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A atenção à saúde do trabalhador nas unidades básicas ... - SciELO

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ArtigoSalma Regina Rodrigues Balista¹Sílvia Maria Santiago²Heleno Rodrigues Corrêa Filho²A <strong>atenção</strong> <strong>à</strong> <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r <strong>nas</strong> <strong>unidades</strong> <strong>básicas</strong>de <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> SUS: estu<strong>do</strong> de caso em Campi<strong>nas</strong>,São PauloWorkers’ Health service delivery by primary care units in theBrazilian Unified Health System: a case-study in Campi<strong>nas</strong>,São Paulo, Brazil¹ Doutoranda <strong>do</strong> Departamento de MedicinaPreventiva e Social da Faculdadede Ciências Médicas da UniversidadeEstadual de Campi<strong>nas</strong> (Unicamp),Campi<strong>nas</strong>, SP, Brasil.² Docente <strong>do</strong> Departamento de MedicinaPreventiva e Social da Faculdadede Ciências Médicas da UniversidadeEstadual de Campi<strong>nas</strong> (Unicamp),Campi<strong>nas</strong>, SP, Brasil.*Este artigo baseou-se na dissertaçãode mestra<strong>do</strong> de Salma Regina RodriguesBalista intitulada A descentralizaçãoda vigilância da <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rno SUS-Campi<strong>nas</strong>, SP, apresentada aoDepartamento de Medicina Preventivae Social da Faculdade de CiênciasMédicas da Unicamp, em 2008.Contato:Salma Regina Rodrigues BalistaUniversidade Estadual de Campi<strong>nas</strong>Faculdade de Ciências Médicas,Departamento de Medicina Preventivae SocialRua Tessália Vieira de Camargo, 126,Barão Geral<strong>do</strong>, Campi<strong>nas</strong>, SP, BrasilCEP 13083-970E-mail:salmarrb@fcm.unicamp.brRecebi<strong>do</strong>: 09/08/2010Revisa<strong>do</strong>: 30/04/2011Aprova<strong>do</strong>: 06/05/2011ResumoObjetivo: avaliar o processo de implantação das ações de vigilância em <strong>saúde</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r <strong>nas</strong> Unidades Básicas de Saúde (UBS) <strong>do</strong> SUS, em Campi<strong>nas</strong>, SP.Méto<strong>do</strong>s: foram usa<strong>do</strong>s méto<strong>do</strong>s qualitativos e quantitativos para produzir umaaproximação sob diferentes aspectos <strong>do</strong> objeto em estu<strong>do</strong>. Os acidentes e as <strong>do</strong>ençasrelaciona<strong>do</strong>s ao trabalho registra<strong>do</strong>s em 2006 foram eleitos para verificarse as UBS conduziram ações de vigilância e se ocorreram mudanças preventivase protetoras no processo de trabalho e no ambiente. Realizamos entrevistascom os profissionais responsáveis pela vigilância em <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rdas <strong>unidades</strong>. Resulta<strong>do</strong>s: as ações de <strong>atenção</strong> <strong>à</strong> <strong>saúde</strong> e a notificação foramimplantadas com êxito principalmente para acidentes de trabalho. Todavia, ovínculo das <strong>do</strong>enças relacionadas com o trabalho foi menos reconheci<strong>do</strong>. Osacidentes e as <strong>do</strong>enças receberam uma abordagem burocrática, negligencian<strong>do</strong>a relevância epidemiológica para a tomada de decisão. Trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>informal não receberam ações específicas. A gestão <strong>do</strong>s sistemas locais de<strong>saúde</strong> ainda necessita de regras específicas para estabelecer seu papel na integração<strong>do</strong>s sistemas de informação com a vigilância da <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r na<strong>atenção</strong> primária. Conclusão: o presente estu<strong>do</strong> apontou que a descentralizaçãoda vigilância da <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r para a <strong>atenção</strong> primária foi parcialmenteefetivada em Campi<strong>nas</strong>.Palavras-chave: <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r; vigilância em <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r;avaliação em <strong>saúde</strong>; avaliação de programas e projetos de <strong>saúde</strong>; vigilância.AbstractObjective: The purpose of this study was to analyze the implementation of workers’health and epidemiological surveillance services at the primary healthcare units(UBS) of the Brazilian Unified Health System (SUS) in Campi<strong>nas</strong>, São Paulo, Brazil.Method: Qualitative and quantitative methods were combined to yield a parallaxapproach to the research object. Work-related injuries and diseases recorded in2006 were selected to investigate whether UBS conducted surveillance actionsand if preventive and protective changes had occurred in work processes andenvironment. Professionals in charge of workers’ health surveillance in the unitswere interviewed. Results: The study showed that healthcare and disease notificationwere successfully implemented, mainly those with the purpose of reporting workinjuries. Nevertheless, poor recognition was given to the causal links of workrelateddiseases; they were dealt bureaucratically, and their epidemiologic relevance fordecision taking was neglected. Informal workers did not receive specific attention.Administration of local health units still demands specific protocols to establishtheir role in integrating information systems to workers’ health surveillance inprimary care level. Conclusion: Decentralization of workers’ health service wasonly partially implemented in the primary healthcare units in Campi<strong>nas</strong>.Keywords: occupational health; worker’s health surveillance; health assessment;surveillance; program evaluation.216Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011


IntroduçãoAo estudarmos o que alguns autores apresentamacerca da descentralização e da integralidade na<strong>atenção</strong> <strong>à</strong> <strong>saúde</strong>, podemos verificar uma relação entreeste princípio e aquela diretriz <strong>do</strong> Sistema Único deSaúde (SUS), reconhecen<strong>do</strong> a descentralização comouma das formas de buscar a integralidade <strong>do</strong> sistemade <strong>saúde</strong> na medida em que proporciona a aproximação<strong>do</strong>s serviços e <strong>do</strong>s profissionais de <strong>saúde</strong> das pessoase da realidade local (MERHY, 1997; CECÍLIO,2001; MATTOS, 2001; CAMPOS, 2003; SILVA--JÚNIOR; MERHY; CARVALHO, 2003).Podemos entender a integralidade no espaço daunidade básica de <strong>saúde</strong> (UBS) 3 como o esforço dasequipes de serviços em compreender e buscar respostaspara as necessidades de <strong>saúde</strong> que o usuárioapresenta, muitas vezes complexas. A essa integralidade,Cecílio (2001) dá o nome de “integralidadefocalizada”. A expressão “integralidade ampliada”,utilizada por esse autor, traz a ideia de que a pessoacom necessidades de <strong>saúde</strong> – foco principal e razãode ser <strong>do</strong>s serviços de <strong>saúde</strong> – não conseguirá tertodas elas atendidas por um único serviço de <strong>saúde</strong>,poden<strong>do</strong> vê-las respondidas e atendidas somente demaneira articulada com uma rede de serviços dentroe fora <strong>do</strong> setor <strong>saúde</strong>. As diferentes tecnologias em<strong>saúde</strong> estão disponibilizadas em uma ampla rede deserviços e, para atender a algumas necessidades, épreciso uma ação intersetorial (CECÍLIO, 2001).Neste senti<strong>do</strong>, parece-nos