Compostos biologicamente ativos foramisolados das esponjas em diferentes ambientes,incluindo tropicais, subtropicaise temperados, com o interesse por novosprodutos naturais (Holler et al., 1999). Ocomposto qualificado para utilização emterapia humana sorbicillactona A, um tipode alcalóide, foi isolado da esponja Irciniafasciculata, mas é na verdade sintetizadopelo fungo associado Penicilliumchrysogenium. Communisina B e derivadosforam isolados do fungo Penicilliumsp. associado à esponja Axinella verrucosa(Jadulco et al., 2003).2.3 ArchaeasFigura 3. Reprodução esquemática de uma esponja. (A) Mesohilo,camada intermediária e gelatinosa entre as paredes interna e externa daesponja, Poro, orifício de entrada de água e ósculo principal canal de saídade água. (B) Detalhe ampliado de um poro inalante. Coanócito, célulaflagelada que com o batimento do seu flagelo cria uma corrente de águatrazendo nutrientes e gases e espículas que formam o esqueleto da esponjado de Haliclona sp., idêntico ao aspicularenA, produzido por bactérias associadas(Crews e Bescansa, 1986).O composto 2-metiltio, 1,4-naphtoquinonafoi isolado de bactérias associadasà esponja Dysidea avara e demonstrouforte propriedade antiangiogênicae antimicrobiana (Bringmann et al.,2003). Antibióticos incluindo lipopeptideos,originários do gênero Bacillus,demonstraram forte atividade contra microrganismoscom resistência clínica,como por exemplo, Staphylococcusaureus e S. epidermidis (Muscholl et al.,2008). Um glicoglicerolipideo sintetizadopela bactéria Microbacterium sp. encontradaem associação com a esponjaHalichondria panicea exibiu propriedadesantitumorais muito interessantes(Wicke et al., 2000). Metabólitos comatividade citotóxica e antimicrobianosproduzidos por Pseudomonas sp. tambémforam isolados da esponja Homophymiasp. (Bultel-Ponce et al., 1999).Atividade antimicrobiana foi vista tambémem 27 isolados de bactérias associadascom as esponjas Aplysina aerophobae Aplysina cavernícola (Thomset al., 2004).Christian e colaboradores (2005) mostraramque um composto natural halogenadoé sintetizado por uma cianobactériaassociada com quatro espéciesde esponjas da ordem Dictyoceratida.A cianobactéria Oscillatoria spongeliae,que compõe grande parte dovolume tecidual da esponja Dysideaherbacea, é produtora do antimicrobianoéter bifenil polibrominato conferindoproteção contra outros microrganismosinvasores (Unson et al., 1993). BactériasGram positivas como Actinomycetessão também conhecidas por produziremmetábolitos secundários com atividadeantibiótica em esponjas (Chelossiet al., 2006).Aproximadamente a metade das bactériasencontradas em associação com asesponjas marinhas Hymeniacidon heliophilae Polymastia janeirensis pertenceà classe Proteobactéria (Turque et al.,2008). Na esponja Theonella swinhoeias Proteobactérias são responsáveis pelaprodução do composto theopalauamida(Webster et al., 2001).2.2 FungosA maioria dos compostos bioativos derivadosde fungos marinhos descritosaté hoje provém daqueles associadoscom esponjas. Os fungos do gênero Penicilliumsão os maiores produtores dosmetabólitos secundários estudados. Háum crescente interesse na determinaçãoda verdadeira diversidade de fungos presentesnas esponjas marinhas e de possíveissubstâncias biologicamente ativas.Ao contrário da pesquisa de metabólitossecundários com fungos terrestres,esses estudos em ambientes marinhossão relativamente novos. As esponjasexibem inúmeras associações com fungos,mas o entendimento da produçãode compostos com atividade biológicaem esponjas tem sido mais focado embactérias, com menos ênfase nos eucariotos(Taylor et al., 2004).Archaeas são microrganismos distintos debactérias e eucariotos (Woese e Fox, 1977),sendo divididas em dois principais filos:Crenarchaeota e Euryarchaeota (Woese etal., 1990). Alguns grupos de archaeas sãoconhecidos por possuírem adaptações àvida em ambientes extremos e apresentaremcaracterísticas hipertermofílicas (crescemem temperaturas mais altas que 70ºCaté o limite máximo de 121ºC), metanogênicas(anaeróbicas que sintetizam metano)e halofílicas (que crescem em altasconcentrações de sal) (Schiraldi et al.,2002). As propriedades incomuns das archaeasas tornam alvo para o desenvolvimentode processos biotecnológicos eaplicações industriais (Alqueres et al.,2007). Nenhuma archaea foi descrita comopatogênica apesar de estarem presentesem humanos, animais e plantas (Cardosoet al., 2003). Muitos microrganismos do domínioArchaea têm sido isolados para finsindustriais, como por exemplo, a utilizaçãode esterases e lipases, enzimas quepossuem grande termoestabilidade e aplicaçãona biossíntese orgânica (Alquereset al., 2007).Em trabalhos mais recentes, archaeas foramencontradas em associação com esponjas.A archaea Cenarchaeum symbiosumfoi descrita como um organismo simbionteda esponja Axinella mexicana, possuindoalta especificidade (Preston et al.,1996). Esta archaea apresenta um metabolismoquimiolitoautotrófico, que é complementarao da esponja, usando comoúnica fonte de carbono o CO 2e consumindoamônia para seu suprimento deenergia (Hallam et al., 2006). Neste caso,a archaea atua detoxificando os produtosde excreção da esponja o que torna clarasas relações simbióticas. Archaeas metanogênicasforam descritas em Rhopaloeidesodorabile através de observação dogene 16S rRNA, parecendo formar um micronichoanaeróbico dentro da esponja.Membros das archaeas Crenarchaeota eEuryarchaeota estão presentes no coanossomae no mesohilo de Tentorium semisuberites(Thomas et al., 2006).Apesar de inúmeros artigos demonstrarem66 <strong>Biotecnologia</strong> Ciência & <strong>Desenvolvimento</strong> - nº <strong>37</strong>
