13.07.2015 Views

O Uso da Informática no Ensino de Física de Nível Médio

O Uso da Informática no Ensino de Física de Nível Médio

O Uso da Informática no Ensino de Física de Nível Médio

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

RAFAEL OTTO COELHOO <strong>Uso</strong> <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>de</strong> <strong>Nível</strong> <strong>Médio</strong>Banca examinadora:Prof. Dr. Bernardo Buchweitz (Presi<strong>de</strong>nte)Prof. Dr. Arion <strong>de</strong> Castro Kurtz dos SantosProfa. Dra. Regina Cal<strong>de</strong>ripe CostaPelotas/RS2002


FICHA CATALOGRÁFICADados <strong>de</strong> catalogação na fonte:Zil<strong>da</strong> M. Franz Gomes CRB-10/741C672uCoelho, Rafael OttoO uso <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> física <strong>de</strong> nível médio./Rafael Otto Coelho; orientador Bernardo Buchweitz. - Pelotas,2002.101f.Dissertação (Mestrado em Educação) - Facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Educação.Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas. Pelotas, 2002.1.<strong>Informática</strong> e educação.2.Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> física.3.Ensi<strong>no</strong> médio.médio.II.t.CDD 371.39445373


AGRADECIMENTOSAo Bernardo, pela <strong>de</strong>dicação, competência, compreensão e pelas lições <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>;À Regina, pela aju<strong>da</strong> quando mais precisei;Aos professores entrevistados, pelo tempo doado sem questionar;À Fabiana pelo carinho;Ao Guilherme por ter chegado;A todos que acreditaram e me incentivaram;E a Deus por tudo.


SUMÁRIOResumo ........................................................................................................................ 7Abstract........................................................................................................................ 81. Introdução ............................................................................................................... 91.1 Palavras Iniciais .......................................................................................... 101.2 Um pouco <strong>de</strong> minha história ....................................................................... 131.3 Objetivos ..................................................................................................... 152. Estudo Teórico ........................................................................................................ 182.1 Um breve histórico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileira ................................................. 182.2 <strong>Informática</strong> na Educação ............................................................................. 272.3 Os possíveis usos do computador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> ................................ 333. A Investigação ......................................................................................................... 413.1 Método e procedimentos <strong>de</strong> pesquisa ......................................................... 413.2 A centralização do po<strong>de</strong>r ............................................................................. 453.3 Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transformação versus tempo disponível ............................ 463.4 A <strong>de</strong>scrença nas políticas públicas............................................................... 544. Conclusões .............................................................................................................. 57Referências Bibliográficas .......................................................................................... 61Anexo 1 – Entrevista 1 ................................................................................................ 64Anexo 2 – Entrevista 2 ................................................................................................ 71Anexo 3 – Entrevista 3 ................................................................................................ 75Anexo 4 – Entrevista 4 ................................................................................................ 80Anexo 5 – Entrevista 5 ................................................................................................ 85Anexo 6 – Entrevista 6 ................................................................................................ 95


RESUMOA <strong>Informática</strong> Educativa ca<strong>da</strong> vez mais é assunto presente entre professorese pesquisadores, pelo potencial que ela tem para provocar transformações <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> e naaprendizagem. No ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, por suas características específicas, existem formas<strong>de</strong> utilizá-la que po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia em sala <strong>de</strong> aula. Apesar disso, faltacompreensão <strong>da</strong> atual reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>de</strong>nível médio.Este trabalho apresenta, após uma breve revisão <strong>da</strong> literatura sobre o tema, a<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma pesquisa realiza<strong>da</strong> junto a professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> que trabalham <strong>no</strong>ensi<strong>no</strong> médio na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, que por meio <strong>de</strong> entrevistasprocurou obter uma maior compreensão a respeito <strong>da</strong> prática, <strong>da</strong>s concepções e <strong>da</strong>sexpectativas <strong>de</strong>stes profissionais sobre o uso <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. Ascategorias que emergiram <strong>da</strong>s falas do professores referem-se principalmente àcentralização do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão e administração dos recursos computacionais porparte <strong>de</strong> um grupo restrito <strong>de</strong> técnicos e professores, à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação jásenti<strong>da</strong> pelos professores em contraposição à falta <strong>de</strong> tempo disponível para pensar eexecutar esta transformação, e à <strong>de</strong>scrença nas políticas públicas <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong>informática educativa.Da leitura dos teóricos, <strong>da</strong> análise <strong>da</strong>s falas dos entrevistados e <strong>de</strong> minhaprática reflexiva concluo que a entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> ambiente escolar <strong>de</strong>ve serpensa<strong>da</strong> e discuti<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, para que não resuma-se àautomatização <strong>da</strong>s práticas tradicionais, e que a qualificação dos professores não <strong>de</strong>veser negligencia<strong>da</strong>, já que os docentes hoje em dia são atores <strong>de</strong> uma inevitáveltransformação para a qual não têm tempo nem condições <strong>de</strong> prepararem-se.


ABSTRACTThe educative computing is more and more present between teachers andresearchers for the potential it has to provoke transformations on the Teaching andLearning. On the Physician learning, by its specific characteristics, there are mannershow to use it that can be of great value into classroom. Nonetheless, it needscomprehension from present reality about the use of Educative Computing on thePhysician teaching at secon<strong>da</strong>ry level.This work presents, after brief revision of literature about theme, the<strong>de</strong>scription of a research realized through interview with teachers on high schools inPelotas, Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, that search get more comprehension about practice, aboutconceptions and expects of these professionals on the use of computing on the Physicianteaching. The categories that emerged from the speech of teachers refer mainly to thecentralization of power <strong>de</strong>cision and administration of computed resources by part of arestrict group of techniques and teachers, the necessity of transformation felt for theteachers in opposition to the lack of available time to think and execute thistransformation, and the disbelief on public politics of educative computing implantation.After read theorists, to analyze the speech of the interviewed and after myreflexive practice, I conclu<strong>de</strong>d that the entrance of computing in the environment ofschools must be thought and discussed by all school’s community, to doesn’t resumeitself on automatization of the traditional practices and to doesn’t neglect the teachersqualification because of these professionals <strong>no</strong>wa<strong>da</strong>ys, are actors of an inevitabletransformation to that, they don’t have time <strong>no</strong>r conditions to prepare themselves.


INTRODUÇÃOA Educação passa por uma significativa crise <strong>de</strong> paradigmas caracteriza<strong>da</strong>por uma mu<strong>da</strong>nça conceitual ou uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> visão <strong>de</strong> mundo. Não temos mais ascertezas <strong>de</strong> antigamente, as quais precisávamos na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssos procedimentosem sala <strong>de</strong> aula. Em conseqüência, também <strong>no</strong>sso “tradicional método” <strong>de</strong> avaliação foiafetado e, como muito bem diz Perre<strong>no</strong>ud (2001), passamos a agir na urgência e <strong>de</strong>cidirna incerteza. A Educação, que se realiza em múltiplos contextos, precisa acontecer <strong>no</strong>campo social, a fim <strong>de</strong> que as experiências possam ser troca<strong>da</strong>s em um processo <strong>de</strong>reconstrução significativo e <strong>de</strong> mútua realimentação. Qualquer olhar sobre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>atual percebe a presença <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia esten<strong>de</strong>ndo suas influências sobre quase todos oscampos do agir huma<strong>no</strong> e do saber social, do sistema como um todo ao indivíduoisola<strong>da</strong>mente. As relações interpessoais estão hoje fortemente intermedia<strong>da</strong>s porinstrumentos informáticos e telemáticos: a eletrônica <strong>de</strong> forma crescente permeia acomunicação entre os indivíduos. A conseqüência disso seria também a presença <strong>de</strong>ssamesma tec<strong>no</strong>logia <strong>no</strong>s procedimentos educacionais, nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s pe<strong>da</strong>gógicas <strong>de</strong> umasala <strong>de</strong> aula. Entretanto, parece que isto está acontecendo <strong>de</strong> forma muito lenta ediversifica<strong>da</strong>.Assim, este trabalho surgiu <strong>da</strong> minha inquietu<strong>de</strong> frente ao fato <strong>de</strong> queacredito que a informática po<strong>de</strong> colaborar para que consigamos transformar o Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong> e a Educação, tornando o processo <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r mais fácil, prazeroso e útil, masmesmo assim não a vejo ser utiliza<strong>da</strong> em sequer parte <strong>de</strong> seu potencial. Eu mesmo,usuário <strong>de</strong> computadores, e professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong> preocupado em melhorar minha práticape<strong>da</strong>gógica, não uso a informática como gostaria. Desta forma, <strong>de</strong>cidi em minhapesquisa <strong>de</strong> mestrado investigar as relações entre a <strong>Informática</strong> e o Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>,especificamente <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>Médio</strong>, on<strong>de</strong> atuo. Desta investigação surgiu este trabalho.Ele está dividido em quatro capítulos, <strong>no</strong> qual o primeiro apresenta uma introdução aotema investigado, assim como minha trajetória pessoal e os objetivos <strong>da</strong> pesquisarealiza<strong>da</strong>. No segundo capítulo é feita uma análise <strong>de</strong> alguns trabalhos já existentessobre o uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação em geral e <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. No terceiro está<strong>de</strong>scrita a pesquisa realiza<strong>da</strong>, a partir <strong>de</strong> entrevistas com seis professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> doEnsi<strong>no</strong> <strong>Médio</strong> <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Pelotas, estado do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, bem como os achados<strong>de</strong>sta investigação. O quarto e último capítulo relata as conclusões a que cheguei aolongo <strong>da</strong> trajetória <strong>de</strong>ste curso e <strong>de</strong>ste trabalho.


CAPÍTULO 1PALAVRAS INICIAISA partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, a <strong>Informática</strong> na Educação passa a ser umassunto presente e crescente em qualquer ambiente <strong>de</strong> pesquisa em ensi<strong>no</strong>. Des<strong>de</strong> osestudos sobre a linguagem <strong>de</strong> programação LOGO, passando pela revolução na edição<strong>de</strong> textos e multimídia até a explosão <strong>da</strong> Internet, discutiu-se os possíveis usos <strong>da</strong><strong>Informática</strong> Educativa, suas vantagens e seus custos.Po<strong>de</strong>-se dizer que quase todos os professores, em qualquer nível <strong>da</strong>Educação brasileira, já ouviram falar que a <strong>Informática</strong> tem vários usos possíveis <strong>no</strong>processo ensi<strong>no</strong>-aprendizagem, e que tem um e<strong>no</strong>rme potencial enquanto ferramentaeducacional. Sabemos que alguns utilizam computadores fora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula, napreparação <strong>de</strong> textos, provas e em pesquisas escolares, e <strong>de</strong>stes, alguns o utilizam (ou jáo utilizaram) inclusive como recurso didático, fazendo o alu<strong>no</strong> trabalhar diretamentecom o computador, e que outros sequer tiveram acesso a esse tipo <strong>de</strong> máquina. Nestemomento não é fácil, porém, quantificar estes profissionais ou mesmo traçar um perfil<strong>de</strong>les, pois praticamente não existem pesquisas sobre estes professores.Apesar <strong>de</strong> ser comum falar alguns estereótipos, como do professor antigoque tem aversão à (ou medo <strong>da</strong>) <strong>Informática</strong> ou o do professor que tem curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>sobre esta ferramenta, mas não dispõe do tempo necessário para apren<strong>de</strong>r a usá-la, édifícil encontrar <strong>de</strong>scrições sobre o que os professores em geral ou os professores <strong>de</strong><strong>Física</strong> em específico pensam, como agem e o que <strong>de</strong>sejam em relação ao uso <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na Educação.Outra idéia bem difundi<strong>da</strong> é aquela em que as escolas particulares, volta<strong>da</strong>sàs classes sócio-econômicas mais privilegia<strong>da</strong>s, fazem uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> enquanto asescolas públicas, não. To<strong>da</strong>via, esta é uma idéia que sequer po<strong>de</strong> ser analisa<strong>da</strong> emtermos <strong>de</strong> congruência: os professores <strong>da</strong>s escolas particulares são, em alguns casos, osmesmos <strong>da</strong> escola pública. E, não raro, quando não são os mesmos, os professores <strong>de</strong>escola particular estão mais assoberbados <strong>de</strong> aulas do que os <strong>da</strong> re<strong>de</strong> pública,principalmente aqueles que têm contratos <strong>de</strong> quarenta horas semanais ou <strong>de</strong>dicaçãoexclusiva. Também fica difícil saber se em escolas que têm <strong>de</strong> usar a propagan<strong>da</strong> comoarma para aumentar o número <strong>de</strong> matrículas, o uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> não seria apenas maisuma “exigência <strong>de</strong> mercado” e não uma “exigência pe<strong>da</strong>gógica”.


11Pelo teor <strong>de</strong> algumas afirmações encontra<strong>da</strong>s em propagan<strong>da</strong>s tem-se a idéia<strong>de</strong> que o computador é uma máquina “mágica”, e que a simples presença <strong>de</strong>sta “pedrafilosofal” po<strong>de</strong> promover as transformações necessárias na educação. Possivelmentevários professores ain<strong>da</strong> não questionaram essa idéia. Essa mitificação do computadorpo<strong>de</strong> dificultar que sejam <strong>da</strong>dos os passos necessários à plena utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>Educativa, já que escon<strong>de</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se pensar em aquisição <strong>de</strong> softwares,formação dos profissionais, planejamento <strong>de</strong> infra-estrutura e manutenção, e <strong>de</strong> umaa<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> todo o projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong> escola a essa <strong>no</strong>va reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Assim, embora se tenha um “imaginário coletivo” sobre o que os professores querem epensam <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa, realmente há muito pouca informação concreta sobrequal a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, e isso tanto entre os professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>de</strong> nível médio e superiorquanto entre os docentes em geral.Outro fator preocupante é a duali<strong>da</strong><strong>de</strong> existente quanto aos aspectos técnicose pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação. É possível que existam escolas on<strong>de</strong> o po<strong>de</strong>r<strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre a aquisição <strong>de</strong> equipamento e software, montagem <strong>de</strong> infra-estrutura eplanejamento <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> utilização e <strong>de</strong> manutenção está centra<strong>da</strong> na mão <strong>de</strong>técnicos que não necessariamente possuem formação na área <strong>da</strong> educação, assim comooutras on<strong>de</strong> não existam profissionais com conhecimento técnico na área <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>na profundi<strong>da</strong><strong>de</strong> necessária para que a tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> informação seja avalia<strong>da</strong>corretamente, <strong>de</strong> modo a ser traçado um pla<strong>no</strong> que leve em consi<strong>de</strong>ração todo opotencial <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa. Talvez seja difícil encontrar instituições quepossuam equipes capazes <strong>de</strong> discutir e planejar ambos aspectos <strong>de</strong> uma formaabrangente, crítica e produtiva.É difícil imaginar que na próxima déca<strong>da</strong> os profissionais <strong>de</strong> Educação nãotenham a <strong>Informática</strong> incorpora<strong>da</strong> ao seu cotidia<strong>no</strong>, bem como as escolas não a tenhamcomo uma ferramenta corriqueira. Mesmo nas cama<strong>da</strong>s sociais me<strong>no</strong>s privilegia<strong>da</strong>s, éinconcebível que o ensi<strong>no</strong> médio forme um indivíduo supostamente preparado para omercado <strong>de</strong> trabalho do futuro próximo, sem que este tenha tido pelo me<strong>no</strong>s algumcontato com a utilização <strong>de</strong> computadores. Porém, se esta introdução aparentementeinevitável <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ambiente escolar, virá acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma transformaçãope<strong>da</strong>gógica (que <strong>no</strong>s leve para longe do conceito <strong>de</strong> que o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong>ve ser umatransmissão do conhecimento, em direção a uma Educação basea<strong>da</strong> na construção<strong>de</strong>ste), isso não po<strong>de</strong>mos afirmar.


12Será que existe real preocupação <strong>da</strong> parte <strong>da</strong>queles que promovem autilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ambiente escolar com esta mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> paradigma? Seráque o professor que vive sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong> quase exclusivamente na sala <strong>de</strong> aula, ao receberem sua escola uma sala cheia <strong>de</strong> computadores <strong>de</strong> última geração, mesmo que estesestejam acompanhados <strong>de</strong> softwares a<strong>de</strong>quados, está preparado para utilizá-los <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> sequer meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu potencial? Será que ele sente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> usar a<strong>Informática</strong> para uma transformação mais profun<strong>da</strong>, ou trocará o quadro-negro por ummonitor <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o?Será que aqueles que estão hoje trabalhando na formação dos professores <strong>de</strong>amanhã têm consciência <strong>de</strong> que são talvez os maiores responsáveis por um possívelsalto <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> na Educação, e que a <strong>Informática</strong> é um ótimo “pretexto” para estesalto?O professor do futuro procurará fazer com que seu alu<strong>no</strong> alcance maiorauto<strong>no</strong>mia e que apren<strong>da</strong> a apren<strong>de</strong>r utilizando-se <strong>da</strong>s ferramentas <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>, ounão fará muito mais do que exigir trabalhos impressos ao invés <strong>de</strong> manuscritos? Eleutilizará o potencial <strong>de</strong> comunicação, visualização, experimentação, interativi<strong>da</strong><strong>de</strong> eludici<strong>da</strong><strong>de</strong> do computador, ou continuará trabalhando memorização e trei<strong>no</strong> <strong>de</strong> outraforma?As respostas a essas questões só virão com o tempo, mas po<strong>de</strong>mos (e<strong>de</strong>vemos) tentar conhecer os rumos que estamos tomando hoje, se quisermos mol<strong>da</strong>r<strong>no</strong>sso futuro <strong>de</strong> acordo com <strong>no</strong>ssas convicções do que é melhor para a Educação.


131.1 Um pouco <strong>de</strong> minha históriaNeste trabalho, como em qualquer pesquisa qualitativa, a visão dopesquisador tem um papel <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque na forma como a pesquisa é realiza<strong>da</strong> e osachados são interpretados. To<strong>da</strong> a pesquisa é influencia<strong>da</strong> pelas circunstâncias pessoais,acadêmicas e até mesmo emocionais <strong>da</strong>quele ou <strong>da</strong>queles que a fazem. Assim, cabeneste trabalho um breve histórico <strong>de</strong> minha trajetória pessoal, que me levou a terinteresse pela <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>.Em 1986, estava na oitava série do então primeiro grau e ganhei meuprimeiro computador: um “CP-200”, compatível com a linha Sinclair ZX-81, com 16Kb<strong>de</strong> memória. Des<strong>de</strong> então nunca mais <strong>de</strong>ixei <strong>de</strong> ser um entusiasta <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>,sempre apren<strong>de</strong>ndo sobre as <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias. O interesse pelos computadores me fezoptar pelo curso <strong>de</strong> Técnico em Eletrônica, na então Escola Técnica Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas(ETFPel).Ain<strong>da</strong> durante o curso técnico, comecei a trabalhar como professor <strong>de</strong>informática, e essa experiência me motivou a ingressar <strong>no</strong> curso <strong>de</strong> Licenciatura em<strong>Física</strong> na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Pelotas (UFPel) em 1991, pois queria a formação (etitulação) necessária para lecionar <strong>Informática</strong> e eletrônica <strong>no</strong>s cursos <strong>da</strong> ETFPel, e a<strong>Física</strong> era a opção natural entre as licenciaturas. Mas a própria disciplina acaboutransformando-se em um <strong>no</strong>vo interesse. Durante o curso, percebi o potencial <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na aprendizagem <strong>da</strong> <strong>Física</strong> e <strong>de</strong>senvolvi alguns softwares <strong>de</strong> simulação <strong>de</strong>fenôme<strong>no</strong>s. Eram programas simples, alguns com certo grau <strong>de</strong> interação, outros on<strong>de</strong>apenas se observava uma animação na tela do computador. Apesar <strong>de</strong> não ter nenhumconhecimento teórico sobre <strong>Informática</strong> Educativa, me parecia óbvio que a visualizaçãoproporciona<strong>da</strong> na tela do computador era a ponte i<strong>de</strong>al entre a teoria vista <strong>no</strong> quadronegro e a experiência <strong>de</strong> laboratório.Apesar disso, <strong>no</strong>tei que essa ferramenta era praticamente ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong> pelamaioria dos professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, tanto <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médio quanto <strong>no</strong> próprio curso <strong>de</strong>formação <strong>de</strong> professores. Não que alguém dissesse que a <strong>Informática</strong> não era um bomrecurso didático para ensinar <strong>Física</strong>, mas simplesmente não havia qualquer ação visívelbuscando usá-la. Isso talvez porque na época, o Departamento <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>da</strong> UFPel


14contava apenas com um único computador e os únicos softwares didáticos disponíveis,eram aqueles feitos pelos próprios alu<strong>no</strong>s.Em janeiro <strong>de</strong> 1995 terminei o curso <strong>de</strong> Licenciatura em <strong>Física</strong> e emfevereiro <strong>de</strong> 1996, fui <strong>no</strong>meado professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong> na ETFPel. Em segui<strong>da</strong>, comoprojeto para passar para o regime <strong>de</strong> <strong>de</strong>dicação exclusiva, produzi mais alguns softwaressimples para <strong>de</strong>monstração <strong>de</strong> fenôme<strong>no</strong>s físicos. O projeto era parte <strong>de</strong> um núcleo <strong>de</strong><strong>Informática</strong> Educativa <strong>da</strong> instituição, mas não houve ações que realmente fizessem comque estes programas fossem disponibilizados a outros professores.Nos a<strong>no</strong>s seguintes, mesmo em uma instituição posteriormente transforma<strong>da</strong>em Centro Fe<strong>de</strong>ral <strong>de</strong> Educação Tec<strong>no</strong>lógica (CEFET), com vários laboratórios <strong>de</strong><strong>Informática</strong>, todos com acesso à Internet inclusive para uso dos alu<strong>no</strong>s, não tiveconhecimento <strong>de</strong> nenhum professor, <strong>de</strong> <strong>Física</strong> ou <strong>de</strong> outra disciplina, usando a<strong>Informática</strong> como recurso didático. A gran<strong>de</strong> maioria incorporou recursos <strong>de</strong><strong>Informática</strong> em suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cotidianas, para edição <strong>de</strong> textos, pesquisas na web, maseu não fiquei sabendo <strong>de</strong> alguém que os estivesse usando como recurso educacional emsala <strong>de</strong> aula. O uso dos laboratórios <strong>de</strong> informática praticamente restringia-se às aulas <strong>de</strong><strong>Informática</strong> para o ensi<strong>no</strong> médio e para os cursos técnicos <strong>da</strong> instituição, <strong>no</strong>s quais osalu<strong>no</strong>s tinham contato com aplicativos utilizados <strong>no</strong> mercado <strong>de</strong> trabalho, como editor<strong>de</strong> texto e planilha eletrônica. Mesmo eu, entusiasta <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>, tendo <strong>de</strong>senvolvidoalguns programas e tido acesso a vários outros softwares <strong>de</strong> diferentes tipos,pouquíssimas vezes utilizei a <strong>Informática</strong> como recurso didático com meus alu<strong>no</strong>s. Porquê?A resposta não é fácil nem óbvia. Seria fácil explicar o porquê <strong>de</strong> umprofessor que não tem acesso aos equipamentos não usar a <strong>Informática</strong> na Educação, ouenten<strong>de</strong>r os motivos que levam um professor que não tenha sequer conhecimentosbásicos <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> a ig<strong>no</strong>rar esta tec<strong>no</strong>logia educacional. Mas por que, mesmo emsituações on<strong>de</strong> os professores têm to<strong>da</strong>s ou quase to<strong>da</strong>s as condições necessáriasdisponíveis, a <strong>Informática</strong> não é utiliza<strong>da</strong> como po<strong>de</strong>ria?Tendo ingressado <strong>no</strong> curso <strong>de</strong> Mestrado em Educação e disposto a enten<strong>de</strong>re aju<strong>da</strong>r a mu<strong>da</strong>r essa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>cidi abraçar esta questão em minha pesquisa, o queme trouxe ao presente trabalho.


151.2 ObjetivosExistem projetos, governamentais ou privados, que visam difundir o uso <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na Educação. Mas será que todos estão realmente preocupados com amelhoria do ensi<strong>no</strong> e <strong>da</strong> aprendizagem <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma perspectiva reformadora <strong>de</strong>produção <strong>de</strong> conhecimento? A mídia televisiva tem <strong>no</strong>s mostrado uma campanha <strong>de</strong>voluntariado para que “to<strong>da</strong>s as escolas tenham computadores”, o que, embora seja umatransformação positiva, po<strong>de</strong> ser uma proposta inócua se não trouxer consigo outrasatitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> transformação ou evolução além <strong>da</strong> estrutura física.A gran<strong>de</strong> maioria dos textos que se encontra em publicações especializa<strong>da</strong>se mesmo em jornais e revistas, po<strong>de</strong> ser caracteriza<strong>da</strong> ou como análise histórica,proposta pe<strong>da</strong>gógica ou relato <strong>de</strong> experiência. Algumas trazem algum tipo <strong>de</strong> avaliação<strong>de</strong> experiências didáticas. No caso específico <strong>da</strong>s publicações especializa<strong>da</strong>s em ensi<strong>no</strong><strong>de</strong> <strong>Física</strong>, a maioria dos textos encontrados propõe usos específicos em praticamenteto<strong>da</strong>s as classificações possíveis como simulações, hipertextos, auxiliar emexperimentos <strong>de</strong> laboratório e auto-instrução. Quase na<strong>da</strong> se encontra sobre a maneira<strong>de</strong> implementar a <strong>Informática</strong> <strong>de</strong> uma maneira mais ampla, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um projetopolítico-pe<strong>da</strong>gógico que envolve o próprio ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. (Rosa, 1995)Assim, são raras as publicações que <strong>no</strong>s dão uma visão mais ampla <strong>da</strong>reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>. Existe pouca literatura que <strong>no</strong>s diga oquanto <strong>no</strong>ssos professores estão utilizando a <strong>Informática</strong> na sua prática, como a estãoutilizando, <strong>de</strong> que maneira gostariam <strong>de</strong> utilizá-la e, caso não a estejam utilizando, quaisos principais motivos que os levam a não utilizar esta.A inserção <strong>da</strong> informática nas escolas é um processo que já foi iniciado, eque, mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>, ten<strong>de</strong>rá a modificar o perfil do processo ensi<strong>no</strong>aprendizagem.Cabe a nós, pesquisadores em Educação e professores, procurar a melhorforma para esta modificação acontecer. Aparentemente na fase atual, em geral ocorrempropostas <strong>de</strong> inclusão <strong>de</strong>sta tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>ntro do espaço escolar (compreendido nãoapenas como sala <strong>de</strong> aula, mas todo o ambiente on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolvem as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ensi<strong>no</strong> e aprendizagem e administrativas) <strong>de</strong> uma maneira atual, transformadora econdizente com as teorias <strong>da</strong> Educação que hoje são aceitas. Além disso, não po<strong>de</strong>mosesquecer <strong>de</strong> que estas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s não po<strong>de</strong>m acontecer <strong>de</strong> uma forma simplista e


16reducionista: não po<strong>de</strong>mos simplesmente escolher uma teoria formula<strong>da</strong> por teóricos eentão entregá-la pronta e acaba<strong>da</strong> para o professor utilizá-la em sala <strong>de</strong> aula. Estatransformação <strong>de</strong>ve ser construí<strong>da</strong> por um constante pensar e aplicar, com umaavaliação contínua <strong>de</strong> todo o processo.A análise <strong>de</strong>sta transformação <strong>de</strong>ve partir <strong>da</strong>s relações mais gerais e,sucessivamente, esmiuçar as relações particulares entre os objetos <strong>de</strong>sta revolução: aescola, o professor, o alu<strong>no</strong>, o conteúdo, os softwares, o computador e o projetopolítico-pe<strong>da</strong>gógico. Assim, as relações <strong>de</strong>vem ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s ca<strong>da</strong> vez maisprofun<strong>da</strong>mente, a fim <strong>de</strong> que a compreensão <strong>de</strong> todos os aspectos <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> naEducação seja atingi<strong>da</strong> gra<strong>da</strong>tivamente.Pela literatura consulta<strong>da</strong> vê-se que existem muitas propostas teóricas <strong>de</strong>aplicação do uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa, quer seja em sala <strong>de</strong> aula, ou em algumespaço didático alternativo. Também não são raras as análises teóricas <strong>da</strong> introdução <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na Educação, quer seja do ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong> Educação, ou <strong>da</strong>filosofia, <strong>da</strong> didática, <strong>da</strong> administração escolar e <strong>da</strong> política educacional. Porém, po<strong>de</strong>ser <strong>no</strong>ta<strong>da</strong> nessa análise <strong>da</strong> literatura, uma carência <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrições sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> atual<strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas escolas e professores, <strong>de</strong> como estas propostas estão chegando ao espaçodidático, e <strong>de</strong> quais as expectativas e as atitu<strong>de</strong>s do professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> (bem como <strong>de</strong>outras áreas) para com este assunto tão em pauta <strong>no</strong> momento.Também não se tem bem claro qual é a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> sobre a <strong>Informática</strong>Educativa na formação dos professores, o que parece ser um ponto fun<strong>da</strong>mental paraque a <strong>Informática</strong> realmente propicie uma transformação na Educação. Aparentemente,esta é uma lacuna na formação <strong>de</strong> professores. Mas qual é o grau <strong>de</strong> consciência eexpectativa <strong>de</strong> quem trabalha em sala <strong>de</strong> aula quanto a esta <strong>de</strong>ficiência? A resposta aessa pergunta seria muito importante na hora <strong>de</strong> se propor uma transformação naformação <strong>de</strong> professores <strong>de</strong> modo a preencher esta lacuna.Minayo (1992) cita Cardoso (1973): “Sem sóli<strong>da</strong> base empírica, a análisedialética corre o risco <strong>de</strong> per<strong>de</strong>r-se em consi<strong>de</strong>rações abstratas <strong>de</strong>stituí<strong>da</strong>s <strong>de</strong> valorexplicativo real” (in Minayo, 1992, p. 155), o que reforça a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma melhorcompreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> seu contexto, para que uma análise possa serrealiza<strong>da</strong> <strong>de</strong> maneira a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.


17Assim, ao realizar esta pesquisa o objetivo foi investigar algumasconcepções referentes ao uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> pelos professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>médio em Pelotas, englobando a re<strong>de</strong> pública e particular, para obter uma melhorcompreensão <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> atual do uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> em nívelmédio. O foco <strong>da</strong> investigação não foi apenas a prática dos professores (se eles têmusado a <strong>Informática</strong>, como a têm usado, e qual sua avaliação sobre este uso), mastambém as suas expectativas quanto ao futuro <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa, suas idéias arespeito <strong>da</strong> formação <strong>de</strong> professores e suas propostas para a implantação <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vastec<strong>no</strong>logias em sua prática cotidiana. Trata-se <strong>de</strong> um estudo que teve como objetivo, nãoa testagem <strong>de</strong> uma hipótese e sim a melhor compreensão <strong>de</strong> uma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Este estudo,então, po<strong>de</strong>rá servir como auxílio para outras pesquisas envolvendo a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na Educação. É interessante frisar que ele se <strong>de</strong>u com professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong>do nível médio, não somente pelo fato <strong>de</strong> o pesquisador ser um profissional <strong>de</strong>sta áreainteressado sobre o papel <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, mas também por uma questão <strong>de</strong>limitação do espaço <strong>de</strong> pesquisa.Um dos pressupostos do qual partimos é que o uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> po<strong>de</strong>rápromover uma significativa melhora na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Educação <strong>no</strong> Brasil, mas, para queisso ocorra, não basta apenas adquirir os computadores. Os professores <strong>de</strong>vem estarpreparados para utilizar esta tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> uma forma transformadora, e para isso énecessário que tenham consciência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sta preparação e <strong>de</strong> todo opotencial que a <strong>Informática</strong> proporciona para a Educação.


CAPÍTULO 2REVISÃO BIBLIOGRÁFICAAo estu<strong>da</strong>r a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação <strong>no</strong> Brasil atual, éimportante ter como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> o processo histórico que <strong>no</strong>s trouxe ao ponto on<strong>de</strong>estamos. Assim, este capítulo relata uma breve análise <strong>da</strong> literatura consulta<strong>da</strong> para oembasamento <strong>de</strong>ste trabalho. Esta foi dividi<strong>da</strong> em três tópicos, que respectivamenteestão explicitados nas seções 2.1, 2.2 e 2.3. Na primeira seção é apresentado um brevehistórico <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa <strong>no</strong> Brasil, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o surgimento dos primeiroscomputadores até os dias recentes. Na segun<strong>da</strong>, é abor<strong>da</strong>do <strong>de</strong> maneira geral o uso <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na Educação e suas implicações. Finalmente, dá-se atenção àsparticulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s do uso <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>.2.1 Um breve histórico <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> brasileiraApesar <strong>da</strong> rapi<strong>de</strong>z nas transformações tec<strong>no</strong>lógicas que tomaram lugar nasúltimas duas déca<strong>da</strong>s, é possível observar que, em termos <strong>de</strong> políticas públicas,qualificação <strong>de</strong> professores, aquisição <strong>de</strong> equipamentos pelas escolas e efetivatransformação <strong>no</strong> fazer pe<strong>da</strong>gógico, o <strong>de</strong>senvolvimento é bastante lento.Um fato que vem forçando alguma aceleração <strong>de</strong>ste processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quação<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional é o gran<strong>de</strong> impulso que o uso <strong>da</strong> internet adquiriu a partir <strong>de</strong>1996. De lá para cá, a parcela <strong>da</strong> população que tem acesso a computadores e à re<strong>de</strong>mundial vem aumentando exponencialmente, embora ain<strong>da</strong> não se possa dizer quequalquer pessoa possa ter este acesso. Hoje, pelo me<strong>no</strong>s entre as cama<strong>da</strong>s maisprivilegia<strong>da</strong>s social, cultural e eco<strong>no</strong>micamente, o uso <strong>da</strong> internet está bastantedifundido.Brizzi (2000) faz um apanhado <strong>da</strong> literatura brasileira sobre a <strong>Informática</strong> naEducação <strong>no</strong> Brasil, buscando as origens, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1970, on<strong>de</strong> surgemexperiências isola<strong>da</strong>s em universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s como a UFRJ, a UFRGS e a UNICAMP. Elarelata que o ponto que iniciou a disseminação <strong>da</strong> pesquisa sobre o assunto foi o ProjetoEDUCOM, que surgiu em 1983 envolvendo cinco universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Moraes (1993)também apresenta o mesmo enfoque.


19Por estes textos, o projeto EDUCOM parece ser o mais importante eabrangente projeto oficial <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação brasileiro atéhoje. Apesar disso, aparentemente não é muito comum encontrar professores quetenham participado <strong>de</strong>le. Assim, este é um ponto interessante a ser pesquisado <strong>no</strong>presente trabalho.Sobre a implantação <strong>de</strong> um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> informatização em uma escola estadual<strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> médio em Ijuí, Brizzi (op. cit.) relata:“Constata-se, entre o grupo <strong>de</strong> professores <strong>da</strong> escola, que muitos<strong>de</strong>sconhecem os <strong>de</strong>vidos fins e usos do computador na sua práticape<strong>da</strong>gógica. Também se observa que o grupo <strong>de</strong> professores sente umanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer mais sobre como utilizar o computador na suaprática pe<strong>da</strong>gógica. A escola, <strong>no</strong> início do a<strong>no</strong> 2000, tem como metaelaborar um pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> ação que possibilite aos professores integrar ocomputador em sua prática pe<strong>da</strong>gógica. Percebe-se que a equipepe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong> escola necessita <strong>de</strong> um melhor entendimento para <strong>da</strong>r inícioao pla<strong>no</strong> <strong>de</strong> ação e possíveis orientações aos professores. Assim, evi<strong>de</strong>nciase,junto à escola, uma estrutura técnica disponível, porém sem suportepe<strong>da</strong>gógico para <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o uso <strong>de</strong>sta tec<strong>no</strong>logia” (p29-30).Dentre as conclusões do I Seminário <strong>de</strong> Educação e <strong>Informática</strong> (Unijuí,1997), a autora coloca problemas e questões sobre a informática na educação brasileiraa serem aprofun<strong>da</strong>dos:- Professores oferecem resistência ao uso do computador por<strong>de</strong>sconhecerem as suas potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s;- O principal software foi o LOGO, não sendo relatado uso <strong>de</strong> internet;- A interdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> é busca<strong>da</strong> pelas escolas, mas com dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>implantar;- As escolas necessitam <strong>de</strong> um <strong>no</strong>vo profissional que dê suporte técnico aoprofessor;- Os professores e alu<strong>no</strong>s não estão utilizando o computador em pesquisas.Sendo o ponto principal o fato <strong>de</strong> que o uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> não estápossibilitando melhorar a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Educação, pois não está mu<strong>da</strong>ndo a mesma. Osaplicativos vêm reproduzindo o que é feito tradicionalmente.A autora cita como principais conclusões frente à bibliografia consulta<strong>da</strong> emsua dissertação:


20- O papel do professor é extremamente importante para a produção <strong>de</strong> um<strong>no</strong>vo processo pe<strong>da</strong>gógico;- Nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s está a maioria <strong>da</strong>s produções <strong>de</strong> artigos sobre aEducação em <strong>Física</strong> e o uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>;- A maioria dos softwares didáticos é <strong>de</strong> simulação, o que não garantecontribuição para um <strong>no</strong>vo processo pe<strong>da</strong>gógico;- Os artigos e trabalhos buscam fun<strong>da</strong>mentar teorias a partir <strong>de</strong> outraspublicação e pesquisas anteriores;- Aumenta o relato <strong>de</strong> experiência <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> internet (com hipertextos,sites, Educação à distância, grupos <strong>de</strong> discussão);Ela ain<strong>da</strong> ressalta que“cabe ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>stacar que, <strong>no</strong> material coletado, há indicativos <strong>da</strong> existência<strong>de</strong> uma tími<strong>da</strong> publicação e pesquisa <strong>no</strong> que se refere à formação equalificação na Educação em <strong>Física</strong> quanto ao uso do computador.Entretanto, é importante <strong>de</strong>stacar, também, a inexistência <strong>de</strong> trabalhos emrelação a <strong>no</strong>vas formas metodológicas e avaliativas <strong>de</strong> trabalhar a <strong>Física</strong>com cunho científico e interdisciplinar, vinculados a propostas pe<strong>da</strong>gógicas.Também não há indicativos que as pesquisas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s tenhamretornado para a sala <strong>de</strong> aula como possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> contribuir para umareconstrução <strong>de</strong>sse espaço <strong>de</strong> aprendizagem. Não há evidências <strong>de</strong>trabalhos que buscam enten<strong>de</strong>r as relações e interações professor/alu<strong>no</strong>durante a aprendizagem” (Brizzi, 2000, p. 67)Esta falta <strong>de</strong> atenção para com a <strong>Informática</strong> Educativa na formação <strong>de</strong>professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, e <strong>de</strong> ações que visem especificamente a melhora <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, condiz com a minha vivência relata<strong>da</strong> na seção 1.2 <strong>de</strong>stetrabalho.Sobre os usos mais recentes <strong>da</strong>s tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>, comointerativi<strong>da</strong><strong>de</strong> e hipertextos, ela frisa a importância do planejamento <strong>da</strong> aula, pois a merareprodução <strong>de</strong> livros didáticos ou a simulação <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s através <strong>de</strong> um softwaredidático não possibilitarão a melhoria na aprendizagem do alu<strong>no</strong>: é preciso que oconteúdo que está sendo trabalhado seja significativo. Também diz que“também observamos que mu<strong>da</strong>nças pe<strong>da</strong>gógicas <strong>de</strong>vem acontecer nasescolas, principalmente na concepção <strong>de</strong> ensinar a <strong>Física</strong>. Esta <strong>de</strong>veriaaten<strong>de</strong>r a uma concepção epistemológica <strong>de</strong> que a <strong>Física</strong> é uma produçãohumana e social. Não adianta mo<strong>de</strong>rnizarmos a Educação, com o


computador, se a concepção <strong>de</strong> ensinar <strong>Física</strong> e <strong>de</strong> <strong>Física</strong> continuar sendo amesma que aquela do velho quadro <strong>de</strong> giz” (Brizzi, 2000, p. 111)Valente (1997) ressalta que <strong>no</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> atual <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> naEducação está muito aquém <strong>da</strong>s suas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>da</strong> previsão que havia <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s80. Ele diz que os motivos para que não ocorra uma ampla proliferação do uso <strong>da</strong><strong>Informática</strong> na Educação não são apenas a falta <strong>de</strong> “vonta<strong>de</strong> política”, verbas e projetosconsistentes, mas principalmente a falta <strong>de</strong> uma preparação a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> dos professores.O autor também diz que em países como Estados Unidos e França, on<strong>de</strong> osmo<strong>de</strong>los educacionais e <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> são semelhantes aos utilizados <strong>no</strong> Brasil, houveum gran<strong>de</strong> avanço em termos <strong>de</strong> avanço tec<strong>no</strong>lógico e proliferação dos computadoresnas escolas, mas assim como <strong>no</strong> Brasil, não houve transformações pe<strong>da</strong>gógicassignificativas.21“Não se encontram práticas realmente transformadoras e suficientementeenraiza<strong>da</strong>s para que se possa dizer que houve transformação efetiva doprocesso educacional como por exemplo, uma transformação que enfatiza acriação <strong>de</strong> ambientes <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>no</strong>s quais o alu<strong>no</strong> constrói o seuconhecimento, ao invés <strong>de</strong> o professor transmitir informação ao alu<strong>no</strong>”(Valente, 1997)Nos Estados Unidos, o ambiente LOGO, adotado em muitas escolas, caiuem <strong>de</strong>suso pelo lapso existente entre a expectativa <strong>de</strong> retor<strong>no</strong> e a sua reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Segundoele, o maior problema foi <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> implantação, on<strong>de</strong> a falta <strong>de</strong> uma preparaçãoa<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> dos professores que implantariam e utilizariam o LOGO nas escolas, fez comque este não apresentasse resultados condizentes com as potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s alar<strong>de</strong>a<strong>da</strong>squando do seu surgimento, em termos <strong>de</strong> melhora na quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> aprendizagem.Naquele país, os computadores estão presentes em todos os níveis <strong>da</strong>Educação, sendo amplamente utilizados por alu<strong>no</strong>s e professores. Nos níveisfun<strong>da</strong>mentais, utilizado <strong>no</strong> próprio ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> e como tutor em softwares <strong>de</strong>instrução automatiza<strong>da</strong>, e <strong>no</strong> nível universitário como ferramenta <strong>de</strong> apoio. Entretanto,com exceção do uso <strong>da</strong> internet para pesquisas em um universo <strong>de</strong> informações bemmaior, são poucas as transformações pe<strong>da</strong>gógicas concretas. Mesmo <strong>no</strong> caso <strong>da</strong> internethá críticas quanto à forma <strong>de</strong> utilização pe<strong>da</strong>gógica, com pouco ou nenhum apoio doprofessor.O autor prossegue colocando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> francesa, que se diferencia <strong>da</strong><strong>no</strong>rte-americana pela força <strong>da</strong> escola pública. Lá a própria introdução <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na


22escola <strong>de</strong>u-se com o objetivo, não <strong>de</strong> promover uma transformação pe<strong>da</strong>gógica, mas <strong>de</strong>preparar o alu<strong>no</strong> para o uso <strong>da</strong>s tec<strong>no</strong>logias <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>. Posteriormente, houve acriação <strong>de</strong> bases <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos digitais e a sua colocação à disposição dos estu<strong>da</strong>ntesjuntamente com ferramentas para a realização <strong>de</strong> experimentos <strong>no</strong> espaço escolar.Mesmo assim, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>tectar uma transformação pe<strong>da</strong>gógica significativa,advin<strong>da</strong> simplesmente <strong>da</strong> implantação e uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação. Po<strong>de</strong>-seressaltar que na França houve uma preocupação com a formação <strong>de</strong> professores, pormeio <strong>de</strong> treinamentos remunerados a partir <strong>de</strong> 1985.Também na França, assim como <strong>no</strong>s Estados Unidos, Valente ressalta queas poucas transformações pe<strong>da</strong>gógicas ocorri<strong>da</strong>s por intermédio <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> nãoforam planeja<strong>da</strong>s, mas aconteceram naturalmente pela interação do processo educativocom as próprias características <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>, mais especificamente <strong>da</strong> internet, como apropensão à multidisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Um ponto interessante é que na França hoje em diahá uma tendência a que sejam usados computadores portáteis, <strong>de</strong> modo a reduzir oespaço físico ocupado pelos computadores, terminando com a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> “sala <strong>de</strong><strong>Informática</strong>” e incorporando o computador ao ambiente <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, e não o contrário.Relacionando a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação <strong>no</strong>Brasil com a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>s Estados Unidos e na França, Valente cita três principaisdiferenças:1) A questão <strong>da</strong> <strong>de</strong>scentralização <strong>da</strong>s políticas. O mo<strong>de</strong>lo brasileiro não é,como o francês, baseado apenas em políticas governamentais, nem como o america<strong>no</strong>,on<strong>de</strong> o mercado é a maior influência à entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, masbaseado na auto<strong>no</strong>mia dos centros <strong>de</strong> pesquisa e escolas quanto à implantação <strong>da</strong><strong>Informática</strong>.2) No Brasil as políticas <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educaçãobaseiam-se em experiências e em pesquisa, situa<strong>da</strong>s principalmente <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médio,enquanto <strong>no</strong>s Estados Unidos e na França não há necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que propostas sejambasea<strong>da</strong>s em pesquisas.3) O computador <strong>no</strong> processo educacional brasileiro visa provocartransformações pe<strong>da</strong>gógicas, ao invés <strong>de</strong> automatizar o ensi<strong>no</strong> ou simplesmentepreparar o alu<strong>no</strong> para trabalhar com computadores.