que a diretriz <strong>do</strong> SUSpara a descentralização pode favorecer esse resulta<strong>do</strong>.Ações de Vigilância em Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>rA organização <strong>do</strong> sistema local de <strong>saúde</strong> em<strong>unidades</strong> com responsabilidade sobre uma área deabrangência e com atribuições de realizar ações deVigilância em Saúde (Visa) facilita a identificaçãode problemas locais de <strong>saúde</strong> a serem enfrenta<strong>do</strong>scom os recursos existentes na rede de <strong>saúde</strong> e emoutros setores.As práticas ampliadas de Visa permitem a identificaçãode problemas de <strong>saúde</strong> que afetam grupospopulacionais de determina<strong>do</strong>s territórios. O conhecimentoda realidade de um território, seus aspectosdemográficos, socioeconômicos, políticos, culturais,epidemiológicos e sanitários, contribui para a compreensãoda relação entre as condições de vida e oprocesso <strong>saúde</strong>-<strong>do</strong>ença, bem como para o acesso aações e serviços de <strong>saúde</strong> e, ainda, favorece a tomadade decisão para as intervenções necessárias (TEIXEI-RA; PAIM; VILASBOAS, 2002).A Vigilância em Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (Visat) éuma prática social que, ao ser incorporada <strong>à</strong> Visa, requer“uma compreensão transdisciplinar e uma açãotransversal inter e intra-setorial”, ou seja, que deve serexercida a muitas mãos, pelos diferentes atores quetenham envolvimento com a questão, extrapolan<strong>do</strong>o setor <strong>saúde</strong>. Essa concepção decorre da influênciapolítica, técnica e científica da medicina social latino--americana e da experiência italiana de reforma sanitária.A Visat congrega diferentes componentes estruturaispara a abordagem interdisciplinar da relaçãoprocesso de trabalho e <strong>saúde</strong>: componentes tecnológicosutiliza<strong>do</strong>s em determina<strong>do</strong> processo de produção;epidemiológicos para a avaliação de risco; e sociais,como as condições econômicas e de organização <strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>res, incorporan<strong>do</strong> o processo de trabalhocomo categoria e objeto fundamentais para suaanálise e intervenção. Busca o conhecimento para aação e, com isso, também gera novos conhecimentos(MACHADO, 1997; MACHADO, 2005).A abordagem territorial é facilita<strong>do</strong>ra da ação deVisat, pois estimula e permite o conhecimento <strong>do</strong>sriscos presentes em determinada área geográfica,como a área de abrangência de uma unidade de <strong>saúde</strong>ou macrorregiões e também a atuação diferenciadapara cada um deles, possibilitada por uma aproximação<strong>do</strong>s determinantes desses agravos e riscos(MACHADO, 1997).A equipe de <strong>saúde</strong>, que conhece seus indica<strong>do</strong>rese os utiliza para planejar melhor suas ações de intervenção,pode identificar e priorizar grupos mais vulneráveis,por exemplo, trabalha<strong>do</strong>res expostos a riscos.Contu<strong>do</strong>, não é possível realizar essas medidasem posição distante da realidade local. Seu equacionamentodar-se-á mais adequadamente estan<strong>do</strong>-semuito próximo <strong>do</strong> problema. Novamente, é implícitaa descentralização como facilita<strong>do</strong>ra das mudançasde modelo de <strong>atenção</strong> capazes de responder mais adequadamente<strong>à</strong>s necessidades de <strong>saúde</strong> da população.A Vigilância em Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r em Campi<strong>nas</strong>O SUS de Campi<strong>nas</strong>, SP, considera a UBS comopilar estruturante e conta com um sistema de vigilânciaatuante desde antes mesmo da municipalização.Nessa lógica, o município assumiu responsabilidadessobre ações de vigilância e de <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> traba-3No SUS brasileiro, as redes assistenciais locais hierarquizadas são constituídas por Centros de Saúde (CS) primários e secundários. Os CSprimários são porta de entrada <strong>do</strong> Sistema e também são chama<strong>do</strong>s de Unidades Básicas de Saúde (UBS). Os CS secundários são chama<strong>do</strong>s deCentros de Referência e recebem usuários envia<strong>do</strong>s pelas UBS para diagnóstico e tratamento especializa<strong>do</strong>. Neste texto, CS primário e UBS sãosinônimos. A palavra “básica” não significa que não sejam realiza<strong>do</strong>s procedimentos complexos <strong>nas</strong> UBS.Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011 217


lha<strong>do</strong>r e promoveu, na sequência, a descentralizaçãode algumas dessas ações para as equipes distritais elocais de <strong>saúde</strong>.As ações de vigilância epidemiológica foram assumidasintegralmente pelo município de Campi<strong>nas</strong>desde 1987 com a criação <strong>do</strong> Grupo Municipalde Vigilância Epidemiológica, antes da municipalizaçãoformal, que ocorreu em 1988 (SAGLIONI;BALISTA, 2004).O Programa de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (PST) foicria<strong>do</strong> no município de Campi<strong>nas</strong> em 1987 por iniciativade sindicatos, da Universidade Estadual deCampi<strong>nas</strong> e <strong>do</strong>s governos municipal e estadual edeveria exercer suas atividades em três áreas: assistência<strong>à</strong> <strong>saúde</strong>, vigilância e educação – sen<strong>do</strong> a Visatentendida como instrumento fundamental para aidentificação e a intervenção em situações de risco <strong>à</strong><strong>saúde</strong> relacionadas ao trabalho (MEDEIROS, 2001).A partir de 1989, iniciou-se um processo intensode capacitação e descentralização da vigilânciaepidemiológica para as UBS, com a incorporaçãoda função <strong>do</strong> “vigilante local” ou da “moça da vigilância”,que, juntamente com a coordenação daunidade, respondia pela organização e a execuçãodessas ações em nível local (ABRAHÃO, 1994;SAGLIONI; BALISTA, 2004; VILELA, 2005).Para dar amparo jurídico <strong>à</strong>s ações, foi promulgadaa Lei Municipal nº 6.764/91, que autorizou oExecutivo Municipal a observar as legislações federale estadual concernentes <strong>à</strong>s ações de vigilânciasanitária, vigilância epidemiológica, de fiscalizaçãoda alimentação pública e da nutrição, de fiscalização<strong>do</strong> saneamento, <strong>do</strong> meio ambiente e da <strong>saúde</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r. A sua regulamentação estabeleceuos processuais administrativos e definiu a figurada autoridade sanitária constituída nos diversosníveis da Secretaria de Saúde, ou seja, das UBS aonível central (CAMPINAS, 1991; ABRAHÃO, 1994;SAGLIONI; BALISTA, 2004).A vigilância sanitária já era executada pelo municípioem relação ao comércio varejista de alimentos eao saneamento, mas foi oficialmente municipalizadano final de 1992 para a quase totalidade <strong>do</strong>s objetos deatuação, com exceção <strong>do</strong>s serviços de hemodiálise,<strong>do</strong>s bancos de sangue, órgãos e teci<strong>do</strong>s. Imediatamenteapós, no ano de 1993, quan<strong>do</strong> a Secretaria assumeirreversivelmente a estruturação <strong>do</strong>s distritossanitários, foram formadas cinco equipes distritaisde Visa e, assim, foram descentralizadas e unificadasas ações de vigilância sanitária e epidemiológicapara essas equipes, constituin<strong>do</strong>-se autoridadessanitárias