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Notas em Matemática Aplicada 36 - Laboratório de Matemática ...

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<strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> <strong>36</strong>EditoresCélia A. Zorzo BarcelosUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Uberlândia - UFUUberlândia, MG, BrasilEliana X.L. <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>Universida<strong>de</strong> Estadual Paulista - UNESPSão José do Rio Preto, SP, BrasilMaurílio BoaventuraUniversida<strong>de</strong> Estadual Paulista - UNESPSão José do Rio Preto, SP, BrasilA Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> e Computacional - SB-MAC publica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as primeiras edições do evento, monograas dos cursosque são ministrados nos CNMAC.A partir do XXVI CNMAC, para a com<strong>em</strong>oração dos 25 anos da SB-MAC, foi criada a série <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> para publicaras monograas dos minicursos ministrados nos CNMAC.O livro correspon<strong>de</strong>nte a cada minicurso <strong>de</strong>ve ser preparado <strong>em</strong> latex, asguras <strong>em</strong> eps e <strong>de</strong>ve ter entre 60 e 100 páginas. O texto <strong>de</strong>ve ser redigido<strong>de</strong> forma clara, acompanhado <strong>de</strong> uma excelente revisão bibliográca e <strong>de</strong>exercícios <strong>de</strong> vericação <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> ao nal <strong>de</strong> cada capítulo.Além do livro, cada responsável por minicurso <strong>de</strong>ve preparar transparênciase outros materiais didáticos que julgar convenientes. Todo o materialserá colocado à disposiçao dos interessados no site da SBMAC.É objetivo da série publicar textos dos encontros regionais e <strong>de</strong> outroseventos patrocinados pela SBMAC.Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> e Computacional2008


<strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong>Títulos publicados para o XXXI CNMAC - 200833 Introdução à Simulação Estocástica para Atuária e Finanças UsandoRHélio Côrtes Vieira e Alejandro C. Frery34 Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Sustentabilida<strong>de</strong> nas Paisagens Amazônicas AlagáveisMaurício Vieira Kritz, Jaqueline Maria da Silva e Cláudia Mazza35 Uma Introdução à Dinâmica Estocástica <strong>de</strong> PopulaçõesLeonardo Paulo Maia<strong>36</strong> Geometria <strong>de</strong> Algoritmos NuméricosGregorio Malajovich37 Equações Diferenciais, Teor<strong>em</strong>a do Resíduo e as TransformadasIntegraisEdmundo Capelas <strong>de</strong> Oliveira e Jayme Vaz JúniorVeja outros títulos da série ao final <strong>de</strong>ste livro.Arquivos no formato pdf disponíveis <strong>em</strong>http://www.sbmac.org.br/notas.php


GEOMETRIA DE ALGORITMOSNUMÉRICOSGregorio Malajovichgregorio@ufrj.brDepartamento <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong>,Instituto <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática,Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Socieda<strong>de</strong> Brasileira <strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> e ComputacionalSão Carlos - SP, Brasil2008


Conteúdo1 Condicionamento, e a Varieda<strong>de</strong> Discriminante 91.1 O que não se ensina no curso <strong>de</strong> Álgebra Linear . . . . . . . . 91.2 Arredondamento e condicionamento . . . . . . . . . . . . . . 111.3 O polinômio pérdo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131.4 Teoria geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171.5 Os probl<strong>em</strong>as mal postos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201.6 A <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> valores singulares . . . . . . . . . . . . . 211.7 Os probl<strong>em</strong>as mal condicionados . . . . . . . . . . . . . . . . 221.8 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 242 A iteração <strong>de</strong> Gräe, Dan<strong>de</strong>lin ou Lobachevskii 252.1 A iteração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 262.2 Papel logarítmico, renormalização e Geometria Algébrica Tropical. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 282.3 Perturbação ou Derivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 332.4 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 342.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 343 A procura na Web 373.1 Introdução à teoria dos grafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 373.2 A Equação do Calor <strong>em</strong> grafos . . . . . . . . . . . . . . . . . 393.3 As Leis <strong>de</strong> Kirchho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 403.4 Digrafos e o Google . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 423.5 Busca na re<strong>de</strong> e a svd . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 463.6 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 483.7 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 484 A compressão do som, o mp4 e a televisão digital 514.1 Sinais sonoros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 514.2 A transformada <strong>de</strong> Fourier . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 535


64.3 A base <strong>de</strong> Haar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 564.4 O ouvido humano e a transformada <strong>de</strong> Wavelets. . . . . . . . 574.5 O padrão MP3 e os CODECs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 594.6 Compressão <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o . . . . . . . . . . . . . . . 604.7 A televisão digital. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 614.8 Conclusões . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 614.9 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61A Compl<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> Álgebra Linear 65A.1 Bases e ortogonalida<strong>de</strong> . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65A.2 Bases ortogonais, matrizes ortonormais . . . . . . . . . . . . . 67A.3 Obtendo bases ortonormais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68A.4 Normas <strong>de</strong> matrizes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68A.5 Matrizes <strong>de</strong> Márkov . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69A.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70


PrefácioEstas são as notas <strong>de</strong> um curso oferecido durante o Congresso Nacional<strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> e Computacional, Belém do Pará, <strong>de</strong> 8 a 11 <strong>de</strong>set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008.Vou começar com uma armação polêmica. Mat<strong>em</strong>ática Computacionalnão é (n<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser) utilizar métodos computacionais para resolver ummo<strong>de</strong>lo mat<strong>em</strong>ático.Meu argumento é que esse procedimento po<strong>de</strong> satisfazer engenheiros oufísicos, mas nunca satisfaz a curiosida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um mat<strong>em</strong>ático. Não produzteor<strong>em</strong>as. Passa ao largo <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as mat<strong>em</strong>áticos interessantes.São objetos susceptíveis <strong>de</strong> estudo mat<strong>em</strong>ático não apenas o mo<strong>de</strong>lo,mas ainda os algoritmos, a classe <strong>de</strong> todos os algoritmos resolvendo o mesmoprobl<strong>em</strong>a, e ainda classes <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los s<strong>em</strong>elhantes (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo por ex<strong>em</strong>plo<strong>de</strong> um ou mais parâmetros).Isso difere do ponto <strong>de</strong> vista do engenheiro, para qu<strong>em</strong> um algoritmo éuma regra <strong>de</strong> bolo. Funciona ou não funciona, se não funcionar, troca-se. Jápara um mat<strong>em</strong>ático, algoritmos têm que ser provados corretos. Armaçõessobre a velocida<strong>de</strong> do algoritmo, ou a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a, exig<strong>em</strong>provas.Quando o algoritmo não funciona na prática, ou quando funciona melhordo que o previsto, isso precisa ser explicado. Essa explicação v<strong>em</strong> geralmente<strong>em</strong> forma <strong>de</strong> teor<strong>em</strong>as.Provar teor<strong>em</strong>as sobre algoritmos (e algoritmos numéricos <strong>em</strong> particular)exige um ferramental mat<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> ponta. Em alguns casos, esseferramental precisa ainda ser construído. Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> comoP ≠ NP se transformaram <strong>em</strong> <strong>de</strong>saos para a comunida<strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática <strong>em</strong>geral.Mat<strong>em</strong>áticos gostam <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as difíceis. Quanto mais conexões comGregorio Malajovich, Geometria <strong>de</strong> Algoritmos Numéricos. <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<strong>Aplicada</strong> 37 (XXXI CNMAC), SBMAC, São Carlos, 2008.Copyright c○ Gregorio Malajovich, 2008.7


8áreas <strong>de</strong> pesquisa atuais, maior a garantia <strong>de</strong> que os resultados atuais serãonão-triviais.Nas duas primeiras aulas, ilustrar<strong>em</strong>os algumas conexões entre a análise<strong>de</strong> algoritmos numéricos e tópicos como geometria diferencial ou algébrica.Nas duas aulas seguintes, mostrar<strong>em</strong>os como mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong>t<strong>em</strong> o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> voltar, inuenciando a nossa vida cotidiana. Para isso,vou mostrar quais são os fundamentos mat<strong>em</strong>áticos da procura na Internete da compressão <strong>de</strong> imagens e <strong>de</strong> som.O único pré-requisito para este curso é ter conhecimentos básicos <strong>de</strong>Álgebra Linear, no nível <strong>de</strong> um curso <strong>de</strong> graduação. Alguns dos principaisconceitos e teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Álgebra Linear necessários para a comprensão dotexto estão resumidos no Apêndice.Os ex<strong>em</strong>plos numéricos estão escritos <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> programação C,ou na linguag<strong>em</strong> do aplicativo Octave. Este aplicativo é software livre, logotodos os ex<strong>em</strong>plos pod<strong>em</strong> ser executados <strong>em</strong> um computador com GNU-Linux b<strong>em</strong> congurado. Qu<strong>em</strong> dispuser da versão <strong>em</strong> PDF <strong>de</strong>stas notaspo<strong>de</strong> utilizar o mouse para copiar e executar os ex<strong>em</strong>plos numéricos.Parte do material foi extraído do texto <strong>de</strong> Álgebra Linear do autor,<strong>em</strong> preparação (mas disponível eletronicamente), <strong>em</strong> www.labma.ufrj.br/~gregorio.Agra<strong>de</strong>ço a um revisor anônimo e a Beatriz Malajovich por ajudar<strong>em</strong> a<strong>de</strong>purar este texto.A pesquisa do autor é apoiada pelo CNPq (Conselho Nacional <strong>de</strong> DesenvolvimentoCientíco e Tecnológico) e pela FAPERJ (Fundação CarlosChagas Filho <strong>de</strong> Amparo à Pesquisa do Estado do Rio <strong>de</strong> Janeiro).


Aula 1Condicionamento, e aVarieda<strong>de</strong> Discriminante1.1 O que não se ensina no curso <strong>de</strong> ÁlgebraLinearNos cursos <strong>de</strong> Álgebra Linear, ensinamos a resolver sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> equaçõesans, ou seja, sist<strong>em</strong>as da formaAx = b , (1.1.1)on<strong>de</strong> A é uma matriz n × n, e b e x são vetores <strong>em</strong> R n . Essa equação t<strong>em</strong>solução x única se e somente se <strong>de</strong>t(A) ≠ 0.Nos bons cursos <strong>de</strong> Álgebra Linear, ensina-se a resolver o sist<strong>em</strong>a (1.1.1)por eliminação Gaussiana ou por fatoração PLU. Isso só vale para sist<strong>em</strong>ascom matriz inversível (e as outras situações são tratadas caso a caso).Por ex<strong>em</strong>plo, o sist<strong>em</strong>a⎡ ⎤ ⎡ ⎤0 0 1 b 1⎣0 1 0⎦ x = ⎣b 2⎦0 1 1 b 3admite uma reta <strong>de</strong> soluções se e somente se b 3 = b 1 + b 2 .Gregorio Malajovich, Geometria <strong>de</strong> Algoritmos Numéricos. <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<strong>Aplicada</strong> 37 (XXXI CNMAC), SBMAC, São Carlos, 2008.Copyright c○ Gregorio Malajovich, 2008.9


10 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTETeoricamente, o sist<strong>em</strong>a⎡⎣ ɛ 0 1⎤ ⎡0 1 ɛ⎦ x = ⎣ b ⎤1b 2⎦ (1.1.2)0 1 1 b 3t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre solução para ɛ ≠ 0.Vamos escolher b = [1, 0, 1] T e resolver este último sist<strong>em</strong>a por eliminação:subtraindo a segunda linha da terceira, obt<strong>em</strong>os:⎡⎤ ⎡ ⎤ɛ 0 1⎣0 1 ɛ0 0 1 − ɛ⎦ x =⎣ 1 0⎦ .1Ou seja, x 3 = 1/(1 − ɛ), x 2 = −ɛx 3 e x 1 = (1 − x 3 )/ɛ = 1/(1 − ɛ). Nolimite,limɛ→0 x 1 = 1.Esses são resultados exatos e teóricos, obtidos simbolicamente. Ao refazero mesmo ex<strong>em</strong>plo numericamente, ca evi<strong>de</strong>nte que a teoria não <strong>de</strong>screve<strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>quada a realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um computador digital.Vamos utilizar diversos valores <strong>de</strong> ɛ:#inclu<strong>de</strong> #inclu<strong>de</strong> void resolve(float epsilon){float x[4] ;x[3] = 1.0 /(1.0-epsilon) ;x[2] = -epsilon * x[3] ;x[1] = (1.0 - x[3]) / epsilon ;printf("x = [% 15.12e % 15.12e % 15.12e]\n", x[1],x[2],x[3]) ;}main(){Pod<strong>em</strong>os agora olhar para os resultados:


1.2. ARREDONDAMENTO E CONDICIONAMENTO 11resolve(pow(2.0, -21)) ;resolve(pow(2.0, -22)) ;resolve(pow(2.0, -23)) ;resolve(pow(2.0, -24)) ;resolve(pow(2.0, -25)) ;resolve(pow(2.0, -26)) ;}gregorio@momentum:~/cnmac$ ./arredondax = [-1.000000000000e+00 -4.768373855768e-07x = [-1.000000000000e+00 -2.384186359450e-07x = [-1.000000000000e+00 -1.192093037616e-07x = [-2.000000000000e+00 -5.960465188082e-08x = [ 0.000000000000e+00 -2.980232238770e-08x = [ 0.000000000000e+00 -1.490116119385e-081.000000476837e+00]1.000000238419e+00]1.000000119209e+00]1.000000119209e+00]1.000000000000e+00]1.000000000000e+00]Quando ɛ é sucient<strong>em</strong>ente pequeno, o resultado obtido para x 1 é zero !Isso se <strong>de</strong>ve à maneira como os números reais são representados. Computadorestrabalham com gran<strong>de</strong>zas aproximadas, representadas como números<strong>de</strong> ponto utuante. O formato padrão <strong>em</strong> uso nos computadores mo<strong>de</strong>rnos(guras 1.1 e 1.2) prevê 23 bits <strong>de</strong> mantissa.O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> aritmética utilizado hoje <strong>em</strong> todos os computadores é opadrão IEEE754/854 [4, Cap. 2.3]. Este mo<strong>de</strong>lo constitui uma <strong>de</strong>niçãoaxiomática rigorosa da aritmética digital, <strong>em</strong>bora permita diferentes impl<strong>em</strong>entações.As regras ou axiomas do padrão permit<strong>em</strong> provar teor<strong>em</strong>as sobrealgoritmos numéricos.Por outro lado, x 1 = 0 está longe da solução do sist<strong>em</strong>a (1.1.2). Paraenten<strong>de</strong>r as implicações <strong>de</strong> se utilizar aritmética IEEE, é preciso enten<strong>de</strong>rnão apenas o efeito do arredondamento no algoritmo, mas ainda o conceito<strong>de</strong> condicionamento, que é in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do algoritmo.1.2 Arredondamento e condicionamentoUm estudo cuidadoso do algoritmo <strong>de</strong> eliminação Gaussiana sob a aritmética<strong>de</strong> ponto utuante [2, Seção 2.4.2] mostra que, se o computador produziruma solução x para o probl<strong>em</strong>a Ax = b, então x é a solução exata paraum probl<strong>em</strong>a aproximado,(A + δA) x = b .Além disso, prova-se que ‖δA‖ F ≤ 3nɛ‖L‖ F ‖U‖ F , on<strong>de</strong> A = P LU é afatoração PLU <strong>de</strong> A e ‖ · ‖ F <strong>de</strong>nota a norma <strong>de</strong> Frobenius (Ver Apêndice,seção A.4).Subtraindo a equação Ax = b, obt<strong>em</strong>os:


12 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTEFigura 1.1: Representação <strong>de</strong> números <strong>de</strong> ponto utuante <strong>em</strong> precisão simples(padrão IEEE 754). Números <strong>de</strong> ponto utuante <strong>em</strong> precisão dupla sãorepresentados <strong>de</strong> maneira análoga com 52 bits <strong>de</strong> mantissa, 11 <strong>de</strong> expoentee um <strong>de</strong> sinal.Formato Precisão simples Precisão dupla IEEE-854dupla estendidaLinguag<strong>em</strong> C oat double long doubleBits <strong>de</strong> mantissa 23 52 64Bits <strong>de</strong> expoente 8+1 11+1 15+1Menor representável > 1 1 + 2 −23 1 + 2 −52 1 + 2 −64Menor arredondado a 1: 1 + 2 −24 1 + 2 −53 1 + 2 −65Figura 1.2: Padrão IEEE 754. Dados tirados <strong>de</strong> /usr/inclu<strong>de</strong>/ieee754.h


1.3. O POLINÔMIO PÉRFIDO 13δA x + A δx = 0 .Ou seja,δx = A −1 δAxe o erro relativo da solução aproximada po<strong>de</strong> ser estimado por:Isso implica:‖δx‖‖x + δx‖ ≤ ‖x‖‖A−1 ‖ 2 ‖δA‖ F‖x + δx‖ .‖δx‖‖x + δx‖ ≤ ‖δA‖ F ‖δx‖‖A−1 ‖ 2 ‖A‖ F‖A‖ F ‖x + δx‖ .Seja κ A = ‖A‖ 2 ‖A −1 ‖ F . Nesse caso, obt<strong>em</strong>os:‖δx‖‖x + δx‖ ≤ κ ‖δA‖ FA .‖A‖ FEm outras palavras: O processo numérico utilizado para computar xproduziu a solução exata <strong>de</strong> um probl<strong>em</strong>a aproximado. O erro relativo nasolução x po<strong>de</strong> ser estimado pelo produto do erro relativo no probl<strong>em</strong>a, vezeso número κ A .O número κ A não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do algoritmo utilizado para resolver o sist<strong>em</strong>a<strong>de</strong> equações. Ele é um invariante que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> apenas dos coecientesdo sist<strong>em</strong>a. É chamado <strong>de</strong> número <strong>de</strong> condicionamento da matriz A, associadoao probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> resolver Ax = b.No ex<strong>em</strong>plo numérico acima, κ A ≃ √ 2ɛ −1 .1.3 O polinômio pérdoO polinômio pérdo <strong>de</strong> grau d (também conhecido como polinômio <strong>de</strong> Pochammer)é <strong>de</strong>nido por:Por ex<strong>em</strong>plo,p d (x) = (x − 1)(x − 2) · · · (x − d) .p 10(x) = x 10 − 55x 9 + 1320x 8 − 18150x 7 + 157773x 6 − 902055x 5 ++ 3416930x 4 − 8409500x 3 + 12753576x 2 − 10628640x 1 + <strong>36</strong>28800.


