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Versão completa em PDF - Escola de Enfermagem - UFMG

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REME – REVISTA MINEIRA DE ENFERMAGEMPublicação da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>Em parceria com:<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Wenceslau Braz – MGFaculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> e Obstetrícia da Fundação <strong>de</strong> Ensino Superior <strong>de</strong> Passos – MGUniversida<strong>de</strong> do Vale do Sapucaí – MGCentro Universitário do Leste <strong>de</strong> Minas Gerais – MGUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora – MGCONSELHO DELIBERATIVOMaria Imaculada <strong>de</strong> Fátima Freitas – Presi<strong>de</strong>nteUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas GeraisLucyla Junqueira Carneiro<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Wenceslau BrazRosa Maria NascimentoFundação <strong>de</strong> Ensino Superior do Vale do SapucaíGirlene Alves da SilvaUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> ForaTânia Maria Delfraro CarmoFundação <strong>de</strong> Ensino Superior <strong>de</strong> PassosSandra Maria Coelho Diniz MargonCentro Universitário do Leste <strong>de</strong> Minas GeraisIn<strong>de</strong>xada <strong>em</strong>:BDENF – Base <strong>de</strong> Dados <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> / BIREME-OPAS/OMSCINAHL – Cumulative In<strong>de</strong>x Nursing Allied Health LiteratureCUIDEN – Base <strong>de</strong> Datos <strong>de</strong> Enfermería en EspanholLATINDEX – Fundación In<strong>de</strong>xLILACS – Centro Latino Americano e do Caribe <strong>de</strong> Informações <strong>em</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>REV@ENF – Portal <strong>de</strong> Revistas <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> – Metodologia SciELO/Bir<strong>em</strong>e - OPAS/OMSLATINDEX - Sist<strong>em</strong>a Regional <strong>de</strong> Información en Linea para Revistas Científicas <strong>de</strong> América Latina, el Caribe, Espanã y PortugalFormato eletrônico disponível <strong>em</strong>:www.enfermag<strong>em</strong>.ufmg.brwww.periodicos.capes.ufmg.brProjeto Gráfico, Produção e Editoração EletrônicaBrígida CampbellIara VelosoCEDECOM – Centro <strong>de</strong> Comunicação da <strong>UFMG</strong>EditoraçãoSaitec Editoração (Eduardo Queiroz)ImpressãoEditora e Gráfica O LutadorNormalização BibliográficaJordana Rabelo Soares CRB/6-2245Revisão <strong>de</strong> textoMaria <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s Costa (Português)Mônica Ybarra (Espanhol)Mariana Ybarra (Inglês)Secretaria GeralMariene Luiza Lopes Pereira – Secretária<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas GeraisRevista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> – Av. Alfredo Balena, 190 –Sala 104, Bloco Norte – Belo Horizonte - MGBrasil – CEP: 30130-100Telefax: (31) 3409-9876E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br/r<strong>em</strong>e@enfermag<strong>em</strong>.ufmg.brAssinaturaSecretaria Geral – Telefax: (31) 3409 9876E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br/r<strong>em</strong>e@enfermag<strong>em</strong>.ufmg.brRevista filiada à Associação Brasileira <strong>de</strong> EditoresCientíicos (ABEC)Periodicida<strong>de</strong>: trimestral – Tirag<strong>em</strong>: 1.000 ex<strong>em</strong>plaresREME – Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. - v.1, n.1, jul./<strong>de</strong>z. 1997.Belo Horizonte: Coopmed, 1997.S<strong>em</strong>estral, v.1, n.1, jul./<strong>de</strong>z. 1997/ v.7, n.2, jul./<strong>de</strong>z. 2003.Trimestral, v.8, n.1, jan./mar. 2004 sob a responsabilida<strong>de</strong> Editorialda <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>.ISSN 1415-27621. Enfermag<strong>em</strong> – Periódicos. 2. Ciências da Saú<strong>de</strong> – Periódicos.I. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerias. <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>.NLM: WY 100CDU: 616-83


421O VALOR ÚTIL NO ENSINO DA ENFERMAGEM / NURSING EDUCATION AND SCHELER’S UTILITY VALUES CONCEPT/ EL VALOR UTIL EN LA ENSEÑANZA DE ENFERMERÍAGilberto <strong>de</strong> Lima GuimarãesLigia <strong>de</strong> Oliveira Viana427ANÁLISE DOS ACIDENTES DE TRABALHO DO SETOR DE ATIVIDADE ECONÔMICA COMÉRCIO NO MUNICÍPIODE BELO HORIZONTE / OCCUPATIONAL ACCIDENT ANALYSIS IN THE COMMERCIAL SECTOR IN THE CITY OF BELOHORIZONTE / ANÁLISIS DE LOS ACCIDENTES DE TRABAJO EN EL SECTOR COMERCIAL DE LA ACTIVIDAD ECONÓMICAEN LA CIUDAD DE BELO HORIZONTEPriscila Tegethoff MottaRafael Lima Rodrigues <strong>de</strong> CarvalhoMaria Emília Lúcio DuarteA<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> De Mattia Rocha435435Revisão teóricaA PESQUISA EM HISTÓRIA DA ENFERMAGEM: REVISÃO DE PUBLICAÇÕES DE 2000-2008 / NURSING HISTORYRESEARCH: REVIEW OF PUBLICATIONS 2000-2008 / LA INVESTIGACIÓN EN LA HISTORIA DE LA ENFERMERÍA:REVISIÓN DE PUBLICACIONES ENTRE 2000 Y 2008Virgínia Mascarenhas Nascimento TeixeiraYanna Mara Mol Cunha443VULNERABILIDADE materno-infantil: FATORES <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são à profilaxia da TRANSMISSÃOVERTICAL do HIV / MATERNAL AND CHILD VULNERABILITY: NONADHERENCE FACTORS TO HIV VERTICALTRANSMISSION PROPHYLAXIS / VULNERABILIDAD MATERNO INFANTIL: FACTORES DE (NO) ADHESIÓN A LAPROFILAXIS DE LA TRANSMISIÓN VERTICAL DEL VIHStela Maris <strong>de</strong> Mello PadoinCristiane Cardoso <strong>de</strong> PaulaTatiane Pires RibeiroRhaísa Martins RomaniniAline Camaranno Ribeiro453453Artigo reflexivoPRESENÇA DO ACOMPANHANTE DURANTE O PROCESSO DE PARTURIÇÃO: UMA REFLEXÃO / A REFLEXIONON THE EMOTIONAL SUPPORT DURING CHILDBIRTH / REFLEXIÓN SOBRE LA PRESENCIA DEL ACOMPAÑANTEDURANTE EL PARTOJaqueline <strong>de</strong> Oliveira SantosCamila Arruda TambelliniSonia Maria Junqueira Vasconcellos <strong>de</strong> Oliveira459461463Normas <strong>de</strong> publicaçãoPublication normsNormas <strong>de</strong> publicación


EditorialDESENVOLVENDO HABILIDADES E COMPETÊNCIAS PARA ACOMUNICAÇÃO COM O PACIENTEConsi<strong>de</strong>rada como componente essencial para o cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, a comunicação t<strong>em</strong> também sidoi<strong>de</strong>ntificada como uma das competências ou habilida<strong>de</strong>s difíceis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> a<strong>de</strong>quadamente aprendidas e<strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhadas.Favorecer condições para que o outro possa expressar suas <strong>em</strong>oções, necessida<strong>de</strong>s e opiniões, <strong>em</strong>pregar técnicase comportamentos a<strong>de</strong>quados ao prestar informações <strong>de</strong> medidas e procedimentos ou auxiliar no enfrentamento<strong>de</strong> situações críticas são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>ssa complexa tarefa <strong>de</strong> interagir a<strong>de</strong>quadamente no cenário da atenção àsaú<strong>de</strong>.Sabe-se que diferentes fatores interfer<strong>em</strong> nessa relação diádica, quer aqueles inerentes aos interlocutores, comoos repertórios linguístico e cultural, a relevância do t<strong>em</strong>a, a influência do ambiente ou a situação que está sendovivenciada, quer a própria finalida<strong>de</strong> da interação.Destaque-se, nesse cenário, a habilida<strong>de</strong> do profissional na condução da tarefa <strong>de</strong> se comunicar. A maioria dosenfermeiros apren<strong>de</strong> que o uso <strong>de</strong> preleções, a mudança do foco <strong>de</strong> interesse do paciente s<strong>em</strong> seu esclarecimentoa<strong>de</strong>quado a cada situação, as restrições ao atendimento <strong>de</strong> d<strong>em</strong>anda do cliente ou seu familiar reduz<strong>em</strong> a chance<strong>de</strong> se estabelecer uma relação construtiva e <strong>de</strong> respeito mútuo. Mas como evitar tais situações ou ter habilida<strong>de</strong>para enfrentá-las, quando necessário?A literatura aponta inúmeros ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> comportamentos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser evitados, como também aqueles que<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser cultivados para o bom <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ssa relação, com mo<strong>de</strong>los já testados e válidos para diferentestipos <strong>de</strong> clientes e <strong>em</strong> distintos cenários, incluindo as situações <strong>de</strong> doenças graves ou restritivas. 1,2Para a aquisição <strong>de</strong>ssas habilida<strong>de</strong>s comunicacionais, diversas estratégias <strong>de</strong> ensino são apontadas, <strong>de</strong>ntre elasuma <strong>em</strong> ascensão – a simulação. 3 Entendida como uma representação próxima a realida<strong>de</strong>, essa estratégia po<strong>de</strong>incluir o uso <strong>de</strong> atores, <strong>de</strong> paciente ou aluno treinado para <strong>de</strong>terminado papel, <strong>em</strong>pregar análise <strong>de</strong> situaçõesreais ou representadas <strong>em</strong> gravações <strong>em</strong> ví<strong>de</strong>o ou CD-ROM, utilizar manequins <strong>de</strong> diferentes graus <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>/complexida<strong>de</strong>, para criar um cenário para o aluno atuar, <strong>de</strong>ntre outras formas <strong>de</strong> simulação.A inclusão nessa experiência educacional da expressão dos sentimentos, da i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> limitações e da valorizaçãodas habilida<strong>de</strong>s e comportamentos a<strong>de</strong>quados dos alunos torna-se tão relevante para a aquisição <strong>de</strong>autoeficácia e confiança quanto a teorização sobre esse t<strong>em</strong>a. A simulação não prescin<strong>de</strong> da atuação do cuidadodireto, mas seu uso – por ex<strong>em</strong>plo, o aprendizado com simuladores <strong>de</strong> alta fi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>, para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões clínicas ou <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s comunicacionais – possibilita maior confiança ao estudante esegurança ao sujeito <strong>de</strong> sua ação <strong>de</strong> cuidar, dado que os erros <strong>de</strong> comunicação são consi<strong>de</strong>rados o caminho inicial<strong>de</strong> eventos adversos. 4As instituições <strong>de</strong> ensino e seus educadores <strong>de</strong>v<strong>em</strong> buscar estratégias para <strong>de</strong>senvolver tais habilida<strong>de</strong>s, cada vezmais exigidas aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.REFERÊNCIAS1. Stefanelli MC; Carvalho EC A comunicação nos diferentes contextos <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Barueri(SP): Manole, 2005.2. Back A, Arnold RM, Baile WF, Tulsky JA, Fryer-Edwards K. Approaching difficult communication tasks in oncology. CA a cancer journal ofclinicians 2005 55(3): 164-1773. Leigh GT . High-Fi<strong>de</strong>lity Patient Simulation and Nursing Stu<strong>de</strong>nts’ Self-Efficacy: A Review of the Literature. International Journal of NursingEducation Scholarship, Vol. 5 [2008], Iss. 1, Art. 37.4. Krautscheid L C . Improving Communication among Healthcare Provi<strong>de</strong>rs: Preparing Stu<strong>de</strong>nt Nurses for Practice. Int J Nurs Educ Scholarsh.2008;5:Article40. Epub 2008 Oct 21.Emilia Campos <strong>de</strong> CarvalhoProfessora Titular da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo-SP. Coor<strong>de</strong>nadorado Grupo <strong>de</strong> Pesquisa Enfermag<strong>em</strong> e Comunicação (EERP-USP). E-mail: ecdcava@usp.brr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;14(3): 19-24, jul./set., 2010 311


PesquisasESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO DO ENFERMEIRO COM OPACIENTE INCONSCIENTEESTRATEGIAS DE COMUNICACIÓN E INTERACCIÓN ENTRE ENFERMEROS Y EL PACIENTEINCONSCIENTECOMMUNICATION STRATEGIES AND NURSES` INTERACTION WITH UN UNCONSCIOUS PATIENTIsabela Mie Takeshita 1Izilda Esmenia Muglia Araujo 2RESUMOA tecnologia beneficia o cuidado ao paciente, mas <strong>de</strong>ve ser utilizada <strong>de</strong> forma a não substituir a presença humana,com seu toque, olhar ou palavra. Ao cuidar do paciente inconsciente, o enfermeiro percebe um <strong>de</strong>safio para umacomunicação eficiente. Os objetivos com esta pesquisa foram: avaliar as estratégias <strong>de</strong> interação e i<strong>de</strong>ntificadaspelos enfermeiros no cuidado com o paciente inconsciente e i<strong>de</strong>ntificar itens <strong>de</strong> prescrições que favoreçam essainteração. Este é um estudo <strong>de</strong>scritivo, realizado <strong>em</strong> hospital universitário, com enfermeiros submetidos a entrevistae transcrição das prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> relacionadas à interação com pacientes inconscientes. Concluiu-se queos enfermeiros i<strong>de</strong>ntificam a utilização <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> interação, muitas sugeridas pela literatura, como chamar opaciente pelo nome, comunicar os procedimentos, evitar comentários próximos ao leito, reduzir ruídos, estimular osfamiliares a interagir, acalmar o paciente pela conversa e toque. As estratégias i<strong>de</strong>ntificadas também aparec<strong>em</strong> naforma <strong>de</strong> prescrição <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Descritores: Enfermag<strong>em</strong>; Inconsciência; Comunicação; Planejamento <strong>de</strong> Assistência ao Paciente.ABSTRACTTechnological <strong>de</strong>velopments are an improv<strong>em</strong>ent to patient´s care but it should not be a substitute to the humanpresence, its touch, look and talk. Taking care of an unconscious patient poses a challenge to an efficient communication.This research aimed to i<strong>de</strong>ntify and evaluate nurses` interaction strategies when caring for an unconscious patient andto <strong>de</strong>tect the aspects that favour that interaction. It is a <strong>de</strong>scriptive study carried out in a university hospital wherethe nurses were interviewed. Nursing prescription forms related to the interaction with the patient were transcribed.We conclu<strong>de</strong> that the nurses were able to i<strong>de</strong>ntify the use of interaction strategies, many of th<strong>em</strong> suggested by theliterature, such as to call the patient by name, to inform the patient about the procedures being <strong>em</strong>ployed, to avoidcomments next to the hospital bed, to reduce noises, to encourage family m<strong>em</strong>bers to interact with the patient, tosoothe the patient using the voice and touch. The strategies i<strong>de</strong>ntified appear also in the nursing prescription form.Key words: Nursing; Unconsciousness; Communication; Patient Plan of Care.RESUMENLa tecnología ha beneficiado el cuidado <strong>de</strong> los pacientes más no por ello <strong>de</strong>be sustituir la presencia humana encuanto al toque, la mirada y las palabras. Cuando los enfermeros tratan pacientes inconscientes enfrentan retos paraestablecer una comunicación eficiente. Los objetivos <strong>de</strong>l presente estudio han sido evaluar las estrategias <strong>de</strong> interaccióni<strong>de</strong>ntificadas por los enfermeros al cuidar pacientes inconscientes e i<strong>de</strong>ntificar puntos en las prescripciones quefavorezcan la interacción. Se trata <strong>de</strong> un estudio <strong>de</strong>scriptivo realizado en un hospital universitario don<strong>de</strong> se llevarona cabo entrevistas a enfermeros y se transcribieron las prescripciones <strong>de</strong> enfermería relacionadas a la interacción conpacientes inconscientes. La conclusión ha sido que los enfermeros i<strong>de</strong>ntifican el uso <strong>de</strong> estrategias <strong>de</strong> interacción,muchas sugeridas en la literatura tales como llamar al paciente por su nombre, informarle <strong>de</strong> los procedimientos, evitarcomentarios cerca <strong>de</strong> la cama, disminuir los ruidos, estimular a la familia a interactuar y tranquilizar al paciente con eldiálogo y el tacto. Las estrategias i<strong>de</strong>ntificadas también se han observado en las prescripciones <strong>de</strong> enfermería.Palabras clave: Enfermería; Inconsciencia; Comunicación; Planificación <strong>de</strong> Atención al Paciente1Enfermeira graduada pelo Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas (Unicamp).2Enfermeira Profª Drª do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Ciências Médicas da Unicamp. Doutora <strong>em</strong> Ciências Médicas pela Unicamp.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Safira, 171 Prado – Belo Horizonte-MG. CEP. 30411-127. E-mail: isa_jx@yahoo.com.br.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011313


<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, que viabiliza a <strong>de</strong>scrição do plano<strong>de</strong> cuidados diários do indivíduo que está sob suaresponsabilida<strong>de</strong>. No caso do paciente inconsciente,a prescrição favorece a conscientização da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> a estimular e interagir com esse paciente.A Sist<strong>em</strong>atização da Assistência <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> pormeio do registro é importante, pois proporciona acomunicação efetiva entre os m<strong>em</strong>bros da equipe e aavaliação da eficácia do cuidado prestado. 17Diante da legislação vigente que favorece o cuidadointegral e individual ao paciente e da política <strong>de</strong>humanização do cuidado, que também o beneficia,verifica-se a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar como sãooferecidos os cuidados <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, ou seja, aassistência prestada e as características <strong>de</strong> sua interaçãocom o paciente inconsciente.OBJETIVOS– Avaliar as estratégias <strong>de</strong> interação i<strong>de</strong>ntificadas pelosenfermeiros no cuidado com o paciente inconsciente.– I<strong>de</strong>ntificar itens nas prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> quefavoreçam a interação com o paciente inconsciente.SUJEITOS E MÉTODOSO estudo <strong>de</strong>scritivo foi <strong>de</strong>senvolvido nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>pacientes críticos <strong>de</strong> um hospital público, universitário,no município <strong>de</strong> Campinas-SP.A pesquisa foi precedida pela aprovação no Comitê <strong>de</strong>Ética <strong>em</strong> Pesquisa da instituição, sob Parecer nº 603/04. Aparticipação na pesquisa foi voluntária, ocorrendo apósa autorização e assinatura do Termo <strong>de</strong> ConsentimentoLivre Esclarecido, sendo especificado aos participanteso direito à recusa a qualquer momento.De um total <strong>de</strong> 55 enfermeiros das Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> TerapiaIntensiva, Emergência Clínica e Cirurgia do Trauma, dosturnos manhã, tar<strong>de</strong> e noite, 47 constituíram a amostrada pesquisa. Essa redução ocorreu por causa das faltas,das férias e da alteração nas escalas nos dias <strong>de</strong> coleta<strong>de</strong> dados. As entrevistas foram realizadas no período <strong>de</strong>janeiro a março <strong>de</strong> 2005.Inicialmente houve uma busca por pacientes inconscientesnas três unida<strong>de</strong>s citadas. Em seguida, foram i<strong>de</strong>ntificadasas prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> cujo conteúdo favorecessea comunicação e a interação com o paciente inconsciente.Os dados foram transcritos para um instrumento previamenteelaborado (Apêndice 1). Esse instrumentocontinha as escalas <strong>de</strong> coma <strong>de</strong> Glasgow e <strong>de</strong> sedação <strong>de</strong>Ramsay para i<strong>de</strong>ntificar como os profissionais <strong>de</strong>screviamo grau <strong>de</strong> inconsciência dos pacientes.Para a entrevista foi elaborado outro instrumento,(APÊNDICE 2), um questionário composto por perguntasabertas e fechadas com enfoque nos critérios consi<strong>de</strong>radosrelevantes:– motivos que levam à não estimulação do pacienteinconsciente; 8– relatos sobre a a<strong>de</strong>quação dos sons do ambiente parao paciente inconsciente; 11– sugestão da ocorrência <strong>de</strong> alterações fisiológicasno indivíduo inconsciente ao ouvir vozes e sonsfamiliares; 11– importância do ambiente ao redor do pacienteinconsciente; 9– incentivo para os familiares estimular<strong>em</strong> o pacienteinconsciente 9 ;– incumbência privativa do enfermeiro para a realizaçãoda prescrição <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Antes da entrevista, os enfermeiros foram esclarecidossobre o que <strong>de</strong>veria ser consi<strong>de</strong>rado paciente inconsciente,ou seja, os indivíduos sob sedação ou inconscientes pelaprópria natureza da patologia.Durante a entrevista, houve anotação fiel das respostasno próprio instrumento (APÊNDICE 2). Após o término,foi dispensada a leitura das respostas pelos própriosentrevistados, pois os profissionais queixavam-se <strong>de</strong>falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po.As respostas obtidas foram consi<strong>de</strong>radas corretasquando todas as alternativas foram assinaladas, excetona questão dois, alternativa número três; e parcialmentecorretas quando uma ou mais alternativas não foramassinaladas. As respostas das alternativas abertas foramdivididas <strong>em</strong> categorias, mas não foi atribuída avaliaçãopara elas, exceto na questão 6, que se consi<strong>de</strong>rou nãorespondida e correta.Os dados coletados foram tabulados com auxílio doprograma Microsoft EXCEL-97. Realizou-se análise<strong>de</strong>scritiva (frequências absoluta e relativa) e comparativados dados sob orientação do Serviço <strong>de</strong> Estatística daComissão <strong>de</strong> Pesquisa. Para a tabulação foi necessária acategorização das respostas nas questões abertas, b<strong>em</strong>como sua classificação quanto à natureza da interação(verbal ou não verbal) e do foco da interação (famíliaou paciente).Nas análises comparativas utilizou-se o Teste Exato <strong>de</strong>Fisher, para verificar se existiam diferenças entre asrespostas corretas e parcialmente corretas das questõesentre os sujeitos que tinham ou não pós-graduação. 21RESULTADOS E DISCUSSÃOTranscrição das prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>As prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nos setores pesquisadoseram realizadas a cada 24 horas. No mesmo períododas entrevistas, foram coletadas 33 prescrições <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, sendo transcritas apenas as relacionadascom a comunicação e a interação com o pacienteinconsciente. Por outro lado, 28 pacientes tiveramprescrições transcritas. A diferença ocorreu, pois algunspacientes tiveram suas prescrições transcritas por mais<strong>de</strong> uma vez, <strong>em</strong> dias diferentes.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011315


Estratégias <strong>de</strong> comunicação e interação do enfermeiro com o paciente inconscienteDos que tiveram suas prescrições transcritas, 13/28(46,4%) eram do sexo f<strong>em</strong>inino e 15/28 (53,6%) domasculino. A ida<strong>de</strong> dos pacientes do sexo f<strong>em</strong>ininovariou <strong>de</strong> 26 a 77 anos, com média <strong>de</strong> 55,1 (±16,2) e, domasculino, <strong>de</strong> 27 a 72 com média <strong>de</strong> 44,5 (±14,2) anos.Quanto ao nível <strong>de</strong> consciência dos pacientes, verifica-seno Quadro 1 as categorias que foram registradas nasprescrições transcritas.QUADRO 1 – Categorias referentes ao nível <strong>de</strong>consciência dos pacientes cujas prescrições foramtranscritas. Campinas – 2005Nível <strong>de</strong> consciência N %Inconsciente, sedado, abertura ocularaos comandos verbaisInconsciente, sedado, não respon<strong>de</strong>aos estímulos (dor, verbal)Sedado respon<strong>de</strong>ndo a comandosverbais5 15,16 18,25 15,1Inconsciente, sedado – Ramsay 6 1 3,0Inconsciente, sedado 8 24,2Inconsciente, sedado com agitação 1 3,0Inconsciente, sedado, respon<strong>de</strong> aosestímulos verbaisInconsciente, sedado com reflexo <strong>de</strong>tosseInconsciente, Glasgow 3, pupilasfotorreagentesInconsciente, sedado, respon<strong>de</strong> aosestímulos dolorososInconsciente, sedado, respon<strong>de</strong> aosestímulos (verbal, dor)1 3,02 6,21 3,02 6,21 3,0Total 33 100Verifica-se que a inconsciência, na maioria dos casos,foi ocasionada pela sedação e que a maneira <strong>de</strong> realizaros registros não permite a avaliação da intensida<strong>de</strong>da sedação, assim como quando utilizada a escala <strong>de</strong>Ramsay. O que po<strong>de</strong> ser percebido nas anotações é um<strong>de</strong>staque para as palavras “Inconsciente” e “Sedado”,que foram utilizadas <strong>de</strong> forma genérica, s<strong>em</strong> levar<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o uso <strong>de</strong> uma escala universal ea especificida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada paciente. Na avaliação dasedação, a escala <strong>de</strong> Ramsay é a mais utilizada na clínica,i<strong>de</strong>ntificando os níveis <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e/ou agitação;tranquilida<strong>de</strong>, cooperação e orientação; responsivida<strong>de</strong>ao comando verbal; resposta franca à estimulaçãoauditiva intensa ou compressão da glabela; respostadébil à estimulação auditiva intensa ou compressão daglabela; e irresponsivida<strong>de</strong> 22 .Das prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> analisadas, 7/33 (21,2%)não continham nenhum it<strong>em</strong> prescrito, enquanto 26/33(78,8%) possuíam prescrições relacionadas à interaçãoe à comunicação com o paciente inconsciente. Osconteúdos <strong>de</strong>scritos nas prescrições foram divididos<strong>em</strong> cinco categorias: a) “Orientar paciente quanto aosprocedimentos a ser<strong>em</strong> realizados” (22/26); b) “Realizarmudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito” (8/26); c) “Atentar para sinais d<strong>em</strong>anifestação <strong>de</strong> dor” (2/26); d) “Massag<strong>em</strong> <strong>de</strong> confortoapós o banho” (1/26); e) “Conforto <strong>em</strong>ocional” (1/26).Quanto à i<strong>de</strong>ntificação dos enfermeiros que prescreveramos cuidados, 6/33 (18,2%) prescriçõesapresentavam caligrafia ininteligível, enquanto 27/33(81,8%) apresentavam leitura possível, o que reforça oestudo que revelou que a i<strong>de</strong>ntificação dos profissionais<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> é muito ruim, dada a falta <strong>de</strong> carimboe nomes ilegíveis. 23Entrevistas com enfermeirosForam abordados 47 enfermeiros, dos quais 7/47 (14,9%)eram do sexo masculino e 40/47 (85,1%) f<strong>em</strong>inino. Aida<strong>de</strong> variou entre 22 e 52 anos, com média <strong>de</strong> 35,8(±7,6) anos. O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formado dos entrevistadosvariou <strong>de</strong> um a 24 anos, com média <strong>de</strong> 9,9 (±6,0) anos.O t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação na área (paciente crítico) variou<strong>de</strong> 1 a 20 anos, com média <strong>de</strong> 8,5 (±5,0) anos. Verificouseé que, na maioria dos casos, o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> formadocorrespon<strong>de</strong>, aproximadamente, ao <strong>de</strong> atuação nessaárea. Além disso, há enfermeiros que já atuavam na área,mas como técnicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Com relação à realização <strong>de</strong> especializações na área<strong>de</strong> paciente crítico, 30/47 (63,8%) não possuíamnenhuma, enquanto 17/47 (36,2%) possuíam pelomenos uma. Dos 17 enfermeiros com pós-graduação,6/17 fizeram especialização na área (35,3%), 7/17 (41,2%)aprimoramento, 1/17 (5,9%) realizou aprimoramento <strong>em</strong>estrado e 3/17 (17,6%) especialização e mestrado.Na primeira questão da entrevista, sobre comoos enfermeiros se comunicam com o pacienteinconsciente, houve 27/47 (57,4%) respostas corretas.São entrevistados que apontam que chamam o pacientepelo nome; orientam o paciente <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po, espaço epessoa; comunicam sobre os procedimentos a ser<strong>em</strong>realizados; evitam comentários sobre o prognósticopróximo ao leito; e tocam o paciente. Esses resultadosapontam que a maioria dos enfermeiros utiliza as formas<strong>de</strong> interação sugeridas pela literatura 24 para reduzir asensação <strong>de</strong> abandono do paciente e reforçar a presençados cuidadores, além <strong>de</strong> revelar uma forma <strong>de</strong> tornar ocuidado mais humanizado. 25Por outro lado, 20/47 (42,5%) apresentaram respostasparcialmente corretas. Dentre as alternativas nãoassinaladas, a que visava à orientação do paciente <strong>em</strong>t<strong>em</strong>po, espaço e pessoa foi a menos mencionada, com19/47 (40,4%). Logo surgiu o questionamento: Como oenfermeiro irá orientar o paciente <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po, espaçoe pessoa, se ele mesmo t<strong>em</strong> dúvida sobre o grau <strong>de</strong>percepção auditiva do paciente? Provavelmente, essadúvida compõe um fator limitante na comunicação. 8316 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011


Em análise comparativa, ao verificar se a existência <strong>de</strong>pós-graduação interfere nas respostas dos entrevistados,observou-se que os que possu<strong>em</strong> apenas graduaçãoobtiveram 38,30% respostas corretas, enquanto os quepossuíam algum tipo <strong>de</strong> pós-graduação obtiveramapenas 18,15% na questão 1 do APÊNDICE 2, sugerindoque essa diferença não foi significativa (Teste Exato <strong>de</strong>Fisher p=0,7615).Além das alternativas apresentadas 25/47 (53,2%)não acrescentaram nenhuma outra intervenção, poroutro lado, 22/47 (46,8%) citaram pelo menos um it<strong>em</strong><strong>de</strong> interação com o paciente inconsciente. Diante davarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas, estas foram categorizadas para oprocedimento <strong>de</strong> análise, obtendo-se 14 itens, dos quais5/14 (35,7%) eram comunicações verbais e 9/14 (64,3%)não verbais, como po<strong>de</strong> ser verificado na TAB. 1.TABELA 1 – Categorização das respostas citadasna comunicação com o paciente inconsciente.Campinas-SP – 2005Interação Verbal Não verbal1. Conversa com o paciente 8 _2. Observa faces <strong>de</strong> dor _ 43. Realiza massag<strong>em</strong> _ 24. Favorece conforto etranquilida<strong>de</strong>5. Passa energia positiva para opaciente_ 3_ 16. Fala que ele vai melhorar 1 _7. Realiza exame físico _ 28. Observa alteração <strong>de</strong> sinais vitais _ 19. Questiona o paciente sobre dore compreensão1 _10. Preserva o pudor do paciente _ 111. I<strong>de</strong>ntifica-se para o paciente 1 _12. Acredita que uma boa interaçãovai além do cuidado técnico13. Orienta a família a conversarcom o paciente_ 11 _14. Realiza estimulação tátil _ 1Fonte: Pesquisa direta dos autores. Campinas-SP, 2005.Os itens “Conversa com o paciente” e “Observa faces <strong>de</strong>dor” apresentaram maior frequência. Ao mencionar<strong>em</strong>o it<strong>em</strong> “Conversa com o paciente”, os enfermeiros estãorevelando preocupação <strong>em</strong> interagir com o paciente,vale <strong>de</strong>stacar que as interações verbais (uso das palavras)e não verbais (postura, expressões faciais, gestos econtato corporal) são diferentes formas <strong>de</strong> fazer contatocom o paciente. 17No segundo questionamento, que tratava do ambientedo paciente inconsciente, 16/47 (34,1%) sujeitosapresentaram resposta correta, ao concordar comos itens consi<strong>de</strong>rados a<strong>de</strong>quados e 31/47 (65,9%)parcialmente correta, pois não assinalaram nenhumdos itens. O percentual das respostas corretas foi igual(17,02%) para os sujeitos que possuíam e não possuíampós-graduação na análise comparativa (Teste Exato <strong>de</strong>Fisher p=0,2057).Verificou-se que 41/47 (87,2%) enfermeiros buscamreduzir os sons <strong>de</strong>sagradáveis do ambiente, enquanto6/47 (12,8%), não. A oferta <strong>de</strong> sons familiares (músicaspreferidas, sons domésticos, televisão e rádio) foirealizada por 17/47 (36,2%), enquanto 30/47 (63,8%)não o faz<strong>em</strong>. Uma das justificativas manifestadas pelosenfermeiros foi a falta <strong>de</strong> recursos materiais (aparelhos<strong>de</strong> som, televisão, etc.) na instituição para que pu<strong>de</strong>sseser impl<strong>em</strong>entado esse cuidado.A alternativa que r<strong>em</strong>etia à falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po como responsávelpor não haver intervenções no ambiente dopaciente inconsciente não foi assinalada por nenhum<strong>de</strong>les. Esses dados contradiz<strong>em</strong> estudo com enfermeirosque lidam com muita tecnologia nas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> TerapiaIntensiva, que diz<strong>em</strong> que por isso falta t<strong>em</strong>po para seaproximar do paciente e, assim, validar as mensagensverbais e não verbais transmitidas pelo paciente. 26Dentre os enfermeiros que afirmaram oferecer sonsfamiliares, a maioria justificou que isso só é possível dianteda colaboração do familiar <strong>em</strong> prover o aparelho <strong>de</strong> somou televisão. A música po<strong>de</strong> contribuir para a humanizaçãodo cuidado <strong>em</strong> terapia intensiva, tornando o ambient<strong>em</strong>enos tenso, mais agradável, o atendimento maisseguro 27 além <strong>de</strong> reduzir a dor e distrair o paciente. 28Sobre outras formas <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar o ambiente, 25/47(53,2%) fizeram propostas enquanto 22/47 (46,8%) não.Dos 25 enfermeiros que fizeram sugestões, foi necessáriocategorizar as respostas resultando <strong>em</strong> nove itens,dispostos segundo a categoria “Verbal” (3/9-33,3%) e“Não verbal” (6/9-66,7%) (TAB. 2).TABELA 2 – Categorização das respostas sobre o ambientedo paciente inconsciente. Campinas-SP – 2005Interação Verbal Não verbal1. Adapta a luminosida<strong>de</strong> _ 162. Proporciona ambiente calmo _ 53. Favorece objetos familiares parao paciente (fotos)_ 34. Mantém o ambiente limpo _ 15. Realiza leituras familiares 1 _6. Permite maior permanência dosfamiliares7. Favorece sons familiares 28. Evita conversas alheias aopaciente próximo ao leito9. Atenta para a t<strong>em</strong>peraturaa<strong>de</strong>quada do ambiente_ 11 __ 1Fonte: Pesquisa direta dos autores. Campinas-SP, 2005.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011317


TABELA 4 – Categorização das intervenções citadasquando o paciente sedado se agita. Campinas-SP – 2005Intervenção Verbal Não verbal1. Oferece conforto ao paciente _ 12. Restringe o paciente no leito _ 83. Avalia a causa da agitação _ 154. Observa fatores associados,como febre e dor5. Orienta o paciente sobre o queestá ocorrendo6. Compara com a escala <strong>de</strong>sedação <strong>de</strong> Ramsay_ 11 __ 17. Não restringe o paciente ao leito _ 18. Observa se houve alteração dosparâmetros h<strong>em</strong>odinâmicos9. Solicita a troca/mudança dofármaco10. Observa se houve aumento dafrequência respiratória_ 1_ 1_ 1Fonte: Pesquisa direta dos autores. Campinas-SP, 2005.Foi <strong>de</strong>stacado por 37/47 (78,7%) enfermeiros que aagitação do paciente, muitas vezes, está associadaà audição <strong>de</strong> uma voz familiar, por outro lado, 10/47(22,3%) negaram qualquer relação entre dois eventos.Sobre a associação da alteração da frequência cardíacaa algum estímulo (como voz familiar ou dor), a maioria45/47 (97,5%) acredita haver uma relação direta entreelas e apenas 2/47 (4,3%) não fizeram essa relação.Dos participantes, 29/47 (61,5%) relataram associaçãoentre a alteração da pressão arterial e os estímuloscomo voz familiar ou dor, enquanto os d<strong>em</strong>ais 18/47(38,5%), não.Procedimentos invasivos pod<strong>em</strong> ser agentes estressores,produzindo respostas individuais (fisiológicas e bioquímicas),assim como os sons familiares. No caso dasrespostas psicofisiológicas, está a ativação hipotalâmicapituitária-adrenale do sist<strong>em</strong>a nervoso simpático, queeleva a frequência cardíaca e a pressão arterial. 31Quanto a outras formas <strong>de</strong> observação da manifestaçãodo paciente inconsciente, 23 enfermeiros (48,9%) não assugeriram. Por outro lado, 24/47 (51,1%) mencionaram 11categorias. O it<strong>em</strong> “aumento da frequência respiratória”foi apontado por 9/24 (37,5%); “choro/lágrimas” 8/24(33,3%);“agitação psicomotora” 5/24 (20,8%);“alteração<strong>de</strong> t<strong>em</strong>peratura” 4/24 (16,6%); “tranquilida<strong>de</strong>” 3/24(12,5%); “expressões faciais <strong>de</strong> <strong>em</strong>oção e/ou dor” 2/24(8,3%); “sinais <strong>de</strong> briga com o respirador”; “elevação dapressão intracraniana”; “tosse”;“<strong>de</strong>sconforto respiratório”e “sudorese” 1/24 (4,2%) cada.No último questionamento, questão 6, sobre o conteúdodas prescrições relacionadas à interação do enfermeirocom o paciente inconsciente, 3/47 (6,4%) entrevistadosnão sugeriram nenhuma prescrição, os d<strong>em</strong>ais 44/47(93,6%) respon<strong>de</strong>ram corretamente. O percentual<strong>de</strong> respostas corretas entre os sujeitos que tinhamgraduação (57,45%) com os <strong>de</strong> pós-graduação (36,17%)apresentou diferença estatística não significativa (TesteExato <strong>de</strong> Fisher p=0,2923).A sugestão <strong>de</strong> prescrição foi feita por 38/41 (92,7%),enquanto 3/41 (7,3%) não sugeriram. Houve, ainda,duas categorias <strong>de</strong> justificativas para a não inserção <strong>de</strong>itens na prescrição: 4/47 (8,5%) mencionaram que nãoprescrev<strong>em</strong>, pois esperam que esses cuidados sejamimpl<strong>em</strong>entados, dadas as características da profissãoe 2/47 (4,2%) por falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po. As respostas obtidasforam categorizadas <strong>em</strong> nove itens <strong>de</strong> prescrição. A TAB.5 apresenta as sugestões, sendo cinco itens <strong>de</strong> enfoqueverbal e quatro não verbais.TABELAS 5: Itens <strong>de</strong> prescrição <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>divididos por categorias. Campinas-SP – 2005Itens <strong>de</strong> prescrição Verbal Não verbal1. Orientar paciente quantoaos procedimentos a ser<strong>em</strong>realizados2. Realizar massag<strong>em</strong> <strong>de</strong> confortoou toque terapêutico33 __ 93. Favorecer um ambiente tranquilo _ 64. Atentar para respostas aestímulos verbais ou dolorosos5. Oferecer apoio e orientações àfamília6. Orientar o paciente <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po,espaço e pessoa_ 52 _2 _7. Realizar mudança <strong>de</strong> <strong>de</strong>cúbito _ 28. Favorecer visitas e i<strong>de</strong>ntificá-lasao paciente9. Oferecer apoio <strong>em</strong>ocionalespiritualpor meio da interação2 _6 _Fonte: Pesquisa direta dos autores. Campinas-SP, 2005.A maioria dos enfermeiros citou “orientar paciente quantoaos procedimentos a ser<strong>em</strong> realizados”; a massag<strong>em</strong> <strong>de</strong>conforto ou o toque terapêutico apresentou a segundamaior citação.O toque é expressivo, oferece ao paciente uma assistênciaque favorece a comunicação, a integraçãohumana e po<strong>de</strong> ser utilizado como tratamento.Alguns enfermeiros 32 d<strong>em</strong>onstraram que a ênfase nodia a dia era para o toque espontâneo, para ajudar einteragir com o paciente. Esses profissionais atend<strong>em</strong>às necessida<strong>de</strong>s biológicas e psicoespirituais dospacientes, e neste último it<strong>em</strong> é a estimulação sensorialque auxilia o paciente a superar a privação sensorialprofunda. 9r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011319


Estratégias <strong>de</strong> comunicação e interação do enfermeiro com o paciente inconscienteCONCLUSÃOOs resultados obtidos neste estudo permit<strong>em</strong> concluirque os enfermeiros revelaram algumas formas <strong>de</strong>interação utilizadas no seu cotidiano que estão <strong>de</strong>acordo com a literatura preconizada: chamar o pacientepelo nome; comunicar os procedimentos que vão serrealizados; evitar comentários sobre o prognósticopróximo ao leito e orientar o paciente no t<strong>em</strong>po, espaçoe pessoa.Sobre o ambiente ao redor do paciente inconsciente,os enfermeiros relataram que se preocupam <strong>em</strong> reduzirruídos e sons <strong>de</strong>sagradáveis, colaborando com umambiente mais tranquilo.Todos os entrevistados relataram que favorec<strong>em</strong> ainteração <strong>de</strong> familiares com o paciente inconsciente,fato relevante, uma vez que o familiar possui vínculoimportante com o doente e po<strong>de</strong> estimulá-lo na suarecuperação.Em situações <strong>em</strong> que o paciente sedado se agita,inesperadamente, a maioria dos entrevistados relatouque procura acalmá-lo por meio do toque e da conversa;por outro lado muitos ainda solicitam o aumento dasedação e verificam alterações nos parâmetros vitais.A conduta i<strong>de</strong>ntificada pela maioria dos enfermeirosrevela o predomínio <strong>de</strong> um cuidado humanizado e menostecnicista.Diante da manifestação do paciente, muitos acreditamque há associação entre a alteração da frequência cardíacae estímulos, como voz familiar ou dor. Confirmaram,também, a relação entre a agitação motora diante<strong>de</strong> uma voz familiar. Gran<strong>de</strong> parte dos entrevistadossugeriu itens <strong>de</strong> prescrição <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> quepromovam a comunicação e a interação com o pacienteinconsciente.Das prescrições <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> analisadas, a maioriapossuía itens relacionados à interação com o pacienteinconsciente. Do conteúdo <strong>de</strong>scrito nessas prescriçõesressaltam-se os seguintes: “orientar paciente quanto aosprocedimentos a ser<strong>em</strong> realizados”; “realizar mudança <strong>de</strong><strong>de</strong>cúbito”; “atentar para sinais <strong>de</strong> manifestação <strong>de</strong> dor”;“realizar massag<strong>em</strong> <strong>de</strong> conforto após o banho” e “oferecerconforto <strong>em</strong>ocional”.Não foram encontradas diferenças estatísticas significativas,nas respostas corretas do questionário, entre os sujeitosque possuíam algum tipo <strong>de</strong> pós-graduação <strong>em</strong> relaçãoaos que não possuíam.REFERÊNCIAS1. Goulart BNG, Chiari BM. Humanização das práticas do profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: contribuições para reflexão. Ciênc Saú<strong>de</strong> Coletiva. 2010; 15(1). [Citado2010 jul. 21] Disponível <strong>em</strong>: .2. Marques IR, Souza AR. 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Estratégias <strong>de</strong> comunicação e interação do enfermeiro com o paciente inconscienteAPÊNDICE 1INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: TRANSCRIÇÃO DAS PRESCRIÇÕES DE ENFERMAGEMRELACIONADAS À PROMOÇÃO DA INTERAÇÃO E COMUNICAÇÃO COM O PACIENTE INCONSCIENTEIniciais do paciente: _____________________________________________________________ Data: ___/___/___Grau <strong>de</strong> inconsciência segundo escala <strong>de</strong>: Ramsey – ________________________ Glasgow – _________________Enfermeiro(a) responsável (nome fictício): __________________________________________________________Prescrições: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Iniciais do paciente: _____________________________________________________________ Data: ___/___/___Grau <strong>de</strong> inconsciência segundo escala <strong>de</strong>: Ramsey – ________________________ Glasgow – _________________Enfermeiro(a) responsável (nome fictício): ___________________________________________________________Prescrições: ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________322 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011


APÊNDICE 2INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS PARA A ENTREVISTAEste instrumento permite que o entrevistado escolha uma ou mais alternativas para caracterizar sua resposta.1. Como você se comunica com o paciente inconsciente? Faz uso <strong>de</strong> alguma das alternativas abaixo?( ) Chama o paciente pelo nome.( ) Orienta o paciente <strong>em</strong> t<strong>em</strong>po, espaço e pessoa.( ) Comunica ao paciente sobre os procedimentos a ser<strong>em</strong> realizados.( ) Evita comentários sobre o prognóstico do paciente próximo ao leito.( ) Toca o paciente.( ) Outros. ____________________________________________________________________________________2. Em relação ao ambiente do paciente inconsciente, você:( ) Tenta reduzir os sons <strong>de</strong>sagradáveis do ambiente.( ) Propicia sons familiares (ex<strong>em</strong>plos: gravações dos ambientes <strong>de</strong> trabalho e doméstico, músicas preferidas,programas <strong>de</strong> televisão ou rádio <strong>de</strong> preferência do paciente).( ) Acaba não realizando qualquer modificação no ambiente dada a falta <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po.( ) Outros. _____________________________________________________________________________________3. Você estimula os visitantes (familiares ou amigos) a conversar e tocar o paciente inconsciente?( ) Sim. ( ) Não. Por quê?_________________________________________________________________________4. Quando um paciente sedado agita, você:( ) Solicita ao responsável médico o aumento do gotejamento do sedativo.( ) Verifica se houve alterações nos parâmetros vitais.( ) Conversa e toca o paciente para tentar acalmá-lo.( ) Outros. _____________________________________________________________________________________5. O que você observa <strong>de</strong> respostas do paciente inconsciente para constatar que ele está apresentando algumamanifestação?( ) Agitação ao ouvir a voz <strong>de</strong> uma pessoa familiar.( ) Alteração <strong>de</strong> frequência cardíaca a algum estímulo (voz familiar, dor, etc.).( ) Alteração <strong>de</strong> pressão arterial a algum estímulo (voz familiar, dor, etc.).( ) Outros._____________________________________________________________________________________6. Em suas prescrições, você inclui algum cuidado relacionado à promoção da interação e da comunicação com opaciente inconsciente? Quais? ___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 313-323, jul./set., 2011323


A ATENÇÃO À SAÚDE DO HOMEM: AÇÕES E PERSPECTIVAS DOSENFERMEIROSMEN’S HEALTH: NURSING ACTIONS AND PERSPECTIVESLA ATENCIÓN DE LA SALUD DEL HOMBRE: ACCIONES Y PERSPECTIVAS DE LOS ENFERMEROSElizangela Nunes <strong>de</strong> Santana 1Emyliane Maria <strong>de</strong> Me<strong>de</strong>iros Lima 2Jorge Luís Fernan<strong>de</strong>s Bulhões 2Estela Mª Leite Meirelles Monteiro 3Jael Maria <strong>de</strong> Aquino 4RESUMOA reduzida presença dos usuários do sexo masculino nos serviços <strong>de</strong> atenção básica à saú<strong>de</strong> e os indicadoresepid<strong>em</strong>iológicos alarmantes tornam evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atenção a<strong>de</strong>quada à saú<strong>de</strong> dos homens, e a Estratégia<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (ESF) constitui um caminho possível para se avançar nesse cenário. Neste estudo, analisam-se apercepção, as ações e as perspectivas dos enfermeiros(as) que atuam na ESF quanto à atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>,visando à promoção, à proteção e à recuperação da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssa população. Trata-se <strong>de</strong> um estudo qualitativo, cujosdados foram coletados por meio <strong>de</strong> entrevista s<strong>em</strong>iestruturada com 17 enfermeiras e analisados pela Técnica <strong>de</strong> Análise<strong>de</strong> Conteúdo, na Modalida<strong>de</strong> T<strong>em</strong>ática, que possibilitou a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> quatro categorias: 1. Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidasna Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família; 2. Percepção dos enfermeiros quanto à população masculina da área adscrita; 3.Formação dos enfermeiros na atenção à população masculina; 4. Perspectiva <strong>de</strong> mudança no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção àsaú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>. Os resultados revelaram a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma intervenção mais ampliada sobre a atenção à saú<strong>de</strong>do hom<strong>em</strong> na re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na qual a prática da educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> aparece como um caminho integradordo cuidar, <strong>de</strong> modo a garantir os princípios da equida<strong>de</strong> e universalida<strong>de</strong> do SUS.Palavras-chave: Masculino; Atenção Primária à Saú<strong>de</strong>; Promoção da Saú<strong>de</strong>; Educação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>; Enfermag<strong>em</strong>.ABSTRACTMen do not seek medical help from the primary healthcare services frequently and the alarming epid<strong>em</strong>iologicalindicators d<strong>em</strong>onstrate the need of proper attention to men’s health. In this scenario, the Family Health Programconstitutes a possible way forward. This study aims to analyse the actions and perspectives of family health nursesregarding men’s healthcare. The family health program intends to promote, to protect and to improve the health ofthis population segment. This is a qualitative study whose data was collected through s<strong>em</strong>i-structured interviews withseventeen nurses. The interviews were analysed using th<strong>em</strong>atic content analysis that led to the i<strong>de</strong>ntification of fourcategories: 1. Activities <strong>de</strong>veloped in the Family Health Unit; 2. Nurse’s perception regarding the male population ofthe ascribed area; 3. Nurses’ training on men’s healthcare; 4. Expectation of changes in the men’s healthcare mo<strong>de</strong>l.The results revealed the need of a broa<strong>de</strong>r intervention on men’s health by the primary healthcare syst<strong>em</strong> in whichhealthcare education could be the way of ensuring an integrated care so as to guarantee the Brazilian Public HealthSyst<strong>em</strong> principles of equity and universality.Key words: Male; Primary Health Care; Health Promotion; Health Education; Nursing.RESUMENLa escasa presencia <strong>de</strong> usuarios varones en los servicios <strong>de</strong> atención básica a la salud y los indicadores epid<strong>em</strong>iológicosalarmantes muestran la necesidad <strong>de</strong> atención a<strong>de</strong>cuada <strong>de</strong> la salud <strong>de</strong> los hombres. La Estrategia <strong>de</strong> Salud <strong>de</strong> la Familia(ESF) constituye un camino factible para avanzar en tal escenario. Este estudio propone analizar la percepción, acciones yperspectivas <strong>de</strong> los enfermeros(as) que actúan en la ESF buscando la promoción, protección y recuperación <strong>de</strong> la salud <strong>de</strong>esta población. Se trata <strong>de</strong> un estudio cualitativo cuyos datos fueron recogidos por medio <strong>de</strong> entrevistas s<strong>em</strong>iestructuradasa diecisiete enfermeras y analizados por la Técnica <strong>de</strong> Análisis <strong>de</strong> Contenido, en la Modalidad T<strong>em</strong>ática. Se i<strong>de</strong>ntificaroncuatro categorías: 1. Activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>sarrolladas en la Unidad <strong>de</strong> Salud <strong>de</strong> la Familia; 2. Percepción <strong>de</strong> los enfermeros sobrela población masculina <strong>de</strong>l área adscrita; 3. Formación <strong>de</strong> los enfermeros en la atención <strong>de</strong> la población masculina; 4.Perspectiva <strong>de</strong> cambio en el mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atención <strong>de</strong> la salud <strong>de</strong>l hombre. Los resultados revelaron la necesidad <strong>de</strong> unaintervención más amplia en la red básica <strong>de</strong> salud, en la cual la práctica <strong>de</strong> la educación en salud aparece como un caminointegrador <strong>de</strong>l cuidar con miras a asegurar los principios <strong>de</strong> equidad y universalidad <strong>de</strong>l SUS.Palabras clave: Masculino; Atención Primaria <strong>de</strong> la Salud; Promoción <strong>de</strong> la Salud; Educación en Salud; Enfermería.1Enfermeira. Aluna do Programa <strong>de</strong> Residência Multiprofissional <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva do Centro <strong>de</strong> Pesquisas Aggeu Magalhães (CPqAM), Fiocruz, Recife-PE.2Enfermeira(o). Egressos do curso <strong>de</strong> Bacharelado <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Nossa Senhora das Graças da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco(FENSG-UPE).3Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> comunitária pela UFC. Docente da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Nossa Senhoras das Graças da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Pernambuco (FENSG/UPE) e do Programa Associado <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> UPE/UEPB. Lí<strong>de</strong>r do Grupo <strong>de</strong> Estudos e Pesquisa <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> naPromoção à Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Populações Vulneráveis.4Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> Psiquiátrica pela EERP/USP. Docente e Coor<strong>de</strong>nadora do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> NossaSenhoras das Graças da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco (FENSG/UPE).En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Arnobio Marques, nº 310 – Santa Amaro – Recife- PE. CEP: 50100-130.324 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 324-332, jul./set., 2011


INTRODUÇÃONascido com a red<strong>em</strong>ocratização do Brasil e garantidopor políticas sociais e econômicas, o Sist<strong>em</strong>a Único<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) com<strong>em</strong>orou 20 anos <strong>de</strong> existência <strong>em</strong>2008. As teses <strong>de</strong>fendidas na VIII Conferência Nacional<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> e consagradas na Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> 1988privilegiaram a formulação <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>com base nas transformações do perfil d<strong>em</strong>ográfico eepid<strong>em</strong>iológico da população. 1 Nesse contexto, a saú<strong>de</strong>foi reconhecida como direito <strong>de</strong> todos e <strong>de</strong>ver do Estado,ao ser garantido o acesso universal e igualitário às açõese serviços para a promoção, a proteção e a recuperaçãoda saú<strong>de</strong>.Nos últimos anos, o Ministério da Saú<strong>de</strong> e as secretariasestaduais e municipais encontraram-se mobilizadospara estabelecer mecanismos capazes <strong>de</strong> assegurar aconcretização do SUS. 2 Assim, a Estratégia <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília (ESF) veio reorientar o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Atenção Básica,apresentando como núcleo <strong>de</strong> atenção as famílias,entendidas e abordadas no meio on<strong>de</strong> viv<strong>em</strong>. 3Apesar <strong>de</strong> todos os avanços conquistados ao longo<strong>de</strong> duas décadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>scentralização do setor saú<strong>de</strong>,o SUS encontra-se, ainda, <strong>em</strong> fase <strong>de</strong> organização,no qual <strong>de</strong>safios precisam ser superados para quefuncione eficient<strong>em</strong>ente, conforme os princípios ediretrizes estabelecidos. Um <strong>de</strong>sses <strong>de</strong>safios é a reduzidapresença dos usuários do sexo masculino nos serviços<strong>de</strong> atenção básica à saú<strong>de</strong>, a<strong>de</strong>ntrando o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> pela atenção ambulatorial e hospitalar <strong>de</strong> médiae alta complexida<strong>de</strong>, o que t<strong>em</strong> como consequência oaumento da sobrecarga financeira da socieda<strong>de</strong>, como diagnóstico mais tardio <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> comelevada incidência neste grupo populacional.Os efeitos do movimento <strong>de</strong> incluir o hom<strong>em</strong> no <strong>de</strong>batesobre saú<strong>de</strong> não se restring<strong>em</strong> à saú<strong>de</strong> masculina. Porconsequência, consegue ganhos para a saú<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina<strong>em</strong> t<strong>em</strong>as que só avançam à medida que se consegue aparticipação masculina <strong>em</strong> seu enfretamento. 4Com base na observação dos indicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>existentes <strong>em</strong> diferentes partes do mundo, observa-seuma situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>sfavorável para os homensque precisa ser consi<strong>de</strong>rada e enfrentada pelos serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. 5Em relação à reduzida presença dos usuários do sexomasculino nos serviços <strong>de</strong> atenção básica, muitas sãoas suposições. Um dos motivos para os homens nãoprocurar<strong>em</strong> as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família (USFs)seria porque elas não disponibilizam programasou ativida<strong>de</strong>s direcionadas especificamente para apopulação masculina. 6 A ausência dos homens ou suainvisibilida<strong>de</strong> nesses serviços é associada, também, auma característica da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> masculina relacionadaao seu processo <strong>de</strong> socialização. Nesse caso, a i<strong>de</strong>ntidad<strong>em</strong>asculina estaria associada à <strong>de</strong>svalorização doautocuidado e à preocupação incipiente com a saú<strong>de</strong>. 5Traduzindo um longo anseio da socieda<strong>de</strong> brasileira, oMinistério da Saú<strong>de</strong> apresentou, <strong>em</strong> agosto <strong>de</strong> 2008, aPolítica Nacional <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong>,na tentativa <strong>de</strong> alavancar uma mobilização inclusiva <strong>em</strong>saú<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>rando as questões <strong>de</strong> gênero. Essa políticat<strong>em</strong> como um <strong>de</strong> seus principais objetivos promoverações <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> que contribuam significativamente paraa compreensão da realida<strong>de</strong> singular masculina nos seusdiversos contextos socioculturais e político-econômicos,possibilitando o aumento da expectativa <strong>de</strong> vida e aredução dos índices <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong> por causaspreveníveis e evitáveis nessa população. 7Apesar da recente criação <strong>de</strong> uma política especificamentepreocupada com o primeiro nível <strong>de</strong> acesso e<strong>de</strong> contato da população masculina com o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> do nosso país, as ações dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>a esse grupo na Atenção Básica continuam pulverizadasnas políticas <strong>de</strong> enfermida<strong>de</strong>s.Nesse contexto, <strong>de</strong>stacamos o trabalho dos enfermeirosnas USFs à população masculina <strong>de</strong> sua área adscrita.Esses profissionais, como m<strong>em</strong>bros nas ESFs, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> sercapazes <strong>de</strong> perceber a multicausalida<strong>de</strong> do processosaú<strong>de</strong>/doença, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> planejar, organizare <strong>de</strong>senvolver ações individuais e coletivas com oshomens, enfatizando as ações <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>,mediante a articulação <strong>de</strong> saberes técnicos e popularese a mobilização <strong>de</strong> recursos institucionais e comunitários,públicos e privados para seu enfrentamento eresolução. 8Enfim, apesar <strong>de</strong> os agravos do sexo masculino constituír<strong>em</strong>verda<strong>de</strong>iros probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública,a realida<strong>de</strong> é que ainda são escassos os estudos epesquisas <strong>de</strong> caráter avaliativo abordando a t<strong>em</strong>áticarelacionada à atenção integral à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> nasUSFs, <strong>em</strong> contraposição à saú<strong>de</strong> da mulher, objeto <strong>de</strong>políticas públicas e <strong>de</strong> variadas investigações. Diante<strong>de</strong>ssa percepção, parece útil, para o avanço da reflexãono campo da saú<strong>de</strong> coletiva, trazer novos dados einformações voltadas para esse t<strong>em</strong>a.A proposta com este estudo é oferecer subsídios àorganização dos serviços <strong>de</strong>senvolvidos no âmbito daESF e ao planejamento <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong>que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> a população masculina. Nesse sentido,fundamentamos o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>ste estudonas seguintes questões norteadoras: Os enfermeirosestão sensibilizados e preparados para assistir<strong>em</strong> àpopulação masculina nas USFs? Quais as principaisdificulda<strong>de</strong>s encontradas pelos enfermeiros das USFspara <strong>de</strong>senvolver<strong>em</strong> ações <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> juntoaos usuários do sexo masculino?METODOLOGIAO <strong>de</strong>senho metodológico adotado neste estudo tevecaráter predominant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>scritivo e exploratório,utilizando-se a abordag<strong>em</strong> qualitativa. Enten<strong>de</strong>-seque, para apreen<strong>de</strong>r a atuação e as perspectivas dosenfermeiros que atuam nas USFs quanto à atençãoà saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>, é necessária tal abordag<strong>em</strong>,compreen<strong>de</strong>ndo a pesquisa qualitativa como aquelar<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 324-332, jul./set., 2011325


A atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>: ações e perspectivas dos enfermeiroscapaz <strong>de</strong> incorporar a questão do significado e a daintencionalida<strong>de</strong> como inerentes aos atos, às relações eàs estruturas sociais, estas últimas tomadas, tanto no seuadvento quanto na sua transformação, como construçãohumana significativa. 9A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> campo foi constituída por seis USFs pertencentesao Distrito Sanitário III da cida<strong>de</strong> do Recife-PE. A cida<strong>de</strong> possui 94 bairros, distribuídos <strong>em</strong> seisRegiões Político-Administrativas, que representam,no setor saú<strong>de</strong>, os Distritos Sanitários. O DistritoSanitário III, localizado na região noroeste da cida<strong>de</strong> doRecife, foi selecionado por se constituir, <strong>em</strong> sua integralida<strong>de</strong>,como campo <strong>de</strong> prática da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong>Pernambuco, e pela sua representativida<strong>de</strong>, visto queé o segundo <strong>em</strong> população resi<strong>de</strong>nte e o primeiro <strong>em</strong>extensão territorial. 10As USFs selecionadas foram: USF Alto do Eucalipto,USF Bruno Maia, USF Córrego da Bica, USF Córrego doJenipapo, USF Macaxeira/Burity e USF Vila Boa Vista. EssasUnida<strong>de</strong>s contêm, no mínimo, duas ESFs, permitindo-nosi<strong>de</strong>ntificar as abordagens dos profissionais enfermeirosquanto à saú<strong>de</strong> dos homens.A coleta <strong>de</strong> dados foi realizada <strong>em</strong> set<strong>em</strong>bro e outubro<strong>de</strong> 2009, após a aprovação pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong>Pesquisa da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pernambuco, com o CAAEnº 0160.0.097.000-09. Foram utilizadas a técnica <strong>de</strong>entrevista s<strong>em</strong>iestruturada e uma técnica lúdica, na qualfoi solicitado que as enfermeiras se expressass<strong>em</strong>, pormeio <strong>de</strong> um <strong>de</strong>senho <strong>em</strong> papel A4, como percebiam oshomens da comunida<strong>de</strong> <strong>em</strong> que atuam. Em seguida,elas registraram o significado do <strong>de</strong>senho elaborado. Opropósito com a associação das técnicas foi subsidiar umaapreensão mais aprofundada do objeto <strong>de</strong> estudo. 9Em relação aos critérios <strong>de</strong> inclusão dos sujeitos noestudo, foi estabelecido ser enfermeiro(a) <strong>de</strong> umadas seis USFs selecionadas para o <strong>de</strong>senvolvimentodo estudo e consentir <strong>em</strong> participar da pesquisamediantea assinatura do Termo <strong>de</strong> Consentimento Livree Esclarecido (TCLE), <strong>em</strong> cumprimento da Resolução nº196/96, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. 11Foi excluída da pesquisa apenas uma enfermeira, quese encontrava <strong>em</strong> licença-maternida<strong>de</strong> por ocasião dacoleta <strong>de</strong> dados.Com base nesses critérios, a amostra constituiu-se <strong>de</strong> 17enfermeiras. As entrevistas ocorreram individualmente,no horário <strong>de</strong> trabalho, sendo gravadas e, posteriormente,transcritas na íntegra com a autorização dos sujeitosparticipantes do estudo. Os nomes <strong>de</strong>les foramsubstituídos por uma apresentação aleatória, paraassegurar o sigilo da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos sujeitos envolvidos.Para a análise dos dados, foi utilizada a Técnica <strong>de</strong> Análise<strong>de</strong> Conteúdo, na Modalida<strong>de</strong> T<strong>em</strong>ática, que consiste<strong>em</strong> <strong>de</strong>scobrir os núcleos <strong>de</strong> sentido que compõ<strong>em</strong> acomunicação e cuja presença ou frequência <strong>de</strong> apariçãopo<strong>de</strong> significar alguma coisa para o objetivo analíticoescolhido. 12 Com essa técnica, po<strong>de</strong>-se caminhar,também, na direção da <strong>de</strong>scoberta do que está por trásdos conteúdos manifestos, indo além das aparências doque está sendo analisado. 13A trajetória da análise das entrevistas seguiu as seguintesetapas: a) compreensão geral dos <strong>de</strong>poimentos; b)i<strong>de</strong>ntificação das i<strong>de</strong>ias centrais (núcleos <strong>de</strong> sentido) dosmateriais analisados por questão; c) confronto entre osdiferentes núcleos <strong>de</strong> sentido presentes no corpus <strong>de</strong>análise para se buscar t<strong>em</strong>áticas mais amplas ou eixosestruturantes das falas; d) discussão dos resultados combase <strong>em</strong> t<strong>em</strong>áticas. 14Após a leitura sugestiva das entrevistas e a localização<strong>de</strong> trechos que respondiam às questões norteadoras,observamos os núcleos <strong>de</strong> sentido das falas, obtendo asseguintes categorias t<strong>em</strong>áticas: Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidasnas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família; Percepção dosenfermeiros quanto à população masculina da áreaadscrita; Formação dos enfermeiros na atenção àpopulação masculina; Perspectiva <strong>de</strong> mudança nomo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>.Descrev<strong>em</strong>os, a seguir, a apresentação e a discussãodos dados <strong>em</strong> duas etapas, sendo que a primeira <strong>de</strong>lascont<strong>em</strong>pla as informações referentes à caracterizaçãodos sujeitos da pesquisa e a segunda, a análise t<strong>em</strong>áticados <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong>sses sujeitos.Resultados e discussãoCaracterização dos sujeitos da pesquisaTodos os participantes do estudo pertenc<strong>em</strong> ao sexof<strong>em</strong>inino. O total predomínio das mulheres nas USFs seencontra veiculado a raízes históricas da enfermag<strong>em</strong>.Nesse caso, os homens sentiriam mais dificulda<strong>de</strong>spara ser atendidos, por consi<strong>de</strong>rar<strong>em</strong> as USFs como umespaço f<strong>em</strong>inilizado. Tal situação provocaria nos homensa sensação <strong>de</strong> não pertencimento àquele espaço. 5A faixa etária das enfermeiras pesquisadas variou <strong>de</strong> 22a 55 anos, sendo i<strong>de</strong>ntificado o predomínio entre 30 e49 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, faixa etária consi<strong>de</strong>rada experientee produtiva. Em relação ao t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> conclusão docurso <strong>de</strong> graduação <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>, verificou-seuma concentração <strong>de</strong> enfermeiras com mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>zanos <strong>de</strong> formadas. Esse fato é bastante importantese acreditarmos que esses profissionais graduadoshá mais t<strong>em</strong>po tenham tido contato com currículosmenos generalistas e com menor ênfase na promoção,prevenção e nas ações básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. O mercado<strong>de</strong> trabalho atual exige um profissional com visão maisabrangente e pronto para enfrentar os <strong>de</strong>safios dasocieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> constante transformação. 15Em relação à atuação profissional <strong>em</strong> USF, observou-seque 9 das 17 enfermeiras eram integrantes das equipeshá menos <strong>de</strong> cinco anos. Saliente-se a relevância dosprofissionais que estão na equipe há mais <strong>de</strong> cinco anos,pois proporcionam facilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contatos efetivoscom a comunida<strong>de</strong>, melhor conhecimento <strong>de</strong> suasnecessida<strong>de</strong>s e maior possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong>aos programas <strong>de</strong>senvolvidos nas unida<strong>de</strong>s. 16326 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 324-332, jul./set., 2011


Do total das enfermeiras, apenas três têm experiênciaexclusiva <strong>em</strong> USF, evi<strong>de</strong>nciando entre elas umai<strong>de</strong>ntificação com a atuação na Atenção Básica <strong>de</strong>s<strong>de</strong>a formação curricular. As d<strong>em</strong>ais apresentaram umavarieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências <strong>em</strong> outros níveis <strong>de</strong> atenção àsaú<strong>de</strong>, com predomínio da atenção terciária <strong>em</strong> diversasespecialida<strong>de</strong>s, como <strong>em</strong>ergência adulta e pediátrica,Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Terapia Intensiva (UTI), clínica cirúrgica,clínica médica, maternida<strong>de</strong>, neonatologia, além daocupação <strong>em</strong> cargos administrativos.As experiências <strong>em</strong> níveis que não sejam a AtençãoBásica pod<strong>em</strong> constituir um el<strong>em</strong>ento propulsorao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho profissional do enfermeiro, comcompetência para articular seus conhecimentos naatenção à saú<strong>de</strong> das famílias da sua área adscrita,na perspectiva da integralida<strong>de</strong> da atenção. Emcontrapartida, essas experiências pod<strong>em</strong> exercer umaação limitante ao <strong>de</strong>finir uma atuação profissional comvisão hospitalocêntrica. Essa visão moldada ao mo<strong>de</strong>lobiomédico, com enfoque na atenção à doença e <strong>em</strong>ações puramente curativas, compreen<strong>de</strong> a essência dafragmentação da atenção à saú<strong>de</strong>.Entre as participantes do estudo, evi<strong>de</strong>nciou-se quenenhuma possui capacitação/especialização voltadapara atenção à saú<strong>de</strong> dos homens. Não se <strong>de</strong>ve consi<strong>de</strong>rartoda a competência <strong>de</strong> um profissional no fato <strong>de</strong> terrealizado curso <strong>de</strong> especialização/ capacitação, porémessa formação v<strong>em</strong> se mostrando importante, como umaoportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação permanente, contribuindo<strong>de</strong> forma positiva para a prática profissional. 16Categoria I – Ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas nasUnida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da FamíliaAo questionarmos sobre as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidaspelas profissionais enfermeiras nas USFs, foram relatadasações preestabelecidas pela ESF, como saú<strong>de</strong> da criança,do adolescente, da mulher e do idoso. São ex<strong>em</strong>plos apuericultura, a coleta <strong>de</strong> citologia oncótica e tratamentodas afecções ginecológicas por meio da abordag<strong>em</strong>sindrômica, pré-natal <strong>de</strong> baixo risco, imunizações,planejamento familiar, tratamento <strong>de</strong> hanseníase etuberculose, reuniões administrativas, <strong>de</strong>ntre outras.Um fato interessante é a falta ou pouca iniciativa <strong>em</strong><strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s que perpass<strong>em</strong> as normaspragmáticas do projeto inicial do Programa <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> daFamília (PSF), visando, assim, à adaptação dos usuáriosàs novas necessida<strong>de</strong>s da atualida<strong>de</strong>. Entretanto, valeressaltar a atuação educativa <strong>de</strong> uma enfermeira quecriou um grupo com perspectiva inovadora, compostopor usuários com sobrepeso e obesida<strong>de</strong> para trabalharas comorbida<strong>de</strong>s associadas e a reeducação alimentar.Perceb<strong>em</strong>os que após mais <strong>de</strong> uma década <strong>de</strong>implantação do PSF, gran<strong>de</strong> parcela das enfermeirasainda direciona a sua prática <strong>em</strong> prol da patologia,conforme d<strong>em</strong>onstra a fala abaixo:Nós realizamos o tratamento ao hipertenso e aodiabético, que é o Hiperdia. (E11)Observa-se a forte influência do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>(curativo), que se distancia dos probl<strong>em</strong>as específicosdos grupos inseridos na comunida<strong>de</strong>, dificultando,assim, a efetivação dos princípios da ESF.Outra ativida<strong>de</strong> bastante citada pelas enfermeirasfoi o acolhimento, porém foram evi<strong>de</strong>nciadas visõesdiferentes a respeito <strong>de</strong>ssa proposta:T<strong>em</strong>os uma ativida<strong>de</strong> aqui na unida<strong>de</strong> que é oacolhimento, ou seja, d<strong>em</strong>anda espontânea. [...] Omeu papel é apenas agendar consultas porque oacolhimento é mais para r<strong>em</strong>arcação <strong>de</strong> consultamédica. (E15)A d<strong>em</strong>anda dos homens aumentou bastante por contado acolhimento que faz<strong>em</strong>os no posto, obe<strong>de</strong>cendo ànova proposta do Ministério da Saú<strong>de</strong>. (E3)Analisando a primeira fala, constatamos que essaprofissional <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> ainda não t<strong>em</strong> claras <strong>em</strong>sua mente as ações da proposta do acolhimento. Já nasegunda fala, observamos que o acolhimento, quandoestabelece uma mudança na postura ou atitu<strong>de</strong> doprofissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> diante do usuário e <strong>de</strong> suasnecessida<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong> configurar-se como um estímuloà maior a<strong>de</strong>são dos usuários masculinos às ativida<strong>de</strong>snas USFs, além <strong>de</strong> contribuir para o fortalecimento dovínculo profissional-usuário, uma vez que possibilitaa interação mútua na compreensão do indivíduo <strong>em</strong>sua complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> física e mental, aliada àscondições <strong>de</strong> inserção na socieda<strong>de</strong>.A proposta <strong>de</strong> acolhimento pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>significa um novo modo <strong>de</strong> operar os processos <strong>de</strong>trabalho <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong> forma a aten<strong>de</strong>r a todos queprocuram os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ouvindo-lhes ospedidos e assumindo no serviço uma postura capaz <strong>de</strong>acolher, escutar e pactuar respostas mais a<strong>de</strong>quadasaos usuários. Assim, o acolhimento po<strong>de</strong>ria ampliaro universo <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> intervenções dosprofissionais no que diz respeito ao atendimento dasnecessida<strong>de</strong>s dos usuários, caminhando <strong>em</strong> direção aum novo “fazer” <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. 17Como estratégia <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a práxis <strong>de</strong>educação popular <strong>em</strong>pregada por todas as profissionaisdo estudo é, <strong>em</strong> geral, a formação <strong>de</strong> grupos comvariadas abordagens, focalizando, principalmente,idosos, adolescentes e gestantes, como se verifica nasfalas a seguir:Trabalhamos com grupos <strong>de</strong> adolescentes e idosos,através <strong>de</strong> palestras e com t<strong>em</strong>as variados <strong>de</strong> interesse<strong>de</strong>sses grupos. (E1)Nós utilizamos uma abordag<strong>em</strong> participativa. Elesdiz<strong>em</strong> suas necessida<strong>de</strong>s e dificulda<strong>de</strong>s e procuramosajudá-los, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. (E2)Destacamos na primeira fala a prática educativatradicional realizada por meio <strong>de</strong> palestras. Nessaperspectiva, aquele que <strong>de</strong>tém o saber fala e os d<strong>em</strong>aisescutam silenciosamente, não oferecendo mudançasr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 324-332, jul./set., 2011327


A atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>: ações e perspectivas dos enfermeirosefetivas <strong>de</strong> comportamento. Às vezes, é permitida umapergunta ou outra, mas a realida<strong>de</strong> local e pessoal nãoé levada <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração. Na abordag<strong>em</strong> participativa,não há uma imposição <strong>de</strong> informes a repassar aosusuários; todos participam ativamente e dialogamsobre os t<strong>em</strong>as abordados. Nessa relação educativadialógica, a produção do conhecimento torna-secoletiva, provocando uma modificação mútua, porqueambos – educador e educando – são portadores <strong>de</strong>conhecimentos distintos.Com base nas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas na USF, umaenfermeira criou o seguinte <strong>de</strong>senho (FIG.1):auto<strong>de</strong>terminação e in<strong>de</strong>pendência e constitui umaferramenta importante para a promoção da saú<strong>de</strong> eexercício da cidadania, favorecendo o <strong>de</strong>spertar <strong>de</strong>sujeitos autônomos que possam ultrapassar os limites<strong>de</strong> meros espectadores e constituír<strong>em</strong>-se atores sociaisno cenário da educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>.Categoria II – Percepção dos enfermeiros quanto àpopulação masculina da área adscritaEm relação à percepção da população masculina <strong>de</strong>sua área adscrita, a maioria das enfermeiras percebeque os homens procuram pouco a USF, dificultando oreconhecimento das principais necessida<strong>de</strong>s, <strong>em</strong> termos<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, da população masculina <strong>de</strong> sua área adscrita,como verificamos nas falas a seguir:A população masculina frequenta pouco a USF; só v<strong>em</strong>quando já estão com algum probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Parapromoção da saú<strong>de</strong> é muito raro a sua vinda. (E5)FIGURA 1 – Representação das ativida<strong>de</strong>s da USF naqual a enfermeira atua (E6)Essa enfermeira fez a seguinte <strong>de</strong>scrição do <strong>de</strong>senho:Essa é a USF. Nós da Unida<strong>de</strong> estamos entrando nomundo dos homens através do grupo que formamos.(E6).Nessa perspectiva, o trabalho <strong>em</strong> grupo com os homensfaz-se importante, pelo estabelecimento <strong>de</strong> vínculosafetivos entre profissionais/educadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> eusuários, mediante a produção <strong>de</strong> saberes, visandoestabelecer maior aproximação entre as necessida<strong>de</strong>sda população masculina e a organização das práticas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> das unida<strong>de</strong>s básicas.Entre as USFs participantes, apenas uma disponibilizavaativida<strong>de</strong>s específicas para a população masculina daárea adscrita. As enfermeiras <strong>de</strong>ssa Unida<strong>de</strong> trabalham ogrupo como uma alternativa para aten<strong>de</strong>r os usuários, nabusca <strong>de</strong> atingir uma abordag<strong>em</strong> i<strong>de</strong>almente propostapara essa parcela da população, s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> seu contextofamiliar e social.São realizadas ativida<strong>de</strong>s educativas <strong>em</strong> grupo comos homens [...]. O grupo é s<strong>em</strong>anal e t<strong>em</strong>os tido umaboa frequência [...]. Houve um caso <strong>de</strong> um <strong>de</strong>les, queera alcoolista e agora não está mais no vício, estátrabalhando. (E5)Hoje <strong>em</strong> dia o grupo dos homens é muito mais voltadopara a perspectiva <strong>de</strong>les como sujeitos sociais <strong>de</strong>ntroda comunida<strong>de</strong> e on<strong>de</strong> está o hom<strong>em</strong> na saú<strong>de</strong> diante<strong>de</strong>sse contexto. [...] Há reuniões que eu não falo nada,porque eles têm sua dinâmica própria. (E7)A atenção realizada <strong>em</strong> grupos, pautada pela participaçãoativa <strong>de</strong> seus integrantes, facilita o <strong>de</strong>senvolvimento daQuase não tenho contato com a população masculinada minha área. As maiores informações que tenhosobre os homens vêm das mulheres da comunida<strong>de</strong>,dos agentes comunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e da médica daequipe. (E9)Os indicadores epid<strong>em</strong>iológicos são alarmantes: ataxa <strong>de</strong> mor talida<strong>de</strong> dos homens é 15 vezes maiorentre os 20 e 29 anos. As principais causas <strong>de</strong> morteentre homens <strong>de</strong> 15 a 59 anos são violência ou causasexternas, doenças do aparelho circulatório, tumores,doenças mal<strong>de</strong>finidas, doenças do aparelho digestivo edoenças do apare lho respiratório, segundo o Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>Informações sobre Mortalida<strong>de</strong>. Muitas <strong>de</strong>ssas mortespo<strong>de</strong>riam ser evitadas, não fosse a resistência masculina<strong>em</strong> procurar os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. 19Na enfermag<strong>em</strong>, a ação educativa t<strong>em</strong> um papelpolítico-pedagógico <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance, dado o po<strong>de</strong>rmultiplicador que cada um dos trabalhadores daenfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve assumir no <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho das práticas<strong>de</strong> cuidado. Para assumir esse papel implícito no ato <strong>de</strong>cuidar, os enfermeiros <strong>de</strong>v<strong>em</strong> fazer uma análise crítica<strong>de</strong> sua própria formação acadêmica, i<strong>de</strong>ntificando aslacunas <strong>de</strong> conteúdo filosófico, sociopolítico, históricoe antropológico. 18O profissional <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve conhecer<strong>de</strong>talhadamente a realida<strong>de</strong> das famílias que moram<strong>em</strong> sua área <strong>de</strong> abrangência, incluindo seus aspectosfísicos e mentais, d<strong>em</strong>ográficos e sociais, para planejar,organizar e <strong>de</strong>senvolver ações individuais e coletivas.Com base no conhecimento do perfil <strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>dos homens <strong>em</strong> cada contexto que as USFs estãoinseridas, os serviços <strong>de</strong>v<strong>em</strong> construir as estratégiasassistenciais para cont<strong>em</strong>plar as diferentes necessida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dos homens, <strong>de</strong> modo a garantir os princípiosda equida<strong>de</strong> e universalida<strong>de</strong> do SUS.Muitas das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apontadas pelasenfermeiras não se manifestam como um probl<strong>em</strong>a328 r<strong>em</strong>E – Rev. 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imediato, mas como algo evitável, na qual as USFspod<strong>em</strong> intervir com ações preventivas e <strong>de</strong> promoçãoà saú<strong>de</strong>:Eu vejo muito a questão das infecções sexualmentetransmissíveis, da <strong>de</strong>pendência química: tabagismo,etilismo, drogas [...] Os homens da comunida<strong>de</strong> sãoociosos, pela questão do <strong>de</strong>s<strong>em</strong>prego ou sub<strong>em</strong>pregoe a mortalida<strong>de</strong> por causas externas é alta nessapopulação. (E4)Eu imagino que a principal necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses homensseriam ativida<strong>de</strong>s voltadas para a promoção da saú<strong>de</strong>[...]. Eles precisam ter ações <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> nosentido da redução <strong>de</strong> danos. (E12)Os homens compõ<strong>em</strong> a parcela da população qu<strong>em</strong>ais consome álcool e outras drogas. Os serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> rejeitar medidas punitivas, restritivas ouculpabilizantes. Dev<strong>em</strong> ser implantadas estratégias quepossam reduzir os danos que o uso <strong>de</strong> drogas po<strong>de</strong>causar a essas pessoas, garantindo-lhes os princípios dacidadania e dos direitos humanos, à luz das discussõessobre gênero e masculinida<strong>de</strong>s. 20Nessa perspectiva, foi apresentado o seguinte <strong>de</strong>senhopor uma enfermeira (FIG. 2):FIGURA 2 – Representação da percepção daenfermeira quanto aos usuários masculinos dacomunida<strong>de</strong> na qual ela atua (E12).A explicação do <strong>de</strong>senho elaborado por essa enfermeirafoi a seguinte:Nós profissionais estamos <strong>de</strong>ntro da USF [...] Os homensestão fora da unida<strong>de</strong>: um hom<strong>em</strong> com um revólver namão e outro com uma garrafa <strong>de</strong> bebida e um cigarro.(E12)No cenário percebido nessa imag<strong>em</strong>, é reforçada amagnitu<strong>de</strong> da ociosida<strong>de</strong>, da violência e do alcoolismona população masculina. Esses agravos são <strong>de</strong>correntes<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as socioeconômicos predominantesnas periferias das gran<strong>de</strong>s cida<strong>de</strong>s, marcadas pelaexclusão social. Essa realida<strong>de</strong> adversa é b<strong>em</strong> peculiar,concorrendo para o comprometimento da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssapopulação. 1Categoria III – Formação dos enfermeiros naatenção à população masculinaQuando questionadas sobre sentir<strong>em</strong>-se preparadasou não para aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s da populaçãomasculina, as participantes do estudo, <strong>em</strong> sua maioria,respon<strong>de</strong>ram que não. Os principais motivos pod<strong>em</strong> serevi<strong>de</strong>nciados nas seguintes falas:Eu não tenho a base <strong>de</strong> conhecimento para trabalharcom eles. (E6).Não tenho experiência <strong>de</strong> trabalho com homens. (E8).Uma das enfermeiras, no entanto, afirmou estar preparada,mas s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar as necessida<strong>de</strong>s específicas doshomens, como se observa na fala abaixo:Preparada tecnicamente estou e por amadurecimentotambém [...]. Na área <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, paciente não t<strong>em</strong>sexo. A gente t<strong>em</strong> que oferecer assistência à saú<strong>de</strong>in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte se for hom<strong>em</strong>, mulher, criança. (E9)A principal dificulda<strong>de</strong> começa na própria faculda<strong>de</strong>,que não nos prepara para trabalhar com os homensna perspectiva da atenção básica. (E7)As falas evi<strong>de</strong>nciam o <strong>de</strong>spreparo por parte dosenfermeiros na abordag<strong>em</strong> aos homens, atreladoà formação curricular <strong>de</strong> graduação com enfoqueinsuficiente para a saú<strong>de</strong> masculina na faixa etáriaadulta, contribuindo para que os homens se sintammenos aceitos naquele espaço com o qual já não sei<strong>de</strong>ntificam.Constata-se que as Diretrizes Curriculares Nacionais <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>terminam que os conteúdos a ser<strong>em</strong>ministrados estejam relacionados com o processosaú<strong>de</strong>-doença do cidadão, da família e da comunida<strong>de</strong>,contextualizados à realida<strong>de</strong> epid<strong>em</strong>iológica eprofissional. Desse modo, as gra<strong>de</strong>s curriculares do cursonão po<strong>de</strong>riam privilegiar apenas a saú<strong>de</strong> das crianças,das mulheres e dos idosos.O enfermeiro, como educador, necessita <strong>de</strong> formaçãoteórica e <strong>de</strong> práticas que <strong>de</strong>senvolvam sua visãocrítica e inovadora para que possa aplicar da melhorforma os conhecimentos adquiridos <strong>de</strong> acordo com asnecessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong>.Todas as enfermeiras pertencentes ao estudo perceberama importância <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com osexo masculino. Elas reconhec<strong>em</strong> que o hom<strong>em</strong> é umser humano com direitos a ser<strong>em</strong> recebidos, acolhidose atendidos com qualida<strong>de</strong> na USF, por meio <strong>de</strong> açõesvoltadas para promoção, a prevenção e a reabilitaçãoda saú<strong>de</strong>.Quanto às principais dificulda<strong>de</strong>s para promover ainserção dos homens nas ativida<strong>de</strong>s da USF, <strong>de</strong>stacamosas seguintes falas:Falta um espaço e ativida<strong>de</strong>s específicas para oshomens na Unida<strong>de</strong> e, como também, o horário <strong>de</strong>r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 324-332, jul./set., 2011329


A atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>: ações e perspectivas dos enfermeirosfuncionamento da Unida<strong>de</strong> coinci<strong>de</strong> muitas vezes como do seu trabalho. (E1)A dificulda<strong>de</strong> parte da questão cultural. O própriohom<strong>em</strong> acha que não adoece; eles são resistentes <strong>em</strong>procurar a USF. (E17)A utilização <strong>de</strong> outros espaços na comunida<strong>de</strong> para arealização das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> requera mobilização dos profissionais e das famílias <strong>de</strong> modoque a limitação do espaço físico da USF não se configurecomo um <strong>em</strong>pecilho ao <strong>de</strong>senvolvimento das açõeseducativas.O horário <strong>de</strong> funcionamento da USF é entendido pelasenfermeiras como uma dificulda<strong>de</strong> para a a<strong>de</strong>são doshomens às ativida<strong>de</strong>s rotineiras na Atenção Básica.Entretanto, estudos mostram que não há aumento dafrequência masculina <strong>em</strong> estados com unida<strong>de</strong>s queoferec<strong>em</strong> horário <strong>de</strong> atendimento ampliado, enquantoas mulheres trabalhadoras consegu<strong>em</strong> ir às unida<strong>de</strong>sse cuidar. 19Uma possível explicação dos homens para a não a<strong>de</strong>sãoàs práticas <strong>de</strong> promoção e prevenção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estáassociada à construção da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> masculina e aoprocesso <strong>de</strong> socialização do hom<strong>em</strong>. Isso porque elespart<strong>em</strong> da i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que doença sugere fraqueza e quefragilida<strong>de</strong> é sinônimo <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>.A noção <strong>de</strong> invulnerabilida<strong>de</strong> do i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> masculinida<strong>de</strong>e a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mostrar in<strong>de</strong>pendência faz<strong>em</strong> comque os homens evit<strong>em</strong> a busca por ajuda e não percebamalguns <strong>de</strong> seus comportamentos como fatores <strong>de</strong> risco asaú<strong>de</strong>. 21 A compreensão <strong>de</strong>ssas barreiras socioculturais éimportante para a proposição estratégica <strong>de</strong> medidas, afim <strong>de</strong> resguardar a prevenção e a promoção como eixosnecessários e fundamentais <strong>de</strong> intervenção.Nessa perspectiva, uma enfermeira apresentou(FIG. 3):representa passivida<strong>de</strong>, pois fica esperando que ohom<strong>em</strong> se <strong>de</strong>sloque até a USF à procura dos serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Para mudar a realida<strong>de</strong> local, o enfermeironecessita ser capaz <strong>de</strong> articular os conhecimentostécnico-científicos <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>sevi<strong>de</strong>nciadas na realida<strong>de</strong> sociopolítica e cultural <strong>em</strong> quea comunida<strong>de</strong> se encontra inserida, exercendo o papel<strong>de</strong> agente <strong>de</strong> mobilização e transformação. 22Categoria IV – Perspectiva <strong>de</strong> mudança no mo<strong>de</strong>lo<strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>Ao consi<strong>de</strong>rar que a ESF traz no centro <strong>de</strong> sua propostaa expectativa relativa à reorientação do mo<strong>de</strong>loassistencial com fundamento na Atenção Básica, po<strong>de</strong>secompreen<strong>de</strong>r que as enfermeiras entrevistadasapresentam perspectivas <strong>de</strong> mudanças no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>atenção à saú<strong>de</strong> dos homens, como evi<strong>de</strong>nciado nasfalas abaixo:Eu acredito que irá melhorar! Antes n<strong>em</strong> se falava nessapopulação <strong>em</strong> relação à promoção da saú<strong>de</strong>. Agora oshomens estão mais informados e, com certeza, vão lutarpelos seus direitos. (E5)Foi muito bom o Ministério da Saú<strong>de</strong> ter criado a Política<strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong> do Hom<strong>em</strong>. [...] Isso já me <strong>de</strong>ixaotimista. (E11)Hoje, os homens são multiplicadores <strong>de</strong> doença, mas nofuturo po<strong>de</strong>rão ser multiplicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. (E7)Na perspectiva <strong>de</strong> um atendimento integral à saú<strong>de</strong>dos homens, a promoção da saú<strong>de</strong> aparece como umadas estratégias mais promissoras para enfrentar osmúltiplos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, como se observana representação abaixo (FIG. 4):FIGURA 3 – Representação da percepção da enfermeiraquanto às possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inclusão do usuáriomasculino nas ações <strong>de</strong> promoção à saú<strong>de</strong> (E8)A explicação do <strong>de</strong>senho elaborado por essa enfermeirafoi a seguinte:O hom<strong>em</strong> está aqui longe da Unida<strong>de</strong>. Aqui t<strong>em</strong>os umaescadinha, um caminho, e aqui a unida<strong>de</strong> distante <strong>de</strong>le.Eu estou aqui na porta esperando por ele. (E8)O hom<strong>em</strong> é visto como um ser humano gran<strong>de</strong> edistante, e a enfermeira ocupa uma posição queFIGURA 4 – Representação da perspectiva <strong>de</strong> mudançano mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> (E15)Essa enfermeira fez a seguinte <strong>de</strong>scrição do <strong>de</strong>senho:Aqui v<strong>em</strong>os o hom<strong>em</strong> antes <strong>de</strong> entrar na USF: ele estátriste, doente [...] Após as ações <strong>de</strong> promoção e prevençãoda saú<strong>de</strong> na unida<strong>de</strong> ele fica feliz, saudável. (E15)Para tanto, é necessário que se impl<strong>em</strong>ent<strong>em</strong> mudançasna forma <strong>de</strong> organizar e operacionar esses serviçospor meio <strong>de</strong> ações pautadas pela vigilância <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>.Além disso, merece ser <strong>de</strong>stacado, nas proposições330 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 324-332, jul./set., 2011


das enfermeiras entrevistadas, o longo caminho a serpercorrido para superar o atual quadro da atenção àsaú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> no âmbito da ESF:Eu acho que é uma longa caminhada ainda. [...] Estámuito longe para se consolidar a saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> comoestá consolidada a saú<strong>de</strong> da mulher e da criança. (E7)Acho que dará certo a atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>,mas vai d<strong>em</strong>orar. É um futuro que ainda está distante.Tantas outras questões que a gente tinha dificulda<strong>de</strong> econseguimos superar, como a redução da mortalida<strong>de</strong>infantil e materna. Se houver um conjunto <strong>de</strong> açõesvoltadas para esse t<strong>em</strong>a, acontecerão mudanças.(E16)Visando caminhar na perspectiva <strong>de</strong> superação <strong>de</strong>ssasdificulda<strong>de</strong>s, para que os usuários do sexo masculinotenham maior a<strong>de</strong>são aos serviços oferecidos pela USF,observa-se que os profissionais compreend<strong>em</strong> comoprincipal proposta o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> práticaseducativas mediante a formação <strong>de</strong> grupos, conformese constata nas seguintes falas:A minha proposta seria a formação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong>homens. A gente está tentando formar esse grupo.Como t<strong>em</strong> muito hom<strong>em</strong> ocioso na comunida<strong>de</strong>, aproposta inicial é começar com jogo <strong>de</strong> dominó, futebol,fazendo campeonato entre eles para vê se a gente puxaos homens para Unida<strong>de</strong>. (E1)A formação <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> homens seria o pontapéinicial para a impl<strong>em</strong>entação da Política Nacional <strong>de</strong>Atenção à Saú<strong>de</strong> dos Homens. (E2)É um trabalho difícil, é um trabalho <strong>de</strong> ‘formiguinha’,mas o que no futuro fará a diferença é a educação <strong>em</strong>saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância. (E17)A realização das ações educativas no cenário <strong>de</strong> trabalhov<strong>em</strong> requerer dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> uma i<strong>de</strong>ntificaçãodos grupos com os quais têm maior afinida<strong>de</strong>. A <strong>de</strong>finiçãodos grupos contribuirá na execução do processo educativocomo resultado da atuação <strong>de</strong> ambos como sujeitos naleitura e construção do conhecimento, consi<strong>de</strong>randoque, quanto maior a aproximação entre o profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>/educador e os usuários/educandos, maior ahabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o educador para compartilhar as estratégiaseducativas significativas para cada grupo. 1Essa experiência po<strong>de</strong> ensejar apropriação <strong>de</strong>conhecimentos necessários na realização <strong>de</strong> outraspropostas inovadoras e criativas para atuar <strong>em</strong> educação<strong>em</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> distintos grupos. 1A educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> constitui um espaço <strong>de</strong> reflexãoação,fundado <strong>em</strong> saberes técnico-científicos epopulares, culturalmente significativos para o exercíciod<strong>em</strong>ocrático, capaz <strong>de</strong> provocar mudanças individuaise prontidão para atuar na família e na comunida<strong>de</strong>,interferindo no controle e na impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticaspúblicas, contribuindo para a transformação social. 23Na fala dos sujeitos na perspectiva <strong>de</strong> um atendimentointegral à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>, visando à promoção dasaú<strong>de</strong>, a concretização das mudanças vai além daspossibilida<strong>de</strong>s dos profissionais da saú<strong>de</strong>:Acho que ter<strong>em</strong>os que trabalhar com esse grupo forado horário regular <strong>de</strong> trabalho, mobilizando outrossetores da socieda<strong>de</strong>, associações <strong>de</strong> moradores, algunstimes <strong>de</strong> futebol, fazendo interações com outros grupossociais da comunida<strong>de</strong> para trabalhar as questões <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> nos homens. (E4)Já que o Ministério da Saú<strong>de</strong> está trabalhando essat<strong>em</strong>ática, vai ser mais fácil inserir esses homens porquet<strong>em</strong> toda uma mídia envolvida. [...] Precisa trabalhar namídia que o hom<strong>em</strong> também precisa cuidar da saú<strong>de</strong>,que ele também adoece. (E16)A Saú<strong>de</strong> do Trabalhador po<strong>de</strong>ria ser um foco <strong>de</strong> interessenas ações das USFs [...], estabelecendo um feedback,referenciando esses homens às USFs. (E13)Para facilitar o acesso e a a<strong>de</strong>são dos 40 milhões <strong>de</strong>homens com ida<strong>de</strong> entre 25 e 59 anos à re<strong>de</strong> da atençãobásica do SUS, é preciso <strong>de</strong>spertar outros setores dasocieda<strong>de</strong>, o que requer iniciativa, vonta<strong>de</strong> política,conscientização dos atores e ruptura com paradigmassocioculturais.Evi<strong>de</strong>ncia-se, assim, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> social <strong>de</strong>responsabilização mediante a articulação e a mobilização<strong>de</strong> setores governamentais, não governamentais,entida<strong>de</strong>s civis e da população <strong>em</strong> geral, <strong>em</strong> resposta ànecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma intervenção mais ampda sobre aatenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong> na re<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.CONSIDERAÇÕES FINAISA socieda<strong>de</strong> brasileira, principalmente a realida<strong>de</strong>cultural nor<strong>de</strong>stina, é marcada pela i<strong>de</strong>alização da figuramasculina como el<strong>em</strong>ento controlador, que impõerespeito e, até <strong>em</strong> alguns casos, t<strong>em</strong>or no seio familiar. Ohom<strong>em</strong> ocupa, no imaginário popular, uma posição <strong>de</strong>po<strong>de</strong>r e superiorida<strong>de</strong> sobre a figura f<strong>em</strong>inina, cabendoa esta o cuidado com a família e a casa.A preocupação <strong>em</strong> buscar acesso aos serviços einformações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> modo preventivo constituiuma atitu<strong>de</strong> contraditória ao símbolo <strong>de</strong> superiorida<strong>de</strong>e virilida<strong>de</strong> que a imag<strong>em</strong> do hom<strong>em</strong> representa,tornando-o susceptível a riscos <strong>de</strong> agravos que po<strong>de</strong>riamser evitados. Atuar nesse cenário é o <strong>de</strong>safio que secoloca aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> especial aos <strong>de</strong> AtençãoBásica, dado o nível <strong>de</strong> compromisso e responsabilida<strong>de</strong>esperado dos profissionais que compõ<strong>em</strong> as equipes <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> da família.Ao analisar as falas das enfermeiras quanto às suasações e perspectivas à saú<strong>de</strong> dos homens, foi possíveli<strong>de</strong>ntificar quatro categorias t<strong>em</strong>áticas: “Ativida<strong>de</strong>s<strong>de</strong>senvolvidas nas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família”;“Percepção dos enfermeiros quanto à populaçãomasculina da área adscrita”; “Formação dos enfermeirosna atenção à população masculina” e “Perspectiva d<strong>em</strong>udança no mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>”.r<strong>em</strong>E – Rev. 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A atenção à saú<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong>: ações e perspectivas dos enfermeirosCom base na análise <strong>de</strong> tais categorias, percebe-se quepara atuar com essa parcela da população é necessáriauma mobilização para impactar situações <strong>de</strong> reflexõese até quebra <strong>de</strong> “velhos paradigmas” que tend<strong>em</strong> arestringir a a<strong>de</strong>são do usuário masculino <strong>em</strong> participarativamente nas discussões das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>e <strong>de</strong>finição das priorida<strong>de</strong>s a enfrentar.Os resultados do estudo revelam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma intervenção mais ampla sobre a atenção à saú<strong>de</strong>do hom<strong>em</strong> na re<strong>de</strong> básica, visando à promoção,prevenção, cura e reabilitação das condições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Nesse contexto, constata-se que para atuar com essaparcela da população faz-se necessário um fazer técnicoimbuído <strong>de</strong> valores, sentimentos, criativida<strong>de</strong>, <strong>em</strong>oção ecomprometimento com a transformação da realida<strong>de</strong>.O reconhecimento dos fatores <strong>de</strong> ord<strong>em</strong> biopsicossocial,econômica e cultural que envolv<strong>em</strong> os seres humanos,consi<strong>de</strong>rando as diversida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>lineadas pelas questões<strong>de</strong> gênero, constitui um saber necessário ao enfermeiro.Esse saber permite o estabelecimento <strong>de</strong> estratégiasinclusivas e prioritárias na promoção à saú<strong>de</strong>, visandoaumentar a visibilida<strong>de</strong> das necessida<strong>de</strong>s específicas dapopulação masculina mediante ações mais efetivas parao cuidado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.O enfrentamento do quadro epid<strong>em</strong>iológico dos probl<strong>em</strong>as<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública que acomet<strong>em</strong> o contingent<strong>em</strong>asculino requer do enfermeiro que atua na atençãobásica um fazer ousado e inovador na valorização do saberpopular e na <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> potencialida<strong>de</strong>s condutorasda evolução humana e profissional.Nessa trajetória, é preciso consi<strong>de</strong>rar a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> ações integradas para envolver oshomens no contexto da saú<strong>de</strong>. Para tanto, é essencialo estabelecimento <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> parceria entreos profissionais que integram as equipes <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dafamília e os usuários do sexo masculino para propiciarações que promovam saú<strong>de</strong> para o hom<strong>em</strong> e para suacomunida<strong>de</strong>.REFERÊNCIAS1. Minayo MCS. Os 20 anos do SUS e os avanços na vigilância e na proteção à saú<strong>de</strong>. Epid<strong>em</strong>iol Serv Saú<strong>de</strong>. 2008 <strong>de</strong>z; 17(4):245-6.2. Monteiro EMLM, Vieira NFC. (Re) construção <strong>de</strong> ações <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> a partir <strong>de</strong> círculos <strong>de</strong> cultura: experiência participativa comenfermeiras do PSF do Recife- PE. Recife: EDUPE; 2008.3. Sousa MF. O Programa Saú<strong>de</strong> da Família: uma visão nacional. 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FATORES ASSOCIADOS À HIPERTENSÃO ARTERIAL EM POPULAÇÕES RURAISFACTORS ASSOCIATED WITH ARTERIAL HYPERTENSION IN RURAL POPULATIONSFACTORES ASOCIADOS A LA HIPERTENSIÓN EN POBLACIONES RURALESFernanda Penido Matozinhos 1Larissa Loures Men<strong>de</strong>s 2Andréa Gazzinelli Corrêa <strong>de</strong> Oliveira 3Gustavo Velásquez-Melén<strong>de</strong>z 4RESUMOA hipertensão arterial é reconhecida como um importante probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, e sua prevalência associa-se adiversos fatores <strong>de</strong> risco. O objetivo com este estudo foi verificar as associações entre excesso <strong>de</strong> peso, hiperinsulin<strong>em</strong>iae hipertensão arterial. Realizou-se um estudo epid<strong>em</strong>iológico <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento transversal <strong>em</strong> Virg<strong>em</strong> das Graçase Caju, comunida<strong>de</strong>s rurais localizadas no Vale do Jequitinhonha. A amostra foi composta por 567 adultos <strong>de</strong>ambos os sexos, com ida<strong>de</strong> entre 18 e 94 anos. A coleta <strong>de</strong> dados incluiu variáveis d<strong>em</strong>ográficas <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida,antropométricas, bioquímicas e h<strong>em</strong>odinâmicas. Utilizou-se a análise multivariada para testar as associações entreas variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e a hipertensão arterial. Observou-se que ida<strong>de</strong>, triglicerí<strong>de</strong>os, circunferência da cintura,hiperinsulin<strong>em</strong>ia e sexo estiveram in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente associados com a hipertensão. Os achados fornec<strong>em</strong> evidênciasimportantes <strong>de</strong> que a hipertensão é um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública na população rural estudada.Palavras-chave: Hipertensão; Hiperinsulin<strong>em</strong>ia; População Rural; Epid<strong>em</strong>iologia; Estilo <strong>de</strong> Vida.ABSTRACTArterial hypertension is recognized as a serious Public Health issue and its frequency is associated with several riskfactors. This study inten<strong>de</strong>d to i<strong>de</strong>ntify the links betweenoverweight, hyperinsulin<strong>em</strong>ia and arterial hypertension. An epid<strong>em</strong>iological and cross-sectional study was carriedout in Virg<strong>em</strong> das Graças and Caju, two rural communities located the Jequitinhonha Valley. The sample comprisedof 567 male and f<strong>em</strong>ale adults aged between 18 and 94 years old. Data collection consi<strong>de</strong>red d<strong>em</strong>ographic, lifestyle,anthropometric, bioch<strong>em</strong>ical and h<strong>em</strong>odynamic variables. Multivariate analysis was performed to exam the relationshipbetween the in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt variables and hypertension. Age, triglyceri<strong>de</strong>s level, waist circumference, hyperinsulin<strong>em</strong>iaand gen<strong>de</strong>r were in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntly associated with arterial hypertension. The results provi<strong>de</strong> significant evi<strong>de</strong>nce toarterial hypertension being a Public Health probl<strong>em</strong> in the rural population studied.Key words: Hypertension; Hyperinsulin<strong>em</strong>ia; Rural Population; Epid<strong>em</strong>iology; Lifestyle.RESUMENLa hipertensión arterial está reconocida como un probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> salud pública y su prevalencia está asociada a variosfactores <strong>de</strong> riesgo. El objetivo <strong>de</strong>l presente estudio fue verificar la asociación entre sobrepeso, hiperinsulin<strong>em</strong>ia ehipertensión arterial. Se trata <strong>de</strong> un estudio transversal realizado en las comunida<strong>de</strong>s rurales Virg<strong>em</strong> das Graças yCaju, localizadas en el Valle <strong>de</strong>l Jequitinhonha. La muestra estuvo compuesta <strong>de</strong> 567 adultos <strong>de</strong> ambos sexos entre18 y 94 años. La recogida <strong>de</strong> datos incluyó variables d<strong>em</strong>ográficas, <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida, bioquímicas y h<strong>em</strong>odinámicas.Para comprobar las asociaciones entre las variables in<strong>de</strong>pendientes y la hipertensión arterial se utilizó el análisismultivariado. Se observó que la edad, los triglicéridos, la circunferencia <strong>de</strong> cintura, la hiperinsulin<strong>em</strong>ia y el sexoestán significativamente vinculadas a la hipertensión arterial. Estos resultados son evi<strong>de</strong>ncias importantes <strong>de</strong> que lahipertensión es un probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> salud pública en las poblaciones rurales objeto <strong>de</strong> estudio.Palabras clave: Hipertensión; Hiperinsulin<strong>em</strong>ia; Población Rural; Epid<strong>em</strong>iología; Estilo <strong>de</strong> Vida.1Acadêmica <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>. Bolsista <strong>de</strong> iniciação científica da Fap<strong>em</strong>ig.2Nutricionista. Doutoranda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela <strong>UFMG</strong>.3Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP). Professora titular da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais (<strong>UFMG</strong>).4Doutor <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Pública pela USP. Professor titular da <strong>UFMG</strong>.En<strong>de</strong>reço para correspondência – <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Av. Alfredo Balena, 190 – Belo Horizonte-MG, Brasil. CEP:30130-100. E-mail: guv<strong>em</strong>e@ufmg.br.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 333-340, jul./set., 2011333