23Valente explica que o problema <strong>da</strong> pobre disseminação <strong>da</strong>s transformaçõespe<strong>da</strong>gógicas propostas (e alcança<strong>da</strong>s em algumas experiências) é o fato <strong>de</strong> que foisubestima<strong>da</strong> a modificação na organização <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula e <strong>da</strong> relação alu<strong>no</strong>professor-conhecimento.Ele diz que “A sala <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser o lugar <strong>da</strong>s carteirasenfileira<strong>da</strong>s para se tornar um local em que o professor e os alu<strong>no</strong>s po<strong>de</strong>m realizar umtrabalho diversificado em relação a conhecimento e interesse.” (Valente, 1997). Outrofato interessante citado pelo autor é que“O processo <strong>de</strong> repensar a escola e preparar o professor para atuar nessaescola transforma<strong>da</strong> está acontecendo <strong>de</strong> maneira mais marcante <strong>no</strong>ssistemas públicos <strong>de</strong> Educação, especialmente os sistemas municipais. Nasescolas particulares o investimento na formação do professor ain<strong>da</strong> não éuma reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Nessas escolas a <strong>Informática</strong> está sendo implanta<strong>da</strong> <strong>no</strong>smesmos mol<strong>de</strong>s do sistema educacional dos Estados Unidos <strong>no</strong> qual ocomputador é usado para minimizar o analfabetismo computacional dosalu<strong>no</strong>s ou automatizar os processos <strong>de</strong> transmissão <strong>da</strong> informação.”(Valente, 1997)Ele ain<strong>da</strong> critica os cursos <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> professores em <strong>Informática</strong> naEducação, dizendo que estes cursos, em sua maioria, são realizados fora do ambiente <strong>de</strong>trabalho do professor, e por isso <strong>de</strong>scontextualizados <strong>da</strong> prática docente. Desta forma,não há formação <strong>de</strong> um ambiente físico ou profissional para que alguma transformaçãose dê na escola e, em alguns casos, esse ambiente chega a ser hostil à mu<strong>da</strong>nça, citandocomo exemplo o programa FORMAR, em 1987 e 1989, que fazia parte do projetoEDUCOM. Os professores <strong>de</strong> diversas regiões do país foram <strong>de</strong>slocados paraCampinas, único lugar na época com computadores em número suficiente para aten<strong>de</strong>r a25 professores. Assim, os professores tiveram que se afastar por dois meses <strong>de</strong> suasativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e famílias. Os cursos foram <strong>de</strong> 360 horas, o que <strong>da</strong>va uma carga horáriabastante concentra<strong>da</strong>, dificultando a assimilação e a vivência dos conteúdos. Alémdisso, ao voltar para seu ambiente <strong>de</strong> trabalho, os professores não tiveram condições <strong>de</strong>implantar qualquer transformação, tanto por falta <strong>de</strong> equipamentos quanto <strong>de</strong> interessepor parte <strong>da</strong> estrutura educacional. Apesar disso, o material educativo preparado para oprojeto FORMAR ain<strong>da</strong> é utilizado por praticamente todos os cursos nesta área.Desta forma, o autor ressalta que os cursos <strong>de</strong> formação na área <strong>de</strong><strong>Informática</strong> na Educação <strong>de</strong>vem ser “a vivência <strong>de</strong> uma experiência que contextualiza oconhecimento que o professor constrói” (Valente, 1997). Ele sugere que estes cursossejam <strong>de</strong>svinculados dos programas atuais <strong>de</strong> especialização, que são rígidos <strong>de</strong>mais


24para <strong>da</strong>r conta <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>ste tipo <strong>de</strong> formação, que necessita mostrar aoprofessor, <strong>de</strong> uma forma contextualiza<strong>da</strong>, to<strong>da</strong>s as <strong>no</strong>vas possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s que a<strong>Informática</strong> propicia, como multimídia e comunicação, <strong>de</strong> forma a que o professor possacompreen<strong>de</strong>r e discernir o amplo leque <strong>de</strong> opções existente.Outro ponto abor<strong>da</strong>do por Valente neste trabalho é a história dosequipamentos disponíveis às escolas. Enquanto <strong>no</strong>s Estados Unidos a linha Apple foibastante difundi<strong>da</strong>, chegando a ter milhares <strong>de</strong> softwares educacionais disponíveis, <strong>no</strong>Brasil ela não foi adota<strong>da</strong> nas escolas, principalmente pelas suas limitações em relação àlíngua portuguesa. Os primeiros microcomputadores a chegar nas escolas eram dopadrão MSX, voltados principalmente para jogos, mas que possuíam boascaracterísticas <strong>de</strong> som e cores, tinham um custo relativamente baixo e eram ligados emtelevisores comuns. A versão do LOGO para o MSX era muito boa e fácil <strong>de</strong> usar, nãonecessitando <strong>de</strong> maiores conhecimentos <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> como sistema operacional. Boaparte <strong>da</strong>s experiências toma<strong>da</strong>s até hoje como base para pesquisas foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>nesta plataforma.No início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90, <strong>no</strong> Brasil, o MSX saiu <strong>de</strong> linha e popularizou-seo padrão IBM-PC. Inicialmente este teve uma gran<strong>de</strong> inserção <strong>no</strong> campo empresarial,estando ain<strong>da</strong> distante do usuário doméstico. Mas o sistema operacional mais intuitivo,baseado em uma interface gráfica com ícones, utilizado pelos computadores do padrãoMacintosh (que não teve uma entra<strong>da</strong> expressiva <strong>no</strong> Brasil, por motivos mercadológicose por ser até hoje bem mais caro que o padrão PC), foi seguido <strong>no</strong> padrão IBM-PCatravés do ambiente Windows, que se popularizou <strong>no</strong> país por volta <strong>de</strong> 1993. Estainterface gráfica substituía os complexos comandos que tinham <strong>de</strong> ser digitados comrígi<strong>da</strong>s regras <strong>de</strong> sintaxe, popularizando a <strong>Informática</strong>.Apesar disso, em comparação com o MSX, a mu<strong>da</strong>nça foi bastante profun<strong>da</strong>em termos <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong>stes computadores, e o professor necessitava agora <strong>de</strong>conhecimentos diferentes para manusear o computador; mesmo para ligá-lo eranecessário um certo conhecimento <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>. Isso provocou uma retração pelainsegurança que muitos professores apresentaram frente à <strong>no</strong>va tec<strong>no</strong>logia.Estas <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, porém, têm permitido <strong>no</strong>vas alternativas para aformação <strong>de</strong> professores em <strong>Informática</strong> na Educação, por meio <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> formaçãosemipresenciais, minimizando os problemas citados anteriormente.


25Outro aspecto importante em relação ao atual ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimentotec<strong>no</strong>lógico é que “Os avanços tec<strong>no</strong>lógicos têm <strong>de</strong>sequilibrado e atropelado oprocesso <strong>de</strong> formação fazendo com que o professor sinta-se eternamente <strong>no</strong> estado <strong>de</strong>´principiante´ em relação ao uso do computador na Educação” (Valente, 1997). Quantoà formação <strong>de</strong> professores, ele frisa que “A formação do professor <strong>de</strong>ve provercondições para que ele construa conhecimento sobre as técnicas computacionais,enten<strong>da</strong> por que e como integrar o computador na sua prática pe<strong>da</strong>gógica e seja capaz<strong>de</strong> superar barreiras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m administrativa e pe<strong>da</strong>gógica” (Valente, 1997).Oliveira (1997) também traz um apanhado do histórico <strong>da</strong> implantação <strong>da</strong><strong>Informática</strong> Educativa <strong>no</strong> Brasil. Ele chama atenção ao fato <strong>de</strong> que a política <strong>de</strong><strong>Informática</strong> Educativa do gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral, somente entre 1980 e 1990, teve pelo me<strong>no</strong>soito linhas <strong>de</strong> planejamento e ação distintas. Quanto à criação <strong>de</strong> centros locais, o que<strong>de</strong>scentralizou as ações visando inserir computadores <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>, ele diz que: “... <strong>no</strong><strong>no</strong>sso enten<strong>de</strong>r, este caráter <strong>de</strong>scentralizado sofreu uma gran<strong>de</strong> limitação em<strong>de</strong>corrência <strong>da</strong> falta <strong>de</strong> liberação <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong>stas secretarias (municipais eestaduais) para compra <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos equipamentos e qualificação <strong>de</strong> professores.” (p.160),frisando que: “Quanto às ações <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> recursos huma<strong>no</strong>s, esta parece ter sidouma <strong>da</strong>s áreas que mais se <strong>de</strong>senvolveram nesta experiência, me<strong>no</strong>s pelas açõesdireciona<strong>da</strong>s do MEC, do que pelos cursos <strong>de</strong> curta duração e <strong>de</strong> especializaçãorealizados pelos centros piloto” (p.160). Sobre a pesquisa realiza<strong>da</strong> com professores <strong>da</strong>re<strong>de</strong> estadual <strong>de</strong> Pernambuco, Oliveira ain<strong>da</strong> diz que:“Concluímos com base nas entrevistas que a maneira <strong>de</strong> introdução doscomputadores na escola <strong>de</strong>u-se <strong>de</strong> forma extremamente autoritária, já quenão houve por parte <strong>da</strong>s pessoas que vivem seu cotidia<strong>no</strong> a emissão <strong>de</strong>opinião sobre a experiência que estava por ser inicia<strong>da</strong>. Desse modo, estafalta <strong>de</strong> participação representou um aspecto não só negativo, como também<strong>de</strong>terminante para a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e continui<strong>da</strong><strong>de</strong> do projeto.” (Oliveira, 1997,p. 161)Ele ain<strong>da</strong> cita o fato <strong>de</strong> que os recursos materiais <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>, caros e <strong>de</strong>difícil aquisição, são subutilizados <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s escolas por falta <strong>de</strong> conhecimentos <strong>da</strong>sformas <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa. Por isso, em muitos momentos aintrodução <strong>de</strong>sta tec<strong>no</strong>logia é questiona<strong>da</strong> em sua vali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Entre os professores entrevistados em sua pesquisa (que haviam passado porcursos <strong>de</strong> formação em <strong>Informática</strong> Educativa), Oliveira <strong>de</strong>tectou que a mitificação <strong>da</strong>


26tec<strong>no</strong>logia educacional, tanto por supervalorização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> quanto pela suarejeição, acentuou a distância entre o grupo pesquisado e o restante <strong>da</strong> escola. Apesardisso, o autor acredita que este distanciamento <strong>de</strong>ve-se mais à “incapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> dosprofessores <strong>de</strong> superar as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s provoca<strong>da</strong>s pela forma pouco participativa <strong>de</strong>inserção <strong>de</strong>sta tec<strong>no</strong>logia <strong>no</strong> âmbito escolar”. (p.162)Segundo o autor, estes professores, apesar <strong>de</strong> terem feito curso <strong>de</strong>qualificação, não se sentem em condições <strong>de</strong> trabalhar com <strong>Informática</strong> Educativa.Assim, sugere “repensar este mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> multiplicadores, já que aformação inicial e a formação continua<strong>da</strong> são momentos distintos” (p. 163). Outro fator<strong>de</strong>tectado por Oliveira foi a predominância do uso do LOGO na inserção <strong>de</strong> <strong>Informática</strong><strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>, o que ele credita à falta <strong>de</strong> conhecimento <strong>de</strong> diferentes maneiras <strong>de</strong> utilizá-la,causa<strong>da</strong> pela inexistência <strong>de</strong> cursos <strong>de</strong> atualização, frente a <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias.Um fator que po<strong>de</strong> ter prejudicado bastante a disseminação doscomputadores na Educação foi a lei <strong>da</strong> Reserva <strong>de</strong> Mercado, que restringia a entra<strong>da</strong> <strong>de</strong>tec<strong>no</strong>logia estrangeira <strong>no</strong> Brasil <strong>no</strong> final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980 e início <strong>da</strong> <strong>de</strong> 1990.Sabi<strong>da</strong>mente, neste período, a compra <strong>de</strong> equipamentos <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> era difícil, poisos equipamentos disponíveis eram caros e muitos ditos fabricantes nacionais eramfacha<strong>da</strong>s para montadoras <strong>de</strong> computadores feitos <strong>de</strong> peças contraban<strong>de</strong>a<strong>da</strong>s, o quedificultava a compra por parte <strong>da</strong>s instituições públicas. Porém, na literatura consulta<strong>da</strong>para este trabalho não foram encontra<strong>da</strong>s referências a essa política ou a suasconseqüências <strong>no</strong> âmbito educacional.Se compararmos a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma ou duas déca<strong>da</strong>s atrás com a atual,<strong>no</strong>tamos um aumento significativo na parcela <strong>da</strong> população brasileira que tem contatocom a <strong>Informática</strong> e com os recursos ligados à internet. Esta diferença, entretanto, nãofoi encontra<strong>da</strong> explicitamente na bibliografia consulta<strong>da</strong>. Apesar disso, não po<strong>de</strong>mosig<strong>no</strong>rar que a web, o e-mail e as aplicações multimídia fazem parte, direta ouindiretamente, <strong>de</strong> boa parte <strong>de</strong> <strong>no</strong>ssas relações sociais, e que, portanto, mais do queconsi<strong>de</strong>rar o seu potencial didático-pe<strong>da</strong>gógico, tais recursos não po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong>fora <strong>da</strong> Educação e <strong>de</strong> qualquer análise <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional atual.


272.2 <strong>Informática</strong> na EducaçãoCysneiros (2000) caracteriza Tec<strong>no</strong>logia Educacional como algum tipo <strong>de</strong>objeto ou material que seja relacionado com a praxis educativa e com seus sujeitos.Também diferencia a tec<strong>no</strong>logia <strong>da</strong> técnica, on<strong>de</strong> a segun<strong>da</strong> é <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> com e parao uso <strong>da</strong> primeira. Já Chaves (2002) prefere o termo Tec<strong>no</strong>logia na Educação parareferir-se a recursos como o computador, pois consi<strong>de</strong>ra que Tec<strong>no</strong>logia Educacional dáa enten<strong>de</strong>r que se trata <strong>de</strong> uma tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> especificamente para aEducação, enquanto o primeiro termo sugere que foi uma tec<strong>no</strong>logia inventa<strong>da</strong> paraoutras finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Ele frisa que, apesar <strong>de</strong>sse termo po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>signar qualquer tec<strong>no</strong>logia<strong>de</strong>s<strong>de</strong> a fala, a escrita, a imprensa, giz e quadro-negro, quando ele é usado pensa-seimediatamente <strong>no</strong> computador, por ser esse recurso um ponto <strong>de</strong> convergência <strong>de</strong> to<strong>da</strong>sas outras tec<strong>no</strong>logias.Nenhuma tec<strong>no</strong>logia é neutra, conforme Cysneiros (2000), mexendo com oespaço físico, com as relações entre as pessoas. O impacto <strong>da</strong> inserção <strong>de</strong> uma <strong>no</strong>vatec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ambiente preexistente, com suas relações complexasconstruí<strong>da</strong>s historicamente, não po<strong>de</strong> ser analisado simplesmente sobrepondo-a aoambiente. As relações se modificam, outras são cria<strong>da</strong>s, e a tec<strong>no</strong>logia <strong>no</strong>va modifica oambiente <strong>de</strong> maneira profun<strong>da</strong>. A própria entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>ve ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>como um fenôme<strong>no</strong> social, fruto <strong>de</strong> relações humanas com raízes históricas.Cysneiros (op. Cit.) diz que a tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>, ao entrar na escola,nem sempre é feita <strong>de</strong> maneira correta. As máquinas são coloca<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro do ambienteescolar sem uma discussão do projeto entre os que “fazem a escola”. Em geral umtécnico exter<strong>no</strong> ou alguém <strong>da</strong> escola é incumbido <strong>da</strong> tarefa <strong>de</strong> a<strong>de</strong>quar o espaço para acolocação <strong>de</strong> equipamentos. Normalmente essa a<strong>de</strong>quação é um tipo <strong>de</strong> improvisação,tornando os ambientes ina<strong>de</strong>quados. Ele cita que muitas salas <strong>de</strong> aula recém-construí<strong>da</strong>stêm apenas uma toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> energia elétrica em um ponto ina<strong>de</strong>quado <strong>da</strong> sala, o quedificulta plugar e usar qualquer aparelho elétrico.Quanto ao espaço físico específico para computadores na escola, o autor citaque o que se encontra são ambientes com mobiliário ina<strong>de</strong>quado, em geral mesas frágeise a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s apenas para uso em escritórios ou doméstico. Quanto à disposição domobiliário, também é difícil encontrar um espaço que permita aos alu<strong>no</strong>s manusear o


28computador ao mesmo tempo em que tenham espaço para usar livros e ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong>s epossam olhar para o professor e para o quadro.Também cita que a aparência dos “laboratórios <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>” semprelembra mais um asséptico CPD (centro <strong>de</strong> processamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos), comum emgran<strong>de</strong>s empresas, do que um ambiente escolar. A iluminação <strong>de</strong>ve ser bem planeja<strong>da</strong>, eele propõe que os computadores sejam coloridos (até mesmo pelos próprios alu<strong>no</strong>s nasaulas <strong>de</strong> Educação artística). Ele ain<strong>da</strong> lembra que, embora os computadores atuais nãonecessitem <strong>de</strong> ambiente com ar condicionado para trabalhar melhor, é conveniente queesse mito seja mantido pois as pessoas são mais produtivas em ambientes maisconfortáveis.Também ressalta que <strong>de</strong>ve haver um projeto <strong>de</strong> gestão <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logiasna escola, com uma infra-estrutura <strong>de</strong> manutenção e gerenciamento, para evitar que osequipamentos fiquem ociosos a maior parte do tempo, ou sejam roubados, estragados,ou fiquem obsoletos. Essa gestão <strong>de</strong>ve ser feita por uma comissão forma<strong>da</strong> pelaadministração <strong>da</strong> escola, professores, alu<strong>no</strong>s e comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, e que alu<strong>no</strong>s monitores<strong>de</strong>vem ser mantidos para organizar o registro <strong>de</strong> uso dos equipamentos, entre outrastarefas <strong>de</strong> manutenção. A comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser incentiva<strong>da</strong> a qualificar-se, dominandoas ferramentas básicas <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>, como o sistema operacional e osaplicativos <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> texto e planilha eletrônica.Quanto aos professores, ele consi<strong>de</strong>ra reducionista e injusta a atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong>responsabilizá-los pelo atraso tec<strong>no</strong>lógico do processo ensi<strong>no</strong>-aprendizagem, ouconsi<strong>de</strong>rar que o professor é conservador e que tem medo <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça. Cysneiros sugerea formação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> interesse para apoio mútuo entre professores que <strong>de</strong>sejampreparar-se ou aperfeiçoar-se <strong>no</strong> uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>.Valente (1999) discute o problema <strong>da</strong> dicotomia entre o aspecto pe<strong>da</strong>gógicoe técnico <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação. Ele diz que ao final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1980, com ouso <strong>de</strong> computadores MSX executando o LOGO, tinha-se uma <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> que a questãodo uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação era puramente pe<strong>da</strong>gógica. Bastava ligar ocomputador e a “tartaruga” estava na tela. A partir <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90, com o surgimentodo sistema operacional Windows e <strong>da</strong> ampliação <strong>da</strong> gama <strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong>s do computadorpessoal para o professor, um conhecimento técnico maior tor<strong>no</strong>u-se necessário para obom uso <strong>de</strong>ste equipamento e houve uma sobrevalorização <strong>de</strong>ste conhecimento, em<strong>de</strong>trimento do lado pe<strong>da</strong>gógico. Ele frisa que para a Educação seria melhor se houvesse


29um equilíbrio entre estes aspectos, com os conhecimentos técnico e pe<strong>da</strong>gógicocrescendo juntos, ca<strong>da</strong> um complementando, interagindo e motivando o outro. Segundoele,“A utilização do computador para passar informação, informatizando oprocesso tradicional <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> existente, não necessita <strong>de</strong> maioresconhecimentos técnicos nem constitui uma i<strong>no</strong>vação educacional. Ai<strong>no</strong>vação pe<strong>da</strong>gógica consiste na implantação do construtivismo sóciointeracionista,ou seja, a construção do conhecimento pelo alu<strong>no</strong> mediadopelo computador. Porém, se o educador dispuser dos recursos <strong>da</strong><strong>Informática</strong>, terá muito mais chance <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r os processos mentais, osconceitos e as estratégias utiliza<strong>da</strong>s pelo alu<strong>no</strong> e, com essa informação,po<strong>de</strong>rá intervir e colaborar <strong>de</strong> modo mais efetivo nesse processo <strong>de</strong>construção <strong>de</strong> conhecimento.” (Valente, 1999, p. 22)Ressaltando que um dos recursos técnicos mais universais <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>atual é o uso do processador <strong>de</strong> texto (como o Word), Valente diz que o domínio <strong>de</strong>sterecurso po<strong>de</strong> permitir a realização <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s importantes do ponto <strong>de</strong> vistape<strong>da</strong>gógico, como a combinação <strong>de</strong> textos e gráficos. A própria utilização <strong>da</strong> internetusa os mesmos conhecimentos técnicos do ambiente Windows, apesar <strong>de</strong> estesconhecimentos não serem suficientes para, por exemplo, a elaboração <strong>de</strong> páginas emhipertexto. Assim, algum conhecimento técnico é suficiente para algum ganho, sendoque este conhecimento po<strong>de</strong> progredir com o tempo.Ele cita como exemplo <strong>da</strong> supervalorização do conhecimento técnico apesquisa na internet, que po<strong>de</strong> ser riquíssima na forma (com textos, fotos e gráficoscoloridos), mas bastante pobre <strong>no</strong> conteúdo se não houver uma visão crítica sobre o quese está fazendo. Assim, a experiência pe<strong>da</strong>gógica do professor é que po<strong>de</strong> dizer se oalu<strong>no</strong> está utilizando a tec<strong>no</strong>logia para obter uma aprendizagem significativa ou não. Ouso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> como recurso pe<strong>da</strong>gógico auxiliar na construção do conhecimentorequer um maior domínio sobre os conteúdos. Por isso,“a formação do professor envolve muito mais do que provê-lo <strong>de</strong>conhecimento técnico sobre computadores. Ela <strong>de</strong>ve criar condições para oprofessor construir conhecimento sobre os aspectos computacionais;compreen<strong>de</strong>r as perspectivas educacionais subjacentes aos softwares emuso, isto é, as <strong>no</strong>ções <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, aprendizagem e conhecimento implícitas <strong>no</strong>software; e enten<strong>de</strong>r por que e como integrar o computador na sua práticape<strong>da</strong>gógica. Deve proporcionar ao professor as bases para que possasuperar barreiras <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m administrativa e pe<strong>da</strong>gógica, possibilitando atransição <strong>de</strong> um sistema fragmentado <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> para uma abor<strong>da</strong>gemintegradora <strong>de</strong> conteúdo e volta<strong>da</strong> para a elaboração <strong>de</strong> projetos temáticosdo interesse <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong>. Finalmente, <strong>de</strong>ve criar condições para que o


30professor saiba recontextualizar o aprendizado e a experiência vivi<strong>da</strong>durante a sua formação para a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, compatibilizandoas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> seus alu<strong>no</strong>s e os objetivos pe<strong>da</strong>gógicos que se dispõe aatingir.” (Valente, 1999, p. 23)Assim, o que o autor propõe como mais importante na formação <strong>de</strong> umprofessor que seja capaz <strong>de</strong> utilizar satisfatoriamente a <strong>Informática</strong> em sua práticape<strong>da</strong>gógica é um tipo <strong>de</strong> formação continua<strong>da</strong>, que não implique em que o professortenha <strong>de</strong> ser um “expert” em tec<strong>no</strong>logia antes <strong>de</strong> pensar o lado pe<strong>da</strong>gógico, nem ooposto, mas que o crescimento se dê “em espiral”.Rezen<strong>de</strong> (2000) coloca as <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> como um fatorque não po<strong>de</strong> ser ig<strong>no</strong>rado na formação <strong>de</strong> um projeto <strong>de</strong> Educação atual, que use umaperspectiva <strong>da</strong> construção do conhecimento, tendo em mente que “a tec<strong>no</strong>logiaeducacional <strong>de</strong>ve a<strong>de</strong>quar-se às necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado projeto políticope<strong>da</strong>gógico,colocando-os a serviço <strong>de</strong> seus objetivos e nunca os <strong>de</strong>terminando.” (p.76)A autora ressalta a importância <strong>de</strong> aproveitar a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> gera<strong>da</strong> pela entra<strong>da</strong> <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias para rever os conceitos tradicionais <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, pois estas tec<strong>no</strong>logiaspropiciam <strong>no</strong>vas abor<strong>da</strong>gens <strong>no</strong> processo ensi<strong>no</strong>-aprendizagem. Porém, <strong>de</strong>ve-se tomarcui<strong>da</strong>do para não achar que a mera entra<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias proporcionaráre<strong>no</strong>vação dos conceitos e práticas tradicionais, o que po<strong>de</strong> significar um retrocesso aotecnicismo skinneria<strong>no</strong>. Ela frisa que não há relação estreita entre <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias e<strong>no</strong>vas práticas pe<strong>da</strong>gógicas, apesar <strong>da</strong> contribuição que as primeiras po<strong>de</strong>m <strong>da</strong>r àssegun<strong>da</strong>s, e que a criação <strong>de</strong> materiais didáticos baseados em <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias capazes<strong>de</strong> auxiliar na transformação <strong>da</strong> educação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m do esforço em ligar o projeto<strong>de</strong>sses materiais a <strong>no</strong>vas abor<strong>da</strong>gens teóricas. Ela frisa que “A transferência <strong>da</strong> teoriapara a prática do <strong>de</strong>senho instrucional não é fácil nem óbvia e, muitas vezes, asiniciativas <strong>de</strong> usar os pressupostos construtivistas <strong>no</strong> <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> ambientestec<strong>no</strong>lógicos <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>-aprendizagem ficam aquém <strong>da</strong> intenção inicial.” (p. 79-80)Assim, a introdução <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação só significará avanço paraprofessores e alu<strong>no</strong>s se não consistir apenas na introdução <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia <strong>no</strong> ambienteeducacional. Esta tec<strong>no</strong>logia <strong>de</strong>ve ser submeti<strong>da</strong> aos objetivos pe<strong>da</strong>gógicos e guia<strong>da</strong>pelas necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos atores do processo ensi<strong>no</strong>-aprendizagem. Registro et al. (1999)também dão ênfase a essa idéia:


31“...o simples uso do computador conectado à Internet não caracteriza, por sisó, nenhuma mu<strong>da</strong>nça relevante <strong>no</strong> processo ensi<strong>no</strong>/aprendizagem. É então,muito mais, pela atitu<strong>de</strong> do professor mediante o uso que faz <strong>de</strong>ssesrecursos, em sala <strong>de</strong> aula, bem como, <strong>de</strong> uma postura <strong>de</strong>scentralizadora dosaber, que se po<strong>de</strong> conseguir resultados mais próximos do <strong>de</strong>sejável.”(Registro et al., 1999)Obviamente ain<strong>da</strong> estamos longe <strong>de</strong> estabelecer algum consenso sobre asreais potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e benefícios <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, bem comosobre quais os processos que <strong>de</strong>vem acontecer para que esta utilização se dê <strong>de</strong> maneiraa obter o máximo proveito <strong>de</strong>sta tec<strong>no</strong>logia. A partir <strong>da</strong> literatura consulta<strong>da</strong> e <strong>da</strong>sminhas experiências vivi<strong>da</strong>s, posso salientar três questões principais:1) A mera entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ambiente educacional não vai, por sisó, provocar transformações <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> que melhorem a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Educação. Estaentra<strong>da</strong> <strong>de</strong>ve vir acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> pesquisas e discussões que tenham como objetivogeral esta melhoria <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Assim, tanto projetos oficiais quanto nãogovernamentais<strong>de</strong> disseminação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> nas escolas, <strong>de</strong>vem prever não apenas amera compra e entrega <strong>de</strong> equipamentos, mas políticas <strong>de</strong> implementação, manutenção,formação <strong>de</strong> professores, a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong> espaço físico, motivação e avaliação dosprocessos. É muito fácil cair em simplismos, seja pela euforia causa<strong>da</strong> pela chega<strong>da</strong> <strong>de</strong>um equipamento “diferente”, pela falta <strong>de</strong> uma ampla discussão crítica dos objetivos doingresso <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia, ou simplesmente por um projeto <strong>de</strong> informatização do ensi<strong>no</strong>baseado apenas em aparências, com propósitos puramente políticos.2) Deve-se <strong>da</strong>r uma especial atenção à formação <strong>de</strong> professores, tanto ainicial como a continua<strong>da</strong>, <strong>de</strong> forma a que os profissionais que convivem em sala <strong>de</strong>aula tenham auto<strong>no</strong>mia tanto para a utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> quanto para aparticipação <strong>no</strong> planejamento <strong>da</strong>s políticas <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> Educativa. Não tem sentidoque as pessoas que pensem a <strong>Informática</strong> Educativa sejam outras senão as que a usam, eque inexista um canal <strong>de</strong> dois sentidos <strong>de</strong> troca <strong>de</strong> experiências entre estes dois grupos.Aqui é fun<strong>da</strong>mental o papel a ser <strong>de</strong>sempenhado pelo professor-pesquisador, e queexistam tanto grupos <strong>de</strong>scentralizados <strong>de</strong> pesquisa e ação quanto uma centralização quepermita a troca <strong>de</strong> experiências e teorias entre todos os envolvidos. Parece claro queextremos (centralização ou auto<strong>no</strong>mia total) não levam a bons resultados, pois levam oua um projeto difícil <strong>de</strong> implantar por não levar em conta as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s reais dosprofessores que atuam em sala <strong>de</strong> aula, ou não dão a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para que os


32professores-pesquisadores aproveitem o trabalho <strong>de</strong> outros, apenas a<strong>de</strong>quando-o à suareali<strong>da</strong><strong>de</strong>.3) A preocupação com a formação <strong>de</strong> professores aptos a utilizarem a<strong>Informática</strong> na Educação <strong>de</strong>ve ser tanto na dimensão pe<strong>da</strong>gógica quanto técnica, eestas duas <strong>de</strong> maneira integra<strong>da</strong>. Um software, hipertexto ou recurso multimídia comfins educacionais não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvido ou aplicado por especialistas em<strong>Informática</strong> sem a participação <strong>de</strong> pessoas com formação e experiência pe<strong>da</strong>gógica.Apenas a integração <strong>da</strong>s dimensões técnica e pe<strong>da</strong>gógica po<strong>de</strong> aproveitar todo opotencial motivacional e transformador <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação. Também oplanejamento <strong>da</strong>s estratégias <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>de</strong>ntro do ambiente escolar,seja na aquisição <strong>de</strong> hardware e software, montagem do espaço físico, planejamento <strong>da</strong>spolíticas <strong>de</strong> utilização, previsão <strong>de</strong> manutenção, qualificação dos recursos huma<strong>no</strong>s econtínua avaliação do processo <strong>de</strong>ve ser uma preocupação <strong>de</strong> todos os setores <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, <strong>de</strong> maneira cooperativa. Não <strong>de</strong>ve ser esquecido que a utilização<strong>de</strong>stes recursos necessita <strong>de</strong> pessoal que tenha domínio do conteúdo ministrado, boapreparação pe<strong>da</strong>gógica e a<strong>de</strong>quado conhecimento <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia utiliza<strong>da</strong>.


332.3 Os possíveis usos do computador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>Diferentes autores apresentam diferentes classificações <strong>de</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>usos <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação em geral, e <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> em particular. Nestasecção, veremos algumas <strong>de</strong>stas classificações e tentaremos traçar um paralelo entreelas.pólos:Valente (1993) classifica os usos do computador na Educação, em doisPólo 1 – Máquina <strong>de</strong> ensinar, com raízes nas instruções programa<strong>da</strong>stradicionais. Classificam-se como tutoriais ou exercício-e-prática. Também inclui-se aíos jogos educacionais e a simulação.Pólo 2 – <strong>Uso</strong> <strong>de</strong> linguagem computacional (LOGO, basic, pascal) ou mesmoo processador <strong>de</strong> texto. Assim, temos o computador como ferramenta (o que incluiaplicativos como processador <strong>de</strong> texto ou planilha eletrônica, utilizáveis pelo alu<strong>no</strong> oupelo professor), como auxiliar na resolução <strong>de</strong> problemas, na produção <strong>de</strong> música, <strong>no</strong>controle <strong>de</strong> processos (coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos) ou como comunicador (e-mail, sintetizadores <strong>de</strong>voz para cegos).Ele diz que “a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação consistebasicamente em quatro ingredientes: o computador, o software educativo, o professorcapacitado para usar o computador como ferramenta intelectual e o alu<strong>no</strong>” (p.3), e que“o ensi<strong>no</strong> pelo computador implica que o alu<strong>no</strong>, através <strong>da</strong> máquina, possa adquirirconceitos sobre praticamente qualquer domínio. Entretanto, a abor<strong>da</strong>gem pe<strong>da</strong>gógica<strong>de</strong> como isso acontece é bastante varia<strong>da</strong>, oscilando entre dois gran<strong>de</strong>s pólos, [...] Numlado, o computador, através do software, ensina o alu<strong>no</strong>. Enquanto <strong>no</strong> outro, o alu<strong>no</strong>,através do software, ‘ensina’ o computador” (p.3).Este artigo, por ser <strong>de</strong> 1993, não traz informações sobre a Internet excetouma menção ao uso do e-mail. Também não faz distinção entre simulação estática (bemclassifica<strong>da</strong> ao lado dos tutoriais) e a simulação dinâmica (que <strong>de</strong>veria estar junto aocontrole <strong>de</strong> processos).Outra classificação dos usos do computador na Educação, agora em trêsgran<strong>de</strong>s concepções, é sugeri<strong>da</strong> por Bonilla (1995):


341. Como máquina <strong>de</strong> ensinar (exercício e prática ou tutorial);2. Como tutor inteligente (programas com inteligência artificial quese a<strong>da</strong>ptem ao ritmo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento do estu<strong>da</strong>nte-usuário);3. Como ferramenta intelectual (simuladores, jogos, editores <strong>de</strong>texto, multimídia, solução <strong>de</strong> problemas [LOGO]).Em segui<strong>da</strong> ele traz questões como o fato <strong>de</strong> que “As aulas <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>não po<strong>de</strong>m estar dissocia<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s <strong>de</strong>mais aulas” (p. 67) ou“... para que um software promova realmente a aprendizagem <strong>de</strong>ve estarintegrado ao currículo e às ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, estar relacionadoàquilo que o alu<strong>no</strong> já sabe e ser bem explorado pelo professor. Ocomputador não atua diretamente sobre os processos <strong>de</strong> aprendizagem, masapenas fornece ao alu<strong>no</strong> um ambiente simbólico on<strong>de</strong> este po<strong>de</strong> raciocinar,elaborar conceitos e estruturas mentais, <strong>de</strong>rivando <strong>no</strong>vas <strong>de</strong>scobertas<strong>da</strong>quilo que já sabia” (Bonilla, 1995, p. 68)Como o texto em si não é direcionado à área <strong>de</strong> <strong>Física</strong> ou <strong>de</strong> ciências, não hámenção específica aos usos do computador como auxiliar <strong>de</strong> laboratório: coleta <strong>de</strong><strong>da</strong>dos e tratamento <strong>de</strong>stes (montagem <strong>de</strong> gráficos, etc). Também não tratando sobre ainternet ou hipertexto.Oliveira (1997) faz a classificação entre quatro possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s:- Instrução programa<strong>da</strong>;- Simulações;- Aprendizagem por <strong>de</strong>scoberta (LOGO);- Pacotes Integrados (aplicativos).Ele <strong>de</strong>staca como usos <strong>de</strong> maior potencial as simulações (comocomplemento a experimentos <strong>de</strong> laboratório, e não como substituto a eles) e o uso <strong>de</strong>aplicativos. Consi<strong>de</strong>ra que o uso do computador na realização <strong>de</strong> instruçõesprograma<strong>da</strong>s ou tutoriais não representa nenhum avanço pe<strong>da</strong>gógico, apesar <strong>de</strong>apresentar um conteúdo motivacional, quando comparado a uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> semelhantefeita sem o computador. Quanto ao LOGO, ele consi<strong>de</strong>ra seu uso restrito às sériesiniciais e <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> uma formação e implantação com maiores recursos, incluindotrabalho conjunto para o planejamento, <strong>de</strong> profissionais <strong>da</strong> área <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>,pe<strong>da</strong>gogia e psicologia.