distritais (ABRAHÃO, 1994; SAGLIONI;BALISTA, 2004).Também em 1993, o PST passou a atuar comoCentro de Referência de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r –CRST (MEDEIROS, 2001).Em 1994, iniciou-se a descentralização para arede básica <strong>do</strong> atendimento de acidentes de trabalhoque não necessitassem de atendimento hospitalar.Esse atendimento compreendia a prestação decuida<strong>do</strong>s de assistência médica e de enfermagem eo respectivo preenchimento e encaminhamento daComunicação de Acidente de Trabalho (CAT). Essamedida fazia parte da readequação <strong>do</strong> papel <strong>do</strong>CRST <strong>à</strong> época e da rede básica (MEDEIROS, 2001).Houve capacitação da rede básica para assumir oatendimento <strong>do</strong>s acidentes de trabalho, que incluiuas orientações sobre preenchimento e fluxo da CATentre os serviços da Secretaria Municipal de Saúdee o Instituto Nacional de Seguridade Social – INSS(CAMPINAS, 1997, CAMPINAS, 2006a).O intuito era dar condições ao CRST de realizarsua missão de prestar <strong>atenção</strong> <strong>à</strong> <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r,desafogan<strong>do</strong> o atendimento médico. Ooutro ganho com a descentralização foi diminuira via crucis <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res, que tinham de peregrinarentre serviços de <strong>saúde</strong>, empresa e INSS(MEDEIROS, 2001, p. 128). Contu<strong>do</strong>, segun<strong>do</strong> Medeiros(2001), a descentralização ocasionou piorana qualidade <strong>do</strong>s registros das informações no município,com comprometimento das ações de intervençãocoletivas. Em 1998, inicia-se a descentralizaçãoda assistência <strong>à</strong>s <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> trabalho como aúnica maneira de desafogar o CRST da avalanchede atendimentos a casos de lesões por esforços repetitivos(LER) e realizar ações preventivas, ten<strong>do</strong>como pano de fun<strong>do</strong> dessa discussão a rede básicacomo porta de entrada <strong>do</strong> sistema de <strong>saúde</strong>. Comcapacitação da rede, retaguarda laboratorial e retaguardatécnica <strong>do</strong> CRST, isso seria possível. Adescentralização da assistência não faria senti<strong>do</strong> sefosse descolada da descentralização da intervençãonos ambientes de trabalho (MEDEIROS, 2001). Esseprocesso iria se efetivar em 2006, com a implantação<strong>do</strong> Plano de Ação e Metas da Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>rno município e, seguin<strong>do</strong> as orientações daRede Nacional de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r (Re<strong>nas</strong>t),nesse mesmo ano, passa a a<strong>do</strong>tar a denominação deCerest, indicada pela Re<strong>nas</strong>t para to<strong>do</strong>s os Centrosde Referência de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r no Brasil(BRASIL, 2005; CAMPINAS, 2006b).Assim, no município de Campi<strong>nas</strong>, as ações deVisa devem ser desenvolvidas em alguma medidaem todas as <strong>unidades</strong> <strong>básicas</strong> que contam com oapoio técnico das equipes distritais de Visa <strong>do</strong> Cereste da Coordena<strong>do</strong>ria de Vigilância em Saúde(Covisa) para a complementação ou execução deações mais complexas.218Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011


O objetivo <strong>do</strong> presente estu<strong>do</strong> foi avaliar o processode implantação da diretriz da descentralização daVisat para as UBS <strong>do</strong> município de Campi<strong>nas</strong>, incorporan<strong>do</strong>-as<strong>à</strong>s ações locais da Visa.Méto<strong>do</strong>Esta pesquisa foi submetida <strong>à</strong> aprovação <strong>do</strong> Comitêde Ética em Pesquisa da Universidade Estadualde Campi<strong>nas</strong>, conforme Parecer nº 066 de 27 demarço de 2007 e CAAE 0142.0.000.146-07 e segueos princípios estabeleci<strong>do</strong>s pela resolução 196/96 <strong>do</strong>Ministério da Saúde.Constitui-se em uma pesquisa avaliativa, de caráterformativo, com equipe de composição mista. Houvea participação de avalia<strong>do</strong>res internos, liga<strong>do</strong>s aoprograma de <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e <strong>à</strong> vigilância <strong>do</strong>município, e avalia<strong>do</strong>res externos <strong>à</strong> universidade. Emreuniões preliminares e orienta<strong>do</strong>ras da pesquisa, osavalia<strong>do</strong>res e os profissionais da Secretaria Municipalde Saúde de Campi<strong>nas</strong> definiram, em conjunto,como seria a abordagem da questão e os critérios deavaliação que seriam utiliza<strong>do</strong>s pelos pesquisa<strong>do</strong>res.Os critérios de avaliação, assim defini<strong>do</strong>s pela equipede avalia<strong>do</strong>res, consideraram quais seriam as ações deVisat desejáveis a serem desenvolvidas pelas equipesdas UBS e este conjunto de ações seria o padrãoouro da avaliação. Procedeu-se <strong>à</strong> avaliação através dacomparação desse conjunto de ações consideradasadequadas pelos avalia<strong>do</strong>res e o que se verificaria narealidade das UBS.Assim, as ações esperadas de vigilância, que seconstituíram em critérios de avaliação, seriam:• Atendimentos <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res acidenta<strong>do</strong>s e<strong>do</strong>entes;• Registro das informações que pudessem indicargravidade e frequência <strong>do</strong>s acidentes, como otipo <strong>do</strong> acidente e a empresa, para investigação;• Identificação de situações que necessitassemintervenção no local de trabalho;• Intervenção no ambiente de trabalho;• Avaliação <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s com a intervenção.A partir desses critérios mais gerais, foramconstruí<strong>do</strong>s indica<strong>do</strong>res de avaliação que ajudarama definir o quanto as ações implementadas aproximaram-seou afastaram-se das diretrizes da descentralização(WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK,2004; SILVA, 2005).O intuito foi avaliar o quanto as UBS reconhecemos acidentes e as <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> trabalho comoproblema relevante que merece ser registra<strong>do</strong> emseus instrumentos de vigilância e como agem sobreeles. Utilizamos como indica<strong>do</strong>res o númerode acidentes e <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> trabalho registra<strong>do</strong>na unidade de <strong>saúde</strong>; os percentuais de registrosque permitiam identificar gravidade e frequência<strong>do</strong>s acidentes e, também, os percentuais dessestrabalha<strong>do</strong>res segun<strong>do</strong> o seu vínculo formal ouinformal com o merca<strong>do</strong> de trabalho. Escolhemoscategorizar o atendimento <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r segun<strong>do</strong>o vínculo com o merca<strong>do</strong> de trabalho em função<strong>do</strong> crescimento <strong>do</strong> número de trabalha<strong>do</strong>res informaisna economia brasileira. Procuramos tambémverificar se as <strong>unidades</strong> desencadearam ou realizaramações de Visat no local de trabalho a partir <strong>do</strong>sproblemas de <strong>saúde</strong> relaciona<strong>do</strong>s ao trabalho, bemcomo se essas intervenções provocaram mudançasno processo de trabalho e no meio ambiente.A equipe de