</strong>screve umaelipse, uma parábola ou uma hipérbole, conforme 0 < ɛ < 1, ɛ = 1 ou ɛ > 1, respectivamente.Inserin<strong>do</strong>:em (1.3.27), obtemos:s(θ) = 1 k [1 + ɛ cos(θ + θ 0)] , s ′ (θ) = − ɛ k sin(θ + θ 0)ɛ 2 = 1 + 2 m( ) 2 CEγMportanto E < 0 correspon<strong>de</strong> a 0 < ɛ < 1, i.e., a uma elipse, E = 0 correspon<strong>de</strong> a ɛ = 1,i.e., a uma parábola, e, fianlmente, E > 1 correspon<strong>de</strong> a ɛ > 1, i.e., a uma hipérbole.O problema geral <strong>do</strong>s <strong>do</strong>is corpos reduz-se fàcilmente ao problema anterior. Defacto, consi<strong>de</strong>remos <strong>do</strong>is pontos materiais x 1 = (x 1 , y 1 , z 1 ) <strong>de</strong> massa M > 0 e x 2 =(x 2 , y 2 , z 2 ) <strong>de</strong> massa m > 0, em IR 3 . A equações <strong>de</strong> Newton são:Mẍ 1 = −γmM‖x 1 − x 2 ‖ (x 3 1 − x 2 ), mẍ 2 = − γmM‖x 1 − x 2 ‖ (x 3 2 − x 1 ) (1.3.31)Introduzin<strong>do</strong> o baricentro x b através <strong>de</strong>:vem que ẍ b (t) = 0 e portanto:(m + M) x b = Mx 1 + mx 2 (1.3.32)x b = at + con<strong>de</strong> a, c ∈ IR 3 são constantes. Po<strong>de</strong>mos pois escolher o baricentro como origem <strong>de</strong> umsistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas on<strong>de</strong> as equações <strong>de</strong> Newton permanecem inalteradas (sistemainercial). Temos então que:x(t) ≡ 0Introduzin<strong>do</strong> coor<strong>de</strong>nadas relativas x = x 2 − x 1 <strong>de</strong>duzimos que:mẍ = − kmM ∗x, r = ‖x‖, M ∗ = m + Mr 3que é o problema <strong>de</strong> Kepler com um centro <strong>de</strong> massa M ∗ no baricentro x b = 0.♣.1.4 A forma <strong>de</strong> Poincaré-CartanVamos agora discutir o problema seguinte:• ♣ Problema 1.2 ... Consi<strong>de</strong>remos uma família a um parâmetro α ∈ IR <strong>de</strong>curvas x( · ; α) ∈ C 1 ([t 0 (α), t 1 (α)], IR n ), cujas extremida<strong>de</strong>s variam com o parâmetroα, e o funcional:J(α) =∫ t1 (α)t 0 (α)L(t, x(t; α), ẋ(t; α)) dt (1.4.1)


1.4. A forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan 17O problema é mais uma vez calcular a curva da família para a qual J(α) tem ummínimo local.♣.Figure 1.3:No problema anterior, supômos que:(α ↦−→ t 0 (α), x 0 (α))<strong>de</strong>f= x(t 0 (α); α)é uma curva suave em IR n+1 , ao longo da qual a extremida<strong>de</strong> esquerda das diversas curvasda família x( · ; α), varia quan<strong>do</strong> α varia. Anàlogamente, supômos que:()<strong>de</strong>fα ↦−→ t 1 (α), x 1 (α) = x(t 1 (α); α)é uma curva suave em IR n+1 , ao longo da qual a extremida<strong>de</strong> direita das diversas curvasda família x( · ; α), varia quan<strong>do</strong> α varia.Suponhamos que J(α) tem um mínimo local para α = 0, e representemos por ̂x(·) =x( · ; α = 0) a curva on<strong>de</strong> esse mínimo é atingi<strong>do</strong>. A<strong>do</strong>ptamos ainda as seguintes notações:∂x∂ẋ̂t 0 = t 0 (0), ̂t 1 = t 1 (0), ˙̂x(t) = ẋ( · ; 0), (t; 0) = η(t), (t; 0) = ˙η(t)∂α ∂α Vamos agora calcular dJ(α)dα∣ . Pelo teorema fundamental <strong>do</strong> cálculo vem que:α=0dJ(α)dα() dt1= L t 1 (α), x(t 1 (α); α), ẋ(t 1 (α); α)dα() dt0− L t 0 (α), x(t 0 (α); α), ẋ(t 0 (α); α)dα∫ t1 (α)()∂x+ L x∂α + L ∂ẋẋ dt∂αt 0 (α)Para α = 0, po<strong>de</strong>mos escrever isto na forma abreviada:∫dJ(α)̂t dα ∣ = ̂L 1 δt 1 − ̂L10 δt 0 +(̂Lx (t)η(t) + ̂Lẋ(t))˙η(t) dt (1.4.2)α=0̂t 0


1.4. A forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan 18on<strong>de</strong> a<strong>do</strong>ptamos as seguintes notações:δt 0 = dt 0dα (0), δt 1 = dt 1dα (0)̂L 1 = L (t 1 (0), x(t 1 (0); 0), ẋ(t 1 (0); 0)) = L(̂t 1 , ̂x(t 1 ), ˙̂x(t)1 )̂L 0 = L (t 0 (0), x(t 0 (0); 0), ẋ(t 0 (0); 0)) = L(̂t 0 , ̂x(t 0 ), ˙̂x(t)0 )̂L x (t) = L x (t, x(t; 0), ẋ(t; 0)) = L x(t, ̂x(t), ˙̂x(t))(̂Lẋ(t) = Lẋ (t, x(t; 0), ẋ(t; 0)) = Lẋ t, ̂x(t), ˙̂x(t))Agora integramos por partes a última parcela em (1.4.2), e obtemos:dJ(α)dα∣ = ̂L 1 δt 1 − ̂L 0 δt 0 + ̂Lẋη∣α=0̂t 1+̂t 0∫ ̂t 1(̂L x (t) − d )̂t 0dt ̂Lẋ(t) η(t) dt (1.4.3)Vamos finalmente modificar as parcelas fora <strong>do</strong> integral. Para isso, começamos por<strong>de</strong>rivar as i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>s x 0 (α) = x(t 0 (α); α) e x 1 (α) = x(t 1 (α); α) em or<strong>de</strong>m a α, paraα = 0, para obter:o que implica que:δx 0Anàlogamente se obtem:<strong>de</strong>f=dx 0dα (0)= ẋ(t 0 (0); 0) dt 0 ∂x(0) +dα dα (t 0(0); 0)= ˙̂x(̂t 0 )δt 0 + η(̂t 0 )η(̂t 0 ) = δx 0 − ˙̂x(̂t 0 )δt 0η(̂t 1 ) = δx 1 − ˙̂x(̂t 1 )δt 1Agora substituímos estes valores <strong>de</strong> η(̂t 0 ) e η(̂t 1 ) na terceira parcela <strong>de</strong> (1.4.3). Apósreor<strong>de</strong>nar os termos, vem que:dJ(α)]dα ∣ =[̂L1 − (̂Lẋ) 1 ˙̂x(̂t 1 )]δt 1 −[̂L0 − (̂Lẋ) 0 ˙̂x(̂t 0 ) δt 0α=0∫ ̂t 1(+ (̂Lẋ) 1 δx 1 − (̂Lẋ) 0 δx 0 + ̂L x (t) − d )̂t 0dt ̂Lẋ(t) η(t) dt (1.4.4)Mas recor<strong>de</strong>mos que:o que permite escrever (1.4.4) na forma:dJ(α)dαE L (t, x, ẋ) = Lẋẋ − L(t, x, ẋ)̂t∣ = (Lẋdx − E L dt) ∣1+ ∫ ̂t 1̂t α=0 ̂t 00(̂Lx (t) − d ̂Lẋ(t))η(t) dt (1.4.5)dt


1.5. Problema com extremida<strong>de</strong>s móveis 19on<strong>de</strong>:(Lẋdx − E L dt) (̂t 0 )(Lẋdx − E L dt) (̂t 1 )<strong>de</strong>f= (Lẋdx − E L dt) (̂t 0 ,̂x(̂t 0 )) (δt 0, δx 0 )= (̂Lẋ) 0 δx 0 −[(̂Lẋ) 0 ˙̂x(̂t 0 ) − ̂L]0 δt 0<strong>de</strong>f= (Lẋdx − E L dt) (̂t 1 ,̂x(̂t 1 )) (δt 1, δx 1 )= (̂Lẋ) 1 δx 1 −[(̂Lẋ) 1 ˙̂x(̂t 1 ) − ̂L]1 δt 1com:(δt 0 , δx 0 ) ∈ T (̂t 0 ,̂x(̂t 0 )) IRn+1 , e (δt 1 , δx 1 ) ∈ T (̂t 1 ,̂x(̂t 1 )) IRn+1A fórmula (1.4.5) é fundamental para o que se segue. Nela surge a 1-forma em IR ×T IR n :θ L = Lẋdx − E L dt (1.4.6)on<strong>de</strong> E L (t, x, ẋ) = Lẋẋ − L(t, x, ẋ), chamada a forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan e que serámuito importante em breve. Para Lagrangeanos hiperregulares, po<strong>de</strong>mos transportar estaforma para IR × T ∗ IR n , via transformada <strong>de</strong> Legendre, para obter a forma:a que também chamamos forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan.θ H = pdx − H dt (1.4.7)1.5 Problema com extremida<strong>de</strong>s móveisComo aplicação da teoria exposta na secção anterior, vamos discutir o problema seguinte:• ♣ Problema 1.3 ... Entre as curvas x(·) ∈ C 1 ([t 0 , t 1 ], IR n ), que satisfazem ascondições <strong>de</strong> fronteira:Φ 0 (t 0 , x(t 0 )) = 0, Φ 1 (t 1 , x(t 1 )) = 0 (1.5.1)on<strong>de</strong> Φ 0 : IR n+1 → IR k e Φ 1 : IR n+1 → IR l , calcular a curva para a qual o valor <strong>do</strong>funcional:é mínimo.I[x(·)] =∫ t1t 0L(t, x(t), ẋ(t)) dt (1.5.2)♣.Estamos a supôr mais uma vez que o intervalo [t 0 , t 1 ] <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva x(·). Supômosainda que Φ 0 e Φ 1 são submersões <strong>de</strong> tal forma que Σ 0 = Φ −10 (0) e Σ 1 = Φ −11 (0) sãosubvarieda<strong>de</strong>s em IR n+1 <strong>de</strong> codimensão k e l, respectivamente.


1.5. Problema com extremida<strong>de</strong>s móveis 20Figure 1.4:Se ̂x(·) ∈ C 1 ([̂t 0 , ̂t 1 ], IR n ) é uma solução <strong>do</strong> problema 1.3, então também será solução<strong>do</strong> problema 1.1, com extremida<strong>de</strong>s fixas ̂x(̂t 0 ) e ̂x(̂t 1 ). Portanto ̂x(·) satisfaz a equação<strong>de</strong> Euler-Lagrange (1.1.11):− d dt ̂Lẋ + ̂L x = 0 (1.5.3)No entanto, para calcular ̂t 0 , ̂t 1 e ainda os 2n parâmetros que caracterizam a soluçãopretendida (portanto, ao to<strong>do</strong> 2n + 2 parâmetros), apenas dispômos, para já, das k + lcondições <strong>de</strong> fronteira (1.5.1), Φ 0 = 0 e Φ 1 = 0. No entanto, como vamos ver, essa soluçãotem <strong>de</strong> verificar outras condições <strong>de</strong> fronteira adicionais, que fornecem as condições quefaltam para <strong>de</strong>terminar unìvocamente a solução optimal (se esta existir!).De facto, seja (δt 1 , δx 1 ) ∈ T (̂t 1 ,̂x 1 ) Σ 1 um vector tangente arbitrário a Σ 1 = Φ −11 (0)no ponto (̂t 1 , ̂x 1 ), e γ : α ↦→ (t 1 (α), x 1 (α)) uma curva suave em Σ 1 , tal que γ(0) =(t 1 (0), x 1 (0)) = (̂t 1 , ̂x 1 ) e dγ (0) = (δt dα 1, δx 1 ). Seja x(t; α) uma família a um parâmetro α<strong>de</strong> curvas tais que x(t; 0) = ̂x(t), x(t 1 (α); α) = x 1 (α) e ainda x(̂t 0 ; α) ≡ ̂x(̂t 0 ), isto é, aextremida<strong>de</strong> esquerda está fixa (figura 1.4).Aplican<strong>do</strong> à família x(t; α) a teoria exposta na resolução <strong>do</strong> problema 1.2, nomeadamentea fórmula (1.4.5), obtemos:dJ(α)dα∣ = (Lẋdx − E L dt) ∣α=0̂t 1+̂t 0∫ ̂t 1(̂L x (t) − d )̂t 0dt ̂Lẋ(t) η(t) dt = 0 (1.5.4)Mas, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que ̂x(·) satisfaz a equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange (1.5.3), e aindaao facto <strong>de</strong> que todas as curvas x(t; α) passam pelo ponto fixo (̂t 0 , ̂x 0 (̂t 0 )), e portanto(δt 0 , δx 0 ) = (0, 0), concluímos que:(Lẋdx − E L dt) (̂t 1 ,̂x(̂t 1 )) (δt 1, δx 1 ) = (̂Lẋ) 1 δx 1 − (E L ) 1δt 1= (̂Lẋ) 1 δx 1 −[(̂Lẋ) 1 ˙̂x(̂t 1 ) − ̂L]1 δt 1= 0 (1.5.5)


1.5. Problema com extremida<strong>de</strong>s móveis 21para to<strong>do</strong> o vector tangente (δt 1 , δx 1 ) a Σ 1 no ponto (̂t 1 , ̂x(̂t 1 )). De forma completamenteanáloga se <strong>de</strong>duz que:(Lẋdx − E L dt) (̂t 0 ,̂x(̂t 0 )) (δt 0, δx 0 ) = (̂Lẋ) 0 δx 0 − (E L ) 0δt 0= (̂Lẋ) 0 δx 0 −[(̂Lẋ) 0 ˙̂x(̂t 0 ) − ̂L]0 δt 0= 0 (1.5.6)para to<strong>do</strong> o vector tangente (δt 0 , δx 0 ) a Σ 0 no ponto (̂t 0 , ̂x(̂t 0 )). Estas relações (1.5.5) e(1.5.6) chamam-se condições <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> para o problema 1.3.Por exemplo, quan<strong>do</strong> a extremida<strong>de</strong> direita se po<strong>de</strong> mover apenas no hiperplano t ≡ t 1 ,a condição (1.5.5) reduz-se a:Lẋ(̂t 1 , ̂x(̂t 1 ), ˙̂x(̂t 1 )) = 0Como a dimensão <strong>de</strong> Σ 1 = Φ −11 (0) é n + 1 − l, a relação <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> (1.5.5),fornece n+1−l equações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes. Anàlogamente, como a dimensão <strong>de</strong> Σ 0 = Φ −10 (0)é n+1−k, a relação <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> (1.5.6), fornece n+1−k equações in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes.Adicionan<strong>do</strong> as k + l condições <strong>de</strong> fronteira Φ 0 = 0 e Φ 1 = 0, que já tinhamos, obtemosfinalmente as 2n + 2 relações que precisamos para <strong>de</strong>terminar unìvocamente a soluçãooptimal (se esta existir!).♣Exemplo 1.8 ... Discutir as condições <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> para o problema:I[y(x)] =∫ x1x 0n(x, y) √ 1 + (y ′ ) 2 dx, y(x 0 ) = y 0 , y = ψ(x)isto é, a extremida<strong>de</strong> esquerda está fixa, enquanto a direita se move na curva y = ψ(x).Como L(x, y, y ′ ) = n(x, y) √ 1 + (y ′ ) 2 , vem que L y ′ = y′ n(x,y). Qualquer vector tangenteà curva y = ψ(x), no ponto (x, ψ(x)), é da√1+(y ′ ) 2forma:(δx, δy) = λ (1, ψ ′ (x)),λ ∈ IRPortanto a condição <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> (1.5.5) tem a forma (com as correspon<strong>de</strong>ntesadaptações <strong>de</strong> notação t ↦→ x, x ↦→ y):on<strong>de</strong> E L = L y ′y ′ − L. Portanto:0 = (L y ′dy − E L dx) (x,y=ψ(x))(δx, δy)= L y ′δy − E L δx= λ (L y ′ψ ′ (x) − E L ) (1.5.7)L y ′ψ ′ (x) − E L = L y ′ψ ′ (x) − L y ′y ′ + L= L y ′ (ψ ′ (x) − y ′ ) + L= y′ n(x, y)√1 + (y′ ) 2 (ψ′ (x) − y ′ ) + n(x, y) √ 1 + (y ′ ) 2= 0 (1.5.8)


1.5. Problema com extremida<strong>de</strong>s móveis 22ou:n(x, y)(1 + ψ ′ y ′ )√1 + (y′ ) 2 = 0Supon<strong>do</strong> que n(x, y) ≠ 0, na extremida<strong>de</strong> direita da extremal, obtemos 1 + ψ ′ y ′ = 0 ouy ′ = − 1 ψ ′ , isto é, a condição <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> reduz-se neste caso a uma condição <strong>de</strong>ortogonalida<strong>de</strong> usual - a extremal <strong>de</strong>ve intersectar perpendicularmente a curva y = ψ(x),na sua extremida<strong>de</strong> direita.♣ Exemplo 1.9 ... Calcular a distância entre a parábola y = x 2 e a recta x − y = 5.O problema consiste em calcular o valor extremo <strong>de</strong>:I[y(x)] =∫ x1x 0√1 + (y′ ) 2 dx, y(x 0 ) = x 2 0, y(x 1 ) = x 1 − 5isto é, a extremida<strong>de</strong> esquerda move-se na parábola y = x 2 , enquanto a direita se movena recta x − y = 5.A solução geral da equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange é y(x) = ax + b. Preten<strong>de</strong>-se pois calculara extremal y(x) = ax+b, x ∈ [x 0 , x 1 ], on<strong>de</strong> a, b, x 0 e x 1 são constantes a <strong>de</strong>terminar.Como L = √ 1 + (y ′ ) 2 ye L y ′ = √1+(y ′, as condições <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> (1.5.5) e (1.5.6)′ ) 2têm, neste caso, a forma:e:(L y ′δy − E L δx)| x=x1= λ (L y ′ − L y ′y ′ + L)|(x=x1y ′= λ √1 + (y′ ) − y ′2y′ √1 + (y′ ) + √ )∣ ∣∣∣∣x=x11 + (y ′ ) 22= 0(L y ′δy − E L δx)| x=x0= λ (L y ′ 2x − L y ′y ′ + L)|(x=x0= λ (2x − y ′ y ′) √1 + (y′ ) + √ )∣ ∣∣∣∣x=x01 + (y ′ ) 22= 0on<strong>de</strong> y ′ = a. Por outro la<strong>do</strong>, as condições <strong>de</strong> fronteira são y(x 0 ) = x 2 0 e y(x 1 ) = x 1 − 5,isto é:ax 0 + b = x 2 0ax 1 + b = x 1 − 5e portanto, temos um sistema <strong>de</strong> 4 equações a 4 incógnitas x 0 , x 1 , a e b:⎧(1 − a) √ a⎪⎨1+a 2+ √ 1 + a 2 = 0(2x 0 − a) √ a1+a 2+ √ 1 + a 2 = 0ax 0 + b = x⎪⎩2 0ax 1 + b = x 1 − 5


cuja solução é:1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 23a = −1, b = 3/4, x 0 = 1/2, x 1 = 23/8A equação da extremal é pois y(x) = −x + 3/4, e a distância pedida é:l =∫ 23/81/2√1 + (−1)2 dx = 19 √ 2/8♣.1.6 A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0Consi<strong>de</strong>remos <strong>de</strong> novo o problema <strong>de</strong> minimizar o funcional I[x(·)] = ∫ t 1t 0L(t, x(t), ẋ(t)) dtcom condições <strong>de</strong> fronteira x(t 0 ) = x 0 e x(t) = x. Agora estamos a fixar a extremida<strong>de</strong>esquerda P 0 = (t 0 , x 0 ), e variamos a extremida<strong>de</strong> direita P = (t, x) ∈ IR n+1 . Como nasecção anterior, supômos que o intervalo [t 0 , t] <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva x(·).Vamos supôr ainda que existe um aberto U ⊆ IR n+1tx tal que, para to<strong>do</strong> o pontoP = (t, x) ∈ U existe uma única extremal que une P 0 a P . Diz-se neste caso que, em U,está <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> um feixe central <strong>de</strong> extremais, <strong>de</strong> pólo P 0 .Neste caso, em cada ponto P = (t, x) ∈ U fica selecciona<strong>do</strong> um único vector tangente(1, ̂x(t)) ∈ T P IR n+1 , que não é mais <strong>do</strong> que o vector velocida<strong>de</strong>, em t, <strong>do</strong> gráfico da únicaextremal ̂x : [t 0 , t] → IR n+1 , que une P 0 = (t 0 , x 0 ) a P = (t, x). Consi<strong>de</strong>remos a funçãoI : U → IR n <strong>de</strong>finida por:I(t, x) = ̂x(t) (1.6.1)a que chamamos o campo <strong>de</strong> inclinações <strong>do</strong> feixe <strong>de</strong> extremais em U. O respectivográfico será uma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão n + 1 em IR × T IR n , parametriza<strong>do</strong> por:ϕ(t, x) = (t, x, I(t, x)), (t, x) ∈ U (1.6.2)Definimos agora uma função S, no aberto U, chamada a função acção, cujo valornum ponto P = (t, x) ∈ U, é igual ao valor <strong>do</strong> funcional I na única extremal que une P 0a P . Portanto:S(t, x) = S(t 0 , x 0 ; t, x) =∫ tt 0L(τ, ̂x(τ), ˙̂x(τ)) dt (1.6.3)on<strong>de</strong> ̂x : [t 0 , t] → IR n+1 é a única extremal que une P 0 = (t 0 , x 0 ) a P = (t, x). O nossoobjectivo é calcular a diferencial <strong>de</strong> S.


1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 24Figure 1.5: Feixe central <strong>de</strong> extremais.• ♣ Proposição 1.1 ... A diferencial da acção dada por:dS = ϕ ∗ θ L (1.6.4)on<strong>de</strong> θ L = Lẋdx − E L dt é a forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan em IR × T IR n .Dem.: Seja (δt, δx) ∈ T (t,x) IR n+1 um vector tangente arbitrário a IR n+1 no ponto(t, x) ∈ U, e γ : α ↦→ (t(α), x(α)) uma curva suave, em U, tal que γ(0) =(t(0), x(0)) = (t, x) e dγ (0) = (δt, δx). Seja x(t; α) a família a um parâmetro αdα<strong>de</strong> extremais, tal que x(t; 0) = ̂x(t), x(t(α); α) = x(α) e ainda x(t 0 ; α) ≡ x 0 . Por<strong>de</strong>finição da acção:S(t(α), x(α)) = J(α) =∫ t(α)t 0L(t, x(t; α), ẋ(t; α)) dtAplican<strong>do</strong> à família x(t; α) a teoria exposta na resolução <strong>do</strong> problema 1.2, nomeadamentea fórmula (1.4.5), obtemos:dS(t(α), x(α))dS (t,x) (δt, δx) = dα ∣ = dJ(α)α=0dα ∣α=0∫ = (Lẋdx − E L dt) ∣ t t1+ ̂L x (t) − d )t 0 dt ̂Lẋ(t) η(t) dtt 0(= (Lẋdx − E L dt) (t,x)(δt, δx) (1.6.5)aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que ̂x(·) satisfaz a equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange (1.5.3), e ainda ao facto<strong>de</strong> que todas as curvas x(t; α) passam pelo ponto fixo P 0 = (t 0 , x 0 ). PortantodS = ϕ ∗ (Lẋdx − E L dt), como se pretendia.♣.Supon<strong>do</strong> agora que o Lagrangeano é hiperregular, po<strong>de</strong>mos passar ao formalismocanónico, via transformada <strong>de</strong> Legendre. Definimos então o chama<strong>do</strong> campo <strong>de</strong> momentos<strong>do</strong> feixe central <strong>de</strong> extremais em U, através <strong>de</strong>:p(t, x) = Lẋ(t, x, I(t, x)), (t, x) ∈ U (1.6.6)


1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 25O respectivo gráfico é agora uma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão n+1 em IR×T ∗ IR n , parametriza<strong>do</strong>por:ψ(t, x) = (t, x, p(t, x)), (t, x) ∈ U (1.6.7)Como o Hamiltoniano H = H(t, x, p) é a energia E L , expressa nas coor<strong>de</strong>nadascanónicas (t, x, p), vemos que:dS = ψ ∗ θ H (1.6.8)on<strong>de</strong> θ H = pdx−H dt é a forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan em IR×T ∗ IR n . Mais <strong>de</strong>talhadamente:dS(t, x) = p(t, x)dx − H(t, x, p(t, x))dt (1.6.9)Como −H dt + p dx = dS = ∂S∂t∂Sdt + dx, concluímos que:∂xp = ∂S∂xeH = − ∂S∂te portanto S satisfaz a PDE <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m:(∂S∂t (t, x) + H t, x, ∂S )∂x (t, x) = 0 (1.6.10)ou simplesmente:S t + H (t, x, S x ) = 0 (1.6.11)que se chama a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi para a função S = S(t, x).♣Exemplo 1.10 ... Consi<strong>de</strong>remos o funcional:A equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange é:I[y(x)] = 1 2∫ a0(y ′2 − y 2 ) dx0 = ddx L y ′ − L y = y ′′ + ycuja a solução geral é:y(x) = a cos x + b sin xConsi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> as extremais que passam na origem 0 = (0, 0), obtemos a família:y(x) = b sin x(já que 0 = y(0) = a) que constitui um feixe central <strong>de</strong> extremais <strong>de</strong> pólo 0, no abertoU =]0, π[×IR ⊂ IR 2 xy. A extremal que une o ponto (0, 0) ao ponto (x, y) ∈ U é y(τ) =


ysin x1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 26sin τ, 0 ≤ τ ≤ x e, portanto a acção é:S(x, y) = 1 ∫ x)(y ′ (τ) 2 − y(τ) 2 dτ2 0= 1 ∫ x( ( y) 2cos 2 τ −2 0 sin x= 1 ( y) 2∫ xcos 2τ dτ2 sin x 0= 1 ( y) 2 sin 2x2 sin x 2= 1 2 y2 cotg x( y) 2sin τ)2 dτsin xA sua diferencial é:dS = − 1 2 y2 cosec 2 x dx + ycotg x dyVamos verificar que dS = pdy − Hdx (com uma óbvia simplificação <strong>de</strong> notação). Ocampo <strong>de</strong> inclinações <strong>do</strong> feixe é:I(x, y) = d∣ysin τ = ycotg xdτ sin x∣τ=xe portanto o respectivo campo <strong>de</strong> momentos é:já que L = 1 2 (y′2 − y 2 ) e p = L y ′ = y ′ .p(x, y) = L y ′(x, y, I(x, y)) = I(x, y) = ycotg xPor outro la<strong>do</strong>: H(x, y, p) = py ′ − L| y ′ =p = y′2 − 1 2 (y′2 − y 2 ) ∣ ∣y ′ =p = 1 2 (p2 + y 2 ), eportanto:p(x, y)dy − H(x, y, p(x, y))dx = ycotg x dy − 1 2 y2 (cotg 2 x + 1) dx= − 1 2 y2 cosec 2 x dx + ycotg x dy= dScomo se pretendia. A equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi é pois:S x + 1 2 (S2 y + y 2 ) = 0♣ Exemplo 1.11 (Equação H-J para sistemas mecânicos conservativos) ... Aequação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi para a acção S = S(t, x) tem, neste caso, a forma:on<strong>de</strong> o Hamiltoniano H é da<strong>do</strong> por (1.3.3):S t + H(x, S x ) = 0 (1.6.12)H(x, p) = 1 2 pG(x)pT + V (x)= 1 2 Gij (x)p i p j + V (x) (1.6.13)


1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 27Portanto, a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi é:S t + 1 2 ST x G(x)S x + V (x) = 0 (1.6.14)Usan<strong>do</strong> o méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> separação <strong>de</strong> variáveis, vamos procurar soluções da forma:S(t, x) = f(t) + W (x)Vem então que S t (t, x) = f ′ (t) e S x (t, x) = ∇W (x). Substituin<strong>do</strong> na equação (1.6.12),obtemos:f ′ (t) = −H(x, ∇W (x))Como o primeiro membro <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas <strong>de</strong> t e o segun<strong>do</strong> apenas <strong>de</strong> x, isto implica que:f(t) ≡ −ht + a, e H(x, ∇W (x)) ≡ hon<strong>de</strong> h e a são constantes. A solução geral da equação (1.6.12) será pois:S(t, x) = −ht + W (x) + aon<strong>de</strong> W é solução da chamada equação reduzida <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:H(x, W x ) ≡ h (1.6.15)Por exemplo, para uma partícula <strong>de</strong> massa m, moven<strong>do</strong>-se em IR 3 sob a acção <strong>de</strong> umcampo <strong>de</strong> forças F(x) = −∇V (x), o Hamiltoniano é:H(x, p) = 12m p2 + V (x)e a equação reduzida <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, para W = W (x), tem a forma (2.5.12), isto é:on<strong>de</strong> (∇W ) 2 = ∇W · ∇W = ‖∇W ‖ 2 .12m (∇W )2 + V (x) ≡ h (1.6.16)♣ Exemplo 1.12 (A acção para uma partícula livre) ... Para uma partícula<strong>de</strong> massa m, moven<strong>do</strong>-se livremente em IR 3 (sob a acção <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> forças nulo) oHamiltoniano é:H(x, p) = 12m p2e a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, para S = S(t, x), tem a forma:S t − 12m (S x) 2 = 0 (1.6.17)Em coor<strong>de</strong>nadas cartesianas x = (x, y, z), a equação (1.6.20) escreve-se na forma:S t − 1 ( )S22m x + Sy 2 + Sz2 = 0 (1.6.18)


1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 28A equação <strong>de</strong> Newton é:cuja solução geral é:mẍ = 0x(τ) = aτ + ba que correspon<strong>de</strong> um movimento rectilíneo e uniforme (velocida<strong>de</strong> constante). Da<strong>do</strong> umponto arbitrário x 0 ∈ IR 3 , a família <strong>de</strong> trajectórias que, no instante τ = t 0 , começam emx 0 , é dada por:x(τ) = a(τ − t 0 ) + x 0Essa família constitui um feixe central <strong>de</strong> pólo P 0 = (t 0 , x 0 ), <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> em U = {(t, x) ∈IR×IR 3 : t ≠ t 0 }. A única trajectória, <strong>de</strong>sse feixe, que une P 0 = (t 0 , x 0 ) a um outro pontoP = (t, x) ∈ U é:A acção é dada por:x(τ) = x − x 0t − t 0(τ − t 0 ) + x 0 , t 0 ≤ τ ≤ tS(t, x) = S(t 0 , x 0 ; t, x) = 1 2 m ∫ t(x − x 0 ) 2t 0(t − t 0 ) dτ 2= 1 2 m(x − x 0) 2t − t 0, (t, x) ∈ U (1.6.19)aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que o Lagrangeano é L(x, ẋ) = 1 2 mẋ2 e a que ẋ(τ) = x−x 0t−t 0.O campo <strong>de</strong> inclinações <strong>do</strong> feixe é:e o campo <strong>de</strong> momentos:I(t, x) = ddτx − x 0∣ (τ − t 0 ) + x 0 = x − x 0τ=tt − t 0 t − t 0p(t, x) = Lẋ(t, x, I(t, x)) = m x − x 0t − t 0O pull-back da forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan, ψ ∗ θ H é:ψ ∗ θ H = p(t, x)dx − H(t, x, p(t, x))dt= m x − x 0t − t 0dx − 14m 2 m2 (x − x 0) 2(t − t 0 ) 2 dt= m x − x 0t − t 0dx − 1 4(x − x 0 ) 2(t − t 0 ) 2 dte é óbvio que dS = ψ ∗ θ H . É fácil ver que S, dada por (1.6.19), é solução da equação <strong>de</strong>Hamilton-Jacobi S t − 12m (S x) 2 = 0.Consi<strong>de</strong>remos a hipersuperfície Σ m , em U, <strong>de</strong>finida por:12 m(x − x 0) 2t − t 0≡ 1 2 m


1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 29Para cada t > t 0 fixo, a intersecção da hipersuperfície Σ m , com o hiperplano {t} × IR 3 , édada por:(x − x 0 ) 2 = t − t 0e projectan<strong>do</strong> estas superfícies no espaço <strong>de</strong> configuração IR 3 x, obtemos uma família <strong>de</strong>esferas, centradas em x 0 , <strong>de</strong> raio (t − t 0 ) 1/2 , a que chamamos as superfícies <strong>de</strong> onda dapartícula livre.♣ Exemplo 1.13 (A acção para uma partícula num campo constante) ... Parauma partícula <strong>de</strong> massa m, moven<strong>do</strong>-se em IR 3 sob a acção <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> forças constanteF(x) ≡ F, o Hamiltoniano é:H(x, p) = 12m p2 + Fxe a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, para S = S(t, x), tem a forma:S t − 12m (S x) 2 + Fx = 0 (1.6.20)Em coor<strong>de</strong>nadas cartesianas x = (x, y, z), a equação (1.6.20) escreve-se na forma:S t − 1 ( )S22m x + Sy 2 + Sz2 + Ax + By + Cz = 0 (1.6.21)on<strong>de</strong> F = (A, B, C). A equação <strong>de</strong> Newton é:mẍ = Fcuja solução geral é:x(τ) = F τ 2m 2 + aτ + ba que correspon<strong>de</strong> um movimento uniformemente acelera<strong>do</strong> (aceleração constante). Da<strong>do</strong>um ponto arbitrário x 0 ∈ IR 3 , a família <strong>de</strong> trajectórias que, no instante τ = t 0 , começamem x 0 , é dada por:x(τ) = F2m (τ 2 − t 2 0) + a(τ − t 0 ) + x 0Essa família constitui um campo central <strong>de</strong> pólo P 0 = (t 0 , x 0 ). A única trajectória, <strong>de</strong>ssecampo, que une (t 0 , x 0 ) a um outro ponto (t, x) é:x(τ) = F[ F2m (τ 2 − t 2 0) −2m (t + t 0) + x − x ]0(τ − t 0 ) + x 0 , t 0 ≤ τ ≤ tt − t 0Efectuan<strong>do</strong> os cálculos para a acção, vemos que ela é dada por:S(t, x) = S(t 0 , x 0 ; t, x) = F224m (t − t 0) 3 − Fx(t − t 0 ) + x − x 0t + t 0(1.6.22)aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que o Lagrangeano é L(x, ẋ) = 1 2 mẋ2 − Fx e a que ẋ(τ) = F (2τ − t − t 2m 0) −x−x 0t−t 0.