35Tratando especificamente <strong>da</strong> aplicação <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, Rosa (1995)classifica os possíveis usos do computador, <strong>da</strong> seguinte forma:1. Coleta e análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos em tempo real (laboratório);2. Simulação <strong>de</strong> fenôme<strong>no</strong>s físicos (estática ou dinâmica);3. Instrução assisti<strong>da</strong> por computador (virador <strong>de</strong> páginas, máquinas<strong>de</strong> ensinar skinnerianas);4. Administração escolar (controle <strong>de</strong> <strong>no</strong>tas, banco <strong>de</strong> questões);5. Estudo <strong>de</strong> processos cognitivos (LOGO).O autor analisa uma vasta bibliografia (182 artigos) publicados entre 1979 e1992 em revistas relaciona<strong>da</strong>s ao Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, buscando categorizá-los segundo otipo <strong>de</strong> aplicação. Ele verificou que, <strong>de</strong>ntre estes artigos, a gran<strong>de</strong> maioria trata <strong>da</strong>simulação (59 artigos), segui<strong>da</strong> pelo uso como ferramenta <strong>de</strong> coleta <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos (40artigos), como análise <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos em tempo real (27 artigos), e pela instrução assisti<strong>da</strong>por computador (22 artigos). Assim, na bibliografia consulta<strong>da</strong> por ele, “São muitopoucos os artigos estu<strong>da</strong>dos <strong>no</strong>s quais houve preocupação dos autores quanto a umajustificativa para o uso do computador em sala <strong>de</strong> aula ou laboratório, em <strong>de</strong>trimento<strong>de</strong> outras estratégias <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, com base em um referencial teórico que indique osprocessos pelos quais a aprendizagem ocorre.” (p. 186). Na reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do uso <strong>da</strong><strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, ele consi<strong>de</strong>ra bastante aparente a carência <strong>de</strong> trabalhosque busquem a avaliação <strong>da</strong>s utilizações sugeri<strong>da</strong>s, ou que as embasem com teorias <strong>de</strong>aprendizagem. Isso torna essas aplicações bem me<strong>no</strong>s proveitosas do que po<strong>de</strong>riam serse, juntamente com a parte técnica <strong>da</strong> utilização do computador, houvesse algumadiscussão crítica sobre o papel <strong>de</strong>sses usos em uma aprendizagem mais significativa.Ele observa que“os computadores estão sendo utilizados indiscrimina<strong>da</strong>mente sem que hajauma preocupação com a avaliação dos resultados obtidos e sem que existaum projeto educacional embasado em alguma teoria <strong>da</strong> aprendizagem quejustifique a introdução <strong>de</strong>sses equipamentos nas escolas. Poucos são artigosque se preocupam em avaliar a utilização <strong>de</strong> computadores.” (Rosa, 1995,p. 188)O referido texto, não cita os usos <strong>da</strong> Internet, até pela pouquíssima difusão<strong>de</strong>sta à época. Hoje, com certeza, não po<strong>de</strong>ríamos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> levar em consi<strong>de</strong>ração


36recursos como e-mail ou a web, já que estes já fazem parte <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> boa parte dosprofessores, estu<strong>da</strong>ntes, e do próprio mercado <strong>de</strong> trabalho.Gran<strong>de</strong> parte dos trabalhos publicados em revistas especializa<strong>da</strong>s em ensi<strong>no</strong><strong>de</strong> <strong>Física</strong> traz sugestões práticas para diferentes usos <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>,em diferentes conteúdos e caracterizáveis em várias classificações <strong>de</strong>ntre as cita<strong>da</strong>santeriormente. To<strong>da</strong>via, <strong>de</strong>ntre os textos analisados, poucos trazem uma avaliação maisprofun<strong>da</strong> <strong>da</strong>s relações que envolvem o computador com o alu<strong>no</strong>, o professor e oconteúdo, ou resultados posteriores à aplicação do recurso, como uma avaliação <strong>da</strong>sexperiências por parte dos alu<strong>no</strong>s ou professores. Po<strong>de</strong> ser verificado, pela análise dosperiódicos mais recentes (2000-2001) na área específica <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> – como aRevista Brasileira <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> e o Ca<strong>de</strong>r<strong>no</strong> Catarinense <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> –que ain<strong>da</strong> são raros os artigos sobre o uso do computador <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> queincluam algum tipo <strong>de</strong> teoria educacional ou avaliação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s propostas. Comoexemplos <strong>de</strong>stes po<strong>de</strong>ríamos citar o <strong>de</strong> Cavalcante et al. (2001), que relata umaexperiência em que um software <strong>de</strong> simulação (experiência <strong>de</strong> Rutherford) foidisponibilizado em um site para utilização multidisciplinar em <strong>Física</strong> e Química, o <strong>de</strong>Montarroyos e Mag<strong>no</strong> (2001), que <strong>de</strong>screve <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>mente como utilizar o computadorem laboratório em substituição a um osciloscópio e gerador <strong>de</strong> freqüências, ou o <strong>de</strong>Cavalcante e Tavolaro (2000), que sugere a utilização do computador para construção<strong>de</strong> gráficos em experimentos <strong>de</strong> cinemática.Apesar <strong>de</strong> ser bastante importante o uso <strong>da</strong> Internet e <strong>de</strong> recursos genéricoscomo a editoração <strong>de</strong> textos, uma parcela significativa <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa é<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo uso <strong>de</strong> softwares específicos. Estes softwares po<strong>de</strong>m ser construídossegundo as mais varia<strong>da</strong>s tec<strong>no</strong>logias, filosofias e objetivos. Tanto po<strong>de</strong>m serproduzidos por professores, pesquisadores, gran<strong>de</strong>s empresas <strong>de</strong> software ou pequenasempresas especializa<strong>da</strong>s. Brandão (1998) e Rocha et al. (1993) apresentammetodologias e mo<strong>de</strong>los para avaliação <strong>de</strong> software educacional. Segundo Rocha (1993)os critérios po<strong>de</strong>m ser classificados em três dimensões:


37Dimensão 1 - Objetivos do software:• Confiabili<strong>da</strong><strong>de</strong> conceitual (fi<strong>de</strong>digni<strong>da</strong><strong>de</strong> e integri<strong>da</strong><strong>de</strong>);• Confiabili<strong>da</strong><strong>de</strong> na representação (legibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e manipulabili<strong>da</strong><strong>de</strong>);• Utilizabili<strong>da</strong><strong>de</strong> (manutenibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, operacionabili<strong>da</strong><strong>de</strong>,portabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, reutilizabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, eficiência, rentabili<strong>da</strong><strong>de</strong> eavaliabili<strong>da</strong><strong>de</strong>).Dimensão 2 - Categorização <strong>da</strong>s aplicações <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação:• geração <strong>de</strong> conhecimento;• disseminação do conhecimento;• gerenciamento <strong>da</strong> informação.Dimensão 3 - Classificação dos ambientes <strong>de</strong> aprendizagem:• Softwares aplicativos;• Micromundos;• Coursewares;• Tutoriais.Os autores ain<strong>da</strong> apresentam quatro paradigmas educacionais on<strong>de</strong> osoftware educacional po<strong>de</strong> ser inserido:prática);- Paradigma instrucional (instrução programa<strong>da</strong>, exercício e- Paradigma revelatório (simulações);- Paradigma conjectural (mo<strong>de</strong>los);- Paradigma emancipatório (ferramenta para manipulação <strong>de</strong>informações, liberando o usuário para concentrar-se na aprendizagem).Nogueira et al. (2000) criticam a abor<strong>da</strong>gem utiliza<strong>da</strong> pelos softwareseducacionais encontrados:“Analisando os softwares educacionais disponíveis <strong>no</strong> mercado, po<strong>de</strong>-seconstatar que eles possuem uma importante característica comum: Eles sãoestáticos, <strong>no</strong> sentido que in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m <strong>da</strong>s concepções do alu<strong>no</strong>-usuário, ou


38seja, são preconcebidos <strong>de</strong> forma a simular situações-problema (colisões,pla<strong>no</strong>s inclinados, reflexão <strong>da</strong> luz, etc.) ou meramente na condição <strong>de</strong>verificar o acerto ou erro do alu<strong>no</strong> colocado diante <strong>de</strong> questões objetivas.Assim, os softwares apresentam as mesmas alternativas para alu<strong>no</strong>s comdiferentes graus <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento cognitivo e diferentes concepções sobreo tema abor<strong>da</strong>do. Além disso, é claro que os softwares assim concebidosnão po<strong>de</strong>m li<strong>da</strong>r com questões subjetivas, ou seja, com a própria linguagem,concepção e nível cognitivo do alu<strong>no</strong>, aproximando-se tanto quanto possível<strong>da</strong> interação professor-alu<strong>no</strong> na relação ensi<strong>no</strong>-aprendizagem, propiciandouma aprendizagem realmente significativa.” (Nogueira, 2000, p. 517)Os autores sugerem assim que softwares educacionais <strong>de</strong>vem ser baseadosem programas <strong>de</strong> inteligência artificial, com reconhecimento <strong>da</strong> linguagem, <strong>de</strong> forma aa<strong>de</strong>quar-se a diferentes usuários/aprendizes, favorecendo <strong>de</strong>sta forma a aprendizagemsignificativa, on<strong>de</strong> os conceitos formem relações com outros, e não sejam simplesmentememorizados.A partir <strong>de</strong>stas diversas opiniões, em termos do contexto espacial e temporalem que escrevo esse trabalho, posso consi<strong>de</strong>rar que são quatro classificações parapossíveis usos do computador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>:1) Como máquina <strong>de</strong> ensinar, seja como tutorial, banco <strong>de</strong> questões,virador <strong>de</strong> páginas, instrução programa<strong>da</strong>, ou outro método semelhante. Nesta forma<strong>de</strong> utilização, não há muita vantagem pe<strong>da</strong>gógica em se usar um computador em<strong>de</strong>trimento aos métodos tradicionais com lápis e papel, exceto talvez o fatormotivacional e a facili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uso. Um teste simulado, por exemplo, aplicado por umcomputador, teria como vantagem sobre um feito <strong>no</strong> papel, o fato <strong>de</strong> o alu<strong>no</strong> nãoprecisar contabilizar manualmente os resultados, o que é muito pouco para justificar porsi só o uso <strong>de</strong> uma máquina (e <strong>no</strong>rmalmente um conjunto <strong>de</strong> programas) <strong>de</strong> alto custofinanceiro. Estes programas po<strong>de</strong>m ser bem mais eficientes se utilizarem inteligênciaartificial para a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisões quanto a o que oferecer e cobrar do estu<strong>da</strong>nteusuário.2) Como ferramenta, tanto burocrática quanto intelectual. Burocrática <strong>no</strong>sentido <strong>de</strong> que o processador <strong>de</strong> textos (por exemplo) é uma ferramenta valiosíssimapara professores e alu<strong>no</strong>s, uma vez que os faz ganhar tempo que po<strong>de</strong> ser utilizado naativi<strong>da</strong><strong>de</strong> intelectual, tanto durante a aula, quanto em outros ambientes e horários.Planilhas <strong>de</strong> cálculo e programas para editoração eletrônica são também exemplos <strong>de</strong>staforma <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>. Como ferramenta intelectual o computador po<strong>de</strong> serusado como auxiliar <strong>de</strong> laboratório, colhendo <strong>da</strong>dos, traçando gráficos, ou resolvendo


39equações. Neste caso, o computador po<strong>de</strong> até mesmo baratear o custo <strong>de</strong> certosequipamentos <strong>de</strong> laboratório, substituindo dispendiosas partes como sensores, relógios eaté osciloscópios.3) Como instrumento <strong>de</strong> programação, sendo assim utilizado <strong>de</strong> forma apromover a aprendizagem por <strong>de</strong>scoberta. Como exemplo temos o LOGO, e outraslinguagens <strong>de</strong> programação que permitem ao estu<strong>da</strong>nte criar processos <strong>de</strong> resolução <strong>de</strong>problemas. O LOGO, porém, não é muito a<strong>de</strong>quado para o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, sendovoltado para Educação infantil. Vitale (1991) <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que esta forma <strong>de</strong> utilização é amais proveitosa, por permitir que os alu<strong>no</strong>s e professores tenham liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criação<strong>de</strong> softwares, não <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo exclusivamente <strong>de</strong> especialistas em <strong>Informática</strong> para aprodução dos recursos utilizados. Esse ponto <strong>de</strong> vista, porém, <strong>de</strong>ve ser contextualizado<strong>no</strong> início <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 90, quando recursos multimídia e a internet não eram acessíveis.Hoje, dificilmente um professor que trabalha em sala <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong>ria produzir softwarescom quali<strong>da</strong><strong>de</strong> e recursos comparáveis aos produzidos por equipes <strong>de</strong> especialistas em<strong>Informática</strong>. Programas que permitem a criação e manipulação <strong>de</strong> regras para geração<strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los físico-matemáticos também se incluem nessa classificação. Esses tantopo<strong>de</strong>m utilizar a clássica Mo<strong>de</strong>lagem Quantitativa (matemática), como a Mo<strong>de</strong>lagemSemiquantitativa, conforme Sampaio et al. (1999) e Santos (1994). Em geral, aMo<strong>de</strong>lagem Quantitativa é mais recomen<strong>da</strong><strong>da</strong> para estu<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> nível superior, quetenham um contato com o cálculo infinitesimal, enquanto a Mo<strong>de</strong>lagemSemiquantitativa po<strong>de</strong> ser utiliza<strong>da</strong> até mesmo com crianças, <strong>de</strong>vido ao seu caráterintuitivo.4) Em simulações. Este é o uso mais comum <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, pela óbviavantagem que tem como ponte entre o estudo do fenôme<strong>no</strong> <strong>da</strong> maneira tradicional(quadro-e-giz) e os experimentos <strong>de</strong> laboratório, pois permitem que os resultados sejamvistos com clareza, repeti<strong>da</strong>s vezes, com um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> variáveis envolvi<strong>da</strong>s.Po<strong>de</strong>mos ain<strong>da</strong> dividir as simulações em dois grupos: as estáticas e as dinâmicas. Nassimulações estáticas, o estu<strong>da</strong>nte tem pouco ou nenhum controle sobre os parâmetros <strong>da</strong>simulação. Já nas dinâmicas, estes parâmetros po<strong>de</strong>m ser modificados com um grau <strong>de</strong>liber<strong>da</strong><strong>de</strong> bem maior, <strong>de</strong> modo que o estu<strong>da</strong>nte possa verificar as implicações <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>variável <strong>no</strong> resultado do fenôme<strong>no</strong> estu<strong>da</strong>do, tendo assim maior auto<strong>no</strong>mia, tanto com oprofessor presente quanto sozinho ou em grupo.


405) Depen<strong>de</strong>ndo do ponto <strong>de</strong> vista, ain<strong>da</strong> po<strong>de</strong> ser coloca<strong>da</strong> uma quintaclassificação: o uso <strong>da</strong> internet, mas esta classificação não é óbvia, já que a internetpossui uma gran<strong>de</strong> gama <strong>de</strong> recursos, que po<strong>de</strong>m ser classificados <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s quatroclassificações anteriores. O uso <strong>de</strong> hipertextos e páginas <strong>da</strong> web, por exemplo, po<strong>de</strong>riaser colocado <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> primeira classificação. Este uso, porém, extrapola o uso <strong>no</strong>rmal<strong>de</strong> textos. Um hipertexto po<strong>de</strong>ria ser criado <strong>de</strong> modo a não ser mais do que um textolinear dividido em páginas seqüenciais, mas se utilizados todos os recursos <strong>de</strong> hiperlinks<strong>de</strong> forma a formar uma re<strong>de</strong> multidimensional, as janelas (<strong>de</strong> textos, gráficos, <strong>de</strong>senhos,animações e mesmo áudio) sobrepostas que aparecem na tela do computador em na<strong>da</strong>lembram a leitura <strong>de</strong> um texto linear. Essa forma <strong>de</strong> “leitura” <strong>de</strong> informações multimídiasó se tor<strong>no</strong>u acessível e popular <strong>no</strong>s últimos a<strong>no</strong>s, e ain<strong>da</strong> tem muito a ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>.Também muito precisa ser discutido sobre o uso <strong>da</strong> vasta quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> informaçãomultimídia disponível na world wi<strong>de</strong> web. O correio eletrônico (e-mail) é outro recurso<strong>da</strong> internet que tem gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong> por facilitar a comunicação entre alu<strong>no</strong> e professore entre os estu<strong>da</strong>ntes. Ele ain<strong>da</strong> é subutilizado em muitos níveis do ensi<strong>no</strong>, pois sãoraros os professores que incentivam, por exemplo, a criação <strong>de</strong> grupos <strong>de</strong> discussãoentre os estu<strong>da</strong>ntes. Infelizmente, não foram encontra<strong>da</strong>s referências ao uso <strong>da</strong> internetna Educação, mas com certeza <strong>no</strong>s próximos a<strong>no</strong>s este uso <strong>de</strong>verá ser bastantediscutido.


CAPÍTULO 3A INVESTIGAÇÃOA crise paradigmática proporcio<strong>no</strong>u como aspecto positivo evi<strong>de</strong>nciar afalsa dicotomia que havia entre uma análise quantitativa e uma qualitativa. Ca<strong>da</strong> vezmais acredita-se na complementari<strong>da</strong><strong>de</strong> entre essas duas formas <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> forma acobrir diferentes aspectos <strong>de</strong> um problema.A presente pesquisa tem como objetivo obter alguma compreensão sobrecomo professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>de</strong> nível médio concebem e usam a <strong>Informática</strong> em suaprática pe<strong>da</strong>gógica, bem como sobre suas expectativas e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s sobre estatec<strong>no</strong>logia. Desta forma, este capítulo <strong>de</strong>screve a investigação realiza<strong>da</strong> junto a seisprofessores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> do ensi<strong>no</strong> médio, sua metodologia e achados. Na primeira seção apesquisa é <strong>de</strong>scrita e justifica<strong>da</strong> em seus procedimentos. Nas seções seguintes, sãocomentados os achados <strong>da</strong>s falas dos professores. Estes correspon<strong>de</strong>m às categorias <strong>de</strong>análise que se <strong>de</strong>stacaram <strong>no</strong> conjunto do discurso encontrado.3.1 Método e Procedimentos <strong>de</strong> PesquisaPara que os objetivos <strong>da</strong> pesquisa sejam alcançados sem cair emsimplificações e lugares-comuns, os procedimentos escolhidos <strong>de</strong>vem ser capazes nãoapenas <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar opiniões mais ou me<strong>no</strong>s freqüentes entre os docentes em ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>entre o universo pesquisado, mas <strong>de</strong> especificar a natureza <strong>da</strong>s relações que formamessa opinião.Assim, não seria a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> uma pesquisa quantitativa, a partir <strong>de</strong> uminstrumento objetivo elaborado com base nas opiniões do pesquisador. Tampouco abibliografia consulta<strong>da</strong> prevê classificações que possam ser estu<strong>da</strong><strong>da</strong>s <strong>de</strong> maneiraquantitativa. As únicas classificações encontra<strong>da</strong>s que se prestariam a tal estudo são ospossíveis usos do computador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> (instrução programa<strong>da</strong>, simulações,auxiliar em experimentos, etc), mas o que se preten<strong>de</strong> é bem mais amplo do que isso.Segundo Minayo (1992):“Muitos sociólogos consi<strong>de</strong>ram importantes os estudos qualitativos apenaspara fins exploratórios, recomen<strong>da</strong>ndo sempre questionários estruturados


42para o que <strong>de</strong>finem como ´pesquisa científica`, on<strong>de</strong> há possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>testes <strong>de</strong> hipóteses, possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> repetição pela estan<strong>da</strong>rdização <strong>da</strong>sperguntas, testes <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> e portanto certeza <strong>de</strong> fi<strong>de</strong>digni<strong>da</strong><strong>de</strong> 1 .Essa é uma visão positivista que coloca como questão técnica, a resolução<strong>de</strong> problemas epistemológicos profundos, tais como a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>sinformações recebi<strong>da</strong>s. É como se o refinamento <strong>de</strong> um instrumento paraanálise <strong>de</strong> variáveis solucionasse a questão fun<strong>da</strong>mental do conhecimento<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.” (Minayo, 1992, p. 132)Oliveira (1997), em pesquisa realiza<strong>da</strong> por meio <strong>de</strong> entrevistas comprofessores sobre o tema <strong>Informática</strong> Educativa, concluiu que “há entre os professorestal multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamentos sobre estas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> informatização do ensi<strong>no</strong>na re<strong>de</strong> pública e que dificilmente nós po<strong>de</strong>ríamos tentar fazer um quadro estatístico ouqualquer forma <strong>de</strong> quantificação <strong>de</strong>stas idéias” (p. 164). Assim, a entrevista semiestrutura<strong>da</strong>foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> o instrumento <strong>de</strong> pesquisa mais a<strong>de</strong>quado, pois permite quese obtenha uma compreensão mais completa, <strong>da</strong>ndo possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> a que surjam asexpectativas e opiniões dos entrevistados.Os sujeitos <strong>da</strong> pesquisa foram seis professores <strong>de</strong> <strong>Física</strong> que atuam <strong>no</strong>ensi<strong>no</strong> médio em escolas <strong>de</strong> Pelotas, escolhidos <strong>de</strong> acordo com a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para asentrevistas, entre profissionais que sabi<strong>da</strong>mente tinham algum interesse pelo tema<strong>Informática</strong> Educativa. As entrevistas foram realiza<strong>da</strong>s <strong>no</strong> período compreendido entreoutubro <strong>de</strong> 2001 e abril <strong>de</strong> 2002. Classificamos essas entrevistas como semiestrutura<strong>da</strong>s,mas Minayo (1992) diz que entre esta forma <strong>de</strong> entrevista e a chama<strong>da</strong>entrevista não-estrutura<strong>da</strong> há apenas uma diferença em grau, pois não existe interaçãototalmente aberta. Assim, houve temas preparados previamente, mas a partir <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um<strong>de</strong>les tentou-se aprofun<strong>da</strong>r o tema <strong>de</strong> modo a <strong>de</strong>tectar as peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s experiênciase concepções dos entrevistados, sem a completa <strong>de</strong>finição prévia <strong>de</strong> perguntas ourumos.Lüdke e André (1986) aconselham o uso <strong>de</strong> entrevistas com liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>a<strong>da</strong>ptação: “Parece-<strong>no</strong>s claro que o tipo <strong>de</strong> entrevista mais a<strong>de</strong>quado para o trabalho <strong>de</strong>pesquisa que se faz atualmente em Educação aproxima-se mais dos esquemas maislivres, me<strong>no</strong>s estruturados” (p.34). As autoras também aconselham a utilização <strong>de</strong> umroteiro, para guiar a entrevista por tópicos principais, por meio <strong>de</strong> uma seqüência lógicaentre os assuntos, dos mais simples aos mais complexos. Em <strong>no</strong>sso caso, este roteiro foiformado por um esboço dos assuntos <strong>de</strong> interesse (diferentes usos <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>,1 Grifo <strong>da</strong> autora


43formação <strong>de</strong> professores, políticas <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> em sua escola, etc.)com tópicos a serem investigados mais profun<strong>da</strong>mente para posterior confrontação comos achados <strong>da</strong> bibliografia consulta<strong>da</strong>. Sobre a orientação que o pesquisador <strong>de</strong>ve <strong>da</strong>r aoan<strong>da</strong>mento <strong>da</strong> pesquisa, Lüdke e André (op. cit.) frisam que o entrevistador “... atentarátambém para as exigências psicológicas do processo, evitando saltos bruscos entre asquestões, permitindo que elas se aprofun<strong>de</strong>m <strong>no</strong> assunto gra<strong>da</strong>tivamente e impedindoque questões complexas e <strong>de</strong> maior envolvimento pessoal, coloca<strong>da</strong>s prematuramente,acabem por bloquear as respostas às questões seguintes.” (p.36) Quanto ao conteúdo,Minayo (1992) diz que“Ca<strong>da</strong> sugestão <strong>de</strong> tema que se introduz na entrevista, ou ca<strong>da</strong> questão quese levanta, faz parte <strong>de</strong> uma interação diferencia<strong>da</strong> com o entrevistado namedi<strong>da</strong> em que esses itens são uma teoria em ato e trazem implícitos umahipótese, um pressuposto ou um conceito teórico. Portanto, o impactoresultante <strong>da</strong> abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminado assunto <strong>no</strong> interior <strong>da</strong> entrevista,<strong>de</strong>ve ser visto como diverso do efeito <strong>da</strong> entrevista como um todo.” (Minayo,1992, p. 131)Outro fato ressaltado pela autora é que nem todos os tópicos sãosignificativos para todos os entrevistados, e nestes casos provavelmente não emergirãoinformações relevantes.Não foram abor<strong>da</strong><strong>da</strong>s apenas as experiências concretas dos professores, mastambém as opiniões que têm quanto às possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s e problemas do uso <strong>da</strong><strong>Informática</strong> nas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e aprendizagem. Também foram levanta<strong>da</strong>squestões quanto ao conhecimento dos professores, tanto na parte técnica <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>quanto <strong>no</strong> aspecto pe<strong>da</strong>gógico <strong>de</strong> seu uso e <strong>da</strong>s ações e projetos político-pe<strong>da</strong>gógicosque porventura visem a implantação <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia na Educação.Foi <strong>da</strong><strong>da</strong> atenção a aspectos quanto ao uso (ou não) do computador comoferramenta pelos professores, seus motivos, necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, e suas expectativas quanto àspossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>. Os aspectos principais previstos para a entrevistaformaram a base para seis gran<strong>de</strong>s questões:1) Reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do professor e <strong>da</strong> escola: computadores na escola eacessibili<strong>da</strong><strong>de</strong> pelos professores e alu<strong>no</strong>s, em horário <strong>de</strong> aula e fora <strong>de</strong>le;2) Concepções sobre possíveis usos do computador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>;


443) Conhecimento e participação em projetos governamentais: Educom eoutros;4) Concepções sobre ambientes computacionais-educacionais;5) Concepções sobre a formação <strong>de</strong> professores;6) Expectativas tec<strong>no</strong>lógicas, políticas e pe<strong>da</strong>gógicas.As entrevistas foram grava<strong>da</strong>s em áudio e transcritas para o editor <strong>de</strong> textos.Após, foram agrupa<strong>da</strong>s conforme os 6 aspectos citados anteriormente e analisa<strong>da</strong>s àprocura <strong>de</strong> categorias. Estas foram:- A centralização do po<strong>de</strong>r;- Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transformação versus tempo disponível;- A <strong>de</strong>scrença nas políticas públicas.As próximas seções tratarão <strong>de</strong>ssas categorias que foram estabeleci<strong>da</strong>s.


453.2 A centralização do po<strong>de</strong>rUma característica importante e única do uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação éa sua necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> recursos físicos, que além <strong>de</strong> terem um custo <strong>de</strong> aquisiçãorelativamente alto, ain<strong>da</strong> necessitam <strong>de</strong> administração e manutenção por parte <strong>de</strong>pessoas com capacitação para tal. A forma como esta administração é feita, é uma peçacrucial na maneira como estes recursos serão utilizados, po<strong>de</strong>ndo tanto estimular quantocoibir a sua utilização.Assim, foi pedido aos professores que <strong>de</strong>screvessem a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ou <strong>da</strong>sescolas on<strong>de</strong> atuam, em relação à <strong>Informática</strong>, a existência <strong>de</strong> laboratórios <strong>de</strong><strong>Informática</strong>, as condições para acesso nesses laboratórios por parte dos professores edos alu<strong>no</strong>s, e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> marcar aulas <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sses laboratórios.Também foi perguntado sobre a forma como é <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong> a compra <strong>de</strong> equipamento.Oprofessor 1 chama a atenção ao fato <strong>de</strong> que os laboratórios <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> estãosubordinados aos professores <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>, e que a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> é para as aulas <strong>de</strong>ssadisciplina, on<strong>de</strong> os alu<strong>no</strong>s têm contato com aplicativos como editor <strong>de</strong> texto e planilhaeletrônica:“Os professores po<strong>de</strong>m marcar horários, mas o fazem muito raramente porcausa <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos laboratórios. Pelo número <strong>de</strong> turmas gran<strong>de</strong>,então quando tu chegas lá para marcar, não po<strong>de</strong>s, nesse horário eles vãoter aula <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>. Mas a aula que eles têm é o uso do Word, o uso doExcel. Então, conseguir horários vagos para agen<strong>da</strong>r fica difícil. Fora dohorário <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula, inclusive o alu<strong>no</strong> po<strong>de</strong> acessar esses laboratórios.Agen<strong>da</strong>ndo e tendo espaço, po<strong>de</strong>. Des<strong>de</strong> que fique o bolsista aliacompanhando, po<strong>de</strong>.” (Prof. 1)Ele frisa essa subordinação <strong>da</strong> infra-estrutura ao professores <strong>de</strong> <strong>Informática</strong>:“As máquinas do setor <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> são exclusivamente <strong>de</strong>les, <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong>les. Nós nãointerferimos em na<strong>da</strong>.” (Prof. 1). Essa fala <strong>de</strong><strong>no</strong>ta uma supervalorização do aspectotécnico em <strong>de</strong>trimento do pe<strong>da</strong>gógico em relação ao uso <strong>da</strong> informática na Educação, oque certamente contribui para que essa <strong>no</strong>va tec<strong>no</strong>logia não seja pensa<strong>da</strong> como umaferramenta <strong>de</strong> transformação do fazer pe<strong>da</strong>gógico, mas como um aspecto a mais <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> um paradigma educacional tecnicista, <strong>de</strong> otimização <strong>da</strong> transmissão <strong>de</strong>conhecimento.


46O professor 4 consi<strong>de</strong>ra que a utilização dos laboratórios <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> porparte dos professores é prejudica<strong>da</strong> pela burocracia, que exige que as aulas sejammarca<strong>da</strong>s com antecedência. Assim, o professor que tenha a chance <strong>de</strong> usar algumsoftware não po<strong>de</strong> fazê-lo se não tiver planejado essa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> com bastanteantecedência. Ele explica:“E o uso dos computadores lá tem uma burocracia que tu tensque seguir, que inviabiliza um pouco o trabalho do professor, na questão doprazo. Às vezes o professor, quando entra com um projeto, vem pensando hámais tempo, mas às vezes quando tu estás <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um assunto que éinteressante para ti, e <strong>de</strong> repente até <strong>de</strong> uma hora para outra alguém chega"eu tenho um applet legal, eu tenho um programa legal para tu apresentares<strong>de</strong>ntro do teu assunto" [...] e aí surge <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quele conteúdo que tu estástrabalhando. E isso aí não abre possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tu trabalhares <strong>de</strong>sse jeitoporque tu precisas pelo me<strong>no</strong>s <strong>de</strong> umas duas, três semanas para marcar olaboratório lá. Mesmo que o laboratório esteja disponível, eu não possosimplesmente levar minha turma.” (Prof. 4)Essa forma <strong>de</strong> administração do tempo <strong>de</strong> uso do laboratório, com aexigência <strong>de</strong> agen<strong>da</strong>mento antecipado, minimiza imprevistos e facilita o controle sobreo uso do laboratório, porém faz per<strong>de</strong>r oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s importantes para a utilização <strong>de</strong>sterecurso, já que <strong>de</strong>vido à própria natureza bastante dinâmica <strong>da</strong> informática, <strong>no</strong>vossoftwares po<strong>de</strong>m ficar disponíveis na Internet literalmente <strong>de</strong> um dia para outro.O conjunto <strong>de</strong>ssas falas <strong>de</strong><strong>no</strong>ta uma sensação <strong>de</strong> impotência a respeito <strong>da</strong>organização dos laboratórios <strong>de</strong> informática, on<strong>de</strong> os professores não têm po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><strong>de</strong>cisão sobre sua utilização. Parece haver uma certa resignação por parte <strong>de</strong>ssesprofessores, que embora não concor<strong>de</strong>m com essas formas <strong>de</strong> administração, nãoexpressam nenhuma atitu<strong>de</strong> ativa <strong>de</strong> modificação <strong>de</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>.Uma sugestão <strong>de</strong> como esse problema po<strong>de</strong> ser minimizado é <strong>da</strong><strong>da</strong> porCysneiros (2000): Ca<strong>da</strong> escola <strong>de</strong>ve ter sua Comissão Gestora <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logias, forma<strong>da</strong>por representantes <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, e que tenha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sobre aforma como os equipamentos <strong>de</strong> informática, entre outros, são adquiridos, utilizados emantidos. Esta comissão <strong>de</strong>ve ser mista pois:“Uma comissão com várias pessoas evita que o laboratório se tornedomínio <strong>de</strong> um administrador ou <strong>de</strong> algum professor. É <strong>de</strong>sejável aparticipação (mesmo que pouco freqüente) do diretor ou do diretor adjunto;<strong>de</strong> um ou dois professores <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> tur<strong>no</strong>; <strong>de</strong> um representante <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> (<strong>de</strong> alguma associação <strong>de</strong> bairro ou empresa que colabore coma escola, quando houver); dos pais; <strong>de</strong> um representante dos alu<strong>no</strong>s


47monitores <strong>de</strong> informática (quando houver); <strong>de</strong> um funcionário <strong>da</strong>administração <strong>da</strong> escola. O perfil <strong>da</strong> Comissão Gestora <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>escola, <strong>no</strong> espírito <strong>de</strong> uma experiência <strong>no</strong>va. Sua composição <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>rá donúmero <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s e <strong>de</strong> tur<strong>no</strong>s <strong>da</strong> escola, <strong>da</strong>s pessoas disponíveis”.(Cysneiros, 2000)Assim, o planejamento e a administração dos laboratórios <strong>de</strong> informática sãocompartilhados por to<strong>da</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo participativo. Euain<strong>da</strong> sugeriria, <strong>no</strong> caso <strong>de</strong> escolas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> porte, on<strong>de</strong> os professores estão lotadosem diferentes <strong>de</strong>partamentos ou áreas, que esta comissão tenha entre seus membros pelome<strong>no</strong>s um professor <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> área. Esta seria uma forma, inclusive, <strong>de</strong> incentivar osprofessores a terem contato com o laboratório <strong>de</strong> informática, o que os motivaria autilizá-lo e a participar <strong>da</strong> melhoria e manutenção <strong>de</strong> sua estrutura.


483.3 Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transformação versus tempo disponívelUma categoria importante <strong>de</strong>tecta<strong>da</strong> nas falas dos professores é anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> já senti<strong>da</strong> <strong>de</strong> buscar o uso <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias para transformar a maneiratradicional <strong>de</strong> ensinar <strong>Física</strong>. Esta mu<strong>da</strong>nça não aparece necessariamente como função<strong>de</strong> um recurso específico, como o uso <strong>da</strong> informática, mas como um processo necessárioe <strong>de</strong> uma dimensão maior. A informática, porém, é cita<strong>da</strong> como uma valiosa ferramentapara a implementação <strong>de</strong>sta transformação.Tanto o professor 1 quanto o professor 5 disseram que os professores emgeral não têm condições para se capacitarem, por causa <strong>da</strong> sobrecarga <strong>de</strong> trabalho a queestão submetidos. Segundo eles, falta tempo para buscar aperfeiçoamento, e osprofessores estão <strong>de</strong>smotivados para procurarem coisas <strong>no</strong>vas. Apesar disso, ambosdizem utilizar boa parte <strong>de</strong> seu tempo livre com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> pesquisa para melhorarseu trabalho.“Esses dias eu fui jantar com uns colegas e eles começaram a perguntarpara mim, por que eu, lá para a escola particular que eu trabalho, estavasempre procurando uma coisa, ou sugerindo outra, e lá para a outra escolatambém. ´Mas o que tu estás ganhando a mais com isso? Qual é o horárioque tu fazes isso?´ Eu disse: Olha, aqui em casa eu levo muita bronca,porque eu estou sempre <strong>no</strong> computador, estou sempre. Se eu tenho umahorinha disponível, já vou ali para o computador. Gasto o meu dinheiro, queeu estou pagando Internet minha, porque é <strong>de</strong> madruga<strong>da</strong>, eu vou ali. Estougastando meu dinheiro, estou per<strong>de</strong>ndo tempo <strong>de</strong> estar com a minha família.Para quê? É porque eu já senti a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça. Tenho que meatualizar nisso aí, porque eu já vi que esse aí é o caminho. Mas a maioria<strong>da</strong>s pessoas, que já estão assim mais <strong>de</strong>sgostosas, ficam pensando: Mas porquê? Eu já estou tão mal, trabalho tanto, convivo pouco com a minhafamília, qual é a vantagem que eu tenho <strong>de</strong> conviver me<strong>no</strong>s ain<strong>da</strong>? Paraquê?” (Prof. 1)Este professor <strong>de</strong>ixa claro que a questão <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> Internet comoferramenta auxiliar na transformação <strong>de</strong> sua prática pe<strong>da</strong>gógica é essencial, mas quefaltam condições para este uso, tendo ele gastos financeiros com o acesso à re<strong>de</strong>, eprejuízos em sua vi<strong>da</strong> familiar. Ele coloca a sua motivação pessoal para esta ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>em contraste com a <strong>de</strong>scrença <strong>da</strong> maioria dos professores, que não se sentem apoiadospara isto. O professor 5 tem uma opinião semelhante:


49“E em alguns casos a gente sabe que ain<strong>da</strong> está meio que longe <strong>da</strong> questãodo eu quero, eu vou assumir, eu vou trabalhar, eu vou enfrentar essa,porque o professor também é <strong>de</strong>smotivado. O próprio salário <strong>de</strong>le faz comque ele se <strong>de</strong>smotive. Porque se eu fizer, eu ganho tanto, se eu não fizer euganho tanto também. Então ou tu tens que ser amante realmente <strong>da</strong>quilo quetu fazes, e aí consumir as tuas <strong>no</strong>ites, o que eu faço, horas e horas e horas,ficar a madruga<strong>da</strong> to<strong>da</strong> trabalhando, até porque é o melhor horário, porquesai mais barato, porque até isso nós temos que pensar quando estamosusando o computador em casa, e aqui na escola eu não tenho tempo, [...] édifícil ter um tempo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, para ir para lá e trabalhar. Então<strong>no</strong>rmalmente eu faço em casa, <strong>no</strong> final <strong>de</strong> semana. E aí vêm aquelasquestões, tu <strong>de</strong>ixas a tua família, <strong>de</strong>ixas os teus filhos, <strong>de</strong>ixas <strong>de</strong> sair. Muitasvezes consomes todo o teu lazer, ali em cima, o teu tempo para lazer emcima do computador.” (Prof. 5)Esta fala <strong>de</strong><strong>no</strong>ta a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> que este professor sente <strong>de</strong> manter-seatualizado, e <strong>de</strong> trabalhar com o computador. Além <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s em <strong>de</strong>senvolvertrabalhos com o computador (tempo disponível, salário, custos), é aparente que asatisfação e o prazer <strong>de</strong> trabalhar com o computador entram em conflito com osentimento <strong>de</strong> culpa por abdicar <strong>de</strong> parte <strong>de</strong> seu tempo para lazer e para a família,<strong>de</strong>ixando este convívio em segundo pla<strong>no</strong>.O conflito está presente em vários pontos <strong>da</strong>s falas dos entrevistados, sejacomo uma contraposição entre a falta <strong>de</strong> tempo e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atualização, entre avonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar a informática para uma forma i<strong>no</strong>vadora e a insegurança em tentar algodiferente do que estão acostumados, ou entre a falta <strong>de</strong> esperança em uma melhora reale a sensação <strong>de</strong> que esta transformação acontecerá mais cedo ou mais tar<strong>de</strong>.O professor 6 fala <strong>de</strong> sua falta <strong>de</strong> tempo para apren<strong>de</strong>r uma <strong>no</strong>va tec<strong>no</strong>logia,a linguagem <strong>de</strong> programação Flash, volta<strong>da</strong> para a colocação <strong>de</strong> animações <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>páginas <strong>da</strong> web. Segundo ele, esta falta <strong>de</strong> tempo é causa<strong>da</strong> pela necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>complementar a ren<strong>da</strong> trabalhando em mais <strong>de</strong> um lugar, o que causa prejuízos emvárias ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s docentes fora <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Ele diz:“Eu não tenho tempo, que eu dou aula <strong>de</strong> manhã, tar<strong>de</strong> e <strong>no</strong>ite. Teria queter um tempo exclusivo para eu apren<strong>de</strong>r o Flash. [...] Mas tem que tertempo. Tempo para apren<strong>de</strong>r o programa, tempo para exercitar o programa,e às vezes é mais fácil eu chegar e pagar para alguém, ´faz um programinhapara mim´, ´digita minha prova´, porque eu não tenho tempo. Porqueinfelizmente nós, professores, ganhando o que se ganha, temos quetrabalhar em um monte <strong>de</strong> lugares diferentes para ter mais ou me<strong>no</strong>s umaren<strong>da</strong> compatível.” (Prof. 6)


50Ele frisa a importância <strong>de</strong>sta atualização em vista <strong>da</strong> concorrência domercado <strong>de</strong> trabalho, on<strong>de</strong> a competitivi<strong>da</strong><strong>de</strong> é um fator motivador para que o professorse aprimore e busque o <strong>no</strong>vo. Segundo ele, a perspectiva atual <strong>da</strong> educação nãocomporta mais o professor que se dê por satisfeito com o conhecimento que adquiriu emsua formação acadêmica e não busque uma atualização contínua. E a informática, nessecaso, é uma ferramenta útil nessa busca por atualização:“... sempre que tem uma concorrência a gente tem que se superar paraestar sempre lado a lado ali, senão o que vem <strong>de</strong> trás, vem te <strong>de</strong>vorando. Eusou sempre <strong>de</strong>ssa idéia, estou procurando sempre estu<strong>da</strong>r para sempreprocurar estar <strong>no</strong> nível. <strong>Física</strong> é uma coisa que ca<strong>da</strong> dia aparece algumacoisa <strong>no</strong>va. <strong>Física</strong>, Biologia, Química, a ca<strong>da</strong> dia a gente tem uma criação<strong>no</strong>va, um invento <strong>no</strong>vo, e os fenôme<strong>no</strong>s po<strong>de</strong>m ser os mesmos que estãoaparecendo ali, mas tem que se analisar porque que está acontecendo essefenôme<strong>no</strong> aqui, então a gente tem que ler sempre, estar sempre a par do queestá acontecendo, <strong>no</strong> mundo inteiro, a globalização que já vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> arevolução francesa, e a gente tem que estar a par disso. Porque se tu nãoestá a par disso, <strong>da</strong>qui a pouco vem um outro aí, que está mais a par do quetu e vais começar a per<strong>de</strong>r caminho. E a informática, ao invés <strong>de</strong> ser o meuinimigo, é o meu aju<strong>da</strong>nte, o meu parceiro.” (Prof. 6)Essa pressão para que o professor se atualize <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>, além do mercado <strong>de</strong>trabalho, <strong>da</strong> posição <strong>da</strong> direção <strong>da</strong> escola sobre a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transformação. Umadireção po<strong>de</strong> tanto apoiar ativamente a mu<strong>da</strong>nça na prática pe<strong>da</strong>gógica dos professores,como exigir que esta prática continue conforme a tradição <strong>da</strong> escola. Segundo oprofessor 1, esta pressão pela transformação é mais forte na escola particular:“Eu acho que uma direção comprometi<strong>da</strong> com uma melhoria é que vaiforçar, é o que eu tava te dizendo, nessa escola particular que eu sei, eleestá meio que forçando a coisa, ele obriga. Olha, o programa é tal, mas tutens que me apresentar um terço <strong>da</strong>s aulas na informática. Po<strong>de</strong> sair umaporcaria, mas <strong>de</strong>pois ele vai melhorar. Para alguma coisa vai servir, oprofessor vai sentir que está ficando ultrapassado. Que as coisas estãomu<strong>da</strong>ndo.” (Prof. 1)Esta aparente incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a necessária atualização e a eleva<strong>da</strong>carga horária à qual muitos professores estão submetidos não tem uma solução fácil. Oprofessor 2 e o professor 6 criticam a falta <strong>de</strong> incentivo e as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s que osprofessores estaduais enfrentam caso queiram fazer algum curso visando a preparaçãopara o uso <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação:“Se eu tiver que fazer algum curso, eu não posso sair, eles não liberamcomo a escola libera aqui o professor para fazer um curso <strong>de</strong>


