O trabalho infantil doméstico nas cidades de Belém, Belo Horizonte ...
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ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO168O <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico<strong>nas</strong> <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Belém, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>e Recife: um diagnóstico rápidoCONSOLIDAÇÃO 3 CIDADESLumen Instituto <strong>de</strong> Pesquisa/FUMARC/PUC MINASICA - Instituto da Criança e do Adolescente/PUC MINASEscritório Regional para a América Latina e o CaribePrograma Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil - IPEC - América do SulProjeto Subregional para a Prevenção e Eliminação do Trabalho Infantil Doméstico em Casas <strong>de</strong> Terceiros
ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHOEscritório Regional para a América Latina e o Caribe168O <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico<strong>nas</strong> <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Belém, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>e Recife: um diagnóstico rápidoCONSOLIDADO 3 CIDADESLumen Instituto <strong>de</strong> Pesquisa/FUMARC/PUC MINASICA – Instituto da Criança e do Adolescente/PUC MINASIPEC/TIDFinanciado pelo Departamento <strong>de</strong> Trabalho dos EUA
BELÉM, BELO HORIZONTE E RECIFEBRASILO <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico<strong>nas</strong> <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Belém, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>e Recife: um diagnóstico rápidoCONSOLIDADO 3 CIDADESCodificação, digitação e consolidação dasbases <strong>de</strong> dados das três pesquisasrealizadas no Brasil (Belém, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>e Recife) pela Metodologia RAS TID nosmeses <strong>de</strong> novembro e <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 2001.BRASÍLIAMAIO DE 2003
Copyright © Organização Internacional do Trabalho/Lumen Instituto <strong>de</strong> Pesquisa/FUMARC/PUC MINAS- 2002As publicações da Organização Internacional do Trabalho gozam da proteção dos direitos autorais sob oProtocolo 2 da Convenção Universal do Direito do Autor. Breves extratos <strong>de</strong>ssas publicações po<strong>de</strong>m,entretanto, ser reproduzidas sem autorização, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que mencionada a fonte. Para obter os direitos <strong>de</strong>reprodução ou <strong>de</strong> tradução, as solicitações <strong>de</strong>vem ser dirigidas ao Serviço <strong>de</strong> Publicações (Direitos doautor e Licenças), International Labour Office, CH-1211 Geneva 22, Switzerland. Os pedidos serãobem-vindos.Organização Internacional do Trabalho/Haas, Francisco(O Trabalho Infantil Doméstico <strong>nas</strong> <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Belém, Recife e <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>: um diagnóstico rápido)(Brasília, DF), OIT, 2003total <strong>de</strong> pági<strong>nas</strong> (274 pgs.)No. <strong>de</strong> Referência: 168ISBN: 92-2-813758-4.As <strong>de</strong>signações empregadas <strong>nas</strong> publicações da OIT, segundo a praxe adotada pelas Nações Unidas, e aapresentação <strong>de</strong> matéria nelas incluídas não significam, da parte da Organização Internacional do Trabalho,qualquer juízo com referência à situação jurídica <strong>de</strong> qualquer país ou território citado ou <strong>de</strong> suasautorida<strong>de</strong>s, ou à <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong> suas fronteiras.A responsabilida<strong>de</strong> por opiniões expressas em artigos assinados, estudos e outras contribuições recaiexclusivamente sobre seus autores, e sua publicação não significa endosso da OIT às opiniões aliconstantes.Referências a firmas e produtos comerciais e a processos não implicam qualquer aprovação pelaOrganização Internacional do Trabalho, e o fato <strong>de</strong> não se mencionar uma firma em particular, produtocomercial ou processo não significa qualquer <strong>de</strong>saprovação.As publicações da OIT po<strong>de</strong>m ser obtidas no escritório para o Brasil: Setor <strong>de</strong> Embaixadas Norte, Lote35, Brasília - DF, 70800-400, tel.: (61) 426-0100, no escritorio regional no Perú: Calle Las Flores, 275San Isidro, Lima 27 – Perú 14-124, ou no International Labour Office, CH-1211 - Geneva 22, Switzerland.Catálogos ou listas <strong>de</strong> novas publicações estão disponíveis gratuitamente nos en<strong>de</strong>reços acima, ou por e-mail: brasilia@oitbrasil.org.br, pubvente@ilo.org, oit@oit.org.pe e www.oit.org.pe/ipec/TIDVisite nossa página na Internet: www.ilo.org/publnsImpresso no Brasil
ADVERTÊNCIAO uso <strong>de</strong> um idioma que nem discrimine e nem marque diferenças entre os homens e mulheresé uma das preocupações <strong>de</strong> nossa Organização. Porém, não há acordo entre os lingüistassobre a maneira em fazê-lo em nosso idioma.Desta forma, com o propósito <strong>de</strong> evitar a sobrecarga gráfica que suporia usar em portuguêspara marcar a existência <strong>de</strong> ambos os sexos, nós optamos por usar o masculino genéricoclássico, subenten<strong>de</strong>ndo que todas as menções em tal um gênero sempre representam homense mulheres.
PRÓLOGOO presente documento integra uma série <strong>de</strong> pesquisas e estudos realizados no âmbito do Projeto SubRegional “Prevenção e Eliminação do Trabalho Infantil Doméstico em Casas <strong>de</strong> Terceiros na Américado Sul” , eixo setorial do Programa Internacional <strong>de</strong> Eliminação do Trabalho Infantil da OrganizaçãoInternacional do Trabalho. Com uma duração <strong>de</strong> tres anos (2001-2004), o projeto é financiado peloDepartamento <strong>de</strong> Trabalho dos Estados Unidos.Estes <strong>trabalho</strong>s se incluem no marco da Convenção dos Direitos da Criança (1989), do Convênio 138sobre a Ida<strong>de</strong> Mínima para a Admissão ao Emprego (1973) e do Convênio 182 sobre as piores formas <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> (1999). Respon<strong>de</strong>m à inquietu<strong>de</strong> dos governos do Brasil, Colômbia, Paraguai e Perúdar conta da magnitu<strong>de</strong>, contexto e modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma das mais <strong>de</strong>sconhecidas e intoleráveis formas <strong>de</strong>exploração do trabajo: a do Trabalho Infantil Doméstico.Levantar dados sobre as Trabalhadoras Infantis Domésticas não é uma tarefa fácil. Apesar da <strong>de</strong>dicação<strong>de</strong> muitas organizações na área da infância, as informações à respeito são ainda escassas. Encontra-semuita resistência em estabelecer uma sensibilização da população com essa situação e, também, muitosprocuram negar a existência do problema. Nesse contexto, a aplicação <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 1.485 pesquisas eentrevistas das quais se i<strong>de</strong>ntificaram 1.029 meni<strong>nas</strong>, meninos, adolescentes, famílias <strong>de</strong> origem e comfamílias empregadoras <strong>nas</strong> <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> Belém, <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> e Recife, traz informações valiosas sobreas características socio-econômicas, as condições <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e educação, as necessida<strong>de</strong>s e expectativas<strong>de</strong>rivadas do entorno ao qual reproduz-se uma das mais antigas e disfarçadas práticas <strong>de</strong> discriminação.As investigação sublinham as especifi<strong>cida<strong>de</strong>s</strong> próprias do sexo, ida<strong>de</strong> e raça, colocando em evidência aalta tolerância ao maltrato e à violência em direção às esses meninos e meni<strong>nas</strong>. Apelam um necessário<strong>de</strong>bate com a perspectiva <strong>de</strong> redimensionar e reposicionar o <strong>trabalho</strong> doméstico em sua categoria <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> <strong>de</strong>cente que requer um tratamento digno e produtivo que requer um tratamento digno e emigualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições.Em cada país, esse processo indagador tem sido acompanhado por uma ampla re<strong>de</strong> <strong>de</strong> instituições eorganizações. Os estudos temáticos nacionais sobre os aspectos legislativos, políticas sociais, ofertasinstitucionais, práticas culturais e experiência <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> renda, sintetizados nos documentos dapresente série, constitui importantes recursos para completar a análise <strong>de</strong> todo o espectro e contextualizaras recomendações em direção das ações institucionais a fim <strong>de</strong>, coor<strong>de</strong>nadamente, governos,empregadores e trabalhadores adultos, prover atenção imediata, prevenir e eliminar essa forma <strong>de</strong>exploração da infância.Agra<strong>de</strong>ço através do Fórum Nacional <strong>de</strong> Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil do Brasil, atodas as autorida<strong>de</strong>s, instituições e organizações públicas e privadas que o integram e, finalmente, àequipe do projeto que contribuíram através <strong>de</strong> seus esforços individuais e coletivos, à realização dopresente documento.Agustín Muñoz VergaraDiretor Regional das AméricasLima, maio <strong>de</strong> 2003
EQUIPE TÉCNICA COORDENADORA DO CONSOLIDADO DAS TRÊS CIDADESCoor<strong>de</strong>nação TécnicaFrancisco Haas – Bacharel em Teologia, Licenciatura em Filosofia e Especialista em Filosofia e Mestre em CiênciasSociais/PUC Mi<strong>nas</strong>. Pesquisador do Lumen e Professor <strong>de</strong> Metodologia <strong>de</strong> Pesquisa e Sociologia no Instituto J. Andra<strong>de</strong>.Crédito na elaboração do relatórioDenise Amaral Soares – Bacharel em Ciências Sociais – Fafich – UFMG.Francisco Haas – Bacharel em Teologia, Licenciatura em Filosofia e Especialista em Filosofia e Mestre em CiênciasSociais/PUC Mi<strong>nas</strong>. Pesquisador do Lumen e Professor <strong>de</strong> Metodologia <strong>de</strong> Pesquisa e Sociologia no Instituto J. Andra<strong>de</strong>.PesquisadorasMaria Elizabeth Marques – Mestre em Ciência Política e Doutora em Educação/UFMG. Professora do Departamento<strong>de</strong> Sociologia e do Mestrado Gestão da Cida<strong>de</strong>/PUC Mi<strong>nas</strong>. Coor<strong>de</strong>nadora do Instituto da Criança e do Adolescente/PUC Mi<strong>nas</strong>.Rita <strong>de</strong> Cássia Fazzi – Socióloga, Mestre em Sociologia/UFMG e Doutora em Sociologia/IUPERJ. Professora doDepartamento <strong>de</strong> Sociologia/PUC Mi<strong>nas</strong>. Membro do Instituto da Criança e do Adolescente/PUC Mi<strong>nas</strong>.Planejamento, Processamento, Tratamento <strong>de</strong> DadosCoor<strong>de</strong>naçãoJoab <strong>de</strong> Oliveira Lima – Estatístico, Mestre em Estatística/Ce<strong>de</strong>plar/UFMGPesquisadores auxiliaresLuiz Henrique Pereira da Silva Gama – Bacharel em Ciência da Computação/PUC Mi<strong>nas</strong>Rodrigo Dias – Analista <strong>de</strong> SistemasCoor<strong>de</strong>nação da Tabulação e Crítica dos QuestionáriosSaid Félix CostaTabulação e CríticaRecrutamento externo <strong>de</strong> cinco pessoasEQUIPE TÉCNICA EXECUTORA DA PESQUISA EM BELO HORIZONTE MINAS GERAISEntida<strong>de</strong> executora: INSTITUTO LUMEN /FUMARC/PUC MINASINSTITUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTEPONTIFICIA UNIVERSIDADE CATOLICA DE MINAS GERAISCrédito na Coor<strong>de</strong>nação Técnica da pesquisa e na elaboração do relatórioFrancisco Haas – Bacharel em Teologia, Licenciatura em Filosofia e Especialista em Filosofia e Mestre em CiênciasSociais/PUC Mi<strong>nas</strong>. Pesquisador do Lumen e Professor <strong>de</strong> Metodologia <strong>de</strong> Pesquisa e Sociologia no Instituto J. Andra<strong>de</strong>.Maria Elizabeth Marques – Mestre em Ciência Política e Doutora em Educação/UFMG. Professora do Departamento<strong>de</strong> Sociologia e do Mestrado Gestão da Cida<strong>de</strong>/PUC Mi<strong>nas</strong>. Coor<strong>de</strong>nadora do Instituto da Criança e do Adolescente/PUC Mi<strong>nas</strong>.Rita <strong>de</strong> Cássia Fazzi – Socióloga, Mestre em Sociologia/UFMG e Doutora em Sociologia/IUPERJ. Professora doDepartamento <strong>de</strong> Sociologia/PUC Mi<strong>nas</strong>. Membro do Instituto da Criança e do Adolescente/PUC Mi<strong>nas</strong>.PesquisadoraMaria Ignêz Costa Moreira – Psicóloga, Mestre em Psicologia Social/UFMG e Doutora em Psicologia Social/PUC-SP. Professora do Instituto <strong>de</strong> Psicologia da PUC Mi<strong>nas</strong>. Membro do Instituto da Criança e do Adolescente/PUC Mi<strong>nas</strong>.
Planejamento, Processamento, Tratamento <strong>de</strong> Dados e Análise EstatísticaJoab <strong>de</strong> Oliveira Lima – Estatístico, Mestre em Estatística/Ce<strong>de</strong>plar/UFMGLuiz Henrique Pereira da Silva Gama – Bacharel em Ciência da Computação/PUC Mi<strong>nas</strong>Robson Marcos <strong>de</strong> Alcântara – Analista <strong>de</strong> SistemasRodrigo Dias – Analista <strong>de</strong> SistemasEstagiários da PUC Mi<strong>nas</strong>Glaucinei<strong>de</strong> Porto Alves – Relações InternacionaisEduardo França Lara – FilosofiaGeórgia Regina Jacob <strong>de</strong> Paula – Serviço SocialKarla Gomes Nunes – PsicologiaDarlene Machado Oliveira – PsicologiaPlanejamento <strong>de</strong> Campo e Coor<strong>de</strong>nação da Tabulação e Crítica dos QuestionáriosArthur Miguel Quites <strong>de</strong> Oliveira GilSaid Félix CostaPesquisadores <strong>de</strong> CampoRecrutamento externo <strong>de</strong> 25 pessoasTabulação e CríticaRecrutamento externo <strong>de</strong> cinco pessoasEQUIPE TÉCNICA EXECUTORA DA PESQUISA EM BELÉM DO PARÁEntida<strong>de</strong> executora: CEDECA - EMAÚSEquipe TécnicaMarcel HazeuPolyanna Espíndola FariasMaria Luiza LamarãoDucilene da SilvaSelli RosaRosely MouraEquipe <strong>de</strong> CampoCarmem AntonietaEl<strong>de</strong>nilson da Silva MonteiroElvis RubressonLuciete FurtadoLizandra LobatoManuela dos RemédiosRangel <strong>de</strong> SousaProcessamento dos dadosSandra CarvalhoMarcos Cássio dos Santos
ENTIDADE EXECUTORA: CENDHECENTIDADE FINANCIADORA: OIT – BRASILEquipe TécnicaMarylucia MesquitaRenatto PintoValeria NepomucenoEquipe <strong>de</strong> CampoCoor<strong>de</strong>naçãoGeliane Rodrigues BarachoJailson Pereira ArrudaRosidalva <strong>de</strong> Souza PereiraSupervisão <strong>de</strong> campoRosidalva <strong>de</strong> Souza PereiraMarília Correia N. Basto LimaEntrevistadores(as)Cilene C. Cavalcante, Aparício Torres <strong>de</strong> Siqueira, Miriam Paulino Tavares, Paulo Barbosa da Silva, Edna Ferreira<strong>de</strong> Souza, George Washington Moura Barros, Ariel Dalvo Erick Barbosa Lima, Teresinha Célia Men<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Souza,Rosângela Borges Damascena, Luiz Valter da Silva, Fabiana Carla da Silva Campelo, Flávia Maria Gomes <strong>de</strong>Lima, Clei<strong>de</strong> Maria dos Santos, Aluísio J. da Costa Filho, Maria José dos Santos, Maria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Lins, EvandroBezerra <strong>de</strong> Lima, Miguel Alves Coutinho e Roseane Cristina Pereira da Silva.ChecadoresVerônica Costa Taveira, Al<strong>de</strong>mir Simões da Hora Júnior, Cláudia Maria Torres Carvalho, Claudécio João B.Pedrosa, Geliane Rodrigues Baracho, Ricardo Marcionilo <strong>de</strong> Araújo, Patrícia Freire correia e Zilma NepomucenoCarnaúba.CríticaMaria Gorethe Neves Brito, Domingos Sávio C. Alves e Francisca Alves Albuquerque.InformáticaJailson Pereira Arruda, Mardônio Cavalcante Lima, Cláudia Maria Torres Carvalho, Jairo Azevedo Santiago.Processamento <strong>de</strong> DadosJairo Azevedo Santiago e Remo MutzenbergAnálise dos DadosCristiane Carvalho
SUMÁRIO1. APRESENTAÇÃO1.1 Apresentação Sintética da Instituição111.2 Problemática Nacional do Trabalho Infanto-juvenilDoméstico no Brasil2. JUSTIFICATIVA3. MARCO LEGAL4. CONTEXTO LOCAL4.1 Contextualização Socio<strong>de</strong>mográfica4.2 Política Social1569994.3 Alternativas para Geração <strong>de</strong> Renda: Oferta <strong>de</strong> RecursosFinanceiros às Famílias Pobres4.4 Estudo das Práticas Socioculturais5. METODOLOGIA1112146. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DATRABALHADORA INFANTO-JUVENIL DOMÉSTICA6.1 O Perfil das Trabalhadoras Infanto-juvenis Domésticas6.2 Características da Família1717186.3 Escolarida<strong>de</strong> das Trabalhadoras Infanto-juvenisDomésticas6.4 Condições <strong>de</strong> Trabalho6.5 Saú<strong>de</strong>6.6 Descanso e Lazer6.7 Conhecimento <strong>de</strong> Direitos20243333386.8 Aspirações e Perspectivas das Trabalhadoras InfantojuvenisDomésticas7. I<strong>de</strong>ntificação e Caracterização das Famílias Empregadoras7.1 Perfil das Famílias7.2 Caracterização das TIDs pelas Empregadoras40424242
7.3 Grau <strong>de</strong> Conhecimento da Família Empregadora sobre aTID447.4 Grau <strong>de</strong> Conhecimento da Família Empregadora sobre aEscolarida<strong>de</strong> da TID457.5 Grau <strong>de</strong> Conhecimento da Família Empregadora sobre oTrabalho das TIDs7.6 Perspectiva da Empregadora sobre a TID8. I<strong>de</strong>ntificação e Caracterização das Famílias <strong>de</strong> Origem8.1 Perfil8.2 Renda Familiar8.3 Escolarida<strong>de</strong>8.4 Autorização para a Filha Trabalhar como TID8.5 Relação Pais/Família Empregadora8.6 Ocorrência e Freqüência <strong>de</strong> Contato com a TID8.7 Conhecimento sobre a TID8.8 Imagem dos Pais sobre o Trabalho Infantil Doméstico46464949495052525253558.9 Recepção da Idéia <strong>de</strong> um Programa <strong>de</strong> Intervenção juntoàs TIDs9. Conclusões56599.1 Crianças e Adolescentes Trabalhadoras Domésticas e seuMundo: Alguns Resultados Qualitativos599.2 O <strong>trabalho</strong> Doméstico Infanto-juvenil no Brasil e noGrupo Pesquisado em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife10. Desafios e Recomendações10.1 Recomenda-se para o plano <strong>de</strong> ação localReferências BibliográficasAnexos6065656668
1. APRESENTAÇÃO1.1 Apresentação Sintética daInstituiçãoO Lumen é um instituto especializado no<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas sociais aplicadase em estudos transdisciplinares. Com vastaexperiência e uma importante carteira <strong>de</strong> clientes,tanto no setor público quanto no privado, oInstituto presta serviços <strong>de</strong> consultoria eassistência técnica para a elaboração,implementação e avaliação <strong>de</strong> políticas, planose projetos <strong>de</strong>mandados pela comunida<strong>de</strong>.Fundado em abril <strong>de</strong> 1996, o Lumen possuiinfra-estrutura própria, com equipamentos <strong>de</strong>primeira linha e uma equipe técnica altamentequalificada e especializada. Des<strong>de</strong> que foiimplantado, trabalha, sistematicamente, compesquisas qualitativas e quantitativas <strong>de</strong> pequeno,médio e gran<strong>de</strong> portes. Neste sentido, elabora,acompanha a implementação e avalia iniciativasfundamentais para toda a socieda<strong>de</strong>.O Instituto é integrante do sistemaFundação Mariana Resen<strong>de</strong> Costa (Fumarc) econta com a infra-estrutura da PontifíciaUniversida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais (PUCMi<strong>nas</strong>), instalada nos campi <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>,Poços <strong>de</strong> Caldas e Arcos, núcleos universitários<strong>de</strong> Betim e Contagem e extensão em Juiz <strong>de</strong> Fora.Com 40 anos <strong>de</strong> existência, a PUC Mi<strong>nas</strong> dispõe<strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> formaçãodiversificada – muitos com sólida experiênciaem pesquisa – e <strong>de</strong> pessoal qualificado; dispõeainda <strong>de</strong> Centro <strong>de</strong> Processamento <strong>de</strong> Dados comalta capacida<strong>de</strong> operacional e sistema <strong>de</strong>informação interligado às principais re<strong>de</strong>s <strong>de</strong>dados nacionais e internacionais.O campo <strong>de</strong> atuação do Institutocompreen<strong>de</strong>: pesquisas <strong>de</strong> opinião, mercado ecomportamento; pesquisas <strong>de</strong> avaliação com oobjetivo <strong>de</strong> implementar e averiguar o<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> programas e políticas sociais <strong>nas</strong>áreas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>trabalho</strong>, qualificaçãoprofissional, geração <strong>de</strong> emprego e renda,educação, habitação, urbanismo e agropecuária;levantamento <strong>de</strong> indicadores socioeconômicose culturais; elaboração <strong>de</strong> diagnósticos com oobjetivo <strong>de</strong> implementar e avaliar políticaspúblicas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento; elaboração <strong>de</strong>políticas públicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>trabalho</strong>, geração <strong>de</strong>emprego e renda, educação, habitação,urbanismo e agropecuária, além <strong>de</strong>acompanhamento <strong>de</strong> sua implementação epesquisas tecnológicas.O Instituto da Criança e do Adolescente –ICA PUC Mi<strong>nas</strong> tem por finalida<strong>de</strong> articular, emtorno da temática Infância e Adolescência, ações<strong>de</strong> extensão universitária com o ensino e apesquisa; <strong>de</strong>senvolver projetos educativos paraa formação <strong>de</strong> recursos humanos; assessorarinstituições da socieda<strong>de</strong> civil e do po<strong>de</strong>r públicoafetas à temática e subsidiar a formulação <strong>de</strong>políticas públicas relativas à criança e aoadolescente.1.2 Problemática Nacional do TrabalhoInfanto-juvenil Doméstico no BrasilDe acordo com Oris <strong>de</strong> Oliveira (s/d) élegalmente doméstico todo “empregado quepresta serviços <strong>de</strong> natureza contínua e <strong>de</strong>finalida<strong>de</strong> não lucrativa à pessoa ou à família noâmbito resi<strong>de</strong>ncial <strong>de</strong>sta, sendo indiferente queo <strong>trabalho</strong> seja prestado em casa <strong>de</strong> famíliaresi<strong>de</strong>nte no setor urbano ou rural” (p. 2). APNAD 98 também <strong>de</strong>fine <strong>trabalho</strong> domésticocomo uma ativida<strong>de</strong> realizada no âmbito <strong>de</strong> umaou mais unida<strong>de</strong>s domiciliares, além <strong>de</strong> ser umaativida<strong>de</strong> não-agrícola e remunerada emdinheiro ou benefícios.Trabalho infanto-juvenil é aqui consi<strong>de</strong>radocomo sendo o <strong>trabalho</strong> realizado por crianças eadolescentes <strong>de</strong> até 17 anos completos. Numaanálise sobre <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil <strong>de</strong>ve-seconsi<strong>de</strong>rar que, <strong>de</strong> acordo com o artigo 7º daConstituição Fe<strong>de</strong>ral e as Convenções 182 e 138da OIT, é proibido qualquer emprego ou <strong>trabalho</strong>abaixo dos 14 anos. A partir <strong>de</strong>ssa ida<strong>de</strong> até os 18anos é permitido o <strong>trabalho</strong> em regime <strong>de</strong>aprendizagem, sendo 16 anos a ida<strong>de</strong> mínima básicapara admissão ao emprego ou <strong>trabalho</strong>. É tambémproibido, sem exceção, o <strong>trabalho</strong> perigoso,insalubre, penoso, noturno, prejudicial ao<strong>de</strong>senvolvimento físico, psíquico, moral e socialpara pessoas abaixo dos 18 anos. Diante <strong>de</strong>sseor<strong>de</strong>namento jurídico, Oris <strong>de</strong> Oliveira (s/d, p. 7)conclui que “o adolescente só po<strong>de</strong> ser admitidocomo empregado doméstico a partir <strong>de</strong> 16 anos”.
A caracterização geral do <strong>trabalho</strong>infanto-juvenil doméstico no Brasil, que seráa seguir apresentada, baseia-se em estudosfeitos sobre essa temática a partir <strong>de</strong> dados daPNAD 98.Segundo Barros (s/d), a PNAD 98 revelouque 3.520.151 crianças e adolescentes na faixaetária <strong>de</strong> 5 a 17 anos resi<strong>de</strong>ntes em áreas urba<strong>nas</strong>estavam exercendo ativida<strong>de</strong>s no mercado <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>. Dessas, 375.052 estavam ocupadas no<strong>trabalho</strong> doméstico, equivalendo a 11% do totaldas ocupações <strong>de</strong>sempenhadas por essestrabalhadores. A análise feita pelo autor citadorevelou também que a proporção <strong>de</strong> crianças eadolescentes incorporadas ao <strong>trabalho</strong> domésticoera <strong>de</strong> 3% do total <strong>de</strong> ocupados na faixa etária<strong>de</strong> 5 a 9 anos; 10% na <strong>de</strong> 10 a 14 anos e <strong>de</strong> 11%na <strong>de</strong> 15 a 17 anos. Consi<strong>de</strong>rando-se a variávelgênero, é possível observar que sãopredominantemente as meni<strong>nas</strong> que<strong>de</strong>sempenham esse tipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, confirmandoser o doméstico o lugar do feminino. Nesteaspecto, constata-se uma diferença, pois a taxa<strong>de</strong> ocupação dos meninos é sempre mais elevadado que a das meni<strong>nas</strong> quando se consi<strong>de</strong>ra o<strong>trabalho</strong> infanto-juvenil em geral.Outro indicador importante revelado naanálise do <strong>trabalho</strong> doméstico é a cor. A taxa <strong>de</strong>ocupação <strong>de</strong> crianças e adolescentes negros epardos é maior do que a dos brancos e amarelos:sobre o total <strong>de</strong> ocupados, a proporção <strong>de</strong>crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos queexercem <strong>trabalho</strong> doméstico representa 11% paranão-brancos e 9% para brancos, diferenças essasque aumentavam para a faixa <strong>de</strong> 15 a 17 anos(8% brancos e 15% não-brancos). De umamaneira geral, pessoas não-brancas são maispropensas a participar do mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,e isso po<strong>de</strong> ser explicado, segundo o autor, pelatendência <strong>de</strong> a discriminação racial <strong>de</strong> ser maisintensa na escola do que no mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,aumentando a atrativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sse último para opúblico não-branco. Segundo Barros (op. cit.),quanto maior a atrativida<strong>de</strong> da escola, menor aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a criança e o adolescente seengajarem em ativida<strong>de</strong>s do mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.No entanto, o autor mostra que a atrativida<strong>de</strong> daescola não tem influência sobre a probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> trabalhar no serviço doméstico.Quanto aos rendimentos do <strong>trabalho</strong>, aanálise <strong>de</strong> Barros (s/d) para o Brasil urbanomostrou que os trabalhadores domésticos na2faixa <strong>de</strong> 5 a 14 anos ganhavam mais do que osoutros trabalhadores da mesma faixa etária <strong>de</strong>outras ocupações, apesar <strong>de</strong> os rendimentosmédios continuarem inferiores ao saláriomínimo. Uma análise mais acurada dosrendimentos médios não <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rar, noentanto, a jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, uma vez que osdados indicaram que o número <strong>de</strong> horasutilizadas no <strong>trabalho</strong> doméstico é sempre maiordo que em outras ocupações. No que se refereà faixa etária <strong>de</strong> 15 a 17 anos, a tendência seinverte: os salários <strong>de</strong>sses adolescentes sãoinferiores quando comparados aos <strong>de</strong> outrasocupações. É ressaltado ainda que a proporção<strong>de</strong> trabalhadores sem rendimentos é inferiorentre os domésticos, em todas as faixas etárias.Para a faixa etária <strong>de</strong> 10 a 16 anos, a médianacional <strong>de</strong> rendimentos fica em torno <strong>de</strong> 60%do salário mínimo, enquanto o nível <strong>de</strong>remuneração do <strong>trabalho</strong> dos <strong>de</strong>maistrabalhadores entre 10 e 16 anos não supera os32% do salário mínimo.A análise dos <strong>de</strong>terminantes do <strong>trabalho</strong>infanto-juvenil doméstico indicou a escolarida<strong>de</strong>da mãe como fator explicativo para a inserçãoprecoce <strong>de</strong> crianças e adolescentes no mercado<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, especialmente no <strong>trabalho</strong>doméstico: para todas as faixas etárias, aproporção <strong>de</strong> ocupados <strong>de</strong>clina com o aumentoda escolarida<strong>de</strong> da mãe. Barros (s/d) utilizoutambém outro indicador do ambiente familiarpara discutir a <strong>de</strong>terminação do <strong>trabalho</strong> infantojuvenil,qual seja, a renda domiciliar per capita,concluindo que a proporção <strong>de</strong> trabalhadores<strong>de</strong>sse público cai conforme aumenta o nível <strong>de</strong>renda dos domicílios.Barros (s/d, p. 17), analisando os dados daPesquisa do IBGE sobre Padrões <strong>de</strong> Vida (1996/97), concluiu que a entrada precoce no mercado<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, especialmente no doméstico, tem <strong>de</strong>fato impactos <strong>de</strong>letérios sobre a escolarida<strong>de</strong>,limitando o nível <strong>de</strong> instrução atingido pelosindivíduos. Assim, os que se iniciaram comoempregados domésticos possuíam em média 1,6anos <strong>de</strong> estudos a menos do que aqueles quecomeçaram a trabalhar em outras ocupações.Apesar <strong>de</strong> o autor não ter encontrado um impactonegativo da entrada precoce no mercado <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> sobre o nível salarial, é possíveli<strong>de</strong>ntificar um efeito negativo indireto sobre arenda por meio do impacto da escolarida<strong>de</strong> sobrea renda.