14 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTEUma maneira <strong>de</strong> se encontrar a raízes <strong>de</strong> polinômios <strong>de</strong> grau baixo é produzira matriz companheira associada a eles. Se f(x) = x d + f d−1 x d−1 +· · · + f 1 x + f 0 , então a matriz companheira <strong>de</strong> f é⎡⎤0 1 0 · · · 0. .. . .. .C f =. .. . .. ⎢..⎥⎣0 1 ⎦−f 0 −f 1 · · · −f d−2 −f d−1A matriz companheira foi construída <strong>de</strong> maneira que f fosse o seu polinômiocaracterístico (a menos do sinal):<strong>de</strong>t C f − λI = (−1) d f(λ).Assim, reduzimos o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> resolver um polinômio <strong>de</strong> grau d aoutro probl<strong>em</strong>a, que é o <strong>de</strong> achar os autovalores <strong>de</strong> uma matriz d × d.Existe excelente software numérico para achar autovalores. Vamos aplicaressa idéia ao polinômio pérdo.p=poly(1:10)C=[ [zeros(9,1),eye(9)]; -p(11:-1:2)]x=eig(C)x =10.000009.000008.000007.000006.000005.000004.000003.000002.000001.00000A solução parece correta. Mas conhec<strong>em</strong>os a solução exata, e pod<strong>em</strong>osconferir:x - [10:-1:1]¡ans =


1.3. O POLINÔMIO PÉRFIDO 154.3965e-11-2.1128e-104.4744e-10-5.4329e-104.0626e-10-1.8595e-104.9097e-11-6.6769e-124.0634e-13-1.5654e-14Mais uma vez, a solução parece correta. O fato do Octave usar aritmética<strong>de</strong> dupla precisão <strong>de</strong>veria no entanto levantar suspeitas. O erro relativo <strong>de</strong>cada operação aritmética <strong>em</strong> precisão dupla é <strong>de</strong> no máximo 2 −53 ≃ 10 −16 .Não está claro se o resultado é acurado. O mesmo acontece se utilizamos ocomando roots.Vamos agora repetir o experimento, com grau 20.p=poly(1:20)C=[ [zeros(19,1),eye(19)]; -p(21:-1:2)]x=eig(C)x =19.999419.005617.976917.052415.909215.102113.916813.055311.975311.00929.99759.00057.99997.00006.00005.00004.00003.00002.00001.0000O seguinte experimento mostra que a diculda<strong>de</strong> <strong>em</strong> se resolver polinômiospérdos não é bug do software ou <strong>de</strong>ciência do algoritmo:p=poly(1:10)p(11)=p(11)*1.0001C=[ [zeros(9,1),eye(9)]; -p(11:-1:2)]x=eig(C)x =9.9990


16 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTE9.00897.96247.08075.86735.13273.91933.03761.99111.0010Uma perturbação <strong>de</strong> 0.01% <strong>em</strong> um dos coecientes provocou uma perturbação<strong>de</strong> 2% nos valores das raízes.Para explicar o ocorrido, introduzimos o número <strong>de</strong> condicionamento<strong>de</strong> Wilkinson para polinômios: se ζ é um zero isolado <strong>de</strong> f, <strong>de</strong>ne-se ocondicionamento porκ f (ζ) =‖f‖|f ′ (ζ)| .Se z for uma solução exata do polinômio f + δf, então pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>nirimplicitamente:(f + tδf)(z(t)) = 0com z(1) = z. Derivando <strong>em</strong> relação a t,e logo(δf)(z(t)) + (f + δf) ′ (ż(t)) = 0∥⎡⎤∥∥∥∥∥∥∥∥∥∥ 11z(t)‖ż(t)‖ ≤|(f + δf) ′ (z(t))| ‖δf‖ z(t) 2.⎢ ⎥⎣ . ⎦z(t) <strong>de</strong>gf ∥Pod<strong>em</strong>os concluir (com um pouco mais <strong>de</strong> trabalho) que o erro ‖δz‖ éno máximo da ord<strong>em</strong> <strong>de</strong>κ f (ζ) ‖δf‖ √<strong>de</strong>gf max(1, |ζ|) <strong>de</strong>gf .‖f‖


1.4. TEORIA GERAL 171.4 Teoria geralNúmeros <strong>de</strong> condicionamento foram estudados e <strong>de</strong>nidos para os mais diversosprobl<strong>em</strong>as, como por ex<strong>em</strong>plo probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> autovalores, solução <strong>de</strong>sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> polinômios, mínimos quadrados, etc... (Ver [1,2]).A teoria geral <strong>de</strong> números <strong>de</strong> condicionamento utiliza conceitos <strong>de</strong> geometriadiferencial. Vamos introduzir abaixo alguns conceitos fundamentais<strong>de</strong> Cálculo <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s, essenciais para o bom entendimento do que segue.Em primeiro lugar, uma função diferenciável é uma função <strong>de</strong>rivável,com <strong>de</strong>rivada contínua. Se for uma função vetorial, exigimos que todas as<strong>de</strong>rivadas parciais <strong>em</strong> relação a todas as variáveis sejam diferenciáveis, erepresentamos a <strong>de</strong>rivada pela matriz das <strong>de</strong>rivadas parciais.Denição 1.1. SejaF : R n → R mx ↦→ F (x)uma função diferenciável, com n ≥ m. Um ponto crítico <strong>de</strong> F é um x ∈ R ntal que DF x tenha posto < m, ou seja, que as colunas <strong>de</strong> DF x não sejamin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, ou ainda que a aplicação linear DF x não seja sobrejetora.Um ponto regular é um x ∈ R n que não é crítico. Denimos ainda umvalor crítico <strong>de</strong> F como um y ∈ R m que seja imag<strong>em</strong> por F <strong>de</strong> um pontocrítico. Um y ∈ R m é dito valor regular se ele não é imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> nenhumponto crítico.Denição 1.2. Uma subvarieda<strong>de</strong> diferenciável d-dimensional M implícita<strong>em</strong> R n é um conjunto da forma F −1 (0), on<strong>de</strong>F : R n → R mx ↦→ F (x)é uma função diferenciável, e 0 é valor regular <strong>de</strong> F.Neste texto, uma varieda<strong>de</strong> é s<strong>em</strong>pre uma subvarieda<strong>de</strong> diferenciável d-dimensional implícita <strong>de</strong> algum espaço linear. Por ex<strong>em</strong>plo, o conjunto dasmatrizes n × n <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminante zero é uma varieda<strong>de</strong>.Se M = F −1 (0) é uma varieda<strong>de</strong> (no nosso sentido) e x um ponto <strong>de</strong>M, <strong>de</strong>nimos o espaço tangente a M <strong>em</strong> x comoT x M = ker DF x .Existe uma parametrização <strong>de</strong> T x M <strong>em</strong> uma vizinhança <strong>de</strong> x ∈ M.Dessa maneira, pod<strong>em</strong>os (localmente) introduzir sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<strong>em</strong> M. Se F : R n → R m , então T x M t<strong>em</strong> dimensão n − m e diz<strong>em</strong>os queM t<strong>em</strong> dimensão m − n.


18 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTESe M e N são varieda<strong>de</strong>s e Φ : M → N, então <strong>de</strong>nimos DΦ x : T x →T Φ(x) como a melhor aproximação linear <strong>de</strong> Φ (se existir). Dessa maneira,pod<strong>em</strong>os fazer cálculo <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s.Uma <strong>de</strong>nição diferente <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> é utilizada <strong>em</strong> geometria algébrica.Um fechado <strong>de</strong> Zariski é o conjunto dos zeros <strong>de</strong> uma coleção <strong>de</strong> polinômios(reais, complexos, etc...). Uma varieda<strong>de</strong> algébrica é um fechado <strong>de</strong> Zariski,que não se escreve como união trivial <strong>de</strong> fechados <strong>de</strong> Zariski. A varieda<strong>de</strong>das matrizes A tais que <strong>de</strong>t A = 0, por ex<strong>em</strong>plo, é uma varieda<strong>de</strong> algébrica.Um probl<strong>em</strong>a numérico é <strong>de</strong>nido por um espaço (ou varieda<strong>de</strong> !) F <strong>de</strong>entrada (por ex<strong>em</strong>plo, as matrizes n×n) e um espaço X <strong>de</strong> soluções (ex<strong>em</strong>plo:autovalor λ ∈ C). Existe uma regra associando soluções às entradas.Essa regra não é n<strong>em</strong> po<strong>de</strong> ser uma função unívoca, pois certos probl<strong>em</strong>as(por ex<strong>em</strong>plo, o probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> autovalores) admit<strong>em</strong> várias soluções.No ex<strong>em</strong>plo, um número complexo λ é autovalor <strong>de</strong> A se e somentese <strong>de</strong>t(A − λI) = 0. Denimos portanto a seguinte varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> F × C,chamada <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> incidência (Figura 1.3):V = {(A, λ) ∈ F × C : <strong>de</strong>t(A − λI) = 0} (1.4.3)(A prova <strong>de</strong> que V é varieda<strong>de</strong> é um exercício). π 1 : V → F e π 2 : V → C<strong>de</strong>notam as projeções canônicas.Dado (M, λ) ∈ V ⊂ F × X, pod<strong>em</strong> acontecer duas situações:• (A, λ) é ponto crítico da projeção π 1 : V → F. Nesse caso, a entradaA é chamada <strong>de</strong> mal-posta, ou <strong>de</strong>generada. Por <strong>de</strong>nição, o número<strong>de</strong> condicionamento µ(A, λ) <strong>em</strong> (A, λ) é innito.• (A, λ) é ponto regular da projeção V → F. Nesse caso (Teor<strong>em</strong>a daFunção Implícita !) pod<strong>em</strong>os esten<strong>de</strong>r λ como função (π 2 ◦ π1 −1 )<strong>de</strong> A,localmente, <strong>em</strong> uma certa vizinhança <strong>de</strong> A. O número <strong>de</strong> condicionamentoµ(A, λ) <strong>em</strong> (A, λ) é a norma da <strong>de</strong>rivada da função implícita(π 2 ◦ π1 −1 ) <strong>em</strong> A.Em geral, o número <strong>de</strong> condicionamento é proporcional à norma da<strong>de</strong>rivada da solução <strong>em</strong> função da entrada, po<strong>de</strong>ndo ser innito. Se forgran<strong>de</strong>, a entrada é dita mal condicionada. Se for innita, ela é <strong>de</strong>generadaou mal posta. Se pudéss<strong>em</strong>os impun<strong>em</strong>ente brincar com a precisão <strong>de</strong>nossos computadores, o número <strong>de</strong> bits necessário para resolver um probl<strong>em</strong>acom uma certa entrada seria proporcional ao logaritmo do condicionamento<strong>de</strong>sta.


1.4. TEORIA GERAL 19Varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> incidênciaCPonto regularπ 2Pontos críticosπ 1Valores críticosFValor regularFigura 1.3: Formulação geral.


20 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTE1.5 Os probl<strong>em</strong>as mal postosOs números <strong>de</strong> condicionamento med<strong>em</strong> a diculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resolver um probl<strong>em</strong>apara <strong>de</strong>terminada entrada. A esse título, constitu<strong>em</strong> a noção central<strong>em</strong> análise numérica, e números <strong>de</strong> condicionamento altos são a principalobstrução para algoritmos numéricos.I<strong>de</strong>nticada a obstrução, cumpre entendê-la, para <strong>de</strong>pois tomar as <strong>de</strong>vidasprovidências (contornar? r<strong>em</strong>over? explodir? conformar-se?).Na maioria dos probl<strong>em</strong>as numéricos estudados <strong>em</strong> dimensão nita, oconjunto das entradas mal-postas t<strong>em</strong> estrutura <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> algébrica.Essa varieda<strong>de</strong> não é, <strong>em</strong> geral, diferenciável. Por ex<strong>em</strong>plo, no caso doprobl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> resolver sist<strong>em</strong>as lineares, as entradas mal-postas são precisamente:{A : <strong>de</strong>t A = 0} .No caso <strong>de</strong> polinômios <strong>em</strong> uma variável, a classe das entradas mal postasé a varieda<strong>de</strong> dos polinômios com uma raiz múltipla. Em função doscoecientes, isso equivale a escrever:⎡⎤f 0 f 1. f 1 .. . . ... . f 0 (d − 1)f d−1 ..<strong>de</strong>t. . f 1 df d .. f1= 0 .. f d ... . .. .⎢⎣ . .. . ⎥... (d − 1)fd−1⎦f d df dA varieda<strong>de</strong> das entradas mal postas é um objeto extr<strong>em</strong>amente complicado,mas t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre codimensão ≥ 1 (i.e. dimensão N − 1 <strong>em</strong> um espaço<strong>de</strong> dimensão N).Pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>duzir que• A probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma entrada aleatória ser mal posta é zero.• A varieda<strong>de</strong> das entradas mal postas não <strong>de</strong>sconecta a varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>todas as entradas... <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que se trate <strong>de</strong> varieda<strong>de</strong>s complexas.• Superfície e área <strong>de</strong> vizinhança tubular pod<strong>em</strong> ser estimadas.


1.6. A DECOMPOSIÇÃO EM VALORES SINGULARES 211.6 A <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> valores singularesPrecisamos agora <strong>de</strong> alguns teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Álgebra Linear. O principal <strong>de</strong>lesé o teor<strong>em</strong>a da <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> valores singulares, e vamos <strong>de</strong>duzi-lo doTeor<strong>em</strong>a Espectral.Teor<strong>em</strong>a 1.3 (T. Espectral para matrizes simétricas). Seja S uma matrizsimétrica real n × n. Então todos os autovalores <strong>de</strong> S são reais, e S admiteuma base ortonormal <strong>de</strong> autovetores.A prova foi <strong>de</strong>ixada para os exercícios. Admitindo esse resultado, pod<strong>em</strong>ospassar ao Teor<strong>em</strong>a seguinte.Seja A : R n → R m uma aplicação linear. Os espaços R n e R m sãomunidos do produto interno canônico.Vamos mostrar que existe uma base ortonormal (v 1 , . . . , v n ) <strong>de</strong> R n , euma base ortonormal (u 1 , . . . , u n ) <strong>de</strong> R m , tais que a matriz associada Arelativa a essas duas bases é diagonal.Uma matriz Σ <strong>de</strong> tamanho m × n é diagonal positiva se e somente separa todo i, Σ ii ≥ 0, e para i ≠ j, Σ ij = 0.Teor<strong>em</strong>a 1.4. Seja A uma matriz real <strong>de</strong> tamanho m × n. Então exist<strong>em</strong>U ∈ O(m), V ∈ O(n) e Σ diagonal positiva <strong>de</strong> tamanho m × n, tais queA = UΣV T .D<strong>em</strong>onstração: Para xar as idéias, vamos assumir que m ≥ n. (No casom < n, basta substituir A por A T ).A matriz A T A é real e simétrica. Pelo Teor<strong>em</strong>a Espectral, ela admiteuma base ortonormal (v 1 , . . . , v n ) <strong>de</strong> autovetores. Denotamos por λ i osautovalores <strong>de</strong> A T A. Para todo i = 1, . . . , n, <strong>de</strong>nimosσ i = ‖Av i ‖e assumimos que a base v i está or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> maneira que σ 1 ≥ σ 2 ≥ · · · ≥σ n . Seja r o posto <strong>de</strong> A, então σ 1 , . . . , σ r ≠ 0 e para todo i ∈ {1, 2, . . . , r},pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>niru i = σ −1i Av i .Por construção, ‖u i ‖ = 1. (Note que isso implica que σi2 = λ i). Comopara todo i ≠ j, v i (A T A)v j = λ j vi T v j = 0, ter<strong>em</strong>os que 〈u i , u j 〉 = 0 e osu i formam um conjunto ortonormal.Existe uma base (u 1 , . . . , u r , w r+1 , . . . , w m ) <strong>de</strong> R n . Aplicando Gram-Schmidt a essa base, obt<strong>em</strong>os um base ortonormal (u 1 , . . . , u m ). Como