1.6. A função <strong>de</strong> acção S. Equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H(t, x, S x ) = 0 30♣ Exemplo 1.14 (Equação H-J para o oscila<strong>do</strong>r harmónico) ... Continuemoscom o exemplo 1.6. A equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi para uma função S(t, x), correspon<strong>de</strong>nteao Hamiltoniano H = ω 2 (x2 + p 2 ) é:S t + ω 2( )x 2 + Sx2 = 0 (1.6.23)A solução geral da equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange é, como vimos antes:x(τ) = A cos(ωτ + b)on<strong>de</strong> A, b são constantes. Se consi<strong>de</strong>ramos o feixe <strong>de</strong> extremais que parte <strong>de</strong> 0 = (0, 0),obtemos b = π/2, uma vez que 0 = x(0) = A cos b. Portanto essa extremais são <strong>do</strong> tipox(τ) = A cos(ωτ + π/2). Da<strong>do</strong> um ponto (t, x), com 0 < t < π, a única extremal que une(0, 0) a (t, x) tem por equação:x(τ) =xcos(ωτ + π/2),cos(ωt + π/2) 0≤ τ ≤ te portanto o campo <strong>de</strong> inclinações <strong>do</strong> feixe é:I(t, x) = −xω tg(ωt + π/2)Por outro la<strong>do</strong>, como L(x, ẋ) = ẋ2 − ωx2 , vem que L 2ω 2 ẋ = ẋ/ω, e o campo <strong>de</strong> momentos<strong>do</strong> feixe é:p(t, x) = Lẋ(t, x, I(t, x)) = −x tg(ωt + π/2)O pull-back da forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan, ψ ∗ θ H , é pois dada por:ψ ∗ θ H = p(t, x)dx − H(t, x, p(t, x))dt= −x tg(ωt + π/2)dx − ω 2 (x2 + (−x tg(ωt + π/2)) 2 )dtA acção S = S(t, x) é dada por:∫ t[x 2 ω 2S(t, x) =0 2ω cos 2 (ωt + π/2) sin2 (ωτ + π/2) − ω ]x 22 cos 2 (ωt + π/2) cos2 (ωτ + π/2) dτx 2 ∫ωt= −cos(2ωτ + π)2 cos 2 (ωt + π/2) 0= − x2 sin(2ωt + π)4 cos 2 (ωt + π/2)= x22cotg(ωt) (1.6.24)Verifiquemos que S satisfaz a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi (1.6.23):x2 ωS t = −2 sin 2 (ωt) , S x = x cotg(ωt)


e portanto:1.7. Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> Maupertuis 31S t + ω 2(x 2 + Sx) 2 x 2 ω= −2 sin 2 (ωt) + ω (x 2 + x 2 cotg 2 (ωt) )2= 0 (1.6.25)como se pretendia.♣.1.7 Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> MaupertuisNa secção 1.2, as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton foram <strong>de</strong>duzidas a partir <strong>do</strong> formalismoLagrangeano através da transformada <strong>de</strong> Legendre. Vamos nesta secção consi<strong>de</strong>rar asequações canónicas como equações básicas e ver como elas po<strong>de</strong>m ser vistas como asequações <strong>de</strong> Euler-Lagrange <strong>de</strong> um certo problema variacional.Recor<strong>de</strong>mos que o funcional <strong>de</strong> acção, associa<strong>do</strong> a um Lagrangeano L = L(t, x, ẋ) é:I[x(·)] =∫ t1t 0L(t, x(t), ẋ(t)) dtUma extremal <strong>de</strong>ste funcional é, como sabemos, uma solução x = x(t) das equações <strong>de</strong>Euler-Lagrange. Por outro la<strong>do</strong>, no formalismo Hamiltoniano, essa extremal correspon<strong>de</strong>a uma solução (x(t), p(t)) das equações canónicas, on<strong>de</strong> p(t) = Lẋ(t, x(t), ẋ(t)). Como:vemos que:H(t, x, p) = pẋ − L(t, x, ẋ) ⇒ L(t, x, ẋ) = pẋ − H(t, x, p)∫ t1t 0L(t, x(t), ẋ(t)) dt =∫ t1t 0[p(t)ẋ(t) − H(t, x(t), p(t))] dtO segun<strong>do</strong> integral tem a forma <strong>de</strong> um integral <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> uma 1-forma ao longo dacurva <strong>de</strong> fase t ↦→ (t, x(t), p(t)). É pois natural consi<strong>de</strong>rar a forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan:θ H<strong>de</strong>f= pdx − H(t, x, p) dt (1.7.1)<strong>de</strong>finida no espaço <strong>de</strong> fases alarga<strong>do</strong> IR × T ∗ IR n . Da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pontos fixos P 0 = (t 0 , x 0 )e P 1 = (t 1 , x 1 ), com t 0 < t 1 , no espaço <strong>de</strong> configuração alarga<strong>do</strong> IR × IR n , consi<strong>de</strong>remos oconjunto C constituí<strong>do</strong> por todas as curvas:γ : t ↦→ (t, x(t), p(t))


1.7. Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> Maupertuis 32Figure 1.6:<strong>de</strong>finidas no intervalo (fixo) [t 0 , t 1 ], tais que:x(t 0 ) = x 0 e x(t 1 ) = x 1Em particular os valores <strong>de</strong> p(t 0 ) e p(t 1 ) po<strong>de</strong>m ser arbitrários (ver a figura 1.6).No conjunto C, <strong>de</strong> todas essas curvas, <strong>de</strong>finimos o funcional seguinte:∫<strong>de</strong>fS H [γ(·)] = θ Hγ∫= pdx − H(t, x, p) dt=Temos então o seguinte teorema:γ∫ t1t 0(p(t) dxdt − H(t, x(t), p(t)) )dt (1.7.2)• ♣ Teorema 1.1 ... As equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton:{ ẋ = Hp (t, x, p)ṗ = −H x (t, x, p)são as equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange <strong>do</strong> problema variacional associa<strong>do</strong> ao funcionalS H , <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por (1.7.2), na classe <strong>de</strong> curvas C, acima <strong>de</strong>scrita. Mais precisamente,o funcional S H atinge um valor extremal em qualquer solução (x(t), p(t))das equações canónicas, relativamente a todas as variações que <strong>de</strong>ixam as extremida<strong>de</strong>sP 0 = (t 0 , x 0 = x(t 0 )) e P 1 = (t 1 , x 1 = x(t 1 )) fixas, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os valores <strong>de</strong> p(t 0 )e p(t 1 ) ser arbitrários.Dem.: O Lagrangeano <strong>do</strong> funcional S H é:L(t, x, p, ẋ, ṗ) = pẋ − H(t, x, p)que é linear em ẋ e não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> ṗ. Portanto:Lẋ = p, Lṗ = 0, L x = −H x , L p = ẋ − H p


1.7. Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> Maupertuis 33e as equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange são:{ −ddt ẋ + L x = 0− d L dt ṗ + L p = 0⇒{−ddt p − H x = 00 + ẋ − H p = 0⇒{ ṗ = −Hxẋ = H pque são exactamente as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton. Por outro la<strong>do</strong>, a energia<strong>de</strong> L é:E L (t, x, p, ẋ, ṗ) = Lẋ ẋ + Lṗ ṗ − L(t, x, p, ẋ, ṗ)= pẋ − pẋ + H(t, x, p)= H(t, x, p) (1.7.3)O espaço <strong>de</strong> configuração alarga<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste problema variacional é o espaço IR ×T ∗ IR n ∼ = IR 2n+1 , muni<strong>do</strong> das coor<strong>de</strong>nadas (t, x, p). As restrições são:Φ 0 : IR 2n+1 → IR n+1 , Φ 0 (t, x, p) = (t − t 0 , x − x 0 )Φ 1 : IR 2n+1 → IR n+1 , Φ 1 (t, x, p) = (t − t 1 , x − x 1 ) (1.7.4)e portanto as condições <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> reduzem-se a:Lṗδp 0 = 0 = Lṗδp 1 (1.7.5)que não impõem qualquer restrição aos valores <strong>de</strong> p(t 0 ) e p(t 1 ).♣.Suponhamos agora que H = H(x, p) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explìcitamente <strong>de</strong> t. Por conservação<strong>de</strong> energia, se t ↦→ (x(t), p(t)) é uma solução das equações canónicas então:H(x(t), p(t)) ≡ h (constante)Suponhamos ainda que h é valor regular <strong>de</strong> H, <strong>de</strong> tal forma que:Σ h<strong>de</strong>f= {(x, p) ∈ T ∗ IR n : H(x, p) ≡ h} (1.7.6)é uma hipersuperfície <strong>de</strong> codimensão 1 em T ∗ IR n . Uma solução das equações canónicasque comece em Σ h permanecerá sempre em Σ h .Fixemos <strong>do</strong>is pontos x 0 , x 1 ∈ IR n e consi<strong>de</strong>remos o conjunto C h constituí<strong>do</strong> por todasas curvas:γ : t ↦→ (x(t), p(t))<strong>de</strong>finidas no intervalo [t 0 , t 1 ] (que agora <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> γ), tais que:e que têm energia constante h, i.e.:x(t 0 ) = x 0 e x(t 1 ) = x 1 (1.7.7)H(x(t), p(t)) ≡ h (1.7.8)


1.7. Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> Maupertuis 34Figure 1.7:Note que agora os valores <strong>de</strong> t 0 , t 1 , p 0 = p(t 0 ) e p 1 = p(t 1 ) po<strong>de</strong>m ser arbitrários (ver afigura 1.7). A fixação <strong>do</strong> nível <strong>de</strong> energia é <strong>de</strong> certa forma compensada pela variação <strong>do</strong>intervalo <strong>de</strong> parametrização da curva.Definamos o funcional <strong>de</strong> acção reduzida S red , através <strong>de</strong>:S red [γ( · )]<strong>de</strong>f= ∫ γpdx (1.7.9)e vamos mostrar que este funcional é estacionário em cada solução γ(t) = (x(t), p(t)) dasequações canónicas, relativamente a variações em C h .Para isso, consi<strong>de</strong>remos uma família a um parâmetro <strong>de</strong> curvas γ α = γ( · ; α) ∈ C h :tais que:γ α (t) = γ(t; α) = (x(t; α), p(t; α)), t ∈ [t 0 (α), t 1 (α)] (1.7.10)x(t 0 (α), α) ≡ x 0 , e x(t 1 (α), α) ≡ x 1Temos então que:S red (α)<strong>de</strong>f==∫pdxγ α()dx(t; α)p(t; α) dt (1.7.11)dt∫ t1 (α)t 0 (α)Calculemos a <strong>de</strong>rivada em or<strong>de</strong>m a α, para α = 0. Nesse cálculo, usaremos as notaçõesseguintes:dt 0t 0 (0) = t 0 , t 1 (0) = t 1 ,dα (0) = δt dt 10,dα (0) = δt 1∂x∂p(t; 0) = η(t),∂α(t; 0) = ξ(t)∂αη(t 0 ) = η 0 , η(t 1 ) = η 1 , ξ(t 0 ) = ξ 0 , ξ(t 1 ) = ξ 1p(t 0 ; 0) = p 0 , p(t 1 ; 0) = p 1


1.7. Um princípio variacional para sistemas Hamiltonianos.Princípio <strong>de</strong> Maupertuis 35Como estamos a supôr que:x 0 (α) = x(t 0 (α); α) ≡ x 0 , e x 1 (α) = x(t 1 (α); α) ≡ x 1isso implica que, para α = 0:0 = δx 0<strong>de</strong>f= dx 0dα (0) = ẋ(t 0)δt 0 +η 0 , e 0 = δx 1<strong>de</strong>f= dx 1dα (0) = ẋ(t 1)δt 1 +η 1 (1.7.12)Calculan<strong>do</strong> finalmente a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> S red (α), em or<strong>de</strong>m a α, para α = 0, vem que:∫dSt1()reddα (0) = [p d1ẋ(t 1 )] δt 1 − [p 0 ẋ(t 0 )] δt 0 +dx(t; α)dα∣ p(t; α) dtα=0dt= −p 1 η 1 + p 0 η 0 + p(t)η(t)| t 1=∫ t1t∫0t1t 0+t 0[ẋ(t)ξ(t) − ṗ(t)η(t)] dtt 0[ẋ(t)ξ(t) − ṗ(t)η(t)] dt (1.7.13)on<strong>de</strong> usamos integração por partes e as condições (1.7.12). Suponhamos agora que(x(t), p(t)) é solução das eqauções canónicas, com energia constante igual a h:H(x(t; α), p(t; α)) ≡ hCalculan<strong>do</strong> a <strong>de</strong>rivada em or<strong>de</strong>m a α, para α = 0, vem que:0 = ddα∣ H(x(t; α), p(t; α))α=0= H x (x(t), p(t))η(t) + H p (x(t), p(t))ξ(t)= ṗ(t)η(t) − ẋ(t)ξ(t) (1.7.14)já que estamos a supôr que (x(t), p(t)) é solução das equações canónicas. Concluin<strong>do</strong>:dS reddα (0) = 0e, resumin<strong>do</strong> toda esta discussão, po<strong>de</strong>mos pois enunciar o seguinte teorema:• ♣ Teorema 1.2 (Princípio <strong>de</strong> Maupertuis) ... Suponhamos que H = H(x, p)não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> explìcitamente <strong>de</strong> t, e que fixamos um certo nível regular <strong>de</strong> energiaconstante h. Então as soluções (x(t), p(t)) das equações canónicas são as extremais<strong>do</strong> funcional <strong>de</strong> acção reduzida:∫ ∫S red [γ(·)] = θ = pdx (1.7.15)γrelativamente à classe C h <strong>de</strong> todas as curvas situadas em Σ h (portanto <strong>de</strong> energiaconstante h), que <strong>de</strong>ixam as extremida<strong>de</strong>s x 0 e x 1 fixas (po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> os valores <strong>de</strong>t 0 , t 1 , p 0 e p 1 ser arbitrários).γ♣.


1.8. Os princípios variacionais <strong>de</strong> Jacobi e <strong>de</strong> Fermat.Analogia óptico-mecânica 361.8 Os princípios variacionais <strong>de</strong> Jacobi e <strong>de</strong> Fermat.Analogia óptico-mecânicaConsi<strong>de</strong>remos uma partícula <strong>de</strong> massa m, moven<strong>do</strong>-se em IR 3 , sob a acção <strong>de</strong> um campo<strong>de</strong> forças conservativo F(x) = −∇V (x). Como já sabemos, o Hamiltoniano é:H(x, p) = 12m p2 + V (x)Consi<strong>de</strong>remos, como na secção anterior, a restrição <strong>do</strong> funcional <strong>de</strong> acção reduzidaS red = ∫ pdx, à classe C h <strong>de</strong> curvas regulares (com velocida<strong>de</strong> que nunca se anula), <strong>de</strong>energia constante h. Ao longo <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>ssas curvas, temos que:e portanto h > V (x(t) e ainda:H(x(t), p(t)) = 12m p(t)2 + V (x(t)) ≡ h‖p(t)‖ = √ 2m [h − V (x(t)] > 0 (1.8.1)Por outro la<strong>do</strong>, ao longo <strong>de</strong> uma extremal, i.e., ao longo <strong>de</strong> uma solução das equaçõescanónicas, tem-se que ẋ = H p = p m , isto é, ẋ e p são colineares, e daí que2 :pẋ = p · ẋ = ‖p‖‖ẋ‖Portanto:S red [x(·), p(·)] ==∫∫p(t)ẋ(t) dt‖p‖‖ẋ‖ dt=∫ √2m[h − V (x(t))] ds (1.8.2)isto é:• ♣ Proposição 1.2 (Princípio <strong>de</strong> Jacobi) ... As projecções x(t), das soluçõesregulares <strong>de</strong> energia constante h, das equações canónicas, com Hamiltoniano H(x, p) =12m p2 + V (x), são as geodésicas (não parametrizadas) da métrica Riemanniana emU = {x ∈ IR 3 : V (x) < h}:dσ<strong>de</strong>f = √ 2m [h − V (x)] ds (1.8.3)on<strong>de</strong> ds é a métrica Eucli<strong>de</strong>ana usual em IR 3 .♣.2 pela <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Cauchy-Schwartz, que, neste caso, é igualda<strong>de</strong> já que ẋ = p m


1.8. Os princípios variacionais <strong>de</strong> Jacobi e <strong>de</strong> Fermat.Analogia óptico-mecânica 37Consi<strong>de</strong>remos agora o Hamiltoniano H(x, p) = ‖p‖ , on<strong>de</strong> x = (x, y, z), p = (p, q, r)n(x)e ‖p‖ = √ p 2 + q 2 + r 2 . Este Hamiltoniano <strong>de</strong>screve a propagação <strong>do</strong>s raios <strong>de</strong> luz nummeio isotrópico com índice <strong>de</strong> refracção n(x) > 0 (ver [9] ou [11]). Pon<strong>do</strong> v(x) = 1/n(x),o Hamiltoniano escreve-se na forma:H(x, p) = v(x) ‖p‖Consi<strong>de</strong>remos, como antes, a restrição <strong>do</strong> funcional <strong>de</strong> acção reduzida S red = ∫ pdx,à classe <strong>de</strong> curvas regulares <strong>de</strong> energia constante h = 1:1 ≡ H(x(t), p(t)) = v(x) ‖p‖ (1.8.4)Ao longo <strong>de</strong> uma extremal, i.e., ao longo <strong>de</strong> uma solução das equações canónicas,tem-se que ẋ = H p = v(x) p . Em particular, ‖ẋ‖ = v(x), isto é, v(x) = 1/n(x) é a‖p‖velocida<strong>de</strong> com que o raio <strong>de</strong> luz passa em x.Como, por (1.8.4), v(x)‖p‖ = 1, tem-se que ‖p‖ = 1/v(x). Por outro la<strong>do</strong>, comoẋ = v(x) p , vemos que p e ẋ são colineares e portanto pẋ = p · ẋ = ‖p‖ ‖ẋ‖. Daí que:‖p‖S red [x( · ), p( · )] ====∫∫∫∫p(t)ẋ(t) dt‖p‖‖ẋ‖ dt1v(x) dsn(x) ds (1.8.5)O integral ∫ n(x) ds chama-se o comprimento óptico <strong>do</strong> raio γ. Note que esseγmesmo integral é igual a ∫ ds, e portanto é o tempo <strong>de</strong> percurso da luz, ao longo <strong>do</strong>γ v(x)raio γ. Obtemos assim o seguinte:• ♣ Proposição 1.3 (Princípio <strong>de</strong> Fermat) ... Entre todas as curvas diferenciáveisque unem <strong>do</strong>is pontos fixos x 0 e x 1 , o caminho segui<strong>do</strong> efectivamente pelaluz é aquele em que o tempo <strong>de</strong> percurso atinge um extremo. Estas curvas (os raios<strong>de</strong> luz) são as geodésicas da métrica:dσ = n(x) ds (1.8.6)on<strong>de</strong> ds é a métrica Eucli<strong>de</strong>ana usual em IR 3 .♣.Comparan<strong>do</strong> os <strong>do</strong>is princípios anteriores - o <strong>de</strong> Jacobi, no contexto da mecânicaclássica (conservativa) com o <strong>de</strong> Fermat, no contexto da óptica geométrica - mais especificamente,as fórmulas (1.8.3) e (1.8.6), concluímos que, pon<strong>do</strong>:n(x) = √ 2m [h − V (x)] (1.8.7)


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 38a mecânica clássica po<strong>de</strong> ser interpretada como uma óptica geométrica <strong>de</strong> propagação <strong>de</strong>raios num meio isotrópico <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> refracção n(x) = √ 2m [h − V (x)].Esta analogia este na base <strong>do</strong>s trabalhos <strong>de</strong> Hamilton e à sua formulação geométrica damecânica clássica, hoje chamada mecânica Hamiltoniana. Mais tar<strong>de</strong>, com Schrödinger,essa mesma analogia esteve também na base da criação da mecânica ondulatória e posteriormenteda mecânica quântica.1.9 Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconalVamos supôr que, num aberto U <strong>do</strong> espaço <strong>de</strong> configuração alarga<strong>do</strong> IR n+1tx , se verificaa proprieda<strong>de</strong> seguinte: da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pontos quaisquer P 0 = (t 0 , x 0 ) e P 1 = (t 1 , x 1 ), comt 0 < t 1 , existe uma e uma só extremal x(t) (solução das equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange), talque x(t 0 ) = x 0 , x(t 1 ) = x 1 e ainda (t, x(t)) ∈ U, ∀t ∈ [t 0 , t 1 ] (ver a figura 1.8).Figure 1.8: .Diz-se então que U é coberto por um feixe <strong>de</strong> extremais. A extremal que (cujográfico) une P 0 = (t 0 , x 0 ) a P 1 = (t 1 , x 1 ) será representada por:e o respectivo momento por:Em particular:Notamos ainda por:x = x(t; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ), t 0 ≤ t ≤ t 1 (1.9.1)p = p(t; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )<strong>de</strong>f= Lẋ(t, x, ẋ)| x=x(t;t0 ,x 0 ;t 1 ,x 1 )(1.9.2)x 0 = x(t 0 ; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ) e x 1 = x(t 1 ; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ) (1.9.3)ẋ 0 = ẋ 0 (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )= ∂ ∂t∣ x(t; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )t=t0ẋ 1 = ẋ 1 (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )= ∂ ∂t∣ x(t; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ) (1.9.4)t=t1


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 39as velocida<strong>de</strong>s nas extremida<strong>de</strong>s da extremal, e ainda por:p 0 = p 0 (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )= p(t 0 ; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )p 1 = p 1 (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )= p(t 1 ; t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ) (1.9.5)os momentos nessas mesmas extremida<strong>de</strong>s. Note que ẋ 0 , ẋ 1 , p 0 e p 1 são consi<strong>de</strong>radascomo funções das 2n + 2 variáveis (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ). A estas funções chamamos as funções<strong>de</strong> campo <strong>do</strong> feixe <strong>de</strong> extremais consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>.Se agora substituirmos as funções (1.9.1) e (1.9.2) no funcional canónico <strong>de</strong> acçãoS = S H , <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> em (1.7.2), obtemos a seguinte função das 2n+2 variáveis (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ):S = S(t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )=∫ t1t 0p dx − H dt (1.9.6)a que se chama a distância geodésica 3 entre os pontos P 0 = (t 0 , x 0 ) e P 1 = (t 1 , x 1 ).Vamos mostrar que as <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> S = S(t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ) são dadas por:S t0 = H 0 = H(t 0 , x 0 , p 0 )= p 0 ẋ 0 − L(t 0 , x 0 , ẋ 0 )S x0 = −p 0S t1 = −H 1 = −H(t 1 , x 1 , p 1 )= L(t 1 , x 1 , ẋ 1 ) − p 1 ẋ 1S x1 = p 1 (1.9.7)É claro que nestas fórmulas ẋ 0 , ẋ 1 , p 0 e p 1 são as funções <strong>do</strong> feixe (consi<strong>de</strong>radas comofunções das 2n + 2 variáveis (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )), <strong>de</strong>finidas em (1.9.4) e (1.9.16).Para provar isto, consi<strong>de</strong>remos uma curva α ↦→ (t 0 (α), x 0 (α); t 1 (α), x 1 (α)) tal que:e calculemos a <strong>de</strong>rivada da função:(t 0 (0), x 0 (0); t 1 (0), x 1 (0))) = (t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 )(t ′ 0(0), x ′ 0(0); t ′ 1(0), x ′ 1(0)) = (δt 0 , δx 0 ; δt 1 , δx 1 )S(α)<strong>de</strong>f= S(t 0 (α), x 0 (α); t 1 (α), x 1 (α))=∫ t1 (α)t 0 (α)[p(t; t 0 (α), x 0 (α); t 1 (α), x 1 (α))ẋ(t; t 0 (α), x 0 (α); t 1 (α), x 1 (α))−H(t, x(t; t 0 (α), x 0 (α); t 1 (α), x 1 (α)), p(t; t 0 (α), x 0 (α); t 1 (α), x 1 (α))] dt3 Outros nomes frequentes para S = S(t 0 , x 0 ; t 1 , x 1 ) são a iconal (<strong>do</strong> grego Eikón=imagem), em ópticageométrica, e a função característica pontual <strong>de</strong> Hamilton, em mecânica.


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 40em or<strong>de</strong>m α, para α = 0. Lembran<strong>do</strong> que o último integral é também da<strong>do</strong> por:∫ t1 (α)t 0 (α)L dtavalia<strong>do</strong> ao longo da extremal que une (t 0 (α), x 0 (α)) a (t 1 (α), x 1 (α)), po<strong>de</strong>mos aplicar ateoria exposta na secção 1.4, nomeadamente a fórmula (1.4.5), para concluir que:S ′ (0) = (pdx − Hdt)| t 1t 0= p 1 δx 1 − p 0 δx 0 − H 1 δt 1 + H 0 δt 0 (1.9.8)o que <strong>de</strong>monstra as fórmulas (1.9.7). Destas fórmulas <strong>de</strong>duzimos ainda que a iconal Ssatisfaz as duas equações <strong>de</strong> tipo Hamilton-Jacobi:S t1 + H(t 1 , x 1 , S x1 ) = 0S t0 − H(t 0 , x 0 , −S x0 ) = 0 (1.9.9)♣.Suponhamos agora que temos uma hipersuperfície regular Σ ⊂ IR n+1 , dada pelaequação:Σ : Φ(t, x) = 0 (1.9.10)Da<strong>do</strong> um ponto P = (t, x) ∈ IR n+1 <strong>de</strong>terminemos um ponto P 0 = (t 0 , x 0 ) ∈ Σ tal quea distância geodésica S(P 0 , P ) seja estacionária, sob variações <strong>do</strong> ponto P 0 em Σ (ver afigura 1.9). Este problema foi discuti<strong>do</strong> na secção 1.5. Vimos então que uma extremalque une P 0 a P terá <strong>de</strong> verificar a condição <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> seguinte:p 0 δx 0 − H 0 δt 0 = 0 (1.9.11)para to<strong>do</strong> o vector tangente (δt 0 , δx 0 ) ∈ T (t0 ,x 0 )Σ, isto é, para to<strong>do</strong> o vector (δt 0 , δx 0 ) talque 0 = dΦ (t0 ,x 0 )(δt 0 , δx 0 ) = (Φ t dt + Φ x dx)| (t0 ,x 0 ) (δt 0, δx 0 ), ou ainda:Φ t (t 0 , x 0 ) δt 0 + Φ x (t 0 , x 0 ) δx 0 = 0 (1.9.12)Notemos que as duas condições (1.9.11) e (1.9.12), significam que o vector (−H 0 , p 0 )é colinear com o gradiente <strong>de</strong> Φ em (t 0 , x 0 ):−H 0 = λ Φ t (t 0 , x 0 ) (1.9.13)p 0 = λ Φ x (t 0 , x 0 ) (1.9.14)ou, por outras palavras, o vector (−H 0 , p 0 ) é ortogonal a Σ no ponto P 0 = (t 0 , x 0 ).Uma extremal que verifique as duas condições (1.9.13) e (1.9.14) diz-se, por isso, umaextremal ortogonal a Σ, em P 0 = (t 0 , x 0 ). Se, a cada ponto <strong>de</strong> Σ, associarmos umaextremal ortogonal a Σ nesse ponto, obtemos uma família a n parâmetros <strong>de</strong> extremais.Vamos agora supôr que, num certo aberto U <strong>de</strong> IR n+1 , que contem Σ, se verifica aseguinte proprieda<strong>de</strong>: da<strong>do</strong> um ponto qualquer P = (t, x) ∈ U, existe uma e uma só


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 41Figure 1.9: .extremal que passa em P e que é ortogonal a Σ (ver a figura 1.9). Diz-se então que, emU, está <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> um feixe <strong>de</strong> extremais ortogonais a Σ.Portanto, para cada ponto P = (t, x) ∈ U, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminar um único ponto:P 0 = ( t 0 (t, x), x 0 (t, x) ) ∈ Σ (1.9.15)para o qual a distância geodésica S(P 0 , P ) é estacionária, sob variações <strong>do</strong> ponto P 0 emΣ, e, por isso, as funções <strong>de</strong> campo:ẋ(t, x) = ẋ(t 0 (t, x), x 0 (t, x); t, x)p(t, x) = p(t 0 (t, x), x 0 (t, x); t, x) (1.9.16)são agora funções bem <strong>de</strong>finidas em U. À função S Σ : U → IR, <strong>de</strong>finida por:S Σ (t, x)<strong>de</strong>f= S ( t 0 (t, x), x 0 (t, x); t, x ) (1.9.17)chama-se a distância geodésica relativamente à hipersuperfície Σ. A família <strong>de</strong> hipersuperfícies:<strong>de</strong>f= {(t, x) ∈ U : S Σ (t, x) ≡ c} (1.9.18)Σ cdiz-se a família <strong>de</strong> superfícies paralelas <strong>do</strong> problema variacional.po<strong>de</strong>mos enunciar a seguinte proposição:Nestas condições,• ♣ Proposição 1.4 ... Da<strong>do</strong> um tal feixe <strong>de</strong> extremais em U ⊆ IR n+1 , ortogonaisà hipersuperfície Σ, a distância geodésica S Σ , relativa a Σ, satisfaz as equações:(S Σ ) t = −H(t, x, p(t, x))e portanto S Σ , satisfaz a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:(S Σ ) x = p(t, x) (1.9.19)(S Σ ) t + H (t, x, (S Σ ) x ) = 0 (1.9.20)


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 42Dem.: Derivan<strong>do</strong> (1.9.17), respectivamente em or<strong>de</strong>m a t e a x, e usan<strong>do</strong> a regrada ca<strong>de</strong>ia e ainda as relações (1.9.7), obtemos:Mas:(S Σ ) t = S t0∂t 0∂t + S x 0∂x 0∂t + S t= H 0∂t 0∂t − p 0∂x 0∂t − H(S Σ ) x = S t0∂t 0∂x + S x 0∂x 0∂x + S x= H 0∂t 0∂x − p 0Φ(t 0 (t, x), x 0 (t, x)) ≡ 0∂x 0∂x + p (1.9.21)e <strong>de</strong>rivan<strong>do</strong> esta equação em or<strong>de</strong>m a t e a x, respectivamente, <strong>de</strong>duzimos que:0 = Φ t (t 0 , x 0 ) ∂t 0∂t + Φ x(t 0 , x 0 ) ∂x 0∂t= −H 0∂t 0∂t + p 0∂x 0∂t0 = Φ t (t 0 , x 0 ) ∂t 0∂x + Φ x(t 0 , x 0 ) ∂x 0∂x= −H 0∂t 0∂x + p 0∂x 0∂x(1.9.22)on<strong>de</strong> usamos as condições <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> (1.9.13) e (1.9.14). Substituin<strong>do</strong> estasrelações em (1.9.21), obtemos finalmente:(S Σ ) t = −H, e (S Σ ) x = pcomo se prentendia.♣.Recìprocamente, temos a seguinte proposição:• ♣ Proposição 1.5 ... Se S = S(t, x) é uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:S t + H (t, x, S x ) = 0 (1.9.23)<strong>de</strong> classe C 2 , então existe um feixe <strong>de</strong> extremais, ortogonais a todas as hipersuperfíciesS(t, x) ≡ c (constante), e S é a distância geodésica relativa à hipersuperfícieS ≡ 0.Dem.: Seja S = S(t, x) uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi (1.9.23), e<strong>de</strong>finamos o campo <strong>de</strong> momentos p = p(t, x), através <strong>de</strong>:p(t, x)<strong>de</strong>f= S x (t, x) (1.9.24)


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 43Consi<strong>de</strong>remos agora o seguinte sistema (não autónomo) <strong>de</strong> n ODE’s <strong>de</strong> primeiraor<strong>de</strong>m:ẋ = H p (t, x, p(t, x)) (1.9.25)Este sistema <strong>de</strong>fine uma família a n parâmetros <strong>de</strong> curvas. Ao longo <strong>de</strong> cada uma<strong>de</strong>ssas curvas, temos que p(t, x(t)) = S x (t, x(t)) e, <strong>de</strong>rivan<strong>do</strong> em or<strong>de</strong>m a t, obtemos:ṗ = S xt + S xx ẋ, isto é ṗ i = S x i t + S x i x jẋj= S xt + S xx H p (1.9.26)on<strong>de</strong> usamos (1.9.25) na última igualda<strong>de</strong>. Por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>rivan<strong>do</strong> (1.9.23) emor<strong>de</strong>m a x, obtemos:S xt + H x + H p S xx = 0, isto é S x i t + H x i + H pj S x j x i = 0Comparan<strong>do</strong> (1.9.26) com esta última igualda<strong>de</strong>, <strong>de</strong>duzimos que:Concluin<strong>do</strong> - as equações canónicas:{ ẋ = Hpṗ = −H x (1.9.27)ṗ = −H xcaracterizam a referida família <strong>de</strong> curvas, como uma família a n parâmetros <strong>de</strong> extremais.Resta provar que estas extremais são ortogonais a todas as hipersuperfíciesS(t, x) ≡ c (constante), isto é, que elas verificam as condições <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong>(1.9.13) e (1.9.14), com Φ = S:−H = λ S t (t, x), e p = λ S x (t, x)o que é óbvio, com λ = 1, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi e à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong>p, respectivamente, (1.9.23) e (1.9.24).♣.Notemos que a proposição 1.4 diz, grosso mo<strong>do</strong>, que, se soubermos <strong>de</strong>terminar asextremais ortogonais a uma certa hipersuperfície Σ = {Φ = 0}, então sabemos <strong>de</strong>terminarsoluções da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>n<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma certa função inicial Φ.Recìprocamente, a proposição 1.5 diz, grosso mo<strong>do</strong>, que se soubermos <strong>de</strong>terminar soluçõesda equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, então sabemos <strong>de</strong>terminar uma família a n parâmetros <strong>de</strong>soluções das equações canónicas (isto é, sabemos <strong>de</strong>terminar uma família a n parâmetros<strong>de</strong> extremais).♣Exemplo 1.15 ... Consi<strong>de</strong>remos o funcional:∫I[x(·)] =(2tẋ − 2ẋ2 1 )dt


1.9. Feixes <strong>de</strong> extremais. A iconal 44Como L(t, x, ẋ) = 2tẋ − 1 2ẋ2 e Lẋẋ = −1 ≠ 0, o Lagrangeano é hiperregular. A transformada<strong>de</strong> Legendre é:(t, x, ẋ) ✲ (t, x, p = Lẋ = 2t − ẋ)o Hamiltoniano é igual a:H(t, x, p) = pẋ − L|ẋ=2t−p = p(2t − p) − 2t(2t − p) + 1 (2t − p)22= − 1 2 p2 + 2tp − 2t 2e as equações canónicas são:{ ẋ = Hp = −p + 2tṗ = −H x = 0{ x(t) = t 2 − at + bp(t) ≡ a, a, b constantesA família a 2 parâmetros <strong>de</strong> extremais x(t) = t 2 − at + b constitui um feixe <strong>de</strong> extremaisem IR 2 tx - da<strong>do</strong>s <strong>do</strong>is pontos P 0 (t 0 , x 0 ), P 1 = (t 1 , x 1 ), com t 0 < t 1 , existe uma e uma sóextremal que os une.Consi<strong>de</strong>remos o feixe <strong>de</strong> extremais ortogonais a Σ = {Φ(t, x) = t = 0} (o eixo <strong>do</strong>s x ′ s).A condição <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> num ponto (0, x 0 ) ∈ Σ é que, para to<strong>do</strong> o vector tangente(δt 0 , δx 0 ) ∈ T (0,x0 )Σ, se verifique p 0 δx 0 − Hδt 0 = 0. Como δt 0 = 0, isto traduz-se em que:p 0 δx 0 = 0, ∀δx 0 ∈ IR ⇒ p 0 = 2 · 0 − ẋ 0 = −a = 0e portanto o feixe <strong>de</strong> extremais ortogonais a Σ = {Φ(t, x) = t = 0} é a família a 1parâmetro x(t) = t 2 + x 0 . Da<strong>do</strong> um ponto qualquer P = (t, x) em IR 2 , com t ≠ 0, a únicaextremal que passa em P e é ortogonal a Σ é:x(τ) = τ 2 − t 2 + x,0 ≤ τ ≤ tque intersecta Σ no ponto P 0 = (0, x 0 = x − t 2 ). A distância geodésica S Σ , relativa a Σ,é dada por:S Σ (t, x) =∫ t0L(τ, x(τ), ẋ(τ)) dτ =∫ t02τ 2 dτ = 2 3 t3(não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> x!). As superfícies paralelas a Σ são as rectas verticais t ≡ constante.Note que, neste exemplo, o campo <strong>de</strong> momentos é sempre nulo: p(t, x) = 2tẋ(t) =2t − 2t ≡ 0.A equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi para uma função S = S(t, x), é:S t + H(t, x, S x ) = 0, isto é S t − 1 2 S2 x + 2tS x − 2t 2 = 0e é imediato que S Σ é solução. Aliás qualquer função <strong>do</strong> tipo S Σ + constante, é tambémsolução.♣.