Figura 4. Microscopia eletrônica de transmissão mostrando microrganismos associados a esponjas marinhas.Hymeniacidon heliophila (A,B,C e D), Polymastia janeirensis (E,F,G e H)a ocorrência de archaeas nas esponjas,seu potencial biotecnológico não temsido explorado. Nenhum estudo revelouaté hoje compostos com aplicaçãobiotecnológica produzidos por archaeasassociadas com esponjas marinhas.Isso sugere a necessidade de maioresesforços na pesquisa para futuras aplicaçõesindustriais e farmacológicas.3. CultivoA produção de drogas a partir de microrganismosassociados às esponjasmarinhas tem sido limitada pela dificuldadede cultivo desses organismos commeios definidos em laboratório. Para odesenvolvimento de uma droga comercialé necessária a produção desta emgrande quantidade para estudos clínicos.Técnicas dependentes de cultivotêm sido empregadas com pouco sucesso(Webster et al., 2001), uma vezque apenas uma quantidade proporcionalmentemenor da comunidade totalde bactérias associadas às esponjas écultivada com sucesso. Somente 0,15%da população de bactérias da esponjado Caribe Ceratoporella nicholsoni foicultivada (Santavy et al., 2001), enquantoproporções maiores de cultivo, chegandoa 11% da comunidade bacteriana,foram possíveis em Aplyisina aerophoba,esponja do Mediterrâneo (Friedrichet al., 2001).Muitas espécies de esponjas têm sidocultivadas com a utilização de técnicasde maricultura, que permite o cultivodesses organismos no mar, sendo degrande interesse para utilização sustentáveldas esponjas. Para a aplicaçãodessa técnica, fatores como profundidade,corrente e luminosidade são importantespara o crescimento das esponjase dos microrganismos associados(Sipkema et al., 2005). A mariculturatem sido empregada com muito sucessoem algumas espécies de esponjasmarinhas, proporcionando aumentode biomassa desses organismos ea obtenção de compostos químicosem quantidades comerciais.4. MetagenômicaO interesse em microrganismos associadosàs esponjas como produtoresde compostos biologicamente ativosvem crescendo, mas a vasta maioriadessa comunidade microbiana aindanão foi isolada em cultura pura.Metagenomas de micróbios associadosàs esponjas marinhas têm sido utilizadoscom sucesso na identificaçãode genes alvos envolvidos na síntesede produtos naturais (Hallam et al.,2006). Esse método envolve construçãode bibliotecas genômicas atravésde extração e clonagem de DNA dealto peso molecular (Handelsman,2004). O gene 16S rRNA é um dos principaisgenes utilizados como marcadormolecular para construção de bibliotecas,sendo de fácil amplificaçãopela técnica de PCR (Reação em Cadeiada Polimerase) (Vieira et al.,2008).Essa nova abordagem revelou novosgenes de microrganismos não cultivadosassociados às esponjas Theonellaswinhoei e Discodermia dissoluta(Piel et al., 2004). A análise de metagenomatambém identificou enzimas,como as que são capazes dehidrolisar agar provenientes de algumasbactérias do gênero Cytophagaassociadas a esponja Halichondriapanicea (Imhoff e Stöhr, 2003). Genesque codificam amilases e acetilcolinesterasesforam identificados na bactéria Artrobacterilicis e no fungo Mucor sp., associadosà esponja Spirastrella sp. (Mohapatraet al., 1997).A construção de bibliotecas gênicas é ummétodo promissor na elucidação do potencialgenético de microrganismos ainda nãocultivados. Recentemente foi seqüenciadoo genoma de archaea Cenarchaeum symbiosumisolada da esponja Axinella mexicanadisponibilizando mais de 2000 novosgenes para a investigação cientifica das funçõesbiológicas e possíveis aplicações tecnológicas(Hallam et al., 2006).A identificação de genes responsáveis pelasíntese de metabólitos secundários por meiodessa técnica torna-se uma fonte alternativapara exploração da diversidade químicapresente na comunidade microbiana das esponjasdisponibilizando inúmeros genespara clonagem e expressão heteróloga deproteínas com interesse biotecnológico.5. ConclusãoEsponjas marinhas são hospedeiras demuitos microrganismos. A aplicação debactérias, fungos e principalmente archaeasna biotecnologia permanece limitada. Aprodução em larga escala dos metabólitossecundários originados de microrganismosassociados a esponjas, continua restritadevido à dificuldade do cultivo em laboratórioda maioria destes micróbios. Estratégiasalternativas têm sido propostas para aobtenção desses compostos, como culturade esponjas no ambiente marinho (maricultura)e técnicas de metagenômica.Estudos recentes chamam a atenção paraum sistema bioquímico de comunicaçãocelular chamado “Quorum Sensing”. Estesistema sofisticado de comunicação permiteque as bactérias enviem e recebam men-<strong>Biotecnologia</strong> Ciência & <strong>Desenvolvimento</strong> - nº <strong>37</strong> 67
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