22 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTEtodo vetor ortogonal à imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> A pertence ao núcleo <strong>de</strong> A T ,⎡⎤σ 1 0 0 · · · 00 σ 2 0 · · · 00 0 σ 3.A = U. . ..0 0 σ rV T .0 0 0⎢⎥⎣ . .. ⎦0 0 0Os σ i 's são chamados <strong>de</strong> valores singulares <strong>de</strong> A, e os u i 's e v i 's <strong>de</strong>vetores singulares.Uma interpretação geométrica é a seguinte. Assuma que A é <strong>de</strong> tamanhom × n, com m ≥ n e posto n). SejaE = {Ax : ‖x‖ ≤ 1} .O conjunto E é o elipsói<strong>de</strong> <strong>de</strong> centro zero, e s<strong>em</strong>ieixos σ i u i .1.7 Os probl<strong>em</strong>as mal condicionadosL<strong>em</strong>br<strong>em</strong>os que o número <strong>de</strong> condicionamento <strong>de</strong> uma matriz A é dado porκ A = ‖A‖ 2 ‖A −1 ‖ F .Seja Σ = {A : <strong>de</strong>t A = 0} a varieda<strong>de</strong> das entradas mal postas.Teor<strong>em</strong>a 1.5 (Eckart-Young).on<strong>de</strong> d(Σ, A) = min (A+δA)∈Σ ‖δA‖ F .1κ A =d(Σ, A)/‖A‖ FProva: Vamos utilizar a <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> valores singulares <strong>de</strong> A. PeloTeor<strong>em</strong>a 1.4, toda matriz A se escreve como:A = UΣV


1.7. OS PROBLEMAS MAL CONDICIONADOS 23on<strong>de</strong> U e V são matrizes ortogonais, e Σ é uma matriz diagonal real nãonegativa.Seja⎡⎤σ 1 σ 2 Σ = ⎢⎣. ..⎥⎦σ ncom σ 1 ≥ σ 2 ≥ · · · σ n > 0. Então, pod<strong>em</strong>os escrever explicitamente:e‖A‖ F =√ ∑σ2iκ A =√ ∑σ2i /σ n .A menor perturbação que torna A singular é:⎡⎤0. .. δ A = U ⎢⎥⎣ 0 ⎦ V T−σ nque t<strong>em</strong> norma σ n . Logo, d(A, Σ)/‖A‖ F = σ n /‖A‖ F = 1/κ A , q.e.d.Resultados análogos foram <strong>de</strong>scobertos para probl<strong>em</strong>as como o probl<strong>em</strong>a<strong>de</strong> autovalores, probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mínimos quadrados, solução <strong>de</strong> polinômios, <strong>de</strong>sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> polinômios.Esses resultados suger<strong>em</strong> o seguinte paradigma: O número <strong>de</strong> condicionamentopo<strong>de</strong> ser interpretado como o inverso da distância à varieda<strong>de</strong> dasentradas mal postas.Como todo paradigma, <strong>de</strong>ve ser tomado com um certo cuidado. No caso<strong>de</strong> polinômios e sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> polinômios, a igualda<strong>de</strong> é um pouco mais sutil:o número <strong>de</strong> condicionamento µ(f, ζ) é a inversa da distância medida <strong>de</strong>ntroda bra das entradas f com solução <strong>em</strong> ζ ([1, Cap.12]).No caso do probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> autovalores não-simétrico, a distância é menorou igual a 1/ √ c 2 − 1 ≃ 1/c, on<strong>de</strong> c é o número <strong>de</strong> condicionamento ([2,Teor<strong>em</strong>a 4.6]).No entanto, o paradigma acima permite atacar a perguntas como a seguinte:qual é a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma matriz ter número <strong>de</strong> condição menordo que um certo ɛ −1 ? Para isso precisamos <strong>de</strong>nir uma medida <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>sobre as matrizes. Por ex<strong>em</strong>plo, se as coor<strong>de</strong>nadas são variáveis aleatóriasGaussianas, i<strong>de</strong>nticamente e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente distribuídas, AlanE<strong>de</strong>lman mostrou [3, Cor. 7.1] quelimn→∞ Prob[κ < ɛ−1 ] = e −2nɛ−2n2 ɛ 2 .


24 AULA 1. CONDICIONAMENTO, E A VARIEDADE DISCRIMINANTEPelo Teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Eckart-Young, estamos calculando o volume (probabilida<strong>de</strong>total) <strong>de</strong> uma vizinhança tubular <strong>de</strong> raio ɛ da varieda<strong>de</strong> algébrica<strong>de</strong>t A = 0.1.8 ExercíciosExercício 1.1. Explique os resultados obtidos pelo programa da página 10Exercício 1.2. Mostre que se S é uma matriz real simétrica, então seusautovalores e autovetores são reais.Exercício 1.3. Mostre que se u é autovalor <strong>de</strong> S, e se v ⊥ u, então Sv ⊥ u.Exercício 1.4. Prove o Teor<strong>em</strong>a Espectral.Exercício 1.5. Mostre que a varieda<strong>de</strong> algébrica {A : <strong>de</strong>t(A) = 0}, on<strong>de</strong> Aé uma matriz n × n e n ≥ 2, não é uma varieda<strong>de</strong> diferenciável implícita.Exercício 1.6. Mostre que toda matriz complexa quadrada A se escrevecomo A = QRQ ∗ , on<strong>de</strong> R é triangular superior e QQ ∗ = I.Exercício 1.7. Mostre que o conjunto V da equação (1.4.3) é uma varieda<strong>de</strong>.Exercício 1.8. Ache uma expressão para o número <strong>de</strong> condicionamento doprobl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> autovalores.Referências[1] Lenore Blum, Felipe Cucker, Michael Shub, and Steve Smale, Complexity and realcomputation, Springer-Verlag, New York, 1998.[2] James W. D<strong>em</strong>mel, Applied numerical linear algebra, Society for Industrial and AppliedMath<strong>em</strong>atics (SIAM), Phila<strong>de</strong>lphia, PA, 1997.[3] Alan E<strong>de</strong>lman, Eigenvalues and condition numbers of random matrices, Ph.D. Thesis,Department of Math<strong>em</strong>atics, Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, MA,1989.[4] Nicholas J. Higham, Accuracy and stability of numerical algorithms, 2nd ed., Societyfor Industrial and Applied Math<strong>em</strong>atics (SIAM), Phila<strong>de</strong>lphia, PA, 2002.


Aula 2A iteração <strong>de</strong> Gräe,Dan<strong>de</strong>lin ou LobachevskiiNa década <strong>de</strong> 1830, a Acad<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> Ciências <strong>de</strong> Berlim ofereceu um prêmiopara o melhor método <strong>de</strong> se achar zeros <strong>de</strong> polinômios.O agraciado foi Karl Heinrich Gräe (1799-1873) cujo trabalho (publicado<strong>em</strong> 1837) propõe elevar as raízes ao quadrado, por meio da iteraçãof(x) ↦→ ±f( √ x)f( √ −x). Após um pequeno número k <strong>de</strong> iterações, é possívelrecuperar as raízes 2 k -ésimas das raízes <strong>de</strong> f.O método já havia sido esboçado <strong>em</strong> 1826 por Germinal Pierre Dan<strong>de</strong>lin(1794-1847) (Fig.2.1), mat<strong>em</strong>ático, engenheiro militar e futuro revolucioná-Gregorio Malajovich, Geometria <strong>de</strong> Algoritmos Numéricos. <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<strong>Aplicada</strong> 37 (XXXI CNMAC), SBMAC, São Carlos, 2008.Copyright c○ Gregorio Malajovich, 2008.Figura 2.1: Germinal Dan<strong>de</strong>lin (1794-1847) e Nicolai Ivánovich Lobachevskii(1792-1856).25


26 AULA 2. A ITERAÇÃO DE GRÄFFE, DANDELIN OU LOBACHEVSKIIrio Belga. Esse método passou a ser conhecido no oci<strong>de</strong>nte como método<strong>de</strong> Dan<strong>de</strong>lin-Gräe.Foi <strong>de</strong>scoberto in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente por Nicolai Ivánovich Lobachevskii(1792-1856) (Fig.2.1), hoje mais conhecido pela invenção da geometria nãoEuclidiana. O Tratado <strong>de</strong> Álgebra <strong>de</strong> Lobachevskii foi entregue ao censor<strong>em</strong> 1832, mas só foi publicado <strong>em</strong> 1834. Pesou contra ele o fato <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> Kazan, longe dos centros intelectuais da Europa. Nos textos Soviéticos,falava-se do algoritmo <strong>de</strong> Lobachevskii.Cada um <strong>de</strong>les apresentou contribuições importantes para o método,que foi tornado mais rigoroso e eciente ao longo <strong>de</strong> dois séculos.Nesta aula, pretendo apresentar uma visão mo<strong>de</strong>rna da iteração <strong>de</strong>Gräe-Dan<strong>de</strong>lin-Lobachevskii. Quero mostrar que apesar <strong>de</strong> quase bicentenário,o algoritmo ilustra vários tipos <strong>de</strong> conexões <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as numéricoscom áreas correntes da mat<strong>em</strong>ática.A principal referência para a versão mo<strong>de</strong>rna do algoritmo é o artigo [3],escrito <strong>em</strong> parceria com Jorge P. Zubelli. A referência histórica é [1].2.1 A iteraçãoSejaf(x) =d∑f j x j (2.1.1)j=0um polinômio <strong>de</strong> grau d, com coecientes reais ou complexos. Para simpli-car as contas, vamos assumir que f d = 1 (f é mônico).Do Teor<strong>em</strong>a Fundamental da Álgebra, sab<strong>em</strong>os que f admite d raízescomplexas, contadas com multiplicida<strong>de</strong>. Sejam ζ 1 , . . . , ζ d essas raízes, eassumimos que estão or<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> modo que|ζ 1 | ≤ |ζ 2 | ≤ · · · ≤ |ζ d | .O polinômio f(x) também se escrevef(x) = (x − ζ 1 )(x − ζ 2 ) · · · (x − ζ d ) . (2.1.2)Igualando (2.1.1) a (2.1.2), <strong>de</strong>duzimos que os coecientes do polinômiof são (a menos <strong>de</strong> um sinal) as funções simétricas das raízes:f j = (−1) d−j σ d−j (ζ 1 , . . . , ζ d ) . (2.1.3)


2.1. A ITERAÇÃO 27comσ 0 (ζ 1 , . . . , ζ d ) = 1σ 1 (ζ 1 , . . . , ζ d ) = ζ 1 + ζ 2 + · · · + ζ dσ 2 (ζ 1 , . . . , ζ d ) = ζ 1 ζ 2 + ζ 1 ζ 3 + · · · + ζ d−1 ζ d.σ d (ζ 1 , . . . , ζ d ) = ζ 1 ζ 2 · · · ζ dA iteração <strong>de</strong> Gräe leva o polinômio f(x) no polinômio (Gf)(x) =(−1) d f( √ x)f( √ −x). Dados os coecientes <strong>de</strong> f(x), pod<strong>em</strong>os calcular oscoecientes <strong>de</strong> (Gf)(x) pelo algoritmo da multiplicação ou convolução:(Gf) j =min(j,d−j)∑i=− min(j,d−j)(−1) j−i f j+i f j−i .Essa conta po<strong>de</strong> ser feita <strong>de</strong> maneira extr<strong>em</strong>amente rápida utilizando atransformada rápida <strong>de</strong> Fourier.Por outro lado,Gf(x) = ( √ x − ζ 1 )( √ (x) + ζ 1 ) · · · ( √ x − ζ d )( √ (x) + ζ d )= ( √ x − ζ 2 1) · · · ( √ (x) + ζ 2 d)Vamos agora iterar esse processo. Escrev<strong>em</strong>os⎛g(x) = G N f(x) = ⎝(G}◦ G{{◦ · · · ◦ G})(f) ⎠ (x) .N vezesVamos <strong>de</strong>notar por g i os coecientes <strong>de</strong> g(x) = G N f(x). Comoter<strong>em</strong>os:g(x) = (x − ζ 2N1 )(x − ζ 2N2 ) · · · (x − ζ 2Nd ) ,⎞g d = 1g d−1 = −)(ζ 1 2N+ ζ2 2N+ · · · + ζd2Ng d−2 = ζ 2N1 ζ 2N2 + ζ 2N1 ζ 2N3 + · · · + ζ 2Nd−1ζ 2Nd.g 0 = (−1) d ζ 2N1 ζ 2N2 · · · ζ 2Nd


28 AULA 2. A ITERAÇÃO DE GRÄFFE, DANDELIN OU LOBACHEVSKIIVamos introduzir agora uma hipótese simplicadora: assumimos t<strong>em</strong>porariamenteque|ζ 1 | < |ζ 2 | < · · · < |ζ d | . (2.1.4)Seja R = min ζjζ j−1. Então R > 1. T<strong>em</strong>os agora:g d = 1g d−1 = −ζ 2Nd (1 + δ d−1 )g d−2 = ζ 2Nd−1ζ 2Nd (1 + δ d−2 ).g 1 = (−1) d−1 ζ 2N2 ζ 2N3 · · · ζ 2Nd (1 + δ 1 )g 0 = (−1) d ζ1 2Nζ2 2N· · · ζd2Non<strong>de</strong> os δ j são pequenos (quando R é xo e k é gran<strong>de</strong>): uma estimativaóbvia é( )d|δ j | < R −2N .jAté a primeira meta<strong>de</strong> do século XX, era usual representar os g i <strong>em</strong> papellogarítmico (com a escala certa) e aproximar log |ζ i | 2N pelo coeciente dareta contendo (j, − log |g j |) e (j + 1, − log g j+1 ). Esse gráco era conhecidocomo diagrama <strong>de</strong> Newton (Fig 2.2).Sobraram dois probl<strong>em</strong>as:1. Como lidar com raízes com o mesmo módulo ? Por ex<strong>em</strong>plo, f 1 (x) =x 2 − 2x + 1 ?2. Como recuperar os argumentos ? Se f 2 (x) = x 2 − 1, então Gf 1 (x) =Gf 2 (x) = f 2 (x), e perd<strong>em</strong>os informação !A solução histórica era iterar f(x + ɛ) e f(x − ɛ), obtendo assim |ζ i − ɛ|e |ζ i + ɛ|.2.2 Papel logarítmico, renormalização e GeometriaAlgébrica TropicalVimos que não é natural assumir que as raízes <strong>de</strong> um polinômio têm módulodiferente. De fato, existe uma probabilida<strong>de</strong> positiva <strong>de</strong> um polinômio real


2.2. PAPEL LOGARÍTMICO, RENORMALIZAÇÃO E GEOMETRIA ALGÉBRICATROPICAL 29Figura 2.2: Diagrama <strong>de</strong> Newton, polinômio complexo aleatório <strong>de</strong> grau 20,após 11 iterações.


30 AULA 2. A ITERAÇÃO DE GRÄFFE, DANDELIN OU LOBACHEVSKIIaleatório ter raízes complexas conjugadas. Vamos portanto substituir ahipótese (2.1.4) por uma hipótese muito mais fraca:Hipótese: Se duas raízes <strong>de</strong> f têm mesmo módulo, é por uma dasseguintes razões: elas são iguais, ou f é real e as raízes são conjugadas.Nesse caso, diz<strong>em</strong>os que f é livre <strong>de</strong> círculos.Essa é uma hipótese genérica e <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> um. Se f não for livre<strong>de</strong> círculos, s<strong>em</strong>pre pod<strong>em</strong>os aplicar uma transformação conforme aleatóriae obter (com probabilida<strong>de</strong> 1) um polinômio livre <strong>de</strong> círculos. De agora <strong>em</strong>diante, assumimos que f é livre <strong>de</strong> círculos.A cada etapa <strong>de</strong> iteração, representamos os coecientes da N-ésima iteradag(x) = G N f(x) <strong>em</strong> coor<strong>de</strong>nadas logarítmicas renormalizadas:Ou ainda:g k = e 2N r i k (N) e √ −1α (N)i .r (N)k= 2 −N log |g k |α (N)i = arg g kIsso era feito implicitamente no início do século XX, utilizando papellogarítmico. A mudança <strong>de</strong> escala era feita, mas não escrita.Se valesse a hipótese (2.1.4), teríamos o seguinte fato: <strong>em</strong>bora a seqüênciados (G N f(x)) N∈N seja divergente, a seqüência dos (r (N) ) N∈N convergepara um limite que nos fornece informação relevante.Esse é um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> renormalização, técnica utilizada <strong>em</strong> autômatoscelulares e sist<strong>em</strong>as dinâmicos. (Renormalização <strong>em</strong> física po<strong>de</strong> ser umpouco diferente).Por outro lado, a dinâmica dos argumentos α (N)ké tipicamente caótica,no limite α (N)k≃ 2α (N−1)kmod 2π. É importante enten<strong>de</strong>r que esse fatoé trivial e absolutamente irrelevante. A informação guardada nos α (N) éperdida, e aqui enten<strong>de</strong>r sist<strong>em</strong>as dinâmicos caóticos não ajuda <strong>em</strong> nada.A convergência da seqüência (r (N) ) N∈N <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da hipótese (2.1.4). Oque acontece com polinômios livres <strong>de</strong> círculos é mais complicado. Essefenômeno foi <strong>de</strong>scrito por Ostrowskii [4, 5], mas o fato <strong>de</strong> renormalizarmosos r (N) permite um entendimento melhor:Seja ˆr(N) a maior função convexa <strong>em</strong> [0, d] tal que ˆr (N) (k) ≤ r (N)k,k = 0, . . . , d.Se f é livre <strong>de</strong> círculos, então ˆr (N) é convergente (Figura 2.3). A velocida<strong>de</strong><strong>de</strong> convergência po<strong>de</strong> ser estimada <strong>em</strong> função <strong>de</strong> R.k


2.2. PAPEL LOGARÍTMICO, RENORMALIZAÇÃO E GEOMETRIA ALGÉBRICATROPICAL 31Figura 2.3: Diagrama <strong>de</strong> Newton renormalizado, polinômio aleatório real<strong>de</strong> grau 10.