Sabóia (s/d) também analisou os dados daPNAD 98, focalizando, no entanto, a faixa etária<strong>de</strong> 10 a 16 anos. Conforme mostrado pela autora,em 1998, <strong>de</strong> 2.058.023 crianças e adolescentesno mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, 363.512 (17,7%) eramdomésticas, sendo 284.843 em zona urbana e78.669 em zona rural, o que permite caracterizaro <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil doméstico como um<strong>trabalho</strong> urbano (cerca <strong>de</strong> quatro em cada cincotrabalhadoras são encontradas em regiõesurba<strong>nas</strong>). A região Su<strong>de</strong>ste contribuía com116.806 trabalhadoras. Consi<strong>de</strong>rando-se o total<strong>de</strong> 4.479.388 trabalhadoras domésticas(incluindo as adultas), o <strong>trabalho</strong> infanto-juvenildoméstico representava 8%. Os dados revelaramtambém que a residência no emprego é poucosignificativa (13%) e que a freqüência escolar épior entre as trabalhadoras domésticas,especialmente entre as resi<strong>de</strong>ntes no domicíliodos empregadores, do que entre as <strong>de</strong>maistrabalhadoras e entre as que não trabalhavam,assim como o nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> (número <strong>de</strong>anos <strong>de</strong> estudo). Assim, os dados da PNAD 98indicavam que 32,8% das pessoas que estavamno serviço doméstico não estudavam, enquantoque entre as outras trabalhadoras esse percentualbaixava para 17,6% e para 7% quando eramconsi<strong>de</strong>radas as que não trabalhavam. Quanto aonúmero <strong>de</strong> anos <strong>de</strong> estudo, os dados analisadospor Sabóia (s/d) revelaram que, aos 14 anos,quando <strong>de</strong>veriam ter completado os oito anos doensino fundamental, ape<strong>nas</strong> 9,8% dasempregadas domésticas possuíam sete anos <strong>de</strong>estudo e 1,7% contavam oito anos <strong>de</strong> estudo. Paraas <strong>de</strong>mais trabalhadoras da mesma ida<strong>de</strong>, ospercentuais eram <strong>de</strong> 20,3% para as que possuíamsete anos <strong>de</strong> estudo e 2,1% para aquelas comoito anos <strong>de</strong> estudo, revelando uma situaçãomelhor neste grupo ocupacional. Entre asmeni<strong>nas</strong> que não trabalhavam, 26,8% possuíamsete anos <strong>de</strong> estudo e 3,8%, oito anos <strong>de</strong> estudo.Diante <strong>de</strong>sses resultados, Sabóia (op. cit., p. 14)concluiu que “embora o atraso escolar seja umfenômeno generalizado, fica bastante nítido queo <strong>trabalho</strong> doméstico reduz o nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> das meni<strong>nas</strong>, especialmente paraas mais velhas”. Além disso, as taxas <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> das resi<strong>de</strong>ntes eram muito pioresdo que as das não-resi<strong>de</strong>ntes: 61,3% do primeirogrupo não freqüentavam a escola e 28,5% dosegundo grupo estavam na mesma situação.Sabóia (s/d) ressaltou ainda que ape<strong>nas</strong>33,9% das crianças e adolescentes <strong>de</strong> 10 a 16 anosempregadas como domésticas possuíam carteira<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e que cerca <strong>de</strong> meta<strong>de</strong> tinharendimento familiar per capita <strong>de</strong> até ½ saláriomínimo e somente 8,2% possuíam rendimentofamiliar per capita superior a dois saláriosmínimos. Esses dados revelaram que astrabalhadoras infanto-juvenis domésticas eramprovenientes <strong>de</strong> famílias muito pobres.A relação entre pobreza e <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong><strong>de</strong>ve, no entanto, conforme Rosemberg e Freitas(s/d), ser analisada mais criteriosamente nosentido <strong>de</strong> se superar o viés economicistapredominante em várias análises. Para as autoras,a pobreza não explica, por si só, as taxas <strong>de</strong>participação <strong>de</strong> crianças na PEA. Fazendoreferência aos estudos <strong>de</strong> Barros et al. (1994) eaos <strong>de</strong> outros estudiosos, apontaram, porexemplo, que“a variação temporal e regional da taxa <strong>de</strong>participação <strong>de</strong> crianças na PEA não estáassociada ao maior índice <strong>de</strong> pobreza da regiãoou do período” (p. 15), que ‘apesar daassociação intensa entre nível <strong>de</strong> rendimentofamiliar e participação na PEA – indicadorgeralmente usado por pesquisadores paraconcluir sobre a relação causal focalizandoape<strong>nas</strong> a oferta <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra – ... acontribuição do <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> no rendimentofamiliar é insuficiente para explicar que apobreza seja a principal causa do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> no Brasil’ (pp. 15-16), que ‘nem todasas crianças provenientes <strong>de</strong> famílias commenores níveis <strong>de</strong> rendimento participam daPEA, sejam resi<strong>de</strong>ntes rurais ou urbanos’ (p.16) ou que ‘a participação <strong>de</strong> crianças na PEAsofre o impacto das variáveis sexo e raça’. Elaé mais intensa para meninos que para meni<strong>nas</strong>e para crianças negras do que para criançasbrancas” (p. 16).Diante <strong>de</strong>sses dados, as autoras concluíramque a compreensão da participação <strong>de</strong> criançasna PEA <strong>de</strong>ve também levar em contacaracterísticas do mercado, como sua estrutura<strong>de</strong> empregos e salários e não somente osatributos, como renda e escolarida<strong>de</strong>, da oferta<strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra. Além disso, reconheceram aimportância da inclusão na análise, a partir dofinal dos anos 80, dos aspectos culturais queenvolvem o <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>. Nesta direção,Heilborn (s/d) afirmou, por exemplo, que:
“<strong>de</strong>terminados fatores culturais, imbricados<strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> organização da família, que seexpressam <strong>nas</strong> relações entre adultos ecrianças, na concepção sobre os gêneros eida<strong>de</strong>s e <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>engendradas no grupo familiar, são fatoresrelevantes para explicar o porquê dapersistência do <strong>trabalho</strong> para as crianças em<strong>de</strong>terminados meios sociais” (p. 3).Neste mesmo estudo, a autora analisou asocialização diferenciada <strong>de</strong> meninos e meni<strong>nas</strong><strong>de</strong> grupos familiares populares, mostrando comoo <strong>trabalho</strong> doméstico vai se revestindo <strong>de</strong> umconteúdo <strong>de</strong> obrigação para as meni<strong>nas</strong> e <strong>de</strong>ajuda para os meninos, revelando a lógica <strong>de</strong>gênero que organiza as relações no grupodoméstico. Além <strong>de</strong>ssa lógica, é tambémapontado como condicionante <strong>de</strong> uma trajetóriafeminina <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> a posição no grupo <strong>de</strong>irmãos e irmãs, recaindo sobre as mais velhas aresponsabilida<strong>de</strong> do funcionamento do lar.Consi<strong>de</strong>rando a reflexão até aquiapresentada, po<strong>de</strong>mos afirmar que o esforço paraefetivação dos direitos da criança e doadolescente no que diz respeito ao <strong>trabalho</strong> e,especialmente ao <strong>trabalho</strong> doméstico,preconizados por leis constitucionais e peloECA, não <strong>de</strong>ve negligenciar os condicionantesdo <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil que, como visto, nãose restringem aos aspectos econômicos. Mesmoa consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong>sses últimos aspectos não <strong>de</strong>vese pautar em concepções simplificadas ecristalizadas do efeito causal da pobreza sobre aexistência e permanência da participação <strong>de</strong>crianças e adolescentes na PEA. Outra questãoque <strong>de</strong>ve ser aprofundada é a relação entre<strong>trabalho</strong> infanto-juvenil e educação.No Brasil, principalmente por meio daimplantação do IPEC (International Program onthe Elimination of Child Labour) da OIT, em1992, a questão do <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> tornou-seobjeto <strong>de</strong> esforços significativos no sentido <strong>de</strong>sua erradicação. Em nível mundial, em particular<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1992, o IPEC tem <strong>de</strong>senvolvido programas<strong>de</strong> ação sobre o <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico,principalmente na Ásia e na América Latina. Em1996 no Brasil, o <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico foii<strong>de</strong>ntificado como um setor <strong>de</strong> risco iniciandoum processo em Campos no Rio. Relações <strong>de</strong>colaboração entre OIT/IPEC e Save the Childrenpara atuar sobre esse setor foram estabelecidasem 1998. Em 1999, realizou-se, em Lima, aReunião Técnica Internacional “NiñezTrabajadora en Hogares <strong>de</strong> Terceros”. Nestaocasião, o grupo interinstitucional formado porSave the Children, OIT, UNICEF, FundaçãoAbrinq e CEDECA Emaús (Belém), constituídono Brasil em 1999, formulou uma versão inicial<strong>de</strong> uma proposta nacional para combater o<strong>trabalho</strong> doméstico <strong>de</strong> crianças e adolescentes.Em junho <strong>de</strong> 2000, o <strong>trabalho</strong> infanto-juvenildoméstico no Brasil foi objeto <strong>de</strong> discussão noseminário “Elaboração <strong>de</strong> uma Estratégia <strong>de</strong>Combate ao Trabalho Infantil no ServiçoDoméstico”, promovido pela OIT em Brasília,em parceria com o grupo interinstitucional,reunindo representantes <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong>pesquisa, <strong>de</strong> organizações governamentais e nãogovernamentais,on<strong>de</strong> foram <strong>de</strong>stacados “oselementos centrais que <strong>de</strong>vem pautar aconstrução <strong>de</strong> uma política nacional paracombater o <strong>trabalho</strong> das meni<strong>nas</strong> e adolescentesno serviço doméstico” (OIT/IPEC 2000, p. 3). Apartir <strong>de</strong>sse seminário, foi lançado pela OIT/IPECum projeto <strong>de</strong> investigação e <strong>de</strong> intervenção queestá sendo <strong>de</strong>senvolvido, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001, em <strong>Belo</strong><strong>Horizonte</strong>, Recife e Belém, envolvendo umaPesquisa <strong>de</strong> Avaliação Rápida e um Programa <strong>de</strong>Ação para cada uma <strong>de</strong>ssas <strong>cida<strong>de</strong>s</strong>. Esse projetonacional faz parte do projeto regional OIT/IPEC/TID “Prevenção e Eliminação do TrabalhoInfantil Doméstico em Casas <strong>de</strong> Terceiros naAmérica do Sul” (Brasil, Colômbia, Paraguai ePeru), lançado em março <strong>de</strong> 2001, com duraçãoprevista até o início <strong>de</strong> 2004.4
2. JUSTIFICATIVAOs dados apresentados na seção anterior<strong>de</strong>ste relatório relativos à situação do <strong>trabalho</strong>infanto-juvenil doméstico no Brasil, além <strong>de</strong>apontarem para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estudos maissistematizados e informações precisas <strong>de</strong>cunho quantitativo e qualitativo sobre ascondições em que se realiza esse tipo <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> e sobre suas conseqüências para ascrianças e adolescentes, revelaram também anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ação eficaz no sentido <strong>de</strong>a<strong>de</strong>quar a realida<strong>de</strong> atual à normativainternacional sobre <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>. É gran<strong>de</strong>,como visto, o número <strong>de</strong> crianças eadolescentes em <strong>trabalho</strong> doméstico, mesmona faixa etária em que o <strong>trabalho</strong> é proibido, eé também intensa a violação das normas legais.As principais normas internacionais quedizem respeito ao <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> são as contidasna Convenção dos Direitos da Criança e <strong>nas</strong>Convenções 138 e 182 da OIT. O artigo 32 daConvenção dos Direitos da Criança <strong>de</strong> 1989,ratificada pelo Brasil em novembro <strong>de</strong> 1990,reconheceu o “direito da criança <strong>de</strong> estarprotegida contra a exploração econômica econtra o <strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> qualquer <strong>trabalho</strong> quepossa ser perigoso ou entorpecer sua educação,ou que seja nocivo para sua saú<strong>de</strong> ou para seu<strong>de</strong>senvolvimento físico, mental, espiritual, morale social”.A Convenção 138 da OIT sobre a ida<strong>de</strong>mínima <strong>de</strong> admissão ao emprego (1973),ratificada pelo Brasil em junho <strong>de</strong> 2001,consagrou a idéia <strong>de</strong> abolição progressiva do<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> e estabeleceu que todo paísmembro “para o qual está em vigor o presenteconvênio se compromete a seguir uma políticanacional que assegure a abolição efetiva do<strong>trabalho</strong> das crianças e eleve progressivamentea ida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> admissão ao emprego ou ao<strong>trabalho</strong> que torne possível o mais completo<strong>de</strong>senvolvimento físico e mental dos menores”.Estabeleceu também que a fixação da ida<strong>de</strong>mínima para o emprego não <strong>de</strong>ve, em nenhumcaso, ser inferior a 15 anos.A Convenção 182 e a Recomendação 190da OIT sobre as piores formas <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>(1999), ratificada pelo Brasil em setembro <strong>de</strong>2000, proíbe quatro categorias <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong>: a escravidão e práticas similares, aexploração sexual comercial <strong>de</strong> crianças, aparticipação em ativida<strong>de</strong>s ilegais, como tráfico<strong>de</strong> drogas, e qualquer <strong>trabalho</strong> que por suanatureza ou pelas condições em que se realizaafete a saú<strong>de</strong>, a segurança ou a moralida<strong>de</strong> dascrianças. A Convenção não menciona o <strong>trabalho</strong>doméstico explicitamente, mas recomenda(Recomendação 190) que se preste especialatenção “às meni<strong>nas</strong> e ao problema do <strong>trabalho</strong>oculto, em que as meni<strong>nas</strong> estão particularmenteexpostas a riscos”. O <strong>trabalho</strong> perigoso é<strong>de</strong>finido, entre outros, como “<strong>trabalho</strong>s em quea criança é exposta a abusos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física,psicológica ou sexual” e “<strong>trabalho</strong>s queimplicam condições especialmente difíceis, comoos horários prolongados ou noturnos, ou os<strong>trabalho</strong>s que retêm injustificadamente a criançanos locais do empregador”.O <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil doméstico, namedida em que implique ausência <strong>de</strong>rendimentos, abusos <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m física, sexual oupsicológica, impedimento ao estudo, ausência <strong>de</strong>lazer, longas jornadas ou prejuízo à saú<strong>de</strong>, àsegurida<strong>de</strong> ou à moralida<strong>de</strong> das crianças eadolescentes, po<strong>de</strong> ser enquadrado na categoria“piores formas” e perigoso. Uma vez que ogoverno brasileiro ratificou as Convenções 182e 138 da OIT e promulgou o ECA, inspirado naConvenção dos Direitos da Criança, o Estado, asocieda<strong>de</strong> civil e as famílias têm o compromissopolítico <strong>de</strong> erradicar esse tipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> ou <strong>de</strong>a<strong>de</strong>quá-lo às exigências da lei, garantindo, <strong>de</strong>staforma, os direitos da criança e do adolescente.5
3. MARCO LEGALHá no Brasil algumas normas jurídicas queregem o <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil em geral e odoméstico, em particular. As normas pertinentesao <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> crianças e adolescentes estãocontidas nos artigos 7 o , inciso XXXIII, e 227 daConstituição Fe<strong>de</strong>ral e nos artigos 60 a 69 e 248do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),especialmente. O artigo 7º, inciso XXXIII,refere-se à ida<strong>de</strong> mínima <strong>de</strong> admissão ao<strong>trabalho</strong>, que foi alterada <strong>de</strong> 14 para 16 anos pelaEmenda Constitucional nº 20, <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro<strong>de</strong> 1998. O artigo 227 <strong>de</strong>termina que “é <strong>de</strong>verda família, da socieda<strong>de</strong> e do Estado assegurarà criança e ao adolescente, com absolutapriorida<strong>de</strong>, o direito à vida, à saú<strong>de</strong>, àalimentação, à educação, ao lazer, àprofissionalização, à cultura, à dignida<strong>de</strong>, aorespeito, à liberda<strong>de</strong> e à convivência familiar ecomunitária, além <strong>de</strong> colocá-los a salvo <strong>de</strong> todaforma <strong>de</strong> negligência, discriminação,exploração, violência, cruelda<strong>de</strong> e opressão”.O parágrafo terceiro <strong>de</strong>sse mesmo artigoespecifica que o direito à proteção especial <strong>de</strong>veabranger o respeito à ida<strong>de</strong> mínima, a garantia<strong>de</strong> acesso do trabalhador adolescente à escola,entre outros. De acordo com Oliveira (s/d, p. 4),o artigo 227 da Constituição Fe<strong>de</strong>ral “sinalizaos princípios gerais que <strong>de</strong>vem orientar olegislador ordinário e as políticas públicas eações governamentais e não-governamentaisconcernentes aos direitos <strong>de</strong> crianças eadolescentes, sem exclusão, portanto, do<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico”. Os artigos 60 a 69do ECA compõem o capítulo V, intitulado “Dodireito à profissionalização e à proteção no<strong>trabalho</strong>”, e o artigo 248 penaliza quem “<strong>de</strong>ixar<strong>de</strong> apresentar à autorida<strong>de</strong> judiciária <strong>de</strong> seudomicílio, no prazo <strong>de</strong> cinco dias, com o fim <strong>de</strong>regularizar a guarda, adolescente trazido <strong>de</strong>outra comarca para a prestação <strong>de</strong> serviçodoméstico, mesmo que autorizado pelos pais ouresponsáveis”. De acordo com Oliveira (s/d, pp.24-25), esse artigo criou uma “figura <strong>de</strong> guardahíbrida, diferente da ‘comum’, em que há umguardião que é ao mesmo tempo empregador‘stricto sensu’”, sendo uma irregularida<strong>de</strong>utilizar crianças e adolescentes antes dos 16 anosno <strong>trabalho</strong> doméstico, mesmo sob remuneraçãoem dinheiro e/ou em utilida<strong>de</strong>s e não garantir os6direitos que regem o emprego doméstico semprejuízo das normas pertinentes do ECA aosadolescentes <strong>de</strong> 16 anos ou mais. A inibição dosabusos <strong>de</strong>tectados sob o manto <strong>de</strong>ssa figura <strong>de</strong>guarda criada pelo artigo 248 cabe ao ConselhoTutelar, à Promotoria Pública e ao Juizado daInfância e da Adolescência.As normas jurídicas que regem o <strong>trabalho</strong>doméstico estão expressas no inciso XXXIV,parágrafo único, do artigo 7º da ConstituiçãoFe<strong>de</strong>ral, que assegura aos trabalhadoresdomésticos os direitos previstos nos incisos IV(salário mínimo), VI (irredutibilida<strong>de</strong> do salário),VIII (13º salário), XV (repouso semanalremunerado), XVII (gozo <strong>de</strong> férias anuaisremuneradas, com pelo menos um terço a maisdo que o salário normal), XVIII (licença àgestante <strong>de</strong> 120 dias), XIX (licença-paternida<strong>de</strong>),XXI (aviso prévio proporcional ao tempo <strong>de</strong>serviço, sendo <strong>de</strong> no mínimo 30 dias) e XXIV(aposentadoria), bem como sua integração àprevidência social; nos artigos 8º e 9º daConstituição Fe<strong>de</strong>ral (direito à sindicalização);na Lei nº 5.859/72 e Decreto nº 71.885/73(<strong>trabalho</strong> doméstico); Lei nº 1.028/2001(aplicação do Fundo <strong>de</strong> Garantia por Tempo <strong>de</strong>Serviço); Leis nºs 8.212/91 e 8.213/91 e DecretoRegulamentar nº 3.048/99 (Previdência Social);Lei nº 605/49 (repouso semanal remunerado);Lei nº 7.418/85 e Decreto nº 95.247/87 (valetransporte);Lei nº 9.029/95 (discriminação noemprego) e na Consolidação das Leis doTrabalho (CLT), “cujas normas não se aplicamao empregado doméstico, exceto quando leis aela se remetem ou por entendimentojurispru<strong>de</strong>ncial e doutrinal” (Oliveira, s/d, p. 5).A norma relativa à ida<strong>de</strong> mínima proíbequalquer emprego ou <strong>trabalho</strong> abaixo dos 14 anose estabelece a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 16 anos como a ida<strong>de</strong>mínima para admissão ao emprego ou <strong>trabalho</strong>,permitindo, no entanto, o <strong>trabalho</strong> em regime <strong>de</strong>aprendizagem a partir dos 14 anos. Abaixo dos18 anos é proibido, sem exceção, o <strong>trabalho</strong>perigoso, insalubre, penoso, noturno, prejudicialao <strong>de</strong>senvolvimento físico, psíquico, moral esocial. No direito brasileiro, o <strong>trabalho</strong> infantojuvenildoméstico só é permitido ao adolescentea partir dos 16 anos, não sendo possível oemprego aos 14 anos a título <strong>de</strong> aprendizagem,
uma vez que, <strong>de</strong> acordo com Oliveira (s/d, pp.12-13) “para haver a aprendizagem acoplada aum contrato <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico seriaindispensável ALTERNÂNCIA: – uma parte‘teórica’ em um ‘centro <strong>de</strong> formação’ e sua‘prática’ MONITORADA no emprego. Sem essacorrelação ‘teoria com prática’, não se po<strong>de</strong>falar em aprendizagem”. O referido autor apontaduas conseqüências jurídicas para o caso em queuma criança ou adolescente menor <strong>de</strong> 16 anosfoi admitida ao emprego doméstico:“a) se a ida<strong>de</strong> mínima ainda não foi atingida,há obrigação <strong>de</strong> cessar a prestação <strong>de</strong> serviçossem prejuízo <strong>de</strong> pagamento <strong>de</strong> todas as verbastrabalhistas cabíveis e da responsabilida<strong>de</strong> porperdas e danos causados;b) se a ida<strong>de</strong> mínima já foi ultrapassada, o<strong>trabalho</strong> po<strong>de</strong> continuar e todo o tempo <strong>de</strong>serviço se computa para todos os efeitos legais”(p. 7).Além dos direitos acima explicitados, aempregada doméstica <strong>infantil</strong> goza dos seguintesdireitos:Direito à assistência do representante legal naformação do contrato com apresentação <strong>de</strong>atestado <strong>de</strong> boa conduta emitido por autorida<strong>de</strong>policial ou por pessoa idônea; atestado <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>; carteira <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e previdênciasocial, em que se anotam a data <strong>de</strong> admissão, osalário, as férias e a data da dispensa;Direito (facultativo por parte do empregador)ao Fundo <strong>de</strong> Garantia por Tempo <strong>de</strong> Serviço;Direito à escolarida<strong>de</strong> (o <strong>trabalho</strong> não po<strong>de</strong>impedir o acesso à escola);Direito à in<strong>de</strong>nização por dispensa imotivadano caso <strong>de</strong> ter sido concedido ao empregado oFundo <strong>de</strong> Garantia por Tempo <strong>de</strong> Serviço(in<strong>de</strong>nização <strong>de</strong> 40% do FGTS);Direito à in<strong>de</strong>nização ou reintegração em caso<strong>de</strong> dispensa discriminatória por motivo <strong>de</strong> sexo,origem, raça, cor, estado civil e situaçãofamiliar;Direito à sindicalização;Direito à fiscalização;Direito à assistência do representante legal e,na falta <strong>de</strong>ste, do Ministério Público, dosindicato ou do tutor, <strong>nas</strong> ações individuais emjuízo;Direito às ações públicas civis ou trabalhistaspara <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> interesses metaindividuais:7difusos, coletivos e individuais homogêneos;Direito <strong>de</strong> propor ações individuais perante oJuízo competente;Direito a uma jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> compatívelcom o horário escolar, apesar <strong>de</strong> as normassobre a duração da jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> não seaplicarem ao trabalhador doméstico.Os conselhos <strong>de</strong> direitos, <strong>de</strong> âmbitonacional, estadual e municipal e tutelares, criadospelos artigos 88, 131 e 132 do ECA, são coresponsáveisna ação <strong>de</strong> combate ao <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong>, cabendo a eles cuidar dos direitos dascrianças e adolescentes em geral e, em particular,dos direitos dos que são empregados no <strong>trabalho</strong>doméstico, juntamente com o Ministério Públicoe o Juizado da Infância e da Adolescência. Entreas diretrizes do Conselho Nacional dos Direitosda Criança e do Adolescente (CONANDA)<strong>de</strong>staca-se o Plano Nacional <strong>de</strong> Prevenção eErradicação do Trabalho Infantil, cujasensibilização está a cargo do Fórum Nacional<strong>de</strong> Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil,órgão composto por organizaçõesgovernamentais e não-governamentais. Oreferido Fórum criou um grupo temático sobre o<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico em 2001. ASecretaria <strong>de</strong> Estado <strong>de</strong> Assitência Social, atravésda Portaria 78 <strong>de</strong> 2002 instituiu uma ComissãoEspecializada para trabalhar a temática e oMinistério do Trabalho e Emprego através daPortaria 21 <strong>de</strong> 2002 cria o Grupo Especializado<strong>de</strong> Auditores Fiscais do Trabalho para analisar epropor soluções no âmbito legislativo.Nenhum dos projetos <strong>de</strong> reformaconstitucional ou <strong>de</strong> lei ordinária relativos aoempregado doméstico visa direitos específicosao adolescente doméstico, embora este sejabeneficiado caso os projetos sejam aprovados.Comparando o Direito brasileiro e asConvenções 138 e 182 da OIT, Oliveira (op. cit.,pp. 30-31) concluiu que não existeincompatibilida<strong>de</strong> entre o conteúdo dasConvenções e as normas nacionais. Além domais, no Brasil, a Convenção 138 aplica-seintegralmente e sem limitações ao <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> doméstico. O autor acima citadoobservou ainda que a legislação nacional é maisinflexível do que a Convenção 138 no que dizrespeito à proibição <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>s leves antes dos16 anos e à impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> autorizar o<strong>trabalho</strong> a partir dos 16 anos em locais insalubres
e inseguros e que inexiste, no Direito brasileiro,sanção pelo <strong>de</strong>scumprimento <strong>de</strong> normasconcernentes ao <strong>trabalho</strong> doméstico. ParaOliveira (op. cit., p. 31) “ratificando aConvenção 138, o Brasil assume ocompromisso <strong>de</strong> prever sanções, ao menos, parao <strong>trabalho</strong> doméstico do adolescente”. Quantoà Convenção 182, o Ministério do Trabalhocriou uma comissão tripartite com a função <strong>de</strong><strong>de</strong>finir a lista das piores formas <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong>, que foi atualizada pela Portaria SIT/TEM nº 20, <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2001,i<strong>de</strong>ntificando locais e serviços perigosos einsalubres proibidos para adolescentes. O<strong>trabalho</strong> infanto-juvenil doméstico não foigenericamente apontado.8
4. CONTEXTO LOCAL4.1 Contextualização Socio<strong>de</strong>mográficaO <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> no Brasil, <strong>de</strong> acordo cominformações das PNADs do IBGE, <strong>de</strong> formageral, apesar <strong>de</strong> ter diminuído ao longo da década<strong>de</strong> 90, ainda apresenta cifras extremamenteelevadas e inaceitáveis. Em média do total <strong>de</strong>crianças e jovens entre 5 e 17 anos (43.308.788)consi<strong>de</strong>radas no período 1992-1999, cerca <strong>de</strong>17% (7.622.095) exerciam algum tipo <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>. Observou-se que a região Nor<strong>de</strong>ste,além <strong>de</strong> possuir as maiores taxas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>em 1998 e 1999, também é a que apresenta, emmédia, a maior quantida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong>trabalhadores infantis, enquanto que a região Sulcaracteriza-se por possuir as maiores taxas <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> entre 1992 e 1995. Constatou-se ainda,que, em média, ao longo da década <strong>de</strong> 90, oestado do Maranhão é o que apresenta as maiorestaxas <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>, seguido <strong>de</strong> perto pelo Piauí epelo Tocantins.Desagregando-se o <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> emdoméstico e não doméstico percebeu-se que oprimeiro representa, em média, cerca <strong>de</strong> 10% dototal <strong>de</strong> trabalhadores infantis. A participação dastrabalhadores domésticos entre aqueles queexercem alguma ativida<strong>de</strong> laboral é maior naregiões Norte e Centro-Oeste. Em termosabsolutos, o <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico é maiorna região Su<strong>de</strong>ste (262.723 pessoas entre 5 e 17anos), particularmente no estado <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais.Em termos relativos, as maiores taxas médias <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> doméstica <strong>de</strong>ntro do período 1992-1999encontram-se no Tocantins e em Goiás.4.2 Política SocialO contexto nacional e internacional dosanos 80 re<strong>de</strong>fine os traços da política social noBrasil ao longo <strong>de</strong>sta década e da década <strong>de</strong> 90.No plano internacional, a agenda das NaçõesUnidas alicerçada nos valores dos direitoshumanos orienta as normativas da OIT e as açõesdo UNICEF, que influenciam os estadosnacionais no sentido <strong>de</strong> priorizarem o tema dainfância e adolescência em suas agendas <strong>de</strong>políticas públicas. O Brasil respon<strong>de</strong> a estaorientação no texto constitucional <strong>de</strong> 1988 e no9Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),marcos instituidores <strong>de</strong> uma cultura <strong>de</strong> cidadania<strong>de</strong>mocrática, que <strong>de</strong>fine crianças e adolescentescomo sujeitos <strong>de</strong> direitos, princípio que daí parafrente <strong>de</strong>verá nortear a emissão <strong>de</strong> políticassociais para a infância e adolescência no país.Especialistas em políticas públicas afirmamque, nos anos 90, alguns traços estarãopolarizados no <strong>de</strong>bate relativo à política social –privatização x publicização; focalização xuniversalismo; <strong>de</strong>scentralização x centralização–, sendo os primeiros traços da polarização oshegemônicos na década. Os estudiosos insistemem apontar o alargamento do conceito <strong>de</strong>público, não mais entendido comoexpressamente estatal, mas como algo <strong>de</strong>interesse <strong>de</strong> todos; sendo assim, <strong>de</strong>ve ser <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong> tanto do Estado quanto dasocieda<strong>de</strong> civil (Draibe, 1997 e Arretche, 1998).A política social da infância e daadolescência no Brasil po<strong>de</strong> ser analisada a partir<strong>de</strong>sses traços. Nei<strong>de</strong> Castanha (2001, p. 9) afirmasobre este aspecto que“o Estatuto da Criança e do Adolescente,quando <strong>de</strong>fine, no seu artigo 86, que ‘a política<strong>de</strong> atendimento dos direitos da criança e doadolescente far-se-á através <strong>de</strong> um conjuntoarticulado <strong>de</strong> ações governamentais e nãogovernamentais,da União, dos estados, doDistrito Fe<strong>de</strong>ral e dos municípios’ cria aspossibilida<strong>de</strong>s legais para este novo modo <strong>de</strong>gestão das políticas”.Esta alteração na gestão das políticaspúblicas no Brasil já se expressava na vonta<strong>de</strong>da socieda<strong>de</strong> civil organizada e mobilizada na<strong>de</strong>fesa dos direitos da criança e do adolescente<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a década <strong>de</strong> 80: Movimento Nacional <strong>de</strong>Meninos e Meni<strong>nas</strong> <strong>de</strong> Rua (1985), Fórum DCA(Fórum Nacional Permanente <strong>de</strong> Entida<strong>de</strong>s Não-Governamentais <strong>de</strong> Defesa dos Direitos daCriança e do Adolescente – 1988), Pastoral doMenor (1978/1980), Centrais Sindicais (1992-93) e Fundação Abrinq (1990), expressando osetor empresarial organizado (Carvalho, 2000,pp. 15-25).Estes movimentos da socieda<strong>de</strong> civilconsubstanciam ações em programas e projetos