51especialização, o Estado não libera. Se eu tiver que fazer um curso <strong>de</strong>mestrado, ou <strong>de</strong> especialização, alguma coisa, eu tenho que trabalhar junto<strong>no</strong> colégio. Eu não posso faltar. Eles não liberam. Se dissessem “Olha,agora esse professor vai ficar com me<strong>no</strong>s aulas, ou com nenhuma aula”,como tem casos em outros lugares, para fazer um curso. Mas não temchance. O estado não libera.” (Prof. 2)“sei que <strong>no</strong> a<strong>no</strong> passado o Estado fez um curso <strong>de</strong> preparação, mas muitofraco. Muito, muito fraco. Foi o básico do básico. Para o professorapren<strong>de</strong>r a manusear o computador. E a gente tinha que pegar a dispensapara ir, tinha que pagar as aulas <strong>de</strong>pois. A gente não tinha o horário parafazer assim, por livre. Não tinha facili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se tu <strong>de</strong>ixares <strong>de</strong> ir à aula, tuvais ter que <strong>da</strong>r aula <strong>no</strong>s sábados. Então tinha esse peque<strong>no</strong> porém.” (Prof.6)Este problema está intimamente ligado à <strong>de</strong>ficiência <strong>no</strong> quadro <strong>de</strong>professores. Havendo uma maior quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> professores para aten<strong>de</strong>r a mesma<strong>de</strong>man<strong>da</strong>, fica mais fácil a execução <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> qualificação, seja <strong>no</strong> uso <strong>de</strong><strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, ou em qualquer outra área <strong>da</strong> Educação. O aumento do número <strong>de</strong>professores inclusive tornaria mais viável a própria prática <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula usandocomputadores, já que ca<strong>da</strong> professor po<strong>de</strong>ria trabalhar com me<strong>no</strong>s alu<strong>no</strong>s.Isto, porém, para ser implantado, precisa partir <strong>de</strong> um programa <strong>de</strong>qualificação <strong>da</strong> educação que ponha a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensi<strong>no</strong> em primeiro pla<strong>no</strong>. Trata-se<strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> ações inter-relaciona<strong>da</strong>s, <strong>de</strong> valorização financeira e pe<strong>da</strong>gógica doprofessor, do processo <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>, <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>da</strong>s escolas, <strong>de</strong> qualificação doquadro técnico. Enfim, <strong>da</strong> profissionalização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> educacional.O professor 3 fala sobre isso:“a primeira coisa que teria que ter é computador. E a segun<strong>da</strong> coisa, talvez,é um maior número <strong>de</strong> professores. Para ter uma orientação mais direta. Doprofessor <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, porque colocar trinta e cinco alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma sala<strong>de</strong> aula para um professor... Então to<strong>da</strong> a <strong>no</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que está ain<strong>da</strong>muito aquém do que se espera, do que se sonha. E acho que vamos chegarlá. Um dia vamos chegar lá. Vai ser um sucesso, um sucesso total. À medi<strong>da</strong>que se colocar computadores, vai precisar <strong>de</strong> um número maior <strong>de</strong>professores. O professor nunca vai ser substituído por computador. Tu vaisprecisar <strong>de</strong> um maior número <strong>de</strong> professores <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula paraorientar esses alu<strong>no</strong>s. Porque tu gastas milhões aí, e aí tu vai largar na mão<strong>de</strong>les para eles fazerem joguinhos, brincar e editar textos. E um professor lápara fazer isso? Não, vamos colocar mais gente para trabalhar, <strong>da</strong>remprego para esse pessoal que está <strong>de</strong>sempregado e ensinar, aten<strong>de</strong>rmelhor o <strong>no</strong>sso jovem.” (Prof. 3)Ele <strong>de</strong>monstra esperança <strong>no</strong> futuro <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa. Inclusive, eleexpressa uma opinião sobre o futuro do papel do professor. Este tópico po<strong>de</strong> ser


52consi<strong>de</strong>rado uma subcategoria <strong>de</strong> análise, visto que não é exatamente o assunto <strong>de</strong>staseção, mas está relacionado com a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong>ste papel. Sobre ele,o professor 1 diz que:Tem gente que até diz “Mas e o professor, como é que ele fica? Vaiper<strong>de</strong>ndo espaço?” Sim, vai per<strong>de</strong>ndo o espaço tradicional, que ele tinha,<strong>de</strong> sabedor <strong>de</strong> tudo, lá. Mas ele vai ser um orientador, vai selecionar aseqüência que vai ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>. Eu acho que ele não per<strong>de</strong> na<strong>da</strong>, só vaimu<strong>da</strong>r o papel um pouquinho. De transmissor <strong>de</strong> conhecimento paraorientador. Nem vai se cansar tanto, eu acho. Aquele <strong>de</strong>sgaste, às vezes tutens que <strong>da</strong>r mil e uma matéria em aula, que tu sais podre <strong>de</strong> cansado, nãotem que ter mais. (Prof. 1)O professor como transmissor <strong>de</strong> conhecimento é um conceito consi<strong>de</strong>radoultrapassado <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> educação há muitos a<strong>no</strong>s, mas que ain<strong>da</strong> é aceito pelo sensocomum. Obviamente, este papel <strong>de</strong> “transmissor” po<strong>de</strong> ser assumido pelo computador,com o software a<strong>de</strong>quado. A própria Internet é uma fonte <strong>de</strong> informação gigantesca,mas receber informação não significa adquirir conhecimento. Assim, o processo <strong>de</strong>ensi<strong>no</strong> e aprendizagem <strong>de</strong>ve ser mediado por alguém, <strong>de</strong> modo a que a informaçãorecebi<strong>da</strong> possa ser utiliza<strong>da</strong> para a criação <strong>de</strong> conhecimento.Nesse contexto, o professor <strong>de</strong>ve estar capacitado para interagir com asfontes <strong>de</strong> informação (materiais e recursos didáticos) e utilizá-las <strong>de</strong> modo a orientar oalu<strong>no</strong> a apren<strong>de</strong>r. É um papel muito mais complexo do que o do senso comum, <strong>no</strong> qualpara ensinar basta conhecer o conteúdo. O professor necessita muito mais preparação equalificação. Segundo o professor 6:“Muitos professores já estão quase se aposentando, então eles acham quenão é vantagem para eles agora estar apren<strong>de</strong>ndo mais alguma coisa. Entãoisso eu acho que é um erro, porque a gente tem que apren<strong>de</strong>r a vi<strong>da</strong> inteira.Então eu acho que isso é um dos fatores também que pesam bastante, oprofessor não querer se qualificar para isso, achar que é um bicho <strong>de</strong> setecabeças, achar que isso veio para prejudicar a Educação, para azarar, achoque é bem o contrário. Para substituir o professor. E realmente substituibem. Substitui entre aspas, tem que ter o professor ali para expor. Eu achoque não diminui o papel do professor, acho que aumenta e muito o papel doprofessor. Aumenta a <strong>no</strong>ssa responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, aumenta a <strong>no</strong>ssa idéia <strong>de</strong> secapacitar ca<strong>da</strong> vez mais” (Prof. 6)O papel do professor frente à atual reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> jáirreversivelmente liga<strong>da</strong> às (e pelas) tec<strong>no</strong>logias digitais certamente não é o mesmo <strong>de</strong>alguns a<strong>no</strong>s atrás, mas não é me<strong>no</strong>s importante ou imprescindível. Este professor nãopo<strong>de</strong> mais se contentar com o conhecimento estanque, ou com metodologias fixas e


perenes para o seu fazer didático. Segundo Kenski (2001), o professor na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>digital tem como uma <strong>da</strong>s principais características:53“a preocupação com a atualização <strong>de</strong> seus conhecimentos e práticas, amelhoria do seu <strong>de</strong>sempenho. Apesar <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s inerentes à profissão,o que vemos <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s é o crescente número <strong>de</strong>professores em busca <strong>de</strong> <strong>no</strong>vos conhecimentos; professores que enchem assalas dos cursos <strong>de</strong> atualização, participam <strong>de</strong> seminários, simpósios econgressos, compram livros e estu<strong>da</strong>m espontaneamente. Professores que<strong>de</strong>sejam mu<strong>da</strong>r a sua maneira <strong>de</strong> ensinar, que querem se a<strong>da</strong>ptar àsexigências educacionais dos <strong>no</strong>vos tempos, que sentem que a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>(assim como os conhecimentos e a cultura em sentido amplo) mudou equerem acompanhar o ritmo <strong>de</strong>ssas alterações.” (pág. 96)A prática docente não po<strong>de</strong> mais ser basea<strong>da</strong> <strong>no</strong> conteúdo e em suatransmissão. Esta idéia sequer necessita <strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias para ser trata<strong>da</strong>, já que oconceito <strong>de</strong> que educação é transmissão <strong>de</strong> conhecimento não resiste a uma análise maisprofun<strong>da</strong> há muito tempo. Segundo Faria (2001), em uma aula com ou sem o uso <strong>da</strong>informática, o importante é que se crie a interação entre o alu<strong>no</strong> e o saber, a participaçãoativa <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> aquisição <strong>de</strong> conhecimento. Ela diz que:“Os recursos tec<strong>no</strong>lógicos facilitam a passagem do mo<strong>de</strong>lo mecanicistapara uma educação sociointeracionista, ain<strong>da</strong> que a realização <strong>de</strong> um <strong>no</strong>voparadigma educacional <strong>de</strong>pen<strong>da</strong> do projeto político-pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>instituição escolar, <strong>da</strong> maneira como o professor sente a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stamu<strong>da</strong>nça e <strong>da</strong> forma como prepara o ambiente <strong>da</strong> aula” (pág. 59)Um <strong>da</strong>do importante <strong>no</strong> que diz respeito à falta <strong>de</strong> tempo dos professoresentrevistados é que todos eles utilizam o processador <strong>de</strong> textos como ferramentacotidiana, e alguns chegam a dizer que não saberiam mais trabalhar sem ele. Estainformação corrobora o que diz Valente (1999). Isso porque esse tipo <strong>de</strong> softwareeco<strong>no</strong>miza tempo para o professor, automatizando e facilitando a organização emtarefas como preparação <strong>de</strong> textos e provas. Nessa lógica, a falta <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong>informática em sala <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong> ser explica<strong>da</strong> pelo tempo extra necessário parapreparação e aplicação <strong>de</strong> recursos como a simulação ou a mo<strong>de</strong>lagem computacional,já que vários entrevistados disseram mal ter tempo para trabalharem todo o conteúdoprevisto.


543.4 A <strong>de</strong>scrença nas políticas públicasUm tema recorrente nas falas dos entrevistados é a situação atual <strong>da</strong> escolapública frente à necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> integração <strong>da</strong> informática ao cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula.Todos trabalham em escola pública, e todos utilizam bastante o computador fora <strong>de</strong> sala<strong>de</strong> aula, principalmente para edição <strong>de</strong> textos; quatro <strong>de</strong>les disseram usar também aInternet para pesquisar materiais que usam em sala <strong>de</strong> aula. Apesar disso, alguns<strong>de</strong>poimentos mostram claramente <strong>de</strong>scrença com o rumo tomado pelas políticaspúblicas <strong>de</strong> implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, como o do professor 1:“Eu acho que as políticas <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> na Educação ain<strong>da</strong> estão muito<strong>de</strong>vagar. Tu vês <strong>de</strong> vez em quando <strong>no</strong>tícias que umas escolas receberamcomputador, mas eu acho que ain<strong>da</strong> está muito fraquinho. Até porque,muitas vezes, recebe computador e o professor ain<strong>da</strong> não se preparou. Aíentão ele vai lá e traz um professor <strong>de</strong> informática, restringe o uso e nãoaproveita todos os recursos que ele tem para oferecer. [...] Acho que isso vaimu<strong>da</strong>r só quando houver capacitação dos professores para orientar melhor.Eu acho que tem que sair por aí. Claro, que a cabeça dos dirigentes tem quemu<strong>da</strong>r.” (Prof. 1)O professor 5 também compartilha o sentimento <strong>de</strong> <strong>de</strong>scrença na inserção <strong>da</strong>informática na Educação <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> escola pública, pela falta <strong>da</strong>s verbas necessáriaspara compra <strong>de</strong> equipamento, preparação <strong>de</strong> área física, qualificação <strong>de</strong> pessoal emanutenção:“Na parte pública eu não sei se vem alguma coisa. Eu estou meio <strong>de</strong>scrente,já. Porque a escola que não tem uma biblioteca atualiza<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>, eu custo aacreditar que num passe <strong>de</strong> mágica eles vão conseguir solucionar essasoutras questões. Que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m mais <strong>de</strong> verba. [...] E mesmo que se tenha oscomputadores, e aí? E o restante? O computador em si, o que te oferece, emtermos <strong>de</strong> tu trabalhares com a Educação? Apren<strong>de</strong>r a digitar, a fazerrelatórios? Além disso, o que mais que eles po<strong>de</strong>m fazer se eu não tiver omaterial para trabalhar? [...] E além <strong>de</strong>sses todos, tem o problema <strong>de</strong>estragar o computador, tem que trocar a todo instante, porque isso é umacoisa que tem que estar sendo atualiza<strong>da</strong> sempre. E aí? Um gover<strong>no</strong>compra, aí o outro esquece, vai para outro lado. Aí vem outro, trabalha umpouco nessa área <strong>da</strong> informática <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, cai fora, vem outro, e as coisasvão ficando assim, e vai virando sucata. [...] E precisa <strong>de</strong> verba paramanter. E essa questão <strong>da</strong> informática eu acho, na escola pública,<strong>de</strong>sfavorável nesse sentido. Quem vai manter isso <strong>de</strong>pois?” (Prof. 5)A questão <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> manutenção foi bastante lembra<strong>da</strong> nesta fala, etrata-se realmente <strong>de</strong> um ponto importante e não raramente esquecido quando é


55montado um projeto <strong>de</strong> informatização <strong>de</strong> uma escola. O professor 2 vai mais além nacrítica e diz que não há serie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong> que diz respeito à política <strong>de</strong> melhoria naeducação, já que não há incentivo para os pontos cruciais <strong>de</strong>sta transformação, que são aqualificação dos professores e a estrutura <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>:“Não tem laboratório. Na<strong>da</strong>. Já foi pedido, já foi implorado, e não botaram,o gover<strong>no</strong> não tem verba para isso. [...] É uma coisa que revolta até. Então,eu já não acredito mais. Então, o que eu acho que <strong>de</strong>veria ser feito?Serie<strong>da</strong><strong>de</strong> na coisa. Informação para os professores, montar as escolas,instruir os professores, <strong>da</strong>r cursos para os professores, que o estado não dácursos para os professores. [...] Tem que aparelhar as escolas. Trabalharcom serie<strong>da</strong><strong>de</strong> na Educação. Dar cursos <strong>de</strong> aperfeiçoamento para osprofessores, mas não é curso com o professor trabalhando junto, que tu nãoconsegues fazer nem uma coisa nem outra. Eles <strong>de</strong>veriam liberar oprofessor. Existem cursos <strong>de</strong> especialização. Não é que não existam cursos.Existem. Mas como é que eu vou fazer um curso <strong>de</strong> especialização se eutenho que trabalhar, vinte horas corri<strong>da</strong>s <strong>no</strong> estado, e mais quarenta <strong>no</strong>utrolugar para po<strong>de</strong>r sobreviver, porque com o dinheiro do estado tu nãoconsegues sobreviver. Eu mesmo, a minha reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu trabalho quarentahoras aqui e vinte <strong>no</strong> estado. Eu trabalho sessenta horas por semana. Qual éo tempo que eu tenho para fazer curso <strong>de</strong> especialização? Essa é a <strong>no</strong>ssareali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não tem tempo. E se ain<strong>da</strong>, por exemplo, dissessem assim “bom,agora esse a<strong>no</strong> o estado vai te liberar” eu pegava essas vinte horas e faziaum curso. Não, mas não po<strong>de</strong>. Não liberam. É assim.” (Prof. 2)O professor 3 foi o único a mostrar otimismo frente ao futuro <strong>da</strong> <strong>Informática</strong>Educativa <strong>no</strong> estado, baseado <strong>no</strong> trabalho dos NTE´s (Núcleos <strong>de</strong> Tec<strong>no</strong>logiaEducacional), mas também põe em dúvi<strong>da</strong> a questão <strong>da</strong> verba necessária para aimplantação dos projetos que visam colocar a <strong>Informática</strong> na escola pública:“A minha expectativa <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Sul é muito boa. Se continuarassim, é muito boa. E nós somos aqui o estado pioneiro. Exatamente porisso. Criaram esses núcleos, já estamos com software livre, estamospensando em software livre, então eu acho muito boa. A expectativa é boa.Agora, vamos ver se vai ter dinheiro para isso aí. E se vai continuar o po<strong>de</strong>rpúblico a investir nisso aí, ou se vai ficar só nas boas intenções.” (Prof. 3)Um outro ponto <strong>de</strong> vista em relação ao futuro <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> <strong>da</strong> Educação éexplicitado pelo professor 6, que sublinha o problema <strong>da</strong> <strong>de</strong>mora para aquisição <strong>de</strong>equipamentos, compara<strong>da</strong> com a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças na informática:“As políticas para a educação eu acho que vão continuar nessa investi<strong>da</strong>.Mas tem um outro porém, a política <strong>de</strong>mora muito, porque às vezes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>do interesse <strong>de</strong> um ou <strong>de</strong> outro. Aí tanto <strong>de</strong>mora que aquele material queestá na escola vai ficar obsoleto, vai per<strong>de</strong>r a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado e aívão ter que comprar tudo <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, aí vai mais, e <strong>da</strong>í que se aprove, tor<strong>no</strong>u-


56se obsoleto <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo. Eu acho que isso aí tinha que ser uma política maisrápi<strong>da</strong>, <strong>no</strong> momento, porque a informática ca<strong>da</strong> dia é uma coisa diferente,ca<strong>da</strong> dia uma coisa diferente. Então, por exemplo, a minha escola está comcomputadores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o a<strong>no</strong> passado. Agora quer aumentar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> doscomputadores. Vai estar lá um papel, já tem <strong>de</strong>z computadores, eles queremmais dois, aí tem <strong>de</strong>z carroças e vem dois fórmula um, porque <strong>de</strong>mora muitouma coisa para a outra.” (Prof. 6)Uma subcategoria relaciona<strong>da</strong> à implantação <strong>da</strong> informática na escolapública é o papel <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> na implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na escola. Umapossível falha neste papel po<strong>de</strong> ser enxerga<strong>da</strong> <strong>no</strong> fato <strong>de</strong> nenhum dos entrevistados terconhecimento sobre o projeto EDUCOM, que consta em trabalhos que tratam dohistórico <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa <strong>no</strong> Brasil como o mais importante projeto <strong>de</strong>implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação até hoje. Um indício <strong>de</strong> uma possívelexplicação para esse <strong>de</strong>sconhecimento po<strong>de</strong> ser encontra<strong>da</strong> na fala do professor 1:“As pessoas têm que ter acesso, parece que não tem uma organização muitoboa. Uma pessoa <strong>de</strong>senvolve uma pesquisa <strong>de</strong> mestrado, e ela fica on<strong>de</strong>?Ela tem que estar disponível. Por exemplo, <strong>de</strong>ntro do site <strong>da</strong> instituição quetu trabalhas. Todo mundo que fez mestrado tem que ter as suas pesquisas alidisponíveis para a gente ter acesso. E não tem aqui. Então se começa jápela própria instituição, por pouquinho que seja, disponibiliza isso,apresenta, divulga, o fula<strong>no</strong> chegou com um mestrado em tec<strong>no</strong>logia, comcerteza vai ter gente que vai se interessar. E vai se <strong>de</strong>sacomo<strong>da</strong>r. Então euacho que tem que ser por aí. A partir <strong>da</strong>s instituições começarem a provocarisso.” (Prof. 1)Não po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado o papel <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> pública naimplantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa na escola. A universi<strong>da</strong><strong>de</strong> é um espaço gerador<strong>de</strong> transformação, e esta semente <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong>ve ser ativamente conduzi<strong>da</strong> doambiente <strong>de</strong> pesquisa para a sala <strong>de</strong> aula <strong>no</strong> nível médio e fun<strong>da</strong>mental. Cabe àuniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>r o suporte necessário para que a escola sinta a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>transformação e encontre meios para executá-la.


CAPÍTULO 4CONCLUSÕES E COMENTÁRIOSAo final <strong>de</strong>sta pesquisa, dialogando com meus referenciais teóricos, commeus entrevistados e a partir <strong>de</strong> minha própria reflexão em cima <strong>da</strong>s experiênciasvivi<strong>da</strong>s durante este período, pu<strong>de</strong> chegar a algumas opiniões sobre a questão do uso <strong>da</strong>informática <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>no</strong> nível médio. Estas, contudo, são o reflexo <strong>de</strong> ummomento contextualizado em uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, sendo mais um passo nareflexão e discussão que esse tema merece.Salta aos olhos a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> os professores que atuam <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médioconscientizarem-se <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> discussão crítica e profun<strong>da</strong> dos objetivos <strong>de</strong> suaprática e do papel <strong>da</strong>s tec<strong>no</strong>logias digitais nesta. Alguns professores têm a idéia <strong>de</strong> que ainformática educativa tem como função a automatização do ensi<strong>no</strong>, e este modo <strong>de</strong> verestá intimamente ligado a uma concepção conteudista <strong>da</strong> educação. Obviamente, separtíssemos do pressuposto que ensinar é transmitir conhecimento, o computador seriauma peça que viria a substituir o papel do professor, automatizando e mesmootimizando essa transmissão.To<strong>da</strong>via, se consi<strong>de</strong>rarmos que educar é mediar a aprendizagem, veremosque o papel do professor é imprescindível. Ferramentas po<strong>de</strong>m auxiliar esta mediação,facilitando o trabalho braçal <strong>de</strong>, por exemplo, escrever a matéria <strong>no</strong> quadro-negro, epossibilitando ao professor uma maior atenção às tarefas <strong>de</strong> planejamento e avaliação <strong>de</strong>sua prática. A informática educativa, nesta perspectiva, é um aliado importante, poispermite um grau <strong>de</strong> interação muito superior ao <strong>de</strong> recursos <strong>de</strong> armazenamento <strong>de</strong>informação e <strong>de</strong> comunicação tradicionais, como livros, figuras e orientação presencial.A entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> espaço escolar <strong>de</strong>ve, <strong>de</strong>sta forma, ser guia<strong>da</strong> pelaconcepção que se tem do que é educar. O planejamento do lay-out dos laboratórios, <strong>da</strong>aquisição <strong>de</strong> software, e <strong>da</strong> política <strong>de</strong> utilização <strong>da</strong>s máquinas <strong>de</strong>ve ser pensa<strong>da</strong> <strong>de</strong>maneira a que o os computadores sejam usados <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma perspectivainteracionista, e não simplesmente conteudista. Por exemplo, segundo Cysneiros (2000),certos arranjos dos computadores são preferidos por facilitar que o alu<strong>no</strong> copie para ocomputador o que o professor escreve <strong>no</strong> quadro, tornando mais cômodo para esteadotar uma postura tradicional <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>.


58Foi bastante senti<strong>da</strong> a utilização <strong>da</strong> Internet por parte dos entrevistados, bemcomo <strong>de</strong> alguns softwares específicos, como o Mo<strong>de</strong>llus e o Aulanet, e <strong>de</strong> applets Java eanimações Flash. Infelizmente, por não se ter uma idéia prévia <strong>da</strong> riqueza <strong>da</strong>sinformações que se po<strong>de</strong>ria conseguir, não foram explora<strong>da</strong>s nas entrevistas asconcepções e os conhecimentos dos professores quanto ao software utilizado. O uso <strong>da</strong>Internet como fonte <strong>de</strong> pesquisa é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para alguns professores, aponto <strong>de</strong> o tempo gasto nessa ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> atrapalhar o seu lazer. Já o uso <strong>de</strong> aplicaçõesmais específicas parece ser mais esporádico, apesar <strong>de</strong> isto não ter ficado claro nas falas.Seria interessante em pesquisas posteriores a abor<strong>da</strong>gem <strong>de</strong>sta questão.Outro ponto que me parece claro a partir <strong>da</strong>s falas dos professoresentrevistados é a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> que seja leva<strong>da</strong> em consi<strong>de</strong>ração na discussão ereflexão a respeito <strong>da</strong> entra<strong>da</strong> <strong>da</strong> informática na escola, a previsão <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong>manutenção dos equipamentos e <strong>da</strong> infra-estrutura física. O caráter dinâmico domercado <strong>de</strong> computadores e software impõe essa exigência, já que esses equipamentospo<strong>de</strong>m apresentar <strong>de</strong>feitos e ficar obsoletos em um espaço <strong>de</strong> tempo relativamentecurto. Uma alternativa seria a assinatura <strong>de</strong> contratos <strong>de</strong> manutenção <strong>da</strong>s máquinas, e a<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> atualização <strong>de</strong>stas. Outra, viável para escolas <strong>de</strong> maiorporte, é a criação <strong>de</strong> um setor responsável pela manutenção e atualização dosequipamentos. É interessante frisar que, em qualquer um dos casos, <strong>de</strong>ve-se evitar que opo<strong>de</strong>r <strong>de</strong>cisório fique nas mãos <strong>de</strong> uma única pessoa ou <strong>de</strong> um grupo específico (osprofessores <strong>de</strong> informática, por exemplo). Também é preciso estar atento para que nãohaja uma gran<strong>de</strong> dispari<strong>da</strong><strong>de</strong> técnica entre os equipamentos disponíveis <strong>no</strong>slaboratórios. Se <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um laboratório existirem algumas máquinas muito maisrápi<strong>da</strong>s, mo<strong>de</strong>rnas ou equipa<strong>da</strong>s do que outras, corre-se o risco <strong>de</strong> criar umadiscriminação caso alguns alu<strong>no</strong>s (ou mesmo professores) sintam-se <strong>no</strong> direito <strong>de</strong> usaras melhores máquinas por qualquer critério.Assim como é necessária a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> uma política <strong>de</strong> atualização econservação <strong>da</strong> parte material, os recursos huma<strong>no</strong>s não <strong>de</strong>vem ser relegados a umpla<strong>no</strong> me<strong>no</strong>s importante. De na<strong>da</strong> adianta os equipamentos, laboratórios e softwares <strong>da</strong>escola serem a<strong>de</strong>quados, se os professores não estiverem aptos a utilizá-los. Éimprescindível que os professores tenham as condições e o incentivo necessários paraatualizar-se, seja com a participação em cursos, encontros, e discussões <strong>da</strong> própriacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. Também não se po<strong>de</strong> incorrer <strong>no</strong> erro <strong>de</strong> criar as condições para que os


59professores qualifiquem-se na área técnica (fazendo cursos <strong>de</strong> informática, porexemplo) em <strong>de</strong>trimento <strong>da</strong> dimensão pe<strong>da</strong>gógica, ou vice-versa. De pouco adianta parao uso proveitoso <strong>da</strong> informática educativa, por exemplo, um professor com pósgraduaçãoem educação que não saiba o mínimo <strong>da</strong> utilização <strong>de</strong> um computador, ouum profissional que domine o uso <strong>de</strong> vários aplicativos e linguagens <strong>de</strong> programação,mas que não tenha formação pe<strong>da</strong>gógica a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>.As discussões interna e externa visando a troca <strong>de</strong> experiências, são ocaminho mais simples para obter um avanço pe<strong>da</strong>gógico, seja pela informáticaeducativa ou não. Em muitos casos, basta não criar empecilhos às iniciativas dospróprios professores, e estes buscarão <strong>no</strong>vas experiências e recursos pe<strong>da</strong>gógicos, mas oi<strong>de</strong>al é manter um programa <strong>de</strong> incentivo e motivação à busca <strong>de</strong> aperfeiçoamento pelosprofessores. Um exemplo é procurar não “punir” os professores que vão a encontros <strong>de</strong>Educação, obrigando-os ao cumprimento <strong>de</strong> horas <strong>de</strong> trabalho fora <strong>de</strong> seu horário,conforme relatado em uma <strong>da</strong>s entrevistas realiza<strong>da</strong>s. A escola <strong>de</strong>ve prever substituiçõesnesses casos, já que este “pagamento <strong>de</strong> horas” inviabiliza as iniciativas <strong>de</strong> muitosprofessores.Também sinto a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> ser revisto o conceito <strong>de</strong> laboratório <strong>de</strong>informática. O fato <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong> informática na Educação ocorrer em um local quenão a própria sala <strong>de</strong> aula tem algumas conseqüências que por vezes são ig<strong>no</strong>ra<strong>da</strong>s. Porexemplo, o alu<strong>no</strong> po<strong>de</strong> ficar com a impressão <strong>de</strong> tratar-se <strong>de</strong> um momento <strong>de</strong> recreação,e não uma parte <strong>da</strong> aula. Também o fato <strong>de</strong> necessitar <strong>de</strong>slocar a turma <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aulaaté o laboratório po<strong>de</strong> impor um obstáculo às iniciativas do professor: <strong>no</strong>rmalmente nãose utiliza um período inteiro com ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>no</strong> computador, o que gera uma per<strong>da</strong> naadministração do tempo, já curto na maioria dos casos. Uma alternativa seria <strong>de</strong>slocar aturma por alguns minutos para o laboratório, retornando a seguir para a sala <strong>de</strong> aula,mas esse procedimento, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong>s características <strong>da</strong> escola, po<strong>de</strong> ser inviável.Outra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> é usar o laboratório <strong>de</strong> informática para ministrar conteúdo <strong>da</strong>maneira convencional, usando os computadores quando necessário. Porém, na atualestrutura comum aos laboratórios, os alu<strong>no</strong>s estariam todo o tempo em frente aoscomputadores, o que permitiria que se distraíssem acessando a Internet, por exemplo.Esta distração foi frisa<strong>da</strong> por mais <strong>de</strong> um professor entrevistado. Uma solução i<strong>de</strong>al,mas ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> difícil implantação por causa dos elevados custos é a utilização <strong>de</strong>computadores portáteis (laptops), idéia que é <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> por Cysneiros (2000).


60Assim, minha idéia é que se pense em disponibilizar a informática na escolanão com a criação <strong>de</strong> laboratórios específicos, mas com a implantação <strong>de</strong> computadores<strong>de</strong>ntro do atual espaço <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula. Assim, a utilização <strong>de</strong> um software <strong>de</strong> simulação,por exemplo, não seria um acontecimento extraordinário, mas uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> comum aoensi<strong>no</strong>, como assistir a uma exposição oral do professor ou resolver exercícios. O alu<strong>no</strong><strong>de</strong>ve, <strong>no</strong> caso, ter a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>, <strong>no</strong>s momentos a<strong>de</strong>quados, <strong>de</strong>slocar-se pela sala <strong>de</strong>aula, <strong>de</strong> sua carteira para o computador, ou até mesmo banca<strong>da</strong>s para experimentos ouuma estante <strong>de</strong> livros. Não é sequer necessário um número elevado <strong>de</strong> computadores, jáque não há obrigatorie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> os alu<strong>no</strong>s usarem-<strong>no</strong>s todos ao mesmo tempo. Três ouquatro computadores já seriam muito úteis nessa perspectiva.Claro que este ambiente <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula informatiza<strong>da</strong> ain<strong>da</strong> está longe <strong>de</strong>ser fácil <strong>de</strong> implantar na maioria <strong>da</strong>s escolas públicas, já que a sala <strong>de</strong> aula teria <strong>de</strong> sertranca<strong>da</strong> e utiliza<strong>da</strong> pelo me<strong>no</strong>r número possível <strong>de</strong> estu<strong>da</strong>ntes, para que haja umcontrole dos relativamente frágeis equipamentos <strong>de</strong> elevado valor financeiro. Essasdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, porém, não são impossíveis <strong>de</strong> ser contorna<strong>da</strong>s se realmente houver umcomprometimento por parte <strong>da</strong> direção e gover<strong>no</strong> com a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensi<strong>no</strong>.Finalmente, é importante salientar a posição do professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong> nestemomento. As falas dos entrevistados são muitas vezes conflitantes, <strong>de</strong>monstrando aomesmo tempo o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> re<strong>no</strong>var sua prática, transformando o ensi<strong>no</strong> que fazem emdireção a uma pe<strong>da</strong>gogia <strong>de</strong> construção crítica do conhecimento, e o apego a métodos evalores tradicionais. Esta aparente contradição não é difícil <strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong>, já que osprofessores <strong>de</strong> hoje são fruto do próprio sistema educacional ao qual se integraram. Nãose po<strong>de</strong> querer que pessoas que foram estu<strong>da</strong>ntes por quinze a<strong>no</strong>s ou mais apren<strong>de</strong>ndo amemorizar, repetir e reproduzir tornem-se professores com uma prática totalmentediferente disso em alguns a<strong>no</strong>s.Mesmo aqueles que pensam, discutem e estu<strong>da</strong>m a educação em umparadigma <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> conhecimento, dificilmente tiveram experiências concretasem sala <strong>de</strong> aula sob esta ótica. Assim, não é <strong>de</strong> se estranhar que queiram ser i<strong>no</strong>vadoresmas sejam na maioria do tempo tradicionais. Ninguém lhes disse ou vai lhes dizer comoexatamente <strong>de</strong>vem trabalhar, passo a passo. Esta transformação <strong>de</strong>ve ocorrergradualmente, ao longo <strong>da</strong> prática educativa reflexiva e crítica. Inclusive é por isso queuso o termo transformação e não mu<strong>da</strong>nça: mu<strong>da</strong>nça dá a idéia <strong>de</strong> uma modificação


61radical, on<strong>de</strong> um sistema é <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> lado e substituído por outro; já transformação<strong>de</strong><strong>no</strong>ta um processo construído ao longo do tempo.Sei que este trabalho provocou em mim uma transformação: não sou mais oprofessor e o pesquisador que era ao iniciá-lo. Minha visão <strong>da</strong> prática docente não émais basea<strong>da</strong> <strong>no</strong>s mesmos conceitos que antes, e embora não seja radicalmentediferente, não é mais a mesma. Espero que seja melhor hoje, assim como espero que <strong>no</strong>futuro seja melhor do que neste momento. A <strong>no</strong>ção que hoje tenho sobre o uso <strong>da</strong>informática e <strong>de</strong> outros recursos para as minhas aulas <strong>de</strong> <strong>Física</strong> é bem mais amadureci<strong>da</strong>do que há dois a<strong>no</strong>s atrás. Tenho consciência <strong>de</strong> alguns pontos que antes ig<strong>no</strong>rava,como o fato <strong>de</strong> que a presença do computador <strong>no</strong> ambiente escolar é apenas o primeiropasso para uma mu<strong>da</strong>nça na educação auxilia<strong>da</strong> pelas <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias, e anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> todo professor manter-se em constante processo <strong>de</strong> aprendizado. Não seiao certo se este amadurecimento irá refletir-se um uma mu<strong>da</strong>nça visível e imediata emminhas ações, já que também me consi<strong>de</strong>ro envolvido <strong>no</strong> paradoxo <strong>de</strong> querer uma <strong>no</strong>vaEducação tendo sido criado na “velha”, mas sei que fiquei com o germe <strong>de</strong>ssatransformação. Se o leitor sentir que causei ou fortaleci essa semente <strong>de</strong> transformaçãonele, então esta pesquisa e este trabalho terão valido a pena.A principal dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> que encontrei ao realizar esta pesquisa foi naprocura <strong>de</strong> informações relativas à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> Educativa em sala <strong>de</strong> aulado ensi<strong>no</strong> médio, já que não são comuns textos com essas informações. Também sentique faltou ter encontrado uma teoria <strong>de</strong> educação que eu pu<strong>de</strong>sse aplicar ao tema, sendoesse fato fun<strong>da</strong>mental para a opção por um trabalho mais empírico do que teórico.Assim, ele po<strong>de</strong> <strong>da</strong>r alguma colaboração a futuras pesquisas que busquem umaabor<strong>da</strong>gem mais teórica dos aspectos relativos a este tema, ou a estudos exploratóriosquantitativos que procurem <strong>da</strong>dos mais amplos e que possibilitem alguma possívelgeneralização. Desta forma, com a realização <strong>de</strong> pesquisas que complementem-se entresi, <strong>no</strong>ssa compreensão sobre o uso <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> po<strong>de</strong> ser maiscompleta, abrangente e profun<strong>da</strong>.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICASBONILLA, Maria Helena S. Concepções do <strong>Uso</strong> do Computador na Educação. Espaços<strong>da</strong> Escola, A<strong>no</strong> 4, No. 18 (59-68). Ijuí: 1995BRANDÃO, E<strong>de</strong>milson Jorge Ramos. Construção <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> avaliação <strong>de</strong> softwareeducacional. Seminário <strong>de</strong> Pesquisa em Educação <strong>da</strong> Região Sul.Florianópolis: 1998BRIZZI, Maristela Luisa Stolz. A Educação em <strong>Física</strong> Media<strong>da</strong> pelo Computador.Dissertação <strong>de</strong> Mestrado. UNIJUÍ. Ijuí: 2000CAVALCANTE, Marisa Almei<strong>da</strong>, e TAVOLARO, Cristiane R. C. Projete VocêMesmo Experimentos Assistidos por Computador: Construindo Sensores eAnalisando Dados. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, vol. 22, n. 3(421-425). São Paulo: 2000CAVALCANTE, Marisa Almei<strong>da</strong>, PIFFER, An<strong>de</strong>rson e NAKAMURA, Patrícia. O <strong>Uso</strong><strong>da</strong> Internet na Compreensão <strong>de</strong> Temas <strong>de</strong> <strong>Física</strong> Mo<strong>de</strong>rna para o Ensi<strong>no</strong><strong>Médio</strong>. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, vol. 23, n. 1 (108-112). SãoPaulo: 2001CHAVES, Eduardo O. C. Tec<strong>no</strong>logia na Educação. Acessado em 15/02/2002.http://www.chaves.com.br/TEXTSELF/EDTECH/tecned2.htmCYSNEIROS, Paulo G. Novas Tec<strong>no</strong>logias <strong>no</strong> Cotidia<strong>no</strong> <strong>da</strong> Escola. ANPED, 23 a .reunião anual, Anais 2000. Caxambu: 2000FARIA, Elaine Turk. O professor e as Novas Tec<strong>no</strong>logias. In: Ser Professor. PortoAlegre, EDIPUCRS. Porto Alegre: 2001KENSKI, Vani .M. O papel do professor na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> digital. In: CASTRO, A.D. eCARVALHO, A.M.P. (Org.) Ensinar a ensinar: Didática para a escolafun<strong>da</strong>mental e média. São Paulo: Thomson Learning, 2001.LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em Educação: Abor<strong>da</strong>gensQualitativas. EPU. São Paulo: 1986MINAYO, Maria Cecília <strong>de</strong> Souza. O Desafio do Conhecimento – Pesquisa Qualitativaem Saú<strong>de</strong>. HUCITEC-ABRASCO. São Paulo/Rio <strong>de</strong> Janeiro: 1992


63MONTARROYOS, Erivaldo e MAGNO, Wictor C. Aquisição <strong>de</strong> Dados com a Placa <strong>de</strong>Som do Computador. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, vol. 23, n. 1(57-62). São Paulo: 2001MORAES, Maria Cândi<strong>da</strong>. <strong>Informática</strong> Educativa <strong>no</strong> Brasil: um pouco <strong>de</strong> história... EmAberto, a<strong>no</strong> 12, n.57. Brasília: 1993NOGUEIRA, José <strong>de</strong> Souza, RINALDI, Carlos FERREIRA, Josimar M. e PAULO,Sérgio R. <strong>de</strong>. Utilização do Computador como Instrumento <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong>: UmaPerspectiva <strong>de</strong> Aprendizagem Significativa. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, vol. 22, n. 4 (517-522). São Paulo: 2000OLIVEIRA, Ramon <strong>de</strong>. <strong>Informática</strong> Educativa: dos pla<strong>no</strong>s e discursos à sala <strong>de</strong> aula.Papirus. São Paulo: 1997PERRENOUD, Philippe. Ensinar: agir na urgência, <strong>de</strong>cidir na incerteza. ArtmedEditora. Porto Alegre: 2001REGISTRO, Erisaura L., SCAPIN, Rafael H. e MARENGA Jr., Eucly<strong>de</strong>s. Umaproposta <strong>de</strong> integração <strong>da</strong> Internet ao Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> do Curso <strong>Médio</strong> <strong>da</strong>sescolas <strong>da</strong> re<strong>de</strong> pública. Acessado em 26/05/2002.http://www.abed.org.br/antiga/htdocs/paper_visem/rafael_scapin/rafael_scapin.htmREZENDE, Flávia. As Novas Tec<strong>no</strong>logia na Prática Pe<strong>da</strong>gógica sob a PerspectivaConstrutivista. Ensaio, vol. 2, n. 1 (75-98), UFMG. Belo Horizonte: 2000ROCHA, Ana Regina e CAMPOS, Gil<strong>da</strong> H Bernardi<strong>no</strong>. Avaliação <strong>da</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>software educacional. Em Aberto, a<strong>no</strong> 12, n.57. Brasília: 1993ROSA, Paulo Ricardo <strong>da</strong> Silva. O <strong>Uso</strong> <strong>de</strong> Computadores <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. Parte I:Potenciali<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>Uso</strong> Real. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, vol.17,<strong>no</strong>. 2 (182-195). São Paulo: 1995SANTOS, Arion <strong>de</strong> Castro Kurtz. Introdução à Mo<strong>de</strong>lagem Computacional naEducação. Editora <strong>da</strong> FURG. Rio Gran<strong>de</strong>: 1994SAMPAIO, Fabio Ferrentini, SANTOS, Arion <strong>de</strong> Castro Kurtz e FERRACIOLI,Laércio. Semi-Quantitative Computer Mo<strong>de</strong>lling and Classroom Science.International Conference on Mathematics/Science Education & Tech<strong>no</strong>logyElectronic version of paper presented at M/SET99 Conference in Compact


Disc, pages 513 to 518. Association for the Advancement of Computing inEducation. Charlottesville, VA: 199964VALENTE, José Armando. Diferentes usos do computador na Educação. Em Aberto,A<strong>no</strong> 12, <strong>no</strong>. 57 (3-16). Brasília: 1993_______________. Visão analítica <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação <strong>no</strong> Brasil: a questão <strong>da</strong>formação do professor. Revista Brasileira <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, N o1. Florianópolis: 1997_______________. <strong>Informática</strong> na Educação: uma questão técnica ou pe<strong>da</strong>gógica?Pátio, A<strong>no</strong> 3, N o 9 (21-23). Porto Alegre: 1999VITALE, Bru<strong>no</strong>. Computador na Escola: Um Brinquedo a Mais? Ciência Hoje, Vol. 13,<strong>no</strong>. 77 (19-25). Florianópolis: 1991