1.10. O integral invariante <strong>de</strong> Hilbert 451.10 O integral invariante <strong>de</strong> HilbertConsi<strong>de</strong>remos mais uma vez uma solução S = S(t, x) da equação <strong>de</strong> Hamilton-JacobiS t + H (t, x, S x ) = 0, o feixe <strong>de</strong> extremais ortogonais a S ≡ 0, construí<strong>do</strong> na proposição1.5, e as funções <strong>de</strong> feixe correspon<strong>de</strong>ntes (<strong>de</strong>finidas num certo aberto U ⊆ IR n+1 quecontem {S = 0}). Em particular, o campo <strong>de</strong> momentos p = p(t, x), é da<strong>do</strong> por:p(t, x) = S x (t, x)Se P 0 = (t 0 , x 0 ) e P = (t, x) são <strong>do</strong>is pontos, em U, o integral:S(P ) − S(P 0 ) =∫ PP 0dSòbviamente que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva que une P 0 a P . Em particular, calculan<strong>do</strong>-oao longo <strong>de</strong> uma curva qualquer τ ↦→ (τ, φ(τ)), t 0 ≤ τ ≤ t, que une P 0 a P , obtemossucessivamente o seguinte:S(P ) − S(P 0 ) =====∫ PP∫0tt∫0t [t∫0t [t 0∫ PdSdS(τ, φ(τ)) dτdτS x (τ, φ(τ)) ˙φ(τ)]+ S τ (τ, φ(τ)) dτp(τ, φ(τ)) ˙φ(τ)]− H(τ, φ(τ), p(τ, φ(τ)))P 0pdx − Hdt (1.10.1)dτon<strong>de</strong> usamos o facto <strong>de</strong> S = S(t, x) ser solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, e a<strong>de</strong>finição p = S x . Obtemos, <strong>de</strong>sta forma, uma representação integral para a distânciageodésica entre os pontos P 0 = (t 0 , x 0 ) e P = (t, x). O integral (1.10.1) chama-se ointegral invariante <strong>de</strong> Hilbert.Recìprocamente, suponhamos que, num certo aberto U ⊆ IR n+1 , se <strong>de</strong>fine uma funçãovectorial p : U → IR n :p = p(t, x) (1.10.2)para a qual o integral (1.10.1) não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva x(τ) que une P 0 = (t 0 , x 0 ) a P = (t, x)em U. Então p = p(t, x) é o campo <strong>de</strong> momentos <strong>de</strong> um certo feixe <strong>de</strong> extremais em U.De facto, a invariância <strong>do</strong> integral <strong>de</strong> Hilbert permite <strong>de</strong>finir uma função S : U → IRatravés <strong>de</strong>:S(P ) = S(P 0 ) +∫ PP 0pdx − Hdt (1.10.3)


1.10. O integral invariante <strong>de</strong> Hilbert 46É um facto geral que, como este integral não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da curva que une P 0 a P , <strong>de</strong>vemoster dS = pdx − Hdt, isto é:S x = p, e S t = −H(t, x, p) (1.10.4)e portanto S é solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi. Pela proposição 1.5, qualquersolução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi é a distância geodésica <strong>de</strong> um certo feixe <strong>de</strong>extremais (soluções das equações canónicas), e p = S x .Resumin<strong>do</strong> toda a discusssão anterior, po<strong>de</strong>mos afirmar que a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, a construção <strong>de</strong> feixes extremais e da correspon<strong>de</strong>nte distância geodésica, e ainvariância <strong>do</strong> integral <strong>de</strong> Hilbert, são três aspectos equivalentes <strong>de</strong> uma mesma situação.♣Exemplo 1.16 ... Consi<strong>de</strong>remos <strong>de</strong> novo o funcional:I[y(·)] = 1 ∫(y ′2 − y 2 ) dx2estuda<strong>do</strong> no exemplo 1.10. Aí vimos que a equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange é y ′′ + y = 0, cujasolução geral é:y(x) = a cos x + b sin xConsi<strong>de</strong>remos o feixe <strong>de</strong> extremais ortogonais a Σ = {Φ(x, y) = x = 0} (o eixo <strong>do</strong>s y ′ s).A condição <strong>de</strong> ortogonalida<strong>de</strong> num ponto (0, y 0 ) ∈ Σ é que, para to<strong>do</strong> o vector tangente(δx 0 , δy 0 ) ∈ T (0,y0 )Σ, se verifique p 0 δy 0 − Hδx 0 = 0. Como δx 0 = 0, isto traduz-se em que:p 0 δy 0 = 0, ∀δy 0 ∈ IR ⇒ p 0 = L y ′(0, y(0), y ′ (0)) = y ′ (0) = b = 0e portanto o feixe <strong>de</strong> extremais ortogonais a Σ é a família a 1 parâmetro y(x) = a cos x.Da<strong>do</strong> um ponto qualquer P = (x, y) em U ⊂ IR 2 , com x ≠ 0, a única extremal que passaem P e é ortogonal a Σ é:y(τ) =y cos τ,cos x 0≤ τ ≤ xque intersecta Σ no ponto P 0 = (0, y 0 = y/ cos x). A distância geodésica S Σ , relativa a Σ,é dada por:S Σ (x, y) =∫ x0= − 1 2 cos 2 xL(τ, y(τ), y ′ (τ)) dτy 2∫ xocos 2τ dτ= − 1 2 y2 tg x (1.10.5)As linhas paralelas a Σ são as curvas y 2 tg x ≡ c (constante). O campo <strong>de</strong> momentos é:p(x, y) = L y ′(x, y(x), y ′ (x)) = y ′ (x) = −ytg x = S y (x, y)


1.11. Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hamilton 47e o Hamiltoniano é:H(x, y, p(x, y)) = 1 2 (p(x, y)2 + y 2 ) =Portanto S satisfaz a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:Por outro la<strong>do</strong>:e o integral invariante <strong>de</strong> Hilbert é:∫∫pdy − Hdx =S x + H(x, y, S y (x, y)) = 0dS = S y dy + S x dx = pdy − Hdx−ytg x dy −y22 cos 2 x = −S x(x, y)y22 cos 2 x dx<strong>de</strong> tal forma que a distância geodésica entre <strong>do</strong>is pontos P 0 = (x 0 , y 0 ), P 1 = (x 1 , y 1 ) ∈ U,com x 0 < x 1 , é dada por:S(P 1 ) − S(P 0 ) =∫ P1P 0−ytg x dy − y22 cos 2 x dxon<strong>de</strong> o integral é calcula<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong> uma qualquer curva que una P 0 a P 1 , em U.Note finalmente que o feixe <strong>de</strong> extremais y(x) = a cos x, é a solução geral da ODE <strong>de</strong>primeira or<strong>de</strong>m:y ′ = H p (x, y, p(x, y)) = p(x, y) = −ytg x♣.1.11 Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> HamiltonPara motivar o conceito <strong>de</strong> transformação canónica e respectivas funções gera<strong>do</strong>ras, vamos,nesta secção, <strong>de</strong>screver a abordagem <strong>de</strong> Hamilton, baseada em argumentos muito simples<strong>de</strong> óptica geométrica.Suponhamos então que temos um sistema óptico, on<strong>de</strong> se propagam os raios <strong>de</strong> luz.Estes partem <strong>de</strong> um plano P 0 (o plano objecto), atravessam o sistema óptico, e atingemum outro plano P 1 (o plano imagem). Supômos que esse sistema óptico admite um eixo aque, como é tradicional, chamamos o eixo <strong>do</strong>s t ′ s, e que os raios luminosos ρ se projectamdifeomòrficamente sobre esse eixo, <strong>de</strong> tal forma que po<strong>de</strong>m ser parametriza<strong>do</strong>s na format ↦→ ρ(t) = (t, x(t), y(t)) = (t, x(t)). Os planos objecto P 0 e imagem P 1 , correspon<strong>de</strong>ma t = t 0 e a t = t 1 , respectivamente. A<strong>do</strong>ptamos coor<strong>de</strong>nadas (x 0 , ẋ 0 ) = (x 0 , y 0 , ẋ 0 , ẏ 0 )para T P 0 e (x 1 , ẋ 1 ) = (x 1 , y 1 , ẋ 1 , ẏ 1 ) para T P 1 e ainda coor<strong>de</strong>nadas canónicas (x 0 , p 0 ) =(x 0 , y 0 , p 0 , q 0 ) para T ∗ P 0 e (x 1 , p 1 ) = (x 1 , y 1 , p 1 , q 1 ) para T ∗ P 1 .


1.11. Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hamilton 48Figure 1.10: .O nosso objectivo é mostrar que, após aplicar transformações <strong>de</strong> Legendre, os raiosluminosos <strong>de</strong>finem uma transformação F t0 ,t 1: T ∗ P 0 → T ∗ P 1 , que é canónica, isto é,preserva as estruturas simplécticas (figura 1.10).Qualquer raio ρ, da<strong>do</strong> por t ↦→ ρ(t) = (t, x(t)), t ∈ [t 0 , t 1 ], tem um comprimentoóptico da<strong>do</strong> por:on<strong>de</strong>:V[ρ] ==∫ t1t 0L(t, x, ẋ) dt (1.11.1)L(t, x, ẋ) = n(t, x) √ 1 + ẋ 2Façamos uma transformação <strong>de</strong> Legendre:p = Lẋ =n ẋ √1 + ẋ2(1.11.2)Portanto:H = pẋ − L =−n √1 + ẋ2 = −√ n 2 − p 2 (1.11.3)on<strong>de</strong> p = (p, q) e p 2 = p · p = p 2 + q 2 . Note que, com x = (x, y):cos a =cos b =cos c =ẋ√1 + ẋ2 + ẏ 2ẏ√1 + ẋ2 + ẏ 21√1 + ẋ2 + ẏ 2 (1.11.4)são os cossenos directores <strong>do</strong> raio <strong>de</strong> luz, relativamente aos eixos x, y e t. A:p = n cos aq = n cos b (1.11.5)chamamos por isso os cossenos directores ópticos <strong>do</strong> raio. Note que o Hamiltonianoé H = −n cos c. Po<strong>de</strong>mos ainda exprimir o comprimento óptico V[ρ] em termos <strong>de</strong> x(t)


1.11. Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hamilton 49e p(t). De facto, usan<strong>do</strong> as fórmulas anteriores, po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>duzir que:V[ρ] ==∫ t1[p(t)ẋ(t) − H(t, x(t), p(t)] dtt∫ 0pdx − H (1.11.6)ρO raio inci<strong>de</strong>nte é completamente <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pelo seu ponto x 0 = (x 0 , y 0 ) <strong>de</strong> intersecçãocom o plano objecto P 0 , e pelos seus cossenos directores ópticos p 0 = (n 0 cos a 0 , n 0 cos b 0 ).A intersecção x 1 = (x 1 , y 1 ), <strong>do</strong> raio refracta<strong>do</strong> com o plano imagem P 1 , e os respectivoscossenos directores ópticos p 1 , são funções <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s iniciais em P 0 :x 1 = x(t 0 , t 1 ; x 0 , p 0 )e são estas funções que <strong>de</strong>finem a transformação canónica:p 1 = p(t 0 , t 1 ; x 0 , p 0 ) (1.11.7)F = F t0 ,t 1: T ∗ P 0 → T ∗ P 1 (1.11.8)Mantemos a <strong>de</strong>pendência explícita <strong>de</strong> t 0 e t 1 , isto é, <strong>do</strong>s planos objecto e imagem, poisessa <strong>de</strong>pendência é importante no projecto <strong>de</strong> sistemas ópticos.A imagem óptica <strong>do</strong> plano objecto P 0 = {t = t 0 } no plano imagem P 1 = {t = t 1 }diz-se perfeita se a primeira equação em (1.11.7) se reduz a:x 1 = cx 0 (1.11.9)on<strong>de</strong> c é uma constante igual para to<strong>do</strong>s os pontos x 0 ∈ P 0 e todas as direcções p 0 . O problemaprincipal da concepção <strong>de</strong> instrumentos ópticos é o <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar uma distribuição<strong>do</strong>s meios ópticos n = n(x, y, t) tais que (1.11.9) seja verificada. Os <strong>de</strong>svios:∆x 1 = x 1 − cx 0 (1.11.10)dizem-se as aberrações <strong>do</strong> sistema óptico (para um tratamento <strong>de</strong>talha<strong>do</strong> <strong>de</strong>ste assuntover [11]).O resulta<strong>do</strong> principal da abordagem <strong>de</strong> Hamilton ao problema anterior, é que é possívelreduzir o problema <strong>de</strong> calcular as (quatro) funções (1.11.7), que <strong>de</strong>finem a transformaçãocanónica (1.11.8), ao problema <strong>de</strong> calcular apenas uma! função. Esta função dir-se-á porisso a função gera<strong>do</strong>ra da transformação canónica F = F t0 ,t 1: T ∗ P 0 → T ∗ P 1 . Asfunções (1.11.7) são então calculadas a partir <strong>de</strong>sta função gera<strong>do</strong>ra, usan<strong>do</strong> apenas asoperações <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivação e eliminação! Vejamos como.Em primeiro lugar, as funções (1.11.7) são calculadas directamente a partir das equaçõescanónicas. Mais <strong>de</strong>talhadamente - suponhamos que:x(t) = x(t 0 , t; x 0 , p 0 )p(t) = p(t 0 , t; x 0 , p 0 ) (1.11.11)


1.11. Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hamilton 50é a solução das equações canónicas:que, para t = t 0 , tem os valores iniciais x 0 , p 0 , isto é:{ ẋ = Hpṗ = −H x(1.11.12)x 0 = x(t 0 ) = x(t 0 , t 0 ; x 0 , p 0 )p 0 = p(t 0 ) = p(t 0 , t 0 ; x 0 , p 0 ) (1.11.13)No plano imagem P 1 as funções (1.11.11) tomam os valores:x 1 = x(t 1 ) = x(t 0 , t 1 ; x 0 , p 0 ) (1.11.14)p 1 = p(t 1 ) = p(t 0 , t 1 ; x 0 , p 0 ) (1.11.15)que são os valores que <strong>de</strong>finem as funções (1.11.7) e, portanto, a transformação canónica(1.11.8).Suponhamos agora que o Jacobiano ∂(x 1)∂(p 0, da aplicação (1.11.14), é não nulo:)∂(x 1 )∂(p 0 ) = ∂(x 1, y 1 )∂(p 0 , q 0 ) ≠ 0 (1.11.16)Neste caso, po<strong>de</strong>mos calcular (localmente) p 0 , a partir das equações (1.11.14), comofunção <strong>de</strong> (t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ). Substituin<strong>do</strong> então a função p 0 , assim obtida, em (1.11.11),obtemos 4 funções x, p das variáveis (t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ) e ainda t, que notamos por:x = x(t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ; t)p = p(t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ; t) (1.11.17)que representam o raio <strong>de</strong> luz ρ(P 0 , P 1 ) que passa nos pontos P 0 = (t 0 , x 0 ) ∈ P 0 e P 1 =(t 1 , x 1 ) ∈ P 1 . Introduzamos agora estas funções no integral (1.11.6), para o comprimentoóptico, para obter uma função V = V(t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ):∫V(t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ) = pdx − H (1.11.18)ρ(P 0 ,P 1 )que dá a distância óptica entre os pontos P 0 e P 1 .A esta função dá-se o nome <strong>de</strong> iconal ou <strong>de</strong> função característica pontual <strong>de</strong>Hamilton. Trata-se exactamente da função distância geodésica, que foi tratada numasecção anterior, e que aí foi notada por S. Como vimos nessa secção, a diferencial dV édada por:dV = p 1 dx 1 − p 0 dx 0 − H 1 dt 1 + H 0 dt 0 (1.11.19)on<strong>de</strong> os coeficientes p 0 , p 1 são as funções <strong>de</strong> (t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ), obtidas fazen<strong>do</strong>, respectivamente,t = t 0 e t = t 1 , em (1.11.17), e:H 0 = H(t 0 , x 0 , p 0 )H 1 = H(t 1 , x 1 , p 1 ) (1.11.20)


1.11. Transformações canónicas. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Hamilton 51Sen<strong>do</strong> assim, <strong>de</strong>duzimos <strong>de</strong> (1.11.19) as seguintes fórmulas fundamentais:p 0 = −V x0 , p 1 = V x1 , H 0 = V t0 , H 1 = −V t1 (1.11.21)As duas primeiras equações são equivalentes às equações (1.11.14) e (1.11.15), e <strong>de</strong>monstramo facto menciona<strong>do</strong> no início <strong>de</strong>sta secção <strong>de</strong> que as funções (1.11.14) e (1.11.15)(que <strong>de</strong>finem a transformação canónica F ), po<strong>de</strong>m ser calculadas a partir <strong>de</strong> uma única- a função gera<strong>do</strong>ra V(t 0 , t 1 ; x 0 , x 1 ) - por <strong>de</strong>rivação e eliminação. Quanto às duas últimasequações, elas representam duas PDE’s obtidas introduzin<strong>do</strong> as <strong>de</strong>rivadas parciais <strong>de</strong> V,dadas por (1.11.21), em H 0 e H 1 . Obtemos então duas equações <strong>de</strong> tipo Hamilton-Jacobi:Interpretações das fórmulas (1.11.21):V t0 − H (t 0 , x 0 ; −V x0 ) = 0V t1 + H (t 1 , x 1 ; V x1 ) = 01. Vamos fixar o valor <strong>de</strong> t 0 e a<strong>do</strong>ptar as notações mais usuais:Definamos ainda:a = x 0 , b = p 0 , t = t 1 , x = x 1 , p = p 1S(t, x, a) = V(t 0 , t 1 = t; x 0 = a, x 1 = x) (1.11.22)Então S é uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:S t + H(t, x, S x ) = 0que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> n parâmetros a = (a 1 , . . . , a n ).(1.11.21) têm agora a forma:As duas primeiras equações emb = −S a (t, x, a)p = S x (t, x, a)De acor<strong>do</strong> com a interpretação óptica, acima discutida, estas fórmulas <strong>de</strong>finem, paracada t fixo, uma transformação canónica (a, b) ✲ (x, p), gerada pela iconal S, eque é obtida usan<strong>do</strong> a primeira equação em (1.11.23), para exprimir x como função<strong>de</strong> a e b:b = −S a (x, a) ✲ x = x(a, b)e <strong>de</strong>pois substituin<strong>do</strong> este valor <strong>de</strong> x na segunda equação em (1.11.23), para obterp como função <strong>de</strong> a e b:(omitimos a <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> t 0 e t).p = p(a, b) = S x (x, a)| x=x(a,b)


1.12. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton.Teorema <strong>de</strong> Jacobi 522. Vamos agora dar uma segunda interpretação das fórmulas (1.11.23). Desta vezfixamos o plano objecto P 0 , mas variamos o plano imagem P(t). Como vimos,as fórmulas (1.11.23) estabelecem uma correspondência entre os elementos ópticos(t 0 , a, b) <strong>do</strong> plano objecto e os elementos ópticos (t, x, p) <strong>do</strong> plano imagem P(t).Fixan<strong>do</strong> a e b, e varian<strong>do</strong> t, obtemos um raio:()ρ(t) = t, x(t, a, b), p(t, a, b)que satisfaz as equações canónicas:ẋ = H p (t, x, p), ṗ = −H x (t, x, p)e que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s 2n parâmetros a, b. Analìticamente, esta solução das equaçõescanónicas obtem-se <strong>do</strong> seguinte mo<strong>do</strong> - primeiro usamos a equação:S a (t, x, a) = −bpara exprimir x como uma função x(t, a, b), <strong>de</strong> t e <strong>do</strong>s 2n parâmetros a, b. Emseguida inserimos esta função em:p = S x (t, x, a)| x=x(t,a,b)para obter p como uma função p(t, a, b), <strong>de</strong> t e ainda <strong>do</strong>s 2n parâmetros a, b.Esta é, essencialmente, a i<strong>de</strong>ia base <strong>do</strong> méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equaçõescanónicas, que vamos discutir na próxima secção.1.12 Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas<strong>de</strong> Hamilton. Teorema <strong>de</strong> JacobiComo vimos na prova da proposição 1.5, uma solução S(t, x) da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi <strong>de</strong>termina uma família a n parâmetros <strong>de</strong> soluções das equações canónicas <strong>de</strong>Hamilton, obtida resolven<strong>do</strong> o sistema (não autónomo) <strong>de</strong> n ODE’s <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m(1.9.25):ẋ = H p (t, x, p(t, x)) (1.12.1)(uma solução para cada “parâmetro” x ∈ IR n , como condição inicial para esse sistema <strong>de</strong>ODE’s). Se t ↦→ (t, x(t)) é uma solução <strong>do</strong> sistema (1.12.1), então a curva:()t ↦→ x(t), p(t) = S x (t, x(t))é solução das equações canónicas, como se viu antes.Portanto uma família a n parâmetros S(t, x; a) <strong>de</strong> soluções da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, que <strong>de</strong>penda “essencialmente” <strong>do</strong>s n parâmetros a = (a 1 , · · · , a n ) ∈ IR n , no senti<strong>do</strong>em que:<strong>de</strong>t [S xa ] = <strong>de</strong>t [S x i αk] ≠ 0 (1.12.2)


1.12. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton.Teorema <strong>de</strong> Jacobi 53<strong>de</strong>ve, em princípio, <strong>de</strong>terminar toda a família a 2n parâmetros <strong>de</strong> soluções das equações<strong>de</strong> Hamilton.Uma família a n parâmetros S(t, x; a) <strong>de</strong> soluções da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi,que satisfaça a condição (1.12.2), diz-se um integral completo da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi. O méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para obter a solução geral x(t, a, b), p(t, a, b) das equaçõescanónicas: { ẋ = Hp (t, x, p)(1.12.3)ṗ = −H x (t, x, p)que <strong>de</strong>penda <strong>do</strong>s 2n parâmetros a = (a 1 , . . . , a n ), b = (b 1 , . . . , b n ), a partir <strong>de</strong> uma soluçãocompleta S(t, x, a) da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, consiste nos passos seguintes:1. Primeiro resolvem-se as n equações implícitas seguintes:S a i(t, x; a) = −b i , i = 1, · · · , n (1.12.4)em or<strong>de</strong>m a x, para obter uma solução <strong>do</strong> tipo:x = x(t, a, b) (1.12.5)2. Em seguida complementamos esta função x = x(t, a, b), por uma outra funçãop = p(t, a, b), <strong>de</strong>finida como habitualmente por:p = p(t, a, b) = S x (t, x(t, a, b), a) (1.12.6)Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar porque é que este méto<strong>do</strong> funciona, vejamos um exemplo concreto:♣ Exemplo 1.17 (Oscila<strong>do</strong>r harmónico) ... Como já vimos, o oscila<strong>do</strong>r harmónicoé <strong>de</strong>scrito pelo seguinte Hamiltoniano:As equações canónicas são:H(x, p) = ω 2 (x2 + p 2 ) (1.12.7){ ẋ = Hp = ωpṗ = −H x = −ωx(1.12.8)cuja solução geral é:{ x(t) = A cos(ωt + b)p(t) = −A sin(ωt + b), A e b constantes (1.12.9)A equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi para uma função S(t, x), correspon<strong>de</strong>nte ao HamiltonianoH = ω 2 (x2 + p 2 ) é:S t + ω ( )x 2 + Sx2 = 0 (1.12.10)2


1.12. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton.Teorema <strong>de</strong> Jacobi 54Vamos tentar encontrar um integral completo S(t, x, a), pelo méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> separação <strong>de</strong>variáveis, com o ansätz da forma:Com este S, (1.12.10) escreve-se na forma:o que implica que:e portanto:Concluímos portanto que:S(t, x) = f(t) + ψ(x)f(t) ˙ + ω (x 2 + ψ ′ (x) 2) = 02f(t) ˙ = − ω (x 2 + ψ ′ (x) 2) = constante = −a2√f(t) ˙2a= −a, ψ ′ (x) = ±ω − x2S(t, x, a) = −at +∫ x0√2aω − τ 2 dτ (1.12.11)é uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi (1.6.23), que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> um parâmetro a.Não é necessário calcular este integral, já que o nosso objectivo é calcular:o que é equivalente a:−t + 1 ωS a (t, x, a) = −b∫ x√Pon<strong>do</strong> β = −ωb − arc cos A, com A =<strong>do</strong>n<strong>de</strong> se <strong>de</strong>duz a solução usual:De:<strong>de</strong>duzimos ainda que:0dτ√ = −b2a− τ ω 22a, vem que:ω−arc cos(x/A) = ωt + βx(t) = A cos(ωt + β)p = S x (t, x, a) = √ A 2 − x 2p(t) = ±A sin(ωt + β)e como x(t), p(t) satisfazem as equações canónicas:ẋ = H p = ωp,ṗ = −H x = −ωx


1.12. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton.Teorema <strong>de</strong> Jacobi 55obtemos:Além disso:e, para x = x(t), vem que:p(t) = −A sin(ωt + β)a = −S t = H(x, S x )a = H(x(t), p(t))isto é, a é o nível <strong>de</strong> energia da trajectória:x(t) = A cos(ωt + β), p(t) = −A sin(ωt + β)Finalmente, (1.12.11) dá que:S(t, x, a) = A22 arc sin x A + 1 √2a2 x√ A 2 − x 2 − at, A =ω♣.Antes <strong>de</strong> enunciar e <strong>de</strong>monstrar o Teorema <strong>de</strong> Jacobi, vejamos uma proposição prévia:• ♣ Proposição 1.6 ... Seja S = S(t, x, a) uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s parâmetros a = (a i ) ∈ IR m . Então cada <strong>de</strong>rivada S a i, i =1, . . . , m, é um integral primeiro das equações canónicas, isto é, S a i ≡ constante, aolongo <strong>de</strong> cada extremal.Dem.: Temos que mostrar que d S dt ai = 0, ao longo <strong>de</strong> cada extremal. Em primeirolugar, temos que:S t (t, x, a) + H(t, x, S x (t, x, a)) = 0já que, por hipótese, S = S(t, x, a) é uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi.Derivan<strong>do</strong> esta relação em or<strong>de</strong>m a a i , vem que:Vem então que:S a i t + H p S a i x = 0 (1.12.12)ddt S a i(t, x(t), a) = S ta i + S xa iẋ= −H p S a i x + S xa iẋ, por (1.12.12)= (ẋ − H p )S a i x= 0porque, ẋ = H p , ao longo <strong>de</strong> cada extremal.♣.


1.12. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton.Teorema <strong>de</strong> Jacobi 56• ♣ Teorema 1.3 (Teorema <strong>de</strong> Jacobi) ... Seja S(t, x; a) uma solução completada equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi S t + H(t, x, S x ) = 0, e suponhamos que x =x(t, a, b) e p = p(t, a, b) são funções que satisfazem as equações seguintes:S a (t, x(t, a, b), a) = −bp(t, a, b) = S x (t, x(t, a, b), a) (1.12.13)Então t ↦→ (x(t, a, b), p(t, a, b)) é uma solução das equações canónicas (1.12.3), que<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>s 2n parâmetros a e b.Dem.: Derivan<strong>do</strong> a primeira equação em (1.12.13), em or<strong>de</strong>m a t, obtemos:0 = S ta + S xa ẋ= S xa (ẋ − H p ) (1.12.14)on<strong>de</strong> na última igualda<strong>de</strong> usamos (1.12.14). Como estamos a supôr que <strong>de</strong>t S xa ≠ 0,a igualda<strong>de</strong> (1.12.14) permite <strong>de</strong>duzir que:ẋ = H pque é a primeira equação canónica. Para obter a segunda, <strong>de</strong>rivamos a segundaequação em (1.12.13), em or<strong>de</strong>m a t:ṗ = S tx + S xx ẋ= S tx + S xx H p= −H x (1.12.15)on<strong>de</strong> na última igualda<strong>de</strong> usamos S xt + H x + H p S xx = 0, que se obtem, <strong>de</strong>rivan<strong>do</strong>em or<strong>de</strong>m a x, a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi.♣.♣Exemplo 1.18 ... Consi<strong>de</strong>remos o funcional:∫J[y(·)] = xy √ y ′ dxComo L(x, y, y ′ ) = xy √ y ′ , vem que p = L y ′ = xy2 √ ⇒ y ′ = x2 y 2, e o Hamiltoniano éy ′ 4p 2da<strong>do</strong> por:H(x, y, p) = py ′ − L = − x2 y 24pA equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, para uma função S = S(x, y), é:S x − x2 y 24S y= 0Separan<strong>do</strong> variáveis:S(x, y) = f(x) + g(y)


1.12. Méto<strong>do</strong> <strong>de</strong> Jacobi para integrar as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton.Teorema <strong>de</strong> Jacobi 57vem que:e portanto:f(x) = ax33O integral completo é pois:Agora pômos:f ′ (x) − x2 y 24g ′ (y) = 0 ⇒ f ′ (x)x 2 = y24g ′ (y) ≡ aeS(x, y, a) = ax33 + y312ag(y) = y312aS a = x33 − y312a = −b 2e resolvemos isto em or<strong>de</strong>m a y = y(x, a, b), para obter uma solução geral, em formaimplícita, <strong>do</strong> tipo:y 3 = cx 3 + d♣.♣Exemplo 1.19 ... Consi<strong>de</strong>remos o funcional:J[x(·)] =∫ √t2+ x 2√ 1 + ẋ 2 dtEste funcional é <strong>de</strong> tipo óptico, com índice <strong>de</strong> refracção n(t, x) = √ t 2 + x 2 . O Hamiltonianoé da<strong>do</strong> por (2.2.32), isto é:H(t, x, p) = − √ t 2 + x 2 − p 2A equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi, para uma função S = S(t, x), é:que é <strong>do</strong> tipo ‖∇S‖ 2 = n 2 , isto é:Separan<strong>do</strong> variáveis, vem que:S t − √ t 2 + x 2 − S 2 x = 0S 2 t + S 2 x = t 2 + x 2S 2 t − t 2 ≡ −a e S 2 x − x 2 ≡ ae portanto:S t = √ t 2 − a e S x = √ x 2 + aO integral completo é pois:S(t, x, a) =∫ √t2− a dt +∫ √x2+ a dx♣.


1.13 Invariantes integrais1.13.1 Preliminares <strong>de</strong> álgebra linear1.13. Invariantes integrais 58Seja ω : V × V → IR uma 2-forma exterior (i.e., uma forma bilinear alternada) num espaçovectorial real <strong>de</strong> dimensão finita. O núcleo ker ω é constituí<strong>do</strong> por to<strong>do</strong>s os vectoresu ∈ V que são ω-ortogonais a to<strong>do</strong>s os vectores <strong>de</strong> V:ker ω = {u ∈ V : ω(u, v) = 0, ∀v ∈ V}É claro que ker ω coinci<strong>de</strong> com o núcleo da aplicação linear:Φ ω : V ✲ V ∗u ↦−→ i u ω(1.13.1)on<strong>de</strong> i u ω é a forma linear <strong>de</strong>finida por (i u ω)(v) = ω(u, v). Portanto ker ω é um subespaço<strong>de</strong> V. Quan<strong>do</strong> ker ω = {0}, a aplicação Φ ω é um isomorfismo e a forma ω diz-se não<strong>de</strong>generada ou uma forma simpléctica em V. Um espaço vectorial simpléctico éum par (V, ω), on<strong>de</strong> V é um espaço vectorial 4 e ω uma 2-forma exterior não <strong>de</strong>generada.Em breve veremos que a dimensão <strong>de</strong> V tem que ser par.Seja {e i } uma base para V e {e i } a correspon<strong>de</strong>nte base dual para V ∗ , <strong>de</strong> tal formaque e i (e j ) = δ i j. Então a matriz <strong>de</strong> Φ ω relativamente a essas bases é a matriz <strong>de</strong> Gram[ω ij ], on<strong>de</strong> ω ij = ω(e i , e j ). De facto Φ ω (e i ) = ω ij e j . O rank da forma ω, rank ω, é, por<strong>de</strong>finição, o rank da matriz [ω ij ], isto é, a dimensão <strong>de</strong> im Φ ω = Φ ω (V):rank ω = dim Φ ω (V) (1.13.2)Portanto ω é não <strong>de</strong>generada sse rank ω é máximo, isto é, igual à dim V ∗ = dim V.♣ Proposição 1.7 ... Seja V um espaço vectorial real <strong>de</strong> dimensão N, e ω uma 2-forma exterior em V. Então rank r = 2n para algum inteiro n e existe uma base or<strong>de</strong>nada{e i } i=1,...,N para V, com base dual {e i } i=1,...,N para V ∗ , tal que:ω =n∑e i ∧ e n+i (1.13.3)i=1ou, <strong>de</strong> forma equivalente, relativamente à qual a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> ω é:⎡0 I n⎤0⎣ −I n 0 0 ⎦ (1.13.4)0 0 0Dem.: Escolhamos vectores não nulos e 1 , e n+1 ∈ V, tais que ω(e 1 , e n+1 ) ≠ 0, o que épossível se ω ≠ 0. Multiplican<strong>do</strong> e 1 por um escalar po<strong>de</strong>mos supôr que ω(e 1 , e n+1 ) = 1.4 Neste curso, apenas consi<strong>de</strong>ramos espaços vectoriais reais <strong>de</strong> dimensão finita.