Fatores associados à hipertensão arterial <strong>em</strong> populações ruraisINTRODUÇÃOA hipertensão arterial é, atualmente, um importanteprobl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. 1,2 Estima-se que, no Brasil,a prevalência para a população com mais <strong>de</strong> 20 anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong> seja <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 20% a 30% e para as pessoas quetêm mais 40 anos, 35%. 3 A prevalência da hipertensãoestá associada a uma série <strong>de</strong> fatores, como ida<strong>de</strong>, sexo,antece<strong>de</strong>ntes familiares, raça, obesida<strong>de</strong>, estresse, vidase<strong>de</strong>ntária, álcool, tabaco, alimentação rica <strong>em</strong> sódio egorduras. 4Estudos d<strong>em</strong>onstram que existe uma relação direta entrea hipertensão e o excesso <strong>de</strong> peso, <strong>de</strong> forma que o risco<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> hipertensão arterial aumentacom o ganho <strong>de</strong> peso e diminui com a redução do índice<strong>de</strong> massa corporal. 5 Além disso, o aumento da gorduracorpórea resulta <strong>em</strong> aumento pela d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> insulina,tendo como consequência a hiperinsulin<strong>em</strong>ia. 6A hiperinsulin<strong>em</strong>ia po<strong>de</strong> causar hipertensão pordiferentes mecanismos. A insulina estimula o sist<strong>em</strong>anervoso simpático, causando vasoconstrição e aumentono débito cardíaco. A insulina retém sódio/água nostúbulos renais distais, contribuindo para expansão <strong>de</strong>volume. Além disso, também estimula a proliferaçãoda musculatura lisa da pare<strong>de</strong> arterial. Estima-se queaproximadamente 50% dos pacientes hipertensosapresent<strong>em</strong> hiperinsulin<strong>em</strong>ia. 7A hipótese <strong>de</strong> que a obesida<strong>de</strong> contribuiria para aelevação da pressão arterial dada a diminuição dasensibilida<strong>de</strong> periférica à insulina e hiperinsulin<strong>em</strong>iacompensatória também está sendo d<strong>em</strong>onstrada <strong>em</strong>alguns estudos, pois, quando presente, a obesida<strong>de</strong>contribui para a ocorrência da HA, sendo consi<strong>de</strong>radaum dos seus principais fatores <strong>de</strong> risco. 8,9Diante do exposto, estudos que vis<strong>em</strong> avaliar arelação entre o excesso <strong>de</strong> peso, a hiperinsulin<strong>em</strong>ia e ahipertensão arterial <strong>em</strong> áreas rurais se faz<strong>em</strong> necessários,uma vez que no Brasil são poucos os trabalhos realizadosnas áreas rurais sobre tais associações.MATERIAL E MÉTODOTrata-se <strong>de</strong> um estudo epid<strong>em</strong>iológico <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamentotransversal, realizado <strong>em</strong> Virg<strong>em</strong> das Graças e Caju,duas comunida<strong>de</strong>s rurais localizadas no Vale doJequitinhonha, nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Minas Gerais.A população-alvo <strong>de</strong>ste estudo constituiu-se <strong>de</strong>indivíduos com ida<strong>de</strong> maior ou igual a 18 anos, <strong>de</strong> ambosos sexos, e com, pelo menos, dois anos <strong>de</strong> residênciano local. A população resi<strong>de</strong>nte nessas comunida<strong>de</strong>sera constituída por 272 famílias, totalizando 1.216indivíduos.Desse total <strong>de</strong> indivíduos, 522 eram menores <strong>de</strong> 18 anos,restando 694 indivíduos para o estudo. Entre esses,houve perda <strong>de</strong> 100 indivíduos (14,4%), reduzindo aamostra para 594 (85,6% do total <strong>de</strong> indivíduos adultoscadastrados inicialmente), porque 47 não se encontravamno local na época da coleta, 33 mudaram-se para outraslocalida<strong>de</strong>s e 20 não permitiram a coleta dos dados. Aamostra total, portanto, foi <strong>de</strong> 594 indivíduos adultos,<strong>de</strong>ntre os quais foram excluídos, ainda, 8 pacientesdiabéticos e 9 mulheres grávidas. Com isso, a amostrafinal para este estudo se constituiu <strong>de</strong> 567 pessoas coma ida<strong>de</strong> entre 18 e 94 anos.A coleta <strong>de</strong> dados incluiu variáveis h<strong>em</strong>odinâmicas,antropométricas, bioquímicas, d<strong>em</strong>ográficas – taiscomo ida<strong>de</strong>, cor da pele, estado marital e escolarida<strong>de</strong>– e <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida – tabagismo e consumo <strong>de</strong> bebidaalcoólica. Os participantes do estudo respon<strong>de</strong>ram a umquestionário com perguntas relativas às duas últimasvariáveis e, ao término da entrevista, foi realizado umexame clínico que consistia na aferição <strong>de</strong> medidasantropométricas e clínico-laboratoriais.O peso foi aferido por meio <strong>de</strong> uma balança digital comaproximação <strong>de</strong> 0,1 kg, com os participantes trajadoscom roupas leves e s<strong>em</strong> sapatos. A altura foi mensuradacom uma fita métrica inextensível, colocada <strong>em</strong> umapare<strong>de</strong> s<strong>em</strong> rodapé a uma distância <strong>de</strong> 50 centímetros dochão, com aproximação <strong>de</strong> 0,1 cm. Os indivíduos foramposicionados <strong>de</strong> pé, <strong>de</strong>scalços, olhando para frente, <strong>em</strong>posição <strong>de</strong> Frankfurt – arco orbital inferior alinhado <strong>em</strong>um plano horizontal com o pavilhão auricular –, com ospés juntos. A circunferência da cintura (CC) foi medidacom uma fita métrica inelástica, posicionando-a noponto médio entre a última costela e a parte superior dacrista ilíaca. A circunferência do quadril foi mensurada nolocal <strong>de</strong> maior pro<strong>em</strong>inência da região glútea.A medição da pressão arterial foi realizada seguindotodos os passos preconizados no VI Relatório da JointNational Committee (JNC) 10 e também citados nas IVDiretrizes Brasileiras <strong>de</strong> Hipertensão Arterial (SBH), 11que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> a forma correta <strong>de</strong> aferição indireta <strong>de</strong>sseparâmetro diagnóstico. Foram realizadas três aferições,todas no braço direito, sendo a média das três a <strong>de</strong>finitiva.Os examinadores foram treinados sist<strong>em</strong>aticamenteantes da realização das aferições. Foram consi<strong>de</strong>radoshipertensos os indivíduos com pressão arterial sistólica≥ 140 mmHg e/ou pressão arterial diastólica ≥ 90 mmHge/ou <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> medicação anti-hipertensiva.Amostras <strong>de</strong> sangue, <strong>de</strong> aproximadamente 5 ml, foramobtidas por meio <strong>de</strong> punção venosa com o paciente<strong>em</strong> jejum <strong>de</strong> 12 horas. As concentrações do colesteroltotal, triglicéri<strong>de</strong>s e glicose foram <strong>de</strong>terminadasusando um teste enzimático colorimétrico utilizando oanalisador Cobas Mira Plus (Roche Diagnostics, Suíça).A concentração da lipoproteína <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> –HDL-c – também foi medida por um teste enzimáticocolorimétrico, após precipitação das frações LDL-c eVLDL-c pelo ácido fosfotungstico e cloreto <strong>de</strong> magnésio.Níveis <strong>de</strong> LDL-c foram calculados por aplicação da equação<strong>de</strong> Friedwald. 12 A glic<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> jejum foi caracterizada<strong>de</strong> acordo com as recomendações da AmericanDiabetes Association 13 e os níveis <strong>de</strong> triglicéri<strong>de</strong>s,colesterol total, HDL-c e LDL-c foram classificadas <strong>de</strong>acordo com critérios da III Diretrizes Brasileiras sobreDislipid<strong>em</strong>ias e Diretriz <strong>de</strong> Prevenção da Aterosclerose. 14As concentrações <strong>de</strong> PCR <strong>de</strong> alta sensibilida<strong>de</strong> e insulina334 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 333-347, jul./set., 2011


foram <strong>de</strong>terminadas por um método imunométrico <strong>em</strong>fase sólida quimioluminescente usando o analisadorImmulite 2000 (EURO/DPC Ltda., Reino Unido). Para PCRe insulin<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> jejum, consi<strong>de</strong>raram-se elevados osvalores, <strong>de</strong>ssas variáveis, categorizados, no 4º quartil dadistribuição e normais os valores no 1º, 2º e 3º quartis. Ovalor do 4º quartil da insulina para a população estudadafoi <strong>de</strong> 5,06 µU/ml e o da PCR foi <strong>de</strong> 0,41 mg/dl.A resistência à insulina foi avaliada pelo métodoHomeostasis Mo<strong>de</strong>l Assessment (HOMA-IR) 15 , combase na seguinte equação: HOMA-IR = insulin<strong>em</strong>ia<strong>de</strong> jejum (mU/L) x glic<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> jejum (mmol/L) ÷ 22,5.Foram consi<strong>de</strong>radas resistentes à insulina as pessoascom valores <strong>de</strong> HOMA-IR no 4° quartil. Como não háconsenso <strong>em</strong> relação a um valor <strong>de</strong> corte estabelecidocomo referência para classificar os resultados do índiceHOMA-IR, para essas comunida<strong>de</strong>s, foram consi<strong>de</strong>radasresistentes à insulina as pessoas com os valores <strong>de</strong>HOMA-IR no 4° quartil da distribuição <strong>de</strong>ssa variável,sendo que o valor <strong>de</strong> corte do quarto quartil <strong>de</strong>ssapopulação foi <strong>de</strong> 1,13. Assim, as pessoas com valoresno 1°, 2° e 3° quartis foram consi<strong>de</strong>radas normais; s<strong>em</strong>alterações na RI; e pessoas com valores no 4° quartil,como resistentes à ação da insulina.Os dados foram processados e analisados por meio doprograma Statistical Software for Professionals (Stata)versão 9.0 e, para efeito <strong>de</strong> interpretação, o limite <strong>de</strong>erro tipo I foi <strong>de</strong> até 5% (p≤0,05). Para a caracterizaçãoda amostra, foram apresentadas tabelas <strong>de</strong> frequênciae tabelas <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> tendência central e dispersãodas variáveis, segundo o sexo. As variáveis que nãoapresentavam distribuição simétrica foram <strong>de</strong>scritaspor meio da mediana (intervalo interquartílico) e as queapresentavam distribuição simétrica foram <strong>de</strong>scritaspor meio da média e do <strong>de</strong>svio-padrão. Para compararas diferenças entre as frequências, medianas e médias,foram utilizados os testes Qui-quadrado, Mann-whitneye Teste t-stu<strong>de</strong>nt, respectivamente.Para a estimativa das razões <strong>de</strong> prevalência (RP),foi utilizada a técnica <strong>de</strong> regressão <strong>de</strong> Poisson comvariâncias robustas. Na construção do mo<strong>de</strong>lo, utilizousea hipertensão arterial como variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte.Inicialmente; as variáveis que não mantinham significância<strong>em</strong> nível <strong>de</strong> p 60 59 20,6 64 22,8 123 21,7Cor <strong>de</strong> pele *Branca 51 17,8 87 31,0 138 24,3Não branca 235 82,2 194 69,0 429 75,7Estado maritalCom cônjuge 194 67,8 199 70,8 393 69,4S<strong>em</strong> cônjuge 92 32,1 82 29,3 174 30,6<strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong> (anos)0 112 39,2 94 33,5 206 36,31 a 4 115 40,2 113 40,2 228 40,2> 5 59 20,6 74 26,3 133 23,5Tabagismo**Sim 123 43,0 49 17,4 172 30,3Ex-fumante 67 23,4 25 8,9 92 16,2Não 96 33,6 207 73,7 303 53,4Consumo <strong>de</strong> álcool*Sim 100 35,0 34 12,1 134 24,0Não 186 65,0 247 87,9 433 76,0Nota: * p


Fatores associados à hipertensão arterial <strong>em</strong> populações ruraisA distribuição da população estudada segundo asvariáveis antropométricas e <strong>de</strong> composição corporal, <strong>de</strong>acordo com o sexo, é apresentada na TAB. 2.Segundo o IMC, 5,5% dos participantes foramclassificados como obesos e 17,4% apresentavamsobrepeso. Verificou-se, também, que 24,1% dosentrevistados apresentavam circunferência da cinturano nível 1 (risco elevado <strong>de</strong> complicações metabólicasassociadas à obesida<strong>de</strong>) e 25,2% no nível 2 (risco muitoelevado <strong>de</strong> complicações metabólicas associadas àobesida<strong>de</strong>).Em relação à RCQ, 47,8% dos participantes apresentavamesse parâmetro <strong>em</strong> níveis elevados, indicando riscoaumentado para doenças cardiovasculares.De modo geral, observou-se maior frequência <strong>de</strong>alterações antropométricas nas mulheres, quandocomparada às dos homens.TABELA 2 – Distribuição da população estudadasegundo a classificação das variáveis antropométricase <strong>de</strong> composição corporal, <strong>de</strong> acordo com o sexo.Virg<strong>em</strong> das Graças e Caju – 2005VariáveisIMC (kg/m 2 )**MasculinoSexoF<strong>em</strong>ininoTotaln % n % n %Baixo Peso 22 7,7 25 9,0 47 8,4Eutrófico 223 78,5 163 58,6 386 68,7Sobrepeso 33 11,6 65 23,4 98 17,4Obesida<strong>de</strong> 6 2,1 25 9,0 31 5,5CC (cm)**Normal 270 94,4 158 56,2 428 75,5Nível 1 11 3,8 57 20,3 68 12,0Nível 2 5 1,7 66 23,5 71 12,5RCQ*Normal 276 96,8 155 55,4 431 76,3Elevada 9 3,2 125 44,6 134 23,7Nota: * p 130 82 31,2 100 37,2 182 34,2HDL-c (mg/dl)*> 40 179 68,1 209 77,7 388 72,9< 40 84 31,9 60 22,3 144 27,1PCR (mg/dl)*< 4º Quartil 203 80,9 180 70,3 383 75,5≥ 4º Quartil 48 19,1 76 29,7 124 24,5Nota: * p


Na TAB. 5, é apresentada a distribuição dos indicadoresrelacionados ao metabolismo da glicose. Aproximadamente10% dos indivíduos apresentavam níveis altos <strong>de</strong> glicose,s<strong>em</strong> diferenças <strong>de</strong> distribuição entre os sexos.TABELA 5 – Características do metabolismo daglicose. Virg<strong>em</strong> das Graças e Caju – 2005VariáveisMasculinoSexoF<strong>em</strong>ininoTotaln % n % n %Glic<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>jejum (mg/dl)< 100 234 89,3 233 89,6 467 89,5> 100 28 10,7 27 10,4 55 10,5Insulina <strong>de</strong>jejum (µU/ml)*< 4º Quartil 209 85,3 168 65,1 377 75,0≥ 4º Quartil 36 14,7 90 34,9 126 25,0HOMA-IR*< 4º Quartil 204 85,0 165 66,8 369 75,8≥ 4º Quartil 36 15,0 82 33,2 118 24,2Nota: * p


Fatores associados à hipertensão arterial <strong>em</strong> populações ruraisDISCUSSÃONeste estudo, foram avaliados os possíveis preditorespara a hipertensão arterial <strong>em</strong> duas comunida<strong>de</strong>s doVale do Jequitinhonha-MG.Observou-se que o sexo masculino, a ida<strong>de</strong>, a razãocintura quadril elevada e os altos níveis <strong>de</strong> colesterol e <strong>de</strong>insulina <strong>de</strong> jejum permaneceram in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>enteassociados à hipertensão arterial.Analisando a ocorrência da hipertensão arterial segundoos sexos, foi observada maior prevalência dadoença entre indivíduos do sexo masculino. Resultados<strong>em</strong>elhante foi encontrado por Conceição et al. 16 , aod<strong>em</strong>onstrar que o sexo masculino foi associado commaior prevalência nas faixas <strong>de</strong> pré-hipertensão,hipertensão estágio 1 e hipertensão estágio 2, ao secomparar com a faixa normal. Outros autores revelaramque o risco <strong>de</strong> complicações <strong>de</strong> hipertensão arterial,<strong>em</strong> geral, é maior <strong>em</strong> homens do que <strong>em</strong> mulheres, 17e estudos, como o <strong>de</strong> Sarno et al. 18 , mostram que,entre homens, o po<strong>de</strong>r explicativo sobre a ocorrência<strong>de</strong> hipertensão arterial é maior para o IMC, quandocomparado à circunferência da cintura.A ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> inúmeros estudos populacionais, 16,19-22verificou-se, nesta investigação, que a prevalênciada hipertensão arterial aumentou diretamente coma ida<strong>de</strong> e essa relação não se alterou após a anális<strong>em</strong>ultivariada. O aumento da pressão arterial <strong>em</strong>ida<strong>de</strong>s mais avançadas está associado à diminuiçãoda complacência das artérias. 23 Além disso, estudosrevelam que o envelhecimento ocasiona a diminuiçãoda taxa metabólica basal, provocando menor gastoenergético e predisposição às obesida<strong>de</strong>s global eabdominal. 24Resultados consolidados por meio <strong>de</strong> estudoslongitudinais d<strong>em</strong>onstram relação entre o aumento dotecido adiposo e outros fatores <strong>de</strong> risco para doençascardiovasculares, 25 como a hiperinsulin<strong>em</strong>ia: o ganho<strong>de</strong> peso foi correlacionado positivamente com oaumento dos níveis plasmáticos <strong>de</strong> insulina. 26 Em outrosachados importantes <strong>de</strong>ste trabalho, mostrou-se quea obesida<strong>de</strong> abdominal, avaliada pela RCQ, foi maisfrequente nas mulheres que nos homens (44,6% versus3,2%). Em estudo populacional transversal realizado <strong>em</strong>Porto Alegre, constatou-se que a hipertensão arterialfoi associada à RCQ nas mulheres. 27 Os níveis <strong>de</strong> RCQforam significativamente associados com a hipertensãoarterial pela análise multivariada, sendo que pessoascom RCQ elevada apresentam a prevalência <strong>de</strong> 1,42 vez<strong>de</strong> ser<strong>em</strong> hipertensas quando comparadas com pessoas<strong>de</strong> peso normal. A RCQ é utilizada <strong>em</strong> diversos estudoscomo medida <strong>de</strong> adiposida<strong>de</strong> abdominal, os quaisd<strong>em</strong>onstram que tal razão está associada a fatores <strong>de</strong>risco cardiovascular. 28-31Neste estudo, a hipercolesterol<strong>em</strong>ia também seassociou à hipertensão arterial, dado o risco <strong>de</strong> eventoscardiovasculares. 11,29Outra variável associada à hipertensão arterial naanálise multivariada foi a insulina <strong>de</strong> jejum: observouseque pessoas com altos níveis <strong>de</strong> insulina <strong>de</strong>jejum apresentaram razão <strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> 1,25<strong>em</strong> relação às pessoas com níveis a<strong>de</strong>quados. Sãodiversos os estudos sobre hipertensão arterial ehiperinsulin<strong>em</strong>ia: no estudo realizado por Eversonet al., 32 a hiperinsulin<strong>em</strong>ia foi consi<strong>de</strong>rada um valorpreditivo para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> hipertensãoarterial e, segundo Schaan et al., 33 os indivíduos comalgum grau <strong>de</strong> anormalida<strong>de</strong> na homeostase glicêmicaapresentaram maior prevalência <strong>de</strong> HAS. Algunsautores suger<strong>em</strong>, ainda, que a hiperinsulin<strong>em</strong>ia provocaaumento da ativida<strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a nervoso simpático eda reabsorção tubular <strong>de</strong> sódio, o que po<strong>de</strong> contribuirpara o aumento da pressão arterial. 34,35Algumas limitações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas para esteestudo, <strong>de</strong>ntre elas o fato <strong>de</strong> não ter sido utilizadauma população com comprovada representativida<strong>de</strong>da população rural brasileira, o que po<strong>de</strong> restringir avalida<strong>de</strong> dos resultados. Além disso, por se tratar <strong>de</strong>um estudo <strong>de</strong> <strong>de</strong>lineamento transversal, não é possívelafirmar que as associações encontradas afirm<strong>em</strong>causalida<strong>de</strong>, pois não é possível i<strong>de</strong>ntificar a precedênciat<strong>em</strong>poral entre a exposição e o <strong>de</strong>sfecho.Todos os resultados <strong>de</strong>ste estudo revelam que a hipertensãoarterial v<strong>em</strong> se transformando progressivamente <strong>em</strong>um dos mais graves probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, daía necessida<strong>de</strong> e a importância da adoção <strong>de</strong> medidaspreventivas e <strong>de</strong> tratamento e controle para diminuir osníveis tensoriais elevados e, consequent<strong>em</strong>ente, os riscosligados às doenças cardiovasculares.CONCLUSÃONeste estudo, 42,9% da população estudada erahipertensa, 24,2% eram resistentes à insulina e 35,5%apresentavam níveis <strong>de</strong> colesterol total elevados. Oexcesso <strong>de</strong> peso e a obesida<strong>de</strong> também foram frequentes(17,4% sobrepeso e 5,5% obesida<strong>de</strong>).Pela análise multivariada, observou-se que, para osindivíduos adultos e resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> áreas rurais, os fatoresassociados à hipertensão arterial foram os altos níveis <strong>de</strong>insulina <strong>de</strong> jejum e <strong>de</strong> colesterol, a razão cintura quadrilelevada, o aumento da ida<strong>de</strong> e o sexo masculino.As associações supracitadas suger<strong>em</strong> que os distúrbiosdo metabolismo dos lipídios e da glicose estãofort<strong>em</strong>ente associados à hipertensão arterial e que esse éum probl<strong>em</strong>a prevalente na população estudada. Dessaforma, políticas <strong>de</strong> prevenção e controle <strong>de</strong>v<strong>em</strong> serimpl<strong>em</strong>entadas, visando alterar o perfil aqui <strong>de</strong>scrito.338 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 333-347, jul./set., 2011


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Fatores associados à hipertensão arterial <strong>em</strong> populações rurais34. Reaven GM, Lithell H, Landsberg L. Hypertension and associated metabolic abnormalities – The role of insulin resistance and thesympathoadrenal syst<strong>em</strong>. N Engl J Med. 1996; 334: 374-81.35. Moan A, Nordby G, Rostrup M, Ei<strong>de</strong> I, Kjeldsen SE. Insulin sensitivity, sympathetic activity, and cardiovascular reactivity in young men. AmJ Hupertensn. 1995; 8:268-75.Data <strong>de</strong> submissão: 16/10/2009Data <strong>de</strong> aprovação: 16/6/2011340 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 333-347, jul./set., 2011


CONSULTA DE ENFERMAGEM NA PERCEPÇÃO DOS PORTADORES DEHIPERTENSÃO ATENDIDOS NA ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIAHYPERTENSIVE PATIENTS’S PERCEPTION ON NURSE VISITING THROUGH THE FAMILY HEALTHPROGRAMCONSULTA DE ENFERMERÍA SEGÚN LA PERCEPCIÓN DE LOS PORTADORES DE HIPERTENSIÓNATENDIDOS EN LA ESTRATEGIA SALUD DE LA FAMILIAAnthonia Katilianna Maciel <strong>de</strong> Carvalho 1Rita Neuma Dantas Cavalcante <strong>de</strong> Abreu 2Thereza Maria Magalhães Moreira 3Maria Albertina Rocha Diógenes 4A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> Amorim Cavalcante <strong>de</strong> Abreu 5Ana Célia Caetano <strong>de</strong> Souza 6Célida Juliana <strong>de</strong> Oliveira 7RESUMOO enfermeiro, como integrante da equipe do Programa Saú<strong>de</strong> da Família (PSF), <strong>de</strong>senvolve importante papel noacompanhamento da pessoa com hipertensão. Neste estudo, o objetivo foi <strong>de</strong>screver a percepção dos clientes comhipertensão arterial (HA) sobre a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva, qualitativa, realizada <strong>em</strong>uma unida<strong>de</strong> da Estratégia Saú<strong>de</strong> da Família <strong>em</strong> Fortaleza-CE. Participaram da pesquisa 13 pessoas portadoras <strong>de</strong> há,acompanhadas nas consultas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Nas categorias apresentadas, as pessoas relataram que os enfermeirosfaz<strong>em</strong> o seguimento do tratamento farmacológico dos que já possuíam prescrição médica prévia. Os clientes tambéml<strong>em</strong>braram que os enfermeiros orientam sobre a importância das modificações no estilo <strong>de</strong> vida para o controle dahipertensão arterial, solicitam exames, faz<strong>em</strong> a aferição da pressão arterial, <strong>de</strong>ntre outros aspectos.Palavras-chave: Enfermag<strong>em</strong>; Hipertensão; Percepção do Paciente.ABSTRACTThe nurse as a m<strong>em</strong>ber of the Family Health Program (FHP) team plays an important role in monitoring hypertensivepatients. This study aims to <strong>de</strong>scribe the hypertensive patient’s perception on nursing consultation. This is a <strong>de</strong>scriptiveand qualitative research carried out at a Family Health Program unit in Fortaleza-Ceará. Thirteen hypertensive individualsparticipated in the study. In the given categories, the patients reported that the nurses performed the pharmacologicaltreatment follow up on those patients that already had a medical prescription. The clients pointed out that, amongstother tasks, the nurses advised on the importance of lifestyle changes for the control of arterial hypertension, requeste<strong>de</strong>xaminations, and measured the blood pressure levels.Key words: Nursing; Hypertension; Patients’ Perception.RESUMENLa enfermera, en tanto que mi<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>l equipo <strong>de</strong>l Programa Salud <strong>de</strong> la Familia (PSF), <strong>de</strong>sarrolla un papel importanteen la supervisión <strong>de</strong> la persona con hipertensión. El estudio tiene como objetivo <strong>de</strong>scribir la percepción <strong>de</strong> los clientescon hipertensión arterial (HA) sobre la consulta <strong>de</strong> enfermería. Se trata <strong>de</strong> una investigación <strong>de</strong>scriptiva, cualitativa,realizada en una unidad <strong>de</strong> Estrategia Salud <strong>de</strong> la Familia en Fortaleza, Ceará. Participaron <strong>de</strong> la investigación 13personas portadoras <strong>de</strong> HA con seguimiento en las consultas <strong>de</strong> enfermería. En las categorías presentadas, laspersonas relataron que los enfermeros efectúan el seguimiento <strong>de</strong>l tratamiento farmacológico <strong>de</strong> los que ya poseíanprescripción médica previa. Los clientes también recordaron que los enfermeros orientan sobre la importancia <strong>de</strong> lasmodificaciones en el estilo <strong>de</strong> vida para controlar la hipertensión arterial; ad<strong>em</strong>ás, solicitan pruebas y mi<strong>de</strong>n la presiónarterial, entre otros.Palabras clave: Enfermería; Hipertensión; Percepción <strong>de</strong>l Paciente.1Enfermeira. Discente da Especialização <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> da Família da Universida<strong>de</strong> Estadual do Ceará (UECE).2Enfermeira do Instituto Dr. José Frota (IJF). Doutoranda <strong>em</strong> Biotecnologia da Re<strong>de</strong> Nor<strong>de</strong>ste <strong>de</strong> Biotecnologia (RENORBIO). Mestre <strong>em</strong> Cuidados Clínicos <strong>em</strong>Saú<strong>de</strong>. Docente do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza (UNIFOR). E-mail: rita_neuma@yahoo.com.br.3Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Pesquisadora do CNPq. Docente do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> e do Mestrado <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Pública pela UECE.E-mail: tmmmoreira@yahoo.com.4Enfermeira da Secretaria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Ceará. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente da UNIFOR.5Acadêmica <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Fortaleza (UNIFOR). Estagiária do Hospital São Mateus – Fortaleza-CE.6Enfermeira da Prefeitura Municipal <strong>de</strong> Fortaleza e do Hospital Universitário Walter Cantí<strong>de</strong>o. Mestre <strong>em</strong> Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> pela UECE. E-mail;anaceliacs@terra.com.br.7Doutoranda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará (UFC). Bolsista da FUNCAP. Mestre <strong>em</strong> Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> pela UECE. E-mail:celidajuliana@yahoo.com.br.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Luiz Tibúrcio, nº 105, Mucuripe – Fortaleza-CE. CEP: 60175551.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 341-347, jul./set., 2011341


Consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> na percepção dos portadores <strong>de</strong> hipertensão atendidos na Estratégia Saú<strong>de</strong> da FamíliaINTRODUÇÃOA hipertensão arterial sistêmica é um probl<strong>em</strong>a grave<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública tanto no Brasil como no mundo.é um dos mais importantes fatores <strong>de</strong> risco parao <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> doenças cardiovasculares,cerebrovasculares e renais, sendo responsável por,pelo menos, 40% das mortes por aci<strong>de</strong>nte vascularcerebral (AVC), 25% das doenças coronarianas e,<strong>em</strong> combinação com o diabetes, 50% dos casos <strong>de</strong>insuficiência renal terminal. 1As doenças cardiovasculares são responsáveis por 18milhões <strong>de</strong> mortes ao ano no mundo, sendo as doençasisquêmicas do coração e as doenças cerebrovascularesresponsáveis por dois terços <strong>de</strong>sses óbitos e por,aproximadamente, 22% dos 55 milhões <strong>de</strong> óbitos portodas as causas. 2 No Brasil, <strong>em</strong> 2003, 27,4% dos óbitosforam <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> doenças cardiovasculares, sendoesse percentual elevado para 37%, quando excluídosos óbitos por causas mal<strong>de</strong>finidas e violência. Cabe<strong>de</strong>stacar que o aci<strong>de</strong>nte vascular cerebral é a principalcausa <strong>de</strong> morte <strong>em</strong> todas as regiões brasileiras. 3Segundo dados da Secretaria Estadual do Ceará (SESA),as doenças do aparelho circulatório representam aprimeira causa <strong>de</strong> morte no Estado, sendo a doençahipertensiva a responsável pela maioria dos óbitos. 4Dado o aumento significativo da morbimortalida<strong>de</strong>relacionada às doenças cardiovasculares, houve porparte do Ministério da Saú<strong>de</strong> (MS) a preocupação <strong>em</strong>lançar programas voltados para uma atenção especialà hipertensão, enfocando a Atenção Básica. Põe-se<strong>em</strong> <strong>de</strong>staque na Atenção Básica, o Programa Saú<strong>de</strong> daFamília (PSF), espaço prioritário e privilegiado <strong>de</strong> Atençãoà Saú<strong>de</strong> que atua com equipe multiprofissional. 1É válido acrescentar que cerca <strong>de</strong> 60% a 80% doscasos registrados <strong>de</strong> hipertensão arterial pod<strong>em</strong> sertratados na re<strong>de</strong> básica, o que comprova a importânciae a necessida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>senvolvimento da equip<strong>em</strong>ultiprofissional que atua nesse serviço. 5O PSF, no Brasil, é minimamente composto por umaequipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que é formada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong> suaimplantação por um enfermeiro, um médico, um auxiliar<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e quatro a seis agentes comunitários <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, e cada profissional possui suas responsabilida<strong>de</strong>senriquecedoras no controle e prevenção da hipertensãoarterial. A partir do ano 2000, foram incluídas as equipes<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> bucal. 1O enfermeiro, como integrante da equipe do PSF,<strong>de</strong>senvolve importante papel no acompanhamento dapessoa com hipertensão. As atribuições e competênciasdo enfermeiro são: capacitar os auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>e os agentes comunitários e supervisionar, <strong>de</strong> formapermanente, suas ativida<strong>de</strong>s; realizar consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>; <strong>de</strong>senvolver ativida<strong>de</strong>s educativas<strong>de</strong> promoção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; estabelecer com a equipeestratégias que possam favorecer a a<strong>de</strong>são e encaminharclientes para consulta médica. 1,5 Das ativida<strong>de</strong>s citadas, aconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> merece <strong>de</strong>staque por favorecera relação profissional-cliente.A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, entendida como umametodologia do processo <strong>de</strong> cuidar, envolve as fases <strong>de</strong>levantamento <strong>de</strong> dados, diagnóstico <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,planejamento, impl<strong>em</strong>entação e avaliação da assistênciaprestada – essas fases são contínuas e inter-relacionadas. 6Na consulta ao cliente com hipertensão, o enfermeiro<strong>de</strong>verá realizar a aferição da pressão arterial (PA); verificara altura, o peso, a circunferência da cintura e do quadril;calcular o índice <strong>de</strong> massa corporal; investigar sobrefatores <strong>de</strong> risco e hábitos <strong>de</strong> vida; orientar sobre a doença,uso regular <strong>de</strong> medicamentos prescritos e sobre hábitos<strong>de</strong> vida pessoais e familiares; solicitar exames mínimosestabelecidos nos consensos e repetir a medicação <strong>de</strong>indivíduos controlados e s<strong>em</strong> intercorrências. 1,3,5O acompanhamento das pessoas acometidas pelahipertensão arterial <strong>em</strong> consultas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong><strong>de</strong>spertou nosso interesse <strong>em</strong> conhecer como osclientes perceb<strong>em</strong> esse tipo <strong>de</strong> atendimento. Portanto,<strong>de</strong>cidimos realizar este estudo visando respon<strong>de</strong>r aosseguintes questionamentos: Qu<strong>em</strong> são as pessoascom hipertensão acompanhadas nas consultas <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>? Como estas pessoas perceb<strong>em</strong> a consultafeita pelo enfermeiro?O estudo é relevante, consi<strong>de</strong>rando o alto percentual<strong>de</strong> pessoas com hipertensão na população brasileira <strong>em</strong>undial e a participação do enfermeiro na EstratégiaSaú<strong>de</strong> da Família, favorecendo o controle da doença, aprevenção <strong>de</strong> sequelas e complicações. Assim, objetivamos<strong>de</strong>screver a percepção dos clientes hipertensos sobre aconsulta realizada pelo enfermeiro.A t<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> estudo foi enfocada durante nossaparticipação no Grupo <strong>de</strong> Pesquisa “Políticas, Saberese Práticas <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Coletiva da Universida<strong>de</strong> Estadualdo Ceará (UECE)”, constituindo, assim objeto <strong>de</strong> estudodos autores. 7-10METODOLOGIAEstudo do tipo <strong>de</strong>scritivo, <strong>de</strong> natureza qualitativa,realizado <strong>em</strong> um Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Família pertencenteà Regional V do município <strong>de</strong> Fortaleza-CE, localizadano bairro Genibaú. A referida instituição foi fundada<strong>em</strong> 1984. Atualmente, essa instituição pública aten<strong>de</strong>aos seguintes programas: prevenção do câncer docolo do útero e <strong>de</strong>tecção precoce do câncer <strong>de</strong> mama,pré-natal, planejamento familiar, visita domiciliar,odontologia, puericultura, hanseníase e tuberculose,diabetes e hipertensão, além do programa nacional<strong>de</strong> imunização. O Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> é composto <strong>de</strong> seisequipes da Estratégia Saú<strong>de</strong> da Família e funcionanos três turnos, manhã, tar<strong>de</strong> e noite, sendo que oúltimo turno funciona até as 21 horas. O programa<strong>de</strong> atenção aos portadores <strong>de</strong> diabetes e hipertensãofunciona com o acompanhamento <strong>de</strong>sses clientes <strong>em</strong>consulta periódica pelo enfermeiro e pelo médico <strong>de</strong>cada equipe.342 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 341-340, jul./set., 2011


A população do estudo foi constituída por pessoashipertensas, po<strong>de</strong>ndo também ser portadorasou não <strong>de</strong> diabetes mellitus tipo 2, <strong>de</strong> ambos ossexos, acompanhadas pelos enfermeiros das seisequipes da Estratégia Saú<strong>de</strong> da Família. A seleção daamostra foi por conveniência, tendo como critérios<strong>de</strong> inclusão aceitar participar voluntariamente doestudo e estar cadastrado no programa <strong>de</strong> diabetese hipertensão. Assim, 13 mulheres participaram <strong>de</strong>steestudo e, inicialmente, todas assinaram o Termo <strong>de</strong>Consentimento informado.Para a coleta <strong>de</strong> dados, utilizamos um roteiro estruturadocom perguntas abertas e fechadas, divididas <strong>em</strong> duaspartes, consi<strong>de</strong>rando as variáveis sociod<strong>em</strong>ográficas:ida<strong>de</strong>, sexo, renda familiar, grau <strong>de</strong> instrução, estado civil.A segunda parte versou sobre as variáveis relacionadas àpercepção da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> pelo hipertenso.As entrevistas foram realizadas antes da consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, no período <strong>de</strong> julho a set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008,e gravadas <strong>em</strong> fita K-7, sendo posteriormente transcritasna íntegra pelas pesquisadoras. Para a organizaçãodo material coletado, optou-se por seguir os passosda Análise <strong>de</strong> Conteúdo <strong>de</strong> Bardin, 11 proce<strong>de</strong>ndo-se àorganização das informações por meio <strong>de</strong> três poloscronológicos: a pré-análise, a exploração do materiale o tratamento dos resultados e interpretação. Dessaforma, <strong>em</strong>ergiram cinco categorias t<strong>em</strong>áticas e duassubcategorias: Categoria 1: Prescrição medicamentosaanti-hipertensiva na consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>;Categoria 2: Orientações realizadas durante a consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, surgindo as subcategorias 2A: Anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao tratamento anti-hipertensivofarmacológico e 2B: A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são aotratamento anti-hipertensivo não farmacológico;Categoria 3: Outros procedimentos realizados naconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> HAS (verificação <strong>de</strong> PA epeso; solicitação <strong>de</strong> exames); Categoria 4: Comunicaçãocomo instrumento da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> HAS;Categoria 5: Consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>: compl<strong>em</strong>entoda consulta médica?Os princípios éticos foram seguidos <strong>em</strong> todas as fasesdo estudo, <strong>em</strong> consonância com o que preconiza aResolução nº 196, <strong>de</strong> 1996. 12 O estudo foi enviado aoComitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa da Faculda<strong>de</strong> Integradado Ceará (FIC), obtendo aprovação sob o nº 057.08. Oprojeto, antes <strong>de</strong> ser enviado ao CEP, foi submetido àautorização da instituição para o uso do seu nome. Com ointuito <strong>de</strong> garantir o anonimato e o sigilo das informaçõesdos participantes do estudo, utilizou-se a nomenclatura“Entrevistada”, seguida dos números (1 a 13).RESULTADOS E DISCUSSÃOCaracterísticas sociod<strong>em</strong>ográficas dosparticipantesA ida<strong>de</strong> das entrevistadas variou <strong>de</strong> 41 a 71 anos, sendoque seis encontravam-se na faixa etária <strong>de</strong> 41 a 59 esete entre 60 e 71 anos. Em relação ao sexo, todos os 13participantes eram mulheres. Do total <strong>de</strong> participantes,oito referiram renda familiar <strong>de</strong> até um salário mínimoe cinco recebiam <strong>de</strong> dois a três salários. A ocupaçãopredominante foi a <strong>de</strong> doméstica, representando setedo total, seguida <strong>de</strong> aposentadas ou pensionistas, comquatro participantes, uma cozinheira e uma costureira.Observou-se que as participantes apresentavambaixa escolarida<strong>de</strong>, pois cinco eram analfabetas, trêstinham ensino fundamental incompleto, uma o ensinofundamental completo e outras quatro cursaram oensino médio.Quanto ao estado civil, seis eram casadas ou viviam<strong>em</strong> união estável, enquanto quatro eram viúvas, duasdivorciadas e uma solteira.A ida<strong>de</strong> dos participantes merece atenção, pois,conforme vão se passando os anos, as complicaçõespor causa da doença vão se agravando se não for feitoum tratamento a<strong>de</strong>quado. Percebeu-se que houvepredominância da população f<strong>em</strong>inina, tendo <strong>em</strong> vistaque as mulheres s<strong>em</strong>pre procuram se precaver comrelação aos malefícios advindos da ida<strong>de</strong>. 13A baixa escolarida<strong>de</strong> po<strong>de</strong> ser um dificultador da a<strong>de</strong>sãoao tratamento, além <strong>de</strong> que vários estudos associama baixa escolarida<strong>de</strong> com a hipertensão arterial. Háuma tendência na queda da média da pressão arteriale na proporção <strong>de</strong> hipertensos conforme o grau <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> aumenta, <strong>de</strong>vendo ser um aliado aosoutros fatores <strong>de</strong> risco, como a ocupação e a ord<strong>em</strong>social. 14Os dados coletados durante as entrevistas permitiram aorganização das seguintes categorias:Categoria 1: Prescrição medicamentosa antihipertensivana consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>Sab<strong>em</strong>os que durante as consultas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>são realizadas abordagens educativas, como tambémorientações quanto ao uso da terapia medicamentosaanti-hipertensiva, momento <strong>em</strong> que o enfermeiro éassegurado por lei a executar a prescrição <strong>de</strong> fármacosanti-hipertensivos dos pacientes com prescrição médicaprévia. Vejamos os relatos que d<strong>em</strong>onstram a atuaçãodo enfermeiro nessa prática:T<strong>em</strong> vez que ela passa a receita igual à outra do médico[...]. Eu gosto muito do trabalho <strong>de</strong>la (enfermeira), passa or<strong>em</strong>édio conforme a doença. (Entrevistadas 2, 6)Ela só fazia perguntar como é que eu tava, olhavaminha pressão, perguntava se eu tô tomando direitoos medicamentos, dava mais algumas orientações,passava o r<strong>em</strong>édio pra mais um mês. S<strong>em</strong>pre eu peçopara três meses, porque eu não tenho t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> ficarvindo. (Entrevistadas 5, 9, 10)O enfermeiro quando a gente v<strong>em</strong> pro médico, o médicopassa a receita aí quando for no próximo mês que euvou pra enfermeira ela só faz repetir; se eu precisartomar outro r<strong>em</strong>édio diferente, se surgir uma dor, umainflamação uma coisa que ela não resolve, t<strong>em</strong> quevoltar para a sala do médico. (Entrevistadas 4, 11, 13)r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 341-347, jul./set., 2011343


Consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> na percepção dos portadores <strong>de</strong> hipertensão atendidos na Estratégia Saú<strong>de</strong> da FamíliaO início e a escolha do tratamento farmacológico antihipertensivosão realizados pelo profissional médico, eo enfermeiro participa <strong>de</strong>ssa modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tratamento<strong>de</strong> várias maneiras, como repetindo a medicação dosclientes controlados e s<strong>em</strong> intercorrências. 1A enfermag<strong>em</strong> dispõe da Lei do Exercício Profissionaln o 7.498\1986 e ao Decreto n o 94.406/1987, queasseguram ao enfermeiro, como integrante da equipe<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a “prescrição <strong>de</strong> medicamentos estabelecidos<strong>em</strong> programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública e <strong>em</strong>rotina aprovada pela instituição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> [...]”. Talprática, dadas as necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população,v<strong>em</strong> cada vez mais se constituindo como necessáriaao processo <strong>de</strong> consolidação do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> (SUS) e, consequent<strong>em</strong>ente, à efetivaçãoda integralida<strong>de</strong> e da equida<strong>de</strong>. 15 Entretanto, vêmsurgindo muitos questionamentos <strong>em</strong> relação àprescrição <strong>de</strong> medicamentos e à solicitação <strong>de</strong> examespor enfermeiros do PSF, que os profissionais médicosafirmam ser atribuições específicas <strong>de</strong> sua profissão. 16Ressaltamos que, apesar <strong>de</strong> o seguimento farmacológicoser uma das atribuições e competências do enfermeirodurante a consulta ao cliente hipertenso, a consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> não <strong>de</strong>ve resumir-se a tal ato como relatadopor alguns sujeitos da pesquisa.Autores <strong>de</strong>fend<strong>em</strong> a prescrição medicamentosa feitapelo enfermeiro, porém enfatizam que esse profissionalnão <strong>de</strong>ve tornar a prescrição como o procedimentoessencial <strong>em</strong> seu processo <strong>de</strong> trabalho, mas, sim,também, as ações <strong>de</strong> promoção da saú<strong>de</strong>, educação<strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, prevenção <strong>de</strong> doenças, reabilitação, <strong>de</strong>ntreoutras, com o processo <strong>de</strong> cuidar como a base dotrabalho <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> 17 .Categoria 2 – Orientações realizadas durante aconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>Subcategoria 2A – A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao tratamentoanti-hipertensivo farmacológicoÉ fundamental a a<strong>de</strong>são ao tratamento farmacológicoe não farmacológico pelo cliente hipertenso para ocontrole dos níveis tensionais e consequente reduçãona incidência no número <strong>de</strong> morte por complicaçõescardiovasculares. 18O enfermeiro, como m<strong>em</strong>bro da equipe multiprofissional,t<strong>em</strong> papel especial <strong>em</strong> incentivar o indivíduo àcompreensão sobre sua real situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e <strong>de</strong> vida,permitindo-lhe refletir sobre a importância da mudançado estilo <strong>de</strong> vida e o <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s quefavoreçam sua a<strong>de</strong>são ao tratamento. 19 Os sujeitos <strong>de</strong>steestudo reforçaram a participação do enfermeiro daEstratégia Saú<strong>de</strong> da Família na orientação quanto à a<strong>de</strong>sãoao tratamento farmacológico. Vejamos os recortes:Ela orienta, manda tomar o r<strong>em</strong>édio, pergunta se agente está tomando a medicação certa, na hora certa.(Entrevistadas, 10, 11)Eu gosto muito <strong>de</strong>la, e a gente conversa muito sobrevários assuntos, inclusive <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ela me aconselhaporque eu não tomo o r<strong>em</strong>édio da diabetes porque eufui tomar e passei mal, eu sou alérgica a vários r<strong>em</strong>édios,já tive até choque anafilático, passei três dias na UTI dohospital por conta do r<strong>em</strong>édio que o médico passoupra mim. Eu confio plenamente nessa enfermeira.(Entrevistada 12)As orientações po<strong>de</strong>rão constituir um facilitador daa<strong>de</strong>são ao tratamento, pois, segundo o Ministério daSaú<strong>de</strong>, 1 um número substancial <strong>de</strong> clientes hipertensosacaba abandonando o tratamento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> algunsmeses, <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> vários fatores ligados a probl<strong>em</strong>asfinanceiros ou <strong>de</strong> falta <strong>de</strong> informação sobre a importânciada manutenção do tratamento por toda a vida. Portanto, autilização do tratamento medicamentoso é importante e<strong>de</strong>ve ser acompanhado pelos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> paraos necessários ajustes e boa a<strong>de</strong>são dos usuários, porém,<strong>de</strong>ve ser aliado ao tratamento não medicamentoso,cujo objetivo é minimizar as complicações crônicaspara hipertensão e, <strong>de</strong>ssa forma, reduzir a incidênciae amenizar os impactos físicos, <strong>em</strong>ocionais, sociais eeconômicos das doenças cardiovasculares. 20A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve ter objetivos claros <strong>em</strong>etodologia própria, fazendo com que a enfermeiratenha, <strong>de</strong> fato, uma atuação <strong>de</strong>finida nos programas <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. A Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve, sist<strong>em</strong>aticamente,compreen<strong>de</strong>r a realização <strong>de</strong> um histórico, com umenfoque mais amplo que a anamnese médica. Aelaboração <strong>de</strong> diagnósticos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve, por suavez, cont<strong>em</strong>plar ações adotando, ou não, <strong>de</strong> taxonomiasconsagradas ou a <strong>de</strong>nominação <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as ou <strong>de</strong>necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento e, finalmente, o planoassistencial. Inclui técnicas, normas e procedimentos queorientam e controlam a realização das ações <strong>de</strong>stinadas àobtenção, análise e interpretação <strong>de</strong> informações sobre ascondições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da clientela, b<strong>em</strong> como as <strong>de</strong>cisõesquanto à orientação e outras medidas que possam influirna adoção <strong>de</strong> práticas favoráveis à saú<strong>de</strong>. 21Algumas pessoas com hipertensão que participaram donosso estudo l<strong>em</strong>braram que os enfermeiros da unida<strong>de</strong><strong>de</strong> saú<strong>de</strong> reforçam a importância das modificações noestilo <strong>de</strong> vida para o controle da hipertensão arterial.Subcategoria 2B – A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao tratamentoanti-hipertensivo não farmacológicoEla manda eu fazer caminhada, tomar os r<strong>em</strong>édiosdireitinho, eu não tenho que dizer nada das enfermeiras,até hoje s<strong>em</strong>pre me trataram b<strong>em</strong>. Me<strong>de</strong> a pressão, fazumas perguntas sobre a saú<strong>de</strong>, o que eu estou sentindo,se eu estou tomando os r<strong>em</strong>édios, conversa sobre aalimentação, se eu tenho me aborrecido, aí já <strong>de</strong>ixamarcada minha volta [...]. (Entrevistada 1)Ela diz também o que a gente <strong>de</strong>ve comer e que a gentenão <strong>de</strong>ve comer coisa salgada, coisa que engor<strong>de</strong>.Ativida<strong>de</strong> física também ela procura saber, no meu caso,ela s<strong>em</strong>pre quer saber se eu to fazendo caminhada, seeu faço alguma ativida<strong>de</strong> como hidroginástica [...] aítorna a advertir a gente a ter cuidado, na alimentação344 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 341-340, jul./set., 2011


comer frutas, verduras, não comer mais coisa salgada,comer muito bagulho, que a gente gosta muito <strong>de</strong>fritura. (Entrevistadas 2, 9, 10, 11)Ela me aconselha s<strong>em</strong>pre a fazer caminhada, não outrotipo <strong>de</strong> esporte porque eu tenho probl<strong>em</strong>a cardíaco, aíela disse que caminhar tá bom (Entrevistada 12).De acordo com o Ministério da Saú<strong>de</strong>, modificações noestilo <strong>de</strong> vida, <strong>em</strong> especial no que se refere aos hábitosalimentares, diminuição <strong>de</strong> peso, redução da ingesta <strong>de</strong>sal e álcool, b<strong>em</strong> como a adoção <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s físicas, sãofatores que auxiliam na redução da pressão arterial e orisco <strong>de</strong> doenças cardiovasculares graves. O profissional<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve informar sobre as consequências dadoença não tratada ou ina<strong>de</strong>quadamente tratada,<strong>de</strong>ntre outros sapectos. 5Em estudo 7 realizado <strong>em</strong> Fortaleza-CE com 13 enfermeirosdo PSF sobre os aspectos cont<strong>em</strong>plados na consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificou-se que, <strong>em</strong> 34 consultas, houvea adoção <strong>de</strong> algum cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, seja <strong>de</strong>transcrição medicamentosa, seja <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>.Observou-se que maior parte dos cuidados sugeridos(32) incidia <strong>em</strong> orientações individuais aos clientes.Cumpre <strong>de</strong>stacar que a mudança <strong>de</strong> comportamentoalimentar é fundamental para a estabilização ou anormalização dos níveis <strong>de</strong> pressão arterial, uma vezque se reconhece o papel da obesida<strong>de</strong> na elevaçãoda pressão arterial, o mesmo acontecendo <strong>em</strong> relaçãoao exagerado consumo <strong>de</strong> sal. Portanto, é imperiosa aimpl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> medidas que estimul<strong>em</strong> ou facilit<strong>em</strong>a a<strong>de</strong>são das pessoas com hipertensão arterial a novoshábitos <strong>de</strong> alimentação que sejam mais salutares. Noentanto, o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ve ser abordado <strong>em</strong> um contextomais amplo, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração, <strong>de</strong>ntre outrosaspectos, aqueles relacionados com a cultura, a crençae os valores pessoais. 22É necessário que a enfermeira busque estratégiaspara estimular a mudança <strong>de</strong> estilo <strong>de</strong> vida por partedo cliente, pois a adoção apenas <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong>orientação não é suficiente para que as pessoas mud<strong>em</strong>o comportamento.Categoria 3 – outros procedimentos realizados naconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> HA (verificação <strong>de</strong> PAe peso, solicitação <strong>de</strong> exames)Durante a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, o enfermeiro, além<strong>de</strong> abordar os fatores já citados, po<strong>de</strong>rá solicitar examesestabelecidos nos programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aferir a pressãoarterial, a circunferência abdominal, o peso, a altura,<strong>de</strong>ntre outros aspectos 5 . Neste estudo, alguns pacientesrelataram a aferição da pressão arterial, solicitação <strong>de</strong>exames e peso, conforme as falas a seguir:Ela pergunta se eu me pesei, se eu tirei a pressão,essas coisas aí que ela pergunta; só isso mesmo, seprecisar fazer exame <strong>de</strong> sangue ela passa exame eeu faço, entrego para ela e ela passa para o r<strong>em</strong>édio.(Entrevistadas 2, 4, 6)S<strong>em</strong>pre faço os exames <strong>de</strong> rotina que ela pe<strong>de</strong>; ela solicita,o médico carimba e eu faço os exames, e <strong>de</strong> três <strong>em</strong> trêsmeses ela pe<strong>de</strong> a glic<strong>em</strong>ia, que eu sou diabética também,pe<strong>de</strong> o h<strong>em</strong>ograma completo, colesterol total todosesses exames <strong>de</strong> rotina e continuo sendo acompanhadapor ela, só com ela; ainda não consegui falar, conversarmesmo, com o médico. (Entrevistada 12)De acordo com a IV Diretriz Brasileira Sobre Dislipid<strong>em</strong>iase Prevenção da Aterosclerose, 23 o excesso <strong>de</strong> pesoassociado ao acúmulo <strong>de</strong> gordura na região mesentérica,obesida<strong>de</strong> <strong>de</strong>nominada do tipo central, visceralou androgênica, constitui o maior risco <strong>de</strong> doençaaterosclerótica. Além disso, no geral, os indivíduoscom esse tipo <strong>de</strong> obesida<strong>de</strong> apresentam dislipid<strong>em</strong>ia,resistência a insulina e hipertensão arterial sistêmica,condições que, <strong>em</strong> conjunto, caracterizam a síndrom<strong>em</strong>etabólica. Essa síndrome é uma condição <strong>de</strong> caráterprogressivo que po<strong>de</strong> aumentar a mortalida<strong>de</strong> geral<strong>em</strong> 1,5 vez e a cardiovascular <strong>em</strong> 2,5 a três vezes, 3 o queconfirma a importância da avaliação da circunferênciaabdominal, peso e altura com cálculo do Índice <strong>de</strong> MassaCorpórea (IMC) pelos enfermeiros.A realização <strong>de</strong> exames é condição essencial nai<strong>de</strong>ntificação, principalmente, <strong>de</strong> lesões <strong>em</strong> orgãos-alvo.Assim, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o enfermeiro <strong>de</strong>tectar os dadosh<strong>em</strong>odinâmicos e interpretá-los com segurança, o querequer um conhecimento tanto teórico como prático porparte <strong>de</strong>sse profissional, visualizando o indivíduo comoum todo. O enfermeiro é um profissional que <strong>de</strong>ve estarapto para executar medidas profiláticas nas consultas<strong>de</strong> hipertensão. 24Categoria 4 – Comunicação como instrumento daconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> HASA comunicação é um instrumento indispensável paraassistência à saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> todos os momentos, seja duranteativida<strong>de</strong>s educativas, por ocasião da consulta noambulatório, seja <strong>em</strong> visitas domiciliares. 25 A importânciada estratégia da comunicação do enfermeiro com aclientela evi<strong>de</strong>nciou as seguintes colocações:Quando eu estava nervosa, que eu ia e <strong>de</strong>sabafavacom ela, ela me aconselhava, conversava, terminavaeu rindo; <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> eu chorar eu ria. Eu acho ótima aconsulta, não tenho nada contra, não; para mim é muitoboa. (Entrevistada 7)Ela é importante porque ela é muito educada. Eu achomuito bonita a pessoa que recebe o outro b<strong>em</strong>, ou velhoou novo, seja ele qual for, ela recebe muito b<strong>em</strong> a gente.(Entrevistada 8)A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> constitui um espaço favorávelpara o cliente expor suas queixas, para a i<strong>de</strong>ntificaçãodas suas reais necessida<strong>de</strong>s pelo enfermeiro, além <strong>de</strong>consistir num processo educativo que envolve nãosomente o indivíduo, mas sua família, proporcionandolhea promoção, a proteção, a recuperação e a reabilitaçãoda saú<strong>de</strong>. 13r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 341-347, jul./set., 2011345


Consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> na percepção dos portadores <strong>de</strong> hipertensão atendidos na Estratégia Saú<strong>de</strong> da FamíliaNa abordag<strong>em</strong> educativa, tanto as informaçõesverbais como as escritas são importantes. Muitasvezes, apenas a informação verbal não é suficientedado o fato <strong>de</strong> o cliente priorizar somente aquelasinformações que reconhece como necessárias. Existe,ainda, a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ele não compreen<strong>de</strong>r ainformação verbal, esquecê-la ou rejeitá-la, por isso ofornecimento <strong>de</strong> informações escritas t<strong>em</strong>-se tornadoum instrumento efetivo <strong>de</strong> apoio às orientações verbaisministradas a respeito das medicações. 26 Cabe ressaltarque as orientações verbais representam uma excelenteestratégia durante as consultas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> compessoas <strong>de</strong> baixa escolarida<strong>de</strong>.Os dados apresentados nesta pesquisa refer<strong>em</strong>-se aalgumas das ativida<strong>de</strong>s realizadas pelo enfermeiro e poroutros profissionais integrantes da Estratégia Saú<strong>de</strong> daFamília. As ativida<strong>de</strong>s citadas pelos participantes estãoprevistas nas Diretrizes Brasileiras <strong>de</strong> Hipertensão Arterial 3e no Plano <strong>de</strong> Reorganização da Atenção à Hipertensão eao Diabetes do Ministério da Saú<strong>de</strong>, 5 porém, sab<strong>em</strong>os aimportância do trabalho multidisciplinar para o sucessodo tratamento anti-hipertensivo.Categoria 5 – Consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>:compl<strong>em</strong>ento da consulta médica?Alguns sujeitos da pesquisa apresentaram uma visãoreducionista da consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> como apenasuma compl<strong>em</strong>entação do trabalho do médico:Ela me ajuda porque, às vezes, antes ela vai me avisarque o médico vai, e me prepara para quando ele chegareu já estar no ponto esperando (Entrevistada 2).É assim, o médico aten<strong>de</strong> a gente, pe<strong>de</strong> exame e tudo,quando ele acha que a gente não precisa da assistência<strong>de</strong>le, porque há outros, então ele passa para enfermeira,aí ela vai ficar acompanhando a gente. Ela é importanteporque ela faz quase as mesmas coisas do médico: ela verse a gente está tomando os r<strong>em</strong>édios direito, se a gentet<strong>em</strong> exame para entregar para o médico. A gente dizque t<strong>em</strong> e ela olha, se ela acha que o médico <strong>de</strong>ve olhartambém ela avisa para gente, senão ela explica tudo b<strong>em</strong>direitinho, passa o r<strong>em</strong>édio. (Entrevistada 10)A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> direciona as ações<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> dispensadas ao cliente, estandofundamentada na necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cientificida<strong>de</strong> dasações <strong>de</strong>senvolvidas. A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong>finida como “ativida<strong>de</strong> diretamente prestada aopaciente, por meio da qual são i<strong>de</strong>ntificados probl<strong>em</strong>as<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>-doença, prescritas e impl<strong>em</strong>entadas medidas<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> que contribuam para a promoção,proteção, recuperação ou reabilitação do paciente”. 27A hipertensão, por ser uma doença multifatorial,envolvendo orientações voltadas para váriosobjetivos, exige diferentes abordagens e a formação<strong>de</strong> uma equipe multiprofissional, proporcionandouma atenção diferenciada, ampliando o sucesso docontrole da hipertensão e dos d<strong>em</strong>ais fatores <strong>de</strong> riscocardiovasculares. 3Trabalhar <strong>em</strong> equipe multiprofissional pressupõeque o cliente é um sist<strong>em</strong>a psíquico e somático e queum só profissional não po<strong>de</strong>rá aten<strong>de</strong>r a todas assuas necessida<strong>de</strong>s. A equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não somenteproporciona melhores cuidados ao cliente, comotambém oferece melhores condições <strong>de</strong> trabalho atodos. 28 Assim, ressaltamos que a atuação do enfermeiroestá b<strong>em</strong> estabelecida na equipe multiprofissional. Esseprofissional, além <strong>de</strong> realizar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,atua como educador <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> no trabalho com grupos<strong>de</strong> pessoas com hipertensão, seus familiares e com acomunida<strong>de</strong>. 3,5 Santos 29 compl<strong>em</strong>enta que existe, porparte da população, <strong>de</strong>sconhecimento das funçõesque cada profissional exerce no acompanhamento dotratamento, constituindo, talvez, a causa dos relatosacima apresentados.Portanto, a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> supõe a entrevistapara coleta dos dados, o exame físico, o estabelecimentodo diagnóstico <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, a prescrição, aimpl<strong>em</strong>entação dos cuidados e a orientação das açõesrelativas aos probl<strong>em</strong>as encontrados. Com base nosdiagnósticos efetivados, o enfermeiro adotará condutas<strong>de</strong> resolutivida<strong>de</strong> própria, ou <strong>de</strong> encaminhamentoao profissional ou serviço competente, no caso <strong>de</strong> aintervenção fugir ao seu âmbito <strong>de</strong> atuação. 22 Assim,<strong>de</strong>stacamos a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>atizar a consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, cuja finalida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outras, é dar àativida<strong>de</strong> caráter profissional, organizar a abordag<strong>em</strong> aocliente e <strong>de</strong>finir a competência da enfermeira. 22CONCLUSÃONas categorias apresentadas, as pessoas relatarammuito sobre o tratamento medicamentoso, o qual, poralgumas vezes, ficou <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque durante a consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Sab<strong>em</strong>os que o enfermeiro po<strong>de</strong>realizar o seguimento farmacológico anti-hipertensivo,mas essa não <strong>de</strong>ve ser a conduta fundamental, pois aeducação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser realizada <strong>em</strong> conjunto como tratamento farmacológico. I<strong>de</strong>ntificamos, também,que o estímulo, durante as consultas, da participaçãoda família da pessoa com hipertensão não foi relatapelos sujeitos do estudo. A abordag<strong>em</strong> educativaexclusivamente individual po<strong>de</strong> tornar a orientação umaativida<strong>de</strong> repetitiva s<strong>em</strong> inovação.O enfermeiro, na voz dos usuários, participa <strong>de</strong> seutratamento <strong>de</strong> várias maneiras: conversando, acolhendo,solicitando exames, incentivando o tratamentofarmacológico e não farmacológico da hipertensão,<strong>de</strong>ntre outros aspectos, o que confirma a importância<strong>de</strong>sse profissional como um dos m<strong>em</strong>bros da equip<strong>em</strong>ínima <strong>de</strong> funcionamento da Estratégia Saú<strong>de</strong> daFamília.346 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 341-340, jul./set., 2011


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CONCEPÇÕES DE CUIDADO POR CUIDADORES FORMAIS DE PESSOASIDOSAS INSTITUCIONALIZADASFORMAL CAREGIVERS CARE CONCEPTS OF ELDERLY PEOPLE LIVING IN A NURSING HOMECONCEPCIONES DE CUIDADO DE CUIDADORES FORMALES DE PERSONAS ANCIANASINSTITUCIONALIZADASChrystiany Plácido <strong>de</strong> Brito Vieira 1Emiliana Bezerra Gomes 1Ana Virginia <strong>de</strong> Melo Fialho 2Lúcia <strong>de</strong> Fátima da Silva 2Maria Célia <strong>de</strong> Freitas 3Thereza Maria Magalhães Moreira 4RESUMOEm razão do aumento progressivo da população idosa e da complexida<strong>de</strong> que envolve o processo <strong>de</strong> cuidar do idoso<strong>em</strong> instituição <strong>de</strong> longa permanência, exige-se do cuidador formal preparo e conhecimentos específicos. Este estudofoi realizado com o objetivo <strong>de</strong> conhecer as concepções <strong>de</strong> conceito <strong>de</strong> cuidar formuladas por cuidadores formais <strong>de</strong>idosos <strong>em</strong> uma instituição asilar do município <strong>de</strong> Fortaleza-CE, Brasil. Trata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo e exploratório,<strong>de</strong> natureza qualitativa, realizado com sete cuidadores formais <strong>de</strong> uma instituição <strong>de</strong> longa permanência, no mês<strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2009. Os dados foram coletados por meio da gravação <strong>de</strong> entrevistas s<strong>em</strong>iestruturadas e examinadosmediante análise t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> conteúdo. Quanto à caracterização dos participantes do estudo, a ida<strong>de</strong> variou entre 20e 40 anos, predominaram cuidadores do sexo f<strong>em</strong>inino, resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Fortaleza, casados, com escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> até <strong>de</strong>zanos <strong>de</strong> estudos, e aqueles com um a dois anos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po na função. Dos <strong>de</strong>poimentos, <strong>em</strong>ergiram cinco categoriast<strong>em</strong>áticas que configuram a concepção <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong>sses cuidadores: cuidado como técnica/assistência; cuidado comointeração; cuidado como subjetivida<strong>de</strong>; cuidado como atitu<strong>de</strong>; cuidado como <strong>de</strong>scaracterização do sujeito. Percebeu-sea dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> esses cuidadores compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> a amplitu<strong>de</strong> do conceito <strong>de</strong> cuidado, evi<strong>de</strong>nciado pela tendência<strong>em</strong> reduzir a prática <strong>de</strong> cuidar a mera execução <strong>de</strong> procedimentos técnicos, assim como pela fragmentação do cuidado,o que po<strong>de</strong> contribuir para a <strong>de</strong>svalorização dos sujeitos envolvidos no processo <strong>de</strong> cuidar.Palavras-chave: Idoso; Cuidado; Cuidadores; Institucionalização.AbstractDue to the gradual increase in el<strong>de</strong>rly population and the complexity of the process of taking care of long-stay nursinghome resi<strong>de</strong>nts, the formal caregiver is expected to be prepared and to have specific knowledge in the area. Thisstudy inten<strong>de</strong>d to i<strong>de</strong>ntify the concepts in el<strong>de</strong>rly care conveyed by formal caregivers in a nursing home located inthe municipality of Fortaleza-CE, Brazil. This is a <strong>de</strong>scriptive and exploratory study with a qualitative approach thatwas carried out in July 2009 with seven formal caregivers in a long-term nursing home. The data were collected vias<strong>em</strong>i-structured interviews and analysed by th<strong>em</strong>atic content analysis. The nurses participating in the study were agedbetween 20 and 40 years old, mostly f<strong>em</strong>ale, living in Fortaleza, married, with up to 10 years of formal education, and1 to 2 years working experience in the area. Five th<strong>em</strong>atic categories configuring these nurses’ views on el<strong>de</strong>rly care<strong>em</strong>erged from the interviews. El<strong>de</strong>rly care is perceived as: technique/assistance; interaction; subjectivity; attitu<strong>de</strong>;and subject <strong>de</strong>-characterization. The nurses’ ten<strong>de</strong>ncy to confine the care practice to the mere execution of technicalprocedures highlighted their difficulty to un<strong>de</strong>rstand the concept of care in a broa<strong>de</strong>r sense. This aspect along withthe fragmentation of patient care can contribute to the <strong>de</strong>valuation of the professionals involved in the process.Key words: El<strong>de</strong>rly people; Care; Caregivers; Nursing Care HomesResumenEl cuidador formal <strong>de</strong> ancianos en centros <strong>de</strong> atención <strong>de</strong> larga duración <strong>de</strong>bería estar muy bien preparado y tenerconocimientos específicos <strong>de</strong>bido al aumento progresivo <strong>de</strong> la población anciana y <strong>de</strong> la complejidad <strong>de</strong>l proceso <strong>de</strong>cuidar. Se trata <strong>de</strong> un estudio cualitativo <strong>de</strong>scriptivo exploratorio llevado a cabo en julio <strong>de</strong> 2009 con siete cuidadoresformales <strong>de</strong> un centro <strong>de</strong> atención <strong>de</strong> larga duración <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Fortaleza, Brasil. Su objetivo fue conocer la concepción<strong>de</strong> atención <strong>de</strong> dichos cuidadores. Los datos fueron recogidos y grabados en entrevistas s<strong>em</strong>iestructuradas y analizadossegún su contenido. La edad <strong>de</strong> los participantes <strong>de</strong>l estudio varió entre 20 y 40 años, hubo predominio <strong>de</strong> cuidadores<strong>de</strong>l sexo f<strong>em</strong>enino, resi<strong>de</strong>ntes en Fortaleza, casados, con hasta 10 años <strong>de</strong> estudio y entre uno y dos años en el cargo. Delas entrevistas surgieron cinco t<strong>em</strong>as que configuran el concepto <strong>de</strong> cuidado <strong>de</strong> estos cuidadores: como técnica/atención,interacción, subjetividad, actitud y <strong>de</strong>scaracterización <strong>de</strong>l sujeto. Se observó la dificultad <strong>de</strong> los cuidadores para compren<strong>de</strong>rla amplitud <strong>de</strong>l concepto <strong>de</strong> cuidado en la ten<strong>de</strong>ncia a reducir la práctica <strong>de</strong> cuidar a la mera ejecución <strong>de</strong> procedimientostécnicos y a la fragmentación <strong>de</strong> la atención, lo cual podría contribuir a la <strong>de</strong>svalorización <strong>de</strong> la profesión.Palabras clave: Anciano; Cuidado; Cuidadores; Institucionalización.1Enfermeira. Mestre <strong>em</strong> Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> pela Universida<strong>de</strong> Estadual do Ceará (UECE).2Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> pela UECE.3Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente e Coor<strong>de</strong>nadora do Curso <strong>de</strong> Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> pela UECE.4Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente do Mestrado Acadêmico Cuidados Clínicos <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> e do Mestrado <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> Pública pela UECE. Pesquisadora do CNPq.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Anfrísio Lobão 1235, apto. 501, Jóckey – Teresina-PI. CEP: 64.049-280, E-mail: chrystianyplacido@yahoo.com.348 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011


INTRODUÇÃOO processo <strong>de</strong> envelhecimento populacional está cadavez mais presente tanto nos países <strong>de</strong>senvolvidoscomo nos <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, tal como no Brasil. Esseexpressivo aumento da população idosa v<strong>em</strong> ocorrendodadas as melhorias das condições <strong>de</strong> vida que resultaramno aumento da expectativa <strong>de</strong> vida das pessoas.Esse envelhecimento populacional acarreta uma série <strong>de</strong>alterações na organização da dinâmica pessoal, familiar,social e profissional, o que influencia o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> e motiva a necessária readaptação <strong>de</strong>políticas públicas ligadas ao ambiente laboral, à saú<strong>de</strong>e à segurança social da pessoa idosa. 1Associada a essa transformação do perfil d<strong>em</strong>ográfico,ocorreu, paralelamente, a transformação do perfilepid<strong>em</strong>iológico da população brasileira, o que t<strong>em</strong>ocasionado, também, o aumento <strong>de</strong> doenças crônico<strong>de</strong>generativas,as quais, eventualmente, pod<strong>em</strong> comprometera autonomia das pessoas idosas. 2Desse modo, cada vez mais se torna necessário repensaras políticas e práticas <strong>de</strong> assistência e cuidado à pessoaidosa.Na gerontologia, há um consenso <strong>de</strong> que o cuidado àpessoa idosa po<strong>de</strong> ser impl<strong>em</strong>entado tanto pela famíliacomo pelos profissionais e instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Nessecontexto, surge a figura do cuidador, aquela pessoa quepresta cuidados para suprir a incapacida<strong>de</strong> funcionalt<strong>em</strong>porária ou <strong>de</strong>finitiva da pessoa idosa. 2De acordo com o vínculo, os cuidadores receb<strong>em</strong>diferentes <strong>de</strong>nominações. Os cuidadores formaiscompreend<strong>em</strong> todos os profissionais e instituiçõesque realizam atendimento sob forma <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong>serviços e cuidadores informais, os familiares, os amigos,os vizinhos, os m<strong>em</strong>bros da igreja, <strong>de</strong>ntre outros. 3Além <strong>de</strong>ssa classificação, há também a <strong>de</strong> cuidadoresprimários, secundários e terciários. Os cuidadoresprimários são os principais responsáveis pela pessoaidosa, pelo cuidado e pela maior parte das tarefas. Ossecundários pod<strong>em</strong> até realizar as mesmas tarefas,mas não possu<strong>em</strong> nível <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>cisão,atuando quase s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> forma pontual <strong>em</strong> algunscuidados básicos, revezando com o cuidador primário.Os cuidadores terciários são coadjuvantes e nãopossu<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong> pelo cuidado, substituindoo cuidador primário por curtos períodos e realizando, namaioria das vezes, tarefas especializadas, como compras,pagamentos <strong>de</strong> contas e recebimento <strong>de</strong> pensões. 4Em relação à prestação <strong>de</strong> cuidados, existe umconsentimento <strong>de</strong> que o contexto familiar da pessoaidosa po<strong>de</strong> promover melhores condições <strong>de</strong> cuidado,<strong>em</strong>bora, atualmente, haja um crescente abandono <strong>de</strong>lespor seus familiares.Sabe-se que é principalmente na família que a pessoaidosa encontra apoio, cuidado e proteção, no entanto,o custo oneroso do cuidado para as famílias, associadoàs mudanças dos seus valores, t<strong>em</strong> ocasionado afrequente institucionalização <strong>de</strong>sse idoso, que se torna<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte por motivos físico-funcionais, afetivos oufinanceiros, b<strong>em</strong> como pelo crescente abandono pelospróprios familiares. 5Essa atenção e esse cuidado à pessoa idosa nasinstituições <strong>de</strong> longa permanência preench<strong>em</strong> a lacunaaberta pela impossibilida<strong>de</strong> da família <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r àsnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus idosos. Isso se ocorre quer pelafalta <strong>de</strong> condições socioeconômicas, que não permit<strong>em</strong>manter o seu ente no lar, junto da família, quer porexigências e incompatibilida<strong>de</strong>s das socieda<strong>de</strong>s atuaisno que se refere à organização da família, pela falta <strong>de</strong>políticas públicas que vis<strong>em</strong> apoiar a pessoa idosa e seusfamiliares no cumprimento <strong>de</strong> seu papel. 1Nesse contexto, as instituições <strong>de</strong> longa permanênciaaparec<strong>em</strong> como uma alternativa, que, às vezes, écontestada pelos significados <strong>de</strong> abandono e maus tratosque as acompanham. Quando não exist<strong>em</strong> possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> manutenção que permitam a aproximação dapessoa idosa a seus familiares, as instituições <strong>de</strong>longa permanência representam alternativas quevisam compl<strong>em</strong>entar e nunca substituir a ação dafamília, procurando encontrar medidas e formas <strong>de</strong>prevenção e intervenção que permitam proporcionar umaprestação <strong>de</strong> cuidados ao idoso que tenha <strong>em</strong> conta suaindividualida<strong>de</strong> e suas necessida<strong>de</strong>s. 1No entanto, não há como negar que muitas dasinstituições <strong>de</strong> longa permanência estão sofrendomomentos críticos, incluindo a falta <strong>de</strong> infraestrutura físicae até o insuficiente número <strong>de</strong> cuidadores qualificados.A formação <strong>de</strong> recursos humanos <strong>em</strong> gerontologia dizrespeito diretamente à qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida da pessoaidosa, <strong>de</strong>corrente da relação entre as condições físicas,competências comportamentais da pessoa idosa econdições ambientais, pois um ambiente que apresentarecursos físicos e humanos responsivos e a<strong>de</strong>quados àscondições funcionais e comportamentais da pessoa idosapropiciando-lhe uma adaptação positiva. 6A maioria das instituições brasileiras <strong>de</strong> ensino superiorainda não está sintonizada com o atual processo <strong>de</strong>transição d<strong>em</strong>ográfica e suas consequências nos campospolítico, econômico, social e da saú<strong>de</strong>, <strong>de</strong>notado pelaescassez <strong>de</strong> recursos técnicos e humanos capacitados.Por conta disso, a capacitação <strong>de</strong> recursos humanosespecializados para atenção à saú<strong>de</strong> da pessoa idosa éuma das diretrizes da Política Nacional da Pessoa Idosa(PNPI), a qual perpassa por todas as d<strong>em</strong>ais diretrizes,configurando mecanismo privilegiado <strong>de</strong> articulaçãointersetorial e <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> das três esferas<strong>de</strong> governo. 7 Estabelece, ainda, como mecanismofundamental, a criação <strong>de</strong> comissão permanente <strong>de</strong>integração entre os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e as instituições <strong>de</strong>ensino profissional e superior, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proporpriorida<strong>de</strong>s, métodos e estratégias. 7Nesse cenário, o atendimento às pessoas idosas <strong>em</strong>instituições <strong>de</strong> longa permanência passa a ser umapreocupação, uma vez que as ações <strong>de</strong> cuidado sãofrequent<strong>em</strong>ente realizadas por trabalhadores nãor<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011349


Concepções <strong>de</strong> cuidado por cuidadores formais <strong>de</strong> pessoas idosas institucionalizadasqualificados, s<strong>em</strong> nenhuma formação profissional oucapacitação para o cuidado, que, como se vê, exigealgumas qualida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre elas a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>estabelecer uma relação terapêutica. 8 Como esse tipo<strong>de</strong> relação terapêutica abrange todas as dimensõesda existência da pessoa idosa e envolve sentimentossobre velhice e cuidado, se for<strong>em</strong> negativos por parte docuidador, pod<strong>em</strong> comprometer o cuidado prestado.Esses aspectos reforçam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o profissionalenfermeiro no contexto das instituições atuar no cuidadodireto e, também, no gerenciamento da assistência <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> e nas tarefas <strong>de</strong> educação permanente<strong>em</strong> serviço. 9Por reconhecer a importância da qualificação doscuidadores formais para a qualida<strong>de</strong> do cuidado prestadoà pessoa idosa e partindo das necessida<strong>de</strong>s impostaspela realida<strong>de</strong> das instituições <strong>de</strong> longa permanência,enten<strong>de</strong>-se que a concepção dos cuidadores formaissobre os cuidados prestados é um el<strong>em</strong>ento importantepara atuar nos processos <strong>de</strong> formação e qualificação<strong>de</strong>les.Dessa forma, com base nessa probl<strong>em</strong>ática, objetivouseconhecer as concepções <strong>de</strong> cuidado formuladas porcuidadores formais <strong>de</strong> idosos <strong>em</strong> uma instituição asilardo município <strong>de</strong> Fortaleza-CE, Brasil.Acredita-se que este estudo possibilitará ao enfermeirouma reflexão sobre sua prática na formação/educação<strong>de</strong> cuidadores <strong>em</strong> meio ao envelhecimento populacionale às políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como ao cuidado prestadoà pessoa idosa institucionalizada.PERCUSSO METODOLÓGICOTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo, <strong>de</strong> natureza qualitativa,realizado com cuidadores formais <strong>de</strong> uma instituiçãoasilar <strong>de</strong> longa permanência do município <strong>de</strong> Fortaleza-CE, Brasil. Optou-se por esse tipo <strong>de</strong> estudo porconsi<strong>de</strong>rar que o objeto <strong>de</strong>sta pesquisa se circunscreveao âmbito das i<strong>de</strong>ias, pois <strong>de</strong>ssa forma as questõessubjetivas envolvidas nesta pesquisa seriam abordadascom mais precisão.O cenário da pesquisa foi uma instituição asilar <strong>de</strong> longapermanência, localizada <strong>em</strong> Fortaleza-CE, Brasil, abrigo<strong>de</strong>stinado a pessoas idosas abandonadas por familiarese/ou vítimas <strong>de</strong> maus tratos. São 117 leitos mantidospelo Estado, sendo a instituição <strong>de</strong> referência vinculadaà Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social doEstado do Ceará. Possui quadro <strong>de</strong> profissionais formadopor enfermeiros, técnicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, cuidadoresformais, médicos nas especialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> psiquiatria ecardiologia, odontólogo, assistente social, fisioterapeuta,pedagogo, economista doméstico, farmacêutico enutricionista. São 15 os cuidadores formais, 9 mulherese 6 homens, distribuídos <strong>em</strong> plantões <strong>de</strong> 12 horas <strong>em</strong>dias alternados. São pessoas leigas, contratadas s<strong>em</strong>capacitação para tal atribuição, adquirindo-a após arealização <strong>de</strong> cursos voltados para o cuidado <strong>de</strong> pessoasidosas oferecidos pela instituição ou pela socieda<strong>de</strong>.Os dados foram coletados por meio <strong>de</strong> entrevistass<strong>em</strong>iestruturadas durante o mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 2009. Asentrevistas foram gravadas e realizadas, na própriainstituição, pelas pesquisadoras, <strong>em</strong> horário previamenteagendado, conforme liberação da diretora administrativa,responsável pelo serviço e anuência dos participantes.O instrumento utilizado para coleta <strong>de</strong> dados foi umroteiro constituído <strong>de</strong> duas partes: a primeira referenteà caracterização do cuidador (ida<strong>de</strong>, sexo, procedência,estado civil, anos <strong>de</strong> estudo, cursos <strong>de</strong> capacitaçãorealizados, t<strong>em</strong>po na função <strong>de</strong> cuidador formal,t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> serviço na instituição, outros <strong>em</strong>pregos er<strong>em</strong>uneração) e a segunda, à percepção do cuidadorsobre o conceito <strong>de</strong> cuidado.Fizeram parte do estudo sete cuidadores formaisprimários. Foram critérios <strong>de</strong> inclusão: ser cuidador,ter vínculo formal com a instituição e estar exercendoa função no período <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados. Todos osparticipantes assinaram Termo <strong>de</strong> ConsentimentoLivre e Esclarecido (TCLE). Os sujeitos do estudo forami<strong>de</strong>ntificados pela letra C, <strong>de</strong> cuidador, seguida pornúmeros <strong>de</strong> um a sete (C1..., C7).O fechamento amostral <strong>de</strong>u-se por saturação teórica,que é <strong>de</strong>finido operacionalmente como a suspensão<strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong> novos participantes, pois as informaçõesque seriam fornecidas por eles pouco acrescentariam aomaterial já obtido, não mais contribuindo significamentepara o aperfeiçoamento da reflexão teórica fundamentadanos dados coletados. 10Os dados foram examinados com base nos pressupostosda análise <strong>de</strong> conteúdo t<strong>em</strong>ática. 11 Para tanto, inicialmente,as entrevistas foram transcritas na íntegra e, apósexaustivas leituras, foram organizadas <strong>de</strong> acordo com osnúcleos t<strong>em</strong>áticos com base no significado central dos<strong>de</strong>poimentos, <strong>em</strong>ergindo, assim, as categorias t<strong>em</strong>áticas,<strong>de</strong> acordo com os objetivos e a fundamentação teóricapropostos.O <strong>de</strong>senvolvimento do estudo obe<strong>de</strong>ceu às prerrogativasda Resolução nº 196/96, que dispõe sobre a realização<strong>de</strong> pesquisas com seres humanos, 12 fazendo parte doprojeto <strong>de</strong> pesquisa “Cuidados clínicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> aidosos resi<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> instituição <strong>de</strong> longa permanência:tecnologias interventivas”, avaliado e aprovado peloComitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa da Universida<strong>de</strong> Estadualdo Ceará (Parecer nº 08386825-9, <strong>de</strong> 23/9/2008).RESULTADOS E DISCUSSÃOOs dados que <strong>em</strong>ergiram das entrevistas foramorganizados <strong>em</strong> duas partes: caracterização doscuidadores e concepção dos cuidadores formais sobreo conceito <strong>de</strong> cuidado.Caracterização dos cuidadoresSobre a caracterização dos cuidadores formaisque participaram do estudo, po<strong>de</strong>-se afirmar queapresentavam ida<strong>de</strong> entre 20 e 40 anos. Quatro eram do350 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011


sexo f<strong>em</strong>inino; apenas dois residiam fora <strong>de</strong> Fortaleza;quatro eram casados, possuíam até <strong>de</strong>z anos <strong>de</strong> estudoe um tinha concluído ensino superior; seis tinhamrealizado cursos <strong>de</strong> capacitação <strong>em</strong> uma média <strong>de</strong> doiscursos; cinco tinham <strong>de</strong> um a dois anos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po nafunção e dois já trabalhavam na instituição há mais<strong>de</strong> <strong>de</strong>z anos; somente um tinha outro <strong>em</strong>prego; e seisrecebiam somente um salário mínimo.O grupo dos cuidadores que participaram <strong>de</strong>ste estudofoi constituído por cuidadores formais leigos, o que seass<strong>em</strong>elha a outras instituições, <strong>em</strong> que, <strong>em</strong> sua maioria,o grupo <strong>de</strong> trabalhadores é constituído por aten<strong>de</strong>ntesou cuidadores leigos e um auxiliar ou técnico <strong>em</strong>enfermag<strong>em</strong> que assume as funções do enfermeiro. 8 Ainstituição do estudo possui uma realida<strong>de</strong> diferenciada,pois seu quadro é constituído <strong>de</strong> quatro enfermeiros(um a cada plantão <strong>de</strong> 12 horas) e <strong>de</strong>z técnicos <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> (seis diurnos e três noturnos), com funçõesb<strong>em</strong> <strong>de</strong>finidas.Cabe aos cuidadores formais, na instituição do estudo, arealização <strong>de</strong> banho <strong>em</strong> pessoas idosas estáveis, troca <strong>de</strong>fraldas, alimentação via oral, companhia, <strong>de</strong>slocamento,<strong>de</strong>ntre outras, não realizando procedimentos <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> como curativos, administração d<strong>em</strong>edicação, verificação e monitorização dos sinaisvitais.Em relação ao gênero, observou-se que a maioria doscuidadores entrevistados era do sexo f<strong>em</strong>inino, o quepo<strong>de</strong> ser explicado pelas raízes históricas e culturais docuidar que estimulam a prática <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> cuidar<strong>de</strong> seus filhos como uma facilida<strong>de</strong> na adaptação auma nova ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidar, além da relação afetivadas mulheres com esse processo, o que contribui paraa humanização. 13Quanto ao estado civil, por existir uma lacuna naliteratura <strong>em</strong> relação aos dados sobre o estado civil doscuidadores <strong>de</strong> idosos, fica difícil realizar uma comparaçãocom outros estudos. 13 Neste trabalho, constatou-se quea distribuição foi s<strong>em</strong>elhante entre solteiros (três) ecasados (quatro), fato explicado pela distribuição doscuidadores na faixa etária <strong>de</strong> adultos jovens.Ainda <strong>em</strong> relação à ida<strong>de</strong>, vale <strong>de</strong>stacar que esse fatort<strong>em</strong> influência sobre a ativida<strong>de</strong> do cuidador, pois essafunção exige esforço físico por causa da <strong>de</strong>pendênciadas pessoas idosas <strong>em</strong> relação às ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vidadiária, o que restringe e limita o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> trabalho<strong>de</strong>sses profissionais <strong>em</strong> razão do <strong>de</strong>sgaste físico queele produz. 13 Mas não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezar o fato <strong>de</strong>que uma ida<strong>de</strong> avançada do cuidador tenha aspectospositivos no ato <strong>de</strong> cuidar, pois sua experiência <strong>de</strong> vida,valores e crenças adquiridos com a maturida<strong>de</strong> pessoale profissional influenciam na sua atuação.Quanto aos anos <strong>de</strong> estudo, a maioria possui até o ensinomédio. Esses cuidadores relataram que tinham recebidoinformações e noções básicas a respeito do cuidado àpessoa idosa <strong>em</strong> cursos fora e na própria instituição,<strong>em</strong> parceria com as universida<strong>de</strong>s que utilizam olocal como campo <strong>de</strong> ensino na área do cuidadogerontológico. Esses dados só reforçam a necessida<strong>de</strong>da discussão, elaboração e impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticaspúblicas intersetoriais voltadas para a capacitação doscuidadores <strong>de</strong> pessoas idosas das instituições <strong>de</strong> longapermanência.A baixa r<strong>em</strong>uneração po<strong>de</strong> incentivar os cuidadoresa buscar uma forma <strong>de</strong> compl<strong>em</strong>entação salarial,contribuindo para o estresse profissional, no entantoisso não foi constatado neste estudo, <strong>em</strong> que apenas umpossui outro <strong>em</strong>prego, permanecendo a dúvida sobresua execução na função <strong>de</strong> cuidadora seja pela forma <strong>de</strong>compl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> renda ou forma <strong>de</strong> manutenção <strong>de</strong>um <strong>em</strong>prego público, ou, ainda, pelo aspecto humanoe solidário.Concepções sobre o cuidadoDos <strong>de</strong>poimentos dos sete cuidadores, após análise einterpretação, <strong>em</strong>ergiram cinco categorias t<strong>em</strong>áticas, asquais configuram a concepção <strong>de</strong>sses cuidadores sobreo conceito <strong>de</strong> cuidado que prestam às pessoas idosasna referida instituição.Cuidado como técnicaEssa categoria surgiu <strong>em</strong> razão da quantida<strong>de</strong> expressivado conceito <strong>de</strong> cuidar como execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>sdirecionadas ao atendimento das necessida<strong>de</strong>s básicasda pessoa idosa, com vista à promoção da saú<strong>de</strong>. Osrelatos permitiram a concentração das práticas docuidador formal <strong>em</strong> dois aspectos: o controle do estado<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da pessoa idosa no aspecto físico e a oferta <strong>de</strong>cuidados para atendimento das necessida<strong>de</strong>s básicas.A ênfase no cuidado físico ocorre <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimento domo<strong>de</strong>lo assistencial <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> centrado na doença, oque, ainda, permeia a prática <strong>de</strong>sses cuidadores. Nessaperspectiva, os cuidadores perceb<strong>em</strong> a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cuidado com base na condição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> apresentada,exercendo um controle sobre o estado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dapessoa idosa, por perceber<strong>em</strong> o <strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadashabilida<strong>de</strong>s funcionais. Esse controle se manifestamediante práticas <strong>de</strong> vigilância, <strong>de</strong> intervenção noshábitos <strong>de</strong> vida das pessoas idosas ou evocação <strong>de</strong>atitu<strong>de</strong>s responsáveis, direcionadas ao <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhosatisfatório do idoso voltado para o autocuidado:Cuidado que eu acho é suprir as necessida<strong>de</strong>s básicase mais importantes <strong>de</strong>les, que é o cuidado físico [...]. Aquestão <strong>de</strong> querer que a gente aju<strong>de</strong> ele, no cigarro, agente fica ensinando que faz mal, que não fume, quenão faça isso [...], que isso faz parte da saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>le.Porque se eles não praticar<strong>em</strong> isso eles não vão vivermais anos ainda. (C6)Geralmente, as ações do cuidado <strong>de</strong>stinam-se àprevenção <strong>de</strong> complicações e à manutenção da saú<strong>de</strong>e promov<strong>em</strong> maior controle <strong>em</strong> relação, por ex<strong>em</strong>plo, àadministração da medicação <strong>de</strong> uso contínuo, à dieta eà sequência dos tratamentos que requer<strong>em</strong> a utilização<strong>de</strong> cuidados formais.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011351


Concepções <strong>de</strong> cuidado por cuidadores formais <strong>de</strong> pessoas idosas institucionalizadasAssim, a oferta <strong>de</strong> cuidados para o atendimento dasnecessida<strong>de</strong>s básicas esteve presente <strong>em</strong> todos os<strong>de</strong>poimentos. Os cuidadores iniciaram a fala sobre oque entendiam sobre cuidado ou se resumiram somentenessas ativida<strong>de</strong>s, as quais se refer<strong>em</strong> às suas atribuiçõesno abrigo.Cuidado também como higiene pessoal. Unha é a genteque corta. Barba é a gente que faz, <strong>de</strong>pilação... essascoisas. Eu acho que é assim. (C5)É dar banho direito, é cortar as unhas, é tirar uma barba,é trocar uma fralda, é dar comida, é alimentação; é sóisso mesmo. (C7)Vale <strong>de</strong>stacar o <strong>de</strong>poimento do C7, que relatoucomo cuidado somente essas ativida<strong>de</strong>s, ou seja, apressuposição <strong>de</strong> que a experiência <strong>de</strong> vida po<strong>de</strong>riaestar ampliando sua visão <strong>de</strong> cuidado e melhorandosua relação com a pessoa idosa, pois o que se percebeé a tecnificação do cuidado, ação ainda tão presenteno mo<strong>de</strong>lo biomédico vigente. Isso r<strong>em</strong>ete à discussãosobre os princípios que constitu<strong>em</strong> o fazer cotidiano ea formação profissional.Não se po<strong>de</strong> negar que a experiência contribui sobr<strong>em</strong>aneirapara a prática. Reforçada pelo conhecimentoformal adquirido, por ex<strong>em</strong>plo, por meio <strong>de</strong> cursos<strong>de</strong> capacitação, a experiência adquirida é capaz <strong>de</strong>estabelecer relações, hipóteses, julgamentos, <strong>de</strong>duçõese ações. 14Outro cuidador relatou uma experiência anterior <strong>de</strong>cuidado <strong>de</strong> pessoa idosa que o motivou a continuarnessa profissão, reforçando a experiência adquiridacomo aspecto positivo e a busca <strong>de</strong> aprimoramentoda prática.Antes <strong>de</strong> eu entrar aqui eu fui cuidador da mãe da minhamulher, cui<strong>de</strong>i muitas vezes [...]. Eu tinha um pouco,mas agora eu tenho muito conhecimento, porque àmedida que cuido vou apren<strong>de</strong>ndo com eles e com oscolegas. (C3)O cuidar da pessoa idosa, na saú<strong>de</strong> e na doença, envolveprocedimentos complexos e específicos, e para queo cuidador leigo possa <strong>de</strong>senvolvê-los, mesmo nosaspectos mais básicos, necessita <strong>de</strong> um treinamentod<strong>em</strong>arcado e acompanhado pelo enfermeiro. 15Os cuidadores que participaram <strong>de</strong>ste estudo reconhec<strong>em</strong>a importância dos cursos <strong>de</strong> capacitação que já realizaram,principalmente para o aprimoramento das ativida<strong>de</strong>srelacionadas ao atendimento das necessida<strong>de</strong>s básicasda pessoa idosa, ações consi<strong>de</strong>radas como principais nocotidiano do cuidar, como para prevenir complicaçõesque d<strong>em</strong>andariam mais cuidados:Também no curso foi falado muito sobre isto: higienepessoal, que t<strong>em</strong> uns se a gente não banhar direito,fizer o asseio direito cria escara, aí tanto é ruim pra elescomo é ruim pra gente, porque aumenta muito maisnosso serviço. (C5)A realização <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> capacitação é, s<strong>em</strong> dúvida, algomuito importante para o trabalho <strong>de</strong>sses cuidadores,haja vista que o aperfeiçoamento <strong>de</strong> conhecimentos e<strong>de</strong> técnicas também é necessário para que o cuidadoseja prestado com qualida<strong>de</strong>, principalmente nessasituação <strong>em</strong> especial, cujos cuidadores são pessoass<strong>em</strong> capacitação específica, uma vez somente o “fazerpor fazer” não se faz suficiente, pois cuidar envolvetécnica, sentimentos, atitu<strong>de</strong>s e interação com a pessoacuidada.Cuidar é arte e envolve, fundamentalmente, uma práxis,o que significa fundamentar-se no fazer, tornando oconhecimento da técnica na ação <strong>de</strong> cuidar básico. Aintuição e a sensibilida<strong>de</strong> também são importantesuma vez que requer<strong>em</strong> a condição humana, isto é,interação. 16Cuidado como interaçãoÉ preciso l<strong>em</strong>brar que para cuidar da pessoa idosainstitucionalizada não é suficiente apenas <strong>de</strong>dicaçãoe atendimento das suas necessida<strong>de</strong>s básicas. Cuidardo outro pressupõe atenção às suas necessida<strong>de</strong>s e,também, à sua individualida<strong>de</strong>. A dimensão do cuidadoestá fundada no ser-com-o-outro, tornando-se presentena e por meio da relação que o encontro inter-humanoproporciona entre o cuidador e a pessoa cuidada. 1Para tanto, o reconhecimento do outro (a pessoa idosa)como ser humano é fundamental para se <strong>de</strong>senvolver umcuidado centrado na interação e não somente na técnica:Eu vejo assim pelo lado que não tanto pelo trabalho,pela profissão que estou exercendo que é cuidar doidoso, mas pelo lado humano. (C4)Repensar as práticas <strong>de</strong> cuidado e a consequentehumanização da prestação <strong>de</strong> cuidados à pessoa idosainstitucionalizada implica a consi<strong>de</strong>ração da dimensãodo cuidado na relação inter-humana. A cuidadora, aocuidar, relaciona-se com o outro ser, exprimindo seuconhecimento e sensibilida<strong>de</strong>, d<strong>em</strong>onstrando habilida<strong>de</strong>,técnica e espiritualida<strong>de</strong>, ajudando-o a crescer. 1-14Nessa interação, várias ações são importantes e uma <strong>de</strong>lasé o diálogo. Neste estudo, muitos cuidadores <strong>de</strong>stacarama importância da conversa no ato <strong>de</strong> cuidar e como forma<strong>de</strong> melhorar a relação com a pessoa idosa:É uma questão também <strong>de</strong> conversar [...]. Quanto maisa gente dá atenção a ele, mais ele vai abrindo mais amente; assim, às vezes ele quer conversar porque não táenten<strong>de</strong>ndo e aí vai você fica conversando, e aí às vezesse sente até b<strong>em</strong>, até melhor quando você conversa,quando se distrai com ele. (C1)Como interação com o ser humano, o processo <strong>de</strong> cuidaré um diálogo, mas não somente <strong>de</strong> palavras, e sim <strong>de</strong>presenças. Nesse processo, a linguag<strong>em</strong> não verbal(gestos, olhar, silêncios, toque) ocupa lugar importanteno ato <strong>de</strong> cuidar. Por isso, cuidar consiste, basicamente,352 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011


<strong>em</strong> escutar, <strong>em</strong> ser receptivo às necessida<strong>de</strong>s do sercuidado. 16Qu<strong>em</strong> cuida <strong>de</strong>termina a direção do crescimento <strong>de</strong>qu<strong>em</strong> é cuidado porque, para cuidar, <strong>de</strong>ve-se conheceros po<strong>de</strong>res, as limitações, as necessida<strong>de</strong>s e o queconduz ao crescimento do outro. 1 Um <strong>de</strong>poente relatoua importância da interação com a pessoa idosa nãosomente para o seu crescimento, mas também para oseu <strong>de</strong>senvolvimento humano:Eu agra<strong>de</strong>ço muito por essa minha profissão, porqueeu não tô aqui só pelo salário que é bom, eu sei, masporque eu estou aqui pra ajudar eles, mas tambémpra ser ajudado, porque é mais uma profissão quetô apren<strong>de</strong>ndo, enten<strong>de</strong>? [...] Pra mim cuidador éisto: respeitar, orientar e ser orientado, ajudar e serajudado. (C3)A interação foi <strong>de</strong>stacada, também, por esse cuidador<strong>em</strong> relação aos outros profissionais que trabalham nainstituição, valorizando-se a união e o respeito.União entre nós mesmos cuidadores, que a gente faz oserviço e precisa <strong>de</strong> uma ajuda, aí t<strong>em</strong> aquela melhorunião e respeito, com todo mundo, tanto com os idososcomo com os colegas. (C3)O trabalho nas instituições <strong>de</strong> longa permanência, comoa <strong>de</strong>ste estudo envolve muitos profissionais <strong>de</strong> diferentesespecialida<strong>de</strong>s que procuram <strong>de</strong>senvolver seus trabalhospara proporcionar o cuidado à pessoa idosa. A prestação<strong>de</strong> cuidado à pessoa idosa não é uma tarefa unidisciplinar,mas pluridisciplinar, por requerer a coor<strong>de</strong>nação e oentendimento entre os profissionais. 16Cuidado como expressão <strong>de</strong> subjetivida<strong>de</strong>O cuidar como uma interação interpessoal, característicodo ser humano e até mesmo como uma intervençãoterapêutica, envolve el<strong>em</strong>entos como respeito,consi<strong>de</strong>ração, compaixão e mesmo afeto. 14Assim, o cuidado estaria relacionado ao sentimento.Dos <strong>de</strong>poimentos dos cuidadores, pô<strong>de</strong>-se abstrair aconcepção <strong>de</strong> cuidado associado a sentimentos comoamor, compaixão, dó, afeto, mesmo naqueles queassociam o cuidado à execução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s:Não só na parte <strong>de</strong> uma boa alimentação, mas <strong>de</strong>tratar ele b<strong>em</strong>, <strong>de</strong> conversar, dar atenção a ele, daramor. (C1)Então nós estamos aqui não só pra trabalhar, mas pralidar com eles com amor. (C4)Eu tenho muita pena <strong>de</strong>les. (C5)[...] também o afetivo que não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um cuidado<strong>de</strong>le, a afetivida<strong>de</strong> com eles. (C6)Uma cuidadora relatou que o amor é o motivo <strong>de</strong> seutrabalho no serviço:Aqui nesse serviço t<strong>em</strong> muitas pessoas que trabalhampelo dinheiro e não assim pelo amor. Eu não, eu trabalhopelo amor, apesar <strong>de</strong> ganhar muito pouco aqui, maseu trabalho porque eu gosto, porque tenho carinhopor eles. (C5)O que motiva o cuidar, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> gostarou não, está relacionado a um sentimento, o que ela<strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> um “chamado” para ajudar <strong>de</strong> qu<strong>em</strong>necessita. 14Cuidar como forma <strong>de</strong> interação que <strong>de</strong>termina oenvolvimento das pessoas <strong>de</strong> maneira subjetiva nãosignifica uma renúncia <strong>de</strong> conhecimentos e técnicas,mas a valorização do outro, suscitando até mudançasnas crenças, valores e cultura 17 :Antes eu não sabia que era assim cuidar <strong>de</strong> um idoso,entrei aqui e aprendi e me sinto muito b<strong>em</strong> com o quefaço. (C5)Cuidado como atitu<strong>de</strong>O cuidado é complexo, com vários significados e éconstruído continuamente pelos cuidadores e os quesão cuidados. Assim, pensar <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> cuidadosé apontar para a complexida<strong>de</strong> dos opostos comoord<strong>em</strong>/<strong>de</strong>sord<strong>em</strong>, sujeito/objeto, parte/todo, <strong>de</strong>ssesist<strong>em</strong>a e compreen<strong>de</strong>r aspectos como autonomia,individualida<strong>de</strong>, relações e atitu<strong>de</strong>s profissionais. 17Em vários <strong>de</strong>poimentos foram ressaltados pelos cuidadoresaspectos relacionados à atitu<strong>de</strong> profissional, como aresponsabilida<strong>de</strong>, o compromisso, a disponibilida<strong>de</strong> e asvirtu<strong>de</strong>s, como o respeito e a paciência:Cuidador pra mim é isto: você t<strong>em</strong> que ter muitadisponibilida<strong>de</strong> pra trabalhar, você t<strong>em</strong> que terpaciência. Ser paciente, saber fazer tudo ao certopra não acontecer nada <strong>de</strong> ruim e n<strong>em</strong> <strong>de</strong> mal comeles. (C3)Cuidado é minha obrigação. Eu me sinto na obrigação<strong>de</strong> cuidar por estar aqui às sete horas da manhã porquesou responsável pelo café da manhã. (C5)Vale <strong>de</strong>stacar que a obrigação relatada no <strong>de</strong>poimentoacima não se refere à obrigação <strong>de</strong> trabalho comoativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> r<strong>em</strong>uneração. Nos <strong>de</strong>poimentos <strong>em</strong> quese <strong>de</strong>stacaram esses el<strong>em</strong>entos da atitu<strong>de</strong> profissional,significava real envolvimento e compromisso moral coma profissão, sobretudo nessa situação <strong>de</strong> cuidado <strong>de</strong>idosos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e vítimas <strong>de</strong> abandono.O processo <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> um ser humano frágil ouvulnerável implica exercer uma forma <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>social e cívica que não <strong>de</strong>ve ser compreendida sob umaperspectiva paternalista, mas como exercício <strong>de</strong> um<strong>de</strong>ver humano. 17As atitu<strong>de</strong>s benevolentes foram vistas como pontospositivos no ato <strong>de</strong> cuidar, ao valorizar<strong>em</strong> a interação coma pessoa idosa e fortalecer<strong>em</strong> a confiabilida<strong>de</strong> pelo bomex<strong>em</strong>plo, mediante uma postura profissional correta.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011353