ANEXO 1 – ENTREVISTA COM O PROFESSOR 1Ao ser questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> informática<strong>da</strong>(s) escola(s) on<strong>de</strong> trabalha e do seu uso do computador, o entrevistadorespon<strong>de</strong>u:Lá na escola, eu acho que como na maioria, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> informática émeio centra<strong>da</strong> <strong>no</strong> laboratório <strong>de</strong> informática, pois os professores <strong>de</strong> informática pareceque têm mais o controle dos computadores. Existem computadores nas coor<strong>de</strong>nadorias,para uso dos professores e aqueles professores que têm algum interesse ficam maisfazendo uso dos computadores, mas o uso <strong>da</strong> informática mesmo ain<strong>da</strong> está muito <strong>no</strong>domínio do laboratório, centrado naquele técnico em informática e isso faz com que oalu<strong>no</strong> não tenha acesso fora <strong>da</strong>quele horário <strong>da</strong> aula <strong>de</strong> informática, pelo número <strong>de</strong>alu<strong>no</strong>s bastante gran<strong>de</strong>. Isso dificulta para a gente fazer a elaboração <strong>de</strong> uma aula <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> informática. Os professores po<strong>de</strong>m marcar horários, mas o fazemmuito raramente por causa <strong>da</strong> disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos laboratórios. Pelo número <strong>de</strong> turmasgran<strong>de</strong>, então quando tu chegas lá para marcar, não po<strong>de</strong>s, nesse horário eles vão teraula <strong>de</strong> informática. Mas a aula que eles têm é o uso do Word, o uso do Excel. Então,conseguir horários vagos para agen<strong>da</strong>r fica difícil. Fora do horário <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula,inclusive o alu<strong>no</strong> po<strong>de</strong> acessar esses laboratórios. Agen<strong>da</strong>ndo e tendo espaço, po<strong>de</strong>.Des<strong>de</strong> que fique o bolsista ali acompanhando, po<strong>de</strong>.Em relação à aquisição <strong>de</strong> computadores, nós temos, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>coor<strong>de</strong>nadoria dos professores <strong>de</strong> ciências, um coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> área física. Então osprofessores solicitam para esse coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> área física e ele faz o pedido. Assimcomo na área <strong>de</strong> ciências, nas outras áreas também. Agora, a priori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qual pedidovai ser beneficiado, aí é uma questão lá do planejamento e então não chega a ter umainterferência direta, assim “queremos tal máquina, tal coisa, com tal capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>”, não ébem assim. Po<strong>de</strong> ser pedido, se a escola tem dinheiro ela dá, se não tem não dá. E sealguma coor<strong>de</strong>nadoria está com mais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, eles priorizam aquela.As máquinas do setor <strong>de</strong> informática são exclusivamente <strong>de</strong>les, <strong>de</strong>cisão<strong>de</strong>les. Nós não interferimos em na<strong>da</strong>. Inclusive, lá na escola, eles fizeram umaatroci<strong>da</strong><strong>de</strong>: tinha computadores na biblioteca, sempre conectados em re<strong>de</strong>, os alu<strong>no</strong>siam para lá, para fazer qualquer coisa lá. Aí, como alguns alu<strong>no</strong>s estiveram acessando efazendo compras pela Internet, em vez <strong>de</strong> eles criarem uma segurança, ca<strong>da</strong> um teriauma senha, não, eles tiraram os computadores <strong>da</strong> biblioteca. Então, o pessoal <strong>da</strong>informática, eu acho que teve uma atitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> retrocesso, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> eles disponibilizaremuma coisa para os alu<strong>no</strong>s, eles tiraram. Agora o alu<strong>no</strong> só tem o laboratório <strong>de</strong>informática para usar. E nesses laboratórios, a <strong>de</strong>cisão to<strong>da</strong> é do coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong>informática. Até acontece o seguinte, esse semestre aconteceu bastante: passavamtrabalhos para os alu<strong>no</strong>s. Em cursos técnicos, ou alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> segundo, terceiro a<strong>no</strong> domédio, passavam, pediam trabalhos digitados, os alu<strong>no</strong>s faziam tudo direitinho, nãotinha on<strong>de</strong> imprimir. Então eles vinham com as folhas, e o laboratório <strong>de</strong> informáticanão permitia que eles imprimissem lá. Porque gastaria toner... Aí, isso então é umproblema <strong>de</strong> estrutura <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>. Porque a partir do momento em que os professorespassam a usar uma <strong>no</strong>va metodologia, a escola tem que disponibilizar aquilo ali. Osalu<strong>no</strong>s não têm computador em casa, porque o <strong>no</strong>sso alu<strong>no</strong> é mais carente, aí to<strong>da</strong> horaiam lá na <strong>no</strong>ssa coor<strong>de</strong>nadoria. Alu<strong>no</strong>s que tinham sido <strong>no</strong>ssos, pedindo: “professor,<strong>de</strong>ixa eu imprimir isso aqui”, e tal. Então tu ficavas com pena e imprimias. Só que <strong>da</strong>quia pouco <strong>no</strong>sso toner termina, aí o <strong>no</strong>sso coor<strong>de</strong>nador <strong>de</strong> área física não conseguecomprar. Então eu até coloquei isso na reunião, isso aí eu acho que tem que ser


66encaminhado, para mu<strong>da</strong>r a estrutura <strong>de</strong> funcionamento <strong>da</strong>quilo lá. Limita o número <strong>de</strong>cópias por alu<strong>no</strong>, para permitir que os alu<strong>no</strong>s possam usar.Eu uso computador em casa, bastante, e na escola também. Sempre que eutenho um tempinho disponível eu uso bastante. Eu organizo assim, eu tanto uso para meconectar na Internet, me atualizar, como para organizar meu material. Então eu tenhomaterial <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> minha pasta, dos meus arquivos, eu tenho ali separado por assuntos,tenho eles separados por item <strong>da</strong> <strong>Física</strong>, eu tenho com assuntos relacionados com areforma pe<strong>da</strong>gógica, e quando eu visito algum site interessante, com algum material queeu acho que vai ser importante. Eu não me consi<strong>de</strong>ro uma pessoa muito organiza<strong>da</strong>, maso computador me aju<strong>da</strong> a ser uma pessoa organiza<strong>da</strong>.Ao ser questionado sobre os possíveis usos <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Já <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> eu não uso, porque até os alu<strong>no</strong>s não têmdisponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> computador. Só usei uma vez, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nadoria, então o queeu fazia? Eu separava os alu<strong>no</strong>s em grupos, nós íamos lá, em grupos <strong>de</strong> seis, euapresentava uma simulação do fenôme<strong>no</strong> e a partir <strong>da</strong> simulação então nós voltávamospara a sala <strong>de</strong> aula, era on<strong>da</strong> estacionária. Foi a única oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>u para euusar. Ca<strong>da</strong> vez mais eu me conscientizo que tu tens que usar o computador. É muitomais interativo, é muito mais atrativo.Para usar <strong>de</strong> outras formas, eu acho que <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tema, por exemplo,se eu fosse falar sobre <strong>de</strong>terminado assunto, eu levaria já alguns sites on<strong>de</strong> elespo<strong>de</strong>riam visitar. Aí, visitando esses sites eles leriam sobre o assunto, e chegariam àsconclusões que eu conduziria, pertinente àquilo que a gente está trabalhando. Porexemplo, se eu fosse trabalhar com on<strong>da</strong>s infravermelhas, não ficar restrito só a falarnuma on<strong>da</strong> eletromagnética, <strong>de</strong> freqüência tal, assim assado, enten<strong>de</strong>ste? É uma coisamais ári<strong>da</strong>. Então, numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> aula, eles iriam para o computador, conectavamaquele site, por exemplo um site que dá as radiações <strong>de</strong> um satélite, que capta on<strong>da</strong>sinfravermelhas, que mostra as queima<strong>da</strong>s, que tem sites disso aí, então eles veriam umaaplicação <strong>de</strong> satélites que captam aquele tipo <strong>de</strong> on<strong>da</strong> que tu estás vendo, sócaracterizando pela freqüência <strong>de</strong>le, pelo comprimento <strong>de</strong> on<strong>da</strong> <strong>de</strong>le, e aí tu po<strong>de</strong>rias jáfazer uma aplicação do uso <strong>da</strong> <strong>Física</strong> numa questão <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, então eles veriam aimportância <strong>da</strong> <strong>Física</strong> diretamente aplica<strong>da</strong> ali. Eu acho que uma <strong>da</strong>s idéias seria essa.Mas aí eu aproveitaria para fazer uma aula conjunta, por exemplo, com aprofessora <strong>de</strong> geografia, <strong>de</strong> sociologia, e abor<strong>da</strong>r uma coisa bem mais ampla. Eu achoque o caminho é esse, sem dúvi<strong>da</strong>.Também po<strong>de</strong>ria usar para eles mesmos fazerem registro, usar como editor<strong>de</strong> texto, usar Excel para tabular <strong>da</strong>dos <strong>de</strong> pesquisas que ele possa fazer. Das vezes em oassunto não tem, por exemplo, como pegar um site na Internet, mas se tu <strong>de</strong>senvolveresum projeto durante o a<strong>no</strong> e <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong> eles teriam que fazer uma apresentação <strong>de</strong>sseprojeto, então tabulariam <strong>da</strong>dos, apren<strong>de</strong>riam estatística, apren<strong>de</strong>riam a usar o Excel,mas <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos que eles estariam trabalhando, e <strong>de</strong>pois PowerPoint para fazer, <strong>no</strong>final do a<strong>no</strong> uma apresentação como se fosse mesmo uma coisa valendo, um simpósio,um encontro. O alu<strong>no</strong> já se preparararia para uma etapa mais na frente, pois ele teriacondições, e utilizaria o computador então como recurso. Eu acho que o que me ocorre,o que eu penso, seria por aí. Com simulações, interativas ou não, com sites e comoferramenta para as pesquisas que eles teriam que fazer.Eu acho que o mais proveitoso é o uso para visitas <strong>de</strong> sites. Porque ali évariado. Motiva mais, o alu<strong>no</strong> visita um, visita outro. E até tu ensinar ele a fazer umapesquisa através <strong>da</strong> Internet. Tu não vais só ensinares ele a copiar e colar, copiar e colar.


67Tu <strong>da</strong>rias uma gama <strong>de</strong> oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s para ele ler, selecionar o que é bom e o que não é,pois tem ver<strong>da</strong><strong>de</strong> e o que não é, pois a gente sabe que tem muita inver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então,trabalhar esse aspecto, que nem tudo que tu vês é o que é real. Eu acho que é o que maisamadurece, trabalha melhor com a comunicação.Como simulação, eu acho que também tem gran<strong>de</strong>s proveitos, porque elevê. Ele vê bastante. A experiência em sala <strong>de</strong> aula, sem o uso <strong>da</strong> computação, ela éváli<strong>da</strong>, porque ele também grava, eu acho importante. Mas acontece que ela <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong>uma série <strong>de</strong> fatores para <strong>da</strong>r certo na hora. Aí se não dá, tu ficas tendo que ajeitar,porque tinha que ter <strong>da</strong>do um <strong>da</strong>do assim, um <strong>da</strong>do assado... E <strong>no</strong> computador ele vê, epo<strong>de</strong> acessar quantas vezes ele quiser. Se ele quiser ir lá para reforçar, vamos alterar<strong>da</strong>dos aqui, para ver o que acontece. Eu acho mais rico. Uma experiência em sala <strong>de</strong>aula termina ali, <strong>no</strong> momento <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula. No computador não.Ao ser questionado sobre seu conhecimento <strong>de</strong> projetos oficiais quevisem a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, incluindo o projeto EDUCOM,o entrevistado respon<strong>de</strong>u:O projeto que eu tenho conhecimento é esse que eu estou participando, queé um projeto do MEC, na montagem <strong>da</strong>s salas ambiente, com duas finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s: Para uso<strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médio, e com uso, posteriormente, <strong>no</strong>s cursos <strong>de</strong> licenciatura. Então, o que oMEC quer com isso aí? Ele quer se mo<strong>de</strong>rnizar, ele sabe que a Educação está estagna<strong>da</strong>,está mu<strong>da</strong>ndo. E os professores também têm uma capacitação completamente diferentedo que eles estão sendo obrigados a <strong>da</strong>r. Então, se tu fizeres um curso <strong>de</strong> licenciatura jácom uso, ali <strong>de</strong>ntro, já usando essa <strong>no</strong>va metodologia, já usando a informática, jáusando uma <strong>no</strong>va ferramenta, ele vai ser um professor que vai usar <strong>no</strong>vas ferramentastambém. Então, o único projeto governamental que eu estou participando é esse aí. Etambém eles querem <strong>de</strong>pois que, por exemplo, <strong>de</strong>pois que os professores estiverem bempreparados, com esse <strong>no</strong>vo método, tu possas oferecer oficinas para a re<strong>de</strong> estadual, e aío gover<strong>no</strong> fe<strong>de</strong>ral auxilia a re<strong>de</strong> estadual nesse aspecto aí.Não conheço o projeto EDUCOM.Ao ser questionado sobre suas opiniões a respeito dos ambientescomputacionais-educacionais atuais, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Não são a<strong>de</strong>quados. Eu estou falando <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que eu conheço. Então euconheço a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> lá <strong>da</strong> minha escola, on<strong>de</strong> o uso é restrito para apren<strong>de</strong>r a usar<strong>de</strong>terminados programas. O alu<strong>no</strong> vai sair usando Word e o Excel. O alu<strong>no</strong> do cursotécnico, vai saber usar, por exemplo, o autocad. Tudo bem, é válido, porque ele vaiprecisar disso aí para <strong>de</strong>ntro do curso. Mas eu sempre acho ruim porque ele é restrito,fechado, o horário é fechado. E aí não traz vantagem. Se o alu<strong>no</strong> tiver mais aberturapara ir a hora que ele quer, o alu<strong>no</strong> fica mais tempo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, e ficaria maisinteressado. Com certeza. Então, <strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s que está agora, eu acho que estácompletamente errado.Em relação ao ambiente físico em si eu acho pouco. Nessa viagem que eufiz lá <strong>no</strong>s Estados Unidos, o que eu mais me encantei, é que muitas aulas eu vi serem<strong>da</strong><strong>da</strong>s na biblioteca. Escolas que... Porque essa proposta <strong>da</strong>s salas ambiente, não é que agente fosse lá e visse uma sala ambiente <strong>no</strong>s mol<strong>de</strong>s que a gente está propondo agora. Agente viu alguns recursos que eles usavam, e aí então se partiu para montar aqui umacoisa melhor, não vai copiar tal e qual.E algumas escolas que não tinham salas ambiente, informatiza<strong>da</strong>s, era muitocomum, o professor ia para <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> biblioteca, lá os alu<strong>no</strong>s tinham scanner, câmera,impressora, e ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong> tinha então uma senha, ele podia entrar lá a hora que ele


68quisesse, fazer o que bem enten<strong>de</strong>sse, e era tudo muito natural aquilo para eles, tantoque eles não entravam gritando, eles, cui<strong>da</strong>vam do material, mas aquilo ali eradisponível. A aula <strong>de</strong>les terminava às três <strong>da</strong> tar<strong>de</strong>, mas se eles tivessem trabalho parafazer eles podiam ficar fazendo lá <strong>de</strong>ntro. Então eu acho que o oferecimento do recursosó traz benefícios. Na escola, eu não vejo assim. Eu vejo o laboratório, eu passo àsvezes pelo laboratório <strong>de</strong> informática e ele está fechado, porque não tem um bolsistapara acompanhar o alu<strong>no</strong> ali naquele momento. Então não po<strong>de</strong> usar.Quanto ao mobiliário, eu não acho a<strong>de</strong>quado, porque o laboratório <strong>de</strong>informática tem espaço para o computador, ele não tem espaço para fazer uma a<strong>no</strong>tação,para fazer um registro, para girar <strong>no</strong> momento que o professor está <strong>da</strong>ndo umaorientação. Então eu acho que ele é utilizado só para o alu<strong>no</strong> ficar <strong>de</strong> frente para ocomputador. Não é também só por aí, ele tem o computador, mas tem o orientador, aífora.Acho que o que leva esse ambiente a ser assim, só voltado para ocomputador, é aquela idéia <strong>de</strong> que informática é só informática. É só o computador queme interessa ali. É só o manuseio <strong>de</strong>le. E não o manuseio <strong>de</strong>le para outras coisas. Essasala ambiente que a gente está propondo para a escola, que até já veio o recurso, ela éuma sala assim, que tem a parte <strong>de</strong> informática e <strong>no</strong> meio tem banca<strong>da</strong>s móveis, quepo<strong>de</strong>m ser monta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> acordo com o que tu queres fazer. E bancos, ca<strong>de</strong>irinha comrodízio. Tanto tu montas grupos, tu po<strong>de</strong>s fazer trabalho em grupo, discutir, redigir ouexperimentar na prática, se tu quiseres, como tu po<strong>de</strong>s <strong>de</strong>slocar as ca<strong>de</strong>iras para asbanca<strong>da</strong>s, que estão na volta, assessorando, aí vais para as banca<strong>da</strong>s, pesquisas o que tuqueres, arrumas o que tu queres, digitas, registras, e voltas para o meio <strong>da</strong> sala. Aí tem oquadro, on<strong>de</strong> o professor po<strong>de</strong> fazer uso do quadro, tu tens o vi<strong>de</strong>ocassete, tu tensretroprojetor, que até a gente está pedindo essas calculadoras gráficas, que são umatec<strong>no</strong>logia bem mais avança<strong>da</strong>. E aí <strong>no</strong> momento que ele está fazendo uma pesquisa equer mostrar ali, como é que tu registras os <strong>da</strong>dos, ele bota uma telinha em cima doretroprojetor e vai projetando lá. Não precisa ficar só restrito ao uso do quadro. Então,ela tem uma multifunção ali. Mas não é puramente informática.Já <strong>no</strong>s laboratórios <strong>de</strong> uso geral, talvez até uma banca<strong>da</strong> melhor para oprofessor, para ele fazer uma simulação, os alu<strong>no</strong>s fazerem registros. Alguns programasestatísticos, para eles fazerem, já terem uma <strong>no</strong>ção <strong>de</strong> um experimentos, sobre <strong>da</strong>dos,levantamento <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos, eu acho que teria que ter scanner, porque às vezes tu pe<strong>de</strong>salgum trabalho. Eu acho que o professor <strong>de</strong> informática, ele <strong>de</strong>veria ser mais umprofessor <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia do que só <strong>de</strong> informática. Ele teria que estar totalmenteintegrado com as disciplinas <strong>da</strong>quele a<strong>no</strong> que ele está trabalhando, para saber o que eletem que abor<strong>da</strong>r mais. O professor <strong>de</strong> informática tem que fazer parte <strong>da</strong>s reuniões,junto. Olha, o que tu vais trabalhar? O que tu vais precisar <strong>de</strong> mim? E aí aju<strong>da</strong>r até amontar alguma coisa com o computador. Porque o professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong> não sabe isso aí,quem sabe é o <strong>de</strong> informática. Eu acho que <strong>de</strong>veria haver uma integração maior. Talvezaté um laboratório <strong>de</strong> informática junto, em ca<strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nação, para ca<strong>da</strong> disciplina,seria o i<strong>de</strong>al.Ao ser questionado sobre a formação <strong>de</strong> professores para o uso <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na Educação, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eles não têm. Atualmente, tu não vês quase. Os cursos <strong>de</strong> licenciatura sãototalmente acadêmicos. Determinados conteúdos são vistos <strong>de</strong> cabo a rabo, aquela partedidática, escrevendo <strong>no</strong> quadro, o alu<strong>no</strong> sentando, baixando a cabeça e fazendoexercício. Eu acho que as licenciaturas, com to<strong>da</strong> a urgência, elas têm que se atualizar.É por isso que a Educação não mudou na<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>. Depen<strong>de</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça do professor.


69Então tem que oferecer alguma coisa para ele começar a se <strong>de</strong>sacomo<strong>da</strong>r. No momentoque ele começa a usar, ele fica mais interessado. No momento que o professor começa ausar o computador, aí a troca começa a ser maior. Então eu acho que tem que mu<strong>da</strong>r aslicenciaturas. E o que a gente sabe que não tem sido feito assim, até agora. Osprofessores estão acomo<strong>da</strong>dos. Eu não conheço nenhuma iniciativa para formarprofessores para o uso <strong>da</strong> informática educativa.Ao ser questionado sobre suas expectativas para o futuro <strong>da</strong>informática na Educação e sobre suas impressões gerais sobre o tema, oentrevistado respon<strong>de</strong>u:O que eu acho que está sendo feito equivoca<strong>da</strong>mente é que como elesquerem que tu mu<strong>de</strong>s, tudo mundo quer, os alu<strong>no</strong>s querem, os pais querem, o gover<strong>no</strong>quer. A mu<strong>da</strong>nça está sendo exigi<strong>da</strong> em todos os segmentos. Então, está sendo feitomeio atravessado. Tu tens que correr para te capacitar, mas as instituições não te dãodinheiro para te capacitar, e nem quase tempo nenhum. Porque, o que está acontecendohoje? Tu vais ver que o professor está ca<strong>da</strong> vez trabalhando mais. Se ele não está nainstituição, ele está <strong>da</strong>ndo aula particular, como é o meu caso. Está procurando unsbiquinhos <strong>da</strong>qui e <strong>da</strong>li, para ganhar mais. E aí aquele tempo que tu po<strong>de</strong>rias estar indoatrás <strong>de</strong> um curso, ou indo atrás <strong>de</strong> um congresso, ou alguma coisa, não tem. Então, elesestão fazendo às avessas. Eu não sei se, por exemplo, a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> gera a mu<strong>da</strong>nça ouse primeiro tu terias que mu<strong>da</strong>r para <strong>de</strong>pois ver as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Mas que eles tinhamque <strong>da</strong>r mais condições para capacitar os professores e motivá-los a mu<strong>da</strong>r, teriam. Umprofessor que recebesse melhor teria mais tempo para estu<strong>da</strong>r, <strong>de</strong> em casa estar se<strong>de</strong>dicando. Esses dias eu fui jantar com uns colegas e eles começaram a perguntar paramim, por que eu, lá para a escola particular que eu trabalho, eu estava sempreprocurando uma coisa, ou sugerindo outra, e lá para a outra escola também. “Mas o quetu estás ganhando a mais com isso? Qual é o horário que tu fazes isso?” Eu disse: Olha,aqui em casa eu levo muita bronca, porque eu estou sempre <strong>no</strong> computador, estousempre. Se eu tenho uma horinha disponível, já vou ali para o computador. Gasto o meudinheiro, que eu estou pagando Internet minha, porque é <strong>de</strong> madruga<strong>da</strong>, eu vou ali.Estou gastando meu dinheiro, estou per<strong>de</strong>ndo tempo <strong>de</strong> estar com a minha família. Paraquê? É porque eu já senti a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça. Tenho que me atualizar nisso aí,porque eu já vi que esse aí é o caminho. Mas a maioria <strong>da</strong>s pessoas, que já estão assimmais <strong>de</strong>sgostosas, ficam pensando: Mas por quê? Eu já estou tão mal, trabalho tanto,convivo pouco com a minha família, qual é a vantagem que eu tenho <strong>de</strong> conviver me<strong>no</strong>sain<strong>da</strong>? Para quê?Então aí eu acho que vai um pouquinho <strong>da</strong> realização pessoal que a gentequer. Mas que está atravessado, está. Porque as instituições, em parceria por exemplocom o MEC, ou com o Gover<strong>no</strong> do Estado, <strong>de</strong>veriam começar a proporcionar umacapacitação mais mo<strong>de</strong>rna, apresentar vantagens <strong>da</strong> tec<strong>no</strong>logia, por exemplo umapesquisa que nem essa que tu vais fazer: ela tem que ficar acessível, que muita gente lê.As pessoas têm que ter acesso, parece que não tem uma organização muito boa. Umapessoa <strong>de</strong>senvolve uma pesquisa <strong>de</strong> mestrado, e ela fica on<strong>de</strong>? Ela tem que estardisponível. Por exemplo, <strong>de</strong>ntro do site <strong>da</strong> instituição que tu trabalhas. Todo mundo quefez mestrado tem que ter as suas pesquisas ali disponíveis para a gente ter acesso. E nãotem aqui. Então se começa já pela própria instituição, por pouquinho que seja,disponibiliza isso, apresenta, divulga, o fula<strong>no</strong> chegou com um mestrado em tec<strong>no</strong>logia,com certeza vai ter gente que vai se interessar. E vai se <strong>de</strong>sacomo<strong>da</strong>r. Então eu acho quetem que ser por aí. A partir <strong>da</strong>s instituições começarem a provocar isso.


Eu acho, eu vou falar assim mais específico na <strong>Física</strong> que é on<strong>de</strong> eu estou,eu acho que a informática vai mu<strong>da</strong>r completamente o comportamento dos alu<strong>no</strong>s, oalu<strong>no</strong> não vai ver a <strong>Física</strong> como a maioria vê, como uma coisa enfadonha, como umconjunto <strong>de</strong> fórmulas que ele tem que <strong>de</strong>corar, e com certeza ele vai ter mais prazer emestu<strong>da</strong>r. Porque isso está inserido <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>le. Em casa eles usam computador,eles gostam <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia, eles gostam, eles têm tec<strong>no</strong>logia em to<strong>da</strong> a volta. Então,muito melhor, muito mais interessante vai se tornar com certeza. Estás usando umatec<strong>no</strong>logia que está na casa <strong>de</strong>le. Se tu não usar, ele sai <strong>de</strong> casa on<strong>de</strong> ele tem tudo que érecurso, chega na escola e senta numa ca<strong>de</strong>ira e tem que ficar <strong>no</strong>venta minutos, muitasvezes, quando é dobradinha, sentado quieto. Ele não agüenta. A gente não agüenta.Então eu acho que vai mu<strong>da</strong>r completamente o comportamento, com certeza.E a aprendizagem eu acho que é muito maior. Ela é mais visual, ela é meiolúdica até. Então isso aí facilitaria muito mais, com certeza. Tem gente que até diz “Mase o professor, como é que ele fica? Vai per<strong>de</strong>ndo espaço?” Sim, vai per<strong>de</strong>ndo o espaçotradicional, que ele tinha, <strong>de</strong> sabedor <strong>de</strong> tudo, lá. Mas ele vai ser um orientador, vaiselecionar a seqüência que vai ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>. Eu acho que ele não per<strong>de</strong> na<strong>da</strong>, só vaimu<strong>da</strong>r o papel um pouquinho. De transmissor <strong>de</strong> conhecimento para orientador. Nemvai se cansar tanto, eu acho. Aquele <strong>de</strong>sgaste, às vezes tu tens que <strong>da</strong>r mil e uma matériaem aula, que tu sais podre <strong>de</strong> cansado, não tem que ter mais.Eu acho que as políticas <strong>de</strong> <strong>Informática</strong> na Educação ain<strong>da</strong> estão muito<strong>de</strong>vagar. Tu vês <strong>de</strong> vez em quando <strong>no</strong>tícias que umas escolas receberam computador,mas eu acho que ain<strong>da</strong> está muito fraquinho. Até porque, muitas vezes, recebecomputador e o professor ain<strong>da</strong> não se preparou. Aí então ele vai lá e traz um professor<strong>de</strong> informática, restringe o uso e não aproveita todos os recursos que ele tem paraoferecer. Então, <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, eu volto para a mesma estória: está lento, mas a partir domomento que tu tens até um computador <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula, e um professorpreparado, ele vai tornar aquele um em um valor e<strong>no</strong>rme. Não é tanto pela quanti<strong>da</strong><strong>de</strong>,recebeu trinta computadores, mas está usando para quê? Para máquina <strong>de</strong> escrever?Acho que isso vai mu<strong>da</strong>r só quando houver capacitação dos professores paraorientar melhor. Eu acho que tem que sair por aí. Claro, que a cabeça dos dirigentes temque mu<strong>da</strong>r. Então é meio complicado, é meio complicado. Eu acho que uma direçãocomprometi<strong>da</strong> com uma melhoria é que vai forçar, é o que eu tava te dizendo, nessaescola particular que eu sei, ele está meio que forçando a coisa, ele obriga. Olha, oprograma é tal, mas tu tens que me apresentar um terço <strong>da</strong>s aulas na informática. Po<strong>de</strong>sair uma porcaria, mas <strong>de</strong>pois ele vai melhorar. Para alguma coisa vai servir, o professorvai sentir que está ficando ultrapassado. Que as coisas estão mu<strong>da</strong>ndo. Então eu achoque é pelo professor, sem dúvi<strong>da</strong>, e pelos dirigentes que começa.Também acho que <strong>de</strong>veria haver uma quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> maior <strong>de</strong> cursos durante oa<strong>no</strong> letivo, cursos relativos ao uso <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia, para os professores. Para po<strong>de</strong>remtrocar idéias. Porque <strong>no</strong> momento que se reúnem alguns professores, por exemplo, eufui a um, agora em Porto Alegre, on<strong>de</strong> veio uma <strong>da</strong>s professoras <strong>de</strong> Química lá dosEstados Unidos, que usa bastante essas calculadoras gráficas, o laboratório <strong>de</strong>la é todocom calculadoras gráficas. Foi fazendo aquelas experienciazinhas bem simples,medindo pH e outras coisas. Embora ela tenha <strong>da</strong>do algumas orientações <strong>de</strong> química,que a gente não apren<strong>de</strong>u porque não sabia nem ligar a calculadora. Mas o que eu acheimais interessante é que embora ela estivesse <strong>da</strong>ndo aquela palestra e explicando como éque era, aquela função, com tradução, o que era mais interessante é que quando <strong>da</strong>va ointervalinho para o café, ali, um ou outro conversava, “O que tu estás fazendo?”, “Ah,eu estou fazendo tal coisa”, e a troca que se propiciava ali <strong>de</strong> experiências, o que um70


estava fazendo, o que o outro estava fazendo, para mim foi mais rica do que o que seouviu.Porque tu <strong>no</strong>tas que as pessoas têm um monte <strong>de</strong> idéias boas, tem um monte<strong>de</strong> gente boa por aí, mas não têm oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> divulgar. Não sei se é pelo tamanhogeográfico do país, mas espera aí, a gente está na era <strong>da</strong> comunicação, não está? Então,eu vi que assim, “tu me man<strong>da</strong> o teu projeto, para eu ver como é que tu estás fazendo, oque tu estás usando”. Eu acho que se propiciassem encontros, por exemplo um encontro<strong>de</strong> <strong>Física</strong>, que tivesse espaço para essas trocas, para apresentação <strong>de</strong> trabalhos... Porqueisso existia, e acabou. Tu não vês mais. Porque cortaram as verbas. Então, ao mesmotempo que o gover<strong>no</strong> quer que tu faças, ele não propicia. Na reunião, lá com osecretário, nós falamos isso. Ao mesmo tempo que ele quer que tu mo<strong>de</strong>rnizes, que tuproponhas coisas, eles cortaram os encontros, que é on<strong>de</strong> a gente tem um monte <strong>de</strong>trocas, <strong>de</strong> apresentação. Ele: “não, mas nós vamos fazer”. Eu não vi nenhum, eu não vina<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>. Então, eu acho que vai ter que fazer uma pressão, dos professores aosdiretores, e dos diretores ao MEC. Eles vão to<strong>da</strong> a semana para lá. E aí começar a fazera mu<strong>da</strong>nça assim, <strong>de</strong> baixo para cima, e não <strong>de</strong> cima para baixo.71


72ANEXO 2 – ENTREVISTA COM O PROFESSOR 2Ao ser questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> informática<strong>da</strong>(s) escola(s) on<strong>de</strong> trabalha e do seu uso do computador, o entrevistadorespon<strong>de</strong>u:O computador que tem lá na escola é mais acesso administrativo. A parteadministrativa trabalha, tem os seus computadores, na sala dos professores nós temosum computador pra nós, para os professores utilizarem. Mas não tem laboratório, alu<strong>no</strong>não tem acesso a computador. Então o computador fica mais restrito ao professor paraelaborar provas, mas também não tem Internet, não tem na<strong>da</strong> assim que vá facilitar maiso trabalho do professor. Colégio do estado, sabe como é que é. Eu, particularmente,tenho acesso por aqui. Aí eu tenho Internet, eu posso pesquisar, eu preciso <strong>de</strong> coisas queestão se trabalhando em outros lugares, em <strong>Física</strong>. O que eu faço é por aqui. Lá <strong>no</strong>colégio... E o computador que tem lá para a sala dos professores é um para todo mundo.Então eu nem uso aquele <strong>de</strong> lá. Eu uso o meu, que eu tenho aqui. Lá, o <strong>no</strong>ssocomputador tem impressora, mas só não tem acesso à Internet.Quanto aos alu<strong>no</strong>s, poucos têm computador em casa. E acho que os poucosque têm <strong>de</strong>vem usar alguma coisa, pelo que a gente conversa, tem alguns que têmcomputador, às vezes tem uns que trabalham, que tem <strong>no</strong> trabalho, também, que têmacesso, mas a maioria não tem. A maioria não tem condições <strong>de</strong> comprar umacalculadora, quanto mais um computador. Alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> colégio público, geralmente sãoalu<strong>no</strong>s mais carentes.Para adquirir um computador para a escola, a <strong>de</strong>cisão é <strong>da</strong> direção. Querdizer, acho que é a direção, mas eu não sei também. Por que isso quando a gente vê,aparece lá o computador. Não sei se é o estado, a Secretaria <strong>de</strong> Educação que distribuiisso para as escolas, isso eu não sei te dizer. Como funciona isso aí, eu não sei. Masacredito que seja pela Secretaria <strong>de</strong> Educação, o dinheiro que vem e que eles distribuempara as escolas, e ali eles vão adquirindo material. Mas a verba que vem é paramanutenção <strong>da</strong> escola, e assim mesmo é muito pouca. Não dá às vezes para arrumaruma lâmpa<strong>da</strong>. Então, eles não têm esse tipo <strong>de</strong> verba. Eu para mim, eu acho, to falandoassim o que eu acho, porque eu não sei como é que funciona. Eu acho que é uma coisatotalmente liga<strong>da</strong> à Secretaria <strong>de</strong> Educação. Quem <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> isso aí, que vai comprar ounão vai comprar acredito que seja parte <strong>da</strong> Secretaria <strong>de</strong> Educação.Eu uso computador aqui, <strong>no</strong> meu trabalho que eu <strong>de</strong>senvolvo aqui, e faço asminhas pesquisas, os meus trabalho do colégio do estado é tudo feito aqui, nesse micro,on<strong>de</strong> sou só eu que trabalho. Mas eu faço todos os meus trabalhos aqui, provas, preparoprovas, todo o meu material está guar<strong>da</strong>do aqui, e através <strong>da</strong> Internet, às vezes a gentepesquisa, provas <strong>de</strong> vestibular, essas coisas assim que tem nas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, o acessoque eu tenho é aqui. Quando tem tempo, a gente entra.Ao ser questionado sobre os possíveis usos <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Com o alu<strong>no</strong> eu não uso, eles não têm acesso, não adianta nem tu indicaresum site. A reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é diferente <strong>de</strong> um professor que tem uma turma <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s que amaioria tem Internet em casa, tu po<strong>de</strong>s indicar. Lá é mais precário.Se pu<strong>de</strong>sses usar com os alu<strong>no</strong>s, tem vários programas que a gente po<strong>de</strong>riausar, principalmente através <strong>da</strong> Internet, que tu acessas e que tem o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>questão. Que tu olhas uma questão, como é que funciona, o fenôme<strong>no</strong>, tal e tal. Isso aíseria interessante se eles pu<strong>de</strong>ssem ver. Se eles pu<strong>de</strong>ssem olhar e participar. Claro,grava muito mais olhando do que ouvindo. Mas não tem como. Também <strong>da</strong>ria para


73fazer pesquisa, que eles pu<strong>de</strong>ssem fazer alguma pesquisa, alguma coisa assim. É bemrestrito.Acho que isso po<strong>de</strong>ria ser proveitoso nesse sentido, na parte didática, que tupossas até ampliar os conhecimentos <strong>de</strong>les. Porque eles vão ter o conteúdo e po<strong>de</strong>rverificar isso aí através <strong>de</strong> pesquisa, <strong>de</strong> olhar o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um fenôme<strong>no</strong>, essascoisas assim, eu acredito que seja por aí.Ao ser questionado sobre seu conhecimento <strong>de</strong> projetos oficiais quevisem a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, incluindo o projeto EDUCOM,o entrevistado respon<strong>de</strong>u:O que eu escuto falar é que estão aparelhando as escolas, para trabalhar cominformática educativa. Mas eu não estou vendo na<strong>da</strong> concreto. É a minha reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, eunão vejo na<strong>da</strong>. Eu não sei como é que trabalham em outros lugares, mas eu acredito queaqui também não tenha um laboratório que os alu<strong>no</strong>s possam entrar em um laboratório etrabalhar com <strong>Física</strong>, especialmente <strong>Física</strong>.Por enquanto é mais teoria do que prática. Essa é a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que eu vejo. Émuito bonito, falar que tem que inserir a parte <strong>de</strong> computação <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> área, é muitobonito trabalhar a <strong>Física</strong> <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> parte <strong>de</strong> computação, mas na <strong>no</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> paraisso precisa dinheiro, porque precisa <strong>de</strong> aparelhos, precisa <strong>de</strong> laboratórios.Sobre o projeto EDUCOM, nunca ouvi falar.Ao ser questionado sobre suas opiniões a respeito dos ambientescomputacionais-educacionais atuais, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Não conheço nenhum. Pra começar, eu não vi nunca, não vi nenhuma escolacom laboratório <strong>de</strong> informática que o alu<strong>no</strong> possa trabalhar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> <strong>Física</strong>,especificamente a disciplina <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. Eu nunca vi. Acredito que tivesse, umlaboratório com vários micros, todos com re<strong>de</strong>, que o alu<strong>no</strong> pu<strong>de</strong>sse pesquisar,trabalhar, olhar, como é que funciona tal fenôme<strong>no</strong>. Ou então fazer <strong>no</strong> laboratório,manual, e <strong>de</strong>pois trazer pro computador ou vice-versa, fazer <strong>no</strong> computador e trazer promanual. Eu acredito que se fosse isso aí seria extremamente enriquecedor pro alu<strong>no</strong>. Naminha opinião seria uma coisa assim.Ao ser questionado sobre a formação <strong>de</strong> professores para o uso <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na Educação, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Existem cursos <strong>de</strong> formação, existe bastante pelo que a gente vê, oferecem,mas nós não temos acesso a isso. Então curso existe, agora falta ter o acesso. Até porquetem muitos cursos que às vezes são pagos, não são todos os cursos que são gratuitos,então existem cursos, mas tu tens que ter disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> para isso. Que a maioria dosprofessores não tem muito. Não é todos que se <strong>de</strong>sdobram, fazem vinte, trinta coisas aomesmo tempo.Quanto aos cursos <strong>de</strong> licenciatura, na época que eu fiz não tinha na<strong>da</strong>.Agora eu não estou sabendo, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, Não sei como é que trabalham.Não sei te dizer. Nem por outros colegas, nunca entrei em contato nesse sentido. Não sei<strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> como é que está.Ao ser questionado sobre suas expectativas para o futuro <strong>da</strong>informática na Educação e sobre suas impressões gerais sobre o tema, oentrevistado respon<strong>de</strong>u:Para usar a informática <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> tinha que haver investimento. Que aEducação fosse mais séria, já que o mundo todo não vive sem computador, que o


gover<strong>no</strong> também aparelhasse, que lá <strong>no</strong> meu colégio a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é assim, ó, nós nãotemos nem laboratório <strong>de</strong> <strong>Física</strong> para trabalhar. Tem uma peça que dizem que é olaboratório, mas não tem na<strong>da</strong> lá <strong>de</strong>ntro. Então, quando se quer fazer alguma coisa, temque o alu<strong>no</strong> trazer <strong>de</strong> casa, eu comprar material, e levar para eles verem, pelo me<strong>no</strong>spara ter algum acesso. Porque não tem na<strong>da</strong>. Então, em primeiro lugar, ter umlaboratório equipado, ter um laboratório <strong>de</strong> informática <strong>de</strong>ntro do colégio para que agente possa trabalhar. Sem na<strong>da</strong>, como é que eu vou trabalhar? É como se diz, como dizo velho ditado do professor. Porque não tem nem laboratório. Não tem laboratório.Na<strong>da</strong>. Já foi pedido, já foi implorado, e não botaram, o gover<strong>no</strong> não tem verba para isso.Agora, para outras coisas, para fazer propagan<strong>da</strong> na televisão eles têm verba, pintam natelevisão com um discurso maravilhoso, e aí quando chega na reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, vai lá ver <strong>no</strong>meu colégio. Foi pedido já laboratório, implorado laboratório, não tem um aparelho<strong>de</strong>ntro do laboratório, na<strong>da</strong>, uma agulha, um termômetro, não tem. Então, a questão é aserie<strong>da</strong><strong>de</strong> dos gover<strong>no</strong>s. Ou fazem com serie<strong>da</strong><strong>de</strong>, ou então parem <strong>de</strong> <strong>de</strong>magogia. Dedizer que o ensi<strong>no</strong> é priori<strong>da</strong><strong>de</strong>. É uma coisa que revolta até. Então, eu já não acreditomais. Então, o que eu acho que <strong>de</strong>veria ser feito? Serie<strong>da</strong><strong>de</strong> na coisa. Informação paraos professores, montar as escolas, instruir os professores, <strong>da</strong>r cursos para os professores,que o estado não dá cursos para os professores. Se eu tiver que fazer algum curso, eunão posso sair, eles não liberam como a escola libera aqui o professor para fazer umcurso <strong>de</strong> especialização, o estado não libera. Se eu tiver que fazer um curso <strong>de</strong> mestrado,ou <strong>de</strong> especialização, alguma coisa, eu tenho que trabalhar junto <strong>no</strong> colégio. Eu nãoposso faltar. Eles não liberam. Se dissessem “Olha, agora esse professor vai ficar comme<strong>no</strong>s aulas, ou com nenhuma aula”, como tem casos em outros lugares, para fazer umcurso. Mas não tem chance. O estado não libera.Tem que aparelhar as escolas. Trabalhar com serie<strong>da</strong><strong>de</strong> na Educação. Darcursos <strong>de</strong> aperfeiçoamento para os professores, mas não é curso com o professortrabalhando junto, que tu não consegues fazer nem uma coisa nem outra. Ele <strong>de</strong>veriamliberar o professor. Existem cursos <strong>de</strong> especialização. Não é que não existam cursos.Existem. Mas como é que eu vou fazer um curso <strong>de</strong> especialização se eu tenho quetrabalhar, vinte horas corri<strong>da</strong>s <strong>no</strong> estado, e mais quarenta <strong>no</strong>utro lugar para po<strong>de</strong>rsobreviver, porque com o dinheiro do estado tu não consegues sobreviver. Eu mesmo, aminha reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu trabalho quarenta horas aqui e vinte <strong>no</strong> estado. Eu trabalho sessentahoras por semana. Qual é o tempo que eu tenho para fazer curso <strong>de</strong> especialização? Essaé a <strong>no</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não tem tempo. E se ain<strong>da</strong>, por exemplo, dissessem assim “bom,agora esse a<strong>no</strong> o estado vai te liberar” eu pegava essas vinte horas e fazia um curso.Não, mas não po<strong>de</strong>. Não liberam. É assim.Quanto ao valor <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, o uso com alu<strong>no</strong>s eu não seiporque não conheço, mas o uso que eu faço do computador é extremamente positivo.Hoje eu não saberia mais trabalhar se não fosse com o computador. Em todos ossentidos. Inclusive até para preparar prova para o alu<strong>no</strong>, preparar trabalho, tudo isso.Porque eu vivo em função do computador.Não me imagi<strong>no</strong> mais usando um mimeógrafo. Nem pensar. Isso aí já estáobsoleto. Mas eu tenho isso aí, mas eu tenho colegas minhas que ain<strong>da</strong> trabalham commimeógrafo, que não têm acesso, tem professores <strong>de</strong>ntro do colégio que não têm acessoao computador, que nunca mexeram com computador, que não sabem como é. E não épor não ter acesso a computador. Tem o computador <strong>no</strong> colégio, lá, para os professores,mas tu não vês eles mexerem, eles ain<strong>da</strong> usam... Alguns. Ain<strong>da</strong> existe isso aí. Acho queé uma falta <strong>de</strong> interesse do profissional. Porque hoje em dia tu tens que ter, tens quesaber te virar. “Ah, eu não sei digitar, eu não sei mexer nisso aí”. Ah, mas aí vaiprocurar te atualizar e fazer. Embora tu não tenhas acesso como laboratório para74


trabalhar com o alu<strong>no</strong> mas tem <strong>de</strong>ntro do colégio tem um micro para os professores, lá.E está disponível. Está lá <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala dos professores. Tu chegas ali e trabalha comele. Mas acontece que às vezes tu chegas, o tempo, tu chegas já para a tua aula. Eu façotudo aqui. Eu não levo na<strong>da</strong> para fazer lá. Eu levo tudo pronto <strong>da</strong>qui.Eu espero que essas <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias possam aju<strong>da</strong>r, auxiliar <strong>no</strong> futuro, eque todos, para que aconteça isso, todos tenham acesso. Não adianta tu teres e a maiorianão ter. Aí todos teriam que ter acesso a isso aí. Realmente é um avanço, é uma coisafantástica, só que eu acho que tem quer <strong>da</strong>r acesso a todos. Senão não adianta.Mas isso é para muito longo prazo. Para todos estarem aparelhados, todoscom acesso, muito longo prazo. Com certeza. Acho que <strong>no</strong> futuro vai chegar um pontoque todos vão ter acesso. Ou a gran<strong>de</strong> maioria. Mas por enquanto a coisa está muitolenta. Principalmente <strong>no</strong>s colégios do estado. Nos particulares parece que já temlaboratório <strong>de</strong> informática, o alu<strong>no</strong> vai para lá e trabalha junto com o professor. Masentre os colégios do estado, se tiver algum aqui em Pelotas que tiver laboratório, é umarari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Não sei <strong>de</strong> nenhum que tenha recebido laboratório.A informática vai te auxiliar, e acho que já mudou a mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>spessoas. Tem muita coisa que tu não fazes sem estar baseado na parte <strong>de</strong> computação.Eu acho que mu<strong>da</strong>, que reformula, que tu te atualizas, que se tu continuares usando ele,tu vais continuar sempre te atualizando, e conseqüentemente vais mu<strong>da</strong>r a tua maneira<strong>de</strong> pensar. Tem muita coisa que mu<strong>da</strong>. Tu tendo acesso a mais informação, claro que tuvais mu<strong>da</strong>ndo a tua maneira <strong>de</strong> pensar, tu não vais comparar o que tu pensavas há <strong>de</strong>za<strong>no</strong>s atrás com o que tu pensas agora. Então isso aí tudo é reformulação, étransformação. Em termos pe<strong>da</strong>gógicos também, com certeza. É muito mais fácil tuapren<strong>de</strong>res olhando, do que apren<strong>de</strong>r ouvindo, ou tentando estu<strong>da</strong>r sozinho. Se tu vês acoisa funcionar, tu consegues gravar mais do que só olhar e ler. E a <strong>Física</strong>, <strong>no</strong> meumodo <strong>de</strong> pensar, eu sei que a <strong>Física</strong> se baseia na matemática, para medir fenôme<strong>no</strong>s,aquelas coisas to<strong>da</strong>s, mas o Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> <strong>de</strong>veria sair <strong>de</strong> cima dos cálculos <strong>da</strong>matemática. Ele <strong>de</strong>veria trabalhar especificamente como funciona o fenôme<strong>no</strong>, mas paraisso o alu<strong>no</strong> precisa enxergar, precisa ver. Para isso a escola tem que ter laboratório, temque ter gente especializa<strong>da</strong> para trabalhar <strong>no</strong>s laboratórios, tem que ter laboratórios <strong>de</strong>informática montados para que o alu<strong>no</strong> possa mexer <strong>no</strong> computador e enxergar a coisafuncionando.Acho que é isso aí. Se a gente conseguisse apoio, porque queira ou nãoqueira, o ensi<strong>no</strong> público está ligado a gover<strong>no</strong>s. E à boa vonta<strong>de</strong> dos gover<strong>no</strong>s. Boavonta<strong>de</strong> que eu falo é a verba. Então se realmente tivesse uma priori<strong>da</strong><strong>de</strong> para aEducação, nós sairíamos do buraco. Com certeza. Mas tem que ser uma coisa séria. Nãoadianta dizer assim “ah, se eu me eleger, a Educação...”, e aí chega na hora, o professoré escrachado, o professor é mal valorizado. Nós formamos médicos, nós formamosqualquer outro tipo <strong>de</strong> técnico. Quem é que forma? É o professor. E todos eles saem eganham mais do que a gente. Então precisa mu<strong>da</strong>r essa mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu acho. Quem éque tem que ser melhor pago? O professor. É ele que dá a base para tudo. Monitorar asescolas, criar espaços para que os alu<strong>no</strong>s possam pesquisar, laboratórios <strong>de</strong> informática,laboratórios <strong>de</strong> informática <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s escolas, garanto que as coisas mu<strong>da</strong>riam <strong>de</strong>ntro<strong>de</strong>sse país.75