1.13. Invariantes integrais 59Como ω(e 1 , e 1 ) = 0 = ω(e n+1 , e n+1 ), a matriz <strong>de</strong> ω, restrita ao plano S = span{e 1 , e n+1 }é: [ 0] 1−1 0Consi<strong>de</strong>remos agora o ω-ortogonal S ⊥ , <strong>de</strong> S:S ⊥ = {v ∈ V : ω(v, s) = 0, ∀s ∈ S}É claro que S ⊥ ∩ S = {0}. Por outro la<strong>do</strong>, S ⊥ + S = V. De facto, se v ∈ V, então:v − ω(v, e n+1 ) e 1 + ω(v, e 1 ) e n+1 ∈ S ⊥Portanto S ⊥ ⊕ S = V. Po<strong>de</strong>mos então repetir o processo para S ⊥ , escolhen<strong>do</strong> e 2 e e n+2tais que ω(e 2 , e n+2 ) = 1, e continuar assim indutivamente.Se v ∈ V se escreve como combinação linear na base {e i }, referida no teorema:v = x 1 e 1 + · · · + x n e n + y 1 e n+1 + · · · + y n e 2n + z 2n+1 e 2n+1 + · · · + z N e Ne anàlogamente para v ′ ∈ V, então:ω(v, v ′ ) =♣.n∑(x i y ′i − y i x ′i ) (1.13.5)i=1Quan<strong>do</strong> ω é não <strong>de</strong>generada, rank ω é máximo e igual à dimensão <strong>de</strong> V, e portantoneste caso dim V tem que ser par. Em particular, a dimensão <strong>de</strong> um espaço vectorialsimpléctico é par.Quan<strong>do</strong> dim V é ímpar então ker ω ≠ {0}. Um vector não nulo u ∈ ker ω diz-se umvector característico da forma ω. Neste caso ω diz-se não singular, se dim ker ω é amenor possível, isto é, igual a 1. Portanto, se ω é uma 2-forma exterior não singular numespaço vectorial <strong>de</strong> dimensão ímpar, to<strong>do</strong>s os seus vectores característicos pertencem auma recta, unìvocamente <strong>de</strong>terminada pela forma ω, a que chamamos a recta característica<strong>de</strong> ω.1.13.2 Subvarieda<strong>de</strong>s integrais. Teorema <strong>de</strong> Darboux♣ Definição 1.1 ... Seja M uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão m e ω ∈ Ω 2 (M) uma 2-forma fechada. Uma subvarieda<strong>de</strong> ϕ : N → M diz-se uma subvarieda<strong>de</strong> integral <strong>de</strong> ωse ϕ ∗ ω = 0.♣ Teorema 1.4 ... Seja M uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão m, ω ∈ Ω 2 (M) uma 2-formafechada e ϕ : N → M uma subvarieda<strong>de</strong> integral <strong>de</strong> ω.Seja X ∈ X(M) uma campo <strong>de</strong> vectores característicos, i.e., X p ∈ ker ω p , ∀p ∈ M,transversal a ϕ(N) ⊂ M, isto é, X p ∉ T p ϕ(N), ∀p. Defina-se, para t suficientementepequeno, t ∈ I, uma aplicação:Φ(t, n)<strong>de</strong>f= F l X t (ϕ(n)), (t, n) ∈ I × NEntâo Φ : I × N → M é ainda uma subvarieda<strong>de</strong> integral <strong>de</strong> ω.


1.13. Invariantes integrais 60Dem.: Notemos em primeiro lugar que a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> Lie L X ω = 0. De facto:L X ω = X dω + d(X ω) = 0 (1.13.6)uma vez que X é característico (X ω = 0) e ω é fechada (dω = 0).Como o teorema é local, vamos supôr que escolhemos coor<strong>de</strong>nadas locais (x i ) para Mtais que X = e ω = ω ij dx i ∧ dx j . Por (1.13.6) vem então que:∂∂x 10 = L X ω = (Xω ij )dx i ∧ dx j = ∂ω ij∂x 1 dxi ∧ dx j ⇒ ∂ω ij∂x 1 = 0e os ω ij não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> x 1 . Por outro la<strong>do</strong>:0 = X ω = ω 1j dx j ⇒ ω 1j = 0Portanto:ω = ∑ i,j≥2ω ij (x 2 , . . . , x m )dx i ∧ dx jMas, por construção, e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que X =longo das curvas integrais <strong>de</strong> X, isto é:x i ◦ Φ = x i ◦ ϕ, i ≥ 2∂ , os x i , para i ≥ 2 são constantes ao∂x 1Portanto:Φ ∗ ω = ϕ ∗ ω = 0♣.♣ Definição 1.2 ... Seja M uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão m e ω ∈ Ω 2 (M) uma 2-forma fechada <strong>de</strong> rank constante. Define-se o fibra<strong>do</strong> Êcaracterístico Cω <strong>de</strong> ω através<strong>de</strong>:Cω<strong>de</strong>f = { X ∈ X(M) : X ω = 0 } (1.13.7)O fibra<strong>do</strong>Ê característico C ω, é portanto igual ao ker ω p , em cada ponto p ∈ M. Umcampo <strong>de</strong> vectores característico é um campo X ∈ X(M) tal que X ω = 0, isto é,tal que X(p) ∈ Cω(p) = ker ω p , ∀p.Se o rank <strong>de</strong> ω é constante, então Cω é um subfibra<strong>do</strong> <strong>de</strong> T M, ou, por outras palavras,é uma distribuição em M, chamada a distribuição Êcaracterística <strong>de</strong> ω.♣ Proposição 1.8 ... A distribuição Êcaracterística C ω <strong>de</strong> uma 2-forma fechadaω ∈ Ω 2 (M) <strong>de</strong> rank constante, é involutiva:[Cω, Cω] ⊂ Cω


1.13. Invariantes integrais 61Dem.: Como ω tem rank constante, a dimensão <strong>de</strong> Cω(p) é também constante, ∀p ∈M, e portanto Cω é uma distribuição. Sejam X, Y campos <strong>de</strong> vectores característicos.Então:[X, Y ] ω = L X (Y ω) − Y (L X ω)= Y (L X ω)= Y (X dω + d(X ω)) = 0 (1.13.8)e portanto [X, Y ] é também um campo <strong>de</strong> vectores característico.♣.♣ Teorema 1.5 (Darboux) ... Seja M uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão 2n + k e ω ∈Ω 2 (M) uma 2-forma fechada <strong>de</strong> rank constante igual a 2n. Então, em torno <strong>de</strong> cada pontop ∈ M, po<strong>de</strong>mos escolher coor<strong>de</strong>nadas locais:(x i , y i , z l ) = (x 1 , . . . , x n , y 1 , . . . , y n , z 1 , . . . , z k )tais que:ω =n∑dx i ∧ dy i (1.13.9)i=1Dem.: Como o teorema é puramente local, po<strong>de</strong>mos supôr que M = IR 2n+k , e quep = 0 é a origem. A distribuição Êcaracterística C ω sen<strong>do</strong> integrável, pelo teorema <strong>de</strong>Frobenius, po<strong>de</strong>mos escolher coor<strong>de</strong>nadas (x i , y i , z l ), em torno <strong>de</strong> 0, tais que as folhas <strong>de</strong>Cω, que têm dimensão k, sejam dadas por x i ≡ c i , y i ≡ d i , on<strong>de</strong> c i , d i são constantes. Emparticular a folha que passa em 0 é o subespaço 0 2n × IR k ⊂ IR 2n+k . Como ω(0) tem rank2n, po<strong>de</strong>mos supôr que ω| IR 2n ×0 ktem rank constante e igual a 2n, isto é, essa restrição énão <strong>de</strong>generada em IR 2n × 0 k∼ = IR 2n e portanto aí <strong>de</strong>fine uma forma simpléctica.Resta então mostrar o teorema quan<strong>do</strong> k = 0, isto é, quan<strong>do</strong> ω é uma forma simplécticaem M, cuja dimensão é 2n.♣.♣ Proposição 1.9 ... Seja M uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensâo 2n+k e ω ∈ Ω 2 (M) uma2-forma fechada <strong>de</strong> rank 2n. Então a dimensão máxima <strong>de</strong> uma subvarieda<strong>de</strong> integral <strong>de</strong>ω, é igual a n + k.Dem.: A distribuição Êcaracterística C ω sen<strong>do</strong> integrável, pelo teorema <strong>de</strong> Frobenius,po<strong>de</strong>mos escolher coor<strong>de</strong>nadas locais (x i ) i=1,...,2n,2n+1,...,2n+k , tais que os campos∂/∂x l , l = 2n + 1, . . . , 2n + k formam uma base para Cω.XSe X é um campo característico então X ω = 0 e também L X ω = d(X ω) +dω = 0. Portanto, se localmente:ω = ω ij dx i ∧ dx j


1.13. Invariantes integrais 62então:ω lm = 0 l, m = 2n + 1, . . . , 2n + k∂ω ij∂x l = 0 l = 2n + 1, . . . , 2n + k ∀i, j (1.13.10)o que significa que ω é uma 2-forma apenas nas variáveis (x i ) i=1,...,2n :ω =∑ω ij (x 1 , · · · , x 2n ) dx i ∧ dx j (1.13.11)1≤i n + 1.Então, como dim (S + J(S)) = dim S + dim J(S) − dim (S ∩ J(S)), viria que dim (S ∩J(S)) ≥ 2 e portanto S ∩ J(S) ≠ {0}. Suponhamos então que v ∈ S ∩ J(S), com v ≠ 0.Então v = J(u), para algum u ∈ S e:0 ≠ 〈v|v〉 = 〈v|J(u)〉 = ω(v, u) = 0o que é absur<strong>do</strong>.♣.Em particular:• numa varieda<strong>de</strong> simpléctica (M, ω) <strong>de</strong> dimensão m = 2n, a dimensão máxima <strong>de</strong>uma subvarieda<strong>de</strong> integral <strong>de</strong> ω, é igual a 2n − n = n. Uma tal subvarieda<strong>de</strong> diz-seuma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lagrange <strong>de</strong> M.• numa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> contacto (M, ω) <strong>de</strong> dimensão m = 2n+1, a dimensão máxima <strong>de</strong>uma subvarieda<strong>de</strong> integral <strong>de</strong> ω, é igual a 2n + 1 − n = n + 1. Uma tal subvarieda<strong>de</strong>diz-se uma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Legendre <strong>de</strong> M.


1.13. Invariantes integrais 631.13.3 Invariantes integraisSuponhamos agora que M é uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão ímpar e que θ ∈ Ω 1 M é uma1-forma diferencial tal que dθ é não singular em cada ponto <strong>de</strong> M. Então, em cada pontop ∈ M, existe uma recta l p , em T p M, unìvocamente <strong>de</strong>terminada pela forma θ, a quechamamos a recta característica da forma θ. Portanto, se u p ∈ l p é um vector nãonulo em T p M, que gera l p , tem-se que :dθ(u p , v p ) = 0, ∀v p ∈ T p M (1.13.12)Fica então <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> um campo <strong>de</strong> rectas em M, p ↦→ l p , cujas curvas integrais sechamam as linhas ou curvas características da forma θ.Consi<strong>de</strong>remos uma curva fechada γ 1 em M, transversal ao campo l <strong>de</strong> rectas característicasda forma θ. As linhas características <strong>de</strong> θ, que partem <strong>do</strong>s pontos <strong>de</strong> γ 1 , formamum tubo <strong>de</strong> características.Figure 1.11: .Temos então o seguinte:♣ Lema 1.3 (Lema <strong>de</strong> Stokes) ... Suponhamos que σ é um tubo <strong>de</strong> características<strong>de</strong> θ, limita<strong>do</strong> por duas curvas fechadas γ 1 e γ 2 , isto é:∂σ = γ 1 − γ 2Então:∫ ∫θ =γ 1γ 2θDem.: Pelo teorema <strong>de</strong> Stokes:∫ ∫ ∫θ − θ =γ 2γ 1∫θ =∂σ σdθ = 0a última igualda<strong>de</strong> resulta <strong>de</strong> (1.13.12), uma vez que σ é um tubo <strong>de</strong> características.♣.


1.13. Invariantes integrais 64Vamos aplicar o lema <strong>de</strong> Stokes à situação em que:M = IR × T ∗ IR n ∼ = IR2n+1(1.13.13)é o chama<strong>do</strong> espaço <strong>de</strong> fases estendi<strong>do</strong>, muni<strong>do</strong> <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas (t, x, p) = (t, x i , p i ),e a 1-forma θ é a forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan, dada por:θ = p dx − Hdt = ∑ ip i dx i − H(t, x, p) dt (1.13.14)on<strong>de</strong> H ∈ C ∞ (IR × T ∗ IR n ) é uma função, chamada o Hamiltoniano (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong>tempo). Notemos que:dθ = ∑ (dp i ∧ dx i − ∂H∂x i dxi ∧ dt − ∂H )dp i ∧ dt (1.13.15)∂piie portanto a matriz <strong>de</strong> Gram <strong>de</strong> dθ, na base {∂ x , ∂ p , ∂ t }, é a matriz:⎡0 −I n⎤−H x⎣ I n 0 −H p⎦ (1.13.16)Hx T Hp T 0[∂Hon<strong>de</strong> H p =não singular. O seu núcleo, ker dθ, é gera<strong>do</strong> pelo vector:∂p i]e H x = [ ∂H∂x i ]. O rank <strong>de</strong>sta matriz é òbviamente 2n e portanto dθ éH p ∂ x − H x ∂ p + ∂ t = ∑ i( ∂H∂p i∂∂x − ∂H )∂+ ∂ i ∂x i ∂p i ∂t(1.13.17)que gera portanto a recta característica da forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan θ. As linhas características<strong>de</strong> θ são as curvas integrais <strong>de</strong>ste campo <strong>de</strong> vectores. Fica assim prova<strong>do</strong> oseguinte teorema:♣Teorema 1.6 ... As linhas características da 1-forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan:θ = p dx − H dtno espaço das fases estendi<strong>do</strong> IR × T ∗ IR n , projectam-se difeomòrficamente sobre o eixo<strong>do</strong>s t ′ s, e portanto po<strong>de</strong>m ser parametrizadas na forma t ↦→ (x(t), p(t)). Estas funçõessatisfazem as equações canónicas <strong>de</strong> Hamilton seguintes:⎧⎨⎩ẋ = H pṗ = −H x=⎧⎨⎩dx idt=∂H∂p idp idt= − ∂H∂x i , i = 1, . . . , n (1.13.18)♣.Aplican<strong>do</strong> agora o Lema <strong>de</strong> Stokes 1.3 à forma θ = p dx − H dt, obtemos o seguinteteorema fundamental:


1.13. Invariantes integrais 65Figure 1.12: .1 2♣ Teorema 1.7 ... Suponhamos que σ é um tubo <strong>de</strong> características da forma <strong>de</strong>Poincaré-Cartan θ = p dx − H dt, limita<strong>do</strong> por duas curvas fechadas γ 1 e γ 2 , isto é,∂σ = γ 1 − γ 2 . Então: ∫γ∫γp dx − H dt = p dx − H dt (1.13.19)O integral ∫ p dx − H dt chama-se o invariante integral <strong>de</strong> Hilbert. ♣.Vamos consi<strong>de</strong>rar, em particular, curvas fechadas γ ⊂ {t} × T ∗ IR n com t fixo, isto é,curvas fechadas constituídas por esta<strong>do</strong>s simultâneos. Ao longo <strong>de</strong> tais curvas dt = 0 e∫p dx − H dt =∫p dx. Consi<strong>de</strong>remos ainda a transformação:Fl t 1t0: {t 0 } × T ∗ IR n ✲ {t 1 } × T ∗ IR n(x 0 , p 0 ) ↦−→ (x 1 , p 1 ) = Fl t 1t0(x 0 , p 0 )(1.13.20)on<strong>de</strong> (x 1 , p 1 ) = Fl t 1t0(x 0 , p 0 ) ∈ {t 1 } × T ∗ IR n é o ponto obti<strong>do</strong> a partir <strong>de</strong> (x 0 , p 0 ) seguin<strong>do</strong>o fluxo <strong>do</strong> campo Hamiltoniano X H = H p ∂ x − H x ∂ p , isto é, resolven<strong>do</strong> as equaçõescanónicas <strong>de</strong> Hamilton (1.13.18), com condições iniciais x(t 0 ) = x 0 e p(t 0 ) = p 0 .Figure 1.13: .Se γ ⊂ {t 0 } × T ∗ IR n é uma curva fechada, então γ 1 = Fl t 1t0(γ) é também uma curvafechada em {t 1 } × T ∗ IR n . Além disso elas limitam o mesmo tubo <strong>de</strong> características da


1.13. Invariantes integrais 66forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan θ = p dx − H dt.obtemos:∫ ∫p dx =γPortanto, aplican<strong>do</strong> o teorema anterior,Fl t 1t 0(γ)p dx (1.13.21)isto é, “o fluxo <strong>do</strong> campo Hamiltoniano X H preserva o integral da forma <strong>de</strong> Liouvillep dx = ∑ i p idx i , ao longo <strong>de</strong> curvas fechadas”.


Capítulo 2Problemas variacionais paramétricos2.1 Lagrangeanos paramétricos homogéneosNesta secção vamos discutir problemas variacionais <strong>de</strong>scritos por funcionais <strong>do</strong> tipo:F[x(·)] =∫ t1t 0L(x(t), ẋ(t)) dt (2.1.1)em que o Lagrangeano L : T IR n → IR não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> parâmetro t, e é homogéneo positivo<strong>de</strong> grau 1 em ẋ, isto é:L(x, λẋ) = λ L(x, ẋ), ∀λ > 0 (2.1.2)O funcional F consi<strong>de</strong>ra-se <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> no conjunto <strong>de</strong> curvas geométricas <strong>de</strong> classe C 1 regulares,em IR n . Uma curva geométrica é uma classe <strong>de</strong> equivalência <strong>de</strong> curvas parametrizadas,em que duas <strong>de</strong>ssas curvas são equivalentes sse diferem por reparametrizações <strong>de</strong> classeC 1 que preservam orientação.Para ver que <strong>de</strong> facto F está bem <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>remos duas curvas parametrizadasx : [t 0 , t 1 ] → IR n e y : [τ 0 , τ 1 ] → IR n equivalentes, <strong>de</strong> tal forma que existe um difeomorfismoϕ : [τ 0 , τ 1 ] → [t 0 , t 1 ], t = ϕ(τ), tal que ϕ ′ (τ) > 0 e y(τ) = x(ϕ(τ)). Vem então que:F[y(·)] ====∫ τ1τ∫ 0τ1τ∫ 0τ1τ∫0t1t 0L(y(τ), y ′ (τ)) dτ()L x(ϕ(τ)), ẋ(ϕ(τ))ϕ ′ (τ) dτ()L x(ϕ(τ)), ẋ(ϕ(τ)) ϕ ′ (τ)dτL(x(t), ẋ(t)) dt= F[x(·)] (2.1.3)Vejamos alguns exemplos <strong>de</strong> Lagrangeanos paramétricos homogéneos:67


2.1. Lagrangeanos paramétricos homogéneos 68♣ Exemplos 2.1 ...1. L(x, ẋ) = ‖ẋ‖. O funcional F[x(·)] = ∫ t 1t 0‖ẋ‖ dt representa o comprimento Eucli<strong>de</strong>anoda curva x : [t 0 , t 1 ] → IR n .2. L(x, ẋ) = n(x) ‖ẋ‖. O funcional F[x(·)] = ∫ t 1t 0n(x) ‖ẋ‖ dt = ∫ t 1t 0n(x) ds representao comprimento óptico <strong>do</strong> raio x : [t 0 , t 1 ] → IR n , que se propaga num meio isotrópiconão homogéneo <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> refracção n = n(x) > 0.3. L(x, ẋ) = √ g(x)(ẋ, ẋ) = √ g ij (x)ẋ i ẋ j , on<strong>de</strong> g é uma métrica Riemanniana emIR n . O funcional F[x(·)] = ∫ t 1√t 0g(x)(ẋ, ẋ) dt representa o comprimento da curvax : [t 0 , t 1 ] → IR n , relativamente à métrica Riemanniana g.Comecemos por discutir o seguinte problema clássico <strong>do</strong> cálculo <strong>de</strong> variações paraLagrangeanos paramétricos homogéneos:• ♣ Problema 2.1 ... Entre as curvas geométricas <strong>de</strong> classe C 1 regulares, emIR n , que satisfazem as condições <strong>de</strong> fronteira:x(t 0 ) = x 0 , x(t 1 ) = x 1 (2.1.4)on<strong>de</strong> x 0 , x 1 são <strong>do</strong>is pontos fixos em IR n , calcular a curva para a qual o valor <strong>do</strong>funcional (2.1.1) é estacionário 1 .Figure 2.1:Se ̂x : [t 0 , t 1 ] → IR n é uma solução <strong>do</strong> Problema 2.1, e se x( · ; λ) : [t 0 , t 1 ] → IR n , λ ∈ IRé uma família a 1-parâmetro λ <strong>de</strong> curvas em IR n (que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diferenciàvelmente <strong>do</strong>parâmetro λ), tal que:x(·; λ = 0) = ̂x(·)x(t 0 ; λ) = x 0 e x(t 1 ; λ) = x 1 , ∀λ<strong>de</strong>f dδ̂x(·) = η(·) =dλ∣ x( · ; λ) (2.1.5)λ=01 Mais geralmente, IR n po<strong>de</strong> ser substituí<strong>do</strong> por uma varieda<strong>de</strong> suave M <strong>de</strong> dimensão n.


2.1. Lagrangeanos paramétricos homogéneos 69on<strong>de</strong> η(·) = δ̂x(·) é uma variação com extremida<strong>de</strong>s fixas, então:0 = ∂∂λ∣ F[x(·; λ)]λ=0= ∂∫ t1∂λ∣ L (x( · ; λ), ẋ(t; λ)) dtλ=0∫ t1t 0= [L x (t) η(t) + Lẋ(t) ˙η(t)] dt=t∫0t1[L x (t) − d ]t 0dt L ẋ(t) η(t) dt + [Lẋ(t) η(t)] t 1t 0(2.1.6)on<strong>de</strong> L x (t) = L x(̂x(t), ˙̂x(t))(e Lẋ(t) = Lẋ ̂x(t), ˙̂x(t)). A esta última fórmula é habitualchamar a fórmula da primeira variação, e notá-la por δF(̂x; η).A este integral aplicamos o lema <strong>de</strong> Du Bois-Reymond e o facto <strong>de</strong> que η(t 0 ) = η(t 1 ) =0, para concluir que ̂x(·) <strong>de</strong>ve satisfazer a equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange:− d dt L ẋ + L x = 0 (2.1.7)Qualquer solução das equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange diz-se uma extremal <strong>do</strong> problemavariacional 2.1.Notas ...1. Como, por hipótese, o Lagrangeano L é homogéneo <strong>de</strong> grau 1 nas variáveis ẋ, istoé, L(x, λẋ) = λL(x, ẋ), ∀λ > 0, temos que L x é homogéneo <strong>de</strong> grau 1, e Lẋ éhomogéneo <strong>de</strong> grau 0 nas variáveis ẋ, isto é:L x (x, λẋ) = λL(x, ẋ), e Lẋ(x, λẋ) = L(x, ẋ), ∀λ > 0 (2.1.8)É fácil verificar, usan<strong>do</strong> estas relações, que, se x(t) é solução da equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange (2.1.7), então qualquer reparametrização <strong>de</strong> x, digamos y(τ) = (x ◦ ϕ)(τ),on<strong>de</strong> ϕ ′ (τ) > 0, é também solução <strong>de</strong>ssa mesma equação.2. Como o Lagrangeano L é homogéneo <strong>de</strong> grau 1 nas variáveis ẋ, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Euler implica que:Lẋẋ = L,isto én∑ẋ i Lẋi(x, ẋ) = L(x, ẋ)i=1e portanto a energia <strong>de</strong> L é nula:E L (x, ẋ)<strong>de</strong>f= Lẋ ẋ − L ≡ 0 (2.1.9)Esta energia é conservada, já que L não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> parâmetro.


2.1. Lagrangeanos paramétricos homogéneos 703. Por conservação <strong>de</strong> energia e pela igualda<strong>de</strong> (2.1.9), temos que Lẋ(x(t), ẋ(t)) ẋ(t) −L(x(t), ẋ(t)) = 0. Portanto, <strong>de</strong>rivan<strong>do</strong> em or<strong>de</strong>m a t, obtemos:( d0 = ẋ)dt L ẋ + Lẋẍ − L x ẋ − Lẋẍ( )d=dt L ẋ − L x ẋo que significa que as equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange não são in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e estãoligadas pela relação:n∑( )ddt L ẋ i − L x i ẋ i = 0 (2.1.10)i=1♣.Suponhamos agora que temos um problema com extremida<strong>de</strong> móvel, mas condicionadaa mover-se numa subvarieda<strong>de</strong> Σ, <strong>de</strong> codimensão k, em IR n , dada por uma equação <strong>do</strong>tipo:Φ(x) = 0 (2.1.11)on<strong>de</strong> Φ : IR n → IR k é uma submersão. Mais precisamente, vamos discutir o problemaseguinte:• ♣ Problema 2.2 ... Entre as curvas geométricas que satisfazem as condições<strong>de</strong> fronteira:x(t 0 ) = x 0 , Φ(x(t 1 )) = 0 (2.1.12)calcular a curva para a qual o valor <strong>do</strong> funcional:é estacionário.I[x(·)] =∫ t1t 0L(x(t), ẋ(t)) dt (2.1.13)Figure 2.2:Se x : [t 0 , t 1 ] → IR n é uma solução <strong>de</strong>ste problema, então também será solução <strong>do</strong>problema com extremida<strong>de</strong>s fixas x(t 0 ) = x 0 e x(t 1 ) = x 1 . Portanto x(·) satisfaz a


2.2. Formalismo canónico 71equação <strong>de</strong> Euler-Lagrange. Por outro la<strong>do</strong>, se λ ↦→ x( · ; λ), λ ∈ IR é uma família a1-parâmetro λ <strong>de</strong> curvas em IR n (que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> diferenciàvelmente <strong>do</strong> parâmetro λ), talque:x(·; λ = 0) = x(·)x(t 0 ; λ) = x 0 e Φ (x(t 1 ; λ)) = 0, ∀λ<strong>de</strong>f dδx(·) = η(·) =dλ∣ x( · ; λ) (2.1.14)λ=0então, em particular, tem-se que η(t 0 ) = 0 e:η(t 1 ) =ddλ∣ x(t 1 ; λ) = δx 1 ∈ T x1 Σλ=0isto é dΦ x1 (δx 1 ) = 0 (2.1.15)Pela fórmula da primeira variação (2.1.6), <strong>de</strong>duzimos que:0 = δF(x; η)= L x (t) − d ]dt L ẋ(t)∫ t1[t 0Designan<strong>do</strong>, como habitualmente, por:η(t) dt + [Lẋ(t) η(t)] t 1t 0= [Lẋ(t) η(t)] t 1t 0= Lẋ(x 1 , ẋ 1 )δx 1 (2.1.16)p 1<strong>de</strong>f= Lẋ(x 1 , ẋ 1 ) (2.1.17)o momento conjuga<strong>do</strong> a x (calcula<strong>do</strong> em (x 1 , ẋ 1 )), vemos que a extremal tem que verificara condição <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> ou ortogonalida<strong>de</strong> seguinte, na sua extremida<strong>de</strong>móvel:p 1 δx 1 = 0, ∀δx 1 ∈ T x1 Σ (2.1.18)Por exemplo, se L(x, ẋ) = n(x)‖ẋ‖ é o Lagrangeano óptico, então p = p(x, ẋ) =Lẋ(x, ẋ) = n(x) ẋ , e portanto a condição <strong>de</strong> transversalida<strong>de</strong> é:‖ẋ‖n(x 1 ) ẋ1‖ẋ 1 ‖ δx 1 = 0, ∀δx 1 ∈ T x1 Σ (2.1.19)Se n(x 1 ) ≠ 0, on<strong>de</strong> x 1 ∈ Σ, isto traduz a ortogonalida<strong>de</strong> usual:ẋ 1 ⊥ T x1 Σ (2.1.20)2.2 Formalismo canónicoComo já vimos, sen<strong>do</strong> o Lagrangeano L homogéneo <strong>de</strong> grau 1 nas variáveis ẋ, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><strong>de</strong> Euler implica que:n∑Lẋẋ = L, isto é ẋ i Lẋi(x, ẋ) = L(x, ẋ)i=1


2.2. Formalismo canónico 72isto é:Derivan<strong>do</strong> novamente em or<strong>de</strong>m a ẋ, obtem-se:Lẋẋ ẋ + Lẋ = Lẋ, ⇒ Lẋẋ ẋ = 0n∑i,j=1o que significa que a equação:Lẋiẋ k(x, ẋ) ẋk = 0, ∀ẋ ≠ 0 (2.2.1)p = Lẋ(x, ẋ)não po<strong>de</strong> ser resolvida em or<strong>de</strong>m a ẋ e, portanto, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>finir o formalismocanónico via transformada <strong>de</strong> Legendre, como se fez para Lagrangeanos não paramétricoshiperregulares. Além disso, como também vimos antes, a energia <strong>de</strong> L é nula E L =Lẋẋ − L ≡ 0.O formalismo canónico que vamos expôr <strong>de</strong>ve-se a Rund, e baseia-se na introdução <strong>de</strong>um novo Lagrangeano Q, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por Q = 1 2 L2 , isto é:Q(x, ẋ)<strong>de</strong>f= 1 2 L2 (x, ẋ) (2.2.2)Eis algumas proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste novo Lagrangeano Q:• Q(x, ẋ) ≥ 0 e Q(x, ẋ) = 0 se e só se L(x, ẋ) = 0.• Q(x, λẋ) = λ 2 Q(x, ẋ), ∀λ > 0, isto é, Q é homogéneo positivo <strong>de</strong> grau 2 nas variáveisẋ.• Derivan<strong>do</strong> esta última igualda<strong>de</strong>, duas vezes em or<strong>de</strong>m a λ (com (x, ẋ) fixo), obtemos:∑Qẋ(x, λẋ) ẋ = 2λ Q(x, ẋ), isto é Qẋi(x, λẋ) ẋ i = 2λ Q(x, ẋ) (2.2.3)e ainda:Qẋẋ (x, λẋ) ẋẋ = 2Q(x, ẋ),isto éi∑Qẋiẋ k(x, λẋ) ẋi ẋ k = 2Q(x, ẋ) (2.2.4)ik♣.Vejamos agora qual a relação que existe entre as extremais associadas a cada um <strong>de</strong>stesLagrangeanos, para o caso mais frequente em que L(x, ẋ) > 0, ∀x, ẋ ≠ 0.• ♣ Proposição 2.1 ... Suponhamos que L(x, ẋ) > 0, ∀x, ẋ ≠ 0 e seja Q = 1 2 L2 .Consi<strong>de</strong>remos ainda os seguintes funcionais:F L [x(·)] =∫ t1t 0L(x, ẋ) dt, F Q [x(·)] =∫ t1t 0Q(x, ẋ) dt (2.2.5)


2.2. Formalismo canónico 73Então:(i). Toda a Q-extremal x(t), t 0 ≤ t ≤ t 1 , satisfaz:Q(x(t), ẋ(t)) ≡ 1 2 h2 (2.2.6)para alguma constante h > 0, e é também uma L-extremal.(ii). Recìprocamente, toda a L-extremal (geométrica) x(t), t 0 ≤ t ≤ t 1 possui umaúnica parametrização y(τ) = (x ◦ ϕ)(τ), 0 ≤ τ ≤ T , para alguma constante T > 0,para a qual:L(y(τ), y ′ (τ)) ≡ 1 (2.2.7)Esta curva parametrizada é então uma Q-extremal.Dem.: (i). Como Q não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> t, há conservação <strong>de</strong> energia - ao longo <strong>de</strong>uma Q-extremal, E Q = Qẋẋ − Q é conservada. Mas, por (2.2.3):E Q = Qẋẋ − Q = 2Q − Q = Qe portanto, ao longo <strong>de</strong> uma Q-extremal, tem-se:Q(x(t), ẋ(t)) ≡ 1 2 h2para alguma constante h > 0. Mas isto acontece se e só se:L(x(t), ẋ(t)) ≡ hComo Qẋ = LLẋ e Q x = LL x , obtemos:− d dt Q ẋ + Q x = h[− d ]dt L ẋ + L x(2.2.8)e portanto, toda a Q-extremal que satisfaz (2.2.6) é também uma L-extremal.(ii). Comecemos agora com uma L-extremal x(t), t 0 ≤ t ≤ t 1 . Preten<strong>de</strong>-se calcularuma mudança <strong>do</strong> parâmetro t = ϕ(τ) e ϕ ′ > 0, a que corresponda uma novaparametrização y(τ) = (x ◦ ϕ)(τ), 0 ≤ τ ≤ T , para alguma constante T > 0 a<strong>de</strong>terminar pela condição <strong>de</strong> que:L(y(τ)), y ′ (τ)) = L(x(ϕ(τ)), ẋ(ϕ(τ)) ϕ ′ (τ)) = L(x(t), ẋ(t)) ϕ ′ (τ) ≡ 1Mas a função f(t) = L(x(t), ẋ(t)) é conhecida. É contínua e estritamente positiva.Preten<strong>de</strong>-se pois que:Por outras palavras, f(t) dtdτf(t)ϕ ′ (τ) ≡ 1, on<strong>de</strong> t = ϕ(τ)≡ 1 <strong>do</strong>n<strong>de</strong> se tira o valor <strong>de</strong> τ:τ = ψ(t) =∫ tt 0f(ξ)dξ + c


2.2. Formalismo canónico 74on<strong>de</strong> c é uma constante. Os valores das constantes T e c, <strong>de</strong>terminam-se pelascondições <strong>de</strong> que ψ(t 0 ) = 0 e ψ(t 1 ) = T . Portanto c = 0 e T = ∫ t 1t 0f(t)dt =∫ t1t 0L(x(t), ẋ(t)) dt, isto é:τ = ψ(t) =∫ tt 0L(x(ξ), ẋ(ξ)) dξComo x é uma L-extremal, também o é a nova reparametrização y = x ◦ ϕ, comose viu antes. Mas, como L é constante sobre esta curva, y é uma Q-extremal, comose <strong>de</strong>duz imediatamente <strong>de</strong> (2.2.8).♣.Concluímos pois que a classe <strong>de</strong> Q-extremais coinci<strong>de</strong> com a classe <strong>de</strong> L-extremais normalizadaspela condição L(x, ẋ) ≡ 1. Enquanto que as L-extremais são invariantes por reparametrização,as Q-extremais vêm automàticamente parametrizadas com um parâmetro“natural”.♣ Exemplo 2.1 (Geodésicas) ... Quan<strong>do</strong> L(x, ẋ) = √ g(x)(ẋ, ẋ) = √ g ij (x)ẋ i ẋ j ,on<strong>de</strong> g é uma métrica Riemanniana em IR n , o funcional:F[x(·)] =∫ t1t 0√g(x)(ẋ, ẋ) dtrepresenta o comprimento da curva x : [t 0 , t 1 ] → IR n , relativamente à métrica Riemannianag.Consi<strong>de</strong>remos agora o novo Lagrangeano:Q(x, ẋ) = 1 2 L2 (x, ẋ) = 1 2 g(x)(ẋ, ẋ) = 1 2 g ij(x)ẋ i ẋ ja que chamamos a energia (cinética) da métrica g. As equações <strong>de</strong> Euler-Lagrangecorrespon<strong>de</strong>ntes ao Lagrangeano Q são:− d dt (g(x)ẋ) + g x(x)ẋẋ = 0 (2.2.9)O parâmetro “natural” é, neste caso, o comprimento <strong>de</strong> arco τ = s:s = ψ(t) =∫ tt 0√g(x(ξ))(ẋ(ξ), ẋ(ξ)) dξe a proposição diz que as geodésicas da métrica g, isto é, as L-extremais, quan<strong>do</strong> parametrizadaspor arco, têm energia cinética constante (igual a 1/2), e são também Q-extremais.