<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa da criança e do adolescente,estabelecendo parcerias entre os setores públicoe privado, bem como entre os setores nãogovernamentais.Dentre os muitos temasabordados, o combate ao <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> ganharelevo.No plano fe<strong>de</strong>ral, o governo brasileiroexecuta ações <strong>de</strong> combate ao <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>por meio do PETI e da Bolsa-Escola. SegundoCastanha, são nove as ações do PETI, sendo três<strong>de</strong> assistência social e seis <strong>de</strong> inspeção do<strong>trabalho</strong>. Cita como <strong>de</strong> assistência a bolsa cidadã,a jornada escolar ampliada, os programas <strong>de</strong>profissionalização e geração <strong>de</strong> renda parafamiliares e adultos. As seis <strong>de</strong> inspeção do<strong>trabalho</strong> citadas pela autora são as <strong>de</strong> naturezafiscalizadora, o mapeamento dos focos <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>, os estudos e pesquisas, a ediçãoe distribuição <strong>de</strong> publicações, a promoção <strong>de</strong>eventos <strong>de</strong> sensibilização e capacitação e apromoção <strong>de</strong> campanhas.A Bolsa-Escola – nos níveis fe<strong>de</strong>ral, estaduale municipal – articula ações <strong>de</strong> renda mínima comações educativas, oferecendo serviços <strong>de</strong> auxíliomensal em dinheiro para famílias pobres quemantenham os filhos na escola, além <strong>de</strong> promoverorientação familiar e cursos <strong>de</strong> capacitaçãoprofissional para os adultos.Seguindo as diretrizes da <strong>de</strong>scentralização,po<strong>de</strong>-se dizer que a base <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong>ssaspolíticas são os municípios, que executam ações<strong>de</strong> combate ao <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil seguindonormas dos respectivos estados e da Fe<strong>de</strong>ração(Castanha, 2001, p. 18).Esta mesma autora apresenta o enfoquedado às políticas sociais para crianças eadolescentes no Brasil, ressaltando que a política<strong>de</strong> combate ao <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> <strong>de</strong>ve serequacionada a partir da interação com umapolítica <strong>de</strong> apoio sociofamiliar, educação, saú<strong>de</strong>,cultura e lazer: “Para que a situação da criançae do adolescente em exploração no <strong>trabalho</strong> sejatratada no âmbito da educação, a escolacontemporânea terá que ser pensada eminterface com a família, a comunida<strong>de</strong> e omercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>”.Insiste que, até o ano <strong>de</strong> 2001, o <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> doméstico não conquistou espaço naagenda da política pública. O fato <strong>de</strong> suainvisibilida<strong>de</strong> ainda não ter sido problematizadaacaba <strong>de</strong>finindo que o Estado não emita umapolítica educacional voltada para este público –10espaço <strong>de</strong> inserção na escola, profissionalização,complementação e reforço escolar – nem umapolítica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que consi<strong>de</strong>re crianças eadolescentes domésticas com suasespecifi<strong>cida<strong>de</strong>s</strong> <strong>de</strong> tratamento – queimaduras,intoxicações por produtos químicos e ferimentoscausados por animais domésticos.“Uma política pública que efetivamenteintroduza o tema do <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> domésticocomo condição <strong>de</strong> garantia <strong>de</strong> direitos e <strong>de</strong>acesso às políticas públicas <strong>de</strong>verá assumir afiscalização como <strong>de</strong>ver e a educaçãoprofissional como direito e possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>criação <strong>de</strong> outros espaços <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> para amulher, rompendo com a cultura secular dodomínio masculino sobre o mundo” (Castanha,2001, p. 15).Consi<strong>de</strong>rando a realida<strong>de</strong> da<strong>de</strong>scentralização, a autora reconhece o municípiocomo espaço privilegiado para ações <strong>de</strong>protagonismo juvenil; nele, procedimentosparticipativos da socieda<strong>de</strong> po<strong>de</strong>m serfacilitados. A partir <strong>de</strong>sse reconhecimento,recomenda seis eixos <strong>de</strong> ação orientadores daelaboração <strong>de</strong> planos municipais <strong>de</strong> combate ao<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> doméstico: que se realizemestudos/pesquisas que produzam dadosconfiáveis sobre o <strong>trabalho</strong> doméstico em nívellocal; que sejam produzidas campanhas <strong>de</strong>mobilização e conscientização a partir das quaisseja veiculado material educativo <strong>nas</strong> escolas ecomunida<strong>de</strong> e material informativo para asadolescentes trabalhadoras domésticas sobrelegislação trabalhista; que as políticas públicaselejam as escolas como espaço privilegiado parasuas ações, criem cursos profissionalizantes,incluam no disque-<strong>de</strong>núncia o <strong>trabalho</strong>doméstico, criem grupos <strong>de</strong> ajuda mútua evalorização da auto-estima, promovam açõespreventivas buscando apoio em programas jáexistentes, inserindo o <strong>trabalho</strong> doméstico noPETI, que estabeleçam interface do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> doméstico com os programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>da mulher, sem se esquecer do tratamento doponto <strong>de</strong> vista cultural; que as crianças eadolescentes sejam protagonistas das ações <strong>de</strong>políticas públicas <strong>de</strong> combate ao <strong>trabalho</strong>doméstico; que sejam planejadas açõesfiscalizadoras do <strong>trabalho</strong> doméstico com osConselhos Tutelares, Ministério Público e
GECTIPA; e, por fim, que os orçamentosmunicipais <strong>de</strong>stinem recursos para ações <strong>de</strong>combate ao <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>, contemplando o<strong>trabalho</strong> doméstico (Castanha, 2001, pp. 28-29).4.3 Alternativas para Geração <strong>de</strong>Renda: Oferta <strong>de</strong> Recursos Financeirosàs Famílias PobresAs estratégias <strong>de</strong> redução da pobreza têmevoluído no mundo <strong>nas</strong> últimas cinco décadas.Segundo João Hel<strong>de</strong>r Diniz (2002), esta evoluçãopo<strong>de</strong> ser explicada pela compreensão <strong>de</strong> que épreciso associar ações <strong>de</strong> combate à pobreza apolíticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento.Analisando por décadas as estratégias <strong>de</strong>combate à pobreza, constata-se que <strong>nas</strong> décadas<strong>de</strong> 50 e 60 o que predominava era “a realização<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s investimentos em capital físico einfra-estrutura”, sendo que na década <strong>de</strong> 70 aênfase se <strong>de</strong>scola para políticas <strong>de</strong> melhoria paraos setores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação, consi<strong>de</strong>radosbásicos quando se pensa em elevação <strong>de</strong> rendapara populações pobres. Diniz afirma que “oRelatório sobre o Desenvolvimento Mundial –1990” não apresenta novida<strong>de</strong>s, ape<strong>nas</strong> buscaformular proposta integradora, uma vez quesugere não só o uso intensivo <strong>de</strong> mão-<strong>de</strong>-obra,consi<strong>de</strong>rando os aspectos <strong>de</strong> abertura econômica,mas também investimentos em infra-estrutura eoferta <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e educação para ospobres. Mudanças substantivas estarãoformuladas no “Relatório sobre oDesenvolvimento Mundial – 2000/2001” que,objetivando atacar a pobreza, estabeleceestratégia em três frentes: promoveroportunida<strong>de</strong>s, facilitar a autonomia e aumentara segurança (Diniz, 2002, p. 11).O autor cita Llorens (2001) para criticar oassistencialismo muitas vezes predominante <strong>nas</strong>políticas públicas <strong>de</strong> combate à pobreza <strong>de</strong> cunhocompensatório, quase sempre focalizadas nosgrupos mais <strong>de</strong>sfavorecidos. Para Llorens oimportante é “promover a iniciativa <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento local endógeno e <strong>de</strong> geração<strong>de</strong> emprego produtivo para enfrentar,precisamente, a pobreza e a marginalização <strong>de</strong>forma mais sustentável e consistente” (Diniz,2002, p. 12).Aceitar o <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> combater o <strong>trabalho</strong>infanto-juvenil, em especial o <strong>de</strong> natureza11doméstica, requer que se olhe <strong>de</strong> forma especiala situação <strong>de</strong> pobreza em que se encontram suasfamílias, procurando <strong>de</strong>senvolver ações, nosentido apontado por Llorens, para superá-la. Aliteratura tem classificado iniciativas <strong>de</strong>sse tipocomo “serviços financeiros (microcréditoprodutivo, fundos rotativos, bancoscomunitários, cooperativas <strong>de</strong> crédito etc.), eserviços <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento empresarial –business <strong>de</strong>velopment services(empreen<strong>de</strong>dorismo, franquias sociais, bônus <strong>de</strong>capacitação, centros <strong>de</strong> serviços empresariais,serviços <strong>de</strong> informação comercial etc.)”. Asiniciativas <strong>de</strong> economia solidária somam-se aesses serviços (Diniz, 2002, p. 9).Diniz enfatiza que as mulheres, os gruposétnicos e as crianças são os grupos mais afetadospela pobreza no mundo, e reafirma a tese <strong>de</strong> quea pobreza constitui “a base do processo <strong>de</strong>exploração <strong>de</strong> crianças”. Insiste que o baixo nível<strong>de</strong> renda das famílias pobres <strong>de</strong>termina a entradaprecoce <strong>de</strong> crianças no mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,realida<strong>de</strong> que evi<strong>de</strong>ncia o <strong>de</strong>sprezo pelos direitosessenciais assegurados <strong>nas</strong> legislações <strong>de</strong> cunhointernacional e nacional.A realida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pobreza das famílias <strong>de</strong>origem das crianças e adolescentes trabalhadorasdomésticas foi constatada por esta pesquisa. O<strong>de</strong>senho <strong>de</strong> programas e projetos <strong>de</strong> erradicaçãodo <strong>trabalho</strong> doméstico <strong>infantil</strong> e a a<strong>de</strong>quação do<strong>trabalho</strong> adolescente às exigências da leirequerem que estes, ao serem formulados,contenham traços da perspectiva do<strong>de</strong>senvolvimento sociofamiliar, consi<strong>de</strong>rando opotencial criativo e criador dos componentes<strong>de</strong>ssas famílias, para que se integrem <strong>de</strong> formaparticipativa nos programas e projetos <strong>de</strong>serviços financeiros e <strong>de</strong> geração <strong>de</strong> emprego erenda já existentes ou que venham a serformulados.O autor enfatiza a importância <strong>de</strong> iniciativasque favoreçam as microempresas, uma vez queelas representam, em média, 94% dos negóciosformais e 37,4% da mão-<strong>de</strong>-obra formal ocupadano Brasil, bem como o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> açõeslocais integradas e sustentadas, pois estudosavaliativos <strong>de</strong>monstram que elas são capazes, sebem conduzidas, <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar processos <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>nas</strong> comunida<strong>de</strong>s trabalhadas.As recomendações feitas por Diniz (2002)relativas ao sistema integrado <strong>de</strong> geração <strong>de</strong>renda e oferta <strong>de</strong> recursos financeiros às famílias
<strong>de</strong> origem <strong>de</strong> crianças e adolescentestrabalhadoras domésticas são, em primeiro lugar,no sentido <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar as experiênciasexistentes em cada município on<strong>de</strong> o plano <strong>de</strong>ação será executado, bem como a potencialida<strong>de</strong>local. Este sistema integrado <strong>de</strong>verá observar asseguintes orientações: o <strong>trabalho</strong> em re<strong>de</strong> <strong>de</strong>veestar previsto, uma vez que possibilita atuar, aum só tempo, <strong>de</strong> maneira geral e especializadano contexto, possibilitando melhordimensionamento do sistema como um todo; ouso <strong>de</strong> múltiplas fontes <strong>de</strong> financiamento edoações – governamentais, multilaterais oulocais; a utilização <strong>de</strong> diferentes metodologias eestratégias facilitarão contemplar as diferençasobservadas no público-alvo.4.4 Estudo das Práticas SocioculturaisRizzini & Fonseca (2002), ao discutiremsobre os aspectos histórico-culturais e astendências atuais do <strong>trabalho</strong> doméstico infantojuvenilno Brasil, iniciam dizendo que hoje hámenos tolerância ao <strong>trabalho</strong> imposto à criança,visto como uma violação ao direito <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento integral, mas, em relação ao<strong>trabalho</strong> dos adolescentes que <strong>de</strong>sejam ter rendaprópria, as posições são mais controvertidas.Destacam que a questão do <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> ejuvenil é complexa e nela “estão em jogomúltiplos valores e significados humanos, éticos,políticos e pedagógicos” (p. 2).A análise feita pelas autoras está focada no<strong>trabalho</strong> feminino, por ser o <strong>trabalho</strong> domésticoexecutado em sua maioria por mulheres e, parafins <strong>de</strong> análise, foi consi<strong>de</strong>rado <strong>trabalho</strong>doméstico aquele que é realizado por crianças eadolescentes fora <strong>de</strong> suas casas.Ainda em suas consi<strong>de</strong>rações iniciais,Rizzini & Fonseca alertam para o risco que oanalista corre ao concluir, ten<strong>de</strong>nciosamente, queo <strong>trabalho</strong> doméstico é, em si, aviltante, pois,<strong>de</strong>sta forma, está ignorando que o <strong>trabalho</strong>doméstico é um dos eixos fundamentais daeconomia e subestimando a complexida<strong>de</strong> dastarefas envolvidas na administração <strong>de</strong> uma casa.Outra conclusão arriscada é a <strong>de</strong> que o <strong>trabalho</strong>doméstico, necessariamente, reduz o nível <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> das meni<strong>nas</strong>, pois elas po<strong>de</strong>m terabandonado a escola antes mesmo <strong>de</strong> entrar no<strong>trabalho</strong> doméstico. Finalmente, chamam a12atenção para a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que as crianças eos adolescentes envolvidos com o <strong>trabalho</strong> sejamouvidos, evitando que eles se transformem emsujeitos passivos <strong>de</strong> uma política paternalista.O intuito das autoras é o <strong>de</strong> refletir sobreos vários significados atribuídos à prática do<strong>trabalho</strong> doméstico, ouvindo as “diferentes vozesenvolvidas no processo e, assim, abrindocaminho para uma política dialógica <strong>de</strong> ação”(p. 10).Após apresentarem alguns aspectos dadimensão histórica ligados ao <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong>doméstico no Brasil, são <strong>de</strong>stacados, entre osvalores tradicionais existentes <strong>nas</strong> famíliaspobres, que são as principais fornecedoras <strong>de</strong>meni<strong>nas</strong> trabalhadoras em casa <strong>de</strong> terceiros, omundo hierarquizado <strong>de</strong> pais e filhos e aeducação condizente à natureza feminina.Quanto ao primeiro valor, é ressaltada acentralida<strong>de</strong> da noção <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong> noambiente familiar, na qual se acentua ocompromisso dos filhos <strong>de</strong> ajudarem nofuncionamento do grupo como um todo. Segundoas autoras, “tal situação da ‘criança cuidadora’(nurturing childhold) aparece, no plano <strong>de</strong>valores, em nítido contraste com a da ‘criançacuidada’ (nurtured childhood) <strong>de</strong> famíliasabastadas que a<strong>de</strong>rem ao mo<strong>de</strong>lo ‘mo<strong>de</strong>rno’ <strong>de</strong>infância” (p. 16). Um dos efeitos da importânciada reciprocida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser o <strong>de</strong> fazer com quecrianças e adolescentes trabalhadorasexperimentem satisfação e auto-estima emfunção da contribuição que dão para o sustento<strong>de</strong> suas famílias. Segundo Rizzini & Fonseca,“o ‘<strong>trabalho</strong>’ ou qualquer ativida<strong>de</strong> rentável,ainda que force a criança a se tornar adultaprecocemente e ter seu <strong>de</strong>senvolvimentoprejudicado, lhe traz prestígio por parte <strong>de</strong> suafamília e <strong>de</strong> sua comunida<strong>de</strong>” (p. 17).Quanto ao segundo valor, as autorasressaltam as representações associadas aocomportamento a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> homens emulheres, mostrando como a divisão sexual do<strong>trabalho</strong> reserva à mulher o <strong>de</strong>sempenho dastarefas mater<strong>nas</strong> e domésticas. Além disso,muitos pais que precisavam que suas filhastrabalhassem as colocavam no <strong>trabalho</strong>doméstico, evitando assim “o <strong>de</strong>slocamento emespaços públicos” e a “suspeita <strong>de</strong> má condutasexual” (p. 19).Outro aspecto levantado por Rizzini &Fonseca é o <strong>de</strong> que o <strong>trabalho</strong> doméstico po<strong>de</strong>ria
ser um “caminho para as meni<strong>nas</strong> do interior sesocializarem <strong>nas</strong> atitu<strong>de</strong>s e práticas ‘mo<strong>de</strong>r<strong>nas</strong>’”(p. 22). E, ainda: até uma geração atrás, asmulheres pobres planejavam avançar naprofissão e se orgulhavam do ofício. Daí que,segundo as autoras, o <strong>trabalho</strong> doméstico <strong>de</strong>crianças e adolescentes era consi<strong>de</strong>radoaprendizagem e não exploração e, muitas vezes,surgia como a única opção alternativa ao <strong>trabalho</strong>na roça. Além do mais, muitas viam no <strong>trabalho</strong>a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> freqüentar a escola,vislumbrando no “emprego um meio não somente<strong>de</strong> sobrevivência, mas a esperança <strong>de</strong> ascensãosocioeconômica” (p. 24).Pensando a partir das empregadoras, éobservado que os i<strong>de</strong>ais recentes <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong><strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong> todas as crianças <strong>de</strong> uma casapo<strong>de</strong>m ter contribuído para tornar incômoda apresença <strong>de</strong> um serviçal <strong>infantil</strong> e juvenil nointerior da mesma. É possível, então, que asfamílias abastadas estejam empregando, hoje,domésticas adultas. No entanto, famílias <strong>de</strong>camadas médias baixas, com renda insuficiente,buscam, como alternativa, o <strong>trabalho</strong> doméstico<strong>infantil</strong>. Apesar do i<strong>de</strong>ário mo<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>,Rizzini & Fonseca alertam para a possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> tratamento <strong>de</strong>sigual <strong>de</strong> crianças em famíliassubstitutas e relembram a análise <strong>de</strong> Roberto daMatta sobre um outro princípio típico dasocieda<strong>de</strong> brasileira, por meio do qual diferençashierárquicas não são vistas comonecessariamente injustas.Quanto à significação do <strong>trabalho</strong>doméstico, as autoras apontam para o caráterambivalente do mesmo, uma vez que váriaspesquisas mostram que entre os motivos alegadospor crianças e adolescentes para se iniciarem no<strong>trabalho</strong>, querer trabalhar e comprar coisaspessoais não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>sprezados e, ao mesmotempo, quase todas <strong>de</strong>sejam sair do <strong>trabalho</strong>doméstico, <strong>de</strong>vido ao baixo prestígio social <strong>de</strong>ssetipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Concluem dizendo que “oparadoxo entre o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> trabalhar e o<strong>de</strong>sprestígio <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> aponta paraa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar novas saídas paraas jovens, especialmente pobres e não-brancas,que procuram manter um nível a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>existência” (p. 34). Essa busca <strong>de</strong> alternativasque possibilitem a expansão <strong>de</strong> horizontes e aabertura <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s atraentes não po<strong>de</strong>,no entanto, <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rar as experiências,priorida<strong>de</strong>s, necessida<strong>de</strong>s, anseios ecompetências das crianças e adolescentestrabalhadoras.13
5. METODOLOGIAA investigação sobre <strong>trabalho</strong> infantojuvenildoméstico no marco do projeto regionalpara a prevenção e eliminação do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> doméstico, foi realizada utilizando-se ametodologia <strong>de</strong> avaliação rápida <strong>de</strong>finida pelaOIT, que, em parceria com o UNICEF, elaborouum manual no qual são <strong>de</strong>finidos e apresentadosos princípios básicos <strong>de</strong>ssa metodologia, que éassim justificada:“Para ayudar a los países a obtener una base<strong>de</strong> información más exhaustiva y completasobre las formas más invisibles u ocultas <strong>de</strong>ltrabajo <strong>infantil</strong> (a fin <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r diseñarprogramas apropiados en ámbito local ocomunitario e investigar sobre los niños que<strong>de</strong>sempeñan los trabajos más peligrosos oinsalubres), unos años atrás la OIT y laUNICEF acordaron <strong>de</strong>sarrollar un manual <strong>de</strong>evaluación rápida acerca <strong>de</strong>l trabajo <strong>infantil</strong>.Este manual, que há pasado por varias etapas<strong>de</strong>s<strong>de</strong> su primera concepción, esta dirigido agerentes, administradores e investigadores quetrabajan en instituciones nacionales einternacionales y en agencias y organizacionesgubernamentales y no gubernamentales. Estosprofesionales y agencias necesitaminvestigaciones precisas e <strong>de</strong>talladas a fin <strong>de</strong>compren<strong>de</strong>r la naturaleza <strong>de</strong> la problemática<strong>de</strong>l trabajo <strong>infantil</strong> en áreas particulares uocupaciones específicas. Este manual preten<strong>de</strong>ayudar a obtener dicha información que sirva<strong>de</strong> base para la intervención ante laproblemática” (p.3).A metodologia <strong>de</strong> avaliação rápida é assim<strong>de</strong>nominada porque preten<strong>de</strong> proporcionarinformação relevante com relativa rapi<strong>de</strong>z (nãomais que três meses) e a baixo custo, servindocomo ferramenta para investigações emprofundida<strong>de</strong> ou para investigaçõescomparativas entre várias regiões <strong>de</strong> um país ouregião. É especialmente aplicada em situações<strong>nas</strong> quais se quer investigar crianças eadolescentes envolvidos em ativida<strong>de</strong>s difíceis<strong>de</strong> se i<strong>de</strong>ntificar e quantificar. Este é o caso do<strong>trabalho</strong> infanto-juvenil doméstico. A avaliaçãorápida, segundo o referido manual, não se utiliza<strong>de</strong> questionários estruturados dirigidos a gran<strong>de</strong>samostras populacionais e que, posteriormente,sofrem uma manipulação estatística sofisticadapara realizar estimações, como é o caso doscensos ou das pesquisas <strong>de</strong> âmbito nacional quese realizam em domicílios ou em empresas. Nãoemprega, portanto, métodos <strong>de</strong> amostracientífica. Desta forma, os resultadosencontrados não po<strong>de</strong>m ser generalizados. Suaaplicação tem como objetivo o conhecimento <strong>de</strong>uma situação social específica visando aformulação <strong>de</strong> um projeto ou algum tipo <strong>de</strong>intervenção, uma vez que permite uma <strong>de</strong>scriçãoconfiável e precisa das características <strong>de</strong> umpúblico-alvo ou <strong>de</strong> um tema específico. Osinstrumentos usados na avaliação rápida sãovariados, tais como questionários, entrevistas econversas em profundida<strong>de</strong>, observaçãocuidadosa e atenta (apesar <strong>de</strong> não utilizar umaobservação intensiva e participativa como no<strong>trabalho</strong> antropológico) e antece<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>rivados<strong>de</strong> uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> fontes, produzindo dadosquantitativos e qualitativos. De acordo com omanual, a combinação do enfoque quantitativoe qualitativo enriquece a compreensão do<strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> “e a informação resultantelevará a uma melhor formulação <strong>de</strong> projetos ououtras intervenções” (p. 3).No contexto do projeto regional “Prevençãoe Eliminação do Trabalho Infantil Doméstico emCasas <strong>de</strong> Terceiros na América do Sul” (RLA/OO/53P/USA), a pesquisa <strong>de</strong> avaliação rápidaaqui relatada teve como objetivo, tal comoexpresso em seu Termo <strong>de</strong> Referência, “facilitara i<strong>de</strong>ntificação, a elaboração e a execução dosprogramas <strong>de</strong> intervenção direta (Programas <strong>de</strong>Ação) para cada uma das categorias dosbeneficiários” (p. 5).A avaliação rápida realizada no Brasil noâmbito do projeto regional acima especificadoteve como meta amostral 1 a i<strong>de</strong>ntificação einvestigação <strong>de</strong> 1.029 trabalhadores domésticos1O termo ‘amostra’ está aqui sendo utilizado para especificar o número <strong>de</strong> trabalhadoras infanto-juvenis e <strong>de</strong> famílias que<strong>de</strong>veriam ser i<strong>de</strong>ntificadas e não no sentido estatístico do termo. Desta forma, as conclusões tiradas <strong>de</strong>ste estudo referem-sesomente ao grupo efetivamente pesquisado e não po<strong>de</strong>m ser generalizadas para toda a população infanto-juvenil envolvidacom o <strong>trabalho</strong> doméstico em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife.14
abaixo <strong>de</strong> 18 anos, <strong>de</strong> 360 famílias <strong>de</strong> origem e101 famílias empregadoras, totalizando 1.485questionários. O critério utilizado pela OIT/IPECpara distribuir essa amostra intencional entre astrês <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> (Belém, Recife e <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>)foi a população total. Somou-se a população dostrês municípios, calculando-se, a seguir, arepresentativida<strong>de</strong> percentual <strong>de</strong> cada cida<strong>de</strong> nototal encontrado (soma da população <strong>de</strong> Belém,Recife e <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>). Desta forma, <strong>Belo</strong><strong>Horizonte</strong> ficou responsável por 45% (669questionários) da meta amostral <strong>de</strong> 1.485questionários, Recife por 29% (436questionários) e Belém por 26% (380questionários).É necessário, neste momento, <strong>de</strong>stacaralgumas dificulda<strong>de</strong>s surgidas com osquestionários aplicados, que justificam, em parte,os problemas metodológicos que tiveram <strong>de</strong> sercontornados ao longo da pesquisa, gerando umdispêndio extra <strong>de</strong> energia e um acúmulo maior<strong>de</strong> tensões no <strong>de</strong>senvolvimento do processo <strong>de</strong>investigação. Sendo um projeto regional,envolvendo vários países e <strong>cida<strong>de</strong>s</strong>, eranecessário elaborar um instrumento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong>dados que permitisse uma análise comparativa.Sem consulta prévia aos pesquisadoresenvolvidos, tal proposta foi pensada a partir <strong>de</strong>uma realida<strong>de</strong> específica que não correspondiaà diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações relacionadas ao<strong>trabalho</strong> infanto-juvenil doméstico encontradasna região <strong>de</strong> abrangência do projeto. Desse modo,os questionários foram estruturados em torno dopressuposto <strong>de</strong> que as empregadas domésticasresidiam no local em que trabalhavam e, em suamaioria, eram proce<strong>de</strong>ntes do interior. A pressãodo tempo, no entanto, não permitiu umadiscussão mais aprofundada entre ospesquisadores das três <strong>cida<strong>de</strong>s</strong> do Brasilenvolvidas com esse projeto. Não houve tambémuma explicitação <strong>de</strong> todas as hipóteses que sevisava verificar e em torno das quais oquestionário <strong>de</strong>veria ser rigorosamenteconstruído. Desta forma, a análise das referidashipóteses implícitas que po<strong>de</strong>riam ser inferidasdos cruzamentos solicitados sofreu umalimitação. Além disso, a linguagem dosquestionários enviados para o Brasil teve que sertraduzida para as categorias culturais maisa<strong>de</strong>quadas à nossa realida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>mandando umesforço concentrado no sentido <strong>de</strong> se cumpriremos prazos já <strong>de</strong>terminados para o término da15pesquisa <strong>de</strong> avaliação rápida, o que por certo,exigiu um maior esforço por parte dos mesmosem algumas perguntas que apresentamdificulda<strong>de</strong>s na sua aplicação, o que nãocomprometeu a qualida<strong>de</strong> nem o rigor científicoda investigação.Os pesquisadores <strong>de</strong> campo enfrentaramalgumas dificulda<strong>de</strong>s no <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> campo, taiscomo recusas <strong>de</strong> vários representantes dopúbico-alvo em respon<strong>de</strong>r ao questionário,medo <strong>de</strong> represálias, suspeita <strong>de</strong> alguns fiscaisdos estabelecimentos comerciais nãopermitindo a presença dos pesquisadores nointerior dos estabelecimentos e insegurança emalguns locais, dificultando o acesso a essasregiões.Nesta pesquisa foi consi<strong>de</strong>rado <strong>trabalho</strong>infanto-juvenil doméstico o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> preparara comida, limpar a casa, lavar e passar roupa,cuidar <strong>de</strong> crianças, cuidar <strong>de</strong> uma pessoa <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> alguém doente, cuidar <strong>de</strong> cachorros ou<strong>de</strong> outros animais, ajudar com as compras ououtras tarefas semelhantes realizadas porcrianças e adolescentes até 18 anos para terceirosdiferentes <strong>de</strong> seus pais. Essas ativida<strong>de</strong>s podiamser realizadas na própria casa da trabalhadorainfanto-juvenil para outras pessoas que viviamfora da casa, na casa da madrinha ou padrinho,na casa <strong>de</strong> outro parente ou na casa <strong>de</strong> outrapessoa. Assim, a pesquisa não contemplou o caso<strong>de</strong> crianças e adolescentes que trabalham em suaspróprias casas para seus pais e irmãos, caso quetambém merece um estudo posterior por envolverum gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> crianças e adolescentes epor comprometer os vários direitos preconizadospela legislação nacional, especialmente oEstatuto da Criança e do Adolescente. Além domais, o <strong>trabalho</strong> doméstico em casa <strong>de</strong> terceirospo<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma extensão do <strong>trabalho</strong>doméstico realizado na própria casa emsubstituição às responsabilida<strong>de</strong>s dos pais comessas tarefas.Tendo em vista o aprofundamento daexperiência <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> das crianças eadolescentes domésticas, foram coletados nove<strong>de</strong>poimentos por cida<strong>de</strong>, sendo um na faixa etária<strong>de</strong> 6 a 11 anos, com um trabalhador do sexomasculino, portanto, uma entrevista atípica;cinco, na <strong>de</strong> 12 a 15 anos; e três, na faixa <strong>de</strong> 16 a17 anos completos. Na escolha <strong>de</strong>sses casos,procurou-se privilegiar as trabalhadoras quetiveram também sua família <strong>de</strong> origem e família
empregadora entrevistadas. Esses <strong>de</strong>poimentoscontaram com um Guia <strong>de</strong> Observação Direta,que o pesquisador preenchia logo após cadaentrevista, e <strong>de</strong>veriam ser colhidos na casa doempregador. A observação das crianças eadolescentes no local <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, um dosinstrumentos privilegiados da avaliação rápida,exige uma discussão cuidadosa no caso <strong>de</strong>trabalhadores infanto-juvenis domésticos, porestarem trabalhando no interior <strong>de</strong> umaresidência particular que é consi<strong>de</strong>rada um asiloinviolável pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral brasileira.Além do mais, se existirem irregularida<strong>de</strong>s legaisna relação empregador-empregado, o número <strong>de</strong>recusas em permitir que o investigador observeo local <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> será, provavelmente, alto.Mesmo no caso <strong>de</strong> a observação ser permitida,as crianças e adolescentes interrogados napresença <strong>de</strong> seus patrões não estarão livres paraexpressar suas opiniões e respon<strong>de</strong>r abertamenteàs perguntas do entrevistador. Tentandocontornar essa dificulda<strong>de</strong>, um estudo realizadoem Dhaka, citado no referido manual da OIT/UNICEF (p. 99), conseguiu acesso às casas pormeio da re<strong>de</strong> pessoal <strong>de</strong> parentes, amigos evizinhos do investigador.16
6. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA TRABALHADORAINFANTO-JUVENIL DOMÉSTICA6.1 O Perfil das Trabalhadoras InfantojuvenisDomésticasEm <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> (<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong>2001), Belém e Recife, o trabalhadorinfanto-juvenil doméstico tinha porcaracterísticas <strong>de</strong> sexo, raça/cor, ida<strong>de</strong>, lugar<strong>de</strong> procedência e residência e, ainda, aocorrência <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong> e paternida<strong>de</strong>, ostraços abaixo <strong>de</strong>scritos, que possibilitami<strong>de</strong>ntificá-lo como um grupo ocupacionalespecífico.O universo pesquisado foi <strong>de</strong> 1.029crianças e adolescentes, sendo expressiva arepresentação do sexo feminino: 954(92,71%) e 75 do sexo masculino (7,29%),o que confirma a tendência nacional paraeste tipo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.Nas faixas etárias pesquisadas,encontramos 54 crianças (5,29%) com ida<strong>de</strong>entre 5 e 11 anos; a faixa <strong>de</strong> 12 a 15 anos foia <strong>de</strong> maior incidência <strong>de</strong> trabalhadorasdomésticas, com 53,28%. Também foiexpressivo o número <strong>de</strong> adolescentes nafaixa <strong>de</strong> 16 a 17 anos (41,43%). Como, noBrasil, atualmente, a ida<strong>de</strong> mínima paraingressar no <strong>trabalho</strong> é <strong>de</strong> 16 anos, 598(58,57%) TIDs estavam trabalhandoilegalmente no momento da aplicação doquestionário (tabela 3).No que se refere ao local <strong>de</strong>procedência das 1.029 crianças eadolescentes entrevistados, 647 (62,94%)sempre moraram nestas capitais e 381(37,06%) nem sempre moraram na capitalmineira, sendo que, <strong>de</strong>stas, 210 (56,45%)eram proce<strong>de</strong>ntes da zona urbana e 160Tabela 1 - SexoSexoTotalFemininoMasculinoLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>95475102992,717,29100,00No que se refere à raça/cor, po<strong>de</strong>moscaracterizar o grupo como sendomajoritariamente composto por pardos(51,48%) e negros/pretos (23,22%), sendotambém significativa a porcentagem <strong>de</strong>brancos (21,84%). Cabe, ainda, registrar ospercentuais <strong>de</strong> 2,37% da raça/cor amarela e1,09% <strong>de</strong> indíge<strong>nas</strong>.(43,01%) da zona rural (tabelas 4 e 5).Do universo pesquisado, 48adolescentes (4,67%) respon<strong>de</strong>ram quepossuíam filhos e 960 (93,39%)respon<strong>de</strong>ram que não. Quanto à vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>ter filhos, as entrevistadas assim seexpressaram: 73,68% <strong>de</strong>sejavam ter filhose 23,88% não <strong>de</strong>sejavam (tabelas 10 e 11).Tabela 2 - Raça/CorRaça/CorFreq %Negro/Preta23523,22Parda52151,48Branca22121,84Amarela242,37Indígena111,09Total1012100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 1717
Tabela 10 - Maternida<strong>de</strong>Você já tem filhos?Freq %SimNãoNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 1489602010284,6793,391,95100,006.2 Características da FamíliaNo que se refere ao conhecimento das TIDssobre seu pai e sua mãe, constatamos um elevadoíndice <strong>de</strong>ste conhecimento: 889 entrevistadas(86,39%) conheciam seu pai e 1.002 (97,38%)conheciam sua mãe. Também foi expressivo onúmero <strong>de</strong> pais vivos – 830 (80,66%), sendo que13,12% das TIDs possuíam só a mãe viva e 4,08%só o pai vivo. Cabe registrar que 14 entrevistadas(1,36%) eram órfãs (tabelas 12,13 e 14,15).Também se avaliou o cruzamento <strong>de</strong> váriasquestões associadas à ausência e/ou situaçãoconjugal dos pais das TIDs com a questão nº 18(você estudou até qual série?). Não foi possívelinferir, a partir <strong>de</strong>ssa tabela, a influência dasvariáveis relacionadas aos pais sobre o grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> atingido pelas TIDs porque não foiinformada a ida<strong>de</strong> das TIDs, dado fundamentalpara se calcular o atraso escolar, e nem se elasestavam estudando no momento. O que po<strong>de</strong> serinferido da tabela é que 80,66% <strong>de</strong>las tinham opai e a mãe vivos. Das que pu<strong>de</strong>ram respon<strong>de</strong>rsobre a situação conjugal <strong>de</strong> seus pais (as quetinham os pais vivos e as que não respon<strong>de</strong>ram aesta questão), 429 TIDs (51,75%) afirmaram queseus pais moravam juntos e 354 (42,70%) queeles estavam separados. Ape<strong>nas</strong> uma TIDinformou ter sua mãe abandonado a família, e41 <strong>de</strong>las (4,95%) disseram que seus pais tinhamabandonado a família. Dentre 401 casos válidos,234 TIDs (58,50%) tinham o pai morando <strong>nas</strong>referidas capitais e 146 (36,50%) não. Dessemesmo grupo, 53,86% tinham o pai morandocom outra pessoa e 34,16% não. Dentre 531casos válidos, as mães <strong>de</strong> 420 TIDs (79,25%)moravam nestas capitais e as <strong>de</strong> 108 (20,38%)não. As mães <strong>de</strong> 530 TIDs <strong>de</strong>sse grupo com paisseparados ou só a mãe viva que não moravamcom outra pessoa correspon<strong>de</strong>ram a 56,79% (301TIDs) e as que moravam com outra pessoa18somaram 39,62% (210). Po<strong>de</strong>-se concluir que onúmero <strong>de</strong> pais que vivem com outra pessoa éproporcionalmente maior que o número <strong>de</strong> mãesvivendo com outra pessoa, ou seja, é maissignificativo o número <strong>de</strong> famíliasmonoparentais femini<strong>nas</strong> do que masculi<strong>nas</strong>. Aanálise <strong>de</strong>sta mesma tabela, consi<strong>de</strong>rando-se ostotais por linha, revela que mais TIDs alcançaramo ensino fundamental II no grupo com “os doisvivem” (59,13%). Mas, por outro lado, foi nogrupo “só o pai vivo” que se encontrou o maiornúmero relativo <strong>de</strong>las no ensino médio (14,29%).Comparando os grupos com pai e mãe vivos como grupo só com a mãe viva, percebe-se que apior posição relativa em todos os níveis <strong>de</strong> estudofoi ocupada pelo grupo “só a mãe viva” (26,72%,contra 34,59% alcançando o ensino fundamentalI; 59,13%, contra 52,63% alcançando o ensinofundamental II; e 10,16%, contra 6,02%alcançando o ensino médio). Tendo em vista asituação conjugal dos pais, a pior posição relativafoi ocupada pelo grupo em que o pai abandonoua família (34,15% das TIDs alcançaram o ensinofundamental I, contra 29,10% do grupo com paisseparados e 24,01% do grupo com pais nãoseparados).A melhor posição foi ocupada pelogrupo que possuía pais morando juntos: 12,35%das TIDs <strong>de</strong>sse grupo estudaram até o ensinomédio, contra 7,63% das que pertenciam aogrupo com pais separados e 9,76% das quepertenciam ao grupo em que o pai abandonou afamília. Mais uma vez, é preciso afirmar que essaanálise é limitada, por não conter a ida<strong>de</strong> dasTIDs em cada um <strong>de</strong>sses grupos. No entanto,um resultado que chama a atenção, apesar <strong>de</strong> nãopo<strong>de</strong>rmos concluir com precisão, é o que informaa situação escolar das TIDs em dois grupos: ogrupo em que a mãe vivia com outra pessoa e ogrupo em que a mãe não vivia com outra pessoa.Nesse último grupo, foi bem maior o percentualdas trabalhadoras que alcançaram o ensino médio
(10,96%) em relação ao percentual das quechegaram a esse mesmo grau e que pertenciamao grupo com mãe vivendo com outra pessoa(1,90%). Por outro lado, mais TIDs estudaramaté o ensino fundamental no grupo com mãessozinhas (40%) do que no grupo com mãevivendo com outra pessoa (24,25%).Consi<strong>de</strong>rando a presença ou ausência dos paise o fato <strong>de</strong> as TIDs não estudarem no momento dapesquisa, existem, proporcionalmente, mais TIDsque não estudam no grupo com ambos os paisfalecidos (28,57%), vindo a seguir o grupo comsó o pai vivo (17,07%), só com a mãe viva(7,52%) e o grupo com os dois vivos (6,34%). Amaior concentração <strong>de</strong> TIDs que estavam noensino suplementar pertencia ao grupo só com amãe viva (23,31%), vindo a seguir o grupo comambos falecidos (21,43%). Consi<strong>de</strong>rando-se trêsoutros grupos (pais morando juntos, paisseparados e pai que abandonou a família), épossível observar que a maior concentração <strong>de</strong>trabalhadoras que não estudavam estava noterceiro grupo (9,76%), vindo a seguir o primeirogrupo (6,57%) e o segundo grupo (5,70%). Dasque respon<strong>de</strong>ram que o pai não morava em <strong>Belo</strong><strong>Horizonte</strong>, Recife ou Belém, 10,96% nãoestudavam; do grupo que disse que o pai moravanestas capitais, 3,48% não estudavam.Comparando o grupo das que tinham paismorando com outra pessoa com o grupo das queos pais não moravam com outra pessoa, percebeseque a maior concentração <strong>de</strong> TIDs que nãoestudavam estava localizada no primeiro grupo(6,57%), contra 5,15% no segundo grupo. Amesma tendência se observa quando se comparao grupo com mães morando nestas capitais emães morando em outros lugares: <strong>de</strong>sse últimogrupo, 10,28% <strong>de</strong> TIDs não estudavam, contra5,52% do primeiro grupo. A circunstância <strong>de</strong> amãe viver com outra pessoa parece nãoinfluenciar o fato <strong>de</strong> a TID não estudar: do grupodas que respon<strong>de</strong>ram que a mãe vivia com outrapessoa, 5,74% estavam sem estudar, contra6,69% do grupo das que disseram que a mãe nãovivia com outra pessoa. Parece então que, semesquecer o limite <strong>de</strong>sta análise por não serinformada a ida<strong>de</strong> das TIDs que não estavamestudando, pais falecidos, pais que abandonarama família, pais e mães não morando em <strong>Belo</strong><strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife, influenciam aparalisação dos estudos pelas trabalhadoras(tabela 16).19Pô<strong>de</strong> ser visto que, <strong>de</strong> 872 TIDs, 53,21%respon<strong>de</strong>ram que já tinham sido reprovadas;44,50% disseram que não e 2,29% nãorespon<strong>de</strong>ram a essa questão. Cruzando a situaçãodos pais com reprovação ou não da TID, tem-seque a maior concentração proporcional <strong>de</strong> TIDsreprovadas estava no grupo com só a mãe viva(61,32%) em relação aos grupos “os dois vivem”(51,62%), “só o pai está vivo” (59,46%) e“ambos estão falecidos” (45,45%). O abandonoda família pelo pai parece influir na reprovaçãoda TID, se forem comparados os percentuais <strong>de</strong>reprovação nos grupos com pais que moravamjuntos (50,14%) e com pais separados (53,97%).Houve também maior concentração <strong>de</strong> TIDsreprovadas no grupo das que o pai morava nestascapitais (56,41%) em relação às que pertenciamao grupo dos pais que não moravam nestascapitais (51,16%). O fato <strong>de</strong> o pai viver ou nãocom outra pessoa parece influir pouco nopercentual <strong>de</strong> reprovação. Em relação à mãe, foimais significativo o percentual <strong>de</strong> reprovação entreas TIDs cujas mães não moravam em BH, Recifeou Belém (57,95%), contra 54,34% <strong>de</strong> TIDsreprovadas do grupo das que as mães moravamnestas capitais. Entre as que respon<strong>de</strong>ram que suasmães moravam com outra pessoa, 58,72% já tinhamsido reprovadas, contra 52,85% <strong>de</strong> reprovação entreas que disseram que suas mães não viviam comoutra pessoa (tabela 17).Foi elevado o número <strong>de</strong> TIDs que nãopossuíam irmãos e irmãs maiores do que elas –396 (38,48%) e 422 (41,01%), respectivamente.Entre as entrevistadas, 334 (32,46%) respon<strong>de</strong>ramque possuíam um irmão maior do que elas e 306(29,74%) que possuíam uma irmã maior. Onúmero <strong>de</strong> respostas relativas a dois irmãos(homens e mulheres) maiores do que asentrevistadas foi <strong>de</strong> 167 (16,23%) e 160 (15,55%),respectivamente. Cabe ainda observar que 468(45,48%) e 472 (45,87%) das entrevistadasrespon<strong>de</strong>ram que não possuíam irmãos ou irmãsmenores do que elas, respectivamente. Aporcentagem das que respon<strong>de</strong>ram possuir ape<strong>nas</strong>um irmão menor ficou também próxima daporcentagem das que respon<strong>de</strong>ram possuir ape<strong>nas</strong>uma irmã menor – 32,26% e 30,52%,respectivamente (tabelas 18 a 21).No que se refere à variável escolarida<strong>de</strong> dospais, constatou-se que num total <strong>de</strong> 880 pais,10,68% eram analfabetos e num total <strong>de</strong> 963mães, 15,06% encontravam-se nessa mesma
situação. Entre os pais, 16,48% chegaram aoensino fundamental I (1 a a 4 a série), 11,02% aoensino fundamental II (5 a a 8 a série), 25,68% aoensino médio e 2,50% ao ensino superior. Foisignificativo o número <strong>de</strong> TIDs que não846 entrevistadas (83,93%). Ape<strong>nas</strong> 116(11,51%) afirmaram receber ajuda, sendo que,<strong>de</strong>ssas, 92,98% recebiam Bolsa-Escola, 3,51%Bolsa-Alimentação e 3,51% recebiam oPrograma do Leite (tabelas 29 e 30).Tabela 29 - Os pais recebem alguma ajudaFreq %Seus pais recebem alguma ajuda (Bolsas escola ou alimentação, etc)?TotalSimNãoNSNRLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 21116846397100811,5183,933,87,69100,00souberam indicar a escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus pais(31,59%). Entre as mães, 23,05% ingressaramno ensino fundamental I, 13,91% no ensinofundamental II, 29,80% no ensino médio eape<strong>nas</strong> 1,14% no ensino superior. Tambémsignificativo foi o número <strong>de</strong> TIDs que nãosouberam respon<strong>de</strong>r (15,78%) (tabelas 22 e 24).Quanto à variável renda, observamos seralto o nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento das TIDs:57,80% em 872 não souberam informar a renda<strong>de</strong> seus pais e 33,47% em 950 nada informaramsobre a renda <strong>de</strong> suas mães. De acordo com asrespostas, 65 pais (7,45%) tinham renda <strong>de</strong>zero a meio SM e 136 mães (14,32%) estavamnessa mesma faixa <strong>de</strong> renda; 78 pais (8,94%)e 111 mães (11,68%) recebiam <strong>de</strong> meio a umSM. Na faixa <strong>de</strong> um a dois SM, encontramos92 pais (10,55%) e 149 mães (15,68%); já nafaixa <strong>de</strong> dois a quatro SM, o registro aponta39 pais (4,47%) e 26 mães (2,74%). Dezesseispais recebiam mais <strong>de</strong> cinco SM (1,83%),sendo que ape<strong>nas</strong> seis mães recebiam nestafaixa (0,63%). Foi expressivo o número <strong>de</strong>mães sem renda, 135 (14,21%), sendo que estenúmero caiu no grupo dos pais – 41 (4,70%).Po<strong>de</strong>-se concluir que o número <strong>de</strong> mães <strong>nas</strong>faixas <strong>de</strong> renda <strong>de</strong> zero a dois SM e na faixasem renda é superior ao número <strong>de</strong> pais; onúmero <strong>de</strong> pais é maior do que o <strong>de</strong> mães <strong>nas</strong>faixas <strong>de</strong> dois a quatro SM e <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> cincoSM (tabelas 23 e 25).Foi expressivo o número <strong>de</strong> famílias quenão recebiam alguma ajuda governamental:206.3 Escolarida<strong>de</strong> das TrabalhadorasInfanto-juvenis DomésticasNo que se refere ao grau <strong>de</strong> analfabetismodas TIDs em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, po<strong>de</strong>-se afirmarser elevado o número das que sabem ler eescrever – 96,20% (tabela 33).Comparando-se a escolarida<strong>de</strong> do pai com adas TIDs, po<strong>de</strong>-se afirmar que entre as 241(27,51%) que estudavam no ensino fundamentalI em 876, 7,05% possuíam pai com a mesmaescolarida<strong>de</strong>, 14,94% possuíam pais analfabetos,30,71% possuíam o ensino médio e ape<strong>nas</strong> 1,24%respon<strong>de</strong>ram que a escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus pais eraensino superior. No que se refere às 511 (58,33%)TIDs que cursavam o ensino fundamental II,18,59% possuíam pais com ensino fundamentalI, 12,92% tinham pai com ensino fundamental II,25,64% com ensino médio, 7,63% possuíam paisanalfabetos e 3,52% com ensino superior. Quantoao ensino médio, das 90 (10,27%) TIDs quepossuíam esse nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, 30,0%possuíam pais com ensino fundamental I, 22,22%com ensino fundamental II, 10,0% o nível médio,sendo expressivo o índice das que possuíam paisanalfabetos: 12,22%. Foi também elevado onúmero <strong>de</strong> TIDs que não souberam informar aescolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus pais em todos os grupos:TIDs no ensino fundamental I (40,25%), no ensinofundamental II (29,55%) e no ensino médio(23,33%) (tabela 34).O cruzamento das variáveis “escolarida<strong>de</strong>da mãe” com “escolarida<strong>de</strong> da TID” informou
que <strong>de</strong> 957 <strong>de</strong>las, 268 (28,0%) estavam no ensinofundamental I e, <strong>de</strong>stas, 13,06% possuíam mãescom a mesma escolarida<strong>de</strong>; 5,60% possuíammães com escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ensino fundamentalII; 38,06% <strong>de</strong> ensino médio; 18,66% tinhammães analfabetas e 1,49% tinham mães comensino superior. Das entrevistadas, 555 (57,99%)estudaram até o ensino fundamental II, sendo que24,68% tinham mães com ensino fundamentalI; 16,40% das TIDs possuíam mães com a mesmaescolarida<strong>de</strong>, ou seja, ensino fundamental II;27,39% o ensino médio; 14,77% tinham mãesanalfabetas e 1,26% tinham mães com ensinosuperior. Entre as 92 (9,61%) TIDs queestudaram até o ensino médio, 45,65% tinhammãe com ensino fundamental I; 26,09% comensino fundamental II; 13,04% com ensinomédio e 5,43% tinham mães analfabetas. Foisignificativo o número <strong>de</strong> TIDs que nãosouberam informar a escolarida<strong>de</strong> da mãe. Emtodos os quatro grupos <strong>de</strong> TIDs (que estudaramaté o ensino fundamental I, até o ensinofundamental II, até o ensino médio e as que nãorespon<strong>de</strong>ram), a maior concentração <strong>de</strong> pais emães ficou no ensino médio, existindo,proporcionalmente, menos mães do que paisanalfabetos no grupo das TIDs com ensino médio(tabela 35).Comparando-se a escolarida<strong>de</strong> das TIDscom a renda do pai, po<strong>de</strong>-se observar que, das236 TIDs que estudaram até o ensinofundamental I, 64,83% não souberam respon<strong>de</strong>rsobre a renda dos pais; 12,29% possuíam paiscom renda <strong>de</strong> até meio SM; 6,78% entre um edois SM; 5,08% possuíam pais que não tinhamrenda e 3,39% possuíam pais com renda entremeio e um SM e entre dois e quatro SM. Das508 TIDs que estudaram até o ensinofundamental II, 55,91% não souberam respon<strong>de</strong>rsobre a renda dos pais, 10,83% das TIDs querespon<strong>de</strong>ram à questão tinham pais que recebiamentre um e dois SM; 10,43% <strong>de</strong> meio a um SM;6,69% com renda <strong>de</strong> até meio SM; 5,31% comrenda <strong>de</strong> dois a quatro SM e 2,17% com paisrecebendo acima <strong>de</strong> cinco SM. É importanteregistrar que 4,92% das TIDs tinham pais semrenda. No que se refere ao ensino médio, foramencontradas 90 TIDs e, <strong>de</strong>ssas, 55,56% nãosouberam respon<strong>de</strong>r sobre a renda dos pais; 15,56%possuíam pais que recebiam <strong>de</strong> um a dois SM,13,33% com renda <strong>de</strong> meio a um SM, 4,44% comrenda <strong>de</strong> dois a quatro SM, enquanto os pais <strong>de</strong>214,44% recebiam mais <strong>de</strong> cinco SM (tabela 36).A relação entre a escolarida<strong>de</strong> das TIDs e arenda da mãe apresentou as seguintes tendências:257 TIDs estudaram até o ensino fundamental Ie, <strong>de</strong>ssas, 40,86% não souberam informar a rendada mãe; 19,07% possuíam pais com renda <strong>de</strong> atémeio SM; 12,84% afirmaram que suas mães nãotinham renda; na mesma porcentagem,encontram-se as que afirmaram que a renda dasmães era entre um e dois SM; 3,89% entre meioe um SM e 1,95% afirmaram que suas mãesrecebiam <strong>de</strong> dois a quatro SM. Das 552 TIDsque cursaram até o ensino fundamental II,30,98% não souberam respon<strong>de</strong>r sobre a rendada mãe; 15,58% afirmaram que suas mãesrecebem <strong>de</strong> um a dois SM; 15,04% entre meio eum SM; 14,13% disseram que suas mães nãotinham renda; 13,04% que elas recebiam até meioSM; 3,26% afirmaram que a renda materna era<strong>de</strong> dois a quatro SM. Entre as 92 TIDs quecursaram até o ensino médio, 28,26% nãosouberam informar sobre a renda das mães;22,83% afirmaram que as mães tinham renda <strong>de</strong>um a dois SM; 17,39% disseram que a rendamaterna era <strong>de</strong> meio a um SM; com o mesmopercentual encontram-se aquelas mães que nãopossuíam renda, acompanhadas <strong>de</strong> 7,61% queinformaram que as mães recebiam <strong>de</strong> zero a meioSM (tabela 37).A seguir, verifica-se a comparação da ida<strong>de</strong>em que as 1.029 TIDs começaram a trabalharcom o grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>. Observa-se que das273 TIDs que começaram a trabalhar na faixaetária <strong>de</strong> 5 a 11 anos, 46,89% cursaram até oensino fundamental II; 45,42% até o ensinofundamental I e 2,93% até o ensino médio. Das652 que começaram a trabalhar na faixa etária<strong>de</strong> 12 a 15 anos, 63,65% cursaram até o ensinofundamental II; 22,24% até o ensino fundamentalI e 10,28% até o ensino médio. Nesse grupo, as145 que estudaram até o ensino fundamental I(22,24%) estavam atrasadas em sua vida escolar,pois a ida<strong>de</strong> para terminar esse nível <strong>de</strong> ensino é<strong>de</strong> 10 anos. Das 92 que ingressaram no <strong>trabalho</strong>na faixa etária <strong>de</strong> 16 a 17 anos, 53,26% cursaramaté o ensino fundamental II, 28,26% até o ensinomédio e 11,96% até o ensino fundamental I.Neste grupo, as 11 TIDs que estudaram até oensino fundamental I e todas as 49 que cursaramaté o ensino fundamental II estavam com atrasoescolar, uma vez que a ida<strong>de</strong> correta paracomeçar o ensino médio é 15 anos.
Tabela 38 – Ida<strong>de</strong> do primeiro <strong>trabalho</strong> X Escolarida<strong>de</strong> do TIDVocê estuda(ou) até qual série?Ens. Fund. I Ens. Fund. II Ens. Médio NRFreq % Freq % Freq % Freq %TotalFreq %Ida<strong>de</strong>quecomeçouatrabalharDe 5 a 11De 12 a 15De 16 a 171241451145,4222,2411,96128 46,89 8 2,93415 63,65 67 10,2849 53,26 26 28,26132564,763,836,5227365292100,00100,00100,0028027,53592 58,21 101 9,93444,331017100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>O cruzamento das variáveis “primeiro<strong>trabalho</strong>” com “grau <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>” mostraque, <strong>de</strong> 1.020 TIDs, 39,90% (407) começaramtrabalhando como babá; 33,92% (346), comoempregadas domésticas; 5,88% (60) arrumavamcasa em seu primeiro <strong>trabalho</strong>; 3,04%começaram como balconistas; 2,94% começaramcomo faxineiras; 2,16% levavam crianças àescola; 1,37%, como acompanhantes <strong>de</strong> pessoasidosas; 1,37% trabalhavam na lavoura e 1,27%,como ven<strong>de</strong>doras. Das que foram babás em seuprimeiro <strong>trabalho</strong>, 62,16% estudaram até oensino fundamental II; 23,10% até o ensinofundamental I e 9,83%, até o ensino médio. Das346 TIDs que tiveram o primeiro <strong>trabalho</strong> comoempregadas domésticas, 55,02% cursaram até oensino fundamental II; 33,24% alcançaram oensino fundamental I e 9,25%, o ensino médio.Das 60 TIDs que iniciaram arrumando casa,56,67% estudaram até o ensino fundamental II;28,33%, até o ensino fundamental I e 15,0%, atéo ensino médio. Das 30 que iniciaram o <strong>trabalho</strong>como faxineiras, 60% cursaram até o ensinofundamental II e, das 22 TIDs que iniciaram o<strong>trabalho</strong> levando crianças para a escola, 90,91%cursaram até o ensino fundamental II. Apesar <strong>de</strong>não ser possível uma análise acurada sobre oatraso escolar e sobre a influência do primeiro<strong>trabalho</strong> no <strong>de</strong>sempenho escolar, pelo fato <strong>de</strong> nãoser informada a ida<strong>de</strong> atual das TIDs e nem asérie que elas estavam efetivamente cursando, éimportante observar que o único grupo <strong>de</strong> TIDscom maior concentração no ensino fundamentalI (71,43%) e não no ensino fundamental II(28,57%) é o grupo que começou trabalhandona lavoura (tabela 39).A maioria das respostas válidas <strong>de</strong> 1.023TIDs, ou seja, 58,06% (594), estudou até o ensinofundamental II; 27,66% (283) alcançaram o22ensino fundamental I e 9,87% (101) cursaramaté o ensino médio. Na análise do cruzamentodas variáveis “casa em que dorme” e “grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> alcançado”, se po<strong>de</strong> afirmar, que apartir dos dados exibidos, é que, das 1.029 TIDs,623 dormiam na casa dos pais e, <strong>de</strong>ssas, 62,12%estudaram até o ensino fundamental II; 21,03%,até o ensino fundamental I e 12,36%, até o ensinomédio. Das 318 TIDs que dormiam na casa on<strong>de</strong>trabalhavam, 49,37% alcançaram o ensinofundamental II; 40,57%, o ensino fundamental Ie 5,35%, o ensino médio. Das 64 TIDs quedormiam na casa <strong>de</strong> um familiar, 57,81%cursaram até o ensino fundamental II; 31,25%,até o ensino fundamental I e 7,81%, até o ensinomédio (tabela 40).Das 1.029 TIDs pesquisadas, 469 tinhamsido reprovadas. Cruzando essa variável com“número <strong>de</strong> reprovações”, po<strong>de</strong>-se observar que,<strong>de</strong> 449 respostas válidas, 263 TIDs (58,57%)foram reprovadas uma vez; 118 (26,28%) foramreprovadas duas vezes e 68 (15,14%) três ou maisvezes. As séries em que ocorreu maior incidência<strong>de</strong> reprovação, num total <strong>de</strong> 455 respostasválidas, foram 1 a série (19,53%), 2 a série(17,80%) e 3 a série (15,82%). A 5 a série vem emquarto lugar, com 15,16%. De 383 trabalhadorasreprovadas da 1ª série do ensino fundamental ao1º ano do ensino médio, a maioria foi reprovadaape<strong>nas</strong> uma vez, em todas essas séries, vindo aseguir duas reprovações. Chama atenção o casoda 5 a série e do 1º ano do ensino médio, com umalto percentual <strong>de</strong> três ou mais reprovações(20%). A única reprovada no 2 o ano do ensinomédio foi reprovada duas vezes. Os motivosalegados pelas 215 que não freqüentavam aescola incidiram, em primeiro lugar, “não gosto<strong>de</strong> estudar”, com 17,99% das respostas. Emsegundo lugar, veio a opção “tenho que fazer as
Tabela 44 - Freqüência <strong>de</strong> reprovação e em que sériesVocê já foi reprovada?TotalFreqSim%NRFreq %Freq %Quantasvezes foireprovada?TotalTotalUmaDuasTrês ou mais3º serie1º serie5º serie4º serienão lembra2º serie6º serie1º ano do 2º grau7º serie8º serie2º ano do 2º grau3ª e 2ª séries5ª e 7ª séries2ª, 3ª e 4ª séries1ª e 3ª séries7ª e 8ª séries8ª e 2º ano (médio)2ª e 4ª séries3ª e 4ª séries2ª etapa2ª e 5ª séries3ª etapa5ª e 6ª séries4ª e 5ª sériesAlfabetização1ª e 3ª séries1º grau3ª e 6ª séries3ª, 4ª e 6ª séries3ª e 5ª séries3ª, 5ª e 7ª séries1ª, 2ª e 3ª séries1ª e 5ª séries2ª, 3ª e 6ª séries2ª e 4ª séries1ª e 6ª sériesNR2631186844972896942381968818416113631134215113111211545558,5726,2815,14100,0015,8219,5615,169,23,6617,801,981,321,761,76,221,76,88,221,32,22,22,661,32,66,22,22,66,88,44,221,10,22,22,66,22,22,22,44,22,221,10100,0000202000000000000000000000000000000000000000,00,00100,00100,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,002631188846972896942381968818416113631134215113111211545556,0825,1618,76100,0015,8219,5615,169,23,6617,801,981,321,761,76,221,76,88,221,32,22,22,661,32,66,22,22,66,88,44,221,10,22,22,66,22,22,22,44,22,221,10100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>coisas da casa”, com 17,15%; o terceiro lugarficou com a opção “preciso trabalhar”, com12,97% e, em quarto lugar, “não encontrei vaga”(11,30%) (tabelas 44, 45 e 46).Das 424 TIDs que respon<strong>de</strong>ram sobrea disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tempo para realizaras tarefas escolares, 85,85% respon<strong>de</strong>ramque tinham esta disponibilida<strong>de</strong>. Indagadasse o <strong>trabalho</strong> era empecilho para realizaras tarefas escolares, 78,20% disseram que23não e 21,09% que sim. Das 89 queconsi<strong>de</strong>raram o <strong>trabalho</strong> um empecilho àrealização <strong>de</strong> tarefas escolares, 45,45%alegaram falta <strong>de</strong> tempo para as tarefasescolares, 25% mencionaram o cansaço e20,45%, o excesso <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> (tabelas 47,48 e 49).De 1.016 respostas válidas, 74,11%estavam cursando o ensino regular e17,72% o ensino suplementar. Foi
significativo o número das que nãoestudavam – 7,19% (73) (tabela 50).Das 797 TIDs que respon<strong>de</strong>ram sobre ascondições da escola em que estudavam,apresenta-se o número total <strong>de</strong> respostasválidas em cada opção oferecida pela perguntae a distribuição percentual entre respostasafirmativas e negativas. Mais <strong>de</strong> 90%admitiram que seus professores lhes tratavambem e que tinham um bom relacionamento comseus colegas. Mais <strong>de</strong> 80% consi<strong>de</strong>raram quesuas salas <strong>de</strong> aula tinham luz suficiente,afirmaram que havia biblioteca em suasescolas, que as alu<strong>nas</strong> não eram responsáveispela limpeza da escola e que o ensino era bom.Pouco mais da meta<strong>de</strong> disse que os banheirosestavam limpos. De uma maneira geral, asTIDs avaliaram positivamente as condições <strong>de</strong>suas escolas (tabela 52).Quanto às expectativas sobre a escola,entre as 786 TIDs que respon<strong>de</strong>ram, a opçãomais registrada foi curso <strong>de</strong> computação, com27,15%. Em seguida veio campo esportivo,com 9,58%, e banheiros limpos, com 9,11%(tabela 53).6.4 Condições <strong>de</strong> TrabalhoDas 1.029 TIDs, 64,03% começaram atrabalhar quando estavam na faixa etária <strong>de</strong> 12 a15 anos; 26,88% iniciaram o <strong>trabalho</strong> entre 5 e 11anos; e 9,091% começaram a trabalhar com 16 a17 anos.como doméstica entre 12 e 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>;24,48%, entre 5 e 11 anos; e 12%, entre 16 e 17anos (tabelas 56 e 57).Das 272 trabalhadoras domésticas quecomeçaram a trabalhar com 5 a 11 anos, a maioria(59,56%) estava, no momento da pesquisa, com12 a 15 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>; 21,32%, com 16 a 17anos; e 19,12%, com 5 a 11 anos. Das 650 queiniciaram no <strong>trabalho</strong> com 12 a 15 anos, 58%possuíam <strong>de</strong> 12 a 15 anos e 42% estavam entre16 e 17 anos. Das 93 que começaram a trabalharentre 16 a 17 anos, todas (100%) estavam nafaixa <strong>de</strong> 16 a 17 anos no momento da pesquisa(tabela 41).O cruzamento das variáveis “primeiro<strong>trabalho</strong>” e “faixa etária atual” informa que maisda meta<strong>de</strong> das que iniciaram trabalhando comobabás (59,46%), arrumando casa (51,67%),fazendo faxina (73,33%), levando crianças àescola (77,27%), estava, no momento daaplicação do questionário, na faixa etária <strong>de</strong> 12a 15 anos e, portanto, ainda fora da legalida<strong>de</strong>.Meta<strong>de</strong> ou mais das que começaram a trabalharcomo acompanhante <strong>de</strong> pessoas idosas (57,14%),trabalhadora rural (50%), balconista (58,06%) even<strong>de</strong>dora (53,85%) pertenciam à faixa etária <strong>de</strong>16 a 17 anos, já alcançando a legalida<strong>de</strong>. Umahipótese que po<strong>de</strong>ria ser levantada a partir <strong>de</strong>ssesdados é que são admitidas com mais facilida<strong>de</strong>crianças e adolescentes com menos <strong>de</strong> 15 anos paraas ocupações citadas no grupo <strong>de</strong> faixa etária <strong>de</strong> 12a 15 anos. Concentrando-se na faixa etária maisvulnerável, <strong>de</strong> 5 a 11 anos, observamos que asativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> maior registro como primeiro <strong>trabalho</strong>Tabela 55 - Ida<strong>de</strong> que começou a trabalharIda<strong>de</strong> que começou a trabalharFreq %De 5 a 11De 12 a 15De 16 a 17TotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 627565593102326,8864,039,09100,00Das 1.026 TIDs que respon<strong>de</strong>ram sobre oprimeiro <strong>trabalho</strong>, 39,86% tiveram comoprimeira ocupação a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> babá e 33,82%a <strong>de</strong> empregada doméstica. A maioria (63,52%),num total <strong>de</strong> 1.026 TIDs, começou a trabalhar24foi babá e empregada doméstica (ambos com 16casos), num total <strong>de</strong> 54 crianças (tabela 42).A análise do cruzamento da questão “quem<strong>de</strong>cidiu que você <strong>de</strong>veria trabalhar” com avariável escolarida<strong>de</strong> do pai e da mãe não permite