avalia<strong>do</strong>res constituída para a pesquisaenvolveu gestores e trabalha<strong>do</strong>res da Covisa,responsável pela coordenação <strong>do</strong> Sistema de Vigilânciaem Saúde no município; <strong>do</strong> Cerest, que coordenaas ações de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r em Campi<strong>nas</strong>; e dasequipes distritais de Visa, responsáveis por todasas ações de Visa na área <strong>do</strong> distrito de <strong>saúde</strong>, inclusiveapoio técnico <strong>à</strong>s UBS.A coleta de da<strong>do</strong>s foi feita em 2007 nos 49 Centrosde Saúde existentes <strong>à</strong> época, toman<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s<strong>do</strong> ano de 2006, com a finalidade de verificar a efetivaçãoda descentralização da Visat nesse município(WORTHEN; SANDERS; FITZPATRICK, 2004;SILVA, 2005).Os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, seguin<strong>do</strong> as definições decritérios e padrões de julgamento anteriormente defini<strong>do</strong>s,foram apresenta<strong>do</strong>s novamente para apreciação<strong>do</strong> grupo de avalia<strong>do</strong>res, desta vez amplia<strong>do</strong> paraos diferentes grupos de interessa<strong>do</strong>s e implica<strong>do</strong>s daSecretaria de Saúde e da universidade. O intuitoneste ponto da avaliação era o de que a avaliaçãopudesse ser utilizada pela gestão para implementaçãode medidas e correção de rumos.Foram analisa<strong>do</strong>s os <strong>do</strong>cumentos produzi<strong>do</strong>spor gestores e fóruns colegia<strong>do</strong>s de diferentes níveisde gestão da Secretaria de Saúde de Campi<strong>nas</strong>,relatórios de seminários e ofici<strong>nas</strong> de trabalho ede conferências municipais de <strong>saúde</strong>, no perío<strong>do</strong> de1990 a 2006, relativos <strong>à</strong> Visa e <strong>à</strong> Visat. Identificamosnesses <strong>do</strong>cumentos a declaração explícita da diretrizda descentralização dessas áreas para as UBS,como estratégia de reorganização <strong>do</strong>s serviços e deaproximação das pessoas <strong>à</strong>s quais eles se destinam,na perspectiva da integralidade da <strong>atenção</strong> <strong>à</strong> <strong>saúde</strong>.Tomamos como base a diretriz de descentralizaçãoexpressa nos <strong>do</strong>cumentos e procuramos verificar asua efetivação <strong>nas</strong> UBS.Para obter esses indica<strong>do</strong>res, tomamos como baseo ano de 2006 e utilizamos o instrumento de registrode da<strong>do</strong>s no nível local <strong>do</strong> Sistema de VigilânciaEpidemiológica (SVE-2) e os registros das CATs, umaRev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011 219


vez que deveriam ser registra<strong>do</strong>s no SVE-2 to<strong>do</strong>sos agravos sujeitos <strong>à</strong> notificação compulsória alémde outros que fossem eleitos pela unidade de <strong>saúde</strong>como relevantes. No caso <strong>do</strong> acidente de trabalho,havia a orientação da Secretaria Municipal de Saúdede utilizar o SVE-2 para o seu registro. Além disso,algumas <strong>unidades</strong> a<strong>do</strong>taram outro livro similar pararegistrarem ape<strong>nas</strong> as CATs.Verificamos se as <strong>unidades</strong> utilizavam o SVE-2 de maneira a registrar os da<strong>do</strong>s relevantes paraque pudesse conhecer a demanda que utiliza seusserviços e identificar sinais de alerta na situaçãoepidemiológica.Não utilizamos o Sistema Nacional de Agravossob Notificação (Sinan), uma vez que, no ano de2006, esses agravos não faziam parte <strong>do</strong> rol de <strong>do</strong>ençase agravos para os quais o Sinan estava prepara<strong>do</strong>para processar.Na mesma visita <strong>à</strong> unidade de <strong>saúde</strong> para o levantamento<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s relata<strong>do</strong>s acima, realizamosentrevistas semiestuturadas com o profissional responsávelpela Visat no Centro de Saúde. As entrevistastiveram como objetivo conhecer o mo<strong>do</strong> comoo Centro de Saúde desencadeava as ações de vigilânciaa partir <strong>do</strong> conhecimento <strong>do</strong>s casos de problemasde <strong>saúde</strong> relaciona<strong>do</strong>s ao trabalho.Perguntamos se preenchiam o <strong>do</strong>cumento previdenciáriodenomina<strong>do</strong> Comunicação de Acidentesde Trabalho e o instrumento epidemiológico, considera<strong>do</strong>o impresso oficial – o livro de registro deagravos notificáveis – SVE-2 ou livro similar, referentesao acidente de trabalho. Perguntamos tambémse eram realizadas intervenções no local detrabalho, se essas possíveis intervenções, segun<strong>do</strong>os entrevista<strong>do</strong>s, foram capazes de provocar mudançasno processo de trabalho desses trabalha<strong>do</strong>resexpostos a algum risco e, ainda, se essas intervençõesforam capazes de provocar mudanças noambiente externo. Fizemos o registro sumário <strong>do</strong>scasos relata<strong>do</strong>s em que houve intervenção.Esse trabalho não se propôs a analisar a opiniãode trabalha<strong>do</strong>res, atores externos ao SUS,particularmente devi<strong>do</strong> <strong>à</strong> dificuldade operacionalpara coletar informações sobre trabalha<strong>do</strong>res <strong>nas</strong>áreas de abrangência das UBS, uma vez que nãohá representação específica de trabalha<strong>do</strong>res externos<strong>à</strong> rede de serviços de <strong>saúde</strong> nos conselhoslocais de <strong>saúde</strong>.Resulta<strong>do</strong>sNo perío<strong>do</strong> de estu<strong>do</strong>, o ano de 2006, foram registra<strong>do</strong>sos da<strong>do</strong>s das 49 UBS existentes no municípiode Campi<strong>nas</strong> naquele momento. Verificamosque, dentre as <strong>unidades</strong> de <strong>saúde</strong>, ape<strong>nas</strong> uma nãopreencheu a CAT, o que foi justifica<strong>do</strong> pela falta <strong>do</strong>profissional médico naquela unidade, fazen<strong>do</strong> comque os trabalha<strong>do</strong>res fossem encaminha<strong>do</strong>s ao Cerestpara essa providência. A significativa maioriadas <strong>unidades</strong> informou que preenchia as CATs.Das 49 UBS, 43 registraram agravos relaciona<strong>do</strong>sao trabalho no SVE-2 ou similar. Seis <strong>unidades</strong>não faziam registro em SVE-2 ou similar; estas <strong>unidades</strong>de <strong>saúde</strong> faziam ape<strong>nas</strong> um registro administrativodas CATs, ou seja, um registro, com caráterburocrático, <strong>do</strong> envio desse <strong>do</strong>cumento <strong>à</strong> equipe deVisa que faria os encaminhamentos seguintes aoCerest e ao INSS.Das 43 <strong>unidades</strong> que faziam algum registroem SVE-2 ou similar, 25 (58,14%) delas não registravamos da<strong>do</strong>s clínicos <strong>do</strong> acidente, contra18 (41,86%) que o faziam. Em ape<strong>nas</strong> 7 <strong>unidades</strong>(14,28%) havia a informação quanto ao local detrabalho ou empresa emprega<strong>do</strong>ra desses trabalha<strong>do</strong>resque sofreram acidentes e em 36 <strong>unidades</strong> de<strong>saúde</strong> (83,72%) não havia o registro da informaçãorelativa ao local de trabalho.Foram registra<strong>do</strong>s <strong>nas</strong> UBS de Campi<strong>nas</strong>, em2006, um total de 12.853 agravos <strong>à</strong> <strong>saúde</strong>, sen<strong>do</strong>aqueles