76ANEXO 3 – ENTREVISTA COM O PROFESSOR 3Ao ser questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> informática<strong>da</strong>(s) escola(s) on<strong>de</strong> trabalha e do seu uso do computador, o entrevistadorespon<strong>de</strong>u:Aqui, essa escola aqui é até um certo ponto privilegia<strong>da</strong>, porque ela temaqui <strong>de</strong>ntro, embora seja praticamente separado <strong>de</strong>la, o núcleo, NTE, NúcleoTec<strong>no</strong>lógico <strong>de</strong> Educação. Funciona em quatro salas lá <strong>no</strong> canto e dá cursos paraprofessores, mas não só <strong>da</strong>qui, dá cursos para to<strong>da</strong> a re<strong>de</strong> escolar, vem professores <strong>de</strong>outras ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s aqui ter cursos. Mas, em termos <strong>de</strong> computador para ensi<strong>no</strong> não temna<strong>da</strong>. Agora colocaram um computador aí para os professores, na sala, foi essa semanapassa<strong>da</strong>, ain<strong>da</strong> não está em uso até porque está faltando uma coisa ali, para osprofessores fazerem as provas. Então, esta é a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Secretaria e esse aqui agorapara fazer as provas. Para uso dos alu<strong>no</strong>s não tem na<strong>da</strong>.E esses laboratórios do NTE, o professor não po<strong>de</strong> usar para levar turmas.Não po<strong>de</strong> porque eles ocupam <strong>de</strong> dia e <strong>de</strong> <strong>no</strong>ite esses computadores com cursos. Entãonão teria como usar. Tem algumas professoras que conseguem em intervalos levaralu<strong>no</strong>s lá, que eu soube, mas não é o corriqueiro. Esporadicamente, alguma professoraconsegue <strong>no</strong> período em que não tem professores trabalhando lá, ir lá e mostrar algumacoisa. Mas, é precaríssimo. Não dá para pensar em computador na Educação nessestermos.As compras <strong>de</strong> equipamento têm sido feitas com o dinheiro do círculo <strong>de</strong>pais e mestres, e tem sido para a secretaria e para os setores, não é computador naEducação mas é necessário <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma escola, porque não se concebe mais máquina<strong>de</strong> escrever para fazer folha <strong>de</strong> chama<strong>da</strong> e coisa assim. Mas eu não consi<strong>de</strong>ro issocomputador na Educação. Consi<strong>de</strong>ro na administração, o computador.Não sei se a escola teria auto<strong>no</strong>mia para comprar algum equipamento com odinheiro que vem do gover<strong>no</strong>, porque nessas verbas geralmente os orçamentos são<strong>de</strong>finidos, é um rubrica tal, um número lá, e é para aquele fim. Então <strong>de</strong>veria serempregado naquela rubrica.Quanto ao meu uso, é outra coisa. Eu uso computador mas não é naEducação. Eu uso como máquina <strong>de</strong> escrever, como mimeógrafo. Faço as provas to<strong>da</strong>s<strong>no</strong> computador. Faço folhas, como se batesse à máquina. Faço folhas <strong>de</strong> textos paraeles, às vezes folhas <strong>de</strong> exercícios. Nisso aí o computador está sendo, <strong>no</strong> meu uso emcasa, tenho computador, tenho um bom computador, faço isso tudo aí, faço calendárioescolar também, faço <strong>no</strong> Excel. Folha <strong>de</strong> presença para alu<strong>no</strong>s, presença em provas,quando eu passo uma folha eu faço eles assinarem que receberam. Para tudo isso. Façoatas <strong>no</strong> computador.Mas como eu te digo, não é computador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>. Eu não consi<strong>de</strong>rocomputador <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>. Eu faço inclusive um calen<strong>da</strong>riozinho, para ver o que realmenteocorreu <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula. Então, é o meu planejamento diário, e tal, eu voucolocando aqui. E to<strong>da</strong> a organização, o planejamento do a<strong>no</strong> todo é feito <strong>no</strong>computador, está lá <strong>de</strong>ntro, tem as matrizes que eu faço, isso aí facilita um monte.Facilita.Ao ser questionado sobre os possíveis usos <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Se tivesse um computador para ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong>, que eu pu<strong>de</strong>sse usar, eu iaprocurar incentivar esse alu<strong>no</strong> a criar simulações dos fenôme<strong>no</strong>s físicos, fenôme<strong>no</strong>snaturais, fazer eles próprios simulações. Ia <strong>da</strong>ndo passos, vamos dizer, mas que eles


criassem essas coisas, porque o computador na Educação seria isso. Seria a criação ou,eu chamo muito <strong>de</strong> re<strong>de</strong>scoberta dos fenôme<strong>no</strong>s, <strong>da</strong>s leis físicas, aí <strong>de</strong>ixar realmente acriativi<strong>da</strong><strong>de</strong> do alu<strong>no</strong> funcionar, e entregar o computador para o alu<strong>no</strong> para ele trabalharcom ele. Logicamente, eu acho que eles têm que conhecer um editor <strong>de</strong> texto, tem queser talvez <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola ter algum cursinho para isso, tem cursinhos por aí mas o<strong>no</strong>sso alu<strong>no</strong> não tem condições. Então esses computadores também teriam esse tipo <strong>de</strong>coisa. Mas isso aí é o trivial, isso não é computador na Educação. Joguinhos tambémpo<strong>de</strong>ria haver, como distração, na hora do recreio, e tal, mas não como computador naEducação. Não tem na<strong>da</strong> a ver uma coisa com outra. Seria a criação, a simulação. É umlaboratório na telinha. Laboratório <strong>de</strong> <strong>Física</strong> na telinha. E <strong>de</strong> repente uma integraçãocom as outras disciplinas. Fazer uma integração. Conversar com os professores <strong>de</strong>matemática, e ver o que... Eu acho que esse seria o caminho do computador naEducação.Claro que, para fazer simulações, teria o recurso <strong>da</strong> Internet. Teria queensinar esse alu<strong>no</strong> a usar a Internet. Usar o editor <strong>de</strong> textos, usar a Internet, usar oPowerPoint, usar todos esses recursos, teriam <strong>de</strong> ser usados. Principalmente a Internet,pra se ligar <strong>no</strong> mundo, vamos dizer assim. Ficar ligado <strong>no</strong> mundo. E logicamente usar aInternet com orientação, para não começarem a procurar besteiras. Coisas que aocontrário, que ao invés <strong>de</strong> instruir vão viciar esse alu<strong>no</strong>, ou sei lá, pegar maus hábitos.Então com orientação. Esse seria o caminho.Tranqüilamente isso seria <strong>de</strong> muita valia, o alu<strong>no</strong> criaria, o alu<strong>no</strong> passaria euacho que para um outro estágio. Não só, não só isso. Eu acho que o laboratório continuanecessário, mas esse recurso é muito, é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Porque eu acredito quepossa fazer o alu<strong>no</strong> ter mais prazer em utilizar o computador. Na medi<strong>da</strong> que ele vaiapren<strong>de</strong>ndo os fenôme<strong>no</strong>s, vai simulando os fenôme<strong>no</strong>s físicos, ele vai brincando, e euacho que a gente tem que <strong>de</strong>ixar o alu<strong>no</strong>, tem que <strong>de</strong>ixar ser criança o máximo <strong>de</strong> tempopossível, e <strong>de</strong> preferência a vi<strong>da</strong> inteira ter um pouco <strong>de</strong> criança <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si. E não temna<strong>da</strong> mais prazeroso para uma criança, para uma pessoa, do que brincar, fazer aquiloque ela gosta. Fazer aquelas coisas que ela se sente bem fazendo. Então certamente ocomputador tem que ser usados nesses termos. Porque o alu<strong>no</strong> hoje ele não tem muitoestímulo, principalmente em aulas <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, que as <strong>no</strong>ssas aulas, na primeira aula eu jádigo para os alu<strong>no</strong>s: Olha, nós vamos começar comigo falando aqui na frente, umquadro e giz, mas a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> é essa, mas a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong>não seria essa. Teria que ter laboratório, teria que ter até computadores, eu digo paraeles, tem que ter, porque vocês têm a telinha <strong>da</strong> televisão lá, então essa telinha, talvezaté para vocês não procurarem tanto a telinha <strong>da</strong> televisão, passarem a usar a telinha docomputador, eu converso com eles, para eles saberem que eu não estou contente comaquela situação mas estou contente <strong>de</strong> estar com eles ali, estar explicando. O contato, àsvezes, é a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> estar ensinando.Mas para fazer isso, a primeira coisa que teria que ter é computador. E asegun<strong>da</strong> coisa, talvez, é um maior número <strong>de</strong> professores. Para ter uma orientação maisdireta. Do professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, porque colocar trinta e cinco alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> uma sala<strong>de</strong> aula para um professor... Então to<strong>da</strong> a <strong>no</strong>ssa reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que está ain<strong>da</strong> muito aquém doque se espera, do que se sonha. E acho que vamos chegar lá. Um dia vamos chegar lá.Vai ser um sucesso, um sucesso total. À medi<strong>da</strong> que se colocar computadores, vaiprecisar <strong>de</strong> um número maior <strong>de</strong> professores. O professor nunca vai ser substituído porcomputador. Tu vais precisar <strong>de</strong> um maior número <strong>de</strong> professores <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aulapara orientar esses alu<strong>no</strong>s. Porque tu gastas milhões aí, e aí tu vai largar na mão <strong>de</strong>lespara eles fazerem joguinhos, brincar e editar textos. E um professor lá para fazer isso?77


78Não, vamos colocar mais gente para trabalhar, <strong>da</strong>r emprego para esse pessoal que está<strong>de</strong>sempregado e ensinar, aten<strong>de</strong>r melhor o <strong>no</strong>sso jovem.Ao ser questionado sobre seu conhecimento <strong>de</strong> projetos oficiais quevisem a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, incluindo o projeto EDUCOM,o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Olha, o que eu sei é o seguinte: que o gover<strong>no</strong> do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul pareceque é pioneiro, existe o NTE, que é a informática, eu acho que é o primeiro passo <strong>de</strong> umgran<strong>de</strong> projeto, que são esses Núcleos Tec<strong>no</strong>lógicos <strong>de</strong> Educação, que é o primeirogran<strong>de</strong> passo, que é o primeiro a ensinar um pouquinho e mu<strong>da</strong>r a cabeça dosprofessores quanto ao computador. E existe um segundo, vamos dizer assim, um outropasso, um segundo passo que está sendo <strong>da</strong>do agora, que o Rio Gran<strong>de</strong> do Sul épioneiro nisso aí, colocou programas livres, está colocando na Educação, a partir <strong>de</strong>ssea<strong>no</strong> parece que está entrando o Linux, programa livre. Os instrutores <strong>de</strong> computaçãoestão apren<strong>de</strong>ndo lá, para ensinar os professores. E eu estou esperando esses cursos aí. Eisso aí é uma coisa muito boa. Boa mesmo, profissionalmente boa.E as escolas estão fazendo força para informatizar as secretaria. Então tu vêso ponto que chega, nós ain<strong>da</strong> estamos recém saindo <strong>da</strong> máquina <strong>de</strong> escrever nassecretaria. Isso aí, eu acho um projeto <strong>de</strong> melhoria na administração <strong>da</strong> Educação, é umamelhoria. Eu não sei na<strong>da</strong> mais a respeito.Ah, uma coisa que também vai acontecer, mas isso aí é paralelo ao núcleotec<strong>no</strong>lógico, que vai se colocar na Internet os melhores trabalhos que são feitos nessenúcleo tec<strong>no</strong>lógico pelos professores aprendizes, vão ser colocados na Internet essestrabalhos, estão tentando colocar, fazer um gran<strong>de</strong> projeto aí <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> Internet. É issoaí.Do projeto EDUCOM eu nunca ouvi falar.Ao ser questionado sobre suas opiniões a respeito dos ambientescomputacionais-educacionais atuais, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Olha, eu imagi<strong>no</strong>, eu conheço aqui o núcleo tec<strong>no</strong>lógico, conheço o <strong>de</strong> umaescola fe<strong>de</strong>ral, imagi<strong>no</strong> que é a melhor forma. É quase que uma mesa redon<strong>da</strong>, só quebasicamente às avessas. Os alu<strong>no</strong>s ficam <strong>de</strong> costas um para o outro, para o instrutorpo<strong>de</strong>r aten<strong>de</strong>r o maior número <strong>de</strong> pessoas possível e ao mesmo tempo ter ca<strong>de</strong>irasgiratórias, logicamente tem que ter, on<strong>de</strong> esses alu<strong>no</strong>s viram para o quadro ou para ocomputador do instrutor, e viram para o seu computador. E isso aí só facilita, eu acho,com esse tipo <strong>de</strong> computador, em forma circular, ou pela beira <strong>da</strong> pare<strong>de</strong>, eu acho quetem que ser assim porque senão o instrutor vai ficar muito prejudicado <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>. Nãoimagi<strong>no</strong>, nem pensei muito <strong>no</strong> caso, mas eu não imagi<strong>no</strong> outra forma que não seja essa<strong>no</strong> momento. Talvez se pensasse, se botasse para pensar e observar realmente adinâmica, o ponto negativo seria as pessoas ficarem <strong>de</strong> costas umas para as outras, masnão tem como. Porque ou a pessoa fica <strong>de</strong> costas uma para a outra ou o instrutor vai terque, para ver ca<strong>da</strong> computador, vai ter que estar fazendo voltas, fica complica<strong>da</strong> a coisa.Eu acho que... Até mesmo também, um outro <strong>de</strong>talhe, a instalação. O custo <strong>de</strong>instalação também diminui com isso. Porque se tu fizesses em sala <strong>de</strong> aula, ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong>com seu computador, como é a sala <strong>de</strong> aula hoje, o curso <strong>de</strong> instalação seria muito caro,porque seriam instalações pelo piso para ca<strong>da</strong> computador, o riscos <strong>de</strong> envolvimento emfios, cabos e coisa assim, tudo isso aí seria um problema. Acho que a melhor formaseria essa aí.O mobiliário, a princípio seria o fun<strong>da</strong>mental, que é a mesa com ocomputador, <strong>de</strong> preferência uma impressora para todos, mas isso aí é caríssimo, não tem


79como, então uma mesa para impressora e um quadro, <strong>de</strong> preferência seriam uma telaliga<strong>da</strong> a um computador, em que o instrutor ficasse lá <strong>no</strong> computador <strong>de</strong>le, teclando lá econversando, e os alu<strong>no</strong>s veriam então, virariam para o quadro e veriam lá <strong>no</strong> quadroessa tela. Ao lado, uma tela branca com pincéis próprios, porque às vezes é necessárioriscar um pouco, di<strong>da</strong>ticamente, às vezes, até mesmo porque os <strong>no</strong>ssos professoresain<strong>da</strong> não se <strong>de</strong>sligaram <strong>de</strong>sse aspecto, então seria necessário. Isso aí seria... Armáriospara disquetes, pouca coisa, ou talvez uma sala separa<strong>da</strong> para isso aí. Mas a princípioarmários que tivessem material <strong>de</strong> computador, lá, disquetes, CD´s, e isso aí. Hoje nãodá mais para se pensar em não ter um gravador <strong>de</strong> CD e também CD´s <strong>no</strong>scomputadores, drives <strong>de</strong> CD <strong>no</strong>s computadores, não dá mais para pensar em não ter issoaí. Futuramente, talvez, possa se diminuir bastante esse espaço, melhorar, com essas<strong>no</strong>vas telas que po<strong>de</strong> pren<strong>de</strong>r na pare<strong>de</strong>, na frente <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um, isso <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> poucotempo vai acontecer, sem sombra <strong>de</strong> dúvi<strong>da</strong>. Outra coisa que po<strong>de</strong>ria ser feita, que porenquanto é muito caro, são os computadores aqueles <strong>da</strong> IBM, que po<strong>de</strong>m ter programasparalelos funcionando, então teria um computador, ao invés <strong>de</strong>sse monte <strong>de</strong>computadores, apenas um computador e a pessoa ficaria basicamente com um monitor eum teclado na frente. Ia diminuir bastante o espaço, mas estão caros ain<strong>da</strong>.Ao ser questionado sobre a formação <strong>de</strong> professores para o uso <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na Educação, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eu acho que teria <strong>de</strong> ter mais escritórios, mais núcleos <strong>de</strong>sses que o estadoestá colocando. Porque esses núcleos são muito bons. O pessoal <strong>da</strong> informática está coma cabeça muito aberta. Eles estão com uma visão para a Educação exatamente esse tipo<strong>de</strong> visão em que tem que <strong>de</strong>ixar o alu<strong>no</strong> criar, e isso é muito bom porque é o que nósestamos fazendo aqui, repetindo coisas, não está havendo criação nenhuma, e os <strong>no</strong>ssosalu<strong>no</strong>s estão ficando extremamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes do que existe, então eu acho que os<strong>no</strong>ssos núcleos aqui do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul estão muito bons, é o que eu tenho paradizer, é uma <strong>da</strong>s coisa boas. No meio <strong>de</strong> tantas coisas que a Educação está passando pordificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s, essa é uma coisa boa.Mas o número <strong>de</strong> professores fazendo esses cursos está muito reduzido. Porisso que eu digo, tinha que aumentar, tem muito professor aí esperando vaga, estádifícil. Não é muito fácil conseguir. Alguns professores estão na fila <strong>de</strong> espera. Etambém tem um outro <strong>de</strong>talhe que eu vejo: não adianta fazer o curso e continuar aescola não <strong>da</strong>ndo condições <strong>de</strong> usar. Porque o professor vai esquecer. Os programas vãomelhorando, e quando o professor for usar, ele ficou com aquela mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>, o que émuito bom, mas não tem mais condições <strong>de</strong> trabalhar. Então não adianta tambémcolocar muitos cursos e não colocar computador na frente dos professores, pelo me<strong>no</strong>s.Porque eu acho que os professores são fruto <strong>de</strong> <strong>no</strong>sso ensi<strong>no</strong>. Eu estou falando doensi<strong>no</strong>, mas os professores saem do ensi<strong>no</strong>. Desse ensi<strong>no</strong>, <strong>no</strong>sso. Então eles sãoexatamente assim, eles têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> criar. Então esse grupo, que tem, <strong>de</strong>professores que está aí, na frente, tentando, esse grupo é muito bom e está fazendosucesso. Estão conseguindo tirar esse professor <strong>de</strong>sse marasmo. Tem que mu<strong>da</strong>r aquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> núcleos, a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos, porque o curso é bom, então aumentar aquanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos e aumentar a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> computadores. Não adianta oprofessor fazer um curso e não conseguir viver a reali<strong>da</strong><strong>de</strong>, não adianta na<strong>da</strong>. Então estáfaltando, que eu acho, basicamente é aumentar a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> cursos e colocarcomputador, pelo me<strong>no</strong>s, num primeiro momento, que não tem para o alu<strong>no</strong>, pelome<strong>no</strong>s o professor começar a ser mais criativo, e começar com essa idéia. Não só oprofessor bater provinhas, e fazer essa coisas, mas ser mais criativo, partir para essareali<strong>da</strong><strong>de</strong>.


Ao ser questionado sobre suas expectativas para o futuro <strong>da</strong>informática na Educação e sobre suas impressões gerais sobre o tema, oentrevistado respon<strong>de</strong>u:É exatamente isso que eu te falei. O lado positivo: temos um grupo bom <strong>de</strong>instrutores, com uma cabeça aberta e uma boa mentali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Uma mentali<strong>da</strong><strong>de</strong> que ocomputador não <strong>de</strong>ve ser usado só para bater provinhas, e para o alu<strong>no</strong> fazer joguinhos eusar o editor <strong>de</strong> texto. Não é isso aí. E outra parte boa, <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Sul, é osoftware livre, que está entrando aí. Então nós não vamos pagar mais um tostão paraisso aí, pelo me<strong>no</strong>s. Vamos po<strong>de</strong>r ter nas aulas tudo e não vamos precisar pagar umtostão para fora, nem estar usando coisa pirata. Então esse é o positivo. O negativo é afalta <strong>de</strong> recursos total, falta <strong>de</strong> professores. Às vezes encontra falta <strong>de</strong> professores<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> aula, assim, imagina colocando computador, fica pior ain<strong>da</strong>.A minha expectativa <strong>no</strong> Rio Gran<strong>de</strong> do Sul é muito boa. Se continuar assim,é muito boa. E nós somos aqui o estado pioneiro. Exatamente por isso. Criaram essesnúcleos, já estamos com software livre, estamos pensando em software livre, então euacho muito boa. A expectativa é boa. Agora, vamos ver se vai ter dinheiro para isso aí.E se vai continuar o po<strong>de</strong>r público a investir nisso aí, ou se vai ficar só nas boasintenções.Quanto a promover uma transformação pe<strong>da</strong>gógica, logicamente, se forem<strong>da</strong><strong>da</strong>s condições, vai existir uma transformação pe<strong>da</strong>gógica tranqüilamente.Naturalmente vai existir. E até po<strong>de</strong>ria ser em muito pouco tempo. Po<strong>de</strong>ria ser em muitopouco tempo, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> continuação <strong>da</strong> <strong>no</strong>ssa política e dos <strong>no</strong>ssos recursos.O risco <strong>de</strong> simplesmente trocar do quadro negro para a tela do computador,mas a coisa continuar sendo <strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>da</strong> mesma forma é gran<strong>de</strong>. Frente aos <strong>no</strong>ssosprofessores, que são formados nesse processo, então há falta <strong>de</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>. E aí é quevem a parte positiva, que são esses núcleos, que estão colocando na cabeça <strong>de</strong>ssepessoal que não po<strong>de</strong> ser assim. Mas existe esse risco. Certamente essa mu<strong>da</strong>nça vaiprecisar <strong>de</strong>sse grupo <strong>de</strong> apoio, que tem a cabeça aberta, que está pensando diferente.Senão vai continuar. Vai continuar com joguinhos, com editor <strong>de</strong> texto, combrinca<strong>de</strong>irinhas, o professor vai ficar sentado, lá, conversando, e vai continuar isso aí. Éa inércia natural do sistema.Mas eu estou bastante otimista, estou bastante otimista na informática naEducação, vendo esse pessoal que está trabalhando aí, assisti algumas palestras, temmuitos jovens por aí que estão pensando diferente, em uma Educação mais livre, maiscriativa, e eu vejo, talvez porque eu seja um otimista por natureza, mas eu vejo que temfuturo. Tem futuro.80


81ANEXO 4 – ENTREVISTA COM O PROFESSOR 4Ao ser questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> informática<strong>da</strong>(s) escola(s) on<strong>de</strong> trabalha e do seu uso do computador, o entrevistadorespon<strong>de</strong>u:Vou te falar lá <strong>da</strong> escola pública on<strong>de</strong> eu trabalho, especificamente, lá tensdois laboratórios, que eu saiba, que eu tenho contato. Tem um laboratório para aquelaparte <strong>de</strong> digitação, edição <strong>de</strong> textos, preparação do alu<strong>no</strong>, ou professores, em si, paraedição <strong>de</strong> textos, e um laboratório para outros fins <strong>de</strong> projeto. Tu po<strong>de</strong>s entrar com umprojeto <strong>de</strong> pesquisa, um projeto <strong>de</strong> iniciação qualquer, lá, para aplicar para teus alu<strong>no</strong>s.E eu tenho a intenção <strong>de</strong> aplicar um projeto lá com o Mo<strong>de</strong>llus, como eu te falei. Para<strong>Física</strong> 2, pessoal que trabalha com cinemática. Esse é o equipamento que tem lá. Se eunão me enga<strong>no</strong>, são uns 12 ou 14 computadores que tem lá, bons, computadores bons.Esse é o equipamento que tem lá, que eu tenho contato. Claro que tem alguns outros ládistribuídos em algumas salas, que são para uso <strong>da</strong>s áreas. Por exemplo, lá <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong><strong>Física</strong> tem um que foi até um colega <strong>no</strong>sso que <strong>de</strong>u uma reforma<strong>da</strong> nele, <strong>de</strong>u umamelhora<strong>da</strong> <strong>no</strong> computador, mas aquilo ali para, talvez até dê para fazer uma<strong>de</strong>monstraçãozinha assim, mas não tem uma gran<strong>de</strong>... Mais é para edição <strong>de</strong> textos. Paratrabalhar usando na <strong>Física</strong> não tem na<strong>da</strong>.No laboratório maior, que está melhor equipado, tem alguns computadoresque têm conexão à Internet. A maior parte <strong>de</strong>les, acho que não. Acho que são 5 ou 6 quesão ligados na re<strong>de</strong>. Eu acho que estão agilizando isso para <strong>de</strong>ixar todos ligados na re<strong>de</strong>.Essa é a intenção lá.Para os alu<strong>no</strong>s usarem sozinhos o laboratório não há possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Só com aparticipação do professor. A me<strong>no</strong>s que estejam <strong>de</strong>ntro, já incluídos em algum projeto,aí há a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> utilizarem os computadores. Caso contrário não. Mas eleschegarem lá dizendo "posso usar o computador", acho que não é aberto para todos osalu<strong>no</strong>s. E o uso dos computadores lá tem uma burocracia que tu tens que seguir, queinviabiliza um pouco o trabalho do professor, na questão do prazo. Às vezes oprofessor, quando entra com um projeto, vem pensando há mais tempo, mas às vezesquando tu estás <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um assunto que é interessante para ti, e <strong>de</strong> repente até <strong>de</strong> umahora para outra alguém chega "eu tenho um applet legal, eu tenho um programa legalpara tu apresentares <strong>de</strong>ntro do teu assunto". Porque surge muito disso, tu estás láconversando com os professores, <strong>no</strong> intervalo, e eles dizem "olha, tem uma coisa aqui,eu vi um negócio na Internet que é legal", ou "eu vi, tem um aplicativo lá que é bom,interessante para isso", e aí surge <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>quele conteúdo que tu estás trabalhando. Eisso aí não abre possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> tu trabalhares <strong>de</strong>sse jeito porque tu precisas pelo me<strong>no</strong>s<strong>de</strong> umas duas, três semanas para marcar o laboratório lá. Mesmo que o laboratório estejadisponível, eu não posso simplesmente levar minha turma.A tendência é adquirir <strong>no</strong>vos computadores <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, para ter umame<strong>no</strong>r quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s por computador. Porque por enquanto não tem como levaruma turma lá para <strong>de</strong>ntro e, o i<strong>de</strong>al que seria dois alu<strong>no</strong>s por máquina, e ain<strong>da</strong> assim nãoé o i<strong>de</strong>al, o i<strong>de</strong>al é que ca<strong>da</strong> um use a sua máquina. Se levar uma turma, vão ficar três ouquatro alu<strong>no</strong>s por máquina, e aí fica uma bagunça. Então, a tendência é que se consigamais computadores. Mas eu acho isso aí é só através <strong>de</strong> projetos, e aí <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> umprojeto que já tenha tido algum an<strong>da</strong>mento, por exemplo, já estás <strong>de</strong>senrolando umprojeto lá com alguns alu<strong>no</strong>s, vamos supor que tenha, porque tem que ser alu<strong>no</strong>svoluntários e fora do horário <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula, para transcorrer legal. Então, tu já tens umprojeto em an<strong>da</strong>mento e aquele projeto está ok, está funcionando bem. Então, hápossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> eles adquirirem <strong>no</strong>vas máquinas, <strong>de</strong>ntro do orçamento <strong>da</strong> escola, é


82claro. Em geral não tem muita grana, então eles comprar duas, três máquinas. Acho quea escola po<strong>de</strong> <strong>de</strong>cidir o que vai comprar.Em casa eu uso o computador eventualmente, quando eu vou apresentar.To<strong>da</strong> a utilização do computador que eu faço em sala <strong>de</strong> aula é <strong>de</strong>monstrativa. Eu nãoconsegui fazer nenhuma vez, quer dizer, já fiz o <strong>de</strong>monstrativo e liberei para o pessoalbrincar em cima <strong>da</strong>quele aplicativo que usei. Eu uso para buscar algum applet, parabuscar algum programa "free" na re<strong>de</strong>, para criar alguma coisa, agora eu estou na parte<strong>de</strong> re<strong>de</strong>, faço a minha página, e tal, eu divulgo as <strong>no</strong>tas dos alu<strong>no</strong>s pela Internet, eu façoalgum contato entre os pais, alguns pais, são poucos pais na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> que fazem umcontato via e-mail comigo. Os alu<strong>no</strong>s é que fazem mais, vamos supor, <strong>de</strong> uma turma <strong>de</strong>trinta, dois, três, quatro alu<strong>no</strong>s, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> turma, fazem contato. Até que acessar,eu não botei nenhum contador na minha página ain<strong>da</strong>, mas até que o pessoal acessa.Depois eles vêm falar comigo "acessei, e tal". Se às vezes eu não li o e-mail, eles vêm ereclamam: "já leste o meu e-mail", "não, não li ain<strong>da</strong>".Eu uso computador para edição <strong>de</strong> texto, prova, material. Em geral eu nãogosto <strong>de</strong> entregar material escrito à mão, porque aquela questão do espaço. O pessoalvai tirar um xerox, ou mimeografar, eu não gosto muito também <strong>de</strong> fazer folhamimeografa<strong>da</strong>. O pessoal <strong>no</strong> colégio po<strong>de</strong> até tirar algum xerox, mas eles reclamammuito porque em geral o pessoal <strong>da</strong> História, <strong>da</strong> Geografia, do Português, têm muitomais material, eles precisam na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, fica realmente impraticável com livros, opessoal não po<strong>de</strong> comprar livro, não é obrigado a comprar livro. Então tem que <strong>de</strong>ixar oxerox lá, para eles, tem que tirar, o professor não vai estar <strong>da</strong>ndo xerox, isso vai saircaro. Então o pessoal é obrigado a ir lá, então eu digito o material para eles. Então naparte <strong>de</strong> edição <strong>de</strong> texto, e re<strong>de</strong>, Internet. Buscar material, assunto, <strong>no</strong>vi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, isso aí étudo feito pela Internet.Ao ser questionado sobre os possíveis usos <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:No Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> <strong>Física</strong> o meu uso é <strong>de</strong>monstrativo. Principalmente naeletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> tem muito aplicativo na re<strong>de</strong>, parte <strong>de</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, corrente elétrica, appletsjava, corrente e campo, força <strong>de</strong> Coulomb, associação <strong>de</strong> resistores, também tem algunsappletzinhos bons para utilizar nesse sentido, campo magnético, força eletromagnética.Isso aí são to<strong>da</strong>s simulações que a gente encontra na re<strong>de</strong>, aí to<strong>da</strong> aquela parte <strong>de</strong>campo, que fica difícil <strong>de</strong> fazer <strong>no</strong> quadro ou lendo num livro, mesmo, fica difícil <strong>de</strong>visualizar. Então ali o applet, ali, fica mais legal, aquela visualização <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong>força, tudo aquilo ali tu já tens, o alu<strong>no</strong> visualiza tudo com uma mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong><strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s variáveis, vai mu<strong>da</strong>ndo e vai conseguindo observar. Até o próprioMo<strong>de</strong>llus, mesmo, é diferente, quando tu crias alguma coisa, já tu po<strong>de</strong>s ver, claro quefica mais difícil <strong>de</strong>ntro do Mo<strong>de</strong>llus tu fazer uma simulação mais complexa. Mas osapplets, em geral, aju<strong>da</strong>m bastante para fazer a <strong>de</strong>monstração usando o computador. Émais é para visualizar. Eu acho que a princípio eu uso assim o computador, <strong>no</strong> sentido<strong>de</strong> mostrar aquela parte <strong>de</strong> campo, que fica difícil <strong>de</strong> ficar <strong>de</strong>screvendo <strong>no</strong> quadro, ficarfazendo campo, campo, campo, então o applet fica mais fácil <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar. Mostra ali,o pessoal visualiza a situação. Aí se enquadra bem. A parte <strong>de</strong> computaçãoexperimental, assim, vamos dizer, tentando levar para um lado mais experimental, nãodá muito <strong>no</strong> computador. Pelo me<strong>no</strong>s o que eu tentei até agora não saiu legal. Mais é<strong>de</strong>monstrativo nesse sentido.Acho que além do meu uso, que é <strong>de</strong>monstrativo e como forma <strong>de</strong> contatocom os alu<strong>no</strong>s, eu a princípio não tenho muito mais conhecimento na parte <strong>de</strong>computação, assim, eu até <strong>de</strong>veria, agora estou fazendo um curso para fazer a parte <strong>de</strong>


83re<strong>de</strong>, um trabalho a princípio para melhorar minha página, melhorar a parte <strong>de</strong> contatoentre professor e alu<strong>no</strong>, até na utilização <strong>de</strong> softwares disponíveis na re<strong>de</strong>, como oTeleduc, é mais nesse sentido. Eu não tenho mais contato. Por exemplo, fazer umasimulação utilizando computador. Eu até já vi algumas <strong>de</strong>monstrações, mas aí tuprecisas <strong>de</strong> um equipamento mais sofisticado, e se tu vais construir, tu precisas <strong>de</strong> umconhecimento <strong>de</strong> eletrônica muito maior também, para po<strong>de</strong>r fazer, vamos supor que tuvais fazer na parte <strong>de</strong> cinemática. Porque aí tu sais <strong>da</strong>quela parte <strong>de</strong> contagem <strong>de</strong> tempo,tudo aquilo que tu per<strong>de</strong>s. Seria interessante a utilização do computador nesse sentido.Mas <strong>de</strong> outra forma eu não vejo. Eu não tenho mais experiência para te po<strong>de</strong>r citar. Anão ser essas, esses aplicativos <strong>de</strong> re<strong>de</strong> conheço, que eu já ouvi falar, e o único que euconheço realmente é o Teleduc.Em termos <strong>de</strong> ganho pe<strong>da</strong>gógico, são poucos alu<strong>no</strong>s que tiram proveitorealmente disso. Porque <strong>de</strong>ntro do laboratório, tu tens mais formas <strong>de</strong> distrair, os alu<strong>no</strong>sacabam se distraindo mais do que prestando atenção <strong>no</strong> que tu estás expondo. Se tu, porexemplo, se tu liberas o computador para o pessoal, o pessoal se distrai em outrascoisas, vão lá, começam a usar em páginas, tu vês lá cinco, seis páginas abertas em cima<strong>da</strong> tua janela, do applet, do que tu estiveres trabalhando. O <strong>de</strong>monstrativo eu acho quetem mais ganho, a princípio, na sala <strong>de</strong> aula, do que ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong> num computador. Claroque se for em um horário separado, o alu<strong>no</strong> presta mais atenção, pelo meu ponto <strong>de</strong>vista, tem maior aproveitamento numa aula expositiva, e aí <strong>de</strong>pois sim, aí tu liberas opessoal, aí claro, vai muito do interesse <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> pessoa, como aquela questão, até osprofessores, alguns professores têm o interesse, gosto pelo computador e outros não.Com os alu<strong>no</strong>s acontece a mesma coisa. Vão criar gosto ou não. Então aqueles que nãotêm gosto acabam olhando, se distraindo com outras coisas, e poucos acabam realmenteusando e usufruindo <strong>da</strong>quele aplicativo. Até eu vi uns aplicativos que são muitointeressantes, que tu acabas fuçando e acaba chamando a atenção. Agora, às vezes, para<strong>de</strong>terminados fins, aqueles aplicativos que são realmente interessantes, que chamam aatenção do alu<strong>no</strong>, não servem para aquele assunto. Então acaba distraindo um pouco.Então acaba, eu vejo que o expositivo tem um bom aproveitamento. É claro que outrossistemas, tipo estudo à distância, como esse Teleduc, ou páginas, ou envia e-mail,conversa on-line, têm aproveitamento, mas não são todos os alu<strong>no</strong>s que participam.Ao ser questionado sobre seu conhecimento <strong>de</strong> projetos oficiais quevisem a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, incluindo o projeto EDUCOM,o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Dentro do colégio público on<strong>de</strong> eu trabalho, eles têm assim, por exemplo,professor que não sabe na<strong>da</strong> <strong>de</strong> informática, eles têm à disposição lá, <strong>de</strong> vez em quandoaparece, tem curso <strong>de</strong> iniciação, curso básico <strong>de</strong> informática. São poucos que realmentese interessam e vão lá fazer. Tem lá o laboratório à disposição, para os professores quequerem apren<strong>de</strong>r, com certeza se chegar lá para o laboratorista, “me dá uma força, comoé que se faz para mexer aqui”, com certeza ele vai explicar, não tem problema nenhum.Lá <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola vai muito do interesse do professor em apren<strong>de</strong>r ou não. Comcerteza, se tiver interesse vai lá e os laboratoristas vão ensinar com a maior boa vonta<strong>de</strong>.É que se tivesse uma maior divulgação, incentivar o pessoal, com certeza iater mais gente, mais professores fazendo curso, se especializando, se preparando parafazer outra coisa. Na outra escola em que dou aula, eu estou fazendo curso, lá temTécnico em <strong>Informática</strong>, então eu estou fazendo essas ca<strong>de</strong>iras lá <strong>de</strong> Java, PhP, eles meconvi<strong>da</strong>ram para fazer lá, porque eu fiz a página, eles acharam interessante. Então “vailá, faz o curso lá, te especializa melhor, melhora a tua página”. Então, trabalho <strong>no</strong> Flash,HTML eu já trabalhava há bastante tempo, já. Então não tem problema, vai lá. Re<strong>de</strong>,