2.2. Formalismo canónico 75♣é:Exemplo 2.2 (O Lagrangeano óptico) ... Como vimos o Lagrangeano ópticoL(x, ẋ) = n(x) ‖ẋ‖O funcional:F L [x(·)] =∫ t1t 0n(x) ‖ẋ‖ dt =∫ t1t 0n(x) dsrepresenta o comprimento óptico <strong>do</strong> raio x : [t 0 , t 1 ] → IR 3 , que se propaga num meioisotrópico não homogéneo <strong>de</strong> índice <strong>de</strong> refracção n = n(x) > 0. Como já se viu, F L [x(·)]representa também o tempo <strong>de</strong> percurso da luz ao longo <strong>de</strong>sse mesmo raio.As equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange para os raios (L-extremais) são:(dn(x) ẋ )= ‖ẋ‖ ∇n(x) (2.2.10)dt ‖ẋ‖ou mais explìcitamente:⎧⎪⎨⎪⎩ddtddtddtn ẋ√ẋ 2 +ẏ 2 +ż 2 = n x√ẋ2+ ẏ 2 + ż 2n y ′√ẋ = n √ẋ2 2 +ẏ 2 +ż 2 y + ẏ 2 + ż 2(2.2.11)n z√ẋ ′= n √ẋ2 2 +ẏ 2 +ż 2 z + ẏ 2 + ż 2Consi<strong>de</strong>remos agora o novo Lagrangeano:Q(x, ẋ) = 1 2 L2 (x, ẋ) = n2 ẋ 2As equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange correspon<strong>de</strong>ntes ao Lagrangeano Q, ou as equações <strong>do</strong>sQ-raios, são:0 = − d dt Q ẋ + Q x = − d dt (n2 ẋ) + ẋ 2 ∇(n2 )2isto é:ddt (n2 ẋ) = ẋ 2 ∇(n2 )22(2.2.12)Consi<strong>de</strong>remos um L-raio, x : [t 0 , t 1 ] → IR 3 , isto é, uma solução das equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange (2.2.10). A proposição anterior mostra que se escolhermos o novo parâmetroτ ∈ [0, T ], <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> através <strong>de</strong>:τ = ψ(t) =∫ tt 0L(x(ξ), ẋ(ξ)) dξ = 1 h∫ tt 0n(x(ξ)) ‖ẋ(ξ)‖ dξon<strong>de</strong> T = ∫ t 1t 0n(x(t)) ‖ẋ(t)‖ dt é o comprimento óptico total <strong>de</strong> x(·), então esse L-raio,com a nova parametrização, satisfaz L ≡ 1 e é também um Q-raio, com energia totalE Q = Q = 1.2


2.2. Formalismo canónico 76Retomemos agora a exposição <strong>do</strong> formalismo canónico <strong>de</strong> Rund. Para isso, <strong>de</strong>finamoso chama<strong>do</strong> tensor fundamental g, através <strong>de</strong>:♣.g ik (x, ẋ)<strong>de</strong>f= Qẋiẋ k(x, ẋ) (2.2.13)As funções g ik são positivamente homogéneas <strong>de</strong> grau 0, relativamente às variáveis ẋ, everificam g ik = g ki . Além disso, <strong>de</strong> (2.2.4), <strong>de</strong>duzimos que:Q(x, ẋ) = 1 2 g ik(x, ẋ) ẋ i ẋ k , ∀x, ẋ ≠ 0 (2.2.14)Vamos agora impôr a hipótese essencial <strong>de</strong> que:<strong>de</strong>t (g ik ) ≠ 0 (2.2.15)e <strong>de</strong>finamos um novo momento conjuga<strong>do</strong> (Q-conjuga<strong>do</strong>) à variável x i através <strong>de</strong>:q i<strong>de</strong>f= g ik (x, ẋ) ẋ k (2.2.16)ou sucintamente:q = g(x, ẋ) ẋ (2.2.17)Notemos que, como Qẋ é homogéneo <strong>de</strong> grau 1 nas variáveis ẋ, a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Eulerimplica que:∑Qẋẋ ẋ = Qẋ, isto é Qẋiẋ k(x, ẋ) ẋk = Qẋi(x, ẋ) (2.2.18)ke portanto po<strong>de</strong>mos ainda escrever que q i = g ik ẋ k = 2Qẋiẋ kẋk = Qẋi. Como, além disso,por <strong>de</strong>finição, Q = 1 2 L2 e p i = Lẋi, vem que q i = Qẋi = L Lẋi = Lp i , ou mais sucintamente:q = Qẋ = L Lẋ = L p (2.2.19)Portanto o novo momento conjuga<strong>do</strong> q = Qẋ difere <strong>do</strong> momento usual p = Lẋ, apenaspelo factor multiplicativo L:q(x, ẋ) = Qẋ(x, ẋ) = L(x, ẋ) Lẋ(x, ẋ) = L(x, ẋ) p(x, ẋ) (2.2.20)Consi<strong>de</strong>remos agora uma L-extremal x(τ), 0 ≤ τ ≤ T , <strong>de</strong>vidamente parametrizadapara que satisfaça:L(x(τ), ẋ(τ)) ≡ 1 (2.2.21)Como vimos na proposição 2.1, é sempre possível introduzir uma tal parametrizaçãonatural. A L-extremal x(τ), assim obtida, torna-se automàticamente uma Q-extremal,isto é, verifica as equações <strong>de</strong> Euler-Lagrange para o Lagrangeano Q:− ddτ Q ẋ + Q x = 0 (2.2.22)


2.2. Formalismo canónico 77Introduzin<strong>do</strong> os Q-momentos:q = Qẋ(x, ẋ), ⇒ ẋ = ẋ(x, q) (2.2.23)e aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à hipótese fundamental (2.2.15), sabemos que as equações (2.2.22) são equivalentesàs equações canónicas <strong>de</strong> Hamiltoniano:Φ(x, q) = (Qẋẋ − Q)|ẋ=ẋ(x,q) (2.2.24)isto é, às equações: { ẋ = Φq˙q = −Φ x(2.2.25)Mais <strong>de</strong>talhadamente - uma L-extremal x(τ), parametrizada naturalmente (isto é, <strong>de</strong>vidamenteparametrizada para que satisfaça (2.2.21)), po<strong>de</strong> ser obtida como uma solução(x(τ), q(τ)) das equações canónicas associdas ao Hamiltoniano Φ, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por (2.2.24),on<strong>de</strong> q(τ) = Qẋ(x(τ), ẋ(τ)).Notemos agora que, como Qẋẋ − Q = Q, então:Φ(x, q) = Q(x, ẋ), on<strong>de</strong> q = Qẋ(x, ẋ) ⇔ ẋ = Φ q (x, q) (2.2.26)Definamos finalmente o Hamiltoniano H, correspon<strong>de</strong>nte ao Lagrangeano L, através<strong>de</strong>:H(x, q) = L(x, ẋ), on<strong>de</strong> ẋ = Φ q (x, q) (2.2.27)Como q = LLẋ, vem que:L(x, ẋ) = H (x, L(x, ẋ) Lẋ(x, ẋ)) = L(x, ẋ) H (x, Lẋ(x, ẋ))já que H é homogéneo positivo na variável q. Concluímos portanto que:H(x, Lẋ(x, ẋ)) ≡ 1 se L > 0 (2.2.28)Como Φ = 1 2 H2 , as equações canónicas (2.2.25) po<strong>de</strong>m ser escritas na forma:{ ẋ = H Hq˙q = −H H x(2.2.29)Po<strong>de</strong>mos pois enunciar a seguinte proposição:• ♣ Proposição 2.2 ... Suponhamos que L é um Lagrangeano paramétrico <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>positivo. Então:Q(x, ẋ) = 1 2 L2 (x, ẋ)q = Qẋ(x, ẋ) = L(x, ẋ) Lẋ(x, ẋ) = L(x, ẋ)pΦ(x, q) = Q(x, ẋ), ∀q = Qẋ(x, ẋ), ∀ẋ = Φ q (x, q)H(x, q) = L(x, ẋ), ∀q = Qẋ(x, ẋ), ∀ẋ = Φ q (x, q)H(x, Lẋ(x, ẋ)) ≡ 1 (2.2.30)


2.2. Formalismo canónico 78Seja x(τ) uma L-extremal regular parametrizada naturalmente, <strong>de</strong> tal forma a satisfazera condição:L(x(τ), ẋ(τ)) ≡ 1Então x(τ) é uma Q-extremal e (x(τ), q(τ)), on<strong>de</strong> q(τ) = Qẋ(x(τ), ẋ(τ)), satisfazas equações canónicas:{ { ẋ = Φqẋ = H Hqou(2.2.31)˙q = −Φ x ˙q = −H H x♣.♣é:Exemplo 2.3 (O Hamiltoniano óptico) ... Como vimos o Lagrangeano ópticoe o Q-Lagrangeano é:L(x, ẋ) = n(x) ‖ẋ‖Q(x, ẋ) = 1 2 n2 (x) ẋ 2O Hamiltoniano Φ, correspon<strong>de</strong>nte, via transformação <strong>de</strong> Legendre, ao LagrangeanoQ é:Φ(x, q) = q22n = p2 + q 2 + r 2(2.2.32)2 2n 2 (x, y, z)De facto q = Qẋ = n 2 ẋ ⇒ ẋ = q n 2 , ou mais explìcitamente:(note que q = LLẋ). Portanto:p = ∂Q∂ẋ = n2 ẋ ⇒ ẋ = p n 2q = ∂Q∂ẏ = n2 ẏ ⇒ ẏ = q n 2r = ∂Q∂ż = n2 ż ⇒ ż = r n 2Φ(x, q) = (qẋ − Q(x, ẋ))|ẋ= qn 2= Q(x, ẋ)|ẋ= qn 2= q22n 2 (2.2.33)O Hamiltoniano óptico H, correspon<strong>de</strong>nte ao Lagrangeano óptico L é, por <strong>de</strong>finição:H(x, q) = L(x, ẋ)|ẋ=Φq(x,q) = (n(x)‖ẋ‖)| ẋ=q/n 2 =As equações canónicas (2.2.31) são:qn(x)(2.2.34)


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 79{ ẋ = HHq˙q = −HH xisto é{ẋ =qn 2 (x)˙q = q2n 3 (x) ∇n(x) (2.2.35)ou ainda: ⎧⎪ ⎨⎪ ⎩ẋ = p n 2ẏ = qn 2ż = rn 2ṗ = n x (p 2 +q 2 +r 2 )n 3˙q = ny (p2 +q 2 +r 2 )n 3ṙ = nz (p2 +q 2 +r 2 )n 3 (2.2.36)Por (2.2.30) tem-se que:H(x, p) ≡ 1, ∀p = Lẋ(x, ẋ)que, neste caso, é óbvio já que H(x, Lẋ(x, ẋ)) = ẋ/‖ẋ‖ = 1.Por outro la<strong>do</strong>, o Lagrangeano Q representa a energia cinética associada à métricaRiemanniana:dσ = n(x, y, z) √ dx 2 + dy 2 + dz 2 = n ds (2.2.37)em IR 3 . Portanto, as curvas integrais <strong>de</strong> X Φ , quan<strong>do</strong> parametrizadas naturalmente,projectam-se em IR 3 , exactamente nas geodésicas da métrica dσ, que, como sabemos, sãoas curvas que minimizam (localmente) o comprimento <strong>de</strong> arco correspon<strong>de</strong>nte à métricadσ. Este comprimento <strong>de</strong> arco é o comprimento óptico da curva, e portanto obtemosmais uma vez o princípio <strong>de</strong> Fermat: “Os raios <strong>de</strong> luz são as curvas que minimizam(localmente) o comprimento óptico ∫ dσ = ∫ n ds.”♣.2.3 Campos <strong>de</strong> MeyerConsi<strong>de</strong>remos <strong>de</strong> novo um funcional <strong>do</strong> tipo:F[x(·)] =∫ t1t 0L(x(t), ẋ(t)) dt (2.3.1)em que o Lagrangeano L : T IR n → IR não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong> parâmetro e é homogéneo positivo<strong>de</strong> grau 1 em ẋ.Consi<strong>de</strong>remos um <strong>do</strong>mínio simplesmente conexo U ⊆ IR n x e uma família a (n − 1)-parâmetros <strong>de</strong> curvas:x = x(t, α), t ∈ I(α), α ∈ A ⊆ IR n−1α (2.3.2)on<strong>de</strong> supômos que os parâmetros α = (α 1 , · · · , α n−1 ) variam num aberto A <strong>do</strong> espaço <strong>do</strong>sparâmetros IR n−1α , e, para cada α, I(α) é um intervalo em IR t , <strong>de</strong> tal forma que:Λ<strong>de</strong>f = {(t, α) : α ∈ A, t ∈ I(α) } (2.3.3)


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 80é um <strong>do</strong>mínio simplesmente conexo em IR × IR n−1 = IR n .Quan<strong>do</strong> a aplicação Ψ : Λ✲ U ⊆ IR n x, <strong>de</strong>finida por:Ψ(t, α) = x(t, α) (2.3.4)é um difeomorfismo, diz-se que Ψ <strong>de</strong>fine um feixe <strong>de</strong> curvas em U. O feixe Ψ diz-seum feixe <strong>de</strong> extremais se, para cada α, a curva x( · , α) fôr uma extremal (solução dasequações <strong>de</strong> Euler-Lagrange).Figure 2.3: Feixe <strong>de</strong> curvasFixemos agora um qualquer ponto x ∈ U. Então, por x passa uma única curva <strong>do</strong>feixe Ψ, a que correspon<strong>de</strong> um valor (único) <strong>do</strong> parâmetro α = α(x) ∈ A, e ainda umúnico instante t = t(x) ∈ I(α(x)), tal que:x = x(t(x), α(x)) (2.3.5)De facto, como Ψ é um difeomorfismo a inversa Ψ −1 é também um difeomorfismo, eΨ −1 (x) = (t(x), α(x)) ∈ Λ. Definamos agora um campo <strong>de</strong> vectores I ∈ X(U), pon<strong>do</strong>,para cada x ∈ U:<strong>de</strong>fI(x) = d dt∣ x(t, α(x)), x ∈ U ⊆ IR n x (2.3.6)t=t(x)O campo <strong>de</strong> vectores I diz-se o campo <strong>de</strong> direcções <strong>do</strong> feixe <strong>de</strong> curvas Ψ. Note queeste campo nunca se anula em U: I(x) ≠ 0, ∀x ∈ U. Além disso, as curvas <strong>do</strong> feixe ,x(t, α) são soluções da ODE em U:ẋ = I(x) (2.3.7)É claro que se multiplicarmos o campo <strong>de</strong> direcções I, por uma função f(x) > 0obtemos as mesmas direcções, mas agora <strong>de</strong> um feixe <strong>de</strong> curvas obti<strong>do</strong> <strong>do</strong> anterior porreparametrização das respectivas curvas, e que, por isso, <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong> como equivalenteao primeiro. É muitas vezes útil utilizar certas parametriza˜coes especiais. Quan<strong>do</strong>L é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> positivo - L(x, v) > 0, ∀x, ∀v ≠ 0 - a mais frequente, é:L(x, I(x)) = 1 (2.3.8)


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 81o que sempre se consegue multiplican<strong>do</strong> o campo <strong>de</strong> direcções por uma função f(x) > 0conveniente. Um tal campo diz-se um campo normal (ou normaliza<strong>do</strong>). Estes campospo<strong>de</strong>m também ser caracteriza<strong>do</strong>s pela equação:aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Euler Lẋ(x, v) v = L(x, v).Lẋ(x, I(x)) I(x) = 1 (2.3.9)Consi<strong>de</strong>remos agora uma dada extremal ̂x : [t 0 , t 1 ] → IR n (solução das equações <strong>de</strong>Euler-Lagrange), e passemos a discutir condições que garantam que ̂x é um mínimo (local)<strong>de</strong> F.Assim, suponhamos que é possível mergulhar a extremal ̂x num feixe <strong>de</strong> extremais,com campo <strong>de</strong> direcções I(x), e que tem a proprieda<strong>de</strong> adicional seguinte - para to<strong>do</strong>o ponto x, o Lagrangeano L = L(x, v) anula-se sempre que v = I(x) e é estritamentepositivo sempre que v ≠ I(x):∀x ∈ U :{ L(x, I(x)) = 0L(x, v) > 0, para v ≠ I(x), v ∈ T x IR n (2.3.10)Se isto fôr possível então ̂x é um mínimo forte (local) <strong>de</strong> F. De facto, se γ : [t 0 , t 1 ] → IR né uma curva qualquer, com as mesmas extremida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ̂x, então (2.3.10) implica que:uma vez que ˙̂x(t) = I(̂x(t)), ∀t, e portanto:para toda a curva γ ≠ ̂x.F[̂x(·)] = 0, F[γ(·)] > 0F[̂x(·)] < F[γ(·)]No entanto, em geral não é possível conseguir exactamente as condições (2.3.10). Parasuperar esta dificulda<strong>de</strong>, substituímos L por um Lagrangeano (gauge) equivalente ˜L,<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:<strong>de</strong>f˜L(x, ẋ) = L(x, ẋ) − S x (x)ẋ (2.3.11)on<strong>de</strong> S : IR n → IR é uma função suave.Notemos que:∫ t1F˜L[x(·)] = [L(x(t), ẋ(t)) − S x (x(t))ẋ(t)] dt=t∫0t1∫ t1[ ] dS(x(t)[L(x(t), ẋ(t))] dt −dtt 0t 0dt= F L [x(·)] + S(x(t 0 )) − S(x(t 1 )) (2.3.12)


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 82e portanto L e ˜L têm exactamente as mesmas extremais. Daí o termos chama<strong>do</strong> a <strong>do</strong>isLagrangeanos L e ˜L, relaciona<strong>do</strong>s através da condição (2.3.11), Lagrangeanos equivalentes.Aliás, tem-se que:− d dt ˜Lẋ + ˜L x = − d dt (L ẋ − S x ) + L x − S xx ẋ= − d dt L ẋ + L xo que mostra mais uma vez que L e ˜L têm exactamente as mesmas extremais.Suponhamos agora que conseguimos encontrar um Lagrangeano ˜L, (gauge) equivalentea L, que verifica a proprieda<strong>de</strong> acima <strong>de</strong>scrita, isto é:∀x ∈ U :{˜L(x, I(x)) = 0˜L(x, v) > 0, para v ≠ I(x), v ∈ T x IR n (2.3.13)Então, se γ : [t 0 , t 1 ] → IR n é uma curva qualquer, tal que:virá que:isto é:e portanto:S(γ(t 0 )) = S(̂x(t 0 )), S(γ(t 1 )) = S(̂x(t 1 )) (2.3.14)0 = F˜L[̂x(·)] < F̂L[γ(·)]0 = F L [̂x(·)] − S(̂x(t 1 )) + S(̂x(t 0 )) < F L [γ(·)] − S(γ(t 1 )) + S(γ(t 0 ))0 = F L [̂x(·)] < F L [γ(·)]aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às condições (2.3.14). Portanto ̂x será um mínimo forte (local) <strong>de</strong> F L .Resumin<strong>do</strong> - a solução que acabamos <strong>de</strong> propôr, e que se <strong>de</strong>ve a Carathéo<strong>do</strong>ry 2 ,consiste no seguinte: encontrar um feixe <strong>de</strong> extremais x(t, α), tal que ̂x(·) = x(·, ̂α), paraalgum ̂α ∈ A, e cujo campo <strong>de</strong> direcções I ∈ X(U) satisfaça as condições (2.3.13), que,em termos <strong>de</strong> L, se escrevem na forma:∀x ∈ U :{ L(x, I(x)) = Sx (x)I(x)L(x, v) > S x (x)v, para v ≠ I(x), v ∈ T x IR n (2.3.15)para alguma função suave S : U ⊆ IR n x✲ IR.Aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que Lẋ(x, v) v = L(x, v), a primeira equação em (2.3.15) po<strong>de</strong> ser escritana forma:Lẋ(x, I(x))I(x) = S x (x)I(x)e, como I(x) ≠ 0, ainda na forma equivalente:2é a chamada “Carathéo<strong>do</strong>ry royal road for field theory”.Lẋ(x, I(x)) = S x (x) (2.3.16)


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 83a que se chama-se equação <strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry (paramétrica).Na discussão seguinte vamos supôr que L é um Lagrangeano paramétrico homogéneo<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> positivo, isto é, para to<strong>do</strong> o x ∈ IR n :L(x, v) > 0, ∀v ∈ T x IR n tal que v ≠ 0 (2.3.17)• ♣ Definição 2.1 ... Um campo extremal normal (ou campo <strong>de</strong> Meyer)para um problema variacional homogéneo, com Lagrangeano <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> positivo,é <strong>de</strong>fini<strong>do</strong>por um par (S, I), on<strong>de</strong> S : U ⊆ IR n → IR é uma função real e I ∈ X(U) é umcampo <strong>de</strong> vectores não nulos, ambos C ∞ , que verificam a equação <strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry:e ainda a condição <strong>de</strong> normalização:Lẋ(x, I(x)) = S x (x) (2.3.18)L(x, I(x)) ≡ 1, ∀x (2.3.19)A função S diz-se a iconal ou função distância <strong>do</strong> campo <strong>de</strong> Meyer.♣.Como Lẋ(x, v) v = L(x, v), pela homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> L, a condição <strong>de</strong> normalização(2.3.19) po<strong>de</strong> ainda ser escrita na forma:Lẋ(x, I(x)) I(x) ≡ 1 (2.3.20)o que, conjuga<strong>do</strong> com a equação <strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry (2.3.18), implica a condição:S x (x) I(x) = dS(x)(I(x)) ≡ 1, ∀x (2.3.21)Notemos que estas condições implicam que, se t ↦→ x(t) é uma curva integral <strong>de</strong> I,isto é, ẋ(t) = I(x(t)), ∀t, então é válida a seguinte “normalização”:ddt S(x(t)) = dS x(t)(ẋ(t))= dS x(t) (I(x(t)))= IS(x(t))= 1= L(x(t), ẋ(t)) (2.3.22)• ♣ Teorema 2.1 ... Para cada x ∈ U, consi<strong>de</strong>remos o hiperplano afim H x , emT x IR n , <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:H x = {v ∈ T x IR n : dS(x)(v) = 1 } (2.3.23)e suponhamos que I(x) é um mínimo local para a restrição da função:v ✲ L(x, v), v ∈ T x IR n (2.3.24)


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 84ao hiperplano afim H x .Seja t ↦→ x(t), 0 ≤ t ≤ a, uma curva integral <strong>de</strong> I e t ↦→ γ(t), 0 ≤ t ≤ a, uma curvapróxima 3 , tal que S(x(0)) = S(γ(0)) e S(x(a)) = S(γ(a)). Então:F[x(·)] ≤ F[γ(·)]Se, além disso, para cada x ∈ U, I(x) é o único mínimo da função (2.3.24), entãoF[x(·)] < F[γ(·)], a não ser que γ seja uma reparametrização <strong>de</strong> x.Dem.: Po<strong>de</strong>mos supôr, sem perda <strong>de</strong> generalida<strong>de</strong>, que:S(x(0)) = 0 e S(x(a)) = 1Como x(·) é curva integral <strong>de</strong> I, sabemos que ẋ = I(x) e pela normalização (2.3.21),dS x (x)ẋ ≡ 1, isto é, S(x(t)) = 1. Portanto S(x(t)) = t, isto é, a curva integraldtx(·) po<strong>de</strong> ser parametrizada pelos valores <strong>do</strong> nível das hipersuperfícies <strong>de</strong> nível <strong>de</strong>S que intersecta (as sucessivas hipersuperfícies <strong>de</strong> nível são as “frentes <strong>de</strong> onda” eas curvas integrais <strong>de</strong> I são os “raios”).Se d S(γ(t)) > 0, po<strong>de</strong>mos também mudar a parametrização <strong>de</strong> γ <strong>de</strong> tal forma adtque S(γ(t)) = t, isto é, a curva γ po<strong>de</strong> também ser parametrizada pelos valores <strong>do</strong>nível das hipersuperfícies <strong>de</strong> nível <strong>de</strong> S que intersecta. Sen<strong>do</strong> assim, diremos que acurva γ está próxima da curva x se:– d S(γ(t)) > 0, isto é, S é uma função estritamente crescente ao longo <strong>de</strong> γ.dt– ∀t ∈ [0, a], ˙γ(t), que agora satisfaz a condição dS( ˙γ(t)) = 1, está suficientementepróximo <strong>de</strong> I(γ(t)), <strong>de</strong> tal forma que L(γ(t), ˙γ(t)) ≥ L(γ(t), I(γ(t))).Com estas hipóteses, <strong>de</strong>duzimos então que:e portanto:L(γ(t), ˙γ(t)) ≥ L(γ(t), I(γ(t)))= 1 = L(x(t), I(x(t)) = L(x(t), ẋ(t))F[γ(·)] =≥∫ a0∫ a0L(γ(t), ˙γ(t)) dt1 dt =∫ a0L(x(t), ẋ(t)) dt = F[x(·)]Po<strong>de</strong>mos interpretar o teorema anterior da seguinte forma - em cada ponto x ∈ Utemos um vector I(x) que representa a direcção óptima que o raio <strong>de</strong>ve seguir quan<strong>do</strong>passa em x. Como x(·) é um raio, i.e., é uma curva integral <strong>de</strong> I, x(·) é, neste senti<strong>do</strong>,uma curva optimal - por on<strong>de</strong> passa, ela segue sempre a direcção óptima. Qualquer outra3 num senti<strong>do</strong> que será claro na <strong>de</strong>monstração...♣.


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 85curva que parta <strong>de</strong> x(0) para a frente <strong>de</strong> onda W a = {x : S(x) ≡ a}, <strong>de</strong>ve violar emalgum ponto esta optimalida<strong>de</strong> e, por isso, dará um valor maior para F.Notemos ainda o seguinte: a hipótese (2.3.24) <strong>do</strong> teorema anterior diz que, para cadax ∈ U fixo, I(x) é um mínimo local para a restrição da função v ✲ L(x, v), ao hiperplanoafim H x = {v ∈ T x IR n : S x (x)v = 1}. Portanto, pelo méto<strong>do</strong> <strong>do</strong>s multiplica<strong>do</strong>res<strong>de</strong> Lagrange, sabemos que existe um multiplica<strong>do</strong>r λ = λ(x) tal que:Lẋ(x, I(x)) = λ(x) S x (x) (2.3.25)Aplican<strong>do</strong> ambos os membros ao vector I(x), e usan<strong>do</strong> a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Euler para L, obtemos:λ(x) S x (x) I(x) = λ(x) dS(x)(I(x))= λ(x)= Lẋ(x, I(x)) I(x)= L(x, I(x))<strong>do</strong>n<strong>de</strong> se <strong>de</strong>duz que λ(x) = 1 e a equação (2.3.25) fica:= 1 (2.3.26)Lẋ(x, I(x)) = S x (x) (2.3.27)que não é mais <strong>do</strong> que a já conhecida equação <strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry. Obtemos pois uma novainterpretação para esta equação.Po<strong>de</strong>mos ainda escrever a equação <strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry na forma mais geométrica quepassamos a expôr. Em primeiro lugar, ao campo <strong>de</strong> direcções I, associamos o chama<strong>do</strong>campo <strong>de</strong> momentos P, pon<strong>do</strong>, para cada x ∈ IR n :P(x)<strong>de</strong>f= Lẋ(x, I(x)) ∈ T ∗ xIR n (2.3.28)A correspondência x ↦→ P(x), po<strong>de</strong> ser vista como uma secção P : U ⊆ IR n ✲ T ∗ IR n :P : x ✲ (x, P(x)), on<strong>de</strong> P(x) = Lẋ(x, I(x)) (2.3.29)ou alternativamente como a 1-forma associada ao campo <strong>de</strong> direcções I ∈ X(U), viav ↦→ Lẋ(x, v).Se representamos por θ a forma canónica <strong>de</strong> Liouville em T ∗ IR n , que, em coor<strong>de</strong>nadascanónicas é dada por θ = pdx, vemos que a equação <strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry (2.3.16)po<strong>de</strong> ser escrita na forma:P ∗ θ = dS (2.3.30)o que significa que a imagem da secção P : IR n ✲ T ∗ IR n é uma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>Lagrange em T ∗ IR n , isto é:P ∗ (ω) = 0 (2.3.31)on<strong>de</strong> ω = dθ = dp ∧ dx é a forma simpléctica canónica em T ∗ IR n .


2.3. Campos <strong>de</strong> Meyer 86Se γ : [t 0 , t 1 ] → U ⊆ IR n é uma curva qualquer que une os pontos P 0 = γ(t 0 ) aP 1 = γ(t 1 ), em U, temos que:∫S(P 1 ) − S(P 0 ) =γ dS∫=γ P ∗ (θ)∫= P(x) dxγ∫=γ L ẋ(x, ẋ) dx (2.3.32)que é o chama<strong>do</strong> integral invariante <strong>de</strong> Hilbert paramétrico 4 .Finalmente, recor<strong>de</strong>mos que o Hamiltoniano H correspon<strong>de</strong>nte ao Lagrangeano L, foi<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> na secção anterior através <strong>de</strong>:H(x, q) = L(x, ẋ), para to<strong>do</strong> ẋ = Φ q (x, q) ⇔ q = Qẋ(x, ẋ) (2.3.34)Aí se viu que:H(x, Lẋ(x, ẋ)) ≡ 1 (2.3.35)Daí que , em particular, se obtenha:1 = H(x, Lẋ(x, I(x))) = H(x, P(x)) = H(x, S x (x))que é a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi paramétrica, ou equação iconal:H(x, S x ) = 1 (2.3.36)♣ Exemplo 2.4 ... O Lagrangeano óptico é:L(x, ẋ) = n(x) ‖ẋ‖Portanto:<strong>do</strong>n<strong>de</strong>:q = L(x, ẋ)Lẋ(x, ẋ) = n(x)‖ẋ‖n(x) ẋ‖ẋ‖ = n2 (x)ẋH(x, q) = L(x, ẋ)|ẋ=q/n 2 = (n(x) ‖ẋ‖)|ẋ=q/n 2 = ‖q‖n(x)4 Aliás este resulta<strong>do</strong> não é inespera<strong>do</strong>, uma vez que a forma <strong>de</strong> Poincaré-Cartan, para Lagrangeanosparamétricos homogéneos reduz-se a:θ L = Lẋdx − E L dt, on<strong>de</strong> E L = Lẋẋ − L= Lẋ(x, ẋ) dx (2.3.33)já que a energia <strong>de</strong> L é E L = Lẋẋ − L = 0. A forma θ L po<strong>de</strong> por isso ser consi<strong>de</strong>rada como uma 1-forma(semi-básica) em T IR n .