de notificação compulsória no Esta<strong>do</strong> deSão Paulo e no município de Campi<strong>nas</strong> e tambémoutros agravos que as <strong>unidades</strong> de <strong>saúde</strong> elegeramcomo relevantes. Deste total, foram registra<strong>do</strong>s1.420 eventos relaciona<strong>do</strong>s <strong>à</strong> <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r,representan<strong>do</strong> 11,05% <strong>do</strong> total <strong>do</strong>s registros no perío<strong>do</strong>investiga<strong>do</strong>.A média (desvio padrão) <strong>do</strong>s registros de agravos<strong>à</strong> <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r foi de 28,98 (28,55) casos porUBS no ano, a mediana foi de 22. Os acidentes <strong>do</strong> trabalhorepresentaram 96% dessas notificações e as <strong>do</strong>ençasrelacionadas ao trabalho, ape<strong>nas</strong> 4%. O vínculode trabalho era formal para 1.385 casos e ape<strong>nas</strong> 3eram informais. Não foi possível obter informação sobreo tipo de vínculo com o merca<strong>do</strong> de trabalho para32 registros (Tabela 1).Em 10 <strong>unidades</strong> <strong>básicas</strong> de <strong>saúde</strong> (20,4%), houverelato de visitas e/ou intervenção nos locais de trabalho.Já em 39 <strong>unidades</strong> (79,6%) não houve quaisquerrelatos de visitas ou intervenções. De acor<strong>do</strong> com aopinião <strong>do</strong>s entrevista<strong>do</strong>s, das intervenções relatadas,4 provocaram mudanças no processo de trabalho,contra uma que não produziu mudança e cincocom informação ignorada. A repercussão das mesmas10 intervenções sobre o ambiente externo foi relatadapara 4. Duas intervenções foram consideradas improdutivase não foi possível obter informação sobre as 4restantes (Tabela 2).220Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011


Tabela 1 Agravos de <strong>saúde</strong> e seus vínculos com o trabalho atendi<strong>do</strong>s <strong>nas</strong> Unidades Básicas de Saúde deCampi<strong>nas</strong>, SP, 2006Trabalho formalProblema <strong>saúde</strong> Sim Não Ignora<strong>do</strong> Total %Acidente 1.328 3 32 1.363 96Doença 57 0 0 57 4Total 1.385 3 32 1.420 100Fonte: Livro de registros epidemiológicos (SVE-2) das UBSTabela 2 Intervenções e influência de ações feitas por Unidades Básicas de Saúde que notificaram acidentes<strong>do</strong> trabalho em Campi<strong>nas</strong>, SP, 2006Ações n %Realizou intervençãosim 10 20,4não 39 79,6Mu<strong>do</strong>u processo de trabalhosim 4 8,2não 40 81,6ignora<strong>do</strong> 5 10,2Mu<strong>do</strong>u ambiente externosim 4 8,2não 41 83,7ignora<strong>do</strong> 4 8,2Total 49 100,0Fonte: entrevistas <strong>nas</strong> UBSDiscussãoEm razão da natureza e da complexidade <strong>do</strong> objetoa ser estuda<strong>do</strong>, pareceu-nos adequada a utilizaçãoda triangulação de méto<strong>do</strong>s proposta por Minayo,que possibilita uma abordagem múltipla e abrangentepela combinação de diferentes elementos: “a presença<strong>do</strong> avalia<strong>do</strong>r externo”, compon<strong>do</strong> com indivíduosque trabalham no programa uma equipe mistade avaliação, “as abordagens quantitativas e qualitativase, de forma relevante, a análise <strong>do</strong> contexto,da história, das relações, das representações e aparticipação”, permitin<strong>do</strong> melhor compreensão dasdiversas faces da realidade (MINAYO, 2006, p. 28).Assim, utilizamos a triangulação de várias abordagenspara apreensão da realidade: a combinação deelementos quantitativos para a construção de indica<strong>do</strong>res,qualitativos e, ainda, o envolvimento de diferentesgrupos de implica<strong>do</strong>s, como gestores e trabalha<strong>do</strong>resda Covisa, <strong>do</strong> Cerest, das equipes distritaisde Visa e das <strong>unidades</strong> de <strong>saúde</strong>, permitin<strong>do</strong> captardiversas visões e aspectos da descentralização da Visatpara as UBS no município. Como é tarefa <strong>do</strong> processoavaliativo, os presentes resulta<strong>do</strong>s iluminam aquestão estudada e oferecem ao gestor material relevantepara o aprofundamento de ações e a correção derumos que seja necessária.Neste senti<strong>do</strong>, verificamos na pesquisa avaliativaempreendida que o atendimento a trabalha<strong>do</strong>res quesofreram acidente de trabalho vem sen<strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>por meio de cuida<strong>do</strong>s médicos e de enfermagem <strong>nas</strong>UBS, incluin<strong>do</strong> o preenchimento da CAT e seu encaminhamento<strong>à</strong> Visa, ao Cerest e ao INSS, em consonânciacom as orientações da Secretaria Municipalde Saúde (CAMPINAS, 2006a).Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011 221


A partir da visita <strong>à</strong>s UBS e <strong>do</strong> contato com os responsáveispela <strong>atenção</strong> aos trabalha<strong>do</strong>res, pudemosnotar que os funcionários das <strong>unidades</strong> referiram ocuida<strong>do</strong> em cumprir a burocracia no preenchimentodesse <strong>do</strong>cumento, uma vez que ele representa implicaçõeslegais e previdenciárias para o trabalha<strong>do</strong>r<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> formal, conforme apontavam <strong>do</strong>cumentosda Secretaria Municipal de Saúde (CAMPINAS,2006a; b; c) e os autores Cordeiro et al. (2005) eWünsch-Filho (1999).Constatamos, em resumo, que as <strong>unidades</strong> nãofaziam o registro <strong>do</strong> acidente ou da <strong>do</strong>ença apresenta<strong>do</strong>spelo trabalha<strong>do</strong>r de maneira a registrar da<strong>do</strong>sde interesse epidemiológico. A constatação da baixaqualidade da informação epidemiológica acerca <strong>do</strong>sacidentes de trabalho <strong>nas</strong> UBS é coerente com a afirmaçãode Medeiros (2001) de que houve uma piorana qualidade da informação a respeito <strong>do</strong>s acidentesde trabalho após a descentralização para as UBS.A baixa média de atendimentos ao longo <strong>do</strong> anode 2006, ou seja, menos de um atendimento por semana,sugere que não há uma sobrecarga de atendimentosdessa natureza <strong>nas</strong> UBS.Podemos dizer que, de acor<strong>do</strong> com esses da<strong>do</strong>sobti<strong>do</strong>s na pesquisa, os acidentes de trabalho (96%das notificações) têm si<strong>do</strong> mais identifica<strong>do</strong>s porparte das <strong>unidades</strong> <strong>do</strong> que as <strong>do</strong>enças <strong>do</strong> trabalho(ape<strong>nas</strong> 4% <strong>do</strong> total das notificações). As pessoascom <strong>do</strong>enças poderiam ser atendidas, sem, contu<strong>do</strong>,terem seu diagnóstico relaciona<strong>do</strong> ao trabalho,o que levaria <strong>à</strong> subnotificação dessas <strong>do</strong>enças. Damesma forma, em um estu<strong>do</strong> sobre os acidentes detrabalho no Brasil, utilizan<strong>do</strong> os da<strong>do</strong>s <strong>do</strong> INSS apartir das CATs – da<strong>do</strong>s, portanto, referentes a trabalha<strong>do</strong>res<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> formal – no perío<strong>do</strong> de 1970 a1995, Wünsch-Filho (1999) verificou que as <strong>do</strong>ençasprofissionais respondiam por menos de 1% a cadaano da série histórica e que os acidentes de trabalhosignificam praticamente a totalidade <strong>do</strong>s registros.Observamos que ape<strong>nas</strong> o trabalha<strong>do</strong>r <strong>do</strong> merca<strong>do</strong>formal teve o registro <strong>do</strong> seu acidente ou <strong>do</strong>ença <strong>do</strong>trabalho feito sistematicamente na UBS. O trabalha<strong>do</strong>r<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> informal, como grupo social, estava<strong>à</strong> margem desses serviços de <strong>saúde</strong> no que se refere <strong>à</strong>identificação e ao registro <strong>do</strong> agravo <strong>à</strong> sua <strong>saúde</strong> comorelaciona<strong>do</strong> ao trabalho enquanto forma de indicarnecessidades e possibilidades de intervenção sobreos riscos a que esses trabalha<strong>do</strong>res estão expostosnos ambientes de trabalho. Esses trabalha<strong>do</strong>res foramatendi<strong>do</strong>s com queixas agudas, mas não tiveram o seuproblema registra<strong>do</strong> e conduzi<strong>do</strong> como algo relaciona<strong>do</strong>ao trabalho e que necessitasse de uma intervenção<strong>do</strong> setor <strong>saúde</strong>. Conforme aponta Cecílio (2001),a superação da não integralidade a grupos específicossó poderá acontecer se ela for captada na sua singularidade,ou seja, no espaço individual da prestação <strong>do</strong>cuida<strong>do</strong>, no encontro <strong>do</strong> usuário – esse trabalha<strong>do</strong>r<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> informal – com o profissional da unidadede <strong>saúde</strong> e para que este possa, então, reconhecê-locomo porta<strong>do</strong>r de necessidades de <strong>saúde</strong>, tambémsingulares. No merca<strong>do</strong> informal, devem estar presentesriscos e incidências ainda maiores <strong>do</strong> que nomerca<strong>do</strong> formal, portanto, a Visat deve voltar seu focopara esse segmento <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res (WÜNSCH--FILHO, 1999). Acreditamos que a “preferência” <strong>do</strong>registro <strong>do</strong>s eventos ocorri<strong>do</strong>s com o trabalha<strong>do</strong>r<strong>do</strong> merca<strong>do</strong> formal se deva <strong>à</strong> exigência burocrática daabertura da CAT para eles e também <strong>à</strong> desvalorização<strong>do</strong> registro epidemiológico <strong>do</strong> acidente de trabalho.As intervenções nos ambientes de trabalho ocorridasa partir da identificação da ocorrência de acidentesde trabalho disseram respeito a orientaçõespara mudanças de funções no trabalho e realizaçãode ginástica postural, realização de exames periódicos,organização e limpeza <strong>do</strong> ambiente de trabalhoe interdição de equipamento.Podemos perceber que houve dificuldade paraque a equipe da <strong>atenção</strong> primária desencadeasseações de vigilância da <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r a partirda clínica que realizam. Ou seja, os trabalha<strong>do</strong>ressão atendi<strong>do</strong>s e a abordagem clínica não se transformaem ações de vigilância, limitan<strong>do</strong> a compreensão<strong>do</strong> problema e as possibilidades de oferta de ações de<strong>saúde</strong> mais resolutivas.Medeiros (2001) relata que, com a descentralização<strong>do</strong> atendimento de acidentes de trabalho para asUBS, houve piora na qualidade das intervenções coletivas.Os da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s por essa pesquisa não permitemanalisar essa afirmação, especialmente pelafalta de possibilidade de comparação com o perío<strong>do</strong>anterior. Não é possível afirmar que todas as intervençõesdeveriam necessariamente provocar mudançasno ambiente externo, pois não há informaçãosuficiente para essa análise. Podemos estar diantede uma limitação na abordagem <strong>do</strong>s ambientes detrabalho, pois, de acor<strong>do</strong> com os apontamentos deMinayo-Gomez e Lacaz (2005), o modelo tradicionalmentedesenvolvi<strong>do</strong> de <strong>atenção</strong> <strong>à</strong> <strong>saúde</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>resnão incorpora componentes da questãoambiental, altamente relevantes na atualidade para asociedade e que ainda carece de protagonismos <strong>do</strong>strabalha<strong>do</strong>res tanto nos locais de trabalho, quantonos espaços de exercício de cidadania.Esse quadro nos permitiu dizer que os Centros deSaúde não realizavam e também não desencadeavamou solicitavam a intervenção de outros níveis – Visa ouCerest – basea<strong>do</strong>s em da<strong>do</strong>s epidemiológicos, seja porquenão os registravam, não os buscavam ou não ostinham disponíveis. Quan<strong>do</strong> ocorreu alguma intervenção,ela foi baseada na percepção <strong>do</strong>s problemas pelos222Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011


profissionais da unidade, seja pela vulnerabilidade socialem alguns poucos casos ou, ainda, por demanda<strong>do</strong> Cerest ou da Visa. Esta situação nos levou <strong>à</strong> necessidadede discutir a utilidade <strong>do</strong>s sistemas formais deinformação para desencadear as ações necessárias <strong>à</strong>diminuição ou <strong>à</strong> eliminação de fatores nocivos <strong>à</strong> <strong>saúde</strong>.Sob esse ponto de vista, talvez fosse mais eficaz apresença de especialistas <strong>do</strong> Cerest e da Visa em visitaperiódica e diálogo mais frequente com as UBS sobreesse campo de atuação.Os registros tradicionais da vigilância epidemiológica,como o SVE-2, devem se prestar a favorecera identificação de situações de alerta. A definiçãode temas prioritários a serem trabalha<strong>do</strong>s ede ações a serem desencadeadas poderia ser feitaem espaços coletivos, consideran<strong>do</strong> os diferentesconhecimentos trazi<strong>do</strong>s para o grupo, entre eles,a informação epidemiológica gerada no serviço de<strong>saúde</strong> e o conhecimento específico <strong>do</strong> Cerest e daVisa (CAMPOS, 2003).Nossos da<strong>do</strong>s permitiram identificar que os profissionaisreconhecem as ações de Visat como deresponsabilidade das UBS, o que reforça o acerto<strong>do</strong> esforço de descentralização que vem sen<strong>do</strong> implementa<strong>do</strong>.Identificamos, porém, necessidades deaprimoramento dessas ações, com o estabelecimentode fluxos, roti<strong>nas</strong> e procedimentos, capacitação e envolvimentodas equipes, aproximação das equipes deVisa, <strong>do</strong> Cerest, da Covisa e <strong>do</strong>s Centros de Saúde,organização e disseminação da informação e reorganizaçãodas ações de intervenção.As diretrizes da Secretaria Municipal de Saúdeapontaram na direção da descentralização daVisa, engloban<strong>do</strong> a Visat para as UBS, e não colocaramlimites para isso. Portanto, era possível queas <strong>unidades</strong> realizassem essas ações plenamente,usan<strong>do</strong> de criatividade e autonomia para interpretarlocalmente a diretriz da descentralização.Assim sen<strong>do</strong>, podiam propor ou realizar mecanismose processos de trabalho locais para atendermelhor <strong>à</strong>s necessidades da população de suaárea de abrangência, buscan<strong>do</strong> a integralidade daação, articulan<strong>do</strong> ações de promoção, prevenção e aclínica ampliada, conforme apontam Merhy (1997)e Campos (2003).Os Centros de Saúde poderiam ser considera<strong>do</strong>scomo “os