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Estudos culturais de música popular – uma breve genealogia - Exedra

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Sónia Pereira • <strong>Estudos</strong> <strong>culturais</strong> <strong>de</strong> <strong>música</strong> <strong>popular</strong> <strong>–</strong> <strong>uma</strong> <strong>breve</strong> <strong>genealogia</strong>proporcionavam a não ser <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> pseudo-entretenimento, pré-formatado <strong>de</strong>modo a correspon<strong>de</strong>r às exigências do mercado que o converte n<strong>uma</strong> “commodity”.Esta visão algo redutora e unidimensional <strong>de</strong> Adorno, que nega por completo aoindivíduo a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, <strong>de</strong> algum modo, resistir ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>stes instrumentos <strong>de</strong>controlo social oferecidos pelas indústrias <strong>culturais</strong> e à sua manipulação, foi naturalmentealvo <strong>de</strong> críticas ao longo das décadas que se seguiram, mas nem por isso as suas teoriasper<strong>de</strong>ram importância. Antes pelo contrário, é absolutamente incontornável, ainda hoje,o significativo contributo oferecido por Adorno para a compreensão dos fenómenos dasindústrias e produtos <strong>culturais</strong>, e para a sua análise em relação com o sistema económicoe político capitalista em que se <strong>de</strong>senvolvem, permitindo conceptualizar a cultura comoparte integrante e fundamental dos processos económicos, sociais e políticos.Os <strong>de</strong>bates que no período pós-guerra se <strong>de</strong>senvolveram, sobretudo em territórionorte-americano, em torno das preocupações com os possíveis efeitos nefastos da cultura<strong>de</strong> massas, chegaram também a abordar as questões da <strong>música</strong> <strong>popular</strong>. O sociólogoDavid Riesman, em particular, conduziu <strong>uma</strong> pesquisa <strong>de</strong> natureza empírica que visavacompreen<strong>de</strong>r os hábitos dos jovens ouvintes <strong>de</strong> <strong>música</strong>, a partir da qual conceptualizou<strong>uma</strong> distinção entre aquele que consi<strong>de</strong>rava ser um público maioritário passivo, cujoshábitos <strong>de</strong> audição po<strong>de</strong>riam ser caracterizados como indiscriminados encontrandosena base da sua motivação o mero acto <strong>de</strong> consumo, e um público minoritárioactivo, cujos hábitos <strong>de</strong> audição <strong>de</strong>rivariam antes <strong>de</strong> <strong>uma</strong> postura discriminatória ecriticamente <strong>de</strong>senvolvida. Esta distinção <strong>de</strong> comportamentos do público viria, aliás, ater <strong>uma</strong> influência duradoura nos trabalhos <strong>de</strong> pesquisa que se <strong>de</strong>senvolveriam nos anosseguintes.Durante as décadas <strong>de</strong> 1960 e 1970, e acompanhando o emergência dos estudos<strong>culturais</strong> 2 que vieram proporcionar <strong>uma</strong> nova visão sobre a relevância da cultura <strong>popular</strong>nas socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, a <strong>música</strong> <strong>popular</strong> conquistou igualmente um novo estatutoenquanto objecto <strong>de</strong> análise e discussão. Stuart Hall, <strong>uma</strong> das figuras mais proeminentesda disciplina, publicou então, juntamente com Paddy Whannel, a obra The Popular Arts(1964), on<strong>de</strong> procurava estabelecer a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> um método crítico para a análiseda cultura <strong>popular</strong>, <strong>de</strong>dicando consi<strong>de</strong>rável atenção ao fenómeno da <strong>música</strong>. Na suainvestigação, Hall e Whannel admitiam a existência <strong>de</strong> <strong>uma</strong> clara distinção entre aforma como o público utiliza um produto ou texto cultural e a utilização pretendidapelos seus produtores, o que abria <strong>de</strong>s<strong>de</strong> logo um espaço à acção do indivíduo, até entãofrequentemente negada. Esta noção <strong>de</strong> agência individual é explorada por Hall e Whannelem relação ao público jovem e à cultura da <strong>música</strong> pop, enten<strong>de</strong>ndo que neste conceitohá espaço não só para a <strong>música</strong> propriamente dita mas também para todos os fenómenosassociados, incluindo os concertos, festivais, revistas ou filmes, e sustentando a noção123

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