2.4. Indicatriz. Função excesso. Fórmula <strong>de</strong> Weierstrass 87Como q = Lp, obtemos ainda 1 = H(x, p) = ‖p‖n(x)equação iconal da óptica geométrica:e, fazen<strong>do</strong> p = S x, obtemos a‖∇S‖ = n (2.3.37)ou (∇S) 2 = n 2 , on<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificamos S x com ∇S, como é habitual.♣.2.4 Indicatriz. Função excesso. Fórmula <strong>de</strong> WeierstrassNa discussão seguinte vamos continuar supôr que L é um Lagrangeano paramétrico homogéneo<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> positivo, isto é, para to<strong>do</strong> o x ∈ IR n - L(x, v) > 0, ∀v ∈ T x IR n , v ≠ 0.Para cada x ∈ IR n , <strong>de</strong>finamos a indicatriz <strong>de</strong> x, através <strong>de</strong>:I x<strong>de</strong>f= {v ∈ T x IR n : L(x, v) ≡ 1 } (2.4.1)Da<strong>do</strong> um qualquer vector não nulo w ∈ T x IR n , existe sempre um escalar λ = λ(w) > 0tal que λw ∈ I x . De facto, pela homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> L e por (2.3.17), 1 = L(x, λw) =λ L(x, w), e basta tomar λ = 1/L(x, w) > 0. Portanto, cada raio orienta<strong>do</strong>, partin<strong>do</strong>da origem <strong>de</strong> T x IR n , intersecta uma e uma só vez a indicatriz I x , e esta é, por isso, umconjunto estrela<strong>do</strong> relativamente à origem em T x IR n (não necessàriamente convexo).Fixemos agora um ponto v 0 ∈ I x , <strong>de</strong> tal forma que:L(x, v 0 ) = 1 (2.4.2)O hiperplano afim, em T x IR n , tangente à indicatriz I x , no ponto v 0 , que <strong>de</strong>signamos porΠ v0 , é da<strong>do</strong> pela equação (ver a figura 2.4):Π v0 = {v ∈ T x IR n : (v − v 0 )Lẋ(x, v 0 ) = 0} (2.4.3)Mais uma vez <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> Euler Lẋ(x, v) v = L(x, v), e ao facto <strong>de</strong> L ser<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> positivo, a equação para Π v0 po<strong>de</strong> ser escrita na forma:0 = Lẋ(x, v 0 )v − Lẋ(x, v 0 )v 0= Lẋ(x, v 0 )v − L(x, v 0 )= Lẋ(x, v 0 )v − 1isto é:Lẋ(x, v 0 )v = 1 (2.4.4)


2.4. Indicatriz. Função excesso. Fórmula <strong>de</strong> Weierstrass 88Figure 2.4: IndicatrizRepresentan<strong>do</strong> por p 0 = Lẋ(x, v 0 ), o covector em TxIR ∗ n correspon<strong>de</strong>nte a v 0 ∈ T x IR n ,po<strong>de</strong>mos ainda escrever a equação <strong>do</strong> hiperplano afim Π v0 na forma:Π v0 = {v ∈ T x IR n : p 0 v = 1} , on<strong>de</strong> p 0 = Lẋ(x, v 0 ) (2.4.5)Consi<strong>de</strong>remos agora, para cada x fixo, a função L(x, · ) : T x IR n ∼ = IR n → IR:ẋ ✲ L(x, ẋ)O <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> Taylor em torno <strong>de</strong> um ponto v 0 ∈ T x IR n é da<strong>do</strong> por:Pon<strong>do</strong> v = v 0 + h, vem que:L(x, v 0 + h) = L(x, v 0 ) + Lẋ(x, v 0 )h + E(x, v 0 , h)E(x, v 0 , v)<strong>de</strong>f= L(x, v) − L(x, v 0 ) − (v − v 0 )Lẋ(x, v 0 ) (2.4.6)que é a chamada função excesso <strong>de</strong> Weierstrass. Como Lẋ(x, v) v = L(x, v), ∀v, vemque:Resumin<strong>do</strong>:E(x, v 0 , v) = L(x, v) − L(x, v 0 ) − (v − v 0 )Lẋ(x, v 0 )= L(x, v) − L(x, v 0 ) − vLẋ(x, v 0 ) + v 0 Lẋ(x, v 0 )= L(x, v) − L(x, v 0 ) − vLẋ(x, v 0 ) + L(x, v 0 )= L(x, v) − vLẋ(x, v 0 )= v [Lẋ(x, v) − Lẋ(x, v 0 )]= v [p v − p v0 ]E(x, v 0 , v) = L(x, v) − p v0 v (2.4.7)= [p v − p v0 ] vRecordan<strong>do</strong> agora que o hiperplano tangente Π v0 , à indicatriz I x , num <strong>do</strong>s seus pontosv 0 (<strong>de</strong> tal forma que L(x, v 0 ) = 1), tem por equação:po<strong>de</strong>mos enunciar a seguinte proposição:v ∈ T x IR n : p v0 v = 1


2.4. Indicatriz. Função excesso. Fórmula <strong>de</strong> Weierstrass 89• ♣ Proposição 2.3 ... (i). A condição:E(x, v 0 , v) ≥ 0, ∀v ∈ I x (2.4.8)significa que a origem 0 e a indicatriz I x = {v : L(x, v) = 1} estão conti<strong>do</strong>s nomesmo semi-espaço E v0 = {v : p v0 v ≤ 1} limita<strong>do</strong> por Π v0 . Além disso, se:E(x, v 0 , v) > 0, ∀v ∈ I x , com v ≠ v 0 (2.4.9)então Π v0 intersecta I x apenas em v 0 .(ii). A indicatriz I x é convexa se e só se:E(x, v 0 , v) ≥ 0, ∀v 0 , v ∈ I x (2.4.10)(iii). A indicatriz I x é estritamente convexa se e só se:E(x, v 0 , v) > 0, ∀v 0 , v ∈ I x , com v ≠ v 0 (2.4.11)♣.Figure 2.5: IndicatrizConsi<strong>de</strong>remos novamente o hiperplano afim H x = {v ∈ T x IR n : S x (x)v = 1} e afunção v ✲ L(x, v), <strong>de</strong>finida em T x IR n . Como vimos, uma condição necessária paraque I(x) seja um mínimo local da restrição L(x, · )| Hx é dada exactamente pela equação<strong>de</strong> Carathéo<strong>do</strong>ry:Lẋ(x, I(x)) = S x (x) (2.4.12)Aplican<strong>do</strong> ambos os membros a I(x) e usan<strong>do</strong> a homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> L, obtemos:L(x, I(x)) = S x (x) I(x) (2.4.13)Quanto à função excesso <strong>de</strong> Weierstrass, dada por (2.4.6), pon<strong>do</strong> v 0 = I(x) em (2.4.7), eusan<strong>do</strong> (2.4.12), obtemos:∀x ∈ U, ∀v ∈ T x IR n , v ≠ 0.E(x, I(x), v) = L(x, v) − v Lẋ(x, I(x))= L(x, v) − v S x (x) (2.4.14)


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 90• ♣ Proposição 2.4 (Fórmula <strong>de</strong> Weierstrass) ... Consi<strong>de</strong>remos um feixe<strong>de</strong> Meyer em U ⊆ IR n , com campo <strong>de</strong> direcções I ∈ X(U) e iconal S, e sejamx(·), γ(·) : [t 0 , t 1 ] → U duas curvas <strong>de</strong> classe C 1 em U, tais que ẋ(t) = I(x(t)), ∀t,S(x(t 0 )) = S(γ(t 0 )) e S(x(t 1 )) = S(γ(t 1 )). Então:F[γ(·)] − F[x(·)] =Dem.: Como ẋ(t) = I(x(t)) vem que:Daí que:∫ t1t 0E(γ(t), I(γ(t)), ˙γ(t)) dt (2.4.15)L(x(t), ẋ(t)) = L(x(t), I(x(t)) = S x (x(t)) I(x(t)) por (2.4.13)F[x(·)] =Portanto:=∫ t1= S x (x(t)) ẋ(t) = d dt S(x(t))L(x(t), ẋ(t)) dt = S(x(t 1 )) − S(x(t 0 )) = S(γ(t 1 )) − S(γ(t 0 ))t 0∫dt1dt S(γ(t)) dt = S x (γ(t)) ˙γ(t) dt∫ t1t 0F[γ(·)] − F[x(·)] ==∫ t1t 0∫ t1t∫0t1t 0L(γ(·), ˙γ(t)) dt −∫ t1t 0L(x(·), ẋ(t)) dt[L(γ(·), ˙γ(t)) − S x (γ(t)) ˙γ(t)] dt= E(γ(t), I(γ(t)), ˙γ(t)) dt (2.4.16)t 0aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a (2.4.14), com x = γ(t) e v = ˙γ(t).• ♣ Corolário 2.1 (Weierstrass) ... Seja x(·) : I → IR n uma L-extremal regulare seja U uma vizinhança aberta <strong>de</strong> x(I). Então, se x(·) pu<strong>de</strong>r ser mergulhadanum feixe <strong>de</strong> Meyer em U e se a função excesso <strong>de</strong> L fôr não negativa, a extremalx(·) minimiza a acção F, entre todas as curvas <strong>de</strong> classe C 1 , em U, que têm asmesmas extremida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> x(·).♣.2.5 Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzidaSeja θ a 1-forma canónica <strong>de</strong> Liouville em T ∗ IR n , dada, em coor<strong>de</strong>nadas canónicas(x, p), por 5 :n∑θ = pdx = p i dx i (2.5.1)i=15 po<strong>de</strong>mos substituir IR n por uma varieda<strong>de</strong> diferenciável M


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 91e ω = dθ a forma simpléctica associada. Localmente ω = dp ∧ dx = ∑ i dp i ∧ dx i .Recor<strong>de</strong>mos que θ se <strong>de</strong>fine por:θ (x,p) (ξ) = p(dπ(ξ)), p ∈ T ∗ xIR n , ξ ∈ T (x,p) T ∗ IR n (2.5.2)Figure 2.6:Além disso θ satisfaz a proprieda<strong>de</strong> seguinte:• ♣ Proposição 2.5 (Proprieda<strong>de</strong> tautológica) ... Se α ∈ Ω 1 IR n é uma 1-forma em IR n , interpretada como uma secção α : IR n → T ∗ IR n , <strong>do</strong> fibra<strong>do</strong> π :T ∗ IR n → IR n , então:α ∗ θ = α (2.5.3)(no membro esquer<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta fórmula, α é interpretada como uma secção, enquantoque no membro direito é interpretada como uma 1-forma).Dem.: De facto, (α ∗ θ) x (v) = θ (x,α(x)) (dα x v) = α(x)(dπdα x v) = α x (v), ∀x ∈IR n , v ∈ T x IR n , uma vez que π ◦ α = Id.♣.• ♣ Definição 2.2 ... (i). Uma subvarieda<strong>de</strong> imersa ϕ : Λ ⊆ IR k α ↩→ T ∗ IR n , <strong>de</strong>dimensão k ≤ n, diz-se uma varieda<strong>de</strong> isotrópica se ϕ ∗ ω = 0.(ii). Uma subvarieda<strong>de</strong> imersa ϕ : Λ ⊆ IR n α ↩→ T ∗ IR n , <strong>de</strong> dimensão n, diz-se umavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lagrange ou uma Lagrangeana se ϕ ∗ ω = 0.(iii). Uma subvarieda<strong>de</strong> imersa ϕ : Λ ⊆ IR n α ↩→ T ∗ IR n , <strong>de</strong> dimensão n, diz-se umavarieda<strong>de</strong> Lagrangeana cónica se ϕ ∗ θ = 0, on<strong>de</strong> θ é a 1-forma canónica <strong>de</strong>Liouville em T ∗ IR n .♣.É claro que toda a Lagrangeana cónica é uma Lagrangeana. Uma Lagrangeana é umavarieda<strong>de</strong> isotrópica <strong>de</strong> dimensão maximal (igual a n). Isto resulta <strong>do</strong> seguinte facto <strong>de</strong>álgebra linear.


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 92• ♣ Lema 2.1 ... Seja (V, ω) um espaço vectorial simpléctico <strong>de</strong> dimensão 2ne S um subespaço totalmente isotrópico, isto é, ω(u, v) = 0, ∀u, v ∈ S. Entãodim S ≤ n.Dem.: Seja (u, v) ↦→ 〈u|v〉 um produto interno <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> positivo em V , e representemosω através <strong>de</strong> um opera<strong>do</strong>r J : V → V , <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:ω(u, v) = 〈u|J(v)〉,u, v ∈ VComo ω é não <strong>de</strong>generada J é um isomorfismo linear. Suponhamos que dim S >n + 1. Então, como dim (S + J(S)) = dim S + dim J(S) − dim (S ∩ J(S)), viria quedim (S ∩J(S)) ≥ 2 e portanto S ∩J(S) ≠ {0}. Suponhamos então que v ∈ S ∩J(S),com v ≠ 0. Então v = J(u), para algum u ∈ S e:0 ≠ 〈v|v〉 = 〈v|J(u)〉 = ω(v, u) = 0o que é absur<strong>do</strong>.♣.Vejamos agora alguns exemplos.♣ Exemplos 2.2 ...1. Λ x0 = {x 0 } × T ∗ x 0IR n = {(x 0 , p) : p ∈ IR n }, on<strong>de</strong> x 0 ∈ IR n x é um ponto fixo, é umaLagrangeana cónica.2. Λ p0 = IR n x × {p 0 }, on<strong>de</strong> p 0 ∈ T ∗ xIR n ∼ = IRnp é um covector fixo, é uma Lagrangeanaque não é cónica.3. Seja Γ ⊂ IR n x uma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão d ≤ n − 1, e Λ Γ o chama<strong>do</strong> fibra<strong>do</strong>conormal a Γ, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:Λ Γ = { (x, p) : x ∈ Γ, p ∈ T ∗ xIR n , tal que 〈T x Γ, p〉 = p| TxΓ = 0} (2.5.4)O exemplo 1. é o caso especial em que Γ se reduz ao ponto x 0 . Λ Γ é uma Lagrangeanacónica.4. Seja Γ ⊂ IR n x uma subvarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> codimensão 1, e f : Γ → IR uma função dada,com diferencial df x ∈ T ∗ xΓ, para cada ponto x ∈ Γ. Define-se então:Λ Γ,f = { (x, p) : x ∈ Γ, p ∈ T ∗ xIR n , tal que 〈T x Γ, p〉 = p| TxΓ = df x}(2.5.5)O exemplo 3. é o caso especial em que Γ tem codimensão 1 e f ≡ 0. Λ Γ,f é umaLagrangeana que não é cónica (a não ser que f seja constante).♣.


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 93O exemplo seguinte tem importância crucial para o que se segue - consi<strong>de</strong>remos ográfico <strong>de</strong> uma 1-forma α ∈ Ω 1 (IR n x):Λ α = {(x, p) ∈ T ∗ IR n : p = α(x), x ∈ IR n } (2.5.6)• ♣ Proposição 2.6 ... Λ α é uma subvarieda<strong>de</strong> Lagrangeana em T ∗ IR n se e sóse α é fechada: dα = 0.Dem.: De facto, pela proprieda<strong>de</strong> tautológica, α ∗ θ = α, vem que dα = dα ∗ θ =α ∗ dθ = α ∗ ω e, portanto, dα = 0 sse α ∗ ω = 0, isto é, sse ω| Λ = 0.♣.Quan<strong>do</strong> Λ α é uma subvarieda<strong>de</strong> Lagrangiana em T ∗ IR n , α é fechada e portanto localmenteexacta, isto é, numa vizinhança U, <strong>de</strong> cada ponto <strong>de</strong> IR n x, po<strong>de</strong>mos encontrar umafunção S : U → IR tal que α = dS. Diz-se então que S : U ⊆ IR n → IR é uma funçãogera<strong>do</strong>ra ou uma iconal (local) para Λ α . Pômos então, neste caso, Λ α = Λ dS , em U.Em coor<strong>de</strong>nadas:α = dS = S x dx = ∂Sdx i dxi , e Λ α = Λ dS ={( }∂S(x, p) : p = S x (x) =dx)i=1,...,n(x) i(2.5.7)Qualquer Lagrangeana Λ ⊂ T ∗ IR n , que (localmente) se projecte difeomòrficamentesobre o espaço <strong>de</strong> configuração IR n x, é da forma Λ = Λ α = Λ dS , para alguma iconal (local)S.Por outro la<strong>do</strong>, dada uma Lagrangeana Λ ⊂ T ∗ IR n , como a forma θ = pdx é fechadaem Λ, o integral <strong>de</strong> acção reduzida ∫ PP 0p dx, <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> para todas as curvas contidasem Λ, que partem <strong>de</strong> um ponto fixo P 0 ∈ Λ, <strong>de</strong>fine uma função localmente unívocaW : Λ → IR, a que chamamos uma fase local em Λ:W (P ) =∫ PP 0p dx (2.5.8)O integral <strong>de</strong> linha é calcula<strong>do</strong> ao longo <strong>de</strong> uma qualquer curva em Λ, que una P 0 a P . SeΛ (localmente) se projecta difeomòrficamente sobre o espaço <strong>de</strong> configuração IR n x, então,como vimos, será da forma Λ = Λ α = Λ dS , e S = W ◦ α é uma iconal (local) para Λ.É claro que as transformações canónicas transformam Lagrangeanas em Lagrangeanas.Por exempo, a transformação (x, p) ↦→ (p, −x) permuta Λ x0 com Λ p0 .Suponhamos agora da<strong>do</strong> um Hamiltoniano H ∈ C ∞ (T ∗ IR n ), que não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>do</strong>parâmetro t. Como sabemos, existe conservação <strong>de</strong> energia - uma curva integral (x(t), p(t))<strong>do</strong> campo Hamiltoniano X H , isto é, uma solução das equações canónicas:{ ẋ = Hpṗ = −H x(2.5.9)


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 94Figure 2.7:está sempre contida num mesmo nível <strong>de</strong> energia:Σ h<strong>de</strong>f= {(x, p) ∈ T ∗ IR n : H(x, p) ≡ h}, h constante (2.5.10)Nestas condições, temos então a seguinte proposição:• ♣ Proposição 2.7 ... (i). O campo Hamiltoniano X H = H p ∂ x − H x ∂ p étangente à hipersuperfície <strong>de</strong> nível Σ h .(ii).ω(X H , ξ) = 0, ∀ξ ∈ T Σ h (2.5.11)(iii). Seja Λ uma Lagrangeana em T ∗ IR n , contida na hipersuperfície <strong>de</strong> nível Σ h .Então o campo Hamiltoniano X H é tangente a Λ e, em particular, Λ contem todaa curva integral <strong>de</strong> X H , sempre que esta intersecta Λ em algum ponto.Dem.: Para mostrar (i)., temos que provar que dH(X H ) = 0. Mas, por <strong>de</strong>finição,i XH ω = dH. Portanto 0 = ω(X H , X H ) = (i XH ω)(X H ) = dH(X H ).Por outro la<strong>do</strong>, dH(ξ) = 0, ∀ξ ∈ T Σ h , uma vez que H é constante em Σ h . Logo0 = dH(ξ) = i XH ω(ξ) = ω(X H , ξ), o que mostra (ii).Mostremos agora (iii). Seja P ∈ Λ ⊂ Σ h , e seja {ξ 1 , · · · , ξ n } uma base para oespaço tangente T P Λ ⊂ T P Σ h . Por (ii)., sabemos que ω(X H , ξ i ) = 0, i = 1, . . . , n.Mas, como T P Λ é maximalmente isotrópico (a dimensão máxima <strong>de</strong> um subespaçoon<strong>de</strong> ω se anula é n), isto implica que X H = ∑ λ i ξ i , o que significa que o campoHamiltoniano X H é tangente a Λ.♣.Consi<strong>de</strong>remos agora uma varieda<strong>de</strong> isotrópica Λ 0 , <strong>de</strong> dimensão n − 1, contida na hipersuperfície<strong>de</strong> nível Σ h . Por cada ponto P = (x 0 , p 0 ) ∈ Λ 0 , façamos passar uma curvaintegral (x(t), p(t)) <strong>do</strong> campo Hamiltoniano X H , com condição inicial (x 0 , p 0 ) ∈ Λ 0 .Suponhamos que a varieda<strong>de</strong> Λ, que assim se obtem, tem dimensão n (o que acontece, seX H fôr transversal a Λ 0 e se t fôr suficentemente pequeno).


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 95Figure 2.8:Então Λ será uma Lagrangeana, <strong>de</strong> dimensão n, contida na hipersuperfície <strong>de</strong> nívelΣ h . Se Λ se <strong>de</strong>fine localmente por uma equação <strong>do</strong> tipo:( ∂Sp = α(x) = S x (x) =∂x)i=1,...,n(x) i(2.5.12)isto é, se Λ fôr localmente da forma Λ = Λ dS , então S satisfaz a equação reduzida <strong>de</strong>Hamilton-Jacobi:H(x, S x ) = h (2.5.13)Neste caso, a função:S(t, x)satisfará a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:<strong>de</strong>f= −ht + S(x) (2.5.14)S t + H(x, S x ) = 0 (2.5.15)p:Suponhamos agora que o Hamiltoniano é homogéneo positivo <strong>de</strong> grau 1 nas variáveisComo exemplos típicos temos:H(x, λp) = λH(x, p), ∀λ > 0 (2.5.16)• o Hamiltoniano óptico H(x, p) = ‖p‖/n(x), que rege a propagação <strong>do</strong>s raios nummeio isotrópico com índice <strong>de</strong> refracção n(x).• As geodésicas <strong>de</strong> uma métrica Riemanniana po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>duzidas <strong>do</strong> LagrangeanoL = g ij (x)ẋ i ẋ j ao qual correspon<strong>de</strong> o Hamiltoniano H = g ij p i p j . No entanto,po<strong>de</strong>mos também usar o Hamiltoniano √ H = √ g ij p i p j . Para um nível <strong>de</strong> energiaH = h constante, as equações <strong>de</strong> Hamilton são proporcionais com um factor <strong>de</strong>proporcionalida<strong>de</strong> constante. De facto, se H = h constante, então em Σ h :X H = 2 √ h X √ H(2.5.17)


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 96• ♣ Proposição 2.8 ... O fluxo Φ t , <strong>de</strong> um campo Hamiltoniano X H , associa<strong>do</strong>a uma Hamiltoniano H, homogéneo positivo <strong>de</strong> grau 1 nas variáveis p, preserva a1-forma canónica <strong>de</strong> Liouville θ = pdx.Dem.: É suficiente provar que a <strong>de</strong>rivada <strong>de</strong> Lie L XH θ = 0. Como X H = H p ∂ x −H x ∂ p , vem que:L XH θ = L XH (pdx)= (i XH d + di XH )(pdx)= i XH (dp ∧ dx) + d(pdx(X H ))= dp(X H )dx − dx(X H )dp + d(pH p )= −H x dx − H p dp + H p dp + pdH p= −H x dx − pdH p= 0 (2.5.18)A última igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve-se à i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Euler pH p − H = 0, que é válidaaten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> à homogeneida<strong>de</strong> <strong>de</strong> H. Dessa i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> obtem-se:0 = d(pH p ) − dH = H p dp + pd(H p ) − dH= H p dp + pd(H p ) − H x dx − H p dp = pd(H p ) − H x dxque é (2.5.18).♣.Desta proposição concluímos que o fluxo Φ t , <strong>de</strong> um Hamiltoniano homogéneo positivo<strong>de</strong> grau 1, nas variáveis p, preserva a classe das Lagrangeanas cónicas (aquelas on<strong>de</strong> aforma θ = pdx se anula idênticamente).Como já vimos, da<strong>do</strong> um ponto x 0 ∈ IR n x, a Lagrangeana:Λ x0 = {x 0 } × T ∗ x 0IR n = {(x 0 , p) : p ∈ IR n }é cónica - é a fibra <strong>de</strong> T ∗ IR n por cima <strong>de</strong> x 0 . Da<strong>do</strong> um Hamiltoniano homogéneo H,po<strong>de</strong>mos construir um feixe central <strong>de</strong> trajectórias <strong>de</strong> centro x 0 , projectan<strong>do</strong> no espaço<strong>de</strong> configuração IR n x, as curvas integrais <strong>de</strong> X H , com condição inicial (x 0 , p 0 ), on<strong>de</strong> p 0varia numa varieda<strong>de</strong> inicial dada V 0 ⊂ Λ x0 , <strong>de</strong> dimensão n − 1, tal que:V 0 ⊂ Λ x0 ∩ Σ h (2.5.19)Para t > 0 teremos uma certa varieda<strong>de</strong> V t , em T ∗ IR n , também <strong>de</strong> dimensão n − 1,cuja projecção no espaço <strong>de</strong> configuração IR n x é a chamada frente <strong>de</strong> onda, no instantet, correspon<strong>de</strong>nte ao feixe central <strong>de</strong> trajectórias <strong>de</strong> centro x 0 .Consi<strong>de</strong>remos agora uma Lagrangeana cónica qualquer Λ, em T ∗ IR n , (portanto dim Λ =n, e pdx| Λ= 0).


2.5. Discussão geométrica da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi reduzida 97Figure 2.9:A respectiva projecção, no espaço <strong>de</strong> configuração IR n x, tem dimensão ≤ (n − 1). Defacto, se ξ = a∂ x + b∂ p é um vector tangente a Λ, num <strong>do</strong>s seus pontos (x, p) ∈ Λ, entãodπ(ξ) = a∂ x on<strong>de</strong> a x-componente a, tem que satisfazer a equação linear:0 = (pdx)(ξ) = (pdx)(a∂ x + b∂ p ) = apPortanto, o espaço tangente à projecção π(Λ), tem uma dimensão ≤ (n − 1). Em particular,Λ não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>finida como gráfico <strong>de</strong> uma 1-forma (mesmo localmente), o queimpe<strong>de</strong> <strong>de</strong> gerar Λ por uma iconal (local), contràriamente ao que eventualmente acontececom varieda<strong>de</strong>s não cónicas.Por isso, <strong>de</strong> forma análoga ao caso anterior, em que Λ = Λ x0 , consi<strong>de</strong>ramos umavarieda<strong>de</strong> inicial V 0 , <strong>de</strong> dimensão n − 1, contida em Λ, e <strong>de</strong>finida por H ≡ h (constante):V 0 ⊂ Λ ∩ Σ hDa<strong>do</strong> um Hamiltoniano homogéneo H, construímos então o “tubo <strong>de</strong> trajectórias” <strong>de</strong>X H , com “base” em V 0 . Por outras palavras, varremos V 0 pelo fluxo <strong>de</strong> X H . Desta formaobtemos uma Lagrangeana ˜Λ, contida na hipersuperfície <strong>de</strong> nível H ≡ h (constante):˜Λ = ∪ t Φ t (V 0 ) (2.5.20)Sob certas condições, po<strong>de</strong> acontecer que ˜Λ seja já gerada (localmente) por uma certaiconal S, <strong>de</strong> tal forma que p = S x (x), on<strong>de</strong> S verifica a equação reduzida <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:H(x, S x ) ≡ h (2.5.21)Como Λ é cónica, a forma θ = pdx anula-se em V 0 ⊂ Λ. Portanto ela também seanula em cada superfície V t = Φ t (V 0 ), já que, como vimos, o fluxo Φ t preserva a forma θ.Mas isto implica que a fase local:W (P ) =∫ PP 0pdx<strong>de</strong>finida em ˜Λ, é constante em cada V t = Φ t (V 0 ), ∀t. Vemos pois que as superfícies <strong>de</strong>nível S(x) ≡constante, on<strong>de</strong> S = W ◦ α, confun<strong>de</strong>m-se exactamente com as projecçõesdas superfícies V t sobre o espaço <strong>de</strong> configuração IR n x, isto é, com as frentes <strong>de</strong> onda.


2.6. Aplicações à óptica geométrica 982.6 Aplicações à óptica geométrica2.6.1 Construção das frentes <strong>de</strong> onda a partir <strong>do</strong>s raiosConsi<strong>de</strong>remos a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi:H(x, dψ(x)) = 1 2(2.6.1)correspon<strong>de</strong>nte ao Hamiltoniano:H(x, p) = p2n 2 (2.6.2)em T ∗ IR 3 , muni<strong>do</strong> das coor<strong>de</strong>nadas canónicas x = (x, y, z) e p = (p, q, r). As equaçõescanónicas são dadas por (2.2.35):{ ẋ = Hpṗ = −H x(2.6.3)Uma solução <strong>de</strong> (2.6.3) está contida em H −1 (1/2):H(x(t), p(t)) ≡ 1 2(2.6.4)O problema que vamos agora discutir é o seguinte: supon<strong>do</strong> que sabemos resolver asequações canónicas (2.6.3), preten<strong>de</strong>mos calcular uma família <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda ψ = ct,on<strong>de</strong> ψ é uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi (2.6.1) que satisfaz a condiçãoinicial:ψ(φ(u)) = F (u), u = (ξ, η) ∈ U ⊆ IR 2 (2.6.5)Aqui x = φ(u) é a representação paramétrica <strong>de</strong> uma superfície Γ em IR 3 x (eventualmente<strong>de</strong>generada), e F = F (u) é uma função dada. Γ po<strong>de</strong> representar, por exemplo, umobstáculo, a fronteira entre <strong>do</strong>is meios ópticos ou po<strong>de</strong> reduzir-se até a um ponto. Afamília <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda que preten<strong>de</strong>mos construir, e que satisfazem as condições iniciais(2.6.5), dadas em Γ, po<strong>de</strong> consitir <strong>de</strong> ondas inci<strong>de</strong>ntes, reflectidas ou refractadas.Suponhamos que ψ = ψ(x) é uma solução da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi (2.6.1).Então as superfícies ψ = ct <strong>de</strong>terminam uma família a um parâmetro <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda euma família a <strong>do</strong>is parâmetros <strong>de</strong> raios ortogonais a essas frentes <strong>de</strong> onda. Seja x = x(τ)um <strong>de</strong>sses raios e P 0 = x(τ 0 ), P 1 = x(τ 1 ) <strong>do</strong>is pontos nesse raio. O comprimento ópticoentre esses <strong>do</strong>is pontos:∫V (P 0 , P 1 ) = p dx===∫ τ1τ∫ 0τ1τ∫ 0τ1ψ x ẋ + ψ y ẏ + ψ z ż dτ(∇ψ) 2 dττ 0n 2 dτ (2.6.6)


2.6. Aplicações à óptica geométrica 99é da<strong>do</strong> pela diferença:ψ(P 1 ) − ψ(P 0 ) =∫ τ1τ 0n 2 dτ (2.6.7)É pois natural consi<strong>de</strong>rar o seguinte méto<strong>do</strong> para calcular a solução <strong>do</strong> problema anterior- por cada ponto φ(u) da superfície inicial Γ, fazemos passar o único raio que por aí passano instante τ = 0, isto é, a projecção x(u; τ) da solução das equações canónicas (2.6.3)com condição inicial:x(u; τ = 0) = φ(u), p(u; τ = 0) = p 0 (u) (2.6.8)Aqui φ(u) é da<strong>do</strong>, enquanto que p 0 (u) <strong>de</strong>ve ser calcula<strong>do</strong> <strong>de</strong> mo<strong>do</strong> assegurar as condiçõesiniciais. Como preten<strong>de</strong>mos que:<strong>de</strong>vemos ter, pela regra da ca<strong>de</strong>ia, que:Pon<strong>do</strong>:ψ(φ(u)) = F (u)dψ φ(u)◦ dφ u = dF u , ∀u (2.6.9)p 0 (u) = dψ φ(u)a equação (2.6.9) implica que 〈φ ξ (u), p 0 (u)〉 = F ξ (u), 〈φ η (u), p 0 (u)〉 = F η (u). A estasequações <strong>de</strong>vemos acrescentar ainda a equação H (φ(u), p 0 (u)) = 1/2. Portanto, paracada u = (ξ, η), as três equações:⎧⎨⎩〈φ ξ (u), p 0 (u)〉 = F ξ (u)〈φ η (u), p 0 (u)〉 = F η (u)H (φ(u), p 0 (u)) = 1/2que, em princípio, <strong>de</strong>terminam p 0 = p(u; τ = 0).Mais formalmente, Φ : u ↦→ (φ(u), p 0 (u)), on<strong>de</strong> p 0 (u) é <strong>de</strong>termina<strong>do</strong> pelas equações(2.6.10), <strong>de</strong>fine uma subvarieda<strong>de</strong> isotrópica <strong>de</strong> dimensão 2 em T ∗ IR 3 , contida em {H =1/2}. De facto as duas primeiras equações são equivalentes a:Φ ∗ (pdx) = dF ⇒ Φ(dp ∧ dx) = 0 (2.6.10)Moven<strong>do</strong> esta subvarieda<strong>de</strong> sob a acção <strong>do</strong> fluxo <strong>do</strong> campo Hamiltoniano X H (que étangente a {H = 1/2}), supon<strong>do</strong> que X H é transversal, obtemos uma subvarieda<strong>de</strong> Lagrangeana(dimensão 3) contida em {H = 1/2}, que localmente é da forma gráfico <strong>de</strong> dψ,e portanto este ψ é a solução pretendida da equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi (2.6.1).Pômos portanto:∫˜ψ(ξ, η, τ) = F (ξ, η) + p dx (2.6.11)r τon<strong>de</strong> r τ é a única solução das equações canónicas (2.6.3) que une (φ(u), p 0 ), com coor<strong>de</strong>nadas(ξ, η, 0), ao ponto (ξ, η, τ). Por (2.6.6), sabemos que o integral ∫ r τp dx dáexactamente o comprimento óptico ∫ n 2 dτ <strong>de</strong>sse raio.


2.6. Aplicações à óptica geométrica 100É claro que estamos a supôr que, numa vizinhança da superfície Γ, em IR 3 x, cuja representaçãoparamétrica é x = φ(u) = φ(ξ, η), po<strong>de</strong>mos escolher (ξ, η, τ) como coor<strong>de</strong>nadaslocais, o que acontece se o <strong>de</strong>terminante Jacobiano ∂(x,y,z) ≠ 0. Sen<strong>do</strong> assim, pômos∂(ξ,η,τ)finalmente:ψ(x, y, z) = ˜ψ(ξ(x, y, z), η(x, y, z), τ(x, y, z)) (2.6.12)on<strong>de</strong> ˜ψ(ξ, η, τ) é <strong>de</strong>finida por (2.6.11).Resta provar que (2.6.12) é a solução procurada. É óbvio que ψ(ξ, η, 0) = F (ξ, η).Por outro la<strong>do</strong>, como H (φ(u), p 0 (u)) = 1/2 e H é um integral primeiro das equaçõescanónicas, <strong>de</strong>duzimos que:H(x, p) = 1/2 (2.6.13)Resta então provar que:Derivan<strong>do</strong> (2.6.11) em or<strong>de</strong>m a τ vem que:p = dψ(x) (2.6.14)˜ψ τ = px τ (2.6.15)Derivan<strong>do</strong> agora (2.6.11) em or<strong>de</strong>m a ξ vem sucessivamente que:˜ψ ξ = F ξ +∫ τ0p ξ x τ dτ +∫ τ= F ξ + px ξ − ( px ξ | τ=0)+∫ τ= px ξ +∫ τ0∫ τ0px ξτ dτ[p ξ H p + H x x ξ ] dτ0[p ξ x τ − p τ x ξ ] dτ∂H= px ξ +0 ∂ξ dτ= px ξ (2.6.16)aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> às equações canónicas, a que F ξ = px ξ | τ=0e ainda a H ≡ 1/2. Anàlogamentese obtem que ˜ψ η = px η , e reunin<strong>do</strong> as três equações obtemos:Por outro la<strong>do</strong>, como ˜ψ(ξ, η, τ) = ψ(x(ξ, η, τ)), vem que:e finalmente, (2.6.17) e (2.6.18) implicam que:como se pretendia.Vamos aplicar esta teoria em duas situações concretas:˜ψ τ = p x τ˜ψ ξ = p x ξ˜ψ η = p x η (2.6.17)˜ψ τ = ψ x x τ˜ψ ξ = ψ x x ξ˜ψ η = ψ x x η (2.6.18)p = dψ(x) (2.6.19)


2.6. Aplicações à óptica geométrica 1012.6.2 Propagação das frentes <strong>de</strong> onda através <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong><strong>do</strong> meio. Lei <strong>de</strong> SnellSuponhamos que a superfície Γ, parametrizada como antes por x = φ(u), separa <strong>do</strong>ismeios nota<strong>do</strong>s por 1 e 2, respectivamente. O meio 1 supõe-se homogéneo e isotrópico comíndice <strong>de</strong> refracção n 1 . Seja ψ 1 (x) = ct um sistema <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda que se propaga nomeio 1, e suponhamos que:ψ 1 (φ(u)) = F (u) (2.6.20)Cada uma das frentes ψ 1 = ct dá origem a uma frente da família ψ 2 = ct que se propagano meio 2. É natural supôr que, em cada ponto φ(u) ∈ Γ, a frente <strong>do</strong> meio 2 tem omesmo valor da frente <strong>do</strong> meio 1, que intersecta Γ em φ(u), nomeadamente o valor F (u).Queremos pois <strong>de</strong>terminar a família ψ 2 = ct, que se propaga no meio 2, e que satisfaz:ψ 2 (φ(u)) = F (u) (2.6.21)De (2.6.20) <strong>de</strong>duzimos, pela regra da ca<strong>de</strong>ia, que:ou, pon<strong>do</strong> (dψ 1 ) φ(u)= p 1 :(dψ 1 ) φ(u)(dφ u (V )) = dF u (V ), ∀V ∈ T u IR 2{ 〈φξ (u), p 1 〉 = F ξ (u)〈φ η (u), p 1 〉 = F η (u)o que permite calcular as <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> F . Para calcular agora p 2 , que permitirá o cálculo<strong>de</strong> ψ 2 , <strong>de</strong> acor<strong>do</strong> com a secção anterior, temos que resolver as equações (ver (2.6.10)):⎧⎨⎩〈φ ξ (u), p 2 〉 = F ξ (u)〈φ η (u), p 2 〉 = F η (u)H 2 (φ(u), p 2 ) = 1/2em or<strong>de</strong>m a p 2 . Subtrain<strong>do</strong> a primeira e segunda equações (2.6.22) das primeira e segundaequações (2.6.22), respectivamente, obtemos:⎧⎨⎩〈φ ξ (u), p 1 − p 2 〉 = 0〈φ η (u), p 1 − p 2 〉 = 0H 2 (φ(u), p 2 ) = 1/2Se este sistema não tiver solução, não haverá frentes <strong>de</strong> onda penetran<strong>do</strong> no meio 2. Setiver solução haverá frentes penetran<strong>do</strong> no meio 2. Seja:N(u) = φ ξ (u) × φ η (u)o vector normal a Γ, no ponto φ(u). As duas primeiras equações em (2.6.22) dizem quep 1 − p 2 é colinear com N, digamos p 1 − p 2 = λ N, e portanto:p 1 × N = p 2 × N (2.6.22)