Concepções <strong>de</strong> cuidado por cuidadores formais <strong>de</strong> pessoas idosas institucionalizadasA gente t<strong>em</strong> que ter um respeito, tratar com carinhopra gente ser tratado com carinho, porque se a gentetratar com ignorância a gente vai ser tratado comignorância. (C3)Tudo que você tá fazendo ele tá se espelhando <strong>em</strong> você.Então se você tá dando uma boa aparência, conversandocom ele, ele vai estar apren<strong>de</strong>ndo melhor. (C1)Cuidado como <strong>de</strong>scaracterização do sujeitoA pessoa idosa, por ocorrência <strong>de</strong> <strong>de</strong>clínios funcionaise <strong>de</strong> perdas, po<strong>de</strong> tornar-se uma pessoa <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,o que r<strong>em</strong>ete à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteção e <strong>de</strong> pessoasque satisfaçam suas necessida<strong>de</strong>s. Há uma expectativageneralizada nas culturas <strong>de</strong> que principalmentea família ofereça proteção e cuidado às pessoasidosas, mas po<strong>de</strong>ndo outras instituições assessorarno cumprimento <strong>de</strong>ssas tarefas, principalmente <strong>em</strong>contextos como o brasileiro, marcado por profundas<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s sociais. 18Essa conotação da fragilida<strong>de</strong> por consequência da ida<strong>de</strong>avançada e da incapacida<strong>de</strong> funcional, potencializadapelo motivo <strong>de</strong> estar<strong>em</strong> na instituição, foi observada <strong>em</strong>alguns <strong>de</strong>poimentos como justificativa <strong>de</strong> suas ações:Cuidando assim <strong>de</strong> uma pessoa frágil, que está na fasefinal da vida, <strong>de</strong>bilitada, que precisa <strong>de</strong> cuidados, porter sido abandonada pela família, ela necessita <strong>de</strong>cuidados extr<strong>em</strong>os <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> tá lidando com ela, porqueela já sofreu com o abandono. (C4)Quanto aos tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência, os cuidadoresapontaram a física ou mental e, também, a <strong>em</strong>ocionale afetiva. Eles tec<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rações no sentido <strong>de</strong> que a<strong>de</strong>pendência afetiva e/ou psicológica ocorre, nas pessoasidosas, <strong>em</strong> consequência da gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> que elastêm <strong>de</strong> amor, <strong>de</strong> carinho e <strong>de</strong> atenção:Porque o idoso é uma pessoa b<strong>em</strong> frágil, muito frágil.O que a gente dar <strong>de</strong> atenção, <strong>de</strong> amor... <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>afeto. (C1)Contudo, o que torna preocupante nesse cenário <strong>de</strong>instituição <strong>de</strong> longa permanência é o fato <strong>de</strong> que cuidar<strong>de</strong> uma pessoa idosa exige muitas qualida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>ntre elasa capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer uma relação terapêutica. Seo cuidador apresentar sentimentos pessoais negativosou estereotipados sobre o envelhecimento, po<strong>de</strong> haverum comprometimento <strong>de</strong>sse cuidado.Nos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> alguns cuidadores, abstraíram-sesentimentos estereotipados <strong>em</strong> relação à pessoa idosa,consi<strong>de</strong>rando-a como uma pessoa frágil, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte,muitas vezes <strong>de</strong>scaracterizando-a e dispensandoum cuidado infantilizado, <strong>de</strong>ixando <strong>de</strong> valorizar suai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> própria que não foi perdida por estar <strong>em</strong>uma situação <strong>de</strong>sfavorável.É como se fosse uma criança ou até mesmo assim,porque o idoso é uma pessoa b<strong>em</strong> frágil, muitofrágil. (C1)No processo <strong>de</strong> cuidar, é importante tornar o ambientepersonalizado e marcado pela proprieda<strong>de</strong> individual doser cuidado. Autoexpressão ou personalização reforçana pessoa idosa o senso <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s,características e experiências únicas. 1Em muitos <strong>de</strong>poimentos, encontrou-se a <strong>de</strong>scaracterizaçãoda pessoa idosa, apontado como umapessoa da família ou <strong>em</strong> muitas situações se colocandono lugar <strong>de</strong>la, o que <strong>em</strong>basa na prática do cuidadocotidiano sentimentos <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong>:Bom, cuidar como se a gente tivesse cuidando <strong>de</strong> umapessoa querida da gente, mas com uma finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>b<strong>em</strong>-estar. (C2)Porque a gente t<strong>em</strong> que se colocar no lugar do serhumano, <strong>de</strong> tá ali como se a gente fosse a pessoa, umapessoa da gente ou a gente mesmo, porque a gente nãosabe o dia <strong>de</strong> amanhã. (C1)Me sinto também assim, vejo o dia <strong>de</strong> amanhã, não seio que vai ser <strong>de</strong> mim quando eu estiver velha, porqueaqui t<strong>em</strong> muitos <strong>de</strong>les que a família rejeita, que a famílianão quer, espanca, aí, assim, também me coloco muitona pele <strong>de</strong>les. (C5)Colocar-se no lugar do outro nesse momento surgecomo uma maneira <strong>de</strong> compreendê-lo <strong>em</strong> suascondições sociais, b<strong>em</strong> como refletir sobre si mesmo,vivenciar aquela situação como uma realida<strong>de</strong> própria,com certo refino <strong>em</strong> relação aos preceitos cristãos <strong>de</strong> seenxergar <strong>em</strong> uma situação melhor e se dispor à doação,ao cuidado e à carida<strong>de</strong>.CONSIDERAÇÕES FINAISEm razão do aumento progressivo da população idosae da complexida<strong>de</strong> que envolve o processo <strong>de</strong> cuidarda pessoa idosa <strong>em</strong> instituição <strong>de</strong> longa permanência,exige-se do cuidador formal preparo e conhecimentosespecíficos.Neste estudo, evi<strong>de</strong>nciou-se que esses cuidadores formaisperceb<strong>em</strong>, principalmente, como cuidado a execução <strong>de</strong>tarefas <strong>de</strong>stinadas ao atendimento das necessida<strong>de</strong>sbásicas da pessoa idosa meramente técnicas. Tal fatopo<strong>de</strong> estar relacionado ao <strong>de</strong>sconhecimento sobre o realsignificado <strong>de</strong> cuidar ou por confundir<strong>em</strong> suas diversasdimensões.Outras vertentes relacionadas ao cuidado apontadaspelos cuidadores formais foram a atenção, o carinho,o afeto, a procura pela compreensão do outro e <strong>de</strong> suarealida<strong>de</strong> como condições transversais a uma prática<strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>.No entanto, o que se percebe é a dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssescuidadores <strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> o que é cuidado,fato evi<strong>de</strong>nciado pela visualização fragmentada docuidado – por vezes dissociado <strong>de</strong> sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>valorização dos sujeitos envolvidos no processo <strong>de</strong>cuidar – explicitada neste estudo.354 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011


O cuidado <strong>em</strong>pírico cabe ao leigo e aos cuidadoresformais, <strong>de</strong> qualquer natureza, e requer a interiorizaçãodo que é o cuidado <strong>em</strong> todas as suas dimensões e comoresponsabilida<strong>de</strong> profissional, como também a certezada necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se conhecer para melhor cuidar evalorizar os sujeitos <strong>de</strong>sse processo, <strong>em</strong> especial aquelesa qu<strong>em</strong> se dirige o cuidado.Mesmo diante das tecnologias <strong>de</strong> cuidado, amplamente<strong>de</strong>senvolvidas pela enfermag<strong>em</strong> ao longo da profissão,resultados como os <strong>de</strong>ste estudo ainda d<strong>em</strong>onstramcuidadores fundamentados <strong>em</strong> uma visão simplória edualista, <strong>em</strong> que o cuidado se liga à prática e à carida<strong>de</strong>humana, o que nos r<strong>em</strong>ete a pensar na formação.Estariam essas percepções <strong>em</strong>butidas na cultura <strong>de</strong>ssescuidadores formais ou ainda se capacitam cuidadoresconsi<strong>de</strong>rando essas condições?Tais reflexões apontam para o fundamental compromisso<strong>de</strong> instrumentalizar os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para ocuidado da pessoa idosa, nos diferentes contextos <strong>de</strong>atenção à saú<strong>de</strong>, com vista a um cuidado integral evoltado para o contexto <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssa pessoa comoser humano e como parte primordial na promoção d<strong>em</strong>elhor qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.REFERÊNCIAS1. Fragoso V. Humanização dos cuidados a prestar ao idoso institucionalizado. Revista IGT. 2008; 5(8):51-61. [Citado 2009 <strong>de</strong>z. 20]. Disponível<strong>em</strong>: .2. Nascimento LC, Moraes ER, Silva JC, Veloso LC, Vale ARMC. Cuidador <strong>de</strong> idosos: conhecimento disponível na base <strong>de</strong> dados LILACS. Rev BrasEnferm. 2008 jul/ago; 61(4):514-7.3. Sommerhal<strong>de</strong>r C. Significados associados à tarefa <strong>de</strong> cuidar <strong>de</strong> idoso <strong>de</strong> alta <strong>de</strong>pendência no contexto familiar [dissertação]. Campinas (SP):Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação, Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Campinas; 2001.4. Eliopoulos C. Enfermag<strong>em</strong> gerontológica. 5ª ed. Porto Alegre: Artmed; 2005.5. Angelo MO. Contexto familiar. In: Duarte YAO, Diogo MJE, organizadores. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo:Editora Atheneu; 2000. p.27-31.6. Diogo MJDE. Formação <strong>de</strong> recursos humanos na área da saú<strong>de</strong> do idoso. Rev Latinoam Enferm. 2004 mar/abr; 12(2):280-2.7. Brasil. Ministério <strong>de</strong> Previdência e Assistência Social. Portaria 1.395/GM, <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1999. Dispõe sobre a Política Nacional doIdoso e dá outras providências. Brasília: Ministério <strong>de</strong> Previdência e Assistência Social; 1999.8. Miguel MEGB, Pinto MEB, Marcon SS. A <strong>de</strong>pendência na velhice sob a ótica <strong>de</strong> cuidadores formais <strong>de</strong> idosos institucionalizados. Rev EletrEnf. 2007; 9(3):784-95.9. Reis POE, Ceolim MF. O significado atribuído a ‘ser idoso’ por trabalhadores <strong>de</strong> instituições <strong>de</strong> longa permanência. Rev Esc Enferm USP. 2007;41(1):57-64.10. Fontanella BJB, Ricas J, Turato ER. Amostrag<strong>em</strong> por saturação <strong>em</strong> pesquisas qualitativas <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>: contribuições teóricas. Cad Saú<strong>de</strong> Pública.2008 jan; 24(1):17-27.11. Minayo MCS. O <strong>de</strong>safio do conhecimento: pesquisa qualitativa <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. 11ª ed. São Paulo (SP): Hucitec; 2008.12. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Resolução 196/96. Decreto nº 93.333 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1987. Estabelece critérios sobrepesquisa envolvendo seres humanos. Bioética. 1996; 4 (Supl. 2):15-25.13. Ribeiro MTF, Ferreira RC, Ferreira EF, Magalhães CS, Moreira NA. Perfil dos cuidadores <strong>de</strong> idosos nas instituições <strong>de</strong> longa permanência <strong>de</strong>Belo Horizonte, MG. Ciênc Saú<strong>de</strong> Coletiva. 2008; 13(4):1285-92.14. Waldow VR. Cuidado humano: o resgate necessário. Porto Alegre: Sagra Luzzato; 2001.15. Gonçalves LHT, Alvarez AM, Santos SM. Os cuidadores leigos <strong>de</strong> pessoas idosas. In: Duarte YAO, Diogo MJE, organizadores. Atendimentodomiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Editora Atheneu; 2000. p. 102-10.16. Torralba Roselló F. Antropologia do cuidar. Petropólis (RJ): Vozes; 2009.17. Backes DS, Sousa FGM, Mello ALSF, Erdmann AL, Nascimento KC, Lessmann JC. Concepções <strong>de</strong> cuidado: uma análise das teses apresentadaspara um programa <strong>de</strong> pós-graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Texto Contexto Enferm. 2006; 15:71-8.18. Pavarini SCI, Neri AL. Compreen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong>pendência, in<strong>de</strong>pendência, e autonomia no contexto domiciliar: conceitos, atitu<strong>de</strong>s ecomportamentos. In: Duarte YAO, Diogo MJE, organizadores. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Editora Atheneu;2000. p. 49-70.Data <strong>de</strong> submissão: 28/1/2010Data <strong>de</strong> aprovação: 16/6/2011r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 348-355, jul./set., 2011355


SAÚDE DA MULHER: A ENFERMAGEM NOS PROGRAMAS E POLÍTICASPÚBLICAS NACIONAIS NO PERÍODO DE 1984 A 2009WOMEN’S HEALTH NURSING AND NATIONAL PUBLIC PROGRAMS AND POLICIES BETWEEN 1984AND 2009SALUD DE LA MUJER: LA ENFERMERÍA EN LOS PROGRAMAS Y POLÍTICAS PÚBLICAS NACIONALESENTRE 1984 Y 2009Ludmilla Taborda Moreira Assis 1Betânia Maria Fernan<strong>de</strong>s 2RESUMONeste estudo, trata-se das ações da enfermag<strong>em</strong> nos programas e políticas públicos nacionais direcionados à saú<strong>de</strong>da mulher. Os objetivos foram i<strong>de</strong>ntificar e analisar a atuação da enfermag<strong>em</strong> nas políticas públicas e programas paraas mulheres no período <strong>de</strong> 1984 a 2009. Adotou-se uma abordag<strong>em</strong> metodológica qualitativa e a técnica <strong>de</strong> coleta<strong>de</strong> dados foi por meio da análise documental. Os resultados encontrados das ações da enfermag<strong>em</strong> nos programasforam categorizados nas quatro dimensões do cuidar: Assistência direta, Educação, Administração e Investigação.As ações propostas para a atuação da enfermag<strong>em</strong> não tiveram nenhuma modificação expressiva, entretanto asenfermeiras passaram a realizar, <strong>de</strong> fato, algumas das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminadas nos documentos. I<strong>de</strong>ntificou-se que nosdocumentos publicados após a década <strong>de</strong> 1980 houve o fortalecimento e o reconhecimento da prática, da autonomiae da competência técnica-científica da enfermag<strong>em</strong>.Palavras-chave: Saú<strong>de</strong> da Mulher; Enfermag<strong>em</strong>; Políticas <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.ABSTRACTThis study aimed to i<strong>de</strong>ntify and analyze women’s health nursing actions in national health programs and public policiesfrom 1984 to 2009. We adopted a qualitative methodology approach and data collection used document analysis.The study resulted in the nursing actions on national programs being divi<strong>de</strong>d into four scopes of care: direct care,education, administration and investigation. Although the nursing actions proposed by the national health programsand policies presented no significant changes nurses started to actually perform some of the measures specified inth<strong>em</strong>. The documents published after the 80’s acknowledged the nursing practice, its autonomy and the profession’stechnical and scientific competence.Keywords: Women’s Health; Nursing; Health Policy.RESUMENEste trabajo estudia las acciones <strong>de</strong> la enfermería en los programas y políticas nacionales dirigidos a la salud <strong>de</strong> la mujer.Tiene por objetivo i<strong>de</strong>ntificar y analizar la actuación <strong>de</strong> la enfermería en las políticas públicas y programas para lasmujeres entre 1984 y 2009. Fue utilizado el enfoque metodológico cualitativo y la técnica <strong>de</strong> recogida <strong>de</strong> datos a través<strong>de</strong>l análisis documental. Los resultados <strong>de</strong> las acciones <strong>de</strong> la enfermería en los programas fueron divididos en las cuatrodimensiones <strong>de</strong>l cuidado: Atención directa, Educación, Administración e Investigación. Las acciones propuestas parala actuación <strong>de</strong> la enfermería no tuvieron ninguna modificación significativa; sin <strong>em</strong>bargo, las enfermeras comenzarona realizar, <strong>de</strong> hecho, algunas <strong>de</strong> las activida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminadas en los documentos. En los documentos publicados<strong>de</strong>spués <strong>de</strong> los años 80 se observó mayor fortalecimiento y reconocimiento <strong>de</strong> la práctica, autonomía y competenciatécnica-científica <strong>de</strong> la enfermería.Palabras clave: Salud <strong>de</strong> la Mujer; Enfermería; Políticas <strong>de</strong> Salud.1Enfermeira graduada e licenciada <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora (UFJF)-MG.2Enfermeira Obstetra. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Docente da UFJF-MG, Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Materno-Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Avenida Portugal, nº 5.365, bloco 3, apto. 301 – Belo Horizonte-MG.. CEP: 31710-400, E-mail: ludtabordinha@yahoo.com.br.356 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011


INTRODUÇÃOO processo saú<strong>de</strong>-doença é resultante da atuação<strong>de</strong> fatores ambientais, sociais, econômicos, como oacesso à alimentação, renda, condições <strong>de</strong> trabalhoe moradia, culturais e históricos. Isso significa que amorbimortalida<strong>de</strong> varia segundo o t<strong>em</strong>po, o espaçoe o grau <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento econômico, social ehumano <strong>de</strong> cada região. As mulheres adoec<strong>em</strong> maisfrequent<strong>em</strong>ente, fato mais relacionado com a situação<strong>de</strong> discriminação e <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> do que com fatoresbiológicos <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>. 1Os homens estão <strong>em</strong> melhores condições <strong>de</strong> inserçãono mercado <strong>de</strong> trabalho que as mulheres e receb<strong>em</strong>salários maiores. A morte materna está entre as <strong>de</strong>zprimeiras causas <strong>de</strong> óbito f<strong>em</strong>inino e entre as causasda mortalida<strong>de</strong> materna. O abortamento realizado <strong>em</strong>condições inseguras representa um grave probl<strong>em</strong>a<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública. O acesso a anticoncepção nãoé amplamente oferecido. As mulheres são maisvulneráveis ao acometimento <strong>de</strong> doenças sexualmentetransmissíveis (DSTs) e aids e à violência sexual edoméstica. São também marginalizadas nos meios<strong>de</strong> vida do campo, tendo seu ofício consi<strong>de</strong>radocomo apenas ajuda aos homens. O acesso ao prénatalé um probl<strong>em</strong>a significativo para as mulheresda população rural, das regiões Norte e Nor<strong>de</strong>stee o parto domiciliar <strong>em</strong> muitas situações é a únicaopção disponível para atendê-las. Jovens e idosas têmmenores oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inserção no mercado <strong>de</strong>trabalho. As presidiárias cumpr<strong>em</strong> pena <strong>em</strong> espaçosina<strong>de</strong>quados e <strong>em</strong> situações insalubres, além <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>abandonadas pelos seus parceiros, não ter<strong>em</strong> garantiaplena <strong>de</strong> visitas íntimas e sofrer<strong>em</strong> repressão nos casos<strong>de</strong> relações homossexuais. 2As mulheres constitu<strong>em</strong> a maioria da populaçãobrasileira (50,77%) e são tradicionalmente as principaisusuárias do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS), seja paraacompanhar os filhos ou as pessoas que estejam sobseus cuidados, como pessoas idosas, com <strong>de</strong>ficiência,vizinhos, amigos, seja para cuidar<strong>em</strong> <strong>de</strong> si mesmas.Constitu<strong>em</strong>, portanto, um importante segmento socialpara as políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, pela importâncianumérica e porque as históricas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> po<strong>de</strong>rentre homens e mulheres implicam forte impacto nascondições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina. 3As políticas públicas e programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pod<strong>em</strong> ser<strong>de</strong>finidos como conjuntos <strong>de</strong> disposições, medidase procedimentos que traduz<strong>em</strong> a orientação políticado Estado e regulam as ativida<strong>de</strong>s governamentaisrelacionadas às tarefas <strong>de</strong> interesse público. São também<strong>de</strong>finidas como todas as ações <strong>de</strong> governo, divididas<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s diretas <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> serviços pelopróprio Estado e <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> regulação <strong>de</strong> outrosagentes econômicos. Integram o campo <strong>de</strong> ação socialdo Estado orientado para a melhoria das condições <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> da população e dos ambientes natural, social edo trabalho. Sua tarefa específica <strong>em</strong> relação às outraspolíticas públicas da área social consiste <strong>em</strong> organizaras funções públicas governamentais para a promoção,proteção e recuperação da saú<strong>de</strong> dos indivíduos e dacoletivida<strong>de</strong>. 4As políticas e os programas voltados para a assistênciaà saú<strong>de</strong> da mulher foram formulados, no Brasil, nobojo das políticas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na primeirameta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong> 1930. Nesse período, estiveramlimitados às d<strong>em</strong>andas relativas à gravi<strong>de</strong>z e ao parto.Foram atualizados nas décadas <strong>de</strong> 1950 e 1970, porémmantiveram a visão precária sobre a mulher, dandoconta apenas da sua especificida<strong>de</strong> biológica. S<strong>em</strong>exceção, eram políticas e programas verticalizados es<strong>em</strong> integração com outras ações propostas do governofe<strong>de</strong>ral. As metas eram <strong>de</strong>finidas <strong>em</strong> nível central es<strong>em</strong> qualquer avaliação das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dapopulação local, por isso não geravam maior impactonos indicadores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da mulher. 5Em 1984, o Ministério da Saú<strong>de</strong> publicou o Programa<strong>de</strong> Assistência Integral à Saú<strong>de</strong> da Mulher (PAISM). Pelaprimeira vez, a mulher foi consi<strong>de</strong>rada sujeito ativoda sua própria saú<strong>de</strong> e todas as etapas da sua vidaforam consi<strong>de</strong>radas. 6 Porém, <strong>em</strong>bora tenha trazidouma conotação diferente, o enfoque reprodutivo compráticas assistenciais tradicionais persistiu.Decorridos vinte anos da publicação do PAISM, foiformulada uma nova política pública <strong>de</strong> assistênciaà saú<strong>de</strong> da mulher, a Política Nacional <strong>de</strong> AtençãoIntegral à Saú<strong>de</strong> da Mulher <strong>de</strong> 2004, que ampliou asações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para grupos historicamente alijadosdas políticas públicas, como as trabalhadoras rurais, asmulheres negras, mulheres na menopausa e na terceiraida<strong>de</strong>, mulheres com transtornos mentais e <strong>de</strong>ficiências,mulheres lésbicas, indígenas e presidiárias. 3Em 2008, quatro anos <strong>de</strong>pois, o II Plano Nacional<strong>de</strong> Políticas para as Mulheres foi aprovado e incluiuseis novas áreas estratégicas para se somar àquelasabordadas na Política Nacional <strong>de</strong> Atenção Integral àSaú<strong>de</strong> da Mulher. 2 São elas:Participação das mulheres nos espaços <strong>de</strong> po<strong>de</strong>re <strong>de</strong>cisão; Desenvolvimento sustentável no meiorural, na cida<strong>de</strong> e na floresta, com garantia <strong>de</strong>justiça ambiental, inclusão social, soberania esegurança alimentar; Direito a terra, moradiadigna e infraestrutura social nos meios rural eurbano, consi<strong>de</strong>rando as comunida<strong>de</strong>s tradicionais;Cultura, comunicação e mídia não discriminatórias;Enfrentamento ao racismo, sexismo e lesbofobia; eEnfrentamento às <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s geracionais queating<strong>em</strong> as mulheres, com especial atenção às jovense idosas. 2:20Quanto à enfermag<strong>em</strong>, observamos que a história daenfermag<strong>em</strong> brasileira acompanhou a política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>adotada pelo País.A primeira escola <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do Brasil foi criada<strong>em</strong> 1890. Entretanto, apenas <strong>em</strong> 1920, com o esboçoda primeira política <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Estado, é que surgiu anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> normatizar o trabalho <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.A princípio, a fiscalização da profissão ficou a cargor<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011357


Saú<strong>de</strong> da Mulher: a enfermag<strong>em</strong> nos programas e políticas públicas nacionais no período <strong>de</strong> 1984 a 2009do Serviço Nacional <strong>de</strong> Fiscalização da Medicina, cujoquadro <strong>de</strong> pessoal não possuía enfermeiras. 3* Em 1975,com a criação do Conselho Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>(Cofen), enfermeiras do órgão passaram a disciplinar e afiscalizar o exercício profissional da própria categoria. 7Na década <strong>de</strong> 1960, com o golpe militar <strong>de</strong> 1964,o Estado interveio na saú<strong>de</strong>. O regime autoritárioprivilegiou a prática especializada centrada na cura eno indivíduo, <strong>em</strong> prejuízo das medidas <strong>de</strong> prevenção epromoção do b<strong>em</strong>-estar da coletivida<strong>de</strong> . A enfermag<strong>em</strong>seguiu essa orientação nacional, e tanto os profissionais<strong>de</strong> nível superior como os <strong>de</strong> nível médio passaram a seconcentrar no ambiente hospitalar. 8No que diz respeito à saú<strong>de</strong> da mulher, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> asprimeiras políticas, a enfermag<strong>em</strong> foi caracterizada pelaexecução <strong>de</strong> tarefas e procedimentos tradicionais. 8As ações <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> estavam presentes <strong>em</strong>diversas ativida<strong>de</strong>s, como: inscrição, consulta <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, vacinação, visita domiciliar, pré-consulta,pós-consulta, supl<strong>em</strong>entação alimentar e nutricional,encaminhamentos <strong>de</strong> rotina, exames laboratoriais,preventivo <strong>de</strong> câncer, educação para a saú<strong>de</strong>, orientaçãoe controle <strong>de</strong> parteiras legais. A assistência ao partopo<strong>de</strong>ria ser realizada pela enfermeira obstetra, segundoa Lei do Exercício Profissional (LEP), porém o InstitutoNacional <strong>de</strong> Assistência Médica da Previdência Social(Inamps) não o reconhecia. Assim, qu<strong>em</strong> recebia peloprocedimento eram os médicos. 8Na enfermag<strong>em</strong> existiam divergências quanto àrealização da consulta. Algumas enfermeiras a realizavame compreendiam seu valor e outras, não. A consulta<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> constava <strong>de</strong>: recepção da usuária;levantamento das queixas, ida<strong>de</strong>, antece<strong>de</strong>ntesobstétricos, critérios <strong>de</strong> risco, medidas antropométricase da pressão arterial, coloração das mucosas; pesquisa<strong>de</strong> ed<strong>em</strong>a; medida <strong>de</strong> fundo <strong>de</strong> útero; ausculta fetal;orientação <strong>de</strong> acordo com a situação encontrada; pedido<strong>de</strong> exames compl<strong>em</strong>entares <strong>de</strong> rotina; prescrição efornecimento <strong>de</strong> sulfato ferroso a partir do início doterceiro trimestre da gestação; encaminhamentosnecessários; agendamento do comparecimento seguintee registro <strong>em</strong> formulário próprio. 8As enfermeiras permaneceram subutilizadas nas políticase programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para a população f<strong>em</strong>inina até queno PAISM “se atribuíss<strong>em</strong> responsabilida<strong>de</strong>s à equip<strong>em</strong>ultiprofissional, não mais reforçando a heg<strong>em</strong>oniamédica no fazer ou executar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteçãoà mulher”. 8:227 Porém, <strong>em</strong>bora todos os trabalhadorestenham sido consi<strong>de</strong>rados fundamentais na atençãoà saú<strong>de</strong> das mulheres, na prática cotidiana, ainda hátratamento diferenciado entre as categorias profissionaisquanto ao nível <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, à jornada <strong>de</strong> trabalho eao salário.Entretanto, a relevância da atuação da enfermag<strong>em</strong> naspolíticas públicas e programas nacionais <strong>de</strong>stinados àsmulheres t<strong>em</strong> sido colocada por instituições e entida<strong>de</strong>sinternacionais e nacionais – por ex<strong>em</strong>plo, o Ministério daSaú<strong>de</strong> (MS) que <strong>de</strong>senvolveu um programa <strong>de</strong> educaçãocontinuada para a categoria numa estratégia <strong>de</strong> resgataro compromisso social das profissionais e para valorizar oseu trabalho, já que no quantitativo da força <strong>de</strong> trabalho<strong>em</strong>pregada, a contribuição <strong>de</strong>ssas trabalhadoras émajoritária. 9O conhecimento das políticas e programas públicos<strong>de</strong>stinados à população f<strong>em</strong>inina e à assistência àmulher na atenção primária à saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>spertou o <strong>de</strong>sejo<strong>de</strong> pesquisar como é a “atuação da enfermag<strong>em</strong> naspolíticas e programas nacionais para a saú<strong>de</strong> da mulher”e teve como objetivos i<strong>de</strong>ntificar e analisar a atuação daenfermag<strong>em</strong> nessas políticas e programas no período<strong>de</strong> 1984 a 2009.METODOLOGIAComo proposta metodológica, optou-se por uma abordag<strong>em</strong>qualitativa e a coleta das informações se <strong>de</strong>u pormeio da análise documental.A pesquisa documental consiste na análise <strong>de</strong> materiaisvisando a uma interpretação além das que pod<strong>em</strong>existir. Ass<strong>em</strong>elha-se muito à pesquisa bibliográfica. Adiferença entre ambas está apenas no fato <strong>de</strong> que napesquisa bibliográfica utilizam-se fontes produzidaspor diversos autores sobre <strong>de</strong>terminado assunto e napesquisa documental a fonte consiste <strong>em</strong> documentosque pod<strong>em</strong> ou não já ter<strong>em</strong> sido explorados. Asvantagens são a riqueza e a estabilida<strong>de</strong> dos dados,a possibilida<strong>de</strong> do conhecimento do passado e aobtenção <strong>de</strong> dados com menor custo e s<strong>em</strong> o contatocom os sujeitos da pesquisa. 10As fontes primárias utilizadas foram: documentos <strong>de</strong>âmbito governamental que atendiam aos critérios <strong>de</strong>inclusão: políticas e programas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> damulher publicados pelo Ministério da Saú<strong>de</strong> no período<strong>de</strong> 1984 a 2009. As fontes secundárias, constituídas <strong>de</strong>livros, artigos e dissertações, utilizados para auxiliar naanálise e compreensão do contexto histórico, social eeconômico no qual as políticas e programas nacionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> da mulher, assim como a atuação da enfermag<strong>em</strong>neles, estão inseridas no período referido.As fontes primárias utilizadas estão listadas na TAB. 1.Com base na coleta <strong>de</strong> informações, os dados foramdigitados e analisados. A i<strong>de</strong>ntificação das ações realizadaspela enfermag<strong>em</strong>, inicialmente, foi coletada <strong>em</strong> cadaum dos documentos citados acima, separadamente,e posteriormente foram agrupadas <strong>em</strong> categoriasnas quatro dimensões do cuidar: Assistir; Educar;Administrar; e Investigar.A coleta das informações nas fontes primárias foialcançada na página eletrônica do Ministério da Saú<strong>de</strong>,na área específica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da mulher, durante o mês<strong>de</strong> junho e julho <strong>de</strong> 2009. A leitura e a análise dosdocumentos foram realizadas no período compreendidoentre julho e outubro e o relatório do estudo foielaborado no mês <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro do referido ano.358 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011


TABELA 1 – Fontes primárias utilizadas para a coleta <strong>de</strong> dados da pesquisaPUBLICAÇÃO1. Programa <strong>de</strong> Assistência Integral à Saú<strong>de</strong> da Mulher (PAISM)19842. Capacitação <strong>de</strong> enfermeiros <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública para o Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>: assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> 1994à mulher, criança e adolescentes <strong>em</strong> serviços locais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>3. Assistência pré-natal19984. Assistência pré-natal: manual técnico20005. Gestante <strong>de</strong> alto risco: sist<strong>em</strong>as estaduais <strong>de</strong> referência hospitalar à gestante <strong>de</strong> alto risco20016. Parto, aborto e puerpério: assistência humanizada20017. Falando sobre câncer do colo do útero20028. Falando sobre câncer <strong>de</strong> mama20029. Assistência <strong>em</strong> planejamento familiar: manual técnico200210. Planejamento Familiar: manual para o gestor200211. Políticas e diretrizes <strong>de</strong> prevenção das DST/aids entre mulheres200312. Programa Nacional <strong>de</strong> Aleitamento Materno200313. Plano Nacional: diálogos sobre a violência doméstica e <strong>de</strong> gênero: construindo políticas públicas200314. Síntese das Diretrizes para a Política <strong>de</strong> Atenção Integral à Saú<strong>de</strong> da Mulher 2004 a 2007200315. Política nacional <strong>de</strong> atenção integral à saú<strong>de</strong> da mulher: princípios e diretrizes200416. Atenção à saú<strong>de</strong> das mulheres negras200517. Atenção humanizada ao abortamento: norma técnica200518. Anticoncepção <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência: perguntas e respostas para profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>200519. Controle dos cânceres do colo do útero e <strong>de</strong> mama200620. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada: manual técnico200621. HIV/aids, hepatites e outras DST200622. Manual <strong>de</strong> controle das doenças sexualmente transmissíveis200623. Plano Integrado <strong>de</strong> Enfrentamento da F<strong>em</strong>inização da Epid<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> Aids e Outras DSTs200724. Conversando com a gestante200825. Manutenção <strong>de</strong> atenção à mulher no climatério/menopausa200826. II Plano Nacional <strong>de</strong> Políticas para as Mulheres200827. Ações <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> para o controle do câncer: uma proposta <strong>de</strong> integração ensino-serviço200828. Atenção integral para mulheres e adolescentes <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> violência doméstica sexual: matriz 2009pedagógica para formação <strong>de</strong> re<strong>de</strong>sANORESULTADOS E DISCUSSÃOO cuidar é a essência da prática da enfermag<strong>em</strong> e nãopo<strong>de</strong> ser compreendido apenas como a realização <strong>de</strong>uma tarefa ou ativida<strong>de</strong>s relacionadas ao assistir direto.Deve ser entendido numa visão ampla, numa óticamultidimensional, abrangendo ações <strong>de</strong> assistência,educação, administração e investigação. 11 As categoriasapresentadas a seguir foram elaboradas com base nessaconcepção, sendo classificadas <strong>em</strong>: Assistir; Educar;Administrar; e Investigar.AssistirA assistência direta à usuária, primeiramente, necessita <strong>de</strong>uma prática <strong>de</strong>nominada “acolhimento”. O acolhimentoé incentivado e enfatizado nas políticas e manuais<strong>de</strong>stinados à atenção à saú<strong>de</strong> da população f<strong>em</strong>ininapublicados pelo MS.O acolhimento, na prática cotidiana dos serviços, seexpressa na relação estabelecida entre os trabalhadorese as trabalhadoras <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com as usuárias pormeio <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s como: a profissional se apresentar,chamar as usuárias pelo nome, informar as condutase os procedimentos que serão realizados e adotados,escutar e valorizar o que é dito por elas, garantir aprivacida<strong>de</strong> e a confi<strong>de</strong>ncialida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntre outros. Nãoconsiste <strong>em</strong> uma etapa do processo, mas <strong>em</strong> uma açãoque <strong>de</strong>ve ocorrer <strong>em</strong> todos os locais e momentos daatenção à saú<strong>de</strong>. 12r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011359


Saú<strong>de</strong> da Mulher: a enfermag<strong>em</strong> nos programas e políticas públicas nacionais no período <strong>de</strong> 1984 a 2009O assistir realizado pela enfermeira, proposto nosdocumentos analisados, po<strong>de</strong> ser agrupado no que se<strong>de</strong>nomina “Consulta <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>”:A consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> é a atenção prestadaao indivíduo, à família e à comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modosist<strong>em</strong>ático e contínuo, realizada pelo profissional<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> promover asaú<strong>de</strong> mediante diagnóstico e tratamento precoces.De acordo com a Resolução Cofen n. 272/2002, <strong>em</strong>seu artigo 1°, ao enfermeiro incube privativamente aconsulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, a qual <strong>de</strong>ve compreen<strong>de</strong>rhistórico (entrevista), exame físico, diagnóstico,prescrição e evolução <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. 13:93-94Na anamnese, a coleta <strong>de</strong> dados direciona-se nãosomente para a queixa principal da mulher, mas tambémpara sua história <strong>de</strong> vida pessoal e <strong>de</strong> trabalho. Inclui,<strong>de</strong>ntre outros, a i<strong>de</strong>ntificação (nome, ida<strong>de</strong>, número doprontuário, estado civil, profissão, ocupação, data <strong>de</strong>nascimento, naturalida<strong>de</strong>, escolarida<strong>de</strong>); o motivo daconsulta; os antece<strong>de</strong>ntes pessoais (gerais, ginecológicose obstétricos) e familiares; o uso <strong>de</strong> medicação; osprobl<strong>em</strong>as mamários e/ou intestinais e/ou urinários; areligião; a profissão; a ocupação atual; a renda familiar; oautoexame das mamas (AEM); as condições <strong>de</strong> moradia;os dados sobre sono e repouso; a sexualida<strong>de</strong> (libido eprazer sexual); o uso <strong>de</strong> métodos contraceptivos; e oestado nutricional.O exame físico geral, cefalocaudal <strong>de</strong>ve ser realizado<strong>em</strong> seguida, verificando os sinais vitais, glândulatireoi<strong>de</strong>, mucosas, <strong>de</strong>ntição, aspecto da pele, turgor,m<strong>em</strong>bros inferiores, higienização, tipo morfológico,distribuição <strong>de</strong> pelos, ausculta cardiopulmonar <strong>em</strong>edidas antropométricas.O exame físico ginecológico diz respeito ao examedas mamas (inspeção estática e dinâmica, palpação eexpressão papilar, b<strong>em</strong> como coletar a secreção s<strong>em</strong>preque for necessário), do abdome e da genitália f<strong>em</strong>inina.O exame clínico anal também <strong>de</strong>ve ser realizado com otoque retal.Na etapa do <strong>de</strong>senvolvimento do diagnóstico <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, a enfermeira <strong>de</strong>ve atentar para: interferênciado método contraceptivo utilizado naespontaneida<strong>de</strong> sexual; práticas que dificultam areprodução e doenças que interfer<strong>em</strong> negativamentenela; uso a<strong>de</strong>quado do método anticoncepcional;<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> condições que contraindiqu<strong>em</strong> ouso da anticoncepção <strong>de</strong> escolha; <strong>de</strong>tecção precoce dasmulheres que estão no climatério/menopausa; déficit<strong>de</strong> conhecimento sobre amamentação; riscos que agestante possa estar exposta; risco para distúrbiosnutricionais, para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong>colo <strong>de</strong> útero e <strong>de</strong> mama; presença <strong>de</strong> corrimentovaginal e aparecimento <strong>de</strong> infecções; fatores <strong>de</strong> riscoou doenças que possam alterar a evolução normal<strong>de</strong> uma futura gestação; vulnerabilida<strong>de</strong> para sofrerviolência doméstica e sexual e para contrair DST/aids;risco para abortamento provocado; risco <strong>de</strong> agravosdas patologias já existentes; risco para o abandonoda lactação e realizar o diagnóstico gravi<strong>de</strong>z, <strong>de</strong>ntreoutros.Antes <strong>de</strong> finalizar a consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, aenfermeira realiza o processo <strong>de</strong> tomada <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão,prescrevendo cuidados e adotando condutas. Para aassistência integral à saú<strong>de</strong> da mulher, é imprescindívelque sejam adotados nesse momento: estímular oautocuidado, o autoconhecimento, a auto-imag<strong>em</strong>;solicitar <strong>de</strong> exames, orientando o retorno da usuária paraconhecimento <strong>de</strong> resultados dos exames solicitados epara o controle <strong>de</strong> cura; prevenir, i<strong>de</strong>ntificar e tratar asintercorrências; orientar sobre o uso do preservativoe sobre a importância da dupla proteção; oportunizardiagnóstico <strong>de</strong> DST/aids; orientar sobre a fisiologiada reprodução; prescrever a quantida<strong>de</strong> suficientedo método contraceptivo utilizado até a consulta <strong>de</strong>retorno; orientar e incentivar a adoção <strong>de</strong> hábitos <strong>de</strong>vida saudáveis; fornecer cartão para convocação dosparceiros das mulheres nas quais foi <strong>de</strong>tectada a infecçãopor alguma DST; esclarecer dúvidas sobre métodoscontraceptivos, terapêuticos e medicamentosos(enfatizar a importância da a<strong>de</strong>são e conclusão dotratamento); realizar visita domiciliar quando necessário;encaminhar para os serviços <strong>de</strong> referência quando fornecessário e realizar busca ativa das mulheres que nãocomparecer<strong>em</strong> às consultas nesses serviços; fornecernome do hospital <strong>de</strong> referência no cartão da gestante;acompanhar óbito fetal segundo protocolo; realizaraconselhamento pré- e pós-teste HIV; estimular aparticipação do parceiro no cuidado à saú<strong>de</strong> da mulher;orientar direitos sociais e trabalhistas; orientar or<strong>de</strong>nha,armazenamento e doação <strong>de</strong> leite humano; realizaravaliação pré-concepcional; fazer a <strong>de</strong>tecção precoce, oacolhimento, a atenção e o encaminhamento a<strong>de</strong>quadosnos casos <strong>de</strong> violência doméstica; diagnosticar an<strong>em</strong>iafalciforme e o cuidado precoce <strong>de</strong>sta; encaminharaci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho; orientar preparo e administração<strong>de</strong> fórmulas infantis e outros alimentos; captar agestante; auxiliar parto <strong>de</strong> risco; prestar cuidadosimediatos e mediatos ao recém-nascido; orientar inibiçãoda lactação; iniciar amamentação na primeira hora <strong>de</strong>vida do recém-nascido; facilitar permanência <strong>de</strong> umacompanhante no trabalho <strong>de</strong> parto; orientar métodospara alívio <strong>de</strong> dor; incentivar a prática do controle social;prescrever medicações, conforme protocolos ou outrasnormativas técnicas estabelecidas pelo gestor municipal,observadas as disposições legais da profissão.Há, ainda, na assistência direta, inúmeros procedimentostécnicos executados pela enfermag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ntre os quais:aplicação do método hormonal injetável; mediçãodo diafragma; retirada <strong>de</strong> pontos; coleta <strong>de</strong> examepreventivo; vacinação para prevenção da hepatite Be tétano; administração <strong>de</strong> quimioterapia e opiáceos;administração <strong>de</strong> medicação oral, parenteral e vaginal;realização <strong>de</strong> curativo do coto umbilical no recémnascidoe administração da vitamina A quando prescritapelo médico; coleta <strong>de</strong> sangue; tricotomia como opçãoda parturiente; enteroclisma, valorizando a opiniãoda parturiente; cateterismo vesical; oxigenoterapia;monitorização, controle <strong>de</strong> vol<strong>em</strong>ia, infusão <strong>de</strong> líquidos360 r<strong>em</strong>E – Rev. 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e acompanhamento <strong>de</strong> perdas sanguíneas duranteo parto <strong>de</strong> alto risco; sinais vitais; tamponamento <strong>de</strong>vagina e massag<strong>em</strong> uterina; <strong>de</strong>ntre outros.De todas as ações <strong>de</strong> planejamento familiar paraas mulheres, somente não é da competência daenfermag<strong>em</strong> prescrever métodos contraceptivoshormonais e, na assistência à infertilida<strong>de</strong>, realizar pedidoe avaliar espermograma, dosag<strong>em</strong> <strong>de</strong> progesteronasérica, biópsia <strong>de</strong> endométrio, teste pós-coito, fatoruterino, fator tuboperitoneal e histerossalpingografia.Ações como inserção e retirada do dispositivo intrauterino(DIU), mamografia, episiotomia, punção por agulhafina, biópsia por agulha grossa e tratamento <strong>de</strong> lesõesmamárias benignas, segundo a literatura pesquisada,<strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizadas por profissional treinado, porémnão especifica qual categoria <strong>de</strong>ve executá-las.As lesões mamárias i<strong>de</strong>ntificadas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser avaliadaspelo médico; as medicações antiácidas, antirretroviraise a dosag<strong>em</strong> <strong>de</strong> insulina ficam a critério <strong>de</strong>ssestrabalhadores (que <strong>de</strong>ve intercalar as consultas prénataiscom a enfermeira), b<strong>em</strong> como o tratamento <strong>de</strong>h<strong>em</strong>orroidas, mastite, náuseas, vômitos, tonturas ecefaleias permanentes.A elevação da pressão arterial e a diabetes mellitus, muitocomum na população negra, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser controladas porprescrição médica, b<strong>em</strong> como o tratamento para DST/aids e a opção pela cesariana.Durante o pré-natal <strong>de</strong> alto risco, a enfermag<strong>em</strong> integraa equipe <strong>de</strong> atendimento à mulher, sendo, porém, domédico obstetra o papel <strong>de</strong>cisivo no acompanhamentoda gestante e na atuação da equipe.EducarÉ importante que os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> promovam gruposeducativos com espaços <strong>de</strong> escuta qualificada queesclareçam as dúvidas das mulheres. Os t<strong>em</strong>as <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ser sugeridos pelas próprias usuárias para alimentar asdiscussões <strong>em</strong> grupo sob a coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> enfermeirasou outras categorias profissionais sensibilizadas equalificadas para essa ação. O compartilhamento <strong>de</strong>experiências possibilita a construção <strong>de</strong> saberes eoportuniza a expressão <strong>de</strong> sentimentos e sensaçõesmuitas vezes não elaborados conscient<strong>em</strong>ente. 14Essas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizadas preferencialmente<strong>em</strong> grupos e reforçadas pela ação educativaindividual, a<strong>de</strong>quando a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> recursoshumanos, <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, <strong>de</strong> estrutura física e as características<strong>de</strong>sse grupo. Dev<strong>em</strong>, ainda, possuir caráterparticipativo, com linguag<strong>em</strong> acessível, simples eprecisa, po<strong>de</strong>ndo contar com o auxílio <strong>de</strong> dramatizaçõese dinâmicas, começando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância, perpassandopela pré-adolescência e adolescência, chegando à vidaadulta para, finalmente, findar-se na terceira ida<strong>de</strong>. 15“As ações educativas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estimular as mulheres,adultas e adolescentes, ao autoconhecimento e aoauto-cuidado, fortalecendo a auto-estima e a auto<strong>de</strong>terminaçãodas mesmas”. 16:63O aconselhamento é citado nas propostas educativasapresentadas pelos manuais e políticas públicaspublicados a partir <strong>de</strong> 2002, pelo governo, como umconceito e uma metodologia <strong>de</strong> trabalho para essasações.Aconselhamento é umprocesso <strong>de</strong> escuta ativa individualizado e centrado noindivíduo. Pressupõe a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer umarelação <strong>de</strong> confiança entre os interlocutores visandoo resgate dos recursos internos do indivíduo paraque ele tenha possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reconhecer-se comosujeito <strong>de</strong> sua própria saú<strong>de</strong> e transformação. 16:12Dentre os assuntos que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser abordados nasações <strong>de</strong> educação à saú<strong>de</strong> com as usuárias, s<strong>em</strong>prerespon<strong>de</strong>ndo suas dúvidas e indagações, t<strong>em</strong>os:significado da menopausa; vivência da sexualida<strong>de</strong>(esclarecimento <strong>de</strong> dúvidas e tabus); alteraçõesfisiológicas, corporais e <strong>em</strong>ocionais <strong>em</strong> todas as faixasetárias; fisiologia da reprodução; vivência do envelhecer;hábitos e estilos <strong>de</strong> vida saudáveis (alimentação,hidratação e ativida<strong>de</strong> física); exercícios <strong>de</strong> Kegel efortalecimento do assoalho pélvico; uso <strong>de</strong> drogaslícitas e ilícitas; métodos contraceptivos (acesso, taxa<strong>de</strong> falha, técnica <strong>de</strong> uso, vantagens e <strong>de</strong>svantagens,efeitos secundários e critérios <strong>de</strong> elegibilida<strong>de</strong>);resgate do parto normal como algo fisiológico (sinaisdo início do trabalho <strong>de</strong> parto, vantagens do partonormal para a parturiente e o bebê, caráter eletivoda cesariana, práticas <strong>de</strong> relaxamento para o trabalho<strong>de</strong> parto, técnicas respiratórias que minimizam a dor,posicionamentos que auxiliam a dilatação e saída dobebê); importância do pré-natal; <strong>de</strong>senvolvimentoda gestação (modificações corporais e <strong>em</strong>ocionais,medos e fantasias relacionados a esse período do cicloreprodutivo); cuidados no pós-parto com a mulher ecom a criança recém-nascida; impacto do trabalho nasaú<strong>de</strong> integral da mulher <strong>em</strong> todas as faixas etárias <strong>em</strong>omentos do ciclo reprodutivo; vacinação da mulhere da criança; direitos sociais (lei do acompanhante,licença maternida<strong>de</strong> e alojamento conjunto), políticos,econômicos, reprodutivos e sexuais; amamentação(vantagens para a mãe, bebê, família e socieda<strong>de</strong>;padrões <strong>de</strong> aleitamento; composição e característicado leite humano; colostro, leite <strong>de</strong> transição, leit<strong>em</strong>aduro, leite <strong>de</strong> pré-termo; preparo das mamas paraaleitamento; or<strong>de</strong>nha: partes envolvidas na lactação,produção e ejeção <strong>de</strong> leite materno, pega, sucção,posicionamento da criança, ciclo <strong>de</strong> sucção/<strong>de</strong>glutição/respiração, confusão <strong>de</strong> bicos, cuidados com a mamae práticas que prejudicam a iniciação e manutençãoda amamentação; armazenamento e doação <strong>de</strong> leit<strong>em</strong>aterno; início da amamentação na primeira hora <strong>de</strong>vida; triag<strong>em</strong> neonatal; prevenção e <strong>de</strong>tecção precocedo câncer <strong>de</strong> colo do útero e <strong>de</strong> mama e das DST/aids;autoexame das mamas; uso do preservativo para adupla proteção; controle social; autocuidado (inclusivecom a higiene bucal); autovalorização; limites, riscos evantagens das terapias; a<strong>de</strong>são às terapias e conclusãodos tratamentos; retorno para busca <strong>de</strong> resultados er<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011361


Saú<strong>de</strong> da Mulher: a enfermag<strong>em</strong> nos programas e políticas públicas nacionais no período <strong>de</strong> 1984 a 2009tratamentos necessários, b<strong>em</strong> como acompanhamentos<strong>de</strong> rotina.As ativida<strong>de</strong>s educativas extrapolam a promoção dasaú<strong>de</strong> e a prevenção <strong>de</strong> doenças e agravos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>que possam ser <strong>de</strong>senvolvidos pelas usuárias. Estáincluída nessa categoria a capacitação profissional. Aenfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>senvolver oficinas e cursos <strong>de</strong>reciclag<strong>em</strong> para o domínio dos conhecimentos listadosacima e para a transformação da prática, <strong>de</strong> forma que oprofissional realize as orientações s<strong>em</strong> juízo <strong>de</strong> valor, porex<strong>em</strong>plo. As profissionais <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser sensibilizadas paraadotar<strong>em</strong> imagens não estereotipadas e discriminatóriasdas mulheres nas questões <strong>de</strong> gênero, etnia e orientaçãosexual. A enfermag<strong>em</strong> ainda é encarregada dotreinamento profissional das parteiras e da capacitação<strong>de</strong> indivíduos que ocupam “ca<strong>de</strong>iras” nos conselhos<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, incentivando a monitoração e fiscalizaçãoda qualida<strong>de</strong> e eficiência dos serviços prestados àsmulheres, b<strong>em</strong> como a efetivação das políticas públicas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvidas para as mesmas.AdministrarAdministrar é transformar a informação <strong>em</strong> conhecimentoe este <strong>em</strong> ação. Dessa forma, ao administrar, os objetivospropostos pela organização são interpretados etransformados <strong>em</strong> ação organizacional, utilizando-seo planejamento como estratégia a fim <strong>de</strong> alcançar taisobjetivos <strong>de</strong> maneira mais a<strong>de</strong>quada. 17O planejamento é a pre<strong>de</strong>terminação do que <strong>de</strong>ve serfeito, como <strong>de</strong>ve ser feito e dos métodos e tipos <strong>de</strong> controlenecessários para que os objetivos <strong>de</strong>terminados sejamalcançados. 18 A enfermeira <strong>de</strong>ve utilizar o planejamentopara programar, executar e avaliar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> com base <strong>em</strong> priorida<strong>de</strong>s, objetivos e metaspropostas para o controle da saú<strong>de</strong> da mulher.A enfermag<strong>em</strong> faz: provisão e previsão <strong>de</strong> material erecursos para consultas e ativida<strong>de</strong>s educativas (porex<strong>em</strong>plo, instrumental para coleta <strong>de</strong> citologia oncótica epara o parto; instrumentais mínimos para o atendimentoao recém-nascido para proporcionar condições ótimasque os auxili<strong>em</strong> a adaptação à vida extrauterina; materialpara prática do abortamento farmacológico, curetag<strong>em</strong>uterina etc.), b<strong>em</strong> como manter a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>suprimentos dos insumos necessários para realizar asações propostas pelas políticas públicas e manuaispublicados pelo MS; previsão, aquisição, distribuição,dispensação e cálculo <strong>de</strong> estoque reserva para garantir oacesso das mulheres aos métodos contraceptivos; pedido<strong>de</strong> medicações, conferindo-as ao recebê-las e verificandoas <strong>em</strong>balagens e valida<strong>de</strong> <strong>de</strong>las, <strong>de</strong>volvendo-as quandonão a<strong>de</strong>quadas; revisão quantitativa e logística dosinsumos para controle <strong>de</strong> transmissão vertical do HIV esífilis e para prevenção, diagnóstico e tratamento das DST/aids; organização do material, equipamentos e insumos,b<strong>em</strong> como do espaço físico do estabelecimento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>;correção preventiva dos equipamentos.Em relação à área física, a enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve proporcionar,na medida do possível, um espaço físico a<strong>de</strong>quado. Istoé, um ambiente que favoreça o inter-relacionamentoentre equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e usuárias; que possuaequipamentos e materiais permanentes mínimos parao cre<strong>de</strong>nciamento das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; que sejalimpo, confortável, acolhedor e ventilado; que sejaseguro, on<strong>de</strong> a privacida<strong>de</strong> seja garantida; a medicaçãoe os métodos contraceptivos também necessitam <strong>de</strong>espaço a<strong>de</strong>quado para a armazenag<strong>em</strong> e a distribuiçãocorretas; prevenção <strong>de</strong> instalações físicas para oalojamento conjunto, para as casas abrigos e para aexecução <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s didáticas e <strong>de</strong> serviços previstospara a capacitação profissional.A enfermeira <strong>de</strong>fine normas, funções e organiza rotinas,utilizando procedimentos comprovadamente benéficos eevitando intervenções <strong>de</strong>snecessárias; divulga os serviçosprestados nas instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> escolas, centroscomunitários e clubes; facilita o acesso das usuárias <strong>de</strong>drogas lícitas e ilícitas ao atendimento nas instituições;elabora protocolos e fluxos <strong>de</strong> atenção integral parare<strong>de</strong>s e serviços especializados com tratamento universale gratuito; notifica aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho; notifica assíndromes genitais, sífilis na gestação, sífilis congênita eHIV na gestante; i<strong>de</strong>ntifica e <strong>de</strong>senvolve ações <strong>em</strong> parceriacom os serviços existentes na comunida<strong>de</strong>, como casas<strong>de</strong> apoio e <strong>de</strong> passag<strong>em</strong>; informa, processa, analisa einterpreta dados para conhecer características <strong>de</strong> nívellocal, realizando ações <strong>de</strong> vigilância epid<strong>em</strong>iológicapertinentes a cada caso; acompanha fluxo <strong>de</strong> referênciae contra-referência; organiza o processo <strong>de</strong> trabalho daunida<strong>de</strong> para atendimento da d<strong>em</strong>anda i<strong>de</strong>ntificadana comunida<strong>de</strong>; coor<strong>de</strong>na e supervisiona as ativida<strong>de</strong>srealizadas pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e pelos agentescomunitários <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (ACSs) sob sua responsabilida<strong>de</strong>;garante a observância das normas <strong>de</strong> precauçãouniversal a fim <strong>de</strong> evitar exposição ocupacional a materialbiológico; fiscaliza propagandas e fornecimento <strong>de</strong>produtos que compet<strong>em</strong> com a amamentação, b<strong>em</strong>como recusa brin<strong>de</strong>s e amostras <strong>de</strong> fórmulas infantis eoutros alimentos para lactantes, além <strong>de</strong> retirar cartazesdos mesmos das instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; produz edistribui materiais educativos; faz relatório programáticomensal <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s e registro diário <strong>de</strong> consultas eprocedimentos.A enfermag<strong>em</strong>, na dimensão administrativa, ainda realizareuniões periódicas para avaliar, monitorar ereprogramar condutas s<strong>em</strong>pre que necessário e tambéma atenção prestada na instituição. A enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>vesaber avaliar o <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho global <strong>de</strong> cada trabalhadore do grupo, por meio <strong>de</strong> um processo contínuo quetenha por base padrões e objetivos pre<strong>de</strong>terminados eque <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser satisfeitos.InvestigarVárias são as possibilida<strong>de</strong>s para a enfermag<strong>em</strong> nessadimensão. A pesquisa acadêmica é s<strong>em</strong>pre estimuladanas políticas públicas e nos manuais publicados peloEstado. T<strong>em</strong>as como saú<strong>de</strong> mental e gênero, saú<strong>de</strong>das mulheres lésbicas e negras, saú<strong>de</strong> das mulheresindígenas, resi<strong>de</strong>ntes e trabalhadoras na área rural e362 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011


saú<strong>de</strong> da mulher <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> prisão ainda são poucoexplorados, o que dificulta a evolução nas práticasassistenciais <strong>de</strong>stinadas a essas mulheres, uma vez quehá escassez <strong>de</strong> dados para organizar políticas e ações<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para a melhoria da qualida<strong>de</strong> da assistênciaintegral para esses grupos populacionais.Mesmo nas situações mais divulgadas pela literatura,como as doenças crônico-<strong>de</strong>generativas, climatério/menopausa, saú<strong>de</strong> das mulheres adolescentes, violênciadoméstica e sexual, mulheres com DSTs/HIV/aids,planejamento familiar, abortamento, atenção obstétricae mortalida<strong>de</strong> materna, inúmeras são as possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas por enfermeiras – porex<strong>em</strong>plo, práticas já realizadas ou propostas <strong>de</strong> açõespara melhorar a atenção integral à saú<strong>de</strong> da mulhere fortalecer o conhecimento científico da referidacategoria profissional.Todavia, como essa dimensão não se refere apenas àsproduções acadêmicas, a enfermag<strong>em</strong> precisa praticáladiariamente durante seu trabalho. A enfermeira <strong>de</strong>veinvestigar condições sociais, prevalência <strong>de</strong> DSTs eoutras doenças, pessoas com queixas sugestivas <strong>de</strong> DST,probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> mais prevalentes nas mulheres eáreas críticas que interfer<strong>em</strong> na organização dos serviços<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> na área <strong>de</strong> abrangência dos serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Deve, ainda, investigar se as gestantes estãosendo acompanhadas no pré-natal e se foram realizadostestes para HIV, hepatite B e sífilis durante este e nomomento da internação para o parto ou curetag<strong>em</strong>uterina por abortamento ou outra intercorrência nagestação.CONSIDERAÇÕES FINAISA “impressão/sensação” <strong>de</strong> que a atuação mais autônomada enfermag<strong>em</strong> na saú<strong>de</strong> da mulher t<strong>em</strong> relaçãointrínseca com a publicação das políticas e programaspúblicos nacionais <strong>de</strong>spertou-nos o interesse <strong>em</strong> realizareste estudo.Foi possível verificar que, no campo da discussão e nocampo conceitual, ocorreram avanços significativos naspolíticas e programas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da mulher. Nas políticasoutrora verticalizadas, <strong>de</strong>finidas <strong>em</strong> nível central es<strong>em</strong> qualquer avaliação das necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dapopulação local, foram adotadas a regionalização e a<strong>de</strong>scentralização proposta pela Constituição Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>1988, no âmbito da criação do SUS.As ações propostas para a atuação da enfermag<strong>em</strong> nãotiveram nenhuma modificação expressiva, entretantoas enfermeiras passaram a realizar, <strong>de</strong> fato, algumas dasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>terminadas nos documentos. A publicaçãodas políticas e programas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da mulherindicando, <strong>em</strong> linhas gerais, as ações que <strong>de</strong>veriam ser<strong>de</strong>senvolvidas e os limites <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cadacategoria profissional possibilitaram o fortalecimentoda prática da enfermag<strong>em</strong>, da sua autonomia e da suacompetência técnico-científica.Na maioria dos documentos analisados, observou-se a<strong>de</strong>scrição apenas das ações que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>senvolvidas,o que “dá abertura” para que a enfermag<strong>em</strong> avance na suaprática, <strong>de</strong> acordo com o proposto pela lei do exercícioprofissional. Esse avanço só po<strong>de</strong>rá ser efetivado pormeio da união e da organização da classe para tornar aatuação da enfermag<strong>em</strong> ainda mais resolutiva, mediantea elaboração <strong>de</strong> protocolos assistenciais.A enfermag<strong>em</strong> organizada <strong>de</strong>ve interferir, também,na realida<strong>de</strong> construída histórica, cultural, econômicae socialmente, que v<strong>em</strong> impedindo a mulher <strong>de</strong> sersujeito <strong>de</strong> sua própria história e saú<strong>de</strong>. Uma atuaçãohumanizada no atendimento às mulheres, garantindouma atenção com o respeito e a confiança que mereceum ser integral (inteligente e sensível), b<strong>em</strong> comoconsi<strong>de</strong>rando sua individualida<strong>de</strong>, fará com que aenfermag<strong>em</strong> esteja contribuindo para que haja pessoase comunida<strong>de</strong>s atuantes que sab<strong>em</strong> utilizar os serviçospúblicos à sua disposição com critério e discernimentoe que têm responsabilida<strong>de</strong> pela promoção e proteçãoda sua saú<strong>de</strong>; ou seja, que exerçam <strong>de</strong> forma plena suacidadania.Vale colocar, ainda, que as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> discussãosobre o t<strong>em</strong>a tratado neste trabalho não termina nest<strong>em</strong>omento. S<strong>em</strong> dúvida alguma, a pesquisa configurasecomo um quadro referencial, uma vez que sepreten<strong>de</strong> dar continuida<strong>de</strong> à investigação do t<strong>em</strong>a <strong>em</strong>estudos mais avançados para que se possa contribuirefetivamente para o progresso da enfermag<strong>em</strong>.REFERÊNCIAS1. Fonseca RMGS. Gênero e saú<strong>de</strong>-doença: uma releitura do processo saú<strong>de</strong>-doença das mulheres. In: Fernan<strong>de</strong>s RAQ, Narchi NZ, organizadoras.Enfermag<strong>em</strong> e saú<strong>de</strong> da Mulher. São Paulo: Manole; 2007. p. 30-61.2. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. II Plano Nacional <strong>de</strong> Políticas para Mulheres. Brasília: MS; 2008.3. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Política nacional <strong>de</strong> atenção integral à saú<strong>de</strong> da mulher: princípios e diretrizes. Brasília: MS; 2004.4. Souza C. Políticas públicas: uma revisão da literatura. Sociologias. 2006 jul/<strong>de</strong>z; 16(8): 20-45.5. Pedrosa M. Atenção integral à saú<strong>de</strong> da mulher: <strong>de</strong>safios para impl<strong>em</strong>entação na prática assistencial. Rev Bras Méd Farm e Com. 2005 out/<strong>de</strong>z; 3(1): 72-80.6. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Programa <strong>de</strong> Assistência Integral <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> da Mulher: bases programáticas. Brasília: MS; 1984.7. Conselho Regional <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> De Minas Gerais (COREN-MG). Legislação e Normas. Belo Horizonte: COREN; 2009.8. Tyrrel MAR, Carvalho V <strong>de</strong>. Programas Nacionais e Saú<strong>de</strong> Materno-Infantil: impacto político-social e inserção da enfermag<strong>em</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro:EEAN/UFRJ; 1993.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011363


Saú<strong>de</strong> da Mulher: a enfermag<strong>em</strong> nos programas e políticas públicas nacionais no período <strong>de</strong> 1984 a 20099. Brasil. Ministério da saú<strong>de</strong>. Capacitação <strong>de</strong> enfermeiros <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> pública para o Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>: Assistência <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> àMulher, Criança e Adolescentes <strong>em</strong> Serviços Locais <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Brasília: MS; 1994.10. Gil AC. Como elaborar projetos <strong>de</strong> pesquisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas; 2002.11. Gonçalves AM, Sena RR. Assistir/cuidar na enfermag<strong>em</strong>. REME - Rev Min Enferm. 1998; 2(1):2-7.12. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Controle dos cânceres do colo do útero e <strong>de</strong> mama. Brasília: MS; 2006.13. Gerk MAS. Consulta <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> à mulher. In: Fernan<strong>de</strong>s RAQ, Narchi NZ, organizadoras. Enfermag<strong>em</strong> e saú<strong>de</strong> da Mulher. São Paulo:Manole Ltda; 2007.14. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Manutenção <strong>de</strong> Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa. Brasília: MS; 2008.15. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Pré-natal e puerpério: atenção qualificada e humanizada: manual técnico. 3ª ed. Brasília: MS; 2006.16. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Planejamento familiar: manual para o gestor. Brasília: MS; 2002.17. Donosco MTV. O gênero e as suas possíveis repercussões na gerência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. REME - Rev Min Enferm. 2000; 4(1/2):67-9.18. Almeida MIR. Manual <strong>de</strong> planejamento estratégico. São Paulo: Atlas; 2001.Data <strong>de</strong> submissão: 23/3/2011Data <strong>de</strong> aprovação: 16/6/2011364 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 356-364, jul./set., 2011


ACESSO À MAMOGRAFIA: PERCEPÇÕES DOS RESPONSÁVEIS PELAPOLÍTICA DA SAÚDE DA MULHERTHE ACCESS TO MAMMOGRAPHY AND THE PERCEPTIONS OF WOMEN’S HEALTH POLICY MARKERSACCESO A LA MAMOGRAFÍA: PERCEPCIÓN DE LOS RESPONSABLES DE LA POLÍTICA DE SALUD DELA MUJERQueli Lisiane Castro Pereira 1Hedi Crecencia Heckler <strong>de</strong> Siqueira 2RESUMOA mamografia é o método consi<strong>de</strong>rado mais eficaz <strong>de</strong> diagnóstico para a <strong>de</strong>tecção do câncer <strong>de</strong> mama. O objetivocom este trabalho foi i<strong>de</strong>ntificar a percepção dos responsáveis pela política da saú<strong>de</strong> da mulher sobre o acesso aoexame <strong>de</strong> mamografia às clientes climatéricas usuárias do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS). Trata-se <strong>de</strong> um estudoexploratório e <strong>de</strong>scritivo com abordag<strong>em</strong> qualitativa, envolvendo os 22 responsáveis pela política da saú<strong>de</strong> damulher dos municípios da 3ª Coor<strong>de</strong>nadoria Regional da Saú<strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (CRS/RS). Há insatisfação dossujeitos com a oferta dos serviços <strong>de</strong> mamografias, que está aquém das d<strong>em</strong>andas. O número reduzido <strong>de</strong> examespo<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado uma das causas da <strong>de</strong>tecção tardia do câncer <strong>de</strong> mama e, assim, contribuir para o maiornúmero <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por essa patologia. Conclui-se que há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aumentar o número <strong>de</strong> cotas paraaten<strong>de</strong>r à d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> mamografias às mulheres climatéricas para diminuir o índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por câncer d<strong>em</strong>ama nessa região.Palavras-chave: Saú<strong>de</strong> da Mulher; Mamografia; Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; Serviços <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>.ABSTRACTMammography is consi<strong>de</strong>red the most effective tool for the early <strong>de</strong>tection of breast cancer. This study aimed toi<strong>de</strong>ntify the policy markers’ perception on mammography access to menopausal women using the Brazilian PublicHealthcare Syst<strong>em</strong>. This is a <strong>de</strong>scriptive, exploratory and qualitative research that implicated 22 women’s healthpolicy makers of the municipalities un<strong>de</strong>r the 3rd Regional Healthcare Coordination in the state of Rio Gran<strong>de</strong> doSul. The results d<strong>em</strong>onstrated the clients’ dissatisfaction with the services provi<strong>de</strong>d since the test’s supply is lowerthan its d<strong>em</strong>and. The small number of mammogram tests performed can be consi<strong>de</strong>red one of the reasons for latebreast cancer diagnosis and therefore contributes to a large number of <strong>de</strong>aths from the disease. In conclusion, itis necessary to increase the number of mammograms for menopausal women and so reduce the <strong>de</strong>ath rate frombreast cancer in the region.Key words: Women’s Health; Climacteric; Mammography; Public Healthcare Syst<strong>em</strong>; Health Services.RESUMENLa mamografía es el método consi<strong>de</strong>rado más eficaz <strong>de</strong> diagnóstico para la <strong>de</strong>tección <strong>de</strong>l cáncer <strong>de</strong> mama. El presenteestudio buscó i<strong>de</strong>ntificar la percepción <strong>de</strong> los responsables <strong>de</strong> la política <strong>de</strong> salud <strong>de</strong> la mujer acerca <strong>de</strong>l acceso alexamen <strong>de</strong> mamografía <strong>de</strong> las usuarias <strong>de</strong>l Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Salud. Se trata <strong>de</strong> una investigación <strong>de</strong>scriptiva exploratoriacualitativa que involucró 22 responsables <strong>de</strong> la política <strong>de</strong> salud <strong>de</strong> la mujer <strong>de</strong> los municipios <strong>de</strong> la 3ª CoordinaduríaRegional <strong>de</strong> Salud/RS. Los resultados muestran insatisfacción <strong>de</strong> los sujetos con la oferta <strong>de</strong> los servicios, que es inferiora la d<strong>em</strong>anda. El número reducido <strong>de</strong> exámenes pue<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado una <strong>de</strong> las causas <strong>de</strong> la <strong>de</strong>tección tardía <strong>de</strong>lcáncer <strong>de</strong> mama y así contribuir a un mayor número <strong>de</strong> mortalidad por tal patología. Se concluye que habría queaumentar el número <strong>de</strong> cuotas para aten<strong>de</strong>r la d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> mamografías a las mujeres climatéricas y, así, disminuir elíndice <strong>de</strong> mortalidad por cáncer <strong>de</strong> mama en esta región.Palabras clave: Salud <strong>de</strong> la Mujer; Climaterio; Mamografía; Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Salud; Servicios <strong>de</strong> Salud.1Enfermeira. Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> (FURG). M<strong>em</strong>bro Pesquisador do grupo <strong>de</strong> estudo e pesquisaGerenciamento Ecossistêmico <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>/Saú<strong>de</strong> (GEES). Coor<strong>de</strong>nadora do Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> do Campus Universitário do Araguaia daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Mato Grosso (UFMT).2Enfermeira e Administradora Hospitalar. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Catarina (UFSC). Docente do programa <strong>de</strong> pósgraduação<strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> curso <strong>de</strong> Mestrado e Doutorado da FURG. Docente do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> das Faculda<strong>de</strong>s Atlântico Sul/Pelotas. Lí<strong>de</strong>r do grupo<strong>de</strong> estudo e pesquisa GEES. E-mail: hedihs@terra.com.brEn<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua das Goiabeiras, 872, Jardim das Mangueiras. Barra do Garças-MT. CEP: 78600-000 E-mail: quelilisiane@terra.com.br.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011365


Acesso à mamografia: percepções dos responsáveis pela Política da Saú<strong>de</strong> da MulherINTRODUÇÃOAo observar o crescimento populacional, é possível notar atendência <strong>de</strong> redução da natalida<strong>de</strong>, b<strong>em</strong> como o aumentosignificativo do contingente populacional que ultrapassaa faixa etária dos 60 anos. Nesse sentido, é imprescindívelconhecer os serviços e ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> disponibilizados àsmulheres climatéricas usuárias do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>(SUS), por consi<strong>de</strong>rar que o envelhecimento populacionalé um fato exposto e consumado. Cabe aos dirigentes dosserviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a configuração <strong>de</strong> ações para aumentarqualitativamente a longevida<strong>de</strong>, reduzir as possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> contrair ou <strong>de</strong>senvolver doenças, diminuir os custosda segurida<strong>de</strong> social e, consequent<strong>em</strong>ente, proporcionarmelhoria da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida às climatéricas usuárias dosist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.As mulheres, a partir dos 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>realizar, anualmente, a mamografia <strong>de</strong> rotina, pois essaé a melhor oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar precoc<strong>em</strong>entequalquer alteração nas mamas antes mesmo que ausuária ou profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> possa notá-la ouapalpá-la. 1-3O câncer é consi<strong>de</strong>rado um grave probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> pública não somente pelo número <strong>de</strong> casosdiagnosticados <strong>de</strong> forma crescente a cada ano, mastambém pelo investimento financeiro que é solicitadopara equacionar as questões <strong>de</strong> diagnóstico, tratamentoe reabilitação. Em 2006, com 8,8%, o câncer foi a quartacausa <strong>de</strong> internação <strong>de</strong> mulheres entre 10 e 49 anosno SUS. 4 Atualmente, é a segunda causa <strong>de</strong> morte pordoença no nosso país com 13.377, ou seja, 21% dos casos.Ressalte-se que <strong>de</strong>ntre as principais causas <strong>de</strong> morte dapopulação f<strong>em</strong>inina estão as neoplasias, principalmente,o câncer <strong>de</strong> mama (15%) e o <strong>de</strong> colo do útero (6,6%). 4-6 Onúmero <strong>de</strong> casos novos <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama apresentatendência ascen<strong>de</strong>nte, dadas as mudanças ambientais,urbanização acelerada e adoção <strong>de</strong> estilos <strong>de</strong> vidafavoráveis à carcinogênese, assim como a elevação daexpectativa <strong>de</strong> vida da população. 1O câncer <strong>de</strong> mama, até o momento, não po<strong>de</strong> serevitado, por ser <strong>de</strong> etiologia <strong>de</strong>sconhecida, todaviaalgumas das etapas da história natural da doençasão conhecidas, b<strong>em</strong> como seus fatores <strong>de</strong> risco e <strong>de</strong>proteção. A ativida<strong>de</strong> física mo<strong>de</strong>rada, dieta rica <strong>em</strong>frutas e verduras, primeira gestação antes dos 30 anos <strong>de</strong>ida<strong>de</strong>, menarca tardia, menopausa precoce são algunsdos fatores <strong>de</strong> proteção. São consi<strong>de</strong>rados fatores <strong>de</strong>risco: exposição a radiações ionizantes, gran<strong>de</strong> ingestão<strong>de</strong> gorduras saturadas, menarca precoce, menopausatardia, nuliparida<strong>de</strong>, primeira gestação após os 30 anos<strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, uso indiscriminado <strong>de</strong> hormônios, consumo<strong>de</strong> álcool e antece<strong>de</strong>ntes familiares positivos. 1,2,7O câncer <strong>de</strong> mama, geralmente, se apresenta como umnódulo na mama. As primeiras metástases comumenteaparec<strong>em</strong> nos gânglios linfáticos das axilas. Os ossos,fígado, pulmão e cérebro são outros órgãos quepod<strong>em</strong>, frequent<strong>em</strong>ente, apresentar metástases doreferido câncer. Calcula-se <strong>em</strong> seis a oito anos o períodonecessário para que um nódulo atinja um centímetro <strong>de</strong>diâmetro. Essa lenta evolução possibilita a <strong>de</strong>scobertaainda cedo <strong>de</strong>ssas displasias, se as mamas for<strong>em</strong>,periodicamente, examinadas. 2Diante disso, é fundamental que os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>realiz<strong>em</strong> ações <strong>de</strong> prevenção primária medianteorientação e esclarecimento sobre a importânciado autoexame, da realização do exame clínico dasmamas por profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> durante a consultaginecológica e da coleta do exame citopatológico,além <strong>de</strong> disponibilizar a prevenção secundária com arealização da mamografia para que, caso haja algumaalteração, tais como nódulos, cistos e microcalcificações,esta possa ser i<strong>de</strong>ntificada precoc<strong>em</strong>ente.A mamografia po<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar um câncer <strong>de</strong> mama atédois anos antes <strong>de</strong> ele ser palpável. Po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>radoo método mais eficaz <strong>de</strong> diagnóstico para a <strong>de</strong>tecção docâncer <strong>de</strong> mama. Quanto mais precoce a r<strong>em</strong>oção dotumor na fase inicial, mais eficiente é a redução da taxa<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> das usuárias portadoras <strong>de</strong> neoplasia <strong>em</strong>aior é a possibilida<strong>de</strong> da melhoria <strong>de</strong> sua qualida<strong>de</strong><strong>de</strong> vida. Portanto, é fundamental a elaboração eimpl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> políticas públicas, na Atenção Básica,que enfatiz<strong>em</strong> a atenção integral à saú<strong>de</strong> da mulherclimatérica. Destaque-se que elas precisam garantir,<strong>de</strong>ntre outras ações, a prevenção do câncer <strong>de</strong> mama,oportunizando o acesso à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviços quantitativae qualitativamente e, assim suprir as necessida<strong>de</strong>ssingulares ao seu ciclo vital da mulher. 8A consolidação e a efetivação, na esfera municipal,da Portaria nº 648, que instituiu a Política Nacional <strong>de</strong>Atenção Básica, cont<strong>em</strong>pla etapas importantes para queo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> consiga prestar serviços resolutivose eficientes, <strong>de</strong> forma equitativa. Ao cont<strong>em</strong>plar amacropriorida<strong>de</strong> do pacto pela vida, o qual se refere aocompromisso dos gestores <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> priorida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aimpacto sobre a situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da população, almejamelhorar o acesso, o acolhimento e a qualida<strong>de</strong> dosserviços prestados no SUS. A concentração <strong>de</strong> exames<strong>de</strong> mamografias <strong>em</strong> mulheres 40-69 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> é umdos indicadores do pacto pela vida, referentes à saú<strong>de</strong>da mulher. 4Diante disso, o objetivo com esta pesquisa foi i<strong>de</strong>ntificara percepção dos responsáveis pela política da saú<strong>de</strong>da mulher sobre o acesso ao exame <strong>de</strong> mamografia àsclimatéricas usuárias do SUS.METODOLOGIATrata-se <strong>de</strong> um estudo exploratório e <strong>de</strong>scritivo comabordag<strong>em</strong> qualitativa. Inicialmente, foi obtido oconsentimento formal do <strong>de</strong>legado da 3ª Coor<strong>de</strong>nadoriaRegional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (CRS/RS) eaprovação pelo Comitê <strong>de</strong> Ética e Pesquisa da UFPel sobo parecer n o 064/07.O estudo foi <strong>de</strong>senvolvido nos 22 municípios <strong>de</strong>abrangência da 3ª CRS/RS, localizados no extr<strong>em</strong>o suldo Estado gaúcho. A referida Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>abrange os municípios <strong>de</strong>: Amaral Ferrador, Arroio366 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011


Gran<strong>de</strong>, Arroio do Padre, Canguçu, Capão do Leão,Cerrito, Chuí, Cristal, Herval, Jaguarão, Morro Redondo,Pedras Altas, Pedro Osório, Pelotas, Pinheiro Machado,Piratini, Rio Gran<strong>de</strong>, Santa Vitória do Palmar, Santanada Boa Vista, São José do Norte, São Lourenço do Sule Turuçu.Os atores sociais <strong>de</strong>ste estudo foram os 22 profissionaisresponsáveis pela Política da Saú<strong>de</strong> da Mulher <strong>de</strong> cadaum dos municípios da 3ª CRS/RS, sendo i<strong>de</strong>ntificadospelas letras “RPSM”, seguidos <strong>de</strong> números arábicos,conforme o seguimento/ord<strong>em</strong> das entrevistasrealizadas (RPSM1, RPSM2..., RPSM22).Para a coleta <strong>de</strong> dados, foi utilizada a técnica <strong>de</strong> entrevistas<strong>em</strong>iestruturada. Após a elaboração do instrumento<strong>de</strong> pesquisa, foram realizados dois testes piloto paraverificar se tudo estava claro e compreensível. Os sujeitosforam esclarecidos quanto ao objetivo do estudo,garantia <strong>de</strong> anonimato, liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> participar e <strong>de</strong><strong>de</strong>sistir <strong>em</strong> qualquer momento, s<strong>em</strong> prejuízo individual.As entrevistas foram agendadas por telefone, <strong>de</strong> acordocom roteiro elaborado, o qual levou <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>raçãoa posição geográfica dos municípios, procurandoagendar no mesmo dia os municípios próximos. Asentrevistas foram realizadas após a assinatura do Termo<strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), elaborado<strong>em</strong> duas vias, permanecendo uma com as pesquisadorase a outra com o sujeito do estudo.Os dados coletados no segundo s<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2007 foramgravados <strong>em</strong> um MP3. Posteriormente o material foiorganizado e as leituras e releituras que conduziram àanálise qualitativa, processadas. A operacionalizaçãodos dados foi realizada <strong>de</strong> acordo com as três etapasda análise t<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>scrita por Minayo. 9 Esse processolevou, aproximadamente, três meses. Na pré-análise, combase no contato intensificado com o material <strong>de</strong> campo,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a transcrição das entrevistas foi possível absorvero conteúdo das falas dos RPSM e, no <strong>de</strong>correr das leiturasflutuantes, a captação dos aspectos relevantes <strong>de</strong> cadafala ficou mais clara. Assim, foi possível aliar o corpuse os significados pertinentes à questão da pesquisaao objetivo do estudo. Concomitant<strong>em</strong>ente à leiturarepetida do material das entrevistas, foi realizada ai<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong>stacadas as palavras-chave no texto.Posteriormente, foram feitos recortes nas falas e acategorização para a análise. A exploração do materialpartiu da <strong>de</strong>limitação do corpus com a compreensão dasfalas <strong>de</strong> cada um dos RPSMs por meio das palavras-chavei<strong>de</strong>ntificadas na pré-análise. Assim, avançou-se para oor<strong>de</strong>namento e a organização <strong>de</strong>ssas palavras por meio<strong>de</strong> tabelas. Nelas, foi possível visualizar inicialmenteos t<strong>em</strong>as, os quais continham a agregação dos dados,facilitando significativamente o processo <strong>de</strong> análise einterpretação dos dados.No transcorrer <strong>de</strong> todo o processo, utilizou-se a triangulaçãodos dados, ou seja, eles foram confrontados com oreferencial teórico e com as reflexões das pesquisadoras.Dessa forma, ocorreu a compreensão dos dados,comprovando a maior clareza teórica e o aprofundamentointerdisciplinar enunciados por Minayo. 9DISCUSSÃO DOS DADOSA análise dos dados foi feita com base na contag<strong>em</strong>das unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação presentes nas falas dasparticipantes <strong>em</strong> relação às questões apresentadas,obtendo-se cinco categorias: Cotas insuficientes;Eficiência e resolutivida<strong>de</strong> do projeto “Um toque <strong>de</strong>vida”; T<strong>em</strong>erosos quanto à não renovação do convênio;Alternativas para produzir diferentes maneiras <strong>de</strong>cuidar <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>; e Mamografia disponibilizada s<strong>em</strong>probl<strong>em</strong>as.Cotas insuficientesCom base nas falas dos sujeitos entrevistados e daanálise e discussão dos dados, foi possível i<strong>de</strong>ntificar aspercepções dos responsáveis pela política da saú<strong>de</strong> damulher sobre o acesso ao exame <strong>de</strong> mamografia dasclimatéricas usuárias do SUS.A maioria dos RPSM mostrou-se insatisfeita quantoàs cotas <strong>de</strong> seus municípios para a realização damamografia, pois são <strong>em</strong> número insuficiente às suasreais d<strong>em</strong>andas. Esse fato limita a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> asmulheres climatéricas alcançar<strong>em</strong> o diagnóstico precocedo câncer <strong>de</strong> mama:Mamografia, também. São 22 mamografia por mês,muito pouco pro nosso município; o número <strong>de</strong> usuáriosé muito gran<strong>de</strong>. A d<strong>em</strong>anda é muito gran<strong>de</strong>. (RPSM 2)O ruim é que nossa cota é muito pequena e muitovariável. Esse mês a gente t<strong>em</strong> 30, mês que v<strong>em</strong> pod<strong>em</strong>nos ce<strong>de</strong>r só 15, e aí t<strong>em</strong>os que ficar com as quinze,pra nos é complicado. Por que é muito difícil da genteconseguir marcar. Essa é uma das gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>sque a gente t<strong>em</strong> aqui. (RPSM 3)Hoje <strong>em</strong> dia nos t<strong>em</strong>os uma dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> encaminharesses pacientes pelo SUS, porque nos não t<strong>em</strong>os alguémque faça especificamente e unicamente pelo SUS nomunicípio. Não dá para marcar mamografia paradaqui há 60, 90 dias e até mais, na maioria das vezes.(RPSM 14)Atualmente, nós estamos com muito baixo índice d<strong>em</strong>amografia. Estamos tentando aumentar o teto. Oque aconteceu quando nos tínhamos o mamógrafoaqui: funcionava muito b<strong>em</strong>, aí o mamógrafo começoua estragar e começaram a diminuir o número d<strong>em</strong>amografia. O governo começou a repassar, comoeu entendi, conforme o número <strong>de</strong> mamografias doano anterior, aí nos ficamos com o teto muito baixo d<strong>em</strong>amografia, se eu não me engano são umas quinz<strong>em</strong>amografias por mês. Até assim ó, eu atendo asmulheres: eu informo que elas teriam que fazer, informoa palpação, mas algumas até faz<strong>em</strong> particular, outrastêm algum tipo <strong>de</strong> convênio. (RPSM 11)Essa situação preocupante faz com que as ações <strong>de</strong>prevenção do câncer <strong>de</strong> mama sejam <strong>de</strong>sacreditadase <strong>de</strong>squalificadas, porque, ao buscá-las, os serviçosnão possu<strong>em</strong> condições <strong>de</strong> aten<strong>de</strong>r à d<strong>em</strong>anda, porisso o atendimento à climatérica é postergado. Essaconjuntura cria nos usuários <strong>de</strong>sconfiança e insatisfaçãor<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011367


Acesso à mamografia: percepções dos responsáveis pela Política da Saú<strong>de</strong> da Mulhere nos profissionais, frustração, pois <strong>de</strong> que adianta osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estimular<strong>em</strong>, conscientizar<strong>em</strong> asmulheres sobre a importância <strong>de</strong> fazer<strong>em</strong> o autoexamee a mamografia se os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não oferec<strong>em</strong>condições para tal?Concorda-se que a prestação <strong>de</strong> serviços públicos v<strong>em</strong>sendo caracterizada como lenta e ineficaz, o que ten<strong>de</strong>a imprimir uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong>preciativa do atendimentooferecido à população que utiliza esses serviços. 10Com base nas falas dos RPSMs, visualiza-se a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> sensibilizar os gestores a fim <strong>de</strong> aumentar as cotas <strong>de</strong>exames para a realização da mamografia ou <strong>de</strong> adquirirum mamógrafo para a re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> a fim <strong>de</strong>que os municípios façam consórcios intermunicipais e,assim, facilit<strong>em</strong> o acesso ao referido exame.Eficiência e resolutivida<strong>de</strong> do projeto “Um toque<strong>de</strong> vida”As climatéricas usuárias do SUS da 3ª CRS/RS pu<strong>de</strong>ramcontar por três anos com o projeto pioneiro <strong>de</strong>nominado“Um toque <strong>de</strong> vida”, elaborado com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>orientar, informar e conscientizar mulheres sobre odiagnóstico precoce do câncer <strong>de</strong> mama, <strong>de</strong>senvolvidopela Fundação <strong>de</strong> Apoio Universitário, Universida<strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas e ONG Mama Vida com recursos doMinistério da Saú<strong>de</strong>.O projeto também teve como apoiadores a Socieda<strong>de</strong>Brasileira <strong>de</strong> Mastologia, o Comitê Gaúcho contra oCâncer <strong>de</strong> Mama, a Secretaria da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, aAssociação Riogran<strong>de</strong>nse <strong>de</strong> Empreendimentos <strong>de</strong>Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) e dasprefeituras municipais dos municípios da 3ª CRS.Com o “Mamamóvel”, um caminhão-baú equipado comsalas <strong>de</strong> mamografia, <strong>de</strong> exames, <strong>de</strong> espera e banheiroquímico, é que foi possível levar a mamografia até osmunicípios da 3ª CRS/RS.Po<strong>de</strong>-se observar que o projeto itinerante é reco-nhecidopelos RPSMs por causa das sua eficiência e resolutivida<strong>de</strong>ao realizar um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> mamografias s<strong>em</strong>burocracia, garantindo a agilida<strong>de</strong> e, principalmente,auxiliando na redução e no tratamento do câncer d<strong>em</strong>ama nesses municípios:O caminhão da ‘Mama Vida’ veio aqui ano passado.Essa foi a segunda vez que ele veio aqui. O ‘MamaVida’, ano passado, fez <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 220 e este ano, 180.Enquanto que a gente pelo SUS conseguiu marcar 14,a muito custo. Aqui a gente t<strong>em</strong> muita dificulda<strong>de</strong> d<strong>em</strong>arcar mamografia <strong>em</strong> Pelotas. (RPSM 13)Olha, não t<strong>em</strong> mamógrafo, mas uma vez por ano a‘Mama Vida’ vai lá; eles fizeram 250 e 200 mamografiasnesses dois últimos anos. (RPSM 18)Com parceria com o ‘Mama Vida’, fiz<strong>em</strong>os um mutirãofomos a quase 300 exames. Nós t<strong>em</strong>os que aproveitar!Como nos não t<strong>em</strong>os no município o mamógrafo,quando t<strong>em</strong> esses mutirões a gente divulga b<strong>em</strong> praelas aproveitar<strong>em</strong> a oportunida<strong>de</strong>. (RPSM 3)A gente teve o ‘Mamamóvel’ aqui, eles vieram já duasvezes. na primeira vez eles fizeram quase 500 e dasegunda vez <strong>de</strong>u 200 e poucas. E tirando a ‘Mama Vida’se faz [mamografia] conforme a d<strong>em</strong>ando encaminhadoà Pelotas. Agora a gente está mais acompanhandoessas mulheres, que tiveram algum tipo <strong>de</strong> alteraçãona mamografia. Mas se a climatérica precisar <strong>de</strong> algumtratamento, ele é feito <strong>em</strong> Pelotas. (RPSM 10)Antes <strong>de</strong> marcar a visita do “Mamamóvel”, esclareceo Grupo <strong>de</strong> Trabalho <strong>de</strong> Humanização do HE/UFPEl,a coor<strong>de</strong>nação do projeto conta com a secretaria <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada município para agendar, previamente,os atendimentos, sendo planejado e organizado comoauxílio da Emater, que, por meio <strong>de</strong> seus escritóriosregionais, auxilia na divulgação e no agendamento dasmulheres da zona rural.Nesse aspecto, a RPSM 19 lamenta não po<strong>de</strong>r captarmais mulheres para realizar a mamografia <strong>em</strong> razão <strong>de</strong>o t<strong>em</strong>po disponível para a divulgação ter sido pouco:A mamografia é referenciada para Pelotas e a ‘MamaVida’ foi lá duas vezes e ofereceram 200. Mas da últimavez não chegou a fazer 200 porque não foi muitodivulgado; eles não <strong>de</strong>ram t<strong>em</strong>po, avisaram: ‘S<strong>em</strong>anaque v<strong>em</strong>’ e ai as agentes comunitárias não conseguiramavisar a todas; a comunida<strong>de</strong> é espalhada. A genteconsegue muita coisa através do rádio, mas não é <strong>em</strong>todo o lugar que pega rádio. Então <strong>de</strong>sta última vez nãofoi muito divulgado, então não foram todas as mulheresque <strong>de</strong>veriam ir. (RPSM 19)T<strong>em</strong>erosos quanto à não renovação do convênioEm virtu<strong>de</strong> do bom resultado das ações <strong>de</strong> prevenção,diagnóstico precoce e tratamento do câncer d<strong>em</strong>ama pelo projeto itinerante “Um toque <strong>de</strong> vida”,alguns dos RPSM mostraram-se preocupados comum possível cancelamento dos valores <strong>de</strong>stinados aoprojeto pelo governo fe<strong>de</strong>ral, o que inviabilizaria suaoperacionalização:A ‘Mama Vida’ veio esse ano <strong>em</strong> janeiro e nós fiz<strong>em</strong>os <strong>em</strong>torno <strong>de</strong> 300 mamografias. É quando se consegue fazeras mamografias. Mas agora, com toda essa situação,não sei se vai ter mais. Eu não sei como é que tá, achoque é uma questão <strong>de</strong> recursos. Isso é um probl<strong>em</strong>apara os municípios pequenos; pra nós foi uma coisamuito boa, a gente conseguiu 300 e todas as mulheresque apresentaram probl<strong>em</strong>a já foram referenciadas,agendadas. (RPSM 21)Bom, a mamografia no município nos não t<strong>em</strong>os ait<strong>em</strong> que ir à Pelotas para fazer, agora a cota vou te ficar<strong>de</strong>vendo. A ‘Mama Vida’ já veio uma vez aqui, este anonão veio ainda, porque eles estão com um pouco <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conseguir recursos, alguma coisa assimque eu ouvi falar. (RPSM 8)A ‘Mama Vida’ foi lá e ficou bastante gente faltando,e aí estava agendado para abril, só que ai <strong>de</strong>u esseprobl<strong>em</strong>as e eles pararam. Mas foram feitas b<strong>em</strong> maisque 250, acho que quase 300. T<strong>em</strong>os uma dificulda<strong>de</strong>horrível para agendar <strong>em</strong> Pelotas. (RPSM 16)368 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011


De acordo com a Ata da Comissão IntergestoresBipartite/RS (CIB), <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 2007, há <strong>de</strong>staque queo convênio do projeto <strong>de</strong> prevenção e diagnóstico docâncer <strong>de</strong> mama, “Um toque <strong>de</strong> vida”, com o Ministérioda Saú<strong>de</strong> está terminando. O referido projeto está <strong>em</strong>avaliação no INCA, com recomendação da Resolução nº002/07, da CIB/Regional da 3ª CRS.Almeja-se que o INCA analise o referido projeto eenfatize-lhe a relevância e a abrangência social epreventiva. Não há dúvida <strong>de</strong> que será uma perdamuito gran<strong>de</strong> para a saú<strong>de</strong> da população da 3ª CRS/RScaso o INCA não <strong>em</strong>ita parecer favorável ao Ministérioda Saú<strong>de</strong> quanto à renovação do convênio, s<strong>em</strong> o qualé inviável a operacionalização do projeto. Além dodiagnóstico precoce, do tratamento, a usuária submetidaa cirurgia contava com o atendimento psicológico, comum banco <strong>de</strong> perucas para as pacientes submetidas aquimioterapia e um <strong>de</strong> próteses mamárias <strong>de</strong> espumapara as mastectomizadas.Notou-se que os municípios que possu<strong>em</strong> mamógrafojuntamente com a cobertura do “Mamamóvel” nãoreferiram limitação na realização da mamografia:Nos t<strong>em</strong>os mamógrafo aqui na cida<strong>de</strong>, a cota eu nãosei, mas não t<strong>em</strong> faltado. T<strong>em</strong>os também a ‘Mama Vida’,que veio e fez <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 200 exames. Dois anos elesvieram para a cida<strong>de</strong>. Este ano eles foram para o interior,pela dificulda<strong>de</strong> que elas, do interior, têm <strong>em</strong> vir paraa cida<strong>de</strong>. Então, a mamografia aqui no município estáok, acho. (RPSM 7)Bom quanto ao CA <strong>de</strong> mama é feito a prevençãoatravés da avaliação clinica na hora <strong>de</strong> fazer o CP equalquer alteração é encaminhada para cá [centro<strong>de</strong> especialida<strong>de</strong>s], nos t<strong>em</strong>os mamografia e t<strong>em</strong> omastologista que aten<strong>de</strong> aqui. (RPSM 4)Alternativas para produzir diferentes maneiras <strong>de</strong>cuidar <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>Com a intenção <strong>de</strong> disponibilizar a mamografia <strong>de</strong> formamais eficiente e <strong>em</strong> menor t<strong>em</strong>po, alguns municípios<strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> referir as usuárias para Pelotas ,que éreferência para esse exame, e encaminham para outrosmunicípios.Não t<strong>em</strong>os mamógrafo. As mamografias sãoencaminhadas para São Lourenço e Camaquã. Nósestamos conseguindo agendamento para daqui a doismeses até porque o mamógrafo <strong>de</strong> São Lourenço estácom probl<strong>em</strong>as, está estragado e são seis por mês só.(RPSM 21)Marcar mamografia <strong>em</strong> Pelotas é b<strong>em</strong> complicado.Como o município pertencia à 7ª CRS <strong>de</strong> Bagé, aí acabouficando algum teto <strong>de</strong> mamografia lá. É mais fácil agente marcar por Bagé do que por Pelotas, que d<strong>em</strong>oramuito. Não que lá seja <strong>de</strong> hoje para amanhã, mas é b<strong>em</strong>mais ágil. Lá nosso teto é <strong>de</strong> duas por mês. O municípiopaga algumas, as que são mais urgentes. (RPSM 17)O Rio Gran<strong>de</strong> do Sul é o Estado que apresenta o maiornúmero <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama do Brasil. Esse tipo <strong>de</strong> câncer,que representa 22% dos casos <strong>de</strong> câncer do País, é umdos mais t<strong>em</strong>idos pelas mulheres por estar relacionadocom a f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>. Mulheres entre 45 e 65 anos são asmais atingidas, entretanto a incidência entre as maisjovens v<strong>em</strong> aumentando. 1Po<strong>de</strong>-se dizer que esse contexto <strong>de</strong> limitação <strong>de</strong> cotas,que impe<strong>de</strong> que a gran<strong>de</strong> maioria das mulheres commais <strong>de</strong> 40 anos realize a prevenção e <strong>de</strong>tecção precocedo câncer <strong>de</strong> mama, contribuiu para que a 3ª CRS tenhatido o segundo maior coeficiente, por 100 mil mulheres,<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por câncer <strong>de</strong> mama no período <strong>de</strong> 1997a 2003. 11De acordo com os dados da Pesquisa Nacional <strong>de</strong>Amostras por Domicílio (PNAD), <strong>de</strong> 2003, entre asmulheres <strong>de</strong> 50 anos e mais, apenas 50,3% referiram quejá tinham se submetido a um exame <strong>de</strong> mamografia.Os RPSMs reconhec<strong>em</strong> a extensão da cobertura proporcionadapelo projeto “Um toque <strong>de</strong> vida” àsmulheres, <strong>de</strong>ntre elas as climatéricas usuárias do SUS,que correspond<strong>em</strong> ao público-alvo do projeto, quesão mulheres acima <strong>de</strong> 40 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> ou que têmhistórico familiar <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama:T<strong>em</strong>os o apoio do projeto ‘Mama Vida’, que v<strong>em</strong>anualmente fazer a <strong>de</strong>tecção precoce do câncer d<strong>em</strong>ama. Ano passado fizeram mais ou menos 210mamografias. Só que o ‘Mama Vida’ <strong>de</strong>termina afaixa etária a partir dos 40 anos. Mas a gente tambémse encaminha a Pelotas. Muitas <strong>de</strong>las faz<strong>em</strong> s<strong>em</strong> serpela ‘Mama Vida’, porque se orientam e elas sab<strong>em</strong> daimportância <strong>de</strong> ser feito anualmente. (RPSM 6)Para as mulheres que não correspond<strong>em</strong> aos critériosdo projeto, resta ser cont<strong>em</strong>plada pela cota <strong>de</strong> cadamunicípio ou, <strong>de</strong> acordo com as suas possibilida<strong>de</strong>sfinanceiras, realizar a mamografia <strong>de</strong> forma particular.Visando garantir que as usuárias com um risco potencialpara a doença foss<strong>em</strong> cont<strong>em</strong>pladas, os profissionais <strong>de</strong>um dos municípios organizaram a d<strong>em</strong>anda conformea priorida<strong>de</strong> das usuárias dos serviços, <strong>de</strong> acordo como princípio da equida<strong>de</strong>, que é alcançado quando osrecursos são disponibilizados para as pessoas quenecessitam mais dos serviços. 12O ano passado a ‘Mama Vida’ fez 250 mamografias,então é rapidinho e a gente aproveita. O ano passadoa gente combinou que cada unida<strong>de</strong> teria um númerox <strong>de</strong> mulheres para encaminhar – aquelas que o clinicojá viu, já conhece e acha que há uma necessida<strong>de</strong> maispr<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> realizar–, então se dividiu isso <strong>em</strong> torno<strong>de</strong> 20 a 30 pacientes por unida<strong>de</strong> e se drenou paraa campanha da mamografia <strong>de</strong>ntro da faixa etária.(RPSM 14)Provalvelmente <strong>em</strong> razão <strong>de</strong> a cota para a mamografiaser insuficiente para a d<strong>em</strong>anda, gerando risco àsaú<strong>de</strong> das usuárias, entre elas a das climatéricas,dois municípios estão tentando adquirir aparelho d<strong>em</strong>amografia para garantir o diagnóstico precoce docâncer <strong>de</strong> mama:r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011369