nenhuma conclusão a respeito da correlaçãoentre essas variáveis. O que po<strong>de</strong> ser afirmado éque, no grupo <strong>de</strong> TIDs cujos pais e mães eramanalfabetos ou freqüentaram o ensinofundamental, a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> trabalhar partiu, emprimeiro lugar, das próprias TIDs. No grupo <strong>de</strong>TIDs que possuíam pais e mães no ensino médioou no ensino superior, a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> trabalharcontinuava sendo, em primeiro lugar, daspróprias TIDs. É importante registrar o<strong>de</strong>sconhecimento das TIDs quanto à escolarida<strong>de</strong><strong>de</strong> seus pais (tabelas 58 e 59).O cruzamento <strong>de</strong> qualquer questão com avariável renda do pai é precário <strong>de</strong>vido ao gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> TIDs que não souberam dar essainformação. Foi expressivo também o númerodas que não souberam informar a renda da mãe,apesar <strong>de</strong> ser menor: as TIDs <strong>de</strong>ram maisinformações sobre suas mães do que sobre seuspais. O que po<strong>de</strong> ser observado é que os pais <strong>de</strong>31,64% das TIDs situavam-se na faixa <strong>de</strong> semrenda até dois salários mínimos e que 55,89%das mães das TIDs localizavam-se na faixa <strong>de</strong>sem renda até dois salários mínimos. Em quasetodas as faixas <strong>de</strong> renda, “outras pessoas”comparece em segundo lugar nessa <strong>de</strong>cisão.41,46% das TIDs pertenciam a famílias comrenda familiar que variava <strong>de</strong> sem renda até doissalários mínimos. Foi alto o número das que nãosouberam dar essa informação. As TIDs quedisseram que foi seu pai ou sua mãe quem <strong>de</strong>cidiuque elas <strong>de</strong>veriam trabalhar pertenciam, em suamaior parte, a famílias com renda <strong>de</strong> um a doissalários mínimos. As TIDs que disseram ser elasmesmas ou seus pais ou outros familiares quetomaram a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> elas trabalharempertenciam a famílias com renda <strong>de</strong> um a doissalários mínimos, em sua maior parte. Não foipossível estabelecer uma correlação precisa entrerenda do pai, renda da mãe, renda familiar eresponsável pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> trabalhar a partir<strong>de</strong>ssas análises. A hipótese que po<strong>de</strong> serlevantada é a <strong>de</strong> que a mãe e o pai não <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>mpelo <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> suas filhas como domésticas emfamília com renda superior a cinco saláriosmínimos (tabelas 61 e 62).Também são apresentados os resultados docruzamento das variáveis “motivos <strong>de</strong> a TIDtrabalhar” dados pelas famílias <strong>de</strong> origem e“responsável pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> trabalhar”, dadopelas TIDs. O que se observa é que “para serin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte” obteve 83 registros, “para ajudara família”, 45 registros, “somos pobres” recebeu27 registros e “queria trabalhar e estudar”, 22registros. A distribuição <strong>de</strong>ssas respostas pelascategorias <strong>de</strong> responsáveis pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>trabalhar indica que mais <strong>de</strong> 80% <strong>de</strong>las seconcentram na categoria das TIDs que disseramter sido elas mesmas a <strong>de</strong>cidir que <strong>de</strong>veriamtrabalhar.Po<strong>de</strong>-se também analisar o cruzamento dasrespostas dadas pelas TIDs sobre o início do<strong>trabalho</strong> e por suas famílias <strong>de</strong> origem sobre osresponsáveis pela <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> trabalhar comoTID. De uma maneira geral, não existemcontradições entre essas informações. Das 272famílias que respon<strong>de</strong>ram, 88,60% (241)admitiram ter sido a própria filha a tomar aPor que sua filha trabalha emcasa <strong>de</strong> outra família?Tabela 64 - Motivação para começar como TID X Decisão <strong>de</strong> iniciar a trabalharSomos pobresAqui não tem <strong>trabalho</strong> p/ elaQueria trablhar e estudarPara ajudar a famíliaPara apren<strong>de</strong>r as tarefas domésticasPara ser in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nteFaz favor p/ pessoaOutrosNSQuem <strong>de</strong>cidiu que você <strong>de</strong>veria trabalhar?Eu mesma Meus pais Meu pai Outra pessoa NRResp. % Resp. % Resp. % Resp. % Resp. % Resp. %244193847073188,8966,6786,3684,44100,0084,3487,50100,00100,00102201000253,70,009,094,44,001,20,00,00,00000001000,00,00,00,00,001,20,00,00,0021150111007,4116,674,5511,11,0013,2512,50,00,00010000000,0016,67,00,00,00,00,00,00,00Total (*)Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> casos válidos: 199 * Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA.2762245483831100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00
<strong>de</strong>cisão. Desse grupo, 72,61% (175) afirmaramque a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> trabalhar coube a elas e 66(27,39%) não confirmaram a informação dadapor suas famílias (tabela 65).As quatro categorias <strong>de</strong> motivos quelevaram as crianças e adolescentes ao <strong>trabalho</strong>doméstico mais marcadas pelas famílias <strong>de</strong>origem foram, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente: “ter opróprio dinheiro”, “para ajudar meus pais efamiliares”, “para ganhar algo e estudar” e“necessida<strong>de</strong>/somos muito pobres”. Mais <strong>de</strong> 80%das respostas nestas categorias concentraram-seno grupo <strong>de</strong> TIDs que <strong>de</strong>cidiram por si própriasque <strong>de</strong>veriam trabalhar (tabela 66).Parece não haver nenhuma relação entreescolarida<strong>de</strong> do pai e motivos alegados pelasTIDs para começarem a trabalhar. Em todos osmotivos citados, a maior concentração <strong>de</strong> TIDsficou no grupo com pais com ensino médio. Aexceção coube aos motivos “para ser alguém navida” e “para apren<strong>de</strong>r a fazer algo” que alémdo ensino médio apresentaram concentraçãoigual à <strong>de</strong> TIDs com pais analfabetos e no ensinofundamental I (tabela 67).Não foi possível estabelecer nenhumacorrelação significativa entre escolarida<strong>de</strong> damãe e motivos alegados pelas TIDs paracomeçarem a trabalhar. Uma observação quepo<strong>de</strong> ser feita é que, em quase todos os motivoscitados, a maior concentração <strong>de</strong> TIDs ficou nogrupo com pais com ensino médio. A distribuiçãopor escolarida<strong>de</strong> da mãe revelou que a segundamaior concentração <strong>de</strong> TIDs distribui-se entre acategoria mães analfabetas e mães com ensinofundamental I. Com exceção <strong>de</strong> “para apren<strong>de</strong>ra fazer algo”, que obteve a maior concentraçãono grupo <strong>de</strong> mães com ensino fundamental I,seguido das mães com ensino médio (tabela 68).Parece não haver relação significativaentre renda da mãe e do pai e motivos paratrabalhar. Em todas as faixas <strong>de</strong> renda, osmotivos mais alegados pelas TIDsconcentraram-se em “para ter meu própriodinheiro”, ”somos muito pobres” e “paraapren<strong>de</strong>r a fazer algo”. É importante apontaro gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> TIDs que não souberaminformar a renda do pai e da mãe, o quecompromete qualquer análise <strong>de</strong> tendência. Omesmo comentário po<strong>de</strong> ser feito para avariável renda familiar no último mês. É digno<strong>de</strong> nota que o motivo “somos muito pobres”foi alegado, principalmente, pelas TIDs26pertencentes a famílias com renda <strong>de</strong> um a doissalários mínimos (23,20%). O motivo maisalegado pelas TIDs localizadas no grupo <strong>de</strong>zero a meio SM foi também “somos muitopobres” (tabelas 69,70 e 71).Os três principais motivos dados pelas TIDspara trabalhar foram, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente:“para ter meu próprio dinheiro”, “para ajudarmeus pais/familiares” e “para ganhar algo eestudar”. As TIDs pertencentes a todas essascategorias utilizavam o dinheiro que recebiamcomprando coisas próprias, em primeiro lugar,e ajudando a família, em segundo. As TIDs queadmitiram que o motivo do <strong>trabalho</strong> era “somosmuito pobres” disseram, em sua maioria, queajudavam a família com o dinheiro que recebiam(tabela 72).Po<strong>de</strong>-se observar que o ponto <strong>de</strong> maiorconcentração <strong>de</strong> respostas dos motivos “paraajudar meus pais/familiares”, “para apren<strong>de</strong>r afazer algo”, “para ser alguém na vida”, “para termeu próprio dinheiro”, “para não ficar à toa” e“outros” admitidos pelas TIDs para trabalharcoinci<strong>de</strong>m com a explicação “para serin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte” dada pelas famílias <strong>de</strong> origem(tabela 63).In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte do motivo alegado pelas TIDspara ter começado a trabalhar como doméstica,mais <strong>de</strong> 89% das respostas das famílias <strong>de</strong> origemsobre o responsável pela <strong>de</strong>cisão do <strong>trabalho</strong> dafilha recaiu sobre a categoria “ela sozinha”(tabela 64).Ao mesmo tempo, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dosmotivos das TIDs para começarem no <strong>trabalho</strong>doméstico, as repostas das famílias <strong>de</strong> origemsobre as razões <strong>de</strong> a filha ter ido trabalharconcentraram-se, principalmente, sobre acategoria “ter o próprio dinheiro”.Analisou-se também a distribuição dasativida<strong>de</strong>s feitas pelas TIDs por sexo. Entre asmeni<strong>nas</strong>, e somando os valores obtidos <strong>nas</strong>categorias “todos os dias”, “quase todos os dias”e “<strong>de</strong> vez em quando”, as ativida<strong>de</strong>s maispraticadas foram, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente: arrumara casa (680), cuidar <strong>de</strong> crianças (603), lavar roupa(468), passar roupa (381), ajudar com as compras(256), cuidar <strong>de</strong> cachorro (133), cozinhar (113),ver televisão (96), ape<strong>nas</strong> estudar (66), cuidar<strong>de</strong> idosos (57) e cuidar <strong>de</strong> pessoa doente (47).Entre os meninos, as ativida<strong>de</strong>s mais freqüentesforam: arrumar a casa (36), cuidar <strong>de</strong> crianças(24), cuidar <strong>de</strong> cachorro e ajudar com as compras
(19 cada), lavar roupa (8), ver televisão (7),passar roupa (6), ape<strong>nas</strong> estudar e cuidar <strong>de</strong>idosos (5 em cada uma das categorias), cuidar<strong>de</strong> pessoa doente e cozinhar (4 em cada umasdas categorias). Entre os meninos, as ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> lavar e passar roupa, cuidar <strong>de</strong> idosos, cuidar<strong>de</strong> pessoa doente e cozinhar receberam igual oumaior número <strong>de</strong> registros <strong>nas</strong> categorias ”quasenunca” e “nunca” em relação aos obtidos <strong>nas</strong>opções “todos os dias”, “quase todos os dias” e“<strong>de</strong> vez em quando” somadas. Entre as meni<strong>nas</strong>,essa situação ocorreu com as ativida<strong>de</strong>s cuidar<strong>de</strong> idosos e cuidar <strong>de</strong> pessoa doente (tabela 76).Das 791 TIDs que cuidavam <strong>de</strong> crianças,520 cuidavam todos os dias e a maioria (55,58%)estava na faixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos e 40%estava na faixa <strong>de</strong> 16 a 17 anos. Das 804 TIDsque arrumavam casa, 546 arrumavam todos osdias, sendo que 48,90% estavam na faixa <strong>de</strong> 12a 15 anos e 45,79% estavam na faixa <strong>de</strong> 16 a 17anos. Das 604 TIDs que ajudavam com ascompras, 86 ajudavam todos os dias, 50%estavam entre 12 a 15 anos e 45,35% estavamna faixa <strong>de</strong> 16 a 17 anos. Das 685 TIDs quelavavam roupa, 210 lavavam todos os dias, sendo53,33% na faixa etária <strong>de</strong> 16 a 17 anos e 44,29%na faixa <strong>de</strong> 12 a 15 anos. Das 652 TIDs quepassavam roupa, 123 passavam todos os dias,sendo 57,72% na faixa <strong>de</strong> 16 a 17 anos e 42,28%na faixa <strong>de</strong> 12 a 15 anos (tabela 78).Das 274 TIDs que respon<strong>de</strong>ram quearrumavam casa, 240 arrumavam todos os dias.Dessas, 51,67% trabalhavam em casas <strong>de</strong> quatroa cinco pessoas e 28,33% em casas <strong>de</strong> seispessoas ou mais. Das 248 TIDs que lavavamroupa, 97 lavavam todos os dias. Dentre essas,46,39% trabalhavam em casa <strong>de</strong> quatro a cincopessoas, 27,84% em casas <strong>de</strong> seis ou maispessoas e 25,77% em casas <strong>de</strong> até 3 pessoas. Das233 TIDs que passavam roupa, 57 passavamtodos os dias e, <strong>de</strong>ssas, 43,86% trabalhavam emcasas <strong>de</strong> quatro a cinco pessoas, 29,82% em casas<strong>de</strong> seis ou mais pessoas e 26,32% em casas <strong>de</strong>até três pessoas. Das 229 TIDs que cuidavam <strong>de</strong>crianças, 157 cuidavam todos os dias e, <strong>de</strong>ssas,55,41% trabalhavam em casas <strong>de</strong> quatro a cincopessoas e 31,21% em casas <strong>de</strong> seis ou maispessoas. Das 213 TIDs que ajudavam <strong>nas</strong>compras, 46 ajudavam todos os dias e, <strong>de</strong>ssas,41,30% trabalhavam em casas <strong>de</strong> quatro a cincopessoas, 30,43%, <strong>de</strong> seis pessoas ou mais e28,26%, em casas <strong>de</strong> até três pessoas (tabela 79).Também são apresentados, das 108 respostasválidas, os motivos das crianças e adolescentestrabalharem os sete dias da semana, distribuídospor situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Observa-se que, das 35(32,41%) que respon<strong>de</strong>ram “não tenho para on<strong>de</strong>ir”, 34,29% eram mensalistas resi<strong>de</strong>ntes e 11,43%mensalistas não resi<strong>de</strong>ntes; das 22 (20,37%) querespon<strong>de</strong>ram que “foi esse o acordo”, 63,64%eram mensalistas resi<strong>de</strong>ntes e 13,64% mensalistasnão resi<strong>de</strong>ntes e das 21 (19,44%) que respon<strong>de</strong>ram“a patroa <strong>de</strong>terminou”, 52,38% eram mensalistasresi<strong>de</strong>ntes e 4,76% não resi<strong>de</strong>ntes. Os motivos“não tenho para on<strong>de</strong> ir”, “são tarefas que foramdadas pelo abrigo on<strong>de</strong> moro e <strong>trabalho</strong>”, “paraajudar parentes”, “é a casa on<strong>de</strong> moro” e “porqueganho pouco” só foram dados pelas mensalistasresi<strong>de</strong>ntes (tabela 80).Quanto à jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, a maioria(32,85%) das TIDs trabalhava <strong>de</strong> oito a dozehoras diárias e <strong>de</strong> quatro a oito horas (32,84%).21,54%, até quatro horas e 12,77%, acima <strong>de</strong>doze horas diárias. Observa-se um expressivoGráfico 1 - Jornada <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>Acima <strong>de</strong> 12h12.77%Até 4h21.54%Entre 8 e 12h32.85%Entre 4 e 8h32.84%Fonte: Lumen/Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong> e ICA/PUC Mi<strong>nas</strong>27
percentual para aquelas TIDs que estavamexpostas a jornada acima da exigida por lei(45,62%) (Gráfico 1).E, no cruzamento diário <strong>de</strong>sta jornada,verifica-se que 645 TIDs trabalhavam aossábados, sendo que 36,90% ficavam <strong>de</strong> oito a dozehoras e 13,49% ficava acima <strong>de</strong> doze horas. Das238 que trabalhavam aos domingos, igualmenteestavam expostas a longas jornadas <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>(tabela 80).Das que trabalhavam sete dias por semana,70 (63,64%) admitiram ter <strong>de</strong>scanso. Dessas,45,71% eram mensalistas resi<strong>de</strong>ntes e 11,43%,não resi<strong>de</strong>ntes; 37 (33,64%) afirmaram não ter<strong>de</strong>scanso, sendo 43,24% mensalistas resi<strong>de</strong>ntes e2,70% não resi<strong>de</strong>ntes. Das três (2,73%) que nãorespon<strong>de</strong>ram, uma era mensalista resi<strong>de</strong>nte, umanão resi<strong>de</strong>nte e a outra não recebia (tabela 81).Das 1.008 TIDs, 73,51% eram remuneradasem dinheiro, 13,79% eram remuneradas comcoisas, 9,33% com dinheiro e coisas, sendo que2,48% não recebiam (tabela 82).Das 160 que não recebiam em dinheiro,33,13% não recebiam porque as pessoas eram seusfamiliares; 21,25% porque a família não tinhasemanalmente. Quanto ao <strong>de</strong>stino dado aosalário, a opção “compro minhas coisas” recebeu52,54% dos registros; “ajudo minha família”ficou com 35,97%; “gasto com diversão”, 3,52%;“pago meu material escolar”, 2,97%; “pagocontas (telefone e água)” recebeu 2,74% dosregistros; e a opção “faço poupança” teve 1,49%<strong>de</strong> registros. Po<strong>de</strong>-se afirmar que na sua quasetotalida<strong>de</strong> as TIDs recebiam elas mesmas seussalários (94,67%). Ape<strong>nas</strong> 3,22% <strong>de</strong>lasafirmaram que suas mães recebiam o dinheiro(tabelas 85, 86, 87 e 88).Das 1.029 TIDs entrevistadas, 731(71,04%) trabalhavam há menos <strong>de</strong> um ano nodomicílio da época da pesquisa e 14,67%trabalhavam entre um e dois anos. É importanteobservar que 93,31% não possuíam registro emcarteira e ape<strong>nas</strong> 3,25% afirmaram ter registroem carteira. O cruzamento com a faixa etáriaaponta que, das 33 que afirmaram que possuíamregistro em carteira, sete não po<strong>de</strong>riam ter porencontrar-se na faixa etária menor <strong>de</strong> 16 anos.Porém, 383 TIDs que estavam com ida<strong>de</strong> legalafirmaram não possuir registro em carteira(tabelas 89, 90 e 91).Tabela 90 - Registro em carteiraFaixa Etária (em anos)5-11 12-15 16-17Freq % Freq % Freq %Total(*)Freq %TotalSimNãoNR1512541,8594,443,70100,001,1194,834,06100,006,1991,192,62100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA.6514225422638311420339483510163,2593,313,44100,00dinheiro e 16,88% porque lhe davam casa e comidae recebiam coisas em troca do <strong>trabalho</strong> (tabela 84).Das 386 TIDs que respon<strong>de</strong>ram quanto àremuneração mensal, 64,25% <strong>de</strong>clararam receberaté R$ 90,00; 29,53%, <strong>de</strong> R$ 91,00 a R$ 180,00e 5,18%, <strong>de</strong> R$ 181,00 a R$ 360,00.Das 806 que respon<strong>de</strong>ram sobre apontualida<strong>de</strong> com que recebiam o salário e afreqüência <strong>de</strong>ste recebimento, observamos que73,33% recebiam pontualmente e 71,43%recebiam por mês; 15,76% recebiam com umpouco <strong>de</strong> atraso; e 11,53% recebiam28Das 1.026 TIDs que respon<strong>de</strong>ram on<strong>de</strong>realizavam o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> domésticas 62,96% orealizavam na casa <strong>de</strong> outra pessoa, 19,40%realizavam <strong>trabalho</strong> na casa <strong>de</strong> outro parente e14,42% o realizavam em sua própria casa parapessoas que moravam em outra casa (tabela 92).De uma maneira geral, as TIDsconsi<strong>de</strong>ravam que eram bem tratadas pelasfamílias empregadoras. As opções menosmarcadas por elas sobre comportamentosconsi<strong>de</strong>rados positivos referem-se à ajuda nos<strong>de</strong>veres <strong>de</strong> casa e ao aconselhamento no sentido
<strong>de</strong> fortalecer os laços familiares evitando oesquecimento da família. Essa opção não eramuito a<strong>de</strong>quada à realida<strong>de</strong> das TIDs nestascapitais, que dormiam, em sua maioria, na casados pais. No entanto, 48,97% das 245 TIDs quefizeram referências a esta opção localizavam-sena faixa etária entre 12 e 15 anos e na faixa etáriamais velha, <strong>de</strong> 16 a 17 anos (46,91%), e 56,73%dormiam na casa on<strong>de</strong> trabalhavam. Quanto àsperguntas que se referiam aos aspectos negativosdo tratamento dispensado pelas famíliasempregadoras, a maioria não confirmou essesaspectos e alguns <strong>de</strong>sses aspectos negativos sóforam admitidos pelas meni<strong>nas</strong>: assédio e abusosexual. A distribuição <strong>de</strong>sses aspectos negativospor raça mostra que entre 224 negros/pretos dototal <strong>de</strong> TIDs <strong>de</strong>ssa categoria que respon<strong>de</strong>ram àpergunta “te chamam por algum nome que te<strong>de</strong>sagrada”, 8,48% admitiram ser alvo <strong>de</strong>ssetratamento, contra 7,37% <strong>de</strong> pardos (em 502) e5,66% <strong>de</strong> brancos (em 212). Ser insultado foiadmitido por 7,58% <strong>de</strong> pardos e 4,09% <strong>de</strong> negros/pretos contra 6,66% <strong>de</strong> brancos.Proporcionalmente, portanto, existem maisnegros/pretos, em primeiro lugar, e pardos, emsegundo lugar, que são chamados por nomes<strong>de</strong>sagradáveis do que brancos. Mais negros/pretos(4,09%) do que brancos (3,86%) e pardos (3%)comiam o que sobrava da comida. A categoria“branca” ficou em pior situação nos aspectos“beliscar ou puxar o cabelo”, com 4,30%, contra3,01% <strong>de</strong> pardos e 3,18% <strong>de</strong> negros/pretos;“tentativa <strong>de</strong> abuso sexual”, com 1,89%, contra1% <strong>de</strong> pardos; “não se alimentar no mesmo horárioda família”, com 22,70%, contra 19,06% <strong>de</strong>pardos e 16,97% <strong>de</strong> negros/pretos; e “ter quetrabalhar doente”: 9,48%, contra 6,39% <strong>de</strong> negros/pretos e 4,80% <strong>de</strong> pardos (tabelas 93, 94, 95, 96,97, 98 e 99).Consi<strong>de</strong>rando esses mesmos aspectosnegativos por faixa etária, é possível observarque nenhuma TID <strong>de</strong> 5 a 11 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>assinalou as opções: sofrer impedimento <strong>de</strong>comunicar-se com a família e sofrer assédioou tentativa <strong>de</strong> abuso sexual. No entanto,proporcionalmente, existem mais TIDs nafaixa etária <strong>de</strong> 5 a 11 anos que admitiram sofrerbeliscão ou puxão <strong>de</strong> cabelo (9,43%), apanhar(13,21%), impedimento <strong>de</strong> comunicação coma família (3,77%) e comer o que sobra dacomida (7,55%). Proporcionalmente, existemmais TIDs na faixa etária <strong>de</strong> 16 a 17 anos queadmitiram ter que trabalhar doente (9,45%),não se alimentar nos mesmos horários que osoutros membros da família (19,40%), <strong>de</strong>ixarsem comer (3,69%) e ser assediadassexualmente (1,23%) (tabela 100).A informação significativa é que as TIDsque vieram da zona rural, proporcionalmente,eram mais impedidas <strong>de</strong> comunicar-se comsuas famílias (6,29%) do que as proce<strong>de</strong>ntesda zona urbana (3,92%) <strong>de</strong> alguma cida<strong>de</strong>Tabela 93 - Tratamento dos patrões por sexoNa casa on<strong>de</strong> trabalha...TotalAjudam nos <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> casaTratam com carinhoFicam preocupados com vocêDão conselhosTratam você com educaçãoConversam normalmente contigoLevam você p/ passearChamam você p/ ver TVIncentivam você a estudarLembram você p/ não esquecer da famíliaNRFemininoRespostas %27377962072376070643347160623044564590,7091,9791,5891,5292,0193,1490,7891,9991,5493,8895,6591,92SexoLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Casos Válidos: 102829MasculinoRespostas %2868576766524441561524969,308,038,428,487,996,869,228,018,466,124,358,08TotalResp %301 100,00847 100,00677 100,00790 100,00826 100,00758 100,00477 100,00512 100,00662 100,00245 100,0046 100,006141 100,00
Tabela 100 - Maus tratos por faixa etáriaLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>30
diferente <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém ou Recife.Não é possível estabelecer, no entanto,nenhuma hipótese plausível sobre a influênciada origem rural ou urbana <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong>tratamento recebidas pelas TIDs com os dadosapresentados.Te chamam poralgum nome quete <strong>de</strong>sagrada?TotalTe insultam?TotalBeslicam oupuxam cabelo?TotalTe batem?TotalVocê é obrigadaa trabalharmesmo doente?TotalImpe<strong>de</strong>m você<strong>de</strong> comunicar-secom sua família?TotalAssediamsexualmentevocê?TotalTentaram teabusarsexualmente?TotalVocê se alimenta nosmesmos horários queos outros membrosda família?TotalÀs vezes te<strong>de</strong>ixaramsem comer?TotalCome o quesobra dacomida?TotalNão temnotícias dafamília?TotalSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRNãoTabela 102 - Maus tratos por casa <strong>de</strong> pernoiteNa casa dos paisFreq %3155212600235628593135737593857795942755785923573155913581859425751058743412617577155571458617552145831142,4761,7475,0060,7336,5161,8980,0060,4539,3961,4163,6460,7024,2461,3869,2360,2443,5561,6257,1460,4112,0061,1575,0060,1842,8660,5866,6760,5520,0060,3476,9260,1457,0368,8580,9559,7955,5659,5182,3559,8048,5759,7487,5059,7925,0025,00Na casa on<strong>de</strong>trabalhaEm qual casa você dorme?Na casa <strong>de</strong> umfamiliarFreq % Freq % Freq % Freq % Freq %39270231137274131217288330823290231530278531322290331543043311830523152644523111130423171629913163353,4230,2012,5031,4858,7330,1810,0031,8051,5230,8727,2731,5369,7030,8515,3831,9548,3930,7535,7131,9488,0030,9515,0032,0857,1431,7025,0031,7080,0032,0015,3832,2734,6924,599,5232,2340,7432,4811,7632,3545,7132,366,2532,4175,0075,00358061259061358061258161457061060161060060058058528161160061258060004,116,49,006,173,176,50,006,229,096,22,006,246,066,177,696,196,456,31,006,22,006,405,006,21,006,26,006,12,006,09,005,946,834,374,766,323,706,41,006,225,716,28,006,15,00,0031Própria casa Outros NR01001001001001001001101109090100100100110110118301101101101101100,001,12,001,01,001,10,001,02,001,07,001,02,001,17,001,12,001,00,00,92,001,07,001,02,001,04,001,12,001,15,001,131,051,64,001,14,001,18,001,12,001,19,001,13,00,000415131504150415131504150415041531150415041500,00,456,25,511,59,3310,00,51,00,439,09,51,00,437,69,511,61,337,14,51,00,435,00,51,00,428,33,51,00,427,69,51,39,554,76,52,00,435,88,51,00,436,25,51,00,000011000000000000000000000000000000000000000000,00,006,25,10,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>*Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA.,00,00TotalFreq %7389416988639081098133933119773394013986629041498025937209827959129811095313976761183219652793617980359241697544100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00
Consi<strong>de</strong>rando o cruzamento das variáveis“formas <strong>de</strong> tratamento negativo” e “casa on<strong>de</strong>dorme” (na casa dos pais ou na casa em quetrabalhava), observamos que, proporcionalmente,as TIDs que dormiam na casa on<strong>de</strong> trabalhavamestavam mais vulneráveis nos seguintes aspectos:serem chamadas por algum nome <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagrado(12,54%, contra 5,17% no primeiro grupo);insultos (11,86% <strong>de</strong>las disseram ser insultadas,contra 3,88% das que dormiam na casa dos pais);beliscões ou puxões <strong>de</strong> cabelo (5,52% contra2,19%); apanhar (7,30% do primeiro grupo,contra 1,35% do segundo grupo); trabalhardoente (9,58%, contra 4,56%, respectivamente);ser impedida <strong>de</strong> comunicar-se com a família(6,98%, contra 0,51%, respectivamente); assédiosexual (1,29% contra 0,50%); tentativa <strong>de</strong> abusosexual (2,54%, contra 0,34%, respectivamente);às vezes ficar sem comer (3,47%, contra 2,56%)e comer o que sobra da comida (5,06%, contra2,91%, respectivamente). Houve mais TIDs,proporcionalmente, que dormiam na casa dospais e que não se alimentavam no mesmo horárioque os membros da família (21,84%) do que asque estavam na mesma situação e dormiam nolocal <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> (14,47%) (tabelas 101 e 102).Das 54 TIDs <strong>de</strong> 5 a 11 anos, nove admitiramter sofrido algum aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> (16,67%).Nas duas faixas seguintes ocorreram aci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> em 14,89% das TIDs entre 12 e 15consi<strong>de</strong>rada ativida<strong>de</strong> incorporada ao cotidianoas que eram realizadas todos os dias, quasetodos os dias e <strong>de</strong> vez em quando, e nãoincorporadas as quase nunca ou nuncarealizadas. Calculando-se, para cada umas dasativida<strong>de</strong>s incorporadas ao cotidiano, aporcentagem <strong>de</strong> TIDs que admitiram aocorrência <strong>de</strong> algum aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,teremos os índices <strong>de</strong> 18,48% para a ativida<strong>de</strong><strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> cachorro, 18,04% para a ativida<strong>de</strong><strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> pessoa doente, 17,89% para aativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> lavar roupa, 17,65% para a <strong>de</strong>cuidar <strong>de</strong> idosos, 17,48% para a <strong>de</strong> ajudar comas compras, 16,97% para a <strong>de</strong> passar roupa,16,50% para a <strong>de</strong> arrumar casa, 15,29% para aativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar das crianças e 11,73% paraa <strong>de</strong> cozinhar (tabela 104).Registra-se também a distribuição dotipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte entre as diversas faixasetárias. 187 TIDs especificaram qual aci<strong>de</strong>ntetiveram. Na faixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos, ostipos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte mais mencionados foramqueimadura e corte com faca; em um segundopatamar tem-se o choque elétrico e a queda.Na faixa etária <strong>de</strong> 16 a 17 anos, queimadurae corte <strong>de</strong> faca também foram os tipos maisindicados, vindo em seguida o aci<strong>de</strong>nte queda(tabela 105).Os cruzamento do tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntepela ativida<strong>de</strong> que realiza não forneceTabela 103 - Faixa Etária (em anos) por aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>Você já teve algum aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>?Sim Não NRFreq % Freq % Freq %TotalFreq %FaixaEtária(em anos)De 5 a 11De 12 a 15De 16 a 179816016,6714,8914,184546136283,3384,7485,58021,00,37,2454544423100,00100,00100,0015014,6986885,013,291021100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 8anos, em 544; e 14,18%, em 423 das TIDs entre16 e 17 anos, também afirmaram essa ocorrência(tabela 103).Uma outra análise foi feita distinguindoseas crianças e adolescentes entre o grupo queincorporou cada uma das ativida<strong>de</strong>s em seucotidiano e o grupo que não incorporou. Foi32nenhuma tendência ou conclusão (tabelas106 a 116).Das 1.027 TIDs entrevistadas, 78,68%afirmaram que não tinham sintoma físicoocasionado pelo <strong>trabalho</strong> e 21,03%respon<strong>de</strong>ram afirmativamente esta questão.Das que respon<strong>de</strong>ram afirmativamente, 50
espostas foram referentes a dor <strong>de</strong> cabeça(25,38%); 47, a dor muscular (23,86%); 23foram relativas a tristeza (11,67%); 19 foramreferentes a irritabilida<strong>de</strong> (9,64%) e 17, asolidão e a fadiga (8,63% cada) (tabelas 117e 118).6.5 Saú<strong>de</strong>Os cruzamentos da questão 61 com a 68relacionaram as doenças já tidas pelas TIDse as formas <strong>de</strong> tratamento no <strong>trabalho</strong>, taiscomo: ser chamada por algum nomeafirmaram ter tido (tabelas 119 a 133).Quase a meta<strong>de</strong> (44,51%) das 1.029TIDs foram ao Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> quantoficaram doentes e 25,36% foram ao hospital.A maioria (87,24%) das 1.029 TIDs nãopossuía plano <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e 61,61% <strong>de</strong>lasdisseram que só costumam ir ao médicoquando ficam doentes; 12,83% faziamexames periodicamente. De acordo com57,69% das TIDs, seus pais ou parentespagam pelos remédios quando ficamdoentes. 131 TIDs (12,83%) assumem essa<strong>de</strong>spesa (tabelas 134 a 137).Tabela 134 - Atitu<strong>de</strong>s quando fica doenteO que você faz quando fica doente?Freq %Vai ao Pronto SocorroVai ao hospitalVai à farmáciaVai ao Posto <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Recebe tratamento em casaFaz automedicamentoOutrosNRTotal842612845811850141610298,1625,362,7244,5111,474,861,361,55100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong><strong>de</strong>sagradável, ser insultada, beliscada,apanhar, trabalhar doente, ser impedida <strong>de</strong>comunicar-se com a família, ter sidoassediada ou ter sofrido abuso sexual,alimentar-se em horários diferentes doshorários dos outros membros da família, ficarsem comer, comer o que sobra da comida enão ter notícias da família. O que po<strong>de</strong> serobservado a partir da análise <strong>de</strong>ssecruzamento é que o número <strong>de</strong> respostasconfirmativas dos aspectos negativosassociados às formas <strong>de</strong> tratamento indicadasacima é pequeno. Em relação às que sãotratadas <strong>de</strong> alguma forma <strong>de</strong>srespeitosa nãoé possível estabelecer relação causal entreas duas variáveis propostas – doenças jáditas e formas <strong>de</strong> tratamento –, por nãoexistir uma relação direta entre essasvariáveis e por não se saber quando asinformantes tiveram as doenças que elas336.6 Descanso e LazerForam i<strong>de</strong>ntificadas 15 trabalhadoras quetrabalhavam os sete dias da semana. Os motivosalegados para essa situação foram,principalmente, “foi esse o acordo”, “a patroa<strong>de</strong>terminou” e “não tenho para on<strong>de</strong> ir”. Dessas15, 73,33% disseram ter <strong>de</strong>scanso e 13,33%, não.O <strong>de</strong>scanso ocorre, com maior incidência,“domingo à tar<strong>de</strong>” (tabelas 138, 139 e 140).O cruzamento dos motivos para trabalharsete dias por semana com faixa etária, sexo, casaon<strong>de</strong> dorme e situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, mostra que,no grupo feminino, o motivo “foi esse o acordo”aparece com 28,57%, vindo a seguir “a patroa<strong>de</strong>terminou” e “não tenho para on<strong>de</strong> ir”, comigual percentagem (14,29%). Para o grupomasculino, com ape<strong>nas</strong> um caso, o motivoapontado foi “foi esse o acordo”. Nenhum motivofoi registrado no grupo etário <strong>de</strong> 5 a 11 anos.