2.6. Aplicações à óptica geométrica 102Esta fórmula diz que a normal à onda inci<strong>de</strong>nte, a normal à onda refractada e a normal àsuperfície Γ são coplanares. Por outro la<strong>do</strong>, da <strong>de</strong>finição <strong>do</strong> produto vectorial, <strong>de</strong>duzimosa lei <strong>de</strong> refracção <strong>de</strong> Snell:‖p 2 ‖ sin φ 2 = ‖p 1 ‖ sin φ 1 (2.6.23)on<strong>de</strong> φ 1 e φ 2 são, respectivamente, os ângulos que p 1 e p 2 fazem com N. Como ‖p 1 ‖ = n 1e ‖p 2 ‖ = n 2 , a lei <strong>de</strong> Snell po<strong>de</strong> ser escrita na forma:n 2 sin φ 2 = n 1 sin φ 1 (2.6.24)Figure 2.10: Lei <strong>de</strong> refracção <strong>de</strong> Snell.Além da família ψ 1 = ct, que se propaga no meio 1, existe uma outra família ψ 3 = ct,que se propaga também no meio 1, e que satisfaz as condições <strong>de</strong> fronteira indicadas. Para<strong>de</strong>terminar esta família, introduzimos um (co)vector p 3 , e as equações:⎧⎨⎩〈φ ξ (u), p 3 − p 2 〉 = 0〈φ η (u), p 3 − p 2 〉 = 0H 1 (φ(u), p 3 ) = 1/2Usan<strong>do</strong> exactamente os mesmos argumentos, <strong>de</strong>duzimos que p 3 − p 1 = LN, e portanto:e finalmente:p 3 × N = p 1 × N (2.6.25)n 1 sin φ 3 = n 1 sin φ 1 (2.6.26)Da figura 2.10, <strong>de</strong>duzimos que φ 3 = π − φ 1 e, como antes, p 1 , p 3 e N são coplanares. Aequação (2.6.26) é a lei da reflexão para meios isotrópicos.2.6.3 Princípio <strong>de</strong> HuygensVamos agora aplicar a teoria anterior à situação em que Γ é ela própria uma frente <strong>de</strong>onda, digamos ψ(x) = 0. A função F (u) é portanto a função nula, e as equações (2.6.10)são agora:⎧⎨ 〈φ ξ (u), p 0 〉 = 0〈φ⎩ η (u), p 0 〉 = 0H (φ(u), p 0 ) = 1/2


2.6. Aplicações à óptica geométrica 103já que F ξ = 0 = F η , enquanto que a equação (2.6.12) para as frentes <strong>de</strong> onda é:∫ψ(ξ, η, τ) = p dx (2.6.27)r τon<strong>de</strong> r τ é a única solução das equações canónicas (2.6.3) que une (φ(u), p 0 ), com coor<strong>de</strong>nadas(ξ, η, 0), ao ponto (ξ, η, τ). As duas primeiras equações em (2.6.27) <strong>de</strong>terminamuma recta <strong>de</strong> (co)vectores ortogonais ao espaço tangente a Γ = {ψ = 0}, no ponto φ(u). Aterceira equação <strong>de</strong>termina então a intersecção <strong>de</strong>ssa recta com a hipersuperfície H = 1/2.Por exemplo, num meio isotrópico, com H = p 2 /n 2 , on<strong>de</strong> p 2 = p · p, temos duas soluçõespara (2.6.27) que <strong>de</strong>terminam duas famílias <strong>de</strong> frentes - uma propaga-se para um la<strong>do</strong> <strong>de</strong>Γ e a outra para o outro la<strong>do</strong>.Suponhamos agora que Γ <strong>de</strong>genera num único ponto Γ = x 0 , <strong>de</strong> tal forma que a funçãoφ é agora constante (e igual a x 0 ). Neste caso, as equações (2.6.27) reduzem-se a umaúnica:H (x 0 , p 0 ) = 1/2 (2.6.28)Com x 0 fixo, (2.6.28) representa uma superfície no espaço cotangente Tx ∗ 0IR 3 , e po<strong>de</strong>localmente ser parametrizada por <strong>do</strong>is <strong>do</strong>s parâmetros (p 0 , q 0 , r 0 ) = p 0 .Seleccionemos agora uma família a <strong>do</strong>is parâmetros <strong>de</strong> soluções (bicaracterísticas)das equações canónicas (2.6.3), digamos:{ x = x(p0 ; τ)(2.6.29)p = p(p 0 ; τ)<strong>de</strong>terminadas pelas condições iniciais:{ x(p0 ; τ = 0) = x 0p(p 0 ; τ = 0) = p 0(2.6.30)on<strong>de</strong>, para cada x 0 , p 0 é solução <strong>de</strong> (2.6.28). A frente <strong>de</strong> onda é então <strong>de</strong>terminada por:∫ψ(p 0 ; τ) = pdx (2.6.31)r τon<strong>de</strong> r τ é a bicaracterística acima referida. Estas soluções especiais da equação <strong>de</strong>Hamilton-Jacobi, dizem-se ondas esféricas ou onduletas (wavelets), e a função:∫<strong>de</strong>fV (P 0 , P ) = V (x 0 , x) = pdx (2.6.32)r τé a chamada função característica pontual <strong>de</strong> Hamilton. Recor<strong>de</strong> que o integral∫r τpdx é igual ao comprimento óptico ∫ r τn 2 dτ, <strong>do</strong> raio r τ e, portanto, V (P 0 , P ) é igualà distância óptica entre os pontos P 0 e P 1 .Com a ajuda das onduletas V (P 0 , P ) po<strong>de</strong>mos dar um outro méto<strong>do</strong>, que se <strong>de</strong>ve aHuygens, para a construção das frentes <strong>de</strong> onda ψ = ct tais que ψ = 0 é a superfícieinicial Γ.Suponhamos que a superfície inicial Γ é dada paramètricamente por:x 0 = φ(u), u = (ξ, η) (2.6.33)


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 104Cada ponto x 0 ∈ Γ <strong>de</strong>termina a família <strong>de</strong> onduletas:V (u; x) = V (ξ, η; x) = ct (2.6.34)e, quan<strong>do</strong> u = (ξ, η) varia e para um certo t fixo, obtemos uma família a <strong>do</strong>is parâmetros<strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda. Vamos mostrar que a envolvente <strong>de</strong>sta família é uma frente <strong>de</strong> ondaψ = ct da família <strong>de</strong>terminada por Γ, tal que ψ = 0 é exactamente Γ.De facto, essa envolvente é obtida eliminan<strong>do</strong> ξ e η nas equações seguintes:V (ξ, η; x) = ctV ξ (ξ, η; x) = 0V η (ξ, η; x) = 0 (2.6.35)Em geral, consegue-se esta eliminação resolven<strong>do</strong> as duas últimas equações em or<strong>de</strong>m a ξe η, como funções <strong>de</strong> x, e substituin<strong>do</strong> na primeira, para obter uma função:Pon<strong>do</strong> x = (x, y, z), obtemos então as seguintes <strong>de</strong>rivadas:ψ(x) = V (ξ(x), η(x); x) = ct (2.6.36)ψ x = V ξ ξ x + V η η x + V x = V xψ y = V ξ ξ y + V η η y + V y = V yψ z = V ξ ξ z + V η η z + V z = V z (2.6.37)já que V ξ = 0 = V η . Mas isto significa que ∇ψ = ∇V , isto é, a frente <strong>de</strong> onda que passaem x é tangente à onduleta que passa nesse mesmo ponto x.Como V (ξ, η; x), como função <strong>de</strong> x, satisfaz a equação <strong>de</strong> Hamilton-Jacobi H(x, dV (x)) =1/2, também ψ a satisfaz, já que dψ(x) = dV (x). Portanto ψ é uma frente <strong>de</strong> onda. Restamostrar que, para t = 0, ψ = 0 é exactamente Γ. Das equações (2.6.35) po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>terminarx como função <strong>de</strong> ξ, η, t:x = x(ξ, η, t)Para cada t fixo, estas equações dão uma representação paramétrica da superfície ψ(x) =ct. Em particular, para t = 0 obtemos uma representação paramétrica da superfícieψ(x) = 0.2.7 Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica2.7.1 Propagação da luz num meio isotrópico não homogéneoO campo electromagnético é caracteriza<strong>do</strong> por <strong>do</strong>is campos <strong>de</strong> vectores em IR 3 , <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes<strong>do</strong> tempo:(t, x) ↦−→ E(t, x) = (E 1 (t, x), E 2 (t, x), E 3 (t, x)) ∈ IR 3 campo eléctrico(t, x) ↦−→ H(t, x) = (H 1 (t, x), H 2 (t, x), H 3 (t, x)) ∈ IR 3 campo magnético


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 105enquanto que as proprieda<strong>de</strong>s <strong>do</strong> meio são caracterizadas por duas funções escalares (quenão <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>do</strong> tempo):(t, x) ↦−→ ɛ(x) ∈ IR constante dieléctrica(t, x) ↦−→ µ(x) ∈ IR permeabilida<strong>de</strong> magnéticaOs campos E e H satisfazem um sistema 6 PDE’s (lineares <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m):⎧⎨⎩[M1].[M2].ɛE c t = ∇ × Hµc H t = −∇ × Eàs quais é habitual adicionar mais duas equações:⎧⎨ [M3]. ∇ · (ɛE) = 0⎩[M4]. ∇ · (µH) = 0on<strong>de</strong> ∇ = (∂ x , ∂ y , ∂ z ), que dizem que não existem fontes (cargas ou correntes) <strong>de</strong> electricida<strong>de</strong>ou magnetismo. Recor<strong>de</strong> que ∇· = div e ∇× = rot .Toman<strong>do</strong> os produtos internos <strong>de</strong> [M1] com E e <strong>de</strong> [M2] com H, respectivamente, esoman<strong>do</strong> os resulta<strong>do</strong>s, obtemos:Como:vem que:1c (ɛ E · E t + µ H · H t ) − E · (∇ × H) + H · (∇ × E) = 0H · (∇ × E) − E · (∇ × H) = ∇ · (E × H)c ∇ · (E × H) + 1 ∂ (ɛE 2 + µH 2) = 02 ∂ton<strong>de</strong> pusemos E 2 = E · E e H 2 = H · H, ou ainda:∂∂t1 (ɛ E 2 + µ H 2) +div} 8π {{ }E(t,x)c (E × H) = 0 (2.7.1)} 4π {{ }P(t,x)on<strong>de</strong> <strong>de</strong>finimos:E(t, x) = 18π (ɛ E2 + µ H 2 ) ,P(t, x) = c (E × H),4πenergia <strong>do</strong> campovector <strong>de</strong> radiaçãoTemos então a seguinte equação <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> (ou conservação):∂E∂t+ div P = 0 (2.7.2)


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 106Se D ⊂ IR 3 é um <strong>do</strong>mínio fecha<strong>do</strong> cujo bor<strong>do</strong> ∂D é uma superfície fechada, temos que:∫ ( )∂E0 =D ∂t + div P dV= ∂ ∫ ∫E dV + div P dV∂t DD= ∂ ∫ ∫E dV + P · dS (2.7.3)∂tDO primeiro integral representa a variação temporal da energia total <strong>do</strong> campo em De, portanto, o segun<strong>do</strong> integral representa o fluxo <strong>de</strong> energia através da superfície ∂D.Portanto o campo P = c (E × H) é interpreta<strong>do</strong> como o fluxo <strong>de</strong> energia.4π2.7.2 Representação integral das equações <strong>de</strong> MaxwellConsi<strong>de</strong>remos uma subvarieda<strong>de</strong> compacta orientável <strong>de</strong> dimensão 4, V ⊂ IR 4 t,x, cujobor<strong>do</strong> Γ = ∂V é uma hipersuperfície fechada orientada pela normal exterior N. Se ∂V fôrdada (localmente) por uma equação <strong>do</strong> tipo ϕ(t, x) = 0, o campo <strong>de</strong> vectores N é da<strong>do</strong>por:N(t, x) = ± grad ϕ‖grad ϕ‖ = ± (ϕ t, ϕ x )√ϕ2t + ϕ 2 xO resulta<strong>do</strong> mais importante <strong>de</strong> que faremos uso sistemático é a fórmula <strong>de</strong> Gauss,que nos permite transformar equações que envolvem <strong>de</strong>rivadas <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> vectoresF ∈ X(IR 4 ) em equações que envolvem apenas o campo.• ♣ Proposição 2.9 (Teorema <strong>de</strong> Gauss) ... Seja F um campo <strong>de</strong> vectores<strong>de</strong> classe C 1 <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> num aberto que contem uma subvarieda<strong>de</strong> compacta orientáveln-dimensional V ⊂ IR n , com bor<strong>do</strong> ∂V . Então:∫∫div F dv = F · N dσV==∂Vn∑∫i=1n∑∫i=1∂V∂VF i N i dσ∂D(−1) i−1 F i dx 1 ∧ · · · ∧ ̂dx i ∧ · · · ∧ dx n (2.7.4)on<strong>de</strong> F = (F i ), N = (N i ) e div F = ∑ i∂F i∂x i .♣.Na nossa situação F = (0, ɛE) ou F = (0, µH), isto é, em ambos os casos a t-componente é nula. Portanto, no segun<strong>do</strong> membro <strong>do</strong>s integrais anteriores, apenas figuraa projecção N da normal N no x-espaço IR 3 . Obtemos então:∫∫div (ɛE) dv = ɛ(E · N) dσ (2.7.5)V∂V


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 107Figure 2.11: .e: ∫Vdiv (µH) dv =∫∂Vµ(H · N) dσ (2.7.6)Mas, como por [M3] e [M4], div (ɛE) = 0 = div (µH), concluímos que:• ♣ Proposição 2.10 ... Qualquer que seja a hipersuperfície fechada orientada,Γ em IR 4 , tem-se que:∫ɛ(E · N) dσ = 0 (2.7.7)Γ∫µ(H · N) dσ = 0 (2.7.8)Γon<strong>de</strong> N é a projecção, em IR 3 x, da normal exterior N a Γ.♣.Notemos que as condições (2.7.7) e (2.7.8) foram <strong>de</strong>duzidas das equações <strong>de</strong> Maxwell[M3] e [M4], sob as hipóteses <strong>de</strong> que ɛ, µ, E e H são <strong>de</strong> classe C 1 . Neste caso, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>a (2.7.5) e (2.7.6), essas condições são <strong>de</strong> facto equivalentes às equações div (ɛE) =0 = div (µH). No entanto, estas condições (2.7.7) e (2.7.8) po<strong>de</strong>m ser aplicadas directamente,mesmo quan<strong>do</strong> qualquer das funções envolvidas são <strong>de</strong>scontínuas (<strong>de</strong>s<strong>de</strong> quesejam integráveis, é claro!). Aliás o nosso objectivo é ver quais as condições que <strong>de</strong>vemser verificadas por essas possíveis <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s e que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>duzidas <strong>de</strong> (2.7.7)e (2.7.8).Se no teorema <strong>de</strong> Gauss (para n = 4), F tiver apenas uma componente não nula,digamos F i , para um certo i ∈ {0, 1, 2, 3} fixo, vem que ∫ ∂F idv = ∫ F V ∂x i ∂V iN i dσ, <strong>do</strong>n<strong>de</strong>se <strong>de</strong>duzem, fazen<strong>do</strong> os cálculos componente a componente, as seguintes fórmulas:∫∫(∇ × E) dv = (N × E) dσ (2.7.9)e: ∫VV(∇ × H) dv =∫∂V∂V(N × H) dσ (2.7.10)


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 108Apliquemos estas fórmulas às equações <strong>de</strong> Maxwell [M1]: ∇ × H − ɛE c t = 0 e [M2]:∇×E+ µ H c t = 0. Recordan<strong>do</strong> que ɛ e µ não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>de</strong> t, <strong>de</strong> tal forma que ɛE t = (ɛE) te µH t = (µH) t , vem que:e:0 =0 =∫∫VV(∇ × H − ɛ )c E tdv =(∇ × E + µ )c H t dv =on<strong>de</strong> pusemos N = (N 0 , N). Como V é arbitrário, concluímos que:∫∫∂V∂V(N × H − ɛ )c N 0 E dσ (2.7.11)(N × E + µ )c N 0 H dσ (2.7.12)• ♣ Proposição 2.11 ... Qualquer que seja a hipersuperfície fechada orientada,Γ em IR 4 , tem-se que:∫ (N × H − ɛ )Γc N 0 E dσ = 0 (2.7.13)∫ (N × E + µ )c N 0 H dσ = 0 (2.7.14)on<strong>de</strong> N = (N 0 , N) é a normal exterior a Γ.Γ♣.Novamente notamos que estas condições envolvem apenas os campos E, H e as funçõesɛ, µ, e não as suas <strong>de</strong>rivadas. São equivalentes às equações <strong>de</strong> Maxwell [M1] e [M2], seessas <strong>de</strong>rivadas existirem e forem contínuas, mas são mais gerais, no senti<strong>do</strong> em que <strong>de</strong>vemser verificadas também por campos ou funções <strong>de</strong>scontínuos.2.7.3 Propagação das <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s. Frentes <strong>de</strong> ondaOs campos da óptica geométrica são, por <strong>de</strong>finição, os valores <strong>do</strong>s campos electromagnéticosE e H, na fronteira que separa a região on<strong>de</strong> esses campos são nulos da região on<strong>de</strong> são nãonulos. No espaço IR 4 t,x esta fronteira é uma certa hipersuperfície ϕ(t, x) = 0. Quan<strong>do</strong> seccionamosessa hipersuperfície por hiperplanos t ≡ constante, e projectamos as secções noespaço IR 3 x, patalelamente ao eixo <strong>do</strong>s t ′ s, obtemos uma família <strong>de</strong> superfícies ψ(x) = ct.Para cada t fixo, a superfície ψ(x) = ct é a fronteira, no espaço IR 3 x, atingida pelos camposelectromagnéticos E(t, x) e H(t, x), no instante t. Estas superfícies chamam-se as frentes<strong>de</strong> onda. Os valores <strong>de</strong> E e H, num ponto x e no instante t = ψ(x)/c, constituem oscampo da óptica geométrica no ponto x:E ∗ (t, x) = E(ψ(x)/c, x), H ∗ (t, x) = H(ψ(x)/c, x)Os raios electromagnéticos são as curvas ao longo das quais a energia <strong>do</strong> campo daóptica geométrica flui. Em meios isotrópicos, esses raios são as trajectórias ortogonais,no espaço IR 3 x, à família <strong>de</strong> frentes <strong>de</strong> onda ψ = ct.Vamos agora aplicar as relações integrais (2.7.7), (2.7.8) e (2.7.13), (2.7.14) ao problemaseguinte:


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 109• ♣ Problema 2.3 ... Seja ϕ(t, x) = 0 uma hipersuperfície, em IR 4 , na qualɛ, µ, E ou H são <strong>de</strong>scontínuos. Deduzir as condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> a que<strong>de</strong>vem obe<strong>de</strong>cer os campos E e H em ϕ = 0.♣.Para isso consi<strong>de</strong>remos uma hipersuperfície fechada Γ, que é dividida em duas partesΓ 1 e Γ 2 , por ϕ = 0. Seja Γ 0 a parte <strong>de</strong> ϕ = 0 que está <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> Γ (ver a figura 2.12).Figure 2.12: .A normal a ϕ = 0 é proporcional a grad ϕ = (ϕ t , ϕ x ). Se p ∈ {ϕ = 0}, representamospor [E](p) a <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> <strong>de</strong> E em p:[E](p)e anàlogamente para [H], [ɛ] ou [µ].<strong>de</strong>f= lim E(q)q → pq ∈ V 1} {{ }E 1 (p)−lim E(q)q → pq ∈ V 2} {{ }E 2 (p)(2.7.15)Vamos agora aplicar a relação (2.7.13) à hipersuperfície fechada Γ = Γ 1 + Γ 2 :(N × H −∫Γ ɛ )1 +Γ 2c N 0 E dσ = 0 (2.7.16)Mas (2.7.13) <strong>de</strong>verá ser também válida em Γ 1 + Γ 0 :(N × H −∫Γ ɛ )(1 +Γ 0c N 0 E dσ = N × H −∫Γ ɛ )1c N 0 E dσ +=(N × H −∫Γ ɛ )1c N 0 E dσ(+ ϕ x × H 1 −∫Γ ɛ )10c ϕ tE 1(N × H −∫Γ ɛ )0c N 0 E dσdσ√ϕ2t + ϕ 2 x= 0 (2.7.17)já que, em Γ 0 , se tem:N =(N 0 =ϕ√ t, N =ϕ2t + ϕ 2 xϕ x√ϕ2t + ϕ 2 x)


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 110Como, por outro la<strong>do</strong>, (2.7.13) <strong>de</strong>verá ser também válida em Γ 2 + Γ 0 , e como agora, emΓ 0 se tem:()N =ϕ tϕ xN 0 = −√ , N = −√ ϕ2t + ϕ 2 x ϕ2t + ϕ 2 xvem que:(N × H −∫Γ ɛ )2 +Γ 0c N 0 E dσ ==(N × H −∫Γ ɛ ) (2c N 0 E dσ + N × H −∫Γ ɛ )0c N 0 E dσ(N × H −∫Γ ɛ )2c N 0 E dσ(− ϕ x × H 2 −∫Γ ɛ )20c ϕ tE 2dσ√ϕ2t + ϕ 2 x= 0 (2.7.18)Agora adicionamos as duas equações (2.7.17) e (2.7.18) e subtraímos a equação (2.7.16),para obter:(ϕ x × (H 2 − H 1 ) −∫Γ ϕ )t0c (ɛ 2E 2 − ɛ 1 E 1 )dσ√ϕ2t + ϕ 2 x= 0 (2.7.19)e como (2.7.19) <strong>de</strong>verá verificar-se para toda a parte Γ 0 <strong>de</strong> {ϕ = 0}, <strong>de</strong>veremos ter:ϕ x × [H] − ϕ tc[ɛE] = 0 (2.7.20)∫Consi<strong>de</strong>remos agora a equação integral (2.7.7): ɛ(E · N) dσ. Aplican<strong>do</strong>-a às superfíciesΓ 1 + Γ 2 , Γ 1 + Γ 0 e Γ 2 + Γ 0 , obtemos sucessivamente:Γ∫∫ɛ(E · N) dσ + ɛ(E · N) dσ = 0Γ 1 Γ∫∫ 2dσɛ(E · N) dσ + (ɛ 1 E 1 · ϕ x ) √ = 0Γ 1 Γ 0 ϕ2t + ϕ 2 x∫∫dσɛ(E · N) dσ − (ɛ 2 E 2 · ϕ x ) √ = 0 (2.7.21)Γ 2 Γ 0 ϕ2t + ϕ 2 x<strong>do</strong>n<strong>de</strong> <strong>de</strong>duzimos que:∫Γ 0(ɛ 2 E 2 − ɛ 1 E 1 ) · ϕ xdσ√ϕ2t + ϕ 2 x= 0e portanto:[ɛE] · ϕ x = 0 (2.7.22)Da mesma forma, usan<strong>do</strong> as outras duas equações integrais, obtemos mais duasequações (basta trocar ɛ com µ e E com −H). Resumin<strong>do</strong> toda esta discussão, temos aseguinte:


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 111• ♣ Proposição 2.12 ... Um campo electromagnético que seja <strong>de</strong>scontínuo numahipersuperfície ϕ(t, x) = 0, on<strong>de</strong> x = (x, y, z), <strong>de</strong>ve satisfazer as seguintes condições<strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>:⎧ϕ x × [H] − ϕ tc [ɛE] = 0[CD] ...⎪⎨ϕ x × [E] + ϕtc [µH] = 0ϕ x · [ɛE] = 0(2.7.23)⎪⎩ϕ x · [µH] = 0∀(t, x) ∈ Γ 0 = {ϕ = 0}.♣.Vejamos alguns exemplos:♣ Exemplo 2.5 ... Suponhamos que a superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> é estacionária(in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>do</strong> tempo t):ϕ(x, t) = ψ(x) = 0e que ɛ e µ são <strong>de</strong>scontínuos em Σ = {x ∈ IR 3 : ψ(x) = 0}. Σ representa pois a superfície<strong>de</strong> separação entre <strong>do</strong>is meios ópticos. Como neste caso ϕ t = 0 e ϕ x = ψ x = ∇ψ, asequações (2.7.23) têm a forma:{ ∇ψ × [H] = 0 = ∇ψ × [E]∇ψ · [ɛE] = 0 = ∇ψ · [µH](2.7.24)∀x ∈ Σ, ∀t ∈ IR. O vector ψ x = ∇ψ é perpendicular a Σ. Portanto ∇ψ × [H] e ∇ψ × [E]são <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s pelas componentes tangenciais <strong>de</strong> H e E, respectivamente. Por outrola<strong>do</strong>, ∇ψ · [ɛE] e ∇ψ · [µH] são <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s pelas componentes normais <strong>de</strong> [ɛE] e [µH],respectivamente. Portanto as equações (2.7.24) dizem que:• as componentes tangenciais <strong>de</strong> H e E e as componentes normais <strong>de</strong> ɛE e µH sãocontínuas em qualquer superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> estacionária <strong>de</strong> ɛ e µ.♣ Exemplo 2.6 ... Suponhamos que ɛ = µ ≡ 1 e que, no instante t = 0, os vectoresE(x, 0) e H(x, 0) são nulos apenas numa pequena bola <strong>de</strong> raio δ > 0, centrada na origem<strong>de</strong> IR 3 . O que se espera é que, com o evoluir <strong>do</strong> tempo, este campo electromagnético seexpanda <strong>de</strong> tal forma que, num certo instante t > 0, os vectores E e H sejam não nulosnuma esfera <strong>de</strong> raio δ + ct. Por outras palavras, o que se espera é que a superfície quesepara a parte <strong>do</strong> espaço que ainda está em repouso, ainda sem a influência <strong>do</strong> campoelectromagnético, da parte já excitada por esse campo, evolua no espaço quan<strong>do</strong> o tempoavança. Uma superfície <strong>de</strong>ste tipo chama-se sugestivamente uma frente <strong>de</strong> onda. Assim,


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 112por exemplo, na situação atrás <strong>de</strong>scrita, as frentes <strong>de</strong> onda serão as esferas concêntricas<strong>de</strong> equação:ϕ(x, t) = ‖x‖ − δ − ct = 0Se os valores iniciais <strong>do</strong>s campos E(x, 0) ou H(x, 0) são não nulos na esfera inicial <strong>de</strong> raioδ, então esta esfera é uma superfície na qual o campo electromagnético é <strong>de</strong>scontínuo.Quan<strong>do</strong> t > 0 os correspon<strong>de</strong>ntes valores <strong>do</strong> campo na frente <strong>de</strong> onda ϕ(x, t) = ‖x‖ −δ − ct = 0 são também não nulos, pelo que o campo electromagnético é ainda <strong>de</strong>scontínuonessa frente <strong>de</strong> onda. Um observa<strong>do</strong>r situa<strong>do</strong> no ponto x interpreta essa <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>como um sinal que o atinge quan<strong>do</strong> a frente <strong>de</strong> onda passa em x.♣.2.7.4 A equação iconal da óptica geométricaSuponhamos agora que ϕ(x, t) = 0 representa uma hipersuperfície on<strong>de</strong> E ou H são <strong>de</strong>scontínuos.Admitamos ainda que, quer ɛ quer µ, são ambos contínuos num aberto quecontem a hipersuperfície ϕ = 0, e vejamos a que condições <strong>de</strong>verá satisfazer ϕ.As duas primeiras condições <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> (2.7.23) dão neste caso:⎧⎨⎩ϕ x × [H] − ɛ ϕ tc [E] = 0ϕ x × [E] + µ ϕtc = 0 (2.7.25)que são seis equações escalares lineares homogéneas para as componentes <strong>de</strong> [E] e [H].Se este sistema admite soluções não nulas, como estamos a supôr que sim, então oscoeficientes <strong>de</strong>sse sistema <strong>de</strong>verão satisfazer certas condições que passamos a <strong>de</strong>duzir.Po<strong>de</strong>mos supôr que ϕ t ≠ 0, caso contrário estaríamos na situação <strong>de</strong>scrita no exemplo2.5. Notemos ainda que se E = 0 então H = 0 e vice-versa, e, por isso, po<strong>de</strong>mos supôrque ambos E e H são não nulos em ϕ = 0.Resolven<strong>do</strong> a primeira equação em (2.7.25), em or<strong>de</strong>m a E, e substituin<strong>do</strong> na segundaobtemos:ϕ x × (ϕ x × [H]) + ɛµc 2 ϕ2 t [H] = 0Finalmente, aplican<strong>do</strong> a igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Lagrange, obtemos:(ϕ x · [H]) ϕ x − ϕ 2 x [H] + ɛµc 2 ϕ2 t [H] = 0 (2.7.26)Mas a última equação em (2.7.23) diz-nos que (aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> a que µ é contínua) ϕ x·[H] = 0,e portanto, uma vez que H ≠ 0, obtemos finalmente a equação:on<strong>de</strong> ϕ 2 x = ϕ x · ϕ x .ϕ 2 x − ɛµc 2 ϕ2 t = 0 em ϕ = 0 (2.7.27)


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 113De facto esta equação não é uma verda<strong>de</strong>ira PDE para ϕ, já que apenas <strong>de</strong>veráverificar-se em ϕ = 0. Mas como estamos a supôr que ϕ t ≠ 0, po<strong>de</strong>mos resolver ϕ(x, t) = 0explicitamente em or<strong>de</strong>m a t, para obter:A equação (2.7.27) fica agora na forma:ou mais explicitamente:ϕ(x, t) = ψ(x) − ct = 0(∇ψ) 2 − ɛµ = 0 (2.7.28)ψ 2 x + ψ 2 y + ψ 2 z − ɛµ = 0 (2.7.29)que é agora uma verda<strong>de</strong>ira PDE para ψ = ψ(x), que se diz a equação eikonal daóptica geométrica. As respectivas soluções são as frentes <strong>de</strong> onda da óptica geométrica.No que se segue, vamos concentrar a nossa atenção nos valores <strong>do</strong> campo electromagnéticoem ϕ = 0, ou, equivalentemente, nos valores que eles tomam sobre as frentes<strong>de</strong> onda ψ(x, y, z) = ct, à medida que elas avançam no espaço, quan<strong>do</strong> t cresce. Estesvalores particulares <strong>do</strong> campo chamar-se-ão sinais. Estes sinais constituem o chama<strong>do</strong>campo da óptica geométrica.Os valores <strong>do</strong> campo electromagnético E e H na frente <strong>de</strong> onda ψ(x) = ct, po<strong>de</strong>m serrepresenta<strong>do</strong>s pelas funções vectoriais:E ∗ (x) = E(x, 1 )c ψ(x)H ∗ (x) = H(x, 1 )c ψ(x) (2.7.30)e portanto E ∗ (x) e H ∗ (x) dão o valor <strong>do</strong> sinal que é observa<strong>do</strong> no ponto x, no instantet = 1 c ψ(x).Recor<strong>de</strong>mos agora que os valores <strong>do</strong>s campos E e H, em ϕ = 0, são exactamente osvalores das <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>stes campos. Portanto eles <strong>de</strong>vem verificar as condições <strong>de</strong><strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong> (2.7.23). Em particular, as duas primeiras equações dizem que, aten<strong>de</strong>n<strong>do</strong>a (2.7.30), e ao facto <strong>de</strong> estarmos a admitir que ɛ e µ são contínuas:ϕ x × H ∗ − ϕ tc ɛ E∗ = 0ϕ x × E ∗ + ϕ tc µ H∗ = 0 (2.7.31)e, como ϕ = ψ − ct, o que implica que ϕ t = −c, vem que:∇ψ × H ∗ + ɛ E ∗ = 0∇ψ × E ∗ − µ H ∗ = 0 (2.7.32)Toman<strong>do</strong> o produto interno <strong>de</strong>stas duas equações com ∇ψ, e, em seguida, o produtointerno da primeira com H ∗ ou da segunda com E ∗ , obtemos:isto é:∇ψ · E ∗ = 0∇ψ · H ∗ = 0H ∗ · E ∗ = 0 (2.7.33)


2.7. Apêndice. Equações <strong>de</strong> Maxwell e óptica geométrica 114• Os vectores E ∗ , H ∗ e ∇ψ são sempre ortogonais. Além disso, como ∇ψ é perpendicularà frente <strong>de</strong> onda ψ = ct, os vectores E ∗ e H ∗ são tangentes à frente <strong>de</strong> ondaψ = ct”.Notemos que as equações (2.7.32) são 6 equações lineares homogéneas nas 6 componentes<strong>de</strong> E ∗ e H ∗ . Como ψ−ct = 0 é uma superfície <strong>de</strong> <strong>de</strong>scontinuida<strong>de</strong>, esses campos E ∗e H ∗ são não nulos (se um é nulo, o outro também o é). Portanto, o <strong>de</strong>terminante <strong>de</strong>ssesistema terá <strong>de</strong> ser nulo, o que implica uma condição para a função ψ. Po<strong>de</strong>mos obteressa condição resolven<strong>do</strong> a segunda equação em (2.7.32) em or<strong>de</strong>m a H ∗ e substituin<strong>do</strong>na primeira. O resulta<strong>do</strong> é:∇ψ × (∇ψ × E ∗ ) + ɛµ E ∗ = 0Expandin<strong>do</strong> isto pela regra <strong>de</strong> Laplace, e usan<strong>do</strong> (2.7.33), obtemos:e, finalmente, como E ∗ ≠ 0:[(∇ψ) 2 − ɛµ] E ∗ = 0ψ 2 x + ψ 2 y + ψ 2 z = ɛµ (2.7.34)Concluin<strong>do</strong>: as frentes <strong>de</strong> onda ψ = ct <strong>de</strong>vem ser solução da PDE <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m(2.7.34), que é a chamada equação eikonal da óptica geométrica.