84alguma coisa <strong>de</strong> re<strong>de</strong> eu conheço.Do projeto EDUCOM, eu nunca ouvi falar. O <strong>no</strong>me não me é estranho, masnão sei do que é que se trata.Ao ser questionado sobre suas opiniões a respeito dos ambientescomputacionais-educacionais atuais, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Bom, o ambiente lá do colégio é excelente. Laboratório muito bemiluminado, os computadores, as mesas são amplas, os computadores ali, ca<strong>de</strong>irasa<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para o trabalho, mesas também a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>s para o uso do computador. Euacho que o laboratório não <strong>de</strong>ixa na<strong>da</strong> a <strong>de</strong>sejar como condições <strong>de</strong> trabalho para oalu<strong>no</strong>. Mantém o alu<strong>no</strong> ali, um ambiente agradável, amplo, arejado, com arcondicionado e tudo. A princípio não vejo pontos negativos. A princípio o laboratório,acho que não tem na<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>ria ter mais computadores. Porque o espaço é tão bom quepo<strong>de</strong>ria realmente ter mais computadores ali <strong>de</strong>ntro. Eu acho que se, claro, se à medi<strong>da</strong>que tiver, se aumentarem mais vinte computadores é claro que não vai caber ali, masmais uns <strong>de</strong>z computadores ali com certeza cabem e fica todo mundo bem frouxo, nãotem problema.Ao ser questionado sobre a formação <strong>de</strong> professores para o uso <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na Educação, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Cursos existem alguns aí. A Católica está promovendo, e se não me enga<strong>no</strong>a FURG também tinha uma pós-graduação na parte <strong>de</strong> Educação, mas <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>graduação, que eu saiba, não tem uma gran<strong>de</strong> motivação <strong>no</strong> sentido <strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r comotrabalhar, buscar aula informatiza<strong>da</strong>. Eu não me lembro na minha graduação <strong>de</strong> a gentetrabalhar nesse sentido, naquelas aulas mais pe<strong>da</strong>gógicas, <strong>de</strong> ter discussões nessesentido. Eu acabava discutindo, com alguns professores, porque era a <strong>no</strong>ssa área ali.Mas ninguém mais tinha essa preparação. Até porque a gente não tinha um laboratório.No final, agora, que estava um laboratório mais, estava um laboratoriozinho <strong>de</strong>cente,mas não tinha esse tipo <strong>de</strong> preparação.Deveria ser mu<strong>da</strong>do na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse contexto, a preparação doprofessor para <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias. Por exemplo, tinha gente que não sabia usar o canhão<strong>de</strong> projeção. A gente até fazia lá, eu buscava sempre, eu busco sempre usar o máximoque eu pu<strong>de</strong>r a tec<strong>no</strong>logia. Está aí, eu quero mais é usar. Até porque torna mais atraentea aula. Tu chegas lá, a aula inteira todos os dias <strong>no</strong> quadro. De vez em quando tu vai lá epega o retroprojetor e usa ele para fazer uma, alguma coisa, lá, botar alguma projeção,alguma coisa. Só para variar, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula. Não é gran<strong>de</strong> coisa usar umaprojeção, uma lâmina. Não é gran<strong>de</strong> coisa, mas dá uma varia<strong>da</strong>, dá uma dinamiza<strong>da</strong> naaula. Pega lá, leva uma fita <strong>de</strong> ví<strong>de</strong>o. Faz alguma coisa diferente, leva o pessoal para<strong>de</strong>ntro do laboratório. Para mostrar que a aula não é só o quadro, ali. E é isso que àsvezes falta. Inevitavelmente o professor cai nisso aí, porque é cobrado tanto pela escolae pelos pais quanto pelos alu<strong>no</strong>s. Se tu adotas um livro, o alu<strong>no</strong> quer ver todo o livro,mas não quer fazer todos os exercícios do livro. Quer que tu faças todos os exercícios.Se tu propões alguma coisa, tu é que tens que chegar até o final, não eles que têm quefazer por si só. Nós não somos preparados <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> para esse tipo <strong>de</strong>coisa, para encarar esse tipo <strong>de</strong> coisa. É diferente do que a gente se prepara e estu<strong>da</strong>.Claro, a teoria é uma coisa, o cara chega na sala <strong>de</strong> aula é outra.E acho que esse é que é o problema, a gente po<strong>de</strong>ria ter mais contato com asala <strong>de</strong> aula na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. De repente, a utilização do computador po<strong>de</strong>ria ter <strong>de</strong>ntro<strong>da</strong>s disciplinas didáticas na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Vamos, por exemplo, os alu<strong>no</strong>s <strong>da</strong>universi<strong>da</strong><strong>de</strong> aju<strong>da</strong>rem os professores a informatizar a sua aula. De repente seria


85interessante, tanto para os alu<strong>no</strong>s quanto para o professor, se pu<strong>de</strong>sse chegar, tu estássuper ocupado lá, mal tens tempo para preparar as aulas, tens o apoio dos estu<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong>universi<strong>da</strong><strong>de</strong> para preparar uma aula, algo mais sofisticado, usando computador, usandoví<strong>de</strong>o, usando alguma coisa mais mo<strong>de</strong>rna. De repente isso é algo interessante para auniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Ao ser questionado sobre suas expectativas para o futuro <strong>da</strong>informática na Educação e sobre suas impressões gerais sobre o tema, oentrevistado respon<strong>de</strong>u:Acho que eu não vejo na<strong>da</strong> <strong>de</strong> informatizado na Educação. O que a gente vê<strong>de</strong> uso do computador? Digitação <strong>de</strong> textos. Só isso. Os professores usam a informáticapara editar texto. Não tem na<strong>da</strong>. Ou <strong>no</strong> máximo para fazer alguma consulta sobre<strong>de</strong>terminado assunto na re<strong>de</strong>. O professor pe<strong>de</strong> para o alu<strong>no</strong> fazer uma pesquisa na re<strong>de</strong>sobre algum assunto. “O que tu encontras sobre isso?”. Aí o alu<strong>no</strong> procura. Esse tipo <strong>de</strong>coisa tu po<strong>de</strong>s até ver. Esses dias eu vi uma coisa incrível, o professor pediu para osalu<strong>no</strong>s fazerem uma pesquisa, fazer um resumo sobre algum assunto, o alu<strong>no</strong> chegou lácom o material digitado, bonito. O professor olhou e disse “mas isso aqui tu tirasses <strong>da</strong>Internet”. “Não, isso aqui foi...” “Não, mas está aqui a <strong>da</strong>ta, a página, tudo”. O alu<strong>no</strong>não se <strong>de</strong>u ao trabalho nem <strong>de</strong> copiar e colar <strong>no</strong> Word. Até porque estava um linguajar,uma escrita ali que é totalmente formal, que não é do vocabulário do alu<strong>no</strong>. Tu vês <strong>de</strong>cara que não é. Então, é o que se vê do uso <strong>da</strong> informática.Eu acho que está havendo uma gran<strong>de</strong> divulgação <strong>no</strong> sentido do uso <strong>da</strong> re<strong>de</strong>na Educação, para fora <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula o professor manter o contato com o alu<strong>no</strong>. Claroque não é um contato, é um contato esporádico, <strong>de</strong> vez em quando o professor vai tendocontato com o alu<strong>no</strong>. Mas está tendo uma boa divulgação nesse sentido. Às vezes até éfácil <strong>de</strong> entrar, por exemplo, o pessoal aqui do colégio criou um canal <strong>de</strong> bate papo, euentro <strong>de</strong> vez em quando lá e converso com o pessoal ali. Mas aí fica mais informal,assim só para eu manter um contato mais informal com os alu<strong>no</strong>s, para manter um laço<strong>de</strong> amiza<strong>de</strong> com eles, eu entro <strong>no</strong> canal lá <strong>de</strong>les e fico batendo papo. Eles brincamcomigo, eu brinco com o pessoal. Alguns eu reconheço, outros não. Eles usam os “nick”<strong>de</strong>les. Alguns se i<strong>de</strong>ntificam, outros não.Eu espero que essas <strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias aumentem o gosto pela utilização doví<strong>de</strong>o, computador, apesar <strong>de</strong> que eu gosto muito <strong>da</strong> <strong>Física</strong> <strong>da</strong> criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> criarexperimentos, eu gosto muito disso. Mas eu espero que melhore. Eu ain<strong>da</strong> não vejo <strong>de</strong>imediato aquela coisa <strong>de</strong> salas <strong>de</strong> aula on<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> alu<strong>no</strong> tem seu computador. Isso aí eunão vejo tão imediatamente. Porque ninguém está preparado. Eu não estou preparado.Nem eu, ninguém. Eu não sei quem está preparado para isso. Eu gostaria <strong>de</strong> ver umaescola com esse tipo <strong>de</strong> Educação, para ver como é o an<strong>da</strong>mento realmente. Mas eu nãovejo mu<strong>da</strong>nça, sinceramente, nesse sentido. Eu vejo o uso <strong>da</strong>s tec<strong>no</strong>logias extraclasse,mas <strong>de</strong>ntro, incluído <strong>no</strong> sistema tradicional <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> não. Nem as políticas, eu não vejona<strong>da</strong> a respeito disso. A gente lê alguns artigos nesse sentido, <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nça, mas na<strong>da</strong>que seja aplicado, que está sendo aplicado, não. Po<strong>de</strong> ser que haja uma mu<strong>da</strong>nça, nãobrusca, com certeza, muito lenta mas po<strong>de</strong> ser que ocorra.Eu vejo a informática como um incremento. Tem a acrescentar <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>Educação, mas não é o ponto principal, eu acho. Tem que ter o contato professor-alu<strong>no</strong>,o quadro é importante, tem que ter todo o processo, a escrita, não po<strong>de</strong> substituir oteclado pela escrita com a mão, eu acho que tem que ter tudo, acho que tem queincrementar, que só ten<strong>de</strong> a acrescentar na Educação, mas não substituir, eu acho quesubstituir o sistema tradicional <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> não seria a solução. Mas para acrescentar.Como uma ferramenta.


86ANEXO 5 – ENTREVISTA COM O PROFESSOR 5Ao ser questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> informática<strong>da</strong>(s) escola(s) on<strong>de</strong> trabalha e do seu uso do computador, o entrevistadorespon<strong>de</strong>u:Nós temos dois laboratórios, que têm capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> para turmas <strong>no</strong> númeroque nós temos aqui, em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> quarenta, quarenta e poucos alu<strong>no</strong>s. São doislaboratórios, funcionando simultaneamente. Aten<strong>de</strong>-se duas turmas <strong>no</strong> mesmo período,e praticamente é ocupado durante todos os períodos, é bem complicado às vezes <strong>de</strong> seconseguir horários, porque nós temos em tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> dois mil alu<strong>no</strong>s, e isso às vezescomplica nessa questão assim do horário. Mas como o trabalho que eu faço não requerque eu fique <strong>no</strong> laboratório com eles, eu trabalho em termos <strong>de</strong> reforço <strong>de</strong> conteúdo, e écom página, agora, até o a<strong>no</strong> passado nós adotávamos o Aulanet, aí ele parece que nãotinha alguém que estivesse realmente tomando conta, parece que é um trabalho também<strong>de</strong> quem está fazendo mestrado, doutorado, e aí um grupo sai, entra outro que não tem omesmo interesse, aí paramos porque estava realmente complicando muito, saía do ar, e apartir <strong>da</strong> meta<strong>de</strong> do a<strong>no</strong> passado nós mu<strong>da</strong>mos já para página, e agora a ca<strong>da</strong> aula <strong>no</strong>vanós vamos colocando outro assunto com eles, agora eu estou entregando o primeirotrabalho para eles, já é <strong>de</strong> MRU, eu termi<strong>no</strong> o capítulo, largo uma tarefa, on<strong>de</strong> eles vãovisitar algum site, com conteúdo, gráfico, to<strong>da</strong>s aquelas questões, e <strong>de</strong>pois eles meentregam um trabalho, que às vezes é por e-mail, quando eu tenho disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong>, ouentão eles imprimem e entregam esse trabalho. O primeiro trabalho <strong>de</strong>les sempre eu voujunto para o laboratório. Depois eles po<strong>de</strong>m fazer <strong>de</strong> casa, do laboratório, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> elespreferirem fazer o trabalho.Para os alu<strong>no</strong>s irem sozinhos usar o laboratório, eu autorizo na agen<strong>da</strong>, ahora que eles quiserem utilizar o laboratório, até agora é bem assim, se eles chegam lá edizem “olha, vou fazer o trabalho <strong>de</strong> <strong>Física</strong>”, eles já entram na hora. É que às vezes elestêm que cortar um pouco, porque senão eles ficam usando Internet direto, para batepapo,foge um pouco. Mas <strong>no</strong>rmalmente eles têm acesso direto ao laboratório.Eu faço aula com os alu<strong>no</strong>s, vou com os meus, até eles acertarem, porque agente diz assim “o alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> hoje não precisa <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>”, não é uma ver<strong>da</strong><strong>de</strong>. Tem muitosalu<strong>no</strong>s que mesmo <strong>da</strong> escola particular não têm computador, e se têm, eles utilizam maispara chat, mais essas coisas assim relaciona<strong>da</strong>s mais com o interesse <strong>de</strong>les. Quandochegou na hora <strong>de</strong> fazer uma aula, realmente, e sair com alguma coisa <strong>de</strong>ssa aula, édiferente. Então quando tu vês, levas eles para lá, <strong>da</strong>qui a pouco já tem um que entrounão sei on<strong>de</strong>, está falando com um outro que está lá sentado, <strong>no</strong> outro computador.Então tem to<strong>da</strong> uma orientação. A partir <strong>da</strong>í, sim. Eu tenho alu<strong>no</strong>s que vieram dos semterra, por exemplo, do grupo dos sem terra, que o alu<strong>no</strong> colocou assim “eu não sei nemligar esse bicho”, quanto mais trabalhar com ele. Então o que eu que faço? Eu os levo,nesse primeiro momento, se eu vejo que não ficou bem, eu levo num segundo momento,aí aqueles que ain<strong>da</strong> têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, porque eles têm dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> com os en<strong>de</strong>reços,com o que eles precisam chegar, on<strong>de</strong> eles precisam entrar, o que eles precisam fazer,eles têm uma certa dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então levo até esclarecer e a partir <strong>da</strong>li, é um trabalhoque aí sim, fica livre, eles fazem como reforço em casa.Para a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> compra <strong>de</strong> equipamento, nós temos um coor<strong>de</strong>nador <strong>no</strong>laboratório <strong>de</strong> informática, que é o responsável pela informática <strong>da</strong> escola. Junto comele tem uma outra pessoa que também é professora, e um terceiro que seria mais oume<strong>no</strong>s técnico, assim para orientar, <strong>no</strong> caso. E sempre, claro, nessa parte, quando euprecisei <strong>de</strong>sse material para o Aulanet, que aí sim, tinha algumas coisas que eles nãotinham aqui na escola, eu solicitei, nós montamos um projeto, que eu montei com


87professores <strong>da</strong> UCPel, montamos o projeto, trouxemos o que nós iríamos precisar, e adiretora adquire, compra isso conforme a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Por exemplo, se eu sair <strong>da</strong>quiagora contigo e achar que eu preciso <strong>de</strong> um outro equipamento lá, eu converso com elae se estiver <strong>de</strong>ntro do orçamento <strong>da</strong> escola, aquilo num prazo <strong>de</strong> três ou quatro dias estána escola.Eu utilizo computador em casa, obrigatoriamente. Agora não tem outrojeito. Elaboração <strong>de</strong> provas, elaboração <strong>de</strong> trabalhos, as próprias aulas que eu tenho quepreparar. É um trabalho que requer horas e horas <strong>de</strong> uso <strong>da</strong> Internet, porque tu tambémnão po<strong>de</strong>s atirar qualquer coisa para eles olharem. Hoje eu estou terminando, inclusive,a primeira aula agora <strong>de</strong> tar<strong>de</strong>, ali na Católica, algumas coisas, algumas alterações queeu fiz, os próprios sites saem do ar, tu sabes que eles param <strong>de</strong> operar, ou a página sofreuma reformulação e quando tu vês não está mais funcionando, mu<strong>da</strong> o en<strong>de</strong>reço, aquiloestá em constante atualização, não é um trabalho que tu faças e <strong>de</strong>ixes ali e nunca mais.E aí a ca<strong>da</strong> assunto, agora, por exemplo, eu retiro tudo que eu tenho <strong>da</strong> página e <strong>de</strong>ixosó a primeira aula. Senão eles já vão lá nas outras que eles ain<strong>da</strong> nem viram o conteúdoain<strong>da</strong>. E aí per<strong>de</strong> o sentido. Então ali se colocam citações, curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, alguma coisaque se acha assim, sempre relaciona<strong>da</strong> com a <strong>Física</strong>, agora <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse primeirocapítulo, veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>, aceleração. Procuro assim montar alguma coisa que fique com umvisual bom para eles, uma apresentação, uma página assim bonitinha, eles gostam,frases, também, <strong>de</strong> uma certa forma encorajando, dizendo que estu<strong>da</strong>r <strong>Física</strong> é bom,motivando, tentando nesse sentido <strong>de</strong>ixar eles mais à vonta<strong>de</strong>, porque eles têm umacerta resistência com essa disciplina.Ao ser questionado sobre os possíveis usos <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eu acho que nós temos, assim, material, eu tenho com algumas coisas, eutrabalho com matemática também, e nós temos algum material traduzido pelaEdusystem, que fechou, em São Paulo, e eram softwares que vieram <strong>de</strong> Israel, foramtraduzidos por São Paulo, man<strong>da</strong>dos para cá, <strong>de</strong> <strong>Física</strong> veio alguma coisa que euconsi<strong>de</strong>ro interessante, que nós temos aí. Só que não é para primeiro a<strong>no</strong>, primeiro a<strong>no</strong>eles só têm uma aula <strong>de</strong> impulso e quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento. Que acaba <strong>no</strong>rmalmenteeu não vendo, começa o conteúdo, a outra professora começa <strong>no</strong> segundo. Esse a<strong>no</strong>parece até que ela levou eles para ver essa aula. E <strong>de</strong>pois tem a parte <strong>de</strong> calor,eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, que é um assunto que eu não trabalho com eles. Então, aí, se ela realmentegostasse, que ela não gosta <strong>de</strong> utilizar, até acho que não é bem não gosta, porque nóstemos um conteúdo muito extenso para cumprir. Eu, praticamente com duas aulassemanais e uma <strong>de</strong> laboratório. Que às vezes essa <strong>de</strong> laboratório vira uma aula teóricatambém, porque não dá tempo realmente <strong>de</strong> cumprir. E eu ain<strong>da</strong> tenho assim, se eu nãovenço, eu empurro para ela, na série seguinte. Só que vai chegar um ponto que ela nãotem para quem empurrar mais, porque ela chega <strong>no</strong> terceiro não tem mais, e aí ela temque cumprir. Então ela acaba meio assim que, meio se prejudicando nessa questão,porque não tem outro jeito. E já que eu tenho uma tendência maior <strong>de</strong> trabalhar comessas coisas, acho mais agradável para eles, outro dia eu pedi assim um trabalho que erauma montagem <strong>de</strong> um cartaz, <strong>de</strong> uma figura, do que eles quisessem montar, eles podiamutilizar o computador, podiam copiar, fazer cópias <strong>da</strong> Internet, <strong>de</strong> GIF´s, e montar umafigura on<strong>de</strong> eles ilustrassem todos aqueles conceitos iniciais <strong>da</strong> mecânica. Sabe queapareceram coisas tão boas ali, trabalhos tão bem feitos pelos alu<strong>no</strong>s, que me dão umbanho utilizando o computador. Essa parte <strong>de</strong> arte, fantástico. E assim, e colocando,porque eles apresentaram <strong>de</strong> dupla, ca<strong>da</strong> um tinha uma figura diferente <strong>da</strong> outra, porqueeu disse: “vocês po<strong>de</strong>m utilizar o que quiserem”. Po<strong>de</strong> ser, se eu quero fazer um céu e


umas estrelas, vai fazer, mas vai i<strong>de</strong>ntificar corpo extenso, ponto material, repouso,movimento, trajetória, distância percorri<strong>da</strong>, <strong>de</strong>slocamento. Sabe que ficou tão bom, aí oque eu fiz na prova? Peguei assim, uma <strong>de</strong>las eu me lembro bem <strong>da</strong> questão, até: era umcupido flechando um coração, uma figura, e ali eu pedi que eles i<strong>de</strong>ntificassem também<strong>da</strong> mesma forma. Foi uma questão on<strong>de</strong> acho que teve um índice <strong>de</strong> <strong>no</strong>venta e cinco porcento <strong>de</strong> acerto. Basea<strong>da</strong> em um trabalho que eles fizeram. Porque nós <strong>no</strong>s preocupamostanto assim, em memorizar conceitos, e falar, falar, falar, duas horas com eles sobreaquilo, enquanto que eles trabalharam sozinhos, não ficou tão maçante, porque ca<strong>da</strong> umtinha uma maneira diferente <strong>de</strong> apresentar, e uma figura diferente, que eu não iaconstruir to<strong>da</strong>s aquelas, não tem condições <strong>de</strong> fazer isso, eles fizeram, trouxeram para asala <strong>de</strong> aula, explicaram <strong>de</strong>ntro do contexto que eles montaram <strong>da</strong> figura, e apareceramtrabalhos excelentes. E o resultado também, foi eu colocar na prova, uma figura que elesnão tinham nem idéia, nem que eu ia colocar essa questão, também. Eu fiz justamentepara testar se aquilo era um momento on<strong>de</strong> eles <strong>de</strong>coraram coisas, e chegaram ali eexplanaram, ou se realmente eles tinham ficado. E ficaram. Eles apren<strong>de</strong>ram. Eu possoperguntar qualquer, chegar com qualquer figura na aula, pedir que eles i<strong>de</strong>ntifiquem,eles i<strong>de</strong>ntificam.Eu acho que po<strong>de</strong>ria ain<strong>da</strong> usar a informática, fazendo uma certaclassificação, se eu tivesse mais tempo com eles, utilizar assim até para introduzirconteúdos. Um pouco <strong>de</strong> história <strong>da</strong> <strong>Física</strong>. Porque fica tão longe <strong>de</strong>les. Nóscomentamos, mas é um comentário que passa muito rápido. Hoje existem sites que sãobons, que trazem to<strong>da</strong> essa história, <strong>de</strong> on<strong>de</strong> surgiu. Questões <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>, também. Quenós acabamos, <strong>de</strong> uma certa forma, passando por cima disso. Não temos tempo <strong>de</strong>trabalhar com <strong>de</strong>talhes essas questões. Aí se podia assim lançar como tarefas extras.Agora, o problema <strong>de</strong>les é o seguinte: tem valor? Tem <strong>no</strong>ta? Eu faço. Não tem, eu nãofaço. Com raras exceções. E o objetivo é atingir a todos, quando se faz um trabalhoassim. Então fica meio maçante nesse sentido. Porque se tem valor, se eu atribuo algo eé obrigatória a tarefa, eles fazem, senão muito raro.Até porque eles também têm problema <strong>de</strong> tempo, também. Claro, eles têmuma série <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, eles fazem esporte, eles têm curso <strong>de</strong> inglês, eles têm cursodisso e <strong>da</strong>quilo, fora <strong>da</strong> escola. Nós enten<strong>de</strong>mos isso, mas nós temos condições <strong>de</strong>trabalhar muito melhor a <strong>Física</strong>, <strong>de</strong> uma maneira que eu acho que já melhorou muito.Por exemplo, quando eu era estu<strong>da</strong>nte, e agora, eu acho que cresceu, assim, coisas queos alu<strong>no</strong>s não tinham interesse nenhum, que tu questionavas e eles não sabiamrespon<strong>de</strong>r, hoje os meus filhos, que eu tenho um com 8 e outro com 10, me respon<strong>de</strong>mtranqüilamente. Questões que alu<strong>no</strong> do ensi<strong>no</strong> médio não saberia respon<strong>de</strong>r. Até essascoisas estão sendo busca<strong>da</strong>s. Em termos <strong>de</strong> curiosi<strong>da</strong><strong>de</strong>, são muito curiosos, e vãobuscar muita coisa fora, só que não é bem direcionado. Po<strong>de</strong>ríamos aproveitar melhoresse trabalho <strong>de</strong>les, na Internet, po<strong>de</strong>ríamos direcionar para <strong>de</strong>terminados conteúdos quejá resolveriam outros problemas <strong>de</strong>les. E não é possível, assim até porque ficadispendioso em relação ao tempo para elaborar tudo isso, porque tu não simplesmentepo<strong>de</strong>s man<strong>da</strong>r eles irem para a Internet e pesquisarem sites <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, porque aírealmente eles não têm discernimento para ver esse é bom, esse não é bom, esse eutenho que olhar, esse eu não tenho, isso aí tinha que ter, organizar. Então primeiro apesquisa é minha, por sinal com muito tempo, porque procuro olhar o maior númeropossível, e alguns agora também têm permissão nega<strong>da</strong> para utilização, como temalguns que são bons e não é mais permiti<strong>da</strong>, a não ser que tu pagues. Isso estraga umpouco. Porque em alguns, é claro, esses que são muito utilizados, a tendência é nãopermitir mais o acesso livre, justamente porque eles estão vendo que são muitoutilizados. Mas eu acho que ain<strong>da</strong> temos muita coisa que fazer. Precisamos fazer.88


Além do uso <strong>da</strong> Internet, eu tenho algumas coisas em CD, que eu introduzianesta aula do Aulanet. Porque lá era possível. E agora, <strong>de</strong>ntro do site, porque aí, a partirdo momento que nós acabamos com o Aulanet, eu passei para página, é coisa que levamuito tempo. Como eu já estava assim, mais para o final do a<strong>no</strong>, eu já tive <strong>de</strong> tocar eelaborar essa aulas para <strong>da</strong>r tempo <strong>de</strong>les terminarem o conteúdo que eu estava fazendocom eles durante o primeiro. Mas esse a<strong>no</strong> eu quero utilizar filmes, o a<strong>no</strong> passado eucheguei a selecionar alguns para trabalhar essa questão dos filmes, e aí não conseguimoscolocar isso para <strong>de</strong>ntro do sistema, não permitia. Ele entrava, quando ele era filmado,sem problema algum, tu olhavas, estava ok, quando tu introduzias ele <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> aula eleia assim com para<strong>da</strong>s, ele não corria <strong>no</strong> intervalo <strong>de</strong> tempo <strong>no</strong>rmal. E aí nãoconseguimos colocar, eu tenho algumas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s nessas questões, e não tenho aquem recorrer, tu vais e aí aquelas pessoas que seriam as indica<strong>da</strong>s para resolver essesproblemas também não têm a solução. Então é assim, tu não tens um amparo <strong>de</strong> alguémque diga assim “não, eu resolvo essas questões assim que são mais técnicas”, porquerealmente quando eu vou preparar o conteúdo, se eu tiver que apren<strong>de</strong>r também isso aí,eu não vou consegui fazer praticamente na<strong>da</strong> durante o a<strong>no</strong>. Então teria que ter umsuporte técnico que diga assim: “Não, essas questões eu resolvo. Tu <strong>de</strong>ci<strong>de</strong>s o que tuqueres colocar, traz aqui”. Eu perdi três semanas com o filme locado, embaixo do braço,correndo para lá, para cá, marcando com um, marcando com outro, tive que <strong>de</strong>sistir dofilme porque ninguém conseguiu colocar. E era uma questão que eu queria discutir comeles o som, <strong>no</strong>s filmes <strong>de</strong> ficção científica, era uma explosão numa nave espacial, um<strong>de</strong>sses do “guerra nas estrelas”. Eu queria discutir a questão do som, e <strong>da</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>no</strong>espaço, porque a nave explodia e o fenôme<strong>no</strong> acontecia todo ao mesmo momento, e elesouviam, os outros, a nave, ouviam e viam o fenôme<strong>no</strong> <strong>no</strong> mesmo instante. Ouviam <strong>no</strong>espaço, também, o som. Eram umas questões assim, que eu queria fazer, e acho que elesiam se interessar também. Mas ficou, morreu, a gente não teve como ir em frente. Umproblema <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia, mesmo. Eu não sei se existe, já, alguma coisa que possaresolver essa questão. Não sei que tipo <strong>de</strong> filmagem tinha que ser, para que pu<strong>de</strong>ssejogar ali <strong>de</strong>ntro, que isso ro<strong>da</strong>sse. Eles tentaram <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas, ali na Católica, opessoal <strong>da</strong>li, que já está habituado a fazer isso, e não conseguiram colocar. Porque euprecisava <strong>da</strong> cena em si. Eles tinham que visualizar. Não era possível perceber, o somficou ruim também. Ele também era meio que cortado. E aí não tinha, per<strong>de</strong>u o objetivo<strong>no</strong> momento que eles não po<strong>de</strong>riam realmente observar aquilo que eu queria. Eupreparei todo um texto, estava tudo pronto e não conseguir jogar <strong>de</strong>ntro. De nenhumamaneira. Continuei tentando até o meio do a<strong>no</strong> e não foi possível.Eu acho que todo o trabalho tem sempre resultado, se foi formulado comcertos objetivos, e que tu consigas que os alu<strong>no</strong>s se interessem mais, eu acho quealcança o objetivo. Se cinqüenta por cento <strong>de</strong> uma turma se interessar e <strong>da</strong>li eles tiraremalgumas conclusões e com isso eles apreen<strong>de</strong>rem alguma coisa <strong>da</strong>quilo que tu estáslevando para eles, já tens o teu objetivo alcançado. Não dá para te dizer: “isso é maisproveitoso, aquilo é mais proveitoso”. Depen<strong>de</strong> muito <strong>da</strong> direção que o professor dánesse trabalho. E também eu acho que a maneira que ele motiva. Porque os <strong>no</strong>ssosalu<strong>no</strong>s são motivados para o trabalho. Se nós não conseguirmos motivar, eles nãofazem. Eu acho que não existe assim uma fórmula pronta, mágica, que diga: “essa é amelhor, aquela é a melhor”. Eu não tenho essa pretensão <strong>de</strong> jeito nenhum. Eu acho queca<strong>da</strong> professor estrutura seu trabalho e toma uma direção que ele realmente acredita sera melhor. Po<strong>de</strong> errar, po<strong>de</strong> acertar, mas alguma coisa sempre fica <strong>de</strong>sse trabalho. Apartir do momento que ele tenta i<strong>no</strong>var, construir alguma coisa <strong>no</strong>va com os alu<strong>no</strong>s,acho importante.89


90Ao ser questionado sobre seu conhecimento <strong>de</strong> projetos oficiais quevisem a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, incluindo o projeto EDUCOM,o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eu tenho visto esse projeto que envolve as escolas do estado, mas a coisa étão morosa que até agora os computadores <strong>da</strong> minha escola, por exemplo, nãochegaram. Isso já estava <strong>de</strong>cidido <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong> passado, me parece que são vintecomputadores para a minha escola, que eu já teria condições, eu tenho só terceiros, lá, játeria condições <strong>de</strong> trabalhar com eles tranqüilamente com vinte computadores, porqueas turmas lá são me<strong>no</strong>res, e até agora não chegou na<strong>da</strong>. Então é aquela questão <strong>da</strong>burocracia to<strong>da</strong>, existe esse projeto, acho que tu sabes, existe propagan<strong>da</strong> na TV,fazendo propagan<strong>da</strong> do projeto em si, mas tomando um rumo político, eu acho, só queaté agora não apareceu na<strong>da</strong> nas escolas. E já era <strong>de</strong>cidido <strong>no</strong> final do a<strong>no</strong> passado.Ca<strong>da</strong> escola já tinha estipulado quantos, já estava tudo certo. E on<strong>de</strong> estão? O que falta?Está faltando estrutura na escola para receber? Isso eu não sei te dizer. Ou se realmenteeles ain<strong>da</strong> não enviaram, que eu acho que seja isso. Pelo me<strong>no</strong>s lá na minha.E do projeto EDUCOM, nunca ouvi falar.Também não conheço projeto nenhum <strong>de</strong> treinamento <strong>de</strong> professores. Eununca fiz também, a não ser cursos <strong>de</strong> extensão, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própria universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, issosim. Mas assim para, por exemplo, construir páginas, porque quando tu queres fazer,essas coisas, não são empecilho. Tu fazes, tu buscas com um, com outro, tu vais teinformando, eu não cheguei a fazer nenhum curso. Aprendi na prática. Tu vais juntandoinformações, vai montando <strong>da</strong>qui e <strong>da</strong>li, os próprios alu<strong>no</strong>s às vezes te sugerem coisasque são interessantes. Tem muitos que sabem. Porque eles, assim, boa parte <strong>de</strong>les estãoconvivendo diariamente com o computador. Claro que tem outros, como eu te coloquei,que nunca tiveram acesso também. E tem muitos alu<strong>no</strong>s, agora mesmo, coloquei essasemana, eu estou levando eles para o laboratório para começar as primeiras aulas, e apartir <strong>da</strong>í eles vão se virar. E tem já uns que disseram “eu não sei trabalhar, eu preciso<strong>de</strong> aju<strong>da</strong>”.Ao ser questionado sobre suas opiniões a respeito dos ambientescomputacionais-educacionais atuais, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Bom, eu vou te dizer assim quais os que eu conheço. Daqui <strong>da</strong> escola, ali <strong>da</strong>Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Rio Gran<strong>de</strong>.Eu acho que são a<strong>de</strong>quados. Aqui, principalmente. Aqui <strong>da</strong> escola, muitobom. Sistema <strong>de</strong> ventilação ótimo, arejados, claros, ventiladores ligados. Eu acho elesmuito bons. Na Católica a mesma coisa, também, se bem que é uma coisa mais fecha<strong>da</strong>,assim, eu nunca vejo muita luz, ali <strong>de</strong>ntro. Lá <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral, lá <strong>de</strong> RioGran<strong>de</strong> é que eu achei assim mais <strong>de</strong>satualizado, computadores mais antigos. Mas achoque também não chegava a ser um problema, na<strong>da</strong> que vá interferir.Já a parte <strong>de</strong> mobiliário eu não consi<strong>de</strong>ro isso tão importante. Eu acho quemais importante é funcionar. Aqui na minha escola eu tenho algumas críticas ao sistemaem si. Tu vais lá, tu programas uma aula, tu entras com os alu<strong>no</strong>s, eles começam otrabalho, <strong>da</strong>qui a pouco tranca tudo. Tu tens <strong>de</strong> parar, <strong>de</strong>sligar máquina por máquina, eper<strong>de</strong>s um tempo muito gran<strong>de</strong> com isso. Mas ao mesmo tempo eles estão ali o tempotodo, tentando sempre resolver <strong>da</strong> melhor forma possível. Não seria uma crítica a eles,mas eu acho, há coisas que acontecem às vezes, alheias, por exemplo, falta <strong>de</strong> luz. Tusabes que isso acontece, tem uma que<strong>da</strong> <strong>de</strong> luz, cai o dia todo. Esse sistema que eu tedisse que eu utilizo, o Edusystem, eles passaram tudo para CD aqui na escola. E comoquebrou essa tradutora, nós tínhamos em re<strong>de</strong> com eles, a escola comprou, e colocou emre<strong>de</strong>, para se trabalhar com os alu<strong>no</strong>s. Claro que <strong>de</strong>pois que eles quebraram, lá, as coisas


91aqui para nós se complicaram, porque nós não tínhamos mais manutenção. O que opessoal <strong>da</strong>qui do laboratório fez? Passaram isso tudo para CD, jogaram ele <strong>de</strong>ntro docomputador, e nós vamos lá, programamos as aulas, preparamos, vimos o que nósqueremos que os alu<strong>no</strong>s trabalhem ali, porque é uma aula, tu preparas a aula só queassim, ela é com movimento, é com colorido, se tu vais trabalhar a questão <strong>de</strong> ângulos,é uma situação <strong>de</strong> praia, é uma ca<strong>de</strong>ira na praia, e começa a fazer um questionamentosobre os ângulos <strong>da</strong> ca<strong>de</strong>ira, sobre fechar a ca<strong>de</strong>ira, abrir, coisas assim que são simples,mas que têm um visual bom e que eles gostam <strong>de</strong> fazer. E <strong>no</strong> meio vem uma série <strong>de</strong>jogos, com espaçonave, mas tudo resolvendo exercícios. E é para aritmética e paraálgebra, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sexta série, a geometria to<strong>da</strong>, na <strong>Física</strong> eu não tenho, se eu tivessecom certeza eu realmente estaria utilizando. Na <strong>Física</strong>, eles não chegaram a traduzirtodo o material. E aí, claro, veio o que eles tinham pronto. Aqui, para nós, elesforneciam em re<strong>de</strong>. Em re<strong>de</strong> nós acessávamos. Qualquer problema, nós entrávamos emcontato com eles, e eles solucionavam até <strong>de</strong> lá, esses problemas. E aí quando elespararam <strong>de</strong> operar, a escola ficou com esse material, é claro, tínhamos, estávamospagando por ele há muito tempo, era caríssimo, por sinal, mas foi, acho que bemaproveitado.Ao ser questionado sobre a formação <strong>de</strong> professores para o uso <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na Educação, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eu não sei atualmente porque eu estou fora <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, agora. Mas euacho que falta muito. No sentido <strong>de</strong> largar o professor com vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> usar ainformática. Que é o que não está acontecendo. O professor <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong> cobra, <strong>de</strong>uma certa forma, um alu<strong>no</strong> mais criativo, um alu<strong>no</strong> que chegue lá mais preparado, masao mesmo tempo ele larga os professores <strong>de</strong> lá sem condições <strong>de</strong> aju<strong>da</strong>r o alu<strong>no</strong>, epreparar o alu<strong>no</strong> assim como eles querem receber na universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Parece que ocompromisso é mais do médio, assim, <strong>de</strong> preparar o alu<strong>no</strong>, do que <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> própriauniversi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Agora acho que as coisas estão mu<strong>da</strong>ndo, pelo me<strong>no</strong>s ali na <strong>Física</strong> <strong>da</strong>Católica eles têm, é claro que o curso <strong>de</strong> <strong>Física</strong> agora não existe mais, mas eles têm porárea, <strong>de</strong> farmácia, engenharia, e eles estão trabalhando muito com essa questão <strong>da</strong>informática, aulas que os alu<strong>no</strong>s fazem em casa, essa coisa à distância, assim, parareforço, para ver conteúdo, para experimento, eu achei interessante, o alu<strong>no</strong> trabalharcom isso <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, para que ele saia <strong>da</strong>li e possa continuar isso, que eletem um incentivo inicial; eu não tive, até porque naquela época as coisas não eram bemassim, em termos <strong>de</strong> tec<strong>no</strong>logia, não tinha o que temos hoje. Eu fiz algumas coisas <strong>de</strong>informática, mas porque eu quis fazer, cursos fora, extensão, eu não tive na<strong>da</strong> <strong>de</strong>ntro docurso <strong>de</strong> <strong>Física</strong>.Cursos para professores eu não conheço, a não ser esses cursos oferecidos,como a escola que <strong>no</strong>s mandou para lá fazer curso, que é pago. Mas oferecer <strong>no</strong> sentido<strong>de</strong> oportunizar para qualquer professor que queira fazer, eu não vejo isso. Aqui naescola tem. Segui<strong>da</strong>mente eles oferecem cursos. Eles ali têm um convênio com aUniversi<strong>da</strong><strong>de</strong> Católica, vem um pessoal <strong>de</strong> lá, que são técnicos, para trabalhar nessasquestões assim <strong>de</strong> páginas, eles têm feito isso. Todos os a<strong>no</strong>s aqui acontece isso. Masexiste uma certa resistência dos professores.Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, o coor<strong>de</strong>nador aqui, ele está fazendo mestrado, e ele está naárea <strong>da</strong> Educação. Então ele trabalha estas questões, sempre ele está envolvido com oscursos, ele trabalha esta parte relaciona<strong>da</strong> com o pe<strong>da</strong>gógico, junto com a coor<strong>de</strong>nação<strong>da</strong> escola, e o pessoal que vem <strong>de</strong> fora, vem realmente para trabalhar com questõesassim, como fazer, aquela coisa <strong>de</strong> receita. Mas junto é trabalhado essa questãope<strong>da</strong>gógica também. Todos os inícios <strong>de</strong> a<strong>no</strong> vem um palestrante, se não vem <strong>de</strong> fora, o