Acesso à mamografia: percepções dos responsáveis pela Política da Saú<strong>de</strong> da MulherNós tínhamos o mamógrafo que estragou, nós estamos<strong>em</strong> fase <strong>de</strong> tentar instalar um novo mamógrafo. Estavindo uma mastologista pra cá, porque por enquanto anossa referencia é Pelotas, e tá complicado. (RPSM 11)Ano passado, teve uma campanha feita pelo Avon, senão me engano, era ‘Um beijo pela vida’, que permitiaa i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que se conseguisse um mamógrafo para omunicípio. Daí fiz<strong>em</strong>os uma caminhada, fiz<strong>em</strong>os umprojeto e o levamos projeto ao conhecimento da Avon[...], na tentativa <strong>de</strong> conseguir um mamógrafo para quenos facilitasse o pedido <strong>de</strong> exames. Porque, na verda<strong>de</strong>,a gente t<strong>em</strong> que limitar entre aspas cotas, por que nosnão vamos fazer mamografia <strong>em</strong> todas as mulheresacima <strong>de</strong> 40 anos. (RPSM 14)Percebe-se que esses profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estãocomprometidos com as necessida<strong>de</strong>s da comunida<strong>de</strong>e engajados <strong>em</strong> ampliar a autonomia e a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> resolutivida<strong>de</strong> da intervenção dos serviços eações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> prol das usuárias do SUS. Essesprofissionais parec<strong>em</strong> ter clareza <strong>de</strong> que o câncer d<strong>em</strong>ama é o que mais mata as mulheres gaúchas e que,no entanto, se <strong>de</strong>tectado precoc<strong>em</strong>ente, oferece 98%<strong>de</strong> chances <strong>de</strong> cura. Mulheres que se submet<strong>em</strong> àsmamografias regularmente reduz<strong>em</strong> <strong>em</strong> até 30% o risco<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por essa doença. 3A campanha “Um beijo pela vida”, referida pela RPSM14, existe <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2003. É atualmente uma das principaisfrentes <strong>de</strong> atuação do Instituto Avon contra o câncer d<strong>em</strong>ama. Ela dá suporte financeiro e logístico a projetos quelevam a mulher a ter mais informação sobre o câncer d<strong>em</strong>ama e mais acesso a exames <strong>de</strong> <strong>de</strong>tecção e tratamento.O instituto Avon já doou 19 mamógrafos, <strong>de</strong>ntre outrosequipamentos, para centros <strong>de</strong> atendimento público. 13Mamografia disponibilizada s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>asSegundo os RPSMs, apenas três municípios não possu<strong>em</strong>probl<strong>em</strong>as para disponibilizar a mamografia às usuáriasdo SUS:Quanto à cota, nunca tiv<strong>em</strong>os probl<strong>em</strong>a para marcar.(RPSM12)T<strong>em</strong>os facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> marcar <strong>em</strong> Pelotas. L<strong>em</strong>bro quenão é um t<strong>em</strong>po muito longo que se aguarda. Eu nãosei qual é a nossa cota. (RPSM 18)Nós não t<strong>em</strong>os tido probl<strong>em</strong>as com a cota. Como anossa população é pequena, a gente não t<strong>em</strong> tidoprobl<strong>em</strong>a. (RPSM 19)Como não têm uma d<strong>em</strong>anda para a realização damamografia, os RPSMs 12, 18 e 19 não têm probl<strong>em</strong>aspara marcar o exame no município <strong>de</strong> referência paraa realizaçao do exame. Tais afirmações são, no mínimo,paradoxais, se consi<strong>de</strong>rarmos a recomendação doMinistério da Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> que a mamografia <strong>de</strong>ve serrealizada anualmente a partir dos 40 anos. Diantedisso, acredita-se que as mulheres não estão sendoincentivadas, tampouco informadas pelos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sobre a importância da prevenção e darealização da mamografia para o diagnóstico precocedo câncer <strong>de</strong> mama anualmente.CONSIDERAÇÕES FINAISCom base neste estudo foi possível i<strong>de</strong>ntificar comoinsatisfatória o acesso ao exame <strong>de</strong> mamografia <strong>em</strong>relação à d<strong>em</strong>anda das climatéricas usuárias do SUSnos municípios <strong>de</strong> abrangência da 3ª CRS/RS. A maioriados RPSMs encontra-se insatisfeita quanto às cotas <strong>de</strong>seus municípios para a realização da mamografia, poissão <strong>em</strong> número insuficiente às suas reais d<strong>em</strong>andas,fato que limita a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> as climatéricasrealizar<strong>em</strong> o diagnóstico precoce do câncer <strong>de</strong> mama.Diante <strong>de</strong>ssa situação, questiona-se: De que adianta osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> estimular<strong>em</strong> e conscientizar<strong>em</strong> asmulheres sobre a importância <strong>de</strong> fazer<strong>em</strong> o autoexamee a mamografia se os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não oferec<strong>em</strong>condições para tal?Em suma, questiona-se qual a contribuição efetivados equipamentos <strong>de</strong> mamografia para essa tarefaamplamente coletiva, que é produzir saú<strong>de</strong> quandolimitações <strong>de</strong> acesso e cotas são impostas. É precisorever a cobertura do exame <strong>de</strong> mamografia para queesteja <strong>de</strong> acordo com as necessida<strong>de</strong>s não somentedas climatéricas, mas <strong>de</strong> todas as usuárias que tenhamindicação <strong>de</strong> realizá-la. A d<strong>em</strong>anda não <strong>de</strong>veria serreprimida pela oferta do serviço, que t<strong>em</strong> limitado oacesso das usuárias do SUS ao uso <strong>de</strong>sse serviço <strong>de</strong>prevenção e <strong>de</strong>tecção precoce do câncer <strong>de</strong> mama.O câncer <strong>de</strong> mama é t<strong>em</strong>ido pelas mulheres não somentepor estar relacionado com a f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, mas tambémpela conjuntura biopsicossocial que permeia todos osfatores <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>ssa patologia. As mulheres maisatingidas pelo câncer <strong>de</strong> mama são as <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> entre 45e 65 anos, dada a tendência <strong>de</strong> aumentar, cada vez mais,o número <strong>de</strong> mulheres nessa faixa etária <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> doaumento da expectativa <strong>de</strong> vida. Portanto, é preciso quesejam reavaliadas as ações <strong>de</strong> prevenção e <strong>de</strong>tecçãoprecoce do câncer <strong>de</strong> mama para que, <strong>em</strong> curto prazo,a 3ª CRS não esteja mais <strong>em</strong> segundo lugar, entre as CRS,com o segundo maior índice <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>ininapor câncer <strong>de</strong> mama. É importante consi<strong>de</strong>rar queessa incidência elevada po<strong>de</strong> estar relacionada à maiornotificação e registro <strong>de</strong>sses dados.A redução da incidência está diretamente associada àsmedidas <strong>de</strong> prevenção e <strong>de</strong> conscientização da populaçãoquanto aos fatores <strong>de</strong> risco do câncer <strong>de</strong> mama; jáa redução da mortalida<strong>de</strong> <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da capacida<strong>de</strong>do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> <strong>de</strong>tectar o câncer o maisprecoc<strong>em</strong>ente possível e tratá-lo a<strong>de</strong>quadamente. Dessaforma, há relação <strong>de</strong> inter<strong>de</strong>pendência entre promoção,prevenção e assistência a ser oferecida à mulher.A execução <strong>de</strong> diversas ações <strong>de</strong> controle do câncer<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, consi<strong>de</strong>ravelmente, do estágio <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> cada município e <strong>de</strong> suasparticularida<strong>de</strong>s socioculturais e econômicas. Issoporque, cada vez que o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> não respon<strong>de</strong>a<strong>de</strong>quadamente à d<strong>em</strong>anda que a ele se apresenta,370 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011


corrói-se a sustentação política <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> que preten<strong>de</strong> assegurar o acesso universal eigualitário. 14Os elevados índices <strong>de</strong> incidência e mortalida<strong>de</strong> porcâncer <strong>de</strong> mama nos municípios da 3ª CRS/RS justificama urgência <strong>de</strong> implantação <strong>de</strong> estratégias efetivas <strong>de</strong>controle <strong>de</strong>ssa doença que incluam ações <strong>de</strong> promoçãoà saú<strong>de</strong>, prevenção e <strong>de</strong>tecção precoce, tratamento e <strong>de</strong>cuidados paliativos, quando esses for<strong>em</strong> necessários.Com base nos dados, <strong>de</strong>nota-se como necessárioaumentar as cotas <strong>de</strong> exames para a realização damamografia ou, ainda, viabilizar a aquisição do aparelho d<strong>em</strong>amografia para a re<strong>de</strong> municipal <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a fim <strong>de</strong> queos municípios possam realizar consórcios intermunicipaise, assim, facilitar o acesso e aumentar a cobertura doreferido exame às usuárias do SUS. Nesse sentido é quedois municípios estão tentando adquirir o aparelho d<strong>em</strong>amografia. Essa po<strong>de</strong>rá ser uma estratégia facilitadoracapaz <strong>de</strong> aumenatar o acesso ao serviço <strong>de</strong> mamografiae beneficiar um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> mulheres.Notou-se que os municípios que possu<strong>em</strong> mamógrafo,juntamente com a cobertura do referido projetoitinerante, não referiram limitação na realização damamografia.O projeto itinerante “Um toque <strong>de</strong> vida”, reconhecidopelos RPSM dada sua eficiência e resolutivida<strong>de</strong> aorealizar um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> mamografias s<strong>em</strong>burocracia, garante a agilida<strong>de</strong> e, principalmente, auxiliana redução e no tratamento do câncer <strong>de</strong> mama nessesmunicípios.Ressalte-se a importância do restabelecimento doconvênio entre o Ministério da Saú<strong>de</strong> e o referido projetoitinerante, pois sua metodologia <strong>de</strong> trabalho contribuipara a diminuição do diagnóstico <strong>em</strong> estádios maisavançados do câncer <strong>de</strong> mama e, <strong>de</strong>ssa forma, po<strong>de</strong>ráestar colaborando para o <strong>de</strong>créscimo das taxas d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong> por câncer <strong>de</strong> mama.Conclui-se que é fundamental a elaboração e a impl<strong>em</strong>entação<strong>de</strong> políticas públicas na Atenção Básicaque enfatiz<strong>em</strong> a atenção integral à saú<strong>de</strong> da mulherclimatérica que garantam o acesso à re<strong>de</strong> <strong>de</strong> serviçosquantitativa e qualitativamente, para suprir asnecessida<strong>de</strong>s singulares do ciclo vital f<strong>em</strong>inino <strong>em</strong>todas as suas fases.REFERÊNCIAS1. 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Secretaria <strong>de</strong> Gestão Estratégica e Participativa.Painel <strong>de</strong> indicadores do SUS n o 2: t<strong>em</strong>ático da mulher. Brasília: MS, 2008.5. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Departamento <strong>de</strong> informática do SUS. Anuário estatístico <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do Brasil. Brasília: MS; 2002.6. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Informações sobre Mortalida<strong>de</strong> (SIM) e Nascidos Vivos (Sinasc) para os profissionais do ProgramaSaú<strong>de</strong> da Família. Brasília: MS; 2004.7. Soares CMJ. Um olhar sobre as representaçöes sociais das enfermeiras acerca da <strong>de</strong>tecçäo precoce do câncer <strong>de</strong> mama, com enfoque noauto-exame[dissertação]. Rio <strong>de</strong> Janeiro: UERJ/Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>; 2007.8. Pereira LCP. Mulher climatérica usuária do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>:serviços e ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> [dissertação]. Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (RS): Programa<strong>de</strong> Pós-graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>/FURG; 2007.9. Minayo MCS. O <strong>de</strong>safio do conhecimento: pesquisa qualitativa <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. 10ª ed. São Paulo: Hucitec; 2007.10. Pinheiro R. As práticas do cotidiano na relação oferta e d<strong>em</strong>anda dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>: um campo <strong>de</strong> estudo e construção da integralida<strong>de</strong>In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Os sentidos da integralida<strong>de</strong> na atenção e no cuidado à saú<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IMS/UERJ – ABRASCO;2006. p. 65-107.11. Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. Secretaria Estadual da Saú<strong>de</strong>. Plano Diretor <strong>de</strong> Regionalização da Saú<strong>de</strong>. Porto Alegre: SES; 200412. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, serviços e tecnologias. Brasília: MS/ Unesco; 2002.13. Instituto Avon. Rio <strong>de</strong> Janeiro: AVON; 2007. [Citado 2007 out. 13]. Disponível <strong>em</strong>: .14. Mattos RA. Integralida<strong>de</strong> e a formulação <strong>de</strong> políticas específicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Construção da integralida<strong>de</strong>:cotidiano, saber e práticas <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Rio <strong>de</strong> Janeiro: IMS/UERJ – Abrasco; 2007. p. 47 -62.Data <strong>de</strong> submissão: 9/9/2010Data <strong>de</strong> aprovação: 4/4/2011r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 365-371, jul./set., 2011371


APLICAÇÃO E AVALIAÇÃO DA ORIENTAÇÃO DE ALTA ÀS PUÉRPERAS DOALOJAMENTO CONJUNTO DE UMA INSTITUIÇÃO PÚBLICA DE SAÚDE DEBELO HORIZONTEEVALUATION OF HOSPITAL DISCHARGE GUIDELINES AND ITS APPLICATION TO PUERPERAL WOMENSHARING A ROOM IN A PUBLIC HOSPITAL IN BELO HORIZONTEAPLICACIÓN Y EVALUACIÓN DE LAS DIRECTRICES DE ALTA DE MUJERES EN POSPARTO EN SALACOMÚN DE UN HOSPITAL PÚBLICO DE BELO HORIZONTEFernanda Penido Matozinhos 1Juliana Peixoto Albuquerque 1Laise Conceição Caetano 2RESUMOTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong>scritiva, no qual se utilizou o pré- e o pós-teste. Os dados obtidos foram processadose analisados no programa Microsoft Office Excel. A análise das palavras coletadas foi realizada mediante a verificaçãoda frequência. Foram realizadas 9 reuniões <strong>de</strong> orientações <strong>de</strong> alta e a amostra compreen<strong>de</strong>u 92 indivíduos. A ida<strong>de</strong>dos participantes variou entre 15 e 40 anos. Quanto à via <strong>de</strong> parto, 44 partos foram normais e 29 cesarianos. Duranteo pré-teste, 9 mulheres associaram à amamentação aos cuidados com o recém-nascido e ao autocuidado as palavras“não sabe” ou “nada” e 14 associaram tais termos a palavras negativas. Já no pós-teste, todas as palavras associadasforam positivas. Observa-se que o trabalho <strong>de</strong>senvolvido possibilitou o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento da população envolvida sobrea própria saú<strong>de</strong> e com relação aos cuidados necessários ao recém-nascido.Palavras-chave: Puerpério; Educação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>; Alojamento Conjunto; Recém-Nascido.ABSTRACTThis is a <strong>de</strong>scriptive study in which a pre and a post-test were performed. The data were processed and analyzed usingMicrosoft Office Excel. The analysis of the words collected was conducted through a word frequency test. 9 meetingswere held to discuss the gui<strong>de</strong>lines for hospital discharge. The research samples consisted of 92 patients. The participantswere aged between 15 and 40 years old. Regarding the childbirth, 44 were normal <strong>de</strong>liveries and 29 were achievedthrough caesarean section. During pre-test, 9 women associated breastfeeding, newborn care and self-care with theterms “do not know” or “nothing” and 14 related the same terms with negative words. In the post-test, all associatedwords were positive. The study revealed that the work <strong>de</strong>veloped <strong>em</strong>powered the patients to take an active interestin their own health and in the care of their newborn.Key words: Puerperium/Postnatal; Health Education; Shared Hospital Room; Newborn.RESUMENSe trata <strong>de</strong> un estudio <strong>de</strong>scriptivo con pruebas preliminares y pruebas posteriores. Los datos fueron procesados yanalizados con el programa Microsoft Office Excel. El análisis <strong>de</strong> las palabras recogidas se realizó mediante la verificación<strong>de</strong> la frecuencia. Se realizaron nueve para discutir las directrices orientación <strong>de</strong> alta. La muestra consistió en 92 pacientesentre 15 y 40 años. En cuanto a la modalidad <strong>de</strong> parto, 44 partos fueron normales y 29 por cesárea. Durante la pruebapreliminar nueve mujeres asociaron la lactancia materna a los cuidados <strong>de</strong>l recién nacido y al autocuidado las palabras“no sabe” o “nada” y 14 asociaron tales términos a palabras negativas. En la prueba posterior todas las palabras asociadasfueron positivas. Se observa que el trabajo <strong>de</strong>sarrollado con este estudio permitió que las pacientes involucradasadquirieran interés activo en su propia salud y en el cuidado <strong>de</strong>l recién nacido.Palabras clave: Posparto; Educación en Salud; Sala Común; Recién Nacido.1Enfermeira.2Professora do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Materno-Infantil e Saú<strong>de</strong> Pública da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais (EE<strong>UFMG</strong>).En<strong>de</strong>reço para correspondência – <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais. Avenida Alfredo Balena, 190 – Belo Horizonte-MG. CEP:30130-100. Telefone: (31)96441187. E-mail: nandapenido@hotmail.com.372 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 372-377, jul./set., 2011


INTRODUÇÃOO puerpério é, indubitavelmente, uma fase <strong>de</strong> intensasmudanças biopsicossociais na vida da mulher e compreen<strong>de</strong>as seis primeiras s<strong>em</strong>anas após o parto. 1 Durante esseperíodo, é comum o relato das puérperas sobre a ansieda<strong>de</strong>,a insegurança e o <strong>de</strong>spreparo que sent<strong>em</strong> <strong>em</strong> relação aoscuidados com o bebê. Esses sentimentos são ainda maisfrequentes quando as mulheres são primigestas e/ou nãoreceberam acompanhamento a<strong>de</strong>quado durante pré-natal,parto e puerpério. 2No Brasil, país influenciado por inúmeras culturas,é evi<strong>de</strong>nte a forte influência do conhecimentopopular-<strong>em</strong>pírico, das crenças, dos valores culturaise religiosos sobre os aspectos gestacionais e dopuerpério. Isso d<strong>em</strong>onstra que o conhecimentocientífico <strong>de</strong>ve ser levado à mulher <strong>de</strong> forma simples,respeitando-lhe a individualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma clara,humana s<strong>em</strong> julgamentos ou reprovações, dando-lheoportunida<strong>de</strong> para expressar seu conhecimento evisualizar possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> mudança <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong> numambiente saudável e seguro. 3É preciso construir, com as puérperas e sua família, umaconcepção <strong>de</strong> educação para a saú<strong>de</strong> com foco nasprincipais dúvidas e consi<strong>de</strong>rando o meio social <strong>em</strong> queestão inseridas. 2 A formação do vínculo entre profissionale puérpera é fator primordial no sucesso <strong>de</strong>ssas açõese contribui para a redução da morbimortalida<strong>de</strong>puerperal. 3Autores como Monteiro et al. 4 afirmam:A assistência à puérpera é tão importante quanto àassistência durante o pré-natal, pois o preparo para umpuerpério saudável começa na fase <strong>de</strong> gestação, <strong>de</strong>vendoser reforçado e incr<strong>em</strong>entado logo após o nascimento,para que haja a<strong>de</strong>quado restabelecimento da mulher esejam i<strong>de</strong>ntificadas possíveis alterações pós-parto.O Alojamento Conjunto promove uma interação maisíntima da puérpera com o recém-nascido e permiteincentivar o aleitamento materno, reduzir a incidência<strong>de</strong> infecções hospitalares cruzadas e possibilitar à equipe<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> melhor integração e observação sobre ocomportamento do binômio mãe-filho. 5,6De acordo com Zagonel, 7 o enfermeiro <strong>de</strong>ve fornecerinformações precisas durante o puerpério paraminimizar os medos e promover um ambiente saudávelpara a adaptação <strong>de</strong>ssa nova fase <strong>de</strong> vida. A atuação<strong>de</strong>sse profissional é, portanto, <strong>de</strong> vasta relevância noAlojamento Conjunto.Diante <strong>de</strong>ssa realida<strong>de</strong>, torna-se necessário o<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ações para assistir essa população,principalmente on<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ficiência do autocuidado e docuidado com o recém-nascido dificulta os momentossubsequentes à alta hospitalar.Os objetivos com este estudo foram aplicar e avaliar ametodologia previamente elaborada para as puérperas<strong>de</strong> alta hospitalar no Alojamento Conjunto <strong>de</strong> umainstituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte.MATERIAL E MÉTODOTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> natureza <strong>de</strong>scritiva, originadodurante o II Estágio Curricular do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais (EE<strong>UFMG</strong>), <strong>em</strong>que se propõe um diagnóstico situacional da populaçãoalvoe a implantação <strong>de</strong> uma orientação <strong>de</strong> alta baseada<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s educativas lúdicas coletivas, com ênfasenos cuidados relacionados à saú<strong>de</strong> da puérpera e dorecém-nascido (RN).A população-alvo <strong>de</strong>ste trabalho constituiu-se <strong>de</strong>todas as puérperas do Alojamento Conjunto (AC) damaternida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uma instituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>Belo Horizonte e seus respectivos acompanhantes.O hospital citado foi construído na década <strong>de</strong> 1940 efirmou convênio com o Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) nadécada <strong>de</strong> 1990, iniciando o processo <strong>de</strong> universalizaçãodo atendimento <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> prestar a assistência, porlongo período, apenas aos servidores municipais. 8A maternida<strong>de</strong> do hospital é referência <strong>em</strong> gravi<strong>de</strong>z <strong>de</strong>alto risco e responsável por 23% dos partos <strong>de</strong>sse tiporealizados <strong>em</strong> Belo Horizonte. O berçário <strong>de</strong> alto riscooferece 40 leitos e a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> possui, ainda, 20leitos <strong>de</strong> CTI infantil e neonatal. 8O Alojamento Conjunto (AC) da maternida<strong>de</strong> é compostopor seis enfermarias, sendo uma <strong>de</strong>stinada aoProjeto Mãe-Canguru (t<strong>em</strong>porariamente ocupada peloanexo do berçário dada a reforma do setor) e outraàs gestantes <strong>de</strong> alto risco. Por causa <strong>de</strong>ssa reforma,também, a sala <strong>de</strong>stinada a reuniões e a orientações <strong>de</strong>alta para puérperas foi <strong>de</strong>sativada.Durante a realização do estágio curricular, no AlojamentoConjunto observou-se uma d<strong>em</strong>anda importante daspuérperas quanto aos cuidados relacionados à saú<strong>de</strong><strong>de</strong>las e à do recém-nascido para a alta hospitalar.Verificou-se, ainda, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> retomar asativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> orientação <strong>de</strong> alta, outrora praticadas pelosenfermeiros do setor, mas interrompidas <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>fatores como o espaço físico restrito/<strong>em</strong> obras.Após a elaboração do diagnóstico <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> da populaçãoatendida no Alojamento Conjunto e <strong>de</strong> discussões coma enfermeira do setor, percebeu-se a necessida<strong>de</strong> do<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> cunho educativoque interviesse no nó crítico encontrado: a inexistênciada orientação <strong>de</strong> alta para as puérperas. É importantesalientar que essa questão já foi abordada por outraacadêmica <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>, que <strong>de</strong>senvolveumateriais lúdicos <strong>de</strong>stinados à realização <strong>de</strong> dinâmicas<strong>de</strong> grupo para as orientações <strong>de</strong> alta.Além <strong>de</strong>ssas motivações, houve, ainda, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>vinculação com as proposições contidas no Contrato <strong>de</strong>Gestão e Planejamento <strong>de</strong> Metas referente às unida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> produção Maternida<strong>de</strong> e Bloco Obstétrico. Comeste trabalho preten<strong>de</strong>u-se aten<strong>de</strong>r às seguintes metaslistadas: “Manter reuniões multidisciplinares com aspuérperas”; Meta: “Reuniões com, pelo menos, 80% daspuérperas internadas”; Indicador: “Número <strong>de</strong> puérperasque receberam orientação / total <strong>de</strong> puérperas quer<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 372-377, jul./set., 2011373


Aplicação e avaliação da orientação <strong>de</strong> alta às puérperas do alojamento conjunto <strong>de</strong> uma instituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizontereceberam alta hospitalar”; Ações: “1. Provi<strong>de</strong>nciar local<strong>de</strong> realização, 2. Reuniões diárias com informações”;Responsáveis: “Coor<strong>de</strong>nação, enfermeiras e resi<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> do setor”; Fonte: “Livro <strong>de</strong> Ata comregistro da presença das mães.”Em momento anterior à aplicação da orientação <strong>de</strong> alta,foram i<strong>de</strong>ntificadas as percepções das puérperas <strong>em</strong>relação ao autocuidado, à amamentação e ao cuidadocom o RN, por meio da técnica <strong>de</strong> associação livre <strong>de</strong>palavras ou evocação livre, <strong>de</strong>nominada <strong>em</strong> nossoprojeto <strong>de</strong> “pré-teste”. Segundo Machado e Carvalho, 9a técnica <strong>de</strong> associação livre <strong>de</strong> palavras é um tipo<strong>de</strong> investigação aberta que se baseia na evocação <strong>de</strong>respostas dadas com base <strong>em</strong> um estímulo indutor(palavras). Essa técnica permite colocar <strong>em</strong> evidênciauniversos s<strong>em</strong>ânticos <strong>de</strong> palavras que agrupam<strong>de</strong>terminadas populações, sendo muito utilizada, então,<strong>em</strong> pesquisas <strong>de</strong> representações sociais. 9A aplicação do pré-teste seguiu a dinâmica: 1º) Explicaçãodo objetivo do trabalho à puérpera e seus direitoscomo participante; 2º) Instrução da sequência <strong>de</strong> trêsestímulos indutores (autocuidado, amamentação ecuidados com o RN), que elas <strong>de</strong>veriam evocar, após aapresentação <strong>de</strong> cada, uma palavra que consi<strong>de</strong>rassea eles relacionados; 3º) À medida que o sujeito sepronunciava, a pesquisadora registrava a palavra evocada<strong>em</strong> um formulário específico.Para o <strong>de</strong>senvolvimento dos itens relacionados àorientação <strong>de</strong> alta, foram realizadas discussões edinâmicas grupais com as puérperas do AlojamentoConjunto que receberam ou estavam com a altahospitalar prevista. Foram utilizados os materiais lúdicosconfeccionados no ano anterior por outra acadêmica<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, pois as dinâmicas criadas ainda nãohaviam sido utilizadas para a orientação <strong>de</strong> alta e, por suavez, não foram avaliadas quanto à a<strong>de</strong>quação, à eficáciae aos objetivos da ativida<strong>de</strong> proposta.Foram utilizadas três dinâmicas distintas, alternando-seuma para cada reunião <strong>de</strong> orientações <strong>de</strong> alta. São elas:1. Dinâmica “Para qu<strong>em</strong> você tira o chapéu”, que consiste<strong>de</strong> oito chapeuzinhos <strong>de</strong> palha com um termo nointerior <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>les. Ao olhar <strong>de</strong>ntro do chapéu,a participante diz se tira ou não o chapéu para o queestá escrito nele e o porquê <strong>de</strong> sua <strong>de</strong>cisão.2. Dinâmica “Mão na cumbuca”, na qual cada participanteretira uma das nove fichas contidas na cumbuca. Cadaficha contém uma afirmação e, com ela <strong>em</strong> mãos, aparticipante <strong>de</strong>ve ler a frase <strong>em</strong> voz alta e, <strong>em</strong> seguida,dizer se ela é verda<strong>de</strong>ira ou falsa.3. Dinâmica “Buscando estrelas”, na qual cada participanterecebe uma das <strong>de</strong>z estrelas do jogo. Cada estrelacontém uma pergunta, que <strong>de</strong>verá ser respondidapela participante.As orientações seguiram um roteiro t<strong>em</strong>ático pre<strong>de</strong>finido,que incluiu: a) a experiência <strong>de</strong> ser mãe; b) as percepçõese as expectativas <strong>de</strong> lidar com a nova rotina após aalta hospitalar; c) as percepções e as expectativas <strong>de</strong>amamentar, cuidar do coto umbilical e dar o banho norecém-nascido; e d) fatos que dificultam ou facilitamessas situações, incluindo percepções e expectativas dacapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> superar obstáculos que eventualmentepod<strong>em</strong> surgir.Após realizar a orientação, avaliou-se a ativida<strong>de</strong>aplicando o pós-teste, da mesma forma como foirealizado o pré-teste. É importante salientar que o préeo pós-teste são individuais e foram realizados comas mesmas puérperas, seguindo os mesmos critérios.Foram excluídos os dados das mães que se recusaram arespon<strong>de</strong>r a quaisquer das questões propostas.Todas as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste trabalho, incluindo a coleta <strong>de</strong>dados, ocorreram no período <strong>de</strong> março a junho <strong>de</strong> 2010.Os dados foram processados e analisados por meio doprograma Microsoft Office Excel (2007). Foi realizada aanálise das palavras coletadas no pré e no pós-teste pormeio do agrupamento e da verificação da frequência,<strong>em</strong> que se avaliou a intervenção.O projeto <strong>em</strong> apreço foi avaliado e aprovado peloCEP-HOB. Todos os envolvidos foram informadossobre o objetivo da pesquisa e seus direitos comoparticipantes.RESULTADOSForam realizadas 9 reuniões <strong>de</strong> orientações <strong>de</strong> alta, entreos dias 6 e 20 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010, e a amostra compreen<strong>de</strong>u92 indivíduos, sendo 73 (79,3%) puérperas e 19 (20,7%)acompanhantes. A ida<strong>de</strong> das puérperas participantesvariou <strong>de</strong> 15 a 40 anos, com média <strong>de</strong> 28 anos.Quanto à via <strong>de</strong> parto, 44 (61%) foram normais e 29 (39%)cesarianos.No QUADRO 1, são d<strong>em</strong>onstradas quais palavras forammais prevalentes, no pré- e no pós-teste, relacionadas àamamentação, aos cuidados com o recém-nascido (RN)e ao autocuidado.QUADRO 1 – Palavras <strong>de</strong> maior prevalência no pré e pós-teste relacionadas à amamentação, cuidados comRN e autocuidado. Alojamento Conjunto <strong>de</strong> uma instituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte – 2010PRÉ-TESTEPÓS-TESTEAmamentação Cuidados com RN Autocuidado Amamentação Cuidados com RN AutocuidadoImportância Carinho Não sabe Saú<strong>de</strong> Amor Importância374 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 372-377, jul./set., 2011


TABELA 1 – Palavras relatadas no pré- e no pós-teste relacionadas à amamentação, cuidados com RN eautocuidado. Alojamento conjunto <strong>de</strong> uma instituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte – 2010INDUTORESAmamentação, Cuidadoscom RN e Auto-CuidadoPRÉ-TESTEPÓS-TESTEPalavras associadas n (%) Palavras associadas n (%)“Não sabe”, “nada” 9 (12,32%) Palavras específicas 25 (34,24%)Palavras negativas 14 (19,17%) Palavras positivas 73 (100%)Observa-se, na TAB. 1, que, durante o pré-teste, 9 (12,32%)mulheres associaram à amamentação, aos cuidados como recém-nascido e ao autocuidado as palavras “não sabe”ou “nada” e 14 (19,17%) associaram tais termos a palavrasnegativas, como “medo” e “preocupação”.No pós-teste, todas as palavras associadas forampositivas e 25 (34,24%) associaram aos indutores palavrasespecíficas que foram abordadas durante a orientação<strong>de</strong> alta – por ex<strong>em</strong>plo: “pega correta”, “alimentação” e“6 meses”.Verifica-se, portanto, que a participação das reuniões<strong>de</strong> alta hospitalar possibilitou a sensibilização e maiorcapacitação das puérperas com relação aos cuidadosnecessários ao recém-nascido e à sua saú<strong>de</strong> após a altahospitalar.Percebeu-se que a utilização das dinâmicas para aspuérperas <strong>de</strong> alta hospitalar no Alojamento Conjuntoproporcionou uma abordag<strong>em</strong> educativa e lúdica e,por isso, facilitou a realização das reuniões, tornandoasmenos monótonas e mais participativas. Alémdisso, contribuiu para o aprofundamento do vínculoe da comunicação interativa entre as puérperas e osprofissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> da instituição.A realização da ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma grupal propicioumaior troca <strong>de</strong> informações e experiências entre osparticipantes, contribuindo para melhor aprendizag<strong>em</strong>sobre os t<strong>em</strong>as expostos.Cabe salientar que foram preservadas as característicasinformais da situação: a orientação <strong>de</strong> alta possibilitouaos participantes expressar o entendimento <strong>de</strong> suasexperiências <strong>em</strong> suas próprias palavras. Embora fossepermitido falar sobre outros t<strong>em</strong>as pertinentes aopuerpério, o roteiro tópico garantiu que todos os sujeitosfoss<strong>em</strong> questionados sobre os t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> maior interessepara o estudo. Além disso, a troca <strong>de</strong> informações foialém da utilização das dinâmicas.Após a análise das ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>senvolvidas, foielaborado um Procedimento Operacional-Padrão (POP)sobre a orientação <strong>de</strong> alta às puérperas do AlojamentoConjunto do hospital público.QUADRO 2 – Procedimento operacional-padrão. Alojamento Conjunto <strong>de</strong> uma instituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>de</strong> Belo Horizonte – 2010INSTITUIÇÃO PÚBLICADE SAÚDE DE BELOHORIZONTEProcedimento Operacional-PadrãoALOJAMENTO CONJUNTOPadrão Nº: POP-A-AC-01Estabelecido <strong>em</strong>: 5/2010Nº da Revisão: 00Nome da tarefa: Orientação <strong>de</strong> alta às puérperas do Alojamento Conjunto do hospital públicoResponsável: enfermeiro e/ou resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> no Alojamento Conjunto– Dinâmicas grupais– Caneta– Ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Reunião <strong>de</strong> Alta– Brin<strong>de</strong>s, se possívelMATERIAL NECESSÁRIOATIVIDADE CRÍTICA– Oferecer orientação <strong>de</strong> alta às puérperas do Alojamento Conjunto do Hospital Público.continua...r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 372-377, jul./set., 2011375


Aplicação e avaliação da orientação <strong>de</strong> alta às puérperas do alojamento conjunto <strong>de</strong> uma instituição pública <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizontecontinuação...DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES– A Reunião <strong>de</strong> Alta <strong>de</strong>ve ser realizada na sala multiprofissional, pela resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e/ou enfermeira do plantãoda tar<strong>de</strong>, diariamente, entre 15 e 17 horas.– A previsão <strong>de</strong> duração é <strong>de</strong> 40 a 60 minutos.– Dev<strong>em</strong> ser convidadas todas as puérperas com possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> participação e seus respectivos acompanhantes,conforme cálculo explicitado no it<strong>em</strong> “Registros”.– Pod<strong>em</strong> ser utilizadas as dinâmicas previamente confeccionadas.– As orientações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> incluir: (a) a experiência <strong>de</strong> ser mãe; (b) as percepções e as expectativas <strong>de</strong> lidar com a nova rotinaapós a alta hospitalar; (c) as percepções e as expectativas <strong>de</strong> amamentar, cuidar do coto umbilical e dar o banho no recémnascido;e, (d) fatos que dificultam ou facilitam essas situações, incluindo percepções e expectativas da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>superar obstáculos que eventualmente pod<strong>em</strong> surgir.– É permitido falar sobre outros t<strong>em</strong>as pertinentes ao puerpério e, caso sejam usadas as dinâmicas grupais, a troca <strong>de</strong>informações po<strong>de</strong> – e <strong>de</strong>ve – ir além da utilização das mesmas.– As puérperas e seus acompanhantes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> assinar o ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Reunião <strong>de</strong> Alta, após o término da orientação. Dev<strong>em</strong>,ainda, informar o Centro <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> referência.– Se possível, po<strong>de</strong> ser distribuído um brin<strong>de</strong> para cada puérpera participante.REGISTROS1. Deve-se justificar, no ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Reunião <strong>de</strong> Alta e a cada encontro, o motivo da ausência <strong>de</strong> puérperas que <strong>de</strong>veriamparticipar da reunião, mas não o fizeram.2. Cálculo:NÚMERO DE PUÉRPERAS COM POSSIBILIDADE DE PARTICIPAÇÃO DA REUNIÃO DE ALTA =Número total <strong>de</strong> puérperas com mais <strong>de</strong> 24 horas <strong>de</strong> pós-parto vaginal ou com mais <strong>de</strong> 48 horas <strong>de</strong> pós-parto cesáreo– número <strong>de</strong> puérperas que já participaram <strong>de</strong> reuniões anteriores.SIGLASPOP – Procedimento operacional-padrãoAC – Alojamento ConjuntoREFERÊNCIAS– Não se aplica.DISCUSSÃONeste estudo, foi impl<strong>em</strong>entada a metodologia dasdinâmicas para as puérperas <strong>de</strong> alta hospitalar noAlojamento Conjunto <strong>de</strong> uma instituição pública<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte. Além disso, verificousea eficácia da orientação <strong>de</strong> alta às puérperas doAlojamento Conjunto da Instituição.Observou-se que após a participação das reuniões,as puérperas estiveram mais orientadas sobre aamamentação, a realização <strong>de</strong> cuidados próprios e como recém-nascido. Resultado s<strong>em</strong>elhante foi observado porKleba, 10 ao d<strong>em</strong>onstrar que o processo <strong>de</strong> conscientizaçãopossibilita ao ser humano <strong>de</strong>senvolver novas formas <strong>de</strong>vivenciar as situações que pod<strong>em</strong> surgir.A ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> outros trabalhos. 11,12 verificou-se, nestainvestigação, que o uso <strong>de</strong> tecnologias educativas– no caso, dinâmicas <strong>de</strong> grupo – apresenta-se comoalternativa para o aperfeiçoamento do processo ensinoaprendizag<strong>em</strong>,possibilitando às pessoas exercitar oque lhes está sendo ensinado. Autores, como Carraro 13revelam que, por meio da utilização da metodologia <strong>de</strong>dinâmicas, ciência e arte compl<strong>em</strong>entam-se, pois a arteoferece subsídios para <strong>de</strong>senhar e traçar o caminho e aciência fundamenta a prática.Percebeu-se, ainda, a vasta contribuição das tecnologiaseducativas para o aprofundamento do vínculoe da comunicação interativa entre as puérperas eos profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> da instituição. ParaStefanelli, 14 a comunicação me<strong>de</strong>ia toda a açãodos profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> terconhecimento <strong>de</strong>sse processo e <strong>de</strong> todos os el<strong>em</strong>entosa ele inerentes. Dessa forma, eles pod<strong>em</strong> contribuir paraque as puérperas os consi<strong>de</strong>re como el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> ajudaeficientes, com os quais po<strong>de</strong>rá expor sofrimentos ecompartilhar i<strong>de</strong>ias.376 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 372-377, jul./set., 2011


Resultados consolidados por meio <strong>de</strong> estudos 15,16d<strong>em</strong>onstram a importância <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver trabalhos<strong>de</strong> forma grupal: o enfermeiro po<strong>de</strong> reconhecer nelespotencial <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> novas experiências. Esseambiente é favorável para que as puérperas realiz<strong>em</strong>a experiência da auto<strong>de</strong>scoberta e da <strong>de</strong>scoberta dasoutras, por meio da comunicação e da comunhãointerpessoal. Além disso, é <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>a importânciaconduzir os trabalhos respeitando a singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cada indivíduo.Neste estudo, buscou-se conservar, durante as ativida<strong>de</strong>s,as características situacionais da conversação. Autorescomo Andreola 17 suger<strong>em</strong> que a criação <strong>de</strong> espaços nosquais se manifest<strong>em</strong> a liberda<strong>de</strong>, a aceitação, o diálogo,o encontro e a comunicação possibilitam ao indivíduo<strong>de</strong>sabrochar a caminho <strong>de</strong> sua plenitu<strong>de</strong>.Todos os resultados <strong>de</strong>ste estudo permitiram aconstrução do Procedimento Operacional-Padrão (POP)sobre a orientação <strong>de</strong> alta às puérperas do AlojamentoConjunto do hospital público. Esse instrumentocontribuiu para que outros profissionais pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>dar prosseguimento às ativida<strong>de</strong>s iniciadas com estetrabalho.Algumas limitações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>radas para esteestudo, <strong>de</strong>ntre elas o fato <strong>de</strong> não ter sido utilizada umapopulação com comprovada representativida<strong>de</strong> dapopulação cliente do hospital, o que po<strong>de</strong> restringe avalida<strong>de</strong> dos resultados.Cabe salientar que este trabalho é <strong>de</strong> relevante importânciapara a área da enfermag<strong>em</strong> no que se refere àeducação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> à puérpera e à estratégia para oenfermeiro, além <strong>de</strong> contribuir para a construção doconhecimento <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> e áreas correlatas.Exist<strong>em</strong> várias possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> estudos futuros paraos profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e pacientes com basenesta pesquisa.CONCLUSÃOO trabalho <strong>de</strong>senvolvido possibilitou a organização daorientação <strong>de</strong> alta prestada às puérperas do AlojamentoConjunto do hospital <strong>de</strong> estudo; o <strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramentodas puérperas e dos seus familiares quanto aoscuidados relacionados ao recém-nascido e à saú<strong>de</strong><strong>de</strong>le após a alta hospitalar; o aprofundamento dovínculo e da comunicação interativa entre as puérperase os profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> da instituição; e asist<strong>em</strong>atização da realização da orientação <strong>de</strong> alta, pelaequipes <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, contribuindo para melhoraprendizag<strong>em</strong> sobre os t<strong>em</strong>as expostos.REFERÊNCIAS1. Ricci SS. Enfermag<strong>em</strong> Materno-Neonatal e Saú<strong>de</strong> da Mulher. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan; 2008.2. Centa ML, Oberhofer PR, Chammas J. Puérpera vivenciando a consulta <strong>de</strong> retorno e as orientações recebidas sobre o puerpério. Fam Saú<strong>de</strong>Desenv. 2002; 4(1):16-22.3. Centa ML, Oberhofer PR, Chammas J. The communication between the woman in pospartum and the health professional. In: Proceedings ofthe 8. Brazilian Nursing Communication Symposium. May 02-03; São Paulo, SP, Brazil; 2002.4. Monteiro MCN, Concret SAG, Arcipreti AC, Silva FSLO. Proposta <strong>de</strong> um prospecto para educação na alta hospitalar no período pós parto. XIIIEncontro Latino Americano <strong>de</strong> Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano <strong>de</strong> Pós-Graduação – Universida<strong>de</strong> do Vale do Paraíba; 2009.5. Corradini HB, Costa MTZ, Barbieri DL, Barros JCR, Ramos JLA, Maretti M. Cuidados ao recém-nascido <strong>em</strong> alojamento conjunto. In: Marcon<strong>de</strong>sE. Pediatria Básica. 8ª ed. São Paulo: Saraiva; 1991.6. Pizzato MG, Da Poian VRL. Enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> alojamento conjunto para recém nascido e mãe. In: Pizzato MG, Da Poian VRL.Enfermag<strong>em</strong> Neonatológica. Porto Alegre: Editora da Universida<strong>de</strong> Porto Alegre; 1982. cap. 3, p. 101-28.7. Zagonel IPS, Martins M, Pereira KF, Athay<strong>de</strong> J. O cuidado humano diante da transição ao papel materno: vivências no puerpério. Rev EletrEnferm. 2003; 5(2):24–32.8. Centro <strong>de</strong> Estudos do Hospital Odilon Behrens, CEHOB. [Citado 2010 jun. 13]. Disponível <strong>em</strong>: .9. Machado LB, Carvalho MRF. Construtivismo entre alfabetizadores: algumas reflexões sobre o campo s<strong>em</strong>ântico <strong>de</strong> suas representações.Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pernambuco. 2002. [Citado 2010 jun. 13]. Disponível <strong>em</strong>: .10. Kleba ME. Educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> na assistência <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>: um estudo <strong>de</strong> caso <strong>em</strong> unida<strong>de</strong> básica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Florianópolis: UFSC; 1999.11. Figueroa AA. Tecnologia y Bioética en enfermeria: un <strong>de</strong>safio permanente. Texto Contexto Enferm. 2000; 9(1): 9-24.12. Colman FT. Tudo que o enfermeiro precisa saber sobre treinamento: um manual prático. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Guanabara Koogan; 2003.13. Carraro TE. Enfermag<strong>em</strong> e assistência: resgatando Florence Nightingale. Goiânia: AB Editora; 1997.14. Stefanelli MC. Comunicação com Paciente: teoria e ensino. São Paulo: Robe; 1993.15. Wall ML. Tecnologias educativas: subsídios para a assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> grupos. Goiânia: AB Editora; 2001.16. Ballestero-Alvarez ME. Mutatis mutandis: dinâmicas <strong>de</strong> grupo para o <strong>de</strong>senvolvimento humano. Campinas: Papirus; 1999.17. Andreola BA. Dinâmica <strong>de</strong> grupo: jogo da vida e didática do futuro. Petrópolis: Vozes; 2004.Data <strong>de</strong> submissão: 17/8/2010Data <strong>de</strong> aprovação: 27/6/2011r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 372-377, jul./set., 2011377


EXAME PREVENTIVO DE PAPANICOLAOU: PERCEPÇÃO DAS ACADÊMICASDE ENFERMAGEM DE UM CENTRO UNIVERSITÁRIO DO INTERIOR DE GOIÁSNURSING STUDENTS PERCEPTION ON PAPANICOLAOU TESTPRUEBA DE PAPANICOLAOU: PERCEPCIÓN DE ALUMNAS DE ENFERMERÍA DE UN CENTROUNIVERSITARIO DEL INTERIOR DEL ESTADO DE GOIÁSCamila Silva Araújo 1Hiumara Amâncio da Luz 2Gracy Ta<strong>de</strong>u Ferreira Ribeiro 3RESUMOO câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero representa uma neoplasia maligna que ocorre com muita frequência no Brasil, causando gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> óbitos. Vários são os fatores <strong>de</strong> risco que levam ao câncer <strong>de</strong> colo uterino, <strong>em</strong>bora essa neoplasia possa serprevenida, principalmente, quando diagnosticada precoc<strong>em</strong>ente. O objetivo com este estudo foi conhecer as vivênciasdas acadêmicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> diante do exame <strong>de</strong> Papanicolaou, <strong>de</strong>svelando seu conhecimento sobre a importânciado procedimento, frequência e sentimentos experimentados durante sua realização. Trata-se <strong>de</strong> uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva,com abordag<strong>em</strong> qualitativa, realizada com 20 acadêmicas <strong>de</strong> uma faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> no interior do Estado <strong>de</strong>Goiás. O 2° período foi consi<strong>de</strong>rado porque é um momento <strong>em</strong> que as alunas ingressaram recent<strong>em</strong>ente no curso; o 4°e o 6° período, porque é quando elas já estão <strong>em</strong> processo <strong>de</strong> formação específica, fazendo estágios e compreen<strong>de</strong>ndoa rotina do curso; e o 8° período, porque é quando elas já estão prestes a concluir o curso. O instrumento <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong>dados utilizado foi a entrevista s<strong>em</strong>iestruturada. Os resultados da pesquisa mostraram que, mesmo com os sentimentos<strong>de</strong> vergonha, constrangimento e <strong>de</strong>sconforto experimentados pelas acadêmicas, no geral elas realizam o exame e sab<strong>em</strong>sobre a importância da prevenção para evitar a doença. Os <strong>de</strong>poimentos obtidos permitiram refletir sobre a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>repensar a prática do exame preventivo, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>svelar procedimentos que assegur<strong>em</strong> cuidados aliados a condutashumanizadas a esse e procedimento, tão necessário para diminuir a incidência <strong>de</strong> câncer cervical.Palavras-chave: Câncer <strong>de</strong> Colo Uterino; Exame <strong>de</strong> Papanicolaou; Prevenção; Enfermag<strong>em</strong>.ABSTRACTThe cervical cancer is a malign neoplasm that occurs frequently in Brazil and it is the cause of many <strong>de</strong>aths. There areseveral risk factors that lead to cervical cancer, even though it can be prevented if diagnosed early on. This study aimedto un<strong>de</strong>rstand nursing stu<strong>de</strong>nts’ experiences with the Pap test and to i<strong>de</strong>ntify their knowledge about this procedure’simportance, its frequency and the feelings experienced during the test’s performance. This is a <strong>de</strong>scriptive researchwith a qualitative approach conducted with 20 stu<strong>de</strong>nts of a nursing school in the state of Goiás’ countrysi<strong>de</strong>. Firstyear stu<strong>de</strong>nts were chosen as they had been recently admitted to the university; second and third year’s as they are inthe process of specialization, in an internship program and un<strong>de</strong>rstand better the course’s routine; last year stu<strong>de</strong>ntsbecause they are close to course’s completion. The data was collected through s<strong>em</strong>i-structured interviews. The resultsindicated that the shame, <strong>em</strong>barrassment and discomfort experienced by the stu<strong>de</strong>nts were not an obstacle to performthe test and that they are aware of its importance to the disease’s prevention. The stat<strong>em</strong>ents obtained allow us toreflect on the need to rethink the practice of Pap smear and to ensure that its procedures associate care with a humaneconduct as it is an essential test to cervical cancer prevention and control.Key words: Cervical Cancer; Papanicolaou test; Prevention; Nursing.RESUMENEl cáncer <strong>de</strong> cuello uterino es una neoplasia maligna qué ocurre con mucha frecuencia en Brasil y que también causamuchas muertes. Hay varios factores <strong>de</strong> riesgo qué conllevan a este tipo <strong>de</strong> cáncer que pue<strong>de</strong> ser prevenido, principalmente,cuando se tiene un diagnóstico precoz. El presente estudio tuvo como objeto conocer la experiencia <strong>de</strong> alumnas <strong>de</strong>enfermería con la prueba <strong>de</strong> Papanicolaou e i<strong>de</strong>ntificar la importancia que le atribuyen a dicho procedimiento, frecuenciay sentimientos durante la realización <strong>de</strong> la prueba. Se trata <strong>de</strong> una investigación cualitativa <strong>de</strong>scriptiva llevada a cabocon 20 alumnas <strong>de</strong> una facultad <strong>de</strong> enfermería <strong>de</strong>l interior <strong>de</strong>l Estado <strong>de</strong> Goiás. Fueron consi<strong>de</strong>radas alumnas <strong>de</strong>l 1eraño porque eran recién ingresadas, <strong>de</strong>l 2º y 3º porque estaban en proceso <strong>de</strong> formación con prácticas y conocían bienla rutina <strong>de</strong>l curso y <strong>de</strong>l último año porque estaban cerca <strong>de</strong> terminar los estudios. Los datos se recogieron medianteentrevistas. Los resultados indicaron que, a pesar <strong>de</strong> la vergüenza y molestia, las alumnas realizaban la prueba y conocíanla importancia <strong>de</strong> la prevención para evitar la enfermedad. Los testimonios permitieron reflexionar sobre la necesidad <strong>de</strong>repensar la práctica <strong>de</strong> la prueba preventiva y garantizar que el procedimiento aúne cuidados y conductas humanizadaspuesto que se trata <strong>de</strong> una prueba fundamental para disminuir la inci<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong>l cáncer cervical.Palabras clave: Cáncer <strong>de</strong> Cuello Uterino; Prueba <strong>de</strong> Papanicolaou; Prevención; Enfermería.1Graduanda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pelo Centro Universitário <strong>de</strong> Anápolis (UniEVANGÉLICA). e-mail: camilasilva.enfermag<strong>em</strong>@hotmail.com.2Graduanda <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pelo Centro Universitário <strong>de</strong> Anápolis (UniEVANGÉLICA). e-mail: himaraamancio@hotmail.com.3Antropóloga. Professora adjunta do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Relatora do Comitê <strong>de</strong> Ética UniEVANGÉLICA. e-mail: gracyta<strong>de</strong>u@pop.com.br.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Dr. Evandro Pinto Silva Qd. 01 Lt. 09/10 apto. 101, Bloc A, Condominio Shadday – Cida<strong>de</strong> Universitária – Anápolis-GO.378 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 378-385, jul./set., 2011


INTRODUÇÃONeste artigo, investigamos as vivências das acadêmicas<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> ao se submeter<strong>em</strong> ao exame preventivo<strong>de</strong> Papanicolaou, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>svelamos o conhecimento<strong>de</strong>las quanto à importância, à frequência e aos sentimentosexperimentados diante do referido exame.Esta pesquisa foi realizada com acadêmicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,pois são elas as futuras profissionais da áreada saú<strong>de</strong>. Acreditamos que a implantação <strong>de</strong> medidase ações preventivas e ou educativas pod<strong>em</strong> contribuirpara melhorar a qualida<strong>de</strong> no atendimento, b<strong>em</strong> comoreduzir a incidência <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> colodo útero.O câncer cervicouterino é uma das maiores causas<strong>de</strong> morte no mundo, na população f<strong>em</strong>inina. É aneoplasia mais frequente nas mulheres brasileiras euma das maiores causas <strong>de</strong> óbito, juntamente com ocâncer <strong>de</strong> pele, <strong>de</strong> mama e <strong>de</strong> pulmão. O câncer docolo <strong>de</strong> útero traz inúmeras complicações e afeta nãosomente a doente, mas também a família. O cânceracomete a socieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral, s<strong>em</strong> escolha <strong>de</strong> raça,classe social, escolarida<strong>de</strong>, e são vários os fatoresque pod<strong>em</strong> propiciar o <strong>de</strong>senvolvimento do câncercervical. Dentre esses fatores que pod<strong>em</strong> predisporo aparecimento do câncer cervicouterino pod<strong>em</strong>os<strong>de</strong>stacar: a precocida<strong>de</strong> sexual, pelo fato <strong>de</strong> o epitéliogenital apresentar-se imaturo e susceptível as agressões;o uso prolongado <strong>de</strong> contraceptivos orais; a gravi<strong>de</strong>zprecoce, que <strong>de</strong>termina um fator <strong>de</strong> risco três vezesmaior para manifestar o câncer <strong>de</strong> colo do útero; amultiparieda<strong>de</strong>; a promiscuida<strong>de</strong> sexual; a história <strong>de</strong>infecções sexualmente transmissíveis; o se<strong>de</strong>ntarismo;e o tabagismo. 1Essa neoplasia começa a se <strong>de</strong>senvolver por volta dos20 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong> e, com o passar dos anos, seu risco vaiaumentando cada vez mais e atinge sua culminânciapor volta dos 45 aos 49 anos, aumentando a chance<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver o câncer cervical. Daí a importância darealização do exame <strong>de</strong> Papanicolaou, pois esse cânceré um dos que permit<strong>em</strong> fazer a prevenção e a <strong>de</strong>tecçãoprecoce, b<strong>em</strong> como a realização do tratamento. Emborasua evolução seja lenta, ele passa por fases pré-clínicas<strong>de</strong>tectáveis e curáveis. O câncer <strong>de</strong> colo uterino, se<strong>de</strong>scoberto no início, t<strong>em</strong> alto índice <strong>de</strong> cura.Uma vez que o câncer <strong>de</strong> colo do útero é passível <strong>de</strong>prevenção e <strong>de</strong>tecção precoce, compete aos profissionais<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> estimular a participação das mulheresnos programas <strong>de</strong> rastreamento para o controle daenfermida<strong>de</strong>. Uma das possibilida<strong>de</strong>s é por meio daeducação da população f<strong>em</strong>inina. É necessário que asmulheres se conscientiz<strong>em</strong> e pratiqu<strong>em</strong> os cuidadospreventivos realizando o exame periodicamente noseu cotidiano. A educação e o exame <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser ações<strong>de</strong>senvolvidas pelos profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> quepossu<strong>em</strong> respaldo legal para a realização do exame <strong>de</strong>Papanicolaou.Portanto, a educação da população f<strong>em</strong>inina é muitoimportante para diminuir a incidência <strong>de</strong>ssa neoplasia.É por meio da atuação do profissional <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>que esse tipo <strong>de</strong> câncer po<strong>de</strong>rá ser combatido. Dessaforma, os profissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> têm a função <strong>de</strong>orientar a população sobre a importância da realizaçãoperiódica do exame <strong>de</strong> Papanicolaou.Nós, como futuras enfermeiras, buscamos, nessetexto, aprofundar o conhecimento sobre o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong>questão para <strong>de</strong>scobrir estratégias que propici<strong>em</strong>a conscientização do público-alvo f<strong>em</strong>inino sobre aimportância da prevenção e do tratamento do cânceruterino.REVISÃO DA LITERATURAAs primeiras <strong>de</strong>scrições sist<strong>em</strong>áticas do câncer foramfeitas na Grécia, por Hipócrates, <strong>de</strong>scrito pela palavraKarcinos, que significa “caranguejo”. Faz-se a analogiacom essa enfermida<strong>de</strong>, traduzida pela palavra “câncer”,pelo fato <strong>de</strong> o caranguejo mover-se lentamente <strong>em</strong>todas as direções, que têm <strong>em</strong> comum com essa doençao crescimento e a proliferação <strong>de</strong> células para outraspartes do corpo. 2O câncer <strong>de</strong> colo do útero é uma neoplasia maligna, queapresenta uma evolução lenta. Este carcinoma inva<strong>de</strong> avagina, espaço paracervical, e ao longo dos paramétricose dos ligamentos uterossacros. Po<strong>de</strong>ndo invadir o reto,os linfonodos paraaórticos e pélvicos e a bexiga. 3Para melhor compreensão da etiologia do câncer docolo do útero, faz-se necessária uma breve explicaçãodos seus aspectos anatômicos.O útero é um órgão muscular do aparelho reprodutorf<strong>em</strong>inino com cerca <strong>de</strong> 8 centímetros <strong>de</strong> comprimento,4 <strong>de</strong> largura na sua parte inferior e a espessura <strong>de</strong> 2centímetros. Está situado no abdome superior, por trásda bexiga e na frente do reto. 4O útero apresenta três camadas na sua constituição:o endométrio, que é a camada interna que sofr<strong>em</strong>odificações <strong>de</strong> acordo com as fases do ciclo menstruale gravi<strong>de</strong>z; o miométrio ou parte média, que constitui amaior parte da pare<strong>de</strong> uterina; e fibras musculares lisas. 5O colo do útero apresenta uma parte interna, queconstitui o canal cervical ou endocérvice, comunicasecom a vagina pelo orifício externo, chamado <strong>de</strong>"ectocérvice", e é revestido por um epitélio pavimentosoestratificado não queratinizado.A união entre os dois epitélios, endocérvice e ectocérvice,chama-se "junção escamocolunar" (JEC), uma linha quepo<strong>de</strong> estar tanto na ectocérvice quanto na endocérvice,<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da ida<strong>de</strong>, situação hormonal, parida<strong>de</strong> eprocessos infecciosos. 6A maioria das lesões intraepiteliais ocorre na zona <strong>de</strong>transformação (ZT), na junção escamocolunar, e estárelacionada à infecção pelo Papilomavírus Humano(HPV). 7Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong>bora todas asmulheres sejam consi<strong>de</strong>radas susceptíveis a <strong>de</strong>senvolverr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 378-385, jul./set., 2011379


Exame preventivo <strong>de</strong> Papanicolaou: percepção das acadêmicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um centro universitário do interior <strong>de</strong> Goiáso câncer uterino, existe um perfil da população f<strong>em</strong>ininamais vulnerável a esse tipo <strong>de</strong> câncer. Exist<strong>em</strong> váriosfatores i<strong>de</strong>ntificados como <strong>de</strong> risco para o câncer <strong>de</strong>colo do útero. 6O principal fator <strong>de</strong> risco é o HPV dos tipos 16, 18, 31e 33, com alto potencial <strong>de</strong> oncogenicida<strong>de</strong>, e quandoassociados a outros cofatores, como estado imunológicoe tabagismo, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>-se as neoplasias intraepiteliaise do câncer uterino. 6O comportamento <strong>de</strong> risco inclui o hábito <strong>de</strong> fumar, poisa nicotina e a cotinina são el<strong>em</strong>entos do tabaco que, pormeio da circulação, chegam a órgãos distantes, po<strong>de</strong>ndoatingir o muco cervical. Dentre os fatores que causama predisposição para a manifestação do câncer uterino,também estão as baixas condições socioeconômicas, asquais estão ligadas à ausência <strong>de</strong> informação. 6,8Assim, a higiene íntima ina<strong>de</strong>quada, o uso prolongado<strong>de</strong> contraceptivos orais, a infecção pelo condilomaacuminado, imunossupressão pod<strong>em</strong> ser tambémi<strong>de</strong>ntificados como fatores <strong>de</strong> risco. 6,7,9O câncer <strong>de</strong> colo uterino <strong>em</strong> fase inicial raramenteproduz sintomas. Quando ocorr<strong>em</strong> sintomas, comosecreção, sangramento irregular ou sangramentoapós a relação sexual, a doença po<strong>de</strong> estar <strong>em</strong> estadoavançado. A secreção vaginal no câncer <strong>de</strong> colouterino avançado aumenta <strong>de</strong> forma gradual e tornaseaquosa e escurecida. Em <strong>de</strong>corrência da infecção eda necrose do tumor, seu odor é fétido. Po<strong>de</strong> ocorrerum leve sangramento e irregular, entre os períodos d<strong>em</strong>etrorragia ou após a menopausa, ou. Ainda, po<strong>de</strong>acontecer <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> uma pressão ou trauma brando –por ex<strong>em</strong>plo, a relação sexual. À medida que o câncer vaiprogredindo, esse sangramento ten<strong>de</strong> a aumentar. 10Assim, o quadro clínico <strong>de</strong> pacientes com neoplasiado colo do útero po<strong>de</strong> variar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ausência <strong>de</strong>sintomas, até quadros <strong>de</strong> micro-h<strong>em</strong>orragia s<strong>em</strong>causa aparente, leucorreia purulenta, sangramento <strong>de</strong>contato relacionado ao coito, dor pélvica, lombossacral,dispareunia, secreção vaginal <strong>de</strong> odor fétido, disúria,h<strong>em</strong>atúria, anorexia, perda <strong>de</strong> peso, perda <strong>de</strong> fezes pelavagina e infecção urinária. 11Nas mulheres com carcinoma do endométrio, a ultrassonografiauterina apresenta aumento do ecoendometrial. A espessura do eco endometrial acima<strong>de</strong> 5 mm na mulher, na pós-menopausa, já po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rada suspeita. 10Se for i<strong>de</strong>ntificada uma lesão, estabelece-se oestadiamento clínico do tumor e faz-se a relação entrea doença e o organismo hospe<strong>de</strong>iro. Como examesindicações para diagnóstico, t<strong>em</strong>os: Raios X <strong>de</strong> tórax,urografia excretora, ultrassonografia diária hepáticae por vias urinárias, exames bioquímicos básicos eh<strong>em</strong>atimétricos são recomendados pela Fe<strong>de</strong>raçãoInternacional <strong>de</strong> Ginecologia e Obstetrícia (FIGO). Aressonância magnética e a tomografia computadorizadaainda não são rotinas para o estadiamento, mas têm sidorecent<strong>em</strong>ente indicadas para tal diagnóstico.O estadiamento cirúrgico do câncer <strong>de</strong> colo do útero,conforme a Fe<strong>de</strong>ração Internacional <strong>de</strong> Ginecologiae Obstetrícia (FIGO), é uma classificação clínica apóso diagnóstico histológico <strong>de</strong> carcinoma invasor pelacolposcópia, sendo dividido nos estádios 0, I, Ia, Ia 1,Ia2, Ib, II, IIA, IIb, III, IIIa, IIIb, IV, IVa e IVb, os quais variam<strong>de</strong> carcinoma in situ intraepitelial à invasão <strong>de</strong> órgãosadjacentes e a distância. 12É necessária uma avaliação diagnóstica <strong>completa</strong> docâncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero, que inclui a i<strong>de</strong>ntificação doestágio e do grau do tumor, para avaliar as opções <strong>de</strong>tratamento, formulando uma conduta para melhorprognóstico.No tratamento do câncer cervical, usam-se os critériosadotados com base <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> estadiamentológico <strong>de</strong> acordo com a diss<strong>em</strong>inação do câncer uterinoadotado pela Fe<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> Ginecologia e Obstetrícia<strong>de</strong> Goiás. 9Os procedimentos cirúrgicos para o tratamento docâncer cervical pod<strong>em</strong> incluir a histerectomia total(retirada do útero, colo e ovários), histerectomia vaginalradical (retirada do útero, anexos e vagina proximal),histerectomia radical, linfa<strong>de</strong>nectomia pélvica bilateral(retirada dos linfonodos e vãos linfáticos ilíacoscomuns, ilíacos externos, hipogástricos e obturados) eexenteração pélvica. 9,10.Também po<strong>de</strong> ser usada a radioterapia, que utiliza aradiação ionizante para interromper o crescimentocelular ou para controlar o câncer quando o tumor nãopo<strong>de</strong> ser r<strong>em</strong>ovido por meios cirúrgicos.Nos tratamentos com quimioterapia, os agentes antineoplásicossão utilizados na tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>struir ascélulas tumorais, por interferir nas funções celulares no seuprocesso <strong>de</strong> crescimento e divisão. Consiste no <strong>em</strong>prego<strong>de</strong> substâncias químicas isoladas ou <strong>em</strong> combinação.T<strong>em</strong>-se utilizado a quimioterapia junto com a radioterapia,uma vez esse procedimento potencializa os efeitos e tornamais eficiente o combate à célula tumoral. 11Com a implantação do Programa <strong>de</strong> Assistência Integralà Saú<strong>de</strong> da Mulher (PAISM), <strong>em</strong> 1984, criou-se umapolítica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que visava aten<strong>de</strong>r à saú<strong>de</strong> básica damulher. Segundo o Ministério da Saú<strong>de</strong>, o PAISM tinhacomo objetivo implantar ou ampliar as ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>diagnósticos precoce do câncer cervical, b<strong>em</strong> comopromover ações educativas na prevenção <strong>de</strong>ssa doençae <strong>de</strong> outras, como o câncer <strong>de</strong> mama, prestando umaassistência para a saú<strong>de</strong> da mulher além dos limitesgravídico-puerperais. 6A prevenção do câncer <strong>de</strong> colo uterino <strong>de</strong>ve envolver umconjunto <strong>de</strong> ações educativas com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atingirgran<strong>de</strong> parte das mulheres <strong>em</strong> situação <strong>de</strong> risco, alémda realização do Papanicolaou. Por meio <strong>de</strong> programas<strong>de</strong> prevenção clínica e educativa, há esclarecimentossobre como prevenir a doença, sobre as vantagens <strong>de</strong>diagnósticos precoces, sobre as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cura esobre o prognóstico e a qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida não somentepara esse tipo <strong>de</strong> câncer, como para os d<strong>em</strong>ais. 13380 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 378-385, jul./set., 2011


O exame <strong>de</strong> Papanicolaou, mais conhecido como examepreventivo, além <strong>de</strong> ser importante para a saú<strong>de</strong> damulher para <strong>de</strong>tecção precoce do câncer uterino ououtras doenças genitais, é um procedimento importantepara a <strong>de</strong>tecção precoce <strong>de</strong> lesões pré-invasivas e,também, um instrumento essencial para a diminuiçãoda mortalida<strong>de</strong> do câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero. 14O exame <strong>de</strong> Papanicolaou permite que seja efetuadaa <strong>de</strong>tecção precoce <strong>em</strong> mulheres assintomáticas,contribuindo para a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> lesões precursoras e dadoença <strong>em</strong> estágios iniciais. Apesar <strong>de</strong> esse método <strong>de</strong>rastreamento haver sido introduzido no Brasil <strong>de</strong>s<strong>de</strong> adécada <strong>de</strong> 1950, estima-se que cerca <strong>de</strong> 40% das mulheresbrasileiras nunca tenham se submetido a ele. 15Apesar <strong>de</strong> ser um exame simples e <strong>de</strong> fácil acesso, muitasmulheres ainda se negam a submeter-se a ele por diversosfatores e várias causas, <strong>de</strong>ntre elas a falta <strong>de</strong> informaçãoquanto à sua importância, constituindo um <strong>de</strong>safio paraos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Portanto, é necessário promovera educação do público-alvo e cabe aos profissionais<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> dialogar, informar e conscientizar sobre aimportância da realização do exame. É imprescindívelque a população f<strong>em</strong>inina conheça os métodos e quepratique os cuidados rotineiros, afastando-se dos fatores<strong>de</strong> risco e realizando o exame periodicamente.Quanto à periodicida<strong>de</strong> do exame preventivo, após doisresultados consecutivos normais, o exame passa a serrealizado a cada três anos.O exame <strong>de</strong> Papanicolaou é feito mediante a coletadas células na região do orifício externo do colo e docanal endocervical. Essas células são colocadas <strong>em</strong>uma lâmina transparente <strong>de</strong> vidro, coradas e levadas aum exame ao microscópio, no qual o pessoal treinadopo<strong>de</strong>rá distinguir entre os que são células normais,os que se apresentam como in<strong>de</strong>vidamente malignase as que apresentam alterações indicativas <strong>de</strong> lesõespré-malignas. Para que o teste permita a i<strong>de</strong>ntificação<strong>de</strong> lesões malignas ou pré-malignas, o esfregaçocérvicovaginal <strong>de</strong>ve conter células representativasda ectocérvice e da endocérvice, preservadas <strong>em</strong> umnúmero suficiente para diagnóstico. 13METODOLOGIAO tipo <strong>de</strong> estudo escolhido para <strong>de</strong>senvolver este artigofoi a pesquisa <strong>de</strong>scritiva, com abordag<strong>em</strong> qualitativa.Foi classificada como <strong>de</strong> campo porque teve comofinalida<strong>de</strong> colher informações sobre um probl<strong>em</strong>a.A pesquisa <strong>de</strong>scritiva é a <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um fenômeno<strong>em</strong> que há a habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fazer com que o outro vejamentalmente aquilo que o pesquisador observou. Aabordag<strong>em</strong> é qualitativa porque uma <strong>de</strong> suas principaiscaracterísticas é que ela é formulada para fornecer umavisão ao grupo pesquisado.O universo da pesquisa foi uma faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>no interior <strong>de</strong> Goiás, do qual fizeram parte as acadêmicasdo referido curso.Os sujeitos da pesquisa foram 20 acadêmicas do curso <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, que estavam cursando do 2º ao 8º período(5 <strong>de</strong> cada período estudado), escolhidas aleatoriamente.Foram levados <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração o 2° período, porque é ummomento <strong>em</strong> que as alunas ingressaram recent<strong>em</strong>ente nocurso; o 4° e o 6° período, porque é quando elas já estão<strong>em</strong> processo <strong>de</strong> formação específica, fazendo estágios ecompreen<strong>de</strong>ndo a rotina do curso; e o 8° período, quandoelas já estão prestes a concluir a graduação. A coleta <strong>de</strong>dados aconteceu somente após o estudo haver sidoaprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa (CEP), como Ofício nº 0071/2009, anexo.A entrevista foi iniciada somente após as alunaster<strong>em</strong> sido <strong>de</strong>vidamente esclarecidas sobre os riscose benefícios do estudo e ter<strong>em</strong> assinado o Termo <strong>de</strong>Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), que foielaborado <strong>em</strong> duas vias <strong>de</strong> igual teor. As entrevistasforam realizadas na instituição, individualmente, <strong>em</strong>local reservado e tranquilo.Foram <strong>de</strong>terminados os seguintes critérios <strong>de</strong> inclusão dossujeitos na amostra: maiores <strong>de</strong> 18 anos; que aceitass<strong>em</strong>participar da pesquisa e assinass<strong>em</strong> o TCLE; <strong>de</strong>veriamser dos períodos escolhidos para o estudo, estar<strong>em</strong>matriculadas e frequentar<strong>em</strong> regularmente as aulas.Foi aplicada uma entrevista s<strong>em</strong>iestruturada, contendocinco questões norteadoras referentes ao examepreventivo <strong>de</strong> Papanicolaou, frequência <strong>em</strong> que foirealizado, sentimentos experimentados ao ser<strong>em</strong>submetidas ao exame, a importância do exame e fatoresque contribuíram para recusa do procedimento.A entrevista teve duração, <strong>em</strong> média, <strong>de</strong> 10 a 15 minutos,sendo registradas <strong>em</strong> gravador digital e transcritas naíntegra para ser<strong>em</strong> analisadas.RESULTADOS E DISCUSSÃOPara que a interpretação e a discussão dos dados coletadosfoss<strong>em</strong> mais b<strong>em</strong> apresentados e interpretados,utilizou-se o método <strong>de</strong> Bardin (1997). 16 Nesse método,ressalta-se que a análise <strong>de</strong> conteúdo é um conjunto<strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> análise das comunicações que utilizaprocedimentos sist<strong>em</strong>áticos e objetivos <strong>de</strong> <strong>de</strong>scriçãodo conteúdo das mensagens. A <strong>de</strong>scrição analítica funcionasegundo procedimentos sistêmicos e objetivos<strong>de</strong> <strong>de</strong>scrição do conteúdo das mensagens. Trata-se,portanto, <strong>de</strong> um tratamento das informações contidasnas mensagens.A análise foi dividida <strong>em</strong> quatro categorias: Sentimentosexperimentados durante a realização do exame <strong>de</strong>Papanicolaou; Periodicida<strong>de</strong> para realização do examePapanicolaou; Importância da realização do exame <strong>de</strong>Papanicolaou; Fatores que contribu<strong>em</strong> para a recusa <strong>em</strong>realizar o exame <strong>de</strong> Papanicolaou.A amostra foi constituída por 20 acadêmicas entrevistadas:15 tinham ida<strong>de</strong> entre 18 e 25 anos; 3 estavam na faixaetária entre 26 e 32 anos; e 2 tinham entre 33 e 39 anos.Quanto ao estado civil, 17 <strong>de</strong>ssas mulheres eram solteiras,r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 378-385, jul./set., 2011381


Exame preventivo <strong>de</strong> Papanicolaou: percepção das acadêmicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um centro universitário do interior <strong>de</strong> Goiás3 eram casadas, 2 não haviam tido relação sexual.Das 20 entrevistadas, 18 já haviam realizado o examePapanicolaou e apenas 2 nunca o haviam realizado.Categoria 1 – Sentimentos experimentadosdurante a realização do exame <strong>de</strong> PapanicolaouA realização do exame preventivo <strong>de</strong> Papanicolaou éuma situação rotineira para o profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, mas<strong>de</strong>sagradável para a maioria das mulheres.Além <strong>de</strong> o procedimento ser invasivo, o sentimentoque mais se percebeu no relato das mulheres que sesubmet<strong>em</strong> ao exame <strong>de</strong> forma regular é a vergonhae o constrangimento. A cada vez que a mulher expõeseu corpo, aflora sentimentos <strong>de</strong> impotência, medo,<strong>de</strong>sconforto oriundos do tabu <strong>em</strong> relação ao sexo, b<strong>em</strong>como da educação recebida e da falta <strong>de</strong> informação.Os <strong>de</strong>poimentos a seguir ilustram isso:É um pouco <strong>de</strong>sconfortável, mas é um <strong>de</strong>sconforto,discreto é... suportável. (Sujeito 5)Um <strong>de</strong>sconforto e dor. (Sujeito 8)Desconforto e vergonha. (Sujeito 10)Aí eu fico com vergonha, mas é bom. (Sujeito 12)Constrangimento, porque é muito chato. (Sujeito 20)As acadêmicas <strong>de</strong>screveram que, ao se submeter<strong>em</strong>ao exame preventivo, experimentaram sentimentoscomo vergonha, medo, constrangimento, dor. Foramrepresentações individuais expressas pelas mulherespesquisadas, <strong>de</strong> acordo com suas vivências relacionadasao exame preventivo.No estudo, constatou-se que, <strong>em</strong>bora os sentimentosrelatados foss<strong>em</strong> os mesmos, a vivência <strong>de</strong> cada uma <strong>de</strong>lasé singular <strong>em</strong> relação ao exame preventivo. Com relaçãoà posição e à exposição durante a realização do exame,é <strong>de</strong>sconfortável, pois expõe a genitália. A vergonhae o constrangimento também são fatores que pod<strong>em</strong>contribuir para a não realização do exame, b<strong>em</strong> comopara que muitas mulheres coloqu<strong>em</strong> sua saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> risco.Portanto, os sentimentos citados foram os vivenciadospelas acadêmicas na hora da realização do exame.O sentimento <strong>de</strong> vergonha foi constatado <strong>em</strong> um estudo<strong>de</strong> caso que investigou a percepção da mulher sobreo exame preventivo. A forma que algumas mulheresse manifestar<strong>em</strong> ao ter<strong>em</strong> <strong>de</strong> expor o corpo, vê-lomanipulado e examinado por um profissional revelaquão influente é a sexualida<strong>de</strong> na vida da mulher, afinal,trata-se <strong>de</strong> um exame <strong>em</strong> que se manuseiam órgãose zonas erógenas. Outro dado que o estudo apontourelaciona-se ao fato <strong>de</strong> as mulheres associar<strong>em</strong> o examepreventivo à exposição da genitália e da sexualida<strong>de</strong>,fazendo-as se sentir<strong>em</strong> constrangidas ao expor suaspartes íntimas. 14Portanto, é necessário que os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>procur<strong>em</strong> minimizar os efeitos provocados pela realizaçãodo exame preventivo, tentando <strong>de</strong>ixar a mulher mais àvonta<strong>de</strong>. Deve-se levar <strong>em</strong> conta que muitas mulheressão tímidas, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente das circunstâncias <strong>em</strong>que se encontram, e que no caso <strong>de</strong>sse exame a exposiçãodo corpo ten<strong>de</strong> a <strong>de</strong>ixar a mulher fragilizada diante doprocedimento. E a situação po<strong>de</strong> piorar quando qu<strong>em</strong> vaicolher o exame é o médico ou o enfermeiro.Constatou-se, no estudo, que é preciso que esse tipo<strong>de</strong> procedimento invasivo seja realizado minimizandoos efeitos provocados por essa conduta na cliente, quejá se encontra constrangida pelos sentimentos que seupróprio corpo lhe impõe. Cabe ao enfermeiro respeitaros sentimentos experimentados e, acima <strong>de</strong> tudo, seudireito <strong>de</strong> ser mulher. 17Categoria 2 – Periodicida<strong>de</strong> para realização doexame <strong>de</strong> PapanicolaouO exame preventivo é recomendado para qualquermulher sexualmente ativa. O período recomendado,segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), 18 éum exame por ano. No caso <strong>de</strong> dois exames normaisconsecutivos, este <strong>de</strong>verá ser feito a cada três anos.Em casos <strong>de</strong> resultados positivos, o profissional <strong>de</strong>veráseguir as normas do Ministério da Saú<strong>de</strong>.O resultado obtido neste estudo revelou que a maioriadas acadêmicas realiza o exame anualmente, como po<strong>de</strong>ser visto nas falas a seguir:Todo ano. (Sujeito 1)Faço mais ou menos umas três vezes por ano. (Sujeito 2)Uma vez ao ano. (Sujeito 3, 5, 7, 9, 10)Acho que <strong>de</strong> seis <strong>em</strong> seis meses. (Sujeito 12)De seis <strong>em</strong> seis meses. (Sujeito 14, 16)Uma vez ao ano. (Sujeito 18)A vida sexual começa cada vez mais cedo e <strong>de</strong> forma<strong>de</strong>sprotegida, o que <strong>de</strong>ixa as jovens vulneráveis adoenças sexualmente transmissíveis, d<strong>em</strong>onstrandouma gran<strong>de</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> educação <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>. Assim,toda a mulher com vida sexual ativa <strong>de</strong>ve realizar oexame periodicamente. 14Aos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> cabe a orientação dapopulação f<strong>em</strong>inina quanto à importância da realizaçãoperiódica do exame preventivo para diagnóstico precocedo câncer do colo do útero, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente daida<strong>de</strong> e dos fatores <strong>de</strong> risco.A periodicida<strong>de</strong> na realização do exame <strong>de</strong> Papanicolaourecomendada pela Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>(OMS) é a cada três anos, após dois exames normaisconsecutivos, com intervalo <strong>de</strong> um ano. 19Categoria 3 – A importância da realização do exameO exame <strong>de</strong> prevenção do câncer cervicouterino,além <strong>de</strong> ser importante para a saú<strong>de</strong> da mulher, é382 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 378-385, jul./set., 2011


um procedimento que <strong>de</strong>tecta lesões pré-invasivasprecoc<strong>em</strong>ente, e, consequent<strong>em</strong>ente, é instrumentoessencial para a diminuição da mortalida<strong>de</strong> por essapatologia. 17A maioria das entrevistadas sabe que é necessária aprevenção do câncer do colo do útero, mas, no entanto,foi encontrado um déficit <strong>de</strong> conhecimento a respeitodo exame <strong>de</strong> Papanicolaou. Os <strong>de</strong>poimentos a seguirconfirmam isso:Extr<strong>em</strong>amente importante; vê se t<strong>em</strong> alguma forma <strong>de</strong>câncer. Pra ver algumas infecções. (Sujeito 1)Ele evita o câncer, prevenindo sobre o câncer <strong>de</strong> colouterino, DSTs, corrimento, e diagnostica se o colo doútero da mulher está normal. (Sujeito 4)Através <strong>de</strong>le po<strong>de</strong>-se <strong>de</strong>tectar doenças sexualmentetransmissíveis e um gran<strong>de</strong> vilão, o HPV (Sujeito 11)Pod<strong>em</strong>os notar nas falas das entrevistadas que, apesar<strong>de</strong> saber<strong>em</strong> que o exame é importante, encontra-se umdéficit quanto ao conhecimento do exame. Para elas, oexame previne a doença. O exame <strong>de</strong>tecta a doençaprecoc<strong>em</strong>ente, po<strong>de</strong>ndo começar um tratamento, paraque a doença não evolua. Contudo, a realização doexame não impe<strong>de</strong> o aparecimento do câncer cervical.O exame <strong>de</strong> Papanicolaou é uma técnica <strong>de</strong> coletacitológica <strong>de</strong> baixo custo que permite a prevenção ea <strong>de</strong>tecção precoce do câncer cervicouterino e suaslesões precursoras, por meio <strong>de</strong> uma técnica simples eacessível que po<strong>de</strong> ser realizada na Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>da Família (USF). 20O câncer <strong>de</strong> colo uterino é o que apresenta um dos maisaltos potenciais <strong>de</strong> prevenção e cura, 17 daí a importânciada realização do exame, pois, quanto mais precoc<strong>em</strong>entefor <strong>de</strong>scoberto, maior o índice <strong>de</strong> cura.É preciso <strong>de</strong>senvolver uma conscientização quantoao exame. Ele <strong>de</strong>ve ser encarado como forma <strong>de</strong>autocuidado, pois qu<strong>em</strong> está cuidando <strong>de</strong> si está seautopreservando.Foi criada a vacina contra o HPV com o objetivo <strong>de</strong>prevenir a infecção por HPV e, <strong>de</strong>ssa forma, reduzir onúmero <strong>de</strong> pacientes que venham a <strong>de</strong>senvolver câncer<strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero. A vacina funciona estimulando aprodução <strong>de</strong> anticorpos específicos para cada tipo <strong>de</strong> HPV.A proteção contra a infecção vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r da quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> anticorpos produzidos pelo indivíduo vacinado, apresença <strong>de</strong>sses anticorpos no local da infecção e suapersistência durante um longo período. 21Categoria 4 – Fatores que contribu<strong>em</strong> para a recusa<strong>em</strong> realizar o exame <strong>de</strong> PapanicolaouNeste estudo, consi<strong>de</strong>ra-se que é necessário <strong>de</strong>svelaras razões que levam as mulheres a não realizar<strong>em</strong> oexame preventivo, pois, a partir dos motivos relatadospor elas, po<strong>de</strong>rão ser impl<strong>em</strong>entadas medidas que vis<strong>em</strong>aumentar a cobertura <strong>de</strong>ste exame.Os motivos que contribu<strong>em</strong> para a realização doexame <strong>de</strong> Papanicolaou apareceram no <strong>de</strong>correr dos<strong>de</strong>poimentos. Os resultados revelaram que mulherescom ida<strong>de</strong> mais avançada mostram <strong>de</strong>sconhecimentodas doenças sexualmente transmissíveis e tambémmuitas <strong>de</strong>las sent<strong>em</strong> medo <strong>de</strong> realizar o exame por ter<strong>em</strong>ouvido falar que “dói” ou que esse exame “machuca”. Asmulheres afirmaram, também, que o medo da doença éum dos principais motivos que as levam a não retornarapós a realização do mencionado exame para saber doresultado. 14Em razão <strong>de</strong>sses sentimentos as mulheres colocam suasaú<strong>de</strong> <strong>em</strong> risco, como po<strong>de</strong> ser visto nos <strong>de</strong>poimentosa seguir:Medo, vergonha, <strong>de</strong>sconforto <strong>de</strong> realizar o exame.(Sujeito 5)Vergonha, e algumas pessoas são mal informadas.(Sujeito 6)Desconfortável, dor, vergonha e falta <strong>de</strong> conhecimento.(Sujeito 7)Timi<strong>de</strong>z, constrangimento. (Sujeito 14)Vergonha pela posição <strong>de</strong>sconfortável. (Sujeito 18)A exposição do íntimo leva ao constrangimento, eo <strong>de</strong>spreparo <strong>de</strong> muitos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong>reconhecer esses sentimentos torna-se responsável pelarecusa das mulheres <strong>em</strong> procurar unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>após uma primeira experiência traumática. É necessárioque os profissionais da saú<strong>de</strong> adot<strong>em</strong> procedimentosque diminuam a exposição das mulheres, <strong>de</strong>ixandoexposta somente a parte do corpo necessária para arealização do exame. 17Algumas mulheres também relataram sua insatisfação<strong>em</strong> ter <strong>de</strong> realizar o exame com um profissional dosexo masculino, por causa da vergonha e do constrangimento:Se qu<strong>em</strong> for colher for hom<strong>em</strong>, sinto preconceito e<strong>de</strong>sconforto. (Sujeito 2)Mulheres casadas, os maridos não <strong>de</strong>ixam fazer, sequ<strong>em</strong> realizar for hom<strong>em</strong>. (Sujeito 16)Dessa forma, po<strong>de</strong>-se concluir que a exposição é agran<strong>de</strong> responsável pelos sentimentos vivenciadospelas pacientes no exame <strong>de</strong> Papanicolaou. Diantedisso, é preciso capacitar profissionais responsáveispelo exame, para que eles possam proporcionar umambiente agradável e um atendimento humanizado àspacientes, minimizando os <strong>de</strong>sconfortos inerentes aoprocedimento que será realizado.Os serviços básicos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> oferec<strong>em</strong> condições <strong>de</strong><strong>de</strong>tectar precoc<strong>em</strong>ente o câncer cervical. Mas paraque isso aconteça é necessário que as mulheres, <strong>de</strong>forma voluntária, procur<strong>em</strong> a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para arealização do exame preventivo.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 378-385, jul./set., 2011383


Exame preventivo <strong>de</strong> Papanicolaou: percepção das acadêmicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> um centro universitário do interior <strong>de</strong> GoiásAssim, a falta <strong>de</strong> compreensão da importância darealização do exame <strong>de</strong> Papanicolaou faz com que sejaum <strong>de</strong>safio para os serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> atrair a populaçãoalvopara o procedimento tão necessário, o que limita orastreamento do câncer <strong>de</strong> colo <strong>de</strong> útero, principalmentedaquelas que apresentam maior risco. 14Portanto, é funamental que o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>promova estratégias que aperfeiço<strong>em</strong> a qualida<strong>de</strong> e aresolutivida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua atuação, impl<strong>em</strong>entando açõesque facilit<strong>em</strong> o acesso da mulher ao serviço prestado.É preciso que as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> cri<strong>em</strong> vínculoscom as usuárias e estabeleça laços <strong>de</strong> satisfação paraque procur<strong>em</strong> assistência profissional, pois assim serápossível <strong>de</strong>svelar novas estratégias <strong>de</strong> atendimento,contribuindo para que o exame se torne um ato rotineiropara as usuárias que, com certeza, irão procurar o serviço<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com mais frequência. Essa situação, enfim,contribuirá para aumentar o número <strong>de</strong> atendimentos,b<strong>em</strong> como para a diminuição <strong>de</strong> novos casos <strong>de</strong> câncer<strong>de</strong> colo do útero e até <strong>de</strong> outras enfermida<strong>de</strong>s.CONCLUSÃOCom base no estudo realizado, pod<strong>em</strong>os concluir quegran<strong>de</strong> parte das acadêmicas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> realiza oexame preventivo <strong>de</strong> Papanicolaou com a frequêncianecessária, <strong>em</strong>bora existam algumas que nunca orealizaram, mesmo sabendo da importância da suarealização.Acreditamos que alguns fatores interfer<strong>em</strong> <strong>em</strong> relaçãoà não realização do exame, como o medo <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobriralguma doença, o <strong>de</strong>sconforto e o constrangimentocausados pelo exame preventivo. Gran<strong>de</strong> parte dasacadêmicas entrevistadas relatou o <strong>de</strong>sconforto e avergonha experimentados durante a realização doexame, pois trata-se <strong>de</strong> um exame bastante invasivo,no qual os órgãos sexuais ficam expostos, e issoprovoca um enorme constrangimento. Os sentimentosexpressos são parecidos, mais as vivências são singulares.Apesar <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte das participantes do estudorealizar o exame, elas apresentaram um déficit <strong>de</strong>conhecimento quanto à verda<strong>de</strong>ira finalida<strong>de</strong> do exame<strong>de</strong> Papanicolaou.Portanto, ouvir as acadêmicas que fizeram parte <strong>de</strong>stapesquisa sobre os sentimentos vivenciados <strong>em</strong> relação aoexame permitiu perceber alguns caminhos que pod<strong>em</strong>contribuir para as estratégias <strong>de</strong> como atrair o públicof<strong>em</strong>inino para o exame preventivo. A impl<strong>em</strong>entação<strong>de</strong> uma prática mais humanizada, <strong>de</strong>senvolvendo acapacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação entre a população f<strong>em</strong>inina eo profissional <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, contribuirá para a qualida<strong>de</strong>do atendimento prestado à mulher durante arealização do exame.Espera-se que a divulgação dos resultados obtidos nestapesquisa possa trazer contribuições e reflexões quantoà importância da atuação do profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, paraque se conscientize quanto à assistência humanizadadiante <strong>de</strong>sse exame preventivo, que traz uma serie<strong>de</strong> sentimentos, como vergonha, constrangimentoe <strong>de</strong>sconforto. É necessário que o profissional dasaú<strong>de</strong> tenha conhecimento <strong>de</strong> que <strong>de</strong>terminadosprocedimentos <strong>de</strong>ssa área são indispensáveis, mas estãocarregados <strong>de</strong> tabus, medos e expõ<strong>em</strong> as pacientes asituações constrangedoras e vergonhosas e procur<strong>em</strong>minimizar os efeitos provocados pela realização do examepreventivo, tentando <strong>de</strong>ixar a mulher mais à vonta<strong>de</strong>.AGRADECIMENTOSÀs nossas amadas mães e amados pais, Mizael eLindonete, Mauro e Silvana, que s<strong>em</strong>pre contribuíram <strong>de</strong>forma positiva para a realização <strong>de</strong>ste trabalho e s<strong>em</strong>preacreditaram que seríamos capazes! Amamos vocês!Às nossas queridas e amadas irmãs Luana e Hiullany, ques<strong>em</strong>pre estiveram presentes <strong>em</strong> nossa vida nos dandopalavras <strong>de</strong> afeto e <strong>de</strong> conforto.REFERÊNCIAS1. 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PLANEJAMENTO FAMILIAR DE MULHERES PORTADORAS DE HIV/AIDSFAMILY PLANNING OF WOMEN WITH HIV/AIDSPLANIFICACIÓN FAMILIAR DE MUJERES PORTADORAS DE VIH/SIDADanielle Rosa Evangelista 1Escolástica Rejane Ferreira Moura 2RESUMOEstudo transversal, <strong>de</strong> campo, realizado com 51 mulheres <strong>em</strong> acompanhamento ambulatorial para DST/HIV/aids <strong>de</strong>hospital <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Fortaleza-CE. Objetivou-se com a pesquisa verificar a história reprodutiva <strong>de</strong> mulheres com HIV/AIDS, i<strong>de</strong>ntificar motivos que <strong>de</strong>terminam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ssas mulheres <strong>em</strong> ter ou não ter filhos e verificar suas práticascontraceptivas. Os dados foram coletados por meio <strong>de</strong> entrevista, <strong>de</strong> julho a outubro <strong>de</strong> 2007. Das participantes 40(78,4%) eram mães; 28 (70%) <strong>de</strong>las tiveram os filhos antes do diagnóstico <strong>de</strong> HIV/aids e 12 (30%) tiveram o diagnósticono pré-natal. Medo <strong>de</strong> a criança nascer com HIV, morrer e <strong>de</strong>ixar o filho órfão, preconceitos vivenciados e cuidadospré-natais adicionais foram motivos para 45 (88%) das mulheres não <strong>de</strong>sejar<strong>em</strong> ter filho(s). A possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o filhonascer sadio, aumentar a prole, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> paternida<strong>de</strong> do companheiro e fé <strong>em</strong> Deus que protege a criança do HIVforam os motivos apresentados pelas 6 (12) que <strong>de</strong>sejavam ter filho(s). Quanto às práticas contraceptivas, 29 (56,8%)usavam condom; 15 (29,4%) optaram pela abstinência sexual, 14 (27,4%) estavam laqueadas, 6 (11,7%) usavamanticoncepcional hormonal, alheias à interação medicamentosa com os antirretrovirais. O fato <strong>de</strong> o planejamentofamiliar <strong>de</strong> portadoras <strong>de</strong> HIV/aids passar pelo <strong>de</strong>sejo <strong>em</strong> ter e não ter filhos parte do fato <strong>de</strong> os diagnósticos <strong>de</strong> HIV/aids ser<strong>em</strong> tardios, ou seja, somente no pré-natal, a não a<strong>de</strong>são ao condom e uso <strong>de</strong> anticoncepcional hormonal, alheioa interação medicamentosa com antirretrovirais foram lacunas inaceitáveis verificadas na saú<strong>de</strong> sexual e reprodutivado grupo estudado, que exige melhor qualida<strong>de</strong> da atenção nessa área do cuidado.Palavras-chave: Planejamento Familiar; Mulheres; HIV; Síndrome <strong>de</strong> Imuno<strong>de</strong>ficiência Adquirida.ABSTRACTThis is a transverse field research conducted in a teaching hospital in the city of Fortaleza-CE with 51 ambulatory patientswith STD, living with HIV or AIDS. The research aimed to i<strong>de</strong>ntify the reproductive history of women living with HIV/AIDS, to establish their reasons for having or not having children, and to <strong>de</strong>termine their contraceptive practices. Thedata were collected from July to October 2007 through interviews. 40 (78.4%) participants were mothers; 28 (70%) hadhad their children before being diagnosed with HIV/AIDS, and 12 (30%) had been diagnosed in antenatal. The fear ofhaving a baby with HIV, of dying and leaving the child orphaned, the prejudices experienced and the extra prenatalcare required were the reasons given by 45 (88%) women for not wanting to have children. The possibility of havinga healthy child, the <strong>de</strong>sire to have more babies, their partners’ wish to have children, and the belief that faith in Godwill protect the child against HIV were the reasons given by 6 (12%) women that wanted to have children. Regardingthe contraceptive practices, 29 (56.8%) used condoms, 15 (29.4%) opted for sexual abstinence, 14 (27.4%) had hadtubal ligation, 6 (11.7%) used hormonal contraception regardless of the drug’s interaction with the antiretroviral. Inconclusion, these women’s family planning is associated with the wish of having or not having children and that isdue a HIV/AIDS diagnosis that happened only during the antenatal care. The non-adherence to condoms and the useof hormonal contraception <strong>de</strong>spite its interactions with the antiretroviral are an unacceptable aspect of the studiedgroup suggesting that improv<strong>em</strong>ents are necessary in this healthcare area.Key words: Family Planning; Women; HIV; Acquired Immuno<strong>de</strong>ficiency Syndrome.RESUMENEstudio transversal <strong>de</strong> campo realizado con 51 mujeres en atención ambulatoria para ETS/VIH/Sida en hospital escuela <strong>de</strong>Fortaleza-CE. El objetivo fue analizar la historia reproductiva <strong>de</strong> mujeres con VIH/Sida; i<strong>de</strong>ntificar razones que <strong>de</strong>terminansu <strong>de</strong>seo <strong>de</strong> tener o no tener hijos y observar sus prácticas <strong>de</strong> anticoncepción. Los datos fueron recogidos a través <strong>de</strong>entrevistas entre julio y octubre <strong>de</strong> 2007. Cuarenta (78.4%) participantes eran madres; 28 (70%) había tenido hijos antes<strong>de</strong>l diagnóstico <strong>de</strong> VIH/ Sida; y 12 (30%) habían recibido el diagnóstico en el prenatal. Las razones <strong>de</strong> 45 (88%) mujeres<strong>de</strong> no <strong>de</strong>sear tener hijo(s) se <strong>de</strong>bían al miedo <strong>de</strong> que el niño nacieran con VIH, morir y <strong>de</strong>jarlo huérfano, prejuiciossufridos ad<strong>em</strong>ás <strong>de</strong> cuidados especiales. La posibilidad <strong>de</strong> tener un hijo sano, el anhelo <strong>de</strong>tener más hijos, el <strong>de</strong>seo <strong>de</strong>paternidad <strong>de</strong> la pareja y la creencia <strong>de</strong> que la fe en Dios protege <strong>de</strong>l VIH fueron los motivos que presentaron 6 (12%)mujeres para tener hijos. Refiriendo al práctica anticonceptiva 29 (56.8%) mujeres utilizaban preservativos; 15 (29.4%)habían optado por abstinencia sexual; 14 (27.4%) habían realizado ligadura tubaria; 6 (11.7%) utilizaban anticonceptivoshormonales ajenas a la interacción medicamentosa con los antirretrovirales. El hecho <strong>de</strong> que la planificación familiar<strong>de</strong> mujeres con VIH/Sida está vinculada al <strong>de</strong>seo <strong>de</strong> tener o no tener niños <strong>de</strong>bido al diagnóstico tardío <strong>de</strong>l VIH/Sidadurante el prenatal, a la no adhesión al uso <strong>de</strong> preservativos y al uso <strong>de</strong> anticonceptivos hormonales sin preocupaciónpor la interacción medicamentosa con antirretrovirales fueron consi<strong>de</strong>radas fallas inaceptables en la salud sexual yreproductiva <strong>de</strong>l grupo objeto <strong>de</strong> estudio, que exige atención <strong>de</strong> mejor calidad en esta área.Palabras clave: Planificación familiar; Mujeres; VIH; Síndrome <strong>de</strong> Inmuno<strong>de</strong>ficiencia Adquirida.1Enfermeira. Mestra <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pelo Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará. Professora substituta doDepartamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará. Avenida Lineu Machado, 1117, Bairro: Jóquei Clube. CEP: 60.520-100, Fortaleza-CE. E-mail:daniellere@bol.com.br. Telefone: (85) 3290 3771.2Enfermeira. Prof a . Dr a . do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Ceará. Avenida Filomeno Gomes, 80. Apt o 401, bairro Jacarecanga. CEP:60.010-280. Fortaleza-CE. E-mail: escolpaz@yahoo.com.br. Telefone: (85) 3238 0604 FAX: (85) 3366 8456. En<strong>de</strong>reço para correspondência – Avenida LineuMachado, 1117, bairro Jóquei Clube. Fortaleza-CE. CEP: 60.520-100,386 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 386-393, jul./set., 2011


INTRODUÇÃOQuando o planejamento familiar recai sobre mulheresportadoras do Vírus da Imuno<strong>de</strong>ficiência Humana (HIV)ou com a Síndrome da Imuno<strong>de</strong>ficiência Adquirida(aids), atenção específica <strong>de</strong>ve ser impl<strong>em</strong>entada,pois a soropositivida<strong>de</strong> guarda particularida<strong>de</strong>simportantes nessa área do cuidado. As mulheres que<strong>de</strong>sejam conceber <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ter acesso à informaçãosobre a importância e como planejar a gestação paraum momento clínico satisfatório, b<strong>em</strong> como sobrepossíveis agravos que po<strong>de</strong>rão ocorrer, incluindo achance <strong>de</strong> transmissão vertical do HIV, particularmentequando medidas <strong>de</strong> prevenção não são cumpridas napré-concepção, no pré-natal, no parto e no puerpério.Quanto à prática contraceptiva, atenção <strong>de</strong>ve estarvoltada para a interação medicamentosa entreanovulatórios hormonais orais e certos antirretrovirais;contraindicação ao método da Lactação com Amenorreia(LAM); necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são ao uso <strong>de</strong> preservativospara a proteção <strong>de</strong> si e do parceiro, seja este soroconcordante, seja soro discordante, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>entedo uso <strong>de</strong> outro método anticoncepcional (MAC); e orisco da transmissão vertical do HIV.Nesse contexto, é crucial que as mulheres com HIV/aids que <strong>de</strong>sejam conceber ou realizar a contracepçãotenham acesso à informação para que possam fazersuas escolhas e o uso a<strong>de</strong>quado dos MACs mais b<strong>em</strong>indicados para tal situação, b<strong>em</strong> como o planejamentoa<strong>de</strong>quado da gestação.A f<strong>em</strong>inilização da aids t<strong>em</strong> crescido <strong>em</strong> gran<strong>de</strong>sproporções, sendo um fenômeno multicausal, quepassa pela esfera do comportamento sociossexual dapopulação, ainda marcado pelo po<strong>de</strong>r masculino; pela<strong>de</strong>pendência econômica, social e <strong>em</strong>ocional <strong>de</strong> partedas mulheres com relação aos seus parceiros e pelavulnerabilida<strong>de</strong> biológica e/ou anatômica f<strong>em</strong>inina. NoCeará, por ex<strong>em</strong>plo, a razão entre indivíduos com HIV/aids passou <strong>de</strong> 11 casos <strong>em</strong> homens por uma mulher,para dois casos <strong>em</strong> homens por uma mulher, entre 1987e 2006. 1 Ad<strong>em</strong>ais, a ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> maior concentração<strong>de</strong> número <strong>de</strong> casos na população f<strong>em</strong>inina é <strong>de</strong> 35anos, o que correspon<strong>de</strong> à fase reprodutiva, tornandoo planejamento familiar uma ação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>finidacomo prioritária na atenção básica do Sist<strong>em</strong>a Único<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>(SUS). 2 No Ceará, <strong>de</strong> 1985 a maio <strong>de</strong> 2007,<strong>de</strong> 205 casos <strong>de</strong> aids <strong>em</strong> crianças, 167 ocorreram portransmissão vertical. 1 Certamente, a maioria <strong>de</strong>sses casospo<strong>de</strong>ria ter sido evitada se as medidas preconizadas paraa prevenção da transmissão vertical, aliadas aos cuidadospré-concepcionais específicos para mulheres com HIV/aids, tivess<strong>em</strong> sido adotadas.Conforme o Protocolo para Prevenção da Transmissãodo HIV e sífilis, que tomou por base o Protocolo AidsClinical Trial Group (ACTG 076), realizar o exame anti-HIV no pré-natal, uso <strong>de</strong> antirretrovirais na gestação,trabalho <strong>de</strong> parto e parto, tratamento da criança por 42dias após o nascimento e a não amamentação reduz<strong>em</strong>a transmissão vertical do HIV <strong>de</strong> 25% para 1%-2%, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>que iniciado o uso <strong>de</strong> antirretrovirais a partir da 14ªs<strong>em</strong>ana <strong>de</strong> gestação, com terapia antirretroviral tríplice:AZT injetável durante o trabalho <strong>de</strong> parto, parto cesáreoeletivo com gestantes com carga viral <strong>de</strong>sconhecida ouelevada ou por orientação obstétrica; AZT oral para orecém-nascido exposto, do nascimento até 42 dias <strong>de</strong>vida e inibição da lactação, introduzindo fórmula infantilaté os seis meses. 3Opções <strong>de</strong> procriação para os casais infectados pelo HIVcom menor risco <strong>de</strong> contaminação dos cônjuges e doconcepto inclu<strong>em</strong> o sexo habitual com <strong>de</strong>terminadasrestrições, a autoins<strong>em</strong>inação, técnicas <strong>de</strong> reproduçãoassistida, ins<strong>em</strong>inação por doador ou adoção. 4 Emrelação à opção <strong>de</strong> procriação pelo sexo habitual, <strong>de</strong>veselevar <strong>em</strong> conta se o casal é ou não sorodiscordante.Nesses casos, o uso <strong>de</strong> preservativo masculino ouf<strong>em</strong>inino <strong>de</strong>ve ser mantido pelo casal HIV positivo,tanto para protegê-lo do aumento da carga viral (se soroconcordante) quanto para proteger um dos parceiros dacontaminação (se soro discordante).O risco <strong>de</strong> transmissão do HIV no coito heterossexual<strong>de</strong>sprotegido varia entre 1/1.000 por contato (hom<strong>em</strong>para mulher) a menos <strong>de</strong> 1/1.000 (mulher para hom<strong>em</strong>).Esses valores são variáveis, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do estado dadoença, da carga viral e da presença ou não <strong>de</strong> outrasdoenças <strong>de</strong> transmissão sexual. Assim, para conceber,casais sorodiscordantes ou não <strong>de</strong>verão abster-se do usodo preservativo somente no período fértil f<strong>em</strong>inino, oque <strong>de</strong>verá ser controlado pelos métodos baseados napercepção da fertilida<strong>de</strong> (t<strong>em</strong>peratura basal, método<strong>de</strong> Billings ou muco cervical, método <strong>de</strong> Ogino-Knaussou tabela e o método sintotérmico). Essa opção <strong>de</strong>vevir associada a uma avaliação criteriosa da carga viral eda contag<strong>em</strong> <strong>de</strong> linfócitos T CD4, que abaixo <strong>de</strong> 30 milcópias/ml e acima <strong>de</strong> 500 céls/mm 3, respectivamente,constitu<strong>em</strong> parâmetros <strong>de</strong> baixo risco <strong>de</strong> transmissão dovírus para um dos parceiros, <strong>em</strong> coito <strong>de</strong>sprotegid.o.As mulheres infectadas pelo HIV e s<strong>em</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong>fertilida<strong>de</strong> pod<strong>em</strong>, ainda, realizar a autoins<strong>em</strong>inação,ou seja, na altura da ovulação, o casal po<strong>de</strong> ter relaçõessexuais com preservativo s<strong>em</strong> espermicida e <strong>em</strong> seguidaintroduzir o esperma na vagina após a retirada dopreservativo; ou o sêmen po<strong>de</strong> ser injetado na vaginacom uma seringa após recolha por masturbação. Assim,a fecundação mantém-se na esfera privada do casal. 4Em face ao exposto, que constata a importância doplanejamento familiar entre mulheres com HIV/aids,pelo risco <strong>de</strong> transmissão vertical do HIV quando amulher e a criança não receb<strong>em</strong> o acompanhamentopreconizado e dadas as particularida<strong>de</strong>s da atenção àconcepção e anticoncepção nesse grupo, <strong>de</strong>cidimos pelarealização <strong>de</strong>sta pesquisa, com a intenção <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>ràs seguintes questões: Qual o histórico reprodutivo d<strong>em</strong>ulheres portadoras <strong>de</strong> HIV/aids? Quais os sentimentos<strong>de</strong>ssas mulheres com relação ao <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter ou nãoter filhos? Quais as práticas anticoncepcionais <strong>de</strong>ssasmulheres? Para respon<strong>de</strong>r a tais questionamentos foram<strong>de</strong>finidos os seguintes objetivos: verificar a históriareprodutiva <strong>de</strong> mulheres portadoras <strong>de</strong> HIV/aids;r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 386-393, jul./set., 2011387