Para a faixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos, com oitocasos em 15, “foi esse o acordo” e “não tenhopara on<strong>de</strong> ir” foram os motivos com maiorincidência, com 25,0% cada. O grupo <strong>de</strong> 16 a 17anos, com seis casos, apontou, em primeiro lugar,“foi esse o acordo” (50,0%), vindo a seguir, com16,67%, os motivos: “a patroa <strong>de</strong>terminou” e“não tenho para on<strong>de</strong> ir”. Quanto à casa em quedormiam, das 11 TIDs em 15 que dormiam nacasa on<strong>de</strong> trabalhavam, 27,27% apontaram “foiesse o acordo”; 18,18%, “a patroa <strong>de</strong>terminou”;e 18,18%, “não tenho para on<strong>de</strong> ir”. As três quemoravam na casa dos pais indicaram “foi esse oacordo” (66,67%) e a outra não apontou omotivo. O motivo mais alegado por 11mensalistas resi<strong>de</strong>ntes foi “foi esse o acordo”(27,27%), vindo a seguir “a patroa <strong>de</strong>terminou”(18,18%) e “não tenho para on<strong>de</strong> ir” (18,18%).Entre as três mensalistas não resi<strong>de</strong>ntes,encontramos 66,67% para “foi esse o acordo” euma não respon<strong>de</strong>u. No grupo feminino,71,437% tinham <strong>de</strong>scanso e 14,29% não,enquanto o representante do grupo masculinotinha <strong>de</strong>scanso. No grupo feminino, o dia commaior incidência <strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso foi domingo àtar<strong>de</strong>, com 30%, e no masculino, após as 16horas, com 100%. Todas as TIDs da faixa etária<strong>de</strong> 12 a 15 anos admitiram ter <strong>de</strong>scanso e 50,0%das do grupo etário <strong>de</strong> 16 a 17 anos respon<strong>de</strong>ramque tinham <strong>de</strong>scanso e 33,33% que não. Das quetar<strong>de</strong> (50%). As que dormiam na casa on<strong>de</strong>trabalhavam indicaram, principalmente,domingo à tar<strong>de</strong> (33,33%). Dentre as mensalistasresi<strong>de</strong>ntes, 81,82% respon<strong>de</strong>ram que tinham<strong>de</strong>scanso e 18,18% que não. Entre as nãoresi<strong>de</strong>ntes, 66,67% disseram <strong>de</strong>scansar e umanão respon<strong>de</strong>u. Domingo à tar<strong>de</strong> (33,33%), entreas mensalistas resi<strong>de</strong>ntes, e sábado à tar<strong>de</strong> (50%)e após às 16 horas (50%), entre as não resi<strong>de</strong>ntes,foram os dias citados com maior incidência parao <strong>de</strong>scanso (tabelas 138 a 149).De 1.029 TIDs, 60,93% dormiam na casados pais e 31,10% (320) dormiam na casa on<strong>de</strong>trabalhavam. Dessas, pouco menos da meta<strong>de</strong>(47,62%), num total <strong>de</strong> 315 respostas válidas,dividiam o quarto com outra pessoa e 37,78%dormiam em seu próprio quarto. Das quedormiam no local <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, 68,37% dormiamem sua própria cama, 17,89% na re<strong>de</strong> e 8,63%no colchão. Em relação ao local em que dormiam,<strong>de</strong> 313 respostas válidas, 84,24% afirmaram quehavia janela on<strong>de</strong> dormiam; 31,73% tinham seupróprio banheiro e 66,99% não; 69,01% tinhamarmário e 29,39% não. Os resultados sobre aexistência <strong>de</strong> rádio e televisão no local on<strong>de</strong>dormiam indicaram que 44,37% das 311 TIDscontavam com televisão no local on<strong>de</strong> dormiame 54,02% não; 54,98% respon<strong>de</strong>ram que nãotinham rádio no local on<strong>de</strong> dormiam e 43,41%sim (tabelas 150 a 153).Tabela 150 - Local <strong>de</strong> pernoiteEm qual casa você dorme?Freq %Na casa dos paisNa casa on<strong>de</strong> trabalhaNa casa <strong>de</strong> um familiarPrópria casaOutrosNRTotal627320641251102960,9331,106,221,17,49,10100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>dormiam na casa dos pais, 66,67% admitiramter <strong>de</strong>scanso e uma não respon<strong>de</strong>u. Entre as quedormiam na casa on<strong>de</strong> trabalhavam, 81,82%afirmaram ter <strong>de</strong>scanso e 18,18% não. As quedormiam na casa dos pais indicaram dois dias<strong>de</strong> <strong>de</strong>scanso: após as 16 horas (50%) e sábado à34A análise do cruzamento entre as variáveis“situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>” e “ter férias ou não”indicou que o grupo em melhor situação emrelação ao gozo <strong>de</strong> férias foi o das 219 TIDs queeram mensalistas resi<strong>de</strong>ntes: menos da meta<strong>de</strong><strong>de</strong>las (45,66%) tinham férias, apesar da presença
<strong>de</strong> um número superior para aquelas que nãotinham férias (47,03%). Entre as 555 mensalistasnão resi<strong>de</strong>ntes, 53,87% afirmaram não ter fériase 29,91% sim. Situação pior ficou com o grupodas diaristas, visto que 75,89% não tinham férias(tabela 156).novamente o grupo mensalista resi<strong>de</strong>nte emmelhor situação: 56,86% <strong>de</strong>las (em 102)gozavam <strong>de</strong> 16 a 30 dias <strong>de</strong> férias, contra 50,30%(em 165) das mensalistas não resi<strong>de</strong>ntes. Poroutro lado, 17,65% das mensalistas resi<strong>de</strong>ntesgozavam até 15 dias <strong>de</strong> férias e 24,24% entre asQual é a suasituação <strong>de</strong> trab.?TotalMensal. resi<strong>de</strong>nteMensal. não resi<strong>de</strong>nteDiaristaSemanalMensalNão recebeTrabalha na própria casaNSNRTabela 156 - Situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> por possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> férias(só dorme no emprego)Freq % Freq %100166191120048337Sim45,6629,9116,9612,50100,0033,33,00,0039,6732,88103299856042169569Você tem férias?Não47,0353,8775,8975,00NSFreq %NRFreq %Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA.,0066,67100,00100,0057,0255,515422100000502,287,571,7912,50,00,00,00,00,004,8811486000004695,028,655,36,00,00,00,00,003,316,73Total (*)Freq %219555112816211211025100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00Quando é feito o cruzamento das variáveis“casa em que dorme” e “dias <strong>de</strong> férias por ano”,encontra-se a seguinte situação: consi<strong>de</strong>randoseas duas categorias principais quanto à casaem que dorme (na casa dos pais ou na casa on<strong>de</strong>trabalha) observa-se que a situação maisfavorável em relação ao que é mais provável emtermos <strong>de</strong> número <strong>de</strong> dias <strong>de</strong> férias por ano (até30 dias) foi a do grupo das TIDs que dormiamna casa on<strong>de</strong> trabalhavam: 56,25% <strong>de</strong>lasgozavam <strong>de</strong> 16 a 30 dias <strong>de</strong> férias, contra 48,24%das que dormiam na casa dos pais. A situação éconfirmada quando consi<strong>de</strong>ramos a categoria até15 dias <strong>de</strong> férias: 15,28% das que dormiam nacasa on<strong>de</strong> trabalhavam, contra 25,29% das quedormiam na casa dos pais estavam nessacondição. Dentre as 51 TIDs que admitiram termais <strong>de</strong> um mês <strong>de</strong> férias, informação essa quenecessita ser qualificada, 15 dormiam na casados pais e 33 na casa on<strong>de</strong> trabalhavam (tabelas154 e 155).Cruzando as variáveis “situação <strong>de</strong><strong>trabalho</strong>” e “dias <strong>de</strong> férias por ano” e nãoconsi<strong>de</strong>rando na análise as duas TIDs quedisseram não receber (uma com até 15 dias <strong>de</strong>férias e outra com 16 a 30), encontramos35não resi<strong>de</strong>ntes estavam nessa situação. Asituação atípica <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> um mês <strong>de</strong> férias foiencontrada, principalmente, entre as mensalistasresi<strong>de</strong>ntes. Quando consi<strong>de</strong>ramos a variável“possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> encontrar-se com os amigos”,dos 15,0% (em 1.013 TIDs) não autorizadas aencontrar os amigos, a pior distribuição foi a dogrupo das 308 que dormiam na casa on<strong>de</strong>trabalham (25,32% <strong>de</strong>las não podiam encontraros amigos) e a melhor distribuição ficou entreas que dormiam na casa dos pais (9,31% <strong>de</strong>lasnão podiam encontrar os amigos e 64,69%podiam) (tabelas 157 e 158).O cruzamento das variáveis “casa em quedorme” com “momento permitido paraencontrar-se com os amigos” indica que das 401que dormiam na casa dos pais, 29,68% podiamencontrar os amigos no sábado e domingo,15,46% podiam encontrar todos os dias e 13,72%a qualquer hora. Das 205 que dormiam na casaon<strong>de</strong> trabalhavam, 20,98% podiam encontrar osamigos no sábado e domingo, 18,54% nodomingo e 10,73% à noite. Das 39 que dormiamna casa <strong>de</strong> um familiar, 33,33% podiam encontrarseus amigos aos sábados e domingos, 15,38%todos os dias e 15,38% aos domingos. Das cinco
que dormiam na própria casa, 40% podiamencontrar seus amigos a qualquer hora, 40% emoutros horários e 20% no domingo (tabela 159).O cruzamento da questão 49, referente aoque era feito no dia <strong>de</strong> folga, com a questão 39(em qual casa dormia), não revelou nenhumadiferença significativa sobre o que se fazia nodia <strong>de</strong> folga, pois em todas as categoriasorganizadas em torno da casa on<strong>de</strong> a TID dormia,a opção mais marcada referiu-se à ida a algumaigreja, sendo a igreja católica menos mencionadado que as <strong>de</strong>mais. Ou seja, a maioria das TIDsparece freqüentar alguma igreja não-católica.Consi<strong>de</strong>rando-se a casa on<strong>de</strong> dormia com apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sair aos domingos, a maioriadas 1.029 TIDs (56,92%) podia sair todos osdomingos e ape<strong>nas</strong> 4,87% nunca podiam sair aosdomingos. Entre as que nunca podiam sair aosdomingos, a pior situação, proporcionalmente,ficou entre as que dormiam na casa on<strong>de</strong>trabalham. Das que podiam sair todos osdas mensalistas resi<strong>de</strong>ntes, 22,33% não podiamencontrar os amigos e 12,12% das não resi<strong>de</strong>ntestambém não tinham permissão para encontrarseus amigos. Entre as diaristas, 5,36% nãopodiam encontrar os amigos. Os dias maismarcados entre as 139 mensalistas resi<strong>de</strong>ntespara encontrar seus amigos foram: sábado edomingo (23,02%), domingo (21,58%) e “aqualquer hora” (10,79%). Essa distribuição entreas 354 não resi<strong>de</strong>ntes foi: sábado e domingo(32,49%), todos os dias (14,12%) e “a qualquerhora” (12,15%). As respostas das 68 diaristasindicaram todos os dias (27,94%), sábado edomingo (20,59%) e “a qualquer hora” (14,71%).As seis que recebiam por semana marcaram “aqualquer hora” (33,33%), sábado (16,67%) esábado e domingo (16,67%). Do grupo das seisque não recebiam, 66,67% podiam encontrarseus amigos a qualquer hora, 16,67% <strong>de</strong> vez emquando e 16,67% aos sábados e domingos(tabelas 162 e 163).Tabela 162 - Situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> por Permissão <strong>de</strong> encontro <strong>de</strong> amigosQual a sua situação<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>?TotalMensal. Resi<strong>de</strong>nteMensal. não resi<strong>de</strong>nteDiaristaSemanalMensal(só dorme no emprego)Não recebeTrabalha na própria casaNSNRVocê po<strong>de</strong> encontrar os seus amigos?SimNãoNRFreq % Freq % Freq %14135468616117265065,5864,0160,7175,00100,00100,00100,00100,0063,1664,2948676000003115222,3312,125,36,00,00,00,00,0027,1915,032613238200001120912,0923,8733,9325,00,00,00,00,009,6520,67TotalFreq %215 100,00553 100,00112 100,008 100,001 100,006 100,001 100,001 100,00114 100,001011 100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 18domingos, o grupo das que dormiam em suaprópria casa ocupou a melhor posição, vindo aseguir o grupo das que dormiam na casa dos pais,com 65,65% <strong>de</strong>las po<strong>de</strong>ndo sair todos osdomingos. Mas foi também alto o número <strong>de</strong>TIDs que dormiam na casa <strong>de</strong> um familiar e quepodiam sair todos os domingos (64,06% <strong>de</strong>lasestavam nesta situação) (tabelas 160 e 161).De 1.029 TIDs, 64,29% podiam encontrarseus amigos e 15,03% não podiam. No grupo36Cruzando “situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>” com “oque faz no dia <strong>de</strong> folga”, encontramos que nãoexistem diferenças significativas entre asmensalistas resi<strong>de</strong>ntes e as não resi<strong>de</strong>ntes. Dentreas resi<strong>de</strong>ntes as respostas mais significativasforam, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente: fica na casa on<strong>de</strong>trabalha, fica em casa e vai à igreja católica. Entreas mensalistas não resi<strong>de</strong>ntes, as respostas sãoas mesmas, porém em outra posição: fica emcasa, vai à igreja católica e fica na casa on<strong>de</strong>
trabalha. Entre as diaristas, a resposta maisindicada foi ir à igreja católica, vindo a seguirficar em casa e, em terceiro lugar, ficar na casaon<strong>de</strong> trabalha. Aquelas que recebiam por semanapreferencialmente ficam em casa ou na casa on<strong>de</strong>trabalham. Entre as que não recebiam, as duasopções mais marcadas foram: ir à igrejaevangélica e ficar na rua (tabela 164).No grupo das mensalistas resi<strong>de</strong>ntes,48,39% podiam sair todos os domingos e 17,51%podiam sair uma parte do domingo. Entre asmensalistas não resi<strong>de</strong>ntes, 65,59% podiam sairtodos os domingos e 17,48% <strong>de</strong> vez em quando.No grupo das diaristas, 64,29% podiam sair todosos domingos e 12,50% uma parte do domingo.Das que recebiam por semana, 75% podiam sairtodos os domingos e 25% <strong>de</strong> vez em quando.distribuição entre as que conheciam os direitose as que não conheciam foi mais favorável: maispessoas disseram conhecer (52,78%) em relaçãoàs que não conheciam (47,22%). A distribuiçãono grupo das que não liam jornal foi significativa:77,13% não conheciam seus direitos comocriança e adolescente e 21,67% afirmaramconhecer. Entre as que não ouviam rádio, 87,50%disseram que não conheciam seus direitos eape<strong>nas</strong> 10,42% respon<strong>de</strong>ram que sim. O mesmocruzamento com conhecimentos dos direitostrabalhistas indica um <strong>de</strong>sconhecimento maiornessa categoria <strong>de</strong> direitos e em nenhum grupo(ouvir ou não rádio, assistir ou não televisão, lerou não jornal e acesso ou não à internet)encontramos um maior percentual <strong>de</strong> TIDsconhecendo seus direitos (tabelas 166 e 171).Tabela 171 - Meios <strong>de</strong> comunicação por Conhecimento dos direitos trabalhistasOuve rádio?TotalAssistetelevisão?TotalLê jornal?TotalTem acessoà internet?TotalSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRSimNãoNRFreq113801211175012256631120101111122SimVocê sabe quais seus direitos trabalhistas?NãoNR% Freq % Freq %13,028,51,0012,5512,7510,00,0012,5817,2310,0020,0012,5029,4112,0716,6712,71526581585557291587192385358022553357860,6061,7050,0060,6860,6858,0050,0060,5259,0861,1160,0060,4264,7160,1150,0060,212292812582441612617718212602256226026,3829,7950,0026,7626,5832,0050,0026,9123,6928,8920,0027,085,8827,8333,3327,08Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA.Total (*)Freq %8689429649185029703256305960349206960100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00Entre as que não recebiam, 83,33% podiam sairtodos os domingos e 16,67% <strong>de</strong> vez em quando.Das 50 que nunca podiam sair aos domingos,24% eram mensalistas não resi<strong>de</strong>ntes, 24% eramdiaristas e 24% eram mensalistas resi<strong>de</strong>ntes(tabela 165).Em todos os grupos entre as que ouviamou não rádio, as que assistiam ou não televisão,as que liam ou não jornal, o maior percentualincidiu sobre as TIDs que não sabiam seusdireitos como criança e adolescente (todos acima<strong>de</strong> 50%). No grupo que tinha acesso à internet, a37O cruzamento entre as variáveis“emissora <strong>de</strong> rádio que gosta <strong>de</strong> ouvir” e“conhecimento dos direitos como criança eadolescente” nos informa que mais <strong>de</strong> 47% das938 respostas válidas indicam, em or<strong>de</strong>m<strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> preferência, as seguintesemissoras ouvidas pelas TIDs: 88,5, 102 FM,Jovem Pan, 99 FM e Recife FM. Quando ocruzamento é feito com “conhecimento dosdireitos trabalhistas”, o índice <strong>de</strong><strong>de</strong>sconhecimento aumenta (não inferior a 67%,alcançando até 90%). O horário mais ouvido
é pela manhã (323 TIDs), vindo a seguir à tar<strong>de</strong>(244), à noite (91) e o dia inteiro (63). O<strong>de</strong>sconhecimento dos direitos trabalhistas foi,proporcionalmente, maior no grupo queescutava rádio à tar<strong>de</strong> e menor no grupo queescutava o dia inteiro. Cruzando“conhecimento <strong>de</strong> direitos como criança ouadolescente” e “emissora <strong>de</strong> TV que gosta <strong>de</strong>assistir”, observa-se que a Re<strong>de</strong> Globo foiapontada 522 vezes, o SBT 390 e a MTV 24vezes. Mais da meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> 965 TIDs disseramassistir televisão à noite (547). Os <strong>de</strong>maishorários, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> preferência, são: à tar<strong>de</strong>(216 TIDs), à tar<strong>de</strong> e à noite (72) e <strong>de</strong> manhã(49). O <strong>de</strong>sconhecimento dos direitos comocriança e adolescente foi, proporcionalmente,maior no grupo que assistia TV pela manhã emenor no grupo que assistia o dia inteiro(tabelas 167 a 175).6.7 Conhecimentos <strong>de</strong> DireitosConsi<strong>de</strong>rando-se o total das 1.029 TIDsquanto ao grau <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> direitos comocriança e adolescente, vemos que ape<strong>nas</strong> emtorno <strong>de</strong> 26% disseram que conheciam. Ocruzamento <strong>de</strong>ssa variável “conhecimento dosdireitos como criança ou adolescente” com“sexo”, “raça” e “faixa etária” indica umatendência do <strong>de</strong>sconhecimento ser maior do queo conhecimento em todas as categorias davariável, com exceção das categorias raciais“amarela” e “indígena”, on<strong>de</strong> se observa umatendência inversa (tabelas 166 a 178).Das 270 TIDs que disseram conhecer seusdireitos trabalhistas como empregadasdomésticas, 253 eram do sexo feminino; 108 dogrupo racial “pardo”, 72 do grupo “branco”, 65do grupo “negro/preto”, 12 do grupo “amarela”e 6 do grupo “indígena”; 139 localizavam-se nafaixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos, 119 na <strong>de</strong> 16 a17anos e 10 na faixa <strong>de</strong> 5 a 11 anos; 111 <strong>nas</strong>ceramem BH, 31 no interior <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais, 20<strong>nas</strong>ceram em Belém, 13 no interior do Pará, 54<strong>nas</strong>ceram em Recife e 22 no interior <strong>de</strong>Pernambuco; 181 sempre moraram <strong>nas</strong> referidascapitais e 89 não; 180 dormiam na casa dos pais,71 na casa on<strong>de</strong> trabalhavam, 13 na casa <strong>de</strong> umfamiliar e três na própria casa; 160 erammensalistas não resi<strong>de</strong>ntes, 52 mensalistasresi<strong>de</strong>ntes, 29 diaristas e três recebiam porsemana (tabelas 176 a 182).Analisando o cruzamento das variáveisconhecimento dos direitos enquanto criança eadolescente e sexo, raça/cor, faixa etária, local<strong>de</strong> <strong>nas</strong>cimento, sempre residir <strong>nas</strong> capitais, casaque dorme e situação <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, po<strong>de</strong>mosafirmar que os direitos da criança e doadolescente são mais conhecidos,proporcionalmente, no grupo feminino (26,55%)do que no grupo masculino (22,67%). Adistribuição por raça/cor revela que o grupoindígena é o que mais conhece seus direitos comocriança e adolescente (54,55%), vindo a seguira categoria amarela (50%), a categoria branca(32,58%), a categoria negra/preta (27,66%) e,em pior situação em termos <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong>direitos, a categoria parda (20,77%). Nessaúltima categoria, 78,08% disseram não conhecerseus direitos como criança e adolescente. A faixaetária com mais trabalhadoras que nãoconheciam seus direitos foi a <strong>de</strong> 5 a 11 anos(79,63%), vindo a seguir a faixa etária <strong>de</strong> 12 a15 anos (72,74%) e a faixa <strong>de</strong> 16 a 17 anos(70,21%). Nesse último grupo, encontramos maisgente conhecendo seus direitos (28,13%). Astrabalhadoras domésticas infanto-juvenis queTabela 176 - Sexo por Conhecimento dos direitos da criança e do adolescenteVocê sabe quais seus direitoscomo criança e adolescente?TotalSimNãoMais ou menosNRFreq253683710953FemininoSexoLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 2138Masculino% Freq %26,5571,67,731,05100,001758007522,6777,33,00,00100,00TotalFreq %270 26,26741 72,087 ,6810 ,971028 100,00
<strong>nas</strong>ceram em Belém constituem o grupo, <strong>de</strong>ntreas capitais selecionadas, que menos conhece seusdireitos como criança e adolescente (79,44%),contra 72,12% existentes no grupo comtrabalhadoras que <strong>nas</strong>ceram em Recife e 64,78%existentes no grupo que <strong>nas</strong>ceu em BH.Encontramos, nesse último grupo, maistrabalhadoras conhecedoras <strong>de</strong> seus direitoscomo criança e adolescente (33,13%). O grupoque nem sempre morou nestas capitais conhecemenos seus direitos (75,33% não conhecem) doque o grupo que sempre morou (70,12%), apesarda diferença entre eles ser pequena.Consi<strong>de</strong>rando o local em que dormia, a TID quedormia na casa do namorado e a que dormia nacasa <strong>de</strong> parentes afirmaram não conhecer seusdireitos. A que alternava a casa que trabalhava ea própria casa afirmou saber <strong>de</strong> seus direitos. Adistribuição pelos <strong>de</strong>mais grupos indicou que o<strong>de</strong> maior conhecimento foi o das que dormiamna casa dos pais (28,75%), vindo a seguir o grupodas que dormiam na própria casa (25%), das quedormiam na casa on<strong>de</strong> trabalhavam (22,19%) edas que dormiam na casa <strong>de</strong> um familiar(20,31%). Nesse último grupo, 78,13%admitiram não saber <strong>de</strong> seus direitos comocriança e adolescente. Consi<strong>de</strong>rando a situação<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, o grupo que mostrou conhecermenos seus direitos foi o das mensalistasresi<strong>de</strong>ntes (75,80% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento),seguindo-se o grupo das diaristas (74,11%), dasmensalistas não resi<strong>de</strong>ntes (68,47%), das que nãorecebiam (66,67%) e, finalmente, das querecebiam por semana (62,50%). Nesse últimogrupo, o percentual das que conheciam foi <strong>de</strong>37,50% (tabelas 176 a 182).A distribuição do conhecimento dos direitostrabalhistas da empregada doméstica por sexorevela que esse conhecimento é maior entre oshomens (14,71%) do que entre as mulheres(12,40%). A distribuição por raça/cor mostra quea categoria amarela é a que menos conhecedireitos trabalhistas (81,82%), vindo a seguir acategoria indígena (72,73%), a categoria negro/preta (65,63%), a categoria branca (59,90%) e aparda (56,71%). Consi<strong>de</strong>rando a faixa etária, ogrupo que mais conhece é o das que estão entre16 e 17 anos, com 16,12% <strong>de</strong> conhecimento. Ogrupo que menos conhece é o da faixa etária <strong>de</strong>5 a 11 anos, com 60,38% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento,33,96% que não respon<strong>de</strong>ram à questão e ape<strong>nas</strong>5,66% <strong>de</strong> conhecimento. As trabalhadoras que<strong>nas</strong>ceram em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong> são as que menosconhecem seus direitos trabalhistas (87,46%),seguidas pelas que <strong>nas</strong>ceram no interior <strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong>(76,53%), das <strong>nas</strong>cidas em Belém (43,40%), emRecife (38,51%), no interior do Pará (35,78%) eno interior <strong>de</strong> Pernambuco (28,79%). Astrabalhadoras do grupo das que sempre moraramnestas capitais <strong>de</strong>sconhecem mais os direitoscomo empregada doméstica (65,30%) do que asdo grupo das que nem sempre moraram(52,65%). Levando-se em conta a casa on<strong>de</strong>dormem, o grupo das que dormem na casa dospais é o que menos conhece os direitostrabalhistas, com 67,17% <strong>de</strong> <strong>de</strong>sconhecimento e12,52% <strong>de</strong> conhecimento; <strong>de</strong>ntre aquelas quedormem na casa <strong>de</strong> um familiar, 59,02% nãoconhecem seus direitos contra 14,75% <strong>de</strong>conhecimento e o grupo das que dormem na casaon<strong>de</strong> trabalham apresenta o menor índice <strong>de</strong><strong>de</strong>sconhecimento (48,84%). Sem consi<strong>de</strong>rar aque dorme na casa do namorado, a que alternaentre a casa que trabalha e a própria casa, a quedorme na casa da avó, da sogra e a que dorme nacasa <strong>de</strong> parentes que respon<strong>de</strong>ram não saberquais eram seus direitos trabalhistas.Comparando as mensalistas resi<strong>de</strong>ntes,mensalistas não resi<strong>de</strong>ntes, diaristas, as querecebem por semana e as que não recebem,Você sabe quais seusdireitos trabalhistas?TotalTabela 184 - Sexo por Conhecimento dos direitos trabalhistasSimNãoNRFreq11254324839FemininoSexoMasculino% Freq %12,4060,1327,46903 100,00 68 100,00 971Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA10451314,7166,1819,12Total (*)Freq %12258826112,5660,5626,88100,00
percebe-se que a pior situação é a das querecebem por semana, com 87,50% <strong>de</strong><strong>de</strong>sconhecimento, e a melhor situação é a dasmensalistas resi<strong>de</strong>ntes, com 53,23% <strong>de</strong><strong>de</strong>sconhecimento, contra 66,67% entre as quenão recebem, 66,60% entre as mensalistas nãoresi<strong>de</strong>ntese 65,05% entre as diaristas. Das quenão recebem, 33,33% afirmaram conhecer seusdireitos trabalhistas contra 12,44% das queadmitiram a mesma coisa entre as mensalistasresi<strong>de</strong>ntes. Ressalta-se os elevados índices paraa alternativa “não resposta” nestes quatro últimoscruzamentos, o que po<strong>de</strong> comprometer osverda<strong>de</strong>iros índices daqueles que não conhecemseus direitos trabalhistas.O cruzamento das variáveis “quais direitostrabalhistas conhece” e “sexo” indicou que odireito mais citado pelo grupo feminino e pelogrupo masculino foi férias, vindo a seguir 13 osalário. Entre as categorias negro/preta, parda ebranca essa tendência se manteve. A categoriaamarela indicou, em primeiro lugar, “serrespeitado” e a indígena, 13 o salário e carteiraassinada. Receber na data certa e carteira assinadaforam os direitos assinalados pelas três TIDs <strong>de</strong> 5a 11 anos que respon<strong>de</strong>ram a essa pergunta. Nafaixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos, o direito mais marcadofoi férias, vindo a seguir 13 o salário, receber nadata certa e carteira assinada. Entre as que estavamentre 16 e 17 anos, a opção mais apontada foiférias, vindo a seguir 13 o salário e carteiraassinada. As que <strong>nas</strong>ceram em BH e no interior<strong>de</strong> Mi<strong>nas</strong> Gerais citaram férias em primeiro lugare 13 o salário em segundo. As que <strong>nas</strong>ceram emBelém apontaram igualmente carteira assinada ereceber um salário; as oriundas do interior do Paráapontaram férias e receber na data certa, cada umcom uma citação. As <strong>nas</strong>cidas em Recifeapontaram férias e, em segundo lugar, o 13ºsalário; as TIDs provenientes do interior <strong>de</strong>Pernambuco apontaram férias, seguido <strong>de</strong> carteiraassinada. Não há diferença entre as que sempremoraram nestas capitais e as que nem sempremoraram: a primeira opção ficou com o direito aférias, a segunda com o 13 o salário e a terceiracom carteira assinada. As que dormiam na casados pais ou na casa on<strong>de</strong> trabalhavam assinalaram,em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, férias, 13 o salário e carteiraassinada. As que dormiam na própria casa, após aopção férias, citaram, igualmente, jornada <strong>de</strong> oitohoras, 13 o salário e receber salário extra quandotrabalhar além do combinado. As mensalistas40resi<strong>de</strong>ntes e as não resi<strong>de</strong>ntes assinalaram férias,13 o salário e carteira assinada; as diaristas, 13 osalário e, em seguida, férias. As que não recebiamcitaram receber um salário.Quando perguntadas sobre instituiçõesprotetoras da empregada doméstica, 89,96% das1.029 TIDs respon<strong>de</strong>ram não conhecer. Das 94que admitiram conhecer, 40 (42,55%) nãosouberam indicar nenhuma e 24 (25,53%)disseram não lembrar o nome da instituição. As<strong>de</strong>mais mencionaram o “sindicato”, “conselhotutelar”, “associação das empregadasdomésticas”, “instituto trabalhista”, “carida<strong>de</strong>”,“Juizado <strong>de</strong> Menores”, “Secretaria do Trabalho”,“CESAM”, “Projeto Adolescente”, “ASPROM”,“instituições <strong>de</strong> ajuda aos idosos”, “EMAUS”,“Unicef”, “casa das adolescentes” e “casa doscarentes”. As 1.026 respostas quanto ao queesperavam encontrar numa instituição <strong>de</strong> apoioe atendimento às empregadas domésticasincidiram, em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente, <strong>nas</strong> seguintesexpectativas: aulas <strong>de</strong> computação (15,14%),reforço escolar (9,08%), apoio psicológico(7,33%), aulas <strong>de</strong> dança (6,86%), apoio para tirardocumentos (6,83%), livros para auxiliar nosestudos (6,53%), prevenção <strong>de</strong> gravi<strong>de</strong>z/DST/Aids (5,94%), apoio para resolver problemas <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> (5,92%), aulas <strong>de</strong> culinária (5,17%),orientação afetivo-sexual (5,14%), brinquedos/jogos (4,50%), apoio para encontrar <strong>trabalho</strong>doméstico (4,44%), espaço <strong>de</strong> convivência(4,14%), apoio para contatar a família (3,17%)e outras opções menos significativas. Éimportante observar que o número das que nãosouberam ou não respon<strong>de</strong>ram foi significativo(4,83%) (tabelas 197 a 199).6.8 Aspirações e Perspectivas dasTrabalhadoras Infanto-juvenisDomésticasDe 804 TIDs, 48 já tinham filhos e 756 osqueriam ter. Deste total 640 (84,77%) nãogostariam que suas filhas trabalhassem comodomésticas e 78 (10,33%) respon<strong>de</strong>ramafirmativamente a essa pergunta. Os motivosalegados para não <strong>de</strong>sejarem que suas filhastrabalhassem como domésticas revelam umaimagem negativa a respeito do <strong>trabalho</strong>doméstico: “adolescente <strong>de</strong>ve estudar e nãotrabalhar” (14,05%), “ter um <strong>trabalho</strong> melhor”
(10,02%), “o <strong>trabalho</strong> é pesado” (9,85%), “nãoé um bom <strong>trabalho</strong>” (9,53%), “não tem futuro”(8,24%), “ter um futuro melhor” (7,75%),“ganha pouco” (5,49%), “alguns patrõesmaltratam os empregados” (3,72%), “o <strong>trabalho</strong>é chato” (2,91%), “ter condições <strong>de</strong> sustentálos”(2,42%), “ter outra profissão” (2,26%),“melhor morar com a família” (2,10%), além<strong>de</strong> outras referências numericamente menossignificativas. Quando perguntadas sobre o quesonhavam para o futuro <strong>de</strong> seus filhos, asrespostas mais significativas foram, em or<strong>de</strong>m<strong>de</strong>crescente: estudar até se formar (20,05%),que sejam estudiosos (16,89%), tenham umaboa profissão (15,70%), um bom emprego(14,78%), sejam felizes (6,20%), boa educação(6,07%), uma oportunida<strong>de</strong> melhor (5,67%),para ficarmos entre as expectativas maiscitadas. Um significativo número,correspon<strong>de</strong>ndo a 10,29%, não soube ou nãorespon<strong>de</strong>u. Quanto ao que gostariam <strong>de</strong> setornar daqui a <strong>de</strong>z anos, as projeções maissignificativas foram: profissional liberal(16,08%), médica (11,31%), advogada(9,06%), professora (7,89%), enfermeira(4,78%), ter uma casa (4,0%), ter um bomemprego (3,80%), veterinária (3,41%), mo<strong>de</strong>lo(3,22%), pediatra (3,02%), secretária (2,92%),policial (2,73%), atriz (2,44%), ser casada(2,24%), além <strong>de</strong> outras opções. 60 TIDs(5,85%) não souberam ou não respon<strong>de</strong>ram(tabelas 200 a 206).Tabela 200 - Filiação das TIDsSim Não NRTotal (*)Freq % Freq % Freq % Freq %Você já tem filhos?Você quer ter filhos?487564,6773,6896024593,3923,88Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (1029) são valores perdidos ou NSA20251,952,4410281026100,00100,0041
7. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS EMPREGADORAS7.1 Perfil das FamíliasDas 101 famílias empregadorasinvestigadas, 76,24% dos informantes se<strong>de</strong>clararam “casadas/companheiras”, vindoem segundo lugar os que disseram sersolteiros e viúvos (ambos com 9,90%)(tabela 207).fornecidos dados sobre renda familiar(tabela 209).Das 101 famílias empregadoras, poucomais da meta<strong>de</strong> (52,48%) era constituída porquatro ou cinco pessoas; 25,74% eramconstituídas por até três pessoas. Famíliascom mais <strong>de</strong> cinco pessoas correspondiam a21,78% das famílias pesquisadas. Quanto aoTabela 207 - Estado CivilEstado CivilFreq %Casada /companheiraSeparada/divorciadaViúvaSolteiraTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>774101010176,243,969,909,90100,00Quanto à ocupação principal doinformante, 34 (33,66%) disseram ser dona<strong>de</strong> casa, 9,81% afirmaram ser domésticas,5,94% são aposentadas, 4,95% disseram sercostureiras, 4,95% são ven<strong>de</strong>dores, 4,95%têm como ocupação principal seremprofessoras e também outras 4,95% trabalhamcomo secretárias, <strong>de</strong>ntre outras (tabela 208).Quanto à renda individual mensal noúltimo mês, dos 101 informantes das famíliasempregadoras, 11,88% disseram ter recebidono último mês até meio salário mínimo.Somando a esse percentual os querespon<strong>de</strong>ram ter recebido acima <strong>de</strong> meioaté um salário mínimo, temos o total <strong>de</strong>25,74%, o que indica um baixo rendimentoindividual. Dos que recebem acima <strong>de</strong>quatro salários mínimos (acima <strong>de</strong> R$720,00), temos um total <strong>de</strong> 16,83%, sendosignificativo o percentual dos que estavamlocalizados na faixa salarial <strong>de</strong> um a doissalários mínimos (21,78%) e <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>dois até quatro salários mínimos (20,79%).Foi também significativo o percentual dosque não respon<strong>de</strong>ram (10,89%). Essainformação não permite maioresconclusões a respeito da condiçãoeconômica da família porque não foram42número <strong>de</strong> pessoas que moravam na casa das101 famílias investigadas, po<strong>de</strong>-se afirmarque 36 famílias (38,71%) possuíam ape<strong>nas</strong>um filho, 36 possuíam dois filhos (38,71%)e 21 (22,58%) eram formadas por três oumais filhos. Ao total, eram 178 filhos, amaioria com menos <strong>de</strong> 10 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>. Emrelação às 67 famílias que alojavam outrosmoradores diferentes dos cônjuges e dosfilhos, a distribuição foi a seguinte: 36famílias contavam com a presença <strong>de</strong> umoutro parente, sendo que a maioria dosparentes possuía menos <strong>de</strong> 10 anos; onzefamílias possuíam cinco agregados, sendodois <strong>de</strong>les menores <strong>de</strong> 10 anos; e quinzefamílias afirmaram ter empregadasdomésticas (tabelas 210, 211 e 219).7.2 Caracterização das TIDs pelasEmpregadorasDas 83 famílias com respostas válidas, amaioria (69) possuía empregada externa eape<strong>nas</strong> quatorze possuíam empregada interna.Das que possuíam empregada externa, 49(71,01%) empregavam um não-familiar; sete
Tabela 208 - Ocupação principalAtualmente, qual a sua ocupação principal?Freq %Empresário da construção civilCostureiraDona <strong>de</strong> casaEstudanteDomésticaBalconistaBancáriaFuncionário públicoEletricistaAposentadaVen<strong>de</strong>doraCamareiraDesempregadaFaxineiraAuxiliar administrativoProfessoraComercianteCabeleireiroArquitetaMédicaReformador <strong>de</strong> divisóriaEmpacota<strong>de</strong>iraAuxiliar <strong>de</strong> enfermagemOperáriaSecretáriaTotal15341921426512235321112215101,994,9533,66,998,911,98,993,961,985,944,95,991,981,982,974,952,971,98,99,99,991,981,98,994,95100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>(10,14%) empregavam a sobrinha; quatro(5,80%), a prima; e três, a neta. Das quepossuíam empregada interna, 12 (85,71%)empregavam um não-familiar e uma asobrinha. De 101 famílias, 69,31% disseramter empregada doméstica não resi<strong>de</strong>nte.Quanto à ida<strong>de</strong> das TIDs, foi informado que38 (51,35%), num total <strong>de</strong> 74, tinham até 15anos, trabalhando, portanto, ilegalmente; 30(40,54%) estavam na faixa etária entre 16 e17 anos; e seis famílias (8,11%) disseram nãosaber ou não respon<strong>de</strong>ram a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suasempregadas. Quanto ao tempo <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> na43família, proporcionalmente, as empregadasinter<strong>nas</strong> parecem permanecer mais tempo noemprego, pois, das 70 empregadas exter<strong>nas</strong>, amaioria (57,14%) estava empregada há menos<strong>de</strong> seis meses e 24,29% há menos <strong>de</strong> 12 meses,o que correspon<strong>de</strong> a 81,43% trabalhando nafamília entrevistada há menos <strong>de</strong> um ano,enquanto entre as quatorze empregadasinter<strong>nas</strong>, apesar <strong>de</strong> 64,28% estar trabalhandohá menos <strong>de</strong> um ano, outras 35,71% trabalhamhá mais <strong>de</strong> 2 anos <strong>nas</strong> residênciasentrevistadas. Mais da meta<strong>de</strong> das empregadasexter<strong>nas</strong> (57,97%), <strong>de</strong> 69 respostas válidas,