32 AULA 2. A ITERAÇÃO DE GRÄFFE, DANDELIN OU LOBACHEVSKIIAté a invenção do computador digital, a iteração <strong>de</strong> Gräe-Dan<strong>de</strong>lin-Lobachevskii e suas variantes eram o algoritmo escolhido para resolver polinômios.Isso mudou radicalmente com o advento do computador digital. Apósas primeiras experiências numéricas, cou claro que o expoente estouravarapidamente (Fig 1.1).Por ex<strong>em</strong>plo, se começamos com coecientes da ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> 2, <strong>em</strong> 10iterações apenas ter<strong>em</strong>os coecientes da ord<strong>em</strong> <strong>de</strong> 2 21 0, que precisam <strong>de</strong> 2 1 0bits <strong>em</strong> representação inteira exata, e <strong>de</strong> <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 10 bits <strong>de</strong> expoente<strong>em</strong> representação mantissa-potência <strong>de</strong> dois. Hoje utilizamos <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>10 bits <strong>de</strong> expoente.Como apareceram algoritmos mais simples <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entar (ou impl<strong>em</strong>entadospor outras razões), o algoritmo cou esquecido.Utilizando a idéia <strong>de</strong> renormalização, não ocorre estouro do expoente,e a cada passo pod<strong>em</strong>os fazer contas renormalizadas da maneira seguinte:Representação usual: Renormalização <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> N:x = e 2N r+iα(r, α)y = e 2N s+iβ(s, β)x + y = e 2N t+iγ(t, γ) = (r, α) + k(s, β)xy = e 2N u+iδ(u, δ) = (r, α) + (s, β)On<strong>de</strong> (assumindo r ≥ s:)t = 2 −N ∣log ∣e 2N r+iα + e 2N s+iβ∣∣= r log ∣1 + e 2N (s−r)+i(β−α)∣Note quee 2N (s−r)+i(β−α) =e i(β−α)1 + 2 N (r − s) + 1 2 22N (r − s) 2 + · · · .A soma renormalizada po<strong>de</strong> ser calculada <strong>de</strong> maneira estável. Quando2 N ≫ |r − s|, po<strong>de</strong>-se até aproximar (r, α) + k(s, β) pelo limite,⎧⎨ (r, α) Se r > s(r, α) + ∞(s, β) = (s, β) Se s < r .⎩(r, In<strong>de</strong>nido) Se r = sA primeira coor<strong>de</strong>nada <strong>de</strong>sse limite é conhecida hoje como soma tropical<strong>de</strong> r e s.Denição 2.1. O s<strong>em</strong>ianel tropical é o anel R ∪ −∞ munido das operações<strong>de</strong> soma tropical r + s = max(r, s) e produto tropical r × s = r + s.


2.3. PERTURBAÇÃO OU DERIVAÇÃO 33Existe também uma conexão com geometria simplética. Pod<strong>em</strong>os relacionaro sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas renormalizado (r, α) ao espaço R × S 1munido da métrica induzida pelo pull-back da métrica <strong>de</strong> Fubini pela imersão<strong>de</strong> Veronesev : R × S 1 → P d(r, α) ↦→ c 0[1 : c1 e r+iα : · · · : c d e dr+diα]on<strong>de</strong> c i são constantes reais positivas. O fecho <strong>de</strong> R×S 1 é a varieda<strong>de</strong> tóricaassociada aos polinômios a uma variável <strong>de</strong>nsos <strong>de</strong> grau d. O número <strong>de</strong>soluções é proporcional ao volume <strong>de</strong>ssa varieda<strong>de</strong>. Esse fato se generalizaa dimensão qualquer (Mais informações <strong>em</strong> [2]).2.3 Perturbação ou DerivaçãoComo mencionei acima, um dos métodos para se recuperar também o módulodas raízes era perturbativo: aplicar o algoritmo <strong>em</strong> f(x + ɛ) e <strong>em</strong>f(x − ɛ). Em análise numérica, esse tipo <strong>de</strong> algoritmos costumam ser umapéssima idéia por conta dos arredondamentos.É muito melhor utilizar cálculo diferencial. Algoritmos numéricos pod<strong>em</strong>ser <strong>de</strong>rivados.Vamos consi<strong>de</strong>rar inicialmente uma curva <strong>de</strong> polinômios,f(x − ɛ) = (x − ζ 1 − ɛ) · · · (x − ζ d − ɛ) .Só ir<strong>em</strong>os <strong>de</strong>rivar o algoritmo uma vez e para ɛ ≃ 0. Por isso, escrev<strong>em</strong>os:on<strong>de</strong> pod<strong>em</strong>os calcularf(x − ɛ) = f(x) + ɛ ˙ f(x) + O(ɛ 2 )˙ f(x) = −f ′ (x) .Agora pod<strong>em</strong>os aproximar cada iteração por uma função am <strong>em</strong> ɛ:f(x) ↦→ Gf(x) = (−1) d f(x)f(−x)f(x) + ɛf(x) ˙(↦→ Gf(x) + ɛ (−1) d f(x) f(−x) ˙ + f(x)f(−x) ˙)A aplicação f +ɛf ˙ ↦→ Gf +ɛDG |f f˙é chamada <strong>em</strong> Cálculo <strong>em</strong> Varieda<strong>de</strong>s<strong>de</strong> aplicação tangente.Iterando a aplicação tangente, obt<strong>em</strong>os uma linha <strong>de</strong> polinômios g(x)+ɛġ(x), <strong>de</strong> raízesZ j + ɛŻj = (ζ j + ɛ) 2N+ O(ɛ 2 ) = ζj2N(1 + 2 N ɛζ −1j ) + O(ɛ 2 ) .


34 AULA 2. A ITERAÇÃO DE GRÄFFE, DANDELIN OU LOBACHEVSKIIAssim,e pod<strong>em</strong>os recuperarŻ j = 2 N Z j ζ −1jζ j = 2 −N Żj .Z j(Ainda é necessário reescrever essa fórmula <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadasrenormalizadas. Isso é feito no artigo [3]).2.4 ConclusõesUm dos principais objetivos <strong>de</strong>sta aula era convencer a audiência <strong>de</strong> quealgoritmos numéricos são um objeto cujo estudo d<strong>em</strong>anda ferramental mat<strong>em</strong>áticoclássico:1. Cálculo Diferencial: algoritmos pod<strong>em</strong> e <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser diferenciados.2. Geometria Diferencial: algoritmos exist<strong>em</strong> naturalmente <strong>em</strong> varieda<strong>de</strong>s.3. Geometria Simplética (<strong>de</strong>ssa falei pouco).Uma outra lição importante: A Mat<strong>em</strong>ática do século XIX está cheia <strong>de</strong>resultados brilhantes, muitos dos quais fora <strong>de</strong> moda. Ao estudar probl<strong>em</strong>ascomputacionais, nunca se <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sprezar a sabedoria <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> era obrigadoa fazer as contas na mão.2.5 ExercíciosExercício 2.1. Dena uma variação da iterada <strong>de</strong> Gräe, que eleve ao cubocada solução <strong>de</strong> um polinômio f.Exercício 2.2. Mostre que com probabilida<strong>de</strong> um, todo polinômio é livre<strong>de</strong> círculos.Exercício 2.3. Uma reta tropical <strong>de</strong> equação a × r + b × s + c é oconjunto <strong>de</strong> (R ∪ −∞) 2 dos pontos (r, s) on<strong>de</strong> o máximo <strong>de</strong> a × r, b × se c é atingido pelo menos duas vezes. Caracterize todas as retas tropicais.Exercício 2.4. Mostre que duas retas tropicais têm s<strong>em</strong>pre pelo menos umponto <strong>de</strong> intersecção.


2.5. EXERCÍCIOS 35Exercício 2.5. Seja f(x, y) = ∑ Sk=1 f kx α ky β k um polinômio <strong>em</strong> duas variáveis,f k ≠ 0. Seja V o conjunto dos zeros <strong>de</strong> f <strong>em</strong> C 2 . A ameba Aassociada a f é o conjunto A = {(− log |x|, − log |y|) : (x, y) ∈ V }. Mostreque lim 2 −k A está contido na curva tropical dos {(r, s) ∈ (R ∪ −∞) 2 taisqu<strong>em</strong>ax r α kké atingido pelo menos duas vezes.Referências× s β k[1] Alston S. Househol<strong>de</strong>r, Dan<strong>de</strong>lin, Loba£evski¨, or Graee?, Amer. Math. Monthly 66(1959), 464466.[2] Gregorio Malajovich and J. Maurice Rojas, High probability analysis of the conditionnumber of sparse polynomial syst<strong>em</strong>s, Theoret. Comput. Sci. 315 (2004), no. 2-3,524555.[3] Gregorio Malajovich and Jorge P. Zubelli, Tangent Graee iteration, Numer. Math.89 (2001), no. 4, 749782.[4] Alexandre Ostrowski, Recherches sur la métho<strong>de</strong> <strong>de</strong> Graee et les zéros <strong>de</strong>s polynomeset <strong>de</strong>s séries <strong>de</strong> Laurent, Acta Math. 72 (1940), 99155 (French).[5] , Recherches sur la métho<strong>de</strong> <strong>de</strong> Graee et les zéros <strong>de</strong>s polynomes et <strong>de</strong>s séries<strong>de</strong> Laurent. Chapitres III et IV, Acta Math. 72 (1940), 157257 (French).Esta lista não é completa. Uma bibliograa mais extensa po<strong>de</strong> ser encontrada<strong>em</strong> [3].


<strong>36</strong> AULA 2. A ITERAÇÃO DE GRÄFFE, DANDELIN OU LOBACHEVSKII


Aula 3A procura na Web3.1 Introdução à teoria dos grafosTalvez uma das aplicações mais importantes e menos entendidas da ÁlgebraLinear sejam os algoritmos <strong>de</strong> <strong>de</strong> busca na internet. Os conceitos fundamentaissão o Teor<strong>em</strong>a Espectral (Teor<strong>em</strong>a 1.3) e a <strong>de</strong>composição SVD(Teor<strong>em</strong>a 1.4).Denição 3.1. Um grafo simples é um par G = (V, E) on<strong>de</strong> V é um conjuntonito (seus el<strong>em</strong>entos são chamados <strong>de</strong> vértice e E é um conjunto <strong>de</strong> paresnão or<strong>de</strong>nados <strong>de</strong> vértices diferentes (chamados <strong>de</strong> arestas ).Um caminho é uma lista nita <strong>de</strong> vértices, tais que cada dois vérticesconsecutivos formam uma aresta. Também pod<strong>em</strong>os representar um caminhopela lista <strong>de</strong> arestas correspon<strong>de</strong>ntes. Um ciclo é um caminho on<strong>de</strong> oúltimo vértice é idêntico ao primeiro vértice.Ex<strong>em</strong>plo 3.2. A internet (Fig. 3.1) po<strong>de</strong> ser mo<strong>de</strong>lada por um conjunto(gigantesco mas nito) <strong>de</strong> computadores (vértices), cada um conectado aum número pequeno <strong>de</strong> outros computadores. Cada ligação é uma aresta.Um mo<strong>de</strong>lo mais realista associaria também a cada aresta, a sua velocida<strong>de</strong>ou largura <strong>de</strong> banda.Ex<strong>em</strong>plo 3.3. A malha rodoviária nacional também po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>scrita comoum conjunto <strong>de</strong> vértices (localida<strong>de</strong>s), e as arestas correspond<strong>em</strong> às estradasdiretas entre essas localida<strong>de</strong>s.Gregorio Malajovich, Geometria <strong>de</strong> Algoritmos Numéricos. <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<strong>Aplicada</strong> 37 (XXXI CNMAC), SBMAC, São Carlos, 2008.Copyright c○ Gregorio Malajovich, 2008.37


38 AULA 3. A PROCURA NA WEBFigura 3.1: Mapa parcial da internet. Imag<strong>em</strong> publicada por Matt Britt,http.wikimidia.org, sob o título Internet map 1024.jpg. Copyright c○ CreativeCommons Attribution 2.5 License.


3.2. A EQUAÇÃO DO CALOR EM GRAFOS 39Ex<strong>em</strong>plo 3.4. Mat<strong>em</strong>áticos costumam escrever artigos <strong>em</strong> parceria. O grafo<strong>de</strong> colaboração é o grafo cujos vértices correspond<strong>em</strong> a cada Mat<strong>em</strong>áticocom artigos publicados, e as arestas à existência <strong>de</strong> uma colaboração publicadaentre eles. A distância <strong>de</strong> colaboração entre dois Mat<strong>em</strong>áticos éa distância entre eles no grafo, e po<strong>de</strong> ser calculada 1 . O número <strong>de</strong> Erdös<strong>de</strong> um Mat<strong>em</strong>ático é a distância <strong>de</strong> colaboração entre ele e Paul Erdös(1913-1996), que foi aparent<strong>em</strong>ente o mais colaborador e prolíco <strong>de</strong>ntre osgran<strong>de</strong>s mat<strong>em</strong>áticos do século passado. O grau <strong>de</strong> um vértice é o número<strong>de</strong> arestas contendo esse vértice. No grafo <strong>de</strong> colaboração, Paul Erdös t<strong>em</strong>grau 507.Proprieda<strong>de</strong>s métricas e <strong>de</strong> conexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grafos são extr<strong>em</strong>amente importantes.Em uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicações, é importante que existam múltiploscaminhos entre dois pontos mas também é crucial que a distância entredois pontos quaisquer seja pequena.Isso é uma característica importante <strong>de</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> comunicações ou <strong>de</strong>re<strong>de</strong>s sociais, conhecida como proprieda<strong>de</strong> do mundo pequeno.A internet t<strong>em</strong> essa proprieda<strong>de</strong> (vocês pod<strong>em</strong> listar o caminho entreo seu computador e outro computador qualquer usando o comandotraceroute. Uma distância <strong>de</strong> 30 é incomum. Entre Mat<strong>em</strong>áticos, a distância<strong>de</strong> colaboração costuma ser b<strong>em</strong> menor (4 é razoável).Uma maneira <strong>de</strong> estudar grafos é introduzir a matriz <strong>de</strong> adjacência.Denição 3.5. A matriz <strong>de</strong> Adjacência A G associada a um grafo simplesG = (V, E) é a matriz <strong>de</strong> tamanho #V × #V <strong>de</strong>nida por(A G ) a,b ={1 Se {a, b} ∈ E0 Em todos os outros casos.3.2 A Equação do Calor <strong>em</strong> grafosPara se estudar as proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> conexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> grafos do mundo real (<strong>em</strong>geral com milhares ou milhões <strong>de</strong> vértices, talvez bilhões) é necessário recorrera invariantes estatísticos. Por ex<strong>em</strong>plo, é possível estudar caminhosaleatórios <strong>em</strong> grafos. Como ver<strong>em</strong>os a seguir, isso está relacionado com aequação do calor.Seja G um grafo simples. A matriz Laplaciana associada a G é <strong>de</strong>nidapor:∆ G = A G − D G1 Ver <strong>em</strong>: ams.impa.br


40 AULA 3. A PROCURA NA WEBon<strong>de</strong> a matriz D G é diagonal, e (D G ) vv = ∑ w A vw é o grau do vértice v(número <strong>de</strong> arestas inci<strong>de</strong>ntes). A transmissão do calor entre dois compartimentosé proporcional à diferença <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peratura. A equação diferencialdo calor <strong>em</strong> uma barra <strong>de</strong> metal po<strong>de</strong> ser obtida discretizando o espaço e ot<strong>em</strong>po e passando ao limite: ∂u(x,t)∂t= ∂2 u(x,t)∂x. Em uma placa ou barra <strong>de</strong>2metal, a equação é ∂u(x,t)∂t= ∆ x u(x, t).A equação do calor <strong>em</strong> grafos é˙u(t) = ∆ H u(t) .Essa equação mo<strong>de</strong>la um processo <strong>de</strong> difusão <strong>em</strong> grafos. Se H for conexo,lim t→∞ u(t) existe, e é constante entre vértices conectados por caminhos.Quanto mais rápida (<strong>em</strong> geral) a convergência, mais b<strong>em</strong>-conexo é o grafo.Pod<strong>em</strong>os também consi<strong>de</strong>rar o análogo discreto:u(t + 1) = I + ɛ∆ H u(t) .Note que para ɛ < 1/(max(D G ) vv ), a matriz I + ɛ∆ H é uma matriz<strong>de</strong> Márkov! De fato é uma matriz duplamente estocástica, e a distribuiçãoestacionária é u ∗ v = 1.A matriz ∆ H é simétrica, e po<strong>de</strong> portanto ser diagonalizada. Seus autovaloressão portanto números reais. Como I + ɛ∆ H é estocástica, os autovalores<strong>de</strong> ∆ H são menores ou iguais a zero. Sendo H conexo, o autovalorzero terá multiplicida<strong>de</strong> 1.Denição 3.6. O espectro <strong>de</strong> um grafo H é a lista 0 = λ 1 ≥ λ 2 ≥ · · · ≥ λ #Vdos autovalores <strong>de</strong> ∆ H .Pelo Teor<strong>em</strong>a Espectral, a matriz ∆ H admite uma base ortonormal <strong>de</strong>autovetores. Isso permite estimar a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong> u(t) por:‖u(t) − u ∗ ‖ ≤ e λ2t ‖u(0)‖ .Quanto mais negativo for λ 2 , mais robusta e eciente é uma re<strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicações.3.3 As Leis <strong>de</strong> KirchhoAs Leis <strong>de</strong> Kirchho (Fig.3.2) permit<strong>em</strong> resolver circuitos elétricos comresistências conectadas <strong>de</strong> maneira arbitrária. Para isso, precisamos representarcircuitos elétricos <strong>de</strong> alguma maneira. Po<strong>de</strong>ríamos utilizar um grafo,mas precisamos ainda <strong>de</strong> mais informação:


3.3. AS LEIS DE KIRCHHOFF 41Figura 3.2: Leis <strong>de</strong> Kirchho e <strong>de</strong> Ohm.1. Precisamos convencionar uma orientação para cada aresta.2. Além disso, precisamos conhecer cada uma das resistências.Um grafo simples on<strong>de</strong> se especica uma orientação para cada aresta échamado <strong>de</strong> grafo orientado . Agora, o conjunto <strong>de</strong> arestas é um subconjuntoE ⊂ V × V. on<strong>de</strong>, se (v, w) ∈ E, (w, v) ∉ E. Em particular, não existe arestada forma (v, v).Denição 3.7. A matriz <strong>de</strong> Incidência I G associada a G é a matriz <strong>de</strong>tamanho #E × #V, on<strong>de</strong>⎧⎨ 1 Se b = c(I G ) (a,b),c = −1 Se c = a⎩0 Em todos os outros casos.Seja G portanto o grafo orientado <strong>de</strong> uma malha elétrica, on<strong>de</strong> a cadaaresta (a, b) associamos uma resistência R (a,b) . Seja R ∈ R #E × R ∈ R #Ea matriz diagonal das resistências, i ∈ R #E o vetor da corrente <strong>em</strong> cadaaresta e q ∈ R #V o vetor <strong>de</strong> potencial elétrico.Assumimos que o circuito está <strong>em</strong> equilíbrio.Lei <strong>de</strong> Kirchho para a corrente: A corrente elétrica entrando <strong>em</strong>um vértice é igual à corrente saindo.Do ponto <strong>de</strong> vista matricial,I T G i = 0 .Lei <strong>de</strong> Kirchho para a voltag<strong>em</strong> A soma <strong>de</strong> diferenças <strong>de</strong> potencialentre arestas correspon<strong>de</strong>ndo a um ciclo fechado é zero.O vetor das diferenças <strong>de</strong> potencial é u = I G q ∈ R #E .Os caminhos fechados pertenc<strong>em</strong> todos ao núcleo <strong>de</strong> I T G . O que a SegundaLei arma é que u é ortogonal ao núcleo <strong>de</strong> I T G . Isso segue do Teor<strong>em</strong>ado Posto.Agora aplicamos a Lei <strong>de</strong> Ohm: u = iR.


42 AULA 3. A PROCURA NA WEBNo nosso caso, t<strong>em</strong>os a igualda<strong>de</strong> matricial u = Ri. Pod<strong>em</strong>os resolver ocircuito:I T G R −1 I G q = 0 .A dimensão do espaço das soluções é dim ker I G , que é o número <strong>de</strong>componentes conexos do grafo. Isso é razoável se o nosso circuito está noequilíbrio.Agora suponhamos que prescrev<strong>em</strong>os entrada ou saída <strong>de</strong> corrente <strong>em</strong>alguns dos vértices. Ter<strong>em</strong>os agora:I T G R −1 I G q = j ,on<strong>de</strong> j correspon<strong>de</strong> ao intercâmbio <strong>de</strong> corrente. A matriz IG T R−1 I G é simétricae po<strong>de</strong> ser assimilada a um Laplaciano. A Lei <strong>de</strong> Ohm diz que a<strong>de</strong>rivada da carga <strong>em</strong> um vértice é igual à soma das diferenças <strong>de</strong> potencial,pon<strong>de</strong>radas pela condutância (inversa da resistência). Nesse sentido, aequação acima correspon<strong>de</strong> também a um processo <strong>de</strong> difusão. A maneiracorreta <strong>de</strong> se <strong>de</strong>nir a matriz <strong>de</strong> adjacência para um circuito <strong>de</strong> resistênciasé como a matriz das condutâncias:{ R−1(A G ) a,b =a,bSe (a, b) ou (b, a) ∈ E0 Em todos os outros casos.Nesse caso, <strong>de</strong>nimos o grau <strong>de</strong> a como a soma das condutâncias dasarestas incidindo <strong>em</strong> a. Recuperamos portanto que:I T G R −1 I G = A G − D G = ∆ G .3.4 Digrafos e o GoogleDenição 3.8. Um digrafo simples ou directed simple graph) G é um par(V, E) on<strong>de</strong> V é um conjunto nito (seus el<strong>em</strong>entos são chamados <strong>de</strong> vértices) e E ⊆ V × V. Os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> E são chamados <strong>de</strong> arestas . Arestas <strong>de</strong> umvértice nele mesmo são permitidas.Ex<strong>em</strong>plo 3.9. A World Wi<strong>de</strong> Web é mo<strong>de</strong>lada por um conjunto <strong>de</strong> páginas(associadas a um en<strong>de</strong>reço http ou uniform ressource locator ) (vértices) eum conjunto <strong>de</strong> ligações orientadas (links) entre os vértices.Ex<strong>em</strong>plo 3.10. O cérebro humano é composto <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 100 bilhões <strong>de</strong>neurônios. Cada neurônio é uma célula com dois prolongamentos (áxil e<strong>de</strong>ndrítico). Cada um <strong>de</strong>sses prolongamentos se ramica <strong>em</strong> possivelmente


3.4. DIGRAFOS E O GOOGLE 43Figura 3.3: Domínio ctício <strong>de</strong> Web.milhares ou <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s. Potencial elétrico nocentro da célula (soma) é transmitido ao prolongamento áxil. Isso afeta oterminal <strong>de</strong>ndrítico <strong>de</strong> outros neurônios <strong>em</strong> contato (sinapse), transmitindoassim a informação. A transmissão é unidirecional. Neurônios pod<strong>em</strong> serativadores ou inibidores. De qualquer maneira, pod<strong>em</strong>os mo<strong>de</strong>lar o uxo <strong>de</strong>informação por um digrafo, on<strong>de</strong> os neurônios são os vértices e as sinapsessão as arestas. Um neurônio po<strong>de</strong> ter mil ou <strong>de</strong>z mil arestas.O invariante natural <strong>de</strong> um digrafo é a matriz <strong>de</strong> transferência, versãoorientada da matriz <strong>de</strong> adjacência:{1 Se (b, a) ∈ E(T G ) a,b =0 Em todos os outros casos.Essa matriz não é simétrica.Vamos supor que um programa rastejador (que vamos chamar <strong>de</strong> bot)percorre um grafo orientado G = (V, E) escolhendo, a cada vértice, umaaresta aleatória. Para xar as idéias, vamos consi<strong>de</strong>rar apenas o domínioda Figura 3.3. O bot se <strong>de</strong>sloca <strong>de</strong> maneira aleatória, escolhendo arestas aoacaso.Quatro domínios disputam a atenção do bot, e todos têm uma bot trap: uma vez que o bot entrou <strong>em</strong> uma página, ele não consegue mais sair dosub-domínio.Se o bot chega <strong>em</strong> um vértice s<strong>em</strong> saída, ele pula para um vértice aleatório.Ainda, po<strong>de</strong>ria car preso <strong>em</strong> um ciclo.


44 AULA 3. A PROCURA NA WEBUma solução possível é a seguinte: a cada passo, o bot t<strong>em</strong> uma probabilida<strong>de</strong>δ <strong>de</strong> pular para uma página escolhida <strong>de</strong> maneira totalmentealeatória.Larry Page, Sergey Brin e coautores[3] , então estudantes <strong>em</strong> Stanford,mo<strong>de</strong>laram a relevância <strong>de</strong> uma página como o t<strong>em</strong>po médio que um <strong>de</strong>ssesbots caria nessa página. Obviamente é impossível simular isso com umtrilhão <strong>de</strong> bots. Mas o algoritmo que Page <strong>de</strong>senvolveu, <strong>em</strong> conjunto comSerguei Brin, permite estimar esse t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> maneira conveniente.Para isso, ele mo<strong>de</strong>lou o passeio aleatório do bot por um processo <strong>de</strong>Márkov. Dado um vetor <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> p t (que me<strong>de</strong> a probabilida<strong>de</strong> dobot se encontrar <strong>em</strong> cada página, no t<strong>em</strong>po t), po<strong>de</strong>-se escrever o vetor p t+1como p t+1 = Mp t , on<strong>de</strong>:⎡ ⎤M = δ ⎢ ⎥N⎣1. ⎦ [ 1 . . . 1 ] + (1 − δ)T D −1 ,1N é o número <strong>de</strong> vértices e D é a matriz diagonal contendo o número <strong>de</strong>arestas saindo <strong>de</strong> cada vértice.A Matriz M é uma matriz <strong>de</strong> Márkov, e portanto (p t ) converge para umestado estacionário p ∗ . O índice <strong>de</strong> relevância da página v é p ∗ v.Os algoritmos que Page e Brin utilizaram se mostraram muito maisecientes do que os disponíveis para a concorrência (que funcionava comoas páginas amarelas, cobrando dos anunciantes). Google , o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> busca<strong>de</strong>les, ganhou imediatamente o favor dos usuários da internet.Vamos digitar a matriz <strong>de</strong> transferência do domínio ctício da Fig. 3.3:T = zeros( 15, 15) ;T( 1, 2) = 1; T( 2, 4) = 1; T( 3, 4) = 1; T( 2, 3) = 1; T( 1, 5) = 1;T( 5, 1) = 1; T( 5, 6) = 1; T( 6, 8) = 1; T( 8, 7) = 1; T( 6, 7) = 1;T( 5, 7) = 1; T( 5, 9) = 1; T( 9, 5) = 1; T( 1, 9) = 1; T( 9, 1) = 1;T( 9,10) = 1; T(10,11) = 1; T( 9,12) = 1; T( 1,12) = 1; T(15,12) = 1;T(12,15) = 1; T(14,15) = 1; T(15,14) = 1; T(13,14) = 1; T(14,13) = 1;T(12,13) = 1; T(13,12) = 1; T(12,14) = 1; T(14,12) = 1; T(15,13) = 1;T(13,15) = 1;T = T'Agora produzimos a matriz M, e iteramos.<strong>de</strong>lta = 0.15 ;D = sum(T) ;


3.4. DIGRAFOS E O GOOGLE 45for j=1:15if (D(j) == 0) T(:,j) = ones(15,1) ;end ;end ;D = sum(T) ;M = <strong>de</strong>lta * ones(15,1) * ones(1,15) / 15 + ((1-<strong>de</strong>lta) * T * diag(D.^(-1))) ;p = ones(15,1)/15 ;for k=1:100p = M * p ;end ;p'eps = norm(p - M*p)Obt<strong>em</strong>os:octave:58> p'ans =Columns 1 through 8:0.033144 0.026101 0.030151 0.055779 0.033144 0.026101 0.062822 0.030151Columns 9 through 15:0.033144 0.026101 0.041244 0.158762 0.147785 0.147785 0.147785octave:59> eps = norm(p - M*p)eps = 2.2153e-16Note que Egoísta.org foi qu<strong>em</strong> apresentou os melhores índices <strong>de</strong> relevância! O domínio Egoísta.org montou uma fazenda <strong>de</strong> links , que aumentao número <strong>de</strong> arestas apontando para cada uma das suas páginas.Uma maneira <strong>de</strong> evitar essas manipulações é escolher a priori um númeropequeno <strong>de</strong> páginas conáveis e só permitir o salto para essas páginas.Outra é utilizar mais mat<strong>em</strong>ática.O algoritmo atualmente utilizado pelo Google não é público. O autor<strong>de</strong>stas linhas está convencido <strong>de</strong> que se trata <strong>de</strong> uma variante do algoritmosabaixo.


46 AULA 3. A PROCURA NA WEB3.5 Busca na re<strong>de</strong> e a svdA matriz <strong>de</strong> transferência T foi <strong>de</strong>nida assim: T vu = 1 se existe umaaresta orientada (u, v), senão T vu = 0. Jon M. Kleinberg [2] observou oseguinte: (T T T ) u1u 2conta o número <strong>de</strong> vezes que u 1 e u 2 apontam paraa mesma página. Isso me<strong>de</strong> quanto u 1 e u 2 concordam enquanto fontes <strong>de</strong>referências.Vamos supor que um engenho <strong>de</strong> busca atribui peso a u para a página uenquanto fonte <strong>de</strong> referência. Quão bom é o vetor <strong>de</strong> pesos a? Do ponto<strong>de</strong> vista da página u 1 , uma boa medida é (T T T a) u1 . Uma medida <strong>de</strong> quãoconsensual é o vetor a é a norma ‖T T T a‖. Kleinberg sugere utilizar oautovetor principal <strong>de</strong> T T T, que maximiza ‖T T T a‖, como peso para aspáginas enquanto fonte <strong>de</strong> referência.Já (T T T ) v2v 1conta o número <strong>de</strong> referências que apontam simultaneamentepara v 1 e v 2 . Kleinberg também propões utilizar o autovetor principalb <strong>de</strong> T T T como peso para as páginas enquanto conteúdo. (Ver exercício 3.3para vericar que pod<strong>em</strong>os escolher b <strong>de</strong> tal maneira que b u ≥ 0).Esse algoritmo po<strong>de</strong> ser interpretado <strong>em</strong> termos da <strong>de</strong>composição <strong>em</strong>valores singulares (Teor<strong>em</strong>a 1.4). Os vetores a e b pod<strong>em</strong> ser escolhidos<strong>de</strong> tal maneira que ‖a‖ = ‖b‖ = 1. Nesse caso, eles são o vetor singularprincipal à direita (resp. vetor singular principal à esquerda) <strong>de</strong> T, e sãorelacionados porσ 1 b = T aon<strong>de</strong> σ 1 = ‖T ‖ 2 é o valor singular principal.Os índices <strong>de</strong> Kleinberg são manipuláveis. Uma página po<strong>de</strong> obter umalto índice <strong>de</strong> relevância enquanto fonte apontando para toda a internet.Para evitar esse tipo <strong>de</strong> manipulação, pod<strong>em</strong>os substituir a matriz <strong>de</strong>transferência T pela matriz estocástica M.Vamos voltar ao nosso ex<strong>em</strong>plo.calcular os vetores singulares é:Uma maneira pouco eciente <strong>de</strong> seoctave:28> [u,sigma,v]=svd(M)octave:29> p=u(:,1); q=v(:,1); p=p/sum(p); q=q/sum(q) ; [p,q]ans =0.040813 0.041<strong>36</strong>10.027973 0.0726570.050063 0.1027290.137383 0.0540220.0<strong>36</strong>762 0.0604260.032024 0.093969


3.5. BUSCA NA REDE E A SVD 470.190207 0.0540220.059120 0.1391130.040813 0.041<strong>36</strong>10.027973 0.0514220.062892 0.0540220.087595 0.0554860.068793 0.0598030.068793 0.0598030.068793 0.059803Note que a fazenda <strong>de</strong> links da Egoísta.com per<strong>de</strong>u a li<strong>de</strong>rança nasbuscas !O algoritmo mais eciente para se achar autovetores principais (ou vetoressingulares principais) é a iteração: Escolher p 1 ao acaso, <strong>de</strong>pois iterarp i+1 =(M T M)p i‖(M T M)p i ‖ .A velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> convergência é estimada facilmente utilizando o fato <strong>de</strong> queM T M é simétrica, e portanto (Teor<strong>em</strong>a 1.3) admite uma base ortonormal<strong>de</strong> autovetores.Seja q o autovetor principal <strong>de</strong> M T M. Vamos escrever:p i = x i q + r i ,com r i ⊥ q. Então, a velocida<strong>de</strong> <strong>de</strong> convergência po<strong>de</strong> ser estimada por:‖r i+1 ‖x i + 1 ≤ λ 2λ 1‖r i ‖x ion<strong>de</strong> λ 1 ≥ λ 2 ≥ . . . são os autovalores <strong>de</strong> M T M (e λ j = σ 2 j ).A indústria <strong>de</strong> engenhos <strong>de</strong> busca na internet é altamente competitiva,e precisa se atualizar constant<strong>em</strong>ente para combater Web spam , práticas<strong>de</strong>sonestas para obter (e ven<strong>de</strong>r) mais visibilida<strong>de</strong>. O combate ao Webspam po<strong>de</strong> exigir intervenção humana acoplada aos algoritmos [1] , ou reprogramaçãodos programas rastejadores que pod<strong>em</strong> ser instruídos a nãofreqüentar certos domínios.A maioria dos algoritmos são segredos industriais ou foram patenteados2 .Este capítulo foi escrito com base na informação disponível publicamente,mas omiti aspectos computacionais importantes.2 Algoritmos são objetos mat<strong>em</strong>áticos e portanto não são patenteáveis. No entanto,o <strong>de</strong>partamento <strong>de</strong> patentes <strong>de</strong> alguns países aceita objetos mat<strong>em</strong>áticos como parte <strong>de</strong>um processo industrial.