Planejamento familiar <strong>de</strong> mulheres portadoras <strong>de</strong> hiv/aidsi<strong>de</strong>ntificar motivos que <strong>de</strong>terminam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ssasmulheres <strong>em</strong> ter<strong>em</strong> ou não filhos; e verificar suas práticascontraceptivas.MATERIAL E MÉTODOSTrata-se <strong>de</strong> estudo transversal, <strong>de</strong> campo. Os<strong>de</strong>lineamentos transversais são apropriados para<strong>de</strong>screver a situação, o perfil do fenômeno ou as relaçõesentre os fenômenos <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado momento. 5 Noestudo <strong>de</strong> campo, o pesquisador estabelece contatodireto com os sujeitos ou fenômeno <strong>em</strong> estudo,ampliando as informações sobre o que se pesquisa. 6O contato direto da pesquisadora com as mulheresportadoras <strong>de</strong> HIV/aids permitiu-lhes melhor percepçãodas atitu<strong>de</strong>s e expressões, o que foi positivo paraa interação durante a entrevista, técnica escolhidapara a coleta <strong>de</strong> dados, que seguiu um formuláriopreestabelecido e testado, contendo perguntas sobreaspectos d<strong>em</strong>ográficos, socioeconômicos, sexuais,reprodutivos e da prática anticoncepcional.Os dados foram coletados <strong>em</strong> ambulatório <strong>de</strong> HIV/aids<strong>de</strong> um hospital <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> Fortaleza-CE, que aten<strong>de</strong>homens e mulheres com DST/HIV/aids às segundas equartas-feiras à tar<strong>de</strong>. As ativida<strong>de</strong>s são <strong>de</strong>senvolvidaspor equipe multiprofissional constituída por quatromédicos, uma enfermeira, uma assistente social euma psicóloga. Em cada tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> acompanhamento,é atendida uma média <strong>de</strong> 15 usuários por médico,totalizando cerca <strong>de</strong> 120 usuários, s<strong>em</strong>analmente.Dentre os pacientes atendidos <strong>em</strong> cada turno, três erammulheres soropositivas para o HIV, correspon<strong>de</strong>ndo àd<strong>em</strong>anda média mensal <strong>de</strong> 12 mulheres com o referidodiagnóstico.Consi<strong>de</strong>rando o período <strong>de</strong>finido para a coleta <strong>de</strong> dados(julho a outubro <strong>de</strong> 2007), participaram do estudo 51mulheres <strong>em</strong> acompanhamento para HIV/aids, portanto,todas as que passaram pelo serviço e que aten<strong>de</strong>ram aocritério <strong>de</strong> inclusão estar <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> fértil (10 a 49 anos) –intervalo adotado pela Secretaria da Saú<strong>de</strong> do Ceará. 7As entrevistas foram realizadas no ambulatório (<strong>em</strong> salaprivativa) e nas respectivas tar<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento járeferidas, momento <strong>em</strong> que as mulheres aguardavampela consulta médica. Primeiro, os prontuários daspacientes eram revisados e, uma vez presente odiagnóstico <strong>de</strong> HIV/aids, estas eram convidadas aparticipar.Dados numéricos foram processados no Epi Infoversão 3.3 e apresentados <strong>em</strong> tabelas, contendofrequência absoluta, frequência relativa, média (X) e<strong>de</strong>svio padrão (S). As falas foram agrupadas <strong>em</strong> duascategorias preestabelecidas <strong>de</strong> acordo com os motivos<strong>de</strong>terminantes do <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>ssas mulheres <strong>em</strong> ter ounão ter filhos. As subcategorias foram estabelecidas <strong>de</strong>acordo com a Técnica <strong>de</strong> Análise Categorial do Método<strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Conteúdo proposto por Bardin. 8Na pré-análise, os dados foram organizados pelo uso dalógica, da intuição e das experiências e conhecimentosdas autoras, tendo por objetivo sist<strong>em</strong>atizar as i<strong>de</strong>iasiniciais por meio <strong>de</strong> repetidas leituras das falas dasrespon<strong>de</strong>ntes, i<strong>de</strong>ntificando pontos <strong>de</strong> s<strong>em</strong>elhanças e<strong>de</strong> divergências, o que permitiu agrupar os dados porsentimentos ou ações expressas. Na fase da exploraçãodo material, realizaram-se as operações <strong>de</strong> codificaçãoou enumeração. Para facilitar a contag<strong>em</strong> dos eventos,os formulários das entrevistas foram numerados <strong>de</strong> 1 a51. As falas foram codificadas pela letra M, seguida donúmero correspon<strong>de</strong>nte ao formulário (M1, M2, M3...).Realizou-se leitura geral do material com a intenção <strong>de</strong>reuni-lo <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significados convergentes. Nainterpretação, os resultados brutos foram tratados d<strong>em</strong>aneira a ser<strong>em</strong> significativos e válidos.O projeto <strong>de</strong> pesquisa foi submetido ao Comitê <strong>de</strong>Ética <strong>em</strong> Pesquisa do próprio hospital, obtendo parecerfavorável sob o Protocolo nº 075.06.02/2007, e seguiuas diretrizes e normas da Resolução n o 196/96, quetrata <strong>de</strong> pesquisas envolvendo seres humanos. 9 Asparticipantes assinaram o Termo <strong>de</strong> Consentimento Livree Esclarecido (TCLE), após informadas sobre objetivos eprocedimentos utilizados na pesquisa.RESULTADOSNa TAB. 1 mostram-se as características d<strong>em</strong>ográficas esocioeconômicas da população estudada.TABELA 1 – Distribuição do número <strong>de</strong> mulheresportadoras <strong>de</strong> HIV/aids segundo perfil d<strong>em</strong>ográficoe socioeconômico. Ambulatório <strong>de</strong> DST/HIV/aids –HUWC – Fortaleza-CE – jul./out. 2007Variáveis N o %Ida<strong>de</strong>(<strong>em</strong> anos completos) (X=35) S = 7,715 a 2021 a 3031 a 4041 a 49Condição <strong>de</strong> uniãoCompanheiro fixoS<strong>em</strong> companheiroCompanheiro eventual<strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong>(<strong>em</strong> anos <strong>de</strong> estudos)S<strong>em</strong> instrução e menos <strong>de</strong> 11 a 34 a 78 a 1011 ou maisRenda familiar mensal(<strong>em</strong> salário mínimo vigente)S<strong>em</strong> rendimento½ a 23 a 511521142415124120131353610229,54127,547,129,423,57,8239,225,525,59,870,719,5Quanto à história reprodutiva, o número <strong>de</strong> filhos das40 (78,4%) entrevistadas que haviam vivenciado a388 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 386-393, jul./set., 2011


maternida<strong>de</strong> variou <strong>de</strong> um a sete, com uma média <strong>de</strong>dois filhos e <strong>de</strong>svio-padrão <strong>de</strong> 1,5, sendo que 24 (47,0%)das mulheres tinham um ou dois filho(s), 14 (27,0%)tinham três ou quatro filhos, 2 (4,0%) tinham cinco ousete filhos e 11 (22,0%) eram nulíparas.Acrescente-se que, <strong>de</strong>stas, 28 (70%) vivenciaram amaternida<strong>de</strong> antes do diagnóstico <strong>de</strong> HIV/aids e 12(30%) tiveram o diagnóstico no pré-natal, ou seja,engravidaram <strong>de</strong>sconhecendo a soropositivida<strong>de</strong> parao HIV.Motivos que <strong>de</strong>terminam o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> mulheresportadoras <strong>de</strong> HIV/aids por ter ou não ter filhosSete (13,7%) das 51 (100%) mulheres entrevistadasmanifestaram o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter filho(s), incluídas 3 (43%)que já eram mães (M4, M38 e M43). Os <strong>de</strong>poimentosque segu<strong>em</strong> ilustram os motivos que mobilizam essasmulheres para o referido <strong>de</strong>sejo, os quais constituíramas seguintes subcategorias: ter informação sobre apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> o filho nascer sadio (M4, M15, M43,M47 e M50), exercer a maternida<strong>de</strong> (M38, M47), <strong>de</strong>sejo<strong>de</strong> paternida<strong>de</strong> do companheiro (M47) e a fé <strong>em</strong> Deus<strong>de</strong> proteger a criança do vírus (M28).Hoje eu sei, a doutora do posto que me falou, que euposso ter filho s<strong>em</strong> ele nascer doente. (M4, 26 anos,1 filho)A doutora me disse que se eu fizer o tratamento direito,eu posso engravidar e o bebê não nascer doente, aí euquero ter todos os cuidados para engravidar, pois euquero ser mãe. (M15, 31anos, nulípara)Eu tenho um pouco <strong>de</strong> medo, mas a doutora me falouque tomando o r<strong>em</strong>édio direito não passa essa doençapara o bebê. (M43, 24 anos, 1 filho)Eu acho que toda mulher t<strong>em</strong> o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ser mãe,comigo não é diferente. Além do mais o meu maridoquer muito ser pai também. Ouvi falar que t<strong>em</strong> chanceda criança não nascer com esse probl<strong>em</strong>a, tomandor<strong>em</strong>édio na hora do parto, uma coisa assim. (M47, 28anos, nulípara)Eu quero ser mãe, hoje t<strong>em</strong> tratamento. Na hora queeu encontrar o hom<strong>em</strong> certo eu quero ter um filho e euquero ter um filho hom<strong>em</strong>. (M50, 22 anos, nulípara)Eu tenho medo, mas eu faço o pré-natal direito e nãovai passar se Deus quiser [referindo-se à transmissãovertical]. Estou grávida do meu primeiro filho e eu queroter dois. (M28, 29 anos, nulípara)Eu tenho vonta<strong>de</strong> [referindo-se a ter filho], pois só tenhoum. (M38, 27 anos, 1 filho)As outras participantes, 44 (86,3%) mulheres, não<strong>de</strong>sejavam ter filhos pelos motivos que <strong>de</strong>ram orig<strong>em</strong>às seguintes subcategorias: 20 (45,5%) ressaltaram quetinham medo <strong>de</strong> morrer e <strong>de</strong>ixar o filho órfão; 19 (43,3%)t<strong>em</strong>iam que a criança nascesse com HIV; 2 (4,5%) por nãoquerer<strong>em</strong> relacionamento com o sexo oposto; 2 (4,5%)se opunham porque imaginavam um pré-natal diferente,tendo <strong>de</strong> tomar muitos r<strong>em</strong>édios e não po<strong>de</strong>r<strong>em</strong>amamentar o filho; e 1 (2,2%) por t<strong>em</strong>er o preconceitoe atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> rejeição por parte da família, amigos e dasocieda<strong>de</strong> <strong>em</strong> geral. As falas a seguir foram os recortesdos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> participantes, consi<strong>de</strong>rados maisapropriados pelas autoras para ilustrar as referidascategorias:Eu num quero ter filho não. Eu tenho muito medo d<strong>em</strong>orrer e aí ele [o filho] vai ficar com qu<strong>em</strong>? (M3, 32anos, 1 filho)Eu tenho essa doença [o HIV/aids]. Não posso ter filhoporque ele po<strong>de</strong> nascer com essa doença também, aí vaiser muito sofrimento. Além do mais, se eu morrer, qu<strong>em</strong>vai cuidar <strong>de</strong>le? (M12, 30 anos, s<strong>em</strong> filhos)Me <strong>de</strong>cepcionei muito com os homens, eu amava ele[referindo-se ao parceiro] e ele sabia que era doente <strong>em</strong>esmo assim passou essa doença para mim. Deus melivre <strong>de</strong> hom<strong>em</strong> na minha vida. (M7, 49 anos, 4 filhos)Olha, sinceramente, eu não quero ter outros filhos,não; o pré-natal é todo diferente, a gente t<strong>em</strong> que ficartomando r<strong>em</strong>édio, a gente não po<strong>de</strong> amamentar opróprio filho. Eu sofri muito e eu não quero passar porisso nunca mais. (M26, 21 anos, 1 filho).Ter filho com esse probl<strong>em</strong>a [HIV/aids] não dá certo,não quero mesmo. Basta eu para sofrer preconceito e serrejeitada pela própria família, os amigos e todo mundo;você sabe que é assim. (M8, 44 anos, 3 filhos)Prática contraceptiva <strong>de</strong> mulheres portadoras <strong>de</strong>HIV/aidsA TAB. 2 apresenta a distribuição da população estudada<strong>de</strong> acordo com a prática contraceptiva.TABELA 2 – Distribuição das mulheres HIV positivo<strong>de</strong> acordo com a prática contraceptiva. Ambulatório<strong>de</strong> DST/HIV/aids – HUWC – Fortaleza-CE – jul./out.2007Métodos anticoncepcionais <strong>em</strong>uso durante o estudo (N=51)CondomAbstinência sexualLaqueadura tubária e condomLaqueadura tubária e abstinênciasexualLaqueadura tubáriaAnticoncepcionais oraiscombinados <strong>de</strong> baixa dose (AOC)Anticoncepcionais oraiscombinados <strong>de</strong> baixa dose (AOC)e condomAnticoncepcionais injetáveiscombinados (AIC)N o %191283332137,323,515,75,95,95,93,91,9r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 386-393, jul./set., 2011389


Planejamento familiar <strong>de</strong> mulheres portadoras <strong>de</strong> hiv/aidsObserva-se que o uso do condom como MAC únicoou associado vinha sendo usado por 29 (56,8%) dasmulheres estudadas, ou seja, pouco mais da meta<strong>de</strong>do grupo investigado. Outro aspecto a <strong>de</strong>stacar é o <strong>de</strong>que 15 (29,4%) mulheres adotaram a abstinência sexual,rompendo com laços afetivos e com o exercício <strong>de</strong> suasexualida<strong>de</strong> no que diz respeito ao relacionamentosexual; 6 (11,7%) faziam uso <strong>de</strong> método hormonal; e 14(27,4%) estavam laqueadas, sendo que, <strong>de</strong>ssas, 8 usavamo preservativo e 3 faziam abstinência sexual.DISCUSSÃOA ida<strong>de</strong> das mulheres pesquisadas variou <strong>de</strong> 15 a 49anos, com uma média <strong>de</strong> 35 anos e <strong>de</strong>svio-padrão<strong>de</strong> 7,7 anos, ou seja, uma faixa etária que permeiaas diferentes fases reprodutivas, como adolescência,juventu<strong>de</strong> e adultez, incluindo os extr<strong>em</strong>os da ida<strong>de</strong>reprodutiva. No Brasil, o HIV/aids v<strong>em</strong> atingindo cadavez mais mulheres, notadamente na faixa etária média<strong>de</strong> 35 anos, 2 assertiva que corrobora a média <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>encontrada nesse estudo.A condição <strong>de</strong> união se apresentou com relacionamentosdo tipo fixo, eventual e mulheres que se encontravamsozinhas, s<strong>em</strong> qualquer relacionamento, porém compredomínio <strong>de</strong> uniões fixas (47,1%) e estáveis (29,4%).O percentual <strong>de</strong> mulheres vivendo s<strong>em</strong> relacionamentotambém se mostrou relativamente elevado (23,5%).Chamou atenção que nenhuma mulher tenha reveladorelacionamento eventual. Nesse sentido, um aspectoa discutir é o da monogamia como fator <strong>de</strong> proteçãodiante do mito da relação estável versus confiançaconjugal, uma vez que a percepção <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>ao HIV/aids <strong>de</strong>sses casais diminui e até <strong>de</strong>saparece.Foi verificado que mulheres casadas entend<strong>em</strong> o HIV/aids como probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> mulheres da vida ou que têmmuitos parceiros, sendo difícil que as atinja mesmo na<strong>de</strong>sconfiança <strong>de</strong> que o parceiro seja poligâmico. 10A escolarida<strong>de</strong> variou entre não ter qualquer escolarida<strong>de</strong>a ter 11 anos ou mais <strong>de</strong> estudos, porém comigual porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> mulheres s<strong>em</strong> escolarida<strong>de</strong> até7 anos <strong>de</strong> estudos (50,0%) e com escolarida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 8 a11 anos ou mais <strong>de</strong> estudos (50,0%). Esse resultadocontraria a informação <strong>de</strong> que é maior a notificação<strong>de</strong> casos <strong>de</strong> HIV/aids entre pessoas com até sete anos<strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong>, 2 o que po<strong>de</strong> ser atribuído ao fato <strong>de</strong>o hospital pesquisado ser referência para casos <strong>de</strong> HIV/aids, migrando para este ampla diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoassoropositivas, on<strong>de</strong> encontram melhores respostaspara a condição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>-doença, mesmo aqueles <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong> e renda mais favorecidas. Assim, a rendafamiliar média também foi heterogênea, variando entrenão ter renda até cinco salários mínimos, sendo maioro percentual <strong>de</strong> mulheres vivendo com meio a doissalários mínimos (70,7%).Dentre as 40 (78,4%) mulheres que eram mães, 12(30%) tiveram o diagnóstico <strong>de</strong> HIV/aids no pré-natal,d<strong>em</strong>onstrando que mulheres com esse quadro estão aengravidar s<strong>em</strong> adotar, integralmente, as medidas quereduz<strong>em</strong> as chances <strong>de</strong> transmissão vertical, uma vez queparte das referidas medidas <strong>de</strong>ve ser oferecida ainda noperíodo pré-concepcional. Quanto mais precoce é dadoo diagnóstico <strong>de</strong> HIV/AIDS, maiores são os benefíciospara a mãe e o concepto, reduzindo a transmissãovertical e o déficit no <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor eneurocognitivo no recém-nascido dada a ação do HIVsobre o sist<strong>em</strong>a nervoso central. 11 Essa realida<strong>de</strong> po<strong>de</strong>ser <strong>de</strong>corrente, <strong>em</strong> parte, <strong>de</strong> controvérsias existentes naatenção à saú<strong>de</strong> reprodutiva <strong>de</strong> mulheres soropositivaspara o HIV, passando por condutas individuais e <strong>de</strong>fórum íntimo dos provedores <strong>de</strong> serviços tecnicamente<strong>de</strong>spreparados. 12Sete (13,7%) mulheres do estudo manifestaram o <strong>de</strong>sejo<strong>de</strong> engravidar, <strong>de</strong>stacando como principal motivo terinformações sobre as chances <strong>de</strong> redução da transmissãovertical do HIV. Portanto, cabe à equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong>particular o enfermeiro, estar preparada para promovero aconselhamento a<strong>de</strong>quado voltado para a concepção<strong>de</strong>sse público-alvo, respeitando os direitos sexuaise reprodutivos <strong>de</strong> livre escolha <strong>de</strong>ssas mulheres, asrecomendações do protocolo <strong>de</strong> redução da transmissãodo HIV, b<strong>em</strong> como os cuidados específicos para asmulheres e/ou casais que <strong>de</strong>cid<strong>em</strong> pela concepção,citados na introdução do estudo. 3,4Todas as informações que apoiam as mulheresportadoras <strong>de</strong> HIV/aids a conceber<strong>em</strong> com baixaschances <strong>de</strong> transmissão vertical <strong>de</strong>verão ser fornecidasa esse público-alvo, no sentido <strong>de</strong> promover escolhasconscientes no que diz respeito à maternida<strong>de</strong> e àprevenção do HIV. A propósito, <strong>de</strong>staque-se o rol d<strong>em</strong>ulheres <strong>de</strong>ste estudo que manifestou o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong>conceber, tendo por motivação a informação e a tomada<strong>de</strong> consciência a respeito das medidas <strong>de</strong> redução datransmissão vertical do HIV.Também foram motivos para <strong>de</strong>sejar a concepção:aumentar a prole, aten<strong>de</strong>r ao <strong>de</strong>sejo do parceiro <strong>de</strong>ser pai e a fé <strong>de</strong> que Deus po<strong>de</strong> proteger a criançado HIV, ou seja, uma diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentimentos queinfluencia a escolha reprodutiva <strong>de</strong> mulheres portadoras<strong>de</strong> HIV/aids, o que suscita a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> equipes<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> preparadas para aten<strong>de</strong>r às d<strong>em</strong>andas porconcepção advindas <strong>de</strong>sse grupo. Em um estudo, forami<strong>de</strong>ntificados resultados s<strong>em</strong>elhantes, ao apontar, comofator <strong>de</strong>terminante para mulheres HIV positivo <strong>de</strong>sejarconceber, o fato <strong>de</strong> não ter o número <strong>de</strong> filhos <strong>de</strong>sejadoe que 43% dos homens heterossexuais, soropositivos<strong>de</strong>sejavam ter filhos. 13 A fé é <strong>de</strong> elevada importância noprocesso <strong>de</strong> enfrentamento do HIV/aids por mulheres,as quais costumam fazer referência a questões relativasà fé quando entrevistadas durante pequisas. 14Neste estudo, das 44 (86,3%) mulheres que não<strong>de</strong>sejavam conceber, 20 (45,5%) apresentaram comomotivo o medo <strong>de</strong> ir a óbito e <strong>de</strong>ixar a criança órfã. Nessesentido, analisa-se que, sendo a aids uma pand<strong>em</strong>ia quecontinua se alastrando por todo o mundo e que t<strong>em</strong>como característica marcante a ausência da cura, não éraro que as pessoas, ao se <strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong> com o HIV, t<strong>em</strong>ama morte. Esses sentimentos se exacerbam entre mulheres390 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 386-393, jul./set., 2011


soropositivas no puerpério. Em estudo realizado <strong>em</strong> BeloHorizonte, foram i<strong>de</strong>ntificados sentimentos conflituosos<strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e culpa, apesar das informações sobreas possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> não infecção do bebê com otratamento com antirretrovirais. Desconfiança, medoou vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> morrer, <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> que a situação nãoseja real, medo <strong>de</strong> discriminação e preocupação sobreos cuidados do(s) filho(s), caso venham a falecer, foramos prepon<strong>de</strong>rantes. 15Outro fator que justificou o não <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conceber foio medo das mulheres do risco da transmissão vertical,relatado por 19 (43,3%) das entrevistadas. Encontrou-secomo principal razão para mulheres soropositivas não<strong>de</strong>sejar<strong>em</strong> ter filhos o medo <strong>de</strong> a criança nascer com ovírus. 16 Sobre esse fato é sabido e já foi comentado que autilização <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> medidas po<strong>de</strong> reduzir para1%-2% o risco <strong>de</strong> transmissão vertical do HIV. 3 Assim, asmulheres precisam estar informadas sobre o assunto, oque interfere diretamente na sua escolha reprodutiva.Destacou-se, ainda, a negação <strong>de</strong> relacionamentocom o sexo oposto relatada por parte das mulherescomo motivo para o não <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter filho(s), atitu<strong>de</strong><strong>de</strong>corrente da revolta e/ou <strong>de</strong>cepção para com o parceiro,fonte <strong>de</strong> sua contaminação. Esse comportamento queleva à abstinência sexual é elevado entre mulheressoropositivas para o HIV/aids <strong>em</strong> outras regiões <strong>de</strong>ntroe fora do País, <strong>de</strong>cisão exatamente fortalecida pela<strong>de</strong>cepção e revolta das mulheres <strong>em</strong> ter no parceiro afonte <strong>de</strong> infecção. 17O t<strong>em</strong>or <strong>de</strong> um pré-natal com maior necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cuidados e <strong>de</strong> r<strong>em</strong>édios foi também motivo para onão <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> conceber, b<strong>em</strong> como a impossibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> amamentar o filho. Essas medidas, realmente, sãonecessárias para a redução do risco <strong>de</strong> transmissãovertical do HIV, e, uma vez disponibilizadas às mulherescom padrão a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> acesso e qualida<strong>de</strong>, vaiamenizar esse t<strong>em</strong>or. 3Também foi encontrado como motivo para o não <strong>de</strong>sejo<strong>de</strong> conceber o medo <strong>de</strong> sofrer preconceitos, rejeição.A esse respeito, <strong>em</strong> estudo sobre enfrentamento daaids entre mulheres infectadas, afirma-se que elas sesent<strong>em</strong> frágeis diante do diagnóstico e rel<strong>em</strong>bram que a<strong>de</strong>scoberta da doença foi recebida com medo da morte,vergonha, abandono, solidão, tristeza e ansieda<strong>de</strong>. Arevelação do diagnóstico é uma barreira na vida <strong>de</strong> todasas mulheres, situação relacionada ao medo <strong>de</strong> vivenciaro preconceito e a discriminação. 18Quanto à prática contraceptiva das mulheres pesquisadas,29 (56,8%) usavam preservativo masculino, percentualbaixo, <strong>em</strong> face da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> uso por 100% daspessoas vivendo com HIV/aids, porém acima da médianacional da população geral <strong>de</strong> mulheres <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> fértil(12,9%). 19 Muitas vezes, o uso regular <strong>de</strong> preservativovaria conforme a parceria, eventual ou fixa, ficando estaúltima comprometida pela maior confiança entre o casal.Segundo inquérito <strong>de</strong> âmbito nacional realizado nasdiferentes regiões do País, com 6 mil indivíduos <strong>de</strong> 15a 54 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, na faixa etária entre 25 e 39 anos, apercentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> preservativo variou <strong>de</strong> 48,7%com parceiro eventual a 21,9% com parceiro fixo. 20Percentual significativo, ou seja, 15 (29,4%) das mulheresentrevistadas optaram pela abstinência sexual.Pessoas HIV positivas eleg<strong>em</strong>, <strong>de</strong>liberadamente, aabstinência sexual, segundo nova pesquisa nos EstadosUnidos. Autores afirmam que não há como quantificaro número <strong>de</strong> pessoas HIV positivo sexualmenteinativas, porém infere-se que o número é elevado. 17Essa informação é útil para os que <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>estratégias <strong>de</strong> educação e prevenção do HIV, no sentido<strong>de</strong> promover<strong>em</strong> espaços para o diálogo e a troca <strong>de</strong>experiências e informações sobre a t<strong>em</strong>ática. Nos EstadosUnidos, pesquisa enfoca a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> profissionaisda saú<strong>de</strong> oferecer<strong>em</strong> assessoria a<strong>de</strong>quada às mulheresHIV positivo no campo da contracepção, pois, ouvindo118 mulheres HIV positivo <strong>em</strong> ida<strong>de</strong> fértil, 47% haviamsido laqueadas, porém, <strong>de</strong>stas, 12% manifestaram o<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> ter filhos após a laqueadura tubária. 21Quando o anticoncepcional hormonal combinadooral <strong>de</strong> baixa dose é utilizado por mulheres HIVpositivo <strong>em</strong> tratamento com antirretrovirais (Efavirez,Nevirapina, Nelfinavir e Ritonavir), po<strong>de</strong>rá ocorrerinteração medicamentosa, reduzindo os níveis séricosdo etinilestradiol e, portanto, a eficácia contraceptiva. 22As 6 (11,7%) mulheres <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> métodos hormonaisutilizavam-nos juntamente com a medicação antirretroviral,porém duas o usavam associado ao preservativo,o que colabora para reforçar a contracepção <strong>em</strong>meio as chances <strong>de</strong> redução sérica do etinilestradiol,e outra fazia uso parenteral, o que também concorrepara menores alterações nos níveis <strong>de</strong> estrógeno.Receber essas informações constitui direito <strong>de</strong>ssepúblico-alvo.Ressalte-se que nenhuma mulher referiu uso <strong>de</strong>dispositivo intrauterino (DIU) ou preservativo f<strong>em</strong>inino,métodos efetivos para a maioria das mulheres portadoras<strong>de</strong> HIV/aids, além <strong>de</strong> não interferir<strong>em</strong> com a terapiaantirretroviral. Em estudo randomizado realizado naZâmbia com o objetivo <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar a eficácia e asegurança do DIU entre mulheres infectadas com HIV,foram recrutadas 599 mulheres no pós-parto parareceber o DIU <strong>de</strong> cobre ou <strong>de</strong> contracepção hormonal,acompanhando-as por pelo menos dois anos, e concluiuseque o DIU é eficaz e seguro <strong>em</strong> mulheres infectadaspelo HIV. 23Recomenda-se que estudos futuros sejam realizadosna perspectiva <strong>de</strong> ampliar as evidências quanto aoscuidados pré-concepcionais que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser realizadoscom as mulheres portadoras <strong>de</strong> HIV/aids, b<strong>em</strong> comosobre as especificida<strong>de</strong>s da anticoncepção <strong>de</strong>ssepúblico-alvo.CONCLUSÃOAs mulheres com HIV/aids participantes <strong>de</strong>ste estudoapresentaram d<strong>em</strong>andas por atenção <strong>em</strong> planejamentofamiliar, tanto <strong>em</strong> concepção quanto <strong>em</strong> anticoncepção,r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 386-393, jul./set., 2011391


Planejamento familiar <strong>de</strong> mulheres portadoras <strong>de</strong> hiv/aidsressaltando-se que das 40 (78,4%) mulheres que já tinhamfilhos 12 (30%) tiveram os partos como portadoras <strong>de</strong>HIV, sendo que o diagnóstico <strong>de</strong> todas elas foi dado nopré-natal, portanto um diagnóstico tardio que impe<strong>de</strong>o acesso aos cuidados pré-concepcionais, tão relevantespara a prevenção da transmissão vertical.Mais mulheres, ou seja, 86,3%, manifestaram o <strong>de</strong>sejo<strong>de</strong> ter filho(s) e 70,6% das participantes mantinham-sesexualmente ativas, porém somente 29 (56,8%) usavampreservativo masculino <strong>de</strong> forma isolada ou combinadaa outro método. Assim, parte das mulheres encontravaseexposta a sobrecarga viral e/ou à contaminação doparceiro. Em ord<strong>em</strong> <strong>de</strong>crescente, os d<strong>em</strong>ais métodosanticoncepcionais usados pelo grupo eram: abstinênciasexual (29,4%), laqueadura (27,5%), anticoncepcionalcombinado oral <strong>de</strong> baixa dose (9,8%) sob risco <strong>de</strong>interação com os antirretrovirais e injetável combinado(1,9%).Conclui-se que a atenção ao planejamento familiar<strong>de</strong>ssas mulheres com HIV/aids necessita ter suasespecificida<strong>de</strong>s reconhecidas e monitoradas com maisrigor e abrangência pelos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, umavez que parte está exposta tanto à gestação s<strong>em</strong> receberas medidas <strong>de</strong> prevenção contra transmissão vertical doHIV na pré-concepção quanto à prática contraceptivaina<strong>de</strong>quada.REFERÊNCIAS1. Ceará. Secretaria da Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nadoria <strong>de</strong> Promoção e Proteção à Saú<strong>de</strong>. 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ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO VIVENCIADAS POR MULHERES COMDIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA EM USO DE TAMOXIFENO*WOMEN DIAGNOSED WITH BREAST CANCER TAMOXIFEN USERS AND THEIR COPING STRATEGIESESTRATEGIAS DE AFRONTAMIENTO DE MUJERES DIAGNOSTICADAS CON CÁNCER DE MAMA QUETOMAN TAMOXIFENOFranciele Marabotti Costa Leite 1Maria Helena Costa Amorim 2Denise Silveira <strong>de</strong> Castro 2Esdras Guerreiro Vasconcellos 3Cândida Caniçali Primo 4RESUMOA neoplasia mamária gera na mulher esforços cognitivos e comportamentais cujo objetivo é <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar estratégias<strong>de</strong> enfrentamento a fim <strong>de</strong> lidar com as d<strong>em</strong>andas internas e externas. Por ser um processo dinâmico e exigir respostas<strong>em</strong> cada fase da doença, torna-se fundamental que a mulher adquira habilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enfrentamento para lidar com ocontexto estressante da doença. Nesse sentido, o objetivo com este estudo foi i<strong>de</strong>ntificar as estratégias <strong>de</strong> enfrentamentovivenciadas por mulheres com diagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> tamoxifeno. Trata-se <strong>de</strong> estudo <strong>de</strong>scritivo,transversal, quantitativo. A amostra constituiu-se <strong>de</strong> 270 mulheres, atendidas no ambulatório do Hospital Santa Rita<strong>de</strong> Cássia, Vitória-ES, no período <strong>de</strong> maio a set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008. Para a coleta dos dados foi utilizada a escala “Modos<strong>de</strong> Enfrentamento <strong>de</strong> Probl<strong>em</strong>a”. As mulheres vivenciam as estratégias <strong>de</strong> enfrentamento com foco no probl<strong>em</strong>a,religião, suporte social e <strong>em</strong>oção, entretanto, quando são comparadas, verifica-se que o enfrentamento com foco noprobl<strong>em</strong>a é o mais utilizado (p


INTRODUÇÃOO câncer <strong>de</strong> mama, <strong>de</strong>ntre as neoplasias malignas, t<strong>em</strong>sido o responsável pelos maiores índices <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong>no mundo, sendo uma das gran<strong>de</strong>s preocupaçõesna saú<strong>de</strong> pública 1 . Dados mais recentes do InstitutoNacional do Câncer (INCA) apontam <strong>em</strong> 2008, noBrasil, 49.400 novos casos <strong>de</strong> neoplasia mamária, comincidência <strong>de</strong> 50,71. 2O diagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama leva a mulher avivenciar sentimentos <strong>de</strong> medo, tristeza, aceitação,negação, questionamentos e dúvidas. Nesse sentido, amulher com câncer <strong>de</strong> mama, que está <strong>em</strong> tratamento,ten<strong>de</strong> a ficar mais sensível e vulnerável a estímulos quea doença provoca. Isso influencia muitas vezes <strong>de</strong> formanegativa sua adaptação, 3 já que as situações adversas,quando não enfrentadas a<strong>de</strong>quadamente, pod<strong>em</strong> gerarno indivíduo ansieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong>pressão, que na maioria dasvezes <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam doenças. 4Assim, a mulher na tentativa <strong>de</strong> processar a situaçãoestressora, busca adaptar-se às circunstânciasestressantes interagindo com o organismo e o ambiente,o que equivale ao coping que v<strong>em</strong> sendo traduzido como“enfrentamento”, “ajustamento”. Esse conceito centralizasenos acontecimentos ao longo da vida das pessoas,que se refere às perdas, dificulda<strong>de</strong>s, fatos inesperados,tragédias, ajustando-se ao seu impacto. 5O coping constitui um processo <strong>de</strong> mudanças cognitivase esforços comportamentais para manusear d<strong>em</strong>andasexternas e/ou internas que são avaliadas com osrecursos <strong>de</strong> cada indivíduo. Essa <strong>de</strong>finição enfatiza anoção <strong>de</strong> enfrentamento como processo. Portanto, oenfrentamento não po<strong>de</strong> ser visto como uma respostaúnica dada por uma pessoa ou ação singular <strong>em</strong><strong>de</strong>terminado momento, mas <strong>de</strong>ve ser compreendidocomo um conjunto <strong>de</strong> respostas que ocorre ao longo<strong>de</strong> um período, durante o qual o ambiente e a pessoa seinfluenciam mutuamente. Por ser um processo dinâmico,este se modifica com as avaliações e reavaliações feitasconstant<strong>em</strong>ente sobre o evento. 6Qualquer <strong>em</strong>penho <strong>em</strong> lidar com o estressor é umaresposta <strong>de</strong> coping, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do sucesso oudo fracasso. No que diz respeito às suas funções, po<strong>de</strong> serclassificado <strong>em</strong> coping centrado no probl<strong>em</strong>a e copingcentrado na <strong>em</strong>oção. As funções do coping permit<strong>em</strong>alterar as relações indivíduo-ambiente mediante ocontrole da situação geradora do estresse (quandocentrado no probl<strong>em</strong>a) ou modular a resposta <strong>em</strong>ocional(quando centrado na <strong>em</strong>oção). O enfrentamentocentrado no probl<strong>em</strong>a se dirige às situações <strong>de</strong> possívelmudança, enquanto o coping centrado na <strong>em</strong>oção estáassociado a situações imutáveis. Assim, as estratégias <strong>de</strong>coping são ações <strong>de</strong>cisórias, sejam orgânicas ou não, que<strong>em</strong>it<strong>em</strong> uma resposta ao agente estressor. 6Nesse sentido, o enfrentamento consiste nas respostasque surg<strong>em</strong> com base <strong>em</strong> situações estressoras e t<strong>em</strong>a função <strong>de</strong> modificar o contexto no qual as respostas<strong>de</strong> estresse estão apresentadas. Logo, a resposta <strong>de</strong>coping po<strong>de</strong> afetar o estresse, b<strong>em</strong> como a interaçãoentre o estresse, e suas estratégias <strong>de</strong> coping envolv<strong>em</strong>processos intensos e longos que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rão da respostaindividual às várias situações vivenciadas. 5A mulher com câncer <strong>de</strong> mama, no <strong>de</strong>correr da doença,ou seja, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o diagnóstico à cirurgia, os tratamentos eaté a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reincidência ou cura da doença,vivencia diversas estratégias <strong>de</strong> enfrentamento. Essasestratégias, como processo, inclu<strong>em</strong> um esforço contínuo<strong>de</strong> ir e vir, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a confrontação até as consequências daneoplasia. Quando esse processo se <strong>completa</strong> <strong>de</strong> formasatisfatória, esse ciclo ocorre com menor frequência,praticamente <strong>de</strong>saparecendo, indicando que o indivíduolidou a<strong>de</strong>quadamente com a situação. 7O tratamento para o câncer <strong>de</strong> mama é s<strong>em</strong>pre individual,avaliando a extensão da doença, suas característicase a situação <strong>de</strong> cada mulher. Exist<strong>em</strong> alguns tipos <strong>de</strong>tratamento disponíveis, como a quimioterapia, a radioterapia,a hormonioterapia e a cirurgia, que pod<strong>em</strong> seradministrados individualmente ou concomitant<strong>em</strong>ente.Na hormonioterapia, o tamoxifeno é o fármaco maiscomumente utilizado. Consiste <strong>em</strong> um moduladorseletivo <strong>de</strong> ação antiestrogênica por se ligar ao receptor<strong>de</strong> estrogênio no tecido mamário, impedindo <strong>de</strong> formacompetitiva a ação do estrogênio nesse tecido. 8 Ouso do tamoxifeno por cinco anos diminui o risco <strong>de</strong>câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong> mulheres <strong>de</strong> alto risco 9 e v<strong>em</strong>d<strong>em</strong>onstrando o aumento do intervalo livre da doença,o aumento da sobrevida e a redução da incidência<strong>de</strong> eventos <strong>de</strong> câncer na mama contralateral. 10 Noentanto, apresenta efeitos adversos, <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong>sua ação antiestrogênica, <strong>de</strong>ntre eles a proliferação doendométrio, com risco aumentado <strong>de</strong> a<strong>de</strong>nocarcinomae os fenômenos trombo<strong>em</strong>bólicos. 11Consi<strong>de</strong>rando que a neoplasia mamária é uma doença<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> relevância na saú<strong>de</strong> pública, geradora <strong>de</strong>alterações biopsicossociais, e que o tratamento comtamoxifeno traz mudanças significativas na vida damulher, seja pelo seu uso contínuo e prolongado, sejapelos efeitos colaterais associados, torna-se fundamentalconhecer o significado <strong>de</strong>sse momento na vida da mulher,e como ela o enfrenta, a fim <strong>de</strong> ajudá-la a reconhecer eutilizar suas estratégias <strong>de</strong> enfrentamento.Diante disso, o objetivo com este estudo foi i<strong>de</strong>ntificaras estratégias <strong>de</strong> enfrentamento vivenciadas pormulheres com diagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong> uso<strong>de</strong> tamoxifeno, tendo <strong>em</strong> vista a carência <strong>de</strong> investigação<strong>de</strong>ssa natureza <strong>de</strong>senvolvida especificamente nessapopulação.MATERIAL E MÉTODOSEste estudo foi realizado no ambulatório Ylza Bianco,que pertence ao Hospital Santa Rita <strong>de</strong> Cássia (HSRC),criado e mantido pela Associação F<strong>em</strong>inina <strong>de</strong> Ensinoe Combate ao Câncer (AFECC). Essa instituição estálocalizada na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Vitória-ES e é um hospital <strong>de</strong>referência estadual <strong>em</strong> oncologia, com atendimentoambulatorial e internação nas diversas especialida<strong>de</strong>s.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 394-398, jul./set., 2011395


Estratégias <strong>de</strong> enfrentamento vivenciadas por mulheres com diagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> TamoxifenoTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong>scritivo, transversal, comabordag<strong>em</strong> quantitativa.A amostra foi composta por 270 mulheres comdiagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama, submetidas à cirurgia<strong>em</strong> hormonioterapia com uso <strong>de</strong> tamoxifeno, atendidasno referido ambulatório. Para o cálculo da amostra,foi utilizada a fórmula <strong>de</strong> tamanho <strong>de</strong> amostra, compopulação finita (N=1080), precisão <strong>de</strong>sejada <strong>de</strong> 5% enível <strong>de</strong> significância <strong>de</strong> 5%.A coleta dos dados foi realizada no período <strong>de</strong> maioa set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008. As mulheres foram convidadas aparticipar da pesquisa <strong>em</strong> dias <strong>de</strong> consultas médicas,quando estavam realizando algum tipo <strong>de</strong> procedimentono Hospital Santa Rita, ou ainda durante as buscas damedicação, constituindo, assim, uma amostra porconveniência.Após a orientação e especificação quanto aos objetivosda pesquisa e assinatura do Termo <strong>de</strong> ConsentimentoLivre e Esclarecido (TCLE), a fim <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar asestratégias <strong>de</strong> enfrentamento, foi aplicado, <strong>de</strong> formaindividual, o instrumento da EMEP, que, apesar <strong>de</strong> serautoaplicável, optou-se pela aplicação pelo pesquisador,a fim <strong>de</strong> não excluir as analfabetas da pesquisa.O instrumento da EMEP foi criado por Vitalino ecolaboradores <strong>em</strong> 1985, e <strong>em</strong> 1997 foi traduzido eadaptado para a população brasileira por Gimenes eQueiros. 12 A EMEP concebida no mo<strong>de</strong>lo interativo doestresse conceitua o enfrentamento como um conjunto<strong>de</strong> respostas específicas para <strong>de</strong>terminada situaçãoestressora. A escala é composta <strong>de</strong> 45 itens, distribuídos<strong>em</strong> quatro focos <strong>de</strong> enfrentamento: probl<strong>em</strong>a, <strong>em</strong>oção,busca <strong>de</strong> práticas religiosas/pensamento fantasioso ebusca <strong>de</strong> suporte social. As respostas são avaliadas pormeio <strong>de</strong> uma escala or<strong>de</strong>nada <strong>de</strong> 5 pontos (1 = nuncafaço isso; 5 = faço isso s<strong>em</strong>pre). Escores mais elevadossão indicativos da maior utilização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadaestratégia <strong>de</strong> enfrentamento. 12Foi utilizado o SPSS – <strong>Versão</strong> 13.0 – 2004 para análiseestatística <strong>de</strong> mediana e <strong>de</strong>svio-padrão. Entre osescores do EMEP foi aplicado o teste não paramétrico<strong>de</strong> Wilcoxon. Consi<strong>de</strong>raram-se resultados com diferençasignificativa quando o p-valor foi inferior a 0,05.Este estudo encontra-se <strong>em</strong> consonância com as<strong>de</strong>terminações éticas previstas na Resolução nº 196/96do Comitê Nacional <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa (CONEP) e foiaprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa da <strong>Escola</strong>Superior <strong>de</strong> Ciências da Santa Casa <strong>de</strong> Misericórdia <strong>de</strong>Vitória (EMESCAM), sob o n° 037/2008.RESULTADOSAs estratégias <strong>de</strong> enfrentamento vivenciadas pelasmulheres com câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> tamoxifenoestão apresentadas na FIG. 1, on<strong>de</strong> se constata que aestratégia com maior mediana é o foco no probl<strong>em</strong>a(3,78), apresentando, entretanto, valor próximo daestratégia <strong>de</strong> enfrentamento focalizado na religião,que se apresentou com mediana <strong>de</strong> (3,71); ou seja, asestratégias <strong>de</strong> foco no probl<strong>em</strong>a e nas práticas religiosassão as mais utilizadas pelas mulheres. Note-se, também,que a estratégia <strong>de</strong> enfrentamento <strong>de</strong> busca <strong>de</strong> suportesocial e foco na <strong>em</strong>oção tiveram medianas <strong>de</strong> menorvalor 3,00 e 1,60, respectivamente.FIGURA 1 – Gráfico <strong>de</strong> estratégias <strong>de</strong> enfrentamento das mulheres com diagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong>uso <strong>de</strong> tamoxifeno. Ambulatório Ylza Bianco – Vitória, maio/set. 2008396 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 394-398, jul./set., 2011


A comparação entre as estratégias <strong>de</strong> enfrentamentovivenciadas pelas mulheres (TAB. 1) aponta que entrea religião comparada com a busca <strong>de</strong> suporte sociale a religião comparada com o foco na <strong>em</strong>oção foialtamente significativa (p=0,000); ou seja, a religiãoé a mais comumente utilizada pelas mulheres comcâncer <strong>de</strong> mama do que a busca <strong>de</strong> suporte social e<strong>em</strong>oção. Quando comparamos o foco no probl<strong>em</strong>acom a religião, também houve significância estatística(p


Estratégias <strong>de</strong> enfrentamento vivenciadas por mulheres com diagnóstico <strong>de</strong> câncer <strong>de</strong> mama <strong>em</strong> uso <strong>de</strong> Tamoxifenoreconheça as estratégias <strong>de</strong> enfrentamento utilizadasnas diferentes fases <strong>de</strong> seu tratamento, assim como noperíodo <strong>de</strong> uso do tamoxifeno, valorizando e respeitandoos valores, as crenças e os recursos <strong>de</strong> cada mulher, a fim<strong>de</strong> que se <strong>de</strong>senvolvam estratégias <strong>de</strong> enfrentamentoa<strong>de</strong>quadas a cada situação.REFERÊNCIAS1. Fonseca LAM. A evolução das doenças neoplásicas. In: Monteiro CA, organizador. Velhos e novos males da saú<strong>de</strong> no Brasil. São Paulo: Hucite/NUPENS-USP; 1995. p. 268-78.2. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Secretaria <strong>de</strong> Atenção à Saú<strong>de</strong>, Instituto Nacional <strong>de</strong> Câncer, Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Prevenção e Vigilância <strong>de</strong> Câncer.Estimativas 2008: Incidência <strong>de</strong> Câncer no Brasil. Rio <strong>de</strong> Janeiro: INCA; 2007.3. Melo EM, Araújo TL, Oliveira TC, Almeida DT. Mulher mastectomizada <strong>em</strong> tratamento quimioterápico: um estudo dos comportamentos naperspectiva do mo<strong>de</strong>lo adaptativo <strong>de</strong> Roy. Rev Bras Cancerol. 2002; 48(1):21:84. Trentini M, Silva SHS, Valle ML, Hammerschmidt KSA. Enfrentamento situações adversas e favoráveis por pessoas idosas <strong>em</strong> condições crônicas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. Rev Latino-am. Enfermag<strong>em</strong>. 2005 Jan-Fev;13(1):38-45.5. Zakir NS. Mecanismos <strong>de</strong> coping. In Lipp MN. Mecanismos neuropsicofisiológicos do stress: Teoria e aplicações clínica. 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Estresse e estratégias <strong>de</strong> enfrentamento <strong>em</strong> mestrandos <strong>de</strong> ciências da saú<strong>de</strong>. Psicol Reflex Crit. 2007; 20(1). [Citado2008 Abr 22]. Disponível <strong>em</strong>: .17. Schmidt C, Dell’aglio DD, Bosa CA. Estratégias <strong>de</strong> coping <strong>de</strong> mães <strong>de</strong> portadores <strong>de</strong> autismo: lidando com dificulda<strong>de</strong>s e com a <strong>em</strong>oção.Psicol Reflex Crit. 2007; 20(1). [Citado 2008 Abr 22]. Disponível <strong>em</strong>: .18. Fallowfield L, Fleissig A, Edwards R, West A, Powles TJ, Howell A, et al. Tamoxifen for the prevention of breast cancer: psychosocial impacton women participating in two randomized controlled trials. Journal of clinical oncology: official journal of the American Society of ClinicalOncology. 2001 Apr; 19(7):1885-92.19. Hürny C, Bernhard J, Coates AS, Castiglione-Gertsch M, Peterson HF, Gelber RD, et al. Impact of adjuvant therapy on quality of life in womenwith no<strong>de</strong>-positive operable breast cancer. International Breast Cancer Study Group. Lancet. 1996 May; 347(9011):1279-84.20. Marco GM. Mulheres com câncer <strong>de</strong> mama na meia ida<strong>de</strong>: enfrentamento e auto-avaliação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> [dissertação]. Ribeirão Preto: Faculda<strong>de</strong><strong>de</strong> Filosofia, Ciências e Letras <strong>de</strong> Ribeirão Preto; 2007.21. Panzini RG, Ban<strong>de</strong>ira DR. Escala <strong>de</strong> coping religioso-espiritual (Escala CRE1): Elaboração e validação <strong>de</strong> construto. Psicol Estud. 2005 Set-Dez;10(3):507-16.22. Seidl EMF, Rossi WS, Viana KF, Meneses AKF, Meireles E. Crianças e adolescentes vivendo com HIV/Aids e suas famílias: aspectos psicossociais eenfrentamento. Psic Teor e Pesq 2005 Set-Dez; 21(3). [Citado 2008 Abr 22]. Disponível <strong>em</strong>: .23. 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Enferm.;15(3): 394-398, jul./set., 2011


INFECÇÃO DE SÍTIO CIRÚRGICO EM PACIENTES SUBMETIDOS ACIRURGIAS ORTOPÉDICAS EM UM HOSPITAL PÚBLICO DE MINAS GERAISSURGICAL SITE INFECTION IN PATIENTS SUBMITTED TO ORTHOPAEDIC SURGERY AT A PUBLICHOSPITAL IN THE STATE OF MINAS GERAISINFECCIÓN DEL SITIO QUIRÚRGICO EN PACIENTES SOMETIDOS A CIRURGIA ORTOPÉDICA EN UNHOSPITAL PÚBLICO DEL ESTADO DE MINAS GERAISLúcia Maciel Castro Franco 1Flávia Falci Ercole 2RESUMOEstudo <strong>de</strong> coorte histórica sobre infecções do sítio cirúrgico <strong>de</strong>correntes das 3.543 cirurgias <strong>de</strong> pacientes ortopédicosconstantes nos registros <strong>de</strong> banco <strong>de</strong> dados do Serviço <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar <strong>de</strong> um hospital geral,público e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte <strong>de</strong> Minas Gerais. Os objetivos foram <strong>de</strong>terminar a taxa <strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> sítiocirúrgico e o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> manifestação da infecção, verificar a associação entre infecção e fatores <strong>de</strong> risco e i<strong>de</strong>ntificar osmicrorganismos prevalentes. Encontrou-se a incidência <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico <strong>de</strong> 1,8%. As variáveis potencial<strong>de</strong> contaminação da ferida cirúrgica, condições clínicas do paciente (ASA), duração da cirurgia e tipo <strong>de</strong> procedimentomostraram-se estatisticamente associadas à ISC. O t<strong>em</strong>po médio <strong>de</strong> manifestação das infecções após a cirurgia foi <strong>de</strong>96 dias. O microrganismo mais frequente foi o Staphylococcus aureus.Palavras-chave: Vigilância Epid<strong>em</strong>iológica; Infecção da Ferida Operatória; Procedimentos ortopédicos; Enfermag<strong>em</strong>.ABSTRACTThis is a historic cohort study on surgical site infection occurred in 3,543 operations in orthopaedic patients. The surgicalinterventions were registered in the database of the Nosocomial Infection Control Syst<strong>em</strong> of a Public General Hospitalin Minas Gerais. Its objectives were to <strong>de</strong>termine the inci<strong>de</strong>nce rate of surgery site infection, to verify the associationbetween surgical site infection and some risk factors, to i<strong>de</strong>ntify the prevalent microorganisms as well as the time forthe infection’s symptoms manifestation. The inci<strong>de</strong>nce rate of surgical site infection was 1.8%. The potential surgerywound infection, the patient’s clinical condition (ASA), the surgery duration and the type of procedure were thevariables statistically associated with SSI. After surgery the average time to the manifestation of infection was 96 days.The prevalent microorganism was Staphylococcus aureus.Key words: Epid<strong>em</strong>iologic Surveillance, Surgical Wound Infection, Orthopaedic Procedures; Nursing.RESUMENEstudio tipo cohorte histórica sobre las infecciones <strong>de</strong> la herida quirúrgica como consecuencia <strong>de</strong> la cirugía ortopédica<strong>de</strong> 3543 pacientes incluidos en los registros <strong>de</strong> base <strong>de</strong> datos <strong>de</strong>l Departamento <strong>de</strong> Control <strong>de</strong> Infecciones <strong>de</strong> un hospitalgeneral público <strong>de</strong> Belo Horizonte, Minas Gerais. Los objetivos fueron <strong>de</strong>terminar la inci<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> la infección <strong>de</strong>l sitioquirúrgico, <strong>de</strong>terminar la asociación entre la infección y factores <strong>de</strong> riesgo, <strong>de</strong>terminar el momento <strong>de</strong> aparición <strong>de</strong>la infección e i<strong>de</strong>ntificar los microorganismos más prevalentes. Se ha encontrado una inci<strong>de</strong>ncia <strong>de</strong> infección <strong>de</strong>l sitioquirúrgico <strong>de</strong> 1,8%. Las variables: potencial <strong>de</strong> contaminación <strong>de</strong> la herida quirúrgica, las condiciones clínicas <strong>de</strong>lpaciente (ASA), ti<strong>em</strong>po quirúrgico y tipo <strong>de</strong> procedimiento fueron estadísticamente asociados con la ISC. La infecciónse manifiesta en un plazo promedio <strong>de</strong> 96 días <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la cirugía. El microorganismo más frecuentes fue elStaphylococcus aureus.Palabras clave: Vigilancia Epid<strong>em</strong>iológica; Infección <strong>de</strong> Herida Quirúrgica; Procedimientos Ortopédicos; Enfermería.1Enfermeira. Especialista <strong>em</strong> Epid<strong>em</strong>iologia no Controle das Infecções Hospitalares. M<strong>em</strong>bro da Comissão <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar HospitalGovernador Israel Pinheiro. Docente contratada da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong> Minas Gerais (PUC Minas). Rua Caramuru 231, apto 301, Bairro Coração<strong>de</strong> Jesus. Belo Horizonte-MG. CEP 30380-190. E-mail: luciamcf@terra.com.br.2Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Epid<strong>em</strong>iologia pelo Departamento <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Parasitologia do Instituto <strong>de</strong> Ciências Biológicas da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Minas Gerais– <strong>UFMG</strong>. Professora Adjunta da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>. Rua Bernardino <strong>de</strong> Campos 50, apto 702, Bairro Gutierrez. Belo Horizonte-MG.CEP 30430 -350. E-mail: flávia.ercole@gmail.com.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Caramuru 231 apt 301, bairro Coração <strong>de</strong> Jesus – Belo Horizonte-MG. CEP: 30.380-190r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 399-405, jul./set., 2011399


Infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico <strong>em</strong> pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas <strong>em</strong> um hospital público <strong>de</strong> Minas GeraisINTRODUÇÃOApesar dos gran<strong>de</strong>s avanços científicos e tecnológicosalcançados na área da saú<strong>de</strong>, a infecção hospitalar (IH)é consi<strong>de</strong>rada uma complicação grave e constitui sériaameaça à segurança dos pacientes hospitalizados. 1Dentre as principais topografias das IHs, a infecção <strong>de</strong> sítiocirúrgico (ISC) po<strong>de</strong> ocupar o segundo ou terceiro lugarentre as infecções associadas à assistência <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. 2Nos Estados Unidos, estima-se que <strong>em</strong> 2002 foramrealizados 14 milhões <strong>de</strong> procedimentos operatórios,nas 39 categorias <strong>de</strong> procedimentos <strong>de</strong>finidos peloNational Healthcare Safety Network (NHSN) doCenters for Diasease Control (CDC). A infecção <strong>de</strong>sítio cirúrgico acometeu 17% dos pacientes operadosnesse período. 2 No Brasil, a ISC ocorre <strong>em</strong> 14% a 16%dos pacientes hospitalizados. Os dados relativos àsinfecções ortopédicas no Brasil são escassos, <strong>em</strong>boraalguns estudos tenham evi<strong>de</strong>nciado taxas que variam<strong>de</strong> 1,4 a 40,3%. 3-4Nos procedimentos ortopédicos, é frequente a utilização<strong>de</strong> materiais <strong>de</strong> implantes, o que aumenta o risco <strong>de</strong>infecção pós-operatória, complicação que po<strong>de</strong> levaraté mesmo à perda do m<strong>em</strong>bro operado. 5 Enten<strong>de</strong>secomo implante qualquer dispositivo exógeno, nãohumano, instalado <strong>de</strong> forma permanente no pacientedurante um procedimento operatório e que não érotineiramente manipulado com objetivos diagnósticosou terapêuticos. Dentre eles encontramos as prótesesarticulares, parafusos, fios e telas metálicas/plásticas,que não são r<strong>em</strong>ovidos do paciente. 2A patogênese das infecções <strong>de</strong> sítio cirúrgico <strong>em</strong>ortopedia é complexa e está relacionada a fatores <strong>de</strong> riscodo hospe<strong>de</strong>iro, do microrganismo e do tipo e materialimplantado. 5 Dentre os fatores <strong>de</strong> risco extrínsecose intrínsecos mais associados à infecção ortopédicaencontram-se as condições clínicas do paciente, t<strong>em</strong>po<strong>de</strong> internação pré-operatória prolongado, duração dacirurgia, preparo da pele do sítio <strong>de</strong> incisão, técnica <strong>de</strong><strong>de</strong>germação das mãos do cirurgião e equipe, grau <strong>de</strong>contaminação da ferida cirúrgica, condições ambientaisda sala cirúrgica, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> exposição da fratura, número<strong>de</strong> pessoas <strong>de</strong>ntro da sala, técnica e habilida<strong>de</strong> do3-4, 6-8cirurgião, <strong>de</strong>ntre outras.A ISC ortopédica prolonga o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> internaçãodo paciente por até duas s<strong>em</strong>anas, dobra as taxas <strong>de</strong>reospitalização, aumenta os custos com a assistência <strong>em</strong>mais <strong>de</strong> 300% e po<strong>de</strong>, ainda, causar limitações físicas,<strong>em</strong>ocionais e redução significativa na qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vidado paciente. 9OBJETIVOSObjetivo geralEstudar os aspectos epid<strong>em</strong>iológicos das infecções <strong>de</strong>sítio cirúrgico nos pacientes submetidos a cirurgiasortopédicas, no período <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005 a <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro<strong>de</strong> 2007, <strong>em</strong> um hospital geral, público, e <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>porte <strong>de</strong> Minas Gerais.Objetivos específicos– Estimar a incidência global <strong>de</strong> ISC para o período <strong>de</strong>estudo.– Estimar a incidência <strong>de</strong> ISC para os diferentesprocedimentos cirúrgicos ortopédicos.– I<strong>de</strong>ntificar, <strong>de</strong>ntre as variáveis coletadas regularmentepelo Serviço <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar,aquelas que constitu<strong>em</strong> fatores <strong>de</strong> risco para a ISC <strong>em</strong>pacientes ortopédicos.– Determinar o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> manifestação da ISC nospacientes submetidos a cirurgias ortopédicas.– I<strong>de</strong>ntificar os microrganismos responsáveis pelasinfecções cirúrgicas na população avaliada.MATERIAL E METÓDOSTrata-se <strong>de</strong> uma coorte histórica <strong>de</strong> 3.543 pacientessubmetidos a procedimentos cirúrgicos ortopédicos,cadastrados no banco <strong>de</strong> dados do ComponenteCirúrgico do Programa <strong>de</strong> Vigilância Epid<strong>em</strong>iológicado Serviço <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> Infecção Hospitalar dohospital <strong>em</strong> estudo e registrados no banco <strong>de</strong> dadosdo Programa Sist<strong>em</strong>a Automatizado <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong>Infecção Hospitalar (SACIH), no período <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong>2005 a <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007.Foram incluídos no estudo os pacientes que preenchiamos critérios estabelecidos para pacientes e procedimentoscirúrgicos do National Nosocomial Infections SurveillanceSyst<strong>em</strong> (NNISS), conduzido pelo Centers for DiaseaseControl and Prevention (CDC), EUA, e que tivess<strong>em</strong>manifestado os sinais <strong>de</strong> infecção até o trigésimo dia <strong>de</strong>pós-operatório para procedimentos s<strong>em</strong> implantes ouaté um ano na presença <strong>de</strong> implantes. Um procedimentooperatório NNIS é aquele realizado <strong>em</strong> um pacienteNNIS cuja data da admissão é diferente da data da altahospitalar e que teve uma única ida ao Centro Cirúrgico(CC), on<strong>de</strong> o cirurgião fez, no mínimo, uma incisãoatravés da pele ou m<strong>em</strong>brana mucosa e fechou a incisãoantes <strong>de</strong> o paciente <strong>de</strong>ixar o CC. 10Inicialmente, a população elegível para o estudofoi composta por 3.781 pacientes submetidos aprocedimentos ortopédicos. Foram excluídos 238procedimentos cirúrgicos, dos quais 52 apresentaramdados <strong>em</strong> <strong>de</strong>sacordo com a metodologia do Sist<strong>em</strong>aNNIS e 186 apresentaram informações in<strong>completa</strong>s dasvariáveis coletadas pelo Serviço <strong>de</strong> Controle <strong>de</strong> InfecçãoHospitalar (SCIH). As informações dos procedimentoscirúrgicos realizados no mês <strong>de</strong> nov<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007 nãofizeram parte do estudo por não estar<strong>em</strong> disponíveis, nosist<strong>em</strong>a, no período <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> dados. A amostra finalfoi <strong>de</strong> 3.543 informações <strong>de</strong> pacientes.Após revisão do banco <strong>de</strong> dados, este foi exportado para oprograma EPI-INFO 6.0, para posterior análise estatística.400 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 399-405, jul./set., 2011


A variável <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte avaliada foi ausência (não) epresença (sim) <strong>de</strong> ISC. A ISC foi categorizada <strong>em</strong> incisional,superficial, profunda ou <strong>de</strong> órgãos e cavida<strong>de</strong>s. Foramanalisadas as seguintes variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: ida<strong>de</strong>;sexo; caráter <strong>em</strong>ergencial da cirurgia (não e sim); anestesiageral (não e sim); implante ortopédico (não e sim); ASA(I, II, III, IV e V, segundo critério da American Society ofAnestesiologist); 11 potencial <strong>de</strong> contaminação da feridacirúrgica (limpa-L, potencialmente contaminada-PC,contaminada-C e infectada-I), Índice <strong>de</strong> Risco <strong>de</strong> InfecçãoCirúrgica NNIS (composto pelas variáveis ASA, potencial<strong>de</strong> contaminação da ferida cirúrgica e duração da cirurgia(escore 0 – três fatores <strong>de</strong> risco ausentes, escore 1 – apenasum dos fatores <strong>de</strong> risco presente; escore 2 – dois fatores <strong>de</strong>risco presentes; escore 3 – três fatores <strong>de</strong> risco presentes) 11 ;tipo <strong>de</strong> procedimento cirúrgico (FX – cirurgias <strong>de</strong> reduçãoaberta <strong>de</strong> fratura; FUS – cirurgias <strong>de</strong> fusão e artro<strong>de</strong>se;PROSQ – cirurgias <strong>de</strong> próteses <strong>de</strong> quadril; PROSJ – cirurgias<strong>de</strong> prótese <strong>de</strong> joelho; AMP – amputação; OMS – outrascirurgias do sist<strong>em</strong>a esquelético; ONS – cirurgias <strong>de</strong>coluna e outras próteses – ombro e cotovelo); duraçãoda cirurgia (minutos, variável contínua); e permanênciapré-operatória (dias, variável contínua).As variáveis com três ou mais categorias foram dicotomizadaspara posterior análise estatística, como asvariáveis: ASA I e ASA agrupadas (II, III, IV, V); Índice <strong>de</strong>Risco <strong>de</strong> Infecção Cirúrgica NNIS <strong>em</strong> escore 0 e escoreagrupados (1,2,3); Potencial <strong>de</strong> Contaminação da FeridaCirúrgica <strong>em</strong> Cirurgia Limpa e Cirurgia agrupadas (PC, Ce I); Permanência Hospitalar <strong>em</strong> 4 dias e Duraçãoda Cirurgia <strong>em</strong> 120 minutos.Para a Permanência Hospitalar, utilizou-se como ponto<strong>de</strong> corte a média <strong>de</strong> dias que a população <strong>de</strong> pacientesesteve internada. Para a variável Duração da Cirurgia,utilizou-se o t<strong>em</strong>po igual <strong>de</strong> 120 minutos, baseado <strong>em</strong>estudo realizado com 58.498 pacientes submetidos acirurgias <strong>em</strong> que foi encontrado um t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> cirurgiamaior que duas horas como fator <strong>de</strong> risco para infecçãocirúrgica. 12A variável Índice <strong>de</strong> Risco <strong>de</strong> Infecção Cirúrgica não foianalisada na totalida<strong>de</strong> da população do estudo dada asinconsistências nos registros <strong>em</strong> folha <strong>de</strong> cirurgia duranteo período transoperatório. Essa variável foi responsávelpelo maior número <strong>de</strong> perdas (aproximadamente 10%).Assim, 65 procedimentos foram excluídos nesta variável,sendo analisados os d<strong>em</strong>ais 3.423.Para a análise <strong>de</strong>scritiva dos dados, foram utilizadasas distribuições <strong>de</strong> frequência simples, as medidas<strong>de</strong> tendência central (média e mediana) e medidas<strong>de</strong> variabilida<strong>de</strong> (<strong>de</strong>svio-padrão e quartis), a fim <strong>de</strong>caracterizar e <strong>de</strong>screver a amostra <strong>de</strong> pacientes submetidosaos procedimentos cirúrgicos ortopédicos.Foram calculadas as taxas <strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> ISC, estratificadaspor procedimento operatório, utilizando comonumerador o número <strong>de</strong> casos <strong>de</strong> ISC entre os pacientescirúrgicos ortopédicos, e como <strong>de</strong>nominador o total<strong>de</strong> pacientes cirúrgicos ortopédicos no período. Paraverificar a associação entre as variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntese a infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico, utilizou-se o teste <strong>de</strong>Qui-quadrado <strong>de</strong> Mantel-Haenszel (χ 2 ), com correção<strong>de</strong> Yates, teste exato <strong>de</strong> Fisher e teste <strong>de</strong> Qui-quadrado<strong>de</strong> Tendência. A força da associação do evento com asvariáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes foi estimada pelo Risco Relativo(RR), com um intervalo <strong>de</strong> confiança (IC) <strong>de</strong> 95% e umvalor-p


Infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico <strong>em</strong> pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas <strong>em</strong> um hospital público <strong>de</strong> Minas Geraisas falhas técnicas e a diminuição das <strong>de</strong>fesas sistêmicasdo organismo do paciente. 13O intervalo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po entre a data da cirurgia e aocorrência <strong>de</strong> infecção foi, <strong>em</strong> média, 95,8 dias (dp:115,8)e mediana, <strong>de</strong> 25 dias. O t<strong>em</strong>po mínimo foi <strong>de</strong> três diase o máximo, <strong>de</strong> 368 dias. Somente 22% das ISCs foramclassificadas como incisionais superficiais, que pod<strong>em</strong>ocorrer precoc<strong>em</strong>ente, manifestando-se ainda durantea internação do paciente. 3Neste estudo, 48% dos pacientes receberam alta noterceiro dia <strong>de</strong> pós-operatório e 28% das infecções foramdiagnosticadas com o paciente ainda internado. Essesdados estão <strong>em</strong> concordância com estudo realizadoenvolvendo cirurgias <strong>de</strong> artroplastia total <strong>de</strong> quadril <strong>em</strong>que 77% das ISCs encontradas foram diagnosticadasapós a alta hospitalar 14 , mas difer<strong>em</strong> <strong>de</strong> outros trabalhosbrasileiros que i<strong>de</strong>ntificaram percentuais <strong>de</strong> infecçãoentre 63% a 77% com o paciente ainda internado. 7,15Entretanto, consi<strong>de</strong>rando que o hospital <strong>em</strong> estudonão possui controle <strong>de</strong> egresso e que as notificaçõesocorr<strong>em</strong> somente por meio da busca intra-hospitalar,as infecções notificadas pela vigilância após a alta foramaquelas que necessitaram reinternação hospitalar dopaciente para tratamento. As infecções superficiais sãotratadas ambulatorialmente e sua notificação peloscirurgiões não é usual <strong>em</strong> nosso meio, fato sugestivo <strong>de</strong>subnotificação das taxas <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgicono serviço, dada a ausência <strong>de</strong> uma metodologia <strong>de</strong>vigilância epid<strong>em</strong>iológica pós-alta hospitalar dospacientes cirúrgicos.Os procedimentos cirúrgicos ortopédicos foramrealizados <strong>em</strong> 57,7% dos pacientes do sexo f<strong>em</strong>ininoe 28,6% dos procedimentos ocorreram sob anestesiageral. Houve utilização <strong>de</strong> implantes <strong>em</strong> 41% dosprocedimentos.Quanto às condições clínicas do paciente no préoperatório, 52,7% foram classificados como ASA II. Nessaclassificação, o paciente é portador <strong>de</strong> uma doençasistêmica discreta, mas s<strong>em</strong> limitação <strong>de</strong> capacida<strong>de</strong>. 11Conclui-se, portanto, que mais da meta<strong>de</strong> dos pacienteseram portadores <strong>de</strong> alguma doença sistêmica, mas quenão contraindicava a intervenção cirúrgica ortopédica.Estudo recente avaliando ISC <strong>em</strong> pacientes submetidosà cirurgia <strong>de</strong> prótese <strong>de</strong> quadril também encontrouo mesmo percentual <strong>de</strong> pacientes classificados comoASA II. 7Observou-se que 91% das cirurgias estudadas foramclassificadas como cirurgias limpas. Em outros estudos,também foram i<strong>de</strong>ntificados percentuais elevados <strong>de</strong>cirurgias ortopédicas classificadas como limpas, comíndices variando entre 82,3 a 87,1%. 3,6Apesar <strong>de</strong> as infecções manifestar<strong>em</strong>-se com gravida<strong>de</strong>(78% classificadas <strong>em</strong> profundas/órgãos/cavida<strong>de</strong>s), amaioria dos pacientes (98,9%) recebeu alta hospitalar.I<strong>de</strong>ntificou-se que a maior parte dos pacientes – 79%(n=2749) – foi categorizada no escore 0 (ausência <strong>de</strong>fator <strong>de</strong> risco à infecção) do Índice <strong>de</strong> Risco <strong>de</strong> InfecçãoCirúrgica NNIS seguidos do escore 1 – 18,8% (n=655).Esse resultado é corroborado por outros estudos <strong>em</strong> queo risco <strong>de</strong> ISC cresceu proporcionalmente ao aumentodos fatores <strong>de</strong> risco do paciente. 3,6,15Incidência <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgicoNo estudo, foram i<strong>de</strong>ntificadas 63 ISCs correspon<strong>de</strong>ndoa 1,8% para o período. Essa taxa <strong>de</strong> infecção encontra-seabaixo dos resultados encontrados <strong>em</strong> outros estudosque avaliaram ISC <strong>em</strong> ortopedia. 4,6-7,16 Em estudo <strong>de</strong>coorte histórica s<strong>em</strong>elhante, encontrou-se uma taxainferior a 1,8%, sugerindo subnotificação <strong>de</strong> dados. 3Quanto à topografia das infecções, predominaramas incisionais profundas, com 46%, seguidas <strong>de</strong>osteomielites (33%). Em diversos estudos, relata-se quea infecção incisional superficial é o tipo mais comum<strong>de</strong> ISC, contrariando os resultados <strong>de</strong>ste estudo. 7,11,15Os dados reforçam a subnotificação das infecçõessuperficiais tratadas ambulatorialmente.É importante ressaltar que o hospital on<strong>de</strong> foi conduzidoo estudo não possui sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ventilação com fluxolaminar na sala cirúrgica utilizada para a realização dosprocedimentos ortopédicos com implante. D<strong>em</strong>onstrouseque a introdução <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ventilaçãoa<strong>de</strong>quado na sala <strong>de</strong> cirurgia po<strong>de</strong> reduzir as infecçõescirúrgicas ortopédicas com implante. 8,11A incidência <strong>de</strong> ISC foi <strong>de</strong> 8% <strong>em</strong> cirurgias <strong>de</strong> amputação;3,5% nas cirurgias <strong>de</strong> fusão espinhal; 3,4% nas cirurgiascom prótese (quadril, joelho, ombro, cotovelo); 1,9%nas outras cirurgias <strong>de</strong> coluna; 1,4% nas outras cirurgiasdo sist<strong>em</strong>a esquelético; e 1,3% nas reduções abertas <strong>de</strong>fraturas (ossos longos e curtos). Ao calcular a incidência<strong>de</strong> ISC nas cirurgias <strong>de</strong> prótese <strong>de</strong> quadril, foi encontradauma taxa <strong>de</strong> 4,8%. Outros pesquisadores encontraramtaxas que variaram <strong>de</strong> 8,5% a 15,1%. 7,16 Entretantoexist<strong>em</strong> relatos <strong>de</strong> índices <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> prótese <strong>de</strong>quadril <strong>de</strong> 2% 8 .Fatores <strong>de</strong> risco para infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico nospacientes ortopédicosVerificou-se que os procedimentos classificados comolimpos tiveram um risco <strong>de</strong> infecção menor, quandocomparados com os outros potenciais <strong>de</strong> contaminação(RR= 0,46, IC 95% = [0,24-0,88], p=0,03). Esse resultadod<strong>em</strong>onstra a existência <strong>de</strong> uma associação entre opotencial <strong>de</strong> contaminação da ferida cirúrgica e apresença <strong>de</strong> infecção (TAB. 1).Os indicadores <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong> cirurgias limpas sãofrequent<strong>em</strong>ente utilizados para a análise da qualida<strong>de</strong>dos procedimentos cirúrgicos das instituições, sendoconsi<strong>de</strong>radas taxas aceitáveis até 5%. 11 Em outros estudostambém foi encontrada associação entre o potencial <strong>de</strong>contaminação da ferida cirúrgica e a ISC. 15,17 Em estudoenvolvendo cirurgias ortopédicas <strong>em</strong> hospitais mineiros,relatou-se uma taxa <strong>de</strong> 1,7% para os procedimentosclassificados como limpos. 3 Em estudo prospectivo <strong>de</strong>402 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 399-405, jul./set., 2011


coorte envolvendo cirurgias ortopédicas i<strong>de</strong>ntificou-se oaumento do risco <strong>de</strong> infecção proporcional ao aumentodo grau <strong>de</strong> contaminação da ferida. A incidência <strong>de</strong> ISCencontrada foi <strong>de</strong> 13,5% <strong>em</strong> pacientes com cirurgialimpa, aumentando para 70% quando a cirurgia foiclassificada como infectada. 6Foi i<strong>de</strong>ntificada associação entre as condições clínicasdo paciente no pré-operatório, (ASA) e ISC com umRR=0,36; IC 95%=[0,19 – 0,69] e valor-p=0,00. Esseresultado d<strong>em</strong>onstra que pacientes portadores <strong>de</strong>doenças sistêmicas apresentam maior incidência <strong>de</strong>ISC e mostra a relação direta entre gravida<strong>de</strong> clínica eocorrência <strong>de</strong> infecção. 4,6,17 Po<strong>de</strong>-se inferir que pacientessaudáveis têm menos risco <strong>de</strong> evoluir para uma ISCquando comparados aos pacientes com algum tipo <strong>de</strong>patologia. Sabe-se que doenças crônicas <strong>de</strong>bilitantes sãofatores <strong>de</strong> risco para infecção <strong>de</strong> ferida cirúrgica, dada abaixa resistência do hospe<strong>de</strong>iro. 11,13TABELA 1 – Análise univariada da infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico com as variáveis in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes – Belo Horizonte-MG – 2005-2007ISCVariávelSimNãon=63 freq % n=3480 freq %RR [IC 95%] Valor-pSexoF<strong>em</strong>inino 29 46,0 2017 57,9Masculino 34 53,9 1463 42,01,0 [1,0 -1,02] p= 0,07Índice <strong>de</strong> Risco <strong>de</strong> Infecção Cirúrgico NNIS *Escore 0 39 70,9 2710 79,1Escore agrupado (1,2 e 3) 16 29,0 713 20,80,60 [0,36-1,15] p= 0,18Potencial <strong>de</strong> contaminação da ferida cirúrgicaLimpa 52 82,5 3174 91,2Outros (PC, C, I)** 11 17,5 306 8,70,46 [0,24-0,88] p= 0,03Anestesia geralNão 33 52,3 2495 71,6Sim 30 47,6 985 28,31,00 [1,01-1,03] p= 0,00Condições clínicas do paciente (ASA)ASA I 11 17,5 1293 37,1ASA agrupado (II, III , IV e V) 52 82,5 2187 62,80,36 [0,19-0,69] p= 0,00EmergênciaNão 61 96,8 3467 99,6Sim 2 3,2 13 0,41,13 [0,93-1,38] p= 0,03Implante ortopédicoNão 28 44 2092 60,1Sim 35 56 1416 40,61,01 [1,0-1,02] p= 0,02Tipo <strong>de</strong> procedimento cirúrgicoAMP 2 3,2 23 0,6 4,61 [1,19-17,8] p= 0,07FUS 3 4,7 81 2,3 2,06 [0,66-6,43] p= 0,19FX 9 14,3 662 19,0 0,71 [0,35-1,44] p= 0,43OMS 29 46 2072 59,5 0,58 [0,36-0,95] p= 0,04ONS 3 4,7 156 4,5 1,06 [0,34-3,36] p= 0,54PROSQ (quadril) 14 22,2 289 8,3 3,06 [1,71-5,47] p= 0,00PROSO (cotovelo e ombro) 3 4,7 197 5,7 0,84 [0,26-2,64] p= 0,52Duração da cirurgia (min)< 120 50 79,4 3069 88,2> 120 13 20,6 411 11,80,52 [0,29-0,95] p= 0,05Permanência hospitalar pré-operatória (dias)< 04 dias 47 74,6 1755 50,4> 04 dias 16 25,4 725 20,80,71 [0,41-1,25] p= 0,30*n= 55/3423 ** potencialmente contaminada, contaminada e infectadar<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 399-405, jul./set., 2011403


Infecção <strong>de</strong> sítio cirúrgico <strong>em</strong> pacientes submetidos a cirurgias ortopédicas <strong>em</strong> um hospital público <strong>de</strong> Minas GeraisA variável duração da cirurgia mostrou associaçãoestatística com a ocorrência <strong>de</strong> ISC (RR=0,52; IC 95%=[0,29-0,95] e valor-p≤0,05). Acredita-se que para cada horatranscorrida além do t<strong>em</strong>po cirúrgico habitual o risco <strong>de</strong>ISC dobra. A experiência e habilida<strong>de</strong> técnica do cirurgiãosão <strong>de</strong>terminantes <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po cirúrgico menor. 13Dentre os tipos <strong>de</strong> procedimentos ortopédicos realizados,as cirurgias <strong>de</strong> prótese <strong>de</strong> quadril e outras cirurgiasdo sist<strong>em</strong>a esquelético mostraram-se associadas àISC, apresentando RR=3,06; IC 95%=[1,7-5,47]; valorp=0,00e RR=0,58; IC 95%=[0,36-0,95]; valor-p=0,04,respectivamente. Em estudo envolvendo as infecçõesortopédicas, a variável tipo <strong>de</strong> procedimento cirúrgiconão se mostrou associada estatisticamente a ISC <strong>em</strong>nenhuma das suas categorias. 3Dentre os pacientes que utilizaram anestesia geral, 2,9%dos procedimentos apresentaram ISC. Entretanto, nesteestudo, não foi encontrada associação estatisticamentesignificativa entre essa variável e a ISC, como mostradopelo RR=1,02; IC 95%=[1,01-1,03] e valor-p=0,00. Emestudo envolvendo infecção <strong>em</strong> prótese <strong>de</strong> quadril,o uso <strong>de</strong> anestesia geral se comportou como fator <strong>de</strong>risco para a ISC. 7Dos 63 pacientes com ISC, 3,2% sofreram o procedimento<strong>em</strong> situação <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência enquanto 96,8% foramsubmetidos a cirurgias eletivas. Verificou-se a nãoexistência <strong>de</strong> associação entre esta variável e ISCapresentando RR=1,13; IC 95%=[0,93-1,38] e valorp=0,02. Esse resultado po<strong>de</strong> ser confirmado por outrosautores, que não i<strong>de</strong>ntificaram cirurgias <strong>em</strong>ergenciaiscomo fator <strong>de</strong> risco para ISC. 3,6 Entretanto, acredita-seque a incidência <strong>de</strong> infecção <strong>de</strong>va ser mais elevada apóscirurgia <strong>de</strong> urgência, dada a gravida<strong>de</strong> do paciente,maior dificulda<strong>de</strong> envolvendo a técnica cirúrgica eausência <strong>de</strong> preparo pré-operatório do paciente.A utilização <strong>de</strong> implante ortopédico não mostrouassociação estatisticamente significativa com ISC,apresentando RR=1,01; IC 95%=[1,00-1,02] e p=0,02,resultado discordante do encontrado <strong>em</strong> estudoenvolvendo 8.236 cirurgias ortopédicas. 3 Consi<strong>de</strong>ra-se,ainda, que o tipo <strong>de</strong> material utilizado para a confecção daprótese, como no caso da prótese com articulação metalmetal,po<strong>de</strong> aumentar o risco <strong>de</strong> infecção <strong>em</strong> até 20 vezes,quando comparado com a articulação metal-plástico. 5Em relação à permanência hospitalar pré-operatória e aISC, verificou-se ausência <strong>de</strong> associação estatisticamentesignificativa entre as duas variáveis por meio doRR=0,71; IC 95%=[0,41 -1,25] e valor-p=0,30. Entretanto,para alguns autores, a estada pré-operatória estáfrequent<strong>em</strong>ente associada com o aumento <strong>de</strong> ISC. 7,11,13Minimizar o período <strong>de</strong> hospitalização antes da cirurgiaparece ser uma medida preventiva importante. Períodosprolongados <strong>de</strong> internação favorec<strong>em</strong> a colonização dapele pela microbiota hospitalar. 13Variáveis como sexo (p=0,07), Índice <strong>de</strong> Risco <strong>de</strong>Infecção Cirúrgico (p=0,18), ida<strong>de</strong> (p=0,10) e t<strong>em</strong>po<strong>de</strong> permanência hospitalar pré-operatório (p=0,30)não apresentaram associação com ISC. Estudos têmd<strong>em</strong>onstrado discordâncias quanto à associação <strong>de</strong>ssesfatores <strong>de</strong> risco e o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ISC. 3,6-7Fatores <strong>de</strong> riscos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes, como duração dacirurgia, condições clínicas pré-operatória do pacienteavaliado pelo ASA>2 e potencial <strong>de</strong> contaminação daferida cirúrgica (cirurgias contaminadas e infectadas)apresentaram-se associados às ISCs <strong>em</strong> outrosestudos. 3,6,17Microrganismos i<strong>de</strong>ntificados nas infecçõescirúrgicas ortopédicasNas 63 infecções <strong>de</strong> sítio cirúrgico diagnosticadas nospacientes submetidos a cirurgias ortopédicas, i<strong>de</strong>ntificousea presença <strong>de</strong> 79 microrganismos, sendo 52% Grampositivose 48% <strong>de</strong> Gram-negativos. O Staphylococcusaureus foi o microrganismo predominante, com opercentual <strong>de</strong> 36,7% <strong>de</strong> isolamento, seguido doPseudomonas aeruginosa (13,9%) e do Enterobacterspp e Staphylococcus coagulase negativo, ambos com10,1%. Em alguns pacientes com ISC, foram isoladosmais <strong>de</strong> um microrganismo. O S. aureus é apontadona literatura como o patógeno comumente isolado<strong>em</strong> infecções do sítio cirúrgico, o que é confirmadoneste estudo. 11,15 Nas infecções cirúrgicas ortopédicas,o S. aureus, o Staphylococcus coagulase-negativo e osbastonetes Gram-negativos são os microrganismosprevalentes. 5-7,11,18CONCLUSÃOA incidência global <strong>de</strong> ISC <strong>em</strong> pacientes ortopédicosencontrada neste estudo foi inferior (1,8%) à preconizadapela literatura. Entretanto, as infecções foramdiagnosticadas somente durante a internação oureinternação hospitalar. Esse dado po<strong>de</strong> ser umindicativo <strong>de</strong> subnotificação do evento pesquisado.As infecções mais frequentes foram <strong>de</strong> sítio cirúrgicoprofundo e osteomielite. A maior incidência <strong>de</strong> ISCencontrada entre os seis grupos <strong>de</strong> procedimentoscirúrgicos ortopédicos foi entre as cirurgias <strong>de</strong>amputações.As variáveis potencial <strong>de</strong> contaminação da feridacirúrgica, condições clínicas do paciente (ASA), duraçãoda cirurgia e tipo <strong>de</strong> procedimento cirúrgico mostraramseestatisticamente associadas à ISC.O microrganismo <strong>de</strong> maior prevalência i<strong>de</strong>ntificado nasinfecções ortopédicas notificadas foi o Staphylococcusaureus, seguido do Pseudomonas aeruginosa.404 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 399-405, jul./set., 2011


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ERROS E AÇÕES PRATICADAS PELA INSTITUIÇÃO HOSPITALAR NOPREPARO E ADMINISTRAÇÃO DE MEDICAMENTOSMEDICAL ERRORS AND HOSPITAL ACTIONS CONCERNING DRUG PREPARATION ANDADMINISTRATIONERRORES Y DE LAS ACCIONES PRACTICADAS POR LA INSTITUCIÓN HOSPITALARIA EN LAPREPARACIÓN Y ADMINISTRACIÓN DE MEDICAMENTOSMarcus Fernando da Silva Praxe<strong>de</strong>s 1Paulo Celso Prado Telles Filho 2RESUMOObjetivou-se com esta pesquisa i<strong>de</strong>ntificar os erros cometidos pela equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, relacionados ao preparoe à administração <strong>de</strong> medicamentos, e as ações praticadas pela instituição hospitalar <strong>em</strong> que ocorreram. Trata-se <strong>de</strong>um estudo quantitativo-<strong>de</strong>scritivo, <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> uma instituição hospitalar <strong>de</strong> Minas Gerais, da qual fizeram parte72 profissionais. Constatou-se a ocorrência <strong>de</strong> 181 erros, sendo a não monitorização do paciente após a medicação oprincipal tipo, registrando-se 60 (33%) sujeitos, seguida da não avaliação prévia do paciente, com 36 (20%). As açõesmais praticadas pela instituição perante o erro foram a advertência –24 (41%) – e a não tomada <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>, com 17 (29%).Concluiu-se que os erros são quantitativamente elevados e graves e que a instituição hospitalar utiliza a advertência,a qual é vista como forma <strong>de</strong> punição aos que comet<strong>em</strong> tais erros.Palavras-chave: Enfermag<strong>em</strong>; Educação; Erros <strong>de</strong> Medicação; Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Medicação.ABSTRACTThis study aimed to i<strong>de</strong>ntify nursing team errors regarding drug preparation and administration, and the actions takenby the hospital where the errors occurred. This quantitative and <strong>de</strong>scriptive study was <strong>de</strong>veloped at a hospital in theState of Minas Gerais with 72 participants. The study i<strong>de</strong>ntified 181 errors. Lack of patient monitoring after medicationwas the chief error with 60 (33%) occurrences, no patient assessment happened in 36 (20%) instances. Hospital actionssubsequent to a medical error were in 24 (41%) cases a warning. In 17 (29%) cases no action was taken. In conclusion,the inci<strong>de</strong>nce of medical errors is frequent and serious. The hospital practice of warning the professionals after a medicalerror can be seen as a punishment to those involved.Key words: Nursing; Education; Medication Errors; Medication Methods.RESUMENLa finalidad <strong>de</strong>l estudio fue i<strong>de</strong>ntificar los errores cometidos por el equipo <strong>de</strong> enfermería relacionados a la preparacióny administración <strong>de</strong> medicamentos y también las acciones practicadas por la institución hospitalaria don<strong>de</strong> ocurrierontales hechos. Se trata <strong>de</strong> un estudio cuantitativo y <strong>de</strong>scriptivo realizado en un hospital <strong>de</strong> Minas Gerais. Participaron72 profesionales. Fueron observados 181 errores. La falta <strong>de</strong> monitoreo <strong>de</strong>l paciente <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> la medicación, con60(33%) <strong>de</strong> los casos fue el error más serio y la no evaluación previa <strong>de</strong>l paciente ocurrió en 36 (20%) <strong>de</strong> los casos.Las acciones más practicadas por la institución frente a los errores fueron la advertencia, con 24(41%), seguida <strong>de</strong>ninguna actitud tomada con 17 (29%) casos. Se concluye que los errores son cuantitativamente elevados y gravesy que la institución hospitalaria utiliza la advertencia, consi<strong>de</strong>rada como una forma <strong>de</strong> punición, para aquéllos quecometen dichos errores.Palabras clave: Enfermería; Educación; Errores <strong>de</strong> Medicación; Sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Medicación.1Acadêmico do 8° Período do Curso <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).E-mail: marcusfera@yahoo.com.br.2Graduado. Mestre e Doutor pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. Professor adjunto III do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>da UFVJM.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Prof. Paulino Guimarães Júnior nº 160 Apto. 3 – Diamantina-MG. CEP: 39100-000 E-mail: ppradotelles@yahoo.com.br.406 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 406-411, jul./set., 2011


INTRODUÇÃOA National Coordinating Council for Medication ErrorReporting and Prevention (NCCMERP), uma corporaçãonorte-americana que busca i<strong>de</strong>ntificar as causas doserros <strong>de</strong> medicação e <strong>de</strong>senvolver estratégias quepromovam a utilização segura dos medicamentos,formada por 25 organizações nacionais e internacionais,<strong>de</strong>fine erro <strong>de</strong> medicação comoqualquer evento passível <strong>de</strong> prevenção quepo<strong>de</strong> causar ou induzir ao uso ina<strong>de</strong>quado domedicamento ou prejudicar o paciente enquanto omedicamento está sob o controle do profissional <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>, paciente ou consumidor. Tais eventos pod<strong>em</strong>estar relacionados à prática profissional, produtos <strong>de</strong>cuidado <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, aos procedimentos e sist<strong>em</strong>as,incluindo prescrição; à comunicação da prescrição;ao rótulo do produto, à <strong>em</strong>balag<strong>em</strong> e nomenclatura;à composição; à dispensação; à distribuição; àeducação; à monitoração e ao uso 1 .Os erros <strong>de</strong> medicação causam, pelo menos, um óbitodiário e prejudicam cerca <strong>de</strong> 1,3 milhão <strong>de</strong> pessoasanualmente nos Estados Unidos. 2 Em estudo realizado,foram consi<strong>de</strong>rados o nível e as consequências <strong>de</strong>sseseventos inaceitáveis e registrado que cada pacienteinternado <strong>em</strong> hospitais americanos está sujeito a umerro <strong>de</strong> medicação por dia. 3O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> medicação é composto <strong>de</strong> várias etapas e oserros pod<strong>em</strong> se fazer presentes <strong>em</strong> qualquer uma <strong>de</strong>las,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a prescrição, a distribuição, a dispensação, o preparo,a administração e o monitoramento do paciente. 4A equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> faz parte <strong>de</strong>sse complexosist<strong>em</strong>a, que para a Joint Commission on Accreditationof Healthcare Organizations (JCAHO) se divi<strong>de</strong> <strong>em</strong>cinco etapas: seleção e obtenção do medicamento,prescrição, preparo e dispensação, administração <strong>em</strong>onitoramento do paciente <strong>em</strong> relação aos efeitosdo medicamento. 5Como tal equipe atua na parte final do sist<strong>em</strong>a, éfundamental que possua sólidos conhecimentos paraque possíveis falhas que possam ocorrer durante oprocesso sejam cometidas. 6Ainda assim, apesar <strong>de</strong> o preparo e a administração d<strong>em</strong>edicamentos ser<strong>em</strong> ativida<strong>de</strong>s cotidianas da equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, percebe-se a existência frequente <strong>de</strong>dúvidas sobre a realização correta <strong>de</strong>ssas ativida<strong>de</strong>s. 7 Taisdúvidas pod<strong>em</strong> levar o profissional a cometer erros quegeram riscos graves à integrida<strong>de</strong> do paciente. 8Pelo exposto, evi<strong>de</strong>ncia-se a ocorrência real <strong>de</strong> errosno preparo e na administração <strong>de</strong> medicamentose a necessida<strong>de</strong> da orientação profissional para arealização <strong>de</strong>ssa prática. Nesse sentido, a orientaçãoda equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> se torna uma important<strong>em</strong>edida <strong>de</strong> prevenção <strong>de</strong> erros, por ser essa a equipeque recebe a medicação, realiza seu preparo e aadministra ao paciente. O enfermeiro é responsávelpelos procedimentos referentes à medicação, uma vezque ele é gerencia e orienta a equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>na realização <strong>de</strong>ssa prática, entretanto não participaativamente <strong>de</strong>la na maioria das vezes.Os objetivos com este trabalho foram i<strong>de</strong>ntificar oserros cometidos por profissionais da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,relacionados ao preparo e à administração<strong>de</strong> medicamentos, e as ações praticadas pela instituiçãohospitalar <strong>em</strong> que ocorreram.METODOLOGIATrata-se <strong>de</strong> um estudo quantitativo-<strong>de</strong>scritivo. O métodoquantitativo é caracterizado tanto pelo <strong>em</strong>prego daquantificação nas modalida<strong>de</strong>s referentes à coleta<strong>de</strong> dados como no seu tratamento. Nos estudos<strong>de</strong>scritivos, são consi<strong>de</strong>rados como objeto <strong>de</strong> estudouma situação específica, um grupo ou um indivíduo, 9buscando d<strong>em</strong>onstrar com exatidão a frequência comque <strong>de</strong>terminados eventos acontec<strong>em</strong>. 10A pesquisa foi realizada <strong>em</strong> uma instituição hospitalarbeneficente <strong>de</strong> um município do interior do Estado <strong>de</strong>Minas Gerais. Dentre as especialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> atendimento<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, estão a clínica médica, a neurologia e a cirurgiageral.A amostra da pesquisa foi escolhida por conveniênciae teve como critérios <strong>de</strong> inclusão a disponibilida<strong>de</strong> dosprofissionais para respon<strong>de</strong>r<strong>em</strong> aos questionários e aparticipação ativa <strong>de</strong>les no preparo e na administração<strong>de</strong> medicamentos.Assim, com o estudo objetivou-se o alcance datotalida<strong>de</strong> – 97 sujeitos – da equipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>do local <strong>de</strong> pesquisa, pois todos atuam diretamente naadministração <strong>de</strong> medicamentos. No entanto, a amostraconstitui-se <strong>de</strong> 72 profissionais: 9 enfermeiros, 46técnicos <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> e 17 auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,uma vez que 25 profissionais recusaram-se participar dapesquisa. Os enfermeiros fizeram parte <strong>de</strong>sta pesquisaporque, que na instituição pesquisada, são eles queadministram diretamente as medicações.Os dados foram coletados por meio <strong>de</strong> um questionárioadaptado <strong>de</strong> estudo consagrado pela literatura. 11Esse questionário foi fornecido para os sujeitos dapesquisa após explicação e esclarecimento <strong>de</strong> dúvidaspelo pesquisador. Foram estipulados três dias para opreenchimento e <strong>de</strong>volução do instrumento <strong>de</strong> coleta<strong>de</strong> dados, que ocorreu <strong>de</strong> 24 a 27 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2010.O questionário cont<strong>em</strong>plou os dados: sexo, faixaetária, categoria profissional, t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> profissão,carga horária, turno e questões sobre quantificaçãodos erros cometidos, i<strong>de</strong>ntificação dos tipos <strong>de</strong> errosna administração <strong>de</strong> medicamentos e fatores quecontribuíram para a ocorrência do erro e ações praticadaspela instituição <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na ocorrência dos erros.Os dados foram apresentados <strong>em</strong> forma <strong>de</strong> quadros,<strong>de</strong>scritos por meio <strong>de</strong> números inteiros, porcentagens,e a discussão foi <strong>em</strong>basada <strong>em</strong> literatura nacional einternacional atualizadas.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 406-411, jul./set., 2011407


Erros e ações praticadas pela instituição hospitalar no preparo e administração <strong>de</strong> medicamentosO projeto <strong>de</strong> pesquisa teve a aprovação do Comitê <strong>de</strong>Ética <strong>em</strong> Pesquisa da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral dos Valesdo Jequitinhonha e Mucuri, sob o Processo nº 007/08,e o consentimento da direção da instituição hospitalarpesquisada. Os princípios éticos foram seguidos <strong>de</strong>acordo com a Resolução nº 196/96, do Ministério daSaú<strong>de</strong>. 12RESULTADOS E DISCUSSÃODos 72 participantes, 56 (78%) eram do sexo f<strong>em</strong>inino e16 (22%), do masculino. Quanto à faixa etária, 12 (17%)estavam entre 20 e 25 anos; 10 (14%), entre 26 e 30; 15(21%), entre 31 e 35; 21 (29%), entre 36 e 45; 8 (11%),entre 46 e 50; e 6 (8%), entre 51 e 55.Em estudo que objetivou i<strong>de</strong>ntificar erros cometidos porprofissionais <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> relacionados ao preparo eà administração <strong>de</strong> medicamentos, foram encontradosdados s<strong>em</strong>elhantes a esses. 13Quanto à categoria profissional, 9 (12%) eram enfermeiros,17 (24%) auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e 46 (64%) técnicos<strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>. Constatou-se que 23 (32%) possuíamt<strong>em</strong>po <strong>de</strong> profissão entre 0 e 5 anos; 13 (18%), entre6 e 10; 29 (40%), entre 11 e 20 anos; 7 (10%), entre21 e 30. Quanto à carga horária <strong>de</strong> trabalho, 58 (80%)trabalhavam 48 horas s<strong>em</strong>anais, 7 (10%) 44 horas e 7(10%) 40 horas. A respeito do turno <strong>de</strong> trabalho, 40 (56%)pertenciam ao diurno e 32 (44%) ao noturno, estando aliteratura disponível sobre o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong> concordância comos achados <strong>de</strong>ste estudo. 13Quanto às questões referentes aos erros <strong>de</strong> medicação,quando questionados a respeito do número <strong>de</strong> erroscometidos <strong>em</strong> sua prática profissional <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quandocomeçaram a exercer a profissão, a soma <strong>de</strong> todos oserros correspon<strong>de</strong>u a 181. Desses erros, 107 (59%) foramcometidos por técnicos <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>, 58 (32%) porauxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, 16(9%) por enfermeiros.Quanto à frequência dos erros por turno <strong>de</strong> trabalho,105 (58%) ocorreram no período diurno e 76 (42%) nonoturno.O fato <strong>de</strong> o acentuado número <strong>de</strong> erros ocorrer noturno diurno po<strong>de</strong> estar relacionado à dinâmica <strong>de</strong>trabalho das instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pois nesse períodohá maior quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamentos a ser<strong>em</strong>administrados e também é um horário <strong>de</strong> maioradmissão <strong>de</strong> pacientes. Soma-se a isso o fato <strong>de</strong> ohorário <strong>de</strong> visita ocorrer nesse turno, o que po<strong>de</strong> gerarum ambiente <strong>de</strong>sfavorável às ativida<strong>de</strong>s da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>. 6 A maior ocorrência <strong>de</strong> erros pelos técnicose auxiliares <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong>ve-se, também, ao fato<strong>de</strong> a administração <strong>de</strong> medicamentos ser praticada, namaioria das vezes, por esses profissionais. 14Os dados da TAB. 1 a seguir refer<strong>em</strong>-se aos tipos <strong>de</strong>erros cometidos no preparo e na administração d<strong>em</strong>edicamentos.TABELA 1 – Distribuição dos tipos <strong>de</strong> erros relacionadosao preparo e à administração <strong>de</strong> medicamentos.Diamantina-MG – 2010Tipos <strong>de</strong> errosNão monitoração do paciente apósa medicaçãoQuantificação n(%)60 (33%)Não avaliação prévia do paciente 36 (20%)Diluição ina<strong>de</strong>quada 29 (16%)Dose errada 20 (11%)Via <strong>de</strong> administração errada 14 (8%)Medicamento administrado <strong>em</strong>paciente errado13 (7%)Medicamento errado 9 (5%)Total 181 (100%)De acordo com a TAB. 1, a não monitoração do pacienteapós a medicação e a não avaliação prévia do paciente,correspon<strong>de</strong>ntes a 60 (33%) e 36 (20%), respectivamente,<strong>de</strong>stacam-se como os principais tipos <strong>de</strong> erro naadministração <strong>de</strong> medicamentos. A não monitoração dopaciente após a medicação surge como uma importantefalha, uma vez que os erros, muitas vezes, somente sãoi<strong>de</strong>ntificados quando as consequências são clinicament<strong>em</strong>anifestadas pelo paciente, como a presença <strong>de</strong>sintomas ou reações adversas após algum t<strong>em</strong>po <strong>em</strong>que foi administrada a medicação. 15Assim como nesta pesquisa, <strong>em</strong> outro estudo, osresultados revelaram o <strong>de</strong>spreparo da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> quanto ao preparo e administração d<strong>em</strong>edicamentos, o que po<strong>de</strong> levar a erros <strong>de</strong> cálculos,<strong>de</strong> preparo e <strong>de</strong> administração <strong>de</strong> medicamentos. 16Esses fatos nos levam a refletir sobre a importânciado conhecimento técnico-científico da equipe<strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e a atualização constante <strong>de</strong>sseconhecimento a respeito da prática <strong>de</strong> preparo eadministração <strong>de</strong> medicamentos, sendo a educação<strong>em</strong> serviço um influenciador na redução da ocorrência<strong>de</strong> erros.Quanto à educação <strong>em</strong> serviço, <strong>de</strong>staque-se que osprojetos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar <strong>em</strong> consonância com os interessesdos envolvidos, aten<strong>de</strong>r aos anseios e às necessida<strong>de</strong>sdaqueles que vão participar, aos objetivos da instituiçãoe, no caso da enfermag<strong>em</strong>, à finalida<strong>de</strong> do trabalho, queé a maximização da assistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, 17 b<strong>em</strong>como propiciar à equipe conhecimentos sólidos sobrepreparo e a administração <strong>de</strong> medicamentos exigidospelo mercado <strong>de</strong> trabalho atual. 18Na TAB. 2, apresenta-se a <strong>de</strong>scrição dos fatores quecontribuíram para a ocorrência dos erros mencionadospelos sujeitos do estudo.408 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 406-411, jul./set., 2011


TABELA 2 – Distribuição dos fatores que contribuírampara a ocorrência dos erros relacionados ao preparoe à administração dos medicamentos. Diamantina-MG – 2010Fatores Quantificação %Muitos pacientes/Excesso <strong>de</strong>trabalho22 (30%)Poucos profissionais 16 (22%)Falta <strong>de</strong> atenção 15 (21%)Pouca experiência/Conhecimento insuficiente8 (11%)Prescrições ina<strong>de</strong>quadas 5 (6%)Cansaço/Estresse 3 (5%)Tumulto/Ambiente<strong>de</strong>sfavorável2 (4%)Falta <strong>de</strong> recursos físicos 1 (1%)Total 72 (100%)No que se refere aos fatores que contribuíram para oserros, <strong>de</strong>staca-se o fator “muitos pacientes/excesso <strong>de</strong>trabalho” com 22 (30%) dos relatos, seguidos do fator“poucos profissionais”, 16 (22%), e “Falta <strong>de</strong> atenção”,com 15 (21%).No estudo, foram i<strong>de</strong>ntificadas as más condições<strong>de</strong> trabalho da enfermag<strong>em</strong> (falta <strong>de</strong> profissionais,sobrecarga <strong>de</strong> trabalho, “cansaço/estresse” e “falta <strong>de</strong>atenção”) como contribuintes para a ocorrência doserros na prática da medicação, resultados que confirmamestudos <strong>em</strong> que se afirma que os erros são acentuadosdado o número insuficiente <strong>de</strong> profissionais para aten<strong>de</strong>rà alta d<strong>em</strong>anda <strong>de</strong> cuidados. 16-19Ressalte-se, portanto, a necessida<strong>de</strong> da reestruturaçãodo serviço profissional com o fornecimento <strong>de</strong> umambiente seguro e favorável ao <strong>de</strong>senvolvimento dasativida<strong>de</strong>s da equipe.O conhecimento insuficiente e a pouca experiênciatambém foram i<strong>de</strong>ntificados como fatores contribuintes,o que aponta o fator humano como atributo das causasdos erros. Isso vai ao encontro dos dados <strong>de</strong> um estudoque aponta esse fator como causa comum dos erros. 20Dessa forma, a orientação voltada para esta questão se tornafundamental. Além disso, <strong>de</strong>ve-se ressaltar a necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> que cada profissional busque seu próprio crescimentoe tenha consciência <strong>de</strong> que é falível. No que concerne àquestão referente à “pouca experiência”, estudiosos doerro humano inclu<strong>em</strong> os seguintes componentes: atosinseguros, enganos, falta <strong>de</strong> atenção. 21Outro aspecto levantado no estudo foi quanto às açõespraticadas pela instituição diante dos erros na práticada administração <strong>de</strong> medicamentos. Somente 58(80%) sujeitos respon<strong>de</strong>ram a essa pergunta e, <strong>de</strong>sses,24 (41%) relataram que a advertência é a principalação praticada. A ausência <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s educativas dainstituição perante os erros foi mencionada por 17 (29%)sujeitos da amostra.A orientação foi registrada com 11 (19%) sujeitos ea advertência seguida <strong>de</strong> orientação com 6 (11%).As advertências são vistas pelos indivíduos comouma forma <strong>de</strong> punição, e essa atitu<strong>de</strong> acarreta medo,d<strong>em</strong>issão, sentimento <strong>de</strong> culpa e preocupaçõesrelacionadas à gravida<strong>de</strong> do erro, o que po<strong>de</strong> levaros indivíduos envolvidos a não relatar seus erros epropiciar consequências <strong>de</strong>vastadoras não somentepara os pacientes, como também para os profissionaisenvolvidos. 22-23A ausência <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>s educativas da instituiçãodiante do erro cometido pelo profissional também foiencontrada <strong>em</strong> outro estudo, que d<strong>em</strong>onstrou a falta<strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> algumas instituições para lidar com talocorrência. Confirmou-se, também, a resistência <strong>de</strong>ssasinstituições <strong>em</strong> admitir a existência do erro, o que fazcom que não haja <strong>de</strong>finição n<strong>em</strong> execução <strong>de</strong> estratégiaspara evitá-lo, 24 b<strong>em</strong> como uma avaliação reflexiva ecriteriosa sobre sua magnitu<strong>de</strong>. 19Em vista disso, o National Coordinating Council forMedication Error Reporting and Prevention (NCCMERP)acredita que os profissionais da saú<strong>de</strong> e as organizaçõesprecisam ser incentivados a apresentar um relatório,buscando avaliar e prevenir os erros, b<strong>em</strong> como apartilhar experiências com seus pares, criando-se,também, uma cultura não punitiva, que forneça aconfiabilida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada, proteção legal e propiciea aprendizag<strong>em</strong> sobre erros e suas soluções aosprofissionais. 25Destaque-se a importância da orientação <strong>em</strong> <strong>de</strong>trimentoda advertência, visto que a orientação fornecerácapacitação e confiança para a realização do preparo eadministração <strong>de</strong> medicamentos. Assim, a orientaçãocontínua, b<strong>em</strong> como a capacitação da equipe <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, mostra-se uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> extr<strong>em</strong>aimportância, principalmente quando busca guiar osprofissionais para o <strong>de</strong>senvolvimento não somente<strong>em</strong> relação ao aprendizado <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s e <strong>de</strong>strezas,mas, sobretudo, <strong>de</strong> um aprendizado que gere novasatitu<strong>de</strong>s, soluções, i<strong>de</strong>ias, conceitos e que modifiqu<strong>em</strong>seus hábitos e comportamentos. 26Essa orientação <strong>de</strong>ve ser voltada para a diminuição/eliminação das dúvidas existentes anteriormente aopreparo e à administração <strong>de</strong> medicamentos. Deveser fornecida pelo enfermeiro, que necessita, também,realizar a supervisão como forma <strong>de</strong> minimizar os erros.Para que isso aconteça, é fundamental que ele possuaamplo conhecimento na t<strong>em</strong>ática “administração d<strong>em</strong>edicamentos”, buscando, assim, a confiança da suaequipe para <strong>de</strong>senvolver uma prática humanizada efundamentada cientificamente.CONSIDERAÇÕES FINAISOs erros <strong>de</strong> medicação faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> um aspectoda realida<strong>de</strong> do cotidiano do processo <strong>de</strong> trabalho dar<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 406-411, jul./set., 2011409