Tabela 209 - Renda individual mensal no último mêsQual foi a sua renda individual mensal no último mês?Freq %0 - ½ SM½ - 1 SM1 - 2 SM2 - 4 SMMais que 5 SMNSNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>121422211741110111,8813,8621,7820,7916,833,9610,89100,00possuíam entre 12 a 15 anos quando iniciaramo <strong>trabalho</strong> na família entrevistada e 23,19%estavam na faixa etária entre 16 e 17 anos.Somando o percentual das duas que iniciaramcom 11 anos ou menos (8,70%) ao percentualdas localizadas na faixa etária entre 12 e 15anos, temos um total <strong>de</strong> 66,67% <strong>de</strong> empregadasdomésticas abaixo da atual ida<strong>de</strong> mínima legal<strong>de</strong> admissão ao <strong>trabalho</strong>. Sete famílias(10,15%) não souberam a ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> suasempregadas ou não respon<strong>de</strong>ram. Quanto àsempregadas inter<strong>nas</strong>, 64,29% iniciaram o seu<strong>trabalho</strong> com ida<strong>de</strong> entre 12 e 15 anos e28,57% com 16 ou 17 anos (tabelas 220, 221,222, 228 e 229).Os cruzamentos solicitados da questão4.1 do questionário da família empregadoracom outras três questões do questionário dasfamílias <strong>de</strong> origem para investigar a motivaçãopara admissão da TID produziram informaçõesreferentes a um pequeno número <strong>de</strong> famílias,pois a questão 4.1 refere-se somente àsfamílias que possuíam outros membrosmenores além dos filhos e cônjuges. Ascorrelações observadas não são significativaspara se concluir alguma tendência em relaçãoà motivação para admissão das TIDs (tabelas223 a 227).7.3 Grau <strong>de</strong> Conhecimento da FamíliaEmpregadora sobre a TIDDas 81 respostas válidas sobre se a TIDsempre morou em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém ouRecife, a maioria dos informantes (61)44respon<strong>de</strong>u que sim tem algum grau <strong>de</strong>conhecimento sobre as crianças e adolescentesque prestavam serviços no seu lar; 16 disseramque não e quatro não souberam informar, sendo,todos eles, nessa última categoria, <strong>de</strong> famíliascom empregadas exter<strong>nas</strong>. Das que sempremoraram nestas capitais, 57 eram empregadasexter<strong>nas</strong> e quatro eram empregadas inter<strong>nas</strong>.Das que nem sempre moraram, <strong>de</strong>z eramempregadas inter<strong>nas</strong>, sendo as seis outras,empregadas exter<strong>nas</strong>. Das doze empregadasexter<strong>nas</strong> que nem sempre moraram nestascapitais, cinco vieram <strong>de</strong> Mato Ver<strong>de</strong> (MG),duas da Bahia, uma <strong>de</strong> Itamaraju (BA), uma <strong>de</strong>Montes Claros (MG), uma do Maranhão e uma<strong>de</strong> Cametá. Quatro das empregadas inter<strong>nas</strong>vieram <strong>de</strong> Mato Ver<strong>de</strong> (MG), uma <strong>de</strong> MontesClaros (MG) e uma do Maranhão (tabelas 230e 231).Os pais da maioria das empregadasdomésticas estavam vivos: entre as empregadasexter<strong>nas</strong>, a porcentagem foi <strong>de</strong> 82,61% e, entreas inter<strong>nas</strong>, 58,33%. Cinco famílias comempregadas exter<strong>nas</strong> e duas com empregadasinter<strong>nas</strong> não souberam fornecer esta informação.Todas as mães das 71 empregadas exter<strong>nas</strong>estavam vivas (tabelas 232 e 233).Das doze respostas válidas sobre asempregadas exter<strong>nas</strong> que não moravam com opai, cinco famílias respon<strong>de</strong>ram que elas nãose comunicavam com o pai há até três meses.Cinco inter<strong>nas</strong> estavam nessa mesma situaçãoe duas não se comunicava com seu pai há 13 oumais meses. Das 37 famílias que possuíamempregada externa, 18 (48,65%) disseramencorajar suas empregadas domésticas a
comunicar-se com suas famílias <strong>de</strong> origem, seis(16,22%) admitiram não ter essa preocupação,treze não souberam ou não respon<strong>de</strong>ram. Dentreas treze famílias com empregadas inter<strong>nas</strong>, dozeafirmaram que incentivavam a comunicaçãocom as famílias <strong>de</strong> origem e uma não. A forma<strong>de</strong> incentivo mais apontada foi o fato <strong>de</strong> que aTID “já morava com os pais”, vindo em segundolugar “falando para entrar em contato comparentes” (tabelas 234 a 237).Cinqüenta empregadas exter<strong>nas</strong> (94,34%)e <strong>de</strong>z empregadas inter<strong>nas</strong> (76,92%) tinhamoutro familiar morando em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>,Belém ou Recife. Das 53 empregadas exter<strong>nas</strong>,45 (84,91%) mantinham contato com o familiare, das onze inter<strong>nas</strong>, seis faziam o mesmo (tabelas238 e 239).7.4 Grau <strong>de</strong> Conhecimento da FamíliaEmpregadora sobre a Escolarida<strong>de</strong> daTIDDas 101 famílias entrevistadas, 54disseram que suas empregadas exter<strong>nas</strong>freqüentavam a escola, sete afirmaram omesmo para suas empregadas inter<strong>nas</strong> e seteinformaram que suas empregadas inter<strong>nas</strong> nãofreqüentavam a escola. Dos 76 questionáriosválidos, 50 informantes (65,79%) das famíliasempregadoras consi<strong>de</strong>raram que osprofessores da escola on<strong>de</strong> a empregadadoméstica estudava ensinavam bem e quatro(5,26%) não consi<strong>de</strong>ravam <strong>de</strong>ssa forma. Foisignificativo, no entanto, o número <strong>de</strong>informantes que não souberam respon<strong>de</strong>r: 22(28,95%). Esse alto número po<strong>de</strong> indicar um<strong>de</strong>sconhecimento, por parte da famíliaempregadora, das condições da escola on<strong>de</strong>sua empregada estuda. Quanto ao horário dasaulas ser ou não a<strong>de</strong>quado, 61 (80,26%)consi<strong>de</strong>raram que sim e sete (9,21%)consi<strong>de</strong>raram que não. Sete (9,21%) nãosouberam respon<strong>de</strong>r (tabelas 240 e 241 ).Em relação à avaliação sobre o que falta naescola, <strong>de</strong>ntre as 74 respostas válidas, a maioria(52,70%) não soube respon<strong>de</strong>r. Percentual quesomado ao dos que não respon<strong>de</strong>ram totaliza56,75%. Oito informantes disseram faltar maioratenção por parte dos professores, oitoconsi<strong>de</strong>raram a escola <strong>de</strong> boa qualida<strong>de</strong> e setedisseram faltar cursos profissionalizantes, <strong>de</strong>ntreos mais citados. (tabela 242)Das 55 famílias com empregadasexter<strong>nas</strong>, 42 (76,36%) disseram queauxiliavam suas empregadas nos estudos, 12(21,82%) disseram que não. As seisempregadas inter<strong>nas</strong> que estudavam recebiamajuda das famílias empregadoras. Os tipos <strong>de</strong>ajuda mais significativos foram o incentivo anunca <strong>de</strong>sistir dos estudos (26,67%), vindo aseguir ensinar o <strong>de</strong>ver <strong>de</strong> casa (21,67%), oaconselhamento para estudar (11,67%) eajudando <strong>nas</strong> dúvidas escolares (11,67%).Dentre as TIDs que não freqüentavam a escolae que eram também empregadas exter<strong>nas</strong>, 11dos informantes admitiram que po<strong>de</strong>riam fazeralgo para que ela freqüentasse a escola, cincoinformantes que possuíam empregada internaadmitiram também que po<strong>de</strong>riam fazer algopara que as TIDs freqüentassem a escola.Destacam-se como forma <strong>de</strong> ajuda o incentivoe o ato <strong>de</strong> matriculá-las no próximo ano(tabelas 243 a 246).Tabela 240 - Freqüência da TID à escolaFreq %A empreg. externa freqüenta a escola?SimNão541479,4120,59Total68(*)100,00A empreg. interna freqüenta a escola?SimNão7750,0050,00Total14(**)100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* O total <strong>de</strong> valores perdidos vale 18** O total <strong>de</strong> valores perdidos vale 145
Quatro informantes <strong>de</strong>ntre as quinze quepossuíam empregada externa disseram que asTIDs não estudavam porque não iam passar <strong>de</strong>ano e três porque não gostavam <strong>de</strong> estudar. Duasdas informantes com empregada interna disseramnão ter vaga na escola. Quase todas as famíliascom empregadas exter<strong>nas</strong> (97,10%) e 92,86%das que possuíam empregada internaconsi<strong>de</strong>raram, no entanto, importante afreqüência à escola. Uma família com empregadaexterna e outra com empregada internaadmitiram não consi<strong>de</strong>rar tal freqüênciaimportante (tabelas 247 e 248).7.5 Grau <strong>de</strong> Conhecimento da FamíliaEmpregadora sobre o Trabalho dasTIDsDas 64 respostas válidas sobre as formas <strong>de</strong>pagamento, 53 famílias (82,81%) mencionaramroupa; <strong>de</strong>z forneciam alimentação (15,62%); e uma,moradia. É importante lembrar que uma mesmafamília po<strong>de</strong>ria marcar mais <strong>de</strong> uma opção,acumulando alimentação e roupa, por exemplo(tabela 249).Das 70 informantes que possuem empregadaexterna, 66 (94,29%) afirmaram que suas TIDstinham folga semanal e onze (78,57%) em 14 <strong>de</strong>ntreas empregadas inter<strong>nas</strong> tinham folga semanal. Em84 casos válidos, 33 (39,29%) informaram que afolga era no sábado e domingo ou final <strong>de</strong> semana;27 (32,14%) no domingo; cinco disseram ser a folgatodos os dias e fins <strong>de</strong> semana; duas o dia que elaquer; duas <strong>de</strong> 15 em 15 dias; quatro nãorespon<strong>de</strong>ram. Os <strong>de</strong>mais casos indicados na tabelacontam com um registro cada (tabelas 250 e 251).7.6 Perspectiva da Empregadora sobre aTIDA questão 22 mostra que dos 101informantes, 23 (22,77%) preferiam adolescentesentre 16 e 18 anos; 21 (20,79%) preferiam umaempregada com mais <strong>de</strong> 25 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>; 19(18,81%) não <strong>de</strong>monstraram preferência pornenhuma faixa etária. É digno <strong>de</strong> nota que 13(12,87%) disseram preferir adolescentes <strong>de</strong> 13 a15 anos, e uma tem preferência por uma menina<strong>de</strong> no máximo 12 anos, não consi<strong>de</strong>rando,portanto, a ilegalida<strong>de</strong> do <strong>trabalho</strong> domésticonessa faixa etária. Somando-se a porcentagemdos que respon<strong>de</strong>ram preferir empregadas acima<strong>de</strong> 25 anos com a porcentagem dos que disserampreferir a faixa etária <strong>de</strong> 19 a 25 (17,82%), temosum total <strong>de</strong> 38,61%. A preferência <strong>de</strong> quase 40%,portanto, não inci<strong>de</strong> sobre o <strong>trabalho</strong> infantojuvenil,apesar <strong>de</strong> essas famílias estaremempregando pessoas abaixo dos 18 anos. Cinco(4,95%) não souberam respon<strong>de</strong>r. Quanto aosmotivos da preferência por estas ida<strong>de</strong>s, 34(38,20%), em 89, apontaram a responsabilida<strong>de</strong>;18 (20,22%), a experiência; oito (8,99%), parabrincar com as crianças; quatro (4,49%), aresponsabilida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da ida<strong>de</strong>; 3afirmaram ser a preferência in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte daida<strong>de</strong>; 3 consi<strong>de</strong>ram o serviço a<strong>de</strong>quado porserem poucas tarefas; 3, as meni<strong>nas</strong> têm respeitomaior com a empregadora; 2, apren<strong>de</strong>m commais facilida<strong>de</strong> e oito (8,98%) não souberam ounão respon<strong>de</strong>ram. Os <strong>de</strong>mais motivos contaramcom um registro cada, sendo que um <strong>de</strong>les<strong>de</strong>stacou a relação doméstica da seguinte forma:“porque obe<strong>de</strong>ce e fica como se fosse uma filha”(tabelas 253 e 254).Tabela 253 - Preferência <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> para o <strong>trabalho</strong> domésticoPela sua experiência, a senhora prefere para as tarefas domésticas:Freq %Uma menina <strong>de</strong> máximo 12 anosUma menina entre 13-15 anosUma menina entre 16-18 anosUma menina <strong>de</strong> 19-25Uma menina <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 25In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da faixa etáriaNão sabeNão respon<strong>de</strong>uTotal1132318211951101,9912,8722,7717,8220,7918,814,95,99100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>46
Tabela 254 - Motivação para ter empregadas nesta ida<strong>de</strong>Por que prefere uma pessoa <strong>de</strong>sta ida<strong>de</strong> para ajudá-la?Freq %Sendo responsável, não importa a ida<strong>de</strong>Tem mais responsabilida<strong>de</strong>Tem que estudar antesIn<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da faixa etáriaO serviço é a<strong>de</strong>quado por serem poucas tarefasPorque precisa <strong>de</strong> uma oportunida<strong>de</strong>Tem mais experiência com o <strong>trabalho</strong>É o início profissionalPorque obe<strong>de</strong>ce e fica como se fosse uma filhaAs meni<strong>nas</strong> tem um respeito maior c/ a empregadoraIda<strong>de</strong> mais nova é difícil apren<strong>de</strong>rPara brincar com as criançasApren<strong>de</strong> com mais facilida<strong>de</strong>Tem mais disposiçãoNSNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 12434133118113182144894,4938,201,123,373,371,1220,221,121,123,371,128,992,251,124,494,49100,00Quanto à preferência por contratar alguémque estuda ou não, dos 100 questionários válidos,a maioria (68%) preferia empregada queestudasse, sendo que treze (13%) preferiam asque não estudassem. Foi gran<strong>de</strong> o número dosque não souberam/não opinaram ou nãoquiseram respon<strong>de</strong>r (19%) (tabela 255).A opinião <strong>de</strong> 72,28% (73) dos 101informantes que respon<strong>de</strong>ram foi a <strong>de</strong> que aempregada que freqüenta a escola <strong>de</strong>ve ganharigual à que não freqüenta. Somando-se essepercentual com o dos que opinaram que aempregada que estuda <strong>de</strong>ve ganhar mais, temosum total <strong>de</strong> 84,16%, o que indica uma atitu<strong>de</strong>favorável ou, pelo menos, <strong>de</strong> não-oposição aoestudo. Ape<strong>nas</strong> nove opinaram que a empregadaque estuda <strong>de</strong>ve ganhar menos do que uma quenão freqüenta a escola (tabela 256).Das 97 respostas válidas, 25 (25,77%)<strong>de</strong>stacaram como atributo <strong>de</strong> uma boa empregadadoméstica o cumprimento das responsabilida<strong>de</strong>s;nove (9,28%), a confiança; nove (9,28%), aeficiência; oito (8,25%), a honestida<strong>de</strong>; oito(8,25%), ser asseada; seis (6,19%), a educação;cinco (5,15%), a responsabilida<strong>de</strong> com as crianças;cinco (5,15%), a atenção; três, o capricho; três, serprestativa; três, a pontualida<strong>de</strong>; dois, gostar <strong>de</strong>criança; dois, gostar das pessoas da casa; cinco47(5,15%) não souberam ou não quiseram respon<strong>de</strong>r.Os <strong>de</strong>mais atributos contaram com um registrocada: ser discreta e sem vícios (tabela 257).A opinião dos 101 informantes sobrecomo <strong>de</strong>ve ser uma patroa revelou os seguintesatributos: educada (17,82%), tratar aempregada com educação (17,82%),compreensiva (14,85%), amiga (10,89%),ajudar <strong>nas</strong> dúvidas quanto ao serviçodoméstico (7,92%), exigente mas não abusiva(5,94%), garantidora dos direitos daempregada (5,94%), interessada peloempregado, ajudando a crescer (4,95%), nãoser exploradora da empregada (3,96%) e nãose envolver <strong>nas</strong> tarefas domésticas (1,98%).Todos os <strong>de</strong>mais atributos citados a seguircontaram com um registro cada (tabela 258).Quando perguntados sobre a vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>fazer alguma coisa para apoiar as crianças eadolescentes menores <strong>de</strong> 18 anos quetrabalham como doméstica, 73 informantes(74,49%) respon<strong>de</strong>ram que sim e sete (7,14%)que não. Foi significativo o número dos quenão souberam ou não respon<strong>de</strong>ram (18,37%).Dentre os que respon<strong>de</strong>ram sim, 27 (36%)disseram que po<strong>de</strong>riam dar apoio <strong>nas</strong>iniciativas <strong>de</strong> estudo/<strong>trabalho</strong>, 10 (13,13%)dando orientação, sete proporcionando um
salário mais a<strong>de</strong>quado, seis ajudando a família,seis participando <strong>de</strong> alguma entida<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio,três apoiando na escola/ajudando no <strong>de</strong>ver,duas com alimentação, roupa e sapato, novenão souberam dizer o que po<strong>de</strong>riam fazer ounão respon<strong>de</strong>ram. Todas as outraspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> apoio contaram com umregistro cada (tabelas 259 e 260).Tabela 258 - Conduta <strong>de</strong> uma patroaEm sua opinião, como <strong>de</strong>ve ser a patroa?Freq %EducadaGarantir todos os direitos da empregadaTratar a empregada com educaçãoCompreensivaSer exigente mas não abusivaAmigaNão explorar a empregadaLiberais sem ser autoritáriaQue não se envolva <strong>nas</strong> tarefas domésticasInteressar-se pelo empregado, ajudá-lo a crescerTem que dialogarAjudar <strong>nas</strong> dúvidas quanto ao serviço domésticoPagar em diaAtenciosaTratá-la como membro da famíliaNSNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>18618156114125181112110117,825,9417,8214,855,9410,893,96,991,984,95,997,92,99,99,991,98,99100,0048
8. IDENTIFICAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DAS FAMÍLIAS DE ORIGEM8.1 PerfilO estado civil das famílias <strong>de</strong> origem dasTIDs configura-se da seguinte maneira:38,29% estavam casados; 23,69%, eramcompanheiros/amasiados; 14,33%, separados;10,74%, mães solteiras; 5,23%, divorciadas;e 7,16% eram viúvos (tabela 261).35,85%, <strong>de</strong> um a dois SM; e somente 8,02%recebiam acima <strong>de</strong> três SM. Os paispercebiam: 41,43% menos <strong>de</strong> um SM e39,29% <strong>de</strong> um a dois, 15% <strong>de</strong> três a quatroe somente 4,29% acima <strong>de</strong> cinco SM(tabelas 265 e 266).Quanto à hipótese <strong>de</strong> que a faixasalarial dos familiares pu<strong>de</strong>sse terTabela 261 - Estado CivilA Senhora é:Freq %CasadaCompanheira/AmasiadaSeparadaDivorciadaViúvaSolteiraNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 11398652192639236338,2923,6914,335,237,1610,74,55100,00O cruzamento da ocupação dasfamílias <strong>de</strong> origem com a ativida<strong>de</strong> dasTIDs <strong>de</strong>monstrou, <strong>de</strong> maneira geral, queseguem a mesma lógica <strong>de</strong> ocupação.Quanto às mães que eram do<strong>nas</strong> <strong>de</strong> casa, omaior número <strong>de</strong> TIDs <strong>de</strong>senvolviam asseguintes ativida<strong>de</strong>s: cuidar <strong>de</strong> crianças(88), arrumar casa (87), lavar roupa (73),passar roupa (72), entre outras. Por outrolado, quando as mães <strong>de</strong>sempenham outrasativida<strong>de</strong>s: cuidar <strong>de</strong> crianças (124),arrumar casa (121), lavar roupa (108),passar roupa (100), ajudar com as compras(91), entre outras (tabelas 263 e 264).8.2 Renda FamiliarA renda familiar das famílias <strong>de</strong>origem, em sua maioria, estava na faixa <strong>de</strong>até dois salários mínimos, sendo que53,77% das mães percebiam até um SM;49influenciado na vida das TIDs, percebe-se,na análise dos cruzamentos, que não há umatendência ou relação direta. Os dadosapontam que das TIDs que arrumavam casae que cuidavam <strong>de</strong> crianças todos os dias,as mães, em 59,74% e 44,87%, oscompanheiros, 54,17% e 31,17%,respectivamente, percebiam até um SM(tabelas 267 e 268).Dos motivos alegados para começar atrabalhar como doméstica, entre as querespon<strong>de</strong>ram “para ter meu próprio”, as mães,em 46,53% recebiam até um salário e 37,62%entre um e dois SM e para “ajudar meus pais/familiares”, igualmente as mães, em 51,90%recebiam até um salário e 37,97% entre um edois SM (tabela 269).De uma maneira geral, percebe-se quea renda das TIDs era muito baixa e que, em68 casos <strong>de</strong> 163, recebiam o mesmo que amãe, ou seja até um SM. No caso da rendado companheiro, 33 casos <strong>de</strong> 94 recebiamtambém até um SM (tabelas 270 e 271).
Tabela 263 - Ativida<strong>de</strong> da mãe cruzada pela ativida<strong>de</strong> da TIDTodos osdiasQuasetodos osdiasDe vezem quandoQuasenuncaNuncaNRTotalFreq % Freq % Freq % Freq % Freq % Freq % Freq %Ape<strong>nas</strong> estudo330,000,00220,00440,00110,000,0010100,00Vejo televisão545,4519,09436,360,0019,090,0011100,00Arrumo a casa5765,521112,6444,6022,300,001314,9487100,00Lavo roupa2331,511419,1856,8556,8522,742432,8873100,00Dona <strong>de</strong> casaPasso roupaAjudo com as comprasCuido das criançasCuido <strong>de</strong> idosos14556419,447,4663,646,061554120,837,464,551,5264118,335,971,141,52612368,3317,913,419,0923242,784,482,276,062938225040,2856,7225,0075,7672678866100,00100,00100,00100,00Cuido <strong>de</strong> pessoa doente46,0611,5223,03710,6134,554974,2466100,00Cuido <strong>de</strong> cachorro913,6423,0334,5569,0934,554365,1566100,00Cozinho529,41423,53211,76211,76423,530,0017100,00Leva/busca crianças na escola2100,000,000,000,000,000,002100,00Lavalouça0,000,000,000,000,000,000,00Ape<strong>nas</strong> estudo1869,2313,85311,5427,6927,690,0026100,00Em que a Sra. trabalha?Trabalha em outras ativida<strong>de</strong>sVejo televisãoArrumo a casaLavo roupaPasso roupaAjudo com as comprasCuido das criançasCuido <strong>de</strong> idososCuido <strong>de</strong> pessoa doente1373301713744439,3960,3327,7817,0014,2959,686,066,06823272415191124,2419,0125,0024,0016,4815,321,521,52111022201461133,338,2620,3720,0015,384,841,521,521671416310103,034,966,4814,0017,582,4215,1515,1500011122,00,00,001,001,10,813,033,0309222432214848,007,4420,3724,0035,1616,9472,7372,7333121108100911246666100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00Cuido <strong>de</strong> cachorro1824,6645,4822,7479,5922,744054,7973100,00Cozinho1747,2225,56719,44822,220,0025,5636100,00Lavalouça1100,000,000,000,000,000,001100,00Ape<strong>nas</strong> estudo2100,000,000,000,000,000,002100,00Arrumo a casa562,500,00112,500,000,00225,008100,00Lavo roupa337,50337,500,000,000,00225,008100,00Passo roupa112,50450,000,000,000,00337,508100,00NRAjudo com as compras0,00114,290,00228,570,00457,147100,00Cuido das crianças763,6419,090,0019,090,00218,1811100,00Cuido <strong>de</strong> idosos0,000,000,000,000,007100,007100,00Cuido <strong>de</strong> pessoa doente0,000,000,000,000,007100,007100,00Cuido <strong>de</strong> cachorro225,00112,500,000,000,00562,508100,00Cozinho1100,000,000,000,000,000,001100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (364) são valores perdidos ou NSA.8.3 Escolarida<strong>de</strong>A escolarida<strong>de</strong> das famílias <strong>de</strong> origem,na sua maioria (mães 53,8% e pais 38,50%),era <strong>de</strong> até o ensino fundamental I (4ª série),sendo que 18,44% <strong>de</strong> mães e 11,76% <strong>de</strong> pais<strong>de</strong>clararam-se analfabetos (tabelas 272 e 274).50Quanto à hipótese <strong>de</strong> que o grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> dos pais influenciasse nograu <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> das TIDs, não severificou nenhuma tendência. Em torno <strong>de</strong>15% das TIDs estavam no ensino médio,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte dos níveis <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> damãe e do pai. Constata-se que o nível <strong>de</strong>
Tabela 264 - Ativida<strong>de</strong> do pai cruzada pela ativida<strong>de</strong> da TIDApe<strong>nas</strong>estudoTotalVejotelevisãoTotalArrumoa casaTotalLavoroupaTotalPassoroupaTotalAjudo comas comprasTotalCuido dascriançasTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRSeu marido / companheiro trabalha atualmente?SimNãoNRFreq % Freq % Freq %121411191264012356205214972417145224861418149225821188163307672112221370,59100,00100,0050,00100,0076,0085,71100,0066,67,00100,0082,1451,8571,4371,4340,0060,8756,7348,9851,5277,7871,43100,0052,1755,4848,2854,5582,3560,00100,0045,4554,3068,7550,0072,7361,54100,0042,8653,5269,2368,7540,0040,00100,0030,2340010520210527521136910420530883407303525013281833001123,53,00,0050,00,0020,0014,29,0033,33100,00,0017,8625,0017,8628,5720,004,3521,0518,3730,3022,2228,57,0010,8719,3527,5924,2417,6526,67,0012,7319,8718,7531,2518,1819,23,0018,5719,7217,3118,7560,00,00,0025,58100001000000253028381660001739770202339231502738142030195,88,00,00,00,004,00,00,00,00,00,00,0023,1510,71,0040,0034,7822,2232,6518,18,00,00,0036,9625,1624,1421,21,0013,33,0041,8225,8312,5018,759,0919,23,0038,5726,7613,4612,50,0060,00,0044,1951TotalFreq %17 100,001 100,004 100,002 100,001 100,0025 100,0014 100,006 100,006 100,001 100,001 100,0028 100,00108 100,0028 100,007 100,005 100,0023 100,00171 100,0049 100,0033 100,0018 100,007 100,002 100,0046 100,00155 100,0029 100,0033 100,0017 100,0015 100,002 100,0055 100,00151 100,0016 100,0016 100,0011 100,0026 100,003 100,0070 100,00142 100,00104 100,0016 100,005 100,005 100,002 100,0043 100,00
TotalCuido <strong>de</strong>idososTotalCuido <strong>de</strong>pessoadoenteTotalCuido <strong>de</strong>cachorroTotalCozinhoTotalTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNRTodos os diasQuase todos os diasDe vez em quandoQuase nuncaNuncaNR10212164486252253476410444240649463402658,2916,67100,00100,0050,00100,0048,4850,0062,50100,00100,0045,45100,0047,9651,6145,4566,67100,0050,0066,6747,6250,3990,0066,67100,0042,86100,00,0074,2935100301923100301923720211325120201620,0016,67,00,0025,00,0019,1918,5512,50,00,0027,27,0019,3918,5531,8233,33,0025,0033,3315,4819,6910,0033,33,0028,57,0050,0017,1438400303239200303237500203138000201321,7166,67,00,0025,00,0032,3231,4525,00,00,0027,27,0032,6529,8422,73,00,0025,00,0036,9029,92,00,00,0028,57,0050,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>* Os valores que restam para completar o total (364) são valores perdidos ou NSA.8,57175621124991248221139812422648384127106674235100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00100,00escolarida<strong>de</strong> das mães 53,8% e pais 38,50%até o ensino fundamental I era bem inferior aodas próprias TIDs: 61,51% com ensinofundamental II (tabelas 272 e 274).8.4 Autorização para a Filha Trabalharcomo TIDAs informações quanto à pessoa queautorizou o <strong>trabalho</strong> como TID, na maioria doscasos, no cruzamento da informação, tanto dasTIDs quanto das famílias <strong>de</strong> origem,coinci<strong>de</strong>m. A gran<strong>de</strong> maioria das TIDs(81,25%) e dos familiares <strong>de</strong> origem (80,56%)respon<strong>de</strong>ram que foram as próprias TIDs queescolheram trabalhar (tabela 275).8.5 Relação Pais/Família EmpregadoraAs famílias <strong>de</strong> origem indicaramcorretamente o en<strong>de</strong>reço dos patrões das TIDsem 45,43% dos casos; 22,44% tinham um idéiado en<strong>de</strong>reço e 25,48% afirmaram não saber oen<strong>de</strong>reço. Porém, a maioria (83,10%) dasfamílias afirmou conhecer os patrões e o localon<strong>de</strong> a filha trabalhava (tabelas 276 e 277).8.6 Ocorrência e Freqüência <strong>de</strong> Contatocom a TIDDo universo das TIDs na pesquisa comas famílias <strong>de</strong> origem, a maioria (88,57%)afirmou que as TIDs dormiam na casa dos52
Tabela 265 - Faixa salarial da mãeQuanto recebeu no último mês? (Renda total)Freq %Menos <strong>de</strong> 1 SMEntre 1 e 2 SMEntre 3 e 4 SMAcima <strong>de</strong> 5 SMTotal1147617521253,7735,858,022,36100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 152familiares. Dos 11,43% que moravam fora <strong>de</strong>casa, os motivos alegados foram: foicontratada assim, a casa do <strong>trabalho</strong> fica longe,já estão acostumados com a casa <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,patrões viajam, cuidam <strong>de</strong> criança à noite,entre outros (tabelas 278 a 280).O contato com as TIDs era semanal(83,33%); quinzenal (6,94%); trimestral(4,63%) e 4,63% não viam as TIDs <strong>de</strong>s<strong>de</strong>quando começaram a trabalhar. O motivo daperda do contato alegado pelos familiares foi“patroa não incentiva”, “por falta <strong>de</strong> condiçõesfinanceiras” entre outras. Sobre o que po<strong>de</strong>riamfazer para reaver o contato, as repostas maisfreqüentes foram: ir ao conselho tutelar, tercondições econômicas e falam por telefone(tabelas 281 e 283).Quanto à ida<strong>de</strong> em que começou atrabalhar ou a trabalhar como doméstica, ocruzamento das informações das TIDs e dasfamílias <strong>de</strong> origem praticamente coinci<strong>de</strong>.Sendo que a maioria (64,60%) começou atrabalhar na faixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos e19,47%, <strong>de</strong> 5 a 11 anos e como doméstica63,72% e 20,35%, respectivamente (tabelas284 e 286).Gran<strong>de</strong> parte das TIDs (40,19%) começoua trabalhar como babá e 64,44% <strong>de</strong>las estavamna faixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos; 38,39% dasTIDs começaram a trabalhar como empregadoméstica e em 62,79% dos casos estavam nafaixa <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 12 a 15 anos (tabela 285).8.7 Conhecimento sobre a TIDQuanto à percepção sobre o tratamentodispensado pela família empregadora à TID,percebe-se <strong>de</strong> maneira geral que não havia muitadiferença entre as que dormiam na casa dos paisou na casa <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>. Alguns itens são piorespara aquelas que dormiam na casa on<strong>de</strong> trabalha.Por exemplo: não recebem salário (22,92%), nãotêm folga semanal (18,39%) não tinham férias(16,13%) (tabela 287).Quanto às condutas negativas dos patrõesem relação ao local <strong>de</strong> moradia, verifica-se ospiores índices nos seguintes quesitos: atraso nopagamento do salário (42 pessoas) que moramcom os pais (tabelas 288, 289 e 290).As que não recebiam salário, na média <strong>de</strong>17,78%, respon<strong>de</strong>ram que os empregadores asTabela 266 - Faixa salarial do paiQuanto recebeu no último mês? (Renda total)Freq %Menos <strong>de</strong> 1 SMEntre 1 e 2 SMEntre 3 e 4 SMAcima <strong>de</strong> 5 SMTotal585521614041,4339,2915,004,29100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos e ou NSA: 8553
Tabela 281 - Freqüência <strong>de</strong> ver as TIDsHá quanto tempo que não vê a sua filha?Freq %vejo sempre - semanalFrequentemente - QuizenalPouco frequente - TrimestalNão vejo minha filha <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que ela começou a trab. como TIDNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 148180151010121683,336,944,634,63,46100,00tratavam diferentemente, e o maior índice foiencontrado em: incentivavam para estudar(26,09%), levavam para passear (22,32%) eajudavam nos <strong>de</strong>veres <strong>de</strong> casa (21,21%). Já asque não iam para a escola, em média <strong>de</strong> 15,74%,também recebiam tratamento diferenciado:lembravam para não esquecer da família(19,57%) e ficavam preocupados com a TID(17,39%). Também se percebe que, na média <strong>de</strong>38,74%, as que tinham férias recebiam umtratamento diferenciado, com <strong>de</strong>staque positivopara: lembravam para não esquecer da família(58,70%) e incentivavam para estudar (40,54%)(tabelas 291 a 295).Em relação à imagem que tinham osfamiliares sobre o tratamento dado à filha pelospatrões, a maioria (68,20%) afirmou que atratavam bem, sendo que 6,22% não souberamrespon<strong>de</strong>r (tabela 296).Quanto à imagem do tratamento dospatrões pela mãe, das que respon<strong>de</strong>ram bemtratada, entra-se no cruzamento das respostasdas TIDs as seguintes contradições: te chamampor algum nome que te <strong>de</strong>sagrada (novepessoas), você é obrigada a trabalhar mesmodoente (oito pessoas), te insultam (cincopessoas), te batem (cinco pessoas), beliscam oupuxam o cabelo (três pessoas), além <strong>de</strong> uma comassédio sexual e duas tentativa <strong>de</strong> abuso sexual(tabela 321).Em relação às condutas dosempregadores e o cruzamento emcumprimento <strong>de</strong> acordos salariais, percebeseas piores condutas são assedio sexual outentativa <strong>de</strong> abuso sexual, e não o atraso <strong>de</strong>pagamento, ou recusa <strong>de</strong> pagamento. Verificasetambém uma certa sedução pelo tratamento(tabelas 322 a 338).Quanto à pessoa que po<strong>de</strong>ria ajudar suafilha em caso da mãe não po<strong>de</strong>r, verifica-se queem 59,05% elas indicam a família, 23,68%, onamorado/noivo/marido e 5,01%, os amigos(tabela 339).Em relação às motivações para começar atrabalhar como TID, o cruzamento da questãofamília <strong>de</strong> origem (por que sua filha começou aTabela 284 - Distribuição da faixa etária das TIDs, pela ida<strong>de</strong> que começou a trabalharQuantos anostinha a suafilha quandocomeçoutrabalhar paraa outrafamília?TotalMenos <strong>de</strong> 11 anos12 a 15 anos16 a 17 anosNSNRDe 5 a 11Freq %9130002252,9417,81,00,00,0019,47Ida<strong>de</strong> que começou a trabalhar54De 12 a 15Freq %De 16 a 17Freq %Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Os valores que restam para completar o total (364) são valores perdidos ou NSA.7586117341,1879,4528,57100,00100,0064,60121500185,882,7471,43,00,0015,93TotalFreq %17 100,0073 100,0021 100,001 100,001 100,00113 100,00
Quantos anostinha a suafilha quandocomeçoutrabalhar paraa outrafamília?TotalTabela 286 - Distribuição da faixa etária do começo como TIDMenos <strong>de</strong> 11 anos12 a 15 anos16 a 17 anosNSNR5-11Freq %91310023Ida<strong>de</strong> que começou a trabalhar como doméstica52,9417,814,76,00,0020,3512-15Freq %16-17Freq %Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Os valores que restam para completar o total (364) são valores perdidos ou NSA.7585117241,1879,4523,81100,00100,0063,72121500185,882,7471,43,00,0015,93TotalFreq %17 100,0073 100,0021 100,001 100,001 100,00113 100,00trabalhar como doméstica?) com a da TID,constata-se, por parte das TIDs, “para ter opróprio dinheiro” com o maior número <strong>de</strong> casos(165), distribuídos, segundo as respostas dasfamílias, da seguinte maneira: para apren<strong>de</strong>r astarefas domésticas (39,92%), para ajudar afamília (22,63%), necessida<strong>de</strong>s financeiras(15,64%) e queria trabalhar e estudar (11,11%),entre outras. Em todos os cruzamentosrealizados nesta questão, há uma constante: asTIDs estavam trabalhando por causa <strong>de</strong>necessida<strong>de</strong>s financeiras pessoais ou familiares.Porém, o olhar dos familiares já é um tantodiferente, o que se verifica, por exemplo <strong>nas</strong>TIDs que buscavam in<strong>de</strong>pendência financeirae a mãe em percentual maior que a filha visavaque essa apren<strong>de</strong>sse tarefas domésticas (tabelas340 a 342).A maioria (86,05%) das mães afirmou queconhecia e tinha confiança <strong>nas</strong> pessoas com quemsua filha foi trabalhar. Porém, as famílias ficamconfusas com a situação <strong>de</strong> a filha estar morandoou trabalhando fora, sendo que 58,14% das mãespreferiam que elas não tivessem ido embora. Osmotivos alegados para isso são os mais variados:ter um futuro melhor (21,95%), po<strong>de</strong>r protegê-la(19,51%) e fazer companhia (14,63%), entre outras(tabela 343).8.8 Imagem dos Pais sobre o TrabalhoInfantil DomésticoPercebe-se, na análise, que foi alto(79,55%) o índice dos familiares que gostariamque a TID <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser doméstica. E osmotivos alegados foram: 30,99%, que se<strong>de</strong>dicasse aos estudos, 25% ter in<strong>de</strong>pendência;e 16,90% que ajudasse a irmã, entre outros(tabelas 344 e 345).Por outro lado, 16,81% gostariam que afilha não <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser TID. Os principaismotivos alegados foram: ela está ajudando a irmã(36,67%), necessida<strong>de</strong>s financeiras (23,33%) eter in<strong>de</strong>pendência (15%) (tabela 346).A maioria (64,53%) dos informantes dasfamílias <strong>de</strong> origem quando tinham menos <strong>de</strong> 18anos também trabalhavam como domésticas e,<strong>de</strong>stes, 13,42% tinham, além das TIDsentrevistadas, outras filhas trabalhando comodomésticas, contra 8,94% das que não foramtrabalhadoras quando tinham menos <strong>de</strong> 18 anos.Tabela 344 - Opinião da mãe sobre a filha <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ser domésticaA senhora gostaria que sua filha <strong>de</strong>ixasse <strong>de</strong> ser doméstica?Freq %SimNãoNRTotal284601335779,5516,813,64100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 755