48 AULA 3. A PROCURA NA WEB3.6 ConclusõesFigura 3.4: Ponte <strong>de</strong> resistências.Alguns probl<strong>em</strong>as <strong>em</strong> grafos gran<strong>de</strong>s pod<strong>em</strong> ser mo<strong>de</strong>lados utilizando idéias<strong>de</strong> processos <strong>de</strong> difusão, que levam a uma mat<strong>em</strong>ática similar à da equaçãodo calor. A partir <strong>de</strong>sse momento, os mo<strong>de</strong>los pod<strong>em</strong> ser resolvidosutilizando idéias <strong>de</strong> Álgebra Linear.Uma das idéias principais é utilizar, s<strong>em</strong>pre que possível, bases ortonormais.No ex<strong>em</strong>plo acima, só precisamos calcular um dos vetores da baseortonormal (o autovetor principal).Transformações ortogonais (ou seja, matrizes cujas colunas são ortonormais)têm número <strong>de</strong> condicionamento 1. Isso implica que mudanças <strong>de</strong>coor<strong>de</strong>nadas ortonormais são numericamente estáveis, e que os autovetores<strong>de</strong> M T M, no nosso ex<strong>em</strong>plo, não vão ser muito afetados por mudançaspequenas na matriz M ou por erros <strong>de</strong> arredondamento.Trabalhar com matrizes gran<strong>de</strong>s é difícil por outra razão, além <strong>de</strong> eventualinstabilida<strong>de</strong> numérica: as matrizes não entram na m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> umúnico computador. É preciso Matrizes do tamanho da World Wi<strong>de</strong> Webexig<strong>em</strong> algoritmos distribuídos computacionalmente ecientes, que explorama estrutura do grafo.3.7 ExercíciosExercício 3.1. A gura 3.4 mostra uma ponte <strong>de</strong> resistências. Assuma queo valor <strong>de</strong> cada resistência é <strong>de</strong> 1Ω. Sab<strong>em</strong>os que passa uma corrente <strong>de</strong> 1Aentre os pontos a e b. Qual é a diferença <strong>de</strong> tensão ?


3.7. EXERCÍCIOS 49Exercício 3.2. O grafo perfeito K d <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> d é o grafo com d vértices,conectados todos com todos. Quais são os autovalores <strong>de</strong> ∆ Kd ?Exercício 3.3. Seja T a matriz <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> um grafo orientado, eassuma que <strong>de</strong> todo vértice sai ao menos uma aresta. Mostre que o autovetorprincipal <strong>de</strong> T T T po<strong>de</strong> ser escolhido com coor<strong>de</strong>nadas positivas.Dica: mostre que o ortante positivo é mapeado nele mesmo pela iteraçãox ↦→ T T T x.Exercício 3.4. Consi<strong>de</strong>re agora o grafo com d vértices 1 a d, on<strong>de</strong> j e j + 1estão conectados e d está conectado a 1. Calcule numericamente os autovalores<strong>de</strong> seu Laplaciano.Exercício 3.5. Consi<strong>de</strong>re a seguinte variante para o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Kleinman:substitua a matriz T, não pela matriz estocástica M mas pela matriz ˜Mobtida normalizando as colunas da matriz estocástica. Dessa maneira, interpretea recorrência p i+1 = ˜M T ˜Mpi como a versão discreta do processocontinuo∂∂t p(t) = ( ˜M T ˜M − I)p(t) .Mostre que essa variante daria peso igual para cada uma das páginas.Dica: interprete esse processo como a equação do calor <strong>em</strong> um certo grafo.Referências[1] Zoltán Gyöngi, Hector Garcia-Molina, and Jan Pe<strong>de</strong>rsen, Combating Web Spam withTrustRank, Proceedings of the International Conference on Very Large Data Bases30, 576. http://www.vldb.org/conf/2004/RS15P3.PDF.[2] Jon Michael Kleinberg, US Patent 6112202: Method and syst<strong>em</strong> for i<strong>de</strong>ntifying authoritativeinformation resources in an environment with content-based links betweeninformation resources., 1997, 2000.[3] Lawrence Page, Sergey Brin, Rajeev Motwani, and Terry Winograd, The PageRankcitation ranking: Bringing or<strong>de</strong>r to the Web, Preprint, Stanford University, 1999.http://dbpubs.stanford.edu:8090/pub/1999-66.


50 AULA 3. A PROCURA NA WEB


Aula 4A compressão do som, omp4 e a televisão digital4.1 Sinais sonorosO som que ouvimos correspon<strong>de</strong> a variações <strong>de</strong> pressão nos nossos tímpanos,que são capturadas e transformadas <strong>em</strong> um sinal nervoso no nosso ouvidointerno.Pod<strong>em</strong>os capturar um sinal sonoro com um microfone, e o sinal elétricoanalógico po<strong>de</strong> ser gravado, transmitido, reproduzido e retransformado <strong>em</strong>sinal sonoro.Hoje <strong>em</strong> dia preferimos armazenar som sob forma digital. Para isso,o sinal elétrico produzido por um microfone po<strong>de</strong> ser digitalizado por umconversor analógico-digital. O circuito <strong>de</strong> áudio dos computadores mo<strong>de</strong>rnost<strong>em</strong> um conversor <strong>em</strong>butido.Se o computador estiver rodando GNU-linux ou similar, existe um dispositivo<strong>de</strong> áudio /<strong>de</strong>v/dsp que funciona como um arquivo (po<strong>de</strong> ser lidoe escrito) e permite capturar o sinal do microfone. Mas vamos fazer o experimentono Octave:f = record (1) ;plot(f) ;playaudio(f)Gregorio Malajovich, Geometria <strong>de</strong> Algoritmos Numéricos. <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<strong>Aplicada</strong> 37 (XXXI CNMAC), SBMAC, São Carlos, 2008.Copyright c○ Gregorio Malajovich, 2008.51


52 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITAL(a)(b)(c)(d)Figura 4.1: Sinal sonoro (a) original, (b) transformada <strong>de</strong> Fourier, (c) transformada<strong>de</strong> Fourier comprimida, (d) comprimido.O primeiro comando captura o sinal do microfone durante 1 segundo, osegundo mostra o gráco do sinal (Figura 4.1a) e o terceiro toca o sinal <strong>de</strong>volta. O sinal foi armazenado <strong>em</strong> um vetor <strong>de</strong> R 8000 (São 8000 leituras dosinal por segundo). O gráco está <strong>de</strong>senhado na gura 4.1a.Para gravar música <strong>em</strong> qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> CD, precisamos <strong>de</strong> 44,100 leituraspor segundo, vezes dois canais. Para armazenar uma hora <strong>de</strong> música,precisaríamos armazenar um vetor <strong>de</strong> R 318×106 . Guardando dois bytes porcoor<strong>de</strong>nada, precisar<strong>em</strong>os <strong>de</strong> aproximadamente 600 MB, que é o tamanhodos atuais CDs.Um método <strong>de</strong> compressão possível (utilizado <strong>em</strong> re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> telefonia) éaplicar uma escala logarítmica à intensida<strong>de</strong> do sinal, e armazenar utilizandomenos bits (por ex<strong>em</strong>plo, 8). Por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> x é um sinal sonoro, acodicação <strong>de</strong> x pela chamada µ − law ou u − law é <strong>de</strong>nida por:y i = sinal(|x ()i|)ln(1 + µ) ln |x i |1 + µmax(|x j |)on<strong>de</strong> µ = 255.Esse método é (apenas) razoável para comunicações telefônicas.


4.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER 534.2 A transformada <strong>de</strong> FourierVamos <strong>de</strong>notar por L 2 ([0, 1]) o espaço <strong>de</strong> todas as funções a valores complexos,<strong>de</strong>nidas para t ∈ [0, 1], integráveis e com quadrado integrável. Set<strong>em</strong>os um sinal (função real) f <strong>de</strong>nido no intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po [0, 1], pod<strong>em</strong>osconsi<strong>de</strong>rar ele como um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> L 2 ([0, 1]). O produto interno <strong>de</strong>duas funções f e g <strong>em</strong> L 2 ([0, 1]) é〈f, g〉 =∫ 10¯f(t)g(t) dt.Note que esse produto está b<strong>em</strong> <strong>de</strong>nido <strong>em</strong> L 2 ([0, 1]).A transformada <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> f é <strong>de</strong>nida por:ˆf(s) =∫ 1para s ∈ Z. Uma <strong>de</strong>nição equivalente é0f(t)e −2πist dtˆf(s) = 〈t ↦→ e −2πist , t ↦→ f(t)〉 .A transformada <strong>de</strong> Fourier po<strong>de</strong> ser interpretada como uma aplicaçãolinear <strong>de</strong> L 2 ([0, 1]) no espaço l 2 (Z), que é o espaço <strong>de</strong> todas as biseqüências( ˆf s ) s∈Z a valores complexos com norma Euclidiana ‖ ˆf‖ =√ ∑s∈Z | ˆf s | 2nita. Esse espaço admite o produto interno〈 ˆf s , ĝ s 〉 = ∑ s∈Zfĝ¯ˆ s s .Prova-se ainda que vale a seguinte fórmula <strong>de</strong> reconstrução:f(t) = ∑ s∈Ze 2πits ˆf(s) .Nesse sentido, diz-se que o conjunto das funções t ↦→ e 2πits é uma basedo espaço L 2 ([0, 1]).Observação 4.1. A <strong>de</strong>nição usual <strong>de</strong> combinação linear, nos textos <strong>de</strong> Álgebra,costuma ser a da combinação linear nita. Em análise <strong>de</strong> Fourier ouprocessamento <strong>de</strong> sinais, assume-se que uma combinação linear é qualquersoma ou integral, com norma Euclidiana dos coecientes (ou integral dovalor absoluto do módulo da função-coeciente) limitada.


54 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITALNote também quee que, para s 1 ≠ s 2 inteiros,‖t ↦→ e 2πits ‖ 2 =〈t ↦→ e 2πits1 , t ↦→ e 2πits2 〉 =∫ 10∫ 101 dt = 1e 2πit(s2−s1) dt = 0.Assim, (t ↦→ e 2πits ) s∈Z é uma base ortonormal do espaço L 2 ([0, 1]).Observação 4.2. Uma maneira clássica <strong>de</strong> resolver a equação do calor e aequação da on<strong>de</strong> é escrever o operador f(x) ↦→ ∂2∂ 2 f(x) nessa base ortonormal.Obt<strong>em</strong>os oxoperadorˆf s ↦→ −4π 2 s 2 ˆfs .Note que esse operador t<strong>em</strong> norma innita, e que ele é innitamente malcondicionado. (Em geral, a <strong>de</strong>rivação é mal condicionada e por isso algoritmos<strong>de</strong> diferenciação numérica são s<strong>em</strong>pre probl<strong>em</strong>áticos).Vamos utilizar a base <strong>de</strong> Fourier como primeira aproximação para processamento<strong>de</strong> sinais. O comando fft do Octave aproxima a transformada<strong>de</strong> Fourier. Se t<strong>em</strong>os um vetor f <strong>de</strong> R N ou C N , o comando produz um vetorˆf = F(f) <strong>de</strong> C N on<strong>de</strong>F : C N → C Nf ↦→ ˆf = F(f) on<strong>de</strong> ˆf j = ∑ N−1k=0 f ke −2πijk/N .A transformação F é conhecida como transformada <strong>de</strong> Fourier discreta , ouDFT.Se o vetor f é discretização <strong>de</strong> um sinal <strong>de</strong> duração T, a j-ésima coor<strong>de</strong>nada<strong>de</strong> ˆf j correspon<strong>de</strong> à freqüência min(j,N−j)T. (Ver exercício 4.6).O comando ifft calcula a transformada discreta inversa <strong>de</strong> Fourier F −1 .Pod<strong>em</strong>os gerar a nota Lá a 440 Hz fazendo:y=zeros(8000,1);% 1s correspon<strong>de</strong> a 8000 leituras.y(440-1)=1e+6;playaudio(real(ifft(y))) ;(Compare com o sinal telefônico). Do ponto <strong>de</strong> vista mat<strong>em</strong>ático, essatransformada correspon<strong>de</strong> a uma projeção ortogonal do sinal original.Agora vamos utilizar isso para comprimir o sinal <strong>de</strong> voz que havíamosgravado. O ouvido humano consegue perceber freqüências entre 20Hz e


4.2. A TRANSFORMADA DE FOURIER 5520kHz. Se gravamos uma mensag<strong>em</strong> <strong>de</strong> 1 segundo com 8000 leituras, entãoperd<strong>em</strong>os totalmente as freqüências mais altas (Acima <strong>de</strong> 4kHz). Isso éperceptível na qualida<strong>de</strong> do sinal, mas não prejudica a sua compreensão.Vamos olhar para o espectro das freqüências do sinal:Ff = fft(f) ;plot(abs(Ff)) ;V<strong>em</strong>os na gura 4.1b que o sinal parece concentrado <strong>em</strong> umas poucasfreqüências.As seguintes linhas mostram um processo rudimentar <strong>de</strong> compressão.Vamos primeiro or<strong>de</strong>nar as coor<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> ˆf = Ff por valor absoluto <strong>de</strong>crescente.O índice I armazena a ord<strong>em</strong> das coor<strong>de</strong>nadas. Vamos <strong>de</strong>poismedir quanto do sinal está concentrado nas 25% das freqüências com maioramplitu<strong>de</strong>.[ES,I]=sort(abs(Ff),'<strong>de</strong>scend');plot(ES) ;norm(ES(1:2000))/norm(ES)ans = 0.95853V<strong>em</strong>os que, se zeramos as 75% das freqüências restantes, perd<strong>em</strong>os menos<strong>de</strong> 5% do sinal. Vamos fazer isso:Ff(I(2001:8000))=zeros(6000,1);plot(abs(Ff))g=real(ifft(Ff));plot(g)playaudio (g)(Veja a gura 4.1cd). O sinal comprimido g é quase indistinguível dooriginal f. Ao armazenar apenas um quarto das amplitu<strong>de</strong>s, pod<strong>em</strong>os obteruma compressão signicativa. Ao executar o programa acima, vocês estãoouvindo o efeito <strong>de</strong> uma projeção ortogonal.Aplicando esse procedimento a pequenos intervalos <strong>de</strong> sinais mais longos,é possível também equalizar, eliminar freqüências in<strong>de</strong>sejadas ou r<strong>em</strong>asterizargravações antigas.Uma maneira <strong>de</strong> cortar um sinal f(t) <strong>em</strong> pedaços <strong>de</strong> tamanho T ésubstituir, para cada k, a função f(t) por⎧⎨ 0 Se τ < T k/2f k (τ) = f(t)sen 2 ( π⎩T(τ − T k/2)) Se T k/2 ≤ τ ≤ T (k/2 + 1)0 Se τ > T (k/2 + 1).


56 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITALTer<strong>em</strong>os então f(t) = ∑ k f k(t + T k/2). Se <strong>de</strong>pois aplicamos a Transformada<strong>de</strong> Fourier Discreta <strong>em</strong> cada f k , obt<strong>em</strong>os a chamada transformada<strong>de</strong> Fourier discreta <strong>de</strong> curto prazo ou STDFT.Um procedimento <strong>de</strong> r<strong>em</strong>asterização usual é calcular a STDFT e retiraras freqüências que aparec<strong>em</strong> <strong>em</strong> menor intensida<strong>de</strong> (exatamente comoz<strong>em</strong>os no ex<strong>em</strong>plo do sinal sonoro).Outra transformada usual é a transformada do cosseno, que po<strong>de</strong> substituira transformada discreta <strong>de</strong> Fourier (Ver exercício 4.4). Para um sinal<strong>de</strong> tamanho T, ela é <strong>de</strong>nida por:T∑−1 ( ( πkF k = f t cos t + 1 ))T 2t=04.3 A base <strong>de</strong> HaarA transformada <strong>de</strong> Fourier não é a única maneira razoável <strong>de</strong> se representarum sinal. Uma das gran<strong>de</strong>s <strong>de</strong>svantagens da transformada <strong>de</strong> Fourier éque ela representa mal transientes ou picos <strong>de</strong> um sinal. Isso quer dizerque um transiente, transformado pela transformada <strong>de</strong> Fourier, não po<strong>de</strong>facilmente ser comprimido.Mesmo quando se utiliza a transformada <strong>de</strong> Fourier <strong>de</strong> curto prazo, otamanho da janela é xo, e transientes com duração muito inferior a essetamanhos serão mal representados. A transformada <strong>de</strong> Haar é uma maneirarazoável <strong>de</strong> representar sinais com transientes.A função <strong>de</strong> Haar é <strong>de</strong>nida por:H : R → R ⎧0 Se x < 0⎪⎨1 Se 0 ≤ x < 1/2x ↦→ H(x) =−1 Se 1/2 ≤ x < 1⎪⎩0 Se x > 1.A base <strong>de</strong> Haar que utilizar<strong>em</strong>os para representar funções <strong>em</strong> L 2 ([0, 1])será composta <strong>de</strong> dilações e translações <strong>de</strong> H. DenimosH m,n (t) = 2 −m/2 H(2 −m t − n)on<strong>de</strong> −m ∈ N e n = 0, . . . , 2 −m − 1. O fator multiplicativo 2 −m/2 garanteque o conjunto das H m,n seja ortonormal. Para geral o espaço L 2 ([0, 1])inteiro, <strong>de</strong>nimos ainda H 0,0 (t) ≡ 1. Mostra-se que os H mn formam umabase ortonormal <strong>de</strong> L 2 ([0, 1])..