Erros e ações praticadas pela instituição hospitalar no preparo e administração <strong>de</strong> medicamentosequipe <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Os dados apresentados traz<strong>em</strong>à tona a discussão da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> competênciaprofissional para a realização do preparo e administração<strong>de</strong> medicamentos, b<strong>em</strong> como das condições <strong>de</strong> trabalhoda equipe que executa tal processo na instituição <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> foco, b<strong>em</strong> como sua influência na qualida<strong>de</strong>do cuidado prestado ao individuo hospitalizado.A i<strong>de</strong>ntificação dos erros é s<strong>em</strong>pre importante eesclarecedora, pois sustenta as <strong>de</strong>cisões necessáriaspara evitá-los. A presença <strong>de</strong> uma cultura punitivaperante o profissional que comete o erro, além <strong>de</strong> levara subnotificá-lo, reflete que essa responsabilida<strong>de</strong> nãoé compartilhada entre equipe e instituição, que <strong>de</strong>veriaoferecer condições <strong>de</strong> trabalho para sua equipe.Com isso fica evi<strong>de</strong>nte a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>spessoais e institucionais que busqu<strong>em</strong> <strong>de</strong>spertar aconsciência <strong>de</strong> que o profissional é responsável portransformar sua realida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> se tornar ponto-chavena minimização dos erros, garantindo a confiança daequipe e o respeito dos pacientes.REFERÊNCIAS1. National Coordinating Council For Medication Error Reporting And Prevention [homepage na Internet]. United States: National CoordinatingCouncil; c1998-2010 [Citado 2010 abr. 27]. Disponível <strong>em</strong>: .2. 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FERIMENTO POR PROJÉTIL DE ARMA DE FOGO: UM PROBLEMA DE SAÚDEPÚBLICA*FIREARM INJURY: A PUBLIC HEALTH PROBLEMHERIDA POR PROYECTIL DE ARMA DE FUEGO: UN PROBLEMA DE SALUD PÚBLICARobson Cristiano Zandomenighi 1Eleine Aparecida Penha Martins 2Douglas Lima Mouro 3RESUMOObjetivou-se com esta pesquisa traçar o perfil epid<strong>em</strong>iológico das vítimas <strong>de</strong> ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo(FPAF) atendidas no pronto-socorro <strong>de</strong> um hospital universitário <strong>em</strong> 2007, b<strong>em</strong> como caracterizar o atendimento noambiente pré- e intra-hospitalar. Utilizou-se a abordag<strong>em</strong> quantitativa e <strong>de</strong> natureza transversal. A amostra constituiuse<strong>de</strong> 98 pacientes. A maioria das vítimas tinha ferimento único por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo, eram jovens, do sexomasculino, solteiros, provenientes <strong>de</strong> Londrina. A principal causa foi o assalto. O SIATE foi o transporte mais utilizadoe o principal responsável pelo atendimento pré-hospitalat (APH). Os procedimentos mais realizados no APH e noatendimento intra-hospitalar, respectivamente, foram o curativo, a imobilização e a reposição volêmica. Ocorreraminternações prolongadas, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> UTI e cirurgias, além <strong>de</strong> óbitos e incapacida<strong>de</strong>s. Portanto, as armas <strong>de</strong> fogotêm gran<strong>de</strong> importância epid<strong>em</strong>iológica, havendo a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções que vão além da esfera da saú<strong>de</strong>.Palavras-chave: Causas Externas; Ferimentos Penetrantes; Ferimentos por Arma <strong>de</strong> Fogo; Perfil <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; Violência.ABSTRACTThis research’s objective was to outline the epid<strong>em</strong>iological profile of firearm injury victims atten<strong>de</strong>d in the <strong>em</strong>ergencyunit of a university hospital in 2007. It aimed as well to characterize pre and intra hospital care. It is a cross-sectionalstudy with a quantitative approach. The sample consisted of 98 patients. The majority of victims presented a singlefirearm injury, were young, male, single, from the city of Londrina, Paraná. The injury main cause was robbery. Theambulances of the Trauma and Emergency Care Integrated Syst<strong>em</strong> (in Portuguese, SIATE) were the most <strong>em</strong>ployed meansof transportation and the main provi<strong>de</strong>r of pre-hospital care. The most common pre and intra-hospital care procedureswere dressing, immobilization and fluid replac<strong>em</strong>ent, respectively. Prolonged hospitalization, need for intensive careand surgery as well as injury related disabilities and <strong>de</strong>aths occurred. The epid<strong>em</strong>iology of firearms injuries must bebetter un<strong>de</strong>rstood although its control <strong>de</strong>pends on interventions that are outsi<strong>de</strong> the healthcare scope.Key words: External Causes; Penetrating Wounds; Gunshot Wounds; Health Profile; Violence.RESUMENCon este estudio se buscó trazar el perfil epid<strong>em</strong>iológico <strong>de</strong> las víctimas <strong>de</strong> proyectil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fuego (HPAF) atendidasen la guardia <strong>de</strong> un hospital escuela durante 2007 y, asimismo, <strong>de</strong>terminar la atención previa e intra hospitalaria. Se trata<strong>de</strong> un estudio transversal con enfoque cuantitativo. La muestra consistió en 89 pacientes. La mayoría <strong>de</strong> las víctimastenían una sola herida por proyectil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fuego, eran jóvenes, varones, solteros, <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Londrina. La causaprincipal era asalto. Las ambulancias <strong>de</strong> Traumas y Emergencias <strong>de</strong>l Sist<strong>em</strong>a Integrado <strong>de</strong> Salud fueron los vehículosmás utilizados y los más responsables <strong>de</strong> la atención pre- hospitalaria (APH). Los procedimientos más realizados en laAPH y en la atención intrahospitalaria, respectivamente, fueron curativo, inmovilización y reposición volémica. Hubointernaciones prolongadas, necesidad <strong>de</strong> UTI y cirugías, ad<strong>em</strong>ás <strong>de</strong> óbitos e incapacidad. Las armas <strong>de</strong> fuego tienengran importancia epid<strong>em</strong>iológica y por ello es necesario que su control implique otras esferas más allá <strong>de</strong>l alcance<strong>de</strong>l área <strong>de</strong> salud.Palabras clave: Causas Externas; Heridas Penetrantes; Heridas por Arma <strong>de</strong> Fuego; Perfil <strong>de</strong> Salud; Violencia.* Artigo original extraído do Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso Caracterização do atendimento e das vítimas com ferimento por arma branca e por projétil <strong>de</strong> arma<strong>de</strong> fogo atendidas no pronto-socorro <strong>de</strong> um hospital universitário no ano <strong>de</strong> 2007, realizado para obtenção do título <strong>de</strong> graduação do curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> daUniversida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina.1Enfermeiro. Resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Médico-Cirúrgica no Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná. E-mail: rczandomenighi@yahoo.com.brEn<strong>de</strong>reço: Rua Goiás, n. 27, Centro, Sertanopolis-PR. CEP: 86170-000. Tel: (43) 3232-2093 – Cel: (43) 9146-0335.2Enfermeira. Profa. Dra. do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina. E-mail: elein<strong>em</strong>artins@sercomtel.com.br.3Enfermeiro. Especialista <strong>em</strong> Ciências Fisiológicas pela Universida<strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina. Resi<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Médico-Cirúrgica no Hospital UniversitárioRegional do Norte do Paraná. E-mail: doug_mouro@hotmail.com.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Goias, n. 27, Centro – Sertanópolis-PR. CEP: 86170-000.412 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011


INTRODUÇÃOO Estatuto do Desarmamento, promulgado <strong>em</strong> 22<strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2003 por meio da Lei nº 10.826, queO Brasil alcançou, nas últimas décadas, significativo dispõe sobre o registro, a posse e a comercializaçãoprogresso na situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. A queda da taxa <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo no Brasil, a Campanha Nacional pelo<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> infantil, a redução na mortalida<strong>de</strong> Desarmamento, iniciada <strong>em</strong> julho <strong>de</strong> 2004, o Referendoproporcional das doenças infecciosas e o aumento dasdo Desarmamento, ocorrido <strong>em</strong> 23 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2005,doenças crônico-<strong>de</strong>generativas <strong>de</strong>terminaram reflexose a atual discussão à luz das propostas <strong>de</strong> reformulaçãopositivos no aumento da expectativa <strong>de</strong> vida, que hojee abrandamento do Estatuto do Desarmamento noé <strong>de</strong> 72,3 anos. 1 No entanto, as causas externas vêm-seLegislativo são momentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque, no contextoapresentando entre os principais probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>nacional, que d<strong>em</strong>onstram os esforços para combaterpública <strong>em</strong> nosso país, seja por sua magnitu<strong>de</strong>, seja peloso probl<strong>em</strong>a. 6custos que representam para a socieda<strong>de</strong>, seja pelosimpactos sociais e psicológicos na vida dos indivíduos e Apesar <strong>de</strong> ser uma questão polêmica e ainda nãodas famílias. 2consensual, muitos pesquisadores concordam que adisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo aumenta a chance <strong>de</strong>Atualmente, as causas externas correspond<strong>em</strong> à terceiramorte e que o controle da posse e do porte <strong>de</strong> armascausa <strong>de</strong> óbito na população brasileira, após as doenças<strong>de</strong> fogo é uma medida importante para a redução dosdo aparelho circulatório e câncer. Constitu<strong>em</strong>, ad<strong>em</strong>ais, aíndices <strong>de</strong> violência.primeira causa <strong>de</strong> óbito na faixa etária <strong>de</strong> 1 a 44 anos, <strong>em</strong>7,8 Estudos mostram que áreas commaior número <strong>de</strong> armas apresentam maiores taxas <strong>de</strong>ambos os sexos, 2 e a primeira causa na faixa etária <strong>de</strong> 5-49homicídio por armas <strong>de</strong> fogoanos entre homens. 3 Enten<strong>de</strong>-se por causas externas as9,10 e a presença <strong>de</strong>stas <strong>em</strong>casa também aumenta o risco <strong>de</strong> homicídios por armaocorrências e circunstâncias ambientais como causa <strong>de</strong><strong>de</strong> fogo.lesões 4 ou, ainda, aci<strong>de</strong>ntes e violência. 311 Além disso, o porte <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo por parteda vítima durante o assalto está associado com o maiorNesse cenário, as armas <strong>de</strong> fogo se <strong>de</strong>stacam como risco <strong>de</strong> morrer. 12geradoras <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>. 5 A taxaNesse sentido, as armas <strong>de</strong> fogo constitu<strong>em</strong> tantobrasileira <strong>de</strong> mortes por armas <strong>de</strong> fogo é <strong>de</strong> 19,3 óbitos<strong>em</strong> 100 mil habitantes, ocupando lugar <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque nouma tentativa <strong>de</strong> proteção contra a violência quantocontexto internacional. 6um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> reprodução da violência a que visamevitar.As mortes por armas <strong>de</strong> fogo apresentam expressivoenvolvimento <strong>de</strong> adolescentes e jovens como autoresAs internações por lesões <strong>de</strong>vidas a armas <strong>de</strong> fogoe vítimas, principalmente do sexo masculino, e quesão muito expressivas, ocorrendo um crescimento <strong>de</strong>habitam as periferias dos gran<strong>de</strong>s centros urbanos.95% do início para o final da década <strong>de</strong> 1990. 13 ForamEntre 1991-2000 o maior incr<strong>em</strong>ento no coeficiente <strong>de</strong>responsáveis pela causa <strong>de</strong> internação com maior taxa d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong> por armas <strong>de</strong> fogo foi na faixa etária <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> hospitalar 9,7 por 100 internações e o maior15-19 (66,1%). 5custo, R$ 892,38 por internação. 14 Esse custo é 34,4%mais elevado que todas as outras formas <strong>de</strong> agressão, talA distribuição espacial das mortes por armas <strong>de</strong> fogo é o grau <strong>de</strong> letalida<strong>de</strong> e gravida<strong>de</strong> dos danos provocadosno Brasil ocorre <strong>de</strong> forma heterogênea, visto que 77,1 % por armas <strong>de</strong> fogo. 12aconteceram <strong>em</strong> 3,6% dos municípios <strong>em</strong> 2006, sendo oRio <strong>de</strong> Janeiro, São Paulo e Recife as cida<strong>de</strong>s com o maior O setor Saú<strong>de</strong> t<strong>em</strong> gran<strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong> na reduçãonúmero <strong>de</strong> homicídios. Em relação às taxas por 100 mil da carga dos agravos <strong>de</strong>ssa natureza. Desse modo, foihabitantes, Guairá-PR e Foz do Iguaçu-PR apresentam as promulgada, <strong>em</strong> 2001, a Política Nacional <strong>de</strong> Reduçãomaiores. 6<strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes e Violências. Para sua impl<strong>em</strong>entação, aSecretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> do Ministério da Saú<strong>de</strong>Em estudo realizado por Waiselfisz, 6 mostrou-se que estruturou, <strong>em</strong> 2004, a Re<strong>de</strong> Nacional <strong>de</strong> Prevenção <strong>de</strong>o número <strong>de</strong> homicídios sofreu um crescimento Aci<strong>de</strong>ntes e Violências. Por sua vez, foi aprovada, <strong>em</strong>assustadoramente regular <strong>de</strong> 1979 a 2003. Já <strong>em</strong>2005, a Agenda Nacional <strong>de</strong> Vigilância, Prevenção e2004, essa tendência histórica se reverteu <strong>de</strong> formaControle dos Aci<strong>de</strong>ntes e Violências.significativa. O número <strong>de</strong> homicídios caiu 5,2% <strong>em</strong> 2004<strong>em</strong> relação a 2003. Dentre as mortes por armas <strong>de</strong> fogo, Há muito para se investigar sobre esse mecanismo <strong>de</strong>entre 2003 e 2004, a queda foi <strong>de</strong> 5,5%, no ano seguinte trauma. Pouco se sabe, por ex<strong>em</strong>plo, sobre o númerofoi <strong>de</strong> 2,8% e <strong>em</strong> 2006, <strong>de</strong> 1,8%. Esse fato, <strong>em</strong> geral, po<strong>de</strong> e o tipo <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo <strong>em</strong> circulação, o seu uso <strong>em</strong>ser diretamente atribuído às políticas <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarmamento, ativida<strong>de</strong>s criminais e a morbimortalida<strong>de</strong> por projétilque retiraram <strong>de</strong> circulação um número significativo <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo no Brasil. 5<strong>de</strong> armas <strong>de</strong> fogo e regulamentaram legalmente suaDada a escassez <strong>de</strong> informações na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrinacompra, porte e utilização. 6sobre o atendimento a esses pacientes e a importânciaContudo, os dados indicam que as estratégias <strong>de</strong> <strong>em</strong> abordar e conhecer mais o assunto, o objetivo<strong>de</strong>sarmamento impl<strong>em</strong>entadas <strong>em</strong> 2003 conseguiram com este estudo é contribuir com a literatura e com osreverter um processo que vinha se agravando serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, servindo <strong>de</strong> base para a análise dodrasticamente, mas não foram suficientes para originar serviço oferecido, das vítimas e da ocorrência, b<strong>em</strong> comoquedas sustentáveis e progressivas ao longo do t<strong>em</strong>po, para a construção <strong>de</strong> um perfil epid<strong>em</strong>iológico regionalcomo a situação d<strong>em</strong>andava. 6 das ocorrências com arma <strong>de</strong> fogo e proporcionar umar<strong>em</strong>E – Rev. 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Ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo: um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Públicareflexão sobre a notorieda<strong>de</strong> das armas <strong>de</strong> fogo nessecontexto.Dados hospitalares combinados com a metodologiapara estimação da intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ocorrência provaramseúteis para estudar a violência urbana. 15 A partir domomento que se conhece o perfil da população atingida,os motivos da ocorrência e a gravida<strong>de</strong> das lesões,torna-se possível analisar os fatores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>antes e oimpacto na socieda<strong>de</strong>, norteando as ações <strong>de</strong> combatea esses agravos.Portanto, a proposta com este trabalho é caracterizaro atendimento e os pacientes com ferimento porprojétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo atendidos no Pronto-Socorrodo Hospital Universitário Regional Norte do Paraná(HURNP), <strong>em</strong> 2007.METODOLOGIATrata-se <strong>de</strong> um estudo exploratório, transversal, <strong>de</strong>análise <strong>de</strong>scritiva <strong>de</strong> dados. Foram revisados prontuários<strong>de</strong> pacientes atendidos no Pronto-Socorro do HURNPcom ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo (FPAF)durante o ano <strong>de</strong> 2007. Para isso, foi solicitado ao Serviço<strong>de</strong> Arquivo Médico e Estatística (SAME) do HURNP umlevantamento das vítimas com os critérios acima, o qualutilizou os CIDs X95, Y24, X72, X73, Y22, X93 e X74.Para obter os dados, foram utilizados as anotações <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, a ficha <strong>de</strong> atendimento, o resumo <strong>de</strong> alta eo relatório <strong>de</strong> atendimento do socorrista (RAS), quandohouve atendimento pré-hospitalar.Seguindo todos os procedimentos legais, este estudofoi apreciado e aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong>Pesquisa da instituição, conforme a Resolução nº196/96, do Conselho Nacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, sob o Parecernº 067/08. A coleta dos dados foi realizada no período<strong>de</strong> julho a set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2008, utilizando um instrumentocom variáveis relativas à vítima, à ocorrência e aoatendimento. Os dados foram tabulados utilizando-seo programa Excel.O local <strong>de</strong> estudo foi um hospital universitário, <strong>de</strong> atençãoterciária, sendo referência para diversas especialida<strong>de</strong>sna região norte do Paraná e até interestadual, inclusivepara traumas. Atualmente, conta com 272 leitos.RESULTADOSForam levantados 175 registros pelo serviço <strong>de</strong>estatística. As perdas contabilizaram 77 atendimentospelo fato <strong>de</strong> as ocorrências ter<strong>em</strong> sido <strong>em</strong> outros anosou, ainda, porque os diagnósticos eram diferentes comrelação à proposta <strong>de</strong>ste estudo, restando 98 registroscom os critérios estabelecidos pela pesquisa.Segue, na TAB. 1, a distribuição das vitimas segundo osexo e a faixa etária.Evi<strong>de</strong>ncia-se que houve a prevalência do sexo masculinoe a faixa etária entre 15 e 24 anos foi a mais acometida,representando 47% dos atendimentos. As vítimas idosasrepresentaram apenas 2% dos atendimentos (TAB. 1).TABELA 1 – Distribuição das vítimas com ferimentopor projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo por sexo e faixa etária.Londrina-PR – 2007Faixa etáriaMasculino F<strong>em</strong>inino TotalNº % Nº % N %0 – 09 anos - - - - - -10 – 14 anos 01 01,0 - - 01 01,015 – 19 anos 22 22,4 01 01,0 23 23,520 – 24 anos 19 19,4 04 04,1 23 23,525 – 29 anos 17 17,3 02 02,0 19 19,430 – 34 anos 08 08,2 01 01,0 09 09,235 – 39 anos 08 08,2 - - 08 08,240 – 44 anos 06 06,1 - - 06 06,145 – 49 anos 04 04,1 - - 04 04,150 – 54 anos 02 02,0 - - 02 02,055 – 59 anos - - - - - -60 anos e > 02 02,0 - - 02 02,0Ignorado 01 01,0 - - 01 01,0Total 90 91,7 08 08,2 98 100Em relação ao estado civil, <strong>em</strong> 23,5% (23) dos registrosnão havia esse dado, sendo 53,1% (52) das vítimassolteiras e 23,5% (23) casadas ou tinham união estável.Na TAB. 2, apresenta-se a causa da ocorrência.TABELA 2 – Distribuição das ocorrências comferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo segundo acausa. Londrina-PR – 2007Causa Nº %Assalto 12 12,2Tentativa <strong>de</strong> homicídio 05 05,1Confronto policial 01 01,0Bala perdida 02 02,0Aci<strong>de</strong>nte 01 01,0Não consta 77 78,6Total 98 100Em meio às causas, o assalto foi o motivo mais inci<strong>de</strong>nte,seguido pela tentativa <strong>de</strong> homicídio, <strong>de</strong> acordo com osdados encontrados, visto que faltou essa informação nosexpressivos 78,6% dos prontuários (TAB. 2).414 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011


No que tange ao local da ocorrência, a maioria foi <strong>em</strong>Londrina, representando 72,5% (71). Os casos advindos<strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s vizinhas tiveram gran<strong>de</strong> representativida<strong>de</strong>,com 27,5% (27) das ocorrências.Na TAB. 3, apresenta-se o meio <strong>de</strong> transporte utilizadoaté o hospital.TABELA 3 – Transporte utilizado pelas vítimas <strong>de</strong>ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo até o URNP.Londrina-PR – 2007Transporte Nº %SIATE 48 49,0SAMU 07 07,1Municipal (outra cida<strong>de</strong>) 20 20,4Procura direta 05 05,1Outros 05 05,1Não consta 13 13,2Total 98 100Como se d<strong>em</strong>onstrou na TAB. 3, o Serviço <strong>de</strong> AtendimentoIntegrado ao Trauma e Emergências (SIATE) foi o principalresponsável pelos transportes das vítimas, seguido pelostransportes das cida<strong>de</strong>s vizinhas.De acordo com as anotações dos prontuários, constatouseque 07,1% (7) das vítimas estava alcoolizada. Apenas1 paciente (01,0%) estava sob efeito <strong>de</strong> droga ilícita.Dentre as vítimas <strong>de</strong>scritas como sóbrias ou conscientes,encontram-se 46,0% (45), faltando esse dado <strong>em</strong> 46,0%(45) dos pacientes atendidos.O horário da ocorrência também foi uma variável comgran<strong>de</strong> ausência nos registros – <strong>em</strong> 52% (51) não haviaessa informação. Constou que a maioria ocorreu noperíodo da noite/madrugada, representando 34,7%(34) dos casos, seguidos pela tar<strong>de</strong> com 8,2% (8) e pelamanhã com 5,1% (5) das ocorrências.O fim <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana concentrou a maior parte das ocorrências,sendo o domingo o dia mais inci<strong>de</strong>nte com 27,5% (27),seguido pelo sábado e pela sexta-feira, 14,3% (14) e 12,2%(12), respectivamente. Os d<strong>em</strong>ais dias da s<strong>em</strong>ana foramresponsáveis por 45,9% (45) das ocorrências.Das 98 vítimas <strong>de</strong>scritas nesta pesquisa, apenas 44,9%(44) tinham registros <strong>de</strong> procedimentos realizados noatendimento pré-hospitalar (APH) e, consi<strong>de</strong>randoo atendimento intra-hospitalar (AIH), 76,5% (75) dasvítimas foram submetidas a procedimentos, ou seja,<strong>de</strong>ntre os que não tiveram procedimentos no APHquando chegaram ao hospital, 31 foram atendidas.Na TAB. 4, constam os procedimentos realizados noatendimento pré-hospitalar (APH) e no atendimentointra-hospitalar (AIH) nas vítimas <strong>de</strong> ferimento porprojétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo (FPAF).TABELA 4 – Procedimentos realizados no atendimentopré-hospitalar (APH) e no atendimento intrahospitalar(AIH) nas vítimas <strong>de</strong> ferimento por projétil<strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo. Londrina-PR – 2007ProcedimentoAPHAIHNº % Nº %Imobilização cervical 17 17,3 02 02,0Imobilização com tábua 23 23,5 - -Intubação 03 03,1 06 06,1RCP - - 02 02,0Reposição Volêmica 15 15,3 41 41,8SNG 01 01,0 10 10,2SOG 01 01,0 06 06,1SVD - - 30 30,6Sutura - - 06 06,1Outros - - 10 10,2Total <strong>de</strong> procedimentos 103 61,2 178 115,1A frequência dos procedimentos, d<strong>em</strong>onstrada naTAB. 4, foi calculada sobre o número total <strong>de</strong> vítimas,portanto, como algumas vítimas receberam mais <strong>de</strong>um procedimento, o percentual total po<strong>de</strong> exce<strong>de</strong>r os100%.O curativo e a imobilização com tábua foram osprocedimentos mais frequentes no APH, seguidospela imobilização cervical. No âmbito intra-hospitalaros procedimentos mais realizados foram a reposiçãovolêmica, oxigenoterapia, SVD e curativo. Foramconsi<strong>de</strong>rados outros procedimentos a realização <strong>de</strong>tala gessada, lavado peritoneal, flebotomia e retiradado projétil (TAB. 4).O número <strong>de</strong> projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo (PAF) foi um dadosignificativo encontrado neste estudo. Evi<strong>de</strong>nciou-seque gran<strong>de</strong> parte das vítimas foi ferida por um PAF <strong>em</strong>54,1% (53) dos casos, seguidas por dois projéteis, <strong>em</strong>que 24,5% (24) das vítimas foram acometidas, e 7,1% (7)foram atingidas por três PAF. Foram consi<strong>de</strong>radas comlesões múltiplas as vítimas com quatro ou mais projéteis,as quais representaram 11,2% (11) dos casos. Em 3,1% (3)dos prontuários não constava essa informação. A média<strong>de</strong> projéteis <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo por vítima foi <strong>de</strong> 1,9.Na TAB. 5, estão relacionados dados importantes, comoas regiões do corpo acometidas por FPAF. Vale ressaltarque o percentual total exce<strong>de</strong> o 100%, pois muitasvítimas tiveram mais <strong>de</strong> uma lesão <strong>em</strong> diferentes regiõesdo corpo.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011415


Ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo: um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> PúblicaTABELA 5 – Distribuição das vítimas com ferimentopor projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo segundo a região docorpo atingida. Londrina-PR – 2007Região do corpo Nº %Cabeça 10 10,2Face 11 11,2Pescoço 10 10,2Tórax anterior 22 22,4Tórax posterior 06 06,1Lombar 06 06,1M<strong>em</strong>bros superiores 22 22,4Abdome 17 17,3Pelve 07 07,1M<strong>em</strong>bros inferiores 41 41,8Total 152 154,8Todas as regiões corporais foram atingidas, sendo osm<strong>em</strong>bros inferiores (MMII) mais acometidos, seguidospelos m<strong>em</strong>bros superiores (MMSS) e tórax anterior <strong>em</strong>segundo lugar e abdome, <strong>em</strong> terceiro (TAB. 5).Os dias <strong>de</strong> internação das vítimas <strong>de</strong> FPAF constam naTAB. 6. O atendimento, também <strong>de</strong>scrito na mesmatabela, compreen<strong>de</strong> o atendimento prestado s<strong>em</strong>necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internação, com duração máxima <strong>de</strong>24 horas, ou seja, não se gera uma autorização <strong>de</strong>internação hospitalar (AIH).TABELA 6 – Dias <strong>de</strong> internação das vítimas <strong>de</strong>ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo atendidas noHURNP. Londrina-PR – 2007Dias <strong>de</strong> internação Nº %Atendimento** 38 38,801 – 05 dias 34 34,706 – 10 dias 11 11,211 – 15 dias 05 05,1Mais <strong>de</strong> 15 dias 10 10,2Total 98 100Nota-se que entre as 98 vítimas <strong>de</strong> FPAF, a maior partenão necessitou <strong>de</strong> internação, apenas <strong>de</strong> atendimento.E, <strong>em</strong> meio das que necessitaram, a maioria teve acurta internação <strong>de</strong> até cinco dias. No entanto, houveum consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong> internações prolongadas,quando 15,3% das vítimas permaneceram no hospitalpor mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z dias (TAB. 6). Foram encaminhadas àUTI 13,3% (13) do total das vítimas. A média <strong>de</strong> dias<strong>de</strong> internação foi <strong>de</strong> 8,6 dias, totalizando 534 dias <strong>de</strong>internação. Há <strong>de</strong> se consi<strong>de</strong>rar que houve a evasão <strong>de</strong>três pacientes.Em relação à necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procedimento cirúrgico,45,9% (45) das vítimas necessitaram <strong>de</strong>ssaintervenção.As incapacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>correntes dos FPAFs foramevi<strong>de</strong>nciadas neste estudo. Dentre as vítimas, 4,1%(4) sofreram incapacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>finitivas, sendo umaamputação transf<strong>em</strong>ural, uma perda da visão unilaterale duas não <strong>de</strong>scritas.Neste estudo, 8,2% (8) das vítimas foi a óbito, havendoum óbito extra-hospitalar, sendo a vítima trazida aohospital para localização <strong>de</strong> projéteis.DISCUSSÃOO elevado número <strong>de</strong> perdas <strong>de</strong>scrito neste estudoevi<strong>de</strong>ncia a <strong>de</strong>ficiência no preenchimento do impresso<strong>de</strong> atendimento e resumo <strong>de</strong> alta, pois os códigosda Classificação Internacional <strong>de</strong> Doenças (CID)não correspondiam aos verda<strong>de</strong>iros diagnósticosdo atendimento, o que prejudica a qualida<strong>de</strong> dasinformações geradas pelo setor <strong>de</strong> estatística.O predomínio da população masculina nesses tipos <strong>de</strong>ocorrência era esperado, visto que, <strong>em</strong> vários estudos se-5, 16-21melhantes, houve maior envolvimento <strong>de</strong>sse sexo.No Brasil, <strong>em</strong> 2000, os homens tinham um risco 14 vezesmaior do que o das mulheres <strong>de</strong> morrer por PAF, 5 porémhouve significativo aumento na utilização <strong>de</strong> armas <strong>de</strong>5, 14, 16fogo no sexo f<strong>em</strong>inino.O envolvimento <strong>de</strong> jovens, evi<strong>de</strong>nciado neste estudo,v<strong>em</strong> ao encontro da literatura. Num hospital <strong>de</strong>Florianópolis, 72% das vítimas <strong>de</strong> FPAF encontravam-seentre 15 e 29 anos. 21 Em outro estudo, 22 constatou-seque 80% das vítimas <strong>de</strong> disparo <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo tinhamentre 10 e 39 anos, sendo que, neste estudo, 81,4% dasvítimas também estavam nesta mesma faixa etária. NoHU <strong>de</strong> Maringá-PR, a segunda década <strong>de</strong> vida (10-19anos) foi a mais frequente, com 30,3% dos atendimentospor FPAF, seguida pela terceira década, com 27,3%. 20O maior coeficiente <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por armas <strong>de</strong> fogoestá entre 20-29 anos (47,6), porém o maior incr<strong>em</strong>ento5, 14foi na faixa 15-19 (66,1%).Pelo exposto, torna-se clara a vitimização juvenil, pois,<strong>em</strong>bora os jovens represent<strong>em</strong> 20% da populaçãototal, estes estão envolvidos <strong>em</strong> mais da meta<strong>de</strong> doshomicídios como vítimas <strong>em</strong> um expressivo número d<strong>em</strong>unicípios populosos. Trata-se, pois, <strong>de</strong> área com sériosprobl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> exclusão juvenil. Dentre os municípioscom mais <strong>de</strong> 70 mil habitantes, Londrina é a oitava commaior taxa <strong>de</strong> vitimização juvenil no Brasil. 6Neste estudo, evi<strong>de</strong>nciou-se pouquíssimo envolvimento<strong>de</strong> idosos nos atendimentos, apenas 02,2%. SoaresFilho et al. 18 analisaram que a taxa <strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> por416 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011


homicídios também aumentou significativamentena faixa etária <strong>de</strong> 60 anos ou mais, a partir <strong>de</strong> 1999,atingindo valores acima <strong>de</strong> 20 por 100 mil <strong>em</strong> 2003. Issopo<strong>de</strong> estar relacionado com o aumento da expectativa<strong>de</strong> vida da população, expondo-a aos riscos por maist<strong>em</strong>po, somado aos maiores índices <strong>de</strong> violênciaevi<strong>de</strong>nciados atualmente.A predominância <strong>de</strong> solteiros apresentada neste estudopo<strong>de</strong> estar relacionada à ida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, pois a maioriadas vítimas é jov<strong>em</strong>, o que as leva a se aventurar<strong>em</strong> ese arriscar<strong>em</strong> mais, tornando-se uma população maisvulnerável às causas externas. No estudo realizadopor Mello Junior, 21 72,9% das vítimas <strong>de</strong> FPAF eramsolteiras.A gran<strong>de</strong> incidência <strong>de</strong> vítimas advindas <strong>de</strong> outrascida<strong>de</strong>s talvez se <strong>de</strong>va ao fato <strong>de</strong> o HURNP ser areferência <strong>em</strong> atendimento ao trauma <strong>de</strong> pacientes doSUS na região, consi<strong>de</strong>rando que as vítimas londrinensestêm outras opções <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, como o HospitalZona Norte, Hospital Zona Sul <strong>de</strong> atenção secundária, ea Santa Casa e o Hospital Evangélico <strong>de</strong> nível terciário,que também atend<strong>em</strong> a essa d<strong>em</strong>anda.Ressalve-se que as cida<strong>de</strong>s vizinhas citadas nesteestudo refer<strong>em</strong>-se a municípios com menos <strong>de</strong> 60 milhabitantes. Esses números apontam que a violência nãoé mais um probl<strong>em</strong>a restrito apenas à cida<strong>de</strong> gran<strong>de</strong>,tendo gran<strong>de</strong> significância <strong>em</strong> cida<strong>de</strong>s pequenas.Estudos apontam a diss<strong>em</strong>inação da violência para os6, 22,23municípios do interior.Em vários estudos, d<strong>em</strong>onstra-se que o álcool t<strong>em</strong> papelnotório como precursor da violência. 17, 24-25 Santos 17evi<strong>de</strong>nciou alta incidência <strong>de</strong> usuários <strong>de</strong> drogas ilícitase álcool entre as vítimas com ferimento por arma branca(FAB) e FPAF. Em seu estudo, no momento da ocorrência,50% das vítimas faziam uso <strong>de</strong> álcool e 17,5% <strong>de</strong> drogas,d<strong>em</strong>onstrando forte relação entre violência, álcool edrogas. Entretanto, nesta pesquisa não foi possívelfazer uma análise sobre essa variável, dada a falta <strong>de</strong>ssainformação na fonte consultada.Dentre os dados encontrados, constou que a maioriaocorreu no período da noite/madrugada, representando34,7% dos casos <strong>de</strong> FPAF, l<strong>em</strong>brando que faltou essedado <strong>em</strong> 52% dos prontuários. Em outro estudo 21d<strong>em</strong>onstrou-se que 67,9% das ocorrências com FPAFforam nesse mesmo período.O fim <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana concentrou a maior parte dasocorrências, sendo o domingo o dia mais inci<strong>de</strong>nte. Há<strong>de</strong> se observar que, como boa parte das ocorrênciasocorreu <strong>de</strong> madrugada e que a meia-noite é o limite dodia, então o fato <strong>de</strong> o domingo albergar o maior número<strong>de</strong> casos <strong>de</strong>ve-se às ocorrências da noite <strong>de</strong> sábado paradomingo.Outros autores afirmam que o fim <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana é omais inci<strong>de</strong>nte nesses eventos. 17,26 Dentre as causasexternas, também houve estudos <strong>em</strong> que foram obtidasocorrências mais inci<strong>de</strong>ntes no fim <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana 2, 19 e noperíodo noturno. 19 Esses achados pod<strong>em</strong> ser explicadospelo fato <strong>de</strong> que, na noite e no final <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana, há maiorconsumo <strong>de</strong> álcool como opção <strong>de</strong> lazer e aglomeração<strong>de</strong> pessoas, d<strong>em</strong>onstrando mais uma vez a relação entreálcool/lazer/violência.Entre os motivos <strong>de</strong>sse mecanismo <strong>de</strong> lesão, o assaltofoi apontado como o principal responsável, apesarda carência <strong>de</strong> informações dos prontuários <strong>de</strong>ssavariável. Oliveira 22 d<strong>em</strong>onstrou que o principal motivodos disparos <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo foi discussão seguida porvingança ou acerto <strong>de</strong> contas, e nos estudos <strong>de</strong> Santos 17o principal motivo <strong>de</strong> agressão por arma branca e porarma <strong>de</strong> fogo foi discussão banal, <strong>em</strong> 53% dos casos,seguida por assalto, com 23,5% das ocorrências.Nas variáveis relacionadas à ocorrência, ressalte-seo gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> prontuários s<strong>em</strong> informaçõesindicando que, para obter esses dados, seria necessárioexplorar outras fontes, assim como fizeram outros autores<strong>em</strong> trabalhos s<strong>em</strong>elhantes, utilizando o boletim <strong>de</strong>ocorrência, a <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> óbito 19, 24 17, 25e a entrevista.O SIATE é a referência <strong>em</strong> atendimento pré-hospitalarpara traumas <strong>em</strong> Londrina e região, e era esperado quefosse o maior responsável pelos transportes <strong>de</strong>ssasvítimas. No entanto, o HURNP aten<strong>de</strong> às d<strong>em</strong>andas <strong>de</strong>outras cida<strong>de</strong>s, até mesmo mediante transferências<strong>de</strong> pacientes, o que explica o consi<strong>de</strong>rável número <strong>de</strong>vítimas advindas das cida<strong>de</strong>s vizinhas.Na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina, o Serviço <strong>de</strong> Atendimento Móvel<strong>de</strong> Urgência (SAMU) aten<strong>de</strong> às intercorrências clínicas,porém, quando as ambulâncias do SIATE estão ocupadas,o SAMU respon<strong>de</strong> pelos traumas, por isso foi responsávelpor 7,1% dos transportes.O sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> atendimento pré-hospitalar é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>valia <strong>em</strong> um sist<strong>em</strong>a integrado <strong>de</strong> assistência, visto quea maioria dos óbitos <strong>de</strong>correntes <strong>de</strong> causas externasocorre no local do aci<strong>de</strong>nte e na primeira hora apóso trauma. Quanto mais pronto e efetivo for<strong>em</strong> osatendimentos iniciais, menores serão os índices finais<strong>de</strong> morbimortalida<strong>de</strong>. 27Das 98 vítimas, sabe-se que 55 (56,1%) vieram aoHURNP via SAMU ou SIATE, no entanto, há apenasregistro <strong>de</strong> procedimentos realizados no ambientepré-hospitalar <strong>em</strong> 44,9% (44) dos prontuários, sendoque <strong>em</strong> 11,2% (11) prontuários não havia o relatório <strong>de</strong>atendimento do socorrista (RAS), o qual constitui a fonte<strong>de</strong> informação do atendimento pré-hospitalar. Foramconsi<strong>de</strong>rados procedimentos realizados aqueles queestavam <strong>de</strong>vidamente registrados, seja no relatório <strong>de</strong>atendimento do socorrista, seja na ficha <strong>de</strong> atendimentodo hospital, seja na anotação <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.No ambiente pré-hospitalar, o procedimento queprevaleceu foi o curativo, sendo este justificado pelomecanismo da lesão, s<strong>em</strong>pre havendo solução <strong>de</strong>continuida<strong>de</strong>, exigindo uma oclusão como prevenção<strong>de</strong> infecção. O curativo valvulado no tórax tambémestá cont<strong>em</strong>plado, sendo esse procedimento o primeirotratamento para pneumotórax aberto, visto que otórax foi uma região muito acometida. A imobilizaçãocom tábua rígida como segundo procedimento maisr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011417


Ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo: um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Públicarealizado v<strong>em</strong> ao encontro do protocolo <strong>de</strong> atendimentoao trauma utilizado pelos serviços. Curiosamente, aimobilização cervical não representa o mesmo número,tendo como hipóteses a ausência do registro ou,realmente, não foram realizados conjuntamente, dadoo mecanismo da lesão.No âmbito intra-hospitalar, havia o registro <strong>de</strong> 76,5%(75) <strong>de</strong> pacientes que sofreram alguma intervenção. Oprocedimento mais realizado foi a reposição volêmica,como mostra a TAB. 3. Em estudo realizado por Fagun<strong>de</strong>s, 20evi<strong>de</strong>nciou-se que a complicação mais inci<strong>de</strong>nte nasvítimas <strong>de</strong> FAB e FPAF foi a hipovol<strong>em</strong>ia, d<strong>em</strong>onstrando-se<strong>de</strong>ssa maneira, a atenção especial que se <strong>de</strong>ve ao sist<strong>em</strong>acirculatório no tratamento ao trauma.Em seguida, a oxigenoterapia e a SVD aparec<strong>em</strong> como osprocedimentos mais frequentes. Os dois procedimentosestão inseridos no protocolo <strong>de</strong> atendimento ao trauma,sendo o primeiro utilizado, principalmente, nos quetiveram lesões no tórax, que representou gran<strong>de</strong> partedas regiões alvejadas pelos projéteis <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo,e o segundo foi utilizado tanto <strong>em</strong> preparos cirúrgicoscomo para controle do volume <strong>de</strong> diurese nos casosmais graves.Os procedimentos realizados e registrados foramcondizentes com o protocolo <strong>de</strong> Suporte Avançado <strong>de</strong> Vidano Trauma (ATLS), o qual visa ao atendimento <strong>de</strong> pacientesvítimas <strong>de</strong> trauma com a utilização <strong>de</strong> procedimentospadronizados mediante abordag<strong>em</strong> ABCDE. No entanto,dado o número <strong>de</strong> vítimas, <strong>de</strong> lesões e <strong>de</strong> regiõescorporais afetadas, como mostra a TAB. 4, consi<strong>de</strong>ra-sebaixa a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> procedimentos realizados, fato esteque po<strong>de</strong> se explicar pela carência <strong>de</strong> informações nosprontuários, sendo uma constante nesta pesquisa.Não se po<strong>de</strong> esquecer <strong>de</strong> que n<strong>em</strong> todas as vítimasreceberam APH, pois vieram por procura direta ouencaminhadas <strong>de</strong> outras cida<strong>de</strong>s, com atendimentoprévio no hospital <strong>de</strong> pequeno porte da cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>,o que justifica a ausência <strong>de</strong> informações referentes aoAPH. No entanto, já se expôs que o número <strong>de</strong> prontuárioscom essas informações é menor <strong>em</strong> relação ao <strong>de</strong> vítimasque receberam APH pelo SIATE e SAMU.A maioria das vítimas teve lesão única, sugerindo queo principal motivo das ocorrências não foi tentativa<strong>de</strong> homicídio, e, sim, conflitos interpessoais, assaltos eabuso <strong>de</strong> drogas ou álcool. No Hospital Florianópolis,gran<strong>de</strong> parte das vítimas <strong>de</strong> FPAF também sofreuferimento único (77,1%). 21 Observa-se, ainda, que 11vítimas foram alvejadas com mais <strong>de</strong> três projéteis,d<strong>em</strong>onstrando a clara intenção <strong>de</strong> homicídio nessescasos. D<strong>em</strong>onstrou-se, então, que a média <strong>de</strong> projéteis<strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo por vítima foi <strong>de</strong> 1,9, achado um poucomenor do que no Estado <strong>de</strong> São Paulo, <strong>em</strong> 2001, on<strong>de</strong> amédia <strong>de</strong> projéteis por vítima <strong>de</strong> homicídio foi <strong>de</strong> 2,3, 24visto que foram estudados apenas os óbitos. Já nesteestudo, apontou-se principalmente a morbida<strong>de</strong>.Houve gran<strong>de</strong> prevalência <strong>de</strong> lesões <strong>em</strong> extr<strong>em</strong>ida<strong>de</strong>scomo os MMSSs e MMII, as quais, somadas, ating<strong>em</strong>uma proporção <strong>de</strong> 64,2%, o que po<strong>de</strong> explicar o gran<strong>de</strong>número <strong>de</strong> atendimentos e <strong>de</strong> internações curtas, vistoque tais regiões não abrigam órgãos consi<strong>de</strong>rados nobrese, consequent<strong>em</strong>ente, não provocam lesões graves namaioria das vezes. Os MMII como a região mais acometidaainda nos permite concluir que os disparos efetuadosnessas regiões, evi<strong>de</strong>nciam que não houve a intenção<strong>de</strong> homicídio, e, sim, <strong>de</strong> punição ou, ainda, para evitarfuga. O tórax, porém, aparece como a segunda regiãomais acometida, sendo esse o local <strong>de</strong> órgãos vitais comocoração e pulmões, explicando, também, o consi<strong>de</strong>rávelnúmero <strong>de</strong> internações prolongadas e <strong>de</strong> óbitos.Mello Junior 21 também obteve os MMII como a regiãomais atingida, <strong>em</strong> 38,8% das vítimas, seguido <strong>de</strong> abdomee do MMSS. Outros autores 17, 20 <strong>de</strong>tectaram que a regiãocorporal mais atingida entre as vítimas <strong>de</strong> FPAF foi oabdome, seguido da transição toracoabdominal e tórax.As lesões provocadas por arma <strong>de</strong> fogo têm gran<strong>de</strong>potencial <strong>de</strong> levar ao óbito, porém, quando isso nãoocorre, é porque não atingiram, <strong>em</strong> sua maioria, regiõesconsi<strong>de</strong>radas nobres, como cabeça e tórax, o que explicaos atendimentos nos hospitais com a maior partedos ferimentos nos MMII 21 e abdome. 17, 20 Dentre oshomicídios cometidos por arma <strong>de</strong> fogo <strong>em</strong> São Paulo,a cabeça foi o local anatômico mais frequent<strong>em</strong>enteatingido, seguindo-se a região dorsal e o tórax. 24Corroborando com este estudo, Mello Junior 21 relacionouque a maioria (70,1%) das vítimas <strong>de</strong> FPAF atendidasnum serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> Florianópolis foi liberada s<strong>em</strong>necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internação e, entre os internados, obteveuma média <strong>de</strong> 9,45 dias <strong>de</strong> internação, num intervalo <strong>de</strong>1 a 75 dias. Fagun<strong>de</strong>s 20 obteve uma média <strong>de</strong> 13 dias <strong>de</strong>internação, variando <strong>de</strong> 1 a 58 dias. Esses achados forammaiores <strong>em</strong> relação à média <strong>de</strong> internação evi<strong>de</strong>nciadanesta pesquisa, que foi <strong>de</strong> 8,6 dias, num intervalo <strong>de</strong>1 a 74 dias, po<strong>de</strong>ndo ser explicado pela diferença dasprincipais regiões acometidas <strong>em</strong> cada pesquisa.As internações por lesões <strong>de</strong>vidas a armas <strong>de</strong> fogo sãomuito expressivas, tendo tido um crescimento <strong>de</strong> 95%do início para o final da década <strong>de</strong> 1990. 13 No Brasil,<strong>de</strong>ntre as agressões que levaram à internação hospitalar,as armas <strong>de</strong> fogo representaram 33,2% <strong>de</strong> todas ashospitalizações. 14Houve, ainda, consi<strong>de</strong>rável proporção (13,3%) <strong>de</strong>pacientes admitidos <strong>em</strong> UTI nesta pesquisa, fatotambém d<strong>em</strong>onstrado <strong>em</strong> estudos s<strong>em</strong>elhantes, <strong>em</strong>que 21,4 % 21 e 30% 28 das vitimas <strong>de</strong> FPAF necessitaram<strong>de</strong> internamento nesta unida<strong>de</strong>, d<strong>em</strong>onstrando maisuma vez a gravida<strong>de</strong> das lesões provocadas.O importante número <strong>de</strong> vítimas que necessitaram <strong>de</strong>intervenção cirúrgica nesse mecanismo <strong>de</strong> trauma v<strong>em</strong>ao encontro <strong>de</strong> outros achados da literatura, os quaisevi<strong>de</strong>nciaram que 71,8% das vítimas com FPAF foramsubmetidas a cirurgia, 21 sendo a laparotomia a mais17, 20,21frequente.Apesar <strong>de</strong> haver poucas incapacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>scritas nesteestudo, diante do exposto, t<strong>em</strong>-se a clareza <strong>de</strong> que aslesões provocadas por arma <strong>de</strong> fogo são graves, o que418 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011


gera um custo maior não apenas para o serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,mas também para a socieda<strong>de</strong> e indivíduo.Em estudos s<strong>em</strong>elhantes, houve, relativamente, baixaproporção <strong>de</strong> óbitos entre as vítimas com FPAF – 3% 20e 2,1%. 21 Nessa ocasião, porém, evi<strong>de</strong>nciou-se maiorproporção <strong>de</strong> óbitos, representando 8,2% das vítimas.O que po<strong>de</strong> ter <strong>de</strong>terminado esse resultado é o tóraxcomo a segunda região corporal mais acometida, comojá exposto, e também a média <strong>de</strong> projéteis <strong>em</strong> cadavítima, que foi <strong>de</strong> 1,9.Segundo Grawszinsk, 29 entre as agressões, sendo68,3% <strong>de</strong>stas cometidas por arma <strong>de</strong> fogo, a taxa d<strong>em</strong>ortalida<strong>de</strong> hospitalar (TMH) é <strong>de</strong> 5,4 óbitos por 100internações, ten<strong>de</strong>ndo a aumentar com a ida<strong>de</strong>.Os FPAFs são os gran<strong>de</strong>s responsáveis pelas mortes, porcausa da agressão. 5-6, 24 Pesquisas d<strong>em</strong>onstraram as armas<strong>de</strong> fogo como causa das vítimas fatais entre os eventosestudados. 19, 27 Sabe-se que os homicídios utilizandoarmas <strong>de</strong> fogo, na sua maioria, são os principais5-6, 14, 24responsáveis pelas mortes por causas externas.Foram a óbito apenas oito pacientes, provavelmenteporque a maioria dos ferimentos graves provocados porarma <strong>de</strong> fogo acaba matando a vítima antes que estapossa receber atendimento, pois atinge, <strong>em</strong> sua maioria,órgãos nobres, como já exposto, entre os homicídios. 24Destaque-se que três pacientes (3,7%) evadiram-se dohospital, apontando para o fato <strong>de</strong> que, geralmente,as vítimas são pessoas envolvidas na criminalida<strong>de</strong>,havendo pendências com a lei ou mesmo com o crime,sendo a evasão uma alternativa <strong>de</strong> escapar da suasentença, seja ela qual for.CONSIDERAÇÕES FINAISUma das limitações <strong>de</strong>sta pesquisa foi trabalhar comdados secundários, sendo que muitas das informaçõespretendidas não pu<strong>de</strong>ram ser <strong>completa</strong>mente obtidas,por não constar<strong>em</strong> nos documentos analisados.As armas <strong>de</strong> fogo têm gran<strong>de</strong> importância epid<strong>em</strong>iológica,constituindo-se instrumentos largamente utilizadospara a prática da violência, um ônus significativo paraa população. Diminuir sua morbimortalida<strong>de</strong> é um dosprincipais <strong>de</strong>safios para a saú<strong>de</strong> pública.Com base <strong>em</strong> algumas variáveis, como número <strong>de</strong>vítimas, necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internação <strong>em</strong> UTI e cirurgias,procedimentos realizados no atendimento pré- e intrahospitalar,incapacida<strong>de</strong>s e óbitos provocados, b<strong>em</strong>como o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> permanência no hospital, tornasepossível concluir que a vítima <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo émuito onerosa para o setor Saú<strong>de</strong> e para a socieda<strong>de</strong>.Isso nos leva a refletir sobre o papel que as armas <strong>de</strong>fogo exerc<strong>em</strong> no cenário da violência <strong>em</strong> Londrina eregião.Sendo esses eventos passíveis <strong>de</strong> prevenção medianteações promocionais <strong>em</strong> saú<strong>de</strong>, tanto educativascomo <strong>de</strong> prevenção, suger<strong>em</strong>-se intervenções nessecampo. O primeiro passo é conhecer a magnitu<strong>de</strong> e adistribuição do probl<strong>em</strong>a, i<strong>de</strong>ntificando fatores <strong>de</strong> riscopara guiar o processo <strong>de</strong> planejamento e implantaçãodas ações.Dessa forma, com a intenção <strong>de</strong> contribuir para acompreensão do perfil epid<strong>em</strong>iológico local <strong>de</strong>ssesagravos, neste estudo evi<strong>de</strong>nciou-se que o perfildas vítimas <strong>de</strong> FPAF atendidas no HURNP <strong>em</strong> 2007caracteriza-se por ser<strong>em</strong> jovens, solteiros e do sexomasculino. As ocorrências foram, principalmente, nacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Londrina, nos fins <strong>de</strong> s<strong>em</strong>ana e durante anoite, sendo os assaltos a principal causa <strong>de</strong>ntre ospouquíssimos dados encontrados nesta variável.A maior parte das vítimas encontrava-se sóbria e chegouao HURNP via SIATE, recebendo no APH, principalmente,procedimentos como curativo e imobilização comtábua rígida. Quando chegaram ao HURNP, a reposiçãovolêmica foi o procedimento mais frequente seguidopor oxigenoterapia e SVD. A maior parte das lesõescaracterizou-se por ferimento único <strong>em</strong> região <strong>de</strong>MMII, provocando incapacida<strong>de</strong>s e levando pacientesao óbito, além <strong>de</strong> causar internações prolongadas comnecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> internação <strong>em</strong> UTI.Com este estudo não se finda a t<strong>em</strong>ática, havendonecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> novos levantamentos e discussões paramelhor compreensão <strong>de</strong>sses eventos, b<strong>em</strong> como <strong>de</strong>seus fatores <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>antes, qu<strong>em</strong> mais atinge e suasconsequências, conduzindo, assim, o planejamento <strong>de</strong>ações para prevenir e minimizar o probl<strong>em</strong>a <strong>em</strong> questãocom intervenções que vão além da esfera da saú<strong>de</strong>.Vale l<strong>em</strong>brar que a principal intervenção para combateragravos <strong>de</strong>ssa natureza é a prevenção. Portanto, açõesque vão <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a conscientização dos riscos <strong>de</strong> portar umaarma <strong>de</strong> fogo até a garantia dos direitos constitucionaisa todos, principalmente o acesso à educação, constitu<strong>em</strong>passos para combater o probl<strong>em</strong>a.REFERÊNCIAS1. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia e Estatística, 2008. [Citado 2008 abr. 15]. Disponível <strong>em</strong> .2. Violência: prevenção e controle no Brasil [editorial]. Epid<strong>em</strong>iol Serv Saú<strong>de</strong>. 2007 mar; 16(1): 5-6.3. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>. Departamento <strong>de</strong> Analise <strong>de</strong> Situação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Coor<strong>de</strong>nação-Geral <strong>de</strong>Vigilância <strong>de</strong> Agravos e Doenças Não Transmissíveis. Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Vigilância, Prevenção e Controle <strong>de</strong> Violências e Aci<strong>de</strong>ntes. NOTA TÉCNICANº CDDANT/DASIS/SVS/MS. Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação <strong>de</strong> Vigilância <strong>de</strong> Violências e Aci<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> Serviços Sentinela – VIVA (Notificação/InvestigaçãoIndividual <strong>de</strong> Violência Doméstica, Sexual e/ou outras Violências; e Notificação <strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes e Violências <strong>em</strong> Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Urgência e Emergência).Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>; 2006. [Citado 2008 abr. 15]. Disponível <strong>em</strong>: .r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 412-420, jul./set., 2011419


Ferimento por projétil <strong>de</strong> arma <strong>de</strong> fogo: um probl<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública4. Organização Mundial da Saú<strong>de</strong>. Classificação Estatística Internacional <strong>de</strong> Doenças e Probl<strong>em</strong>as Relacionados à Saú<strong>de</strong> - CID-10. 10ª ed. rev.São Paulo: Edusp; 2003.5. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Mortalida<strong>de</strong> por armas <strong>de</strong> fogo no Brasil: 1991-2000. Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>; 2004. [Citado 2008 abr. 15].Disponível <strong>em</strong>: .6. Waiselfisz JJ. Mapa da violência dos municípios brasileiros. Brasília (DF): Ritla; 2008.7. Fagan JA. Social contagion of violence: work in progress presented at the Fortunoff Colloquium. New York: New York University; 1999.8. Reiss AJ, Roth J. Firearms and violence. In: ––––––. Un<strong>de</strong>rstanding and preventing violence. 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Secretaria <strong>de</strong> Vigilância <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>. Departamento <strong>de</strong> Análise <strong>de</strong> Situação <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. Impacto da violência nasaú<strong>de</strong> dos brasileiros. Brasília: Ministério da Saú<strong>de</strong>; 2005. 340p15. Lima LP, Singer JM, Saldiva PHN. Spatial analysis of urban violence based on <strong>em</strong>ergency room data. Rev Saú<strong>de</strong> Pública. 2008; 42(4):648-55.16. Peres MFT, Santos PC. Mortalida<strong>de</strong> por homicídios no Brasil na década <strong>de</strong> 90: o papel das armas <strong>de</strong> fogo. Rev Saú<strong>de</strong> Pública. 2005; 39(1):58-66.17. Santos ZMSA, Farias FLR, Vieira LJES, Nascimento SCO, Albuquerque VLM. Agressão por arma branca e arma <strong>de</strong> fogo interligada ao consumo<strong>de</strong> drogas. Texto & Contexto Enferm. 2004 abr/jun; 13(2):226-32.18. 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O VALOR ÚTIL NO ENSINO DA ENFERMAGEMNURSING EDUCATION AND SCHELER’S UTILITY VALUES CONCEPTEL VALOR UTIL EN LA ENSEÑANZA DE ENFERMERÍAGilberto <strong>de</strong> Lima Guimarães 1Ligia <strong>de</strong> Oliveira Viana 2RESUMOEste artigo é balizado na Teoria <strong>de</strong> Valor. A enfermag<strong>em</strong> possui um conjunto <strong>de</strong> valores do qual se nutre para elaboraruma escala. O objetivo com esta pesquisa foi compreen<strong>de</strong>r o valor útil no ato <strong>de</strong> educar do enfermeiro-docente ediscuti-lo à luz dos pressupostos <strong>de</strong> Max Scheler. A metodologia é qualitativa, centrada no enfoque fenomenológico.Participaram do estudo sete enfermeiros docentes <strong>de</strong> três instituições <strong>de</strong> ensino superior <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, localizadasna cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. O período <strong>de</strong> realização foi <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 a junho <strong>de</strong> 2008. Os dados foram obtidospor meio <strong>de</strong> entrevista e o valor útil <strong>em</strong>ergiu no discurso do enfermeiro docente no ato <strong>de</strong> educar. Foi por meio doato <strong>de</strong> educar que o enfermeiro apresentou o valor útil ao educando, ratificando-o como instituinte para a práxisassistencial da enfermag<strong>em</strong>.Palavras-Chave: Enfermag<strong>em</strong>; Educação; Cultura.ABSTRACTThis article is based on Max Scheler’s Theory of Values and its objective is to un<strong>de</strong>rstand the utility value imbued onthe act of instructing of a nurse educator and to discuss it in the light of Scheler’s postulations: nursing holds a setof values that forms the basis for the elaboration of a scale of values. The qualitative methodology was used with aphenomenological approach. The participants were seven nurses of three higher education institutions located inthe city of Rio <strong>de</strong> Janeiro. The research was conducted from August 2007 to June 2008. Data were collected throughinterviews and the utility value that <strong>em</strong>erged from the nurse educator’s discourse <strong>de</strong>rived from the act of instructing.The results indicated that it was through the process of education that the nurse educator presented to the stu<strong>de</strong>ntthe utility values concept acknowledging it as the nursing care praxis instituting factor.Key word: Nursing; Education; Culture.RESUMENEl presente artículo se basa en la Teoría <strong>de</strong> Valor. La enfermería tiene un conjunto <strong>de</strong> valores que utiliza para elaboraruna escala. Su objetivo fue compren<strong>de</strong>r el valor útil en el acto <strong>de</strong> educar al enfermero-docente y discutirlo a la luz <strong>de</strong> lospresupuestos <strong>de</strong> Max Scheler. Se llevó a cabo según la metodología cualitativa, centrada en el enfoque fenomenológico.Participaron siete enfermeros profesores <strong>de</strong> instituciones <strong>de</strong> enseñanza superior <strong>de</strong> enfermería <strong>de</strong> la ciudad <strong>de</strong> Río <strong>de</strong>Janeiro. El estudio fue realizado <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 a junio <strong>de</strong> 2008. Los datos fueron recogidos mediante entrevistas yel valor útil surgió en el discurso <strong>de</strong>l enfermero docente en el acto <strong>de</strong> educar. Por medio <strong>de</strong>l acto <strong>de</strong> educar al enfermeroles presentó el valor útil a los alumnos, ratificándolo como instituyente para la práctica asistencial <strong>de</strong> enfermería.Palabras clave: Enfermería; Educación; Cultura.1Doutor <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professor adjunto do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Básica da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais(EE<strong>UFMG</strong>). Belo Horizonte-MG, Brasil. M<strong>em</strong>bro do Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa <strong>em</strong> Educação, Saú<strong>de</strong> e Enfermag<strong>em</strong> da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Anna Nery (EEAN) daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro (UFRJ). E-mail: drgilberto.guimaraes@hotmail.com.2Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professora titular do Departamento <strong>de</strong> Metodologia da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Anna Nery da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio <strong>de</strong> Janeiro.Rio <strong>de</strong> Janeiro, Brasil. M<strong>em</strong>bro do Núcleo <strong>de</strong> Pesquisa <strong>em</strong> Educação, Saú<strong>de</strong> e Enfermag<strong>em</strong>. EEAN-UFRJ. E-mail: ligiaviana@bol.com.br.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Itajubá nº 2055, Apto. 302, Sagrada Família, Belo Horizonte-MG, Brasil. CEP:31035-540r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 421-426, jul./set., 2011421


O valor útil no ensino da Enfermag<strong>em</strong>INTRODUÇÃOA enfermag<strong>em</strong> é uma prática científica e social, portanto,dotada <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> conhecimento teórico-prático quelhe confere <strong>de</strong>staque. Como prática científica, exerce suaação na área da saú<strong>de</strong>, tendo o seu objeto <strong>de</strong> interesseradicado no cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> 1 e vale-se <strong>de</strong>lepara prover, no encontro dialógico com o seu cliente/comunida<strong>de</strong>, as condições <strong>de</strong> promoção, prevenção ereparação da saú<strong>de</strong>. Como prática social, possui valoresque lhe conced<strong>em</strong> sentido e significado. Esses valoresformam um axiograma (escala hierarquizada) da profissão,que é a sua auto<strong>de</strong>claração valorativa pela qual se pautapara nortear e justificar suas ações, expressando o queela é e como age. Os valores que fundam esse axiogramaforam i<strong>de</strong>ntificados pelos pesquisadores nos escritos<strong>de</strong> Notas sobre a Enfermag<strong>em</strong>, <strong>de</strong> Florence Nightingale,formando uma amálgama, a saber: o valor social, o valorético, o valor útil e o valor verda<strong>de</strong>.Inserido na socieda<strong>de</strong>, o educando traz para o cenário<strong>de</strong> seu aprendizado os valores que foram ali adquiridose que passam a fazer parte <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>.Esses valores formam o axiograma assumido porele e revelam o que ele é, como age e expressa suacosmovisão. Dessa maneira, ao buscar a qualificaçãoprofissional na enfermag<strong>em</strong>, o educando mediante aintermediação docente no ato pedagógico-assistencial,indubitavelmente, confrontará seu axiograma como axiograma da enfermag<strong>em</strong>, discutindo-o e rehierarquizando-o,consoante o exercício <strong>de</strong> sua voliçãoe, nesse confronto, po<strong>de</strong>rá retificar ou ratificar suaatitu<strong>de</strong>. 1-3De tal modo, com este estudo teve-se como objetivocompreen<strong>de</strong>r no ato <strong>de</strong> educar do enfermeiro docenteo valor útil e discuti-lo à luz dos pressupostos <strong>de</strong> MaxScheler. 4Dado o <strong>de</strong>sgaste obtido pela palavra “valor” ao longodo t<strong>em</strong>po, faz-se necessário, a fim <strong>de</strong> dirimir qualquerdúvida, conceituá-lo. Assume-se o conceito do valorcomo aquilo que vale para o hom<strong>em</strong>, sendo capaz<strong>de</strong> suprir uma carência e promover seu crescimento e<strong>de</strong>senvolvimento como pessoa. 3A justificativa foi centrada na nossa reflexão, comodocentes, sobre a prática pedogógica-assistencial comos discentes, que valores estamos apresentando aosdiscentes e se estes faziam parte do campo axiológicoque fundava a profissão. Adotamos a perspectivasheleriana para a busca da compreensão valorativa,pois compartilhamos a visão <strong>de</strong> que os valores sãoapreendidos pelo sentimento, e não pela razão. 4REFERENCIAL TEÓRICOA fenomenologia <strong>de</strong> Max Scheler, tendo sua inspiração<strong>em</strong> Husserl, é, antes <strong>de</strong> tudo, uma filosofia dos valores.Sua pretensão foi construir uma ética <strong>em</strong> base <strong>de</strong> dadosobjetivos e rigorosos <strong>de</strong> <strong>em</strong> que surgisse uma axiologia<strong>de</strong> fundamentos absolutos opondo-se, <strong>de</strong> forma radical,ao racionalismo axiológico. 5Assim, a verda<strong>de</strong>ira filosofia <strong>de</strong>ve admitir uma formacompl<strong>em</strong>entar <strong>de</strong> participação na essência das coisascom base na via <strong>em</strong>ocional, que passa a constituir umel<strong>em</strong>ento capaz <strong>de</strong> produzir o conhecimento do ser. Aoproce<strong>de</strong>r à reflexão sobre o agir humano, ele percebeuque havia um tipo <strong>de</strong> conhecimento cujos objetos eraminteiramente inacessíveis à razão: o conhecimento dosvalores. 4Os valores são revelados por meio da intuição <strong>em</strong>ocional.Agindo assim, rejeita-se a distinção entre o conhecimentosensitivo e o racional, elevando o <strong>em</strong>ocional ao nível doracional, b<strong>em</strong> como admite-se um mundo <strong>de</strong> experiênciascujos objetos são inacessíveis ao entendimento e quesó o <strong>em</strong>ocional coloca o hom<strong>em</strong> autenticamente diante<strong>de</strong>sse mundo. Assim, o conhecimento do valor se dá apriori. 4Ao estabelecer a base <strong>de</strong> fundamentação <strong>de</strong> sua filosofiacom base na intuição <strong>em</strong>ocional, ele faz uma críticaà concepção ética advinda do formalismo kantiano epropõe uma nova fundamentação. 4Dessa maneira, o mundo dos valores passa a gozar <strong>de</strong>valida<strong>de</strong> in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do sujeito, constituindoum mundo <strong>em</strong> si, cujos valores se escond<strong>em</strong> por trás dosentimento do valor, como dado objetivo e material. 4O valor útilO valor útil é o que favorece a vida, não a vida <strong>em</strong>geral, mas a vida humana. A vida no hom<strong>em</strong> não éin<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte da humanida<strong>de</strong>. O hom<strong>em</strong> é espírito, aomesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que é vida. 4Po<strong>de</strong>-se visualizar nas mais diversas civilizações, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>aquelas que possu<strong>em</strong> forte apego tecnológico, comoaquelas <strong>de</strong> menor conhecimento científico, que todasjulgam, raciocinam, transformam, organizam e legislam,d<strong>em</strong>onstrando que a utilida<strong>de</strong> e a espiritualida<strong>de</strong> sãocompl<strong>em</strong>entares. 3Assim, para o animal, o valor da utilida<strong>de</strong> equivale aovalor vital; para o hom<strong>em</strong>, não. Embora nas primeirasetapas do <strong>de</strong>senvolvimento da vida, na criança, o naturalse sobreponha ao artificial, no adulto e especialmente noaculturado, o artificial prevalece sobre o natural. 3O útil po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um valor espiritual por nãoestar orientado apenas para a conservação da vida, maspara o <strong>de</strong>senvolvimento espiritual do indivíduo. Mostranão a submissão do espírito à vida, mas a afirmação <strong>de</strong>uma organização da vida pelo espírito. 4Postas tais consi<strong>de</strong>rações, faz-se necessário conhecermosa posição scheleriana diante da sociedad<strong>em</strong>o<strong>de</strong>rna quanto ao <strong>em</strong>prego do valor útil, a fim <strong>de</strong>compreen<strong>de</strong>rmos a organização da vida pelo espírito.A crítica scheleriana à socieda<strong>de</strong> capitalista mo<strong>de</strong>rna é <strong>de</strong>que esta, com a influência burguesa, t<strong>em</strong> <strong>em</strong>preendidoesforço <strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolver com as pessoas uma escalahierárquica <strong>de</strong> valores, cujo valor útil t<strong>em</strong> sido colocadono topo. Ele realiza sua con<strong>de</strong>nação a essa inversãodos valores do ethos burguês, que consiste colocar no422 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 421-426, jul./set., 2011


topo da hierarquia axiológica precisamente os valoressensíveis e materiais, que <strong>de</strong>veriam ocupar o nível maisbaixo. Basta-lhes reor<strong>de</strong>nar <strong>de</strong>vidamente essa hierarquia,atribuindo aos valores do espírito a primazia que lhescompete por direito, para eliminar qualquer sentidonegativo do progresso tecnológico e da civilizaçãomo<strong>de</strong>rna industrial. 4Assim, a técnica e a indústria <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser recolocadasno seu justo lugar, pois é um suporte importantee até indispensável para o <strong>de</strong>senvolvimento doespírito e da cultura. Nesse sentido, a civilizaçãomo<strong>de</strong>rna produzida pelo capitalismo encontra<strong>em</strong> seu pensamento sua justificativa e um sentidoabsolutamente positivo. O que ele critica e con<strong>de</strong>naé a inversão <strong>de</strong> valores do ethos burguês, não o queeste produziu concretamente <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> progressotecnológico e industrial. Tanto assim que coloca comoprincípio ético e inquestionável que tudo o que po<strong>de</strong>ser mecanizável <strong>de</strong>verá sê-lo. 4Assim, <strong>em</strong> outra perspectiva, o trabalho e o progressotecnológico, como forma <strong>de</strong> expressão do valor útil,encontram uma fundamentação filosófica comocriadores <strong>de</strong> mecanismos que liberam o hom<strong>em</strong> para astarefas específicas do espírito, como a filosofia, a arte, areligião, isto é, <strong>em</strong> ações produtoras da cultura. 4Dessa maneira, as vantagens e benefícios da civilizaçãotecnológica <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> apenas da sua correta orientaçãoe compreensão, à medida que a transformação, odomínio e o controle da natureza externa for<strong>em</strong>colocados a serviço da vida interior do espírito, e nãoapenas dos interesses da organização psicofísica dohom<strong>em</strong>. 4 Logo, é correto afirmar que a saú<strong>de</strong> é útil,porque facilita a obtenção do valor espiritual.Outro aspecto importante na axiologia scheleriana e,portanto, inovador, é a aparição do valor útil na práxishumana com sentido ecológico. Seu pensamento partedo princípio <strong>de</strong> que é necessário expurgar da pessoahumana a i<strong>de</strong>ia segundo a qual a atitu<strong>de</strong> do hom<strong>em</strong><strong>em</strong> relação à natureza <strong>de</strong>veria ter por único móbil o<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> dominá-la, controlá-la e guiá-la. Essa a i<strong>de</strong>ia,<strong>de</strong> orig<strong>em</strong> judaica, apesar <strong>de</strong> todos os movimentos <strong>de</strong>reação e <strong>de</strong> infenso representados pelo cristianismoprimitivo, fazendo com que se erigisse no mundooci<strong>de</strong>ntal do mecanicismo da natureza como verda<strong>de</strong>absoluta. Assim, Scheler <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> a tese <strong>de</strong> que aformação do hom<strong>em</strong> e da sua vida afetiva <strong>de</strong>ve prece<strong>de</strong>rqualquer atitu<strong>de</strong> especializada <strong>em</strong> relação à natureza,favorecendo com que esta não seja vista como umadversário a ser dominado. 6Ad<strong>em</strong>ais, afirma o autor que se <strong>de</strong>ve aplicar, <strong>em</strong> primeirolugar, do ponto <strong>de</strong> vista pedagógico, o estímulo, paraque seja novamente o <strong>de</strong>senvolvida a fusão cosmovital,<strong>de</strong>spertando do estado <strong>de</strong> letargia <strong>em</strong> que se encontrao hom<strong>em</strong> oci<strong>de</strong>ntal. Penetrado pelo espírito capitalista,este só aceita como única concepção possível do mundoaquela segundo a qual a natureza representaria apenasum conjunto <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>s susceptíveis <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>colocadas <strong>em</strong> movimento. 6METODOLOGIAEsta pesquisa é <strong>de</strong> natureza qualitativa, com enfoquefenomenológico. 7 Os cenários foram três instituições<strong>de</strong> ensino superior <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> localizadas nacida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro. Participaram do estudo seteenfermeiros docentes. A seleção dos sujeitos obe<strong>de</strong>ceuao critério aleatório. O coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> curso/direção, nodia <strong>em</strong> que comparecíamos à instituição, apresentavanosaos docentes ali presentes. Após esse primeirocontato e certificados <strong>de</strong> que estavam atuando <strong>em</strong>disciplinas na graduação, agendávamos a entrevista.Os enfermeiros docentes foram i<strong>de</strong>ntificados no textopela letra E, acrescida <strong>de</strong> números arábicos dispostos<strong>de</strong> 1 a 7. Possuíam ida<strong>de</strong> média <strong>de</strong> 42 anos; seis eramdo sexo f<strong>em</strong>inino e um do sexo masculino. O t<strong>em</strong>pomédio <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> docente foi <strong>de</strong> sessenta meses. Oestudo foi realizado no período <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 2007 ajunho <strong>de</strong> 2008.A técnica <strong>em</strong>pregada foi a entrevista fenomenológicaque possui peculiarida<strong>de</strong>s que precisaram serconsi<strong>de</strong>radas, a fim <strong>de</strong> que houvesse o rigor necessáriopara sua utilização. 8,9 Assim, exigiu-se do pesquisadora percepção no sentido <strong>de</strong>: ver e observar, <strong>de</strong>sprovidodos preconceitos, mantendo-se <strong>em</strong> uma relação<strong>em</strong>pática, caracterizada por um estado <strong>de</strong> aproximação,valorizando e respeitando cada um; interpretarcompreensivamente a linguag<strong>em</strong> do entrevistado esua significação, apoiando-se <strong>em</strong> uma escuta ativa,mantendo-se receptivo; evitar julgamentos quepu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> interferir na narrativa dos entrevistados. Aquestão norteadora elaborada foi: “Como você realiza oato <strong>de</strong> educar diante do acadêmico <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>?” Asentrevistas foram gravadas <strong>em</strong> fitas magnéticas.Os dados sofreram a análise compreensiva e, paratanto, inicialmente, realizamos a transcrição integraldas entrevistas gravadas, a fim <strong>de</strong> construir o texto.Esta leitura foi repetida inúmeras vezes, até que foss<strong>em</strong>i<strong>de</strong>ntificadas as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> significação, revelandoo caráter <strong>de</strong>finitivo das falas dos entrevistados. 8,9As entrevistas apresentaram quatro unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>significação. Neste artigo, <strong>de</strong>stacou-se a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong>significação “o valor útil”. A discussão seguiu-se pormeio dos pressupostos da Teoria <strong>de</strong> Valor, segundoMax Scheler. 4O estudo foi submetido ao Comitê <strong>de</strong> Ética e Pesquisada <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Anna Nery/UFRJ, registradocom o nº 026/07, sendo aprovado <strong>em</strong> 24 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>2007. Os <strong>de</strong>poimentos foram obtidos e utilizados como consentimento dos envolvidos, <strong>em</strong> observância aodisposto na Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS).RESULTADOS E DISCUSSÃOPara a pragmática da enfermag<strong>em</strong>, o valor útil reveste-se<strong>de</strong> importância, tendo <strong>em</strong> vista as variáveis que advêm<strong>de</strong> sua base, a saber: a técnica, a organização, a li<strong>de</strong>rança,a racionalização do t<strong>em</strong>po ou <strong>de</strong> material, que traz<strong>em</strong>r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 421-426, jul./set., 2011423


O valor útil no ensino da Enfermag<strong>em</strong>sobre o trabalho realizado com o cliente e a comunida<strong>de</strong>fortes implicações.O enfermeiro docente capta o valor útil manifestado naprática social no ente que o encarna e o apresenta aoeducando. Entretanto, o valor não se torna proprieda<strong>de</strong>do ente. Sua aparição vincula-se diretamente à percepçãopelo sujeito que o conhece, obtendo, com base <strong>em</strong> suaapreensão, o seu sentido e significado. 4Iniciamos a discussão da unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> significação, o valorútil, reportando-nos ao recorte da fala do <strong>de</strong>poente aodizer:É importante o estimulo para que o educando adquiraa habilida<strong>de</strong> do fazer [...], pois o enfermeiro necessitater a competência técnica. (E1)Para ele, esse valor é manifestado na pragmática daenfermag<strong>em</strong>. Quando no exercício <strong>de</strong> suas açõesassistenciais, o profissional vale-se do domínio da técnica,expresso na execução manual dos procedimentos comoforma <strong>de</strong> prover o cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Esta assertiva é compartilhada pelos <strong>de</strong>poentes aodizer<strong>em</strong>:Ainda hoje, muitos docentes ve<strong>em</strong> como o maisimportante o estímulo para que o educando adquira ahabilida<strong>de</strong> do fazer. (E2).O enfermeiro necessita ter a competência técnica. (E3)Assim, a competência pela habilida<strong>de</strong> manual <strong>em</strong>erge comouma necessida<strong>de</strong> fundamental para o <strong>de</strong>senvolvimentodo exercício profissional e passa a exigir do docente quepromova o encaminhamento do educando ao campodo domínio das técnicas da enfermag<strong>em</strong>. Reforça essaassertiva o discurso do <strong>de</strong>poente ao dizer:Eu quero ser cuidado por um enfermeiro. Quero queele faça o meu medicamento. Que faça o meu curativo.Que cui<strong>de</strong> <strong>de</strong> mim. Por força <strong>de</strong> questões numéricas nopassado foram criadas as outras categorias. (E4)Para o <strong>de</strong>poente, o enfermeiro necessita <strong>de</strong>senvolver ascompetências técnicas para o exercício profissional, afim <strong>de</strong> que possa prover o cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> comqualida<strong>de</strong>. Diz<strong>em</strong>os qualida<strong>de</strong>, haja vista a colocação<strong>de</strong> beneficiário da ação <strong>em</strong> que o próprio <strong>de</strong>poentese coloca, tornando-se impensável que este <strong>de</strong>sejassereceber uma ação que não fosse a que lhe proporcionasseresolutivida<strong>de</strong>, segurança, conforto e b<strong>em</strong>-estar.Assim, o docente revela o compromisso no ato <strong>de</strong>educar, pois, ao colocar-se como beneficiário da ação,passa a exigir <strong>de</strong> si o <strong>em</strong>penho para que o educandovenha manifestar no agir profissional a competênciarequerida.Seguindo na análise, o reconhecimento do valor útilcomo instituinte da enfermag<strong>em</strong> faz com que o <strong>de</strong>poenteprojete o pensamento para o futuro, permitindo-lhecont<strong>em</strong>plar as situações <strong>de</strong> ruptura <strong>de</strong> sua saú<strong>de</strong>. Nest<strong>em</strong>omento, o docente proce<strong>de</strong> a uma reflexão com oobjetivo <strong>de</strong> reconhecer a característica valorativa presenteno Ser-enfermeiro e expressa o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> receber ocuidado daquele a qu<strong>em</strong> atribui a maior competênciapara a prestação do cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> – oenfermeiro.Assim, o docente move-se, por meio do ato <strong>de</strong> educar,no sentido encaminhar o educando para o crescimentoe <strong>de</strong>senvolvimento no valor útil, permitindo-lheaperfeiçoar-se como Ser-enfermeiro. Leva-o a proce<strong>de</strong>ra uma reierarquização <strong>em</strong> sua escala valorativa,ratificando o pressuposto scheleriano, pois o confrontoentre as escalas valorativas é fruto da comparação <strong>de</strong>nossos valores próprios <strong>em</strong> geral, ou qualquer uma <strong>de</strong>nossas características, com os valores que aos outrospertenc<strong>em</strong>. 4Prosseguindo, traz<strong>em</strong>os o recorte do <strong>de</strong>poente paraapresentarmos outra forma <strong>de</strong> aparição do valor útil naenfermag<strong>em</strong>, a saber:Quando eu trabalhei <strong>em</strong> uma instituição <strong>em</strong> SantaCruz, eles <strong>de</strong>senvolveram várias ações junto à clientela– censo, curativos, controle <strong>de</strong> materiais, medicamentose confecção <strong>de</strong> escalas. (E5)Pod<strong>em</strong>os constatar que o valor útil é percebido peloenfermeiro docente por meio do uso do conhecimento,advindo da administração para a gerência <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, ex<strong>em</strong>plificado na pragmática assistencialcom base na organização setorial, na elaboração <strong>de</strong> escala<strong>de</strong> serviço e no controle <strong>de</strong> artigos e medicamentos.O enfermeiro, ao instaurar o valor útil, com base naativida<strong>de</strong> gerencial, ratifica-o como instituinte para apragmática da enfermag<strong>em</strong> e aspira vê-lo refletido noagir do educando.Nesse sentido, o docente t<strong>em</strong> como fulcro, no ato <strong>de</strong>educar, diante do discente, levá-lo a <strong>de</strong>senvolver asdiversas competências profissionais que <strong>em</strong>anam dovalor útil para a pragmática da enfermag<strong>em</strong>.Do posto até aqui, pod<strong>em</strong>os constatar a importânciado valor útil na enfermag<strong>em</strong>, tanto no que se refereà habilida<strong>de</strong> requerida para o “fazer”, a competênciatécnica, quanto à ação gerencial. É inequívoca suaimportância. Mas <strong>de</strong>sejamos, a partir <strong>de</strong>ste momento,alargar a compreensão <strong>de</strong>sse valor para a enfermag<strong>em</strong>,valendo-nos do pressuposto scheleriano que diz quea vida escon<strong>de</strong> <strong>em</strong> si os valores próprios, que nuncase <strong>de</strong>ixa reduzir aos valores <strong>de</strong> uso, quiçá aos valorestécnicos. Assim, a vida mais forte não será aquela quese coloca <strong>em</strong> ativida<strong>de</strong> com a máxima a<strong>de</strong>quação, poisa vida mais forte é aquela que, com um mínimo d<strong>em</strong>ecanismo, cresce e progri<strong>de</strong>. 4Quanto ao significado atribuído à vida humana, ocrescimento e o <strong>de</strong>senvolvimento axiológico não serestring<strong>em</strong> à provisão do valor útil centrado sob o prismada ação técnica. Posto isso, afirmamos que o valor não serestringe ao atendimento <strong>de</strong> uma faceta que o compõe.É no valor da utilida<strong>de</strong> que as dimensões do ser-aí-nomundoapresentam significados para o ser humano. 4424 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 421-426, jul./set., 2011


Dessa forma, ouvir, tocar, falar, estar-ao-lado e asexpressões corporais, são formas <strong>de</strong> aparição do valorútil. É por meio <strong>de</strong>sse valor que a linha <strong>de</strong> cuidado<strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> favorece a integralida<strong>de</strong> do cuidadohumano. Assim, o enfermeiro docente, no ato <strong>de</strong>educar o institui, correlacionando o biológico, o social,o espiritual como processo do cuidado.Assim, traz<strong>em</strong>os o recorte do discurso do <strong>de</strong>poentepara ilustrarmos essa afirmativa e fundar a discussãoque se segue:É o contato <strong>de</strong> um indivíduo com o outro que está ali:um precisando <strong>de</strong> cuidado, e outro que se dispõe afornecer o cuidado. Seja este cuidado qualquer coisa:uma palavra, uma presença. (E6)O <strong>de</strong>poente, por meio do discurso, r<strong>em</strong>ete-nos àpragmática assistencial como se esta fosse oriunda<strong>de</strong> um encontro relacional. De um lado t<strong>em</strong>-se oprofissional enfermeiro, do outro, o cliente. Seresdotados <strong>de</strong> sentimento, possuidores <strong>de</strong> valores quetraz<strong>em</strong>, para aquele momento, suas respectivas escalasvalorativas. Seres que aspiram por valer mais. Seresdotados <strong>de</strong> carências axiológicas. Seres que <strong>de</strong>sejamser reconhecidos como pessoa. 4 Para esses seres, cadaação que seja capaz <strong>de</strong> suprir a carência axiológica, nocampo da prática assistencial, é expressão do valor útil,pois o valor <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong> é o que favorece a vida humana<strong>em</strong> sua dimensão biopsicossocial. 10Assim, a atitu<strong>de</strong> do enfermeiro docente diante do clienteque coopera para o favorecimento da vida – entendidanão apenas sob o prisma do biológico – reveste-se dovalor <strong>de</strong> utilida<strong>de</strong>.Esse é o entendimento manifestado pelo <strong>de</strong>poente, aosignificar, como importante no campo assistencial, aatitu<strong>de</strong> do enfermeiro <strong>de</strong> posicionar-se para “ouvi-lo”, <strong>de</strong>ofertar-lhe uma “palavra”, capaz <strong>de</strong> promover o conforto<strong>em</strong>ocional. Também é significativo o simples ato <strong>de</strong>“estar-ao-lado”, adquirindo uma atitu<strong>de</strong> acolhedora,mormente possibilitando ao cliente vivenciar as fasesda vida, quer sejam <strong>de</strong> alegria, quer sejam <strong>de</strong> tristeza,junto a alguém.Assim, essa atitu<strong>de</strong> perpassa pelo <strong>de</strong>senvolvimento doenfermeiro docente <strong>em</strong> ofertar o cuidado <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>que se paute pela compreensão do cliente como pessoa,agindo com sensibilida<strong>de</strong> para prover a ação profissional,revelando ao discente a amplitu<strong>de</strong> do valor.Logo, o valor útil, para o ato <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, reveste-se<strong>de</strong> maior significação, pois não se pren<strong>de</strong> exclusivamenteà habilida<strong>de</strong> manual ou gerencial. 11Dessa maneira, o valor é útil à vida quando o enfermeiroouve atentivamente o que o cliente t<strong>em</strong> a dizer; <strong>de</strong>dicandot<strong>em</strong>po àquele que <strong>de</strong>seja não apenas receber omedicamento ou precisa sofrer qualquer procedimentono corpo, mas que <strong>de</strong>seja ser reconhecido comoo pessoa.Esse é o entendimento do <strong>de</strong>poente ao dizer:A mulher, quando esta neste período <strong>de</strong> maternida<strong>de</strong>,necessita muito <strong>de</strong> falar, <strong>de</strong> ser ouvida, e às vezes,<strong>de</strong>ntro da enfermag<strong>em</strong> hospitalar que está fundadasobre o mo<strong>de</strong>lo tecnocrático e biomédico, isto não évalorizado. (E7)Nesse sentido, o enfermeiro docente d<strong>em</strong>onstra aodiscente que a habilida<strong>de</strong> é exigida, mas o cuidado nelanão se encerra, pois pôr-se para ouvir e manter-se <strong>em</strong>uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> estar-ao-lado do cliente é expressão <strong>de</strong>cuidar. 12Assim, o docente apresenta ao educando outra forma<strong>de</strong> aparição do valor útil na pragmática assistencialda enfermag<strong>em</strong>, possibilitando-lhe construir umcaminho alternativo à frieza e ao distanciamento do agirtecnocrático diante do cuidar, pautando-se pela atitu<strong>de</strong>profissional no reconhecimento do cliente como pessoa, 4retificando o agir, se assim o <strong>de</strong>sejar. Nesse sentido, o ato<strong>de</strong> educar exige que o docente assuma um papel ativopara a apresentação do valor ao educando.Essa ação, <strong>de</strong>senvolvida pelo enfermeiro docente, assumeum caráter <strong>de</strong> imperativo categórico. 13 Logo, o docentenão po<strong>de</strong> se omitir, pois, se assim o fizer, incorrerá napossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> privar do educando o crescimentoe o <strong>de</strong>senvolvimento axiológico, mantendo-o <strong>em</strong>estado <strong>de</strong> falta no campo dos valores que fundam aprofissão, influenciando <strong>de</strong> forma negativa a construçãoprofissional. 14 Assim, o papel do docente é fundamentalna gênese <strong>de</strong>sse encaminhamento.CONCLUSÃOAo término <strong>de</strong>stas consi<strong>de</strong>rações, pod<strong>em</strong>os afirmarque o enfermeiro docente, <strong>em</strong> sua prática pedagógicoassistencial,apresentou, por meio <strong>de</strong> seu discurso, ovalor útil ao educando. Para o docente, o valor útil nãoestava restrito à questão técnica ou gerencial, mas foimais amplo, pois foi consi<strong>de</strong>rada útil qualquer ação <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> que buscasse dar ao cliente condições queviabilizass<strong>em</strong> a promoção, a prevenção e a restauraçãoda saú<strong>de</strong>. Notadamente, aspectos relativos a “ouvir”,“estar-ao-lado” do cliente foram consi<strong>de</strong>rados por elecomo útil.Ao mesmo t<strong>em</strong>po, po<strong>de</strong>-se constatar que a relaçãopedagógica estabelecida entre o docente e o discentefundou-se no diálogo permanente, que possibilitou areflexão sobre o cotidiano assistencial, movendo-os aocampo axiológico da profissão.REFERÊNCIAS1. Almeida MCP, Rocha JSY. O saber da enfermag<strong>em</strong> e sua dimensão prática. São Paulo: Cortez; 1986.2. Silva SAI. Valores e educação. 4ª ed. Petrópolis: Vozes; 2000.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 421-426, jul./set., 2011425


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ANÁLISE DOS ACIDENTES DE TRABALHO DO SETOR DE ATIVIDADEECONÔMICA COMÉRCIO NO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE*OCCUPATIONAL ACCIDENT ANALYSIS IN THE COMMERCIAL SECTOR IN THE CITY OF BELO HORIZONTEANÁLISIS DE LOS ACCIDENTES DE TRABAJO EN EL SECTOR COMERCIAL DE LA ACTIVIDADECONÓMICA EN LA CIUDAD DE BELO HORIZONTEPriscila Tegethoff Motta 1Rafael Lima Rodrigues <strong>de</strong> Carvalho 2Maria Emília Lúcio Duarte 3A<strong>de</strong>lai<strong>de</strong> De Mattia Rocha 4RESUMODiante da constante mudança do processo <strong>de</strong> produção ao longo dos séculos e da consequente mudança do perfilepid<strong>em</strong>iológico na população trabalhadora, pesquisas atualizadas sobre a saú<strong>de</strong> do trabalhador e sobre aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho tornam-se importantes. No Brasil, na década <strong>de</strong> 1990, o setor terciário ganhou espaço e modificou a estrutura<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos no País. Dado o aumento dos postos <strong>de</strong> trabalho nesse setor, principalmente nas capitais brasileiras, énecessário verificar <strong>em</strong> quais aspectos a atual organização <strong>de</strong> <strong>em</strong>prego está interferindo na morbimortalida<strong>de</strong> dostrabalhadores. Desse modo, objetiva-se com este estudo <strong>de</strong>screver os aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho ocorridos no setor <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> Comércio, buscando sua caracterização epid<strong>em</strong>iológica, no município <strong>de</strong> Belo Horizonte, no período <strong>de</strong>2004 a 2008. Os dados foram coletados no Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação sobre Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Trabalho (SIAT/SUS) da Gerência <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> do Trabalhador da Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>. A amostra foi composta <strong>de</strong> 6.942 aci<strong>de</strong>ntes, sendo os homensos mais acometidos (81,1%) e a faixa etária <strong>de</strong> 20 a 29 anos a mais expressiva (62,6%). O aci<strong>de</strong>nte típico foi o mais comum(84,1%) e a ocupação repositor <strong>de</strong> mercadorias (10,8%) a mais representativa. A maioria dos aci<strong>de</strong>ntes aconteceu no distritosanitário Centro-Sul (30,5%) e o Hospital João XXIII foi a Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> que mais aten<strong>de</strong>u os aci<strong>de</strong>ntados (66,8%). Acausa mais comum foi queda/ choque/ perda <strong>de</strong> equilíbrio (22,1%). Com base nesses dados, tornou-se possível subsidiara construção <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> prevenção e políticas públicas específicas para os trabalhadores do setor.Palavras-chave: Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho; Trabalhadores; Perfil Epid<strong>em</strong>iológico; Comércio.ABSTRACTConsi<strong>de</strong>ring the changes in the production process and in the epid<strong>em</strong>iological profile of the working population overthe centuries, it became necessary an updated research on workers’ health and on acci<strong>de</strong>nts at work. During the 90’sBrazil’s tertiary sector growth changed the country’s <strong>em</strong>ployment structure. The increase in the sector’s <strong>em</strong>ploymentoffer, especially in the Brazilian state capitals, ma<strong>de</strong> it necessary to i<strong>de</strong>ntify current <strong>em</strong>ployment characteristics thatinfluence the morbidity among workers. This study aims to <strong>de</strong>scribe work-related acci<strong>de</strong>nts occurred in the commercialsector in the city of Belo Horizonte, and to i<strong>de</strong>ntify its epid<strong>em</strong>iological characteristics in the period between 2004 and2008. Data were collected from the Information Syst<strong>em</strong> on Occupational Acci<strong>de</strong>nts (in Portuguese, SIAT / SUS) of theOccupational Health Administration of the Municipal Health Department. The sample consisted of 6942 work acci<strong>de</strong>ntsin which 62.6% men, aged 20 to 29 years old (81.1%), were the most affected. The typical acci<strong>de</strong>nt was the most frequent(84.1%) and the replenishment position (10.8%) the most representative. Most acci<strong>de</strong>nts happened in the south centrehealth district (30.5%) and John XXIII Hospital atten<strong>de</strong>d most cases (66.8%). The most common cause of work relatedacci<strong>de</strong>nts were falls, electrical inci<strong>de</strong>nts, trips or slips (22.1%). The study’s findings helped to promote the establishmentof a series of preventive measures and public policies specific for people working in that economic sector.Key words: Occupational Acci<strong>de</strong>nts; Workers; Epid<strong>em</strong>iologic Profile; Commerce.RESUMENAnte el cambio constante con los siglos en el proceso <strong>de</strong> producción y <strong>de</strong>l consiguiente cambio <strong>de</strong> perfil epid<strong>em</strong>iológicoen la población <strong>de</strong> trabajadores, las investigaciones actualizadas sobre la salud <strong>de</strong>l trabajador y sobre los acci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> trabajo son sumamente importantes. En el Brasil <strong>de</strong> los años 90, el sector terciario adquirió espacio y modificó laestructura <strong>de</strong> los <strong>em</strong>pleos en el país. Debido al aumento <strong>de</strong> tales puestos <strong>de</strong> trabajo en ese sector, principalmente enlas capitales, hay que verificar en qué aspectos la organización actual <strong>de</strong> <strong>em</strong>pleo interfiere en la morbimortalidad <strong>de</strong>los trabajadores. Con el presente estudio se busca <strong>de</strong>scribir los acci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabajo ocurridos en el rubro Comercio,intentando <strong>de</strong>finir su epid<strong>em</strong>iología en el municipio <strong>de</strong> Belo Horizonte entre 2004 y 2008. Los datos fueron recogidosen el Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Información sobre Acci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabajo (SIAT/SUS) <strong>de</strong>l Departamento <strong>de</strong> Salud <strong>de</strong>l Trabajador<strong>de</strong> la Secretaría Municipal <strong>de</strong> Salud. La muestra consistió en 6.942 acci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> los cuales los hombres fueron losmás perjudicados (81,1%) y entre 20 y 29 años (62,6%) la mayoría. El acci<strong>de</strong>nte típico fue el más común (84,1%) y laocupación repositor <strong>de</strong> merca<strong>de</strong>rías (10,8%) la más representativa. La mayoría <strong>de</strong> los acci<strong>de</strong>ntes ocurrió en el distritosanitario Centro Sur (30,5%) y el Hospital João XXIII fue el centro <strong>de</strong> salud que atendió más acci<strong>de</strong>ntados (66,8%). Lacausa más común fue caída/choque/pérdida <strong>de</strong> equilibrio (22,1%). Los resultados <strong>de</strong> este estudio han contribuido aelaborar medidas <strong>de</strong> prevención y políticas públicas específicas para los trabajadores <strong>de</strong>l sector.Palabras clave: Acci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabajo; Trabajadores; Perfil Epid<strong>em</strong>iológico; Comercio.*Análise parcial <strong>de</strong> dissertação <strong>de</strong> mestrado <strong>de</strong>fendida <strong>em</strong> 2011 na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais (EE<strong>UFMG</strong>), Brasil.1Acadêmica <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela EE<strong>UFMG</strong>. Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica Fun<strong>de</strong>p/Santan<strong>de</strong>r.2Acadêmico <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela EE<strong>UFMG</strong>. Bolsista <strong>de</strong> Iniciação Científica Probic/Fap<strong>em</strong>ig.33 Enfermeira. Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela EE<strong>UFMG</strong>.4Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professor adjunto da EE<strong>UFMG</strong>. E-mail: a<strong>de</strong>lai<strong>de</strong>@enf.ufmg.br.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua São Mateus, nº 620, bairro Sagrada Família – Belo Horizonte-MG. CEP: 31035-330.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011427


Análise dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho do setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica comércio no município <strong>de</strong> Belo HorizonteINTRODUÇÃOOs aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho são consi<strong>de</strong>rados um probl<strong>em</strong>a<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública <strong>em</strong> todo o mundo. 1 Desse modo,pesquisas referentes à saú<strong>de</strong> dos trabalhadores eespecificamente ao aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho permit<strong>em</strong>auxiliar na <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> medidas <strong>de</strong> promoção <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e prevenção <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes.O aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho proporciona um gran<strong>de</strong> impactona vida do indivíduo. O trabalhador aci<strong>de</strong>ntado, além <strong>de</strong>passar pelo sofrimento relacionado à lesão física, po<strong>de</strong>estar sujeito a danos psicológicos. Afinal, tais aci<strong>de</strong>ntespod<strong>em</strong> proporcionar sequelas ao indivíduo que otornarão inapto a exercer suas ativida<strong>de</strong>s laborais port<strong>em</strong>po provisório ou permanente.Além <strong>de</strong> produzir alterações significativas na vida dotrabalhador, o aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho também oferecegastos aos sist<strong>em</strong>as públicos. Durante a assistência à saú<strong>de</strong>dos trabalhadores afetados, é necessário, por ex<strong>em</strong>plo,ativar os sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e o previ<strong>de</strong>nciário. 2Segundo a Organização Internacional do Trabalho(OIT), ocorr<strong>em</strong> cerca <strong>de</strong> 270 milhões <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes notrabalho e cerca <strong>de</strong> 2 milhões <strong>de</strong> mortes por ano <strong>em</strong>todo o mundo. 3 Estima-se que 4% do Produto InternoBruto (PIB) sejam perdidos por doenças e agravosocupacionais e chega aos 10% quando se trata <strong>de</strong> países<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvimento. 3Diante dos impactos do aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalho na vidado trabalhador e da gran<strong>de</strong> perda econômica, estudossobre o perfil epid<strong>em</strong>iológico <strong>de</strong>sses trabalhadorespassam a ser importantes.Ao lado <strong>de</strong>ssa situação apresentada, um fator que <strong>de</strong>veser evi<strong>de</strong>nciado na influência do agravo apresentado<strong>em</strong> estudo é a constante modificação do processo <strong>de</strong>produção. Ao longo dos séculos, tanto a economiacomo os padrões <strong>de</strong> trabalho transformaram-sesubstancialmente, interferindo diretamente namorbimortalida<strong>de</strong> dos trabalhadores.No século XVIII, a Revolução Industrial no mundooci<strong>de</strong>ntal levou a uma significativa reestruturação naorganização do trabalho, afetando a saú<strong>de</strong> dos operários.A aceleração do processo <strong>de</strong> produção e as péssimascondições <strong>de</strong> trabalho tiveram como consequênciaelevado número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes ocorridos durante arealização das tarefas. 4Em meados do século XX, a globalização proporcionounovos impactos. À medida que as ativida<strong>de</strong>s econômicastranscendiam cada vez mais as fronteiras nacionais, asreguladoras estatais, que tradicionalmente garantiamcondições <strong>de</strong> trabalho seguras e humanas, enfraqueceramse,contribuindo, assim, para o aumento <strong>de</strong> lesõesnos locais <strong>de</strong> trabalho, <strong>em</strong> especial nos países menos<strong>de</strong>senvolvidos. 5No Brasil, <strong>em</strong> torno da década <strong>de</strong> 1990, após a indústriapassar por uma mo<strong>de</strong>rnização e racionalizaçãoorganizacional, o setor secundário per<strong>de</strong>u sua importânciapara o setor terciário, modificando a estrutura <strong>de</strong><strong>em</strong>pregos no País. Logo, os postos <strong>de</strong> trabalho dasindústrias foram transferidos para o mercado <strong>de</strong> trabalhono setor <strong>de</strong> serviços e comércio. 6O crescimento do comércio nas últimas décadas e arápida transformação do processo <strong>de</strong> produção porque v<strong>em</strong> passando a economia exig<strong>em</strong> do trabalhadoruma série <strong>de</strong> habilida<strong>de</strong>s, sendo uma <strong>de</strong>las a capacida<strong>de</strong><strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação às novas necessida<strong>de</strong>s e à dinâmica dosnovos mercados <strong>de</strong> trabalho. A flexibilida<strong>de</strong> da produçãoe das relações <strong>de</strong> trabalho no mundo comercial promov<strong>em</strong>aior rotativida<strong>de</strong> da mão <strong>de</strong> obra, tornando-se um<strong>de</strong>safio manter e caracterizar o perfil epid<strong>em</strong>iológico<strong>de</strong>sses trabalhadores. 2,7O Po<strong>de</strong>r Público <strong>de</strong>ve estar preparado para receber essasprofundas e aceleradas transformações. O <strong>de</strong>slocamentodo <strong>em</strong>prego para o setor terciário cria nova situaçãosocial e coloca novos probl<strong>em</strong>as para o sist<strong>em</strong>a.Diante <strong>de</strong>ssas circunstâncias apresentadas, torna-serelevante <strong>de</strong>screver o perfil dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoenvolvidos no setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio<strong>em</strong> Belo Horizonte, com o propósito <strong>de</strong> conhecere <strong>de</strong> acompanhar a atual situação <strong>de</strong>sse agravo. Ai<strong>de</strong>ntificação do perfil <strong>de</strong>sses aci<strong>de</strong>ntes, <strong>em</strong> razão dascaracterísticas das vítimas, passa a ser um importantesinalizador sobre as condições <strong>de</strong> trabalho e os riscosexistentes na execução da tarefa, po<strong>de</strong>ndo contribuir naconstrução do conhecimento sobre processos gerais eespecíficos que levam o trabalhador a se aci<strong>de</strong>ntar.A seleção para o estudo sobre aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalhona ativida<strong>de</strong> econômica Comércio, na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> BeloHorizonte, partiu da constatação <strong>de</strong> que esse setorconcentra a maior parte das notificações do agravo <strong>em</strong>estudo, daí ser esse o objeto principal <strong>de</strong>sta pesquisa.OBJETIVODescrever o perfil dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho ocorridos nosetor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> Comércio, buscando sua caracterizaçãoepid<strong>em</strong>iológica, no município <strong>de</strong> Belo Horizonte, noperíodo <strong>de</strong> 2004 a 2008.METODOLOGIAOs dados que compuseram este estudo são provenientesdo Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> Informação sobre Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> Trabalho(SIAT/SUS-BH) da Gerência <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador daSecretaria Municipal <strong>de</strong> Belo Horizonte, no período <strong>de</strong>2004 a 2008. Para a utilização <strong>de</strong>sses dados, o projeto <strong>de</strong>pesquisa foi aprovado pelo Comitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisada Secretaria Municipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte(CEP-SMSA/PBH) sob o nº 0082.0.410.410-09A e peloComitê <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Minas Gerais (COEP/<strong>UFMG</strong>) sob o nº 0082.0.410.203-10. Nesse sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informação não faz<strong>em</strong> parteos servidores públicos, trabalhadores autônomos e<strong>em</strong>pregados domésticos.O SIAT/SUS-BH foi gerado por meio da coleta e compilação<strong>de</strong> 18 das 66 variáveis da ficha <strong>de</strong> Comunicação428r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011