Tabela 347 - Trabalho da mãe em casa <strong>de</strong> alguma família, quando tinha menos <strong>de</strong> 18 anosA senhora tem outras filhas menores <strong>de</strong> 18 anos que trabalham como doméstica?Sim Não NRFreq % Freq % Freq %Freq %Quando a senhoratinha menos <strong>de</strong> 18 anos,<strong>trabalho</strong>u em casa <strong>de</strong>alguma família?SimNãoNR3111013,428,94,00199112386,1591,0675,00101,43,0025,002311234100,00100,00100,00Total4211,7331487,712,56358100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Os valores que restam para completar o total (364) são valores perdidos ou NSA.Po<strong>de</strong>-se perceber que 92 (25,62%) dos familiaresincentivaram suas filhas a trabalhar comodomésticas (tabelas 347 e 348).Quanto ao perfil i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> uma TID, na visãodos familiares <strong>de</strong> origem, as principaisafirmações foram: honesta/humil<strong>de</strong> (22,78%),educada/calma (17,22%) e cuidadosa/caprichosa(8,33%), entre outras, sendo que a maioria(84,56%) afirmou que sua filha correspondia aessa imagem (tabelas 351 e 352).Na visão dos pais, as principais vantagens<strong>de</strong> uma menina menor <strong>de</strong> 18 anos ser TIDseriam: adquirir responsabilida<strong>de</strong>/experiência(12,21%), apren<strong>de</strong>r um ofício (11,55%),adquirir responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo (9,90%)e ter sua in<strong>de</strong>pendência (9,57%), entre outras.As principais <strong>de</strong>svantagens seriam: abusosexual (24,04%), as famílias exploram asmeni<strong>nas</strong> (14,74%), aci<strong>de</strong>ntes domésticos(11,22%), falta <strong>de</strong> segurança (11,22%) eexploração dos patrões (8,97%), entre outras(tabelas 353 e 354).8.9 Recepção da Idéia <strong>de</strong> um Programa<strong>de</strong> Intervenção junto às TIDsOs motivos alegados para o regresso daTabela 354 - Perigos sobre meni<strong>nas</strong> menores <strong>de</strong> 18 anos que trabalhamFreq %Abuso sexualSegurançaMuita responsab.Aci<strong>de</strong>ntes domést.Exploração dos patrõesPara <strong>de</strong> estudarProstituição/DrogasNecessida<strong>de</strong>s financeirasAs famílias exploram as meni<strong>nas</strong>Não vê nenhum perigoOutrosNSNRTotal75355352833111465511429624,0411,221,6011,228,97,96,96,323,5314,7417,633,531,28100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 6856
filha ao seio familiar, foram: 26% que sentemmuita sauda<strong>de</strong>, 16% ficariam a par dasnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>la para podê-la ajudar, 14%afirmaram que ela se sentiria mais segura (tabelas355 e 356).Quanto ao tipo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>sprofissionais, seria importante para as TIDs, navisão dos familiares: fazer cursos diversos(17,88%), fazer curso <strong>de</strong> corte e costura(10,61%), trabalhar no comércio (9,22%). Demodo geral, os pais apontam uma saída paracursos técnicos e <strong>trabalho</strong> voltado para aprestação <strong>de</strong> serviços no comércio (tabela 357).Quanto ao tipo <strong>de</strong> apoio necessário para avolta das filhas, o maior número <strong>de</strong> afirmaçõesforam: 29,82% apoio financeiro, 29,36%emprego, 4,59% bolsa-estudo, entre outras(tabela 358).Tabela 357 - Tipo <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong> profissionalFreq %Gostaria que ela fizesse um curso <strong>de</strong> contabilida<strong>de</strong>Ser office boy no Amas, AspronRecepc./Secret./TelefonistaTrabalhar <strong>de</strong> carteira assinadaTrabalhar no comércioFazer cursos diversosAuxiliar <strong>de</strong> escritórioProfessoraCabeleireiraDedicar aos estudosSe formar no nível superiorQualquer coisa que não fosse <strong>de</strong> empregada domésticaFazer um curso <strong>de</strong> corte-costura.Ser uma boa profissional.Médica.Trabalhar em uma empresa.Que se forme.Trabalhar na marinha.OutrosNSNRTotalLumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 675229336412174232733857353135173581,961,406,152,519,2217,883,354,751,126,427,54,8410,611,401,96,841,40,843,6314,251,96100,0057
Tabela 358 - Tipo <strong>de</strong> apoio necessário para a volta das filhasFreq %Que tipo <strong>de</strong> apoio é necessário para que asfamílias voltem a receber suas filhas quetrabalham e moram fora <strong>de</strong> casa?'Emprego'Apoio financeiro.Cesta básica.Cursos oferecidos em centros comunitários.Bolsa-escola.Apoio psicológico.Uma família estrutura.Ter um bom salário.Apoio político para a educação.NSNR646525105363282729,3629,82,922,294,592,291,382,751,3812,8412,39Total:218100,00Lumen - Fumarc/PUC Mi<strong>nas</strong>Total <strong>de</strong> Valores Perdidos: 14858
9.CONCLUSÕES9.1 Crianças e AdolescentesTrabalhadoras Domésticas e seu Mundo:Alguns Resultados QualitativosAs entrevistas realizadas após a aplicaçãodo questionário, <strong>de</strong> maneira geral, possibilitarama confirmação <strong>de</strong> algumas tendências i<strong>de</strong>ntificadaspela pesquisa quantitativa: predominância da cor/raça parda/preta; sexo feminino; faixa etária <strong>de</strong>16 a 18 anos como a <strong>de</strong> maior facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificação das trabalhadoras domésticas; e<strong>de</strong>cisão das próprias adolescentes <strong>de</strong> trabalharem.A seguir, passaremos a consi<strong>de</strong>rar algunsaspectos que foram evi<strong>de</strong>nciados pela pesquisaqualitativa.Distinção entre ser criança e adolescenteEsta distinção é percebida pelas mudançascorporais; pelo fato <strong>de</strong> “parar <strong>de</strong> brincar”, apesar<strong>de</strong>, entre as entrevistadas, algumas informaremainda gostam <strong>de</strong> brincar, afirmativa quase sempreacompanhada <strong>de</strong> risos; pela responsabilida<strong>de</strong>atribuída aos adolescentes, seja por meio do<strong>trabalho</strong>, do namoro, da constituição <strong>de</strong> família;pelo fato <strong>de</strong> parar <strong>de</strong> apanhar (“criança apanha”,“agora a mãe xinga”, “faz proibição”).Distinção entre <strong>trabalho</strong> e serviço domésticoTarefas domésticas são divididas cedo entreos membros das famílias – aos meninos cabem astarefas <strong>de</strong> cuidar dos animais e limpar o terreiro eàs meni<strong>nas</strong> são atribuídas tarefas <strong>de</strong> limpar casa,lavar e passar roupa, cozinhar. É comum criançase adolescentes assumirem serviços domésticospara que seus pais possam trabalhar. O caráter <strong>de</strong>socialização inerente ao serviço doméstico acabapor “preparar” a criança e o adolescente para o<strong>trabalho</strong> doméstico.TrabalhoO <strong>trabalho</strong> doméstico, realizado por criançase adolescentes em ocorre quase como umaextensão da re<strong>de</strong> <strong>de</strong> parentesco e das relações <strong>de</strong>59vizinhança estabelecidas pelas famílias <strong>de</strong> origemdas meni<strong>nas</strong>. Este <strong>trabalho</strong> tem sido realizado nomesmo bairro ou em bairros próximos às suasmoradias.O que recebem mensalmente pelo <strong>trabalho</strong>varia <strong>de</strong> R$ 20,00 a R$ 85,00, confirmando o quese observa na pesquisa quantitativa.O motivo <strong>de</strong> trabalharem como domésticasÉ comum os parentes solicitarem o<strong>trabalho</strong> infanto-juvenil (avós e tios),configurando o que costumam <strong>de</strong>nominar <strong>de</strong>“ajuda”. Esta prestação <strong>de</strong> serviço não éincomum a um parente idoso ou com problemas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.A explicação referente à situaçãoeconômica e financeira da família é, no dizer<strong>de</strong> algumas das entrevistadas, <strong>de</strong>finidora danecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar. Neste sentido, apesar<strong>de</strong> o salário ser pequeno, ele possibilita“comprar coisas para mim” e mesmo ajudar àfamília comprando móveis, som, alimentos eroupas para os irmãos.Trabalho e escolaNo dizer das entrevistadas, o <strong>trabalho</strong> nãoimpe<strong>de</strong> a freqüência à escola e também é feita aassociação entre melhor oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>e maior nível <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>: “quem estuda temmais oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir um empregomelhor”.EscolaÉ vista como espaço <strong>de</strong> convivência maisaberto que o familiar. De maneira geral, osprofessores são avaliados como “bons” no quese refere à competência e, mais especialmente,como pessoas. É na escola que muitas amiza<strong>de</strong>sse estabelecem. Nela se obtêm informações sobrea vida sexual e afetiva, tanto com os professoresquanto com os colegas.As escolas são valorizadas comoimportantes pelas entrevistadas, que também
indicam como principais problemas <strong>de</strong> suasescolas a falta <strong>de</strong> higiene nos banheiros, oabandono em que se encontram: “carteirasquebradas”, “escolas pichadas” e a falta <strong>de</strong>espaço para o lazer e o esporte.ViolênciaÉ possível i<strong>de</strong>ntificar <strong>nas</strong> entrevistas quea violência praticada contra crianças eadolescentes trabalhadoras domésticas ocorreem seus próprios lares – espancamentos,surras, xingamentos – e é <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ada porparte dos pais. Não se i<strong>de</strong>ntificou ação <strong>de</strong>violência física por parte dos patrões e nemregistro <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> abuso sexual. Éexpressivo o número <strong>de</strong> pais/padrastosalcoólatras, como também pais ausentes, quenão procuram seus filhos, <strong>de</strong>ixando-os aoscuidados ape<strong>nas</strong> <strong>de</strong> suas mães.Relação com as mães/madrastasAs mães são figuras centrais <strong>de</strong>referência – impõem limites, corrigem, dãoafeto, são interlocutoras e às vezesconfi<strong>de</strong>ntes. É possível, pelas entrevistas,traçar também um perfil materno agressivo,muito punitivo, insatisfeito, poucopropenso à interlocução com os filhos. Afigura das madrastas acompanham essasduas tendências.Algumas das histórias registradas eramfortes e sofridas. O caso <strong>de</strong> uma adolescente<strong>de</strong> 16 anos é exemplar. Sua mãe estevegravemente doente, passou por processo <strong>de</strong>separação, enfrentou a pobreza e a fome. Ahistória familiar fez com que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo,essa adolescente saísse para trabalhar <strong>nas</strong>ruas, vigiando carros e também exercendoa função <strong>de</strong> doméstica. Esta adolescente,que passou pela experiência da maternida<strong>de</strong>e tentativa <strong>de</strong> suicídio, hoje afirma: “Pramim, hoje a vida está bem melhor, viu,mas se chegasse ao ponto <strong>de</strong> voltar comoera antes, que eu sei que não vai voltar,eu acho que eu voltaria também para arua”. Indagada se levaria o filho juntocom ela para a rua, respon<strong>de</strong>categoricamente que não.609.2 O Trabalho Doméstico Infantojuvenilno Brasil e no Grupo Pesquisadoem <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém e RecifeA literatura especializada sobre o <strong>trabalho</strong>infanto-juvenil e, em especial, sobre o <strong>trabalho</strong>doméstico no Brasil tem insistido na crítica aalguns postulados tradicionais que associam,exclusivamente, o <strong>trabalho</strong> com a pobreza, oucomo conseqüência da pobreza, ou mesmo comosolução para amenizar seus efeitos.Autores como Schwartzman (2001), Barros(s/d), Rosemberg e Freitas (s/d), Heilborn (s/d),entre outros, fundamentam suas críticas epon<strong>de</strong>rações em estudos que estabelecemassociações diversas entre as variáveis pobreza,renda familiar e per capita, mercado, estrutura<strong>de</strong> emprego e salários, escolarida<strong>de</strong> das criançase jovens e <strong>de</strong> seus pais, bem como gênero, ida<strong>de</strong>,sexo, raça e fatores culturais (como o <strong>de</strong>sejo dosjovens <strong>de</strong> se emanciparem) e, por fim, a estruturafamiliar.Schwartzman (2001, p. 7) enfatiza algunselementos aos quais <strong>de</strong>vemos estar atentosquando refletimos sobre as causas do <strong>trabalho</strong><strong>de</strong> crianças e adolescentes. Segundo ele, paracompreen<strong>de</strong>rmos a participação <strong>de</strong> crianças naPEA, <strong>de</strong>vemos levar em conta as característicasdo mercado, sua estrutura <strong>de</strong> empregos e saláriose não somente os atributos <strong>de</strong> renda eescolarida<strong>de</strong> da mão-<strong>de</strong>-obra. O autor questionaas teses que <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>m ser o <strong>trabalho</strong> infantojuveniluma conseqüência exclusiva da pobrezae insiste que diferenças culturais e sociaisimportantes explicam o <strong>trabalho</strong> <strong>de</strong> crianças eadolescentes.Rosemberg, Freitas e Barros concordamcom Schwartzman quando afirmam que a relaçãoentre pobreza e <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> <strong>de</strong>ve seranalisada, criteriosamente, no sentido <strong>de</strong> superaro viés economicista que predomina em diversasanálises.Para Barros, “a contribuição do <strong>trabalho</strong><strong>infantil</strong> no rendimento familiar é insuficientepara explicar que a pobreza seja a principal causado <strong>trabalho</strong> <strong>infantil</strong> no Brasil” (pp. 15 e 16).No entanto, no que se refere ao <strong>trabalho</strong>doméstico infanto-juvenil, a renda familiar percapita po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminá-lo, pois, como mostra oautor, os dados da PNAD apontam que aproporção <strong>de</strong> trabalhadores <strong>de</strong>ste público caiconforme aumenta a renda dos domicílios.
No caso <strong>de</strong> <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife,se consi<strong>de</strong>rarmos a variável renda dos pais, apartir das informações oferecidas pelastrabalhadoras domésticas investigadas,constatamos um elevado grau <strong>de</strong><strong>de</strong>sconhecimento das entrevistadas no que serefere à renda <strong>de</strong> seus pais: mais da meta<strong>de</strong> nãosoube informar sobre este item, o quecompromete qualquer análise <strong>de</strong> tendência.Os dados obtidos sobre a variável renda,apesar <strong>de</strong> precários, possibilitam constatar asituação <strong>de</strong> pobreza das famílias <strong>de</strong> origem dascrianças e adolescentes trabalhadorasdomésticas. A soma das porcentagens relativasàs faixas salariais <strong>de</strong> zero a dois SM é <strong>de</strong> 31,64%para os pais e <strong>de</strong> 55,89% para as mães. O número<strong>de</strong> mães nesta faixa <strong>de</strong> renda é, pois,significativamente superior ao número <strong>de</strong> pais eo número <strong>de</strong> pais é maior do que o número <strong>de</strong>mães <strong>nas</strong> faixas <strong>de</strong> dois a quatro SM e mais <strong>de</strong>cinco SM.Quanto à hipótese <strong>de</strong> que a faixa salarialdos familiares possa ter influenciado nanecessida<strong>de</strong>/<strong>de</strong>cisão das crianças e adolescentestrabalharem como domésticas, é difícil, ouimpossível, estabelecer uma relação direta entreestas variáveis. O que po<strong>de</strong>mos afirmar é que amaioria das mães recebe até dois SM e acima <strong>de</strong>30% dos pais também recebe nesta faixa. Esta é,sem dúvida, uma realida<strong>de</strong> familiar <strong>de</strong> pobreza.Em sua análise, Schwartzman informa queo peso relativo da renda das crianças para afamília evolui <strong>de</strong> 13%, ao redor dos 10 anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>, para aproximadamente 20% aos 17 anos.Pon<strong>de</strong>ra que, como as famílias <strong>de</strong>sses grupostêm, em geral <strong>de</strong> cinco a seis componentes, po<strong>de</strong>seinferir que o <strong>trabalho</strong> do jovem é usado muitomais para seu próprio sustento do que para osustento da família.Consi<strong>de</strong>rando os resultados encontrados nogrupo pesquisado em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém eRecife, constata-se que, entre os motivosalegados pelas crianças e adolescentesentrevistadas para começarem a trabalhar comodomésticas, sobressai “para ajudar a família” e,neste caso, em torno <strong>de</strong> 61% das crianças eadolescentes empregadas tinham mãesrecebendo <strong>de</strong> zero a dois SM e 35% <strong>de</strong>las tinhampais com esta faixa <strong>de</strong> renda. O que nos leva ai<strong>de</strong>ntificar uma situação <strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> familiarcomo possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>finidora do <strong>trabalho</strong>doméstico.61Por outro lado, a vonta<strong>de</strong>, principalmentedas adolescentes, <strong>de</strong> terem seu próprio dinheiro,e/ou <strong>de</strong> terem autonomia, foi a motivação maiscitada e <strong>de</strong>ve ser levada em consi<strong>de</strong>ração. Dasque respon<strong>de</strong>ram que o motivo por quêcomeçaram a trabalhar como doméstica era “parater o seu próprio dinheiro”, suas mães, em 56%dos casos, e seus pais em 34%, recebiam <strong>de</strong> zeroa dois SM. Índice muito próximo ao das querespon<strong>de</strong>ram “para ajudar a família”. Cabe aindaressaltar que cerca <strong>de</strong> 80% das entrevistadasdisseram ser elas mesmas que <strong>de</strong>cidiram que<strong>de</strong>veriam trabalhar, o que po<strong>de</strong> ser indicativo <strong>de</strong>busca <strong>de</strong> autonomia ou in<strong>de</strong>pendência familiar.Na maioria das faixas <strong>de</strong> renda dos pais, omotivo mais alegado pelas meni<strong>nas</strong> para explicarporque trabalham como domésticas, concentraseem “para ter meu próprio dinheiro”, comexceção do grupo cujo pai recebe até meio SM e“não tem renda”. Nesses casos, a maiorconcentração recaiu sobre o motivo “para ajudarmeus pais e familiares”.As crianças e adolescentes entrevistadasutilizam o dinheiro que recebem comprandocoisas próprias, em primeiro lugar, e ajudando afamília, em segundo. As que admitiram que omotivo do <strong>trabalho</strong> era “somos muito pobres”disseram, em sua maioria, que ajudam a famíliacom o dinheiro que recebem.As respostas obtidas nos questionáriosaplicados às famílias <strong>de</strong> origem confirmam osdados acima. Entre as três principais categorias<strong>de</strong> motivos que levaram as crianças eadolescentes ao <strong>trabalho</strong> doméstico, as maismarcadas pelos familiares, em or<strong>de</strong>m<strong>de</strong>crescente, foram: “ter o próprio dinheiro”,“necessida<strong>de</strong>” e “ajudar a família”.Concluímos que, se por um lado a situação<strong>de</strong> pobreza é a realida<strong>de</strong> das famílias <strong>de</strong> criançase adolescentes trabalhadoras domésticas em <strong>Belo</strong><strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife, por outro lado o baixonível <strong>de</strong> rendimento obtido com este tipo <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> não altera significativamente a rendafamiliar, mas parece ser importante fator <strong>de</strong>afirmação <strong>de</strong> in<strong>de</strong>pendência das adolescentes emrelação a seus pais e possibilida<strong>de</strong> real <strong>de</strong> virema adquirir objetos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejos pessoais, o que,certamente, alivia o peso <strong>de</strong>ssas <strong>de</strong>mandas noorçamento familiar.Em relação ao mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, Barrosconsi<strong>de</strong>ra que, <strong>de</strong> maneira geral, pessoas nãobrancassão mais propensas a participar do
mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> e isso po<strong>de</strong>, segundo o autor,ser explicado pela tendência da discriminaçãoracial ser mais intensa na escola do que nomercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>, aumentando a atrativida<strong>de</strong><strong>de</strong>sse último. Segundo o autor, a “participação<strong>de</strong> crianças na PEA sofre impacto das variáveissexo e raça. Ela é mais intensa para meninos doque para meni<strong>nas</strong> e para crianças negras do quepara crianças brancas” (p. 16). Em relação ao<strong>trabalho</strong> doméstico, a tendência <strong>de</strong> maiorparticipação <strong>de</strong> homens se altera, pois esse tipo<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong> é exercido, predominantemente, pormulheres.O fator escola é também <strong>de</strong>terminante daentrada precoce <strong>de</strong> crianças no <strong>trabalho</strong>, segundoSchwartzman. A precarieda<strong>de</strong> da re<strong>de</strong> escolarpo<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rada uma das causas que leva acriança e o adolescente ao mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>:a baixa qualida<strong>de</strong> do ensino e a precarieda<strong>de</strong> dasescolas faz com que o <strong>trabalho</strong> seja “alternativa<strong>de</strong> ocupação razoável, pois traz benefíciosmonetários imediatos e evita a ociosida<strong>de</strong>” (p.4). Barros, no entanto, mostra que a atrativida<strong>de</strong>da escola parece não ter influência sobre aprobabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar no serviço doméstico.Em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife, 73crianças/adolescentes estavam fora da escola. Aoanalisarmos as 389 respostas válidas sobre ascondições da escola que estudavam, observamosque quase a totalida<strong>de</strong> das trabalhadorasdomésticas pesquisadas (90%) apresentavamuma avaliação positiva com relação às escolason<strong>de</strong> estudavam. No que se refere à higiene einfra-estrutura escolar, mais <strong>de</strong> 90% consi<strong>de</strong>ramque suas salas <strong>de</strong> aula tinham luz suficiente,confirmaram a existência <strong>de</strong> bibliotecas, 80%afirmaram que as alu<strong>nas</strong> não eram responsáveispela limpeza da escola e 60% disseram que osbanheiros eram limpos. Quanto à qualida<strong>de</strong> doensino, 80% afirmaram que o ensino era <strong>de</strong> boaqualida<strong>de</strong> e 90% também admitiram que seusprofessores lhes tratavam bem e que tinham bomrelacionamento com os colegas. As expectativassobre a escola giravam em torno <strong>de</strong> curso <strong>de</strong>computação (27,15%), campo esportivo (9,58%)e banheiros limpos (9,11%).A relação estabelecida por vários analistasentre a entrada precoce no mercado <strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>,em especial o doméstico, e a escolarida<strong>de</strong>permite constatar que o <strong>trabalho</strong> precoce é fator<strong>de</strong> limite na escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> jovens e crianças.Os que iniciaram o <strong>trabalho</strong> como empregadas62domésticas possuem em média 1,6 anos <strong>de</strong>estudo a menos do que aqueles que começarama trabalhar em outras ocupações.Apesar <strong>de</strong> ser elevado o número <strong>de</strong>entrevistadas que afirmaram saber ler e escrever– 96,20% –, po<strong>de</strong>mos dizer que o atraso escolaré uma realida<strong>de</strong> na vida <strong>de</strong> crianças eadolescentes trabalhadoras domésticas em <strong>Belo</strong><strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife.Se associarmos a ausência dos pais e asituação conjugal dos mesmos com o grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> das meni<strong>nas</strong>, po<strong>de</strong>mos dizer queexistem, proporcionalmente, mais crianças eadolescentes que não estudam no grupo comambos os pais falecidos (28,57%), vindo a seguiro grupo com só o pai vivo (17,07%), só com amãe viva (7,52%) e o grupo com os dois vivos(6,34%).Consi<strong>de</strong>rando os três outros grupos – paismorando juntos, pais separados e pai queabandonou a família –, é possível observar quea maior concentração das que não estudam estáno terceiro grupo, seguida do primeiro e segundogrupo não estudando. Das que respon<strong>de</strong>ram queo pai não mora em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém ouRecife, 11% não estudam.Sem esquecer o limite <strong>de</strong>sta análise pelofato <strong>de</strong> não ser informada a ida<strong>de</strong> das crianças eadolescentes, percebe-se que pais falecidos, paisque abandonam a família, pais e mães nãomorando em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém ou Recife,influenciam a paralisação dos estudos dastrabalhadoras domésticas.A comparação da ida<strong>de</strong> em que as 1.029entrevistadas começaram a trabalhar com ograu <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> permite-nos afirmarque, das 273 crianças que começaram atrabalhar entre 5 e 11 anos, 46,89% cursaramaté o ensino fundamental II; 45,42%, até oensino fundamental I; e 2,93%, até o ensinomédio.Das 652 que começaram a trabalhar nafaixa etária <strong>de</strong> 12 a 15 anos, 63,65%cursaram até o ensino fundamental II;22,24%, até o ensino fundamental I; e10,28%, até o ensino médio. Neste grupo,as 145 que estudaram até o ensinofundamental I (22,24%) estavam atrasadasem sua vida escolar, pois a ida<strong>de</strong> paraterminar esse nível <strong>de</strong> ensino é 10 anos.Das 92 que ingressaram no <strong>trabalho</strong> na faixaetária <strong>de</strong> 16 a 17 anos, 53,26% cursaram até o
ensino fundamental II; 28,26% até o ensinomédio; e 11,96%, até o ensino fundamental I.Neste grupo, as 11 TIDs que estudaram até oensino fundamental I e todas as 49 que cursaramaté o ensino fundamental II estão com atrasoescolar, uma vez que a ida<strong>de</strong> correta paracomeçar o ensino médio é 15 anos.Concluímos que a maioria das crianças eadolescentes, ou seja, aproximadamente 58%(592) estudaram até o ensino fundamental II,27,53% (280) alcançaram o ensino fundamentalI e 10% (101) cursaram até o ensino médio.Se consi<strong>de</strong>rarmos a hipótese <strong>de</strong> que o<strong>trabalho</strong> doméstico inci<strong>de</strong> negativamente sobreo rendimento escolar, constatamos que, das 1.029crianças e adolescentes pesquisadas, 449 foramreprovadas. Cruzando esta variável com “número<strong>de</strong> reprovações”, observamos que <strong>de</strong> 449respostas válidas, 263 <strong>de</strong>las (59%) foramreprovadas uma vez, 118 (26%) foramreprovadas duas vezes e 68 (15%) foramreprovadas três ou mais vezes.Os 215 motivos alegados pelastrabalhadoras domésticas que não freqüentavama escola incidiram, em primeiro lugar, na opção“não gosto <strong>de</strong> estudar”, com 43 registros; emsegundo lugar veio a opção “tenho que fazer ascoisas da casa”, com 41 registros; o terceiro lugarficou com a opção “preciso trabalhar”, com 31registros.Indagadas se o <strong>trabalho</strong> é empecilho pararealizar as tarefas escolares, 78,20% disseramque não e 21,09%, que sim. Para analisar oimpacto do <strong>trabalho</strong> sobre a escolarida<strong>de</strong>, noentanto, precisamos avaliar o rendimento dastrabalhadoras na escola, o que significa, paraelas, atrapalhar ou não atrapalhar.Das 89 que consi<strong>de</strong>raram o <strong>trabalho</strong> umempecilho à realização <strong>de</strong> tarefas escolares, 45%alegaram falta <strong>de</strong> tempo para as tarefas escolares,25% mencionaram o cansaço e 20%, o excesso<strong>de</strong> <strong>trabalho</strong>.Para Barros, a escolarida<strong>de</strong> da mãe é fator<strong>de</strong>terminante do <strong>trabalho</strong> infanto-juvenildoméstico. Analisando todas as faixas etárias, aproporção <strong>de</strong> ocupados <strong>de</strong>clina com o aumento<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> da mãe.Em <strong>Belo</strong> <strong>Horizonte</strong>, Belém e Recife, emquase todos os quatro grupos <strong>de</strong> trabalhadorasdomésticas (as que estudaram até o ensinofundamental I, ensino fundamental II e as quenão respon<strong>de</strong>ram), a maior concentração <strong>de</strong> pais63e mães é no ensino médio e existem,proporcionalmente, menos mães do que paisanalfabetos no grupo <strong>de</strong> adolescentestrabalhadoras com ensino médio.Quanto aos aspectos culturais e sociais,Heilborn (s/d) afirma que “<strong>de</strong>terminados fatoresculturais, imbricados <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> organizaçãoda família, que se expressam <strong>nas</strong> relações adultose crianças na concepção sobre os gêneros eida<strong>de</strong>s e <strong>nas</strong> formas <strong>de</strong> reciprocida<strong>de</strong>engendradas no grupo familiar, são fatoresrelevantes para explicar o porquê da persistênciado <strong>trabalho</strong> para as crianças em <strong>de</strong>terminadosmeios sociais”.As respostas obtidas dos adultosentrevistados <strong>nas</strong> famílias <strong>de</strong> origem permitemi<strong>de</strong>ntificar alguns traços culturais relativos ao<strong>trabalho</strong>, bem como a experiência <strong>de</strong> outrosmembros da família com o <strong>trabalho</strong> doméstico.A maioria (64,53%) dos entrevistados dasfamílias <strong>de</strong> origem, quando tinham menos <strong>de</strong> 18anos, também trabalhavam como domésticas e13,42% das famílias tinham outras filhastrabalhando como domésticas além da criança/adolescente trabalhadora doméstica entrevistadapela pesquisa. Po<strong>de</strong>-se afirmar que, se <strong>de</strong> um ladoum quarto das famílias entrevistadas incentivamsuas filhas a trabalharem como domésticas,alegando que elas estão ajudando uma irmã,necessida<strong>de</strong>s financeiras e para terem seu própriodinheiro, <strong>de</strong> outro lado 79,55% dos familiaresgostariam que suas filhas <strong>de</strong>ixassem <strong>de</strong> trabalharcomo domésticas. Ao justificar a resposta,afirmam que preferiam que tivessem um serviçomelhor, que se <strong>de</strong>dicassem aos estudos e que nãovale a pena trabalhar como doméstica.É expressivo o número <strong>de</strong> jovenstrabalhadoras domésticas afirmando que nãogostariam que suas filhas trabalhassem comodomésticas – 640 (85%). Os motivos alegadospara não <strong>de</strong>sejarem que suas filhas trabalhassemcomo domésticas revelam uma imagemnegativa a respeito <strong>de</strong>sse <strong>trabalho</strong>: adolescentes<strong>de</strong>vem estudar e não trabalhar, gostariam <strong>de</strong> terum <strong>trabalho</strong> melhor, o <strong>trabalho</strong> é pesado, não éum bom <strong>trabalho</strong>, trabalhar como doméstica nãotem futuro, gostariam <strong>de</strong> ter um futuro melhor,ganha pouco, alguns patrões maltratam osempregados, o <strong>trabalho</strong> é chato, além <strong>de</strong> outrasreferências numericamente poucosignificativas.A formação i<strong>de</strong>ntitária dos jovens, a
usca <strong>de</strong> autonomia em relação à estruturafamiliar, o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter renda própria e <strong>de</strong> não<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r dos pais para satisfazer suasnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> consumo são fatores queajudam na compreensão dos altos índices <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> entre jovens no Brasil, apesar dalegislação proibitiva a este respeito.Po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar, na visão dos familiaresentrevistados, aspectos positivos e negativos comrelação ao <strong>trabalho</strong> infanto-juvenil doméstico.Como vantagens, os pais apontam que o <strong>trabalho</strong>possibilita a seus filhos adquirir responsabilida<strong>de</strong>e experiência <strong>de</strong>s<strong>de</strong> cedo, que é melhor trabalhardo que ficar à toa e que passam a ter possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r um ofício e terem seu própriodinheiro. As principais <strong>de</strong>svantagens apontadaspor eles seriam o risco <strong>de</strong> abuso sexual, osperigos dos caminhos para chegarem ao<strong>trabalho</strong>, falta <strong>de</strong> segurança, exploração dospatrões e <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes domésticos. Se <strong>de</strong> umlado afirmam que o <strong>trabalho</strong> possibilitaaquisição <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> outropon<strong>de</strong>ram que trabalhar implica “muitaresponsabilida<strong>de</strong>” para suas filhas.As adolescentes trabalhadoras domésticasexpressam uma visão negativa sobre o <strong>trabalho</strong>que executam quando afirmam não querer queseus filhos trabalhem como domésticas, masquase a totalida<strong>de</strong> das entrevistadas afirmaramserem elas que <strong>de</strong>cidiram trabalhar comodomésticas, pois querem ter seu própriodinheiro. Ao projetarem seu futuro para daquia <strong>de</strong>z anos, afirmaram que gostariam <strong>de</strong> serprofissionais liberais (16%), médicas (11%),advogadas (9%), professoras (8%), enfermeiras(5%), ter uma casa (4%), ter um bom emprego(3,8%), veterinárias (3,41%), mo<strong>de</strong>los (3,22%),pediatras (3,02%), secretárias (2,92%), policiais(2,73%), atrizes (2,44%) e serem casadas(2,24%).Seus pais têm aspirações mais realistaspara elas. De modo geral, apontam apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazerem cursos técnicos etrabalharem na prestação <strong>de</strong> serviços e nocomércio. Fazer cursos diversos (17,88%), fazercurso <strong>de</strong> corte e costura (10,61%) e trabalharno comércio (9,22%) estão entre os <strong>de</strong>sejosexpressos pelos pais.64
10.Desafios e RecomendaçõesDe maneira geral, po<strong>de</strong>-se apontar asseguintes tendências entre os autores no que serefere às recomendações relativas à políticapública:? Pensar ações <strong>de</strong> prevenção, erradicaçãoe a<strong>de</strong>quação do <strong>trabalho</strong> infanto-juvenildoméstico, consi<strong>de</strong>rando questões <strong>de</strong> gênero,raça/cor e faixa etária.? Inserir o tema do <strong>trabalho</strong> infanto-juvenildoméstico na formulação das políticas publicas.? Introduzir a cultura dos direitos dascrianças e adolescentes, em especial do <strong>trabalho</strong>,no ambiente familiar <strong>de</strong> origem e junto aoempregador.? Mobilizar o Judiciário, a Promotoria,o Legislativo, em todos os níveis, pararevisão da legislação relativa ao <strong>trabalho</strong>doméstico.? I<strong>de</strong>ntificar o potencial do mercado <strong>de</strong><strong>trabalho</strong> para jovens, ampliando suaspossibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolha.? Criar mecanismos que possibilitem a resignificaçãoe a valorização do <strong>trabalho</strong>doméstico (campanhas educativas, fóruns <strong>de</strong><strong>de</strong>bate).? Contabilizar a contribuição do <strong>trabalho</strong>doméstico no PIB, para dar visibilida<strong>de</strong>.10.1 Recomenda-se para o Plano <strong>de</strong>Ação Local? Consi<strong>de</strong>rar as especifi<strong>cida<strong>de</strong>s</strong>biopsíquicas e sociais <strong>de</strong> crianças e adolescentes.? Introduzir a temática do racismo entre ascrianças e adolescentes do programa e seus familiarescomo forma <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver a auto-estima.? Tematizar a questão do gênero, resignificandoo <strong>trabalho</strong> doméstico.? Realizar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> esclarecimentosobre o ECA e a legislação relativa ao <strong>trabalho</strong>doméstico.? Pensar uma ação específica para as TIDsque <strong>de</strong>sejam voltar para junto <strong>de</strong> suas famílias,para as adolescentes que são mães, para as queestão fora da escola e para os pais analfabetos.? Criar programas <strong>de</strong> renda familiar ecapacitação profissional para as famílias <strong>de</strong>origem, especialmente as que se encontram nafaixa <strong>de</strong> sem-renda a dois salários mínimos.? Avaliar a situação das famíliasmonoparentais femini<strong>nas</strong>.? Observar as aspirações e <strong>de</strong>mandas das TIDs.? A<strong>de</strong>quar a condição das adolescentes <strong>de</strong>16 a 17 anos às exigências da lei.? Fortalecer e reativar a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio eatendimento articulada em torno <strong>de</strong>ste projeto.65
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