92<strong>no</strong>sso coor<strong>de</strong>nador traz alguma <strong>no</strong>vi<strong>da</strong><strong>de</strong>, alguma coisa que está sendo feita pelospróprios professores <strong>da</strong> escola, que acho que é uma maneira <strong>de</strong> motivar os outros ainiciarem um trabalho. Mas aqui nós temos <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o pré, as crianças têm aulas <strong>de</strong>informática. Não aulas <strong>de</strong> informática, aulas na informática. Não é para apren<strong>de</strong>r autilizar o computador, ou apren<strong>de</strong>r qualquer, construir <strong>de</strong>ntro do computador, e sim<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> programas aula, que já são prepara<strong>da</strong>s para eles trabalharem. Mas não é maisaquela questão que existia até bem pouco tempo atrás, o que o alu<strong>no</strong> ia fazer <strong>no</strong>laboratório <strong>de</strong> informática? Apren<strong>de</strong>r a usar uma linguagem. Não é isso? Nós nãotivemos isso aqui. Até porque caiu, mesmo, agora a função não é mais essa, docomputador. Se ele tiver que ter alguma informação para po<strong>de</strong>r utilizar o Word, se tuvais utilizar, tu vais fornecer essas informações, mas como ferramenta para o teutrabalho, o alu<strong>no</strong> não vai lá para apren<strong>de</strong>r a usar o Word, nunca.Ao ser questionado sobre suas expectativas para o futuro <strong>da</strong>informática na Educação e sobre suas impressões gerais sobre o tema, oentrevistado respon<strong>de</strong>u:Bom, em primeiro lugar, as condições não são as mesmas, o que eu achomuito injusto. A escola particular conta com tudo, condições <strong>de</strong> trabalho, oferece tudoque, <strong>de</strong>ntro do possível, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> atual que nós estamos, com relação àsituação financeira <strong>da</strong> escola, eu acho que ela oferece assim, até além do que se espera,enquanto que as outras escolas a gente sabe, a escola pública não tem, não tem como tutrabalhares praticamente na<strong>da</strong> com os alu<strong>no</strong>s, tu não tens laboratório, tu não tens... E aía <strong>Física</strong> vai meio que se per<strong>de</strong>ndo. Desanima, o professor fica <strong>de</strong>sanimado, eu estoutrabalhando com os meus, sabe o que eu faço? Eu levo <strong>da</strong>qui as placas que eles nãoquerem mais, eles <strong>de</strong>smontam, compramos alguns sol<strong>da</strong>dores, sugadores <strong>de</strong> sol<strong>da</strong>, euestou man<strong>da</strong>ndo tirar resistor <strong>de</strong> lá, vendo código <strong>de</strong> cores, para montarem algumcircuito com esses resistores, eu preciso pegar sucata <strong>de</strong>ssa escola, para carregar para aoutra, para eles terem a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pelo me<strong>no</strong>s conhecer os componentes <strong>de</strong> umcircuito. Então são reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s assim muito diferentes. E quando tu colocas na balança, tudizes assim, “o alu<strong>no</strong> <strong>da</strong> escola particular é muito mais atinado que o alu<strong>no</strong> <strong>da</strong> escolapública”. Tem que ser, realmente. Ele tem a faca e o queijo na mão, o outro não temna<strong>da</strong>, não tem um livro para ler. Vai na biblioteca, procura um material atualizado, nãoencontra. Já nem digo computador, digo material atualizado na biblioteca <strong>da</strong> escola.Muitos dos livros que a escola tem, eu recebo aqui e levo para lá. Os mais atuais, sou eumesmo que levo. E aqueles que trabalham em escola particular também, eles fazem isso.Eu acho que mu<strong>da</strong> tão rápido, que aquilo que era ver<strong>da</strong><strong>de</strong> não é mais hoje. Etu acabas dizendo algumas coisas que tu te contradizes <strong>no</strong> dia seguinte, porque tu mu<strong>da</strong>s<strong>de</strong> idéia mesmo, em função <strong>de</strong> que tudo te leva para isso. Eu tenho a impressão assim <strong>de</strong>que essa questão <strong>da</strong> informática é um ponto que veio para ficar. Mas isso é o que eupenso hoje. E eu acho que <strong>de</strong> uma certa forma motiva, e eu acredito nela para fazer omeu alu<strong>no</strong> ter mais interesse nessa disciplina. E acredito naquele tal <strong>de</strong> laboratório, elesrealmente têm muito interesse, eles não querem mais aquela aula tradicional, aquelaaula que tu também precisas, que é on<strong>de</strong> tu vais fazer o trabalho braçal, como eu digopara eles, tem que ser ali, eles não têm interesse por essa aula, cinqüenta por cento <strong>da</strong>turma eu posso te garantir com certeza que não tem mais interesse por essa aula. E aomesmo tempo tu tens que fazer eles enten<strong>de</strong>rem que eles não vão, só com a informática,ir além, eles precisam <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminados pré-requisitos, que se eles forem para lá elestambém não vão enten<strong>de</strong>r, só com o trabalho. Por exemplo, entrar num site semconhecer na<strong>da</strong>, sem ter a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> ninguém, <strong>de</strong> um orientador, dificilmente aquilo vaitrazer muita coisa, a não ser que seja <strong>da</strong> tua área, que tu estejas com interesse <strong>de</strong>ntro


<strong>da</strong>quilo. Mas eles nem entram num site <strong>de</strong>sses <strong>de</strong> <strong>Física</strong>. Eles vão procurar coisas quesão do interesse <strong>de</strong>les. Então <strong>de</strong> uma certa forma, o professor, eu acho que ain<strong>da</strong> está emalta, com todos os altos e baixos, eu acho que ele está em alta, ele tem que procurarmelhorar o trabalho <strong>de</strong>le, e aju<strong>da</strong>r com que os colegas também caminhem para esselado, para oferecer o que é possível, que nós temos aí, que eu acho que já está muitobom, já dá para fazer muita coisa. Dentro <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escola particular, que fiquebem claro. E aquilo, usar a imaginação, procurar um trabalho aqui, um trabalho ali, temque ter essas situações assim para motivar. Tem situações que dá para tu fazeres, que àsvezes a gente acha “ah, mas isso já é antigo, já se trabalha efeitos <strong>da</strong> corrente elétrica háquanto tempo”. Mas o conteúdo está aí, tem que ser trabalhado, e tem que ter umaforma diferente <strong>de</strong> trabalhar isso com eles, fazer eles buscarem, eles, e aí tu esbarras nasdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Eu ando com livros, carrega<strong>da</strong> <strong>de</strong> livros, todos os dias para a escola. Umme pe<strong>de</strong> esse, outro me pe<strong>de</strong> aquele, meu material está todo circulando <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola.E tem que ser. Se tu quiseres que eles consigam fazer alguma coisa, pelo me<strong>no</strong>s assimque tu consi<strong>de</strong>res satisfatório, tu tens que aju<strong>da</strong>r. Eles não têm base pública. E aqui tupe<strong>de</strong>s qualquer trabalho, o caminho que eles acham, o mais curto, até o laboratório <strong>de</strong>informática.Na parte pública eu não sei se vem alguma coisa. Eu estou meio <strong>de</strong>scrente,já. Porque a escola que não tem uma biblioteca atualiza<strong>da</strong> ain<strong>da</strong>, eu custo a acreditarque num passe <strong>de</strong> mágica eles vão conseguir solucionar essas outras questões. Que<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m mais <strong>de</strong> verba. Claro que na minha escola, eu posso te falar <strong>de</strong> lá, eu nãoconheço as outras, a expectativa é gran<strong>de</strong> com relação aos alu<strong>no</strong>s, porque isso foiinclusive prometido em campanha <strong>de</strong> direção, os computadores estavam realmenteadquiridos, foram mostrados documentos que os computadores estariam esperando. Osalu<strong>no</strong>s já começaram a cobrar. Ain<strong>da</strong> está meio que <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> sala <strong>de</strong>u aula, mas emsegui<strong>da</strong> já vai para a direção, e vamos ver que atitu<strong>de</strong> vão tomar, mas eu não acreditomuito não. E mesmo que se tenha os computadores, e aí? E o restante? O computadorem si, o que te oferece, em termos <strong>de</strong> tu trabalhares com a Educação? Apren<strong>de</strong>r adigitar, a fazer relatórios? Além disso, o que mais que eles po<strong>de</strong>m fazer se eu não tiver omaterial para trabalhar? Eu não vejo assim, muito... E é tudo muito caro, essa parte <strong>de</strong>informática, Educação <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> informática, se tu vais comprar qualquer coisa para tutrabalhares, é muito caro. Acho que já melhorou bastante mas ain<strong>da</strong> é muito caro. Para aescola pública, eu consi<strong>de</strong>ro assim, se não houver nenhum programa, realmente que váatacar isso aí, que vá procurar solucionar, não existe possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>. A escola, com averba que ela tem todo a<strong>no</strong>, não consegue adquirir. Alguns CD´s, talvez, para setrabalhar aquelas coisas já prontas, mas fora isso... Se eles vão assinar seja lá qual for oprovedor que eles tenham na escola, eles vão ter que pagar. Claro, aí tu me dizes, “mastem os gratuitos”. Aqueles gratuitos, que dão problema, e que nem tudo é possível <strong>de</strong>trabalhar. Já começa o primeiro problema, a escola tem que assumir uma conta, que émensal. E além <strong>de</strong>sses todos, tem o problema <strong>de</strong> estragar o computador, tem que trocara todo instante, porque isso é uma coisa que tem que estar sendo atualiza<strong>da</strong> sempre. Eaí? Um gover<strong>no</strong> compra, aí o outro esquece, vai para outro lado. Aí vem outro, trabalhaum pouco nessa área <strong>da</strong> informática <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, cai fora, vem outro, e as coisas vãoficando assim, e vai virando sucata. Foi o que aconteceu <strong>no</strong>s laboratórios. Do meu, porexemplo, levaram tudo. Nós não temos na<strong>da</strong>. E nós tínhamos um laboratório montado<strong>de</strong> <strong>Física</strong>. Arrombaram, eu acho que <strong>no</strong> mínimo umas cinqüenta vezes a escola. Agoracolocaram um sistema <strong>de</strong> alarme em to<strong>da</strong> a escola e estão tentando, mas não é fácil, agente sabe, tu vais comprar material <strong>de</strong> laboratório, é caríssimo. Então vamos tentarmontar alguma coisa assim, mas juntando alguma sucata, que é possível fazer, dá muitotrabalho mas é possível fazer com eles.93


E precisa <strong>de</strong> verba para manter. E essa questão <strong>da</strong> informática eu acho, naescola pública, <strong>de</strong>sfavorável nesse sentido. Quem vai manter isso <strong>de</strong>pois? Por exemplo,instalaram um laboratório na escola. Que já não é viável. A escola que eu estou, porexemplo, tem quase seis mil alu<strong>no</strong>s. Tu achas que um laboratório, com vintecomputadores, resolve o problema <strong>da</strong> escola? Aqui nós temos dois mil, perto <strong>de</strong> doismil. Nós temos dois laboratórios com todos os horários disponíveis, e já bate, já écolisão, é um pedindo para o outro, “me empresta hoje o teu horário, amanhã eu te<strong>de</strong>volvo, outro dia tu pegas o meu horário”. Agora tu imaginas em uma escola que tem<strong>da</strong> primeira ao ensi<strong>no</strong> médio, Educação <strong>de</strong> adultos, está lá para bonito, porquefuncionar, realmente... Tu vais fazer uma aula, tu vais marcar uma aula com eles, aíaquele já encaminhou com o material que tu tens, tu tens uma outra para fazer, mas olaboratório já está ocupado o mês todo, aqui já acontece isso. Essa semana mesmo,quero usar, tive que fazer uma troca com outra professora. Pegar um período, passar omeu que já estava reservado lá para ela, mas aqui nós conseguimos negociar, são doislaboratórios. E com um número maior <strong>de</strong> computadores.Eu acho que a transformação pe<strong>da</strong>gógica vem acontecendo, comcomputador ou sem computador, a todo a<strong>no</strong>, eu acho que as coisas vêm mu<strong>da</strong>ndo emuito, numa veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> galopante, às vezes até me assusto <strong>de</strong> coisas que eu já estoufazendo e planejando fazer, em função <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças que vem acontecendo. Mas eu achoque a informática contribui muito com isso. Eu acho que quem vai construir, assim, <strong>de</strong>uma maneira geral, essa mu<strong>da</strong>nça, vai ter que começar pelo professor, como eu te disse.E em alguns casos a gente sabe que ain<strong>da</strong> está meio que longe <strong>da</strong> questão do eu quero,eu vou assumir, eu vou trabalhar, eu vou enfrentar essa, porque o professor também é<strong>de</strong>smotivado. O próprio salário <strong>de</strong>le faz com que ele se <strong>de</strong>smotive. Porque se eu fizer,eu ganho tanto, se eu não fizer eu ganho tanto também. Então ou tu tens que ser amanterealmente <strong>da</strong>quilo que tu fazes, e aí consumir as tuas <strong>no</strong>ites, o que eu faço, horas e horase horas, ficar a madruga<strong>da</strong> to<strong>da</strong> trabalhando, até porque é o melhor horário, porque saimais barato, porque até isso nós temos que pensar quando estamos usando ocomputador em casa, e aqui na escola eu não tenho tempo, geralmente quando eu estouaqui, eu estou em sala <strong>de</strong> aula, porque ela oferece isso, claro, na hora que eu quiser ir lá,utilizar, e para todos os professores também, mesmo que os laboratórios estejamocupados, existe uma outra sala que nós po<strong>de</strong>mos utilizar, tem computadores por váriassalas <strong>da</strong> escola, mas é difícil ter um tempo <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, para ir para lá e trabalhar.Então <strong>no</strong>rmalmente eu faço em casa, <strong>no</strong> final <strong>de</strong> semana. E aí vêm aquelas questões, tu<strong>de</strong>ixas a tua família, <strong>de</strong>ixas os teus filhos, <strong>de</strong>ixas <strong>de</strong> sair. Muitas vezes consomes todo oteu lazer, ali em cima, o teu tempo para lazer em cima do computador. E enquanto acoisa não for assim, todos usarem a mesma linguagem, todos caminharem para isso, temalguém que sempre está ficando para trás e acho que <strong>de</strong> uma certa forma atrapalha umpouco, também. Quando tu vais fazer um trabalho com o alu<strong>no</strong>, todos po<strong>de</strong>riam estarfazendo. E tem, aqui na escola, tem vários professores que trabalham juntos, ou comesse programa, ou com aquele, tem o Visual Class, que é muito utilizado aqui na escola.Visual Class é um programa em branco, que tu inseres, que tu po<strong>de</strong>s montar o que tuquiseres, em termos <strong>de</strong> aula. Só que não tem, só tem movimento para letras, essas coisasassim. Não tem movimento para figuras. Tu não po<strong>de</strong>s, por exemplo, simular umasituação qualquer que eu queira simular, dois carrinhos se encontrando, medir tempoque eles vão levar para se encontrar, o tempo que eles vão levar para ultrapassar o outro,como corpo extenso, questionar esses conceitos, ali <strong>de</strong>ntro, tu não tens como mostrarmovimento. Tem aqui na escola, tem muita gente adotando. Aí tu preparas questões <strong>de</strong>múltipla escolha, tu preparas o tipo <strong>de</strong> questão que tu quiseres e <strong>da</strong> aula que tu quiseres,inclusive prova, é um sistema já... Tu fazes, tem um sistema que o alu<strong>no</strong> é obrigado a94


usar um código, uma senha para entrar e po<strong>de</strong>r fazer a prova, quer dizer, não existeaquela... Pelo me<strong>no</strong>s eu acho que é seguro assim, em termos <strong>de</strong>... Eu não gostei. Nãogostei porque eu acho que <strong>de</strong>ntro do meu conteúdo não consigo fazer muita coisa ali. Euacho que teste ele tem <strong>no</strong> livro, uma questão ele tem <strong>no</strong> livro, não precisa ir para lá fazerisso. Eu acho que o objetivo do computador não é esse. Fazer o trabalho que tu fazes nasala <strong>de</strong> aula, tu não precisas <strong>de</strong> computador. Aí tudo bem, tu dizes assim, aí tu po<strong>de</strong>sfazer uma figura, jogar lá para <strong>de</strong>ntro... Mas é tudo parado, e tinha que ser emmovimento. Mas isso tu fazes numa página, e com movimento. E aí eu ponhomovimento.95


96ANEXO 6 – ENTREVISTA COM O PROFESSOR 6Ao ser questionado sobre a reali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> infra-estrutura <strong>de</strong> informática<strong>da</strong>(s) escola(s) on<strong>de</strong> trabalha e do seu uso do computador, o entrevistadorespon<strong>de</strong>u:A escola tem curso Técnico em <strong>Informática</strong>, então ela é muito bemcapacita<strong>da</strong>, e <strong>de</strong> dois em dois a<strong>no</strong>s eles mu<strong>da</strong>m tudo, agora eles estão com re<strong>de</strong>s, umare<strong>de</strong> bem mais avança<strong>da</strong>, inclusive os alu<strong>no</strong>s fazem trabalho em re<strong>de</strong>, tem trabalhos<strong>de</strong>les já espalhados pelo país inteiro. São três laboratórios, e as turmas são turmas <strong>de</strong> 25a 30 alu<strong>no</strong>s, dá praticamente um computador por alu<strong>no</strong>, <strong>de</strong> quando em vez é que ficamdois alu<strong>no</strong>s por computador. As aulas técnicas, as específicas são lá, e as <strong>de</strong>maisdisciplinas, às vezes, quando tem algum software, alguma coisa para ro<strong>da</strong>r, eles vão lá,eles fazem páginas na Internet, tem a página <strong>da</strong> escola que eles botam trabalhos <strong>de</strong>les,tem as páginas que eles mesmos montam, então tem bastante recursos na parte <strong>de</strong>informática <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> escola, porque a escola tem o curso técnico.O professor <strong>de</strong> <strong>Física</strong> po<strong>de</strong> marcar uma aula <strong>de</strong>ntro do laboratório. É sópegar softwares. Eu costumo, costumava, quando eu tinha primeiro a<strong>no</strong>, a parte <strong>de</strong>planetas, pegava um softwarezinho <strong>de</strong> planetas, botava lá na re<strong>de</strong>, e explicava, tinhauma TV gran<strong>de</strong> em cima, então eles olhavam na TV, ou então eu ro<strong>da</strong>va na TV epassava para os computadores <strong>de</strong>les, eles interagiam, mu<strong>da</strong>vam a massa, a mesmamassa com planetas diferentes, então eles calculavam o peso em ca<strong>da</strong> planeta dosistema solar, então tem recurso para isso. E é muito interessante a aula quando elespo<strong>de</strong>m interagir assim <strong>no</strong> experimento.Os professores do curso técnico, especificamente os técnicos, vêem quandojá está em <strong>de</strong>fasagem o equipamento com o mercado, eles solicitam, a escola dá umjeito <strong>da</strong>qui, financia, os computadores mais antigos eles doam para outra instituição <strong>da</strong>escola, então o material, boa parte do material vai para essas instituições. E os outros, osalu<strong>no</strong>s <strong>de</strong>smancham, e eles trabalham a parte <strong>de</strong> hardware, algum trei<strong>no</strong> na parte <strong>de</strong>hardware. É reaproveitado todo o material. Bem aproveitado mesmo.Eu uso computador para elaborar minhas provas, e estou apren<strong>de</strong>ndo umpouquinho agora do Flash.Ao ser questionado sobre os possíveis usos <strong>da</strong> informática <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong><strong>Física</strong>, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Nos terceiros técnicos que eu dou aula, eu peço para fazerem umprograminha para mim em Flash. Então eu largo um conteúdo <strong>de</strong> primeiro a<strong>no</strong> que elesjá viram, ou <strong>de</strong> segundo, ou <strong>de</strong> terceiro, então eles fazem lá um softwarezinho lá <strong>de</strong>temperatura, as moléculas vão se agitando e o termômetro vai aumentando atemperatura, quanto maior a temperatura maior a agitação <strong>da</strong>s moléculas. Unsprograminhas simplesinhos, que eles vão ter que usar o conteúdo do técnico e usar oconhecimento dos a<strong>no</strong>s anteriores. E eu avalio essa parte dos alu<strong>no</strong>s aí. E esse materialtodo eu estou juntando, e acho que sem ser <strong>no</strong> final <strong>de</strong>sse a<strong>no</strong>, ou a<strong>no</strong> que vem, eu voumontar um livro virtual com o trabalho <strong>de</strong>les. Inclusive a escola já pediu para que elesassinassem um termo lá, ce<strong>de</strong>ndo para a escola os direitos, então vai sair um livro <strong>da</strong>escola <strong>de</strong> trabalhos dos alu<strong>no</strong>s do técnico, <strong>de</strong> terceiros técnicos.No ensi<strong>no</strong> <strong>da</strong> <strong>Física</strong>, só uso aplicando softwares. Para o gran<strong>de</strong> grupo. Ostrabalhos dos próprios alu<strong>no</strong>s, a gente vai para o laboratório, para mostrar para osoutros, eles explicam o programinha para os outros, como eu te falei, fica aquelatelevisão em re<strong>de</strong>, lá, eles colocam ali <strong>no</strong> geral, e passam para os outros, eles explicamali, mostram como é que funciona o processo do programa.


97O próprio alu<strong>no</strong> que fez o programa dá uma explanação para os outros. Emgeral eles fazem em grupos <strong>de</strong> dois ou três, para ficar melhor o trabalho, uma discussãomelhor entre eles. E aju<strong>da</strong>r aquele que não está bem firmezinho, então aquele maisfraquinho que está num grupo com outro mais fortezinho, então já dá uma melhora<strong>da</strong>nele, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong>s disciplinas técnicas.A idéia agora é <strong>de</strong> montar esse livro virtual. Inclusive eu estou com umprofessor <strong>da</strong> Católica, ele tem umas idéias lá que bateram com as idéias dos alu<strong>no</strong>s aquido colégio, a gente está pensando em um projeto maior, além <strong>de</strong> só o software, colocarnesse livro virtual alguma teoria, algum embasamento teórico, e colocar ossoftwarezinhos, os programinhas <strong>no</strong> meio <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> conteúdo. Como eu te falei, natermologia, tem o experimento <strong>de</strong> temperatura ali, que é um experimento, virtual mas éum experimento, a gente vai colocar a <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> temperatura, o que é, parará, <strong>de</strong>poisvem o experimento. E assim a gente traz para a <strong>no</strong>ssa idéia <strong>de</strong> juntar isso.Mas são reali<strong>da</strong><strong>de</strong>s diferentes. Na escola particular que eu dou aula, temesses recursos. Agora, tem outra escola que eu lecio<strong>no</strong> que é escola pública, tem seiscomputadores mas os alu<strong>no</strong>s não têm acesso. É restrito ao pessoal que faz o curso <strong>de</strong>técnico em contabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Então o resto <strong>da</strong> escola não tem acesso. E quando tem acesso,a gente vai, não tem drive <strong>de</strong> CD, é nu e cru ali o computadorzinho, ali, tem, então, aífica difícil. São só seis, as turmas <strong>de</strong> trinta, com seis computadores. E acho que tem sóna sala <strong>da</strong> direção a Internet. Também não tenho certeza, mas parece que é só na sala <strong>da</strong>direção. No colégio particular tem Internet para todo mundo, inclusive na sala dosprofessores nós temos dois computadores, duas impressoras, quem não tem computadorem casa, eu tenho computador em casa, então eu já procuro fazer, quando eu tenhotempo, senão eu mando digitar fora, chego em casa, rodo o disquete para ver comoficou, arrumo o que tem que arrumar, mas é mais ou me<strong>no</strong>s por aí. Infelizmente a escolapública, por um lado eles têm razão, porque o pessoal estraga. Infelizmente o <strong>no</strong>ssoalu<strong>no</strong> <strong>da</strong> escola pública é muito... Ele pensa que é público e ele po<strong>de</strong> estragar. Tem queter sempre alguém em cima, e não tem funcionário para isso.Tinha que ter mais computadores, e ter gente capacita<strong>da</strong> para ficar junto ali,gente capacita<strong>da</strong> e gente disponível para ficar junto com o alu<strong>no</strong> na sala <strong>de</strong> computação.Se <strong>de</strong>ixar por eles, só um professor cui<strong>da</strong>ndo... Lá <strong>no</strong> colégio particular, se quebroualguma coisa, tu pagas. Foi tu que estragaste. A não ser que tenha estragadoaci<strong>de</strong>ntalmente. Se fizer alguma frescurinha, atirou alguma coisa <strong>no</strong> chão, ou <strong>de</strong>to<strong>no</strong>u...A responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>de</strong>les. Quebrou, pagou. E na escola pública eles quebram e ficapor isso mesmo, é público. Infelizmente a consciência do <strong>no</strong>sso alu<strong>no</strong> <strong>de</strong> escola públicaestá por aí, está nessa.Nós usamos <strong>no</strong> cursinho pré-vestibular on<strong>de</strong> eu trabalho também esse telãosempre <strong>no</strong>s aulões. Ah, é uma maravilha. Uma maravilha. A gente dá to<strong>da</strong> a <strong>no</strong>ssarevisão <strong>no</strong> telão. Só com o mouse ali, botando tudo quanto é fórmula, e vamos falandocom um microfone <strong>de</strong> lapela, só <strong>no</strong> mouse, mu<strong>da</strong>ndo tela por tela.Ao ser questionado sobre seu conhecimento <strong>de</strong> projetos oficiais quevisem a implantação <strong>da</strong> <strong>Informática</strong> na Educação, incluindo o projeto EDUCOM,o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eu conheço esse projeto <strong>da</strong> Católica. Está muito interessante. É cheio <strong>de</strong>links, é muito... Tem até a página, eu não tenho o <strong>no</strong>me <strong>da</strong> página <strong>da</strong> Internet. E ali tuentras, tem filmezinhos, inclusive eu filmei umas experiências lá para eles, tem osfilmezinhos on<strong>de</strong> eu mostro as experiências. Então tem vários links. Tem o material queo professor monta, ele cria, o material que eu crio, para sala <strong>de</strong> aula, que a gente filma eele faz um trabalho em cima disso. Esse é um projeto que está muito interessante, a


98<strong>Física</strong> aplica<strong>da</strong> à Farmácia, está cheia <strong>de</strong> experimentos, está muito interessante, elesfizeram inclusive para ven<strong>de</strong>r para os alu<strong>no</strong>s um cartão que é um ce<strong>de</strong>zinho, muitointeressante. O alu<strong>no</strong> leva o conteúdo, a apostila num cartãozinho. Ali tem osexercícios, tem o conteúdo, as experiências, em um cartãozinho. O que eu estou vendoali na Católica, também a Católica tem recursos para tal. Mas isso aí é uma maravilha.Não precisa mais gastar com papel, com na<strong>da</strong>, está tudo ali. Mas para isso o alu<strong>no</strong> temque ter um computador em casa ou ter acesso a um computador, também tem esse outro<strong>de</strong>talhe. Na Católica, esses programinhas que os meus alu<strong>no</strong>s fazem que eu estoulevando para fora, na Católica eles têm aqueles <strong>no</strong>tebooks com telão, então ele bota <strong>no</strong><strong>no</strong>tebook, projeta, porque eles dão aula para fora, sabe, assim, os integrados, que elesdão aula quinta e sexta manhã, tar<strong>de</strong> e <strong>no</strong>ite, eles estão levando só o <strong>no</strong>tebook comprojetor, em vez <strong>de</strong> ele falar, falar, repetir tudo, o alu<strong>no</strong> fica ali olhando, olhando, osexercícios estão todos em CD. Vantagem para o professor. É o único projeto que euestou sabendo. Também sei que <strong>no</strong> a<strong>no</strong> passado o estado fez um curso <strong>de</strong> preparação,mas muito fraco. Muito, muito fraco. Foi o básico do básico. Para o professor apren<strong>de</strong>ra manusear o computador. E a gente tinha que pegar a dispensa para ir, tinha que pagaras aulas <strong>de</strong>pois. A gente não tinha o horário para fazer assim, por livre. Não tinhafacili<strong>da</strong><strong>de</strong>. Se tu <strong>de</strong>ixares <strong>de</strong> ir à aula, tu vais ter que <strong>da</strong>r aula <strong>no</strong>s sábados. Então tinhaesse peque<strong>no</strong> porém.Não conheço o projeto EDUCOM.Ao ser questionado sobre suas opiniões a respeito dos ambientescomputacionais-educacionais atuais, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Os que eu conheço são esses dois. O do colégio particular, que é muito bom.Ar condicionado, as ca<strong>de</strong>iras fofinhas para o indivíduo sentar. Praticamente umcomputador por alu<strong>no</strong>, bem espaçoso, bem dimensionado, tem um funcionário que ficajunto com o professor sempre. Além do funcionário, tem monitores, que é o pessoal quefaz estágio, aqueles alu<strong>no</strong>s que já terminaram o terceiro e estão fazendo estágio, quetambém auxilia. Então o alu<strong>no</strong> que está lá <strong>de</strong>ntro do laboratório, além do professor temmais dois assessores. Então, se são vinte e cinco numa sala, fica mais fácil oatendimento. E <strong>no</strong> estado, infelizmente, não é aberto. A sala é imensa, bem ampla, masé restrito ao pessoal do curso técnico em contabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, não é aberto.Mesmo se os professores <strong>de</strong> outras disciplinas pedirem para usar, eu achoque ain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>ixariam, não sei se vai mu<strong>da</strong>r essa idéia <strong>de</strong>les, porque eles reformaramtodos os banheiros num dia, <strong>no</strong> outro dia quebraram tudo. Reformaram <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, emuma semana <strong>de</strong>struíram tudo. Então eles abrem as coisas e o próprio alu<strong>no</strong> não colabora.Então eles preferem ter, para mostrar que tem, quando vem uma visita, “olha, nóstemos”. É usado, mas com restrições, por um grupo <strong>de</strong> alu<strong>no</strong>s que é, <strong>no</strong> caso, do cursotécnico em contabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.Para melhorar esses laboratórios que eu conheço, eu colocaria aquele telão.Em todos eles. Porque mesmo <strong>no</strong> colégio particular, tem aquela e<strong>no</strong>rme televisão, mas otelão, aquele é uma maravilha. Te dá uma visão bem melhor. Até para tu botares só <strong>no</strong>telão, <strong>de</strong>ixar o alu<strong>no</strong> só olhar, <strong>de</strong>pois tu largares, liberares para eles os exercícios, paraeles não ficarem fuçando na Internet na hora que tu estás explicando alguma coisa,senão <strong>de</strong>svirtua, então o telão, aquele é muito interessante pela amplidão que ele dá navisão do alu<strong>no</strong>. E mais programas, a gente está com pouco programa <strong>da</strong> área <strong>de</strong> <strong>Física</strong>.


99Ao ser questionado sobre a formação <strong>de</strong> professores para o uso <strong>da</strong>s<strong>no</strong>vas tec<strong>no</strong>logias na Educação, o entrevistado respon<strong>de</strong>u:Eu tenho uma idéia diferente <strong>da</strong> idéia <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Quando fiz afacul<strong>da</strong><strong>de</strong>, a gente via um monte <strong>de</strong> cálculo, é fun<strong>da</strong>mental o cálculo, mas faltavamaquelas matérias direciona<strong>da</strong>s ao ensi<strong>no</strong> médio. Que a gente vê o conteúdo <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong>médio, a gente vê, e <strong>de</strong>pois nunca mais vê. E na facul<strong>da</strong><strong>de</strong>, é cálculo, tem que ter oscálculos, é lógico, a gente está num nível mais elevado, mas tinha que ter algumadisciplina volta<strong>da</strong> para a gente. Porque as didáticas só vêem as leis, a estrutura <strong>de</strong>ensi<strong>no</strong>, mas não vê aquela aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong>. A Fe<strong>de</strong>ral agora está com um grupo <strong>de</strong>voluntários que está fazendo um trabalho nas escolas. Mas é um grupo <strong>de</strong> voluntários,não é uma disciplina que tem que ter. Eu acho que tinha que ter uma disciplina quelevasse o alu<strong>no</strong> do segundo a<strong>no</strong>, ou do terceiro a<strong>no</strong>, já, do curso <strong>de</strong> <strong>Física</strong>, para a sala <strong>de</strong>aula. Não só chegar <strong>no</strong> estágio, lá. Para ele já ir se acostumando com o conteúdo, ver oque ele po<strong>de</strong> criar em cima, já às vezes também na parte virtual, na parte <strong>da</strong> informática.Uma disciplina volta<strong>da</strong> para isso, <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu acho que tinha que ter. Enão tem em nenhuma <strong>da</strong>s duas universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. A gente vai lá e vê só coisa <strong>de</strong> terceirograu, e <strong>de</strong>pois vai aplicar <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> médio... A gente vai passar um a<strong>no</strong>, dois a<strong>no</strong>s, trêsa<strong>no</strong>s, quatro, cinco, até pegar experiência do conteúdo, para... A gente podia chegar lá<strong>no</strong> estágio já prontinho.Não conheço nenhuma iniciativa para preparar professores. Parainformática, não. A Católica dá cursos <strong>de</strong> preparação para professores em experimentos,mas não em informática. O curso que eu conheço, inclusive, que eu dou aula quandoaparece esse curso, <strong>de</strong> dois em dois a<strong>no</strong>s, a gente faz treinamento para professores <strong>da</strong>re<strong>de</strong> pública, mas é só para experimento mesmo, em sala <strong>de</strong> aula. Não tem, não sepensou ain<strong>da</strong> nessa idéia <strong>da</strong> informática. Voltamos <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo àquele ponto, a escolapública eu acho que não está pronta para isso. Tem recurso? Tem. Estão vindocomputadores? Estão. Mas a escola pública, quando eu falo para ti, é um todo. É oalu<strong>no</strong> <strong>da</strong> escola pública, eu acho que ain<strong>da</strong> não está com a cabeça feita <strong>de</strong> que aquilo alié <strong>de</strong>le e ele tem que cui<strong>da</strong>r.Não é só uma questão <strong>de</strong> política. Pela política estão vindo. Vieram quatro,agora vão vir mais quatro, <strong>de</strong>vagarinho estão vindo os computadores. Primeiro eleslotaram os setores, agora estão botando uma sala só <strong>de</strong> informática, mas tem <strong>de</strong> serrestrito ain<strong>da</strong>, até a consciência <strong>de</strong>les mu<strong>da</strong>r. A consciência mu<strong>da</strong>r, dos indivíduos.Ao ser questionado sobre suas expectativas para o futuro <strong>da</strong>informática na Educação e sobre suas impressões gerais sobre o tema, oentrevistado respon<strong>de</strong>u:Bom, a informática facilita o trabalho do professor. Incentiva mais o alu<strong>no</strong> agostar do conteúdo, porque ele está virtualmente manuseando alguma coisa. Ele estávendo o movimento, não aquele que a gente dá <strong>no</strong> quadro, um carrinho parado ali e dizque o carro está em movimento, então tem que imaginar, e <strong>no</strong>s programas ele vai ver omovimento do carro, ele vai ver a trajetória <strong>de</strong> uma bomba dispara<strong>da</strong> <strong>de</strong> um avião, e issopara assimilar é uma maravilha, bem melhor do que a gente fazer <strong>no</strong> quadro. Então euacho que esses programas facilitam e facilitam muito o aprendizado do alu<strong>no</strong>. Facilitama vi<strong>da</strong> do professor também, porque vai se sujar me<strong>no</strong>s, aquela aula já está pronta, parauma, duas, <strong>de</strong>z, vinte, não vai mu<strong>da</strong>r a parte <strong>Física</strong> <strong>da</strong> aula, vai ser aquela ali mesmo,então para o professor facilitam e para o alu<strong>no</strong> eu acho que facilitam muito pelavisualização. Porque a gente tem uma capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> guar<strong>da</strong>r mais vendo do queouvindo.


100O que está indo certo, eu acho que é o fato <strong>de</strong> as escolas receberem oscomputadores que estão recebendo, e eu acho que tem que começar já na sala <strong>de</strong> aula,pelos próprios professores. O errado é o alu<strong>no</strong> que não cui<strong>da</strong> <strong>da</strong>quilo que é público, queé <strong>de</strong>le, eu acho que tem que ter uma conscientização, eu acho que é trabalho <strong>da</strong> escolafazer isso, também. O que é público é <strong>de</strong>le, é do dinheiro <strong>de</strong>le que está saindo, é a conta<strong>da</strong> água, <strong>da</strong> luz, do telefone, o imposto que o pai <strong>de</strong>le está pagando ali todo dia, aquiloali é que está <strong>da</strong>ndo o computador, que está <strong>da</strong>ndo o banheiro, que está <strong>da</strong>ndo a meren<strong>da</strong>para ele. Então eu acho que falta conscientização <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> parte dos alu<strong>no</strong>s para isso. Eprofessores e funcionários habilitados para tal, porque nas escolas públicas quaseninguém sabe mexer em computador. Computador é um bicho <strong>de</strong> sete cabeças. Muitosprofessores já estão quase se aposentando, então eles acham que não é vantagem paraeles agora estar apren<strong>de</strong>ndo mais alguma coisa. Então isso eu acho que é um erro,porque a gente tem que apren<strong>de</strong>r a vi<strong>da</strong> inteira. Então eu acho que isso é um dos fatorestambém que pesam bastante, o professor não querer se qualificar para isso, achar que éum bicho <strong>de</strong> sete cabeças, achar que isso veio para prejudicar a Educação, para azarar,acho que é bem o contrário. Para substituir o professor. E realmente substitui bem.Substitui entre aspas, tem que ter o professor ali para expor.Eu acho que não diminui o papel do professor, acho que aumenta e muito opapel do professor. Aumenta a <strong>no</strong>ssa responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>, aumenta a <strong>no</strong>ssa idéia <strong>de</strong> secapacitar ca<strong>da</strong> vez mais, porque sempre que tem uma concorrência a gente tem que sesuperar para estar sempre lado a lado ali, senão o que vem <strong>de</strong> trás, vem te <strong>de</strong>vorando. Eusou sempre <strong>de</strong>ssa idéia, estou procurando sempre estu<strong>da</strong>r para sempre procurar estar <strong>no</strong>nível. <strong>Física</strong> é uma coisa que ca<strong>da</strong> dia aparece alguma coisa <strong>no</strong>va. <strong>Física</strong>, Biologia,Química, a ca<strong>da</strong> dia a gente tem uma criação <strong>no</strong>va, um invento <strong>no</strong>vo, e os fenôme<strong>no</strong>spo<strong>de</strong>m ser os mesmos que estão aparecendo ali, mas tem que se analisar porque que estáacontecendo esse fenôme<strong>no</strong> aqui, então a gente tem que ler sempre, estar sempre a pardo que está acontecendo, <strong>no</strong> mundo inteiro, a globalização que já vem <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a revoluçãofrancesa, e a gente tem que estar a par disso. Porque se tu não estás a par disso, <strong>da</strong>qui apouco vem um outro aí, que está mais a par do que tu e vais começar a per<strong>de</strong>r caminho.E a informática, ao invés <strong>de</strong> ser o meu inimigo, é o meu aju<strong>da</strong>nte, o meu parceiro. Comela eu posso tocar o barco bem melhor do que sem ela. Pena que não dá para usar emtodos os colégios, to<strong>da</strong>s as salas <strong>de</strong> aula. O i<strong>de</strong>al seria em ca<strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula ter um telão,com um computador principal, ali para a gente... Mas isso é utopia. Mas a gente já está<strong>no</strong> início, a gente já tem algumas coisas aí. De vez em quando se leva, agora, porexemplo, eu estou com terceiro a<strong>no</strong>. Eu tenho poucos programas <strong>de</strong> terceiro a<strong>no</strong>, porque<strong>no</strong> terceiro a<strong>no</strong> eles fazem os programas que eu usava <strong>no</strong> primeiro e <strong>no</strong> segundo. Comoeu estou sem as turmas <strong>de</strong> primeiro e segundo, este a<strong>no</strong> é um a<strong>no</strong> em que eu pouco ireiao laboratório. Mas é um a<strong>no</strong> que eu vou falar muito do laboratório, porque eu doueletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, então eu puxo muito aquilo que eles estão fuçando lá <strong>de</strong>ntro do conteúdo.As políticas para a educação eu acho que vão continuar nessa investi<strong>da</strong>. Mastem um outro porém, a política <strong>de</strong>mora muito, porque às vezes <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do interesse <strong>de</strong>um ou <strong>de</strong> outro. Aí tanto <strong>de</strong>mora que aquele material que está na escola vai ficarobsoleto, vai per<strong>de</strong>r a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mercado e aí vão ter que comprar tudo <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo, aívai mais, e <strong>da</strong>í que se aprove, tor<strong>no</strong>u-se obsoleto <strong>de</strong> <strong>no</strong>vo. Eu acho que isso aí tinha queser uma política mais rápi<strong>da</strong>, <strong>no</strong> momento, porque a informática ca<strong>da</strong> dia é uma coisadiferente, ca<strong>da</strong> dia uma coisa diferente. Então, por exemplo, a minha escola está comcomputadores <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o a<strong>no</strong> passado. Agora quer aumentar a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> doscomputadores. Vai estar lá um papel, já tem <strong>de</strong>z computadores, eles querem mais dois,aí tem <strong>de</strong>z carroças e vem dois fórmula um, porque <strong>de</strong>mora muito uma coisa para aoutra. E eu não sei como é a política <strong>de</strong>les, também, na parte <strong>de</strong>sse material <strong>da</strong>s escolas,


101se eles po<strong>de</strong>m fazer remanejo, que nem eu te falei <strong>da</strong> escola ali que faz, para uma escolamais do interior ain<strong>da</strong>. Não que a escola do interior não mereça um computador <strong>de</strong>última geração, mas lá eles estão começando, eles po<strong>de</strong>m começar com 586, <strong>de</strong>pois iraumentando, eu não sei, eu não conheço a política <strong>da</strong> informática para a Educação.Acho que com certeza a informática vai transformar a educação. Como eutinha te falado antes, vai transformar on<strong>de</strong>? Na visão do indivíduo, que vai literalmentever o fenôme<strong>no</strong> acontecendo <strong>no</strong> software, o que não vai ver <strong>no</strong> quadro, a não ser que oprofessor leve um monte <strong>de</strong> experimentos para a aula, para ele ter a <strong>no</strong>ção. Eu,geralmente, levo um monte <strong>de</strong> badulaques para a sala <strong>de</strong> aula, é bola, é carrinho, étrenzinho, mas isso dá trabalho, levar um monte <strong>de</strong> coisas, ter que carregar aquilo lá.Podia botar tudo isso num ce<strong>de</strong>zinho e, o quanto ia me facilitar, ia estar tudo ali, nãoprecisar estar mostrando, ali. Voltava quinhentas vezes o experimento, o experimento<strong>da</strong>ndo certo, quando a gente faz na sala <strong>de</strong> aula, às vezes dá certo, às vezes não dá. Éuma questão <strong>de</strong> sorte, <strong>de</strong> momento, eu tenho um carrinho que dá um giro num looping,às vezes ele dá um giro <strong>de</strong> 360 graus, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>da</strong> inclinação que eu boto, às vezeseu não boto na inclinação certa, tem que subir ca<strong>de</strong>ira, botar o carrinho lá. Então isso,virtualmente, vai aparecer ali, se eu quiser botar errado <strong>no</strong> meu programa eu botoerrado, vou mostrar o errado, vou mostrar o certo, eu posso alterar o próprio programaali, as variações dos fenôme<strong>no</strong>s, o que manualmente eu não teria condições <strong>de</strong> fazer.Isso é uma coisa que vai fazer o quê? Crescer o interesse do alu<strong>no</strong>, o aprendizado doalu<strong>no</strong>, o gosto pela disciplina, aí mu<strong>da</strong> totalmente.Mas o professor não está preparado para isso. Eu que fuço nisso aqui, estourecém tentando apren<strong>de</strong>r o Flash. Eu não tenho tempo, que eu dou aula <strong>de</strong> manhã, tar<strong>de</strong>e <strong>no</strong>ite. Teria que ter um tempo exclusivo para eu apren<strong>de</strong>r o Flash. Tinha que apren<strong>de</strong>routras programações mais básicas, mas se já dá para ir direto para o Flash, eu estou indodireto para o Flash. Não estou vendo as básicas. Mas tem que ter tempo. Tempo paraapren<strong>de</strong>r o programa, tempo para exercitar o programa, e às vezes é mais fácil eu chegare pagar para alguém, “faz um programinha para mim”, “digita minha prova”, porque eunão tenho tempo. Porque infelizmente nós, professores, ganhando o que se ganha, temosque trabalhar em um monte <strong>de</strong> lugares diferentes para ter mais ou me<strong>no</strong>s uma ren<strong>da</strong>compatível.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!