<strong>de</strong> Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho (CAT). Essas CATs foramcaptadas <strong>em</strong> várias instituições <strong>de</strong> Belo Horizonte queapresentaram as maiores taxas <strong>de</strong> atendimento à saú<strong>de</strong>da população, on<strong>de</strong>, provavelmente, gran<strong>de</strong> parte dapopulação procura a primeira assistência médica <strong>em</strong>casos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> qualquer tipo. Foram escolhidas,também, instituições <strong>em</strong> que a comunicação foi facilitadapela Gerência <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> do Trabalhador da Prefeitura <strong>de</strong>Belo Horizonte, dado o gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho que são registrados nos locais selecionados.O município <strong>de</strong> Belo Horizonte foi eleito para o <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong>ste estudo <strong>em</strong> razão da disponibilida<strong>de</strong><strong>de</strong>sse sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> informação sobre aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho. Aliado a isso, a cida<strong>de</strong> é constituída <strong>de</strong>2.375.444 habitantes (Censo 2010-IBGE) e o setorcomércio está entre os três primeiros setores com maiorforça <strong>de</strong> trabalho na capital mineira. 8 O comércio e osserviços representam 85% do PIB na economia local e13,6% do PIB <strong>de</strong> Minas Gerais. 9O setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio está organizado<strong>de</strong> acordo com a Classificação Nacional <strong>de</strong> Ativida<strong>de</strong>Econômica (CNAE), versão 1.0. A CNAE é o instrumento<strong>de</strong> padronização nacional dos códigos <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>econômica e dos critérios <strong>de</strong> enquadramento utilizadospelos diversos órgãos da Administração Tributária. 10O banco <strong>de</strong> dados apresenta 6.942 notificações <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntesno setor Comércio, apresentando elevada porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntes quando comparado com todos os outros tipos<strong>de</strong> setores atuantes na capital, correspon<strong>de</strong>ndo a 22,5%do total <strong>de</strong> 30.890 aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho.Para a organização e a análise dos dados foi utilizadoo pacote estatístico Statistical Package for the SocialSciences (SPSS.15). Foram selecionadas oito variáveispara compor o estudo: ano do aci<strong>de</strong>nte; faixa etáriado trabalhador; sexo do trabalhador; distrito sanitário;unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> na qual o trabalhador foi atendido;ocupação do trabalhador e causa do aci<strong>de</strong>nte.Para a variável ano do aci<strong>de</strong>nte foram utilizados os anos2004, 2005, 2006, 2007 e 2008. As faixas etárias variaram<strong>de</strong> 15 a 19 anos; <strong>de</strong> 20 a 29 anos; <strong>de</strong> 30 a 39 anos; 40 a49 anos e 50 ou mais. A variável sexo subdivi<strong>de</strong>-se <strong>em</strong>masculino e f<strong>em</strong>inino. Os tipos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalhoforam: típico (aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>correntes da característicada ativida<strong>de</strong> profissional <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penhada no local<strong>de</strong> trabalho pelo aci<strong>de</strong>ntado) e <strong>de</strong> trajeto (aci<strong>de</strong>ntesocorridos no trajeto entre o local <strong>de</strong> trabalho doaci<strong>de</strong>ntado e a sua residência, e vice-versa).Os Distritos Sanitários do município <strong>de</strong> Belo Horizonteforam subdivididos <strong>em</strong> Venda Nova, Pampulha, Oeste,Norte, Noroeste, Nor<strong>de</strong>ste, Leste e Centro-Sul.Para as Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Atendimento foramselecionadas as categorias: Hospital João XXIII, HospitalOdilon Behrens, Hospital Risoleta Tolentino Neves eOutros.Os dados sobre a ocupação do trabalhador foramestabelecidos <strong>de</strong> acordo com a Classificação Brasileira <strong>de</strong>Ocupação (CBO): Repositor <strong>de</strong> Mercadorias; Açougueiro;Ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> Comércio Varejista; Motociclistas notransporte <strong>de</strong> documentos e pequenos volumes;Operador <strong>de</strong> caixa; e Outros.As categorias apresentadas na variável Causa do aci<strong>de</strong>nte<strong>de</strong> trabalho mais evi<strong>de</strong>ntes foram: Queda/Choque/Perda <strong>de</strong> equilíbrio, Equipamentos/Máquinas/Matériaprima,Ferramenta manual não motorizada, Motocicleta,Automóvel, Esforço físico estático-dinâmico e Outros.RESULTADOSForam encontrados, no banco <strong>de</strong> dados, 6.942 notificações<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes no setor Comércio. Ao relacionar o setor <strong>de</strong>ativida<strong>de</strong> Comércio com a variável <strong>de</strong>nominada Causados Aci<strong>de</strong>ntes, a amostra inicial sofreu <strong>de</strong>créscimo (7,0%)e a perda amostral foi <strong>de</strong>corrente <strong>de</strong> subnotificação.Na TAB.1 mostra-se a frequência dos aci<strong>de</strong>ntes ocorridosno setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio, segundo oano do aci<strong>de</strong>nte, faixa etária, sexo e tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte dotrabalhador. O ano <strong>de</strong> 2007 apresentou a maior frequência<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com o registro <strong>de</strong> 1.578 observações(22,7%). Os homens foram os mais acometidos (81,1%) ea faixa etária <strong>de</strong> 20 a 29 anos, a mais expressiva (62,2%). Asegunda faixa etária <strong>de</strong> trabalhadores mais aci<strong>de</strong>ntadosfoi <strong>de</strong> 30 a 39 anos (22,3%). O aci<strong>de</strong>nte típico foi o maiscomum (84,2%) e o aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trajeto apresentou 1.099observações (15,8%).TABELA 1 – Distribuição dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoocorridos no setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio,segundo o ano do aci<strong>de</strong>nte, faixa etária, sexo e tipo<strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nte do trabalhador, no período <strong>de</strong> 2004 a2008. Belo Horizonte-MGDados sociod<strong>em</strong>ográficos N %Ano do aci<strong>de</strong>nte2004 1115 16,1%2005 1409 20,3%2006 1464 21,1%2007 1578 22,7%2008 1376 19,8%Faixa etária do trabalhadorDe 15 a 19 anos 132 1,9%De 20 a 29 anos 4317 62,2%30 a 39 anos 1551 22,3%40 a 49 anos 900 13,0%50 ou mais 42 0,6%Sexo do trabalhadorMasculino 5629 81,1%F<strong>em</strong>inino 1313 18,9%Tipo <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>nteAci<strong>de</strong>nte típico 5843 84,2%Aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trajeto 1099 15,8%Total 6942 100,0%Fonte: SIAT/SUS-BH/GESAT/SMS/PBHr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011429


Análise dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho do setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica comércio no município <strong>de</strong> Belo HorizonteSegundo a TAB. 2, a maioria dos aci<strong>de</strong>ntes aconteceuno distrito sanitário Centro-Sul (30,5%) e o HospitalJoão XXIII foi a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que mais aten<strong>de</strong>u aosaci<strong>de</strong>ntados (66,8%).TABELA 2 – Distribuição dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoocorridos no setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio, <strong>de</strong>acordo com os distritos sanitários e a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,no período <strong>de</strong> 2004 a 2008, Belo Horizonte-MGDados sociod<strong>em</strong>ográficos N %Distrito SanitárioVenda Nova 301 4,3%Pampulha 704 10,1%Oeste 768 11,1%Norte 151 2,1%Noroeste 1323 19,1%Nor<strong>de</strong>ste 673 9,7%Leste 732 10,5%Centro-Sul 2120 30,5%Barreiro 170 2,4%Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>Pronto-Socorro João XXIII 4635 66,8%Odilon Behrens 1428 20,6%Risoleta Tolentino Neves 735 10,6%Outros 144 2,0%Total 6942 100%Fonte: SIAT/SUS-BH/GESAT/SMS/PBHNa TAB. 3, verifica-se que a ocupação Repositor d<strong>em</strong>ercadorias (10,8%), Açougueiro (8,1%), Ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong>comércio varejista (7,4%), Motociclistas no transporte<strong>de</strong> documentos e pequenos volumes (6,3%), Operador<strong>de</strong> caixa (3,9%) foram os mais frequentes. Todas asd<strong>em</strong>ais ocupações com frequência inferior a 3,9% foramagrupados na categoria Outros.TABELA 3 – Distribuição dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoocorridos no setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio,<strong>de</strong> acordo com a ocupação do trabalhador, noperíodo <strong>de</strong> 2004 a 2008. Belo Horizonte-MGOcupação do trabalhador N %Repositor <strong>de</strong> mercadorias 749 10,8%Açougueiro 560 8,1%Ven<strong>de</strong>dor <strong>de</strong> comércio varejista 512 7,4%Motociclista no transporte <strong>de</strong>documentos e pequenos volumes438 6,3%Operador <strong>de</strong> caixa 271 3,9%Outros 4412 56,7%Total 6942 100,0%Fonte: SIAT/SUS-BH/GESAT/SMS/PBHDe acordo com a TAB. 4, as causas predominantes dosaci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho ocorridos no ramo <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>econômica Comércio foram Queda/Choque/Perdado equilíbrio, com 1.523 casos (22,1%), seguidas<strong>de</strong> Equipamentos/Maquinas/Matéria-prima usadano trabalho (18,5%), o uso Ferramenta manual nãomotorizada (15,2%) e Motocicleta (13,0%).TABELA 4 – Distribuição dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoocorridos no setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio,<strong>de</strong> acordo com a causa dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho, noperíodo <strong>de</strong> 2004 a 2008, Belo Horizonte-MGCausa dos Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho N %Queda/Choque/Perda do equilíbrio 1523 22,1%Equipamentos/Maquinas/Matériaprimausada no trabalho1275 18,5%Ferramenta manual não motorizada 1047 15,2%Motocicleta 894 13,0%Automóvel 343 5,0%Outros 1375 26,2%Total 6457 100,0%Fonte: SIAT/SUS-BH/GESAT/SMS/PBHDISCUSSÃOO setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica Comércio exige elevadonúmero <strong>de</strong> trabalhadores por reunir uma imensaquantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> micros e pequenos estabelecimentos atégran<strong>de</strong>s re<strong>de</strong>s nacionais e internacionais. 11 Em 2008, oscomerciários representavam 18,6% do total da força <strong>de</strong>trabalho no País (total <strong>de</strong> 39.441.566 trabalhadores), comum crescimento <strong>de</strong> 7% <strong>em</strong> relação a 2007. 12Na Região Su<strong>de</strong>ste, tendo <strong>em</strong> vista a alta concentração<strong>de</strong> <strong>em</strong>pregos <strong>em</strong> cida<strong>de</strong>s como São Paulo e BeloHorizonte, a quantida<strong>de</strong> absoluta <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trabalho é expressivamente maior do que nas outrasregiões brasileiras. O histórico efeito polarizador <strong>de</strong>ssesgran<strong>de</strong>s centros eleva a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhadores naregião, principalmente dos setores <strong>de</strong> serviço e comércio,e, consequent<strong>em</strong>ente, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes<strong>de</strong> trabalho. 13 Logo, mediante o conhecimento dasatribuições e da competência do setor Comércio, estaspassam a ser válidas na garantia da segurança <strong>em</strong> saú<strong>de</strong><strong>de</strong>ssa crescente população trabalhadora.Diante da análise dos resultados mostrados na TAB.1, o período <strong>de</strong> 2007 apresentou elevado numero <strong>de</strong>registros <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes do trabalho quando comparadocom os outros anos. Tal fato po<strong>de</strong> estar relacionado àadoção do Nexo Técnico Epid<strong>em</strong>iológico Previ<strong>de</strong>nciário(NTEP) que foi acrescentado nos sist<strong>em</strong>as informatizadosdo INSS <strong>em</strong> abril <strong>de</strong> 2007 para a concessão <strong>de</strong> benefíciosaci<strong>de</strong>ntários. 13,14 Imediatamente após a implantação<strong>de</strong>sse novo mecanismo, houve incr<strong>em</strong>ento da ord<strong>em</strong><strong>de</strong> 148%, provocando uma mudança drástica no430r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011


perfil da concessão <strong>de</strong> auxílios-doença <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>aci<strong>de</strong>ntária. Portando, é possível consi<strong>de</strong>rar a existência<strong>de</strong> subnotificação <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes e doenças do trabalhonos anos anteriores. 14Ainda sob análise da TAB. 1, conclui-se que o perfil dostrabalhadores que mais se aci<strong>de</strong>ntam no setor comérciosão jovens, prioritariamente, do sexo masculino. A maiorprevalência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com trabalhadores <strong>de</strong> 20 a29 anos po<strong>de</strong> ser atribuída à elevada participação dosjovens na força <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong>sse setor. O comérciopossibilita a inserção do trabalhador <strong>em</strong> inúmerasfunções não especializadas e <strong>de</strong> baixa r<strong>em</strong>uneração, que,<strong>em</strong> geral, não requer<strong>em</strong> qualificação, sendo assim umfator atrativo para os jovens inexperientes que almejamobter um posto <strong>de</strong> trabalho com mais facilida<strong>de</strong>. 11 Deacordo com os dados da Relação Anual <strong>de</strong> InformaçõesSociais (RAIS/RAISESTAB/2002), disponibilizados pelaPrefeitura <strong>de</strong> Belo Horizonte <strong>em</strong> 2002, a força <strong>de</strong> trabalhoentre os jovens <strong>de</strong> 18 a 29 anos correspon<strong>de</strong>u a 55,7%do total <strong>de</strong> trabalhadores no setor <strong>em</strong> estudo. 8Quanto à elevada frequência dos aci<strong>de</strong>ntes ocorridos como sexo masculino, estudos na cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Botucatu (SP)e Salvador (BA) corroboram com a atual pesquisa, poisrevelaram, também, a predominância <strong>de</strong> trabalhadores,82,9% e 89,7%, aci<strong>de</strong>ntados do sexo masculino,respectivamente, <strong>em</strong>bora os estudos abordass<strong>em</strong>trabalhadores <strong>em</strong> geral e não trabalhadores <strong>de</strong> setoresespecíficos. 15,16De acordo com pesquisa realizada pelo IBGE sobrea evolução do mercado <strong>de</strong> trabalho <strong>em</strong> seis regiõesmetropolitanas, incluindo a <strong>de</strong> Belo Horizonte, osdados mostram que parcela <strong>de</strong> mulheres no comérciov<strong>em</strong> aumentando e <strong>em</strong> 2006 representou 39,3% <strong>de</strong>ssapopulação trabalhadora. Logo, a porcentag<strong>em</strong> 18,9%<strong>de</strong> trabalhadores aci<strong>de</strong>ntados do sexo f<strong>em</strong>inino <strong>de</strong>veser discutida à luz do percentual <strong>de</strong> mulheres inseridasnesse mercado <strong>de</strong> trabalho formal <strong>em</strong> relação número<strong>de</strong> homens, que, <strong>em</strong> uma breve análise, po<strong>de</strong> revelarobservações inconsistentes com a realida<strong>de</strong>. 17Segundo o resultado a respeito dos tipos <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes,é possível que a baixa frequência dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>trajeto esteja relacionada à subnotificação. Infere-se<strong>de</strong> tal fato a possibilida<strong>de</strong> do <strong>de</strong>sconhecimento tantodo trabalhador como <strong>de</strong> sua chefia sobre a legislaçãoou sua difícil caracterização, uma vez que po<strong>de</strong> serconsi<strong>de</strong>rado como aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trânsito comum. Outrainferência é a possível relação à menor frequência doaci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trajeto quando comparado com o aci<strong>de</strong>ntetípico. Segundo o anuário estatístico da PrevidênciaSocial, <strong>em</strong> 2007, foram registrados, <strong>em</strong> Belo Horizonte,10.184 trabalhadores aci<strong>de</strong>ntados sendo que a minoriarepresentava o aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trajeto (17,05%).Conforme a TAB. 2 a maioria dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoocorreu no distrito sanitário centro-sul, <strong>de</strong> Belo Horizonte,atualmente consi<strong>de</strong>rado referência comercial, financeirae política da capital. A região centro-sul é caracterizadacomo um centro metropolitano com enorme diversida<strong>de</strong><strong>de</strong> serviços e com a concentração das ativida<strong>de</strong>seconômicas, po<strong>de</strong>ndo, assim, justificar a expressivida<strong>de</strong>da ocorrência <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes com trabalhadores docomércio. 18Nesse distrito sanitário, encontra-se o Pronto-Socorrodo Hospital João XXIII, a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que obtevea maior frequência <strong>de</strong> atendimentos <strong>de</strong> comerciantesaci<strong>de</strong>ntados. Além <strong>de</strong> estar localizado na região centralda capital e também na região on<strong>de</strong> se encontra boaparte dos trabalhadores do setor <strong>em</strong> análise, facilitando,assim, o acesso, esse hospital é responsável pela maioriados casos <strong>de</strong> urgências traumáticas da cida<strong>de</strong>, da regiãometropolitana e também por receber pacientes graves<strong>de</strong> todo o Estado <strong>de</strong> Minas Gerais. 19As ocupações que registraram o maior número <strong>de</strong>aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser discutidas <strong>em</strong> conjunto com asexpectativas <strong>de</strong> produção, a sist<strong>em</strong>atização operacional,horas <strong>de</strong> jornada <strong>de</strong> trabalho e a segurança e ergonômicados postos assumidos. São atribuídos aos repositores d<strong>em</strong>ercadorias, por ex<strong>em</strong>plo, a organização <strong>de</strong> prateleiras<strong>em</strong> supermercados e no comércio, proporcionando-lhesa exposição <strong>de</strong> risco <strong>de</strong> queda ou perda <strong>de</strong> equilíbrio.Uma das tarefas prestada pelos açougueiros, comotalhador e cortador <strong>de</strong> carne, realizadas com ferramentasmotorizadas ou não expõe, ao risco <strong>de</strong> lesões nas mãose nos <strong>de</strong>dos. Outro fator que <strong>de</strong>ve ser abordado é apressão da produtivida<strong>de</strong>, visto que ven<strong>de</strong>dores <strong>de</strong>comércio varejista utilizam, frequent<strong>em</strong>ente, planos <strong>de</strong>r<strong>em</strong>uneração baseados na aplicação <strong>de</strong> percentuais sobreo valor da venda/faturamento. O esforço do trabalhador<strong>em</strong> cumprir metas po<strong>de</strong> proporcionar esgotamentotanto físico quanto psicológico, aumentando suaschances <strong>de</strong> se aci<strong>de</strong>ntar.Segundo a TAB. 4, a causa mais prevalente, nomeadaQueda/Choque/Perda <strong>de</strong> Equilíbrio, po<strong>de</strong> ser atribuídaàs combinação <strong>de</strong> fatores relacionados às ativida<strong>de</strong>sque proporcionam o <strong>de</strong>sequilíbrio e a instabilida<strong>de</strong>do trabalhador. Esses fatores pod<strong>em</strong> ser específicosao indivíduo como condições físicas e psicológicas oupod<strong>em</strong> ser externos, relacionados com as condições dolocal <strong>de</strong> trabalho. Em pesquisa <strong>de</strong> causas externas feitano Brasil <strong>em</strong> 2000 relatou-se que 72,8% das internaçõeseram por quedas, indicando que essa causa é a maiscomum entre os aci<strong>de</strong>ntes <strong>em</strong> geral e que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estarrelacionadas a probl<strong>em</strong>as estruturais do ambiente <strong>de</strong>trabalho, doméstico, <strong>de</strong>ntre outros. 20A causa <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong>nominada Equipamentos/Maquina/Matéria-prima, merece um estudo aprofundado,pois po<strong>de</strong> estar relacionada a diversas causas, comocaracterísticas do processo <strong>de</strong> trabalho que pod<strong>em</strong> estargerando essa causa, ausência ou uso ina<strong>de</strong>quado <strong>de</strong>equipamentos <strong>de</strong> proteção individual (EPI) e manutençãodas máquinas. Outro fator relevante é a existênciae utilização <strong>de</strong> máquinas <strong>de</strong> tecnologia obsoleta,favorecendo, agravando ou <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando a condição<strong>de</strong> risco. 21Acredita-se que a causa <strong>de</strong>finida por Ferramentanão motorizada apresentou-se expressiva, pois sãonormalmente <strong>de</strong> fácil manejo e usadas <strong>em</strong> pequenosserviços que requer<strong>em</strong> pouca habilida<strong>de</strong> e experiência.Assim, o trabalhador, raramente, apresenta capacitaçãor<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011431


Análise dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho do setor <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica comércio no município <strong>de</strong> Belo Horizontea<strong>de</strong>quada para i<strong>de</strong>ntificar se elas estão <strong>em</strong> boa condição<strong>de</strong> uso e quais os tipos <strong>de</strong> cuidados <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser tomadosao manuseá-las. 22O aci<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> trabalhado no comércio causado pelouso da motocicleta po<strong>de</strong> estar relacionado tantoao <strong>de</strong>slocamento para a realização do trabalho, nocaso entregas, acesso rápido ao <strong>de</strong>stino, como no<strong>de</strong>slocamento até sua residência. Na atualida<strong>de</strong>, amotocicleta passou a ser consi<strong>de</strong>rada um importanteinstrumento <strong>de</strong> trabalho no ramo comercial. Talferramenta permite aos motoboys, como muitas vezessão chamados os entregadores <strong>de</strong> pequenos volumes, avelocida<strong>de</strong> nas entregas solicitadas com urgência. 23Os casos que foram incluídos como “Outros”, uma vez quenão guardavam conexão direta com as outras classificaçõeselencadas, representaram praticamente 25% <strong>de</strong> todos osaci<strong>de</strong>ntes estudados no setor Comércio.CONSIDERAÇÕES FINAISEm meio a mudanças contínuas do processo produtivo, otrabalhador passa a ser foco <strong>de</strong> pesquisas, com o objetivo<strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e compreen<strong>de</strong>r como as novas formas <strong>de</strong>trabalho estão lhe afetando a saú<strong>de</strong> e a segurança.Atualmente, com a expansão do setor terciário no País,o setor ativida<strong>de</strong> econômica Comércio passou a serum dos maiores representantes da força <strong>de</strong> trabalhonas capitais brasileiras. Tendo <strong>em</strong> vista que nas últimasdécadas a organização do trabalho no comércio passoua ser mais explorada do que daquela anteriormenteencontrada no setor secundário, as situações <strong>de</strong> riscosocupacionais e o perfil dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhoacabaram se modificando.Nesse contexto, estudos como este passam a sernecessários, visto que, com uma <strong>de</strong>scrição precisasobre o atual perfil epid<strong>em</strong>iológico dos trabalhadoresaci<strong>de</strong>ntados, torna-se possível subsidiar a construção d<strong>em</strong>edidas <strong>de</strong> prevenção e políticas públicas específicas eeficazes para esses trabalhadores.É importante <strong>de</strong>stacar que o comércio traz novas alternativas<strong>de</strong> renda no meio urbano. Esse setor é representadonão somente por trabalhadores formais, como tambémpor trabalhadores do setor informal da economia. Nestesúltimos, por não ser<strong>em</strong> assegurados pela previdênciasocial, os aci<strong>de</strong>ntes trabalhos acometidos por eles sãoraramente notificados, tornando-se difícil a i<strong>de</strong>ntificaçãoda situação <strong>de</strong> risco <strong>de</strong>sses trabalhadores informais,merecendo, assim, futuras investigações.REFERÊNCIAS1. Santana V, Maia AP, Carvalho C, Luz G. Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho não fatais: diferenças <strong>de</strong> gênero e tipo <strong>de</strong> contrato <strong>de</strong> trabalho. Cad Saú<strong>de</strong>Pública. 2003; 19(2):481-93.2. Wunsch Filho V. Perfil Epid<strong>em</strong>iológico dos Trabalhadores. Rev Bras Med Trab. 2004; 2(2):103-17.3. International Labour Organization. Safety in numbers: pointers for the global safety at work. Geneva; 2003.4. Dias EC, Hoefel MG. O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> impl<strong>em</strong>entar as ações <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do trabalhador no SUS: a estratégia da RENAST. Cienc Saú<strong>de</strong> Coletiva 2005;10(4): 817-28.5. Albracht G. Globalização, locais <strong>de</strong> trabalho e saú<strong>de</strong>. In: Os <strong>de</strong>safios globais da inspeção do trabalho; 2005. [Citado 2011 mar. 15]. Disponível<strong>em</strong>: .6. Wunsch Filho V. Reestruturação produtiva e aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalho no Brasil: tendências e estruturas. Cad Saú<strong>de</strong> Pública. 1999; 15(1):41-51.7. Lassance MC, Sparta M. A orientação profissional e as transformações no mundo do trabalho. Rev Bras Orientac Prof. 2003; 4 (1/2): 13-9.8. Minas Gerais. Prefeitura <strong>de</strong> Belo Horizonte. Estatísticas e indicadores d<strong>em</strong>ográficos: número <strong>de</strong> trabalhadores no mercado <strong>de</strong> trabalho formalpor setores <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> econômica e faixa etária – Belo Horizonte; 2002 [Citado 2011 jan. 21]. Disponível <strong>em</strong>: .9. Minas Gerais. Prefeitura <strong>de</strong> Belo Horizonte. [Citado 2011 jan. 21]. Disponível <strong>em</strong>: .10. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Comissão Nacional <strong>de</strong> Classificação, CNAE 1.0. [Citado 2011 jan. 17]. Disponível <strong>em</strong>:.11. Boletim Trabalho no Comércio: O jov<strong>em</strong> comerciário: trabalho e estudo. DIEESE- Departamento Internacional <strong>de</strong> Estudos EstatísticosSocioeconômicas. 2009; I(3).12. Confe<strong>de</strong>ração Nacional dos Trabalhadores no Comércio. DIEESE - Estudos e Pesquisas - nº 52 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2010 - Comércio. [Citado 2011 maio.21]. Disponível <strong>em</strong>: .13. Brasil. Ministério <strong>de</strong> Trabalho e Emprego - MTE. Boletim Estatístico Projetivo: Projeções Estatísticas com Dados <strong>de</strong> Trabalho e Emprego doBrasil, Brasília, DF; Agosto <strong>de</strong> 2009.14. Brasil. Ministério do Trabalho e Emprego – MTE. Nexo Técnico Epid<strong>em</strong>iológico Previ<strong>de</strong>nciário, NTEP. [Citado 2011 maio 21]. Disponível <strong>em</strong>:.15. Bin<strong>de</strong>r MCP, Cor<strong>de</strong>iro R. Sub-registro <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes do trabalho <strong>em</strong> localida<strong>de</strong> do Estado <strong>de</strong> São Paulo, 1997. Rev Saú<strong>de</strong> Pública. 2003; 37(4):409-16.16. Conceição PSA, Nascimento IBO, Oliveira PS, Cequeira MRM. Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trabalhos atendidos <strong>em</strong> um serviço <strong>de</strong> <strong>em</strong>ergência. Cad Saú<strong>de</strong>Pública. 2003; 19(1): 111-7.17. Brasil. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Geografia Estatística- IBGE. Pesquisa Mensal <strong>de</strong> Emprego:432r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011


Principais <strong>de</strong>staques da evolução do mercado <strong>de</strong> trabalho nas regiões metropolitanas abrangidas pela pesquisa; 2007.18. Minas Gerais. Prefeitura <strong>de</strong> Belo Horizonte. Regional Centro-Sul: apresentação. [Citado 2011 jan. 25]. Disponível <strong>em</strong>: .19. Rocha AFS. Determinantes da Procura <strong>de</strong> Atendimento <strong>de</strong> Urgência pelos Usuários nas Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> Pronto Atendimento da SecretariaMunicipal <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> Belo Horizonte [dissertação]. Belo Horizonte: Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas Gerais- <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>; 2005.20. Gawryszewski VP, Koizumi MS, Mello-Jorge MHP. As causas externas no Brasil no ano 2000: comparando a mortalida<strong>de</strong> e a morbida<strong>de</strong>. CadSaú<strong>de</strong> Pública 2004; 20(4): 995-1003.21. Brasil. Ministério da Previdência e Assistência Social Ministério do Trabalho e Emprego. Máquinas e Aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> Trabalho. Brasília: MTE/SIT; 2001. 86 p.22. Campos A, Tavares JC, Lima V. Prevenção e controle <strong>de</strong> riscos com máquinas, equipamentos e instalações. São Paulo: Editora Senac; 2010.23. Veronese AM, Oliveiro DLLC. Os riscos dos aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> trânsito na perspectiva dos motoboys: subsídios para a promoção da saú<strong>de</strong>. CadSaú<strong>de</strong> Pública 2006; 22(12):2717-27.Data <strong>de</strong> submissão: 8/1/2011Data <strong>de</strong> aprovação: 7/7/2011r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 427-433, jul./set., 2011433


Revisão teóricaA PESQUISA EM HISTÓRIA DA ENFERMAGEM: REVISÃO DE PUBLICAÇÕESDE 2000-2008NURSING HISTORY RESEARCH: REVIEW OF PUBLICATIONS 2000-2008LA INVESTIGACIÓN EN LA HISTORIA DE LA ENFERMERÍA: REVISIÓN DE PUBLICACIONES ENTRE 2000 Y 2008Virgínia Mascarenhas Nascimento Teixeira 1Yanna Mara Mol Cunha 2RESUMONo final do século XX, a pesquisa <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong> no Brasil começou a ganhar impulso, indicando anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar o contexto <strong>de</strong> formação e atuação do enfermeiro ao longo do <strong>de</strong>senvolvimento da profissão.Com este estudo, buscou-se analisar o conhecimento produzido sobre história da enfermag<strong>em</strong> e o espaço ocupadopelas publicações nessa área <strong>em</strong> periódicos nacionais, no período <strong>de</strong> 2000 a 2008. O trabalho foi realizado comouma forma <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o modo pelo qual as pesquisas têm evoluído nessa área e alertar os pesquisadores parapossíveis necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> publicação e exploração <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as relacionados à história da enfermag<strong>em</strong>. Foi realizada umapesquisa bibliográfica nas bases <strong>de</strong> dados Lilacs e BDENF, com a utilização do <strong>de</strong>scritor “História da Enfermag<strong>em</strong>”, sendoencontrados 212 artigos relacionados ao t<strong>em</strong>a. Ao analisar os trabalhos, foi possível confirmar que estes pod<strong>em</strong> serdivididos <strong>em</strong> três t<strong>em</strong>áticas principais: assistencial, organizacional e profissional. Existe o predomínio <strong>de</strong> publicaçõesna t<strong>em</strong>ática profissional, seguido da organizacional e assistencial, respectivamente. A revista <strong>de</strong> maior publicação <strong>de</strong>artigos sobre história da enfermag<strong>em</strong> é a Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> e gran<strong>de</strong> parte dos autores envolvidos naspublicações possui apenas um artigo publicado. Apesar do número aparent<strong>em</strong>ente expressivo <strong>de</strong> publicações <strong>em</strong>história da enfermag<strong>em</strong>, esse campo precisa ser mais b<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolvido, pois a maior parte das publicações ainda estáconcentrada <strong>em</strong> uma mesma área e produzida por um grupo pequeno <strong>de</strong> interessados no t<strong>em</strong>a.Palavras-chave: Enfermag<strong>em</strong>; História da Enfermag<strong>em</strong>; Pesquisa <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>.ABSTRACTIn the late twentieth century nursing history research in Brazil began to gain momentum indicating the need torethink nursing education and performance throughout the profession’s <strong>de</strong>velopment. This study aimed to analyse theknowledge production about nursing history and the space <strong>de</strong>dicated to articles on that subject in national journals from2000 to 2008. The study inten<strong>de</strong>d to un<strong>de</strong>rstand how research has evolved in the area and to alert researchers aboutpossible publishing needs and issues related to nursing history to be explored. A bibliographic research in LILACS andBDENF databases using the <strong>de</strong>scriptor “History of Nursing” was conducted. 212 it<strong>em</strong>s related to the topic were found.The articles were divi<strong>de</strong>d into three main categories: “assistance”, “organizational” and “professional”. The “professional”category produced the largest number of articles, followed by “organizational” and “assistance”, respectively. Th<strong>em</strong>agazine that published the largest number of articles was the Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> (Brazilian Journal ofNursing) and most authors had only one article published in it. Despite the apparently impressive number of articleson nursing history, this field needs to be explored further, as most articles are still concentrated in one same area andare produced by a reduced group of professionals interested in the subject.Key-Words: Nursing; Nursing History; Nursing Research.RESUMENEn el final <strong>de</strong>l siglo XX, la investigación en historia <strong>de</strong> la enfermería en Brasil comenzó a ganar impulso, indicando lanecesidad <strong>de</strong> repensar el contexto <strong>de</strong> la formación y la actuación <strong>de</strong>l enfermero durante el <strong>de</strong>sarrollo <strong>de</strong> la profesión. Esteestudio tuvo como objetivo analizar el conocimiento producido sobre la historia <strong>de</strong> la enfermería y el espacio ocupado porlas publicaciones en esta área en revistas nacionales, en el período <strong>de</strong> 2000 a 2008. El trabajo se realizó como una manera<strong>de</strong> compren<strong>de</strong>r la forma que la investigación se ha <strong>de</strong>sarrollado en esta área y para alertar a los investigadores a las posiblesnecesida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> publicación y exploración <strong>de</strong> t<strong>em</strong>as relacionados a la historia. Se realizó una búsqueda bibliográfica en lasbases <strong>de</strong> datos LILACS y BDENF con la utilización <strong>de</strong>l <strong>de</strong>scriptor “Historia <strong>de</strong> la Enfermería”. Fueran encontrados 212 artículosrelacionados al t<strong>em</strong>a. Las obras fueran divididas en tres t<strong>em</strong>áticas principales: asistencial, organizacional y profesional.Hay un predominio <strong>de</strong> publicaciones en la t<strong>em</strong>ática profesional, seguida <strong>de</strong> las t<strong>em</strong>áticas asistencial y <strong>de</strong> organizacional,respectivamente. La revista <strong>de</strong> mayor publicación <strong>de</strong> artículos sobre la historia <strong>de</strong> la enfermería es la Revista Brasileña<strong>de</strong> Enfermería (Revista Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>) y la mayoría <strong>de</strong> los autores que participan en las publicaciones sólo hanpublicado un artículo. A pesar <strong>de</strong>l número aparent<strong>em</strong>ente significativo <strong>de</strong> publicaciones en la historia <strong>de</strong> enfermería, esecampo tiene que <strong>de</strong>sarrollarse aún más, porque la mayoría <strong>de</strong> las publicaciones siguen concentrándose en una misma áreay son producidas por un pequeño grupo interesado en el t<strong>em</strong>a.Palabras clave: Enfermería; Historia <strong>de</strong> la Enfermería; Investigación en Enfermería.1Enfermeira. Mestre <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> pela <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>. Doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> História da FAFICH/<strong>UFMG</strong>.Professora da Faculda<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá <strong>de</strong> Belo Horizonte. M<strong>em</strong>bro do Núcleo <strong>de</strong> Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> (NUPEQS).En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Deputado Joaquim Mariano, 141, apto. 206, Camargos – Belo Horizonte. CEP: 30525-420.2Aluna do Curso <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Faculda<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá <strong>de</strong> Belo Horizonte. M<strong>em</strong>bro do Núcleo <strong>de</strong> Pesquisas e Estudos sobre Quotidiano <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>(NUPEQS). E-mail: yannamol@hotmail.com.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011435


A pesquisa <strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong>: revisão <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> 2000-2008INTRODUÇÃOA história da enfermag<strong>em</strong> é uma área interdisciplinarsituada entre duas áreas <strong>de</strong> conhecimento: a enfermag<strong>em</strong>e a história. Seu estudo po<strong>de</strong> gerar confronto crítico como passado, trazendo questões <strong>de</strong>licadas que evi<strong>de</strong>nciamcontradições e inconsistências e exig<strong>em</strong> <strong>de</strong> enfermeiros ehistoriadores capacida<strong>de</strong>s cognitivas e afetivas especiaispara produzir<strong>em</strong> conhecimento no domínio <strong>de</strong> ambasas áreas. 1 A história da enfermag<strong>em</strong> contribui paraa formação <strong>de</strong> profissionais com consciência crítica,reflexiva e com novas formas <strong>de</strong> percepção e apreciaçãoda realida<strong>de</strong> social. Profissionais capazes <strong>de</strong> pensar aenfermag<strong>em</strong> inscrita <strong>em</strong> um campo <strong>de</strong> forças dinâmicase contraditórias, composto por passado, presente efuturo. 1Ao longo dos séculos, as informações sobre a história daenfermag<strong>em</strong> foram, muitas vezes, fornecidas por outrasdisciplinas, como a medicina, a sociologia e a história,sendo exaltado o enfoque da enfermag<strong>em</strong> ora religiosoe submisso, ora <strong>de</strong>pravado e profano. 2 Nesse sentido, arelação da socieda<strong>de</strong> com a profissão se fez, <strong>em</strong> muitosmomentos, permeada por conceitos, preconceitos eestereótipos estabelecidos <strong>em</strong> ao longo da sua trajetóriahistórica e que, até hoje, influenciam na concepção doseu significado como profissão da saú<strong>de</strong>. 3Além disso, durante muito t<strong>em</strong>po, a história daenfermag<strong>em</strong> seguiu o mo<strong>de</strong>lo da própria disciplinaHistória, que parece ter sido baseado <strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong>r<strong>em</strong><strong>em</strong>oração, anamnese e m<strong>em</strong>orização dos gran<strong>de</strong>shistoriadores. 4 No passado, os historiadores percorriamda história à m<strong>em</strong>ória coletiva. Já a história atual seinteressa por toda ativida<strong>de</strong> humana, ou seja, tudo t<strong>em</strong>uma história, um passado que po<strong>de</strong> ser reconstruído erelacionado ao restante <strong>de</strong>sse passado. 4 De acordo comPadilha et al, 2:576 “a enfermag<strong>em</strong> é uma profissão que, aolongo do t<strong>em</strong>po, v<strong>em</strong> <strong>de</strong>sconstruindo e construindosua história”. Portanto, po<strong>de</strong>-se dizer que é impossívelcompreen<strong>de</strong>r o contexto profissional da enfermag<strong>em</strong>s<strong>em</strong> conhecer sua história.Produzir pesquisa histórica para construir m<strong>em</strong>óriada enfermag<strong>em</strong> e analisar criticamente a história dasenfermeiras e da enfermag<strong>em</strong> é um <strong>de</strong>safio que v<strong>em</strong>crescendo no <strong>de</strong>correr do t<strong>em</strong>po. 2 Nesse sentido, osestudos sobre história da enfermag<strong>em</strong> têm possibilitado atomada <strong>de</strong> consciência daquilo que somos, como produtohistórico, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> uma autoestima coletivae a reconstrução da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional. Esses estudospermit<strong>em</strong> uma nova visão sobre a profissão, 5 que a tornaviva, buscando vestígios do passado e encontrando suai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> no presente. 3Nesse sentido, a pesquisa <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong>,no Brasil, começou a ganhar impulso a partir do finaldo século XX, com o <strong>de</strong>spertar da enfermag<strong>em</strong> para anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar equilíbrio entre capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>crítica social e autocrítica profissional e a competênciatécnico-científica. 1O reconhecimento da história da enfermag<strong>em</strong> comolinha <strong>de</strong> pesquisa no Fórum Nacional <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong>Cursos <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, realizado <strong>em</strong>2000 pela Coor<strong>de</strong>nação <strong>de</strong> Aperfeiçoamento <strong>de</strong> Pessoal<strong>de</strong> Nível Superior (CAPES), evi<strong>de</strong>nciou a ampliação dosestudos na área, possibilitando uma produção científicacom ampla t<strong>em</strong>ática. 1Em estudo sobre o movimento <strong>de</strong> reconsi<strong>de</strong>ração doensino e da pesquisa <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong>, Barreirae Baptista 1 estabeleceram as t<strong>em</strong>áticas abordadasna produção científica <strong>de</strong> história da enfermag<strong>em</strong>,que pod<strong>em</strong> essas ser agrupadas <strong>em</strong> três t<strong>em</strong>áticas: aprofissional, a assistencial e a organizacional:• Profissional: raízes da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional; oprocesso <strong>de</strong> cientificação do saber da enfermag<strong>em</strong>;a formação da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>; asentida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe no processo da institucionalizaçãoda enfermag<strong>em</strong>; historicida<strong>de</strong> das questões étnicas;o ensino e a pesquisa <strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong>;• Assistencial: configurações da prática da enfermag<strong>em</strong>no t<strong>em</strong>po e no espaço; impacto das tecnologias naassistência <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>; o ensino da assistência,conteúdo e estratégias; abordag<strong>em</strong> histórica nosmodos <strong>de</strong> comunicação entre enfermeiros e clientes;história das doenças e práticas profissional;• Organizacional: trajetória das escolas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>;a enfermag<strong>em</strong> nos hospitais mo<strong>de</strong>lares; atuação daenfermag<strong>em</strong> nos programas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>; aorganização do trabalho <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nos serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, a enfermeira na administração da assistência,do ensino e da pesquisa interdisciplinar. 1:704A importância dos estudos sobre história da enfermag<strong>em</strong>t<strong>em</strong> se evi<strong>de</strong>nciado, nas últimas décadas, pelo crescentenúmero <strong>de</strong> trabalhos na área e <strong>em</strong> razão, principalmente,da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> repensar a profissão <strong>em</strong> relação como contexto social no qual o enfermeiro atua. 6Tendo <strong>em</strong> vista a relevância do t<strong>em</strong>a história da enfermag<strong>em</strong>para a enfermag<strong>em</strong>, surgiram as seguintesquestões <strong>de</strong> pesquisa: Qual o espaço que o t<strong>em</strong>a <strong>em</strong>questão, como objeto <strong>de</strong> investigação dos enfermeiros,ocupa nas publicações <strong>em</strong> periódicos brasileiros noperíodo <strong>de</strong> 2000 a 2008? Em que subáreas da históriada enfermag<strong>em</strong> incid<strong>em</strong> essas publicações?Nesse sentido, buscou-se, com este estudo, analisar oconhecimento produzido <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong>e o espaço ocupado pelas publicações nessa área <strong>em</strong>periódicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nacionais, no período <strong>de</strong>2000 a 2008.Dada a importância <strong>de</strong> publicações sobre história daenfermag<strong>em</strong>, justificou-se a elaboração <strong>de</strong>ste estudo, paracompreen<strong>de</strong>r a forma pela qual pesquisas têm evoluídonessa área, e, possivelmente, com os resultados busca-sepo<strong>de</strong>r direcionar e atentar pesquisadores sobre possíveisnecessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> publicação e até mesmo da exploração<strong>de</strong> t<strong>em</strong>as relacionados à história da profissão.METODOLOGIAO caminho metodológico utilizado para <strong>de</strong>senvolvereste t<strong>em</strong>a foi a pesquisa bibliográfica. Trata-se <strong>de</strong>436 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011


“levantamento e análise crítica dos principais trabalhospublicados sobre <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>a”, tendo, portanto,como finalida<strong>de</strong>, atualização <strong>de</strong> conhecimentose acompanhamento do <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> umassunto. 7:3A finalida<strong>de</strong> com o estudo foi resgatar aspectos inerentesàs produções científicas sobre história da enfermag<strong>em</strong>.Portanto, para a obtenção das informações <strong>de</strong>sejadas, foirealizado um levantamento bibliográfico das publicaçõessobre história da enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> periódicos brasileirosa partir <strong>de</strong> 2000, quando a história da enfermag<strong>em</strong>foi reconhecida como linha <strong>de</strong> pesquisa no FórumNacional <strong>de</strong> Coor<strong>de</strong>nadores <strong>de</strong> Cursos <strong>de</strong> Pós-Graduação<strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>, promovido pela CAPES <strong>em</strong> 2008, dadaa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> trabalhar com dados que permitama visualização do <strong>de</strong>senvolvimento da pesquisa <strong>em</strong>história da enfermag<strong>em</strong> até o momento.Inicialmente, a busca se <strong>de</strong>u por meio do site da BibliotecaVirtual <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong>, nas bases <strong>de</strong> dados Literatura Latino-Americana e do Caribe <strong>em</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> (Lilacs) ena Base <strong>de</strong> Dados <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> (BDENF), visto quefez parte dos objetivos do estudo encontrar artigoscientíficos nacionais. Essas bases eletrônicas <strong>de</strong> dadosiniciaram suas ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> in<strong>de</strong>xação na década <strong>de</strong>1980 e, assim, os artigos in<strong>de</strong>xados nelas atend<strong>em</strong>ao recorte t<strong>em</strong>poral <strong>de</strong>ste trabalho. 8 A in<strong>de</strong>xação <strong>em</strong>um banco <strong>de</strong> dados nacional ou internacional exigecritérios específicos <strong>de</strong> forma e conteúdo. Dessa forma,a in<strong>de</strong>xação <strong>de</strong> periódicos científicos constitui umimportante indicador <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> da pesquisa e dadimensão <strong>de</strong> sua abrangência. 9Na coleta <strong>de</strong> dados realizada nas bases <strong>de</strong> dadosLilacs e BDENF, utilizou-se como <strong>de</strong>scritor a expressão"História da Enfermag<strong>em</strong>". Os limites da pesquisabasearam-se <strong>em</strong>: ano <strong>de</strong> publicação – <strong>de</strong> 2000 a 2008;idioma – português; e tipo <strong>de</strong> publicação – artigo <strong>de</strong>revista. Foram encontrados 212 artigos na base Lilacse 162 na BDENF. I<strong>de</strong>ntificados os artigos, foi realizadaa leitura minuciosa dos resumos encontrados para,posteriormente, os artigos ser<strong>em</strong> adquiridos.Nessa análise, verificou-se que dos 212 artigosencontrados no Lilacs todos estavam in<strong>de</strong>xados nabase BDENF. Assim, foram adquiridos e analisados os212 artigos presentes naquela base.Dentre todo material pesquisado, gran<strong>de</strong> parteencontrava-se disponível integralmente na internet,por isso foram impressos. Os d<strong>em</strong>ais foram obtidosnas bibliotecas da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong>Minas Gerais (PUC Minas) e da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong>Minas Gerais (<strong>UFMG</strong>) e feitas cópias xérox, ou, ainda,para aqueles não disponíveis, a aquisição do artigo foirealizada via biblioteca da Faculda<strong>de</strong> Estácio <strong>de</strong> Sá <strong>de</strong>Belo Horizonte.Em seguida, foi realizada a leitura minuciosa do materiale o registro das informações obtidas <strong>em</strong> um roteiroelaborado previamente, contendo itens referentes aotítulo da pesquisa, t<strong>em</strong>ática, objetivos e conclusões.Os dados levantados foram comparados e os artigosanalisados foram agrupados, por similarida<strong>de</strong> epertinência, <strong>em</strong> t<strong>em</strong>áticas abordadas na produçãocientífica <strong>de</strong> história da enfermag<strong>em</strong> citadas previamente<strong>em</strong> estudo <strong>de</strong> Barreira e Baptista, quais sejam: assistencial,organizacional e profissional. 1 Sugeriu-se, ainda, o tópico“Outras produções históricas”, composto por artigos quenão se enquadraram nas t<strong>em</strong>áticas citadas. Os resultadossão apresentados a seguir.A PRODUÇÃO EM HISTÓRIA DA ENFERMAGEMA produção científica <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong> porperiódicos, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ano <strong>de</strong> 2000 até 2008, é apresentadaa seguir, na TAB. 1:Tabela 1 – Número <strong>de</strong> publicações <strong>em</strong> história daenfermag<strong>em</strong> por periódico, 2000-2008Periódicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>N o artigosRev. Bras. Enferm (REBEn). 85Esc. Anna Nery – Rev. Enferm. 72Texto & Contexto Enferm. 13Rev. Enferm. UERJ 10Rev. Esc. Enferm. USP 5Rev. Latinoam. Enferm. 4Rev. Paul. Enferm. 4REME – Rev. Min. Enferm. 3Acta Paul. Enferm. 2Cogitare Enferm. 2Hist. Ciênc. Saú<strong>de</strong> – Manguinhos 2Rev. Baiana Enferm. 2Arq. Ciências Saú<strong>de</strong> UNIPAR 1Arq. Méd. ABC 1Online Braz. J. Nurs. 1Cad. Saú<strong>de</strong> Coletiva 1Ciênc. Cuid. Saú<strong>de</strong> 1Invest. Educ. Enferm. 1Rev. Eletrônica Enferm. 1Rev. RENE 1Total <strong>de</strong> artigos 212A produção científica por periódicos se distribui da seguint<strong>em</strong>aneira: 85 artigos foram publicados na Revista Brasileira<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, o que correspon<strong>de</strong> a 39% da produçãonessa área, no período estudado; 72 artigos forampublicados na <strong>Escola</strong> Anna Nery – Revista <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>,r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011437


A pesquisa <strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong>: revisão <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> 2000-2008o que correspon<strong>de</strong> a 34%; 13 artigos, na Texto & ContextoEnfermag<strong>em</strong>, correspon<strong>de</strong>ndo a 6% do total; 10 artigos,na Revista <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da UERJ, correspon<strong>de</strong>ndo a 5%;e 34 artigos estão distribuídos nas d<strong>em</strong>ais revistas, o quecorrespon<strong>de</strong> a 16%. É importante ressaltar que esses dadosestão relacionados às publicações que tinham História daEnfermag<strong>em</strong> como <strong>de</strong>scritor.Ao analisar a produção <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong>relação aos periódicos que publicam artigos referentesa esse t<strong>em</strong>a, foi possível perceber que a Revista Brasileira<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> (REBEn) publicou o maior número<strong>de</strong> trabalhos, seguida da <strong>Escola</strong> Anna Nery – Revista<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Nesses casos, po<strong>de</strong>-se dizer que, <strong>em</strong>relação à REBEn, trata-se do periódico mais antigo daenfermag<strong>em</strong>, publicado <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1932, com o nome Anais<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, e que constitui um importante meio<strong>de</strong> divulgação <strong>de</strong> pesquisas até os dias <strong>de</strong> hoje. 10 Alémdisso, a revista t<strong>em</strong> uma sessão <strong>de</strong>dicada à história, oque contribui para a divulgação frequente <strong>de</strong> trabalhosna área. No que diz respeito à <strong>Escola</strong> Anna Nery – Revista<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, trata-se <strong>de</strong> uma publicação da <strong>Escola</strong><strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Anna Nery, na qual foi criado o Núcleo<strong>de</strong> Pesquisas e Estudos sobre a História da Enfermag<strong>em</strong>Brasileira (NUPHEBRAS), primeiro núcleo <strong>de</strong> pesquisascuja t<strong>em</strong>ática é a história da enfermag<strong>em</strong> e que já t<strong>em</strong>certa “tradição” <strong>em</strong> pesquisa nessa área.Como a maioria dos outros periódicos brasileiros t<strong>em</strong>t<strong>em</strong>áticas específicas para cada publicação, a história daenfermag<strong>em</strong> fica restrita aos números relacionados aessa t<strong>em</strong>ática, o que, <strong>de</strong> certo modo, é bom, por reunirdiferentes assuntos e abordagens <strong>em</strong> um mesmo ex<strong>em</strong>plar,facilitando a busca e leitura dos interessados, que pod<strong>em</strong>fazer comparações e conhecer diferentes aspectos dahistória; mas, por outro lado, limita as publicações históricasa certos períodos, s<strong>em</strong> uma regularida<strong>de</strong> <strong>em</strong> relação aot<strong>em</strong>a, o que po<strong>de</strong> contribuir para menor interesse dosleitores e pesquisadores no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisasrelacionadas à história da enfermag<strong>em</strong>.Ficou evi<strong>de</strong>nciado também, pela análise dos artigos, quealguns autores foram os responsáveis por gran<strong>de</strong> partedas publicações <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong>, ou seja,um grupo pequeno e regular <strong>de</strong> autores publica muito,enquanto outros autores possu<strong>em</strong> apenas um artigorelacionado ao t<strong>em</strong>a, como ilustrado a seguir, no FIG. 1.FIGURA 1 – Gráfico <strong>de</strong> porcentag<strong>em</strong> <strong>de</strong> artigos sobrehistória da enfermag<strong>em</strong> publicados por autorAo analisar esse dado, o resultado foi: 80% dos autoresenvolvidos nas publicações possu<strong>em</strong> apenas um artigopublicado, 16% possu<strong>em</strong> <strong>de</strong> dois a quatro artigospublicados, 2% possu<strong>em</strong> entre cinco a <strong>de</strong>z artigospublicados e 2% possu<strong>em</strong> acima <strong>de</strong> <strong>de</strong>z artigos.Cabe evi<strong>de</strong>nciar que, ao analisar os autores com cincoou mais publicações, é possível perceber que a maioria<strong>de</strong>les está vinculada a grupos <strong>de</strong> pesquisa que possu<strong>em</strong>história da enfermag<strong>em</strong> como uma <strong>de</strong> suas linhas <strong>de</strong>pesquisa e, além disso, são lí<strong>de</strong>res <strong>de</strong>sses grupos. 11Os autores que publicaram entre cinco e <strong>de</strong>z artigos são:Antonio José Almeida, Estelina Souto do Nascimento,Gertru<strong>de</strong>s Teixeira Lopes, Maria Cristina Sanna, Mariada Luz Barbosa Gomes, Miriam Susskind Borensteine Wellington Mendonça Amorim. Já aqueles queapresentaram mais <strong>de</strong> <strong>de</strong>z artigos publicados noperíodo foram: Ieda <strong>de</strong> Alencar Barreira, Suely <strong>de</strong> SouzaBaptista, Taka Oguisso, Maria Itayra Padilha e TâniaCristina Franco Santos. É importante evi<strong>de</strong>nciar queoutros autores publicaram trabalhos relacionados àhistória da enfermag<strong>em</strong>, mas muitos artigos publicadospertencentes a pesquisas históricas no período <strong>de</strong>limitadodo estudo não fizeram parte <strong>de</strong>ste estudo dado o fato<strong>de</strong> não possuír<strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong> como um<strong>de</strong> seus <strong>de</strong>scritores. Portanto, cabe aqui um alerta aospesquisadores/orientadores quanto à necessida<strong>de</strong><strong>de</strong> utilizar o <strong>de</strong>scritor História da Enfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong>suas produções, pois, com isso, possibilitarão maiorsocialização do conhecimento na área. Essa foi, aliás,uma das orientações dos pesquisadores salientada, <strong>em</strong>2008, no Sexagésimo Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>,na reunião <strong>de</strong> pesquisadores <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. 12Buscando o estado <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> aos quais os grupos <strong>de</strong>pesquisa dos autores com maior índice <strong>de</strong> publicaçõespertenc<strong>em</strong>, foi encontrado: sete são <strong>de</strong> grupos do Rio<strong>de</strong> Janeiro, dois <strong>de</strong> São Paulo, dois <strong>de</strong> Santa Catarina eum <strong>de</strong> Minas Gerais. Com exceção do grupo mineiro,que é vinculado à Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica <strong>de</strong>Minas Gerais (PUC Minas), todos os grupos dos quaisesses autores faz<strong>em</strong> parte são vinculados a universida<strong>de</strong>sfe<strong>de</strong>rais.Os grupos <strong>de</strong> pesquisa <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> registrados noCNPq, segundo o último senso <strong>de</strong> 2006, totalizam 331,dos quais 37 (11%) possu<strong>em</strong> como uma <strong>de</strong> suas linhas<strong>de</strong> pesquisa a história da enfermag<strong>em</strong>, ao passo que 294(89%) não trabalham com esse t<strong>em</strong>a. 11De acordo com o ano <strong>de</strong> formação dos grupos que têma história da enfermag<strong>em</strong> como linha <strong>de</strong> pesquisa, épossível perceber um consi<strong>de</strong>rável crescimento apóso reconhecimento <strong>de</strong>ssa linha pela CAPES <strong>em</strong> 2000.Até 2000, existiam 15 grupos formados; a partir <strong>de</strong>sseperíodo, os d<strong>em</strong>ais se formaram ou incluíram essa linha<strong>de</strong> pesquisa nos trabalhos do grupo. Esses grupos sãoos gran<strong>de</strong>s responsáveis pela maioria das publicaçõesna área. Mas, se consi<strong>de</strong>rarmos <strong>em</strong> relação ao total <strong>de</strong>grupos, o número ainda é pequeno, ou seja, a históriada enfermag<strong>em</strong> não constitui um objeto <strong>de</strong> interesse damaior parte dos pesquisadores <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.438 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011


Com relação às publicações <strong>de</strong> artigos com <strong>de</strong>scritorHistória da Enfermag<strong>em</strong>, por ano, a trajetória <strong>de</strong>ssaspublicações é ilustrada a seguir, no FIG. 2.e assistencial, além <strong>de</strong> alguns artigos que não seenquadram <strong>em</strong> nenhuma <strong>de</strong>las, como po<strong>de</strong> ser percebidono gráfico FIG. 3.FIGURA 2 – Gráfico <strong>de</strong> publicações <strong>em</strong> história daenfermag<strong>em</strong> por anoAnalisando as publicações <strong>de</strong> artigos com <strong>de</strong>scritorHistória da Enfermag<strong>em</strong> no período proposto, é possívelverificar que, a partir <strong>de</strong> 2000, quando foi reconhecidacomo linha <strong>de</strong> pesquisa, houve crescimento daspublicações. Em 2001, ocorreu um aumento consi<strong>de</strong>ráveldas publicações; <strong>de</strong> 2002 a 2004, continuou-sepublicando, porém, ocorreu um <strong>de</strong>clínio da quantida<strong>de</strong><strong>de</strong> publicações. Em 2005, o número <strong>de</strong> publicaçõeselevou-se novamente. De 2006 a 2007, ocorreu um<strong>de</strong>clínio. Em 2008, novamente começou a elevar-se onúmero <strong>de</strong> publicações.Com base nos dados apresentados, é possível perceberque ocorreu um aumento consi<strong>de</strong>rável das publicações<strong>em</strong> 2001 e 2005. Po<strong>de</strong>-se inferir que esse aumento<strong>de</strong>veu-se a duas revistas que lançaram edições referentesà história da enfermag<strong>em</strong>. Foram elas: Revista Brasileira<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, que, <strong>em</strong> razão das com<strong>em</strong>oraçõesdos 75 anos da Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>(ABEn), <strong>em</strong> 2001, publicou um número cuja t<strong>em</strong>ática foi“História da ABEn”; e, <strong>em</strong> 2005, a Revista Texto & ContextoEnfermag<strong>em</strong> lançou “A história da enfermag<strong>em</strong> e saú<strong>de</strong>”,<strong>em</strong> homenag<strong>em</strong> aos <strong>de</strong>z anos da criação do Grupo <strong>de</strong>Estudos <strong>de</strong> História do Conhecimento da Enfermag<strong>em</strong>(GEHCE), vinculado ao Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação<strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SantaCatarina. Apesar <strong>de</strong> uma queda na produção histórica,é importante ressaltar que, <strong>em</strong> 2002, a REBEn tambémlançou um número específico sobre história, dandooportunida<strong>de</strong> para publicação na área nesse ano.A PESQUISA HISTÓRICA EM ENFERMAGEM E SUASTEMÁTICASCom base nos trabalhos <strong>de</strong> pesquisa referentes à históriada enfermag<strong>em</strong> e publicados <strong>em</strong> periódicos nacionaisno período <strong>de</strong>ste estudo, foi possível tecer algumasconsi<strong>de</strong>rações relacionadas ao <strong>de</strong>senvolvimento dapesquisa histórica <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> e suas principaisáreas <strong>de</strong> interesse, tendo como referência as t<strong>em</strong>áticaspropostas por Barreira e Baptista, relacionadas à produçãohistórica profissional, organizacional e assitencial. 1No que diz respeito às t<strong>em</strong>áticas encontradas, foi possívelperceber que existe predomínio na produção históricaprofissional, seguida das t<strong>em</strong>áticas organizacionalFIGURA 3 – Gráfico <strong>de</strong> publicações <strong>em</strong> história daenfermag<strong>em</strong> por t<strong>em</strong>áticaDos 212 artigos analisados, com maior proporção– 52%, que correspond<strong>em</strong> a 112 artigos –, está at<strong>em</strong>ática profissional, composta, principalmente, porartigos que discorr<strong>em</strong> sobre as entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classeno processo da institucionalização da enfermag<strong>em</strong>,histórias <strong>de</strong> vida, raízes da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> profissional,a formação da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e oprocesso <strong>de</strong> cientifização do saber. Em seguida, com31%, que correspond<strong>em</strong> a 65 artigos, está a t<strong>em</strong>áticaorganizacional, na qual aparec<strong>em</strong> com maior frequênciapublicações sobre a trajetória <strong>de</strong> escolas, a organizaçãodo trabalho <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e aenfermeira na administração da assistência, do ensinoe pesquisa interdisciplinar. A terceira t<strong>em</strong>ática, com13% das publicações, que correspond<strong>em</strong> a 27 artigos,se relaciona à área assistencial. Nessa, há o predomínio<strong>de</strong> publicações sobre configurações da prática daenfermag<strong>em</strong> no t<strong>em</strong>po e no espaço. Exist<strong>em</strong>, ainda,os artigos que não se enquadram <strong>em</strong> nenhuma dast<strong>em</strong>áticas citadas, porém, dada a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assuntosabordados, não foi possível sugerir nova categoria,então, estes foram agrupados <strong>em</strong> “Outras produçõeshistóricas”, composta por oito artigos, representando4% do total <strong>de</strong> artigos encontrados.AssistencialOs estudos históricos produzidos na t<strong>em</strong>ática assistencialabordam, <strong>de</strong> diversas maneiras, a prática da enfermag<strong>em</strong>,<strong>de</strong>ntre os quais são muito frequentes os que tratam daconfiguração da prática no t<strong>em</strong>po e no espaço, ou seja,analisam a atuação do enfermeiro <strong>em</strong> diversos espaços ediferentes momentos – por ex<strong>em</strong>plo, <strong>em</strong> guerras, tais comoPrimeira e a Segunda Guerra Mundial, principalmente pormeio da análise <strong>de</strong> conteúdo fotográfico e <strong>de</strong>poimentos<strong>de</strong> enfermeiras que participaram <strong>de</strong>ssas guerras. Essesestudos correspond<strong>em</strong> a 37% da produção na t<strong>em</strong>áticaassistencial e abordam, <strong>de</strong> algum modo, a comunicaçãoe a atuação da enfermag<strong>em</strong> nos espaços <strong>de</strong> guerra,d<strong>em</strong>onstrando a importância <strong>de</strong> sua intervençãosocial, que levou também à afirmação da enfermag<strong>em</strong>mo<strong>de</strong>rna.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011439


A pesquisa <strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong>: revisão <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> 2000-2008Outra abordag<strong>em</strong> muito frequente nos artigos dat<strong>em</strong>ática assistencial presente <strong>em</strong> 33% das publicaçõesé a prática da enfermag<strong>em</strong> psiquiátrica, extr<strong>em</strong>amentevinculada à divulgação da história psiquiátrica brasileirana primeira meta<strong>de</strong> do século XX, a qual foi fundamentada<strong>em</strong> um mo<strong>de</strong>lo asilar, <strong>de</strong> segregação e exclusão social, ea necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoção <strong>de</strong> nova prática baseada nosprincípios da Reforma Psiquiátrica.A história da prática também é um assunto ressaltado naspublicações da t<strong>em</strong>ática assistencial, correspon<strong>de</strong>ndo a11%, nas quais se percebe o reforço dado à associaçãoentre enfermag<strong>em</strong> e religião, principalmente no quediz respeito aos aspectos relacionados à submissão eà obediência das religiosas no <strong>de</strong>senvolvimento dasativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.O fato <strong>de</strong> vários pesquisadores ter <strong>de</strong>dicado seustrabalhos à psiquiatria po<strong>de</strong> estar relacionado a umimportante marco na história da enfermag<strong>em</strong> brasileira,que foi a criação da primeira escola <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> noBrasil, a <strong>Escola</strong> Profissional <strong>de</strong> Enfermeiros e Enfermeiras,cuja finalida<strong>de</strong> era preparar profissionais para atuar <strong>em</strong>hospícios e hospitais civis e militares. 13 A escola funcionavanas <strong>de</strong>pendências do Hospício Nacional dos Alienadose, anteriormente à criação da escola, a assistência <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> era realizada, principalmente, por religiosas,fato que contribui, também, para compreensão daexpressiva associação da religião com a enfermag<strong>em</strong> nosartigos constituintes <strong>de</strong>ssa t<strong>em</strong>ática.Alguns autores realizaram outro tipo <strong>de</strong> abordag<strong>em</strong>na t<strong>em</strong>ática assistencial, referente aos impactos dastecnologias na prática da enfermag<strong>em</strong>, correspon<strong>de</strong>ndoa 11% das publicações na área. Desses 11%, é possívelverificar que 67% analisam as práticas <strong>de</strong>correntesdos novos mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> prestação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> e discut<strong>em</strong> as implicações das mudançastrazidas pelas tecnologias na construção, organizaçãoe funcionamento dos hospitais; e 33%, seguindobasicamente a mesma linha, registraram suasconsi<strong>de</strong>rações referentes à influência das tecnologiasno trabalho da enfermag<strong>em</strong>.O ensino da assistência, conteúdos e estratégiastambém estão presentes nesta t<strong>em</strong>ática assistencial,possibilitando reflexões para a aquisição <strong>de</strong> consciênciacrítica e realização <strong>de</strong> modificações que influenciarão naformação <strong>de</strong> futuros profissionais, representando 8% daspublicações na t<strong>em</strong>ática.Após a análise dos artigos que compõ<strong>em</strong> esta t<strong>em</strong>ática, foipossível perceber que, ainda que esta seja representadapelo menor número <strong>de</strong> artigos publicados, exist<strong>em</strong>diferentes vertentes abordadas, e o que predomina naspublicações são associações clássicas da história daenfermag<strong>em</strong> relacionadas à assistência, à psiquiatria, àreligiosida<strong>de</strong> e às guerras.OrganizacionalAs publicações <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong> encontradaspela <strong>de</strong>limitação <strong>de</strong>sta pesquisa na t<strong>em</strong>áticaorganizacional são compostas por várias vertentes.São elas, seguidas <strong>de</strong> suas proporções: a organizaçãodo trabalho <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> –10%; escolas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> – 39%; enfermeiro naadministração da assistência, do ensino e da pesquisa– 16%; história das doenças e da prática – 25%; atuaçãoda enfermag<strong>em</strong> nos programas nacionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> – 8%;e a enfermag<strong>em</strong> nos hospitais mo<strong>de</strong>lares – 2%.A organização do trabalho <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> nos serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> é um assunto presente nas publicações,correspon<strong>de</strong>ndo a 10% das produções organizacionais.Nesta vertente, as publicações apresentam análise dasdiferentes formas <strong>de</strong> organização e gestão <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> pela enfermag<strong>em</strong>, abordando diferentes espaçosda prática.Nesta t<strong>em</strong>ática, 39% das publicações estão relacionadasàs escolas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>. Desses 39%, é possívelinferir que 76% dos textos apresentam alguns eventos,acontecimentos e aspectos relativos à trajetória dasescolas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> no Brasil. Além <strong>de</strong>sses, aindanos 39%, exist<strong>em</strong> estudos que retratam trajetórias,porém, <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>,que representam 8%. Ainda nesta mesma vertente,alguns autores realizaram publicações relacionadasa escolas, mas que não lhes retratam a trajetória,representando 16% das publicações sobre escolas <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>. São os estudos que caracterizam o perfildos alunos diplomados que <strong>de</strong>screv<strong>em</strong> a <strong>em</strong>ergência domovimento estudantil a partir da criação <strong>de</strong> DiretóriosAcadêmicos, que faz<strong>em</strong> levantamentos para verificar aexpansão dos cursos superiores <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> no País,e, ainda, que comparam o número <strong>de</strong> cursos vinculadosa instituições públicas e privadas.A atuação do enfermeiro nos programas nacionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> diferentes espaços também é significativa naspublicações da t<strong>em</strong>ática organizacional, representando8%. Alguns autores direcionaram suas pesquisaspara analisar a inserção dos serviços <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>nos hospitais mo<strong>de</strong>lares, correspon<strong>de</strong>ndo a 2% daspublicações. Outra vertente encontrada na t<strong>em</strong>áticaorganizacional, representando 25% das publicaçõesnesse sentido, é a que discute sobre a história da doençae da prática.Desse modo, é possível perceber que a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>publicações que tratam da t<strong>em</strong>ática organizacionalé ampla, permitindo vários campos <strong>de</strong> publicação namesma área. Mas, mesmo com a diversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> assuntosabordados nesta t<strong>em</strong>ática, um assunto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>relevância e muito publicado, dada sua inseparabilida<strong>de</strong>da história, é a trajetória das escolas <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.ProfissionalA produção científica da t<strong>em</strong>ática profissional compreen<strong>de</strong>uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> vertentes, mas exist<strong>em</strong>algumas que estão presentes com maior frequêncianas publicações – por ex<strong>em</strong>plo, história <strong>de</strong> vida. Váriosautores, representantes <strong>de</strong> 26% da produção nestat<strong>em</strong>ática, <strong>de</strong>dicaram sua escrita a dados biográficos440 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011


e à análise da trajetória <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> importantespersonagens que contribuíram <strong>de</strong> alguma formapara o <strong>de</strong>senvolvimento da enfermag<strong>em</strong> brasileira,<strong>de</strong>screvendo ou analisando as lutas e conquistas <strong>de</strong><strong>de</strong>terminadas personagens da enfermag<strong>em</strong> brasileira eo significado <strong>de</strong> sua contribuição para enfermag<strong>em</strong>.Outra vertente bastante frequente nas publicaçõesrelaciona-se às entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe da enfermag<strong>em</strong>,correspon<strong>de</strong>nte a 33% do produzido nesta t<strong>em</strong>ática. Nosestudos publicados, busca-se compreen<strong>de</strong>r a trajetóriae a contribuição das entida<strong>de</strong>s para a formação daimag<strong>em</strong> cultural da profissão do enfermeiro. Os estudossobre as entida<strong>de</strong>s representativas da enfermag<strong>em</strong> são<strong>de</strong> cunho histórico-político-social, buscam reconstruir atrajetória <strong>de</strong>ssas instituições, o contexto no qual foramcriadas e seus principais marcos, tais como implantaçãoe <strong>de</strong>senvolvimento. As publicações estão relacionadasa diferentes regiões brasileiras e a maior parte estárelacionada à Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>,principalmente pelo fato <strong>de</strong>, <strong>em</strong> 2001, a ABEn ter<strong>completa</strong>do 75 anos e ter publicado uma edição especialpara abordar o t<strong>em</strong>a, que acabou por englobar históriada enfermag<strong>em</strong>.Ainda nesta t<strong>em</strong>ática, outros autores publicaramartigos sobre ensino e pesquisa <strong>em</strong> história daenfermag<strong>em</strong>, o que correspon<strong>de</strong> a 11% dos artigos.Nessas publicações percebe-se uma gran<strong>de</strong> tendência<strong>em</strong> d<strong>em</strong>onstrar o significado da construção do saber <strong>em</strong>história da enfermag<strong>em</strong> para ampliação do espaço dospesquisadores e fortalecimento da categoria.Em outros estudos, 13% os autores preocuparam-se<strong>em</strong> difundir uma filosofia <strong>de</strong> preservação da m<strong>em</strong>óriada enfermag<strong>em</strong>, sendo essas publicações relacionadasa Centros <strong>de</strong> M<strong>em</strong>ória. Para isso, <strong>em</strong> suas publicaçõesapresentaram critérios <strong>de</strong> organização, preservação,composição e sist<strong>em</strong>atização do acervo documental,processos <strong>de</strong> reorganização <strong>de</strong> Centros <strong>de</strong> M<strong>em</strong>ória. Aintenção com esses artigos é expor a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>resgatar e preservar a história e a m<strong>em</strong>ória da categoria.Na t<strong>em</strong>ática profissional, encontramos, também,publicações sobre a formação da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong> e raízes da profissão, representando 10%dos artigos que compõ<strong>em</strong> esta t<strong>em</strong>ática.Exist<strong>em</strong>, ainda, artigos relacionados à história do cuidadoe das cuidadoras que traz<strong>em</strong> reflexões sobre a história daenfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong> um contexto político, econômico, cultural,geográfico e social, totalizando 7% das publicações nat<strong>em</strong>ática. Alguns <strong>de</strong>sses focalizam a questão do gênerona construção histórica da enfermag<strong>em</strong>, enfatizando apredominância f<strong>em</strong>inina na profissão.De uma forma menos expressiva, está presente naprodução da t<strong>em</strong>ática profissional a vertente valorizaçãodo conhecimento científico, com 3% das publicações.Nos estudos que discorr<strong>em</strong> sobre esse assunto abordasea questão da valorização do conhecimento científicorelacionada à história, portanto a análise inicia-se com aenfermag<strong>em</strong> <strong>em</strong>pírica, <strong>de</strong>svinculada do saber científico,passa pelo período <strong>de</strong> atuação <strong>de</strong> Florence Nightingale,no qual se inicia a valorização do conhecimentocientífico, e chega até os dias atuais.A produção histórica profissional é a t<strong>em</strong>ática verificada,neste estudo, como <strong>de</strong> maior frequência nas publicaçõesno período pesquisado. Isso se <strong>de</strong>ve, principalmente,ao fato da gran<strong>de</strong> preocupação dos pesquisadores <strong>em</strong>história da enfermag<strong>em</strong> quanto ao reconhecimento evalorização da profissão. Disso surge a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>divulgar como se <strong>de</strong>u a formação da comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong>enfermag<strong>em</strong>, as raízes da profissão, a institucionalizaçãodas entida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> classe e o <strong>de</strong>senvolvimento do ensinoe da pesquisa.Outras produções históricasAlém das t<strong>em</strong>áticas abordadas, foram encontradasalgumas publicações que, apesar <strong>de</strong> possuír<strong>em</strong> como<strong>de</strong>scritor História da Enfermag<strong>em</strong>, não se enquadraram<strong>em</strong> nenhuma das correntes existentes até então.Essas publicações discorr<strong>em</strong> sobre produção científica<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Hospitalar, espaço representativo <strong>de</strong>difusão nacional do saber da área, trajetória históricadas produções sobre administração, trajetória daprodução científica dos enfermeiros sobre Educação <strong>em</strong>Enfermag<strong>em</strong>, compreensão dos pontos <strong>de</strong> convergênciados congressos brasileiros <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e a formacomo se apresentam na produção do conhecimento <strong>em</strong>enfermag<strong>em</strong>. Em algumas publicações, ainda, analisouseo contraponto entre algumas i<strong>de</strong>ias dos personagenscentrais dos congressos brasileiros <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> edos editoriais das revistas brasileiras <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>,trabalhou-se o resgate histórico das primeiras S<strong>em</strong>anas<strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> no Brasil e i<strong>de</strong>ntificou-se, na interfaceentre filosofia e literatura, como o corpo aparece natrama cont<strong>em</strong>porânea.Dos assuntos abordados, alguns são "outras possibilida<strong>de</strong>s<strong>de</strong> publicação <strong>em</strong> história da enfermag<strong>em</strong>", aindapouco explorada. Apesar <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> relevantes paraa história, é pouca a preocupação dos autores <strong>em</strong>realizar estudos que analis<strong>em</strong> a trajetória <strong>de</strong> produçõescientíficas, congressos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong> e S<strong>em</strong>ana <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong>.CONSIDERAÇÕES FINAISDiante do exposto, ficou evi<strong>de</strong>nciado que houveaumento das publicações com o reconhecimento dahistória da enfermag<strong>em</strong> como linha <strong>de</strong> pesquisa, porémas publicações ainda continuam concentradas <strong>em</strong> umamesma t<strong>em</strong>ática – a profissional. E, apesar <strong>de</strong> ter-seelevado o número <strong>de</strong> publicações, a quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>autores que publicam sobre o t<strong>em</strong>a continua reduzida,ou seja, continua pequeno o interesse pela história daenfermag<strong>em</strong> entre os pesquisadores enfermeiros. Nessesentido, o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> pesquisas relacionadasà história da enfermag<strong>em</strong> ainda precisa ser maisincentivado e valorizado, permitindo que um númerocada vez maior <strong>de</strong> pesquisadores realize trabalhosnessa área.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011441


A pesquisa <strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong>: revisão <strong>de</strong> publicações <strong>de</strong> 2000-2008Em relação ao período analisado, ou seja, <strong>de</strong> 2000 a2008, foi possível perceber a elevação das publicações,principalmente <strong>em</strong> 2001 e 2005. Mas, por que esses“altos e baixos”? O que falta à história da enfermag<strong>em</strong>para que ela se consoli<strong>de</strong> como um campo <strong>de</strong> saber <strong>em</strong>enfermag<strong>em</strong> e possa ser discutida por um número cadavez maior <strong>de</strong> pesquisadores?É preciso publicar e incentivar publicações relacionadasà história da enfermag<strong>em</strong>, principalmente por meiodos grupos <strong>de</strong> pesquisa e com a inserção <strong>de</strong> novospesquisadores. Também é importante ressaltar anecessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> utilização do <strong>de</strong>scritor História daEnfermag<strong>em</strong> nas publicações, para melhor reconhecimentodos estudos sobre o t<strong>em</strong>a e valorização <strong>de</strong>ssa linha<strong>de</strong> pesquisa. Assim, acreditamos que o <strong>de</strong>senvolvimentoda pesquisa nesta área po<strong>de</strong> evi<strong>de</strong>nciar diferentesaspectos do passado e nos permitir refletir sobre omomento atual da profissão.REFERÊNCIAS1. Barreira IA, Baptista SS. O movimento <strong>de</strong> reconsi<strong>de</strong>ração do ensino e da pesquisa <strong>em</strong> História da Enfermag<strong>em</strong>. Rev Bras Enferm. 2003; 56(6):702-6.2. Padilha MICS, Borenstein MS. O método <strong>de</strong> pesquisa histórica <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong>. Texto Contexto-Enferm. 2005; 14(4):575-84.3. Padilha MICS, Klet<strong>em</strong>berg DF, Gregório VRP, Borges LM, Borenstein MS. A produção da pesquisa histórica vinculada aos programas <strong>de</strong> Pós-Graduação no Brasil, 1972 a 2004. Texto Contexto-Enferm. 2007; 16(4): 671-9.4. Borenstein MS. Por que conhecer a História da Enfermag<strong>em</strong>? Texto Contexto Enferm. 1995; 4(n.esp.):14-8.5. Barreira IA. M<strong>em</strong>ória e história para uma nova visão da enfermag<strong>em</strong> no Brasil. Rev Latinoam. Enferm. 1999; 7(3):87-93.6. Men<strong>de</strong>s IAC, Leite JL, Trevizan M. A REBEn no contexto da História da Enfermag<strong>em</strong> Brasileira: a importância da m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> Dª Glete <strong>de</strong>Alcântara. Rev Bras Enferm. 2002; 55(3): 270-4.7. Nascimento ES, Teixeira, VMN. Redação Técnico-Científica e Pesquisa Bibliográfica: algumas reflexões; 2007. (Não publicado).8. Martins EG, Sanna MC. A produção científica sobre administração <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> no Brasil no período <strong>de</strong> 1947 a 1972. Rev Bras Enferm.2005; 58(2): 235-9.9. Pagliuca LMF, Gutiérrez MGR, Erdmann AL, Leite JL, Almeida MCP, Kurcgant P. Critérios para classificar periódicos científicos <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>.Acta Paul Enferm. 2001. 14(3): 9-17.10. Carvalho AC. Associação Brasileira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>: 1926-1976 – Documentário. Brasília: ABEn; 1976.11. CNPq. Conselho Nacional <strong>de</strong> Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Diretório dos Grupos <strong>de</strong> Pesquisa no Brasil. [Citado 2008 <strong>de</strong>z. 28].Disponível <strong>em</strong>: .12. CBEn. Congresso Brasileiro <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>, 60. Belo Horizonte; 2008. (Reunião <strong>de</strong> pesquisadores <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>).13. Oguisso T. Trajetória histórica e legal da enfermag<strong>em</strong>. Barueri: Manole; 2005.Data <strong>de</strong> submissão: 27/4/2010Data <strong>de</strong> aprovação: 16/5/2011442 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 435-442, jul./set., 2011


VULNERABILIDADE materno-infantil: FATORES <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são àprofilaxia da TRANSMISSÃO VERTICAL do HIVMATERNAL AND CHILD VULNERABILITY: NONADHERENCE FACTORS TO HIV VERTICALTRANSMISSION PROPHYLAXISVULNERABILIDAD MATERNO INFANTIL: FACTORES DE (NO) ADHESIÓN A LA PROFILAXIS DE LATRANSMISIÓN VERTICAL DEL VIHStela Maris <strong>de</strong> Mello Padoin 1Cristiane Cardoso <strong>de</strong> Paula 1Tatiane Pires Ribeiro 2Rhaísa Martins Romanini 3Aline Camaranno Ribeiro 4RESUMOObjetivou-se com este trabalho i<strong>de</strong>ntificar fatores <strong>de</strong> (não)a<strong>de</strong>são à profilaxia da transmissão vertical do HIV. O estudoconsiste <strong>em</strong> revisão integrativa por meio da base <strong>de</strong> dados Lilacs a partir das palavras HIV and gestantes and cuidadopré-natal. Os critérios <strong>de</strong> inclusão foram: artigos nacionais <strong>de</strong> 1997-2007, com texto completo, <strong>em</strong> suporte eletrônico,totalizando amostra <strong>de</strong> nove artigos. Pela análise t<strong>em</strong>ática, verificaram-se fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são: cuidado <strong>de</strong> si, do outro epelo outro; e fatores <strong>de</strong> não a<strong>de</strong>são: situação socioeconômica, condições <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, acesso às informações, silêncio,compreensão da situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, preconceito e barreiras no serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. O quadro conceitual da análisefoi o da vulnerabilida<strong>de</strong>. O plano individual foi constituído pela suscetibilida<strong>de</strong> biológica, clínica e comportamentalmaterno-infantil; o plano social, pelos aspectos econômicos e socioculturais; e o plano programático, pela política <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Para promover a a<strong>de</strong>são e minimizar essas vulnerabilida<strong>de</strong>s, faz-se necessária uma intervenção multidisciplinarnas dimensões biológica, clínica, social e subjetiva <strong>em</strong> todos os níveis <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong>.Palavras-chaves: Saú<strong>de</strong> Materno-Infantil; Gestantes; Cuidado Pré-Natal; HIV; Transmissão Vertical <strong>de</strong> Doença/Prevençãoe Controle.ABSTRACTThis study aimed to i<strong>de</strong>ntify nonadherence factors to HIV vertical transmission prophylaxis. The study is an integrative reviewthrough LILACS data basis from terms: HIV, pregnant women and antenatal care. The inclusion criteria were 9 unabridgedBrazilian papers published from 1997 to 2007 by an electronic medium. Th<strong>em</strong>atic analysis i<strong>de</strong>ntified the following adherencefactors: self-care, care for and by others. Nonadherence factors inclu<strong>de</strong>d: socioeconomic situation, f<strong>em</strong>ininity circumstances,access to information, silence, un<strong>de</strong>rstanding of vulnerability situation, prejudice and healthcare services barriers. Theconceptual framework for the analysis was that of vulnerability. The individual frame comprised maternal-child biological,clinical and behavioural susceptibility. The social inclu<strong>de</strong>d economical and sociocultural aspects. The programmatic framecovered the healthcare policy. In or<strong>de</strong>r to promote the adherence and to minimize these vulnerabilities, a multidisciplinary(biological, clinical, social and subjective) intervention is necessary in all healthcare service levels.Key words: Maternal and Child Health; Pregnant Women; Antenatal Care; HIV; Vertical Disease Transmission; Preventionand Control.RESUMENEl presente trabajo tuvo como objetivo i<strong>de</strong>ntificar factores <strong>de</strong> (no) adhesión a la profilaxis <strong>de</strong> la transmisión vertical <strong>de</strong>lVIH. El estudio consiste en una revisión integrativa por medio <strong>de</strong> la base <strong>de</strong> datos LILACS a partir <strong>de</strong> las palabras VIHand gestantes and cuidado prenatal. Los criterios <strong>de</strong> inclusión fueron: artículos nacionales <strong>de</strong> 1997 – 2007, con textocompleto, en soporte electrónico, totalizando la muestra <strong>de</strong> nueve artículos. Por el análisis t<strong>em</strong>ático se verificaronfactores <strong>de</strong> adhesión: cuidado <strong>de</strong> si, <strong>de</strong>l otro y por el otro; y factores <strong>de</strong> no adhesión: situación socioeconómica,condiciones <strong>de</strong> f<strong>em</strong>ineidad, acceso a las informaciones, silencio, comprensión <strong>de</strong> la situación <strong>de</strong> vulnerabilidad, prejuicioy barreras en el servicio <strong>de</strong> salud. El cuadro conceptual <strong>de</strong>l análisis fue <strong>de</strong> la vulnerabilidad. El plano individual estuvoformado por la susceptibilidad biológica, clínica y comportamental materno infantil; el plano social, por los aspectoseconómicos y socioculturales; y el plano programático, por la política <strong>de</strong> salud. Para promover la adhesión y minimizaresas vulnerabilida<strong>de</strong>s se hace necesaria una intervención multidisciplinar en las dimensiones biológicas, clínica, socialy subjetiva en todos los niveles <strong>de</strong> atención a la salud.Palabras clave: Salud Materno Infantil; Gestantes; Cuidado Prenatal; VIH; Transmisión Vertical <strong>de</strong> Enfermedad/Prevención y Control.1Enfermeira. Doutora <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Professora adjunta no Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>. Centro <strong>de</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>. Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> SantaMaria. Santa Maria-RS.2Enfermeira. Graduada pela Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria. Santa Maria-RS.3Enfermeira. Graduada pela Universida<strong>de</strong> Católica Portuguesa. Intercâmbio com a Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria. Santa Maria-RS.4Enfermeira. Mestranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> (PPGEnf) da Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Santa Maria. Santa Maria-RS.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua 24 <strong>de</strong> fevereiro/306 apt. 202, bairro Nossa Senhora <strong>de</strong> Lour<strong>de</strong>s – Santa Maria-RS. CEP: 97.060-580.E-mail: stelamaris_padoin@hotmail.com.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011443


Vulnerabilida<strong>de</strong> materno-infantil: fatores <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são à profilaxia da transmissão vertical do hivINTRODUÇÃOA assistência à saú<strong>de</strong> materno-infantil apresentad<strong>em</strong>andas biológicas, sociais e culturais que precisamser atendidas <strong>em</strong> sua complexida<strong>de</strong>. Para atendê-las,as ações <strong>de</strong> atenção à saú<strong>de</strong> da mulher e do neonato<strong>de</strong>v<strong>em</strong> integrar os níveis <strong>de</strong> promoção, prevenção eassistência, com vista a alcançar indicadores <strong>de</strong> impactonos coeficientes <strong>de</strong> morbida<strong>de</strong> e mortalida<strong>de</strong> materna,neonatal e infantil. 1Dentre as d<strong>em</strong>andas atuais para a saú<strong>de</strong> pública,<strong>de</strong>staca-se a exposição ao vírus da imuno<strong>de</strong>ficiênciahumana (HIV), agente causador da Adquired ImmunityDeficiency Syndrome (aids). De 1980 até junho <strong>de</strong>2008, foram notificados 333.485 casos <strong>de</strong> aids no sexomasculino e 172.995 no sexo f<strong>em</strong>inino. Com relaçãoàs gestantes infectadas, foram notificados 41.777casos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2000. A transmissão vertical (TV) do víruscorrespon<strong>de</strong>u a 90% <strong>de</strong> casos entre os menores <strong>de</strong> 5anos, que totalizam 10.456. 2A exposição das mulheres e das crianças à infecção peloHIV evi<strong>de</strong>nciou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> respostas do governo eda socieda<strong>de</strong> com a prevenção e o tratamento na atençãoà saú<strong>de</strong> das famílias. A prevenção da TV tornou-se umadas priorida<strong>de</strong>s do Programa Nacional <strong>de</strong> DST e aids.A operacionalização do Protocolo do Aids Clinical TrialGroup (ACTG 076), <strong>em</strong>bora normatizado <strong>em</strong> 1995, ocorreusomente dois anos <strong>de</strong>pois, quando o uso <strong>de</strong> zidovudina(AZT) foi publicado nos manuais <strong>de</strong> condutas para otratamento <strong>de</strong> adultos e <strong>de</strong> crianças infectadas pelo HIV. 3Sabe-se que a taxa <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong>sse vírus, s<strong>em</strong>qualquer intervenção, situa-se <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 25,5%. Noentanto, as intervenções preventivas preconizadaspod<strong>em</strong> reduzir para níveis entre 0% e 2%. Essas iniciamno pré-natal, quando a testag<strong>em</strong> anti-HIV permitei<strong>de</strong>ntificar as gestantes soropositivas para iniciar <strong>em</strong>t<strong>em</strong>po efetivo a profilaxia. 4,5Assim, as ações <strong>de</strong> prevenção e controle da TV, adotadasno Brasil, refletiram-se no <strong>de</strong>clínio da infecção <strong>em</strong>crianças menores <strong>de</strong> cinco anos, a partir <strong>de</strong> 1997. 2Entretanto, no cotidiano assistencial, percebe-se que acobertura <strong>de</strong>ssas ações ainda apresenta lacunas, comoinício tardio do pré-natal, falha na cobertura <strong>de</strong> testeanti-HIV, <strong>de</strong>ntre outras situações que interfer<strong>em</strong> naa<strong>de</strong>são da gestante à profilaxia da TV.A a<strong>de</strong>são é um processo colaborativo que facilita aaceitação e a integração do regime terapêutico nocotidiano das pessoas <strong>em</strong> tratamento, pressupondosua participação nas <strong>de</strong>cisões. Transcen<strong>de</strong> à ingestão<strong>de</strong> medicamentos, incluindo: vínculo com a equipe <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>; acompanhamento clínico-laboratorial; a<strong>de</strong>quaçãoaos hábitos e às necessida<strong>de</strong>s individuais, e negociaçãoentre o usuário e os profissionais no reconhecimento <strong>de</strong>responsabilida<strong>de</strong>s específicas <strong>de</strong> cada um com vistas àautonomia 6 e ao cuidado <strong>de</strong> si.Nesse sentido, as práticas <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são na gestaçãoinclu<strong>em</strong>: uso a<strong>de</strong>quado do esqu<strong>em</strong>a terapêutico;ida às consultas com profissional obstetra e clínico/infectologista; realização <strong>de</strong> exames pré-natais; nãoaleitamento; uso do medicamento inibidor <strong>de</strong> lactaçãono pós-parto; administração do xarope <strong>de</strong> AZT para obebê durante seis s<strong>em</strong>anas, na dose recomendada, entreoutras ações. 6O período da gestação po<strong>de</strong> ser um momento propíciopara discutir a a<strong>de</strong>são com a mulher que t<strong>em</strong> HIV, dadaa motivação para proteção do bebê. Esse processo po<strong>de</strong>contribuir para a a<strong>de</strong>são à profilaxia da TV durante agestação, puerpério e puericultura, além da continuida<strong>de</strong>do acompanhamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssas mulheres. 6Assim, o objetivo com esta pesquisa foi i<strong>de</strong>ntificar fatores<strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e não a<strong>de</strong>são à terapia profilática da TV, nasproduções científicas sobre o pré-natal <strong>de</strong> gestantessoropositivas ao HIV.MATERIAIS E MÉTODOTrata-se <strong>de</strong> um estudo <strong>de</strong> revisão integrativa –<strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> seis etapas 7 –, por ser esse um método<strong>de</strong> pesquisa que permite a incorporação das evidênciasna prática clínica. A finalida<strong>de</strong> foi sintetizar, <strong>de</strong> modosist<strong>em</strong>ático, a produção científica sobre <strong>de</strong>terminadaquestão, contribuindo para o aprofundamento doconhecimento do t<strong>em</strong>a investigado.A primeira etapa consiste no “estabelecimento daquestão <strong>de</strong> pesquisa”: quais fatores interfer<strong>em</strong> paraa<strong>de</strong>são e para não a<strong>de</strong>são à profilaxia da TV do HIV?A segunda etapa é a “busca e amostrag<strong>em</strong>”. A busca eseleção das produções científicas foram realizadas pordois revisores <strong>de</strong> forma in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte para garantir origor e a fi<strong>de</strong>dignida<strong>de</strong> do processo. Desenvolveu-sena base <strong>de</strong> dados da Literatura Latino-Americana edo Caribe <strong>em</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong> (Lilacs), no primeiros<strong>em</strong>estre <strong>de</strong> 2008, fundamentado nas palavras HIV andgestantes and cuidado pré-natal. Foram i<strong>de</strong>ntificadas34 produções. Para a seleção das produções científicas,foi <strong>de</strong>senvolvida a leitura dos títulos e dos resumossegundo critério <strong>de</strong> inclusão e exclusão. Os critérios<strong>de</strong> inclusão foram: artigo nacional, sujeitos gestantessoropositivas ao HIV, publicação <strong>em</strong> periódico editadono Brasil, período <strong>de</strong> 1997-2007 e disponibilida<strong>de</strong> dotexto completo <strong>em</strong> suporte eletrônico. Justifica-se oponto inicial do recorte t<strong>em</strong>poral <strong>em</strong> 1997, quandofoi operacionalizado o Protocolo ACTG nº 076, paraa prevenção da TV do HIV, 3 representando um marcoda resposta brasileira à epid<strong>em</strong>ia da aids, diante doaumento <strong>de</strong> casos notificados <strong>de</strong> aids entre as mulheres<strong>em</strong> ida<strong>de</strong> reprodutiva, e, consequent<strong>em</strong>ente, <strong>de</strong> casos <strong>de</strong>infecção por TV entre as crianças. Os critérios <strong>de</strong> exclusãoforam: artigo <strong>em</strong> língua estrangeira e/ou veiculados <strong>em</strong>periódicos internacionais. Assim, a amostra foi composta<strong>de</strong> nove artigos. 8-16Na terceira etapa – “categorização dos estudos” –, foramorganizadas e sumarizadas as informações <strong>em</strong> umquadro analítico composto pelas variáveis: região <strong>de</strong>procedência do artigo; subárea <strong>de</strong> conhecimento dosautores; objetivos; sujeitos; cenário e método. Utilizou-se444 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011


a ferramenta da análise <strong>de</strong> conteúdo t<strong>em</strong>ática 17 para aexploração do material por operação classificatória, coma finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alcançar o núcleo <strong>de</strong> compreensão dotexto. Foram <strong>de</strong>terminados: a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contexto; aforma <strong>de</strong> organização do material; a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> registro;a modalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> codificação; os recortes; e o conceitoteórico que orientou a análise.Nas unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contexto, revelaram-se os campos<strong>de</strong> ação (cenário <strong>de</strong> estudo) investigados pelasproduções científicas selecionadas para análise: hospitaisuniversitários, maternida<strong>de</strong>s, unida<strong>de</strong>s básicas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,Centro <strong>de</strong> Testag<strong>em</strong> e Aconselhamento e Serviço <strong>de</strong>Atendimento Especializado. A forma <strong>de</strong> organização foi<strong>em</strong> categorias, com base <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro compalavras referentes ao conteúdo <strong>de</strong> cada subcategoria(QUADRO 1). Utilizou-se codificação cromática para<strong>de</strong>stacar as unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> registro no corpo dos artigose foram selecionados fragmentos do conteúdo dasproduções para compor os resultados.A quarta etapa – “avaliação dos estudos” – constou daanálise crítica dos artigos com base na leitura atentivados textos na íntegra, comparando-se os resultadosregistrados no QUADRO 1 <strong>em</strong> suas s<strong>em</strong>elhanças ediferenças/conflitos.A quinta etapa – “interpretação dos resultados” – foifundamentada no conceito teórico que <strong>em</strong>ergiudos artigos analisados: o quadro conceitual davulnerabilida<strong>de</strong> <strong>em</strong> seus planos inter<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes:individual, social e programático 18 (QUADRO 2).Por fim, a sexta etapa – “síntese do conhecimento” –possibilitou reunir e sintetizar as evidências da a<strong>de</strong>sãoà profilaxia da TV do HIV disponíveis na produçãocientífica acerca do pré-natal <strong>de</strong> gestantes soropositivas,b<strong>em</strong> como as conclusões para aplicação, na prática, <strong>de</strong>atenção à saú<strong>de</strong>.RESULTADOS E DISCUSSÃOAs produções científicas sobre o pré-natal <strong>de</strong> gestantessoropositivas ao HIV evi<strong>de</strong>nciaram múltiplos fatores queimplicam a a<strong>de</strong>são e a não a<strong>de</strong>são à terapia profiláticada TV. Esses fatores estão interligados ao dia a dia dasmulheres, no que diz respeito a vivências, experiências,dificulda<strong>de</strong>s e enfrentamentos do seu cotidiano, seja noambiente da família, seja no da comunida<strong>de</strong>, seja no doserviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Assim, a discussão que permeia a interpretação dos dados foidividida <strong>em</strong> dois itens: fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e vulnerabilida<strong>de</strong>nos planos individual e social; fatores <strong>de</strong> não a<strong>de</strong>são evulnerabilida<strong>de</strong> no plano social e programático.Fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e vulnerabilida<strong>de</strong> nos planosindividual e socialDentre os fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são, o cuidado <strong>de</strong> si estárelacionado aos atos praticados pelas mulheres nocuidado mental, físico e clínico, na prevenção doadoecimento e na manutenção da saú<strong>de</strong>. 8-11,13,15-16 Ocuidado mental está relacionado à autoestima, àssignificações e ao processo <strong>de</strong> enfrentamento; o físicocont<strong>em</strong>pla hábitos <strong>de</strong> sono, alimentação, exercíciofísico, lazer, abandono do uso <strong>de</strong> drogas e negociaçãodo preservativo; o clínico se refere à participação <strong>de</strong>consultas <strong>de</strong> pré-natal e continuida<strong>de</strong> no puerpério,exames e terapia medicamentosa.QUADRO 1 – Categorização dos fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e não a<strong>de</strong>são à terapia profilática da transmissão verticaldo HIV nas produções científicas – Brasil – 1997-2007CATEGORIAS SUBCATEGORIAS UNIDADES DE REGISTROFatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são dagestante à terapiaprofilática da TV do HIVFatores <strong>de</strong> não a<strong>de</strong>sãoda gestante à terapiaprofilática da TV do HIVCuidado <strong>de</strong> siCuidado do outroCuidado pelo outroCondição <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>Condições socioeconômicasAcesso às informações econhecimentoSilêncioBarreiras no serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>Preconceito e medo dadiscriminaçãoCompreensão da situaçãovulnerabilida<strong>de</strong>Sentimentos, necessida<strong>de</strong>s, reflexão, enfrentamentoTransmissão do vírus para o filho, saú<strong>de</strong> do filhoAjuda, solidarieda<strong>de</strong>Ida<strong>de</strong>, modo <strong>de</strong> infecção, vida sexual, comportamento sexual,preservativo, situação conjugal<strong>Escola</strong>rida<strong>de</strong>, trabalho, renda, moradiaInformação, conhecimento, compreensãoResistência <strong>em</strong> aceitar o diagnóstico, inexistência <strong>de</strong> sintomasAconselhamento, testag<strong>em</strong>, sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, proteção,prevenção, assistência, vigilânciaPreconceito, discriminação, estigma, exclusão, rejeiçãoPossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infecção, adoecimentor<strong>em</strong>E – Rev. 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Vulnerabilida<strong>de</strong> materno-infantil: fatores <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são à profilaxia da transmissão vertical do hivQUADRO 2 – Quadro analítico dos fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são e não a<strong>de</strong>são à terapia profilática da transmissão verticaldo HIV, segundo planos <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>CATEGORIA SUBCATEGORIA DESCRIÇÃO VULNERABILIDADEFatores <strong>de</strong>a<strong>de</strong>sãoCuidado <strong>de</strong> siCuidado do outroCuidado pelo outroCondições <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>Atos praticados pelas mulheres no cuidado mental,comportamental, clínico para prevenção doadoecimento e manutenção da saú<strong>de</strong>Cuidado familial dos filhos ou do companheiroRe<strong>de</strong> social que envolve a atenção conjugal, familiar,comunitária e profissionalTrabalho e rendimento; submissão econômica e social;relações <strong>de</strong> gênero na socieda<strong>de</strong> e modo <strong>de</strong> infecçãoPlano individualSituação socioeconômicaAspectos d<strong>em</strong>ográficosFatores <strong>de</strong>não a<strong>de</strong>sãoAcesso às informações econhecimentosSilêncioPor meio do serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> quando mantémacompanhamento pré-natal, puerperal epuericultura <strong>em</strong> serviço especializadoNegação da infecção, omissão ao companheiro e àfamília e silêncio socialPlano socialCompreensão da situação<strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>Possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> infecção, adoecimentoPreconceito e medoda discriminaçãoPreocupação constante por medo da rejeição eexclusão no ambiente da família e da comunida<strong>de</strong>Barreiras no serviço<strong>de</strong> saú<strong>de</strong>Dificulda<strong>de</strong>s encontradas no cotidiano assistencialnos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>Plano programáticoA significação que as mulheres dão à vida, antes e<strong>de</strong>pois do diagnóstico, se refere à situação sorológica,às d<strong>em</strong>andas da gestação e às possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidadocom sua saú<strong>de</strong>. Esse ressignificar t<strong>em</strong> como base algunsvalores como a família, o convívio coletivo e a valorizaçãoda vida. 11 A religião representa a busca para superaras dificulda<strong>de</strong>s e enfrentar o diagnóstico como fonte<strong>de</strong> apoio, força, tranquilida<strong>de</strong> e fé para contornar osprobl<strong>em</strong>as. Algumas mulheres se apegam à religião natentativa <strong>de</strong> buscar <strong>em</strong> Deus a cura. 11Esse momento <strong>de</strong> alterações <strong>em</strong>ocionais e físicas paraas mulheres, ao gerar uma criança na vigência dainfecção pelo HIV, <strong>de</strong>nota que elas precisam lidar comoutros conflitos para além da própria gestação. 9 Po<strong>de</strong>gerar mudanças <strong>de</strong> comportamento para prevenir osurgimento <strong>de</strong> doenças oportunistas, como nos hábitos<strong>de</strong> cuidado com o corpo: dormir mais horas por dia,realizar ativida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> lazer e abandonar o uso <strong>de</strong> drogasque provocam <strong>de</strong>pendência física. 11,13Além disso, a negociação para o uso do preservativoé importante para a proteção na vida sexual e para oplanejamento familiar. Ainda que as mulheres tenhamconhecimento da importância do uso do preservativo,as dificulda<strong>de</strong>s para a concretização nas relações sexuaisrelacionam-se à baixa autoestima e às baixas condiçõessociais e econômicas, que potencializam a submissão àautorida<strong>de</strong> do companheiro. 8-11Os atos <strong>de</strong> cuidado mental e físico contribu<strong>em</strong> para ocuidado clínico, que inclui a frequência nas consultas<strong>de</strong> pré-natal; a realização <strong>de</strong> exames, o conhecimentodos resultados e a compreensão das implicações <strong>em</strong> suasaú<strong>de</strong>; a retirada <strong>de</strong> medicamentos e seu uso durante agestação, o parto e a oferta ao recém-nascido duranteas seis primeiras s<strong>em</strong>anas <strong>de</strong> vida; a continuida<strong>de</strong> doacompanhamento <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e terapia medicamentosapelas mulheres no puerpério. 8-16A vulnerabilida<strong>de</strong>, no plano individual, é composta pelasuscetibilida<strong>de</strong> biológica, clínica e comportamental 18materno-infantil, que se evi<strong>de</strong>nciou como um fator <strong>de</strong>a<strong>de</strong>são ao tratamento quando se <strong>de</strong>senvolve o cuidado<strong>de</strong> si. No momento da <strong>de</strong>scoberta da soropositivida<strong>de</strong>para o HIV, as mulheres enfrentam uma <strong>de</strong>struiçãosignificativa <strong>em</strong> todos os aspectos da vida, modificandoa estrutura <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>, seus contatos como mundo e seus valores. 19 Entretanto, a gestação e amaternida<strong>de</strong>, adicionadas à situação <strong>de</strong> soropositivida<strong>de</strong>,tornam esse período mais complexo, composto por umaambivalência <strong>de</strong> sentimentos, permeada por culpa,medos, ansieda<strong>de</strong> e fé.O apego à religião po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado um apoio paraas mulheres, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que as crenças não prejudiqu<strong>em</strong>ou interrompam o tratamento. Desse modo, a fé e aesperança <strong>de</strong> cura pod<strong>em</strong> contribuir para uma melhorano quadro geral das gestantes e para a a<strong>de</strong>são aotratamento. 19 Por outro lado, essa fé po<strong>de</strong> criar falsasexpectativas, levando-as a acreditar que estão curadase interromper o tratamento. 20Assim, compreen<strong>de</strong>-se que a <strong>de</strong>scoberta da soropositivida<strong>de</strong>po<strong>de</strong> levar as gestantes a refletire sobre o446 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011


comportamento <strong>de</strong>las e provocar-lhes mudanças nasatitu<strong>de</strong>s e no cuidado <strong>de</strong> si e, consequent<strong>em</strong>ente,diminuir-lhes a vulnerabilida<strong>de</strong> ao adoecimento. 20,21Os achados convergentes para o cuidado do outrose refer<strong>em</strong> ao cuidado familial dos filhos ou docompanheiro 8-9,11 .As mulheres, ao tomar<strong>em</strong> conhecimento da soropositivida<strong>de</strong>para o HIV, culpam o companheiro e sent<strong>em</strong>raiva. Esses sentimentos estão relacionados à impotênciapor se ver<strong>em</strong> diante <strong>de</strong> uma situação que lhes pareces<strong>em</strong> saída. 11 Pela responsabilida<strong>de</strong> com a saú<strong>de</strong> do filho,sent<strong>em</strong> <strong>de</strong>sespero e culpa diante possibilida<strong>de</strong> da TV.O medo do preconceito e da discriminação se ampliapara preocupação com o cotidiano e a inclusão socialda criança. O medo da morte está relacionado com aansieda<strong>de</strong> e com a incerteza pela orfanda<strong>de</strong> dos filhos,a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> criá-los e vê-los crescer. 9,11Esses sentimentos pod<strong>em</strong> motivá-las a tomar medidaspreventivas para não adoecer<strong>em</strong>, o que funciona como umestímulo para a sobrevivência. As mulheres d<strong>em</strong>onstraramo significado que os filhos têm para elas e os colocaramcomo a razão para continuar<strong>em</strong> se cuidando. 11Para cuidar <strong>de</strong> si e do outro, as mulheres contam compessoas solidárias à situação <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>las,representando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidado pelo outro.Nesse sentido, <strong>em</strong>ergiu a atenção social e profissionalpara proteção <strong>de</strong> direitos e promoção da saú<strong>de</strong>,b<strong>em</strong> como a importância do aconselhamento e dodiagnóstico precoce no pré-natal e o seguimentopuerperal <strong>em</strong> serviço especializado com planejamentofamiliar. Essa atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ajuda refere-se à re<strong>de</strong> social,envolvendo a atenção conjugal, familiar, comunitária eprofissional. 10-11,13,15-16A atenção conjugal, familiar e comunitária incluisolidarieda<strong>de</strong>, apoio e ajuda nos afazeres domésticos,principalmente nos cuidados com os filhos no dia adia. A re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio para cuidar dos d<strong>em</strong>ais filhos éimprescindível enquanto a mulher estiver ausente paraconsultas e exames, mantendo seu acompanhamento<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> no pré-natal e puerpério. 8,10-11A atenção profissional r<strong>em</strong>ete ao acolhimento e àassistência integral por equipe multiprofissionalcapacitada, que promova vínculo e apoio para oenfrentamento cotidiano das d<strong>em</strong>andas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong><strong>de</strong> sua condição sorológica e da gestação. Inclui oaconselhamento, o diagnóstico precoce no pré-natal eo seguimento puerperal <strong>em</strong> serviço especializado, paraa proteção <strong>de</strong> direitos e promoção da saú<strong>de</strong>. 8-16Assim, a vulnerabilida<strong>de</strong> no plano social se mostra nosaspectos relacionais 18 que revelaram o cuidado do outroe o cuidado pelo outro, nas relações da mulher com aspessoas que pod<strong>em</strong> ajudá-la nas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> suasaú<strong>de</strong> e do filho. 19,22-24Apesar <strong>de</strong> as mulheres se encontrar<strong>em</strong> <strong>em</strong> situaçãocrítica <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, o papel <strong>de</strong> cuidadoras representa seumaior referencial. Enquanto tiver<strong>em</strong> a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>cuidar do outro, terão razão para lutar e sobreviver. Atémesmo quando procuram o serviço médico, isso se <strong>de</strong>v<strong>em</strong>ais por estar<strong>em</strong> gestantes – cuidado com o bebê – oupela necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se manter<strong>em</strong> b<strong>em</strong> <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> paracuidar dos filhos. A aspiração <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> vida <strong>de</strong>ssasmulheres passa a ser o que for necessário até que seusfilhos estejam <strong>em</strong> condições <strong>de</strong> assumir seu própriocuidado. 19,22Nesse contexto, reconhece-se que nossa socieda<strong>de</strong>,muitas vezes, impõe à mulher valores morais <strong>em</strong> tornodo casamento, da maternida<strong>de</strong>, da família e da harmoniado lar. Assim, como cuidadoras da família e do lar, asmulheres infectadas pelo HIV refer<strong>em</strong> que, mesmoestando doentes, têm <strong>de</strong> cuidar dos filhos e do marido,que também po<strong>de</strong> estar infectado. 23,24 O fato <strong>de</strong> sesentir<strong>em</strong> com essa responsabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidadoras po<strong>de</strong>ser consi<strong>de</strong>rado um estímulo para manter<strong>em</strong> a saú<strong>de</strong>,pois torna-se imprescindível que estejam b<strong>em</strong> para quese mantenha um bom funcionamento familiar.Vale consi<strong>de</strong>rar que as questões <strong>de</strong> gênero <strong>de</strong>verão serdiscutidas na negociação da a<strong>de</strong>são à profilaxia, para quea mulher seja autônoma nas suas escolhas e no cuidado<strong>de</strong> si. 24 Assim, ao consi<strong>de</strong>rarmos a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> apoio social,reportamo-nos à vulnerabilida<strong>de</strong> social das mulheres, aqual, nesse sentido, po<strong>de</strong> ser minimizada quando suasrelações for<strong>em</strong> positivas. 18Fatores <strong>de</strong> não a<strong>de</strong>são e vulnerabilida<strong>de</strong> no planosocial e programáticoNos artigos analisados, a situação socioeconômica serefere aos aspectos d<strong>em</strong>ográficos como escolarida<strong>de</strong>,estado civil, filhos, renda e condições estruturais dodomicílio. 8-10,12 Dentre os fatores <strong>de</strong> não a<strong>de</strong>são, verificouseque as gestantes soropositivas ao HIV, <strong>em</strong> sua maioria,apresentavam baixo índice escolar, com interrupção dosestudos antes <strong>de</strong> <strong>completa</strong>r o ensino médio e com casos<strong>de</strong> analfabetismo. 8-10,12,15 Quanto ao estado civil, a maioriadas gestantes <strong>de</strong>fine-se <strong>em</strong> união estável, vivendo como companheiro. 9-10De modo geral, as gestantes soropositivas provêm<strong>de</strong> camadas sociais pouco favorecidas, necessitam <strong>de</strong>auxílio, como cesta básica e vale-transporte. 8,10,11 A falta<strong>de</strong> recursos é um fator contribuinte para a não a<strong>de</strong>sãoà terapia profilática, pois dificulta o acompanhamentopré-natal e, consequent<strong>em</strong>ente, a realização dos examesindicados e a aquisição dos medicamentos prescritos 5 .Os limites <strong>de</strong> cobertura efetiva da <strong>de</strong>tecção da infecçãodo HIV mostram-se mais evi<strong>de</strong>ntes nas classessocioeconômicas menos favorecidas, atingindo altosíndices entre as mulheres com pouca instrução, habitantesdas regiões menos <strong>de</strong>senvolvidas e <strong>em</strong> municípios <strong>de</strong>pequeno porte. 12 Essa lacuna constitui uma oportunida<strong>de</strong>perdida <strong>de</strong> intervenção na gestante soropositiva e,consequent<strong>em</strong>ente, na redução da TV do HIV.Nesse sentido, a vulnerabilida<strong>de</strong> no plano social compõenão somente os aspectos da vida das mulheres no coletivo,mas também seu acesso aos bens <strong>de</strong> consumo. 18 Ou seja,os fatores <strong>de</strong> não a<strong>de</strong>são associaram-se aos aspectosr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011447