4.4. O OUVIDO HUMANO E A TRANSFORMADA DE WAVELETS. 57Figura 4.2: Cóclea e órgão <strong>de</strong> Corti. [4]A transformada <strong>de</strong> Haar ou transformada <strong>de</strong> Wavelets <strong>de</strong> uma funçãoreal f é <strong>de</strong>nida por:T Haar f(m, n) =∫ 10H m,n (t)f(t) dt.No caso <strong>de</strong> uma mensag<strong>em</strong> discreta, é conveniente assumir que o número<strong>de</strong> leituras é potência <strong>de</strong> dois. Por ex<strong>em</strong>plo, se t<strong>em</strong>os 8 leituras, a mensag<strong>em</strong>é um vetor <strong>de</strong> R 8 e a base <strong>de</strong> Haar é dada pelas colunas da matriz⎡H 3 =⎢⎣√ √2 2 14 4 20√ √2 2√4√42 2√42√424− √ 2140√24− √ 2140√24− √ 2120 − √ 24− 1 20 0√24− 1 20 0 − √ 2√220 0 020 0 020 0√220 020 020 0 − √ 2√2202040 − 1 20 0 0√24− √ 240 − 1 20 0 0 − √ 22As matrizes H n (ou matrizes <strong>de</strong> Haar assim construídas são ortogonais.4.4 O ouvido humano e a transformada <strong>de</strong> Wavelets.A cóclea é o órgão responsável pela audição humana. O sinal sonoro éamplicado mecanicamente no tímpano, e se propaga <strong>em</strong> meio líquido nointerior da cóclea (Ver gura 4.2).√22⎤.⎥⎦


58 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITALFigura 4.3: Acima: função <strong>de</strong> Haar e sua transformada <strong>de</strong> Fourier. Embaixo:função chapéu Mexicano e <strong>de</strong>talhe da sua transformada <strong>de</strong> FourierO órgão <strong>de</strong> Corti, <strong>de</strong>ntro da cóclea, está recoberto <strong>de</strong> células ciliares, quefaz<strong>em</strong> a transição para o nervo auditivo. Há dois tipos <strong>de</strong> células ciliares.As curtas, ou estereocílios, ao se <strong>de</strong>slocar por força do sinal sonoro,abr<strong>em</strong> canais iônicos pelos quais estimulam (ou <strong>de</strong>sestimulam) os terminaisdo nervo auditivo. Por conta <strong>de</strong>sse mecanismo, o sinal nervoso gerado porcada estereocílio é localizado no t<strong>em</strong>po.As células ciliares longas ou quinecílios entram <strong>em</strong> ressonância com osinal sonoro, amplicando-o. A freqüência <strong>de</strong> vibração dos quinecílios é afetadapor sinais nervosos. Assim, o ouvido sintoniza as principais freqüênciasrecebidas <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado momento.Cada seção da cóclea correspon<strong>de</strong> a uma certa faixa <strong>de</strong> freqüências.Dessa forma, a cóclea já <strong>de</strong>compõe o sinal <strong>em</strong> freqüências, e os quinecíliosfaz<strong>em</strong> a sintonia na.As bases <strong>de</strong> Wavelets tentam imitar o processo acima. A compressãopor transformada <strong>de</strong> Wavelets trunca exatamente a parte do sinal sonoro


4.5. O PADRÃO MP3 E OS CODECS 59que nós não ouvimos.Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> Wavelets é gerada pela função do chapéu Mexicano,ψ(x) = 2√ 33 π−1/4 (1 − x 2 )e −x2 /2 .(Ver gura 4.3). A base <strong>de</strong> Wavelets é gerada da mesma maneira do quea base <strong>de</strong> Haar:ψ m,n (t) = 2 −m/2 ψ(2 −m t − n) .Existe hoje uma quantida<strong>de</strong> absurda <strong>de</strong> bases <strong>de</strong> Wavelets disponíveis.Em processamento <strong>de</strong> sinais, utiliza-se inclusive pacotes <strong>de</strong> Wavelets, quesão conjuntos geradores do espaço das funções (os vetores da base nãoprecisam ser linearmente in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes).4.5 O padrão MP3 e os CODECsO padrão MP3 ou MPEG-1 Audio Layer 3 está baseado <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lopsicoacústico. Vimos na seção anterior que os quinecílios no órgão <strong>de</strong> Cortisintonizam as principais freqüências do sinal sonoro.Se o ouvido está sintonizado <strong>em</strong> uma certa gama <strong>de</strong> freqüências (porex<strong>em</strong>plo, as utilizadas <strong>em</strong> uma composição musical), sinais relativamentefracos <strong>em</strong> freqüências vizinhas não encontram ressonância, pois os quinecílioscorrespon<strong>de</strong>ntes estão nas freqüências principais. Por isso, <strong>de</strong>ixamos <strong>de</strong>perceber essa parte do sinal.A compressão MP3 utiliza esse fato. O sinal é primeiro dividido <strong>em</strong>pequenos intervalos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, cada um correspon<strong>de</strong>ndo a 1152 leituras paracada canal <strong>de</strong> áudio.A primeira etapa da codicação é feita pelo chamado ltro <strong>de</strong> quadraturapolifase . O som <strong>em</strong> cada intervalo é dividido por freqüências <strong>em</strong> 32 bandas.Simultaneamente, o som sofre uma transformada <strong>de</strong> Fourier discreta eé analisado pelo mo<strong>de</strong>lo psicoacústico. Esse mo<strong>de</strong>lo permite eliminar asfreqüências não audíveis (escondidas por sinais <strong>de</strong> maior intensida<strong>de</strong> <strong>em</strong>freqüências na mesma banda) e realçar sinais que exig<strong>em</strong> maior resoluçãono domínio do t<strong>em</strong>po.Mais uma transformada <strong>de</strong> Fourier (<strong>de</strong> fato, transformada do cosseno) éaplicada a cada uma das 32 bandas, dividindo cada banda <strong>em</strong> 18 freqüências.Os parâmetros <strong>de</strong>ssa última transformada são fornecidos pelo mo<strong>de</strong>lopsicoacústico.Depois disso, o sinal é discretizado (ainda sob controle do mo<strong>de</strong>lo psicoacústico)e os valores discretos são comprimidos pelo código <strong>de</strong> Human(Ver exercícios 4.74.9).


60 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITALOs <strong>de</strong>talhes da codicação são extr<strong>em</strong>amente complicados, e não são<strong>de</strong>nidos pelo padrão MP3. O que o padrão <strong>de</strong>ne é a <strong>de</strong>codicação.Mais <strong>de</strong>talhes pod<strong>em</strong> ser encontrados <strong>em</strong> [2]. Em particular, sugiro oartigo <strong>de</strong> Rassol Raissi, The theory behind MP3, Dez<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2002.Existe uma quantida<strong>de</strong> enorme <strong>de</strong> padrões <strong>de</strong> áudio e ví<strong>de</strong>o disponíveis.Como é impossível escrever um programa capaz <strong>de</strong> ler todos os padrõesexistentes, os codicadores/<strong>de</strong>codicadores (os co<strong>de</strong>c infames) pod<strong>em</strong> serdistribuídos a parte. Por ex<strong>em</strong>plo, MP3 e Vorbis são padrões <strong>de</strong>nidos porco<strong>de</strong>c.O padrão MP3 é hoje um padrão industrial dominante. T<strong>em</strong> a <strong>de</strong>svantag<strong>em</strong><strong>de</strong> ser protegido por patentes.O padrão Vorbis t<strong>em</strong> a vantag<strong>em</strong> <strong>de</strong> ser software livre. O algoritmo éaparent<strong>em</strong>ente mais simples, e inclui uma transformada discreta do cossenoe a codicação <strong>em</strong> separado do piso e do resíduo. O piso é uma funçãolinear por partes que aproxima o espectro do sinal <strong>em</strong> um dado intervalo <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po. O resíduo é a diferença entre o espectro e o piso. Resíduo e espectrosão <strong>de</strong>pois truncados e armazenados via código <strong>de</strong> Human (Ex. 4.74.9).4.6 Compressão <strong>de</strong> imag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>oA compressão <strong>de</strong> imagens e <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>os é potencialmente muito mais complicadado que a compressão <strong>de</strong> áudio.Por ex<strong>em</strong>plo, a compressão no padrão JPEG segue os seguintes passos:<strong>em</strong> primeiro lugar, as cores são codicadas <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a conhecido comoYCbCr (usado por ex<strong>em</strong>plo no padrão PAL-M <strong>de</strong> televisão). O olho humanoé mais sensível ao brilho Y do que à cor (representada por Cr e Cb). Assim,a cor é truncada. A partir <strong>de</strong>ste momento, cada sinal (Y, Cr e Cb) é tratadoseparadamente.Cada um dos canais Y, Cr e Cb é dividido <strong>em</strong> blocos <strong>de</strong> 8 × 8 píxeis.Cada bloco é então objeto <strong>de</strong> uma transformada discreta do cosseno bidimensional.O resultado é uma <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> cada bloco por 8 × 8 bifreqüências.Nossos olhos são mais sensíveis às baixas do que às altas freqüências. Porisso, a precisão utilizada para as baixas freqüências é muito maior do que adas altas freqüências, que são truncadas.Depois disso, o sinal é discretizado e codicado com código <strong>de</strong> Human.


4.7. A TELEVISÃO DIGITAL. 614.7 A televisão digital.O padrão MP4 (aliás MPEG-4 Parte 14) é na verda<strong>de</strong> um meta-padrão, comvários co<strong>de</strong>c <strong>de</strong> áudio e ví<strong>de</strong>o disponíveis. Por ex<strong>em</strong>plo, o H.264 (tambémconhecido como MPEG-4 Parte 10, ou ainda AVC) é o co<strong>de</strong>c mais popularpara a compressão <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o, e aparent<strong>em</strong>ente será o padrão <strong>de</strong> alta resoluçãoutilizado pela TV digital Brasileira[1].No padrão H.264, cada quadro <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o (imag<strong>em</strong>) é dividida <strong>em</strong> blocos(4 × 4, 8 × 8 ou 16 × 16 pixeis). O algoritmo básico <strong>de</strong> codicação é aaplicação <strong>de</strong> uma transformada discreta do cosseno bidimensional (mesmaestratégia do que no JPEG), e os resultados são truncados.Para se obter uma compressão signicativamente melhor do que a doJPEG, o padrão H.264 permite codicar cada bloco nos modos intra e inter.No modo intra, cada bloco comprimido é comparado com outros blocosjá codicados. Apenas a diferença precisa ser armazenada.No modo inter, o bloco é armazenado como combinação <strong>de</strong> blocos <strong>de</strong>quadros já armazenados. Um vetor <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocamento po<strong>de</strong> ser utilizadopara comprimir objetos <strong>em</strong> movimento[3].4.8 ConclusõesAssim, v<strong>em</strong>os que uma das peças fundamentais <strong>em</strong> processamento <strong>de</strong> sinaisé a aplicação <strong>de</strong> transformações ortogonais ao espaço <strong>de</strong> sinais. Transformaçõesortogonais preservam o produto interno do espaço <strong>de</strong> sinais (é umgrupo <strong>de</strong> transformações que preserva a geometria <strong>de</strong>sse espaço). Elas nãoamplicam ruídos no sinal.Exist<strong>em</strong> algoritmos extr<strong>em</strong>amente rápidos para calcular as transformaçõesmais usuais (t e ass<strong>em</strong>elhadas, e transformada <strong>de</strong> Wavelets) <strong>em</strong> t<strong>em</strong>poreal. Esses algoritmos funcionam como uma <strong>de</strong>composição da transformada<strong>em</strong> transformadas mais simples.Se escolh<strong>em</strong>os a base certa, pod<strong>em</strong>os obter uma boa compressão (ou umaboa ltrag<strong>em</strong>) do sinal por meio <strong>de</strong> uma projeção ortogonal (que tambémnão amplica ruídos).Aqui <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>os alguma peças fundamentais. Mas a escolha da base<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma boa mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> do processo acústico ou visual, que é nãolinear.4.9 ExercíciosExercício 4.1. Escreva a matriz <strong>de</strong> F.


62 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITALExercício 4.2. Mostre que1 √NF é unitária.Exercício 4.3. Mostre que F 2 = −NI.Exercício 4.4. Mostre que a transformada discreta do cosseno do sinal f éproporcional à transformada discreta <strong>de</strong> Fourier do sinalg = [0 f 1 0 f 2 0 · · · f T 0 f T 0 · · · f 2 0 f 1 0] .Exercício 4.5. Dado um sinal f <strong>de</strong> 2 m leituras, mostre que a sua transformada<strong>de</strong> Haar po<strong>de</strong> ser calculada <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po O(n). Dica: <strong>em</strong> uma primeirapassag<strong>em</strong>, separe as altas freqüências T Haar f(−m, n) das baixas freqüências,representadas por um vetor <strong>de</strong> R 2m−1 . Continue recursivamente.Exercício 4.6. No topo da Figura 4.3, explique por quê aparec<strong>em</strong> freqüênciasacima <strong>de</strong> 500, e por que motivo essa transformada <strong>de</strong> Fourier parecesimétrica.Exercício 4.7. Uma árvore binária é um grafo s<strong>em</strong> ciclos, com um vérticeprivilegiado chamado <strong>de</strong> raiz, e tal que todo vértice t<strong>em</strong> grau 1 (e nesse casoé chamado <strong>de</strong> folha) ou grau 3.• Desenhe todas as árvores binárias com 4 folhas• Seja p ∈ R n um vetor <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>: p i ≥ 0 e ∑ p i = 0. Mostreque existe uma árvore binária contendo folhas numeradas 1 a n, etal que o comprimento do caminho entre a raiz e a i-ésima folha sejamenor ou igual do que − log 2 p i .Exercício 4.8. Nas hipóteses do exercício anterior, mostre como associara todo caminho <strong>de</strong> comprimento c (saindo da raiz e chegando <strong>em</strong> umafolha i) uma seqüência binária única s(i) <strong>de</strong> c(i) dígitos, e com a seguinteproprieda<strong>de</strong>:Se x é uma variável aleatória discreta assumindo o valor i com probabilida<strong>de</strong>p i , mostre que E(c(x)) ≤ − ∑ p i log 2 p i . O número da direita échamado <strong>de</strong> entropia do vetor <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong> p.Exercício 4.9. Mostre como codicar um sinal discreto aleatório x ∈ {1, . . . ,n} N como uma seqüência binária, tal que se p i = Prob[x = i], então o valoresperado do tamanho da seqüência codicada é menor ou igual do que aentropia <strong>de</strong> p, vezes o comprimento N da mensag<strong>em</strong> original. (Assuma ovetor p conhecido do codicador e do <strong>de</strong>codicador). O código construídoacima é o código <strong>de</strong> Human utilizado para compressão <strong>de</strong> mensagensdiscretas.


4.9. EXERCÍCIOS 63Referências[1] Brasil, Ministério das Comunicações, Sist<strong>em</strong>a Brasileiro <strong>de</strong> Televisão Digital, Especi-cação técnica <strong>de</strong> referência. http://sbtvd.cpqd.com.br/.[2] Gabriel Bouvigne, MP3'TECH (página internet). http://www.mp3-tech.org.[3] Iain Richardson, Vco<strong>de</strong>x (página internet). http://www.vco<strong>de</strong>x.com.[4] Wik<strong>em</strong>edia Commons, Gray923.png. digitalização da Gray's Anatomy of the HumanBody, domínio público. (1918).