olhos” <strong>do</strong> sistema de Vigilância da Saúde<strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r na medida em que, conhece<strong>do</strong>res dasua realidade local, <strong>do</strong> seu território, conseguemidentificar problemas e desencadear ações diretamentepelas suas equipes ou acionar outros níveis<strong>do</strong> sistema – as Visas ou Cerests – para o desenvolvimentodessas ações. Podemos dizer que a primeiraetapa das ações de Visa – o conhecimento de um problema– pode ser cumprida pelo Centro de Saúde.Na sequência, as outras ações, como a notificação, oregistro, as medidas de intervenção e controle, a avaliaçãoe a divulgação das informações, poderão serrealizadas direta e integralmente pela unidade <strong>básicas</strong>e assim for defini<strong>do</strong> e pactua<strong>do</strong> e se for providaa estrutura necessária para viabilizá-las. A <strong>saúde</strong> <strong>do</strong>trabalha<strong>do</strong>r deve estar presente em to<strong>do</strong>s os níveis<strong>do</strong> SUS, de forma integral e hierarquizada.Contu<strong>do</strong>, não foi essa realidade que verificamos. Oque observamos foi uma atuação parcial das <strong>unidades</strong>.Quan<strong>do</strong> se analisa a forma como foi implantada adescentralização <strong>do</strong> atendimento <strong>do</strong>s acidentes detrabalho para as UBS, verificamos uma diferençasignificativa <strong>do</strong> que se pretendeu com a descentralizaçãoda vigilância: houve produção de manuais,estabelecimento de fluxos e competências, treinamentose, sobretu<strong>do</strong>, acompanhamento por parteda equipe <strong>do</strong> Cerest de todas as equipes de Visa eUBS. Embora com problemas na sua execução, nãohá dúvida quanto <strong>à</strong> responsabilidade <strong>do</strong> Centro deSaúde em atender e dar os encaminhamentos paraesses trabalha<strong>do</strong>res. No caso de desencadear outrasações de vigilância para além da notificação, isso jánão ficou claro.Concluímos que a declaração de uma diretriz nãofoi suficiente para que ela fosse implantada. É necessárioque a declaração seja seguida de medidas parasua implantação e que esta tenha acompanhamento(MERHY, 1997), o que parece não ter aconteci<strong>do</strong>.Entendemos que a capacitação e os acor<strong>do</strong>s para seestabelecer as responsabilidades, os papéis e os fluxos,na linha da educação permanente, podem serum meio eficaz de qualificação dessas equipes paraassumirem a vigilância da <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r.Vemos, também, uma cisão entre assistência evigilância. Não seria o atendimento ao trabalha<strong>do</strong>ruma primeira etapa <strong>do</strong> processo de vigilância sobrea sua <strong>saúde</strong>? Por que, então, essa primeira etapanão progride para as seguintes, que dariam conta deprovocar mudanças naquela realidade <strong>do</strong>s ambientesde trabalho?Vários autores (MINAYO-GOMEZ; THEDIM--COSTA, 1997; TEIXEIRA; PAIM; VILASBOAS, 2002;MINAYO-GOMEZ; LACAZ, 2005) indicam essa direção:Assistência e Vigilância deveriam andar juntas!À época da descentralização <strong>do</strong> atendimento <strong>do</strong>sacidentes de trabalho para as UBS, já era apontadacomo necessária a descentralização da intervençãoem ambientes de trabalho, segun<strong>do</strong> Medeiros(2001). A dissociação das práticas de <strong>saúde</strong> públicae da assistência presente nos serviços de <strong>saúde</strong> nãoatende ao princípio da integralidade na <strong>atenção</strong>ampliada <strong>à</strong>s necessidades de <strong>saúde</strong> <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res(MATTOS, 2001).Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011 223


O que prevaleceu foi a oferta de ações com práticasfragmentadas, cristalizadas e organizadas de acor<strong>do</strong>com as roti<strong>nas</strong> tradicionais de cada serviço, sembuscar a construção de redes efetivas de serviços quepossam dar, em conjunto, respostas mais adequadas<strong>à</strong>s necessidades de <strong>saúde</strong> (CECÍLIO, 2001).Essa fragmentação artificial que verificamos entreassistência e vigilância pode ter si<strong>do</strong> reforçada pelacristalização de concepções existentes, presentes <strong>à</strong>época da instituição <strong>do</strong>s centros de referência de <strong>saúde</strong><strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r no país, que estabelecia para essescentros a atribuição de executar as ações da vigilânciada <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r e, desta forma, podem terdesobriga<strong>do</strong> os Centros de Saúde da atuação de <strong>saúde</strong>coletiva e contribuí<strong>do</strong> para o distanciamento <strong>do</strong>sCerest em relação <strong>à</strong> rede básica de <strong>saúde</strong> (MINAYO--GOMEZ; LACAZ, 2005).A integração das diferentes áreas da Vigilância eda Assistência só se dará através <strong>do</strong>s serviços que sepropõem a atuarem efetivamente, pois o que de fatopromove a integração não são as estruturas organizacionais,mas os problemas reais. Os exemplos dascontaminações ambientais em postos de combustíveis,empresas químicas, depósitos de resíduos, nosquais trabalha<strong>do</strong>res, vizinhos e frequenta<strong>do</strong>res sãosubmeti<strong>do</strong>s a diferentes rotas de exposição a produtosquímicos, seja pelo contato direto com essas substânciasou ainda pelo solo, pelo ar ou pela água, mostram-nosa necessidade da construção de processosde intervenção articula<strong>do</strong>s entre as áreas de assistência<strong>à</strong> <strong>saúde</strong> e de vigilância epidemiológica, sanitária eambiental destinadas a trabalha<strong>do</strong>res e outros gruposda população envolvida.O grau da descentralização que se pode atingirdeve ser pactua<strong>do</strong> respeitan<strong>do</strong>-se as condições locais,sem perder a imagem da atuação ideal de uma UBS,que deveria realizar tu<strong>do</strong> o que fosse possível na suaárea de abrangência. Desta forma, a busca da integralidadeampliada das ações em rede é um ideal que precisaser construí<strong>do</strong>, conforme nos falam Cecílio (2001)e Mattos (2001).To<strong>do</strong> o processo de descentralização das açõesde <strong>saúde</strong> necessita de componentes estruturais, degestão <strong>do</strong>s processos de trabalho e de avaliação<strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s. Ela tem significa<strong>do</strong> umaferramenta potente para a organização da <strong>atenção</strong>integral, na medida em que pode, na capilarizaçãodas ações, perceber as necessidades de <strong>saúde</strong>,principalmente <strong>do</strong>s grupos mais vulneráveis.O município de Campi<strong>nas</strong>, no seu esforço demais de três décadas de construção <strong>do</strong> Sistema deSaúde, desenvolveu-se ainda mais com a implantação<strong>do</strong> SUS e persegue a consolidação <strong>do</strong>s seus princípiosnortea<strong>do</strong>res. Porém, nem sempre as políticassociais conseguem ser implantadas de forma linear.Sempre há contingências.Considerações finaisO processo de avaliação formativa e participativaempreendi<strong>do</strong> <strong>nas</strong> 49 UBS <strong>do</strong> município de Campi<strong>nas</strong>,<strong>nas</strong> <strong>unidades</strong> de Visa e nos Cerests no ano de 2006,ainda que sem um componente fundamental, queseria a participação <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res na avaliação,mostrou-se com muitas possibilidades de descortinara complexidade das ações de <strong>saúde</strong> comono caso da Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r.No sistema de <strong>saúde</strong> de Campi<strong>nas</strong>, o processo dedescentralização da Visat ocorreu de forma parcialpara as UBS, pois as questões clínicas, via de regra,não se transformaram em ações de vigilância.Observamos evidências de aspectos de descentralizaçãoefetiva de algumas ações, como o atendimento<strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res nos Centros de Saúde,principalmente quan<strong>do</strong> se acidentam, indican<strong>do</strong>o acerto da diretriz da descentralização <strong>do</strong> atendimento<strong>do</strong>s acidentes de trabalho que não necessitamde atendimento hospitalar para a rede de<strong>atenção</strong> primária pela facilidade de acesso. Porém,quan<strong>do</strong> se tratou de <strong>do</strong>enças relacionadas ao trabalho,o atendimento ocorreu em número menor e/ounão se buscou a relação causal com o trabalho. Estefato pode levar <strong>à</strong> subnotificação das <strong>do</strong>enças e,ainda, apontar para a dificuldade de se incluir, nocotidiano <strong>do</strong>s profissionais, o trabalho como um<strong>do</strong>s determinantes da <strong>do</strong>ença. A preocupação como atendimento <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res acidenta<strong>do</strong>s ou<strong>do</strong>entes foi maior em relação aos cuida<strong>do</strong>s ofereci<strong>do</strong>s<strong>do</strong> que em relação a seu registro. O registro <strong>do</strong>sagravos foi realiza<strong>do</strong> de maneira burocrática, semprivilegiar o caráter epidemiológico que favorecesseas ações de intervenção. Estas, quan<strong>do</strong> aconteceram,foram desencadeadas pela sensibilidade <strong>do</strong>sprofissionais de <strong>saúde</strong> ao problema e não motivadaspelo registro. A análise da situação de <strong>saúde</strong> poruma unidade básica poderia ser iniciada a partir <strong>do</strong>sda<strong>do</strong>s gera<strong>do</strong>s por ela própria e ser motiva<strong>do</strong>ra deações de intervenção nos problemas identifica<strong>do</strong>s,o que definitivamente a aproximaria das necessidadesadvindas <strong>do</strong> território.É necessário o aprofundamento de questões relativasao sistema de informação, aos fluxos entreos diferentes componentes <strong>do</strong> sistema de <strong>saúde</strong>, <strong>à</strong>sua utilidade e ligação com os mecanismos de identificaçãoe eleição de prioridades para atuação e intervençãonos locais de trabalho por parte da UBS,com o apoio <strong>do</strong>s serviços de vigilância e de <strong>saúde</strong> <strong>do</strong>224Rev. bras. Saúde ocup., São Paulo, 36 (124): 216-226, 2011


trabalha<strong>do</strong>r, e, principalmente, <strong>à</strong> clareza <strong>do</strong>s papéis<strong>do</strong>s diferentes níveis <strong>do</strong> Sistema Municipal na Visat.A outra questão que merece aprofundamento dizrespeito ao trabalha<strong>do</strong>r sem vínculo formal com omerca<strong>do</strong> de trabalho. O atendimento clínico <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>rinformal ocorreu <strong>nas</strong> <strong>unidades</strong>. Contu<strong>do</strong>,esse grupo não recebeu ação específica de vigilânciapara seu problema, o que contraria os princípios deuniversalidade, equidade e integralidade da <strong>atenção</strong>,que se concretizam na <strong>atenção</strong> <strong>à</strong>s necessidades <strong>do</strong>sindivíduos. E, ainda que não haja formulações teóricasque abordem a questão <strong>do</strong>s trabalha<strong>do</strong>res <strong>do</strong>merca<strong>do</strong> informal, o problema segue baten<strong>do</strong> <strong>à</strong> portadas Unidades de Saúde e não pode ficar sem resposta.Há experiências, ainda que isoladas, de abordagemdesses trabalha<strong>do</strong>res. Elas precisam ser incentivadas,desenvolvidas e discutidas amplamente. E,talvez, a partir da criatividade presente nos gruposque se dispõem a trabalhar com esse assunto complexo,surjam elementos que auxiliem no avançopara a solução desta questão relevante, que é a formulaçãode políticas específicas e o necessário acolhimento<strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r informal pelo sistema de<strong>saúde</strong>. Esse tema motivou a continuidade <strong>do</strong> estu<strong>do</strong>.Contribuição de autoriaBalista, S. R. R.: realizou o trabalho de pesquisa como parte <strong>do</strong> programa de pós-graduação, incluin<strong>do</strong> aelaboração <strong>do</strong> projeto, o trabalho de campo, a análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s, a redação da dissertação, <strong>do</strong> artigo e a revisão<strong>do</strong> original envia<strong>do</strong> para publicação. Santiago, S. M.: co-orientou o trabalho de pesquisa, em especial noque se refere <strong>à</strong>s meto<strong>do</strong>logias qualitativas. Contribuiu em todas as fases <strong>do</strong> projeto, especialmente na fase deelaboração e na análise das informações obtidas. A redação da dissertação e <strong>do</strong> artigo também contou coma colaboração da coautora. Corrêa Filho, H. R.: orientou o trabalho de pesquisa incluin<strong>do</strong> o delineamento<strong>do</strong> projeto, a submissão ao CEP-Unicamp e o planejamento da execução em campo. Compartilhou a buscade co-orientação qualitativa pela Professora Silvia Santiago, apoiou o desenvolvimento de contatos parao trabalho de campo, participou da análise <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s primários, da redação da dissertação, <strong>do</strong> artigo e darevisão <strong>do</strong> original envia<strong>do</strong> para publicação.ReferênciasABRAHÃO, C. E. C. Municipalização, descentralizaçãoe vigilância <strong>à</strong> <strong>saúde</strong> em Campi<strong>nas</strong>, 1988 - 1994.Disponível em: . Acesso em: 05de out. 2007.BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 2.437/GM, de7 de dezembro de 2005. Dispõe sobre a ampliação e ofortalecimento da Rede Nacional de Atenção Integral<strong>à</strong> Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r – Re<strong>nas</strong>t no Sistema Únicode Saúde - SUS. Disponível em: . Acesso em: 24 set. 2011.CAMPINAS. Câmara Municipal. Lei nº 6.764 de13 de novembro de 1991. Autoriza o Executivo aobservar, no Município de Campi<strong>nas</strong>, a legislaçãofederal e estadual concernentes <strong>à</strong>s ações devigilância e fiscalização exercidas na promoção,proteção e recuperação da <strong>saúde</strong> e preservação<strong>do</strong> meio ambiente, e dá outras providências.Diário Oficial Municipal, 14 nov. 1991. p. 2-3.Campi<strong>nas</strong>, 1991.______. Prefeitura Municipal de Campi<strong>nas</strong>. Secretariada Saúde. Programa de Saúde <strong>do</strong> Trabalha<strong>do</strong>r. Síntesedas ações em <strong>saúde</strong> <strong>do</strong> trabalha<strong>do</strong>r desenvolvidaspela Secretaria Municipal de Saúde de Campi<strong>nas</strong>.Campi<strong>nas</strong>, 1997.______. Prefeitura Municipal de Campi<strong>nas</strong>. Secretariada Saúde. Centro de Referência de Saúde <strong>do</strong>Trabalha<strong>do</strong>r. 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