Vulnerabilida<strong>de</strong> materno-infantil: fatores <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são à profilaxia da transmissão vertical do hiveconômicos, socioculturais, políticos e comportamentais,influenciando a efetivida<strong>de</strong> do comprometimento dasgestantes com o tratamento profilático.As dificulda<strong>de</strong>s advindas da situação socioeconômica<strong>de</strong>sfavorecida das gestantes que têm HIV repercut<strong>em</strong>no acesso das gestantes aos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e,consequent<strong>em</strong>ente, no acompanhamento e notratamento. Essas dificulda<strong>de</strong>s também interfer<strong>em</strong> noacesso aos serviços <strong>de</strong> educação, no rendimento escolare na continuida<strong>de</strong> dos estudos e, consequent<strong>em</strong>ente,influ<strong>em</strong> na capacida<strong>de</strong> da gestante <strong>de</strong> obter informações,compreendê-las e efetivamente aplicá-las <strong>em</strong> seu cotidiano.Outro resultado das dificulda<strong>de</strong>s socioeconômicas está nainserção no mercado <strong>de</strong> trabalho, repercutindo na rendafamiliar e, muitas vezes, na <strong>de</strong>pendência e submissão damulher ao companheiro. 8,10-12Então, somadas a essas questões estão as condições <strong>de</strong>f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, que se refer<strong>em</strong> ao trabalho e rendimento,submissão econômica e social, relações <strong>de</strong> gênero nasocieda<strong>de</strong> e modo <strong>de</strong> infecção. 8-12O trabalho r<strong>em</strong>ete à ocupação das mulheres, que mostraum acúmulo <strong>de</strong> funções <strong>de</strong>ntro e fora do lar. 9 Essasituação aumenta a exposição das mulheres a umasobrecarga <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s que geram <strong>de</strong>sgaste físico e<strong>em</strong>ocional, do qual comumente não pod<strong>em</strong> escapar pelanecessida<strong>de</strong> financeira da família e pela <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong>cuidado <strong>de</strong> seus filhos.O rendimento <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s evi<strong>de</strong>ncia baixar<strong>em</strong>uneração ou ausência no caso <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> do lar. 8-11Isso repercute <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>pendência financeira docompanheiro e submissão social evi<strong>de</strong>nciada comofraqueza, passivida<strong>de</strong> e falta <strong>de</strong> perspectiva. 8Essa situação é reforçada pela perspectiva <strong>de</strong> gênero,na qual socialmente as mulheres são associadas aosentimentalismo, à carência e à imaturida<strong>de</strong> afetiva,enquanto os homens se encaixam no padrão damasculinida<strong>de</strong> da representativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> força, ativida<strong>de</strong>,dominação e racionalida<strong>de</strong>. Embora seja constante a lutaf<strong>em</strong>inista pelos direitos das mulheres e igualda<strong>de</strong> social,os homens ainda mantêm a soberania na família. Issor<strong>em</strong>ete a situações <strong>de</strong> violência psicológica, domésticae/ou sexual, representando a condição <strong>de</strong> opressão aque essas mulheres estão submetidas. 8-9Nessa perspectiva, a exposição à infecção pelo HIVacontece basicamente por meio <strong>de</strong> relações sexuaiss<strong>em</strong> preservativos com parceiros com qu<strong>em</strong> mantêmou mantiveram relação estável. 9,11,15 Tais achados nosr<strong>em</strong>et<strong>em</strong> à vulnerabilida<strong>de</strong> social, evi<strong>de</strong>nciados nosel<strong>em</strong>entos, associados à vida das mulheres.Percebe-se a presença <strong>de</strong> condicionantes tanto d<strong>em</strong>asculinida<strong>de</strong> como <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong> – por ex<strong>em</strong>plo,na norma sexual apreendida. Nesta, cabe às mulheresse ocupar<strong>em</strong> com sua saú<strong>de</strong> reprodutiva, com o uso<strong>de</strong> anticoncepcional e com a possibilida<strong>de</strong> da gravi<strong>de</strong>zprecoce ou in<strong>de</strong>sejada; aos homens cabe provar a suamasculinida<strong>de</strong> e, diante disso, po<strong>de</strong>rá ser o uso dopreservativo um <strong>em</strong>pecilho. 24À medida que a epid<strong>em</strong>ia da infecção pelo HIV se expandiaentre a população f<strong>em</strong>inina, várias análises realizadassalientavam que a forma pela qual as relações <strong>de</strong> gênerose encontravam estruturadas <strong>de</strong>finia o contexto <strong>de</strong>vulnerabilida<strong>de</strong> da população f<strong>em</strong>inina: a assimetria<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, particularmente reveladora nas experiênciassexuais e afetivas, e as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s nas relações <strong>de</strong>gênero nas esferas sociais e econômicas, como o menoracesso da mulher à educação e ao <strong>em</strong>prego, baixossalários e dupla jornada <strong>de</strong> trabalho. 25As relações <strong>de</strong>siguais <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r e a <strong>de</strong>pendência econômicalimitam o acesso às informações a<strong>de</strong>quadas eatualizadas. 18,23 Adiciona-se o fato <strong>de</strong> não se sentir<strong>em</strong>vulneráveis, sobretudo quando cumpr<strong>em</strong> o papel quea socieda<strong>de</strong> espera <strong>de</strong>las, a monogamia e a <strong>de</strong>dicaçãoao trabalho doméstico. 24As mulheres viv<strong>em</strong> seu cotidiano influenciadas porvalores <strong>de</strong> padrões culturais que as colocam comoresponsáveis por uma multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> papéis sociais:mães, esposas, filhas, profissionais, <strong>de</strong>ntre outros. Esseaglomerado <strong>de</strong> papéis, juntamente com a ênfase dasua função como cuidadoras, po<strong>de</strong> fazer com queelas negligenci<strong>em</strong> os cuidados com a própria saú<strong>de</strong>,aproximando-se da possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se infectar<strong>em</strong> peloHIV ou, quando já está infectadas, aproximando-se davulnerabilida<strong>de</strong> ao adoecimento ou à TV do HIV. 19,22Além disso, verifica-se, nos achados, o acesso às informaçõese o conhecimento que surge por meio do serviço<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> durante o diagnóstico <strong>de</strong> HIV prévio à gestação<strong>em</strong> questão, o acompanhamento pré-natal, puerperal epuericultura <strong>em</strong> serviço especializado, b<strong>em</strong> como pelamídia (revista, jornal, cartaz, fol<strong>de</strong>r, rádio, televisão) e pelospares <strong>em</strong> grupos no serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, ONG, comunida<strong>de</strong>ou família. 8,10-11,13,15-16Verificaram-se duas situações: por um lado, mulherescom pouca ou nenhuma informação sobre a infecçãopelo HIV no momento da <strong>de</strong>scoberta da soropositivida<strong>de</strong>e, por outro lado, mulheres que d<strong>em</strong>onstram possuirinformações s<strong>em</strong> que essas impliqu<strong>em</strong> o cuidado àsaú<strong>de</strong>. A falta <strong>de</strong> acesso às informações sobre a infecçãopo<strong>de</strong> criar expectativas errôneas relativas à prevençãoda transmissão do vírus, evolução clínica e tratamentoda doença. 10 Consequent<strong>em</strong>ente, po<strong>de</strong> aumentar apossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> adoecimento, uma vez que dificulta acompreensão dos danos para a sua saú<strong>de</strong> e a efetivação<strong>de</strong> mudanças <strong>de</strong> comportamento. 8,11A ineficácia das informações sobre a prevenção tambémpo<strong>de</strong> ser o resultado do medo da aids, que é reproduzidosocialmente e vivido pelas pessoas soropositivas ao HIV,causando-lhes ansieda<strong>de</strong>, culpa e estresse. 10Há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> buscar outros espaços <strong>de</strong> promoçãoda educação sexual da população nos próprios serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> nos diferentes níveis <strong>de</strong> atenção, nas múltiplaspossibilida<strong>de</strong>s da mídia e na comunida<strong>de</strong>, aten<strong>de</strong>ndoà população <strong>em</strong> geral nas diferentes faixas etárias e,especificamente, gestantes, mulheres soropositivas eseus pares. 8448 r<strong>em</strong>E – Rev. 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Essas <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso às informações econhecimento refer<strong>em</strong>-se à vulnerabilida<strong>de</strong> social dasgestantes, que possui nexos com o menor acesso àeducação e ao trabalho assalariado e implica tornar<strong>em</strong>s<strong>em</strong>ais <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes dos homens. 26 No entanto, a a<strong>de</strong>sãoàs medidas profiláticas à infecção pelo HIV não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>exclusivamente do conhecimento e da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> cadapessoa. Relaciona-se, também, à sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>assimilar e, especialmente, compreen<strong>de</strong>r as informações,com o acesso aos recursos que permit<strong>em</strong> a sua prática ecom a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rir ao tratamento. 22Por outro lado, o trabalho preventivo, no que diz respeitoà vulnerabilida<strong>de</strong> relacionada à falta <strong>de</strong> conhecimentosobre a infecção pelo HIV, não se <strong>de</strong>ve resumir apenas<strong>em</strong> transmitir informação técnica. Deve contribuir <strong>de</strong>forma a possibilitar que as pessoas possam i<strong>de</strong>ntificaras próprias necessida<strong>de</strong>s e disponibilizar efetivamenteo conhecimento na forma <strong>em</strong> que elas <strong>de</strong>sejar<strong>em</strong> epu<strong>de</strong>r<strong>em</strong> usar, para que possam se proteger e aos outrosda epid<strong>em</strong>ia. 21Diante <strong>de</strong>sse contexto, muitas mulheres tomamconhecimento da sua soropositivida<strong>de</strong> durante agestação por meio da realização do exame sorológico<strong>de</strong> caráter compulsório no pré-natal. 8-16 Algumasmulheres têm diagnóstico <strong>de</strong> HIV prévio à gestação<strong>em</strong> questão. 9-10 Percebe-se que o fato <strong>de</strong> se ter umaepid<strong>em</strong>ia estigmatizada, as mulheres, ao <strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong>o resultado positivo, muitas vezes apresentam comoreação o silêncio. 8-10As mulheres mantêm o comportamento cotidianopara não transparecer a doença. Mudar <strong>de</strong> atitu<strong>de</strong>e comportamento também po<strong>de</strong> <strong>de</strong>sestruturar afamília, pois po<strong>de</strong> fazer <strong>em</strong>ergir conflito do casal,culpabilida<strong>de</strong> e probl<strong>em</strong>as relacionados à sexualida<strong>de</strong>.Por isso, as mulheres encontram dificulda<strong>de</strong>s <strong>em</strong> revelarao companheiro e à família, omitindo o diagnóstico. 8-10Nesses casos, a família po<strong>de</strong> vir a <strong>de</strong>scobrir a soropositivida<strong>de</strong>da mulher na ocasião do parto ou pela nãoamamentação. 10Esse silêncio está associado ao estigma da doençaatribuído à própria construção social da aids estreitamenteligada à morte pelo caráter incurável e assustador. Aaids era uma situação que se encontrava relacionadacom grupos <strong>de</strong> risco, consi<strong>de</strong>rados discriminadose marginalizados – por ex<strong>em</strong>plo, as prostitutas, osusuários <strong>de</strong> drogas injetáveis e os homossexuais 27 –,<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ando o preconceito e a discriminação. Ostrabalhos analisados reconhec<strong>em</strong> a influência <strong>de</strong>ssesfatores na vida das pessoas, os quais <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iam opreconceito e o medo da discriminação, relacionadoscom a preocupação constante da rejeição e exclusão noambiente da família e da comunida<strong>de</strong>. 8-10Crenças e interpretações morais, no que diz respeito àsexualida<strong>de</strong>, foram instituídas para explicar a orig<strong>em</strong>da situação que causou a infecção. Esse pensamentoda socieda<strong>de</strong> acabou apontando a pessoa infectadacomo culpada e responsável pela sua situação <strong>de</strong>soropositivida<strong>de</strong>, uma vez que seu estilo <strong>de</strong> vida rompeucom os comportamentos socialmente aceitáveis; assim,a doença reafirma seu caráter <strong>de</strong> pena e castigo. 27O preconceito e a intolerância estamparam-se nosdiscursos reacionários <strong>em</strong> que se forma o aidético,categoria única, indivisível e, principalmente, separadada socieda<strong>de</strong>, das pessoas, dos seres humanos. Ele éum inimigo con<strong>de</strong>nado à morte física, consi<strong>de</strong>rado s<strong>em</strong>utilida<strong>de</strong> para o <strong>de</strong>senvolvimento social. É retirado <strong>de</strong>leo direito <strong>de</strong> ser cidadão. 28As mulheres relatam ter vivências <strong>de</strong> discriminação eexperiências contadas por outras mulheres que viveramatitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> preconceito com elas próprias e/ou com seusfilhos. Essa preocupação po<strong>de</strong> ser observada, por ex<strong>em</strong>plo,pelo medo <strong>de</strong> que os vizinhos coment<strong>em</strong> que existealguém soropositivo na sua família, resultando no silênciosocial como um limite à a<strong>de</strong>são à terapia profilática. 8-10 Isso<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ia sua vulnerabilida<strong>de</strong> no plano social.Somada ao silêncio, ao preconceito e à discriminação,t<strong>em</strong>-se a compreensão da situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>como mais um obstáculo ao tratamento profilático.Apesar da expansão do número <strong>de</strong> casos notificados <strong>de</strong>aids na categoria <strong>de</strong> exposição heterossexual, gran<strong>de</strong>parte das mulheres não se sente sob risco <strong>de</strong> infecção.8-9,11-12 Consi<strong>de</strong>ram uma possível infecção peloHIV como distante e inacessível. 29 Esse pensamentorelaciona-se à falta <strong>de</strong> conhecimento sobre o processo<strong>de</strong> infecção; ao pensamento <strong>de</strong> que as pessoas quesão prováveis fontes da infecção estão distantes davida <strong>de</strong>las; à crença da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> que possampenetrar no ambiente familiar doenças por vezesmencionadas como doenças do mundo.Pensar a aids como uma situação que só atinge outraspessoas viabiliza a circulação da epid<strong>em</strong>ia <strong>de</strong> formasilenciosa e sutil, só se tornando verídica quandotransformada <strong>em</strong> um mal irreparável. 29 Esse modo<strong>de</strong> pensar faz com que muitas pessoas se sintaminvulneráveis à contaminação pelo HIV, não a<strong>de</strong>rindoàs medidas preventivas recomendadas. 23,24Além disso, as mulheres, por não querer<strong>em</strong> colocar<strong>em</strong> dúvida uma relação estável e conveniente paraelas, ainda hoje têm a preocupação <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> cotadascomo infiéis por querer<strong>em</strong> usar o preservativo, o qual,historicamente, está ligado à i<strong>de</strong>ia da infi<strong>de</strong>lida<strong>de</strong>,tornando, por isso, seu uso vergonhoso para as mulheres<strong>de</strong> família. 30 Assim, esse será um fator que aumenta avulnerabilida<strong>de</strong> da mulher à infecção pelo HIV.Nesse sentido, há necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir com asmulheres formas seguras <strong>de</strong> se proteger<strong>em</strong> da infecçãopelo HIV. Faz<strong>em</strong>-se necessárias práticas educativase <strong>em</strong>ancipatórias com mulheres e homens na buscado exercício da sexualida<strong>de</strong> que provoque mudançascomportamentais. 31Na análise dos artigos <strong>em</strong> questão, surg<strong>em</strong> as barreirasno cotidiano assistencial dos serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>. 8-10;12-16Dadas as <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> acesso e à baixa qualida<strong>de</strong> daassistência pré-natal, um consi<strong>de</strong>rável grupo <strong>de</strong> mulheresé exposto à falha na <strong>de</strong>tecção precoce da infecção. Issoacontece mesmo com mulheres que iniciaram o pré-natalr<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011449


Vulnerabilida<strong>de</strong> materno-infantil: fatores <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são à profilaxia da transmissão vertical do hivno primeiro trimestre da gestação e mantiveram seis oumais consultas conforme o recomendado, mas ocorre,principalmente, com aquelas que tiveram pelo menosuma consulta. 8-16Assinale-se que há casos <strong>em</strong> que gestantes, apesar <strong>de</strong>diagnosticadas, receb<strong>em</strong> AZT tardiamente e/ou não oreceb<strong>em</strong> injetável <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do trabalho <strong>de</strong> parto.Por vezes, sa<strong>em</strong> da maternida<strong>de</strong> s<strong>em</strong> receber a soluçãooral para o recém-nascido. 16Outra dificulda<strong>de</strong> para manutenção do acompanhamentopré-natal é a <strong>de</strong>ficiência <strong>de</strong> transporte que as gestantesenfrentam ou as dificulda<strong>de</strong>s financeiras para tal. Algunsauxílios são oferecidos pelo próprio serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, afim <strong>de</strong> promover o comparecimento da gestante nasconsultas 8,10 .Outros fatores contribu<strong>em</strong> para a não realização dasconsultas periódicas e, consequent<strong>em</strong>ente, para a nãoa<strong>de</strong>são ao protocolo proposto pelo Ministério da Saú<strong>de</strong>,tais como a disponibilida<strong>de</strong> insuficiente <strong>de</strong> exames nare<strong>de</strong>, a d<strong>em</strong>ora na entrega dos resultados laboratoriaise as dificulda<strong>de</strong>s para obtê-los. 12A falta <strong>de</strong> informações sobre a disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>intervenções eficazes na redução da TV do HIV tambémdificulta o <strong>de</strong>senvolvimento das ações <strong>de</strong> assistência àsgestantes e <strong>de</strong> profilaxia. Além disso, ocorr<strong>em</strong> falhas nacomunicação do profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> com a gestante. 8,12Há fragilida<strong>de</strong>s na organização do serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,como carência na prática <strong>de</strong> avaliação, possibilitandorever a estrutura, a administração, o processo <strong>de</strong> trabalhoe as ações na prática assistencial cotidiana. 16Exist<strong>em</strong> as contradições no direito à vida sexual ereprodutiva diante da soropositivida<strong>de</strong>. Não se <strong>de</strong>vequestionar o direito <strong>de</strong>ssas mulheres à maternida<strong>de</strong>,mas, sim, se elas estão tendo o direito à prevenção eao planejamento <strong>de</strong> sua vida reprodutiva. O objetivoé evitar as gestações não planejadas. No entanto,encontram-se limites no atendimento às d<strong>em</strong>andascontraceptivas, já que o planejamento familiar é funçãoda assistência primária. 9-11Tais fatores reportam à vulnerabilida<strong>de</strong> no planoprogramático, o qual é estruturado pelos programas<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para aten<strong>de</strong>r às d<strong>em</strong>andas da epid<strong>em</strong>ia <strong>de</strong>HIV/AIDS – aqui se especifica a situação <strong>de</strong> gestaçãoe soropositivida<strong>de</strong>. 18 A vulnerabilida<strong>de</strong> programáticarelaciona-se com a implantação e a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong>programas e diretrizes da política pública <strong>de</strong> prevençãoe <strong>de</strong> assistência.Preconiza-se a adoção <strong>de</strong> intervenções que englob<strong>em</strong>o cuidado integral, focalizando a mulher <strong>em</strong> todas assuas dimensões, não apenas direcionada para sua saú<strong>de</strong>reprodutiva. Assim, é essencial que as práticas no âmbitoda saú<strong>de</strong> da mulher sejam articuladas e que não ocorram<strong>de</strong> forma isolada. 4-6Constata-se que, <strong>em</strong> termos <strong>de</strong> legislação e <strong>de</strong> diretrizes,a Política Pública do Ministério da Saú<strong>de</strong>, no que dizrespeito à infecção do HIV/aids, encontra-se b<strong>em</strong>fundamentada. Isso não é novida<strong>de</strong>, visto que, <strong>em</strong> 2002, oBrasil foi reconhecido mundialmente como um expoente<strong>em</strong> termos <strong>de</strong> prevenção. 4-6 No entanto, exist<strong>em</strong> lacunasno momento da sua operacionalização. 18-19,24,31Observa-se que é marcante a vulnerabilida<strong>de</strong> noplano programático, quando o foco são as instituiçõescom ações <strong>de</strong> controle da TV do HIV, 31 que surge <strong>em</strong><strong>de</strong>corrência <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> natureza organizacional,tais como: obstáculos para acesso ao atendimento,in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> ser a primeira consulta ouseguimento; <strong>de</strong>svalorização do trabalho educativo;d<strong>em</strong>anda reprimida para diagnóstico laboratorial; efalta <strong>de</strong> articulação entre as diversas ativida<strong>de</strong>s quecompõ<strong>em</strong> o conjunto das ações programáticas. Diantedisso, <strong>de</strong>ve-se evitar a fragmentação das intervenções ea dissociação das várias dimensões da saú<strong>de</strong> reprodutivaf<strong>em</strong>inina.Assim, para que seja possível a realização <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminadasações, os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>pend<strong>em</strong> dacolaboração <strong>de</strong> vários setores <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, tais como exameslaboratoriais, dispensação <strong>de</strong> medicamentos, assistênciasocial e psicológica, serviços <strong>de</strong> enfermag<strong>em</strong>, <strong>de</strong>ntreoutros 4-6 . No entanto, verifica-se que exist<strong>em</strong> falhas nosist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> que impossibilitam a continuida<strong>de</strong>da prestação <strong>de</strong> cuidados por parte dos profissionais,dificultando, <strong>de</strong>ssa forma, a a<strong>de</strong>são à terapia profiláticana prevenção da TV do HIV. 18-19,24,31CONCLUSÃODestacando a política <strong>de</strong> prevenção do HIV, especificamenteas ações <strong>de</strong> profilaxia da TV, nesta pesquisaforam evi<strong>de</strong>nciados alguns fatores que favorec<strong>em</strong> edificultam a a<strong>de</strong>são à terapêutica. Como fatores <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são<strong>de</strong>stacaram-se o cuidado <strong>de</strong> si no plano individual e ocuidado do outro e pelo outro no plano social. Como fatores<strong>de</strong> não a<strong>de</strong>são, no plano social, evi<strong>de</strong>nciaram-se a situaçãosocioeconômica, a condição <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, o acesso àsinformações e conhecimentos, o silêncio, a compreensãoda situação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong>, o preconceito e o medoda discriminação. No plano programático, evi<strong>de</strong>nciaram-seas barreiras no serviço <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>.Faz-se importante compreen<strong>de</strong>r a dificulda<strong>de</strong> dasmulheres no cuidado <strong>de</strong> si, a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cuidadodo outro, seja filho, seja marido, e a importância doapoio <strong>em</strong> ser cuidada pelo outro, no espaço social ouno assistencial. É imprescindível ao profissional <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> realizar uma abordag<strong>em</strong> integral, levando <strong>em</strong>conta as especificida<strong>de</strong>s vividas pela mulher <strong>em</strong> seucotidiano. Essa abordag<strong>em</strong> possibilita a promoção do<strong>em</strong>po<strong>de</strong>ramento, com o objetivo <strong>de</strong> dar possibilida<strong>de</strong>para cuidar <strong>de</strong> si e facilitar a a<strong>de</strong>são à terapia e, assim,reduzir os riscos para si e para o seu filho.Ao analisar os fatores relacionados com a não a<strong>de</strong>sãoà terapia profilática na prevenção da TV do HIV, foipossível compreen<strong>de</strong>r a multidimensionalida<strong>de</strong> davulnerabilida<strong>de</strong> das mulheres. O cotidiano <strong>de</strong>las éinfluenciado pelas diferenças socioeconômicas, pelas450 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011


condições <strong>de</strong> f<strong>em</strong>inilida<strong>de</strong>, pelo preconceito pelosilêncio, além das barreiras que enfrentam nos serviços<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para o atendimento pré-natal e planejamentofamiliar. Isso implica, também, a compreensão da suasituação <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> e as atitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cuidadocom a sua saú<strong>de</strong> e do filho.Visando minimizar as vulnerabilida<strong>de</strong>s das gestantes e dosrecém-nascidos, prima-se por ações <strong>de</strong> universalida<strong>de</strong>,equida<strong>de</strong> e integralida<strong>de</strong> que cont<strong>em</strong>pl<strong>em</strong> as mulheresna situação da gestação e da soropositivida<strong>de</strong> ao HIV nãosomente <strong>em</strong> sua suscetibilida<strong>de</strong> biológica materno-fetal,mas também nos aspectos econômico, sociocultural,político e comportamental. É importante que sejamcont<strong>em</strong>plados aspectos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> açõeseducativas e <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, imbricadas <strong>em</strong> uma políticapública reconhecidamente eficaz.Cientes <strong>de</strong>sses fatores, foi possível compreen<strong>de</strong>r que, paraaten<strong>de</strong>r às d<strong>em</strong>andas da prevenção da TV do HIV, faz-seimprescindível o trabalho <strong>em</strong> equipe e <strong>em</strong> re<strong>de</strong>s coma articulação intra e intersetorial <strong>em</strong> todos os níveis <strong>de</strong>atenção à saú<strong>de</strong>, pautado por ações interdisciplinares.Acredita-se que, assim, tenha-se a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>alcançar a impl<strong>em</strong>entação eficaz da profilaxia da transmissãovertical do HIV e compreen<strong>de</strong>r os nexos com aa<strong>de</strong>são à terapêutica como um processo multifatorialque inclui não somente aspectos físicos, psicológicos,sociais, culturais e comportamentais ligados à re<strong>de</strong> socialda pessoa, como também aspectos que se relacionamà re<strong>de</strong> institucional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, na qual, especialmente,requer<strong>em</strong>-se acolhimento e vínculo entre a pessoa quevive com HIV e a equipe, para se chegar à possibilida<strong>de</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões compartilhadas e corresponsabilizadas.REFERÊNCIAS1. 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Vulnerabilida<strong>de</strong> materno-infantil: fatores <strong>de</strong> (não) a<strong>de</strong>são à profilaxia da transmissão vertical do hiv23. Santos N, Filipe EMV, Paiva V, Buchalla CM, Bergamaschi DP. Saú<strong>de</strong> reprodutiva e sexualida<strong>de</strong> <strong>em</strong> mulheres HIV positivas. Jornal brasileiro<strong>de</strong> AIDS 2003; 4(1): 29-37.24. Padoin SMM, Souza IEO. O <strong>de</strong>safio <strong>de</strong> prevenir a transmissão do HIV na mulher: políticas públicas e as circunstâncias individuais e sociais.In: Padoin SMM, Paula CC, Schaurich D, organizador. Aids: o que ainda há para ser dito? Santa Maria: EdUFSM; 2007. p. 69-95.25. Nascimento AMG, Barbosa CS, Benedito M. Mulheres <strong>de</strong> Camaragibe: representação social sobre a vulnerabilida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong>AIDS. Rev Bras Saú<strong>de</strong> Matern Infant. 2005; 5(1): 77-86.26. Herrera C, Campero L. La vulnerabilidad e invisibilidad <strong>de</strong> las mujeres ante el VIH/SIDA: constantes y cambios en el t<strong>em</strong>a. Rev Salud Pública<strong>de</strong> México. 2002; 44(6): 554-64.27. Almeida MRCB, Labronici LM. A trajetória silenciosa <strong>de</strong> pessoas portadoras do HIV contada pela história oral. Rev Ciênc Saú<strong>de</strong> Coletiva.2007; 12(1): 263-74.28. Dar<strong>de</strong> VWS. A AIDS na imprensa: a construção da imag<strong>em</strong> da epid<strong>em</strong>ia e a influência na promoção da cidadania. Rev Em Questão. 2004;10(2): 247-59.29. Nascimento AMG, Barbosa CS, Benedito M. Mulheres <strong>de</strong> Camaragibe: representação social sobre a vulnerabilida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos <strong>de</strong>AIDS. Rev Bras Saú<strong>de</strong> Matern Infant. 2005; 5(1): 77-86.30. Paiva V. S<strong>em</strong> mágicas soluções: a prevenção e o cuidado <strong>em</strong> HIV/ AIDS e o processo <strong>de</strong> <strong>em</strong>ancipação psicossocial. Interface Comunic, Saú<strong>de</strong>,Educ. 2002; 6(11): 25-38.31. Feliciano KVO, Kovacs MH. Vulnerabilida<strong>de</strong> programática na prevenção da transmissão materno-fetal da AIDS. Rev Bras Saú<strong>de</strong> Mater Infant.2002; 2(2): 157-65.Data <strong>de</strong> submissão: 23/9/2009Data <strong>de</strong> aprovação: 13/5/2010452 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 443-452, jul./set., 2011


Artigo reflexivoPRESENÇA DO ACOMPANHANTE DURANTE O PROCESSO DEPARTURIÇÃO: UMA REFLEXÃOA REFLEXION ON THE EMOTIONAL SUPPORT DURING CHILDBIRTHREFLEXIÓN SOBRE LA PRESENCIA DEL ACOMPAÑANTE DURANTE EL PARTOJaqueline <strong>de</strong> Oliveira Santos 1Camila Arruda Tambellini 2Sonia Maria Junqueira Vasconcellos <strong>de</strong> Oliveira 3RESUMOHistoricamente, o processo <strong>de</strong> parturição transcorria naturalmente, sendo cuidado pela parteira e cercado pela família.A inserção da medicina culminou na patologização e na institucionalização do parto, a mulher passou a ser admitidano hospital e o acompanhamento foi excluído da prática assistencial. Evidências científicas recentes d<strong>em</strong>onstramque medidas <strong>de</strong> conforto físico e <strong>em</strong>ocional auxiliam no <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do parto, diminuindo-lhe a duração ea necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções. Com base nas evidências, a Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) e o Ministério daSaú<strong>de</strong> do Brasil recomendam a presença do acompanhante durante o trabalho <strong>de</strong> parto, que foi fortalecida <strong>em</strong> 2005pela Lei nº 11.108, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2005, regulamentada pelo Congresso Nacional brasileiro, que garante o direito <strong>de</strong>um acompanhante escolhido pela mulher, durante seu processo <strong>de</strong> parturição, nos hospitais do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong>Saú<strong>de</strong> (SUS). Entretanto, poucas instituições incorporaram essa prática na sua rotina. O objetivo com este materialé proporcionar reflexões sobre os benefícios da inserção do acompanhante no trabalho <strong>de</strong> parto e o respeito àindividualida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina, para garantir maior segurança e satisfação dos pais no nascimento do novo m<strong>em</strong>bro dafamília. É primordial que sejam reconhecidas as evidência científica e a mudança <strong>de</strong> comportamento dos profissionaise das instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para que haja respeito aos direitos das mulheres e à singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada nascimento.Palavras-chave: Saú<strong>de</strong> da Mulher; Acompanhantes <strong>de</strong> Pacientes; Parto; Humanização do Parto.ABSTRACTTraditionally the process of childbirth happened naturally. The labouring women were cared for by midwives and weresurroun<strong>de</strong>d by their family. The pathologization and hospitalization of childbirth eliminated from the healthcare practicethe personal support and companionship to women in labour. Scientific evi<strong>de</strong>nce d<strong>em</strong>onstrates that comfort measuresand <strong>em</strong>otional support help to trigger the labour, to reduce its length and it lessens the need for interventions. Basedon these facts, the World Health Organization (WHO) and the Brazilian Ministry of Health recommend the presence of achildbirth helper or doula during <strong>de</strong>livery. This recommendation was regulated by Decree n. 11.108 dated from the 7 th ofApril 2005 and voted by the Brazilian National Congress. It guarantees the women’s right to a helper of their own choosingduring childbirth in any Public Health Syst<strong>em</strong> hospital. And yet only a small number of hospitals incorporate this practice.This study’s purpose is to reflect on the advantages of a doula during labour and the respect for the labouringwomen’s individuality so as to ensure a safe <strong>de</strong>livery and the parents’ satisfaction on the birth of a new familym<strong>em</strong>ber. It is essential to acknowledge the scientific evi<strong>de</strong>nce, to change the professionals’ approach to childbirth, andthe current hospital procedures respecting thus the labouring women’s rights and the uniqueness of each birth.Key words: Women’s Health; Patient Companion; Childbirth; Humanization of Birth.RESUMENHistóricamente, el proceso <strong>de</strong> parto ocurría espontáneamente, a cargo <strong>de</strong> la partera y ro<strong>de</strong>ado <strong>de</strong> la familia. Con lapatologización y la institucionalización <strong>de</strong>l proceso <strong>de</strong> parto, la mujer es ingresada en el hospital y el acompañanteexcluido <strong>de</strong> la práctica asistencial. Evi<strong>de</strong>ncias científicas recientes d<strong>em</strong>uestran que medidas <strong>de</strong> confort físico y <strong>em</strong>ocionalayudan a provocar el parto, reduciendo su duración y la probabilidad <strong>de</strong> intervenciones. En base a las evi<strong>de</strong>ncias, laOrganización Mundial <strong>de</strong> Salud y el Ministerio <strong>de</strong> Salud <strong>de</strong> Brasil recomiendan la presencia <strong>de</strong>l acompañante duranteel trabajo <strong>de</strong> parto. Esta recomendación se consolida con el <strong>de</strong>creto no 11.108 <strong>de</strong>l 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2005 votado por elCongreso Nacional Brasileño. Este <strong>de</strong>creto garantiza a la mujer el <strong>de</strong>recho a un acompañante elegido por ella duranteel parto en los hospitales <strong>de</strong>l Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Salud. Sin <strong>em</strong>bargo, son pocos los hospitales que han incluido estapráctica en su rutina. Este estudio busca reflexionar sobre los beneficios <strong>de</strong> la inclusión <strong>de</strong>l acompañante en el proceso<strong>de</strong> parto y el respeto a la individualidad f<strong>em</strong>enina, para garantizar mayor seguridad y satisfacción a los padres en elnacimiento <strong>de</strong>l nuevo integrante <strong>de</strong> la familia. Para que se respeten los <strong>de</strong>rechos <strong>de</strong> las mujeres y la singularidad <strong>de</strong>cada nacimiento es fundamental que se reconozca la evi<strong>de</strong>ncia científica y que haya un cambio en el comportamiento<strong>de</strong> los profesionales <strong>de</strong> salud y, asimismo, en las instituciones.Palabras clave: Salud <strong>de</strong> la Mujer; Acompañantes <strong>de</strong> Pacientes; Parto; Humanización <strong>de</strong>l Parto.1Enfermeira. Doutoranda do Programa <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> na <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP). En<strong>de</strong>reço: Instituto <strong>de</strong>Ciências da Saú<strong>de</strong> da Universida<strong>de</strong> Paulista. Rua Apeninos, 267, CEP 01533-000, São Paulo, SP, Brasil. E-mail: jaquesantos@usp.br.2Enfermeira pela Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP). Aluna do Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong> Saú<strong>de</strong> da Família da Faculda<strong>de</strong> Santa Marcelina (FASM), São Paulo,Brasil. En<strong>de</strong>reço: Rua Juaçaba, 516. Itaquera, São Paulo-SP. CEP 08246-066. E-mail: camilaartam@yahoo.com.br.3Professora Associada do Departamento <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Materno-Infantil e Psiquiátrica da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo (USP).En<strong>de</strong>reço: Av. Dr. Enéas <strong>de</strong> Carvalho Aguiar, 419. CEP 05403-000. São Paulo, SP. E-mail: soniaju@usp.br.En<strong>de</strong>reço para correspondência – Rua Apeninos, 267, Aclimação – São Paulo-SP. CEP: 01533-000.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 453-458, jul./set., 2011453


Presença do acompanhante durante o processo <strong>de</strong> parturição: uma reflexãoINTRODUÇÃOHistoricamente, a experiência <strong>de</strong> dar à luz era compartilhadasomente entre as mulheres e agregava inúmerossignificados culturais, possibilitando-lhes apenas conversarlivr<strong>em</strong>ente sobre o assunto, i<strong>de</strong>ntificando-se umas comas outras <strong>em</strong> suas experiências e preocupações. 1 O partoacontecia fisiologicamente, no domicílio da parturiente,que era acompanhada pela família e cuidada pela parteira,que além <strong>de</strong> prestar assistência ao parto, também forneciaapoio físico e conforto <strong>em</strong>ocional.² , ³Esse cenário foi evi<strong>de</strong>nciado, na Europa, até o século XVIIe, no Brasil, a assistência ao parto permaneceu nas mãosdas parteiras durante todo o século XIX. No entanto, noinício do século XX, mais expressivamente após a SegundaGuerra Mundial, <strong>em</strong> nome da redução das elevadas taxas<strong>de</strong> mortalida<strong>de</strong> materna e infantil, as mulheres-mães,começaram a introjetar a necessida<strong>de</strong> da medicina e dacrescente tecnologia para assegurar um bom <strong>de</strong>sfechodo nascimento. 3-5A consolidação da heg<strong>em</strong>onia médica veio acompanhadapela institucionalização do parto e pela introdução<strong>de</strong> uma série <strong>de</strong> práticas com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervir,monitorar e controlar a gravi<strong>de</strong>z e o nascimento. Odomínio <strong>de</strong> técnicas ampliou as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>intervenção, abrindo caminho para a inclusão <strong>de</strong> normase procedimentos realizados rotineiramente, planejadospara aten<strong>de</strong>r às necessida<strong>de</strong>s dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,e não das parturientes. 3,5O corpo da mulher transformou-se <strong>em</strong> propriedad<strong>em</strong>édica e institucional e o parto tornou-se essencialmenteprobl<strong>em</strong>ático, seguindo um mo<strong>de</strong>lo assistencialcaracterizado pelo uso exagerado da tecnologia,pelo intervencionismo e pela impessoalida<strong>de</strong>. 4 Oacompanhamento durante o parto, realizado antigamentepelos familiares ou pela parteira com a finalida<strong>de</strong><strong>de</strong> fornecer apoio <strong>em</strong>ocional e suporte psicológico,foi classificado pela obstetrícia como in<strong>de</strong>sejado e,consequent<strong>em</strong>ente, eliminado.As parturientes, quando admitidas no ambiente hospitalar,além do risco <strong>de</strong> sofrer intervenções <strong>de</strong>snecessárias earriscadas, permanec<strong>em</strong> isoladas nas salas <strong>de</strong> pré-parto ou<strong>de</strong> parto, longe <strong>de</strong> alguém conhecido ou <strong>de</strong> sua confiança,cercadas por equipamentos técnicos e assistidas porprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> frequent<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>sconhecidose s<strong>em</strong> nenhum tipo <strong>de</strong> apoio <strong>em</strong>ocional.No final do século XX, o <strong>de</strong>scontentamento das mulheres<strong>em</strong> razão da apropriação do corpo f<strong>em</strong>inino pelaobstetrícia estimulou mundialmente a luta do movimentof<strong>em</strong>inista, que <strong>de</strong>u início ao movimento <strong>em</strong> prol dahumanização da assistência ao parto. O objetivo principal<strong>de</strong>sse movimento foi promover o cuidado à saú<strong>de</strong> damulher, centralizado nas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> cada uma efundamentado <strong>em</strong> evidências científicas para garantir àmãe e à criança uma assistência segura, com o mínimo<strong>de</strong> intervenções. 6O movimento das mulheres pelo protagonismona assistência ao parto impulsionou o interesse dacomunida<strong>de</strong> científica pelo <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>pesquisas clínicas para subsidiar o retorno do apoio<strong>em</strong>ocional e psicológico oferecido à parturiente duranteo trabalho <strong>de</strong> parto.O objetivo com este texto é proporcionar reflexõessobre a necessida<strong>de</strong> da incorporação da presença doacompanhante durante o processo <strong>de</strong> parturição naprática clínica assistencial, <strong>em</strong> razão das vantagens edos benefícios relacionados ao conforto físico e apoio<strong>em</strong>ocional, constatados <strong>em</strong> evidências científicas.AS EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS SOBRE O APOIOEMOCIONAL DURANTE O TRABALHO DE PARTOA questão do apoio <strong>em</strong>ocional durante o trabalho <strong>de</strong>parto surgiu com mais força na literatura científica apartir a década <strong>de</strong> 1980, quando os primeiros ensaiosclínicos <strong>de</strong>stinados a avaliar o efeito do suporte à mulherforam realizados na Guat<strong>em</strong>ala, tendo mulheres leigascomo protagonistas <strong>de</strong>sse cuidado. 7A publicação do ensaio clínico conduzido por Hodnette Osborn, no Canadá, <strong>em</strong> 1989, é que efetivamenteincentivou o trabalho <strong>de</strong> outros pesquisadorespara evi<strong>de</strong>nciar os benefícios da presença <strong>de</strong> umacompanhante durante o processo <strong>de</strong> parturição. Nesseestudo, os autores d<strong>em</strong>onstraram que uma gestante <strong>de</strong>baixo risco que teve seu primeiro filho <strong>em</strong> um hospitaluniversitário foi atendida por 16 profissionais diferentesdurante seis horas <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> parto, e ainda assim foi<strong>de</strong>ixada isolada durante a maior parte do t<strong>em</strong>po. 8Na década <strong>de</strong> 1990, foram publicados, <strong>em</strong> revistasinternacionais, seis ensaios clínicos randomizados paraavaliar os efeitos do suporte provido pelo acompanhantedurante o processo <strong>de</strong> parturição 9 . Ensaio clínicorandomizado realizado na África do Sul, <strong>em</strong> 1991,d<strong>em</strong>onstrou que as mulheres do grupo controle, que nãoreceberam o apoio <strong>em</strong>ocional, relataram que tiverammais ansieda<strong>de</strong> e dor durante o parto, enquanto asmulheres do grupo experimental tiveram facilida<strong>de</strong> <strong>em</strong>assumir a maternida<strong>de</strong> e bom <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penho no cuidadoao recém-nascido, além <strong>de</strong> apresentar maior índice <strong>de</strong>aleitamento materno. 10Em outro ensaio clínico <strong>de</strong>senvolvido com 189 nulíparas,para avaliar a relação entre <strong>de</strong>pressão puerperal e o apoiorecebido durante o trabalho <strong>de</strong> parto, d<strong>em</strong>onstrou-seque as mulheres que receberam o suporte apresentaramum escore médio <strong>de</strong> autoestima mais elevado e umescore médio <strong>de</strong> ansieda<strong>de</strong> e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pressão pós-partomenor do que as mulheres que não receberam ocuidado. 11Em estudo <strong>de</strong> meta-análise para avaliar os efeitos doapoio contínuo no parto <strong>em</strong> primíparas, analisandosete ensaios clínicos publicados entre 1965 e 1995,evi<strong>de</strong>nciou-se a redução <strong>de</strong> 2,8 horas da duração dotrabalho <strong>de</strong> parto (IC 95% <strong>de</strong> 2,2-3,4) nas mulheres quereceberam o suporte. Esse procedimento aumentou apossibilida<strong>de</strong> do parto vaginal espontâneo (RR 2,01; IC95% 1,5-2,7), reduziu a frequência <strong>de</strong> uso <strong>de</strong> ocitócito,454 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 453-458, jul./set., 2011


fórcipe e cesariana, além <strong>de</strong> aumentar a satisfação dasmulheres com o processo <strong>de</strong> parturição. 12Em 2000, foi lançada, por um grupo <strong>de</strong> pesquisadoresincentivados pela Biblioteca Cochrane, uma importantepublicação analisando sist<strong>em</strong>aticamente os estudos queabordavam a atenção à gravi<strong>de</strong>z e ao parto, editada <strong>em</strong>português <strong>em</strong> 2005. 9 Nesse trabalho, também foramanalisados os meios <strong>de</strong> suporte envolvendo confortofísico e apoio <strong>em</strong>ocional às parturientes, promovidospelo profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, pelas doulas (acompanhantes<strong>de</strong> parto profissionais, responsáveis pelo confortofísico e <strong>em</strong>ocional da parturiente durante o pré-parto,nascimento e pós-parto) ou por indivíduos conhecidosda mulher, como o cônjuge, amigos ou familiares. 9Segundo os autores da publicação, praticamente nãoexist<strong>em</strong> pesquisas sobre a presença <strong>de</strong> homens, maridos eparceiros durante o parto, e os poucos estudos publicados,<strong>em</strong> sua maioria observacionais, estão limitados poramostras pequenas ou <strong>de</strong> autosseleção. 9 É primordiala realização <strong>de</strong> mais pesquisas clínicas que envolvam oparceiro como prestador <strong>de</strong> suporte <strong>em</strong>ocional para queas dúvidas sejam sanadas e para que seja estimulada suapresença no nascimento do seu filho. 9O papel das doulas foi avaliado por 14 estudoscontrolados randomizados realizados <strong>em</strong> diversospaíses, envolvendo mais <strong>de</strong> 5 mil mulheres. A presençacontínua <strong>de</strong>las, <strong>em</strong>bora s<strong>em</strong> vínculo prévio com aparturiente, foi associada à redução da necessida<strong>de</strong> douso <strong>de</strong> medicação para alívio da dor, cesariana, partovaginal cirúrgico e índice <strong>de</strong> Apgar inferior a sete noquinto minuto. Outros estudos evi<strong>de</strong>nciaram que apresença <strong>de</strong>ssas profissionais aumenta a probabilida<strong>de</strong><strong>de</strong> a mulher sentir-se satisfeita com seu próprio processo<strong>de</strong> parturição, vivenciando-o satisfatoriamente. 9Um ensaio clínico randomizado realizado no México, <strong>em</strong>1998, avaliando o suporte oferecido pela doula obteveuma frequência <strong>de</strong> amamentação exclusiva um mês apóso parto significativamente maior no grupo que recebeuseu apoio (RR 1,64; IC 95% 1,01-2,64) e uma redução noperíodo <strong>de</strong> duração do trabalho <strong>de</strong> parto (4,56 horasversus 5,58 horas; RR 1,07) quando comparado como grupo s<strong>em</strong> o cuidado. Entretanto, não houve efeitonas intervenções obstétricas, na ansieda<strong>de</strong> materna,na autoestima, na percepção da dor, na satisfação dasmulheres ou nas condições dos recém-nascidos. 13 Umarevisão da literatura inglesa sobre a t<strong>em</strong>ática sugereque os achados relacionados à medicação e ao estado<strong>de</strong> saú<strong>de</strong> do bebê ainda são inconclusivos, <strong>de</strong>vendo sermais b<strong>em</strong> elucidados. 14Em 2007, foi publicada uma nova revisão sist<strong>em</strong>áticasobre o apoio contínuo para as mulheres durante oparto, com o objetivo <strong>de</strong> avaliar os efeitos, para mães ebebês, do suporte contínuo no nascimento comparandocom a atenção obstétrica habitual. Foram incluídos nessarevisão 15 ensaios clínicos controlados randomizados,realizados <strong>em</strong> 11 países, com a participação <strong>de</strong> 12.791mulheres. As parturientes que experimentaram apoioindividual contínuo foram mais propensas a dar à luzs<strong>em</strong> o uso <strong>de</strong> analgesia ou anestesia, com menor risco<strong>de</strong> submeter-se ao parto cesáreo ou ao parto vaginalinstrumental e menor chance <strong>de</strong> insatisfação com suaexperiência do parto. No estudo, concluiu-se que o apoiocontínuo durante o trabalho <strong>de</strong> parto <strong>de</strong>veria ser umaregra, e não exceção, sugerindo que as instituições <strong>de</strong>saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>veriam permitir a todas as mulheres a presença<strong>de</strong> um apoio durante todo o parto. 15Em outra revisão sist<strong>em</strong>ática, também publicada <strong>em</strong>2007, incluíram-se dois estudos controlados, aleatórios,um realizado no Reino Unido e o outro na Austrália,com a participação <strong>de</strong> 1.815 mulheres, <strong>de</strong>sta vez como objetivo <strong>de</strong> comparar a continuida<strong>de</strong> da assistênciana gestação, parto e puerpério realizada pelo mesmoprofissional ou equipe, com o cuidado promovido pordiversos cuidadores. D<strong>em</strong>onstrou-se que, no pré-natal, asmulheres que receberam assistência contínua do mesmoprofissional tiveram menor chance <strong>de</strong> ser internadas e<strong>de</strong> faltar nas consultas, maior a<strong>de</strong>rência aos programas<strong>de</strong> educação, sentiram-se mais capazes <strong>de</strong> discutir suaspreocupações e mais preparadas para o parto. No parto,elas tiveram menor necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> receber analgesiaou anestesia, <strong>de</strong> sofrer intervenções e <strong>de</strong> ter bebês quenecessitass<strong>em</strong> <strong>de</strong> ressuscitação. Dessa forma, tiverammaior controle sobre o próprio corpo e sentiram-s<strong>em</strong>ais capacitadas para cuidar do seu bebê. Os autoresconcluíram que a continuida<strong>de</strong> dos cuidados na gestação,no parto e no puerpério é benéfica, entretanto, nãoficou claro se tais benefícios são <strong>de</strong>vidos à continuida<strong>de</strong>do cuidado ou ao profissional que presta a assistência.Suger<strong>em</strong> que é necessário o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> maispesquisas clínicas para sanar essa dúvida. 16As pesquisas d<strong>em</strong>onstram que a satisfação da mulher noparto está fort<strong>em</strong>ente associada ao ambiente acolhedore à presença <strong>de</strong> uma companhia, pois a presença <strong>de</strong>estranhos e o isolamento das pessoas queridas notrabalho <strong>de</strong> parto estão diretamente relacionadoscom o aumento do medo, do estresse e da ansieda<strong>de</strong>,retardando o progresso do parto.Conclui-se que medidas <strong>de</strong> conforto físico e <strong>em</strong>ocionalbeneficiam mãe e bebê, pois reduz<strong>em</strong> o <strong>de</strong>sconfortoe a insegurança sentidos pela parturiente, auxiliam no<strong>de</strong>senca<strong>de</strong>amento do parto, diminu<strong>em</strong> sua duração ereduz<strong>em</strong> a probabilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> intervenções.ESTÍMULO À PRESENÇA DO ACOMPANHANTE NOPARTO NO BRASILCom base nos achados da evidência científica, aOrganização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS) publicou, <strong>em</strong>1996, um guia prático para assistência ao parto normal,no qual classificou o apoio <strong>em</strong>pático fornecido pelosprestadores <strong>de</strong> serviço e o respeito à escolha da mulhersobre seus acompanhantes no parto como uma práticaútil e que <strong>de</strong>ve ser estimulada. 7No Brasil, as evidências científicas <strong>de</strong>ram início àspropostas para o estímulo à humanização do atendimentoà mulher e ao recém-nascido, como também pelo direito<strong>de</strong> a parturiente ter um acompanhante <strong>de</strong> sua escolha.r<strong>em</strong>E – Rev. 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Presença do acompanhante durante o processo <strong>de</strong> parturição: uma reflexãoUma das iniciativas para a impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong>ssaconduta foi a instituição do Prêmio Galba <strong>de</strong> Araújo peloMinistério da Saú<strong>de</strong>, <strong>em</strong> 1999, que reconhece os esforçosdos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> atuantes <strong>em</strong> instituiçõespúblicas ou privadas que integram a re<strong>de</strong> Sist<strong>em</strong>a Único<strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (SUS) para manter uma prática obstétrica maishumanizada e menos intervencionista.Campanha nacional <strong>em</strong> prol do respeito ao direito dapresença do acompanhante no parto também foi lançada<strong>em</strong> 2000, pela Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> Humanização do Nascimento(REHUNA) com o apoio <strong>de</strong> outras instituições, comoa Re<strong>de</strong> Nacional F<strong>em</strong>inista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Direitos Sexuaise Direitos Reprodutivos, Associação Brasileira <strong>de</strong>Obstetrizes e Enfermeiras Obstetras, e da União dosMovimentos Populares <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo. 6Para fortalecer tais iniciativas, o Ministério da Saú<strong>de</strong>publicou, <strong>em</strong> 2001, fundamentado na ciência e nasrecomendações da OMS, o manual Parto, Aborto ePuerpério: assistência humanizada à mulher, no qualreconhece a importância da humanização da assistênciaà mulher durante o ciclo gravídico-puerperal paramelhorar a qualida<strong>de</strong> da atenção prestada, inclusiveestimulando a presença <strong>de</strong> um acompanhamento ousuporte psicossocial durante o trabalho <strong>de</strong> parto. 17Como resultado <strong>de</strong>ssas mobilizações, foi aprovadopelo Congresso Nacional e sancionado pelo atualPresi<strong>de</strong>nte da República Fe<strong>de</strong>rativa do Brasil a Lei nº11.108, <strong>de</strong> 7 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2005, que permite a presençado acompanhante para a mulher <strong>em</strong> trabalho <strong>de</strong> partoe pós-parto nos hospitais públicos e conveniados aoSUS. 18 Com tal regulamentação, a parturiente passou ater o direito <strong>de</strong> escolher um acompanhante, que po<strong>de</strong>ser o companheiro, um(a) familiar ou um(a) amigo(a),para estar presente durante o parto e no pós-parto, <strong>em</strong>âmbito nacional.Nos dias atuais, um número reduzido <strong>de</strong> mulherest<strong>em</strong> conhecimento ou é informado sobre o direitoda presença do acompanhante durante a gestação eparto. Soma-se, ainda, o fato <strong>de</strong> que, geralmente, osprofissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> possu<strong>em</strong> receio e i<strong>de</strong>ias negativaspreconcebidas quanto ao acompanhante, por issopoucas maternida<strong>de</strong>s brasileiras incorporaram essaprática <strong>em</strong> sua rotina, e, <strong>de</strong>ssas, apenas algumas estãoa<strong>de</strong>quando a área física para possibilitar a permanênciado acompanhante. 19Vivências positivas da conduta já foram relatadas noBrasil. Uma das experiências pioneiras foi apresentadapelo Hospital Sofia Feldman, <strong>em</strong> Belo Horizonte-MG,que implantou, <strong>em</strong> 1997, o projeto “Doula Comunitária”,formado por mulheres da própria comunida<strong>de</strong>recrutadas e treinadas para exercer voluntariamenteo papel <strong>de</strong> acompanhante da mulher no trabalho<strong>de</strong> parto, parto e puerpério. O trabalho repercutiufavoravelmente na comunida<strong>de</strong>, sendo divulgado pelaimprensa falada e escrita, obtendo uma média <strong>de</strong> 70%<strong>de</strong> acompanhamento no parto ocorrido no hospital, sejapor doulas, seja por familiares. 20Em pesquisa analisando a experiência vivenciadapelo casal, mulher e companheiro, que participam doprocesso do nascimento <strong>em</strong> um hospital do interior<strong>de</strong> São Paulo, d<strong>em</strong>onstrou-se que ambos se sent<strong>em</strong>satisfeitos com o evento, relacionando sua participaçãocom a confiança e a tranquilida<strong>de</strong> para a parturientee com a melhora do vínculo familiar. 21 Tais achadoscoadunam com os encontrados <strong>em</strong> outro estudo, <strong>em</strong>que também foram apontados sentimentos paternospositivos gerados pela conduta. 22Em uma pesquisa qualitativa para <strong>de</strong>screver a percepção<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>em</strong> prestar assistência àparturiente na presença do acompanhante escolhidopor ela, <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> um Centro Obstétrico <strong>de</strong>Campinas-SP, também relatou-se que essa experiênciafoi positiva, apesar da expectativa inicial negativa. Paraos profissionais, a prática po<strong>de</strong>ria gerar probl<strong>em</strong>asrelacionados ao atendimento da mulher, mas observaramque não houve diferença na forma como a assistênciaera prestada, gerando sentimentos positivos e <strong>em</strong>oçãona equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que assumiu uma postura maishumana e menos rotineira. Também proporcionou maiorabrangência do cuidado, pois ampliou a observaçãoà mulher e a comunicação das suas necessida<strong>de</strong>s,i<strong>de</strong>ntificando maior satisfação, segurança e tranquilida<strong>de</strong>da parturiente. 22Contudo, ainda existe no cenário da obstetrícia atualbrasileira uma contradição entre o que a ciência e alegislação recomendam e o modo como às práticas estãoorganizadas. Percebe-se que as evidências científicas, asrecomendações internacionais e as leis regulamentadaspelo governo ainda não foram suficientes para garantiràs mulheres o direito ao acompanhante no parto.Com o objetivo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar como está a aceitação dapresença do acompanhante no trabalho <strong>de</strong> parto <strong>em</strong> SãoPaulo (SP), as pesquisadoras realizaram um levantamentovia internet das maternida<strong>de</strong>s públicas municipaise particulares do município. Oito maternida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>cada convênio foram escolhidas <strong>de</strong> modo aleatórioe, informalmente, foram consultadas com relação aoconsentimento da participação do acompanhante viatelefone. Os resultados obtidos d<strong>em</strong>onstraram que aindaexist<strong>em</strong> restrições com relação à conduta <strong>em</strong> muitasmaternida<strong>de</strong>s. Entre as instituições particulares, set<strong>em</strong>encionaram que a permit<strong>em</strong>, mediante pagamento<strong>de</strong> uma taxa estipulada pela instituição, e apenas umanão aceitava. Todas as oito maternida<strong>de</strong>s públicaspesquisadas respon<strong>de</strong>ram que consent<strong>em</strong> a inserção<strong>de</strong> um acompanhante, mas cinco relataram restrições àprática, permitindo-a somente nos casos <strong>de</strong> gestantesmenores <strong>de</strong> 18 anos (duas) – direito garantido peloEstatuto da Criança e do Adolescente (ECA); após análiseda equipe ou do hospital (duas); ou se as condiçõesmaternas permitir<strong>em</strong> (uma).Apesar dos benefícios e das experiências positivasapontadas na literatura, constatou-se que poucasmaternida<strong>de</strong>s <strong>em</strong> São Paulo impl<strong>em</strong>entaram essa456 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 453-458, jul./set., 2011


prática. Acredita-se que uma análise das dificulda<strong>de</strong>sapontadas pelas instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para incorporara presença do acompanhante na rotina hospitalar po<strong>de</strong>ser importante. Um estudo etnográfico realizado <strong>em</strong>uma maternida<strong>de</strong> pública do Rio <strong>de</strong> Janeiro revelouque a falta <strong>de</strong> privacida<strong>de</strong> nos leitos, a carência <strong>de</strong>informação com relação ao direito do acompanhamento,o <strong>de</strong>spreparo da equipe <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> para lidar com eles, aconcepção <strong>de</strong> que o hom<strong>em</strong> não aguentaria assistir aoparto e a <strong>de</strong>svalorização da participação masculina nasaú<strong>de</strong> reprodutiva e pediátrica são fatores que dificultama incorporação da presença do companheiro no cenáriodo nascimento. 23Em outro estudo qualitativo <strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> umamaternida<strong>de</strong>, cuja presença do acompanhante é umanorma institucional estimulada pela equipe, i<strong>de</strong>ntificousea insatisfação do acompanhante com relação à suaparticipação no processo <strong>de</strong> parturição, consi<strong>de</strong>radalimitada <strong>em</strong> razão do atendimento obstétrico, centradono profissional <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, que coloca a mulher e seuacompanhante <strong>em</strong> segundo plano. 24 Tal achadocaracteriza a relação <strong>de</strong> <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> entre essesel<strong>em</strong>entos, representando mais uma dificulda<strong>de</strong> paraaceitação da sua participação.É notório que a entrada do acompanhante escolhidopela mulher, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente do gênero, nocenário do nascimento, compreen<strong>de</strong> uma mudança<strong>de</strong> concepção das instituições e dos profissionais <strong>de</strong>saú<strong>de</strong>. Desse modo, urge a sensibilização das equipesobstétricas com relação aos benefícios da conduta e orespeito à individualida<strong>de</strong> f<strong>em</strong>inina.Uma reflexão dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> sobre aimportância da mudança na prática obstétrica habitual,consi<strong>de</strong>rando a necessida<strong>de</strong> da inserção e do respeito aoacompanhante no cenário do nascimento, é primordialpara garantir maior segurança e satisfação dos pais nonascimento do novo m<strong>em</strong>bro da família.CONSIDERAÇÕES FINAISO processo <strong>de</strong> mudança do paradigma assistencialobstétrico está na <strong>de</strong>pendência das políticas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>do País, da legislação, do contexto sociocultural e,principalmente, das instituições <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e dos profissionaisresponsáveis pelo atendimento, que, <strong>em</strong> conjunto, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>garantir à mulher uma experiência da maternida<strong>de</strong> maissatisfatória e a qualida<strong>de</strong> na sua assistência.Para alcançar a humanização na assistência ao parto, sãoprimordiais o reconhecimento da evidência científica e amudança <strong>de</strong> comportamento dos profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>,como também das instituições prestadoras <strong>de</strong> assistênciaao parto. A impl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> novas estratégias para aintegração do acompanhante no cenário do nascimentoé uma medida essencial, <strong>em</strong> razão dos benefíciosrelacionados à conduta, evi<strong>de</strong>nciados pelos estudos.Sugere-se que grupos educativos envolvendo asmulheres e seus acompanhantes sejam efetivamente<strong>de</strong>senvolvidos durante a gestação, <strong>em</strong> instituiçõesprivadas e públicas, para transmitir informaçõesrelacionadas à fisiologia do trabalho <strong>de</strong> parto e suaspossíveis intervenções, preparando-os para o evento.É importante, também, que sejam informados sobreas vantagens do apoio <strong>em</strong>ocional no momentodo nascimento e sobre o direito da presença doacompanhante durante o trabalho <strong>de</strong> parto e pós-partonos hospitais públicos e conveniados ao SUS.Os profissionais <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>v<strong>em</strong> estar preparados paraacolher e respeitar a parturiente e o seu acompanhante <strong>em</strong>qualquer momento da gestação. Por isso, reflexões sobreos benefícios das medidas <strong>de</strong> conforto físico e do apoio<strong>em</strong>ocional durante o trabalho <strong>de</strong> parto são importantespara garantir a humanização da assistência ao parto.Somente quando houver o respeito à singularida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cadamulher durante o ciclo gravídico-puerperal, a maternida<strong>de</strong>será encarada como um momento único e sublime.REFERÊNCIAS1. Osava RH. Assistência ao Parto no Brasil: o lugar do não-médico [tese]. São Paulo(SP): Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública / USP; 1997.2. Tanaka ACA. Maternida<strong>de</strong>: dil<strong>em</strong>a entre nascimento e morte. São Paulo: Editora Hucitec/Rio <strong>de</strong> Janeiro: Abrasco; 1995.3. Re<strong>de</strong> Nacional F<strong>em</strong>inista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>, Direitos Sexuais e Reprodutivos. Dossiê Humanização do Parto. São Paulo: Re<strong>de</strong> F<strong>em</strong>inista <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>,Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos; 2002.4. Diniz CSG. Entre a Técnica e os Direitos Humanos: possibilida<strong>de</strong>s e limites da humanização da assistência ao parto [tese]. São Paulo(SP):Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> Pública / USP; 2001.5. Diniz CSG, Duarte AC. Parto normal ou cesárea? O que toda mulher <strong>de</strong>ve saber (e todo hom<strong>em</strong> também). Rio <strong>de</strong> Janeiro: Editora Unesp;2004.6. Brugg<strong>em</strong>ann OM, Parpinelli MA, Osis MJD. Evidências sobre o suporte durante o trabalho <strong>de</strong> parto/parto: uma revisão <strong>de</strong> literatura. CadSaú<strong>de</strong> Pública. 2005; 21(5):1316-27.7. Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (OMS). Assistência ao parto normal: um guia prático. Genebra: Organização Mundial <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong>; 1996.8. Hodnett ED, Osborn RW. Effects of continuous intrapartum Professional support on childbirth outcomes. Res Nurs Health. 1989; 12:289-97.9. Enkin M, Keirse MJNC, Neilson J, Crowther C, Duley L, Hodnett E, et al. Guia para atenção efetiva na gravi<strong>de</strong>z e no parto. 3ª ed. Rio <strong>de</strong> Janeiro:Editora Guanabara Koogan; 2005.10. Hofmeyer GJ, Nikod<strong>em</strong> VC, Wolman W, Chalmers B, Kramer T. Companionship to modify the clinical birth environment: effects on progressand perceptions of labour and breastfeeding. Br J Obstetr Gynaecol. 1991 Aug; 98:756-64.11. Wolman W, Chalmers B, Hofmeyer GJ, Nikod<strong>em</strong> VC. Postpartum <strong>de</strong>pression and companionship in the clinical birth environment: a randomized,controlled study. Am J Obstetr Gynecol. 1993 May; 168:1388-93.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 453-458, jul./set., 2011457


Presença do acompanhante durante o processo <strong>de</strong> parturição: uma reflexão12. Zhang J, Bernasko JW, Leybovich E, Fahs M, Hatch MC. Continuous labour support from attendant for primiparous women: a meta-analysis.Obstet Gynecol. 1996; 4:739-44.13. Langer A, Campero L, Garcia C. Effects of a psychosocial support during labor and childbirth on breastfeeding, medical interventions andmothers’wellbeing in a Mexican public hospital: a randomized clinical Trial. Br J Obstetr Gynecol 1998 Oct; 105:1056-63.14. Rosen P. Supporting women in labor: analysis of different types of caregivers. J Midwifery Women’s Health. 2004; 49(1):24-31.15. Hodnett ED; Gates S; Hofmeyer GJ; Sakala C. Continuous support for women during childbirth (Cochrane Review). In: The Cochrane Library,Issue 1, 2007. Oxford: Update Software.16. Hodnett ED. Continuity of caregivers for care during pregnancy and childbirth (Cochrane Review). In: The Cochrane Library, Issue 1, 2007.Oxford: Update Software.17. Brasil. Ministério da Saú<strong>de</strong>. Parto, Aborto e Puerpério: assistência humanizada à mulher. Brasília (DF): Ministério da Saú<strong>de</strong>; 2001.18. Lei n. 11.108. Altera a Lei 8.080, <strong>de</strong> 19 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 1990, para garantir às parturientes o direito à presença <strong>de</strong> acompanhante durante otrabalho <strong>de</strong> parto, parto e pós-parto imediato, no âmbito do Sist<strong>em</strong>a Único <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> – SUS. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 8 abr 2005.19. Bastos MH, Diniz SG, Riesco ML, Oliveira SJ. Promoting evi<strong>de</strong>nce-based maternity care in middle-income countries: challenges andopportunities. Midwifery 2007; 23:111-2.20. Leão MRC, Bastos MARB. Doulas apoiando mulheres durante o trabalho <strong>de</strong> parto: experiência do Hospital Sofia Feldman. Rev LatinoamEnferm. 2001; 9:90-4.21. Stort JPL. O papel do acompanhante no trabalho <strong>de</strong> parto: expectativas e vivências do casal [dissertação]. Ribeirão Preto (SP): <strong>Escola</strong> <strong>de</strong>Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Ribeirão Preto/USP; 2004.22. Brugg<strong>em</strong>ann OM, Osis MJD, Parpinelli MA. Apoio no nascimento: percepções <strong>de</strong> profissionais e acompanhantes escolhidos pela mulher.Rev Saú<strong>de</strong> Pública. 2007; 41(1):44-52.23. Carvalho MLM. Participação dos pais no nascimento <strong>em</strong> maternida<strong>de</strong> pública: dificulda<strong>de</strong>s institucionais e motivações dos casais. CadSaú<strong>de</strong> Pública. 2003; 19(2):389-98.24. Nakano ANS, Silva LA, Beleza CS, Stefanello J, Gomes FA. O suporte durante o processo <strong>de</strong> parturição: a visão do acompanhante. Acta PaulEnferm. 2007; 20(2):131-7.Data <strong>de</strong> submissão: 22/6/2009Data <strong>de</strong> aprovação: 2/5/2011458 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(3): 453-458, jul./set., 2011


Normas <strong>de</strong> publicaçãoREME – REVISTA MINEIRA DE ENFERMAGEMINSTRUÇÕES AOS AUTORES1 SOBRE A MISSÃO DA REMEA REME – Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> é uma publicação da <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong> <strong>em</strong> parceria com Faculda<strong>de</strong>s, <strong>Escola</strong>se Cursos <strong>de</strong> Graduação <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> <strong>de</strong> Minas Gerais: <strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> Wenceslau Braz; Fundação <strong>de</strong> Ensino Superior doVale do Sapucaí; Fundação <strong>de</strong> Ensino Superior <strong>de</strong> Passos; Centro Universitário do Leste <strong>de</strong> Minas Gerais; Faculda<strong>de</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> daUniversida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora (UFJF). Possui periodicida<strong>de</strong> trimestral e t<strong>em</strong> por finalida<strong>de</strong> contribuir para a produção, divulgaçãoe utilização do conhecimento produzido na enfermag<strong>em</strong> e áreas correlatas, abrangendo a educação, a pesquisa e a atenção à saú<strong>de</strong>.2 SOBRE AS SEÇÕES DA REMECada fascículo, editado trimestralmente, terá a seguinte estrutura:Editorial: refere-se a t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> relevância do contexto científico, acadêmico e político-social;Pesquisas: inclu<strong>em</strong> artigos com abordag<strong>em</strong> metodológicas qualitativas e quantitativas, originais e inéditas que contribu<strong>em</strong> para aconstrução do conhecimento <strong>em</strong> enfermag<strong>em</strong> e áreas correlatas;Revisão teórica: avaliações críticas e or<strong>de</strong>nadas da literatura <strong>em</strong> relação a t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> importância para a enfermag<strong>em</strong> e áreascorrelatas;Relatos <strong>de</strong> experiência: <strong>de</strong>scrições <strong>de</strong> intervenções e experiências abrangendo a atenção <strong>em</strong> saú<strong>de</strong> e educação;Artigos reflexivos: textos <strong>de</strong> especial relevância que traz<strong>em</strong> contribuições ao pensamento <strong>em</strong> Enfermag<strong>em</strong> e Saú<strong>de</strong>;Normas <strong>de</strong> publicação: instruções aos autores referentes à apresentação física dos manuscritos nos idiomas: português, inglês eespanhol.3 SOBRE O JULGAMENTO DOS MANUSCRITOSOs manuscritos recebidos serão analisados pelo Conselho Editorial da REME, que se reserva o direito <strong>de</strong> aceitar ou recusar os trabalhossubmetidos. O processo <strong>de</strong> revisão – peer review – consta das etapas a seguir, nas quais os manuscritos serão:a) protocolados, registrados <strong>em</strong> base <strong>de</strong> dados para controle;b) avaliados quanto à apresentação física – revisão inicial quanto aos padrões mínimos <strong>de</strong> exigências da REME (folha <strong>de</strong> rosto comi<strong>de</strong>ntificação dos autores e títulos do trabalho) e a documentação; po<strong>de</strong>ndo ser <strong>de</strong>volvido ao autor para a<strong>de</strong>quação às normas antesdo encaminhamento aos consultores;c) encaminhados ao Editor-Geral, que indica o Editor Associado, que ficará responsável por indicar dois consultores <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong>com as áreas <strong>de</strong> atuação e qualificação;d) r<strong>em</strong>etidos a dois revisores especialistas na área pertinente, mantidos <strong>em</strong> anonimato, selecionados <strong>de</strong> um cadastro <strong>de</strong> revisores,s<strong>em</strong> i<strong>de</strong>ntificação dos autores e o local <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> do manuscrito. Os revisores serão s<strong>em</strong>pre <strong>de</strong> instituições diferentes da instituição<strong>de</strong> orig<strong>em</strong> do autor do manuscrito.e) Após receber ambos os pareceres, o Editor Associado avalia e <strong>em</strong>ite parecer final, e este é encaminhado ao Editor-Geral, que <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>pela aceitação do artigo s<strong>em</strong> modificações, pela recusa ou pela <strong>de</strong>volução aos autores com as sugestões <strong>de</strong> modificações. Cada versãoé s<strong>em</strong>pre analisada pelo Editor-Geral, responsável pela aprovação final.4 SOBRE A APRESENTAÇÃO DOS MANUSCRITOS4.1 Apresentação gráficaOs manuscritos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser encaminhados gravados <strong>em</strong> disquete ou CD-ROM, utilizando programa "Word for Windows", versão 6.0 ousuperior, fonte "Times New Roman", estilo normal, tamanho 12, digitados <strong>em</strong> espaço 1,5 entre linhas, <strong>em</strong> duas vias impressas <strong>em</strong> papelpadrão ISO A4 (212 x 297mm), com margens <strong>de</strong> 2,5 mm, padrão A4, limitando-se a 20 laudas, incluindo as páginas preliminares, texto,agra<strong>de</strong>cimentos, referências e ilustrações.4.2 As partes dos manuscritosTodo manuscrito <strong>de</strong>verá ter a seguinte estrutura e ord<strong>em</strong>, quando pertinente:a) Páginas preliminares:Página 1: Título e subtítulo – nos idiomas: português, inglês, espanhol; Autor(es): nome completo acompanhado da profissão,titulação, cargo, função e instituição, en<strong>de</strong>reço postal e eletrônico do autor responsável para correspondência; Indicação da Categoriado artigo: Pesquisa, Revisão Teórica , Relato <strong>de</strong> Experiência, Artigo Reflexivo/Ensaio.Página 2: Título do artigo <strong>em</strong> português; Resumo e palavras-chave; Abstract e Key words; Resumen e Palabras clave. (As Palavraschave(<strong>de</strong> três a seis), <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser indicadas <strong>de</strong> acordo com o DECS – Descritores <strong>em</strong> Ciências da Saú<strong>de</strong>/BIREME), disponível <strong>em</strong>: .O resumo <strong>de</strong>ve conter até 250 palavras, com espaçamento simples <strong>em</strong> fonte com tamanho 10.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(1): 114-120, jan./mar., 2011459


Página 3: a partir <strong>de</strong>sta página, apresenta-se o conteúdo do manuscrito precedido pelo título <strong>em</strong> português, que inclui:b) Texto: – introdução;– <strong>de</strong>senvolvimento (material e método ou <strong>de</strong>scrição da metodologia, resultados, discussão e/ou comentários);– conclusões ou consi<strong>de</strong>rações finais;c) Agra<strong>de</strong>cimentos (opcional);d) Referências como especificado no it<strong>em</strong> 4.3;e) Anexos, se necessário.4.3 Sobre a normalização dos manuscritos:Para efeito <strong>de</strong> normalização, serão adotados os Requerimentos do Comitê Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas (Norma <strong>de</strong>Vancouver). Esta norma po<strong>de</strong>rá ser encontrada na íntegra nos en<strong>de</strong>reços:<strong>em</strong> português: <strong>em</strong> espanhol: <strong>em</strong> inglês: As referências são numeradas consecutivamente, na ord<strong>em</strong> <strong>em</strong> que são mencionadas pela primeira vez no texto.As citações no texto <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser indicadas mediante número arábico, sobrescrito, correspon<strong>de</strong>ndo às referências no final do artigo.Os títulos das revistas são abreviados <strong>de</strong> acordo com o “Journals Database” – Medline/Pubmed, disponível <strong>em</strong>: ou com o CCN – Catálogo Coletivo Nacional, do Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Informação <strong>em</strong>Ciência e Tecnologia (IBICT), disponível <strong>em</strong>: As ilustrações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser apresentadas <strong>em</strong> preto & branco imediatamente após a referência a elas, <strong>em</strong> conformida<strong>de</strong> com a Norma <strong>de</strong>apresentação tabular do IBGE, 3ª ed. <strong>de</strong> 1993 . Em cada categoria <strong>de</strong>verão ser numeradas seqüencialmente durante o texto. Ex<strong>em</strong>plo: (TAB.1, FIG. 1, GRÁF 1). Cada ilustração <strong>de</strong>ve ter um título e a fonte <strong>de</strong> on<strong>de</strong> foi extraída. Cabeçalhos e legendas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser suficient<strong>em</strong>enteclaros e compreensíveis s<strong>em</strong> necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> consulta ao texto. As referências às ilustrações no texto <strong>de</strong>verão ser mencionadas entreparênteses, indicando a categoria e o número da ilustração. Ex. (TAB. 1).As abreviaturas, gran<strong>de</strong>zas, símbolos e unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>v<strong>em</strong> observar as Normas Internacionais <strong>de</strong> Publicação. Ao <strong>em</strong>pregar pela primeiravez uma abreviatura, esta <strong>de</strong>ve ser precedida do termo ou expressão completos, salvo quando se tratar <strong>de</strong> uma unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medidacomum.As medidas <strong>de</strong> comprimento, altura, peso e volume <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser expressas <strong>em</strong> unida<strong>de</strong>s do sist<strong>em</strong>a métrico <strong>de</strong>cimal (metro, quilo,litro) ou seus múltiplos e submúltiplos. As t<strong>em</strong>peraturas, <strong>em</strong> graus Celsius. Os valores <strong>de</strong> pressão arterial, <strong>em</strong> milímetros <strong>de</strong> mercúrio.Abreviaturas e símbolos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> obe<strong>de</strong>cer padrões internacionais.Os agra<strong>de</strong>cimentos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> constar <strong>de</strong> parágrafo à parte, colocado antes das referências.5 SOBRE O ENCAMINHAMENTO DOS MANUSCRITOSOs manuscritos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> vir acompanhados <strong>de</strong> ofício <strong>de</strong> encaminhamento contendo nome do(s) autor(es), en<strong>de</strong>reço para correspondência,e-mail, telefone, fax e <strong>de</strong>claração <strong>de</strong> colaboração na realização do trabalho e autorização <strong>de</strong> transferência dos direitos autorais para aREME. (Mo<strong>de</strong>los disponíveis <strong>em</strong> www.enf.ufmg.br/r<strong>em</strong>e)Para os manuscritos resultados <strong>de</strong> pesquisas envolvendo seres humanos, <strong>de</strong>verá ser encaminhada uma cópia <strong>de</strong> aprovação <strong>em</strong>itidopelo Comitê <strong>de</strong> Ética reconhecido pela Comissão Nacional <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa (CONEP), segundo as normas da Resolução do ConselhoNacional <strong>de</strong> Saú<strong>de</strong> (CNS/196/96).Para os manuscritos resultados <strong>de</strong> pesquisas envolvendo apoios financeiros, estes <strong>de</strong>verão estar claramente i<strong>de</strong>ntificados no manuscritoe o(s) autor(es) <strong>de</strong>ve(m) <strong>de</strong>clarar, juntamente com a autorização <strong>de</strong> transferência <strong>de</strong> autoria, não possuir(<strong>em</strong>) interesse(s) pessoal,comercial, acadêmico, político ou financeiro no manuscrito.Os manuscritos <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser enviados para:At/REME – Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>Av. Alfredo Balena, 190, sala 104 Bloco NorteCEP.: 30130-100 Belo Horizonte-MG – Brasil – Telefax.: 55(31) 3409-9876E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br6 SOBRE A RESPONSABILIZAÇÃO EDITORIALOs casos omissos serão resolvidos pelo Conselho Editorial.A REME não se responsabiliza pelas opiniões <strong>em</strong>itidas nos artigos.(<strong>Versão</strong> <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2007)460 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(1): 114-120, jan./mar., 2011


Publication normsREME – REVISTA MINEIRA DE ENFERMAGEMINSTRUCTIONS TO AUTHORS1. THE MISSION OF THE MINAS GERAIS NURSING MAGAZINE – REMEREME is a journal of the School of Nursing of the Fe<strong>de</strong>ral University of Minas Gerais in partnership with schools and un<strong>de</strong>rgraduatecourses in Nursing in the State of Minas Gerais, Brazil: Wenceslau Braz School of Nursing, Higher Education Foundation of Vale doSapucaí, Higher Education Foundation of Passos, University Center of East Minas Gerais, Nursing College of the Fe<strong>de</strong>ral University ofJuiz <strong>de</strong> Fora. It is a quarterly publication inten<strong>de</strong>d to contribute to the production, diss<strong>em</strong>ination and use of knowledge produced innursing and similar fields covering education, research and healthcare.2. REME SECTIONSEach quarterly edition is structured as follows:Editorial: raises relevant issues from the scientific, acad<strong>em</strong>ic, political and social setting.Research: articles with qualitative and quantitative approaches, original and unpublished, contributing to build knowledge in nursingand associated fields.Review of theory: critical reviews of literature on important issues of nursing and associated fields.Reports of experience: <strong>de</strong>scriptions of interventions and experiences on healthcare and education.Critical reflection: texts with special relevance bringing contributions to nursing and health thinking.Publication norms: instructions to authors on the layout of manuscripts in the languages: Portuguese, English and Spanish.3. EVALUATION OF MANUSCRIPTSThe manuscripts received are reviewed by REME’s Editorial Council, which has the right to accept or refuse papers submitted. The peerreview has the following stages:a) protocol, recor<strong>de</strong>d in a database for controlb) evaluated as to layout – initial review as to minimal standards required by REME – (cover note with the name of authors and titles ofthe paper) and documentation. They may be sent back to the author for adaptation to the norms before forwarding to consultants.c) Forwar<strong>de</strong>d to the General Editor who name an Associate Editor who will indicate two consultants according to their spheres of workand qualification.d) Forwar<strong>de</strong>d to two specialist reviewers in the relevant field, anonymously, selected from a list of reviewers, without the name of theauthors or origin of the manuscript. The reviewers are always from institutions other than those of the authors.e) After receiving both opinions, the General Editor and the Executive Director evaluate and <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> to accept the article withoutalterations, refuse or return to the authors, suggesting alterations. Each copy is always reviewed by the General Editor or the ExecutiveDirector who are responsible for final approval.4. LAYOUT OF MANUSCRIPTS4.1 GRAPHICAL LAYOUTManuscripts are to be submitted on diskette or CD-ROM in Word for Windows, version 6.0 or higher, Times New Roman normal, size 12,space 1.5, printed on standard ISO A4 paper (212 x 297 mm), margins 2.5 mm, limited to 20 pages, including preliminary pages, texts,acknowledg<strong>em</strong>ent, references and illustrations.4.2 PARTS OF THE MANUSCRIPTSEach manuscript should have the following structure and or<strong>de</strong>r, whenever relevant:REME – Rev. Min. Enf.; 11(1): 99-107, jan/mar, 2007 – 103a) Preliminary pages:Page 1: title and subtitle – in Portuguese, English and Spanish. Authors: full name, profession, qualifications, position and institution,postal and electronic address of the author responsible for correspon<strong>de</strong>nce. Indication of paper category: Research, Review of Theory,Report of Experience, Critical Reflection/Essay.Page 2: Title of article in Portuguese; Resumo e palavras-chave; Abstract and key-words; Resumen e palavras clave (Key words - 3 to6 – should agree with the Health Science Descriptors/BIREME, available at http://<strong>de</strong>cs.bvs.br/ .The abstract should have up to 250 words with simple space, font size 10.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(1): 114-120, jan./mar., 2011461


Page 3: the content of the paper begins on this page, starting with the title in Portuguese, which inclu<strong>de</strong>s:b) Text:• Introduction;• Main body (material and method or <strong>de</strong>scription of methodology, results, discussion and/or comments);• Conclusions or final comments.c) Acknowledg<strong>em</strong>ents (optional);d) References as specified in it<strong>em</strong> 4.3e) Appendices, if necessary.4.3 REQUIREMENTS FOR MANUSCRIPTS:The requir<strong>em</strong>ents are those of the International Committee of Medical Journal Editors (Vancouver Norm), which can be found in fullat the following sites:Portuguese: Spanish: English: References are numbered in the same or<strong>de</strong>r in which they are mentioned for the first time in the text.Quotations in the text should be numbered, in brackets, corresponding to the references at the end of the article.The titles of journals are abbreviated according to “Journals Database” – Medline/Pubmed, available at: or according to the CCN – National Collective Catalogue of the IBICT- Brazilian Information Institutein Science and Technology, available at: Illustrations should be sent in black and white immediately after the reference in the text, according to the tabular presentation normof IBGE, 3rd ed. of 1993. Un<strong>de</strong>r each category they should be numbered sequentially in the text. (Example: TAB 1, FIG. 1, GRÁF 1). Eachillustration should have a title and the source. Headings and titles should be clear and un<strong>de</strong>rstandable, without the need to consult thetext. References to illustrations in the text should be in brackets, indicating the category and number of the illustration. Ex. (TAB. 1).Abbreviations, measur<strong>em</strong>ent units, symbols and units should agree with international publication norms. The first time an abbreviationis used, it should be prece<strong>de</strong>d by the complete term or expression, except when it is a common measur<strong>em</strong>ent.Length, height, weight and volume measures should be quoted in the metric syst<strong>em</strong> (meter, kilogram, liter) or their multiples orsub-multiples. T<strong>em</strong>perature, in <strong>de</strong>grees Celsius. Blood pressure, in millimeters of mercury. Abbreviations and symbols must followinternational standards.Acknowledg<strong>em</strong>ents should be in a separate paragraph, placed before the bibliography.5. SUBMITTAL OF MANUSCRIPTSManuscripts must be accompanied by a cover letter containing the names of the authors, address for correspon¬<strong>de</strong>nce, e-mail, telephoneand fax numbers, a <strong>de</strong>claration of collaboration in the work and the transfer of copyright to REME.(Samples are available at: www.enfermag<strong>em</strong>.ufmg.br/r<strong>em</strong>e)For manuscripts resulting from research involving human beings, there should be a copy of approval by the ethics committee recognizedby the National Ethics Committee for Research (CONEP), according to the norms of the National Health Council – CNS/196/96.Manuscripts that recived financial support need to have it clearly i<strong>de</strong>ntified.The author(s) must sign and send the Responsability Agre<strong>em</strong>ent and Copyright Transfer Agre<strong>em</strong>entand also a stat<strong>em</strong>ent informing that there are no persnonal, comercial, acad<strong>em</strong>ic, political or financialinterests on the manuscript.Manuscripts should be sent to:ATT/REME- Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>Av. Alfredo Balena, 190, sala 104 Bloco NorteCEP.: 30130-100 Belo Horizonte - MG – Brasil - Telefax.: 55(31) 3409-9876 – REME – Rev. Min. Enf.; 11(1): 99-107, jan/mar, 2007 104E-mail: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br6. EDITORS RESPONSIBILITYFurther issues will be <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>d by the Editorial Council.REME is not responsible for the opinions stated in articles.(Sept<strong>em</strong>ber version, 2007)462 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(1): 114-120, jan./mar., 2011


Normas <strong>de</strong> publicaciónREME – REVISTA DE ENFERMERÍA DEL ESTADO DE MINAS GERAISINSTRUCCIONES A LOS AUTORES1. SOBRE LA MISIÓN DE LA REVISTA REMEREME – Revista <strong>de</strong> Enfermería <strong>de</strong> Minas Gerais – es una publicación trimestral <strong>de</strong> la Escuela <strong>de</strong> Enfermería <strong>de</strong> la Universidad Fe<strong>de</strong>ral<strong>de</strong> Minas Gerais – <strong>UFMG</strong> – conjuntamente con Faculta<strong>de</strong>s, Escuelas y Cursos <strong>de</strong> Graduación en Enfermería <strong>de</strong>l Estado <strong>de</strong> Minas Gerais:Escuela <strong>de</strong> Enfermería Wenceslao Braz; Fundación <strong>de</strong> Enseñanza Superior <strong>de</strong> Passos; Centro Universitario <strong>de</strong>l Este <strong>de</strong> Minas Gerais;Facultad <strong>de</strong> Enfermería <strong>de</strong> la Universidad Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Juiz <strong>de</strong> Fora – UFJF. Su publicación trimestral tiene la finalidad <strong>de</strong> contribuir a laproducción, divulgación y utilización <strong>de</strong>l conocimiento generado en enfermería y áreas correlacionadas, incluyendo también t<strong>em</strong>as<strong>de</strong> educación, investigación y atención a la salud.2. SOBRE LAS SECCIONES DE REMECada fascículo, editado trimestralmente, tiene la siguiente estructura:Editorial: consi<strong>de</strong>ra t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> relevancia <strong>de</strong>l contexto científico, académico y político social;Investigación: incluye artículos con enfoque metodológico cualitativo y cuantitativo, originales e inéditos que contribuyan a laconstrucción <strong>de</strong>l conocimiento en enfermería y áreas correlacionadas;Revisión teórica: evaluaciones críticas y or<strong>de</strong>nadas <strong>de</strong> la literatura sobre t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> importancia para enfermería y áreascorrelacionadas;Relatos <strong>de</strong> experiencias: <strong>de</strong>scripciones <strong>de</strong> intervenciones que incluyen atención en salud y educación;Artículos reflexivos: textos <strong>de</strong> especial relevancia que aportan al pensamiento en Enfermería y Salud;Normas <strong>de</strong> publicación: instrucciones a los autores sobre la presentación física <strong>de</strong> los manuscritos en los idiomas portugués, inglés y español.3. SOBRE CÓMO SE JUZGAN LOS MANUSCRITOSLos manuscritos recibidos son analizados por el Cuerpo Editorial <strong>de</strong> la REME, que se reserva el <strong>de</strong>recho <strong>de</strong> aceptar o rechazar los trabajossometidos. El proceso <strong>de</strong> revisión – paper review – consta <strong>de</strong> las siguientes etapas en las cuales los manuscritos son:a) protocolados, registrados en base <strong>de</strong> datos para control;b) evaluados según su presentación física – revisión inicial en cuanto a estándares mínimos <strong>de</strong> exigencias <strong>de</strong> la R.E.M.E ( cubierta coni<strong>de</strong>ntificación <strong>de</strong> los autores y títulos <strong>de</strong>l trabajo) y documentación ; el manuscrito pue<strong>de</strong> <strong>de</strong>volverse al autor para que lo adapte a lasnormas antes <strong>de</strong> enviarlo a los consultores;c) enviados al Editor General que indica el Editor Asociado que será el responsable por <strong>de</strong>signar dos consul¬tores <strong>de</strong> conformidad conel área.d) r<strong>em</strong>itidos a dos revisores especilistas en el área pertinente, manteniendo el anonimato, seleccionados <strong>de</strong> una lista <strong>de</strong> revisores, sini<strong>de</strong>ntificación <strong>de</strong> los autores y <strong>de</strong>l local <strong>de</strong> origen <strong>de</strong>l manuscrito. Los revisores si<strong>em</strong>pre serán <strong>de</strong> instituciones diferentes a las <strong>de</strong> origen<strong>de</strong>l autor <strong>de</strong>l manuscrito.e) <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> recibir los dos pareceres, el Editor General y el Director Ejecutivo los evalúan y optan por la aceptación <strong>de</strong>l artículo sinmodificaciones, por su rechazo o por su <strong>de</strong>volución a los autores con sugerencias <strong>de</strong> modificaciones. El Editor General y/o el DirectorEjecutivo, a cargo <strong>de</strong> la aprobación final, si<strong>em</strong>pre analizan todas las versiones.4. SOBRE LA PRESENTACIÓN DE LOS MANUSCRITOS4.1 PRESENTACIÓN GRÁFICALos manuscritos <strong>de</strong>berán enviarse grabados en disquete o CD-ROM, programa “Word for Windows”, versión 6.0 ó superior, letra “TimesNew Roman”, estilo normal, tamaño 12, digitalizados en espacio 1,5 entre líneas, en dos copias impresas en papel estándar ISO A4(212x 297mm), con márgenes <strong>de</strong> 25mm, mo<strong>de</strong>lo A4, limitándose a 20 carillas incluyendo páginas preliminares, texto, agra<strong>de</strong>cimientos,referencias, tablas, notas e ilustraciones. – REME – Rev. Min. Enf.; 11(1): 99-107, jan/mar, 2007 1064.2 LAS PARTES DE LOS MANUSCRITOSLos manuscritos <strong>de</strong>berán tener la siguiente estructura y or<strong>de</strong>n, cuando fuere pertinente:a) páginas preliminares:Página 1: Título y subtítulo en idiomas portugués, inglés y español; Autor(es): nombre completo, profesión, título, cargo, funcióne institución; dirección postal y electrónica <strong>de</strong>l autor responsable para correspon<strong>de</strong>ncia; Indicación <strong>de</strong> la categoría <strong>de</strong>l artículo:investigación, revisión teórica, relato <strong>de</strong> experiencia, artículo reflexivo/ensayo.Página 2: Título <strong>de</strong>l artículo en portugués; Resumen y palabras clave. Las palabras clave (<strong>de</strong> tres a seis) <strong>de</strong>berán indicarse en conformidadcon el DECS – Descriptores en ciencias <strong>de</strong> la salud /BIREME), disponible en: http://<strong>de</strong>cs.bvs.br/.El resumen <strong>de</strong>berá constar <strong>de</strong> hasta 250 palabras, con espacio simple en letra <strong>de</strong> tamaño 10.r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(1): 114-120, jan./mar., 2011463


Página 3: a partir <strong>de</strong> esta página se presentará el contenido <strong>de</strong>l manuscrito precedido <strong>de</strong>l título en portugués que incluye:b) Texto: – introducción;• <strong>de</strong>sarrollo (material y método o <strong>de</strong>scripción <strong>de</strong> la metodología, resultados, discusión y/o comen¬tarios);• conclusiones o consi<strong>de</strong>raciones finales;c) Agra<strong>de</strong>cimientos (opcional);d) Referencias como se especifica en el punto 4.3;e) Anexos, si fuere necesario.4.3 SOBRE LA NORMALIZACIÓN DE LOS MANUSCRITOS:Para efectos <strong>de</strong> normalización se adoptarán los Requisitos <strong>de</strong>l Comité Internacional <strong>de</strong> Editores <strong>de</strong> Revistas Médicas (Norma <strong>de</strong> Vancouver).Esta norma se encuentra <strong>de</strong> forma integral en las siguientes direcciones:En portugués: http://www.bu.ufsc.br/bsccsm/vancouver.html>En español: http://www.enfermeriaencardiologia.com/formación/vancouver.htmEn inglés: http://www.nlm.nih.gov/bsd/uniform_requir<strong>em</strong>ents.html >Las referencias <strong>de</strong>berán enumerarse consecutivamente siguiendo el or<strong>de</strong>n en el que se mencionan por primera vez en el texto.Las citaciones en el texto <strong>de</strong>berán indicarse con numero arábico, entre paréntesis, sobrescrito, correspondiente a las referencias al final<strong>de</strong>l articulo.Los títulos <strong>de</strong> las revistas <strong>de</strong>berán abreviarse <strong>de</strong> acuerdo al “Journals Database” Medline/Pubmed, disponible en: o al CCN – Catálogo Colectivo Nacional, <strong>de</strong>l IBICT- Ins¬tituto Brasileño <strong>de</strong> Informaciónen Ciencia y Tocología, disponible en: Las ilustraciones <strong>de</strong>berán presentarse en blanco y negro luego <strong>de</strong>spués <strong>de</strong> su referencia, en conformidad con la norma <strong>de</strong> presentacióntabular <strong>de</strong>l IBGE , 3ª ed. , 1993. Dentro <strong>de</strong> cada categoría <strong>de</strong>berán enumerarse en secuencia durante el texto. Por ej.: (TAB.1, FIG.1,GRAF.1). Cada ilustración <strong>de</strong>berá tener un titulo e indicar la fuente <strong>de</strong> don<strong>de</strong> proce<strong>de</strong>. Encabezamientos y leyendas <strong>de</strong>berán ser losuficient<strong>em</strong>ente claros y comprensibles a fin <strong>de</strong> que no haya necesidad <strong>de</strong> recurrir al texto. Las referencias e ilustraciones en el texto<strong>de</strong>berán mencionarse entre paréntesis, con indicación <strong>de</strong> categoría y número <strong>de</strong> la ilustración. Por ej. (TAB.1).Las abreviaturas, cantida<strong>de</strong>s, símbolos y unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>berán seguir las Normas Internacionales <strong>de</strong> Publicación. Al <strong>em</strong>plear por primeravez una abreviatura ésta <strong>de</strong>be estar precedida <strong>de</strong>l término o expresión completos, salvo cuando se trate <strong>de</strong> una unidad <strong>de</strong> medidacomún.Las medidas <strong>de</strong> longitud, altura, peso y volumen <strong>de</strong>berán expresarse en unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>l sist<strong>em</strong>a métrico <strong>de</strong>cimal (metro, kilo, litro) o susmúltiplos y submúltiplos; las t<strong>em</strong>peraturas en grados Celsius; los valores <strong>de</strong> presión arterial en milímetros <strong>de</strong> mercurio. Las abreviaturasy símbolos <strong>de</strong>berán seguir los estándares internacionales.Los agra<strong>de</strong>cimientos <strong>de</strong>berán figurar en un párrafo separado, antes <strong>de</strong> las referencias bibliográficas.5. SOBRE EL ENVÍO DE LOS MANUSCRITOSLos manuscritos <strong>de</strong>berán enviarse juntamente con el oficio <strong>de</strong> envío, nombre <strong>de</strong> los autores, dirección postal, dirección electrónica y faxasí como <strong>de</strong> la <strong>de</strong>claración <strong>de</strong> colaboración en la realización <strong>de</strong>l trabajo y autorización <strong>de</strong> transferencia <strong>de</strong> los <strong>de</strong>rechos <strong>de</strong> autor para larevista REME. (Mo<strong>de</strong>los disponibles en: www.enfermag<strong>em</strong>.ufmg.br/r<strong>em</strong>e)Para los manuscritos resultados <strong>de</strong> trabajos <strong>de</strong> investigación que involucren seres humanos <strong>de</strong>berá enviarse una copia <strong>de</strong> aprobación<strong>em</strong>itida por el Comité <strong>de</strong> Ética reconocido por la Comissão Nacional <strong>de</strong> Ética <strong>em</strong> Pesquisa (CONEP) – Comisión Nacional <strong>de</strong> Ética enInvestigación, en conformidad con las normas <strong>de</strong> la resolución <strong>de</strong>l Consejo Nacional <strong>de</strong> Salud – CNS/196/96. – REME – Rev. Min. Enf.;11(1): 99-107, jan/mar, 2007 – 107Para los manuscritos resultantes <strong>de</strong> trabajos <strong>de</strong> investigación que hubieran recibido algún tipo <strong>de</strong> apoyo financiero, el mismo <strong>de</strong>beráconstar, claramente i<strong>de</strong>ntificado, en el propio manuscrito. El autor o los autores también <strong>de</strong>berán <strong>de</strong>clarar, juntamente con la autorización<strong>de</strong> transferencia <strong>de</strong>l <strong>de</strong>recho <strong>de</strong> autor, no tener interés personal, comercial, académico, político o financiero en dicho manuscrito.Los manuscritos <strong>de</strong>berán enviarse a:At/REME – Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong><strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> da <strong>UFMG</strong>, sala 104 Bloco NorteCEP 30130- 100 Belo Horizonte MG – Brasil – Telefax **55 (31) 3409-9876Correo electrónico: r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br6. SOBRE LA RESPONSABILIDAD EDITORIALLos casos omisos serán resueltos por el Consejo Editorial.REME no se hace responsable <strong>de</strong> las opiniones <strong>em</strong>itidas en los artículos.(Versión <strong>de</strong>l 12 <strong>de</strong> septi<strong>em</strong>bre <strong>de</strong> 2007)464 r<strong>em</strong>E – Rev. Min. Enferm.;15(1): 114-120, jan./mar., 2011


!Revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Nursing Journal of Minas GeraisRevista <strong>de</strong> Enfermería <strong>de</strong> Minas Geraisr<strong>em</strong>EFormulário para Assinatura da REMEAssinatura Anual | Annual Subscription | Suscripción anualPeriodicida<strong>de</strong> Trimestral | Every Quarter | Periodicidad TrimestralNome / Name / Nombre ou Instituição assinante: _______________________________________________________________En<strong>de</strong>reço / Adress / Dirección: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Cida<strong>de</strong> / City / Ciudad: ____________________________________País / Country / Pais: __________________________________UF / State / Provincia: ________________________________________ CEP / Zip Co<strong>de</strong> / Código Postal: _____________________Tel. / Phone / Tel.: _____________________ fax: ______________________ Celular / Cell Phone / Cellular: ___________________E-mail:____________________________________________________________________________________________________Categoria Profissional / Occupation / Profesión: _________________________________________________________________Data / Date / Fecha: _______/_______/_______Assinatura / Signature / Firma: ______________________________________________________________________________Encaminhar este Formulário <strong>de</strong> Assinatura acompanhado do comprovante <strong>de</strong> <strong>de</strong>pósito bancário,por fax (31 3409-9876) ou e-mail (r<strong>em</strong>e@enf.ufmg.br)Send your subscription to:Enviar la inscripción a:Dados para <strong>de</strong>pósito:BANCO DO BRASILAgência / Branch Number / Sucursal Número: 1615-2Conta / Bank Account / Cuenta <strong>de</strong> Banco: 480109-1Código i<strong>de</strong>ntificador/ I<strong>de</strong>ntification co<strong>de</strong>/ Clave <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificación: 4828011Valores Anuais:Individual: R$100,00 ( ) US$80,00 ( )Institucional: R$150,00 ( ) US$100,00 ( )<strong>Escola</strong> <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong> – Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Minas GeraisREME – revista Mineira <strong>de</strong> Enfermag<strong>em</strong>Av. Alfredo Balena, 190 - sala 104, Bloco NorteCampus Saú<strong>de</strong>, Bairro Santa Efigênia - CEP: 30130-100Belo Horizonte - MG - BrasilTelefax/Fax: +55 (31) 3409-9876Home page: www.enf.ufmg.br/r<strong>em</strong>e.php

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