Capítulo 3<strong>Geometria</strong> Simpléctica e MecânicaDe acor<strong>do</strong> com a segunda Lei <strong>de</strong> Newton, uma partícula <strong>de</strong> massa m > 0 move-se, sob aacção <strong>de</strong> um potencial V : IR 3 → IR, segun<strong>do</strong> uma trajectória x(t) em IR 3 , <strong>de</strong> tal formaque:mẍ = −∇V (x) x ∈ Q = IR 3 (3.0.1)Por exemplo, o oscila<strong>do</strong>r harmónico o potencial é quadrático e...Se introduzimos os “momentos” p i = mẋ i , e a energia total:H(x, p) = 12m ‖p‖2 + V (x) (x, p) ∈ IR 3 × IR 3então a segunda lei <strong>de</strong> Newton é equivalente às equações <strong>de</strong> Hamilton:⎧⎨⎩ẋ i = ∂H∂p iṗ i = ∂H∂x i (3.0.2)Estu<strong>de</strong>mos este sistema <strong>de</strong> equações <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m, para uma funçãoÊqualquerH(x, p), (x, p) ∈ IR 3 × IR 3 . Para isso introduzimos a matriz:J =[ 0 −131 3 0on<strong>de</strong> 1 3 é a matriz i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> (3×3), e notamos que as equações (3.0.2) se po<strong>de</strong>m escreverna forma:ẋ = −J ∇H(x) x = (x, p)Se <strong>de</strong>finimos o campo <strong>de</strong> vectores:]X H<strong>de</strong>f= −J ∇Hentão x(t) satisfaz as equações <strong>de</strong> Hamilton se e só se x(t) é uma curva integral <strong>de</strong> X H ,isto é, sse ẋ(t) = X H (x(t)).115


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 116A relação entre X H e H po<strong>de</strong> ser explicada como segue: consi<strong>de</strong>ramos a forma bilinearanti-simétrica ω em IR 3 × IR 3 , <strong>de</strong>finida por:ω ( (x 1 , p 1 ), (x 2 , p 2 ) )<strong>de</strong>f= [x 1 , p 1 ] J [x 2 , p 2 ] t = x 1 · p 2 − x 2 · p 1on<strong>de</strong> (x 1 , p 1 ), (x 2 , p 2 ) ∈ IR 3 × IR 3 , e · é o produto interno usual em IR 3 . temos então que∀x, y ∈ IR 3 × IR 3 :ω(X H (x), y) = dH x (y)3.1 Varieda<strong>de</strong>s simplécticasComeçamos com alguns resulta<strong>do</strong>s sobre geometria simpléctica linear.♣ Definição 3.1 ... Um “espaço vectorial simpléctico real” (V, ω) é constituí<strong>do</strong>por um espaço vectorial real <strong>de</strong> dimensão finita, muni<strong>do</strong> <strong>de</strong> uma forma simpléctica, i.e.,uma forma bilinear ω : V × V → IR anti-simétrica e não <strong>de</strong>generada.Note que a dimensão <strong>de</strong> V tem que ser par. Se {e i } é uma base <strong>de</strong> V , e se {e i } é arespectiva base dual, então ω = ω ij e i ⊗ e j , e a matriz anti-simétrica [ω ij = ω(e i , e j )] énão singular. Como ω é não <strong>de</strong>generada, a aplicação “bemol”:♭ : V → V ∗ ,v ↦→ (v ♭ : u ↦→ ω(v, u))é um isomorfismo linear.Exemplos...(i). V = W × W ∗ , on<strong>de</strong> W é um espaço vectorial real <strong>de</strong> dimensão finita, e ω é a formasimpléctica em V , <strong>de</strong>finida por:ω ( (w 1 , α 1 ), (w 2 , α 2 ) )<strong>de</strong>f= α 2 (w 1 ) − α 1 (w 2 )on<strong>de</strong> w 1 , w 2 ∈ W, α 1 , α 2 ∈ W ∗ . Se {e 1 , · · · , e n } é uma base para W e se {e 1 , · · · , e n } é arespectiva base dual, então a matriz <strong>de</strong> ω na base {(e 1 , 0), · · · , (e n , 0), (0, e 1 ), · · · , (0, e n )} <strong>de</strong>V , é a matriz:[ ]0 1J =n−1 n 0(ii). V = W × W , on<strong>de</strong> W é um espaço vectorial real <strong>de</strong> dimensão finita muni<strong>do</strong> <strong>de</strong> umproduto interno · , e ω é a forma simpléctica em V , <strong>de</strong>finida por:ω ( (w 1 , w 2 ), (z 1 , z 2 ) )<strong>de</strong>f= w 1 · z 2 − w 2 · z 1on<strong>de</strong> w 1 , w 2 , z 1 , z 2 ∈ W .


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 117♣ Teorema 3.1 ... Um espaço vectorial simpléctico (V, ω) admite sempre uma basesimpléctica, isto é, uma base {e 1 , · · · , e n , f 1 , · · · , f n } que satisfaz as condições seguintes:ω(e i , e j ) = 0 = ω(f i , f j ) e ω(e i , f j ) = δ ijPortanto a matriz <strong>de</strong> ω nessa base é:J =[ 0 1n−1 n 0]Dem.: Comecemos com um e 1 ≠ 0. Como ω é não <strong>de</strong>generada, existe f 1 ∈ V − {0} tal queω(e 1 , f 1 ) = 1. O par (e 1 , f 1 ) gera um subespaço V 2 <strong>de</strong> dimensão 2. Consi<strong>de</strong>remos então:V ⊥2<strong>de</strong>f= {v ∈ V : ω(v, e 1 ) = 0 = ω(v, f 1 )}(V2 ⊥,ω| V2 ⊥ ) é um espaço vectorial simpléctico, e po<strong>de</strong>mos proce<strong>de</strong>r por indução sobre a dimensão<strong>de</strong> V , CQD.Vamos agora introduzir o conceito <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> simpléctica:♣ Definição 3.2 ... Uma “varieda<strong>de</strong> simpléctica” (M, ω) é uma varieda<strong>de</strong> diferenciávelC ∞ , munida <strong>de</strong> uma forma simpléctica, isto é, <strong>de</strong> uma 2-forma diferencial ωfechada e não <strong>de</strong>generada.Note que a dimensão <strong>de</strong> M tem que ser par, digamos 2n. Além disso, ∀x ∈ M, o par(T x M, ω x ) é espaço vectorial simpléctico, e como ω é não <strong>de</strong>generada a 2n-forma:µ ω<strong>de</strong>f= ω ∧ · · · ∧ ω } {{ }n factores(3.1.1)é uma forma volume em M. Se dim M = 2, uma varieda<strong>de</strong> simpléctica é o mesmo queuma superfície com uma forma <strong>de</strong> área.Exemplo ... Estrutura simpléctica canónica em M = T ∗ QSeja Q uma uma varieda<strong>de</strong> diferenciável C ∞ (“espaço <strong>de</strong> configuração”), e consi<strong>de</strong>reo respectivo fibra<strong>do</strong> cotangente M = T ∗ Q (“espaço das fases”). Em T ∗ Q <strong>de</strong>fineseuma 1-forma diferencial canónica θ, dita a “forma <strong>de</strong> Liouville”, através <strong>de</strong>:θ αq (V αq )<strong>de</strong>f= 〈α q , T π(V αq )〉 (3.1.2)on<strong>de</strong> α q ∈ T ∗ Q, V αq ∈ T αq (T ∗ Q), e π : T ∗ Q → Q é a projecção canónica.


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 118♣ Exercício 3.1 (i). Sejam (x 1 , · · · , x n ) um sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas locais em Q, e (x 1 , · · · , x n , p 1 , · · · , p n )o correspon<strong>de</strong>nte sistema <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas locais em T ∗ Q. Mostre que a expressão local <strong>de</strong> θ é:θ = p i dx i = p dx(ii). Mostre que θ tem a proprieda<strong>de</strong> seguinte: “θ é a única 1-forma em T ∗ Q tal que α ∗ (θ) =α, para toda a 1-forma diferencial α : Q → T ∗ Q”.Definamos agora uma 2-forma ω em T ∗ Q pon<strong>do</strong>:ω<strong>de</strong>f = −dθ (3.1.3)♣ Exercício 3.2 Mostre ω é uma forma simpléctica em T ∗ Q.A estrutura simpléctica assim obtida , diz-se a estrutura simpléctica canónica em T ∗ Q.A expressão local <strong>de</strong> ω nas coor<strong>de</strong>nadas locais (x 1 , · · · , x n , p 1 , · · · , p n ), é:ω = dx i ∧ dp i = −dp ∧ dxNote que todas as cartas <strong>de</strong> um atlas trivializa<strong>do</strong>r canónico <strong>de</strong> T ∗ Q são cartas simplécticas,isto é, a representação local <strong>de</strong> ω numa qualquer <strong>de</strong>ssas cartas, tem a forma diagonaldx i ∧ dp i . Toda a varieda<strong>de</strong> simpléctica (M, ω), admite um atlas simpléctico. Com efeitoé váli<strong>do</strong> o teorema seguinte:♣ Teorema 3.2 (“Teorema <strong>de</strong> Darboux” ... Suponha que ω ∈ Ω 2 (M) é uma2-forma não <strong>de</strong>generada numa varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> dimensão 2n. Então ω é fechada, dω = 0, see só se existe uma carta (U; x 1 , · · · , x n , y 1 , · · · , y n ) em torno <strong>de</strong> cada ponto p ∈ M, talque:ω| U = ∑ dx i ∧ dy iiPortanto as formas simplécticas são sempre localmente “planas”, em contraste com asmétricas riemannianas, por exemplo...Exemplo ... Estrutura simpléctica em M = T Q; (Q, g) varieda<strong>de</strong> riemanniana


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 119Seja (Q, g) uma varieda<strong>de</strong> (pseu<strong>do</strong>-) riemanniana <strong>de</strong> dimensão n. A métrica g induzum isomorfismo “bemol” <strong>de</strong> fibra<strong>do</strong>s vectoriais:da<strong>do</strong> por:g ♭ : T Q −→ T ∗ Q()g ♭ : X q ↦→ g ♭ (X q ) = X q ♭ : Y q ↦→ g q (X q , Y q )X q , Y q ∈ T q MEm coor<strong>de</strong>nadas locais (x i , ẋ i ) e (x i , p i ) para T Q e T ∗ Q, respectivamente, g ♭ é dada por:g ♭ : (x i , ẋ i ) ↦→ (x i , p i = g ij (q) ẋ j ) (3.1.4)Consi<strong>de</strong>re a forma <strong>de</strong> Liouville θ em T ∗ Q, e o pull-back:Nas coor<strong>de</strong>nadas atrás referidas, temos que:θ g<strong>de</strong>f= (g ♭ ) ∗ (θ)θ g = (g ♭ ) ∗ (p i dx i ) = (p i ◦ g ♭ ) d(x i ◦ g ♭ ) = g ij (q) ẋ j dx iSe consi<strong>de</strong>rarmos agora ω g = −dθ g = −d(g ♭ ) ∗ (θ) = (g ♭ ) ∗ (−dθ), então ω g é uma 2-formafechada não <strong>de</strong>generada, e portanto T Q, ω g é uma varieda<strong>de</strong> simpléctica. Em coor<strong>de</strong>nadaslocais:ω g = g ij (q) dx i ∧ dẋ j + ∂g ij∂x k (q) ẋ i dx j ∧ dx k♣ Exercício 3.3 ... Provar que (θ g ) Xq (V Xq ) = g q (X q , T π(V Xq )〉, ∀X q ∈ T Q e ∀V Xq ∈T Xq (T Q).♣ Definição 3.3 ... Sejam (M, ω M ) e N, ω N ) duas varieda<strong>de</strong>s simplécticas. Umaaplicação diferenciável F : M → N, diz-se “canónica ou simpléctica”, se F ∗ ω N = ω M .♣ Exercício 3.4 ... Seja Q uma varieda<strong>de</strong> e F ∈ Diff(Q) um difeomorfismo <strong>de</strong> Q. nestascondições, <strong>de</strong>fine-se o “levantamento <strong>de</strong> F a T ∗ Q”, como sen<strong>do</strong> a aplicação T ∗ F : T ∗ Q →T ∗ Q, <strong>de</strong>finida através <strong>do</strong> diagrama seguinte:isto é:∀α q ∈ T ∗ Q e ∀X ∈ T F −1 (q)Q.T ∗ Qπ ↓QT ∗ F−→F←−T ∗ Q↓ πT ∗ F : α q ↦→ T ∗ F (α q ) : ( X ↦→ T ∗ F (α q )(X)Q<strong>de</strong>f= 〈α q , T F (X)〉 (3.1.5)Mostre que T ∗ F é uma transformação simpléctica e que (T ∗ F ) ∗ θ = θ, on<strong>de</strong> θ é a forma <strong>de</strong>Liouville em T ∗ Q.


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 120♣ Exercício 3.5 ... Seja (Q, g) uma varieda<strong>de</strong> riemanniana e F : Q → Q uma isometria.Provar que T F : T QtoT Q é simpléctica relativamente à forma simpléctica ω g e que (T F ) ∗ θ g =θ g .Vamos agora introduzir o conceito <strong>de</strong> sistema Hamiltoniano:♣ Definição 3.4 ... Um “Sistema Hamiltoniano” (M, ω, H) é constituí<strong>do</strong> poruma varieda<strong>de</strong> simpléctica (M, ω) e por uma função H ∈ C ∞ (M), que se diz o “Hamiltoniano”(ou a energia) <strong>do</strong> sistema.O campo <strong>de</strong> vectores X H ∈ X(M) <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> pela condição:i XH = dH (3.1.6)isto é, ω(X H , Y ) = dH(Y ), ∀Y ∈ X(M), diz-se o campo <strong>de</strong> vectores Hamiltoniano <strong>do</strong>sistema. O seu fluxo Fl H = Fl X Hdiz-se o fluxo Hamiltoniano <strong>do</strong> sistema.Quan<strong>do</strong> (M, g) é uma varieda<strong>de</strong> riemanniana e F : M → IR é uma função C ∞ , recor<strong>de</strong>que se <strong>de</strong>fine o campo gradiente <strong>de</strong> F , grad F ∈ X(M), através <strong>de</strong>:g(grad F, Y ) = dF (Y )∀Y ∈ X(M)A <strong>de</strong>finção anterior é portanto formalmente análoga. No entanto, a anti-simetria da formasimpléctica conduz a proprieda<strong>de</strong>s conservativas, enquanto a simetria da métrica conduza proprieda<strong>de</strong>s dissipativas <strong>do</strong> campo gradiente.♣ Exercício 3.6 ... (i). Seja (M, g) uma varieda<strong>de</strong> riemanniana e F : M → IR uma funçãoC ∞ . Mostrar que a longo das órbitas não singulares <strong>de</strong> X = grad F , F é estritamente crescentee que portanto X não possui órbitas fechadas.(ii). Suponha que M é uma varieda<strong>de</strong> riemannina completa. Mostre que existe uma constanteC > 0, tal que ‖X(p)‖ < c, ∀p ∈ M. Mostrar que X é um campo completo.Vejamos agora a representação local <strong>de</strong> um campo Hamiltoniano numa carta simpléctica,com coor<strong>de</strong>nadas canónicas (x 1 , · · · , x n , p 1 , · · · , p n ). Nesta carta ω = ẋ i ∧ dp i . Suponhamosque:X H = a i ∂∂x + b ∂i i∂p i


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 121Então i XH dx i = dx i (X H ) = a i , i XH dp i = dp i (X H ) = b i e a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> que <strong>de</strong>fine X H ,i XH ω = dH conduz aos cálculos seguintes:i XH ω = i XH (ẋ i ∧ dp i )= ∑ i(i XH ẋ i ) ∧ dp i − ∑ iẋ i ∧ (i XH dp i )= ∑ i(a i dp i − b i dx i )Como por outro la<strong>do</strong> dH = ∂H∂x i dx i + ∂H∂p idp i , <strong>de</strong>duzimos que:a i = ∂H∂p ie b i = − ∂H∂x iisto é, a expressão local <strong>de</strong> um campo Hamiltoniano X Hcoor<strong>de</strong>nadas canónicas (x 1 , · · · , x n , p 1 , · · · , p n ) é:numa carta simpléctica, comX H = ∂H∂p i∂− ∂H∂x i ∂x i∂∂p i(3.1.7)ou em forma vectorial:[ ∂HX H = J∂x∂H∂p]=[ 0 1n−1 n 0] [ ∂H∂x∂H∂p](3.1.8)Assim se (q(t), p(t)) é uma curva integral <strong>de</strong> X H , então ela <strong>de</strong>verá verificar as chamadas“equações <strong>de</strong> Hamilton”:⎧⎨⎩˙q i = ∂H∂p ique é um sistema <strong>de</strong> equações diferenciais <strong>de</strong> primeira or<strong>de</strong>m.♣ Teorema 3.3 ... Seja Fl H t = Fl X Htṗ i = − ∂H∂x i (3.1.9)o fluxo hamiltoniano <strong>do</strong> campo X H . Então:(i)... H(Fl H t (x)) ≡ constante em t. Isto é, H é constante ao longo das curvasintegrais <strong>de</strong> X H “Lei da conservação <strong>de</strong> energia”.(ii)... (Fl H t ) ∗ ω = ω, isto é, para cada t a aplicação <strong>de</strong> avanço no tempo t, Fl H t ésimpética.Dem.:então que:(ii).... (i). Seja α x (t) = Fl H t )(x) a curva integral que em t = 0 passa em x ∈ M. Vemddt H(α x(t)) = dH αx(t) ˙α x (t) = dH αx(t)(X H (α x (t)) = ω(X H (α x (t), X H (α x (t)) = 0ddt (FlH t ) ∗ ω = (Fl H t ) ∗ L XH ω = (Fl H t ) ∗ (i XH dω + di XH ω) = (Fl H t ) ∗ (0 + ddω) = 0isto é, (Fl H t ) ∗ ω é constante em t, e como (Fl H 0 ) = Id, vem que (Fl H t ) ∗ ω = ω, CQD.


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 122♣ Definição 3.5 ... Seja (M, ω) uma varieda<strong>de</strong> simpléctica, e f, g ∈ C ∞ (M), comcampos H amiltoniamos associa<strong>do</strong>s, X f e X g respectivamente. Define-se o “parêntisis <strong>de</strong> Poisson”<strong>de</strong> f e g, através <strong>de</strong>:{f, g}<strong>de</strong>f = ω(X f .X g ) (3.1.10)Numa carta simpléctica, com coor<strong>de</strong>nadas canónicas (x i , p i ), relativamente às quais aexpressão local <strong>de</strong> ω é ω = dx i ∧ dp i , é fácil ver que:Como:vemos que:{f, g} = ∂f∂dx i∂g∂dp i− ∂f∂dp i∂g∂dx i = (grad f) t J grad g (3.1.11)L XF g = i Xf dg = i Xf i Xg ω = ω(X f , X g ) = −ω(X g , X f ) = −L Xg f{f, g} = L XF g = −L Xg fe portanto, f é constante ao longo das órbitas <strong>de</strong> X g , se e só se {f, g} = 0, se e só se g éconstante ao longo das órbitas <strong>de</strong> X f .Consi<strong>de</strong>remos agora um difeomorfismo ϕ : M → N entre duas varieda<strong>de</strong>s simplécticas(M, ω M ) e N, ω N ). Então, como ϕ ∗ (L X α) = L ϕ ∗ Xϕ ∗ α, ∀α ∈ Ω(N), ∀X ∈ X(N), vemosque:ϕ ∗ {f, g} = ϕ ∗ (L Xf g) = L ϕ ∗ X fϕ ∗ ge por outro la<strong>do</strong>:{ϕ ∗ f, ϕ ∗ g} = LX ϕ ∗ fϕ ∗ gPortanto ϕ preserva o parêntisis <strong>de</strong> Poisson <strong>de</strong> duas funções f, g ∈ C ∞ (N), se e só seϕ ∗ X f = X ϕ ∗ f, ∀f ∈ C ∞ (N). Isto é, ϕ preserva o parêntisis <strong>de</strong> Poisson se e só se preservaas equações <strong>de</strong> Hamilton.Por outro la<strong>do</strong>:i Xϕ ∗ fω = d(ϕ ∗ f) = ϕ ∗ (df) = ϕ ∗ (i Xf ω) = i ϕ ∗ X fϕ ∗ ωe como ω é não <strong>de</strong>generada, e ∀v ∈ T x M, v = X h (x), para alguma função h ∈ C ∞ (U),<strong>de</strong>finida numa vizinhança <strong>de</strong> x, concluímos que ϕ é simpléctica se e só se ϕ ∗ X f =X ϕ ∗ f, ∀f ∈ c ∞ (N). Fica assim <strong>de</strong>monstra<strong>do</strong> o seguinte teorema:♣ Teorema 3.4 ... Seja ϕ : M → N um difeomorfismo entre duas varieda<strong>de</strong>ssimplécticas (M, ω M ) e N, ω N ). Então as condições seguintes são equivalentes:• ϕ é simpléctica.• ϕ preserva o parêntisis <strong>de</strong> Poisson <strong>de</strong> duas quaisquer funções f, g ∈ C ∞ (N), isto é,ϕ ∗ {f, g} = {ϕ ∗ f, ϕ ∗ g}.• ϕ ∗ X f = X ϕ ∗ f ∀f ∈ C ∞ (N).


3.1. Varieda<strong>de</strong>s simplécticas 123A Lei da conservação <strong>de</strong> energia po<strong>de</strong> ser generalizada <strong>do</strong> seguite mo<strong>do</strong>:♣ Teorema 3.5 ... Seja X H um campo Hamiltoniano numa varieda<strong>de</strong> simpléctica(M, ω), com fluxo Fl H t . Então ∀f ∈ C ∞ (M) tem-se que:CQD.Dem.: ...d(f ◦ dt FlH t ) = {f ◦ Fl H t , H} (3.1.12)ddt (f ◦ FlH t ) = d dt ((FlH t ) ∗ f) = (Fl H t ) ∗ L XH f = L XH (f ◦ Fl H t ) = {f ◦ Fl H t , H}Como já vimos T ∗ Q tem uma estrutura simpléctica canónica. Portanto se Q representao espaço <strong>de</strong> configuração <strong>de</strong> um sistema mecânico, é possível estudar camposhamiltonianos no espaço <strong>de</strong> fases T ∗ Q, e os respectivos fluxos. Vamos agora estudarum tipo especial <strong>de</strong> hamiltoniano, particularmente importantes em mecânica clássica -os chama<strong>do</strong>s Hamiltonianos <strong>de</strong> tipo mecânico. Para isso consi<strong>de</strong>remos uma varieda<strong>de</strong>riemanniana (Q, g) - o espaço <strong>de</strong> configuração <strong>de</strong> um sistema mecânico. Como já vimosg induz um isomorfismo <strong>de</strong> fibra<strong>do</strong>s vectoriais:g ♭ : T Q −→ T ∗ QEste isomorfismo permite munir cada Tq ∗ Q, <strong>de</strong> um produto interno, nota<strong>do</strong> por gq, ∗ e<strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:gq(α ∗ <strong>de</strong>f ( )q , β q ) = g q (g ♭ ) −1 α q , (g ♭ ) −1 β q∀q ∈ Q, ∀α q , β q ∈ T ∗ q Q. Se g ij (q) são os coeficientes da métrica g num sistema <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nadas locais x i , em Q, <strong>de</strong> tal forma que:g = g ij (q) ẋ i ẋ jentão as componentes <strong>de</strong> g ∗ são g ij , on<strong>de</strong> g ij = (g ij ) −1 . Isto é:g ∗ = g ij (q) p i p j(recor<strong>de</strong> que p i = g ij (q)ẋ j ). Com estas notações passemos à <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> sistema hamiltoniano<strong>de</strong> tipo mecânico.♣ Definição 3.6 ... Uma função H : T ∗ Q → IR diz-se um hamiltoniano <strong>de</strong> tipomecânico, se H é da forma:H = K + V ◦ π (3.1.13)on<strong>de</strong> K : T ∗ Q → IR, dada por:K(α q ) = 1 2 g∗ q(α q , α q ),α q ∈ T ∗ x Qé a chamada “energia cinética” <strong>do</strong> sistema, V : Q → IR é a energia potencial, eπ : T ∗ Q → Q é a projecção canónica.O sistema (T ∗ Q, ω, H = K + V ◦ π) diz-se um “sistema hamiltoniano <strong>de</strong> tipomecânico”, com “espaço <strong>de</strong> configuração” Q, “espaço <strong>de</strong> fases” T ∗ Q, “energiatotal” H, “energia cinética” K e “energia potencial” V .


3.2. Sistemas mecânicos com simetria. Aplicação momento. Redução124Para comparar este tratamento da mecânica clássica com o tratamento usual, basea<strong>do</strong>em princípios variacionais (ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> Lagrange), vamos introduzir alguns conceitos.Para sistemas hamiltonianos <strong>de</strong> tipo mecânico, fômos conduzi<strong>do</strong>s a um certocampo <strong>de</strong> vectores X em T ∗ Q3.2 Sistemas mecânicos com simetria. Aplicação momento.Redução♣ Definição 3.7 ... Um “sistema mecânico com simetria (Q, K, V, G)”, é constituí<strong>do</strong>por:• Uma varieda<strong>de</strong> diferenciável Q - o espaço <strong>de</strong> configuração <strong>do</strong> sistema.• Uma métrica riemanniana g em Q, e K = 1 g é a energia cinética <strong>de</strong>ssa métrica:2K(v q ) = 1g(v 2 q, v q ), v q ∈ T q Q.• Uma energia potencial V ∈ C ∞ (Q).• Uma acção <strong>de</strong> simetria, isto é, uma acção C ∞ <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> Lie G, que actua àesquerda <strong>de</strong> Q, como um grupo <strong>de</strong> isometrias da métrica g, e preservan<strong>do</strong> tambémo potencial V . Portanto se Φ : G × Q → Q é a referida acção:e:V ◦ Φ g = Vg q(T Φg (v q ), T Φ g (v q ) ) = g q (v q , w q )∀g ∈ G∀v q , w q ∈ T q Q, ∀q ∈ QSe g é a álgebra <strong>de</strong> Lie <strong>de</strong> G, para cada ξ ∈ g, <strong>de</strong>fine-se o gera<strong>do</strong>r infinitesimal da acçãoΦ, associa<strong>do</strong> a ξ, como sen<strong>do</strong> o campo <strong>de</strong> vectores ξ Q ∈ X(Q) <strong>de</strong>fini<strong>do</strong> por:ξ Q (q)<strong>de</strong>f= d dt | t=0Φ exp tξ (q) (3.2.1)Temos assim uma aplicação natural:g → T q Qξ ↦→ ξ Q (q):♣ Definição 3.8 ... Seja (Q, K, V, G) um sistema mecânico co simetria. Define-seentão a respectiva “aplicação momento”, como sen<strong>do</strong> a aplicação:J : T Q −→ g ∗<strong>de</strong>finida através <strong>de</strong>:J : v q ↦→(J(v q ) : ξ ↦→ J(v q )(ξ))<strong>de</strong>f= g q (v q , ξ Q (q))(3.2.2)


3.2. Sistemas mecânicos com simetria. Aplicação momento. Redução125Para cada ξ ∈ g, <strong>de</strong>fine-se ainda uma aplicação Ĵξ : T Q → IR, através <strong>de</strong>:Ĵ ξ (v q )<strong>de</strong>f= J(v q )(ξ) (3.2.3)Se Φ : G × Q → Q é a acção <strong>de</strong> simetria referida na <strong>de</strong>finição anterior, então Φ induz umaacção Φ T em T Q, dita a “acção tangente”, <strong>de</strong>finida por:<strong>de</strong> tal forma que π é G-equivariante:Φ T (g, v q )T Qπ ↓Q<strong>de</strong>f= T Φ g (v q )ΦT g−→Φ g−→T Q↓ πSe ξ T Q ∈ X(T Q) representa o gera<strong>do</strong>r infinitesimal <strong>de</strong>sta acção tangente, associa<strong>do</strong> a umelemento ξ ∈ g:então a G-equivariância <strong>de</strong> π implica que:ξ T Q (v q ) = d dt | t=0 Φ T exp tξ(v q ) ∈ T vq T QQT π ◦ ξ T Q = ξ Q ◦ π (3.2.4)Recor<strong>de</strong> que em T Q temos uma estrutura simpléctica dada pela forma simplécticaω g = (g ♭ ) ∗ ω, on<strong>de</strong> ω é a forma simpléctica canónica em T ∗ Q. A acção tangente Φ T ésimpléctica, i.e., para cada g ∈ G, Φ T g : T Q → T Q é um difeomorfismo simpléctico <strong>de</strong>(T Q, ω g ). De facto, (Φ T g ) ∗ θ g = θ g , on<strong>de</strong> θ g = (g ♭ ) ∗ θ, é o pull-back da forma <strong>de</strong> Liouville θem T ∗ Q, por g ♭ .Consi<strong>de</strong>remos <strong>de</strong> novo, para cada ξ ∈ g, a função Ĵξ : T Q → IR, e verifiquemos que orespectivo campo hamiltoniano XĴξ ∈ X(T Q), é exactamente o gera<strong>do</strong>r infinitesimal ξ T Qda acção tangente. De facto:( )iξTQθ g (vq ) = θ g (v q ) ( ξ T Q (v q ) )isto é:Por outro la<strong>do</strong>:(Φ T g ) ∗ θ g = θ g ⇒ L ξT Qθ g = 0= g q(vq , T πξ T Q (v q ) )= g q (ξ Q (q))= Ĵξ(v q )⇒ di ξT Qθ g + i ξT Qdθ g = 0Ĵ ξ = i ξT Qθ g (3.2.5)⇒ dĴξ = i ξT Qω g por (3.2.5)⇒i XĴξ ω g = i ξT Qω g⇒ XĴξ = ξ T Q porque ω g é não <strong>de</strong>generada (3.2.6)


3.2. Sistemas mecânicos com simetria. Aplicação momento. Redução126Após estas observações estamos aptos a enunciar e <strong>de</strong>monstrar o seguinte teorema fundamental:♣ Teorema 3.6 “Teorema <strong>de</strong> E. Noether” ... Seja (Q, K, V, G) um sistemamecânico com simetria, e J : T Q → g a respectiva aplicação momento.Então J é integral primeiro <strong>do</strong> campo X E , isto é, J é constante ao longo das curvasintegrais <strong>do</strong> campo hamiltiniano X E , on<strong>de</strong> E = K + V ◦ π : T Q → IR é a energia total <strong>do</strong>sistema.Dem.: Sabemos que Φ T g <strong>de</strong>ixa E invariante: E ◦ Φ T g = E, ∀g ∈ G, por <strong>de</strong>finição da acção<strong>de</strong> simetria. Em particular, para cada ξ ∈ g, temos que:E(Φ T exp tξ (v q)) = E(v q ),∀v q ∈ T QDerivan<strong>do</strong> esta expressão em or<strong>de</strong>m a t, para t = 0, obtemos:dE vq ξ T Q (v q ) = 0 ⇒ ω g (X E (v q ), ξ T Q (v q )) = 0 ⇒ {E, Ĵξ} = 0por <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> X E e <strong>do</strong> parêntisis <strong>de</strong> Poisson, CQD.3.2.1 O Problema <strong>de</strong> KeplerVamos consi<strong>de</strong>rar o seguinte um sistema mecânico com simetria:(Q, K, V, G) = (IR 2 − {0}, K = 1 1g, V (x) = , G = S = (2) ∼ 2 ‖x‖= SS 1 ) (3.2.7)on<strong>de</strong> g é a m´trica eucli<strong>de</strong>ana usual em IR 2 . Este sistema <strong>de</strong>screve o movimento <strong>de</strong> umapartícula <strong>de</strong> massa unitária, que se move no plano, sob a acção <strong>de</strong> um campo <strong>de</strong> forçascentral Newtoniano:F(x) = −grad V (x) = −frac1‖x‖ 2 ∂∂‖x‖ = − 1 ∂r 2 ∂rx é o vector <strong>de</strong> posição da partícula, e r = ‖x‖. É natural efectuar os cálculos emcoor<strong>de</strong>nadas polares r, θ em Q = IR + × SS 1 . O grupo <strong>de</strong> simetria G = SO(2) actua em Qpor rotações positivas, isto é, se R ϕ é a rotação <strong>de</strong> ângulo ϕ, no senti<strong>do</strong> directo, a acção<strong>de</strong> simetria é Φ : SO(2) × Q → Q, on<strong>de</strong>:Φ(R ϕ , (r, θ))<strong>de</strong>f= (r, θ + ϕ)Claramente que Φ é uma acção <strong>de</strong> simetria <strong>do</strong> sistema da<strong>do</strong>. Para calcular a respectivaaplicação momento, i<strong>de</strong>ntificamos so(2) ∼ = T 1 SO(2) com iIR ∼ = IR, <strong>de</strong> tal forma queexp(itξ) = R tξ ∈ SO(2). Portanto:ξ Q (q) = d dt | t=0Φ(R tξ , (r, θ))= d dt | t=0(r, θ + tξ)= ξ ∂ ∂θ | q ∀q = (r, θ) ∈ Q (3.2.8)


3.2. Sistemas mecânicos com simetria. Aplicação momento. Redução127A métrica g escreve-se em coor<strong>de</strong>nadas polares na forma:e se v q = ṙ ∂ ∂r + ˙θ ∂ ∂θ ∈ T qQ, então:g = ṙ 2 + r 2 ˙θ2J(v q )ξ = g q (v q , ξ Q (q))= g q (ṙ ∂ ∂r + ˙θ ∂ ∂θ , ξ ∂ ∂θ )= ξr 2 ˙θ (3.2.9)Finalmente, i<strong>de</strong>ntifican<strong>do</strong> IR ∼ = IR ∗ , obtemos a aplicação momento J, que não é mais <strong>do</strong>que o momento angular usual, expresso em coor<strong>de</strong>nads polares, J : T Q → IR:J(r, θ, ṙ, ˙θ) = r 2 ˙θ (3.2.10)3.2.2 Movimento livre <strong>de</strong> um sóli<strong>do</strong> com um ponto fixoConsi<strong>de</strong>remos agora um sóli<strong>do</strong>, constituí<strong>do</strong> por pelo menos 3 pontos não colineraes, quese move livremente em IR 3 (ausência <strong>de</strong> forças externas), com um ponto fixo que supômosser a origem 0 ∈ IR 3 .O movimento <strong>de</strong>ste sóli<strong>do</strong> po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrito da seguinte forma: consi<strong>de</strong>ramos umreferencial fixo R f em IR 3 , e um outro referencial R m , com a mesma origem 0, rigidamenteliga<strong>do</strong> ao sóli<strong>do</strong>, a que chamamos referencial móvel.Se x(t, a) ∈ (IR 3 , R f ) representa a posição no instante t, relativamente ao referencialfixo R f , <strong>do</strong> ponto <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong> que no instante t = 0 estava em a ∈ (IR 3 , R m ), então:x(t, a) = g(t) a (3.2.11)on<strong>de</strong> g(t) : (IR 3 , R m ) → (IR 3 , R f ) é uma isometria linear positiva, isto é, g(t) ∈ SO(3),com g(0) = Id.As coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> IR 3 relativamente ao referencial fixo R f dizem-secoor<strong>de</strong>nadas espaciais, enquanto que as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> IR 3 relativamenteao referencial móvel R m dizem-se coor<strong>de</strong>nadas <strong>do</strong> sóli<strong>do</strong>.


Bibliography[1] R. Abraham and J.E. Mars<strong>de</strong>n, “Foundations of Mechanics”. 2nd. edition, Benjamin/CummingsPublishing Company 1978.[2] V.I. Arnold, “Mathematical Methods of Classical Mechanics”. 2nd. edition, GTM 60,Springer-Verlag 1981.[3] R. Courant and D. Hilbert, “Methods of Mathematical Physics II”. Interscience Publishers,1962.[4] L. Elsgolts, “Differential Equations and the Calculus of Variations”. MIR Publishers,Moscow, 1977.[5] M. Giaquinta and S. Hi<strong>de</strong>brandt, “Calculus of Variations I, II”. Springer-Verlag1996.[6] I.M. Gelfand and S.V. Fomin, “Calculus of Variations”. Dover Publications, Inc.2000.[7] V. Guillemin and S. Sternberg, “Geometric Asymptotics”. AMS Mathematical Surveys1977 (accessível em versão electrónica na página web da AMS).[8] R. Hermann “Differential Geometry and the Calculus of Variations”. Aca<strong>de</strong>mic Press,1968.[9] M. Kline and I.W. Kay, “Electromagnetic Theory and Geometrical Optics”. IntersciencePublishers, 1964.[10] M.L. Krasnov, G.I. Makarenko and A.I. Kiseliov, “Calculo Variacional (exemplos yproblemas)”. Editorial MIR, Moscovo, 1976.[11] R.K. Luneburg, “Mathematical theory of Optics”. University of California Press,1966.[12] H. Rund “The Hamilton-Jacobi Theory in the Calculus of Variations, Its role inMathematics and Physics”. Robert Krieger Publishing Company, 1973.128


BIBLIOGRAPHY 129[13] M.I. Zelikin, “Control Theory and Optimization I”. Encyclopaedia of MathematicalSciences, volume 86, Springer-Verlag, 2000.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!