64 AULA 4. A COMPRESSÃO DO SOM, O MP4 E A TELEVISÃO DIGITAL


Apêndice ACompl<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> ÁlgebraLinearAqui listamos, por conveniência, alguns resultados importantes <strong>de</strong> ÁlgebraLinear, mencionados no corpo do texto. A prova <strong>de</strong>sses resultados po<strong>de</strong> serachada <strong>em</strong> qualquer bom livro <strong>de</strong> Álgebra Linear.A.1 Bases e ortogonalida<strong>de</strong>Seja E um subespaço <strong>de</strong> R n . Uma base <strong>de</strong> E é uma lista or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> vetores(u 1 , . . . , u n ) tal que:1. Qualquer vetor x <strong>de</strong> R n se escreve como combinação linear:on<strong>de</strong> x 1 , . . . , x d ∈ R.2. Qualquer combinação linearx = x 1 u 1 + x 2 u 2 + · · · + x d u dx = x 1 u 1 + x 2 u 2 + · · · + x d u d ,on<strong>de</strong> x 1 , . . . , x d ∈ R, é um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> E.Gregorio Malajovich, Geometria <strong>de</strong> Algoritmos Numéricos. <strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática<strong>Aplicada</strong> 37 (XXXI CNMAC), SBMAC, São Carlos, 2008.Copyright c○ Gregorio Malajovich, 2008.65


66 APÊNDICE A. COMPLEMENTOS DE ÁLGEBRA LINEARO número d não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da escolha da base (isto é um Teor<strong>em</strong>a), e échamado <strong>de</strong> dimensão. Os números x 1 , . . . , x d são chamados <strong>de</strong> coor<strong>de</strong>nadas<strong>de</strong> x.A <strong>de</strong>nição <strong>de</strong> base para subespaços <strong>de</strong> C n é a mesma, mas as coor<strong>de</strong>nadas(coecientes da combinação linear) são números complexos. Dessamaneira, C n t<strong>em</strong> dimensão (complexa) n.A base canônica <strong>de</strong> R n é (e 1 , . . . , e n ) on<strong>de</strong>⎡ ⎤⎡ ⎤⎡ ⎤10001e 1 =, e 2 =, · · · , e n =⎢ ⎥⎢ ⎥⎢0.⎥⎣0. ⎦⎣0. ⎦⎣0⎦001A base canônica <strong>de</strong> C n , também <strong>de</strong>notada por (e 1 , . . . , e n ), é <strong>de</strong>nidada mesma maneira.Se x é um vetor real ou complexo, então <strong>de</strong>notamos por x k a sua k-ésimacoor<strong>de</strong>nada na base canônica. T<strong>em</strong>os portanto, por <strong>de</strong>nição: x = ∑ k x ke k .O produto interno canônico <strong>em</strong> R n é <strong>de</strong>nido por:〈u, v〉 =n∑u i v i .k=1Já o produto interno canônico <strong>em</strong> C n é:〈u, v〉 =n∑ū i v i .k=1Em ambos casos, <strong>de</strong>nimos ‖u‖ = √ 〈u, u〉 e diz<strong>em</strong>os que u e v sãoortogonais se e somente se 〈u, v〉 = 0. Se E é um subespaço vetorial <strong>de</strong> R nou C n , então E ⊥ é o espaço <strong>de</strong> todos os vetores perpendiculares a todos osvetores <strong>de</strong> E. Prova-se que (E ⊥ ) ⊥ ) = E.A seguir, vamos utilizar a letra K para enunciar <strong>de</strong>nições e resultadosque val<strong>em</strong> para K = R ou K = C:Seja A : K n → K m uma transformação linear (que associamos a umamatriz m×n). A adjunta <strong>de</strong> A é a única transformação linear A ∗ : K m → K ntal que, para todos x, y:〈Ax, y〉 = 〈x, A ∗ y〉.Quando K = R, A ∗ é associada à transposta A T <strong>de</strong> A. Quando K = C, A ∗é associada à conjugada transposta A H = ĀT <strong>de</strong> A..


A.2. BASES ORTOGONAIS, MATRIZES ORTONORMAIS 67eDenimos o núcleo e a imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> A porker(A) = {x ∈ K n : Ax = 0} ⊆ ℸ nim(A) = {Ax : x ∈ K n } ⊆ ℸ m .Teor<strong>em</strong>a A.1 (do posto). Seja A : ℸ n → ℸ m uma transformação linear.Então1.ker(A) = im(A ∗ ) ⊥ ,2.ker(A ∗ ) = im(A) ⊥ , e3.dim im(A) = dim im(A ∗ ) = n − dim(ker(A)) = m − dim(ker A ∗ ) .O número dim im(A) é chamado <strong>de</strong> posto <strong>de</strong> A.A.2 Bases ortogonais, matrizes ortonormaisUma base (u 1 , . . . , u d ) <strong>de</strong> um subespaço E é dita ortonormal se e somentese{1 Se i = j〈u i , u j 〉 =0 Se i ≠ j.Uma matriz real Q é dita ortogonal quando as suas colunas formam umabase ortonormal <strong>de</strong> im(Q). Isso é equivalente a:Q T Q = I.No caso <strong>de</strong> matrizes complexas, utilizamos uma palavra diferente (amatriz é dita unitária) para a mesma <strong>de</strong>nição. Uma matriz complexa Q éunitária se e somente seQ ∗ Q = I.O produto <strong>de</strong> duas matrizes ortogonais n × n é uma matriz ortogonaln × n. O conjunto das matrizes n × n, munido da operação <strong>de</strong> produtosatisfaz aos axiomas <strong>de</strong> grupo (ver qualquer texto <strong>de</strong> álgebra). Esse grupoé <strong>de</strong>notado por O(n) (grupo ortogonal <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> n).O mesmo vale para matrizes unitárias n × n, e o grupo (<strong>de</strong>notado porU(n) é chamado <strong>de</strong> grupo unitário <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> n.


68 APÊNDICE A. COMPLEMENTOS DE ÁLGEBRA LINEARAlém da estrutura <strong>de</strong> grupo, O(n) e U(n) são varieda<strong>de</strong>s diferenciáveis.Objetos combinando essas duas proprieda<strong>de</strong>s são chamados <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong>Lie. Do ponto <strong>de</strong> vista geométrico, O(n) e U(n) são as transformaçõeslineares que preservam ângulos e distâncias.A.3 Obtendo bases ortonormaisSeja u 1 , . . . , u d base <strong>de</strong> E ⊆ K n . O processo <strong>de</strong> Gram-Schmidt permiteproduzir uma base ortonormal <strong>de</strong> E a partir dos u ′ i s.No primeiro passo, faz<strong>em</strong>os v 1 =u1. ‖u 1‖Indutivamente, faz<strong>em</strong>osw i = u i − ∑v j 〈v j , u i 〉1≤j


A.5. MATRIZES DE MÁRKOV 69Agora pod<strong>em</strong>os explicar a popularida<strong>de</strong> das matrizes ortogonais <strong>em</strong> análisenumérica. Se A é uma matriz (real, complexa) n×n, e quer<strong>em</strong>os calcularAx, mas conhec<strong>em</strong>os x com precisão relativa δ, então vamos conhecer Axcom precisão relativa‖A‖ 2 ‖x‖δ‖Ax‖≤ ‖A‖ 2 ‖A −1 ‖ 2 .Se A ∈ O(n), então ter<strong>em</strong>os ‖A‖ 2 = ‖A −1 ‖ 2 = 1. Multiplicar por A ébenigno <strong>em</strong> relação ao erro acumulado.A.5 Matrizes <strong>de</strong> MárkovAs matrizes <strong>de</strong> Márkov ou matrizes estocásticas mo<strong>de</strong>lam um sist<strong>em</strong>a comn estados, e probabilida<strong>de</strong>s M ij <strong>de</strong> passar <strong>de</strong> um estado i a um estado j.Denição A.2. Uma Matriz <strong>de</strong> Márkov ou Matriz Estocástica é uma matrizquadrada M <strong>de</strong> tamanho n × n, com M ij ≥ 0 e, para toda coluna j,∑i M ij = 1. Ela é positiva se e somente se M ij > 0 para todos i e j.Observação A.3. Em parte da literatura, matrizes <strong>de</strong> Márkov são <strong>de</strong>nidascomo matrizes com coor<strong>de</strong>nadas não-negativas e on<strong>de</strong> a soma das coor<strong>de</strong>nadas<strong>de</strong> cada linha é 1. Assim, estamos transpondo a <strong>de</strong>nição, para po<strong>de</strong>rtrabalhar com um vetor coluna <strong>de</strong> probabilida<strong>de</strong>s.O principal resultado sobre matrizes <strong>de</strong> Márkov garante (sob certas circunstâncias)a existência <strong>de</strong> um estado estacionário, que representa a probabilida<strong>de</strong>do sist<strong>em</strong>a se encontrar <strong>em</strong> cada estado após t<strong>em</strong>po innito.Teor<strong>em</strong>a A.4 (Perron-Frobenius, caso Markoviano). Seja M uma matriz <strong>de</strong>Márkov. Então,1. Se λ é autovalor <strong>de</strong> M, então |λ| ≤ 12. 1 é autovalor <strong>de</strong> M.3. Todo autovalor λ <strong>de</strong> M diferente <strong>de</strong> 1 verica |λ| < 1.4. Existe um autovetor à direita, associado ao autovalor 1, cujas coor<strong>de</strong>nadassão todas não-negativas.5. Se M for positiva, então o espaço dos auto-espaços com autovalorassociado 1 t<strong>em</strong> dimensão 1.


70 APÊNDICE A. COMPLEMENTOS DE ÁLGEBRA LINEARA.6 ExercíciosExercício A.1. Mostre que um subespaço vetorial complexo <strong>de</strong> C n <strong>de</strong> dimensãod po<strong>de</strong> ser interpretado como um subespaço vetorial 2d-dimensionalreal <strong>de</strong> R 2n , mas que a recíproca não é verda<strong>de</strong>ira.Exercício A.2. Prove o Teor<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Perron-FrobeniusReferências[1] Gilbert Strang, Introduction to Linear Algebra, Wellesley Cambridge Press,2003,2005. 3rd edition.[2] Gregorio Malajovich, Álgebra Linear, 2007. Em preparação. http://www.labma.ufrj.br/~gregorio/.


Índicealgoritmo<strong>de</strong> Page e Brin, 44para achar autovetor principal,47aritméticaIEEE(g), 12base, 53<strong>de</strong> Haar, 56<strong>de</strong> Wavelets, 58ortonormal, 21, 54bottrap, 43cóclea, 57co<strong>de</strong>c, 60código<strong>de</strong> Human, 62Dan<strong>de</strong>lin, Germinal Pierre, 26distância <strong>de</strong> colaboração, 39entropia, 62equaçãodo calor, 40estadoestacionário, 44fatoraçãoPLU, 9fazenda <strong>de</strong> links, 45ltro<strong>de</strong> quadratura, 59função<strong>de</strong> Haar, 56geometriasimplética, 33tropical, 34Google, 44Gräe, Karl Heinrich, 25grafo, 37aresta, 37<strong>de</strong> um digrafo, 42caminho <strong>em</strong>, 37ciclo <strong>em</strong>, 37<strong>de</strong> colaboração, 39digrafo simples, 42espectro <strong>de</strong>, 40orientado, 41perfeito, 49vértice, 37<strong>de</strong> um digrafo, 42grau <strong>de</strong> um, 39, 40H.264, 61JPEG, 60lei<strong>de</strong> Kirchhopara a corrente, 41para a voltag<strong>em</strong>, 41<strong>de</strong> Ohm, 41Lobachevskii, Nicolai Ivánovich, 2671


72 ÍNDICEmatrizcompanheira, 14<strong>de</strong> adjacência, 39<strong>de</strong> Haar, 57<strong>de</strong> Márkov, 40, 44, 69positiva, 69estocástica, 69incidência, 41Laplaciana, 39mo<strong>de</strong>lopara passeio na Web, 44psicoacústico, 59MP3, 59MP4, 61MPEG, 59, 61número <strong>de</strong> Erdös, 39norma<strong>de</strong> Frobenius, 11, 68número<strong>de</strong> condicionamento, 16Octave, 15, 51, 54órgão <strong>de</strong> Corti, 59PageRank, 44polinômiopérdo, 13pontocrítico, 17regular, 17processo<strong>de</strong> Gram e Schmidt, 21programarastejador, 43, 47renormalização, 30s<strong>em</strong>ianel tropical, 32teor<strong>em</strong>ada <strong>de</strong>composição <strong>em</strong> valores singulares,21, 46<strong>de</strong> Eckart e Young, 22<strong>de</strong> Perron-Frobenius, 69espectral, 21transformada<strong>de</strong> Fourier, 53discreta, 54, 59<strong>de</strong> Fourier discreta<strong>de</strong> curto prazo, 56do cosseno, 56, 59rápida <strong>de</strong> Fourier, 54url ou uniform ressource locator, 42valorcrítico, 17regular, 17varieda<strong>de</strong>algébrica, 18diferenciável implícita, 17Web spam, 47World Wi<strong>de</strong> Web, 42


<strong>Notas</strong> <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong>Arquivos <strong>em</strong> pdf disponíveis <strong>em</strong> http://www.sbmac.org.br/notas.php1. Restauração <strong>de</strong> Imagens com Aplicações <strong>em</strong> Biologia e EngenhariaGeraldo Cida<strong>de</strong>, Antônio Silva Neto e Nilson Costa Roberty2. Fundamentos, Potencialida<strong>de</strong>s e Aplicações <strong>de</strong> Algoritmos EvolutivosLeandro dos Santos Coelho3. Mo<strong>de</strong>los Mat<strong>em</strong>áticos e Métodos Numéricos <strong>em</strong> Águas SubterrâneasEdson Wendlan<strong>de</strong>r4. Métodos Numéricos para Equações Diferenciais ParciaisMaria Cristina <strong>de</strong> Castro Cunha e Maria Amélia Novais Schleicher5. Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Biomat<strong>em</strong>áticaJoyce da Silva Bevilacqua, Marat Rakov e Cláudia <strong>de</strong> LelloCourtouke Gue<strong>de</strong>s6. Métodos <strong>de</strong> Otimização Randômica: algoritmos genéticos e simulatedannealingSezimária F. Pereira Saramago7. Mat<strong>em</strong>ática <strong>Aplicada</strong> à Fisiologia e Epid<strong>em</strong>iologiaH.M. Yang, R. Sampaio e A. Sri Ranga8. Uma Introdução à Computação QuânticaRenato Portugal, Carlile Campos Lavor, Luiz Mariano Carvalhoe Nelson Maculan9. Aplicações <strong>de</strong> Análise Fatorial <strong>de</strong> Correspondências para Análise <strong>de</strong>DadosHomero Chaib Filho73


7410. Mo<strong>de</strong>los Mat<strong>em</strong>áticos baseados <strong>em</strong> autômatos celulares para GeoprocessamentoMarilton Sanchotene <strong>de</strong> Aguiar, Fábia Amorim da Costa,Graçaliz Pereira Dimuro e Antônio Carlos da Rocha Costa11. Computabilida<strong>de</strong>: os limites da ComputaçãoRegivan H. N. Santiago e Benjamín R. C. Bedregal12. Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> Multiescala <strong>em</strong> Materiais e EstruturasFernando Rochinha e Alexandre Madureira13. Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> <strong>em</strong> Biomat<strong>em</strong>ática (Coraci Malta ed.)1 - Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática do comportamento elétrico <strong>de</strong> neurôniose algumas aplicaçõesReynaldo D. Pinto2 - Re<strong>de</strong>s complexas e aplicações nas CiênciasJosé Carlos M. Mombach3 - Possíveis níveis <strong>de</strong> complexida<strong>de</strong> na mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>as biológicosHenrique L. Lenzi, Wald<strong>em</strong>iro <strong>de</strong> Souza Romanha e MarceloPelajo- Machado14. A lógica na construção dos argumentosAngela Cruz e José Eduardo <strong>de</strong> Almeida Moura15. Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática e Simulação Numérica <strong>em</strong> Dinâmica dos FluidosVald<strong>em</strong>ir G. Ferreira, Hélio A. Navarro, Magda K. Kaibara16. Introdução ao Tratamento da Informação nos Ensinos Fundamental eMédioMarcilia Andra<strong>de</strong> Campos, Paulo Figueiredo Lima17. Teoria dos Conjuntos Fuzzy com AplicaçõesRosana Sueli da Motta Jafelice, Laércio Carvalho <strong>de</strong> Barros,Rodney Carlos Bassanezi18. Introdução à Construção <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> Otimização Linear e InteiraSocorro Rangel


7519. Observar e Pensar, antes <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>larFlavio Shigeo Yamamoto, Sérgio Alves, Edson P. Marques Filho,Amauri P. <strong>de</strong> Oliveira20. Frações Contínuas: Proprieda<strong>de</strong>s e AplicaçõesEliana Xavier Linhares <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>, Cleonice Fátima Bracciali21. Uma Introdução à Teoria <strong>de</strong> CódigosCarlile Campos Lavor, Marcelo Muniz Silva Alves, RogérioMonteiro <strong>de</strong> Siqueira, Sueli Irene Rodrigues Costa22. Análise e Processamento <strong>de</strong> SinaisRubens Sampaio, Edson Cataldo, Alexandre <strong>de</strong> Souza Brandão23. Introdução aos Métodos Discretos <strong>de</strong> Análise Numérica <strong>de</strong> EDO eEDPDavid Soares Pinto Júnior24. Representações Computacionais <strong>de</strong> GrafosLílian Markenzon, Oswaldo Vernet25. Ondas Oceânicas <strong>de</strong> SuperfícieLeandro Farina26. Técnicas <strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Processos Epidêmicos e EvolucionáriosDomingos Alves, Henrique Fabrício Gagliardi27. Introdução à teoria espectral <strong>de</strong> grafos com aplicaçõesNair Maria Maia <strong>de</strong> Abreu, Renata Raposo Del-Vecchio, CybeleTavares Maia Vinagre e Dragan Stevanovi¢28. Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> e convexida<strong>de</strong>Eduardo Cursi e Rubens Sampaio29. Mo<strong>de</strong>lag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> nanças quantitativas <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po discretoMax Oliveira <strong>de</strong> Souza e Jorge Zubelli30. Programação não linear <strong>em</strong> dois níveis: aplicação <strong>em</strong> Engenharia MecânicaAna Friedlan<strong>de</strong>r e Eduardo Fancello


7631. Funções simétricas e aplicações <strong>em</strong> CombinatóriaJosé Plinio <strong>de</strong> Oliveira Santos e Robson da Silva32. S<strong>em</strong>igrupos aplicados a sist<strong>em</strong>as dissipativos <strong>em</strong> EDPCarlos Raposo da Cunha

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